Apostila+1+Estrutura+de+Madeira

download Apostila+1+Estrutura+de+Madeira

of 9

Transcript of Apostila+1+Estrutura+de+Madeira

  • 8/17/2019 Apostila+1+Estrutura+de+Madeira

    1/9

     

    ESTRUTURA DE MADEIRA 

    Apostila 1: Propriedades físicas da madeira

    Professor M.Sc. Ewerhon Mattos Paterlini

    Engenharia Civil - 2014/2

  • 8/17/2019 Apostila+1+Estrutura+de+Madeira

    2/9

     

    PROPRIEDADES FÍSICAS DA MADEIRA

     A madeira é o material de construção mais antigo, dada a sua disponibilidade na natureza

    e sua relativa facilidade de manuseio.

    Mas o que é madeira?

    Madeira é um material orgânico, de origem vegetal, encontrada tanto em florestas

    naturais quanto em florestas artificiais resultantes de reflorestamentos industrializados.

    Sua fonte é abundante e renovável.

    Botanicamente, as árvores são classificadas como Fanerogamas, que constituem um

    grupo de plantas superiores, de elevada complexidade anatômica e fisiológica. O grupo

    das Fanerogamas se subdivide em Gimnospermas e Angiospermas.

    Na classe das Gimnospermas destacam-se as coníferas, também conhecidas como

    madeiras moles ou “softwoods”. Possuem folhas em forma de agulhas ou escamas, e

    sementes agrupadas em forma de cones. Possuem crescimento rápido. Constituem

    praticamente sozinhas, principalmente no hemisfério norte, grandes florestas e fornecem

    madeiras das mais empregas na indústria e na construção civil. Exemplo: pinheiro-do-

    paraná ( Araucaria angustifolia), pinus, pinheiros europeus, norte-americanos, etc.

    Na classe das Angiospermas há uma subdivisão: Monocotiledôneas e Dicotiledôneas. As

    Monocotiledôneas compreendem as palmas e as gramíneas. As palmas não apresentam

    madeiras de boa durabilidade, mas podem ser utilizadas em estruturas temporárias, como

    escoramentos e cimbramentos. Nas gramíneas destaca-se o bambu, que não é madeira

    no sentido usual da palavra, mas por possuir boa resistência mecânica associada à sua

    baixa densidade, pode-se utilizar para construção leve. Já as Dicotiledôneas são

    usualmente designadas como madeiras duras ou “hardwoods”. Possuem folhas

    achatadas e largas e crescimento lento. Exemplo: peroba, ipê, aroeira, carvalho, etc. As

    folhosas de melhor qualidade são também chamadas madeiras de lei.

    Geralmente, as folhosas perdem suas folhas no outono, enquanto as coníferas mantém

    suas folhas verdes todo o ano.

     As classes distinguem-se pela estrutura celular e não propriamente pela resistência.

    O crescimento principal da árvore ocorre verticalmente, sentido contínuo e apresentando

    variações em função das condições climáticas e da espécie da madeira. Além desse

    crescimento vertical, ocorre também um aumento do diâmetro do tronco devido ao

  • 8/17/2019 Apostila+1+Estrutura+de+Madeira

    3/9

     

    crescimento das camadas periféricas responsável pelo crescimento horizontal (câmbio).

    No corte transversal de um tronco de árvore essas camadas aparecem como anéis de

    crescimento.

    Figura 1- Descrição simplificada da anatomia da árvore (fonte: RITTER, 1990) 

    Do ponto de vista macroscópico, podem-se observar as seguintes características: do

    crescimento vertical resulta a medula (madeira mais fraca ou defeituosa); ao conjunto dos

    anéis de crescimento chama-se lenho, o qual apresenta-se recoberto por um tecido

    especial chamado casca; entre a casca e o lenho existe uma camada extremamente

    delgada, aparentemente fluida, denominada câmbio.

     A seiva bruta, retirada do solo, sobe pela camada periférica do lenho, o alburno, até as

    folhas, onde se processa a fotossíntese produzindo a seiva elaborada que desce pela

    parte interna da casca, o floema, até as raízes. Parte dessa seiva elaborada é conduzida

    radialmente até o centro do tronco por meio dos raios medulares.

     As substâncias não utilizadas pelas células como alimento são lentamente armazenadas

    no lenho. A parte do lenho modificada por essas substâncias é designada como cerne,

    geralmente mais densa, menos permeável a líquidos e gases, mais resistente ao ataque

    de fungos apodrecedores e de insetos e apresenta maior resistência mecânica. Em

    contraposição, o alburno, menos denso, constituído pelo conjunto das camadas externas

  • 8/17/2019 Apostila+1+Estrutura+de+Madeira

    4/9

     

    do lenho, mais permeável a líquidos e gases está mais sujeito ao ataque de fungos

    apodrecedores e insetos, além de apresentas menos resistência mecânica.

     As madeiras de construção devem ser retiradas de preferência do cerne, mais durável.Entretanto, a madeira de alburno aceita melhor a penetração de agentes protetores, como

    alcatrão e certos sais minerais.

    Em regiões de estações bem definidas, como regiões de climas frios e temperados, o

    crescimento do tronco depende da estação. Na primavera e no início do verão, o

    crescimento da árvore é intenso, formando-se no tronco de células grandes de paredes

    finas. No final do verão e no outono, o crescimento da árvore diminui, formando-se células

    pequenas, de paredes grossas. Como consequência, o crescimento do tronco se faz emanéis anuais, formados por duas camadas: uma clara, de tecido brando, correspondente à

    primavera; outra escura, de tecido mais resistente, correspondente ao verão. Contando-se

    os anéis, pode-se saber a idade da árvore. Nos climas equatoriais, os anéis nem sempre

    são perceptíveis.

    Devido à orientação das células, a madeira é um material anisotrópico, apresentando três

    direções principais: longitudinal, radial e tangencial. Anisotropia é uma característica que

    uma substância possui em que uma certa propriedade física varia com a direção. A

    diferença de propriedades entre as direções radial e tangencial raramente tem

    importância prática, bastando diferenciar as propriedades na direção das fibras principais

    (direção longitudinal) e na direção perpendicular às mesmas fibras.

    Figura 2 - Eixos principais da madeira em relação à direção das fibras (Fonte: Timber Bridges).

  • 8/17/2019 Apostila+1+Estrutura+de+Madeira

    5/9

     

     A madeira é constituídas principalmente por substâncias orgânicas. Os principais

    elementos constituintes apresentam-se nas seguintes porcentagens aproximadas,independentemente da espécie vegetal considerada: 50% de carbono, 44% de oxigênio e

    6% de hidrogênio. O composto predominante é a celulose, que constitui cerca de 50% da

    madeira, formando os filamentos que reforçam as paredes das fibras longitudinais. Outros

    dois componentes importantes são as hemiceluloses (20 a 25%) e a lignina (20 a 30%)

    que envolvem as macromoléculas de celulose, ligando-as. A lignina provê rigidez e

    resistência à compressão às paredes das fibras. A estrutura da madeira ainda apresenta

    pequenas quantidades (0,2 a 1%) de sais minerais, que constituem os alimentos dos

    tecidos vivos. Esses minerais produzem as cinzas quando a madeira é queimada.

     Algumas espécies vegetais apresentam ainda materiais, como resinas, óleos, ceras, etc.,

    que são depositados nas cavidades das células, produzindo coloração e cheiro

    característicos da espécie.

    Podem-se destacar os seguintes fatores que influem nas características físicas da

    madeira: classificação botânica, o solo e o clima da região de origem da árvore, fisiologia

    da árvore, anatomia do tecido lenhoso e variação da composição química.

    Entre as características físicas da madeira cujo conhecimento é importante para sua

    utilização como material de construção, destacam-se: umidade, densidade, retratibilidade,

    resistência ao fogo, durabilidade natural e resistência química.

      Umidade

     A umidade da madeira tem grande importância sobre as suas propriedades. O grau de

    umidade U é o peso de água contido na madeira expresso como uma porcentagem do

    peso da madeira seca em estufa Ps até a estabilização do peso.

     A quantidade de água das madeiras verdes ou recém-cortadas varia muito com as

    espécies e com a estação do ano. A faixa de variação da umidade das madeiras verdes

    tem como limites aproximados 30% para folhosas e 130% para coníferas.

     A umidade está presente na madeira de duas formas: água no interior da cavidade das

    células ocas (fibras) e água absorvida nas paredes das fibras.

    Quando a madeira é posta a secar, evapora-se a água contida nas células ocas,

    atingindo-se o ponto de saturação das fibras, no qual as paredes das células ainda estão

  • 8/17/2019 Apostila+1+Estrutura+de+Madeira

    6/9

     

    saturadas, porém a água no seu interior se evapora. Este ponto corresponde ao grau de

    umidade de cerca de 30%. A madeira é denominada, então, meia seca. Continuando-se a

    secagem, a madeira atinge um ponto de equilíbrio com o ar, sendo, então, denominada

    seca ao ar. O grau de umidade desse ponto depende da umidade atmosférica, variando

    geralmente entre 10 e 20% para a umidade relativa do ar entre 60 e 90% e a 20°C de

    temperatura.

    Em face do efeito da umidade nas outras propriedades da madeira, é comum referirem-se

    estas propriedades a um grau de umidade-padrão. No Brasil e nos Estados Unidos,

    adotam-se 12% como umidade-padrão de referência.

    Devido à natureza higroscópica da madeira, o grau de umidade de uma peça em serviçovaria continuamente, podendo haver variações diárias ou de estação.

      Densidade

     A norma brasileira apresenta duas definições de densidade a serem utilizadas em

    estruturas de madeira. A primeira é a densidade básica da madeira, definida como a

    massa específica convencional obtida pelo quociente da massa seca pelo volume

    saturado e pode ser utilizada para fins de comparação com valores apresentados na

    literatura internacional. A segunda, definida como densidade aparente, determinada para

    uma umidade-padrão de referência de 12%, pode ser utilizada para a classificação da

    madeira e nos cálculos de estruturas.

      Retratibilidade

    Define-se retratibilidade como sendo a redução das dimensões em uma peça da madeira

    pela saída de água de impregnação.

    Como visto anteriormente a madeira apresenta comportamentos diferentes de acordo

    com a direção em relação às fibras e aos anéis de crescimento. Assim, a retração ocorre

    em porcentagens diferentes nas direções tangencial, radial e longitudinal.

    Em ordem decrescente de valores, encontra-se a retração tangencial com valores de até

    10% de variação dimensional, também pode causar problemas de torção nas peças de

    madeira. Na sequência, a retração radial com valores na ordem de 6% de variação

    dimensional, também pode causar problemas de rachaduras nas peças de madeira. Por

    último, encontra-se a retração longitudinal com valores de 0,5% de variação dimensional.

  • 8/17/2019 Apostila+1+Estrutura+de+Madeira

    7/9

     

    Um processo inverso também pode ocorrer, o inchamento, que se dá quando a madeira

    fica exposta a condições de alta umidade onde ao invés de perder água ela absorve,

    provocando um aumento nas dimensões das peças.

     A retração volumétrica é aproximadamente igual à soma das três retrações lineares

    ortogonais.

      Resistência da madeira ao fogo

    Erroneamente, a madeira é considerada um material de baixa resistência ao fogo. Isto se

    deve, principalmente, à falta de conhecimento das suas propriedades de resistência

    quando submetida a altas temperaturas e quando exposta à chama, pois, sendo bem

    dimensionada ela apresenta resistência ao fogo superior à de outros materiais estruturais.

    Uma peça de madeira exposta ao fogo torna-se um combustível para a propagação das

    chamas, porém, após alguns minutos, uma camada mais externa da madeira se

    carboniza tornando-se um isolante térmico, que retém o calor, auxiliando, assim, na

    contenção do incêndio, evitando que toda a peça seja destruída. A proporção de madeira

    carbonizada com o tempo varia de acordo com a espécie e as condições de exposição ao

    fogo. Entre a porção carbonizada e a madeira sã encontra-se uma região intermediária

    afetada pelo fogo mas não carbonizada, porção esta que não deve ser levada em

    consideração na resistência.

    Figura 3 - Resistência ao fogo (Fonte: RITTER, 1990) 

  • 8/17/2019 Apostila+1+Estrutura+de+Madeira

    8/9

     

    Outra característica importante da madeira com relação ao fogo é o fato de não

    apresentar distorção quando submetida a altas temperaturas, tal como ocorre com o aço,dificultando assim a ruína da estrutura.

    Figura 4 - Aço contorcido apoiado em uma viga madeira carbonizada (Fonte: RITTER, 1990) 

      Durabilidade natural

     A durabilidade da madeira, com relação à biodeterioração, depende da espécie e das

    características anatômicas. Certas espécies apresentam alta resistência ao ataque

    biológico enquanto outras são menos resistentes.

    Outro ponto importante que deve ser destacado é a diferença na durabilidade da madeira

    de acordo com a região da tora da qual a peça de madeira foi extraída, pois, como visto

    anteriormente, o cerne e o alburno apresentam características diferentes, incluindo-se

    aqui a durabilidade natural, com o alburno sendo muito mais vulnerável ao ataque

    biológico.

     A baixa durabilidade natural de algumas espécies pode ser compensada por um

    tratamento preservativo adequado às peças, alcançando-se assim melhores níveis de

    durabilidade, próximos dos apresentados pelos espécies naturalmente resistentes.

  • 8/17/2019 Apostila+1+Estrutura+de+Madeira

    9/9

     

      Resistência química

     A madeira, em linhas gerais, apresenta boa resistência a ataques químicos. Em muitas

    indústrias é preferida em lugar de outros materiais que sofrem mais facilmente o ataquede agentes químicos. Em alguns casos a madeira pode sofrer danos devidos ao ataque

    de ácidos ou bases fortes. O ataque das bases provoca aparecimento de manchas

    esbranquiçadas decorrentes da ação sobre a lignina e as hemiceluloses da madeira. Os

    ácidos também atacam a madeira causando uma redução no seu peso e na sua

    resistência.

    Referencial teórico

    CALIL JUNIOR, C. SET 406  – Estruturas de Madeira - Notas de aula. Laboratório de

    Madeiras e de Estruturas de Madeira (LaMEM), São Carlos, 1998.

    PFEIL, Walter; PFEIL, Michéle Schubert. Estruturas de madeira:  dimensionamento

    segundo a Norma Brasileira NBR 7190/97 e critérios das Normas Norte-

    americana NDS e Européia EUROCODE 5. 6. ed. rev., atual. e ampl. Rio deJaneiro: LTC, 2003. 223 p.