APOLO e DAFNE - historias.interativas.nom.br · Como Dafne insistia muito em ficar sozinha, Peneu...

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Ilustração de Eliane Bettocchi (IAD-UFJF, 2015) a partir de Gian Lorenzo Bernini (1622-25). APOLO e DAFNE

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Ilustração de Eliane Bettocchi (IAD-UFJF, 2015) a partir de Gian Lorenzo Bernini (1622-25).

APOLO e DAFNE

 

 

Apolo era o deus do sol, filho de Júpiter e senhor do arco e flecha. O primeiro amor de sua vida foi uma ninfa caçadora, que vivia pelos bosques e se chamava Dafne. Essa estória não aconteceu por acaso, mas sim por causa de uma discussão entre ele e Cupido, o deus do amor. Como era um garoto, Cupido se divertia acertando mortais e imortais com suas flechas. Até que um dia, Apolo viu o menino brincando com o arco e disse: “Quid est tibi, puer, cum armis et sagittis? Saiba que esse armamento consagrou a minha vitória sobre a terrível serpente Píton! Não ouse querer para você glórias que são minhas!”. As palavras de Apolo provocaram a cólera cruel de Cupido, que, voando para o alto do umbroso Parnaso, respondeu: “Pode ficar tranquilo, Apolo! Você vai continuar com toda a sua glória, pois as suas flechas sempre acertarão todas as coisas. Mas a minha flecha também vai te acertar!”. Cupido possuía dois tipos de flechas em sua aljava: umas de ouro, outras de chumbo. As de ouro serviam para provocar o amor, enquanto as de chumbo, o afastava. Para se vingar, ele atirou uma de ouro em Apolo e outra de chumbo em Dafne. Logo, o deus do sol se enamora, enquanto Dafne foge à idéia de amar. O pai de Dafne era um rio da Tessália, chamado Peneu. Ele vivia pedindo à filha que ela lhe desse um genro e netos, mas ela respondia: “Por favor, pai! Permita-me esse virginem perpetuam e viver pelos bosques, assim como Diana, a deusa das caçadas!” Como Dafne insistia muito em ficar sozinha, Peneu acabou cedendo, mas disse para ela que tomasse cuidado, pois a sua beleza ainda poderia trazer problemas. Até que um dia, com a flecha de ouro incrustada até a medula dos ossos, Apolo viu Dafne correndo pelos bosques, à margem do rio, e pôs-se a admirá-la. Ele ficou encantado com os dedos e com as mãos dela. Achou belíssimos os antebraços, os braços, e imaginou o quão seria mais belo todo o resto que não via. Ao reparar os cabelos revoltosos da ninfa, pensou em como ela ficaria linda se fosse penteada! Ele estava perdidamente apaixonado... Quando a filha de Peneu percebeu a aproximação de Apolo, ela fugiu desesperadamente. Ele suplicou para que ela não fugisse, dizendo: “Non sum hostis, pára! O amor é a causa de te perseguir! Iuppiter est mihi pater. Sum deus

 

 

solis, musicae, medicinae, artium. Sou também o senhor do arco e minha flecha é certeira, mas, uma flecha ainda mais certeira feriu meu coração vazio...” Como a ninfa não parava de correr, o jovem deus não tolerou o fato de estar desperdiçando palavras de sedução e lançou-se na direção dela a toda pressa. Por fim, perdendo as forças e prestes a ser alcançada por Apolo, ela grita: “Da mihi auxilium, pater, si potentiam habes, muta formam meam.” Imediatamente, o macio peito da jovem é envolto por uma fina casca, os cabelos alongam-se em folhas, os braços em ramos, os pés em raízes; o rosto se faz copa: só o seu esplendor permanece. Ela se transforma em uma árvore de louros, bem parecida com os seus cabelos. Ainda assim Apolo a ama e diz: “Já que não pode mais ser minha esposa, será ao menos minha árvore”. E a partir daquele dia, o loureiro e a coroa de louros passaram a ser o símbolo mais significativo da glória dos poetas, atletas e imperadores.

 

 

Referência da imagem: Apolo e Dafne, Gian Lorenzo Bernini, 1622-25. http://galleriaborghese.beniculturali.it/index.php?it/93/bernini-apollo-e-dafne