Apostila 17

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Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 1 Convenio FENIPE e FATEFINA Promoção dos 300.000 Cursos Grátis Pelo Sistema de Ensino a Distancia SED CNPJ º 21.221.528/0001-60 Registro Civil das Pessoas Jurídicas nº 333 do Livro A-l das Fls. 173/173 vº, Fundada em 01 de Janeiro de 1980, Registrada em 27 de Outubro de 1984 Presidente Nacional Reverendo Pr. Gilson Aristeu de Oliveira Coordenador Geral Pr. Antony Steff Gilson de Oliveira APOSTILA Nº. 17/300.000 MIL CURSOS GRATIS EM 57 PAGINAS. Apostila 17 Estudo Teológico Sobre a Graça Parte I "PORTANTO...” "Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão" (1Co 15.57,58). 1Coríntios 15 é um extraordinário, inspirativo e abençoador capítulo do Novo Testamento. Ele se encerra com uma exortação que fala de vitória: "Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão" (1Co 15.57,58). Que há antes desse "portanto?" Paulo fala de corpos transformados na ressurreição geral. Porém, que outro ensino há antes desta palavra apostólica sobre a ressurreição? Agora, é preciso ir ao sermão profético de Jesus em Mateus 24 e 25, o, assim chamado, "Pequeno Apocalipse". Nele encontraremos o Senhor falando sobre o princípio das dores, os sinais de Seu retorno, a Grande Tribulação, Sua gloriosa Volta (a Parousia), o Arrebatamento e o Juízo Final. Tudo isso culmina com o "Portanto..." de Paulo, que é um estímulo e encorajamento à fidelidade e paciência no aguardo da Volta de Jesus. UM ACONTECIMENTO AGENDADO A Segunda Vinda de Cristo é um acontecimento programado conforme Atos 1.11 (cf. Fp 3.20). E todo o Novo Testamento nos ensina que Jesus Cristo veio para inaugurar Seu reino (Mc 1.15), e virá pela vez segunda para consumá-lo (Hb

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Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 1

Convenio FENIPE e FATEFINA Promoção dos 300.000 Cursos Grátis Pelo Sistema

de Ensino a Distancia – SED

CNPJ º 21.221.528/0001-60

Registro Civil das Pessoas Jurídicas nº 333 do Livro A-l das Fls. 173/173 vº, Fundada

em 01 de Janeiro de 1980, Registrada em 27 de Outubro de 1984

Presidente Nacional Reverendo Pr. Gilson Aristeu de Oliveira

Coordenador Geral Pr. Antony Steff Gilson de Oliveira

APOSTILA Nº. 17/300.000 MIL CURSOS GRATIS EM 57 PAGINAS.

Apostila 17 Estudo Teológico Sobre a Graça Parte I "PORTANTO...”

"Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão" (1Co 15.57,58). 1Coríntios 15 é um extraordinário, inspirativo e abençoador capítulo do Novo Testamento. Ele se encerra com uma exortação que fala de vitória: "Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão" (1Co 15.57,58). Que há antes desse "portanto?" Paulo fala de corpos transformados na ressurreição geral. Porém, que outro ensino há antes desta palavra apostólica sobre a ressurreição? Agora, é preciso ir ao sermão profético de Jesus em Mateus 24 e 25, o, assim chamado, "Pequeno Apocalipse". Nele encontraremos o Senhor falando sobre o princípio das dores, os sinais de Seu retorno, a Grande Tribulação, Sua gloriosa Volta (a Parousia), o Arrebatamento e o Juízo Final. Tudo isso culmina com o "Portanto..." de Paulo, que é um estímulo e encorajamento à fidelidade e paciência no aguardo da Volta de Jesus. UM ACONTECIMENTO AGENDADO A Segunda Vinda de Cristo é um acontecimento programado conforme Atos 1.11 (cf. Fp 3.20). E todo o Novo Testamento nos ensina que Jesus Cristo veio para inaugurar Seu reino (Mc 1.15), e virá pela vez segunda para consumá-lo (Hb

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9.28). Na verdade, a fé da Igreja dos apóstolos é dominada pela expectativa desse retorno de Jesus Cristo. Tiago 5.8 é porção claríssima da Palavra ao dizer, "Sede vós também pacientes, e fortalecei os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima" (cf. 1Co 4.5; Fp 4.5; 1Ts 5.2; Tt 2.11-13; 1Pe 5.4; 2Pe 3.10; 1Jo 2.28; 3.2; Ap 1.7; 3.11; 22.20). Se esta expectativa não existir, alguma coisa está errada. Mas a expressão "últimos dias" não é compreendida do mesmo modo por todos: · Há quem entenda que os "últimos dias" começaram com o estabelecimento do Estado de Israel em 1948. · Há quem compreenda que são os anos finais de 2000 e começo de 2001. · Há quem ache que não é uma coisa nem outra, mas que os sinais estão aí, e que os "últimos dias" estão se aproximando. Eu prefiro ficar com a Bíblia: desde que Jesus, após a ressurreição, voltou aos céus, nós estamos nos "últimos dias". Afinal, na Festa de Pentecostes, deu-se o derramamento do Espírito Santo sobre a nascente Igreja, e isso fora predito pelos antigos profetas como Joel 2.28 ("E depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e os vossos filhos e as vossas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões") e Ezequiel 36. 25-27 (cf. Is 44.3; 32.15). E Pedro, apóstolo, o afirmou no seu discurso/sermão registrado em Atos 2.16-18. A própria primeira vinda de Cristo, incluindo Seu nascimento, ministério, morte, ressurreição e exaltação são, segundo Pedro, "o fim dos tempos" (1Pe 1.20). E Paulo o diz com absoluta certeza e pura clareza: "Tudo isto lhes aconteceu como exemplos, e estas coisas estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos". Igualmente o escritor de Hebreus não deixa por menos: "... a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez o mundo" (1.2; cf. 1Jo 2.18). E por que marcar a data da Segunda Vinda? Especulação. Pura especulação. Cada fim de milênio traz muita especulação. Isso aconteceu em 996, 997, 998, 999 quando o ano 1000 era aguardado. Isso aconteceu no final do século passado, em 1996, 1997, 1998, 1999 já que o ano 2000 estava se aproximando. Guilherme Miller, nos Estados Unidos, marcou o dia 21 de março de 1843 como o da Segunda Vinda de Cristo. Não veio. Remarcou para 22 de outubro do ano seguinte. Não veio. Claus Epp Jr, na Alemanha, marcou o mesmo evento para 1889. Nada aconteceu. O Rev. Scofield, autor das notas da Bíblia Scofield, marcou a batalha do Armagedon nos dias da I Guerra Mundial. Sem novidades. Leonard Sale-Harrison marcou para 1940 ou 1941. Nada. E outros tantos. Mas que Jesus vem, vem! Pedro diz que esse é um assunto para o qual devemos dar atenção e buscar compreender (2Pe 1.19), pois os fins dos tempos , os "últimos dias", chegaram: "Tudo isto lhes aconteceu como exemplos, e estas

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coisas estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos" (1Co 10.11). Essa é a razão porque Jesus nos advertiu acerca de acontecimentos e coisas outras que viriam para perturbar. Vamos a Mateus 24, onde estão os sinais do retorno de Cristo. Ele falou em sedução, em guerras e boatos acerca de guerras, em terremotos, fomes, em perseguições e em prodígios. Realmente, os sinais sempre existiram (não são coisa de hoje como se procura enfatizar). Eles caracterizam o período entre a Primeira e a Segunda Vindas, e cada década destes últimos dois mil anos tem testemunhado isso. Jesus nos informa sobre os sinais, não para marquemos os tempos, mas para sermos vigilantes. Jesus nos informa sobre os sinais não para que os consideremos anormais ou espetaculares, pois sinais espetaculares e anormais são os realizados por Satanás (cf. Ap 13.13,14; 2Ts 2.7-9). Deus trabalha na calma, no silêncio, como fermento na massa do pão. TRANSFORMADOS E GLORIFICADOS Continuando a examinar o capítulo 24 do Evangelho de Mateus, a partir do verso 29, a palavra de Jesus alude ao Seu retorno, a Parousia. Um ricaço inglês, por nome Ernest Digwood, falecido em 1976, deixou uma herança de 26.107 libras rendendo num banco. O destino desta importância é se até 2056, Jesus não retornar, será entregue ao governo britânico. Se, pelo contrário, Ele regressar para reinar na Terra, os procuradores públicos confirmarão Sua identidade e Lhe entregarão o dinheiro para ser aplicado no Seu reino. "Confirmar a identidade"? Vão pedir o R.G.? O C.I.C.? Certidão de Nascimento? Que coisa grotesca?! Quanto ridículo?! Quando Jesus regressar, não se precisa de comprovação de Sua identidade, pois "todo o olho O verá", afirma Apocalipse 1.7), e o diz Mateus 24.30. Sua vinda será pessoal. Alguém duvida? A Escritura o diz claramente, "Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá dos céus..." (1Ts 4.16 NVI; cf. At 1.11; 3.19-21; Cl 3.4). Seu retorno será repentino. É ler Mateus 24.27: "Pois assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até o ocidente, assim será também a vinda do Filho do homem" (cf. 1Ts 5.2). Há de ser visível. As Testemunhas de Jeová ensinam que Jesus voltou em 1914 de modo invisível. No entanto, "vede, ele vem com as nuvens e todo o olho o verá, até mesmo os que o trespassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Sim. Amém" (Ap 1.7; 1Ts 4.16). Será triunfante! Gloriosa! É verdade; a Primeira Vinda foi humilhada, pois Jesus nem teve onde nascer: aconteceu numa estrebaria; bercinho, nem falar: foi o cocho dos animais; durante Seu ministério, não tinha onde reclinar a cabeça; a cruz não era dEle, porém minha e sua; e, mesmo o túmulo foi emprestado. (cf. Is 53.2,3; Fp 2.7,8). A Segunda Vinda será gloriosa nos termos de 1Tessalonicenses 1.7, 10: "... e a

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vós, que sois atribulados, alivio conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder, ... quando vier para ser glorificado nos seus santos, e ser admirado em todos os que creram, naquele dia" (cf. Cl 3.4; 1Ts 4.16). Voltará acompanhado pelos Seus anjos, e pelos Seus fiéis (1Ts 4.14). Glorioso cortejo! Dois fatos maravilhosos para os quais nossas palavras são inadequadas acontecerão: a Ressurreição dos Corpos e o Arrebatamento da Igreja. A ressurreição significa esperança, pura esperança. Teócrito, poeta grego (300-250? a.C.) afirmou que "há esperança para os que estão vivos, porém, para os que morreram, não há qualquer esperança". Ésquilo, também grego (525-426 a.C.) contribuiu para essa descrença dizendo que "uma vez que o homem morra, não há ressurreição". Mas a Bíblia a afirma. Diz que crentes e descrentes, fiéis e incrédulos ressuscitarão ao mesmo tempo: "Não vos maravilheis disto, pois vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão: os que fizerem o bem sairão para a ressurreição da vida, e os que praticaram o mal, para a ressurreição da condenação" (Jo 5.28,29; cf. Dn 12.2). E 1Coríntios 15.21-23 apresenta a ordem da aguardada ressurreição: primeiro, Cristo (que já ressuscitou); depois, os de Cristo (cf. 1Ts 4.16). E o corpo da ressurreição está descrito em 1Coríntios 15.50-54. Corpos modificados, transformados, adequados às novas situações que nos esperam (cf. 1Co 15.51; Fp 3.20,21). Não mais seremos criaturas de carne e ossos, sangue e pele, mas teremos corpo espiritual semelhante ao de Jesus (1Jo 3.2)! O ARREBATAMENTO Nesse ponto, dar-se-á o Arrebatamento da Igreja. Jesus, Paulo e João falam desse evento com diferentes expressões : · Paulo diz, "seremos arrebatados" (1Ts 4.17); · Ou, "seremos transformados" (1Co 15.52); · João registra no Apocalipse como "subida" (cf. 11.12); · Jesus usa a frase "... [seus anjos] lhe ajuntarão os escolhidos" (Mt 24.31). Haverá uma tremenda tribulação e angústia antes do Arrebatamento (cf. Mt 24.15-28), quando os Seus escolhidos (linguagem do próprio Jesus) serão protegidos, mas a experimentarão (Ap 7.1ss, 13, 14). E, então, todos os salvos mortos serão ressuscitados, e todos os salvos vivos serão transformados e glorificados. Os dois grupos serão elevados ao ar para um encontro com Jesus. A propósito, era costume nas cidades antigas, as pessoas de uma cidade sairem para encontrar fora dos muros ou fora da cidade, o visitante ilustre, formando um cortejo com ele para voltar à cidade. Em certo sentido, fazemos isso quando vamos ao aeroporto ou rodoviária aguardar alguém nosso (cf. Mt 25.6ss). Há prévias do Arrebatamento na Bíblia: Enoque cf. Gn 5.21-24; Hb 11.5), Elias (2Ts 2.8-11).

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Há quem vá, e há quem fique! O joio é queimado, mas o trigo é recolhido, diz a parábola (Mt 13.24-30); os peixes que não servem são jogados fora, os bons são separados (Mt 13.47, 48). Os justos e os maus têm destino separado (cf. Mt 13.49, 50). E você, vai ou fica? Muito membro de igreja não vai ser arrebatado porque é só isso mesmo: membro de igreja. É batizado, é verdade, mas não é nascido de novo. Muito filho de crente fica; muito marido de mulher salva fica. E você? Não deixe de observar a palavra de Jesus: "será levado um e deixado o outro" (Mt 24.40, 41). O JUÍZO FINAL Pense direitinho: o julgamento de Deus já começou, pois "Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, porque não crê no nome do unigênito Filho de Deus" (Jo 3.18; 5.24). Mas na Segunda Vinda, o juízo vai esclarecer o que está oculto (1Co 4.5; Mt 10.26). Quem será julgado? Nações, anjos caídos (1Co6.2,3; 2Pe 2.4; Jd 6), os seres humanos Mt 25.32; Rm 2.5,6; 3.6;Ap 20.12,13). Agora, diante do Juiz, já não há reis e súditos, políticos e seus eleitores, patrões e empregados: só salvos e perdidos, a fé e a incredulidade (aliás, nesse dia acaba o ateísmo). No Juízo, palavra de alegria ("Vinde, benditos...", Mt 25.34), e palavra de terror ("Apartai-vos de mim, malditos...", Mt 25.41). A palavra de Deus ensina que nosso destino já é conhecido por Ele: "As minhas ovelhas ouvem a minha voz;eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; ninguém poderá arrebatá-las da minha mão" (Jo 10.27,28) e "Pois nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele" (Ef 1.4). Aí vale a lei espiritual da Perseverança dos Santos! Chegamos, então, ao "Portanto..." de 1Coríntios 15.58. Que fazer de agora até a Parousia, a Segunda Vinda e o Arrebatamento da Igreja? · Levar a vida normalmente, porém vigilantes (Mt 25.13); · "Aguardando a bem-aventurada esperança" (Tt 2.13); · Consolando ("exortando uns aos outros", 1Tessalonicenses 4.18); · Alegres (1Pe 4.12,13); · Em intensa consagração (1Pe 4.7-11). Quer dizer, agora a teologia se transforma em desafio, o pensamento teológico se torna práxis, ação. Paulo ensina, "Sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão", ou seja, "Mantei-vos firmes na fé e no serviço de Deus porque essa não é uma luta vazia". Estamos falando de vitória! Vitória plena! Plena vitória! E a glória das glórias, a vitória das vitórias é, como diz Paulo, que "estaremos para sempre com o Senhor"! (1Ts 4.17b).

Parte II

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O PÃO, O VINHO E O CORPO DE JESUS

Jesus é a nossa Páscoa. O termo "páscoa" deriva da palavra hebraica "pesah", que significa passar por cima, pular além da marca ou passar sobre. Quando Deus ordenou ao anjo destruidor que eliminasse todo primogênito na terra do Egito, a casa que tivesse o sinal do sangue do cordeiro não seria visitada pela morte (Êxodo 12.1-36). Os judeus passaram então a celebrar a Páscoa comemorando a saída do Egito, a passagem para a liberdade. A partir de Jesus, essa celebração foi substituída pela Ceia do Senhor, com o pão e o vinho, em Sua memória. Não mais para relembrarmos a saída do Egito, mas para estarmos sempre nos lembrando da liberdade que nEle há, da Sua morte e ressurreição. "Paulo, servo de Cristo Jesus, chamado para ser apóstolo", assim descreve como Jesus instituiu a Ceia do Senhor, por ocasião da Páscoa: "Pois eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão, e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo que é entregue por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; fazei isto todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Pois todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha" (1 Coríntios 11.23-26). O catolicismo romano admite que, na consagração da Missa, o pão e o vinho da Ceia do Senhor transformam-se realmente no corpo físico de Cristo. Assim se lê no Catecismo da Igreja Católica: "No santíssimo sacramento da Eucaristia estão contidos verdadeiramente, realmente e substancialmente o Corpo e o Sangue juntamente com a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, o Cristo todo. Esta presença se torna 'real' não por exclusão, como se as outras não fossem 'reais' , mas por antonomásia, porque é substancial e porque por ela Cristo, Deus e homem, se torna presente completo" (Página 379, item 1374). "Por meio da consagração opera a transubstanciação do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de Cristo. Sob as espécies consagradas do pão e do vinho, Cristo mesmo, vivo e glorioso, está presente de maneira verdadeira, real e substancial, seu corpo e seu sangue, com sua alma e sua divindade" (Página 390, item 1413). Deduz-se que um milagre é operado todas as vezes em que um sacerdote católico ministra a Eucaristia, mais precisamente no exato momento em que ele declara "isto é o meu corpo". Todavia, algumas dificuldades se apresentam quando examinamos as Escrituras. Vejamos: Jesus também comeu do pão e bebeu do vinho: "Ide, preparai-nos a páscoa, para que a comamos" (Lucas 22.8); "Onde está o aposento em que comerei a páscoa com os meus discípulos?" (v.11); "Desejei muito comer convosco esta páscoa, antes do meu sofrimento"(v.15). O contexto nos leva ao entendimento de que

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antes e depois de elevar o pão e o vinho, e de haver dado graças, Jesus participou da ceia com seus discípulos, comendo do pão e bebendo do vinho. A dificuldade está em que Jesus teria engolido a si próprio. Outro embaraço é quanto à presença dupla do corpo de Cristo, se admitida a interpretação literal: Jesus estava presente, presidindo a mesa, e estaria segurando o seu próprio corpo em suas mãos, quando disse "Isto é o meu corpo". Nos milagres operados pelo Senhor Jesus sempre houve mudança real dos elementos envolvidos. Exemplo da água que realmente se transformou em vinho (João 2.9); da multiplicação dos pães (Mateus 14.15-20); dos leprosos que realmente ficaram limpos (Lucas 17.11-14); da figueira que realmente secou (Mateus 21.19), e de tantos outros casos. No caso do pão e do vinho não aconteceu a mesma coisa. Os apóstolos não contemplaram dois corpos de Jesus. Da mesma forma não há transformação visível quando o sacerdote ministra a Ceia, eis que o pão e o vinho continuam sendo pão e vinho, com sabor, cheiro, cor, forma e peso característicos. Deus não entra em nós pela ingestão do pão. A Bíblia diz que aqueles que crêem em Jesus possuem o Espírito: "Não sabeis vós que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?" (1 Coríntios 3.16). A Ceia do Senhor - Comunhão ou Eucaristia - não é meio de salvação. Dela participam os salvos, os santos, os convertidos, ou seja, os que crêem em Jesus Cristo, confessaram o Seu nome, e O aceitaram como Senhor e Salvador. Estes já possuem o Espírito. (João 1.12; 3.16,18; Romanos 10.9; Atos 3.19; 16.31). A justificação não decorre do participar ou não da Ceia. Quem dela participa é a Igreja, os crentes em Jesus, os que já se acham justificados, lavados e remidos no sangue purificador. "Pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, e são justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus. Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei" (Romanos 3.23,24,28). A finalidade da Ceia é esclarecida pelo próprio Jesus: a) anunciar a Sua morte, seu sacrifício pelos pecadores, até a Sua vinda (1 Coríntios 11.26); b) para recordação ou em memória dele, "fazei isto em memória de mim" (Lucas 22.19) O Novo Comentário da Bíblia, Edições Vida Nova, vol. II, pg. 1208/9, assim explica 1 Coríntios 11.24-25: "Em memória de mim - A repetição é impressionante e nos dá a razão escriturística para a observância da Ceia do Senhor. Sua finalidade é fazermos recordação do Salvador, em todos os eventos de sua vida, mas principalmente de sua morte por nós na cruz; e, em recordá-lo, sentirmos sua presença conosco. A Santa Ceia é, pois, uma recordação de Cristo e uma comunhão com Ele". Vamos ler essa "repetição impressionante": "Isto é o meu corpo que é entregue por vós; fazei isto em memória de mim. Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; fazei isto todas as vezes que beberdes, em memória de mim" (1 Co 11.24-25). Jesus por duas vezes estabelece a finalidade da Ceia, ou seja, para

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que nos lembremos dEle, de Sua vida, palavras, morte, ressurreição. "Isto é o meu corpo" é uma linguagem figurativa. Jesus usou esse estilo em outras ocasiões. Ele disse: "Eu sou a porta. Todo aquele que entrar por mim, salvar-se-á. Entrará e sairá, e achará pastagens" (João 10.9). Ninguém de sã consciência fica a imaginar que Jesus é realmente uma porta de madeira ou de ferro, e que nós, ao passarmos por ela, iremos nos fartar comendo capim. Disse também: "Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai agricultor... vós sois os ramos" (João 15.1,5). Não é preciso muita lucidez para compreendermos que Jesus estava apenas ilustrando sua mensagem com um elemento figurativo. Longe de nós imaginar seja Ele uma árvore com raízes, tronco, folhas e galhos, e que o Pai esteja no campo plantando arroz. Disse mais: "Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Se alguém comer deste pão, viverá para sempre. Este pão é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo" (João 6.51). Outra linguagem figurada. Revela que em Cristo encontraremos alimento espiritual. Do céu não veio um pedaço de pão, nem somos antropófagos para saborear a carne do Seu corpo. Ainda nesse passo, Jesus declara: "Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva" (João 7.37-38). Ninguém cogita de interpretar literalmente essas palavras: não bebemos Jesus, e do nosso interior não jorra água abundante. Jesus não ordena RENOVAR o Seu sacrifício. Ele diz que o partir pão tem a finalidade de recordar e não de renovar. O Seu sacrifício não pode ser repetido. Vejam: "Isto [sacrifício] fez Ele, uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu" (Hebreus 7.27). "Mas este [Jesus], havendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus" (Hebreus 10.12). "Pois Cristo padeceu uma única vez pelos pecados..." (1 Pedro 3.18). "Pois sabemos que, havendo Cristo ressurgido dentre os mortos, já não morre. A morte não mais tem domínio sobre Ele" (Romanos 6.9). Levar Cristo todos dias à cruz, e todos os dias ressuscitá-lo, é uma prática sem apoio na Bíblia Sagrada. Quando Jesus afirmou que estaria conosco todos os dias até a consumação dos séculos (Mateus 28.20), não estava afirmando que Sua presença se daria pelo milagre da transubstanciação, ou seja, mediante a transformação de pão e vinho no Seu corpo. A Sua presença em nós é espiritual. Depois de haver dado graças e ordenado a todos que tomassem do cálice, o vinho não se transformou em sangue. Vejam: "Pois não mais beberei do fruto da vide, até que venha o reino de Deus" (Lucas 22.18; Mateus 26.29). Ou seja: Jesus não deu o nome de sangue ao vinho. Este continuou sendo o fruto da vide depois da consagração. Do contrário, teria Ele bebido seu próprio sangue. Se a expressão "ISTO É O MEU CORPO" (1 Co 11.24) coubesse significado literal, por que não interpretar da mesma forma a expressão "ESTE CÁLICE É A NOVA ALIANÇA NO MEU SANGUE" (1 Co 11.25)? Admitida a hipótese literal, estaríamos bebendo a Nova Aliança. Vejam que o vinho aqui representa o Novo

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Concerto, o Novo Pacto, a Nova Aliança em Cristo. Mais uma vez se confirma a tese do sentido figurativo. A contínua renovação do sacrifício da cruz, como desejam os romanistas, contrasta com a afirmação de Jesus: "Está consumado" (João 19.30). Ali, na cruz, se consumou a etapa mais gloriosa. A obra da redenção fora consumada; o preço da redenção fora pago; o caminho da salvação estava aberto à humanidade. Nenhum outro sacrifício seria exigido. "E, como aos homens está ordenado morrer uma só vez, vindo depois disso o juízo, assim também Cristo, oferecendo-se uma só vez, para levar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para a salvação" (Hebreus 9.27-28). Abstraindo-se a tese da transubstanciação, convém lembrar que a oferta de apenas de um dos elementos na Ceia está em desobediência à ordenança do Senhor Jesus. Não apenas o pão deve ser servido. O vinho, simbolizando a Nova Aliança no Seu sangue, é elemento indispensável. Vejam: "Pois todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha" (1 Coríntios 11.26). Desobedecer é pecar. CONCLUSÃO Diante do exposto somos levados a admitir que o Senhor Jesus usou uma linguagem figurativa, como o fez em muitas outras ocasiões. Assim como entendemos das palavras "Eu sou a porta", que Ele representa a porta por onde todos devemos passar, a caminho da salvação, de igual modo entendemos a expressão "Isto é o meu corpo" como sendo "ISTO REPRESENTA O MEU CORPO", com relação ao pão; e "Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue", como sendo "ESTE CÁLICE REPRESENTA A NOVA ALIANÇA NO MEU SANGUE", com relação ao vinho. O pão e o vinho conservam-se inalterados antes, durante e depois da Santa Ceia, quer esta seja ministrada por um pastor evangélico, quer por um sacerdote católico. Ao bebermos o vinho, não sentimos gosto de sangue; ao comermos o pão, não sentimos gosto de carne. Cristo está presente na Ceia da mesma forma que está presente no Batismo. Sempre que estivermos reunidos em Seu nome, Ele se fará presente, na qualidade de cabeça da Igreja (Efésios 5.23). Como a Sua presença não decorre da transubstanciação, indicativa de mudança de uma substância em outra, o pão e o vinho não devem ser objetos de adoração. A forma de adoração ensinada pelo Senhor Jesus está em João 4.24: "Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade". A Santa Ceia é um memorial ("fazei isto em memória de mim"), e não uma repetição do sacrifício de Jesus na cruz, sacrifício que deve ser lembrado e não renovado (Hebreus 10.12). Jesus não entra em nós pelos elementos da Ceia. Quem participa da Santa Ceia são os filhos de Deus, já justificados, já remidos, já convertidos. São cristãos que já possuem Jesus no coração. Assim deve ser. Por isso, Jesus prometeu que voltaria a beber do fruto da vide no reino de Deus, com a sua Igreja (Mateus 26.29). Não há como admitir que um pecador não arrependido, não merecedor

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portanto de ser habitação do Espírito Santo, possa introduzir Jesus dentro de si, pela ingestão do pão.

Parte III A GRAÇA COMUM DE DEUS

Refreamento da pecaminosidade humana

Introdução: Como vimos, a queda perverteu a imagem de Deus segundo a qual o homem foi criado e que, em conseqüência disso, a pessoa humana age pecaminosamente em sua relação com Deus, com o próximo e com a natureza. Por causa da queda cada ser humano é fundamentalmente egocêntrico e sem amor, odiando a Deus, odiando os outros e devastando a natureza. Se Deus não refreasse a pecaminosidade humana seria impossível viver neste mundo. Não obstante as Escrituras declararem a depravação total da humanidade, muitos de nós têm bons vizinhos, podemos confiar em pessoas com quem fazemos negócios. Muitos de nós conhecem pessoas que não obstante não serem cristãs, são amáveis, prestativas e honestas. Como explicar isto? A resposta é o nosso estudo de hoje sobre a Graça Comum. Que explicação podemos dar para a bondade que, em certa medida, constatamos nos incrédulos? Definição de Graça Comum: "Graça Comum é a restringência e também a influência persuasiva do Espírito Santo agindo através da verdade revelada no Evangelho, ou através da luz da razão e da consciência, aumentando o efeito moral natural de tal verdade sobre o entendimento, consciência e coração. Ela não envolve nenhuma mudança de coração, mas simplesmente a melhora dos poderes naturais da verdade, a restringência das paixões más, e o aumento da emoções naturais em vista do pecado, do dever e do interesse próprio" "Graça comum é cada favor de qualquer espécie ou grau, excetuando a salvação, que este mundo imerecedor e maldito pelo pecado, desfruta das mãos de Deus" Por Graça Comum ou universal (porque alcança todos indiscriminadamente) entende-se uma graça que restringe a manifestação do pecado na vida humana sem remover a pecaminosidade humana, permitindo que incrédulos profiram muitas verdades e produzam muitos feitos que são bons. É uma graça que refreia o pecado, porém sem regenerar o ser humano. 1 – BASE BÍBLICA PARA A GRAÇA COMUM: A Bíblia ensina a existência de uma graça de Deus que restringe (freia) o pecado

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na vida daqueles que não são o Seu povo. Gênesis 20:6 "Respondeu-lhe Deus em sonho: Bem sei que com sinceridade de coração fizeste isso; daí o ter impedido eu de pecares contra mim e não te permiti que a tocasses." – Abimeleque não era, obviamente, um crente. Todavia, Deus o impediu de pecar. Romanos 1:24-28 "Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si; pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém! Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza; semelhantemente, os homens também, deixando o contacto natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro. E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes," Este texto mostra que houve épocas em que Deus não restringiu a manifestação do pecado. Deus "os entregou", "os abandonou" aos seus próprios pecados. Romanos 13:3-4 "Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal". – Punições tais como multas, sentenças de prisão e outros é uma maneira de restringir o pecado. (I Pedro 2:13,14) 2 – DIFERENÇAS DE GRAÇA COMUM E GRAÇA ESPECIAL: A diferença entre elas deve ser vista no resultado que elas realizam naqueles que são totalmente depravados. A Graça Especial tem uma conotação redentora, enquanto a Comum é sinônima de não-redentora. A Graça Comum refreia o pecado, mas não muda a natureza. Ela segura a manifestação do pecado, mas não o extingue. A Graça Especial muda as disposições interiores retirando do pecador a inimizade contra Deus. A Graça Comum não provoca mudanças na vida do pecador. É apenas um freio.

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A Graça Especial muda o coração, a comum muda apenas a atitude. A mudança realizada pela graça comum é apenas moral e não espiritual. A Graça Especial atinge somente os eleitos, enquanto a comum atinge a todos indistintamente, como o próprio nome diz, é "comum". 3 – A NATUREZA DA GRAÇA COMUM: Calvino ensinou que há uma graça de Deus que restringe a manifestação do pecado na vida humana sem remover a pecaminosidade humana. Negativamente = A graça comum restringe o pecado Restringe a manifestação do pecado. Gênesis 20:6; II Reis 19: 27-28; Gênesis 4:14-15. Pela operação do Espírito, Deus evita que todas as potencialidades do homem para o mal se manifestem em toda a sua violência. Restringe a manifestação da ira divina. Rm 2:4. Deus age sobre Si mesmo restringindo a manifestação plena da Sua vingança contra atos maus dos homens. A paciência de Deus para com os homens é uma manifestação da graça comum. Temporariamente Ele suspende Sua ira. Rm 2:4 - "Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento? Restringe a manifestação da plenitude da pecaminosidade humana. O ser humano é depravado, mas nem sempre vemos a manifestação da sua pecaminosidade que seja proporcional com sua potencialidade de pecar. O homem não peca tudo o que é capaz. Positivamente: Promove a justiça O irregenerado é recipiente da bondade de Deus. Gn 39:5 "E, desde que o fizera mordomo de sua casa e sobre tudo o que tinha, o SENHOR abençoou a casa do egípcio por amor de José; a bênção do SENHOR estava sobre tudo o que tinha, tanto em casa como no campo." At 14:16-17 "o qual, nas gerações passadas, permitiu que todos os povos andassem nos seus próprios caminhos; contudo, não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem,

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dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e de alegria." Lc 6:35-37 "Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus. Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados;" Lc 16:25 "Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro igualmente, os males; agora, porém, aqui, ele está consolado; tu, em tormentos." A incredulidade dos homens não é motivo para eles não receberem bênçãos de Deus. O irregenerado é capacitado a fazer coisas boas. O homem é incapaz de por ele mesmo fazer coisas boas. Se as faz é pela graça de Deus (Mt 5:46; Lc 6:34). Calvino diz que os incrédulos podem ser revestidos dos dons excelentes de Deus (música, poesia, pintura, artes, ciência, etc.). "Toda verdade vem do Espírito de Deus e portanto rejeitar ou desprezar as coisas boas que os incrédulos fazem é insultar o Espírito Santo de Deus. 4 – OS MEIOS PELOS QUAIS O PECADO É REFREADO (Restringido) A revelação geral de Deus (a natureza) – Rm 2:14-15 O governo civil – Rm 13:3-4 – I Pe 2:13,14 Multas, prisões, etc... Os relacionamentos sociais ou opinião pública. Alguns pecados não contemos porque: Somos casados, temos uma família, vizinho, colegas, zelamos por nossa reputação... 5 – O PROPÓSITO ÚLTIMO DA GRAÇA COMUM O grande propósito da graça comum de Deus, como podemos deduzir, é o bem-

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estar do povo eleito de Deus. Mt 24:21-22. CONCLUSÃO: Qual o valor da Doutrina da Graça Comum? 1. A Doutrina da Graça Comum sublinha o poder destrutivo do pecado. 2. A Doutrina da Graça Comum reconhece os dons de que vemos nos seres humanos irregenerados como dons de Deus. 3. A Doutrina da Graça Comum nos ajuda a explicar a possibilidade da civilização e cultura nesta terra a despeito da condição decaída do homem.

Parte IV A GRAÇA DE DEUS

Na Criação, na Cultura, na Sociedade e na Econômia

O terrível, num tema como esse, é escolher a abordagem: ou começar pela análise da criação, da cultura, da sociedade e da economia, num dado contexto, e delinear o que seria, nestes, ação da graça; ou optar por uma definição do que é graça, em cada tema, estabelecendo, assim uma possibilidade de detecção desta em cada qual, como um princípio de conduta. Escolhi a Segunda. Certa feita, ouvi Noé Stanley dizer, com muito bom humor , que teólogo latino americano não tem teses, tem "apuntes". E eu, que nem teólogo sou, tenho apenas rabiscos, e é isso que ofereço aos irmãos, meros rabiscos, frutos de reflexão simples. Que o Deus triúno possa fazer deles uso. Amém! A graça de Deus na criação "'Deus é infinitamente bom?, perguntávamos. 'Sim, infinitamente.' 'Ele sabe tudo que vai acontecer?' 'Sim...'respondia o padre, já desconfiado. 'Então, se ele sabe que fulano vai pecar e vai para o inferno, por que ele cria o cara?' Nenhum padre me respondeu essa questão atéia, até hoje." Arnaldo Jabor Desprezando o conteúdo utilitário da questão – só criar o que me vai ser útil; o que não dará dor de cabeça – ela tem pertinência em si, principalmente quando nos deparamos com um mundo mal. Se pudesse ser dito que Deus não sabia, e que está correndo atrás do prejuízo...mas. a onisciência lhe é inerente. O problema, penso, não está apenas na criação, mas , também, na manutenção

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da mesma: como pode um Deus santo manter um mundo mal? Teríamos, ademais, uma questão de lógica: o apóstolo Paulo, segundo vejo, nos oferece um silogismo: premissa maior: "nele (Deus) vivemos, e nos movemos e existimos..." premissa menor: "todos se extraviaram..." conclusão: logo, todos desaparecemos, deixamos de existir. Se Deus é nossa fonte, local e ambiente de existência e, se com ele rompemos, quando no Éden, como podemos continuar a existir? E se nossa queda trouxe maldição para o planeta (Gn 3.17), como pode este estar aí? A criação de um mundo, que se tornou mal, assim como sua manutenção atentariam contra a onisciência de Deus; contra a sua santidade e contra a vontade e a lógica humanas. "E no entanto, ela se move" Galileu Galilei A criação e a sua manutenção exigiriam um fator exógeno como explicação. Esse fator teria de ser capaz de justificar um ato onisciente e de intermediar a relação entre a santidade e a maldade, tornando-a possível. (Cl 1.15-17) Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste. Paulo parece remeter tudo para Jesus Cristo, o Deus filho encarnado. Ao Deus filho encarnado, porque, o descreve como a imagem de Deus, portanto, creio, a partir da experiência que com ele tivemos: o Deus que nos fez ver Deus. Cristo como a imagem de Deus...é a objetivação de Deus na vida humana, a 'projeção' de Deus na tela da nossa humanidade e a encarnação do divino no mundo dos homens (cf Masson, pg 98, n.1). A descrição é revelatória, mais do que ontológica. Ralph P. Martin Entre todos os textos paulinos este é um dos que explicitamente afirmam a preexistência de Cristo: já existia antes da criação. E porque existia antes da criação, serviu de modelo para a criação toda. E não foi somente modelo, mas participou ativamente na criação. Não somente participou no passado, mas permanece princípio ativo para manter essa criação na existência, na unidade, para organizá-la e conduzí-la a seu destino.

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José Comblin4a Ao Deus filho encarnado, porque, o apresenta como primogênito, que, sugiro, é uma categoria soteriológica de Cristo, como em Rm 8.29 - "Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos." – uma vez que: "Primogênito, longe de declarar que Cristo foi criado, salienta que Ele é o alvo de toda a criação com direito de primogenitura, i.e. 'herdeiro de todas as coisas'." Russell P. Shedd Logo, o apóstolo o estaria delineando em seu mover redentor. Por que toda a criação seria creditada ao Deus filho a partir do mistério da sua encarnação? (1Pe 1:18-20) - sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, conhecido, com efeito, pré-estabelecido de fato – Henry Alford antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós. Pedro parece informar que o derramamento do sangue de Cristo foi préestabelecido antes da fundação do mundo. O que significaria que antes que todas as coisas fossem criadas, o Deus filho fez uma entrega, o seu próprio sangue. (Ap 13:8) - e adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo. "'Desde a fundação do mundo'. Em harmonia com 1 Pe 1.18-21, ensina-se que o Sacrifício de Cristo fez parte do propósito divino antes da fundação do mundo. Os decretos e propósitos de Deus são tão concretos e reais como o próprio acontecimento (At2.23; Ef 1.4)." Russell P. Shedd Em assim sendo, o que aconteceu, imediatamente, antes da fundação do mundo foi o decreto do sacrifício do Deus filho, o que significaria que, previamente a toda a criação, o Deus filho se assumiu como o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! (Jo 1:29) Seria esse o fator exógeno que explicaria a criação de todas as coisas, assim como a sua manutenção? De fato, tal decreto justificaria o ato onisciente, pois, denunciaria que o Deus triúno se responsabilizou pela redenção da criação, daí poder criar um ser livre, mesmo sabendo que a tal liberdade se voltaria contra o seu doador.

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Só valeu a pena criar porque antes que a criatura se voltasse contra o criador, este sacrificou-se por ela, para a resgatar. O decreto em questão, também, teria força suficiente para manter a existência, uma vez que tal sacrifício mediaria a relação de um Deus santo com uma criação rebelada. Se assim for: 1-os cordeiros imolados no velho testamento não só apontavam para o futuro como para algo acontecido antes do tempo e, portanto, sempre presente, pois, ato na eternidade; 2-há uma verdade sobremodo assombrosa no verso todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. (Jo 1:3). A Graça Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. - (Jo 1:17) Estaria João informando que, assim como a lei foi comunicada por Moisés, a graça e a verdade foram comunicadas por Jesus Cristo? Se assim for, a graça seria a origem do sacrifício? para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, - (Ef 1:6) Paulo parece completar: a graça não apenas foi comunicada por meio de Cristo, a graça estava em Cristo. Por que em Cristo? Porque nele temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados...(Ef 1.7) A graça estaria, portanto, vinculada ao sacrifício do cordeiro. Poderíamos, então, dizer, que graça é o favor que o sacrifício de Cristo, instituído na eternidade e manifesto na história, tornou possível; por justificar o ato onisciente da criação e a manutenção de um mundo que se tornou mal, assim como o seu resgate. Parafraseando Paulo: pela graça todas as coisas foram criadas, mantidas e tornadas passíveis de resgate; e isto é dom de Deus. O que tais considerações deveriam despertar na Igreja? Gostaria de sugerir algumas: 1-gratidão: fazei -o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.

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(Col 3:17) 2-nova perspectiva com relação ao sofrimento: a- sofrimento já é efeito da graça em andamento, como um condenado à morte, que tem sua pena reduzida à prisão perpétua, num primeiro momento, e, mais tarde, é notificado que sua liberdade já foi providenciada, que, agora é só uma questãode tempo: ainda que com suor, obtêm-se o alimento – ainda que com dores, dá-se à luz filhos. E, mesmo o sofrimento vai ter fim. O que significaria que, se a postura frente ao sofrimento é de não murmuração, também, é de não conformismo. Penso que a reação deve ser de solidariedade; pois, mitigar o sofrimento humano é a obra de Deus. b- Deus reagiu à morte, devemos reagir, também, aliando-nos à graça. Lutando pela vida em todas as frentes. c- Desvinculação do sofrimento (enquanto estado cósmico) da questão da represália pelo pecado pessoal (ainda que o pecado traga consequências); é a morte, não o sofrimento que paga pelo pecado – e o cordeiro já a sofreu. A graça de Deus na cultura "Cultura é um jeito particular de ser gente" Rubem Alves Se o prof. Rubem Alves está certo, para falar da graça de Deus teríamos de responder a antiga pergunta do salmista: que é o homem, que dele te lembres? (Sl 8:4) Voltemos ao início. Gn 1:26, 27- Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; (...) Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; Esse texto marca uma mudança de ritmo e de forma na criação: até então Deus falava e tudo vinha à existência, na criação do homem temos, antecedendo-a, uma declaração de intenção e uma descrição. Façamos o homem... A teologia cristã entende que essa afirmação nos apresenta a Trindade, doutrina que afirma haver um só Deus em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo, como declara G. W. Bromiley Gosto de pensar nesse texto como uma declaração de intenção, é como se fosse

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o resultado de uma conferência entre as três Pessoas. Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; Eis a descrição do projeto: o homem seria à imagem e semelhança de Deus, a Trindade. O que significaria isto? Segundo Derek Kidner, para alguns teólogos "imagem é a indelével constituição do homem como ser racional e como ser moralmente responsável, e a semelhança é aquela harmonia com a vontade de Deus, perdida com a queda". Ele, porém, diz que não há, no original, a partícula aditiva "e", de modo que os termos se reforçam (a palavra, então, seria imagem-semelhança). A imagem seria "expressão ou transcrição do Criador eterno e incorpóreo em termos de uma existência temporal, corpórea e própria de uma criatura – como se poderia tentar a transcrição, digamos, de um poema épico numa escultura, ou de uma sinfonia num soneto." O que, segundo Kidner , perdemos dessa imagem-semelhança, na queda, foi o amor, que recuperaremos quando for retomada nossa plena comunhão com o Senhor. Algo, entretanto, penso que precisa ser considerado: se ser moralmente responsável e racional é ser imagem de Deus, então os anjos também não o seriam? Ora, se Deus não poupou anjos quando pecaram (2 Pe 2:4) Como os anjos poderiam pecar se não fossem moralmente livres; uma vez que pecar (pelo menos no ato primeiro) exige capacidade de escolha? ...reservando-os para juízo; (2 Pe 2:4) Como qualquer ser pode ser julgado, se não for moralmente responsável? Além do que, parece não haver dúvidas de que os anjos, também, são racionais, senão estariam impossibilitados de comunicar-se e de arrazoar conosco, como fizeram, por exemplo, com Ló (Gn 19:10-22). Se ser imagem-semelhança é ser transcrição do eterno em termos de existência temporais, os anjos, também, estão incluídos, pois, são criaturas e estão no tempo, pois, tiveram começo, ainda que o tempo, talvez, não lhes faça diferença. E, em ambos os casos, os anjos fiéis não perderam nada de sua criação original. Entretanto, somente do homem é dito que foi criado à imagem e semelhança de Deus. Gosto de pensar que esta imagem-semelhança inclui, além do já citado, algo que só é comum a Deus e a nós: a unidade.

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"A última palavra hebraica da Shema (Dt 6.4,5) é echad, um substantivo coletivo, em outras palavras, um substantivo que demonstra unidade, ao mesmo tempo que se trata de uma unidade que contém várias entidades. Poderíamos citar um bom número de exemplos.(...) Em Nm 13.23 os espias pararam em Escol, onde 'cortaram um ramo de vide com um cacho de uvas'. A palavra que aqui aparece com 'um', em 'um cacho', novamente é echad, no hebraico. Mas, como é evidente, esse único cacho de uvas consistia em muitas uvas." Stanley Rosenthal E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus os criou; macho e fêmea os criou. Gn 1.27 (RC). Seriam, realmente, duas criações? Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente. (Gn 2:7) Então, o SENHOR Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas e fechou o lugar com carne. E a costela que o SENHOR Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e lha trouxe. (Gn 2:21,22) Macho e fêmea parecem ser uma criação só, pois, o barro e o sopro (que dá vida ao ser humano) só aparecem uma vez. O segundo ser não é uma segunda criação, é uma duplicação. Sendo que, no segundo ser, Deus fez desabrochar características que não fizera desabrochar no primeiro. Este é o livro da genealogia de Adão. No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez; homem e mulher os criou, e os abençoou, e lhes chamou pelo nome de Adão, no dia em que foram criados. (Gn 5:1,2) Duas pessoas, um só nome. De fato, a mulher só ganhou o nome de Eva depois da queda: E deu o homem o nome de Eva a sua mulher, por ser a mãe de todos os seres humanos (Gn 3:20). E por que? Penso que só após a queda o macho teve autoridade para tal: e à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará (Gn 3:16). Se Deus condenou a mulher a essa condição subserviente ao homem como consequência da queda, é de se supor que antes não era assim, isto é, a relação entre ambos não era de autoridade; era, quero crer, de unidade. O homem à imagem e semelhança de Deus, sugiro, é um ser coletivo. Quando Deus chamava: Adão! Macho e fêmea se voltavam para falar com Ele. "Em Gn 2.24, Deus (...) instruiu marido e mulher a tornarem-se 'os dois uma só carne', indicando que aquelas duas pessoas unir-se iam, formando perfeita e harmônica unidade. Em tal caso, novamente a palavra hebraica é echad."

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Stanley Rosenthal Se Deus é uma família, que criatura poderia expressar sua imagem-semelhança senão se constituísse, também, numa família? Se Deus é uma unidade-comunhão como uma criatura que não se constituísse noutra unidade-comunhão poderia ser chamado de sua imagem-semelhança? Me parece que o projeto divino passava estritamente pela unidade: criou um casal apenas, logo, uma só família; criou-os tendo a si como modelo: o que caracteriza a trindade é o amor, vínculo da perfeição, isto é, que une perfeitamente; logo, criou-os para, a exemplo da trindade, amarem-se com esse amor que unifica. Criou-os para viverem em unidade. Criou-os como unidade. Se não tivéssemos caído, seríamos bilhões, talvez, entretanto, à semelhança da trindade, nos amaríamos tanto que, apesar de muitos, seríamos um só homem: o homem à imagem e semelhança de Deus. Não seria por aí o caminho de perceber a atuação da graça de Deus na cultura? Gosto de pensar que a graça de Deus se manifesta nos elementos gregários de uma dada cultura. Se é fato que o homem que Deus criou é comunitário, então, em todo o elemento cultural que leve o ser humano à consciência do outro; ao senso de pertencimento; à celebração comunitária; à solidadriedade; à justiça deverá, em alguma medida, ser fruto da graça de Deus – a graça que mantêm todas as coisas. E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, na direção do Oriente, e pôs nele o homem que havia formado(Gn 2:8). Não é curioso que após ter comunicado à sua criatura a relação de domínio que teria sobre o planeta, Deus o coloque num jardim? Parece-me que, ao fazer isto, Deus propõe um modelo. O domínio dar-se-ía não pela subjugação mas pela interação. Uma vez que jardim manifesta harmonia e superação, pois a beleza é resultado de interação tal, que a beleza do todo é maior que a soma da beleza das unidades. Dessa forma deveria ver-se como um maestro, cuja responsabilidade seria administrar de tal maneira seu "habitat", que o mesmo se tornasse qual jardim, onde impera a cooperação e a harmonia, o que faz com que cada unidade se supere pela associação com o todo. Seria, portanto, em algum nível, ato da graça, quando, numa dada cultura, se privilegia a interação homem/natureza.

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Sinais de Deus "E, na verdade, cuidei que vós outros, Senhores, com todos os teólogos, não somente assegurais que a existência de Deus pode ser provada pela razão natural, mas também se infere da Santa Escritura que o seu conhecimento é muito mais claro o que se tem de muitas coisas criadas e que, com efeito, esse conhecimento é tão fácil que os que não o possuem são culpados. Como é patente nestas palavras da Sabedoria, capítulo 13, onde é dito que 'a ignorância deles não é perdoável: pois se seu espírito penetrou tão a fundo no conhecimento das coisas do mundo, como é possível que não tenham encontrado mais facilmente o Soberano Senhor dessas coisas?' E aos Romanos, capítulo primeiro, é dito que são indesculpáveis. E ainda no mesmo lugar, por estas palavras: 'o que é conhecido de Deus é manifesto neles', parece que somos advertidos de que tudo quanto se pode saber de Deus pode ser demonstrado por razões, as quais não é necessário buscar alhures que em nós mesmos, e as quais nosso espírito é capaz de nos fornecer." René Descartes Descartes afirmava, julgando interpretar as escrituras, que Deus se deu a conhecer na natureza, bastando uma inspeção do espírito para captá-lo. Assim ele justificou suas "meditações". Em que pese a ousadia de Descartes, seria de se esperar que um Deus gracioso deixasse marcas de sua presença. Richardson conta mais 25 histórias fascinantes, que mostram que a semente do evangelho foi deixada por Deus em cada cultura do mundo. Ele chama este tipo de revelação geral de Deus, 'O Fator Melquisedeque', usando o nome do sacerdote a quem Abraão prestou homenagem no livro de Gênesis. Os Editores "Richardson argumenta que Deus deixou um testemunho profundo, que pode e deve ser aproveitado como ponto de contato pelo missionário." Richard J. Sturz Creio que é esperado de um Deus que quer apresentar-se, que sua graça se manifeste em cada cultura, criando pontos de contato desta com o evangelho. Tal ação da graça, creio, opera sensibilidade ao belo, à ternura, ao amor, à vida, assim como algum nível de revelação. No que tais ponderações deveriam afetar a interação da igreja com as diversas culturas? 1- Na abordagem à cultura. Entendo que, sob tais prismas, a aproximação à cultura tem de partir de uma perspectiva positiva: a ação da graça na mesma. Numa busca, portanto, de pontos de contato. 2- Na contextualização. Nesses parâmetros, contextualização deixa de ser o uso sincrético de seus símbolos espirituais, para tornar-se o reforço do que há de divino na cultura em questão.

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3- Ao invés do juízo, entra em ação a compreensão da cultura em sua complexidade. 4- Na co-beligerância. Uma vez compreendida a ação da graça no despertar da consciência de justiça, solidariedade, etc; a igreja deveria dispor-se a envolver-se em toda a causa pró emancipação do homem, tornando-se parceira dos que, pela graça divina, estão sendo despertados para mitigar o sofrimento humano. 5- Na responsabilidade ecológica. A Igreja deveria estar à frente da luta ecológica, no sentido de mitigar o sofrimento imposto à natureza. Seguindo o modelo do jardim. A graça de Deus na sociedade e na economia "porque se apresenta como um dever-ser, como o projeto histórico de Deus." Hirata Falar, penso, nesse tema é falar do reino de Deus. O reino como utopia é a graça nos dando direção. "Buscar o reino e a justiça de Deus, significa trabalhar para mover o mundo na direção das prioridades do reino" Howard Snyder Parece-me que há três perguntas que humanidade faz: quem somos? Como administrar a riqueza? Como viver juntos? O reino, creio, responde-as: de Deus e para Deus; solidariedade; fraternidade. Tais respostas colidem com o sistema que, para respondê-las gerou um sem número de filosofias e religiões; um sem número de teses econômicas; um sem número de propostas de organização da sociedade. A graça deu os princípios, caberia-nos dar-lhe concreção histórica. "Assim sendo, o peso histórico do reino de Deus, que vem a ser a realidade mais inclusiva, elimina o papel platonizante que tinha a escatologia tradicional que podia dar-se ao luxo de condenar a história e a matéria como realidade inferior. Doravante, a escatologia, que era entendida antes como doutrina sobre o final dos tempos, terá uma relação necessária com a história. A recuperação do sentido histórico do reino de Deus resgata o caráter necessário da ação humana na construção desse reino." Samuel Silva Gotay Daniel 2. 31-45, apresenta o reino como uma pedra solta por mãos não humanas que se choca com a estátua, destruindo-a de forma cabal.

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Penso que estátua representa não só a sequência escatológica dos reinos, como, também, toda a tentativa humana de resolver o dilema da humanidade sem levar em conta a vontade e a realidade de Deus, e que o fato de aparecer como uma estátua revela o seu caráter idolátrico. O reino é a resposta de Deus ao citado dilema, que confronta e destrói a solução idólatra. Tal confronto, quero crer, concede necessária historicidade ao reino. Na história da teologia da libertação, a obra coletiva – A luta dos deuses – é , sem dúvida, um marco importante no tratamento da idolatria como um tema central da teologia. Neste livro, Pablo Richard defendeu, a partir da afirmação de 'o capitalismo não é ateu, mas sim idólatra', a idéia de que 'o problema de Deus só pode ser racionalizado teologicamente a partir de uma perspectiva de confronto com o sistema religioso do capitalismo moderno'. Na introdução ao livro, a Equipe Dei afirmava que 'mais trágico que o ateísmo é o problema da fé e da esperança nos falsos deuses do sistema' e que a fé no Deus libertador 'passa necessariamente pela negação e a apostasia dos falsos deuses. A fé torna-se antiidolátrica.' Por isso concluíram a introdução dizendo que 'o problema dos ídolos da opressão e da busca do Deus libertador adquire hoje uma nova dimensão, tanto na tarefa evangelizadora como na tarefa política. É aí que a teologia da libertação encontra um de seus desafios mais fecundos.' Em outras palavras, a teologia numa sociedade capitalista só adquire relevâcia histórica se se defrontar com a idolatria vivida no capitalismo." Jung Mo Sung Gostaria de, como ilustração, apresentar um possível desenvolvimento dos princípios numa situação dada, no caso, nossa realidade nacional. Jesus Cristo, segundo o registro de Mc 10.42-45"(blh), disse: "Vocês sabem que aqueles que são considerados governantes das nações as dominam, e os seus grandes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês. Pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vocês deverá ser servo; e quem quiser tornar-se o primeiro deverá ser servo de todos. Pois nem mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos". Jesus Cristo preconizou uma nova sociedade, cujo poder governamental seria exercido por meio do serviço a todos. Uma sociedade de cidadãos, onde todos seriam cidadãos, pois, só uma sociedade em que o governo assume a sua vocação de servo, de todos, é que a cidadania floresce. Na sociedade do Cristo, o poder deveria ser exercido dessa forma para que a sociedade pudesse cumprir a sua vocação, qual seja: uma sociedade onde o uso da terra fosse regulamentado, tendo em vista o bem de todos, pois, como disse o profeta Isaías: Deus não admite que alguém possa comprar casa sobre casa e terra sobre terra até ser o único morador do lugar. Na sociedade do Cristo a terra teria de ser repartida entre todos, pois é para todos. Este tipo de coisa só acontece quando o governo está a serviço de todos. uma sociedade onde a riqueza fosse distribuída com eqüidade, pois, como disse o apóstolo Paulo: Deus quer quem colheu demais não tenha sobrando, e o que

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colheu de menos não tenha faltando. Uma sociedade com consciência de coletividade. O que só acontece quando o governo está a serviço de todos. uma sociedade onde o trabalhador usufruísse da riqueza que produz, pois, como está escrito: o trabalhador é digno de seu salário e mais, não se pode amordaçar o boi que debulha o milho, isto é, aquele que produz deve ser o primeiro a usufruir do que produziu. Uma sociedade de trabalhadores para trabalhadores. O que só acontece quando o governo está a serviço de todos. uma sociedade onde a criança fosse prioridade, pois, Deus não quer que nenhum dos pequeninos se perca, e ameaça com duras penas a sociedade que desviar as crianças de sua vocação divina: vocação à saúde; à educação; à segurança; à longevidade; ao emprego – enfim uma vida que possa ser celebrada. O que só acontece quando o governo está a serviço de todos. uma sociedade onde os orfãos e as viúvas, isto é, os que tudo perderam, não ficasssem desamparados, pelo contrário, parte da produção seria destinada exclusivamente para estes, para que não houvesse miséria na sociedade. Uma sociedade onde todos desfrutassem do direito à dignidade. Uma sociedade de cidadãos, pois, só onde há dignidade há cidadania. uma sociedade onde o idoso fosse referencial de sabedoria, nunca um fardo, pois, na bíblia, o idoso é o conselheiro que ajuda o jovem na sua caminhada e, por este é visto como um mentor, como alguém que é guardião dos valores que devem nortear a sociedade. Alguém que deve ser honrado, o cidadão por excelência, pois construiu e legou para as gerações que o sucedem. Na sociedade preconizada por Cristo o conjunto de cidadãos é o estado. E todos são cidadãos. Por isso, o governo estaria a serviço de todos. E estar a serviço significaria que o governo estaria sob o controle da cidadania, E porque o governo estaria sob o controle, os direitos humanos seriam respeitados. E onde os direitos humanos são respeitados há previdência, isto é, o futuro do cidadão estaria assegurado, ou seja, o cidadão seria o beneficiário da riqueza que produziria. E mais, previdência seria um conceito que abrangeria não apenas a saúde ou a velhice, mas a escola, a segurança, o emprego, o lazer, enfim, tudo o que dá qualidade à vida. Nesta sociedade, o governo seria um agente previdenciário, e o futuro seria, não como algo que quanto mais remoto melhor, mas como uma sucessão de presentes, onde cada dia traria a garantia de um futuro assegurado. No Brasil estamos com sérios problemas na questão da previdência e dos direitos humanos, porque o Brasil não é uma sociedade de cidadãos. Há cidadãos, mas são poucos, o resto é o povo. Os cidadãos são os que detêm o poder econômico, são os que financiam a classe política, eles é que são representados, é a quem o governo serve. Para tais não há problema de previdência ou de respeito aos direitos humanos, pois, todos os seus direitos são respeitados. Como já foi propalado, vivemos o "apartheid" no Brasil. De um lado os detentores do poder econômico, doutro lado o povo. Dizem aos membros do povo que eles, também, são cidadãos, porém, é uma inverdade, pois, o povo não tem direito ao

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voto, tem a obrigação do voto, e vota só para legitimar o que os poucos cidadãos já decidiram. O povo vota, mas, não veta, e quem não tem o poder de veto, de fato não exerceu o direito do voto, porque não tem como obrigar os eleitos a serem os representantes que deveriam ser, consequentemente nunca terá seus direitos respeitados. Quem respeita gente que só serve de massa de manobra? E mais, o voto do povo tem sido fruto de grandes campanhas de marketing, que o leva a sufragar alguém com quem não tem a mínima identificação, de quem nunca mais saberá nada, até que, através de outra campanha de marketing, seja chamado a legitimar os desejos da classe dominante. Durante o mandato de seus pretensos representantes, uma vez que constitui a maioria da população, o povo terá de engolir falácias de todo o tipo, tais como: 1- A solução é a privatização. Solução do que ninguém explica. Solução para a saúde da empresa, certamente não é, pois, a solução para a saúde de qualquer empreendimento é a boa administração. 2- Todo subsídio é danoso, empresa estatal só pode cumprir o seu papel social com eficiência, se for lucrativo. Nunca é dito que empresas estatais, com estratégico papel social, não têm de ser eficientes, têm de ser eficazes, não é uma questão de fazer "certo" as coisas, mas, sim, de fazer as coisas certas, isto é, de cumprir o seu papel social. Por exemplo: o trabalhador não paga imposto para que a empresa municipal de transporte urbano dê lucro, mas para que possa ser transportado com dignidade. 3- Que o grande problema é a inflação. Nunca é o desemprego, a miséria, o analfabetismo, os baixos salários, a fome. E que para resolver este grande problema tem de haver mais desemprego, mais salários baixos, mais miséria e mais fome. O povo cede e problema nunca se resolve. Quando parece que agora vai...surge uma nova crise e mais sacrifício. 4- Que não há dinheiro para os programas sociais e, muito menos, para a previdência social. Que o fardo que a previdência carrega é por demais elevado. Mas como pode ser por demais elevado se o trabalhador apenas quer aquilo pelo que pagou, e sempre recebe muito menos? Por que não é dito que num órgão onde a corrupção caminha de mãos dadas com a impunidade não há dinheiro que cheque? Que o trabalhador paga, porém, a sonegação desvia o dinheiro e não há combate sério a esta? Que num país em que as grandes fortunas não são taxadas, em que o capital especulativo tampouco é devidamente taxado, assim como os lucros astronômicos das instituições financeiras, nunca haverá mesmo recursos para projetos sociais? Que fazer diante disso? É preciso um milagre. Não o milagre sobrenatural, mas o milagre da conscientização, o milagre que abre os olhos. Cada trabalhador, cada marginalizado tem de se conscientizar de que povo é uma categoria que não existe, ou se é cidadão ou não se é nada. Cada um destes tem de se conscientizar de que para que os seus direitos sejam respeitados, para que o governo não lhe engane com falácias, ele tem de fazer-se cidadão, ou seja , tem de se ver como alguém a quem o governo tem de servir, tem de transformar a obrigação do voto no exercício do direito de votar, votar só naqueles sobre quem tem o poder de veto, e transformar isso em lei. A categoria povo tem de ser

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substituída pela categoria sociedade – sociedade de cidadãos. Sociedade onde a lei é para todos; que tem um projeto de estado – estado previdenciário. A recentíssima história tem nos feito ver, que onde a consciência de cidadania triunfa, as forças progressistas são sufragadas e, consequentemente, desaparece o povo e surge o cidadão e a sociedade. Que assim seja em Nome do Senhor Jesus Cristo. A tarefa da Igreja é tornar-se instrumento da graça em toda a sua abrangência. Penso que, neste caso, ser agente da graça é ser postuladora e conscientizadora das políticas do Reino de Deus. Creio que a Igreja Brasileira precisa deixar de apenas usufruir a graça para tornar-se propagadora da graça. Em cada um dos quesitos levantados há o que fazer se a igreja brasileira quiser, de fato, ser agente da graça em nosso território.

Parte V A GRAÇA E O CONHECIMENTO

"Antes crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A Ele seja dada a glória, assim agora, como até o dia da eternidade". (2Pe 3.18) O cristão é um ser humano em desenvolvimento. Alguém usava uma camiseta onde estava escrito: "Tenha paciência porque ainda estou em construção". É; estamos em construção. O crente em nosso Senhor Jesus Cristo tem que agradecer diariamente a graça de Deus e de Seu Filho, e ir penetrando mais e mais além do véu do santuário. Sim. A graça e o conhecimento têm como sua fonte a pessoa de Cristo Jesus. Pedro, o apóstolo, nos adverte a crescer "na graça e no conhecimento" do Senhor, e o faz no mesmo espírito que levou Paulo a dizer "seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo" e "o Senhor vos faça crescer e abundar em amor uns para com os outros e para com todos." A experiência da santificação está relacionada ao crescimento cristão, e é, mesmo, um desafio ao crescimento na sabedoria, no conhecimento, na experiência e na graça. A GRAÇA A graça de Deus, Seu amor que não merecemos, faz-nos o que somos. Ela é Deus em operação no nosso ser. É impressionante que todas as religiões começam com o ser humano buscando seu(s) deus(es). Assim no animismo, no candomblé, no hinduismo, etc. Mas o evangelho de Cristo começa com Deus buscando a pessoa humana. Só temos que examinar o testemunho da Sua Palavra: "Nisto se manifesta o amor de Deus para conosco: em que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, par que por meio dele vivamos. Nisto está o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou a nós, e enviou seu

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Filho como propiciação pelos nossos pecados. Nós amamos, porque Ele nos amou primeiro". A graça de Deus escolheu os patriarcas: Noé, Abraão, Jacó, José, Moisés. Escolheu os profetas: Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel, Amós (7.14,15). Jesus Cristo escolheu os apóstolos (Mt 10.10; Mc 3.13; Lc 6.13; 9.1; 2Co 12.9); escolheu os seus santos (Rm 1.7; 1Co 1.2: Ef 1.1,2). A Bíblia é a história da graça de Deus, e Deus Pai é o Deus de toda graça (1Pe 5.10), como o Espírito Santo é o Espírito da graça (Zc 12.10), e Jesus Cristo é a Palavra de Deus cheia de "graça e de verdade"(Jo 1,14). Mas a graça de Jesus Cristo, na qual somos encorajados a crescer, não é uma graça barata, graça de liquidação. Não é a pregação do perdão sem arrependimento, do batismo sem discipulado, da comunhão sem confissão. Porque graça barata é a graça sem cruz, que dispensa o Calvário e sem Jesus Cristo ressuscitado! Não! Pela graça há uma nova relação com Deus, uma nova obediência. E afirmar Efésios 2.8 ("Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus) é sinônimo de confiança no valor da obra salvadora de Deus. A graça se reflete em três aspectos: a já mencionada salvação pela graça, a segurança por meio da graça e a graça como regra de conduta. A graça salvadora é mais que simples amor porque é amor que liberta, que torna o salvo triunfante sobre o juízo final (leia Jo 3.18); é o amor sem limites e livre de Deus pelo perdido. A segurança pela graça significa que Deus guarda os seus (leia Jo 10.27-29; Rm 8.35-39; Jo 6.37,39). Como regra de vida significa que devemos crescer nela pela transformação segundo a imagem de Cristo, o que é produzido em nós pelo poder do Espírito Santo (leia 2Co 3.18). E então surge em nossa vida um novo senso de responsabilidade por nossas atitudes, de propriedade por nossas ações, de alegria por estar vivo e ativo no reino de Deus; novo sentido de esperança para o futuro, e, por isso, celebramos a graça, maravilhosa graça, abundante graça, extraordinária graça que nos dá salvação, vida e alegria! O CONHECIMENTO O "conhecimento de Cristo" pode ser uma de duas coisas, ou as duas; um conhecimento acerca de Jesus Cristo (cf. 2Pe 1.5,6), ou/e um conhecimento pessoal de Cristo, um encontro com Ele como Salvador pessoal, um contato constante com Ele. Então, qual o Cristo que você conhece? O Cristo morto da teologia popular brasileira? Mostrando a uns amigos americanos um templo antigo da Igreja Majoritária, ao lado do espanto, misto de admiração pelos painéis folheados a ouro, altares rebuscados, tive um repentino susto ao ver debaixo de um dos altares um cadáver num caixão. Olhando melhor, observei que era uma imagem em tamanho natural representando o Cristo defunto tão ao gosto de certa forma de religiosidade. São expressões de um folheto de cordel: "Vendo Jesus Cristo morto Ao pé da cruz se sentaram 5.000 e 5 chagas

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Encontrou no corpo dele. 5.000 e doze espinhos A Virgem retirou dele. 5.000 gramas de sangue Fazem cortina pra ele. Aos mãos estavam furadas, Os ossos desconjuntados, Despido de suas vestes Os dois pés finos cravados, O peito rasgado à lança. Os dois olhos fechados". Qual o Cristo que você conhece? O Cristo distante? O Cristo do Corcovado, dos Altos do Cruzeiro (praticamente toda cidade do interior, e algumas capitais como Salvador, Rio de Janeiro, Recife têm um morro para onde se vai em romaria, subindo, por vezes, de joelho a escadaria numa autêntica demonstração de "salvação pelas obras"). O Cristo metafísico, longe de nós? Qual o Cristo que você conhece? O Cristo-que-não-inspira-respeito? Das músicas profanas e piadas pretensamente jocosas? Qual o Cristo que você conhece? O Cristo docético, pálido, ausente da vida diária; cuja natureza humana e deformada, ou substituido por um orixá? Qual o Cristo que você conhece? O Cristo-Oxalá, filho unigênito do Pai Olorum? O Cristo Senhor de Maitreya do movimento "Nova Era"? O Cristo-só-homem? Grande filósofo? Grande mestre? O irmão está pensando, "Pastor, eu sou crente, sou salvo!" Volto a lhe perguntar, meu irmão, qual o Cristo que você conhece? O Cristo sem poder, inerte, que nega a palavra profética de que o Espírito do Senhor está sobre Ele, e O ungiu para anunciar boas novas, proclamar libertação, restauração, por um fim à opressão, e proclamar o ano das bênçãos, da graça, o ano aceitável do Senhor (cf. Lc 4.17-21; Is 61.1ss)? Qual o Cristo que você conhece? O Cristo existencialista de Bultmann? O Cristo revolucionário, parazelote, de Cullmann, dos teólogos da libertação, das categorias políticas? Ou o Cristo servo-sofredor dos profetas, o Cristo da esperança de todo o Novo Testamento? Num dos seus iluminados livros, o Pr. A. W. Tozer ensina que há graus de conhecimento das realidades divinas. E, fazendo um paralelo com o templo de Jerusalém, explica dizendo que o primeiro deles é o grau da razão que se refere ao pátio do templo, ao ar livre e recebendo a luz natural. Verdade é que tudo era divino, mas a qualidade do conhecimento se tornava mais sublime à medida que o adorador deixava o átrio, a parte de fora do templo, e ia se aproximando do Santo dos Santos onde estava a arca. O segundo grau é o da fé correspondendo ao lugar Santo. É aquele que penetra na fé da criação divina do Universo, crê na Trindade Divina, crê que Deus é amor, e que Jesus Cristo morreu por nós, ressuscitou, e está ao lado do Pai. O mais elevado é o da experiência espiritual: é o Santo dos Santos, o conhecimento mais puro. Em João 14.21, Jesus disse,

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"Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele." E Paulo fala de sua experiência no Espírito com as seguintes expressões: "É necessário gloriar-me, embora não convenha; mas passarei a visões e revelações do Senhor. Conheço um homem em Cristo que há catorze anos (se no corpo não sei, se fora do corpo não sei; Deus o sabe) foi arrebatado até o terceiro céu. Sim, conheço o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei: Deus o sabe), que foi arrebatado ao paraíso, e ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir." (2Co 12.1-4) Essa é a bem-aventurança maior: entrar pelo véu rasgado no lugar Santíssimo. Tendo pois, irmãos, ousadia para entrarmos no santíssimo lugar , pelo sangue de Jesus, pelo caminho que Ele nos inaugurou, caminho novo e vivo, através do véu, isto é, da sua carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo o coração purificado de má consciência, e o corpo lavado com água limpa, retenhamos inabalável a confissão da nossa esperança, porque fiel é aquele que fez a promessa." (Hb 10.19-23). O CRESCIMENTO O alvo do crente em Jesus Cristo é crescer. Crescer na graça (2Pe 3.18), crescer no conhecimento (Cl 1.10), crescer na fé (1Ts 1.3), crescer na sabedoria (Pv 1.5), crescer em tudo (Ef 4.15). Em Êxodo 33.13. Moisés faz um pedido ousado a Deus: "rogo-te que agora me mostres os teus caminhos, para que eu te conheça". O Senhor, então, assegura que irá com ele (cf. V. 14). No verso 18, ele faz um pedido ainda mais ousado "Rogo-te que me mostres a tua glória". E, com isso, Moisés nos ensina que não podemos ficar com menos. Crescer como cristão, na fé, na graça e no conhecimento é uma construção do Espírito de Deus. É o Espírito Santo o grande operário de Deus em nosso próprio espírito. Ora, as pessoas sensíveis à vida espiritual desejam ser mudadas para melhor. Pois o evangelho tem uma proposta radical: é preciso morrer! Morrer para o passado e nascer para uma nova vida: "Porque morreste, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus": (Cl 3.3; cf. Rm 6.2,7ss; Cl 2.13; 1Co 15.31,36; Ef 4.24). Então, virão os sinais de crescimento: a paz, a alegria, a esperança, a segurança, a gratidão, o serviço (cf. Rm 14.17; Jo 14.27; Rm 5.5; 1Pe 1.3; 1Jo 5.12,13; Lc 24.53; Rm 12.1). Por que crescer espiritualmente? Porque nosso Deus o espera. Pelo Espírito,

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entramos na nova vida em Cristo; pelo Espírito, vemos em Jesus a revelação de Deus, e então nos entregamos a Ele, e Seu Espírito toma conta de nós e faz a obra, "porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Rm 5.5). É preciso crescer espiritualmente porque nossa utilidade no reino de Deus o exige, decorrendo daí um interesse profundo na Causa de Cristo, e a participação ativa no reino. É preciso crescer espiritualmente para evitar a advertência de Paulo em 1Tm 1.5-7. No entanto, se alguma dificuldade há, ponha-a diante de Deus em oração, e faça certas perguntas: quem ordena crescer? Não é o pastor, mas o próprio Deus. Em quem devo crer? Em Jesus Cristo. Mas não pergunte, "como posso crer?" Pois diante de tantas graças, bênçãos e maravilhas, pergunte "Como poderia deixar de crer?" E, então, submeta-se! Pedro termina a carta como a começara (cf. 1.2), e como a vida cristã é vida de desenvolvimento, crescimento e rumo à maturidade, ao lado da ordem de Pedro está o encorajamento de Paulo, "... esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo pelo prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus" não esquecendo o profeta Oséias: "Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor..." (6. 3). Amém.

Parte VI A GRAÇA RESISTÍVEL

O título deste estudo poderia ser: Uma vez salvo, salvo para sempre? Ou: Se o crente cometer apostasia perderá a salvação? Sei tratar-se de um assunto controvertido. De um lado, os que seguindo a doutrina do Calvinismo consideram a salvação imperdível. Do outro, os que alinhados ao ensino do Arminianismo consideram plenamente possível o cair da graça. Para melhor compreensão, vejamos um resumo dessas doutrinas. CALVINISMO - Sistema teológico elaborado pelo teólogo francês João Calvino (1509-1564). Os pontos fundamentais do seu ensino são: (1) Depravação total: Os homens nascem depravados, não lhes sendo possível, nesse estado, escolher o caminho da salvação. (2) Eleição incondicional - Somos escolhidos por Deus para salvação, independente de qualquer mérito de nossa parte. (3) Graça irresistível - Os escolhidos não resistirão à graça salvadora do Criador, em razão da atuação do Espírito Santo, convencendo-os do pecado. (4) Expiação limitada aos eleitos - O alto preço do resgate, pago por Jesus na cruz, alcançou apenas os eleitos. (5) Perseverança dos crentes - Nenhum dos eleitos perderá a salvação; irão perseverar até o fim, pois estão predestinados ao céu desde a fundação do mundo. Em resumo, o movimento teológico calvinista defende a absoluta soberania de Deus, e a exclusão do livre-arbítrio. Deus concede aos eleitos graça eficaz e irresistível, que permite ao homem continuar perseverante por toda a vida.

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ARMINIANISMO - Sistema teológico formulado pelo teólogo holandês Jacobus Arminius (1560-1609), em oposição à doutrina Calvinista da predestinação, assim exposto: 1) Livre-arbítrio - Deus concedeu ao homem a capacidade de aceitar ou recusar a salvação que lhe é oferecida. 2) Eleição condicional - Deus elege ou reprova com base na fé ou na incredulidade em Jesus Cristo. 3) Expiação ilimitada - Cristo morreu por todos, e não somente pelos eleitos. 4) Graça resistível - É possível ao homem rejeitar a Graça de Deus e, em conseqüência, perder a salvação. 5) Decair da Graça - Os salvos podem perder a salvação se não perseverarem até o fim. Os defensores da graça irresistível, ou seja, os que tomam partido no Calvinismo, não admitindo a perda da salvação dos "eleitos" em nenhuma hipótese, apresentam, dentre outros, os seguintes argumentos bíblicos: "Eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; ninguém poderá arrebatá-las da minha mão" (Jo 10.28). "Quem nos separará do amor de Cristo?..." (Rm 8.35). "Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar..."(Jd 24). "E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção" (Ef 4.30) "Portanto, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram, tudo se fez novo" (2 Co 5.17). "Pois [Jesus Cristo] nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele. Em amor nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo..." (Ef 1.4-5). "Porque os que dantes conheceu, também os predestinou ...aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou"(Rm 8.29-30). Outras referências associadas à eleição e predestinação: Jr 1.5;10.23; Sl 65.4; Jo 6.44; 9.23; 10.13; Ef 1.11-12; 2.10; 2 Tm 1.9; 2 Ts 2.13. 1 Jo 2.18-19. Os que admitem a perda da salvação do crente, em caso de abandono da fé, apresentam, dentre outros, os seguintes argumentos bíblicos: "Se voluntariamente continuarmos no pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, mas certa

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expectação horrível de juízo e ardor de fogo que há de devorar os adversários" (Hb 10.26-27). "Meus irmãos, se algum dentre vós se desviar da verdade, e alguém o converter, sabei que aquele que fizer converter um pecador do erro do seu caminho salvará da morte uma alma..." (Tg 5.19-20). "Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, como o ramo, e secará; tais ramos são apanhados, lançados no fogo e se queimam" (Jo 15.6). "Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos alguns apostatarão da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios" (1 Tm 4.1). "Agora, contudo, vos reconciliou no corpo de sua carne...se é que permaneceis fundados e firmes na fé..."(Cl 1.22-230). "Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? ..." (Hb 2.1-3). LIVRE-ARBÍTRIO Deus criou o homem com liberdade para tomar decisões, com liberdade para rejeitar ou aceitar Seu plano de salvação, para crer ou não crer nEle. Essa liberdade faz parte da condição humana. Caso contrário, seríamos como marionetes, ou robôs programados pelo Criador. Não seríamos culpados por nossos atos. Adão e Eva tiveram a liberdade de decidir; influenciados pelo diabo, optaram pela desobediência ao Criador. Antes disso, Lúcifer, um anjo de grande prestígio no céu, também usou de seu livre-arbítrio, desejou ser igual ao Altíssimo e caiu em rebelião. Em Deuteronômio 28, Deus coloca diante do seu povo dois caminhos: (a) "Se obedeceres à voz do Senhor teu Deus...todas as bênçãos virão sobre ti..." (b) "Mas se não deres ouvidos à voz do Senhor teu Deus...virão sobre ti todas estas maldições...". Noutras palavras, Deus concede ao seu povo a liberdade de escolha. Jesus nos deixou outro exemplo dessa liberdade. Em Mateus 7, Ele afirma que diante dos pecadores existem dois caminhos: um deles é espaçoso e conduz à perdição; o outro, estreito, conduz à vida eterna. Disse mais que são poucos os que percorrem o caminho apertado. Ora, se não prevalecesse a vontade humana, todos os homens seguiriam o caminho estreito, porque é da vontade de Deus que todos se salvem. O cerne da questão está na condição do homem após aceitar Jesus como seu Senhor e único Salvador. O crente, usando o seu livre-arbítrio, pode voltar-se para o pecado, perder a fé, perder a graça de Deus e, assim, perder a salvação? Mais

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uma pergunta cabe formular: o crente possui livre-arbítrio? Se a resposta for afirmativa, é evidente que ele poderá usá-lo, e usá-lo para abandonar a sua fé original e fazer morrer a chama do primeiro amor; se negativa, teríamos que solicitar respaldo bíblico para tal opinião. A partir da decisão do primeiro casal no Éden, as evidências escriturísticas provam que em nenhuma circunstância o ser humano perde o direito à liberdade de escolha dada por Deus. O argumento de que temos o Consolador que nos convence do pecado, e portanto não podemos cair, não me parece suficiente. Vejam: "Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo" (HB 3.12). Só pode haver desenlace quando há enlace; só podemos sair de onde entramos; "apartar-se do Deus vivo" significa quebrar uma aliança existente. ELEIÇÃO E PREDESTINAÇÃO No estudo da apostasia pessoal não se pode deixar de comentar a doutrina dos eleitos e predestinados. No Calvinismo, nada impedirá a salvação dos escolhidos. No Arminianismo, a eleição e a reprovação é com base na fé ou incredulidade. Examinemos o seguinte versículo: "Veio [Jesus] para o que era seu, e os seus não O receberam; mas a todos quantos O receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que crêem no seu nome"(Jo 1.11-12). Somente seremos adotados como filhos se crermos em Jesus. Logo, os "eleitos" estão sujeitos a esta condição. Os "eleitos" de Deus são todos os que, após receber a Cristo, perseveram na fé obediente. Por isso, Jesus advertiu aos discípulos: "Aquele que PERSEVERAR até o fim será salvo" (Mt 10.22). Os que mantiverem a fé perseverante estarão predestinados à vida eterna. Logo, os que forem negligentes não terão o mesmo destino. São eleitos os que estiverem unidos a Cristo: "Quem nEle crê, não é condenado, mas quem não crê já está condenado, porque não crê no nome do unigênito Filho de Deus" (Jo 3.18). Portanto, o entendimento de uma eleição por meio de um ato unilateral da parte de Deus fica prejudicado. É da vontade de Deus que nenhum homem se perca (Jo 6.39) ou caia da graça (Gl 5.4; 2 Pe 3.9). A expressão "cair da graça" nos diz da possibilidade de alguém perder a salvação. Se todos os homens são chamados a participarem do plano de salvação (Jo 3.16), não há como acreditarmos que Deus escolhe alguns e, por exclusão, condena os demais. Se estivessem previamente escolhidos, não teria sentido a recomendação para que "todos os homens em todos os lugares se arrependam" (At 17.30), nem a ordem do "Ide por todo o mundo, e pregai o Evangelho a toda criatura" (Mc 16.15). O ensino calvinista leva ao entendimento de que Deus, ao eleger seus preferidos, selou por um ato divino o destino dos não eleitos, ou seja, a morte eterna. Os não

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escolhidos estariam proibidos de crer em Jesus para serem salvos. Não consigo entender - ainda que me esforce - a idéia de que Cristo morreu somente por alguns pecadores. Vejamos: Cristo morreu pelos pecadores (Rm 5.8); Cristo morreu pelos ímpios (Rm 5.6); Cristo morreu para dar salvação aos que nEle crerem (Jo 3.16, 11.26); Cristo veio para dar vida às ovelhas perdidas (Mt 15.24; 18.11). Como vimos, a eleição para a salvação em Cristo é oferecida a todos (Jo 3.16-17), porque Deus "deseja que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade" (1 Tm 2.4), "pois a graça de deus se manifestou, trazendo salvação a todos os homens" (Tt 2.11). Deus não deseja salvar apenas uma parte dos homens, mas TODOS os homens. Se houvesse a dupla predestinação, ou seja, os escolhidos para o céu, os não escolhidos para a perdição, o inferno não teria sido preparado para o diabo e seus anjos, como diz Mateus 25.41. Este versículo teria outro enunciado: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado desde a fundação do mundo para o diabo e seus anjos, e para todos os não eleitos". Ora, os homens são jogados no lago de fogo e enxofre em conseqüência de uma decisão por eles tomada em vida, a decisão (livre-arbítrio) de não seguir o caminho estreito. A predestinação e a eleição dizem respeito ao corpo coletivo de Cristo (a verdadeira igreja), e somente alcançam os que tomam parte neste corpo mediante a fé viva em Jesus Cristo (At 2.38-41; 16.31). Como está dito à p. 1890 da Bíblia de Estudos Pentecostal, "no tocante à eleição e predestinação, podemos aplicar a analogia de um grande navio viajando para o céu. Deus escolhe o navio (a igreja) para ser sua própria nau. Cristo é o Capitão e Piloto desse navio. Todos os que desejam estar nesse navio eleito, podem fazê-lo mediante a fé viva em Cristo. Enquanto permanecerem no navio, acompanhando seu Capitão, estarão entre os eleitos. Caso alguém abandone o navio e o seu Capitão, deixará de ser um dos eleitos. A predestinação concerne ao destino do navio e ao que Deus preparou para quem nele permanece. Deus convida todos a entrar a bordo do navio eleito mediante Jesus Cristo". Como veremos a seguir, muitas são as advertências para que ninguém saia do navio; caso alguém não permaneça nele, não chegará ao porto seguro. Vejamos. A GRAÇA CONDICIONAL A seguir, alguns textos que falam da PERMANÊNCIA na fé como condição sine qua non para não perdermos a coroa da vida. "Eu sou a videira, vós sois os ramos. Se alguém permanece em mim, e eu nele, esse dá muito fruto...Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora..." (Jo 15.5-6). Comentário: Nessa alegoria Jesus diz da possibilidade de um crente abandonar a fé, deixá-LO, e perder a salvação.

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"A vós também, que noutro tempo éreis estranhos...agora vos reconciliou no corpo da sua carne...se é que permaneceis fundados e firmes na fé, não vos deixando afastar da esperança do evangelho..." (Cl 1.21-23). Comentário: Paulo fala aos "santos e irmãos em Cristo. A reconciliação em Cristo depende da permanência na fé. "Mas o meu justo viverá pela fé. E se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele. Nós, porém, não somos daqueles que retrocedem para a perdição, mas daqueles que crêem para a conservação da alma" (Hb 10.38-39) Comentário: Em outras palavras: Se o crente ("meu justo") me abandonar, estará perdido. A possibilidade de recuo, de deixar, de abandonar a fé é uma realidade possível. "Daqueles que retrocedem" é uma palavra de exortação, uma injeção de ânimo para que continuem firmes na fé, mas fala também da possibilidade de o crente volta ao primitivo estado. "E odiados de todos sereis por causa do meu nome. Mas aquele que perseverar até o fim será salvo" (Mt 10.22). Comentário: A segunda parte poderia ser assim: "Aquele que não perseverar até o fim NÃO será salvo". A necessidade de fidelidade e vigilância é realçada na parábola das Dez Virgens (Mt 25.1-13), onde Cristo demonstra que boa parte dos crentes não estará preparada na Sua inesperada vinda. Da mesma forma, a parábola do "Servo Vigilante" (Lc 12.35-48) demonstra a imperiosa necessidade de o crente não negligenciar na fé, e manter-se espiritualmente pronto para a volta do Senhor. "Irmãos, se algum de entre vós se tem desviado da verdade, e alguém o converter, saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador salvará da morte uma alma e cobrirá uma multidão de pecados" (Tg 5.19-20). Comentário: A epístola, dentre outros objetivos, destinou-se a encorajar crentes judeus, exortando-os a se manterem na Verdade que lhes foi revelada. Como se vê, Tiago admite ser possível alguém, "dentre os irmãos", abandonar a fé e resistir à graça. "Os quais, deixando o caminho direito, erraram seguindo o caminho de Balaão... Portanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro" (2 Pe 2.15,20-22). Comentário: Pedro retrata a situação dos falsos mestres que anteriormente receberam a redenção pelo sangue de Jesus, depois voltaram à escravidão do pecado e perderam a salvação. CONCLUSÃO Ao terminar de fazer o homem à sua imagem e conforme sua semelhança, Deus

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declarou que Sua obra era muito boa (Gn 1.31). Adão estava livre para tomar decisões, até para desobedecer ao Criador, como de fato desobedeceu (Gn 2.16-17; 3.1-6). Nas palavras do Senhor a Caim (Gn 4.7) nota-se que a liberdade de decidir continua fazendo parte do ser humano. A salvação em Cristo é oferecida a todos os homens porque Ele morreu por todos os pecadores, pelo mundo inteiro, e não apenas pelos eleitos (2 Co 5.14-15; Hb 2.9; 1 Jo 2.2). A salvação está disponível a todos, mas os interessados deverão buscá-la na cruz, pois é dada somente aos que crêem. Não existe eleição sem Cristo. A condição para sermos eleitos é a fé obediente em Cristo Jesus. Vejam: "Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo, como também NOS ELEGEU NELE [em Cristo] antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em caridade, e nos PREDESTINOU para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade" (Ef 1.3-5)

Parte VII DINHEIRO E BENS MATERIAIS SINAIS DA GRAÇA DE DEUS

( A VISÃO REFORMADA )

"É pela atitude do Cristão em relação aos bens materiais, que se julga da sua vida espiritual. O comportamento do homem para com o dinheiro é a expressão tangível de sua verdadeira fé" João Calvino "O desígnio de Deus, em nutrindo o homem, não é apenas prover-lhe ás meras necessidades materiais. Visa a um fim espiritual. Através do sustento, Deus Se faz conhecer á criatura, revela-se a ela como o Criador" A Teologia Reformada, ou Calvinismo, não é um tipo de espiritualismo, como quer entender o humanismo, que separa a vida material da vida espiritual. A doutrina reformada não advoga este tipo de alienação. A vida material e a vida do corpo estão intimamente ligadas á vida espiritual. Por isto há uma grande necessidade de estudarmos este aspecto da vida cristã que também diz respeito ás questões financeiras (Amós 3:3). Dentro do lar, a área que envolve finanças tem sido objeto de tantos problemas ao casamento. Vem logo abaixo da comunicação e de problemas no relacionamento sexual na lista de destruidores dos lares. Muita gente pensa que a Bíblia deve ser consultada apenas para coisas espirituais, mas, segundo o conceito reformado, ela é a nossa "regra de fé e prática". Seus ensinamentos dizem respeito a todas as áreas da vida do crente, como já vimos na área da sexualidade. Seus ensinos são ricos e profundos. Visam apenas o nosso bem.

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Vamos primeiramente examinar três atitudes negativas que determinam como usamos o nosso dinheiro: medo, cobiça e orgulho. Medo: Podemos ter medo de perder o emprego, de sofrer uma enfermidade prolongada, de sofrer um acidente. Temos medo da inflação, do congresso que não cumpre o seu dever, do resultado da próxima eleição e como ele afetará a nossa economia já tão combalida, do aumento da gasolina, do aumento da prestação da casa própria, ad infinitum. Para Calvino, o dinheiro é um sinal de duplo sentido: sinal de graça para aquele que, pela fé, reconhece que tudo lhe vem de Deus, e sinal de condenação para aquele que recebe os bens dos quais vive sem discernir que são dádiva de Deus. Por esta razão o dinheiro sempre põe o homem á prova. "Quando pois, temos refeições a tomar, o que beber e o que comer, aprendamos a levantar os olhos para o Alto e de tal maneira aproveitarmos e servir-nos destes meios ordinários, que saibamos que é Deus Quem nos alimenta" João Calvino Cobiça: A segunda atitude negativa é a cobiça. Encorajados por uma sociedade materialista e consumista, queremos sempre mais e mais, precisamos sempre de mais e mais para nos considerar bem de vida, deixando de lado o conceito do bem supremo da vida. Orgulho: É a terceira atitude negativa que pode determinar a maneira como vemos o dinheiro vem diretamente do poder e status que a nosso cultura confere aos bens de consumo. Tiago 2:2-4. "Se a confiança em Deus não exclui o trabalho, elimina, em contraposição, o orgulho e a falsa segurança que o homem crê poder fundamentar sobre seu trabalho, tão frequentemente acompanhados de uma atividade febril desmesurada e de um zelo profissional que devora toda a existência" De onde vêm essas atitudes negativas relacionadas ao dinheiro e aos bens materiais? Resposta: Da nossa criação, da Cultura materialista e da má compreensão quanto ao que a Bíblia ensina sobre o dinheiro. EXISTEM BASICAMENTE TRÊS TEOLOGIAS SOBRE O DINHEIRO 1. Teologia da pobreza - Lucas 18:18-22 2. Teologia da prosperidade - Mateus 7:7-8 3. Teologia da administração - Mateus 25:14-30 Tabela (tirada do livro O Homem de Hoje) Embora as três teologias usem versículos bíblicos para sustentá-las, duas delas

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são baseadas numa visão parcial do ensino bíblico, e portanto ficam distorcidas. Para evitar isso, vamos olhar o quadro total, examinando quatro tópicos importantes: I. O PODER DO DINHEIRO II. ADOTE UM SISTEMA ADEQUADO DE VALORES III. COMO GASTAR O DINHEIRO IV. CONSELHOS PRÁTICOS EM COMO USAR O DINHEIRO I. O PODER DO DINHEIRO "Quando as riquezas dominam no homem, Deus é despojado de sua dominação" J. Calvino Por que a Bíblia fala tanto sobre o dinheiro? Mateus 6:24 - Neste versículo e em outros, Jesus o coloca em oposição direta a Deus. Servir a Deus e a Mamom, ou seja, às riquezas, é pura impossibilidade. ( Lucas 6:24, Lucas 16:13, Mateus 6:19, Mateus 19:24-25, Lucas 12:15, Lucas 12:33, Lucas 6:30.). "Como se vê na doutrina reformada, as riquezas não aparecem, em primeira plana, como objeto da moral, mas antes, acima de tudo, como elemento da vida religiosa. Põem o homem diante de uma escolha, frente a uma alternativa: ou bem as reconhece e as recebe na fé, como uma dádiva de Deus, um sinal de Sua graça, ou bem lhes confere poder e eficiência autônomos e renega, dessarte, o senhorio de Deus sobre todas as coisas" ( grifo nosso ) O dinheiro, como um rival de Deus pela nossa afeição, pela nossa devoção, pela supremacia em nossa vida, precisa ser avaliado e subjugado. Não subestimemos o seu poder. (1 Timóteo 6:10, que diz: "o amor do dinheiro é raiz de todos os males" ). O dinheiro quer ocupar o lugar de Deus nas nossas vidas. Como podemos subjugá-lo e colocá-lo a nosso serviço e a serviço do reino de Deus através da nossa mediação? "Como consagração das riquezas é o sinal infalível da fé autêntica ,é para examiná-la que Deus concede ao homem, ou lhe retira, a prosperidade. A dádiva dos bens materiais tem sempre, e em todo tempo, o valor de uma prova de Fé, qualquer que seja a abundância destes bens" ( grifo nosso ) II. ADOTE UM SISTEMA ADEQUADO DE VALORES Assim, vamos analisar os princípios bíblicos que nos ensinam a forma adequada de usar o dinheiro de que precisamos para viver e para ajudar aos outros. Efésios 4:28. 1. Tudo o que existe sobre a terra pertence a Deus, inclusive os bens que me foram confiados. Salmo 24:1; 1 Crônicas 29:11-14; Jó 41:11; Êxodo 19:5; Levítico 25:23. A consciência desse fato nos liberta do espírito de posse e destrói a separação entre as minhas coisas e as coisas de Deus.

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2. É Deus quem nos capacita para ganharmos dinheiro. O trabalho é um bem e uma necessidade. Gênesis 1:28,31. Mas até mesmo para trabalhar, dependemos de Deus. Deuteronômio 8:18; Provérbios 10:22; 1 Coríntios 4:7. 3. Deus espera que usemos plenamente a força e a capacidade dadas por ele em trabalho sério e honesto. Esta é a maneira criada por Deus para suprir as nossas necessidades. Êxodo 20:9; Salmo 37:25; Provérbios 13:11; 10:4; 28:20; 22:29; 28:22; Colossenses 3:23,24; 1 Tessalonicenses 4:10b,11,12. 4. Há muita coisa que vale mais do que o ouro. O nosso sistema de valores vai determinar as nossas prioridades. Provérbios 15:16; 16:8; 22:1; 31:10; Salmo 127:3,5; Mateus 6:33; Jeremias 9:23,24; Lucas 10:20,21; Mateus 6:19-20; 1 Timóteo 6:17-19; Efésios 3:8. 5. A cobiça, a insatisfação e a preocupação com as coisas materiais são pecado. Como já vimos antes, a cobiça é o primeiro mandamento que quebramos por significar que estamos descontentes com aquilo que Deus nos confia. Ele é o dono de tudo, tem todo o direito de dar conforme Seu plano e Sua vontade. Êxodo 20:17; Col. 3:5; Hebreus 13:5; Mateus 6:25,32,34. Deuteronômio 6:10:11: 6. Não Permita se Enganar pela Mentira de que a Verdadeira Felicidade Depende do Dinheiro. Adote um sistema de valores baseado na Palavra de Deus. Temos vivido numa sociedade consumista : A propaganda nos convida a um desejo compulsivo de ter as coisas; é a necessidade imposta de ter o novo, conforto, de comprar o supérfluo, de usar o descartável, de ter o moderno, o bonito ! Lc. 12:15 - ". porque a vida de um homem não consiste na abundância de bens que ele possui " I Tm 6:10 - " Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males . . ." Mt 6:19, 21 - "Não acumuleis para vós outros Tesouros sobre a Terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam ; Porque onde está o teu Tesouro, aí estará o teu coração". `7. Não Estabeleça seu Padrão de Vida Tomando Como Base o de Terceiros: A tendência do ser humano é cobiçar os bens do próximo. Se, por exemplo, o vizinho comprou um "Astra GLS", eu sinto imediatamente uma compulsão para adquirir algo semelhante. A insatisfação com os próprios bens e a aceitação do consumismo exacerbado, tem levado muitos casais a caírem em dívidas que desequilibram a vida financeira 8. Conscientize-se de que a Fidelidade a Deus Vai Desencadear um Ciclo de Benção em sua Vida : Nosso sucesso na vida financeira, familiar, social, profissional e espiritual, está intimamente ligado à nossa fidelidade a Deus com

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relação aos dízimos. Ml. 3:10 " Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro ( . . . ) e provai-me nisto, se eu não vos abrir janelas do céu e não derramar bênçãos sem medida sobre vós". Lc. 6:37 " Dai, e dar-se-vos-á, boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão, . " Pv. 11:24,25 " A quem dá liberalmente ainda se lhe acrescenta mais e mais ao que retém mais do que é justo, ser-lhe-á em pura perda". Pv. 3:9,10 - "Honra ao Senhor com os teus bens . . . e se encherão fartamente os teus celeiros . . ." "A indiferênça dos fiéis em relação ás exigências financeiras de sua igreja traduz, explicitamente, a vitória do mal alcançada contra o Evangelho nesa igreja" Passemos agora a estudar o que a Bíblia nos ensina a respeito de como gastar o dinheiro que Deus nos confiou. III. COMO UTILIZAR BEM O DINHEIRO 1. Devemos planejar como ganhar e gastar dinheiro. Prov. 27:23-24, 24:27, Mat. 25:14-30, Lucas 19:11-27 O que a Bíblia condena é a ansiedade com relação às coisas materiais e ao futuro. Entretanto, é necessário planejar bem pois o mínimo que Deus espera de nós é que não deixemos desvalorizar aquilo que ele nos confiou. "E a maneira como empregamos o nosso dinheiro traduz aos olhos de Deus , com exatidão matemática, nossa fé real, muito mais do que nossas belas palavras ou nossos piedosos sentimentos" 2. Devemos devolver as primícias a Deus : O dízimo foi estabelecido como um reconhecimento de que todos os bens materiais vêm das mãos de Deus: Gênesis 22:28 Dar o dízimo é algo que nós precisamos fazer pois, através dessa dádiva, tirada entre as primícias da nossa renda (isto é, primeiro damos o dízimo, que não é nosso mesmo, e vivemos com o que resta), afirmamos a nossa dependência de Deus. sem medida por assim agirmos. "Os cúmplices de Satanás, na igreja, são aqueles que lhe retiram seu recurso financeiro, porque a fiel pregação do Evangelho vai contra seus interesses, e os que ignoram o real labor que o ministério reclama" 4. Devemos providenciar para as necessidades básicas da família. 1 Timóteo 5:8; 2 Coríntios 12:14b 5. Devemos viver dentro dos nossos meios, evitando as dívidas. Romanos 13:7-8; Prov. 6:1-3; 22:26-27 Quando assumimos uma dívida, colocamo-nos debaixo da autoridade de quem

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nos emprestou, que adquire sobre as nossas vidas um controle que só a Deus pertence. 6. Devemos dar aos necessitados: Este é um privilégio e uma responsabilidade que temos. Prov. 11:24,25; 22:9; 19:17; Isaías 58:10; Mateus 5:42; Lucas 6:38; 2 Coríntios 9:6-7. Lucas 16:8-13. 7. Devemos fazer investimentos sábios: usufruir e repartir.: As boas coisas que Deus nos dá devem ser usufruidas com ações de graças e compartilhadas. Salmo 84:11; 103:2-5; Mateus 7:11; Romanos 8:32; 1 Cor. 2:9; 15:46; 1 Timóteo 2:1-2; 6:17; 4:1-5. IV. CONSELHOS PRÁTICOS PARA USAR O DINHEIRO 1. Saiba Distinguir o que é Desejo e o que é Necessário : Fuja do Consumismo ( Is 55:2 ) Cultive uma "resistência" às compras. 2. Não Caia na Tentação de Querer Enriquecer Depressa : I Tm 6:9 - " Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação e cilada . . ." ( Leia Pv. 13:11; 20:17 ) 3. Planeje os Gastos - ( Orçamento Familiar ) Pv. 16:9 - " O coração do homem traça o seu caminho . . ."( Lucas 14:28-29 ) 4. Antes de Comprar alguma coisa, dê a Deus a Oportunidade de Providenciá-la ou Encaminhar você na Aquisição : Sl. 32:8 - " Instruir-te-ei e te ensinarei o caminho que deves seguir, e, sob as minhas vistas, te darei conselho". 5. Aprenda a Gastar e Poupar Sabiamente : João 6:12 - " E quando já estavam satisfeitos, disse Jesus aos seus discípulos : Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca". 6. Decida no Coração devolver o Dízimo : ( I Co 16:2, II Co 9:6-15, Ml 3:10, Pv 3:9-10 ) 7. Fuja dos Negócios Desonestos e Riqueza Fácil : Pv 13:11 - "Os bens que facilmente se ganham, esses diminuem, mas o que ajunta à força do seu trabalho terá aumento". ( Leia Pv 20:17; Pv 11:1; Sl 37:16 ) 8. Compre à Vista sempre que possível : A provisão de Deus indicará a importância e o tempo de cada aquisição. Dê a chance a Deus de prover o necessário, antes de comprá-lo. Lembre-se de que Deus pode prover, diminuindo as contas ou aumentando a renda. Pare de usar cartões de crédito. 9. Procure Descobrir a Razão Por Que Deus Está Permitindo que os Meios Sejam Insuficientes: Ele está testando sua fé ? - Há pecado ? O dinheiro foi providenciado, mas foi mal gasto ?

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AVALIAÇÃO 1. Você considera satisfatório o seu padrão de vida atual? Se não, em que se baseia para determinar o que falta? 2. Como são tomadas as decisões financeiras em sua família? É um dos cônjuges mais responsável por elas, ou há participação dos dois? 3. O que será feito quando houver divergência entre os dois? 4.Quais as despesas referentes ao cuidado da família que ainda não fazem parte do seu orçamento normal? 5. Qual o critério usado para suas compras menores? E para as grandes? 6. Como você vê as contribuições para a igreja? 7. Vocês dois já pensaram e discutiram que bens materiais gostariam de ter? E quais os que acham indispensáveis? 8. Como fica a parte das despesas pessoais de cada um se a esposa não trabalhar fora? E se trabalhar?

Parte XIII LEI E GRAÇA UMA VISÃO REFORMADA

É quase um paradigma para os cristãos modernos associar o Antigo Testamento à Lei e o Novo Testamento à Graça. Em várias oportunidades propus a estudantes de seminário e na escola dominical estabelecer o relacionamento entre os termos e, invariavelmente, a resposta tem sido a seguinte relação: LEI — Antigo Testamento GRAÇA — Novo Testamento I. Estamos sob a Lei ou sob a graça? Esse questionamento reflete um entendimento confuso do ensino bíblico acerca da lei e da graça de Deus. Muitos associam a lei como um elemento pertencente exclusivamente ao período do Antigo Testamento e a graça como um elemento neotestamentário. Isso é muitas vezes o fruto do estudo apressado de textos como: ...sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado (Gálatas 2.16).

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Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça (Romanos 6.14). E, de fato, uma leitura isolada dos textos acima pode levar o leitor a entender lei e graça como um binômio de oposição. Lei e graça parecem opostos, sem reconciliação — o cristão está debaixo da graça e conseqüentemente não tem qualquer relação com a lei. No entanto, essa leitura é falaciosa. O entendimento isolado desses versos leva a uma antiga heresia chamada antinomismo, a negação da lei em função da graça. Nessa visão, a lei não tem qualquer papel a exercer sobre a vida do cristão. O coração do cristão torna-se o seu guia e a lei se torna dispensável.1 O oposto dessa posição é o legalismo ou moralismo, que é a tendência de enfatizar a lei em detrimento da graça (neonomismo). Nesse caso, a obediência não é um fruto da graça de Deus, uma evidência da fé, mas uma tentativa de agradar a Deus e de se adquirir mérito diante dele. Exatamente contra essa idéia é que a Reforma Protestante lutou, apresentando como uma de suas principais ênfases a sola gratia. No século XVI, os católicos acusavam os reformadores de antinomistas, de serem contrários à lei de Deus. Até mesmo o grande reformador Martinho Lutero expressou preocupação quanto a alguns de seus seguidores que, em seu zelo de proclamar a graça por tanto tempo desprezada pela Igreja, acabavam por desprezar a Lei. Desde a reforma têm aparecido movimentos enfatizando um ou outro desses aspectos, lei ou graça, sempre de forma excludente. Um dos mais recentes movimentos nessa linha, enfatizando a graça em detrimento da lei, é o dispensacionalismo. Essa forma de abordagem surgiu no século XIX, caracterizando a lei como a forma de salvação no período mosaico e o evangelho como a forma de salvação na dispensação da igreja. Esse é, possivelmente, o movimento que mais influência exerce atualmente na interpretação do papel da lei e da graça entre os evangélicos ao redor do mundo. Em uma direção oposta, outro grande movimento foi iniciado por Karl Barth, em seu livro God, Grace and Gospel, onde argüi por uma unidade básica entre lei e graça, direcionando seu pensamento para um novo moralismo.2 Para termos uma boa idéia de como o debate ainda é atual, em 1993 foi publicado o livro Five Views on Law and Gospel, da coleção Counterpoints, no qual cinco escritores evangélicos contemporâneos expressam diferentes pontos de vista sobre a relação entre a lei e o evangelho (graça).3 Sem sombra de dúvida, o assunto ainda está muito longe de apresentar um consenso entre os evangélicos. As implicações da forma como entendemos a relação entre lei e graça vão muito além do aspecto puramente intelectual. Esse entendimento vai, na verdade, determinar toda a forma como alguém enxerga a vida cristã e que tipo de ética esse cristão irá assumir em sua caminhada. John Hesselink, um estudioso sobre a relação entre lei e graça, exemplifica que, na década de 1960, os cristãos proponentes da ética situacionista se levantaram contra leis, regras e princípios gerais, propondo uma nova moralidade.4 Esse movimento propõe que a ética das

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Escrituras não é absoluta, mas depende do contexto. Nem mesmo a lei moral de Deus é absoluta; ela depende da situação. Essa proposta surgiu e se desenvolveu dentro do cristianismo tradicional, alcançando seguidores de todas as bandeiras denominacionais, praticamente sem restrições. A lei não tem mais qualquer papel determinante na ética cristã; o que determina a ética cristã é o “princípio do amor,” conclui o movimento. A conseqüência dessa conclusão é que a graça suplanta a lei. As decisões éticas devem ser tomadas levando em consideração o princípio do amor. Tome-se por exemplo a questão do aborto no caso de estupro. Aprová-lo nessas circunstâncias é um ato de amor baseado no princípio do amor à mãe que foi estuprada. Ou mesmo a questão da pena de morte. Ela não se encaixa no princípio do amor ao próximo e, portanto, não pode ser uma prática cristã. Até mesmo situações como o divórcio passam a ser aceitáveis pelo princípio do amor. A separação de casais passa a ser aceitável pelo mesmo princípio. O mesmo acontece com o homossexualismo. Aceitar o homossexualismo passa a ser um ato de amor, e portanto, essa prática não pode ser considerada como pecado, ou, se assim considerada, é um pecado aceitável. Mas seria essa a verdadeira conclusão do cristianismo e o verdadeiro ensino das Escrituras sobre a lei? É isso que o estudo das Escrituras e o cristianismo histórico nos ensinam? Nas páginas a seguir avaliaremos o pensamento de Calvino a respeito dessa questão e a aplicação calvinista refletida na Confissão de Fé de Westminster (CFW). II. O Uso da Lei Para entendermos bem o uso da lei precisamos entender o que são o pacto das obras e o pacto da graça. Assim, é prudente começarmos por esclarecer o que são esses pactos e qual o conceito de lei que está envolvido na questão. Pacto das Obras e Pacto da Graça5 é a terminologia usada pela Confissão de Fé de Westminster6 para explicar a forma de relacionamento adotada por Deus para com as suas criaturas, os seres humanos. Mais do que isso, essa terminologia reflete o sistema teológico adotado pelos reformados, conhecido como teologia federal.7 De forma bem resumida, podemos dizer que o pacto das obras é o pacto operante antes da queda e do pecado. Adão e Eva viveram originalmente debaixo desse pacto e sua vida dependia da sua obediência à lei dada por Deus de forma direta em Gênesis 2.17 — não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal.8 Adão e Eva descumpriram a sua obrigação, desobedeceram a lei e incorreram na maldição do pacto das obras, a morte. O pacto da graça é a manifestação graciosa e misericordiosa de Deus, aplicando a maldição do pacto das obras à pessoa de seu Filho, Jesus Cristo, fazendo com que parte da sua criação, primeiramente representada em Adão, e agora representada por Cristo, pudesse ser redimida. Porém, a lei antes da queda não se resume à ordem de não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. A lei não deve ser reduzida a um aspecto somente. Existem outras leis, implícitas e explícitas, no texto bíblico. Por exemplo, a descrição das bênçãos em

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Gênesis 1.28 aparece nos imperativos sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e dominai. Esses imperativos foram ordens claras do Criador a Adão e sua esposa e, por conseguinte, eram leis. O relacionamento de Adão com o Criador estava vinculado à obediência, a qual ele era capaz de exercer e assim cumprir o papel para o qual fora criado. No entanto, o relacionamento de Adão com Deus não se limitava à obediência. Esse relacionamento, acompanhado de obediência, deveria expandir-se de maneira que nele o Deus criador fosse glorificado e o ser humano pudesse ter plena alegria em servi-lo. A Confissão de Fé nos fala da lei de Deus gravada no coração do homem (CFW 4.2). Essa lei gravada no coração do ser humano reflete o tipo de intimidade reservada por Deus para as suas criaturas. Nesse contexto podemos perceber que a lei tinha um papel orientador para o ser humano. Para que o seu relacionamento com o Criador se mantivesse, o homem deveria ser obediente e assim cumprir o seu papel. A obediência estava associada à manutenção da bênção pactual. A não obediência estava associada à retirada da bênção e à aplicação da maldição. A lei, portanto, tinha uma função orientadora. O ser humano, desde o princípio, conheceu os propósitos de Deus através da lei. Tendo quebrado a lei, ele tornou-se réu da mesma e recebeu a clara condenação proclamada pelo Criador: a morte. O que acontece com essa lei depois da queda e da desobediência? Ela tem o mesmo papel? Ela possui diferentes categorias? Por que Deus continuou a revelar a sua lei ao ser humano caído? III. De que Lei estamos Falando? A revelação da lei de Deus, como expressão objetiva da sua vontade, encontra-se registrada nas Escrituras. Esse registro, que começou nos tempos de Moisés, fala-nos da lei que Deus deu a Adão e também aos seus descendentes. Essa lei foi revelada ao longo do tempo. Dependendo das circunstâncias e da ocasião em que foi dada, possui diferentes aspectos, qualidades ou áreas sobre as quais legisla. Assim, é importante observar o contexto em que cada lei é dada, a quem é dada e qual o seu objetivo manifesto. Só assim poderemos saber a que estamos nos referindo quando falamos de Lei. A Confissão de Fé, no capítulo 18, divide esses aspectos em lei moral, civil e cerimonial. Cada uma tem um papel e um tempo para sua aplicação: (a) Lei Civil ou Judicial – representa a legislação dada à sociedade israelita ou à nação de Israel; por exemplo, define os crimes contra a propriedade e suas respectivas punições. (b) Lei Religiosa ou Cerimonial – representa a legislação levítica do Velho Testamento; por exemplo, prescreve os sacrifícios e todo o simbolismo cerimonial. (c) Lei Moral – representa a vontade de Deus para o ser humano, no que diz

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respeito ao seu comportamento e aos seus principais deveres. A. Toda a Lei é aplicável aos nossos dias? Quanto à aplicação da Lei, devemos exercitar a seguinte compreensão: (a) A Lei Civil tinha a finalidade de regular a sociedade civil do estado teocrático de Israel. Como tal, não é aplicável normativamente em nossa sociedade. Os sabatistas erram ao querer aplicar parte dela, sendo incoerentes, pois não conseguem aplicá-la, nem impingi-la, em sua totalidade. (b) A Lei Religiosa tinha a finalidade de imprimir nos homens a santidade de Deus e apontar para o Messias, Cristo, fora do qual não há esperança. Como tal, foi cumprida com sua vinda. Os sabatistas erram ao querer aplicar parte da mesma nos dias de hoje e ao mesclá-la com a Lei Civil. (c) A Lei Moral tem a finalidade de deixar bem claro ao homem os seus deveres, revelando suas carências e auxiliando-o a discernir entre o bem e o mal. Como tal, é aplicável em todas as épocas e ocasiões. Os sabatistas acertam ao considerá-la válida, porém erram ao confundi-la e ao mesclá-la com as outras duas, prescrevendo um aplicação confusa e desconexa.9 Assim sendo, é fundamental que, ao ler o texto bíblico, saibamos identificar a que tipo de lei o texto se refere e conhecer, então, a aplicabilidade dessa lei ao nosso contexto. As leis civis e cerimoniais de Israel não têm um caráter normativo para o povo de Deus em nossos dias, ainda que possam ter outra função como, por exemplo, ensinar-nos princípios gerais sobre a justiça de Deus. Portanto, a lei que permanece “vigente” em nossa e em todas as épocas é a lei moral de Deus. Ela valeu para Adão assim como vale para nós hoje. Isto implica que estamos, hoje, debaixo da lei? B. Estamos sob a Lei ou sob a Graça de Deus? Muitas interpretações erradas podem resultar de um entendimento falho das declarações bíblicas de que “não estamos debaixo da lei, e sim da graça” (Romanos 6.14). Se considerarmos que os três aspectos da lei de Deus apresentados acima são distinções bíblicas, podemos afirmar: (a) Não estamos sob a Lei Civil de Israel, mas sob o período da graça de Deus, em que o evangelho atinge todos os povos, raças, tribos e nações. (b) Não estamos sob a Lei Religiosa de Israel, que apontava para o Messias, foi cumprida em Cristo, e não nos prende sob nenhuma de suas ordenanças cerimoniais, uma vez que estamos sob a graça do evangelho de Cristo, com acesso direto ao trono, pelo seu Santo Espírito, sem a intermediação dos sacerdotes.

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(c) Não estamos sob a condenação da Lei Moral de Deus, se fomos resgatados pelo seu sangue, e nos achamos cobertos por sua graça. Não estamos, portanto, sob a lei, mas sob a graça de Deus, nesses sentidos. Entretanto... (a) Estamos sob a Lei Moral de Deus, no sentido de que ela continua representando a soma de nossos deveres e obrigações para com Deus e para com o nosso semelhante. (b) Estamos sob a Lei Moral de Deus, no sentido de que ela, resumida nos Dez Mandamentos, representa o caminho traçado por Deus no processo de santificação efetivado pelo Espírito Santo em nossa pessoa (João 14.15). Nos dois últimos aspectos, a própria Lei Moral de Deus é uma expressão de sua graça, representando a revelação objetiva e proposicional de sua vontade.10 IV. Os Três usos da Lei11 Para esclarecer a função da lei de Deus dada por intermédio de Moisés12 nas diferentes épocas da revelação, Calvino usou a seguinte terminologia: A. O Primeiro Uso da Lei: Usus Theologicus É a função da lei que revela e torna ainda maior o pecado humano. Segue o ensino de Paulo em Romanos 3.20 e 5.20: ...visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado. Sobreveio a lei para que avultasse a ofensa; mas onde abundou o pecado, superabundou a graça.13 Calvino aponta para esse papel da lei diante da realidade do homem caído. Sendo o pecado abundante, vivemos no tempo em que a lei exerce o “ministério da morte” (2 Co 3.7) e, por conseguinte, “opera a ira” (Rm 4.15). Cabe aqui uma nota sobre a terminologia dos reformadores (especialmente Calvino) a respeito da lei. A palavra lei é usada em pelo menos dois sentidos distintos, que devem ser entendidos a partir do contexto. Em alguns casos o termo lei é usado como um sinônimo de Antigo Testamento, da mesma forma como Evangelho é usado como um sinônimo de Novo Testamento. Em outros contextos o termo lei é usado como uma categoria especial referente ao seu uso como categoria de comando, um mandamento direto expressando a vontade absoluta de Deus sobre alguma coisa, sem promessa. É dessa forma que Calvino interpreta a lei em 2 Co 3.7, Rm 4.15 e 8.15. Nesse sentido, o binômio que se confirma é o binômio Lei x Evangelho. O mandamento que não traz salvação versus a graça salvadora de Deus. Porém, não podemos esquecer que é o próprio Antigo Testamento que nos apresenta a promessa da salvação de Deus, a sua

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graça operante sobre os crentes da antiga dispensação. Em Romanos, Paulo aponta para a perfeição da lei, que, se obedecida, seria suficiente para a salvação. Porém, nossa natureza carnal confronta-se com a perfeição da lei, e essa, dada para a vida, torna-se em ocasião de morte. Uma vez que todos são comprovadamente transgressores da lei, ela cumpre a função de revelar a nossa iniqüidade. Explicando isso, Calvino comenta: Ainda que o pacto da graça se ache contido na lei, não obstante Paulo o remove de lá; porque ao contrastar o evangelho com a lei, ele leva em consideração somente o que fora peculiar à lei em si mesma, ou seja, ordenança e proibição, refreando assim os transgressores com a ameaça de morte. Ele atribui à lei suas próprias qualificações, mediante as quais ela difere do evangelho. Contudo, pode-se preferir a seguinte afirmação: “Ele só apresenta a lei no sentido em que Deus, nela, se pactua conosco em relação às obras.14 B. O Segundo Uso da Lei: Usus Civilis É a função da lei que restringe o pecado humano, ameaçando com punição as faltas contra ela mesma.15 É certo que essa função da lei não opera nenhuma mudança interior no coração humano, fazendo-o justo ou reto ao obedecê-la. A lei opera assim como um freio, refreando “as mãos de uma ação extrema.”16 Portanto, pela lei somente o homem não se torna submisso, mas é coagido pela força da lei que se faz presente na sociedade comum. É exatamente isto que permite aos seres humanos uma convivência social. Vivemos em sociedade para nos proteger uns dos outros. Com o tempo, o homem pode aprender a viver com tranqüilidade por causa da lei de Deus que nos restringe do mal. O homem é capaz, por causa da lei de Deus, de copiá-la para o seu próprio bem. É até mesmo capaz de criar leis que refletem princípios da justiça de Deus. Calvino menciona o texto de 1 Timóteo 1.9-10 para mostrar essa função da lei: ...tendo em vista que não se promulga lei para quem é justo, mas para transgressores e rebeldes, irreverentes e pecadores, ímpios e profanos, parricidas e matricidas, homicidas, impuros, sodomitas, raptores de homens, mentirosos, perjuros e para tudo quanto se opõe à sã doutrina... Assim, a lei exerce o papel de coerção para esses transgressores e evita que esse tipo de mal se alastre ainda mais amplamente no seio da sociedade humana. Essa ação inibidora da lei cumpre ainda um outro papel importante no caso dos eleitos não regenerados. Ela serve como um aio, um condutor a Cristo, como diz Paulo em Gálatas 3.24: “...de maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé.” Dessa forma ela serviu à sociedade judia e serve à sociedade humana como um todo. Da mesma forma essa lei serve ao eleito ainda não regenerado. Ele, antes da manifestação da sua salvação, é ajudado pela lei a não cometer atrocidades, não como uma garantia de que não fará algo terrível, mas como uma ajuda, pelo temor da punição.

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C. O Terceiro Uso da Lei Esse uso da lei só é válido para os cristãos — ensina-os, a cada dia, qual a vontade de Deus.17 Segundo o texto de Jeremias 31.33, a lei de Deus seria escrita na mente e no coração dos crentes: Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. Se a lei de Deus está impressa na mente e escrita no coração dos crentes, qual a função da lei escrita por Moisés? Ela é realmente necessária? Não basta um coração convertido, amoroso e cheio de compaixão para conhecer a vontade de Deus? A “lei do amor” e a consciência do cristão orientado pelo Espírito Santo não bastam? Não seria suficiente apenas termos a paz de Cristo como árbitro de nossos corações? (Cl 3.15). Creio que não é bem assim. A lei, assim como no Éden, tem ainda um papel orientador para os cristãos. Embora eles sejam guiados pelo Espírito de Deus, vivendo e dependendo tão somente da sua maravilhosa graça, a “lei é o melhor instrumento mediante o qual melhor aprendam cada dia, e com certeza maior, qual seja a vontade de Deus, a que aspiram, e se lhes firme na compreensão.”18 A paz de Cristo como o árbitro dos corações só é clara quando conhecemos com clareza a vontade de Deus expressa na sua lei. Deus expressa sua vontade na sua lei e essa se torna um prazer para o crente, não uma obrigação. Calvino exemplifica com a figura do servo que de todo o coração se empenha em servir o seu senhor, mas que, para ainda melhor servi-lo, precisa conhecer e entender mais plenamente aquele a quem serve. Assim, o crente, procurando melhor servir ao seu Senhor empenha-se em conhecer a sua vontade revelada de maneira clara e objetiva na lei. A lei também serve como exortação para o crente. Ainda que convertidos ao Senhor, resta em nós a fraqueza da carne, que pode ser, no linguajar de Calvino, chicoteada pela lei, não permitindo que estejamos à mercê da inércia da mesma. Vejamos alguns exemplos do relacionamento entre o crente do Antigo Testamento e o terceiro uso a lei. Primeiramente, podemos observar o prazer do salmista ao falar da lei no Salmo 19.7-14: A lei do SENHOR é perfeita e restaura a alma; o testemunho do SENHOR é fiel e dá sabedoria aos símplices. Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro e ilumina os olhos. O temor do SENHOR é límpido e permanece para sempre; os juízos do SENHOR

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são verdadeiros e todos igualmente justos. São mais desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o destilar dos favos. Além disso, por eles se admoesta o teu servo; em os guardar, há grande recompensa. Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas. Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão. As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, SENHOR, rocha minha e redentor meu. Que princípio de morte opera nessa lei, segundo o salmista? Nenhum. Para o regenerado, o crente no Senhor, a lei é prazer, é desejável, inculca temor, restaura a alma e lhe dá sabedoria. Isso de alguma forma parece contradizer os ensinos do Novo Testamento. O terceiro uso da lei é claro para o salmista. A lei em si não faz nenhuma dessa coisas, mas para o coração regenerado ela traz prazer e alegria. Na lei o salmista reconhece a sua rocha, o seu redentor, Jesus Cristo: “rocha minha e redentor meu.” Observe também o Salmo 119.1-20: Bem-aventurados os irrepreensíveis no seu caminho, que andam na lei do SENHOR. Bem-aventurados os que guardam as suas prescrições e o buscam de todo o coração; não praticam iniqüidade e andam nos seus caminhos. Tu ordenaste os teus mandamentos, para que os cumpramos à risca. Tomara sejam firmes os meus passos, para que eu observe os teus preceitos. Então, não terei de que me envergonhar, quando considerar em todos os teus mandamentos. Render-te-ei graças com integridade de coração, quando tiver aprendido os teus retos juízos. Cumprirei os teus decretos; não me desampares jamais. De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o segundo a tua palavra. De todo o coração te busquei; não me deixes fugir aos teus mandamentos.

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Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti. Bendito és tu, SENHOR; ensina-me os teus preceitos. Com os lábios tenho narrado todos os juízos da tua boca. Mais me regozijo com o caminho dos teus testemunhos do que com todas as riquezas. Meditarei nos teus preceitos e às tuas veredas terei respeito. Terei prazer nos teus decretos; não me esquecerei da tua palavra. Sê generoso para com o teu servo, para que eu viva e observe a tua palavra. Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei. Sou peregrino na terra; não escondas de mim os teus mandamentos. Consumida está a minha alma por desejar, incessantemente, os teus juízos. De onde vem esse desejo do salmista pelos juízos de Deus? Da lei que opera sobre o homem natural? Certamente que não. Mas para o homem regenerado a lei de Deus se torna objeto de desejo da alma. A lei é maravilhosa para aquele que tem os olhos abertos pelo Senhor. Amar a lei de Deus é ensino claro das Escrituras para os regenerados. Viver na lei de Deus é bênção para o cristão, para o salvo. Ela é o nosso orientador para melhor conhecermos a vontade do nosso Senhor e assim melhor servi-lo. Observe que o viver segundo a lei de Deus é considerado uma bem-aventurança, é como ter fome e sede de justiça. Pergunto: O que seria do cristão sem a lei para orientá-lo? Como conheceria ele a vontade de Deus? (essa, aliás, é uma das perguntas mais freqüentes entre os crentes no seu dia-a-dia). Ele seria um perdido, buscando respostas em seu próprio coração, na igreja, no consenso eclesiástico, na autoridade de alguém que considerasse superior. Mas o crente tem a lei de Deus, expressando objetivamente qual é o desejo do Criador para a criatura, qual o desejo do Pai para seus filhos. Mas essa visão da lei não nos traz de volta ao legalismo? Estamos então novamente debaixo da lei? Certamente que não. Para bem entendermos a posição bíblica expressa por Calvino sobre a lei no pacto da graça, precisamos entender também como ele relaciona Cristo e a Lei. V. Cristo e a Lei Precisamos entender que Cristo satisfez e cumpriu a lei de forma plena e

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completa. Ele não veio revogar a lei. Façamos uma breve análise de Mateus 5.17-19: Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus. Alguns pontos interessantes são demonstrados por Jesus nessa passagem: (a) Ele veio cumprir a lei e não revogá-la. (b) A lei seria cumprida totalmente, em todas as suas exigências e em todas as suas modalidades (moral, cerimonial e civil) enquanto houvesse sentido em fazê-lo. (c) Aquele que viola a lei pode chegar ao Reino dos Céus! (“aquele que violar...será considerado mínimo no reino dos céus.”) O sermão do monte é um sermão para crentes e o texto pode ser entendido dessa forma. (d) Aquele que cumpre a lei será considerado grande no Reino dos Céus. Como entender essas conclusões de Jesus com respeito a si mesmo e à Lei? (a) Ele veio cumprir a lei e de fato a cumpriu em todas as suas dimensões: cerimonial, civil e moral. Não houve qualquer aspecto da lei para o qual Cristo não pudesse atentar e cumprir. Cristo cumpriu a lei de forma perfeita, sendo obediente até a própria morte. Ele tomou sobre si a maldição da lei. Ele se torna o fundamento da justificação para o eleito. (b) Ele não só cumpriu a lei perfeitamente, mas também interpretou a lei de forma perfeita, permitindo aos que comprou na cruz, entendê-la de forma mais completa, mais abrangente. (c) Os que nele crêem agora também podem cumprir os aspectos necessários da lei para uma vida santa. No entanto, esses que por ele são salvos não são mais dependentes da lei para a sua salvação. Por isso há uma diferença clara entre os que chegam ao Reino dos Céus: alguns serão considerados maiores do que outros. (d) Cristo, ao cumprir a lei, ab-roga a maldição da lei, mas não a sua magisterialidade.19 A lei continua com o seu papel de ensinar ao ser humano a vontade de Deus. A ab-rogação da maldição da lei é aquilo a que Paulo se refere em textos como Rm 6.14 e Gl 2.16 — estamos debaixo da graça! A lei continua no seu papel de nos ensinar, pela obra do Espírito Santo. Não somos mais

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condenados pela lei nem servos da mesma. A lei, por expressar a vontade de Deus, se nos torna um prazer. Johnson resume o material sobre Cristo e a lei no pensamento de Calvino da seguinte forma: O ponto principal, claro, é que Cristo cumpriu a lei em todos os aspectos, seja no vivê-la, no submeter-se à maldição da lei para satisfazer a sua exigência de punição dos transgressores, ou restabelecendo sobre outras bases a possibilidade de cumprir aquilo que a lei requer. Cristo, em outras palavras, satisfez tudo o que a lei exigiu ou pode vir a exigir da humanidade. A justificação que estava associada à lei agora pertence completamente a Cristo.20 Portanto, nossa obediência à lei não acontece e não pode acontecer sem Cristo. Tentar viver debaixo da lei, sem Cristo, é submeter-se à escravidão. Porém, obedecer à lei com Cristo é prazer e vida. Também, nesse sentido, Cristo é o fim da lei! Conclusão Como fica o aparente paradoxo inicial entre a Lei e Graça? Como corrigir essa visão distorcida? Mais uma vez creio que a visão correta da Confissão de Fé pode nos ajudar a entendê-lo: Este pacto da graça é freqüentemente apresentado nas Escrituras pelo nome de Testamento, em referência à morte de Cristo, o testador, e à perdurável herança, com tudo o que lhe pertence, legada neste pacto. Este pacto no tempo da lei não foi administrado como no tempo do Evangelho. Sob a lei foi administrado por promessas, profecias, sacrifícios, pela circuncisão, pelo cordeiro pascoal e outros tipos e ordenanças dadas ao povo judeu, prefigurando, tudo, Cristo que havia de vir; por aquele tempo essas coisas, pela operação do Espírito Santo, foram suficientes e eficazes para instruir e edificar os eleitos na fé do Messias prometido, por quem tinham plena remissão dos pecados e a vida eterna: essa dispensação chama-se o Velho Testamento. Sob o Evangelho, quando foi manifestado Cristo, a substância, as ordenanças pelas quais este pacto é dispensado são a pregação da palavra e a administração dos sacramentos do batismo e da ceia do Senhor; por estas ordenanças, posto que poucas em número e administradas com maior simplicidade e menor glória externa, o pacto é manifestado com maior plenitude, evidência e eficácia espiritual, a todas as nações, aos judeus bem como aos gentios. É chamado o Novo Testamento. Não há, pois, dois pactos de graça diferentes em substância mas um e o mesmo sob várias dispensações (CFW 7.4–6). Portanto, ao relacionarmos lei e graça devemos nos lembrar dos diversos aspectos e nuanças que estão envolvidos nesses termos.

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Primeiramente, encontramos tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, a graça de Deus. Ele não reserva a sua graça somente para o período do Novo Testamento como muitos pensam. Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento podemos ver Deus agindo graciosamente, salvando aqueles que crêem na promessa do Redentor. Assim Abel, Enoque, Noé, Abraão e todos os santos do Antigo Testamento foram remidos. Nenhum deles foi salvo por obediência à Lei, ainda que o Senhor requeresse deles, assim como requer de nós, que sejamos obedientes. Em segundo lugar, a lei opera para vida ou morte no pacto das obras e somente para a morte no pacto da graça. No pacto das obras, por mérito, o homem poderia continuar vivo e merecer a “árvore da vida.” Portanto, pela obediência o homem viveria. No pacto da graça a lei opera para condenação do homem caído. Porque o homem já está condenado, ele não pode mais cumprir a lei e ela lhe serve para a morte. Por último, o crente se beneficia da lei estando debaixo da obra redentora de Cristo. O mérito de Cristo, sendo obediente à lei até as últimas conseqüências, compra-nos o benefício da salvação e a graça de conhecermos a vontade de Deus pela sua lei. O único modo de o ser humano ser salvo é submeter-se totalmente àquele que, por mérito, compra-lhe a salvação. Ainda aqui o homem é beneficiado pela Lei. Cristo a cumpre e declara justificado aquele por quem ele morre. Portanto, o nosso gráfico do início deveria ser modificado para refletir a verdade bíblica sobre a Lei e a Graça de Deus: Parte IX A Graça na Lei A lei moral, representada pelos dez mandamentos, deve ser interpretada além do mero literalismo. Entender os dez mandamentos apenas em seu sentido literal seria cair no mesmo erro dos escribas e fariseus. O Novo Testamento nos ensina que a lei moral é espiritual e que, portanto, precisa ser interpretada com maior amplidão. No chamado “Sermão do Monte”, o Senhor Jesus cita alguns dos dez mandamentos e expõe a verdadeira interpretação deles. A verdade é que os antigos não viram (ou não quiseram ver) que os mandamentos nunca se limitam ao aspecto literal. “O que importa é o espírito da lei”, disse Martyn Lloyd-Jones, “e não somente a letra da lei”. E nisso reside nossa grande dificuldade. Quando o Mestre afirma que a ira contra um irmão quebra o sexto mandamento (“Não matarás”), e “qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração já adulterou com ela”, isso nos envergonha e humilha. Pois quem, em sã consciência, afirmará que nunca matou ou adulterou, segundo a verdadeira interpretação da lei? Se para sermos salvos precisássemos cumprir à risca a lei de

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Deus (embora ele a tenha dado com essa finalidade), estaríamos perdidos! Por isso Jesus, a graça encarnada, é o nosso Redentor. Ele cumpriu a lei em todos os sentidos e aspectos. Contudo, ele não nos isentou do dever de nos conduzirmos de acordo com a lei moral. A lei não salva, mas isso não significa que não temos compromisso com ela. “Não há salvação sem santificação”, diziam os puritanos. Os mandamentos de Deus não são penosos quando dependemos da sua graça para cumpri-los. Se falhamos muito é porque não levamos os mandamentos a sério, descansamos em uma falsa compreensão da Bíblia, e ainda não buscamos a graça capacitadora de Deus. O Senhor exige obediência, mas concede graça. Se estamos dispostos a fazer o que ele pede, ele nos proverá o necessário. Peçamos a Deus, portanto, com sinceridade de coração, o auxílio para fazermos a sua vontade, porque o Senhor abençoará e recompensará aqueles que pelo menos se esforçam para fazer da melhor maneira o que ele exige. Deus nos deu os seus mandamentos não para sermos subjugados à regras opressivas, mas para promover, pela sua graça, o livre desenvolvimento de nosso caráter espiritual. Porque “a lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom” (Rm 7.12).

Parte X A lei e a graça

Por D. Martin Lloyd-Jones

Toda e qualquer posição que diga, “somente a lei”, ou que diga, “somente a graça”, é necessariamente errada porque na Bíblia temos “a lei” e “a graça”. Não é, “a lei ou a graça”; é “a lei e a graça”. A graça estava presente na lei do Velho Testamento. Todas as ofertas queimadas e todos os sacrifícios e holocaustos o indicam. Foi Deus quem os ordenou. Que ninguém jamais diga que não existia a graça na lei de Deus, nos termos em que ela foi dada a Moisés e aos filhos de Israel. Em última instância, a lei se baseia na graça; é lei contendo em si a graça. E, por outro lado, jamais devemos dizer que a graça significa ausência da Lei; isso é antinomismo, o qual é condenado em toda parte no Novo Testamento. Havia alguns cristãos primitivos que diziam: “Ah, não estamos mais debaixo da lei, estamos sob a graça; quer dizer que o que fazemos não importa. Uma vez que não estamos mais debaixo da lei, mas sim debaixo da graça, vamos pecar, para que a graça seja mais abundante! Vamos fazer o que quisermos; isso não importa. Deus é amor, fomos perdoados, estamos em Cristo, nascemos de novo; portanto, façamos tudo que quisermos”. Estas falsas deduções são tratadas nas Epístolas aos Romanos, aos Coríntios e aos Tessalonicenses, e também nos três primeiros capítulos do Livro de Apocalipse. É um trágico engano pensar que quando temos a graça, não há nela nenhum elemento da lei, mas que há uma espécie de licença. Isso é uma contradição do ensino bíblico concernente à lei e à graça. Existe graça na lei; existe lei na graça.

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Como cristãos não estamos “sem lei”, afirma Paulo, porém estamos “debaixo da lei de Cristo” (1Coríntios 9.21). Estude com fé depois de ter terminado os seus estudos, envie seu questionário com as respostas devidas para o endereço de e-mail: [email protected], se assim quiser, logo após respondido e corrigido o questionário, alcançando media acima de 7,5, solicite o seu Lindo DIPLOMA de Formatura e a sua Credencial de Seminarista formado, também poderá solicitar estagio missionário em uma de nossas igrejas no Brasil ou exterior traves da Federação Internacional das Igrejas e Pastores no Brasil ou Fenipe, que depois do Estagio se assim o achar apto para o Ministério poderá solicitar a sua ordenação por uma de nossas organizações filiadas no Brasil ou no exterior, assim você poderá também receber a sua Credencial de Ministro Aspirante ao Ministério de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Esta apostila tem 57 pagina boa sorte. Sem nadas mais graça e Paz da Parte de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo bons estudos. Reverendo Antony Steff Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana Renovada de Nova Vida

Presidente da Federação Internacional das Igrejas e Pastores no Brasil ou Fenipe