APOSTILA PISCICULTURA COMPLETA

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 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO (UFMT) FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA E EXTENSÃO RURAL APOSTILA PISCICULTURA PROF. NICOLAU ELIAS NETO CUIABÁ/MT 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO (UFMT)FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA

DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA E EXTENSÃO RURAL

APOSTILAPISCICULTURA

PROF. NICOLAU ELIAS NETO

CUIABÁ/MT2008

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ÍNDICE

CAPÍTULO 1 - CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS PEIXES1.  Características gerais ......................................................................................... ............. .. 4

CAPÍTULO 2 - ASPECTOS DE ENGENHARIA1. Construção de benfeitorias em piscicultura ....................................................................... .. 72. Detalhes de construção dos viveiros e tanques .................................................................. 123. Classificações das instalações segundo sua finalidade ...................................................... 144. Infra-estrutura da piscigranja ............................................................................................. 155. Alteração biológica da água ............................................................................................... 166. Tipos de cultivos ................................................................................................................ 177. Tipos de exploração ........................................................................................................... 188. Consorciamento.................................................................................................................. 19

CAPÍTULO 3 - REPRODUÇÃO DE PEIXES1. Introdução........................................................................................................................... 222. Definições básicas .............................................................................................................. 223. Reprodução: um evento cíclico .......................................................................................... 224. Reprodução induzida.......................................................................................................... 235. Origem do plantel de reprodutores..................................................................................... 236. Biologia reprodutiva dos peixes......................................................................................... 247. Mecanismo endócrino da reprodução ................................................................................ 248. Idade para reprodução ........................................................................................................ 249. Época de reprodução .......................................................................................................... 25

10. Hipofisação....................................................................................................................... 2511. Administração do hormônio............................................................................................. 2612. Hora-grau ......................................................................................................................... 2613. Extrusão e fecundação...................................................................................................... 2714. Coleta e produção das hipófises ....................................................................................... 2715. Incubação dos ovos .......................................................................................................... 3116. Transporte das pós-larvas para os viveiros ...................................................................... 3117. Alimentação das pós-larvas.............................................................................................. 3218. Esquema de laboratório e incubadora .............................................................................. 33

CAPÍTULO 4 - QUALIDADE DE ÁGUA E MANEJO EM PISCICULTURA

1. Oxigênio dissolvido............................................................................................................ 352. Constituintes da água dos viveiros ..................................................................................... 383. Variações hidrológicas ....................................................................................................... 384. Comunidades planctônicas ................................................................................................. 435. Preparação do viveiro......................................................................................................... 466. Algumas observações importantes ..................................................................................... 497. Cuidados com a fertilização química e orgânica................................................................ 50

CAPÍTULO 5- SELEÇÃO DE ESPÉCIES PARA PISCICULTURA1. Seleção de espécies para piscicultura................................................................................. 522. Principais espécies nativas de peixes cultivadas no Brasil ................................................ 52

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3. Outras espécies nativas de importância econômica ........................................................... 614. Espécies exóticas para piscicultura .................................................................................... 62

CAPÍTULO 6 - A DESPESCA E PRINCIPAIS DOENÇAS EM PISCICULTURA1. A despesca.......................................................................................................................... 662. Doenças não-infecciosas .................................................................................................... 673. As principais doenças......................................................................................................... 68

CAPÍTULO 7 - O CULTIVO DE PEIXES EM TANQUES-REDE1. Introdução........................................................................................................................... 712. O sistema de produção ....................................................................................................... 713. Tanques-rede e gaiolas ....................................................................................................... 724. Fatores que afetam a produtividade em tanques-rede (TR) .............................................. 72

5. Aspectos construtivos dos tanques- rede e gaiolas............................................................. 776. O planejamento da produção em tanques-rede .................................................................. 837. Capacidade de suporte de pequenas represas e açudes com tanques-rede......................... 84

ANEXO ........................................................................................................................................86  

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CAPÍTULO 1

CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS PEIXES

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1. CARACTERÍSTICAS GERAISSão vertebrados aquáticos de respiração branquial e incapazes de regular a temperatura

corporal (pecilotérmicos). São anatômica e fisiologicamente mais simples que os vertebradossuperiores, são muito mais especializados e diversificados, apresentando inúmeras adaptaçõesreprodutivas, alimentares e morfológicas que os capacitam a ocupar todos os nichos ecológicosque o meio aquático apresenta.

Pela facilidade de realizarem trocas gasosas com o meio, os peixes apresentamaproveitamento ótimo da energia consumida como alimento. Também pelo fato de nãodespenderem energia para regular a temperatura corporal (homeostase térmica) e pouca energiapara se locomoverem, sua conversão alimentar é altamente eficiente.

Seu formato afilado e fusiforme é uma característica presente maioria das espécies. Isto sedeve às limitações impostas pelo meio em que vive, pois a água é cerca de 800 vezes mais densado que o ar. O corpo apresenta simetria bilateral, é recoberto por escamas e por uma camada demuco recobrindo todo o corpo. A pele é contínua até mesmo sobre os olhos e tem função

protetora e apresenta vários órgãos anexos: as escamas; os cromatóforos ou células pigmentosas;os fotóforos ou órgãos luminescentes e várias glândulas secretoras de muco ou de substânciasirritantes de função defensiva.

A linha lateral funciona como órgão tátil dos peixes e é por ela que os peixes percebem asmudanças de temperatura, salinidade, sons, etc. As nadadeiras são os apêndices locomotores dospeixes. O meio onde vivem facilita a sua locomoção pela força de empuxo da água, que mesmoreduzindo a velocidade de locomoção, facilita a natação e a flutuação, diminuindo o dispêndio deenergia e facilitando a locomoção por movimentos ondulatórios corporais e agitação dasnadadeiras. As nadadeiras dividem-se em pares: (ventrais e peitorais) e ímpares (anal, caudal,dorsal e adiposa) (Figura 1).

A respiração é propiciada pela água que entra pela boca, passa pelas guelras, onde são

feitas as trocas gasosas - retirada do oxigênio e excreção do gás carbônico que sai pelas fendasatrás dos opérculos. A absorção do oxigênio é difícil porque sua concentração na água é muitomenor que no ar. Entretanto podem utilizar até 60% do oxigênio absorvido, em contraste com osmamíferos que utilizam apenas 20%. As guelras também têm a função de retirar sais minerais daágua e expelir a amônia.

O sistema circulatório dos peixes é simples, o fluxo sanguíneo é unidirecional. O coraçãotem cavidades simples que conduzem apenas sangue venoso, que ao passar pelas brânquias setorna arterial. Os peixes também apresentam orifícios, sendo os orifícios do trato digestivo: boca,fendas branquiais e ânus; e os orifícios relacionados com os órgãos dos sentidos: as fossasoculares, as narinas e os poros da linha lateral.

O trato digestivo apresenta boca, esôfago, estômago, intestino anterior, intestino médio,

intestino posterior ou grosso e ânus. O sistema excretor é simplificado com apenas um rim,disposto longitudinalmente no corpo, abaixo da coluna vertebral. Esse rim comunica-se com oporo uro-genital por onde é eliminada a urina, que é praticamente isenta de metabólitosnitrogenados, possibilitando, assim, aos peixes grande economia de energia. É através do porouro-genital que os peixes eliminam os ovos e espermatozóides nas épocas de reprodução dasespécies.

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Figura 1: Parâmetros morfométricos (A) e figuras anátomo-morfológicas externas (B) do corpodos peixes.

A

B

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CAPÍTULO 2

ASPECTOS DE ENGENHARIA

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1. CONSTRUÇÃO DE BENFEITORIAS EM PISCICULTURAA piscicultura é uma parte da aqüicultura e pode ser praticada em tanques, viveiros,

açudes, gaiolas ou tanques redes e balsas, no sistema “raceways”, em canais, aquários, etc.A construção adequada de tanques e viveiros é de vital importância para o manejo dos

peixes e, conseqüentemente, para o aumento da produtividade. Para iniciar um projeto depiscicultura e ter sucesso na atividade é necessário estar atento às condições de implantação, asquais dependem fundamentalmente dos seguintes fatores:

•  Topografia do terreno•  Tipo de solo•  Avaliação da qualidade e quantidade da água.•  Proximidade de mercado consumidor com capacidade de absorver a produção•  Facilidade de acesso ao local•  Dados meteorológicos• 

Condições climáticas ideais para o cultivo das espécies•  Manejo a ser adotado•  Infra-estrutura básica.

Todos estes dados irão influenciar no processo construtivo, no tamanho da exploração enos custos de implantação.

1.1. Topografia do terrenoComo as modernas técnicas de engenharia permitem a construção em quase todos os tipos

de terrenos, devemos dar preferência aos terrenos planos ou com declividade suave (5%) quepermitam a construção de tanques com a mínima movimentação de terra, assim como, oabastecimento e escoamento por gravidade, que irá baratear os custos de construção e

operacionalização do projeto.É a topografia que determinará o volume de terra a ser movimentada. Quanto maior odeclive do terreno, maior será a movimentação de terra e mais alto será o custo de construção dosviveiros, mas será menor a superfície de terra a ser inundada.

Deve-se observar a distância da tomada de água e a cota mais elevada da área dostanques, de modo a permitir o abastecimento d’água através da gravidade.

Assim, antes da tomada de decisão, deve-se efetuar o planejamento de todas as etapas acumprir. Portanto, deveremos ter em mãos:

•  declividade do terreno;•  diferença de nível existente nos diversos pontos do viveiro;•  curvas de nível do terreno, marcadas metro a metro;

•  linhas e ângulos de contorno da área;Estes fatores determinarão a disposição, número de tanques e forma dos viveiros. Nunca

devemos esquecer que a maior dimensão dos tanques (comprimento, nos tanques retangulares)seja paralela às curvas de nível do terreno para propiciar uma maior economia no trabalho deterraplanagem.

1.2. Tipo de solo Os melhores solos para piscicultura são os semipermeáveis (intermediários entre o

arenoso e o argiloso). Os solos arenosos e turfosos são permeáveis, não sendo indicados quandose dispõem de pouca quantidade de água. Os solos muito argilosos racham quando esses são

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completamente esgotados, devido às características de expansibilidade das argilas quando perdemágua.

Quanto aos aspectos de fertilidade, é recomendável a escolha dos solos com fertilidademoderada, principalmente quanto aos teores de N e P, que são os nutrientes necessários àprodução primária, ou seja, formação do plâncton. Os solos de estrutura mediana, tambémfavorecem no trabalho de escavação e compactação das paredes e do fundo dos tanques, evitandoassim a infiltração excessiva de água.

É recomendável uma sondagem do subsolo, a fim de evitar a construção de tanques emsolos arenosos, pedregosos ou turfosos ou sob grandes formigueiros, sendo esses solos poucoprodutivos e muito permeáveis. Em termos gerais, os solos apropriados para projetos depiscicultura deverão ter o teor de argila acima de 30% e o de areia abaixo de 50%. Valores foradesses limites tendem a tornar o projeto inviável.

Obs. Um solo é considerado impermeável quando tiver níveis de infiltração entre 6 a 7mm de água/dia.

1.3. Quantidade e qualidade de águaA piscicultura demanda água de qualidade e de quantidade abundante. As melhores

águas são a de poços profundos (artesianos), pois apresentam pouca variação em relação àsépocas do ano, são isentas de predadores, patógenos, peixes invasores, agrotóxicos e poluentes.Sua grande desvantagem é o custo da construção, perfuração, bombeamento e da vazão que namaioria das vezes são insuficientes. Além disso, estas águas profundas possuem oxigênio muitobaixo e gás carbônico e nitrogênio a níveis muito elevados. Por isso essas águas devem receberum tratamento especial quando forem utilizadas em piscicultura, principalmente no que se refereà sua oxigenação, devendo a mesma ser armazenada antes de ir aos tanques ou viveiros emdepósitos com grande superfície de área onde receberão oxigênio naturalmente ou com o auxílio

de aeradores. Também devem ser abastecidas aos tanques a uma altura que favoreça a suaoxigenação pela queda brusca da água. Por outro lado devido à sua facilidade de obtenção, baixocusto e manejo mais simples, as águas superficiais de fontes, como rios e riachos são as maisutilizadas, desde que sejam limpas, perenes e sem contaminantes.

Se possível as águas de abastecimento dos viveiros devem ter a sua nascente dentro dapropriedade, por permitir o completo acompanhamento de suas características naturais. Caso issonão seja possível devemos evitar as águas que margeiam lavouras que usam constantementeprodutos químicos, bem como as águas que recebem dejetos industriais ou residenciais, cujoscontaminantes podem levar ao fracasso qualquer sucesso esperado em piscicultura.

Os teores de oxigênio disponível (OD) devem estar em torno de 6,0 mg/l ou mais. O pHdeve estar de neutro a alcalino, ideal para o crescimento das comunidades planctônicas como para

as necessidades das espécies a serem cultivadas. As águas alcalinas são as mais produtivas. Aágua ou o solo do viveiro com pH abaixo de 6,0 deverão ser necessariamente corrigidos.

A quantidade de água deverá ser o suficiente para permitir a reposição das perdas porevaporação, infiltração e renovação dos tanques. Os levantamentos da capacidade deabastecimento deverão ser feitas nas épocas mais críticas do ano, ou seja, no período seco.

Em piscicultura semi-intensiva, recomenda-se que além de repor as perdas diárias, avazão necessária seja suficiente para renovar de 10 a 15% do volume dos tanques por dia. Para apiscicultura intensiva é necessário que a água alcance um fluxo de 1,0 l/min/ kg de peixe emestoque. Já para a piscicultura extensiva recomenda-se que a vazão da água reponha as perdasdiárias de evaporação e infiltração. A vazão mínima necessária deverá ser em torno de 10litros/s/ha de lâmina d’água.

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Em nossas condições de clima tropical as perdas de água por evaporação e infiltraçãochegam ser de 2 a 3 cm/dia de lâmina d’água, perdas essas a serem consideradas para efeitos decálculo da vazão necessária.

O volume de água necessário é calculado em função da área e da profundidade doviveiro, nunca se esquecendo de acrescentar as perdas por evaporação, infiltração e renovação.

1.4. Proximidade do mercado consumidor Sabemos que a carne de peixe apresenta perdas do seu valor protéico e deterioração

bastante acelerada. Assim, centros consumidores próximos às granjas piscícolas são interessantes,pelo fato de fornecerem um produto de qualidade ao consumidor, que geralmente tem preferênciapelo peixe fresco. Longas distâncias e vias de acesso ruins são empecilhos graves a seremvencidos pelo criador e que às vezes impede o sucesso da criação. Além desses fatores há de secorrelacionar a capacidade de consumo de pescado na região.

1.5. Dados meteorológicosÉ de suma importância conhecer os fatores climáticos que influenciarão diretamente o

criatório, para se tomar medidas preventivas, tanto de manejo como de construção dasbenfeitorias em piscicultura.

Registros anteriores de precipitação, temperaturas médias, insolação, ventos dominantes,etc. devem ser levantados por um período longo de tempo (em torno de 50 anos), principalmentedados de enchentes e estiagens prolongadas. Consultas às estações meteorológicas locais e commoradores mais velhos da região são recomendados neste processo.

As medidas de vazão dos cursos d’água a serem utilizadas para abastecimento deverãoser feitas, nos períodos mais secos do ano, para não se incorrer em erros futuros e vir a terproblemas de abastecimento dos tanques, e aí tendo que se lançar mão de outros artifícios como

bombeamento, que é bastante oneroso e a venda dos peixes fora do tamanho e peso ideal, caso avir a ter problemas com a falta de água.

As condições climáticas correlacionadas com as espécies a serem criadas, também serãoanalisadas. A temperatura da água influencia em todos os aspectos da vida dos peixes(crescimento, desova, alimentação, respiração, etc.) na quantidade de oxigênio dissolvido nomeio e na ação tóxica de certos compostos. Em nossas condições tropicais, temos grandesquantidades de espécies nativas, adaptadas ao clima, que também é favorável à atividade emquestão.

São consideradas frias as águas cujo limite de temperatura está em torno de 20ºC.Espécies como a truta e os salmões se adaptam muito bem às essas faixas térmicas. Já as águasquentes seriam aquelas cujas temperaturas ótimas para o crescimento dos peixes está em torno de

25 a 32ºC. Importante lembrar que quanto menor for a variação da temperatura durante o dia,melhor será o ambiente para os peixes.

1.6. Manejo a ser adotadoEstá diretamente ligado à escolha da espécie a ser cultivada, sendo que este fator deve

interagir com os demais, como a quantidade e qualidade de água, oxigênio disponível,temperatura, mercado consumidor, condições topográficas, para se chegar a um resultadocomum. Sabemos que o potencial de número de espécies a ser trabalhado é grande, mas, apesquisa em piscicultura é recente e a opção de escolha sempre tem recaído com o que se temdisponível em termos de tecnologia de produção, cujo processo é dominado pelos órgãos depesquisa e por criadores mais tecnificados.

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1.7. Infra-estruturaA infra-estrutura básica deve ser favorável no processo de levantamento de dados

preliminares para elaboração do projeto de piscicultura. Deve ser observada a disponibilidade deenergia elétrica e se essa energia é constante ou não (geralmente é inconstante no meio rural),devendo neste sentido providenciar a instalação de um grupo gerador de reserva com capacidadepara suportar as necessidades mais urgentes como: aeradores, freezers, incubadoras, iluminaçãode emergência, etc. As condições de estradas, pontes, fornecedores de insumos, alevinos,assistência técnica, equipamentos, oficina, também deverão ser diagnosticadas.

1.8. Construção de tanques, viveiros e açudesSão construções diferenciadas sendo:VIVEIROS- são reservatórios construídos em terreno natural dotados de sistemas de

abastecimento e de drenagem. Estruturalmente são divididos em viveiros de barragem (açudes),

viveiros de derivação e viveiros sem derivação de cursos d’água.a) Açudes - são construídos a partir de um dique ou barragem, capaz de interceptar um

curso de água. Também poderão ser feitas represas maiores com a finalidade de acumular águapara abastecimento dos viveiros e tanques.

A barragem contará com alguns cuidados para poder cumprir sua finalidade. Deverá ter aforma de um trapézio, com a crista horizontal, medindo, no mínimo, 3,0 m de largura. Sua basedeve ter, para cada metro de altura do dique acima de 1,0 m, mais 0,30 m na largura da crista.Essa altura está correlacionada com o volume de água a ser estocado. As paredes externas einternas da barragem, chamadas taludes devem ser chanfradas, sendo o talude interno cominclinação menor 1:1,5 e o talude externo com inclinação de 1:2,5 em relação à altura do dique.Os dois modelos de cálculo são aceitos existindo variantes quanto ás dimensões externas e

internas dos taludes, havendo controvérsias, alguns autores recomendam o talude interno cominclinação maior que o externo, ou com a mesma inclinação. Para solos pouco argilosos e deinfiltração um pouco acentuada é recomendado a construção de um núcleo central de argila, com1,0 metro de largura e até 60,0 cm abaixo do nível do solo, com forma de um canal. A barragem éconstruída com sucessivas camadas de 10 a 20 cm de solo muito bem compactado.

A altura da barragem deve ultrapassar cerca de 80 cm acima da altura da lâmina d’águada represa e do ladrão, como medida de segurança em épocas de chuvas. O ladrão ousangradouro poderá ser de vários materiais, PVC, cimento, ferro ou mesmo manilhas de barroqueimado. Deverá ser colocado à altura do nível da água que se quer manter na represa ou açude.O sangradouro deve ter capacidade para escoar o volume de água igual ao da maior precipitaçãoocorrida nos últimos cinqüenta anos. Na construção de açudes deve-se inicialmente retirar as

árvores, arbustos, pedras, troncos, de modo a dar condições da despesca com redes de arrasto etarrafas. O nivelamento do fundo permite uma melhor despesca com a rede de arrasto e evita aformação de poças d’água quando da drenagem do mesmo. Vantagens dos açudes: baixo custo deconstrução por aproveitar os pequenos vales para a sua alocação. Desvantagens: não se tem umcontrole efetivo da qualidade da água; risco constante de rompimento na ocorrência de chuvasmuito fortes; dificuldade de manejo (adubação, alimentação artificial e principalmente dasdespescas); às vezes pode restringir só ao cultivo de espécies pouco exigentes em oxigênio,devido à pequena taxa de renovação de água.

b) Viveiros de derivação - são construídos em terrenos que apresentam grandedeclividade ao longo do curso de água (declive longitudinal), e em pontos onde é fraco o declivetransversal do terreno. Tanto o abastecimento quanto a drenagem são feitos por canais ou

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tubulações. Os taludes devem ser construídos com inclinação de 45º. As principais vantagens são:facilidade no manejo e o controle de entrada e saída do fluxo de água. Desvantagens: custo maisalto de construção.

c) Viveiros sem derivação do curso de água: são construídos com barragens sucessivasno curso d’água. O custo é relativamente baixo, mas tem o inconveniente de não se controlar aágua que passa de um viveiro para outro e o esvaziamento de um dependerá do esvaziamento dooutro. Recomenda-se que a água de um viveiro passe ao outro de sua parte mais superficialpossível, possibilitando menos sujeiras e maior oxigenação. Vantagens: baixo custo deconstrução. Desvantagens: não renova completamente a água, limita à peixes resistentes abaixos teores de oxigênio disponível, difícil esvaziamento dos viveiros.

TANQUES - são benfeitorias cuja característica básica reside no fato de seremrevestidos (alvenaria, pedra, tijolos ou concreto). Esse revestimento pode ser total ou parcial(apenas as paredes laterais). São recomendados para terrenos arenosos, pedregosos ou para a

larvicultura, incluindo o cultivo do microrganismo alimento. São de custo mais alto, mas,apresentam alta produtividade. Suas paredes podem ser verticais ou podem apresentar umainclinação entre 30 a 40º. Também são de baixa manutenção e grande durabilidade.

1.8.1. Diferenças e comparações entre tanques e viveiros Os viveiros são reservatórios naturais, cujos detalhes de construção diferenciam-no dos

tanques. Os viveiros se aproximam mais com as condições naturais, são menos onerosos na suaconstrução, mas, os cuidados com a sua manutenção são redobrados, principalmente contra osdesmoronamentos e inclinação das paredes externas e internas.

O tamanho dessas construções são variáveis, dependem da topografia do terreno,finalidade da construção (engorda, alevinagem), biologia da espécie e aspectos econômicos da

construção. Tanques ou viveiros pequenos apresentam vantagens de serem de fácil manejo,enchimento e escoamento mais rápido, tratamento de doenças, eliminação de parasitas epredadores, fácil manutenção e finalmente, as possíveis perdas no tanque ou viveiro pode nãorepresentar grandes prejuízos.

Os viveiros de maior tamanho, também apresenta vantagens, pois permitem uma melhorocupação do espaço disponível na propriedade, além de serem mais econômicos sua construçãopor unidade de área. Adicionalmente, tais viveiros possibilitam uma melhor estabilidade dosparâmetros de qualidade da água.

A profundidade dos viveiros não deve ser muito grande. Para o nosso clima, a média de1,20 a 1,50 metros é a mais recomendada, pois garante a penetração de luz até o fundo,aumentando a produção primária e, também, reduzindo o volume necessário e as práticas de

manejo da água.Quanto ao formato dos tanques, as plantas quadradas exigem menor movimentação de

terra na construção dos diques e na escavação, se comparados com os tanques retangulares, ovais,circulares ou de formato irregular. Entretanto, os mais utilizados são os tanques retangulares comproporção de 1x4 (largura x comprimento). Essa configuração retangular vem a proporcionaruma hidrodinâmica favorável á oxigenação.

O fundo dos tanques e dos viveiros deverá ter uma declividade variando de 0,5 a 2,0%,partindo da extremidade de entrada de água para o escoamento. Este desnível propicia o arrastodas substâncias depositadas no fundo em direção à saída de água. Este desnível também favorecea despesca, pois os peixes irão se acumular na parte mais funda dos tanques, onde deverá serinstalada a caixa de coleta. Esta caixa deverá ter 0,2% de toda a área do viveiro, com 30 a 50 cm

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de profundidade, revestida lateralmente de tijolos ou toda de concreto, já que fica junto aomonge. O seu formato deverá ser retangular. Existe variante deste sistema de refúgio dos peixes,principalmente para tanques muito grandes onde a caixa de coleta não suportaria a carga depeixes presentes ali. Desse modo é comum a construção de uma valeta estreita ao longo do eixocentral do tanque com profundidade em torno de 40 cm e uma largura de 2,0 a 3,0 metros. Umleve declínio transversal favorecerá o escorregamento dos peixes para este canal.

2. DETALHES DE CONSTRUÇÃO DOS VIVEIROS E TANQUES2.1. Limpeza da área 

É uma operação idêntica à realizada para os açudes, com a retirada de árvores, arbustos,raízes, etc. Tem a finalidade de favorecer o ambiente no viveiro e facilitar o trabalho dasmáquinas na escavação.

2.2. Tubulações de entrada e saída de água 

Necessárias para o controle do nível da água no tanque e o esvaziamento total num prazoao redor de 5 dias. A tubulação de entrada de água aporta de canais de abastecimento que sãogeralmente abertos e revestidos de concreto. Sua inclinação deverá ser de 1,0 a 4,0%º, garantindomenor velocidade da água e uma distribuição mais uniforme. Estes canais são de fácilmanutenção e permitem a oxigenação da água desde sua tomada no reservatório até seu aporte notanque. A tomada de água no reservatório deve ser feita pouco abaixo da superfície,proporcionando água mais limpa e oxigenada. A entrada de água nos tanques deverá ser feita portubos de PVC ou calhas de modo que avancem sobre a margem dos tanques com uma altura emtorno de 0,5 metros, para permitir melhor oxigenação pela queda e borbulhamento. Deve-sesempre ter filtros e telas nas captações de água do reservatório como na tubulação que vai aostanques. A entrada desta água deverá ser oposta á saída da mesma dos tanques.

O sistema de escoamento em vasos comunicantes (monge) é o mais indicado paratanques de piscicultura. Os monges podem ser construídos externa ou internamente aos tanques.Os dois sistemas devem ser construídos quando da determinação da base da barragem, onde seassentam as tubulações (PVC, ferro ou concreto). A canalização deverá prolongar-se 1,0 metroantes e depois da base da barragem para evitar entupimentos por erosão e propiciar a construçãoda base do monge. O declive deste cano deverá ser de 1,0%.Outro sistema é o escoamento na forma de sifão, usando tubos de PVC em forma de cachimbo,onde se regula a altura da água em movimentos pendulares do mesmo. Qualquer que seja o casodeve-se proteger a saída d’água para evitar o escape de peixes e entupimento dos drenos.

2.3. Canalização de abastecimento ou alimentação. 

Este canal pode ter forma retangular ou trapezoidal, com paredes revestidas de cimentoou tábuas ou mesmo canais escavados no solo. Seu tamanho será variável e dependerá daquantidade de água necessária para abastecimento (Tabela 1).

Tabela 1: Dimensões para tomada de água.Canal de alimentação Vazão menor 20 l/s Vazão entre 20 e 30 l/s 

Largura do fundo (cm) 25 a 30 50Profundidade (cm) 25 a 40 60 a 80Declividade do fundo Zero 1/1000

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2.4. Tomada de água para abastecimento. É o local de onde provém a água para abastecer os tanques ou viveiros. Geralmente são

derivações do curso de água ou provenientes de grandes represas para abastecimento dos tanques.A tomada de água é conseguida com uma obstrução do leito do rio ou córrego, total ouparcialmente, de forma a elevar este nível de água e derivá-lo para os canais de alimentação.Poderá ser feita por pequenas represas ou mesmo obstrução com madeiras, pedras, argila ouconcreto.

2.5. Canal de escoamentoDeve-se obedecer as regras de construção dos canais de abastecimento, com declividade

de 1% ou mais, se as condições do terreno permitir.

2.6. Filtros e telas de proteçãoSão utilizados para impedir a entrada de outros peixes e predadores, bem como a saída de

peixes do cultivo do tanque. Exigem manutenção periódica e podem ser colocados em várioslocais entre elas citam-se:

•  Entrada da canalização de alimentação principal;•  Entrada ou saída das canalizações ou tubos de alimentação dos tanques;•  Saída das canalizações de escoamento (monge ou sifão), para impedir fuga de

peixes;•  Entrada das canalizações de escoamento para evitar entupimentos.

2.7. Impermeabilidade do fundo Necessária para diminuir a infiltração de água, com a compactação do solo ainda um

pouco úmido. Esta compactação poderá ser acompanhada de calcário, esterco e adubos químicos.Neste sentido favorecerá a formação do lodo e decantação de partículas que obstruirá os poros epequenas aberturas no fundo dos viveiros.

2.8. AeraçãoSão utilizados mecanismos artificiais para melhorar as quantidades de oxigênio disponível

nos tanques, principalmente nas horas mais críticas (primeiras horas do dia). Os meios maisutilizados são:

•  Tubos perfurados de forma oblíqua ao fluxo, obrigando a entrada de ar no sistemapela própria sucção procedida pela rápida e contínua passagem da água. Sãoutilizadas quando não é possível o uso de canaletas de abastecimento a céuaberto.

•  Tubos ou canaletas dispostos em cima do tanque, para permitir a quedaprolongada, borbulhamento e oxigenação da água.

•  Aerador mecânico, com pás de movimentação rápida e vigorosa, podendo seracionado por tratores, geradores a diesel ou energia elétrica.

2.9. EntornoSão as áreas em volta dos tanques. Deve-se observar nesse sentido um plano para facilitar

o manejo, como movimentação de máquinas, caminhões, distribuidores de rações, etc.

2.10. Distância a ser guardada entre viveiros

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Pelo menos em três de seus lados deverá ter uma distância de 3,0 metros. Os tanques ouviveiros poderão ser construídos aos pares, separados por uma simples parede, suficiente para nãopermitir a mistura de água entre eles.

2.11. GramadosOs gramados visam dar sustentação ao terreno, prevenindo desabamentos (preferência por

gramíneas de raízes estoloníferas)  Brachiaria decumbens, capim rhodes, quicuio, etc. O plantiode árvores e arbustos deve ser estudado com critério, pois o sistema radicular destas podemcausar danos graves aos tanques.

3. CLASSIFICAÇÕES DAS INSTALAÇÕES SEGUNDO SUA FINALIDADE3.1. Viveiros de reprodutores

São construídos com profundidade variando de 1,7 a 2,0 metros. Sua área deve ser de 200a 1000 m2. A densidade utilizada gira em torno de 5,0 m2 para cada Kg de peso vivo do

reprodutor ou matriz.

3.2. Tanques de reproduçãoSão destinados ao manejo reprodutivo dos peixes que se reproduzem em cativeiro. Devem

ter o fundo de terra e sua área em torno de 50 a 100 m2.

3.3. Tanques de larviculturaSão aqueles que recebem as pós-larvas e que irão sofrer uma triagem e serão recriados até

a 1ª alevinagem, sendo transferidos quando começam a se alimentar. Poderão ser transferidospara tanques berçários flutuantes feitos com tela de nylon com malha de 0,3 mm; para tanques dealevinagem ou mesmo no viveiro adubado recentemente.

3.4. Viveiro de alevinosSão construídos em terreno natural, com área de 100 a 200 m2, com profundidade de 1,2

a 1,5 m. Suas paredes devem ter inclinação de 2:1 (dois metros de largura para cada metro dealtura). Devem possuir sistemas de abastecimento e drenagem. A densidade varia com a espécieque se vai trabalhar, geralmente está em torno de 50 a 500 alevinos por m2.

3.5. Viveiros de crescimento, recria ou engordaSua área é muito variável, podendo ir de 1000 até 5000 m2. As represas ou açudes podem

ser transformadas ou adaptadas em viveiros de engorda. Para tanto, devem ser totalmentedrenadas, a fim de eliminar as espécies indesejáveis e permitir a coleta total dos peixes estocados.

Sua densidade varia com o manejo alimentar e o fluxo de abastecimento de água e da tecnologiautilizada, podendo ir de 1,0 peixe para cada 10 m2 ou até 2,0 peixes/m2.

3.6. Viveiros de produção de plânctonSão aqueles extremamente adubados, eutrofizados para alta produtividade de plâncton.

3.7. Tanques de depuraçãoSão tanques de alvenaria, abastecidos com água limpa, onde os peixes ficam em torno de

um a quatro dias para retirada de eventual sabor desagradável que possam apresentar, logo após asua colheita. São tanques pequenos com tamanho médio de 50m2.

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3.8. Tanques de quarentenaSão destinados a estocagem de reprodutores ou alevinos de outras procedências por um

período de tempo em torno de um mês. Sua localização deverá ser a mais jusante possível dosviveiros, de modo a evitar a transmissão de eventuais doenças infecto-contagiosas.

4. INFRA-ESTRUTURA DA PISCIGRANJASão as construções necessárias à operacionalização de todo o processo produtivo. As

ilustrações dos principais equipamentos e instalações utilizados na infra-estrutura de umapiscigranja encontram-se em anexo no final desta apostila.

4.1. Barracão para preparo e estocagem de raçãoLocal apropriado para o preparo de ração podendo conter em seu interior:

•  misturador de ingredientes (tipo betoneira)•  triturador de grãos•  balança tipo plataforma

4.2. Barracão para guarda dos equipamentos utilizados no trabalho cotidiano com os peixes(redes , tarrafas, enxadas, baldes, puçás, carrinho -de- mão, etc.).

4.3. Laboratóriosa) Móvel - são utilizados equipamentos portáteis para monitoramento das condições da

água e da biometria dos peixes. Seus principais equipamentos são: oxímetro (determinação dooxigênio disponível), pHmetro (determinação do pH da água), salinômetro (sais), condutivímetro(condutividade elétrica, mede a quantidade de partículas em suspensão na água pela correnteelétrica que transmitem), ictiômetro (medidas de comprimento e largura), balança e o disco deSecchi que medirá a turbidez da água.

b) Estático - é a instalação geralmente destinada para trabalhos de reprodução artificialdos peixes. Nela estão os equipamentos como balanças analíticas, incubadoras tipo funil, tanquesde espera para reprodutores, etc.

4.4. Equipamentos de limpezaSão os materiais ou equipamentos necessários para a manutenção dos viveiros e da área

em volta dos mesmos. Entre eles citam-se: equipamentos de capina, poda e varredura (enxadas,foices, alicates de poda, vassouras, ancinhos, etc.).

4.5. Equipamentos de capturaCompõem-se de todos os apetrechos para captura dos peixes, entre eles citam-se:a) Rede de plâncton- para coleta do material sobrenadante, destinados à análise dos

integrantes do fito e zooplâncton presentes na água e também para abastecimento de plâncton aosviveiros. Apresenta-se com rede de malha milimétrica, formato cônico com abertura da bocamedindo 30,0 cm de diâmetro.

b) Tarrafa- utilizada para capturar peixes com o tanque cheio, geralmente utilizada paraamostragens e determinação do tamanho e peso dos peixes. É constituída de rede cônica comchumbadas na borda para rápido afundamento e captura dos peixes.

c) Picaré - É uma estrutura de redes fixadas com madeiras nas extremidades e utilizadaspara cercar e conter os peixes nos cantos dos tanques.

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d) Rede de arrasto- Utilizada em tanques onde o esgotamento da água não pode ser totalna despesca. Exige no mínimo três pessoas para manuseio. Apresenta chumbadas na parteinferior e bóias na parte superior. Tamanhos de até 15,0 x 2,0 metros são ideais para arrasto,facilitando o trabalho.

4.6. Equipamentos de seleçãoSão as redes de malhas calibradas, facilita a triagem dos animais quanto ao tamanho. Ao

passá-la pelo tanque seleciona os peixes de acordo com o tamanho da malha.

4.7. Baldes para contagemSão baldes com o fundo e as laterais perfurados, muito utilizados quando se processa a

venda de alevinos. A contagem sempre é feita por amostragens. Pode ser utilizado para o mesmotrabalho pequenas peneiras plásticas.

4.8. Puçás ou passaguásSão pequenas redes armadas com aros metálicos, utilizados para selecionar peixes já

capturados (para pesagens, reprodução induzida, etc.). Também são utilizados para retirada delixo sobrenadante como folhas, madeira, papel, etc.

5. ALTERAÇÃO BIOLÓGICA DA ÁGUASão as alterações causadas por diversos tipos de poluentes.

5.1. Poluição domésticaSão os resíduos residenciais jogados diretamente nos rios, que causam problemas de

contaminação na água e também nos peixes. Geralmente causam distúrbios por modificarem o

ambiente onde vivem. Diminuem o oxigênio disponível pela maior eutrofização do ambienteaquático e causam também maior acidez ou alcalinidade, deixando a água menos favorável aodesenvolvimento dos peixes. Os principais resíduos ambientais domésticos que trazem problemasaos peixes são: vidros, latas e plásticos; restos de alimentos; dejetos de esgotos sem tratamento.

5.2. Poluição agrícolaSão os poluentes mais danosos que afetam a qualidade biológica da água, devido a grande

persistência e alta mortalidade que causam aos peixes. Os inseticidas e pesticidas do grupo dosDDT e organoclorados em especial Dieldrim, Endrim, BHC e Heptacloro, foram os pesticidasmais encontrados em amostras realizadas. Por serem de baixa solubilidade são persistentes ecumulativos, fixando-se ao longo das cadeias alimentares, desde os organismos integrantes do

plâncton até atingir o ser humano como elo final dessa cadeia alimentar. Há de se destacartambém na poluição agrícola as erosões que causam assoreamento nos leitos dos rios.

5.3. Poluição IndustrialAtualmente é o poluente que degrada as águas dos rios em maior escala devido ao grande

desenvolvimento industrial das ultimas décadas. Sua gama de produtos químicos, físicos ebiológicos jogados na água é imensa. Afetam a temperatura da água, o pH, o oxigênio, asalinidade e ainda introduz os metais pesados no ambiente, de alta toxidez, radioatividade epersistência. Causam doenças degenerativas em toda a flora e fauna aquática, bem como aextinção de muitas espécies.

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6. TIPOS DE CULTIVOSDe acordo com a escolha do tipo de cultivo, determina-se a produtividade e os custos. É

lógico que muitas vezes o ambiente e as condições do piscicultor e a disponibilidade da água éque determinarão qual o cultivo que mais se enquadra na exploração da propriedade agrícola. Ostipos de cultivo mais comuns são: o cultivo extensivo, o semi-intensivo, o intensivo e o super-intensivo; o monocultivo e o policultivo, consórcios de peixes com a criação de outros animais.

6.1. Cultivo ExtensivoÉ a exploração onde se promove uma modificação mínima ao ambiente natural, ocorre

nos açudes, lagoas, represas e outros mananciais. O fundo dos viveiros é irregular e inexistecontrole sobre a entrada e saída da água e também dos predadores naturais. A quantidade depeixes também não é controlada. A coleta dos peixes é difícil e incompleta e a alimentação é feitacom sobras da propriedade, mandioca, frutas, esterco de aves, bovinos e suínos.

A produção de peixes num sistema extensivo depende muito da capacidade alimentícia da

água, ou seja, da produtividade natural da água, dos nutrientes que ela contém. Deve-se escolherespécies adequadas que suportariam presença de predadores ou que os utilizassem comoalimento. A taxa de estocagem geralmente empregada nesse sistema é de um peixe para cada 10m2, ficando difícil estimar a real produção dessas criações, pois, na maioria das vezes, sequertem-se controle do volume de água dessas represas, considerando-se como produção apenasaquilo que se conseguiu coletar por diferentes métodos de pesca. Alguns sistemas conseguemproduções de 100 a 1500 Kg/ha. A utilização de alevinos de maior porte (10 a 15 cm) épraticamente necessária devido a presença constante de predadores nos criatórios. Umaestocagem inicial de 50 a 2000 alevinos por ha é recomendada. 

6.2. Cultivo Semi-Intensivo

Neste sistema ocorre a contribuição do homem na melhoria da produtividade doecossistema aquático. São feitas, pelo menos, calagens e adubações e são fornecidos vários tiposde alimentos, como resíduos da agroindústria, restos de abatedouros dentre outros. Pratica-setambém uma suplementação alimentar aos peixes, tais como grãos: milho e sorgo; farelos: milho,sorgo, trigo e soja; tortas: mamona e algodão e farinhas: carne, peixes e ossos.

A densidade de estocagem é maior chegando em média a trabalhar com três a cincopeixes a cada 10 m2 de área do viveiro. Já existe neste sistema um melhor controle da renovaçãoda água, bem como as condições de construção dos tanques são melhores ao facilitar o manejodos peixes. Produtividades em torno de 1000 a 2000 kg/ha são facilmente alcançados nessesistema. Aqui também é comum o consorciamento com outras espécies animais como patos,marrecos de pequim e suínos.

6.3. Cultivo IntensivoÉ o tipo de piscicultura atualmente mais utilizada em nossa região, onde os criatórios são

construídos objetivando apenas essa finalidade. Os tanques/viveiros são construídos com técnicasmodernas de engenharia apresentando vários detalhes como: controle de entrada e saída da água,declividade do fundo e das paredes do tanque, caixas de coleta, filtros e telas de proteção. Naalimentação são utilizadas rações balanceadas (peletizadas e extrusadas), adubações químicas eorgânica, calagens do solo e da água, bem como o acompanhamento total das condições da águae do crescimento da biomassa dos peixes. A densidade de cultivo neste sistema varia entre um adois peixes por m2 ou mesmo um peixe a cada 2m2. A produtividade esperada neste sistema estáem torno de 4000 a 5000 kg/ha. Neste sistema é comum o uso de aeradores artificiais.

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6.4. Cultivo Super-IntensivoÉ o tipo de cultivo mais tecnificado que trabalha com espécies de alto valor comercial,

sempre em monocultivo, a densidade de estocagem é alta com vinte a oitenta peixes por m3 deágua. Como a piscicultura super intensiva implica total dependência dos peixes aos alimentosque o criador lhes oferece, para o empreendimento ser economicamente viável, o alimento deveproporcionar elevada conversão alimentar para promover um rápido crescimento, e o peixe, porsua vez, deve alcançar alto valor no mercado para que a atividade seja lucrativa.

O aumento de densidade de estocagem é dependente de dois fatores primordiais que sãoos teores de oxigênio e de amônia na água. Para se resolver esse problema, ou se eleva o fluxo deágua que renova o suprimento de oxigênio que arrasta a amônia, ou se promove a filtração e aaeração artificial da água por processos mecânicos.

Os peixes recebem alimentação peletizada ou extrusada e, a adubação orgânica paraprovimento de plâncton não é utilizada. São exemplos desse tipo de cultivo a criação de peixes

em “TANQUES-REDE” ou gaiolas e os sistemas de fluxo contínuo de água chamados de“RACEWAYS”.

•  TANQUE REDE - São viveiros de tela de material resistente, com formatoredondo, hexagonal ou retangular, com altura que varia de 1,5 a 3,0m e sãomontados em grandes reservatórios de água e, também, nas enseadas das orlaslitorâneas, em profundidades médias de 4 a 10m., amarradas em postes deconcretos ou madeira ou âncoras chamadas poitas. Essa técnica originária doJapão é utilizada no Brasil onde encontra grande potencial de crescimento devidoaos mais de cinco milhões de hectares de águas represadas pelas UsinasHidroelétricas, sendo que o nosso País possui o maior potencial do mundo emágua doce represada.

•  RACEWAYS - ou canais com fluxo contínuo de água. É um sistema maissofisticado e mais caro, consistindo em uma série de tanques de alvenaria ouconcreto, paralelos, e interligados com largura de 1,5 a 4,5m., e comprimentovariável, que permite a criação de peixes em altas densidades de estocagem emfunção do elevado fluxo de abastecimento dos tanques, promovendo a troca deoxigênio e a remoção de amônia e de sobras de alimentos. Como esta vazão émuito alta, muita destas criações estão acopladas a sistemas de reciclagem daágua já utilizada, com recalque para um depósito em nível mais elevado e retornoda mesma água aos viveiros, após biofiltração que reduz a amônia que éaltamente tóxica. A produtividade neste sistema varia muito com a densidadeutilizada, obtendo índices que variam de 70 a 100 kg de peixes por m3.

Analisando todos esses sistemas de exploração em piscicultura, devemos ficar atentos queantes de se adotar qualquer regime de criação, é necessário pesquisar com cuidado todas asvariáveis de produção, principalmente a economia da tecnologia a ser empregada e se a mesma éviável no local onde será aplicada. Deve ficar claro também, que todo o incremento de tecnologiautilizado reflete em ganho de produtividade, mas do mesmo modo exige maiores cuidados naoperacionalização, bem como nos riscos do empreendimento.

7. TIPOS DE EXPLORAÇÃO

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•  MONOCULTIVO - nesse sistema, opta-se por uma única espécie a ser criadas noviveiro, sendo mais comuns nos sistemas extensivos e semi-intensivos e quaseque obrigatórios nos super-intensivos. Comparativamente é menos recomendadodo que o policultivo devido a subutilização dos alimentos naturais nãoconsumidos pela espécie principal bem como das sobras de rações que vão aofundo do tanque.

•  POLICULTIVO - consiste na criação de espécies diferentes e de hábitosalimentares diferentes para que possam aproveitar melhor o alimento disponívelno tanque, bem como o espaço físico na água. Nesse sistema, são cultivadas duasou mais espécies de peixes, explorando melhor a cadeia alimentar formada comadubação orgânica.

Deve-se estabelecer a densidade de estocagem dos viveiros e a proporção relativa ideaisdas espécies a serem criadas, buscando sempre a otimização da produtividade. Vantagens:aumento do oxigênio das águas dos tanques pelo consumo do excesso de algas e do lodo dofundo; reciclagem rápida e completa dos excrementos de uma das espécies, já que a outra pode-sealimentar de dejetos; decréscimo da população de espécies indesejáveis pela competição naturalno viveiro. Desvantagens: pode estabelecer competição entre as espécies cultivadas se houverdesbalanço na densidade; maior mão de obra na separação das espécies quando da despesca, queencarece a produção; taxa de crescimento diferentes que ocasionará coletas parciais ou em épocasdiferentes nos viveiros.

8. CONSORCIAMENTO8.1. Consórcio peixes-suínos

É um tipo de consórcio onde há o aproveitamento contínuo do esterco fresco, onde asfezes e urina são escoados diretamente para dentro do viveiro. Os suínos são criados em galpõespróximos ou sobre os viveiros. As fezes frescas contêm cerca de 20% de alimentos mal digeridos,sendo o restante utilizado como adubo orgânico, estimulando a produção de plâncton quetambém serão consumidos. Recomenda-se uma relação de 60 suínos adultos para cada hectare detanque ou em condições de melhor renovação da água até 200 suínos por ha, poderá serrecomendado.

Alguns cuidados essenciais devem ser tomados principalmente para não concentrar aalimentação num só local do tanque, e também cuidados com o uso de produtos químicos nacriação dos suínos que poderiam contaminar os peixes. Pode-se obter produções em torno de 2 a3 toneladas por hectare neste sistema de consórcio.

8.2. Consórcio peixes-avesO mais comum desses consórcios com aves é a criação de peixes juntamente com patos

ou marrecos de pequim, que atingem 2,4 a 2,6 kg de peso (tamanho ideal para abate e acomercialização destes animais) em um curto período de 50 a 60 dias. A relação de marrecos paraum hectare de tanque é de 300 a 500 marrecos, por terem crescimento rápido os marrecosprecisam ser alimentados com ração contendo de 15 a 18% de proteína bruta. O excedente daração acaba indo para a água, pois os comedouros das aves devem ficar próximos a esta, oumesmo acima em ilhas construídas com ripados de madeira. Também são importantes paraalimentação dos peixes os excrementos que os marrecos liberam, os quais servirão diretamentecomo alimento aos peixes, ou indiretamente, através da adubação da água dos viveiros.

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Uma das vantagens desse consórcio é a oxigenação promovida pelos marrecos devido asua intensa movimentação na água e também a erradicação da vegetação aquática, da qual osmarrecos se servem como alimento. A grande desvantagem deste sistema é o estrago que osmarrecos causam aos taludes, também o fato de serem de difícil comercialização, além do quesão parasitos dos mesmos vermes comuns aos peixes. A produção de peixes nesse sistema estáem torno de duas toneladas por hectare.

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CAPITULO 3

REPRODUÇÃO DE PEIXES

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1. INTRODUÇÃOO sucesso da piscicultura depende da capacidade de perpetuação da espécie, onde são

produzidas larvas a serem utilizadas na criação, visando a terminação ou a manutenção do plantelde reprodutores.

Na reprodução natural, vários mecanismos reprodutivos ocorrem como a partenogênese, abissexualidade e o hermafroditismo.

A bissexualidade ocorre com os peixes apresentando os sexos separados, machos efêmeas, com a fecundação e o desenvolvimento externo (ovuliparidade). Ex. dourado, pacu,pintado, tambaqui, matrinxã, curimbatá, etc.

2. DEFINIÇÕES BÁSICASDimorfismo sexual: é a diferenciação sexual nos peixes, sendo que a maioria das espécies

não apresentam tal característica fora do período reprodutivo. Algumas apresentam alguns sinaisindicativos:

•  Tucunaré- apresenta uma protuberância entre a cabeça e a nadadeira dorsal;•  Curimbatá- emite sons durante a piracema;•  Pirarucu- apresenta uma coloração avermelhada na borda das escamas dos peixes

machos;•  Dourado- aparece algumas espículas (espinhos) na nadadeira anal;•  Tilápias machos são maiores que as fêmeas, e no caso das trutas e salmões as

fêmeas é que são maiores que os machos.

Na época de reprodução as fêmeas da maioria das espécies apresentam o ventre abauladoe macio, com a abertura urogenital intumescida, saliente e avermelhada. Já os machos, sob levepressão no abdômen no sentido encéfalo-caudal, liberam o sêmen.

Cuidado parental: é o cuidado que os pais dispensam à prole, para garantir asobrevivência da espécie.

Espermatogênese: são as várias divisões mitóticas das células germinativas até formaremos espermatozóides.

Ovulogênese: é o processo de formação dos óvulos, através das várias divisões mitóticasno organismo das fêmeas.

3. REPRODUÇÃO: UM EVENTO CÍCLICOOs peixes apresentam uma periodicidade no seu processo reprodutivo, geralmente

desovando a cada ano, podendo ocorrer a desova mais de uma vez ao ano em algumas espéciesde tilápias. Todo esse processo é sincronizado com fatores ambientais que garantirão asobrevivência da prole.

O ciclo anual pode ser dividido em três fases:•  Fase 1- pós desova: neste período as gônadas se encontram de tamanho reduzido,

encontrando-se em repouso;•  Fase 2- pré desova: aqui as gônadas iniciam a produção de gametas

(gametogênese) e ocorre a produção e incorporação do vitelo nos ovócitos(vitelogênese) e é acompanhado por um aumento gradual no tamanho das gônadas;

•  Fase 3- ovulação: é a maturação final dos gametas, culminando com a desova, aliberação dos gametas e a fertilização dos ovos.

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4. REPRODUÇÃO INDUZIDATodo o processo de indução começou com Rodolpho Von Ihering, que iniciou os

trabalhos de cultivo de peixes na Região Nordeste em 1932. Havia o interesse de expandir apiscicultura, mas, a dificuldade de obtenção de alevinos era grande, haja vista a impossibilidadede reprodução natural das várias espécies de peixes em cativeiro.

Alguns grupos de peixes reproduzem-se naturalmente em águas lênticas (lagoas ourepresas), como os lambaris, traíras e tucunarés. Outros grupos de peixes, que abrange a maiorparte de nossas espécies nativas, necessitam realizar a piracema (migrações) rumo às cabeceirasdos rios para a reprodução, são os chamados peixes REOFÍLICOS, como o pacu, tambaqui,curimbatá, dourado, pintado, piavuçú, piraputanga, piracanjuba, etc. Peixes estes de grandeinteresse para a piscicultura. Para estas espécies, que em cativeiro não se reproduzemnaturalmente, pressupõe-se o processo de reprodução induzida a fim de que seja possível aobtenção de larvas para posterior cultivo.

A reprodução induzida consiste da utilização de hormônios naturais ou sintéticos a fim de

que seja possível induzir a ovulação e espermiação de algumas espécies de peixes com potencialpara ser utilizadas em piscicultura. Assim, justifica-se a reprodução induzida, para obtenção deuma produção em massa de larvas, com alta taxa de sobrevivência para o abastecimento dossistemas de criação de espécies reofílicas.

5. ORIGEM DO PLANTEL DE REPRODUTORESOs reprodutores utilizados para indução hormonal podem ser obtidos dos rios, sendo

estocados em tanques, recebendo alimentação e outros manejos de acordo com a espécie, idadedo animal, etc.

Os animais também podem ser obtidos de outras piscigranjas, estações de piscicultura,etc. Embora possam ser estocados em viveiros maiores, a manutenção desses animais em viveiros

menores, com 1500 a 3000 metros quadrados, facilita o acompanhamento do seudesenvolvimento, alimentação e observação das mortalidades, além de facilitar a captura parautilização na reprodução, sendo a densidade mantida na proporção de 5 a 10 m2 por reprodutor.

A alimentação destes reprodutores deve suplementar suas exigências para manutenção edesenvolvimento gonadal, sendo que para os animais em crescimento é necessário que a raçãosupra as suas exigências de mantença, crescimento e também aquela porção que será destinada àreprodução.

No caso de reprodutores de hábito alimentar carnívoro, como o pintado e a piraputanga,pode-se utilizar de outras espécies para melhorar o desempenho reprodutivo e também reduzir oscustos com a alimentação.

Para as espécies que aceitam bem dietas artificiais, uma taxa de arraçoamento entre 1 a

2% tem trazido bons resultados sobre o desempenho, sendo que peixes carnívoros exigem níveisprotéicos mais elevados.

As dietas deverão ser reduzidas nas épocas mais frias, e de acordo com a condiçãocorporal do animal.

Os peixes apresentam elevada fecundidade. Para se ter uma idéia, uma fêmea de tambaquide 3,0 kg desova cerca de 500 mil óvulos, já uma fêmea de dourado de 7,0 a 8,0 kg chega adesovar mais de um milhão de óvulos.

Hipofisação: é a aplicação do hormônio gonadotrófico extraído da hipófise de peixes doadores,os quais devem ser adultos e estarem maduros sexualmente ou em fase de maturação gonadalavançada.

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6. BIOLOGIA REPRODUTIVA DOS PEIXESOs peixes no ambiente natural se preparam para a reprodução, geralmente na mesma

época, estando maduros produzem gametas com óvulos e espermatozóides viáveis. As espéciesde piracema realizam migrações anuais cíclicas que coincidem com o período das chuvas eaumento da temperatura e do fotoperíodo. Nessa migração procuram lugares adequados que sãoos trechos dos rios passíveis de inundações, onde formam as lagoas marginais, que são osberçários onde vão parar os ovos depois de fecundados e hidratados em pleno leito do rio. Emmenos de 24 h ocorrem a eclosão das larvas.

Quando estão maduras sexualmente as gônadas (ovários e testículos) apresentam-se comouma massa volumosa, de coloração variável, dentro da cavidade abdominal, paralelo à bexiganatatória.

7. MECANISMO ENDÓCRINO DA REPRODUÇÃOExiste uma glândula chamada hipotálamo, que através das influências climáticas inicia a

secreção do GnRH (hormônio gonadotrópico), que intensifica a formação da gonadotrofina pelahipófise ou glândula pituitária. Esta gonadotrofina cai na corrente sanguínea e chega aos tecidosdas gônadas, estimulando a produção e secreção dos hormônios sexuais (andrógenos eestrógenos). A hipófise ainda sintetiza o hormônio tirotrópico (TSH) que atuará na maturaçãofinal dos óvulos (Figura 1).

Figura 1: Produção de hormônios e sua atuação nas diferentes estruturas reprodutivas de peixes

8. IDADE PARA REPRODUÇÃO A primeira maturação é variável com a espécie, sexo, tamanho, bem como dos fatores

externos como alimentação e condições climáticas. Alguns exemplos de idade de maturaçãopodem ser observados abaixo:

•  Pirapitinga (fêmea): 3,5 anos; Pirapitinga (macho): 2,5 anos•  Pacu/tambaqui (fêmea): 4,5 anos; Pacu/tambaqui (macho): 3,5 anos•  Matrinxã (fêmea): 3,0 anos; Matrinxã (macho): 2,0 anos

No clima temperado este tempo poderá ser maior para o início da maturação sexual.

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9. ÉPOCA DE REPRODUÇÃO Cada espécie apresenta uma época mais favorável à reprodução induzida. A maioria

apresenta sazonalidade sincronizada com fatores ambientais, períodos chuvosos, altastemperaturas com os dias mais longos (Tabela 1).

Tabela 1: Épocas de reprodução de algumas espécies de peixes de água doceEspécie Meses do anoPiracanjuba (Brycon orbignyanus) D-JCurimbatá (Prochilodus lineatus) D-J-FDourado (Salminus maxillosus) O-N-D-JLambari ( Astianax bimaculatus) A-S-O-N-D-J-F-MMandí (Pimelodus maculatus) O-N-D-J-F-MTrairão ( Hoplias Lacerda) S-O-N-D-J-FPiapara ( Leporinus elongatus) D-JPintado (Pseudoplatystoma corruscans) N-DPacu (Piaractus mesopotamicus) D-J-F-MTambaqui (Collossoma macropomum) D-J-F-

10. HIPOFISAÇÃO A hipofisação começa com a determinação da quantidade de hormônio a ser aplicado e

com as técnicas utilizadas. O extrato bruto de hipófise é utilizado na proporção de 4,5 a 5,5mg/kg de peso vivo das fêmeas que se pretende induzir. Nos machos são aplicadas doses menores(0,5- 1,0- 2,5 mg/kg) (Tabela 2).

Calculada a quantidade de hipófises, elas são colocadas em um cadinho e perfeitamentetrituradas com o auxílio de um pistilo. Para se ter uma dispersão mais fina usa-se algumas gotasde glicerina (não mais que 0,5 ml) e continua-se triturando até obter uma pasta fina, adiciona-se osoro fisiológico calculado, mexendo bem a solução. Despreza-se a parte sólida e utiliza osobrenadante.

Exemplos das dosagens utilizadas para pacu/tambaqui:•  Fêmeas

Dose preparativa - 0,5 mg de hipófise/kg de peixeDose final - 4,5 a 5,0 mg de hipófise/kg de peixeIntervalo entre doses - 14 a 22 horasSoro fisiológico - 0,5 ml/kg de peixe.

• MachosDose única- 2,5 mg de hipófise/kg de peixe

Tempo- logo após a segunda dose das fêmeasSoro fisiológico- 0,5 ml/kg de peixe.

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Tabela 2: Doses hormonais utilizadas para machos e fêmeas de algumas espécies de peixesempregadas na reprodução induzida.ESPÉCIE DOSE (mg/Kg de peso vivo) FONTESPacu (Piaractus mesopotamicus) Fêmea

1ª dose: 0,22ª dose: 20,0

Macho1ª dose: 0,22ª dose: 14,0

CASTAGNOLLIE DONALDSON(1980)

Pacu (Piaractus mesopotamicus) Fêmea1ª dose: 0,52ª dose: 5,0

Macho1ª dose: 1,5

AYROSA et al.(1994)

Dourado (Salminus maxillosus) Fêmea1ª dose: 5,02ª dose: 20,0

Macho1ª dose: 5,02ª dose: 10,0

PINTOGUGLIEMONI(1986)

Matrinxã ( Brycon amazonicus) Fêmea1ª dose: 0,42ª dose: 4,0

Macho1ª dose: 1,5

BERNARDINOet al. (1993)

Piracanjuba ( Brycon orbignyanus) Fêmea1ª dose: 0,52ª dose: 5,0

Macho1ª dose: 1,0

MENDONÇA(1996)

Pintado (Pseudoplatystoma corruscans) Fêmea1ª dose: 1,02ª dose: 5,0

Macho1ª dose: 2,0

GOMES et al.(1990)

11. ADMINISTRAÇÃO DO HORMÔNIO 

O hormônio deve ser administrado por via intramuscular ou intraperitonealmente. O localmais utilizado é a base da nadadeira peitoral (musculatura vermelha).A injeção da solução hipofisária é realizada após a retirada dos reprodutores dos tanques

de hipofisação, sendo os mesmos colocados em uma espuma para evitar lesões e cobrir suacabeça com pano úmido para facilitar a injeção hormonal.

Quando o peixe é difícil de ser manejado, como o dourado e a matrinxã, antes dapesagem, os reprodutores devem ser anestesiados com xilocaína (1,0 g/10,0 kg) que ajuda areduzir o estresse; ou a quinaldina colocada na água (caixas de cimento amianto ou mesmo isoporna proporção de 0,5 ml/100 litros de água). Antes da dose final para evitar perdas de ovos, pode-se suturar a dobra que protege a abertura sexual das fêmeas.

12. HORA-GRAUApós aplicação da dose final, a fêmea é devolvida ao tanque. Inicia-se então a leitura datemperatura da água em intervalos de uma em uma hora, sendo anotada em ficha própria, a fimde calcular o tempo de ovulação (hora-grau). A hora-grau para o tambaqui varia de 260-280 paratemperatura entre 26 a 29ºC.

O conhecimento do valor de horas-graus é importante para se saber aproximadamentequanto esperar para a ovulação após a última injeção. Esse valor varia de acordo com a espécie ecom o tipo de tratamento utilizado (Tabela 3).

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Tabela 3: Espaço de tempo entre a segunda injeção e o momento da extrusãoHoras-grauHipofisação LHRH18-22°C 23-26°C 27-29°C 23-26°C 27-29°C

Carpa Comum 1 260 250-260 230-240 420-440 -Carpa capim 1 225 210-220 - - -Carpa prateada 1 225 210-220 - - -Carpa cabeçuda 1 240 220-230 - - -Tambaqui 2 180Pacu 5 - 182 - - 380-390Matrinxã 1 - 190-200 - 340-380 -Piracanjuba 4 170Dourado 1 - 250-260 - 340-360 -

Bagre africano3

221,31 WOYNAROVICH E HORVÁTH (1983); 2 CACHO e CHELAPPA (1992); 3 MOURA e CHELAPPA (1992); 4

MENDONÇA (1996); 5 FANG (1996).

13. EXTRUSÃO E FECUNDAÇÃO O peixe é envolvido em toalhas e levado para a mesa com colchão de espuma. Se houver

pontos, eles são removidos e a extrusão é feita pressionando a região do abdômen por detrás danadadeira peitoral. Os ovos são expelidos em jatos e separados em pequenas bacias de plásticobem secas. Muitas vezes, por ter o abdômen muito musculoso, não se consegue extrair de uma sóvez todos os ovos e, por esse motivo, pode-se providenciar uma nova sutura do orifício sexual eapós uma hora repete-se a operação.

Os machos são espermiados diretamente sobre os ovos já coletados das fêmeas emisturados com o auxílio de uma pena.

A mistura precisa ser feita de maneira rápida e de modo cuidadoso, com movimentossuaves e seguros, não ferindo os ovos.

Após realizada a mistura adiciona-se água pura em pequenas quantidades, mexendoimediatamente. Colocar cerca de 15% de água sobre o peso total dos óvulos, realizando uma novahomogeneização.

O volume de água não deve ser muito elevado para evitar a diluição da mistura,dificultando a fertilização pela dificuldade de penetração na micrópila, que é uma aberturalocalizada na zona pelúcida dos ovócitos dos peixes, através da qual o espermatozóide atinge asuperfície ovocitária durante a fertilização.

Os espermatozóides no líquido de esperma seco são imóveis e iniciam seu movimentoagilmente quando em contato com a água. O movimento dos espermatozóides também não duramais que um minuto, por isso a fertilização precisa ser feita rapidamente.

14. COLETA E PRODUÇÃO DAS HIPÓFISES A condição da produção e coleta de hipófises divide-se em etapas distintas, e para cada

uma delas algumas considerações devem ser feitas.

•  OBTENÇÃO DE DOADORES Inúmeros peixes podem ser utilizados como doadores, entre eles citam-se a carpa,

curimbatá, piavuçu, salmão, trairão e tucunaré. A principal característica que o peixe deve ter

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para ser considerado como doador é apresentar maturidade sexual, ou seja, peixes nos quais sepodem observar ovários ou testículos já desenvolvidos.

•  TAMANHO DO PEIXE DOADOR A principal característica para o peixe ser considerado doador é o grau de maturidade

sexual. Esta característica não está ligada diretamente com o tamanho do peixe, pois estudosmostram que a atividade gonatrópica é a mesma, seja o hormônio obtido de hipófises de peixesgrandes (> 1 kg) ou pequenos (< 0,3 kg), desde que estejam sexualmente maduros. As hipófisesde peixes grandes possuem maior quantidade de gonadotropinas do que as dos peixes pequenos.

•  LOCALIZAÇÃO DA HIPÓFISE A hipófise ou glândula pituitária localiza-se na base do crânio, numa pequena depressão

conhecida como célula túrcica, logo abaixo do hipotálamo. O hipotálamo é facilmentereconhecido, pois se apresenta como uma região dilatada da parte inferior do cérebro. Quando seretira o cérebro do peixe, algumas vezes a hipófise permanece ligada a ele, mas de maneira geralela se desprende do cérebro, ficando aderida na célula túrcica (Figura 2).

Figura 2: Localização da hipófise em peixe

•  COLETA DAS HIPÓFISES - Tempo para retirada da hipófise: a atividade gonadotrópica é a mesma quando secoletam as hipófises de peixes recém sacrificados ou até 24 horas após a morte,desde que neste caso se resfriem os peixes ou suas cabeças imediatamente após amorte a uma temperatura de 4ºC.

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- Época da coleta das hipófises: a concentração de hormônios gonadotrópicos sealtera durante o ano, mudança esta relacionada com o ciclo reprodutivo dos peixes.Sua concentração é máxima durante a pré-desova, mas estudos mostram quehipófises coletadas durante o ano todo se mostraram viáveis à indução hormonalem peixes de tamanho grande.

•  MÉTODOS DE EXTRAÇÃO Existem os mais variados métodos de extração das hipófises. A escolha pode estar em

função dos equipamentos disponíveis para extração ou de fatores mercadológicos, como, porexemplo, se a retirada das cabeças causará depreciação do pescado. A hipófise pode ser retiradacom a remoção da parte superior da cabeça (ossos frontal e occipital), de modo a aparecer océrebro do peixe. O cérebro deve ser removido cuidadosamente com uma pinça, aparecendoentão a hipófise. Também pode ser retirada com furadeira elétrica adaptada com serra-copo paraa extração da hipófise. Os doadores devem de preferência ser transplantados vivos até o momentoda retida das glândulas, quando serão sacrificados por meio de uma incisão profunda a partir dabase da nadadeira peitoral (Figura 3).

Figura 3: Extração da hipófise em peixes.

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•  PRESERVAÇÃO DAS HIPÓFISESÀ medida que as hipófises vão sendo coletadas, colocá-las imediatamente em acetona.

Quando terminada a coleta, utilizando-se de agulhas, estiletes, etc., procede-se uma limpezapreliminar, eliminando tecidos estranhos que tenham sido coletadas simultaneamente, e substitui-se a acetona, adicionando-se um volume mínimo de 20 vezes o volume de hipófises. Após 8horas substituí-se novamente a acetona. Após outras 24 horas retira-se toda a acetona e colocam-se as glândulas sobre um papel filtro e deixa-se secar a temperatura ambiente e em local seco.Terminada a secagem procede-se à limpeza final para retirar tecidos remanescentes, e separam-seas hipófises inteiras das fragmentadas (estas podem ser utilizadas para a indução hormonal dosmachos).

Figura 4: Preservação das hipófises.

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•  ARMAZENAMENTO DAS HIPÓFISES As hipófises assim produzidas podem ser armazenadas por vários anos, desde que sejam

mantidas livres de umidade. Para isto adotam-se os procedimentos ilustrados na figura 5.

Figura 5: Armazenamento das hipófises.

15. INCUBAÇÃO DOS OVOS Logo após o período de fertilização, os ovos são levados às incubadoras de 60 litros, na

quantidade de 100 gramas de ovos, adicionados em água corrente de boa qualidade. Algunscuidados na incubação quanto a quantidade de ovos:

•  de 130 a 200 mil ovos para incubadoras de 60 litros•  de 250 a 400 mil ovos para incubadoras de 200 litros

Quanto à vazão de água na incubadora:•  de 4 - 5 litros/minuto para incubadora de 60 litros•  de 7 - 10 litros/minuto para incubadoras de 200 litros

Estas precauções são necessárias para que ocorra o revolvimento dos ovos com suavidadeevitando o seu rompimento.

A eclosão destes ovos demora cerca de 16 -19 horas, estando, ligado diretamente estetempo com a variação da temperatura. Os ovos podem ficar na incubadora de 60 litros ou seremtransferidos para as incubadoras de 200 litros, após decorridos 24 horas. Devem permanecer nesteambiente até a fase de pós-larva quando ocorre a absorção do saco vitelínico e desenvolvimentodas nadadeiras, neste período a boca já esta formada e já recolhe a comida do ambiente.Decorrido este período vão aos viveiros, que já deverão estar preparados com antecedência de 3 a4 dias, favorecendo o crescimento do fito e zooplâncton que fornecerá a alimentação nesteestágio de desenvolvimento. O preparo deste viveiro de alevinagem deverá ser feito com 200-300kg de esterco bovino para cada 1.000 m3, após a adição de 15 a 20 kg de calcário.

16. TRANSPORTE DAS PÓS-LARVAS PARA OS VIVEIROSAlguns cuidados deverão ser observados nesta etapa:

•  O transporte sempre nas primeiras horas da manhã;

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•  Recolhimento das pós-larvas das incubadoras por aspiração com tubulaçãoapropriada, a qual é denominada sifonagem;

•  A temperatura da incubadora deverá estar o mais próximo possível a da água doviveiro, para não ocorrer o choque térmico;

•  A densidade recomendada de 150 mil pós-larvas para cada 1000 m2 de viveiro;•  O nível da água do viveiro deverá estar entre 40 a 50 cm, somente completando

com o nível máximo após 48 horas do transporte inicial.

17. ALIMENTAÇÃO DAS PÓS-LARVASA alimentação deverá ser fornecida em duas parcelas/dia durante os sete primeiros dias,

com distribuição uniforme pelo viveiro. A quantidade de ração a ser fornecida é calculada deacordo com o número de pós-larvas (Tabela 4).

Tabela 4: Quantidade de ração para cem mil pós-larvas.SEMANA DA PÓS-LARVA QUANTIDADE (g) GRANULOMETRIA1ª 200 Pó2ª 500 Pó3ª 1000 Muito Fina4ª 1500 Fina (Granulada)5ª 2000 Fina (Granulada)

Após quatro a cinco semanas, os alevinos terão de 3 a 5 cm e poderão ser levadas aosviveiros de engorda ou vendidos para açudes ou represas (15 a 20 cm).

A tabela 5 apresenta os principais componentes de rações para pós-larvas e alevinos.

Tabela 5: Formulação e Componentes de Rações para Pós-Larvas e Alevinos.COMPONENTE FASE ALIMENTAR

INICIAL (%) ALEVINOS (%)ARROZ (PÒ) 25 -MILHO - 25FARINHA SOJA 25 25FARINHA PEIXE 25 25FARINHA CARNE 25 25

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18. ESQUEMA DE LABORATÓRIO E INCUBADORA

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CAPÍTULO 4

QUALIDADE DE ÁGUA E MANEJO EM PISCICULTURA 

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1. OXIGÊNIO DISSOLVIDOQuando falamos em qualidade da água para piscicultura, o primeiro e mais importante dos

componentes que deve vir à mente é o Oxigênio Disponível (OD). É o componente maislimitante em piscicultura. Sua solubilidade é baixa e ainda é reduzida com o aumento datemperatura, com o decréscimo da pressão atmosférica e com o aumento da salinidade da água.Sua taxa de difusão também é muito lenta, ou seja, a transferência de oxigênio do ar para a água.Isto torna as algas fotossintetizantes a principal fonte de OD nos ecossistemas aquáticos.

Sabemos que na água existem os produtores e os consumidores de oxigênio, sendo que ofitoplâncton inverte seu papel de produtor de oxigênio durante o dia para consumidor do mesmono período noturno (fotossíntese e respiração). Havendo nutrientes na água em abundância para afotossíntese e conseqüente produção de oxigênio, a luz solar passará a ser o fator limitante,podendo ocorrer morte de peixes em períodos longos de dias nublados.

Existe um valor adequado de plâncton no tanque (que deve ser monitorado com o disco deSecchi). Se este plâncton for demasiado no tanque, a luz solar chegará muito atenuada na parte

mais profunda do mesmo, diminuindo a fotossíntese e a produção de oxigênio.Concomitantemente durante a noite o número elevado de algas consumirá este oxigêniodisponível, podendo ocorrer variações na concentração de OD de 20 mg/l no período da tardepara até menos de 2,0 mg/l nas primeiras horas da madrugada. A maioria dos peixes de águaquentes suportam concentrações inferiores a 1,0 mg/litro de oxigênio, mas preferemconcentrações superiores a 3,0 mg/litro e crescem muito bem quando as concentrações estiveremacima de 5,0 mg/litro. Então, conclui-se que a variação do oxigênio nos tanques está em funçãoda quantidade de plantas, da profundidade, da temperatura e da incidência de luz

1.1. Causas da diminuição das concentrações de oxigênio dissolvido em viveiros•  Morte rápida de grandes quantidades de fitoplâncton existente no viveiro, com a

decomposição da matéria orgânica, consome-se grandes quantidades de oxigêniodisponível na água (Figura 1 e 2).

•  Céu aberto com dias sem vento ou longo período chuvoso, havendo excesso defitoplâncton nos viveiros. Nesse caso o fitoplâncton passa apenas a consumir ooxigênio, competindo com os peixes pelo mesmo O2.

•  Chuvas ou ventos fortes causarão a suspensão da matéria orgânica depositada nofundo dos viveiros, assim parte do oxigênio seria gasto nesta mineralização.

•  Superpopulação de peixes nos viveiros, a maior quantidade de peixes, consumirá oO2 de forma mais rápida, podendo ocorrer problemas principalmente no final damadrugada, quando não há produção de oxigênio pelo fitoplâncton.

•  Falhas nos equipamentos de aeração.•  Excesso de alimento ou de fertilizantes orgânicos.

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Figura 1: Variação superficial diária do OD em tanques com diferentes densidades de plâncton.

Figura 2: Concentração de OD média em tanques com diferentes densidades de plâncton.

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1.2. Sintomas da queda do oxigênio nos viveiros (Figura 3) •  Peixes param de se alimentar; •  Mudança na coloração da água, que passa de verde para marrom;•  Peixes abrindo e fechando a boca na superfície;•  Peixes concentrados próximos à entrada de água do viveiro;•  Morte dos peixes maiores.

Figura 3: Efeito da concentração de OD nos peixes.

1.3. Algumas medidas a serem tomadas na falta de OD •  Diminuir gradativamente, ou mesmo parar a adubação orgânica e/ou

arraçoamento;•  Encher o viveiro com o máximo de água limpa possível e por queda brusca;•  Evitar agitar a água do fundo, não passando rede de arrasto ou mesmo entrar no

tanque;•  Remover plantas que provoquem sombra na água e impeçam a fotossíntese;•  Utilizar aeração mecânica;•  Aplicação de cal hidratada, pois a mesma reduz a quantidade de CO2 na água e faz

com que haja mais O2 disponível para os peixes.

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2. CONSTITUÍNTES DA ÁGUA DOS VIVEIROSAs águas naturais contêm gases, íons inorgânicos e substâncias em solução ou substâncias

particuladas em suspensão (inorgânicas ou orgânicas). Os gases nitrogênio, oxigênio e gáscarbônico são os mais abundantes. A matéria orgânica particulada é constituída de fungos,bactérias, fitoplâncton (algas) e zooplâncton (animais microscópicos). A matéria inorgânicaparticulada é constituída de finas partículas, entre elas citam-se: sal, os íons cloreto, sulfato,magnésio, cálcio, potássio e bicarbonatos.

A água muda em função da composição dos minerais do solo, como resultado de reaçõesquímicas. Em viveiros de piscicultura é importante observar os sedimentos orgânicos que sedepositam no fundo.

3. VARIAÇÕES HIDROLÓGICASSão as modificações sofridas pelos corpos d’água devido a vários fatores como as

condições ambientes ou mesmo de manejo.

3.1. Luz e temperaturaUma parte desta energia é refletida e outra é absorvida sob a forma de calor e causam na

água diferentes intensidades de calor, chamadas de estratificação térmica com a formação de trêszonas térmicas.

3.2. Estratificação térmica: efeito da temperatura e luz na água dos viveiros A velocidade de reações químicas é duas vezes menor ou maior a cada 10ºC de flutuação

da temperatura. Assim, a taxa de degradação da matéria orgânica, da dissolução de nutrientes efertilizantes, da degradação de produtos químicos é maior em águas quentes que em águas frias.

A luz e o calor propagam-se na coluna d’água. Como a densidade da água varia com a

temperatura ocorre a chamada Estratificação Térmica dos corpos d’água. As águas superficiaissão mais leves e quentes e não se misturam facilmente com as águas mais profundas (maispesadas e frias). Surge desta forma uma estratificação térmica da água (Figura 4):

•  Epilímnion: é a camada mais superficial e mais quente, também chamada de zonafótica;

•  Metalímnion ou termoclina: é a camada intermediária onde a temperatura caibruscamente, ou seja, muda com a profundidade;

•  Hipolímnion: é a camada mais profunda e mais fria.

Em tanques rasos de até 1,5 m não ocorre a formação da 3ª camada. À noite o perfiltérmico tende a se homogeneizar, misturando as camadas bruscamente. Os peixes não suportammudanças bruscas de temperatura, e tendem a buscar sua zona de conforto térmico dentro dessascamadas. Desse modo, mudanças na temperatura da água podem induzir o desequilíbriofisiológico (estresse) e mesmo matar os peixes em um viveiro. Variações bruscas de 5º C podeser letal para certas espécies de peixes, principalmente quando são transferidos da água mais friapara águas mais quentes.

A estratificação térmica de um tanque também pode ser quebrada pela ação dos ventos, dachuva ou pelo frio. Pode ocorrer uma mistura completa das águas superficiais com as águasprofundas, ocasionando uma depleção (queda) na concentração de OD no tanque econseqüentemente morte dos peixes. Espécies de peixes de hábitos mais profundos estão menossujeitos a tais variações.

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Figura 4: A estratificação térmica de um corpo d’água pouco profundo.

Assim, são necessárias medidas corretas no manuseio de peixes em épocas onde avariação térmica é mais acentuada (final do outono, inverno e início da primavera). No transporte

de peixes de regiões de maior para menor altitude; de águas frias para águas quentes, etc. Omanuseio dos peixes deve ser feito nos horários onde a temperatura ambiente e da água estejammais próximas entre si e da faixa de conforto térmico da espécie cultivada.

3.3. Turbidez da águaInterfere na penetração de luz na água (transparência da água). É medida através do disco

de Secchi, que é a profundidade na qual um disco de 20 cm de diâmetro, alternado comquadrantes brancos e pretos desaparece de vista.

A turbidez está em função direta da quantidade de partículas em suspensão na água,conferindo à mesma colorações diferenciadas. O plâncton produz turbidez desejável na água atéos limites de 30 a 50 cm de transparência do disco de Secchi, correlacionando-se com boa

produtividade de peixes e com sombreamento adequado para controle do crescimento demacrófitas aquáticas. Se o disco de Secchi só é visto acima dos 30 cm, ocorrerá certamente faltade oxigênio no período noturno, pelo excesso de algas. A temperatura também é maior emviveiros túrbidos, comparado com os viveiros onde a água é clara, devido à grande absorção decalor pelo material particulado.

3.4. O pH da águaO pH é o potencial hidrogeniônico. Mede a concentração de íons hidrogênio na água

(H+). Sua escala vai de 0 a 14 ( ácido a básico), sendo 7,0 o ponto de neutralidade. O pH da águasofre influência de vários fatores, entre eles amônia, enxofre e nitritos, mas, o principal é o gáscarbônico. O CO2 assim como o OD sofre influência pelo seu consumo durante o dia pelas algas

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e a sua liberação à noite. O gás carbônico tem o poder de acidificar a água, ocorrendo entãobaixos valores de pH no período noturno, bem como valores mais altos durante o dia.

A faixa ótima de pH para os peixes está entre 6,5 a 7,5. Valores de pH que pode serprejudicial são aqueles abaixo de 4,0 e acima de 11,0. Valores entre 4,0 e 6,5 ou entre 9,0 e 10,0os peixes sobrevivem, mas com baixo desempenho (Figura 5).

Se a água de um viveiro é mais ácida do que o pH 6,0 ou mais alcalina do que o pH 9,5,por longo período de tempo, a reprodução e o crescimento diminuirão. A respiração, fotossíntese,adubação, calagem e poluição são os únicos fatores que causam mudança de pH na água (Figura6).

Figura 5: Efeitos do pH para os peixes cultivados.

Figura 6: Flutuações diárias do pH em um tanque.

3.5. Efeito da fotossíntese e respiração no pH Durante o dia, as plantas aquáticas removem o CO2 da água para o uso na fotossíntese.

Plantas e animais estão continuamente liberando CO2 na água pela respiração, entretanto, duranteo dia as algas e plantas aquáticas em geral removem o CO2 da água mais rapidamente do que éreposto através da respiração.

De madrugada ocorre o pH mais baixo no período de 24 horas, pois não ocorre afotossíntese que consome o CO2 e libera O2 no meio. Com a luz do sol, a fotossíntese recomeça e

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o CO2 é utilizado pelos organismos autotróficos da comunidade aquática, voltando a aumentar ovalor do pH na água.

3.6. Efeitos da localização na mudança do pH na águaÁguas de viveiros localizadas próximas a áreas agrícolas tendem a aumentar o pH, devido

à erosão, que transporta nutrientes e calcários. Aqueles viveiros próximos a áreas industriaispossuem pH baixo, devido às chuvas ácidas.

A acidificação pode diminuir a produção primária, limitar o crescimento de espécieszooplanctônicas e pode também ser responsável pelo desaparecimento de diversas espécies depeixes, poderá influenciar também negativamente na reprodução dos peixes.

3.7. Alcalinidade totalA alcalinidade total é a expressão das bases existentes na água que são os íons

bicarbonatos (HCO3-) e carbonatos (CO3

-). Podem reagir para neutralizar íons hidrogênio (H+),

atuando como bases, e, portanto, contribuindo para elevar o teor de alcalinidade da água. Emviveiros de piscicultura são desejáveis valores acima de 20 mg/l de CaCO3 (carbonato de cálcio),sendo que valores de alcalinidade entre 200-300 mg/l podem proporcionar grande sucesso nocultivo de peixes.

As mais altas produções não resultam diretamente de altas concentrações de alcalinidade,mas de altos níveis de fósforo e outros elementos essenciais, cuja disponibilidade aumenta juntamente com o aumento do teor da alcalinidade. Geralmente, este teor depende da textura dosolo:

•  solos de areia apresentam baixa alcalinidade;•  solos de argila apresentam alta alcalinidade;•  solos de regiões áridas apresentam alcalinidade excessiva pela grande evaporação

e concentração de íons.

3.8. Dureza totalA dureza total mede a concentração dos cátions divalentes livres na água, principalmente

íons de cálcio e magnésio. O teor de cálcio na água pode determinar o seu grau de dureza. Tantoa alcalinidade quanto a dureza total são expressas em mg de CaCO3 /l . Valores acima de 20,0 mgde CaCO3 /l indicam que haverá pouca variação do pH durante a noite/dia, ficando o pH em tornode 7,5 a 8,5. Valores abaixo de 20,0 mg de CaCO3 /l indicarão uma variação de 6,0 a 6,5 noamanhecer e 9,5 a 10,0 no final da tarde.

A alta alcalinidade está relacionada com as águas duras, pois alcalinidade e dureza são deconcentrações similares em muitas águas. Assim, as águas podem ser classificadas da seguinteforma:

•  Água mole: de 0 a 75 mg de CaCO3;•  Água moderadamente dura: de 75 a 150 mg de CaCO3;•  Água dura: de 150 a 300 mg de CaCO3;•  Água muito dura: acima de 300 mg de CaCO3.

Estes valores poderão ser utilizados para observações da qualidade da água a ser escolhidaem piscicultura.

3.9. Condutividade elétrica 

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É uma forma de se avaliar a quantidade de nutrientes disponíveis nos corpos d’água. Amedida é feita através de um aparelho chamado de condutivímetro, que mede a quantidade deeletricidade que pode ser conduzida pela água. Quanto maior a quantidade de sais dissolvidos naágua, maior será a sua condutividade.

Quando uma água apresenta alta condutividade, certamente ela deverá ter altaconcentração de nutrientes dissolvidos, assim, em águas muito duras ou alcalinas tambémapresenta elevada condutividade.

Os valores médios de viveiros de piscicultura estão em torno de 23 a 71 uS/cm (microSiemens/cm).

3.10. SalinidadeÉ a medida da quantidade de sais presentes na água. Para sua determinação poderá ser

utilizados aparelhos como refratômetros e ou salinômetros, ou mesmo a equação de Swingle(1969): Salinidade (mg/l) = 0,03 + (1,805). Cl(mg/l)

As exigências em sais na água depende das espécies, podendo variar de valores próximosa zero até 24,0 ppm para peixes de água doce. Como não se tem um estudo aprofundado dasexigências ou limites de salinidade para os peixes cultivados, baseia-se como parâmetro osvalores médios das águas do seu local de origem. Ex: Tambaqui (Colossoma macropomum)-Bacia Amazônica (0,05 a 3,4 ppm); Pacu (Piaractus mesopotamicus)-Bacia Paraná/Uruguai ( 3,0a 14,0 ppm).

3.11. AmôniaAparece nas duas formas químicas: gás amônia (NH3) e íon amônio (NH4

+). Ambasocorrem ao mesmo tempo na água, conforme a seguinte reação química: H+ + NH3  NH4

+. Paracada unidade de aumento no pH, o íon amônio aumenta 10 vezes.

Fonte de amônia em cultivos: decomposição de restos de ração, morte do fitoplâncton, excreçãodos peixes, fertilização dos viveiros (sulfato de amônio ou uréia) (Tabela 1).

Tabela 1: Fontes e quantidades de amônia produzidas em um cultivo semi-intensivoOrigem da amônia Quantidade produzida (kg/ha)Excreção dos peixes 1.000-1.200Fertilização química 200Renovação de água 50

O que a amônia causa aos peixes: alterações fisiológicas na corrente sangüínea, enzimas emembranas biológicas (brânquias).Sintomas de toxicidade: peixes nadando erraticamente; ao serem capturados tremem e nãoconseguem saltar.Níveis de amônia: de 0 a 0,15mg/l de NH3 (ideal); de 0,15 a 1,0mg/l de NH3 (diminuição nocrescimento e estresse); > que 1,0mg/l de NH3 (letal).Tratamentos: renovação de água, aeração, redução do pH, suspensão da fertilização, suspensãodo arraçoamento.

3.12. Nitrito

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Parte da amônia é transformada em nitrito (bactérias  Nitrosomonas). A amônia é dezvezes mais tóxica que o nitrito.Níveis de nitrito: de 0 a 0,5mg/l de NO2 (ideal); de 0,5 a 5,0mg/l de NO2 (diminuição nocrescimento); > que 5,0mg/l de NO2 (morte por asfixia).Sintomas de toxidez por nitrito: sangue e brânquias com coloração vermelha intensa ou marrom;peixes nadam de lado e/ou ficam parados na superfície da água; peixes boquejando (mesmoquando os níveis de oxigênio encontram-se ideais); altas taxas de mortalidade.Tratamento e prevenção: o tratamento mais eficiente é a colocação de sal na água. Para o cálculoutiliza-se a seguinte proporção “concentração de nitrito x 6 partes de cloro”. Exemplo: nitrito naágua = 7,0 mg/l x 6 = 42mg/l de cloro. A quantidade de cloro no sal é de 60%. Logo, 42/0,6=70mg de sal/litro de água.

A tabela 2 ilustra os principais parâmetros de qualidade de água e periodicidade ideal demonitoramento em uma piscicultura.

Tabela 2: Periodicidade ideal de monitoramento.Parâmetro Periodicidade Período mais crítico do diaTemperatura 2 vezes ao dia Madrugada e meio da tardeOxigênio 2 vezes ao dia Madrugada e final de tardepH 3 vezes por semana Madrugada e final de tardeAmônia Semanal Final de tardeNitrito Semanal Final de tardeGás carbônico Semanal AmanhecerAlcalinidade Mensal Amanhecer

4. COMUNIDADES PLÂNCTONICASO tanque ou viveiro de piscicultura abriga uma comunidade biótica (viva) composta de

produtores primários (fitoplâncton, perifíton e macrófitas aquáticas), heterótrofos (peixes,zooplâncton, vermes, larvas de insetos, anfíbios, etc), decompositores (bactérias e fungos) quecolonizam o ambiente à medida que vai se desenvolvendo o cultivo (Figura 7). Estes organismosdependem da qualidade da água, indicada pelas variáveis físicas, químicas e biológicas que sãode grande importância para a produção de peixes. Sua distribuição, em grande parte, deve-se aoseu hábito alimentar, que também depende da penetração de luz no sistema.

Os produtores são capazes de sintetizar matéria orgânica a partir da água, gás carbônico eluz solar, produzindo uma biomassa que constitui a fonte de energia para as cadeias alimentaresde todo o ecossistema.

Os consumidores podem ser herbívoros, que obtêm sua energia direta ou indiretamente apartir da matéria orgânica sintetizada pelos produtores primários; podem ser carnívoros, queobtêm sua energia a partir de outros consumidores; e por último os detritívoros, que se alimentamde restos de plantas e animais. Localizam-se principalmente no sedimento, formando ascomunidades bentônicas.

Todos os organismos pertencem a determinados níveis tróficos (produtores, consumidoresprimários, consumidores secundários, etc.) que em seqüências possuem relacionamentoalimentar, e constituem a cadeia alimentar. Em todos os ecossistemas aquáticos não existemcadeias alimentares simplificadas, mas sim todo um inter-relacionamento e entrelaçamento decadeias, constituindo a chamada rede ou teia alimentar.

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Figura 7: Estrutura biológica da água dos viveiros.

4.1. Constituintes do ecossistema aquático (Figura 8)Plâncton: É constituído por microrganismos vegetais (fito) e animais (zooplâncton)

flutuantes à meia altura e na superfície da água dos lagos, represas e tanques de criação de peixes,que são de importância vital para a sobrevivência de larvas, alevinos e juvenis de peixes.

Fitoplâncton: são as algas unicelulares responsáveis pela produção primária do meioatravés da fotossíntese. Utiliza para isso a luz solar, os nutrientes presentes na água e o CO2.Durante o dia produzem O2, vital para a vida dos peixes e de outros organismos presentes nesteecossistema.As principais algas são as clorofíceas (algas verdes) e as cianofíceas.

Nanoplâncton: são as algas microscópicas presentes na água, que se alimentamprincipalmente da matéria orgânica dissolvida. Também são produtoras de oxigênio, pode-sedizer que são as mais importantes para a produção primária e para a coloração esverdeada daágua dos tanques.

Zooplâncton: são os microorganismos presentes na água e que não possuem movimentopróprio. Se alimentam do fito e do nanoplâncton. Os principais organismos do zooplâncton são:

Rotíferos: pequenos animais aquáticos que medem entre 0,1 a 1,0 mm. São importantesalimentos para as pós-larvas de peixes.

Microcrustáceos:  são os consumidores primários do biótopo. Dois grupos temimportância maior nos viveiros: a) os cladóceras (pulga da água) ou  Daphnias e b) os copépodas- Diatomus e Cyclops. Embora o valor nutritivo dos cladóceras seja menor do que os copépodas,

eles são mais importantes nos viveiros, porque os peixes as capturam facilmente.Necton: são os seres que vivem na água e possuem movimentos natatórios voluntários, ou

seja, são capazes de nadar. São os consumidores secundários do ecossistema aquático. Aqui seincluem os pequenos peixes zooplanctófagos, os grandes peixes de hábitos alimentares diversos eos demais vertebrados aquáticos.

Bentos: são os organismos que vivem no substrato do fundo do tanque (lodo). É ondeficam depositados plantas e animais mortos, enriquecido com materiais orgânicos comestíveis.Estes materiais são fontes de alimentos para os peixes iliófagos (que se alimentam do lodo) etambém para os peixes que se alimentam de larvas de insetos como os de efemerópteros equironomídeos. Também constituem o bentos alguns vermes, moluscos e minhocas. Servem dealimento para diversas espécies de peixes iliófagos como o curimbatá e a carpa.

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Vegetais Superiores: também conhecidos por macrófitas aquáticas, são as plantas quevivem submersas parcialmente ou totalmente na água, geralmente ficam próximos aos taludes dosviveiros. Podem ser consideradas como produtores primários do ecossistema aquático. Sãoindesejáveis por causarem problemas de manejo nos viveiros.

Perifíton: é constituído por animais e vegetais presos a substratos artificiais ou naturais,como talos e raízes de plantas, folhas e troncos submersos, pedras e sedimentos.

Nêuston: corresponde à fauna e flora associada à tensão superficial na interface ar-água,ou seja, flutuando à superfície da água. Ex. aracnídeos, ácaros e insetos pertencentes às ordensCollêmbola e Hemíptera. Algumas algas cianofíceas ( Euglena spp) e clorofíceas.

Pleuston: são organismos vegetais que vivem na interface ar-água. Ex: os Aguapés.Toda essa cadeia alimentar pode ser representada por uma pirâmide que demonstra a

passagem de um nível trófico para outro com perda de energia . Por isso as cadeias alimentaresmais simples ou diretas são mais produtivas que as cadeias ou teias alimentares mais complexas(Figura 9).

Figura 8: Representação artística da comunidade de um ecossistema aquático.

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Figura 9: A pirâmide da produção (numérica ou biomassa) na cadeia alimentar de umecossistema aquático.

5. PREPARAÇÃO DO VIVEIRO Antes de iniciar um cultivo, os viveiros da propriedade deverão ser adequadamente

preparados para poderem receber os peixes. O preparo consta de uma série de procedimentos quedevem ser observados para que se consiga atingir os níveis esperados de produtividade. Essesprocedimentos envolvem basicamente:

•  Enchimento/ Esvaziamento e secagem dos viveiros•  Desinfecção•  Aplicação de calcário•  Oxidação da matéria orgânica•  Fertilização

5.1. Enchimento/esvaziamento e secagemAo se terminar um cultivo, o viveiro deve ser completamente esvaziado e seco ao sol. Ao

secar o solo racha, permitindo a entrada de oxigênio até as camadas mais profundas. Isto éaltamente benéfico, pois ajuda a oxidar e mineralizar o excesso de matéria orgânica que semprefica no fundo. A mineralização é a decomposição da matéria orgânica liberando os nutrientespara serem aproveitados, principalmente pelo fitoplâncton. A exposição ao sol permite aoxigenação do próprio solo, diminuindo a decomposição anaeróbica que produz compostostóxicos aos peixes, como o ácido sulfídrico. Também auxilia na eliminação de ovos de peixes ede outros predadores, que podem sobreviver no solo úmido, mas nunca no solo completamenteseco.

O tempo de exposição é variável e poderá ficar de 5 a 7 dias ou mais. É importantecaminhar por todo o viveiro sem afundar os pés, quando isso ocorrer, o solo terá secado osuficiente. Solos sulfurosos não deverão ser completamente secos, pois apresenta pH baixo (4,0)e alta concentração de enxofre. Se exposto ao sol formam manchas vermelhas no fundoresultantes da formação de hidróxido de ferro (Fe2(OH)3 e ácido sulfúrico.

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O solo sulfuroso é facilmente conhecido ao se adicionar um pouco de água oxigenada auma pequena amostra, ao se formar grandes quantidades de bolhas de gás, há grandeprobabilidade de este solo ser sulfuroso. Para se evitar este processo que irá diminuir ainda maiso pH do solo como a toxidez formada pelo ácido sulfúrico, na despesca deixar uma camada deágua suficiente para cobrir o fundo.

5.2. Desinfecção Será necessária para eliminar resíduos tóxicos entre dois ciclos de produção ou a presença

de microrganismos indesejáveis. Vantagens da desinfecção: oxidação da matéria orgânicaacumulada; aumento da fertilidade do solo dos viveiros.

A desinfecção por produtos químicos é muito utilizada, principalmente quando não se temsol suficiente, em dias de muitas chuvas ou em viveiros mal drenados.

a) Uso da cal virgem (CaO) ou cal hidratada (Ca(OH)2)

Em contato com a água, a cal virgem libera calor, além de aumentar muito e rapidamenteo pH da água e do solo, matando todos os organismos aquáticos que estiverem presentes noambiente. Já a cal hidratada mata exclusivamente pelo aumento do pH, pois não eleva atemperatura da água. A quantidade recomendada para eliminar todos os organismos indesejados éde 2,0 ton/ha.

Em áreas com solo muito anaeróbicos, onde existem manchas de lama mais escura e comcheiro de ovo podre (enxofre), utiliza-se um produto mais forte para oxidar a matéria orgânica. Ohipoclorito de sódio (água sanitária), ou uma solução de cloro de piscina poderá também serutilizado. O procedimento é o seguinte:

•  Colocar a solução concentrada de cloro (100 ppm ou seja 0,1 grama de cloro/litrode água em um aplicador manual de herbicidas ou em um balde plástico. Aplicarcerca de 1,0 litro/m3 nas áreas afetadas. Revirar o solo (com enxadão ou enxada).Aplicar novamente a solução com cloro (por duas a três vezes) até desaparecer oforte cheiro do enxofre. Deixar o fundo do viveiro exposto ao sol por mais doisou três dias para que o cloro evapore e não coloque em risco a saúde dos peixesque serão cultivados.

5.3. CalagemA aplicação de calcário ou calagem poderá ocorrer na forma de carbonato de cálcio

(CaCO3) que é o calcário agrícola; óxido de cálcio (CaO) ou hidróxido de cálcio (Ca(OH)2) que éa cal hidratada. Sempre será necessária quando o pH estiver abaixo de 6,0. Deverá ser feita com otanque vazio com 2 a 3 semanas antes do enchimento do mesmo. Poderá também ser efetuada

com o viveiro cheio em locais onde a água é muito ácida e a sua constante renovação acidifica omeio.

Utilidade da correção do solo do viveiro:a) permitir ou melhorar a sobrevivência dos peixes cultivados;b) permitir a reprodução ou crescimento dos peixes;c) dar condições para que os demais procedimentos de manejo possam ter sucesso,

principalmente a fertilização dos viveiros.

Funções da Calagem:a) Elevar o valor do pH do solo e da água;b) Diminuir a retenção de fósforo no fundo dos viveiros;

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c) Aumentar a quantidade de gás carbônico para a fotossíntese. O calcário ou a caladicionada ao solo vai reagir com a água e produzir gás carbônico, o fitoplâncton precisa dessegás carbônico para realizar a fotossíntese. A fotossíntese é muito importante para a piscicultura,pois é através dela que o fitoplâncton produz e libera na água grande quantidade de oxigênio queserá usado na respiração dos peixes (6CO2 + 6H2O + luz e nutrientes= C6H12O6 + 6O2)

d) Diminuir a turbidez da água e a quantidade de material em suspensão.e) Aumentar a alcalinidade da água.

Necessidade de Calagem: a melhor maneira para se determinar a calagem é a realizaçãode análises de solo e da água utilizada nos cultivos. A aplicação de calcário deverá ser feitaquando:

•  a alcalinidade da água dos viveiros for inferior a 20 mg/l de CaCO3;•  o pH do solo for inferior a 6,0-6,5;•  solos ricos em alumínio;•  solos que, mesmo realizando fertilizações periódicas, não se consegue obter uma

resposta adequada em termos de aumento da quantidade de fitoplâncton nosviveiros.

Época de aplicação do calcário: o ideal é de 2 a 3 semanas antes de fertilizar os viveiros,pois em um primeiro momento, o calcário irá reduzir as quantidades de fósforo e de CO2 disponíveis. Depois de alguns dias reagindo com a água, ele faz aumentar novamente essasconcentrações. Duas semanas após o enchimento verificar a alcalinidade da água. Se o valorestiver abaixo de 20 mg/l de CaCO3, pode-se aplicar mais 500 a 1000 kg de calcário/há.

5.4. Oxidação da matéria orgânica A matéria orgânica está presente naturalmente em alguns tipos de solos, mas é comum

que haja um acúmulo ainda maior no fundo em função dos excessos de alimento ou de restos deadubos orgânicos (estercos) utilizados no cultivo anterior. Se não for controlado, o excesso dematéria orgânica provocará uma diminuição das concentrações de oxigênio dissolvido e poderálevar à produção de gases e substâncias tóxicas, que irão prejudicar os cultivos que vierem a serrealizados.

Além da secagem ou o uso de oxidantes químicos, como a água sanitária e a cal, umatécnica muito eficiente e barata é a aplicação de fertilizantes químicos que contenham nitrogênio(uréia). Esse fertilizante nitrogenado deve ser espalhado pelo fundo do viveiro, de preferência junto com calcário (cerca de 10 kg de nitrogênio/ha, o que equivale a 22 kg de uréia/ha).

5.5. Fertilização dos viveiros Os viveiros são ambientes artificiais criados pelo homem para a criação de peixes em

número muito maior aos encontrados na natureza. Há muitos anos os piscicultores vêmaumentando a produção a partir do uso de fertilizantes químicos ou orgânicos.

A principal função da fertilização é aumentar a quantidade de fitoplâncton existente naágua. Este serve de alimento para animais microscópicos chamados de zooplâncton e constituemalimento natural de grande número de peixes.

Havendo condições propícias de luz e temperatura os nutrientes presentes nos fertilizantes(NPK, principalmente), dissolvem-se na água e são assimilados pelo fitoplâncton. O crescimentodo fitoplâncton atinge todo o viveiro deixando a água com uma coloração esverdeada. O esterco

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de animais (aves, suínos e bovinos) contém estes nutrientes, mas em proporções menores, e sãoas bactérias as responsáveis pela liberação dos mesmos na água. As fertilizações feitas no verãosão mais rápidas e eficientes do que as de inverno, devido a temperatura acelerar todo oprocesso.

O fitoplâncton é uma alga unicelular, por isso vive pouco tempo, mas possui a vantagemde se reproduzir muito rapidamente.

Os fertilizantes utilizados, a princípio, são os mesmos utilizados na agricultura. Oimportante é que tenham os elementos necessários ao desenvolvimento do fitoplâcton. O maisutilizado como fonte de nitrogênio é a uréia, mas deve ser utilizada com parcimônia, pois seuexcesso pode causar a intoxicação dos peixes pela amônia. Já os fertilizantes à base de nitratosapresentam melhores resultados, mas são bem mais caros que a uréia. O fósforo é muito maisimportante que o nitrogênio e o potássio para o fitoplâncton, sendo que este último quase não éutilizado.

Quantidade a ser aplicada: geralmente se utiliza uma relação N:P de 1:3, ou seja, três

vezes mais fósforo do que nitrogênio. O cálculo poderá ser feito pela seguinte equação Q=(A.C)/I, onde Q= quantidade de fertilizante (kg); A= Área do viveiro (ha); C= Concentração quese pretende colocar de N, P ou outro nutriente (kg/ha) e I= Percentagem de N ou P no fertilizante.

A aplicação do fertilizante químico consiste na colocação de sacos porosos presos emestacas dentro do viveiro. Os nutrientes dissolvidos passarão do saco para a água, onde serãoaproveitados pelo fitoplâncton. A eficiência será maior se o fertilizante for distribuído em dois oumais sacos espalhados pelo viveiro.

5.6. Fertilizantes orgânicos São os vários tipos de estercos animais que são utilizados neste tipo de fertilização.

A liberação dos nutrientes presentes no esterco será feita por bactérias, o que de certa forma

diminuirá o oxigênio dissolvido na água, isto devido ao fato das bactérias consumirem oxigêniopara poderem sobreviver. A quantidade de oxigênio que será consumida dependerá do tipo dedejeto a ser utilizado e da temperatura da água. Quanto maior for a temperatura, maior será orisco de que venha faltar oxigênio para os peixes, em caso de excesso de adubação. É por issoque a quantidade de dejetos lançada nos viveiros deve ser sempre bem controlada.

As quantidades de esterco a serem aplicadas é muito variável e depende do bommonitoramento das condições da água. A tabela abaixo nos dá uma indicação que poderá seradotada para a fertilização orgânica.

TIPO DE ESTERCO QUANTIDADE EM KG/SEMANABOVINO 1000AVES E SUÍNOS 600-800OVINOS E EQUINOS 1000

6. ALGUMAS OBSERVAÇÕES IMPORTANTES •  Viveiros sem aeração, não aplicar mais de 50-70 kg de esterco seco/ha/dia;•  Sempre que possível utilizar esterco na forma líquida, a não ser que o mesmo seja

utilizado como alimento para os peixes;•  A grande quantidade de fibras do esterco seco poderá causar maior consumo de

oxigênio na sua degradação, gerando também resíduos sólidos no fundo doviveiro;

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•  A resposta à adubação é medida pela abundância de fitoplâncton presente noviveiro, que torna a água do mesmo mais esverdeada;

•  O monitoramento das condições de turbidez da água é feito com um aparelhochamado disco de Secchi (Figura 8);

•  O disco mede 20 cm de diâmetro e é pintado de preto e branco em quadrantesalternados. A transparência ideal da água poderá ser definida com uma visibilidadedo disco entre 30 a 45 cm.

7. CUIDADOS COM A FERTILIZAÇÃO QUÍMICA E ORGÂNICA •  Avaliar a qualidade da água, principalmente o oxigênio dissolvido, antes de

fertilizar;•  Não colocar mais fertilizantes orgânicos do que o necessário, pois em excesso

podem diminuir a vida útil dos viveiros;• 

Fornecer as dosagens de forma parcelada é melhor do que aplicar de uma só veztoda uma carga de fertilizantes;•  Não fertilizar os viveiros tomados por outros vegetais, que não o fitoplâncton,

devendo os mesmos serem retirados;•  Diminuir a renovação de água ao máximo, quando estivermos fertilizando o

viveiro;•  Adquirir as quantidades de fertilizantes suficientes para um ciclo completo de

produção, evitando o seu envelhecimento e queda de qualidade.

Figura 10: Representação esquemática de um disco de Secchi.

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CAPÍTULO 5

SELEÇÃO DE ESPÉCIES PARA PISCICULTURA

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1. SELEÇÃO DE ESPÉCIES PARA PISCICULTURAInicialmente deverão ser observados vários itens de interesse para o sucesso do

empreendimento, pois a piscicultura é uma atividade comercial e como tal deve ser encarada. Opeixe é o produto de comercialização, então deve se enquadrar nas características exigidas pelomercado. Outro aspecto a ser considerado é o nível de manejo que será empregado na produçãode peixes. Essa é também uma decisão que deve ser tomada antes de iniciar qualquer cultivo e é apartir dela que o produtor deverá planejar o quanto irá investir e quanto pretende produzir em suapropriedade. Alguns itens deverão ser observados para a escolha da espécie:

1.1. MercadoVerificar a existência de mercado para a espécie que se quer produzir. Conhecer as

características exigidas pelo mercado (tamanho mínimo, uniformidade do lote, sabor da carne,espécies esportivas ou espécies ornamentais).

1.2. Economia•  Preço a ser obtido pelo produto;•  Custos de construção e adequação dos viveiros para cultivo dessa espécie;•  Estimativa do custo de produção de cada Kg de peixe;•  Tempo previsto para o retorno do capital investido.

1.3. Biologia da espécie•  Reprodução em cativeiro ou controle da reprodução por métodos naturais ou

artificiais;•  Rusticidade (resistência a enfermidades);• 

Boa taxa de sobrevivência em cativeiro;•  Crescimento rápido;•  Exigências nutricionais (alimento fácil de encontrar e barato).

1.4. Exigências climáticas•  Clima adequado ao crescimento (conhecimento das respostas que a espécie

apresenta em condições adversas);•  Tolerância à baixa qualidade da água.

1.5. Manejo•  Escolha das espécies de fácil manejo, tanto na despesca, comercialização,

conservação, beneficiamento, transporte, etc.

1.6. Infra-estrutura•  Facilidade na compra de insumos (rações, produtos químicos e alevinos);•  Energia elétrica;•  Telefonia;•  Vias de escoamento: facilidade e custos de transporte de insumos e da produção.

2. PRINCIPAIS ESPÉCIES NATIVAS DE PEIXES CULTIVADAS NO BRASILMuitas são as espécies nativas utilizadas em piscicultura, sendo que as técnicas de cultivo

variam de acordo com a região. Entre as espécies nativas mais estudadas visando sua exploração

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comercial, destacam-se o pacu, considerado como uma espécie de boa aceitação no mercado. Nadécada de 90, o pintado, a matrinxã, a piracanjuba, o piau, o piavuçu, a piapara, o tucunaré e odourado tiveram seus cultivos incrementados.

2.1. PACU, TAMBAQUI E SEUS HÍBRIDOSO Pacu (Piaractus mesopotamicus), foi uma espécie classificada anteriormente como

Colossoma mitrei, sendo largamente distribuído nos rios da Bacia do Prata, onde apresentagrande importância na pesca comercial. Apresenta uma cabeça relativamente pequena, com duasséries de dentes, escamas pequenas, havendo citações de peixes com 82,0 cm de comprimentototal e 18,5kg de peso vivo.

O tambaqui (Colossoma macropomum) é um peixe de piracema nativo da BaciaAmazônica. No seu meio natural comporta-se como onívora alimentado-se de frutas, sementes,crustáceos, etc. São espécies que tem despertado interesse para a piscicultura pelo seu elevadovalor comercial, adaptação a alimentação artificial e também pela facilidade de obtenção de

larvas através da reprodução induzida, apresentando uma boa taxa de crescimento.São espécies pertencentes à família CHARACIDAE e subfamília MYLEINAE:

•  Tambaqui - Colossoma macropromum;•  Pacu - Piaractus mesopotamicus;•  Pirapitinga - Piaractus brachypomus.

São espécies de desova total, ovulíparas, com reprodução ocorrendo no período em que aságuas dos rios apresentam maior volume, altas temperaturas ambiente e fotoperíodo alto.Apresentam elevada prolificidade e em cativeiro só se reproduzem através de indução hormonal.A primeira maturação sexual acontece por volta do 4º ano de vida. Em cativeiro, aceitam muitobem as rações balanceadas, já existindo, dados experimentais a respeito de suas exigênciasnutricionais. Da mesma forma, nas fases iniciais da criação alguns trabalhos parecem indicar ummanejo alimentar a bases de ração e, também, de microorganismos (zooplâncton).

São os peixes mais estudados em trabalhos de pesquisa, sendo obtidas produtividades quevariam conforme o sistema de manejo entre 1,5 ton/ha a mais de 10 ton/ha/ano. O tambacuoriundo do cruzamento do pacu macho com fêmea de tambaqui é um híbrido que foi produzidoobjetivando o potencial de crescimento e a resistência para cultivo em regiões mais frias. Outrohíbrido é o paqui, resultante do cruzamento da fêmea do pacu com o macho tambaqui.

2.1.1. ReproduçãoA produção de alevinos do pacu e do tambaqui é obtida através da reprodução induzida,

onde, apresentam boa taxa de fertilização. São utilizadas as hipófises de Salmão, Carpa, Curimba,Piavuçu, etc, ou mesmo os hormônios sintéticos. A incubação dos ovos é realizada numatemperatura entre 25 a 27º evitando-se alterações bruscas de temperatura nas incubadoras emantendo-se uma taxa constante de renovação da água. A eclosão das larvas do pacu e tambaquiocorre cerca de 20 a 25 horas após a fertilização, com uma temperatura média da água deincubação em torno de 25º. Logo após a eclosão o pacu apresenta um peso vivo médio de 0,12mg e comprimento total de 4.4 mm. O crescimento durante o primeiro mês varia grandemente deacordo com a alimentação e dos fatores bióticos e abióticos da água.

2.1.2. Sistema de criação

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A densidade de cultivo durante a fase inicial é de fundamental importância nadeterminação da taxa de crescimento e, principalmente, na sobrevivência das larvas, que estárelacionado com a disponibilidade de “organismos - alimento”, sendo recomendada umadensidade de 15 a 50 alevinos por m², a qual pode variar em função da disponibilidade deplâncton e/ou alimento artificial, qualidade da água, taxa de crescimento desejada, etc.

Os sistemas de criação e a tecnologia utilizada é que vão determinar a produtividade decada tipo de exploração. Para sistemas extensivos com densidade de 0,5 a 1,0 peixe/5m², períodosde criação de 18 a 24 meses e taxa de arraçoamento de 0,5 a 1% da biomassa do tanque, termina-se os animais com 1 a 1,5kg de peso vivo. No mesmo sistema extensivo, o pacu ou o tambaquipodem ser cultivados com outras espécies de peixes, dando-se preferência para as carpas(exóticas) e o curimbatá que podem ser despescadas juntamente com o pacu ou o tambaqui. Nosistema semi-intensivo é necessária uma adequada análise e, se necessário, a correção do solo,bem como adubação para produção de plâncton. Nesse sistema utiliza-se uma densidade de 1 a 2peixes por m², com uma taxa de arraçoamento diário de 2 a 5% da biomassa do tanque, que

depende da fase da criação, da temperatura da água, e da qualidade da mesma. Pode-se utilizardietas fareladas, desintegradas na fase inicial e peletizada e extrusada no período decrescimento/terminação.

Nos últimos anos o pacu tem sido utilizado para criação em tanques redes. Nesse sistemautiliza-se uma elevada densidade de estocagem, possibilitada pela grande renovação de água. Adieta balanceada pode ser fornecida a lanço, em comedouros tipo cocho ou mecânico, sendoutilizada preferencialmente a dieta extrusada, que proporciona uma melhor conversão, naproporção de 3 a 5% da biomassa total, parcelada em pelo menos duas vezes ao dia. A densidadeé bastante variável, sendo comum a utilização de 50 a 100 peixes/m³, permitindo a obtenção depeixes de 1 a 2 kg de peso vivo no período de 1 ano.

2.1.3. Alimentos e alimentaçãoEm sistemas de confinamento, ao contrário do que ocorre em meio natural, para um

adequado crescimento, os peixes necessitam de todos nutrientes em quantidades adequadas, umavez que o alimento natural não atende às exigências nutricionais, principalmente durante operíodo de crescimento/terminação.

Vários tipos de alimentos produzidos e disponíveis em nosso país podem ser empregadosna alimentação do pacu e do tambaqui, como o milheto, substituindo o milho sem afetar aconversão alimentar, a levedura ou farelo de girassol e o farelo de algodão, sendo necessária aavaliação biológica e econômica do emprego das mesmas.

A alimentação natural apresenta grande importância no desenvolvimento e sobrevivênciadas pós-larvas e alevinos, sendo importante observar aspectos quantitativo, qualitativos. O início

da alimentação exógena ocorre de 3 a 5 dias após a eclosão e, nessa fase, é imprescindível umaboa disponibilidade de zooplâncton, principalmente de rotíferos, que apresentam um elevadovalor nutritivo, tamanho adequado e é de fácil captura pelos peixes. O fitoplâncton tambémpossui grande participação durante o período inicial de alimentação exógena (Tabela 1).

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Tabela 1: Principais aspectos observados na alimentação do pacu durante o período de eclosãoaté 30 dias de vida

Adaptado de PINTO E CASTAGNOLLI (1984).

Para a produção em massa desses “organismos alimentos” é necessária uma adequadacorreção do solo do viveiro e uma posterior adubação química e/ ou orgânica, e também amanutenção do plâncton através de novas adubações. Geralmente, em função do custo, utiliza-sea adubação orgânica, que pode ser esterco de aves, suínos, bovinos, caprinos, coelhos ou eqüinos,realizada uma semana antes da estocagem das larvas ou alevinos. A adubação de manutençãodeve ser realizada sempre que necessária, sendo controlada através do disco de Secchi, onde éconsiderado como ideal, em termos de produção de plâncton uma altura em torno de 30 cm. Aadubação química também é bastante utilizada associada ou não com adubação orgânica.

Ainda que uma adubação antecipada (cerca de duas semanas) propicie o desenvolvimentode microorganismos, como copépodas e cladoceras, no momento de distribuição das larvas, éimportante ressaltar que esse manejo possibilitará maior período para o desenvolvimento de

larvas de odonata, capazes de provocar elevadas taxas de mortalidade.Quanto o tamanho ideal da partícula da ração em relação ao tamanho do peixe, éimportante avaliar alguns estudos a respeito da forma e fornecer uma partícula que possa seringerida com facilidade (Tabela 2) e além disso reduzir custos com alimentação, manter uma boaqualidade da água e melhor desempenho dos animais, obtendo-se assim uma adequada taxa deuniformidade e de sobrevivência.

Tabela 2: Relação entre o comprimento padrão e o tamanho da partícula (mm) mínimo e máximopara pacu e tambaqui

O manejo alimentar adequado, não somente quanto ao tamanho da partícula alimentar,mas também com relação à taxa de arraçoamento, resultará em uma melhora na conversãoalimentar, reduzindo as perdas de uma dieta de elevado custo. A produtividade de acordo comalimentação utilizada pode ser:

Idade/dias Alimentos1 saco vitelínico3 saco vitelínico4 a 8 algas (cianofíceas)9 Rotíferos11 rotíferos e copepoditos15 rotíferos e larvas de chironomidae23 rotíferos, cladocera e larvas de chironomidae29 rotíferos, larvas de chironomidae, cladoceras e copepoditos

Tamanho da partícula (mm)Comprimento padrão (cm)mínimo máximo

1,6 0,35 0,422,1 0,50 0,713,1 0,71 1,004,5 1,00 1,414,5 1,00 1,41

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•  Só com uso de adubo orgânico: 800 a 1600kg/ha;•  Rações de baixo custo mais adubação: 2700 a 5000kg/há;•  Rações completa (proteínas, aminoácidos e minerais): 8000 a 11000kg/há.

2.2. PIRAPUTANGA E MATRINXÃSão espécies da mesma família do pacu e tambaqui (Characidae), mas pertencentes à

subfamília Bryconinae, que têm no gênero  Brycon várias espécies com potencial parapiscicultura. Estas espécies de maior valor econômico utilizadas em piscicultura são conhecidasvulgarmente nas Bacias Amazônica e Paraná-Uruguai, respectivamente, como matrinxã epiraputanga.

O matrinxã ( Brycon amazonicus) tem recebido maior atenção na pesquisa, com o objetivode viabilizá-lo na piscicultura. São peixes de coloração geral oliváceo-dourada, com nadadeirascaudal e anal prateadas ou levemente avermelhadas. Habitam águas limpas e são pescados comanzóis usando como iscas, frutas ou carnes de outros peixes A piracanjuba ( Brycon orbignianus)é uma espécie em extinção da bacia Paraná-Uruguai, onde ainda pode ser capturada,principalmente nos rios Grande e Paraná. Pertencem também à mesma subfamília, a piraputanga( Brycon microlepsis) cujos trabalhos de criação ainda são iniciais.

Ainda são poucos os sistemas de criação avaliados para essas espécies. No período determinação tem-se utilizado de 1 a 2 peixes/m² sendo também preconizado a sua criação emtanques redes, onde tem apresentado bons resultados.

O matrinxã, quando em ambientes pobres em oxigênio, expande o lábio inferior, o quepermite uma maior eficiência na captação de oxigênio. São peixes de hábito alimentar onívoro e,em condições naturais, são muito dependentes de alimentos alóctones, ou seja, frutos e sementes.Trabalhos de pesquisa obtiveram ganho de peso de 0,5 g/dia e uma conversão alimentar de 2,7:1,usando ração granulada. Em outros experimentos obtiveram produções de 2,75 a 3,61 ton/ha/anoem monocultivo de matrinxã. Segundo CIRYNO (1985), o matrinxã digere igualmente bem aproteína de origem animal ou vegetal e a energia pode ser obtida tanto a partir de carboidratoscomo de lipídeos. O autor admitiu que uma dieta com os níveis de proteína bruta de 35% eenergia de 2300 kcal EM/KG parece atender as exigências da espécie.

2.2.1- ReproduçãoSão espécies reofílicas, ou seja, necessitam da piracema para a reprodução no seu meio

natural. A maturidade sexual é atingida com 2 a 3 anos de vida, sendo que no período dereprodução o macho apresenta uma aspereza na nadadeira anal, liberando sêmen sob leve pressãoabdominal no sentido encéfalo-caudal, enquanto que as fêmeas apresentam o ventre abaulado emacio, com uma coloração rosada da papila genital. A reprodução induzida segue os padrõesnormais com o emprego de 0,5 a 5,0 mg/kg de peso vivo nas fêmeas, na primeira e segundaaplicação e para os machos, têm-se utilizado de 0,5 a 3,0 mg/kg de peso vivo, juntamente com asegunda aplicação das fêmeas. A incubação é feita numa densidade de 500 a 1000 larvas/litro,ocorrendo a eclosão das larvas num período de 10 a 15 horas após a fertilização.

2.2.2- Larvicultura e alevinagemA criação de larvas é um dos fatores mais limitantes no cultivo dessa espécie,

principalmente em função da elevada taxa de canibalismo que ocorre durante esse período.Visando esse canibalismo têm-se utilizado larvas de outros peixes e também organismos-

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alimento, como a artêmia (copépoda), ainda assim a taxa de sobrevivência é relativamente baixaquando comparada com outras espécies. A densidade nessa fase varia de 25 a 70 peixes/m².

Os tanques devem ser preparados de forma idêntica àquela realizada para a larvicultura ealevinagem do pacu, onde devem ser totalmente esvaziados, permanecendo expostos aos raiossolares por um período de cinco a sete dias e, posteriormente, realiza-se a calagem e adubaçãodos tanques.

O tipo e quantidade de esterco adicionado aos tanques influenciam no peso final médio,uma vez que ocorre uma variação quali-quantitativa no plâncton produzido, em função dosnutrientes que encontram-se disponíveis para a produção dos mesmos, assim como sua influênciasobre a qualidade da água. Experimentos feitos com adubos orgânicos de bovinos, aves e deeqüinos fornecidos na proporção de 500, 200 e 300 g/m², respectivamente, mostraram taxas desobrevivência de 37, 22 e 20% e comprimento final médio de 4,3, 3,1 e 3,9 cm, para os estercosde bovinos, aves e eqüinos respectivamente.

A desuniformidade do lote é um dos principais motivos de canibalismo, tornando assim a

alimentação adequada quanto á disponibilidade e tipo um dos fatores mais importantes para seobter uma taxa maior de sobrevivência durante esse período. Na fase de crescimento levam de 60a 90 dias para atingir 200 gramas. A densidade nessa idade é de 50.000 peixes/ha, com renovaçãoda água, aeração e ração flutuante. A produtividade média está em torno de 10.000 kg/ha comração mais esterco.

2.2.3- Alimentos e alimentaçãoSão espécies onívoras que se dão bem com dieta à base de proteínas animais e vegetais, o

que possibilita a utilização do farelo de soja em substituição á farinha de peixe, sendo importanteavaliar outra fontes protéicas em substituição ao farelo de soja para reduzir o custo comalimentação.

O nível de proteína na ração varia de 25 a 30% sendo recomendada a utilização de 30%na fase inicial e de 25 a 27% no período de terminação, com cerca de 3300 kcal de EM/kg deração na dieta, parcelada em duas ou três vezes ao dia, onde atingem cerca de 1,0 kg no períodode um ano, com uma conversão alimentar variando de 1,5 a 2,0:1, dependendo da disponibilidadee qualidade do alimento natural no viveiro.

2.2.4. ComercializaçãoSão espécies cuja carne apresenta elevado valor comercial, sendo também amplamente

preconizadas para a pesca esportiva. Ao peso de comercialização apresentam um bom rendimentode filé (cerca de 50%) com pele.

2. 3. DOURADO (Salminus maxillosus)É um peixe de piracema que apresenta coloração amarela-dourada, com reflexos

prateados, sendo uma espécie distribuída por toda a Bacia do Prata. Pertencem à subfamília dospeixes saltadores e, pela sua agressividade quando fisgado, é considerado um dos melhorespeixes para a pesca esportiva, além de possuir uma carne de grande valor comercial. Apresentauma elevada taxa de canibalismo e os custos com a alimentação dessa espécie, em todos osestágios, têm dificultado a viabilização econômica do seu cultivo.

Apresenta ainda corpo robusto e compacto, cabeça grande e forte, boca larga com duasfileiras de dentes. Na natureza chega a devorar 30 kg de alimentos para converter em 1,0 kg depeso vivo. São ainda altamente exigentes em oxigênio dissolvido.

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2.3.1- Reprodução e larviculturaÉ uma espécie reofílica, sendo que a construção das grandes usinas tem interferido na

migração dessa espécie, causando prejuízos á sua reprodução. O processo de reprodução induzidasegue ao obtido por outras espécies reofílicas. A sua larvicultura baseia-se em fornecimento dealimento à base de outros peixes e larvas de insetos. É um peixe muito sensível no manejo parareprodução induzida, sendo necessário usar tranqüilizantes para evitar traumatismos.

Embora os problemas relacionados com a sua reprodução já estejam praticamenteresolvidos, observa-se uma elevada taxa de canibalismo durante o período inicial, logo após aeclosão, cerca de 24 horas de vida. O problema do canibalismo só foi solucionado com regime deração balanceada, seis vezes ao dia, conseguindo assim zerar o canibalismo e chegar a ummodelo de engorda comercial do peixe. Além disso ainda é importante a produção dezooplâncton assim como a utilização de outras espécies forrageiras como alimento para essaespécie.

2.3.2. Sistema de criação e comercializaçãoO melhor sistema de criação em cativeiro para o dourado foi através dos tanques redes,

desenvolvida pela ITAIPU, onde estão sendo criados não apenas dourados, mas pacus epiracanjubas. Consiste numa balsa flutuante, sustentada por tambores. Seu piso é subdividido emcompartimentos fechados, feitos com rede de náilon, que ficam a profundidade de dois metros. Éum sistema de criação intensiva indicada para grandes massas de água, geralmente de boaqualidade das hidrelétricas. O sistema permite concentrar 45kg de peixe por m³, cerca de seisvezes mais que os tanques comuns. Cada módulo de 36m³ após um ciclo de 15 meses dá parapagar todo investimento. É considerado uma espécie de elevado valor comercial e ótimorendimento de carcaça, atualmente é muito procurado para pesca esportiva nos pesque-e-pague.

2.4. PINTADOO pintado (Pseudoplatystoma corruscans) é um peixe de couro bastante conhecido pelo

seu grande porte, podendo atingir mais de 3m de comprimento e peso superior a 100kg. É umaespécie encontrada principalmente nas bacias dos rios Prata, Uruguai e São Francisco.

O cachara (P. fasciatus) apresenta menor porte que o pintado sendo diferenciadoprincipalmente pela presença de manchas longitudinais ao longo do corpo. Seu grande valor demercado é amplamente conhecido, apresentando uma carne bastante apreciada, caracterizando-sepelo baixo número de espinhas. Os estudos visando a sua utilização na piscicultura ocorreramprincipalmente na década de 90, onde tem se buscado a viabilização da sua criação em cativeiro,ainda que sejam escassos os dados sobre crescimento e desenvolvimento.

2.4.1. Reprodução e larviculturaTambém é uma espécie de piracema que necessita da migração para reprodução, sendo

que atualmente através da reprodução induzida, tem-se obtido um grande número de larvas. Oprincipal fator limitante na larvicultura é a elevada taxa de canibalismo que ocorre logo após oinício da alimentação exógena.

Para a reprodução induzida os melhores resultados tem sido obtidos com as fêmeasrecebendo 0,5 a 5,0 mg de extrato de hipófise por kg de peso vivo, com os machos recebendo 1 a2 mg de extrato de hipófise por quilo de peso vivo, e como geralmente os reprodutores são demaior porte, quando comparados com outras espécies, leva a um maior custo de induçãohormonal por quilo de peixe. A extrusão dos óvulos é realizada com aproximadamente 240hs/º,numa temperatura média de 28,5ºC. O momento exato da aplicação dos hormônios indutores é

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percebido através da técnica chamada canulação. Ela consiste em aplicar um pequeno tubo,ligado a uma seringa, no poro genital da fêmea, para retirar alguns ovos diretamente do ovário. Otamanho e aparência desses ovos vão revelar se eles estão maduros ou não. Esta técnica permiteeconomizar boas quantidades de hormônios.

As maiores dificuldades com o pintado se diz respeito com a larvicultura pois amortalidade é muito alta. Para melhorar os índices de sobrevivência são utilizados pequenostanques redes com altura de até 20cm para os alevinos, pois estes preferem águas rasas, comcerca correnteza e boa oxigenação. Estudos têm demonstrado a possibilidade de obtenção detaxas relativamente elevada de sobrevivência, através do fornecimento de  Artemia durante operíodo que vai do início da alimentação exógena até o primeiro mês de vida. Também éimportante o fornecimento de plâncton, principalmente zooplâncton, parcelada em várias vezesao dia para evitar o canibalismo.

2.4.2. Sistema de criaçãoEssa espécie vive preferencialmente em grandes massas de água. O seu desenvolvimento

inicial ocorre nas lagoas marginais, onde encontra alimento adequado. Pelo fato de ser umaespécie recentemente introduzida na piscicultura, não existe uma padronização quanto ao sistemade cultivo. É utilizado principalmente em sistema extensivo e em consorciação com outrasespécies forrageiras, quer sejam para formação de plantel de reprodutores ou então para obteranimais para serem comercializados.

2.4.3. AlimentaçãoBaseia-se inicialmente em plâncton e ou  Artemia, sendo que estes também podem ser

associados com peixes forrageiros. Durante a fase adulta, no seu meio natural, alimenta-seprincipalmente de peixes, crustáceos e insetos. A utilização de vísceras de frango pode ser uma

alternativa de alimentação, mas é necessário observar a qualidade da água. Tem-se desenvolvidovárias dietas balanceadas, de alto valor nutritivo, portanto de alto custo. Para adequada taxa desobrevivência e de crescimento, manejo de adaptação às dietas artificiais é fundamental.

2.4.4. ComercializaçãoÉ uma das carnes de peixe de água doce mais apreciada e valorizada, comercializada na

forma de peixe inteiro ou postas, com a sua carne apresentando demanda garantida em qualquerépoca do ano. Essa espécie também tem sido comercializada para outros países como peixeornamental, onde tem alcançado bons preços. Os pesquisadores ainda não tem levantamentosconfiáveis sobre o ganho de peso do pintado em cativeiro. Estima-se que ele possa ganhar de 1,5a 2kg por ano.

2.5. TUCUNARÉO tucunaré (Cichlas ocellaris) é uma espécie proveniente da bacia amazônica, introduzida

no sul do país através das estações de usinas hidroelétricas, que entendiam naquela época, seremas espécies mais indicadas para a propagação em rios e reservatórios. A espécie mais conhecidada região é o tucunaré-açu (C. ocellaris), tucunaré comum ou tucunaré de porte maior que é otucunaré pinima ou tinga (C. temensis). São espécies bastante sensíveis às baixas temperaturas,entretanto tem-se adaptado muito bem em nossas regiões.

2.5.1. Reprodução

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O tucunaré cuida da prole após a eclosão, possuindo ovos relativamente grandes e emmenor número (cerca de 3000 a 5000 por desova). No período de reprodução, o macho apresentauma protuberância na região frontal da cabeça, daí a denominação de peixe zebu.

A reprodução ocorre em águas com temperatura em torno de 28ºC, onde procuraestruturas lisas e duras, tais como pedras ou troncos onde deposita os ovos fecundados que ficamaderidos entre si, sendo protegidos e mantido pelos pais até a eclosão.

2.5.2. AlimentaçãoNa larvicultura dessa espécie tem-se utilizado de organismos alimento, que são

encontrados no zooplâncton. O tucunaré pode ser considerado carnívoro estrito. Desenvolvemuito bem enquanto são alimentados com espécies forrageiras e possui capacidade de seremcondicionados a aceitarem determinados tipos de alimentos quando criados desde jovens emcativeiro. Também as duas espécies podem aceitar rações pastosas com alto valor protéico, apesarde na fase inicial de desenvolvimento preferirem organismos zooplanctônicos, e, à medida que

forem se desenvolvendo, podem aceitar rações.

2.5.3. Sistema de cultivoApesar do interesse da introdução dessa espécie em épocas passadas, hoje praticamente

são poucos utilizadas, a não ser para pesca esportiva ou para criação consorciada com espécies dealta prolificidade, como as tilápias, favorecendo seu controle. Nesse caso o tucunaré deve sercriado numa densidade populacional aproximada de 1:5, e em tanques de porte médio com áreaaproximada de 0,1ha.

2.5.4. ComercializaçãoSeu cultivo tem como objetivo a pesca esportiva. Usualmente, uma vez obtido o peixe,

retiram-se dois filés, ocorrendo uma perda muito grande na carcaça que é desprezada. Possuí carne de excelente sabor.

2.6. TRAIRÃOEm grande parte dos nossos mananciais de água lênticas (paradas) vamos encontrar a

conhecida traíra ou traíra comum ( Hoplias malabaricus). Por outro lado, encontramos também otrairão ( H. lacerdae), que originalmente ocupava a Bacia Amazônica.

São peixes carnívoros vorazes, apesar de movimentos lentos. Ressalva-se que o trairãopossuí porte bastante avantajado (até 20kg de peso vivo) em relação a traíra comum e que aquelevive mais em grandes rios, enquanto esta vive em lagoas pequenos mananciais. Sua pesca érealizada principalmente com iscas vivas, sendo a traíra pescada nos rios durante o período

noturno, caracterizando pela sua agressividade.

2.6.1. ReproduçãoTanto o trairão quanto a traíra possui ovos bastante desenvolvido e em pequenas

quantidades (cerca de 15000 a 25000 por peixe), se comparada com as espécies reofílicas.Entretanto essas espécies reproduzem-se em águas paradas pelo processo natural, mantendo oscuidados iniciais no período de incubação e após a eclosão das larvas. Os lotes são desuniformesapresentando uma elevada taxa de canibalismo.

Muitas vezes a propagação dos ovos da traíra e trairões é efetuada por pássaros piscívorosou aves aquáticas que transportam seus ovos, bastante pegajosos, junto às patas para diversosoutros mananciais. Procurando maximizar a taxa de eclosão e a sobrevivência larval, é possível

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se efetuar alguns manejos que auxiliam o processo reprodutivo dessas espécies. Nos tanquesconvencionais de terra pode-se construir uma área com cerca de 30cm de profundidade por 40 a50 cm de largura, ocupando todo o comprimento do tanque. Esta faixa pode ser protegida comaguapés e é onde os trairões farão os ninhos para a deposição dos ovos e sua posteriorfertilização. Estes ovos podem ser recolhidos e levados às incubadoras, ou então, permanecemnesse local até a eclosão, quando então as larvas serão transferidas para os tanques de primeiraalevinagem. Recomenda-se que esses tanques tenham pelo menos entre 100 a 200m², com umadensidade de um peixe para cada 5m² e farto substrato alimentar, pois são bastante agressivos. Oacasalamento ocorre no período mais quente do ano, entre setembro a março, quando se formamos casais que iniciam a construção dos ninhos para as suas desovas parceladas (3 a 4 desovas porperíodo).

2.6.2. Sistema de cultivo

Pode-se recomendar o seu consórcio com outros peixe, principalmente tilápias através dapredação. Apresenta crescimento rápido, sabor agradável da carne, rusticidade e controle deninhadas. Para as nossas condições pode ser introduzidos em represas ou açudes onde encontramoutras espécies para se alimentarem como: lambaris, barrigudos, carás e joana-guensas.Os tanques de larvicultura são bastante eutrofizados para a produção de organismos alimentos,além das espécies forrageiras.O trairão tem mostrado resultados bastante razoáveis utilizando em média 10 a 20% dapopulação, ou seja, uma proporção de 1 para 5, assim como tem se utilizado para o tucunaré ealgumas espécies carnívoras.

2.6.3. Alimentação

O trairão é essencialmente carnívoro e muitas vezes é espécie indesejável em tanques commanejo incorreto ou em açudes e represas. A sua larvicultura deve ser conduzida com alimentoszooplanctônicos em tanques previamente preparados ou através de  Artemia numa primeira fase.Já na segunda fase, deve-se fornecer espécies forrageiras que supram as necessidades dosalevinos, tomando-se os devidos cuidados nas duas fases para evitar o canibalismo que ocorrequando o manejo não está totalmente adequado.

2.6.4 ComercializaçãoO trairão apresenta carne saborosa, sendo considerado como inconveniente o elevado

número de espinhas, que torna essa espécie pouco indicada para comércio “in natura”, mas queindependente disso, é muito bem aceita em algumas regiões do país. Sua pesca é bastante

apreciada, em função da sua agressividade. Em um ano de cultivo obteve-se peixes com pesoacima de 600 gr.

3. OUTRAS ESPÉCIES NATIVAS DE IMPORTÂNCIA ECONÔMICA3.1. CURIMBATÁ ( Prochilodus lineatus) Fam. Prochilodontidae

São peixes de hábito alimentar iliófago (se alimentam do lodo). No geral, alcançam cercade 30, 35cm de comprimento e 500 a 1000gr de peso em um ano de cultivo. Alimenta-se,basicamente, de detritos orgânicos e fauna bentônica e, mesmo ração. A primeira maturaçãosexual ocorre com cerca de dois anos, sendo espécies de hábito reofílicas (migrador). A época dereprodução também ocorre nos meses chuvosos de fim/começo do ano. O curimbatá apresentagrande rusticidade e, portanto, grande potencial para a piscicultura intensiva (em policultivo, com

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baixa densidade do mesmo), semi-intensiva, com uso de fertilizantes, ou extensiva, pararepovoamentos, o que é facilitado pelo hábito alimentar iliófago. O curimbatá fêmea desova emtorno de 100.000 ovos por kg de peso corporal. Sua faixa térmica ideal, embora não hajatrabalhos conclusivos sobre o assunto, parece estar entre 20 a 26ºC.

3.2. PIAVUÇU ( Leporinus macrocephalus) Fam. AnastomidaeSão peixes de hábito alimentar onívoro, com predominância para herbívoro. Alimentam-

se basicamente de algas, raízes, folhas, frutos e larvas de insetos. São espécies reofílicas quedesovam uma vez por ano, são encontrados em lagos e rios marginais.

São facilmente adaptáveis as rações artificiais, sendo, portanto, recomendado paracriações intensivas em policultivo. Os piavuçus são ótimos para os pesque e pague devido ao fatode brigarem ao serem fisgados. Sua reprodução já está controlada pela indução hormonal.

Os peixes dessa família também apresentam potencial para a piscicultura como a piapara( L. piapara), do rio Paraná e o piau ( L. friderici) do rio Paraguai. São peixes muito utilizados

para extração de hipófises.

4. ESPÉCIES EXÓTICAS PARA PISCICULTURAApesar de ser proibida a criação a criação, reprodução e engorda de peixes exóticos no

Estado de Mato Grosso, pela Assembléia Legislativa, pela Lei Nº 6648 de 07/07/1995, éimportante o conhecimento das principais espécies comercializadas e alguns dados sobre a suabiologia e reprodução.

4.1. Família Cyprinidae•  Carpa (Cyprinus carpa):  tem sua origem na China à aproximadamente 3000 anos.

Chegou ao Brasil em 1882, com os primeiros criadores instalados no Vale do Paraíba. Sãoespécies muito rústicas e adaptáveis à várias amplitudes técnicas (4ºC a 35ºC). São muitoutilizadas para a obtenção de hipófises. São consideradas pragas (por se alimentar de outrospeixes), principalmente nos Estados Unidos, Austrália, África do Sul e Nova Zelândia. No Brasilsão criadas as seguintes carpas: Carpa comum ou de escamas (herbívora) (Cyprinus carpio);Carpa espelho (C. carpio variedade Specubris; Carpa colorida C. carpio var. korarl; Carpa capim(herbívoro) - Ctenopharyngodon idella (difícil reprodução); Carpa prateada (fitoplanctófagas) Hypopythalmichths melitrix; Carpa cabeça grande (zooplanctófago)  Aristichtys nobilis (difícilreprodução). Características Gerais: são peixes de água paradas e quentes embora suporte baixas temperaturas.Só se reproduz quando a temperatura da água ultrapassa 20ºC. Resiste bem a baixa quantidade deoxigênio dissolvido na água, suportando até 3,2mg/l. A carpa possui boa conversão alimentar,

rápido crescimento, primeira reprodução em torno de 8 a 10 meses, são resistentes ao manejo dacriação. O peso ideal para venda está próximo a 1kg sendo facilmente obtido aos 10 meses decultivo. A carpa comum não é espécie de piracema, mas a carpa capim a prateada e a cabeçagrande são reofílicas. Para a sua criação são necessários pelo menos 4 tanques ou viveiros: umpara reprodução e 3 para alevinagem, com medida de 80, 200 a 500m² para alevinos ereprodutores respectivamente. No tanque de reprodução devem ser estocados 2 a 3 machos porfêmea na densidade de 1 reprodutor para cada 10m² de tanque. A colocação de aguapés, galhosou cordas de náilon desfiadas, serve para aderir os ovos nas mesmas que são levados aosincubadores e posteriormente aos tanques de alevinagem. A incubação demora de 60 a 80 horas,variando um pouco com a temperatura. Após a eclosão as larvas permanecem 36 horas sem se

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alimentar e já no 2º dia de vida precisam encontrar alimentos (rotíferos e microcrustáceos), emquantidades suficientes. Com uma semana já podem receber rações finamente moídas.

4.2. Família Ictaluridae•  Bagre do Canal ( Ictalarus punctatus): bagre do canal ou Catfish é uma espécie norte

americana acostumada a clima mais amenos. Reproduzem-se naturalmente nos tanques, nointerior de caixas ou latas de 20 litros, com buracos por onde entram para as desovas. Retiradas aslatas, são levados os ovos para incubação em bandejas. Tanques de reprodutores, tamanho similarao da carpa. Densidade de estocagem 1 kg/5m² de viveiro na proporção de 2 machos para cadatrês fêmeas. A fêmea deposita em torno de 10.000 ovos por kg de peso corporal, sendo o machoque protege os ovos durante a incubação. Nestas condições a produção obtida é de 25.000alevinos por kg de peso da fêmea. Na recria ou engorda dos peixes, os alevinos devem serestocados à densidade de 50 a 100 exemplares por m².

4.3. Família Salmonidae•  Truta arco-íris (Onchorhynchus mikyss): é um peixe de águas frias originária dos

Estados Unidos, Europa e Japão. Foram introduzidas no Brasil em 1949. Os ovos vieramembrionados da Dinamarca. A intenção era suprir a ausência de peixes na Serra do Mar,Mantiqueira e Bocaina. É muito comum a comercialização dos ovos embrionados, sendocomercializados com 18 a 20 dias após a fecundação. Atingem 250gr com 12 meses de cultivo,alimentadas diariamente com rações peletizadas e extrusadas. Reprodutores atingem a maturidadecom 2 anos de recria pesando em torno de 600gr.Exigências das Trutas: disponibilidade de água com alto fluxo e baixa turbidez; altitudessuperiores a 1200 m; temperatura oscilando entre 8ºC e 20ºC, nunca superior a 26ºC; teor deoxigênio superior a 6mg/l; pH entre 6,5 a 8,0.

4.4. Família Cichlidae•  Tilápias (Oreochromis ssp.): são mais de 20 espécies conhecida por este nome.

Tilápia rendalli (O. rendalli): chegou ao Brasil em 1953, se alimenta principalmente de folhas devegetais superiores. Iniciam a reprodução com 5 a 6 meses de idade.Tilápia do Nilo (O. niloticus): apresenta listas verticais na nadadeira caudal. São bastante rústicase precoces. Alimentam-se principalmente de algas clorofíceas, que predominam nas águas doces.Aceita também qualquer outro tipo de alimento o que a torna interessante para a piscicultura.Começam a se reproduzir em torno de 6 meses de idade nos meses de setembro a abril, podendoocorrer duas desovas neste período. Podem ser alimentadas com estercos provenientes da criaçãode outros animais, bem como aproveitar sub-produtos industriais (cervejaria, resíduos de milho,arroz, soja, etc).Tilápia hornorum (O. hornorum): Foram introduzidas com objetivo de hibridação para engordaquando cruzadas com as fêmeas de tilápia do Nilo.

4.5. Família Centrarchidae•  Black Bass ( Micropterus salmoides): de origem americana, são peixes de escamas, com

coloração amarela esverdeada, de tonalidade mais escura no dorso e mais clara na região ventral,com manchas escuras ao longo do flanco. Vivem em águas limpas, tranqüilas e ricas em oxigêniodissolvido. Preferem temperaturas médias entre 18 a 26ºC, sendo 10 e 32º seus extremos desuporte. Atingem 500gr com 1 ano de criação. São de hábito alimentar carnívoro, exigindo alto

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teor de proteína na ração. Recomenda-se a sua criação em açudes com 2 a 3 m de profundidadecom áreas sombreadas para fugir do calor nos dias quentes. Podem ser consorciadas com lambari,tambaqui e acarás, que lhes proporcionarão alimento natural abundante e barato. É indicado parapesque e pague por ser agressiva ao ser fisgada. A carne é de boa qualidade para o consumo eapresenta excelente sabor. Período reprodutivo começa no 2º ano de vida e podem ocorrer duasdesovas por período que é chamado de desova parcelada. Podem desovar até 10.000 ovos para asfêmeas de maior porte. Preparam os ninhos em locais rasos, sendo que a eclosão ocorre em média4 a 6 dias após a fecundação.

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CAPÍTULO 6

A DESPESCA E PRINCIPAIS DOENÇAS EM PISCICULTURA

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1. A DESPESCAÉ a fase final de um processo criatório, na qual se encerra o cultivo e inicia-se a fase de

comercialização da produção. Portanto, os cuidados também devem ser redobrados, para não seperder toda uma tarefa já realizada. Hoje, há um grande mercado para peixes vivos, demandadapelos pesque-pagues, bem como a venda dos peixes frescos, recomendada pela sua aparênciafrente ao consumidor.

1.1. Preparo da DespescaAntes da despesca final deverão ser amostrados e avaliados (saúde, peso médio e número

de peixes no viveiro). Alguns sinais pode ser característica de boa qualidade dos peixes:•  Bom apetite;•  Baixos índices de mortalidade;•  Ausência de sinais de ferimentos.

Definida a data da despesca, os peixes devem ser mantidos em jejum por 2 dias, para quepossam suportar melhor o transporte a longas distâncias, principalmente para que a água estejasempre com boa qualidade. Os peixes podem regurgitar o alimento durante o transporte e com otrato digestivo vazio se estressam menos durante o trajeto.

1.2. Métodos de DespescaSão dois os tipos principais de despescas mais utilizados:

a)  drenagem dos viveiros e coleta dos peixes com rede ou nas caixas de coleta: esse métodonecessita ter a sua estrutura definida desde a definição do projeto de construção dosviveiros, pois é muito bem utilizada em açudes grandes, irregulares ou em grandesviveiros, onde a rede não funciona bem. É a única forma de garantir que todos os peixesserão retirados dos viveiros.

b)  Utilização de redes de Arrasto: neste método também é necessário abaixar o nível doviveiro. A rede é estendida em um dos lados menores e é arrastada lentamente até o outrolado, concentrando os peixes em um só local para facilitar a sua captura. Esta técnica érecomendada para viveiros pequenos, regulares, de fundo plano e sem obstáculos (tocos,raízes, etc). A rede de arrasto poderá ser selecionadora, quando as malhas permitam adespesca parcial dos peixes pelo tamanho, deixando os menores para atingir maiortamanho. As redes devem ser lavadas e secas ao sol, evitando, desta forma, roedores quepoderiam danificá-la ou mesmo transmissão de doenças de um tanque para outro.

1.3. Dados da DespescaDeverão ser mensurados para a avaliação técnica e econômica da atividade:

•  Número de peixes produzidos;•  Peso médio dos peixes;•  Taxa final de sobrevivência;•  Produção alcançada;•  Produtividade;•  Higiene e profilaxia na piscicultura.

Em qualquer tipo de criação sabemos que a higiene e medidas profiláticas são a melhormaneira de evitá-las. O peixe fica doente como qualquer outro animal. O Brasil é um dos poucospaíses que não tem laboratórios especializados no diagnóstico de doenças de peixes. Sem saber,

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muitas vezes o que fazer, resta aos interessados no assunto se armar de conhecimentosnecessários para sobreviver nesta atividade. Existem, entretanto, formas de diagnosticar, prevenir,e controlar doenças em ambiente de cultivo. As doenças encontradas em peixes cultivados podemser subdivididas em:

•  Doenças não infecciosas (ou não transmissíveis);•  Ambientais;•  Nutricionais;•  Neoplasias;•  Doenças infecciosas (transmissíveis);•  Vírus;•  Bactérias;•  Fungos;•  Parasitos.

2. DOENÇAS NÃO-INFECCIOSAS:2.1. Ambientais

Em geral aparecem quando os fatores ambientais estão fora da faixa ótima da espécie emcultivo, ou quando ocorrem mudanças bruscas desses fatores. Os fatores que causam as doençasambientais são:

•  Variações de temperatura;•  pH;•  Sólidos em suspensão;•  Toxinas endógenas e exógenas (efluentes, metais pesados, toxinas orgânicas

industriais, gases, agrotóxicos, etc).

2.2. Doenças nutricionaisFreqüentemente, as alterações no comportamento dos peixes são confundidas com

doenças, mas poderão ser de fundo nutricional, ocasionado pelo uso de rações desbalanceadas, oude baixa qualidade. Sempre deve se considerar esta opção, quando se muda do tipo de raçãocomumente utilizada ou em sistemas intensivos de produção. As doenças nutricionais podem terorigem de:

•  deficiência de aminoácidos essenciais;•  presença de toxinas na ração;•  deficiência de ácidos graxos essenciais;•  oxidação de lipídios;•  deficiência mineral;•  deficiência de vitaminas;•  armazenagem inadequada.

2.3. Doenças NeoplásicasA neoplasia ou câncer resulta do crescimento não controlado de células do próprio ser

vivo. É comum aparecer em peixes mais velhos e é limitado o aparecimento no plantel. Podeestar relacionado com os seguintes fatores:

•  Contaminação d’água por compostos químicos;•  Problemas de caráter genético;

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•  Danos mecânicos (tanques ou viveiros maus construídos, densidade populacionalalta, excesso de sedimentos em suspensão).

2.4. Doenças InfecciosasSão provocadas por organismos patogênicos ou oportunistas e podem ser transmitidas de

um peixe para outro. O viveiro poderá estar contaminado, ou ocorrer a contaminação por outrasfontes como:

•  Peixes invasores contaminados;•  Equipamentos contaminados;•  Água de abastecimento;•  Aves aquáticas contaminadas.

2.5. Doenças causadas por vírus

São agentes patogênicos microscópicos, que necessitam parasitar o interior de uma célulapara se reproduzirem. Em piscicultura, as doenças viróticas são de difícil controle e causamperdas muito rápidas nos peixes. A prevenção é a melhor forma de combatê-las, pois não existemtratamentos contra os vírus. A doença virótica mais conhecida é a viremia primaveril da carpa.

2.6. Doenças causadas por bactérias: Todas as espécies de bactérias causadoras de enfermidades em peixes são na realidade,

saprófitas, ou seja, que se alimentam de matéria orgânica em decomposição encontradanaturalmente no meio ambiente. São as maiores causadoras de enfermidade nos peixes (65%), otratamento envolve o uso de antibióticos.

2.7. Doenças causadas por fungos:São organismos multi-celulares e saprófitas. Poucas espécies são efetivamente parasitasde peixes, a maioria atua como oportunistas, quando ocorre exposição de tecidos mortos atravésde feridas ou quando a resistência do peixe está reduzida. São considerados por isso agentessecundários.

2.8. Doenças causadas por protozoáriosSão organismos unicelulares de vida livre, comensais ou parasitas. Na maioria das vezes

atacam parasitando os peixes.

3. AS PRINCIPAIS DOENÇAS:3.1. Vírus:

•  Viremia Primaveril da Carpa: ocorre perda de coordenação e equilíbrio,exoftalmia e ascite, hemorragia dos órgãos internos. Tratamento desconhecido.

3.2. Bactérias•  Furunculose: causada pela bactéria  Aeromonas salmonicida. Causa hemorragia

generalizada, úlcera na pele. Tratamento através de antibióticos.

3.3. Fungos

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•  Saprolegniose: causada pelo fungo Saprolegnia. Aparece crescimento das hifassobre o corpo como tufo de algodão. Tratamento: banhos com químicos utilizadospara ectoparasitas ou sulfato de cobre na proporção de 1:10.000.

3.4. Protozoários•  Ictiofitríase ou Doenças dos pontos brancos: o peixe fica hiperativo, ocorrendo

perda de apetite, pontos brancos na superfície do corpo e nas brânquias. O peixe sealoja na superfície da água ou próximo ao aerador ou entrada da água. Causamortalidade intensa. Única forma de tratamento é interromper o ciclo de vida doprotozoário, ou melhorar as condições da água de cultivo pode atenuar oproblema, juntamente com banhos com produtos químicos para ectoparasitas.

3.5. Ácaros

• Argulose: provocada pelo ácaro

 Argullus folillaciustambém é conhecido comopiolho das carpas. O peixe apresenta movimentos nervosos nas nadadeiras e

pontos avermelhados na pele.

3.6. Endoparasitas dos PeixesOs principais vermes dos peixes são do grupo dos nematóides. Apresentam-se nos

intestinos ou tecidos dos peixes. Parasitam muitas espécies de peixes de água doce e marinha,podem causar perda do valor do produto quando for encontrado na musculatura. O tratamento éatravés de vermífugos e desinfecção dos tanques.

O melhor tratamento utilizado em piscicultura é através da própria água, sendo também omais simples a ser utilizado. Existem alguns métodos de se fazer esse tratamento:

• DIP: é uma exposição rápida de alguns segundos ou minutos, realizada comauxilio de puçás num tanque ou caixa d’água. Devem ser aerados devido ao stresscausado aos peixes.

•  Banho rápido: realizado em pequenos tanques de concreto com fluxo de águacontendo a solução de tratamento. Sendo os peixes levados depois de tratados paratanques descontaminados.

•  Banhos de longa duração: realizado nos viveiros, reservatórios ou lagos, e quandonão se pode lançar mão dos métodos anteriores. Mistura os produtos de tratamentoem água, antes de administrá-los nos viveiros. Podem ser pulverizados na água oucolocados na entrada de abastecimento. Reduz-se o nível da água do viveiro atémetade da sua capacidade, sendo o produto adicionado lentamente por 20 a 30

minutos.

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CAPÍTULO 7

O CULTIVO DE PEIXES EM TANQUES-REDE

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1. INTRODUÇÃOA produção de peixes em tanques-rede possibilita o aproveitamento dos rios, dos grandes

reservatórios, dos estuários, dos lagos naturais e dos açudes espalhados por milhares depropriedades rurais por todo o país.

As primeiras iniciativas de criação nesse sistema esbarraram no desconhecimento dastécnicas de cultivo e na falta de rações nutricionalmente completas. O setor da aqüicultura naqual está inserida a piscicultura é o segmento da produção animal que mais cresce no cenáriomundial, tendo superado as taxas de crescimento da bovinocultura, da avicultura e dasuinocultura na última década. Segundo a Food and Agriculture Organization of the UnitedNations (FAO), a produção mundial de pescado proveniente da aqüicultura que representavacerca de 10,1 milhões de toneladas em 1984, passou para 32,9 milhões de toneladas em 1999,com 60% dessa produção cultivada em água doce.

O peixe é considerado alimento nobre e tem grande preferência pelos consumidores emmuitas culturas, superando os suínos e aves. Este fato aliado à tendência de declínio dos estoques

pesqueiros mundiais e à conseqüente estagnação da ofertas de peixes capturados, tem tornado apiscicultura uma atividade fundamental para a manutenção da oferta desses produtos.

O Brasil reúne condições favoráveis ao desenvolvimento da piscicultura. Além do enormepotencial dos mercados nacional e mundial, conta ainda com clima favorável ao cultivo deinúmeras espécies de peixes nas diferentes regiões, possui boa disponibilidade de área, grandeprodução de grãos e outros ingredientes usados nas rações, um parque industrial bastantedesenvolvido nas áreas de insumos e beneficiamento, grande número de técnicos especializadosem todos segmentos da cadeia produtiva e acima de tudo um invejável potencial hídrico. Comcerca de 5,3 milhões de hectares de água doce em reservatórios naturais e artificiais, conta aindacom uma extensa rede hidrográfica que pode ser parcialmente aproveitada na produção deorganismos aquáticos.

Somando-se ao incremento da produção nacional de pescado (204.000 toneladas em 2001)outros ganhos como a geração de milhões de empregos ao longo da cadeia produtiva e o aumentoda oferta de proteína animal de alta qualidade. Ganhos ambientais uma vez que o cultivo alivia apressão de captura sobre os estoques naturais. Adicionalmente, o estabelecimento da atividadecontribuiria muito para o uso sustentável dos recursos hídricos, por ser uma atividade totalmentedependente da qualidade do ambiente para alcançar resultados satisfatórios

2. O SISTEMA DE PRODUÇÃOO cultivo em tanques-rede (TR) é um sistema de produção intensiva no qual os peixes são

confinados sob altas densidades, dentro de estruturas que permitem grande troca de água com oambiente e onde os peixes recebem ração nutricionalmente completa e balanceada.

A produção de uma grande biomassa de peixes por unidade de volume (30 a 250 kg/m³) épossível devido à alta taxa de renovação da água dentro das unidades, que supre a demanda deoxigênio dos peixes e remove os dejetos e metabolitos produzidos. Além da qualidade doambiente aquático onde estão instalados os TR, o desempenho do cultivo depende da qualidadedos insumos (alevinos e rações), das técnicas de manejo da produção e, sobretudo, da dedicação ecapacidade técnica e gerencial do produtor.

2.1. Características da produção de peixes em tanques-rede (TR)•  Aproveitamento de ambientes aquáticos existentes, dispensando o desmatamento

de grandes áreas e a movimentação de terra, evitando problemas de erosão eassoreamento de rios e lagos;

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•  Baixo conflito pela ocupação da terra e pelo uso dos recursos hídricos;•  Reduzido custo de implantação e a rápida montagem da infra-estrutura de

produção;•  A possibilidade de uma rápida expansão na capacidade de produção, de forma a

atender o aumento na demanda do mercado;•  A mobilidade do sistema de produção, podendo ser deslocado para outros locais,

conforme a necessidade;•  O controle facilitado dos estoques de peixes e das colheitas;•  A maior proteção contra predadores naturais (aves, répteis, mamíferos e outros

peixes);•  A alta afinidade com a cultura dos pescadores, apresentando em comum o peixe e

o ambiente aquático com parte do seu cotidiano, tornando-se assim uma atividadeeconômica alternativa em regiões onde a pesca está em declínio;

•  A obtenção de um produto diferenciado, com baixa incidência e intensidade deproblemas como mau sabor (“off flavor”) no pescado.

Paralelamente ao estudo econômico, é recomendado que seja feito um estudo sobre oslocais disponíveis para a implantação do TR, levantando se existem restrições legais à suaocupação e verificando se as características ambientais atendem às necessidades da espécie e doregime de produção planejado. A escolha do local apropriado para a instalação é fundamental,pois influencia diretamente os custos de produção e o risco do empreendimento, pois a correçãoda qualidade da água em rios e reservatórios é impraticável.

3. TANQUES-REDE E GAIOLAS

A denominação de TR é empregada às unidades de cultivo que utilizam, para a contençãodos peixes, materiais que se comportam como uma rede na hora da colheita. Geralmente sãousados redes de multifilamento de poliamida, sendo a malha com ou sem nó. Outros materiaiscomumente usados e bastante resistentes são as telas de aço galvanizado revestido de PVC, ou astelas de aço inoxidável, trançadas no formato de alambrado, que podem apresentarcomportamento retrátil como uma rede, dependendo da orientação em que forem arrumadas naconfecção dos TR.

As gaiolas são estruturas fabricadas com material de contenção rígido, geralmente telas deaço, ou quando todo o perímetro da estrutura é rígido mesmo usando material flexível para ofechamento das laterais e do fundo. Telas plásticas também usadas na contenção de peixes emgaiolas, muitas vezes com armação de madeira ou de bambu, com arranjo das laterais e do fundo

na forma de grade.Os TR e as gaiolas geralmente são montados em estruturas flutuantes. No entanto, TRfixos com o uso de estacas também são comuns. A escolha do tipo de TR a ser utilizado depende,principalmente, das características do local onde serão implantados, da espécie de peixe sobcultivo, das dimensões das unidades, da finalidade de uso, da disponibilidade dos materiaisnecessários à sua construção e do custo de fabricação.

4. FATORES QUE AFETAM A PRODUTIVIDADE EM TANQUES-REDE (TR)Ao considerarmos um corpo aquático de área e volumes limitados (um açude, por

exemplo), a produtividade total do mesmo seria semelhante cultivando os peixes soltos ouconfinados em TR. O piscicultor menos experiente, ao visualizar o grande espaço superficial

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disponível devido ao confinamento dos peixes num pequeno volume de TR, tomaria a iniciativade aumentar o número de TR num próximo cultivo. Procedendo assim, aumentaria o risco depoluição da água do açude devido ao excessivo aporte de ração e, conseqüentemente, de mortedos peixes causados por problemas na qualidade da água.

Diversos fatores influenciam a biomassa de peixes capaz de ser alojada de formaeconômica dentro dos TR, como a qualidade do ambiente onde estão instalados os TR, aqualidade do alimento utilizado, a qualidade dos alevinos, as características da espécie de peixecultivado e a taxa de renovação de água no interior do TR. Esta, por sua vez, depende:

•  do tamanho/volume de TR;•  da velocidade das correntes de água;•  do formato do TR;•  da área vazada da malha.

4.1. Qualidade do ambiente onde estão os TRO potencial produtivo dos TR depende, em muito, da qualidade da água no ambiente onde

estão alocados. Diversos parâmetros de qualidade de água podem ser decisivos ao crescimento,conversão alimentar e saúde dos peixes. Os parâmetros ideais de qualidade de água estão natabela 1.

Tabela 1: Valores dos principais parâmetros de qualidade da água considerados adequados aobom desempenho produtivo e à manutenção da saúde dos peixes tropicais em tanques-rede.Variáveis Valores adequadosTemperatura (T) 26 a 30°COxigênio dissolvido dentro do TR (OD) > 60% saturação (> 4mg/L)

pH 6,5 a 8,0Alcalinidade total (AT) > 10 mg CaCO3 /L (>20 ideal)Dureza total (DT) > 10 mg CaCO3 /L (>20 ideal)Amônia tóxica (NH3) < 0,20mg/L NH3 Nitrito (NO2

-) < 0,30mg/L NO2- 

Gás carbônico (CO2) < 10 mg/L CO2 Turbidez mineral < 80 mg/L

A qualidade da água nos TR é de fundamental importância para o sucesso da produção.Os efeitos da má qualidade da água são agravados pelo confinamento e grande adensamento aosquais os peixes são submetidos. No ambiente natural os peixes têm a opção de procurar por locais

com melhores condições de qualidade da água. Isto não é possível aos peixes confinados em TR.Portanto, o piscicultor deve monitorar de perto as condições do cultivo, a fim de prevenir aocorrência de grandes alterações na qualidade da água, ajustando a biomassa de peixes estocadosao limite sustentável do açude ou represa, ou mesmo, no caso de grandes reservatórios,posicionando os TR em locais de qualidade de água adequada e constante.

Outro aspecto importante é o nível da água nos reservatórios. A amplitude destasvariações deve ser conhecida e estar dentro de limites toleráveis de modo a não prejudicar aqualidade da água. Um estudo detalhado das características sazonais do local onde os TR serãoimplantados pode evitar surpresas.

4.1.1. Grau de eutrofização do ambiente aquático

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O nível de eutrofização (enriquecimento em nutrientes) da água dos açudes ereservatórios, onde serão implantados os TR, pode ser avaliado indiretamente pela transparênciada água, medida com o Disco de Secchi (Tabela 2). Esta medida tem por finalidade avaliar adensidade da população de fitoplâncton na água, que normalmente está relacionado com ariqueza de nutrientes. No caso de águas com alta concentração de argila ou barro em suspensão(sólidos minerais) que interferem na transparência da água, a medida do Disco de Secchi éinadequada para avaliar o grau de enriquecimento em nutrientes.

Tabela 2: Avaliação do nível de eutrofização pela transparência da água e produtividade depeixes esperada (Adaptado de Schmittou, 1993).

Transparência no Disco deSecchi

Grau de enriquecimento emnutrientes

Expectativa de biomassa emtanques-rede de baixovolume/alta densidade

≥ 200 cm Pobre (oligotrófico) Alta (> 200 kg/m3)80 a 200 cm Médio (mesotrófico) Média (até 200 kg/m3)40 a 80 cm Rico (eutrófico) Regular (até 150 kg/m3)

Outro método que pode ser usado para a classificação do nível trófico dos corpos d’águacom plâncton ou com argila em suspensão é a determinação, em laboratório, da concentração defósforo presente na água. Em geral, os corpos d’água naturais têm baixa concentração de fósforo,que é um nutriente essencial para o crescimento do fitoplâncton e das plantas aquáticas. E comoos efluentes causadores de poluição nos corpos d’água geralmente são ricos em fósforo (orgânicoou inorgânico), este nutriente é comumente usado como indicador do nível trófico dereservatórios e rios. (Tabela 3)

Tabela 3: Relação de Vollenweider entre a concentração de P-total na água e os níveis tróficos dereservatórios (modificado de Esteves, 1988).Estado trófico de reservatórios Concentração de P-total na água (mg/m3)Ultra-oligotrófico < 5Oligomesotrófico 5 a 10Meso- eutrófico 10 a 30Eu-politrófico 30 a 100Politrófico > 100

4.1.2. Temperatura da água

A temperatura da água apresenta efeito direto sobre o consumo de alimento e na atividademetabólica dos peixes. Dentro da faixa de temperatura favorável para uma espécie, a taxa decrescimento aumenta com o aumento da temperatura até que esta atinja a faixa ótima para ocrescimento. Qualquer incremento na temperatura acima da faixa ótima resulta em redução noconsumo de alimento e, conseqüentemente, no crescimento. De um modo geral, o confortotérmico das espécies tropicais é alcançado dentro da faixa de temperatura entre 26 e 30ºC (Tabela4).

Tabela 4: Faixas de temperatura da água (°C) e desempenho esperado para os principais peixestropicais cultivados comercialmente.Temperatura (°C) Resposta esperada

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> 34 Maior incidência de doenças e mortalidade crônica30 a 34 Redução no consumo de alimento e no crescimento26 a 30 Crescimento ótimo< 22 Consumo de alimento e crescimento são bastante reduzidos< 18 Consumo de alimento e crescimento praticamente cessa10 a 15 Faixa letal para a maioria dos peixes tropicais

4.3. Oxigênio dissolvido e gás carbônicoAs concentrações de OD e CO2 dentro do TR podem variar em função da biomassa de

peixes estocada e da concentração destes gases na água do ambiente onde os TR estão instalados.A manutenção de adequadas concentrações desses gases no interior dos TR depende da

intensidade de troca de água entre os TR e o ambiente. A capacidade de renovação de água nointerior dos TR depende de diversos fatores. A concentração de OD no interior dos TR deve sersuperior a 4,0 mg de O2 por litro, a 28ºC, de forma a assegurar adequado crescimento e eficiênciaalimentar. A concentração de CO2 no interior dos TR não deve ultrapassar 10 mg de CO 2 porlitro. As principais fontes de gás carbônico são a respiração dos organismos aquáticos e adecomposição aeróbia da matéria orgânica.

Em equilíbrio com o ar, a concentração de gás carbônico na água está em torno de 0,5mg/l a 25ºC. Quando o CO2 está presente em altas concentrações na água, os peixes podemapresentar dificuldades na respiração. Concentrações acima de 25 mg/l de CO2 prejudicam odesempenho produtivo dos peixes, principalmente sob baixas concentrações de O2 dissolvido.

4.4. Renovação de água no interior dos TROutro importante fator determinante da produtividade no cultivo de peixes em TR é a taxa

de renovação da água no interior dos mesmos, que é promovida pelas correntes naturais e pelamovimentação dos peixes dentro dos TR. A facilidade de renovação da água depende, em grandeparte, do tamanho dos TR e da resistência das malhas à passagem da água.

4.4.1. Tanques-rede de pequeno ou grande volumeOs TR ou gaiolas são freqüentemente agrupados em duas categorias, de acordo com sua

capacidade volumétrica e produtiva: os TR de pequeno volume e alta densidade (PVAD) e os TRde grande volume e baixa densidade (GVBD). Na tabela 5 são apresentadas as principaiscaracterísticas e uma rápida comparação entre TR de pequeno volume/alta densidade (PVAD) edos tanques-rede de grande volume/baixa densidade (GVBD).

TR ou gaiolas de PVAD apresentam tamanho entre 1 e 4 m³ e permitem produzir entre 10e 250 kg/m³/ciclo. TR com volumes superiores a 18 m³ são considerados de GVBD, combiomassa econômica variando entre 20 e 80 kg/m³. Também são utilizados tamanhosintermediários entre 6 e 18 m³ com produtividades entre 50 e 100 m³

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Tabela 5: Comparação de algumas características dos tanques-rede de pequeno volume/altadensidade (PVAD) e dos tanques-rede de grande volume/baixa densidade (GVBD).Características TR de

PVADTR de GVBD

Volume útil (m3) Até 6 Acima de 18Capacidade de renovação de água Maior MenorBiomassa econômica (kg/m3) 100 a 250 20 a 80Custo de implantação por m3 Maior MenorPorte do empreendimento onde são mais utilizados Pequeno GrandeTempo de retorno do capital investido Menor MaiorCusto de mão de obra/m3 de volume útil Maior MenorCusto de mão de obra/kg de peixe produzido Menor Maior

4.4.2. Capacidade de suporte em TRCapacidade de Suporte (CS) é um termo utilizado para definir a máxima biomassa

sustentável dentro de uma unidade de cultivo. Quando a capacidade de suporte é atingida o ganhode peso ou de biomassa da população estocada é zero, ou seja, os peixes param de crescer. Nacapacidade de suporte, algum fator limitante restringe a continuidade da produção. A quantidadede O2 dissolvido na água é o primeiro fator limitante ao aumento de produção nas unidades decultivo.

No cultivo de peixes em TR, a CS, expressa em quilos de peixe por metro cúbico (kg/m³),em geral, está relacionada de maneira inversa ao volume (tamanho) das unidades de produção. OsTR de PVAD permitem alcançar uma maior capacidade de suporte comparados aos tanques de

GVBD. A principal razão disso é a maior taxa de renovação de água, e conseqüentemente maioraporte de oxigênio, em tanques de pequeno volume:

Muitas vezes as correntes em represas e açudes são pequenas. Como explicar as bemsucedidas produções de peixes em TR sob alta densidade nesses locais. O deslocamento de águapromovido no interior dos TR pela natação dos peixes é responsável pela troca de água e areoxigenação do interior dos TR. Desta forma, quanto menor for a massa de água contida nointerior dos TR, em relação à biomassa de peixes estocada, mais facilmente ocorre renovação daágua nos TR. Em TR de grande volume, a distância do centro às laterais é maior, comparado aos

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TR de pequeno volume. Isto faz com que os peixes consigam deslocar apenas parte da massa deágua da região central para fora dos TR, não realizando, portanto, uma renovação e oxigenaçãotão eficaz.

Apesar das inúmeras vantagens observadas com o uso de TR de pequeno volume e altadensidade, estes não são aplicáveis ao cultivo de todas as espécies de peixes, tampouco sãorecomendados para determinados tipos de ambientes. Sendo assim, alguns aspectos importantesdevem ser considerados na escolha desse sistema, como exemplo:

a-  alguns peixes, principalmente aqueles de hábito pelágico, que exercem grande atividadenatatória e/ou são comercializados com grande porte não se adaptam a TR de pequenasdimensões.

b-  No planejamento de empreendimentos visando uma grande escala de produção deve serfeita uma análise detalhada das vantagens do uso de TR de pequeno volume, pois, anecessidade de trabalhar com um número muito elevado de unidades de produçãodemanda um maior gasto operacional com alimentação, movimentação e colheita dos

peixes.c-  Em ambientes pouco protegidos, onde ventos intensos ocorrem com freqüência, o uso de

TR de pequeno volume é pouco vantajoso porque a alimentação que normalmente é feitacom auxílio de barcos fica prejudicada ou até mesmo é impedida devido à formação deondas.

4.4.3. Resistência das malhas à passagem da águaA facilidade com que a água é trocada entre o interior do TR e o meio aquático depende

da área vazada das malhas nas laterais e no fundo dos TR. A percentagem de área vazada variaem função da abertura das malhas e da espessura do material (fios multifilamento ou telas) usadona confecção dos mesmos. Também depende do acúmulo de materiais orgânicos e do

crescimento de algas que podem causar a obstrução parcial das malhas (colmatação), dificultandoa renovação da água do interior dos TR.

Os TR devem ser confeccionados com malhas de abertura suficientemente pequena paraimpedir a fuga dos peixes estocados. Com o avanço do cultivo é recomendado o aumento notamanho da malha para melhorar a renovação da água. Isto possibilita uma maior densidade deestocagem e produtividade, além de reduzir os riscos de problemas na qualidade da água dentrodos TR, decorrente da colmatação das malhas.

Em geral o tamanho das malhas usadas em TR pode variar de 5 a 30 mm (distância entrenós), dependendo da fase de cultivo dos peixes. Malhas de tamanho muito grande facilita aentrada de outros peixes indesejáveis ao cultivo como lambaris, carás, mandis, piaus, piranhas eoutros. Estes peixes competem com os peixes estocados no momento da alimentação,

prejudicando o crescimento e a conversão alimentar, onerando assim o custo de produção.

5. ASPECTOS CONSTRUTIVOS DOS TANQUES- REDE E GAIOLASOs TR e gaiolas vêm sendo construídos com uma grande variedade de materiais

estruturais, tipos de malhas e telas; diversos formatos e dimensões; diferentes estruturas deflutuação ou fixação.

5.1. Malhas e componentes estruturaisOs materiais utilizados nas malhas e nas estruturas de sustentação e de flutuação dos TR e

gaiolas devem apresentar as seguintes características:•  Boa resistência ao esforço mecânico e corrosão;

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•  Resistência mínima à passagem de água;•  Material deve ser o mais leve possível e de baixo custo;•  Material não abrasivo ou cortante, que possa causar ferimento aos peixes;•  Simples reparo, manuseio e limpeza.

5.1.1. As malhasAs redes de multifilamento com ou sem nós, as telas plásticas rígidas, telas metálicas

rígidas de aço galvanizado com revestimento plástico (PVC) rígido ou sanfonado estão entre osmateriais mais comumente utilizados na confecção dos TR e gaiolas (Tabelas 6 e 7).

5.1.2. Componentes estruturaisEm alguns projetos de gaiolas de PVAD, a própria tela da gaiola serve como estrutura,

havendo apenas a necessidade de algum acessório para flutuação. Os TR de PVAD sãonormalmente individuais e não possuem nenhum tipo de passarela com o piso à sua volta. Estesmodelos são geralmente construídos usando tubos e perfis metálicos na armação superior ondesão presos a malha e os flutuadores.

TR de GVBD são comumente montados utilizando estruturas de sustentação para asmalhas dispostas como plataforma periférica. Estas plataformas proporcionam além desustentação física às estruturas, facilidade na execução das rotinas de alimentação e no manuseiodos peixes, nas transferências, estocagens e colheitas. Os TR de grande volume que utilizamplataformas compartilhadas devem possuir articulações entre as unidades que dêem flexibilidadeà estrutura. A ocorrência de ondas freqüentes e estruturas rígidas com vários TR sofrem granderisco de serem rompidas.

5.2. FlutuadoresAs estruturas que permitem a flutuação dos TR ou das plataformas podem ser feitas com

tambores e galões de plástico ou metal podendo ainda ser preenchidas com espuma depoliuretano, tubos de PVC com as extremidades tampadas e vedadas, blocos de isopor(poliestireno) com revestimento impermeabilizante, bambus, toras de madeira, entre outrosmateriais.

Os flutuadores devem conferir boa estabilidade e serem vedados à entrada de água paraproporcionar segurança às estruturas.

5.3. Sistemas de fixação dos tanques-redeOs TR podem ser fixados individualmente ou em conjunto ao longo de cabos de aço ou de

nylon. As extremidades dos cabos podem ser presas às margens ou fixados ao fundo da represaou do lago com o uso de âncoras ou poitas (Figuras 1 e 2). A escolha do tipo de fixação deve serfeita respeitando as exigências legais e com base nas características do ambiente serão instaladosos TR. O sistema de fixação deve ser projetado de modo a:

•  não interferir no tráfego de embarcações, sobretudo quando as extremidades doscabos forem presas às margens;

•  possibilitar ajustes de acordo com o nível da água no local onde serão instaladosos TR;

•  a profundidade do local onde as âncoras ou poitas poderão ser lançadas,considerando a operacionalidade e os custos

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•  as características físicas do fundo onde serão lançadas as âncoras ou poitas(predomínio e areia, lama (argila) ou pedra.

Figura 1: Esquemas para fixação de tanques-rede em represas e grandes reservatórios.

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Figura 2: Tanques-rede individuais e conjugados: (a) sem piso e ancorados em conjunto; (b) compiso e ancorado individualmente; (c) com piso individual e ancorados em conjunto; (d) pisocompartilhado formando uma plataforma.

Os tipos de solo do fundo do corpo d’água onde serão lançadas as poitas ou âncorastambém têm grande influência sobre a eficiência de fixação dessas estruturas. Solos argilosos têm

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menor coeficiente de fixação, seguido dos solos argilo-arenosos e finalmente os solos arenosos.Portanto, a fixação feita com âncoras e poitas em solos argilosos requer estruturas maiores parasustentar o mesmo número de TR comparado a fixação em solos arenosos. Existem diversos tiposde âncoras que podem ser usadas pára fixar os TR (Figura 3). Entre as mais comuns estão ostipos Bruce e Danforth. As poitas de concreto também podem ser usadas.

Figura 3: Tipos de âncoras freqüentemente usados para fixar tanques-rede.

Quando os TR são fixados usando âncoras ou poitas, os cabos de nylon ou de aço queligam os tanques à ancoragem devem ter comprimento total de no mínimo três vezes aprofundidade máxima do local para garantir que as âncoras permanecerão bem cravadas aofundo. Caso a opção seja o uso de cabos de nylon na ancoragem, é recomendado usar uma

composição de cerca de 1/3 do comprimento total com corrente de aço e 2/3 com o cabo denylon. A corrente que será presa à âncora auxilia na fixação da mesma, pois seu peso ajuda amanter o cabo paralelo ao fundo.

A bóia usada no sistema de ancoragem deve ficar a uma distância de aproximadamente 10m dos tanques ou da plataforma, e sua capacidade de flutuação deve ser equivalente a cerca de1,8 vezes o peso do cabo que sustenta.

5.4. O tamanho e o formato dos tanques-rede ou gaiolasQuanto maior for a relação entre a área lateral e o volume do TR, maior será o potencial

de renovação da água do interior do mesmo. TR ou gaiolas de PVAD apresentam relação árealateral/volume superior aos TR e gaiolas de GVBD. Por exemplo, um TR de 2x2x1 m, ou seja, de

4m³ tem uma relação de 8 m² de área lateral, para cada 4m³ de volume, ou seja, uma relação de8:4 ou 2:1; enquanto isso um TR de 5x5x2 m apresenta 40 m² de área lateral e 50 m³ de volume,ou seja, uma relação área lateral/volume de 40:50 ou 0,8:1. Assim, quanto menor o TR ou agaiola, maior a renovação de água e o potencial produtivo do mesmo. Contudo, o uso de TR dePVAD pode não ser a melhor opção no cultivo de peixes pelágicos e de espécies cultivadas atégrande porte, a exemplo dos salmões, atuns e pirarucus.

TR de formato retangular ou quadrado são mais eficientes no que diz respeito à renovaçãode água do que os TR redondos, hexagonais ou octogonais (formas cilíndricas) pois nesses háuma tendência de desvio de parte da água que incide sobre as laterais. (Figura 4).

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Figura 4: Movimento da água através de tanques-rede com formato cúbico ou cilíndrico.

5.5. CoberturaOs TR devem ser preferencialmente cobertos para impedir que os peixes saltem para fora

e, também, para que seja evitado o acesso de animais aquáticos e pássaros predadores. As tampasdos tanques devem ser opacas para reduzir a incidência direta de luz solar (raios ultravioleta)sobre os peixes e também atenuar o estresse (intimidação) causado pela presença de pássaros eoutros animais sobre o TR.

Peixes como o bagre do canal e o surubim ou pintado, definitivamente se beneficiam daredução na entrada de luz na água. Com tilápias e outros peixes o efeito da cobertura opaca não é

tão pronunciado.

5.6. ComedouroO comedouro é uma importante estrutura auxiliar dos TR. Quando a alimentação é feita

usando rações extrusadas flutuantes, podem ser usados anéis de alimentação flutuante, oucomedouros fixados à própria tampa do TR e que se estendam cerca de 30 a 40 cm abaixo dasuperfície da água. Outra possibilidade é a utilização de um anteparo com tela (de abertura menordo que o tamanho dos grãos de ração) ao longo de toda a extensão das laterais dos TR. Oscomedouros de superfície devem cobrir pelo menos 40 a 50% da superfície do TR. As telas eanteparos laterais dos comedouros devem se cerca de 30 a 40 cm abaixo e pelo menos 20 cmacima da superfície.

Alguns peixes que se alimentam no fundo necessitam de um anteparo para que a raçãonão se perca ou mesmo um cocho de fundo com a ração sendo fornecida por um tubo de PVC(Figura 5).

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Figura 5: Representação de três tipos de comedouro: (a) anel de alimentação usado para rações

flutuantes; (b) bordadura com tela fina interna ao redor do perímetro do tanque-rede; (c) cocho defundo de descida da ração para uso de rações peletizadas.

5.7. Disposição dos tanques-rede em relação a outros tanques-redeOs TR devem ser dispostos no ambiente de maneira que a água de baixa qualidade que sai

de um tanque não entre em outro logo a seguir e assim, prejudique o crescimento dos peixes. Écomum se observar a disposição de TR alinhados e encostados uns aos outros, o que prejudica atroca de água com o ambiente e reduz a produtividade do conjunto. É recomendado manter umadistância mínima entre cada TR de 2 a 3 vezes o tamanho do próprio TR (Figura 6).

Figura 6: Tanques-rede dispostos de forma aglomerada prejudicando a circulação de água etanques-rede alinhados com espaçamento adequados para facilitar a passagem da água.

6. O PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO EM TANQUES-REDEA capacidade de suporte (CS) representa a máxima biomassa sustentada por volume de

TR. É expressa em quilos de peixe por metro cúbico de volume útil ou submerso do TR. Dizemos

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que um TR atingiu a CS, quando o incremento em biomassa for nulo. O primeiro fatordeterminante da CS é a concentração de oxigênio dissolvido no interior do TR.

No Brasil já há o registro de biomassa próxima de 480 kg/m³ no cultivo de tilápias, istonos dá uma idéia que em TR de PVAD a CS gira em torno de 500 a 700 kg/m³ . Em TR deGVBD a CS geralmente é atingida com cerca de 80 a 120 kg/m³. Quando a biomassa dentro deum TR se aproxima da CS, aumenta o risco de mortalidade e perda da produção devido à máqualidade da água no interior do TR ou à maior incidência de doenças e parasitoses.

6.1. Biomassa Econômica (BE)Na produção de peixes, busca-se garantir ótimas condições de alimentação, qualidade da

água e manejo da produção para manter um ritmo adequado de crescimento e obter bons índicesde conversão alimentar, almejando, ao final, o maior acúmulo de lucro possível. A produção emTR segue o mesmo princípio e tem como meta atingir a biomassa que resulta no maior lucroacumulado, ou seja, a biomassa econômica.

Produzir a máxima quantidade possível de peixes em um TR (ou seja, atingir a CS) nãosignifica máximo lucro. O ponto de BE (ou de máximo lucro acumulado) está bem antes da CSser atingida. Isso ocorre porque quando a produção em um TR vai se aproximando da CS, osíndices de desempenho pioram acentuadamente, sobretudo a conversão alimentar e o ganho depeso diário. E como a ração é o insumo de maior custo individual na piscicultura em TR, o custode produção do peixe aumenta e a lucratividade diminui. Incrementos na biomassa, além da BE,resultam também na diminuição progressiva dos lucros acumulados no cultivo até então.

Em viveiros, a BE geralmente está entre 60 a 80% da biomassa na capacidade de suporte.No Brasil há relatos de produção de tilápias em gaiolas de 4 e 5 m³ onde o melhor retornoeconômico na produção foi obtido com biomassa entre 150 e 250 kg/m³. Outros dados dos EUAsugerem metas de produção ao redor de 200 kg/m³ em TR de PVAD. Em TR a produção pode

variar de 180 a 250 kg/m³ em TR de 1,0 m³, 90 kg/m³ em TR de 10 m³ e 45 kg/m³ em TR de 15m³. Estes valores foram considerados próximos da biomassa econômica em cada situação. Emgaiolas de GVBD, de forma geral, a BE para a produção de tilápias gira em torno de 20 e 80kg/m³. É importante ressaltar que os valores de BE podem variar significativamente para umadeterminada espécie sob diferentes condições de cultivo, assim como entre diferentes espécies.

7. CAPACIDADE DE SUPORTE DE PEQUENAS REPRESAS E AÇUDES COMTANQUES-REDE

Os limites de capacidade de suporte e os níveis máximos de alimentação sugeridos para ocultivo de peixes em viveiros servem como referência para estabelecer a CS no cultivo de TRinstalados dentro de viveiros, pequenas represas ou açudes particulares. Assim, não é possível

produzir, em TR ou gaiolas, biomassa de peixes que excedam a capacidade de suporte observadano cultivo de peixes livres nesses viveiros. Por exemplo, em uma represa com pouca renovaçãode água a CS (biomassa máxima) gira em torno de 6000 kg/ha quando se cultivam peixes livres.Se no próximo ciclo de cultivo o piscicultor quiser instalar TR nesta mesma represa e produzirapenas peixes confinados, ele não poderá contar com uma produção superior aos da represa (6000kg/ha), mesmo que a área ocupada pelos TR represente apenas uma pequena fração da área darepresa.

Os peixes confinados não conseguem procurar áreas com melhor qualidade de água emuitas vezes nem conseguem acesso à superfície quando o oxigênio se torna crítico, o que poderesultar em mortalidades massivas e repentinas. O nível máximo de alimentação nessas condiçõesnão deve ultrapassar 20 a 30 kg de ração/ha/dia. Isto é suficiente para sustentar uma biomassa

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econômica de 2000 a 3000 kg de peixe/há sem grandes prejuízos na qualidade da água da represaou açude.

Tabela 6: Tamanhos de malhas recomendas para o cultivo da maioria das espécies em tanques-rede.Faixa de peso do peixe (g) Tamanho da malha (mm)1 a 5 55 a 20 820 a 200 13200 a 500 18 a 25Acima de 500 > 25

Tabela 7: Abertura livre para a passagem da água em 1m

2

de tela do tipo alambrado com fio deaço galvanizado revestido de PVC.Diâmetro do fio usado na tela 1 Tamanho da malha

2,14 mm (BWG 18) 2,55 mm (BWG 16)19 x 19 0,79 m2 0,75 m2 25 x 25 0,84 m2 0,81 m2 32 x 32 0,87 m2 0,85 m2 1 O diâmetro do fio pode variar de acordo com o fabricante, dependendo da espessura da camada de PVC usada.