APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E...

55
APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração Professora: Raquel Côrtes Ribeiro 2014 1º Semestre JUIZ DE FORA

Transcript of APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E...

Page 1: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

APOSTILA DE LÓGICA,

ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II

Curso: Administração

Professora: Raquel Côrtes Ribeiro

2014 1º Semestre

JUIZ DE FORA

Page 2: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

2

UNIDADE I – ARGUMENTAÇÃO E LINGUAGEM

1. DISSERTAR E ARGUMENTAR

Dissertar é o mesmo que desenvolver ou explicar um assunto, discorrer sobre ele. Assim, o texto dissertativo pertence ao grupo dos textos expositivos, juntamente com o texto de apresentação científica, o relatório, o texto didático, o artigo enciclopédico. Em princípio, o texto dissertativo não está preocupado com a persuasão e sim, com a transmissão de conhecimento, sendo, portanto, um texto informativo.

Os textos argumentativos, ao contrário, têm por finalidade principal persuadir o leitor sobre o ponto de vista do autor a respeito do assunto. Quando o texto, além de explicar, também persuade o interlocutor e modifica seu comportamento, temos um texto dissertativo-argumentativo.

1.1 A ESTRUTURA DO TEXTO ARGUMENTATIVO

A argumentação formal:

A nomenclatura é de Othon Garcia, em sua obra "Comunicação em Prosa Moderna". O autor, na mencionada obra, apresenta o seguinte plano-padrão para o que chama de argumentação formal:

1. Proposição (tese): afirmativa suficientemente definida e limitada; não deve conter em si mesma nenhum argumento.

2. Análise da proposição ou tese: definição do sentido da proposição ou de alguns de seus termos, a fim de evitar mal-entendidos.

3. Formulação de argumentos: fatos, exemplos, dados estatísticos, testemunhos, etc.

4. Conclusão.

Observe o texto a seguir, que contém os elementos referidos do plano-padrão da argumentação formal.

TEXTO 1

A formação da cidadania

Em todas as manifestações de caráter social, político e econômico, da mais inconsequente opção pessoal às mais sérias decisões de governo, o ser humano é guiado por dois comportamentos básicos: pensar e agir, de acordo com os conhecimentos disponíveis.

A interação contínua entre pensamento e ação permite ao homem tomar decisões, tanto as de natureza particular - como a escolha de um curso ou profissão ou a compra de um par de sapatos -, quanto as que terão consequências coletivas, como a eleição de governantes ou a participação em manifestações públicas. Portanto, de modo geral, as decisões não são arbitrárias. Não importa o grau de consciência política que o indivíduo

Page 3: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

3

possui, ou a massa de conhecimentos de que ele dispõe sobre uma questão: há sempre uma dose de reflexão em cada um dos seus atos.

É fácil de constatar que as ideias, as opiniões, as atitudes e as ações não seguem um esquema simples, mecanicista e uniforme, pois as diferentes preocupações que atormentam o homem se embaralham e se cruzam a cada instante e às vezes se chocam. É como se todas as provas automobilísticas do mundo fossem disputadas ao mesmo tempo no mesmo autódromo.

A formação do cidadão consiste em capacitá-lo a pôr ordem nesse processo, que se desenvolve ao seu redor mas sempre explode dentro dele. A principal contribuição formativa da educação é a de atuar sobre esse mecanismo mental decisório e ajustá-lo o mais corretamente possível, equilibrando os conhecimentos, as habilidades e as atitudes segundo padrões éticos, morais e outros, válidos para todas, ou para a maioria das pessoas.

Não existe um método infalível para que alguém possa chegar, sempre, às melhores decisões sobre todas as coisas, mas pode-se melhorar a capacidade de raciocínio com a prática, o estudo, a crítica, a reflexão. O grande objetivo, que mais parece um ideal inatingível, é conseguir que cada indivíduo se torne autônomo, isto é, que seja capaz de decidir por si mesmo, não se sujeitando a interferências ou pressões externas. É o caminho que levará à formação de cidadãos conscientes.

MARTINEZ, Paulo. Direitos de cidadania - um lugar ao sol. São Paulo: Scipione, 1996.

EXERCÍCIOS:

1. Qual é o tema do texto?

2. Sintetize a ideia básica de cada parágrafo.

3. No segundo parágrafo, o autor do texto desenvolve um raciocínio para, em seguida, chegar a uma conclusão. Qual é essa conclusão?

4. Você é um cidadão consciente? Escreva um parágrafo defendendo seu ponto de vista. Não se esqueça de que, independentemente do tamanho de seu texto, você tem de: organizar as ideias antes, montando um pequeno plano com elas para guiar seu raciocínio; incluir nele uma introdução, um desenvolvimento do(s) argumento(s) e uma conclusão.

Page 4: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

4

1.2 ESTRUTURA LÓGICA DO PENSAMENTO

Leia o texto que se segue. Trata-se de uma distribuição feita pelo escritório da empresa ANTHROPOS Consulting (à Rua Manoel Afonso, 64, Sorocaba, S. Paulo). A ANTHROPOS tem uma publicação semanal por fax, intitulada "Motivação & Sucesso", direcionada a empresas, através de assinatura anual. O texto em questão foi publicado na semana de 04 a 10 de agosto de 2006.

TEXTO 2

Viver é arriscar sempre

Em geral as pessoas morrem em torno dos trinta anos e são sepultadas por volta dos setenta. Leva quarenta anos para os outros perceberem que aquela pessoa está morta. Lembre-se: a vida é sempre uma incerteza. Somente o que é morto é certo, fixo, sólido. Tudo o que está vivo, muda sempre e se movimenta, é fluido, flexível, capaz de se mover em qualquer direção.

Quanto mais você se toma inflexível, mais está perdendo a vida. Viver é arriscado. Morrer é que não tem nenhum risco. Viver é sempre perigoso. Viver significa conviver com o desconhecido. Morrer é muito, muito mais seguro. Não há lugar mais seguro que um túmulo. Nenhum acidente pode acontecer a quem está morto.

Deseje a insegurança, pois isso é desejar a vida. Busque a insegurança e a mudança. Procure os caminhos ainda não trilhados e navegue por mares ainda não navegados, porque esse é o caminho da vida.

O crescimento é sempre um jogo arriscado. Às vezes a pessoa tem que perder aquilo que conhece em troca de algo que ainda não conhece.

Na vida real não há segurança total; exceto a da morte. E esta é a beleza da vida. É por isso que há tanta emoção.

O sucesso na vida só é alcançado por um alto preço. O risco é o preço. Pague esse preço.

ANÁLISE DO TEXTO:

Título:__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

1°parágrafo:_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Page 5: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

5

2°parágrafo:_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3°parágrafo:_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4°parágrafo:_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5°parágrafo:_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

6°parágrafo:_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Objetivo do texto:________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Veja ainda:

Podemos estabelecer para toda a mensagem do texto o seguinte silogismo:

Premissa maior Viver é evoluir e assumir riscos;

Premissa menor quero continuar vivendo,

Conclusão logo quero evoluir e assumir riscos.

Observe que o texto é um apelo a investimentos financeiros. Busca convencer o leitor em mensagem onde se contrapõem vida e morte, com benefício da primeira, óbvio, num jogo de exposição de motivos, e dentro de uma sequenciação lógica, o que leva o interlocutor optar pelo risco; em outras palavras, a optar pela vida, pela emoção, pelo novo. O modo de organização é de um texto argumentativo.

O logotipo da empresa é muito sugestivo. Apela para o desenvolvimento, conforme você pode constatar a seguir:

Tivemos aí duas formas de chegar ao interlocutor (= empresário): pela sedução e

Page 6: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

6

pela argumentação.

1.3 COMO ORGANIZAR UMA REFLEXÃO COERENTE

Uma argumentação compõe-se de uma tese com a qual o autor do texto concorda, ou de que discorda (a posição de neutralidade não interessa, já que estaremos desenvolvendo um texto cujo objetivo é convencer). Vamos analisar o desenvolvimento textual em que o autor tem opinião (contra ou a favor) a apresentar, ponto de vista do qual busca convencer o interlocutor. Cumpre conceber um plano, estabelecer uma ordem de raciocínio e, especialmente, sermos claros e coerentes no que expomos. Constam de uma organização coerente do pensamento:

a) necessidade de distinguir os diferentes elementos que constituem a base estrutural do raciocínio (a tese, a antítese e a conclusão), bem como os fatos que servem de ilustração (exemplos, provas) na organização do texto como um todo.

Um bom exemplo de persuasão pode ser visto na propaganda, em que se faz, com frequência, uso de texto e figura. No exemplo a seguir, uma propaganda de um posto de gasolina, são usados esses dois veículos comunicativos:

Comentário: A carinha alegre auxilia a compreensão da meta a alcançar: a satisfação do cliente. Pelo que está escrito, trata-se de gasolina pura, boa e barata (o cartaz diz que a gasolina Premium está a R$0,90 o litro, e sabemos que Premium é gasolina pura). A sigla ABB, do nome do posto (equivalente a Atendimento Bom e Barato) pretende que o posto faça jus ao nome. Os elementos básicos da argumentação - preço e qualidade da gasolina - formam o encadeamento possível de Silogismos:

1. Premissa maior - O Posto ABB vende gasolina Premium a R$ 0,90;

Premissa menor - gasolina Premium a R$ 0,90 o litro é barata,

Conclusão - logo o Posto ABB vende gasolina barata.

2. Premissa maior - Gasolina filtrada é gasolina pura;

Premissa menor - o Posto ABB vende gasolina filtrada,

Conclusão - logo o Posto ABB vende gasolina pura.

3. Premissa maior - Gasolina pura é boa;

Premissa menor - a Premium é uma gasolina pura,

Page 7: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

7

Conclusão - logo a Premium é boa.

4. Premissa maior - Quem abastece com gasolina barata, pura e boa lucra;

Premissa menor - você abastece seu carro com gasolina barata, pura e boa, no Posto ABB,

Conclusão - logo você lucra no Posto ABB.

Observação: Nem sempre a ideia de um texto se resume num único silogismo; pode ser uma sequência deles.

A figura tem papel importante, dentro do todo: a carinha alegre demonstra satisfação do cliente e o cartaz comprova que a gasolina está barata. O entendimento se faz rapidamente. O convencimento a que almejamos deverá ser feito com argumentos, apenas com o desenvolvimento lógico do nosso raciocínio, conforme os silogismos apresentados. Também os gestos auxiliam a conversação.

b) existência de relação "problema - solução", a solução obviamente em função do problema. Vamos exemplificar com uma frase que poderia estar numa propaganda do posto referido no item anterior:

Se você passar a abastecer seu carro no Posto ABB, deixará de ter problemas com o motor.

Comentário: Nesse exemplo, parte-se de um problema implícito, o de que o motor do seu carro possa não estar funcionando a contento, ou o de que a gasolina da região, naquela época, pudesse estar adulterada. A solução proposta está na oração condicional com que se inicia o período: "se você passar a abastecer seu carro no Posto ABB ... ". Você vai naturalmente se interessar em resolver o problema, se o tiver, ou mesmo prevenir-se contra ele.

c) Emprego adequado dos conectores. Veja os exemplos:

Ela entrou na sala porque eu saí.

Ela entrou na sala para que eu saísse.

Comentário: Se substituirmos o conector "porque" por "para que", substituição que pode implicar mudança no tempo verbal, teremos outro sentido. Isso mostra a importância do conector: com ele indicamos uma determinada relação entre dois termos, ou, como no segundo exemplo, entre as duas orações. E por essa relação estruturamos a tese. No primeiro, a minha saída explicou a entrada dela, já que não nos damos bem; no segundo caso, a ideia é apenas a de que ela foi me render, ou seja, entrou na sala para que eu pudesse sair.

Outros empregos de conectivo, possíveis, para a mesma relação "alguém sair, outrem entrar":

Ela entrou na sala quando eu saí.

Comentário: Temos mera indicação de tempo das ações de entrada (dela) e saída (minha).

Page 8: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

8

Ela entrou na sala embora eu saísse.

Comentário: Vê-se uma ideia de oposição ao esperado: se eu saí, esperava-se que ela não entrasse, mas ela o fez.

Se eu sair, ela entra na sala.

Comentário: Fica claro que há uma animosidade entre mim e ela, e a minha saída é condição para a entrada dela.

d) Importância da memória cultural. Exemplo:

Aquele articulador político é o "garrincha" do governo!

Comentário: Se meu interlocutor não sabe, nem nunca ouviu falar do jogador Garrincha, famoso pelos dribles no futebol, não entenderá minha metáfora: Assim é importante saber se o interlocutor participa do mesmo "conhecimento de mundo" do autor da frase, ou seja, se são da mesma faixa etária, do mesmo país etc., enfim se os elementos citados no texto são do universo de conhecimento do emissor e do destinatário.

e) Necessidade de coerência macro e microtextual. A coerência pode ser obtida pela observância de vários fatores. Só para repassar alguns pontos de coerência, vejamos:

Quero um apartamento de três quartos na Tijuca. Já comprei um conjugado em Copacabana. Minha única exigência é que o apartamento seja bastante ensolarado.

Quero um apartamento de três quartos na Tijuca, porque já comprei um conjugado em Copacabana, para que minha única exigência seja a de o apartamento ser bastante ensolarado.

Comentário: No primeiro não temos conjunções ligando as três orações; mas há uma certa coerência no conjunto: alguém comunica seu desejo de comprar um apartamento, informando já possuir um menor e dizendo de sua exigência como qualidade de apartamento. No segundo exemplo até há conjunções ligando as três orações que formam um só período, mas não há coerência. Falta sentido no que se expressa; os conectivos estão mal empregados.

Outro exemplo - Consideremos o conjunto de frases:

Minha mãe é jovem e vaidosa. Gosto de minha mãe. Hoje é Dia das Mães. Que presente devo comprar para minha mãe? Acho que vou dar a ela uma joia e um vestido novo.

Perguntamos: Isso é um bom texto? Se deve haver sempre um objetivo, qual foi o do emissor do texto? Será que lhe foi pedida alguma redação e ele escreveu essas frases? Qual o melhor título para essa "redação"? "A juventude de minha mãe?" "A vaidade de minha mãe". "O dia das mães?" "O que vou fazer hoje, dia das mães?" "Por que gosto de minha mãe?"

Se você escolheu um dos títulos apresentados, pense agora qual o objetivo do texto que mais se adequaria ao conjunto de frases do exemplo de que estamos falando.

Page 9: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

9

Opções:

( ) Mostrar que gosto de minha mãe porque ela é jovem e vaidosa

( ) Presentear minha mãe no dia das mães porque ela é jovem e vaidosa.

( )Presentear minha mãe com joia e vestido novo porque gosto dela e ela é jovem e vaidosa.

( )Programar meu dia hoje, Dia das Mães, em função da juventude e da vaidade de minha mãe.

Provavelmente nenhuma opção lhe satisfez e você nem entendeu bem o que estamos propondo. Antes de responder-lhe, vejamos outro conjunto de frases, em que se explicita claramente o dilema de escolha do presente e a explicação dada pelo filho para o cuidado na escolha do presente:

Hoje é Dia das Mães e necessito decidir sobre o presente que vou dar à minha mãe. Pensei em comprar uma joia e um vestido. Gosto muito de minha mãe e quero presenteá-la com algo de sua predileção: por ser jovem e vaidosa, deverá apreciar enfeites e roupa nova.

Você poderia escolher um título para este exemplo como Presente para minha mãe, no seu dia especial.

Também podemos estabelecer o objetivo que se depreende do texto: a preocupação de um filho em agradar à mãe, ao escolher um presente, no segundo domingo de maio.

Compare os dois exemplos vistos e observe que você pôde estabelecer título e objetivo no segundo, ao contrário do que acontecia em relação ao primeiro. Isso porque o segundo caso preenche uma condição para haver textual idade: a mensagem elaborada pelo enunciador seleciona e estrutura de forma clara o que ele achou bastante e necessário para alcançar o fim almejado.

1.4 CONTRA-ARGUMENTAÇÃO (REFUTAÇÃO DE UMA TESE)

Consiste em considerarmos o ponto de vista contrário ao que foi exposto e elaborarmos uma contra-argumentação, ou seja, uma segunda argumentação cuja tese vai opor-se ao ponto de vista do enunciador da primeira. .

Meyer (op. cit., p.135-141) considera alguns pontos que vamos resumir e discutir, a partir da seguinte pergunta: - O procedimento de evocar uma tese para refutá-la seria arriscado, por propiciar a divulgação de ideias contrárias à minha?

Sendo procedimento lógico o pesar prós e contras, é até meritório evocar ideias contrárias. Importante é conseguir refutar os argumentos da tese contrária, anulá-los. Há até quem use como estratégia expor uma tese "X" e logo depois refutá-la, construindo, nesse processo de refutação, a sua tese, ou seja, procurando convencer o interlocutor do seu ponto de vista, a partir da negação do ponto de vista contrário. É a estratégia de prevenir eventuais contra-argumentações. Como fazer tal? Expondo-as e, a seguir, mostrando que elas não são pertinentes. A concessão, por exemplo, é recurso muito

Page 10: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

10

explorado como técnica argumentativa; consiste em parecer que aceitamos uma ideia, a princípio, para depois rejeitá-la, geralmente em parte, trabalhando o ponto de vista oposto.

Refutar uma tese é argumentar sob outro prisma, digamos, explicar por que não nos convencemos de algo que alguém diz.

A seguir, vejamos as maneiras de refutar uma tese. Podemos fazê-lo, ora pelo questionamento da validade de opiniões emitidas, ora através da concessão, ora pela diminuição dos excessos de uma argumentação, ora pelo destaque de pontos falhos no raciocínio argumentativo.Vejamos cada um desses itens.

a) Questionamento da validade de opiniões emitidas

A validade dos fatos ou das opiniões usadas na estrutura argumentativa da primeira, contra a qual nos colocamos. Ela pode ser rejeitada em sua totalidade, com expressões como "Não é verdade que ... ", "Não posso aceitar que... "; "Suponhamos a verdade desse fato, embora todos sejam ... ", como no exemplo:

Não posso aceitar que um professor desconheça e despreze as agruras financeiras da classe.

Ou pode ser rejeitada em parte, como em:

Suponhamos que seja possível a cura desta doença, embora todos sejam unânimes em dizer que a partir de um estágio avançado, o câncer não tem cura.

Outra forma é invalidar a ideia contrária pela apresentação de outra oposta, precedida de torneios como "Na verdade ... ", "De fato ... " etc., como em:

Se você é o primeiro do time, na verdade esse time não tem bons jogadores.

Comentário: Nos três casos, discute-se a validade dos fatos e opiniões apresentados na tese contrária: validade parcial no segundo e total no primeiro e no terceiro.

b) A concessão

A concessão acaba sendo a base da refutação de uma tese, na medida em que refutar é exatamente partir do ponto de vista do outro, para negá-lo, em parte, ou destruí-lo. Voltemos ao exemplo Suponhamos que seja possível a cura desta doença, embora todos sejam unânimes em dizer que a partir de um estágio avançado, o câncer não tem cura. Supõe-se possível a cura do câncer, mas em estágio primeiro, ou seja, faz-se uma concessão para negar a tese, em parte. Já no exemplo a seguir, nega-se a possibilidade do empréstimo, ante o fato de que a pessoa não tem dinheiro:

Você pretende um empréstimo de meu pai, mas ele não tem dinheiro.

Page 11: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

11

c) Diminuição dos excessos de uma argumentação

Discutir pontos falhos na tese, a partir de seus excessos, seria como refutar alguém que dissesse "Museus são lugares aborrecidos".Teríamos, para refutá-lo, algo como:

Se, como diz o Aurélio, museu "é lugar destinado não apenas ao estudo, mas também à reunião e exposição de obras de arte, de peças e coleções científicas, ou de objetos antigos", e se você se diz um estudioso, um amante das artes, um homem ávido de saber, não é cabível um adjetivo tão forte como "aborrecido", para qualificar exatamente o que deveria ser para você tão agradável.

Comentário: Aqui apresentamos a definição do dicionário de Aurélio Buarque, para, a partir dela, fazermos um jogo de oposição entre os itens ali expostos e as características da pessoa, quais sejam:

... lugar destinado a estudo / (se) você se diz estudioso, não é cabível ... ;

... lugar destinado a exposição de arte / (se) você se diz amante das artes, não é cabível que ...

Pelo jogo dessas oposições, apontamos as falhas da tese adversária, especialmente o exagero do adjetivo em "Museus são lugares aborrecidos".

d) Destaque de pontos falhos no raciocínio argumentativo

Consiste em discutir pontos falhos do raciocínio da parte contrária e, com isso, minimizar sua eficácia, como em:

Pleiteia-se assistência judiciária gratuita sob a alegação de insuficiência de recursos para pagar custas processuais, sem detrimento de sua própria subsistência. A parte apelada, por sua vez, também pleiteia assistência jurídica gratuita, sob a mesma alegação; e propõe contrato de risco ao advogado, oferecendo sucumbência': Pergunta-se: Como fica o advogado do apelado? O que leva nisso?Ganhando ou perdendo, não receberá.

Comentário: Na refutação importa construir uma estrutura lógica, que anule a tese do interlocutor. Dessa forma estaremos também selecionando dados técnicos capazes de um raciocínio claro e fechado, que se oponha à tese adversária.

1.5 ESTRATÉGIAS DA ARGUMENTAÇÃO

Observe os recursos argumentativos que são importantes para a argumentação: a polifonia, o implícito, a pergunta retórica, o destaque das ideias mais importantes.

Page 12: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

12

a) A polifonia

A polifonia também chamada de intertextualidade é o aproveitamento da fala de outrem, uma boa estratégia de argumento. É fácil compreender que o sujeito argumentador projeta sua vivência e a de seu interlocutor no ato da comunicação.

− Como fazer isso?

Repetindo discursos anteriores, seu ou de outras pessoas, pelos quais se transmitem conhecimentos adquiridos. Nesse reportar do discurso alheio, o sujeito argumentador do novo texto aproveita o tema da fala alheia e abstrai dela as emoções do enunciador. Podemos ver um exemplo dessa anulação e/ou de substituição das emoções no aproveitamento de enunciados de outrem quando, numa discussão, alguém repete assertiva que não lhe agradou, como no exemplo:

Pois é, "eu sou ingênuo", mas jamais emprestei dinheiro sem documentação adequada, fiador, registro em cartório etc. Você, o gênio, o esperto, empresta cem mil reais a um vigarista, sem documentação alguma!

Comentário: Entende-se que o sujeito argumentador não aceita a qualificação de "ingênuo"; antes repete o que seu interlocutor disse, para defender-se e caracterizar a seguir que o ingênuo é o interlocutor. E repete com mágoa, ou com raiva, sentimentos que não acompanharam antes a fala da frase "Você é ingênuo", quando pronunciada pelo outro.

b) O implícito

Meyer (op. cit., p.129) qualifica o implícito como noção sutil e onipresente, equivalente aos postulados matemáticos, por ser, como eles, um dado que não se demonstra, mas se considera aceito por todos. Podemos caracterizá-lo como a ideia que se deixa para o interlocutor reconstituir, reconstituição que desempenha importante papel na compreensão da mensagem. Interessante observar que o implícito, por não estar explicitado numa estrutura argumentativa, não pode ser contestado. É aceito, é inconteste, abonado pelo conhecimento do mundo. Vejamos o exemplo:

Fulano vende tudo! Se achar quem compre, é capaz de vender a poltrona número 01 do céu, ao lado direito de Deus.

Comentário: Como você pode notar, o implícito se presta à ironia. Aqui, por exemplo, para ironizar a febre de venda do Fulano, cita-se a "poltrona número 01 do céu, ao lado direito de Deus", algo fictício e, em existindo, a ambição máxima de qualquer um, como capaz de ser vendida pelo Fulano, ou seja, está implícita a intensidade da "febre de venda" no absurdo da coisa vendida.

c) A pergunta retórica

A figura da ocupação é aquela pela qual supomos que nosso interlocutor vá interpelar-nos, contra ou a favor do que estamos dizendo, e então antecipamos essa

Page 13: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

13

interpelação para contestá-la ou aboná-la. A partir da entrada do que imaginamos ser a fala do interlocutor, fortificamos nossa argumentação, rebatendo o aparte contrário do interlocutor imaginário, ou endossando-o, se a interpelação foi favorável.

A pergunta retórica funciona de forma parecida. Fazemos uma pergunta, como se fora outrem a fazê-la, e a respondemos. Essa técnica torna mais participante, "sacode" por assim dizer o interlocutor, e funciona como instrumento de sedução, na medida em que a sacudidela tem implicações psicológicas, de trazer o interlocutor para dentro do processo dissertativo, torná-lo simpático à nossa tese. Desse modo levaremos nosso interlocutor a aceitar melhor nossa resposta, já que ele agora se vê convidado a participar do ato de comunicação, e ficará sugestionado a aceitar nossa argumentação. A propósito, essa pergunta se denomina "retórica", por não estarmos de fato interpelando alguém.Vejamos o exemplo:

O Serviço Nacional de Trânsito pôs em prática uma indústria de multas, através de marcadores eletrônicos de velocidade, colocados como armadilhas nas estradas, nas pontes e nos elevados do Estado do Rio. Será correto cobrar quantias exorbitantes, que se acumulam em progressão geométrica, de usuários colhidos de surpresa, já que os limites de velocidade variam, conforme o local e nem sempre há placas de aviso? Discute-se a propriedade dessas armadilhas e, especialmente, o propósito dessas cobranças tão intempestivas! É óbvio que a finalidade de cobrança não é coibir abusos e educar o motorista; muito menos evitar acidentes. Se houvesse mais avisos da presença de marcador de velocidade e dos limites conforme a localidade, haveria muito menos multas.

d)O destaque das ideias mais importantes

Recurso que consiste numa hierarquia dos argumentos, destacando os que você julga fundamentais na comprovação de sua tese. Os demais são secundários.

EXERCÍCIOS

Questões 1 a 7: Leia o texto abaixo para responder às questões seguintes:

Efeitos da inclusão de redação no vestibular

Não se pode negar que a inclusão de prova de redação no vestibular terá como efeito - e já se vem mesmo observando o fato - a inclusão do ensino sistemático de redação nas escolas. Não se pode, porém, afirmar que tal efeito conduzirá forçosamente a um melhor desempenho linguístico, a ser demonstrado em prova de redação, ou a uma melhor ou mais adequada seleção de candidatos ao ensino superior.

O problema do uso inadequado e deficiente da língua materna é muito mais complexo do que pode parecer à primeira vista, e muito mais amplo. Não é um problema apenas brasileiro: na Europa, nos Estados Unidos, nos países da América Espanhola, o problema vem sendo insistentemente levantado, estudos e pesquisas vêm sendo feitos,

Page 14: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

14

reformas do ensino têm sido tentadas. Não é também um problema a ser explicado apenas como o fracasso ou ineficiência do ensino da língua materna: é um problema que ultrapassa o âmbito da escola ou da educação sistematizada.

No Relatório apresentado pelo Grupo de Trabalho instituído pelo Senhor Ministro da Educação para apresentar sugestões objetivando o aperfeiçoamento do ensino do Português, a que já se aludiu anteriormente, e de que faz parte a autora deste trabalho, apontaram-se as principais causas da ineficácia no uso da língua materna. Uma análise ainda que pouco profunda de tais causas evidencia imediatamente a complexidade do problema e desmistifica a suposta eficiência de soluções superficiais.

O uso da língua é um comportamento que deve ser visto no contexto mais amplo das circunstâncias culturais em que se insere. As civilizações modernas vivem sob a poderosa influência de meios de comunicação em que o verbal é suplantado pelo visual, em que à palavra se associa o icônico, que cada vez mais busca superá-la. São palavras do Relatório acima citado: "As afirmações 'li' no jornal, 'ouvi' no rádio vão sendo substituídas por 'vi' na televisão, 'vi' no cinema. As revistas ilustradas, os quadrinhos, as telenovelas competem cada vez mais com os livros. E, como o ler e o ouvir exigem maior esforço de decodificação, o homem adere facilmente à comunicação pela imagem. Ouvindo e lendo cada vez menos, ouve e lê cada vez com mais dificuldade. Em consequência, fala e escreve cada vez com menos precisão, perde a fluência da expressão verbal, e o uso da língua vai-se empobrecendo e deteriorando': E conclui: "Levando em conta esse contexto cultural, não se podem atribuir apenas a um fracasso do ensino da língua materna as deficiências atuais de comunicação, a fragmentação e má estruturação do conteúdo das mensagens, a incorporação e inadequação no uso da língua, oral ou escrita. É que, ao lado do ensino regular e sistemático, e em competição com ele, há o 'ensino paralelo' dos meios de comunicação de massa, cuja influência é certamente mais presente, mais extensa e mais poderosa‖.

A esses problemas de natureza sociocultural, acrescentam-se problemas de natureza socioeconômica que também constituem explicação para a ineficácia no uso da língua materna. A massificação do ensino, decorrente da democratização da educação, trouxe, como consequência, o acesso à escola das mais diversas camadas sociais. Pesquisas linguísticas já demonstraram que desigualdades sociais conduzem a desigualdades culturais que se manifestam especialmente no desempenho linguístico: as classes menos favorecidas trazem para a escola um saber linguístico deficiente em relação ao padrão de língua exigido pela escola. A heterogeneidade social na escola resulta, pois, em heterogeneidade linguística que, em geral, é ignorada: a escola se nega a reconhecer a distância entre o padrão linguístico que usa, que ensina e que exige, e os padrões linguísticos de estudantes de meios socioeconômicos diferentes. E se grande é a distância entre o padrão de língua oral exigido pela escola e os padrões de língua oral de diferentes camadas sociais, maior ainda é a distância entre estes e o padrão de língua escrita exigido pela escola. Resulta daí o fracasso escolar, em geral, e particularmente o fracasso na redação.

Bastam os problemas acima apontados para que se evidencie que a capacidade de redigir está condicionada por fatores que ultrapassam o âmbito do sistema escolar. Simplista é pois a solução de incentivar, no nível exclusivamente curricular e metodológico, o ensino da redação nas escolas; mais simplista ainda é tentar efetivar essa solução por meio do mecanismo da inclusão de prova de redação nos exames vestibulares. Antes que as escolas estejam conscientes da influência, no uso da língua, das circunstâncias culturais em que vivemos, e da heterogeneidade linguística resultante

Page 15: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

15

da heterogeneidade social dos estudantes que recebe; antes que o ensino da língua adapte seus objetivos e sua metodologia a essas circunstâncias culturais e a essa heterogeneidade; antes que os professores de Português estejam preparados para trabalhar em função desses novos objetivos e dessa nova metodologia, é inútil e é, sobretudo, injusto pretender avaliar os estudantes em habilidades cuja ausência se deve a fatores extraescolares que a escola não lhes possibilitou superar. Tal avaliação beneficiará, mais uma vez, as classes mais favorecidas, aqueles que, oriundos das classes média e alta, já trazem para a escola um domínio da língua muito próximo do que é exigido por ela. Estes terão provavelmente sucesso na prova de redação do concurso vestibular e mais uma vez serão reforçadas as desigualdades sociais. Este será, a nosso ver, o principal – e lamentável - efeito da inclusão da prova de redação no vestibular.

SOARES. Magda Becker. Efeitos da inclusão de redação no vestibular. In: Exame crítico dos concursos vestibulares. simpósio da 29ª reunião anual da SBPC. Rio de Janeiro: Cesgranrio, 1977.

1) Qual a ideia básica apresentada no primeiro parágrafo? Ela serve como introdução? Justifique.

2) No segundo parágrafo, a autora generaliza o problema levantado, ampliando-o. Como se dá essa generalização?

3) No terceiro parágrafo, a autora coloca-se na terceira pessoa para destacar o caráter impessoal do texto. Assinale a passagem em que isso ocorre.

4) A partir de qual parágrafo a autora inicia a argumentação?

5) Nos parágrafos 4 e 5, a autora destaca e analisa dois tipos de problemas que servem de base para sua argumentação. Quais são os problemas levantados?

6) No parágrafo 6 temos a conclusão. Na abertura desse parágrafo, a autora emprega uma palavra que desempenha um papel muito importante. Comente a função dessa palavra que inicia a conclusão.

7) Compare a última frase do texto com o parágrafo de abertura.

Page 16: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

16

8) Coloque nos parênteses à esquerda ―S‖ para o texto que busca seduzir, e ―A‖, para o texto que realmente convence pelo raciocínio lógico:

( ) ―VOCÊ 10 X CELULITE 0‖ (propaganda da Vip-clinique, publicada em O GLOBO, de 9/06/98, p.14)

( ) Compre um amor de joia para o seu amor, que você julga uma joia, no Dia dos Namorados.

( ) ―De mão em mão as crianças enchem-se de saúde‖. (―slogan‖ para angariar dinheiro para o menor abandonado)

( ) Se você ainda não viu, não deixe de ver o maior espetáculo de balé do mundo!

9) Falando a estudantes de engenharia, numa faculdade da Zona Sul da cidade de Rio de Janeiro, aquele candidato a presidente promete irrigar terras para aumentar a produção agrícola do País.

PERGUNTA-SE: ─ Do ponto de vista argumentativo, considerando-se que os políticos buscam votos acenando cm ―favores‖ imediatos, assinale a melhor opção:

a) houve adequação ao interesse do auditório

b) o auditório é heterogêneo e por isso importa utilizar argumentos básicos

c) tornar-se-ia argumento adequado se o candidato associasse a necessidade de irrigação das terras a uma possível abertura de campo de trabalho a futuros engenheiros.

1.6 TIPOS DE ARGUMENTOS a) __________________________________ Consiste em apresentar exemplos retirados da realidade para comprovar a tese. Ex: ―Apesar desse nosso atraso, ainda é possível reverter esse quadro tecnológico, porque temos algumas entidades em que se pode fazer pesquisa de qualidade internacional, está se falando das Universidades públicas, cuja capacidade advém principalmente da mão-de-obra altamente qualificada a qual produziria mais ainda, se viesse a ser melhor equipada.‖ Isto É b) __________________________________ Apresenta cifras ou dados estatísticos. Tem grande valor de convicção, constituindo quase sempre prova ou evidência incontestável. Ex: ―O supermercado é, por excelência, o lugar onde o brasileiro compra comida: 98,2% dos entrevistados se abastecem nesses estabelecimentos. Nove em dez pessoas, surpreendentemente, passam ao largo de sacolões e cooperativas de consumo.‖ Veja

Page 17: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

17

c) __________________________________ Utiliza-se da opinião de um especialista da área tratada. Ex: ―O cinema nacional conquistou nos últimos anos qualidade e faturamento nunca vistos antes. ‗Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça‘ - a famosa frase-conceito do diretor Gláuber Rocha – virou uma fórmula eficiente para explicar os R$ 130 milhões que o cinema brasileiro faturou no ano passado.‖ (Adaptado de Época, 14/04/2004) d) __________________________________ Apresenta os porquês de uma determinada situação e suas consequências. Ex: ―A ganância pela posse da terra, exacerbada por uma arcaica estrutura fundiária e pelo modelo econômico brasileiro – excludente, concentrador e dependente – gera a fome e a doença, as migrações forçadas, a escassez de produção e de produtividade, a precariedade das moradias, prisões arbitrárias, injustiças, destruições de casas e outras formas de opressão contra a pessoa humana.‖ Mensagem ao povo de Deus – Bispos do Regional Nordeste III e) __________________________________ Compara-se o antes e o hoje, elucidando os motivos e consequências dessas transformações. Cuidado com dados como datas, nomes de que não se tenha certeza. Ex: Nesse tempo até o padre sabia quem viera ou não à missa, pois o rebanho era pequeno e contíguo; se chegasse um estranho à cidade, todos ficavam sabendo disso, de quem se tratava e o que viera fazer. A troca de cumprimentos na rua não era apenas educação, mas conhecimento. A solidariedade não era obrigação, mas algo natural, afinal todos conviviam há uma eternidade e havia tempo para isso, para se conhecerem, para serem solidários e para as pequenas maldades do dia-a-dia. Célio Montes Claros – O complexo social f) _________________________________ Usam-se duas ideias centrais para serem relacionadas no decorrer do texto. A relação destacada pode ser de identificação, de comparação ou as duas ao mesmo tempo. Ex: De tanto ser repetido pela cultura de massa, o mito perde a singularidade e passa a ser consumido como um tênis ou uma coca-cola. g) _________________________________ O testemunho é ou pode ser o fato trazido à colação por intermédio de terceiros. Se autorizado ou fidedigno, seu valor de prova é inegável. O testemunho continua a merecer fé até mesmo nos tribunais. Ex: A violência vem crescendo muito nos últimos anos, afirma Carmem Rocha, uma das moradoras da favela de Vigário Geral no Rio de Janeiro. h) __________________________________ Aparece quando o autor sente a necessidade de definir uma expressão, um termo.

Page 18: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

18

Ex: ―Por "estudo intencional da gramática" entende-se o estudo de definições, classificações e nomenclatura; a realização de análises (fonológica, morfológica, sintática)...‖ i) __________________________________ Argumento baseado nos processos dedutivo ou indutivo. Ex: I – ―Todo homem comete erros. Einstein foi um homem e, por essa razão, cometeu vários também. A ideia de infalibilidade atribuída ao cientista é falaciosa.‖ Matheus De Luca — O pensar e sua função social Ex: II – ―O sonho de um estudante é poder participar da vida universitária, mas para isso o ato de estudar diariamente deve tornar-se uma regra, principalmente pelo fato de as universidades estaduais e federais serem as mais concorridas e terem um número de vagas restrito a oferecer. Por essa razão todos os que anseiam por chegar ao 3º grau e o posterior devem estudar com muito afinco.‖ j) __________________________________ Apresenta uma defesa contra um possível ataque do interlocutor. Ex: ―O médico tem o dever de alertar a população para os perigos ocultos em cada remédio, sem que, necessariamente, faça junto com essas advertências uma sugestão para que os entusiastas passem a gastar mais com consultas médicas‖ Veja k) __________________________________ Consiste na especificação, designação de coisas uma por uma. Ex: O adolescente moderno está se tornando obeso por várias causas: alimentação inadequada, falta de exercícios sistemáticos e demasiada permanência diante de computadores e aparelhos de tv. l) _________________________________________ Consiste em apresentar uma situação hipotética para mostrar um possível acontecimento. Ex: ―Mesmo que o vírus da Aids viesse a ser, em breve, totalmente controlado e o contágio, rotineiramente evitável, o que ele provocou e provoca até hoje, na humanidade, equivale aos prejuízos humanos causados por uma grande guerra. Crime hediondo, se um dia ficar provado que ele foi criado em laboratório norte-americano, para realizar o intento de eliminar minorias consideradas indesejadas. Isso sob o desejo e orientação da cultura Wasp (White, anglo-saxon and protestant), conforme hipótese (bem provável), recentemente divulgada pela imprensa.‖ Maria Rita Kehl – A psicanálise e o domínio da paixão EXERCÍCIOS 1) Identifique os tipos de argumentos encontrados nos trechos abaixo: a) ―A miséria que ataca grande parte da população brasileira não é gratuita, porque tem origem na péssima distribuição de rendas, no desemprego, nas injustiças sociais.‖ b) ―Na política do Mercosul, o que é bom para a Argentina é bom para o Brasil.‖

Page 19: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

19

c) ―Cada sistema tem seus indicadores. A Inglaterra, os Estados Unidos, por exemplo, têm dinheiro sobrando e, claro, uma Bolsa de Valores respeitável. Mas quando o assunto é futebol, o Brasil não perde para ninguém, ou melhor, iguala-se à Inglaterra: os brasileiros não sentem inveja da torcida inglesa e vice-versa.‖ d) ―Considerando-se o nível a que chegaram as escolas brasileiras de primeiro e segundo graus, o refinamento dos vestibulares das principais universidades do país, reduzido número de vagas em cada uma das faculdades mais procuradas, é necessário que o aluno faça um pré-vestibular para estar apto a concorrer com os demais a tão desejada vaga ─ embora, com isso, não se defenda aqui o cursinho.‖ e) ―A liberdade é fundamental a todos os seres humanos, com ela podemos construir nosso mundo, afirmar a nossa personalidade, derrubar as barreiras que impedem o crescimento do indivíduo. Não é possível aceitar que a obra de arte pertença ao domínio da coação.‖ f) ―Uma parcela significativa de nossa sociedade sofre de problemas de saúde, alimentação, moradia, educação, por isso há necessidade de uma política voltada para os problemas sociais, em defesa dos excluídos pelo sistema.‖ g) ―Octavio Paz, poeta e ensaísta mexicano, ao analisar o seu país, concluiu que ―Quando uma sociedade se corrompe, a primeira coisa que gangrena é a linguagem‖. No Brasil, a gangrena linguística começa pela recusa a dar o verdadeiro nome às coisas, e continua com o desprezo pelas palavras, pela inversão do significado delas, pela apropriação indébita de vocábulos ricos em sua significação, pela corrupção ideológica com que se contaminam as palavras, pelo desrespeito total ao universo a que elas pertencem.‖ 2) Leia atentamente os textos argumentativos abaixo e responda às questões propostas: a) Explique, com suas palavras, qual a tese defendida pelo autor. b) Retire dois argumentos empregados, classifique-os e explique por que o autor os utilizou para fundamentar sua tese. TEXTO 1

Uma ideia perigosa

Por Hélio Schwartsman1 em 02/06/2011

Quanto mais leio sobre neurociência, mais me aproximo da perigosa ideia de que a Justiça é uma impossibilidade teórica.

1 Hélio Schwartsman, 44, é articulista da Folha. Bacharel em filosofia, publicou "Aquilae Titicans - O Segredo de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão" em 2001. Escreve para a Folha Online às quintas.

Page 20: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

20

Comecemos abordando um caso que estampou o noticiário das últimas semanas. Falo da famosa marcha da maconha, vetada pelo Judiciário em várias cidades do Brasil. Só em São Paulo isso aconteceu duas vezes em menos de um mês.

A pergunta que não quer calar é: juízes podem ou não proibir a realização de marchas da maconha? A resposta, leitor, depende da sua coloração ideológica, mais especificamente dos trechos da legislação que seu cérebro está disposto a valorizar e quais prefere ignorar.

Os magistrados que optaram por banir o evento se apoiaram no parágrafo 2º do artigo 33 da lei nº 11.343/06, que veda "induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga".

Isso significa que fecharam os olhos para o inciso XVI do artigo 5º da Constituição, que reza: "Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente".

Fizeram ainda vistas grossas ao inciso IV do mesmo artigo, que determina a plena liberdade de manifestação do pensamento, vedando apenas o anonimato. Este mandamento é reforçado pelo artigo 220.

É claro que não existem direitos absolutos, mas os liberais temos um argumento forte aqui ao lembrar que, pelo menos em teoria, normas previstas na Carta prevalecem sobre a legislação infraconstitucional.

Mais do que isso, os defensores da marcha podem arrazoar que os juízes não apenas desconheceram a Constituição como ainda ignoraram a diferença semântica elementar entre instigar à prática de um delito e defender uma mudança nas normas para que o que até então era considerado crime deixe de sê-lo --o propósito declarado da manifestação.

Os magistrados, é claro, podem contra-argumentar afirmando que um ato público pela legalização da maconha acabaria incorrendo em atos de louvor à erva. É possível e até provável, mas, no momento da decisão, isso não era mais do que um exercício de clarividência. Pelo menos sob a ótica liberal, parece pouco para proibir previamente uma manifestação, que, nos termos do mais sagrado dos artigos da Carta, o 5º, prescinde até de autorização.

Se a preocupação é essa, faria mais sentido determinar alguma vigilância, com vistas a punir "a posteriori" quem tivesse extrapolado.

Deixemos, porém, a barafunda jurídica para o Supremo Tribunal Federal que, mais dia menos dia, julgará o caso e nos concentremos na psicologia por trás dos pensamentos conservador e liberal.

Peço agora licença para descrever uma experiência curiosa e elucidativa. O psicólogo Richard Wiseman, da Universidade de Hertfordshire, resolveu espalhar 240 carteiras pelas ruas de Edimburgo. Elas não continham dinheiro, apenas documentos de identidade, cartões de fidelidade, bilhetes de rifa e fotografias pessoais. A única variação eram as fotos. Algumas das carteiras não tinham foto nenhuma (era o grupo controle) e

Page 21: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

21

outras traziam imagens que podiam ser de um casal de velhinhos, de uma família reunida, de um cachorrinho ou de um bebê.

A meta do experimento era descobrir se a fotografia afetaria a taxa de devolução das carteiras. Num mundo perfeitamente racional, a imagem seria irrelevante. Devolve-se o objeto perdido porque é a coisa certa a fazer. O trabalho de colocá-lo numa caixa de correio não é tão grande assim e é o que gostaríamos que os outros fizessem, caso fôssemos nós que tivéssemos perdido os documentos.

É claro, porém, que as fotografias influíram nos resultados. Foram devolvidas apenas 15% das carteiras sem foto, pouco mais de 25% das que traziam a imagem dos velhinhos, 48% das da família, 53% das do filhotinho e 88% das do bebê.

O experimento ilustra bem a forma como o cérebro opera. Embora tenhamos nos acostumado a pensar que tomamos decisões pesando os prós e contras de cada uma das alternativas possíveis e com base nisso extraindo uma conclusão, o que os estudos neurocientíficos mostram é que, na maioria das ocasiões, a parte inconsciente de nossas mente chega imediatamente a uma conclusão, mediada por sentimentos, palpites ou intuições. Em seguida a porção racional de nossos cérebros se põe a procurar e elaborar argumentos racionais (ou quase) para justificar essa conclusão. É muito mais uma conta de chegada do que um cálculo honesto.

Quem trabalha bem essa questão é o neurocientista Michael Gazzaniga. Ele localizou no hemisfério esquerdo uma série de estruturas que seriam responsáveis por dar sentido ao mundo. O pesquisador as chama de "intérprete do hemisfério esquerdo", mas um outro nome aceitável é "cérebro sabichão". É ele que busca desesperadamente dar um sentido unificado a todas as nossas experiências, memórias e fragmentos de informação. Ele nos faz deixar de ver as leis que não nos interessam e atribui enorme peso a tudo o que apoia sua tese. Quando a história não fecha, pior para a verossimilhança: o intérprete não hesita em criar desculpas esfarrapadas e explicações que beiram o "nonsense".

Quem resume bem a situação é Robert Wright, em "Animal Moral": "O cérebro é como um bom advogado: dado um conjunto de interesses a defender, ele se põe a convencer o mundo de sua correção lógica e moral, independentemente de ter qualquer uma das duas. Como um advogado, o cérebro humano quer vitória, não verdade; e, como um advogado, ele é muitas vezes mais admirável por sua habilidade do que por sua virtude".

Bem, se somos todos advogados de nossos sentimentos e intuições sobra alguém para julgar de forma isenta as discordâncias entre as pessoas? Se você enfatizar muito o "de forma isenta" a resposta é não. Somos todos prisioneiros de nosso psiquismo. Um juiz perfeitamente neutro e objetivo é impossível, como já apontavam os hegelianos e, principalmente, os marxistas.

Daí não decorre, porém, que não possamos selecionar entre melhores e piores candidatos a magistrado. Uma das mais notáveis características humanas, afinal, é a variedade de tipos psicológicos e de personalidade.

De acordo com Jonathan Haidt, da Universidade de Virgínia, é difícil mas não impossível ir contra nossas conclusões automáticas. As chances aumentam quando a pessoa tem boa capacidade analítica e, principalmente, intuições morais fracas a respeito do mundo. Em poucas palavras, se queremos um juiz que seja pelo menos capaz de ouvir adequadamente as duas partes em um processo, precisamos em primeiro lugar afastar os

Page 22: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

22

mais radicais, isto é, aqueles que têm uma opinião forte sobre as coisas. Mais do que um "esteio moral da sociedade" a escolha ideal é alguém que não seja totalmente seguro a respeito de suas próprias ideias. O risco aqui, é claro, é que a última parte a arguir sempre vença. Mas, como eu disse no início, o mundo não é um lugar perfeito, e a Justiça está muito perto de ser uma impossibilidade teórica.

Cuidado. Essa conclusão quase pessimista não implica que devamos abandonar por completo até mesmo a ideia de um sistema judicial. Como a democracia, ela é algo que funciona, ainda que não pelas razões que gostaríamos. O simples fato de transferirmos em comum acordo para um terceiro partido (o Estado) o poder de arbitrar disputas já é um poderoso freio a rixas que não raro descambam para a violência e impasses que desorganizam a sociedade.

Mesmo que as decisões sobre quem tem ou não razão num litígio fossem tomadas por sorteio e não com base em leis, isso já seria preferível a deixar que as partes resolvessem diretamente a contenda. E, no fundo, talvez seja exatamente isso. Como mostram as dissonantes decisões sobre a marcha da maconha Brasil afora, o que acaba determinando se ela pode ou não acontecer, muito mais do que as leis e precedentes, é a definição do magistrado que vai julgar a causa. Se cai com um liberal, tudo bem; se é um conservador, liminar nela. É claro que o processo tende a ficar um bocadinho menos aleatório quando se avança na hierarquia judiciária e aparecem os acórdãos e as súmulas. De toda maneira, não parece um exagero afirmar que, diante da capacidade das pessoas para extrair sua interpretação favorita de não importa qual corpo de texto escrito, leis são bem menos relevantes do que parecem à primeira vista.

Retirado de http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/. Acesso em 2 de agosto de 2011.

TEXTO 2

Escritório de advocacia também precisa de estratégia

Por Valdivo Begali2 em 27/01/2011

Um escritório de advocacia é um organismo vivo que precisa de avaliações periódicas, como o corpo humano. Essa necessidade decorre do ambiente cambiante, marcado por

2 Valdivo Begali é consultor em gestão empresarial há dez anos, mestre em Administração, com especialização em Planejamento Estratégico nas Universidades Columbia e Michigan State. É autor do livro Trabalho de Equipe — Como Revolucionar Sua Empresa.

Page 23: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

23

mudanças na legislação que criam e fecham oportunidades, crescimento da carteira de clientes, entrada de novos sócios, sucessões, adoção de novas áreas de atuação etc.

Um escritório não é diferente de uma empresa que está inserida num ambiente competitivo, no qual é a estratégia que determina os ganhadores e os perdedores. Vale a pena citar a definição de Hitt: ―estratégia é um conjunto integrado e coordenado de compromissos e ações, cujo objetivo é explorar as competências essenciais e alcançar uma vantagem competitiva para a empresa‖.

Se analisarmos a trajetória dos escritórios de tradição, veremos que tiveram líderes com visão clara do futuro, que adotaram valores que deram coesão às suas equipes e souberam ser eficientes em segmentos de mercado atraentes. Os anseios desses líderes foram o embrião de uma gestão profissional, que tornou possível a identificação dos obstáculos a vencer para que a visão concebida fosse construída. Constataremos, também, que o processo exigiu método e disciplina.

No coração da estratégia está a previsão de negócios que falecerão e outros, promissores, que nascerão. Por exemplo, há advogados preocupados com a possível diminuição de oportunidades que os novos Códigos de Processo Civil e Penal trarão. Provavelmente eles estão corretos, pois é exigência inadiável da sociedade que a protelação na Justiça seja diminuída.

Mas há, por outro lado, mudanças na legislação que criam oportunidades, como fizeram as leis que regulamentaram os negócios — telecomunicações, exploração das riquezas minerais, sistema financeiro, parcerias público-privadas, transporte, micro e pequena empresas, entre muitas outras — e aquelas para proteger o consumidor, ambiente, menor e adolescente, e muitas outras, que criaram oportunidades que não existiam no passado recente.

A mudança na legislação, sozinha, justifica que os escritórios passem por uma reflexão estratégica de tempos em tempos, de forma proativa.

É necessário atentar que as oportunidades não são criadas apenas pela legislação. O ambiente muda. No nordeste brasileiro, o coeficiente GINI, que mede a distribuição de renda, melhorou 8% apenas nos últimos dez anos, caindo de 0.605 (1999) para 0.558 (2009). Mais renda significa mais consumo, mais emprego, mais produção, mais logística, mais comércio e, como consequência, aumento de relações sociais e, inevitavelmente, de desavenças.

Outras oportunidades são criadas porque as pessoas mudam suas escolhas, como os lugares onde elas querem viver. Enquanto a população do Brasil cresceu 12,3% na última década, segundo o Censo de 2010, do IBGE, as seguintes cidades que já têm mais de 150 mil habitantes cresceram espantosos 40% ou mais nos últimos 10 anos: Camaçari (BA), Lauro de Freitas (BA), Parnamirim (RN), Marabá (PA), Palmas (TO), Macaé (RJ), Águas Lindas de Goiás (GO) e Rio Verde (GO).

Esses números surpreendem a maioria de paulistas, cariocas, mineiros e gaúchos e são muito valiosos para os escritórios que queiram prever onde vão crescer mais aceleradamente as querelas envolvendo a família, comércio, indústria, governo e as consequentes necessidades jurídicas, em volume inédito.

Page 24: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

24

Agora falando das oportunidades no campo das pessoas jurídicas. Recentemente um veículo econômico listou as empresas do middle market que têm potencial para serem novatas na bolsa, abrindo seu capital. O número das que faturam mais de R$ 100 milhões por ano supera 600. Impressiona também a desconcentração que está em processo: das 100 maiores do middle market, apenas 19 são da cidade de São Paulo e 18 do interior do estado de São Paulo, e todas as demais, 63, são de fora do estado de São Paulo. Nessa lista há cidades como Mandaguari (PR, sede da Romagnole, faturamento de R$ 230 milhões), Caçador (SC, sede da Adami, com R$ 227 milhões), Candeias (BA, sede da Tequimar, com 226 milhões) e dezenas de outros nomes cujos números impressionam. Essas cidades são imãs magnéticos, que atraem negócios que exigem relações sociais ordenadas e formas legais de resolver desentendimentos.

As oportunidades são muitas para uma reflexão estratégica. O escritório de advocacia vencedor será aquele que identificar antes dos concorrentes os mercados atraentes e se posicionar neles com eficiência, parafraseando Hitt, com um conjunto integrado e coordenado de compromissos e ações, explorando vantajosamente suas competências essenciais.

Retirado de http://www.conjur.com.br. Acesso em 12 de fevereiro de 2011.

TEXTO 3

Políticos não conhecem as causas da delinquência

Por Luiz Flávio Gomes3 em 03/02/2011

3 Luiz Flávio Gomes é doutor em Direito penal pela Universidade Complutense de Madri e mestre em Direito Penal pela USP. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), juiz de Direito (1983 a 1998) e advogado (1999 a 2001). É autor do Blog do Professor Luiz Flávio Gomes.

Page 25: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

25

"A violência implica uma autopurificação completa, tanto quanto seja humanamente possível, do homem para o homem." (Gandhi)

Está cada vez mais evidente, especialmente na América Latina e no Brasil, que a resposta dada pelos políticos (legisladores e gestores públicos) ao fato da delinquência, sobretudo a urbana, não está dirigida a ele, mas, sim, à projeção midiática construída a partir dele. Atua-se em torno da realidade projetada, não diretamente sobre ela. E essa realidade projetada está submetida, com frequência, à subinformação (informação cortada) ou à desinformação (informação falsa).[1]

Os políticos e a mídia não questionam as causas profundas da criminalidade, não apresentam (nem discutem) planos voltados para a sua prevenção, as variáveis prováveis de cada tipo de delito, a insegurança objetiva e subjetiva etc. Claro que, na atualidade, as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) no Rio de Janeiro constituem uma exceção. Mas são ainda uma experiência muito recente para que delas possamos extrair conclusões definitivas.

Os políticos (legisladores e gestores públicos), como bem enfatiza Zaffaroni,[2] ―pressionados pela projeção midiática, respondem discursivamente e condicionam a ela (projeção) a resposta ao próprio fato, a ponto de omitir-se em relação a ele (fato). Não existem observatórios, estatísticas sérias e orientadas para a prevenção, ninguém se ocupa em investigar com visão preventiva o fato da delinquência urbana em si mesmo, enquanto os comunicadores sociais e os políticos se concentram na projeção midiática do fato e operam com algumas estatísticas pouco confiáveis e bastante inúteis para efeitos preventivos. Enfrenta-se a construção da realidade, e não a realidade, da qual, ao que parece, ninguém procura se aproximar‖.

A prova mais evidente de que tais políticos (legisladores e gestores públicos) não estão muito preocupados com o fato e, sim, com a projeção do fato, consiste na penúria dos orçamentos públicos para o estudo das causas do delito (frequência, dinâmica, modalidades de atuação, programas de prevenção vitimaria, situações de risco, grupos de risco, programas educativos dirigidos a esses grupos de risco etc.).

A mídia, a opinião pública e os políticos sabem reagir emotivamente ao fato da delinquência, mas não o conhece. Aliás, nem conhecem nem procuram conhecer. Se para prevenir o delito é fundamental conhecê-lo, quem não o conhece não tem a mínima condição de estabelecer qualquer tipo de política preventiva. Tudo o que a mídia e os políticos podem oferecer, destarte, é um placebo (um calmante sem efetividade para as iras e clamores da opinião pública). Se nada sabem sobre as causas do problema, não podem nunca solucionar o problema. Quem não conhece as causas de uma doença não pode nunca curá-la. O legislador brasileiro tem produzido muita legislação placebenta. Por quê?

Porque as causas do delito continuam sendo ignoradas. Delas quem cuida é o cientista criminal (o criminólogo), que bem sabe, no entanto, das limitações do poder político para solucionar o problema, que não é só dos réus, das vítimas e do Estado, senão também (e, sobretudo) da sociedade, que sabe reagir passionalmente ao delito, clamar por mais rigor penal, mas ainda não descobriu o seu verdadeiro papel na prevenção dele.

É preciso reconhecer duas coisas: (a) a perda de poder dos Estados nacionais na era da globalização e (b) o mau gerenciamento do dinheiro público, que muitas vezes é desviado das finalidades mais nobres da república.

Page 26: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

26

Os políticos, mesmo os que conseguem fugir do leito de Procusto[3] imposto pela mídia e pela opinião pública (populista), sabem dos seus limites para implantar políticas públicas que implicam reformas estruturais que resolvam os problemas sociais mais graves (muito ligados à violência urbana). Diante dessa impossibilidade (real ou aparente) acabam optando por medidas puramente ou quase que totalmente simbólicas (ou seja: placebentas, porque de efetividade bastante duvidosa).

Uma dessas medidas ilusionistas consiste, para atender o clamor midiático e popular, no persistente endurecimento do rigor penal, como se isso fosse solução para o problema criminal. Endurecem a lei penal e, ao mesmo tempo, 86 mil inquéritos policiais, instaurados até 2007, para apuração de homicídios, acham-se praticamente parados, sem descobrir a autoria e as circunstâncias dessas mortes violentas (blogdolfg.com.br)

[1] Cf. SARTORI, Giovanni, Homo Videns – La sociedad teledirigida, Madrid: Santillana, 2008, p. 84. [2] Cf. ZAFFARONI, Eugénio Raul, Delinqüência urbana e vitimização das vítimas, em Depois do grande encarceramento, organizadores Pedro Abramovay e Vera Batista, Rio de Janeiro: Revan, 2010, p. 39. [3] Procusto, conta a lenda, dizia para todos aqueles que pediam para dormir em sua cama o seguinte: se seus pés forem maiores que minha cama vou cortá-los; se forem menores, vou espichá-los. O visitante tinha que se encaixar no seu leito sem faltar nem sobrar.

Retirado de http://www.conjur.com.br. Acesso em 12 de fevereiro de 2011.

UNIDADE II – REDAÇÃO TÉCNICA

1) CONVOCAÇÃO Convocação é uma espécie de convite em que não há cunho social e sim, administrativo. Exemplo:

ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA

CONVOCAÇÃO Convocamos os Srs. Acionistas a participarem da ASSEMBLÉIA GERAL EXTRAORDINÁRIA que será realizada em 26 de janeiro de

Page 27: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

27

2002, às 15 horas, na sede social da empresa, na Av. Copacabana, 567, C01, nesta cidade, a fim de deliberarem sobre os seguintes assuntos: a) Alteração do artigo 12 do Estatuto Social, para a reestruturação dos cargos do Conselho de Administração; b) Fixação da nova remuneração dos membros do Conselho. São Paulo, 4 de janeiro de 2002. Álvaro de Sá

Presidente do Conselho de Administração

Correspondência Oficial Agora, iremos estudar a padronização vigente desde 1992 do ofício (corres-pondência externa) dos órgãos públicos. UNIFORMIZAÇÃO DA CORRESPONDÊNCIA OFICIAL No serviço público não se podia, até pouco tempo atrás, falar em unidade nos padrões de correspondências relacionadas aos atos administrativos oficiais. No entanto, em 1991, foi criada pela Presidência da República uma comissão para uniformizar e simplificar as normas de redação de atos e comunicações oficiais. A partir do trabalho dessa comissão, foi elaborado, em 1992, o Manual de Redação da Presidência da República, com a finalidade de racionalizar e padronizar a redação das comunicações oficiais. Desse estudo, resultou a Instrução Normativa n. 4, de 6 de março de 1992, que visa consolidar tais normas e torná-las obrigatórias no âmbito federal.

2) O OFÍCIO O ofício é uma forma de correspondência oficial trocada entre chefes ou dirigentes de hierarquia equivalente ou enviada a alguém de hierarquia superior à daquele que assina. Ele é empregado na comunicação de assuntos oficiais pelos órgãos da administração pública entre si e com órgãos particulares e sua finalidade é informar com o máximo de clareza e precisão, utilizando-se o padrão culto da língua. Como ele circula entre agentes públicos ou entre um agente público e um parti-cular, sua linguagem deve ser formal sem ser rebuscada, pois "as comunicações que partem dos órgãos públicos federais devem ser compreendidas por todo e qualquer cidadão brasileiro" (BRASIL, 2002, p. 5). Veja, a seguir, um modelo de ofício.

Page 28: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

28

Observação: quando o ofício tiver mais de uma página, como este, a continuação se dará na página seguinte, com o fecho e a assinatura. O destinatário e o endereçamento ficam sempre na primeira página. Veja como ficaria a continuação do ofício:

Page 29: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

29

3) PROCURAÇÃO A procuração é um documento pelo qual uma pessoa autoriza outra a tratar de um assunto ou a agir em seu nome. Ela só terá validade legal se a assinatura vier com firma reconhecida. Exemplo de textos que qualquer procuração particular:

PROCURAÇÃO

[Abertura]

[Texto]

(nome) ................................, (nacionalidade) ...... (est. civil) ......... (profissão) ..............., residente na ............................... (cidade)............................ (estado) ....... portador do RG n ................................ CPF n ................ presente instrumento de procuração constitui e nomeia seu bastante procurador (nome) ................... , (nacionalidade) ..... , (est. civil) ........ (profissão) ................................ residente na ............ (cidade) ............. (estado) ............................ , portador do RG n ........... CPF n ............... , para .. específico .................................................................................................................. ..............................................................................................................................

Page 30: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

30

[Fecho fixo]

....... podendo, para tanto, realizar todos os atos necessários para este fim. (cidade) ..................... , (dia)..... de (mês) .... de 20... (assinatura) ................................... .........................

firma reconhecida

4) REQUERIMENTO

Requerimento é um instrumento pelo qual se solicita algo a uma autoridade. Em muitos casos, ele traz a citação do amparo legal do pedido. E aconselhável deixar sete espaços entre o destinatário e o texto, onde será redi-gido o despacho. Os fechos do requerimento são hem específicos, por exemplo: Nestes Termos → N. T. Pede Deferimento → P. D. Espera Deferimento → E. D. Exemplos:

Senhor Diretor da Faculdade de Economia da UFRJ, Nair de Souza, aluna regularmente matriculada no segundo semestre de Economia desta Universidade, vem requerer o trancamento de sua matrícula, em virtude de problemas de saúde. N.T. P.D. Data Assinatura

Senhor Diretor da Faculdade de Economia da UFRJ, Eu, Nair de Souza, aluna regularmente matriculada no segundo semestre de Economia desta Universidade, venho requerer o trancamento de minha matrícula, em virtude de problemas de saúde. N.T. P.D. Data Assinatura

5) REGULAMENTO E ESTATUTO

Page 31: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

31

Redação: Regulamento Regulamento é um conjunto de regras ou normas estabelecidas como necessárias a uma organização; é um regimento em que se determina o modo de direção, funcionamento e outras exigências de uma empresa, associação ou entidade, ou de um concurso.

REGULAMENTO INTERNO DA GAIVOTA CELESTE & IRMÃOS LTDA.

1 - Do Regulamento e de sua aplicação 1.1 - A GAIVOTA CELESTE & IRMÃOS LTDA. institui o presente Regulamento Interno de Trabalho, que contém regras disciplinares que devem regular e orientar o desenvolvimento dos trabalhados de sua atividade comercial e conexas aos contratos de trabalho com seus empregados. 1.2 - Este Regulamento visa ao estabelecimento de uma forma única de disciplina interna, imprescindível ao desenvolvimento de um trabalho profícuo e satisfatório, além de ser elemento de equilíbrio social, benéfico a ambas as partes envolvidas no contrato de trabalho. 1.3 - Para a necessária compreensão e adaptação das regras contidas neste Regulamento, bem como para sua aplicação e cumprimento, a elas estão subordinados todos os que diretamente prestam serviços a esta empresa, podendo ser efetuadas alterações ou introduções por intermédio da Diretoria ou Gerência Administrativa, sem anuência dos empregados, mas com seu conhecimento. 2 - Admissão de funcionários. 2.1 - Nenhum candidato será admitido sem que antes tenha prestado o exame de aptidão profissional. 3 - Exames médicos. 3.1 - Todo e qualquer empregado da GAIVOTA CELESTE & IRMÃOS LTDA. deverá ser submetido, anualmente, a exame médico. 4 - Horário de trabalho 4.1 - O trabalho do empregado será realizado em horário e período que lhe forem determinados. Salvo por motivo de força maior, poderá a empresa prorrogar este horário, nos limites previstos na CLT. 5 - Ausência durante o expediente. 5.1 - Todo pedido para ausentar-se da empresa durante o expediente, para fins particulares, deverá ser feito por escrito, em impresso próprio, previamente autorizado pelo gerente do departamento a que pertencer o funcionário. Posteriormente ao regresso do funcionário, este impresso será remetido ao Departamento de Pessoal para anotação e arquivo. 6 - Prevenção e combate a incêndios. 6.1 - Considerando as consequências danosas de um incêndio, esta empresa punirá severamente todo e qualquer empregado cujas atitudes ponham em risco a vida das pessoas ou qualquer área da empresa. 6.2 - Todo empregado, qualquer que seja sua função, é responsável pela execução

Page 32: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

32

correta e segura de seu trabalho diário, não devendo expor ao perigo sua integridade física, nem a de seus companheiros de serviço, zelando pelos equipamentos e pelas máquinas que lhe forem confiados.

Estatuto Estatuto é um regulamento, que determina ou estabelece a norma. Lei orgânica ou regulamento especial de um Estado, associação, confraria, companhia, irmandade ou qualquer corpo coletivo em geral.

ESTATUTOS SOCIAIS ........ Assembleia Geral Estatutária de ________ de ________________de 20___. ........ Capítulo I - Denominação, Sede, Duração e Objeto. Art. 1° A _________________________, autorizada a funcionar pelo Decreto n° ______, de _____ de ___________ 19_____, reger-se-á pelos presentes Estatutos e pela legislação vigente. Art. 2° A companhia tem sede na cidade de São Paulo, Capital do Estado de São Paulo, podendo criar agências, sucursais e filiais em qualquer localidade do território nacional. Art. 3° A companhia tem por objeto a exploração das operações de seguros dos ramos Elementares de Vida e planos de Previdência Privada Aberta, nas modalidades de Pecúlio e Renda, conforme definidos na legislação em vigor. Art. 4° O prazo de duração da Companhia é indeterminado. ........ Capítulo II - Capital Art. 12. Compete à Diretoria exercer a representação e a administração dos negócios da Companhia, de acordo com as diretrizes gerais aprovadas pelo Conselho de Administração e sob seu controle e supervisão. § 1- A Diretoria reunir-se-á sempre que convocada pelo Diretor-presidente e sob sua Presidência, com a presença de metade, pelo menos, de seus membros. As deliberações serão tomadas por maioria dos Diretores presentes, cabendo ao Diretor-presidente, além

de seu voto individual, o voto de desempate.

EXERCÍCIOS 1. Tendo em mente as correspondências oficiais, assinale a opção incorreta. A) Não somente entre órgãos públicos ou dentro deles circulam comunicações oficiais, mas entre órgãos públicos e cidadãos comuns. B) No envelope o destinatário é corretamente indicado assim: A Sua Excelência a Senhora Secretária de Educação Eurides Brito Palácio do Buriti 70.000-000 — Brasília.DF C) Em ofícios, o destinatário deve ser repetido em cada folha, quando houver várias.

Page 33: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

33

D) Recomenda-se não deixar a assinatura em página isolada. Deve-se transferir para essa página ao menos a última frase anterior ao fecho. E) Os fechos em uso reduzem-se a dois: Respeitosamente, dirigido a autoridades superiores na hierarquia; e Atenciosamente, dirigido às de mesma hierarquia ou a inferiores. 2.Segundo as orientações estabelecidas pelo Manual de Redação da Presidência da República, documento que rege a redação oficial do Poder Executivo, é incorreto afirmar que: A) por seu caráter impessoal, os textos oficiais requerem o uso do padrão culto da língua; B) não há propriamente um ―padrão oficial de linguagem‖, e sim o uso do padrão culto nos atos e comunicações oficiais; C) o padrão culto, para fugir da pobreza da linguagem, possibilita o uso de figuras de linguagem próprias da língua literária; D) o jargão burocrático deve ser evitado por ter sua compreensão limitada; E) o uso do padrão culto na redação oficial decorre do fato de que ele está acima das diferenças lexicais, morfológicas ou sintáticas regionais. 3. Assinale a opção incorreta a respeito de correspondência oficial. a) O resumo do assunto, na correspondência oficial,é chamado de ementa. b) Se a forma de tratamento do destinatário da correspondência for Vossa Excelência ou Vossa Senhoria, por força da concordância exigida para os pronomes pessoais que a ele se referem, não se pode usar vosso e suas flexões. c) Introduzir um ofício usando frases como Viemos, por intermédio do presente, acusar recebimento da petição e levar ao conhecimento de V. Sa. que ... é sinal de elegância, concisão, correção linguística e respeito. d) Denomina-se circular o instrumento de comunicação que se envia a vários destinatários simultaneamente, com vistas à transmissão de instruções, ordens, esclarecimento de conteúdo de leis, regulamentos etc. e) Os fechos Atenciosamente e Respeitosamente são adequados para um ofício. 4. Observe o texto a seguir. Brasília, 1.º de junho de 2003. Para a Coordenação de Concursos do CESPE/UnB, Requerimento: JOSÉ DA SILVA DOS SANTOS REIS, devidamente inscrito no concurso para TÉCNICO JUDICIÁRIO do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, com a inscrição n.º 197.542/03, VENHO, POR DIREITO E MUI RESPEITOSAMENTE, solicitar a Vocês a emissão de uma certidão de comparecimento nesta prova realizada nesta data supracitada, uma vez que hoje estou trabalhando em turnos e preciso comprovar meu afastamento do serviço no período da tarde, para realizar o referido exame. Nesses termos, peço aceitação do meu pedido e AGUARDO DEFERIMENTO. Atenciosamente, José da Silva dos Santos Reis. Com respeito ao texto acima, assinale a opção correta. a) O lugar correto para a colocação da data é à esquerda, e não à direita, como se encontra no documento. b) O tipo de documento adequado para tal finalidade não é o requerimento e, sim, o ofício. c) Em vez do pronome de tratamento ―Vocês‖, o redator deveria ter empregado Vossas Excelências. d) O candidato deveria ter solicitado uma declaração, e não uma certidão. e) O fechamento ―Atenciosamente‖ deveria constar antes do pedido de deferimento.

Page 34: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

34

UNIDADE III – PARALELISMO SINTÁTICO

É um encadeamento de funções sintáticas idênticas ou um encadeamento de orações de valores sintáticos iguais. Orações que se apresentam com a mesma estrutura sintática externa, ao ligarem-se umas às outras em processo no qual não se permite estabelecer maior relevância de uma sobre a outra, criam um processo de ligação por coordenação. Diz-se que estão formando um paralelismo sintático.

Segundo GARCIA (1985:28), ―o paralelismo não constitui uma norma rígida; nem sempre é, pode ou deve ser levado à risca, pois a índole e as tradições da língua impõem ou justificam outros padrões. Trata-se, portanto, de uma diretriz, mas diretriz extremamentente eficaz, que muitas vezes saneia a frase, evitando construções incorretas ou inadequadas.‖

Veja o exemplo:

"Amantes dos antigos bolachões penam não só para encontrar os discos, que

ficam a cada dia mais raros, mas/como também para trocar a agulha ou levar o toca-discos para o conserto"

Compare agora com uma construção sem paralelismo:

"Amantes dos antigos bolachões penam não só para encontrar os discos, que ficam a cada dia mais raros. A dificuldade aparece também na hora de trocar a agulha, ou de levar o toca-discos para o conserto."

Observe outro exemplo:

Pedida a prisão de petista e de empresário. (são duas pessoas distintas). Errada: Pedida a prisão de petista e empresário. Lula e Dantas têm duas semanas para

recorrer.

EXERCÍCIOS

1) Nas frases abaixo há erros de paralelismo sintático, reescreva-as de acordo com as regras da norma culta:

a) Os ministros negaram estar o governo atacando a Assembleia e que ele tem feito tudo para prolongar a votação do projeto.

b) O presidente sentia-se acuado pelas constantes denúncias de corrupção em seu governo e o crescimento na Constituinte da pressão em favor da fixação de seu mandato em quatro anos.

Page 35: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

35

c) Quando o ditador morreu, seu porta-voz conseguir transformar-se no comandante das Forças de Defesa e que era o homem forte do país.

d) Não, não se trata de defender mais intervenção do Estado na economia ou que o Estado volte a produzir aço…

e) Ele não só trabalha mas também é estudante.

f) Trata-se de um argumento forte e que pode encerrar o debate.

g) Tal método não ocupa a tela de modo escancarado, mas por meio de acúmulo de imagens.

h) Funcionários cogitam nova greve e isolar o governador. i) Ele hesitava entre ir ao cinema ou ir ao teatro. j) Eu gosto de açaí, mamão e melão.

2) No trecho ―Insulado deste modo no país, que não o conhece, em luta aberta com o meio, que lhe parece haver estampado na organização e no temperamento a sua rudeza extraordinária, nômade ou mal fixo à terra…‖ observa-se perfeito paralelismo sintático? Sim ou não?

3) ―Não, não se trata de defender mais intervenção do Estado na economia ou que o Estado volte a produzir aço...‖ a) O texto acima fere o princípio do paralelismo sintático, segundo o qual quaisquer elementos da frase coordenados entre si devem apresentar estrutura gramatical similar. O que ocasionou a falta de paralelismo no texto citado? b) Reescreva o texto de modo a estabelecer o paralelismo sintático. 4) ―Gastei trinta dias para ir do Rocio Grande ao coração de Marcela, não já cavalgando o corcel do cego desejo, mas o asno da paciência, a um tempo manhoso e teimoso.‖ Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis A respeito da sentença ―Gastei trinta dias para ir do Rocio Grande ao coração de Marcela‖, é correto afirmar: a) A quebra de paralelismo semântico na coordenação entre ―do Rocio Grande ao coração de Marcela‖ apresenta-se como um interessante recurso de estilo, normalmente classificado como ironia. b) A quebra de paralelismo sintático na coordenação entre ―do Rocio Grande ao coração de Marcela‖ apresenta-se como um interessante recurso de estilo;

Page 36: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

36

c) A quebra de paralelismo sintático na coordenação entre ―trinta dias‖ e ―do Rocio Grande‖ caracteriza um recurso de estilo; d) A quebra de paralelismo semântico na referida sentença reside na coordenação entre ―trinta dias‖ e ―do Rocio‖. e) A quebra de paralelismo sintático na referida sentença evidencia a ambiguidade. 5) ―Tal método não ocupa a tela de modo escancarado, mas por meio do acúmulo de imagens‖. a) O que ocasionou a perda do paralelismo sintático na frase acima? b) Reescreva a frase de modo a estabelecer o paralelismo sintático e justifique a correção.

Page 37: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

37

UNIDADE IV– INTERTEXTUALIDADE E POLIFONIA

Intertextualidade pode ser definida como um diálogo entre dois textos. Observe os dois textos abaixo e note como Murilo Mendes (século XX) faz referência ao texto de Gonçalves Dias (século XIX):

Canção do Exílio

"Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar — sozinho, à noite — Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu‘inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá." Gonçalves Dias

Canção do Exílio

Minha terra tem macieiras da Califórnia onde cantam gaturamos de Veneza. Os poetas da minha terra são pretos que vivem em torres de ametista, os sargentos do exército são monistas, cubistas, os filósofos são polacos vendendo a prestações. gente não pode dormir com os oradores e os pernilongos. Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda Eu morro sufocado em terra estrangeira. Nossas flores são mais bonitas nossas frutas mais gostosas mas custam cem mil réis a dúzia. Ai quem me dera chupar uma carambola de [ verdade e ouvir um sabiá com certidão de idade!

Murilo Mendes

Nota-se que há correspondência entre os dois textos. A paródia-piadista de Murilo Mendes é um exemplo de intertextualidade, uma vez que seu texto foi criado tomando como ponto de partida o texto de Gonçalves Dias.

Na literatura, e até mesmo nas artes, a intertextualidade é persistente. Sabemos que todo texto, seja ele literário ou não, é oriundo de outro, seja direta ou indiretamente. Qualquer texto que se refere a assuntos abordados em outros textos são exemplos de intertextualização.

Page 38: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

38

A intertextualidade está presente também em outras áreas, como na pintura, veja as várias versões da famosa pintura de Leonardo da Vinci, Mona Lisa:

Mona Lisa, Leonardo da Vinci. Óleo sobre tela, 1503. Mona Lisa, de Marcel Duchamp, 1919.

Mona Lisa, Fernando Botero, 1978. Mona Lisa, propaganda publicitária.

Page 39: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

39

1. FORMAS DE INTERTEXTUALIDADE: EXPLÍCITA E IMPLÍCITA

1.1 TIPOS DE INTERTEXTUALIDADE EXPLÍCITA

Pode-se destacar os tipos de intertextualidade:

Epígrafe - constitui uma escrita introdutória à outra.

Ex: CAPÍTULO I

ABORDAGEM TEXTUAL DE AGOSTO: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

Eu me interesso pela linguagem porque ela me fere ou me seduz. (Barthes, 2004, p.47)

Citação - é uma transcrição do texto alheio, marcada por aspas.

Ex: Assim, segundo Iser:

As ações dos personagens ficcionais importam enquanto representam possibilidades de relacionamento. Neste caso, a ficção não é apenas realização de um relacionamento, mas também representação de relacionamentos ou comunicação sobre relacionamentos. Se o relacionamento, nesta forma, chegar até à autoapresentação, mostrará também a amplidão do leque de diferentes relacionabilidades dos elementos entre si articulados e mostrará em que medida os elementos articulados na rede de relação podem mudar, conforme os modos de relacionamento. (2002, p.967)

Paráfrase - é a reprodução do texto do outro com a palavra do autor. Ela não se confunde com o plágio, pois o autor deixa claro sua intenção e a fonte.

Ex: PARÁFRASE* DE PRIMEIRA AOS CORÍNTIOS 13

Ainda que eu fosse um exímio poliglota, a ponto de falar as quase seis mil línguas existentes no mundo, se não tivesse amor, a minha inteligência seria tão útil quanto o esterco... Ainda que eu fosse o mais renomado dos cientistas; e mesmo que descobrisse uma fórmula mágica para aniquilar todas as moléstias do mundo, se não tivesse amor, seria o mais desprezível dos homens... Ainda que pudesse realizar grandes sinais e prodígios; e mesmo que conhecesse o passado e o futuro, se não tivesse amor, viveria na mais ínfima das ilusões... Ainda que eu fizesse o mais espetacular sacrifício em prol da humanidade; e

Page 40: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

40

mesmo que desse a minha própria vida para benefício dos homens, se não tivesse amor, todas as minhas obras não passariam de uma inútil luta contra o vento... O amor conta até dez antes de irar-se com o próximo; o amor nunca vê o irmão como concorrente; amor faz com que o esposo não sinta ciúmes ainda que sua mulher passe pelo meio de um batalhão de galãs; o amor não usa sapato alto, nem vive no pedestal do orgulho; o amor deseja tanto para os outros o quanto quer para si; o amor nunca retribui na mesma medida a quem nos faz o mal; o amor não ri do mendigo que perambula pelas ruas e viadutos das cidades; o amor prefere a verdade doída a uma mentira prazerosa... O amor é o único sentimento que nos acompanhará até à eternidade... Profecia, língua, ciência, poder, unção, barulho, curas, maravilhas, sinais, prodígios, sabedoria menos amor é igual a zero; tudo desaparecerá, menos o amor... Reine, pois, o amor acima de tudo.

Jaime Nunes Mendes

Paródia - é uma forma de apropriação que, em lugar de endossar o modelo retomado, rompe com ele, sutil ou abertamente. Ela perverte o texto anterior, visando à ironia,ou à crítica.

Ex: "*Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá." (Canção do exílio - Gonçalves Dias)

Agora, observe a paródia de Oswald de Andrade:

"Minha terra tem palmares onde gorjeia o mar Os passarinhos daqui Não cantam como os de lá"

Reparem que "palmares", na verdade trata-se do Quilombo dos Palmares, ou seja, a expressão do nacionalismo crítico do movimento modernista.

Pastiche - uma recorrência a um gênero.

Ex: Texto-Base: Carreira Hereditária

BOM XI BOM XI BOMBOMBOM...! BOM XI BOM XI BOMBOMBOM...! BOM XI BOM XI BOMBOMBOM...! ANALISANDO ESSA CARREIRA HEREDITÁRIA QUERO ME LIVRAR DESSA SITUAÇÃO PRECÁRIA

Page 41: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

41

(REPETE) ONDE O RICO CADA VEZ FICA MAIS RICO E O POBRE CADA VEZ MAIS POBRE E O MOTIVO TODO MUNDO JÁ CONHECE É QUE O "DE CIMA" SOBE E O "DE BAIXO" DESCE...

Texto-Base: Carreira Estagiária Luciana da Silva Rocha

BOM XI BOM XI BOMBOMBOM...! BOM XI BOM XI BOMBOMBOM...! BOM XI BOM XI BOMBOMBOM...! ANALISANDO MINHA CARREIRA ESTAGIÁRIA QUERO ME LIVRA DESSA SITUAÇÃO PRIMÁRIA... ONDE O EFETIVO CADA VEZ FICA MAIS RICO E O ESTAGIÁRIO CADA VEZ É MAIS OTÁRIO E O MOTIVO TODO MUNDO JÁ CONHECE... O EFETIVO SOBE, O ESTAGIÁRIO DESCE. BOM XI BOM XI BOMBOMBOM...! BOM XI BOM XI BOMBOMBOM...! BOM XI BOM XI BOMBOMBOM...! MAS EU SÓ QUERO É COMPRAR MEUS LIVROS, PAGAR A MINHA MENSALIDADE COM MUITA DIGNIDADE, EU QUERO VIVER BEM, TERMINAR DE ESTUDAR, MAS A GRANA QUE EU GANHO NÃO DÁ NEM PARA CONTAR... E O MOTIVO TODO MUNDO JÁ CONHECE...

1.2 INTERTEXTUALIDADE IMPLÍCITA

Quando uma articulista de jornal escreve sobre a importância dos direitos huma-nos na atualidade, suas ideias fazem parte de um discurso ideológico, portanto, com certeza, seu texto mantém diálogo implícito (ou explícito) com a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU e outros documentos.

Na Literatura, a intertextualidade é uma constante, porque cada estilo de época se opõe ao anterior e retoma parte da estética passada. Exemplos: o Classicismo retomou a

Page 42: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

42

Antiguidade Clássica, assim fez também o Arcadismo e o Parnasianismo. O Realismo combatia os excessos do Romantismo, já este contrariava o formalismo dos clássicos.

O soneto de Antero de Quental é uma evidência de como uma corrente literária se contrapõe à outra. ―Mais Luz‖ é uma crítica explícita aos poetas românticos:

Mais luz!

Antero de Quental

Amem a noite os magros crapulosos,

E os que sonham com virgens impossíveis,

E os que se inclinam, mudos e impassíveis,

À borda dos abismos silenciosos...

Tu, Lua, com teus raios vaporosos,

Cobre-os, tapa-os e torna-os insensíveis,

Tanto aos vícios cruéis e inextinguíveis

Como aos longos cuidados dolorosos!

Eu amarei a santa madrugada,

E o meio-dia, em vida refervendo,

E a tarde rumorosa e repousada.

Viva e trabalhe em plena luz: depois,

Seja-me dado ainda ver, morrendo,

O claro Sol, amigo dos heróis!

Nesse caudal de retomada e oposição, acontece a intertextualidade que forma a história da literatura de uma nação. João Cabral de Melo Neto tem um poema que ilustra muito bem esse fenômeno com a metáfora do cantar dos galos:

Tecendo a manhã

João Cabral de Melo Neto

Um galo sozinho não tece uma manhã:

ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele

Page 43: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

43

e o lance a outro; de um outro galo

que apanhe o grito que um galo antes

e o lance a outro; e de outros galos

que com muitos outros galos se cruzem

os fios de sol de seus gritos de galo,

para que a manhã, desde uma teia tênue,

se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,

se erguendo tenda, onde entrem todos,

se entretendendo para todos, no toldo

(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, todo de um tecido tão aéreo

que, tecido, se eleva por si: luz balão.

Quando se vê um (a) jovem tentando rabiscar um poema, espremendo os miolos para colocar no papel a sua subjetividade trabalhada em forma de palavras, qualquer escritor se encanta, pois é mais um que quer ser água no rio caudaloso da literatura. Camões, Machado de Assis sorriem porque com esse gesto não deixa a literatura morrer. Intertextualidade também é isso: os cantares de cada geração dialogando entre si.

Page 44: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

44

1.3 POLIFONIA

―O discurso é sempre heterogêneo no sentido de que acolhe, além do locutor, o

interlocutor e o outro (igual outro discurso e seu locutor/enunciador, ou seja, muitas vozes no seu interior). Esse fenômeno costuma ser estudado sob as noções de polifonia (Ducrot), heterogeneidade discursiva (Authier-Revuz), intertextualidade (Barthes, cf. Koch) etc. Por ora, já podemos transcrever Koch (1987: 142): ‗A noção de polifonia (...) pode ser definida como a incorporação que o locutor faz ao seu discurso de asserções atribuídas a outros enunciadores ou personagens discursivos – ao(s) interlocutores, a terceiros ou à opinião pública em geral.`‖

Exemplo:

SURF NEWS

SAQUA NO CIRCUITO MUNDIAL Governo estadual do Rio de Janeiro garante etapa brasileira do WCT Por Paulo Costa Jr.

Ícone do surf brasileiro, Saquarema agora terá a oportunidade de mostrar o

potencial de suas ondas para o mundo. Foi decidido na reunião de final de ano da ASP (Association of Surfing Professionals), entidade suprema do esporte, que a etapa brasileira do WCT 2002 será realizada, pela primeira vez, na cidadezinha localizada a 80 quilômetros ao norte da capital do Rio de Janeiro. A cidade maravilhosa deixará, depois de l5 anos sediando as etapas dos mundiais, de ser o palco do mais importante campeonato de surf realizado no Brasil.

O Rio Surf Internacional acontecerá entre os dias 23 e 29 de outubro e só foi confirmado graças ao governo do estado do Rio de Janeiro, que se comprometeu, através de uma carta, assinada e entregue à ASP, garantir a verba de premiação para o evento. No ano passado, por pouco o campeonato não aconteceu devido à demora da prefeitura do Rio de Janeiro - uma das patrocinadoras - em liberar o dinheiro destinado ao pagamento dos surfistas.

Decidido a manter o campeonato no estado e aparentemente tentando evitar um possível conflito com a prefeitura do Rio, o governo estadual e a organização do Rio Surf International tiveram que arrumar uma solução momentânea. "O surf é um patrimônio nacional. Prevaleceu o desejo de manter o evento dentro do estado do Rio, e Saquarema tem toda uma história ligada ao surf", disse o governador Anthony Garotinho sobre o evento, que no ano passado foi o que mais gerou retorno de mídia no mundo, segundo a própria ASP. Extraordinariamente, o Rio Surf International será realizado este ano no mês de outubro em virtude da Copa do Mundo de Futebol.

Segundo Leilane Barros, organizadora do evento, os surfistas se mostraram contentes com a entrada do pico no calendário do WCT. Mas a notícia da mudança foi recebida com cautela por alguns dos competidores. "Em Saquarema quebram altas ondas. Mas é difícil saber como vai ser a estréia do pico, ainda mais se não rolarem as ondas. A Barra (da Tijuca) não apresenta ondas tão boas como lá, mas na cidade do Rio de Janeiro existem muitas opções, já que agora o evento pode ser móvel. O ano passado foi um bom exemplo disso", comentou o Top 45 Fabinho Gouveia. Obs: Repare que nessa notícia aparecem muitas vozes.

Page 45: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

45

ANOTAÇÕES: ________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________ EXERCÍCIOS:

1) Analise os textos abaixo se levando em conta o conceito de intertextualidade:

Texto 1 - Filosofia

Page 46: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

46

Questão da objetividade

As Ciências Humanas invadem hoje todo o nosso espaço mental. Até parece que nossa cultura assinou um contrato com tais disciplinas, estipulando que lhes compete resolver tecnicamente boa parte dos conflitos gerados pela aceleração das atuais mudanças sociais. É em nome do conhecimento objetivo que elas se julgam no direito de explicar os fenômenos humanos e de propor soluções de ordem ética, política, ideológica ou simplesmente humanitária, sem se darem conta de que, fazendo isso, podem facilmente converter-se em "comodidades teóricas" para seus autores e em "comodidades práticas" para sua clientela. Também é em nome do rigor científico que tentam construir todo o seu campo teórico do fenômeno humano, mas através da ideia que gostariam de ter dele, visto terem renunciado aos seus apelos e às suas significações. O equívoco olhar de Narciso, fascinado por sua própria beleza, estaria substituído por um olhar frio, objetivo, escrupuloso, calculista e calculador: e as disciplinas humanas seriam científicas!

(Introdução às Ciências Humanas. Hilton Japiassu. São Paulo, Letras e Letras, 1994, pp.89/90)

Texto 2 - Crônica de Zuenir Ventura

Em vez das células, as cédulas

Nesses tempos de clonagem, recomenda-se assistir ao documentário Arquitetura da destruição, de Peter Cohen. A fantástica história de Dolly, a ovelha, parece saída do filme, que conta a ventura demente do nazismo, com seus sonhos de beleza e suas fantasias genéticas, seus experimentos de eugenia e purificação da raça.

Os cientistas são engraçados: bons para inventar e péssimos para prever. Primeiro, descobrem; depois se assustam com o risco da descoberta e aí então passam a gritar "cuidado, perigo". Fizeram isso com quase todos os inventos, inclusive com a fissão nuclear, espantando-se quando "o átomo para a paz" tornou-se uma

Page 47: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

47

mortífera arma de guerra. E estão fazendo o mesmo agora.

(...) Desde muito tempo se discute o quanto a ciência, ao procurar o bem, pode provocar involuntariamente o mal. O que a Arquitetura da destruição mostra é como a arte e a estética são capazes de fazer o mesmo, isto é, como a beleza pode servir à morte, à crueldade e à destruição.

Hitler julgava-se "o maior ator da Europa" e acreditava ser alguma coisa como um "tirano-artista" nietzschiano ou um "ditador de gênio" wagneriano. Para ele, "a vida era arte," e o mundo, uma grandiosa ópera da qual era diretor e protagonista.

O documentário mostra como os rituais coletivos, os grandes espetáculos de massa, as tochas acesas (...) tudo isso constituía um culto estético - ainda que redundante (...) E o pior - todo esse aparato era posto a serviço da perversa utopia de Hitler: a manipulação genética, a possibilidade de purificação racial e de eliminação das imperfeições, principalmente as físicas. Não importava que os mais ilustres exemplares nazistas, eles próprios, desmoralizassem o que pregavam em termos de eugenia.

O que importava é que as pessoas queriam acreditar na insensatez apesar dos insensatos, como ainda há quem continue acreditando. No Brasil, felizmente, Dolly provoca mais piada do que ameaça. Já se atribui isso ao fato de que a nossa arquitetura da destruição é a corrupção. Somos craques mesmo é em clonagem financeira. O que seriam nossos laranjas e fantasmas senão clones e replicantes virtuais? Aqui, em vez de células, estamos interessados é em manipular cédulas.

(Zuenir Ventura, JB, 1997)

2) Identifique a polifonia presente no texto abaixo:

A conhecida "indústria do recurso" trouxe ao Superior Tribunal de Justiça mais um caso inusitado.

Page 48: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

48

A Quarta Turma do ST J não conheceu, por unanimidade, do recurso especial do menor N.F.S.F., representado por sua mãe, J.N., que pedia a alteração de seu registro de nascimento. Ao julgar a questão, os ministros consideraram não haver "nobreza de princípio" na ação que pretendia retirar, do nome do menino, o sobrenome paterno.

A criança, hoje com oito anos, nasceu da união entre Jane e N.F.S, que durou apenas um ano e sete meses. O casal já se encontrava separado à época da nascimento do menor. A mãe alega que desde que o menino nasceu seu pai o visitou apenas duas vezes, "não dando mais notícias", nem mesmo cumprindo com sua indeclinável obrigação alimentar, o que a obrigou a entrar com uma ação na Justiça para que ele pagasse as pensões atrasadas. Daí o desejo materno de retirar do nome da criança e o sobrenome paterno, a fim de incluir, no sobrenome do filho, o nome de sua própria família. O nome da criança passaria a ser N.N.

O juiz de Ipauçu/SP, cidade onde vive a criança, não aceitou os argumentos para retificação do registro de nascimento, afirmando falta de justificativa para o pedido, uma vez que o nome dado ao menino não o expõe a qualquer tipo de constrangimento. O Ministério Público Federal também não conheceu do recurso, alegando que o "exercício do direito à alteração do nome é uma questão que exige a maioridade do requerente". De acordo com o voto do relator do processo, ministro César Asfor Rocha, a motivação da mãe "não é nobre, pois vem marcada por claro desejo de punição da mulher contra o ex-marido". Desse modo, não haveria necessidade de mudar, na Justiça, o nome do garoto. O ministro esclareceu que quando atingir a maioridade civil, aos 21 anos, "o menor poderá melhor avaliar as razões de fundo sentimental ou de continuidade hereditária para, querendo, requerer a alteração de seu nome".

Notícias do Superior Tribunal de Justiça - 08/06/00 07:06:02

3) Explique a polifonia presente nos slogans abaixo:

a)

Page 49: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

49

Slogan: ―Emocionante‖.

b)

Slogan: ―Nosso negócio é diversão.‖

c)

Page 50: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

50

Slogan: ―A aventura está no nosso sangue.‖

d)

Slogan: ―A gente conversa, a gente se entende.‖

UNIDADE IV – ANÁLISE DE TEXTOS

TEXTO 1

Page 51: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

51

Saber e sofrer

Marcia Tiburi4(Publicado em Vida Simples em 2008)

Dizer que o conhecimento faz sofrer tornou-se habitual. O sofrimento foi ligado à filosofia e à literatura a ponto de que não podemos imaginar um filósofo, ou alguém com cara de sábio em meio a livros, pulando carnaval ou curtindo uma piscina. Isso é um mito. Os filósofos e os escritores são ainda hoje constantemente vistos como pessoas que sofrem por conhecerem a alma humana em sua profundidade inacessível aos demais. Não quer dizer que conheçam a alma, nem que haja nela uma profundidade inacessível. Isto é apenas possível. É, sobretudo, uma crença compartilhada e, como tal, organiza nossa visão de muitas coisas. Nunca saberemos se os filósofos antigos eram todos sofredores, nem se conheciam a alma humana. Sabemos apenas que deixaram seu testemunho, no qual confiamos e com os quais devemos discutir hoje para entender o nosso tempo.

Muitos dos pensadores contribuíram com esta imagem tratando o sofrimento como seu objeto de estudos, como Schopenhauer no século XIX. Outros fizeram de seu próprio sofrimento o objeto de suas filosofias, como Pascal no século XVII. Todos tentaram entender a relação entre conhecimento e sofrimento. Dos antigos, Aristóteles, por exemplo, usou um termo de Hipócrates, a melancolia, para explicar a relação do saber com o sofrimento. Tanto para o filósofo, quanto para o médico, a melancolia era um temperamento que explicava, inclusive, a inclinação intelectual de uma pessoa. Além de elucidar o pêndulo entre a loucura e genialidade que caracterizava alguns indivíduos.

Os mais interessantes, porém, são alguns dos padres filósofos da Idade Média que falavam de um certo ―demônio do meio dia‖ que assolava os monges como um fantasma obsedante. Antes dos filósofos perderem a crença em entidades sobrenaturais devido ao longo processo de secularização que levou ao modo de se viver no ocidente sempre a crer em ciência e tecnologia, o dito demônio era considerado a causa da dispersão na leitura, da insatisfação no convívio dentro do mosteiro, do rancor, do torpor, da vontade de morrer, das fantasias de catástrofe, da preguiça, da indolência, e também da culpa por viver no mesmo lugar sem capacidade de agir e ajudar os outros, ao mesmo tempo que responsável por uma crítica geral a tudo a todos que o cercavam em sua experiência monacal. Era o misto de maldade com desespero, de amor com ódio, de autocrítica com crítica dos outros que caracterizava o quadro melancólico que tanto fazia com que o monge se sentisse um inútil, quanto fazia com que ele se tornasse um escritor, um artista envolvido em ilustrar os livros, um filósofo em busca das verdades próximas ou distantes.

A doença é o que cura

Na verdade, muitos acreditavam que a doença não era ruim. Hugo de São Vítor, por exemplo, falava em uma tristitia utilis, uma tristeza útil. Ela era necessária para a evolução espiritual. Esta idéia pode parecer estranha, mas nos ensina algo para os nossos tempos sombrios. Os monges acreditavam que a doença a que chamavam melancolia carregava em si o seu contrário, uma forma de saúde. Ela era uma espécie de cura.

4. Márcia Tiburi é filósofa, graduada em filosofia e artes e mestre e doutora em filosofia pela UFRGS.

Page 52: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

52

Neste aspecto não somos diferentes dos monges medievais, só perdemos a capacidade de olhar para o que chamamos sofrimento como se ele fosse apenas um modo de ser e o preço pago quando da descoberta da vida. Mas se o valorizássemos melhor (e não mais) talvez pudéssemos aprender que a condição humana sempre foi a mesma, que não somos diferentes e, portanto, a nossa dor não é diferente. Desde sempre, se nos pensamos como espécie, sofremos. Quem tenta saber mais ou melhor sofre de um novo jeito. Em vez de afundar no lodo da dor emocional, podemos descobrir o potencial de transformação do conhecimento. Que o sofrimento não é o resultado do conhecimento, mas seu ponto de partida... saber pode ser mais a cura e a libertação da dor do que a dor.

Conhecer para quê?

Que pensar nos faz sofrer pode até ser verdade. Tanto quanto pode ser verdade que pensar pode ser um prazer imenso. Quem se ocupa em conhecer a si mesmo e ao mundo sabe que fará a experiência de prazer e desprazer nesta viagem. Os gregos tinham a idéia do phármakon, remédio e veneno ao mesmo tempo, para explicar a dialética da vida. Ela se aplica ao conhecimento. Podemos sofrer com ele e, do mesmo modo, alegrarmo-nos.

A melancolia antiga é ancestral direta da nossa depressão. O excesso de depressão nos dias de hoje não deixa de ter relação com a sociedade do conhecimento e da informação em que vivemos. Queremos resolver tudo pelo conhecimento, mas esquecemos de pensar que o conhecimento é uma saída que deve servir a algo mais do que o mero progresso da ciência. O conhecimento como potencial de saída da infelicidade, mesmo que tenha nascido dela. Se alguém busca conhecer a si é porque deve pretender com isso ser feliz. Ser feliz é mais ético e mais bonito do que apenas buscar a si mesmo como uma verdade absoluta. Sobre esta verdade de si ninguém tem garantia. A verdade não deve ser uma ilusão da resposta, mas a busca.

Retirado de http: //www.marciatiburi.com.br. Acesso em 20 de janeiro de 2009.

Page 53: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

53

TEXTO 2

O ESTILO BRASILEIRO E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Roberto DaMatta5 (O Estado de SP - 11/03/2009)

Dizia-se que o Brasil não tinha caráter ou estilo. Afirmava-se que qualquer coisa se desmoralizava entre nós. Não havia pecado debaixo do Equador mas, como compensação, nada funcionava. Exceto o futebol, o carnaval e o jogo do bicho. Curioso que ninguém observasse que nesta admissão ia um enorme desmentido. O jogo do bicho revela uma criatividade rara no concerto das criações populares. Nele, como demonstrei num livro escrito com Elena Soárez, sublima-se o desejo de modernização de ricaços aristocratizados pelo imperador, com a pobreza aguçada no período pós-abolição. Isso para não falar da inusitada humanização dos números através dos bichos. O carnaval relativiza rindo a seriedade hipócrita dos superiores, propondo uma trégua da mendacidade pátria. E o futebol, nascido na admirada Inglaterra, confronta o desejo de vencer, com regras que valem para todos, obrigando a uma calibragem entre meios e fins. E como em sociedade nada se perde, não ter estilo é ter um grande estilo.

Com a crise somos obrigados a enxergar o estilo brasileiro. Ele se torna visível no futebol onde o ―jogo de cintura‖ conjuga técnica e criatividade. Evitamos bater de frente, preferindo a ―bicicleta‖, a ―pedalada‖, a ―paradinha‖, o finge que vai, mas fica. Enfim, todos esses descendentes da malandragem, expressivos da dificuldade de aceitar com o limite e o proibido. Se o estilo é a manifestação de uma singularidade, o nosso estilo tem como base o ideal de aproveitar a vida, de ficar rico de uma só tacada e de supor que, no nosso caso, a lei será aplicada de modo diferenciado.

Pena que essa experiência malandra não possa mais ser aplicada com a mesma legitimidade e desfaçatez, em todos os campos da vida social. Se antes do Plano Real era possível reinventar a economia, criar novas moedas e, em nome do povo, brincar com a inflação, hoje isso é impraticável. O plano teve o mérito de ser o primeiro ponto de confluência concreto entre a ―esquerda‖ e a ―direita‖ no Brasil. Sem ele, estaríamos enfrentando a crise mundial com receitas provavelmente bipolares, o que só faria aumentar a nossa predisposição ao confronto político, com sua fácil retórica acusatória, pessoal e autoritária. Graças ao Plano Real, temos discernimento entre o que é uma questão econômica e financeira; e o que é um problema político ou jurídico. O controle do econômico, dentro de um quadro liberal, trouxe uma inevitável demanda de fazer o mesmo no plano político e em outras esferas da sociedade. Se ordenamos a moeda, os banqueiros e o mercado, porque não podemos fazer o mesmo com os políticos?

A experiência de sucesso tendo como pano de fundo a crise, leva a uma transformação do sistema. Não basta definir o Brasil por ausências, mas de aperfeiçoar o estilo vigente, enfrentando e sabendo que se pode vencer, os seus pontos falhos e cegos.

5 Roberto DaMatta Possui graduação e licenciatura em História pela Universidade Federal Fluminense (1959

e 1962). Considerado um dos grandes nomes das Ciências Sociais brasileiras, DaMatta é autor de diversas obras de referência na Antropologia, Sociologia e Ciência Política, como Carnavais, Malandros e Heróis, A casa e a rua ou O que faz o brasil, Brasil?. Profissional de múltiplas atividades – conferencista, professor, consultor, colunista de jornal, produtor de TV – Roberto DaMatta é acima de tudo antropólogo.

Page 54: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

54

Não há melhor exemplo disso do que os mijões. De repente, descobrimos que o esquecido carnaval de rua é ótimo, mas com ele vêm os mijões que empestam nossas ruas e constrangem a nossa decência. Sacamos que a questão dos mijões não se resolve somente com a presença maciça de banheiros químicos porque eles os destroem impiedosamente. É preciso entender os mijões para acabar com a mijada. O estilo brasileiro afirmava que com uma nova Constituição, a ―cidadã‖, íamos engendrar imediatamente cidadania. Vale lembrar que não há França sem franceses; e não pode haver cidadania sem cidadãos que a honrem. Destruir armas não acaba com a violência, do mesmo modo que, na ―sereníssima república‖ de Machado de Assis, não se consegue honestidade eleitoral mudando a forma das urnas.

É preciso que, antes das urnas, das moedas e dos banheiros químicos, tenha-se a noção dos estilos e costumes. Proclamar a República não foi suficiente para corrigir a desigualdade aristocrática do Império. Se mijar é um ato expressivo de masculinidade, então será preciso fazer algo mais efetivo do que reclamar dos mijões. Uma multa ao alcance de todos seria talvez mais adequado (como no passado) do que esses rituais policialescos e jurídicos complicados que não servem para nada. Exceto para garantir aos mijões o nobre direito de mostrar que têm bilu e que são mesmo homens, pois mulher não mija na rua. Se assim fosse, todos usariam banheiro!

Em suma: se mijar na rua tem a ver com ser homem; se a política não é uma atividade destinada ao bem do País, mas a permanência no poder e ao enriquecimento pessoal, com oscilações rápidas entre esses dois objetivos, de nada vale mudar o nome da moeda ou repetir que o Congresso Nacional é uma instituição crítica num sistema democrático. Continuaremos a promover e a assistir a essa grande mijada nacional, tentando corrigir o mau hábito com o aumento de banheiros químicos. Não dá mais para enfrentar o mal com remédios errados sem uma calibragem entre meios e fins, como é característico do nosso bom e velho estilo. Pois ele retorna na forma de uma mistura da palhaçada com a hipocrisia.

Retirado de http://www.institutomillenium.org. Acesso em 21 de março de 2009.

Page 55: APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II · APOSTILA DE LÓGICA, ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO II Curso: Administração ... Um bom exemplo de persuasão pode ser visto

55