Arabes e muculmanos_em_foz_e_ciudad_del_este-libre

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12'Arabes e mu~ulmanosemFoz do Igua~u'e Ciudad del Este: notas para .uma re~interpretadio . . . Se existeurn espa<;ona America Latina no q~al a1?areceminscritos os , retratos da violencia vinculados aos conflitos do mundo arabe e islamico, esse e a Tripl\ce Fronteira: a area de confluencia dos limites internacionais do' Brasil, Argentina e Paraguai. Seguindo osmeios de cpmunica<;aoregio- nais e ~nternacionais. a.area parece ter-se transformado em urn dos espa<;os do globo que condensa todos os problemas deseguran<;a contemporaneos: 'c terrorismo e mafias tninsnacionais, pirataria, contrabando, lavagem de di- nheiro e de artigo'Sroubados, narcotrafico e trafico de armas. As denuncias sobre terrorismoislamico na regiao foram fundamentais na constitui<;aoe consolida<;aodesse retrato. Partindo da imagem de ilegali- dade, a grande maioria das materias jornalisticas e dos trabalhos produzidos sobre a regiab profCurademonstrar apresen<;a ou,ausencia de terrorismo ali ou de financiamento de grupos terroristas que operam em outras latitudes. Quem escrevesabre aregiao parece condenado ao dilema de Hamlet objeti- vado na interpela<;aoa comunidade arabe da fronteira: san ou nao san terra- ristas?As respostas negativas articuladas poralguns jornalistas e membros da comunidaae questionando a afirma<;aoda existencia de terrorismo na regiao ratificam,sem querer, a aliena<;aodo dilema de Hamlet colocado d:terna- mente. A diferen<;ade Hamlet, que se pergunta a si m~smo pela condi~ao de f .sua existencia, ,no caso dos arabes'da fronteir~, essa resposta e rea<;aoa uma pergunta qu~ nao e propria. Esse fato produz a condi<;aoalienada na qu;l, frente a cada nova suspeita ou apa~i<;abde evidencias na regiaovinculadas

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12'Arabes emu~ulmanosemFoz do Igua~u'eCiudad delEste: notas para .umare~interpretadio. . .

Se existe urn espa<;ona America Latina no q~al a1?areceminscritos os

, retratos da violencia vinculados aos conflitos do mundo arabe e islamico,

esse e a Tripl\ce Fronteira: a area de confluencia dos limites internacionais

do' Brasil, Argentina e Paraguai. Seguindo osmeios de cpmunica<;aoregio-

nais e ~nternacionais. a.area parece ter-se transformado em urn dos espa<;os

do globo que condensa todos os problemas deseguran<;a contemporaneos:

'c terrorismo e mafias tninsnacionais, pirataria, contrabando, lavagem de di-

nheiro e de artigo'Sroubados, narcotrafico e trafico de armas.

As denuncias sobre terrorismoislamico na regiao foram fundamentais

na constitui<;aoe consolida<;aodesse retrato. Partindo da imagem de ilegali-

dade, a grande maioria das materias jornalisticas e dos trabalhos produzidos

sobre a regiab profCurademonstrar apresen<;a ou,ausencia de terrorismo ali

ou de financiamento de grupos terroristas que operam em outras latitudes.

Quem escrevesabre aregiao parece condenado ao dilema de Hamlet objeti-

vado na interpela<;aoa comunidade arabe da fronteira: san ou nao san terra-

ristas?As respostas negativas articuladas poralguns jornalistas e membros da

comunidaae questionando a afirma<;aoda existencia de terrorismo na regiao

ratificam,sem querer, a aliena<;aodo dilema de Hamlet colocado d:terna-

mente.A diferen<;ade Hamlet, que se pergunta a si m~smo pela condi~ao de

f .suaexistencia, ,no caso dos arabes'da fronteir~, essa resposta e rea<;aoa uma

pergunta qu~ nao e propria. Esse fato produz a condi<;aoalienada na qu;l,

frente a cada nova suspeita ou apa~i<;abde evidencias na regiao vinculadas

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ao unlv~rso politico do Oriente M~dio e do mundo islamico, a verdade da

nega<;ao ve-se questionada, ficando-se enta~ na impossibilidade de poder

discutir 0 que se revela nesse instante como problema anterior: quais san os

criterios de definicao da discussao. . .

o presente ~rabalho e urn inte-nto, precisamente, de estabeleceJoutras

narrativas a partir das quais se possa discutir a presen<;a arabe e mu<;ulmana .

ria·regiao.0 regi~tro hist6rico no qual 0 trabalho se insCrevenos permitira

vislumbrar 0 desenvolvimento 'da regiao e conhecer 0 lugar que nele ocupa-

ram 6s imigrantes de origem arabe. As experiencias migrat6rias, comerciais

e de exilio nos permitiram ordenar urn material geralmente ausente nas dis-,

cuss6es sobre a Triplice Fronteira, colocando-nos em urn terreno diferente

daque1e cenario maniqueista estruturado a partir da discussao sobre -apre-

senca ou ausencia de terrorismo na regiao. Partindo de algumas trajet6rias, .- ,. .individuais, articula<;oes comunitarias e prati~as politicas, 0 trabalho tentara

aport:'!.r elementos para construir o'utras narrativas sobre aque1es que, che-

gados do Oriente Medio, fizeram suas vidas em Foz do ~gua<;ue Ciudad del

Este.

Os limites internacionais de Brasil,Paraguai e Argentina se encon-

tram na conflu~ncia dos rios onde eles estao tra<;ados: 0 rio Parana e 0 rio

19ua<;u.Nas margen's,a!cidades, e sobre os rios, as conex6es. A cidade para-

guaia d~ Ciudad del Este esta separada pe10 rio Parana da cidade brasileira

de Foz do 19ua<;u,ambas unidas pe1a Ponte da Amizade. Frente a Foz do '

19uayu e do outro lado do rio 19uayu, esm localizada' a cidade argentina de

Puerto 19uazu,cidades estas unidas pela ponte Tancredo Neves., . .As cidades guardam lugares bem diferentes na dinamica de cada pais.

Ciudad'de1 Este e a capital do estado de Alto Parana - urn dos 17 estados

do Paraguai - e e a segunda cidilde do pais em impottancia. demografica e

. economioa. Com uma populayaode222.274 habitantes em.2002,2a cidade

se desenvolveu no extrema leste do pais durante asegunda metade do seculo'

I

2 Se agregarmos apopula,ao dos dtstritos que se encontram articulados na dinamica urbana de Ciudad del Este, tais

como Hernandarias (63.248), Minga Guazu (48.006) e Presidente Franco (52.826),0 conjunto apresenta uma popula-

,ao de 386.354 pessoas (DoEEC, 2002, p. 102 et seq.).

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XX,emergindo cOmo uma alternativa dinamicaa secular importancia da. ,capital, Assun<;ao. Com jomais locais, universida?es, urn aeroporto interna-. ,cional e uma importanteinfra-estrutur~ urbana (ainda que precaria e desi-

gual), Ciudad del Este e fundamental no Paraguai contemporaneo.

Comq Ciudad del Este, Fez do 19ua<;uteve nas ultimas decadas urn

desenvolvimento significativo e, em muitos aspectos, mais acabado que a

cidade paraguaia; pelo menos no que diz respeito a midia, a infra-estrutura

urbana e mesmo a~brangencia do acesso a determinados bens e infra-estru-

tura. 0 lugar de Foz do 19ua<;u,contudo, e bem menos signifiCativo para a

dinamica estadual e nacional brasileira. Com uma popula<;ao de258.543habitantes no ana2000, era a quinta cidac'le do estado do Parana; urn dos

26 estados que compoem0 Brasil.

I .Comparada com as anteriores, a cidade argentina de Puerto 19uazu

e uma pequena cidade com pouca ou nenhuma autonomia em termos de

prodti<;ao ou reprodu<;a,o de uma esf¢ra publica local. Com31.515nabitan-

tes em2001, era a quarta cidade em termos demograficos da provincia de

Mislones - urn dos2.1 estados da Argentina. .

As cidadeJs de Puerto 19uazue Foz do 19ua<;usao0 destino obrigat6-

rio para visitar as Cataratas do 19ua<;u,importante ponto turistico dentro.da America Latina.3 A dinamica econ6mica de Puerto 19uazu gravita em.

torno do llirismo e do comer~io vinculado a ele. 0 turismo tambem ocupa

urn lugar·fundamental na dinamica econ6mica de Foz do 19ua<;u,onde, no

entanto, outrasduas atividades sac fundamentais:0 comercio de produtos

brasileiros para os paises vizinhos (principalmente, para0 Paraguai) e a pro-

, du<;ao de energia eletrka. Se a importancia que tern0 turismo para0 lad~"

argentino e brasileiro deriva de compartilhar urn atrattvo natural, Foz do. -19ua<;ue Ciudad del Este compartilham outras duasatividades - comercio e

energia - cuja existencia dependeu de apostas politicas e des~nvolvimyntos

governamentais e, fundamentalmente, dos fazeres de mHhares de ,.pessoas

que realizaram esses desenv~lvimentos. Eles foram os imigranteschegados

do Paraguai e do Brasil que ajudaram a levantar ~ hjdreletrica e que trans-

forma:cam, junto aos imigrantes de diversas partes do mundo,Os mercados -

localizados nas cabeceiras da ponte que une ambas as cidades em u;m dos

3 Hoje em dia, Foz do 19ua~ue 0 sexto destino dentto .do Brasil do turismo intemacional(EMBRATUR, 2004, p. 141),

porem, cinco anos atras, era0 terc.eiro deStino dosturistas que visitavam 0 Brasil.

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espa<;oscbmerciais mais din~micos do continente. Aqui e onde nossa hist6-

ria come<;a.

Apresen<;aarabe, tal como a de o.utros imigrantc;;sna fronteira entre

Brasil, Paraguai e Argentina, s6 e compreensivela luz da dinamica comercial

da regia-o.-Paraabord~r essa dinamfca, contudo, e neeessario-conhecer os

tempos eas formas de ocupa<;aodesse espa<;o.

Pormalmellte incorporada nos dominibs territoriais americanos das,

corba,sporttiguesas e espanholas e nos Estados que as sucederam, a regiao" ," \" / ;;

da confluencia dos riosIgua<;ue Parana permaneceu fora de uma ocupa<;ao

estatal efetiva ate finais do seculo XIX. CO:t;ltudo,aquele nao era urn espa-

<;0des~bitado:a' popula<;ij.6indigena que dc~pava a matai subtropical que

conformava 0 territ6rio, somavam-se ocupantes particularesde diferentes

origens estabelecidos nas margens dos rios, assim como grup~s de extra<;ao

de erva-mate emadeira que se internavam, nas matas abrtndo trilhas e pas-

sagens.4

, A partir de1876,astertas localizadas no Paraguai foram entregues em

qmcessao a uma empresa privada para explora<;aode erva-matee Il).adeira;

o assento da empresa, Tacuru PUCll(atual Hernandarias,20 km ao norte da

atual Ciudad del Este), foi 0 primeiro assentamento regular na regiao. Em

1889,a fim de garantiruma pres~n<;aestatal na fronteira, 0 exercito brasilei-

to fundou a colonia militar de Poz do Igua<;u.Do outro lado do rio Igua<;u,'

no lado argentino, come<;oua se formar urn poyo;do que seria c~nhecido

como Puerto Aguirre (mais tarde, Puerto Iguazu), 0 qual receberia diversas

institui<;6espublicas n,aprimefra decada do seculo XX.

-Ate a decada de60, as rela<;6esleritre Foz do 19ua<;u(BR)e Puerto

Iguazu(AR) fbram as que estrut\lraram 0 movimento daguela regiao, envol-

)

4 A pluralidade de origens da 'popula~ao que ocupava a regiao aparece no relato de urn dos participantes da funda~ao

da Colonia Militar da Fo' do 19ua~u, De aconlo com Brito, "(Plor ocasiao'da descoberta da Fo' do 19ua~u9 territ6rio

br~ileiro ja era habitado. Existiam no ltlesmo 324 almas,assimd"escritas: Brasileiros, 9; rranceses, 5; hespanhoes, 2;

• argentinos, 95; paraguayos, 212; inglesL" (BRITO,(1937J, p, 13),5e somarmos as pessoas que a comissao encarregada daI

funda~ao foi encontrando a caminho do seu destino, tambem aparecem holandeses, alemaes ~,uruguaios.

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vendo diversos produtos e esquemas de eircula<;ao.5 Por:em, logo depoisque

corri.e<;oua se concretizar0 corredor que ia ligar0 centro do Paraguai com os

portos brasileiros no litoral atlantico,0 eixo que movimentara aquela regiao

come<;ou a mudar de sentido. A funda<;ao de Puerto Presidente Stroessner,

'em 1957, na margem direita do Rid Parana, frentea brasileira Foz doIgua~u,

enquadra-se nesse empreendimento,0 qual se consolida com a inauguta<;ao

da Ponte de Amizade, em 1965.6 Na decada de 70, a constru<;ao da represa

de Itaipu, entre Brasil e Paraguai, alguns quil6metros ao -norte de ambas as

eidades, produziu urn salt<?demografico e de infra-estrutura que fez distan-

eiar, em term os de 'escala, ambas as eidades de Puerto 19uazu.7 A procura de

novas possibilidades comereiais foi0 atrativo que levou muitos comereiantes.a fronteira. Atraidos poresse novo espa<;o de possibilidades e realizadores

das mesmas, 'os primeiros comereiantes que tiveram urn papel fundamental

na mudan<;:ado eixo que movimentava a regiao foram aqueles que levaram

produtos brasileiros ao Paraguai.

Tant6~nas hist6rias que recolhemos como naquelas que encontra-

mos na midia local" ~ chega.da dos pr~eiros migrantes arabes esta relaeio-

,nada com esse comereio. No inieio, ievaram a produ<;ao industrial brasiieira

ate os ultimos confins do oeste do Parana, onde Foz do Igua<;uet'a urn ponto

a mais nessa cartografia em movimento. Depois, com0 acordo qssinado em

1956 para a constru<;ao da ponte que uniria0 Brasil com 0 Paraguai e a fun-

da<;aode Puerto Presidente Stroessner no ana seguil1te, alguns desses comer-

50s produtos tradicionais que ocuparam urn lugar importante\no desenvolvimento daquela regi:io foramaerva ..mate e a

madeira. Gutres pl:odutos tiveram um~ imporrnocia contextual: talcomo 0 fluxo de poeus do BrasilaArgentina duran~

te a Se~nda Guerra Mundial, escapando dos controlesa produ<;ao e cometcializa<;ao de ,caucho imposta pelos EUA.

6A funda'rao de Puerto' Presidente Stroessnerestiestritamente vinculada a constrw:;ao desse corredorentre 0 centro

do Paraguai e os portos brasileiros, nos quais0 govemo paraguaio tinha· ganhado facilidades para suas~6rta'r6es e

importa<;6es (Sanros, e~1941,~Paranagua, em1956).A elei<;ao do local p"ra a funda<;ao esteve dererminada pelo lugar

ond~ ia se construir C\ ponte q!Je atravessaria0 Parana.

1 Elementospara uma hist6ria daquele espa<;o fronteiri.;o pod,;m ser encongados em Klienke etal.(1997), Ferradas

(1998), Barakat (1999), Duarte (1999). Sugamosto (1999}, Souza (2000), Ribeiro (2001, especialmenre. capitulo2). 0

relato dafunda<;ao de Foz do 19ua<;u estil em Brito([1937J 1995).Urn livro sobre a hist6ria deFoz do 19ua<;unarrada

por urn protagonista e Lima (2001).Outros relatos locais que agregam elementos interessantes sao Lima(1998) e Muller

(1998). Sobre a funda<;aoe desenvolvimento de.Ciudad del Este ver Santos(1983) e Ynsfran (1990).A partir de relatos

de participantes das fundat;6es e de viajantes, tentamos produzir outra narrativa sobre as hist6rias de cada cidade em

Rabossi (2000). Exploramos 0 desenvolvimento de Ciudad del Estea luz do comercio em Rabossi(2004, espedalmente,

" capitulo 5). ,

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"ciantes se estabeleceram em ~oz do 19ua<;utendo em vista a perspectiva do

comercio com0 Paraguai, um mercado virgem para os produtos brasileiros.

Os primeiros migrantes arabes que se estabeleceram na regHio0 fize-

ram na cidade brasileira de Fozdo 19ua<;u.8Se0 desenvolvim~nto de Jardim

Jupira e Vila Portes - os bairros pr6ximosa Ponte da Amizade - e a mostra

espacial do cresc.imento de Foz do 19ua<;ucomo centro comercial exportador

de produto& brasileiro.s.para0 Paraguai, a importank presen<;a arabe' nesses

. bairros e a manifesta<;~o do papel que eles tiveram nesse cresci?1ento. Atrai-

dos pelo movimento comercial ou seguindo referencias e nomes de parentes

ou conhecidos, novos imigrantes continuaram a chegar. A primeira marca

institucional 'dessa presen<;a em Foz do 19ua~u sera0 Clube Uniao Arabe,

fundado em1962.Quem san eSSesimigrantes? Em sua maiorhr sao originarios do Li-

bano. Alguns ja tinham rodado'~lo interior do Parana e Sao Paulo e inclu-

sive tinham ~e estabeleddo em outras cidades antes de mudar-se para Foz

do 19ua<;u.Outros eram recem-chegados aoBrasil. Consideremos, tres casos

dessesprimeiros imigrantes que se transformariam em importantes comer-

ciantes e empresatios da cidade.

Numa reportagem na midia local sobte a trajet6ria de Ahmad Ha-

mad Rahal, lemos "Como quase todos os atabes que migrarampara0 Bra-

s'il e outros paises, Hamad Rahal deixou0 Libano .com pouco ou nenhum

recurso, tendo que come<;ar tudo praticamente da estaca zero :...e0 come<;o '

invari~vel nao poderia ser outro setiao a dese dedicata velha' profissao de

mascate, equivalente ao conhecido vendedor ambulante que hoje inunda

as ddades brasileiras."9 Hamad chegou (ao 'Brasil em1951, com 20 anos.

Arribou a Sao Paulo 'onde come<;ou a trabalhar no comercio. Dois anos

mais tarde decidiu tentar a sorte no centro e oeste do Parana vt;ndendo mer~,

cadorias que carregava em suas malas, principalmenie r-bupas que trazia de

Sao Paulo. Percorria incipientes cidades comoGuarapuava, Cascavel, Foz do

,19ua<;u,Mar~chal Candido Rondon, Toledo e Guaira. "Em.suas andan<;as de

mascate, Rahal chegou a Foz do 19uacu no come co da decada de 50 e aqui, 'f.( • , t

8 Conti~uando, de fat';, urn padroo que caracterizou a irnigrac;ao arabe desde final do seculo XIX, no qual a Integra~

na dinamica social e economica no Brasil foi atravesdo comercio, em termos gerais, e da pI3tica dornasc~tear,em

particular. Ver Knowlton (1960), Safady. (1966), Truzzi (1992), Lesser (2002) .•

• Nosso Tempoj 1989a.

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I '.

Ca15ltulo 12

ja encontrou tres familias ?e migrantes arabes." Quando chegou ao e.xtreino

oeste do Parana, come<;:oua trabalhar nos povoados que -se estendiam ao

longo do rio Parana entre Foz do 19ua<;:ueGuaira. Finalmente, em 1958 ter-

minou se fixando em Foz do Igua<;:u,com a abertura de urn estabelecimento

comercial no centro da cidade.

Outro importante e~presario de Foz do 19ua<;:u,Mohamed Osman,

chegou em 1952,proveniente' do Libano, e sedirigiu para onde morava

seu irmao, na cidade,de Jataizinho (Parana). Nas suas palavras, se~ prJmeiro

neg6do foLI]lascatear com uma maleta cheia de roupas dadas por outro pa-

tricio. "Eu vendia nossitios, nas fazendas e nos cafezais da regiao." Abriu seu

primeiro bazar em Assai, depois mudou para Ivatilva, onde tinha l>arenteS,e

entrou no ramo da compra e venda de cafe e cereais. Em 1962 se estabeleceu

em Foz do Igua<;:u,onde realizou uma carreira comerdal importante, sendo

dono,da Textil Osm:;J.ne representante exclusivo da empresa Kraft Suchard,

, cujos produtos sac exportados parao'ParaguaLlO

Abdul Rahal, libanes, chegou ao Brasil em 1959, com 22 anos, e fez~. ."

a percurso que tantos outros arabes dedicados ao comercio fizer-am:Santos

(porto de chegada), Sao Paulo (cidade dos inicios) e0 interior dos estados

de Sao Paulo e Parana (territ6rio de circula<;:aoe capitaliza<;:ao).J,m 1961,

localizado em ~oz do 19ua<;:u,come<;:oua levar prodUt08 ao ParaguaL Abdul

consig.era-se urn dos primeiros a abrir0 mercado paraguaio para os produtes

Qrasileiros, ateentiio dominadopelos produtos argenti~QS. A escolhade

Foz nao foi por acaso, Abdul tinha urn primo em FozdO,Igua<;:u.Seu irmao,

que tinha chegado ao Brasil em 1954, estava vivendo na Argentina junto a

sua mulher. Depoig, de algum tempo, eles tambem se instalararn emFoz do

19u'acuY• I

As hist6rias dos imigrantes arabes que, se estabeleceramern Foz do

19uacu sac semelhantes as descritas para periodos anteriores no Brasil. Va-• . t . _, . •

mos nos ,deter, contudo, 'em uma ex.perienda que nos perrnitira compre-

ender melhor0 lugar que ocupou Foz do 19ua<;:u/Ciudad del Este para os

imigrantes de origem arabe. A pesqui~a de Denise J~rdim sobre os palestinos

que se estabe'teceram no Chui,na fronteira com Uruguai, permite tra~ar

10 Classe 10. 1996a.

II Entreyistll realizada pel.;kutor em,outubro de 2001.U1I\a ajlresentac;ao de Abdul Rahal na midia estll em Classe 10,

1996a, p. 12-13.

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paralelos significativos com as trajet6rias daqueles que seestabeteceram em

Foz do 19ua<;u.A cronologia esi}Ililar:rtra.ta-se de pessoas que chegam na

dedada de 50 e inicios de60.0 percurso antesdese estabelecerem no Chui

e 0 mesmo que no caso deFoz do 19ua<;u:~. portd de Santos como lugar

de 'chegada- e Sao Paulo como a cidade dos inicios e0 ponto de articula-

<;aodasprimeiras rela<;6escomOutroS patricios (parentes 6u, si'mplesmente,

contatos ou conhecidos)j depois uma grande mobilidade por circuitos que

intluem varias cidades brasileiras antes de se instalar no Chui. A 16giC'apor

'trasda mobilid'llde e da locaHza<;aotambem e similar: uma mobilidade que

permite vislumbrar uma 16gica espacial baseada nos "contatos pessoais com

p~tticios, parentes e infotmantes que indicam os lugares onde 'esm born' .

para0 ~ofIlercio." QARDIM, 2\000; p. 110).Assim como no caso do Chui, muitos dos que se dedicaram ao co-

mercio em Foz do 19ua<;ue Ciudad del Este.nao tinham uma experiencia co- .i .

mercial nos seus lugares de origem.12 As razoes para essa inser<;ao no comer-

cio SaG varias. Par Urn lado; atraves deparentes, conheeidos ou por contatos

ocasionais com outros patricios, nasua chegada ~o Brasil ingressaram numa '

rede de rela.<;6escom aque1es ja estabelecido~_que tinham0 comercio como

sua atividade central. Por outro lado, para aquelesque chegaram sem capital,

o. comercio foi uma atividade que abria a pos~ibilidade de urn rapido retor-

no e que permitia vislumbrar urn caminhb para poder acumular e investir

em nQvas po~sibilidades. A reali,za<;aodessas possibilidades - acumula<;ao e

inversao - esteve vinculada com0 tipo de inser<;ao no comercio, geralmente

atraves de uma pratica especifica:0 'rila.scatear'. SaircomIi ~ercadoria ~araI ','. '

vender de porta em porta,;percorrendo ba.irJ:Ose cidadesY Assim, deixa-se

12 earacteristicatambem liSsinaladap')r Knawltan para as imigrantes sfrio-libaneses que ,cbegaram na Brasil na primeira

tt,et~de da secula XX (KNOWLTON,2002, p.299). De fata, uma caracteristica tecarrente das imigrantes libatieses em

muitas _()q.tras partes do mundo.

13 Se na camercia a tnobilida.de, e um recursa dis{lanivel par •• todos, as candi~6es para poder ~roveitar-se dele de-

pendem de yariosfatores, como rer0 di~heiroau as relac;6es para poder mover.-se, por exemplo. Conceber_a ideia de

maver-se, cantuda, depende do tipo de rela~iia estabelecida cam a lugar. Para a irni~ante recern-chegada, a lugar ~ urn,arbitnirio reLativoque n~o rem_a densidade hist6tica, simb6lica e reLacional que tempara as l::Iuenasceram aiL Neste

\'sentido, as possibilidades abertas pelo mc;>vimentonem sempre' estao no registro do concebivel para umapess~aque/ ,1, ' .

nasceu e,cresceu num lugar'sem nunca ter sa1do dati.

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a grande cidade dosprimeirospassos e se cOn;lec:;aurn periplopelo interior,

levando-se as novidades a povoados e fazendas.14

o momento da chegada de muitos desses migrantes (decadas dos de

50 e 60) ~fundamental para compreendero exito cbmercial que consegui-

ram, pois coincide com a expansao da produc:;aobrasileira de artigos indus-

trializados, particularmente no setor texti!' Em urn primeiro momento, os

mascates tornaram-se pec:;as-chaveno processo de distribuic:;aodessa produ-

yao para0 inteJ,'iordo Brasil e mais tarde, com sua insdllayao em cidades

fronteiriyas, para os paises limitrofes. Nesse deambular,0 desejo de querer

se estabelecer vai se concretizar nos espayos o'nde se encontra utn s6cio ja

estabelecido (os lugares com outros patricios) ou nos lugares que,apreseqtam

boas possibilidades para0 comercio. Tanto Foz do 19uayucomo0 Chui san

exemplos disto.

Numa formulayao interessante par~ pensar0 lugar que ocupatn essas!

cidades de fronteiranesse movimento, Jardim sugere que "Na trajet6ria dos

migral)tes de origem arabe,0 Chui pode ser entendido como uma fronteira

. de expansao dos mascates."(JARDIM, 2000, p. 125). Essa descriyao bem se

aplica aos migrantes de origem' arabe que se estabeleceram em Foz doIgua-

yUjno entanto, as diferenyas entre dois os casos iluminam a singularidade

que comeyou a adquirir a fronteir£ com0 Paraguai para os imigr~ntesarabes' ,

e 0 tipo de movimento comercial que se foi desenvolvendb na regiao - algo

que aparecera claramente na se<;aoseguinte.

As cidades de fronteiras sempre tern sido lugares onde e possivelapro-

veitar os diferendais derivados da continuidade de distintos espayos nacio-

nais com seus diferentes produtos, cargas tributarias e precos. Fronteiras, -' , ,

estatais san fronteirlls de mercados nacionais: lugares nos quais os neg6cios

e as oporrunidades podem se multiplicar, mas nero sempre podem ser apro-

.•veitados, p~is essas fronteiras tambem marcam0 espayo das alfandegas e dos

controles.

•14 Essasaid~'ao interior; no entanto, naD e unicamente. uma estrategia parachegaraDS lugares com menosconcorren~

cia, .mas tambem uma forma de se manter a dist:1ncia das fiscaliza<;6es emSaD Paulo, as quais apresentavam 0 perigo de

deten<;iio e de perda da mereadoria.

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Muitas cidades de fmnteira tem-se tornado importantes mercados e

'nelas e possivel encontrar recorrentemente grupC!sdedicados ao comercio.

Alguns dos arabes que chegaram a America Latinae pmcuraram as oportu-- I

nidades abertas no comercio instalaram-se em diversas cidades fronteiric;:as,

como 0 Chui e Foz do 19uac;:uno Brasil; Encarnacion e Ciudad del Este no

Paraguai, ou Maicao na fmnteira entre Colombia e Venezuela. Nas cidades _

brasileiras mepcionadas, vamos encontra-los vendendo' a produc;:ao brasilei-

ra. Nos outms casos, vao aparecer vendenda' pmdutos importados. A tom-

binac;:ao'de ambos os fluxos e precisamente0 que distiilgue Foz de 19uac;:ur

e Ciudad del Estee0 que constituiu 0 grande atrativo para os ittligrantes .. .arabes quecontinuaram chegando a America Latina na decada de 70 e 80.

Com a fundac;:ao de Puerto Presidente Stroessner, em1957,e a inau-

gurac;:aoda Ponte da Amizade, em 1965, a margem paragur-ia do rio Parana

ganhou uma nova vida. Os primeiros comercios abertos na saida da ponte

foram de paraguaiosj mas, logo em seguida, foram se estabelecendo putros

comerciantes que tinham comec;:adoa trabalhar do outro lado do rio. Desde

finais dos anos 60, ~lguns comerciantes de origem arabe ja estabelecidos

em Foz do 19uacu abriram s'uas lojas e· importadoras na eme~gente cidade'- ., . .

paraguaia.15 I

Claro que, para poder estabelecer-se do lado) paraguaib, tinham que

ter as possibilidades legais ecomerciais para faze-lo. Ambas as questoes fa-

rampossiveis pelo incentivo do regime de Stroessner ao comercio baseado

na .importac;:aode produtos estrangeiros para a venda na faixa de -fmnteira

e pelas "facilidades" dadas aos comerciantes para poderem seestabelecer.16 ,

As expectativas abertas .pelo fluxo de 'produtos difet:entes (imp6rtados de ter-

ceiros p~ise's)e_.orientado aoutro publico (os turistas brasileiros e de outras

p~rtes que chegassem para comprar em Puerto Presidente Stroessner), junto

as facilidades para poder Se estabelecer, foram os elementos que atrairam

e possibilitaram 0 es,tahelecimento de migrantes arabes no outro lado dafronteira,

15 A resposta de Abdul Rahal a pergunta sobre como era Puerto Presidente Sttoessner no momento em que ele chegou

em Foz do 19ua~u-(1959) apresentaesse movimento: "Pocas casas de madera, allado del rio. No tinha hotel... ni Cidade

del Este, Ciudad del Este, ela c~menz6en 1968. Ad abri6 el finado Ramirez, mi primo Alej dnha a Rahal alia,y Arne- .

ricana despues vinieron. Y nosottos abrimos. deSpues, 1969, Continental SRL... y comenz6 a crecer."

16Por'facilidades' nos referimos tanto a rneeanismosde facilita~ode trarnites para conseguir habilit&«;:6eS assim comoamita de exigencla de alguns dos requisitos.necessariosau a ex~ncia de 'arreglos' particulares com autoridades.

, .

Page 11: Arabes e muculmanos_em_foz_e_ciudad_del_este-libre

No ~ecorrer do temRo, junto a esses comercios e as casas de impor-

ta<;ao que abriram em Puerto Presidente Stroessner, aqueles ja instalados

em Foz, ou~os imigrantesarabes fizeram suas apostas diretamente do outro, '.. .

lado do rio. Urn caso exemplar e 0 dos irmaos Mannah~ Originarios da vila

de Baaloul, no Vale de Bekaa, os irmaos Mohamad Said Mannah e A,tefSaid

Mannah chegaram em Puerto Presidente Stro~ssneJ; em 1972,onde abriram

a Ioja New YbrkY Com 0 tempo, Osneg6cios'se expandiram .e hoje sao(

proprietarios de tres lojas de produtos importados que estao entre as mais

importantes da ddade: La Petisquera, Frontier e Mannah.18

Outro caso sintomatico desse novo padrao de imigra<;ao e 0 caso

de Faisal Hammoud, originari6 do Libano,. que estabeleceu no inicio dos

anos 70 umaIoja que !se ~xpandiu ate transformarrse em urn dos grupos

comerciais mais importantes da cidade:0 Grupo Monalisa.0 crescimento

e impa:etanre: escrit6rios em Nova York na decada de 80, escrit6rios em

Miami e Sab Paulo nos anos 90, butiques nos shoppings de Assun<;ao e u~a

diversifica<;ao alem da cbmercializa<;ao de produtos importados quepermite'

vislumbrar a amplitude dos neg6cios: turismo,educa<;:ao,Internet e, inclusi-

ve, uma fabrica de m6veis para exposi<;ao.t9 Os filhos de Faisal Hammoud,

Shariff e Sadek, nasceram no Libano, mas cresceram no Paraguai.Eles'serao

figuras-chave no desenvolvimento 'do' grupo.

Quando em 1975 come<;a a guerra no Libano, a presen<;a de comer-

ciantes arabes na fronteira estava c0tlsolidada. Alguns delestrabalhavam em

Foz do Igua<;u, QutrQs em Puerto Presidente Stroessner,. e outros operavam

em ambos os lados. Esse espa<;ode rela<;6ese oportunidades se transformaral

em urn lugar atrativopara muitos liban~ses, palestinos e Qlltras pessoas do

Oriente Medio que emigraram pelos conflitos na regiao. Urn ca;o ilustrativo

des~a nova fase e 0 caso de Samir Jebai, que em 2001 era presidentede umas

das camaras empresariais da cidade. Ele chegou do Libano em 1977 fugindo

da guerra civil e se estabeleceu em Puerto Presidente Stroessner, onde tinh~

parentes que sededicavam ao comercio. Com vontade de continuar seus• I

18Muitos dos que se tom.aram grandes comerciantes na entao Presidentl Sttoes~er vao ser repre~ent!lntes de marcas

intemacionais.

19 Urn hist6rico do grupo pode ser consult.do no website d. empresa: <http://www.monalis •. com.py>.Ver tambem

Classe 10, 1996. e 1996b. (j

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estudos, mas com a limita<;aode uma lingua desconhecida alias, vari;~

linguas, se considerarmos0 guarani e oportugues -, come<;oua trabalhar no

comercio, no qual continua ate hoje.20

_?e, ate metade dos anos 70, a regiao ti~ha se transformado em urn

de.stino atrativo para os comerciantes de.origem arabe,Idesde entao a fron-

teira meridional entre Brasil ~ Paraguai se tran~fbrmou numsafe havencom

boas oportunidades para trabalhar; algo ql.,le,por sua vez, atraiu. muitas pes-

soas que simplesmente deixaram0 Oriente Medio e~ procura de urn futuro

melhor. A expansao comercial,na decada de80 - pela consolida<;aode Foz

do 19ua<;ucomo centro expo~tador de produtos brasileiros e de Ciudacl del

Este como etIlP6rio de produtos importados de diversas partes do mundo

- sera0 marco de inser<;aodesses novos imigrantes. Analisar as causas oesse

crescimento comercial esta alem deste trabalhoP.lnteressa-nos, no entanto,

4escreversucintamente osfluxqs comerciais quese intersecam em Ciudad

del Este e que permite~ ter uma ideia das conex6~s internacionais que ali se

estabeleceram.

Ate Ifinais dos anos 80, os produtos europeus ou estadunidenses

chegavam dos lugares de origem, enquanto se aprodu<;ao era asiatica - nos

primeiros mbmentos do }apao, depois de Taiwan e Coreia e logo da China

- passavapor'portos' de triangula<;ao.Miami era0 principal porto de trian-

g~la<;aode produtos rumo a Puerto Presidente Stroessner. Em urn pr6cesso

q~e come<;a.na decada deSO e que se aprofunda na decada de90, os cir~

cuitos comerciais mudam de rota. Miami continuarci sendo urn importante

20 0Jebai Centet, inaugurado em 1977 POt parentes e d!, qual ele se tornaria s.odo, foi a proimeita grande galetia co-

mercial de Puerto Presidente Stroessner e ainda hojee urn dos principais pontos comerciais da ddade. Trata--se(deurn

.lcomplexo que ocupa urn quarteirao inteiro - ein desnivel - compostopor vArias andares de galerias e dais edificiQ$ de

apartamentos c6nectados porurn corredor~ponte em seu'ultimo andar.

21 A expansiio da of",rta de atrigos importados em Ciudad del Este ~ paralela ao crescimento do mercado de consumo

popular e de alguns proltutos part~culares no Brasil (video, computa~iio, eletrQnicos, telefonia celular). Ja a<lIpansiio

da.oferta de artigos brasileiros em Foz do 19ua~u esta vinculada ao lugar dominanre que passaram a ter os produtos

brasileiros no mercado interior.-paragmiio. Questoesmais abrangentessac fundamentais para compreencler esses desen·

volvimentos, tais como a politica de importa~6es do governo paraguaio ou a politica de boa vizinhan~a do Brasil em

fun<;ao de qutros interesses (a constr~ll;aode Itaipu ou a abertura do teste paraguaio a coloniza¢o agricola); estratigias

empresariais praticadas no Brasil, tais como exportar para reingtessar as mercadorias com0 objetivo de se beneficiar de

incentivos au beneficios fiscais ou de vender as mercadorias no mercado interno por pre\os menoreSj ou politicas com

efeitos colaterais, como os dep6sitos .compuls6rios paraas saidas ao exterior irnplementadas peIn governo brasileiro.aelemento que mudou de forma radical ambas as{idades e que teveuma influencia fundamental na multiplica~iio das

transa~6es foi a constru~iio da hidreletrica de ltaipu a partir de metade da decada de 70. .

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local de' provi~aopara Ciudad del Este; no entanto a posi~aoVqu~Qstentava,se vera completamente eclipsada pelos cresc~ntes vinculQs'diretos com0 su-

deste asiatico e'comoutros p.ortos de triangulitcao, com..o Panama; vinculos.' . ( -, -

que tamb~m multiplicaram a ptesen~a da imigra~ao chi~esa, quese'tornara

o grupo comercial majoritario.zz Assim como as rotascomerciais mudaram,

tambem° fizeram os p~rceiroscomerdais e os contatos.) , . . \

o marco deste ~xpansivo universo comercial e.onde a grande migra-

~ <;aoarabe dos anos 80,e 90 se insere '- migra<;aoe presen<;aque, seguindo

esse ~esmo movimento comercial,sofreia Umaretra~ao a partird~ segun.~a. .

r£!.etade.dosanos 90. Para se ter uma ideia da importancia comercial daS

pessoas de origem arabe nO'coinercio desenvolvido emCiudad del Este e

interessante considerar os dados levantados em estudo realizadopelo Banco

Central do Paraguai e1l1 1998, segundo0 qual a distribui<;ao'pela. origem

~dosdonos das lojas era: paraguaio 28%, oriental 27%, arabe 24%, brasileiro

1!%, outros nao especificados10%,23sendo que a cifra estimada d~stabe-

lecimentoscomerdais em funcionamento, em 1998, era de 7.000 - cetca de ,

1.680 e:stabelecimentos estavam em maos de come,rciantes ou ~mportadoresI .

, atabes ..

Ate a decada d~ 80, nas publica<r6eslocais e nos escrjtos ocasionais'" - I _'(

de viajantes ou jornalistas, asref~rencias aosarabes estavam centradasno

comercio, sejaa partir do simples registro da sUapresen<;aou a partir cia

informa~a6.de inaugUra~6es-ou empreendimentos. AlgUns imigrantc;s co-

me9aram a t~r'uma participa<;ao na dinamic~ geml de ,Foz doIgua~u.0comercianteeempresario Fouad~Fakih,por exemplo,24nametade' da ciecada

.pe 70 tornou-se president~ da ASsocia~~oCome'rcial de Comercio -de Foz

22 Ate a decada de 90,Ii imigra.,ao chinesa e proveniente de Taiwan, depois sera da China. Segundo uma materia sobrt

a comunidade chinesa de CiudaiPresidente$troessn';' publicada pela r"';ista taiwanesa Sinorama' em 1988,0 primeiro, . "..... <,...... - ! ..

chines de ~aiwat\ instalou"e cOl\1o comercianie em1970 junto a sua familia. No niom~nto da realiza.,ao da materia,

havia na cidade mais de3.000 chineses .

. " Estudo re~lizado pel" Departamento de Econqmia Internacional de la Gerencia de E~tudiosI'con6micos delBanco

Central del Paraguay, ~m 1998. 0 universo analisadd e pequeno, mas serve para se ter uma ideia da distribui.,ao por

.origem dos come~iantes.

'" Nascido no Libano, chegou a6Brasii com 8 anos de idade nos finais.da decada de 50.

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do Iguayu (entre 1974e'1980). Desd'e entao, outras pes~oas de origem arabe

passam a ocupar posiyoes importantes na cena publica, Alguns participam

na politica local e estadual concorrendoem eleiy6es para cargos de vereador,

deputado estadual e feder;:l.l.Outros setornatn membros destacadosde con-

selhos comunais e diversas instituiyoes locais.

A partir dos anos 80, os arabes·da fronteira aparecem com urn novo

rosto, peln metios n,9 que diz respeito a sua inscriyao nos meios jornalisticos.

Em especial,6 peri6dico Nossorempo de Foz doIguayu com~ya'a veicular

itiformayao sobre 'a tomunidadearabe da' fronteira, isto. e, sabre as ativida-

ges, as associayoes, as,trildiyoes e os posicionamentospoHticos de alguns clos

~eus membros.25 Nos iniciosCflosanos 80, a populayao arabe da fronteira

parece haver alcancado urn numero consider.avel, levando-se em conta sua~ -.. , \

recente chegada naregiao.Em uma materia de 1982, le-se que "Mais demil

pessoas compoem acomunidade arabe residente emFoz doIguayu e Ciudad

Presidente Stroessner, Cerca de 80 por t:;Jnto sap originarios do Libano e se

dedicam quase que exC\lusivamente ao cOIl.lerciO..."26 Em 1981 vaiser funda-

do 0 Centro CultutalBenefi<:ente Isla~ico de Foz do Iguas:u,0 qual vai ter

uma presenya fundamental na dinamica da'familia islamica' na fronteira27

no que se refere aos esforyos tanto reHgiosos quanto educativos.0 curso de

arabe, espedalmente dirigido aos filhos dos imigrantes, sera oferecido pelo

Centro Beneficente depois da conclusao da.mesquita num edificio que fica

dentro do recinto da mesma,-a escola Ali Bern Abi Taleb, hole a Escola Ara-be-Brasil~ira. .

/

A mesquita foi oresultado do esforyo coletivo canalizado pelo Cen-

tro Beneficente. Em 20 de maryode1983 foi lan~ada a pedra fu~damental

da mdquita em um ate publico q~e contou com apresenya de diversos em-

baixa?ores de paises do Qriente Medio e representantes das comunidades is-

2S Interessante que, senda0 meio que mais i~formas:ao apresenta sobre a comunidade, nem por i{;sodeixa de ser critieo

" especialmente ha pluma do seu diretor - em relac;ao a oertasposi~o!'S qu~ marcaram mai' ,,/'rente os desenvolvimento

no mundo arabe, partkularmente a partir da,islamiza¢o da'pglitica na cet).a internacional.

26Nosso Tempo, 1982.

27Utilizando'a formula do proprio centro para caraeterizar.o destinatilrio dos seus vot~s no final do Ramadam de 1989

(N~ Tempo, 1989b). " . . . .

Page 15: Arabes e muculmanos_em_foz_e_ciudad_del_este-libre

liimicas de distintas cidades brasileiras.28Ja.em 1987 .,.em uma nota sobre os

trabalhos.da mesquita - fala-se de "aproximadamente dois mil mu<;ulmanos,

mtlitos com mais de vinte anos de residencia na regUia..."29 Ainda sem estar

terminada,.a mesquita ja abriga as cerimonias dassextas-feiras.Em outubro

de 1988, depois de mais de cinco anos. de ttaf,alho, a mesquitaGmar Ibn

Al-Khatab foi oficialmente inaugurada.30

Diversasassocia<;oes ,se desenvolveram durante esses anos, .algumas

orientadas a representa<;ao de determinados grupos com ma,tizes mais teul-

turais, politicos ou religiosos. Algumas delas foram a ~socia<;ao Cultural

Sirio-Brasileira, 0 Centro Cultural Arabe-Brasileiro, a Sociedade Arabe Pa-

lestina-Brasile'ira, a Associa<;ao Cultural Sanaud, a A$socia<;ao dos Jovens

Mu<;ulmanos de F~z do 19ua<;u.

Em Ciudad' del Este, a diniimica associativa teve outras caracteristi-

cas. Apresen<;a de imigrantes arabes na dire<;ao das R$socia<;oescomerciais

da cidade indica? lugarde 4estaque que des tiveram na ativi~ade.PeIo

men,os ate 2001, Ali Abou Saleh era presidente da Camara de Comers:ioI . . . .

de Ciudad del Este; Shariff Hamoud .era presiclente do Centro de Impor-

tadores e Comerciantes do Alto Parana; e Samir Jebai era presidente da

Uniaode, Ciimaras eAssociacoes de CiudaCl del.Este. Todos eles, libaneses,-de nascimento. Porem, nenhuma dessas assqcia<;oes tem0 grau de represen-

tatividade d~ associa<;aocomercial de Foz do 19ua<;u.De fato, e,mCiudad del

Este, existe uma pluralidade de associa<;oesque, antes ge representar uma

categoria deterinitlada"con~ituem,se aoredor'de figurasQU'grupos particu-

lates. Mesmo as ciimaras de comercio estruturadas a partir de identidades ou

nacionalidad~~, tal como ~ Camara de Comer~io Paraguaio-Arabe" tem essacaracteristica.

28 0 cerimonial foi cc;mduzido pelo secrerario geral assisrente daICSAC. Kamal Osman" importante empresario local fez

as sauda~6es ofidais e apresentou os objetivos do CentroIs~'micoe daconsm,;~.o da mesquita. Presentes no ato estiVe-

ram os embaixadores doKuwait, !raque, Anibia Saudita, Libia, Libano e Liga dos'Estados Aiabes. Tambem, os sheiks

de Sao Paulo, do Rio de Janeiro~ de Curitiba, .deI'aranagua, 0 presidente da Confedera~o de Sociedades Islamicas do

Brasil e a presidente do CentroIsI'mico de Foz do 19ua'iU' (Noow Tempo,1983).

Z9 No ano anterior, n<l marco da visit. do Embaixador da OrganUa~ao'Para Liberta~ao da Palestina para America Latin~,

uma outIa publica~ao local fala de uma popu~ao "qlie s6 aqui em Foz gira ern tomo de quatro a cinco mil familias.» A

!eferenci~ e as pessoas de origem arabe etn geral e naa sO aos islamicos. Porern,0 mimero parece exagerado s6 para Foz

do igua'iU e ainda para as duas cidades (Tres Poderes, 1986) .•

10 Na inaugura~ao estiveram presentes representantes deS colonias arabes do Pat;lna e Brasil,0 secretario geral adjunto

da Liga Islamica M,\ndial, os embaixadore; no B'I'"il do Iraq\l., da Arabia Saudita, d\' Libano,0 representant. d~

.mb~ixada da Libia • diversas autoridades.

Page 16: Arabes e muculmanos_em_foz_e_ciudad_del_este-libre

o desenvolvimento de outras estruturas alem daquelas vinculadas ao

comercio teve igualmente caracteristicasdiferenciais em Ciudad del Este,

sendo tambem de cara~rmais privado e individual. Exemplo disso foi a

construyao da mesquita do Profeta Mohammed, inaugurada na metade .dos

anos90, cujos esforyos para a construyao foram organizados por urn comer- "

cia~te local.-31Oa mesma forma'foi/ormada~ pequena mesquita vinculada

ao Centro ArabeIslamico Paraguaio.

Passada a metade d~rdecada de90, 0 numero da populayao de origem

arabe apontado na midia era seis vezesmaior. Numareportagem publicada ,~

em 1996, seg\J.indoinformayoes proporcionadas por pessoas da comunida-,1de, 0 numerode arabes instalados em Foz do .Jgu:ayue Ciudad del Este era. .~

de 12.000. Oeles,Sd% vieram do Libano (grande parte proveniente dosuI'

do Libano, particularmente do Vale deBekaa), 15%tinham origem pales-

tina eos 5% testantes vieram da Siria, Egito e outros paises do Oriente\ \

Medio. Segundo a mesma matel'ia,95% eram rriu<;ulmanos(40% sunitas e50%xiitas).32

Os dados ofkiais oferecern informayao parcial que -nao ~a conta da (

totalidade de imigrantes Mabes. Por exemplo, segundo0 Sistema Nacional

de Estrangeiros da Policia Federal do Brasil, em1999,0 total de esu-angeiros

residentes em Foz do 19uayuera de9,17S, sendo os libaneses0 grupo ma-

joritario, co~ 2.939 pessoas.33Porem, cleve-selevar ern conra que 'esta cifra

somenteinclui aqueles estrangeiros em regime de residencia - seja perma-

nente, temponiria, fronteiriya ou pro~is6ria -, nao incluindo naturalizados,

tutistas ou ressoas em situayao irregular. Incorporando estes ultimos, os

imigrantes de outros paises atabes e a populayao residente em Ciudad del

'Este,a cifra de12.000nao parece exagerada. Essacifra vai ser repetida poste-

I riormente tanto na midia con\o porpessoas da.comunidade.

31 O:predio cnde esti. localizada a mesquita do Profeta Mohammed tern q\Jase20 andares/suas paredes externas estao

pintadas d~ verde e no topo os verticespossuem pequenas cupulas brancas, rematadqspOT uma meia~luadourada. A

mesquita estava vinculada a lidetes religiosos shiiras do LibanoJ

n Realizada por Jackson Lima, urn jomalista local bastante bem informado sobre a comunidade arabe da fronteira. As

estimativas colocadas em numeros corresponderiam a 9.600 libaneses, 1.800 palestinos e 600 pessoas chegadas da Siria,

Egito e outros paises do Oriente Med,io (Classe 10, 1996a). No (1)esmo ano, nuina reportagem da revista Isto e,b nume-

roassinalado pelo jomalista Mar{o Chimanovitch era de 60 mil pessoas de origem libanesa e paTestina (lsto e, 1996).

33 Outros grupos importantes numericamente eram65 paraguaios (1.770) e as chineses (1.709), conformeinfo;mac;ao

coletada na base de dados da Policia Federal em Foz do Igua~u, em agosto de 1999.

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Entretanto, aq~ilo qu~ valia para0 final dos anos""90 nao necessaria-

mente vale para lioje,espedalmente c.onsiderando-se0 dedinio comercial

da regiao e a conseqiiente dispersao de muitos comerdantes. Por exemplo,

de acordocom Mohamed Hassan, presidente da Sotiedade Arahe Palestina-

.. Brasileira, no ana 200! havia cerca de 50 familias palestinas na froriteira

,(nao mais'de300 pessoas), nutnero que contrastava marcadamente com as .

~.800 pessoasde origem palestinareportadas para metade dos anos 90.

Depois do '11 de setemhro nao foram poucos os que assinalaram que ~

milhares ·de pessoas de origem arahe tern aeixado a regiao. Por exemplo,0

atual prefeito de Ciudaddel Este, ohservou recentemente que pelo me~os( " ,

20 ffiilarahes moravam na ddade,"perodespues de los atentados Mlll de

septiembre etnumero descendi6 a men;s dela mitad'\~4Por~m, essadfra parec;-

pertencer ao universo da impredsijo p6s-11/09: os numeros apontados na

midia variam tanto quanto as acusa<;:6es.Entre as30.000 pessoas de ori~em ,

arahe apontadas par alguns meios,35e as10.000'indicadas poroutros,36qua-

se todas as dfras-intermediarias ternsi:'doapontadas em algum attigo apared-

.- do nosmeIos de cOn:lunica<;:aonadonaise internadonais. Mesmo dentro da

mesma reportagem, as cifras podem variarentre 10 mil e 30 mil imigrantes

arahes.37A impredsao e tao gra.nde que nao e-difidl encontrar descri<;:6es

que apresentam nUll1eroscom vatia<;:6esd,elOO% oumais.38

\ .Hist6ria e pQlitica: a n~cessidadede' outras nariativ~

Come<;:amosfalando no inido dest~ textodo lugar privilegiadoque'

ocupa, na America Latina, a regiao da confluendadbs limites entre Para-

guai, Brasil e Argentina nos retratos da violenda vinculaClosaos conflitos do

m~ndo arahe eislamico. Uma compara<;:aocomoutr~parte do mundo nos

ajudara a dialogar com es~esretratos. Analisando a muclan<;:anos estere6ti-

"NMI,2003:

3~Jornal do Brasil, 2002.

36CNN,200L

37Reuters, 2001.-

38Por exemplo, num informe r~alizado pelos USA,,; possiveller: "Estimates of the size of the Arab community oUm-

. migrants of the TBA (mainly in Ciudaci del Este ~ndFoz'do 19ua,u) range from 10;000 to30,000, with rqost residing in

Foz'dq 19ua,u. Of these gen~ral figures, Foz do 19ua,u Arab population accoUf\ts for 10,000 to 21,000 Ar~bs ~f Palestin-

ian and Lebanese descent."(HUDSON, 2003, p.9).

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pos que os franceses tinham dos libaneses na Costa do Marfim, Didier Bigo

assinala que "the image of the Lebanese community in Abidjan was once'

, that of an appendage to colonization, symbolized in the figures of the Ma-

ronite Christian, the good tradesman or the civil war refugee; in little time

this has changed into the supposed haven of anti-western terrorist lackeys'Of)

Hizbollah; usually Shi'l and Arabic speaking."(BIGO,2002, p.509). Se essa

ultima imagem e a mesma que aquela utilizada para falarcia Triplice Fron- '

teira, 0 retrato nesse caso nem sequer tern a possibilidade do contraste com

uma representa<;}io anterior, porqoea: presen9a arabe parece ter florescido"

junto as atividacles ilegais que caracterizariam aquela fronteira.

Contudo, a partir<:10 material ate aqui apresentado, dois elementos

rrierecerri ser subHnhados.0 primeiro e a continuidade que existe entre a

imigJ;a<;aoarabe no Brasil retratada nos trabalhos que a estudam ate meados

do seculo XX e os imigrantes que se localizaram em Foz do 19ua<;u.A mobi-

lidade espacial e a,inser<;ao ocupacional se traduzem no mesmo parametro:

ter sido pe<;as-chavena ,provisao de rnercadorias em urn mercado ,cujos ca- '

nais de distribui<;ao estavam em forma<;ao:O segundo elemento destacave1eque aloe,alizacao nafronteira e a possibilidade de poder operar no Paraguai. .comerciando outro tipo de mercadorias criou as bases para a transforma<;ao

da regiao num espa<;o com urn dinamismo que continuou atraindo novos

imigrantes. Esse dinamismo foi0 motive pelo qual se estabelecerarn la aque-) , '

les que escaparam dos conflitos no Libano e no Oriente Medio a partir d<;>s

~nos 70.

Compreender a continoidade assinalada como primeiro elementQ

e necessario pararestabelecer as.conex6es hist6ricas que nos permitem en- ~'

tender apresetJ.<;aarabe na fronteira. As mudan<;as produzidas a partir dessa ,]

continuidade possibilitam abordar0 que tern de singular aquele espa<;opara'

a imigra<;aoarabe no final do seculoXX. Para isso e fundamental nao repro-{duzir 0 jog~ de estere6tipos apontado por Didier Bigo -the good tradesman ,);;

, I .vs. the anti-western terrorist -e, sim, incorporar as dimens6es que dao prei-

nancia a esses estere6tipos: a hist6ria e apolitica que dotam de sentido a pre-

sen<;aarabe na regiao e que deve,m perrriitir-nos outras leituras dos processos (

politicos no Oriente Mediofora do maniqueismo das narrativas do terror ..

Assim como entre tantos outJ;DSgrupos morando fora dos' seus lp.-

gares de origem atra~essados por conflitos, os libaneses e arabes localizados

Page 19: Arabes e muculmanos_em_foz_e_ciudad_del_este-libre

na fronteira continuaram conectados a eles.39Por urn lado, atraves das dis-

cussoes sobre os conflitos que come<;aram com a guerra civil no Libano e

que se acirraram com a invasao israelense,- discussQesque se transformaram.

num den~o campo de posicionamentos. Na,da singulara fronteira em ques-

tao, senao uma dinamica que tern. caracterizado os libaneses ao longo do

mundo, como bem aponta Michael Humphrey.40 Por butro lado, ~traves das

discussoes sobre osalinhamento's pr6prios daqueles anos, isto e, as divers as

discussoes sobre socialismo" ar:abismo e islamismo' e· todas as combinacoes,possiveis e suas r~-significa<;oesnos conte}(tos locais.

f Como em tantas cidades do inundo, as mas de FozdoIgua<;uassisti-

ram a passeatas, protestos ou foram palcos de comemora<;oes.~lAssimC'omo

em tantos outros paises,0 governo do pais de.moradia recebeupedidos para

~ que se posicionasse em rela<;1ioos conflitos instaurados nos paises de ori-

gemY A importanda da comunidade arabe na fronteira pode ser avaliada

pela visita de lideres e representantes de diversos paises e organiza<;6es, tais

como a visita do Einbaixador da Organiza<;ao para Liberta<;ao daPalestina na

America Latina (outubro de 1986) e de OUtrOSrepresenta~tes da organiza<;ao

mais tarde (mar<;ode1989),43do presidente da Sociedade Divulgadora do

Isla no Mundo - uma e~pecie de ministeriode assuntos religiQsos da Libia

(dezembro de 1987) - ou do deputadp libanes Abdalla Kassir do HezboUah

39 Olhando para0 material que fomos encontrando sobte os arabes da frontei,ra dos anos 80 nao pudemos deixat de

achar si~ilitudes·nas fOImas das disc~6est ac;oes e organiza\=oes que apareceram emnoMa pesquisa demestrado sobre

organiza~6es de exilados / migrantes chilenos na Suecia (RABOSSl,1999),

"" ·War in \-ebanon over the last decade has had reverberations in Lebanese immigrant communities around the world.

The political and ideological currents of contemporary Lebanon have often become part of the culture and politics of

these immigrant communities.' (HUMPHREY,1986" p. 445).

" Passeatas de protesto como as realizadas contra a invasao do Libano e a ,ocupa~\:' da Palestina por Israel (1982)

ou pelos massacres de Sabra e Shatila (1981), atos de solidariedade como0 realizado com rela~o it Libia depois dos

ataques e a pressao estadunidense (1987) e comemora<;6es como0 lQo aniversario da Revolu~o Libia (1987) ou a pro-

clama~<! do Estadb Palestino (1989), Durante os ano~ 80,0 Centro Cultural Arabe-Br!'sileiro foi particularrnente ativo

na organiza~o de atividades e,posicionamentos a respeito dos conflitos no Oriente Medio e nos paises magrebinos,

particularrnente a Libia.

"Por exemplo, 0pedido ao govemo brasileiro re:riizado por assoc'ia~oes e representa~oes de partidc,. politicos de Foz do

19ua~u e diversas associa~~~s arabes solicitando' que intercedesse junto ao govemo de Israel para que fosse concedido0

indulto presidencial a jovem brasileira Lamia MarufHassan, de 21 anos, condenadait prisao perpetua por urn tribunal

militar israelense Pela sua suposta ~umplicidade com a a~ao que resultou na morte de urn soldado daquele pais (1987).

43 Vale lenibrar que0 Brasi~ mantinha tela~oes com a OLP desde 1975, ano em que .tal entidade instalou sua represen-

taerao ,'no pais./

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(

(maio de 200l),entre tantas outras. Tbdas estas fbram visitas pubTicasfapre-, ., .. ~

sentadas na midia, e que 'contaram com a presen<;ade autoridadese tepre-!

. sentantes locais alem de m~mbros da comunidade. '

Longe de confi~mar as suspeitas sobre terrorismo, a' i~portanda

de destacar essas presenyas e essas dinamicas 'e simplesmente colocar Foz

do 19uayue Ciudad del Este como lugares que formalll p~rte, por um lado,

d~dhispora libanesa e arabe em tetmos gerais e,por outro lado, do espayo

regional transnational no qualessa diaspofa foi-sein~crevend<hOs arabes da

fronteira constituem uma comunidade alem~mar,nao de UlllEstado-Nayao

particular, mas de urn territ6rioregionaldefinido porcriterios em competi-

yao:em termosgeogiafico$ (Oriente Medio), em termos h~manos (arabes),~

em termos religiosos(Isl~).Pehsar o'desenvol~imentodesses processosa luz ,"<

da comunidad~. arabe localizada tla fi;onteira entre Brasil, Paraguai e Argen-! '

tina poderia. ilumin~r. de forma exempla~ as possibilidades exploradas, e os,/ .' -c_.,- _. .-:.. • __ ,

caminhostrllha'!os l'elosj,migr~ntesa~besneste lado do mundo.

o questionamento das narrativas estruturadas a partir do terroris-

mo parte da con(irma<;aoda inconsistenda das dehu~cias' ou da sua depen-

dencia de cont¢xtos especific;s,~lgoque leva a questionar0 problema do

terrorism'o com~' uma questao cUj~esoluyao passa por demonstrar sua pre~!

senca ou ausenda e nos coloca no plano de uma discussao mais ampla sobre

os~arc~s de representac;ao que estao por trasde~ses retrat<'>s.Uma s~rie de

elementos permitemcorrobor~r essas dependendas e inconsistencias. Em (';

primeiro lugar,Q material e as suspeitas que sus~ent~m as denunCiassobre '

terrotismo estavam pres~ntes faz tempO) porem, nunca levaram a retratar

aque1aarea como urn ninho de terrorismo ;te a,decada de 90.44 Em segundo

lugar, eventos violentos ocorridos' em outras ddades latino-americal1;asdire..,

tamente'vinculados aos copflitos de Oriente Medio nunta ganharam0 lugar

44 Por exemplo, em maid de 1970, a secret.ria da 'Embaixada de Israel em Assun~ao sofreu um atentado perpettado - se-

gundo urn documento confidencial da Delegacia de Ordem Politica e Soci~l do Parana - por dois homet:'" identific~dos ,

como membros da organiza,~o AJ...Fatah, os quais ~a,o somepte teriam ingressadGem tetrit6rio paraguaio por Foz do "

19ua~u, mas teriam compradonessa cidade as armM'Utilizadas no atentado e recebido a colabora~o de 'elementosda

, colonia .rabe'(ver MOLLER, 1998, p. 33 e a materia publicada n~ jomal VQZArabe, 2001, p.6). 19uais a muitas das de-

nuncias de hoje, aquelas tambem~ficaraml~oat' sem nenhum tipo de prova que comprometesse as pessoas que tinham

sido denunciadas. O.interessante do assunto' e que a imagem da Triplice Fronteira sendQ attavessada pelo terrorismo

bas~ia .•e em dados semelHantes. A pe;guntae: por que um eVe';to desse tipo naQ foi interpretadb da forma que hoje se!

interpretaria? Pt~cisamente~porque estarnos·em outro· momento e - nao·~o\6bvio, talvez - em oUt.ro mundo.

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que qualquer conexao entre a fronteira e0 universo politico do Oriente,

Medio ainda consegueter para fazerdaqueleeSp3.<;oo,hotspotdo terrorismo

no continent~.45

As raz6es por tras da rela<;adentre aquelaarea 6as denuncias eo'

impressionante movimento comercial desenvolvido naquele espa<;o,movi-

mento que usufrui'de diversos ilegalismos'e inoperandas institucionais.46

Porem, sua considera<;aocomo urn grande buraco de'ilegalidade tambem e

urn retrato contextual dependente das agendas do momento. Por exemplo,

ei~teressante ler uma das primeiras descri<;6esque aparecem na midia in-

ternacional sobre Ciudad del Este na, revista britanicaThe Economist em

inicios dos anos 90:"The city, founded20 years ago, lies where Paraguay me-

etsboth Argentina and Brazil. Thecommodities itdeals in are desk-top computers,

Scotch whisky, aut,henticLevis, children's toys,evencars. The customers are Brazi~

ian a!1dArgentines who canno~buy s~ch things at home b~causetheir governments

have for decades 'protected' ,them from good cheap importsin favor of bad, expensive

home products"Y Oito anos depois, n'a mesma revista, uma materia analisa as

possibilidades do Mercosul se transfoqnar numa uniao aduaneira tal como

fqi decidido pelos presfdentes do bloco. Nesse movimento deaprofunda-

mento do funciona~ento do mercado, a regiao ja tern mudado de carater.

"One tli0rry is the lawless area around Ciudad del Este, where Paraguay borders bothi

Argentina and Brazil,'Its neighbours ~ and theUnited States - .suspect thisto be a ,

haunt not only of drugs and arms-traffickers but Islamist terrorists".48Na agenda do

livre-mercado, a fronteira entreParaguaie Brasil era,).10 iniciodos anos 90,

urn ponto na vangUarda do mercado livre e competitivo. Na agenda da luta

.~ontra0 terror, a fronteira passou\l ser urn dos cenarios onde aliap<;aseali-

45 0 assassinato de Mikhael Youssef Nassar e sua mulher, no di!,'7 de marc;o de 2002 em Silo Paulo, e urn exemplo disto.

Integr~nte do conselho superior das F~r~as Lib;jnesas - a milicia crisfil maronita - durante a guerra civil e intimamente

ligado a Elie Hobeika - urn dos seus chefes ", nem oassassinato de Nassar ~ell\ a movimenta~o da financeira dele e da

familia (0 tio de Nassar era AntoineLah'd, chefe da miliciaprO-Israel, Exercito do SuI do Libano, atualmente exilado

em Isra~1) ;olocaram, Silo Paulo em' nenhuma agenda de seguran~a. Ver: A N.Aicia, 2002; The Independent, 2<l02;0

Estado de Silo Paulo, Z003a e 2Q03b.

'" Para um~ descri~iio do desenvolvimento daquele espa~o comercial e da diniimica dos'i1egalismos, ver Rabossi (2004).

17 The Economist, 1990.

:'"The Economist, 1998.

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nhamentos sac realizados e proinovidos e onde a boa vontade internacional

pode ser expressada e testada.49

Questionar 0 terrorismo com60 elemento estruturador das narra-

tivas sobre os arabes da fronteira e sobre a fronteira em geral nao significa\

considerar tudo aquilo que e enunciado ou denunchido como mentira. 0

questionamento leva' a compreender melhor a natureza da rela<;aoentre de-

termirtados supostos, eveptos e situa<;oese0 que as {ormas de falar sobre eles

produzem. Porque antes que ser verdadeiro ou falso,0 terrorismo na frontei-

ra e um discurso produtivo e a sJJaprodutividade pode ser avaliada a partir

dos efeitos que tem para definir os elementos da agenda, que imp6e. Em

primeiro lugar, estabelece os parametros da discussao ao definir os termos

sob'os quais ela pode ser estabelecida: a existencia ou ausencia-de terrorismo

na fronteira. 'Em segundo lugar, ~stabelece uma tempa'ralidade que produz

uma hist6ria especifica: aq\.iela que se i~augura com os atos terroristas que

colocaram a aten<;ao naquela area.

Assim como, durante a decada de 70, aqueles latino-americanos

exilados ou migrantes em outros paises engajados com os acontecimentos

nos selis lugares de origem eram retratados como comunistas ou pr6-guer;

rilheiros, hoje em dia os arabes e mu<;ulmanos 'espalhados pelo mundo s6

podem set: terroristas e fundamentalistas .. Retratos qu'e ontem como hoje

simplesmente tornam opaco um quadro cheio de nuan<;as e diferen<;as, ho-

mogeneizando um mundo em efervescencia e discussoes e'transformando as

possibilidades abertas nessas diferen<;as nas limita<;oes impostas pela radica:-

liza<;aodos' conflitos. Precisamente, a re-inscri<;aoda discussao em um terr~

no hist6rico e pollticoe fundamental para criar alternativas aos caminhos cla

radicaliza<;ao.50 Os.arabes da fronteira entre Brasil e Paraguai tambem tem

que ser parte desse esfor<;o.

.••As politicas anti·terrorista~ e0 lugar que nelas tern ocupado a regiao de fronteita foram uma importante pe~a na

politica de alinhamento aos Estados Unidos por parte da Argentina durante0 governo do Pres!dente Carlos Menem

e nos governos posteriores. Para0 governo paraguaio, a realizac;ao de operac;6es na frQnteira tern servido de palco para

demonsttar aos EUA,0 compromisso com0 combate a:terror. Uma analise desras dinamicas, contudo, mereceriaJrnartigo a parte.

50Acreditamos que56 reconhecendo 0 caratei-politicC? das Iutas travadasno Oriente Media e nao transfonnando alguns

de sellS atores Como exteriores as mesas de discu:ssao ~ que as conflitos poderao 3Ssumir autras farmas diferentes das

qu~ hoje estao prevalecendo.

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