Apostila 1 - Sociologia - 2°G

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APOSTILA DE SOCIOLOGIA – 2°G PARTE 1 – De onde vem a diversidade social brasileira? A população brasileira – diversidade nacional e regional DIVERSIDADE CULTURAL NO BRASIL A diversidade cultural refere-se aos diferentes costumes de uma sociedade, entre os quais podemos citar: vestimenta, culinária, manifestações religiosas, tradições, entre outros aspectos. O Brasil, por conter um extenso território, apresenta diferenças climáticas, econômicas, sociais e culturais entre as suas regiões. Os principais disseminadores da cultura brasileira são os colonizadores europeus, a população indígena e os escravos africanos. Posteriormente, os imigrantes italianos, japoneses, alemães, poloneses, árabes, entre outros, contribuíram para a pluralidade cultural do Brasil. Nesse contexto, alguns aspectos culturais das regiões brasileiras serão abordados. Região Nordeste Entre as manifestações culturais da região estão danças e festas como o bumba meu boi, maracatu, caboclinhos, carnaval, ciranda, coco, terno de zabumba, marujada, reisado, frevo, cavalhada e capoeira. Algumas manifestações religiosas são a festa de Iemanjá e a lavagem das escadarias do Bonfim. A literatura de Cordel é outro elemento forte da cultura nordestina. O artesanato é representado pelos trabalhos de rendas. Os pratos típicos são: carne de sol, peixes, frutos do mar, buchada de bode, sarapatel, acarajé, vatapá, cururu, feijão-verde, canjica, arroz-doce, bolo de fubá cozido, bolo de massa de mandioca, broa de milho verde, pamonha, cocada, tapioca, pé de moleque, entre tantos outros. Região Norte A quantidade de eventos culturais do Norte é imensa. As duas maiores festas populares do Norte são o Círio de Nazaré, em Belém (PA); e o Festival de Parintins, a mais conhecida festa do boi-bumbá do país, que ocorre em junho, no Amazonas. Outros elementos culturais da região Norte Prof. Valter Batista de Souza 1

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APOSTILA DE SOCIOLOGIA – 2°GPARTE 1 – De onde vem a diversidade social brasileira?A população brasileira – diversidade nacional e regional

DIVERSIDADE CULTURAL NO BRASIL

A diversidade cultural refere-se aos diferentes costumes de uma sociedade, entre os quais podemos citar: vestimenta, culinária, manifestações religiosas, tradições, entre outros aspectos. O Brasil, por conter um extenso território, apresenta diferenças climáticas, econômicas, sociais e culturais entre as suas regiões.

Os principais disseminadores da cultura brasileira são os colonizadores europeus, a população indígena e os escravos africanos. Posteriormente, os imigrantes italianos, japoneses, alemães, poloneses, árabes, entre outros, contribuíram para a pluralidade cultural do Brasil.

Nesse contexto, alguns aspectos culturais das regiões brasileiras serão abordados.

Região Nordeste

Entre as manifestações culturais da região estão danças e festas como o bumba meu boi, maracatu, caboclinhos, carnaval, ciranda, coco, terno de zabumba, marujada, reisado, frevo, cavalhada e capoeira. Algumas manifestações religiosas são a festa de Iemanjá e a lavagem das escadarias do Bonfim. A literatura de Cordel é outro elemento forte da cultura nordestina. O artesanato é representado pelos trabalhos de rendas. Os pratos típicos são: carne de sol, peixes, frutos do mar, buchada de bode, sarapatel, acarajé, vatapá, cururu, feijão-verde, canjica, arroz-doce, bolo de fubá cozido, bolo de massa de mandioca, broa de milho verde, pamonha, cocada, tapioca, pé de moleque, entre tantos outros.

Região Norte

A quantidade de eventos culturais do Norte é imensa. As duas maiores festas populares do Norte são o Círio de Nazaré, em Belém (PA); e o Festival de Parintins, a mais conhecida festa do boi-bumbá do país, que ocorre em junho, no Amazonas. Outros elementos culturais da região Norte são: o carimbó, o congo ou congada, a folia de reis e a festa do divino.A influência indígena é fortíssima na culinária do Norte, baseada na mandioca e em peixes. Outros alimentos típicos do povo nortista são: carne de sol, tucupi (caldo da mandioca cozida), tacacá (espécie de sopa quente feita com tucupi), jambu (um tipo de erva), camarão seco e pimenta-de-cheiro.

Região Centro-Oeste

A cultura do Centro-Oeste brasileiro é bem diversificada, recebendo contribuições principalmente dos indígenas, paulistas, mineiros, gaúchos, bolivianos e paraguaios. São manifestações culturais típicas da região: a cavalhada e o fogaréu, no estado de Goiás; e o cururu, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A culinária regional é composta por arroz com pequi, sopa paraguaia, arroz carreteiro, arroz boliviano, maria-isabel, empadão goiano, pamonha, angu, cural, os peixes do Pantanal - como o pintado, pacu, dourado, entre outros.

Região Sudeste

Os principais elementos da cultura regional são: festa do divino, festejos da páscoa e dos santos padroeiros, congada, cavalhadas, bumba meu boi, carnaval, peão de boiadeiro, dança de velhos, batuque, samba de lenço, festa de Iemanjá, folia de reis, caiapó.A culinária do Sudeste é bem diversificada e apresenta forte influência do índio, do escravo e dos diversos imigrantes europeus e asiáticos. Entre os pratos típicos se destacam a moqueca

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capixaba, pão de queijo, feijão-tropeiro, carne de porco, feijoada, aipim frito, bolinho de bacalhau, picadinho, virado à paulista, cuscuz paulista, farofa, pizza, etc.

Região Sul

O Sul apresenta aspectos culturais dos imigrantes portugueses, espanhóis e, principalmente, alemães e italianos. As festas típicas são: a Festa da Uva (italiana) e a Oktoberfest (alemã). Também integram a cultura sulista: o fandango de influência portuguesa, a tirana e o anuo de origem espanhola, a festa de Nossa Senhora dos Navegantes, a congada, o boi-de-mamão, a dança de fitas, boi na vara. Na culinária estão presentes: churrasco, chimarrão, camarão, pirão de peixe, marreco assado, barreado (cozido de carne em uma panela de barro), vinho.

Disponível em http://www.mundoeducacao.com/geografia/diversidade-cultural-no-brasil.htm, acesso em 01 de fevereiro de 2014.

A VISÃO DA UNESCO

O Brasil tem uma notável diversidade criativa. Diversidade cultural pode ter um papel central no desenvolvimento de projetos culturais no país, especialmente com ênfase nos indígenas e afrodescendentes.

Áreas como o artesanato tradicional, pequenas manufaturas, moda e design são áreas estratégicas para o país, em vista de sua potencialidade em termos da melhoria das condições de vida das populações mais pobres. Elas podem trazer empoderamento individual e contribuir com a reduçâo da pobreza.

Ao tentar enfrentar seu problema mais urgente – a desigualdade social – o país vem descobrindo a forte influência da cultura para a configuração dessa realidade, bem como seu potencial de transformação social do cenário atual.

Falta ainda uma abordagem cultural mais profunda com relação aos povos indígenas e aos afrodescendentes. Estes dois grupos de minoria apresentam os piores indicadores sociais do país, mas que apenas nos últimos anos passaram a ser alvo de políticas sociais específicas.

É preciso que mais seja feito para preservar:

tradições indígenas,

línguas indígenas ameaçadas de desaparecimento,

conhecimento tradicional indígena sobre a natureza

terras índigenas - há conflitos a respeito da expansão a fronteira agrícola e os investimentos em infraestrutura,

afirmação dos direitos dos povos indígenas,

Influência da cultura africana na cultura e história do Brasil.

Disponível em http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/cultural-diversity/, acesso em 31 de janeiro de 2014.

AMPLIANDO OS CONCEITOS

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Compreendemos que seja necessário reconceituar o que é diversidade cultural, para além do que se trata no senso comum, como uma variedade necessária e positiva de costumes de uma sociedade.

Levando-se em consideração a necessidade de compreender que a cultura é construída na convivência social e que recebe influências históricas nesse processo, tem-se a diversidade cultural como uma possibilidade de intercâmbio, algo que se movimenta, que permite juntar as pontas que nos unem nos processos de diálogos e de trocas.

Desse modo, compreendemos, assim como descrito no "Relatório Mundial da UNESCO - Investir na diversidade cultural e no diálogo intercultural", que a diversidade cultural é mais do que um bem a ser preservado, mas um recurso que é necessário promover, principalmente em espaços que são carentes da compreensão do que é cultura.

Em dias de tantas instabilidades políticas e extremismos étnicos, faz-se necessário usar os canais disponíveis, em particular os que são inerentes à educação escolar, para trazer à tona estes importantes temas: cultura, identidade e etnias.

O QUE É DIVERSIDADE CULTURAL?

 

Para Anete Abramowicz (2006, p. 12):

“diversidade   pode   significar   variedade,   diferença   e   multiplicidade.   A diferença é qualidade do que é diferente; o que distingue uma coisa de outra, a falta de igualdade ou de semelhança”.

Nesse sentido, podemos afirmar que onde há diversidade existe diferença.

Marisa Vorraber Costa (2008) afirma que a diferença não é uma marca do sujeito, mas sim uma marca que o constituem socialmente, e se estabeleceu como uma forma de exclusão, ser diferente na educação ainda significa ser excluído e/ou ser subrepresentado nas instâncias sociais.

Reconhecer que somos diferentes para estabelecer a existência de uma diversidade cultural no Brasil, não é suficiente para combater os estereótipos e os estigmas que ainda marginalizam milhares de crianças em nossas escolas e milhares de adultos em nossa sociedade. Maria Vera Candau (2005, p. 19) afirma que:

“Não se deve contrapor igualdade a diferença. De fato, a igualdade não está oposta à diferença, e sim à desigualdade, e diferença não se opõem à igualdade, e sim à padronização, à produção em série, à uniformidade, a sempre o “mesmo”, à mesmice”.

Reconhecer a diferença é questionar os conceitos homogêneos, estáveis e permanentes que excluem o ou a diferente. As certezas que foram socialmente construídas devem se fragilizar e desvanecer. Para tanto, é preciso desconstruir, pluralizar, ressignificar, reinventar identidades e subjetividades, saberes, valores, convicções, horizonte de sentidos. Somos obrigados a assumir o múltiplo, o plural, o diferente, o híbrido, na sociedade como um todo (CANDAU, 2005).

Falar sobre diversidade não pode ser só um exercício de perceber os diferentes, de tolerar o “outro”. Antes de tolerar, respeitar e admitir a diferença é preciso explicar como essa diferença é produzida e quais são jogos de poder estabelecido por ela. Como nos alerta Tomaz Tadeu da Silva (2000), a diversidade biológica pode ser um produto da natureza, mas o mesmo não se

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pode dizer sobre a diversidade cultural, pois, de acordo com o autor, a diversidade cultural não é um ponto de origem, ela é em vez disso um processo conduzido pelas relações de poderes constitutivos da sociedade que estabelece “outro” diferente do “eu” e “eu” diferente do “outro” como uma forma de exclusão e marginalização.

Uma ação pedagógica realmente pautada na diversidade cultural deve ter como principio uma política curricular da identidade e da diferença. Tem obrigação de ir além das benevolentes declarações de boa vontade para com a diferença, ela coloca em seu centro uma teoria que permita não só reconhecer e celebrar a diferença, mas também questioná-la, a fim de perceber como ela discursivamente está constituída.

Um debate interessante

Na concepção atual, tanto a música funk quanto a erudita são consideradas manifestações culturais? A discussão aqui não é a qualidade da produção cultural, mas sim se consiste em manifestações distintas de cultura ou desvalorização e sobreposição de uma em relação à outra.

Pensando nisso, pode-se afirmar que ambas musicalidades são expressões culturais. Cada uma a seu tempo, em seu lócus, têm enormes contribuições a dar à sociedade. Da cultura erudita vem a música clássica, da cultura popular de massas, o funk,

Na forma e no conteúdo, são expressões bem diversas de uma das grandes artes.

Há, ainda, obviamente, uma grande resistência à cultura funk, pela sua origem na periferia, pelas letras agressivas, por vezes, e pela estética que carrega, ferindo a gramática e a língua, para passar a mensagem da periferia pra frente.

A música erudita, inacessível às massas, por conter um histórico que precisa ser conhecido para que se compreenda o todo de sua expressão e por não ter espaços democráticos que permitam o acesso facilitado às suas execuções.

Mas são culturaS!

E conhecer culturas diversas ajuda a conhecer mundos diferentes, realidades inacessíveis e a respeitar essas diferenças com mais facilidade. Amplia a visão de mundo, aproxima os povos, facilita a integração e fortalece os laços que nos aproximam dos outros. Além disso, num país como o nosso, erguido a partir da miscigenação e da exploração de povos diversos, conhecer as culturas indígena e africana, em particular, nos permite conhecer nossa história mais a fundo, buscar explicações para termos tão poucos indígenas em nosso país, para compreendermos os problemas inerentes a este processo e o atual quadro de desequilíbrio que se vê claramente em nossa sociedade, no que diz respeito aos direitos humanos, em particular os de negros e indígenas.

A escola é uma Instituição que se presume democrática e inclusiva. Não é um simples espaço de aprendizagem ou de trocas, mas de construção. Quando se fala em diversidade cultural tem-se na escola um espaço importante de formação de uma ética adequada aos novos tempos. Sim, porque em tempos passados, admitia-se de tudo, mesmo inferências preconceituosas, até mesmo racistas, em ambientes escolares. Apelidos e anedotas tão comuns outrora, se tornaram proibidos em nome de uma nova forma de convivência, baseada no respeito às diferenças, a partir do seu reconhecimento e na aceitação da riqueza de que a diversidade pode acrescentar muito à cultura local.

Assim, é papel da escola contribuir na construção de uma visão de mundo adequada, em que a cultura diversa é um fator positivo e que deve ser valorizado.

É necessário depreender uma questão semântica que delineia os termos multiculturalidade e interculturalidade. Portanto, devemos caminhar na direção de um processo educativo que pode ajudar na construção de uma educação intercultural.

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Ao redor de quatro ações, este processo pode contribuir para uma escola verdadeiramente inclusiva, no que diz respeito à questão da diversidade cultural.

Primeiramente, desconstruir o conceito de cultura, aliás, de monocultura, reconhecendo o caráter desigual, discriminador e racista de nossa sociedade. Articular a igualdade e a diferença, assegurando a educação como um direito de todos. Resgatar nossas identidades culturais e colaborar na construção de novas identidades, inclusivas. Promover uma dinâmica educacional que favoreça processos de empoderamento nas dimensões individual e coletiva.

Fonte: SOUZA, Valter Batista de. Cultura e culturas na escola. Texto escrito para o curso “Na trilha da cidadania: diversidade e etnias”, Outubro/2013.

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