Apostila Filosofia Da Ciencia 01 O Progresso Da Ciencia

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234 Introdução Ensino Médio I n t r o d u ç ã o Filosofia da ciência Ouve-se com freqüência que a ciência, com o seu rigor, tem em vista o crescimento do nosso conhecimento orientando a sua pesqui- sa em algumas particulares, e que a filosofia, geralmente, se ocupa de questões e problemas mais gerais. Ela nos mostra que o conhecimen- to científico é provisório, jamais acabado ou definitivo, sempre tributá- rio de um pano de fundo ideológico, religioso, econômico, político e histórico. Vivemos um momento de aparente triunfo da ciência, com o projeto – genoma, os transgênicos, a clonagem etc. – que fazem parte do nosso cotidiano, apresentados de forma cristalizada, definitiva. Tu- do indica que fazemos parte de uma civilização que elabora, sob me- dida, as condições ideais de nossa existência, numa perspectiva tecno- científica. A Filosofia da Ciência serve como uma ferramenta capaz de questionar tal visão. A distinção, acima mencionada, entre ciência e filosofia não é fa- cilmente elaborada e tão clara como possa parecer. Por exemplo, em que sentido podemos falar que Descartes, Newton, Popper e Kuhn, são cientistas ou filósofos? Uma tarefa bastante difícil. A pretensão de encontrarmos uma demarcação universalmente válida entre ciência e filosofia é ilusória, porque elas se relacionam de diversas maneiras, nas várias épocas da história antiga, medieval, moderna e contemporânea, principalmente porque o significado dos dois conceitos sofre modifi- cações estruturais com o decorrer do tempo. É bastante diferente olhar para a realidade e percebê-la sob a perspectiva da metafísica ou da antimetafísica, ou sob o olhar do empirismo ou do positivismo, sob o olhar da ciência ou da filosofia. Aqui, apresentamos a filosofia da ciência como um espaço aber- to, de discussão sobre as relações e conexões entre a filosofia e a ciência. No primeiro Folhas, O progresso da ciência, são apresentados, o ob- jeto e o método da filosofia da ciência. Definir a ciência como racio- nalidade é o que buscamos fazer com a ajuda de Bachelard. Marcelo Gleiser nos traz a compreensão da complementaridade que se pode en- contrar entre a ciência e a religião. São também relevantes as contribui- z

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    Ensino Mdio

    Introduo

    Filosoa da cincia

    Ouve-se com freqncia que a cincia, com o seu rigor, tem em vista o crescimento do nosso conhecimento orientando a sua pesqui-sa em algumas particulares, e que a losoa, geralmente, se ocupa de questes e problemas mais gerais. Ela nos mostra que o conhecimen-to cientco provisrio, jamais acabado ou denitivo, sempre tribut-rio de um pano de fundo ideolgico, religioso, econmico, poltico e histrico. Vivemos um momento de aparente triunfo da cincia, com o projeto genoma, os transgnicos, a clonagem etc. que fazem parte do nosso cotidiano, apresentados de forma cristalizada, denitiva. Tu-do indica que fazemos parte de uma civilizao que elabora, sob me-dida, as condies ideais de nossa existncia, numa perspectiva tecno-cientca. A Filosoa da Cincia serve como uma ferramenta capaz de questionar tal viso.

    A distino, acima mencionada, entre cincia e losoa no fa-cilmente elaborada e to clara como possa parecer. Por exemplo, em que sentido podemos falar que Descartes, Newton, Popper e Kuhn, so cientistas ou lsofos? Uma tarefa bastante difcil. A pretenso de encontrarmos uma demarcao universalmente vlida entre cincia e losoa ilusria, porque elas se relacionam de diversas maneiras, nas vrias pocas da histria antiga, medieval, moderna e contempornea, principalmente porque o signicado dos dois conceitos sofre modi-caes estruturais com o decorrer do tempo. bastante diferente olhar para a realidade e perceb-la sob a perspectiva da metafsica ou da antimetafsica, ou sob o olhar do empirismo ou do positivismo, sob o olhar da cincia ou da losoa.

    Aqui, apresentamos a losoa da cincia como um espao aber-to, de discusso sobre as relaes e conexes entre a losoa e a cincia.

    No primeiro Folhas, O progresso da cincia, so apresentados, o ob-jeto e o mtodo da losoa da cincia. Denir a cincia como racio-nalidade o que buscamos fazer com a ajuda de Bachelard. Marcelo Gleiser nos traz a compreenso da complementaridade que se pode en-contrar entre a cincia e a religio. So tambm relevantes as contribui-

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    Filosoa

    FILOSOFIA

    es por meio de exemplos retirados de Ptolomeu e de Galileu. Voc encontrar alguns problemas que se apresentam losoa da cincia, assim como tambm algumas possibilidades de discusso que podero ser ampliados na discusso de sala de aula.

    O Folhas, Saber pensar a cincia: inicia-se com o problema da indu-o, portanto, uma discusso sobre o mtodo indutivo, sua validade, seu alcance, seus problemas. Na seqncia, o que encontramos uma diferenciao/conceituao de cincia, senso comum, produo cienti-ca e suas implicaes sociais, histricas, polticas e econmicas. Tho-mas Kuhn e Gaston Bachelard so basicamente os lsofos da cincia que nos auxiliam na discusso. De Kuhn, toma-se os conceitos de Pa-radigma, cincia normal, revoluo cientca e incomensurabilidade. De Bachelard, trabalha-se os conceitos de ruptura epistemolgica, des-continuidade, obstculo epistemolgico e a losoa do no.

    No Folhas intitulado Biotica, a losoa da cincia aparece como possibilidade de um olhar crtico sobre o fazer cientco. A idia pro-ceder uma problematizao quanto aos riscos, conseqncias, interes-ses que permeiam nosso tempo, cujo desenvolvimento tecnocientco alarma, por um lado, por apresentar solues aos problemas de sa-de, problemas tcnicos e de uso dos recursos naturais e, por outro, por estar submetido aos interesses mercadolgicos sem parmetros ticos, justicativas sociais e preocupaes com conseqncias a longo pra-zo das condies da vida dos animais, da biodiversidade e do prprio homem no planeta Terra.

    Dentro desta perspectiva, a biotica, como problema da losoa da cincia trata a questo da responsabilidade e autoridade do mdi-co frente ao direito e dever do paciente, bem como das intervenes e limites aceitveis de certas experincias, tais como o aborto induzido; inseminao articial e esterilizao; escolha e pr-determinao do sexo; a eutansia; quebras de patentes; projetos de pesquisa sobre ge-ntica (clulas tronco, transgnicos, clonagem humana e de animais); biopirataria, uso de animais e seres humanos como cobaias, etc., que so discutidos ou citados ao longo do trabalho e podem ser aprofun-dados em sala de aula.

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    Ensino Mdio

    Wilhelm Heise. O desaparecer da primavera. (autoretrato na mesa de trabalho) 1926. leo sobre madeira. Munich, Stdtische Ga-lerie in Leubachaus.

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    O PROGRESSO DA CINCIA

    Anderson de Paula Borges1