Apresentação_ICNADa
-
Upload
vanessa-faria -
Category
Documents
-
view
12 -
download
0
Transcript of Apresentação_ICNADa
ESTRATÉGIAS DE APAGAMENTO ENUNCIATIVO: O PAPEL DO
SOBREENUNCIADOR NA CONSTRUÇÃO DO PONTO DE VISTA (PDV) EM GÊNEROS ACADÊMICOS
VANESSA FABÍOLA SILVA DE FARIA – UFRNALOMA DAIANY VARELA DOS SANTOS FARIAS – UFRN
OBJETO E OBJETIVO
Este trabalho tem como objeto o delineamento das marcas linguísticas de distanciamento/ apagamento enunciativo na escrita acadêmica. O principal objetivo deste trabalho é identificar o papel do sobreenunciador na construção do ponto de vista (PDV), abordada na perspectiva enunciativo-discursiva, identificando-se os posicionamentos enunciativos dos autores de textos acadêmicos (no âmbito da graduação) a partir da análise dos discursos relatados (DR), incluindo-se as recontextualizações de pontos de vista expressos por outros autores
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo qualitativo de cunho bilbiográfico-documental trazendo como corpus dois artigos de livros de divulgaçao científica da área de Linguística
APORTE TEÓRICO
Como aporte teórico, mobilizou-se as considerações rabatelianas acerca das noções de ponto de vista, apagamento enunciativo, posicionamentos e posturas enunciativas.
O PDV, PDV Herdada da tradição dos estudos narratológicos, em que era também articulada à noção de focalização, é introduzida posteriormente na Linguística para definir uma dada representação sobre um objeto do discurso por parte de uma fonte enunciativa e de acordo com seus interesses pragmáticos, trata-se de uma dimensão a um só tempo cognitiva e pragmática. (Rabatel, 2003, 2004, 2005, 2009). Pode-se dizer que são mobilizadas várias das noções a ele articuladas (PEC, imputação, Prise en compte, effacement enonciatif, etc) na produção da representação sobre o objeto do discurso
Effacement enonciatif
Rabatel (2004) discute essa noção a partir das considerações de Vion (2001) e Charaudeau (1999). Trata-se de uma estratégia discursiva que faz parecer que o locutor se retira do enunciado, seu discurso é objetivado não apenas mediante o recurso do apagamento dos sinais de sua presença (os embreadores), como também de qualquer expressão que favoreça a identificação. O autor evidencia essa estratégia nos planos de enunciação teórica e histórica, sugerindo que os eventos ou argumentos apresentados independem de qualquer intervenção do sujeito falante. Chega-se, assim, a uma ideia de simulacro enunciativo, ou um jogo em que o locutor não tem um ponto de vista, desaparece do ato de fala e deixa que o discurso fale por si.
Co-, Sub- e Sobre-enunciaçãoCo-enunciação A coenunciação, obviamente rara na medida
em que o conjunto dos pontos de vista demonstram efeitos de desigualdade, corresponde ao caso em que duas vozes se sobrepõe, momentâneamente, ou seja, ocorre a “co-construction par les énonciateurs d’un point de vue qui se donne comme point de vue commun et partagé”.
Subenunciação A subenunciação caracteriza o caso em que um pontoo de vista se apresenta, no texto, como interacionalmente dominado.
Sobrenunciação A sobre-enunciação caracteriza um ponto de vista interacionalmente dominante de um enunciador sobre outro.
Exemplos A) O homem é, verdadeiramente, um lobo do homem B) O homem é, sempre, um lobo do homem.
C) (Em princípio/ Em geral) O homem é, verdadeiramente, um lobo do homem. D) (Em princípio/ Em geral) O homem é, sempre, um lobo do homem.
Em C e D pode-se dizer que ocorre sobre-enunciação porque, a rigor, L1/E1 parecem dizer a mesma coisa que o enunciador dóxico e2 em A e B, no entanto, L1/E1 modifica a força argumentativa do PDV.
A sobreenunciação é mais forte em D em função da reorientação argumentativa marcada por ”em princípio” e “eem geral” sobre o modus, restringindo a pertinência do “sempre” no dictum. Esta restrição existe também em C, mas como ela não incide sobre termos de mesmo sentido, é menos contraditória, menos irônica e quiçá menos polêmica também (cf. Rabatel, 2012)
Seguramente, esses novos gêneros não são inovações absolutas, quais criações ab ovo, sem uma ancoragem em outros gêneros já existentes. O fato já fora notado por Bakhtin [1997] que falava na 'transmutação' dos gêneros e na assimilação de um gênero por outro gerando novos.
L1/E1 (responsável pelo discurso citante), numa posição de acordo com e2 reforça a orientação argumentativa do PDV de e2 (responsável pelo conteúdo proposicional no discurso citado).
Couture (1986) provides unusual clarification of the use of register and genre within systemic linguistics. But, in our studies registers as imposing constraints at the linguistic levels of vocabulary and syntax, whereas genre constraints operate at the level of discourse structure.
L1/E1 responsável pelo discurso citante, em concordância relativa com o conteúdo proposicional estabelecido no discurso citado de e2, redireciona a orientação argumentative.
Em praticamente todos os exemplos verificados observa-se um apagamento gradual (ora com maior intensidade, ora com menor intensidade) do ponto de vista de uma das instâncias, nesses casos de e2.
Este apagamento enunciativo parece cumprir uma função de natureza estratégica: faz parte da estratégia de L1/E1 na construção de seu ponto de vista, que pode se orientar num continuum entre a concordância absoluta e a discordância absoluta
Rabatel (2013)
DISCUSSÃO
Os resultados apontam para a possibilidade de se estabelecer relações hierárquicas entre os enunciadores e a coerência dos pontos de vista apagados. Como aporte teórico, mobilizou-se as considerações rabatelianas acerca das noções de ponto de vista, apagamento enunciativo, posicionamentos e posturas enunciativas, num estudo de cunho bilbiográfico-documental trazendo como corpus dois artigos de livros de divulgaçao científica da área de Linguística. Finalizou-se, compreendendo que o apagamento enunciativo produz um efeito sobre a postura de sobreenunciador não apenas como resultado de estratégias discursivas, mas, sobretudo como resultado de fenômenos gramaticais congruentes que desempenham um papel no nível frástico.
Referências COLTIER, D.; DENDALE, P; DE BRABANTER, P. (éds.). La notion de ‘prise en charge’ en linguistique. In:
Langue française, 2009, p.162. - 180 RABATEL, A. Positions, positionnements et postures de l’énonciateur . In Linha d’Água, n. 26 (2), p. 159-
183, 2013 CULIOLI, A. Valeurs aspectuelles et opérations énonciatives: l’aoristique.Recherches linguistiques, 5,
182-193, 1980. ______. Pour une linguistique de l’énonciation. Tome 1, Opérations et représentations. Paris: Ophrys, 1990. ______. Pour une linguistique de l’énonciation. Tome 3. Domaine notionnel. Paris: Ophrys, 1999. DENDALE, P.; COLTIER, D. La notion de prise en charge dans la théorie scandinave de la polyphonie
linguistique. In: BRES, J. et alii (éds.): Dialogisme et polyphonie. Approches linguistiques. Bruxelles: De Boeck-Duculot, 2005, p.125-140.
DESCLES, J.-P.; GUIBERT, G. Le dialogue, fonction première du langage. Paris: Honoré Champion, 2011. DUCROT, O. Le dire et le dit. Paris : Éditions de Minuit, 1984. JEANNERET, T. La coénonciation en français. Approche discursive, conversationnelle et syntaxique.
Berne: Peter Lang, 1999. RABATEL, A. Le sous-énonciateur dans les montages citationnels: hétérogénéités énonciatives et
déficits épistémiques. Enjeux, 54, p.52-66, 2002. ______. Stratégies d’effacement énonciatif et surénonciation dans Le dictionnaire philosophique de
Comte-Sponville. In: Langages, 156, p.18-33, 2004. ______. La part de l’énonciateur dans la construction interactionnelle des points de vue. Marges
linguistiques, 9, p.115-136, 2005a. ______. Les postures énonciatives dans la co-construction dialogique des points de vue: co- énonciation,
sur-énonciation, sous-énonciation. In: BRES, J.; HAILLET, P.-P.; MELLET, S.; NØLKE, H. & ROSIER, L.,(éds.): Dialogisme, polyphonie: approches linguistiques, Bruxelles: Duculot, 2005b, p.95-110.
______. Les auto-citations et leurs reformulations: des surassertions surénoncées ou sousénoncées. Travaux de linguistique , 52, p.71-84, 2006.
______. Les enjeux des postures énonciatives et de leur utilisation en didactique. Education et didactique, 2, p.87-114. 2007. DOI: 10.4000/educationdidactique.162
_______. Prise en charge et imputation, ou la prise en charge à responsabilité limitée. Langue française, 162, p.71-87, 2009.
_______. Retour sur les relations entre locuteurs et énonciateurs. Des voix et des points de vue. In: COLAS-BLAISE, M.; KARA, M.; PERRIN, L; PETITJEAN A.(dir.). La question polyphonique ou dialogique en sciences du langage. Metz: Celted/Université de Metz, 2010a, p.357-373.
______. Schémas, techniques argumentatives de justification et figures de l’auteur (théoricien ou vulgarisateur). Revue d’anthropologie des connaissances, 182
______. Des conflits de valeurs et de points de vue en discours. Semen, 32, p.55-72, 2011b. ______. Sujets modaux, instances de prise en charge et de validation. Le discours et la langue, 5, 2012a. ______. Enonciateur, sujet modal, modalité, modalisation. In: MAURY-ROUAN,C.; (éd.). Enonciation,
interaction, discours. Hommages à Robert Vion. Aix-enProvence (Publications de l’université de Provence), 2012c, p.53-70.
ROULET, E.Échanges, interventions et actes de langage dans la structure de la conversation. Études de linguistique appliquée, 44, p.7-39, 1981.