Apostila Ramatis - 11 Mediunidade e fenômenos mediúnicos

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PREPARANDO-SE PARA O III MILÊNIO 9. Mediunidade e fenômenos mediúnicos 1 FRATERNIDADE RAMATÍS DE CURITIBA CURSO “PREPARANDO-SE PARA O TERCEIRO MILÊNIO” 1º módulo: Introdução ao estudo das obras de Ramatís MEDIUNIDADE E FENÔMENOS MEDIÚNICOS Certas pessoas consideram, sem razão, a mediunidade um fenômeno peculiar aos tempos atuais, outras acreditam ter sido inventada pelo Espiritismo. A fenomenologia mediúnica, entretanto, é de todos os tempos e de todos os países e religiões, pois, desde as idades mais remotas, existiram relações entre a humanidade terrena e o mundo dos Espíritos. 1. A ANTIGUIDADE DOS FENÔMENOS MEDIÚNICOS A história da paranormalidade pertence à própria história da humanidade, pois em todas as épocas as faculdades paranormais do homem, registradas pela História, tiveram vigência e se apresentaram de forma significativa, estabelecendo a linha direcional do comportamento da sociedade, na busca do seu progresso e da sua afirmação. A faculdade mediúnica, apesar de parecer ter atingido seu clímax nos dias atuais, sempre existiu desde o surgimento do homem na face da Terra, porque se trata de uma faculdade inerente ao seu espírito, e não oriunda da matéria. A mediunidade, como fenômeno peculiar ao ser humano, portanto, existe desde quando a primeira criatura surgiu na Terra, porque o primeiro homem também era um espírito encarnado; naturalmente, a sua manifestação mais nítida dependeu do apuro dos centros nervosos de seu corpo físico e do aguçamento da sensibilidade dos seus sentidos. Ao longo de seu processo evolutivo, o homem primitivo se transformou num instrumento que, pouco a pouco, apurou as suas faculdades, que o ajustaram para servir de traço de união, de instrumento de ligação, entre o mundo oculto e o mundo das formas, pois é evidente que a sensibilização do seu sistema nervoso contribuiu para que as entidades do mundo invisível o utilizassem como veículo de intercâmbio entre esses dois planos cósmicos. A humanidade têm sido guiada, desde sua origem, por leis do mundo oculto, já comprovadas na face do orbe, graças à faculdade mediúnica, inata no primeiro espírito aqui encarnado. Embora as criaturas o ignorem, o seu próprio aperfeiçoamento psicofísico ao longo da história dependeu muitíssimo da assistência e da pedagogia proveniente do mundo espiritual, e foi justamente através da . 2º módulo: Estudo da mediunidade baseado nas obras de Ramatís

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PREPARANDO-SE PARA O III MILÊNIO 9. Mediunidade e fenômenos mediúnicos 1

FRATERNIDADE RAMATÍS DE CURITIBA

CURSO “PREPARANDO-SE PARA O TERCEIRO MILÊNIO” 1º módulo: Introdução ao estudo das obras de Ramatís

MEDIUNIDADE E FENÔMENOS MEDIÚNICOS

Certas pessoas consideram, sem razão, a mediunidade um fenômeno peculiar aos tempos atuais, outras acreditam ter sido inventada pelo Espiritismo. A fenomenologia mediúnica, entretanto, é de todos os tempos e de todos os países e religiões, pois, desde as idades mais remotas, existiram relações entre a humanidade terrena e o mundo dos Espíritos.

1. A ANTIGUIDADE DOS FENÔMENOS MEDIÚNICOS

A história da paranormalidade pertence à própria história da humanidade, pois em todas as épocas as faculdades paranormais do homem, registradas pela História, tiveram vigência e se apresentaram de forma significativa, estabelecendo a linha direcional do comportamento da sociedade, na busca do seu progresso e da sua afirmação.

A faculdade mediúnica, apesar de parecer ter atingido seu clímax nos dias atuais, sempre existiu desde o surgimento do homem na face da Terra, porque se trata de uma faculdade inerente ao seu

espírito, e não oriunda da matéria.

A mediunidade, como fenômeno peculiar ao ser humano, portanto, existe desde quando a primeira criatura surgiu na Terra, porque o primeiro homem também era um espírito encarnado; naturalmente, a sua manifestação mais nítida dependeu do apuro dos centros nervosos de seu corpo físico e do aguçamento da sensibilidade dos seus sentidos.

Ao longo de seu processo evolutivo, o homem primitivo se transformou num instrumento que, pouco a pouco, apurou as suas faculdades, que o ajustaram para servir de traço de união, de instrumento de ligação, entre o mundo oculto e o mundo das formas, pois é evidente que a sensibilização do seu sistema nervoso contribuiu para que as entidades do mundo invisível o utilizassem como veículo de intercâmbio entre esses dois planos cósmicos.

A humanidade têm sido guiada, desde sua origem, por leis do mundo oculto, já comprovadas na face do orbe, graças à faculdade mediúnica, inata no primeiro espírito aqui encarnado. Embora as criaturas o ignorem, o seu próprio aperfeiçoamento psicofísico ao longo da história dependeu muitíssimo da assistência e da pedagogia proveniente do mundo espiritual, e foi justamente através da faculdade mediúnica que os espíritos diretores da humanidade puderam intervir no seu processo evolutivo, orientando-o e transferindo para os homens os conhecimentos necessários ao seu progresso.

Apesar do fenômeno mediúnico constituir manifestação intrínseca do mundo espiritual invisível, ele sempre se manifestou entre os homens de acordo com a sua sensibilidade, cultura, moral, capacidade nervosa, e em função da dependência de compromissos previamente assumidos pelos médiuns no mundo oculto, antes de se encarnarem.

1.1 A MEDIUNIDADE NOS PRIMÓRDIOS DA CIVILIZAÇÃO

As manifestações mediúnicas nos primórdios da civilização humana não eram muito bem conhecidas e tampouco generalizadas, tal como se verifica na atualidade, mas, nem por isso, deixaram de ser admitidas pelos povos antigos, que, dentro de suas limitadas possibilidades, as praticaram, estudaram e utilizaram em benefício individual e coletivo.

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Os fenômenos mediúnicos, atualmente um dos fundamentos do Espiritismo (ou seja, a possibilidade das comunicações entre os “vivos” e os “mortos”), no passado remoto eram tidos como maravilhosos, sobrenaturais, sob a feição fantasiosa dos milagres que lhe eram atribuídos, em razão do desconhecimento das leis que os regem, e os indivíduos que podiam manter o intercâmbio com o mundo invisível eram considerados privilegiados.

Curiosamente, a mediunidade, enquanto faculdade extrasensorial, quase não se modificou com o passar dos milênios, mantendo praticamente inalterados os seus diversos aspectos e pouco variando as suas manifestações, pois os bons médiuns de hoje dominam os mesmos fenômenos que antigamente exaltavam os profetas, os oráculos, as pitonisas, os astrólogos, as sibilas e os magos, o que demonstra a lentidão da ascensão espiritual do homem nesse terreno.

Ao se interrogar os Vedas da Índia, os templos do Egito, os mistérios da Grécia, os recintos de pedra da Gália, os livros sagrados de todos os povos por toda parte, nos documentos escritos, nos monumentos e nas tradições antigas da humanidade, se encontra a crença universal nas manifestações das almas libertas de seus corpos terrestres, associados de um modo íntimo e constante à evolução das raças humanas, a tal ponto que se tornaram inseparáveis da História, e que têm permanecido através das vicissitudes dos tempos.

Essas manifestações mediúnicas surgiram como conseqüência do culto dos antepassados entre os povos primitivos, nas homenagens prestadas aos manes (“espíritos”) dos heróis e, nos lares, aos gênios tutelares da família, que lhes erigiam altares e dirigiam evocações, culto que foi posteriormente estendido a todas as almas amadas, ao esposo, ao filho, ao amigo falecido.

Nos primórdios das civilizações antigas da humanidade, as sombras dos mortos sempre se misturaram com os vivos, quer em vigília durante as manifestações mediúnicas, quer durante o sono, revelando o futuro, aparecendo nas materializações de fantasmas ou através da telepatia, da premonição, da psicografia, de forma abundante, pois em toda a parte e em todos os tempos a vida interrogou a morte, e dela obteve respostas.

Sem dúvida, os abusos, as superstições pueris, os sacrifícios supérfluos se misturaram com o culto das almas invisíveis, mas esse íntimo intercâmbio propiciava aos homens que haurissem novas forças, pois sabiam poder contar com a presença e o amparo dos seus antepassados amados, e esta certeza os tornou mais firmes em suas provações, aprendendo a não mais temer a morte. Com isso os laços de família se fortaleceram intimamente, principalmente no Oriente.

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Na China, na Índia e no território céltico havia reuniões, em dias fixos, na “câmara dos antepassados”, com a presença de numerosos médiuns de fé ardente e com faculdades paranormais poderosas e variadas, onde os fenômenos obtidos ultrapassavam em intensidade tudo aquilo que se pode observar atualmente.

1.2 A PRESENÇA DE FENÔMENOS MEDIÚNICOS NAS TRADIÇÕES FOLCLÓRICAS E RELIGIOSAS DOS POVOS DA ANTIGUIDADE

A humanidade tem sido dirigida, desde sua origem, por leis do mundo oculto, que atuam com profunda influência nas criaturas, pois todas as suas histórias, lendas e narrativas de tradição milenária estão repletas de acontecimentos, revelações, fenômenos e manifestações extrafísica que confirmam a existência da mediunidade entre os homens das raças mais primitivas.

A história das religiões desses povos é caracterizada pela presença dos chamados demônios, gênios e deuses, sempre por trás de fenômenos sobrenaturais, hoje entendidos como da esfera mediúnica; nada mais do que espíritos desencarnados a se manifestarem entre os chamados “vivos”, através da faculdade da mediunidade em seus múltiplos aspectos.

Qualquer tribo, clã, raça ou povo ou mesmo civilização, do presente ou do passado, ainda conserva em seu folclore a tradição vivida por magos, fadas, gnomos, duendes, silfos, bruxas, ondinas, nereidas, salamandras, ou seres exóticos, que se divertiam no mundo invisível, tanto ajudando quanto hostilizando a vida dos homens encarnados.

As civilizações do passado, com as da Atlântida, Lemúria, China, Índia, Hebréia, Egito, Persa, Caldéia, Cartago, Assíria, Babilônia, Grécia, Germânia, Escandinávia ou da Arábia, comprovam, pela história, pelas lendas e pelo seu folclore, que os fenômenos mediúnicos surgiram em todos os recantos do orbe terráqueo quase ao mesmo tempo e sem privilégios especiais, manifestando-se igualmente em todos os agrupamentos humanos.

Por exemplo, versão suméria do Dilúvio conta que, cheios de inveja do homem, os deuses resolveram destruir completamente a raça dos mortais, afogando-os impiedosamente. Um deles, no entanto, revelou o segredo a um habitante da Terra, seu favorito, ensinando-lhe a construir uma arca para a sua salvação e da sua espécie quando da inundação, que imperou durante sete dias seguidos até que toda a superfície ficou coberta pela água.

Finalmente, quando o turbilhão sossegou e as águas baixaram, o homem favorito e seus irmãos saíram da arca e ofereceram um sacrifício aos deuses em ação de graças. Esfomeados, devido à longa privação dos alimentos, os deuses “aspiraram o doce cheiro e se juntaram como moscas sobre o sacrifício”, segundo a narrativa, decidindo nunca mais tentarem a destruição do homem, revelando assim se tratarem de espíritos desencarnados, ávidos das emanações etéricas do animal sacrificado, num processo atualmente designado por “vampirismo”. .

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Os fenômenos mediúnicos são comuns a todas as raças terrícolas. A fenomenologia mediúnica tem sido acontecimento comprovado por todos os povos e civilizações e ficou evidenciada até mesmo nos objetos e nos propósitos guerreiros desses povos primitivos, tendo-os influenciado seriamente, embora velada pelo simbolismo das tradições lendárias. Comprova-se isto pela sua história, lendas ou pelo seu folclore.

Os escandinavos, principalmente os “vikings”, narram seus encontros com bruxas, sereias e entidades fascinadoras, que surgiam das brumas misteriosas, perseguindo-os durante as noites de lua cheia.

As histórias e as lendas musicadas por Wagner em suas peças sinfônicas ou óperas magistrais, confirmam o espírito de religiosidade e a crença no mundo invisível por parte dos povos germânicos e anglo-saxãos. Eles rendiam sua homenagem aos deuses, numes, gênios e os consideravam habitantes de um mundo estranho, muito diferente do que é habitado pelos homens.

As próprias lendas brasileiras são também férteis de fenômenos mediúnicos. No cenário das matas enluaradas surge o “boitatá” lançando fogo pelas narinas; nas encruzilhadas escuras aparece o fantasmagórico “saci-pererê”, saltitando numa perna só e despedindo fulgores dos olhos embraseados; na pradaria sem fim, corre loucamente a “mula-sem-cabeça”, ou na penumbra das madrugadas nevoentas, os mais crédulos dizem ouvir os gemidos tristes da alma do “negrinho do pastoreio”.

Nas épocas em que a humanidade viveu sob regime patriarcal, circunscrito a clãs ou tribos, a mediunidade era atribuída a poucos, que exerciam um verdadeiro reinado espiritual sobre os demais, em conseqüência do exercício dos seus supostos “poderes mágicos”, geralmente atribuídos a origem divina ou sobrenatural.

As práticas mediúnicas se transferiram posteriormente para os círculos fechados dos colégios sacerdotais formados por castas privilegiadas de inspirados e, aos poucos, foram se difundindo entre o povo, dando nascimento aos videntes, profetas, adivinhos e pitonisas que, por sua vez, passaram a exercer inegável influência nos meios em que atuaram.

No passado, a comunhão com as almas dos mortos foi, sobretudo, privilégio dos santuários, preocupação de alguns limitados grupos de iniciados. Fora desses círculos esclarecidos, asilos da verdadeira sabedoria antiga, as manifestações de além-túmulo eram, muitas vezes, consideradas sobrenaturais e associadas a práticas supersticiosas que lhes deturpavam o sentido. Ao homem comum, ignorante das leis da Vida e da Natureza, era vedado aprender os ensinamentos que se ocultavam sob os fenômenos mediúnicos.

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1.3 A MEDIUNIDADE NA HISTÓRIA SECRETA DAS RELIGIÕES ANTIGAS

A história religiosa dos povos da antiguidade mostra que, desde épocas remotíssimas na História, a evocação de espíritos dos “mortos” era praticada por categorias de homens que faziam disso sua especialidade.

Desde os escritos religiosos mais antigos, como os Vedas (cerca de 5.000 a.C.), já se tem notícia do intercâmbio espiritual com os chamados “mortos”.

Tal atividade, porém, era somente exercida por homens e mulheres dedicados especialmente ao mister religioso, eram os “iniciados”, que às vezes levavam dezenas de anos se preparando para poderem, depois de desenvolvidas as suas faculdades mediúnicas, exercitar o seu poder sobre o povo e seus governantes, sendo, por isso, pessoas temidas e respeitadas por todos, pois formavam os círculos sacerdotais responsáveis pela orientação da massa.

Contrariamente ao que ocorre hoje em dia entre os praticantes do Espiritismo, por exemplo, as atividades que possibilitavam entrar-se em contato com as almas desencarnadas eram apanágio exclusivo da classe sacerdotal, que monopolizara essas cerimônias, não só para delas fazerem fonte lucrativa de renda, mantendo o povo em absoluta ignorância quanto ao verdadeiro estado da alma depois da morte, como também para revestirem, aos seus olhos, um caráter sagrado, dado que somente eles detinham os segredos da morte.

Com o passar do tempo, e em conseqüência das guerras e invasões que forçaram parte da população primitiva hindu a emigrar, o segredo das evocações dos espíritos dos mortos nas práticas mediúnicas se espalhou em toda a Ásia, encontrando-se posteriormente entre os egípcios e ainda entre os hebreus, essa tradição proveniente da Índia.

Nas antigas civilizações de expressão, como as do Egito, da Grécia, da Pérsia ou em Roma, o mediunismo passou então a ser utilizado como fonte de poder e de dominação, razão porque era concedido somente a poucos indivíduos, sob as mais rigorosas condições de mistério e formalismo, dando nascimento a seitas e

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fraternidades que funcionavam baseadas em longas e difíceis iniciações, cujo objetivo era estabelecer um certo espírito de disciplina e seleção.A mediunidade passou, assim, a exercer papel preponderante sobre a administração pública e na vida política das nações de então, pois os seus dirigentes jamais aventuravam qualquer passo importante sem prévia consulta aos oráculos, astrólogos e videntes. Mesmo na Roma imperial, caracterizada pela visceral amoralidade, os Césares não dispensavam essas consultas, submetendo-se de bom grado às inspirações e conselhos dos “deuses”.

Todas as formas materiais exteriores, as cerimônias extravagantes dos cultos das religiões desaparecidas, das crenças extintas, que se realizavam nos templos e criptas sagrados, tinham por fim chocar a imaginação do povo, sob o qual fora estendido um “véu exterior e brilhante”, com a intenção de ocultar das massas os grandes mistérios das realidades do mundo espiritual.

Por trás desses véus, as religiões antigas apareciam sob aspecto diverso, revestindo-se de caráter grave e elevado, simultaneamente científico e filosófico. Seu ensino era duplo: de um lado, exterior e público, propagando os ensinamentos ditos “exotéricos”, a saber, as informações e instruções liberadas aos leigos ou profanos; de outro lado era interior e secreto, reservando os ensinamentos e conhecimentos “esotéricos” somente aos iniciados nos antigos mistérios.

Um exemplo disso foi a transmissão de conhecimentos sobre Magia, entendida como arte de empregar conscientemente poderes invisíveis para obter efeitos visíveis. Tais recursos, empregados para fins benéficos, significam “magia branca”, mas quem os empregar para o mal então pratica “magia negra”.

Em conseqüência, desde a antiguidade das civilizações existiram homens poderosos que desenvolveram suas forças ocultas e as empregaram na magia branca, a serviço do próximo, enquanto os malfeitores praticaram a magia negra visando aos seus exclusivos interesses e domínio nefandos.

Para evitar que esses conhecimentos ocultos fossem franqueados a criaturas mal intencionadas ou despreparadas, que deles fariam mau uso, eles foram revestidos de símbolos e alegorias inofensivas, e ocultos na liturgia e alegoria religiosas.

Todas as grandes religiões do passado tiveram, portanto, duas faces: uma aparente, a “forma ou a letra”, e outra oculta, encerrando o seu “espírito”. O Bramanismo na Índia, o Hermetismo no Egito, o Politeísmo na Grécia, e o próprio Cristianismo em suas origens apresentaram esse duplo aspecto.

Seus adeptos eram escolhidos, preparados desde a infância para a carreira que deveriam preencher e depois eram gradualmente levados à plenitude intelectual, de onde podiam dominar e julgar a vida. Os

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princípios da ciência secreta lhes eram comunicados na proporção relativa ao desenvolvimento de suas inteligências e qualidades morais.

O processo de iniciação, no lado oculto das religiões antigas, constituía para os seus adeptos uma refundição completa do caráter e um acordar das faculdades latentes da alma, entre as quais se destacava a mediunidade.

Somente quando tinha conseguido extinguir em si próprio o fogo das paixões, suprimir os desejos impuros e orientar os impulsos do seu ser para o Bem e para o Belo, é que o adepto podia participar dos grandes mistérios, passando então a obter certos poderes sobre as forças da natureza e a se comunicar com as potências ocultas do Universo.

Os iniciados passavam então a conhecer os segredos das forças fluídicas e magnéticas, pois que a ciência oriental dos santuários havia explorado o domínio dos fenômenos do sonambulismo e da sugestão.

Neles encontravam meios de ação incompreensíveis para o vulgo, mas facilmente hoje explicáveis pelo Espiritismo, pois nada havia de sobrenatural nesse mundo oculto, conhecido dos antigos e regido por leis exatas e que, justamente ao contrário, constituíam uma manifestação das forças sutis, face então ignorada da Natureza.

Os ensinamentos secretos abriam ao pensamento dos iniciados perspectivas suscetíveis de causarem desequilíbrios aos espíritos mal preparados que, ao vislumbrarem o infinito, ficavam

perturbados e desvairados, sendo, portanto, vedados às almas mais débeis e somente reservados aos mais fortes e valentes; daí a necessidade de passarem pelos processos de iniciação.

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Os iniciados, após adquirirem o conhecimento das leis superiores do espírito, praticavam uma fé esclarecida, com serena confiança no futuro e tolerância para com todas as demais crenças religiosas, por inferirem que a verdadeira religião se eleva acima de todas as crenças.Todos os ensinamentos religiosos do passado na verdade se ligam, porque em sua base se encontra uma só e mesma doutrina, transmitida de idade em idade a uma série ininterrupta de sábios e pensadores.

Essa doutrina secreta da antiguidade, mãe das religiões e das filosofias, revestiu-se de aparências diversas no decorrer das idades, mas sua base permaneceu imutável em toda parte. Nascida simultaneamente na Índia e no Egito, daí passou ao ocidente acompanhando as ondas migratórias, espalhando-se por todos os países ocupados pelos celtas e difundindo em seu esteio as práticas mediúnicas entre os seus iniciados.

Por toda parte, através da sucessão dos tempos, em diferentes povos se verificou a existência e a perpetuidade de um ensino secreto que se encontra no fundo de todas as grandes concepções religiosas ou filosóficas do passado.

Os sábios, os pensadores, os profetas dos templos, dos mais diversos países nele acharam a energia e a inspiração, que os fizeram empreender grandes coisas e transformar almas e sociedades, sempre as impelindo para frente no estado evolutivo do progresso, revelando uma grande e misteriosa corrente espiritual saída do mundo invisível que a tudo domina e envolve, onde vivem e atuam os grandes Espíritos que têm servido de guias à humanidade terrena, e que com ela jamais cessaram de se comunicar.

1.3.1. A MEDIUNIDADE NOS PRÓDROMOS DO HINDUISMO

O hinduísmo, também chamado bramanismo, é considerado a mais antiga religião do mundo. Seus livros sagrados são os Vedas e, posteriormente, os Upanishads, palavra sânscrita que significa “sentar-se ao lado”, (isto é, “lição oral”), tidos como conclusão dos Vedas.

Considerado o código religioso mais antigo que se conhece, os Vedas remontam a datas muito recuadas na História, admitindo-se ter o mais antigo e o mais importante desses textos sagrados, o Rig-Veda, surgido há cerca de 10.000 a.C.

Esses escritos antiqüíssimos, cuja idade correta ainda não pôde ser fixada, constituem o molde em que se formou a religião primitiva da Índia e são os primeiros livros em que se encontra exposta a doutrina secreta, fundo de todas as religiões e dos livros de todos os povos.

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Durante a época védica, anacoretas “rishis” (sábios videntes) passavam o dia em retiro na vasta solidão dos bosques e às margens de rios e lagos; como intérpretes da ciência oculta, a doutrina secreta dos Vedas, eles possuíram misteriosos poderes que, transmitidos de século em século, exercem ainda hoje os chamados “faquires” e “iogues”.

Desde tempos imemoriais, os sacerdotes brâmanes, iniciados nos mistérios sagrados, preparavam indivíduos chamados “faquires” para a obtenção dos mais notáveis fenômenos mediúnicos, tais como a levitação, o estado sonambúlico até o nível de êxtase, a insensibilidade hipnótica a dor, entre outros, além do treino para a evocação dos “pitris” (espíritos que vivem no Espaço, depois da morte do corpo), cujos segredos eram reservados somente àqueles que “apresentassem quarenta anos de noviciado e de obediência passiva”.

Os Vedas trazem referências às comunicações mediúnicas, por exemplo, através do grande legislador Manu: “Os espíritos dos antepassados, no estado invisível, acompanham certos brâmanes convidados para as cerimônias em comemoração aos mortos, sob uma forma aérea, seguem-nos e tomam lugar ao seu lado quando eles se assentam”.

O antigo texto sagrado hindu “Bagavatta” declara: “Muito tempo antes de se despojarem do envoltório mortal, as almas que só praticaram o bem, como as que habitam o corpo dos “sannyassis” e dos “vanaprastha” (anacoretas e cenobitas) adquirem a faculdade de conversar com as almas que as precederam no “swarga” (mundo espiritual); é sinal que para essas almas, a série de transmigrações sobre a Terra terminou”.

Krishna, educado pelos ascetas no seio das florestas de cedros no sopé da Himalaia, apareceu na História como o primeiro dos reformadores religiosos dos missionários divinos, renovou as doutrinas védicas, e afirmava no livro sagrado “Mahabhârata”: “Muito tempo antes de se despojarem de seu envoltório mortal, as almas que só praticaram o bem adquirem a faculdade de conversar com as almas que as precederam na vida espiritual”. E isso ainda hoje é afirmado pelos brâmanes na doutrina dos “Pitris”, pois, em todos os tempos a evocação dos mortos tem sido uma de suas formas de liturgia.

1.3.2 A MEDIUNIDADE NA RELIGIÃO DO ANTIGO EGITO.

A religião desempenhou um papel predominante na vida dos antigos egípcios, deixando sua marca em quase todos os setores de sua civilização, a ponto de sua arte ser uma expressão de simbolismo religioso, e de sua literatura e filosofia estarem embebidas de ensinamentos religiosos.

As concepções filosófico-religiosas no antigo Egito propagavam a idéia de um universo eterno regido por uma inteligência suprema, a noção de ciclos de acontecimentos que se reproduziam constantemente, e a doutrina das causas naturais, lastreados num idealismo moral e ético. .

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Seus adeptos criam na consciência inalterável de Deus como o Arquiteto do destino humano, na imortalidade da alma, na providência divina, no perdão dos pecados e nas recompensas e punições depois da morte.Contudo, a verdadeira alma do Egito, o segredo de sua vitalidade e do seu papel histórico, reside na doutrina secreta dos seus sacerdotes, cuidadosamente velada sob os mistérios de Ísis e Osíris, e experimentalmente analisada, no fundo dos templos, por iniciados de todas as classes e de todos os países.

O culto popular de Ísis e de Osíris não era senão uma brilhante miragem oferecida à multidão. Debaixo da pompa dos espetáculos e das cerimônias públicas, ocultava-se o verdadeiro ensino dos pequenos e grandes mistérios.

Sob formas austeras, os princípios dessa doutrina secreta foram, posteriormente, expressos nos livros secretos de autoria de Hermes, identificação feita pelos gregos ao deus egípcio Toth, cujo conteúdo incluía o conhecimento da teologia e da filosofia (Hermetismo erudito), da astrologia, alquimia e magia, (Hermetismo popular), apelidado “Trismegisto” (três vezes grande), autor ou inspirador de 42 livros: 36 conteriam a ciência dos egípcios e os restantes, os conhecimentos da medicina, constituindo assim uma vasta enciclopédia; mas nem todos chegaram até os tempos atuais.

De forma idêntica às práticas religiosas da antiga Índia, as faculdades mediúnicas no Egito foram desenvolvidas e praticadas no silêncio dos templos sagrados sob o mais profundo mistério, e

rigorosamente vedadas à população leiga.

Hermes Trismegisto afirmava, em relação aos conhecimentos ocultos, entre os quais se achava o mediunismo: “O véu do mistério cobre a grande verdade, pois o conhecimento total desta só pode ser revelado àqueles que atravessarem as mesmas provas que nós (“provas iniciáticas”). É preciso medir a verdade segundo as inteligências, velá-la aos maus, que dela fariam arma de destruição”.

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A iniciação nos templos egípcios era cercada de numerosos obstáculos e de reais perigos, cujas provas físicas e morais eram longas e múltiplas, passando, entre outras, pelas provas da morte, do fogo, da água e da escravidão dos sentidos. Exigia-se o juramento de sigilo, e a menor indiscrição era punida com a morte. Essa temível disciplina dava forma e autoridade incomparáveis à iniciação e à religião secreta. À medida que o adepto avançava em seu curso, descortinavam-se-lhes os véus, fazia-se mais brilhante a luz e se tornavam mais vivos e animados os símbolos. O alvo mais elevado a que um iniciado podia aspirar era a conquista dos poderes sobrenaturais, cujo emblema era a coroa dos magos.

Saídos de todas as classes sociais, mesmo das mais ínfimas, os sacerdotes eram os verdadeiros senhores do Egito; os reis, por eles escolhidos e iniciados, só governavam a nação a título de mandatários.

Todos os historiadores estão de acordo em atribuir aos sacerdotes do Antigo Egito poderes que pareciam sobrenaturais e misteriosos. Os magos dos faraós realizavam todos esses prodígios que são referidos na Bíblia; mas, deixando de lado o que pode haver de lendário nessas narrações, é bem certo que eles evocavam os mortos, pois Moisés, seu discípulo, proibiu formalmente que os hebreus se entregassem a essas práticas.

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Portanto a comunicação com os espíritos sempre existiu e é tão velha quanto o mundo. Se o próprio Moisés proibiu o intercâmbio do povo hebreu com os mortos, é porque isso era razoavelmente possível.

Os sacerdotes do antigo Egito eram tidos como pessoas sobrenaturais, em face dos poderes mediúnicos, que eram misturados maliciosamente com práticas mágicas e de prestidigitação. A ciência dos sacerdotes do Egito antigo ultrapassava em muito a ciência atual, pois conheciam o magnetismo, o sonambulismo, curavam pelo sono provocado, praticavam largamente a sugestão, provocavam a clarividência com fins terapêuticos e eram célebres pelas práticas de

curas hipnóticas.

2. A FALCULDADE MEDIÚNICA E O ESPIRITISMO

É evidente que o despertamento do “homem interno” pela disciplina esotérica e a exigência moral superior, que formam as bases da iniciação nos templos iniciáticos, são dignas de acatamento. Mas, embora louvando a iniciação tradicional que, desde épocas remotas, gradua o discípulo estudioso e disciplinado para receber o seu mestre ou “guru” no momento de seu despertamento espiritual, deve-se advertir que a humanidade terrena atingiu atualmente o período do seu mais grave e doloroso reajuste cármico.

Os tempos apocalípticos atuais e a época profética de “Fim dos Tempos” reclamam abertura de todas as portas dos templos iniciáticos, pois o fenômeno mediúnico generaliza-se à luz do dia e se manifesta quotidianamente a todos os homens, independente de raça, casta, cultura ou situação financeira.

Quando o Alto convocou o espírito hábil, genial e laborioso de Allan Kardec para codificar a Doutrina Espírita e disciplinar a prática mediúnica, já tencionava livrar a humanidade dos sortilégios, das invocações lúgubres, das posturas melodramáticas, dos compromissos ridículos, da magia exaustiva e dos ritos extravagantes.

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Ainda no século XIX, só os iniciados mais felizes sabiam manipular os ingredientes mágicos e promover o clima de “suspense”, destinados a proporcionar o ambiente favorável para se manifestarem as entidades do outro mundo.Depois de exaustivos rituais e cantilenas cabalísticas, longo desperdício de tempo, emprego de drogas misteriosas e uso de instrumentos exóticos, eles então conseguiram algumas fugazes materializações de “larvas” ou entes do astral inferior, que se moviam à guisa de fenômenos importantes e assustadores.

Sem dúvida, houve magos que também puderam vislumbrar algumas almas elevadas e seres resplandecentes, mas isso não lhes aconteceu por força dos ritos ou das práticas extravagantes, porém devido ao seu próprio caráter nobre e à sua melhor graduação espiritual.

Embora o fenômeno mediúnico seja manifestação intrínseca do mundo espiritual invisível, ele se manifesta entre os homens de acordo com a sensibilidade, a cultura, a moral, a capacidade nervosa e a dependência do compromisso assumido pelos médiuns antes de se encarnarem.

No entanto, a sua técnica nas relações entre os “vivos” e os “mortos” poderá melhorar consideravelmente, assim que houver maior cooperação da própria ciência terrena, ajudando a eliminar as excrescências mórbidas e os fatores nocivos e ridículos do falso mediunismo. Aliás, inúmeros cientistas e homens de letras, desde o aparecimento do Espiritismo, já contribuíram salutarmente para livrá-lo de superstições e ritos indesejáveis.

É certo que atualmente já não existem as fogueiras da Idade Média, quando as autoridades eclesiásticas torravam os médiuns por considerá-los feiticeiros mancomunados com o Diabo; mas, infelizmente, ainda permanecem acesas as chamas do sarcasmo, da calúnia, do despeito e da injúria!

Num extremo, os cientistas envaidecidos pelos seus pruridos acadêmicos atacam os médiuns e clamam contra o perigo de uma psicose espirítica coletiva; noutro lado, o sacerdócio organizado os excomunga de seus púlpitos, injuriando-os diante da imagem do próprio Jesus, que foi um defensor do amor incondicional! Mas ninguém poderá deter a marcha evolutiva do Espiritismo, pois os bons médiuns de hoje já dominam os mesmos fenômenos que antigamente exaltavam os profetas, os oráculos, as pitonisas, os astrólogos, as sibilas e os magos.

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Graças ao espírito sensato e inteligente de Allan Kardec, as relações mediúnicas entre os encarnados e os desencarnados já se efetuam desembaraçadas das complicações, das verborragias e dos desperdícios de tempo, que eram essenciais à velha magia, pois as práticas mediúnicas sadias nos seio do Espiritismo ocorrem sem ritos exaustivos ou práticas misteriosas.

Quer os médiuns kardecistas de “mesa”, durante as comunicações copiem os notáveis tribunos, expondo em linguagem culta e castiça o pensamento dos desencarnados; quer os “cavalos” de Umbanda cuidem dos filhos do terreiro, transmitindo os conselhos dos “pais de terreiro” em linguagem simples ou arrevesada; quer os esoteristas, em suas “sessões brancas”, se digam inspirados para as prédicas doutrinárias; e os teosofistas confiem unicamente nos seus mestres tradicionais, ou os discípulos iniciáticos aguardem o seu “mestre” no momento de sua maturidade espiritual, isso tudo enfim não passa de fenômenos mediúnicos, embora varie o ambiente de sua manifestação e seja diferente o rótulo de cada conjunto religioso ou espiritualista.

Foi o Alto, e não o homem terreno, quem atribuiu ao Espiritismo a vigilância e o controle da manifestação mediúnica na Terra, além da divulgação dos seus postulados de esclarecimento

da Vida Imortal e de renovação moral do homem.

Os fenômenos de materializações e as mais diversas manifestações mediúnicas de comunicação entre vivos e mortos já foram perquiridos, analisados e concluídos pelos mais avançados homens de ciência. Assim, médicos, filósofos, químicos, escritores e estudiosos, como Gabriel Delanne, Leon Denis, Aksakoff, Paul Gibier, William Crookes, Césare Lombroso, Bozzano, Carl Duprel, Gonzáles Soriano, Oliver Lodge, Conan Doyle, Dennis Bradley e outros, recorreram aos mais avançados aparelhamentos de laboratório e de investigações precisas, concluindo pela realidade dos fenômenos mediúnicos e pela lógica dos postulados espiritistas.

Não importa se os adversários do Espiritismo alegam que tais cientistas foram ingênuas cobaias nas mãos de hábeis prestidigitadores! Os aparelhos de precisão e máquinas fotográficas que registraram as experiências não mentem nem distorcem os fenômenos!

Só depois do advento do Espiritismo é que realmente surgiu um corpo organizado, um sistema competente, filosófico, religioso e científico, com o intuito de disciplinar e controlar as experiências com os desencarnados. Os espíritos então preencheram as necessidades dos indagadores; e, além de comprovarem a imortalidade da alma, ainda ofereceram diretrizes para o melhor comportamento do homem no intercâmbio com os “falecidos”.

Antes da codificação espírita, os magos, feiticeiros e iniciados mantinham intercâmbio com os desencarnados, mas só o conseguiam através de práticas absurdas e complexas, para lograr um breve e confuso contato com o mundo oculto.

A codificação espírita é a responsável pela prática mediúnica mais sadia e sensata nas relações entre os “mortos” e os “vivos”, atendendo a promessa de Jesus de que enviaria o “Consolador” para derramar-se pela humanidade.

Desde que o Espiritismo não é uma iniciativa destinada exclusivamente à especulação filosófica “extraterrena”, mas ainda deve zelar pelo exercício eficiente e sensato da mediunidade entre os homens, então realmente lhe cabe vulgarizar o intercâmbio com os “mortos”, para melhor esclarecimento dos “vivos”.

O médium difere do tradicional adepto filiado aos templos iniciáticos, porque deve enfrentar as suas provas e tentações à luz do dia, entre as atividades e vicissitudes cotidianas.

O discípulo da iniciação oculta deve provar suas virtudes e vontade através de símbolos e das reações provocadas pelos “testes” iniciáticos, ao passo que o médium enfrenta as mais duras provas no convívio da família, no ambiente de trabalho, nas suas relações cotidianas, nas obrigações sociais e durante as deficiências da saúde. .

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O Espiritismo foi inspirado pelo próprio Mestre Jesus para esclarecer os homens, cabendo-lhe atender desde os cérebros mais cultos até os mais pobres de entendimento intelectual. Assim como o Divino Amigo desceu à Terra para servir a “todos” os homens, o Espiritismo também assumiu a responsabilidade crítica de atender toda a humanidade, sem qualquer exceção de seita religiosa, casta social ou privilégio de cultura.

Alguns críticos afirmam que a fenomenologia mediúnica, sob os auspícios do Espiritismo, só atende a um sentido espetacular, uma vez que os fenômenos do mundo oculto impressionam os sentidos físicos do homem, mas não contribuem para despertar a sua natureza Angélica.

De fato, a fenomenologia mediúnica, considerada exclusivamente como espetáculo incomum aos sentidos humanos, não é suficiente para modificar o raciocínio do homem impertinente.

Os fenômenos mediúnicos podem “convencer” o homem de sua imortalidade sem, no entanto, o “converter” à vida moral superior, pregada pelos mais abalizados instrutores do reino angélico.

É justamente por isso que o Evangelho é a base ou o cimento indestrutível da Codificação Espírita, porque o homem, além de reconhecer-se imortal, deve também angelizar-se através da mensagem do Cristo. Assim, pois, que vale a convicção salutar de sua imortalidade, se ele não se prepara para usufruir a ventura espiritual depois da morte física?

Evidentemente, o Espiritismo não é culpado por muitos de seus adeptos não lhe seguirem os princípios de libertação espiritual e renovação moral, preferindo apenas usufruir-lhe os fenômenos que só afetam os sentidos físicos.A despeito de muitos afirmarem que a generalização da prática mediúnica sensibiliza prematuramente o homem, colocando-o em relação e contato desvantajoso com o astral inferior, quando ele ainda não desvendou os meios de defesa psíquica contra o assédio perigoso dos espíritos perversos e mistificadores, vale lembrar que nenhuma criatura precisa “desenvolver” sua mediunidade, para depois se ligar ao mundo oculto inferior!

Os asilos de loucos estão repletos de indivíduos egressos de todas as religiões e condições humanas, que de algum modo exercitaram sua mediunidade ou participaram de algum movimento espiritualista. Eles se arruinaram pela índole moral deficiente, pelo vício, pela fraqueza moral e espiritual ou pelo débito cármico do passado, e não por qualquer “exercício mediúnico” !

O contato perigoso com espíritos inferiores não é fruto exclusivo da freqüência dos trabalhos mediúnicos de mesa ou de terreiro, mas depende muitíssimo da natureza dos pensamentos e

das emoções do homem.

São atitudes desfavoráveis que sensibilizam mediunicamente qualquer pessoa para ligá-la às entidades das sombras:

a corrupção moral

o vício degradante

a paixão inferior

a lascívia mental ou verbal

Enquanto Rasputin, sem freqüentar qualquer trabalho de desenvolvimento mediúnico, punha-se em contato diário com os espíritos diabólicos, Francisco de Assis, atuando noutra faixa vibratória, podia comunicar-se com Jesus!

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O Espiritismo pesquisa, estuda, controla e divulga o fenômeno mediúnico e as relações com os desencarnados, pois isso realmente lhe constitui a base prática dos seus princípios doutrinários em conexão com a Lei do Carma e da Reencarnação.

Tratando-se de doutrina que não depende de rituais, compromissos religiosos ou iniciáticos, e não firma sua divulgação nos ingredientes da magia terrena, mas sim na elevação moral na vida prática, o Espiritismo é realmente o mais credenciado movimento espiritualista para popularizar os fenômenos de contato com o Além.

Embora concordando em que todos os homens são espíritos encarnados, e conseqüentemente médiuns potencialmente inatos, não é preciso que o homem seja necessariamente espírita para só então ser considerado médium; o importante é que ele seja bom e digno a fim de cercar-se de boas influências e atrair os bons espíritos.

O Catolicismo o e Protestantismo não admitem a mediunidade com a denominação específica que lhe dá o Espiritismo, mas consideram-na uma “graça” extemporânea que Deus só concede às almas santificadas. No entanto, a interpretação diferente ou a denominação do fenômeno mediúnico não lhe muda o caráter só porque se revela noutro ambiente espiritualista ou ocorre num seio religioso adverso aos postulados espíritas.

Tanto a Bíblia como as histórias das religiões católicas e protestantes estão repletas de relatos de visões e outros fenômenos mediúnicos, malgrado os explicarem à conta de “milagres” ou “graças” inesperadas outorgadas por Deus.

E isso se comprova pelas visões proféticas de Dom Bosco, Francisco de Assis, Antônio de Pádua, Papa Pio XII, Tereza de Jesus e outros, inclusive pelas aparições de Lourdes e Fátima, que também não passam de fenômenos mediúnicos registrados por crianças e por pessoas “médiuns”.

Muito embora certas instituições espiritualistas procurem sublimar ou aristocratizar os acontecimentos incomuns do intercâmbio de seus adeptos com o mundo oculto, esses foram médiuns na acepção exata e vulgar da palavra, apesar de tentarem disfarçar os fenômenos mediúnicos com uma terminologia iniciática.

A diferença é que o Espiritismo trata o assunto da mediunidade às claras, sem “tabus” iniciáticos ou nomenclaturas complexas; ele os expõe à luz do dia e os examina sem quaisquer ritualismos complicados.

O homem que é beneficiado pelo Alto com o “acréscimo” da faculdade mediúnica, através da Doutrina Espírita, conhece quais são os seus deveres para com o mundo físico e a sua

responsabilidade para com a própria alma!

Mas, acima de tudo, quer o médium seja beneficiado pela riqueza ou senhor de um cérebro genial, glorificado pelo academicismo do mundo, ou então apenas criatura paupérrima e ainda onerada pelo fardo da família, o seu dever é servir na medida de suas forças, pois isso é também a tarefa de sua própria redenção espiritual.

Desprezando-se todas as interpretações sibilinas, as nomenclaturas afidalgadas e as graduações excepcionais dos acontecimentos iniciáticos de muitas instituições espiritualistas, em essência elas são puro fenômeno mediúnico.

Como exemplo, pode-se citar a Sociedade Teosófica, em que Helena Blavatsky, o bispo anglicano Leadbeater, Geoffrey Hodson, Elsa Barker e outros filiados eram médiuns que receberam comunicações diretas ou indiretas do mundo oculto, apesar de lhes darem uma procedência completamente oposta ao fenômeno propriamente mediúnico e o modo como o encara a Doutrina Espírita.

Embora tais movimentos espiritualistas ou religiosos não usem em seus domínios o vocábulo “médium” na sua expressão espiritista, nem por isso os seus medianeiros deixaram de se enquadrar na técnica sideral da manifestação mediúnica, quando captavam mensagens diretamente de seus Mestres, ou o faziam por intuição.

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As escolas Teosóficas, Rosa-Cruz, Esotéricas e Yogas sempre evitaram em seus ensinamentos e práticas o contato mediúnico com as regiões inferiores do mundo invisível, assegurando que: “assim que o discípulo está pronto, o Mestre também aparece”. Louvavelmente, propõe que os seus adeptos se modifiquem primeiramente em sua intimidade espiritual, para só depois tentarem as relações com os seres etéreos do mundo invisível.

Não há dúvida de que se trata de uma disposição sadia, meritória e sensata em relação ao mediunismo, mas nesse campo o Espiritismo revela-se movimento popular e de amplitude geral, destinado a todos os homens.

Muito antes de atender somente àqueles que já se colocam no “Caminho da Verdade”, ele se destina a amparar principalmente os homens incrédulos, desajustados e torturados pela eclosão de sua mediunidade de prova.

O despertamento da faculdade mediúnica nos médiuns de prova exige cuidados urgentes e roteiro seguro, a fim de se evitar o fracasso do programa delineado pelos mentores no Astral.

A manifestação mediúnica não depende da crença ou poderio religioso, nem de convicções pessoais do homem ou do ambiente onde vive, mas é conseqüência inalterável do compromisso que o espírito assumiu antes de se reencarnar, cujo mandato ele requereu em seu próprio benefício e deve ser cumprido na hora aprazada.

Quer então seja ateu, participe do ambiente espírita, devote-se a qualquer seita religiosa ou tenha se comprometido com alguma instituição iniciática, a faculdade mediúnica de “prova” eclode no momento exato em que se deve realmente iniciar a sua tarefa sacrificial.

Ignoram muitos teósofos, esoteristas, rosa-cruzes e alguns outros fraternistas filiados a cursos iniciáticos que, embora se deva louvar o método ideal de o homem desenvolver conscientemente suas faculdades ocultas, independentemente do intercâmbio espiritual sadio com as almas superiores, desde que reencarne na matéria comprometido em exercer a “mediunidade de prova”, tem ele que se submeter ao processo gradativo e disciplinado pela técnica espírita de desenvolvimento, preconizada por Allan Kardec.

No entanto, os homens que, devido ao seu elevado aprimoramento espiritual, são médiuns naturais, já usufruindo o dom espontâneo da intuição pura, é fora de dúvida que sempre apresentarão as condições psíquicas incomuns e satisfatórias para lograrem graduação destacada em qualquer doutrina ou instituição iniciática, sem precisar exercer a função passiva de médium em serviço com os espíritos do astral inferior.

Já aqueles que, em vidas pretéritas, abusaram do seu comando mental e serviram-se de sua inteligência lúcida para tripudiar sobre os menos agraciados pela sorte, que pela cupidez, egoísmo, avareza ou calúnia usufruíram os bens alheios, semeando prejuízos irreparáveis, hão de cumprir o seu mandato mediúnico na condição humilhante de ceder sua organização carnal para que velhos adversários, comparsas ou vítimas do passado possam reajustar-se mais brevemente aos preceitos do Cristo.

2.1 ESPIRITISMO x MEDIUNISMO

É conveniente, de início, distinguir-se o que é Espiritismo e o que significa Mediunismo. Espiritismo é doutrina disciplinada por um conjunto de leis, princípios e regras, que tanto orientam as relações entre os espíritos encarnados e os desencarnados, como também promove a renovação filosófica e moral dos seus adeptos. No entanto, a faculdade mediúnica pode existir independentemente de a criatura ser espírita ou mesmo indiferente aos fenômenos mediúnicos.

Há médiuns que operam em vários setores espiritualistas, mas não aceitam nenhum dos postulados básicos do Espiritismo, assim como também existem espíritas que são alérgicos às sessões mediúnicas e se interessam exclusivamente pelo conteúdo filosófico da doutrina.

Aliás, muitas vezes é preferível admitir unicamente os conceitos lógicos e sensatos com que Allan Kardec .

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integrou a codificação espírita, antes mesmo de se buscarem provas e coligirem os princípios doutrinários do Espiritismo por intermédio de alguns médiuns manhosos, tolos, anímicos e preguiçosos, que nem sempre mantém conduta regular no mundo profano.

Só pelo fato de se verificar a atuação de espíritos em qualquer gênero de trabalhos mediúnicos, não se infere disso que ali se pratique Espiritismo. A Doutrina Espírita só é realmente confirmada em sua prática quando, independentemente dos fenômenos mediúnicos, os seus adeptos aceitam e cultuam as suas regras e os seus princípios morais elevados no trato da vida material.

É necessário que os adeptos da Doutrina Espírita, muito além de assíduos espectadores das reuniões mediúnicas e pedintes contumazes e incorrigíveis dos benefícios doados pelo Além, se integrem, também, ao cumprimento incondicional dos seus postulados morais que, acima de tudo, devem melhorar a conduta do homem.

Antes da Codificação Espírita, já existiam espíritos sofredores que eram doutrinados no Espaço, e dispensavam os trabalhos mediúnicos na Terra, pois isso é tarefa comum no Astral, e dispensa mesmo a interferência dos encarnados.

Mas, em face da época profética de “fim de tempos” e seleção espiritual, além da carga magnética inferior que satura todo o orbe, os Mestres Siderais autorizaram a eclosão da mediunidade entre os homens, a fim de cooperarem espiritualmente na redenção dos seus irmãos infelizes desencarnados.

Em conseqüência, o Espiritismo é o movimento espiritualista mais eficiente e sensato para disciplinar os médiuns e orientar-lhes as relações perigosas entre “vivos” e “mortos”, dando-lhes a garantia e segurança contra as investidas malfeitoras do mundo oculto; por isso, é doutrina sem mistérios, tabus ou compromissos religiosos.

3. A MEDIUNIDADE NOS TEMPOS ATUAIS E O CONSOLADOR PROMETIDO

Assim se manifestou o Divino Amigo, com suas palavras inesquecíveis: “Se me amais, guardai os meus mandamentos; e eu rogarei a meu Pai e Ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco o Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê e absolutamente não o conhece. Mas, quanto a vós, conhecê-lo-eis, porque ficará convosco e estará em vós. Porém, o Consolador, que é o Santo Espírito que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito”. (João, capítulo XIV, versículos 15, 16, 17 e 26).

Procurando-se o sentido exato da figura que Jesus enunciou na promessa referida, verifica-se que ele aludiu em particular a espíritos desencarnados de ordem superior, ou seja, às equipes de estirpe Angélica.

Sob a alegoria do “Espírito Santo”, ou o “Consolador” prometido, não é difícil se identificar as cortes, as falanges ou os exércitos angélicos que já operam atualmente através de médiuns dignos e desinteressados dos tesouros do mundo ilusório da carne.

Explicando que o Consolador seria o Espírito Santo capaz de ensinar aos homens “todas as coisas e ainda recordar suas próprias palavras”, não há dúvida de que Jesus se referiu aos Espíritos Benfeitores Angélicos, desde que só estes é que, realmente, por intermédio da faculdade mediúnica do homem, poderiam ensinar “essas coisas, pregar o Evangelho e recordar suas próprias máximas”.

É evidente que, pelo fato de Jesus haver se referido a “outro” Consolador, em sua promessa profética, ele quis advertir de que na Terra já havia se manifestado anteriormente “um” Consolador, que seria Ele mesmo, com a missão de salvar o homem da animalidade inferior.

Desde que o Mestre foi realmente um salvador da humanidade, deve-se considerá-lo como esse primeiro Consolador que, através do Evangelho, sintetizou aos homens as próprias Leis regentes da Vida Cósmica. Mas, o “outro” Consolador, portanto o Espírito Santo, ainda por vir e a derramar-se sobre a carne, em todas as criaturas, traria o ensinamento “salvador” diretamente do mundo espiritual, servindo-se das vozes dos próprios espíritos desencarnados e imortais. É muitíssimo claro que só um espírito imortal é que, evidentemente, poderia ficar eternamente com os terráqueos.

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Jesus também esclareceu que os povos de sua época messiânica ainda não podiam “ver” ou “conhecer” o Espírito de Verdade porque, é fora de dúvida, não estavam mentalmente capacitados e mediunicamente sensibilizados para compreender e recepcionar com êxito a mensagem dos espíritos elevados.

Na primeira revelação do Consolador aos homens, Jesus foi o único representante direto do Santo Espírito, pois só Ele conversava, ouvia e confabulava com os “anjos” sobre a salvação do homem. Mas, de conformidade com o seu vaticínio, esse mesmo Espírito Santo, em sua segunda vinda, ensinaria aos homens todas as coisas, comprovando a glória e a justeza dos ensinamentos do Evangelho.

Há ainda na enunciação do Mestre um tópico indiscutível e que confirma plenamente a sua referência sobre a faculdade mediúnica a derramar-se entre os homens nos tempos atuais: é justamente quando ele menciona que o Consolador, o Santo Espírito, faria os homens recordarem-se de tudo o que Ele, Jesus, dissera anteriormente.

Na verdade, graças ao intercâmbio mediúnico, que progride gradativamente, familiarizando os espíritos desencarnados com os homens, pouco a pouco também se restabelece corretamente a identidade do Mestre em sua pregação terrena.

Algumas obras psicografadas por médiuns ajuizados e competentes já revelaram com mais nitidez o porte exato de Jesus, naquela época, e o distanciam das obras milagrosas e das contradições psicológicas no seu tipo espiritual, quando a história religiosa lhe atribui a função de mago de feira deslumbrando multidões no cenário bíblico da milenária Judéia.

Os espíritos de responsabilidade, em suas comunicações mediúnicas, isentam cada vez mais o Mestre das prendas tolas com que o adornou a ignorância humana, assim como desfazem o mito religioso do seu nascimento contrário às leis respeitáveis da genética humana.

Em verdade, o Santo Espírito ou o Consolador prometido é o “conjunto” dos espíritos sábios, benfazejos e angélicos que, através dos médiuns, ensinam aos homens as coisas que só o atual

progresso da mente humana permite avaliar e conhecer.

4. MEDIUNIDADE E CIÊNCIA

Os fenômenos mediúnicos já se generalizam de tal forma, no século atual, que se manifestam tanto aos homens que os desejam ou procuram, como entre aqueles que os detestam ou os temem, acreditando serem manifestações diabólicas.

Malgrado o prestígio da Ciência acadêmica no mundo atual, os cientistas terrenos já não podem fugir à contingência imperiosa de estudarem a mediunidade, cada vez mais atuante no seio da humanidade terrena. Em países mais cultos, se efetuam pesquisas e estudos sérios no gênero, embora ainda sob o rótulo de “parapsicologia”, nomenclatura que atende aos superficialismos da vaidade acadêmica. O cientista, no entanto, só em raros casos se acha liberto da prerrogativa religiosa ou do preconceito acadêmico, geralmente desinteressado de submeter o fenômeno mediúnico ao estudo das faculdades superiores.

Mas a verdade é que a ciência do mundo não poderá fugir a sua própria missão de sanear a prática da fenomenologia mediúnica no futuro, quando os laboratórios também ajudarão a selecionar os médiuns verdadeiros dos charlatões, dos histéricos, mercenários ou enfermiços que, por vezes, militam no espiritismo sem possuir as credenciais exigidas para a tarefa.

Considerando-se que o Criador permanece integrado em toda a Sua Obra, é evidente que Ele também opera através da ciência do mundo material, como um dos recursos benfeitores para a mais breve felicidade de seus filhos.

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E quando o fenômeno mediúnico se impuser definitivamente à ciência profana, os médiuns também se livrarão da tradicional excomunhão dos próprios sacerdotes que, irritados pela mensagem sensata do Espiritismo, ainda confundem o século atual com a época sombria da Inquisição, quando queimavam ciganos, bruxos e esoteristas à guisa de afilhados do demônio!

5. NATUREZA DA FACULDADE MEDIÚNICA

A mediunidade é um patrimônio do espírito: é faculdade que se engrandece em sua percepção psíquica, tanto quanto evolui e se moraliza o espírito do homem.

A sua origem é essencialmente espiritual e não material. Ela não provém do metabolismo do sistema nervoso, como alegam alguns cientistas terrenos, mas enraíza-se na própria alma, onde a mente, à semelhança de eficiente usina, organiza e se responsabiliza por todos os fenômenos da vida orgânica, que se iniciam no berço físico e terminam no túmulo.

A mediunidade é faculdade extraterrena e intrinsecamente espiritual; em sua manifestação no campo de força da vida material, ela pode se tornar o elemento receptivo das energias sublimes e construtivas provindas das altas esferas da vida Angélica. Quando é bem aplicada, transforma-se no serviço legítimo da angelitude, operando em favor do progresso humano.

No entanto, como recurso que faculta o intercâmbio entre os “vivos” da Terra e os “mortos” do Além, também pode servir como ponte de ligação para os espíritos das sombras atuarem com mais êxito sobre o mundo material.

Muitos médiuns que abusam de sua faculdade mediúnica e se entregam a um serviço mercenário em favor exclusivo dos seus interesses particulares, não demoram em se ligar imprudentemente às entidades malfeitoras dos planos inferiores, de cuja companhia dificilmente depois eles conseguem se libertar.

A mediunidade não é apenas um fenômeno orgânico, fruto da carne transitória, nem provém de qualquer sensibilidade ou anomalia do sistema nervoso; é manifestação característica do espírito

imortal.

É percepção espiritual ou sensibilidade psíquica, cuja totalidade varia de indivíduo para indivíduo, pois, em essência, ela depende também do tipo psíquico ou do grau espiritual do ser.

Embora os homens se originem da mesma fonte criadora, que é Deus, eles diferenciam-se entre si porque são consciências individualizadas no Cosmo, conservando as características particulares que variam conforme a sua maior ou menor idade sideral. Há um tom espiritual próprio e específico em cada alma, e que se manifesta por uma tonalidade particular durante a manifestação mediúnica.

6. A GENERALIDADE ATUAL DO FENÔMENO MEDIÚNICO

A mediunidade atualmente generaliza-se e recrudesce entre os homens de modo ostensivo e tal fenômeno resulta da hipersensibilidade psíquica que presentemente sobressai entre as criaturas, em concomitância com o “fim de tempos” ou “juízo final”, tanta vezes já profetizado.

Os tempos atuais são o remate final da “Era da Matéria”, que até o momento tem sido regida pela belicosidade, cobiça, astúcia, cólera, egoísmo e crueldade, paixões mais próprias do instinto animal predominando sobre a centelha espiritual.

A humanidade se encontra no limiar da “Era do Espírito”, em que se sentirá impulsionada para o estudo e o cultivo dos bens da vida eterna, com acentuado desejo de solucionar os problemas de origem espiritual, quando então as comprovações científicas da imortalidade da alma, através do progresso da fenomenologia mediúnica, reduzirão bastante a fanática veneração do homem pela existência transitória do corpo físico.

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Assim como o organismo carnal do homem em certo tempo verticalizou-se para servi-lo em nível biológico superior, o seu espírito também há de se erguer da horizontalidade dos fenômenos e dos interesses prosaicos da vida física provisória, para atuar definitivamente na freqüência vibratória do mundo Crístico.

Na época profética que atualmente vive, sob a emersão coletiva do instinto animal simbolizado na “Besta do Apocalipse”, que tenta subverter o espírito do homem ainda escravo das formas terrenas, a humanidade pressente que já chegou a sua hora angustiosa de seleção espiritual e consolidação planetária, em que a criatura terá de se decidir definitivamente para a “direita” ou para a “esquerda” do Cristo, conforme reza a profecia, pois serão separados os lobos das ovelhas e o joio do trigo.

O magnetismo do ser humano freme à periferia do seu psiquismo exaltado pela energia animal, a qual emerge em sua desesperada tentativa de subverter os costumes, as tradições e a disciplina do espírito imortal.

Os homens se encontram confusos no limiar de duas épocas extremamente antagônicas, pois, justamente com o reiterado apelo do Alto para a Cristificação humana, recrudesce também a efervescência do automatismo instintivo da vida animal.

Os hospitais estão abarrotados de criaturas alienadas ou obsediadas, que provêm desde as favelas até as altas esferas sociais, cuja maioria é torturada pelas crises financeiras ou morais. Nessa miséria espiritual, abrangendo tanto os ateus como os seres egressos das mais variadas doutrinas e religiões, fica comprovado que o sacerdócio organizado das religiões oficiais realmente fracassou em sua missão salvadora.

O pior é que, durante essa eclosão incontrolável do instinto inferior, os espíritos desencarnados e malfeitores firmam o seu alicerce na carne e executam também o seu programa diabólico contra os terrícolas que, tolamente, são apáticos aos sublimes ensinamento salvadores do Cristo-Jesus.

Atuado pelas mais contraditórias circunstâncias, vivendo em minutos o que os seus antepassados não viveram em alguns anos, o homem do presente século acaba por destrambelhar os seus nervos e superexcitar o seu psiquismo, perdendo terreno no seu controle espiritual e tornando-se um instrumento dócil nas mãos dos espíritos desencarnados malévolos.

Essa constante relação dos “vivos” com os “mortos”, embora os primeiros sejam inconscientes do que acontece, termina por sensibilizar cada vez mais a criatura humana, com o agravante de que se efetua nela um verdadeiro desenvolvimento mediúnico de qualidade inferior. Daí, pois, a necessidade inadiável de o homem prudente e bem intencionado integrar-se definitivamente nos preceitos salvadores do Cristo e vivê-los incessantemente à luz do dia.

O próprio progresso científico atual também contribui para essa hipersensibilização humana, em que o homem cada vez mais se sintoniza com as forças do mundo oculto. O cientificismo avançado dos tempos atuais, as pesquisas corajosas dos velhos “tabus” e segredos da mente humana, sem dúvida são importantes contribuições que não só aceleram a dinâmica de pensar e aumentam a área da consciência, como também sensibilizam a emotividade do ser.

O homem, atualmente, vive em algumas horas, e de modo simultâneo, os raciocínios, as conjecturas e as mutações mentais e emotivas que os seus antepassados não chegavam a

experimentar em dezenas de anos.

O cidadão atual defronta e resiste obrigatoriamente a uma multiplicidade de fenômenos “psicofísicos” tão eqüidistantes em suas manifestações variadas, que isso seria suficiente para endoidecer a maioria dos habitantes terrenos de alguns séculos atrás.

Cresce assim a sensibilidade psíquica entre os homens terrícolas; acentua-se-lhes a eclosão da mediunidade em comum, porque também vivem sob o incessante acicate dos espíritos desencarnados, que assim exploram essa oportunidade cada vez mais favorável para agirem sobre a matéria.

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O próprio Jesus preconizou a vinda do “Consolador” a derramar-se pela carne de todos os homens e facultando a profecia e o dom de curar às crianças, aos moços e velhos, focalizando assim o advento da mediunidade generalizada. O Mestre previu que, no decorrer do século atual, a humanidade estaria cada vez mais neurótica, aflita e desesperada, ante a emersão do instinto animal inferior tentando romper o temor religioso e as convenções sociais do mundo. Por isso, João Evangelista profetizara que “no fim dos tempos” a Besta do Apocalipse tentaria o seu domínio sobre os homens pela prática das sensações inferiores, sedução do luxo e da fortuna!

Em verdade, cresce a perturbação no seio da humanidade terrícola, pois foram abertas as comportas do astral inferior e descem para a carne a multiplicidade de espíritos trevosos, que viviam estagnados no caldo de cultura dos pântanos infernais. Assim, aumenta a fauna dos desregrados, rebeldes, viciados, tiranos, perversos e inescrupulosos, revelando taras estranhas e cometendo crimes aviltantes! Segundo o Livro da Apocalipse, “Satanás seria solto depois de mil anos, e teria pouco tempo para agir”, pois Satanás, na verdade, é o símbolo da escória espiritual atuando sobre a face do orbe.

Indiscutivelmente, confirmam-se os vaticínios de Jesus, de que no “fim dos tempos” os velhos, os moços e as crianças teriam visões, ouviriam vozes estranhas e profetizariam, isso logo em seguida ao advento do Espírito de Verdade.

O Mestre indicou claramente os tempos atuais, quando predisse os acontecimentos materiais incomuns dos dias de hoje e a eclosão simultânea da mediunidade se generalizando entre os homens, simbolizando o “Consolador” prometido a se derramar pela carne das criaturas.

A mediunidade, portanto, é um recurso de emergência, espécie de “óleo canforado” para erguer a vitalidade espiritual do terrícola e mantê-lo desperto para a severa argüição do Juízo Final.

7. EVOLUÇÃO DA MEDIUNIDADE

A mediunidade evolui tanto quanto evolui o psiquismo do homem, pois ela é correlata com seu progresso e a sua evolução espiritual, mas é necessário distinguir que o padrão evolutivo da mediunidade não deve ser aferido pela produção mais ostensiva dos fenômenos incomuns do mundo material.

Assim é que o médium de fenômenos físicos, embora possa produzir uma fenomenologia espetacular e surpreendente aos sentidos carnais, nem por isso se sobrepõe ao médium altamente intuitivo, como fruto de elevado grau espiritual do homem.

Enquanto os fenômenos físicos dependem fundamentalmente da maior ou da menor cota de ectoplasma produzido pelo médium a fim de permitir a materialização dos desencarnados no cenário físico, o médium intuitivo é de alto nível espiritual, capaz de transmitir mensagens que ultrapassam a craveira comum da vida humana.

Embora não surpreenda, nem satisfaça os sentidos físicos com suas comunicações de caráter puramente espiritual, ele pode traçar roteiros definitivos para o progresso sideral dos homens.

No primeiro caso, a mediunidade de fenômenos físicos se manifesta de modo espetacular ao operar no mundo das formas, mas é acontecimento transitório que, embora a muitos convença da realidade espiritual, nem sempre os converte para o reino amoroso do Cristo.

No caso da intuição pura e elevada, o ser descortina a realidade crística dos planos superiores, despreocupado de provar se a alma é imortal, pois “sente” em si mesmo que a sua ventura lhe acena além das formas perecíveis do mundo fenomênico da matéria.

A mediunidade de Francisco de Assis era para si mesmo a faculdade divina que o fazia deslumbrar a paisagem do mundo angélico de Jesus, sem necessidade de qualquer demonstração espetacular e fenomênica de materializações, levitações ou voz direta dos desencarnados.

Em conseqüência, a mediunidade intuitiva ou mais propriamente, a “mediunidade espiritual”, é faculdade superior a qualquer outra mediunidade que ainda dependa da fenomenologia do mundo terreno e transitório, .

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para então se provar a realidade do espírito imortal.

Embora seja louvável a preocupação de muitos estudiosos do Espiritismo com a maior produção de fenômenos mediúnicos destinados a convencer as criaturas sistematicamente incrédulas, a mais evolvida mediunidade ainda é a Intuição Pura, porque auxilia o homem a relacionar-se diretamente com fonte real de sua origem divina.

8. A TEOSOFIA FACE À MEDIUNIDADE

Baseados nas explicações de Helena P. Blavatski, é crença de todos os teosofistas que, em verdade, são “cascões astrais” com certa inteligência instintiva, herdada após a morte dos seus donos, que se comunicam nas sessões mediúnicas, em vez de espíritos desencarnados, conforme preceitua o Espiritismo. No entanto, o próprio Coronel Olcoot, um dos mais íntimos colaboradores de Blavatski, admitiu que ela havia se equivocado.

Em razão disso, os teosofistas não aceitam a mediunidade, nem a comunicação dos espíritos, tal como acontece com os espíritas, pois o seu modo de trabalhar é diferente. Eles se reúnem em grupos de estudo, argüições e pesquisas de filosofia espiritual, e o fazem mais pela intuição, em vez de comunicações mediúnicas diretas.

É óbvio que também se relacionam com os espíritos desencarnados, embora o neguem fazê-lo diretamente pelos recursos mais ostensivos da mediunidade.

Todos os homens estão cercados de espíritos desencarnados que os assistem, tentam, protegem, ajudam ou exploram, quer sejam teosofistas, rosa-cruzes, yogas, espíritas ou católicos.

Os encarnados atraem espíritos de conformidade com suas idéias, paixões ou intenções, pouco importando a sua crença ou religião.

Ninguém se livra de comunicações mediúnicas, conscientes ou inconscientes, boas ou más, quer seja espírita, teosofista, yoga ou católico, apenas por rejeitá-las. De nada vale tentar resistir desde o início à influência oculta dos desencarnados, pois estes espíritos “rodeiam os homens”, no dizer de Paulo de Tarso em suas epístolas, e acionam as criaturas encarnadas de conformidade com a sua receptividade moral.

Que adianta o teosofista condenar o médium espírita, quando ele também é antena viva, capaz de recepcionar os desencarnados, variando a qualidade dos comunicantes conforme o seu modo de agir e pensar?

Os teosofistas dizem que é contraproducente o exercício da mediunidade passiva, conforme proclama a doutrina espírita, alegando que o médium, ao receber espíritos perturbados, torna-se vítima de enfermidades orgânicas ou alienações mentais.

O risco de fluidos enfermiços dos espíritos inferiores provocarem transtornos nos médiuns depende do estado psíquico e das condições morais do próprio médium.

O homem só se resguarda dos fluidos perniciosos dos maus espíritos quando se integra no critério moral superior.

Os espíritos obsessores e malfeitores vivem aderidos ao pó do mundo e perambulam pela crosta terráquea alimentando-se com os eflúvios pecaminosos, frutos das paixões e dos vícios detestáveis da humanidade. Eles só entendem a natureza do mundo terráqueo, onde já viveram conturbados, e simpatizam-se à linguagem dos homens fesceninos e inescrupulosos.

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São almas prenhes de ressentimentos e revoltados contra qualquer empreendimento conciliador que lhes exija modificações íntimas. Mas, rasteando com os homens, elas terminam envolvidas pelos pensamentos e sentimentos de bons trabalhadores do Cristo, até se submeterem aos serviços mediúnicos, cujos médiuns serão os intérpretes de suas próprias aflições e problemas atrozes.

Jamais o Criador perderá uma só ovelha; e, por isso, os próprios “satanases” também serão salvos no momento oportuno!

No entanto, a criatura não está completamente indefesa a certas influências do mundo oculto, pois o perispírito, através de milênios de adaptações e atividade no seio das energias dos mundos planetários, também desenvolveu a sua capacidade de defesa contra as investidas maléficas.

Assim como acontece com o organismo físico, ele consegue regenerar as zonas ofendidas e corrigir as lesões da hostilidade do mundo inferior. Evidentemente, sendo a matriz fisiológica ou astral da organização humana, é óbvio que também supera as investidas malfeitoras dos espíritos das sombras.

O perispírito dispõe de recursos maravilhosos para a sua sobrevivência e proteção no seio das energias inferiores, tal qual o corpo físico mobiliza recursos para defender-se de quaisquer reações nocivas ao seu equilíbrio vital.

A simples picada de um inseto no corpo físico faz o mesmo carrear água em torno da zona ofendida ou afetada, para enfraquecer o veneno ali injetado. Igualmente, o perispírito enfraquece ou desintegra os fluidos malfazejos que lhe penetram pela aura desguarnecida, ante a invigilância espiritual do seu dono. Sem dúvida, essa defesa também será de tal êxito, quanto seja a contribuição espiritual do próprio ser.

Os “fótons” perispirituais projetados pela Luz que é intrínseca do próprio homem, têm ação profilática, e desintegram os maus fluidos.

Em conseqüência, os médiuns também são protegidos naturalmente pela sua segurança perispiritual, embora essa resistência varie conforme sua estrutura moral.

Assim como os fluidos perniciosos agem de modo coercivo, adensando a aura perispiritual das criaturas e favorecendo a nutrição de miasmas ou bacilos do astral inferior, os fluidos luminosos ministrados pelos espíritos angélicos são recursos profiláticos que ajudam a dissolver a carga dos fluidos infectos.

É evidente que não depende da criatura ser médium ou espírita para se expor aos perigos dos espíritos inferiores, pois os encarnados também são espíritos e podem causar prejuízos tão nefastos como os próprios desencarnados.

As próprias sugestões, os convites e os conluios para o vício, o pecado e atos condenáveis ainda são mais perigosos quando feitos pelos vivos do que pelos mortos!

Ademais, o exercício perigoso da mediunidade passiva não se efetiva tão somente em torno de mesas espíritas ou dos terreiros de Umbanda. Isto acontece a qualquer momento e conforme as “invocações” boas ou más que os vivos fazem aos mortos em seus projetos de vingança, disposições maledicentes, desejos lúbricos, ressentimentos, excesso de orgulho e de amor próprio!

Sem dúvida, seria ideal que o homem pudesse alcançar os grandes desideratos da mediunidade somente através da intuição ou da inspiração dos espíritos superiores. Seria um desenvolvimento sadio e consciente, sem espasmos e sofrimentos próprios da presença de espíritos inferiores e conturbados.

Os teosofistas afirmam que o médium espírita é prejudicado pela sua passividade perigosa às entidades sofredoras ou malévolas, e que os médiuns que se desenvolvem junto à mesa espírita ou nos terreiros de Umbanda, não passam de “bengalas vivas”, submissas à vontade boa ou má dos desencarnados.

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Indubitavelmente há certo exagero nessa conceituação, pois as criaturas de má qualidade espiritual, embora não sejam médiuns espíritas ou “cavalos” de Umbanda, também na passam de “bengalas vivas” de espíritos malfeitores, ainda que invoquem as suas credenciais de teosofistas!

O homem não consegue fugir do contato com o mundo invisível, nem se livrar facilmente da horda de almas sedentas de prazer, de vingança e de paixão, que se debruçam avidamente sobre a humanidade.

Não é o homem que busca a sensibilidade mediúnica; esta, porém, é que surge em sua vida, malgrado qualquer descrença ou rebeldia aos postulados espiritistas ou umbandistas. Nem a Teosofia, mormente a sua aversão à mediunidade ostensiva, poderá resguardar seus adeptos da possibilidade de serem “bengalas vivas” dos desencarnados!

Não é a doutrina, crença ou religião, a simpatia ou participação em confrarias iniciáticas que imunizam o homem dos maus espíritos, porém essa defesa depende exclusivamente de sua

conduta moral.

Os teosofistas afirmam que a libertação espiritual só é possível através da “autotransformação” ou “autoconhecimento”, e não pela prática mediúnica. Inegavelmente, é o aprimoramento iniciático espiritual, a abdicação consciente das ilusões da vida carnal, ou o treino mental de libertação dos instintos inferiores, o que realmente gradua o espírito para sua ascese angélica.

Enquanto as confrarias iniciáticas do passado resguardavam os valores do espírito somente aos eleitos, o Espiritismo, embora seja doutrina vulgarizando os segredos iniciáticos à luz do dia, é a clareira que se abre na escuridão do ceticismo humano, para mostrar a todos os homens a estrada larga da vida imortal.

Não importa se os ensinamentos e segredos das confrarias iniciáticas foram vulgarizados pelo Espiritismo e traído o sigilo dos templos, mas a verdade é que o Alto assim proporciona os recursos de salvação para todos os homens! Então, salve-se quem quiser, mas o Senhor tudo fez para “não se perder uma só ovelha!”

As velhas escolas espiritualistas só puderam iniciar os homens que já revelavam qualidades ou tendências para o conhecimento superior. Admitiam exclusivamente os discípulos de capacidade psíquica e adestramento mental que já pudessem corresponder aos “testes” severos e às argüições complexas exigidas pelos Mestres dessas confrarias.

Os candidatos eram selecionados através de provas que lhes identificavam as qualidades superiores, mas os céticos, os curiosos e os menos aquinhoados em espiritualidade, isto é, os que mais precisavam de esclarecimentos espirituais, esses ficavam à margem, reprovados pela sua insuficiência! Enfim, eram admitidos os mais esclarecidos e desaprovados os mais necessitados.

Por isso, o Alto então optou pela prática mediúnica, embora reconhecesse tratar-se de um evento ainda imaturo para os homens escravos das paixões inferiores, aguilhoados aos postulados separativistas de pátria, raça e religiões, que servem de combustível às guerras fratricidas.

É verdade que as confrarias iniciáticas do passado proibiam o desenvolvimento da faculdade mediúnica passiva, assim como o “sujet” se deixa hipnotizar à vontade estranha de outrem. Os seus adeptos não deviam se submeter ao comando do mundo oculto e à interferência mental de qualquer outro ser fora da influência dos seus mestres e guias consagrados.

Antigamente sustentava-se que o desenvolvimento das forças ocultas, latentes em todos os homens, só devia ser tentado depois do aprimoramento moral e discernimento mental do discípulo sobre as coisas do mundo. Nos templos iniciáticos ocultistas, ensinava-se que o metabolismo psicofísico do homem dependia fundamentalmente do seu nível espiritual.

O perispírito, o controle dos chacras ou centros de forças etéreas eram objetos de estudos meticulosos. Exigia-se a disciplina sexual, pois o fluido que circula pela coluna vertebral em coesão com o “fogo serpentino” dos eflúvios telúricos da Terra, a energia kundalini, fertiliza a mente quando é endereçado para fins superiores, e dispensado do mecanismo sexual.

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O discípulo era vegetariano e frugal em sua alimentação; dominava os vícios e superava os desejos inferiores. Mesmo assediado pela dor, era avesso a entorpecentes, mas habituado à oração e às invocações sublimes.

Isso o ajudava a se imunizar contra a investida de entidades inferiores, carnívoras, viciadas, luxuriosas e alcoólatras, que desistiam de agir sobre quem não lhes daria o mínimo prazer ou gozo sensual na prática desregrada.

É certo que a maioria dos médiuns espíritas ingere álcool, fuma, empanturra-se nas mesas carnívoras, discute, irrita-se e acende desejos lúbricos ante o primeiro corpo feminino ondulante! Isso os torna mais vulneráveis às penetrações do astral inferior e justifica, em parte, o temor e a crítica dos teosofistas.

Embora louvando as considerações prudentes dos teosofistas e outras escolas espiritualistas sobre os perigos de mediunidade, convém distinguir-se a época atual comparada ao tempo das confrarias ocultas e da rigorosa exigência nas práticas espirituais.

Não é o desenvolvimento mediúnico ao gênero kardecista ou umbandista o que realmente pode trazer perigo ao homem! Indubitavelmente, se Jesus de Nazaré ou Francisco de Assis tentassem o desenvolvimento mediúnico, só poderiam transmitir comunicações angélicas!

O próprio Allan Kardec, em suas obras, advertiu que o êxito do intercâmbio mediúnico reside principalmente nas condições espirituais dos médiuns, resultando êxitos ou prejuízos, de acordo com a intenção e a sua pose moral. Assim, os médiuns ficam mais desprotegidos e suscetíveis à influência oculta dos desencarnados quando se despreocupam da higiene física, moral e espiritual.

Malgrado o julgamento exagerado dos teosofistas contra a prática mediúnica, alguns deles têm encontrado em suas famílias dolorosos problemas de obsessões e vinganças do mundo invisível, independentemente de qualquer intercâmbio propositado com o mundo oculto.

E muitos deles só puderam solucionar tais problemas aflitivos através de trabalhos espíritas de tratamentos desobsessivos, falhando as invocações aos mestres e os recursos intelectuais da Loja Teosófica.

Não se olvide que Jesus permaneceu trinta e três anos na crosta terráquea, em permanente contato com o mundo oculto, e, no entanto, jamais algo lhe contaminou a alma sublime!

Os teosofistas alegam que o homem pode lograr a sua redenção espiritual dispensando a prática da mediunidade. Contudo, a humanidade só poderia dispensar o complexo processo da mediunidade, desenvolvida com espíritos sofredores e rebeldes, que às vezes conturbam, desde que cumprisse integralmente os ensinamentos ministrados em todas as latitudes geográficas por instrutores espirituais como Hermes, Orfeu, Moisés, Krishna, Zoroastro, Fo-Hi, Confúcio, Buda ou Jesus!

Então a humanidade desenvolveria a sua mediunidade somente no plano da Intuição Pura, tal qual acontecia a Jesus, que podia conversar com os anjos, embora o seu espírito estivesse enclausurado na carne!

Fontes bibliográficas:

1. Mediunismo – Maes, Hercílio. Obra mediúnica ditada pelo espírito Ramatís. 5ª ed. Rio de Janeiro, RJ. Ed. Freitas Bastos, 1987, 244p.

2. Mediunidade de Cura – Maes, Hercílio. Obra mediúnica ditada pelo espírito Ramatís. 7ª ed. Rio de Janeiro, RJ. Ed. Freitas Bastos, 1989, 240p.

3. Missão do Espiritismo – Maes, Hercílio. Obra mediúnica ditada pelo espírito Ramatís. 5ª ed. S. Paulo, SP. Ed. Freitas Bastos, 1988, 225p.

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4. História da Civilização Ocidental – Burns, Edward McNall. Porto Alegre, RS. 2ª ed. Editora Globo, 1970. Vol. I - 581p.

5. Mediunidade - seus aspectos, desenvolvimento e utilização – Armond, Edgard. São Paulo, SP. 28ª ed. Editora Aliança, 1992. 295p.

6. O Fenômeno Espírita – Delanne, Gabriel. Brasília, DF. 6ª ed. Editora FEB, 1992. 227p.

7. Depois da Morte – Denis, Leon. Brasília, DF. 18ª ed. Editora FEB, 1994. 329p.

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