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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE BIOCIÊNCIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SISTEMÁTICA E EVOLUÇÃO
ICTIOFAUNA DO PARQUE NACIONAL DAS NASCENTES DO
RIO PARNAÍBA E SEU ENTORNO – CERRADO
(NORTE E NORDESTE, BRASIL)
________________________________________________
Dissertação de Mestrado
Natal/RN, agosto de 2017
MIGUEL FERNANDES BEZERRA NETO
MIGUEL FERNANDES BEZERRA NETO
ICTIOFAUNA DO PARQUE NACIONAL DAS NASCENTES DO RIO PARNAÍBA E
SEU ENTORNO - CERRADO (NORTE E NORDESTE), BRASIL
Dissertação apresentada ao Programa de pós-graduação em
Sistemática e Evolução da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte como requisito para obtenção do título de Mestre em
Sistemática e Evolução.
Orientador: Dr. Sergio Maia Queiroz Lima
Co-orientador: Dr. Telton Pedro Anselmo Ramos
Natal
2017
CDU 502.1 RN/UF/BSE-CB
1. Unidade de conservação - Dissertação. 2. Ecorregião
Tocantins-Araguaia - Dissertação. 3. Ecorregião Maranhão-Piauí -
Dissertação. 4. Peixes do cerrado - Dissertação. I. Lima, Sergio
Maia Queiroz. II. Ramos, Telton Pedro Anselmo. III. Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título.
Bezerra Neto, Miguel Fernandes.
Ictiofauna do Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba e
seu entorno - Cerrado (Norte e Nordeste, Brasil) / Miguel
Fernandes Bezerra Neto. - Natal, 2018.
54 f.: il.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande
do Norte. Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação em
Sistemática e Evolução.
Orientador: Prof. Dr. Sergio Maia Queiroz Lima.
Coorientador: Prof. Dr. Telton Pedro Anselmo Ramos.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - •Centro de Biociências - CB
Elaborado por KATIA REJANE DA SILVA - CRB-15/351
MIGUEL FERNANDES BEZERRA NETO
ICTIOFAUNA DO PARQUE NACIONAL DAS NASCENTES DO RIO PARNAÍBA E
SEU ENTORNO - CERRADO (NORTE E NORDESTE, BRASIL)
Data da aprovação 31_/_08_/_2017_
BANCA EXAMINADORA
Dr. Telton Pedro Anselmo Ramos - UFRN Co-Orientador
Dr. Jônnata Fernandes de Oliveira - UERN Membro Externo
Dr. Márcio Joaquim da Silva - UFRN Membro Interno
Esse trabalho é dedicado aos meus pais, Pedro Fernandes
Bezerra e Jânia Maria de Macêdo Bezerra, pelo exemplo de
honestidade e integridade que sempre foram na minha vida.
Além deles, ao meu avô Miguel Fernandes Bezerra. Sem eles,
biologicamente e filosoficamente, Miguel Fernandes Bezerra
Neto não seria possível.
O VELHO MONGE
Viajando pelo Nordeste brasileiro, encontrei um velho rio de águas barrentas e perguntei-lhe
como se chamava.
Ele me respondeu:
- Batizaram-me de Parnaíba, que significa em tupi-guaraní, “rio das águas barrentas”. Mas o
povo aqui me chama carinhosamente de Velho Monge, e é assim que gosto de ser chamado.
Depois de sua resposta perguntei-lhe:
- Grande rio Velho Monge, quantas espécies de peixes nas suas águas há?
Ele me olhou de soslaio e respondeu:
- Faz-me um favor, Moleque. Diz-me primeiro quantas espécies, o povo tem dito que há!
Pesquisei a literatura e voltei ao velho monge para responder. Quando dei a minha resposta, ele
riu da minha cara e disse-me:
- Estude um pouquinho mais e volta pra me responder!
Passei uns anos estudando, fucei suas águas e cheguei à conclusão que poderia voltar a mirar
os olhos do Velho Monge e lhe dizer o que aprendi...
Voltei a ele todo alegre.
Ele, Novamente, rio da minha cara e respondeu:
- Sabes quantas espécies tenho eu? Hahaha. Só quem sabe sou eu e Deus!
E me mandou continuar a estudar.
Telton Pedro Anselmo Ramos (2012)
O MONGE COM DOIS MESTRES
A história do jovem monge com dois mestres é mais ou menos assim...
Um jovem monge ficou fascinado do rio das águas barrentas. Logo soube da história de
um Mestre das Cabeceiras que conseguiu estudar e fitar os olhos do Velho Monge. O Velho
Monge desafiou o atual Mestre das cabeceiras a acertar quantas espécies de peixes haviam nos
corpos d’agua do rio barrento. Conta as boas línguas que ele não acertou. Mas foi o humano
que chegou mais perto desse feito.
Certo dia, o jovem aprendiz pegou suas poucas moedas, um pedaço de pão e uma velha
peneira para começar a sua jornada rio acima. Ele queria muito saber como foi esse encontro
pela própria boca do mestre desafiado pelo Velho Monge.
Ao chegar em uma pequena cidade que margeava esse rio lendário, ele parou em uma
pequena bodega pra tomar uns caroços de água. Assim que sentou no balcão, notou que numa
mesa ao fundo estava um homem solitário com uma garrafa de aguardente pela metade e uns
livros que ele devorava avidamente. A figura tinha uma aparência meridional com uma longa
barba e sotaque não comum para a região. Ao erguer os olhos, viu o jovem monge todo
deslocado e sem jeito. De supetão ele dirigiu a palavra para o jovem monge.
- Ei! Monge! Sente aqui comigo! Tenho umas “paradas” para te mostrar! – gritou o
Mestre Aventureiro.
O tolo e ingênuo monge olhou para os lados pra se certificar que o aventureiro não
estava falando com outra pessoa e andando de mansinho foi sentando a mesa.
- Olha só esses dados aqui! – dava para sentir a empolgação nas palavras do Mestre
Aventureiro.
- Dados? Que dados? – Falou confuso o jovem monge.
- Acredito que essa é uma bela área para começarmos um estudo ictiológico!
- Ictio... O que!?
- Lógico! Ictiológico! Se eu fosse você, iria encontrar O Mestre das Cabeceiras, aquele
que encarou o Velho Monge, o mais rápido o possível!
- Como o senhor sabe que estou atrás do Mestre que desafiou o Velho Monge?
- Sou o Mestre Aventureiro! Tenho monitorado o que se passa nessas águas barrentas
há algum tempo. Agora não perca mais tempo e vá logo correndo atrás do Mestre das
Cabeceiras!
O Jovem monge ficou extremamente empolgado com a energia do Mestre Aventureiro.
Devido a isso, apressou os passos para subir rio acima e encontrar o Mestre das Cabeceiras o
mais cedo possível. Mas existia um problema: não sabia como era a aparência do Mestre das
Cabeceiras.
Saiu em cidade e cidade a procura de mais informações sobre como era e como achar o
lendário mestre. Até que ao chegar na porção alta do rio barrento, viu um homem magro as
margens do rio com uma tarrafa nos ombros. Encarou o jovem monge por um momento e virou
as costas. Pegou a tarrafa e jogou com uma sincronia perfeita no rio. Junto com a tarrafa, vieram
muitos peixes. Ele apenas o observou e devolveu todos ao rio.
Intrigado, o jovem monge perguntou:
- Olá, senhor! Porque você devolveu todos os peixes de volta ao rio?
- O que eles tinham para me dizer, já me disseram. – Intrigado com a aparência do jovem
monge, o pescador da tarrafa perguntou. – E você, jovem monge? O que faz por essas bandas?
- Procuro o Mestre das cabeceiras! – respondeu de bate-pronto.
- Não existe esse tal de Mestre das Cabeceiras, jovem monge.
- Como o senhor sabe disso?
- Porque eu já fui chamado de muitos de nomes. Um deles foi “Mestre das Cabeceiras”...
O que posso te garantir é eu sou apenas o Mestre do Velho Monge.
...
Até os dias atuais não se sabem os detalhes se o jovem monge encontrou o “Mestre das
Cabeceiras”. O que se sabe, apenas, são que as seguintes páginas são frutos desses encontros
do jovem, todo e ingênuo monge com o Mestre Aventureiro e o Mestre do Velho Monge.
Miguel Fernandes Bezerra Neto (2017)
AGRADECIMENTOS
Antes de mais nada, agradeço aos meus dois mestres que fizeram essa dissertação ser
possível: Sergio Lima e Telton Ramos. Os dois além de orientadores exemplares são excelentes
amigos! Sabem a hora de festejar e a hora de dar palmadas. Aproveito a oportunidade para
agradecer também a gestão do Programa de Pós-Graduação de Sistemática e Evolução da
UFRN por não deixarem eu desistir quando o mais obvio era encerrar minhas atividades.
Agradeço também o empenho e a atenção do Dr. Flávio Lima do Zoologia da Universidade
Estadual de Campinas “Adão José Cardoso” (MZUEC).
Aquele “salve” aos colegas da parceria LISE&GEEFAA: Flávia Petean, Anna
Bennerman, Roney Paiva, Luciano, Matheus LISE, Matheus GEEFAA, Márcio (O Imperador
do São Francisco), Nathalia, Silvia Yasmin, Sávio, Thaís, Bruna, Cadu, Carol Puppin, Ana
Carolina, Lucas, Alef. Estiveram no lugar certo e na hora certa. Muito obrigado à tod@s.
Finalmente, agradeço a minha família: Pedro, Jânia, Mirthes e Pedro Paulo. Sem eles,
meu céu cairia (Brown, 1999).
RESUMO
Os ecossistemas aquáticos continentais e sua biota estão entre os mais ameaçados do mundo
pelas atividades antrópicas. Com isso, vem sofrendo rápido declínio. Devido à preocupação
com a ocupação desordenada e utilização irracional dos recursos naturais, as nascentes do rio
Parnaíba e de tributários do rio Tocantins estão protegidas, desde 2002, pela fundação do Parque
Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba (PNNRP). Este parque, inserido no bioma do Cerrado,
em uma área de transição entre a Amazônia e a Caatinga, localiza-se na divisa dos Estados do
Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia (MAPITOBA), e é divisor de águas de três importantes
bacias hidrográficas: dos rios São Francisco, Tocantins e Parnaíba. Assim, o objetivo geral deste
trabalho foi elaborar um levantamento geral da ictiofauna do PNNRP e entorno, e assim
identificar a riqueza de espécies em cada bacia indicando quais são compartilhadas, endêmicas,
ameaçadas de extinção, além de registrar as espécies ainda não descritas e possíveis espécies
introduzidas. A amostragem de campo abrangeu 53 pontos de coleta em julho de 2014 mediante
uso de petrechos ativos (redes tipo picaré, redes-de-mão e redes-de-arrasto) e passivos (redes
de espera e armadilhas tipo covo) com fins de evitar a seletividade por cada arte de pesca. No
PNNRP e se entorno foram registradas 97 espécies distribuídas em 53 gêneros, 22 famílias e
seis ordens de peixes de água doce. Estas espécies foram registradas em áreas de nascestes de
três bacias: Parnaíba, Tocantins e São Francisco. Das quais, 42 espécies foram registradas
dentro dos limites do PNNRP. Dentre as 42 espécies registradas no limite do PNNRP, apenas
duas (4,76%) são compartilhadas entre as bacias do Parnaíba e Tocantins: Bryconops melanurus
(Bloch, 1794) e Moenkhausia sanctaefilomenae (Steindachner, 1907). Das demais, 34 (83,34%)
espécies estavam presentes exclusivamente na bacia do rio Parnaíba e quatro (11,90%) na bacia
do rio Tocantins. Destas 13 (30.95%) são supostamente endêmicas da bacia do Parnaíba. Essas
informações podem ser utilizadas para a elaboração do plano de manejo da UC, além de futuros
estudos biogeográficos da biota aquática do Cerrado. Embora a área do PNNRP tenha
aumentado duas vezes desde sua criação, ainda não inclui nascentes do trecho médio da bacia
do rio São Francisco, o que implicaria em uma maior riqueza peixes protegidos pela UC.
Palavras-chave: Ecorregião Tocantins-Araguaia, Ecorregião Maranhão-Piauí, Unidade
de conservação, Peixes do cerrado.
ABSTRACT
The freshwater ecosystems and their fauna are the world's most threatened by anthropic
activities. Because of that, it has been rapidly declining. Due to concern about the unplanned
urban occupation and irrational use of natural resources, the headwaters of the Parnaíba River
and tributaries of the Tocantins River is protected, since 2002, by the creation of the Parque
Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba (PNNRP). The PNNRP is inside the Cerrado biome,
in a transitional area between the Amazon and the Caatinga. Besides it’s located in the border
of the States of Maranhão, Piauí, Tocantins and Bahia (MAPITOBA). This area is a watershed
of three important hydrographic basins: San Francisco, Tocantins and Parnaíba. Thus, this work
was developed to study the ichthyofauna of the PNNRP identifying the species and richness in
each basin. In addition to indicating endemic species, endangered, shared, not described and
possible introduced species. The field sampling covered 53 collection point in July’s 2014 using
active (picaré-type nets, hand-nets and trawl nets) and passive (holding nets and covo traps) in
order to avoid selectivity for each fishing gear. In PNNRP and around, was recorded 97 species,
53 genres, 22 families and 6 orders of freshwater fish. These species were recorded in areas of
three basins’s headwater: Parnaíba, Tocantins and São Francisco. Among them, only two
(4.76%) are shared between the two basins: Bryconops melanurus (Bloch, 1794) and
Moenkhausia sanctaefilomenae (Steindachner, 1907). Of the remaining, 34 (83.34%) species
were present only in the basin of Parnaiba river and four (11.90%) on the Tocantins river basin.
Of these 13 (30.95%) are supposedly endemic to the Parnaíba basin. This information can be
used for the elaboration of the management plan of the conservation unit, as well as future
biogeographic studies of the aquatic biota of the Cerrado. Although the PNNRP area has
increased twice since its inception, it still does not include headwaters of the middle San
Francisco basin, which would imply in a greater wealth fish protected by conservation unit.
Key-word: Tocantins-Araguaia Ecoregion, Maranhão-Piauí Ecoregion, Conservation Unit,
Fish of the Cerrado.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO. ..................................................................................................... 11
1.1 ICTIOFAUNA CONTINENTAL DO NEOTROPICAL ..................................... 11
1.1.1 Ictiofauna da bacia hidrográfica do rio Tocantins. .................................... 12
1.1.2 Ictiofauna da bacia hidrográfica do rio São Francisco. ............................... 13
1.1.3 Ictiofauna da bacia hidrográfica do rio Parnaíba. ...................................... 15
1.2 PARQUE NACIONAL DAS NASCENTES DO RIO PARNAÍBA. ................... 16
2. OBJETIVOS ........................................................................................................... 18
2.1 OBJETIVO GERAL .......................................................................................... 18
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS. ............................................................................. 18
3. JUSTIFICATIVA ................................................................................................... 19
4. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................. 20
4.1 ÁREA DE ESTUDO........................................................................................... 20
4.2 DESENHO AMOSTRAL ................................................................................... 21
4.3 DADOS DA COLETA ....................................................................................... 26
4.4 COLEÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES ............................................ 26
4.5 RISCO DE EXTINÇÃO DAS ESPÉCIES DO PNNRP ...................................... 27
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO. ........................................................................... 28
5.1 ICTIOFAUNA DO PNNRP E SEU ENTORNO ................................................. 28
5.2 ICTIOFAUNA DO PNNRP ................................................................................ 38
5.3 COMPARTILHAMENTO DAS ESPÉCIES QUE COMPÕEM O PNNRP ........ 43
5.3.1 Parnaíba (PNB) e Tocantins (TOC). ....................................................... 43
5.3.2 Parnaíba (PNB) e São Francisco (SFR). ................................................... 44
5.3.3 Tocantins (TOC) e São Francisco (SFR). ................................................. 44
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 45
7. REFERÊNCIAS...........................................................................................................46
11
1. INTRODUÇÃO
1.1 Ictiofauna continental Neotropical
A região Neotropical apresenta uma grande riqueza de peixes de água doce, composta
por mais de 4500 espécies, sendo assim a ictiofauna dulcícola mais rica do planeta (Albert et.
al. 2011). Acredita-se ainda que os peixes de água doce neotropicais representem 10% de todas
as espécies de vertebrados (Albert et. al. 2011).
Buckup et al. (2007) afirmam que, só no Brasil, há dez anos atrás já tinham sido
registradas pelo menos 2.587 espécies de peixes estritamente dulcícolas. Rosa & Lima (2010)
apontam que essa diversidade de peixes de água doce no Brasil é devido à presença de diversos
grandes sistemas hidrográficos. Dentre as espécies registradas no Brasil, quando se avalia a sua
distribuição dessas espécies nos referidos táxons, nota-se que 95% delas pertencem a apenas
cinco ordens: Characiformes, Siluriformes, Perciformes, Cyprinodontiformes e Gymnotiformes
(Rosa & Lima, 2010).
Atualmente os ecossistemas aquáticos neotropicais são os mais ameaçados do mundo e
uma alta taxa de extinção é projetada para os próximos anos (Dudgeon et al. 2006). Lévêque et
al. (2008) apontam que dentre as principais ameaças estão a destruição dos habitats, sobre-
exploração, modificações dos cursos d’água, introdução de espécies exóticas, poluição,
eutrofização e assoreamento, que podem resultar em mudanças na estrutura das comunidades,
extinções local e total de espécies.
Embora os ecossistemas aquáticos continentais estejam em rápido declínio, a
biodiversidade de água doce vem sendo negligenciada pelas avaliações de conservação
(Nogueira et al. 2010). Bem como, apresenta baixa prioridade em iniciativas conservacionistas
tanto pelos órgãos competentes quanto pelas organizações não governamentais (Lévêque et al.
2008). O estágio atual dos estudos envolvendo a ictiofauna aquática continental do Nordeste
brasileiro se encontra com diversas bacias ainda sub amostradas. Em muitos casos impedindo
12
a elaboração de inventários que subsidiem estudos de conservação (Langeani et al. 2009). Além
disso, mesmo com os recentes estudos o conhecimento atual da composição da ictiofauna
continental do Nordeste brasileiro ainda estão incompletos (Ramos et al. 2014; Camelier &
Zanata; Silva et al. 2015). Dificultando assim, a proposição de hipóteses biogeográficas e
consequentemente, a reconstrução de processos históricos evolutivos que moldaram a formação
da ictiofauna de água doce desta região (Rosa et al. 2003).
1.1.1 Ictiofauna da Bacia Hidrográfica do Rio Tocantins
A bacia do Tocantins-Araguaia é uma das principais ecorregiões brasileira, com uma
área de drenagem de aproximadamente 767 mil Km2 (Mérona et al. 2010). Sua drenagem é
limitada ao sul pela bacia Paraná-Paraguai, ao oeste pelo rio Xingu e ao leste pelas bacias do
São Francisco e Parnaíba (Ribeiro et al. 1995). Ao longo da bacia do Tocantins-Araguaia há
influência do bioma de Cerrado e uma área de transição com a floresta amazônicos denominada
de ambientes pré-Amazônicos (Mérona et al. 2010).
As nascentes do rio Tocantins encontram-se na região central do Brasil. Esse rio corre
na direção setentrional por aproximadamente 2.750 Km e desagua na enseada do Marajó, perto
da cidade de Belém (Claro-Gárcia & Shibatta, 2013). Além disso, a aproximadamente 200 Km
do oceano atlântico, o rio Tocantins, junto com o rio Araguáia, formam o maior delta no canal
principal do rio Amazonas (Garavello et. al. 2010).
A bacia do rio Tocantins-Araguaia, embora alguns autores a consideram parte integrante
da bacia Amazônica é considerada na grande maioria dos estudos como independente da bacia
do rio Amazonas (Santos et al. 2004). O Alto Tocantins é formado por dois tributários
principais, os rios Paraná e Maranhão. Esse último nasce na reserva biológica de Águas
Emendadas, no planalto central, local onde as bacias dos rios Paraná e São Francisco estão em
comunicação direta (Lima & Caires, 2011).
13
Para Lima & Caires (2011), a fauna aquática da bacia do Rio Tocantins pode ser
considerada relativamente bem conhecida quando comparada à ictiofauna dos outros
subsistemas amazônicos. Isso se deve ao fato de estudos realizados em trechos da bacia
oriundos dos empreendimentos hidroelétricos, como Tucuruí, Lageado e Serra da Mesa (Santos
et. al. 2004). Segundo uma compilação realizada por Lima & Caires (2011), através da consulta
de literatura e análise de espécimes de museu, no mínimo, 520 espécies de peixes ocorrem na
bacia do Rio Tocantins, das quais 30% são prováveis espécies endêmicas desse sistema.
A história biogeográfica da ictiofauna do rio Tocantins é mais relacionada com da bacia
amazônica (Rosa & Lima, 2010). Essa relação biogeográfica pode ter sido resultado da relativa
conectividade existente entre as terras baixas do baixo Amazonas com a depressão
tectonicamente ativa do Rio Araguaia. Esse evento pode ter propiciado a entrada de muitas
espécies originárias da biota da Amazônia Central na bacia do Rio Tocantins (Lima & Ribeiro,
2011). Em concomitância com isso, a relativa suscetibilidade às atividades neotectônicas
ocorridas do Plioceno (3 m.a.) ao período recente e o compartilhamento de um extenso divisor
de águas (Turchetto-Zolet et al. 2012), pode ter acarretado em um intercâmbio faunístico
resultantes da captura de pequenos sistemas hidrográficos devem ter ocorrido continuamente
nessa área do escudo brasileiro (Lima & Ribeiro 2011).
1.1.2 Ictiofauna da Bacia Hidrográfica do São Francisco
A bacia hidrográfica do rio São Francisco compreende uma área aproximada de 640 mil
km², sendo o rio principal e o maior rio da região Nordeste do Brasil e a terceira maior bacia
hidrográfica do país (Rosa et al. 2003). Sua drenagem é subdividida em quatro trechos (Alto,
Médio, Submédio e Baixo). Embora a ictiofauna da bacia do rio São Francisco seja
relativamente bem conhecida, a maioria das regiões de cabeceiras e os tributários localizados
na Bahia e norte de Minas Gerais permanecem praticamente inexplorados (Langeani et al.
14
2009), assim como tributários menores como os que drenam os Estados de Alagoas, Sergipe e
Pernambuco.
Atualmente, o rio São Francisco, após correr paralelo à costa em direção ao norte, vira
abruptamente para a margem oriental do Brasil, até desaguar entre os Estados de Alagoas e
Sergipe. Porém, evidências geológicas sugerem que seu curso mudou durante a glaciação
Mindel (aproximadamente 400.000 anos A. P.), quando este corria diretamente para o norte
desaguando no Estado do Piauí, através do que hoje consiste na bacia do rio Parnaíba
(Mabesoone, 1994). Alguns estudos envolvendo marcadores moleculares com organismos
terrestres encontraram evidências que corroboram o curso pretérito do rio São Francisco para o
norte (Coutinho-Abreu et al. 2008; Nascimento et al. 2013).
Rosa et al. (2003) registraram que a ecorregião São Francisco, sob domínio da Caatinga,
possuía 116 espécies, sendo 58 possivelmente endêmicas, o que corresponde a 56,3% de
endemismo. Em um trabalho mais atual e mais amplo, Albert et al. (2011) propõe que a
ictiofauna da ecorregião São Francisco apresenta 181 espécies das quais 106 (59%) são
endêmicas. No entanto, sua compilação não fornece listas de composição específica. Um
recente trabalho elencou cerca 304 espécies de peixes para a bacia do São Francisco, sendo 28
alóctones, introduzidas na bacia, via piscicultura ou aquarismo (Barbosa et al. 2017). Estes
autores também afirmaram que a bacia possui alto nível de endemismo com cerca de 60% das
espécies dulcícolas nativas.
No intuito de suprir a demanda hídrica e para atender às necessidades de abastecimento
de municípios da Caatinga semiárida (Lima, 2005), um grande empreendimento de transposição
de águas entre bacias está em construção. O Projeto de Transposição do Rio São Francisco é
uma iniciativa federal, que visa amenizar as sequências históricas de fortes secas que assolam
a região Nordeste do Brasil, desde o período imperial, e agir como ferramenta de
desenvolvimento socioeconômico (Andrade et al. 2011; Brasil 2004). Para isso o projeto visa
15
transferir água da bacia do São Francisco para as principais bacias hidrográficas da ecorregião
Nordeste Médio Oriental.
1.1.3 Ictiofauna da Bacia Hidrográfica do Rio Parnaíba
A ecorregião Maranhão-Piauí (MAPI) comporta a bacia do rio Parnaíba, este é o maior
rio onde toda a extensão está localizada no Nordeste brasileiro (Ramos et al. 2014). Como as
demais ecorregiões do Nordeste brasileiro, a MAPI sofre, predominantemente, influência do
bioma de Caatinga, caracterizado pela baixa precipitação e alta taxa de evaporação dos corpos
d’água (Rosa, 2003). Porém, uma parcela da porção superior da bacia do rio Parnaíba está
localizada em uma área de Cerrado (MMA, 2007). Essa região faz divisa com as ecorregiões
do São Francisco e Tocantins-Araguaia.
De acordo com Albert et. al. (2011), a ictiofauna do rio Parnaíba possui maior afinidade
com a bacia Amazônica do que com as demais ecorregiões do Nordeste do Brasil. Uma parte
da ictiofauna do rio Parnaíba pode ter se dispersado através da planície costeira em períodos de
regressões marinhas, durante o Pleistoceno, com a exposição de paleocanais (Turchetto-Zolet
et al. 2012) que poderiam conectar o rio Parnaíba com a bacia Amazônica a oeste e com as
bacias ocidentais do Nordeste Médio-Oriental a leste (Hubert & Renno, 2006). Já a história de
compartilhamento de espécies com a bacia do do São Francisco pode ser explicada pela
mudança do curso do rio São Francisco que desaguava no atual rio Parnaíba. Essa mudança de
direção para o Leste ocorreu devido provavelmente a um ajuste tectônico (Mabesoone, 1994).
Esses eventos climáticos e geomorfológicos evidenciam a complexa história evolutiva
da formação da ictiofauna continental das bacias hidrográficas nordestinas (Rosa et al. 2003).
A ocorrência das espécies ao longo de bacias hidrográficas depende da conexão entre as
mesmas (Jones & Johnson, 2009).
16
Atualmente, a ictiofauna da bacia do rio Parnaíba é composta por 152 espécies de peixes
de água doce, distribuídas em 101 gêneros, 33 famílias e 11 ordens (Silva et. al. 2015). Ramos
et. al. (2014) aponta que, mesmo com os avanços sobre o conhecimento da ictiofauna da bacia
do rio Parnaíba, as regiões de cabeceiras precisavam ser amostradas.
1.2 Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba
Mediante decreto presidencial, em 2002, foi criado o Parque Nacional das Nascentes do
Rio Parnaíba - PNNRP (Brasil, 2002). O parque tem como um dos objetivos proteger as
nascentes do rio Parnaíba e de tributários do rio Tocantins.
Devido a importância do PNNRP na conservação das nascentes, em 2015 por via de lei
federal, houve remarcação da área do parque e uma ampliação para de 722 mil hectares para
749,84 mil hectares (Brasil, 2015). O PNNRP ainda não possui plano de manejo elaborado,
tendo em vista que faltam estudos de levantamentos faunísticos, como os de peixes nas bacias
hidrográficas que estão parcialmente inseridas nessas áreas protegidas, assim como muitas
unidades de conservação (UC) do Nordeste (Leal et. al. 2015).
Se formos analisar o retrospecto das principais pesquisas na área, o primeiro
desbravador das nascentes do rio Parnaíba foi Gustavo L. G. Dodt quem entre os anos de 1868
e 1870 foi enviado a bacia do Parnaíba, a mando do presidente da província do Piauí, para
mapear a bacia das nascentes até a foz (Dodt, 1873; Ramos 2012). Dodt (1873) afirmou que as
verdadeiras nascentes do rio Parnaíba são a partir de dois olhos d’águas que distam 150 m, um
do outro, e as denominou de “Pão-Cheiroso”. Estas nascentes se unem e formam o “Parnahyba
do Flor” ou “Floriano” chamado pelo primeiro morador da região.
Do outro lado (Oeste) da Chapada das Mangabeiras, Estado do Tocantins, dentro do
limite PNNRP nasce o rio do Sono, um afluente da porção média do rio Tocantins. Esta região
de nascentes dentro do parque é caracterizada por possuir várias cachoeiras devido a declives
17
do território sendo assim alguns de seus peixes mostram associação com ambientes torrenciais
(Garavello et. al. 2010). Algumas dessas espécies são compartilhadas com o rio Amazonas
Central (Begossi & Garavello, 1990; Garavello et. al. 2010).
Na porção sul do PNNRP, no estado da Bahia, a drenagem segue para a bacia do rio São
Francisco, formando o rio do Sapão que é as nascentes do rio Preto, grande afluente do rio São
Francisco. No entanto, as nascentes do rio Sapão não se encontram dentro do limite do PNNRP,
segundo os shapes de hidrografia fornecido pela Agencia Nacional de Águas (ANA).
Portanto, a região do PNNRP e seu entorno se encontra dentro do bioma Cerrado que é
o segundo maior bioma da região neotropical (Diniz-Filho, 2009), ocupando uma área de quase
dois milhões de quilômetros quadrados na porção central do Brasil (Silva, 2010). Este Bioma é
formado por diferentes tipos de paisagens e habitats, desde campos abertos com vegetação
rasteira até florestas densas (Ribeiro & Walter, 1998). O Cerrado e a Mata Atlântica estão entre
os principais hotspots do mundo. As bacias hidrográficas que drenam ambos os biomas
representam 65% das espécies de peixes de água doce do Brasil (Myers et al. 2000). Nogueira
et al. (2010) ainda identificam que só na bacia do Tocantins-Araguaia, principal drenagem do
Cerrado, existem 22 pontos críticos com barragens hidroelétricas oferecendo risco as espécies
ou áreas com proteção formal pobre e ineficiente.
18
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Elaborar um levantamento da ictiofauna do Parque Nacional das Nascentes do Parnaíba
e seu entorno.
2.2 Objetivos específicos
I. Inventariar a ictiofauna do PNNRP e seu entorno identificando possíveis espécies
endêmicas, raras e/ou ameaçadas de extinção, introduzidas, além das espécies novas;
II. Avaliar a representatividade da ictiofauna da bacia do Tocantins e Parnaíba nos
limites da Unidade de Conservação PNNRP;
III. A partir dos resultados, propor recomendações para aumentar a eficácia da UC para
conservação da ictiofauna.
19
3. JUSTIFICATIVA
Quando se refere as bacias hidrográficas que drenam a área do PNNRP, mesmo com os
estudos de Rosa et al. (2004), na Caatinga (incluindo bacias dos rios São Francisco e Parnaíba),
e Ramos (2012) na bacia do rio Parnaíba, de maneira geral, o conhecimento da ictiofauna
continental dessa área de transição entre ecorregiões e biomas ainda carece de mais estudos
(Langeani et al. 2009). Destaque para o trabalho de Garavello et. al. (2010) que estudou a
ictiofauna no trecho do médio Tocantins, porém distante das áreas adjacentes do PNNRP.
Portanto, o presente trabalho contribui para o aumento do conhecimento da diversidade,
endemismo e distribuição geográfica dos peixes das bacias dos rios Parnaíba, São Francisco e
Tocantins. Para tanto, atenta para a necessidade de um levantamento dos peixes do PNNRP e
arredores, numa região de nascentes que atua como divisor de águas entre as bacias do rio
Parnaíba, São Francisco e Tocantins. Uma vez que essa área está inserida numa região de
transição entre a floresta da Amazônia, e os biomas de Cerrado e Caatinga. Não obstante, está
prevista a construção de cinco empreendimentos hidrelétricos na bacia do Parnaíba (Miranda
et al. 2014).
O PNNRP, como relatado anteriormente, é uma região de suma importância para fauna
aquática por estar localizada em uma área de divisor de águas entre três importantes bacias da
região Neotropical. No entanto, não existe registro de levantamentos ictofaunísticos nesse
parque, o que complica as estimativas do número de espécies de peixes dessas bacias, assim
como apontada para bacia do Parnaíba por de Pinna & Wosiacki 2003 e Ramos et. al. 2014).
Portanto, inventários nas áreas de cabeceiras são necessários pois podem elevar o número de
espécies conhecidas na bacia, principalmente pela descoberta de novos táxons nestas áreas
pouco ou não amostradas, como chamado atenção por Buckup et. al. (2007) que relacionaram
o aumento no número de espécies descritas no Brasil, as coletas intensivas feitas nas cabeceiras
de alguns tributários brasileiros.
20
4. MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 Área de estudo
A região estudada abrangeu as drenagens que se encontram dentro e no entorno do
Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba (PNNRP). O território do PNNRP, abrange
quatro estados brasileiros: Piauí, Maranhão, Bahia e Tocantins e apresentava uma área inicial
de 724,32 mil hectares nos limites municipais de Gilbués (PI), São Gonçalo do Gurguéia (PI),
Barreiras do Piauí (PI), Correntes (PI), Alto Parnaíba (MA), Formosa do Rio Preto (BA),
Mateiros (TO), São Félix do Tocantins (TO) e Lizarda (TO) (Brasil, 2002). Toda a área do
parque está inserida no bioma de Cerrado e é divisor de águas de três importantes bacias
hidrográficas: São Francisco, Tocantins e Parnaíba (MMA, 2007) Figura 1.
Figura 1. Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba (PNNRP) com suas respectivas drenagens.
No sopé da chapada das Mangabeiras nasce o rio Parnaíba (Figura 2), que se forma a
partir de inúmeras nascentes que formam os rios Água Quente (na divisa dos Estados do Piauí
21
e Maranhão), Curriola e Lontra (no Piauí) e outros que consolidam o Parnaíba (Silveira,
2004).
Figura 2. Geografia do ambiente estudado. (A) Cachoeira da Prata, localizada na porção média da bacia
do Tocantins; (B) Chapada das Mangabeiras.
4.2 Desenho amostral
As coletas ocorreram em oito dias consecutivos em junho de 2014, nas bacias
hidrográficas que estão inseridas no Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba bacias dos
rios São Francisco, Tocantins e Parnaíba) e em entorno (bacias do rio Tocantins, Parnaíba e São
Francisco), totalizando 53 localidades distribuídas em: uma na bacia do São Francisco, 41 na
bacia do Parnaíba (PNB) e 11 na bacia do Tocantins (TOC) (Figura 3, Tabela 1). Do total de
53 pontos amostrados 19 foram nos limites do PNNRB, sendo 17 na bacia do Parnaíba, dois na
do Tocantins e nenhum na do São Francisco.
22
Figura 3. Mapa do Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba e seu entorno mostrando as
localidades amostradas.
Figura 4. Rio Tají, Corrente, PI, Brasil (Foto: Sergio Lima).
Figura 5. Rio Gurgueia sob ponte na BR-135, São Gonçalo do Gurguéia, PI, Brasil (Foto:
Sergio Lima).
23
Figura 6. Riacho do Angico (Brejo de
Curupá), Alto Parnaíba, MA, Brasil (Foto: Sergio Lima).
Figura 8. Rio Uruçuí-vermelho, sob ponte
após o povoado de Várzea, PI, Brasil (Foto:
Sergio Lima).
Figura 10. Lagoa da Fortaleza, Barreiras do
Piauí, PI, Brasil (Foto: Sergio Lima).
Figura 7. Riacho inominado afluente do rio
Prata, São Felix do Tocantins, TO, Brasil (Foto: Sergio Lima).
Figura 9. Rio Parnaíba, corredeiras da
Taboca, Alto Parnaíba, MA, Brasil (Foto:
Sergio Lima).
Figura 11. Cachoeira do Pintado, afluente do
rio Água Quente, Barreiras do Piauí, PI, Brasil
(Foto: Sergio Lima).
24
Tabela 1 – Pontos de amostragens do Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba e seu entorno com as respectivas coordenadas.
Drenagem Localidade Latitude Longitude
1 Parnaíba Rio Tají, Corrente, PI, Brasil 10°22'54,9''S 45°12'21,4''W
2 Parnaíba Rio Corrente sob ponte na BR 135, Corrente, PI, Brasil 10°25'30,6"S 45°11'47,4"W
3 Parnaíba Rio Corrente, Corrente, PI, Brasil 10°21'9,4''S 45°'7'38,2''W
4 Parnaíba Rio Corrente, Corrente, PI, Brasil 10°23'14,9"S 45°15'05,9"W
5 Parnaíba Riacho inominado, afluente do rio Corrente, Corrente, PI, Brasil 10°24'39,4''S 45°12'25,0"W
6 Parnaíba Cabeceiras do rio Gurguéia, São Gonçalo do Gurguéia, PI, Brasil 10°4'38,8''S 45°20'18,2''W
7 Parnaíba Rio Corrente sob ponte na BR 135, Corrente, PI, Brasil 10°26'29,4''S 45°10'24,3''W
8 Parnaíba Rio Gurgueia sob ponte na BR-135, São Gonçalo do Gurguéia, PI, Brasil 10°1'37,1''S 45°18'12,4''W
9 Parnaíba Alagado as margens da BR-135, Corrente, PI, Brasil 10°14'19,4"S 45°10'53,9"W
10 Parnaíba Rio Uruçuí-vermelho, sob ponte após o povoado de Várzea, PI, Brasil 9°52'43,3''S 45°34'45,0''W
11 Parnaíba Rio Gurgueia, Parque das Araras, Corrente, PI, Brasil 10°06'27,0"S 45°21'24,0"W
12 Parnaíba Rio Gurguéia, em frente ao bar do Manoelzinho, Corrente, PI, Brasil 10°02'41,6"S 45°19'33,6"W
13 Parnaíba Rio Uruçuí-vermelho, no povoado do Prata, Barreiras do Piauí, PI, Brasil 9°57'14,7''S 45°34'15,2''W
14 Parnaíba Alagado Curicaca, próximo ao vilarejo Prata, Barreiras do Piauí, PI, Brasil 9°59'13,5''S 45°36'4,6''W
15 Parnaíba Brejo do Porto, Barreiras do Piauí, PI, Brasil 10°2'17,1''S 45°41'30,6''W
16 Parnaíba Rio Lontras Parque Nacional das Nascentes do rio Parnaíba, Barreiras do Piauí, PI, Brasil 10°2'36,2''S 45°41'56,1''W
17 Parnaíba Rio Curriola, sob ponte, Barreiras do Piauí, PI, Brasil 10°9'6,4''S 45°49'15''W
18 Parnaíba Cachoeira do Sussuapara, rio Sussuapara, afluente do rio Água Quente, Barreiras do Piauí, PI, Brasil 10°9'56,7''S 45°55'39,1''W
19 Parnaíba Rio Parnaíba, abaixo do encontro dos rios Pintado e Água Quente, Barreiras do Piauí, PI, Brasil 10°8'35,4''S 45°53'50,7''W
20 Parnaíba Cachoeira do Pintado, afluente do rio Água Quente, Barreiras do Piauí, PI, Brasil 10°11'28,9''S 45°51'12,9''W
21 Parnaíba Brejo do Atoleiro, Barreiras do Piauí, PI, Brasil 10°1'37,4''S 45°40'16''W
22 Parnaíba Brejo do Madeiro, Barreiras do Piauí, PI, Brasil 10°3'0,3''S 45°43'51,2''W
23 Parnaíba Barreirão a montante do encontro dos rios Corriola e Água Quente, Barreiras do Piauí, PI, Brasil 10°4'27''S 45°52'1,7''W
24 Parnaíba Lagoa da Fortaleza, Barreiras do Piauí, PI, Brasil 10°04'4,4"S 45°38'47,4''W
25 Parnaíba Brejo da Fortaleza, Barreiras do Piauí, PI, Brasil 10°3'52,2''S 45°38'35,1''W
26 Parnaíba Rio Uruçuí Vermelho, Próximo a Alto Alegre (Quebra-Bunda), Barreiras do Piauí, PI, Brasil 9°58'53''S 45°33'11,7''W
25
27 Parnaíba Rio Parnaíba, próximo a ponte no PNNP, Alto Parnaíba, MA, Brasil 9°53'24,3''S 45°51'37,6''W
28 Parnaíba Riacho em Curupá (Brejo do Sumidor), Alto Parnaíba, MA, Brasil 9°54'21,6''S 45°55'57,9''W
29 Parnaíba Riacho do Angico (Brejo de Curupá), Alto Parnaíba, MA, Brasil 9°54'8,4''S 45°56'3,5''W
30 Parnaíba Riacho inominado entre Curupá e Castelo, Alto Parnaíba, MA, Brasil 9°49'16,2''S 45°54'53,7''W
31 Parnaíba Riacho inominado Povoado Castelo, Alto Parnaíba, MA, Brasil 9°46'41,3''S 45°54'1,7''W
32 Parnaíba Riacho inominado entre Castelo e Taboca, Alto Parnaíba, MA, Brasil 9°41'57,2''S 45°54'48,3''W
33 Parnaíba Rio Parnaíba, corredeiras da Taboca, Alto Parnaíba, MA, Brasil 9°41'34,2''S 45°59'12,5''W
34 Parnaíba Riacho inominado entre Taboca e Alto Parnaíba, Alto Parnaíba, MA, Brasil 9°25'40,1''S 45°55'53,4''W
35 Parnaíba Rio Parnaíba, Alto Parnaíba, MA, Brasil 9°6'54,3''S 45°55'37,8''W
36 Parnaíba Riacho Brejinho, estrada entre Alto Parnaíba e Morrinhos, Alto Parnaíba, MA, Brasil 9°8'46,4''S 46°1'41,8''W
37 Parnaíba Riacho inominado próximo a Morrinhos, Alto Parnaíba, MA, Brasil 9°26'5,8''S 46°17'39,7''W
38 Parnaíba Riacho inominado entre Morrinhos e Bonfim, Alto Parnaíba, MA, Brasil 9°36'4,5''S 46°15'47,6''W
39 Parnaíba Rio Parnaibinha, estrada entre Morrinhos e Bonfim, Alto Parnaíba, MA, Brasil 9°37'37''S 46°14'54,3''W
40 Parnaíba Riacho inominado afluente do rio Riozinho, Alto Parnaíba, MA, Brasil 9°51'18,2''S 46°16'32,8''W
41 Parnaíba Riacho inominado afluente do rio Riozinho, Alto Parnaíba, MA, Brasil 9°54'31,5''S 46°16'47,4''W
42 Tocantins Rio Soninho, Bacia do Tocantins, São Felix do Tocantins, TO, Brasil 10°10'40,8''S 46°40'4,4''W
43 Tocantins Riacho inominado afluente do rio Prata, São Felix do Tocantins, TO, Brasil 10°8'39,6''S 46°35'19,6''W
44 Tocantins Riacho dos Porcos povoado do Prata, São Felix do Tocantins, TO, Brasil 10°8'48,1''S 46°30'4''W
45 Tocantins Riacho do Prata povoado do Prata, São Felix do Tocantins, TO, Brasil 10°8'45''S 46°29'55,4''W
46 Tocantins Cachoeira do Prata, São Felix do Tocantins, TO, Brasil 10°12'21,6''S 46°28'35,4''W
47 Tocantins Vereda afluente do rio Prata, estrada entre Cachoeira e Mateiros, São Felix do Tocantins, TO, Brasil 10°11'33,5''S 46°27'52''W
48 Tocantins Riacho inominado sob ponte na estrada entre o povoado do Prata e Mateiros, Mateiros, TO, Brasil 10°15'55,1''S 46°33'49,9''W
49 Tocantins Rio Formiga sob a ponte entre Prata e Mateiros, Mateiros, TO, Brasil 10°20'13,3''S 46°31'10,1''W
50 Tocantins Riacho inominado sob ponte, Mateiros, TO, Brasil 10°32'42,4''S 46°25'27,7''W
51 Tocantins Riacho inominado sob ponte entre Mateiros e Coaceral, Mateiros, TO, Brasil 10°32'23,4''S 46°21'18,9''W
52 Tocantins Riacho Come Assado, Mateiros, TO, Brasil 10°36'20,9''S 46°17'8,2''W
53 São Francisco Rio Sassafras, afluente do Sapão, Formosa do Rio Preto, BA, Brasil 10°38'8,5''S 45°50'21,2''W
26
4.3 Dados da coleta
Foram utilizados dois tipos de petrechos: ativos (redes tipo picaré, redes-de-mão
e redes-de-arrasto) e passivos (redes de espera e armadilhas tipo covo) a fim de evitar a
seletividade de cada arte de pesca, onde geralmente, apenas um determinado grupo de
organismos é capturado de acordo com o tamanho, hábitos, profundidade de ocorrência
(Uieda & Castro 1999). As redes de espera, sempre que possível, permaneceram
amarradas durante a noite.
Os espécimes coletados foram anestesiados numa solução de eugenol e em
seguida foram fixados em formalina a 10%. Alguns exemplares de cada espécie foram
fotografados em campo com utilização de um aquário fotográfico e etiquetados
individualmente (Martinez et. al. 2013) com o objetivo de se obter registros da coloração
natural. Os espécimes foram tratados de acordo com as normas de curadoria científica
que consistem na sua fixação em formol durante um período mínimo de 8 dias, na
transferência para uma solução alcoólica a 75º GL, na triagem por lotes de espécimes e
na etiquetagem individual de cada lote, de acordo com Malabarba & Reis (1987). A
Autorização para coleta de mais material para desenvolvimento do projeto foi concedida
(SISBIO/IBAMA nº 20088).
4.4 Coleção e identificação das espécies
O material coletado foi triado, depositado na Coleção de Ictiologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e identificado até a menor
categoria taxonômica possível, baseado em caracteres morfológicos e merísticos,
utilizando a bibliografia taxonômica e sistemática para peixes neotropicais disponíveis
(Ramos et. al. 2014; Buckup et. al. 2007). Já as espécimes capturadas na bacia do rio
Tocantins foram enviadas para o Museu de Zoologia da Universidade de Campinas
27
(ZUEC/UNICAMP) e identificadas pelo Dr. Flávio Lima do museu de Zoologia da
Universidade Estadual de Campinas “Adão José Cardoso” (MZUEC), que já trabalhou
com a ictiofauna dessa drenagem. No presente trabalho, o endemismo foi definido como
espécies restritas à uma única ecorregião (Albert et. al. 2011) utilizando como base para
verificação da distribuição e endemismo Reis et. al. (2003), Buckup et. al. (2007), Ramos
et. al. (2014).
Os termos taxonômicos foram utilizados da seguinte forma: “aff.” para espécies
com afinidade, mas que devem ser distintas do táxon nominal ao qual são atribuídas; “cf.”
para espécies de identidade duvidosa que precisam ser verificadas e “sp.” para possíveis
espécies não descritas.
4.5 Risco de extinção das espécies da fauna aquática do PNNRP
Para determinação do estado de conservação, a lista de espécies coletadas foi
cruzada com a lista das espécies de peixes e invertebrados ameaçados de extinção e com
as listas de espécies quase ameaçadas (NT) e com dados insuficientes (DD) do Instituto
Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade – ICMBio (Brasil, 2016).
28
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Ictiofauna do PNNRP e seu entorno.
No presente estudo foram registradas 97 espécies de peixes de água doce no
PNNRP e seu entorno, distribuídas em 53 gêneros, 22 famílias e seis ordens (Tabela 2 e
Figuras 12 - 32).
A ordem com maior número de espécies entre as ocorrentes na amostragem foi
Characiformes, com 55, representando 56% das espécies registradas. As da ordem
Characiformes estão distribuídas em 29 gêneros e 12 famílias. A segunda ordem mais
representativa foi a Siluriformes, com 26 espécies, dentro de 15 gêneros e 5 famílias,
representando 26% do total (Figura 33). As famílias com maior número de espécies foram
Characidae, com 28, representando 29% das espécies da bacia, seguida de Loricariidae,
com 10 (10%) as outras famílias apresentaram menos de 10 espécies cada (Figura 34).
Das 33 famílias registradas na bacia do Parnaíba, 15 foram representadas com apenas
uma espécie.
Este resultado seguiu o padrão dos trabalhos de levantamento das bacias do rio
Parnaíba (Ramos et. al. 2014; Silva et. al. 2015), rio Tocantins (Lima & Caires, 2011) e
São Francisco (Barbosa et. al. 2017), além de estudos prévios no Nordeste brasileiro
(Rosa et. al. 2003; Ramos et. al. 2005), no Brasil (Buckup et. al. 2007) ou região
Neotropical (Reis et. al. 2003).
Das 97 espécies registradas no presente estudo, 45 são endêmicas das bacias que
compõem o PNNRP, das quais 31 são prováveis espécies não descritas. Não foram
registradas espécies introduzidas.
29
Tabela 2 – Listagem de peixes coletados no Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba (PNNRP) e arredores, e sua ocorrência nas bacias dos rios Tocantins (TOC), Parnaíba (PNB) e São Francisco (SFR). Bem como, as espécies Endêmicas (END).
ORDEM/Família/Espécie PNNRP PNB TOC SFR END LOTE
CHARACIFORMES
Acestrorhynchidae
Acestrarhychus lacustris (Lütken, 1875) X UFRN3746
Anostomidae
Leporinus friderici (Bloch, 1794) X X UFRN2725, UFRN3040
Leporinus piau Fowler, 1941 X X UFRN2724, UFRN3651, UFRN3744
Megaleporinus obtusidens (Valenciennes, 1837) X UFRN3094
Characidae
Astyanax lacustris (Lütken, 1875) X UFRN3739
Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819) X X UFRN2707, UFRN3759, UFRN3762
Astyanax novae Eigenmann, 1911
Brachychalcinus parnaibae Reis, 1989
X
X
X X
UFRN2816, UFRN3678, UFRN3703
UFRN3143
Bryconamericus sp. X X X UFRN3034
Caiapobrycon tucurui Malabarba & Vari, 2000 X UFRN2814, UFRN2851, UFRN3591
Compsura heterura (Eigenmann, 1915)
Creagrutus sp.
X X
X
UFRN2715, UFRN2778, UFRN3758
UFRN3597, UFRN3732
Hasemania nana (Lütken, 1875) X UFRN2874
Hemigrammus brevis Ellis, 1911 X X UFRN3039, UFRN3129, UFRN3369
Hemigrammus marginatus Ellis, 1911 X X UFRN2840, UFRN3696
Hemigrammus rodwayi Durbin, 1909
Hemigrammus sp.
X
X
X
X
X
UFRN2854, UFRN3031, UFRN3407
UFRN2829, UFRN3594, UFRN3738
Hyphessobrycon cf. negodagua Lima & Gerhard, 2001
Hyphessobrycon sp.
X
X
X
X
X
UFRN2876
UFRN2788, UFRN2835, UFRN3102
Hyphessobrycon stegemanni Géry, 1961 X UFRN3596, UFRN3696
30
Jupiaba polylepis (Günther, 1864) X X X UFRN3084, UFRN3691
Knodus chapadae (Fowler, 1906)
Knodus sp.
X
X
X
X
UFRN3665
UFRN2810, UFRN3706, UFRN3742
Knodus victoriae (Steindachner, 1907) X X X UFRN3095, UFRN3357, UFRN3753
Moenkhausia collettii (Steindachner, 1882) X UFRN3593
Moenkhausia costae (Steindachner, 1907) X UFRN3722
Moenkhausia sanctaefilomenae (Steindachner, 1907) X X X X UFRN2790, UFRN3012, UFRN3374
Orthospinus franciscensis (Eigenmann, 1914) X UFRN339, UFRN3720
Phenacogaster calverti (Fowler, 1941) X UFRN2740
Phenacogaster cf. calverti (Fowler, 1941) X UFRN2708, UFRN2758, UFRN2779
Serrapinnus heterodon (Eigenmann, 1915)
Serrapinnus sp.
X
X
X
UFRN2714, UFRN3030, UFRN3349
UFRN2754, UFRN2875, UFRN3358
Chilodontidae
Caenotropus labyrinthicus (Kner, 1858) X X UFRN3134
Crenuchidae
Characidium aff bahiensis Almeida, 1971 X UFRN3702
Characidium cf. zebra (Eigenmann, 1915) X UFRN2709, UFRN2797, UFRN3776
Characidium zebra (Eigenmann, 1915)
Characidium sp. 1
X
X
X
X
X
UFRN3044, UFRN3086, UFRN3367
UFRN2871, UFRN3005, UFRN3175
Characidium sp. 2 X X X X X UFRN2784, UFRN3155, UFRN3409
Curimatidae
Curimatella immaculata (Fernández-Yépez, 1948) X X UFRN3140
Steindachnerina notonota (Miranda Ribeiro, 1937) X X UFRN2759, UFRN3091, UFRN3115
Cyphocharax cf. spilurus (Günther 1864) X UFRN3676
Erythrinidae
Hoplerythrinus unitaeniatus (Spix & Agassiz, 1829) X X X X UFRN2830, UFRN3185, UFRN3670
Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) X X X X UFRN2739, UFRN3060, UFRN3667
Hemiodontidae
31
Hemiodus parnaguae Eigenmann&Henn, 1916 X X UFRN3079
Iguanodectidae
Bryconops affinis (Günther, 1864) X UFRN3719, UFRN3752
Bryconops melanurus (Bloch, 1794)
Bryconops sp.1
X X X X
X
UFRN2713, UFRN3180, UFRN3709
UFRN3750
Bryconops sp.2
Bryconops sp.3
X
X
X
X
UFRN2787, UFRN2817, UFRN3700
UFRN3704
Paradontidae
Apareiodon sp. 1 X X UFRN2774
Apareiodon sp. 2 X X UFRN2746
Serrasalmidae
Colossoma macropomum (Cuvier, 1816) X UFRN3011
Metynnis cf. lippincottianus (Cope, 1870) X UFRN2833, UFRN3106
Metynnis lippincottianus (Cope, 1870) X UFRN3692
Triportheidae
Triportheus signatus (Garman, 1890) X UFRN3081
Melanorivulus sp. X X X X UFRN3187, UFRN3376, UFRN3602
Melanorivulus parnaibensis (Costa, 2003) X X X UFRN3061, UFRN3127, UFRN3363
Melanorivulus cf. parnaibensis (Costa, 2003) X X X UFRN2832, UFRN2855, UFRN3408
Melanorivulos jalapensis (Costa, 2010) X X X UFRN3065, UFRN3653
Gymnotus aff. carapo Linnaeus, 1758 X UFRN3673, UFRN3699
Gymnotus carapo (Linnaeus, 1758) X X UFRN2856, UFRN3058, UFRN3764
Sternopygidae
Eigenmannia sp. X X UFRN3705, UFRN3740
GYMNOTIFORMES
Gymnotidae
CYPRINODONTIFORMES
Cynolebiidae
32
Sternopygus macrurus (Bloch & Schneider, 1801)
Sternopygus sp.
X X
X
UFRN3652, UFRN3767
UFRN3743
PERCIFORMES
Cichlidae
Aequidens tetramerus (Heckel, 1840) X X X UFRN2818, UFRN2836, UFRN3714
Cichlasoma sanctifranciscense Kullander, 1983 X X X UFRN3016, UFRN3144, UFRN3672
Cichlasoma orientale Kullander, 1983 X X UFRN3009
Crenicichla cf. menezesi Proeg, 1991 X X UFRN3763
Crenicichla menezesi Proeg, 1991 X X X UFRN2712, UFRN3138
Crenicichla sp. X X X UFRN2852, UFRN3592, UFRN3647
Geophagus parnaibae Staeck & Schindler, 2006 X X X UFRN2796, UFRN3142, UFRN3729
SILURIFORMES
Auchenipteridae
Centromochlus bockmanni Sarmento-Soares & Buckup 2005 X UFRN3730
Centromochlus sp. X X UFRN3413
Callichthyidae
Aspidoras raimundi (Steindachner, 1907) X X X UFRN2795, UFRN3036, UFRN3346
Aspidoras sp. X X X UFRN3069
Callichthys callichthys (Linnaeus, 1758) X UFRN3377
Corydoras sp. X X X UFRN3028, UFRN3118, UFRN3715
Heptapteridae
Cetopsorhamdia sp. X X UFRN3356
Imparfinis sp. X X UFRN2716, UFRN2771, UFRN2792
Pimelodella parnahybae Fowler, 1941 X X X UFRN2733, UFRN2756, UFRN3136
Pimelodella sp. X X UFRN3598
Phenacorhamdia sp.1 X X X UFRN2768, UFRN2800, UFRN3083
Phenacorhamdia sp.2 X UFRN2815
Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard, 1824) X X UFRN3057, UFRN3364
33
Loricariidae
Ancistrus damasceni (Steindachner, 1907)
Hypostomus johnii (Steindachner, 1877)
X
X
X
X
UFRN2719, UFRN2721, UFRN3718
UFRN2705, UFRN2866, UFRN3024
Hypostomus plecostomus Linnaeus, 1758
Hypostomus sp. 1
X
X X
UFRN3590, UFRN3595
UFRN2718, UFRN2722, UFRN3754
Hypostomus sp. 2
Hypostomus sp. 3
X X
X
X
UFRN2720, UFRN2867, UFRN3765
UFRN2811, UFRN2849
Hypostomus sp. 4
Hypostomus sp. 5
X
X X
X
UFRN2812
UFRN3043
Loricaria parnahybae Steindachner, 1907
Parotocinclus cabessadecuia Ramos, Lima & Ramos, 2017
X X
X
X
X
UFRN3112, UFRN3761, UFRN3766
UFRN2846
Pimelodidae
Pimelodus maculatus (Lacepède, 1803)
Pimelodus sp.
X
X
X
UFRN3023, UFRN3756, UFRN3760
UFRN3925, UFRN3055, UFRN3093
SYNBRANCHIFORMES
Synbranchidae
Synbranchus marmoratus (Bloch, 1795) X UFRN2837
34
Figura 12. Characidium sp. 1 (Foto: Sergio
Lima).
Figura 14. Serrapinnus sp. (Foto: Sergio
Lima).
Figura 16. Hyphessobrycon sp. (Foto: Sergio
Lima).
Figura 13. Characidium sp. 2 (Foto: Sergio
Lima).
Figura 15. Astyanax novae Eigenmann, 1911 (Foto: Sergio Lima).
Figura 17. Knodus victoriae (Steindachner, 1907) (Foto: Sergio Lima).
35
Figura 21. Hoplerythrinus unitaeniatus (Spix
& Agassiz, 1829) (Foto: Sergio Lima).
Figura 23. Ancistrus damasceni
(Steindachner, 1907) (Foto: Sergio Lima).
Figura 25. Phenacorhamdia sp. 1 (Foto:
Sergio Lima).
Figura 22. Hypostomus sp. 4 (Foto: Sergio
Lima).
Figura 24. Parotocinclus cabessadecuia
Ramos, Lima & Ramos, 2017 (Foto: Sergio
Lima).
Figura 26. Phenacorhamdia sp. 2 (Foto:
Sergio Lima).
36
Figura 27. Pimelodella sp. (Foto: Sergio
Lima).
Figura 29. Melanorivulus parnaibensis
(Costa, 2003) (Foto: Sergio Lima).
Figura 31. Aequidens tetramerus (Heckel,
1840) (Foto: Sergio Lima).
Figura 28. Cetopsorhamdia sp. (Foto: Sergio
Lima).
Figura 30. Melanorivulus jalapensis (Costa,
2010) (Foto: Sergio Lima).
Figura 32. Crenicichla sp. (Foto: Sergio
Lima).
37
Numéro de Espécies
Número de Espécies
Characidae
Loricariidae
Cichlidae
Heptapteridae
Crenuchidae
Iguanodectidae
Rivulidae
Callichthyidae
Anostomidae
Curimatidae
Serrasalmidae
Sternopygidae
Auchenipteridae
Erythrinidae
Gymnotidae
Paradontidae
Pimelodidae
Acestrorhynchidae
Chilodontidae
Hemiodontidae
Synbranchidae
Triportheidae
60
50
40
30
20
10
0
ORD
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33. N
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38
Alto Parnaíba Médio Tocantins Compartilhadas
5.2 Ictiofauna do PNNRP.
Dentro dos limites do PNNRP foram registradas 42 espécies, que estão
distribuídas em 15 famílias e cinco ordens de peixe de água doce (Tabela 2). Sendo assim,
estas espécies foram registradas na porção alta da bacia do rio Parnaíba e média do rio
Tocantins.
A família Characidae foi a mais representativa com o maior número de espécies
coletadas (n=9), seguida por Cichlidae (n=7) e Cynolebiidae (n=4), como expressa no
Figura 35. Dentre as 42 espécies amostradas no PNNRP, apenas duas (4,76%) são
compartilhadas entre as bacias do Parnaíba e Tocantins: Bryconops melanurus e
Moenkhausia sanctaefilomenae. Além dessas, 35 (83,34%) espécies foram registradas
exclusivamente na bacia do rio Parnaíba e cinco (11,90%) na bacia do rio Tocantins.
Dentre as espécies encontradas, 13 são endêmicas da bacia do Parnaíba e apenas uma da
bacia do Tocantins.
Figura 35. Número de espécies de peixes registradas por família no Parque Nacional das
Nascentes do Rio Parnaíba em 2014.
8
0
1
5
2
0
2
2
0
3
0
0
2
1
0
3
0
0
3
0
0
2
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2
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0
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1
0
0
0
0
1
1
0
0
1
0
0
1
0
0
39
No inventario da ictiofauna dos corpos d’água do PNNRP é importante destacar a
diversidade de espécies da família Cynolebiidae, no total de quatro espécies, todas do
gênero Melanorivulus. As espécies desse gênero foram encontradas em diversas veredas
no PNNRP nas duas drenagens. Essa informação se torna valiosa para o manejo e
conservação, uma vez que os peixes representantes dessa família são alvo dos
aquariofilistas, devido as formas e cores exuberantes, bem como, seus habitats rasos e
lênticos, o que as tornam mais vulneráveis às ações predatórias antropogênicas (Costa,
2002).
No presente trabalho, na porção do PNNRP drenada pela bacia do Rio Tocantins
foram registrados a presença de Melanorivulus jalapensis e Melanorivulus sp. Já na
porção drenada pela bacia do Rio Parnaíba, Melanorivulus parnaibensis (Costa, 2003) e
Melanorivulus cf. parnaibensis. Melanorivulus sp. e M. cf. parnaibensis precisam ser
mais estudadas, pois apresentam diferenças morfológicas que as distinguem das espécies
descritas, e podem se tratar de espécies novas ainda não descritas.
Na porção drenada pela bacia do Tocantins, há ocorrência de uma espécie
classificada como Crenicichla cf. menezesi. Até o presente momento, não há registros de
Crenicichla menezesi na bacia do Tocantins. Caso haja confirmação dessa ocorrência,
seria o primeiro registro de C. menezesi fora da região Nordeste e mais uma espécie
compartilhada entre as bacias do Tocantins e Parnaíba.
Das 42 espécies elencadas para o PNNRP, 10 só foram identificadas a nível de
gênero (Aspidoras sp., Bryconamericus sp., Characidium sp. 1, Characidium sp. 2,
Corydoras sp., Crenicichla sp., Hemigrammus sp., Hyphessobrycon sp., Hypostomus sp.
5 e Melanorivulus sp.). Essas espécies carecem de maiores estudos taxonômicos pois
possuem caracteres diagnósticos diferentes das espécies conhecidas das bacias estudadas,
portanto, podem se tratar de espécies novas, ainda não descritas. Algumas espécies desses
40
gêneros já foram apontadas por outros trabalhos na bacia do rio Parnaíba (Ramos et. al.
2014; Silva et. al. 2015) e na bacia do rio Tocantins (Lima & Caires, 2011).
Quanto a respeito do risco de extinção das espécies de peixes de agua doce
elencadas no presente trabalho no PNNRP, nenhuma espécie coletada encontra-se
ameaçada de extinção, quase ameaçada ou com dados insuficientes quando se compara a
lista de espécies aqui apresentada com a lista de espécies ameados do Brasil (Brasil,
2016).
Além disso, é importante chamar atenção ao fato de não ter sido registradas, no
presente estudo, espécies alóctones dentro dos limites PNNRP. Na bacia do Parnaíba já
foram registradas sete espécies introduzidas: Arapaima gigas (Cuvier, 1829), Astronotus
ocellatus (Agassiz, 1831), Colossoma macropomum (Cuvier, 1816), Cichla monoculus
Spix & Agassiz, 1831, Poecilia reticulata Peters, 1859, Oreochromis niloticus (Linnaeus
1758) e Coptodon rendalli (Boulenger, 1896) (Ramos et. al. 2014; Silva et. al. 2015).
Para avaliar a representatividade das espécies coletadas dentro do Parque Nacional
das Nascentes do Rio Parnaíba, foi comparada os padrões de riqueza de espécies presentes
dentro do parque com as espécies coletadas nos corpos d’água em torno do PNNRP
(Tabela 3). Desse modo, as espécies coletadas nas drenagens da Bacia do Parnaíba
(PNB), sem levar em consideração o compartilhamento com as bacias vizinhas, foi
registrado 67 espécies de peixes, dos quais, 37 estão no interior do PNNRP. Apresentando
assim, uma representatividade de 55,22% das espécies coletadas na expedição. Já a bacia
do Tocantins (TOC), apenas sete (20,59%) espécies das 34 foram registradas dentro dos
limites do PNNRP.
41
Tabela 3. Riqueza total das espécies presente no PNNRP e sua representatividade na totalidade das espécies coletadas nos entornos das respectivas bacias. PNB = Parnaíba, TOC= Tocantins e
SFR= São Francisco.
BACIA HIDROGRÁFICA PNNRP TOTAL REPRESENTATIVIDADE
PNB 37 67 55,22%
TOC 7 34 20,59% SFR 0 18 0%
Embora a bacia do Rio São Francisco não tenha parte de suas drenagens
contempladas no PNNRP, ela exerce forte influência na ictiofauna da área estudada. Uma
vez que há registro na literatura de espécies compartilhadas entre as bacias do Parnaíba e
do São Francisco (Ramos, 2012). No presente estudo, as bacias do Parnaíba e Tocantins
compartilharam 12 (12,24%) espécies; Parnaíba e São Francisco compartilharam 5
(5,10%); enquanto que as bacias do Tocantins e São Francisco compartilharam 7 (7,14%)
espécies (Tabela 4). Dentre as 98 espécies coletadas na expedição, 4 (4,08%) são
compartilhadas pelas três bacias estudadas: Moenkhausia sanctaefilomenae,
Hoplerythrinus unitaeniatus, Hoplias malabaricus e Characidium sp.2.
Tabela 4. Número de espécies compartilhadas na presente expedição.
BACIA HIDROGRÁFICA PNB TOC SFR
Parnaíba
Tocantins
São Francisco
12 (12,24% 5 (5,10%)
7 (7,14%)
No presente estudo sugiro que sejam ampliados os limites PNNRP para que estes
abranjam uma porção do rio do Sapão, afluente do rio São Francisco, assim o PNNRP
também contenha parte da ictiofauna dessa bacia, assim como contem das bacias dos rios
Tocantins e Parnaíba. Esta região é uma área de nascentes de um afluente de umas das
bacias mais importantes do país. A Lei n° 7.754, de 14 de abril de 1989 estabelece as
diretrizes para proteção das florestas estabelecidas nas nascentes dos rios. Essas regiões
de nascentes são consideradas Áreas de Preservação Permanente (APPs), portanto, seria
42
muito importante para conservação desse manancial, que o limite deste Parque Nacional
abrangesse toda essa região de nascentes.
Como muitas Unidades de Conservação (UC) brasileiras, o PNNRP ainda não
possui plano de manejo elaborado, e esse foi o primeiro levantamento ictiofaunístico
realizado nos afluentes das bacias hidrográficas, que estão parcialmente inseridas nesta
UC. Com isso, há grande dificuldade em avaliar a efetividade desta UC para preservação
da biota aquática.
Embora o Brasil seja responsável pela grande maioria das novas áreas protegidas
do mundo (aproximadamente 75%) criadas desde 2003 (Jenkins & Joppa, 2009), tais
Unidades de Conservação (UCs) não levaram em consideração a rede hidrográfica e sua
fauna como estratégia para a demarcação de suas fronteiras (Agostinho et. al. 2005). Em
concordância com isso, o elevado ritmo das modificações dos ambientes fluviais,
impostas pela construção de usinas hidroelétricas, tem ameaçado as populações de peixes
anuais e reofílicos (Rosa & Lima, 2010; Costa, 2002). Em relação a bacia do Tocantins,
há a ocorrência de 16 espécies ameaçadas. Das quais, sete são peixes anuais da família
Cynolebiidae (Rosa & Lima, 2010). Outros fatores que impõem sérios riscos à extinção
de espécies de peixes na região é a vasta plantação de soja e milho na região conhecida
como MATOPIBA (Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia), caracterizada pela expansão de
uma fronteira agrícola baseada na tecnologia de alta produtividade (Miranda et. al. 2014).
A expansão agrícola acarreta em desmatamento e o consequente desaparecimento de
biótopos de peixes (Costa, 2002).
A ictiofauna da bacia do rio Parnaíba vem sendo relativamente bem estudada nos
últimos anos Ramos et. al. (2014), Melo et. al. (2014), Silva et. al. (2015), Melo et. al.
(2016), Ramos et. al. (2017a), Ramos et. al. (2017b). Ramos et. al. (2014) fizeram o maior
estudo da ictiofauna da bacia do rio Parnaíba, sendo analisada material de mais de 240
43
pontos de amostragens. Esses autores elevaram o número espécies que era estimado de
de 90 a 100 espécies, para 146 distribuídas em 103 gêneros, 36 famílias e 11 ordens. Das
146 espécies elencada nesse estudo, 23 constituíram novos registros para a bacia do
Parnaíba, 25 foram espécies não descritas e sete espécies introduzidas. Os autores desse
trabalho afirmam que o nível de endemismo da bacia do Parnaíba é de 38.9%, 54 espécies.
Silva et. al. (2015) apresentaram mais seis novos registros, aumentando a riqueza da bacia
do rio Parnaíba para 152 espécies de peixes. Através dos dados do primeiro inventario do
PNNRP, apresentado no presente trabalho, podemos afirmar que a representatividade da
ictiofauna da bacia do rio Parnaíba nos limites do PNNRP é em torno de 27.7% (42
espécies) da ictiofauna.
5.3 Compartilhamento das espécies entre as bacias que compõem o PNNRP.
5.4.1 Parnaíba (PNB) e Tocantins (TOC)
As 12 espécies compartilhadas entre as bacias do Parnaíba (PNB) e Tocantins
(TOC) são: Hemigrammus marginatus, Hemigrammus sp., Hyphessobrycon sp., Jupiaba
polylepis, Moenkhausia sanctaefilomenae, Characidium sp.2, Hoplerythrinus
unitaeniatus, Hoplias malabaricus, Bryconops melanurus, Aequidens tetramerus,
Cichlasoma sanctifranciscense e Phenacorhamdia sp.1. Dentre elas, vale ressaltar o
registro das espécies H. marginatus e J. polylepis, presente nas duas bacias. Porém, não
foi registrado em nenhum ponto da expedição dentro do PNNRP.
Já o Hoplias malabaricus, Aequidens tetramerus e Cichlasoma sanctifranciscense
são compartilhadas entre as bacias do Parnaíba e Tocantins, mas, não há registro dentro
do PNNRP nas drenagens pertencentes a bacia do Rio Tocantins. As espécies
Characidium sp.2, Hyphessobrycon sp., Hemigrammus sp. e Phenacorhamdia sp.1
apresentam as mesmas características dos trabalhos de Ramos (2012) e de Lima & Ribeiro
44
(2011). Porém, a classificação desses grupos ainda é confusa na literatura e carece de
mais estudos taxonômicos.
5.4.2 Parnaíba (PNB) e São Francisco (SFR)
No presente estudo houve o registro de cinco espécies compartilhadas entre as
bacias do Rio Parnaíba e do Rio São Francisco: Leporinus piau, Moenkhausia
sanctaefilomenae, Hoplerythrinus unitaeniatus, Hoplias malabaricus e Characidium
sp.2. Dentre essas espécies, apenas o L. piau não há registro concomitante com a bacia
do Tocantins. Não obstante, essa espécie foi registrada apenas nas áreas em torno do
PNNRP, sendo assim, mais uma espécie compartilhada que possivelmente não é
protegida pelo parque.
5.4.2 Tocantins (TOC) e São Francisco (SFR)
Entre as bacias do Rio Tocantins e do Rio São Francisco foram registradas sete
espécies compartilhadas (Figura 10). Chama atenção nesse compartilhamento o número
de espécies pouco estudadas ou desconhecidas como o Knodus sp., Melanorivulus sp.,
Eigenmannia sp. e Characidium sp.2. Além, das espécies de distribuição ampla como o
Moenkhausia sanctaefilomenae, Hoplerythrinus unitaeniatus, Hoplias malabaricus.
45
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o levantamento ictiofaunístico realizado no Parque Nacional das Nascentes do
Rio Parnaíba, no presente estudo, foi possível obter um retrato suficiente das condições
da fauna de peixes e dos ambientes a que está fauna está associada. Os impactos
detectados nos corpos d’águas amostrados no presente estudo são poucos quando
comparados com amostragens realizadas fora da unidade de conservação.
Como afirmado acima o conhecimento da ictiofauna da bacia do rio Parnaíba avançou
bastante nos últimos anos, no entanto, as nascentes dessa drenagem, onde fica a maior
parte no PNNRP eram inexplorados, e assim impossibilitando reconhecer qual parcela da
ictiofauna de peixes de água doce dessa bacia estavam representadas dentro dessa UC.
Portanto, as informações coletadas no presente estudo podem ser utilizadas para a
elaboração do plano de manejo da PNNRP que ainda não existe, além de futuros estudos
biogeográficos da biota aquática do Cerrado.
O PNNRP é de fundamental importância para a região porque protege uma parte
do Cerrado brasileiro, esta é uma das florestas mais ameaçadas do mundo, possui alta
biodiversidade, com elevadas taxas de riqueza e endemismo. O parque está localizado em
uma região de cabeceiras de importantes rios brasileiros, toda essa região, inclusive as
nascentes do rio Sapão, afluente do São Francisco. Essas regiões de nascentes são
consideradas Áreas de Preservação Permanente (APPs), portanto, seria muito importante
para conservação desse manancial, que o limite deste PNNRP abrangesse toda essa região
de nascentes, pois com os corpos d’água analisados no presente trabalho sendo protegido
pela cerca do parque, será protegido uma importante parte das espécies nativas das bacias
estudadas, incluindo várias espécies endêmicas do destas bacias.
46
7. REFERÊNCIAS
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