Aqui “Imposto” Significa “Querido” e Isso Diz Muito Sobre a Dinamarca - PÚBLICO

7/24/2019 Aqui Imposto Significa Querido e Isso Diz Muito Sobre a Dinamarca - PBLICO

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REPORTAGEM

Aqui impostosignifica querido eisso diz muito sobre a

Dinamarca

SistemaFiscalNa Dinamarca, os cidados tm uma

forte conscincia fiscal. No pagar osimpostos estar margem. O nvel de

fuga ao fisco baixo e o esforo dos

contribuintes tambm, apesar da

elevada carga fiscal. Que diferena h

entre os pases do norte e os do sul?

12 ideias para Portugal Sistema Fiscal
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Pedro Crisstomo(texto, em Copenhaga),

Manuel Roberto(fotografia, em Copenhaga),

Sibila Lind(vdeo),Jos Alvese Ctia

Mendona(infografia)

Quando se fala do fisco, confiana a palavra

que mais se ouve no pas dos contribuintes

felizes. H 40 anos nascia o Ministrio dos

Impostos. Hoje, o sistema tributrio cimentou-se

como a pedra angular do modelo social. O que

tem o fisco dinamarqus para ser to estimado

pelos contribuintes?

s primeiras horas da manh em Vesterbro ainda

h vestgios da noite anterior. Thomas Garvin e

Sara Wille-Jrgensen vivem num ltimo andar

deste bairro movimentado de Copenhaga, onde

florescem galerias, lojas vintage, marcas de autor, cafs,

bares e restaurantes.

Thomas e Sara preparam o pequeno-almoo aos dois

filhos enquanto eles se entretm, ensonados, volta

do tablet dos pais. Na Dinamarca, comum um pai

tratar um filho por skat. Quando se chega a casa.

Quando se pergunta como correu a escola. Quando se

chama algum.Skat quer dizer querido emdinamarqus. Mas no s uma expresso doce. a

palavra homnima de imposto.

No so dois significados inconciliveis.Skat parece ser

a simbiose perfeita de um pas que fez do sistema

tributrio a ncora do seu modelo social e, a partir dele,

ergueu um padro: Dinamarca, o pas doscontribuintes felizes.
http://www.publico.pt/autor/catia-mendoncahttp://www.publico.pt/autor/jose-alveshttp://www.publico.pt/autor/pedro-crisostomohttp://www.publico.pt/autor/sibila-lindhttp://www.publico.pt/autor/manuel-roberto


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Com os vizinhos escandinavos, partilha um baixo nvel

de evaso fiscal, um grande nvel de moralidade fiscal

e, mesmo com uma carga fiscal alta, mantm um

rendimento elevado (um salrio mdio lquido mensal

de 3739 euros, bem acima dos 1972 euros da mdia

europeia e dos 984 euros em Portugal).

Dos contribuintes singulares a pequenos empresrios,

de universitrios a jovens trabalhadores, de

especialistas da rea fiscal a responsveis da

administrao tributria, difcil encontrar quem no

se reveja na descrio do fisco como uma instituio

amiga do contribuinte ou quem relate situaes de

conflito com a administrao fiscal.

Por isso Thomas e Sara estranham a pergunta. Tm

receio do momento em que recebem um email ou uma

carta das Finanas? A resposta de Thomas taxativa.

No... A relao entre os contribuintes e a SKAT [a

administrao tributria e aduaneira] funciona bem,

sem preocupaes. H um grande nvel de confiana no

sistema. Como o processamento automtico,

acabamos por no ter contacto real com os impostos. A

ideia que tenho que no h mal-entendidos.

Sara dinamarquesa e tem 34 anos, Thomas

britnico, da mesma idade, e ambos arquitectos. Aforma como os dois descrevem o relacionamento

pacfico entre o contribuinte e a administrao o

cidado confia na instituio, a instituio confia no

(http://static.publico.pt/files/ideiasportugal/img/content/impostos/1A.svg)(http://static.publico.pt/files/ideiasportugal/img/content/impostos/1B.svg)

(http://static.publico.pt/files/ideiasportug
http://static.publico.pt/files/ideiasportugal/img/content/impostos/1A.svghttp://static.publico.pt/files/ideiasportugal/img/content/impostos/1B.svghttp://static.publico.pt/files/ideiasportugal/img/content/impostos/2.svg


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contribuinte corresponde apreciao mdia da

sociedade dinamarquesa sobre o fisco, diz Karina Kim

Elgaard, investigadora de direito fiscal no centro de

estudos sobre Estado Social e Mercado (WELMA) da

Faculdade de Direito de Universidade de Copenhaga.

Thomas, a viver na Dinamarca h 11 anos, fala da suaexperincia como contribuinte fazendo um contraponto

com a situao no Reino Unido. Aqui, sabemos que

vamos pagar impostos, enquanto l as pessoas tm uma

perspectiva diferente cada um tenta pagar o menos

possvel. Na Dinamarca, pagar impostos faz parte. No

pagar estar margem. E aquilo que recebemos em

troca muito diferente. De alguma forma, completaSara, o pas foi construindo um sistema [baseado nos

impostos] que permitiu criar mecanismos para

assegurar a igualdade e aumentar a confiana no

prprio sistema.

Oskar, o filho mais velho, de oito anos, est no terceiro

ano da primria. Ethan, de cinco, ainda no entrou. Huma expectativa em relao aos servios pblicos. Sei

que os meus filhos vo ter escola gratuita, universidade

gratuita, sade gratuita. Serei crtica se as expectativas

no se concretizarem. Mas at agora a experincia

positiva, diz Sara.

O que faz com que o sistema fiscal seja prximo doscontribuintes, bem percepcionado e, de uma forma

geral, poupado a crticas? Karina Kim Elgaard sublinha

que o sistema poltico soube despertar uma conscincia

crtica sobre o papel e a importncia da mquina fiscal,

que no vista pelos cidados unicamente como um

instrumento para cobrar impostos. A administrao

fiscal muito acessvel e os contribuintes sentem que o

fisco lhes est a prestar um servio.


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A

No apenas o bom funcionamento do fisco que por si

s explica esta percepo. H uma relao triangular.

forte conscincia fiscal dos cidados est associada uma

grande mobilizao dos contribuintes no pagamento

dos impostos e, no ltimo vrtice, um esforo de

transparncia pblica em relao aplicao do

dinheiro dos impostos.

Se este um modelo globalmente pacfico, isso no

significa que no haja um outro lado da histria. J l

vamos.

ministro e a gravata

Dinamarca o pas da Unio Europeia (UE) coma carga fiscal mais alta, equivalente a 51,3% do

Produto Interno Bruto, acima da mdia

europeia (39,1%) e de Portugal (34,3%). Se o

nvel da tributao medido pela carga fiscal (impostos e

contribuies sociais) ajuda a perceber a dimenso do

que cobrado, no d uma ideia de todo o esforo dos

contribuintes. E, aqui, as peas do puzzle mudam. Umestudo da consultora PwC mostra que na Dinamarca,

apesar dos altos impostos, o esforo fiscal de 37%,

inferior mdia da UE (40%) e bem abaixo do valor de

Portugal, que tem uma das taxas mais altas (49,5%).

Por detrs do elo de confiana com os 4,9 milhes de

contribuintes dinamarqueses (sujeitos singulares) estuma figura h muito enraizada: o ministro dos

Impostos. Desde 1975 que existe oSkatteministeriet, o

ministrio que centraliza de forma autnoma e no na

(http://static.publico.pt/files/ideiasportugal/img/content/impostos/Ficha1.svg)

-4,5

1,2

Dvida pblica% do PIB, em 2014

Dfice em % do PIB(2014)

ndice de Desenvol.Humano em 2014 (at 1)

Salrio mnimo - euros*14 salrios/12 meses

Posio0,822 0,945,2

130,2

41. 10.

589,17

Semsalrio

mnimo

(http://static.publico.pt/files/ideiasportugal/img/content/impo
http://static.publico.pt/files/ideiasportugal/img/content/impostos/Ficha2.svghttp://static.publico.pt/files/ideiasportugal/img/content/impostos/Ficha1.svg


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dependncia do ministro das Finanas toda a poltica

dos assuntos fiscais. Com o regresso ao poder do

partido liberal Venstre, a pasta dos Impostos passou em

Junho para as mos de um jovem ministro, Karsten

Lauritzen, de 31 anos.

O ministrio est dividido entre um departamento

responsvel pela legislao e a poltica tributria, uma

agncia de recursos tributrios, a autoridade de

fiscalizao do sector do jogo e, finalmente, a SKAT, a

administrao tributria e aduaneira.

O facto de existir a figura do ministro ajudou a cimentarna sociedade dinamarquesa a importncia da poltica

fiscal, diz Jrn Rise, 59 anos, presidente do Dansk Told

& Skatteforbund (o sindicato dos trabalhadores do

fisco). As razes so mais profundas e vo para alm dos

muros da SKAT. Colocmos o nosso sistema fiscal no

centro do modelo do Estado social. Quem paga

impostos sente-se seguro em termos sociais. O fisco aprimeira face visvel dessa construo. Os impostos so

um dos pilares da sociedade dinamarquesa. Decidimos

que todos temos de contribuir para o errio pblico. Em

contrapartida, temos direito a uma srie de servios

pblicos ao longo da vida. Na prtica, os cidados tm

uma voz na sociedade dinamarquesa, incluindo no

Estado social e no sistema fiscal assim que a SKATresume o seu sistema fiscal.

(http://static.publico.pt/files/ideiasportugal/img/content/impostos/2A.svg)

(http://static.publico.pt/files/ideiasportugal/img/content/impostos/2B.svg)
http://static.publico.pt/files/ideiasportugal/img/content/impostos/2A.svghttp://static.publico.pt/files/ideiasportugal/img/content/impostos/2B.svg


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Separado pela linha do comboio do estreito de Kattegat,

vista do porto industrial de Copenhaga, a sede da

SKAT ampla e democrtica, com jardins a separarem

as alas do edifcio envidraado. Uma construo-

espelho da administrao fiscal do pas, aberta e

transparente. como as imagens que nos habitumos a

ver de Silicon Valley. Um edifcio em open space, commuita luz, vidros largos, mas e pssegos em pequenos

cestos espalhados pelas mesas. Nem os matraquilhos

faltam no bar do fisco.

Nos escritrios, algumas secretrias esto vazias nestes

primeiros dias de Agosto. Jonatan Schloss, subdirector-

geral da SKAT responsvel pela rea dos contribuintes,veste calas de ganga, camisa de manga-curta e

sapatilhas. Quando vou falar com o ministro uso

gravata. Schloss, um dos seis subdirectores da SKAT,

no tem gabinete. Trabalha lado a lado com uma parte

da equipa do marketing e da comunicao. Todos

partilham a mesma sala ampla e ali que analisam

estudos sobre o comportamento dos contribuintes.

Este um trabalho que o subdirector-geral da SKAT diz

ser essencial para que a relao contribuinte/fisco seja

baseado na confiana. Fazemos muitas anlises sobre o

cumprimento voluntrio das obrigaes fiscais, onde

vemos detalhadamente quais so os segmentos de

contribuintes que pagam os impostos correctamente e

quais cometem erros. Isso ajuda a evitar um novelo de

burocracia e a personalizar o contacto com grupos

especficos de contribuintes, diz.

http://static.publico.pt/files/ideiasportugal/img/content/impostos/3.svg


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Um dos segmentos onde a SKAT identifica mais

fragilidades so os pequenos empresrios por conta

prpria, contribuintes que esto a iniciar um negcio e

tm pouco -vontade com as regras. Para evitar que

cometam erros, o fisco tem uma equipa de 70 pessoas

que faz pequenas sesses explicativas (tipo workshops)dirigidas a pequenos grupos de contribuintes (por

exemplo, a pessoas que esto a iniciar um negcio). Os

empresrios podem tirar dvidas com os funcionrios,

trocar ideias, resolver questes prticas.

Se vemos que alguma coisa no est correcta, partimos

do princpio de que foi um erro, que no foi deliberado.E isso reflecte-se na forma como actuamos, na forma

como escrevemos aos contribuintes. Tentamos tratar

das questes com base na confiana, a partir da

informao fiscal que cruzamos. [Nas situaes de

dvidas fiscais] treinamos quem est no departamento

de cobrana a agir com uma atitude profissional , diz o

subdirector-geral.

(http://imagens4.publico.pt/imagens.aspx/967604?tp=UH&db=IMAGENS)

Jonatan Schloss, subdirector-geral do fisco dinamarqus, diz que a SKAT

est a apostar na segmentao dos emails enviados aos contribuintes

http://static.publico.pt/files/ideiasportugal/img/content/impostos/4.svghttp://imagens4.publico.pt/imagens.aspx/967604?tp=UH&db=IMAGENS


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Por norma, os procedimentos de cobrana de dvidas

fiscais no geram problemas, confirma Jrn Rise,

presidente do sindicato. H sempre procedimentos que

podem correr mal, mas so uma minoria. Primeiro que

tudo, confiamos no contribuinte. A execuo de uma

dvida s avana depois de ouvida a pessoa visada.

Ainda que a imprensa adore trazer histrias sobre

comportamentos escandalosos da SKAT ou histrias

de contribuintes sem direitos, 99% das taxas so

cobradas sem qualquer problema, completa por email

Jan Pedersen, chairman do Nordic Tax Research

Council e professor de direito fiscal na Universidade de

Aarhus, a segunda cidade da Dinamarca.

Os nveis de fuga ao fisco so baixos. Um estudo

coordenado em 2011 por Henrik Jacobsen Kleven,

economista dinamarqus e docente na London Shcool

of Economics, concluiu que a taxa de evaso fiscal

correspondia a 2,2% do rendimento alvo de tributao

pela SKAT, porque a maior parte do rendimento (cercade 95%) diz respeito informao comunicada [ao

fisco] por terceiros, onde a taxa de evaso

virtualmente nula. A realidade no , porm, a mesma

entre os trabalhadores por conta prpria, onde a taxa de

evaso calculada por Kleven chega aos 50%.

Jonatan Schloss assegura que entre quem trabalha porconta de outrem, entre quem pensionista, a taxa de

cumprimento voluntrio muito elevada

praticamente no h evaso. Sublinhe-se que em

Portugal, segundo dados do Ministrio das Finanas, o

cumprimento voluntrio das obrigaes fiscais de

93,4%.

O subdirector-geral da SKAT sublinha que no sistema

dinamarqus os contribuintes no tm de se preocupar

com o pagamento do imposto. Em 2014, cerca de 84%


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dos contribuintes no mudaram nada [em relao

declarao de rendimentos pr-preenchida]. Schloss

explica que, quando h uma alterao de rendimentos a

meio do ano (o que faz com que a reteno mensal na

fonte varie a partir da), o contribuinte contactado por

email para saber que foi feito esse ajuste. Algumas

pessoas perguntam-nos: Porque que esto a enviareste email? Eu acredito no que me esto a dizer. Mas

isto acontece porque h uma confiana no sistema. As

pessoas no querem perder tempo com nmeros ou a

tentar perceber as regras.

David A. Munch, advogado fiscal, reconhece que osistema fiscal muito complexo, porque implica muitas

alteraes e isso, claro, dificulta a compreenso dos

cidados. Apesar de haver muito trabalho

parlamentar que tem a ver com a fiscalidade, isso no

gera instabilidade fiscal, diz Munch, a trabalhar em

nome prprio num pequeno gabinete no centro de

Copenhaga.

No caso dos sujeitos singulares a trabalhar por conta de

outrem, a informatizao e a automatizao tm

tornado a cobrana dos impostos mais invisvel. Como

acontecer em Portugal em 2016 com a entrega do IRS,

as declaraes so pr-preenchidas e os contribuintes

apenas tm de validar a informao. Na Dinamarca,

conta Jrn Rise, a pegada digital foi um processo feito

passo a passo, o que permitiu minimizar aos poucos

aquilo que os contribuintes tm de fazer. No foi um

(http://static.publico.pt/files/ideiasportugal/img/content/impostos/5A.svg)(http://static.publico.pt/files/ideiasportugal/img/content/impostos/5B.svg)
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U

longo caminho, mas foi feito pouco a pouco e, na

verdade, gerou mais confiana na administrao

fiscal. A entrega online do IRS comeou em 1994 (seis

anos antes de Portugal), mas a do IRC s chegou em

2005 (cinco anos depois de Portugal).

fisco nas redes sociais

ma das reas em que a SKAT est a investir,

adianta Jonatan Schloss, a comunicao

directa com os contribuintes. Estamos a fazer

uma segmentao na forma como comunicamos

por email. A SKAT tem uma equipa de 15 linguistasque tm como tarefa simplificar a linguagem dos textos,

sintetizar informao, treinar colegas de outros

departamentos a traduzir para linguagem corrente a

legislao, corrigir emails ou textos publicados no site.

Para uma populao de 4,9 milhes de contribuintes

singulares a SKAT tem apenas 28 reparties definanas (Portugal tem 343 para 7,5 milhes de

contribuintes). A administrao fiscal defende que um

nmero suficiente porque a maior parte das questes


Thomas Garvin e Sara Wille-Jrgensen esperam com os dois filhos
http://imagens1.publico.pt/imagens.aspx/967601?tp=UH&db=IMAGENS


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so resolvidas por telefone ou pela Internet. Schloss

justifica que, apesar da informatizao dos

procedimentos e do nmero reduzido de balces fsicos,

a SKAT no perdeu rosto humano. E explica porqu.

A forma pacfica como os contribuintes vem o fisco

levou a SKAT a entrar nas redes socais. Um territrioonde qualquer instituio est mais exposta ao risco da

crtica, o que no caso de uma administrao fiscal mais

frgil poderia potenciar situaes explosivas de

denncia de situaes inusitadas, queixas de

contribuintes, um mural de comentrios e crticas mais

ou menos abonatrias. No parece ser o caso do fisco

dinamarqus.

A SKAT decidiu lanar-se no Facebook, est presente no

Instagram, no Pinterest, no Linkedin, comunica pelo

Twitter e tem um canal no Youtube. Sem perder o peso

institucional, ali no encontramos uma linguagem

formal. Quem percorresse nos ltimos dias a pgina

oficial da autoridade tributria no Facebook iria ver quetambm a SKAT pintou a sua foto de capa com o arco-

ris gay, associando-se festa Pride de Copenhaga. No

Instagram h fotografias dos ces das equipas das

alfndegas e da inspeco e no Twitter vai publicando

informaes oficiais e tem uma equipa que responde s

dvidas dos contribuintes.

comum as administraes tributrias dos diferentes

pases procurarem introduzir mecanismos semelhantes

para aumentar a eficincia fiscal, criando economias de

escala, reorganizando os recursos humanos por funes,

apostando na informatizao e no cruzamento de

informaes.

O contacto entre as administraes fiscais e a troca de

ideias fomentam a tendncia para a estandardizao. O

que diferente de copiar modelos por inteiro. E, no caso



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do exemplo nrdico, diz Karina Kim Elgaard,

dificilmente resultaria. David A. Munch concorda. H

vrias razes para que o sistema fiscal funcione assim.

Mas no se pode dizer simplesmente vamos agora

copiar as regras da Dinamarca. Definitivamente,

preciso ter uma economia que sustente este modelo e

uma predisposio das pessoas em contribuir, diz oadvogado.

Para o presidente do sindicato do fisco, h no entanto

lies a tirar. Mesmo tornando os processos

automticos, ser sempre preciso mo-humana na rea

do controlo das informaes fiscais. Para que as pessoas

tenham a certeza de que toda a gente est a contribuirde forma equitativa. S assim se garante a confiana dos

contribuintes. Tem tudo a ver com isto.

Outro pilar assenta na negociao e na definio das

estratgias em paz social, credibilizando a instituio,

frisa Jrn Rise. O presidente do sindicato tem reunies

regulares com o director-geral do fisco. Falam todos osmeses. Rise est frente do sindicato desde 1998. E a

relao com os sucessivos ministros dos impostos tem

sido cordial. Fantstica, a expresso. Acaba de

entrar em funes um novo ministro e escreveu-me

antes das frias a pedir uma reunio aqui no sindicato.

No somos ns que vamos l, ele que vem c. O

ministro faz questo de vir aqui.

A um passo da sede do sindicato, Christian Albrecht-

Beste ocupa-se a reparar a pesada porta principal da

igreja da parquia de stervold. L dentro, as paredes

em tijolo foram pintadas de branco h pouco tempo,

espalhando a luz pela nave central. Christian, cabelo

ruivo penteado para trs, barba comprida, cales de

ganga e sapatilhas, o curador da igreja: faz pequenos

arranjos, ajuda nas tarefas da parquia, trata do

mobilirio, acompanha as obras mais complexas. Os



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S

fiis so poucos (duas, trs dezenas nas missas de

domingo). Mas so muitos os locais que contribuem

atravs dos impostos para ver a igreja impecavelmente

mantida.

No pas, onde a Igreja Nacional Luterana a religio

oficial, 79% so crentes e pagam a chamada "taxa daigreja", que tem como objectivo assegurar a

manuteno das parquias e a recuperao do

patrimnio. Quem no da Igreja Luterana no precisa

de pagar o imposto, mas h quem pague

voluntariamente a contribuio. Quem nasce na

Dinamarca automaticamente membro da Igreja e,

quando se torna contribuinte, paga esse imposto, dizChristian Albrecht-Beste.

Karina Kim Elgaard, da Universidade de Copenhaga,

enfatiza que h muitos cidados que optam por pagar o

imposto, apesar de no serem praticantes ou membros

da igreja. Fazem-no porque consideram que devem

ajudar a manter o patrimnio.

outro lado

e o fisco considerado um bom exemplo

internacional, h sempre um reverso da

medalha. esse o assunto que Nadja Manghezi

debate, mesa do jardim, com dois dos trs

filhos, Anya e Risenga.

Manghezi o apelido do marido, o sul-africano Alpheus

Manghezi, combatente da luta anti-apartheid, com

quem Nadja esteve na clandestinidade em

Moambique. Nadja, de 75 anos, modera a conversa

com os filhos. Esto na casa de Risenga, na zona

residencial da famosa cidade livre de Christiania, uma


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ilha de liberdade dentro de Copenhaga. mesa do

almoo, falam-se trs lnguas o dinamarqus do dia-a-

dia, o portugus que aprenderam em Moambique, o

ingls que os une a Alpheus. A viso da famlia sobre o

sistema fiscal e o modelo social no indiferente a esse

lado da realidade.

Anya, de 46 anos, vice-directora da Diviso Social da

Regio de Copenhaga. Desbloqueia assim a conversa:

De uma forma geral, um modelo de sociedade em

relao ao qual todos estamos satisfeitos. Mas isso ao

mesmo tempo um problema: que todos o tomamos j

como normal. Em muitos pases, a possibilidade de um

cidado ter acesso educao um privilgio e quemtem essa oportunidade faz um grande esforo. Hoje no

o tomamos como um privilgio uma coisa natural,

um dado adquirido.

As taxas so altas, mas para a nossa gerao, como

crescemos com isso, no uma escolha, completa oirmo, Risenga, de 42 anos. Para Anya, a discusso j

no est tanto relacionada com o sistema fiscal as

altas taxas ou taxas baixas. No ouo ningum dizer


Nadja Manghezi com os filhos Anya e Risenga na zona residencial dacidade livre de Christiania, em Copenhaga
http://imagens2.publico.pt/imagens.aspx/967602?tp=UH&db=IMAGENS


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que preferia pagar menos impostos e no ter essas

oportunidades. Temos um grande nvel de equidade.

Para as novas geraes (e tambm para ns),

completamente natural que todos tenhamos essas

oportunidades iguais. Temos um modelo que permite

que se discuta se queremos a carreira, a famlia.

Fala agora a me, Nadja: Ateno, esta uma

discusso de pessoas que tm trabalho e que tm

possibilidade de carreira. H uma camada na

Dinamarca, como em toda a Europa, de desempregados

[6% da populao activa em Junho]. E a h uma outra

discusso que tem a ver com o Estado social. Tem-se

polarizado uma discusso entre a direita e a esquerdaporque se diz que h pessoas que preferem no

trabalhar porque o subsdio que recebem lhes permite

no trabalhar. E continua: Na Dinamarca, estamos

muito acostumados a dar a responsabilidade ao Estado,

instituio, a queixarmo-nos porque algo no est

bem. Esquecemo-nos de tomar uma responsabilidade

prpria. Quando esto fora, os dinamarqueses apreciam

as pessoas que, para sobreviver, tm de tomar sobre si

prprias a responsabilidade da vida.

Risenga d o exemplo dos colegas de trabalho, em

Christiania, onde fabrica bicicletas triciclo. O meu

trabalho inclui almoo quase gratuito e muitos

privilgios. Mas muitos passam o tempo a queixar-se do

almoo Queixam-se por muito pouca coisa. E eu

penso: Bem, nunca passaram verdadeiramente mal na

vida. Se o autocarro est um ou dois minutos atrasado,

isso uma queixa?.

A responsabilidade de Anya na Diviso Social da Regio

de Copenhaga mostra-lhe que s vezes as pessoas

esquecem-se de apreciar o que h de bom, porque

para muitos dinamarqueses a nica experincia de

sociedade que conhecem esta, e no h nenhuma



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outra para comparar. O sistema da SKAT to

automatizado e integrado que as pessoas no pensam

sobre os impostos que pagam.

assim a grande famlia dinamarquesa, sintetiza o

advogado fiscal David A. Munch, falando agora sobre o

futuro. Ser mais difcil manter intacto o Estado socialcomo existe actualmente, porque as geraes mais

novas tm um pensamento americanizado. H um risco

de se perder a ideia da Dinamarca como uma grande

famlia. Se essa ideia ganhar fora, ser uma ameaa

sria.

Jan Pedersen, da Universidade de Aarhus, enfatiza:Claro que muitas pessoas querem taxas mais baixas e

os partidos mais direita apanham a boleia para

defender menos carga fiscal. De qualquer forma, a

maior parte das pessoas est ciente de que o facto de

haver altas taxas o preo a pagar pelo modelo nrdico:

sade gratuita, educao gratuita, uma quantidade

macia de apoios educao e aos idosos, seguranasocial. Em sntese, diz Pedersen, a existncia do

modelo nrdico a razo mais importante para a

relativa grande aceitao do sistema tributrio. As

pessoas vem a razo de ser dos impostos.

Artigo financiado no mbito

do projecto Pblico Mais

http://imagens8.publico.pt/imagens.aspx/968078?tp=UH&db=IMAGENShttp://static.publico.pt/publicomais/


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CONTINUAR A LER

VISTO DE C

O contribuinte tem desentir que bem tratado,

mesmo se falhar uma vezCidlia Mota Lopes, professora de fiscalidade no Instituto Superiorde Contabilidade e Administrao de Coimbra diz que osportugueses esto menos tolerantes com quem foge ao fisco.

VISTO DE L

Se algum no paga os

impostos, como uminsulto a toda a gente

Karina Kim Elgaard, investigadora de direito fiscal naUniversidade de Copenhaga, diz que sociedade dinamarquesa pouco tolerante para com quem tenta contornar as regras.

COMENTRIOS

11:11

Patricia Carvalho

skat (ou similar) significa tesouro na Holanda e Noruega. Suponho que omesmo se passa na Sucia. por isso que se pode usar como queridoe tambm como imposto. Em Portugal tambm.

H 53 minutos

marios.vilar

Tradutor , Bruxelles

Muito bem! Ia precisamente escrever isso. No teriacustado muito aos reprteres do Pblico serem maisprecisos.

Comentador Atento

As coisas tem de evoluir por c como em todo o lado, mas misturar umvdeo portugus com Audis num artigo sobre a Dinamarca onde apenascirculam Ladas de 1970, parece-me um bocado incogruente dadas as
http://www.publico.pt/economia/noticia/o-contribuinte-tem-de-sentir-que-e-bem-tratado-mesmo-se-falhar-uma-vez-1705597http://www.publico.pt/economia/noticia/se-alguem-nao-paga-os-impostos-e-como-um-insulto-a-toda-a-gente-1705505http://www.publico.pt/utilizador/perfil/8e583987-b40d-4f2c-847f-867e4d44fae2http://www.publico.pt/utilizador/perfil/3df537ae-70eb-412d-bfc6-033e70d2cc43http://www.publico.pt/utilizador/perfil/6cbe2810-3869-4cbd-b672-7674ea621a05


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11:03 pssimas condies de vida dessa aldeola-nao.

10:58

Comentador Atento

Imposto est querido para a Dinamarca, como Kim Jong-un est querido

lder para a Coreia do Norte. Livrem-nos do estado ama e do comitcentral. Fonte: um ano de experincia sob esse 'querido' sistema.

H 29 minutos

Liberal

Lisboa

"Uma mentira mil vezes repetida torna-se verdade."Joseph Goebbels - claro que estas fantasias sobre asmaravilhas da Dinamarca no so esfregadas no

focinho dos tugas por acaso. H vrios implcitos,

sendo um deles que "paguem tudo e mais algumacoisa e o vosso pas ser rico como a Dinamarca". Poracaso, h quinze ou mesmo mais anos que atributao aumenta em continuo em Portugal, e os

resultados so eloquentes. Da a necessidade damentira, do "judeu". Como os nazis.

10:49

Jos P.

Um debate aprofundado sobre o papel do estado fundamental. Umdebate alicerado em dados, dados credveis sobre os resultadosobtidos, no em notas de exame mas em desenvolvimento cientfico,desenvolvimento vertido para bem-estar social.

10:47

Jos P.

O que falta so dois pontos importantes. Em primeiro lugar a razo

porque a matriz social escandinava cria mais facilmente este modelo eem segundo se o centralismo do estado em campos como o daeducao so verdadeiramente desejveis e incorporam padres deinovao/diversidade. As razes do tecido social escandinavo assentam

no Luteranismo, as nossas na igreja catlica. Princpios de coesosocial, famlia, individualismo, culpa muito diferentes dos do catolicismo.Venha um especialista explicar... Quanto vantagem do centralismo doestado, tudo depende de como decorre. A interveno da sociedadecivil, no nosso caso, imprescindvel at ao nvel do pr-escolar. No

podemos depender s do estado. Mas tambm no podermos entregar-nos aos interesses segregadores da escola catlica.

Jos P.
http://www.publico.pt/utilizador/perfil/3f7bd486-aad5-461c-9c02-acae284e8979http://www.publico.pt/utilizador/perfil/b06d0c7b-0802-411f-be4d-a7ce7284066chttp://www.publico.pt/utilizador/perfil/3f7bd486-aad5-461c-9c02-acae284e8979http://www.publico.pt/utilizador/perfil/3df537ae-70eb-412d-bfc6-033e70d2cc43http://www.publico.pt/utilizador/perfil/3f7bd486-aad5-461c-9c02-acae284e8979http://www.publico.pt/utilizador/perfil/3f7bd486-aad5-461c-9c02-acae284e8979


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10:40O artigo muito interessante mas falta o mais importante. D uma nota positiva

sobre a mquina fiscal mostrando que possvel esta ser bem aceite pelo cidado.Mostra algumas das razes para ser assim. A transparncia do seu funcionamentoe as garantias dadas pelo estado social. Mostra ainda que no somos assim to

diferentes da D. em termos de comportamento uma vez que o pagamento voluntrio quase total nos trabalhadores por conta de outrem e menor nos "por conta

prpria". A diferena no est no cidado mas sim na "mquina". Na "mquina"dinamarquesa h uma clara opo pela formao e verificao enquanto na nossa oesforo mais dedicado cobrana.
http://www.publico.pt/utilizador/perfil/3f7bd486-aad5-461c-9c02-acae284e8979

Aqui “Imposto” Significa “Querido” e Isso Diz Muito Sobre a Dinamarca - PÚBLICO

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