Apostila Prevenção Apostila Prevenção e Primeiros Socorros 2015

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LATE-UFRJ|2015 1 Primeiros Socorros 8ª Edição Atualização 2015 Prevenção e

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Primeiros socorros

Transcript of Apostila Prevenção Apostila Prevenção e Primeiros Socorros 2015

LATE-UFRJ|2015

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7ª Edição Atualização 2014

Primeiros Socorros

8ª Edição Atualização 2015

Prevenção e

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“Se alguém procura a saúde, pergunta-lhe primeiro se está

disposto a evitar no futuro as causas da doença (...)”

Sócrates, Filósofo grego

“O destino do traumatizado está nas mãos daquele que faz o

primeiro curativo.”

Nicholas Senn, Cirurgião Norte-americano

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AGRADECIMENTOS

A todos os colegas já formados que iniciaram esse projeto, essa família, e que ainda

lutam pela mudança da triste realidade do trauma e emergência no país, agora não mais

somente como meros espectadores.

A todos os orientadores, que nos guiam e auxiliam nessa incessante busca pelo

conhecimento.

Aos acadêmicos da UFRJ que apoiam o nosso trabalho, incentivando-nos a aprimorar

nossas atividades, sempre em busca da excelência.

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APRESENTAÇÃO DA LIGA DE TRAUMA E EMERGÊNCIA

DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

O trauma, considerado hoje uma doença, é a principal causa de óbito em indivíduos de

20 a 40 anos e representa um enorme e crescente desafio ao País em termos sociais e

econômicos. Entende-se por trauma todo tipo de lesão ao organismo, causada por

energias externas. Os acidentes e os eventos de violência no Brasil configuram um problema

de saúde pública, de abordagem interdisciplinar, de grande magnitude e transcendência, que

tem provocado forte impacto na morbimortalidade da população.

Por todo o Brasil, há mais de 10 anos, vêm sendo criadas organizações em

Universidades com o intuito de discutir, treinar e educar estudantes e sociedade a respeito da

real situação do trauma no Brasil, bem como o desenvolvimento de estratégias de prevenção,

combate ao acontecimento de tais eventos.

No início de 2006, por iniciativa do acadêmico do curso de Medicina Rodrigo Rego

Barros, formou-se um pequeno grupo de alunos interessados em discutir e se aprofundar nos

temas de Trauma e Emergência, tendo como fatores motivadores o grande interesse pelas

áreas e a experiência prévia em resgate e suporte básico e avançado de atendimento ao

trauma, obtida ao longo da graduação por alguns dos membros do grupo.

Nascia, assim, o embrião da LATE-UFRJ, uma ideia amadurecida ao longo de

inúmeras reuniões que se seguiram. Em 13 de março de 2007, com a estruturação dos

estudos desenvolvidos pelos membros do grupo, com o apoio recebido de professores-

orientadores da UFRJ e com a ampliação do campo de relacionamento com outras Ligas

Acadêmicas de Trauma e Emergência em nível nacional (VII Congresso Brasileiro de

Atendimento Integrado ao Trauma e o CoBraLT- Comitê Brasileiro das Ligas de Trauma), os

elementos necessários para a criação de uma nova entidade estavam reunidos e, assim, foi

realizada a Cerimônia de Inauguração da LIGA ACADÊMICA DE TRAUMA E EMERGÊNCIA

DA UFRJ.

Seus principais objetivos são:

I. Proporcionar aos seus membros, orientadores e à comunidade acadêmica da área da saúde

um novo espaço para a discussão e aprofundamento de temas, casos clínicos, novas técnicas

e condutas relacionados ao tema Trauma e Emergência;

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II. Promover e incentivar a produção científica por intermédio de Projetos de Pesquisa,

Jornadas, Seminários, Congressos e outros eventos relacionados e de caráter local, bem como

a participação de seus membros em eventos realizados em outras localidades;

III. Promover a integração entre o sistema de ensino Universitário e a sociedade;

IV. Promover parcerias com entidades que atuam na prevenção e combate aos eventos de

Trauma e Emergência para capacitar, treinar, simular e organizar eventos, que resultem em

uma melhor formação dos acadêmicos, bem como promover o apoio necessário à continuidade

desses trabalhos;

V. Promover integração entre as diversas áreas e cursos ligados direta ou indiretamente ao

Trauma e Emergência, por meio de uma abordagem interdisciplinar e multidisciplinar;

VI. Promover projetos de responsabilidade social frente ao impacto que a temática gera;

VII. Promover cursos de Qualificação Profissional no âmbito acadêmico; e

VIII. Promover e aumentar a visibilidade da Instituição Universitária Pública Federal (UFRJ)

como formadora de profissionais-cidadãos capacitados e preocupados com a sociedade em

que vivem.

Ao longo dos seus oito anos de existência, a LATE-UFRJ realizou e realizará ainda

inúmeras atividades de extensão sempre contando com o apoio de diversas entidades

parceiras de nossa luta.

Agradecemos pelo apoio e confiança em nós depositados durante todos esses anos,

desde a nossa criação. Temos agora uma grande responsabilidade por toda expectativa e

potencial que desenvolvemos, pelas atividades que pretendemos e iremos realizar.

Gostaríamos que você viesse fazer parte dessa iniciativa e família, a fim de perpetuar nossa

eterna busca pela excelência.

Cordialmente,

Coordenação LATE-UFRJ

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CARTA AO LEITOR Caro leitor,

Esse material, assim como tudo em nossa Liga, é resultado de um esforço conjunto de

inúmeros membros e diretores que passaram pela LATE e deixaram suas contribuições, assim

após passar por revisões, para que possamos oferecer-lhe o que há de mais recente na

literatura mundial sobre esse vasto tema que é a Prevenção e os Primeiros Socorros, no

âmbito do Trauma e da Emergência, chegamos a nossa 8° edição.

Bem vindo a “menina dos olhos da LATE”! Essa expressão carinhosa, que eu ouvia do

presidente do ano em que ingressei na Prevenção, me fez despertar para o quanto era

importante essa área, que muitas pessoas, infelizmente, não conseguem reconhecer a

validade de estudar e se dedicar a temática da prevenção e primeiros socorros. Entretanto,

existe outra parcela que, como você, compreende a magnitude e o valor destes

conhecimentos. Percebendo que a grande maioria dos traumas poderia ter sido evitada se

houvessem sido empregadas medidas de prevenção e que esses conhecimentos devem ser

levados à população para que reais mudanças ocorram.

Como muitos de vocês, em 2012, me encantei pela LATE, suas grandes atividades e a

família que eles tanto falavam, queria fazer parte disso e contribuir também e posso dizer que

sem dúvida foi a melhor coisa que fiz na faculdade. Ao longo desses anos, aprendi a

verdadeiramente amar a LATE, pode parecer loucura, mas foi isso que aconteceu, o

aprendizado, oportunidades e amizades que a Liga me proporcionou nunca conseguiria fora

dela.

Este ano tenho um objetivo como presidente, fazer os futuros ligantes sentirem a

mesma coisa, sentirem que juntos podemos aprender e ensinar mais, que podemos realmente

salvar vidas, mesmo que indiretamente, e que podemos nos tornar profissionais melhores,

independente de onde estivermos.

Porém, tudo isso irá depender de cada um de vocês, posso afirmar que os

conhecimentos que você irá adquirir, serão proporcionais a dedicação que está disposto a

oferecer para a Liga, não somos uma matéria da faculdade onde o seu nível de aprendizado é

avaliado por uma nota, aqui o único que pode dizer o que você aprendeu é você mesmo.

Gostaria de poder ter na liga todos aqueles que desejassem, mas atualmente nossa

estrutura física, material e pessoal não permite isso, nos levando a limitar o número de vagas.

Pois nossa grande preocupação é gerar um ambiente de grupo harmonioso, capaz de estudar,

discutir, treinar, se aperfeiçoar, ensinar e gerar conhecimento com qualidade.

Espero que a leitura dessa apostila seja o seu primeiro passo na Família LATE e que

na próxima edição desta apostila tenha a sua contribuição também.

Atenciosamente,

Lucas Pena de Araújo Góes

Presidente da LATE-UFRJ

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PREFÁCIO

Preparamos esse novo material de forma mais objetiva, com o intuito de tornar a sua

leitura mais dinâmica e aprazível. Vale destacar que nossa apostila não pretende encerrar

todos os assuntos selecionados, mas sim introduzir o leitor aos pontos essenciais na

abordagem de aspectos do trauma e da emergência na forma de um guia prático.

Nesse sentido, pretendemos despertar o seu interesse na busca de um conhecimento

mais profundo ao longo deste ano, principalmente junto a nós.

Essa é somente uma das diversas modificações que estabelecemos em nossas

atividades cotidianas a fim de reinventar a Liga como um todo, para estimular os nossos futuros

membros a participarem cada vez mais de nossos eventos, discussões e pesquisas, tornando-

os, portanto, mais ativos e próximos da coordenação LATE-UFRJ.

Esperamos que aprecie o material.

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IDEALIZADOR

Dr. Rodrigo Rego Barros (Pará)

MEMBROS FUNDADORES

Adriana Ouverney Braz

Ana Carolina de Alvarenga Menezes Gil

Ana Caroline Arouche Gomes de Souza

Bruno Duarte Silva

Cláudio Alberto Mule Monteiro

Diego Martins Ferreira

Helder Vilela de Oliveira e Silva

João Marcos Fonseca e Fonseca

José Manoel Couto Junior

Paulo Henrique Pereira Conte

Samara Pimentel de Souza

ORIENTADORES

Dr. Marcos Alpoim Freire

Orientador Geral

Enfª Adriana Ouverney Braz & Enfª. Juliana Faria Campos

Orientadora da Área de Prevenção e Primeiros Socorros

Dr. Rodrigo Rego Barros & Enfª. Graciele Oroski Paes

Orientador da Área de Atendimento Pré-Hospitalar

Dr. Eduardo Kanaan & Bruno Vaz de Melo

Orientadores da Área de Atendimento Intra-Hospitalar

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COORDENAÇÃO 2015

Presidência

Lucas Pena de Araújo Góes

Vice-presidência

Bruno Knaak de Abreu

Coordenação de

Planejamento

Erika dos Santos Lisbôa

Coordenação Científica

Luana de Castilho Kropf Penante

Coordenação de Extensão

Fernanda Turque Martins

Coordenação de Infraestrutura, Logística e

Finanças

Amália Elizabete Coelho Pinguello

Rafael Serafim Pinto

Coordenação de Atividades Teóricas da Área de Prevenção e Primeiros Socorros

Humberto de Castro M.

Araújo

Coordenação de

Treinamentos Práticos da Área de Prevenção e Primeiros Socorros

João Paulo Bortot Soares

Coordenação de

Atividades Teóricas da Área de

Atendimento Pré-Hospitalar

Thais Pinheiro de Carvalho

Coordenação de Treinamentos Práticos da

Área de Atendimento Pré-

hospitalar

Marcelo de Castro Lopes

Renata Mello Rezende

Coordenação de

Atividades Teóricas da Área de

Atendimento Intra-Hospitalar

Luis Eduardo Neves

Bevictori

Lucas Ming Chian Sun

Coordenação de Treinamentos Práticos da

Área de Atendimento Intra-hospitalar

Eduardo Sabino de Camargo

Magalhães

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MEMBROS 2014 (TURMA 8)

PREVENÇÃO E PRIMEIROS

SOCORROS

ATENDIMENTO PRÉ-

HOSPUITALAR

ATENDIMENTO INTRA-

HOSPITALAR

Bianca M. de Souza Gomes Amália Elizabete Coelho Pinguello Anna Carolina Lucchetti

Carolina Fernandes Junger Andréia Amanajás Loreiro Daphne Lourenço

Cynthia Rezende Medeiros Bruna Estevam Lima Eduardo Sabino

Felipe Mattos Gonzalez Bruno Knaak de Abreu Erika Lisbôa

Felipe Zanetti Comércio Camila Brizola de Oliveira Gabriel Keller

Fernanda Fernandes Junto Caroline Silva Jéssica de Bem

Fernanda Turque Martins Flávia Fenólio Keren Cozer

Gabriel Sá Reis e Silva Pinto João Paulo Bortot Soares Leonardo Bacelar

Greice Kelly Viel Larissa da Silva Conceição Luana Castilho

Huila Luiza Santos da Fonseca Leonardo Mendes da Silva Lucas Ming Chian Sun

Humberto de Castro M. Araújo Letícia Croce Stephani Lucas Góes

Ismael Ferreira dos Santos Lucca Jaeger Martins Lucca Xavier Gibelli

Italo Matheus D. de Andrade Marcelo de Castro Lopes Luis Eduardo Neves Bevictori

Julia Machado Angert Mateus Nunes Ferreirinha Marcos de Paula Valle Campos

Layza Costa Ribeiro Monique de Souza Machado Pedro Miguel Moraes Saad

Lorenzo Engel Fornasari Pedro Asthum Marcelino

Luiz Otávio Faraco Oliveto Pedro Henrique de Andrade

Marcelle Sinclair H. de Menezes Poliana Ferreira Stroligo Dias

Mario Manoel B. Brandão Rafael Serafim Pinto

Mateus Lins de Moraes Thais Pinheiro

Paula Bline Lazzari Thamires Mendes Peres

Pedro Lourenço R. G. Díaz

Pedro Teixeira da Silva

Rafael Luiz Mikaloski Penedo

Sabrina Fausto de Lima

Yárina Rangel Viera

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REVISORES 2015

Fernanda Turque Martins

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SUMÁRIO

(O número da página possui um link que leva ao seu respectivo capítulo)

1. Suporte Básico de Vida, 13

2. Doenças Súbitas, 24

3. Perda de Consciência, 37

4. Corpos Estranhos, 45

5. Afogamento, 49

6. Hemorragias e Feridas, 59

7. Lesões Musculoesqueléticas, 71

8. Queimaduras, 82

9. Trauma Elétrico, 92

10. Desidratação e Emergências Relacionadas ao Frio, 98

11. Prevenção de Acidentes Domésticos, 111

12. Intoxicações, 120

13. Reações Alérgicas, 128

14. Acidentes com Animais, 133

15. Trauma no Trânsito, 145

16. Avaliação de Múltiplas Vítimas, 160

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INTRODUÇÃO

Estima-se que, em 2010, aproximadamente

785 mil americanos sofreram uma parada cardíaca, e

que mais da metade destes sofrerão outra em

recorrência a primeira. A realidade em outros países,

entre eles o Brasil, não é muito diferente, a parada

cardíaca aparece entre as principais causas de morte.

A principal causa da parada abrupta da

função do coração é Síndrome Coronariana Aguda

(SCA), ou mais especificamente o Infarto Agudo do

Miocárdio (IAM). No entanto, também são causas

comuns: a parada respiratória, o choque elétrico, o

afogamento, o estrangulamento e o trauma.

Deve-se atentar a fatores de risco para ajudar

no diagnóstico imediato da síndrome. Os fatores de

risco mais importantes para SCA são: sexo

masculino, idade avançada, obesidade, tabagismo,

etilismo, diabetes, hipertensão arterial sistêmica,

dislipidemia (presença de xantelasmas) e estresse. O

reconhecimento desses pode ajudar no diagnóstico

imediato da síndrome, o que é essencial; uma vez

que, a morte por parada cardíaca pode ocorrer

minutos após o início dos sintomas.

Entre os sinais e sintomas clássicos de SCA,

que geralmente duram mais de 15 minutos, estão:

Dor em aperto no peito;

Desconforto na nuca, pescoço e braços;

Respiração ofegante (dispneia);

Sudorese intensa (diaforese);

Pulso fraco e rápido;

Náuseas e vertigem que duram em geral mais

que 15 minutos.

A precocidade do reconhecimento, diagnóstico e

tratamento de um infarto agudo do miocárdio é de

suma importância para limitar os danos ao coração;

sendo mais eficazes se realizados até algumas horas

após o início dos sintomas.

Apesar da grande ameaça à vida em casos

de parada cardíaca, 70 % dos cidadãos americanos

se sentem incapazes de oferecer ajuda nessa

situação. O desconhecimento da conduta correta pela

população se torna ainda mais preocupante pelo fato

de que 88% dos episódios ocorrem fora de hospitais,

se dando principalmente em casa.

Internacionalmente, as taxas de realização de BLS

variam de 1% a 44%, mostrando o custo da

deficiência de conhecimento.

Desta forma, é preciso que haja

conhecimento e treinamento das técnicas de

atendimento básico - conjuntamente chamadas de

Suporte Básico de Vida, do inglês, Basic Life Support

(BLS) - visando à redução da morbimortalidade

resultante de parada cardíaca.

SUPORTE BÁSICO DE VIDA

O Suporte Básico de Vida (SBV) consiste na

realização de ações sequenciais essenciais no

atendimento inicial da vítima que visam à manutenção

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da vida através de procedimentos acessíveis tanto ao

profissional de saúde quanto ao cidadão, até que a

vítima receba assistência especializada e suporte

avançado. Esse atendimento deve ser de urgência,

ou seja, o mais rápido possível para evitar agravos

e/ou de emergência quando se visa manter e/ou

recuperar os sinais vitais da vítima sob risco de

morte.

Dessa forma, o atendimento básico pode, e

deve ser efetuado por qualquer pessoa, desde que

possua orientação e treinamento adequados, de

modo que, seja possível ajudar e, sobretudo, não

piorar o estado da vítima.

SEQUÊNCIA SBV PARA ADULTOS

PRIMEIRO PASSO: Segurança da cena e

responsividade da vítima

Primeiramente, todo socorrista deve prezar

pela própria segurança, antes de decidir tomar

qualquer atitude em relação a uma vítima em

potencial parada cardiorrespiratória (PCR). Assim,

torna-se essencial a avaliação das condições de

segurança do local para entrar em ação, evitando que

ele próprio se torne mais uma vítima. Em caso de

condições adversas, o socorrista deve aguardar ou

tomar providências para poder acessar a vítima e, se

possível, retirá-la do ambiente de perigo.

Para verificar a responsividade da vítima, o

socorrista deve posicionar suas mãos sobre os

ombros da vítima e chamando-a alto, manobra

conhecida como shake and shout. Ao executar essa

manobra, uma vítima consciente pode levantar

subitamente e, assustada, acabar ferindo o socorrista.

Por esse motivo, o socorrista deve ajoelhar-se

mantendo uma das pernas em flexão de quadril com

pé no chão, permitindo que esse se levante

rapidamente caso seja necessário.

Deve-se considerar em parada cardíaca uma

vítima inconsciente que não esteja respirando, ou que

não o faça eficientemente, ou seja, respira com muita

dificuldade ou respira ofegantemente, com

irregularidade e ruído (comum nos primeiros minutos

da parada, perceptível em até 40% das vítimas).

SEGUNDO PASSO: Chamar o serviço médico de

emergência

Uma vez percebida a situação de

emergência, ou seja, quando a vítima está

inconsciente e sem respiração ou apresentando

respiração anormal, o socorrista deve acionar, ou

pedir que outro acione o serviço médico de

emergência, ligando para o número 193 (Corpo de

Bombeiros), caso esteja em ambiente externo, como

praias, ruas ou estacionamentos, ou para 192

(SAMU), quando a emergência ocorre em ambientes

fechados como residências ou locais de trabalho.

Ao acionar esses serviços, o socorrista, ainda que leigo, deve informar corretamente: o endereço do local onde se encontra, com referências adequadas; o tipo de emergência (desmaio, queda, etc.); o número de vítimas e suas condições; condições do ambiente ao redor; e o nome e telefone para contato.

Não se deve desligar o telefone até a confirmação e permissão do atendente.

Quadro 1.1 INFORMAÇOES

Fig. 1.1 Socorrista abordando a vítima pela frente, na posição correta para a sua própria segurança.

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Fig. 1.3 Posicionamento e execução corretos das

compressões torácicas.

TERCEIRO PASSO: A sequência da vida

REANIMAÇÃO CARDIOPULMONAR

Segundo os parâmetros para o suporte

básico de vida, estabelecidos pela American Heart

Association em 2010, deve-se preconizar a circulação

adequada de sangue para os órgãos vitais.

Estudos recentes mostraram que um melhor

resultado para os paciente é obtido se as

compressões torácicas forem iniciadas o mais cedo

possível e com o mínimo de interrupções. Isso

porque, durante os primeiros minutos de uma súbita

parada cardíaca por fibrilação ventricular (mecanismo

elétrico mais comum da parada cardíaca, 65-80%), a

pressão de oxigênio no sangue não circulante

permanece a mesma até que a RCP seja iniciada e

continua se mantendo adequada durante os primeiros

minutos de RCP. As compressões torácicas podem,

então, ser iniciadas imediatamente em caso de

emergência, enquanto posicionar a cabeça, preparar

e iniciar corretamente as ventilações de resgate

levam tempo e atrasam as compressões, reduzindo a

sobrevida do miocárdio.

Além disso, estudos mostraram que a maioria

dos leigos, e, espantosamente, alguns profissionais

de saúde não eram capazes de identificar

corretamente uma parada cardíaca e por isso não

iniciavam a RCP, ou faziam-no tardiamente, perdendo

um tempo precioso para a vítima.

Desse modo, uma vez que a vítima esteja

inconsciente, o socorrista deve iniciar as manobras de

reanimação cardiopulmonar. Caso a vítima não

respire, ou apresente respiração agônica, o socorrista

também deve assumir que há parada cardíaca.

Portanto, os mais recentes Guidelines da

American Heart Association para a RCP recomendam

a sequência CAB (Compressões, Abertura de vias

aéreas, Boa ventilação).

1. COMPRESSÕES TORÁCICAS

Essa manobra consiste em imprimir força e

pressão de maneira rítmica sobre a metade inferior do

esterno, criando um fluxo sanguíneo devido ao

aumento da pressão intratorácica e a compressão

direta do coração, permitindo assim o aporte de

oxigênio para o cérebro e para o miocárdio.

Para a realização eficaz das compressões, é

necessário que a vítima encontre-se deitada em uma

superfície rígida e o socorrista deve posicionar-se ao

lado da vítima, ajoelhando-se caso a vítima esteja

deitada no chão ou de pé ao seu lado, se ela estiver

em uma maca. Os braços do socorrista devem estar

estendidos à frente do tronco, ficando

perpendiculares a ele; deve posicionar suas mãos

uma sobre a outra, tendo por cima a mão dominante.

Fig. 1.2 “Elos” de sobrevivência para adultos.

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Figs. 1.4 e 1.5 Abertura de vias aéreas pela

manobra head tilt – chin lift.

Nessa posição, deve-se posicionar a parte

inferior loja tenar e hipotenar (metade inferior da

palma da mão) sobre a metade inferior do osso

esterno, ou entre os mamilos da vítima. A aplicação

correta e eficaz da manobra implica deprimir o

esterno no mínimo 5 centímetros e permitir que ele

volte totalmente, sem fletir os cotovelos. A força deve

ser gerada na coluna lombar e somente transmitida

aos braços. O ritmo de compressões deve ser de, no

mínimo, 100 por minuto, seguindo-se um ciclo de 30

compressões seguidas de duas ventilações.

2. ABERTURA DE VIAS AÉREAS

Um socorrista treinado que se sentir capaz de

realizar tanto compressões quanto ventilações, deve

promover a abertura das vias aéreas usando a

chamada head tilt - chin lift, que consiste em apoiar a

palma de uma das mãos sobre a testa da vítima,

fazendo pressão para trás, enquanto os dedos da

outra se apoiam no queixo, elevando a mandíbula.

Um profissional de saúde treinado deve aplicar essa

manobra em vítimas em que não há evidência de

traumatismo cranioencefálico ou cervical.

3. BOA VENTILAÇÃO

Uma vez iniciadas as compressões, deve-se

realizar a manobra de ventilação. O socorrista deve

inclinar-se sobre a vítima, abrindo suas vias aéreas,

segurando a testa e puxando-a para trás com uma

das mãos e comprimindo as narinas com a mesma,

enquanto a outra segura o queixo elevado, mantendo

a boca aberta. Depois, deve inspirar normalmente e

colocar os lábios ao redor da boca da vítima,

vedando-a totalmente.

O modo correto de efetuar as ventilações

requer uma expiração lenta, com duração de 1

segundo, assegurando-se que o tórax da vítima

expanda-se a cada respiração (observação visual). O

tempo de expiração não deve ser maior que 2

segundos, para evitar que o aumento da pressão

intratorácica reduza o retorno venoso para o coração

e diminua o débito cardíaco. Além disso, um grande

volume de ar pode resultar em expansão gástrica,

ocasionando refluxo e possível broncoaspiração do

conteúdo gástrico.

Também podem ser utilizados mecanismos

de barreira para a realização da ventilação, evitando

assim um contato direto com a boca da vítima. Eles

estão disponíveis em dois tipos: “face shield” e “face

mask/pocket mask”. Infelizmente, no Brasil, esses

equipamentos são caros.

O ciclo realizado é o de 30 compressões para

2 ventilações e deve ser mantido até que:

O desfibrilador externo automático esteja

disponível;

A vítima mostre reação, sinais de vida;

A equipe de emergência assuma o controle da

situação;

O socorrista esteja muito cansado para continuar.

Fig. 1.6 e 1.7 Face shield e pocket mask

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DESFIBRILAÇÃO

O ritmo cardíaco que ocorre inicialmente em

parada cardíaca com maior frequência é a fibrilação

ventricular. Neste ritmo, os ventrículos contraem-se

desordenadamente, não resultando em pulsação.

Sendo assim, a desfibrilação rápida é de suma

importância, pois o choque permite que os

marcapassos naturais do coração voltem a disparar

ordenadamente.

No entanto, o choque não é capaz de

recomeçar o coração, logo, se o coração parar

(assistolia), a desfibrilação não será viável. Além

disso, após o choque, o coração pode tomar um ritmo

ordenado, porém lento (bradicardia), que não é

eficiente para bombear o sangue. Neste caso o RCP

deve ser retomado.

Atualmente existem desfibriladores

automáticos externos (DEA), que são de fácil

utilização, já que o próprio aparelho instrui o

socorrista como utilizá-lo, e percebe o ritmo da vítima,

informando se o choque é ou não recomendado.

SBV EM CASO DE TRAUMA

Quando há trauma de múltiplos sistemas ou

trauma de cabeça e pescoço, a coluna cervical deve

ser estabilizada. A manobra jaw thrust, deve ser

utilizada ao invés da head tilt-chin lift para manter as

vias aéreas pérvias. Esse procedimento consiste na

tração anterior da mandíbula, e é executado

posicionando-se os polegares sobre os processos

zigomáticos e os dedos sob os ângulos da mandíbula,

deslocando-a para frente. Em um paciente com

respiração inadequada e o rosto ensanguentado, a

ventilação deve ser feita com o uso de dispositivos

como a pocket mask ou face shield, enquanto a

estabilização da coluna cervical é mantida. Nesse

caso, procure estancar diretamente hemorragias

visíveis usando compressas apropriadas. Caso o

paciente esteja completamente irresponsivo, inicie o

RCP e a desfibrilação como indicado.

Quadros 1.2 PASSOS COMUNS PARA

UTILIZAÇÃO DO D.E.A.

1) Ligar o D.E.A.

2) Aplicar os eletrodos (pás) auto-adesivos nos locais

indicados

3) Afastar -se da vítima e aguardar a análise do ritmo

pelo aparelho

4) Caso o choque seja recomendado- ritmo chocável-,

afastar-se da vítima e garantir que todos também o

façam

5) Pressionar o botão “choque”

6) Reiniciar o RCP por 5 ciclos, deixando a máquina

analisando o ritmo da vítima. Caso um novo choque

seja recomendado, realizar os passos 4 e 5

Todas as manobras devem ser realizadas com o intuito

de reduzir ao máximo as interrupções nas

compressões

Fig. 1.8 Imobilização da coluna cervical

Fig. 1.9 Manobra jaw thrust.

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Protocolo de BLS de adultos

Não responsivo

Sem respiração

ou em respiração

agônica

Acionar o serviço de

salvamento de emergência

Providenciar um DEA

(ou mandar um segundo

socorrista fazê-lo)

Checar pulso:

encontrado em até

10 segundos?

Iniciar ciclo de 30 COMPRESSÕES e

2 VENTILAÇÕES

•Fazer uma ventilação

a cada 5 ou 6

segundos

•Rechecar o pulso a

cada 2 minutos

Checar ritmo

Ritmo chocável?

Aplicar 1 choque

Reiniciar RCP

imediatamente

(por 2 minutos)

Reiniciar RCP imediatamente

(por 2 minutos)

Checar o ritmo a cada 2

minutos; continuando até que

a equipe de emergência

assuma

Pulso

ausente

Pulso

presente

Ritmo chocávelRitmo não

chocável

© 2010 American Heart Association

RCP de alta qualidade

•Ritmo de 100/min

•Compressões com aprox.

5cm de profundidade

•Permitir que o tórax se

expanda após cada

compressão

•Minimizar as interrupções

entre as compressões

•Evitar ventilação

excessiva

OBS:Os boxes de linha tracejada

são recomendados para

profissionais de saúde e não para

socorristas leigos.

1

Chegada do DEA/

desfibrilador

2

33a

4

67

5

Fig. 1.10 Algoritmo de SBV para adultos.

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SEQUÊNCIA SBV PEDIÁTRICO

Em bebês e crianças, a parada cardíaca por

asfixia é mais comum do que a parada cardíaca por

fibrilação ventricular, e as ventilações são de extrema

importância no SBV pediátrico. No entanto, não é

comprovada se há diferença prática entre a

sequência iniciada pelas ventilações (ABC) ou pelas

compressões torácicas (CAB).

A sequência CAB para bebês e crianças é

então recomendada no intuito de simplificar o

treinamento, com a esperança de que mais vítimas de

parada cardíaca súbita irão receber a RCP de

qualquer cidadão treinado.

O guideline discrimina uma série de ações

que funcionam como uma sequência de passos do

algoritmo SBV pediátrico. No entanto, eles devem ser

executados simultaneamente (ex. iniciar a RCP e

acionar o serviço médico de emergência), na

presença de mais de 1 socorrista. A sequência do

SBV para adultos e crianças é semelhante, porém

com algumas peculiaridades que serão mostradas

aqui. Os dois passos iniciais são os mesmos, checar

a segurança da cena e a responsividade da vítima.

Os socorristas profissionais devem checar

também o pulso periférico ou central – pulso braquial

em crianças menores de um ano e pulsos carotídeo

ou femoral em crianças maiores de um ano – da

vítima, verificando (em até 10 segundos) se este não

está presente, indicando uma parada

cardiorrespiratória. Caso o pulso esteja <60bpm

(bradicardia) e estejam presentes sinais de má

perfusão como palidez e cianose, apesar do suporte

ventilatório e de oxigênio, também é necessário iniciar

as compressões.

Se a criança estiver apenas desacordada,

coloque deitada sobre um dos lados (em posição de

recuperação), o que ajuda a manter as vias aéreas

pérvias e diminui o risco de broncoaspiração.

O socorrista deve considerar em parada

cardíaca uma vítima não responsiva e em respiração

agônica ou ausente, e então iniciar as compressões

cardíacas efetivas, ou seja, com ritmo e profundidade

apropriados. Para isso, o socorrista deve:

Realizar, no mínimo, 30 compressões em um

ritmo de 100/min;

Exercer força suficiente para deprimir, no mínimo,

esterno em 4 a 5 cm, dependendo do tamanho da

criança/bebê;

Permitir que o tórax se expanda após cada

compressão, facilitando o reenchimento do

coração;

Evitar ventilação excessiva.

Em bebês até 1 ano, as compressões são

realizadas com dois dedos de uma das mãos, ou os

dois polegares (recomendada na presença de mais

de 1 socorrista), posicionados sobre o tórax

imediatamente abaixo da linha intermamilar. Em

crianças até 10 anos, utiliza-se apenas uma das

mãos ou mesmo as duas, evitando o uso de força

excessiva.

Após as 30 compressões iniciais, deve-se

abrir as vias aéreas usando a manobra head tilt –

chin lift, realizar duas ventilações efetivas,

certificando-se de que houve enchimento do tórax em

cada uma delas. Quanto à técnica, a ventilação em

adultos e crianças é muito semelhante, exceto pelo

Fig. 1.11 Compressão em bebês até 1 ano

LATE-UFRJ|2015

20

volume de ar exalado, que deve ser menor,

respeitado o tamanho da criança. Em relação aos

bebês, o socorrista deve tentar selar a boca e as

narinas do bebê com a sua boca e então oferecendo

somente o volume de ar suficiente para encher uma

de suas bochechas. Caso não tenha sucesso, ele

pode efetuar o boca-a-boca semelhante ao SBV

adulto, comprimindo lateralmente o nariz do bebê, ou

soprar pelo nariz do bebê, fechando sua boca.

Para um socorrista sozinho, a relação

compressão-ventilação deve ser de 30:2; no caso de

dois socorristas, essa relação passa a ser de 15:2. No

primeiro caso, ele deve realizar cinco ciclos de RCP

completos antes de acionar o sistema médico de

emergência (193 ou 192) e/ou buscar um DEA, se

houver algum próximo; e então retornar para a vítima

assim que possível e reiniciar a RCP, continuando até

que os socorristas profissionais cheguem ou a vítima

comece a respirar espontaneamente. Essas ações

podem ser feitas simultaneamente caso estejam

presentes dois socorristas, ou seja, enquanto um

deles realiza a RCP, o outro aciona 193/192 e

providencia um DEA.

DESFIBRILAÇÃO EM CRIANÇAS

Quando uma criança entra em colapso súbito,

por exemplo, durante uma atividade esportiva, é

provável que ela esteja em FV e TV sem pulso

(definidos como ritmos chocáveis), e então necessite

de RCP imediata e rápida desfibrilação.

Para a desfibrilação em crianças, o aparelho a ser

utilizado deve conter pás pediátricas que se adequam

tanto no tamanho quanto na carga a ser oferecida a

vítima (2J/kg). Além disso, outro cuidado deve ser

tomado quanto a colocação dos eletrodos que

também é diferenciada: um é colocado anteriormente

no tórax, sobre o coração, enquanto o outro,

posteriormente na mesma direção. Na ausência de

desfibriladores adaptados, o novo guideline

recomenda a utilização do desfibrilador comum

(adulto).

Fig. 1.12 Compressões em crianças a partir de 1 ano.

Fig. 1.13 “Elos” de sobrevivência para crianças.

LATE-UFRJ|2015

21

Protocolo de BLS pediátrico

Não responsivo

Sem respiração ou em respiração agônica

Designar alguém p/ acionar o serviço de

salvamento de emergência, providenciar um

DEA/ desfibrilador

Checar pulso:

encontrado em até

10 segundos?

Um socorrista: Iniciar ciclos de 30 COMPRESSÕES e 2 VENTILAÇÕES

•Fazer uma ventilação a cada 3

segundos

•Incluir compressões caso o pulso

permaneça <60/min com pefusão

pobre apesar de oxigenação e

ventilação adequadas

•Rechecar o pulso a cada 2

minutos

Checar ritmo

Ritmo chocável?

Aplicar 1 choque

Reiniciar RCP

imediatamente

(por 2 minutos)

Reiniciar RCP imediatamente

(por 2 minutos)

Checar o ritmo a cada 2

minutos; continuando até que

a equipe de emergência

assuma

Pulso

ausente

Pulso

presente

Ritmo chocável

Ritmo não

chocável

RCP de alta qualidade

•Ritmo de 100/min

•Compressões com metade do

diâmetro do tórax (4cm/5cm

aprox.) de profundidade

•Permitir que o tórax se

expanda após cada compressão

•Minimizar as interrupções entre

as compressões

•Evitar ventilação excessiva

OBS:Os boxes de linha tracejada são recomendados para

profissionais de saúde e não para socorristas leigos.

1

2

33a

4

7 8

5

Socorrista sozinho:

Para COLAPSO SÚBITO, acionar

o serviço médico de emergência,

providenciar um DEA

Dois socorristas: Iniciar ciclos de 15 COMPRESSÔES E 2 VENTILAÇÔES

Após aprox. 2 minutos, acionar o serviço de emergência

e providenciar o DEA (caso não tenha sido feito).

Usar o DEA assim que disponível

6

Fig. 1.14 Algoritmo pediátrico

LATE-UFRJ|2015

22

HANDS ONLY (RCP SEM VENTILAÇÃO)

Pesquisas recentes mostram que os índices

de sobrevivência de vítimas de parada cardíaca que

receberam primeiros socorros de leigos com a RCP

completa e com a técnica sem ventilação são muito

semelhantes. Algumas pessoas e até profissionais de

saúde demonstram certa relutância em realizar

respiração “boca-a-boca” em pessoas desconhecidos;

mas, muitas vezes, o maior obstáculo ao atendimento

básico eficaz é o pânico do socorrista. O Hands Only,

por ser mais simples, pode ajudar a superar o pânico

e a hesitação para agir em momento de emergência.

No entanto, para vítimas de parada cardíaca

prolongada, tanto as ventilações quanto as

compressões são necessárias, porque o oxigênio do

sangue é consumido e o volume pulmonar desse gás

se torna insuficiente. Além disso, a manobra de RCP

sem ventilações não é recomendada para: crianças

vítimas de parada cardíaca; e vítimas de parada

cardíaca de origem não-cardíaca como trauma,

afogamento, obstrução de via aérea. Isso porque, na

maioria desses casos, as vítimas já estão com baixa

pressão de oxigênio no sangue (hipoxemia) no

momento da parada cardíaca.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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American Heart Association. 1 vídeo.

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and Emergency Cardiovascular Care. Part 5: Adult

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VANDEN, H. et al. 2010 American Heart

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Resuscitation and Emergency Cardiovascular

Care. Part 12.11: Drowning. Circulation [online]. 2010,

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BERG et al. 2010 American Heart Association

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Pediatric Basic Life Support. Circulation [online].

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GUIMARÃES H. P.; LANE J. C. Uma Breve História

da Ressuscitação Cardiopulmonar Revista da

Sociedade Brasileira de Clínica Médica [online]. 2009,

v. 7, pp. 177-187.

LATE-UFRJ|2015

23

INTRODUÇÃO

A transição epidemiológica ocorrida neste

século, em decorrência do aumento do controle de

doenças transmissíveis, fez com que houvesse um

aumento da expectativa de vida em todos os países.

Isso fez com que as doenças não transmissíveis

passem a ter maior importância quando se pensa em

morbidade e mortalidade.

A cada ano morrem em média 17,5 milhões

pessoas pelo que é definido como “doenças não

transmissivas crônicas degenerativas”. Nesse

contexto, destacam-se as doenças cardiovasculares

(DCV), principalmente, o Infarto Agudo do Miocárdio

(IAM) e o Acidente Vascular Encefálico (AVE),

também conhecido por AVC. Essas são as doenças

de maior relevância, não só pela sua importância sob

o ponto de vista epidemiológico, mas também pelos

altos custos requeridos no seu tratamento e na

reabilitação dos pacientes acometidos, pois em geral

elas estão associadas à comorbidades e, por isso,

demandam assistência de alta complexidade.

As DCV prevalecem como a principal causa

mundial de mortalidade e incapacidade, respondendo

por mais de 300 mil óbitos anuais no Brasil e sendo

responsável por 45% das mortes na faixa etária

acima de 45 anos. No país, 40% das aposentadorias

precoces são devido à AVE ou ao IAM. Em 2013, as

DCV responderam por 37,1% de todas os óbitos,

contabilizando 1 morte a cada 26 segundos.

As DCV atualmente respondem por mais

óbitos todos os anos do que câncer, doenças

respiratórias crônicas e acidentes juntos. Em 2009, os

gastos com internações pelo SUS totalizaram R$ 1,2

milhão e, com o envelhecimento da população e

mudança dos hábitos de vida, a prevalência das DCV

tende a aumentar nos próximos anos, gerando ainda

mais custos para os cofres públicos.

As doenças cardíacas de origem isquêmica

são as principais doenças de sintomatologia súbita

que aparecem na emergência hospitalar. Assim como

as anginas e o IAM perfazem este ambiente, há

outras ocorrências que devem ser encaminhadas

rapidamente para um serviço de emergência. Neste

sentido, é importante estudarmos os seus fatores de

risco, de modo que possamos planejar

adequadamente medidas de prevenção e controle.

Portanto, trataremos neste capítulo das principais

doenças súbitas, focando na sua identificação e

medidas de primeiros socorros.

INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO (IAM) E

ANGINAS

A Doença Arterial Coronariana (DAC)

compreende a angina estável (forma crônica da

doença) e a Síndrome Coronariana Aguda (SCA), e

esta engloba a angina instável e o infarto agudo do

miocárdio (IAM). O mecanismo da DAC,

frequentemente, relaciona-se com a obstrução da

artéria coronária por uma placa de ateroma,

reduzindo o fluxo sanguíneo, que passa a ser

LATE-UFRJ|2015

24

insuficiente para uma determinada região do

miocárdio.

A maioria dos casos de SCA decorre de

redução súbita no fluxo sanguíneo coronariano

causado por aterosclerose com trombose sobreposta.

Na sua evolução natural, as placas de ateroma,

principalmente as ricas em lipídios, podem sofrer

ruptura abrupta (placas instáveis) com consequente

exposição de substâncias que promovem ativação e

agregação plaquetária, e, por último, formação de

trombo. A oclusão pelo trombo pode ser intermitente

(trombo oclui e libera o fluxo para a artéria, se

mantendo assim por algum tempo), podendo evoluir

para uma oclusão definitiva.

O trombo interrompe o fluxo sanguíneo

coronário, causando um desequilíbrio entre a oferta e

a demanda de oxigênio do músculo cardíaco. A

necrose miocárdica (morte do tecido) ocorre quando

essa interrupção é severa e prolongada.

Podem ser citadas como causas de IAM sem

aterosclerose coronária as arterites de coronária,

trauma, embolização para coronárias (p. ex.:

endocardites), anormalidades congênitas, hipotensão

prolongada, coagulação intravascular disseminada,

abuso de cocaína, etc.

As doenças cardiovasculares afetam

especialmente indivíduos adultos e idosos.

Particularmente o IAM possui relevante impacto na

mortalidade, no número de internações e na

letalidade hospitalar. Todo ano, estima-se que 785 mil

americanos sofrerão um novo infarto, e 470 mil terão

um ataque recorrente. Nos EUA, ocorre um infarto a

cada 34 segundos.

Em 2008, a DAC causou 1 a cada 6 mortes

nos EUA, e a porcentagem de mortes por isso foi de

70%. Das 1.133.761 mortes ocorridas no Brasil em

2010, 99.408 foram atribuídas às doenças isquêmicas

do coração, das quais 79.297 são decorrentes do

infarto agudo do miocárdio, o que representa 6,9% de

todas as mortes (www.datasus.gov.br). Um número

significativo de mortes ocorre fora do ambiente

hospitalar, com destaque para o domicílio do

paciente, sendo frequente o óbito antes da prestação

de socorro médico, geralmente por fibrilação

ventricular.

A admissão em uma unidade de terapia

intensiva, o tempo decorrido entre o início dos

sintomas e o primeiro atendimento contribuem para a

redução da letalidade por IAM. O tempo é essencial

na assistência ao paciente infartado antes de sua

chegada ao hospital, visto que mais de 50% dos

óbitos ocorrem na primeira hora de evolução.

Assim, o retardo no tratamento de pacientes com

suspeita de IAM é um fator crítico de redução na

sobrevida.

Diante disso, concluímos que o rápido

reconhecimento dos sintomas e o pronto atendimento

médico são de fundamental importância para um

melhor prognóstico da doença, bem como para evitar

complicações e mortes.

ANGINA ESTÁVEL

Síndrome clínica decorrente de isquemia

miocárdica transitória, caracterizada por dor pré-

cordial em aperto, que melhora em menos de 10

Fig. 2.1 Artéria coronária ocluída, levando à isquemia,

gerando angina instável e/ou infarto do miocárdio.

LATE-UFRJ|2015

25

minutos com repouso ou com uso de nitrato (isordil)

sublingual. Pode ser desencadeada normalmente por

esforço físico, ou também pelo estresse. Indica má

perfusão do miocárdio, geralmente por doença

aterosclerótica, mas que em repouso é assintomática,

e só agudiza frente ao aumento da demanda de O2

pelo miocárdio (exercício físico). Não denota urgência

no atendimento.

ANGINA INSTÁVEL

Refere-se a um padrão de dor pré-cordial em

aperto, irradiada para braço esquerdo e/ou

mandíbula, de duração variável (geralmente é

prolongada, podendo exceder 10 minutos), que

ocorre com uma frequência crescente. Pode ser

precipitada por esforços progressivamente menores,

podendo ocorrer durante o repouso (diagnóstico

diferencial em relação à angina estável), e melhora

com isordil sublingual. A angina instável representa

um estado mais grave que a angina estável,

necessitando, assim, de maior atenção do socorrista.

Importante notar que nem toda dor

torácica significa infarto, mas que a angina é um

alerta que predispõe a este quadro.

INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO

Consiste na morte do miocárdio, resultante de

isquemia grave prolongada. Caracteriza-se por dor

pré-cordial em aperto (sinal de Levine), porém não

melhora com repouso nem isordil sublingual. Tem

duração maior, e com frequência há sintomas como

náusea e vômitos, podendo haver desmaio, sensação

de morte, diaforese (transpiração excessiva) e palidez

cutânea. Em casos raros, pode apresentar

desconforto epigástrico (sintomatologia atípica). É um

quadro grave, devendo-se acionar o serviço de

emergência imediatamente.

FATORES DE RISCO

São fatores de risco: sexo masculino, idade

avançada (>55 anos em homens e >60 anos em

mulheres), obesidade, tabagismo, etilismo, estresse,

diabetes, hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia e

estresse.

PRIMEIROS SOCORROS

Acionar imediatamente o serviço de

emergência, acalmar o paciente e não lhe oferecer

alimentos ou líquidos. Se for constatada parada

cardiorrespiratória, iniciar o Suporte Básico de Vida

(SBV).

Fig. 2.2 Sinal de Levine – mão em garra sobre o peito.

Fig. 2.3 Zonas de dor no IAM: vermelho-escuro = área mais típica / vermelho-claro = outras áreas possíveis.

LATE-UFRJ|2015

26

No caso da ocorrência de angina instável e se

a vítima já for ciente de sua condição, deve-se

estimular a administração do isordil sublingual pela

mesma.

Tendo certeza do diagnóstico de infarto, o

socorrista deve administrar 300mg de aspirina (3

comprimidos de AAS infantil que devem ser

mastigados antes de engolir) e 5mg de isordil

sublingual (dose máxima de 3 comprimidos com

intervalo de 3 a 5 minutos entre eles). Geralmente o

cardiopata anda com esses medicamentos no bolso.

ATENÇÃO! Alguns pontos importantes devem ser

considerados:

O infarto pode ter apresentações atípicas, como

dor no estômago, dor apenas no braço, ou até

ausência de dor (é mais comum em diabéticos e

mulheres).

Deve-se estar atento para outras doenças que

também cursam com dor no peito como

pneumonia, espasmo esofagiano, dissecção

aguda de aorta, entre outras. Dessa forma,

havendo dúvida no diagnóstico, não deve ser

administrado nenhum medicamento.

O melhor hospital para transportar a vítima é o

hospital mais próximo.

PREVENÇÃO

Os objetivos da prevenção envolvem redução

do risco de eventos isquêmicos clinicamente

relevantes, com consequente diminuição da

mortalidade e da incapacitação prematuras, e

prolongamento da sobrevida.

Os indivíduos com maior risco devem ser

precocemente identificados para intervenções de

estilo de vida (e, quando apropriado, para

intervenções farmacológicas), no sentido de se obter

um maior controle e tratamento dos fatores de risco.

As principais recomendações incluem:

Seguir uma dieta balanceada, rica em frutas e

verduras e com baixa quantidade de gorduras e

sal;

Perder peso, em caso de obesidade ou

sobrepeso;

Parar de fumar.

Praticar atividades físicas regularmente, sob

orientação médica;

Tratar adequadamente doenças como o

colesterol alto, hipertensão arterial e Diabetes

Mellitus.

ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO

(AVE)

O AVE, popularmente chamado de “derrame”,

é uma perda aguda, focal ou generalizada, da função

cerebral (ou da retina), de origem vascular e com

duração superior a 24h, que resulta no aparecimento

de déficit neurológico. Pode até mesmo ocorrer uma

perda súbita da consciência, resultante da falta de

oxigênio no cérebro devido à ruptura ou oclusão de

um vaso sanguíneo.

O AVE caracteriza-se por ser uma das

principais doenças na população idosa, sendo a

maior causa de mortalidade, seguido da DAC

(Doença Arterial Crônica), em todo o mundo. Em

2008, a estimativa era de que fosse responsável por

cerca de 10% do total de mortes no mundo, com

aproximadamente 6 milhões de óbitos, concentrados

principalmente em países pobres (dados de

mortalidade indicam que o AVC foi responsável por 1

a cada 18 mortes nos EUA).

Nos EUA, ocorre, em média, um AVC a cada

40 segundos, e uma morte relacionada ao AVC a

cada 3-4 minutos. Todo ano, aproximadamente 795

mil pessoas sofrem um novo, ou recorrente, AVC,

sendo que 610 mil são casos novos e 185 mil são

casos recorrentes. Projeções mostram que até 2030,

mais 4 milhões de pessoas terão tido um derrame, o

LATE-UFRJ|2015

27

que significa um aumento de 24,9% com relação à

prevalência de 2010.

No Brasil, há uma média de 68 mil mortes

anuais por AVC. Além das mortes, o distúrbio pode

levar a sequelas graves, que atingem em torno de

50% dos sobreviventes a um derrame. Outro ponto a

ser destacado é que parte considerável das mortes

por AVC no Brasil acontece em uma faixa etária

precoce – abaixo dos 65 anos de idade. Isto leva a

um prejuízo econômico muito grande por morte ou

incapacitação de uma pessoa produtiva.

O AVE é classificado em subtipos, e o

prognóstico e tratamento dessa doença diferem de

acordo com o subtipo. A incidência e distribuição dos

subtipos de AVC têm variações geográficas

moderadas que estão provavelmente relacionadas à

prevalência de fatores de risco cardiovasculares,

estrutura social e diferenças étnicas.

Assim como para as doenças coronarianas, a

identificação correta e rápida dos sintomas, e o pronto

atendimento médico, são fundamentais para

obtermos um melhor prognóstico da doença, evitando

complicações e mortes.

SINTOMATOLOGIA

A sintomatologia é variada, pois depende da

região anatômica do cérebro afetada:

Desvio de rima labial;

Dificuldade para falar ou entender comandos simples;

Confusão mental;

Perda visual em ambos ou dois olhos;

Crise convulsiva;

Perda de força e/ou sensibilidade em um ou ambos os lados do corpo (85% dos casos);

Perda de equilíbrio, coordenação ou dificuldade para andar;

Anisocoria (tamanho desigual das pupilas);

Ptose palpebral;

Cefaléia intensa

AVE ISQUÊMICO

No AVE isquêmico, ocorre disfunção

neurológica causada pela obstrução de um vaso

sanguíneo sem haver hemorragia, resultando em

redução da perfusão (isquemia). Esse é o subtipo

mais comum, responsável por 85% dos casos.

Fig. 2.5 Anisocoria

Fig. 2.6 AVE isquêmico.

Fig. 2.4 Ptose palpebral

LATE-UFRJ|2015

28

A oclusão aguda de um vaso intracraniano

reduz o fluxo sanguíneo para a região cerebral que

ele supre, causando necrose neuronal com perda

imediata da função celular (os neurônios não dispõem

de reserva de fonte de energia). Com isso, os

sintomas são instantâneos e dependem da região que

foi afetada pela isquemia.

A região vascularizada pela artéria ocluída

apresenta uma parte central, a mais afetada e onde

pode haver necrose, e a periférica, a menos afetada,

podendo ter algum aporte de oxigênio de um vaso

vizinho. A região periférica é a que se tenta salvar no

tratamento do AVE.

As causas principais são: arritmia cardíaca,

tromboembolismo arterial, trombose, IAM, hipotensão

medicamentosa, aumento da pressão intracraniana

(PIC) e choque, principalmente hipovolêmico.

ACIDENTE ISQUÊMICO TRANSITÓRIO (AIT)

O AIT é semelhante ao AVE isquêmico, mas

os sintomas têm duração mais curta (sintomas

passageiros) e denota um baixo risco ao paciente.

Assim, se caracteriza como um episódio breve de

disfunção neurológica súbita causada por isquemia

focal cerebral ou da retina, devido à perfusão cerebral

ou oftálmica inadequada, com sintomas clínicos que

duram tipicamente menos de 1h.

Resulta de uma isquemia transitória,

geralmente autolimitada, como uma oclusão arterial

seguida de desobstrução momentos depois, ou uma

hipotensão arterial manifestando sintomas

neurológicos, que desaparecem depois da

normalização da pressão arterial.

O prognóstico é muito mais favorável em

comparação a um AVE, porém pode ser fator de risco

para o mesmo.

AVE HEMORRÁGICO

É a disfunção neurológica causada pela

ruptura de um vaso intracraniano, resultando em um

sangramento intra ou extraparenquimatoso. É um

AVE geralmente mais grave, com maior risco de

morbimortalidade. Representa 13% dos casos de

AVE. Os sintomas são similares aos citados

anteriormente.

Para diferenciar um AVE hemorrágico de um

isquêmico, é necessário um exame complementar de

neuroimagem.

FATORES DE RISCO

Os AVEs têm em comum o seguinte grupo de

fatores de risco: hipertensão arterial sistêmica (HAS),

Diabetes Mellitus, hipercolesterolemia, tabagismo,

aterosclerose de carótidas e fibrilação atrial. Todos

esses fatores são agravantes para a formação de

trombos que, se embolizados, podem ocluir uma

artéria cerebral, configurando a causa mais comum

de AVE.

Fig.2.7 AVE hemorrágico

LATE-UFRJ|2015

29

PRIMEIROS SOCORROS

Muitas vezes, o paciente com AVE não

percebe que há algo errado (anosognosia), por isso é

mais comum que um espectador ou familiar peça

ajuda. É crucial que o serviço de emergência seja

acionado o mais rapidamente possível para que a

conduta terapêutica seja iniciada.

Até a chegada da ambulância, deve-se fazer

o suporte básico da vida, não oferecer comida ou

líquidos para o paciente, e não deixá-lo ficar em pé,

pois há risco de queda.

O AVE muitas vezes pode ser confundido

com uma crise epilética (e vice-versa), portanto, é

válido perguntar aos espectadores se houve alguma

crise convulsiva e prover essa informação aos

profissionais do serviço de emergência.

IMPORTANTE! Existem alguns sinais típicos

indicadores de AVE: paralisia facial, alteração de

força nos braços e fala enrolada. Para detectar

anormalidades nesses parâmetros, peça para a

vítima:

1. Sorrir (se a pessoa mover a face só para um dos

lados, pode estar tendo um AVC)

2. Levantar os braços (se houver dificuldade para

levantar um dos braços, ou após levantar os dois,

um deles cair, a pessoa pode estar tendo um

AVC)

3. Repetir uma frase simples (como: “Hoje o dia está

bonito”) ou cantar um trecho de uma música (se a

pessoa não responder ou falar enrolado, pode

estar tendo um AVC)

Esses procedimentos são essenciais para a

identificação de um AVE. Ao perceber qualquer

alteração em um desses parâmetros, procurar

imediatamente o serviço médico de emergência (1 só

sintoma é suficiente).

PREVENÇÃO

A prevenção se baseia na mudança dos

hábitos de vida para um estilo mais saudável, visando

controlar e tratar os fatores de risco que podem levar

o indivíduo a sofrer um acidente vascular. Esse é

ponto muito importante, pois, embora também seja

Fig. 2.8 Fatores de risco para AVE

LATE-UFRJ|2015

30

uma doença cardiovascular, o tratamento do AVE é

mais complexo do o que o do IAM, visto que não só

altera o funcionamento cerebral como incapacita o

indivíduo.

As recomendações são:

Seguir uma dieta balanceada, rica em frutas e

verduras, e de preferência com baixos teores de

gorduras e sal (a hipertensão arterial é o fator de

risco para doença cerebrocardiovascular mais

importante);

Parar de fumar;

Praticar atividades físicas regularmente, sob

orientação médica;

Tratar adequadamente doenças pré-existentes

como o colesterol alto, hipertensão arterial e

diabetes mellitus, que podem evoluir para um

AVE;

TROMBOSE VENOSA PROFUNDA (TVP)

EMBOLIA

Consiste na existência de um corpo (êmbolo)

sólido, líquido ou gasoso transportado pelo sangue e

capaz de obstruir um vaso. Em mais de 90% dos

casos os êmbolos se originam de trombos. No

entanto, existem outros tipos de embolia: gasosa,

gordurosa, de líquido amniótico, tumoral, entre outras.

TROMBOSE

A trombose é o processo patológico que

resulta na formação de um trombo. O trombo é

caracterizado pela formação de um coágulo

sanguíneo dentro do espaço vascular, no indivíduo

vivo. Esta característica é importante para

diferenciarmos trombo de coágulo. O trombo resulta

da ativação patológica do processo normal de

coagulação. Essa ativação pode ocorrer em três

situações (Tríade de Virchow):

Lesão endotelial;

Alteração de fluxo sanguíneo;

Hipercoagulabilidade do sangue.

LATE-UFRJ|2015

31

TROMBOEMBOLIA VENOSA (TEV)

É um distúrbio caracterizado pela formação

de trombos no sistema venoso, que se rompem e

liberam fragmentos (êmbolos). Os êmbolos, por sua

vez, irão causar entupimento de vasos de pequeno

calibre, resultando em consequências na perfusão

tecidual.

Existem dois tipos de TEV: trombose venosa

profunda (TVP) e trombose venosa superficial. A TVP

tem maior importância no que diz respeito aos males

súbitos, pois os êmbolos que se originam dos

trombos em veias profundas do membro inferior

podem causar embolia pulmonar (EP), ao contrário

daqueles originados de veias superficiais.

FISIOPATOLOGIA E COMPLICAÇÕES

A embolia ocorre quando os trombos venosos

se desalojam dos locais de formação, para a

circulação arterial pulmonar, ou, paradoxalmente,

para a circulação arterial por uma comunicação

interatrial.

A embolia pulmonar ocorre quando o êmbolo

obstrui um vaso pulmonar, gerando consequências na

microcirculação, na circulação sistêmica e na

capacidade de trocas gasosas. Cerca de 50% dos

pacientes com trombose de veias pélvicas apresenta

EP. É um mal súbito que acomete pacientes de

qualquer idade, possivelmente letal, de diagnóstico

bastante difícil (os sinais e sintomas podem ser muito

gerais) e que exige intervenção terapêutica imediata.

FATORES DE RISCO

Além dos fatores genéticos, os fatores

adquiridos que predispõem TEV são viagens aéreas

de longa distância, obesidade, tabagismo, uso de

anticoncepcionais orais, gravidez, reposição hormonal

pós-menopausa, cirurgia, trauma, câncer, HAS e

Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC).

São passíveis de desenvolver EP: pacientes

de grandes cirurgias, acamados a mais de 3 dias,

com imobilização de membro inferior, com câncer

ativo, tabagismo e obesidade.

PREVENÇÃO

Deve-se evitar situações em que temos de

permanecer sentados durante muitas horas, como em

longas viagens de avião (daí a TVP também ser

conhecida como “Síndrome da Classe Econômica”).

Nestas situações, devemos nos levantar a cada 2h e

caminhar por alguns segundos.

Fig. 2.10: A – fluxo sanguíneo normal / B – Trombose em veia profunda / C – Desprendimento do êmbolo.

Fig.2.9: Sinais de TEV

LATE-UFRJ|2015

32

DIFICULDADE RESPIRATÓRIA A dificuldade respiratória pode resultar de

traumatismos ao tórax ou à cabeça, e de doenças

como infarto, anafilaxia ou asma.

Hiperventilação é a respiração rápida, que

pode ser causada por estresse emocional, ansiedade

e afecções clínicas.

RECONHECIMENTO DA DIFICULDADE

RESPIRATÓRIA

Respiração anormalmente rápida ou lenta;

Respiração anormalmente profunda (ofegante) ou

superficial;

Respiração ruidosa, incluindo sibilos (observados

na asma) ou sons gorgolejantes, sons roucos ou

abafados ou roncos;

Lábios arroxeados;

Necessidade de fazer uma pausa durante a fala

para recuperar o fôlego;

PRIMEIROS SOCORROS

Deve-se ajudar a vítima a encontrar a posição

mais confortável, que é geralmente sentada com as

costas retas, e procurar atendimento médico.

Caso a vítima apresente quadro de

hiperventilação (respiração rápida) devido à

ansiedade, peça que ela inspire pelo nariz, segure a

respiração por alguns segundos e, a seguir, solte

lentamente a respiração.

ATENÇÃO! Nunca peça a uma vítima com

hiperventilação para respirar dentro de um saco. Isso

não funciona e pode ser perigoso.

CRISE ASMÁTICA

A asma é uma doença inflamatória crônica

das vias aéreas inferiores, caracterizada por

hiperresponsividade e por limitação variável ao fluxo

aéreo, reversível espontaneamente ou com

tratamento.

Essa doença que surge na infância, sua

origem é desconhecida, mas com um componente

genético bem demonstrado, sendo, portanto, comum

em pessoas de família com grande número de

asmáticos (68% de chance). Demonstra-se como

resultado de uma interação entre genética, exposição

ambiental e outros fatores específicos que levam ao

desenvolvimento e à manutenção dos sintomas.

Frequentemente, ela coexiste com bronquite ou

enfisema, e a combinação de doenças pode causar

dano tecidual severo.

A asma afeta cerca de 300 milhões de

pessoas no mundo, e a frequência dessa doença tem

aumentado significativamente nos últimos anos. Há

indícios de que a prevalência da asma esteja

aumentando em todo o mundo, inclusive no Brasil.

Anualmente, ocorrem cerca de 350.000 internações

por asma no Brasil, constituindo-se na quarta causa

de hospitalização pelo SUS e sendo a terceira causa

entre crianças e adultos jovens. A mortalidade por

asma ainda é baixa, mas apresenta magnitude

crescente em diversos países e regiões, como nos

países em desenvolvimento.

FISIOPATOLOGIA

Pacientes asmáticos sofrem ataques súbitos

incontroláveis de constrição brônquica, com estímulo

à produção de secreção (espessa), o que leva à

obstrução brônquica por tampão mucoso,

exacerbando a dificuldade respiratória (o

estreitamento das vias aéreas e o acúmulo de muco

na luz do brônquio dificultam as trocas gasosas). A

inflamação por si só, e também o estímulo à formação

LATE-UFRJ|2015

33

de microvasos, leva à formação de edema nas vias

aéreas, contribuindo para a obstrução.

O processo de inflamação crônica leva a

várias alterações estruturais. Há lesão na superfície

de contato com o ar, facilitando a exposição aos

microrganismos como bactérias e vírus. A inflamação

crônica leva à fibrose das vias aéreas, com alteração

das vias, resultando em prejuízos para a função

pulmonar em longo prazo.

A inflamação brônquica constitui o mais

importante fator fisiopatogênico da asma, sendo

resultante de uma reação de hipersensibilidade do

tipo I (mediada por Imunoglobulina E - IgE), em que

ocorrem interações complexas entre células

inflamatórias das vias aéreas, com liberação de

citocinas.

Cerca de 70% dos casos de asma se devem

à hipersensibilidade imediata mediada por IgE. Nos

30% restantes, a asma pode não estar associada a

essa reação de hipersensibilidade, podendo ser

desencadeada por estímulos não-imunológicos como

drogas, frio e exercício.

O processo inflamatório apresenta a seguinte

tríade clinico-patológica:

Obstrução intermitente e reversível das vias

aéreas;

Inflamação brônquica crônica com infiltração

eosinofílica;

Hipertrofia e hiperreatividade das fibras

musculares lisas brônquicas frente ao uso de

substâncias broncoconstritoras.

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

Estridor;

Sibilo (chiado) à respiração;

Tosse seca ou produtiva, com dificuldade de

expectoração;

Falta de ar;

Taquipneia;

Sensação de aperto ou dor no peito;

Cansaço.

A tosse apresenta intensidade variável,

ocorrendo particularmente à noite e pela manhã ao

despertar. As crianças podem ter predomínio de tosse

seca.

Os pacientes podem referir dificuldade de

encher os pulmões de ar, e apresentar

hiperventilação e utilização dos músculos acessórios

da respiração. Quando a asma está controlada, o

paciente pode ter exame físico normal.

PRINCIPAIS FATORES DESENCADEADORES

Poeira;

Mofo;

Pólen;

Pelos de animais;

Poluição (fumaça de cigarro e carro);

Alterações climáticas;

Gripes, resfriados, infecções respiratórias;

Ingestão de alguns alimentos;

Medicamentos (ex.: aspirina, betabloqueadores);

Estresse emocional.

PRIMEIROS SOCORROS

Como em muitos casos a pessoa já teve esse

quadro antes, provavelmente ela saberá identificar, e Fig.2.12: Constrição brônquica.

LATE-UFRJ|2015

34

até mesmo saberá a necessidade de procura por

auxílio médico. Ainda assim, é importante mantê-la

calma para que a crise não seja exacerbada, pois

estresse físico e emocional também podem ser

fatores desencadeadores. A hidratação deve ser

mantida normalmente.

Caso a vítima possua um inalador para asma

(bombinha de aerossol), prescrito por um médico,

devemos ajudá-la a usá-lo. Se necessário, a vítima

pode usar o inalador novamente dentro de 5 a 10

minutos. Entretanto, se sua condição não melhorar

com o tempo ou após o uso do medicamento, ou

mesmo piorar, procure atendimento médico

imediatamente para o tratamento hospitalar da crise.

Enquanto a ajuda médica não chega, observe

a evolução do quadro, atentando para a ocorrência de

uma possível parada respiratória, no caso de a crise

se intensificar e a vítima não melhorar com nenhuma

das medidas acima. Ocorrendo uma parada

respiratória, iniciar o Suporte Básico de Vida (SBV) e

procurar ajuda médica o mais rapidamente possível,

não esquecendo de que o quadro pode ainda evoluir

também para uma parada cardiorrespiratória.

PREVENÇÃO

Não há como prevenir a existência da

doença, mas sim as suas exacerbações e seus

sintomas diários. Segue algumas medidas de

prevenção:

Evitar qualquer contato com alérgenos que

possam desencadear uma crise asmática;

Encapar colchões e travesseiro;

Lavar semanalmente as roupas de cama;

Retirar cortinas, tapetes, carpetes;

Evitar contato com animais domésticos e plantas;

Arejar os ambientes da casa;

Não fumar perto de crianças (a fumaça do

cigarro favorece em cinco vezes o

desenvolvimento de asma);

Evitar exercícios em dias muito frios.

A prática de esportes, preferencialmente os

de resistência, devem ser estimulados. O esporte por

excelência recomendado é a natação, sobretudo se

for praticada em atmosfera quente e úmida.

No entanto, devem-se evitar os esportes de

inverno, pois podem desencadear a asma devido ao

esforço e ao frio. Os esportes de esforço esporádico

também devem ser evitados.

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LATE-UFRJ|2015

36

INTRODUÇÃO

A Consciência é definida como a capacidade

do indivíduo de reconhecer a si mesmo e aos

estímulos do ambiente. As alterações da consciência

podem ocorrer no nível de consciência ou no

conteúdo da consciência; ambas juntas englobam as

funções mentais e cognitivas do indivíduo. O

conteúdo de consciência é o somatório das funções

nervosas superiores e cognitivas do indivíduo, como

atenção, memória e linguagem. Já o nível de

consciência é relacionado com o grau de alerta do

indivíduo.

As alterações do nível de consciência podem

variar entre dois extremos, desde uma desorientação

têmporo-espacial até um estado de coma profundo.

Coma seria definido como o estado de inconsciência

de si mesmo e do ambiente, mesmo após estímulos

de diversas modalidades e intensidades, em que o

paciente permanece inerte. Estados intermediários de

alteração da consciência podem anteceder a

instalação do quadro e precisam ser reconhecidos. A

sonolência ou letargia é considerada um estado de

diminuição do nível de consciência em que o paciente

consegue ser acordado com estímulos brandos. O

estupor é considerado um estado de sonolência mais

profunda em que o indivíduo precisa receber

estímulos vigorosos e repetidos para despertar.

Entre os estados que levam a alteração do

conteúdo da consciência encontra-se o delirium.

Caracteriza-se por desorientação, déficit de atenção,

sensação de medo, irritabilidade e alterações da

percepção de estímulos sensoriais, como as

alucinações visuais. As alterações são mais evidentes

no conteúdo da consciência, embora os pacientes

possam inverter o seu ciclo sono-vigília e alternar

períodos de alerta e agitação com períodos de

sonolência. A demência é caracterizada como um

quadro de perda permanente e progressiva, em geral,

evoluindo em meses a anos, das funções cognitivas,

sem alteração do estado de alerta ou nível de

consciência.

Morte encefálica ocorre quando o dano

encefálico é tão extenso que não há potencial para

recuperação estrutural e funcional do encéfalo e o

mesmo não pode manter a homeostase interna

(funções cardiovasculares, respiratórias,

gastrointestinais e controle da temperatura corpórea).

Embora haja métodos artificiais para preservação de

órgãos periféricos (medidas de suporte cardiovascular

e ventilação mecânica), um corpo em morte

encefálica desenvolve falência cardiovascular em

alguns dias, raramente em algumas semanas, apesar

do mais meticuloso cuidado intensivo. O que separa o

estado de coma do diagnóstico de morte encefálica é

a irreversibilidade do último, com repercussões

sistêmicas sobre a homeostase de órgãos vitais,

baseadas em danos permanentes estruturais focais

ou difusos no encéfalo.

LATE-UFRJ|2015

37

COMA

POSSÍVEIS CAUSAS DE COMA

Para manutenção da vigília é essencial o

funcionamento adequado do Sistema Reticular

Ativador Ascendente (SRAA) que coordena as

funções superiores do córtex. Logo, quase todos os

casos de redução da vigília podem ser

correlacionados com anormalidades dos hemisférios

cerebrais ou com atividade reduzida do SRAA, seja

por lesões que danificam o SRAA ou suas projeções,

destruição de extensas áreas dos hemisférios

cerebrais e supressão da função reticulo cerebral por

fármacos, toxinas ou anormalidades metabólicas.

A entrada em um estado comatoso pode

ocorrer de duas maneiras distintas. A primeira é lesar

apenas a área de ativação cerebral, localizada no

tronco. Essa lesão pode ser causada pela presença

de um tumor, por hemorragia, por isquemia ou por

outras causas menos comuns. A segunda maneira é

lesar todo o córtex. Essa lesão extensa só acontece

quando há uma isquemia generalizada no cérebro

(como ocorre na parada cardíaca), quando há

ausência de algum nutriente essencial para o

encéfalo ou quando alguma substância nociva ao

cérebro está presente no organismo. Estas duas

últimas causas são denominadas "causas

metabólicas de coma".

I. AFECÇÕES PRIMITIVAS DO SISTEMA

NERVOSO CENTRAL E SEUS ENVOLTÓRIOS

Acidentes vasculares cerebrais;

Traumatismos cranioencefálicos;

Infecções do SNC e seus envoltórios (meningite,

encefalite);

Processos expansivos intracranianos (neoplasias,

abscessos);

Encefalopatias metabólicas primárias e

desmielinizante.

II. AFECÇÕES METABÓLICA:

Diabetes mellitus e estados hiperosmolares;

Endocrinopatias (mixedema, hipopituitarismo);

Hipoglicemia;

Uremia;

Hepatopatias;

Hipercalcemia e hipocalcemia;

Anormalidades hidro-eletrolíticas e do equilíbrio

ácido-base.

Fig. 3.1 Pesquisa realizada na UTI do Hospital Souza Aguiar

Fig. 3.2 Diabetes mellitus é um fator de risco para o coma.

LATE-UFRJ|2015

38

III. INTOXICAÇÕES EXÓGENAS

IV. INFECÇÕES SISTÊMICAS

V. ALTERAÇÕES CARDIOVASCULARES

VI. TRAUMATISMOS CRÂNIOENCEFÁLICOS (TCE)

Entre homens maiores de 35 anos de idade,

em geral, as colisões de veículos motorizados são

uma grande causa de mortes. Em mais de 70% dos

casos TCE.

TIPOS DE TCE

CONCUSSÃO

Ocorre perda imediata (porém transitória) de

consciência associada a um curto período de

amnésia ou confusão mental. A concussão grave

pode desencadear uma crise epiléptica breve ou

sinais autônomos como palidez facial, bradicardia,

síncope com hipotensão discreta e reação pupilar

lenta a luz.

CONTUSAO

Na contusão, existem graus variáveis de

hemorragia, edema e destruição tecidual. Os sinais

incluem hemiparesia, coma quando a contusão é

bilateral e delirium quando na região temporal

FRATURA DE CRÂNIO

As fraturas são indicadoras do local e da

gravidade da lesão. Configuram-se como porta de

entrada para bactérias e como possíveis áreas de

extravasamento de líquor.

IDENTIFICAÇÃO E MANEJO DO TCE

Deve-se desconfiar de TCE quando estão

presentes os seguintes sinais e sintomas:

deformidade do crânio, sangramento pela orelha ou

nariz, fluido rosáceo aguado saindo da orelha ou do

nariz (líquido cefalorraquidiano), Sinal do guaxinim

(escurecimento da região ao redor dos olhos depois

de algumas horas decorridas após o trauma), Sinal de

Battle (equimose que escurece a região posterior das

orelhas horas após o trauma), pupilas

desbalanceadas, sangramento profuso de escalpo se

houver ferimento aberto, ferimento perfurante

Fig. 3.3 Intoxicações exógenas.

Fig. 3.4 Trauma automobilístico

LATE-UFRJ|2015

39

produzido por PAF ou objeto empalado, sinais de

confusão mental e perda de memória.

Após a identificação do TCE, o socorrista

deve chamar o socorro especializado o mais rápido

possível e buscar imobilizar a cabeça e o pescoço da

vítima. O socorrista deve monitorar o ABC, cobrir

ferimentos com compressa limpa (de preferência

estéril) e seca, além de controlar o sangramento

aplicando pressão sempre ao redor do ferimento,

nunca sobre o local da fratura.

SÍNCOPE E LIPOTÍMIA

Síncope é a perda súbita e transitória de

consciência e do tônus muscular postural, tendo

quase sempre uma recuperação rápida da

consciência. Lipotímia ocorre sem a presença de

todos os sintomas anteriormente descritos (pré-

síncope). Suas causas podem ser psicogênicas ou

por redução aguda, mas transitória, do fluxo

sanguíneo cerebral.

Na maioria das vezes, a síncope se inicia

com uma sensação de fraqueza, tontura, sudorese e

palidez, ou pode acontecer sem manifestações

prodrômicas. A pressão arterial cai rápida e

intensamente, a frequência cardíaca diminui e a

respiração torna-se irregular. Após a recuperação,

pode haver confusão mental, cefaléia, tonturas, mal-

estar, ou o paciente pode apresentar nenhuma

alteração.

A investigação em um paciente que teve

desmaio compreende a análise do episódio em si:

tempo de duração, ocorrência ou não de convulsão,

incontinência fecal ou urinária, mordedura da língua,

sudorese e palidez, bem como eventuais sintomas

precedendo o ocorrido e manifestações surgidas após

a recuperação, assim como a investigação das

condições gerais do indivíduo acometido, o tempo

decorrido desde a última alimentação, o grau de

tensão emocional, a posição do corpo, a atitude do

paciente no momento da crise, se houve execução de

esforço físico ou mudança súbita de posição,

temperatura ambiente, doença recente ou prévia.

AS CAUSAS DA SINCOPE

Cardíacas (diminuição do fluxo sanguíneo

cerebral): taquiarritmias, bradiarritmias,

insuficiência cardíaca aguda, obstrução do fluxo

sanguíneo pulmonar, embolia pulmonar, estenose

pulmonar, hipertensão pulmonar primária,

estenose aórtica, hipotensão postural

(ortostática), diminuição mecânica do retorno

venoso, hipovolemia;

Extra-cardíacas: metabólicas (hiperglicemia,

hipóxia, alcalose respiratória), neurogênica

(Síndrome do seio carotídeo, Síncope vasovagal,

Síncope de micção, Neuralgia glossofaríngea,

epilepsia), obstrução extra-cardíaca de fluxo

sanguíneo (aterosclerose de vasos cerebrais,

reflexo da tosse, tamponamento cardíaco,

Fig. 3.5 Sinal do guaxinim.

Fig. 3.6 Deformidade no crânio.

LATE-UFRJ|2015

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compressão torácica, manobra de valsalva) e

psicogênica.

A síncope neurogênica é o tipo mais comum

de desmaio, podendo ser desencadeado por impacto

emocional, lugar fechado e ambiente quente. Uma

das principais características é a duração de poucos

segundos (raramente prolonga-se por alguns

minutos) e rápida recuperação. O mecanismo é o

desvio do sangue para os músculos em consequência

da queda da resistência periférica por vasodilatação.

Desse modo, há inibição generalizada do tono

simpático com o aumento relativo da atividade vagal,

por isso costuma-se ser designada de síncope vaso-

vagal.

A hipotensão postural caracteriza-se pela

queda tensional quando o paciente se levanta do leito

e adota a posição ereta, com o acúmulo de sangue

nos vasos dos membros inferiores e consequente

diminuição da perfusão cerebral. Costuma ser

observada após exercícios físicos exaustivos,

enfermidades prolongadas, desequilíbrios

hidroelétricos com depleção de potássio e sódio e

grandes varizes nos membros inferiores. Atualmente

as causas mais frequentes são o uso de

medicamentos anti-hipertensivos, principalmente

diuréticos e bloqueadores simpáticos.

A síndrome do seio carotídeo é uma

condição rara que se caracteriza por queda da

pressão arterial e acentuada bradicardia após

estimulação do seio carotídeo. O paciente apresenta

tontura, escurecimento visual, cefaléia e desmaio.

A hiperventilação com alcalose respiratória

ocorre principalmente em mulheres jovens, tensas e

ansiosas. Os sintomas são dormência nas

extremidades, ao redor da boca e região peitoral,

confusão mental e, mais raramente, tetania. A

síncope é causada por diminuição da perfusão

cerebral devido ao aumento da perfusão periférica,

resultante de uma vasodilatação que resulta em

hipotensão.

COMO PROCEDER?

Deve-se colocar a vítima em decúbito dorsal

com elevação dos membros inferiores, posição que

permite fluxo sanguíneo máximo. Todas as roupas

apertadas e outras constrições devem ser afrouxadas

e a cabeça deve ser virada, a fim de que a língua não

bloqueie as vias aéreas superiores e seja evitada a

broncoaspiração. Também é útil aplicar estímulos

periféricos, tais como derramar água fria sobre a face

e pescoço. Os indivíduos precisam ser observados

cuidadosamente por alguns minutos após recobrarem

a consciência e se levantarem.

A prevenção do desmaio depende do

mecanismo envolvido. No caso da síncope vasovagal,

a orientação para que os pacientes evitem as

situações desencadeantes é o suficiente. Na

hipotensão postural, os pacientes devem ser

alertados para não se levantarem muito rapidamente

da cama. Em vez disso, devem primeiro exercitar as

pernas por alguns segundos e depois se sentarem na

beira da cama a fim de assegurarem que não estão

tontos antes de se levantarem. Em geral, também é

útil dormir com a cabeceira elevada e usar cinta

abdominal e meias elásticas. No caso da síncope do

seio carotídeo, deve-se orientar o paciente a usar

colarinhos frouxos e virar-se com o corpo todo, em

vez de girar apenas a cabeça, quando for olhar para

os lados.

Nos indivíduos idosos, o principal perigo de

um desmaio não é a doença subjacente, mas as

fraturas ou outros traumatismos devidos à queda.

Portanto, pacientes sujeitos às síncopes recidivantes

devem cobrir o chão do banheiro e boxe ou banheira

com tapetes de borracha e, se possível, colocar

carpetes nos cômodos da casa. Os passeios fora de

casa devem ser feitos em chão macio, além disso,

deve evitar ficar parado de pé, já que isso aumenta a

possibilidade de uma síncope.

LATE-UFRJ|2015

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CONVULSÃO

As convulsões são movimentos musculares

súbitos, incoordenados, involuntários e paroxísticos

que ocorrem de maneira generalizada ou em

segmentos do corpo. Elas surgem de descargas

bioelétricas originadas em alguma área cerebral com

imediata estimulação motora. Ocorre em epilepsia,

tétano, estados hipoglicêmicos, intoxicações

exógenas (álcool, inseticidas), tumores cerebrais,

meningites e em episódios febris em crianças.

As convulsões podem ser tônica, clônicas ou

tônico-clônicas. Convulsões tônicas se caracterizam

por serem sustentadas e imobilizar as articulações; as

clônicas são rítmicas alterando-se contração e

relaxamento musculares em um ritmo mais ou menos

rápido; as tônico-clônicas possuem características

tônicas e clônicas.

O quadro mais típico de convulsão constitui

da perda abrupta da consciência com queda ao solo,

seguindo uma fase de enrijecimento global (fase

tônica) substituída por contrações musculares

sucessivas, generalizadas e intensas (fase clônica).

Em 2 a 5 minutos, a crise cessa e o paciente entra

em relaxamento total e sono profundo do qual é

dificilmente despertado. Algum tempo depois acorda

atordoado, com mal-estar e sem lembranças do

acontecido. Durante o episódio geralmente observa-

se cianose, sialorreia, incontinência de esfíncteres,

mordedura da língua e ferimentos diversos.

Epilepsia designa a existência de uma

desordem neurológica associada a crises episódicas

e recorrentes. Crises epiléticas são eventos clínicos

fundamentados em alterações crônicas do equilíbrio

excitatório/inibitório em regiões mais ou menos

extensas do córtex cerebral e das propriedades de

comunicação celular e programação dos potenciais

nas redes neurais. Estresse psicológico ou físico,

privação do sono, alterações hormonais, exposição a

substâncias tóxicas e alguns fármacos são

identificados como alguns dos fatores

desencadeadores das crises epiléticas.

A ocorrência de uma crise epilética isolada

por si só não representa evidência de doença

Fig. 3.7 Posição lateral de segurança.

LATE-UFRJ|2015

42

neurológica, eventos convulsivos isolados podem

representar somente respostas do sistema nervoso

central a uma grande variedade de agressores

esporádicos do equilíbrio excitatório/inibitório do

córtex cerebral.

Nos países desenvolvidos, sua incidência é

estimada em 40-50/100.000 hab/ano, enquanto que

nos em desenvolvimento é de 122-190/100.000

hab/ano. Pacientes com epilepsia apresentam uma

taxa de mortalidade maior que a população em geral

(maior para pacientes do sexo masculino). As causas

mais comuns são infecções pulmonares, suicídios e

acidentes. Morte súbita representa causas menos

frequentes.

COMO PROCEDER?

Devem-se afastar móveis e objetos que

estejam próximos da vítima, colocá-la de maneira

confortável e com algo macio atrás da cabeça

evitando que ela se machuque, afrouxar as roupas

(especialmente na região ao redor do pescoço) e

esperar o término da crise convulsiva e a retomada

de consciência pela vítima. Após o término da

convulsão, a vítima pode permanecer inconsciente,

porém respirando. Neste caso, deve-se colocá-la em

posição lateral de segurança. NUNCA segure a

vítima, coloque algo em sua boca ou dê comidas e

bebidas. Caso não esteja respirando após o término

da crise, seguir o protocolo do BLS.

HIPERGLICEMIA

A hiperglicemia é mais comum no indivíduo

diabético. No entanto, pode ser observada após

alimentação exagerada sem restrição, sedentarismo e

síndromes metabólicas. O aumento da glicose no

sangue coincide com seu aumento na urina,

causando diurese osmótica e polidipsia. No caso dos

diabéticos, a ausência ou deficiência de insulina

causa paralelamente cansaço, sonolência, polifagia,

pele seca e dor de cabeça, evoluindo para náuseas,

vômitos e hálito cetônico, podendo levar ao coma

diabético.

Recém nascidos com hiperglicemia não

cetônica são normais ao nascimento e, à medida que

recebem alimentação, desenvolvem progressivo

acúmulo de amônio no plasma. Os sintomas após as

primeiras 24h, uma vez iniciada a amamentação,

caracterizam-se por alterações da vigília, sonolência,

vômitos, crises de apneia, crises convulsivas de difícil

controle e coma. Se não for revertido, leva o recém

nascido a óbito ou produz lesões cerebrais graves.

Fig. 3.8 Sinais e sintomas da hiperglicemia.

LATE-UFRJ|2015

43

COMO PROCEDER?

A principal consequência da hiperglicemia é a

desidratação. Caso o indivíduo esteja inconsciente,

deve-se chamar o socorro e avaliar o ABC da vida.

Caso a vítima esteja consciente, mas houver

dúvida entre hipo ou hiperglicemia, deve-se

administrar uma bebida com açúcar, como por

exemplo, um refrigerante, e aguardar por 15

minutos. Caso não haja melhora chamar o socorro.

Esta medida leva em consideração que a

hipoglicemia é um estado de maior gravidade,

podendo causar seqüelas neurológicas, enquanto que

uma pequena dose de açúcar ao indivíduo

hiperglicêmico não irá causar danos maiores.

HIPOGLICEMIA

A hipoglicemia é mais comumente causada

por medicamentos usados para tratar o diabetes

mellitus ou exposição a outras drogas, como o álcool.

Entretanto, diversos outros distúrbios como sepse,

insulinoma, inanição, entre outros, podem causar

hipoglicemia.

Se for intensa e prolongada, a hipoglicemia

pode ser fatal. As manifestações clínicas são

resultado da privação de glicose ao sistema nervoso

central e incluem: alterações comportamentais,

confusão, fadiga, crises convulsivas e perda da

consciência.

Os sintomas neurogênicos são decorrentes

da resposta fisiológica à percepção da hipoglicemia e

incluem sintomas adrenérgicos como palpitações,

tremores e ansiedade; e sintomas colinérgicos como

sudorese, fome e parestesias. Os sintomas clássicos

da hipoglicemia são transpiração e palidez. Observa-

se também elevação da freqüência cardíaca e da

pressão arterial.

COMO PROCEDER?

Ao perceber sinais de hipoglicemia pode-se

administrar 15 gramas de açúcar (2 colheres de chá

ou 100ml de suco de laranja), e chamar o socorro

médico especializado. Em caso de perda de

consciência, deve-se seguir o protocolo do BLS.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PORTO. Semiologia Médica. 6. ed.

HARRISON. Medicina Interna. 17. ed. Rio de

Janeiro: Mc Graw-Hill Interamericana do Brasil, 2008.

DE ANDRADE, A. F. et al. Coma and other

consciousness disorders. Rev. Med. (online). 2007.

<http://gerenciadeprojetos.com/coma/CEV01001.htm

>. Acesso em: 03 mar. 2012.

<http://www.marimar.com.br>. Acesso em: 03 mar.

2012.

http://rmtonline.globo.com/banco_imagens/acidente_070_595b.jpg

Fig. 3.8 Sinais e sintomas da hipoglicemia.

LATE-UFRJ|2015

44

INTRODUÇÃO

Corpo estranho é qualquer material que

entrando em contato com algum local do organismo

pode causar desconforto, ferimento ou prejuízo de

alguma função. Vários tipos de objetos estranhos ao

nosso corpo podem penetrar acidentalmente nos

olhos, ouvidos, nariz e garganta, sendo um episódio

muito comum, podendo ocorrer nas circunstâncias

mais inesperadas.

São pequenas partículas, de variada origem

e constituição física que, muitas vezes, apesar de

aparentemente inofensivas devido ao tamanho,

podem causar danos físicos e desconforto sério. Os

exemplos mais clássicos são vidros, madeiras,

poeira, areia, limalha de ferro, grãos diversos, peças

de brinquedos, grampos e até mesmo insetos.

OLHOS

Os corpos estranhos nos olhos podem ser

classificados como móveis (tais como ciscos, cílios,

insetos) ou fixos (limalhas de ferro, vidros). A primeira

coisa a ser feita é procurar reconhecer o objeto e

localizá-lo visualmente.

Em casos de corpos estranhos móveis, pede-

se à vítima que feche e abra os olhos repetidamente

para permitir que as lágrimas lavem os olhos e,

possivelmente, removam o corpo estranho. Não

obtendo sucesso, deve-se realizar a lavagem do olho

com água corrente no sentido medial-lateral, durante

15 minutos. Muitas vezes a natureza e o local de

alojamento do corpo estranho não permitem o

lacrimejar, pois pode provocar dor intensa e até

mesmo lesão de córnea, nestes casos não se deve

insistir para a vítima abrir e fechar os olhos.

Caso o objeto estranho se encontre na

pálpebra superior pode ser realizada a manobra de

eversão palpebral para melhor acesso ao mesmo. A

vítima deve manter-se com o olho acometido fechado,

enquanto o socorrista, com as mãos devidamente

limpas, promove a eversão palpebral, expondo a

mucosa ocular. Essa manobra pode ser facilitada com

o uso de um cotonete de algodão umedecido com

água. Caso esteja alojado na pálpebra inferior

também pode-se remover o corpo estranho com

auxílio de um cotonete, conforme ilustrado na figura.

6ª Edição Atualização 2013

Fig. 4.1 Manobra para retirada de corpo estranho móvel

nos olhos.

LATE-UFRJ|2015

45

No caso de corpos estranhos fixos, tais como

limalha de ferro, farpas de madeira ou mesmo uma

faca, nunca deve-se tentar remover o objeto. O que

pode ser feito é a fixação do mesmo (com copos,

gazes e outros objetos), evitando destruição tecidual

pela movimentação do objeto, e a oclusão do olho

contralateral, já que os movimentos oculares tendem

a ser conjuntos.

Em nenhum caso é aconselhado esfregar os

olhos, utilizar colírio anestésico e colocar pomadas, já

que isso dificultaria a avaliação médica.

ORELHA

Corpos estranhos podem penetrar

acidentalmente também nas orelhas, especialmente

na área correspondente ao canal auditivo externo.

Estes acidentes são mais comuns com crianças.

Nesses casos, pode-se tentar identificar o

objeto estranho. Se o objeto estiver se

movimentando pensa-se em inseto. No caso de

pequenos insetos, a primeira medida é tentar atraí-lo

para fora usando uma luz colocada próximo ao canal

auditivo, puxando-se a orelha acometida para trás.

Recomenda-se realizar esse procedimento em um

ambiente escuro. Não havendo sucesso, a medida

seguinte deve ser a colocação de algumas gotas de

óleo, a fim de imobilizar os movimentos de asas ou

patas do inseto. Após, inclina-se a cabeça para o

lado na tentativa de colocar o inseto para fora do

ouvido, que deverá deslizar com o óleo.

No caso de objeto inerte, deve-se posicionar

a cabeça da vítima de forma que o lado afetado fique

para baixo. Após, movimente o lóbulo da orelha

acometida de um lado para outro e ao mesmo tempo

realize movimentos suaves com a cabeça, tentando

fazer com que o objeto caia por ação da gravidade.

Não introduza no ouvido nenhum tipo de

instrumento, como pinças e cotonetes, pois há o risco

de perfurar a membrana timpânica ou aprofundar o

corpo estranho.

NARIZ

Um corpo estranho, permanecendo no nariz,

pode causar irritação, infecção ou obstrução da

respiração. Para esses casos, deve-se apertar

suavemente a narina livre e pedir que a pessoa feche

a boca e expire pela narina obstruída. Normalmente

este procedimento ajuda a expelir o corpo estranho.

Se o mesmo não puder sair com facilidade, devemos

procurar auxílio médico imediatamente. Nunca deve-

se tentar remover objetos que não estejam visíveis ou

fáceis de serem retirados ou utilizar chumaços de

algodão e outros recursos semelhantes.

FARINGE

Corpos estranhos na garganta (como moedas

e, principalmente, espinhas de peixe) podem obstruí-

la, provocar lesões e asfixia, por impedir a entrada de

ar nos pulmões.

Morte por Obstrução de Vias Aéreas por

Corpo Estranho (OVACE) é muito comum, ainda que

totalmente evitável. O caso mais comum de OVACE

em adultos é por alimentos e ocorre durante as

refeições. Já as crianças, além de obstrução por

alimentos, podem engolir objetos pequenos que

acabam obstruindo as suas vias aéreas.

O socorrista, deve ser capaz de diferenciar

um OVACE de um AVC, convulsão ou desmaio, já

que esses podem ter alguns sinais em comum.

SINAIS MAIS COMUNS DE OVACE

Dificuldade de respirar

Cianose

Agitação

Tosse silenciosa

Inabilidade de falar (obstrução total)

Ausência de choro (criança)

Segurar o pescoço (“Sinal Universal de Asfixia”)

LATE-UFRJ|2015

46

FORMAS DE OVACE

De acordo com o posicionamento do corpo

estranho nas vias aéreas da vítima, podemos definir

duas formas de OVACE:

Obstrução parcial: a vítima ainda é capaz de

falar e até mesmo tossir, mesmo que com

dificuldade, pois ocorre a passagem de ar de

forma parcial. Neste caso, o socorrista não deve

interferir diretamente, mas sim estimular a vítima

a expelir o corpo estranho por meio da tosse.

Somente deve-se interferir caso a vítima

demonstre sinais de obstrução severa (total)

como o aumento na dificuldade de respirar, a

tosse tornar-se silenciosa, ocorrendo ou não

perda da consciência.

Obstrução total: nessa situação o corpo

estranho posiciona-se de tal forma que bloqueia

completamente a passagem de ar, tornando a

vítima incapaz de falar, tossir e, principalmente

respirar. Nesse caso, o auxílio do socorrista é de

grande valia, pois a vítima por si só

provavelmente não será capaz de expelir o corpo

estranho somente com seu reflexo de tosse; para

tanto serão necessárias algumas manobras

detalhadas a seguir.

MANOBRAS DE DESOBSTRUÇÃO DAS VIAS

AÉREAS

Existem algumas manobras que o socorrista

pode executar visando auxiliar à vítima a expelir o

corpo estranho. Lembre-se: antes da realização de

qualquer manobra, o auxílio especializado deve ser

chamado.

I. TAPOTAGEM

Esta manobra deve ser realizada para

lactentes e crianças pequenas.

Apoie a cabeça da vítima com sua mão e

deite-a com o rosto voltado para baixo sobre seu

antebraço e coxa, desse modo, a criança deve ser

colocada em desnível, permitindo o auxílio da

gravidade. Em seguida, com uma das mãos o

socorrista aplica cinco “palmadas” com sua mão em

forma de concha, no dorso da criança, em região

mediana na linha infraescapular. Após isso, vire a

criança anteriormente e observe a presença do corpo

estranho na cavidade oral da mesma. Caso não haja

nada que possa ser retirado, aplique mais cinco

compressões torácicas abaixo do ponto da

compressão cardíaca. Repita esse ciclo até que o

bebê expila o corpo responsável pela obstrução, ou

aplique o RCP pediátrico no caso de insucesso.

Quadro 4.1 “TAPINHA NAS COSTAS” O conhecido tapa aplicado no dorso em situações

de OVACE não deve ser utilizado como forma de auxiliar

uma pessoa que esteja obstruída, pois a força aplicada

pode fazer com que o corpo estranho movimente-se,

transformando, assim, uma obstrução parcial em uma total,

agravando o quadro.

LATE-UFRJ|2015

47

II. MANOBRA DE HEIMLICH

É utilizada para adultos e crianças maiores.

Não é recomendada para bebês e grávidas, pois

pode causar lesões.

Com a vítima em pé, o socorrista deve

posicionar uma de suas pernas entre as pernas da

vítima e a outra afastada posteriormente, de modo a

amparar a vítima caso perca a consciência. Após

esse posicionamento inicial, deve-se envolver a

região abdominal com os braços, posicionando a

porção medial da mão acima da cicatriz umbilical, em

seguida, cerrando o punho e rotacionando-o

superiormente até que o seu polegar posicione-se

abaixo do esterno (no apêndice xifóide) da vítima. A

outra mão envolve a primeira e realiza movimentos

rápidos para dentro e para cima, em “J”. A sequência

deve ser repetida até o corpo estranho seja expelido.

O objetivo da manobra é realizar compressões

abdominais que, aumentando a pressão abaixo da

obstrução, permita que o corpo estranho seja

expelido.

Caso a vítima perca a consciência, ampare-a até o

chão, posicionando-a em decúbito dorsal, e aplique

em seguida as manobras de RCP. Não é mais

recomendado que se aplique a compressão

abdominal, devido ao maior risco de broncoaspiração.

Após a vítima expelir o corpo estranho o socorrista

deve iniciar a sequência ABCD.

No caso da utilização de tal manobra em

crianças, o mais adequado é que o socorrista, sendo

um adulto, ajoelhe-se de modo a ficar na altura da

vítima, pois ao ficar em pé, a força aplicada contra o

diafragma da criança, pode acabar elevando-a

alterando a eficácia da manobra.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMERICAN HEART ASSOCIATION. Part 4: Adult

Basic Life Support. Circulation [online]. 2005, v. 112;

IV-19-IV-34.

ASSOCIAÇÃO CIVIL DE PESQUISA E

DESENVOLVIMENTO EM SAÚDE (ACINDES).

Primeiros socorros, RCP e DEA Padrão, Primeira

edição em português. 1. ed. São Paulo: Editorial

Médica A.W.W.E., 2008.

Fig. 4.3 Manobra de Heimlich.

Fig. 4.2 Manobra adequada de desobstrução das vias

aéreas em lactentes e crianças pequenas.

LATE-UFRJ|2015

48

BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo

Cruz. Manual de Primeiros Socorros. Rio de

Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2003. 170 p.

Disponível em:

<http://www.anvisa.gov.br/reblas/manual_primeiros_s

ocorros.pdf>. Acesso em 05 mar. 2012.

LATE-UFRJ|2015

49

INTRODUÇÃO

Em um país com quase dez mil quilômetros

de litoral e que abriga em suas bacias hidrográficas

mais de 10% da água doce de todo planeta, são

registrados números que revelam estatísticas

alarmantes. O Brasil é o 3° país com maior número

anual de mortes por afogamento; em 2011, foram

registrados 6.494 óbitos (3.4/100.000 habitantes).

Esta é a 2ª maior causa de morte entre crianças entre

um e nove anos. Em média homens morrem 6 vezes

mais que as mulheres por afogamento, e a maior

relação ocorre na faixa de 20 a 25 anos (13 vezes

mais). Felizmente, a maioria desses acidentes

aquáticos pode ser evitada, através de uma

orientação básica de prevenção, que qualquer

cidadão comum é capaz de seguir, e que reduziria

drasticamente os gastos anuais dos serviços de

saúde em consequência de afogamentos.

De acordo com a OMS, 0,7% de todos os

óbitos no mundo ocorrem por afogamento não

intencional, perfazendo mais de 500.000 óbitos

anuais (8.5 óbitos/100.000 hab.) passíveis de

prevenção. Entretanto o número exato é

desconhecido em razão de casos não notificados,

sem confirmação de óbito e, além disso, como o

Código Internacional de Doenças (CID 10) é ainda

inadequadamente preenchido e possui falhas na

identificação correta do problema, estes números são

ainda subestimados, mesmo em países

desenvolvidos. Afogamentos por enchentes e

Tsunamis, por exemplo, não são muitas vezes

contabilizados como afogamento.

Por outro lado, considerando a incidência de

1 morte para cada 13 sobreviventes num acidente

com afogamento (estatística norte-americana),

estima-se que aproximadamente 2 milhões de

pessoas sobrevivem a acidentes com afogamento

anualmente no mundo.

Junto a isso, quando consideramos o tempo

de exposição ao risco de acidente, o afogamento tem

200 vezes mais risco de óbito que os acidentes de

transporte. Informações coletadas diretamente dos

serviços de salvamento mostram que apenas 2% de

todos os resgates realizados por guarda-vidas

necessitam de cuidados médicos, e 0,5% sofreram

ressuscitação, evidenciando que ao analisar todo

atendimento hospitalar ou atestado de óbitos em

afogamento podemos apenas ver uma pequena parte

do problema, e que ainda hoje não temos ferramentas

para mensurar o fardo deste problema.

Desde 2003, adota-se o conceito de

afogamento publicado na revista Circulation, que

define esse tipo de trauma como o “processo que

resulta em dificuldade respiratória devido à

submersão/imersão em meio líquido. Implícito nessa

definição está o fato de que existe uma interface

líquido/ar na via aérea da vítima, impedindo-a de

respirar. A vítima pode permanecer viva ou vir a

falecer após esse processo, mas independente do

resultado diz-se que ela esteve envolvida em um

acidente com afogamento. Não há diferenças na

LATE-UFRJ|2015

50

fisiopatologia do afogamento em água doce ou água

salgada.

Um afogamento primário é aquele que não

apresenta nenhum fator desencadeante do acidente;

é o tipo mais comum. O afogamento secundário

ocorre quando existe alguma causa que tenha

impedido a vítima de se manter na superfície da

água, contribuindo para afogamento: drogas

(principalmente álcool), convulsão, traumatismos,

doenças cardíacas e/ou pulmonares, acidentes de

mergulho, hidrocussão, lipotímia e outros.

Um incidente com imersão ou submersão

sem evidência de dificuldade respiratória é

considerado resgate aquático.

PREVENÇÃO

Sabe-se que os banhistas mais suscetíveis a

se tornarem vítimas de afogamento são aqueles mal

orientados, que em sua maioria moram fora da orla

e/ou desconhecem características das águas da

região onde estão. Outros fatores de risco são: o sexo

masculino, idade inferior a 14 anos, uso de álcool,

epilepsia, baixa renda familiar, baixo nível

educacional, residência rural, maior exposição ao

meio aquático, comportamento de risco e falta de

supervisão.

Um estudo recente da Associação Americana

de Salvamento Aquático estima que para cada

resgate realizado, 43 outros casos são evitados pela

prevenção realizada pelos guarda-vidas em praias.

Esta consiste em advertências e avisos aos

banhistas, algumas regras de conduta em relação ao

lazer aquático: pequenas ações que podem salvar

vidas.

PRAIAS

Nade sempre perto de um guarda-vidas;

Pergunte ao guarda-vidas o melhor local para o

banho;

Não superestime sua capacidade de nadar:

46.6% dos afogados acham que sabem nadar;

Tenha sempre atenção com as crianças; elas

nunca devem entrar na água sem supervisão;

Antes de mergulhar no mar, certifique-se da

profundidade;

Procure mergulhar em águas fundas e nadar em

águas rasas;

Nade longe de pedras, estacas ou piers;

Evite ingerir bebidas alcoólicas e alimentos

pesados antes do banho de mar;

Crianças perdidas: leve-as ao posto de guarda-

vidas;

Fig. 5.2 Fisiopatologia da insuficiência respiratória pela aspiração (Hasibeder WR4)

Fig 5.1 Tipos de acidente na água e fases do afogamento (Modificado de Szpilman)

LATE-UFRJ|2015

51

Nunca tente salvar alguém em apuros se não

tiver confiança em fazê-lo. Muitas pessoas

morrem desta forma;

Ao pescar em pedras, observe antes se a onda

pode alcançá-lo;

Afaste-se de animais marinhos como água-viva e

caravelas;

Tome conhecimento e obedeça as sinalizações

de perigo na praia.

OS PERIGOS DO MAR: VALAS OU CORRENTES

DE RETORNO

Verificadas com maior frequência em praias

rasas, intermediárias e de tombo, essas correntes são

formadas devido à força gravitacional, por toda a

massa de água que reflui para o mar depois de

quebrar na forma de ondas em direção à areia. No

seu retorno, a água percorre o caminho de menor

resistência, aprofundando um canal em formação que

“arrasta” o banhista para alto mar.

As valas são consideradas áreas perigosas

pela alta velocidade e força das águas, capazes de

cansar um nadador a ponto de causar fadiga e

facilitar o afogamento. Tal fenômeno é a maior causa

de resgates executados pelos guarda-vidas, e é

responsável por aproximadamente 85% dos

afogamentos que ocorrem no litoral do Estado do Rio

de Janeiro. Assim, torna-se crucial a identificação de

como, onde e quando essas correntes se manifestam,

listando seus principais sinais e características, e a

respectiva divulgação através da mídia, para a efetiva

redução do alarmante número de casos de

afogamento anualmente.

Infelizmente, estudos mostram que 70% da

população jamais ouviu falar nesse tipo de corrente e

apenas 2% sabem reconhecê-las.

Fig. 5.3 Posto de guarda-vidas em praia

Fig. 5.4 e 5.5 Áreas de “valas” em praias

LATE-UFRJ|2015

52

Como identificá-las:

As ondas não quebram sobre elas, parecendo um

“corredor” sem ondas;

As correntes de retorno deixam a superfície

turbulenta, “mexida”;

Apresentam uma tonalidade mais escura ou

marrom, como se fossem sujas, por conta da

suspensão da areia do fundo do mar que

promovem.

Geralmente aparecem entre dois locais mais

rasos (bancos de areia).

Se você entrar em uma vala, nade

transversalmente a ela até conseguir escapar ou peça

imediatamente socorro.

PISCINAS

Cerca de 65% das mortes por afogamento

ocorrem em água doce, mesmo em áreas

quentes da costa;

Crianças devem sempre estar sob a supervisão

de um adulto, o que não ocorre quase 90% das

vezes;

Leve sempre sua criança consigo caso necessite

afastar-se da piscina;

Isole a piscina – tenha grades com altura de

1.50m e 12 cm entre as verticais. Elas reduzem o

afogamento em 50 a 70%;

Cuidado! Bóia de braço não é sinal de

segurança;

Evite brinquedos próximos à piscina, isto atrai as

crianças;

Desligue o filtro da piscina em caso de uso;

Use sempre telefone sem fio na área da piscina;

Não pratique hiperventilação para aumentar o

fôlego sem supervisão confiável;

Cuidado ao mergulhar em local raso (coloque

aviso);

Se você tem uma piscina, certifique-se que todos

na sua casa saibam realizar os primeiros

socorros.

Aulas de natação para crianças (idade depende

do desenvolvimento cognitivo e motor).

IDENTIFICANDO O BANHISTA

IMPRUDENTE

Saber identificar uma vítima em potencial pode

prevenir um caso de afogamento, e também evitar o

agravamento de uma situação de perigo. Portanto

observe com atenção:

Fig. 5.6 Dinâmica das correntes de retorno

Fig 5.7 Como escapar das correntes de retorno

LATE-UFRJ|2015

53

Idosos e crianças pequenas;

Pessoas obesas ou aparentemente cansadas;

Turistas e estranhos ao ambiente (vestimenta e

equipamentos inadequados, grupos grandes, etc);

Alcoolizados;

Pessoas que utilizam permanentemente objetos

flutuantes (elas podem não saber nadar sem

eles);

Pessoas que entram na água eufóricas ou depois

de comer muito;

Pessoas que ignoram a sinalização e entram, por

exemplo, diretamente em uma área de corrente

de retorno.

Na água: nada destacado dos outros; falta de

atenção; comportamento assustado.

Quando reconhecê-las, oriente-as a se banhar

próximo a um posto de salvamento e a informar-se

com o guarda-vidas sobre o melhor local para banho.

PRIMEIROS SOCORROS

Uma vítima que já está se afogando

apresenta expressão facial assustada ou

desesperada; afunda e emerge diversas vezes, com o

cabelo no rosto; nada ou bate os braços sem sair do

lugar; nada contra a correnteza; se posiciona na

vertical e olhando para a areia ou a margem.

Quando o socorrista perceber um afogamento

deve, primeiramente, prezar por sua própria

segurança, tomando os cuidados necessários para

não se tornar mais uma vítima. Uma pessoa se

afogando entra em pânico e, instintivamente, pode

tentar usar o socorrista como apoio, levando-o ao

fundo. Por isso, sempre se deve tentar realizar

socorro sem entrar na água.

Para uma vítima que se encontra em local

próximo à margem, procure um objeto longo, como

uma tábua, um cabo de vassoura ou um galho.

Mesmo a curta distância, não ofereça suas mãos,

pois você pode ser puxado e perder o equilíbrio

caindo na água.

Ainda fora da água, para ajudar uma vítima

distante da margem, procure arremessar algo que

flutue (uma garrafa pet fechada, uma tampa de isopor

ou uma bola), para que a vítima mantenha sua

cabeça fora da água. Preferencialmente, este objeto

deve estar amarrado à uma corda, para que a vítima

seja puxada para fora da água.

Lembre-se de que um bom socorrista não

tenta ser herói, e que chamar ajuda contribui muito

para o sucesso do resgate. Por isso, ao identificar

alguém se afogando, chame o guarda-vidas mais

próximo ou ligue para os bombeiros (193), ou peça

para alguém fazê-lo. Ao ser resgatada, esta pessoa

poderá precisar de cuidados médicos especializados.

Fig. 5.8 Maneira correta de auxiliar vítima próxima à

margem

Fig. 5.9 Arremesso de objeto flutuante no resgate à

vítima longe da margem

LATE-UFRJ|2015

54

Caso seja necessário e o socorrista esteja

seguro e confiante para entrar na água é preciso

avisar alguém que tentará resgatar a vítima e também

chamar o socorro profissional. Além disso, ele deve

levar consigo um material de flutuação (pranchas,

bóias, etc.), remover roupas e sapatos que possam

dificultar seu deslocamento e também procurar nadar

com a cabeça fora da água, sem tirar os olhos da

vítima.

Ao chegar próximo à vítima, o socorrista

deve, sem se aproximar muito, entregar-lhe o material

de flutuação, deixar que a vítima se acalme e rebocá-

la até uma área seca. Caso esteja sem forças, deve

manter a vítima flutuando e acenar, pedindo ajuda.

SE VOCÊ FOR A VÍTIMA

Mantenha a calma, evitando o desgaste muscular

desnecessário, flutue e acene por socorro;

No mar, uma boa forma de se salvar é nadar ou

deixar se levar para o alto mar, fora do alcance da

arrebentação e a favor da correnteza, acenar por

socorro e aguardar. Ou ainda, tentar alcançar um

banco de areia, quando visível.

Em rios ou enchentes, procure manter os pés à

frente da cabeça, usando as mãos e os braços

para dar flutuação. Não se desespere tentando

alcançar a margem de forma perpendicular tente

alcança-la obliquamente, utilizando a correnteza a

seu favor.

BLS NO AFOGAMENTO

Em vítimas inconscientes, verifica-se a boa

ventilação ainda dentro da água. Caso haja parada

respiratória, iniciar precocemente as ventilações de

resgate ainda dentro da água pode aumentar a

sobrevida sem sequelas desses pacientes em até três

vezes, por encurtar o tempo de hipoxemia (baixa de

oxigênio no sangue).

Esse procedimento só deve ser realizado

quando há dois socorristas ou um material de

flutuação, o que permite que a vítima esteja flutuando

enquanto o socorrista realiza as respirações, sendo

estas realizadas até a chegada à praia ou borda da

piscina, evitando a progressão para uma parada

cardiorrespiratória.

O transporte na transição entre água e área

seca deve ser feito com a vítima em posição vertical,

mantendo as vias aéreas abertas (“transporte

australiano”). Ao chegar em local seco, o socorrista

deve continuar realizando o BLS, ou iniciá-lo,

verificando desde a consciência da vítima e

executando duas ventilações de resgate. O afogado

deve ser colocado em posição paralela à água, de

forma que o socorrista fique com suas costas

Fig. 5.10 Início do BLS ainda na água: ventilações de

resgate.

LATE-UFRJ|2015

55

voltadas para o mar, e a vítima com a cabeça do seu

lado esquerdo. A cabeça e o tronco devem ficar no

mesmo nível.

A RCP deve ser iniciada imediatamente, para

que a oxigenação, ventilação e a perfusão sejam

restauradas o mais rapidamente possível, e o serviço

médico de emergência acionado o quanto antes.

Nos casos em que a causa presumida da

parada cardíaca é o afogamento, ou seja, de natureza

hipóxica, o novo protocolo da American Heart

Association preconiza o uso da sequência tradicional

ABC da RCP. Caso a vítima não recomece a

respiração após as ventilações de resgate, os devem

secar a área do peito e utilizar o DEA; ou, na

ausência deste, iniciar as compressões torácicas, que

devem obedecer a relação ventilações/compressões

de 2:30 (no caso de um socorrista), com reavaliações

a cada 5 ciclos.

ATENÇÃO! Nunca tente extrair água das vias

aéreas da vítima com manobras como colocar a

vítima de bruços, Heimlich, batidas no peito, etc.

Ainda que água tenha sido aspirada, o volume desta

é pequeno na maioria das vítimas, e a água pode ser

rapidamente absorvida para a circulação central.

Esses procedimentos são desnecessários e

potencialmente perigosos, ocasionando ejeção do

conteúdo gástrico com possível aspiração bronco-

pulmonar, piorando o estado da vítima.

A RCP deve ser realizada em todas as

vítimas de afogamento com tempo de imersão inferior

à 1 hora. Existem casos descritos de sucesso na

reanimação de afogados após 2 horas de manobras e

casos de recuperação sem danos ao cérebro até 1

hora de submersão.

As manobras podem ser paradas se houver

resposta da vítima de retorno da função respiratória e

dos batimentos cardíacos (continuar acompanhando

pelos próximos 30 minutos, pois há chance de nova

parada); em caso de exaustão do socorrista; ou ao

entregar o afogado à equipe médica. A RCP não deve

ser realizada em vítimas que apresentem rigidez

cadavérica; livores ou sinais de decomposição.

O afogamento pode ser classificado em graus

de 0 a 6, ou a vítima pode ser classificada como um

cadáver, segundo critérios de que levam em conta

sinais e sintomas e relacionam-se com procedimentos

realizados por profissionais para o Suporte Avançado

de Vida (ACLS).

Fig. 5.11 Os “elos” no afogamento

LATE-UFRJ|2015

56

OUTROS ACIDENTES NA ÁGUA

SÍNDROME DE IMERSÃO

Também conhecida vulgarmente como

“choque térmico”, a hidrocussão é provocada por uma

exposição súbita a uma temperatura abaixo da

corporal, produzindo então uma arritmia cardíaca, que

pode levar à parada cardiorrespiratória ou à perda de

consciência, uma vez que a capacidade do coração

de bombear sangue fica reduzida, gerando queda da

pressão e diminuição do fluxo sanguíneo para o

cérebro.

O “choque térmico” pode ser evitado se

molharmos a face e o pescoço antes de mergulhar.

Caso você testemunhe um caso de hidrocussão,

retire imediatamente a vítima de dentro da água e

inicie o suporte básico de vida.

HIPOTERMIA

As vítimas de submersão podem desenvolver

hipotermia primária ou secundária.

Se a submersão ocorrer em água gelada

(<5°C) pode reduzir a temperatura do corpo humano

abaixo de 35ºC em poucos minutos, quando os

mecanismos compensatórios corporais de produção e

conservação de calor começam a falhar, levando à

hipotermia primária. Como conseqüência, pode

ocorrer perda de consciência e afogamento

secundário ou até uma arritmia cardíaca com parada

cardíaca e consequente morte. A hipotermia pode ser

acelerada em águas mais frias; indivíduos pequenos

e magros; uso de pouca roupa (menor isolamento);

atividade física; uso de álcool (dilatação de vasos

superficiais).

Caso a vítima não possa ser resgatada

imediatamente, deve-se instruir que ela faça o mínimo

de esforço possível para flutuar. No caso de haver

mais de uma vítima, faça com que formem um círculo

fechado com seus tórax juntos para manter o calor.

A hipotermia pode também ser secundária,

como uma consequência da perda de calor por

evaporação durante a ressuscitação.

No afogamento, a hipotermia não é protetora.

Vários estudos clínicos pequenos em pacientes com

hipotermia acidental têm mostrado que a

sobrevivência pode ser melhorada por aquecimento

passivo ou ativo, fora e dentro do hospital.

Fig. 5.12 Tipos de afogamento

LATE-UFRJ|2015

57

Sabemos que todas as vítimas de

afogamento podem sofrer hipotermia, mesmo aquelas

afogadas em nosso litoral tropical. Portanto, em caso

de hipotermia, além de seguir todos os passos do

BLS, o socorrista deve ter cuidado especial com a

respiração e pulso, que podem estar reduzidos devido

à baixa temperatura central; e também remover

roupas molhadas, para evitar o agravamento da

situação, utilizando um cobertor para isolar a vítima.

Até o presente, não há evidência convincente

para se induzir hipotermia nos pacientes pós-

ressuscitados vítimas de afogamentos. Uma

abordagem prática seria instituir o aquecimento ativo

até que a temperatura corporal chegue a 32-34°C e

também ativamente se evitar a hipertermia (t >37°C),

durante o período subsequente de terapia intensiva.

TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR

O número registrado de TRM em

salvamentos aquáticos pelos bombeiros não justifica

que todo resgate de afogado seja tratado com

imobilização cervical; apenas cerca de 0,5% das

pessoas que se afogam apresentam lesão cervical.

No entanto, identificar situações de possível

trauma raquimedular pode ser a diferença entre uma

vida saudável e a paralisia definitiva dos quatro

membros (tetraplegia).

Situações de suspeita de TRM na água:

Vítima se afogando em local raso*;

Vítima politraumatizada dentro da água;

Mergulhos de altura ou em águas rasas;

Esportes radicais na água (incluindo surf);

Sinais e sintomas sugestivos de TRM: dor em

região de coluna vertebral; traumatismo facial ou

de crânio; formigamento (anestesia) ou paralisia

de qualquer parte do corpo abaixo do pescoço.

*Outros fatores podem causar inconsciência em

águas rasas: traumatismo crânio-encefálico; mal

súbito (infarto agudo do miocárdio), convulsão,

lipotímia, hidrocussão (choque térmico); e

afogamento em que a vítima foi parar em águas

rasas.

Fig. 5.13 Atendimento ao afogado com suspeita de TRM

LATE-UFRJ|2015

58

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LATE-UFRJ|2015

59

SANGRAMENTO

DEFINIÇÃO

Um sangramento ou hemorragia corresponde

a qualquer perda de sangue do espaço vascular para

o compartimento extravascular (cavidade, interstício

ou para fora do organismo), decorrente de uma ou

várias rupturas nos vasos sanguíneos (hemorragia

por rexe) ou por afrouxamento da membrana basal

vascular por variadas causas, havendo a passagem

de hemácias por entre as células endoteliais

(hemorragia por diapedese).

A severidade de uma hemorragia reside tanto

na velocidade quanto na quantidade da redução

volumétrica, as quais variam em relação ao número,

tipo e localização dos vasos acometidos.

Caso a hemorragia persista, em face da

ineficiência de mecanismos fisiológicos de

hemostasia como vasoconstrição e coagulação

sanguínea, a vítima, sem a assistência adequada e,

principalmente, com perda superior a 25% do volume

sanguíneo corporal total, poderá evoluir rapidamente

para o óbito em consequência da morte celular por

depleção de nutrientes e oxigenação.

CLASSIFICAÇÕES

A. QUANTO À FONTE

Arterial: sangramento de fluxo pulsátil, expelido em

jatos e de coloração vermelho-vibrante. Corresponde

a uma grande ameaça à vida, pois um elevado

volume de sangue pode ser perdido em um curto

período de tempo.

Venoso: sangramento de fluxo constante,

apresentando escorrimento, geralmente, de coloração

escurecida. Raramente fatal.

Capilar: sangramento contínuo, discreto e lento,

geralmente, coagulando de forma espontânea.

Pequena importância.

Fig. 6.1 Fontes de sangramento

LATE-UFRJ|2015

60

B. QUANTO AO LOCAL OU PROFUNDIDADE

Externa: O sangue perdido é visível ao exame

primário do paciente, sendo relacionado às estruturas

superficiais e exteriorização. Geralmente, pode ser

controlada por compressão local.

Interna: O sangue perdido não é visível e pode ser

proveniente de lesões traumáticas de vísceras

internas ou grandes vasos. Alta gravidade, havendo

grande possibilidade de choque e óbito em pouco

tempo. Ocorre, principalmente, no abdome e no tórax.

Hemorragia interna exteriorizada: Os

sangramentos internos podem ou não permanecer no

interior do organismo, exteriorizando-se em alguns

casos. São mais representados por:

EPISTAXE: sangramento que se origina da

mucosa das fossas nasais, podendo ser anterior

(plexo de Kisselbach) ou posterior.

OTORRAGIA: sangramento pelo conduto auditivo

externo.

ESTOMATORRAGIA: sangramento proveniente

da cavidade oral, podendo ser originada por

ferimentos na bochecha, língua e extrações

dentárias.

HEMATÊMESE: sangramento originado do

sistema digestivo alto (esôfago, estômago e

duodeno) que é normalmente expelido pelo

vômito e que costuma apresentar coloração

escura como borra de café.

HEMOPTISE: sangramento espumante e de

coloração vermelha rutilante que é expelido pela

tosse. Tem origem do aparelho respiratório, em

geral dos pulmões e/ou da árvore brônquica.

As otorragias e epistaxes podem apresentar

saída de líquor ou líquido cefalorraquidiano (L.C.R.),

sendo esse um indício de T.C.E. (Traumatismo

Cranioencefálico), e, portanto, todos os cuidados com

a estabilização cervical devem ser tomados

prioritariamente.

RECONHECIMENTO DE UM SANGRAMENTO

A suspeita da existência de um sangramento

deve basear-se tanto na avaliação primária da vítima

quanto na própria cinética da injúria como:

Quedas

Perfurações traumáticas (principalmente em

abdome e tórax)

Acidente por desaceleração

Trauma contuso (ex.: colidir o abdome ou tórax

no volante)

Explosões (ondas supersônicas)

Sendo assim, há alguns sinais e sintomas que podem

apontar a existência de tal distúrbio hemodinâmico.

PRIMEIROS SOCORROS

Primeiramente deve-se sempre levar em

consideração a segurança do socorrista e de sua

equipe, destacando-se a avaliação da cena e a

utilização de Equipamentos de Proteção Individual

(EPI), como luvas descartáveis para prevenção de

contaminações por contato direto com o sangue da

vítima. Além disso, o alerta do serviço de emergência,

nas situações realmente necessárias, deve ser

adotado como uma das medidas iniciais, sendo

fundamental para o prognóstico da vítima.

Antes de iniciar-se o auxílio ao indivíduo

injuriado, caso o mesmo esteja consciente, deve-se

orientá-lo a parar de movimentar-se, pois a atividade

muscular aumenta o fluxo sanguíneo e, no caso de

lesão óssea, os fragmentos resultantes do trauma

LATE-UFRJ|2015

61

podem lacerar outros vasos e tecidos adjacentes,

agravando o quadro.

¹ sinais e sintomas comumente presentes em hemorragias

externas

² sinais e sintomas comumente presentes em hemorragias

internas

A. HEMORRAGIA EXTERNA

1. Exponha o ferimento removendo ou cortando a

roupa cuidadosamente para encontrar a fonte de

sangramento.

2. Realize a compressão direta do ferimento com uma

gaze esterilizada ou pano limpo e suas mãos,

atentando para o tempo e força aplicados de modo a

prevenir a isquemia do tecido acometido. Não

aplique essa conduta em caso de ferimentos

oculares ou fratura craniana.

3. Caso o curativo aplicado inicialmente sature de

sangue, não o retire e sim o mantenha no local,

aplicando outra gaze sobre a primeira e trocando

essa sempre que encharcar.

4. Caso o ferimento tenha ocorrido em um dos

membros, eleve-o, se possível, a uma altura logo

acima do coração, deixando que a gravidade auxilie

na redução da pressão sanguínea local. Não

obstante, evite a manobra em se tratando de fraturas

ósseas, injúria espinal ou objeto empalado.

5. Para ficar possibilitado de tratar outras eventuais

lesões, aplique uma bandagem compressiva para

manter o curativo sobre o ferimento. Atente também

para não realizar uma compressão muito intensa.

Quadro 6.1 SEMIOLOGIA DA HEMORRAGIA

SINAIS SINTOMAS

Descoloração no local de

injúria ¹ ² Sede ¹ ²

Sangramento por qualquer

orifício do organismo (reto,

vagina, uretra, orelha, nariz,

boca, etc) ²

Fraqueza ¹ ²

Vômito e expectoração

sanguinolentos

(hematêmese e hemoptise,

respectivamente) ²

Frio ¹ ²

Abdome distendido ² Ansiedade ou indiferença

¹ ²

Palidez cutâneo-mucosa ¹ ² Dor à palpação ¹ ²

Sudorese intensa com pele

fria e úmida ¹ ² Agitação¹ ²

Taquicardia (FC> 100 bpm)

e hipotensão arterial (PA

sistólica<100 mm Hg) ¹ ²

Cianose ¹ ²

Respiração rápida

(taquipnéia) e artificial

Fig. 6.2 Compressão direta

LATE-UFRJ|2015

62

6. Na presença de um sangramento no qual a

compressão local mostrou-se ineficaz, diante de uma

fratura exposta, ferida contendo um corpo estranho,

uma ferida na mão do socorrista que não tenha como

ser protegida, pode-se adotar a compressão arterial

indireta, ou seja, comprimir com os dedos pontos

localizados próximo à superfície cutânea ou ainda a

tecidos firmes e ossos referentes às artérias

principais que suprem a área lesionada, permitindo

que haja a interrupção do fluxo sanguíneo que chega

à lesão. Os principais pontos de compressão

correspondem ao da artéria braquial no membro

superior e da artéria femoral no membro inferior.

TORNIQUETE

O uso dessa ferramenta no controle da

hemorragia é muito discutido até os dias de hoje.

Consiste em uma bandagem constritora (“garrote

adaptado”) aplicada na circunferência de uma das

extremidades do corpo, membros, para conter a

hemorragia. Depois de aplicado, o torniquete contém

o fluxo tanto arterial quanto venoso, sacrificando

provavelmente a parte distal a ele por um processo

de morte celular desencadeado por privação do

suprimento sanguíneo. Sendo assim, uma vez

colocado, deve assim ser mantido até que um

cirurgião retire-o, portanto, tratando-se de uma

decisão irreversível.

A mera presença de uma amputação com

hemorragia não necessita necessariamente do uso de

Fig. 6.3 Curativo

Fig. 6.4 Pontos para se realizar compressão indireta.

LATE-UFRJ|2015

63

um torniquete, podendo-se controlá-la pelo uso das

técnicas convencionais acima citadas.

O torniquete somente deve ser aplicado

em situações nas quais os outros recursos

mostraram-se ineficazes, há ameaça iminente à

vida da vítima e o socorrista tenha ciência do

procedimento que virá a realizar. Em outros

contextos sua utilização é totalmente

desaconselhada. Nesse caso, sua presença deve

ser bem demarcada, deixando-o exposto e, na vítima,

deve-se escrever, por exemplo, um T/K em sua testa

juntamente com o horário de sua aplicação. Já na

vítima consciente, deve-se instruí-la a dizer a

qualquer prestador de serviço médico acerca da

presença do mesmo.

B. HEMORRAGIA INTERNA

A hemorragia interna é considerada uma

situação de emergência. O tratamento de primeiros

socorros consiste apenas em medidas que

beneficiem o paciente até que o transporte para um

centro de emergência possa ser realizado

apropriadamente. O controle real da hemorragia

somente poderá ser realizado no centro cirúrgico.

Portanto, devem ser seguidas as seguintes etapas:

1. Identificar a presença da hemorragia interna;

2. Acionar o serviço médico de emergência;

3. Posicionar a vítima em decúbito dorsal (posição

supina);

4. Verificar os sinais vitais frequentemente e não

oferecer nada para a vítima ingerir;

5. Realizar a manutenção da temperatura corporal,

cobrindo-se “levemente” o indivíduo e atentando

para não aquecê-lo demasiadamente com

cobertores.

6. Buscar aliviar ao máximo a dor do paciente,

mantendo-o em uma atmosfera quieta e tendo

atitudes plácidas de modo a transmitir-lhe

segurança.

C. SANGRAMENTOS ESPECIAIS

EPISTAXE

O tamponamento nasal deve ser realizado por

compressão da narina(s) com gaze inclinando-se

a cabeça em 45º anteriormente durante

aproximadamente 10 minutos.

Orientar a vítima a respirar pela boca.

O gelo pode ser aplicado externamente.

Após cessar o sangramento, orientar a vítima

para não assoar o nariz, evitar esforços e também

evitar exposição ao calor.

Caso o sangramento persista, repetir a ação por

mais duas vezes.

Se nenhuma das manobras resolverem a

situação, remova a vítima imediatamente para o

hospital mais próximo.

Fig. 6.5 Aplicação e sinalização do torniquete

LATE-UFRJ|2015

64

ESTOMATORRAGIA

Fazer compressão local com gaze;

Aplicar gelo externamente à lesão.

OTORRAGIA

Vítima consciente: posicionar em decúbito dorsal

Vítima inconsciente ou com suspeita de trauma:

lateralizar a vítima com a orelha que estiver

sangrando para baixo.

Ambos enquanto não ocorre o atendimento

especializado.

HEMATÊMESE

Acionar imediatamente o serviço médico de

emergência;

Em casos de vômito ou inconsciência, lateralizar

a vítima enquanto aguarda-se o atendimento

médico especializado.

HEMOPTISE

Buscar atendimento médico imediatamente;

Enquanto aguarda-se o atendimento, manter a

vítima consciente em posicionamento recostado e

tentar mantê-la calma e, em vítima inconsciente

ou com trauma associado adotar a lateralização.

COMPLICAÇÕES

As consequências das hemorragias são

variadas, dependendo da quantidade de sangue

perdido, da velocidade da perda e do local afetado.

O choque ocorre quando a perfusão tecidual

é reduzida, resultando na falta de entrega de oxigênio

e nutrientes que são necessários para a função

celular. O choque hipovolêmico, o tipo mais comum,

resulta de uma perda rápida de 1,5L ou mais de

sangue (cerca de 30% do volume corporal). Nessa

situação a perda de sangue excede a habilidade do

corpo de compensar e prover uma perfusão e

oxigenação adequada dos tecidos, destacando-se o

nervoso, cardíaco, renal e hepático, alterando suas

funcionalidades.

Seus sinais e sintomas estão relacionados

com circulação ineficaz e depressão dos processos

orgânicos.

Quadro 2.2 IDENTIFICAÇÃO DE CHOQUE

HIPOVOLÊMICO

Alterações de consciência, ansiedade, medo, confusão,

fadiga, fraqueza até inconsciência

Sede

Pulso periférico fraco, afilado ou ausente

Pele pálida, úmida e fria

Taquicardia e hipotensão arterial acompanhada de pulso

rápido

Respiração irregular, laboriosa e artificial

Náuseas e vômito

Midríase (pupilas dilatadas)

Pouco ou nenhuma produção de urina

Fig. 6.6 e 6.7 Controle de epistaxe anterior. (a) como

fazer (b) como não fazer

a) b)

LATE-UFRJ|2015

65

PRIMEIROS SOCORROS

1. Mantenha a calma, sendo gentil com o acidentado

e buscando mantê-lo também calmo;

2. Acione o sistema de emergência;

3. Avaliação primária do paciente - ABC da vida;

4. Adote os primeiros socorros à injúria ou doença

geradora do choque, no caso a hemorragia;

5. Afrouxe qualquer vestimenta apertada no pescoço,

tórax, cintura ou outras áreas (colarinho, manga,

cinto);

6. Posicione a vítima em decúbito dorsal com os

membros inferiores elevados sem realizar

movimentos muito abruptos;

7. Mantenha a vítima aquecida, cobrindo-a com um

cobertor.

FERIMENTOS

DEFINIÇÃO

Ferida é sinônimo de lesão tecidual,

deformidade ou solução de continuidade.

Corresponde a um comprometimento da integridade

de um tecido corpóreo, como cutâneo, muscular e

ósseo, em variadas extensões. Desenvolve-se em

consequência de uma agressão ao tecido vivo por

agentes físicos, químicos, térmicos, mecânico, mas

também podem ocorrer devido a distúrbios clínicos ou

fisiológicos. Portanto, as feridas podem ser causadas

por fatores extrínsecos, como incisão cirúrgica e

lesões acidentais por corte ou trauma, e por fatores

intrínsecos, como úlceras crônicas e vasculares,

defeitos metabólicos e neoplasias. Em geral, são

acompanhadas por sinais e sintomas como dor,

edema e sangramento, além de serem uma

importante via para o desenvolvimento de processos

infecciosos.

CLASSIFICAÇÕES

É imprescindível avaliar e documentar a

evolução da ferida para determinar o tratamento

apropriado para cada caso, o que deve ser feito de

forma sistemática, desde a ocorrência da lesão até

sua completa resolução. Existem alguns tipos de

abordagens para se avaliar/classificar uma lesão,

tornando a sistematização mais eficaz. Segue abaixo

alguns dos mais utilizados e conhecidos:

a) EXPOSIÇÃO

Abertas: ocorre o rompimento da superfície cutânea

e, eventualmente, de vasos sanguíneos, causando

sangramentos.

Fig. 6.8 Como proceder enquanto aguarda ajuda.

LATE-UFRJ|2015

66

Fechadas: a lesão do tecido mole ocorre abaixo da

pele, não havendo a perda da continuidade na

superfície. São causadas por impacto ou

compressão, podendo haver lesão de órgãos

internos.

b) GRAU DE CONTAMINAÇÃO

Limpas: realizadas em ambientes cirúrgicos, em que

não há contato com órgãos contaminados (dos

sistemas geniturinário e gastrointestinal),

apresentando baixo risco de contaminação (de 1 a 5

%).

Limpas contaminadas: com contaminação grosseira

por objetos ou contato com órgãos ou sistemas

contaminados. Risco de contaminação em torno de 3

a 11%.

Contaminadas: são feridas acidentais recentes e

abertas colonizadas por flora bacteriana considerável,

ou ainda feridas cujo tempo de atendimento foi

superior a seis horas entre o trauma e o atendimento

inicial. Observa-se a presença de reação inflamatória

local. O risco de contaminação sobe para 10 a 17%.

Infectadas: apresentam evidências do processo

infeccioso, como tecido desvitalizado, exsudação

purulenta e odor característico, sendo representadas

por lesões ulceradas infectadas e as escaras.

c) EVOLUÇÃO

Agudas: geralmente são feridas traumáticas, há

ruptura da vascularização e desencadeamento

imediato do processo de hemostasia. Ex: cortes,

queimaduras, escoriações;

Crônicas: Descritas como de longa duração ou

recorrência frequente. Ocorre um desvio na

sequência do processo cicatricial fisiológico.

d) NATUREZA

Abrasão / Escoriação / Arranhão / Queimadura por

atrito: Remoção por fricção ou força de camadas

cutâneas superficiais, sendo geralmente observada

em quedas. Apresentam sangramento discreto, mas

costumam ser extremamente dolorosos. Não

representam risco ao paciente quando isolados.

Incisão: corte com bordas limpas, bem delimitadas,

não havendo a presença de tecido fibroso. É

provocada por objetos cortantes amolados, como

facas, bisturis ou lâminas. Pode possuir expressiva

perda sanguínea.

Laceração: corte com bordas irregulares e

desvitalizadas na pele por um mecanismo de

superestiramento com ruptura do tecido. Possuem

grande risco de infecção. Pode ser ocasionada por

mordedura de animais.

Contusão: ocasionada pelo impacto fechado de uma

força ou esmagamento. Danifica pequenos vasos e

causa sangramento intersticial, usualmente sem

ruptura da continuidade do tecido mole.

Perfuração: causada pela introdução de objetos

pontiagudos, como prego, agulhas ou punhal na pele

e em tecidos subjacentes. Podem possuir apenas o

orifício de entrada ou um orifício de entrada e um de

saída por atravessamento dos tecidos justapostos –

transfixação. Há elevado risco de infecção, pois a

penetração do objeto transporta microorganismos e

debris para o interior dos tecidos.

Avulsão: lesões nas quais uma secção de tecido é

rasgada, havendo descolamento da pele em relação

LATE-UFRJ|2015

67

ao tecido subjacente, seja parcial, na qual o tecido

permanece ligado ao corpo, ou total, em amputações.

Apresentam graus variados de sangramento,

geralmente de difícil controle e são muito observadas

em acidentes automobilísticos.

EQUIMOSES x HEMATOMAS

Equimoses: correspondem a sangramentos com

difusão sanguínea pelo espaço subcutâneo, formando

um “lençol”. Variam de coloração com a degradação

da hemoglobina ali depositada após a fagocitose das

hemácias.

Hematomas: há o confinamento do sangue

extravasado dentro de um tecido de modo a formar

uma cavidade, podendo ser relativamente

insignificantes ou suficientemente grandes para

serem fatais por seu efeito de massa.

PRIMEIROS SOCORROS

Como em qualquer outra situação, a medida

inicial do atendimento de uma vítima com um

ferimento é avaliar a segurança da cena, garantindo

que não haja novas vítimas, além da utilização do

E.P.I.

1. Exponha o ferimento de modo a visualizá-lo e

determinar suas características;

2. Realize a antissepsia da ferida por meio da

aplicação de água corrente e sabão ou de soro

fisiológico;

3. Na presença de sangramentos, corrija-os

rapidamente pelas técnicas explicadas

anteriormente;

4. Não se deve remover possíveis corpos estranhos

(facas, lascas de madeira, pedaços de vidro ou

ferragens) que estejam fixados em ferimentos,

mas estabilizá-los por meio de outros objetos que

estejam disponíveis, de forma a evitar

deslocamentos acidentais. Tal manobra pode ser

auxiliada pelo emprego de cintos ou ataduras

como forma de fixação;

5. Cobrir os ferimentos com uma compressa

preparada com um pedaço de pano bem limpo ou

gaze esterilizada. Essa compressa dever ser

posicionada sobre a ferida e fixada firmemente

com uma atadura ou bandagem;

6. Dependendo da extensão, local e grau de

contaminação da lesão, a vítima deve ser

conduzida ao serviço médico especializado

Fig. 6.11 Limpeza da ferida

Fig. 6.9 e 6.10 Equimose (esq.) e Hematoma (dir.)

LATE-UFRJ|2015

68

(SME) para a realização de suturas e anti-sepsia

mais elaborada.

GELO

Somente deve ser utilizado em lesões

fechadas (ex. feridas contusas), envolvido por algum

tecido ou saco plástico, de modo a evitar o seu

contato direto com o tecido lesado, aplicando-se por

20 minutos com intervalos de mesmo tempo, três

vezes. Não deve ser utilizado em regiões como

mucosas e genitálias.

CONDUTAS ESPECIAIS

a) AMPUTAÇÕES

1. Abrir vias aéreas e prestar assistência

ventilatória, caso necessário;

2. Controlar a hemorragia, não utilizando torniquetes

como medida inicial;

3. Tratar o estado de choque, caso este esteja

presente;

4. Cuidados com o segmento amputado:

Limpeza com solução salina, sem imersão

em líquido.

Envolvê-lo em gaze estéril, seca ou

compressa limpa.

Proteger o membro amputado com dois

sacos plásticos.

Colocar o saco plástico em recipiente de

isopor com gelo ou água gelada.

Jamais colocar as extremidades em contato

direto com o gelo.

b) FERIMENTOS OCULARES

1. Realize a irrigação ocular com soro fisiológico,

durante vários minutos em caso de lesão por agentes

químicos, ou na presença de corpos estranhos;

2. Não tente remover objetos da córnea ou utilize

medicamentos tópicos (colírios ou anestésicos),

apenas estabilize-os com curativos adequados

realizando a oclusão ocular bilateral com gaze

umedecida e curativo frouxo mesmo em lesões

unilaterais.

3. Em caso de extrusão de globo ocular não tente

Fig. 6.12 Cuidados com o membro amputado.

Fig. 6.13 Curativo Ocular.

LATE-UFRJ|2015

69

recolocá-lo. Encaminhe a vítima para o serviço

médico o mais prontamente possível.

c) EVISCERAÇÃO

1. Não se deve, de forma alguma, tocar nas vísceras,

nem tentar colocá-las de volta para dentro da

cavidade abdominal. Cubra-as com curativo oclusivo,

de materiais não aderentes, embebido em soro

fisiológico ou água limpa. Envolva o curativo

cuidadosamente com bandagens fixadas firmemente,

mas nunca apertadas.

2. Posicione o acidentado em local confortável, em

decúbito dorsal, colocando uma manta ou cobertor

enrolado sob seus joelhos, para diminuir a pressão

sobre o ventre e impedir o afastamento muscular.

3. Não ofereça nada para o acidentado ingerir, ainda

que se queixe de muita fome ou sede.

d) FERIMENTOS NA CABEÇA

Qualquer traumatismo craniano é potencialmente

grave, pois remete à possibilidade imediata de

possíveis danos maiores às estruturas nobres

abrigadas na caixa craniana como o encéfalo. Além

disso, o couro cabeludo é altamente vascularizado, o

que promove importantes sangramentos quando

lesado. Portanto, o atendimento adequado e rápido a

uma vítima em tal situação é essencial.

1. Proceda a imobilização e estabilização da coluna

vertebral.

2. Monitore a respiração e preste atendimento, se

necessário.

3. Controle o sangramento com curativo limpo, não

aplicando a pressão diretamente sobre o ferimento,

mas sim ao redor das bordas da lesão.

4. Procure imediatamente o atendimento médico

especializado.

Fig. 6.14 Curativo ocular

Fig. 6.14 Imobilização da coluna cervical.

Fig. 6.15 Curativo para lesões cranianas.

LATE-UFRJ|2015

70

Quadro 2.3 SINAIS DE ALERTA INDICATIVOS DE

LESÃO GRAVE NO TRAUMATISMO CRANIANO

Rinorréia e otorréia (saída de líquido cefalorraquidiano -

claro- pelas narinas e conduto auditivo externo,

respectivamente)

Sinal de Battle (equimose na região mastoidea)

Sinal do Guaxinim (equimose periorbital)

Anisocoria (desigualdade entre as pupilas);

Expressão facial aturdida;

Desorientação mental;

Vômito após o incidente;

Ausência de responsividade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO CIVIL DE PESQUISA E

DESENVOLVIMENTO EM SAÚDE (ACINDES).

Primeiros socorros, RCP e DEA Padrão: Primeira

edição em português. 1. ed. São Paulo: Editorial

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janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2003. 170 p.

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Janeiro: Mc Graw-Hill Interamericana do Brasil, 2008.

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PREFEITURA MUNICIPAL DE RIBEIRÃO PRETO.

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ROBBINS & COTRAN. Patologia, Bases

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Fig. 6.16 Curativo para lesões cranianas

Fig. 6.16 Sinais de lesão grave

LATE-UFRJ|2015

71

FRATURA

DEFINIÇÃO

Podemos definir uma fratura como sendo

uma interrupção da integridade do tecido ósseo de

origem traumática, decorrente da aplicação de uma

determinada pressão direta ou indiretamente em uma

área óssea.

Tal pressão deve ser superior ao que o tecido

é capaz de suportar, uma vez que os ossos têm

naturalmente uma capacidade de deformação para

que possam absorver impactos, voltando à sua forma

original, quando o agente causador se dissipa.

O conjunto de fragmentos ósseos produzidos

pela fratura e tecidos lesados em torno da lesão é

denominado foco de fratura.

Ao contrário do que muitos acreditam, um

osso trata-se de um tecido vivo, com elevado

metabolismo, além de contar com um grande

suprimento vascular e conter reservas adiposas

(principalmente quando nos referimos aos ossos

longos).

Dessa forma, uma fratura pode levar a

severas perdas sanguíneas, suficientes até mesmo

para causar um choque hipovolêmico, especialmente

quando se está diante de múltiplas fraturas ou

fraturas expostas.

Vários fatores podem influir na rigidez e

resistência de um osso, portanto, determinando a

facilidade com que o mesmo venha a sofrer tal tipo de

lesão. Entre eles temos:

Idade do indivíduo;

Características ósseas (tamanho, forma,

consistência);

Doenças metabólicas com influência no

metabolismo ósseo.

CLASSIFICAÇÕES

a) QUANTO À EXPOSIÇÃO

FECHADA

São aquelas em que não há exposição do foco

fraturário, todavia, envolve potenciais danos

subcutâneos e de outros tecidos moles, incluindo

artérias, veias, nervos, músculos e órgãos.

Quadro 7.1 PERDA SANGUÍNEA ESTIMADA POR FRATURA

OSSO PERDA SANGUÍNEA

Úmero 0,5 – 1,5 L

Tíbia 0,5 – 1,5 L

Fêmur 1,0 – 2,5 L

Pelve 1,0 – 4 L

6ª Edição Atualização 2013

LATE-UFRJ|2015

72

ABERTA (OU EXPOSTA)

São fraturas na qual há lesão de continuidade

da pele, podendo o osso estar exteriorizado ou não.

O dano cutâneo pode ocorrer pelo trauma, pelos

fragmentos ósseos e/ou pelo manuseio intempestivo

da vítima, tornando aberta, uma fratura, até então,

fechada.

A exposição da fratura para o ambiente

externo produz contaminação local, o que aumenta o

risco de infecção, podendo ter consequências como:

Osteomielite, que retarda ou impede a

consolidação óssea;

Perda do membro lesado, em casos extremos;

Septicemia, em casos mais graves;

Pode levar a óbito.

b) QUANTO À SOLUÇÃO DE CONTINUIDADE

FRATURA EM FISSURA: são aquelas em que as

bordas ósseas ainda estão muito próximas,

assemelhando-se a uma rachadura ou fenda.

FRATURA EM “GALHO VERDE”: é a fratura

incompleta que atravessa apenas uma parte do osso

e corresponde a um envergamento do mesmo. Sua

ocorrência é mais comum em crianças, devido à

maior flexibilidade óssea, e nos antebraços (punho).

FRATURA COMPLETA: é a fratura na qual o osso

sofre descontinuidade total.

c) QUANTO À NATUREZA DO DANO

FRATURA COMINUTIVA: corresponde àquela na

qual o osso lesionado fragmenta-se em um ou

diversos pequenos pedaços, além das outras

metades do osso fraturado.

FRATURA ESPIRAL: é quando o traço de fratura

encontra-se ao redor e através do osso. Nessa

fratura, o osso é separado e a fratura forma espirais

ao redor do eixo longitudinal. Tais fraturas são,

geralmente, decorrentes de lesões que ocorrem com

movimentos de rotação sob descarga de peso.

Fig. 7.3 (a) em “galho

verde” e (b) completa

(a) (b)

Fig. 7.1 Exemplos de Fraturas Fechadas

Fig. 7.2 Fratura Exposta

LATE-UFRJ|2015

73

FRATURA IMPACTADA: é quando as partes

quebradas do osso permanecem comprimidas entre

si, interpenetrando-se.

FRATURA OBLÍQUA: é quando o traço de fratura

(borda da fratura) se apresenta diagonalmente.

FRATURA TRANSVERSA: ocorre quando o traço de

fratura atravessa o osso numa linha

aproximadamente reta.

d) QUANTO À PRESENÇA DE LESÃO

ASSOCIADA

SIMPLES: quando não há evidências de lesões

associadas.

COMPLICADA: acompanhada de lesões associadas,

que são geradas pelo mesmo trauma com velocidade

e energia altas. Exemplo de lesões associadas locais:

Musculares;

Tendinosas;

Nervosas;

Vasculares;

Sistêmicas (trauma abdominal, torácico e

craniano).

ETIOLOGIA DAS FRATURAS

FORÇA DIRETA: o local onde ocorre a fratura

corresponde ao local onde a força foi aplicada.

FORÇA INDIRETA: a força ou a energia cinética,

aplicada sobre um segmento é transmitida ao longo

do membro, causando fratura em ossos mais

distantes do impacto. Portanto, pode-se dizer que a

energia do trauma dissipa-se lesando a estrutura

menos resistente.

ESPONTÂNEA OU INDUZIDA POR ESPASMO: as

fraturas estão associadas com doenças e/ou violentos

espasmos musculares. Um exemplo disso seria no t

RECONHECIMENTO

DOR

As características da dor variam muito de

acordo com o paciente, mas é normalmente descrita

como intensa, profunda e localizada, que aumenta

com os movimentos ou pressão.

Ela é normalmente aliviada por manobras de tração,

alinhamento e imobilização.

EDEMA

Devido ao trauma, ocorre uma lesão dos

tecidos vizinhos à fratura, produzindo sangramento

local e inflamação, o que pode gerar edema e

hematoma.

DEFORMIDADE

O segmento fraturado apresenta angulações,

rotações e encurtamentos evidentes à simples

observação da vítima, comparando-se o membro

lesado com o não afetado.

Ocorre devido ao deslocamento das seções dos

ossos fraturados ou acúmulo de sangue ou plasma no

local.

Quadro 7.2 DOR NA FRATURA

A dor existente em uma fratura decorre da “irritação” do

periósteo, rico em terminações nervosas, o qual

compreende o tecido conjuntivo associado ao tecido

ósseo.

Fig. 7.4 Quanto à natureza da fratura

LATE-UFRJ|2015

74

CREPITAÇÃO ÓSSEA

Sensação transmitida durante a palpação

devido ao contato dos fragmentos da fratura uns com

os outros, produzindo um “som parecido com o

amassar de papel”.

No entanto, após a identificação da fratura,

não é aconselhado demais reproduções intencionais

de crepitação, pois provoca dor e aumenta a lesão

entre os tecidos vizinhos à fratura e pode gerar danos

aos órgãos internos e hemorragia interna.

No caso de dúvida, sempre considerar a

existência da fratura.

OUTROS SINAIS E SINTOMAS

Impotência funcional e/ou perda de força;

Feridas abertas;

Sinais e sintomas associados com perda

sanguínea (palidez cutânea, hipotensão,

taquicardia, suor frio, etc) ou com lesão de algum

órgão.

PRIMEIROS SOCORROS

O QUE FAZER

A avaliação de uma fratura não pode ser

iniciada sem que antes tenham sido providenciados

todos os cuidados referentes à segurança do próprio

socorrista e sua equipe, além da necessidade de se

atentar para que sejam estabilizados os demais

fatores que possam por em risco a vida da vítima

mais imediatamente. Isso é muito importante pois,

mesmo que uma fratura nos impressione pela sua

aparência fazendo-nos não perceber, por exemplo,

uma parada cardiorrespiratória. Para tanto, é

importante a avaliação do ABC da vida (vias aéreas,

respiração, circulação).

Aplicando-se essas primeiras medidas, há

uma série de outras que podem ser realizadas para a

avaliação e tratamento de fraturas em geral:

1. Acalmar o acidentado, de preferência evitando

que ele olhe para o local fraturado.

2. Para determinar as possíveis fraturas, realize um

breve exame físico da vítima, palpando-a no

sentido crânio-caudal, procurando pelos sinais

apontados previamente (lembre-se sempre de

utilizar luvas). Pesquisas mostram que cerca de

30% dos pacientes com fratura exposta

apresentam ainda outras lesões associadas.

3. Exponha as áreas de possível lesão de modo a

observar as características da fratura, como

presença de feridas, sangramentos, entre outros;

4. Remover joias, sapatos e qualquer objeto que

possa ficar preso com o edema e constringir a

circulação.

5. Trate a hemorragia, caso esteja presente, com a

aplicação de gaze esterilizada ou pano limpo

aplicando pressão adequada à redução da perda

de sangue, evitando sobrecarregar a área

fraturada;

6. Realize um curativo cobrindo toda a área

lesionada, protegendo-a contra possíveis

contaminações maiores;

7. Trabalhe com muita delicadeza e cuidado. Toda

atenção é pouca, pois os menores erros podem

gerar sequelas irreversíveis;

8. Imobilize a área fraturada, procurando colocar o

membro na posição que for menos dolorosa para

o acidentado, o mais naturalmente possível;

9. Aplique uma bolsa de gelo e eleve o membro se

possível, para prevenir o edema;

10. Providencie o atendimento médico especializado

o mais rápido possível, realizando o transporte

adequado. Nunca transporte alguém sem estar

devidamente imobilizado.

LATE-UFRJ|2015

75

O QUE NÃO FAZER

Tão importante quanto as atitudes a serem

tomadas para socorrer o fraturado são as que não

podem ser feitas. São elas:

Não movimente vítima com fraturas antes de

imobilizá-Ia adequadamente.

Se há risco real de incêndio, desabamento ou

explosão, e você ainda assim optar pelo risco do

resgate, arraste-a por meio do maior eixo do

corpo. Se há necessidade de posicionar a vítima

para instituir RCP, proceda de modo a manter em

alinhamento os segmentos fraturados.

Não dê qualquer alimento ao ferido, nem mesmo

água.

Jamais tente recolocar o osso no lugar ou retificá-

lo em caso de resistência limitante a essa

correção.

Quadro 7.3 REDUÇÃO DA FRATURA VS

REALINHAMENTO DE DEFORMIDADES

DECORRENTES DA FRATURA

Sob nenhuma justificativa deve-se tentar reduzir uma

fratura (reencaixar o osso fraturado de volta no seu lugar).

As manobras de redução de qualquer tipo de fratura só

podem ser feitas por pessoal médico especializado,

portanto, não force o retorno de um osso à sua posição

anatômica, pois além de muito doloroso à vítima, os danos

promovidos serão maiores. Entretanto, quando uma fratura

determina uma grande deformidade em um membro,

podem ocorrer discretas “dobras” nas artérias que passam

pela região, obstruindo o aporte sanguíneo a jusante deste

local. Dessa forma, realinhar suavemente o membro é um

procedimento adequado desde que não haja restrição

tecidual.

IMOBILIZAÇÃO

A imobilização objetiva estabilizar a

extremidade lesada em uma posição mais próxima da

anatômica, de modo a auxiliar na redução do

sangramento, dor e edema, além de atuar na

prevenção do agravamento da injúria, na medida em

que, a contenção do movimento do membro impede

que espículas ou fragmentos causem maiores danos

aos tecidos adjacentes. Para tal finalidade, em geral,

utiliza-se de uma tala.

Não gaste muito tempo tentando imobilizar

a lesão antes de contatar o serviço médico com

urgência!

Diversos princípios são aplicáveis para a

realização de uma imobilização adequada:

As talas devem ser bem “acolchoadas” de modo a

evitar a promoção de danos à pele e tecidos

superficiais, o que pode ser viabilizado a partir da

utilização de materiais macios como panos

limpos, camadas de algodão ou gaze, envolvendo

o membro injuriado;

A tala deve ser maior que o osso fraturado e

estender-se além das margens da lesão; sendo o

ideal que englobe tanto a articulação distal quanto

proximal à lesão, estabilizando-as com o auxílio

de tiras de pano, ataduras ou cintos para fixar a

tala;

Qualquer material rígido como madeira, metal,

plástico, revista enrolada, papelão ou jornal

grosso dobrado, pode ser utilizado na confecção

de uma tala rígida;

Para a estabilização do membro imobilizado o

mesmo pode ser fixado a uma região adjacente:

braço ao tórax, uma perna a outra, um dedo ao

adjacente;

Antes do início e depois de concluída a

imobilização, sempre verifique a circulação distal

a área tratada por meio da avaliação da coloração

da pele e da palpação do pulso, procurando notar

e registrar oficialmente se já havia sinais de

ausência de circulação sanguínea antes do

procedimento e, após a imobilização realizada,

observar se a compressão está elevada a ponto

de interromper o fluxo sanguíneo.

No caso de uma luxação ou fratura de

articulação, imobilizar a extremidade na posição

em que foi encontrada.

LATE-UFRJ|2015

76

Quadro 7.4 TIPÓIA

Para fixar o antebraço pode-se desenvolver uma tipóia. Ela também pode ser usada para melhor conforto do membro

já imobilizado. Para a sua execução utilize um pedaço grande de tecido com as pontas presas ao redor do pescoço.

Isto serve para sustentar um braço em casos de fratura de punho, antebraço, cotovelo, costelas ou clavícula. Só use

a tipóia se o braço ferido puder ser flexionado sem dor ou se já estiver dobrado.

Fig. 7.5 Como montar uma tipóia

Fig. 7.6 e 7.7 Exemplos de imobilizações: tala rígida para perna (esq.) e tala rígida com quatro bandagens para antebraço.

Fig. 7.9 Tala rígida para antebraço.

Fig. 7.8 e 7.9 Imobilização com materiais improvisados.

LATE-UFRJ|2015

77

FRATURAS DE DIFÍCIL MANEJO

Diante de tais situações, acionar o Serviço

Médico de Emergência (SME) corresponde à medida

mais imediata, todavia, o socorrista pode auxiliar de

algumas maneiras:

CRÂNIO

Fratura do crânio é, normalmente,

consequente de um Traumatismo Crânioencefálico

(TCE), portanto uma séria emergência, já que pode

comprometer as vias aéreas e centros neurológicos

de controle da respiração. Diante de tal situação, a

medida mais adequada a ser tomada é a

estabilização da coluna cervical até que o socorro

adequado chegue ao local. Além disso, deve-se estar

atento aos sinais vitais dessa vítima que pode a

qualquer momento sofrer recaídas.

TÓRAX

Para identificá-la é importante avaliar a

integridade das clavículas e costelas por meio da

palpação, sempre atento a qualquer abaulamento,

contusões e instabilidade. Esta pode ser observada

quando a vítima inspira: por conta da pressão

negativa, a porção instável é “sugada” internamente,

e torna-se protuberante durante a expiração. É

importante notar que muitos desses pacientes

possuirão também lesões torácicas internas.

PELVE

Sua identificação se dá pela palpação

simultânea das cristas ilíacas, que normalmente se

apresentariam fixas, mas, em tal situação, encontram-

se instáveis e com crepitação. É importante

mencionar que esta manobra deve ser feita uma

única vez, na dúvida não repita! Fraturas de pelve

podem levar à hemorragia fatal!

A medida a ser adotada é a estabilização da

pelve por meio de um cinto ou algo que possa

envolvê-la ao mesmo tempo em que realiza

compressão, como, por exemplo, uma toalha de

banho envolvendo a cintura pélvica e amarrada

anteriormente. Tal fratura também pode ser danosa

aos órgãos internos, assim como, devido à intensa

vascularização da pelve e à presença de artérias de

grande calibre, gerar grandes hemorragias as quais

podem evoluir para um choque hipovolêmico

rapidamente.

LESÕES DE TECIDOS MOLES

INTRODUÇÃO

As “lesões de tecidos moles” são traumas

relacionados aos músculos, tendões ou ligamentos.

As lesões podem ser internas e/ou externas;

causadas por trauma direto ou indireto. Neste capítulo

abordaremos Entorses, Luxações e Distensões.

As causas mais comuns das lesões de

tecidos moles são a prática de esportes, por golpes

indiretos ou movimentos articulares violentos, mas, às

vezes uma contração muscular é suficiente para

causar uma luxação, por exemplo. Dependendo da

violência do acidente, poderá ocorrer o rompimento

do tecido que cobre a articulação.

Fig. 7.10 Faixa compressiva da pelve

LATE-UFRJ|2015

78

As articulações usualmente mais atingidas

são a tibio-tarsal (tornozelo), fêmoro-tibio-patelar

(joelho), escápulo-umeral (ombro), úmero-radial

(cotovelo), articulações dos dedos e a têmporo-

madibular.

ENTORSE

Entorse pode ser definida como uma

separação momentânea das superfícies ósseas, ao

nível da articulação,

Geralmente, quando a articulação é forçada além de

sua amplitude normal (perda efêmera da congruência

articular). A lesão provocada pela deformação brusca

geralmente produz o estiramento ou até o

rompimento dos ligamentos na articulação ou perto

dela.

A severidade da entorse pode variar desde

um microtrauma aos tecidos envolvidos (leve) até um

rompimento total dos mesmos, incluindo estruturas

vasculares e nervosas (grave).

Quadro 7.5 SINAIS E SINTOMAS DE ENTORSES

Dor ao movimento

Edema

Sensibilidade à palpação

Derrame articular precoce ou tardio (aumento da secreção

do líquido sinovial)

Equimose

Impotência funcional

LUXAÇÕES

A luxação é uma lesão onde as extremidades

ósseas que formam uma articulação ficam

deslocadas, permanecendo desalinhadas e sem

contato entre si (perda permanente da congruência

articular). O desencaixe de um osso da articulação

(luxação) pode ser causado por uma pressão intensa,

que deixará o osso numa posição anormal, ou

também por uma violenta contração muscular. Com

isto, poderá haver ruptura dos ligamentos.

Esse tipo de injúria é muito grave e deve ser

considerado um caso de urgência, devendo receber

rápido diagnóstico e tratamento. Um tratamento

inadequado pode provocar danos aos tecidos como

rigidez articular, artrose, necrose por perda vascular,

infecções, etc.

Quadro 7.6 SINAIS E SINTOMAS DE LUXAÇÕES Dor intensa

Edema

Deformidade articular

Alterações de sensibilidade

Impotência funcional absoluta

Fig. 7.12 Exemplo de luxações

Fig. 7.11 Entorse de tornozelo

LATE-UFRJ|2015

79

LESÕES MUSCULARES

As lesões musculares podem ser divididas

em três tipos, contusão; laceração; e distensão ou

estiramento. Trataremos, neste capítulo,

principalmente sobre este último tipo, que é muito

comum também em atletas profissionais, mas pode

ser evitável, uma vez que o músculo dá sinais

precoces de fadiga (antes que a lesão aconteça).

A contusão é uma lesão por compressão,

causada por trauma direto que resulta em ruptura

capilar, com hematoma e resposta inflamatória.

A laceração é a injúria caracterizada por

perda de tecido muscular.

A distensão ocorre quando as fibras

musculares ou tendíneas são excessivamente

estiradas ou forçadas a se contrair contra uma

resistência além dos seus limites de capacidade tênsil

ou extensibilidade, levando ao seu rompimento. Essa

injúria pode ocorrer próximo à junção miotendinosa e

acarretar danos também a estruturas nervosas e

vasculares.

As lesões musculares são

classificadas: quanto à ação, que pode ser direta

(mais comum em esportes de contato), ou indireta

(comuns em esportes individuais); quanto à

funcionalidade, que podem ser parciais, onde o

músculo perde força, mas ainda consegue se contrair,

ou podem ser totais, quando a mobilidade articular e

a força muscular podem ser nulas, ou seja, o músculo

não se contrai mais.

Dentre os importantes tipos de complicações

que podem decorrer de uma Distensão, há a

síndrome compartimental: o edema e o

sangramento exercem pressão dentro da fáscia

muscular, que é pouco distensível, aumentando a

compressão de vasos sanguíneos e terminações

nervosas, acarretando em intensa dor e morte do

tecido por falta de nutrição, podendo levar à perda do

membro.

O complexo de músculos da região posterior

da coxa (jarrete) e panturrilha são os mais

frequentemente afetados por essas lesões, pois são

expostos a atividades que exigem muito da

musculatura.

Quadro 7.7 SINAIS E SINTOMAS DE LESÕES MUSCULARES Dor em queimação em repouso ou a movimentação ou

palpação

Impotência funcional muscular

Edema

Equimose distal a lesão

Deformidade muscular a palpação

PRIMEIROS SOCORROS

O cuidado no manejo de lesões envolvendo

tecidos moles deve, à primeira vista, ser semelhante

ao das fraturas, visto que os sinais e sintomas se

confundem entre elas. Portanto, incluem-se: chamar

ajuda médica, acalmar a vítima, remover objetos que

venham a constringir possíveis edemas, tratar

hemorragias, procurar por outras lesões, imobilizar

adequadamente os segmentos injuriados, tudo isso,

visando acelerar a recuperação e prevenir o edema,

além de reduzir o risco de injúrias recorrentes.

Além disso, é necessário reduzir a

temperatura local e as demandas metabólicas,

amenizar a dor, proteger o tecido lesado para evitar o

agravamento da lesão, minimizar a inflamação e

Fig. 7.13 Exemplo de distensão muscular

LATE-UFRJ|2015

80

evitar fibrose, que poderia gerar seqüelas funcionais.

Na prática, essa conduta pode ser facilmente

resumida a partir do método mnemônico PRICE:

Protection / Proteção

Proteger (imobilizar) o membro afetado,

utilizando bandagens, talas ou ataduras elásticas,

com o objetivo de amenizar a dor e permitir a

continuidade da cicatrização, além de evitar novas

lesões. Muletas podem ser utilizadas para permitir

sustentação do peso e tipóias, para imobilizar um

braço ou ombro.

Rest / Repouso

Descansar e evitar atividades que possam

causar dor, como andar, prevenindo o agravamento

da injúria e reduzindo o fluxo sanguíneo, o que

diminui a formação de edemas e hematomas.

Ice / Gelo

Aplicar gelo sobre a lesão, de preferência

picado e sempre envolvido em uma toalha úmida,

durante 20 minutos a cada uma ou duas horas.

Nunca coloque o gelo diretamente em contato com a

pele para evitar queimaduras por “geladura”. A baixa

temperatura causa vasoconstricção, que tem efeito

anti-inflamatório, reduzindo a dor e o edema.

Compression / Compressão

Aplicar uma bandagem firme que não

prejudique a circulação no local ou cause maior dor,

realizando uma pressão sutil e uniforme. Ocorre

então a redução do edema ao inibir a infiltração em

espaços tecido subjacente e ao auxiliar na dispersão

do excesso de fluido. Substitua a compressão após

24 horas e prossiga realizando-a, ao menos, durante

72 horas.

Elevation / Elevação

Elevar o membro acima do nível do coração,

se possível, sustentando com almofadas ou como

preferir, principalmente nas primeiras 72 horas. A

força gravitacional ajuda a reduzir o acúmulo de fluido

intersticial, relacionado ao edema.

Oriente o doente a evitar se expor ao calor

(que aumenta o fluxo sanguíneo e o edema) durante

as primeiras 48-72 horas; e também evitar ingerir

álcool, que, além de aumentar o fluxo sanguíneo,

pode tornar o paciente menos consciente de sua

lesão, agravando-a.

É importante ressaltar que, principalmente

nos casos de luxações, o socorrista deverá proceder

como em um caso de fratura, imobilizando a região

lesada, sem o uso de tração. Para os primeiros

cuidados, deve colocar cuidadosamente os dois

ossos numa posição de conforto que permita a

imobilização e o transporte com o mínimo de dor. A

articulação só deve ser reduzida por profissionais

médicos; não faça massagem ou aplicação de

calor; e procure imediatamente um serviço de saúde

para avaliação e tratamento adequado.

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LATE-UFRJ|2015

82

INTRODUÇÃO

Queimaduras são lesões dos tecidos

orgânicos em decorrência de trauma resultante da

exposição a chamas, líquidos e superfícies quentes,

frio, substâncias químicas, radiação, atrito ou fricçAs

queimaduras ocorrem com maior frequência no

ambiente doméstico, sendo as crianças e os idosos

os grupos de maior mortalidade. O derramamento de

líquidos superaquecidos (água fervente na cozinha,

água quente de banho, bebidas, óleo de cozinha, etc)

afeta mais as crianças (neste caso, as queimaduras

costumam ser mais superficiais e mais extensas) e

líquidos combustíveis acidentam mais adolescentes.

Ao contrário, os adultos queimam-se com mais

frequência com a chama de fogo e principalmente no

ambiente profissional. As queimaduras resultantes,

portanto, costumam ser mais profundas e,

usualmente, acompanham-se dos danos causados

pela inalação de fumaça.

Conforme dados da literatura mundial, a

maioria dos acidentes acontece na presença de

adultos. A epidemiologia desse trauma varia em

diferentes partes do mundo. No Brasil, estima-se que

ocorram por volta de 1 milhão de acidentes com

queimaduras por ano, sendo que a maioria (79%)

acontece dentro do ambiente domiciliar. Segundo a

OMS, as queimaduras são responsáveis por

aproximadamente 300.000 mortes por ano em todo o

mundo.

É importante ressaltar o papel do álcool etílico

líquido no Brasil. É o único país que o tem como

causa comum de queimadura, por um costume

popular de se limpar tudo com álcool. Além de ser

facilmente adquirido em qualquer supermercado,

costuma ser guardado em locais de fácil acesso às

crianças e adolescentes. Estudos demonstram que o

grande responsável pelas queimaduras ocasionadas

por inflamáveis é o álcool, que contribui para uma

grande parcela das mortes por fogo nas residências.

A prevenção é a arma mais importante para

diminuir o número de acidentes e mortes relacionados

às queimaduras, já que possuem causas previsíveis,

uma vez que apresentam epidemiologia própria, além

de serem facilmente identificáveis, se repetindo em

todas as classes sociais. Portanto, a divulgação de

medidas preventivas e orientação da população por

meio de campanhas educacionais são fundamentais

e de responsabilidade das equipes de saúde e do

poder público.

FISIOPATOLOGIA

A queimadura compromete a integridade

funcional da pele, responsável pela homeostase

hidroeletrolítica, controle da temperatura interna,

flexibilidade e lubrificação da superfície corporal.

Portando, a magnitude do comprometimento dessas

funções depende da extensão e profundidade da

queimadura. Além disso, a ferida da queimadura,

mesmo sendo estéril no começo, é colonizada

rapidamente por bactérias endógenas e exógenas,

deixando assim a possibilidade de uma infecção.

LATE-UFRJ|2015

83

As principais alterações fisiológicas que

ocorrem em um processo de queimadura são:

aumento de permeabilidade capilar e edema. A

lesão térmica causa desnaturação proteica,

determinando a exposição do colágeno no tecido

afetado, levando à liberação de mediadores

inflamatórios. Tais mediadores são responsáveis pelo

aumento da permeabilidade nos capilares,

propiciando a formação do edema.

CLASSIFICAÇÕES

a) QUANTO AO TIPO DE AGENTE CAUSADOR

QUEIMADURAS TÉRMICAS

Causadas pelo calor, representadas tanto por

fogo direto, vapor ou líquidos quentes, ou ainda

contato com objetos quentes.

QUEIMADURAS QUÍMICAS

Causadas pelo contato com agentes

químicos, principalmente ácidos, álcalis e compostos

orgânicos. Ao contrário da lesão térmica, causa dano

progressivo e contínuo à pele e tecidos subcutâneos,

até que a substância seja inativada por reação

tecidual ou diluída por lavagem mecânica do local.

Os acidentes industriais são os mais

preocupantes e os acidentes domiciliares com

desinfetantes caseiros, os mais comuns. A gravidade

de uma queimadura química é determinada pelo tipo

de substância, concentração e tempo de contato.

Assim, diferentemente dos outros tipos de

queimadura, nas quais o atendimento inicial ao

paciente é “esquecer” a queimadura e iniciar o

suporte básico de vida, o cuidado com a ferida é

prioritário, antecedendo essa avaliação.

As queimaduras com álcalis costumam ser

mais graves do que as ocasionadas por ácidos. Este

fenômeno ocorre pela maior penetração dos álcalis

nos tecidos e por sua inativação mais tardia. As

lesões causadas por agentes químicos são

consideradas como queimaduras de segundo ou

terceiro graus.

Tabela 8.1 Apresenta análise de 10 anos de atendimento à queimaduras do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Período de 2001 até 2011.

LATE-UFRJ|2015

84

QUEIMADURAS ELÉTRICAS

Causadas pelo contato da pele com correntes

elétricas (choque elétrico), geralmente aparecendo

nos locais de entrada e saída da corrente (esse tema

será abordado melhor no capítulo de Trauma

Elétrico).

Quadro 8.1 CAUSAS MAIS FREQUENTES

As causas mais frequentes das queimaduras

são a chama de fogo, o contato com água fervente ou

outros líquidos quentes e o contato com objetos

aquecidos. Menos comuns são as queimaduras

provocadas pela corrente elétrica, transformada em

calor ao contato com o corpo. Queimadura química é

denominação imprópria dada às lesões cáusticas

provocadas por agentes químicos, em que o dano

tecidual nem sempre resulta da produção de calor.

b) QUANTO A PROFUNDIDADE OU GRAU

Considera a profundidade das camadas de

tecido afetadas.

QUEIMADURAS DE 1º GRAU1

Afeta somente a epiderme, sem formar bolhas.

Eritema (ou “vermelhidão”, que clareia quando

pressionado), edema leve, calor e dor.

Evolui com descamação em 4-6 dias e regride

sem deixar cicatrizes.

O principal exemplo são as queimaduras solares.

QUEIMADURAS DE 2º GRAU

Afeta epiderme e derme, com formação de

bolhas.

Queimadura superficial: base da bolha rósea,

úmida e dolorosa.

Queimadura profunda: base da bolha branca,

seca e indolor.

Restauração das lesões entre 7 e 21 dias.

Pode deixar sequelas: discromia (superficial) e

cicatriz (profunda).

Exemplos: queimaduras por líquidos ferventes

QUEIMADURAS DE 3º GRAU

Atinge todas as camadas da pele e parte do

subcutâneo.

Indolor (há destruição das terminações nervosas

da pele). Pode haver apenas uma dor aguda

inicial e, além disso, pode ocorrer dor oriunda das

queimaduras circundantes de menor grau.

Lesão esbranquiçada ou enegrecida, dura

(textura coreácea), seca e inelástica.

Fig. 8.1 Queimadura de primeiro grau.

Fig. 8.2 Queimadura de segundo grau.

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85

OBS: a queimadura que envolve tecidos mais

profundos, como os músculos, ossos e órgãos

internos, é considerada por alguns autores como

queimadura de 4º grau.

c) QUANTO À EXTENSÃO

A determinação do percentual da superfície

corporal queimada (SCQ) é de importância

fundamental, sendo este valor diretamente

proporcional à gravidade da lesão, funcionando como

índice prognóstico. Vários são os diagramas e

fórmulas para sua determinação, mas uma regra

simples, a Regra dos Nove de Wallace, permite

avaliação rápida e segura nos pacientes, sendo que

este método deve ser ajustado para crianças

menores de 10 anos. Cada parte do corpo possui um

valor específico de SCQ, de acordo com o quadro

abaixo:

A partir dos valores da tabela, pode-se calcular de

maneira prática a extensão das queimaduras. Se, por

exemplo, determinada vítima queimou o membro

inferior e o membro superior direitos, sua SQC é de

27% (18% + 9%).

Quadro 8.2 EXTENSÃO DAS

QUEIMADURAS

REGIÃO DO CORPO SCQ *

Cabeça e pescoço 9%

Cada membro superior 9% (x 2)

Cada quadrante do tronco 9% (x 4)

Cada coxa 9% (x 2)

Cada perna e pé 9% (x 2)

Genitais e períneo 1%

Fig. 8.3 Queimadura de terceiro grau.

Fig. 8.4 Queimadura de quarto grau.

Fig. 8.5 Regra dos Nove para crianças e adultos.

* valores válidos para o corpo de adultos

LATE-UFRJ|2015

86

d) LOCALIZAÇÃO

Dependendo do local onde a queimadura

ocorre, considera-se o risco estético e funcional da

vítima, podendo haver maior ou menor risco potencial

de aprofundamento das lesões, de formação de

lesões subsequentes e formação de cicatrizes.

Q

U

Queimaduras nas seguintes áreas são

consideradas de maior relevância e podem se tornar

graves:

FACE: associada à queimadura de vias aéreas,

inalação de fumaça, intoxicação por monóxido de

carbono, desfiguração da vítima e edema de faringe;

MÃOS E PÉS: pode induzir incapacidade permanente

após o processo de cicatrização devido às retrações

da área afetada;

OLHOS: pode causar cegueira;

ORIFÍCIOS NATURAIS: apresentam alta incidência

de infecção, sendo de difícil tratamento.

e) COMPLEXIDADE

Refere-se à gravidade das queimaduras,

considerando diversos aspectos já citados, tais como:

causa, profundidade, extensão (%SCQ), localização,

associação com outras lesões, comprometimento de

vias aéreas e estado prévio do acidentado.

PEQUENO QUEIMADO

No pequeno queimado, as repercussões das

lesões são locais. Considera-se como queimado de

pequena gravidade o paciente com:

Queimaduras de 1º grau em qualquer extensão,

e/ou;

Queimaduras de 2º grau com área corporal

atingida até 5% em crianças (menores de 12

anos) e até 10% em adultos (maiores de 12

anos).

MÉDIO QUEIMADO

Quadro 8.3 QUEIMADURAS EM

CRIANÇAS

Para crianças entre 1 e 10 anos, alguns

valores são alterados, devido à proporção

diferenciada de seu corpo. A cabeça e o

pescoço correspondem a 18% da SCQ e os

membros inferiores equivalem 14% cada. Os

demais segmentos têm porcentagens iguais as

do adulto.

Quadro 8.4 SUPEITA DE QUEIMADURA DE

VIAS AÉREAS SUPERIORES

Queimadura de face

Sobrancelhas queimadas

Vibrissas (pêlos nasais) queimadas

Lábios edemaciados

Rouquidão - sinal precoce

Queimaduras orais ou periorais

Estridor (ruído agudo semelhante ao da foca)- sinal

tardio e indica cerca de 85% de obstrução

Escarro carbonáceo (negro)

Queimaduras em espaço confinado

Fig. 8.6 Retração das mãos depois de

cicatrização.

LATE-UFRJ|2015

87

Queimaduras de 2º grau com área corporal

atingida entre 5% a 15% em crianças e entre 10%

a 20% em adultos;

Queimaduras de 3º grau com até 10% da área

corporal atingida em adultos, quando não

envolver face ou mão ou períneo ou pé, e menor

que 5% nas crianças;

Qualquer queimadura de 2º grau envolvendo mão

ou pé ou face ou pescoço ou axila.

GRANDE QUEIMADO

As repercussões da lesão manifestam-se de

maneira sistêmica. Considera-se como queimado de

grande gravidade o paciente com:

Queimaduras de 2º grau com área corporal

atingida maior do que 15% em crianças ou maior

de 20% em adultos;

Queimaduras de 3º grau com mais de 10% da

área corporal atingida no adulto e maior que 5%

nas crianças;

Queimaduras de períneo;

Queimaduras por corrente elétrica;

Queimaduras de mão ou pé ou face ou pescoço

ou axila que tenha terceiro grau;

Queimadura de qualquer extensão que tenha

associada a esta lesão uma condição clínica que

possa deteriorar seu estado geral.

ATENÇÃO! Todo paciente deve ser reavaliado

quanto à extensão e profundidade 48 a 72h após o

acidente.

QUEIMADURAS CIRCUNFERENCIAIS

Todas as queimaduras circunferenciais

merecem atenção redobrada do socorrista e devem

ser tratadas como emergência, pois podem causar

complicações graves.

NO PESCOÇO: risco de obstrução de vias aéreas;

NO TÓRAX: pode restringir a ventilação pulmonar

(impede a expansão torácica);

NAS EXTREMIDADES: risco de obstrução à

circulação (efeito torniquete).

PRIMEIROS SOCORROS

A primeira atitude de quem presta socorro,

em toda queimadura, é retirar a vítima do contato com

o agente causador da lesão. Em seguida, cada tipo

de queimadura exige uma abordagem de conduta

diferenciada. A seguir, serão listadas as principais

medidas de ajuda nesse tipo de lesão.

Quadro 8.5 IDADE DO PACIENTE QUEIMADO

A idade deve ser considerada na avaliação da

gravidade das queimaduras. Idosos e crianças costumam

ter repercussão sistêmica mais crítica, os primeiros pela

maior dificuldade de adaptação do organismo, e os

últimos pela desproporção da superfície corporal em

relação ao peso. Nessas faixas etárias as complicações

são, portanto, mais comuns e mais graves.

Fig. 8.7 Efeito torniquete.

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88

QUEIMADURAS DE 1º GRAU

1. Resfriar a área afetada em água corrente, à

temperatura ambiente, por pelo menos 10 minutos ou

até que a dor seja aliviada;

2. Não se deve aplicar gelo, pois ele também pode

causar queimaduras, além de ser um agente

vasoconstritor, o que levaria à redução da irrigação

sanguínea para a área afetada;

3. Não aplicar pastas, pomadas, cremes, géis, pó de

café, etc, pois podem agravar a lesão por serem

fontes de contaminação. Remédios só devem ser

aplicados sob orientação de um profissional.

QUEIMADURAS DE 2º GRAU NÃO EXTENSAS

(< 20% SCQ)

1. São válidas as mesmas medidas aplicadas para a

queimadura de 1º grau;

2. A queimadura deve ser protegida com compressa

de gaze ou pano limpo umedecido ou ainda papel

alumínio;

3. Deve-se ter bastante cuidado para não estourar

as bolhas da lesão, pois a exposição da pele abaixo

das bolhas pode se tornar importante fonte de

infecções;

4. Como o edema costuma ser pronunciado, deve-

se remover jóias e vestes da vítima para evitar o

garroteamento da região lesada;

5. Não se deve retirar partes de roupas grudadas no

corpo do queimado nem corpos estranhos que não

foram eliminados com a lavagem, pois isso poderia

agravar ainda mais as lesões.

QUEIMADURAS DE 2º GRAU EXTENSAS (> 20%

SCQ) E QUEIMADURAS DE 3º GRAU

1. Nesse caso, como há repercussões sistêmicas da

queimadura, deve-se seguir o suporte básico de vida;

2. Observar sinais e sintomas e prevenir o choque;

3. Remover roupas e jóias da vítima, exceto aquelas

que estiverem grudadas no seu corpo;

4. Cobrir as queimaduras com curativo não

aderente, gaze ou pano limpo e umedecido;

5. Emergência médica! Encaminhar para Centro

Especializado de Tratamento de Queimados.

Quadro 8.6 CUIDADOS AO RESFRIAR AS

QUEIMADURAS

Nunca se deve resfriar mais que 20% da SCQ de

um adulto ou mais que 10% da SCQ de uma criança. O

resfriamento generalizado pode levar à hipotermia.

QUEIMADURAS QUÍMICAS

1. A lavagem da queimadura química deve ser feita

com grande quantidade de água por

aproximadamente 20 minutos. Se o agente causal for

Fig. 8.8 Resfriamento em água corrente.

LATE-UFRJ|2015

89

um pó seco, antes de lavar a pele, deve-se retirar o

excesso com uma escova;

2. Deve-se ter cuidado com a pressão da água para

a lavagem. O jato deve ser abundante, porém não

pode ser forte, pois a água sob alta pressão, além de

danificar mais a área afetada, pode facilitar a

penetração da substância no tecido. O jato ideal para

o procedimento é o do chuveiro;

3. Roupas e outros acessórios da vítima só devem

ser retirados durante a lavagem;

4. A irrigação com água é o melhor método, não se

devendo utilizar substâncias neutralizantes. Isto pode

ser danoso para vítima, já que a maioria das reações

de neutralização libera calor, aumentando os riscos

de lesão ou agravamento dela, além de favorecer a

contaminação;

5. A área lesionada deve ser coberta com curativo

não aderente, gaze ou pano limpo úmido, como

recomendado para as demais queimaduras;

6. Procurar atendimento médico especializado.

Quadro 8.7 É RECOMENDÁVEL OFERECER ÁGUA

À VÍTIMA DE QUEIMADURA?

Se o acidentado estiver consciente e sentir sede,

deve ser-lhe dada toda a água que desejar beber, porém

lentamente. Sendo possível, deve-se adicionar à água sal

(uma colher das de café para meio litro de água). Para

acidentados inconscientes, nunca devemos dar água.

FOGO NO VESTUÁRIO

1. Quando a vítima está sob chamas, deve-se, antes

de tudo, pedir para que ela pare de correr, pois o

vento pode aumentar a extensão desse fogo;

2. Com a vítima parada, deve-se tentar abafar as

chamas com cobertores ou lençóis ou até mesmo

jogar bastante água na vítima para cessar o fogo;

3. Pode-se pedir também para que a vítima deite no

chão e role até eliminar as chamas.

CENTRO DE TRATAMENTO DE QUEIMADOS

(CTQ)

São critérios para encaminhar uma vítima de

queimadura para o CTQ:

Queimaduras de 2º grau em áreas maiores que

20% da SCQ em adultos e em áreas maiores que

10% em crianças ou maiores de 50 anos;

Queimaduras de 3º grau em qualquer extensão;

Queimaduras na face, olhos, mãos, pés, genitália,

períneo e/ou articulações importantes;

Queimaduras elétricas;

Queimaduras químicas;

Suspeita de lesão por inalação ou lesão

circunferencial de tórax ou de membros;

Doenças associadas (queimadura em pacientes

com problemas médicos preexistentes);

Qualquer paciente com queimaduras e trauma

concomitante (tais como fraturas, etc.) no qual a

queimadura apresenta o maior risco de

morbidade ou mortalidade;

Fig. 8.9 Manobra para apagar fogo no vestuário.

LATE-UFRJ|2015

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Crianças queimadas sendo tratadas em hospital

sem pessoal qualificado ou equipamentos para o

cuidado do caso;

Nesses casos, sempre dar relevância à

história do paciente para a passagem de caso ao

serviço especializado, pois lesões secundárias podem

estar associadas, como politraumatismo, lesões

internas, TCE, contusões miocárdicas e pulmonares.

É essencial estabelecer a hora em que ocorreu a

queimadura para as avaliações posteriores.

PREVENÇÃO

A prevenção é a melhor forma de minimizar

todos os prejuízos e incapacidades gerados por

queimaduras acidentais. A seguir, serão listadas

dicas importantes para evitar a ocorrência desse tipo

de emergência traumática.

QUEIMADURAS SOLARES

Podem ser prevenidas por atitudes simples

como o uso de bloqueadores solares, óculos escuros,

bonés/chapéus e guarda-sol, não se esquecendo de

manter-se hidratado através do consumo de líquidos.

Além disso, deve ser evitada a exposição nos

horários de maior incidência de raios solares,

correspondentes ao período de 10 às 16h. Aliás, essa

medida também ajuda a prevenir a insolação,

comumente associada às queimaduras solares.

QUEIMADURAS EM AMBIENTE DOMÉSTICO

Como dito anteriormente, o ambiente

doméstico é onde ocorre a maioria das queimaduras

em adolescentes e crianças, sendo estas as de maior

risco devido à sua pele fina, demora de reação, pouca

agilidade e grande curiosidade. Com isso, algumas

medidas devem ser adotadas:

Restringir o acesso da criança à cozinha;

Colocar cabos de panelas sempre voltados para

dentro do fogão e use preferencialmente as bocas

de trás do fogão;

Armazenar produtos químicos, inflamáveis e

fósforos em locais inacessíveis para os

pequenos;

Evite ligar vários aparelhos eletrônicos em uma

mesma tomada;

Prefira o álcool em gel, que tem menor poder de

combustão (explosão) que o álcool líquido;

Evitar velas próximas às camas;

Observar a temperatura do banho quente.

QUEIMADURAS POR BALÕES, FOGOS DE

ARTIFÍCIO, FOGUEIRAS

Soltar balões é um ato proibido por lei devido

ao risco potencial de causar incêndios. Essa prática

deve ser, sempre que possível, denunciada, sendo

comunicada às autoridades competentes. Manusear

fogos de artifícios e fogueiras, muito presentes na

época de festas juninas, também requer bastante

cuidado para não seja causado um acidente grave.

QUEIMADURAS EM AMBIENTE DE TRABALHO

Em grandes fábricas e indústrias, não é raro

ocorrerem casos de queimaduras por substâncias

químicas ou por líquidos incandescentes, ou até pelo

próprio ambiente fechado contendo vapor

excessivamente quente. Para evitar essas situações,

é necessário adotar medidas de segurança ao

trabalhador, bem como fornecer não só roupas e

equipamentos de proteção, mas também informá-lo

sobre os riscos da tarefa executada.

LATE-UFRJ|2015

91

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5

LATE-UFRJ|2015

92

Introdução

Com advento da eletricidade na era moderna surgiu

um novo agente etiológico de queimadura, com

inúmeras particularidades epidemiológicas,

fisiopatológicas e de tratamento: a queimadura

elétrica que, como normalmente vem associada a

outros traumas, deve ser devidamente denominada

de trauma elétrico.

Queimaduras causadas por eletricidade representam

uma pequena porção das admissões em unidades de

queimados, porém revelam um dos mais agressivos

tipos de injúria térmica. Apresenta distribuição

bimodal, com um pico em crianças menores de seis

anos em ambiente doméstico e outro em adultos

jovens em ambiente de trabalho.

Acidentes elétricos em crianças se

devem principalmente ao contato manual ou oral com

componentes da instalação elétrica residencial. Em

geral, encontram-se abaixo dos 5-8 anos, com mãos

ou faces comprometidas. São queimaduras raras,

porém sua gravidade reside na ocorrência de lesões

desfigurantes.

O trauma elétrico acontece quando o corpo se torna

condutor de corrente elétrica. As lesões produzidas

resultam da conversão de energia elétrica em energia

térmica. Com isso, a extensão da lesão tecidual e o

calor gerado pelas correntes elétricas se dão em

função da resistência de cada tecido e sua

sensibilidade à destruição térmica.

A voltagem e a duração do contato são os principais

fatores que determinam a extensão e profundidade

das lesões.

FATORES QUE INFLUENCIAM NO TRAUMA

ELÉTRICO

RESISTÊNCIA

Os vários tecidos do corpo possuem resistências

específicas ao fluxo da corrente sendo em ordem

decrescente, osso, gordura, tendão, pele, músculo,

vaso sanguíneo e nervo. O osso, por sua maior

resistência, gera mais calor local, mas sua estrutura

torna-o mais resistente à lesão térmica, ao passo que

vasos e nervos possuem menos resistência, mas são

mais susceptíveis à lesão térmica.

VOLTAGEM

As correntes elétricas são arbitrariamente divididas

em baixa voltagem, de 500-1.000 volts, e alta

voltagem, superior a 1.000 volts. Os acidentes

domésticos comumente se enquadram no primeiro

tipo, enquanto que os de trabalho, no segundo.

A corrente de alta tensão tende a percorrer um

caminho mais curto entre o ponto de entrada e a terra

e frequentemente a vítima é atirada longe e as

alterações cardíacas (fibrilação ou assistolia) são

mais raras, sendo mais comum a depressão do

centro respiratório com parada respiratória. As lesões

por baixas tensões produzem queimaduras menos

LATE-UFRJ|2015

93

extensas, mas podem causar a morte por fibrilação

ventricular.

TIPO DE CIRCUITO

Se compararmos entre corrente alternada e contínua,

a primeira é muito mais perigosa, pois produz

contraturas musculares que mantém a vítima presa

ao condutor, aumentando seu tempo de contato, e

pode levar a fraturas e parada cardiorrespiratória. A

corrente contínua, por sua vez, causa uma contratura

muscular que afasta a vítima do condutor

interrompendo rapidamente o circuito, mas pode

causar traumatismos.

TRAJETO

Por ser imprevisível, é um dos fatores que

diferenciam esse trauma dos outros tipos de traumas

térmicos. Qualquer órgão pode ser acometido, porém

o dano causado é maior quando atinge órgãos vitais

como cérebro e coração.

TEMPO

Evidentemente, quanto maior for o tempo de contato,

maior a extensão dos danos causados.

EFEITOS DA PASSAGEM DA CORRENTE

ELÉTRICA

Lesões por eletricidade são descritas como feridas

tipo “iceberg” porque, muitas vezes, a aparência da

queimadura na pele não indica a quantidade de

danos em tecidos subjacentes. Geralmente, a lesão

cutânea é menor do que a destruição profunda das

estruturas adjacentes.

A passagem da corrente elétrica pode causar:

Contração muscular

Tetanização muscular

Queimaduras elétricas

Parada Respiratória

Parada Cardíaca

Danos ao sistema nervoso central

Danos renais

IDENTIFICAÇÃO

SINAIS E SINTOMAS

As feridas de entrada e saída são

características e geralmente significam destruição

local dos tecidos profundos. A ferida de entrada típica

é irregular e deprimida. A ferida de saída tem bordos

secos, deprimidos e dá a aparência que a corrente

elétrica explodiu quando fez sua saída. Geralmente a

lesão aparece como uma área isquêmica, de um

amarelo esbranquiçado ou pode apresentar-se

chamuscado. Ela é seca e indolor, com bordos

geralmente bem definidos, sendo a necrose o aspecto

dominante da lesão.

Além disso, os seguintes efeitos gerais

podem aparecer:

Mal estar geral;

Sensação de angústia;

Fig. 9.1 Diferentes percursos da corrente elétrica.

LATE-UFRJ|2015

94

Náuseas;

Cãibras musculares de extremidades;

Parestesias (dormências, formigamentos);

Ardência ou insensibilidade da pele;

Escotomas cintilantes (visão de pontos

luminosos);

Cefaléia;

Vertigem;

Arritmias cardíacas;

Dispneia.

ARCO VOLTAICO

Ocorre por uma diferença de potencial elétrico entre

os corpos, nele o circuito se completa mesmo sem

que a vítima tenha tocado no condutor. A vítima

torna-se parte do circuito. A corrente elétrica, nesse

caso, move-se externamente ao corpo, a partir do

ponto de contato para o solo.

Essas queimaduras estão associadas à corrente de

alta tensão e a profundidade depende de quão

próxima está da pele. As mesmas são graves já que o

arco elétrico tem uma temperatura de 2.500ºC.

LESÃO POR RAIO

A lesão por raio é muito rara. Os efeitos da lesão por

raio são extremamente variáveis. Geralmente a vítima

está desacordada. Ela pode conservar a respiração

espontânea ou tornar-se inconsciente, sem pulso e

com parada respiratória. Não deve necessariamente

ser tida como morta, devendo iniciar manobras de

reanimação oferecendo assistência respiratória e

cardíaca. Pacientes submetidos a grave lesão por

raio parecem suportar períodos prolongados de

apneia, talvez por cessação do metabolismo, de

modo que o processo degenerativo é retardado.

PRIMEIROS SOCORROS

SEGURANÇA DO ACIDENTADO E DO

SOCORRISTA

Antes de socorrer a vítima, é necessário ter em mente

que:

Cada segundo de exposição da vítima à

corrente elétrica diminui a sua chance de

sobrevivência;

O choque elétrico pode também oferecer

perigo à pessoa que está prestando socorro.

Assim, a primeira atitude a ser tomada é isolar o

acidentado da fonte da corrente elétrica. Isso pode

ser feito de duas maneiras principais:

Cortar a corrente elétrica, desligando a chave

geral de força, retirando os fusíveis da instalação

ou puxando o fio da tomada (desde que esteja

encapado) ou;

Tentar afastar a vítima da fonte de energia

utilizando luvas de borracha grossa ou materiais

isolantes, e que estejam secos (cabo de

vassoura, tapete de borracha, jornal dobrado,

pano grosso dobrado, corda, etc.), afastando a

vítima do fio ou aparelho elétrico.

Quadro 9.2 MATERIAIS CONDUTORES x

MATERIAIS ISOLANTES

Materiais Condutores: material que deixa a

corrente elétrica passar facilmente - cobre,

alumínio, água, etc.

Materiais Isolantes: material que não permite que

a eletricidade passe através dele - vidro, plástico,

borracha, madeira, etc.

LATE-UFRJ|2015

95

O socorrista não pode tocar na vítima antes que

tenha executado as ações citadas acima. Em

seguida, deve-se verificar o estado geral da vítima.

SOCORRENDO A VÍTIMA

O acidente elétrico de alta ou baixa voltagem

pode produzir mortes imediatas por parada cardíaca

ou cardiorrespiratória, por isto as manobras de

reanimação mediante massagem cardíaca e

ventilação são necessárias para evitar a morte

imediata da vítima. Priorizando-se, portanto, o suporte

básico de vida; após ter chamado ajuda ligando para

193 ou 192.

Após estabilização cardiorrespiratória do acidentado,

as queimaduras elétricas podem ser cobertas com

gaze ou com um pano bem limpo, ambos úmidos,

seguindo o mesmo tratamento para as queimaduras

de 3º grau.

Se a pessoa estiver consciente, pode ser

deitada em decúbito dorsal, com as pernas elevadas,

mas se estiver inconsciente, é melhor deixá-la em

posição lateral de segurança (de recuperação).

Se for necessário, deve-se cobrir a vítima

com um cobertor e também ajudá-la a manter a

calma. É essencial procurar assistência médica

imediata.

A recuperação das vítimas de energia elétrica

será tanto mais problemática quanto mais

tardiamente for instituída a terapêutica apropriada.

Isto porque, a anóxia que então se estabelece, pode

lesar de modo irreversível os tecidos mais nobres tais

como os do sistema nervoso.

PREVENÇÃO

CUIDADOS GERAIS NO MANEJO DE

INSTALAÇÕES ELÉTRICAS

Utilização de fusíveis e disjuntores, aterramentos,

materiais isolantes e Equipamento de Proteção

Individual (EPI).

Plugar e usar os dispositivos elétricos de

segurança disponíveis como, por exemplo, a

tomada de 3 pinos;

Checar, com frequência o estado de todos os fios

e dispositivos elétricos; conserte-os ou substitua-

os, se necessário;

Instalar a antena de TV longe da rede elétrica. Ela

pode tocar nos fios e provocar choque;

Certificar-se de que a corrente está desligada,

antes de operar uma ferramenta elétrica;

Se um circuito elétrico em carga tiver de ser

reparado, chamar um eletricista qualificado para

fazê-lo;

Usar ferramentas "isoladas", que fornecem uma

barreira adicional entre você e a corrente elétrica;

Não sobrecarregar uma única tomada com vários

aparelhos elétricos, usando, por exemplo, um

Benjamin;

Os quadros de distribuição devem ter disjuntores.

Se os dispositivos de proteção ainda forem do tipo

chave-faca, com fusíveis cartucho ou rolha,

substitua-os por disjuntores;

Colocar protetores nas tomadas ao alcance de

crianças para evitar acidentes.

TROCANDO A LÂMPADA

Antes de trocar uma lâmpada, desligar o

interruptor;

Quadro 9.3 ALTA VOLTAGEM

Nunca se deve manipular alta voltagem com

pedaços de pau ou mesmo luvas de borracha. Nesse

caso, não se está protegido mesmo se o material for

isolante, pois qualquer substância pode se

transformar em condutor!

LATE-UFRJ|2015

96

Não tocar na parte metálica do bocal, nem na

rosca;

Segurar a lâmpada pelo vidro (bulbo). Não

exagerar na força ao rosqueá-la, pois há risco

de provocar acidentes;

Lembrar-se de executar a troca de forma

segura (usando escadas).

CHUVEIRO ELÉTRICO

Não mudar a chave liga/desliga e

verão/inverno com o chuveiro ligado. Dá

choque e pode ser fatal;

Instalar o fio terra corretamente, de acordo

com a orientação do fabricante;

A fiação deve ser adequada, bem instalada e

com boas conexões. Fios derretidos,

pequenos choques e cheiro de queimado

indicam problemas que precisam ser

corrigidos imediatamente;

Nunca diminuir o tamanho de resistências

nem reaproveite resistências queimadas.

CUIDADO COM A UMIDADE

Não mexer com eletrodomésticos em locais com água

ou umidade, nem com as mãos ou os pés molhados.

A água torna o choque muito mais perigoso;

Atenção ao executar consertos em instalações

elétricas quando o chão estiver úmido ou molhado.

Com água, o risco de choque é muito maior.

CUIDADOS EM AMBIENTE EXTERNO

Nunca se deve subir em postes. Apenas o

profissional especializado e portando

equipamento de segurança pode fazê-lo;

Cuidado com fios caídos ao andar na rua.

Deve-se desviar deles e comunicar a

companhia de eletricidade da região;

Soltar balões pode provocar muitos acidentes,

principalmente se eles caírem dentro de

subestações, sobre redes elétricas ou

residências;

Não soltar fogos de artifício perto das redes

elétricas, pois pode haver rompimento de

cabos com acidentes fatais;

Não soltar pipas ou papagaios próximo à rede

elétrica.

PERIGO DAS PIPAS PRÓXIMO A FIOS DE ALTA

TENSÃO

Uma brincadeira típica das crianças brasileiras têm se

tornado um grande perigo, principalmente no que se

refere aos choques elétricos. O hábito de soltar pipas

próximo a fios de alta tensão pode ocasionar

acidentes gravíssimos. É comum as crianças

tentarem pegar as pipas que ficam enroscadas na

rede elétrica. Basta um curto-circuito para que ela

seja atingida pela corrente elétrica.

COMO SOLTAR PIPA DE MANEIRA SEGURA?

Soltar pipa somente em espaços abertos e longe

da rede elétrica (campos de futebol, praias);

Evitar a brincadeira perto de aeroportos, estradas

ou nas lajes de casas. Qualquer distração pode

resultar em choques, caso a pipa prenda na rede

elétrica, e quedas, de quem está fazendo parte da

brincadeira;

Se a pipa ficar presa, a pessoa não deve subir em

telhados, postes ou torres, nem usar canos ou

bambus para tentar recuperá-la;

Em caso de tempestade, o ideal é deixar a

brincadeira para outro dia, por causa dos raios (a

pipa funciona como pára-raios);

É importante soltar pipa sem rabiola, como as do

tipo arraia, para que ela não fique presa em algum

lugar;

LATE-UFRJ|2015

97

Não usar papel laminado na pipa. Se ela tocar nos

fios vai provocar um curto-circuito que poderá

atingi-lo e deixar um bairro inteiro sem luz;

Não usar linhas metálicas no lugar da linha

comum, pois elas podem causar choques

elétricos, além de também ameaçar ciclistas e

motociclistas;

Ficar atento para que a linha da pipa não

atravesse no caminho de ciclistas e motociclistas.

Muitos acidentes acontecem porque as linhas não

podem ser vistas;

Nunca usar cerol, pois ele proibido e perigoso e

pode causar sérios acidentes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COLÉGIO AMERICANO DE CIRURGIÕES. ATLS:

Suporte Avançado de Vida no Trauma para Médicos.

7. ed. [S. l.]: Ver Curiosidades, 2004. 459 p.

DE MIRANDA. R. E. et al. Trauma elétrico: análise

de 5 anos. Rev. Bras. Queimaduras [online]. 2009, v.

8, n. 2, pp. 65-9.

GOMES, D. R.; SERRA, M. C.; MACIEIRA, L.

Condutas Atuais em Queimaduras. 1. ed. Rio de

Janeiro: Revinter, 2001. 158 p.

PORTUGAL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional

de Emergência Médica. Manual V.M.E.R. 2. ed. [S.

l.], 1999. 343 p.

<http://www.rogerioultra.com.br/rogerioultra.com.br/ler

.php?map=15>. Acesso em: 04 mar. 2012.

<http://www.portaleducacao.com.br/farmacia/artigos/2

806/lesoes-eletricas>. Acesso em: 04 mar. 2012.

<http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/choques-

eletricos/choques-eletricos-1.php>. Acesso em: 04

mar. 2012.

LATE-UFRJ|2015

98

REGULAÇÃO DA TEMPERATURA

CORPORAL

Os seres humanos são endotérmicos e são

capazes, portanto, de produzir calor, por meio da

contração muscular e taxa de metabolismo basal, e

de regular sua temperatura entre certos limites (por

volta de 37°C), propiciando uma ótima temperatura à

atividade enzimática.

Além disso, o ser humano é homeotérmico,

isto é, possui a capacidade de manter a temperatura

corporal dentro de certo intervalo pré-determinado

apesar das variações térmicas do meio ambiente

(homeostasia térmica). A temperatura de equilíbrio é

de 37ºC (98.6ºF1), com uma variação circadiana

entre 35,8ºC e 37.3ºC. A temperatura corporal é

menor pela manhã, aumenta ao longo do dia e é

máxima pelo início da noite. A tolerância ao calor

depende em grande parte do nível de umidade do

ambiente; Na presença de umidade intermediária, a

temperatura corporal central máxima tolerada é de

aproximadamente 40ºC, enquanto a temperatura

mínima ronda os 35,3ºC; a tolerância é menor em

ambientes mais úmidos.

O equilíbrio da temperatura corporal é obtido

mediante o balanço entre a perda e a produção ou

aquisição de calor, no qual o hipotálamo funciona

como o termostato responsável por ajustando o corpo

para que perca calor em ambientes quentes, e

produza calor em ambientes frios. Ele possui

eferências que alteram a taxa metabólica basal, a

atividade da glândula sudorípara, a atividade

muscular, a frequência respiratória, o grau catabólico,

o comportamento, o calibre vascular, entre outros.

A pele é um fator indispensável de interface

do meio interno com o meio externo. Sua espessura e

todas as suas camadas são fundamentais para que

essa transferência de energia ocorra e também como

mecanismo de resistência a esse processo (por

exemplo, a camada de tecido adiposo).

A perda de calor pelo corpo ocorre por meio

de quatro mecanismos: condução, convecção,

radiação e evaporação (sendo este o principal

mecanismo para temperaturas ambientais >36°C).

Por outro lado, o corpo conserva calor por

meio dos seguintes mecanismos: o sangue flui

rapidamente para superfície da pele, acompanhado

por vasoconstricção; os pêlos ficam eriçados,

Fig.10.1 Vascularização da pele.

LATE-UFRJ|2015

99

mantendo o ar quente perto da pele; diminuição da

sudorese.

DESIDRATAÇÃO

Como a água é o maior componente do corpo

humano, representando cerca de 45 a 70% do peso

corporal, as variações no equilíbrio hídrico corporal

normal, como perda excessiva de água, alteram a

homeostasia, produzindo, assim, sinais e sintomas

característicos. O nosso corpo perde água

diariamente através do suor, das lágrimas, da urina e

das fezes, a qual é reposta por meio do consumo de

líquidos e de alimentos que contenham água.

A desidratação, portanto, significa que o seu

corpo não possui a quantidade de água e fluidos que

deveria, podendo ser causada por perdas como a

ingestão insuficiente de água, vômito e diarreia,

atividade física com exposição ao calor e sudorese

profusa, exaustão por calor, febre, dentre outros.

As crianças são mais suscetíveis à

desidratação do que os adultos devido ao peso

inferior do corpo e maior circulação de água e

eletrólitos. Os idosos e os que se encontram doentes

também possuem maior propensão, por alteração dos

mecanismos reguladores.

A desidratação é classificada como leve,

moderada ou grave dependendo da quantidade de

fluido que o corpo perdeu ou que não foi reposto.

Quando grave, a desidratação é uma condição que

pode colocar a vida em risco; também leva a um pior

prognóstico em casos de intermação (ver adiante).

A desidratação é um achado comum em

doenças relacionadas ao calor. Durante a exposição

ao calor, a água é perdida primeiramente como suor.

Portanto, as bases para evitar o início da doença

relacionada ao calor são manter um equilíbrio hídrico

corporal e minimizar a desidratação durante as

atividades diárias, sobretudo em atividades físicas

cuja exposição ao calor seja de moderada a alta.

Quando em níveis de desidratação aguda de

leves a moderados (2% a 6% do peso corporal) os

indivíduos apresentam fadiga, diminuição da

tolerância ao calor, deterioração cognitiva e redução

na força e na capacidade física aeróbica. Nesse caso,

deve ser administrada uma solução hipertônica rica

Fig.10.2 Mecanismos de perda de calor.

LATE-UFRJ|2015

100

em eletrólitos e glicose para restaurar e manter o

volume intravascular. Pode ser utilizado um soro de

reidratação oral ou soro caseiro (meia colher de chá

de sal e seis colheres de chá de açúcar misturadas

em um litro de água).

Como os indivíduos normalmente não sentem

sede até terem perdido cerca de 2% do peso corporal

devido à sudorese, este é um pobre indicador da

necessidade hídrica corporal durante o repouso ou

atividade física. Portanto, sem um guia para ajuda-los

quanto à quantidade de líquido pra consumir por hora

quando expostos a calor de moderado a alto, as

pessoas continuarão a consumir menos que o

necessário permanecendo desidratadas em 1% a 2%

do peso corporal. Esse quadro é conhecido como

desidratação “voluntária” e consiste no consumo de

líquidos insuficiente para restaurar o equilíbrio hídrico.

A reposição de líquidos por via oral é tão

eificiente quanto a intravenosa, desde que seja

suplementada com eletrólitos (principalmente sódio) e

carboidratos. O volume de líquido ingerido deve

exceder o volume de sudorese e outras perdas.

A velocidade com que os líquidos podem ser

repostos por via oral está limitada pela velocidade de

esvaziamento gástrico (1 a 1,2 L/h) e pela sua

velocidade de absorção no intestino delgado.

Portanto, a melhor alternativa para evitar a

desidratação durante a exposição ao calor é iniciar o

consumo de líquidos antes e mantê-la frequente

durante e após a exposição ao calor, uma vez que

após ocorrer à desidratação torna-se um grande

desafio reidratar o indivíduo por via oral.

Os sinais e sintomas mais comuns de desidratação

são:

Diurese menos frequente;

Sede;

Pele seca e pálida;

Fadiga;

Fraqueza;

Sensação de leveza na cabeça;

Tontura;

Confusão;

Boca e membranas mucosas secas;

Aumento das frequências cardíaca e respiratória.

Em lactentes e crianças também podemos observar

os seguintes sintomas adicionais:

Boca e língua secas;

Falta de lágrimas ao chorar;

Fraldas secas por mais de 3 horas;

Abdome, olhos e bochechas encovados;

Febre alta;

Falta de atenção;

Irritabilidade;

Pele que não volta ao normal quando pinçada e

liberada.

Fig. 10.3 e 10.4 Sinais de desidratação.

LATE-UFRJ|2015

101

A desidratação também ocorre muito

facilmente no frio, especialmente com o aumento da

atividade física, basicamente devido à evaporação do

suor, perda de calor e líquidos por causa da baixa

umidade do ar frio, e à diurese induzida pelo frio. A

diurese é normalmente aumentada na exposição ao

frio como resultado da vasoconstrição cutânea que

leva ao aumento do volume circulatório efetivo, com

consequente aumento da pressão arterial, e aumento

da filtração glomerular nos rins. Nessas situações a

diurese pode reduzir o volume plasmático em 7-15%,

de modo que socorristas que trabalham nessas

condições devem estar preocupados em manter-se

hidratados.

LESÕES RELACIONADAS AO CALOR

Podemos enquadrar essas lesões em três

categorias principais: intermação, exaustão por calor

e cãibras por calor. Elas são mais comuns em

ambientes com temperatura e umidade altas e pouco

ou nenhum vento.

Os indivíduos mais susceptíveis são:

Atletas;

Pessoas que trabalham perto de fornos e fogões;

Pessoas fisicamente debilitadas;

Alcoólatras;

Obesos;

Pessoas com doenças crônicas;

Doentes cardíacos;

Usuários de certas drogas (ex: diuréticos);

Vítimas de queimaduras;

Extremos da idade.

1. INTERMAÇÃO

Considerada a forma de doença relacionada

ao calor com maior emergência e com risco de vida, a

intermação é definida como uma forma anormal de

hipertermia que resulta em insuficiência total do

sistema termorregulador.

Causada pelo sobrecarga excessiva de calor

(altas temperaturas, alta umidade, pouca circulação

de ar) e pela má resfriação do corpo - por

incapacidade de suar adequadamente (ex:

escledodermia), aumento da taxa metabólica (por

doenças ou uso de drogas), lesões no SNC

(hipotálamo), dentre outros - essa se instala

rapidamente sem dar sinais de alerta como cefaleia

ou tontura, a pessoa fica com a temperatura central

muito elevada (>40,3°C), com a respiração fraca,

pulso rápido e disfunção do sistema nervoso central,

que resulta em alterações no estado mental (delírio,

confusão, coma).

Após um episódio de intermação a

temperatura corporal da pessoa pode sofrer

alterações durante semanas. O paciente deve ser

levado ao hospital com urgência e o tratamento para

a intermação deve ser realizado imediatamente,

através do resfriamento do corpo da pessoa e uma

boa hidratação.

Na intermação o grau das complicações não

está inteiramente relacionado à magnitude da

elevação da temperatura, mas principalmente à

duração dessa temperatura elevada. Mesmo com

uma intervenção pré-hospitalar agressiva e com o

tratamento no hospital, a intermação pode ser fatal e

muitos pacientes que sobrevivem apresentam

incapacidade neurológica permanente.

A intermação tem duas apresentações

clínicas diferentes: a intermação clássica, na qual as

pessoas perdem a habilidade de suar (infecções,

desidratação em crianças e idosos ou pessoas com

doenças crônicas durante uma onda de calor) e a do

esforço, na qual as vítimas envolvidas em esforço

físico e tensão muscular excedem a perda de

temperatura pelo suor.

LATE-UFRJ|2015

102

SINAIS E SINTOMAS

Pele avermelhada e extremamente quente;

Pele seca (pode ser úmida a princípio);

Confusão mental, alucinações e irritabilidade;

Convulsões ou colapso repentino (principalmente

durante resfriamento);

Tontura e fraqueza;

Pressão sanguínea pode estar elevada ou

diminuída;

Pulso geralmente taquicárdico e filiforme;

Pupilas inicialmente contraídas (posteriomente

dilatadas);

Respiração superficial e fraca;

Náusea e vômitos.

As principais complicações da intermação

são: edema cerebral, insuficiência cardíaca,

insuficiência renal e morte.

PRIMEIROS SOCORROS

1. Fazer a vítima interromper suas atividades e

repousar em um local fresco.

2. Ligar para o SME (192 ou 193).

3. Caso a vítima não esteja respondendo, abrir vias

aéreas, verificar a respiração e fornecer o

atendimento apropriado.

4. Remover as roupas da vítima e resfriá-la

rapidamente: aplicar toalhas molhadas frias sobre

a pele da vítima, usando um ventilador para

diminuir a temperatura e colocar compressas de

água gelada nas regiões do pescoço, da virilha,

da axila e atrás dos joelhos. Estudos indicam que

imergir a vítima em uma banheira com água fria

também é eficaz (evitar resfriamento excessivo).

5. Monitorar a temperatura da vítima até a chegada

da equipe de resgate. Caso a temperatura volte a

subir, reiniciar os procedimentos para

resfriamento. A temperatura deve ser mantida

inferior a 37,7° C até que o perigo acabe.

Fig. 10.5 Sinais e sintomas da intermação.

LATE-UFRJ|2015

103

A insolação e a intermação apresentam sinais

e sintomas semelhantes, porém a insolação,

caracterizada pela falência dos mecanismos

reguladores da temperatura do organismo, é causada

pela exposição direta e prolongada a raios solares, e

parte dos sintomas, como a cefaléia e confusão

mental, tem instalação mais lenta. A intermação é

causada pela exposição a diversas fontes de calor e

tem instalação mais aguda, é mais grave e pode levar

à morte.

2. EXAUSTÃO POR CALOR

Distúrbio relacionado ao calor mais comum

visto pelos socorristas, a exaustão pelo calor pode se

desenvolver ao longo de dias de exposição, como em

pessoas idosas que vivem em locais pouco

ventilados, ou agudamente, como nos atletas.

Permanecer muito tempo em situações de calor

excessivo como ao sol de verão ou noutras situações

como trabalhar em locais com elevadas temperaturas

(como os forneiros, etc.) pode levar a uma vítima de

exaustão pelo calor e precisar de cuidados de

imediato. A permanência ao calor intenso leva à

perda profusa de água provocada pela transpiração e

perda de sais minerais.

Os sintomas mais frequentes nas vítimas

causados pela exaustão pelas elevadas temperaturas

são dolorosas contrações do tecido muscular (cãibra

ou breca) em decorrência da perda de eletrólitos,

cefaleias (dores nas cabeça), tonturas e ânsia de

vômito; aceleração na respiração. Ocorre taquicardia

e hipotensão, associado a débito cardíaco insuficiente

para sustentar o aumento da carga circulatória,

causado pelas demandas da competição da

dissipação termorreguladora do calor e aumento do

fluxo sanguíneo cutâneo; a vítima fica pálida, fria,

cansada e enfraquecida. Pode levar ao colapso

(perder todas as forças) se não for imediatamente

assistida.

Tais sinais e sintomas são decorrentes da

tentativa do restabelecimento da homeostasia, onde

há também redução do volume plasmático, redução

do retorno venoso pela vasodilatação e depleção de

sal e água induzida pelo suor.

Geralmente é difícil distinguir a exaustão

grave pelo calor da intermação, porém, uma forma de

Fig. 10.6 Primeiros socorros para intermação.

Fig. 10.7 Exaustão por calor.

LATE-UFRJ|2015

104

diferenciá-las é avaliar o nível de comprometimento

neurológico e pela temperatura da pele, que na

exaustão pelo calor se apresenta normal. Caso a

exaustão por calor não seja tratada, pode evoluir para

intermação, que apresenta incapacidade neurológica

e risco de vida. Portanto, a exaustão por calor é um

diagnóstico de exclusão quando não existe evidência

de intermação.

SINAIS E SINTOMAS

Sudorese intensa;

Pele úmida, pegajosa e pálida;

Sede excessiva;

Taquicardia, hipotensão e respiração superficial;

Fraqueza, falta de coordenação muscular e

tontura;

Cãimbras e calafrios;

Dor de cabeça;

Náusea e vômito.

PRIMEIROS SOCORROS

1. Fazer a vítima interromper a atividade e repousar

em um local fresco e ventilado.

2. Remover o excesso de roupas ou roupas

apertadas.

3. Se a vítima estiver respondendo e não apresentar

náuseas, oferecer água ou bebida isotônica

comercializada, em pequenas quantidades e

repetidas vezes.

4. Fazer a vítima se deitar e erguer as pernas a uma

altura de 15 a 30 cm.

5. Resfriar a vítima aplicando toalhas frias e úmidas

sobre a cabeça e o corpo da vítima.

6. Caso a condição não melhore em 30 minutos,

procurar atendimento médico.

Fig. 10.9 Se a vítima com exaustão por calor estiver

totalmente consciente, dê-lhe água fria.

Fig. 10.8 A vítima com exaustão por calor deve se deitar

de costas com os pés elevados.

LATE-UFRJ|2015

105

3. CÃIBRA POR CALOR

Cãibras são espasmos musculares fortes

provocados por uma perda excessiva de líquidos e de

sais (eletrólitos) como o sódio, o potássio e o

magnésio, devida a uma sudação intensa, tal como

acontece durante a prática de uma atividade física

extenuante, em condições de calor extremo. Essas

contrações musculares dolorosas e de curta duração

são vistas frequentemente nos músculos da

panturrilha, mas também ocorrem nos músculos

voluntários do abdome e das extremidades. A pele

fica úmida e fria. Nestes casos, a temperatura do

corpo estará normal ou ligeiramente baixa. Há

hemoconcentração e baixo nível de sódio no

organismo.

As cãibras provocadas pelo calor são muito

comuns entre os trabalhadores manuais e pessoas

com excesso de proteção, como o vestuário que

alpinistas ou os esquiadores usam, podendo ocultar

uma grande sudação.

Este tipo de cãibras costuma começar

inesperadamente, são dolorosas e impedem os

movimentos. Os músculos endurecem, ficam tensos e

torna-se difícil descontraí-los. Em casos excepcionais

a pessoa afetada deve receber líquidos e sais por via

endovenosa.

PRIMEIROS SOCORROS

1. Fazer a vítima interromper a atividade e repousar

em um local fresco.

2. Massagear suavemente e esticar o músculo

afetado; aplicação de bolsas de gelo também

podem aliviar os sintomas.

3. Remover o excesso de roupas ou roupas

apertadas.

4. Se a vítima estiver respondendo e não apresentar

náuseas, oferecer água ou uma bebida isotônica

comercializada.

PREVENÇÃO

Sempre se manter hidratado, o que não significa

ingerir grandes quantidades de água de uma vez

só. Tente fazer uma pré-hidratação, uma durante

o exercício, ingerindo de 10 a 15 minutos de 100

a 200mL, e após a atividade. Isto evita a

desidratação e a elevação extrema da

temperatura corporal.

Aliada à hidratação também deve ser realizada

uma reposição eletrolítica antes, durante e ao

final da atividade.

Fazendo alongamentos antes da atividade física,

estamos "avisando" aos músculos que serão

utilizados futuramente, assim como também se o

fizermos depois estamos nos prevenido contra

dores musculares que possam vir a aparecer no

período pós-exercício.

Comprimidos de sal podem ajudar a evitar

cãibras, mas normalmente provocam queixas

Fig. 10.10 Cãibra por calor.

LATE-UFRJ|2015

106

estomacais e a ingesta excessiva pode provocar

uma retenção de líquidos (edema).

LESÕES RELACIONADAS AO FRIO

Os indivíduos mais afetados por esse tipo de

lesão são moradores de rua, andarilhos, recém-

nascidos, idosos, crianças, pessoas imersas em

águas frias, alpinistas, pessoas alcoolizadas expostas

a temperaturas baixas e indígenas. Geralmente, a

morte pré-hospitalar por esse tipo de lesão ocorre

devido à demora ou falta de atendimento apropriado,

uma vez que esses casos são pouco frequentes no

país, o que culmina em um menor preparo para esse

tipo de situação. Os problemas mais comuns

causados pelo frio são a hipotermia e o

congelamento.

1. HIPOTERMIA ACIDENTAL

A hipotermia ocorre devido à exposição

prolongada a baixas temperaturas, o que ocasiona

uma perda de calor pelo corpo mais rápida do que

este pode ser produzido. Desse modo, o organismo

desencadeia termogênese muscular e liberação de

catecolaminas na tentativa de produzir mais calor.

Também ocorre em temperaturas mais amenas

quando o indivíduo está exposto a chuva e sudorese,

casos de imersão em água gelada por poucos

minutos e imersão em água mais morna por um

período prolongado de tempo.

Consiste no resfriamento generalizado do

organismo levando a temperatura central do corpo a

um valor inferior a 35° C, que é o limite para o

funcionamento do metabolismo. Pode ser classificada

como hipotermia branda (32-35°C), hipotermia

moderada (28-32°C) ou hipotermia grave (<28°C).

Como fatores pré-disponentes para

hipotermia, temos: uso de roupas inadequadas e/ou

molhadas; desnutrição; extremos de idade; uso de

álcool e drogas (narcóticos, anestésicos,

hipoglicemiantes, etc); imobilidade; alteração do

estado de consciência; lesões no SNC;

hipotireoidismo; dentre outros.

SINAIS E SINTOMAS

Tremores;

Movimentos lentos e descoordenados;

Confusão e fala arrastada;

Perda de memória;

Exaustão aparente e sonolência;

Pele fria, rubor/palidez e cianose em lábios,

orelhas e dedos (eventualmente pode haver

gangrena dessas regiões);

Taquicardia e taquipnéia (inicialmente).

PRIMEIROS SOCORROS

1. Levar a vítima para um ambiente quente e

protegido do frio;

2. Caso a vítima esteja usando roupas molhadas,

removê-las;

3. Não se deve massagear a vítima, de modo a não

prejudicar a perfusão dos tecidos, que já está

diminuída;

4. Aquecer, primeiramente, o centro do corpo (tórax,

pescoço, cabeça e virilha); se a vítima estiver

responsiva e tremendo (hipotermia leve), é

Aferir a temperatura da vítima (temperatura inferior

a 35°)

Chamar o serviço de emergência

Iniciar o aquecimento da vítima

LATE-UFRJ|2015

107

recomendado o uso de cobertores ou folhas

metálicas; se a vítima não estiver tremendo

(hipotermia moderada), deve ser usado

aquecimento ativo (ex: cobertor elétrico, garrafas

de água quente cobertas com meias); no caso de

hipotermia grave, o aquecimento central

(invasivo) deve ser realizado em ambiente

hospitalar, mas até que o paciente seja

transportado, diminuir a perda de calor e evitar

movimentação (risco de arritmias);

5. Se a vítima estiver consciente, dê a ela bebidas

quentes, mas não alcoólicas. Caso esteja

inconsciente, não tente dar bebidas à vítima;

6. Após o aumento da temperatura corporal,

mantenha a vítima enrolada em um cobertor,

incluindo a cabeça e o pescoço;

7. Dê atendimento médico o mais rápido possível;

8. Na ausência de pulso/batimentos cardíacos,

iniciar RCP imediatamente (sequência CAB).

ATENÇÃO! a vítima não pode ser considerada

morta antes que seja realizado o reaquecimento.

Estudos indicam altas taxas de sobrevivência mesmo

após períodos prolongados de hipotermia e RCP.

PREVENÇÃO

Repouse e se alimente antes de esforço físico;

Ingestão de alimentos ricos em energia quando

estiver ao ar livre;

Use roupas à prova de vento por cima de roupas

de lã;

Monte acampamento em caso de tempestade, se

estiver lesionado ou perdido;

Continue a se movimentar para manter a

produção de calor pelo corpo; se estiver

acampado, faça exercícios isométricos.

2. CONGELAMENTO (GELADURA)

Consiste no congelamento dos líquidos teciduais

nos espaços intra e extracelulares, culminando em

um comprometimento vascular e tecidual. As áreas

do corpo mais acometidas são as orelhas, o nariz, o

queixo, as bochechas e os dedos, áreas mais

expostas ao frio e ao vento.

A insuficiente assimilação de oxigênio e a

consequente interrupção das reações químicas

celulares, o que, adicionado à formação de

microcristais de água nas próprias células e tecidos

intersticiais, pode conduzir à necrose ou morte dos

tecidos afetados, sobretudo da pele, tecido

subcutâneo e músculos subjacentes.

É mais provável que o congelamento afete quem

tem circulação deficiente devido à arteriosclerose

(espessamento e endurecimento das paredes

arteriais), espasmo (que pode ser provocado pelo

tabagismo, por alguns problemas neurológicos e por

determinados medicamentos) ou dificuldade do fluxo

sanguíneo por compressão provocada por botas ou

luvas muito apertadas.

Consoante à profundidade das lesões e a sua

gravidade, é possível distinguir vários graus de

congelamento com uma evolução típica, são eles:

Primeiro Grau: No congelamento de primeiro grau,

que corresponde à lesão mais superficial, a pele fica,

após uma fase inicial de vermelhidão, mais pálida,

com formigamento ou prurido e, possivelmente, dor

espontânea, perante o mínimo contato, embora a

parte afetada fique posteriormente insensível, caso

permaneça a exposição ao frio. Apesar de o

aquecimento proporcionar a cicatrização da zona

numa ou duas semanas, podem ficar sequelas como

a diminuição do crescimento das unhas.

LATE-UFRJ|2015

108

Segundo Grau: No congelamento de segundo grau,

um pouco mais profundo, a superfície da pele

apresenta edema, fica fria e com cor azulada ou roxa.

Também aparecem inúmeras manchas, que se

convertem em vesículas ou bolhas, cujo rompimento

proporciona a libertação de um líquido seroso ou

sanguinolento, originando a formação de pequenas

úlceras que costumam unir-se até desenvolverem

uma grande úlcera. Caso essa lesão seja tratada

corretamente, cicatriza em algumas semanas,

embora por vezes seja necessário um transplante

cutâneo.

Terceiro Grau: O congelamento de terceiro grau, que

afeta as camadas mais profundas, leva à necrose da

pele e do tecido celular subcutâneo, o que

desencadeia a formação de uma escara negra no

centro da lesão rodeada por uma zona edematosa e

vesículas. A cicatrização nessa fase é pouco eficaz e

a lesão pode se aprofundar e afetar todos os tecidos

da zona, delimitados por um sulco dos tecidos

saudáveis. Neste caso, a evolução é variável, já que

a parte afetada pode mumificar-se através de um

processo de dessecação e até desunir-se ou, o que é

mais perigoso, o tecido enfraquecido pode ser

infectado por microorganismos que produzam uma

gangrena úmida. Para se evitar a extensão deste

processo costuma ser necessário amputar-se a parte

afetada; a avaliação da necessidade de cirurgia é

feita após reaquecimento da região.

SINAIS E SINTOMAS

Pele com aspecto branco ou amarelado;

Pele anormalmente rígida;

Pele inchada e dolorida;

Perda da sensibilidade da área.

PRIMEIROS SOCORROS

1. Acionar o serviço médico de emergência;

2. Levar a vítima imediatamente para um ambiente

quente e protegido do frio; não iniciar

aquecimento se houver qualquer chance de

recongelamento ou estiver próximo de uma

unidade médica;

Fig. 10.12 Estágios da Geladura

Fig. 10.11 Geladura de 1° grau nos pés.

LATE-UFRJ|2015

109

3. Evitar caminhar com os pés acometidos; havendo

a necessidade de andar, é melhor fazê-lo com os

pés congelados, pois após reaquecimento ficam

mais vulneráveis a lesões;

4. Retirar roupas e adornos que não estejam

colados na pele da área lesionada;

5. Imergir a região afetada em água morna (37-

42°C), mantendo a temperatura constante. A

temperatura da água deve ser confortável ao

toque para as regiões não afetadas do corpo; o

processo de descongelamento dura em torno de

20-30 minutos;

6. Pode-se usar o calor do corpo para aquecer um

congelamento superficial, envolvendo a área

afetada, mas sem massageá-la ou esfregá-la

(inclusive utilizando outras substâncias, como

álcool), pois estes procedimentos podem gerar

mais danos;

7. Não estourar bolhas;

8. Não utilizar fontes de calor externo, pois as

regiões acometidas encontram-se insensíveis e

podem ser facilmente queimadas.

9. Após descongelamento, cobrir a superfície com

curativos estéreis, frouxos e secos, inclusive entre

os dedos; levantar as extremidades; evitar novo

congelamento;

10. Ofereça bebidas quentes à vítima, mas não

bebidas alcoólicas e com cafeína, pois levam à

vasoconstricção, agravando ainda mais o quadro

clínico; não a deixe fumar;

11. Monitorar a vítima até a chegada do socorro.

PREVENÇÃO

Utilize roupas apropriadas para ambientes de

baixa temperatura;

Mantenha as extremidades aquecidas em dias

frios (mãos, pés, orelhas e ponta do nariz);

Evite ambientes de frio extremo, assim como

roupas molhadas e ventos frios;

Não utilize botas ou meias molhadas e frias por

períodos prolongados (pode levar a pé-de-

imersão);

Esteja sempre bem alimentado e descansado

quando for enfrentar o frio;

Evite ingerir bebidas alcoólicas antes de se expor

ao frio.

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LATE-UFRJ|2015

111

DEFINIÇÃO

O acidente doméstico é aquele que ocorre

dentro do perímetro do domicílio ou nas suas

proximidades e caracteriza-se por uma transferência

de energia de um ou mais objetos para a vítima, de

modo a causar danos. Ao contrário da violência, nos

acidentes não há intencionalidade, mas os mesmos

são ocasionados por fatores reversíveis e passíveis

de prevenção.

Segundo dados da Organização Mundial de

Saúde, o ambiente doméstico é o local onde é maior

a ocorrência de acidentes.

Quadro 11.1 FREQUÊNCIA E LOCAIS DE

ACIDENTES

Lar: 45%

Vias públicas: 30%

Trabalho: 14%

Autoestradas: 10%

O Sistema de Vigilância de Violências e

Acidentes (VIVA) aponta, em 2012, 15.098

atendimentos por acidentes domésticos realizados

em serviços de urgência e emergência do SUS. Deste

total, 32% eram menores de 9 anos de idade, ou seja,

4.740 crianças.

As principais causas de mortes foram os

riscos acidentais à respiração (como sufocação na

cama, asfixia com alimentos e outros), seguidos pelos

afogamentos e exposição à fumaça, ao fogo e às

chamas.

Os acidentes domésticos são mais comuns

nos extremos da idade, ou seja, nas crianças

menores de 5 anos e nos idosos.

Nas crianças isso é justificado por diversas

características como:

Imaturidade Física e Mental;

Inexperiência;

Incapacidade para prever e evitar situações de

perigo;

Tendência a imitar o comportamento dos adultos;

Falta de noção corporal e de espaço;

Falta de coordenação motora;

Características particulares como a hiperatividade, a

agressividade e a distração.

Os idosos estão mais suscetíveis a acidentes

devido ao processo de envelhecimento, o qual impõe

algumas limitações de caráter físico, como a perda de

elasticidade dos músculos, tornando os ossos mais

frágeis e sua calcificação prejudicada.

As quedas são o principal tipo de

acidente domiciliar que afeta os idosos e são

favorecidas, sobretudo, por uma casa não adaptada

ao idoso, a qual pode conter várias armadilhas como

observa-se no gráfico abaixo.

LATE-UFRJ|2015

112

As quedas apresentam diversos impactos na

vida de um idoso, que podem incluir morbidade

importante, mortalidade, deterioração funcional,

hospitalização, institucionalização e consumo de

serviços sociais e de saúde. Além das consequências

diretas da queda, os idosos restringem suas

atividades devido a dores, incapacidades, medo de

cair, atitudes protetoras de familiares e de cuidadores

ou até mesmo por aconselhamento de profissionais

de saúde.

PREVENÇÃO

a) AMBIENTE DOMÉSTICO EM GERAL

PARA TODOS OS INDIVÍDUOS

Os ambientes devem ter uma boa área de

circulação entre os móveis para evitar que as

pessoas batam pés, pernas e braços no mobiliário.

Entre sofá e mesa de centro, por exemplo, deixar

pelo menos cerca de 40 cm de área de passagem.

Se houver uma estante na parede, objetos

colocados no canto do móvel funcionam como

sinalizadores, impedindo que as pessoas batam o

ombro na prateleira.

Um ambiente bem iluminado evita muitos

acidentes. Dessa forma, os interruptores para luz

devem estar bem próximos das portas, e o

ambiente deve ter abajur (com lâmpadas de luz

tênue, só para deixar um foco claro), ou luz de

passagem ou noturna (colocada na tomada do

corredor).

Em casas e apartamentos nos quais há portas de

vidro do piso ao teto, adesivos funcionam como

sinalizadores para evitar que desavisados batam

com a face no vidro. Para maior segurança, o

vidro deve ser de composição

temperado/laminado, que, se quebrar, não

estilhaça.

Optar por pisos antiderrapantes e evitar o uso

excessivo de tapetes nos cômodos;

Substituir fios descascados;

Não utilizar móveis para alcançar algo no alto. Use

escada apropriada.

Fig. 11.1 Distribuição populacional de idosos segundo

fatores de risco ambientais presentes em sua residência

(RJ- 2005)

Fig. 11.2 Distribuição populacional de idosos segundo

consequência de quedas (RJ- 2005)

LATE-UFRJ|2015

113

PARA CRIANÇAS

Usar redes de proteção e/ou travas de segurança

em janelas e varandas de apartamentos;

Não deixar fios de equipamentos eletrônicos soltos.

Usar organizadores ou presilhas para cabos e fios,

mantendo-os o mais recolhido possível evita

tropeços e, principalmente, que sejam alvo de

brincadeiras;

Utilizar protetores nas tomadas para evitar choques;

Equipar escadas com corrimão, faixa antiderrapante

e instalar portões no topo e na base da escada;

Utilizar protetores de quinas de móveis e travas

para portas e gavetas de armários, as quais

impedem sua abertura pelas crianças;

Orientar as crianças a guardar os brinquedos

quando não estiverem em uso, pois podem

ocasionar quedas;

Chaves com fusíveis expostos devem ser

substituídas por disjuntores;

Grãos de cereais, chicletes, balas duras, botões,

colchetes, tachinhas, pregos parafusos, agulhas,

alfinetes, moedas e medalhinhas devem ser

mantidos em armários fechados e longe do alcance

de crianças.

PARA IDOSOS

Colocar corrimão, cuja extensão seja maior que o

início e o fim dos degraus, e faixa antiderrapante

nas escadas e rampas;

Usar maçanetas do tipo alavanca nas portas;

Evitar tapetes soltos, fios de extensão e objetos

espalhados no chão. Caso não seja possível a

retirada do tapete, aplique material antiderrapante

no forro;

Evitar excesso de móveis no mesmo cômodo;

Fig. 11.3 Grade de proteção nas janelas

Fig. 11.5 Medidas simples como utilização de móveis

com quinas arredondadas podem prevenir as quedas e

suas consequências aos idosos.

Fig. 11.4 Tomadas ou fiação elétrica devem estar

adequadamente protegidas

LATE-UFRJ|2015

114

Usar sofás e cadeiras com braços para auxiliar o

movimento de sentar e levantar;

Evitar pisos escorregadios (molhados, encerados,

entre outros).

b) NO BANHEIRO

PARA TODOS OS INDIVÍDUOS

Jamais utilizar pias ou vasos sanitários para

alcançar objetos no alto;

Evitar o uso de aparelhos elétricos, como secador

de cabelo, no banheiro. As paredes molhadas pelo

vapor da água podem conduzir uma descarga

elétrica provocando choque e, até, morte;

Utilizar pisos antiderrapantes, principalmente onde

vivem idosos. Se o imóvel não é novo e houver a

necessidade de fazer adaptações, pode-se trocar o

piso ou aplicar fita ou spray antiderrapante no

revestimento existente.

PARA CRIANÇAS

Nunca deixe uma criança sozinha no banho,

principalmente na banheira. Um simples descuido

pode ter sérias consequências;

Remédios, cosméticos e produtos de higiene

pessoal (inclusive o xampu e o condicionador)

devem ficar longe do alcance das crianças;

Mantenha a tampa do vaso sanitário fechada e, se

possível, utilize trava para a tampa de forma a

impedir que a criança tome água, mexa ou caia

dentro do vaso sanitário, correndo o risco de

afogamento.

PARA IDOSOS

Colocar barras de apoio nas paredes, no box,

próximo ao vaso sanitário e à pia;

Posicionar duchas em nível mais baixo que o

normal, facilitando o seu acesso;

Utilizar puxadores de armários em forma de alça

para facilitar o seu manuseio;

No boxe, além de usar tapetes com ventosas para

evitar escorregões e quedas, mantenha uma

cadeira ou um banco na área do banho para se o

idoso preferir tomar banho sentado.

Fig. 11.8 Tapete antiderrapante

Fig. 11.6 O uso de antiderrapantes e corrimãos é

outro importante meio de evitar quedas e suas

consequências aos idosos.

LATE-UFRJ|2015

115

c) NA COZINHA

PARA TODOS OS INDIVÍDUOS

A mangueira e o registro do gás (de botijão ou rua)

devem ser trocados a cada cinco anos, mesmo que

o uso do fogão não seja frequente, pois após esse

período as peças perdem a eficiência, podendo

causar vazamentos. Certifique-se de que a

mangueira meça 1,25 m no máximo, pois esta é a

medida-padrão de segurança;

Ao realizar múltiplas tarefas, como lavar roupas

enquanto cozinha, use um timer culinário, que avisa

quando o alimento está pronto e ensine os

adolescentes a usarem o acessório.

PARA CRIANÇAS

Dê preferência ao uso de potes com fechamento

anticriança para guardar grãos e outros alimentos

não perecíveis, o que evita que a criança coloque os

grãos no nariz, por exemplo;

Cozinhar, preferencialmente, nas bocas de trás do

fogão e virar os cabos das panelas para dentro do

fogão;

Mesmo com as válvulas de segurança para o

acendimento de forno presentes nos fogões desde

julho de 2006, mantenha o registro sempre fechado

quando o equipamento não estiver em uso. Além de

travas para a porta do forno, geladeira e armários

de cozinha, há placas de acrílico para serem

colocadas na frente dos botões dos queimadores do

fogão;

Não guarde nada que possa ser tóxico ou prejudicial

a criança, como detergentes, bebidas alcoólicas,

produtos de limpeza, itens cortantes, pesados ou de

louça/porcelana, em armários baixos e locais de

acesso fácil;

Se possível, instale um portão anticriança na porta

da cozinha para que ela não entre quando estiver

longe de adultos.

PARA IDOSOS

Para cozinhar, usar panelas pequenas e com alças

nas laterais;

Evitar cozinhar em panelas de pressão;

Usar luva para segurar objetos quentes;

Na geladeira, usar garrafas plásticas pequenas para

água e potes plásticos pequenos para comida;

Fig. 11.9 Cuidado com o direcionamento do cabo das

panelas.

Fig. 11.8 Banheiro planejado para o idoso

LATE-UFRJ|2015

116

Os itens de uso frequente devem ser guardados à

mão nos armários, a uma altura que não ultrapasse

a linha da cintura (para baixo) e nem a altura dos

ombros (para cima).

d) QUARTO

PARA TODOS OS INDIVÍDUOS

Quando for escolher a cama, confira se seus pés

encostam-se ao chão quando estiver sentado no

móvel.

PARA CRIANÇAS

Instalar grades no berço ou na cama da criança,

pois um dos principais tipos de acidente com

crianças é a queda do berço. Em geral, a cabeça é

mais pesada que o corpo e, quando o bebê se

debruça no berço, cai. Por isso, é importante ir

aumentando a altura da grade do berço conforme a

criança for crescendo;

Lençóis, mantas e cobertores devem estar sempre

presos ao colchão;

É sempre bom deixar um foco de luz no quarto das

crianças – pode ser um abajur ou uma tomada

iluminada;

Na hora de dormir, retire os brinquedos de dentro do

berço e coloque-o de barriga para cima, posição

que reduz em mais de 70% o risco de morte súbita.

Certifique-se de que as grades do berço e da cama

estejam bem travadas.

PARA IDOSOS

Coloque ventosas ou forro antiderrapante nos

tapetes ao lado da cama. Em alguns casos, o ideal

é banir esses tapetes para evitar acidentes;

Dê preferência aos móveis, como cama e cadeiras,

mais altos para facilitar os movimentos dos idosos.

e) ÁREA DE SERVIÇO

PARA TODOS OS INDIVÍDUOS

Armazene com cuidado produtos inflamáveis, como

álcool e removedor, mantendo- os longe de fontes

de calor;

Após o uso, o ferro elétrico deve ficar em local de

difícil acesso enquanto esfria;

Em geral, a lavanderia e a garagem acabam

servindo de local para guardar coisas velhas e de

Fig. 11.11 Medidas que auxiliam no quarto de um idoso

Fig. 11.10 Métodos de prevenção na cozinha

LATE-UFRJ|2015

117

pouco uso. Não amontoe os objetos formando

pilhas, pois podem despencar, causando acidentes;

Use um varal colorido no quintal, em vez de branco

ou transparente, para evitar bater com a cabeça ou

o pescoço nele;

No quintal, o botijão de gás deve,

preferencialmente, ficar em um tipo de gaiola com

trinco ou cadeado para evitar que crianças mexam

no registro do gás;

Nas áreas externas, o ideal são pisos

antiderrapantes com uma superfície mais rugosa

para garantir o bom atrito de pés descalços ou

sapatos de solado mais liso;

Tampas de ralo e grelhas de escoamento de água

mal fixadas podem ocasionar acidentes;

Bordas e degraus da piscina devem ser sempre

arredondados e as escadas precisam ter corrimão

para garantir a segurança contra deslizes.

PARA CRIANÇAS

Produtos de limpeza, sacos plásticos, caixa de

ferramentas, ferro de passar roupa e outros

aparelhos eletrônicos devem ser mantidos fora do

alcance de crianças para evitar intoxicação, asfixia,

ferimentos e queimaduras, respectivamente;

Baldes, bacias e piscinas de plástico com água

devem ser esvaziados após o uso e mantidos fora

do alcance de crianças;

Poços artesianos devem ser mantidos

completamente fechados e fora do alcance de

crianças;

ATITUDES SAUDÁVEIS COTIDIANAS

PARA CRIANÇAS

Ao utilizar elevadores e escadas rolantes, as

crianças menores devem sempre estar

acompanhadas;

Os pais devem estar atentos quando a criança sobe

em determinados brinquedos de parquinho;

Em churrasqueiras, é fundamental ter espaço para

armazenar espetos e grelhas de forma a evitar que

as crianças brinquem com eles;

PARA EVITAR QUEIMADURAS

Nunca colocar a criança na água do banho sem

antes testá-la;

Líquidos e alimentos quentes não devem ser

manuseados com a criança no colo;

Velas, isqueiros e fósforos nunca devem ser

manuseados por crianças;

Os banhos de sol das crianças devem ser restritos

ao horário anterior às 10h ou posterior às 16h e a

criança só deve expor-se ao sol com o uso de

bloqueador solar.

PARA EVITAR AFOGAMENTO

Na hora de dar banho em crianças pequenas, nunca

se deve deixá-las sozinhas;

Em piscinas, lagos, rios e praias, a criança deve

nadar acompanhada e sob máxima vigilância;

O uso de bóias de braço é desaconselhável, pois

não impede que a cabeça da criança afunde e ela

se afogue.

Se a piscina não é cercada, deve ser coberta com

uma manta plástica para evitar que a criança caia

na água.

É importante estimular a criança a fazer natação

desde pequena.

Fig. 11.12 Proteção das piscinas

LATE-UFRJ|2015

118

PARA EVITAR ASFIXIA, SUFOCAÇÕES OU

ENGASGO

Cordão e presilha de chupeta são

desaconselháveis, pois a criança pode se enforcar

com eles;

O uso de travesseiros é desaconselhável para

crianças muito pequenas, em especial os lactentes.

PARA EVITAR INTOXICAÇÕES

Dar preferência a produtos químicos cujas

embalagens disponham de travas de segurança e

armazená-los sempre em locais de difícil acesso à

criança;

Nunca armazenar produtos químicos fora de sua

embalagem original, como reaproveitar garrafas de

refrigerante ou de outros produtos. Isso pode

confundir a criança e fazê-la pensar que se trata de

um alimento;

Medicamentos só devem ser administrados sob

orientação médica, devem ser dados à criança por

um adulto responsável e devem estar fora do

alcance dos pequenos;

Não se refira a medicamentos como “docinho” ou

“balinha”. Do contrário, ela poderá ingerir o

medicamento quando estiver sozinha.

Evitar a presença de plantas ornamentais tóxicas

dentro de casa ou no quintal;

Verificar com frequência a validade e integridade

dos produtos alimentares.

PARA EVITAR CHOQUES ELÉTRICOS

A fiação elétrica deve ser verificada com frequência.

Nunca permitir que a criança solte pipas perto de

redes de fiação elétrica.

PARA EVITAR ACIDENTES COM ANIMAIS:

Não manter dentro de casa animais de

comportamento sabidamente agressivo;

Manter cães presos ou com focinheiras;

Manter em dia a vacinação dos animais domésticos;

Orientar a criança sobre o perigo de animais

estranhos.

PARA IDOSOS

Deixar objetos de uso frequente em locais de fácil

acesso;

Vestir as roupas sentado ou apoiado em algum

mobiliário;

À noite, ao deitar, colocar um copo plástico com

água para beber próximo à cama e manter o

caminho iluminado do quarto ao banheiro;

Ao acordar, levantar sempre por etapas, parra evitar

hipotensão postural;

Fig. 11.13 Não permitir o acesso de crianças a produtos

de limpeza e não utilizar embalagens para estoque de

produtos de limpeza

Fig. 11.14 Cães podem ser mansos, porém

imprevisíveis.

LATE-UFRJ|2015

119

Praticar atividade física com orientação médica,

evitando exercícios inadequados para a idade;

Manter as portas dos cômodos sem trancas;

Não usar remédios sem orientação médica.

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LATE-UFRJ|2015

120

INTRODUÇÃO

Intoxicação corresponde às alterações

biológicas, de gravidade variável, decorrentes da

interação entre um organismo vivo e qualquer

substância (química, natural ou sintética),

denominada tóxico, introduzida no organismo ou nele

formada. Os efeitos produzidos podem levar à

ocorrência de sequelas ou mesmo causar danos

letais, e dependem de alguns fatores.

A intoxicação pode ser, principalmente, do

tipo acidental ou intencional. Desta forma, é resultado

de negligência, uso abusivo ou ignorância no

manuseio de substâncias tóxicas, ou resulta de

tentativa de suicídio ou mesmo homicídio. Os

acidentes, em geral, ocorrem com a ingestão de

excesso de medicamentos ou substâncias químicas,

sendo as crianças as maiores vítimas. Estas, quando

expostas ao veneno, sofrem consequências mais

sérias quando comparadas aos adultos, pois

possuem metabolismo rápido e seus organismos são

menos capazes de lidar com toxinas químicas.

As substâncias capazes de causar

intoxicações são mais comuns do que imaginamos,

de modo que estão constantemente presentes em

nosso cotidiano, como os medicamentos,

domissanitários (produtos de limpeza), plantas e até

mesmo os alimentos.

As intoxicações compreendem um importante

problema de saúde pública mundial, porém

respeitando as características geográficas,

socioeconômicas e culturais de cada país ou região.

A estimativa, segundo a OMS, é de mais de cinco

milhões de casos novos a cada ano em nosso país.

Os dados nacionais referentes ao tema ainda

são escassos e pouco confiáveis, especialmente

porque a notificação de novos casos não é

obrigatória. No Brasil, os registros são feitos pela

Rede Nacional de Centros de Informação e

Quadro 12.1 INTOXICAÇÃO vs ANAFILAXIA E

ALERGIA

Intoxicação: alterações resultam da ação

direta do tóxico ou veneno sobre o organismo ou um

de seus órgãos, o que pode verificar-se em uma

única dose.

Anafilaxia e Alergia: alterações resultam do

choque antígeno-anticorpo, necessitando,

invariavelmente de uma primeira dose ou contato,

chamado sensibilizante, e, de uma segunda dose,

chamada desencadeante.

Tabela 12.2 PRINCIPAIS AGENTES TÓXICOS

Medicamentos Plantas

Domissanitários

Produtos químicos

industriais

Cosméticos Produtos veterinários

Drogas de abuso Metais

Alimentos Animais não peçonhentos

Raticidas

Animais

peçonhentos/venenosos

Agrotóxicos

LATE-UFRJ|2015

121

Assistência Toxicológica (RENACIAT), e a

coordenação da coleta, compilação, análise e

divulgação dos casos de intoxicação e

envenenamento é feita pelo Sistema Nacional de

Informações Toxico-Farmacológicas da Fiocruz

(SINITOX).

Segundo estes dados e os obtidos pela

Associação Americana dos Centros de Controle de

Envenenamento (AAPCC), em 2009, o grupo mais

acometido foi o formado pelas crianças

(especialmente as do sexo masculino e com idade

inferior a 5 anos), tendo como principal via de

intoxicação a ingestão oral, sendo os medicamentos e

os domissanitários os principais tóxicos. No entanto,

nossa preocupação não deve estar voltada somente

para este grupo, visto que há ainda outros, como

idosos, polimedicados, trabalhadores (intoxicação

ocupacional), pessoas com problemas psiquiátricos,

etc.

Com esses dados, fica clara a importância da

prevenção, tendo as medidas educacionais e de

conscientização como o elo fundamental na

abordagem das intoxicações.

Tabela 12.3 PRINCIPAIS VIAS DE INTOXICAÇÃO

Ingestão

Dérmica (pele)

Inalação/nasal

Ocular

Parenteral (intravascular)

Otológica (ouvido)

Retal

FATORES IMPORTANTES DO PROCESSO

DE INTOXICAÇÃO

Tempo de exposição – quanto maior o tempo de

exposição, maiores serão as chances de o produto

causar danos à saúde;

Concentração do agente - quanto maior a

concentração do agente químico, maior será a

chance de um efeito danoso à saúde;

Toxicidade;

Características químicas da substância – possui

relação com a forma de entrada deste tóxico no

organismo;

Susceptibilidade individual.

SINTOMATOLOGIA

As manifestações relacionadas às

intoxicações são bastante variadas, devido à

diversidade de substâncias tóxicas a que estamos

expostos. Os sinais e sintomas mais comuns e mais

evidenciados, em linhas gerais, são:

Transpiração, salivação e lacrimejamento

excessivos ou reduzidos

Sensação de queimação nos olhos e mucosas

Queimaduras ou manchas ao redor e/ou dentro da

boca

Tremores, agitação, apatia

Dificuldade para engolir

Odores característicos (na respiração, roupas,

ambiente)

Respiração anormal (rápida, lenta ou com

dificuldade)

Alterações do pulso (lento, rápido ou irregular)

Sinais de choque circulatório (baixa perfusão

tecidual)

Dor de cabeça, zumbido

Alterações do nível da consciência (sonolência,

agitação, confusão mental, coma)

Convulsões e alucinações

Alterações comportamentais (desinibição,

depressão)

Alterações no tamanho das pupilas (midríase ou

miose)

LATE-UFRJ|2015

122

Alterações na coloração da pele (pálida,

avermelhada ou azulada)

Alterações na temperatura corporal (hiper ou

hipotermia)

Dor abdominal

Náuseas e vômitos

Diarreia

Pode-se suspeitar de um caso de intoxicação sempre

que a vítima apresentar algum dos sinais ou sintomas

descritos acima, sem outras causas aparentes. Além

disso, devem ser procuradas pistas no local, tais

como: frascos de medicamentos caídos ou vazios,

produtos abertos, comprimidos espalhados,

substâncias químicas ou produtos de limpeza,

plantas, restos de comida ou bebida e vômitos.

CONSIDERAÇÕES PARA O

ATENDIMENTO BÁSICO

A primeira ação é sempre manter a calma. E antes de

prestar socorro à vítima, algumas informações

essenciais devem ser verificadas. Por isso, pergunte

diretamente a ela (quando possível) ou às

testemunhas em volta:

O que causou a intoxicação?

Qual foi a quantidade de agente tóxico?

Qual a idade e o peso da vítima?

Como e quando ocorreu a intoxicação?

Alguém tentou provocar vômito ou ofereceu algo

para a vítima beber?

A vítima tem alguma doença ou histórico de

alergias?

Ela usa permanentemente algum medicamento ou

droga ilícita?

É muito importante saber esses dados, e os mesmos

devem ser repassados ao Centro de Controle de

Intoxicações.

CONDUTAS DE PRIMEIROS SOCORROS

MEDIDAS GERAIS

1. Avaliar a segurança da cena. Certifique-se de que

não há perigo iminente no local do acidente.

PROTEJA-SE! Equipamento de Proteção Individual

deve ser utilizado durante todo o atendimento das

vítimas, em especial durante a remoção do tóxico.

2. Identifique o veneno e a via de intoxicação.

3. Abordagem primária e Suporte Básico de Vida.

CUIDADO! Não é recomendável realizar a

“respiração boca-a-boca” na presença de toxinas

como cianeto, sulfito de hodrogênio, corrosivos e

organofosforados.

4. Ligar para o Centro de Controle de Intoxicações e

fornecer todas as informações citadas

anteriormente. Em todo o Brasil pode-se ligar no

telefone 0800 722 6001 (Válido em 08/03/2014).

5. Se necessário, chame o serviço de emergência

(192 ou 193).

ATENÇÃO! Certifique-se de que a vítima que está

sendo atendida é a única intoxicada. Quando a vítima

for uma criança, verifique se ela estava sozinha ou se

brincava com outras, pois estas também devem ser

avaliadas.

a) INTOXICAÇÃO POR INALAÇÃO

Este tipo se dá com a absorção de

substâncias químicas nocivas pela respiração. Ocorre

mais frequentemente em locais fechados e mal

ventilados em geral (p. ex.: garagens).

Entrando em contato com o organismo, essas

substâncias podem causar irritação do nariz, garganta

LATE-UFRJ|2015

123

e pulmões, além de poder formar compostos ligados

à hemoglobina (no caso dos gases, como monóxido

de carbono), impedindo a oxigenação do sangue, e

levando a vítima à asfixia. O gás de cozinha também

se configura como uma importante fonte de

intoxicação. As condutas básicas nestes acidentes

são:

1. Verificar a segurança da cena.

2. Retirar a vítima do local do acidente, levando-a

para o ar livre (ambiente arejado). Deve-se tomar

cuidado para que o socorrista também não acabe

intoxicado, portanto alguma proteção deve ser

utilizada.

3. Afrouxar as roupas da vítima e deixá-la em

repouso absoluto.

4. Fazer a avaliação primária e, se necessário,

adotar medidas de manutenção das funções vitais.

5. Consultar o Centro de Controle de Intoxicações.

b) INTOXICAÇÃO POR CONTATO COM A

PELE / MUCOSAS

Algumas substâncias podem causar irritação

ou destruição tecidual através do contato com a pele,

mucosa ou os olhos, sendo capazes de penetrar o

organismo pela pele mesmo que o contato seja breve

e mesmo não havendo escoriações ou ferimentos.

Esse efeito irritante é geralmente causado por

produtos que se apresentam sob a forma de gases ou

vapores. Sendo assim, além de poeiras e fumaça,

vapores de ácidos, álcalis e solventes (removedores)

também constituem agentes causadores de

intoxicação. O contato com esses agentes pode

provocar inflamação e queimaduras na área afetada.

As recomendações para estes casos são:

Quadro 12.4 INTOXICAÇÃO POR MONÓXIDO DE

CARBONO

O monóxido de carbono (CO) é um gás inodoro, incolor e

de alta toxicidade comumente produzido por motores à

combustão, aquecedores, lareiras e chuveiros aquecidos

à gás, principalmente em locais mal ventilados. Os

sintomas típicos de intoxicação por CO são dor de

cabeça, náusea, vômito, fraqueza muscular

(especialmente em membros inferiores), perda de

consciência e convulsões.

Em suspeita de intoxicações por CO, todas as portas e

janelas do local devem ser abertas e a vítima deve ser

retirada do local o mais rápido possível. Se disponível, o

socorrista apto pode administrar oxigênio para as

vítimas. Nos casos mais graves (vítima inconsciente) é

necessário manter uma via aérea pérvia e, se

necessário, realizar manobras de ventilação.

Atenção, chame o socorro especializado o mais rápido

possível e só entre na cena se isso não envolver risco

para a sua saúde.

Fig. 12.1 Primeira conduta em caso de intoxicação –

retirada da vítima do local.

LATE-UFRJ|2015

124

1. Primeiramente, evite se contaminar com o

produto. Avalie a segurança do local para não se

tornar outra vítima.

2. Proteja as mãos, utilizando luvas ou mesmo saco

plástico. Se houve manipulação do produto, a

ssoa deve lavar as mãos para prevenir contato

com outras regiões do corpo (p. ex.: olhos).

3. Fazer a avaliação primária.

4. A substância em questão deve ser removida o

mais rapidamente possível. Para isso, deve-se

lavar abundantemente o local afetado com água

corrente por 20 minutos ou até a retirada do

produto. Não se deve esfregar o couro cabeludo e

a pele, para evitar escarificá-la, pois isso facilita a

absorção do tóxico. Atentar-se para a lavagem das

regiões axilar, retroauricular, genital, subungueal

(debaixo das unhas) e da cicatriz umbilical

(umbigo).

5. Se as roupas e calçados da vítima também

estiverem contaminados, a remoção destes itens

deverá ser feita sob o mesmo fluxo de água da

lavagem para auxiliar a rápida remoção do agente,

devendo ser isolados.

No caso de um tóxico liofilizado (em pó), a

retirada pode ser feita com a mão protegida com

uma luva ou peça de roupa. De qualquer modo,

cuidado para não se contaminar com o agente.

6. Consulte o Centro de Controle de Intoxicações.

7. Encaminhe um pedaço de roupa contaminada ao

hospital com a vítima, caso não reconheça o tipo

de produto que causou a intoxicação.

8. Se houve contato de substâncias químicas com os

olhos, oferecer atenção redobrada ao caso. Esses

agentes, além de serem absorvidos rapidamente

pela mucosa, podem produzir irritação intensa e

causar perda visual. Portanto, é preciso lavar os

olhos abundantemente com água corrente,

durante pelo menos 15 minutos, e depois

encaminhar a vítima ao hospital com curativo

oclusivo para atendimento especializado, em que

deverá ser avaliado por um oftalmologista.

INTOXICAÇÃO POR INGESTÃO

É o tipo principal e mais comum de

intoxicação, podendo ocorrer pela ingestão de

agentes tóxicos líquidos ou sólidos. A maioria das

intoxicações por ingestão ocorre no lar (92%), sendo

mais comum na faixa etária de 1 a 5 anos. Esses

dados revelam a curiosidade natural das crianças

pequenas e a falta de cuidado dos adultos ao

deixarem ao seu alcance substâncias tóxicas. Por

isso mesmo, a atenção deve ser redobrada quando

se trata de crianças, pois elas tendem a colocar na

boca tudo o que está ao seu alcance, intoxicando-se

facilmente.

De modo geral, as seguintes substâncias

encontram-se entre as que mais frequentemente

provocam acidentes tóxicos:

Alimentos estragados ou que sofreram

contaminação química

Domissanitários

Medicamentos – sedativos e hipnóticos

Fig. 12.2 Como proceder em casos de contato de

substâncias químicas com os olhos.

LATE-UFRJ|2015

125

Plantas venenosas

Alucinógenos e narcóticos

Bebidas alcoólicas

Inseticidas, raticidas, formicidas

Soda cáustica

Derivados de petróleo

Ácidos, álcalis, fenóis

As condutas recomendadas são:

1. Fazer a avaliação inicial. Se a vítima estiver

responsiva, deve ser colocada em decúbito lateral

esquerdo. Não estando responsiva, deve ser

colocada em decúbito dorsal, atentando-se para a

manutenção das vias aéreas pérvias e

monitoramento da respiração. Havendo parada

respiratória, faça o suporte ventilatório (1

ventilação a cada 6 a 8 segundos). E no caso de

parada cardiorrespiratória, comece as manobras

de suporte básico de vida.

2. Consultar o Centro de Controle de Intoxicações e

seguir atentamente as instruções.

3. Utilizando equipamentos de proteção individual (p.

ex.: luvas), remova da boca da vítima comprimidos

ou outros fragmentos que possam ser facilmente

removíveis por pinçamento. NÃO SE DEVE

FAZER VARREDURA DIGITAL por conta do risco

de deslocamento de corpos estranhos, o que

causaria obstrução das vias aéreas.

4. Toda vítima responsiva e respirando deve ser

mantida em posição lateral (Fig.12.4). Isso facilita

a drenagem das secreções, evitando, assim, sua

aspiração.

5. NUNCA INDUZA O VÔMITO, seja por estimulação

mecânica da orofaringe (dedo na garganta), ou por

xarope de ipeca. Além de a sua eficácia ser

duvidosa, essa conduta pode causar

traumatismos, leões das mucosas digestória e

respiratória e aspiração, especialmente em vítimas

inconscientes e na presença de convulsões.

6. NÃO ADMINISTRE qualquer substância (nem

mesmo água ou leite) por via oral para nenhuma

intoxicação por ingestão a não ser que

recomendado pelo Centro de Controle de

Intoxicações ou equipe médica de emergência,

pois isso pode gerar danos. Não há evidências

suficientes que demonstrem que a diluição do

tóxico com água ou leite traga algum benefício

como medida de primeiros socorros.

7. Levar para o hospital, juntamente com a vítima,

qualquer material suspeito de ter causado a

intoxicação (produtos tóxicos, partes de plantas),

incluindo vômito, em um recipiente limpo e

fechado.

PREVENÇÃO

As intoxicações acidentais são sempre

passíveis de prevenção através de cuidados simples

Quadro 12.5 NEUTRALIZAÇÃO DE

SUBSTÂNCIAS

Não se deve fazer a neutralização química de

substâncias tóxicas, pois a maioria das reações de

neutralização libera calor, aumentando os riscos de lesão

ou de agravamento de lesões mucosas. A lavagem da

pele ou mucosa afetada com água corrente abundante é

a melhor forma de prevenir contra lesões maiores ou de

minimizar os efeitos tóxicos resultantes.

Fig. 12.3 Posição em decúbito lateral esquerdo

LATE-UFRJ|2015

126

no dia-a-dia, no lar ou no trabalho. São apresentadas

a seguir algumas medidas básicas de prevenção:

CUIDADOS COM ALIMENTOS

Verificar sempre o prazo de validade dos alimentos.

Não comprar enlatados se as embalagens

estiverem velhas, estufadas ou enferrujadas.

Sempre verificar a integridade dos alimentos antes

de comê-los, especialmente a de enlatados.

Jogar fora alimentos estragados ou com o prazo de

validade vencido.

Armazenar os alimentos conforme indicação do

fabricante, e em local separado dos produtos de

limpeza e outros materiais tóxicos.

CUIDADOS COM DOMISSANITÁRIOS

Não misturar os produtos de limpeza com alimentos

ou medicamentos, de modo que eles devem ser

guardados separadamente.

Armazenar materiais de limpeza em locais de difícil

acesso, de preferência em armários trancados,

mantendo-os fora do alcance e da vista das

crianças.

Manter os produtos sempre em seus recipientes

originais, evitando colocá-los em embalagens

plásticas de refrigerantes e sucos reaproveitadas.

Dar preferência pela compra de produtos de limpeza

contendo travas de segurança.

Evitar a mistura de diferentes produtos com o fim de

criar novas soluções de limpeza.

Havendo dúvida, entrar em contato com o Centro de

Controle de Intoxicações de sua região.

CUIDADOS COM MEDICAMENTOS

Não deixar medicamentos ao alcance das mãos e

dos olhos das crianças. Elas podem fazer “escadas”

com cadeiras e alcançar produtos em locais mais

altos.

Guardar os medicamentos em armários trancados à

chave, porém evitando armazená-los nos armários

debaixo das pias.

Evitar a automedicação. Procurar um médico

sempre que necessário.

Não administrar medicamentos no escuro para

evitar trocas perigosas.

Evitar tomar medicamentos na frente de crianças,

pois elas podem imitar o gesto.

Nunca utilizar termos como “docinho” ou “balinha”

para se referir a um medicamento, pois assim a

criança pode pensar que não é perigoso ou que é

agradável de comer. Considerar o medicamento

como remédio na presença de crianças; do

contrário, ela poderá ingerir o medicamento quando

estiver sozinha.

Ler sempre o rótulo e as instruções antes de usar

qualquer produto ou medicamento.

Manter os medicamentos nas suas embalagens

originais.

Tomar cuidado com os medicamentos de uso

infantil e os de uso adulto cujas embalagens são

parecidas.

Nunca tomar medicamentos vencidos. Descartar

todos que estiverem fora do prazo de validade,

retornando-os para farmácias e drogarias ou

despejando-os em locais específicos de descarte.

Havendo dúvida, entrar em contato com o Centro de

Controle de Intoxicações de sua região.

CUIDADOS COM PLANTAS VENENOSAS

Conhecer as plantas que estão dentro ou próximas

de sua casa, procurando saber as peculiaridades e

características de cada uma.

Orientar as crianças sobre a presença de plantas

venenosas e ensiná-las a identificar essas plantas.

LATE-UFRJ|2015

127

Ensine as crianças a admirá-las sem pegá-las ou

levá-las à boca e a não utilizá-las como brinquedos.

Manter as plantas tóxicas fora do alcance das

crianças e também dos animais domésticos.

Nunca preparar chás ou remédios caseiros com

plantas sem a devida orientação de um profissional

(médico ou farmacêutico), especialmente se não for

uma planta conhecida. A toxicidade de uma planta

nem sempre é eliminada com o cozimento.

Tomar muito cuidado ao podar plantas que liberam

látex, pois este provoca irritação na pele e nos

olhos, principalmente. Sempre usar luvas ao lidar

com plantas tóxicas e lavar bem as mãos depois de

manuseá-las.

Em caso de intoxicação, guardar a planta para esta

seja identificada e procurar orientação médica

imediatamente.

Havendo dúvida, entrar em contato com o Centro de

Controle de Intoxicações de sua região.

OUTRAS MEDIDAS

Agentes tóxicos podem se parecer com comida ou

bebida. Ensinar as crianças a consultar um adulto

antes de provar qualquer coisa.

Se possível, ter detectores de fumaça instalados

dentro de casa. Eles são projetados para soar um

alarme antes que o monóxido de carbono

acumulado atinja um nível perigoso. Estima-se que

os detectores previnam cerca de metade das mortes

causadas por envenenamento por monóxido de

carbono. Se o alarme disparar, ao ouvi-lo, saia de

casa imediatamente e ligue para o Corpo de

Bombeiros (193) ou acione um serviço médico de

emergência (192).

Sempre manter os telefones de emergência por

perto. De preferência, mantê-los próximos aos

aparelhos de telefone de casa.

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129

INTRODUÇÃO

Reação alérgica é uma manifestação do

organismo em resposta à exposição a uma

determinada substância, que desencadeia uma série

de reações químicas envolvendo o sistema imune,

implicando alterações diversas por todo o organismo.

Esta substância, denominada alérgeno, geralmente é

inofensiva a outros indivíduos.

Qualquer substância pode causar uma reação

alérgica, mas também dependendo da suscetibilidade

de cada pessoa ao contato com os diferentes tipos de

sólidos, líquidos, gases e até mesmo radiação. As

reações são comumente causadas por contato com

animais e plantas (pólen, picada de abelha) e por

ingestão de medicamentos e certos alimentos.

Ocorrida a reação alérgica, os sintomas

podem ser locais, ficando restritos à área de contato,

ou adquirir um caráter sistêmico, se estendendo por

todo o organismo. Podem surgir após segundos,

minutos ou demorar dias. Quase sempre são

moderadas e permitem o tratamento em casa. No

entanto, exposições repetidas podem resultar em

reações mais graves. Importante lembrar que

ausência de histórico de alergia na família não

significa que o indivíduo não seja suscetível a

desenvolver hipersensibilidade a um determinado

alérgeno.

SINAIS E SINTOMAS

Os sinais e sintomas dependem do tipo de

contato do alérgeno com o organismo no qual a

reação imune foi provocada. Isto é, dependem de

como se deu a alergia.

CONTATO PELO AR

Se um alérgeno encontra-se no ar, como

uma partícula de pólen ou poeira, ele irá causar

sintomas nos locais em contato com ar, como olhos,

nariz e pulmão. Frequentemente, os sinais e sintomas

são: vermelhidão dos olhos, coceira do nariz e

espirros.

Quadro 13.1 SENSIBILIZAÇÃO

Em um primeiro contato com o alérgeno, o

sistema imune é ativado e o indivíduo é dito

sensibilizado. Não necessariamente haverá

manifestações neste momento, ou elas serão de leves a

moderadas. A partir disso, as exposições seguintes vão

desencadear uma resposta no organismo afetado,

iniciando um processo inflamatório, podendo levar a

quadros mais graves por intensificação dessa resposta.

Quadro 13.2 PRINCIPAIS ALÉRGENOS

Contato com a pele: plantas venenosas, arranhaduras

de animais, pólen, látex de luvas, inoculação de abelhas.

Ingestão: camarão e outros frutos do mar, amendoim,

medicamentos, contrastes para exames.

Inalação: pólen, poeira, mofo, pelos de animais.

LATE-UFRJ|2015

130

Quando atingem o pulmão, podem causar

sintomas asmáticos devido à broncoconstrição e

produção excessiva de muco, como dispneia

(sensação de dificuldade respiratória), tosse, roncos e

sibilos.

CONTATO POR INGESTÃO

Os sintomas de alergia a comidas incluem dor

abdominal, vômitos, diarréia, coceira na pele e

inchaço. Raramente causam reações asmáticas ou

rinite.

CONTATO COM A PELE

Alérgenos que entram em contato com a pele

(ex: látex) causam reação alérgica do tipo dermatite

de contato ou eczema, caracterizados por

vermelhidão (eritema) e inchaço (edema), podendo

ocorrer o aparecimento de lesões vesiculosas e

prurido.

CLASSIFICAÇÃO

Didaticamente, as reações alérgicas podem

ser divididas em três grupos, de acordo com a sua

gravidade, descritas a seguir:

REAÇÕES LEVES

O contato da substância com a pele provoca

alterações cutâneas locais. Dentre elas: eritema,

edema, prurido, aumento da temperatura na região e

dor local.

REAÇÕES MODERADAS

O contato com a substância se dá por

ingestão, inoculação (no caso de animais) ou contato

com a pele. Uma resposta orgânica se desencadeia,

podendo afetar diversos órgãos, e os sintomas

podem ser definidos a partir dos sistemas afetados:

Pele: eritema, edema, prurido difuso pelo corpo,

principalmente em região anterior do tórax e

pescoço.

Sistema digestivo: náuseas, vômitos, cólica e

diarreia.

Sistema nervoso: tonteira e vertigem.

Sistema cardiovascular: taquicardia e aumento da

pressão arterial.

As reações moderadas geralmente afetam

apenas um dos sistemas e têm uma boa evolução. O

quadro se reverte depois de terminado o contato com

o agente alergênico.

REAÇÕES GRAVES

Ocorre uma evolução rápida e progressiva de

uma reação moderada, atingindo mais de um sistema

em poucos minutos, sendo a situação agravada por

edema das vias aéreas evoluindo para obstrução.

Além disso, ocorre queda abrupta da pressão arterial,

que pode levar ao choque e, em alguns casos, a uma

Fig. 13.1 (1) Angioedema de lábio; (2) Dermografismo;

(3) Eczema no antebraço.

LATE-UFRJ|2015

131

redução do nível de consciência e parada

cardiorrespiratória. Este evento grave e letal é

chamado de anafilaxia, podendo esta evoluir para o

choque anafilático, sua forma mais grave.

Dado todo este conhecimento, percebemos a

importância que é para um indivíduo reconhecer os

agentes que possivelmente venham a lhe causar

alguma reação alérgica; essa conduta é fundamental

para a manutenção da própria saúde. Inchaço nos

lábios, na língua e em outras regiões da boca, assim

como rouquidão, falta de ar ou dificuldade para

engolir, são sinais que representam gravidade,

devendo-se acionar um serviço médico de

emergência.

ORIENTAÇÕES GERAIS

NÃO SE DEVE

Assumir que quaisquer injeções que a vítima já

tenha tomado contra alergia darão a ela proteção

completa.

Colocar uma almofada sob a cabeça da vítima se

ela estiver com dificuldade em respirar. Isso poderá

bloquear as vias respiratórias.

Administrar nenhuma substância à vítima por via

oral caso ela esteja com dificuldade em respirar.

CHAME O SERVIÇO MÉDICO DE EMERGÊNCIA

IMEDIATAMENTE SE:

A reação alérgica da vítima for grave ou piorar

rapidamente (em alguns minutos).

A vítima já possuir um histórico de reações alérgicas

de natureza grave (procure pela identificação

médica).

PRIMEIROS SOCORROS

A correta identificação do quadro alérgico é

fundamental para evitar piores consequências. A

partir disso, é essencial identificar o agente causador

da reação alérgica e retirá-lo de contato com a vítima.

Muito importante também no atendimento inicial é

acalmar e confortar a vítima, pois a ansiedade pode

agravar a reação.

REAÇÃO ALÉRGICA LEVE

A maioria dos casos cessa sem maiores

complicações apenas com as condutas citadas

anteriormente. No entanto, não havendo melhora, ou

até mesmo piora dos sintomas após a retirada do

alérgeno, deve-se procurar atendimento médico.

Alguns pontos importantes:

1. Se a reação alérgica resultar de uma picada de

abelha de mel, retire o ferrão da pele com algo

firme (como a unha). Não use pinça, pois a

pressão no ferrão poderá liberar mais veneno.

2. Caso a vítima apresente um exantema com

prurido, aplique uma loção à base de calamina e

compressas frias. Evite loções com difenidramina

(Caladril).

3. É importante observar se o desconforto da vítima

aumenta.

REAÇÃO ALÉRGICA MODERADA

É necessário atendimento médico para alívio

dos sintomas e, apesar de normalmente haver uma

melhora rápida após a exposição, há ainda risco de

evoluir para formas mais graves.

REAÇÃO ALÉRGICA GRAVE OU ANAFILAXIA

Procure imediatamente por uma unidade de

saúde. O quadro pode evoluir rapidamente, podendo

levar a vítima ao choque, coma e até mesmo morte.

LATE-UFRJ|2015

132

Mas atenção: a vítima não deve procurar o

atendimento médico sozinha, devendo chamar a

ambulância ou, no mínimo, estar acompanhada. As

condutas são:

1. Enquanto a vítima não recebe atendimento

especializado, verifique seu estado e sinais vitais:

examine circulação, vias aéreas e respiração. Se

necessário, inicie a RCP.

2. Alguns pacientes, já cientes de sua alergia,

possuem um dispositivo autoinjetor de adrenalina,

que deve ser usado imediatamente, podendo ser

por qualquer indivíduo apto a fazê-lo. Portanto, se

a vítima tiver à mão esse medicamento de

emergência contra alergia, ajude a injetá-lo. A

aplicação é feita principalmente na parte

anterolateral da coxa, no seu terço médio

(músculo vasto lateral).

3. Procure tomar medidas para evitar o choque.

Mantenha a vítima deitada, erguendo seus pés

cerca de 30 cm, e cubra-a com um agasalho ou

cobertor. NÃO deixe a vítima nessa posição se

houver suspeita de lesão cerebral, pescoço,

costas ou pernas, ou se isso causar desconforto a

ela.

4. Se a vítima perder a consciência, aplique os

procedimentos de primeiros socorros para casos

de inconsciência.

PREVENÇÃO

1. Evitar o agente alergênico logo após identificá-lo.

Esta é a medida mais importante!

2. As pessoas que sabem ser passíveis de reações

alérgicas de natureza grave devem ter alguma

identificação médica (cartão ou bracelete) que

descreva as substâncias às quais elas são

alérgicas e as condutas que devem ser tomadas

caso elas venham a apresentar uma reação

alérgica.

3. Observar cuidadosamente seus filhos após ter

administrado um alimento novo ou medicamento.

De preferência, ler o rótulo do alimento ou a bula

do medicamento antes.

4. Em restaurantes ou casas de amigos, perguntar

os ingredientes usados na preparação dos

alimentos.

5. Instruir pessoas em casa e no trabalho sobre sua

alergia, o lugar onde guarda o medicamento e

como usá-lo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AEHLERT, B. Emergências em Cardiologia:

Suporte Avançado de Vida em Cardiologia. 3. ed. São

Paulo: Elsevier, 2007.

ALVAREZ, F. S. et al. Protocolo de atendimento

das Unidades de Pronto Atendimento 24 horas. 1.

de. Rio de Janeiro: [s. n.], 2009.

COSTA, B. K. Prevenção de doenças infecto-

contagiosas, prevenção de acidentes e primeiros

socorros para profissionais da educação infantil:

manual de orientações. Porto Alegre: UFRGS, 2010.

Disponível em:

<http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/250

57/000751031.pdf?sequence=1>. Acesso em: 01

mar. 2012.

IRWIN, R. S. RIPPE, J. M. Terapia Intensiva. 6. ed.

EUA: Guanabara Koogan, 2010.

IRWIN, R. S. RIPPE, J. M. Manual de Terapia

Intensiva. 4. ed. EUA: Guanabara Koogan, 2006.

MARTINS, H. S. Emergências Clínicas: Abordagem

Prática. 3. ed. São Paulo: Manole, 2007.

<http://health.learninginfo.org/first-aid-allergies.htm>.

Acesso em: 01 mar. 2012.

LATE-UFRJ|2015

133

INTRODUÇÃO

Muitas espécies de animais são dotadas de

mecanismos de defesa que possuem peçonhas ou

venenos. São os chamados animais peçonhentos.

Esses animais possuem glândulas de veneno que se

comunicam com aparelho inoculador, por onde o

veneno é injetado com facilidade, tais como insetos,

escorpiões, aranhas e cobras. Estima-se que

ocorrem anualmente no Brasil cerca de 26000 casos

com cobras, 21000 com aranhas e 39000 com

escorpiões, podendo estar relacionados a ocorrência

de óbitos ou produção de sequelas. É importante

ressaltar que todo acidente por animal peçonhento

atendido na unidade de saúde deve ser notificado,

independentemente do paciente ter sido ou não

submetido à soroterapia.

Além dos acidentes por animais peçonhentos,

as mordidas por animais também merecem atenção

especial, visto que além de ser um acidente muito

comum, é potencialmente perigoso pois pode haver a

transmissão de muitas doenças, sendo a raiva uma

delas (uma doença de alta letalidade). Assim, é

fundamental saber como proceder em cada situação,

para um melhor prognóstico da vítima.

Quadro 14.1 ANIMAIS VENENOSOS vs

PEÇONHENTOS

Animais venenosos produzem veneno, mas

não possuem um aparelho inoculador, provocando

apenas envenenamento passivo, ocasionado por

ingestão, contato ou compressão.

a) ACIDENTES OFÍDICOS

O ofidismo constitui, dentre os acidentes por

animais peçonhentos, o de maior interesse médico

devido a sua frequência e gravidade. A ocorrência

desse tipo de acidente é relacionada a fatores

climáticos e a atividade humana no campo, havendo

predomínio de incidência nos meses quentes e

chuvosos e em indivíduos do sexo masculino (15 a 49

anos).

Existem no Brasil 60 espécies de cobras

venenosas, sendo as jararacas as responsáveis pelo

maior número de ataques. Os acidentes ocorrem em

todo o país (principalmente nas regiões Norte e

Centro-Oeste), havendo predomínio do acidente

botrópico (73,5%), seguido do crotálico (7,5%),

laquético (3%), elapídico (0,7%) e por cobras não-

peçonhentas (3%). A letalidade geralmente é baixa

(0,4%), sendo que o tempo decorrido entre o acidente

e o atendimento e o tipo de envenenamento podem

elevar a letalidade em até 8 vezes.

Adaptado de guia de vigilância epidemiológica, 2009.

LATE-UFRJ|2015

134

CLASSIFICAÇÃO DOS ACIDENTES

O diagnóstico do tipo de cobra causadora do

acidente é feito, na maioria dos casos, com base nas

manifestações clínicas que o paciente apresenta no

momento do atendimento, uma vez que nem sempre

é possível a identificação do animal. Os acidentes são

classificados em:

Acidente Botrópico: Causado por serpentes do

gênero Bothrops, Bothriopsis, Bothropoides,

Bothrocopias e Rhinocerophis. Ex: Jararaca.

Acidente Laquético: Causado por serpentes do

gênero Lachesis. Ex: surucucu.

Acidente Crotálico - Causado por serpentes do

gênero Caudisona. Ex: Cascavel.

Quadro 14.2 INCIDÊNCIA DE

ACIDENTES OFÍDICOS POR REGIÕES

BRASIL 2008

Região N° casos

Incidência

(por 100.000

habitantes)

Norte 8.065 52,6

Nordeste 6.865 13,2

Sudeste 6.689 8,3

Sul 3.071 11,1

Centro-

Oeste 2.215 16,4

Brasil 26.905 13,8

Fig. 14.2 Surucucu

Fig. 14.3 Cascavel

Fig. 14.1 Jararaca

LATE-UFRJ|2015

135

Acidente Elapídico - Causado por serpentes do

gênero Micrurus. Ex: Coral verdadeira.

Acidente Por Serpentes Não-Peçonhentas - Sem

gravidade, porém freqüente. Pode causar edema, dor

e equimose na região da picada. Ex: Cobra-cipó,

falsa-coral, cobra d’água.

SINTOMAS GERAIS DOS ACIDENTES OFÍDICOS

VENENOSOS

Dor local

Rápido enfraquecimento

Perturbações visuais

Náuseas e vômitos

Pulso fraco

Respiração rápida

Extremidades frias

Perda da consciência

Rigidez da nuca

Coma e morte

AÇÃO DO VENENO

A reação à picada vai depender de variáveis

como a parte do corpo que foi atingida, quantidade de

veneno injetada, peso da vítima e o tipo da cobra

(espécie). As partes do corpo mais frequentemente

atingidas são as pernas (principalmente abaixo do

joelho), seguidas dos braços.

Os venenos ofídicos podem ser classificados

de acordo com suas atividades fisiopatológicas, cujos

efeitos são observados em nível local (região da

picada) e sistêmico.

Quadro 14.3 COBRAS VENENOSAS versus NÃO

VENENOSAS

Venenosas - fosseta lacrimal, cabeça triangular, olhos

pequenos, cauda afinando abruptamente, escamas com

desenhos irregulares, 02 presas no maxilar superior.

Fosseta lacrimal ou loreal – órgão termorregulador

localizado entre o olho e a narina

Não Venenosas - não têm fosseta lacrimal, possuem

cabeça arredondada, olhos grandes, cauda longa e

afinando gradativamente, dentes pequenos e mais ou

menos iguais. Exceção: Coral verdadeira (gênero

Micrurus), que apesar de ser venenosa, não possui

fosseta lacrimal.

Fig. 14.5 Cobra- cipó

Fig. 14.4 Coral verdadeira

LATE-UFRJ|2015

136

Quadro 14.4 CLASSIFICAÇÃO DOS VENENOS

ATIVIDADE VENENO EFEITOS

Inflamatória

aguda

Botrópico

e laquético

Lesão endotelial e necrose

no local da picada.

Liberação de mediadores

inflamatórios

Coagulante

Botrópico,

laquético e

crotálico

Incoagulabilidade

sanguínea

Hemorrágica Botrópico,

laquético

Sangramentos na região da

picada (equimose) e à

distância (gengivorragia,

hematúria, etc.)

Neurotóxica Crotálico e

elapídico

Bloqueio da junção

neuromuscular (paralisia de

grupos musculares)

Miotóxica Crotálico Rabdomiólise (mialgia

generalizada, mioglobinúria)

“Neurotóxica”

vagal Laquético

Estimulação colinérgica

(vômitos, dor abdominal,

diarréia, hipotensão,

choque)

Adaptado de guia de vigilância epidemiológica, 2009

PRIMEIROS SOCORROS

1. Segurança da cena: observar se a cobra ainda se

encontra no local, ou se existem outras ao redor.

OBSERVAÇÃO: Não perca tempo! Procure ajuda,

pois o tratamento deve ser feito em até 30 minutos

após a picada.

2. Deite e acalme a vítima: o acidentado não deve

locomover-se com os próprios meios.

3. Localize o local da picada e lave com água fresca

ou água e sabão.

4. Eleve o membro acometido e aplique compressa

fria no local.

5. Transporte (em maca, se possível) a vítima ao

atendimento médico mais próximo para tratamento

(aplicação do soro).

6. Se possível, leve junto a cobra (viva ou morta)

para identificação (para que a vítima receba o soro

específico).

IMPORTANTE

Não colocar folhas, pó de café ou qualquer

substância que possa contaminar a ferida.

Não oferecer bebidas alcoólicas, querosene ou

qualquer outro líquido tóxico.

Não fazer uso de qualquer prática caseira que

possa retardar o atendimento médico.

Não tentar retirar o veneno do local, chupando,

cortando ou espremendo o membro.

De acordo com AHA (American Heart

Association) 2010, a aplicação de uma atadura de

imobilização por pressão, com pressão entre 40 e 70

mmHg na extremidade superior e 55 e 70 mmHg na

extremidade inferior, em torno de toda a extensão da

extremidade picada, é uma maneira eficaz e segura

de retardar o fluxo linfático e, por conseguinte,a

disseminação do veneno. Na prática, uma estimativa

para esta faixa de pressão é a aplicação de uma

bandagem confortavelmente apertada, que permita a

inserção de um dedo sob ela.

A soroterapia deve ser realizada o mais

rapidamente possível e o número de ampolas

depende do tipo e da gravidade do acidente.

Especialistas do Butantã recomendam às vítimas que

recebam o soro de preferência nas primeiras 3h horas

após o ataque.

PREVENÇÃO

Usar botas de cano alto.

LATE-UFRJ|2015

137

Proteger as mãos: não enfiar as mãos em tocas,

cupinzeiros, ocos de troncos etc. Usar um pedaço

de madeira para verificar se não há animais.

Manter sempre limpos os terrenos, quintais e

plantações: facilidade para a proliferação de

roedores atraem as cobras, que os utilizam como

alimentos.

Conservar o meio ambiente: desmatamento e

queimadas, além de destruir a natureza provocam

mudanças de hábitos dos animais, que se

refugiam em celeiros ou mesmo dentro de casas.

Preservar os predadores (emas, gaviões, gambás

etc).

b) ACIDENTES ESCORPIÔNICOS

(ESCORPIONISMO)

Atualmente são conhecidas cerca de 1.600

espécies de escorpião em todo o mundo, e

aproximadamente 100 espécies ocorrem no Brasil.

Os escorpiões com importância para a saúde pública

pertencem ao gênero Tityus, sendo T. serrulatus

(Escorpião Amarelo) a espécie de maior interesse.

Essa espécie vem expandindo sua área de

distribuição devido à sua facilidade de proliferação (se

reproduz por partenogênese) e sua boa capacidade

de adaptação ao ambiente urbano, além de possuir o

maior potencial de gravidade de envenenamento.

Atualmente, o T. serrulatus é amplamente distribuído,

sendo encontrado desde o Paraná até o norte da

Bahia, com alguns relatos para Sergipe e Alagoas,

além da região central do país.

Outras espécies do gênero Tityus com

relevância clínica são o Tityus bahiensis, encontrado

em todo país, exceto a região Norte e o Tityus

stigmurus, espécie mais comum no nordeste.

Os escorpiões abrigam-se em terrenos

baldios com mato e lixo doméstico, embaixo de

pedras, sob cascas de árvores, em cupinzeiros,

buracos e frestas em paredes, sob rodapés soltos,

dentre outros, possuindo hábitos noturnos. São mais

ativos em meses quentes e chuvosos, mas não há

aumento significativo na incidência de picadas em

nenhuma época do ano.

O envenenamento ocorre pela inoculação de

veneno pelo ferrão contido na cauda de escorpiões

do gênero Tityus. Os venenos de escorpião são

menos complexos do que os de cobras. A maioria de

seus componentes são peptídeos tóxicos que agem

estimulando canais de sódio em terminações

nervosas, levando à estimulação de nervos

Fig. 14.6 Tityus serrulatus

Fig. 14.7 Tityus bahiensis

Fig. 14.8 Tityus stigmurus

LATE-UFRJ|2015

138

Adaptado Manual de Primeiros Socorros, 2003.

periféricos sensitivos, motores e do sistema nervoso

autônomo.

Podemos classificar os acidentes

escorpiônicos em 3 tipos: leves, moderados e graves.

A gravidade destes acidentes depende da espécie e

tamanho do escorpião (os acidentes com escorpiões

amarelos têm maior gravidade), da quantidade de

veneno inoculado e da sensibilidade da vítima ao

veneno. Os sintomas sistêmicos nos casos

moderados e graves podem surgir após intervalo de

minutos até 2 a 3 horas.

PRIMEIROS SOCORROS

1. Segurança da cena: Observar se o escorpião

ainda se encontra no local, ou se existem outros

ao redor. Não pegar o animal com as mãos

desprotegidas.

2. Lavar a região atingida com água fresca.

3. Elevar a extremidade acometida (para reduzir a

distribuição do veneno) e colocar compressa fria

sobre o local da ferroada para auxiliar no alívio da

dor.

4. Encaminhar imediatamente a vítima para

atendimento médico.

5. Se possível trazer junto o escorpião.

Toda atenção deverá ser dada para o caso de

desenvolvimento de reações sistêmicas. Ficar atento

à presença de sinais e sintomas de choque anafilático

(urticária, dispneia, fraqueza, confusão, ansiedade,

palidez, taquicardia, etc). Pode ser necessário a

instituição de suporte básico à vida.

IMPORTANTE! Não tentar retirar o veneno do local,

chupando, cortando, espremendo ou garroteando o

membro.

CONTROLE E PREVENÇÃO

Manter quintais, jardins e terrenos baldios limpos,

sem acúmulo de entulhos.

Aparar a grama dos jardins e recolher folhas caídas.

Vedar soleiras de portas.

Examinar roupas, calçados, toalhas e roupas de

cama antes de usá-las.

Andar sempre calçado e usar luvas quando

trabalhando com lenhas ou entulhos.

Preservar os predadores naturais, como aves de

hábitos noturnos, sapos, gansos, galinhas, pássaros

e lagartos.

Quadro 14.5 CLASSIFICAÇÃO DOS

ACIDENTES POR ESCORPIÕES

LEVES MODERADOS GRAVES

Dor

imediata,

intensa,

irradiada.

Parestesia

local.

Dor imediata,

intensa, irradiada.

Náuseas, vômitos,

dormência,

lacrimejamento,

sialorréia, palidez,

sudorese, hipo ou

hipertermia,

agitação.

Hipertensão

arterial.

Além das

manifestações

prévias

agravadas, pode

haver:

bradicardia,

quadro

tetaniforme com

dislalia, disfagia

e diplopia,

convulsões,

insuficiência

cardíaca, edema

agudo do

pulmão, choque,

coma,

insuficiência

renal.

LATE-UFRJ|2015

139

c) ACIDENTES ARACNÍDICOS

(ARANEÍSMO)

O envenenamento por aranhas é causado

pela inoculação de toxinas através de ferrões

localizados no aparelho inoculador. Apesar do grande

número de aranhas encontradas na natureza e de

praticamente todas produzirem veneno (99,4%),

poucas são consideradas de importância médica no

Brasil. São elas: Aranha Marrom (gênero Loxosceles),

a Aranha Armadeira (gênero Phoneutria) e a Viúva

Negra (gênero Latrodectus).

Aranha Marrom: De pequeno porte (3-4 cm).

Geralmente encontrada em fendas, tijolos, atrás de

quadros e móveis, sempre ao abrigo da luz. Tem

hábitos noturnos. Sua personalidade não é agressiva,

só causa acidentes quando é comprimida contra o

corpo. A maioria dos acidentes notificados acontece

na região Sul, durante o verão.

Aranha Armadeira: pode atingir até 15cm.

Tem hábito noturno e comportamento agressivo,

podendo saltar a uma distância de 40cm. Acidentes

com essa aranha geralmente ocorrem no ambiente

domiciliar ou peridomiciliar, durante o manuseio de

materiais de construção, telhas, tijolos ou ao calçar

sapatos. Os acidentes são mais frequentes nas

regiões Sul e Sudeste, principalmente entre os meses

de março e maio. O quadro clínico é muito

semelhante ao do escorpionismo, com predomínio de

manifestações locais.

Viúva negra: de pequeno porte, com hábitos

domiciliares e peridomiciliares, sedentários e não

possuem comportamento agressivo. Vive em

vegetações arbustivas e gramíneas. No Brasil, os

acidentes com esta aranha (só com a fêmea) ocorrem

principalmente na região Nordeste, em especial na

Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte e Sergipe, com

maior incidência entre os meses de março e maio.

Fig. 14.9 Aranha Marrom

Fig. 14.11 Viúva negra

Fig. 14.10 Aranha Armadeira

LATE-UFRJ|2015

140

Quadro 14.6 ARANHAS DE JARDIM E

TARÂNTULAS

A família das aranhas de Jardim e Tarântulas

(Lycosidae) e a subordem das caranguejeiras

(Mygalomorphae) apresentam grande variedade de

espécies, encontradas em todo o país, mas são

consideradas de menor importância para a saúde

pública. Eventualmente, podem ocasionar picada

dolorosa, porém sem repercussão sistêmica.

A gravidade dos acidentes provocados por

espécies perigosas depende da quantidade de

veneno injetada, do local da picada e da sensibilidade

da pessoa ao veneno, que geralmente é maior quanto

mais jovem for. De acordo com as atividades

fisiopatológicas, os efeitos dos venenos são distintos,

tanto em nível local, como sistêmico.

Quadro 14.7 EFEITOS DOS VENENOS DAS

ARANHAS DE ACORDO COM A ATIVIDADE

FISIOPATOLÓGICA

ATIVIDADE VENENO EFEITOS

Dermonecrótica Loxosceles Necrose cutânea no local

da picada

Hemolítica Loxosceles Hemólise intravascular

Sobre

terminações

nervosas

Phoneutria,

Latrodectus

Local: dor, edema,

sudorese

Sistêmico: contraturas

musculares, intoxicação

adrenérgica/colinérgica

PRIMEIROS SOCORROS

1. Segurança da cena.

2. Lavar o local da picada com água fresca.

3. Elevar a extremidade acometida (para reduzir a

distribuição do veneno) e aplicar compressa fria

sobre o local.

4. Procurar atenção médica imediata (A procura por

tratamento depois de muito tempo dificulta a

identificação do agente e o tratamento).

5. Se possível, aprisionar o animal e levá-lo ao

serviço de saúde (melhor identificação do agente

e, assim, tratamento facilitado).

6. Ficar atento à presença de sinais de choque. Pode

ser necessária a instituição de suporte básico à

vida.

IMPORTANTE! Não tentar retirar o veneno do local,

chupando, cortando, espremendo ou garroteando o

membro.

Tarântula

Caranguejeira

) )

LATE-UFRJ|2015

141

CONTROLE E PREVENÇÃO

Limpeza periódica do peridomicílio, evitando o

acúmulo de lenhas, tijolos, telhas, etc.

Manusear materiais como entulho, lixo, materiais

de construção com cuidado e, de preferência, com

as mãos protegidas.

Tapar buracos e frestas de paredes, portas,

janelas e rodapés.

Inspecionar e sacudir roupas, sapatos, toalhas e

roupas de cama antes do uso.

Evitar a proliferação de insetos, para evitar o

aparecimento das aranhas que deles se

alimentam.

Preservar os predadores naturais (sapo, galinha,

pássaros e lagartos).

D) MORDIDAS

São na grande parte causadas por cães,

ocasionando principalmente lesões em extremidades

nos adultos (principalmente as mãos), e na face, em

crianças. Além do trauma físico causado, deve-se ter

a preocupação com as doenças infecciosas que

podem ser transmitidas, sendo a raiva uma delas.

RAIVA

A raiva é uma zoonose viral, que se

caracteriza como uma encefalite progressiva aguda e

letal. No Brasil essa doença é endêmica, sendo a

região Nordeste responsável por 54% dos casos

humanos registrados de 1980 a 2008, seguida da

região Norte com 19%. Não há registros de casos de

Raiva humana no estados do Sul desde 1987. Em

2008 foi registrado o primeiro caso de cura de Raiva

humana no Brasil.

Todos os mamíferos são suscetíveis ao vírus

da raiva e, portanto, podem transmiti-la. A doença

apresenta dois principais ciclos de transmissão:

urbano e silvestre, sendo o urbano passível de

eliminação, por se dispor de medidas eficientes de

prevenção, tanto em relação ao ser humano, quanto à

fonte de infecção.

MODO DE TRANSMISSÃO

A transmissão ocorre pela inoculação do vírus

contido na saliva do animal infectado, principalmente

pela mordedura e, mais raramente, pela arranhadura

e/ou lambedura de mucosas. Nos cães e gatos, a

eliminação de vírus pela saliva ocorre entre 2 a 5 dias

antes do aparecimento dos sinais clínicos, persistindo

durante toda a evolução da doença. A morte do

animal ocorre, em média, entre 5 a 7 dias após a

apresentação dos sintomas.

Há relatos de casos de transmissão inter-

humana na literatura, que ocorreram por transplante

de córnea e outros órgãos. A transmissão por via

respiratória também é possível, porém remota.

Quadro 14.8 FATORES ASSOCIADOS COM O

PERÍODO DE INCUBAÇÃO

Localização, extensão e profundidade da mordedura,

arranhadura, lambedura ou contato com a saliva de

animais infectados

Distância entre o local do ferimento, o cérebro e troncos

nervosos

Concentração de partículas virais inoculadas e cepa viral.

Fig. 14.12 Ciclos epidemiológicos de transmissão da

raiva

LATE-UFRJ|2015

142

MECANISMO DE AÇÃO

O vírus rábico penetra no organismo,

multiplica-se no ponto de inoculação, atinge o sistema

nervoso periférico e, posteriormente, o sistema

nervoso central. Após um período variável de

incubação, aparecem os pródromos iniciais, que

duram de 2 a 4 dias e são inespecíficos, com o

paciente apresentando mal-estar geral, pequeno

aumento de temperatura corpórea, anorexia, cefaléia,

náuseas, dor de garganta, entorpecimento,

irritabilidade, inquietude e sensação de angústia.

Podem ocorrer hiperestesia e parestesia nos trajetos

de nervos periféricos, próximos ao local da mordida, e

alterações de comportamento.

A infecção progride, surgindo manifestações

de ansiedade e hiperexcitabilidade crescentes, febre,

delírios, espasmos musculares involuntários

generalizados e/ou convulsões. Ocorrem espasmos

dos músculos da laringe, faringe e língua, quando o

paciente vê ou tenta ingerir líquido, apresentando

sialorreia intensa. Os espasmos musculares evoluem

para quadro de paralisia, levando a alterações

cardiorrespiratórias, retenção urinária e constipação

intestinal. O paciente se mantém consciente, com

período de alucinações, até a instalação do quadro

comatoso e evolução para óbito.

São, ainda, observadas disfagia, aerofobia,

hiperacusia, fotofobia. O período de evolução do

quadro clínico, após instalados os sinais e sintomas

até o óbito, varia, em média, de 5 a 7 dias. A

característica mais determinante da evolução clínica

da doença é a forma furiosa e/ou paralítica.

PRIMEIROS SOCORROS

1. Segurança da cena: observar se o animal ainda

está no local ou se há outros por perto.

2. Acalmar a vítima.

3. Lavar a ferida com água e sabão, deixando a água

escorrer por alguns minutos sobre o ferimento. O

sabão deve ser totalmente removido após a

lavagem, para que não atrapalhe a ação dos

medicamentos que por acaso haja necessidade de

serem usados posteriormente pelo pessoal de

atendimento especializado.

4. Levar a vítima ao atendimento médico mais

próximo para tratamento.

5. Se possível, manter a posse do animal para

observação durante 10 dias após infecção.

IMPORTANTE!

Não feche a ferida com curativos!

Há fatores que aumentam o risco e elevam a

gravidade da ferida, independentemente do animal

envolvido no acidente, tais como idade e estado

imunológico da vítima, presença de doenças

vasculares, localização da lesão, tipos de lesões,

tratamento tardio e contaminação.

TRATAMENTO

Há um protocolo de tratamento da raiva

humana, elaborado pela Secretaria de Vigilância em

Saúde e colaboradores, que deve ser adotado frente

a casos suspeitos da doença, devendo ser aplicado o

mais precocemente possível.

1. É necessário orientar o paciente para que ele

notifique imediatamente a Unidade de Saúde se o

animal morrer, desaparecer ou se tornar raivoso,

uma vez que podem ser necessárias novas

intervenções de forma rápida, como a aplicação do

soro ou o prosseguimento do esquema de

vacinação.

É preciso avaliar, sempre, os hábitos do cão e

gato e os cuidados recebidos. Podem ser dispensados

do esquema profilático as pessoas agredidas pelo

LATE-UFRJ|2015

143

cão ou gato que, com certeza, não tem risco de

contrair a infecção rábica. Por exemplo: animais que

vivem dentro do domicílio (exclusivamente), que não

têm contato com outros animais desconhecidos, que

somente saem na rua acompanhados dos seus donos

e que não circulam em área com a presença de

morcegos. Em caso de dúvida, iniciar o esquema de

profilaxia indicado. Se o animal for procedente de

área de raiva controlada não é necessário iniciar o

esquema profilático. Manter o animal sob observação

e só iniciar o esquema profilático indicado (soro +

vacina) se o animal morrer, desaparecer ou se tornar

raivoso.

2. O soro deve ser infiltrado na(s) porta(s) de

entrada. Quando não for possível infiltrar toda

dose, aplicar o máximo possível e a quantidade

restante, a menor possível, aplicar pela via

intramuscular, podendo ser utilizada a região

glútea. Sempre aplicar em local anatômico

diferente do que aplicou a vacina. Quando as

lesões forem muito extensas ou múltiplas a dose

do soro a ser infiltrada pode ser diluída, o menos

possível, em soro fisiológico para que todas as

lesões sejam infiltradas.

3. Nos casos em que se conhece só tardiamente a

necessidade do uso do soro antirrábico ou

quando o mesmo não se encontra disponível no

momento, aplicar a dose de soro recomendada

antes da aplicação da 3a dose da vacina de cultivo

celular. Após esse prazo o soro não é mais

necessário.

Fig. 14.13 Esquema para profilaxia pós-exposição da raiva humana

LATE-UFRJ|2015

144

4. Nas agressões por morcegos deve-se indicar a

soro-vacinação independentemente da gravidade

da lesão, ou indicar conduta de reexposição.

PREVENÇÃO

Vacinar todos os animais domésticos anualmente.

Respeitar o espaço dos animais: não mexer na

comida que o cachorro está comendo, não puxar o

rabo dos animais etc.

Ensinar as crianças a não provocar cães e gatos e a

não brincarem com cães e gatos desconhecidos.

Colocar telas nos vãos, janelas e buracos e fechar

ou vedar porões, pisos falsos e cômodos pouco

utilizados que permitam o alojamento de morcegos.

Iluminar áreas externas nas residências.

REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo

Cruz. Manual de Primeiros Socorros. Rio de

janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2003. 170 p.

Disponível em:

<http://www.anvisa.gov.br/reblas/manual_primeiros_s

ocorros.pdf>. Acesso em 05 mar. 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância

em Saúde. Departamento de Vigilância

Epidemiológica. Guia de Vigilância Epidemiológica.

7. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. Disponível

em: <

http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/gve_7ed

_web_atual.pdf>. Acesso em 05 mar. 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Doenças Infecciosas

e Parasitárias: guia de bolso. 8. ed. Brasília:

Ministério da Saúde, 2010.

<http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/virtual%20to

ur/hipertextos/up2/mordidas_animais.html>. Acesso

em: 05 mar. 2012.

MARKENSON, D. et al. Part 13: First Aid: 2010

American Heart Association and American Red

Cross International Consensus on First Aid

Science With Treatment Recommendations.

Circulation [online]. 2010, v. 122, pp. S582-S605.

Disponível em: <

http://circ.ahajournals.org/content/122/16_suppl_2/S5

82.full.pdf+html>. Acesso em 05 mar. 2012.

GUIMARÃES, H. P. et al. Destaques das Diretrizes

da American Heart Association 2010 para RCP e

ACE. 2010.

LATE-UFRJ|2015

145

INTRODUÇÃO

A Assembleia Geral da Organização das

Nações Unidas, no dia 2 de março de 2010,

proclamou oficialmente o período de 2011 a 2020

como a Década Mundial de Ação pela Segurança no

Trânsito a fim de estimular esforços em todo o mundo

para conter e reverter à tendência crescente de

fatalidades e ferimentos graves em acidentes no

trânsito no planeta.

A Associação Brasileira de Normas Técnicas

– ABNT, em sua NBR 10697, define acidente de

trânsito como: “Todo evento não premeditado de que

resulte dano em veículo ou na sua carga e/ou lesões

em pessoas e/ou animais, em que pelo menos uma

das partes está em movimento nas vias terrestres ou

áreas abertas ao público. Pode originar-se, terminar

ou envolver veículo parcialmente na via pública.”.

Mais de 35 mil mortes, anualmente, ocorrem

em acidentes de trânsito nas estradas e vias urbanas

brasileiras, representando uma média de 183 óbitos

por dia (7,6 por hora).

Perdas de vidas dessa forma estão

compreendidas em segundo lugar nas chamadas

mortes por causas externas no Brasil, as quais

ocupam, por sua vez, a terceira posição nas taxas de

principais causas mortalidade do país, sendo

superados somente pelas doenças cardiovasculares

e neoplasias, em todas as faixas etárias.

As principais estatísticas nacionais

disponíveis atualmente são as estatísticas de óbitos e

de internações de vítimas de acidentes do trânsito,

publicadas pelo Ministério da Saúde. Os dados mais

recentes são: 42.800 óbitos em 2010, 174.000 feridos

internados em 2011.

O gráfico abaixo mostra a evolução do

número de óbitos de 2001 a 2010, com crescimento

de 40% no período.

Fig. 15.1 Causas de óbito no Brasil (dados preliminares

de 2010). Fonte: DATASUS

LATE-UFRJ|2015

146

O Brasil tem prejuízo anual de R$ 105

milhões com acidentes de trânsito. Esse prejuízo se

dá por meio de custos com: perdas em produção,

médicos, previdência social, custos legais (perdas

materiais, despesas com seguro) e custos com

emergências, entre outros. Isso acontece,

principalmente, porque as maiores vítimas do trânsito

são jovens de 20 a 29 anos de idade (significativa

parcela produtiva da sociedade), mais

preferencialmente os homens brancos com

escolaridade entre 4 e 7 anos de estudo.

Diante desses dados estatísticos, fica

evidente a importância do estudo do trauma no

trânsito, visto que corresponde a uma temática muito

presente em nosso cotidiano, além de representar

uma forma evitável e prevenível de morte.

Um acidente de trânsito corresponde a todo

acontecimento desastrado, casual ou não, o qual

possui como consequências desagradáveis, danos

físicos e ou materiais, envolvendo veículos, pessoas

e ou animais nas vias públicas.

Os acidentes de transporte podem ser de

vários tipos, tais como classificados pela Décima

Revisão da Classificação Internacional de Doenças:

acidentes com pedestres, ciclistas, motociclistas,

ocupantes de triciclos, de automóveis, de

caminhonetes, de veículos de carga pesada, de

ônibus e, demais formas de acidente de transporte.

Podemos classificar tais acidentes, quanto às

suas consequências, em:

Simples: sem vítimas ou com danos de pequena

importância;

Graves: com vítimas ou com danos de grande

monta.

PRINCIPAIS CAUSAS

Relacionando-se os principais fatores que

determinam a ocorrência de acidentes no trânsito, o

destaque maior é dado ao erro humano, o qual é, em

todo o mundo, responsável por mais de 60% dos

acidentes registrados sendo que o comportamento do

motorista (velocidade do veículo, observação de

sinais, velocidade de reação), apresenta-se como

grande fator determinante. No Rio de Janeiro, 41%

dos acidentes são causados por excesso de

velocidade, sendo também o Estado onde os

registros de infrações desse tipo são mais frequentes,

seguido de São Paulo (28%) e Brasília (21%).

Quadro 15.1 CAUSAS DE ACIDENTES NO

TRÂNSITO

Falhas humanas (64%)

Problemas mecânicos (30%)

Má conservação da via (6%)

Fonte: DENATRAN

Os fatores humanos de risco são:

subavaliação da probabilidade de acidente

desatenção, cansaço, deficiências (auditiva, visual,

motora), consumo de álcool, consumo de droga,

excesso de velocidade, desrespeito à distância

mínima entre veículos, ultrapassagem indevida e

outras infrações dos motoristas (não utilização do

cinto de segurança, de capacete, de cadeira especial

para as crianças de acordo com as faixas etárias).

Além da imprudência de pedestres, de ciclistas e de

motociclistas.

Fig. 15.2 Mortos em acidentes de transito por ano.

LATE-UFRJ|2015

147

Os problemas relacionados aos veículos

como: defeitos de manutenção (pneus lisos ou com

falta de calibragem, faróis com defeito ou mal

ajustados, retrovisores deficientes, falhas na

mecânica), utilização incorreta (visibilidade

prejudicada: carga obstruindo ângulos de visão,

sobrecarga, carga mal condicionada, carga fora do

gabarito).

Fatores ligados à infraestrutura e ao meio

ambiente: condições de conservação da via;

mudanças do contexto da rodovia (urbanização de

uma zona atravessada pela rodovia, construção de

acessos intermediários sem a necessária visibilidade,

criação de linhas de ônibus sem paradas

devidamente instaladas e protegidas); da evolução do

tráfego (certas disposições que eram corretas na

época da construção, mas não são mais aceitáveis);

acostamentos estreitos; canteiro central não

protegido; objetos fixos não protegidos; velocidade

autorizada excessiva; e condições meteorológicas

(chuva, aquaplanagem ou hidroplanagem, neblina ou

cerração, vento, fumaça proveniente de queimadas e

condições de luz).

Quadro 15.3 FATORES DE IMPRUDÊNCIAS NO

TRÂNSITO

Impunidade / legislação deficiente

Fiscalização corrupta e sem caráter educativo

Baixo nível cultural e social

Baixa valorização da vida

Ausência de espírito comunitário e exacerbação do

caráter individualista

Uso do veículo como demonstração de poder e

virilidade

Quadro 15.2 PRINCIPAIS IMPRUDÊNCIAS

DETERMINANTES DE ACIDENTES FATAIS NO

BRASIL, POR ORDEM DE INCIDÊNCIA

Velocidade excessiva

Dirigir sob efeito de álcool (anexo 16.1)

Distância insuficiente em relação ao veículo

dianteiro

Desrespeito à sinalização

Dirigir sob efeito de drogas

Inexperiência e falta de conhecimento

Falta de atenção e falha de observação

Anexo 15.1: Modificação do Código Nacional de

Trânsito

“Metade das mortes no trânsito envolvem

motoristas embriagados. Mesmo em pequenas

doses, o álcool prejudica a percepção de velocidade

e distância, podendo causar dupla visão e

incapacidade de coordenação. A pessoa alcoolizada

não consegue observar tudo o que acontece no

trânsito.”

Desde 19 de março de 2009, a Operação Lei

Seca já salvou milhares de vidas com a importante

missão de diminuir estatísticas preocupantes e alertar a

população sobre todos os riscos da combinação do

álcool com a direção, esta Política Pública permanente

do Governo do Estado do Rio de Janeiro tem mobilizado

diariamente centenas de motoristas na Capital, Região

Metropolitana e Baixada Fluminense.

O Rio de Janeiro virou referência nacional em

redução dos altos índices de mortes e acidentes de

trânsito, preservando vidas, e educando e

conscientizando cidadãos sobre responsabilidade e

segurança no trânsito. Essa mudança de atitude e

conscientização é uma das maneiras mais importantes

de colaborar. Quanto mais pessoas colaborarem, mais

vidas serão salvas.

Seja você também um colaborador da Operação

Lei Seca. Deixe o carro em casa quando sair para beber

e preserve vidas.

A BLITZ DA LEI SECA

A abordagem feita na blitz da Lei Seca, chamada

LATE-UFRJ|2015

148

“Abordagem Cidadã”, é estruturada em dois pilares:

fiscalização e educação. Com caráter não apenas

punitivo, mas principalmente educativo, os funcionários

públicos envolvidos na abordagem não só são

responsáveis pelos procedimentos, como também

transmitem conhecimentos da legislação ao condutor.

Ao abordar o condutor do veículo, o policial militar

informa as alterações ocorridas no Código de Trânsito

Brasileiro advindas com a Lei 11.705, de 19 de junho de

2009 (possuindo tópicos relacionados ao assunto no

decreto n.º 6488, de 19 de junho de 2008, e na resolução

n.º 206, de 20 de outubro de 2006), e com a Lei 12.760,

de 20 de dezembro de 2012, e solicita a documentação

do condutor (CRLV e CNH) para que o agente do

DETRAN possa avaliá-los e, caso seja necessário, tomar

as medidas administrativas previstas para o caso.

Chegando à barraca, é mostrado ao condutor que o

bocal do bafômetro é descartável e é pedido ao condutor

que o mesmo visualize todas as informações do visor do

bafômetro, principalmente o valor de álcool indicado.

Sendo realizado o teste do bafômetro, os

procedimentos a seguir são:

Caso o resultado do teste seja negativo, ou seja,

não registre qualquer teor de álcool expelido pelos

alvéolos pulmonares (pulmões), o condutor é liberado.

Quem for flagrado sob efeito de álcool (com até 0,29 mg

de álcool por litro de ar expelido) é enquadrado no artigo

165 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB): comete

infração gravíssima (7 pontos na CNH), com penalidade

de multa (R$ 1.915,40) e suspensão do direito de dirigir

por 12 (doze) meses. O veículo ainda fica retido até a

apresentação de outro condutor habilitado e em

condições de dirigir. Em caso de reincidência em menos

de 12 (doze) meses, o valor da multa é dobrado, ou seja,

de R$ 3.830,80.

Já o condutor que atingir ou ultrapassar o limite

de 0,30 mg de álcool por litro de ar expelido dos

pulmões comete crime de trânsito, pelo artigo 306 do

CTB, que prevê penas de detenção, de seis meses a três

anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a

permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

Além do teste do bafômetro, perícia, vídeo, prova

testemunhal ou outros meios de prova em direito

admitidos, observado o direito à contraprova, também

podem ser utilizados para comprovar embriaguez.

As equipes de educação e conscientização são

responsáveis pelo desenvolvimento de ações de

prevenção para um trânsito mais seguro e livre da

combinação bebida e direção. O público-alvo está em

bares, eventos, casas noturnas e outros locais de grande

concentração pública.

São realizadas ainda palestras em escolas e

empresas; as ações contam com relatos de pessoas

cadeirantes, vítimas de acidentes de trânsito envolvendo

bebidas alcoólicas e direção, que atuam como porta-

vozes da campanha.

Órgãos integrados que apoiam a Operação Lei Seca

O Batalhão Policial Militar da área onde ocorre a

operação, bem como os Batalhões Policiais Militares

adjacentes, utilizam o aparato da Operação Lei Seca

para realizar testes de alcoolemia em condutores

trazidos pelos mesmo e, caso necessário, autuar os

condutores que estiverem transgredindo as normas de

trânsito.

Fonte: Operação Lei Seca. 2013.

TEMPO DE REAÇÃO

O tempo de reação trata-se do intervalo de

tempo entre o reconhecimento de uma situação

perigosa e a ação de resposta à mesma, e

depende da condição física e do estado emocional

do indivíduo, já que envolve sua capacidade de

atenção. O tempo médio de reação de uma pessoa

jovem, em bom estado de saúde, é de

LATE-UFRJ|2015

149

aproximadamente 0,75 segundos, ou seja, nesse

intervalo seu cérebro processa as informações que

está recebendo e define uma ação.

Este parâmetro é de grande importância no

que se refere à ocorrência de acidentes, pois

corresponde a uma das variáveis quando avaliamos,

por exemplo, a parada de um veículo, juntamente do

tempo de percepção da necessidade de frear e a

distância de frenagem (que por sua vez, depende das

condições do piso, freio, pneus).

Muitos fatores podem alterá-lo, de forma

definitiva (idade, deficiência física), ou temporária

(enfermidades passageiras: resfriado, cefaleia, álcool,

drogas, medicamentos, estado emocional). Segundo

alguns especialistas, dependendo da pessoa, apenas

dois copos de cerveja podem fazer seu tempo de

reação aumentar para dois segundos.

Portanto, fica evidente que para se evitar um

acidente, o motorista deve sempre ter em mente os

seus limites referentes a esse intervalo, assim

mantendo um distanciamento correto dos automóveis

e outros possíveis obstáculos a sua frente, por meio

da avaliação de parâmetros como:

Velocidade: quanto mais veloz estiver, maior

será a distância que deverá manter do carro à

frente, já que o veículo demora mais para parar

quando sua a velocidade é maior;

Condições da via / Tempo atmosférico/ Pneus:

as condições do clima e da via influenciam no

atrito entre o pneu e o solo e, consequentemente,

na redução da velocidade do veículo;

Condições do motorista: caso o motorista

esteja, por exemplo, sonolento ou abalado

emocionalmente, sua atenção estará

comprometida e, consequentemente, sua reação

ficará mais lenta.

CINEMÁTICA DO TRAUMA NO TRÂNSITO

A cinemática do trauma estuda a

transferência de energia de uma fonte externa para

um corpo, no caso, o da vítima, como ocorre em um

acidente de trânsito. Durante um acidente de trânsito,

a absorção de energia cinética do movimento é o

componente básico da produção de lesão. Pode

ocorrer em três eventos: colisão do veículo contra o

corpo, colisão do ocupante contra o interior do veículo

e colisão de órgãos contra as paredes corporais.

Os acidentes envolvendo veículos ocorrem

em várias formas e cada uma delas é associada com

certos padrões de lesão, sejam diretos ou por

desaceleração de órgãos.

PRINCIPAIS TIPOS DE ACIDENTES

I. COLISÕES

Fig.15.3 Distância de parada.

Fig.15.4 Campanha da Lei Seca

LATE-UFRJ|2015

150

São acidentes em que ocorre impacto entre

dois veículos em movimento, podendo ser:

Frontal: sendo causada principalmente, por

ultrapassagens ou curvas mal realizadas, quando

os veículos transitam em sentidos opostos. As

principais lesões geradas relacionam-se a coluna

cervical, tórax, contusão cardíaca, pneumotórax,

transecção de aorta (pela desaceleração), lesões

de fígado, baço, joelho, quadril, punhos.

Traseira: quando os dois veículos transitam no

mesmo sentido, e o de trás vai de encontro ao

veículo que segue à frente. Sua causa principal

decorre do desrespeito à distância de segurança

do veículo. Está fortemente relacionada às

fraturas da coluna cervical por chicoteamento.

Lateral: quando os veículos transitam no mesmo

sentido e no momento da ultrapassagem sofrem o

impacto nas laterais, ou quando transitam em

sentidos opostos e ao se cruzarem tocam um no

outro lateralmente. É ocasionada por

ultrapassagens e curvas mal realizadas,

desrespeito à distância lateral de segurança,

excesso de velocidade, não manutenção do

veículo na faixa própria e desrespeito à

sinalização. Pode levar às fraturas de coluna

cervical, lesão contralateral do tórax,

pneumotórax, ruptura traumática da aorta, ruptura

diafragmática, lesão de fígado ou baço, fratura de

pelve ou acetábulo.

Transversal: quando os veículos transitam em

sentidos que se cruzam, sendo causada ao se

efetuar o cruzamento sem a devida atenção.

Fig.15.8 Exemplo de colisão lateral

Fig.15.7 Campanha de segurança no trânsito.

Fig.15.6 Exemplo de colisão traseira.

Fig.15.5 Exemplo de choque frontal

LATE-UFRJ|2015

151

Colisão com objeto fixo (choque): caracteriza-

se pelo impacto de um veículo em movimento

contra qualquer obstáculo físico ou em veículo

estacionado. Suas causas principais são a falta

de atenção, desrespeito à sinalização, excesso

de velocidade, imprudência (falta de cuidado) e

imperícia (falta de habilidade).

II. TOMBAMENTO

Acidente no qual um veículo em movimento

declina sobre um dos seus lados, imobilizando-se.

Pode ocorrer por má distribuição da carga no interior

do veículo; carga com excesso de altura, velocidade

acima da permitida, não obediência à sinalização e

pneus com más condições de uso.

III. CAPOTAMENTO

Acidente em que o veículo em movimento

gira em torno do seu eixo longitudinal, chegando a

tocar com o teto no solo, imobilizando-se em qualquer

posição. Suas causas principais são o desrespeito à

sinalização, tráfego nas curvas em velocidade

superior à estabelecida, desatenção e imperícia.

IV. ATROPELAMENTO

Acidente em que um veículo em movimento

vai de encontro a uma ou mais pessoas ou a um ou

mais animais, causando lesões leves ou graves.

Esse tipo de acidente é um dos mais

preocupantes no trânsito e o seu risco de morte é

Fig.15.12 Exemplo de capotamento.

Fig.15.11 Exemplo de tombamento

Fig.15.10 Exemplo de colisão com objeto fixo.

Fig.15.9 Exemplo de colisão transversal

LATE-UFRJ|2015

152

maior entre os idosos acima de 60 anos e entre as

crianças.

Os atropelamentos são responsáveis por 36%

das mortes nas estradas brasileiras. O pedestre só

tem chance de sobreviver se o veículo estiver no

máximo a 30 km/h. Caso o motorista esteja a 40

km/h, a chance de óbito vai para 15%, a 60 km/h,

70% e a 80 km/h, provavelmente o pedestre não terá

qualquer chance de sobrevivência.

As lesões produzidas por atropelamentos

tendem a ser mais graves, pois o pedestre não possui

proteção (no caso do ocupante do veículo, a

carroceria do automóvel se deforma e absorve parte

da energia cinética da colisão). Normalmente as

vítimas sofrem lesões internas importantes, porque a

massa do veículo é tão grande que ocorre

transferência de grande quantidade de energia,

mesmo com baixas velocidades.

Os danos tendem a ocorrer em três estágios:

impacto inicial do automóvel contra o corpo da vítima,

impacto secundário do corpo contra o veículo ao rolar

sobre este e impacto final contra o solo. Após o

impacto inicial, em que são produzidas lesões

importantes principalmente em membros inferiores e

cintura pélvica, a vítima pode ser lançada sobre o

veículo (impacto secundário), sofrendo danos na

cabeça, no tórax, no abdome, dependendo da

posição em que se encontrava no momento do

impacto. O estágio final é a queda da vítima sobre o

solo, quando os traumatismos da cabeça, coluna

cervical e membros superiores são frequentes.

Anexo 15.2: Epidemiologia do atropelamento

“No estudo, que analisou 1.248 vítimas de acidentes de

trânsito nas seis capitais selecionadas, contemplando as

cinco Regiões do País, o atropelamento apresentou a

segunda maior frequência entre os acidentes registrados

em Manaus, Brasília e São Paulo; enquanto no Recife e

em Curitiba, a queda foi à segunda forma de acidente

mais frequente. Nas faixas etárias mais extremas, o

atropelamento foi o acidente mais frequente, atingindo

cerca de 52% das vítimas com 60 e mais anos e 47%

das vítimas com idade até 9 anos.” (Portal da Saúde,

2011).

ATENDIMENTO PRIMÁRIO

Lembre-se que a omissão de socorro, além

de ser uma irresponsabilidade, é crime previsto no

Código de Trânsito Brasileiro em seu artigo 304.

Diante de um acidente de trânsito, de acordo

com a gravidade, número de socorristas e vítimas,

você pode estar diante de um “Acidente com Múltiplas

Vítimas”, dessa forma, os cuidados a serem adotados

serão outros (como será explicitado no capítulo 15),

Fig. 15.13 Distribuição dos óbitos por categoria de

acidentes de transportes terrestres no Estado do Rio

de Janeiro (números preliminares para o ano de

2010). Fonte: DATASUS

LATE-UFRJ|2015

153

no entanto, algumas condutas simples podem ser

adotadas em eventos de menor gravidade:

1. Garanta a segurança da cena, para isso realize o

balizamento (sinalização, visando isolar a área na

qual se encontram as vítimas), certifique-se que

não há perigos adicionais e afaste os curiosos, e

lembre-se de parar seu carro em local seguro;

2. Cheque a responsividade da vítima, deve-se

considerar em parada cardíaca uma vítima

inconsciente que não esteja respirando, ou que

não o faça normalmente, ou seja, respira com

muita dificuldade ou respira ofegantemente, com

irregularidade e ruído.

3. Acione o Serviço Médico de Emergência

(seguintes números 192 ou 193), consciente da

cinemática do evento para possíveis informações

adicionais (por exemplo, número de vítimas);

4. Caso possua os conhecimentos básicos de

atendimento e confiança em si mesmo, auxilie as

vítimas, não se esquecendo de garantir a sua

bioproteção por meio da utilização de seu

equipamento de proteção individual;

5. Acalme as vítimas, realize uma avaliação inicial

identificando lesões que possam comprometer a

vida das mesmas e, concomitantemente,

estabeleça condutas para a estabilização dos

sinais vitais. Este processo constitui o BLS,

seguindo os novos guidelines da American Heart

Association, com considerações especiais em

relação à coluna vertebral, já que pode haver

fratura com lesão da medula espinhal. O

socorrista deve garantir a imobilização da coluna

cervical e, sempre que possível, não mobilizar a

vítima, sob risco de agravar suas lesões.

6. A seguir à sequência da vida (C.A.B.), faça

perguntas corriqueiras (ex. que dia é hoje?) ou dê

uma ordem simples, para avaliar superficialmente

as condições neurológicas da vítima, como o

nível de consciência e a orientação no tempo e

espaço. Enfim, faça a exposição da vítima,

afrouxando ou mesmo cortando suas roupas, à

procura de ferimentos ou hemorragias;

7. Não permita a ingestão de líquidos ou água pela

vítima, nem que ela fume. Caso ela esteja

consciente, pergunte-a sobre dores e outras

queixas.

8. Caso estejam presentes sinais de

envenenamento (ex. inalação de gases tóxicos),

queimaduras, feridas, hemorragias, convulsões,

desmaios ou fraturas, siga a conduta indicada nos

capítulos anteriores dessa apostila.

Quadro 15.4 RESGATE E TRANSPORTE

O conhecimento de várias técnicas de resgate

incluindo suas indicações e contraindicações é muito

importante para a prática do atendimento. O uso da

técnica incorreta pela equipe de resgate é arriscado para

a vítima, que pode desenvolver o segundo trauma, e

para o próprio socorrista que pode desenvolver lesões

musculares ou de coluna vertebral. A escolha da

estratégia de transporte depende da situação, riscos no

local, número de socorristas e estabilidade do paciente.

A extricação é um conjunto de manobras que

tem por objetivo retirar o indivíduo de um local onde ele

não pode ou não deve sair por seus próprios meios. Este

é um conceito mais abrangente do que o

desencarceramento, que é retirar uma pessoa presa por

obstáculos físicos.

Todavia, todas essas técnicas dependem de um

determinado treinamento e experiência, sendo assim,

não devem ser realizadas por qualquer pessoa. O

melhor a se fazer é aguardar o socorro especializado.

No caso de incêndio, risco de explosão ou de

outro acidente, afogamento ou queda, utilize o seu bom

senso, pensando sempre na sua própria segurança

ANTES DE TUDO!

LATE-UFRJ|2015

154

ATENÇÃO! O tratamento não é a finalidade dos

primeiros socorros. Isto deve ser indicado e

executado por profissionais habilitados, em locais

adequados. Desta forma, após realizar o primeiro

atendimento, solicite ou encaminhe a vítima para

avaliação médica.

PREVENÇÃO

Como indicado inicialmente neste capítulo,

acidentes automobilísticos são, em grande parte,

preveníveis e evitáveis. Portanto, uma série de

medidas pode ser adotada tanto pelo poder público

quanto pelos indivíduos, sejam eles condutores de

veículos ou pedestres, no sentido de garantir o

respeito à vida.

Nunca dirija alcoolizado, porém se realizá-lo,

reconheça que seu "tempo de reação" ficará

alterado, portanto procure dirigir em velocidades

muito mais baixas do usual na via que estiver

trafegando;

Não utilize drogas antes e nem durante a

condução de veículos;

Reduza a velocidade quando seu estado

emocional estiver comprometido ou evite dirigir;

Respeite a distância de segurança em relação

aos outros veículos, principalmente em situações

adversas, como tempo chuvoso;

Respeite e procure entender a razão da

sinalização de trânsito, tanto como pedestre

quanto como condutor do veículo;

Evite colocar - se em uma condição causadora de

acidente, dirija para si mesmo e pelos demais

condutores, praticando a direção defensiva

(conjunto de medidas e procedimentos utilizados

para prevenir ou minimizar as consequências dos

acidentes de trânsito);

Utilize as vias adequadas de tráfego (calçadas,

pista preferencial);

Utilize sempre e adequadamente os dispositivos

de segurança como o cinto de segurança (tanto

nos assentos anteriores quanto nos posteriores

do veículo) e capacetes;

Mantenha o seu veículo sempre em condições

adequadas de trânsito realizando periodicamente

revisões;

As vias devem ser corretamente conservadas

pelo poder público ou iniciativa privada,

garantindo a qualidade do asfalto, iluminação e

sinalização corretas;

Incentivo a políticas educacionais de tráfego, que

sejam capazes de atingir as diversas faixas

etárias.

Fig. 15.14 e Fig. 15.15 Realização de Manobra de

extricação e Tesoura de extricação.

LATE-UFRJ|2015

155

DISPOSITIVOS DE SEGURANÇA

Cinto de Segurança

Com o cinto de segurança, o ocupante tem

maior chance de sobreviver, pois são protegidos de

grande parte do impacto no interior do carro e são

impedidos de ser ejetados do mesmo; porém, ainda

estão suscetíveis a certas lesões.

Existem dois tipos de cinto: o abdominal e

aquele com fixação em três pontos ou cruzado. O

cinto abdominal não é seguro para crianças e

gestantes.

O cinto de três pontos oferece maior proteção

porque a força do impacto é distribuída e absorvida

por ele em toda área de contato com o corpo,

trabalhando com a estrutura esquelética humana

adulta. Para usá-lo corretamente devemos sentar

com a coluna ereta fazendo um ângulo de noventa

graus com as pernas, daí o cinto diagonal passa pelo

meio do ombro e se estende pela coluna vertebral até

o engate nos quadris e o cinto sub-abdominal ou

pélvico deve ser colocado na articulação dos quadris

e não na barriga.

Seja qual for o modelo, não pode ser usado

torcido, embaixo do ombro, desgastado pelo sol, as

fibras das cintas se desprendendo, amarrado,

costurado, sistema de engate-desengate e

estiramento defeituoso, modificado ou não instalado

por profissionais com conhecimento específico, banco

reclinado, postura torácica inadequada, isto anula o

sistema de segurança. Nestes casos se acontecer

acidentes, não foi o cinto o causador das lesões e

mortes, já que assim ele não era mais dispositivo de

segurança.

Não obstante, a cabeça continua não sendo

contida, sendo assim, o pescoço é ainda submetido a

estresses que podem causar fraturas, luxações ou

lesões de medula espinhal. O cinto deve ser usado

inclusive nos bancos traseiros do veículo.

AIRBAGS

Os air bags, caso funcionem corretamente,

amortecem o impacto da cabeça e do tórax no

momento do acidente, sendo muito eficientes em

reduzir as lesões de face, pescoço e tronco.

Fig.15.16 O cinto de segurança fixa o indivíduo ao carro

diminuindo as lesões.

Fig. 15.15 Posições corretas para utilização dos

dispositivos de segurança: em adultos, gestantes e

bebês.

LATE-UFRJ|2015

156

CADEIRA DE SEGURANÇA PARA CRIANÇAS

O cinto de segurança é desenvolvido para o

adulto, com no mínimo 1,45m de altura, portanto não

são dispositivos de segurança para as crianças, daí a

existência das cadeiras de segurança cujo objetivo é

mantê-las seguramente fixas no banco do veículo, e

reduzir a incidência e gravidade que a força do

impacto gera no corpo humano em colisões, freadas

bruscas e violentas, capotamentos, etc.

Bebê-conforto: Desde o nascimento até 13 quilos

ou 1 ano de idade, constituem a forma adequada

à anatomia dos pequenos, mantendo-os na

posição semiereta, impedindo fraturas de coluna

e crânio por possuírem anteparos de proteção

para a cabeça e pescoço, para que os bebês

permaneçam confortavelmente seguros e fixos

nas freadas, turbulências provocadas por buracos

ou outras irregularidades na pista e é claro, nos

acidentes. Deve ser fixado no centro do banco

traseiro, ou no lado direito do passageiro

preferencialmente no cinto de três pontos, de

costas para o movimento.

Cadeira de segurança: Entre 1 e 4 anos de idade,

(mais ou menos entre treze e dezoito quilos)

devem estar fixos pelo cinto de segurança do

banco traseiro e de frente para o painel, protegem

a cabeça e o tronco, podem possuir fitas de

contenção de cinco pontos ou anteparos em

forma de T ou de concha. Não é seguro para

crianças com menos de um ano de idade.

Assento de elevação ou booster: Para crianças

entre 4 e 7 anos e meio, são utilizados quando a

criança ultrapassa os limites de tamanho para a

utilização dos assentos de segurança, mas ainda

não possuem altura para utilizarem a cinta do

ombro do cinto de três pontos do veículo. Quando

o veículo possuir cinto de três pontos no banco de

trás, dar preferência para este modelo.

É importante ressaltar que bebês e crianças

jamais devem ser transportados no colo. Além de ser

projetada para frente numa colisão, sofrerá

esmagamento pelo peso do corpo do adulto, pois, no

momento do acidente, a força com que a criança e o

adulto são projetados é muito grande, impossível para

uma pessoa segurá-la.

É muito perigoso também levar crianças no

bagageiro interno, esse compartimento é projetado

visando absorver choques decorrentes da força do

impacto, que deforma facilmente a parte de trás da

Fig.15.18 Formas de transporte de acordo com a idade.

Fig.15.17 Motorista sem a utilização do airbags e com a

utilização do airbags.

LATE-UFRJ|2015

157

carroceria, não oferecendo proteção alguma para

quem estiver lá, além do que, podem ser projetadas

para fora do veículo durante o acidente.

Quadro 16.5 LAZER vs. PERIGO

Outra importante causa de acidentes no trânsito

trata-se uma simples brincadeira de criança, mas capaz

de trazer trágicos resultados: a pipa. Muitos garotos

utilizam-se da mistura de cola e vidro moído, o conhecido

“Cerol”, para tornar essa forma de lazer mais

interessante, todavia, por descaso ou desconhecimento,

muitos condutores de veículos, essencialmente,

motociclistas, são feridos nessa situação.

Atualmente, a chamada “linha chilena” agravou

os acidentes, pois o óxido de alumínio contido nessa

mistura aumentando o poder de corte da linha em quatro

vezes. Desse modo, é importante como forma de

prevenção, também conscientizar esses jovens quanto

ao perigo que eles podem estar impondo aos outros,

assim como incentivar a utilização de “antenas contra

linhas de pipa” pelos motociclistas.

DIREÇÃO DEFENSIVA

A direção defensiva é a técnica indispensável para o

aperfeiçoamento do motorista que trata de forma

correta o uso do veículo na maneira de dirigir,

reduzindo a possibilidade de envolvimento nos

acidentes de trânsito; ou seja: é uma atitude de

segurança e prevenção dos acidentes.

O desenvolvimento de alguns requisitos na

condução do veículo possibilitará ao motorista a

prevenção de acidentes.

Conhecimento: É preciso conhecer as leis e normas

que regem o trânsito. Este conhecimento é repassado

através do Código de Trânsito Brasileiro e do

aprendizado na prática.

Atenção: Deve ser direcionada a todos os elementos

da via e também às condições físicas e mentais do

condutor, aos cuidados e à manutenção do veículo,

tempo de deslocamento e conhecimento prévio do

percurso, entre outros.

Previsão: É a antecipação de uma situação de risco

e podem ser desenvolvidas e treinadas no uso do seu

veículo.

Decisão: Dependerá da situação que se apresenta e

do seu conhecimento das possibilidades do veículo,

das leis e normas relacionadas ao trânsito, do tempo

e do espaço que você dispõe para tomar uma atitude

correta. É ser ágil nas suas ações, mas não

esquecendo o bom senso e sua experiência.

Fig.15.20 Moto com antena contra linhas de pipa.

Fig. 15.19 Lesão extensa em pescoço causada por linha

de pipa com cerol.

LATE-UFRJ|2015

158

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LATE-UFRJ|2015

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LATE-UFRJ|2015

160

INTRODUÇÃO

À medida que a sociedade humana

moderniza-se, um número cada vez maior de

pessoas passa a aglomerar-se nos grandes centros

urbanos, além de haver um aumento progressivo na

formulação e utilização de novas tecnologias

possibilitando maior comodidade e praticidade ao

cotidiano.

Por outro lado, tal modernização é

proporcionalmente acompanhada pelo agravamento

das condições sócio-ambientais, o que expõem cada

vez mais populações a situações de risco, nas quais

determinados cenários podem produzir um grande

número de vítimas. Isto é evidenciado diante do que

se presencia diariamente nos noticiários os quais

divulgam um aumento avassalador das tragédias

capazes de gerar um sofrimento imenso das famílias

e da sociedade em geral, o que é exemplificado com

os eventos ocorridos no Haiti (2010), Região Serrana

do Rio de Janeiro (2011) e o incêndio da boate em

Santa Maria- RS (2013).

Portanto, o conhecimento da abordagem de

situações que envolvam não somente o cuidado

individual assim como o coletivo, assume um

importante papel, na medida em que o atendimento

adequado depende tanto da atuação de profissionais

da saúde, quanto do auxílio de pessoas devidamente

treinadas capazes de desempenhar a assistência

primária e secundária. Todavia, vale ressaltar que,

indubitavelmente, a prevenção deve ser o objetivo

principal tanto dos serviços públicos quanto dos

cidadãos como um todo, na abordagem desse e

outros temas.

CONCEITOS

ACIDENTE COM MÚLTIPLAS VÍTIMAS

De acordo com a Defesa Civil, “os acidentes

com múltiplas vítimas são aqueles que apresentam

desequilíbrio entre os recursos disponíveis e as

necessidades, e que, apesar disso, podem ser

atendidos com eficiência desde que se adote a

doutrina operacional protocolada.”

Pode ser também definido como evento

complexo que requer comando e controle agressivo e

coerente, de maneira a fornecer os melhores

Fig. 16.1 Desastre na região serrana do RJ

LATE-UFRJ|2015

161

cuidados às vítimas sob condições caóticas. Como

parâmetro de magnitude, consideramos acidente com

múltiplas vítimas aqueles eventos súbitos com mais

de 5 (cinco) vítimas graves.

DESASTRE

O conceito de desastre compreende um

acontecimento calamitoso, resultado de eventos

adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre

um ecossistema (vulnerável aos efeitos do evento),

ocasionando grandes danos (humanos, materiais

e/ou ambientais) e, consequentemente, prejuízos

econômicos e sociais. Segundo a Organização

Mundial de Saúde (OMS), relaciona-se a um

fenômeno de causa tecnológica de magnitude

suficiente para necessitar de ajuda externa.

Características do desastre:

Insuficiência de recursos humanos e

materiais;

Escassez de meios de transporte de vítimas;

Meios de comunicação inadequados;

Inexistência ou não respeito a cadeia de

comando;

Interferências externas;

Descoordenação entre os Órgãos de

atuação;

Inexistência de Doutrina de Desastres.

Os desastres podem ser de evolução aguda

(súbito), como em uma enxurrada, explosões ou

acidente aeronáutico; evolução crônica (gradual),

como em uma seca, enchente cíclica ou erosão; ou

por somação de efeitos parciais, como desastres

rodoviários ou pandemia de AIDS.

Outra classificação dos desastres é quanto à

tipologia:

Natural: Inundações, deslizamentos, ciclones

Humana: Acidentes de tráfego, colapsos

estruturais, explosões, incêndios, produtos

perigosos.

Mista: ações ou omissões humanas, que

contribuem para intensificar, complicar ou

agravar os desastres naturais.

O atendimento a acidentes com múltiplas

vítimas é um desafio, no qual os serviços de

atendimentos pré-hospitalares e os hospitais se

deparam com freqüência. Diante dessas situações

ocorre uma incapacidade dos serviços de lidarem

com esse problema, havendo, desta forma,

necessidade de se estar preparado e treinado para

atender esses acidentes.

Em um desastre, o conceito do melhor

esforço, ou seja, o melhor atendimento para a vítima

mais grave deve dar lugar ao conceito de o melhor

atendimento para o maior número possível de

vítimas, no momento que elas mais precisam e no

menor tempo possível.

ATENDIMENTO BÁSICO

Diante de um cenário contendo múltiplas

vítimas, como apontado anteriormente, o auxílio de

diversas pessoas é requerido e importante. Porém,

para tal é necessário o prévio desenvolvimento de

uma série de habilidades, dentre as quais se

destacam o conhecimento técnico e o preparo

emocional e físico, todos podendo ser desenvolvidos

no processo de treinamento intensivo e reciclagem

periódica. Essa é a base da formação dos socorristas

e de toda a equipe pré-hospitalar.

Contudo, mesmo não sendo um profissional

especializado da equipe de atendimento de

emergência ou mesmo da área de saúde, qualquer

cidadão pode contribuir muito para o atendimento e

socorro das vítimas de outras formas.

LATE-UFRJ|2015

162

ACIONAMENTO DO SISTEMA DE EMERGÊNCIA

A forma mais imediata de contribuição e que

pode ser realizada por qualquer testemunha da cena

é o acionamento do sistema de emergência local:

ligar para o número 192 (SAMU – Sistema de

Atendimento Móvel de Urgência) ou 193 (Corpo de

Bombeiros Militar). Para que tal comunicação seja

eficaz e contribua para o atendimento, informações

precisas devem ser fornecidas à respectiva

autoridade, com tranquilidade e segurança, tais como:

Quem está ligando?

O que ocorreu?

Quantas vítimas?

Endereço?

Pontos de referência?

A ligação só deve ser finalizada quando for

orientado pelo atendente.

AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA DA CENA

Compreende umas das etapas essenciais a

qualquer tipo de atendimento, objetivando a garantia

de segurança tanto para o socorrista quanto para sua

equipe, pessoas que rodeiam a vítima e para esta

mesma. Sendo assim, toda equipe ou pessoa que

escolhe ajudar o outro, somente deverá fazê-lo

quando o cenário/local de atuação estiver seguro.

São vários os fatores responsáveis por tornar

o local inseguro, como:

Características do próprio evento:

desabamentos, incêndios, conflitos armados,

existência de produtos perigosos, etc;

Características ambientais e locais: chuva,

vento, neblina, excesso de frio ou calor,

luminosidade local, desenho de ruas e estradas,

existência de fluxo de pessoas ao redor, tráfego

de veículos, e outros.

Tal destaque na avaliação da cena dá-se por

óbvios motivos: em um local inseguro, um socorrista

ou a equipe de saúde tornam-se potenciais vítimas,

independentemente de suas nobres intenções, dessa

forma, há grandes chances do cenário vitimizar um

número maior de pessoas além de reduzir as

possibilidades de socorro.

Lembre-se sempre que a cena é dinâmica.

Assim, a segurança da cena deve ser periodicamente

verificada.

BIOPROTEÇÃO

Toda e qualquer pessoa que deseje prestar

auxílio, deve inicialmente garantir a sua bioproteção a

partir de determinadas ações e utilização de

equipamentos de proteção individual (EPI´s).

Podemos destacar alguns dos itens básicos

de proteção, os quais são de fácil acesso e transporte

pelo cidadão comum: luvas, óculos de proteção e

máscaras.

Quadro 16.1 CUIDADO ADICIONAL

Não se esqueça da higiene das mãos. Lavá-las é o

princípio fundamental no controle de infecções. Portanto,

após a retirada das luvas, deve-se higienizá-las com sabão

e água corrente, ou por meio de antissépticos a base de

álcool.

Fig. 16.2 Atendimento inicial

LATE-UFRJ|2015

163

Há três princípios básicos no atendimento

dessas situações são fundamentais: triagem,

tratamento e transporte.

Para que estes três princípios básicos sejam

plenamente atendidos é necessário que haja

comando, comunicação e controle, que são pontos

capitais, indispensáveis para o sucesso do

atendimento.

É preciso que haja um comandante da área

no local, junto a um Posto de Comando, identificável

por todos e que todos obedeçam a suas ordens e

orientações; um coordenador médico para chefiar as

atividades médicas locais e um coordenador

operacional para as atividades de salvamento, todos

trabalhando conjuntamente.

É necessário que haja comunicação entre as

equipes de atendimento, bem como comunicação

com a central de operações. Tal comunicação não

deve interferir na rede de comunicações da unidade,

para evitar congestionamento.

Congelar a área mediante o controle total do

local do acidente é o primeiro objetivo do comandante

da área. Este objetivo visa limitar a extensão do

acidente, organizar ações e medidas efetivas de

segurança proteção e atendimento pré-hospitalar a

todas as vítimas envolvidas, no menor tempo

possível.

A função de comando tem por objetivo evitar

três grandes transtornos:

● Ocorrência de novos acidentes;

● Tratamento e transporte inadequado das

vítimas aos hospitais;

● Que o caos local seja transferido ao hospital

mais próximo.

TRIAGEM

Palavra de origem francesa significa “pegar,

selecionar ou escolher”

A doutrina do atendimento a acidentes com

múltiplas vítimas (AMUV), diante do desequilíbrio

momentâneo dos recursos disponíveis em relação ao

grande número de vítimas, preconiza: empregar todos

os esforços para o maior número de vítimas.

Assim sendo, no atendimento a múltiplas

vítimas, triagem significa atendê-las, classificando-as

em graus de prioridades para que resulte no

salvamento do maior número de vítimas, empregando

o critério do melhor atendimento para o maior número

de vítimas.

A triagem consiste numa avaliação rápida das

condições clinicas das vítimas para estabelecer

prioridades de tratamento médico. É uma tática que

determina prioridades de ação que, quando bem

utilizada, determina sucesso na diminuição da

mortalidade e morbidade das vítimas de acidentes

coletivos.

Cabe à primeira guarnição que chega no local

do acidente, procurar congelar a área e iniciar a triagem

Fig. 16.3 Esquema área de atendimento a AMUV

LATE-UFRJ|2015

164

preliminar, enquanto solicita apoio, visando salvar o

maior número de vítimas de óbito iminente. A triagem é

dinâmica e repetida, pois as vítimas podem evoluir para

melhor ou pior estado de saúde. A triagem consiste de

ações simples e rápidas, gastando no máximo de 60 a

90 segundos por vítima.

Durante todos estes procedimentos dentro do

teatro de operação (TO) pode haver confusão devido à

rapidez com que tudo tem que ser feito juntamente com

a quantidade de pessoal envolvido, vitimas e voluntários.

Se não houver uma estrutura de identificação haverá um

caos geral e muitas pessoas vão ficar no local sem saber

o que fazer, pra onde levar as vítimas, com quem falar

ou até mesmo quem obedecer.

As equipes e os locais são imediatamente

identificados por cores, sendo por bandeiras e coletes

específicos.

A sequência de cores são as seguintes:

AZUL: Coordenação Médica (posto de comando)

LARANJA: Triagem (pessoal na zona quente)

AMARELO: Tratamento Enfermagem e

Socorristas (área de tratamento)

VERMELHO: Tratamento Médico (área de

tratamento)

VERDE: Transporte (pessoal responsável em

conduzir até as ambulâncias)

CINZA: Morgue (pessoal responsável em

movimentar e identificar os mortos)

Já em relação a área do desastre, ela deve

ser dividida em zonas de segurança para permitir o

trabalho das equipes de salvamento.

A zona quente é aquela que ainda oferece

riscos, imediatos ou potenciais, contendo a zona

central do TO.

A zona morna é aquela intermediária entre a

quente e a fria. A delimitação destas áreas varia com

o tipo de evento, riscos envolvidos e deve ser

estabelecida por profissionais do Corpo de Bombeiros

ou da Defesa Civil.

A zona fria é segura, não oferecendo riscos; a

área de tratamento e a de transporte normalmente

são montadas nesse local.

Todo o processo de triagem é dinâmico e

deve ser feito em todas as etapas do atendimento,

devendo-se ter em mente que as vítimas podem

passar de um nível de gravidade para outro

rapidamente, mudando a sua prioridade no

tratamento.

Para agilizar tanto o próprio atendimento

quanto facilitar a memorização e implementação,

diversos algoritmos foram criados para a realização

da triagem. Sendo que um dos mais utilizados pelos

sistemas de emergência como um todo corresponde

ao método S.T.A.R.T. (Simple Triage And Rapid

Treatment - Triagem Simples e Tratamento Rápido), o

qual permite que os primeiros a chegarem na cena Fig 16.4 Coletes de identificação

Fig. 16.5 Zonas da área de desastre.

LATE-UFRJ|2015

165

(“first responders”), independente de serem

socorristas ou cidadãos, identifiquem os pacientes

mais graves indicando a sua prioridade de

atendimento e tratamento.

Além desse, há o método CRAMP

(Circulação, Respiração, Abdome, Motilidade e

Palavra), realizado apenas por profissionais da

saúde, devido à sua complexidade.

SIMPLE TRIAGE AND RAPID TREATMENT

( S.T.A.R.T.)

O sistema S.T.A.R.T. foi desenvolvido para

permitir que os socorristas triem múltiplas vítimas em

30 segundos ou menos, reconhecendo as prioridades

de atendimento, baseando-se em três observações

primárias: Respiração, Circulação e Nível de

consciência das vítimas.

Tal avaliação pode ser, portanto indicada ou

transmitida a partir da utilização de um código

formado por quatro cores, cada uma determinando

um grau de prioridade à vítima. Normalmente

utilizam-se cartões, que podem ser fixados nas

pessoas injuriadas, para permitir a identificação pelos

serviços de emergência, todavia na ausência desse

material, qualquer medida de improviso, como fitas

coloridas, que permita classificação por cores é

válida.

CARTÃO VERMELHO - PRIORIDADE 1 / IMEDIATA

São classificadas como vítimas vermelhas

aquelas que apresentam risco imediato de vida,

apresentando respiração somente após manobras de

abertura de vias aéreas ou frequência respiratória

igual ou maior que 30 movimentos respiratórios por

minuto, ou frequência respiratória normal, mas com

tempo de enchimento capilar maior que 2 segundos.

Elas necessitam de algum tratamento médico

no local do acidente e/ou precisam ser transportadas

rapidamente ao hospital para cirurgia.

Observa-se em pacientes desse nível,

situações como: choque; amputações; hemorragia

severa; lesões arteriais; lesões por inalação; lesão de

face e olhos; lesões intra-abdominais; lesões

extensas de partes moles; insuficiência respiratória;

pneumotórax hipertensivo; queimaduras em face;

queimaduras de 2º grau maior que 20% a 40% ou de

3º grau maior que 10% a 30%.

CARTÃO AMARELO - PRIORIDADE 2 /

SECUNDÁRIA

Vítimas classificadas como amarelas não

apresentam risco de vida imediato, mas necessitam

Fig. 16.6 Socorrista determinando a prioridade de atendimento

da vítima utilizando o cartão de triagem como identificação.

a)

Fig. 16.7 Na ausência do cartão, outras formas de improviso

podem ser adotadas, como a fixação de uma fita com a cor

correspondente à prioridade da vítima.

LATE-UFRJ|2015

166

de algum tipo de tratamento no local enquanto

aguardam transporte ao hospital.

São vítimas sem indicativo de que podem

morrer nos próximos minutos caso não sejam

socorridas. Além da exclusão dos critérios usados

para a prioridade 1, as vítimas devem ser capazes de

executar ações simples, que foram orientadas pelo

socorrista, como por exemplo levantar o braço direito.

Se a vítima só conseguir deambular com o auxilio de

um ou mais socorristas, ela também se adequará a

esta classificação.

São situações observadas nos pacientes

desse nível: fraturas; TCE leve, moderado;

queimaduras menores; traumatismos abdominais e

torácicos; ferimentos com sangramento que

necessitam suturas.

CARTÃO VERDE - PRIORIDADE 3 / TARDIA

Vítimas com capacidade para andar sozinhas

são classificadas como verdes. Elas não necessitam

de tratamento médico ou transporte imediato,

possuem lesões sem risco de vida. Apesar disso, não

podem ser consideradas isentas de lesão, apenas

não prioritárias naquele momento.

Situações observadas nos pacientes desse

nível: contusões; hematomas; escoriações; pequenos

ferimentos.

CARTÃO CINZA OU PRETO - PRIORIDADE ZERO /

ÚLTIMA

Vítimas em óbito ou que não tenham chance

de sobreviver. Elas não respiram, mesmo após

manobras simples de abertura da via aérea. Se

houver socorristas suficientes para o atendimento de

todas as vítimas, todo o esforço deve ser tentado,

exceto para as vítimas com morte óbvia.

Situações observadas nos pacientes desse

nível: em óbito; múltiplos traumas graves;

queimaduras de 2º e 3º graus extensas.

AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS

Para a classificação das vítimas segundo sua

prioridade de atendimento, alguns parâmetros devem

ser observados na sequência apresentada a seguir.

I. RESPIRAÇÃO

Deve ser avaliada a partir de sua frequência e

qualidade.

Caso a vítima não respire, de início deve-se

excluir a possibilidade de obstrução das vias aéreas

por meio da presença de corpos estranhos. Fazem-

se, então, as manobras de abertura das mesmas por

meio da elevação do mento ou tração da mandíbula,

em caso de suspeita de lesão cervical.

Se após a manobra a vítima voltar a respirar,

ela recebe a classificação de vítima VERMELHA,

devendo, se possível, manter as vias aéreas pérvias.

Porém, se posteriormente a realização da manobra a

pessoa não respirar, a mesma será classificada como

vítima CINZA ou PRETA, não se devendo iniciar a

respiração artificial. Fig 16.8 Cartão de triagem

LATE-UFRJ|2015

167

Há outra situação, em que a vítima é

encontrada respirando, nessa circunstância deve-se

avaliar a freqüência: dentro de 30 irpm (eupneica),

não se classifica a vítima nesse momento, mas acima

desse valor (taquipneica), temos uma vítima

VERMELHA.

Além disso, mesmo constatando-se que a

vítima respira a respiração muito dificultosa também

representa um sinal de gravidade, portanto de

priorização. Outra forma de avaliação é a própria

observação da capacidade de falar e gritar de uma

vítima, pois denota que as suas vias aéreas estão

pérveas.

II. CIRCULAÇÃO

O enchimento capilar é o melhor método para

avaliar a perfusão: pressiona-se o leito ungueal ou os

lábios, soltando-os em seguida e observa-se o

retorno da coloração normal.

Se o resultado de tal manobra demorar

menos que dois segundos, a vítima não é classificada

até a avaliação do nível de consciência, mas acima

desse valor, pode-se considerá-la com prioridade

VERMELHA.

Outra manobra que pode ser utilizada é a

detecção do pulso radial: se ausente, a vítima é

classificada como VERMELHA; se presente, também

se deve avaliar o nível de consciência. Nesse

momento, qualquer hemorragia grave deve ser detida

e o choque evitado.

III. NÍVEL DE CONSCIÊNCIA

O socorrista solicita comandos simples como:

“Feche os olhos”, “Aperte minha mão”, “Ponha a

língua para fora”. Se a vítima não obedece aos

comandos sua prioridade é VERMELHA, caso

contrário, é classificada como AMARELA.

O cartão VERDE é usado para os pacientes que

estejam andando ou que não se enquadrem em

nenhuma das situações acima;

Toda vítima inconsciente que respire (com ou

sem manobra de abertura de vias aéreas) é

classificada como VERMELHA;

Além da gravidade, deve-se pensar também

em alguns outros aspectos durante o atendimento.

Inicialmente faz-se uma avaliação para dimensionar

os recursos necessários, devendo também ser feita a

triagem das áreas a serem priorizadas (lembre-se que

a segurança do socorrista vem em primeiro lugar).

As vítimas classificadas com as cores

VERMELHA e AMARELA necessitam de auxílio para

se movimentar. Nesse caso, se a região do acidente

for instável, a remoção direta deve ser feita pela

atividade operacional.

Após realização de triagem das vítimas, há o

transporte para os locais das lonas das respectivas

cores que as vítimas foram classificadas, sendo que

as vítimas com prioridade VERDE deambulam até o

local, sem auxílio para o transporte, contudo são as

que precisam do auxílio da equipe para o apoio

psicológico e para contensão naquele local, para não

atrapalharem o trabalho da equipe no atendimento

das outras vítimas.

As vítimas após estarem na lona, não devem

ser abandonadas no local, sempre deve haver um

membro da equipe reavaliando as vítimas, pois seu

quadro pode modificar, mudando o estado de

prioridade, ou seja, a vítima pode ser classificada

como AMARELA e evoluir para prioridade

VERMELHA.

À medida que a ajuda especializada chega à

cena do acidente, é possível recategorizar as vítimas

para continuar com a avaliação, o transporte e o

tratamento.

O transporte deve ser feito de maneira

organizada, a fim de que as vítimas saiam da cena no

veículo mais adequado às suas necessidades, rumo

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168

ao serviço de saúde definido pela central de

regulação. As vítimas de cor VERMELHA e

AMARELA devem ter prioridade no transporte para

unidades hospitalares.

Fig. 16.9 Fluxograma S.T.A.R.T.

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169

CIRCULAÇÃO, RESPIRAÇÃO, ABDOME,

MOTILIDADE e PALAVRA (CRAMP)

Felizmente, existem acidentes em que apesar

de o número de vítimas ser elevado, ele não

ultrapassa a capacidade de recursos do serviço de

emergência. Nesse caso, a triagem não é necessária

e o atendimento inicial dos pacientes baseia-se no

ABCDE. Nesse caso, o atendimento prioriza o

paciente mais grave.

O exame clínco é realizado em cinco

estágios, e ao final de cada um é atribuída uma

pontuação de acordo com o seguinte critério:

Exame normal: 2 pontos;

Exame anormal: 1 ponto;

Exame grave: zero ponto.

A partir da pontuação, é definida a prioridade

das vítimas:

Prioridade 1 (escore entre 2 e 6):

caracteriza pacientes críticos recuperáveis;

exigência de atendimento imediato; cor

vermelha.

Prioridade 2 (escore entre 7 e 8):

caracteriza pacientes graves; o atendimento

de pacientes graves pode aguardar até que

os pacientes críticos sejam atendidos; cor

amarela.

Prioridade 3 (escore entre 0 e 1):

caracteriza pacientes críticos irrecuperáveis;

o atendimento de pacientes terminais pode

aguardar até que os pacientes graves sejam

atendidos; cor preta.

Prioridade 4 (escore entre 9 e 10):

caracteriza pacientes leves; o atendimento de

pacientes leves pode aguardar até que todos

os demais sejam atendidos; cor verde para a

borda inferior da ficha de evacuação.

Quadro 16.2 UTILIZAÇÃO DOS MÉTODOS DE TRIAGEM

O método S.T.A.R.T. é utilizado geralmente na triagem

inicial, na zona quente, enquanto que os métodos

C.R.A.M.P. e A.B.C.D.E. são mais utilizados no posto

médico e no meio intra-hospitalar.

PREVENÇÃO

Torna-se evidente que a meta prioritária a ser

garantida trata-se da prevenção de acidentes que

gerem múltiplas vítimas, pois tais eventos são

prejudiciais às diversas esferas de nossa sociedade.

Interessantemente, o que se busca é a minimização e

não a eliminação completa do risco de desastres, pois

devemos admitir que em muitos casos temos pouco

ou nenhum controle sobre os eventos que causam os

desastres.

De início, destacamos a magnitude dos

acidentes automobilísticos, responsáveis por uma

considerável parcela dos acidentes com múltiplas

vítimas. A mudança desse cenário deve implicar na

educação dos pedestres e motoristas, acompanhada

de ações públicas de fiscalização e punição com

rigor. Alguns tópicos essenciais no âmbito

educacional são:

Uso de equipamentos de proteção adequados

para motoristas e passageiros (cinto de

segurança de três pontas e capacete);

Respeito aos limites de velocidade e à sinalização

das placas e semáforos;

Não dirigir um veículo após o consumo de álcool;

Manutenção periódica das vias públicas e

privadas garantindo boas condições de trânsito,

sinalização e iluminação.

Desastres naturais como enchentes e

desabamentos de encostas podem ter seus efeitos

danosos minimizados através de:

LATE-UFRJ|2015

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Uso racional do espaço geográfico;

Implementação de legislação de segurança e de

normas técnicas, relacionadas com a redução

dos riscos de desastres;

Promoção da obrigatoriedade de Relatórios de

Segurança Contra Desastres;

Promoção da mudança cultural e

comportamental, e de educação pública,

objetivando a redução das vulnerabilidades das

comunidades em risco (Defesa Civil);

Medidas estruturais como construção de galerias

de captação de águas pluviais e obras de

engenharia; e não-estruturais, como

mapeamento e monitorização de áreas de risco,

análises de vulnerabilidade, sistemas de

previsão, dentre outras.

Em qualquer tipo de atendimento é de

extrema importância não permitir que os socorristas

tornem-se novas vítimas, o que pode ser garantido se

a segurança da cena for inicialmente avaliada de

forma correta e garantida antes da realização do

socorro:

É imprescindível parar o trânsito antes de iniciar

um resgate na rua, mantendo alguma espécie de

sinalização (uso de triângulo, cones ou galhos de

árvores) alertando os motoristas e forçando a

redução de velocidade. Essa sinalização, visando

isolar a área na qual se encontram as vítimas e

desviar o trânsito chama-se balizamento;

Após desabamentos, não se pode adentrar o

local sem garantir que não haverá novos

episódios e que a estrutura está suficientemente

firme para suportar o peso do socorrista e da

vítima que estará sendo carregada;

Não se esquecer de usar equipamentos de

proteção individual (E.P.I.).

Quadro 16.3 A MAIOR AJUDA

Caso não haja a segurança necessária, não tente

realizar o socorro sem ajuda de especialistas! A maior ajuda

que um cidadão pode oferecer a qualquer pessoa é acionar

o atendimento de emergência o mais rápido possível.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CORPO DE BOMBEIROS DO PARANÁ. Catástrofes e

Atendimento a Múltiplas Vítimas. In: Manual do

Atendimento Pré-Hospitalar. Curitiba: Corpo de Bombeiros

do Paraná, 2006. p. 354-362.

IPEA; DENATRAN; ANTP. Impactos sociais e

econômicos dos acidentes de trânsito nas rodovias

brasileiras. Relatório Executivo. Brasília:

IPEA/DENATRAN/ANTP, 2006. 80 p.

MARCELINO, E.V. Desastres Naturais e Geotecnologias.

Conceitos Básicos. Santa Maria: INPE, 2007. p.12-14.

MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. SECRETARIA

NACIONAL DE DEFESA CIVIL. Conferência geral sobre

desastres: para prefeitos, dirigentes de instituições

públicas e privadas e líderes comunitários. Brasília:

Ministério da Integração Nacional, 2007.

MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. SECRETARIA

NACIONAL DE DEFESA CIVIL. Manual de Medicina de

Desastres. Volume I. Brasília: Ministério da Integração

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SAÚDE. DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO

ESPECIALIZADA. Regulação Médica das Urgências.

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TECHNICIANS. PHTLS: Prehospital Trauma Life Support.

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