Apostila Aula 03 - Comum a Partir Do Diferente

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www www.eadseculo21.org.br Página 1 SAV-CRB - Módulo 2 – Aula 03 Trindade: comum a partir do diferente Refletir acerca da Santíssima Trindade é um tema que nos deixa cheios de vontade de falar, mas também com vontade de calar, isso porque ninguém pode falar do mistério Trinitário sem cair na conta dos nossos próprios limites e ao mesmo tempo, sem cair na conta do próprio mistério. Verdadeiramente, sabe-se que a Trindade é uma expressão de amor incondicional de um Deus que não é solitário, mas que em si é comunidade de pessoas: O Pai, o Filho e o Espírito Santo. Nota-se que o Deus – comunidade, sendo livre de tudo, por amor nos criou, e viu que tudo era muito bom. E deste modo, desejou que vivêssemos em comunidade, juntos, bem unidos, tendo a Trindade como modelo de comunidade perfeita. Nesta lição, temos como objetivo “proporcionar um encontro profundo e real com esse Deus que se revela e fala sobre si mesmo, sobre cada homem e mulher, sobre o modo de buscar e viver a verdadeira felicidade, sobre a vida, sobre o mundo” 1 e principalmente sobre a nossa resposta ao chamado do Deus uno e trino. Seria, pois muita pretensão da minha parte esgotar o mistério da Trindade, isso se tornaria impossível. O próprio doutor da Igreja, 1 M.C.BINGEMER e V. FELLER, Deus Trindade: a vida no coração do mundo, SP, Paulinas, 2002. p. 12.

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Teologia

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Trindade: comum a partir do diferente

Refletir acerca da Santíssima Trindade é um tema que nos

deixa cheios de vontade de falar, mas também com vontade de

calar, isso porque ninguém pode falar do mistério Trinitário sem

cair na conta dos nossos próprios limites e ao mesmo tempo, sem

cair na conta do próprio mistério.

Verdadeiramente, sabe-se que a Trindade é uma expressão de

amor incondicional de um Deus que não é solitário, mas que em si

é comunidade de pessoas: O Pai, o Filho e o Espírito Santo. Nota-se

que o Deus – comunidade, sendo livre de tudo, por amor nos criou,

e viu que tudo era muito bom. E deste modo, desejou que

vivêssemos em comunidade, juntos, bem unidos, tendo a Trindade

como modelo de comunidade perfeita.

Nesta lição, temos como objetivo “proporcionar um encontro

profundo e real com esse Deus que se revela e fala sobre si

mesmo, sobre cada homem e mulher, sobre o modo de buscar e

viver a verdadeira felicidade, sobre a vida, sobre o mundo” 1 e

principalmente sobre a nossa resposta ao chamado do Deus uno e

trino.

Seria, pois muita pretensão da minha parte esgotar o mistério

da Trindade, isso se tornaria impossível. O próprio doutor da Igreja,

1 M.C.BINGEMER e V. FELLER, Deus Trindade: a vida no coração do mundo, SP, Paulinas, 2002. p. 12.

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Santo Agostinho, diz que “é impossível entender, captar

completamente o Deus Uno e Trino da nossa fé, mas é possível,

sim, conhecê-lo na medida em que ele mesmo revela seu Mistério

aos corações sedentos e amorosos que o buscam”2.

Diz a tradição que Agostinho passeava pela praia, pensando

no mistério da Santíssima Trindade, e encontrou um menino

brincando com a água do mar. Com um pequeno balde ele recolhia

água do mar e colocava num buraquinho que tinha cavado na

areia. Agostinho deteve-se e perguntou: “Menino, você vai se

cansar inutilmente. Como você pode pretender colocar a imensidão

do mar neste buraquinho?” Ao que o menino sabiamente

respondeu: “É mais fácil o mar caber dentro deste buraquinho do

que Agostinho entender o mistério da Santíssima Trindade”. Porém,

é bom salientar que “se Deus não fosse Trindade, não poderíamos

ouvi-lo, falar sobre ele, viver em comunhão com ele. O

Cristianismo, em suma, não teria sentido” 3. Eis o mistério da Fé!

Por meio do Deus que desejou fazer morada conosco, com a

encarnação do Verbo, podemos perceber a presença do Deus –

comunidade a partir do diferente: O Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Cada Pessoa da Trindade tem sua função, porém, estão

intimamente relacionadas entre si.

Deus é Pai: Ele é nosso escudo, segurança, amparo, rochedo,

fortaleza, libertação, força, rocha, refúgio, baluarte (Sl 18 (17,3).

Deus é uma palavra. Palavra que se ouve dentro da história, mas 2 Idem, p. 12-13. 3 Idem, 13.

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que vem de fora da história; daí a pessoa humana ser um ser de

transcendência, um homem que se relaciona consigo mesmo, com

o outro e com o transcendente.

Deus é Filho: No Filho, Deus – o Transcendente, o

Diferenciado, o Inatingível, aquele a quem ninguém poderia ver e

continuar vivo – torna-se um de nós, ganha corpo, em carne e

osso, como nós. Torna-se humano conosco e como nós, em tudo

igual a nós, menos no pecado (Hb 4,15) e, exatamente por isso,

verdadeiramente humano. Disso a razão não pode dar conta, é algo

que só pode ser aceito na fé. Essa fé, portanto, representa e

implica: o acolhimento do fato histórico Jesus de Nazaré. A

aceitação de que nesse homem histórico se deu a manifestação

total e definitiva de Deus. A convicção de que Deus constitui senhor

e Cristo a esse Jesus, que foi morto pelos seres humanos. Jesus

Cristo não é, portanto, mais uma revelação de Deus, mas é o

próprio Deus revelado. É isso que nossa fé proclama4.

Deus é Espírito Santo: Ao lado da revelação do Filho, há

outra revelação no Novo Testamento: a do Espírito Santo, ou seja,

“Deus concedeu seu Espírito. A teologia cristã só é possível a partir

do Espírito Santo. O filho só revela o Pai na glorificação, pelo

Espírito. E a comunidade cristã só reconhece e proclama o homem

Jesus como Filho de Deus após a Ressurreição, pelo Espírito. Em

4 Cf. idem, p. 18.

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Sua morte e sua ressurreição, Jesus doa seu Espírito a quem nele

crer”5.

O Deus uno e trino revelado por jesus na sagrada escritura

A leitura do Evangelho de João nos possibilita compreender

que a Sagrada Escritura é de fundamental importância para

pensarmos o Deus Trindade, é a terra natal onde vamos encontrar

o perfil desse Deus. Deste modo, é bom salientar que o texto

bíblico é a mediação primeira em que podemos encontrar Deus,

pois o Deus cristão é o Deus da Bíblia; devemos partir da Bíblia

antes de qualquer outro texto, pois ela é a fonte.

Deus se revelou de diversas formas, em diferentes tempos da

história da humanidade, porém, só sabemos que Deus é Pai porque

Jesus revelou, se não fosse o Filho, não teríamos consciência da

filiação. Jesus é o Filho do Homem (5, 27, 6, 27; 8, 28), Jesus vem

de Deus (5, 24, 6, 29.46; 7, 16.28-29; 8, 16.18.42), de modo que

as suas obras revelam que Deus o enviou (5, 36). Jesus mesmo

disse: “Eu não estou só, mas comigo está o Pai que me enviou” (8,

16).

E Jesus, no momento da sua morte, “inclinando a cabeça,

entregou o espírito” (19, 30); o último suspiro de Jesus foi o

prelúdio da efusão do Espírito. Antes disso, no batismo de Jesus, o

próprio João Batista disse: “Vi o Espírito descer, como uma pomba

vinda do céu, e permanecer sobre ele” (1, 33). Só

5 Idem, p. 20.

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compreenderemos tudo isso pelo Espírito Santo, pois ninguém pode

dizer que Jesus é Deus a não ser no Espírito Santo, por isso aquele

que recebeu o Espírito sobre si no batismo (1, 32-33), soprou sobre

os discípulos e disse: “Recebei o Espírito Santo” (20, 22). Aquilo

que só Deus tem, repousou em plenitude em Jesus, por isso

compreendemos que Jesus é o santo de Deus (6, 69).

Lendo o evangelho de João, percebemos claramente a relação

de Jesus com o Pai, e mais, como Jesus revela o Pai, por isso a

intriga da oposição do seu tempo, pois Jesus dizia ser Deus o seu

próprio pai, fazendo-se assim, igual a Deus (5, 18).

A vida inteira de Jesus foi um constante revelar de Deus, e

isso ele fez como Filho obediente (5, 30; 6, 38, 8, 28) à vontade

daquele que o enviou (5, 24, 6, 29.46; 7, 16.28-29; 8, 16.18.42).

“Se me conhecêsseis, conheceríeis também meu Pai” (8, 19), deste

modo, é bom salientar que através dos seus atos e palavras, Jesus

revela a imagem de um Deus que atrai (6, 44. 65), de um Deus

Único (5, 44), de um Pai (soberano Juiz) que não para de trabalhar

(5, 17), de um Pai amoroso (Jo 5, 20), que dá a vida (Jo 5, 21) e

que tem a vida em si mesmo (5, 26).

Nota-se que o Filho e o Espírito Santo são as duas mãos de

Deus que abraça a humanidade inteira. Deste modo, como

comunidade de diferentes, nós humanos, também devemos ser

uma só comunidade em Deus Uno e Trino, respeitando o diferente

de cada pessoa, e impulsionados, pelo sopro do Espírito Santo,

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devemos nos sentir como membros ativos do corpo de Cristo, o

enviado de Deus.

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REFERÊNCIAS

BINGEMER e V. FELLER, Deus Trindade: a vida no coração do

mundo, SP, Paulinas, 2002.

Bíblia de Jerusalém, Paulus – 2002.

Texto: Wilson Lima de Oliveira, SDV