Apostila Gestao logistica

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Ministrio da Educao MEC Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior CAPES Diretoria de Educao a Distncia DED Universidade Aberta do Brasil UAB Programa Nacional de Formao em Administrao Pblica PNAP Especializao em Gesto em Sade

GESTO LOGSTICA EM SADE

Francisco de Paula Bueno de Azevedo Neto Washington Luiz Mouro Silva Vera Lucia Luiza

2010

2010. Universidade Federal de Santa Catarina UFSC. Todos os direitos reservados. A responsabilidade pelo contedo e imagens desta obra do(s) respectivo(s) autor(es). O contedo desta obra foi licenciado temporria e gratuitamente para utilizao no mbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil, atravs da UFSC. O leitor se compromete a utilizar o contedo desta obra para aprendizado pessoal, sendo que a reproduo e distribuio ficaro limitadas ao mbito interno dos cursos. A citao desta obra em trabalhos acadmicos e/ou profissionais poder ser feita com indicao da fonte. A cpia desta obra sem autorizao expressa ou com intuito de lucro constitui crime contra a propriedade intelectual, com sanes previstas no Cdigo Penal, artigo 184, Pargrafos 1 ao 3, sem prejuzo das sanes cveis cabveis espcie.

A994g

Azevedo Neto, Francisco de Paula Bueno de Gesto logstica em sade / Francisco de Paula Bueno de Azevedo Neto, Washington Luiz Mouro Silva, Vera Lucia Luiza. Florianpolis : Departamento de Cincias da Administrao / UFSC; [Braslia] : CAPES : UAB, 2010. 96p. Inclui bibliografia Especializao em Gesto em Sade ISBN: 978-85-7988-038-4 1. Sade - Administrao. 2. Logstica. 3. Administrao de materiais. 4. Medicamentos - Administrao. 5. Gesto da qualidade total. 6. Educao a distncia. I. Silva, Washington Luiz Mouro. II. Luiza, Vera Lucia. III. Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (Brasil). IV. Universidade Aberta do Brasil. V. Ttulo. CDU: 615.03

Catalogao na publicao por: Onlia Silva Guimares CRB-14/071

PRESIDENTE DA REPBLICA Luiz Incio Lula da Silva MINISTRO DA EDUCAO Fernando Haddad PRESIDENTE DA CAPES Jorge Almeida Guimares UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA REITOR Alvaro Toubes Prata VICE-REITOR Carlos Alberto Justo da Silva CENTRO SCIO-ECONMICO DIRETOR Ricardo Jos de Arajo Oliveira VICE-DIRETOR Alexandre Marino Costa DEPARTAMENTO DE CINCIAS DA ADMINISTRAO CHEFE DO DEPARTAMENTO Gilberto de Oliveira Moritz SUBCHEFE DO DEPARTAMENTO Rogrio da Silva Nunes SECRETARIA DE EDUCAO A DISTNCIA SECRETRIO DE EDUCAO A DISTNCIA Carlos Eduardo Bielschowsky DIRETORIA DE EDUCAO A DISTNCIA DIRETOR DE EDUCAO A DISTNCIA Celso Jos da Costa COORDENAO GERAL DE ARTICULAO ACADMICA Nara Maria Pimentel COORDENAO GERAL DE SUPERVISO E FOMENTO Grace Tavares Vieira COORDENAO GERAL DE INFRAESTRUTURA DE POLOS Francisco das Chagas Miranda Silva COORDENAO GERAL DE POLTICAS DE INFORMAO Adi Balbinot Junior

COMISSO DE AVALIAO E ACOMPANHAMENTO PNAP Alexandre Marino Costa Claudin Jordo de Carvalho Eliane Moreira S de Souza Marcos Tanure Sanabio Maria Aparecida da Silva Marina Isabel de Almeida Oreste Preti Tatiane Michelon Teresa Cristina Janes Carneiro METODOLOGIA PARA EDUCAO A DISTNCIA Universidade Federal de Mato Grosso COORDENAO TCNICA DED Soraya Matos de Vasconcelos Tatiane Michelon Tatiane Pacanaro Trinca AUTORES DO CONTEDO Francisco de Paula Bueno de Azevedo Neto Washington Luiz Mouro Silva Vera Lucia Luiza EQUIPE DE DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS DIDTICOS CAD/UFSC Coordenador do Projeto Alexandre Marino Costa Coordenao de Produo de Recursos Didticos Denise Aparecida Bunn Superviso de Produo de Recursos Didticos rika Alessandra Salmeron Silva Designer Instrucional Andreza Regina Lopes da Silva Denise Aparecida Bunn Auxiliar Administrativo Stephany Kaori Yoshida Capa Alexandre Noronha Ilustrao Igor Baranenko Adriano S. Reibnitz Projeto Grfico e Finalizao Annye Cristiny Tessaro Editorao Lvia Remor Pereira Rita Castelan Reviso Textual Barbara da Silveira Vieira Claudia Leal Estevo Brites RamosCrditos da imagem da capa: extrada do banco de imagens Stock.xchng sob direitos livres para uso de imagem.

PREFCIOOs dois principais desafios da atualidade na rea educacional do Pas so a qualificao dos professores que atuam nas escolas de educao bsica e a qualificao do quadro funcional atuante na gesto do Estado brasileiro, nas vrias instncias administrativas. O Ministrio da Educao (MEC) est enfrentando o primeiro desafio com o Plano Nacional de Formao de Professores, que tem como objetivo qualificar mais de 300.000 professores em exerccio nas escolas de ensino fundamental e mdio, sendo metade desse esforo realizado pelo Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB). Em relao ao segundo desafio, o MEC, por meio da UAB/CAPES, lana o Programa Nacional de Formao em Administrao Pblica (PNAP). Esse programa engloba um curso de bacharelado e trs especializaes (Gesto Pblica, Gesto Pblica Municipal e Gesto em Sade) e visa colaborar com o esforo de qualificao dos gestores pblicos brasileiros, com especial ateno no atendimento ao interior do Pas, atravs dos Polos da UAB. O PNAP um programa com caractersticas especiais. Em primeiro lugar, tal programa surgiu do esforo e da reflexo de uma rede composta pela Escola Nacional de Administrao Pblica (ENAP), pelo Ministrio do Planejamento, pelo Ministrio da Sade, pelo Conselho Federal de Administrao, pela Secretaria de Educao a Distncia (SEED) e por mais de 20 instituies pblicas de ensino superior (IPES), vinculadas UAB, que colaboraram na elaborao do Projeto Poltico Pedaggico dos cursos. Em segundo lugar, este projeto ser aplicado por todas as IPES e pretende manter um padro de qualidade em todo o Pas, mas abrindo margem para

que cada Instituio, que ofertar os cursos, possa incluir assuntos em atendimento s diversidades econmicas e culturais de sua regio. Outro elemento importante a construo coletiva do material didtico. A UAB colocar disposio das IPES um material didtico mnimo de referncia para todas as disciplinas obrigatrias e para algumas optativas. Esse material est sendo elaborado por profissionais experientes da rea da Administrao Pblica de mais de 30 diferentes instituies, com apoio de equipe multidisciplinar. Por ltimo, a produo coletiva antecipada dos materiais didticos libera o corpo docente das IPES para uma dedicao maior ao processo de gesto acadmica dos cursos; uniformiza um elevado patamar de qualidade para o material didtico; e garante o desenvolvimento ininterrupto dos cursos, sem paralisaes que sempre comprometem o entusiasmo dos alunos. Por tudo isso, estamos seguros de que mais um importante passo em direo democratizao do ensino superior pblico e de qualidade est sendo dado, desta vez contribuindo tambm para a melhoria da gesto pblica brasileira, compromisso deste governo.

Celso Jos da Costa Diretor de Educao a Distncia Coordenador Nacional da UAB CAPES-MEC

SUMRIOApresentao.................................................................................................... 9 Unidade 1 Gesto de Materiais/InsumosIntroduo............................................................................................... 13 Conceitos................................................................................................ 15 Logstica do Abastecimento..................................................................... 17 Subsistema de Seleo/Uso.................................................................... 18 Subsistema de Controle/Acompanhamento........................................... 23 Subsistema de Compra/Aquisio....................................................... 27 Subsistema de Guarda/Distribuio.......................................................... 32

Unidade 2 Gesto de MedicamentosIntroduo..................................................................................................... 43 Ciclo da assistncia farmacutica......................................................................... 46 Seleo de medicamentos..................................................................... 47 Programao/Aquisio............................................................................... 51 Armazenamento/Distribuio............................................................... 52

Gesto Logstica em Sade

Unidade 3 Manuteno e Gerenciamento de Ambientes HospitalaresIntroduo..................................................................................................... 67 Definio de Ambiente Hospitalar..................................................................... 68 Sistemas Funcionais Prediais Presentes..................................................... 72 Definio dos Parques de Equipamentos...................................................... 77 Gerenciamento da Manuteno........................................................................ 78 Aes de Gerenciamento da Manuteno...................................................... 82 Trabalhando a Manuteno.................................................................................. 85

Consideraes finais.......................................................................................... 92 Referncias .................................................................................................... 93 Minicurrculo.................................................................................................... 95

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Especializao em Gesto em Sade

Apresentao

APRESENTAOCaro estudante, Materiais/insumos mdicos e medicamentos jogados no lixo, aparelhos carssimos enferrujandos ao ar livre ou parados por falta de peas, prateleiras cheias de remdios enquanto doentes morrem mngua, salas de cirurgia com goteiras, dentre outros constituem, ainda, infelizmente, cenas comuns na realidade do sistema de sade brasileiro. De quem a culpa? Daqueles que compraram sem saber exatamente o que estavam adquirindo? Dos que intermediaram as negociaes, levando vantagens com o processo? Dos que tm a misso de zelar pela conservao dos estoques e das instalaes prediais? Talvez cada um tenha a sua parcela de responsabilidade, no mesmo? Nesta disciplina, Gesto Logstica em Sade, vamos encarar esses aspectos espinhosos, ou seja, vamos trabalhar aquilo que diz respeito ao suprimento de materiais/insumos e de medicamentos, gesto de equipamentos mdicos, assim como conservao do que j foi adquirido. Na Unidade 1, estudaremos temas como: Cadeia de Suprimentos e Logstica do Abastecimento, com enfoque nos benefcios que esses sistemas podero trazer para o cliente/usurio, bem como para a gesto da instituio prestadora de servios de sade. Na Unidade 2, a Gesto de Medicamentos merecer destaque especial pela sua fundamental importncia na recuperao dos pacientes. Nesse contexto, no h como deixarmos de mencionar a sua grande participao nos custos das unidades prestadoras de servios de sade, que podem chegar a 40% do oramento de custeio.

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Finalmente, na Unidade 3, a Manuteno e o Gerenciamento de Ambientes Hospitalares sero apresentados com nfase em equipamentos, prdios e instalaes, procurando respostas para os srios problemas de sucateamento precoce das unidades (seus espaos fsicos) e de seus parques de equipamentos.

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Especializao em Gesto em Sade

Apresentao

UNIDADE 1GESTODE

MATERIAIS/INSUMOS

OBJETIVOS ESPECFICOS DE APRENDIZAGEMAo finalizar esta unidade, voc dever ser capaz de:

Conceituar cadeia de suprimentos; Discutir conceitos bsicos de Logstica de Abastecimento e sua operacionalizao em subsistemas; e Aplicar as tcnicas de gesto de materiais/insumos mdicos.

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Unidade 1 Gesto de Materiais/Insumos

INTRODUOCaro estudante, Vamos comear nosso estudo refletindo acerca das redes de prestao de servio de sade em nosso Pas pblicas e privadas. Em seguida, apresentaremos uma logstica de abastecimento para unidades de sade, na forma de um sistema lgico, composto de quatro subsistemas: Seleo/ Uso; Controle/Acompanhamento; Compras/Aquisio; e Guarda e Distribuio, com o objetivo de dot-los de saberes para com eficincia e eficcia, bem realizar o seu trabalho. Antes de prosseguir, reflita sobre a realidade do servio de sade de seu municpio. Bom estudo!

As redes de prestao de servios de sade em nosso Pas pblicas e privadas apresentam uma realidade que reflete, na maioria dos casos, uma insuficincia de competncia tcnica, de conhecimentos e de saberes gerenciais nas atividades-meio dos estabelecimentos de servios de sade. Essa baixa capacitao gerencial perpassa todas as atividades que compreendem a logstica dos estabelecimentos de servios de sade, desde um incipiente ou at mesmo inexistente processo de planejamento no sistema de abastecimento, com atividades burocratizadas e morosas nas reas de compras, de guarda e distribuio de materiais/insumos (muitas vezes descoladas das reais necessidades do sistema produtivo local). A gravidade dos problemas no abastecimento dos estabelecimentos de servios de sade do Sistema nico de Sade

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(SUS) decorre da ausncia de identificao de seus respectivos sistemas produtivos. Em outras palavras, o que o estabelecimento de servio de sade produz no transparente para o sistema de abastecimento. Assim, podemos afirmar que racionalmente muito difcil, seno impossvel, abastecer bem uma instituio de servio de sade baseados na viso exclusiva das prateleiras dos almoxarifados, ou levando em conta apenas alguns indicadores como estoque mnimo, estoque mximo e estoque de segurana, no se partindo do princpio do que a instituio de servios de sade realmente necessita para realizar o que faz. Frequentemente, podemos observar nos sistemas de abastecimento de uma unidade de servio de sade o alto grau de irracionalidade e a predominncia de mo de obra no qualificada, que s permite ao gestor manter velhas prticas de gesto de materiais*. Sem a fase inicial de identificao do que realmente necessrio para produzir chamada de planejamento do abastecimento pode ocorrer, e frequentemente ocorre, a situao do almoxarifado estar abastecido com prateleiras cheias e os servios produtivos estarem desabastecidos. As organizaes coletam e utilizam enormes quantidades de informaes. Na era da tecnologia, a possibilidade de acessar e analisar esse volume de informaes o que permite ao gestor tomador de decises uma ao mais rpida, precisa e eficaz. Hoje, a administrao compreende o valor estratgico da implementao de sistemas de informao como instrumentos de gesto necessrios para sistematizar a enorme quantidade de informaes valiosas existentes nos estabelecimentos de servios de sade, dispondo de software para o gerenciamento do processo de logstica e distribuio de materiais/insumos mdicos (INFANTE, 2006).

*Gesto de materiais administrao do fluxo dos materiais por intermdio da organizao: cadastramento de fornecedores, coleta e negociao aquisio, de preos, armazena-

gem, planejamento e controle dos materiais e da produo, expedio e distribuio. Fonte: Lacombe (2004).

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Unidade 1 Gesto de Materiais/Insumos

CONCEITOSA Cadeia de Suprimentos um conjunto de unidades produtivas unidas por um fluxo de materiais/insumos e informaes com o objetivo de satisfazer s necessidades de usurios ou clientes especficos (BARBIERI; MACHLINE, 2006). E Logstica, de acordo com o Council of Logistics Management, o processo de planejamento, implementao e controle do fluxo eficiente e economicamente eficaz de matriasprimas, materiais em processo, produtos acabados e informaes relacionadas com essas atividades, desde seu ponto de origem at seu ponto de consumo, com o objetivo de atender s exigncias dos clientes (BARBIERI; MACHLINE, 2006).

As organizaes tm atividades-fim e atividades-meio ou atividades de produo e de alimentao dessas atividades produtivas. desnecessrio dizermos que uma no sobrevive sem a outra. Concorda? Ento por que nas questes de abastecimento as atividade-meio e as atividades-fim funcionam de maneira to dissociada e, por vezes, conflitantes?

Para respondermos a essas questes, podemos partir do princpio simplista ou reducionista de apontar como resposta ao problema a m administrao de materiais como nica causadora do desabastecimento dos estabelecimentos de servios de sade. Para um melhor entendimento, vamos juntos analisar por que faltam materiais nas unidades de sade. Nunes (1998) apresenta algumas possibilidades, a saber:

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Causas estruturais: falta de prioridade poltica para o setor, como baixos salrios, baixo investimento, corrupo; em clientelismo poltico, o que permite a existncia de maus gestores e a falta de critrios na fixao de prioridades; em controles burocrticos que vm ao encontro com o pensamento burocrtico o importante fazer certo as coisas e no as coisas certas gesto do papel (processo) e no do produto; e na centralizao excessiva do planejamento e da deciso poltica. Causas organizacionais: podemos explicit-las em uma nica questo, ou seja, a falta de identificao da misso, dos objetivos e das metas institucionais, o que faz com que cada setor tenha uma independncia em relao aos demais, transformando a instituio em sistemas interdependentes. Na verdade, cada setor da instituio de servios de sade passa a ter suas prprias lgicas, objetivos e metas. Assim, podemos apontar outras causas de falta de material, tambm dependentes das causas j vistas, como: falta de gesto profissionalizada; carncia no desenvolvimento contnuo dos recursos humanos; insuficincias de recursos financeiros; ausncia de controle e acompanhamento; falta de planejamento; e chefes improvisados e servidores desmotivados. Diante de todas essas causas, podemos notar que a logstica do abastecimento pode sim contar com as tecnologias para evitar, ou ao menos minimizar, a falta de materiais/insumos. Porm, somente com o combate s causas se resolve todo o problema.Veja melhor a definio desse termo na seo em caso de dvida seguinte. E lembre-se: consulte o seu tutor.

v

A tecnologia que propomos para o abastecimento a criao de um sistema lgico de materiais/insumos, que passaremos a chamar de logstica do abastecimento.

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Unidade 1 Gesto de Materiais/Insumos

LOGSTICA DO ABASTECIMENTOO sistema de abastecimento dividido, sequencialmente, em quatro fases. Ou seja, um sistema composto de quatro subsistemas. So eles:

Seleo/Uso. Controle/Acompanhamento. Compras/Aquisio. Guarda e Distribuio.Podemos consider-lo como sendo um sistema lgico, pois sem seleo do que utilizado no h, nem qualitativa nem quantitativamente, o que se controlar. Se no sabemos o quanto iremos gastar ou utilizar e o quanto iremos guardar, no temos, por conseguinte, como saber o quanto e o que comprar. E, se no compramos e no guardamos, no temos o que distribuir. Sendo assim, a meta o processo gerencial que faz com que cada subsistema suceda o outro no exato momento da necessidade da utilizao do material/insumo pela atividade-fim (sistema produtivo). Por isso, um sistema de informao deve ser montado para tornar a gesto vivel (eficiente e eficaz).

Voc entendeu que para ser bem abastecida uma unidade de sade tem de ter uma tecnologia lgica de abastecimento?

Cada subsistema do sistema de abastecimento tem objetivo prprio, instrumentos tcnicos e informaes prprias para a construo da Logstica do Abastecimento. Veja a seguir.

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SUBSISTEMA DE SELEO/USOEste o momento inicial da Logstica do Abastecimento. o primeiro subsistema, o incio, o planejamento, a identificao item por item do que usado no sistema produtivo e que no pode faltar em qualidade e em quantidade. o momento em que juntamos a atividade-fim e atividade-meio para decidirmos o que comprar. A padronizao desse subsistema pode ser obtida a partir de um instrumento racionalizador produzido por uma comisso permanente de padronizao de materiais/insumos, com participao de figuras representativas das atividades-fim e meio do estabelecimento de servios de sade, em processo coletivo de tomada de deciso, conforme proposto por Nunes (1998).

Esse instrumento racionalizador no poder deixar de abordar o uso racional dos insumos, pois por meio dele ser evitado o desperdcio. Mas o que uso racional? Voc j ouviu esse termo? Sabe defini-lo?

Voc prestou ateno? para o paciente pode faltar.

Nada que importante

v

Uso racional significa a utilizao de todos os materiais/ insumos, inclusive medicamentos, na qualidade e na quantidade necessrias ao bom procedimento para o paciente, isto , usar tudo que tiver indicao tcnica que o beneficie, evitando o uso irracional.

O instrumento tcnico racionalizador dos materiais/insumos adquiridos a Lista Bsica de Materiais/Insumos (LBM). De acordo com Nunes (1998), existem dez passos para a elaborao da lista bsica de materiais/insumos. Veja a seguir:

obter apoio dos setores do estabelecimento de servios desade para a elaborao de uma LBM verdadeiramente utilizados pela unidade;

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Unidade 1 Gesto de Materiais/Insumos

estabelecer uma comisso representativa paraelaborao de uma LBM selecionando aqueles bsicos manuteno do estabelecimento de servios de sade;

coletar informaes sobre as atividades da unidade eas listas existentes dos materiais/insumos estocados;

tomar decises com respeito estrutura e ao formatoda lista e critrios de seleo dos materiais/insumos;

selecionar os materiais/insumos; incluir na LBM informaes sobre a qualidade dosmateriais/insumos;

submeter o esboo da LBM apreciao deprofissionais especializados dos setores da unidade;

assegurar a divulgao das informaes para que todosos servidores da unidade entendam o processo de implantao da LBM;

promulgar e divulgar os regulamentos para incluso e/ou excluso de itens na LBM; e

estabelecer atualizaes da LBM.Voc pode estar neste momento pensando: minha unidade j tem a LBM. Por exemplo, o almoxarifado, que antes armazenava 1.500 itens, de agora em diante somente guardar 850. Mas como nem tudo so flores, imagine que l vem o Dr. Jos para reclamar que o fio de sutura trs zeros no est na LBM e assim ele no pode operar. Problema para o almoxarifado? Seria, se a direo da unidade no tivesse criado a tal da comisso permanente de padronizao de materiais/insumos. E para l que o Dr. Jos e o seu pleito devem ser encaminhados para resolver a questo. Em suma, a comisso permanente, entre outras atribuies, para atualizar a LBM. A lista no um instrumento de engessamento do abastecimento, ao contrrio, racionalizador; o sistema de abastecimento no o grande culpado de tudo. Por isso, mesmo que sua unidade j tenha uma LBM, necessrio revis-la.

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O produto obtido da comisso de padronizao uma relao de todos os itens que so consumidos no processo produtivo da unidade. Contudo, para que esses materiais/insumos, coletivamente identificados, passem a constituir estoques reais, necessrio fazermos com que outros elementos sejam conhecidos, como a descrio ou sua especificao.

O que voc entende por especificao? Como especificar um material/insumo?

A especificao a descrio detalhada do material/ insumo includo na LBM, ou seja, suas caractersticas fsicas e sua composio, podendo at incluir peas, acessrios etc. Como fontes de apoio para a elaborao de especificaes podemos utilizar: normas da Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT); certificaes do Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI), do Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Nacional (INMETRO) e do Instituto Nacional de Controle e Qualidade em Sade (INCQS); o banco de especificaes do Ministrio da Sade e os catlogos de fabricantes. Essas, entre outras, so fontes complementares; as fontes primrias so os prprios usurios dos materiais/insumos dos setores (sistema produtivo). Com o tempo, todos os itens da LBM tero um cadastro com as corretas especificaes tcnicas, ou seja, tendo informaes, o prprio servio de materiais pode elaborar as especificaes corretas.

Mas como identificar se a especificao correta ou no?

Para entender melhor, analise os dois exemplos as seguir. Perceba que um foi elaborado de forma correta e outro de forma incorreta.

Estufa em ao inoxidvel, termostato regulvel at300 C e termmetro; e

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Unidade 1 Gesto de Materiais/Insumos

Estufa de secagem e esterilizao de material em aoinoxidvel, porta com isolamento hermtico, isolamento em l de vidro de no mnimo 8 cm, elementos aquecedores em fio cromo nquel, termostato automtico regulvel at 300 C, prateleiras graduadas e dispositivo giratrio do porta-termmetro, corrente 110/220, 50/60 ciclos, dimenses internas 50 x 40 x 50 cm. Note que a descrio detalhada do material, com suas caractersticas fsicas e sua composio, aparece apenas no segundo exemplo, o que o caracteriza como sendo o exemplo correto de especificao.

Mas ser que uma boa e correta especificao nos permite comprar o que realmente precisamos? E ser que ela d respostas adequadas a todos os problemas de aquisio de materiais?

A resposta que a correta especificao do material/insumo a base, o incio de um processo de compra, porm ela no assegura nem a qualidade da matria-prima empregada nem o mtodo de fabricao utilizado e muito menos a existncia ou no de controle de qualidade. Para tal, precisamos tambm conhecer o mercado, classificar os produtos e os fornecedores para podermos complementar as especificaes e evitarmos a crena de que uma boa especificao tudo resolve. Isso seria apostar no mito das especificaes (NUNES, 1998). Dessa forma a racionalizao maior em relao aos materiais/insumos obtida com a padronizao, que tem como elemento base a LBM, aprimorada por um instrumento denominado parecer tcnico*, que vem para definir, sempre que possvel, as vantagens de um produto sobre seus concorrentes. O parecer tcnico tem obrigatoriamente de apresentar consistncia tcnica, ou seja, deve referir a excelncia de um determinado produto. Mas no basta elogiar um material, o parecer tcnico precisa desqualificar o outro material.

*Parecer tcnico qualifica os materiais/insumos segundo padres de excelncia (qualidade/desempenho, condies de manuteno, assistncia tcnica e garantias) e identifica nos materiais/ insumos concorrentes similares suas deficincias tcnicas. Fonte: Elaborado pelos autores.

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comum ver parecer tcnico com o contedo incorreto, como este: selecionamos as seringas descartveis de 3 ml, da marca Blue, pela habitualidade de sua utilizao neste estabelecimento de servios de sade. Quando o contedo correto seria: selecionamos as seringas descartveis de 3 ml, da marca Blue, tendo em vista a perfeita resistncia do corpo do mbolo da seringa (no ocorre vazamento) e a perfeita adaptao com o canho de qualquer agulha existente no mercado, enquanto a seringa da marca Red apresentou, quando de sua utilizao neste estabelecimento de servios de sade, os seguintes problemas: eventuais vazamentos pelo corpo da seringa e adaptao apenas a alguns tipos de agulhas existentes no mercado. A LBM seleciona, identifica e especifica, mas para unificao do processo de abastecimento devemos usar mtodos simplificados de identificao de materiais/insumos, como:

Classificao: implica em eleger critrios para aagrupar os materiais/insumos com vista codificao posterior.

Codificao: visa, junto com a classificao, criaruma linguagem especfica que resulte em um aumento de segurana e d consistncia s transaes do sistema de abastecimento de materiais/insumos. Os cdigos para identificar os materiais/insumos em uso podem ser numricos ou alfanumricos; devem ser expansveis, consistentes em seus critrios, breves e impessoais. Em outras palavras: um cdigo no pode se referir a mais de um material/insumo, assim como um material/insumo no pode ter mais de um cdigo. Exemplo de estrutura de cdigos para materiais/insumos:

dois primeiros nmeros XX representam o grupo; dois nmeros seguintes YY representam o subgrupoou a classe; e

trs nmeros complementares ZZZ representam omaterial/insumo.

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Exemplos de grupos:

fios cirrgicos; fotogrficos, radiogrficos e grficos; especialidades farmacuticas; e instrumentos cirrgicos.Exemplos de codificao:

Grupo 03 Especialidades farmacuticas; Subgrupo 01 Antibiticos; Item 111 Benzilpenicilina Benzatina 1.200.000U. Logo, temos o cdigo igual a 0301111 = Benzilpenicilina Benzatina 1.200.000U.

Grupo 04 Instrumentos cirrgicos; Subgrupo 02 Pinas; Item 055 Pina Hemosttica de Halsted de 15 cm. Sendo assim, temos o cdigo igual a 0402055 = Pina Hemosttica de Halsted de 15 cm.

SUBSISTEMA

DE

CONTROLE/ACOMPANHAMENTO

A seleo e a padronizao fornecem ao sistema de abastecimento um instrumento tcnico de gesto que a LBM. A partir dela tudo acontece sob a responsabilidade do abastecimento. A LBM informa o que comprar, e o subsistema de Controle/ Acompanhamento informa, usando as tcnicas descritas a seguir, quanto e quando comprar.

importante destacarmos que, a partir desse segundo subsistema (Controle/Acompanhamento) at o ltimo (Guarda e Distribuio), o cliente/usurio do sistema de abastecimento dever ter participao mnima no processo. Mas por que deve ser assim?

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A resposta simples: porque em um sistema de abastecimento, sem a lgica aqui apresentada, a participao do cliente/usurio (mdicos, tcnicos e enfermeiras, principalmente) se daria em todas as fases do processo, desviando-os de outras atividades. Por meio da funo N v e l d e E s t o q u e, temos a possibilidade de programar e acompanhar as entradas e sadas, ou seja, a movimentao de materiais/insumos. Para tanto, o primeiro passo calcularmos o Consumo Mensal dos materiais/insumos. Existem algumas formas de efetuarmos esse clculo, entretanto, indicamos o mtodo da Mdia Aritmtica Mvel (cuja base para elemento de clculo o consumo dos seis meses anteriores). Por exemplo:

Os meses que tiverem

registrados estoque zero ou fornecimento parcial, devem ser desprezados.

v

Mam7 = C7 = C1 + C2 + ... + C6 6Onde, Mam7 = C7 (Mdia Aritmtica Mvel ou consumo do stimo ms); e C1 + C2 + ... + C6 (consumo dos seis meses anteriores).

O passo seguinte estabelecermos o Estoque Mnimo dos materiais/insumos, utilizando a frmula: Emin = Cm x Pr Onde, Emin (Estoque Mnimo); Cm (Consumo Mensal); e Pr (Prazo de Reabastecimento). O fator Prazo de Reabastecimento (Pr) deve ser definido segundo a realidade da execuo administrativa de cada estabelecimento de servios de sade, ou seja, o tempo que decorre entre a solicitao de aquisio do material/insumo at sua entrega, de fato, pelo fornecedor. Por exemplo, um determinado estabelecimento

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Unidade 1 Gesto de Materiais/Insumos

de servios de sade determinou que o Consumo Mensal (Cm) do material x igual a 20 unidades e seu prazo de reabastecimento de dois meses. Dessa forma, Emin = 20 x 2 = 40 unidades. Como ainda existe um risco de desabastecimento, fato totalmente indesejvel para o sistema de abastecimento de um estabelecimento de servios de sade, o gestor adota, adicionalmente ao Emin, o Estoque de Segurana ou Estoque Estratgico (Es). Existe um mtodo cientfico para determinar o Estoque de Segurana ou Estoque Estratgico dos materiais/insumos. Entretanto, na prtica, adota-se Es = Cm ou um Estoque de Segurana ou Estoque Estratgico relacionado ao Prazo de Reabastecimento, conforme, proposto por Neto e Filho (1998):

Pr = 1 ms; Es = quantidade para 15 dias de consumo. Pr = 2 meses; Es = quantidade para 30 dias de consumo. Pr = 3 meses; Es = quantidade para 40 dias de consumo. Pr = 4 meses; Es = quantidade para 50 dias de consumo. Pr = 5 meses; Es = quantidade para 60 dias de consumo. Pr = 8 meses; Es = quantidade para 70 dias de consumo. Pr = 12 meses; Es = quantidade para 90 dias de consumo.Para seu melhor entendimento, vamos retomar o exemplo anterior, que determinou o Emin do material X = 40 unidades. Com a adio do Es, a menor quantidade desse material disponvel em estoque deve ser de 60 unidades. Outra funo de extrema importncia no subsistema de Controle/Acompanhamento a Gesto de Estoque com aplicao de dois instrumentos. So eles:

Curva ABC: classifica os materiais/insumos segundoa sua importncia financeira:

Itens A: itens de grande relevncia financeira representam, em mdia, 5% dos itens estocados e requerem 80% dos recursos financeiros na reposio.

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Itens B: itens de importncia financeira intermediria representam, em mdia, 15% dos itens em estoque e requerem 15% dos recursos financeiros na reposio.

Itens C: itens de pequena importncia financeira representam, em mdia, 80% dos itens em estoque e requerem, apenas, 5% dos recursos financeiros na reposio.

Para elaborarmos a Cur va ABC, precisamos primeiramente ordenar os itens estocados em ordem decrescente de valor (quantidade x valor unitrio); totalizar o inventrio; e calcular os seguintes percentuais:

80% do valor total do inventrio; 15% do valor total do inventrio; e 5% do valor total do inventrio.Na sequncia, devemos tomar a ordenao dos itens estocados, em ordem decrescente de valor, e somar at:

atingir o valor que representa os 80% do valor total doinventrio itens A;

chegar o valor que corresponde a 15% do valor totaldo inventrio itens B; e

completar com os 5% estantes do valor total doinventrio itens C.

Perceba que o nvel de informao que a Curva ABC fornece possibilita ao gestor de estoque a adoo das seguintes medidas: o acompanhamento sistemtico em curtos perodos (dirio ou no mximo semanal) da movimentao dos itens A; o acompanhamento dos itens B em perodos mensal ou trimestral; e o acompanhamento dos itens C em perodos semestral ou anual.

Curva VEN ou XYZ: classifica os materiais/insumossegundo a sua essencialidade tcnica:

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Especializao em Gesto em Sade

Unidade 1 Gesto de Materiais/Insumos

Insumos vitais: itens cuja falta pe em risco a vidade pacientes ou o funcionamento do estabelecimento de servios de sade. Ex.: medicamentos, gases medicinais etc.

Insumos essenciais: itens de grande importncia, masno vitais. Ex.: alguns medicamentos, uniformes e componentes de aparelhos de uso eventual.

Insumos no essenciais: itens relativamente menosimportantes. Ex.: material de escritrio.

Sendo assim, fundamental para o gestor de materiais/insumos a utilizao desses instrumentos (curvas ABC e VEN) no somente para o acompanhamento, mas tambm para a tomada de deciso na ocasio de ter de repor estoques, j que os estabelecimentos de servios de sade funcionam com escassez de recursos financeiros e, portanto, com a necessidade de terem de definir prioridades.

SUBSISTEMA

DE

COMPRA/AQUISIO

Reflita: quanto tempo o estabelecimento de servios de sade do seu municpio leva para comprar qualquer material/insumo? Quantos itens so fornecidos em quantidades insuficientes? Em que proporo a qualidade dos materiais/insumos esperada pelo cliente/usurio?

Suas respostas certamente sero:

longo tempo de espera acima de trs meses; mais da metade dos itens consumidos no setor soinsuficientes; e

a qualidade dos produtos sempre baixa, devido aomaldito critrio do menor preo.

Mdulo Especfico

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Gesto Logstica em Sade

Mas saiba: essa a atual realidadedos estabelecimentos de servios de sade, porm no eterna. Temos de entend-la para mud-la. Retomemos: o subsistema de seleo produz a LBM, e o subsistema de Controle/Acompanhamento produz um cronograma de compras que indica as quantidades de cada item para cada setor do estabelecimento de servios de sade.

At aqui foi fcil. Agora s comprar, ou seja, licitar. Eis ento o ponto considerado, por muitos, complicado: como comprar no servio pblico?

No servio pblico, para realizarmos compras utilizamos de forma padronizada e conhecida por todos, a partir de um conjunto de conceitos e princpios, licitao.

Certamente voc j ouviu falar dessa lei. Mas caso < http:// queira retom-la, acesse www.planalto.gov.br/ ccivil_03/LEIS/ L8666cons.htm>.

v

A licitao um procedimento formal que a Administrao Pblica utiliza para a escolha da melhor proposta de compra de seu interesse. Em nosso Pas, o instrumento legal bsico de regulamentao desse procedimento a Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993. A licitao regida por alguns princpios. So eles:

a publicidade dos atos; a igualdade entre os licitantes; o sigilo; a vinculao ao edital; a objetividade no julgamento; e a adjudicao compulsria ao ganhador.

O ato de divulgao ou edital deve ser muito cuidadoso na sua elaborao, em particular para as informaes que apontam para o objetivo propriamente dito da licitao (especificao, j referida e exemplificada). O edital composto por:

parte introdutria com um texto explicitando o objetoe a especificao;

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Especializao em Gesto em Sade

Unidade 1 Gesto de Materiais/Insumos

condies do participante; prazo(s); condies de recebimento do objeto; condies de pagamento; garantias; critrios de julgamento; recursos admissveis; e outras indicaes que se faam necessrias, tais como:fornecimento de esquemas e manuais; peas sobressalentes; propostas de treinamento para operadores ou tcnicos de manuteno; fornecimento de amostras; laudos de certificao (INMETRO, INCQS etc.); embalagem com cdigo de barras; entre outras. Existem diferentes modalidades de licitao, em nmero de seis, conforme a legislao vigente, so elas: concorrncia, tomada de preos, convite, concurso, leilo e prego. O concurso e o leilo no so utilizados para aquisio de bens de consumo mdico-hospitalar nos estabelecimentos de servios de sade. O prego pode ser feito na forma presencial ou eletrnica. Existe, ainda, um sistema de registro de preos que pode ser associado a uma das modalidades j mencionadas. A legislao menciona tambm outros tipos de licitao: menor preo, melhor tcnica e melhor tcnica e preo. A escolha da modalidade de licitao decorre, quase sempre, da quantidade de recursos financeiros envolvidos. O prego no est integralmente submetido a essa normatizao. O sistema de registro de preos associado a uma das modalidades de licitao, preferencialmente o prego e a concorrncia, se prope ao registro formal de preos relativos prestao de servios e aquisio de bens de consumo e durveis, para contratao/compra futura. Vejamos as vantagens do sistema de registro de preos:

aceita apenas uma licitao, com validade de at12 meses;

Mdulo Especfico

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Gesto Logstica em Sade

desobriga a reserva de recursos oramentrios; planeja ou estima os quantitativos de materiais/insumos, servios e alguns equipamentos;

desburocratiza o sistema de abastecimento com a reduo de custos, aes e atos administrativos;

permite a pronta aquisio dos materiais/insumos, servios e alguns equipamentos no precisa considerar o tempo que leva o procedimento licitatrio;

necessita de menos ativo imobilizado, menores estoques e, consequentemente, menor espao fsico para o armazenamento;

possibilita a parcerias com os fornecedores relaocontratual por tempo significativo; e

prego ou concorrncia possibilidade do gasto totaldos recursos de custeio e de capital programados. Outra forma sistemtica adotada para aquisio de bens e contratao de servios comuns, por meio de uma licitao, o prego eletrnico com registro de preos, no qual as empresas/fornecedores disponibilizam os bens e servios a preos e prazos registrados em ata* especfica para contrataes futuras quando melhor convier aos rgos que integram a ata. Vejamos as vantagens do prego eletrnico com registro de preos:

*Ata documento vinculativo e obrigacional com caracterstica de compromisso. Fonte: Elaborado pelos autores.

um sistema eletrnico com comunicao via internet; realizado aps oito dias teis da publicao do aviso; a fase de competio mais eficiente, ou seja, realizada com oferta de lances;

amplia o processo de negociao aps o encerramento da etapa de lances possibilidade de contraproposta do pregoeiro* ao licitante que deu o lance mais vantajoso;

*Pregoeiro servidor que realiza o processo licitatrio. Fonte: Elaborado pelos autores.

desobriga a contratao quando o rgo identificar nomercado condio mais vantajosa (melhor preo); e

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Especializao em Gesto em Sade

Unidade 1 Gesto de Materiais/Insumos

apresenta as demais vantagens citadas no sistema deregistro de preos. Quando a lei fala em menor preo, o faz levando em conta as condies fixadas no edital, ou seja, no um menor preo desqualificado e, portanto, no um maldito menor preo sempre a prejudicar a qualidade do que comprado pela Administrao Pblica. Na verdade, a Administrao Pblica, dentro do esprito da lei, compra o que melhor atenda aos seus interesses, estabelecidos no edital, e que tenha o menor preo. Logo, o segredo : o gestor pblico fazer sempre um bom edital, com base em uma boa especificao do que se quer adquirir. Mas importante destacarmos que nem sempre a Administrao Pblica obrigada a licitar. Existem excees previstas na prpria legislao, que so: a dispensa ou a inexigibilidade de licitao. Vejamos agora, passo a passo, como deve ser composto e realizado o procedimento licitatrio nas modalidades de concorrncia, tomada de preos e convite:

fazer a solicitao de compra, devidamente motivada; reservar do recurso oramentrio aps a estimativa depreos;

escolher a modalidade e o tipo da licitao; confeccionar o edital, fazer a publicidade e buscar osfornecedores;

receber as propostas no dia e na hora aprazados emlocal determinado;

realizar a abertura pblica e a lavratura de ata circunstanciada;

realizar o julgamento da proposta, ou seja, o momento no qual o cliente/usurio ouvido para elaborao do parecer tcnico, se necessrio; e

classificar os concorrentes, realizando tambm a adjudicao (reconhecimento do proponente, responsvel pela proposta mais vantajosa, do direito de fornecimento).

Mdulo Especfico

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Gesto Logstica em Sade

A modalidade de prego eletrnico com registro de preo possui algumas aes iguais s listadas para as modalidades de concorrncia, tomada de preos e convite, complementadas por aes especficas, segundo as caractersticas do modelo operacional.

Voc entendeu bem as abordagens feitas sobre as formas de compras no servio pblico? Caso voc ainda tenha dvidas, faa leitura da lei e da legislao complementar que dispe sobre a licitao.

SUBSISTEMA DE GUARDA E DISTRIBUIOPor meio do subsistema de Guarda e Distribuio que ocorre a definio de onde e como receber e guardar e de como e para quem distribuir. No almoxarifado, so desenvolvidas as atividades de Guarda e Distribuio, que constituem o quar to e ltimo subsistema do sistema de abastecimento. Esse subsistema apresenta entradas e sadas, a saber: recepo; inspeo de qualidade; estocagem; e distribuio. A recepo, bem como a inspeo de qualidade devem fisicamente ter local prprio no almoxarifado e, se no opostamente colocadas, devem estar bem distantes da expedio/distribuio. A recepo realiza os procedimentos de conferncia qualitativa e quantitativa, em que os elementos constantes na nota de entrega do material/insumo pelo fornecedor so checados com aqueles constantes no prprio documento gerado pelo estabelecimento de servios de sade, tradicionalmente denominado de nota de empenho. Deve, tambm, comparar o material/insumo recebido com as amostras, previamente, solicitadas; utilizar informaes de avaliao dos clientes/usurios sobre o material/insumo em uso; e,

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Especializao em Gesto em Sade

Unidade 1 Gesto de Materiais/Insumos

em caso de material/insumo muito especial, submet-lo a teste de controle de qualidade em rgo especializado. Outro procedimento que a recepo no deve deixar de realizar a conferncia de quantidades, em que para pequenas quantidades necessrio abrir todas as embalagens e fazer a contagem fsica um a um e quando se tratar de grandes quantidades realizar a conferncia por amostragem, por lote(s).

Tudo claro at aqui? Para seu melhor entendimento, observe os dois exemplos de casos identificados, mostrados a seguir. Em caso de dvida, no hesite em consultar seu tutor.

Exemplo 1: imagine quantos rolos de esparadrapos so comprados pelo estabelecimento de servios de sade de seu municpio. Agora suponhamos que identificamos a falta de at 10 cm em cada rolo de esparadrapo. Perceba que, se esse problema se reproduziu na quantidade total comprada, o prejuzo financeiro e de uso causados bem significativo. Exemplo 2: supondo que foi comprado pelo estabelecimento de servios de sade compressa de gaze com 13 fios e, por ocasio do recebimento, o fornecedor entregou o material e insumos com 9 fios, temos assim ausncia de fios na trama de uma compressa de gaze caracterizando outro e grande prejuzo financeiro, alm do comprometimento da programao de uso. O procedimento seguinte do gestor do almoxarifado atentar para a funo estocagem que deve ser realizada em ambientes com ausncia de umidade e de calor ou frio excessivo; com proteo contra pragas, como: roedores, insetos e pssaros; com proteo contra incndios; com proteo contra roubos; e com boa circulao de ar. Nessa funo, as reas de estocagem dos estabelecimentos de servios de sade so pouco complexas, utilizam apenas estrados e estantes com prateleiras, e a movimentao feita manualmente ou com equipamentos simples.

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Gesto Logstica em Sade

Mas como ocorre o controle fsico da existncia, no almoxarifado, dos materiais estocados? Voc j verificou como ocorre esse controle em algum estabelecimento de servios de sade de seu municpio?

A essa contagem de itens denominamos inventrio, que implica no levantamento

completo dos materiais/ insumos utilizados pela organizao.

v

O controle, geralmente, realizado por meio de controles duplos, como: registro em fichas que ficam junto ao produto (ficha de prateleira) e em fichas que ficam na rea administrativa do almoxarifado (ficha de controle fsico-financeiro, ou Kardex). Mas o controle no para por a. Periodicamente, o gestor precisa fazer a contagem dos itens. Com o advento da informtica, essas fichas foram substitudas por listagens que podem ser emitidas com frequncia muito maior, facilitando o controle fsico e financeiro do armazenamento.

Por fim, temos funo a de distribuio, que responsabilizada, frequentemente por falhas do sistema de abastecimento, do qual igualmente vtima o cliente/usurio, pois, se h estoques zerados ou insuficientes, este no ter o que receber. Assim, estabelecido um crculo perverso de desconfiana que voc pode visualizar na Figura 1, a seguir:

Figura 1: Ciclo de desconfiana Fonte: Adaptada de Nunes (1998)

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Unidade 1 Gesto de Materiais/Insumos

Qual a sada? Romper com o ciclo de desconfiana. O sistema de abastecimento tem de ter uma logstica que permita ao estabelecimento de servios de saude abastecer qualitativa e quantitativamente o seu cliente/usurio. O sistema produtivo (setores finalsticos do estabelecimento de servios de sade) precisa de todos os materiais/insumos, necessrios ao seu bom funcionamento, com qualidade e preo justo. A lgica de distribuio deve ser baseada no fato de que o sistema de abastecimento o grande armazenador de materiais/ insumos (nico com espao para grandes depsitos por longo tempo), no devendo delegar aos sistemas produtores a capacidade de estocagem (subestoques), que tendem a aumentar demasiadamente o imobilizado (desvio de recursos da produo), alm de gerar desperdcios e mau uso. Por isso, o sistema de abastecimento deve assumir tambm como sua responsabilidade a colocao dos itens consumidos em cada setor produtivo, por meio de um mtodo denominado distribuio automtica. Veja, resumidamente, o que e como implantar tal mtodo:

v

Este o princpio da existncia de um sistema de abastecimento. Estamos apenas recordando, vimos isso nas primeiras pginas da Unidade 1.

elaborar uma lista com todos os itens consumidos porsetor e por quantidades consumidas (cotas);

realizar, pelo almoxarifado, no mnimo trs fornecimentos integrais a todos os setores;

verificar in loco antes do quarto fornecimento a quantidade consumida para a realizao do primeiro ajuste das cotas;

implantao da distribuio automtica; e verificar as sistemticas nos setores para a realizaode ajustes subsequentes, visando identificar o consumo real de cada centro de consumo. Vejamos com mais detalhe o conceito destacado anteriormente:

Mdulo Especfico

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Gesto Logstica em Sade

Centro de consumo: implica em ser um local isolado para guardar os materiais/insumos adequadamente; em ter um sistema de controle; em ter um responsvel; e em possuir capacidade de armazenamento superior ao consumo dirio. Um exemplo considerar que o centro de consumo enfermagem possui diversos subcentros de consumo, a saber: enfermarias, ambulatrios e central de esterilizao. Cliente/usurio direto do almoxarifado tambm um centro de consumo. O subsistema de Guarda e Distribuio, por meio do almoxarifado, prope-se a responsabilizao de: dispor de todos os materiais/insumos em quantidade e qualidade, para abastecer todos os centros de consumo; acompanhar os nveis de utilizao dos materiais/insumos (ajuste das cotas); e estabelecer com os clientes/usurios mecanismos de informao sobre a qualidade dos materiais/insumos em uso.

Complementando......Para saber mais sobre os assuntos discutidos nesta Unidade, leia os textos propostos a seguir:

Gerncia de Operaes e Recursos em Sade. Fundao OswaldoCruz. Escola Nacional de Sade Pblica Srgio Arouca. Educao a Distncia de Maria de Infante e Maria Anglica Borges dos Santos.

A organizao do abastecimento do hospital pblico a partir da cadeiaprodutiva: uma abordagem logstica para a rea de sade de Maria Infante e Maria Angelica Borges dos Santos.

Gesto de Recursos Materiais e de Medicamentos de Gonzalo VecinaNeto e Wilson Reinhardt Filho.

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Unidade 1 Gesto de Materiais/Insumos

ResumindoNesta Unidade discutimos, inicialmente, que o sistema produtivo finalstico dos estabelecimentos de servios de sade requer o aporte de um sistema de abastecimento com lgica confivel que impea descontinuidades no fornecimento de materiais/insumos necessrios ao seu funcionamento. Vimos tambm que a otimizao do sistema de abastecimento, baseada nas propostas aqui apresentadas para seus quatro subsistemas (Seleo/Uso, Controle/Acompanhamento, Compras/Aquisio e Guarda e Distribuio), permite ao gestor pblico avanar no sentido de um abastecimento com menos falhas sistemticas ou ocasionais com o uso de instrumentos tcnicos, controles prprios e recursos humanos em permanente atualizao. Por fim, evidenciamos que ao nos engajarmos em um processo de reflexo contnuo no sentido da melhoria estaremos contribuindo para garantir eficincia em uma das reas mais crticas e negligenciadas da gesto de estabelecimentos de servios de sade.

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Gesto Logstica em Sade

Atividades de AprendizagemPreparamos algumas atividades com o objetivo de recordar o contedo estudado nesta Unidade. Em caso de dvida, entre em contato com o seu tutor.

1. Em sua opinio, o sistema de abastecimento, estruturado em quatro subsistemas, possui um subsistema mais importante que os demais? Em caso afirmativo, aponte qual e explique-o resumidamente. 2. O que seria necessrio, hoje, para o gestor elaborar uma LBM em uma unidade de sade? 3. Considerando o que vimos nesta Unidade e a sua experincia, quem voc escolheria para constituir, mesmo informalmente, uma comisso diversificada multiprofissional? 4. Qual a primeira ao que voc deve adotar, como gestor de estoques, para programar e acompanhar a movimentao de materiais/insumos da sua unidade? 5. Elabore a Curva ABC da relao de itens abaixo.

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Unidade 1 Gesto de Materiais/Insumos

MEDICAMENTOS1 AAS comp. 100 mg 2 Adrenalina amp. 1 mg/ml 3 Albumina Humana 20% 4 Amicacina amp. 500 mg 5 Cimeticlina comp. 200 mg 6 Diazepan amp. 10 mg 7 Dipirona amp. 500 mg/ml 8 Fenobarbital comp. 100 mg 9 Furosemida amp. 20 mg 10 Heparina amp. 5000 UI 11 Hidrxido de Alumnio 400 mg/hid... 12 Imipramina drg. 25 mg 13 Nistatina sol. oral 14 Sulfametoxol + Trimetropim comp. 400 + 80 mg 15 Gancyclovir F/A 500 mg 16 Bicarbonato de Sdio 8,4% amp. 10 ml 17 Clorpromazina comp. 100 mg 18 Cefalexina cap. 500 mg 19 Cloreto de Potssio 10% amp. 10 ml 20 Dobutamina amp. 20 ml 250 mg 21 Espiramicina cap. 250 mg 22 Flunitrazepan comp. 2 mg 23 Insulina regular 100 UI 24 Loperamina comp. 2 mg 25 Metoclopramida amp. 10 mg 26 Nifedipina cap/gel 10 mg 27 Penicilina g. Benzatina 2.400.000 UI 28 Pirimetamina comp. 25 mg 29 Predinisona comp. 20 mg 30 Prometazina comp. 25 mg 31 Propranalol comp. 40 mg 32 Soluo glicose 5% frs. 500 ml 33 Tinidazol susp. 100 mg/ml 34 Tobramicina colrio 5 ml 35 Sulfato de Brio gel 100% frs 100 ml 36 Vitamina C comp. 500 mg 37 Vitamina do Complexo B drg 38 Warfarina comp. 5 mg 39 Piroxican cap. 20 mg 40 Vancomicina f/a 500 mg

QUANTIDADE1000 50 2 250 7000 150 800 1000 500 500 500 200 300 25000 800 50 200 1500 150 100 800 400 10 500 300 5000 50 3600 2000 500 5500 1800 10 5 250 500 2000 200 200 85

P.UNIT0,05 0,55 116,09 18,74 0,66 0,43 0,77 0,05 0,54 0,62 0,14 0,22 12,53 0,52 110,72 0,83 0,07 1,89 0,85 42,67 0,44 0,38 28,57 0,18 0,36 0,59 5,93 0,02 0,61 0,10 0,11 3,50 3,09 11,15 11,70 0,18 0,07 0,07 0,81 7,59

P.TOTAL50,00 27,50 232,18 4.685,00 4.620,00 64,50 616,00 50,00 270,00 310,00 70,00 44,00 3.759,00 13.000,00 88.576,00 41,50 14,00 2.835,00 127,50 4.267,00 352,00 152,00 285,70 90,00 108,00 2.950,00 296,50 72,00 1.220,00 50,00 605,00 6.300,00 30,90 55,75 2.925,00 90,00 140,00 14,00 162,00 645,15

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UNIDADE 2GESTODE

MEDICAMENTOS

OBJETIVOS ESPECFICOS DE APRENDIZAGEMAo finalizar esta Unidade, voc dever ser capaz de: Descrever

o ciclo da assistncia farmacutica e seus componentes;

Identificar os principais objetivos da gesto de medicamentos: acesso, qualidade e uso racional; e Discutir sobre as especificidades da logstica de medicamentos.

Gesto Logstica em Sade

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Especializao em Gesto em Sade

Unidade 2 Gesto de Medicamentos

INTRODUOCaro estudante, Estamos iniciando a Unidade 2, a partir de agora voc conhecer um pouco mais a gesto de medicamentos e seus objetivos. Discutiremos, nesse sentido, a seleo, a programao e a aquisio, o armazenamento e a distribuio e a utilizao de medicamentos. Leia com ateno e realize as atividades indicadas no final desta Unidade. Essas aes lhe auxiliaro no processo de construo do conhecimento. E ento? O que est esperando? Vamos juntos na busca de mais conhecimento!*Aes finalsticas so aquelas que resultam em bens e servios ofertados diretamente socieda-

O suprimento de medicamentos envolve algumas especificidades que o diferencia de outros suprimentos de insumos em sade. Os medicamentos permeiam basicamente todas as aes finalsticas* da rea, permitindo salvar vidas e melhorar as condies de sade das populaes. Em mdia 70% das consultas ambulatoriais geram prescrio de medicamentos e quase a totalidade dos pacientes internados o utilizaro em algum momento de sua permanncia no hospital. As internaes em regime de hospital-dia ocorrem, em muitos casos, para a aplicao de medicamentos. Se incluirmos os correlatos, como condom*, germicidas hospitalares e outros produtos afins, os servios de assistncia farmacutica precisaro interagir com praticamente todos os setores finalsticos e muitos dos intermedirios no processo de cuidado em sade. Usados racionalmente, os medicamentos constituem a interveno teraputica mais custo efetivo. Por outro lado, mal utilizados, os medicamentos representam risco sade, gerando

de; aes relacionadas Gesto Pblica, tais como: planejamento, administrao financeira, controle, gerenciamento de pessoal; e, ainda, aes de servios ao Estado, que se referem s demandas do prprio governo. Fonte: Elaborado pelos autores.

*Condom preservativo (camisinha) utilizado como dispositivo para evitar a concepo. Fonte: Elaborado pelos autores.

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Gesto Logstica em Sade

reaes adversas e outros problemas relacionados a medicamentos, alm do desperdcio de recursos, seja pela necessidade de tratar os efeitos adversos, seja pela necessidade de usar intervenes teraputicas mais caras e invasivas em casos que poderiam ter sido adequadamente resolvidos com tecnologias mais simples. Os medicamentos representam alto impacto no custo em sade. A boa notcia que muitas vezes parte desse custo devido a perdas por desvios, desperdcio e mal uso, podendo, portanto, ser evitado. Esses produtos envolvem fortes componentes mercadolgicos e socioculturais. Os produtores costumam empregar estratgias agressivas de promoo e propaganda, dificultando a habilidade dos prescritores em avaliar o uso adequado dos medicamentos e criando presso nos pacientes que passam a demand-los produtos. atualmente comum que, depois de matrias sobre medicamentos novos, que aparecem como reportagens comuns em veculos da mdia televisiva ou impressa de grande alcance, os pacientes compaream aos consultrios mdicos vidos pela novidade salvadora, geralmente divulgada como isenta de riscos. Depois de aguardar pela consulta, o paciente em atendimento interage com o prescritor, submete-se a exames e a outros procedimentos diagnsticos que culminaro em uma receita com os produtos que o paciente utilizar em sua casa e que faro parte de seu cotidiano por um tempo. Se no houver melhora, pode representar para o usurio uma falha de todo o processo de cuidado.

Os medicamentos usurios a

representam para os materializao do

processo de cuidado.

v

Neste momento voc pode estar se questionando: ser que o medicamento da unidade de sade possui boas condies de qualidade? Foi prescrito em tempo adequado para promover a resposta teraputica? Ficou claro para o paciente qual seria essa resposta? Sabemos que nem sempre essa resposta ser a cura. O paciente obteve o medicamento na quantidade suficiente e entendeu como us-lo?

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Especializao em Gesto em Sade

Unidade 2 Gesto de Medicamentos

Considerando que o medicamento o responsvel por promover a credibilidade das organizaes e dos sistemas de sade, de suma importncia que as equipes de assistncia farmacutica tenham essa conscincia. Dessa forma, o cuidado com os medicamentos envolve no apenas os cuidados logsticos de supri-los com qualidade, mas tambm o de promover o uso racional, includas nesse uso a boa prescrio e a vigilncia dos efeitos adversos. Ademais, o gestor deve considerar ainda que a boa proviso e a garantia de cuidados em sade no nvel ambulatorial so fundamentais para o bom funcionamento do estabelecimento de servios de sade, isso sem falar de toda a dimenso social e humanstica. Os objetivos centrais de uma boa gesto de medicamentos devem promover o acesso a medicamentos com qualidade, adequados s necessidades da populao-alvo e, assim, promover seu uso racional.

Mdulo Especfico

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Gesto Logstica em Sade

CICLO DA ASSISTNCIA FARMACUTICAA assistncia farmacutica constitui um campo de prtica profissional, na verdade multiprofissional, sendo definido de acordo com Brasil (2004) como um conjunto de aes voltadas promoo, proteo e recuperao da sade, tanto individual quanto coletiva, tendo o medicamento como insumo essencial e visando o acesso ao seu uso racional, envolvendo, quanto aos medicamentos:

a pesquisa, o desenvolvimento e a produo demedicamentos e insumo;

a sua seleo, programao, aquisio, distribuio,dispensao;

a garantia da qualidade dos produtos e servios; o acompanhamento e a avaliao de utilizao dosmedicamentos; e

as aes da ateno farmacutica.Tudo isso deve ocorrer na perspectiva de obteno de resultados concretos e de melhoria da qualidade de vida da populao (BRASIL, 2004). Para marcar a importncia da articulao sistmica das aes da ateno farmacutica e de seus componentes, vem sendo consagrada a sua representao de forma circular, denominada de Ciclo da Assistncia Farmacutica, conforme podemos conferir na Figura 2.

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Especializao em Gesto em Sade

Unidade 2 Gesto de Medicamentos

*Necessidades

priori-

trias significa que o compromisso pblico de proviso de acesso se atm aos medicamentos mais importantes para necessidades de sade relevantes. De fato, nenhum pas do mundo, mesmo os desenvolvidos, financiam tudo o que h no mercado. Pode ser porque a Lista de Medicamentos Essenciais (LME) diferente da Lista Bsica de Materiais/Insumos (LBM). A LME deve conter oferta para todos os nveis de cuidado. Fonte: Elaborado pelos autores.

Figura 2: Ciclo da Assistncia Farmacutica Fonte: Adaptada de Marin et al. (2003)

Como voc pode observar na Figura 2, h no ciclo uma enorme afinidade entre os chamados componentes da assistncia farmacutica e a logstica de abastecimento apresentada e discutida na Unidade 1. Assim, cabe-nos aqui apenas destacar, quanto a esses aspectos, algumas particularidades para os medicamentos.

SELEO DE MEDICAMENTOSNo caso dos medicamentos, em particular das instituies pblicas, o processo de seleo deve definir os medicamentos essenciais. Segundo a Organizao Mundial da Sade (OMS), para quem este conceito o eixo organizador da rea farmacutica, medicamentos essenciais so aqueles que satisfazem as necessidades prioritrias* de cuidados de sade da populao. Os medicamentos essenciais devem ser selecionados considerando sua relevncia pblica; sua evidncia de eficcia;

v

Este conceito de medicamentos

essenciais proposto pela OMS contm elementos muito importantes aos atento. Para saber mais acesse .

Mdulo Especfico

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Gesto Logstica em Sade

sua segurana e seu custo de efetividade comparativa; sua disponibilidade em todos os momentos no contexto de funcionamento do sistema de sade, em quantidades adequadas, em dosagens apropriadas, com qualidade assegurada, informao precisa e a um preo que a sociedade possa pagar; como responsabilidade do Estado. Essa compreenso no se d sem conflitos, pois diferentes atores podem ter diferentes compreenses sobre as necessidades prioritrias. Assim, alguns aspectos so particularmente importantes para a legitimidade e operacionalidade da LME. Desse modo, importante que a definio da lista e das normas de utilizao dos medicamentos selecionados seja feita por uma comisso multiprofissional. A OMS sugere cham-la de Comisso de Farmcia e Teraputica, na tentativa de deixar clara a amplitude de seu papel, assim como o seu o carter permanente, uma vez que tanto a composio da lista quanto as normas de utilizao dos produtos devem ser atualizadas de maneira dinmica. Alguns aspectos importantes a serem definidos so:

Uma vez pronta a LME, a que nvel de cuidado cadamedicamento se destina?

Se nem todos os medicamentos so ofertados em todasas unidades de sade, os profissionais e pacientes precisam compreender os mecanismos de acesso?

H medicamentos que requerem conhecimentoespecializado para sua prescrio ou cuidados especiais para sua utilizao?

Existe compatibilidade entre a lista e a oferta de cuidado? Foram discutidos e esto definidos os mecanismos deacesso aos medicamentos que no esto na lista?Os estudos sobre custo efetividade ainda so raros, o que acaba dificultando boas

evidncias sobre ele.

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Perceba que o conceito deixa claro tambm os principais critrios para incluir medicamentos na LME, que so a eficcia e a segurana, alm do custo efetividade, todas com base em evidncias cientficas. Ainda que hoje em dia haja uma enorme quantidade de

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publicaes contendo evidncias sobre basicamente todos os medicamentos, importante que a Comisso de Farmcia e Teraputica tenha membros capazes de encontrar, analisar e julgar a qualidade das evidncias. Ademais, os medicamentos essenciais devem estar disponveis no sistema de sade, o que bem diferente de dizer que todas as unidades oferecero todos os medicamentos, mas sim que a oferta obedece lgica da oferta de cuidado segundo o desenho do sistema de sade. O importante que deve ser fcil aos prescritores e populao, frente a uma necessidade especfica, saber qual a oferta que os atende dentro do servio pblico e como ter acesso a esses produtos. Um aspecto importantssimo que, uma vez definida, a lista deve guiar a oferta de medicamentos. Infelizmente ainda comum vermos Estados ou municpios apresentando diferentes problemas com a lista, tais como:

existe a lista, mas no h divulgao e os prescritorese a populao no a conhecem ou no a valorizam; e

as compras no respeitam a lista, de forma que soencontrados nas unidades de sade produtos que no estavam na lista e faltando produtos padronizados. Os diferentes atores do sistema de sade precisam ter uma boa compreenso da lista de medicamentos essenciais e do que ela representa, de forma que deve haver uma boa discusso da lista nos fruns de pactuao. O Brasil (2004) prope, desde 1975, uma lista de medicamentos essenciais denominada Relao Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME). O Ministrio da Sade (MS) tem feito um esforo de organizar e sistematizar a produo da RENAME, criando uma comisso permanente, a Comisso Tcnica e Multidisciplinar de Atualizao da Relao Nacional de Medicamentos Essenciais (COMARE), e abrindo chamada de propostas de solicitao de alterao, qualificando e divulgando o julgamento das propostas acatadas ou no.

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Tendo em vista que o sistema de sade brasileiro descentralizado, aconselhvel que Estados e municpios desenvolvam suas prprias listas de forma a atender especificidades locais. Aos hospitais, particularmente aos especializados, tambm recomendvel que tenham sua prpria lista. A documentao e os processos desenvolvidos pelo MS podem ser tomados como base, restando ao gestor local desse processo construir as justificativas tcnicas para o que for diferente da RENAME.

PROGRAMAO/AQUISIONo mbito da assistncia farmacutica, o termo programao tem sido usado como correspondente ao planejamento fsico-financeiro de medicamentos ou programao de compras. No caso dos medicamentos, podemos utilizar os seguintes mtodos para quantificao ou programao:

o consumo histrico: o perfil epidemiolgico; e o consumo ajustado.O consumo histrico funciona como apresentado na Unidade 1. Os principais cuidados a serem tomados na adoo desse mtodo so quanto aos ajustes para necessidade futuras, uma vez que baseado em dados do passado. Assim, devemos ter especial cuidado quando h o aumento da oferta de servios ou a ampliao de cobertura. No mtodo epidemiolgico, considerado o nmero de casos contabilizados ou estimados de um determinado agravo. Quando h um protocolo especfico e definido de tratamento para esse agravo, o mtodo pode ser aplicado. Por exemplo, segundo o atual protocolo de tratamento, um caso novo de tuberculose sem tratamento anterior (virgem de tratamento ou VT) ou novo caso

Conhea um exemplo, no guia de vigilncia epidemiolgica, sobre tuberculose, acessando o link .

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com tratamento anterior e cura h mais de cinco anos, demandar o esquema rifampicina(R), isoniazida(H) e pirazinamida(Z), em quantidade especficas, por um tempo determinado. Assim, conhecendo o nmero aproximado de casos podemos estimar a quantidade necessria de cada medicamento para a demanda assim especificada. Esse mtodo mais adequado para necessidades futuras, pois depende de informaes epidemiolgicas confiveis e requer conhecimento (de epidemiologia) por aqueles que o utilizam. Contudo, devemos considerar que ao calcularmos a demanda de determinado medicamento com base na prevalncia da existncia de 10.000 pacientes hipertensos, somente aqueles que tiverem contato com o servio em sade (passarem pela consulta mdica em busca de cuidado) geraro efetivamente uma prescrio. O consumo ajustado, por sua vez, um mtodo que pode ser aplicado na abertura de um novo servio com o qual no se teve experincia e, portanto, no h dados anteriores para prever a demanda. Assim, o sistema de abastecimento importaria dados de outros servios. Digamos que um determinado servio em sade iniciar a oferta de cuidado para uma doena X. Poder consultar outros servios com experincia no tratamento daquela determinada doena e verificar quais medicamentos os pacientes requerem tanto para o quadro de base quanto para suas complicaes. Logo, o sistema faz as contas para uma mesma base de tempo (por exemplo, mensal) e uma mesma base de nmero de pacientes (quanto cada 1.000 pacientes utilizam de cada medicamento). Ao fazer a mdia para cada medicamento, o sistema poder chegar a uma estimativa para as primeiras compras. Outro aspecto relevante que devemos considerar no caso dos medicamentos que, alm da compra, a aquisio ou a incorporao de produtos (que acontece mediante transao comercial envolvendo pagamento) pode ocorrer por transferncia (entre os entes federados ou nveis de gesto, tendo em vista o pacto de gesto) ou produo (uma vez que comum que os servios de farmcia realizem algum nvel de transformao nos produtos). Esses aspectos devem ser tambm lembrados no momento do desenho de sistemas de apurao de custos ou de informatizao.

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ARMAZENAMENTO/DISTRIBUIOTodo medicamento requer cuidado especial em seu ar mazenamento, pois as condies de armazenagem so importantes para preservar suas caractersticas.*Excipientes substncia farmacutica auxiliar que, do ponto de vista farmacolgico, inativa e permite que o princpio ativo tenha uma determinada forma farmacutica. Permite veicular o princpio ativo (componente com ao teraputica) em uma determinada forma farmacutica. A despeito de ser a princpio inativo, o excipiente pode modular a ao do princpio ativo e inclusive possuir toxicidade ou alergenicidade prpria. Fonte: . Acesso em: 16 abr. 2010.

Medicamentos so produtos de natureza qumica ou biolgica, que se modificam no decorrer do tempo. Mas o que faz com que se modifiquem?

Ao longo do tempo ocorre um desgaste dos princpios qumicos, assim como alteraes biolgicas. Essas alteraes ocorrem por reaes com os excipientes*, com o material da embalagem ou com o ar atmosfrico. Isso porque dificilmente as embalagens utilizadas so totalmente impermeveis entrada dos gases atmosfricos ou umidade. Por isso, os fabricantes realizam testes para determinar o tempo limite em que o produto preservar suas caractersticas resultando em seu prazo de validade. O prazo de validade, no entanto, apenas corresponder ao indicado se o produto for preservado nas condies adequadas. Logo, importante que o almoxarifado de medicamentos conte com um catlogo dinamicamente atualizado especificando os requisitos de cada produto. Caso haja ausncia de recomendaes especiais, os produtos devem ficar em temperatura ambiente (entre 15 e 30C), em condies controladas de baixa umidade e fora da exposio da luz solar direta, e afastados da alvenaria (piso e paredes). Outro fator a ser considerado no armazenamento de medicamentos diz respeito ao seu empilhamento mximo, que deve ser respeitado com cuidado, uma vez que h o risco de facilitar a contaminao dos produtos quando ultrapassado. No caso de alguns produtos, a no observao dos cuidados relacionados ao seu armazenamento pode significar apenas a perda financeira pela necessidade de seu descarte ocasionado pela danificao da

de inteira responsabilidade do fabricante informar as mximo e o condies como o peso empilhamento

suportvel, as condies de manuseio etc. Para saber mais, consulte .

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embalagem. Problema mais srio pode ocorrer no caso de injetveis em que a contaminao invisvel ou no percebida pode ocasionar a morte de pacientes. Alguns produtos tm requisitos especficos de estocagem, como o caso dos entorpecentes e psicotrpicos, os quais devem ficar em rea de segurana e acesso restrito; os fotossensveis, que devem ficar ao abrigo da luz; e os termolbeis, que requerem ser mantidos sob temperatura especial. Produtos como os quimioterpicos requerem proteo especial, pelo risco de contaminao de pessoas e ambientes caso ocorra seu extravasamento por quebra ou danificao da embalagem.

Os profissionais que trabalham com medicamentos requerem treinamento especfico para darem conta das especificidades desse trabalho.

Em razo de todos esses aspectos e do risco potencial caso os cuidados no sejam tomados, alguns profissionais da assistncia farmacutica tm insistido que o almoxarifado de medicamentos deve receber a denominao de Central de Abastecimento Farmacutico (CAF). Contudo, infelizmente, vemos medicamentos armazenados em condies inadequadas, e o pior de tudo que os gestores no percebem que um investimento no provimento de condies adequadas de estocagem de medicamentos, que em geral no to alto, pode economizar muitos recursos a longo prazo ao evitar a deteriorao dos produtos e consequentemente salvar vidas, alm de preservar sua responsabilidade, como gestor, de ser imputado por um dano evitvel.

Voc j evidenciou essa situao de gesto ineficiente na armazenagem de medicamentos? Procure o almoxarifado de medicamentos da unidade de sade mais prxima de sua residncia, observe as condies de estocagem, busque cerca

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de 10 itens aleatrios e observe os rtulos desses itens/ medicamentos se seus registros de estoque so confiveis. Verifique ainda: os medicamentos esto estocados em condies adequadas? H itens vencidos? Como o almoxarifado realiza a vigilncia da validade dos produtos?

Para a distribuio de produtos, o mtodo de requisio a ser utilizado pode ser o ascendente (pull system) ou o descendente (push system). No mtodo ascendente, cada unidade de ponta responsvel por realizar sua programao local e fazer o pedido a um almoxarifado, ou CAF. Esse mtodo requer pessoal qualificado e competente nessas unidades de ponta e que se conte com um bom sistema de informao. No mtodo descendente, um nvel mais central decide o que ser enviado s unidades de ponta. Essas quantidades podem ser variveis, determinadas em funo de indicadores de estoque informados ou fixas para um determinado perodo de tempo, tambm chamado de por cotas ou por kits. O mtodo descendente deve ser empregado quando as unidades de ponta no contam com condies adequadas para manejar sua previso ou quando desejam desoner-las desse encargo, destinando-lhes mais tempo para o cuidado ao usurio.

Falamos sobre este

crculo na Unidade 1. uma releitura.

Em caso de dvida, faa

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Contudo, em quaisquer dos casos, devemos contar com um bom sistema de informao para de que as reais necessidades devam ser consideradas, no permitindo que se estabelea o crculo de desconfiana. Um sistema transparente e idneo deve considerar que o nvel central, que em geral responsvel por controle, financiamento e compra de medicamentos precisa de informaes da unidade de ponta tanto quanto a unidade de ponta precisa de informaes para bem realizar seu gerenciamento local. Ocorre ouvirmos argumentao de que a informao do preo ou da qualidade no precisa ser informada s unidades usurias. Isso, alm de comprometer a transparncia do processo, impede as unidades de ponta de implantarem um controle de custos ou a simples valorao realista de seu estoque. A informao de quanto as coisas custam importante para o gestor trabalhar a valorizao da coisa pblica.Especializao em Gesto em Sade

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Devemos trabalhar para substituir a noo de que o que pblico no de ningum pela o que pblico de todos e, portando, deve ser cuidado por todos.

Cabe tambm mencionarmos que, para o caso dos medicamentos, fundamental que o sistema de informao da distribuio favorea e facilite a rastreabilidade dos produtos. Imagine que a CAF, ou o almoxarifado central de medicamentos recebe um comunicado de que foi identificado um problema com um determinado lote de medicamentos, muito importante que a CAF possa identificar para onde o referido lote foi enviado a fim de proceder ao seu recolhimento. No caso de distribuio intra-hospitalar de medicamentos, os mtodos de distribuio por dose unitria para o uso de pacientes internados e os kits para procedimentos (por exemplo, cirurgias e curativos) tm sido difundidos como os mais vantajosos.

UtilizaoTodo o ciclo logstico importante, mas no momento de utilizao que ocorre a garantia do Uso Racional de Medicamentos (URM). Segundo a OMS, o uso racional de medicamento ocorre quando o paciente recebe o medicamento apropriado para as suas necessidades clnicas, nas doses individualmente requeridas para um adequado perodo de tempo e a um baixo custo para ele e sua comunidade. O uso racional de medicamentos inclui:

A escolha da teraputica adequada: necessrioutilizar um medicamento?

A indicao apropriada: qual razo para prescreverdeterminado medicamento? Est baseada em evidncias mdicas?

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O medicamento apropriado: que eficcia, segurana,convenincia e custo esse medicamento oferece para o paciente?

A dosagem, administrao e durao: qual otratamento apropriado?

O paciente apropriado: qual a contraindicao eprobabilidade, mnima, de reaes adversas?

A dispensao correta: o mdico tem a informaoapropriada sobre os medicamentos prescritos?

A adeso ao tratamento pelo paciente: como, quando? O comportamento adequado quanto ao uso demedicamentos (automedicao e indicao leiga). Precisamos atentar para todos esses pontos citados anteriormente a fim de evitarmos impactos potenciais do uso inapropriado de medicamentos conforme apresentado na Figura 3, a seguir.

Figura 3: Impacto do uso inapropriado de medicamentos Fonte: Adaptada de INRUD/BU/WHO Promoting Rational Drug Use Course.

So diferentes fatores que permeiam o URM, contudo, devemos, como gestores, estar alertas visto que o uso inadequado

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de qualquer medicamento pode causar mais danos do que benefcios. Observe alguns exemplos demonstrados na Figura 4.

Figura 4: Fatores que permeiam o uso irracional de medicamentos Fonte: Adaptada de INRUD/BU/WHO Promoting Rational Drug Use Course.

Alm do processo de abastecimento, j discutido anteriormente, os componentes do processo de utilizao de medicamentos, o qual envolve sua prescrio, dispensao e administrao, contm as etapas crticas para garantia do URM e so os de maior governabilidade, a partir do sistema de sade. A prescrio tem sido documentada como o processo mais implicado nos eventos adversos ligados ao medicamento. grande a responsabilidade do mdico submetido a diferentes presses, tais como: o excesso de pacientes a atender, a falta de tempo para se atualizar, a falta de acesso a fontes de informaes confiveis, o desconhecimento de como encontrar as informaes confiveis e como julgar a qualidade das publicaes ou a falta de insumos crticos ao seu processo de trabalho. Observe a Figura 5.

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Figura 5: Dilemas do processo de prescrio Fonte: Adaptado de Picon (2004)

Sendo assim, podemos afirmar que para uma administrao correta, a equipe de profissionais envolvidos, alm de bem preparada, deve ser informada e sensibilizada para a importncia desse procedimento, precisa contar com informaes corretas, completas e atualizadas. Cabe ao prescritor informar ao paciente clara e inequivocamente aspectos como a dose, a durao do tratamento, as eventuais interrupes ou os esquemas diferenciados, como dia sim e dia no. Para que esse processo seja eficiente, precisamos contar com o apoio dos profissionais da farmcia para que os medicamentos disponveis na rea de cuidado ao paciente sejam de boa qualidade, estejam dentro de prazo de validade e armazenados nas condies corretas. necessrio que o profissional da farmcia seja provido ativamente de informaes importantes como interaes, incompatibilidades e outras como: a mudana de cor da ampola indica que ela est sem condies de uso? Os medicamentos A e B podem ser misturados no mesmo frasco ou devem ser administrados em separado? O comprimido do medicamento C pode ser triturado

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para ser aplicado na sonda nasogstrica ou desta forma ele perder as suas propriedades? Outra etapa do processo de abastecimento a ser considerada a dispensao, uma etapa cuja importncia muita vezes preterida, infelizmente. Locais inadequados e conte com profissionais despreparados, os quais muitas vezes apresentam nvel de escolaridade no condizente com a importncia de seu trabalho e aos quais no oferecida educao continuada, so os problemas mais frenquentes dessa etapa. A boa dispensao deve acontecer dentro de princpios de qualidade tcnica e atendimento humanizado; ocorrer em local adequado preservao dos medicamentos, para o conforto e a privacidade do paciente; contar com profissionais treinados, trabalhando sob a superviso de farmacutico; e contar com equipamentos e insumos, o que inclui estantes, mesas, cadeiras, microcomputador etc. Os insumos necessrios incluem sacos plsticos para separao dos medicamentos, livros e manuais para uso da equipe da farmcia, cartilhas, folhetos e outros artigos para orientao dos pacientes, ou seja, a equipe precisa sanar dvidas dos pacientes, tais como:

Onde o medicamento deve ficar em casa? Como prepar-lo para administrao? Como usar formas farmacuticas menos comuns, comoinaladores, patchs e aplicadores vaginais?

Por quanto tempo o medicamento deve ser usado? O medicamento em questo requer algum cuidadoespecial para ser utilizado junto com os demais medicamentos prescritos ou com outros prescritos por outros mdicos que atendem ao paciente?

O que fazer e a quem recorrer se ocorrerem reaesadversas?

Onde encontrar os medicamentos que a unidade nooferece?

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Todas essas informaes so fundamentais para garantir a efetividade dos tratamentos e da segurana dos pacientes. Contudo, vale ainda mencionarmos a importncia do gerenciamento dos riscos eventos adversos ligados aos medicamentos em todas as etapas do processo.

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ResumindoNesta segunda Unidade, voc viu que os medicamentos so insumos fundamentais para garantir a resolutividade de aes de sade e que se forem mal utilizados podem causar diferentes problemas que vo desde o desperdcio de recursos at o dano direto sade do paciente. Vimos tambm que vrios danos diretos ao paciente so evitveis. Tratamos ainda das particularidades mercadolgicas, sociais e culturais que fazem com que os medicamentos requeiram cuidados e conhecimento especializado. Para tanto, evidenciamos que uma boa assistncia farmacutica inclui no apenas a preocupao direta com a oferta dos medicamentos, mas tambm um conjunto de cuidados que visa a promover o acesso aos medicamentos de qualidade e seu uso racional. Diante desse cenrio, destacamos alguns principais pontos a serem considerados para garantir o acesso, a saber: os medicamentos ofertados atendem s necessidades da populao? H compatibilidade entre os medicamentos ofertados e os cuidados em sade? Os profissionais de sade e os usurios sabem onde esto disponveis os medicamentos destinados a necessidades especficas? Diante de uma prescrio contendo medicamentos no ofertados, esto claras as alternativas para atender s necessidades do usurio? A distribuio geogrfica da oferta est prxima de onde o paciente a necessita? O horrio de funcionamento da unidade de sade adequado? E, devido ao seu grau de impor-

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tncia no processo de abastecimento, temos de considerar tambm a qualidade dos servios, a formao e a motivao dos profissionais envolvidos. Por fim, vimos que os medicamentos devem ser adequadamente prescritos aos usurios e estes precisam conhecer seu tratamento, os cuidados necessrios para efetulo corretamente e serem motivados a aderir a ele. importante que haja uma gesto dos riscos que permita, principalmente, minimizar os riscos evitveis. E lembre-se: o uso de medicamentos permeia a maior parte das aes finalsticas em sade nos diferentes nveis de cuidado, alm das atividades de preveno e promoo da sade. Logo, essa discusso, de fundamental importncia, ultrapassa o escopo deste livro, sendo indicadas algumas leituras de interesse na seo de referncias ao final da disciplina.

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Atividades de AprendizagemChegamos ao final da Unidade 2, na qual vimos os principais objetivos e elementos da gesto de medicamentos. Agora, recomendamos que voc realize as atividades propostas e, em caso de dvida faa uma releitura cuidadosa da Unidade 2. Se necessrio consulte o seu tutor.

1. Seu Estado, municpio ou hospital conta com uma lista de medicamentos essenciais? Quando foi sua ltima atualizao? fcil saber a composio da comisso responsvel pela lista? fcil aos prescritores e populao consultarem o que h na lista? Por que isso importante? 2. Calcule a quantidade necessria de medicamentos para tratar 120 pacientes (adulto mdio) de tuberculose, de acordo com o esquema I:Esquema I (Bsico) 2RH / 4RH Indicada nos casos novos de todas as formas de tuberculose pulmonar e extrapulmonar

PESO DO DOENTE FASES DO TRATAMENTO DROGAS AT 20KGMG / KG / DIA

MAIS DE 20KG E AT 35KGMG/ DIA

MAIS DE 35 KG E AT 45KGMG / DIA

MAIS DE 45 KGMG / DIA

1a fase (2 meses RHZ) 2a fase (4 meses RH)

R H Z R H

10 10 35 10 10

300 200 1000 300 200

450 300 1500 450 300

600 400 2000 600 400

Siglas: Rifampicina = R Isoniazida = H Pirazinamida = Z Etambutol = E Estreptomicina = S Etionamida = Et

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3. Planeje os recursos necessrios a uma boa atividade de dispensao de medicamentos. Que indicadores voc usaria para monitorar/ avaliar o bom desempenho da dispensao de medicamentos?

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UNIDADE 3MANUTENO E GERENCIAMENTO DE AMBIENTES HOSPITALARES

OBJETIVOS ESPECFICOS DE APRENDIZAGEMAo finalizar esta Unidade voc dever ser capaz de: Discutir

sobre a segurana das pessoas que habitam os ambientes hospitalares;

Identificar o funcionamento da infraestrutura hospitalar como importante condicionador da percepo das pessoas quanto qualidade dos servios que esto recebendo; e Debater sobre o reflexo da pouca importncia dada aos servios de gerenciamento da manuteno, pela falta de priorizao da segurana sobre o uso, tem dificultado a execuo regular das rotinas de manuteno, sejam elas preventivas ou inspees.

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Unidade 3 Manuteno e Gerenciamento de Ambientes Hospitalares

INTRODUOCaro estudante, Chegou o momento de estudarmos a Manuteno e o gerenciamento de ambientes hospitalares. Para tal, consideramos que a referncia direcionada a hospitais consiste no fato de ser o hospital o elemento de maior complexidade entre as unidades de sade e de seu estudo envolver um universo de conhecimentos superior ao de qualquer outro tipo de organizao de servios de sade. Nossa contribuio nesta Unidade reside no entendimento pleno dos hospitais a partir de seus espaos e suas tecnologias, possibilitando a construo de uma estratgia para o controle de sua manuteno e de variveis de risco. Preparado? Vamos em frente? Bom estudo!

Pela identificao das principais centralizaes do hospital ou pela concentrao de elementos de mesma natureza, podemos definir sua arquitetura, seus sistemas funcionais prediais e seus parques de equipamentos. Compreendendo serem essas as necessidades de um ambiente seguro e de qualidade, a nossa abordagem dos espaos edificado, instalado e ocupado ter como fator crucial o conhecimento de todas essas variveis. Muitos dos sistemas desenvolvidos para o acompanhamento das manutenes de equipamentos mdicos so estruturas criad