Apostila Adm Financeira I

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Universidade Federal de Santa Catarina Centro Scio-Econmico Departamento de Cincias da Administrao

CAD 7131 - Administrao Financeira I

Professores: Gilberto de Oliveira Moritz Estagiria docente: Juliana Vital

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Servio Pblico Federal Universidade Federal de Santa Catarina Centro Scio-Econmico Departamento de Cincias da AdministraoFone/Fax: 3721-9374 - 3721-9577 CEP: 88.010-970 Florianpolis - Santa Catarina

1. DADOS DE IDENTIFICAO: Instituio: Universidade Federal de Santa Catarina Curso: Cincias da Administrao Disciplina: Administrao Financeira I Professor: Gilberto de Oliveira Moritz [email protected] Estagiria docente: Juliana Vital [email protected] Monitor: Diego Domingos [email protected] E-mail: [email protected]; [email protected] Carga Horria: 72 horas Crditos: 04 Cdigo: CAD 7131 Pr-requisito(s): CCN 7002 e MTM 7004 Perodo/Fase: 5 Ano: 2011 Semestre: 2Seme

2. EMENTA: Administrao Financeira e a Globalizao. Os postulados da Administrao Financeira. A funo financeira na empresa. Os conceitos de risco e retorno. A gesto do capital de giro. Administrao das disponibilidades, das contas a receber e dos estoques. Anlise de ndices financeiros. Alavancagem operacional e financeira. Anlise das relaes: custo-volume lucro.

Seme

3. OBJETIVO GERAL DA DISCIPLINA: Matria de natureza multidisciplinar. Tem como objetivo proporcionar aos participantes a oportunidade de expor as abordagens tericas e prticas ligadas, principalmente, gesto financeira de curto prazo, para aplic-las nas organizaes com ou sem fins lucrativos. Assim, tem como plano primordial instrumentar os administradores para operacionalizar tcnicas gerenciais financeiras que so imprescindveis aos controles empresariais das organizaes.Seme

4. OBJETIVO(S) ESPECFICO(S) DA DISCIPLINA: - Definir e demonstrar a importncia do estudo da Administrao Financeira para o 2

desenvolvimento das organizaes neste ambiente competitivo e inovador; - Identificar, analisar e avaliar as decises e procedimentos de gesto financeira da empresa, de curto prazo ou, seja, a gesto do capital de giro, quanto aplicao dos fundos em suas diversas atividades e o respectivo financiamento dos mesmos; - Analisar a situao econmico-financeira de uma empresa, atravs da interpretao de suas demonstraes financeiras, da utilizao de ndices-padro e de outras tcnicas financeiras adequadas ao contexto organizacional; - Relacionar e demonstrar as principais interdependncias entre a administrao financeira e as demais reas estudadas no curso.Seme

5. CONTEDO PROGRAMTICO: 1 UNIDADE: Introduo a Administrao Financeira. Deciso de Investimento, Financiamento e Operacional. Anlise das Demonstraes Financeiras. 2 UNIDADE: Gesto do Capital de Giro. Ciclo Operacional e Financeiro. Financiamento do Capital de Giro. 3 UNIDADE: Gesto das Disponibilidades. Fluxo de Caixa. 4 UNIDADE: Gesto dos Valores a Receber. Poltica de crdito e cobrana. 5 UNIDADE: Gesto dos Estoques.Seme

6. METODOLOGIA DO TRABALHO: Aulas expositivas com interao dos alunos; Estudos dirigidos a partir de textos previamente recomendados; Leituras bsicas obrigatrias; Seminrios; Exerccios aplicados e estudo de caso.

7. SISTEMA DE AVALIAO: Duas provas parciais, valendo 60% da nota; Seminrio, representando 30% da nota; Avaliao pessoal e estudos dirigidos, com valor de 10% da nota.

8. ATENDIMENTO EXTRACLASSE: Ao incio de cada semestre letivo, ser acordado com os acadmicos, um horrio e o respectivo dia da semana para atendimento. Para tanto, a disciplina conta com o apoio do monitor Diego Domingos ([email protected]).

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9. BIBLIOGRAFIA BSICA: ASSAF NETO, Alexandre & SILVA, Augusto Tibrcio. Administrao do capital de giro. 2 Ed. So Paulo: Atlas, 1997. MATARAZZO, Dante C. Anlise financeira de balanos: abordagem bsica e gerencial. 5 Ed. So Paulo: Atlas, 1998. FORTUNA, Eduardo. Mercado financeiro: produtos e servios. 13 Ed. Rio de Janeiro: Qualitymark Ed., 1999. GITMAN, Lawrence J. Princpios de administrao financeira Essencial. 2 Ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. HELFERT, Erich A. Tcnicas de anlise financeira. 9 Ed. Porto Alegre: Bookman, 2000. LEITE, Hlio de Paula. Introduo administrao financeira. 2 Ed. So Paulo: Atlas, 1994. MARION, Jos Carlos. Contabilidade empresarial. 3 Ed. So Paulo: Atlas, 1985. MATHUR, Igbal. Introduo administrao financeira. Rio de Janeiro: Livros Tcnicos e Cientficos, 1984. ROSS, Stephen A Administrao financeira Corporate finance. So Paulo: Atlas, 1985. SANVICENTE, Antnio Zoratto. Administrao financeira. 3 Ed. So Paulo: Atlas, 1995. SILVA, Csar A T. & FREIRE, Ftima de Souza. Balano social: teoria e prtica. So Paulo: Atlas, 2001. ZDANOWICZ, Jos Eduardo. Fluxo de caixa: uma deciso de planejamento e controle financeiros. Porto Alegre: Sagra, 1998. 10. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR: HSM MANAGEMENT. So Paulo, HSM do Brasil. REVISTA DE ADMINISTRAO DE EMPRESAS. So Paulo: Fundao Getlio Vargas. REVISTA DE ADMINISTRAO USP. So Paulo: Universidade de So Paulo. REVISTA DE CINCIAS DA ADMINISTRAO. Florianpolis: Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Cincias da Administrao.

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Universidade Federal de Santa Catarina Centro Scio-Econmico Departamento de Cincias da Administrao Disciplina CAD 5131 - Administrao Financeira I Professor Gilberto de Oliveira Moritz Estagiria Docente: Juliana Tatiane Vital (doutoranda) Monitor: Diego Domingos (graduando)

INSTRUES RELATIVAS AOS SEMINRIOS

Os seminrios apresentados na disciplina de Administrao Financeira I abordaro os seguintes temas de datas de apresentao:

Temas: - Grupo 1 reas de atuao e a profisso do administrador financeiro 26/8/2011 - Grupo 2 - Finanas pessoais 09/9/2011; - Grupo 3 Balanced Scorecard 23/9/2011; - Grupo 4 Governana corporativa - 14/10/2011; - Grupo 5 - Mercado de Capitais 04/11/2011; - Grupo 6 Finanas comportamentais 25/11/2011.

O trabalho escrito dever conter: Introduo; Metodologia; Desenvolvimento; Consideraes Finais; Referncias; Resumo de uma pgina para a turma.

O trabalho dever abordar conceitos e tcnicas, bem como a apreciao crtica do grupo em relao ao tema e o resumo entregue. A entrega do trabalho escrito dever ser no dia da apresentao, sendo que atrasos acarretam menos 2 pontos por dia.

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A apresentao dever ser feita utilizando algum tipo de tecnologia que ficar a cargo dos alunos. O tempo de apresentao de uma aula, sendo que o grupo ter mais uma aula para desenvolver uma atividade junto aos demais colegas. Essa atividade dever ser planejada em relao ao tempo, ao envolvimento da turma quanto ao desenvolvimento, bem como a criatividade da mesma. Os contedos podero ser encontrados em livros, revistas especializadas, sites, e todos devem estar explicitados nas referncias.

Pontuao: 50% Trabalho escrito ser analisada a estrutura do trabalho, o contedo exposto, e as crticas realizadas. 50% Apresentao ser uma mdia dos seguintes itens: tempo de apresentao, domnio do contedo, mdias apresentadas, link com administrao financeira e as atividades para a turma.

Lembrem-se que a nota do seminrio vale 30% da nota final!!!

Bom trabalho a todos!

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SUMRIOUNIDADE 1 - INTRODUO ADMINISTRAO FINANCEIRA.....................9 1 Histria da Administrao Financeira...........................................................9 2 A Funo Financeira na Empresa..............................................................13 3 Decises de financiamento e seus postulados estratgicos ......................16 4 Decises de investimento e seus postulados estratgicos ........................20 5 Deciso operacional e seus postulados estratgicos.................................23

UNIDADE 2 - GESTO DO CAPITAL DE GIRO ..............................................29 1 Ciclo operacional e financeiro ....................................................................33 2 Capital circulante lquido ............................................................................37 3 Anlise da necessidade de investimento em capital de giro ......................40 4 Financiamento do capital de giro ...............................................................45 4.1 Abordagem pelo equilbrio tradicional..................................................46 4.2 Abordagem de risco mnimo................................................................47

UNIDADE 3 - GESTO DAS DISPONIBILIDADES..........................................52 1 Modelos de administrao de caixa ...........................................................57 1.1 Modelo do caixa mnimo operacional ..................................................57 1.2 Modelo de Baumol...............................................................................59 1.3 Modelo de Miller e Orr .........................................................................62 2 Fluxo de caixa ............................................................................................66

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UNIDADE 4 - GESTO DOS VALORES A RECEBER ....................................75 1 Poltica de crdito.......................................................................................79 1.1 Seleo de clientes..............................................................................79 1.2 Limites de crdito.................................................................................82 1.3 Prazo de crdito...................................................................................83 1.4 Descontos financeiros por pagamento antecipado..............................84 1.5 Poltica de cobrana ............................................................................85 2 Indicadores de valores a receber ...............................................................88 2.1 Perodo mdio de recebimento (PMR) ................................................88 2.2 Quadro de idades de valores a receber...............................................89 2.3 Saldo mdio em valores a receber (SMVR) ........................................89 2.4 Giro dos valores a receber ..................................................................90 2.5 ndice de Inadimplncia (I)..................................................................91

UNIDADE 5 - GESTO DOS ESTOQUES .......................................................95 1 Sistema ABC............................................................................................100 2 Lote Econmico de Compra (LEC) ..........................................................102 3 Ponto de Pedido.......................................................................................105 4 Estoque de segurana .............................................................................106 5 Sistema Just-in-Time................................................................................108

REFERNCIAS ..............................................................................................113

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UNIDADE 1 - INTRODUO ADMINISTRAO FINANCEIRAOBJETIVO Nesta unidade voc conhecer o histrico da Administrao Financeira e sua funo nas organizaes. Tambm conhecer os principais objetivos do gestor financeiro, bem como as decises financeiras e seus postulados no contexto empresarial.

1 Histria da Administrao FinanceiraAt o Sculo XX, a Administrao Financeira no era considerada como um campo distinto de estudo, mas sim parte integrante da Cincia Econmica. Foi somente no incio do Sculo XX que este campo da Administrao recebeu uma ateno especial. A razo disto deu-se pelo fato de estar associado aos grandes movimentos de consolidao e fuso de empresas nos Estados Unidos, refletindo seus desdobramentos no campo da gesto financeira. Na dcada de 1920, com o advento de nova legislao americana, que obrigou as empresas a divulgarem seus dados financeiros ao pblico em geral (mercado), tornou -se importante o estudo da estrutura financeira das empresas (composio ideal dos passivos totais). Essa importncia foi reforada, tambm, em decorrncia de inovaes tecnolgicas e do surgimento de grandes indstrias, resultando na necessidade de obteno de fundos para os seus novos investimentos. Na dcada de 1930, a nfase foi na liquidez (disponibilizar recursos financeiros de curto prazo), no aprimoramento do estudo da estrutura de capital e suas repercusses no ambiente externo. Esse conjunto de fatores provocou mudanas na formulao de polticas financeiras nas empresas. Durante a dcada de 1940, a ateno da gesto financeira foi direcionada para a administrao de curto prazo, centrada no Capital de Giro, no planejamento financeiro de curto prazo e no financiamento de novos produtos. Isso aconteceu principalmente nos EUA em razo das necessidades relacionadas com a Segunda Guerra Mundial (1939 1945).

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O incio da dcada de 1950 foi de rpida expanso econmica, com o acelerado crescimento das empresas, associado a uma depresso dos mercados de capitais (incertezas no ambiente global em face da Guerra Fria entre EUA e URSS). No decorrer desta dcada, desenvolveu-se grande interesse pelo oramento de capital, pelos mtodos de avaliao de investimento e pelas polticas de dividendos. A dcada de 1960 inicia com a reduo das oportunidades de lucros, tendo em vista o ambiente altamente competitivo que estava por vir. So aperfeioados os trabalhos sobre custo de capital e as tcnicas de planejamento e controle de custos (surge a figura do Controller) para harmonizar os patamares de lucratividade nas organizaes. Alm disso, com o avano da tecnologia e a utilizao da informtica, novos sistemas de informaes foram desenvolvidos, facilitando o processo de tomada de decises financeiras nas empresas, desde planilhas de clculo at sistemas sofisticados de gerenciamento eletrnico. Controller: responsvel pelas atividades contbeis da empresa, tais como administrao tributria, informtica, contabilidade de custos e financeira. Fonte: GITMAN, 2002. Nesta dcada foram trazidos para o Brasil os conhecimentos de gesto financeira atravs das multinacionais aqui estabelecidas. Foram implantados, tambm nesta poca, pelo territrio nacional, os cursos de Administrao. Com a evoluo do mercado financeiro e de capitais, foram criados pelo Governo Federal os seguintes rgos: Conselho Monetrio Nacional, Banco Central do Brasil, Comisso de Valores Mobilirios, Sistema Financeiro Nacional, Programa do Fundo de Garantia por Tempo de Servio FGTS e Programa do PIS/PASEP, entre outros. Nas dcadas de 1970 e 80 com a constante evoluo da Administrao Financeira surgiram diferentes tipos de abordagens: a Tradicional, a Administrativa e uma terceira, Mista, fundamentada na Teoria Econmica. Veja: Abordagem Tradicional: estuda as caractersticas financeiras, principalmente das grandes empresas, fundamentada nas tcnicas de financiamento externo e na reorganizao das sociedades annimas para as fuses e incorporaes empresariais. Abordagem Administrativa: est direcionada para as operaes de rotina, ou seja, para o controle oramentrio, a previso de vendas, a determinao de preos de produtos e servios, o planejamento do fluxo de caixa, a anlise de custo de despesas e seu respectivo controle.

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Abordagem Mista: a fuso das Abordagens Tradicional e Administrativa deu origem terceira, sustentada na Teoria Econmica, que privilegia e procura otimizar a criao de valor econmico para os proprietrios como o instrumento mais adequado de planejamento financeiro e, ainda, prega a centralizao das estratgias e esforos financeiros em uma nica rea da empresa. No artigo, publicado em 1986, intitulado Uma nova Era de Finanas (1988), Robert Merton observa que os executivos financeiros vm procurando implementar, nas ltimas dcadas, novas estratgias em suas gestes operacionais. Estas devem observar dois elementos cruciais na tomada de deciso: o retorno e o risco. Uma ferramenta importante e moderna que vem sendo utilizada no campo financeiro o gerenciamento holstico do risco. Trata-se de uma abordagem sistemtica segundo a qual os fatores de risco so considerados em relao ao negcio da firma e suas implicaes com o consumidor e o mercado como um todo. Atualmente a Administrao Financeira vem desenvolvendo seus estudos e atividades focados nas suas trs clssicas decises: Financiamento, Investimento e Operaes. Estas esto sendo trabalhadas, conjuntamente, na moderna gesto financeira, com os seguintes elementos: valorizao da participao dos proprietrios na vida das empresas; emergncia ambiental; e tica com responsabilidade social. importante que voc resgate um pouco mais sobre o histrico das finanas no contexto empresarial. Com isso, voc ter maiores condies de compreender o presente e interpretar os acontecimentos econmicos a fim de projetar cenrios no contexto financeiro das organizaes para tomada de deciso.

Para saber mais sobre a histria da Administrao Financeira, recomendamos a leitura do Captulo 1 do livro: MATIAS, Alberto Borges. Finanas corporativas de Longo Prazo: criao de valor com sustentabilidade financeira. So Paulo: Atlas, 2007.

Outras fontes so recomendadas para compreenso de conceitos apresentados anteriormente, veja:

Conselho Monetrio Nacional: http://www.fazenda.gov.br/portugues/orgaos/cmn/cmn.asp

Banco Central do Brasil: http://www.bcb.gov.br/ 11

Comisso de Valores Mobilirios: http://www.cvm.gov.br/

Sistema Financeiro Nacional: http://www.bcb.gov.br/?SFN

Programa do Fundo de Garantia por Tempo de Servio: http://www.caixa.gov.br/fgts/index.asp

Programa do PIS/PASEP: http://www.tesouro.fazenda.gov.br/pis_pasep/index.asp

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2 A Funo Financeira na EmpresaPodemos definir Finanas como a cincia que procura administrar os recursos financeiros existentes nas organizaes. Praticamente, todos os indivduos e organizaes obtm receitas ou levantam fundos, gastam ou investem ao longo do seu ciclo de vida. A rea das Finanas ocupa-se dos mtodos, processos, instituies, mercados e instrumentos envolvidos na transferncia de fundos entre pessoas, empresas e governos (GITMAN, 2002). Qualquer empresa, de grande ou de pequeno porte, pode ser descrita como um sistema de relaes financeiras e de movimentos de caixa acionados por uma mltipla gama de decises ou funes financeiras. J que a maioria das decises empresariais so medidas em termos financeiros, o administrador financeiro desempenha um papel crucial na operao da empresa. Ele possui uma viso sistmica da organizao, interagindo com todas as reas da empresa contabilidade, produo, marketing, recursos humanos, pesquisas e assim por diante. Todos tm de justificar necessidades de acrscimos de funcionrios, negociar oramentos operacionais, preocupar-se com a avaliao do desempenho financeiro e defender propostas que tenham, pelo menos em parte, mritos financeiros, para conseguir recursos da alta administrao (GITMAN, 2002). Naturalmente, o gestor de finanas, para fazer previses teis e tomar decises acertadas, precisa ter a disposio e a capacidade de conversar com todos, dentro da empresa, ocupando assim um papel importante na estratgia organizacional. Para realizar esta tarefa, ele dever dispor de uma abordagem sistemtica de trabalho atualizada, cujas fronteiras so definidas por trs decises bsicas. Estas trs decises esto assim estruturadas no ambiente da gesto financeira: Deciso de financiamento; Deciso de investimento; e Deciso operacional. A deciso de financiamento refere-se escolha das melhores fontes de captao de recursos para a empresa. Por isso, ela est relacionada ao lado direito do Balano Patrimonial, ou seja, os Passivos Exigveis ou Capital de Terceiros (Passivo Circulante e Passivo Exigvel a Longo Prazo) e Patrimnio Lquido ou Capital Prprio.

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J a deciso de investimento leva em conta as alternativas de aplicao desses recursos na empresa. Por isso, essa deciso est vinculada ao lado esquerdo do Balano Patrimonial, ou seja, aos Ativos: Circulantes, Realizveis a Longo Prazo e Permanentes.

Balano Patrimonial ATIVO (APLICAES) PASSIVO E PL (FONTES)

$$$ $$$ $$

De terceiros ou prprio

$ Deciso de financiamento $

Figura 1: Deciso de financiamento e investimento e a relao com o Balano Patrimonial. Fonte: Elaborado pelo autor

Como voc pode observar, os recursos financeiros entram na empresa pelo Passivo (deciso de financiamento), e so alocados nos Ativos (deciso de investimento). As principais atribuies do gestor financeiro so: escolher as melhores fontes, ou as menos onerosas, e a melhor composio dos ativos. Por fim, as decises operacionais esto preocupadas com o uso eficiente dos recursos na atividade da empresa e, como conseqncia, a gerao de lucro. Dessa forma, essa deciso tem relao com a Demonstrao do Resultado do Exerccio (DRE), como voc pode visualizar na Figura 2.

Demonstrao do Resultado do Exerccio Receitas (-) Custos (-) Despesas Lucro

Figura 2 Deciso operacional e sua relao com a DRE Fonte: elaborado pelo autor

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Estas trs decises se inter-relacionam continuamente, em face da dinmica dos negcios, pois cada uma influencia diretamente a outra. Veja: o gestor financeiro, ao captar recursos financeiros do mercado para dentro da empresa, estar tomando, automaticamente duas decises: financiamento e investimento, seja para comprar uma mquina nova ou at mesmo para deixar no caixa. Alm disso, a atividade da empresa gerar receitas, custos e despesas que so, consequentemente, decises operacionais sobre a melhor composio desses gastos. importante frisar que o principal objetivo financeiro de uma empresa a maximizao da riqueza dos seus proprietrios, ou seja, toda a ao do gestor financeiro deve levar em conta a criao de valor econmico aos detentores do capital e a indispensvel sobrevivncia da organizao. Segundo Helfert (2000), a gerao de lucro para o acionista, em ltima instncia, depende de uma administrao apropriada dessas reas bsicas de deciso, comuns a todas as organizaes. Algumas decises so fundamentais, como o caso do investimento numa nova planta industrial, pois geram dvidas elevadas para o futuro. Outras so decorrentes do dia-dia operacional da empresa, como o caso da compra de estoques. Comum a todas essas decises o conceito de compensao econmica que deve ser objeto de reflexo antes de cada deciso, ou seja, a anlise da relao entre os custos e os benefcios monetrios e os riscos e retornos envolvidos no processo. Portanto, as decises a serem tomadas pelo administrador financeiro baseiam-se fundamentalmente na anlise Custo/Benefcio. Dessa forma, os financistas das organizaes buscam tomar decises onde os benefcios obtidos so maiores que os custos gerados. Em sntese, dentro do contexto econmico e financeiro, os bons resultados da empresa e a sua conseqente gerao de valor, dependem de uma boa gesto dos financiamentos, investimentos e operaes. Para planejar e tomar as decises que lhe so cabveis, o gestor financeiro busca informaes da contabilidade, por meio dos Demonstrativos Financeiros. Saiba mais sobre os Demonstrativos Financeiros consultando a Lei n 11.638/07 e a Lei n 6.064/76 do novo Cdigo Civil.

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3 Decises de financiamento e seus postulados estratgicosComo vimos anteriormente, uma das decises do administrador financeiro refere-se questo do financiamento dos ativos, ou seja, quais sero as fontes de recursos utilizadas pela empresa e quais os custos dessas fontes. O que se deseja desta funo definir e alcanar uma estrutura ideal de passivos (fontes de recursos), dada uma determinada composio de investimentos (estrutura de ativos) (SANVICENTE, 1987). Sabemos que o Passivo localiza-se no lado direito do Balano Patrimonial e composto por: Passivo Circulante, Passivo Exigvel a Longo Prazo e Patrimnio Lquido.

Agora voc vai ver os postulados da deciso de financiamento de uma empresa:

Composio da estrutura financeira ou nvel ideal de endividamento

Trata-se de planejar a melhor composio de um passivo empresarial, entendendo que esta estrutura financeira composta de capitais de terceiros de curto e longo prazo (passivo circulante e passivo exigvel longo prazo) e de capital prprio (patrimnio lquido). Para determinar o nvel de endividamento de uma empresa, analisamos o lado direito do passivo classificando a estrutura em: o Capital de terceiros (kt): representado pelo Passivo Circulante e Passivo Exigvel a Longo Prazo

o Capital prprio (kp): representado pelo Patrimnio Lquido

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A Figura 2 ilustra a composio da estrutura financeira.Balano Patrimonial Ativo Passivo Circulante Circulante Ativo Realizvel a Passvel Exigvel a Longo Prazo Longo Prazo Ativo Patrimnio Lquido Permanente

Capital de Terceiros (kt)

Estrutura Financeira

Capital Prprio (kp)

Figura 2: Composio da estrutura financeira Fonte: Elaborado pelo autor

O nvel de endividamento apresenta a utilizao de capital de terceiros no financiamento das atividades. Empresas com altos nveis de endividamento so mais propensas ao risco financeiro. Vamos ver o que significa isso?

Risco financeiro

O risco financeiro reflete o risco associado s decises de financiamento, ou seja, a capacidade da empresa em liquidar seus compromissos financeiros assumidos. Empresas com reduzido nvel de endividamento apresentam baixo nvel de risco financeiro; altos nveis de endividamento, por outro lado, denotam maior risco financeiro (ASSAF NETO; LIMA, 2009). Alm disso, o custo do capital de terceiros (representados pelos juros, por exemplo), so deduzidos dos ganhos operacionais da organizao, diminuindo a margem de lucro dos proprietrios.

Custo de capital

Uma das questes mais complexas em administrao financeira diz respeito ao relacionamento entre a estrutura das fontes de financiamento da empresa e o custo total desses recursos. Anteriormente, j tivemos a oportunidade de nos referirmos ao assunto quando abordamos o nvel de endividamento. Agora nos interessa identificar os custos de uma dada estrutura financeira (Passivo Total) de uma empresa. Os custos podem ser divididos em:

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o custo de capital de terceiros (Ckt): vinculados aos Passivos Circulantes e Exigvel a Longo Prazo. Um exemplo desse custo o juro pago por emprstimos bancrios; e o custo de capital prprio (Ckp): associados aos recursos que transitam pelo Patrimnio Lquido da firma (capital social, reservas e lucros). Um exemplo desse custo o pagamento de dividendo aos acionistas de uma empresa.

O conjunto dos custos de terceiros e prprios, ponderados pelos seus respectivos valores, nos leva ao conceito de custo mdio ponderado de capital (Cmpk). O Cmpk o custo presente das atuais estruturas de financiamento da empresa ou de seus Passivos Totais.

Alavancagem financeira

Alavancagem financeira o efeito causado por se tomar recursos de terceiros emprestados a determinado custo, aplicando-os em ativos a outra taxa de retorno: a diferena vai para os proprietrios e altera, para mais ou para menos, o seu retorno sobre o patrimnio lquido. Em outras palavras, pela utilizao de recursos de terceiros em sua estrutura financeira uma empresa pode modificar a rentabilidade do capital prprio (ASSAF NETO; LIMA, 2009). Concluindo, poderamos dizer que a alavancagem financeira pode ser favorvel (positiva) quando a taxa de retorno sobre os ativos (RsA) maior do que o custo de capital de terceiros (RsA > Ckt), e, desfavorvel (negativa) quando a taxa de retorno for inferior ao seu custo de capital (RsA < Ckt).

O Retorno sobre o Ativo (RsA) ser tratado na Deciso de Investimento que ser abordado a seguir.

Princpio da correspondncia cronolgica dos recursos financeiros

importante que o administrador financeiro entenda que a gesto financeira est subdividida em dois campos operacionais: gesto de curto prazo e de longo prazo. A gesto financeira de curto prazo engloba as formaes de Passivo e Ativo Circulante, enquanto que a gesto financeira de longo prazo envolve o Passivo Exigvel a Longo Prazo e o Patrimnio Lquido, em relao ao financiamento do Ativo Realizvel e do 18

Ativo Permanente. Este princpio nos informa que os recursos (fontes) de curto prazo devem financiar operaes de curto prazo (ativos e passivos circulantes se interrelacionam) e, recursos de longo prazo devem financiar operaes de longo prazo (ativo realizvel e permanente se inter-relacionam com o passivo exigvel e patrimnio lquido).

A compreenso de todos estes postulados da deciso de financiamento permite ao gestor financeiro uma viso mais sofisticada sobre os riscos e benefcios gerados na escolha das fontes dos recursos financeiros, seja de capital de terceiros ou capital prprio. Analisar os indicadores financeiros dessa deciso de suma importncia para atingir o objetivo principal financeiro: gerar riqueza aos scios e acionistas.

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4 Decises de investimento e seus postulados estratgicosO investimento a fora motriz da atividade empresarial. Consiste num conjunto de decises visando dar empresa a estrutura ideal em termos de ativos circulantes e permanentes para que os objetivos do negcio sejam atingidos. A Deciso de Investimento est relacionada ao lado esquerdo do Balano Patrimonial, ou seja, aos Ativos da empresa. Essa deciso apresenta os seguintes postulados:

Gesto do capital de giro ou do ativo circulante

O ativo circulante (capital de giro) tem uma participao relevante no desempenho operacional das empresas, podendo representar, em certos casos, mais da metade de seus ativos totais investidos. Segundo, Assaf Neto e Silva (1997), uma gesto inadequada do capital de giro resulta em srios problemas financeiros, contribuindo par a a formao de uma situao de insolvncia da firma.

Liquidez X Rentabilidade

O administrador financeiro depara-se com um grande dilema na escolha da composio dos investimentos (ativos): o equacionamento da liquidez dos investimentos, ao mesmo tempo que objetiva o aumento da sua rentabilidade. Sabe por qu? A liquidez refere-se aos ativos da empresa que so fceis e rapidamente conversveis em moeda corrente, servindo para saldar suas obrigaes em dia. Porm, por possuir tal caracterstica, esses investimentos no costumam gerar rendimentos considerveis para a organizao. Em contrapartida, os investimentos que geram maior rentabilidade (como mquinas, equipamentos, prdios) so os menos lquidos. Dessa forma, voc pode concluir que quanto mais lquido um investimento, menor sua rentabilidade; e quanto maior a rentabilidade, menor ser sua liquidez. A liquidez deve ser satisfatria para proporcionar uma disponibilidade de recursos com vistas ao enfrentamento dos compromissos a pagar e a rentabilidade o principal motivo da existncia de uma empresa.

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Um clculo para medio da liquidez de uma organizao pode ser calculada a partir do ndice de Liquidez Comum (ou Corrente):

O LC representa a relao entre o Ativo Circulante (AC) e o Passivo Circulante (PC). O resultado significa quanto de AC a empresa possui para cobrir suas obrigaes a curto prazo. Se for um ndice baixo (ILC < $ 1,00), a organizao no apresenta recursos financeiros suficientes para pagar suas dvidas em dia. Ao contrrio, se o LC for muito elevado (ILC > $ 1,00), a empresa est perdendo rentabilidade, por conservar recursos financeiros em contas no rentveis. Em complemento s informaes de liquidez, ainda podemos calcular o ndice de Liquidez seca (LS):

Esse ndice exclui os estoques dos seus clculos por se tratar da conta menos lquida do Ativo Circulante. Isso porque, numa situao inesperada, por exemplo, os estoques no so convertidos em moeda corrente com total garantia. Nesse sentido, ainda temos o ndice de Liquidez Imediata (LI), que realiza sua aplicao baseando-se somente no que a empresa possui em Caixa, Bancos e Aplicaes Financeiras a curto prazo para quitar as obrigaes:

Esse ndice nos mostra exatamente o que a empresa dispe de recursos financeiros imediatos para saldar suas obrigaes. J em relao rentabilidade, O Retorno sobre os Ativos (RsA) uma anlise indispensvel dos recursos aplicados nos ativos da empresa, relacionando suas operaes com os resultados obtidos nas suas receitas, depois de deduzidos os seus custos e despesas. Sua formula bsica sumariada pela diviso entre o Lucro Operacional e o Ativo Total (AT) de uma empresa.

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Assaf Neto e Silva (2009) lembram que o Lucro Operacional, numerador de clculo do Retorno sobre o Ativo, representa o resultado da empresa antes das despesas financeiras, determinando somente por suas decises de investimento. o resultado gerado exclusivamente pelas decises de ativos, no sendo influenciado pela forma como a empresa financiada. somente depois do Lucro Operacional que a empresa remunera os proprietrios de capital: tanto de terceiros (despesas financeiras) como prprios (dividendos). Vale lembrar tambm que o retorno esperado ser to alto quanto o risco do negcio.

Risco Econmico ou Empresarial

Chamamos de risco econmico ou empresarial, a incerteza relativa dos resultados da empresa, tendo em vista os padres de oscilaes caractersticas das atividades econmicas. Estas oscilaes esto vinculadas ao contexto globalizado e competitivo, ao setor de atividade onde est inserida a empresa (agrcola, industrial, comercial ou de servios). Ainda influencia esse processo: o tipo de operao que executa (transformao e/ou distribuio), a natureza do produto (bem de consumo no-durvel, bem de produo, agenciamento de servios, entre outros) e as caractersticas de sua procura (por exemplo: sofre o produto ou servio de variaes sazonais ou cclicas?). O risco empresarial est diretamente vinculado formao dos ativos da empresa, donde se presume que o administrador financeiro precisa estar atento a toda e qualquer deciso de investimento na empresa, desde as mais comuns at as mais sofisticadas operaes e suas repercusses financeiras para a organizao e para o mercado.

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5 Deciso operacional e seus postulados estratgicosNa deciso operacional, as estratgias e as principais decises devem ter como foco a utilizao efetiva dos capitais investidos e seus respectivos custos e despesas. Para isto, necessrio dirigir todas as operaes financeiras da empresa de maneira rentvel, mediante compensaes adequadas e o uso eficiente de todos os recursos alocados na organizao. Seu resultado prtico reflete-se na utilizao (destinao) a ser dada ao lucro da firma (o que deve ser retido para preservar sua capacidade de liquidez versus o que dever ser distribudo como forma de remunerar os proprietrios representados pelos fluxos de lucros ou de dividendos) (SANVICENTE, 1987). Os desdobramentos desta deciso se refletem em selecionar o mercado principal da empresa e fixar polticas adequadas de preo e servios que sejam competitivos para satisfazer as necessidades dos clientes e que se baseiem nas competncias essenciais de uma organizao (HELFERT, 2000). Portanto, uma rea que envolve as estratgiaschave em relao a: receitas (preos, condies e volumes), custos (fixos e variveis), destinao do lucro (reter x distribuir) e anlise dos indicadores financeiros. A deciso de operaes baseada na Demonstrao do Resultado do Exerccio!

Anlise Custo-Volume-Lucro

A anlise Custo-Volume-Lucro, tambm chamada de anlise do Ponto de Equilbrio (PE), utilizada visando conhecer o volume de atividade necessria pra cobrir todos os custos e despesas operacionais e analisar o lucro associado ao nvel de vendas (ASSAF NETO; LIMA, 2009). Isso significa que, no ponto de equilbrio, uma empresa teria um resultado nulo. Para isso, o primeiro passo dividir os custos empresariais em Fixos e Variveis. Os custos fixos no se alteram em funo da produo/venda. Por exemplo: salrios administrativos, aluguel, entre outros. Os custos variveis so afetados diretamente em funo da produo/venda. Por exemplo: matria-prima. O clculo apresentado a seguir:

Onde, 23

q = quantidade a ser vendida; p = preo de venda unitrio; CVu = custo (despesa) varivel unitrio; CF = custo (despesa) fixo. O resultado q indica a quantidade a ser vendida pela empresa para que essa no tem lucro nem prejuzo.

Alavancagem operacional

A medida da alavancagem operacional revela como uma alterao no volume de atividade influi sobre o resultado operacional da empresa. A quantificao desse impacto, segundo Assaf Neto (2003), feita pela medida do Grau de Alavancagem Operacional (GAO), cuja expresso dada a seguir:

Quanto maior o GAO da empresa, maior a capacidade de sua alavancagem. Sendo o resultado 2, por exemplo, indica que, ocorrendo um aumento das vendas de 1%, o seu resultado (lucro) aumentar em 2%. O efeito contrrio tambm vlido.

Poltica de distribuio de lucros (reter x distribuir)

Neste campo da Administrao Financeira, o mais importante postulado representado pela necessidade de aperfeioar uma poltica de lucros que contemple, ao mesmo tempo, a remunerao dos proprietrios e preserve a capacidade de liquidez da firma, entendendo que se paga o lucro do passado com as disponibilidades do presente. A deciso de reter ou distribuir lucros competncia dos scios ou acionistas da empresa e sobre este assunto, reporta-se a poltica de dividendos e seus efeitos sobre o valor das aes da firma no mercado de capitais. A comparao clssica entre dividendos presentes versus dividendos futuros, ou seja, volta-se ao estudo estratgico do binmio reter x distribuir.

Ao proceder esta reviso da funo financeira da empresa, assentada nestas trs decises bsicas, recomendamos ao gestor financeiro atentar para o estudo profundo deste conhecimento terico, a fim de facilitar sua aplicabilidade nas organizaes brasileiras.

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Sempre oportuno lembrar que a cultura empresarial brasileira, na maioria das organizaes, quase sempre pautada por barreiras na introduo de qualquer prtica ou tcnica que venha produzir mais transparncia no planejamento e controle financeiro na sua gesto. E, portanto, isto requer do administrador financeiro, competncia, criatividade, persistncia e tica para a superao desta tradicional barreira cultural entre teoria e prtica.

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Resumo Nesta unidade vimos que a administrao financeira advm da Cincia Econmica, sendo que teve seus estudos dirigidos somente a partir do Sculo XX. Atualmente se reconhece a importante rea de finanas no ambiente organizacional. Definimos Finanas como a cincia que procura administrar os recursos financeiros existentes nas organizaes. Descobrimos que o principal objetivo financeiro de uma empresa a maximizao da riqueza dos seus proprietrios, ou seja, toda a ao do gestor financeiro deve levar em conta a criao de valor econmico aos detentores do capital e a indispensvel sobrevivncia da organizao. A partir disso, identificamos trs decises estratgicas tomadas pelos gestores financeiros: deciso de financiamento, deciso de investimento e deciso operacional. A deciso de financiamento define qual a estrutura ideal de passivos (fontes de recursos), dada uma determinada composio de investimentos (estrutura de ativos). A deciso de investimento consiste num conjunto de decises visando dar empresa a estrutura ideal em termos de ativos circulantes e permanentes para que os objetivos do negcio sejam atingidos. J na deciso operacional, as estratgias e as principais decises devem ter como foco a utilizao efetiva dos capitais investidos e seus respectivos custos e despesas. Lembrando que todas as decises tomadas pelo gestor financeiro deve sempre levar em conta a anlise custo/benefcio da operao.

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Atividades de aprendizagem

1. A empresa Sai da Frente encerrou o ano de 2009 apresentando as seguintes informaes no seu Balano Patrimonial e Demonstrao do Resultado do Exerccio:Balano Patrimonial "Sai da Frente" em 31/12/2008Ativo CirculanteCa i xa Ba ncos Apl i ca es Fi nancei ra s Conta s a Receber Es toques

R$ 100.000,00 Passivo CirculanteR$ R$ R$ R$ R$ 5.000,00 Sa l ri os 20.000,00 Fornecedores 5.000,00 Impos tos 20.000,00 50.000,00

R$R$ R$ R$ R$

90.000,0022.000,00 45.000,00 15.000,00 8.000,00

Emprstimos bancrios

Ativo Realizvel a Longo PrazoApl i ca es de Longo Pra zo

R$R$ R$ R$

50.000,00 Passivo Exigvel a Longo Prazo50.000,00 Fi na nci a mentos R$ 250.000,00 300.000,00 Ca pi ta l Soci a l R$ 1.000.000,00 1.000.000,00 Lucros Acumul a dos

R$ 250.000,00R$ R$ R$ 250.000,00 1.000.000,00 110.000,00

Ativo PermanenteM qui na s e equi pa mentos Imvei s

R$ 1.300.000,00 Patrimnio Lquido

R$ 1.110.000,00

ATIVO TOTAL

R$ 1.450.000,00 PASSIVO TOTAL R$ 1.400.000,00

R$ 1.450.000,00

Receitas (-) Custo dos Produtos Vendidos (=) Lucro Bruto (-) Despesas operacionais (=) Lucro Operacional (-) Despesas financeiras (=) Lucro Lquido

Demonstrao do Resultado do Exerccio 2008 R$ 1.300.000,00 R$ 754.000,00 R$ 546.000,00 R$ 240.000,00 R$ 306.000,00 R$ 4.500,00 R$ 301.500,00

Com base no Balano Patrimonial e na Demonstrao do Resultado do Exerccio apresentados, analise:

a) Nvel de endividamento b) Retorno sobre o Ativo (RsA) c) Considerando um Custo de Capital de Terceiros de 15% a.a., analise a Alavancagem financeira d) Princpio da Correspondncia Cronolgica e) Capital de Giro f) ndices de Liquidez (Corrente, Seca e Imediata) g) Considerando que as Despesas Operacionais apresentadas na DRE representam todos os Custos Fixos, o Preo de Venda Unitrio de R$ 130,00 e o Custo Varivel Unitrio de R$ 75,40, calcule o Ponto de Equilbrio da empresa.

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h) Considere uma variao de 10% nas vendas da empresa Sai da Frente. Qual ser seu Grau de Alavancagem Operacional (GAO), se possui a seguinte estrutura de custos: Receita Custos Variveis Margem de Contribuio Custos Fixos Resultado Operacional R$ 1.300.000,00 R$ 754.000,00 R$ 546.000,00 R$ 240.000,00 R$ 306.000,00

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UNIDADE 2 - GESTO DO CAPITAL DE GIROOBJETIVO Nessa unidade voc conhecer os conceitos da administrao do Capital de Giro, suas principais caractersticas e objetivos em relao a sua gesto. Estudar o Ciclo Operacional e Ciclo Financeiro, alm do Capital Circulante Lquido e a Necessidade de Investimento em Capital de Giro. Por fim, vamos analisar as abordagens de financiamento de Capital de Giro.

Uma das maiores dificuldades das organizaes brasileiras consiste na obteno e administrao do Capital de Giro (CG). Apesar de muitas tcnicas e processos para facilitar a gesto do CG, a grande maioria das empresas no aplica ou desconhece estas ferramentas.

A gesto do capital de giro uma das mais importantes e tambm uma das mais complexas e abrangentes reas financeiras de uma organizao. A gesto do capital de giro constitui-se em uma das principais atividades do gestor financeiro que, de acordo com Brigham e Ehrhardt (2007), gasta cerca de 60% do tempo dedicado a essa atividade, principalmente nas empresas menores. Por ser o capital de giro quem produz capacidade financeira de sustentao e crescimento dos negcios, uma gesto baseada em tcnicas e controles internos eficientes torna-se essencial para dar suporte s decises financeiras referentes a aspectos estratgicos e operacionais das empresas. Alm disso, Assaf Neto e Silva (2002, p.11) destacam quea qualidade das decises que envolvem o capital de giro dependente da capacidade analtica do administrador para compreender o problema e toda sua extenso, e do conhecimento tcnico para definir a melhor soluo.

Voc sabe o que significa Capital de Giro? O termo giro refere-se aos recursos correntes (curto prazo) da empresa, geralmente identificados como aqueles que sero convertidos em caixa no prazo mximo de um ano (ASSAF NETO; SILVA, 2002, p.14). O capital de giro, algumas

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vezes chamado capital de giro bruto ou de capital circulante, simplesmente se refere ao ativo circulante usado nas operaes do dia-a-dia das empresas.[...] Qualquer que seja a definio adotada, o conceito de capital de giro (ou de capital circulante) identifica os recursos que giram (circulam) vrias vezes em determinado perodo. Em outras palavras, corresponde a uma parcela de capital aplicada pela empresa em seu ciclo operacional, caracteristicamente de curto prazo, a qual assume diversas formas ao longo de seu processo produtivo e de venda (ASSAF NETO, 2003, p.450).

Essa parcela de capital aplicada pela empresa em seu ciclo operacional, ou seja, o capital de giro, constituda de quatro componentes principais: Caixa, Ttulos Negociveis, Contas a Receber e Estoques. Todos esses recursos tm a caracterstica de circularem na empresa, seguindo um fluxo cclico entre eles e transformando-se ao longo do tempo. A Figura 1, desenvolvida por Assaf Neto (2002, apud ASSAF NETO, 2003), retrata o fluxo de capital de giro de acordo com o ciclo de produo e venda (operacional) de uma empresa industrial.Recursos aplicados no ativo circulante Disponvel Estoques de materiais

Realizvel

Venda a vista

Venda a prazo

Estoques de produtos acabados

Produo

Figura 1 O fluxo do ativo circulante. Fonte: Assaf Neto (2002, apud ASSAF NETO, 2003, p. 451).

O autor discorre que os recursos (prprios ou de terceiros) aplicados no ativo circulante so canalizados, numa etapa inicial do processo de produo e venda da empresa, para o disponvel, o qual ir alimentar todas as necessidades financeiras de suas operaes. Assim, numa primeira sada, os recursos so transferidos para a produo da empresa, mediante aquisies de estoques de materiais e pagamentos de custos fabris. Posteriormente, os produtos acabados so estocados espera de serem vendidos e geram novos dispndios empresa. Quando vendidos, os recursos obtidos

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retornam, alguns imediatamente (se as vendas forem a vista) e outros em curto prazo (se as vendas forem a prazo) ao disponvel da empresa, dando-se incio novamente ao ciclo operacional descrito. Matias (2007) e Assaf Neto e Silva (2002) concordam que o volume de capital de giro de uma empresa determinado pelo volume de vendas, o qual lastreado pelos estoques, valores a receber e caixa; sazonalidade dos negcios, que determina variaes nas necessidades de recursos ao longo do tempo; fatores cclicos da economia, como recesso, comportamento do mercado etc.; tecnologia, principalmente aplicada aos custos e tempo de produo; e polticas de negcios, centradas em alteraes nas condies de venda, de crdito, produo etc. Dessa forma, o gestor financeiro deve se ater a questo da rentabilidade do investimento em capital de giro. Matias (2007) lembra que todo investidor realiza investimentos com a expectativa de um retorno maior do que o custo do financiamento, e nem sempre investimentos em giro geram retornos significativos. O autor explica que, teoricamente, os ativos de longo prazo possuem maior rentabilidade que os ativos de curto prazo. Porm, como o investimento em ativos circulantes necessrio para conduzir a empresa, as decises financeiras baseiam-se no dilema risco versus retorno. Brigham e Ehrhardt (2007) explicam que quanto maiores os investimentos em ativo circulante, menor o perigo de esgotamento desses itens e, consequentemente, menor o risco operacional da empresa. Em contrapartida, grandes investimentos em circulante conferem menores retornos empresa. Dessa maneira, o mais rentvel para qualquer empresa seria manter em seus ativos circulantes valores que atendam adequadamente as suas necessidades operacionais. Baixos nveis de ativos circulantes determinam, juntamente com o aumento na rentabilidade, uma elevao nos riscos da empresa. Evidentemente, valores mais baixos de capital de giro podem levar a empresa a um aperto em sua liquidez, no caso de eventuais atrasos nos recebimentos, ou a sacrificar seus processos normais de produo e venda, na eventualidade de falta de estoques (ASSAF NETO; LIMA, 2009).

Diante desse dilema, conclumos que o objetivo da administrao financeira a curto prazo gerir cada um dos ativos circulantes (caixa, ttulos negociveis, duplicatas a receber e estoques) e passivos circulantes (duplicatas a pagar, ttulos a pagar e contas a pagar) a fim de alcanar um equilbrio entre lucratividade e risco que contribua 31

positivamente para o valor da empresa. Um investimento alto demais em ativos circulantes reduz a lucratividade, enquanto um investimento baixo aumenta o risco de a empresa no poder honrar suas obrigaes nos prazos estipulados. Ambas as situaes levam reduo de valor da empresa.

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1 Ciclo operacional e financeiroVoc est lembrado que a gesto do capital de giro preocupa-se com as atividades operacionais a curto prazo das empresas? As atividades operacionais tm como caractersticas principais a curta durao e a rpida converso de seus elementos em outros do mesmo grupo, repetitivamente. Uma vez que os elementos que compem o capital de giro no costumam apresentar sincronizao temporal em seus nveis de atividades (compras, produo, vendas, recebimentos e pagamentos), importante um conhecimento integrado do seu desenvolvimento como forma de alocar mais adequadamente o investimento necessrio em capital de giro e efetivar seu controle. no entendimento do processo cclico dos ativos circulantes que se identifica, de forma natural e repetitiva, o ciclo operacional da empresa, que se inicia na aquisio da matria-prima para produo no caso de uma empresa industrial ou na compra de mercadorias para uma empresa comercial - e se finaliza no recebimento pela venda do produto final. A Figura 2 ilustra, de forma linear, esse processo.

Figura 2 O ciclo operacional e financeiro. Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2003, p.455).

Onde, = prazo mdio de estocagem das matrias-primas = prazo mdio de fabricao = prazo mdio de estocagem dos produtos terminados / prazo mdio de venda = prazo mdio de cobrana 33

= prazo mdio de pagamento a fornecedores

O ciclo operacional descrito na Figura 2 revela diversas fases operacionais: compra, fabricao, estocagem (matrias-primas e produtos em transformao), venda, cobrana e pagamentos aos fornecedores. Cada uma dessas fases operacionais possui determinada durao (ASSAF NETO; LIMA, 2009). Assim sendo, o ciclo operacional o prazo entre a chegada de matria-prima para estoque e a data na qual as contas a receber so pagas pelos clientes (ROSS; WESTERFIELD; JAFFE, 2002). Portanto,

A soma destes prazos operacionais indica o tempo mdio decorrido desde a compra de matria-prima at o momento de recebimento do valor de venda. Quanto mais longo se apresentar esse perodo, maior ser, evidentemente, a necessidade de recursos para financiar o giro da empresa. Para Assaf Neto e Silva (2002), uma administrao eficiente do capital de giro envolve imprimir alta rotao (giro) aos elementos do circulante, minimizando os perodos operacionais. Este incremento de atividade no capital de giro proporciona, de forma favorvel empresa, menor necessidade de imobilizao de capital no ativo circulante e conseqente incentivo ao aumento da rentabilidade. Imaginemos que uma certa empresa apresente um ciclo operacional de 60 dias: nesse intervalo, capital de terceiros ou capital prprio devero financiar as atividades da empresa, at o momento do pagamento do cliente pelo produto ou servio. Se o ciclo operacional tivesse uma diminuio de tempo para 30 dias, por exemplo, os custos desse financiamento poderiam ser diminudos tambm, aumentando assim o resultado da empresa. Brigham e Ehrhardt (2007) lembram que o progresso tecnolgico pode provocar mudanas drsticas na poltica de investimento em ativo circulante, uma vez que tornam os processos operacionais mais eficientes e, por conseguintes, mais rpidos, diminuindo, por exemplo, o Perodo Mdio de Fabricao (PMF). Porm, para Assaf Neto e Silva (2002), no suficiente conhecer somente as duraes das fases operacionais da empresa para chegar-se a suas efetivas necessidades de financiamento e ao montante ideal de capital de giro. A demanda por financiamento 34

para capital de giro precisa estar vinculada a algum parmetro que a transforme, sempre que necessrio, em valores monetrios. Por isso, alm do ciclo operacional, preciso conhecer o ciclo de caixa da empresa. O ciclo de caixa inicia-se quando as compras de matrias-primas so pagas e termina quando se recebe o pagamento das contas a receber, conforme a Figura 2 (ROSS; WESTERFIELD; JAFFE, 2002). O ciclo financeiro focaliza as movimentaes de caixa, isto , entradas e sadas de caixa. Em outras palavras, representa o intervalo de tempo que a empresa ir necessitar efetivamente de financiamento para suas atividades (ASSAF NETO; SILVA, 2002). Pode ser considerado como igual ao ciclo operacional menos o prazo de contas a pagar, de acordo com Ross, Westerfield e Jaffe (2002), ou seja:

O perodo mdio de pagamento a fornecedores (PMPF) o perodo pelo qual a empresa capaz de retardar o pagamento da compra de diversos recursos, tais como mo-de-obra e matria-prima. O PMPF traduz o tempo que os fornecedores assumem o papel de financiadores da atividade operacional da empresa. Quanto maior o PMPF, a empresa ter menor necessidade de financiamento do seu ciclo de caixa. Quanto a isso, Matias (2007) discorre dizendo que, normalmente, as empresas incorrem em elevados custos financeiros para a manuteno de seu ciclo financeiro, pelo que uma boa gesto do capital de giro exigir imprimir alta rotao aos elementos do ativo circulante, o que significa reduzir o ciclo financeiro. Portanto, o objetivo aqui refere-se a uma reduo mxima, sem prejudicar as atividades operacionais da empresa, do ciclo financeiro. Isso aumentaria os lucros da empresa porque, a amplitude do ciclo de caixa relaciona-se diretamente com a necessidade de financiamento, e esse, por sua vez, possui um custo que reduz o valor da empresa. O ciclo de converso de caixa pode ser reduzido, segundo Brigham e Ehrhardt (2007): a) por meio da diminuio no perodo de converso do estoque, processando e vendendo as mercadorias mais rapidamente; b) por meio da reduo no perodo mdio de recebimento, agilizando as cobranas; ou c) mediante o prolongamento do perodo mdio de pagamento a fornecedores, reduzindo o ritmo dos prprios pagamentos da empresa. Desde que essas 35

aes possam ser tomadas sem aumentar os custos ou reprimir as vendas, elas devem ser executadas. No obstante, Ross, Westerfield e Jaffe (2002) acrescentam que essas atividades geram padres no sincronizados de entrada e sada de caixa. Isso porque os pagamentos de compras de matria-prima no ocorrem ao mesmo tempo em que o recebimento de dinheiro correspondente venda do produto.

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2 Capital circulante lquidoRelacionado principalmente ao ciclo financeiro est o conceito de capital circulante lquido (CCL), que apresenta o desempenho da empresa em relao a sua capacidade de saldar suas obrigaes de curto prazo. Ou seja, identifica se os prazos operacionais esto estabelecidos de forma adequada para conferir liquidez empresa. O capital circulante lquido (ou ativo circulante lquido, ou capital de giro lquido) a diferena entre os ativos e passivos circulantes. Ou seja,

uma medida conveniente da liquidez da empresa e tambm reflete sua capacidade de gerenciar suas relaes com fornecedores e clientes. A administrao ineficiente do capital de giro afetar dramaticamente o fluxo de caixa das empresas. Uma m administrao das duplicatas a pagar pode resultar no pagamento de fornecedores em pocas indevidas, drenando os recursos de caixa da empresa (GITMAN, 2002). Matias (2007) explica que a empresa possui capital circulante lquido positivo quando o ativo circulante supera o passivo circulante, indicando excesso de ativos circulantes para honrar os passivos circulantes. O quadro 1 apresenta essa situao.Ativo Circulante Realizvel a Longo Prazo Ativo Permanente Passivo Circulante Exigvel a Longo Prazo Patrimnio Lquido

Quadro 1 CCL positivo. Fonte: Adaptado de Assaf Neto e Lima (2009, p.635).

Nessa situao, o capital de giro lquido representa a parcela do ativo circulante que est sendo financiada com recursos de longo prazo (exigvel a longo prazo e/ou patrimnio lquido) (MATIAS, 2007). Lembrando que financiamentos a longo prazo geralmente so mais onerosos organizao e investimentos em ativos circulantes so menos rentveis, essa situao no otimiza os recursos financeiros. Em contrapartida, confere segurana empresa para saldar seus compromissos em dia.

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J quando o ativo circulante menor que o passivo circulante, a empresa possui capital circulante lquido negativo, indicando dficit de ativos circulantes para honrar os passivos circulantes. A situao representada no Quadro 2.Ativo Circulante Realizvel a Longo Prazo Ativo Permanente Passivo Circulante Exigvel a Longo Prazo Patrimnio Lquido

Quadro 2 CCL negativo. Fonte: Assaf Neto e Lima (2009, p.635).

Nessa situao, o capital de giro lquido representa a parcela do Ativo Permanente e Ativo Realizvel a Longo Prazo que est sendo financiada com recursos de curto prazo (Passivo Circulante). Ou seja, com capital de giro lquido negativo recursos de curto prazo esto sendo utilizados para financiar ativos de longo prazo (MATIAS, 2007). Partindo-se da premissa que os financiamentos a curto prazo so menos onerosos organizao e os investimento em longo prazo so mais rentveis, essa situao parece ser a ideal. Porm, enquanto as obrigaes a curto prazo vencem dentro de um ano, o retorno dos investimentos a longo prazo ultrapassa esse perodo, o que pode gerar uma desfalque no caixa da empresa e, por conseguinte, impossibilidade de honrar com as obrigaes. Di Agustini (1999) salienta que o capital circulante negativo tem sido a causa de grande nmero de falncias e concordatas. Finalmente, quando o ativo circulante igual ao passivo circulante, tem-se o que se chama de capital circulante nulo. O Quadro 3 apresenta essa situao.Ativo Circulante Realizvel a Longo Prazo Ativo Permanente Passivo Circulante Exigvel a Longo Prazo Patrimnio Lquido

Quadro 3 CCL nulo. Fonte: Assaf Neto e Lima (2009, p.635).

Por essa composio justa de valores, a empresa, na realidade, no trabalha com recursos de longo prazo financiando seus ativos circulantes, ou seja, no apresenta folga financeira. As aplicaes de curto prazo esto totalmente financiadas com fundos de mesma durao, e a posio de liquidez no apresenta folga alguma (ASSAF NETO; 38

LIMA, 2009). Esse conceito est relacionado ao Princpio da Correspondncia Cronolgica, estudado na Unidade 1. Diante de toda essa anlise, Gitman (2002) complementa dizendo que quanto maior o capital circulante lquido de uma empresa, menor ser sua lucratividade, por possuir investimentos excessivos em circulantes, e menor o risco de ela no poder pagar suas obrigaes no vencimento; por outro lado, quanto menor o capital circulante lquido, maior ser a lucratividade da empresa, e maior ser risco de ela no poder pagar suas obrigaes no vencimento. A avaliao da empresa em relao ao seu capital circulante e, por conseguinte, a sua liquidez, essencial para tomada de deciso no que tange o binmio Liquidez x Rentabilidade dos recursos financeiros de uma empresa. Pense sobre isso.

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3 Anlise da necessidade de investimento em capital de giroAntes de adentrar na anlise da Necessidade de Investimento em Capital de Giro (NICG), indispensvel fazer uma distino dos grupos da estrutura patrimonial da empresa em circulante operacional, circulante financeiro e permanente. O quadro 4 ilustra os principais valores patrimoniais e financeiros que compem cada um desses grupos.ATIVO FINANCEIRO PASSIVO

FINANCEIRO

Caixa e Bancos Aplicaes Financeiras

CIRCULANTE

Emprstimos Bancrios Financiamentos Duplicatas Descontadas Dividendos e IR

CIRCULANTE

Disponibilidades Duplicatas a Receber Estoques Adiantamento de Despesas de Competncia do Exerccio Seguinte

OPERACIONAL

OPERACIONAL

Fornecedores Salrios e Encargos Impostos e Taxas Adiantamentos de Clientes

PERMANENTE

PERMANENTE

Realizvel a Longo Prazo Investimento Fixo

Exigvel a Longo Prazo Patrimnio Lquido

Quadro 4 Os grupos patrimoniais operacionais, financeiro e permanente. Fonte: Adaptado de Assaf Neto e Silva (1997, p. 62)

Ressalta-se que as disponibilidades operacionais compreendem os valores mantidos em caixa ou bancos somente se utilizados no cotidiano operacional da empresa (WERNK, 2008). A explicao acerca das distines desses grupos e da necessidade de investimento em capital de giro dada por Assaf Neto e Silva (2002). O ativo circulante financeiro, de natureza varivel (sazonal), formado sem apresentar necessariamente um vnculo direto com o ciclo operacional da empresa. No denota, por conseguinte, qualquer comportamento preestabelecido, variando mais estreitamente em funo da conjuntura e do risco de maior ou menor liquidez que a empresa deseja assumir. O passivo circulante financeiro inclui as dvidas da empresa junto a instituies financeiras e outras obrigaes que tambm no apresentam nenhuma

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vinculao direta com sua atividade operacional. Alteraes que venham a ocorrer no volume de atividade ou nas fases operacionais no repercutem diretamente sobre o passivo financeiro, refletindo, estas variaes basicamente sobre os elementos cclicos (ativos e passivos). J o ativo circulante operacional composto de valores que mantm estreita relao com a atividade operacional da empresa. Estes elementos so diretamente influenciados pelo volume de negcios (produo e vendas) e caractersticas das fases do ciclo operacional (condies de recebimento das vendas e dos pagamentos a fornecedores, prazo de estocagem etc.). Pelas caractersticas bsicas enunciadas, os ativos circulantes operacionais devem manter coerncia com o ciclo operacional da empresa, de forma que o volume dos investimentos nestes itens seja representativo de suas necessidades de investimento em capital de giro. O passivo circulante operacional representa as obrigaes de curto prazo identificadas diretamente com o ciclo operacional da empresa. As caractersticas e formao dessas contas so similares as do ativo circulante operacional, representando as dvidas de funcionamento (operacional) da empresa. O investimento fixo (ativo permanente) inclui os direitos a receber da empresa a longo prazo e o ativo permanente propriamente dito. So valores inscritos tipicamente como de longo prazo (no circulantes). O passivo permanente compe-se das fontes de financiamento a longo prazo prprias (patrimnio lquido) e de terceiros (exigibilidades), cuja importncia no equilbrio financeiro de uma empresa financiar necessidades permanentes de recursos. Assim, para estabelecer a Necessidade de Investimento em Capital de Giro (NICG) de uma empresa, calcula-se a diferena entre o Ativo Circulante Operacional (ACO) e o Passivo Circulante Operacional (PCO). Essa equao resulta no Circulante Operacional Lquido (COL), que, por sua vez, representa a Necessidade de Investimento em Capital de Giro (NICG), ou seja: Dessa forma, h necessidade de investimento em capital de giro quando ACO for maior que PCO, ou seja, o passivo circulante operacional no suficiente para os investimentos em circulante operacional. Assaf Neto e Silva (2002) aconselham que uma necessidade operacional de recursos, deve, em condies de equilbrio, ser

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financiada com fundos tambm de longo prazo. Essa situao pode ser visualizada no Quadro 5.ATIVO FINANCEIRO PASSIVO Emprstimos Bancrios Financiamentos Duplicatas Descontadas Dividendos e IR Fornecedores Salrios e Encargos Impostos e Taxas Adiantamentos de Clientes FINANCEIRO

Caixa e Bancos Aplicaes Financeiras

CIRCULANTE

CIRCULANTE

Disponibilidades Duplicatas a Receber Estoques Adiantamento de Despesas de Competncia do Exerccio Seguinte

OPERACIONAL

OPERACIONAL

PERMANENTE

PERMANENTE

Realizvel a Longo Prazo Investimento Fixo

Exigvel a Longo Prazo Patrimnio Lquido

Quadro 5 NIGC financiado por recursos permanentes. Fonte: Adaptado de Assaf Neto e Silva (1997, p. 62).

A opo por fontes de longo prazo refere-se segurana conferida no financiamento das atividades operacionais, uma vez que as fontes de curto prazo remetem a um risco maior. Portanto, conclui-se que, em uma situao de equilbrio financeiro, a NICG deve ser igual ao CCL, que por sua vez financiado com recursos de longo prazo (prprios ou de terceiros). Por outro lado, como bem observa Assaf Neto e Silva (2002), a necessidade de investimento em capital de giro pode tambm ser negativa, evidenciando-se neste caso um excesso de funcionamento fontes operacionais de fundos em relao aos investimentos operacionais em circulante. Esta situao denota, de maneira inversa, que os passivos de funcionamento se encontram financiando no somente os ativos circulantes operacionais, mas tambm outros elementos do ativo, como os ativos circulantes financeiros. O quadro 6 ilustra essa situao.

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ATIVO FINANCEIRO

PASSIVO Emprstimos Bancrios Financiamentos Duplicatas Descontadas Dividendos e IR FINANCEIRO

Caixa e Bancos Aplicaes Financeiras

CIRCULANTE

CIRCULANTE

Disponibilidades Duplicatas a Receber Estoques Adiantamento de Despesas de Competncia do Exerccio Seguinte Realizvel a Longo Prazo Investimento Fixo

OPERACIONAL

PERMANENTE

OPERACIONAL

Fornecedores Salrios e Encargos Impostos e Taxas Adiantamentos de Clientes

PERMANENTE

Exigvel a Longo Prazo Patrimnio Lquido

Quadro 6 PCO financiando o ACF. Fonte: Adaptado de Assaf Neto e Silva (1997, p. 62).

Em suma, a necessidade de investimento em capital de giro depende fundamentalmente do volume de atividades (produo e vendas) da empresa e de seu ciclo financeiro, definido pelas caractersticas da natureza de seus negcios e sazonalidades, que determinam os giros (rotaes) das fases operacionais e os valores das contas cclicas (ASSAF NETO; SILVA, 2002). Em situao de elevao do investimento necessrio em giro, como por exemplo, maior concesso de crdito ou investimento em estoques para atender certa demanda, importante que a empresa gere recursos de caixa provenientes de suas operaes de modo a poder financiar esta maior demanda por recursos operacionais permanentes. Se os recursos gerados internamente no forem suficientes para cobrir estas necessidades adicionais, deve a empresa recorrer a emprstimos de longo prazo ou a novos aportes de capital acionrio de forma a preservar seu equilbrio financeiro (ASSAF NETO; SILVA, 2002). Na existncia de uma intensa necessidade de investimento em capital de giro, na expanso da empresa, por exemplo, sem a capacidade de financiamento com recursos compatveis, ocorre o que se chama de overtrading. Matias (2007) ressalta que esta uma das principais razes de insolvncia de empresas: forte expanso da atividade, com forte expanso da necessidade de capital de giro, sem expanso do financiamento do capital de giro (com recursos prprios) e, portanto, suprindo toda a NICG, ou grande parte dela, com recursos de terceiros a elevadas taxas de juros. Esse o tpico fenmeno overtrading. Isso ocorre quando a NICG ultrapassa o CCL. 43

Agora vamos estudar mais sobre o financiamento do capital de giro.

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4 Financiamento do capital de giroNo obstante a todas as decises sobre a administrao do capital de giro apresentadas at ento, outra preocupao que merece ateno diz respeito ao financiamento do ativo circulante. Ou seja, importante analisar qual composio dos passivos a mais adequada a fim de minimizar os custos de captao dos recursos. Assaf Neto (2003), Brigham e Ehrhardt (2007) e Gitman (2002) concordam que o custo de um crdito a longo prazo mais caro que o de curto prazo. Essa desigualdade explicada, basicamente, pelo risco envolvido na durao do emprstimo. As menores condies de previsibilidade da capacidade de pagamento do devedor impem um custo adicional ao emprstimo. O tomador de recursos de longo prazo, por sua vez, obriga-se tambm a remunerar expectativas de flutuaes nas taxas de juros por um tempo maior, as quais assumem geralmente um comportamento crescente em razo da incerteza associada durao do emprstimo. Ou seja, quanto maior for o prazo de concesso de um emprstimo, maior ser seu custo em razo do risco que o credor assume em no obter um retorno condizente com os padres de juros da poca. Ainda h o dilema risco versus retorno no financiamento do capital de giro. Ao utilizar mais crdito de longo prazo, h uma reduo do risco empresarial; no entanto, por serem os juros de longo prazo geralmente superiores aos de curto prazo, este tipo de financiamento diminui, ao mesmo tempo, a taxa de retorno da empresa. Ao contrrio, a preferncia por endividamento de curto prazo reduz a folga financeira e eleva o risco; diante de um menor custo financeiro da dvida, ocorre uma elevao da taxa de retorno da empresa (ASSAF NETO; LIMA, 2009). Antes de descrever as principais abordagens de financiamento, importante entender o conceito de capital de giro mediante sua classificao em permanente e sazonal. A parte permanente do capital circulante, como explica Assaf Neto (2003), determinada pela atividade normal da empresa, e seu montante definido pelo nvel mnimo de necessidade de recursos demandados pelo ciclo operacional em determinado perodo. Esse capital circulante fixo constitui-se num investimento cclico de recursos em giro que se repete periodicamente, assumindo em conseqncia um carter permanente.

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J o capital de giro sazonal, por sua vez, determinado pelas variaes temporrias que ocorrem normalmente nos negcios de uma empresa. A Figura 3 ilustra essa classificao, veja.

Figura 3 Necessidade Permanente e Sazonal do Capital de Giro e Ativo PermanenteFonte: Adaptado de Assaf Neto (2003, p.469).

Com base nisso, existem algumas abordagens para o financiamento do capital de giro. Essas abordagens so apresentadas e explicadas por Assaf Neto (2003).

4.1 Abordagem pelo equilbrio tradicional A primeira abordagem a ser apresentada pelo equilbrio financeiro, como mostra a Figura 4. De acordo com essa abordagem, o ativo permanente e o capital de giro permanente so financiados tambm por recursos de longo prazo (prprios ou de terceiros). As necessidades sazonais de capital de giro, por sua vez, so cobertas por exigibilidades de curto prazo. Ou seja, ocorrendo oscilaes no capital de giro, essas necessidades temporrias devero ser financiadas, medida que forem ocorrendo, por recursos de terceiros a curto prazo; e os investimentos de carter permanente sero cobertos por fundos de prazo compatvel (longo prazo).

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Figura 4 Abordagem pelo equilbrio financeiro e tradicional. Fonte: Assaf Neto (2003, p.469).

Um aspecto de risco dessa abordagem refere-se a uma possvel retrao (mesmo temporria) nas disponibilidades de emprstimos de curto prazo. Evidentemente, a empresa poder encontrar dificuldades de captar recursos circulantes no mercado, o que viria a prejudicar sua liquidez. Mesmo que os obtenha, poder ainda contrat-los a custos mais elevados, o que onerar sua rentabilidade. No entanto, ao adotar essa abordagem compensatria, a empresa no teria recursos dispendiosos aplicados em itens sem nenhum retorno.

4.2 Abordagem de risco mnimo Uma postura de minimizao do risco pode ser adotada por uma abordagem conservadora para o financiamento do capital de giro, conforme apresentado na Figura 5.

Figura 5 Abordagem de risco mnimo. Fonte: Assaf Neto (2003, p.469).

Nessa composio mais extrema e de pouca aplicao prtica, a empresa encontra-se totalmente financiada por recursos permanentes (longo prazo), inclusive em suas necessidades sazonais de fundos. O capital de giro lquido, nessa situao, igual ao capital de giro (ativo circulante) da empresa. O risco colocado em nveis mnimos em razo de a empresa no necessitar utilizar sua capacidade de captao de recursos a curto prazo, a qual seria acionada somente para atender as necessidades financeiras inesperadas (imprevistas). O custo dessa abordagem seria bem elevado, em razo da preferncia por crditos de longo

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prazo (normalmente mais onerosos que os de curto prazo) e da ociosidade desses recursos em vrios perodos. Uma preferncia por essa composio poderia ocorrer, no obstante isso, em certos momentos da economia, em que prevalecem, atipicamente, maior custo ao crdito circulante e oportunidades de aplicaes financeiras cujas remuneraes excedessem o custo de capital. Nessas situaes, a empresa minimizaria seus custos de financiamento e auferiria, ao mesmo tempo, retornos compensadores nos perodos em que os recursos armazenados no apresentassem utilidade alguma. Uma abordagem mais agressiva pode financiar toda a necessidade de Capital de Giro sazonal e parte do capital de giro permanente com recursos de curto prazo. Perceba que nessa situao, a empresa incorre um risco mais elevado, em funo da elevao da dependncia da captao dos recursos a curto prazo. Outras abordagens de financiamento podem ser propostas, dependendo da necessidade e perfil conservador ou agressivo do gestor financeiro. Deve-se analisar tambm quais sero as fontes de financiamento, tanto de curto como de longo prazo, bem como os custos incorridos nestas escolhas.

Concluindo,

a

necessidade

de

investimento

em

capital de

giro

e,

consequentemente a necessidade da escolha das fontes de financiamento, decorre do ciclo operacional e financeiro, o que, por sua vez, refletem as polticas da empresa em relao ao seu capital de giro e, por conseguinte, dos elementos que o compem. Dessa forma, os prximos captulos abordaro as particularidades de cada uma dessas contas: Disponibilidades, Contas a Receber e Estoques.

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Resumo

Nessa unidade, voc teve a oportunidade de conhecer os principais conceitos de Capital de Giro: so aos recursos correntes (curto prazo) da empresa, geralmente identificados como aqueles que sero convertidos em caixa no prazo mximo de um ano. Esses recursos so representados no Balano Patrimonial pelas contas: Disponibilidades, Contas a Receber e Estoques. Alm disso, estudou o Ciclo Operacional e Financeiro das empresas, bem como os perodos mdios que os compem. Pde analisar como uma administrao eficiente do capital de giro demanda menores necessidades de financiamentos, tanto prprios como de terceiros. Outro importante ponto analisado nesta unidade foi o estudo do Capital Circulante Lquido e da Necessidade de Investimento em Capital de Giro. Viu que, quando esses valores so igualados, chega-se a um equilbrio financeiro. Tambm identificou o significado do overtrading: expanso da atividade, com forte expanso da necessidade de capital de giro, sem expanso do financiamento do capital de giro por meio do Passivo Circulante Operacional. Por fim, verificou a classificao do capital de giro em permanente e sazonal e conheceu algumas abordagens no seu financiamento do capital de giro.

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Atividades de aprendizagem

1. Admita uma empresa industrial que tenha apresentado, ao final dos exerccios de 2008 e 2009, os seguintes prazos operacionais:PME (matria-prima) PMF PMV PMC PMPF Ano 2008 15 dias 10 dias 20 dias 30 dias 20 dias Ano 2009 20 dias 15 dias 30 dias 30 dias 50 dias

Pede-se: a) o clculo do Ciclo Operacional b) o clculo do Ciclo Financeiro c) a anlise dos resultados encontrados.

2. Voc o analista financeiro da empresa Finanas. Foi lhe dado a tarefa de analisar o Balano Patrimonial do ltimo dia de 2009, conforme apresentado abaixo.Balano Patrimonial da empresa "Finanas" em 31/12/2009 ATIVO PASSIVO FINANCEIRO FINANCEIRO Emprstimos Bancrios Financiamentos Duplicatas Descontadas Dividendos e IR

Caixa e Bancos Aplicaes Financeiras

R$

10.000,00

R$

15.000,00

CIRCULANTE

CIRCULANTE

Disponibilidades Duplicatas a Receber Fornecedores Estoques Salrios e Encargos R$ 120.000,00 Adiantamento de Despesas de Impostos e Taxas Competncia do Exerccio Adiantamentos de Clientes Seguinte Realizvel a Longo Prazo Investimento Fixo Exigvel a Longo Prazo Patrimnio Lquido

OPERACIONAL

OPERACIONAL

R$

95.000,00

PERMANENTE

PERMANENTE

R$ 1.100.000,00

R$ 1.120.000,00

A fim de sugerir aes para a diretoria, voc dever calcular o Capital Circulante Lquido, bem como a Necessidade de Investimento em Capital de Giro e realizar a sua anlise. No esquea de sugerir aes com o intuito de alcanar o equilbrio financeiro no ano de 2010.

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3. Estudos financeiros prospectivos da Cia Drago demonstram que suas necessidades totais de investimento em Capital de Giro, para cada trimestre do prximo exerccio, vo de um mnimo de $20.000,00 at o nvel de $38.000,00, ou seja:

ARPL = Ativo Realizvel a Longo Prazo AP = Ativo Permanente Pedimos: a) Descrever graficamente o comportamento varivel e permanente do Capital de Giro, dentro do contexto grfico de financiamento total da empresa. Pr requisito: classificar o CG em CG permanente e em CG varivel. b) Descrever graficamente a composio de financiamento do Capital de Giro segundo as abordagens de risco mnimo, pelo equilbrio financeiro e agressiva. Considere para a abordagem agressiva que os recursos dos passivos de curto prazo financiam todo o capital de giro sazonal e tambm 50% dos investimentos permanentes de Capital de Giro. c) Calcule as necessidades, em $, trimestrais, do financiamento a curto e a longo prazos para cada abordagem considerada.

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UNIDADE 3 - GESTO DAS DISPONIBILIDADESOBJETIVO Nessa unidade voc conhecer as caractersticas das contas que compem as Disponibilidades de uma empresa, os motivos da existncia dessas contas, bem como alguns modelos e tcnicas de gesto de Caixa.

O grupo Disponibilidades representado pelas contas mais lquidas de uma empresa, ou seja, as se convertem em dinheiro rapidamente ou j o so. Esse grupo abrange tanto a conta Caixa da empresa como a conta Bancos, sendo que, por vezes, engloba a conta Ttulos Negociveis ou Aplicaes Financeiras de Curto Prazo, que so ttulos do mercado financeiro com liquidez imediata. O Quadro 1 mostra em qual ambiente est inserida a gesto das disponibilidades dentro do Ativo Circulante no Balano Patrimonial. Balano PatrimonialAtivo CirculanteDisponibilidades Contas a Receber Estoques

Passivo CirculanteSalrios Fornecedores Impostos

Ativo Realizvel a Longo Prazo Ativo Permanente

Passivo Exigvel a Longo Prazo Patrimnio Lquido

Quadro 1: Balano Patrimonial Fonte: Elaborado pelo autor Englobaremos aqui na denominao Caixa os ativos de liquidez imediata, ou seja, recursos monetrios armazenados pela empresa e saldos mantidos em contas correntes bancrias (de disponibilidade imediata). O Caixa representa valores que podem ser usados a qualquer momento em pagamentos de diversas naturezas (ASSAF NETO, 2003). Os Ttulos Negociveis, segundo Gitman (2002), so instrumentos a curto prazo do mercado financeiro usados pelas empresas para obter retornos sobre recursos temporariamente ociosos.

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J sabemos que quanto mais lquidos forem os investimentos, menos rentveis sero. Com as Disponibilidades no seria diferente. Por isso, para maximizar a rentabilidade de uma empresa, as Disponibilidades deveriam ser nulas. Ou seja, haveria sincronizao entre pagamentos e recebimentos de tal forma que seria desnecessrio o estoque de recursos financeiros no Caixa ou em Ttulos Negociveis. Porm, como essa sincronizao nem sempre possvel, parte dos recursos financeiros da empresa se destina a um investimento aparentemente sem nenhuma ou pouca rentabilidade. Voc sabe por qu? Keynes (1982, apud ASSAF NETO; LIMA, 2009) identificou trs motivos que levam as empresas a manter determinado nvel de caixa, identificados como: precauo, transao e especulao. A apresentao dos trs motivos dada por Assaf Neto e Lima (2009): Motivo de Transao O motivo de transao (ou negcio) explicado pela necessidade que uma empresa apresenta de manter dinheiro em caixa para efetuar os pagamentos oriundos de suas operaes normais. A falta de sincronizao verificada entre os momentos dos recebimentos e dos vencimentos dos compromissos que determina a demanda por caixa pelas empresas. Ao se admitir a certeza absoluta sobre os perodos e sobre os montantes dos fluxos de entradas e sadas de caixa, a demanda pelo dinheiro para fins de transao seria desnecessria. No entanto, como a certeza total (sincronizao perfeita) praticamente impossvel, devido ao ambiente de incerteza que normalmente envolve os negcios e os naturais desajustes de mercado, a empresa dever sempre manter recursos monetrios em caixa para sustentar suas atividades normais. Motivo de Precauo comum ocorrerem certas despesas imprevistas nos negcios empresariais, e, quanto maior for o saldo de caixa para enfrentar essas exigncias monetrias inesperadas, tanto maior ser a margem de segurana de atuao da empresa. Dessa maneira, o motivo-precauo para reteno de ativos de mxima liquidez por uma empresa justificado pela diferena normalmente observada entre os fluxos monetrios orados e os reais. Cabe destacar tambm que o nvel de caixa exigido pelo motivo-precauo em funo, naturalmente, da flexibilidade que uma empresa apresenta em captar recursos nos exatos momentos de suas necessidades extraordinrias. A facilidade de acesso imediato ao crdito externo permite que uma empresa apresente menor necessidade de 53

manter saldo em caixa por precao. Mais uma vez, o grau de averso ao risco em relao a uma eventual falta de recursos disponveis que ir conciliar o aspecto de maior liquidez imediata ou retorno. Motivo especulao Finalmente, o terceiro motivo citado refere-se especulao. O aproveitamento de oportunidades especulativas em relao a certos itens no monetrios (estoques, normalmente), desde que a empresa acredite numa valorizao atraente de seus preos, pode justificar maiores investimentos de caixa. Alm dos trs motivos apresentados, Brigham e Ehrhardt (2007) apontam que os investimentos adequados em caixa e em ttulos negociveis podem ajudar a empresa a garantir a sua classificao de crdito, mantendo seus ndices de liquidez corrente alinhados com os de outras empresas do seu setor. Uma slida classificao de crdito permite empresa tanto adquirir mercadorias dos fornecedores com termos favorveis como manter ampla linha de crdito de custo baixo com seus bancos. Porm, a conservao dos saldos disponveis pode acarretar duas consequncias negativas, que so apontadas por Sanvicente (1987): a manuteno de saldos de caixa significa a renncia sua aplicao em operaes mais rentveis, em primeiro lugar; e a desvalorizao do seu poder aquisitivo quando os nveis gerais de preos elevam-se significativamente na economia em que a empresa est inserida. Por no apresentar retorno atraente, ou at inexistente, o saldo do disponvel ideal deveria ser o mnimo possvel. Assaf Neto e Lima (2009) destacam que uma posio extrema de disponvel zero, no entanto, invivel na prtica, j que a empresa precisa normalmente manter certo nvel de recursos financeiros disposio para atender s razes apresentadas anteriormente, principalmente em condies de incerteza. O caixa mnimo exigido depender de uma srie de fatores, apresentados por Assaf Neto e Silva (2002): a) falta de sincronizao entre pagamentos e recebimentos de caixa tende a elevar o caixa necessrio; b) grande possibilidade de ocorrncia de eventos no previstos no planejamento da empresa que representem desembolsos de caixa; c) acesso reconhecido s fontes de financiamento, seja capital prprio ou de terceiros. A existncia de um mercado financeiro desenvolvido pode ainda reduzir a exigncia de um caixa mnimo; 54

d) bom relacionamento com o sistema financeiro, particularmente no que se refere ao saldo da conta em bancos. A exigncia de saldos mnimos para futuras operaes requer maior volume nesta conta. Por outro lado, o sistema financeiro, ao agilizar o sistema de compensao de cheques, tende a reduzir a necessidade de caixa mnimo; e) possibilidade de furtos e desfalques, sendo que estes fatos podem ser minimizados atravs de controle mais acurado sobre os recebimentos e pagamentos de caixa; f) existncia de prazo mdio de recebimento das vendas acima do necessrio. Sempre que possvel a empresa deve reduzi-lo, seja atravs de uma compensao mais rpida, seja pela redefinio da poltica de vendas a prazo; g) existncia de prazo de pagamento reduzido. Com intuito de otimizar a rentabilidade, a empresa deve aumentar, sempre que for economicamente vantajoso, o prazo de pagamento; h) existncia de grande investimento em estoques. importante adequar a poltica de estoques, procurando diminuir o volume investido neste ativo, ajustando-o mais aproximadamente demanda; i) existncia de vrias contas correntes em bancos. interessante que a empresa procure otimizar a manuteno de contas correntes em bancos, de maneira a melhorar seu controle e a obter melhores condies nas negociaes com estas instituies financeiras; j) processo produtivo com desperdcios e atividades com pouca contribuio para o resultado; k) nvel de taxa de inflao. Por um lado, em ambientes inflacionrios a perda de decorrente da manuteno de um caixa mnimo tende a aumentar. Por outro lado, ambientes inflacionrios tendem a gerar mais oportunidades de investimento, aumentando a demanda de dinheiro pelo motivo especulativo; l) poltica de crdito da empresa, em especial a morosidade de pagamentos e a probabilidade de que clientes, no efetuem pagamentos, o que implica maior necessidade de caixa; m) regularidade nos recebimentos da empresa, inclusive os decorrentes de operaes a vista; e

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n) existncia de um modelo de administrao de caixa claramente definido e ajustado s operaes da empresa. A administrao precisa ter regras claras para saber quanto deixar em caixa, de maneira a cobrir satisfatoriamente suas necessidades de desembolsos. Resgata-se aqui o ltimo fator apresentado por Assaf Neto e Silva (2002) como condicionante da manuteno de saldos disponveis. Acredita-se que a definio de uma poltica, embasada com tcnicas de gesto e ferramentas que auxiliem no planejamento e controle das disponibilidades, possibilitam a minimizao desse tipo de investimento. Ross, Westerfield e Jaffe (2002) acrescentam que o saldo timo disponvel envolve um equilbrio entre custos de oportunidade associados manuteno de saldos excessivamente elevados e os custos de negociao decorrentes da manuteno de saldos demasiadamente baixos.

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1 Modelos de administrao de caixaOs modelos de administrao de caixa visam fundamentalmente fornecer ao administrador financeiro condies mais cientficas para definir o nvel timo de caixa de uma empresa. So modelos importantes para um amplo entendimento do comportamento do caixa, porm no devem ser aplicados sem restries. Como todos os modelos tericos, constituem-se em simplificaes da realidade, incorporando os aspectos essenciais de uma deciso sobre o volume ideal de caixa da empresa (ASSAF NETO; LIMA, 2009).

1.1 Modelo do caixa mnimo operacional Para obter o Caixa Mnimo Operacional, basta dividir os desembolsos totais previstos por seu giro de caixa (ASSAF NETO; SILVA, 2002). O caixa mnimo deve financiar a geralmente presente falta de sincronizao entre as entradas e sadas de fundos, ou seja, as disponibilidades devem apresentar-se suficientes para processar pagamentos quando as entradas esperadas (recebimentos) no se realizarem. Dessa forma, a primeira preocupao aqui refere-se ao clculo do giro de caixa, necessitando resgatar os fundamentos do ciclo de caixa. Definiu-se que o ciclo de caixa o perodo de tempo existente entre o pagamento de fornecedores e o recebimento das vendas efetuadas. Para melhor compreenso, Assaf Neto (2003) apresenta uma ilustrao de um ciclo de caixa de uma empresa industrial.

Figura 1 Ilustrao do ciclo de caixa de uma empresa industrial.

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Fonte: Assaf Neto (2003, p. 479).

Nota-se que na Figura 1 a durao do ciclo de caixa (cinco meses) menor que a do ciclo operacional (sete meses) exatamente pelo prazo concedido pelos fornecedores de insumos bsicos. O autor explica que as necessidades de financiamento da empresa ocorrem desde o momento do pagamento das compras de insumos at o do recebimento das vendas realizadas, o que representa seu ciclo de caixa. Para determinar o nmero de vezes que o caixa de uma empresa gira (se renova) num determinado perodo, basta dividir 12 pelo ciclo de caixa encontrado (se o clculo for em bases mensais). A partir da Figura apresentada, o clculo do Giro de Caixa seria igual a 2,4 (12/5). A maximizao desse valor, que lograda por uma gradativa reduo do ciclo de caixa, determina menores necessidades de recursos monetrios no disponvel. uma medida de eficincia na administrao de caixa de uma empresa, a qual deve colaborar com o objetivo de prover a mxima liquidez imediata possvel sem ocasionar valores significativos de recursos monetrios inativos investidos no disponvel (ASSAF NETO; SILVA, 2002). Assim sendo, j possvel realizar o clculo do caixa mnimo operacional, que, por sua vez, apresentado por Assaf Neto (2003):

Se a empresa apresentada na Figura 1 tivesse uma previso de desembolsos de R$ 24.000,00, seu saldo mnimo de caixa seria R$ 10.000,00. Ou seja, as aes do gestor, no que diz respeito ao caixa, seriam baseadas na manuteno de R$ 10.000,00 como seu estoque de recursos financeiros. A partir desta equao, chega-se a concluso: quanto maior o giro de caixa, menor a necessidade de caixa mnimo operacional. Portanto, cada vez que a empresa consegue aumentar o prazo de pagamento a fornecedores e reduzir o prazo de recebimento dos seus clientes, ela estar reduzindo seu ciclo operacional, reduzindo o ciclo de caixa e aumentando o giro de caixa e, conseqentemente, reduzindo a necessidade de caixa mnimo (MATIAS, 2007). Assaf Neto (2003) e Matias (2007) concordam que o Modelo do Caixa Mnimo Operacion