APOIO PAIDÉIA À CLÍNICA E À SAÚDE COLETIVA GASTÃO WAGNER.
Transcript of APOIO PAIDÉIA À CLÍNICA E À SAÚDE COLETIVA GASTÃO WAGNER.
APOIO PAIDÉIA À CLÍNICA E À SAÚDE COLETIVA
GASTÃO WAGNER
Pressupostos teórico-conceituais
• Primeiro:
A co-produção singular do processo saúde/doença/intervenção
Co-produção singular sujeito/saúde/doença
CAMPO DE PRODUÇÃO
MODOS DE INTERVENÇÃO
FATORES DE CO-PRODUÇÃO
PARTICULAR
Imanente ao sujeito
Orgânicos
Subjetivos: interesse e desejo
SINGULAR Política; Gestão
Trabalho e práticas cotidianas
Dominação do outro;
Contrato e compromisso;
Eliminação do outro
Universal
Transcendente ao sujeito
Necessidades sociais;
Instituições e organizações;
Contexto econômico, social e cultural.
Ambiente
Co-produção singular
• A intervenção concreta do sujeito e de outros atores intervenientes produzem:
• Um determinado modo de vida;
• Determinado estado sanitário;
• Determinada capacidade de lidar com conflitos e de estabelecer contratos;
• Determinada capacidade para compreender e lidar consigo mesmo.
Pressupostos teórico-conceituais
• Segundo: A atenção em saúde e a co-produção do sujeito e de suas características
Componentes da atenção à saúde
• A atenção à saúde apresenta três componentes:
• O cuidado de si mesmo;• a capacidade de autocuidado dos
coletivos (família, movimentos, organizações, regras, normas e leis de proteção à vida);
• O trabalho em saúde (sistemático e institucionalizado).
Modalidades do trabalho em saúde
• Clínica;
• Saúde Coletiva (Pública).(campo comum e núcleos particulares)
OBJETIVOS DA GESTÃO E DO TRABALHO
OBJETIVO E SENTIDO TRIPARTIDO:
• - trabalha-se para os outros, para produzir valor de uso para terceiros;
• - trabalha-se para si mesmo, para assegurar a existência social própria e dos dependentes, construção de significado;
• - trabalha-se para a reprodução das condições de trabalho e da organização.
Produto do trabalho em saúde
-Valores de uso (atende a necessidades sociais, eficácia);
• Algum dano (iatrogenia, efeitos colaterais, etc);
• Controle social sobre sujeito e coletividade;
• Algum custo (eficiência)
Paradoxo do trabalho em saúde
• A clínica e saúde pública tendem a reduzir o sujeito a um objeto tanto ao construir conhecimento, quanto no momento da intervenção;
• A clínica e saúde pública tendem a reduzir a complexidade do processo saúde/doença/intervenção aos fatores orgânicos, tanto no diagnóstico quanto na terapêutica.
Ampliação da clínica e da saúde coletiva como recurso metodológico para lidar com paradoxo do trabalho
• Ampliação do objetivo primário do trabalho em saúde: tanto produzir saúde, quanto co-construir autonomia com o usuário;
• Ampliação do objeto do trabalho: incluir doença e problema de saúde (risco/vulnerabilidade) encarnados em sujeitos (indivíduo/coletividade).
Autonomia como finalidade
• AUTONOMIA: capacidade da pessoa e coletividade lidar com suas dependências;
• Autonomia em coeficientes e graus, nunca como conceito ABSOLUTO;
• Autonomia: capacidade de compreender e de agir sobre si mesmo e sobe o contexto.
• Tradução: autocuidado + poder +capacidade reflexiva + capac. estabelecer contratos com outros.
Foucault: hermenêutica do sujeito
• A dominação, o controle social e o poder são exercidos sobre os sujeitos a partir de três dimensões imbricadas:
• Exploração do trabalho (marxismo);• Poder institucional e organizacional
(ciência política e micro-física);• Introjeção do poder, resistência,
mecanismos internos (estóicos, freudismo e outros filósofos) .
Sujeito e complexidade
• Como classificar aos sujeitos?• Portadores de doença, risco ou por ciclo
vital. Considerar a potência e o limite dessas formas de generalizar e de buscar regularidades?
• Como avaliar vulnerabilidade e desenvolver projeto terapêutico ou de intervenção conforme caso: indivíduo ou grupo?
Desafios para o Apoio Paidéia
• O Apoio Paidéia se propõe a indicar uma metodologia que combine a objetivação clínico-sanitária com uma participação ativa do sujeito/coletividade nos processos de atenção à saúde.
• O Apoio Paidéia se propõe a recuperar a complexidade do processo saúde/doença/ intervenção, ampliando a clínica e práticas sanitárias sem perder seu Núcleo específico.
Reforma dos meios de intervenção: teoria Paidéia
• Para lidar com este paradoxo:
• SAÚDE COLETIVA E CLÍNICA COMPARTILHADAS: combinar dialogicamente a co-construção do diagnóstico e terapêutica entre racionalidade clínico/sanitária e interesse e desejo do usuário.
Reforma dos meios de intervenção da clínica e da saúde coletiva
• Meios de diagnóstico: combinar a OBJETIVIDADE da clínica e epidemiologia com base em evidências com a SINGULARIDADE da história dos sujeitos, grupos e coletividades.
• Combinar semiologia e indicadores de risco, de morbidade e mortalidade com escuta à demanda dos sujeitos.
Co-gestão do Projeto terapêutico
• Co-gestão da clínica e da saúde coletiva (não somente da política e gerência em saúde).
Pressuposto teórico
• Terceiro:
• Método e Apoio Paidéia
Método Paidéia
• É uma metodologia para lidar com relações inter-pessoais de modo construtivo e dialético;
• Aplica-se à política, ao planejamento, à gestão e a práticas profissionais como as de saúde ou de educação;
• Parte do reconhecimento inevitável da diferença do outro e da existência de conflitos de interesse e de visão do mundo
MÉTODO PAIDÉIA
• Constrói ativamente Espaços Coletivos e dinâmica dialógica para elaboração de Compromissos ou Contratos entre sujeitos envolvidos no processo;
• Objetiva tanto interferir no contexto como contribuir para ampliação da capacidade de análise, de tomar decisões e de agir sobre a realidade dos sujeitos envolvidos;
Apoio Paidéia
• O Apoio é a aplicação do Método Paidéia a Organizações ou ao Trabalho;
• Em organizações corresponde tanto a uma nova função gerencial como a um novo modo para se fazer a direção, coordenação, planejamento e avaliação;
APOIO PAIDÉIA
• Apoio parte do pressuposto de que a gestão e o trabalho em saúde/educação se exercem entre Sujeitos, ainda que com distintos graus de conhecimento e de poder;
• Apoio opera em um mundo de três dimensões: a do conhecimento e da técnica, a do poder e a dos afetos.
Apoio Paidéia
• Em geral, a política se encarrega do poder; teorias psicológicas dos afetos e da subjetividade; e a pedagogia e teoria de comunicação do conhecimento.
• A gestão, o saber e o trabalho em saúde ou em educação, segundo tradição científica, ao objetivar-se eliminam as dimensões de poder e de afeto do seu campo.
Apoio Paidéia
• O Apoio Paidéia depende de alguma forma e de algum grau de co-gestão; ou seja, de poder compartilhado e, portanto, de construção de potência de análise e de intervenção para os vários sujeitos;
• Quem Apóia sustenta e empurra ao mesmo tempo. Valoriza recursos e potência do sujeito e do grupo; mas traz algo externo, desconhecido e novo.
Apoio Paidéia em clínica e saúde coletiva
• Ampliar capacidade de análise/compreensão sobre si mesmo (saúde e doença) e sobre relações com o mundo da vida.
• Ampliar capacidade de intervenção sobre si mesmo e sobre organizações e contexto.
Apoio Paidéia em clínica e saúde coletiva
• Capacidade compreender: depende de resistências internas (não poder ou não querer saber sobre algo).
• Inconsciente: abrange funcionamento do mecanismos de desejo e ideológicos (valores).
• Capacidade de agir: depende de relações de poder e de bloqueios do sujeito.
Oferta Paidéia em clínica e saúde coletiva
• Ofertas do clínico e do sanitarista dependem de “ontologias” (conhecimento clínico e sanitário): tanto na construção do diagnóstico quanto na definição e no agir terapêutico.
• Centralidade de reflexão sobre o fazer e sua repercussão sobre sujeitos.
• Reflexão sobre capacidade de elaborar compromissos, contratos e viver em redes (sistemas de relação)
Apoio Paidéia como meio diagnóstico e terapêutico
• Repensar os espaços organizacionais – consulta individual, grupo, atendimento domiciliar, internação – como espaços de co-gestão, de compartilhamento de saber e disciplina sanitários com desejos e interesses dos sujeitos usuários.
• Espaços coletivos – relação dialógica – em que a terapêutica resulta de um contrato entre diferentes: técnico e usuário
Apoio Paidéia e a clínica
• Método da Roda Dentada (círculo imperfeito);
• Abordagem diagnóstica e terapêutica em ciclos (espiral);
• Construção de relação de apoio longitudinal (diacrônica);
• Vínculo sujeito profissional e sujeito usuário (responsabilidade sanitária).
Apoio Paidéia: primeiro ciclo
• Busca do foco temático: estimular narrativa do usuário sobre:
a- Objeto: queixa, sofrimento, problema de saúde (momento relativo à doença, ao que provoca impotência e justifica busca apoio).
b- Objetivo: saúde, desejo de recuperar certo Modo de andar a vida (autonomia, potência).
Foco temático e vínculo
• O foco temático bem construído facilita a construção de vínculo produtivo (adesão);
• O foco indica desejo/interesse do usuário e deve ser considerado como Núcleo para orientar a intervenção;
• O profissional poderá sugerir ampliação do foco temático relativo ao Objetivo, co-construção de autonomia, ao relacionar problema de saúde e papel do usuário em seu enfrentamento.
Primeiro ciclo: análise de situação
• Oferta do profissional: avaliação clínico-sanitária (avaliar o quê compartilhar em cada ciclo);
• Oferta do usuário: narrativa sobre interferência problema de saúde em seu modo de andar a vida, relação sujeito usuário/doença.
• Estimular reflexão dialógica sobre Ofertas.
Primeiro Ciclo: intervenção
• Profissional expõe: avaliação situação (diagnóstico ampliado); procedimentos terapêuticos a serem adotados; e inicia dinâmica analítico/pedagógica sobre processo saúde/doença singular.
• Estimula reflexão/comentários do usuário sobre elementos diagnósticos, terapêuticos e dinâmica analítica.
Primeiro ciclo: projeto terapêutico compartilhado
• A síntese possível/necessária entre oferta profissional e reflexão usuários é o primeiro Projeto Terapêutico;
• Contrato sobre problema de saúde encarnado no Sujeito; procedimentos diagnósticos, terapêuticos a analíticos sobre sujeito e seu modo de andar a vida; e ainda sobre forma apoio institucional (retorno, agenda de atividades, etc).
Segundo ciclo
• Oferta: criar espaço para análise compreensão sobre Contrato/Projeto Terapêutico;
• Perspectiva do usuário (narrativa): reflexão sobre práticas terapêuticas e relacionais: resultados, dificuldades, impossibilidades;
• Perspectiva profissional: avaliação clínico/sanitária e...
Todos os ciclos
• Ampliar compreensão do usuário sobre fatores co-produção saúde/doença/modo de vida/sistema saúde;
• Compreensão sobre si mesmo e sobre rede social;
• Compreensão sobre modos de intervenção sobre si mesmo e sobre contexto.
Fatores sociais implicados na co-produção sujeito
• O conceito central aqui é o de poder e micro-poder – compartilhar e estimular sujeitos a lidarem com redes de poder;
• Identificar Espaços coletivos estratégicos ao sujeito e ao Projeto Terapêutico;
• Analisar funcionamento aspectos rede social singular: trabalho, família, religiosa, lazer, social: alguns focos temáticos...
Fatores sociais e Apoio Paidéia
• Formar sujeito lidar com relação poder: situação de dominante e dominado;
• Forma lidar com conflitos: defesa, ataque e fuga;
• Capacidade de elaborar alianças e contratos;
• Modo tomar decisão;• Capacidade de Projetar (pensamento
micro-estratégico);
Fatores sociais
• Análise de valores, ideologias, filosofia(?) e marcos culturais relevantes;
• Capacidade de comunicação, de narrativa, de argumentação e de debate – potência dialógica do sujeito.
(a entrada de cada tema na roda depende de ganchos com a prática. Lembrar que os fatores estão imbricados, isolá-los é um artifício analítico para facilitar a compreensão)
Fatores subjetivos e co-produção
• Objetos de investimento: em que pessoas, coisas ou fatos os sujeitos descarregam afetos (amor e ódio);
• Reflexão sobre inter-relações problema de saúde e sujeito;
• Análise relação usuário/profissional/ equipe/serviço (transferência e contra);
• Dinâmica familiar (rede de afetos e modos de relação);
Fatores subjetivos
• Modos de lidar com interesse e desejo próprio e de outros;
• Hábitos estruturados de vida;• Relação com alimentos e rituais culinários;• Relação com trabalho, atividade física,
arte, esporte, natureza e território;• Sexualidade: aprofundamento necessário
e possível;• Mecanismo de defesa e resistência.
Fatores orgânicos
• A abordagem dos fatores orgânicos depende do problema de sujeito e do sujeito;
• Está descrita em textos didáticos, programas e protocolos;
• O desafio é combinar a abordagem dessa dimensão com a reflexão sobre fatores sociais e subjetivos, apoiando o sujeito para que a reflexão tenha repercussões operacionais.
Roda Imperfeita
• A cada ciclo, a cada encontro, a cada rodada do espaço coletivo escolher temas para oferta conforme análise da situação, que inclui necessidades sanitárias, possibilidades materiais e subjetivos do sujeito, objetivos contratados, etc;
• Estimular o sujeito usuário a eleger temas que considere relevantes ou aflitivos.
Roda Imperfeita, mas produtiva
• Ao final de cada ciclo há um “esboço” de Projeto Terapêutico com:
• Análise compartilhada do problema de saúde encarnado no sujeito/contexto;
• Temas em reflexão, em suspenso, sobre si mesmo, modo de vida, contexto e sobre outros atores sociais em relação: serviço de saúde, familiares, chefes, autoridades, etc.);
Roda imperfeita: projetos em construção permanente
• E um contrato terapêutico com procedimentos a cargo do usuário, da equipe ou de outras pessoas.
Apoio Paidéia e Projeto de Intervenção em Saúde Coletiva
• 1- Construir rodas, sejam transitórias ou regulares;
• 2- O Apoiador tem Ofertas externas ao grupo ( novos arranjos e análise de situação diferente, exame de outras experiências);
• 3- Oferta são apresentadas em todas as fases do trabalho Paidéia;
Rede conceitual e operativa Paidéia
• 4- O Apoiador estimula o grupo a explicitar suas Demandas quanto ao temário, análise dos assuntos e tomada de decisão;
• 5- Construção de uma agenda de trabalho para o Coletivo com Temas Ofertados pelo Apoiador e Demandados pelo Grupo;
• 6- Construção conjunta de uma análise temática, busca-se uma compreensão coletiva sobre o tema;
Rede conceitual e operativa
• 7- Construir um texto ou uma narrativa coletiva, que incorpore o contraditório, sobre o tema, agregando informações Documentais (epidemiológicas, normativas, administrativas), advindas da Observação do contexto em análise e da Escuta dos Sujeitos envolvidos (estejam ou não presentes na roda);
Rede conceitual e operativa Paidéia
• 8- Interpretar o Texto ou a Narrativa elaborada (uma espécie de diagnóstico) objetivando apoiar a tomada de decisões;
• 9- Definir conjunto de Metas e Operações com base no texto e nos objetivos e diretrizes gerais, listando-os como conjunto de Tarefas;
• 10- Definir responsáveis pelas Tarefas;
Rede Conceitual e Operativa
• 11- Este produto é denominado de Plano Operativo e deve ser tomado como um Contrato entre a equipe/grupo e os apoiadores, sejam eles diretores, assessores ou elementos externos à Organização;
Rede conceitual e operativa Paidéia
• 12- No encontro seguinte inicia-se pela análise da execução das tarefas – limites e potência – e redefini-se Plano Operativo;
• 13- Trabalha-se com um Projeto Organizacional Estratégico (renovável a cada ano) e com um Plano Operativo Mutante (renovável a cada rodada e orientado pela prática reflexiva e diretrizes do Projeto e da Política.
Rede conceitual e operativa Paidéia
• 14- Em todas essas rodadas procura-se recolher Ofertas externas e considerar-se a Demanda interna do Grupo;
• 15- Capacitar o Grupo a identificar e a construir Objetos de Investimento: depositar afetos positivos em algo relativo ao interesse e ao desejo dos Sujeitos da Equipe. Amplia a capacidade de Contrato ou de assumir Compromissos.
Rede conceitual e operativa Paidéia
• 16- Autorizar e capacitar os membros do Grupo/equipe a se valerem dessa metodologia em suas tarefas de gestão, no trabalho em saúde e em suas relações inter-pessoais. A clínica, os processos educativos podem ser compartilhados nessa lógica, desde que o professor ou clínico ou sanitarista se coloque no lugar de Apoiador Paidéia.