Apropriações. Imaginar.

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  • 8/18/2019 Apropriações. Imaginar.

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    No atelier é mais a ideia que o pensamentoclaro e definido, mais a vontade quea capacidade, para usar a terminologiade Worringer, o qual desenvolvendo suaconcepção psicológica da história da arte,acabou por negar a estética, vale dizer,a obra conclusa, bem feita, segundo oscanônes aristotélicos e cujo valor,portanto, é dado pelo tempo gasto na suaexecução ou pela fidelidade ao natural ou real.Worringer criticou aqueles historiadores quesó valorizaram a capacidade artística, jamaisquestionando a vontade artística, queé a necessidade de forma ou de expressãode um indivíduo, comunidade ou época. (P. 34)

    Ou em outros termos, importa, hoje, o que a obradiz objetivamente, o pensamento que a percorre,a proposição, e não mais aqueles chamadosvalores formais e artesanais. É nesse sentido,igualmente, que se faz necessária uma profundarevisão do método crítico. Crítica poética. (P. 35)

    Pode-se dizer, por outro lado, que apesar deste tipode apropriações (diferente do ready-made) ser sempreuma experiência pessoal, colocada ao nívelexistencial, ela é transferível, melhor, outrospodem apropriar-se da mesma lata-fogo. (P. 35)

    A obra de arte é, no momento mesmo em que éimaginada, e será mesmo se não chegar a concretizar-se,transformar-se em produto, algo palpável. Imaginaré já criar. Gaston Bachelard em sua "Poéticado Espaço" propõe uma "fenomenologia da imaginação"considerando a imagem como o excesso da imaginação,e esta como escapando à causalidade, sendo

    anterior ao próprio pensamento discursivo. Bachelard,que fala de uma "Topofilia", ou seja, o estudo dosespaços sonhados, dos espaços íntimos, felizes,subjetivos, os quais inexistindo fisicamente,não deixam de ser reais. (P. 35)

    Se o artista faz apropriações da natureza eda indústria, ou apropriações poéticas, o críticotambém se apropria da arte. Eis porque, numcerto sentido, o crítico é, também, um artista,pois ele igualmente cria valores culturais. A crítica,em última análise, é uma forma de apropriação.O crítico co-cria a obra de arte, compartilha

    com o artista de sua autoria ao apropriar-se delacomo matéria de reflexão do mundo. (P. 36)