apostila-luci-semiótica
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Introdução
Nos últimos dez anos trabalhandocom cursos de Comunicação Social,vimos notando a ausência, no mercado,de textos que auxiliem os alunos a
interpretarem e compreenderem oprocesso de criação de linguagem namídia.
Muitas das expectativas que osacadêmicos trazem para asuniversidades, nem sempre sãopreenchidas nos primeiros semestres
ou primeiros anos , na verdade, elesapenas se deparam com certos termose certas práticas de leitura quando oscursos se especificam. Essa é uma das
preocupações desse livrinho, dar umpanorama geral para que o aluno, se vai
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optar no término do período, que eleopte, então, um pouco mais esclarecido
com a área que escolheu principalmentepelo conteúdo que a segunda parteenfoca, se não isso, o acadêmico ao leresses apontamentos pode despertar,
talvez, algum talento inato na produçãoou interpretação dos mídia.
Este trabalho não tem grandes
pretensões, não traz nada pronto,apenas aponta caminhos, daí esse título:Na Trilha dos Signos. Esses caminhosnos mostram como a interpretação dos
MCM (meios de comunicação de massa),podem nos ajudar, não só comoprofissional ou como optarmos pelacarreira a seguir, mas também a não
crermos em tudo que lemos, em tudo oque vemos impresso ou em imagens pelo
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mundo.
Os MCM têm um objetivo: o deseduzir-nos, o de nos trazerinformações para o nosso crescimentoou para a nossa mais absoluta alienação.
A informação que existe no mundo temum peso insuportável em nossa vida,todos os veículos que trazeminformação vão despejando, a todo
momento, toneladas de imagensimpressas em revistas e jornais, out-doors e folhetos, ou toneladas deinformações verbais, pelo rádio por
exemplo, ou verbais e visuais, no casodo cinema e da tevê.
A leitura desse trabalhinho deve
preceder as disciplinas específicas doscursos, o acadêmico, deve, antes,
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mergulhar no processo deinterpretação e recepção para depois
criar os seus próprios.
A informação que existe nomundo está, a cada dia, mais
globalizada, grandes redes lançam seussignos que vão formando, por sua vez,grandes malhas nas quais somos presos.Para tornarmos comum o que pensamos
precisamos criar e enviar mensagenspor meio de signos, eles sãoresponsáveis pela comunicação entre osseres, eles substituem os objetos que
nos rodeiam e nos ajudam a interpretara realidade. Da mesma forma que elessubstituem os objetos que ali estão,eles também habitam essa realidade,
ocupam um espaço no jornal, nos livros,no cinema, na tevê e assim por diante,
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eles têm um corpo material, elesdividem com os nossos corpo o espaço a
nossa volta, por isso um leque deinteresses disputam a produção, oenvio, a recepção e a política dossignos.
O que guia o nosso raciocínioteórico, neste trabalho, é a Semiótica,ela será delineada na primeira parte. A
Semiótica de Peirce, que aí está, é umainstigante doutrina dos signos que nosensina a ler o mundo como linguagem. Omundo dos signos e o mundo dos
objetos podem ser interpretados a umsó tempo, já que os signos tambémpodem ser 'lidos' como objetospertencentes à realidade, e os objetos
como signos existentes 'per si', poistambém carregam informações.
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A Semiótica de Peirce não foi
escolhida ao acaso. A base da visão dosigno de Peirce está na concepçãotriádica do signo, ou seja, a visão deque o signo é composto de uma
materialidade, ou seja, de suas letras,cor ou som, de um significado que eledesperta na mente das pessoas, e deum objeto que ele representa.
Por isso, dissemos que o mundodos objetos também pertence ao mundodos signos e a recíproca é verdadeira.
Talvez neste erro tenham caído outrasciências da linguagem, pois, aodescartarmos o objeto que o signorepresenta estamos alijando da
interpretação do mundo, o mundomesmo.
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Se o mundo é linguagem e a
linguagem, o mundo, aqui vai umapequenina trilha aberta na floresta dossignos. Se conseguirmos criticar ossignos criados pelos homens nos MCM,
também saberemos criticar o mundo anossa volta, e enfim escolhermossempre, se não a ideal , pelo menos amelhor trilha para cada um de nós.
1. Semiótica
1.1 Histórico
Semiótica é uma ciência nascidanos primórdios de nosso século, noentanto, há umas poucas décadas ela
começa a despertar interesse de umpúblico um pouco mais amplo.
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A Semiótica tem como objetivo
maior estudar a ação dos signos sobreos homens, sobre os objetos que essessignos representam e sobre outrossignos; essa ação é conhecida como
semiose. Deste vasto escopo daSemiótica, podemos concluir que elatem um caráter interdisciplinar porquetrabalha com os signos, que
representam seu universo e todos oselementos que aí estão, que fazemparte do nosso universo, real ouimaginário, podendo ser até mesmo,
objeto de estudo de qualquer outraciência. Por tudo isso podemos dividi-laem dois níveis: a Semiótica Pura,doutrina dentro da qual se configura a
teoria dos signos e suas ações sobre omundo como um todo e a Semiótica
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Aplicada, que se nos deparamos aoutilizá-la como ferramenta de outra
ciência.
A Semiótica Aplicada visaestabelecer critérios de um sistema ou
categorias que possam capacitar aanálise de um sistema de signospertencente a qualquer universo quepossibilite conhecimento.
A doutrina dos signos teve doispais que viveram na mesma época, masnão se conheceram. O primeiro, europeu
chamava-se Ferdinand de Saussure, e éna realidade pai da Lingüística, ciênciaque tem como objetivo o estudo dalinguagem verbal, e tendo estudado as
várias relações da palavra com o homemSaussure em sua busca nos legou muitos
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conceitos e termos que podemosutilizar como empréstimo.
Saussure (1971:82) pareceuvislumbrar uma Semiótica, chamada porele de Semiologia, ao afirmar: "quando a
Semiologia estiver organizada, deveráaveriguar se os modos de expressão quese baseiam em signos inteiramentenaturais - como a pantomima - lhe
pertencem de direito(...)", mais tardefoi Roland Barthes que apodera-sedesse termo e desenvolve amplosconceitos que se estendem e se
solidificam até hoje.
O outro pai da Semiótica eranorte-americano, filho de um professor
de Harward, bacharel em Química,
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lógico e matemático. Charles SandersPeirce, como se chamava, era
apaixonado pela Lógica e por toda a suavida busca relacionar o envolvimentodos fenômenos e dos signos que osrepresentam. A obra de Peirce é muito
vasta, para se ter uma idéia aproximadade tudo que ele estudou é necessáriauma leitura de suas 12.000 páginaspublicadas em vida e das quase 95.000
que ele passou a visa produzindo eficaram sem publicação; ainda hoje,muitos pesquisadores procuram darconta de suas anotações, e como
Saussure teve muitos seguidores umque primeiro se destacou foi CharlesMorris que divulgou muitos dosconceitos deixados por Peirce.
Conforme nos indica Winfried
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Nöth (1994:13) o termo "semiótike"surgiu num livro de John Locke (1632-
1704) que se intitulava "Essay onhuman Understanding" de 1690 epostulava uma doutrina dos signos. Umtermo semelhante "zemaiotikon" foi
utilizado por Galenum de Pergamun, ummédico que viveu de 139 a 199 e utilizouo termo num estudo do diagnóstico dossignos das doenças.
O termo "semeion" em gregosignifica sinal, marca. Semeion ou Semagerou muitos vocábulos: Semântica,
disciplina que estuda a significação daspalavras, esse termo, parece ter seanalogia com o termo "mancia" quesignifica adivinhação, que podemos
observar em quiromancia, por exemplo,que é a arte de se adivinhar o destino
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das pessoas pelas linhas e sinais napalma da mão entre essas arte ainda
encontramos, hidromancia, rabdomanciae geomancia entre outras. O vocábuloSemiologia utilizado por Saussuretambém, advém do mesmo radical,
porém parece-nos uma latinização emanalogia às outras "logias". Semiótica otermo utilizado por Peirce é cunhadodiretamente do grego e não se carrega
de dúbias interpretações porcontaminações e analogias anteriores.Para Peirce o procedimento de utilizartermos novos para idéias novas faz
parte de uma ética, que segundo a qual,ainda que a grosso modo, termos novosainda não se conspurcaram designificações aleatórias ou errôneas.
O termo Semiótica foi adotado
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internacionalmente em 1969 pelaAssociação de Estudos Semióticos da
qual participava Roland Barthes, EmileBenveniste, Greimas, Jakobson, Sebeokentre outros. Nesta época os estudossemióticos estavam ampliando seus
horizontes a muitas linguagens nãoverbais além da verbal.Vemos , então, explicitamente,
que o termo pulsou aqui e ali e se
generaliza em 1969, porém o interessepor uma doutrina que se preocupassecom os signos remonta Platão (427-347). Platão se refere a um signo de
três componentes a) ónoma (nome; b)aidos, logos (idéia, noção); c) pragma(coisa). Esta preocupação em nomear oobjeto e estabelecer as relações que
esse objeto mantém com seu nome e aidéia que ele desperta na mente das
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pessoas não é recente.
Sendo assim a preocupação com odesenho, a palavra ou o som queutilizamos para nomear as coisas pornão ser nova, desperta muitas dúvidas
até hoje, principalmente porque atecnologia é responsável pelaproliferação de equipamentos quemultiplicam essas linguagens numa
velocidade vertiginosa, povoando omundo de muitos códigos complexos emistos. É neste momento que aSemiótica nos auxilia com suas teorias
a fim de que tentemos compreender atrilha dos signos que se abre a nossafrente no nosso dia-a-dia, seja nosestudos ou no ir e vir de todos nós.
A diferença entre a Semiótica e
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as outras ciências da linguagem, como aLingüística, por exemplo, é que ela vê os
signos que povoam o mundo como umobjeto de estudo sem descartar oobjeto do qual resultou o signo, comofizeram outros pensadores da
linguagem. Como Saussure, por exemplo,que chamou de significante a partematerial do signo, e seu processomental, de significado. Hoje as várias
correntes semióticas existentestrafegam em muitos caminhosdiferentes, o que aqui veremos serádelineado pouco a pouco.
1.2 Suscitando Dúvidas
Segundo o próprio Peirce(1975:53) " a ação do pensamento é
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excitada pela incitação da dúvida e
cessa com o atingir a crença; e assim
o chegar à crença é a função única do pensamento." Disto posto, essecaminho é para gerar dúvidas a fim degerar conhecimento. Peirce ainda diz
que ao atingirmos a crença estaremos,momentaneamente em repouso, porémna medida em que aplicamo-la, teremosnovamente a ação do pensamento e aí
então geramos conhecimento outravez, nas mesma medida em que geramosdúvida.
1.3 Esboço de uma teoriaCharles Sanders Peirce, passou
toda a sua vida buscando conhecer a
relação entre as várias formas emanifestações do conhecimento
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humano. Para ele Semiótica seria umoutro nome para a Lógica, a Lógica Pura,
como Peirce a concebia. Alguns lógicos,atualmente, preferem denominar delogística a Lógica Aplicada.
A Semiótica de Peirce consolida-se em bases filosóficas anteriores. Aopercorrermos os escaninhos dafilosofia que o antecedeu, percebemos
que Peirce conheceu profundamenteseus predecessores. Sua genialidadedeixou-nos uma teoria do conhecimentona medida em que desenvolve métodos
de se desembaraçar as relações entreos signos que representam a realidade eaqueles que os interpretam. Observar arealidade que está a nossa volta,
interpretando-a dando-lhe novasinterpretações e criando outras formas
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de representá-la é um ato que Peircedenomina de semiose.
Conforme nos aponta Fisch, viaNöth (1990:42) " Estritamente falando,a semiose e não o signo, é o objeto de
estudo da semiótica." Peirce, tambémvia Nöth (idem) afirma que semiótica "éa doutrina essencial da naturezafundamental das variedades possíveis
de semioses."
1.3.1 O Lugar da Semiótica entreoutras Ciências
Se a Semiótica é uma doutrinaque estuda as várias relações entre ossignos e os signos são unidades
constituintes das três matrizesexistentes de linguagem devemos
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colocar ordem no caos antes deencaixarmos a Semiótica em seu devido
lugar.
1.3.1.1 Realidade e Linguagem
Para tentarmos conceituar arealidade sempre teremos de utilizaruma forma de linguagem, e isto, sempredificulta a compreensão de conceitos e
veremos o porquê adiante.
Linguagem define-se como umsistema de representações utilizado
para materializar nossos pensamentos,que por sua vez existem porque omundo à nossa volta os despertam, jáque o homem é dotado da capacidade de
transformar aquilo que vê, ouve, toca esente em linguagem.
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Então tudo o que podemos ver,
tocar, ouvir, sentir, saborear podemosdenominar de realidade. Se a realidadeé algo percebido, pois como sabemos, osolhos, a boca, a pele o nariz e os
ouvidos são as portas da nossapercepção, então, no momento em quepercebemos os objetos a nossa volta,seja, por qualquer uma dessas portas
"traduzimos" esse sentir por umpensamento, e esse pensamento podevir em forma de palavras, de sons, deimagens, ou tudo isso junto, depende da
capacidade de pensar de cada um.Imagens, sons, palavras, tudo isso sãoformas de representação, funcionamcomo signo do objeto percebido, aquele
que ali está compondo a realidade aonosso redor.
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Para tornarmos esse pensamento
comum, transformamo-lo em desenhos,palavras, música, etc; em unidades derepresentação, ou seja, um signo.
Vejamos como isto funciona: Sevocê está sentado para almoçar e astravessas vão sendo postas na mesa eassim uma delas esbarra em sua mão, no
mesmo momento seu cérebro recebeuma mensagem enviada pela sua pele:"Quente!", aí então, você tira sua mãodepressa, sacudindo-a no ar dizendo: -
"Ai! Está quente." Você representouessa realidade por intermédio de doissignos; um visual, o gesto, e um verbal,a frase.
Você transformou aquilo que era
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real, que estava fora de você, emlinguagem, você comunicou (tornou
comum) o que você absorveu darealidade.
Transformar a realidade em
linguagem é conhecê-la, quanto maissomos capazes de utilizar signos, oulinguagens, para traduzir o que nosrodeia, mais conheceremos a realidade.
A linguagem é o único caminho quenos levará até a realidade, de outraforma ela será intocável, inatingível,
pois o seu toque sobre ela já estarásendo uma forma de interpretá-la, jáestará carregado com a suainterpretação de mundo.
1.3.1.2 Fenomenologia
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A Fenomenologia para Peirce era
necessária, conforme vimosanteriormente, pois só se é capaz dedescrever e explicar coisas se asvemos, tocamos, cheiramos, saboreamos
etc. Se para ele semiose é a ação dosigno e esta por sua vez estabeleceuma ligação entre o homem e os objetosque compõem a realidade, então a
Fenomenologia entra como um métodopara estudar os fenômenos e suasinterpretações.
Fenômeno vem do gregophainómenous e significa aquilo que semanifesta visivelmente. AFenomenologia nos convida a ver o
mundo com olhos abertos, com asportas da percepção escancaradas, já
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que ver pode se estender às outrasformas de percepção, pois quantas
vezes o "Deixe-me ver" pode estarsignificando pensar, sentir, pegar etc.
Se a Filosofia deu a Peirce
respaldo ao nascimento da Semiótica, aFenomenologia também faz com quePeirce a transforme num de seusinstrumentos do pensar. Conforme
coloca Santaella (1992:122) eleestabelece o seguinte quadro:
1.1.2 Filosofia
1.1.2.1 Fenomenologia
1.1.2.2. Ciências Normativas
1.1.2.2.1. Estética
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1.1.2.2.2. Ética
1.1.2.2.3 Lógica ou Semiótica1.1.2.2.3.1. GramáticaEspeculativa
1.1.2.2.3.2. Lógica Crítica
1.1.2.2.3.3. RetóricaEspeculativa ou Metodêutica1.1.2.3. Metafísica
Para Peirce a filosofia é umaciência que se ocupa com "aprender oque pode ser apreendido com umaexperiência diária ou não."
(1990:197), e acrescenta que afenomenologia é parte da filosofia,dentro da qual, ainda, ele estabelece ascategorias universais do pensamento e
da natureza, e finalmente, as CiênciasNormativas que trata das relações
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entre os fenômenos e seus fins.
1.4 Delegando Poderes
Encontrada a Semiótica noquadro elaborado por Peirce vejamos
aquelas com as quais ela mantémrelações de hierarquia:a) Estética - ocupa-se em estudar
as formas de representações da
realidade que tenham como finalidadedespertar a qualidade do belo.b) Ética - ocupa-se com a conduta
do nosso raciocínio, com o modo de
conduzirmos nossas ações emconformidade com o objetivo a seratingido.
c) Semiótica ou Lógica - seria a
ciência responsável pelo estudo dossignos e suas relações entre ele mesmo,
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entre ele e o objeto que ele representae entre ele e a mente que o interpreta;
daí que ela seja dividida em:- gramática especulativa ougramática pura: estuda todos os tiposde signos como eles representam aquilo
que representam e quais as suaspropriedades aplicativas.- lógica crítica : estuda os três
estágios do raciocínio, como a mente os
recebe e os interpreta. São eles:- abdução: capacidadecontemplativa;
- indução: capacidade ,de
discernir diferenças entre as coisas.- dedução: capacidade degeneralizar observações em categoriasou classes abrangentes.
- retórica pura ou retórica especulativa : Estuda o poder que os
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signos tem de gerar interpretantes.
Este quadro elaborado por Peirceé apenas o começo de sua arquiteturafilosófica, e ao procurar a lógicaexistente entre os vários fenômenos do
universo ele acabou produzindo estahierarquia tão lúcida e necessária,entre outras. O ideal de Peirce era aLógica e para conceber seu exato lugar
era necessário aprofundar-se naquelasciências que a rodeavam.
Como podemos ver nas exposições
a lógica ocupa-se com os vários modosdo pensar e encontra-se no cerne desua Semiótica, enquanto que na suaprimeira categoria, a lógica concebida
por Peirce é o ramo da semiótica maisconhecido, e exatamente o mais
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estudado, inclusive essas relações designificação do signo foi a preocupação
mais premente dos lingüistas e daquelesprimeiros semiólogos, podemos atésupor que este fato tivesse levado aodesenvolvimento de outras ciências
preocupadas com a significação, taiscomo a psicanálise, a antropologia aarqueologia; todas de certo modotrabalham com indícios de materiais
para a significação de algo, ora deatitudes humanas, ora de umacoletividade primitiva ou não, ora comos restos deixados por uma civilização
anterior à nossa.Ora, Peirce coloca no coração da
Semiótica a Lógica, o pensar, para ele,
deve ser, então, o responsável pelasconexões entre o homem e a realidade,
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e ao concordarmos com issochegaremos a concluir que a produção
de linguagem só se opera dentro denossa mente, durante o ato do pensar.O modo como nos deparamos com osfenômenos e como os encaramos a fim
de tirarmos as nossas conclusões ouacrescentarmos mais algumas ou ainda,aceitar as conclusões tiradas a respeitodele, faz com que transformemos aquilo
que apreendemos do mundo emlinguagem, em signos. Como colocamosno início, a dúvida leva ao conhecimento,e uma mente científica, ou seja, aquela
que produz conhecimento, é umalojamento de dúvidas porque nela opensar não se esgota e a crença leva aoexercício da aplicação de teorias, e
toda aplicação, gera novamente maisdúvidas.
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1.5 Homem X Signo
1.5.1 As Categorias Universais
O pensamento de Peirce, segundoele próprio, dada a sua paixão pelalógica, leva-o a uma visão lógica douniverso. Lógico e Matemático, com umideal a perseguir, Peirce procuroudeixar claro o lugar e a importância da
lógica entre as outras ciências, eutilizando a fenomenologia, demonstroucomo os fenômenos esbarram e forçamas portas de nossa percepção e nós os
interpretamos e os transformamos emlinguagem.
A Fenomenologia, segundo Peirce,
é a primeira divisão da filosofia, a
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segunda seria a que contém as CiênciasNormativas e a Terceira a Metafísica.
A Fenomenologia para que possa nosservir de estudo, deve ter comoferramentas nossos órgãos do sentidobem despertos. Peirce se refere às
faculdades que o artista tem e "vê ascores aparentes da natureza como elasrealmente são(...)" (1980:17). Quandoassume essa afirmação, o filósofo diz
que "o poder observacional do artista éaltamente desejável na fenomenologia"(1980:17); e assim, ele incorpora a tudoque está no presente momento em seu
espírito, que seja provocado por umfenômeno que, por sua vez, pode estarfora ou dentro de você, seja real ounão, seja um existente individual ou
não, esse algo pode se manifestar avocê neste exato momento de qualquer
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forma. Não que nós deveríamos serartistas para absorvermos melhor a
realidade, mas sim quedesenvolvêssemos um apurado controledos nossos órgãos do sentido a fim deaproximarmo-nos muito mais das coisas
que nos rodeiam .
Faneron (phaneron) é o termo quePeirce utiliza para designar a noção de
fenômeno, toda e qualquermanifestação externa ou interna aosnossos sentidos, e, entre as últimaspodemos enquadrar os sonhos, os
devaneios, a imaginação e a ficção, etc.Peirce leva esse conceito muito alémpois esse conceito há de gerar para eleo conceito de signo, já que o fenômeno
desperta o pensamento e ele por suavez uma possível forma de
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representação.
Santaella (1994:157) nosapresenta uma das definições de signoencontrada na obra de Peirce, entre asmuitas deixadas por ele e segundo ela
mesma é "bastante sugestiva": "(...)incluindo sob o termo signo, qualquerpintura, diagrama, grito natural, dedoapontando, piscadela, mancha em nosso
lenço, memória, sonho, imaginação,conceito, indicação, ocorrência,sintoma, letra, numeral, palavra,sentença, capítulo, livro, biblioteca, e,
em resumo, qualquer coisa que seja,esteja ela no universo físico, esteja elano mundo do pensamento, que - quercorporifique uma idéia de qualquer
espécie (e nos permita usar amplamenteesse termo para incluir propósitos e
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sentimentos), quer esteja conectadacom algum objeto existente, quer se
refira a eventos futuros através deuma regra geral - leva alguma outracoisa, seu signo interpretante, a serdeterminado por uma relação
correspondente com a mesma idéia,coisa existente ou lei (MS 774:4)".
Como podemos observar o
faneron, responsável pela produção designos pode ser uma sensação, umasemelhança com outra coisa, ou ainda,uma causalidade ou até mesmo um
existente e se manifesta conformetrês categorias universais.
1.5.1.1 Primeiridade
É original aquilo que é primeiro. A
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idéia de primeiridade é tão livre que sevocê se fixar para pensar nela ela já
estará aprisionada em algumacomparação e não será mais primeira.A primeiridade é um estado de
qualidade daquilo que é variado,
múltiplo, impreciso, dada amultiplicidade de possibilidades. Não éa imprecisão da ausência, mas sim, dafartura. Para Peirce a primeiridade é
uma qualidade de sensação, só aqualidade, pois o que produz essasensação ainda é incorpóreo. Imagineum frio sem ainda estarmos no inverno,
uma cor sem estar impressa em algo,uma dor ainda não sentida. Peirceafirma(1980:89) :"Parece-me que umaqualidade de sensação pode ser
imaginada sem qualquer ocorrência."Disto supomos que a primeiridade está
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num estado pré ou quase.
1.5.1.2 Secundidade
É segundo tudo aquilo que éterminado, que tem como elemento o
conflito. Se você empurra uma cadeira,ela com sua massa e seu peso resisteaté que sua força seja maior à suaresistência e ela mude de lugar. Causa e
efeito, ação e reação, memória,realidade, polaridadesnegativo/positivo, doce/salgado,vida/morte. Se primeiro é vir a ser, o
segundo é a existência mesma.1.5.1.3 Terceiridade
É a mediação. O início é primeiroe o segundo é o fim, entre eles está o
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terceiro. É terceiro aquilo querepresenta algo para alguém, é a
mediação entre a consciência e o queestá fora dela.
O terceiro é geral. A
generalidade é um terceiro porque aaceitamos, porque ela nos faz ter aidéia do que a realidade éefetivamente. Toda lei é um terceiro
porque denota algo que ocorrerepetidamente, um desvio na estrada éum terceiro em relação ao início e o fimdesta estrada pois me faz entender que
ela faz a mediação entre outraslocalidades; se lanço uma pedra para oalto, sei que ela voltará. Tudo o quepensamos é a mediação entre a
realidade e o que está em nossaconsciência.
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A terceiridade nos delega um
poder sobre o futuro porque na medidaem que repetidas ações, ou aindarepetidas palavras ou idéias vão sendoutilizadas com determinados sentidos,
com determinados significados elespodem nos trazer leis para as nossasações futuras. Conduzindo-nos a outrassignificações, essas ações e palavras
podem gerar dúvidas, ao gerar dúvidasampliamos seus espectros eampliaremos no futuro suasgeneralidades.
No mundo semiótico temos aquiloque é terceiro. No reino dos signosocorre o que está descrito sobre as
ações futuras.
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1.5.2 Visão pansemiótica domundo
O prefixo pan significa todo epara Peirce, o homem é um signo, poiscomo vimos, o homem poder ser
considerado um terceiro, uma mediaçãoentre outros homens e a realidade namedida em que é um ser produtor delinguagem.
Para Peirce o homem pode serconsiderado uma espécie de símboloporque vai adquirindo novos
significados, novas conotações à medidaque evolui assim como afirma o filósofo(1975:307/8): " a palavra nada significasenão aquilo que algum homem a fez
significar(...)", isso é válido tambémpara o homem, já que o homem se
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transforma e evolui e aprende novosconceitos sobre si mesmo e sobre o
universo que o rodeia, e, assim,conseqüentemente aprende mais sobresi mesmo novamente.
Peirce afirma que o homemenquanto símbolo verdadeiro é imortal,e um símbolo verdadeiro é aquele quedeixa provas da sua existência, é aquele
cujo caráter peculiar o transforma numsigno na consciência de outros homens.
Mesmo os fenômenos vão
crescendo em significado na medida emque o homem busca conhecê-los melhor.Assim como os signos que o homem cria,o mundo é uma cadeia de signos a ser
elucidada pelos homens e o homem umsigno a ser compreendido por ele
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mesmo.
1.6 Alguns apontamentos sobre osigno1.6.1 Introdução
O signo, conforme uma dasvárias definições de Peirce(1975:94), é"algo que sob, certo aspecto ou dealgum modo, representa alguma coisa
para alguém" . Sendo assim o signodirige-se a alguém substituindo oobjeto ou referindo-se a ele, já quesimplesmente o representa. Mesmo a
própria coisa pode representá-la pois,na medida em que a tocamos, ouderramamos um olhar cheio designificação para ela já terá sido um
signo. Re-presentar por sua vezsignifica tornar presente, apresentar
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novamente; o signo representa, ou seja,torna presente aquilo que no momento
não está aqui, portanto o signo envolveum conceito de substituição.
Na medida em que recebemos
esse algo que substitui um componenteda realidade, como vimosanteriormente, criamos em nossa menteimagens e explicações para o signo que
poderá ser mais ou menosdesenvolvidas, dependendo do grau defamiliaridade que mantivermos com ele.Por exemplo; se usamos a palavra água,
ela sozinha pode conter muitas dasnossas experiências em relações a essecomponente líquido, inodoro , insípido eincolor que existe na realidade. Uma
das nossas experiências pode ser obanho, o mar, a sede, a piscina ou até
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mesmo a sua molécula H2O. Sendoassim esse signo água contém muitos
objetos. Um signo pode conter muitosobjetos, mas sua única função érepresentar esses objetos, referir-se aeles. A palavra água não pode permitir
nenhuma experiência direta com a águamesma, nem me fazê-la reconhecer,porque ao usar a palavra não sofro omesmo efeito que ao abrir a torneira. A
água que não pode estar no mar, nosseus olhos, no copo e matar sua sede éa palavra água.
Lúcia Santaella (1993:39) conclui"1) que o signo é determinado peloobjeto, isto é, o objeto causa o signo,mas 2) o signo representa o objeto, por
isso mesmo é o signo; 3) o signo só poderepresentar o objeto parcialmente e 4)
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pode até mesmo representá-lofalsamente, 5) representar o objeto
significa que o signo está apto a afetaruma mente, isto é produzir nela algumtipo de efeito; 6) esse tipo de efeitoproduzido é chamado de interpretante
do signo; 7) o interpretante éimediatamente determinado pelo signoe mediatamente determinado peloobjeto, isto é 8) o objeto também
causa o interpretante, mas através damediação com o signo."
Estas conclusões vêm a sintetizar
o que está exposto anteriormente: em(1) vemos que cada objeto que compõe arealidade pode ser representado porum signo seja verbal, seja visual, seja
sonoro como já vimos, e isso se estendeaté (2) onde ao utilizarmos qualquer
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representação de água não nosmolhamos nem matamos nossa sede e
em (3) vemos que a conclusão confere ese estende ao (4) porque às vezespodemos com um simples papel celofaneazul criar um mar num comercial de TV,
uma falsa representação de água, comono filme "Os dez Mandamentos" deCecil B. de Mille em que Moisés aocruzar o mar Vermelho, o separa para
que o povo hebreu possa passar e assimfugir à perseguição dos homens doFaraó; o item (5) refere-se àsexperiências que tenho do objeto, no
nosso caso o banho, a sede, o choro, afórmula etc, essas experiênciasdespertadas em nossa mente, namedida em que utilizo ou alguém
próximo de mim utiliza, chamamos deinterpretante, que não podemos
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confundir com intérprete ( o queinterpreta, a mente interpretadora,
portanto alguém), o interpretante podeser igual em muitas mentesinterpretadoras, pode ser diferente namedida em que determinados fatores
culturais sejam diferentes; ointerpretante surge em nossa mentedespertado pelo signo no momento emque pronunciamos uma palavra,
contemplamos uma foto, etc, vai daí queem (8) a afirmação de que o objetotambém causa o interpretante deve-seao fato que na medida em que nossa
necessidade de substituirmos,representarmos a realidade, qualquergesto, qualquer olhar derramado sobreela está carregado de signos, daí que a
realidade em si produza interpretantesmas sempre através da mediação com o
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signo.
Vejamos um exemplo. Nomomento em essas páginas são lidasimaginemo-nos diante de uma paisagemmuito bonita que fica mais ou menos a
quinhentos metros de onde estamos. Ànossa frente um rio manso deslizaentre guapés, à margem oposta de ondenos encontramos muitas colinas com
verdes pastagens contrastam com asmanchas brancas que podemos supor,sejam bois. Ao longe ouvimos o ruído deuma barcaça que se aproxima, sabemos
que se aproxima porque ouvimos oefeito do som se acelerar. Tudo issoocorre, dentro da realidade, ao mesmotempo, se fosse real, nossos olhos e
nossos ouvidos escolheriam pontos emque se apoiar a fim de que pudéssemos
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descrever em forma de palavras, sefosse uma fotografia nosso olhar
debruçar-se-ia sobre um ponto maisatraente até os pequenos detalhes, sefosse uma música que ainda nãoconhecêssemos, com certeza os sons
mais estridentes chamariam mais anossa atenção.
1.6.2 As partes de que se compõe
o signo
Para que o que ficou dito atrás seresolva agora de modo mais ordenado,
coloquemos ordem nessas conjeturas.Se compreendemos os passosanteriores, encontraremos um terrenofirme na próxima estrada.
O signo é um todo, é algo que não
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pode ser dividido, no entanto, podemosdizer que ele é composto de três
partes, elas são inseparáveis, já que osigno é uma unidade de representaçãoda realidade.
1.6.2.1 O representâmen
Peirce denominou de
representâmen o corpo do signo, suamaterialidade. A materialidade do signonada tem a ver com o objeto que elerepresenta, às vezes poeticamente é
possível, porém para efeitos didáticos,digamos que essa materialidade éaquela que utilizamos para fazer o signoaparecer.
Para exemplificar quando escrevo
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a palavra seis, as letras S,E,I,Scolocadas uma ao lado da outra
materializam algo e essas letrascolocadas desta forma sempre serãosigno de algo que envolve a quantidadeque elas representam. Se tomo em
minhas mãos a foto de uma criança orepresentâmen é o papel a textura dopapel, o colorido, os contornos daquelacriança, sua imagem. Se ouço um som
sua tonalidade, sua intermitência ou suasuavidade serão sua materialidade, seurepresentâmen.
Concluímos então, que orepresentâmen é o corpo no qual o signose manifesta, assim como o seu corponecessita de roupas adequadas para
uma festa ou outra ocasião, os objetosnecessitam de letras, cores, traços ou
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sons para se deixarem representar.
1.6.2.2 O objeto
O signo comporta dois objetos:a) imediato e b) dinâmico:
a) Objeto imediato : é aqueleque o signo carrega dentro de si mesmo.O signo ÁGUA carrega dentro de si
mesmo vários objetos: o Mar Vermelhoseparado, representado no cinema, ocelofane azul no comercial de TV, afoto do mar, o som de uma cascata, a
fórmula H2O, o copo de água, a lágrimaetc. Todas essas coisas são signos daágua e comportam cada uma, um de seusaspectos, porém somadas não são a
própria substância em sua totalidade deaspectos, que já foi num passado
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distante cristalina e pura e hoje , nosgrandes centros, poluída e mal cheirosa.
Por isso, algumas páginas atrásdissemos que o signo comporta váriosobjetos, como pode comportar apenasum, como pode comportar um objeto
que ainda venha a existir, ou que játenha existido. Por exemplo o livroViagem à Lua de Júlio Verne, na épocaem que foi escrito, era signo de algo
que estava no futuro, como o filmeBlade Runner, o Caçador de Andróidespode estar sendo signo de algo quepoderá existir; outro exemplo, são as
escavações de arqueólogos em busca decivilizações que desapareceram, àsvezes um dente, um crânio pode sersigno de algo que já tenha existido em
grandes extensões.
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b) Objeto dinâmico : é aqueleque está na realidade, que pertence,
pertencerá ou pertenceu ao mundo nãosemiótico. Como já vimos o mundo nãosemiótico só pode ser "tocado" porintermédio dos signos. O homem
substituiu a realidade por signos e acompreensão do conceito fica difícilporque ainda que quiséssemosexemplificar seria em palavras e seria
uma mediação.
Para que compreendamos melhor,execute uma tarefa: estenda sua mão
agora enquanto lê esse texto e toqueem algo que esteja próximo a você eque não faça parte de você. Sinta esseobjeto, o seu toque sobre ele é um
signo, sua pele é um órgão do sentido etransmite a você alguma informação
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sobre ele, agora olhe-o, suas cores, suamaterialidade, ouça-o se ele for capaz
de produzir algum som, agoraabandone-o e lá está ele compondo arealidade. Suponhamos que alguémentre onde você está, pegue esse
objeto e o lance fora, pela janela; láestará ele, talvez a dez, talvez a doismetros abaixo, lá na rua, compondo arealidade.
A realidade aí está, você a tocade uma forma, outros de outra e sobreisso Peirce afirma que: "Diferentes
espíritos podem firmar-se nas maisconflitantes posições, e; não obstante,o progresso da investigação os levará,por força externa a uma única e mesma
conclusão" (1975:667). Por que umlógico chegaria a essa afirmação?
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Porque conhece o caráter deveracidade da realidade e sabe que
caminhamos em busca de respostas eque chegaremos a elas mais cedo oumais tarde porque a realidade está ànossa espera e ao nosso alcance como
objeto do saber.
Disso tudo podemos concluir queo signo comporta dois objetos, um que
está dentro dele, e que só elecomporta, e outro que pertence,pertenceu ou pertencerá ao mundoexterno, não semiótico.
1.6.2.3 O Interpretante
O signo comporta três
interpretantes: a) interpretanteimediato; b) interpretante dinâmico e
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c) interpretante em si:
a) interpretante imediato : é osignificado, ou imagem mental que osigno está apto a produzir em nossasmentes. É preciso compreendermos
que o interpretante imediato é aqueleque está embutido no signo empotencial. É um significado que podeestar lá dentro do signo, qualquer que
seja ele.
b) interpretante dinâmico : é osignificado ou imagem que o signo
efetivamente produziu ou produz naminha mente, ou na sua. No instante quese depara com o representâmen eledesperta em nossa mente algum efeito.
c) interpretante em si, ou
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interpretante final : deverá ser oresultado final do processo de semiose,
são as várias explicações, significados,efeitos e imagens que o signo é capazde produzir na medida em que eletransita em várias mentes, por várias
gerações e assim por diante. Essesignificado seria muito amplo, e, dada avastidão do seu conceito nós sópodemos imaginar esse tipo de
interpretante.
1.6.3 As tricotomias
Como já observamos, Peirceclassifica os fenômenos sempre em trêscategorias. Ele denomina de tricotomiasas relações que o signo estabelece
entre os objetos que denotam, ou entreos representâmens ou ainda entre os
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interpretantes. Serão três tricotomias,das quais ele saca dez classes de signos
e segundo sua fórmula será o trêselevado à décima potência, gerando59.049 tipos de signos.
1.6.3.1 O signo e seurepresentâmen
Nesta relação temos uma relaçãode comparação, é uma relação depossibilidades lógicas já que essa é umatricotomia de primeiridade. O signo em
si mesmo, ou seja, o representâmen emsi mesmo pode ser uma merapossibilidade, um existente real ou umalei geral.
QUALI-SIGNO - qualidade,
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originalidade, estado quase. Não podeatuar como signo até que esteja
corporificado e quando se materializanão será mais um quali-signo. Repareque a simples possibilidade de algo semanifestar como um signo é um signo.
SIN-SIGNO - Um evento realque é um signo. Algo que funcione comoum signo de alguma coisa. Aqui um
existente pode nos avisar sobre aexistência de outro.Um grito, uma interjeição
pertencem a esta categoria.
LEGI-SIGNO - Todo signoconvencional. Toda aquelarepresentação que foi
convencionalizada pelos homens. Aspalavras por exemplo são usadas
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significando o que significam porquealguns antes de nós resolveram que
elas significam aquilo. Paraentendermos esse tipo de convençãovejamos os códigos de certas gangues;os componentes utilizam certos termos
que só o grupo conhece o significado eutilizam quando precisam falar e nãopodem ser entendidos por outros. Todoo nosso vocabulário se faz desta forma.
As pessoas convencionaram que aspalavras significam o que significam,algumas palavras , no entanto, ficariamde fora desta classificação, como por
exemplo as onomatopéias, ou seja aspalavras que imitam os sons dos animaisou equipamentos ou fenômenos danatureza, talvez elas possam ser
enquadradas na categoria anterior.
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Peirce, muitas das vezes, pareceutilizar o termo signo no mesmo sentido
de representâmen, se isto estivercorreto aqui seria o representâmen emrelação a ele mesmo, e nas seguintes orepresentâmen e suas conexões como o
objeto que ele representa e na terceirao representâmen e o que jaz nele ,mesmo , que possa gerarinterpretantes.
1.6.3.2 O signo e seu objeto
Essa relação se estabelece entre
o representâmen e o objeto que elerepresenta. É uma relação dedesempenho, de natureza dos fatosreais. O signo pode manter algum
caráter em si mesmo, manter algumarelação existencial com seu objeto ou
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se referir ao objeto que denota porforça de uma lei.
ÍCONE - denota um objeto porforça de sua semelhança com seuobjeto, ainda que esse objeto exista ou
não. Qualquer coisa pode ser ícone dequalquer coisa na medida em que sejasemelhante a essa coisa em algumaspecto. Uma pintura abstrata, uma
música instrumental, etc.
ÍNDICE - Atua como signo doobjeto que representa na medida em
que é afetado por este. Um girassolpode ser signo do sol na medida em queo acompanha durante o dia.
SÍMBOLO - se refere aoobjeto que denota por força de uma
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convenção, de uma lei. A palavra é umsímbolo por excelência.
1.6.3.3 O signo e seuinterpretante
Essa relação se dá quando orepresentâmen está apto a despertarum interpretante como signo depossibilidade, ou como signo de fato ou
ainda como um signo de razão, por issoPeirce afirma ser essa uma tricotomiadas relações com o pensamento, danatureza das leis.
REMA - É um signo que paraseu interpretante é um signo depossibilidade, ele é entendido como um
possível objeto. As formas nas nuvensque buscamos podem ser consideradas
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remáticas porque geram interpretantesdesta categoria.
DICENTE - É um signo quepara seu interpretante é representadocomo um existente, é entendido como
representando seu objeto. Um exemplodado por Peirce é a bússola.
ARGUMENTO - É um signo que
para seu interpretante é um signo delei, representa seu objeto em seucaráter de signo.
Essa tricotomia é a tricotomia darazão, do pensamento. O pensamentode cada um de nós opera com váriaslinguagens, quando pensamos
misturamos muitas linguagens paratraduzir o que pensamos. A todo
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momento usamos pensamentos queampliam pensamentos anteriores,
portanto, todas as tricotomias aquiexpostas não funcionam isoladamente,mas sim em suas combinações.
1.7 As dez classes de signos _________________________ __________________________
tricot representâmen
objeto interpretantecat. _________________________
__________________________
Primeiridade quali-signoícone rema _________________________
_____________________________
_______ Secundidade sin-signo
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índice dicente _________________________
__________________________ Terceiridade legi-signosímbolo argumento
_________________________
__________________________ A partir deste quadro Peirceelabora as dez classes de signos:
Signos de Primeiridade
- Quali-signo (remático -icônico):o quali signo é aquele cujo
representâmen é uma merapossibilidade, por isso é uma meraqualidade, como é um rema só pode serinterpretado como um signo de
possibilidade.
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Signos de Secundidade
-Sin-signo icônico (remático): éum objeto particular e real queestabelece analogia a outro pelas suasparticularidades. Para Peirce um
diagrama se enquadra nessa classe poisé um objeto fruto de uma experiênciaque determina a idéia de outro objeto.
- Sin-signo indicial remático: É
um objeto que pelas suascaracterísticas determina outroobjeto, mas por ser remático seuinterpretante representa-o como
possibilidade. Um grito, por exemplo.- Sin-signo dicente (indicial): Éum signo que afeta seu objetodiretamente, que proporciona
informação concreta a respeito doobjeto. Para Peirce um cata-vento se
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inclui nesta classe. Em tese umamanchete de jornal ou um briefing
pode ser incorporado nesta categoria.
Signos de Terceiridade
- Legi-signo icônico (remático):é um ícone interpretado como uma lei.Um diagrama numa fábrica que produzamuitas peças semelhantes. O Projeto
gráfico de um jornal, por exemplo
- Legi-signo indicial remático:Lei geral que estabelece que cada um
de seus casos seja afetado pelo objetoe atraia a atenção. Um pronomedemonstrativo enquanto palavra é umlegi-signo porém, atrai a atenção para
um objeto e é remático pois umpronome demonstrativo sozinho, sem o
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substantivo que o acompanhe, seuinterpretante o representa como um
signo de possibilidade. Uma placa detrânsito que anuncia a possibilidade deencontrarmos adiante umdesmoronamento, ou animais ou neblina,
etc.
- Legi-signo indicial dicente:Objeto real que forneça informações
reais sobre um objeto. Uma placa detrânsito, por exemplo, daquelas queavisam sobre travessia de escolares,curva fechada à frente, etc.
- Legi-signo simbólico remático- Símbolo-remático: qualquer símboloque ainda não seja uma proposição, ou
seja que não procure definir um objetoqualquer. Uma palavra no dicionário, por
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exemplo, é um símbolo remático, pois nodicionário ele representa sua
característica mais geral, mais variadana possibilidade e seu interpretanterepresentá-lo como um signo depossibilidades.
- Legi-signo simbólico dicente -Símbolo Dicente: Uma proposição; umsigno ligado a seu objeto através de
uma associação de idéias de modo quese interpretante represente-o comosendo realmente afetado por seuobjeto, como uma lei ligada ao objeto
indicado.- Argumento (Simbólico legi-
signo): Representa seu objeto como um
signo ulterior através de uma lei, quetende a ser verdadeira.
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1.8 A classificação dos signos dePeirce aplicada à leitura de umaprimeira página de jornal, apenas comoexemplo
Seria muita ousadia aqui falar detoda a classificação dos signos de
Peirce, já que sua extensa obra prevê59.049 tipos de signos. Mas atenhamo-nos principalmente às três matrizes asquais utilizaremos: a primeira
estabelece o signo em relação ao seurepresentâmen, ou seja o signo emrelação ao material de que ele é feito, asegunda, o signo em relação ao seu
objeto, ou seja o objeto que elerepresenta, a terceira finalmente é do
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signo em relação ao seu interpretante,e para Peirce o interpretante é a
imagem, ou imagens que o signo podedespertar numa mente interpretadora.
Cada uma dessas categorias
divide-se em três outras que se podeaplicar na leitura das representações.Leitura aqui tem o mesmo sentidodaquela que Popper nos ensina em seu
livro Conjecturas e Refutações, ou seja,leitura no sentido de interpretação.
Em primeiro lugar delimitemos
nossa área : a primeira página de um jornal, a escolha da primeira página éporque ela parece sintetizar ocotidiano das pessoas, seja num jornal
de pequena circulação ou não a primeirapágina estabelece um diálogo com o
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leitor, e que mostra todos os principaisfatos ocorridos na semana, se o jornal
for semanal, ou no dia anterior, se o jornal for diário. A primeira página temuma diagramação, nos dias de hoje, quedepende de vários fatores. O principal
é o tecnológico, já que os meios deprodução gráficos avançaramsobremaneira nos últimos dez anos,assim também, desde da década de
setenta o uso da cor se estabelece comum atrativo e deixa o diálogo maisrealista, mais aberto ao desejo, outrofator que determina a diagramação de
uma primeira página é a seleção do queprecisa ser mostrado já que a primeirapágina é a propaganda do produto e oproduto ao mesmo tempo, e poderíamos
acrescentar aí também o caráter deembalagem do produto, o segundo fator
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que entra na composição da primeirapágina é a seleção dos assuntos que ela
apresenta, e que sempre é uma tarefadifícil, em virtude da grandequantidade de fatos que produzem umvolume extenso de informações.
A primeira página atingirá seuobjetivo na medida em que contivermais informações a fim de atrair o
leitor. A combinação das fotos, daslegendas e dos textos nos guiará naordem de leitura dos cadernos do
jornal. O jornal é um veículo de
informação que pela própria naturezade sua montagem pode ser lido aoscacos, ao contrário, aos poucos; essacaracterística, típica da modernidade,
faz o jornal renascer a cada leitor, ecompor-se diferentemente aos olhos de
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cada um, exatamente como nos colocaJúlio Cortázar em seu pequeno conto
As Metamorfoses do Jornal.
Tendo delimitado o objetivo deaplicação da semiótica, relembremos,
embora de maneira breve, a teoria queservirá de escopo à nossa leitura: aSemiótica de Peirce nos dá em uma desuas divisões a ferramenta necessária
ao nosso objetivo. A GramáticaEspeculativa é aquela que trata daclassificação dos signos e que seráesclarecida daqui a pouco, a Lógica, ou a
parte da semiótica que trata dosprocessos mentais dos signos, efinalmente a Retórica Especulativa, ou aparte da semiótica que elucida os vários
empregos que fazemos dos signos esuas significações. Tendo localizado
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nossa teoria elucidemo-la: a GramáticaEspeculativa vai nos ensinar como
classificar os signos que nos rodeiam, ecomo eles surgem dentro da nossarealidade. Um signo pode ser observadoapenas em seu caráter de signo, ou
melhor, apenas a sua materialidade.
O que faz de um signo ser umsigno é que ele tem um corpo que
representa parcialmente um objeto,parcialmente porque esse é o caráterdo signo, um signo não poderepresentar o objeto por inteiro, pois
aí ele não representaria, ele seria opróprio objeto; por exemplo uma fotonão é o objeto fotografado, assim comoum filme apenas representa o filmado,
nada mais. Assim uma foto pode seranalisada apenas pela sua
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materialidade, sua cor, sua textura,sem necessariamente nos atermos ao
objeto que foi fotografado.
A primeira tricotomia dada porPeirce é aquela do signo em relação ao
seu representâmen, ou seja, amaterialidade que faz com que o signoexista, todo signo habita um corpo queo manifesta: a letra, a tela e a tinta, o
livro e assim por diante, quandoanalisamos um signo apenas pela suamaterialidade podemos classificá-lo emquali-signo, sin-signo, e legi-signo. O
primeiro podemos conceituar como umsigno em seu estado de qualidade pura;e a primeira página em seu estadoqualidade pura é papel, efêmero papel
com algumas manchas gráficas. O sin-signo, na concepção de Peirce é um
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evento que ocorre singularmente, umaúnica vez, e exatamente a primeira
página jamais se repetirá, apesar deser a mesma todos os dias, de parecerser a mesma todos os dias, cada dia éuma, não se repetirá jamais. O legi-
signo, para Peirce é aquele signo que éuma lei, e como tal admite réplicas, oraa primeira página repete-se todos osdias, seu esquema de diagramação é o
mesmo todos os dias; todos os dias oeditor monta uma primeira página sobreos moldes que ele mesmo cria a fim dehabituar os olhos do leitor.
A tricotomia seguinte dada porPeirce é aquela que relaciona o signo aoseu objeto, ou melhor dizendo, quais
são os traços do objeto que podemosencontrar no signo, exemplificando;
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numa foto encontramos uma certasemelhança da imagem com o
fotografado, o que não ocorre numapalavra, uma vez que seu significado foiconvencionado pelos homens. Assimsendo Peirce divide essa tricotomia em
Ícone, Índice e Símbolo. O Ícone é osigno que possibilita qualquer analogiacom o objeto, um traço, uma cor podemser análogos ao objeto, para o criador
da semiótica, um diagrama pode serícone, uma vez que ele guardasemelhanças com o objeto querepresenta, uma primeira página é um
diagrama, pois o que está disposto nasfotos, legendas e textos, traz umahierarquia entre os fatos que estão alialinhados, a primeira página é o
diagrama do mundo no dia anterior, elatraz o mundo retalhado em boxes, em
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fotos, em legendas e textos,diagramados de modo a trazer para o
seu leitor uma imagem do dia anteriorno seu país, na sua região, na sua cidadeno dia anterior. O signo indicial é aqueleque se vê afetado pelo objeto que
representa, ora o jornal e seucompromisso com a objetividade trazem suas reportagens, principalmente asda primeira página, a maior precisão de
fatos possível, uma vez que enquantoveículo de informação , tem seucompromisso com a verdade, e enquantoproduto tem um compromisso com seu
consumidor. Vai daí que o signo indicialque podemos encontrar numa primeirapágina são as matérias veiculadas dandoo rigor de verdade. É uma foto dentro
de uma batalha, é um ladrão esfaqueadona calçada, ou a inauguração de uma
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rodovia pelo prefeito da cidade, essestextos ou essas fotos reconstroem a
realidade de cada um de nós. O signosimbólico para Peirce é aquele signoarbitrário e convencional. Aarbitrariedade na primeira página está
naquilo que o editor convencionou ser omais importante do dia, e você enquantoleitor aceita essa convenção, arbitráriaou não a primeira página é aquilo que o
leitor engole como o principal porquealguém antes dele já determinou comotal. Simbólicos somos todos na medidaem que aceitamos a convenções que
ordenam o mundo dentro de uma lógicapré-selecionada.
A terceira tricotomia de Peirce
nos oferece o signo e seuinterpretante. Interpretante, como já
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foi citado, é o efeito que o signoprovoca em uma mente interpretadora,
esse efeito pode ser visual, verbal,sonoro ou misto. Esta tricotomia nosensina que o Rema é o signo cujo efeitoé uma mera qualidade, a primeira página
desperta a cada manhã trazendo umasurpresa, ela procura dar conta doestado em que se encontra o mundo eexatamente a junção de todas as coisas
que ela traz pode despertar um rema.Um signo remático, vem a ser aprimeira página ao despertar em nósuma possibilidade de sentir o mundo
diante de nós. O signo dicente é aqueleque nos dá uma proposição, é aquele queafirma algo sobre alguma coisa. Umafoto de alguém que eu conheço, por
exemplo é um signo dicente na medidaem que demonstra a foto de alguém que
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eu reconheço como sendo aquelealguém, ou ainda uma oração com um
sujeito e um predicado que enuncie algosobre o sujeito, e a partir daí então, euposso inferir que a primeira página emseu caráter de signo dicente me faz
reconhecer o que acontece no mundo,pois as fotos trazem legendas queenviam novamente às fotos e aos textosinternos, os textos me remetem aos
textos mais esclarecedores doscadernos seguintes e assim por diante,podemos concluir que na medida em quea primeira página é uma proposição do
que será desenvolvido no interior do jornal que ela se comporta, nesseaspecto como um signo dicente. Porúltimo nesta categoria encontramos o
Argumento, que para Peirce mora nocoração da lógica. O Argumento é um
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signo feito de algumas proposições arespeito de um determinado objeto a
fim de determinar o caráter deveracidade daquele objeto. OArgumento é composto de proposiçõesa respeito de um objeto de modo que se
esclareça algo sobre ele. Se inferirmosa respeito de uma primeira páginaqualquer, descobriremos que ela é umatentativa de reconstrução da realidade
dentro da qual vivemos, ao elaborar umaprimeira página com os cacos do mundo,o editor compõe uma realidade queacreditamos ser a nossa, que
acreditamos ser daquela forma, porquevivemos nela.
Enfim, uma primeira página é
sempre uma e múltipla ao mesmo tempo,
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é algo repetível dentro de suairrepetibilidade, é um relativo dentro
de absoluto, é a afirmação de umanegação, pois ao negar a do dia anteriorafirma-a porque dentro de si a mesmalei que produziu a anterior, é a
multiplicidade dentro da singularidade,pois ao ser a única daquela edição, trazas outras edições que fizeram o jornalser o que é, é caótica pois divide o
mundo em pedaços e o recompõe deforma a criar uma outra realidade emque nos reconheçamos como tal. É umlugar, é o topos que nada contém, pois
é efêmera demais para ser algum lugar,para conter algo.
1.9 Concluindo ainda que
precocemente
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Para finalizar o importante é quefiquem claras as noções de
representâmen, objeto e interpretantee que não devem ser confundidas entresi. Para cada tipo de representâmen háum ou mais tipos de objeto imediato ou
dinâmico, ou tipos de interpretantes.Importante também é não confundir,embora parece pouco provável, a idéiade objeto imediato com a idéia de
interpretante. O objeto imediato estádentro do signo e o interpretante é oque ele é capaz de produzir fora dele,portanto o signo Água com seus
inúmeros objetos imediatos em estadolatente, está apto a produzir em nossamente várias imagens ou sons ousensações, talvez tantos quantos
objetos imediatos ele comporte, adiferença consiste em o signo sendo
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veiculado, pois ele exige uma menteinterpretadora seja ela qual for, e
assim comporta um interpretante, bemcomo contém um objeto imediato; emestando em repouso, como no dicionáriopor exemplo, a face que ele
apresentaria seria a dos objetosimediatos.
Quanto às tricotomias que foram
estabelecidas mais tarde, dentro delasPeirce estabeleceu, então, as dezclasses de signos e podemos perceberque ele as opera a partir do
representâmen, porque é ele que dámaterialidade ao signo. Orepresentâmen pode ser um existenteou não (no caso, o quali signo é mera
possibilidade) mas a existência dorepresentâmen é que determina as
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várias classes de signos.
Peirce vai combinando a partir datricotomia dos representâmens porqueeles definem enquanto corpo, enquantovestimenta o objeto que o signo
representa e o interpretante que eledesperta, e como o quali-signo é merapossibilidade ele só poderá combinar-seao ícone e ao rema, e portanto à
primeiridade pura, pertence apenas umaclasse, o que parece muito natural, poissem roupagem o signo não é capaz detrafegar pela linguagem. As três
classes que seguem serão pertencentesà secundidade, uma secundidade híbridacom a primeira para as duas primeirasclasses e uma secundidade pura para a
última; para as classes de terceiridadeficamos com muitas combinações e
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muitas possibilidades de construirsignos, de criar novas representações.
Podemos notar que o filósofo foicombinando os representâmens semprecom os quadros anteriores superiores
ou laterais, para representâmenssingulares, os sin-signos, ele combinou-os aos seus superiores e vizinhos, omesmo se dá com os legi-signos, que se
combinam com as tricotomias deprimeiridade, de secundidade e deterceiridade e surge assim um númeromaior de legi-signos e suas nuanças .
Muitos como podemos ver, são signosque embora sejam convencionais podemser icônicos, indiciais ou simbólicos, sea relação que eles guardam com seu
objeto for de primeiridade,secundidade ou terceiridade, o mesmo
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ocorre com o interpretante que orepresenta: rema,dicente ou
argumento.
Nosso próximo passo éapresentar alguns aspectos dos MCM,
com os quais podemos nos deparar nodia a dia, ou mesmo num estudo maisaprofundado deles, quais classespoderemos ser capazes de reconhecer
ou de aplicar ou até mesmo de analisá-los com um fenômeno sígnicoindependente de áridas classificações,mas antes disso, reporte-se ao quadro
seguinte e faça uma revisão do que foivisto neste capítulo.