Após a saída dos romanos das terras britânicas

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FACULDADES INTEGRADAS TORRICELLI LETRAS CAIO MACEDO DA SILVA O ENSINO DA PRONÚNCIA DO INGLÊS NAS ESCOLAS BRASILEIRAS

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FACULDADES INTEGRADAS TORRICELLI

LETRAS

CAIO MACEDO DA SILVA

O ENSINO DA PRONÚNCIA DO INGLÊS NAS ESCOLAS BRASILEIRAS

Guarulhos, 2011

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CAIO MACEDO DA SILVA

O ENSINO DA PRONÚNCIA DO INGLÊS NAS ESCOLAS BRASILEIRAS

Trabalho de Curso submetido às Faculdades Integradas Torricelli como parte dos requisitos necessários para a obtenção do Grau de Licenciatura em Letras. Sob a orientação do Professor Dr. Fabio Luiz Villani.

Guarulhos, 2011

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Caio Macedo da Silva

Título: O Ensino da Pronúncia do Inglês nas Escolas Brasileiras

Trabalho de Curso submetido às Faculdades Integradas Torricelli como parte dos requisitos necessários para a obtenção do Grau de Licenciatura em Letras.

___________________________OrientadorFabio Luiz Villani

___________________________ExaminadorPatricia Hradec

___________________________ExaminadorFabíola Longhi

Guarulhos, ____ de _____________________ de ________

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Dedico este trabalho a David Crystal,

cuja obra foi o atiçador das chamas da

curiosidade e fundamental para a realização

deste trabalho.

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Agradeço a Deus pelo conjunto da obra, meus

pais, por acreditarem em mim e me incentivarem a

aprender uma segunda língua desde cedo, ao Juarez

e Daniel, que acreditaram que eu poderia ser um

bom professor e me deram total apoio desde a

minha infância.

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The history of English is a fascinating field of study in its own right, but it also provides a valuable

perspective for the contemporary study of the language”

David Crystal

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RESUMO

O presente trabalho busca apresentar formas eficientes de ensinar a pronúncia da língua inglesa em escolas brasileiras, demonstrando, através de pesquisas em autores conceituados e pesquisas de campo, a melhor metodologia para o ensino do idioma, além de contextualizar a atual pronúncia do idioma através de um breve resumo da história da língua inglesa.

Palavras-chave: inglês, pronúncia, fonética, língua, globalização.

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ABSTRACT

This paper aims to present efficient ways of teaching the English language in Brazilian schools showing, through researches on highly regarded authors, as well as field researches, the best methodology to teach the language, moreover, contextualizing the present pronunciation of the language, through a brief abridgment of the history of the English language.

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SUMÁRIO

Índice de Ilustrações...............................................................................................10

I. Introdução..............................................................................................................11

II. Objetivo desta pesquisa......................................................................................12

1. Por que aprender inglês americano?..........................................................13

2. A interferência da língua nativa na aquisição da L2..................................14

3. O ambiente físico como influência para o aprendizado............................15

4. A linguagem corporal como ferramenta.....................................................16

5. Por que aprender L2 em escolas brasileiras..............................................17

6. Quando começar a aprender inglês............................................................18

7. Por que o inglês possui uma pronúncia tão irregular?.............................19

7.1 Celtas..........................................................................................................................21

7.2. Romanos..........................................................................................................................22

7.3. Anglo-Saxões...................................................................................................................23

7.3.1. Características fonéticas do Inglês Arcaico................................................................................26

7.4. Franceses........................................................................................................................29

7.4.1. Pronúncia do inglês médio..........................................................................................................30

7.5. A grande mudança vocálica.............................................................................................31

8. Diferenças fonéticas entre Inglês e Português.................................................34

9. Características dos fonemas da língua inglesa................................................36

9.1 Diferenças entre vogais e consoantes..............................................................................36

9.2 A pronúncia das vogais...................................................................................................................39

9.4. Consoantes.................................................................................................................................... 44

III. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................52

REFERÊNCIAS.........................................................................................................53

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Índice de Ilustrações

Ilustração 1: Países de origem dos Anglos, Saxões e Jutos e locais de assentamento na Bretanha...................................................................................................................................24Ilustração 2: Mapa da Inglaterra moderna..........................................................................25Ilustração 3 Prólogo de Beowulf, poema épico do séc. VI...................................................28Ilustração 4 Prólogo de Cantebury Tales.............................................................................29Ilustração 5 Trecho de Hamlet, de William Shakespeare, escrito no novo dialeto padrão e impresso na prensa de Caxton............................................................................................32Ilustração 6: Linha do tempo que mostra as mudanças na pronúncia da língua inglesa ...................................................................................................................................................33Ilustração 7 Órgãos fonadores humanos..............................................................................37Ilustração 8 Diagrama de vogais...........................................................................................38

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I. Introdução

A capacidade que torna o homem tão diferente das outras espécies é a fala. A

habilidade de se comunicar fez o homem trocar informações e criar estratégias de

sobrevivência por meio de comunidade desde os tempos antigos. Essas comunidades, no

entanto, cresceram tanto e se tornaram tão independentes que foram se distanciando, o que fez

com que a comunicação ficasse restrita àquele pequeno grupo restrito, pois as formas de se

comunicar haviam evoluído, e de formas diferentes em cada comunidade, surgia assim os

idiomas.

A importância de se aprender idiomas é inegável, pois ainda necessitamos da

comunicação como meio de manter nossa sociedade humana em constante evolução, mas com

as diferentes linguagens existentes no mundo, é necessária uma forma simples de podermos

entender e nos fazer entender pelos falantes das outras diversas línguas do mundo. Para tal,

utilizamos o inglês como língua de comunicação global, mas por quê?

A importância da língua está relacionada à grandeza do povo. Inglês, francês e alemão

são importantes, pois estes países têm influência na cultura, nas artes e nas ciências.

Grego clássico, por exemplo, ainda é estudado por causa da grandeza dos antigos

gregos. Já o grego moderno é amplamente negligenciado pelo resto do mundo.

Inglês é a língua mais falada no mundo ocidental, mas sua importância nas áreas

supracitadas a tornou um importante idioma. Além disso, o mundo necessita de uma língua

franca, um idioma que torne possível a comunicação de povos com diferentes dialetos.

Devido à sua importância social e sua gramática simplificada, tornou-se a segunda língua de

muitos falantes.

O chinês é hoje o idioma mais falado no mundo, com cerca de 1 bilhão de falantes

apenas na China, e além disso, a China tem dominado o mercado, se tornando uma importante

potência mundial, mas devido à complexidade de sua língua e de não estar tão difundido no

meio cultural, o mandarim ainda não se tornou a língua do mundo, posto ainda ocupado pela

língua inglesa.

Para embasar este trabalho, foram utilizados os princípios de autores como David

Crystal, H. Douglas Brown, Marcello Marcelino, Maria Antonieta Celani, Fábio Luis Villani,

e Camila Dixo Lieff.

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II. Objetivo desta pesquisa

Esta pesquisa visa expor a importância do ensino da pronúncia do inglês americano

nas escolas brasileiras, apresentando teorias de aprendizado, tais como a melhor idade para

começar a aprender uma segunda língua, a importância do ambiente físico nessa

aprendizagem e a interferência da língua materna na hora de adquirir uma língua estrangeira.

Além de apresentar a evolução do idioma em um contexto histórico e de explicar a

funcionalidade dos órgãos da fala na elaboração de sons.

O trabalho foi concebido à partir da observação do pouco caso que é feito quanto ao

ensino da pronúncia correta da língua inglesa nas escolas do Brasil, que focam principalmente

na gramática e na escrita descontextualizada, o que faz com que os alunos não saibam

pronunciar corretamente os sons do idioma inglês, “abrasileirando” a pronúncia das palavras,

criando assim um novo dialeto da língua inglesa, ao invés de aprenderem a correta pronúncia

da língua propriamente dita.

Isso faz com que o ensino se torne inútil, pois, como expõe os Parâmetros Curriculares

Nacionais:

... o desenvolvimento da habilidade de entender/dizer o que outraspessoas, em outros países, diriam em determinadas situações leva,portanto, à compreensão tanto das culturas estrangeiras quantoda cultura materna. Essa compreensão intercultural promove,ainda, a aceitação das diferenças nas maneiras de expressão e decomportamento.... (PCN-LE - 1998:37),

Sendo assim, o ato de falar um inglês abrasileirado e inteligível ao falante nativo da

língua, vai na contramão da proposta dos PCN, já que isso dificultaria ou até impossibilitaria a

comunicação.

Para tanto, devemos focar não apenas no ensino da gramática e leitura, mas

principalmente na expressão oral, que oferece um retorno imediato ao aluno e uma absorção

mais fácil por parte dos aprendizes.

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1. Por que aprender inglês americano?

De todos os dialetos da língua inglesa presentes no mundo, o que mais influencia o

mundo ocidental, as Américas em especial, é o inglês padrão americano.

Isso se deve à influência dos EUA nas culturas populares, como cinema, tv e rádio, e

nos meios científicos e literários.

Essa supremacia linguística é tão visível que mesmo artistas ingleses tendem a falar ou

cantar com sotaque americano, já que isso faz com que seus discos sejam bem aceitos no

mercado americano, o maior do mundo.

Como exemplo, peguemos um trecho de uma canção dos Beatles chamada “Can’t buy

me love.”

“'Cause I don't care too much for money

Money can't buy me love”

(Lennon; McArtney – Can’t buy me love)

Transcrevendo fonéticamente, esta canção seria assim:

Pronúncia americana

/kəz aj dont kɛr tu mətʃ fɔr məni

məni kænt baj mi ləv/

Pronúncia britânica

/kəz aj dont keǝr tu mətʃ fɔr məniməni kǝnt baj mi ləv/

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Neste trecho, John Lennon canta com uma pronúncia americana, mesmo sendo

inglês e tendo um forte sotaque britânico, mais especificamente de Liverpool, sua

cidade natal, principalmente as palavras care e can’t, que no inglês americano são

pronunciadas como /kɛr/ e / kant/, e no britânico /keǝr/ e / kǝnt /, respectivamente.

Além disso, o inglês americano possui uma melhor assimilação para os falantes

não nativos, fazendo com que seja mais fácil sua pronúncia.

2. A interferência da língua nativa na aquisição da L2

Ao se aprender um segundo idioma, o aprendiz tende a se basear em sua língua

materna para poder desenvolver sua capacidade comunicativa. Tal fato não deve ser

desencorajado, mas tomado como base para o professor guiar seus alunos a partir de um

ponto conhecido, como diz Brown (2007):

The native language of learners exerts a strong influence on the

acquisition of the target language system. While that native system will

exercise both facilitating and interfering effects on the production and

comprehension of the new language the interfering effects are likely to

be the most salient. (Brown, 2007)

Como Brown cita acima, a L1 pode tanto ajudar quanto interferir na aquisição da

L2, mas, mesmo que não descartemos totalmente o papel desta, devemos fazer com que

o aluno pense diretamente com a nova língua, já que isso o fará mesmo dependente da

L1.

O professor deve sempre tirar o máximo de vantagens dos erros dos alunos, mas

de forma com que o aluno não se sinta ameaçado ou tenha uma sensação de fracasso, e

sim de uma forma que o aluno compreenda que a L1 pode ser uma grande aliada no

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aprendizado do novo idioma, mas que nem sempre pode ser usada para permear as

bases para a aquisição desta.

Na questão da pronúncia, devemos cada vez mais nos afastarmos da L1, já que

esta, tão diferente da língua inglesa, tende a comprometer o desenvolvimento

lingüístico. Isso, porém, deve ser feito de forma gradual e sem grandes choques. O

professor deve ser tolerante em um primeiro instante, relevando os erros de pronúncia

causados por interferência da língua materna, e só depois de o aluno ter uma certa

segurança para tentar se comunicar em sua nova língua e ser capaz de aceitar seus erros

e corrigi-los sem traumas, é que o professor deve focar sua atenção a estes problemas e

corrigi-los de forma suave, sem fazer com que o aluno perca a confiança já adquirida.

3. O ambiente físico como influência para o aprendizado

Brown defende que a disposição da sala de aula e sua organização são fatores

importantes no aprendizado:

(...) students are indeed profoundly affected by what they see, hear and

feel when they enter the classroom. (Brown, 2007)

O ambiente será uma ferramenta valiosa no ensino/aprendizado da língua.

A disposição das carteiras deve ser feita em semicírculos, se possível, para

facilitar a interação entre os alunos, já que a pronúncia, como não é utilizada fora da

sala de aula, deve ser treinada o máximo possível em sala. O modelo clássico de fileiras

distancia os alunos e não é convidativa a interação.

A sala também deve ter o mínimo de interferência de sons exteriores quanto

possível, para que os alunos possam entender claramente a pronúncia do professor e não

se distraiam ou se irritem com qualquer ruído que possa vir de fontes externas.

Por estarmos em um país que não tem o inglês como uma língua de comum uso

no ambiente social dos aprendizes, a sala de aula deve ser o laboratório prático a fala da

nova língua.

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O ambiente deve conter todos os recursos visuais que auxiliem o aluno a

relembrar ou visualizar algo que foi aprendido na teoria, tais como tabelas de verbos,

mapas, flashcards,rádios e projetores, que devem ser constantemente usados, para tornar

as aulas mais dinâmicas e de fácil absorção.

A interação em sala de aula de ser muito mais prática que teórica, e os materiais

inerentes à teoria (como tabela de verbos, por exemplo) devem estar expostos, para que

os alunos possam utilizá-los sempre que necessária durante a prática, sem que seja

necessário interromper a aula ou voltar a um conteúdo já estudado para relembrar

aquilo. Devemos lembrar que provavelmente aquele será o único ambiente onde o aluno

irá praticar seu novo idioma.

4. A linguagem corporal como ferramenta

O professor deve sempre levar em conta que sua forma de se movimentar, falar e

até vestir, pode ser útil quanto ao ensino de uma língua.

A voz do professor deve ser clara e audível para todos na sala, levando em conta

que quando se ensina pronúncia, é necessário que o aluno perceba cada sutileza de sua

fala, pois, uma das dificuldades dos alunos é notar essas sutilezas da pronúncia da

língua inglesa.

Movimentos com as mãos devem ser amplamente usados para explicar novas

palavras ou frases. A aprendizagem deve tender muito mais para o lado visual e auditivo

do que para qualquer outra abordagem. O professor não deve se preocupar em fazer o

aluno associar uma nova palavra à sua correspondente em português, e sim fazer com

que ele associe essa palavra a uma imagem mental, isso fará com que fixe este novo

vocabulário com maior facilidade.

Toda a sala deve ser visitada pelo docente, fixar-se em um único ponto da classe

pode ser entediante para quem assiste à aula. Dinamismo facilita a aprendizagem.

O contato olho a olho deve ser constante, uma vez que isso transmite segurança

aos alunos e uma simpatia com o professor por meio de processos psicológicos, que não

cabem serem discutidos aqui.

O inglês deve ser usado em grande parte da aula nos níveis mais básicos e em

toda a aula nos níveis mais avançados. Como apontado anteriormente, os alunos não

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praticarão o idioma em casa, cabendo apenas à sala de aula o suporte prático para sua

prática.

Um professor de idiomas deve ser extremamente visual, isso fará com que o

aprendiz desvincule seu conhecimento ao da língua materna, aprendendo a L2 como

faria um bebê.

Como aponta David Crystal (2010), o processo de aprendizagem de um novo

idioma funciona para crianças, adolescentes e adultos, da mesma forma que para um

bebê que está aprendendo a falar. Primeiro o bebê tentará vocalizar alguns sons quase

que inteligíveis, mas este será o primeiro passo para que saiba que pode produzir um

novo som. Depois, ouvindo constantemente a voz dos pais, tenta imita-los e começa a

produzir algumas palavras simples, ainda que de forma errônea. Com a prática, o

pequeno será capaz de construir sentenças sozinho e de se expressar, ainda que não

perfeitamente. Em sala, esses processos são basicamente os mesmos. O aluno tenta falar

a nova língua à sua maneira, cometendo inúmeros erros de pronúncia. Ao ouvir a

pronúncia do professor, ele naturalmente tentará copiá-lo, aprimorando sua fala. Com a

prática em classe, o aluno será capaz de se comunicar em L2, ainda que não

perfeitamente, mas de uma forma completamente compreensível.

5. Por que aprender L2 em escolas brasileiras

Como já citado anteriormente, em um mundo globalizado, a necessidade de uma

língua franca se faz presente. No Brasil, temos o inglês como primeira língua

estrangeira, devido a influência cultural, científica e econômica que recebemos,

principalmente, dos Estados Unidos.

Atualmente, tem-se ensinado a língua espanhola em terras tupiniquins, algo que

levou muito tempo a se concretizar, pois vivemos na América Latina e temos muita

influência econômica sobre esta, no entanto, estamos totalmente isolados na interação

cultural que existe entre os outros países.

O aprendizado de uma segunda língua é também importante, pois, qualquer livro

didático apresenta de forma mais abrangente ou mais sutil, a cultura dos países da

respectiva língua ensinada. Essa bagagem cultural é extremamente necessária em

relações exteriores, já que não só o idioma é um fator chave na comunicação, mas a

interação cultural assume um papel relevante neste quesito.

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Tomemos como exemplo os franceses, que não são tão receptivos a brincadeiras

e anedotas, algo muito comum aos brasileiros, que procuram se descontrair, mesmo em

situações onde isso não seja necessário. Já um inglês aceitaria bem uma piada, e poderia

até contá-la, porém seu senso de humor é muito diferente do brasileiro, e sem entender

sua bagagem cultural, poderia criar inclusive uma situação constrangedora.

O ensino de L2 no Brasil deve ser aprimorado, pois, levando em conta que nas

escolas secundárias alemãs, todos os alunos recebem educação em L2 em nível

avançando e na França essa marca chega a 82%, é preocupante o fato de o Brasil não

possuir um número tão grande de falantes de uma segunda língua, principalmente o

inglês.

Como aponta Celani (2000), a língua estrangeira é importante para que

possamos levar a cultura e as ciências brasileiras para o mundo, e para que possamos

dialogar de igual para igual com falantes da língua inglesa, ou outros que tenham o

inglês como segunda língua. A gama de possibilidades decorrentes do uso de uma

língua estrangeira é enorme.

6. Quando começar a aprender inglês

Infelizmente, os alunos começam a ter contato com a língua estrangeira à partir

dos 10 – 11 anos de idade, uma época em que já começa a ficar mais difícil trabalhar

uma língua, já que suas faculdades cognitivas já estão praticamente consolidadas, como

nos mostra Crystal (2010).

A idade ideal para aprender uma segunda língua, seria desde cedo, desde que a

criança nasce, ou, em uma situação acadêmica mais próxima à realidade, logo quando

começa a ser alfabetizada.

É sabido pelos especialistas que nessa fase a criança tem maior facilidade em

aprender e a fixar a nova língua, e além disso, não haverá uma grande interferência da

língua materna, já que as duas estarão sendo desenvolvidas ao mesmo tempo em nível

acadêmico.

Como aponta Fábio Villani:

O aprendizado de uma língua estrangeira desde o início da escolaridade da criança pode ser um valioso instrumento de complementação da educação formal destes aprendizes, facilitando

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seu engajamento comunicativo em outras línguas e ao mesmo tempo, desde o princípio de escolarização, fornecer aos alunos ferramentas para se tornem mais críticos, abertos ao novo, enfim, cidadãos do mundo.(Villani: 8)

Assim sendo, podemos concluir que quanto mais cedo a criança é exposta ao

novo idioma, mais rapidamente ela absorve o conhecimento e, consequentemente, se

tornam pessoas criticas, sem preconceito com outras culturas e línguas e sem uma visão

estereotipadas das mesmas.

7. Por que o inglês possui uma pronúncia tão irregular?

É muito comum os alunos perguntarem ao professor de inglês por que a língua é

tão irregular, e o que faz a pronúncia ser de um jeito e não de outro. Mais comum ainda

é o professor responder algo como: “A pronuncia é assim porque é!”.

Isso apenas fará com que o aluno ache a língua desinteressante, já que ele

dificilmente conseguirá pronunciar algo correto porque “os ingleses criaram uma língua

complicada demais para falar”.

Esse é um mito que permeia as salas de aula e que muitos professores chegam a

acreditar, por não saberem o que o idioma esconde em sua história e evolução. Por isso

este trabalho começará contando de forma breve e com alguns exemplos práticos, a

história da língua inglesa.

A língua inglesa pertence à família germânica, o que torna o idioma tão parecido

com o alemão, por exemplo. Mas o que tornou tais línguas parecidas? O que faz com

que o inglês pertença à família germânica? Como seus sons surgiram e se

desenvolveram? O que aconteceu para que o inglês arcaico se transformasse na língua

falada hoje?

Para podermos entender melhor a fonética da língua inglesa, devemos responder

a estas perguntas, o que acontecerá a seguir, com uma breve história da evolução da

língua.

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Vemos abaixo a árvore genealógica das línguas germânicas.

Germânico

Germânico Oriental Germânico NórdicoGermânico Ocidental

Alto Alemão

Baixo Alemão

Anglo-Frísio

Iídiche

Alemão

Baixo-Alemão

Holandês

Africâner

Frísio

Inglês

Islandês

Faroês

Norueguês

Dinamarquês

Sueco

Gótico

Vandalês

Burgundês

Langobárdio

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7.1 Celtas

Durante a última era do gelo, os continentes possuíam dimensões diferentes, e

por isso, a Grã Bretanha era ligada ao continente por terra.

Nessa época, o povo Celta, que se espalhava ao oeste da Europa, até a península

Ibérica, migrou para as terras da atual Inglaterra, e lá se estabeleceram.

Após o derretimento glacial, as terras britânicas foram separadas do continente

por conta da subida do nível da água, que formou o Canal da Mancha, transformando a

Bretanha (que até então não possuía este nome) em uma ilha.

Page 22: Após a saída dos romanos das terras britânicas

Pouco se sabe sobre a língua Celta, que aparece escrito apenas em alguns poucos

objetos, não possuindo uma cultura literária formal, já que sua língua era transmitida

oralmente de pai para filho.

Com as sucessivas invasões, o idioma foi absorvido pelo novo povo dominante,

e muitas palavras se perderam no tempo.

Atualmente existem poucos remanescentes dos Celtas na Escócia, Irlanda e Ilha

de Man.

Este povo reinou soberano sobre o país por cerca de 400 anos, até a chegada dos

romanos.

7.2. Romanos

Em 46 d.C, o imperador romano Claudio invadiu e conquistou a Bretanha, e,

com a chegada dos novos invasores, o latim passou a ser amplamente falado na ilha, já

que era a língua do império, e a mais falada para questões comerciais e políticas,

embora o idioma celta ainda permanecesse.

Os celtas, apesar de terem suas terras invadidas, gozaram de certos benefícios de

ter os romanos por perto, como, por exemplo, a proteção que tinham contra os bretões

que tentavam constantemente invadir a Inglaterra, e que eram sempre frustrados pelo

forte e treinado exército de Roma.

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Depois de cerca de 400 anos de domínio, os Romanos viram seu império se

desfazer, e os soldados que permaneciam na Bretanha foram chamados de volta à

capital, deixando os celtas à mercê de seus invasores.

7.3. Anglo-Saxões

Após a saída dos romanos das terras britânicas, os celtas, agora desprotegidos

contra os bretões, do norte, pediram ajuda a guerreiros germânicos, os anglos, os jutos e

os saxões, que viviam onde hoje são as atuais Alemanha e Dinamarca.

Esses guerreiros, como propunha o acordo com os celtas, afastaram os bretões.

Porém, vendo que a terra era muito fértil e os celtas não seriam capazes de se defender,

tomaram a Bretanha e expulsaram seus antigos habitantes, começando uma nova era na

ilha.

Page 24: Após a saída dos romanos das terras britânicas

Ilustração 1: Países de origem dos Anglos, Saxões e Jutos e locais de assentamento na Bretanha

Os Saxões formaram quatro reinos, cada qual referente à posição geográfica que

ocupava, e que deram nomes às atuais regiões de:

Essex (East Saxons; Saxões do leste);

Sussex (South Saxons; Saxões do sul);

Middlesex (Middle Saxons; Saxões do centro);

Wessex (West Saxons; Saxões do oeste).

Os Anglos formaram três reinos, conhecidos como:

Nortumbria: Atualmente ocupando o extremo norte da Inglaterra e sudeste da

Escócia;

Ânglia Oriental: Hoje Norfolk e Suffolk;

Mercia: Que cobria as áreas de Londres até o extremo sul de Gloucestershire no

sul, da região de Lincolnshire até o sul de Lancanshire, ao norte.

Os Jutos, depois de destruírem uma parte dos nativos Celtas e absorver outra, se

estabeleceram em Kent, Hampshire e na Ilha de Wight.

Page 25: Após a saída dos romanos das terras britânicas

Ilustração 2: Mapa da Inglaterra moderna

Os três povos germânicos falavam línguas muito parecidas, que ficaram

conhecidas como proto-germânico, pois delas se derivaram as línguas germânicas, como

o inglês.

Esta língua deu origem ao que ficou conhecido com inglês arcaico, ou anglo-

saxão, a primeira versão da língua inglesa, embora muitos estudiosos não considerem

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essa língua como sendo o inglês, pois é muito diferente de qualquer outra versão do

idioma.

Para ter uma ideia primária das diferenças entre essa língua e o inglês moderno,

vejamos como eram escritos os números:

Indo-

arábicoInglês arcaico Inglês moderno

1 an one

2 twa two

3 thri three

4 feower four

5 fif five

6 sex six

7 seofon seven

8 eahta eight

9 nighon nine

10 tyn ten

7.3.1. Características fonéticas do Inglês Arcaico

O inglês arcaico, ou anglo-saxão possuía a pronúncia muito diferente do inglês

atual. Primeiro, as letras p, b, t, d, m, n l e r eram pronunciadas da mesma forma como

é feito hoje. K, q, v, x e z não eram usados.

Algumas letras tinham sua pronúncia alterada dependendo das letras que

estivessem perto. F e S, por exemplo, eram pronunciadas como hoje, a menos que

estivessem entre duas vogais, ou uma vogal e uma consoante aspirada. Neste caso, elas

eram pronunciadas como v e z, respectivamente. O mesmo acontecendo com as letras

arcaicas thorn (þ) e eth (ð). Ambas eram pronunciadas como o TH em thin, a menos

que estivessem entre vogais. Então, eram pronunciadas com TH em then.

C e g também possuíam suas variações: Antes de vogais posteriores (a, o, e u),

eram pronunciadas com c em cat e g em guess; antes de vogais frontais (y, i, e, e æ),

eram pronunciadas como ch em chat e y em yes, respectivamente. O mesmo acontecia

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com o h, que, no começo de uma palavra era aspirada, enquanto que, perto de vogais

posteriores, soava como a pronúncia alemã do ch em Bach, e próxima avogais frontais,

soava como a palavra alemã ich.

Haviam também várias consoantes duplas, como sc, cuja pronúncia soa com sh

em ship; cg que soa como j e dg em judge; hl, hr, hn e hw, que eram pronunciadas

como l, r, n e w, porém com uma pronúncia surda.

Haviam dois tipos de vogais, as curtas e as longas. As curtas eram o a, i e u, com

a pronúncia igual ao português, o como ó, y como no alemão ü, e æ, como em bat. As

vogais longas, em geral com acento agudo eram, á, é, í e ú como em português, ó, como

o ô, em português e y e æ como uma versão longa de si.

Haviam também três vogais duplas, cada uma com sua versão longa e curta: ea

virava eh ou ay quando seguida de ah; eo era eh ou ay quando seguida de um o curto; e

ie, que era ih ou ee, quando seguido por eh.

Em termos gerais, a pronúncia do inglês arcaico não se diferencia muito das

línguas latinas.

Aqui estão algumas frases em inglês arcaico, tiradas do poema épico anglo-

saxão Beowulf:

Ic grete þe – Eu te cumprimento

Wilcume – Bem vindo

Leofe broða – Caros irmãos

Sweostor min – Minha irmã

Leof – Amigo

Hwæt eart þu? – Quem é você?

Beowulf is min nama – Meu nome é Beowulf

Min nama is Michael – Meu nome é Michael

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Ilustração 3 Prólogo de Beowulf, poema épico do

séc. VI, disponibilizado pela British Library

E aqui temos a oração do Pai Nosso em inglês arcaico.

Fæder ūre, þū þe eart on heofonum;Sīe þīn nama gehālgod,tō becume þīn rīce,gewurþe þīn willa,on eorðan swā swā on heofonum.Urne gedæghwamlican hlāf sele ūs tōdæg,and forgif ūs ūre gyltas,swā swā wē forgifaþ ūrum gyltendum,and ne gelǣd þū ūs on costnunge,ac ālȳs ūs of yfele, sōþlīce.

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7.4. Franceses

Os anglo-saxões já haviam se estabelecido nas terras britânicas e formado reinos

e sua própria língua, até que em 1066 o duque William, o conquistado, da Normandia,

invadia a Inglaterra, matando o recém coroado rei.

Em 25 de dezembro daquele ano, William foi coroado rei da Inglaterra, abrindo

uma nova era na história inglesa, a era dos reis franceses.

Este fato abriu caminhos para mais uma mudança na língua.

Com reis franceses, que não falavam inglês, a língua da corte passou a ser o

francês. Assim, os nobres eram detentores da língua dos invasores, enquanto o resto da

população continuava falando inglês. Depois de algum tempo, as duas línguas sofreram

uma espécie de fusão, dando origem a um novo idioma, o que é considerado por alguns

especialistas como o primeiro idioma inglês verdadeiro, o inglês médio.

O autor considerado o responsável por consolidar esta nova forma de inglês foi

Geoffrey Chaucer, em seu livro The Cantebury Tales.

Ilustração 4 Prólogo de Cantebury Tales, disponibilizado pela British Library

Page 30: Após a saída dos romanos das terras britânicas

7.4.1. Pronúncia do inglês médio

Por possuir diversas formas de pronúncia, variando de lugar a lugar, estas

regras não podem ser consideradas como definitivas.

Vogais

a pronunciada exatamente como em português

e quando seguida por uma consoante, é pronunciada como o ei,

porém de forma mais curta.

e com duas consoantes seguindo, deve ser pronunciada como é

e em sílabas átonas, particularmente no fim de palavras, é

pronunciada como em português

i, y pronunciadas como o i em português

o pronunciada como ou

o, ou, ow, u também podem ser pronunciados como u

au, aw Pronunciados como em português

ay, ai, ey, ei pronunciados como ai

oi, ou pronunciados como oi

Consoantes

h tem o som aspirado, como em house

k é pronunciada em palavras como knight

w som de u

wh, w, hw, qu pronunciado como hw

l pronunciado em palavras como half, folk

gn pronunciado como ny

ch é falado como a pronúncia escocesa em loch

s nunca pronunciado como z no fim de palavras

i ocasionalmente usado como o som de j

u ocasionalmente usado para os sons de w e v

Page 31: Após a saída dos romanos das terras britânicas

Abaixo temos a versão da oração do Pai nosso em inglês médio

Oure fadir þat art in heuenes halwid be þi name;þi reume or kyngdom come to be.Be þi wille don in herþe as it is doun in heuene.yeue to us today oure eche dayes bred.And foryeue to us oure dettis þat is oure synnysas we foryeuen to oure dettouris þat is to men þat han synned in us.And lede us not into temptacion but delyuere us from euyl.

7.5. A grande mudança vocálica

Por volta de 1500, uma grande mudança começou a ocorrer na pronúncia do

idioma inglês. Não se sabe exatamente o que causou essa mudança, mas provavelmente

a proliferação da peste negra e o subseqüente êxodo para o sudoeste da Inglaterra, onde

havia uma quantidade muito diversa de pronúncias, fez com que muitas pessoas

absorvessem uma nova pronúncia, criando um dialeto mais padronizado.

É certo que com o advento da prensa de Caxton1 em Londres, os livros passaram

a se tornar mais comuns, mais pessoas aprendiam a ler e logo o dialeto londrino passou

a ser o padrão inglês.

A principal diferença entre o novo inglês e o inglês médio, é que as vogais

passaram a ser pronunciadas cada vez de forma mais curta, até que algumas passaram a

simplesmente não ser pronunciadas no fim de algumas palavras, como é o caso da vogal

–e, em like.

Este novo dialeto é conhecido como inglês moderno, e é o mais usado até hoje,

sofrendo apenas algumas alterações, principalmente de vocabulário, mas a pronúncia é,

basicamente, a mesma.

1 William Caxton (1422-1491) foi um comerciante, diplomata, escritor e pintor da Inglaterra; é considerado o primeiro impressor em inglês. Em 1475 publicou o primeiro livro em língua inglesa, que foi uma tradução de História de Tróia de Le Fèvre.

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Ilustração 5 Trecho de Hamlet, de William Shakespeare, escrito no novo dialeto padrão e impresso na prensa de Caxton¹

Abaixo, a oração do Pai nosso em inglês moderno do século XVI e o atual,

respectivamente.

Our Father who art in heaven,Hallowed be thy name.Thy kingdom come,Thy will be done,On earth as it is in heaven.Give us this day our dayly

bread,And forgyve us our trespasses,Even as we forgyve those whotrespass against us.And lead us not into temptationBut delivere us from evil.

Our father who is in heaven,Blessed be your name.May your kingdom come,May your will be done,On earth as it is in heaven.Give us this day our daily breadAnd forgive us our sins,Even as we forgive those whosin against us.Lead us not into temptation,But deliver us from evil.

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Ilustração 6: Linha do tempo que mostra as mudanças na pronúncia da língua inglesa. Os espaços negros representam um período de transição

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8. Diferenças fonéticas entre Inglês e Português

A língua portuguesa é considerada uma língua fonética, ou seja, é pronunciada

basicamente da forma como é escrita. Um estudante do idioma pode, por exemplo, não

saber o significado de uma determinada palavra e mesmo assim, pronunciá-la

perfeitamente.

Exemplo: O que significa a palavra sufumigação?

Como é pronunciada esta palavra?

Como aponta Marcello Marcelino (2006), mesmo um nativo, provavelmente não

saberia responder a primeira pergunta, mas conseguiria tranquilamente responder à

segunda.

A língua inglesa, por outro lado, possui uma grande irregularidade fonética, o que

faz um estudante, ou até mesmo um nativo, se confundir em alguns casos.

Exemplo: O que significa a palavra “vocabulary”?

Como é pronunciada esta palavra?

Neste caso, para um estudante brasileiro, é muito simples responder à primeira

pergunta, mas a segunda se torna um pouco mais complicada.

Isso fica claramente elucidado quando comparamos os fonemas dos dois idiomas.

A Língua Portuguesa possui um alfabeto de 26 letras e 33 fonemas:

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Vogais Consoantes Semivogais

áâãéêẽóôõiĩuũ

mnñbpdtgkvfzsjxRrλl

yw

A Língua Inglesa também possui um alfabeto de 26 letras, porém com 41 fonemas:

Vogais Consoantes

iːɪeɪɛæɑǝɜrʌɒɔoʊʊu:aɪaʊɔɪ

pbtdkgfvɵðszʃƷʧdƷmnŋlrhwy

Page 36: Após a saída dos romanos das terras britânicas

Tal discrepância no idioma bretão, que, como observado por David Crystal (2010), se

deve ao fato das várias influências lingüísticas sofrida pela Inglaterra por seus diversos

invasores (capítulo 1), acaba por causar uma enorme variação na pronúncia da língua,

transformando-a em algo assustador para os olhos dos alunos brasileiros despreparados.

Podemos notar essa variação quando tentamos responder a estas duas perguntas:

1) O que significa a palavra “bow”?

2) Como é pronunciada esta palavra?

Essas duas perguntas, de fato, fora de contexto, sempre aparecerão juntas, pois,

dependendo da pronúncia, o significado é alterado, e vice-versa. Por exemplo:

Se a pronúncia for /baʊ/, significa curvar.

Caso a pronúncia seja /boʊ/, significa arco.

9. Características dos fonemas da língua inglesa

9.1 Diferenças entre vogais e consoantes

Como visto nas tabelas descritas, uma língua é, em geral, dividida entre vogais e

consoantes, mas o que os diferencia?

Quando as vogais são pronunciadas, o ar expirado para formar o som não sofre

bloqueio, fluindo livremente para fora, fazendo com que apenas a posição dos lábios seja

capaz de diferenciá-las. Isso faz com que as vogais sejam mais fáceis de serem

pronunciadas por um falante cujo inglês não seja a língua materna.

As consoantes, por outro lado, sofrem influência de órgãos do aparelho fonador, que

bloqueia o ar, criando uma variedade maior de sons.

Abaixo vemos o aparelho fonador, modelo que será importante para a compreensão da

articulação dos órgão para a formação das consoantes, que será apresentada mais adiante

neste trabalho.

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Ilustração 7 Órgãos fonadores humanos. Como visto em <http://www.cefala.org/fonologia/galeria_imagens.php?vcategoria=Aparelho%20fonador&vnome=Diagrama%204&vfile=aparelhofonador_d4.jpg&vref=4 >

Aqui temos o diagrama de vogais, que mostra a articulação necessária para vocalizar

cada vogal.

As linhas verticais indicam o quão fechada a vogal é, enquanto as linhas horizontais

indicam o quão posterior a vogal é. Assim, as vogais do canto superior esquerdo, são

vogais frontais fechadas, que exigem o fechamento parcial da boca, com um fluxo maior

de ar. As do canto inferior direito, requerem que a boca seja amplamente aberta e com

pouco fluxo de ar.

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Ilustração 8 Diagrama de vogais

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9.2 A pronúncia das vogais

Neste capítulo veremos como vocalizar corretamente cada vogal, as palavras que necessitam esse som, a freqüência com que aparecem na fala.

/a/

Mandíbulas abertas e lábios abertos. Semelhante à letra a em português, como em “agora”.

Utilizado em:

Want; watch; father,

Freqüência: 10.74%

/aʊ/

Mandíbula aberta; língua bastante baixa, movimentando-se suavemente na parte posterior.

Utilizado em:

Talk; walk; chalk

Freqüência: 0.61%

Page 40: Após a saída dos romanos das terras britânicas

/æ/

Mandíbula bastante aberta; lábios levemente separados; língua baixa, relaxada e suavemente alocada para trás.

Utilizado em:

Apple; crash; have

Freqüência: 1.45%

/ɛ/

Mandíbula pouco aberta; lábios não devem estar arredondados; língua baixa e relaxada.

Utilizado em:

Egg; pet; get

Freqüência: 2.97%

/℮/

Mandíbula pouco aberta; lábios semi-fechados e não arredondados; língua baixa e relaxada.

Utilizado em:

Eight; locate; ballet

Freqüência: 1.71%

Page 41: Após a saída dos romanos das terras britânicas

/ɪ/

Mandíbula pouco aberta; lábios não arredondados; língua semi-elevada, parada e semi-tensionada.

Utilizado em:

Pit; think; signal

Freqüência: 8.33%

/i/

Mandíbula pouco aberta; lábios não arredondados; língua semi-elevada, e se move para uma posição superior.

Utilizado em:

Me; peel; week

Freqüência: 1.65%

/ɜr/

Mandíbula semi-aberta; lábios pouco arredondados; língua pouco elevada na parte frontal.

Utilizado em:

Fur; heard; earth

Freqüência: 0.52%

Page 42: Após a saída dos romanos das terras britânicas

/ʌ/

Mandíbula pouco aberta; lábios não arredondados; língua flexiona para a frente

Utilizado em:

Sun; under; understand

Freqüência: 1.75%

/ɔ/

Mandíbula aberta; língua relaxada, levantando suavemente na parte posterior; lábios levemente arredondados.

Utilizado em:

All; hall; jaw

Freqüência: 1.24%

/o/

Mandíbula levemente aberta; lábios arredondados, movem-se cada vez mais perto; língua tencionada, movimentando-se para cima e para trás simultaneamente.

Utilizado em:

Over; boat; hello

Freqüência: 1.51%

Page 43: Após a saída dos romanos das terras britânicas

/ʊ/

Mandíbula aberta; lábios arredondados, não se movem; língua curva-se alto na parte posterior.

Utilizado em:

Foot; good; cook

Freqüência: 0.86%

/u/

Mandíbula aberta; lábios arredondados; reta na parte frontal, levanta-se na parte posterior e tenciona.

Utilizado em:

Drew; crew; blew

Freqüência: 1.13%

/ɔɪ/

Mandíbula levemente aberta, abre-se um pouco mais; lábios de arredondados para não arredondados; língua tencionada, move-se para cima e para frente simultaneamente.

Utilizado em:

Boy; oil; coin

Freqüência: 0.14%

Page 44: Após a saída dos romanos das terras britânicas

9.4. Consoantes

/p/

Lábios unidos; segure o ar e solte-o em um estalo; átono.

Utilizado em:

Path; pepper; paint

Freqüência: 1.78%

/b/Igual ao /p/, porém a voz é projetada.

Uitilizado em:

Bath; raspberry; ball

Freqüência: 1.97%

/t/

Língua toca a parte posterior do dente; átono.

Utilizado em:

Tin; taxi; teeth

Freqüência: 6.42%

Page 45: Após a saída dos romanos das terras britânicas

/d/

Igual ao /t/, porém a voz é projetada.

Utilizado em:

Dove; danger; dig

Freqüência: 5.14%

/k/

A parte posterior da língua toca a parte posterior do palato duro, sem que a voz seja projetada.

Utilizado em:

Car; cat; copy

Freqüência: 3.09%

/g/

Idêntico ao /k/, porém vocalizado.

Utilizado em:

Get; gift; girl

Freqüência: 1.05%

Page 46: Após a saída dos romanos das terras britânicas

/f/

Lábio inferior toca dentes superiores sem projetar a voz.

Utilizado em:

Fish; fork; five

Freqüência: 1.79%

/v/

Idêntico ao /f/, porém vocalizado.

Utilizado em:

Vow; vegetable; vixen

Freqüência: 2.00%

/ɵ/

A lingual é projetada na ponta dos dentes superiors e nenhum som é vocalizado.

Utilizado em:

Thing; Thursday; thumb

Freqüência: 0.37%

Page 47: Após a saída dos romanos das terras britânicas

/ð/

Como o /ɵ/, porém vocalizado.

Utilizado em:

Father; that; those

Freqüência: 3.56%

/s/

Lábios não arredondados; língua próxima aos dentes, mas sem encostar; o ar deve fluir entre o espaço da língua e dos dentes.

Utilizado em:

Sake; sour; salt

Freqüência: 4.81%

/z/

Igual ao /s/, mas vocalizdo.

Utilizado em:

Ziper; jazz; buzz

Freqüência: 2.46%

Page 48: Após a saída dos romanos das terras britânicas

/ʃ/

Ponta da língua quase tocando o palato, parte posterior da língua relaxada.

Utilizado em:

Shower; nation, tension

Freqüência: 0.96%

/Ʒ/

Língua encostando-se ao palato, segurando ar e depois o liberando rapidamente.

Uitilizado em:

Asia; asiatic, measure

Freqüência: 0.10%

/h/

Boca aberta, sem obstruções, liberando o ar sem vocalizar.

Utilizado em:

Home; happy; horse

Freqüência: 1.46%

Page 49: Após a saída dos romanos das terras britânicas

/ʧ/

Língua encosta-se ao palato; posterior da língua levantado; se segura o ar por um instante e o solta de uma vez.

Utilizado em:

Change; chance; check

Freqüência: 0.41%

/dƷ/

Similar ao /Ʒ/, o ar, porém, é segurado por mais tempo.

Uitilizado em:

Jazz; judge; advantage

Freqüência: 0.60%

/m/

Lábios cerrados; som nasal.

Utilizado em:

Man; mother; money

Freqüência: 3.22%

Page 50: Após a saída dos romanos das terras britânicas

/n/

Lábio separados; língua encostada no palato, fazendo com que o som saia pelo nariz.

Utilizado em:

No; never; name

Freqüência: 7.58%

/ŋ/

A parte posterior da língua se eleva para tocar o palato mole, obstruindo a passagem de ar, que é forçado a sair pelo nariz; não é vocalizado.

Utilizado em:

King; going; thing

Freqüência: 1.15%

/l/

A língua toca a porção entre os dentes superiores e o palato duro e depois se projeta para frente.

Utilizado em:

Lame; lost; lilly

Freqüência: 3.66%

Page 51: Após a saída dos romanos das terras britânicas

/r/

A ponta da língua se projeta ao palato duro, enquanto a parte posterior se mantem baixa.

Utilizado em:

Rope; river; rage

Freqüência: 3.51%

/w/

Lábios arredondados, se se tocar, abrindo-se.

Utilizado em:

Water; wing; woman

Freqüência: 2.81%

/j/

A língua se afasta do dente; a mandíbula se abre; os lábios saem de uma posição de “sorriso” para uma mais arredondada.

Utilizado em:

You; yellow; yard

Freqüência: 0.88%

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III. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após discorrer sobre o que foi apresentado no trabalho, podemos concluir que o ensino da pronúncia da língua inglesa não é uma tarefa das mais fáceis, não devendo estar a cargo de profissionais despreparados, uma vez que o mau ensino e o conseqüente mau aprendizado acarretariam em uma pronúncia irregular e totalmente diferente do padrão americano, o que seria um grande desperdício de tempo e esforço, tanto por parte do “profissional”, que não soube lidar com a tarefa de forma eficiente, quanto por parte do aprendiz, que acreditará que é fluente em um idioma até o dia quando precisará usá-lo e perceberá o quão pouco sabe.

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