APOSTILA ESTRUTURAS NARRATIVAS

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NICOLAU COPÉRNICO (1473 - 1.543) Astrônomo e matemático, defendeu a teoria heliocêntrica do Sis- tema Solar, indo na contramão da crença hegemônica na sua época. Foi no ano da sua morte que ele permitiu a publicação do seu livro chamado “Da revolução de esferas celestes", tido até hoje como um marco importante para o surgimento da astronomia moderna.

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Apostila sobre estruturas narrativas e produção de webvídeo para aulas de mídia-educação e ensino de ciências, preparada pela equipe do LAbI para a Aciepe "Astronomia no Ensino Fundamental: uma abordagem Multidisciplinar".

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NICOLAU COPÉRNICO (1473 - 1.543)Astrônomo e matemático, defendeu a teoria heliocêntrica do Sis-tema Solar, indo na contramão da crença hegemônica na suaépoca. Foi no ano da sua morte que ele permitiu a publicação doseu livro chamado “Da revolução de esferas celestes", tido atéhoje como um marco importante para o surgimento da astronomiamoderna.

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Diretores de cinema contamsuas histórias escrevendo coma linguagem verbal e com lin-guagens não-verbais de som eimagem. E os espectadores,mesmo que não dominem oscódigos dessa linguagen não-verbais (pelo menos do jeitoque o fazem com a linguagemverbal), sabem interpretar as in-tenções do diretor, decodifi-cando os elementos do textoaudiovisual. Faça um teste. Pri-meiro, assista o trailer do filme“Veludo Azul”, do diretor DavidLynch.Depois, assista o trailerdo filme “Monsieur Verdoux”, de

Charles Chaplin. Tente respon-der essas duas perguntas:

1.Qual é o gênero de cadaum dos filmes? Como vocêsabe?

2.Quais aspectos do trailerchamaram mais sua aten-ção? Por quê?

Perceba que você sabe dis-correr sobre amensagem, ana-lisando a estética das cenas, omodo como os pedaços foramjuntados, o papel que a músicatem no filme...

Agora, assista o trailer dofilme “Zuzu Angel”: quais as-pectos chamaram sua atençãonesse trailer? Por quê?

Perceba que, mesmo semsaber localizar os recursosmuito bem, na maioria dasvezes, você é capaz de inter-pretar a linguagemde cada trai-ler, do modo que os diretoresqueriam que você o fizesse.Você ficou atento, reuniu umfragmento comoutro para gerarsentido ao que estava aconte-cendo na tela, riu nos momen-tos engraçados, ficou triste nos

momentos dramáticos, ficoucurioso, se surpreendeu...

Essas suas reações sedevem ao modo como o con-teúdo foi apresentado, usandorecursos básicos do cinema:planos e ângulos de câmera,montagem, diálogos e trilha so-nora.

Agora, assista o vídeo“Karen quer tomar café”, epreste atenção nos diversosmodos possíveis de filmar umacena banal, como uma pessoaproduzindo uma xícara decafé...

LEIA E ESCREVA COM IMAGENS

PLANIFICAÇÃOPlano geral - é o mais aberto de todos e mostra paisagens inteiras

Plano aberto - mais fechado que o geral e mostra ambientes internos ou externos

PlanoAmericano - foca o personagem do joelho para cima

Plano médio - foca o personagem da cintura para cima

Close - foca o rosto ou objetos

Super close - foca um detalhe do personagem ou dos objetos

Os planos mais abertos são mais objetivos, e servem para localizar o local e a época onde se passaa narrativa, mostrar um encadeamento de fatos etc. Os planos mais fechados são mais subjetivos;os planos americano e médio são usados quando devemos presta atenção em gestos ou diálogosdos personagens e os closes servem para evidenciar a emoção que o personagem está sentindonaquele determinado momento.

ANGULAÇÃOPanorâmica - a câmera desliza ao longo de um eixo horizontal ou vertical

Travelling - a câmera se desloca para dentro da imagem

Zoom in - a câmera se aproxima de um ponto

Zoom out - a câmera se afasta de um ponto

Chicote - a câmera se desloca rapidamente de um ponto a outro, deixano um rastro

Plongée - captação de cima para baixo

Contra-plongée - captação de baixo para cima

Panorâmicas, travellings e zooms são movimentos que exploram a cena: as panorâmicas são maisdescritivas, os travellings e zooms são mais introspectivos, porque reproduzem movimentos que dãoao espectador a sensação momentânea de estar no lugar do personagem. Esses movimentos tam-bém fazem o espectador ter a sensação de que está entrando na cena, e são responsáveis porgerar a imersão típica da experiência de assistir um filme.

-O chicote é um recurso estético muito dinâmico que liga rapidamente pontos diferentes da cena, oplongée dá mais poder ao espectador, que vê a cena de cima, e o contra-plongée dá mais poder aopersonagem, porque coloca o espectador num plano mais baixo.

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Identifique os planos em cada um dos 12 stills retirados do trailer do filme “ZuzuAngel”.

Qual parece ser a intenção do diretor ao escolher esses planos? Responda na próxima página.

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A idéia de estrutura narrativa foi criada no campo teoria daliteratura (Todorov)e da semiologia (Barthes) e pode ser adap-tada à produção de pequenos webvídeos na escola. SegundoTodorov, a estrutura narrativa clássica pode ser dividida emtrês partes: 1. uma situação de normalidade; 2. o surgimento

de um conflito, que rompe com a normalidade; 3. a solução doconflito, criando uma nova situação de normalidade, modifi-cada pelo coflito surgido. Tal estrutura é tão universal, quepode ser encontrada nas mensagens mais suscintas, comonas tirinhas de jornal. Observe:

UM TEXTO COM COMEÇO, MEIO E FIM

NojinskyFolha de S. Paulo, 15/12/2008

Níquel NáuseaFolha de S. Paulo, 12/05/2009

Chico BaconFolha de S. Paulo, 18/04/2009

Níquel NáuseaFolha de S. Paulo, 18/04/2009

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Segundo Tzvetan Todorov (2003) uma narrativa se opera como um sistema que temsua própria lógica interna ou “gramática”.Amaioria de narrativas (no mito, no conto, no romance) se organizam segundo esteesquema: uma força ou por um poder criam um problema ou um distúrbio. A situa-ção estável é influenciada por distúrbios, complicações e obstáculos. Então, é pre-ciso que haja uma transição de um equilíbrio, através de um desequilíbrio, para umequilíbrio novo.Nem sempre todos os momentos desta estrutura narrativa são apresentados pelatrama, mas, como leitores, nós os deduzimos.

A idéia básica de Todorov pode ser melhor descrita segundo essas categorias:1. Exposição - o equilíbrio inicial, um estado da normalidade, estabilidade, ordemsocial.2. Rompimento - um evento causado por um agente da mudança cria um desequilí-brio, criando um problema.3. Complicação - uma série dos obstáculos ocorre, que faz com que continue o es-tado do desequilíbrio.4. Clímax – o ponto dramático do conflito, excitamento ou tensão.5. Fechamentos - o protagonista principal resolve o problema, obtém o objetivo,cumpre o desejo, restaura a ordem e instiga um equilíbrio novo.

Na transição de um estágio ao seguinte, os personagens e as situações são trans-formados no processo do rompimento. O rompimento permite que alguns persona-gens modifiquem seu comportamento "normal". No estágio final, os personagens, asações e o comportamento são "re-normalizados" e retornados a um estado de equilí-brio, porém diferente daquele inicial. O modelo pode se aplicar a quase toda narra-tiva convencional, embora cada estágio do desenvolvimento narrativo possa serestudado mais detalhadamente.

Uma outra etapa importante na análise narrativa é a caracterização do ompimentoinicial, ou a maneira em que a trama é provocada. A natureza do rompimento podeser genérica. Nos gênero de westerns, por exemplo, o rompimento é causado geral-mente por um intruso ou por uma invasão fora da comunidade. Em uma história dehorror o rompimento é causado por um monstro (BRANSTON, 2006).

Um pouquinho de teoria literária... As macro-proposições no PlanoNarrativo (Pn) definidas porTodorov, numa sequência narra-tiva, são essas:(Pn1): corresponde à situação es-tável inicial.(Pn2): se refere à força que a vemperturbar, a trazer o conflito.(Pn3): corresponde ao estado dedesequilíbrio resultante.(Pn4): refere-se à força em sentidoinverso que vem restabelecer oequilíbrio.(Pn5) corresponde ao novo equilí-brio estabelecido.

Assim, ele esquematiza a narraçãoda seguinte forma:

Pn1 = Estado inicial(antes do processo)

Pn2 = Função que abre um pro-cesso(início do processo)

Pn3 = Processo propriamente dito(processo)

Pn4 = Função que fecha o pro-cesso(fim do processo)

Pn5 = Resultado - Estado final(após o processo)

Estabilidadeinicial

Desenvolvimentoda trama

Forçaperturbatória ação

Forçarestabelecedorasolução da trama

Estadofinal

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ESCREVAO SEU TEXTOAUDIOVISUALConsidere a aula sobre Gnomon da semana passada. Observa as imagens e os clips

de vídeo disponíveis no CD. Organize a experiência em uma estrutura narrativa com co-meço, meio e fim, escrevendo um storyline e uma sinopse. Depois, imagine a sinopse emtermos de imagens. Tente maginar o desenvolvimento, preenchendo o storyboard. Sevocê não sabe desenhar, não tem problema! Faça com o tradicional “homem palito”. Oimportante é expressar graficamente a composição das cenas e os planos de câmera.

Storyline é um texto curtoque sintetiza a narrativa,enfatizando a cadeia deeventos da história. Os ro-teiristas profissionais cos-tumam dizer que, se vocênão consegue fazer umastoryline, muito provavel-mente é orque você nãotem uma boa história...

Sinopse é um texto umpouco mais longo que ostoryline, em que o rotei-rista sintetiza aspectoscentrais da história, mascuidando para criar umavisão de conjunto. Nessetexto podem ser indicadasas funções dos protagonis-tas e antagonistas e a in-tenção da narrativa.

Script é o roteiro de ci-nema ou TV. Estrutural-mente, um script de vídeoé composto por quatro par-tes:1. Título do filme2. Storyline3. Sinopse4. Pista de vídeo(onde são anotadastodas as informações paraa imagem: planos, ângu-los, textos que possamaparecer na tela)5. Pista de áudio(que contém as anotaçõessobre os sons que foremaparecer: diálogos, efeitose trilha sonora).

EXEMPLO DE SCRIPTSTORYLINE: Festança no Panteão é atrapalhada por uma estranha explosão e os deuses-planetasconvocam cientistas e astrônomos de diversas épocas para ajudá-los a solucionar o problemaSINOPSE:Ahistória começa com uma festa agradável e charmosa no Panteão romano. Estão todosalegres, bebendo e comemorando o aniversário de Vênus, a deusa da beleza e do amor. De repente,uma explosão misteriosa nos céus põe Roma e o Panteão em pânico. Atônitos, os deuses-planetasenviam o mensageiro Mercúrio para falar com os astrônomos e cientistas de todas as épocas, que sereuniam em outra festa. Eles pensam coletivamente para solucionar o problema. Estão já avançados,quando Einstein aparece e, fazendo as perguntas que lhe são típicas, deixa todos com os miolos fer-vendo.

Plano geral da festa

Plano médio de Vênus flertando com Saturno

Close de Júpiter desaprovando o flerte

Efeito gráfico “dissolver”

Close numa explosão

Plano aberto dos deuses assustados, tentandose proteger da explosão

Plano médio de Júpiter

E, ASSIM, O SCRIPT CONTINUA...

PISTADE IMAGENSEntra Background (BG) musical

Narrador (deixa inicial): “Aquela seria mais umacharmosa festa no Panteão Romano, daquelasque os deuses...

Fim do BG

Efeito sonoro de explosão

Narrador (deixa final): É o final dos tempos!

Efeito sonoro de relógio (tic-tac)

PISTADE SOM

BACKGROUND (ou BG) é o nome quese dá à música de fundo comumenteusada em vídeo. Essa música deve com-binar com o “clima” das cenas: calma, en-graçada, tensa etc. Quando a cena temdiálogos, é importante que a música nãoatrapalhe a compreensão do que estásendo dito.

DEIXA (inicial e final) são as primeiras e asúltimas falas do narrador ou dos personagens.Servem para que o editor saiba exatamenteonde cortar a gravação.

STORYBOARD é o nome que cineastase produtores de vídeo dão para umasérie de desenhos que mostram o modocomo as principais cenas de um filme,uma novela, um comercial ou um docu-mentário serão captados e ordenados.

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O COMEÇO Escolha imagens, planos e ângulos que tenham um clima de normalidade, rotina...

O MEIO Ao menos uma imagem precisa ter uma conotação de tensão, freio, susto, conflito...

O FIM Escolha imagens que tenam conotação de equilíbrio e normalidade novamente,mas que sejam, de algum modo, diferentes das imagens iniciais

Agora, pense numa narração para o seu filme. Essa narração pode ser gravada em áudio ou apare-cer me frames, como nos filmes mudos de Charlie Chaplin.