Aqui a gente não deixa entrar nenhum tipo de veneno

2
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 9 • nº 1758 Fevereiro/2015 Serra Dourada Da beira da estrada se avista um quintal cheio de cores, cheiros e formatos. É lá onde vive Zenilda Lima da Silva, 45 anos, e Antonio Naziozeno da Silva, 49 anos, com seus três filhos Jacinei, Jéssica e José Antônio, os outros três filhos do casal, Jerson, Jelsiana e Janilson moram em outras localidades. A propriedade fica na comunidade de Atoleiro, município de Serra Dourada, no oeste da Bahia. O casal mora ali há seis anos. Desde quando chegaram ao local, no ano de 2009, conseguiram construir a casa e plantar uma diversidade de frutíferas, plantas ornamentais, ervas medicinais e hortaliças, além da criação de animais de pequeno porte. É certo que o entorno da casa de Zenilda e Antonio é um ambiente de encher os olhos, mas cada planta, cada árvore, cada semente que lá existe, é fruto de muito trabalho e esforço da família que antes morava nessa mesma comunidade, mas não tinha a sua própria terra para produzir, pois residia nas terras de outra pessoa. De estatura pequena, Zenilda carrega no rosto e nos ombros a força de uma grande mulher que ao lado do seu esposo sabe conduzir com sabedoria e garra as dificuldades do dia a dia e transformá-las em alicerce para edificar os sonhos de sua família. Muitas foram as dificuldades já enfrentadas, como acesso à terra, moradia, água de qualidade e educação. Zenilda conta que hoje se orgulha em poder oferecer uma vida com mais qualidade para os seus filhos, destacando principalmente a questão da educação. “Eu estudei até a 3ª série e era muito difícil para chegar na escola, eu era criança e caminhava uma distância de 2 quilômetros todo dia pra ir estudar, hoje não têm essas dificuldades”. Desde a chegada na propriedade, a vida da família passa por várias mudanças significativas, como a conquista da cisterna de consumo humano de 16 mil litros, e alguns anos depois a cisterna calçadão de 52 mil litros para a produção de alimentos, as 2 através da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). ‘‘Aqui a gente não deixa entrar nenhum tipo de veneno’’

description

É na comunidade de Atoleiro, município de Serra Dourada, na Bahia, que vive a família de Zenilda Lima da Silva e Antônio Naziozeno da Silva. Na propriedade ,a família produz uma diversidade de frutas, hortaliças e plantas forrageiras, que servem para o sustento da família e ainda são comercializadas em outras localidades.

Transcript of Aqui a gente não deixa entrar nenhum tipo de veneno

Page 1: Aqui a gente não deixa entrar nenhum tipo de veneno

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 9 • nº 1758

Fevereiro/2015

Serra Dourada

Da beira da estrada se avista um quintal cheio de cores, cheiros e formatos. É lá onde vive Zenilda Lima da Silva, 45

anos, e Antonio Naziozeno da Silva, 49 anos, com seus três filhos Jacinei, Jéssica e José Antônio, os outros três filhos do

casal, Jerson, Jelsiana e Janilson moram em outras localidades.

A propriedade fica na comunidade de Atoleiro, município de Serra Dourada, no oeste da Bahia. O casal mora ali há

seis anos. Desde quando chegaram ao local, no ano de 2009, conseguiram construir a casa e plantar uma diversidade de

frutíferas, plantas ornamentais, ervas medicinais e hortaliças, além da criação de animais de pequeno porte.

É certo que o entorno da casa de Zenilda e Antonio é um ambiente de encher os olhos, mas cada planta, cada árvore,

cada semente que lá existe, é fruto de muito trabalho e esforço da família que antes morava nessa mesma comunidade, mas

não tinha a sua própria terra para produzir, pois residia nas terras de outra pessoa.

De estatura pequena, Zenilda carrega no rosto e nos ombros a força de uma grande mulher que ao lado do seu esposo

sabe conduzir com sabedoria e garra as dificuldades do dia a dia e transformá-las em alicerce para edificar os sonhos de sua

família.

Muitas foram as dificuldades já enfrentadas, como acesso à terra, moradia, água de qualidade e educação. Zenilda

conta que hoje se orgulha em poder oferecer uma vida com mais qualidade para os seus filhos, destacando principalmente a

questão da educação. “Eu estudei até a 3ª série e era muito difícil para chegar na escola, eu era criança e caminhava uma

distância de 2 quilômetros todo dia pra ir estudar, hoje não têm essas dificuldades”.

Desde a chegada na propriedade, a vida da família passa por várias mudanças significativas, como a conquista da

cisterna de consumo humano de 16 mil litros, e alguns anos depois a cisterna calçadão de 52 mil litros para a produção de

alimentos, as 2 através da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA).

‘‘Aqui a gente não deixa entrar nenhum tipo de veneno’’

Page 2: Aqui a gente não deixa entrar nenhum tipo de veneno

“Ah! Depois das cisternas

melhorou muito, antes era difícil

porque só meu marido trabalhava e

tudo que a gente precisava tinha que

comprar, e hoje tudo que eu planto

não precisa comprar mais, e nossa

família come sabendo de onde vem os

alimentos, é isso que é bom!”, afirma

Zenilda.

É ali rodeada de pés de laranja,

mamão, coco, pinha, seriguela,

banana, manga, abacate, limão,

graviola, uva, acerola, goiaba que

vive a família de Zenilda e Antonio.

Com a ajuda dos 3 filhos que ainda

moram com eles na casa, conseguem

produzir também uma diversidade de hortaliças e plantas forrageiras como alface, cebola, couve, pimentão, alho, abóbora,

maxixe, quiabo, pimenta e coentro que além de servir para a alimentação da família, esses alimentos também são

comercializados para compor a mesa de outras famílias da comunidade de Riachão, município de Serra Dourada, onde ela

vende 1 vez na semana, e aos sábados os produtos são

comercializados na feira do município de Santana. Além

disso, o quintal da família é rodeado de plantas medicinais,

que segundo Zenilda, são indispensáveis, pois é a partir

dessas ervas que ela faz chá ou xarope e outros preparos

quando precisa curar alguma enfermidade de alguém em

casa.

Exemplo de família que produz organicamente na

comunidade de Atoleiro, Zenilda e Antônio falam com

orgulho sobre o modelo de produção: “Aqui a gente não

deixa entrar nenhum tipo de veneno. Quando precisa, eu

mesmo faço os remédios pra jogar nos pés de frutas e nas

hortas. Eu faço com ninho, cinza, pimenta, eu sempre usei

esses remédios naturais, pois é diferente, não prejudica

nossa saúde nem as plantas. E as pessoas que compram

perguntam se é tudo natural.”

Mulheres, homens, mães, pais, filhos, pessoas

comuns que transmitem a beleza, a ternura, o conhecimento

e a sabedoria no seu modo mais simples para viver com

qualidade e dignidade.

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia

Realização Apoio