Apostila Antropologia Missionária

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Até Cristo ser formado em vós! Gálatas 4:19

1.-ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA..........................................................................................2

1.1 . O QUE É ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA?.......................................................................................2

ENTENDENDO O QUE É A CULTURA...........................................................................................................4

1 - CRISTO E CULTURA................................................................................................................................7

2 - A CULTURA E AS DIFERENÇAS TRANSCULTURAIS.................................................................................8

2.1 – O conceito de cultura....................................................................................................................9

2.2 – Padrões de comportamento aprendidos.......................................................................................9

2.3 – Ideias...........................................................................................................................................10

2.4 – Produtos......................................................................................................................................10

2.5 – Forma e significado.....................................................................................................................10

2.6 – Integração...................................................................................................................................11

2.7 – Diferenças transculturais.............................................................................................................12

2.8 – O choque cultural........................................................................................................................12

2.9 – Mal entendidos transculturais.....................................................................................................14

2.10 – Etnocentrismo...........................................................................................................................15

2.11 – Tradução....................................................................................................................................15

2.12 – Implicações das diferenças culturais em missões......................................................................18

2.13 – O evangelho e a cultura.............................................................................................................18

2.14 – Sincretismo versus autoctonia..................................................................................................19

2.15 – A conversão e os efeitos colaterais imprevistos........................................................................19

2.16 – A autonomia teológica e o cristianismo mundial.......................................................................19

BIBLIOGRAFIA...........................................................................................................................................21

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1.-ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA

1.1 . O QUE É ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA?

Segundo o dicionário de Antropologia, “é o corpo de disciplinas que se consagram ao estudo dos grupos humanos, sob a prisma dos tipos físicos e biológicos e sob a prisma das formas e civilização sem escrita atualmente existentes...É a ciência do homem tomado na totalidade de suas manifestações e dimensões”.

O termo “antropologia” vem do grego antropos=homem e logia=estudo ou tratado.Por isso a definição de que a antropologia é a ciência que estuda o homem. Etmilogi-

camente, significa o ramo do saber que tem por objeto de estudo o homem.Segundo Broca, Antropologia “é a ciência que tem por objeto um grupo humano,

considerado no seu conjunto, nos seus pormenores e nas suas relações com o resto da natureza”.Já para Lehmann-Nietzsche, “ a antropologia é o estudo do físico e psíquico do gênero

humano, no ponto de vista comparado.” Isto é: comparativamente a outros animais e raças humanas entre si.

O Professor Mendes Corrêa anuncia que “-A Antropologia estuda os caracteres humanos, físicos e psíquicos, que tem interesse sob triplo ponto de vista:

a. Da posição do homem na escala zoológica;

b. Da origem do homem e conhecimento dos primeiros hominídeos;

c. Da classificação das raças, povos e tipos humanos.”

Em poucas palavras, e de maneira mais simples, definimos Antropologia como a ciência que estuda o homem e tudo o que o envolve, física e psiquicamente.

1.2. A ANTROPOLOGIA DIVISE-DE EM:a. Antropologia física ou somática-estuda o homem nos aspectos:1. ANATÔMICO – morfologia humana2. FISIOLÒGICA- biologia humanab. Antropologia psíquica- estuda o homem nos aspectos:1. CULTURAL- Conhecimentos humanos;2. PSICOLÒGICOS- A mente humana e seus fenômenos; e3.SOCIOLÒGICO- O relacionamento humano com o seu meio.

A Enciclopédia Fundamental Verbo, informa que há tantas antropologias quanto há ciências, que estudam o homem, distinguindo-se umas das outras pelos aspectos que encaram e os métodos que utilizam. Por exemplo:

a. ANTROPOLOGIA FÌSICA- Tem por objetivo o estudo do organismo do homem e da sua evolução no tempo.

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b. ANTROPOLOGIA FILOSÒFICA- Procura saber o que é o homem, qual a sua posição no mundo, e qual o seu destino.

c. ANTROPOLOGIA TEOLÒGICA- Dá-nos a exposição sistemática que sabemos sobre o homem, graças á revelação sobrenatural.

Ao estudarmos Antropologia Missionária, estamos nos munindo de meios que nos auxiliarão a compreender o homem e tudo o que envolve, a fim de podermos entender melhor a razão de suas atitudes e crenças, e assim, anunciar-lhe o Evangelho com mais eficácia. O homem, não importando a cultura, deve sentir que o Evangelho vai fazer parte dela, e não roubar-lhe o que tem por precioso: os valores adquiridos, passados de geração em geração;

O missionário transcultural deve ter em mente que nem tudo da outra cultura é pecaminoso, mas que todas as culturas (inclusive a dele) trazem as marcas do pecado. Por isso, somente o que é pecaminoso na cultura do homem precisa ser regenerado pelo Evangelho.

Por exemplo: suponha que você está em uma tribo canibal, onde os pais acertam o casamento de seus filhos quando ainda são crianças. Ambos os aspectos fazem parte da cultura da tribo. Qual aspecto necessita de regeneração? Claro que é o canibalismo, pois é pecado condenado por Deus. Já a forma como é arranjado o casamento faz parte da cultura, e por mais que nós ocidentais e condenemos a Bíblia não impõe restrições a esta prática. Que dizer a respeito da forma pelo qual Abraão arrumou uma esposa para o seu filho Isaque?

Caso o missionário transcultural não considere este aspecto de missões, estará fadado ao fracasso.

Na análise dos modelos padrões de vida e do comportamento humano nas diversas culturas, o Antropólogo deve procurar respostas para 3 perguntas principais:

1. QUAIS AS FUNÇÕES DOS VÁRIOS ASPECTOS DE UMA CULTURA?Isto é comida, abrigo, transporte, Organização da Família, crenças religiosas, língua, valores, etc.?

2. O QUE FAZ UM MEMBRO DE UMA SOCIEDADE AGIR COMO AGE?EM OUTRAS PALAVRAS, PORQUE TODOS NÃO AGEM DA MESMA MANEIRA?Quais são as normas que determinam a conduta dos membros de uma sociedade?

3. Quais os fatores que determinam a conservação de certos aspectos culturais?E a substituição de outros ao decorrer do tempo?Como podemos perceber, não é suficiente apenas analisar os tipos de vestimenta ou comida de um povo, mas precisamos analisar também quem usa esta ou aquela roupa, e porque a usa. Exemplificando: no Haiti umas pessoas usam sapatos, outras não?Será porque algumas gostam de sapatos, e outras não? Por falta de dinheiro?O motivo, na verdade, é um pouco diferente. É que lá o sapato é um símbolo de classe social.

Um médico que certa vez estava passeando pelas montanhas do Haiti, foi abordado por alguém que lhe pediu que atendesse uma pessoa doente. O médico, imediatamente

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perguntou: ”-Ele tem sapatos ou não?”, se a resposta fosse “sim”, ele, então, atenderia o doente imediatamente mas, se a reposta fosse `não`, o doente teria de esperar.

Uma coisa que para nós é tão insignificante (pois aqui quase todo mundo tem pelo menos um chinelo, e nenhum médico basearia seu atendimento numa pergunta sobre sapatos para as pessoa o Haiti é muito importante.

Mas pense agora e faça uma lista de símbolos das várias classes sociais do Brasil. Por exemplo : o que significa uma pessoa de terno?O que significa um anel de brilhantes?

Que tipo de pessoa usa chinelo na Rua, ou macacão de brim, ou cabelo comprido, curto, etc.?

ENTENDENDO O QUE É A CULTURA ( Lloyd E. Kwast )

O que é a cultura?Para o aluno que está apenas principiando o estudo de antropologia missionária, muitas vezes essa pergunta é a reação inicial a uma coleção confunda de descrições,definições,comparações,modelos,paradigmas,etc.É provável que na língua portuguesa não exista nenhuma outra palavras com sentido mais abrangente do que a palavra “ cultura “,e que não exista nenhum outro campo de estudo mais complexo do que a antropologia cultural.De qualquer maneira,uma compreensão adequada do significado de cultura é um pré-requisito para qualquer comunicação eficaz das boas novas do evangelho a um grupo distinto de pessoas.

O primeiro passo nu estudo de cultura é dominar sua própria cultura. Todo mundo tem uma cultura.Ninguém jamais conseguirá se divorciar de sua própria cultura.Embora seja verdadeiro que qualquer um pode vir a apreciar várias diferentes culturas e até mesmo a se comunicar efetivamente em mais de uma,o fato é que ninguém consegue se elevar acima de sua própria cultura ou de outras culturas de modo a ter uma perspectiva verdadeiramente supracultural.Por esta razão,mesmo o estudo da própria cultura é uma tarefa difícil.É quase impossível olhar de modo objetivo e completo para algo que é parte de di mesmo.

Um método útil é olhar para uma cultura, visualizando as sucessivas “ cascas “( como de uma cebola ),ou níveis de entendimento,à medida que se aproxima do verdadeiro cerne da cultura.Para isto,a técnica do “ marciano “ é bastante útil.Com este exercício simplesmente se imagina que um marciano acabou de chegar ( em sua nave espacial)e observa as coisas com olhos de um visitante alienígena.

A primeira coisa que o visitante recém-chegado iria perceber é o comportamento do povo. Esta é a casca mais externa,superficial,que seria observada por um ser de fora.Que atividades ele observaria?O que está sendo feito?Vendo pessoas se dirigirem a uma sala de aulas,nosso visitante observaria várias coisas interessantes.Ele vê pessoas entrando dentro de um compartimento através de uma ou mais aberturas.Elas se espalham pela sala de uma maneira aparentemente arbitrária.Uma outra pessoa,vestida de modo bem diferente das demais,entra e rapidamente se dirige a uma posição certamente pré-determinada de frente para as demais,e começa a falar.Ao se observar tudo isto,a pergunta pode ser feita:” Por que estão dentro de um

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compartimento?Por que aquele que fala se veste de modo diferente?.Por que há tantas pessoas sentadas enquanto uma fica de pé? “ Estas são perguntas acerca do significado.São provocadas pelas observações sobre o comportamento.Pode ser interessante indagar a alguns dos participantes da situação por que estão fazendo as coisas de uma determinada maneira.Alguns talvez dêem uma explicação,outros talvez dêem uma explicação diferente.Mas algumas pessoas provavelmente iriam sacudir os ombros e responder: “ É a maneira como fazemos as coisas aqui”.Esta última resposta revela uma função importante da cultura: fornecer “ um modelo padronizado de fazer as coisas “,que é como um grupo de antropólogos missionários definiu cultura.Você pode chamar de cultura a “ supercola “ que une as pessoas e lhes dá um sentimento de identidade e continuidade, que é quase impenetrável.Esta identidade se torna visível de modo mais óbvio na maneira como as coisas são feitas,isto é,no comportamento.

Ao se observar esses habitantes,o nosso visitante do espaço começa a perceber que muitos comportamentos que observou são aparentemente determinados por escolhas semelhantes que as pessoas dessa sociedade fizeram.

Estas escolhas inevitavelmente refletem a questão dos valores culturais,que é a próxima casca ou nível interior de nossa análise da cultura.Estas questões sempre dizem respeito a escolhas sobre o que é “ bom “,o que é “ benéfico “ ou o que é “ melhor “.

Se este marciano continuasse a indagar às pessoas que estavam dentro do compartimento,poderia descobrir que tinham várias outras alternativas para passarem seu tempo naquele local.Poderiam estar trabalhando ou se divertindo,em vez de estudando.Muitas daquelas pessoas escolheram estudar porque acreditavam que era uma escolha melhor do que trabalhar ou se divertir.O marciano também descobriu várias outras escolhas que haviam feito.Muitas pessoas haviam escolhido chegar até aquele compartimento usando pequenos veículos com quatro rodas,porque percebiam que a capacidade de se locomoverem rapidamente era muito benéfica.Além disso,percebeu que alguns entravam correndo dentro da sala,logo que a reunião terminou.Estas pessoas disseram que usar o tempo eficientemente era muito importante para elas.Valores são decisões “ preestabelecidas “ que uma cultura toma diante de escolhas que freqüentemente se têm de fazer.Os valores ajudam aqueles que vivem

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dentro da cultura a saber o que “ deveria “ ser feito a fim de se adequarem ou se conformarem ao padrão de vida.

Além das perguntas a respeito de comportamento e de valores,deparamo-nos com uma questão mais fundamental na natureza da cultura.Isto,nos conduz a um nível mais profundo de compreensão,que é o nível das crenças culturais.Estas crenças respondem,para aquela cultura específica,a pergunta: “ O que é verdadeiro “ ?

Numa cultura os valores não são escolhidos arbitrariamente,mas invariavelmente refletem um sistema subjacente de crenças.Por exemplo,na situação da sala de aula pode-se descobrir,depois de uma investigação mais aprofundada,que a “ educação “ dentro daquele compartimento tem um significado especial devido à percepção que eles têm do que seja verdadeiro acerca do homem,de sua capacidade de raciocínio e de sua capacidade de resolver problemas.Nesse sentido a cultura tem sido definida como “ maneiras de perceber as coisas,maneiras que são aprendidas e compartilhadas “ ,ou então como “ orientação cognitiva compartilhada “ .

É interessante que este inquiridos do espaço talvez descobrisse que pessoas diferentes naquele compartimento,embora tendo comportamento e valores semelhantes,poderiam professar crenças totalmente diferentes a respeito desses valores e comportamentos.E mais,ele talvez descobrisse que os valores e o comportamento às vezes eram contrários às crenças que supostamente os produziam.Este problema é resultante da confusão dentro da cultura entre crenças operacionais(crenças que afetam valores e comportamento)e crenças teóricas(convicções expressas em palavras e que têm um impacto praticamente nulo sobre os valores e o comportamento ) .Bem no coração de qualquer cultura está a sua cosmovisão,a qual responde à mais básica das perguntas: “ O que é real “?.Esta área da cultura tem a ver com as grandes questões “ últimas “ da realidade,questões que raramente são levantadas,mas para as quais a cultura oferece suas mais importantes respostas.Quase ninguém a quem o marciano indagou já havia pensado seriamente a respeitos das pressuposições mais profundas a respeito da vida,pressuposições que explicam sua presença na sala de aula.Quem são?De onde vieram?Existe alguma outra coisa ou alguém mais a ocupar a realidade,de modo que devesse ser levado em conta?

Aquilo que eles vêem é realmente tudo o que existe,ou existe alguém mas ou alguma outra coisa?O momento de agora é o único tempo que é importante?Ou os acontecimentos no passado e no futuro têm algum impacto significativo em sua experiência atual?Cada cultura presume respostas específicas a estas indagações e ais respostas controlam e integram cada função,cada aspecto e cada componente da cultura.

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Esta compreensão da cosmovisão como sendo o cerne de cada cultura explica a confusão que muitos experimentam em nível de suas crenças. A cosmovisão de uma pessoa oferece um sistema de crenças que se reflete em seus reais valores e comportamento.As vezes um sistema novo ou rival de crenças é introduzido,mas a cosmovisão não é confrontada e permanece sem mudar,de modo que os valores e o comportamento refletem o antigo sistema de crenças.Algumas vezes as pessoas que compartilham o evangelho em situações transculturais deixam de levar em cota o problema da cosmovisão e ficam,portanto,desanimadas com a ausência de mudança genuína que deveria ser produzida por seus esforços.

Este modelo de cultura é muito simplista para poder explicar a variedade de componentes e e relacionamentos complexos que existem em cada cultura.Todavia,é a própria simplicidade do modelo que o recomenda como esboço básico para qualquer um que vá estudar a cultura.

1 - CRISTO E CULTURA

( David J. Hesselgrave )

Quando criou o homem e o ambiente do homem, Deus declarou que tudo era “ muito bom “(Gn 1:31 ).Deus deu ao homem um Mandamento Cultural que impôs certo domínio sobre seu ambiente ( Gn 1:26-30 ).Deus,todavia,não Se retirou de cena.Nem deixou de ser Deus.Ao contrário,continuou a cuidar de Suas criaturas e a ter comunhão com elas.Não sabemos por quanto tempo esse estado maravilhoso continuou a existir,mas foi interrompido pela queda.E a queda deixou sua marca na criação,na criatura e na cultura ( Gn 3:14-19 ).A esperança do homem estava depositada na promessa da “ Semente da Mulher “,a qual esmagaria a cabeça da Serpente.

Subseqüentemente , a humanidade fracassou coletivamente,da mesma maneira como Adão e Eva haviam fracassado individualmente,com o resultado de que Deus pronunciou julgamento sobre o homem,os animais e sobre a terra ( Gn 6:6-7 ).Em seguida ao dilúvio,Noé e sua família receberam promessas e um Mandamento Social que deveria ser obedecido por ele e por seus filhos por todas as gerações ( Gn 8:21 – 9:17 ).

O significado desta história simples e sublime, encontrada nos primeiros capítulos de Gênesis,deve ser cuidadosamente analisado,mas jamais poderá ser completamente entendido.Essa história constitui a base de uma teologia da cultura que é desenvolvida através de toda a Bíblia.O relacionamento do homem com Deus precede e proscreve todos os demais relacionamento.Neste sentido,a religião verdadeira antecede a cultura,não sendo uma simples parte dela.Ao ouvir ao usurpador e ao escolher desobedecer a Deus,o homem convidou o pecado a que deixasse sua marca em tudo o que ... ele,o homem,era e em tudo o que ele tocava”.A queda não implicou na erradicação da imagem de Deus na criatura nem no cancelamento de todas as prerrogativas culturais.Mas impôs uma outra e falsa autoridade sobre o homem e provocou danos à pessoa e às obras do homem.Só debaixo de Cristo o homem pode ser redimido e sua cultura renovada.

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O Mandamento Evangélico ( Mt 28:18-20 ) requer dos missionários que ensinem aos outros homens a observarem tudo o que Cristo ordenou.Ao ensinarem,os missionários afetam a cultura ( e felizmente isto acontece ) pois todas as culturas necessitam de transformação, se não no conteúdo,pelo menos na motivação.Se há alguma coisa que é claramente visível em nosso mundo,e o fato de que Deus estabeleceu a cultura mas não Se permitiu pôr a cultura em ordem.Satanás é,de fato, “ o deus deste século “(2Co 4:4).Portanto,como Calvino já havia insistido,os crentes devem trabalhar para tornar cristã a cultura(isto é,colocá-la debaixo de Cristo) ou,então,para que pelo menos seja favorável à vida cristã(isto é,oferecendo grandes oportunidades à manifestação da vida cristã).No dizer de J.H.Bavinck., a vida cristã se apossa das formas pagãs de vida e,por essa razão,as torna novas.

Dentro do contexto da vida não-cristã, os costumes e as práticas servem tendências idólatras e afastam uma pessoa de Deus.A vida cristã apanha,então,esses costumes e práticas e lhes dá conteúdo inteiramente diferente.Ainda que na forma exterior haja muito que lembre práticas do passado,na verdade tudo se fez novo;na essência o antigo já passou e o novo já chegou.Cristo toma em Suas mãos a vida de um povo,renova e reconstrói o que já estava distorcido e deteriorado.Ele enche cada coisa,cada palavra e cada prática com um novo sentido e lhes dá uma nova direção.

O missionário se encontra, direta e indiretamente,envolvido neste processo>pode tentar permanecer acima da linha que demarca a cultura e lidar apenas com os assuntos da alma.Mas esse esforço é tão inviável quanto o esforço do cientista social que tenta eliminar Deus de seu mundo e explicar o cristianismo apenas em termos culturais.Em primeiro lugar,o missionário não pode comunicar sem levar a cultura em conta,pois a comunicação está inexoravelmente ligada à cultura.Assim como Cristo Se fez carne e habitou entre os homens,da mesma forma a verdade proporcional deve ter uma encarnação cultural para se tornar significativa.Em segundo lugar,o missionário não poderá comunicar o cristianismo sem levar em conta a cultura porque,embora seja supra cultural em sua origem e verdade,o cristianismo é cultural em sua aplicação.

2 - A CULTURA E AS DIFERENÇAS TRANSCULTURAIS

( Paul G. Hiebet )Um dos primeiros choques que uma pessoa experimenta quando sai de sua terra natal é o

exotismo das pessoas e de sua cultura.Além de falarem uma língua incompreensível,também se vestem de roupas estranhas,comem alimentos que não apetecem,têm modelos diferentes de famílias e crenças e valores incompreensíveis.Como estas diferenças afetam a transmissão do evangelho e a implantação de igrejas em outras sociedades?

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2.1 – O conceito de cultura

Falando de um modo geral,o termo “ cultura “ refere-se ao comportamento dos ricos e da elite.É ouvir Bach,Beethoven e Brahms,ter bom gosto quanto a roupas e saber qual o talher que deve ser usado em um banquete.

Mas os antropólogos em seu estudo de toda a humanidade,em todas as partes do mundo e em todos os níveis da sociedade,ampliaram o conceito e o libertaram do juízo de valores,tais como bom ou mau.Tem havido muita discussão sobre como definir o termo.Para os nossos propósitos definiremos cultura como o sistema integrado de padrões de comportamento aprendidos,idéias e produtos que caracterizam uma sociedade.

2.2 – Padrões de comportamento aprendidos

A primeira parte desta definição é “ padrões de comportamento aprendidos “.Começamos aprendendo sobre uma cultura quando observamos o comportamento das pessoas e procuramos identificar padrões de comportamento.Por exemplo,todos temos visto que em alguns países dois homens,quando se encontram,agarram a mão um do outro e a sacodem.Em outros países nós veríamos que eles se abraçam.Na Índia cada um deles junta as mãos elevando-as até a testa com um leve inclinar da cabeça – um gesto de saudação que é eficiente,pois permite que uma pessoa saúde muitas outras com um único movimento,e é higiênico pois a pessoa não precisa tocar na outra.Este último aspecto é particularmente importante em uma sociedade onde tocar uma pessoa intocável faz com que uma pessoa de casta elevada fique impura,o que a obriga a tomar um banho de purificação.Entre os sirianos na América do Sul,os homens cospem no eito um do outro quando se cumprimentam.

Provavelmente,a forma mais estranha de se cumprimentar foi testemunhada pelo Dr. Jacob Loewen no Panamá.Ao deixar a floresta em um pequeno avião com o chefe nativo local,ele observou que o chefe se aproximou de todos os seus companheiros de tribo e chupou a boca deles.Quando o Dr. Loewen perguntou sobre este costume,o chefe explicou que eles aprenderam com o homem branco.Eles viram que toda vez que ele viajava de avião,chupava as bocas de sua família como uma magia para garantir uma viagem segura.Se pararmos para pensar nisso por um instante,nós,americanos,temos realmente dois tipos de sudação:apertar as mãos e beijar as bocas,e precisamos ter o cuidado de não usar a forma errada com gente errada.

Como a maioria dos padrões de cultura,o beijo não é um costume humano universal.Ele não existia entre a maioria das tribos nativas e era considerado vulgar e revoltante pelos chineses,que o achavam demasiadamente sugestivo de canibalismo.

Nem todos os padrões de comportamento são adquiridos.Uma criança que encosta no fogão quente puxa a mão e grita: “ Ai “.Sua reação física é instintiva,mas o grito é adquirido culturalmente.

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2.3 – Ideias

A cultura também se constitui de idéias que as pessoas têm do seu mundo.Através de sua experiência nesse mundo,as pessoas formam quadros ou mapas mentais dele.Por exemplo,uma pessoa que vive numa grande cidade tem uma imagem mental das ruas que cercam sua casa,daquela que ela usa para ir à igreja ou para trabalhar,e das principais ruas e avenidas que ela usa para andar na cidade.Obviamente,existem muitas outras ruas que não se encontram em seu mapa mental,e considerando que ela não costuma ir a essas áreas da cidade,ela não necessidade de conhecê-las.

Assim também as pessoas desenvolvem esquemas conceituais dos seus mundos.Nem todas as nossas idéias refletem as realidades do mundo externo.Muitas são criações

de nossas mentes,usadas para colocar ordem e significado em nossas experiências.Por exemplo,em toda a nossa vida,vemos um grande número de árvores,e cada uma difere de todas as outras.Mas seria impossível da a cada uma delas um nome em particular,e um nome para cada arbusto,para cada casa,para cada carro – resumindo,para cada experiência a um número controlável de conceitos através da generalização.Chamamos de vermelho determinadas nuances de cor,outras de laranja,e outras de amarelo.Estas categorias são criações de nossa mente.Outras pessoas em outras línguas amontoam-nas em uma só cor,ou dividem-nas em duas,ou até mesmo em quatro cores.Essas pessoas conseguem ver tantas cores quanto nós?Certamente.O fato é que nós podemos criar tantas categorias em nossa mente quantas quisermos,e nós podemos organizá-las em sistemas maiores para descrever e explicar as experiências humanas.

Num certo sentido,a cultura é,então,o mapa mental que um povo faz do seu mundo.Este não é apenas um mapa do seu mundo,mas também para determinação de ação( Geertz,1972:169 ).Fornece-lhe uma guia para suas decisões e comportamento.

2.4 – Produtos

A terceira parte de nossa definição é produtos.Os pensamentos e ações humanas freqüentemente levam à produção de artefatos e ferramentas.Nós construímos casas,estradas,carros e móveis.Nós criamos quadros,roupas,jóias,moedas e muitos outros objetos.

Nossa cultura material tem um grande efeito sobre nossas vidas.Imagine,por um momento,como era nossa vida há cem anos quando não havia carros nem aviões a jato.A invenção da escrita,e,mais recentemente,dos computadores,tem e terá um efeito ainda mais profundo em nossas vidas,pois nos permite armazenar o conhecimento cultural das gerações passadas e edificar sobre eles.

2.5 – Forma e significado

Os padrões de comportamento e os produtos culturais são geralmente ligados a idéias e significados.Sacudir as mãos significa “ como vai? “.O mesmo acontece com o beijo em

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determinadas situações.Nós também atribuímos significado ao cerrar os punhos,franzir a testa,ao choro,às letras do alfabeto,às cruzes e uma infinidade de outras coisas.Na verdade,os seres humanos dão significado a quase tudo o que fazem e constroem.

Esta ligação entre uma forma experimental e um significado mental é que constitui um símbolo.Vemos uma bandeira e ela dá a idéia de um país,de tal modo que os homens numa batalha são capazes de até morrer a fim de preservar suas bandeiras.Uma cultura pode ser considerada como sistema de símbolos,tais como a linguagem,os rituais,os gestos e os objetos que os povos criam a fim de pensar e comunicar.

2.6 – Integração

As culturas são formadas por uma grande quantidade de padrões de comportamento,idéias e produtos.Mas é mais do que a soma deles.Esses padrões são integrados em complexos culturais mais amplos e em sistemas culturais totais.

Para ver essa integração de padrões culturais só temos de observar o americano médio.Quando ele entra em um auditório para ouvir uma apresentação musical,procura até encontrar uma poltrona para sentar.Se todas essas “ plataformas “ estiverem ocupadas,ele vai embora porque o auditório está “ lotado “.Obviamente,há uma grande quantidade de lugares no chão onde ele poderia sentar mas isto não é culturalmente aceito,pelo menos não na apresentação de uma orquestra sinfônica.

Em casa o americano tem diferentes tipos de “ plataformas “ para sentar na sala,à mesa o jantar e em sua escrivaninha.Ele também tem uma “ plataforma “ grande sobre a qual dorme de noite.Quando viaja pelo estrangeiro,seu maior medo é ficar de noite sem uma “ plataforma “ em um quarto particular,por isso ele faz reservas nos hotéis com bastante antecedência.Pessoas de muitas partes do mundo sabem que tudo o que você precisa é um cobertor e um lugar plano para passar a noite,e o mundo está cheio desses lugares planos.No aeroporto,às três da manhã,o viajante americano encontra-se todo enrolado sem conforto nenhum na cadeira em lugar de se estender sobre o tapete.Ele prefere a dignidade ao conforto.

Os americanos não apenas sentam e dormem sobre “ plataformas “,mas também constroem casas sobre elas,fixam-nas às paredes e colocam cercas ao redor para guardar os seus filhos.Por que essa obsessão com “ plataformas “?Por trás de todos esses padrões de comportamento encontra-se uma pressuposição básica de que o chão é sujo.Isto explica sua obsessão de não ficar encostado diretamente no chão.Também explica porque continuam com os sapatos nos pés quando entram em casa,e por que a mãe repreende a criança quando ela pega uma batatinha frita que caiu no chão para comer.O chão está “ sujo mesmo que tenha sido lavado naquele instante,e no momento em que a comida cai ao chão,ela se torna suja

Por outro lado,no Japão as pessoas crêem que o chão é limpo .Por isso elas tiram o sapato à porta,e dormem e sentam sobre esteira no chão.Quando entramos em sua casas com os nossos sapatos elas se sentem mais ou menos como nós nos sentimos quando alguém anda de sapato sobre o nosso sofá.Portanto,no cerne de uma cultura,encontram-se as pressuposições básicas que o povo tem sobre a natureza da realidade,e sobre certo e errado.Juntos,são chamados de cosmovisão desse povo.

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Esta ligação entre peculiaridades culturais e sua integração em um sistema amplo tem importantes implicações para aqueles que procuram introduzir mudanças.Quando alterações são introduzidas em uma área da cultura,também haverá mudanças em outra áreas, mudanças que freqüentemente acontecerão de maneiras imprevisíveis.Embora a mudança inicial possa ser boa,os efeitos colaterais podem ser devastadores se não se tomar cuidado.

2.7 – Diferenças transculturais

No seu estudo sobre diversas culturas,os antropólogos têm tomado consciência das profundas diferenças existentes entre elas.Essas diferenças encontram-se não apenas na forma pela qual os povos comem,vestem-se,falam e agem,e nos seus valores e crenças,mas também nas pressuposições fundamentais que fazem sobre o seu mundo.Edward Sapir destacou que as pessoas de diferentes culturas não vivem simplesmente no mesmo mundo com diferentes etiquetas afixadas,mas em diferentes mundos conceituais.

Em seu estudo dobre o tempo( 1959 ),Edward Hall destaca bem como as culturas podem ser diferentes.Quando,por exemplo,dois americanos concordam em se encontrar às dez horas,eles estão “ na hora “ se aparecessem de cinco minutos antes a cinco minutos depois das dez.Se alguém aparece quinze minutos depois,está “ atrasado “ e gagueja uma desculpa esfarrapada.Ele deve simplesmente reconhecer que está “ atrasado “.Se ele chegar com meia hora de atraso deve ter uma boa desculpa,e lá pelas onze nem precisa mais aparecer.Sua ofensa é imperdoável.

Em algumas partes da Arábia,o povo tem um conceito ou mapa diferente do tempo.Se a hora da reunião for às dez horas,só um servo aparece às dez – em obediência ao seu senhor.A hora apropriada para os outros é de dez e quarenta e cinco até onze e quinze,tempo suficiente depois da hora marcada para que ambos demonstrem a independência um do outro e a igualdade.Este arranjo funciona bem,pois quando duas pessoas iguais concordam em se encontrar às dez,cada uma aparece por volta das dez e quarenta e cinco,esperando que a outra faça o mesmo.

O problema surge quando um americano se encontra com um árabe e marca reunião para às dez horas.O americano aparece às dez,a “ hora certa “ segundo ele.O árabe aparece às dez e quarenta e cinco,a “ hora certa “ segundo ele.O americano acha que o árabe não tem nenhum senso de tempoc( o que não é verdade ),e o árabe é tentado a pensar que os americanos agem como servos ( o que também é falso ).

2.8 – O choque cultural

Nossa primeira reação diante da perspectiva de viajar para o estrangeiro é de animação e expectativa.O vôo,as novas paisagens e os costumes estranhos – será que isto realmente está acontecendo comigo?O mercado é pitoresco e cheio de pechinchas,mas se ao menos os vendedores falassem nossa língua.A vila é fascinante.Será que existe alguma farmácia onde eu possa comprar um remédio para minha dor de estômago?Só na próxima semana quando eu voltar à cidade?A comida é interessante,para não dizer coisa pior.Eu gosto de experimentar

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pratos novos,mas acho que não poderia agüentar isso todos os dias.Você está me dizendo que as pessoas aqui comem isto duas vezes por dia,todos os dias?E que eu também terei de comer quando me mudar para a vila?Durante três anos?Nesta casa sem água encanada?Sem médico?Sem ninguém que saiba falar nossa língua decentemente?Como é que eu fui me meter nisto?.

Nosso primeiro confronto com as diferenças entre culturas é o choque cultural,o sentimento de confusão e desorientação que enfrentamos quando nos mudamos para uma outra cultura.Esta não é uma reação contra a pobreza ou contra a falta de higiene pois os estrangeiros que chegam aos Estados Unidos experimentam o mesmo choque.É o fato de que todos os padrões culturais que adquirimos se tornam sem sentido.Sabemos menos que as crianças sobre a vida aqui,e temos de começar novamente a aprender as coisas elementares da vida – como falar,cumprimentar os outros,comer,fazer compras,viajar e milhares de outras coisas.

Na verdade,na qualidade de turistas nós nunca passamos pelo choque cultural,pois,como tais,diariamente saímos de nossos pequenos hotéis de estilo americano para ver as pessoas,mas não para nos estabelecermos entre elas e criarmos relacionamentos estáveis.É quando nós percebemos que esta será agora nossa vida,e por um longo período de tempo,que o choque acontece.Desorientação,desilusão e depressão nos atingem, e nós voltaríamos para casa se não fosse necessário encarar aqueles que nos enviaram como missionários.

O choque cultural é uma sensação de desorientação numa sociedade diferente.Mas essa reação é perfeitamente normal.Conforme aprendemos a falar a nova

língua,fazemos novos amigos,descobrimos que podemos viajar de ônibus,aprendemos a contar as moedas que já não nos parecem mais estranhas,e percebemos que conseguimos resguardar nossa saúde,começamos a nos encaixar no novo ambiente cultural.Precisamos fugir à tentação de nos isolarmos em nós mesmos e em nossas casas ou de tentar voltar parcialmente à nossa cultura de origem recriando em parte o ambiente de nosso país de origem para li vivermos.Podemos sair e aprender a viver na nova cultura e,no devido tempo,nos sentiremos a vontade nessa cultura,como se fosse a nossa própria,ou talvez ainda mais.

Alguma coisa acontece conosco quando nos adaptamos a uma nova cultura: tornamo-nos pessoas biculturais.Nosso provincianismo,baseado em nosso sentimento incontestado de que na realidade só há uma maneira de viver,a saber,a nossa maneira,cai por terra.Temos de encarar as diversidades culturais,o fato de que as pessoas criam culturas de diferentes formas,e que elas crêem que suas culturas são melhores do que as nossas.Além de alguma curiosidade sobre a nossa estrangeirice,elas não estão interessadas em aprender nossa maneira de viver.

Mas na medida em que nos identificamos com as pessoas e nos tornamos biculturais,descobrimos que ficamos alienados de nossos parentes e amigos em nossa terra natal.Isto não é o inverso do choque cultural,embora o experimentemos quando voltamos para casa depois de uma longa estada no estrangeiro.Uma diferença básica repousa agora na nossa maneira de olhar as coisas.Nós passamos de uma filosofia que pressupõe a uniformidade para outra que aceita e encarna a diversidade,e os nossos antigos amigos frequentemente não nos

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entendem.Dentro de algum tempo vamos descobrir que nossos amigos mais íntimos são outras pessoas biculturais.

2.9 – Mal entendidos transculturais

Alguns missionários no Zaire tiveram problemas no estabelecimento de relacionamento mais profundo com as pessoas.Finalmente,um velho explicou a hesitação das pessoas em se tornarem amistosas com os missionários.” Quando vocês chegaram,vocês trouxeram costumes estranhos “,ele disse.”Vocês trouxeram latas com alimentos.Do lado de fora havia a figura de espigas de milho.Quando vocês abriram,havia muito milho lá dentro e vocês o comeram.Do lado de fora de outra havia a figura de carne e dentro dela havia carne e vocês comeram.E quando vocês tiveram o nenê,trouxeram também latinhas.Do lado de fora dela havia figuras de nenês,e vocês abriram as latinhas e alimentaram o nenê com o que havia dentro delas “.

Para nós a confusão dessas pessoas parece tola,mas é muito lógica.Na ausência de outras informações,elas têm de tirar suas próprias conclusões sobre as nossas ações.Mas nós fazemos o mesmo com as ações delas.Nós achamos que elas não têm senso de tempo quando,segundo nossos padrões de cultura,se atrasam.Nós as acusamos de mentirosas quando nos contam coisas com o intuito de nos agradar em vez de reconhecer que de fato se atrasaram ( embora nós não tenhamos problemas em dizer:Vou bem ! “quando alguém nos pergunta “ Como vai?”).O resultado são os mal-entendidos transculturais e isto leva a comunicação e relacionamentos deficientes.

Os mal-entendidos culturais freqüentemente surgem de nossas ações subconscientes.Hall dá uma ilustração disso (1959 ),falando da maneira como as pessoas usam o espaço físico quando conversam entre si.Os americanos geralmente ficam distantes um do outro cerca de um metro e vinte a um metro e meio quando conversam sobre assuntos em geral.Eles não gostam de conversar,tendo de gritar com as pessoas que estão a seis metros de distância.Por outro lado,quando querem discutir assuntos pessoais,eles ficam de sessenta a novena centímetros um do outro e falam mais baixo.Os latinos americanos costumam ficar cerca de sessenta a noventa centímetro longe uns dos outros nas conversas corriqueiras e até mais perto quando tratam de assunto pessoais.Os mal-entendidos surgem apenas quando um norte-americano se encontra com um latino-americano.Esse inconscientemente se aproxima até ficar a uns noventa centímetro de distância.O outro fica um tanto atrapalhado por causa disto e dá um passo para trás.Agora o latino-americano se sente como se estivesse falando com alguém do outro lado da sala e por isso se aproxima mais um pouco.O norte-americano fica atrapalhado novamente.Segundo o seu critério de distância,o latino-americano deveria estar tratando de assuntos pessoais ou sigilosos,como se estivesse fofocando ou combinando o assalto a um banco.Mas,na realidade,ele está falando sobre assuntos corriqueiros,sobre o tempo e a política.O resultado é que o norte-americano acha que os latino-americanos são ousados e atrevidos,o latino-americano conclui que os norte-americanos são sempre distantes e frios.

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Os mal-entendidos se baseiam na ignorância sobre uma outra cultura.Este é um problema de conhecimento.A solução é aprender a conhecer como funciona a outra cultura.Nossa primeira tarefa ao entrarmos em uma nova cultura é estudar seus costumes.Mesmo mais tarde,sempre que parecer que alguma coisa está errada,devemos presumir que o comportamento das pessoas faz sentido por elas,e reanalisar nossa própria compreensão de sua cultura.

2.10 – Etnocentrismo

A maioria dos americanos se arrepia quando entra num restaurante indiano e vê as pessoas comendo arroz e caril com as mãos.Imaginem participar d uma ceia de Natal e se servir com as própria mão.A nossa reação é bem natural,para nós.Logo no começo da vida cada um cresce no centro de seu próprio mundo.Em outras palavras,nós somos egocêntricos.Só com muita dificuldade é que aprendemos a romper a linha divisória que traçamos entre mim e você,e aprendemos a olhar as coisas do ponto de vista dos outros.Também crescemos em uma cultura e aprendemos que seus modos são os modos certos de fazer as coisas.Qualquer pessoa que faça de maneira diferente não é muito “ civilizada “.Este etnocentrismo se baseia em nossa tendência natural de julgar o comportamento das pessoas de outras culturas pelos valores e pressuposições de nossas próprias culturas.

Mas outros julgam a nossa cultura pelos seus valores e pressuposições.Alguns americanos foram a um restaurante com um visitante indiano,e alguém fez a pergunta inevitável:” As pessoas na Índia realmente comem com os dedos?” “Sim,comemos”,respondeu o indiano,” mas nós encaramos o fato de maneira diferente.Nós lavamos as mãos com muito cuidado e,além disso,elas nuca estiveram na boca de outra pessoa.Mas vejam estas colheres e garfos,e imaginem quantas pessoas já os levaram à boca !”.

Se os mal-entendidos transculturais se baseiam em nosso conhecimento de outra cultura,o etnocentrismo se baseia em nossos sentimentos e valores..Quando nos relacionamos com outras pessoas precisamos não somente entendê-las,,mas também lidar com os nossos sentimentos que fazem distinção entre o “nós” e “nosso tipo de gente”,e o “eles” e “sua espécie de gente”.A identificação acontece só quando “eles” se tornam parte do círculo de pessoas que nós consideramos como “nosso tipo de gente”.

2.11 – Tradução

Como você traduziria “...cordeiro de Deus...”(João 1:29)para o esquimó,língua na qual não existe qualquer palavra ou qualquer experiência com animais que nós chamamos de ovelhas?Você criaria uma nova palavra e acrescentaria uma nota no rodapé para descrever a criatura que não tem significado no seu pensamento?Ou será que você usaria uma palavra como “foca” que tem mais ou menos o mesmo significado na cultura deles que “cordeiro” tem na Palestina?Obviamente,as diferenças culturais criam problemas quando traduzimos uma mensagem de uma língua e cultura para outra.

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Seria bom lembrar que os símbolos culturais têm forma e significado.Muitos tradutores antigos falharam em observar esta diferença e presumiram que,ao traduzir a forma,o povo entenderia o significado corretamente.Em outras palavras,se numa língua encontramos a palavra “ cordeiro “,só precisamos encontrar a palavra na outra língua pra um mesmo tipo de animal e as pessoas entenderão o que estamos “Querendo dizer”.Mas não é isto necessariamente acontece.Na verdade,geralmente acontece ao contrário.As mesmas formas não carregam os mesmos significados nas diferentes línguas.Quanto mais literalmente traduzirmos a forma,maior o perigo de perdermos o significado.

Um exemplo desta variação e significados dados à mesma forma encontra-se na história do Natal.Na Palestina os pastores eram homens devotos e respeitados.Na Índia os pastores são os beberrões das vilas, e nas representações teatrais sobre o Natal,mais do que uma vez eles subiram ao palco completamente bêbados.Neste caso a forma foi mantida,mas perdeu-se algo do significado.A mesma perda pode ocorrer sempre quando traduzimos formas culturais tais como cultos ao redor da fogueira,árvores de Natal e cruzadas evangelísticas.

Mas recentemente,os tradutores tem se interessado por traduções de “ equivalência dinâmica “,nas quais o significado fica preservado,o mesmo quando se usa uma forma diferente.O resultado são traduções que são entendidas melhor pelo povo.Mas a tarefa não é tão simples como parece.Não podemos simplesmente traduzir palavra por palavra,usando palavras com significados equivalentes ,pois as apalavras por si mesmas são produtos de uma cultura e refletem os valores básicos e pressuposições dessa cultura.O fato é: não existem palavras em uma cultura que tenham exatamente os mesmos significados das palavras de outra cultura.

Esta variação fundamental,mesmo a nível de simples linguagem,se percebe melhor através de ilustração.A maioria dos americanos dividem seus conceitos de seres viventes em algumas categorias distintas.No alto está Deus que,na tradição judaico-cristã,é categoricamente diferentes de todos os outros seres.Ele é o criador,eles são a criação.Ele é infinito e externo.Eles são finitos e temporais.

Abaixo de Deus estão outros seres espirituais anjos e demônios.Estes pertencem ao reino do sobrenatural,que no Ocidente claramente se distingue do natural.

No alto do reino natural estão as pessoas.Por pertencerem a uma única categoria,elas são consideradas,pelo menos idealmente,como iguais.Abaixo dos seres humanos estão os animais.Para todos os propósitos práticos eles são tratados como sendo diferentes dos seres humanos,pois podemos matar,comer ou escravizar os animais,mas não as pessoas.Finalmente,no plano inferior,as plantas.Abaixo dessa hierarquia de diferentes tipos de vida está a matéria inanimada que consideramos não ter vida nenhuma.

Na Índia as pessoas encaram a vida de modo diferente.Vêem a vida na sua totalidade como sendo uma única vida,e todos os seres vivos têm diferentes quantidades desta única espécie de vida.No alto estão os deuses e semideuses,que são vida pura ou espíritos.Abaixo deles estão os diversos tipos de demônios,depois os santos,as pessoas de casta elevada,as pessoas de casta inferior,as vacas,os cavalos,as ovelhas,as serpentes,os peixes ,os insetos,as plantas e todas as outras formas desta vida.As diferenças entre elas é de grau,não de espécie.E através do

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processo de reencarnação,o mesmo ser pode renascer numa de suas existências como um ser humano e,na próxima,como um animal ou deus.

Pelo fato de sentirem a vida na sua totalidade como sendo uma coisa única,os indianos não fazem clara distinção entre deuses e as pessoas.Os santos podem ser adorados exatamente como as divindades o são.Por isso não é coisa fora do comum as pessoas reverenciarem Krishna,Mahatma Gandhi e John Kennedy ao mesmo tempo.Por outro lado,não há uma clara distinção entre pessoas e animais.É errado matar tanto um como o outro.Quando um funcionário de uma agência norte-americana de ajuda aos países subdesenvolvidos sugeriu aos indianos que matassem suas vacas para comê-las,o povo reagiu como nós reagiríamos se um indiano sugerisse que resolvêssemos nosso problema de pobreza matando os pobres.Nós mantemos os nossos pobres em favelas e cortiços,mas não podemos matá-los.Por isso,também um indiano pode usar a vaca para trabalhar no campo,mas ele não a mataria.

Mas, voltemos ao assunto da tradução: No início de Gênesis nós lemos:” No princípio Criou Deus...”.A pergunta é: como vamos traduzir a palavra “ Deus “?Em telugu,uma língua do sul da Índia,podemos usar as palavras “Isvarudu”,”Devudu”,”Baghavanthudu”,e várias outras.O problema é que cada uma dessas palavras traz consigo o sentido hindu de que os deuses têm exatamente o mesmo tipo de vida dos seres humanos,apenas que em quantidade maior.Eles não são radicalmente diferentes das pessoas.Não há nenhuma palavra que traga as mesmas noções do conceito bíblico de Deus.

Isto também levanta o problema da tradução do conceito bíblico de “encarnação”.No contexto bíblico,a encarnação é um Deus infinito cruzando o grande abismo existente entre Ele e os seres humanos,e tornando-se uma pessoa.Em outras palavras.Ele passou de uma categoria para outra.No contexto indiano os deuses constantemente se encarnam descendo,dentro da mesma categoria,ao nível das pessoas.Obviamente,este conceito de encarnação é fundamentalmente diferente do conceito cristão.Usá-lo é perder muito do significado da mensagem cristã.Mas como então podemos traduzir os conceitos bíblicos de Deus e da encarnação em telugu ou em outras línguas indianas?

Poderíamos cunhar uma nova palavra para “ Deus” ou “ encarnação”,mas então as pessoas não a entenderiam.Ou podemos usar uma das palavras telugu,mas então enfrentamos o perigo de a mensagem bíblica ficar seriamente distorcida.Freqüentemente o melhor que podemos fazemos fazer é usar uma palavra com a qual as pessoas estão familiarizadas,e,então,ensinar-lhes o significado que lhe estamos dando.Talvez leve anos ou até mesmo gerações antes que as pessoas entendam os novos significados e a cosmovisão bíblica total dentro doa quais estes significados fazem sentido.

Este processo pode parecer muito lento.O que dizer dos camponeses analfabetos que aceitam Cristo em um culto vespertino?Será que os seus conceitos e sua cosmovisão mudam imediatamente?Obviamente não.Mas a sua salvação não depende de ele ter ou não uma cosmovisão cristã,mas de ele aceitar a salvação de Cristo da maneira como ele a entende,e tornar-se Seu discípulo.Contudo,para a edificação da igreja,obra de longo alcance,as pessoas e seus líderes devem ter uma compreensão dos conceitos e da cosmovisão bíblicos,,para que a mensagem seja preservada através das gerações.

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2.12 – Implicações das diferenças culturais em missões

Está claro que as diferenças culturais são importantes para um missionário que tem de passar pelo choque cultural,aprender a superar os mal-entendidos e os sentimentos etnocêntricos,e traduzir a sua mensagem de modo que ela seja entendida na linguagem e cultura locais.Mas há uma série de outras importantes implicações que precisam ser brevemente examinadas.

2.13 – O evangelho e a cultura

Devemos fazer distinção entre o evangelho e a cultura.Se não o fizermos,corremos o perigo de fazer com que a nossa cultura passe a ser a mensagem.O evangelho,então,transforma-se em democracia,capitalismo,bancos de igreja e púlpitos,uso de regras parlamentares nas regiões administrativas,roupas,ternos e gravatas aos domingos.Um dos principais impedimentos para a comunicação é o fato de a mensagem trazer uma idéia de ser estrangeira,e em grande parte o caráter estrangeiro do cristianismo tem sido a carga cultural que colocamos sobre ele.Como explicou o Sr.Murthi,um evangelista indiano:” Não nos tragam o evangelho como uma planta em vaso.Tragam-nos a semente do evangelho e a plantem em nosso solo “ .

Não é fácil fazer a distinção,pois o evangelho,como qualquer outra mensagem,tem de ser colocado em formas culturais para que seja entendido e transmitido por pessoas.Não podemos pensar sem as categorias e os símbolos conceituais que o expressam.Mas podemos ter o cuidado de não acrescentar a nossa própria mensagem bíblica.

Um fracasso na diferenciação entre a mensagem bíblica e outras mensagens leva a uma confissão entre o relativismo cultural e os absolutos bíblicos.Por exemplo,em muitas igrejas,onde antigamente era considerado pecado que as mulheres cortassem o cabelo ou usassem batom,ou que as pessoas assistissem a filmes,agora tais costumes são aceitáveis.Alguns argumentam,por isso,que hoje em dia o sexo pré-conjugal e o adultério são considerados pecado,mas que dentro de algum tempo também serão aceitos.

É verdade que muitas coisas que antes considerávamos pecado agora são aceitas.Será que,por causa disto,não existem absolutos morais?Temos de reconhecer que cada cultura define certos comportamentos como “ pecaminosos “,e que com as transformações da cultura,suas definições do que é pecado também mudam.Há,por outro lado,certos princípios morais nas escrituras que nós consideramos como absolutos.Contudo,mesmo assim precisamos tomar cuidado.Algumas normas bíblicas,tais como deixar a terra descansando de sete em sete anos e não fazer a colheita( Lv 25 )ou de cumprimentar as pessoas com um ósculo santo( 1Ts 5:26 )parecem aplicar-se a situações culturais específicas.

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2.14 – Sincretismo versus autoctonia

Não só devemos separar o evangelho de nossa própria cultura,mas devemos procurar expressá-lo em termos da cultura na qual entramos.As pessoas podem sentar no chão,cantar hinos em ritmos e melodias nativas,e olhar para figuras de um Cristo negro ou chinês.A Igreja pode rejeitar a democracia em favor de anciãos sábios,ou preferir o drama para a transmissão de sua mensagem.

Mas,como já vimos,a tradução envolve mais do que colocar idéias em formas nativas,pois essas formas talvez não tragam significados adequados para a expressão da mensagem cristã.Se nós,então,a traduzirmos em formas nativas sem nos preocuparmos em preservar o significado,acabaremos no sincretismo – a mistura de significados antigos e novos de modo que a natureza essencial de cada um se perde.

Se nós formos cuidadosos em preservar o significado do evangelho,mesmo quando o expressamos em formas nativas,teremos a autoctonia.Isto pode envolver a introdução de nova forma simbólica,ou pode envolver a reinterpretação de um símbolo nativo.Por exemplo,as damas-de-honra,hoje associadas aos casamentos cristãos,foram originalmente usadas por antigos povos europeus não-cristãos para confundir os demônios que eles pensavam que viria para levar a noiva.

2.15 – A conversão e os efeitos colaterais imprevistos

Considerando que os traços culturais estão reunidos em conjuntos mais amplos,as mudanças em um ou mais desses traços conduzem geralmente a mudanças imprevistas em outras áreas da cultura.Por exemplo,em determinada parte da África,quando as pessoas se tornam cristãs,suas vilas também ficaram sujas.

A razão disto era que aquelas pessoas já não mais tinham medo dos maus espíritos que elas acreditavam que se escondiam no lixo.Portanto já não precisavam mais cuidar da limpeza.

Muitos traços culturais sevem a funções importantes nas vidas das pessoas.Se nós os removermos sem providenciarmos um substituto,as conseqüências podem ser trágicas.

Em alguns lugares,os maridos com mais de uma esposa,ao se tornarem cristãos tiveram de deixar todas,com exceção de uma.Mas nada foi providenciado para o cuidado das esposas rejeitadas.Muitas delas terminaram na prostituição ou na escravidão.

2.16 – A autonomia teológica e o cristianismo mundial

À medida que o cristianismo vai se tornando autóctone nas culturas ao redor do mundo,surge a questão da unidade da igreja.Há uma pressão cada vez maior no sentido de que a igreja em cada ambiente cultural se torne autônoma que sustente-se a si mesma,que se administre e se autopropague.Mas como enfrentar a diversidade teológica?Como reagirmos quando as igrejas que nós ajudamos a implantar desejam autonomia teológica e pedem um cristianismo evangélico socialista ou até mesmo marxista?

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Está claro que as culturas variam imensamente.À medida que o evangelho se torna autóctone para elas,suas teologias – sua compreensão e aplicação deste evangelho – também irão variar.O que,então,significa ser cristão?E como os cristãos que discordam em alguns pontos da teologia podem ter uma verdadeira comunhão uns com os outros?

Aqui temos de nos lembrar de duas coisas.Em primeiro lugar,precisamos entender a natureza do conhecimento humano e reconhecer suas limitações.As pessoas experimentam um mundo infinitamente variado ao seu redor e tentam encontrar ordem e significado em suas experiências.Em parte descobrem a ordem que existe no próprio mundo,e em parte impõem-lhe uma ordem mental.Elas criam conceitos que lhes permitem generalizar,reunir uma grande quantidade de experiências em uma só.Elas também agem como um editor de filmes de cinema,ligando certas experiências com outras,afim de que façam sentido.Por exemplo,as experiências na mesma sala de aula,ocorridas em diferentes dias,são reunidas e denominadas de Introdução à Antropologia.Um outro conjunto de experiências é chamado de “atividades da igreja”.

Quando lemos as Escrituras,devemos lembrar que nós a interpretamos,em termos de nossa própria cultura e experiências pessoais.Outros não a interpretarão exatamente da mesma forma.Devemos,portanto,distinguir entre as Escrituras propriamente ditas e a nossa teologia ou compreensão delas.As Escrituras são o registro da revelação do próprio Deus à humanidade.Nossa teologia é a nossa compreensão parcial,e esperamos que crescente,daquela revelação.Se fizermos esta distinção,podemos aceitar variações na interpretação,e ainda assim desfrutar de comunhão com aqueles que são verdadeiramente discípulos dedicados de Cristo.

Em segundo lugar,jamais devemos nos esquecer que o mesmo Espírito Santo que nos ajuda a entender as escrituras,também as interpreta para os crentes de outras culturas.Em última análise,é Ele,e não nós,o responsável por preservar a verdade divina e revelá-la a nós.Devemos ter certeza de que somos discípulos sinceros de Jesus Cristo e ser receptivos à instrução do Seu Espírito.

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BIBLIOGRAFIA

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