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Prof. Vivaldo Guimares Neto - UNIVAP

-1INTRODUO ECONOMIA1.1 INTRODUO AO PROBLEMA ECONMICO

Figura 1.1 O Problema Econmico A Economia a cincia social que estuda o relacionamento entre os indivduos, que possuem necessidades que devem ser atendidas e um mundo dotado de recursos produtivos escassos. Dessa forma, pode-se defini-la assim: Economia a cincia social que estuda a alocao dos recursos escassos a fim de produzir diferentes bens e servios para satisfazer as necessidades humanas. a cincia que estuda o emprego eficaz dos recursos escassos para a obteno de um conjunto ordenado de objetivos.

1.1.1 NECESSIDADES HUMANASNecessidade humana a sensao de carncia de algo, aliada ao desejo de satisfaz-la. Todos os seres humanos tm necessidades. Os indivduos, quando considerados de modo isolado, apresentam uma srie de necessidades individuais que precisam ser satisfeitas para garantir a sobrevivncia, tais como: alimentar-se, vestir-se, abrigar-se, ter sade, etc. ou com finalidades sociais, voltadas ao relacionamento humano. Entretanto, como o ser humano vive em sociedade, em contato com outras pessoas, surgem outros tipos de necessidades, decorrentes da vida em comum, chamadas necessidades coletivas.

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Prof. Vivaldo Guimares Neto - UNIVAPDe modo geral, podem-se classificar as necessidades humanas individuais em duas categorias: as necessidades bsicas, que so vitais para o ser humano e as necessidades secundrias, normalmente associadas ao desejo de status como, por exemplo, perfumes e roupas de marcas famosas, alimentos e bebidas sofisticados etc., que geralmente so considerados produtos suprfluos. J as necessidades humanas coletivas, como a de segurana pblica, educao, transporte, justia etc., em sua maioria, so atendidas por meio dos servios pblicos, que podem ser gerais ou especiais.

1.1.2 CONSUMO E UTILIDADEA satisfao das necessidades humanas, para sua subsistncia, se d por meio do consumo, no somente de bens como tambm de servios. Define-se assim: Consumo o ato de utilizar bens e servios produzidos para satisfazer necessidades. Por outro lado, a capacidade que os bens e servios tm de satisfazer s necessidades humanas conhecida como utilidade.

1.1.3 BENS E SERVIOSComo foi visto, os bens e servios englobam tudo o que necessrio para a vida humana. Cabe considerar, porm, que os desejos dos seres humanos no permanecem os mesmos indefinidamente ao longo do tempo. De um modo geral, pode-se definir: Bens so todos os meios que, direta ou indiretamente, satisfazem aos desejos e necessidades dos seres humanos. Na maioria dos casos, os bens so provenientes das atividades produtivas. As excees correm por conta dos bens extremamente abundantes na terra e que podem ser consumidos em seu estado natural, no necessitando ser produzidos, como o caso do ar que respiramos, da luz do sol, da gua dos mares etc. Essa categoria de bens chamada de bens livres. Todos os demais bens, que necessitam ser produzidos so chamados de bens econmicos. A caracterstica inicial do Problema Econmico reside no fato de que a esmagadora maioria dos bens e servios consumidos pelos indivduos para satisfazerem suas necessidades no estarem livremente disponveis na natureza. Por essa razo, os bens livres no so objeto do estudo econmico. Por seu lado, os bens econmicos se subdividem em duas categorias de bens: os bens tangveis, isto , que podem ser tocados com a mo e que so, portanto, materiais e os bens intangveis, que no so de natureza fsica como, por exemplo, a marca, a imagem da empresa, a capacidade administrativa e a tecnologia. Dentre os bens econmicos tangveis, podem-se reconhecer duas outras categorias: os bens finais, que so aqueles capazes de satisfazer a uma necessidade sem exigir mais nenhuma transformao, como, por exemplo, um sapato e os bens intermedirios, como o couro, os tecidos, o ao, o cimento e um grande nmero de outras mercadorias que requerem transformaes antes de serem consumidas. Por sua vez, os bens finais tambm admitem uma classificao: podem ser bens de consumo quando se destinam ao consumo, ou bens de capital (ou bens de produo), que so aqueles destinados produo de novos bens, como: as mquinas industriais, ferramentas etc. Finalmente, podem-se classificar os bens de consumo quanto sua durabilidade: os bens de consumo no durveis, que so aqueles que existem por um perodo breve e

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Prof. Vivaldo Guimares Neto - UNIVAPlimitado e que geralmente desaparecem ao serem consumidos, como, por exemplo, os alimentos e os bens de consumo durveis, que admitem um uso prolongado na satisfao da necessidade, como os automveis, televisores etc. A Figura 1.2, a seguir, ilustra a classificao geral dos bens.

Figura 1.2 Classificao geral dos bens. Como foi visto, uma boa parte dos bens e servios consumida pelas pessoas, mas h outra parte que no consumida, permanecendo muito tempo entre as pessoas, algumas vezes atravs de geraes, ou mesmo, atravs dos sculos. Como exemplo desses bens, tem-se as instalaes industriais, as linhas telefnicas, as estradas, as pontes, as obras de arte, os edifcios histricos etc. Tais bens so produzidos atravs da combinao de fatores de produo, mas permanecem por longo tempo entre as pessoas, formando um acervo, um estoque de bens que podem ser usufrudos atravs das geraes. A Figura 1.3 ilustra, de modo esquemtico, essa situao.

Figura 1.3 Produo, consumo e estoque de bens. Por outro lado, o trabalho, quando no se destina gerao de bens econmicos, como o caso de uma cozinheira ou um motorista de txi, objetiva a produo de servios. O trabalho de prestao de servios pode estar relacionado com a distribuio de produtos, como aquele realizado por um agente de vendas ou um transportador, ou com atividades de limpeza, como as realizadas por um varredor de rua ou uma faxineira domstica, ou atividades bancrias, ou artsticas e de entretenimento, de comunicaes, tcnicas etc. Pode-se assim definir:

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Prof. Vivaldo Guimares Neto - UNIVAPServios so determinados atos e atividades, praticados por indivduos ou empresas que, mesmo sem gerar bens satisfazem, direta ou indiretamente s necessidades humanas.

1.1.4 PRODUO ECONMICAEm decorrncia dos tpicos anteriores, fica claro que os seres humanos tm necessidades, individuais ou coletivas que s podem ser satisfeitas por meio do consumo de determinados bens ou servios. Por seu lado, esses bens ou servios, em geral, no esto livremente disponveis na natureza. Portanto, eles devem ser gerados, ou produzidos. A frase seguinte bastante expressiva quanto natureza da produo econmica. H cinco meios para obter a riqueza: fazer, comprar, achar, receber em ddiva e roubar. Achar e receber em ddiva dependem de caprichos da sorte ou pessoal e no ocorrem de modo regular. O mesmo acontece com roubar, e o roubo, ainda quando cuidadosamente organizado em grande escala, no reconhecido pela sociedade como atividade normal. Por conseguinte, a cincia que trata da riqueza limita-se a dois dos cinco meios indicados: fazer e comprar. Henry Pratt Fairchild (Economia para milhes). No incio da civilizao humana, o homem s tinha a opo de fazer o que lhe era possvel para atender a suas necessidades. Com a evoluo, algum passou a fazer por ele e ele passou a comprar para consumir os bens e servios necessrios. A palavra produo e suas derivadas (produzir, produtivo etc.) tm origem na expresso latina producere, que significa: fazer aparecer, expor, oferecer venda, por venda etc. Do ponto de vista da Economia, o conceito que se faz de produo similar. Assim, afirma-se que: produzir significa criar bens econmicos ou servios, oferecendo-os venda ou troca. Assim, constitui produo econmica no somente fazer aparecer um bem econmico, como tambm as operaes que lhe adicionem valor, como, por exemplo, o transporte, o armazenamento, a comercializao etc. Tambm constitui produo econmica a prestao de qualquer servio desde que possamos avali-lo economicamente, ou seja, atribuir-lhe um valor. Em Economia, a palavra produo significa a criao de bens pelo aproveitamento da matria ou dos insumos, por meio da transformao, da manipulao, modificao, de modo a torn-los prprios para a satisfao das necessidades humanas. Levando em conta as consideraes feitas at aqui, podemos conceituar a produo econmica da seguinte maneira: Produo o fenmeno econmico que cria bens e servios para a troca ou permuta.

1.1.5 FATORES DE PRODUOCabe aqui lembrar que, do ponto de vista industrial, produo o processo pelo qual um conjunto de fatores (recursos) pode ser transformado em um produto. Dessa forma, a produo econmica obtida com a combinao desses fatores de produo. Na Economia tradicional, reconheciam-se trs fatores de produo: recursos naturais (ou terra), trabalho (ou recursos humanos) e capital. A Figura 1.4 a seguir ilustra essa situao.

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Figura 1.4 Combinao dos fatores de produo. Dada essa situao, pode-se apresentar outra definio para Economia:ECONOMIA o processo que combina fatores de produo para criar bens e servios.

Modernamente, acrescenta-se ao conjunto: a tecnologia e a capacidade empresarial. 1.1.5.1 Recursos naturais Recursos naturais so os elementos obtidos diretamente da natureza, tanto os renovveis como os no renovveis, utilizados pelo homem com a finalidade de criar bens econmicos. Os recursos naturais so um presente da natureza ao ser humano. Como exemplos tem-se, entre os recursos no-renovveis: a terra (solos urbanos e agrcolas), a gua, os minerais etc. e entre os recursos renovveis: os vegetais e os animais. Sua enorme importncia se deve produo de alimentos, de insumos para a indstria e gerao de energia. Por isso essencial a preservao dos recursos naturais no-renovveis. 1.1.5.2 - Trabalho Trabalho a contribuio do ser humano produo de bens e servios, em forma de um conjunto de atividades fsicas e/ou mentais. O fator trabalho provido pelos recursos humanos, que so os responsveis pela fora de trabalho. Eles incluem toda a atividade, tanto fsica quanto mental, aplicada sobre os recursos naturais, com ou sem o emprego de bens de capital, para a produo de bens e servios. Como exemplos do fator trabalho, podem-se citar: os servios tcnicos do mdico, do advogado, do programador de computadores e a mo-de-obra do pedreiro, do pintor etc. A populao de um pas se divide em: populao economicamente ativa (PEA), que aquela que intervm no processo produtivo, e a populao inativa, aquela que somente consome. Parte dos componentes da PEA se constitui em empregados e o restante so os desempregados que, apesar de reunirem as condies de idade e capacidade fsica e mental para trabalhar, por alguma razo, no trabalham. 1.1.5.3 - Capital Capital o conjunto de recursos de natureza econmica, produzidos pelo ser humano, que no se destinam satisfao de suas necessidades por meio do consumo, mas concorrem para a produo de bens e servios, aumentando a eficincia do trabalho humano sobre os recursos naturais. Um conceito mais amplo de capital permite classificar este fator em trs categorias: o capital fsico ou real, que o conjunto de bens materiais efetivamente aplicado na produo; o capital financeiro, que consta do conjunto de fundos financeiros disponveis para a compra de capital fsico ou de ativos financeiros; e o capital humano, o qual abrange tudo o que eleva a capacidade produtiva dos seres humanos, como: educao, formao e experincia profissional. Por sua vez, o capital fsico se subdivide em duas categorias: o capital fixo (ou, em contabilidade: ativo fixo), que consiste no conjunto de edifcios, equipamentos, mquinas e ferramentas utilizados no processo de produo; e o capital circulante (em contabilidade: ativo circulante), o qual consiste no conjunto de bens em processo de preparao para o consumo, como os estoques de matrias-primas e de produtos semi-acabados.

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Prof. Vivaldo Guimares Neto - UNIVAPNo meio financeiro, pode ocorrer o fato de algumas pessoas confundirem o termo: capital com capital financeiro. Mas, em Economia, em que a palavra de ordem produo, quando se fala em capital, quer-se significar capital fsico. Muito embora os capitalistas, que so os donos do capital, considerem este o fator de produo mais importante, cabe observar que, sem a presena dos recursos naturais e da fora de trabalho para transform-los em bens e servios, o capital intil. Os recursos necessrios formao de capital podem ser de origem interna ou externa, isto , procedente de outros pases. Os recursos internos compreendem a poupana, que nada mais do que a parcela da renda que no destinada ao consumo imediato, e que pode ser espontnea ou compulsria (ou forada). A poupana pode ser proveniente de indivduos, das empresas e do setor pblico. Os recursos externos vm suprir uma carncia de recursos internos, sob a forma de emprstimos, de investimentos estrangeiros, ajudas governamentais e outras.

1.1.6 - RIQUEZAA formao de capital decorre da acumulao de riqueza destinada obteno de novas riquezas. esta capacidade de gerao de riqueza, expressa nos investimentos, isto , na capacidade de aumentar os meios de produo, que ir determinar o ritmo de desenvolvimento econmico de uma nao. Isto porque o emprego eficiente de bens de capital possibilita elevao do rendimento do trabalho humano e da produtividade real do sistema econmico. A riqueza de um pas, num determinado momento, formada pelos fatores de produo disponveis, pelos bens que esto sendo produzidos e pelos que j o foram, mas ainda no desapareceram (esto estocados). A riqueza compe-se, ainda, de elementos como a populao do pas (seu fator trabalho), os recursos naturais (a terra agricultvel, as reservas minerais e de petrleo e os mananciais de gua), os equipamentos (mquinas e instalaes das empresas), as redes de energia, a distribuio de gua, as estradas, as pontes, os edifcios pblicos, as habitaes, os monumentos histricos, as obras de arte, as bibliotecas e outros, alm dos bens correntemente produzidos, como alimentos, roupas etc. O conceito de riqueza, portanto, bastante geral, pois agrega as disponibilidades de recursos naturais do pas, sua populao e tudo o que a economia produziu ao longo de sua existncia, e que foi preservado ou seja, no consumido.

1.1.7 AGENTES ECONMICOSOs agentes econmicos so os elementos que participam do processo econmico e so responsveis pela atividade econmica. Normalmente so representados por pessoas ou entidades que desempenham diferentes papis na Economia. Cabe observar que, em relao ao seu comportamento, os agentes econmicos so coerentes quando tomam suas decises. A forma mais simplificada de uma Economia prope a existncia de dois agentes econmicos: as famlias e as empresas. Esses dois elementos interagem economicamente entre si. As famlias consomem bens e servios e oferecem seus recursos produtivos s empresas. Em uma configurao mais real, deve-se admitir a presena de um terceiro agente econmico importante: o setor pblico que, por sua vez, interage economicamente com os outros dois agentes. Em estudos econmicos mais avanados, considera-se tambm a interao desse sistema com o setor externo, ou resto do mundo. A Figura 1.5 ilustra, de forma esquemtica e simplificada, as interaes entre todos esses agentes.

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Figura 1.5 Interao entre os agentes econmicos. Dois termos relacionados ao assunto e que merecem ser mencionados so: produtor e consumidor. Produtor o agente econmico que produz e vende bens e servios e consumidor o agente econmico que compra esses bens e servios para consumir. Devese lembrar que, entre eles, existe quase sempre outro agente econmico intermedirio: o comerciante.

1.2 A QUESTO CENTRAL DA ECONOMIAAntes de tudo, deve-se lembrar que a Economia uma cincia social aplicada e, como tal, concentra seus objetivos no atendimento das necessidades humanas. Neste ponto, aparece o primeiro aspecto da Questo Central da Economia: as necessidades e desejos dos seres humanos so ilimitados. Como foi dito, os indivduos tm necessidades, que devem ser satisfeitas por meio do consumo de bens e servios. Ocorre que, algum tempo depois de satisfeitas, muitas dessas necessidades reaparecem como, por exemplo, a fome. Alm disso, outra caracterstica psicolgica dos seres humanos faz com que eles nunca estejam plenamente satisfeitos em todos os seus desejos e necessidades. Em resumo, as pessoas querem sempre mais e melhor, ou seja, mais uma vez, as necessidades e desejos dos seres humanos so ilimitados. O psiclogo norte-americano Abraham Maslow, na segunda metade dos anos 1940, realizou notvel trabalho sobre a motivao ao trabalho entre operrios do seu pas. Em sua pesquisa de campo, Maslow procurou encontrar os fatores motivacionais ao trabalho, partindo da informao sobre as necessidades que levavam o indivduo a trabalhar. Como resultado de seu trabalho, Maslow construiu a Teoria da Hierarquia das Necessidades, segundo a qual, as pessoas, inicialmente buscam o trabalho para atender a suas necessidades mais imediatas: justamente as necessidades bsicas, ou primrias, tais como: comer, vestir, abrigar-se etc. To logo esse grupo de necessidades seja satisfeito, o indivduo ingressa em um estgio mais alto de exigncia: as necessidades de segurana. Por sua vez, assim que esse segundo grupo de necessidades satisfeito, o indivduo busca um degrau ainda mais alto: as necessidades sociais e assim por diante. Maslow descobriu que os indivduos apresentam sucessivamente cinco degraus de necessidades, cada vez mais complexas e no h tendncia de retorno nesse caminho. Alm disso, os bens tangveis (ou materiais) so predominantes nos degraus mais baixos, mas, os nveis mais altos de necessidade refletem desejos intangveis ou imateriais. A Figura 1.6, em forma piramidal, representa os cinco nveis escalares de necessidades.

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Figura 1.6 A hierarquia das necessidades de Maslow.

1.2.1 A ESCASSEZEscassez a situao em que os recursos so limitados e podem ser utilizados de diferentes maneiras, de tal modo que se deve sacrificar uma coisa para ter uma outra. O foco da questo central da economia ou o Problema Fundamental da Economia a constatao de que os recursos, que a coletividade dispe para a satisfao dos desejos e necessidades dos seus indivduos, so limitados em relao a essas exigncias, pois os diversos bens e servios necessrios so escassos, isto , existem em quantidades limitadas. Por outro lado, como foi visto, as aspiraes humanas so relativamente ilimitadas, superando o volume de bens e servios disponveis para o atendimento desses desejos e necessidades e obrigando ao sacrifcio. A escassez surge devido s necessidades humanas ilimitadas e restrio fsica de recursos. Como foi visto, algumas necessidades primrias como a necessidade de se alimentar so constantemente renovadas, fato agravado pelo contnuo crescimento populacional. Alm disso, existe tambm o permanente desejo de elevao do padro de vida que, somado evoluo tecnolgica e eficaz propaganda de vendas, fazem com que, a cada dia, surjam novas necessidades (computador, telefone celular, cmera digital etc.). Nenhum pas, pobre ou rico, dispe de todos os recursos produtivos para satisfazer s necessidades da populao. O pas rico geralmente precisa importar a maior parte das matrias-primas que usa e os demais geralmente dependem da importao de bens finais. Em decorrncia do que foi exposto, cabe dizer ento que o objeto de estudo da cincia econmica a questo da escassez, ou seja, como economizar recursos. Tal fato leva a propor uma outra definio de economia:

Economia a cincia social que estuda a maneira pela qual os seres humanos decidem empregar recursos escassos, a fim de produzir diferentes bens e servios e atender s necessidades de consumo. 8

Prof. Vivaldo Guimares Neto - UNIVAP 1.2.2 A NECESSIDADE DE ESCOLHADada a limitao imposta pela escassez relativa de bens e servios e o quadro progressivo de desejos e necessidades dos indivduos, torna-se imperativo um conjunto de escolhas. Da parte do produtor, em que os recursos produtivos so escassos, h necessidade de escolha com relao aos bens que sero produzidos e oferecidos populao. Da parte dos consumidores, em que os recursos aquisitivos so tambm escassos, h necessidade de escolha com relao aos bens e servios que sero adquiridos. Por ser a Economia a cincia da escassez, todos os agentes econmicos nacionais empresas, famlias e setor pblico so forados a escolher de modo contnuo. Quando se opta por produzir (ou consumir) algo, automaticamente se obrigado a renunciar a produzir (ou consumir) outros bens e servios.

1.2.3 O DILEMA DO AGENTE ECONMICOEm decorrncia do contraste entre necessidades humanas ilimitadas e recursos produtivos escassos, manifesta-se o problema da escassez, que obriga os produtores a um conjunto de escolhas entre alternativas para decidir o que, quanto, como e para quem produzir. O que e quanto produzir. Tendo em vista a escassez dos recursos, ao se responder a essa questo, deve-se lembrar que, ao mesmo tempo em que se decide pela produo de determinado bem, se estar decidindo pela no-produo de outro bem. Assim, a terra destinada ao plantio de cana-de-acar no poder ser utilizada para a produo de alimentos. Ento, a produo de lcool derivado da cana-de-acar implica a no-produo de alimentos naquela poro de terra utilizada para o cultivo de cana-de-acar. Cabe ento a deciso: produzir mais lcool ou mais acar? Em que quantidade? Os recursos devem ser dirigidos para a produo de mais bens de consumo, ou bens de capital? No fundo, trata-se de uma deciso que extrapola a esfera puramente econmica. A anlise econmica questo que e quanto produzir localiza-se no conhecimento das mximas possibilidades econmicas de produo estabelecidas pelas curvas de possibilidades de produo. Como produzir. Trata-se, aqui, de uma questo relacionada s possibilidades tecnolgicas de produo, relacionada eficincia produtiva. Competir sociedade como um todo a adoo de tcnicas de produo que procurem combinar, da forma mais adequada possvel, seus fatores de produo, dentro das disponibilidades e limitaes. Ateno especial dever ser dedicada absoro da tecnologia, tal que a penetrao da tcnica no aparelho produtivo no implique desperdcio do potencial humano e, por outro lado, a sociedade no dever recusar o emprego de tcnicas que possam significar aumento da eficincia produtiva. Para quem produzir: Das trs questes do dilema, esta a que merece maior ateno por parte da Poltica Econmica de um pas. Trata-se de decidir de que forma ser distribuda, por toda a sociedade e de modo mais justo possvel, a produo obtida. Em termos macroeconmicos, como ser visto adiante, esta questo visa solucionar o problema da distribuio de renda, superando os desnveis regionais, quando se verifica que uma grande escassez de bens contrasta com a acumulao evidente em outros setores. importante destacar que foi este desnvel a causa que promoveu as lutas de classes sociais que provocaram os acontecimentos mais importantes dos ltimos tempos. A figura 1.7 mostra, de modo esquemtico, um resumo do dilema do agente econmico.

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Figura 1.7 O dilema do agente econmico. importante observar que o esquema apresentado na Figura 1.7 tambm se aplica aos consumidores, com pequenas adaptaes: o contraste entre as necessidades humanas ilimitadas com a restrio de recursos aquisitivos configura a escassez que os obriga a um conjunto de escolhas entre alternativas para decidir o que, quanto, como e de quem comprar.

1.3 POSSIBILIDADES DE PRODUOComo foi visto, as possibilidades de produo, em uma economia, sofrem as restries apresentadas no dilema do agente econmico. A quantidade de bens e servios que podem ser produzidos limitada pela disponibilidade de recursos e pelo domnio das tecnologias. Sempre que se quiser aumentar a produo de um bem ou servio, deve-se sacrificar no sentido de diminuir a produo de outro ou outros bens ou servios. Por isso, na escolha dos bens e servios que devem ser produzidos deve-se, inicialmente, determinar quais combinaes de quantidades de bens e servios so possveis, consideradas duas restries: (I) que a quantidade de recursos produtivos, por ser limitada determinada; (II) que o nvel de tecnologia tambm determinado, isto , nesse momento, no possvel uma mudana tecnolgica. Esse limite de possibilidades pode ser graficamente descrito pela curva ou fronteira de possibilidades de produo.

1.3.1 CURVA DE POSSIBILIDADES DE PRODUOComo foi dito acima, este estudo requer que se tenha uma Economia com uma dada tecnologia, que dispe de uma quantidade fixa e determinada dos fatores produtivos. Sabe-se que uma tal Economia dever produzir uma grande variedade de bens e servios, o que tornaria este estudo impossvel, devido grande quantidade de variveis do problema. Por este motivo se faz uma simplificao e se consideram apenas duas variveis, com a suposio de que todas as demais caractersticas do problema permanecem constantes. Estas duas variveis poderiam ser genericamente chamadas de alfa e beta. No caso real, alfa e beta seriam dois bens ou servios como, por exemplo, acar e lcool. Todos sabem que esses dois produtos se originam da mesma matria-prima: a cana de acar. Contudo, importante tambm recordar que, dada uma certa quantidade de cana de acar, somente se pode produzir uma outra determinada quantidade de acar. Se se quiser tambm produzir lcool, a quantidade de acar produzida dever obrigatoriamente diminuir. Quanto maior for a produo de alfa, menor dever ser a de beta, e vice-versa. Esta situao decorrente do Problema Fundamental da Economia, expresso pelo dilema do produtor: o que, quanto, como e para quem produzir?

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Prof. Vivaldo Guimares Neto - UNIVAPAlgum agente econmico dever decidir as respostas a essas questes. Dependendo do pas onde o problema ocorre, as respostas sero dadas pelo setor pblico e/ou pelos empresrios, dependendo do grau de interveno do estado na Economia. Feitas as consideraes acima, passa-se introduo de um conceito terico, cujo principal objetivo ilustrar a questo da escassez de recursos e as opes ou escolhas que as sociedades devem fazer, em face do Problema Fundamental da Economia. Sua principal virtude demonstrar a necessidade imperiosa de se sacrificar algum bem quando se deseja produzir outro, dados os mesmos recursos e tecnologia.

A Fronteira ou Curva de Possibilidades de Produo (CPP), tambm chamada de Curva de Transformao, a fronteira mxima que a economia pode produzir, dados os recursos produtivos limitados. Ela mostra as alternativas de produo da sociedade, supondo os recursos plenamente empregados.No exemplo proposto, suponha-se que a economia produza apenas dois bens: acar e lcool, nos quais so empregados todos os recursos produtivos (mo-de-obra, capital, terra, matrias primas, recursos naturais). As alternativas de produo so dadas na tabela abaixo:

PRODUTO Acar (em mil toneladas) lcool (em milhes de litros) A 0 15

ALTERNATIVAS DE PRODUO B C D E 3 6 8 9 14 12 10 7

F 10 0

Colocando as informaes acima num grfico, e unindo os pontos, tem-se a figura 1.8:

Figura 1.8 Curva de Possibilidades de Produo de acar e lcool. Deve-se frisar que a CPP representa o limite mximo de produo, com os recursos de que a sociedade dispe, num dado momento. Dada a escassez de recursos, a sociedade deve decidir qual ponto da curva escolher: A, B, C, D, E ou F. No ponto A, decidiu-se alocar todos os recursos na produo de lcool; no ponto F, aloca-se tudo para produzir acar. Em conseqncia, aumentar a produo, por exemplo, de lcool, exige um sacrifcio para a sociedade, em termos do acar que se deixou de produzir. muito importante a compreenso de que, pontos alm (acima) da fronteira no podero ser atingidos com os recursos disponveis. Por outro lado, pontos internos (abaixo) curva representam situaes nas quais a economia no est empregando todos os recursos (ou seja, h desemprego de recursos).

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Prof. Vivaldo Guimares Neto - UNIVAP 1.3.2 FORMATO DA CPPSeja o exemplo seguinte, onde se tem um produtor dos bens alfa e beta. Com os recursos de que dispe, suas possibilidades de produo esto especificadas na tabela abaixo e ilustradas na Figura 1.9: ALTERNATIVA A B C D E PRODUO DE ALFA 0 10 20 30 40 PRODUO DE BETA 100 95 85 65 40

Figura 1.9 Variao no sacrifcio de um bem. Observa-se que a CPP decrescente e cncava em relao origem. importante entender as razes que justificam seu formato. Ela decrescente devido ao sacrifcio que tem de ser feito ao optar-se pela produo de um bem quando os recursos esto plenamente empregados (o aumento da produo de um bem implica na queda da produo do outro, em cima da CPP); e a CPP cncava em relao origem, devido chamada Lei dos Custos Crescentes:

sero gradativamente crescentes; os primeiros trabalhadores transferidos, menos especializados e qualificados, no traro grandes acrscimos nos custos, mas, medida que vamos transferindo mais trabalhadores, utilizaremos pessoal mais qualificado, que evidentemente custar mais caro.

se tirarmos trabalhadores do setor de alfa e os deslocarmos para beta, os custos

No grfico da figura 1.9 acima, supondo acrscimos iguais na produo de alfa (10 unidades de cada vez), observa-se que o sacrifcio da produo de beta cada vez maior, o que torna a CPP cncava. Evidentemente, se os custos de oportunidade fossem constantes, a CPP seria uma reta decrescente; se os custos fossem decrescentes, a CPP seria convexa em relao origem. Mas estas so mais possibilidades tericas do que prticas.

1.3.3 CUSTO DE OPORTUNIDADEDesde que o conceito de escassez foi introduzido, a palavra sacrifcio passou a aparecer com freqncia. Isto porque quando se escolhe satisfazer um determinado desejo

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Prof. Vivaldo Guimares Neto - UNIVAPou necessidade, por causa da escassez, um certo nmero de desejos e necessidades deixa de ser satisfeito. E isso causa aos indivduos um custo. Um governo, que tem seu oramento restrito e limitado em relao s necessidades pblicas, deve tambm fazer escolhas sobre onde aplicar, de modo mais eficiente e eficaz possvel, tem tambm que decidir: aplicar em sade pblica ou em defesa? Aplicar em educao ou infra-estrutura? Qualquer que seja a deciso, um setor ser sacrificado, gerando um custo. De modo anlogo, quando o produtor de dois bens, alfa e beta, tem diante de si o dilema de definir o que e quanto produzir, ele sabe que, como foi dito, quanto maior a quantidade produzida de alfa, menor ter que ser a de beta, e vice-versa. Esse fato tambm representa um custo para o produtor (que deixar de vender um bem para produzir mais do outro). Esse custo associado ao sacrifcio na produo de um bem o custo de oportunidade.

Define-se custo de oportunidade como sendo o grau de sacrifcio que se faz ao optar pela produo de um bem, em termos da produo alternativa sacrificada.Apresenta-se a seguir um exemplo de determinao do custo de oportunidade, com base no exemplo introduzido no tpico anterior. Seja um produtor dos bens alfa e beta. Com os recursos de que dispe, suas possibilidades de produo esto especificadas na tabela abaixo e ilustradas na Figura 1.10: ALTERNATIVA A B C D E F PRODUO DE ALFA 0 10 20 30 40 50 PRODUO DE BETA 100 95 85 65 40 0 CUSTO DE OPORTUNIDADE EM ALFA EM BETA 10 10 5 10 10 10 20 10 25 40

Figura 1.10 Custo de oportunidade. Desta maneira, sempre que se caminha sobre os pontos da CPP, existe um custo de oportunidade. Observa-se que, por exemplo: O custo de oportunidade de passar de uma alternativa no sentido de A a F, como, por exemplo, de D para E, para produzir-se mais 10 unidades de alfa, expresso em 25 unidades de beta. O custo de oportunidade de passar de uma alternativa no sentido de F a A, como, por exemplo, de E para D, para produzir-se mais 25 unidades de beta, expresso em 10 unidades de alfa.

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Prof. Vivaldo Guimares Neto - UNIVAP 1.3.4 PONTOS NOTVEIS DA CPPUma Curva de Possibilidades de Produo tem pelo menos quatro pontos notveis, que indicam situaes ilustrativas do conceito terico da CPP. A Figura 1.11, a seguir, mostra esses pontos notveis.

Figura 1.11 Pontos Notveis da CPP. Se o produtor estiver operando, por exemplo, no ponto O, isto significa que ele estar produzindo zero de alfa e zero de beta, ou seja, a empresa est parada e essa situao chamada de pleno desemprego. Na realidade, essa situao meramente terica, pois a empresa se encontra em condies econmicas insustentveis. O segundo ponto notvel, Q, representa uma situao em que nem todos os recursos esto aplicados na produo. Essa situao bastante comum nas empresas e configura a operao do sistema em capacidade ociosa. Quanto mais distante da CPP estiver o ponto Q, maior ser o nvel de desemprego de fatores, ou seja, o nvel de ociosidade econmica. Cabem aqui duas observaes: I) Com relao ao conceito de eficincia produtiva, que empregado com freqncia em cincia administrativa: do ponto de vista econmico, quanto mais prximo da CPP estiver o ponto Q, mais eficiente ser a produo econmica da empresa. II) Com relao ao custo de oportunidade: a passagem de um ponto Q abaixo da CPP para outro ponto Q qualquer, tambm situado abaixo da CPP no gera custo de oportunidade. O terceiro ponto notvel, que est situado sobre a CPP, indicado por P. Trata-se de uma situao ideal, em que, pela prpria definio de CPP, todos os fatores de produo esto completamente empregados. Essa situao chamada de pleno emprego. Por fim, o quarto ponto notvel, indicado por R, est situado acima e alm da fronteira estabelecida pela CPP. Por esse motivo, tambm pela prpria definio de CPP, ele representa um nvel impossvel de produo, ou seja, uma situao em que a produo s ser possvel se houver deslocamento positivo da CPP, como ser visto a seguir.

1.3.5 DESLOCAMENTOS DA CPPA CPP um conceito esttico, ou seja, refere-se a um dado momento do tempo. Evidentemente, se houver aumento na disponibilidade de recursos produtivos, a curva se desloca para a direita. De modo anlogo, se, por qualquer motivo, houver redues na disponibilidade desses recursos, a curva se desloca para a esquerda. Em geral: Deslocamentos positivos decorrem da expanso ou melhoria dos recursos disponveis. o que ocorre em situaes normais. Deslocamento negativos decorrem da diminuio ou desqualificao dos recursos disponveis. Geralmente resulta de situaes anormais.

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Prof. Vivaldo Guimares Neto - UNIVAPA Figura 1.12 (a) representa um deslocamento positivo da CPP e (b) representa um deslocamento negativo da CPP.

Figura 1.12 Deslocamentos da CPP por variao nos recursos. relevante observar que, no caso do deslocamento positivo, quanto maior for o deslocamento desejado, maior ter que ser o volume adicional de poupana, exigida para a aquisio de uma quantidade maior de fatores de produo. Outro fator causador de deslocamento da CPP o desenvolvimento tecnolgico, ou seja, a criao de mtodos que levem melhoria na eficincia da utilizao dos recursos existentes, a curva se desloca para a direita. Se, por exemplo, ocorrer uma melhoria tecnolgica apenas na produo de um dos bens alternativos (por exemplo, alfa), a curva se desloca girando articulada a um ponto extremo. A Figura 1.13 (a) mostra o deslocamento da CPP devido a um desenvolvimento tecnolgico geral e (b) mostra o desenvolvimento tecnolgico na produo de alfa.

Figura 1.13 Deslocamentos da CPP por desenvolvimento tecnolgico.

1.3.6 LEI DOS RENDIMENTOS DECRESCENTESNo tpico 1.3.2, mencionou-se a Lei dos Custos Crescentes, como justificativa para a forma cncava da CPP em relao origem. A seqncia dessa constatao leva lei dos rendimentos decrescentes. Conforme foi visto, uma expanso dos fatores de produo leva a deslocamentos positivos da curva de possibilidades de produo. Se, no entanto, se mantiver constante um ou mais recursos fsicos, os aumentos das possibilidades de produo sero menos que proporcionais, tornando-se decrescentes ou mesmo nulos a partir de certo nvel. Em outras palavras, a lei dos rendimentos decrescentes baseia-se na impossibilidade de uma expanso de todos os fatores de produo na mesma intensidade. Se apenas um dos fatores permanecer constante, aumentando-se os demais, a produo apresentar menor taxa de crescimento a cada estgio.

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Prof. Vivaldo Guimares Neto - UNIVAPComo exemplo, suponhamos, num primeiro momento que, como resultado da utilizao de: 400 unidades do fator terra; 1200 unidades do fator capital; 200 unidades do fator trabalho, obtm-se: 120 unidades do bem Alfa e 160 unidades do bem Beta. Num segundo momento, mantendo-se constante a quantidade do fator terra e incrementando-se o capital e a mo-de-obra para 1440 e 240 unidades, respectivamente, a possibilidade de produo passa para 140 e 180 unidades de Alfa e Beta. Observa-se que, para um aumento de 20% nos fatores, a possibilidade de produo cresce aproximadamente 17%. Num terceiro momento, utilizando-se: 400 unidades do fator terra; 1720 unidades do fator capital; 280 unidades do fator trabalho, a possibilidade de produo atinge: 152 unidades do bem Alfa e 192 unidades do bem Beta. Nesta nova situao, a um novo aumento de 20% nos fatores capital e trabalho, mantendo constante o fator terra, as possibilidades de produo aumentam em cerca de 8%. Assim, observa-se que, para dois aumentos iguais e sucessivos de 20% nos fatores: capital e trabalho, mantendo o fator terra constante, as possibilidades de produo aumentam 17% no primeiro caso e 8% no segundo. Isso demonstra que os aumentos das possibilidades de produo sero menos que proporcionais. Se se continuar a dar novos aumentos de 20% nesses fatores, provvel que se chegue a um ponto em que as possibilidades de produo no mais aumentaro.

1.4 DIVISO DO ESTUDO ECONMICOA teoria econmica representa um s corpo de conhecimento, mas, como os objetivos e mtodos de abordagem podem diferir, de acordo com a rea de interesse do estudo, costuma-se dividi-la da forma a seguir. Microeconomia: estuda o comportamento de consumidores e produtores e o mercado no qual interagem. Preocupa-se com a determinao dos preos e quantidades em mercados especficos. Macroeconomia: estuda a determinao e o comportamento dos grandes agregados, como PIB, consumo nacional, investimento agregado, exportao, nvel geral de preos etc., com o objetivo de delinear uma poltica econmica. Tem um enfoque conjuntural, isto , preocupa-se com a resoluo de questes como inflao e desemprego, em curto prazo. Desenvolvimento Econmico: estuda modelos de desenvolvimento que levem elevao do padro de vida (bem-estar) da coletividade. Trata de questes estruturais, de longo prazo (crescimento da renda per capita, distribuio de renda, evoluo tecnolgica). Economia Internacional: estuda as relaes de troca entre pases (transaes de bens e servios e transaes monetrias). Trata da determinao da taxa de cmbio, do comrcio exterior e das relaes financeiras internacionais. Referncias 1) Economia Fundamentos e Aplicaes J.T.G.Mendes. 2) Economia Notas Introdutrias F.T. Jorge e J.O.C.Moreira. 3) Introduo Economia J.P.Rossetti. 4) Introduo Economia R.L.Troster e F.Mochn.

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-2ORGANIZAO ECONMICA2.1 INTRODUOQualquer que seja a forma de organizao da atividade econmica de uma sociedade, os seus objetivos gerais so muito semelhantes: busca-se otimizar a satisfao do indivduo, de um lado e, do outro, maximizar a eficincia produtiva. Esta operacionalidade do sistema econmico deve ser analisada com base em todos os fatores e foras que interferem nos fluxos de mobilizao de recursos e de produo dos bens e servios oferecidos e demandados. Dada a complexidade dos sistemas econmicos reais, essa anlise exige grande simplificao da atividade econmica o que, no entanto, deve ser feito sem depreciar, em momento algum, a sua semelhana com a realidade dos fatos.

2.2 A ATIVIDADE ECONMICAA atividade econmica caracteriza-se basicamente pela produo de ampla variedade de bens e servios com a finalidade de satisfazer as necessidades humanas. Essa produo deve ser organizada e realizada pelos seres humanos dotados de capacidade administrativa, por meio de unidades produtivas e com o suporte dos fatores de produo. De modo complementar, so tambm atividades econmicas a circulao e a distribuio. Atividade econmica designao dada ao conjunto de tarefas relacionadas com a produo, circulao e distribuio de bens econmicos, executadas pelos agentes econmicos. De acordo com a intensidade de emprego dos fatores de produo, as atividades econmicas so tradicionalmente classificadas segundo trs grupos: 1) Atividades primrias utilizam mais intensivamente o fator terra, como: agricultura (lavouras permanentes ou temporrias, horti-fruticultura, floricultura); pecuria (criao e abate de gado, de sunos e aves, caa e pesca); extrao vegetal (produo florestal, silvicultura e reflorestamento). 2) Atividades secundrias de produo utilizam mais intensamente o fator capital, como: indstria extrativa mineral (minerais metlicos e no-metlicos e petrleo); indstrias de transformao (produtos alimentcios, minerais no-metlicos, metalurgia, mobilirio, qumica, fiao e tecelagem, vesturio, calados, material eltrico, de telecomunicaes e de transporte, produtos de matrias plsticas, bebidas, fumo); indstria da construo (obras pblicas, construes privadas). 3) Atividades tercirias de produo utilizam mais intensamente o fator trabalho, como: comrcio (atacadista e varejista); transportes (rodovirios, ferrovirios hidrovirios e aerovirios); comunicaes (telecomunicaes, correios e telgrafos, radiodifuso e TV); intermediao financeira (bancos, seguradoras, distribuidoras e corretoras de valores e bolsas de valores); imobilirias (comrcio imobilirio, administrao e locao), hospedagem e alimentao (hotis restaurantes, bares e lanchonetes); reparao e manuteno (mquinas, veculos e equipamentos); servios pessoais (cabeleireiro, barbeiro); outros servios (assistncia sade, educao, cultura, lazer etc.) e governo (federal, estaduais e municipais).

2.3 A ATIVIDADE DOS AGENTES ECONMICOSCabe aqui lembrar que o conceito de agentes econmicos, apresentado no tpico 1.1.7, engloba os seguintes elementos: empresas, famlias, setor pblico e setor externo.

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Prof. Vivaldo Guimares Neto - UNIVAP 2.3.1 AS EMPRESASComo foi visto no tpico 1.1.4, relativo produo econmica, as necessidades humanas so satisfeitas por bens e servios e os consumidores podem fazer esses bens e servios ou compr-los. Na sociedade moderna, a atividade de fazer est cada vez mais distante, pois as empresas produzem e vendem praticamente a totalidade dos bens e servios demandados, como: alimentos, roupas, mquinas, transportes etc. Isso pode ser facilmente entendido, pois somente as empresas detm todos os fatores de produo necessrios e podem produzir em massa, reduzindo de modo significativo os custos de produo. Por absurdo, pode-se imaginar um determinado consumidor que, por necessitar de um automvel, resolvesse produzi-lo em casa. Ele teria que comprar todas as mquinas e demais insumos, como: matrias-primas e componentes. Certamente, o custo total de produzir tal automvel seria muito maior do que o seu preo de mercado. Empresa (ou unidade produtiva) uma entidade constituda legalmente, que rene todos os elementos componentes da organizao, dotada de recursos e fatores que visam atingir dado objetivo (sua misso) continuamente. Empresa a unidade econmica que organiza e administra a produo de bens e servios, na forma de sistema aberto, mantendo constantemente trocas com outros sistemas. As empresas podem ser classificadas de diversos modos: a) Quanto propriedade, em: Empresas pblicas so as empresas de propriedade do Estado. O seu objetivo prestar servios pblicos comunidade. Empresas privadas so as empresas de propriedade de particulares. O seu objetivo produzir bens (produtos) ou prestar servios a fim de obter lucro suficiente para remunerar o capital investido pelos investidores particulares. b) Quanto ao tipo de produo, em: Primrias ou extrativas (como as empresas agrcolas, de minerao, de perfurao e extrao de petrleo etc.) seu objetivo extrair matrias-primas da natureza. Secundrias ou de transformao so as empresas produtoras de bens, como o caso das indstrias em geral. Seu objetivo processar e transformar matrias-primas em produtos acabados. Tercirias ou prestadoras de servios so as empresas especializadas em servios (como o comrcio, bancos, financeiras, empresas de comunicaes, de propaganda, de consultoria legal, contbil, hospitais etc.). Seu objetivo prestar servios, seja para a comunidade (quando so empresas estatais), seja para um determinado mercado, para obter lucro (quando so particulares ou privadas). c) Quanto ao tamanho, em: Empresas grandes quando so empresas que tm muitos empregados e grandes instalaes fsicas. Empresas mdias quando o nmero de empregados mdio e o tamanho das instalaes tambm mdio e faturamento acima de um certo limite. Empresas pequenas so as empresas que tm poucos empregados e pequenas instalaes e faturamento abaixo de um certo limite. As empresas pequenas podem ser desdobradas em empresas de pequeno porte e em microempresas. d) Quanto constituio legal, em: Firma individual aquela que pertence a um s indivduo e dirigida por ele. Sociedade de pessoas aquela constituda de dois ou mais proprietrios que se associam no mesmo negcio, com o objetivo de obter lucro. Embora seja quase sempre maior do que a firma individual, ela geralmente no chega a assumir grandes propores. Ela constituda por contrato social firmado entre os scios e pode

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Prof. Vivaldo Guimares Neto - UNIVAPassumir uma variedade de formas de sociedades comerciais, das quais as mais conhecidas so as Sociedades por quotas de responsabilidade limitada (ou limitadas), constitudas por uma associao de duas ou mais pessoas, cuja responsabilidade frente aos direitos e obrigaes da firma limitada ao valor do capital registrado em seu contrato social. Sociedade Annima - uma associao na qual o capital social dividido em aes de um mesmo valor nominal e constitudo por subscries. Cada pessoa adquire (subscreve) o nmero de aes que lhe convier, tornando-se acionista da sociedade annima. A pessoa ou grupo que tiver o maior nmero de aes pode eleger em assemblia de acionistas os dirigentes da empresa. A sociedade annima administrada por um Conselho de Administrao e por um Presidente. O Conselho de Administrao define os negcios e a poltica geral da empresa. O Presidente responsvel pela administrao das operaes dirias e pela implementao das polticas estabelecidas pelo Conselho de Administrao, respondendo periodicamente a este. Os acionistas so os proprietrios da empresa em funo do nmero de aes subscritas e votam periodicamente para escolher o Conselho de Administrao e alterar os estatutos da sociedade. Os acionistas tambm tm o direito de receber dividendos na proporo de sua propriedade. Assim, os direitos e deveres da sociedade e as obrigaes sociais so assumidos pelos acionistas em funo do nmero de aes que detenham. Toda empresa necessita de recursos financeiros, tanto para iniciar suas atividades como para mant-las. As fontes de financiamento geralmente utilizadas so: A) Autofinanciamento em que os recursos financeiros so gerados pela prpria empresa, j em funcionamento. B) Financiamento externo em que os recursos financeiros so fornecidos por outras empresas ou pelas famlias, podendo vir de: crditos, emprstimos, financiamentos, obrigaes ou venda de participao societria (aes).

2.3.2 AS FAMLIASAs famlias, ou unidades familiares incluem todos os indivduos que, direta ou indiretamente, participam das atividades desenvolvidas pelo sistema econmico, seja como consumidores de bens e servios elaborados, seja como proprietrios dos fatores de produo. Desde que o conjunto de agentes econmicos nacionais se compe do setor pblico e do setor privado, e o setor privado se compe das empresas e das famlias, pode-se dizer que as famlias constituem a parte do setor privado nacional, exceto as empresas. Uma observao importante que as famlias procuram maximizar a satisfao de suas necessidades por meio do consumo de bens e servios (geralmente produzidos pelas empresas), limitadas por sua renda, que obtida pela venda ou aluguel de fatores de produo. O nome de famlias e genrico; ele pode significar, tanto um conjunto de indivduos que mora sob o mesmo teto, como: um indivduo isolado, grupos culturais ou esportivos, associaes beneficentes ou religiosas etc., desde que haja homogeneidade de interesses e aes.

2.3.3 O SETOR PBLICOEm qualquer sociedade moderna, independentemente de sua configurao poltica, o setor pblico (ou Estado) realiza atividades econmicas de fundamental importncia. Setor pblico ou Estado o conjunto de poderes pblicos institudos por um povo social, poltica e juridicamente constitudo, com estrutura administrativa e governo prprio.

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Prof. Vivaldo Guimares Neto - UNIVAPA constituio esquemtica do setor pblico brasileiro ilustrada pela Figura 2.1.

Figura 2.1 Estrutura do setor pblico brasileiro. A necessidade da atividade econmica do setor pblico deriva do fato que apenas no plano ideal o setor privado (empresas e famlias) conseguem cumprir de modo adequado todas as suas tarefas ou funes. O setor pblico atua no sentido de oferecer bens pblicos sociedade e, para isso, necessita arrecadar recursos financeiros. Bens pblicos o conjunto de bens e servios gerais fornecidos pelo setor pblico: educao, segurana, justia etc. e que, pela sua prpria natureza, beneficia um amplo grupo social. A Figura 2.2 ilustra, de forma esquemtica, o relacionamento econmico do setor pblico com o setor privado, vendendo bens e servios gerais e especiais e para isso, arrecadando impostos e cobrando taxas.

Figura 2.2 Fornecimento de bens (e servios) pblicos. Para o exerccio de suas atividades econmicas, o setor pblico dotado de trs funes: alocativa, distributiva e estabilizadora e as executa com base numa poltica econmica consistente.

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Prof. Vivaldo Guimares Neto - UNIVAPA funo alocativa do setor pblico est associada ao fornecimento de bens e servios no oferecidos adequadamente pelo setor privado. Exemplos: justia, defesa e infraestrutura. A funo distributiva do setor pblico est ligada correo de injustias na distribuio de renda do pas j que o setor privado, fortemente competitivo, funciona como um concentrador de renda. A funo estabilizadora do setor pblico est relacionada com a interveno do estado na Economia, no sentido do equilbrio, influindo no comportamento dos nveis de preos e emprego j que o pleno emprego e a estabilidade de preos no ocorrem de modo automtico, ou seja, dependem das decises das empresas.

2.3.4 O SETOR EXTERNOComo ser visto adiante, o sistema econmico nacional composto do setor pblico e o setor privado (empresas e famlias). Contudo, desde h sculos, os pases que querem desenvolver suas economias devem abri-las para intercmbio com as economias de outros pases. Esse intercmbio permite a complementaridade entre as economias, seja por fornecer bens e servios no disponveis em certos pases e disponveis em outros, seja por fornecer outros bens e servios disponveis a custos diferentes em diversos pases. O setor externo ou o resto do mundo composto pelos outros pases, por suas associaes e por organizaes internacionais. Como foi visto na Figura 1.5, o setor externo se relaciona com a economia de um pas sob o controle de seu setor pblico. Por sua vez, a economia internacional dotada de dois fluxos: o fluxo comercial, que tem por base as transaes com mercadorias entre pases exportaes e importaes e o fluxo financeiro, que tem por base as remessas de moedas entre pases, seja a ttulo de pagamentos, crditos, ajudas ou transferncias. importante mencionar aqui o fenmeno da globalizao que, graas a grande velocidade obtida, na atualidade, no processamento de dados e nos meios de comunicao e de transporte, tem levado internacionalizao do sistema produtivo, do capital e dos investimentos. Trata-se de um processo de mudanas estruturais que leva a uma expanso em mbito mundial da economia e dos mercados, com a conseqente intensificao dos relacionamentos econmicos com o setor externo.

2.4 SISTEMAS ECONMICOSNas sociedades modernas, onde produzido um grande nmero de bens e servios, pode-se observar que o consumo de uma pessoa composto por bens e servios produzidos em reas de atividade econmica diferentes daquela em que exerce seu trabalho. Um operrio que trabalhe numa siderrgica, por exemplo, produz chapas de ao, mas necessita de alimentos, roupas, uma casa, transporte etc. Entretanto, na economia em que esse operrio vive, permitido que ele troque sua fora de trabalho (um fator de produo que concorre para a produo das chapas de ao) por um salrio que lhe permita adquirir os bens e servios de que necessita. Isto ocorre em razo do funcionamento daquilo que se chama de sistema econmico. Um sistema econmico constitui-se basicamente de trs elementos; A. Estoque de fatores de produo recursos humanos e patrimoniais. B. Complexo de unidades produtivas organizao e processamento dos fatores de produo. C. Conjunto de instituies rgos pblicos jurdicos, polticos, sociais e econmicos.

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Prof. Vivaldo Guimares Neto - UNIVAP 2.4.1 - CONCEITUAOTodo sistema econmico deve ser organizado de modo a poder responder s trs perguntas do Problema Fundamental da Economia: o que e quanto, como e para quem produzir? Isto se faz da seguinte maneira: Que bens e servios produzir e em que quantidade? Em razo da escassez de fatores de produo, levando-se em considerao as possibilidades de produo, devem-se escolher esses bens e servios e as respectivas quantidades. Como produzir tais bens e servios? Todos os agentes econmicos nacionais devem discutir e determinar como ser organizada a produo. Para quem produzir tais bens e servios? Deve ser definido de que maneira ser feita a distribuio desses bens e servios pelas famlias de consumidores.

Define-se um sistema econmico como a reunio dos diversos agentes econmicos participantes das atividades de produo, circulao e distribuio de riqueza, organizados no apenas do ponto de vista econmico, mas tambm social, jurdico, institucional etc. importante perceber que os elementos integrantes de um sistema econmico no so apenas pessoas, mas todos os fatores de produo: trabalho, capital e recursos naturais. Entretanto, para que esses fatores faam parte do processo produtivo, eles precisam estar organizados de tal forma que a sua combinao resulte em algum bem ou servio e que leve ao crescimento econmico.

2.4.2 COMPOSIO DO SISTEMA ECONMICONos sistemas econmicos nacionais, em geral, encontra-se um grande e diversificado nmero de empresas ou unidades produtivas, cada qual buscando o modo mais eficiente de organizar os fatores de produo para a obteno de um determinado produto ou para a prestao de um servio. Entretanto, apesar da diversidade de objetivos das inmeras unidades produtivas, pode-se classific-las de acordo com as caractersticas fundamentais de sua produo. De modo anlogo ao que foi definido na classificao das atividades econmicas, no tpico 2.2, pode-se classificar as empresas em trs setores bsicos, que compem o sistema econmico: Setor Primrio: constitudo pelas empresas que executam atividades primrias e utilizam intensamente os recursos naturais e no introduzem transformaes substanciais em seus produtos. Setor Secundrio: constitudo pelas empresas que executam atividades secundrias de produo, ou seja, por meio da utilizao intensiva de capital, realizam operaes industriais, atravs das quais os bens so transformados, sendo-lhes adicionadas determinadas caractersticas para atender s necessidades humanas. Setor Tercirio: esse setor, constitudo pelas empresas que executam atividades tercirias de produo, utilizando intensivamente o fator trabalho; ele se diferencia dos outros pelo fato de seu produto (prestao de servios) no ser tangvel, concreto, embora seja de grande importncia no sistema econmico. Pode-se ter uma idia do grau de desenvolvimento de um pas quando se observa a importncia relativa dos trs setores em seu sistema econmico. Uma economia em que o setor primrio (pases agrcolas) ocupa maior peso revela, quase sempre, um nvel de desenvolvimento insatisfatrio, enquanto aquelas em que o setor secundrio preponderante (pases industrializados) apresentam maior grau de desenvolvimento. Modernamente, dado a evoluo tecnolgica do setor tercirio, h casos que a predominncia desse setor indica o mais alto grau de desenvolvimento.

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Prof. Vivaldo Guimares Neto - UNIVAPVoltando ao tema globalizao, observa-se como uma tendncia atual dos pases mais desenvolvidos, dadas as facilidades de se administrar distncia o fato de que muitas unidades produtivas so exportadas para pases em desenvolvimento, que geralmente apresentam custos produtivos mais baixos e/ou no se preocupam com aspectos ecolgicos de preservao da natureza. Os pases mais desenvolvidos conservam apenas as indstrias de alta tecnologia (e alto valor agregado de produo) e no-poluentes. Alm disso, devido reteno do conhecimento tecnolgico associado produo, eles obtm grandes rendimentos com a venda de servios tcnicos especializados.

2.4.3 OS FLUXOS DO SISTEMA ECONMICOA atividade econmica dinmica em sua finalidade de promover trocas entre os agentes econmicos, em duas vias. Num sentido, durante o processo de produo, em que so obtidos bens e servios, as unidades produtivas empresas - remuneram os fatores de produo por elas empregados: pagam salrios aos seus trabalhadores, aluguel pelas instalaes que ocupam, juros pelos financiamentos obtidos e distribuem lucros aos seus proprietrios. No outro sentido, essa remunerao recebida pelos proprietrios dos fatores de produo e lhes permite adquirir os bens e os servios que necessitam. Este um aspecto fundamental do sistema econmico, e que garante sua eficincia:

as unidades produtivas, ao mesmo tempo em que produzem bens e servios, remuneram os fatores de produo por elas empregados, permitindo que as pessoas adquiram bens e servios produzidos por todas as outras unidades produtivas.Uma pessoa que trabalha numa siderrgica, por exemplo, no vai adquirir apenas o produto de seu trabalho (chapas de ao) com o salrio que recebe. Precisa, tambm, comprar alimentos, roupas, alugar ou comprar uma casa, transportar-se etc. atravs da remunerao de sua fora de trabalho (fator de produo que concorreu para a produo das chapas de ao) que ela poder adquirir as coisas de que necessita para viver. Como decorrncia dessa situao, ficam caracterizados dois mercados: um mercado de fatores de produo (trabalho, capital e recursos naturais) e um mercado de bens e servios finais, onde essas mercadorias so oferecidas e procuradas. A economia tem uma atividade real ou lado real que consta da obteno, por parte das empresas, dos fatores de produo necessrios, da produo de bens e servios e sua distribuio pela sociedade O fornecimento desses fatores de produo feito pelas famlias, suas proprietrias. Dessa forma, a atividade real passa pelos dois mercados citados acima, caracterizando um fluxo. Em contrapartida, a economia tem tambm uma atividade monetria ou lado monetrio que consta da remunerao, a cargo das empresas, dos fatores de produo, sob a forma de salrios, aluguis, juros e lucros. Quem os recebe so as famlias, em troca dos fatores de produo fornecidos. Da mesma forma que a anterior, essa atividade tambm passa pelos mesmos dois mercados, caracterizando outro fluxo.

Pode-se dizer, portanto, que num sistema econmico existem dois fluxos. O primeiro deles, o fluxo real, formado pelos bens e servios produzidos pelo sistema, e tambm recebe o nome de produto. O segundo o fluxo nominal ou monetrio, formado pelo pagamento que os fatores de produo recebem durante o processo produtivo, tambm denominado renda. Esses dois fluxos tm um significado muito importante para a teoria econmica. O fluxo real, formado pelos bens e servios produzidos, constitui a oferta da economia, ou seja, tudo aquilo que foi produzido e est disposio dos consumidores. O fluxo monetrio, formado pelo total da remunerao dos fatores produtivos, a demanda ou procura da economia, ou seja, aquilo que as pessoas procuram para satisfazer suas necessidades e desejos. 7

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A oferta e a procura so as duas funes mais importantes de um sistema econmico. Elas formam o mercado onde as pessoas que querem vender se encontram com as pessoas que querem comprar. importante observar que o termo mercado, na Teoria Econmica, no significa apenas o local fsico onde as pessoas esto localizadas, como uma feira livre, por exemplo. Seu significado mais amplo, referindo-se a todas as compras e vendas realizadas no sistema econmico, tanto de bens de consumo, intermedirios e de capital como de servios. Em suma, sintetiza a essncia do sistema econmico, em que as necessidades so satisfeitas atravs da venda e da compra de mercadorias e servios. Os fluxos real e monetrio do sistema econmico e a formao do mercado, do ponto de vista do setor produtivo (em suas trs classes) so sintetizados esquematicamente pela Figura 2.3. Cabe observar que, do ponto de vista das famlias, o esquema anlogo.

Figura 2.3 Fluxos do sistema econmico.

2.4.4 A CIRCULAO NO SISTEMA ECONMICONo tpico anterior, foram apresentados os elementos fundamentais do sistema econmico: o fluxo real, o fluxo monetrio e o mercado, para onde os fluxos se dirigem. Cabe aqui abordar o funcionamento do sistema econmico, que se caracteriza pelo permanente movimento dos fluxos real e monetrio, tanto no sentido do mercado como no sentido contrrio. Esse movimento corresponde circulao no sistema econmico. Quando os bens e servios passam do produtor para o consumidor, observa-se a realizao do ato de troca ou permuta, ato esse originado da impossibilidade de produzirmos tudo o que necessitamos. Sendo a circulao a sucesso ou conjunto de trocas ou permutas, podemos adiantar que isto constitui o ponto principal da circulao. Circulao o conjunto de estruturas e de mecanismos, graas aos quais, os fatores de produo, os produtos e servios so colocados ao alcance dos consumidores e se distribuem nos diversos mercados. Quando se trata da circulao econmica dos bens e servios, cabe observar que o elemento que viabiliza as trocas e permutas o uso das moedas que so oferecidas e aceitas por todos, e cuja quantidade representa, em cada passo, o que se chama de preo, parmetro fundamental no estudo do mecanismo da oferta e da procura nos mercados.

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Prof. Vivaldo Guimares Neto - UNIVAPNo tpico 1.1.7, quando foram apresentados os agentes econmicos foi proposto que, por simplificao, o estudo deve-se iniciar com a considerao de apenas dois agentes: as empresas e as famlias. Isso equivale a admitir que, tambm por simplificao, admite-se inicialmente que o sistema econmico considerado fechado, ou seja, no mantm relaes econmicas com outros sistemas. Como um sistema econmico corresponde a um pas, isto significa supor que tal pas no importa nem exporta bens e servios de outros pases. Suponha-se ainda que esse sistema econmico no possui setor pblico, ou seja, governo. Essa suposio no de natureza poltica, mas econmica, pois o governo tem um papel importante no sistema econmico. E a sua excluso, assim como a das relaes com outros sistemas econmicos, tem apenas a finalidade de tornar mais simples o raciocnio. Convm dizer ainda que, nesse sistema econmico, toda a renda recebida pelos proprietrios dos fatores de produo gasta em bens e servios de consumo e toda a produo das empresas vendida, no havendo formao de estoques. Dessa forma, esse sistema econmico simplificado ser formado pelas empresas e pelas famlias.

As empresas e famlias so duas entidades econmicas formadas pelas unidades produtivas, no caso das empresas, e pelas pessoas que consomem bens e servios e possuem os fatores de produo, como o caso das famlias. Como se sabe, normalmente, um sistema econmico formado por duas outras entidades: o setor pblico, ou Estado e o setor externo, ou resto do mundo.A seguir, descreve-se o funcionamento desse sistema econmico simplificado:

As empresas contratam, junto s famlias, uma remunerao para utilizar seus fatores de produo, originando-se a o fluxo monetrio. Por outro lado, as mesmas empresas organizam os fatores de produo de que passam a dispor e estabelecem o fluxo real, que se configura na oferta de bens e de servios produzidos. Esses dois fluxos se encontram no mercado, onde as famlias trocam sua renda (ou fluxo monetrio) pelo produto (ou fluxo real) para satisfazer suas necessidades.Para se entender a dinmica desse sistema econmico simplificado, em que todos os agentes econmicos exercem seu papel continuamente, deve-se observar que, no mercado, os fluxos trocam de mos: o fluxo real passa para as mos das famlias, onde ser consumido, pois se trata de bens e servios, enquanto o fluxo nominal passa para as mos do aparelho produtivo, como pagamento pelos bens e servios vendidos. Quando as famlias tiverem consumido os bens e servios adquiridos no mercado, precisaro oferecer novamente seus fatores de produo ao setor produtivo, para receber em troca a renda que lhes permitir dirigirem-se novamente ao mercado. Enquanto isso ocorre, as empresas podem contratar novamente os fatores de produo com as famlias, pois agora esto de posse do fluxo monetrio, que foi obtido no mercado com a venda da produo de seus bens e de servios. Tem-se, portanto, uma volta completa dos fluxos monetrio e real que saram, no primeiro instante, das mos das famlias e empresas, depois se dirigiram ao mercado, trocaram de mos e, novamente atravs da contratao dos fatores de produo, retornam s mos das entidades originais, ou seja, o fluxo monetrio com as famlias e o fluxo real com o aparelho produtivo. A partir da, eles se dirigem novamente para o mercado, onde o processo reiniciado. importante observar que, na realidade, os fluxos monetrio e real esto, ao mesmo tempo, com as famlias e empresrios como no mercado, no sendo necessrio haver uma volta completa para que os mesmos se reiniciem. Essa movimentao dos fluxos o processo de circulao do sistema econmico, e muito importante para que este cumpra o seu papel, produzindo bens e servios e fazendo com que estes cheguem s pessoas para satisfazer suas necessidades.

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O processo de circulao no sistema econmico simplificado ilustrado pela Figura 2.4 a seguir, onde os fluxos reais so representados por linhas cheias e os fluxos monetrios por linhas vazadas. As empresas contratam os fatores de produo nos trs setores (primrio, secundrio e tercirio) junto s famlias, as quais, em contrapartida, recebem a remunerao e vo ao mercado para adquirirem os bens e servios que necessitam e que so ofertados pelas empresas.

Figura 2.4 Processo de circulao no sistema econmico. Cabe lembrar mais uma vez que esse modelo simplificado, pois ignora o setor pblico e o setor externo. Numa abordagem mais geral, verifica-se que o setor pblico atua, tanto como ofertante como demandante, em ambos os mercados mencionados: no mercado de fatores de produo e no mercado de bens e servios, em sua funo alocativa. Alm disso, o setor pblico, ao influir sobre os mecanismos de mercado, exerce sua funo distribuidora e, ao agir no sentido de alterar o comportamento do nvel de preos e do nvel de emprego, realiza a sua funo estabilizadora. Dada a necessidade de controle do setor pblico sobre o comrcio internacional, pode-se dizer que o relacionamento do sistema econmico com o setor externo se d sob a superviso do Estado.

2.5 FORMAS DE ORGANIZAO DA ATIVIDADE ECONMICANo mundo atual, cada pas procura estabelecer o seu prprio sistema econmico, do modo mais adequado s suas particularidades nacionais. Dessa forma, difcil encontrar sistemas econmicos idnticos entre dois pases. A regra geral que existam diferenas entre os sistemas econmicos contemporneos, contudo, existem algumas caractersticas comuns a todos eles. Tais caractersticas, que configuram os sistemas econmicos, compreendem: I. O descompasso entre necessidades ilimitadas e recursos escassos, isto , o problema econmico; II. Como decorrncia desta caracterstica, a aplicao dos conceitos de possibilidades de produo, rendimentos decrescentes e custos de oportunidade se estende a todos os sistemas operacionais; III. A diviso do trabalho e a especializao nas empresas, e ainda o uso da moeda nas transaes econmicas; IV. A medio da atividade econmica como instrumento de planejamento e ao econmica.

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Prof. Vivaldo Guimares Neto - UNIVAPExistem duas formas principais de organizao da atividade econmica: a Economia de Mercado (tipo capitalista) e a Economia Planificada (tipo socialista). Os pases organizam-se segundo uma dessas duas formas, ou possuem algum sistema intermedirio entre elas. A seguir, so detalhados esses sistemas.

2.5.1 SISTEMA DE ECONOMIA DE MERCADOA forma mais antiga e tradicional de organizao da atividade econmica a chamada Economia de Mercado, na qual, de modo extremamente terico e simplificado, considera-se que todas as decises econmicas so tomadas pelo setor privado: empresas e famlias. Com a evoluo das sociedades, manifestou-se cada vez mais a necessidade da atuao do setor pblico nos sistemas econmicos, chegando-se ao extremo, em alguns pases, de interveno total do Estado na Economia. Os sistemas econmicos atuais so resultado da evoluo por que passaram as formas de organizao da atividade econmica, em busca do sistema ideal de eficincia produtiva, aliada a uma eficincia distributiva da produo. As economias de mercado podem ser analisadas segundo dois sistemas: a) sistema de concorrncia pura (sem interferncia do setor pblico); b) sistema de economia mista (com interferncia do setor pblico). 2.5.1.1 Sistema de Concorrncia Pura Num sistema de concorrncia pura ou perfeitamente competitivo, predomina a propriedade privada dos bens de produo, ao lado de decises econmicas fundamentadas no mercado e nos preos. As atividades econmicas so, portanto, dirigidas e controladas unicamente por empresas privadas, que competem entre si. A expresso que caracteriza esse tipo de sistema o laissez-faire, representado por: milhares de produtores e milhes de consumidores tm condies de resolver os problemas econmicos fundamentais (o que e quanto, como e para quem produzir), como que guiados por uma mo invisvel. Isso sem a necessidade de interveno do Estado na atividade econmica. Isso se torna possvel atravs do chamado mecanismo de preos, que resolve os problemas econmicos fundamentais e promove o equilbrio nos vrios mercados, da seguinte forma: Se houver excesso de oferta (ou escassez de demanda), formar-se-o estoques nas empresas, que sero obrigadas a diminuir seus preos para escoar a produo, at que se atinja um preo no qual os estoques estejam satisfatrios. Existir concorrncia entre empresas para vender os bens aos escassos consumidores; Se houver excesso de demanda (ou escassez de oferta), formar-se-o filas, com concorrncia entre consumidores pelos escassos bens disponveis. O preo tende a aumentar, at que se atinja um nvel de equilbrio, em que as filas no mais existiro. Os problemas econmicos fundamentais so resolvidos, no sistema de concorrncia pura, da seguinte forma: O que produzir: o que produzir decidido pelos votos ou desejos dos consumidores (tambm chamado de soberania do consumidor); Quanto produzir: o quanto produzir determinado pelo encontro da oferta e demanda no mercado, portanto, pelos produtores e tambm pelos consumidores;

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Prof. Vivaldo Guimares Neto - UNIVAP Como produzir: pela competio entre as empresas produtoras, em busca de maior produtividade e reduo dos custos (que uma questo de eficincia produtiva); Para quem produzir: no mercado de fatores de produo (pelo encontro da demanda e oferta dos servios dos fatores de produo). Para quem produzir uma questo distributiva, ou seja, quem ou quais setores sero beneficiados pelos resultados da atividade produtiva. O diagrama da Figura 2.5 ilustra os fluxos que ocorrem entre empresas e famlias, tanto no mercado de bens e servios como no mercado de fatores de produo, em um sistema de concorrncia pura.

Figura 2.5 Sistema de concorrncia pura. Esse sistema a base do liberalismo econmico, que prope a soberania do mercado, sendo as atividades econmicas, portanto, dirigidas e controladas unicamente por agentes econmicos privados, que competem entre si, sem intervencionismo do Estado. Nesse modelo, o Estado deve responsabilizar-se mais com questes como justia, paz, segurana e relaes diplomticas, e no somente deixar o mercado resolver as questes econmicas fundamentais, mas tambm zelar pelo livre funcionamento do mecanismo dos preos e do mercado, sem interferir em nenhum aspecto da produo. As empresas estariam dispostas a oferecer seus produtos medida que houvesse possibilidades efetivas de obteno de lucros. Ao lado da propriedade privada dos meios de produo, os lucros seriam o segundo grande fator determinante de uma filosofia liberal.

CRTICAS AO SISTEMA DE CONCORRNCIA PURAO funcionamento do sistema de concorrncia pura apresenta uma srie de vantagens e desvantagens. Entre as vantagens: ele opera com altos graus de eficincia e liberdade econmica. Os agentes econmicos privados (empresas e famlias) procuram, cada qual, livremente, maximizar os seus interesses dentro de um ambiente de competio. Outro ponto

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Prof. Vivaldo Guimares Neto - UNIVAPfavorvel a existncia do mecanismo de preos, que sinaliza aos agentes econmicos as variaes na demanda e na oferta e promove o ajuste do mercado. No obstante essas vantagens, o sistema de concorrncia pura apresenta algumas desvantagens, tais como: Os preos nem sempre flutuam livremente, ao sabor do mercado, devido a fatores como: O poder dos monoplios e oligoplios sobre a formao de preos no mercado, no permitindo queda dos preos de seus produtos; O poder dos representantes das famlias sobre a formao dos preos dos fatores de produo; Mesmo no fazendo parte desse sistema econmico, o Governo acaba intervindo na economia, em casos como: Cobrana de impostos, taxas e tarifas pblicas e concesso de subsdios; Congelamento e tabelamento de preos; Estabelecimento de poltica de preos mnimos; Estabelecimento de poltica salarial fixao de salrio mnimo, reajustes de salrios, dissdios etc.; Estabelecimento de poltica cambial, que afeta o comrcio exterior. A distribuio de renda no eqitativa. Dado o carter competitivo da economia, comum o aparecimento de diferenas na distribuio de renda e esse fato tende a se agravar, com os ricos ficando a cada dia mais ricos e os pobres, cada vez mais pobres. Isto porque as empresas esto preocupadas com a obteno do mximo lucro, e no com questes distributivas. A construo desse sistema se baseia sobre uma grande simplificao da realidade. um sistema fechado que exclui agentes econmicos importantes como o setor pblico. O mercado sozinho no promove perfeita alocao de recursos. Nesse sistema, muito difcil encontrar empresrios dispostos a efetuar altos investimentos em empreendimentos, com retornos apenas no longo prazo, tais como: estradas, portos, usinas hidroeltricas. Essa funo alocativa acaba por ser feita pelo setor pblico. Existem falhas ocasionais no mercado. Ocasionalmente, e por vrias razes, o mercado falha, na busca da eficincia econmica, ficando abaixo da fronteira de possibilidades de produo. Observa-se que as crticas apresentadas so todas pertinentes. A prpria natureza competitiva do ser humano justifica a atuao do Governo, como apontado na primeira das desvantagens citadas acima. claro que a atuao do Governo deve se limitar a casos onde a livre iniciativa, por si s, incapaz de trazer o bem-estar geral da sociedade, tais como: Na complementao da iniciativa privada, quando essa, por qualquer razo, no se interessa, quantitativa ou qualitativamente, a produzir algo, em sua funo alocativa. Na correo de injustias na distribuio de renda, por meio de programas sociais, em sua funo distribuidora. Na regulamentao de alguns mercados, no sentido de civilizar a oferta ou a demanda, para evitar a especulao, bem como na fixao de salrios e preos mnimos, em sua funo estabilizadora. Entretanto, esse tipo de sistema no totalmente utpico, j que muitos mercados comportam-se mais ou menos num sistema de concorrncia quase pura. Afinal, centenas de milhares de mercadorias so produzidas e consumidas por milhes de pessoas, mais ou menos por sua livre iniciativa e sem uma direo central, devido ao grande nmero de ofertantes e de demandantes. O mercado hortifrutigranjeiro, por exemplo, aproxima-se bastante desse modelo.

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Prof. Vivaldo Guimares Neto - UNIVAP2.5.1.2 Sistema de Economia Mista No tpico anterior foi apresentado o sistema de concorrncia pura no qual, em tese, todas as respostas ao Problema Fundamental da Economia so dadas pelos agentes privados (empresas e famlias). Contudo, observou-se uma srie de deficincias naquele modelo ideal e a principal delas exige a presena, em maior ou menor intensidade, do setor pblico. Na realidade, o sistema de concorrncia pura s existe nos livros de economia, mas, nem por isso deixa de ser importante. At o incio do sculo XX ainda era possvel encontrarse, principalmente na Europa, mercados com alto grau de concorrncia pura. Mas, a partir de ento, as desvantagens do sistema apontadas no tpico anterior passaram a se tornar mais presentes, associadas a outros fatores, como ao aumento da especulao financeira, desenvolvimento do comrcio internacional, a economia se tornou mais complexa, culminando com a grande depresso dos anos 1930, o que obrigou o setor pblico dos pases a atuar de forma mais intensa nos rumos da atividade econmica. Hoje, o que se verifica na prtica, em todos os pases, um certo grau de interveno governamental na economia. Em alguns pases, normalmente naqueles mais desenvolvidos, esse grau de interveno baixo. H maior equilbrio entre os interesses das empresas e das famlias e h melhor distribuio de renda e isso diminui a importncia das funes econmicas (alocativa, distributiva e estabilizadora) do setor pblico. Em outros pases, normalmente os menos desenvolvidos, h necessidade imperiosa da interveno governamental em grande extenso da economia do pas, isto , da socializao econmica. Esse sistema econmico com base no mercado, mas com um certo grau de interveno governamental chamado de sistema de economia mista, pois h participao tanto de entidades privadas como de entidades pblicas. Em um sistema de economia mista, o setor pblico se associa com os agentes privados na resposta ao Problema Fundamental da Economia: o que e quanto, como e para quem produzir?

De modo geral, a atuao do setor pblico se justifica com o objetivo de eliminar as distores alocativas e distributivas, estabilizar a economia e promover a melhoria do padro de vida da coletividade, garantindo um nvel mnimo de qualidade de vida. Isso pode se dar das seguintes formas: Atuao sobre a formao de preos, via impostos, subsdios, tabelamentos, fixao de salrio mnimo, preos mnimos, taxa de cmbio; Por meio de Planejamento geral, promover incentivos aos empresrios para que produzam determinados bens em determinadas regies do Pas usando, para isso, ferramentas de poltica industrial como subsdios. Complementao da iniciativa privada, principalmente em investimentos em infraestrutura bsica (energia, estradas etc.), que o setor privado no tem condies financeiras de assumir, seja pelo elevado montante de recursos necessrios, seja devido ao longo tempo de maturao do investimento, at que traga retorno. Criao de empresas estatais em setores estratgicos, onde a livre iniciativa poderia causar danos ao mercado (Ex.: Petrobras). Fornecimento extensivo de: servios pblicos especiais: iluminao, gua, saneamento bsico, etc. servios pblicos gerais: sade e educao etc., em concorrncia ao setor privado, para as categorias sociais mais necessitadas. bens pblicos, que no so vendidos no mercado, como: justia e segurana. Compra de bens e servios do setor privado (o Governo costuma ser, isoladamente, o maior comprador do sistema). 14

Prof. Vivaldo Guimares Neto - UNIVAP 2.5.2 SISTEMA ECONMICO CENTRALIZADOQuando se leva ao extremo a crtica s desvantagens do sistema de concorrncia pura, pode-se concluir que, em razo da forte competio por ele criada, s os mais fortes sobrevivem e cresce o desemprego, gerando m distribuio de renda e, em conseqncia, graves crises sociais nos pases. Por essas razes, muitos pases que tinham esses problemas passaram a encarar com interesse as doutrinas socialistas propostas por Karl Marx, Friedrich Engels e outros pensadores do sculo XIX. Por contrariar fortes interesses capitalistas, a introduo de regimes polticos baseados em teorias econmicas socialistas s se fez mediante revolues civis naqueles pases (como a Rssia, China, Cuba e outros). No sistema de economia centralizada, socialista ou planificada, a forma de resolver os problemas econmicos fundamentais (ou seja, a escolha da melhor alternativa: o que e quanto, como e para quem produzir?) decidida por uma Agncia ou rgo Central de Planejamento, e no pelo mercado. A propriedade dos recursos (chamados de meios de produo, nesses sistemas) do Estado (ou seja, os recursos so de propriedade pblica). Os meios de produo incluem mquinas, edifcios, residncias, terra, entidades financeiras, matrias-primas. Os meios de sobrevivncia pertencem aos indivduos (roupas, automveis, eletrodomsticos etc.) diferentemente da economia de mercado onde, como foi visto, prevalece a propriedade privada dos fatores de produo. A Agncia ou Bureau Central (na antiga URSS, a Gosplan) realiza um inventrio dos recursos disponveis e das necessidades, e faz uma seleo das prioridades de produo, isto , estabelece metas de planejamento (na URSS, os chamados Planos Qinqenais). Esse rgo respeita em parte as necessidades do mercado, mas est sujeito s prioridades polticas dos governantes. Normalmente, esses pases costumam priorizar bens de produo (indstria de base, bens de capital) de forma mais acentuada que as economias de mercado, que so relativamente mais influenciadas pelos desejos da coletividade por bens de consumo. Por concentrar todo o poder de deciso econmica em um pequeno grupo de funcionrios pblicos, esse sistema apresenta algumas restries que acabaram, a partir de 1990, por inviabiliz-lo na maioria daqueles regimes: A impossibilidade dos indivduos decidir o que e quanto comprar, traz a insatisfao de suas necessidades; A falta de competio na produo realizada apenas por empresas estatais tornaa ineficiente; A certeza de que, bastando trabalhar, o indivduo ter um padro de vida igual ao dos demais, retira-lhe a motivao para progredir profissionalmente; A equalizao na distribuio de renda coloca todos os indivduos num mesmo nvel de poder aquisitivo, mas, a diviso dos escassos bens disponveis por todos os habitantes geralmente elimina os ricos e os miserveis, tornando todos pobres e carentes; O comrcio exterior (principalmente com pases de economia capitalista) muito prejudicado: o que produzido naqueles pases dificilmente interessa a outros e viceversa; alm disso, existe o problema cambial (a ser abordado adiante). Como conseqncia dessas restries a antiga Unio Sovitica tornou-se invivel economicamente e a China hoje procura ser reconhecida como uma economia de mercado. De qualquer modo, difcil encontrar um pas cuja economia seja inteiramente centralizada. Uma economia centralizada tambm caracterizada pelos seguintes fatores: a) Papel dos preos no processo produtivo. Numa economia planificada, os preos representam apenas recursos contbeis que permitem o controle da

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Prof. Vivaldo Guimares Neto - UNIVAPeficincia das empresas. Ou seja, os preos so usados apenas contabilmente: as empresas tm quotas fsicas de matrias-primas, por exemplo, mas no fazem nenhum desembolso monetrio, apenas registram o valor da aquisio como custos de produo. b) Papel dos preos na distribuio do produto. Numa economia centralizada, os preos dos bens de consumo so determinados pelo Governo, de forma a eliminar qualquer excesso ou qualquer falta persistente do produto. Normalmente, o Governo subsidia fortemente os bens essenciais e taxa os bens considerados suprfluos. c) Repartio do lucro. Uma parte do lucro vai para o Governo. Outra parte usada para investimentos na empresa, dentro das metas estabelecidas pelo Governo. A terceira parte dividida entre administradores (os burocratas) e operrios, como prmio pela eficincia. d) Subsdios. Se o Governo considera que determinada indstria vital para o pas, esse setor ser subsidiado, mesmo que apresente ineficincia na produo ou prejuzos.

2.5.3 COMPARAES ENTRE OS DOIS SISTEMASAo se compararem os dois tipos de sistemas econmicos: capitalista x socialista, duas diferenas principais so ressaltadas: I. Propriedade dos fatores de produo: nos sistemas de concorrncia pura, pertencem s famlias e so transacionados nos mercados; nos sistemas socialistas centralizados, os fatores de produo pertencem ao Estado e so aplicados segundo critrios das Agncias Centrais de Planificao. II. Problema Econmico Fundamental: nos sistemas de concorrncia pura, respondido pelo mercado; nos sistemas socialistas centralizados tambm respondido pela Agncia Central de Planificao. Existe uma tendncia do sistema planificado em levar maior eficincia distributiva, enquanto as economias de mercado tendem a apresentar maior eficincia alocativa (e, portanto, maior progresso tecnolgico), devido concorrncia que se estabelece entre os produtores e motivao do lucro.

A discusso deste tpico sobre sistemas econmicos (definidos ou como economia de mercado, ou economia planificada), e no deve ser confundida com a discusso sobre regimes polticos (democracia, comunismo etc.), que muito mais abrangente.

2.5.4 SISTEMAS ECONMICOS A QUATRO COMPONENTESNos tpicos anteriores, foram abordados sistemas econmicos a dois componentes (concorrncia pura) e a trs componentes (economia mista e centralizado). O modelo apresentado na Figura 2.5 bastante simplificado porque s contempla os dois agentes econmicos nacionais privados: empresas e famlias e dois mercados: o mercado de bens e servios e o mercado de fatores de produo. Um modelo mais completo de sistema econmico para uma economia de mercado pode ser construdo, incluindo os trs agentes econmicos nacionais (empresas, famlias e setor pblico) interagindo com cinco mercados nacionais (de bens de consumo, de bens de capital, de fatores de produo, financeiro e de capitais) e o mercado externo, representando o setor externo.==================================================================================================

1) 2) 3) 4)

Referncias Economia Fundamentos e Aplicaes J.T.G.Mendes. Economia Notas Introdutrias F.T. Jorge e J.O.C.Moreira. Introduo Economia J.P.Rossetti. Introduo Economia R.L.Troster e F.Mochn.

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-3MICROECONOMIA: DEMANDA, OFERTA E EQUILBRIO3.1 INTRODUO MICROECONOMIAMicroeconomia o ramo da cincia econmica que estuda o comportamento dos agentes econmicos unitrios, tais como os consumidores e os produtores, e suas interrelaes, em termos da determinao dos preos e quantidades em mercados especficos e, por outro lado, aborda certos aspectos relacionados ao funcionamento das empresas, no tocante a custos e produo de bens e servios e, tambm, a receita e fatores de produo. O campo de atuao da microeconomia abrange as interaes entre consumidores e produtores individuais, cada um buscando, no mercado realizar seus objetivos: no caso do consumidor, a satisfao de suas necessidades; no caso do produtor, a obteno de lucro por meio da satisfao das necessidades do consumidor. No tpico 2.4.3, quando foi apresentado o conceito de fluxos do sistema econmico, foram tambm mencionados os termos: oferta e demanda (ou procura) que configuram um mercado. Cabe agora defini-los: Oferta a relao estabelecida entre as quantidades de determinado bem ou servio que os produtores estariam dispostos e seriam capazes de vender, a diferentes preos, em determinado perodo de tempo. Demanda a relao estabelecida entre as quantidades de determinado bem ou servio que os compradores estariam dispostos e seriam capazes de adquirir, a diferentes preos, em determinado perodo de tempo. Dessa forma, num mercado qualquer, ocorre o encontro entre essas duas foras opostas: a oferta e a demanda, cada uma buscando maximizar seus objetivos. Como foi visto na Figura 2.5, no mercado de bens e servios, as empresas (como produtores) ofertam bens e servios que so demandados pelas famlias (como consumidores); no mercado de fatores de produo, a situao se inverte: As famlias ofertam os fatores de produo que so demandados pelas empresas. Em decorrncia do encontro entre essas duas foras num sistema de economia de mercado, os preos so formados com base nos dois mercados citados: o mercado de bens e servios e o mercado de fatores de produo. Demandantes e ofertantes, aps negociar, entram em acordo sobre o preo de um bem ou servio de modo que, ao final, se far uma troca de uma determinada quantidade desse bem ou servio por uma outra determinada quantidade de dinheiro. A microeconomia apia-se fortemente em uma Teoria de Preos. Em qualquer tipo de economia, os preos, por representarem um referencial numrico, tm a funo especial de influenciar as decises dos agentes econmicos.

3.1.1 SISTEMA DE PREOSO preo corresponde expresso monetria do valor de troca de determinado recurso ou produto, decorrente