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COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS XXV SEMINÁRIO NACIONAL DE GRANDES BARRAGENS SALVADOR, 12 A 15 DE OUTUBRO DE 2003 1 T92 A34 APROVEITAMENTO HIDRELÉTRICO DE FUNIL FASES DE IMPLANTAÇÃO DA BARRAGEM MISTA DE TERRA/ENROCAMENTO Luis Mario Cáceres Cáceres Fernando Nunes da Silva SPEC – PLANEJAMENTO, ENGENHARIA, CONSULTORIA LTDA. Fernanda Tavares Ribeiro de Oliveira CEMIG – COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS. RESUMO O presente trabalho aborda as mudanças geotécnicas adotadas no projeto da Barragem de Terra / Enrocamento no leito do rio do Aproveitamento Hidrelétrico Funil durante a execução da Obra, gerando reduções significativas nos volumes dos materiais e propiciando benefícios econômicos para o Empreendimento. Focaliza também os condicionantes recomendados por ensaios em modelo hidráulico reduzido que propiciaram, com sucesso, que a barragem no leito do rio parcialmente construída e suas ensecadeiras de desvio pudessem ser galgadas pelas cheias no período chuvoso, sem causar erosões nas estruturas já parcialmente construídas e garantido o cumprimento do Cronograma da Obra. ABSTRACT This work tackles the geotechnique changes adopted in the project of the Earth / Rockfill dam in the river bed of the Funil’s Hydroelectric Exploitation during the Workmanship’s execution, generating significant reductions in the amount of materials and propitiating economic benefits for the Enterprise. It also discusses the recommended parameters for hydraulic reduced model tests that had successfully propitiated the transposition in the river bed of the partially constructed dam and its shunting line cofferdams by the maximum flow in the rainy period, without causing erosions in the partially constructed structures and guaranteeing the fulfillment of the schedule.

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COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS XXV SEMINÁRIO NACIONAL DE GRANDES BARRAGENS SALVADOR, 12 A 15 DE OUTUBRO DE 2003

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T92 – A34

APROVEITAMENTO HIDRELÉTRICO DE FUNIL FASES DE IMPLANTAÇÃO DA BARRAGEM MISTA DE TERRA/ENROCAMENTO

Luis Mario Cáceres Cáceres Fernando Nunes da Silva

SPEC – PLANEJAMENTO, ENGENHARIA, CONSULTORIA LTDA.

Fernanda Tavares Ribeiro de Oliveira

CEMIG – COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS. RESUMO O presente trabalho aborda as mudanças geotécnicas adotadas no projeto da Barragem de Terra / Enrocamento no leito do rio do Aproveitamento Hidrelétrico Funil durante a execução da Obra, gerando reduções significativas nos volumes dos materiais e propiciando benefícios econômicos para o Empreendimento. Focaliza também os condicionantes recomendados por ensaios em modelo hidráulico reduzido que propiciaram, com sucesso, que a barragem no leito do rio parcialmente construída e suas ensecadeiras de desvio pudessem ser galgadas pelas cheias no período chuvoso, sem causar erosões nas estruturas já parcialmente construídas e garantido o cumprimento do Cronograma da Obra. ABSTRACT This work tackles the geotechnique changes adopted in the project of the Earth / Rockfill dam in the river bed of the Funil’s Hydroelectric Exploitation during the Workmanship’s execution, generating significant reductions in the amount of materials and propitiating economic benefits for the Enterprise. It also discusses the recommended parameters for hydraulic reduced model tests that had successfully propitiated the transposition in the river bed of the partially constructed dam and its shunting line cofferdams by the maximum flow in the rainy period, without causing erosions in the partially constructed structures and guaranteeing the fulfillment of the schedule.

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1 - INTRODUÇÃO O Aproveitamento Hidrelétrico de Funil destinado à geração de energia está situado no Alto do rio Grande, estado de Minas Gerais, entre os municípios de Lavras e Perdões. Foi implantado imediatamente a montante do reservatório da Usina de Furnas e à jusante do futuro Aproveitamento Hidrelétrico de São Miguel. Em posição mais a montante, estão as Usinas de Itutinga e Camargos, ambas de propriedade da CEMIG. Os Projetos Básico, Básico Consolidado e Executivo foram desenvolvidos pela SPEC - Planejamento, Engenharia, Consultoria Ltda. O Consórcio AHE FUNIL (CAHEF), proprietário do empreendimento e formado pelas empresas CVRD - Companhia Vale do Rio Doce (parcela de 51%) e CEMIG - Companhia Energética de Minas Gerais (parcela de 49%), contratou os serviços de Engenharia, Construção, Fornecimento e Montagem dos Equipamentos (modalidade EPC) junto ao Consórcio Construtor Funil - CCF, constituído pelas empresas IMPSA - Indústrias Metalúrgicas Pescarmona S.A.I.C.Y.F, SERVIX Engenharia S.A., SPEC - Planejamento, Engenharia, Consultoria Ltda., ORTENG - Equipamentos e Sistemas S.A., DELP - Engenharia Mecânica Ltda. e UTC - Engenharia S.A.

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2- FICHA TÉCNICA RESUMIDA

1. LOCALIZAÇÃO

RIO: Grande SUB-BACIA: Rio Grande BACIA: Rio Paraná

2. DADOS HIDROMETEOROLÓGICOS

VAZÃO MÉDIA LONGO TERMO - VMLT - (PER: 1931 A 1996):

326,5 m3/s VAZÃO (TR:10.000 ANOS) 5.460 m3/s

VAZÃO MÁX. REGISTRDA. (PER.: 1931 a 1994) 1.381 m3/s VAZÃO DE PROJETO (EMP) 7.356 m3/s

VAZÃO MÍN. REGISTRADA. (SET/55) 70 m3/s

3. RESERVATÓRIO

N.A. DE MONTANTE N.A. DE JUSANTE

MÍN. NORMAL: 807,00 m N.A . MÁX. NORMAL (3 Unidades) : 771,52 m

MÁX. NORMAL: 808,00 m N.A . MÍNIMO NORMAL ( 1 Unidade) : 769,03 m

MÁX. MAXIMORUM (DECAMILENAR) 810,70 m N.A . MÁX. MAXIMORUM: 784,74 m

4. DESVIO DO RIO

TIPO: Túnel ESTRUTURA DE DESVIO

COMPRIMENTO 211,00 m LARGURA/COMPRIMENTO: 14,60 m x 19,10 m

SEÇÃO ARCO-RETÂNGULO : Ø 11,60 m NÚMERO DE VÃOS: 2

VAZÃO DE DESVIO (TR: 25 ANOS): 1ª Fase 2.442 m3/s LARGURA /ALTURA DO VÃO: 5,00 m x 11,60 m

VAZÃO DE DESVIO (TR: 20 ANOS): 2ª Fase 1.094 m3/s

VAZÃO DE DESVIO (TR: 50 ANOS): 3ª Fase 2.791 m3/s

5. BARRAGENS

5.1. BARRAGEM MISTA DE TERRA / ENROCAMENTO NO LEITO DO RIO

5.2. BARRAGEM MISTA DE TERRA / ENROCAMENTO NA MARGEM DIREITA

TIPO DE ESTRUTURA/MATERIAL: Mista - Terra/Enrocamento TIPO DE ESTRUTURA / MATERIAL: Mista – Terra/Enrocamento

COMP. TOTAL DA CRISTA: 420,0 m COMP. TOTAL DA CRISTA: 56 m

ALTURA MÁXIMA: 50,0 ALTURA MÁXIMA: 26 m

COTA DA CRISTA: 811,30 m COTA DA CRISTA: 811,30 m

6. VERTEDOURO

TIPO: Superfície Controlada por comportas segmento

DISSIPADOR DE ENERGIA: Tipo Calha com bacia de dissipação em fundo plano

CAPACIDADE: 7.356 m3/s

COMPRIMENTO TOTAL: 64,60 m COMPRIMENTO 47,00 m

NÚMERO DE VÃOS/LARGURA DO VÃO 4 de 12,50 m LARGURA 59,0 m

7. TOMADA D’ÁGUA 8. CONDUTOS FORÇADOS

COMPRIMENTO TOTAL: 44,70 m COMPRIMENTO MÉDIO POR UNIDADE: 48,0 m

NÚMERO DE VÃOS: 3 DIÂMETRO INTERNO: 7,0 m

- LARGURA: 5,80 m NÚMERO DE UNIDADES: 3

- ALTURA: 7,00 m

9. CASA DE FORÇA 10. TURBINAS

TIPO: Abrigada TIPO: Kaplan

N.º DE UNIDADES GERADORAS: 3 POTÊNCIA UNIT. NO EIXO DA TURBINA

POTÊNCIA TOTAL NOMINAL INSTALADA ( 3 x 60 MW)

61,5 MW

180 MW

LARG. DOS BLOCOS DAS UNIDADES: 19,52 m QUEDA LÍQUIDA DE REFERÊNCIA 35,30 m

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3 - DESCRIÇÃO DO ARRANJO GERAL O Arranjo Geral do AHE de Funil, como mostrado no Anexo A, é constituído por uma Barragem Principal Mista de Terra/Enrocamento na região do leito do rio e Ombreira Esquerda; um Circuito Hidráulico de Geração composto pela Tomada d’Água, Condutos Forçados e a Casa de Força com três unidades geradoras tipo Kaplan de eixo vertical de 60 MW de Potência Nominal cada; um Vertedouro de superfície localizado na Ombreira Direita controlado por quatro comportas tipo segmento com 12,50 m de largura por 15,0 m de altura, com capacidade máxima de 7.356 m³/s e finalmente uma pequena Barragem mista de Enrocamento e núcleo argiloso junto à Ombreira Direita. Entre o Vertedouro e a Tomada d’Água foi previsto um Muro de Ligação onde foi implantado o poço de acesso às galerias de drenagem e injeções das estruturas de concreto do Barramento. O Desvio do Rio foi feito através de um Túnel de seção arco-retângulo de 11,60 m de diâmetro, escavado em rocha sã sob a ombreira esquerda, com 211 m de comprimento e controlado por um Portal de concreto a montante, projetado para cheia de 1.094 m³/s, correspondente a um período de recorrência de 20 anos no período seco (2ª Fase de Desvio). 3.2 - MORFOLOGIA E GEOLOGIA LOCAL • Morfologia O local do Aproveitamento Hidrelétrico de Funil caracteriza-se por um vale profundo, ligeiramente assimétrico, constituído por ombreiras acentuadas e revestidas em geral por capim. A Ombreira Direita apresenta encosta com declividade aproximada de 25°, topo convexo, normalmente associada aos anfiteatros de pequeno porte. A encosta transiciona, nas porções mais baixas, para terraços colmatados por material colúvio-aluvial com espessura de 10 m aproximadamente que delineiam a Margem Direita do rio Grande. A Ombreira Esquerda apresenta encosta um pouco mais inclinada que a Ombreira Direita, com declividade em torno de 35° e geralmente associada a sulcos e ravinas pouco desenvolvidas. • Geologia Local O sítio do Aproveitamento de Funil encontra-se inserido em domínios de rochas de médio e alto grau de metamorfismo de idade Pré-Cambriana, reportadas ao Complexo Lavras. No local do Empreendimento ocorrem biotita-gnaisse, gnaisse quartzo-feldspático e diques de rocha básica.

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Os gnaisses apresentam foliação pouco acentuada com coloração cinza claro a escuro quando com composição biotítica e com coloração cinza claro a esbranquiçado quando com composição quartzo-feldspática. Os diques de diabásio ocorrem com espessura variável e são rochas de aspecto maciço, granulação média, textura homogênea, cor preta.

3.3 - ASPECTOS GEOLÓGICO-GEOTÉCNICOS NO LOCAL DO APROVEITAMENTO

A partir das observações de campo e dos elementos resultantes das sondagens executadas foram determinados os principais aspectos geológico-geotécnicos que caracterizam o local do Empreendimento. • Maciço Rochoso A biotita-gnaisse é a unidade litológica predominante nas fundações das diversas estruturas da Obra. É também a rocha que apresenta as melhores características geológicas-geotécnicas frente aos trabalhos de escavação e estabilização. Em menor proporção ocorrem nestas fundações o gnaisse quartzo-feldspático. Trata-se de uma rocha em que o intemperismo trabalha com mais facilidade ocasionando situações desfavoráveis de escavação e estabilidade. Os diques de diabásio cortam todas as estruturas alinhados (por vezes se cruzando) segundo direções próxima’ a N-S verticalizados e com espessuras variando desde centímetros até mais de 8 metros. • Solo residual e saprolito

• Solo residual Ocorrem na Ombreira Direita entre a camada de colúvio e o horizonte de saprolito, exibindo uma espessura variável, mas sempre inferior a 3,0 metros. As espessuras maiores foram identificadas na parte alta da encosta.

• Saprolito Estes solos oriundos do maciço rochoso, ocorrem em ambas as Ombreiras. Na Ombreira Direita este pacote atinge espessura de até 45,0 metros, enquanto que na esquerda, a espessura máxima encontrada foi de 10,0 metros.

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• Solos de Cobertura (tálus, colúvios e aluvião) Fazem parte deste conjunto os colúvios, depósitos de tálus, bem como os aluviões, encontrados nas margens e leito do rio Grande, no local da Barragem.

• Colúvios Estes solos foram identificados na superfície do terreno natural em ambas as ombreiras, com espessuras variando entre 2,00 a 4,00 m.

• Depósito de Tálus Estes depósitos ocorrem no “sopé” da Ombreira Esquerda e apresentam espessuras reduzidas, inferiores a 1,0 metro. São constituídos por blocos e fragmentos de rocha de dimensões variadas.

• Aluviões No local da Barragem, os aluviões estão distribuídos no leito e nos terraços marginais do rio Grande. A espessura desses depósitos varia de 6,0 a 12,50 metros. Na região de montante e jusante, em relação ao eixo da barragem, onde foram executadas as trincheiras de vedação (“cut offs”) das ensecadeiras, a espessura do aluvião é de aproximadamente 6,00 metros. Na região onde foi executado o "cut off" de montante da Barragem, a espessura encontrada foi de 9,50 m. Já na parte central do maciço da Barragem, o horizonte aluvionar atingiu uma espessura de 12,30 m. O terraço marginal direito apresentou uma espessura da ordem de 8,50 m. O terraço da margem esquerda foi pouco significativo, não ultrapassando 2,0 m. 3.4- CONCEPÇÃO DA SEÇÃO TÍPICA DA BARRAGEM NO LEITO DO RIO 3.4.1- Etapa Projeto Básico A concepção da Barragem no leito do rio, na Etapa do Projeto Básico, previa o assentamento sobre um aluvião composto basicamente de areia lavada de graduação variada com pouco cascalho e com aproximadamente 9,0 m de espessura. Para impermeabilização da fundação era prevista a escavação de trincheiras de vedação nas ensecadeiras incorporadas de montante e de jusante e um terceiro “Cut Off” na fundação da Barragem, sendo que apenas esta última trincheira teria tratamento convencional de fundação, incluindo uma única linha de furos de injeção formando uma cortina de impermeabilização. As trincheiras das ensecadeiras teriam escavações submersas de material dragado e a vedação se daria com solo lançado (SL) em “ponta de aterro”, formando taludes submersos de aproximadamente 3H : 1V.

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Conforme é mostrado no Anexo B, o maciço da Barragem seria formado por uma ampla berma a montante na elevação 776,20 m de aproximadamente 45 metros de largura, um talude contínuo até a crista com inclinação de 2,3H : 1V, uma crista de 8,0 metros de largura e à jusante, existiriam além da rampa de acesso à Casa de força, mais três bermas, nas elevações 799,50 m; 795,65 m e 780,00 m, sendo que as duas primeiras teriam 3,0 metros de largura e a inferior 14,50 metros. Os taludes de jusante teriam inclinações de 1,9H : 1V no trecho superior; 2,2H : 1V nos trechos médio e inferior. O Sistema de Drenagem Interna seria composto por um filtro vertical e tapete horizontal de areia lavada cobrindo o aluvião e um Sistema de Filtro no “pé” da Barragem composto de areia lavada, transição e enrocamento.

3.4.2- Etapa Projeto Executivo Durante o andamento da Obra houve necessidade de elaborar várias revisões do Projeto Executivo que tinham como objetivo principal otimizar a Seção Típica da Barragem fundamentada principalmente nas reais disponibilidades dos materiais de construção. Dessa forma foi alcançada uma significativa redução nos volumes aplicados e utilização de grande parte dos materiais provenientes das escavações obrigatórias. Os principais ajustes na Seção Típica da Barragem estão abaixo relacionados: • A disponibilidade de rochas oriundas das escavações obrigatórias,

transformou o espaldar de jusante em aterro de enrocamento que inicialmente era previsto exclusivamente de solo;

• Na fase de escavação da fundação do espaldar de jusante, a

competência da rocha remanescente apresentava-se com menor resistência do que havia sido previsto. Os novos estudos de estabilidade indicaram que haveria necessidade de tornar o talude médio de jusante um pouco mais suave, ou aumentar a largura de uma berma e abrandar os taludes abaixo dela. A opção adotada e a mais recomendada técnica e economicamente, foi a segunda (aumentar a largura da berma);

• A quantidade estocada de enrocamento limpo e a disponibilidade de

enrocamento contaminado, indicaram a necessidade de serem criadas “zonas de random”;

• As transições de britas homogêneas foram substituídas por transições de

britas bem graduadas (“bica corrida”); • A baixa quantidade de solo argiloso disponível exigiu que se fizesse um

zoneamento no espaldar de montante, de forma a permitir aterro de solo siltoso protegido ou envelopado por solo argiloso. O envelopamento a montante, limitou-se exclusivamente no trecho de oscilação do nível da água do reservatório.

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• Providenciou-se a substituição do “rip-rap” tradicionalmente estreito por um “triângulo” de “rip-rap” e enrocamento, permitindo tornar mais íngreme o talude e reduzir o volume do aterro da Barragem;

• Executou-se o Alargamento da crista de 8 para 10 metros para melhor

atender e adaptar a crista - como estrada de acesso aberta ao público sobre o Barramento.

A Seção Típica implantada é mostrada no Anexo C. 4 - FASES DO DESVIO DO RIO O Desvio do Rio foi concebido para atender um cronograma bastante rigoroso e sem nenhuma folga, com o início das obras em setembro de 2000 e a ocorrência de duas cheias durante a construção do Aproveitamento. Foram elaborados ensaios hidráulicos em Modelo Reduzido que forneceram importantes informações técnicas utilizadas para as decisões de Projeto e da Obra. As obras civis vinculadas ao Desvio do Rio foram implantadas em quatro fases, descritas a seguir. 4.1 - PRIMEIRA FASE: RIO ESCOANDO PELO LEITO NATURAL (DE 01/09/2000 A 14/05/2001) A Primeira Fase do Desvio do Rio, consistiu em manter o rio no período das cheias no seu leito natural, enquanto eram realizadas as escavações do Túnel e Canais de Entrada e Saída. Foram deixados apenas dois septos naturais para proteger as obras de escavação do Túnel, com as suas cristas definidas para uma vazão de projeto de 2.442 m³/s e tempo de recorrência de 25 anos. As cristas foram preservadas nas elevações 779,40m e 778,30 m respectivamente, admitindo uma borda livre de 1,00 m. As escavações para atender à Primeira Fase de Desvio do rio foram executadas conforme indicado no Anexo D, incluindo as dragagens para as vedações das ensecadeiras. 4.2 - SEGUNDA FASE: RIO DESVIADO PELO TÚNEL (DE 15/05/2001 A 30/10/2001) Na Segunda Fase do Desvio do Rio, conforme mostrado no Anexo E, o rio Grande manteve-se desviado pelo Túnel de Desvio .

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Esta etapa inicia-se na estiagem de 2001, a partir de 15 de maio quando as vazões em trânsito foram conduzidas através do Túnel com o lançamento das ensecadeiras de montante (crista na EL.775,00 m) e jusante (crista na EL. 770,00 m), liberando a área ensecada para o tratamento das fundações da Barragem de Terra / Enrocamento no leito do rio (região do “cut off”) e da fundação do trecho de enrocamento no espaldar de jusante. A Barragem foi construída até a cota 765,00 m e todo o conjunto (ensecadeiras montante e jusante, barragem e aluvião remanescente) foi protegido por um tapete de enrocamento com 1,0 m de espessura, permitindo a passagem das cheias, na etapa seguinte, através do “galgamento” do aterro construído sobre o aluvião remanescente e as ensecadeiras de montante e jusante. 4.3 - TERCEIRA FASE: RIO PASSANDO PELO TÚNEL DE DESVIO E PELO LEITO DO RIO (DE 01/11/2001 A 15/04/2002) As ensecadeiras de montante e de jusante foram parcialmente rebaixadas para as elevações 769,00 e 767,00 respectivamente. As ensecadeiras de montante e jusante rebaixadas, o aluvião remanescente e as trincheiras de montante e jusante foram protegidas para permitir a passagem de uma cheia de 50 anos de recorrência, equivalente a vazão de 2.791 m³/s, através do conjunto “Túnel de Desvio e Leito do Rio”, conforme Anexo F. 4.4 - QUARTA FASE: RIO DESVIADO PELO TÚNEL (DE 16/04/2002 A 09/11/02 – CONDIÇÕES PARA INÍCIO DO ENCHIMENTO DO RESERVATÓRIO) Na estiagem de 2002, a proteção de enrocamento foi retirada para a conclusão da Barragem, voltando o rio a ser desviado somente pelo Túnel. A vazão de cheia de projeto do Túnel, para esta fase final é de 1.094 m³/s, correspondente a 20 anos de recorrência. Foi retirado o enrocamento de proteção, sendo recuperadas as ensecadeiras de montante e jusante parcialmente rebaixadas para as Elevações 769,00 m e 767,00 m, respectivamente. Em seguida as ensecadeiras foram alteadas para as cotas 775,00 m, a montante, e 770,00 m, a jusante (proteção para o período de estiagem com Tempo de Recorrência de 20 anos, vazão de 1.094 m³/s e o rio passando apenas pelo Túnel de Desvio). Neste período foi dada a continuidade aos serviços de injeção, de impermeabilização da fundação, tratamento da fundação e construído o aterro da Barragem no leito do rio e ombreiras, conforme Anexo G.

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5 - CONCLUSÕES Os principais aspectos envolvidos no projeto da Barragem de Terra / Enrocamento no leito do rio foram:

• Desvio do Rio através de um Túnel dimensionado apenas para uma vazão de 20 anos de recorrência no período seco.

• Programação da Obra de forma que no período das cheias, o rio

escoasse em conjunto pelo Túnel de Desvio e pelo seu leito natural “galgando” as ensecadeiras e aterros já executados e sem causar danos às estruturas. Para o galgamento, a Barragem no leito do rio, que ainda estava em fase de execução, ensecadeiras de montante / jusante e aluvião remanescente foram devidamente protegidos com enrocamento nas dimensões apropriadas (espessura e diâmetro). Também foram abertas “brechas” nas ensecadeiras (contato ensecadeira / margem direita) para possibilitar menor impacto de vazão sobre a área protegida e minimizar o arraste do material;

• Modificações e adaptações no Projeto Executivo da Barragem de Terra /

Enrocamento em função das disponibilidades dos materiais de construção existentes que geraram redução nos quantitativos dos materiais e conseqüentes benefícios econômicos;

• Para simular o galgamento do rio sobre as ensecadeiras e sobre a

barragem parcialmente construída no leito do rio, foram realizados dois ensaios em modelo reduzido tridimensional na escala 1:70 na Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica.

Em cada ensaio variou-se as vazões simulando cheias para diferentes Tempos de Recorrência. No segundo ensaio eliminou-se os efeitos erosivos mais severos observados no ensaio anterior. Assim, no segundo ensaio foi necessário reduzir o grau de “barramento” imposto ao escoamento do primeiro ensaio.

No protótipo a ensecadeira de montante foi rebaixada para a elevação 770,80 m e o aluvião remanescente do leito do rio foi protegido com o mesmo tipo de enrocamento recomendado no ensaio do modelo.

A título de informação e com base nos ensaios em modelo hidráulico reduzido, pode-se citar as seguintes características previstas:

• tipo de material de proteção: rocha;

• diâmetro do material de proteção: diâmetros entre 0,60 m a 0,80 m;

• espessura do material de proteção: aproximadamente 0,80 m;

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• níveis d’água à montante para diferentes vazões, Tabela 1;

TABELA 1:níveis d’água à montante para diferentes vazôes

TR (anos ) Q ( m³/s) Elevação em metros

À montante

5 1.630 775,93

25 2.442 777,95

100 3.140 779,61

• velocidades máximas medidas para diferentes vazões em alguns pontos (ver Figura 1 e Tabela 2).

FIGURA 1: Localização dos Pontos de Medição em Modelo Hidráulico.

TABELA 2: velocidades máximas medidas para diferentes vazões em alguns pontos

TR Vazão (m³/s)

ME-1 (m/s)

ME-2 (m/s)

MD-1 (m/s)

MD-2 (m/s)

MD-3 (m/s)

MD-4 (m/s)

MD-5 (m/s)

5 1.630 3,42 3,35 1,83 - 1,20 1,42 0,98

25 2.440 3,41 4,10 2,42 1,16 1,48 1,49 1,42

100 3.140 3,43 4,50 2,25 1,26 1,39 1,46 1,40

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Deve-se ressaltar que os valores teóricos calculados nos ensaios hidráulicos de modelo reduzido não foram confrontados com os valores verificados no protótipo, pois não aconteceram medições específicas de vazões, velocidades e níveis d’água.

A inspeção de campo realizada após o período da cheia, mostrou que não houveram erosões do enrocamento de proteção nem da camada de transição construída abaixo de enrocamento e acima do aterro argiloso da barragem.

Observou-se, como era de se esperar que o enrocamento de proteção ficou com seus vazios integralmente preenchidos por solos finos, areias e cascalhos, carreados pelo rio.

Como conclusão final, pode-se afirmar que foi compensador, tanto em termos de prazo quando em termos de custo, a decisão de se fazer apenas um túnel de desvio para atender ao período de estiagem e permitir que o rio retomasse seu curso normal durante as cheias, galgando a barragem parcialmente construída, porém protegida por enrocamento.

A Figura 2 que vem a seguir mostra o rio ainda desviado pelo túnel (final da Segunda fase de Desvio). Nessa época, o aterro da barragem e o aluvião preservado na fundação e incorporado à barragem, já se encontravam protegidos por transição e enrocamento, para permitir que o galgamento do rio, na Terceira Fase do Desvio, não provocasse erosões.

FIGURA 2: Final da Segunda Fase de Desvio

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ANEXO A

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ANEXO B

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ANEXO C

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AENXO D

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ANEXO E

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ANEXO F

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ANEXO G