ARGUMENTAÇÃO E FILOSOFIA

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ARGUMENTAÇÃO E FILOSOFIAFilosofia, Retórica e democracia

A vida pública ateniense assentou na democracia e na exigência de uma participação ativa dos seus cidadãos, razão pela qual a retórica se desenvolveu.

A retórica assumiu-se como uma forma de colocar os problemas, de os esclarecer e de os resolver.  O poder da palavra passará a ser um meio de persuasão de que cada orador se servia para a adesão do auditório.

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OS SOFISTASARGUMENTAÇÃO E FILOSOFIA

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OS SOFISTAS

Os sofistas eram professores itinerantes que instruíam os jovens e faziam conferências, em que mostravam a sua eloquência em troca de dinheiro.

Os sofistas ensinavam as artes da palavra: a arte de discutir (dialéctica) e arte de persuadir (retórica).

Protágoras Górgias Pródico Hípias

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OS SOFISTAS

Destinavam o seu ensino a todos os que desejassem "adquirir a superioridade necessária ao triunfo na arena política".

No entanto os seus alunos provinham habitualmente das classes mais elevadas.

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OS SOFISTAS

Para os Sofistas (Górgias e Protágoras), o bem a verdade e a justiça são conceitos subjetivos e relativos.

Por isso mesmo, ensinam aos seus alunos técnicas de discurso, sem qualquer preocupação pelo conteúdo das teses em disputa. O importante era convencer e sair vencedor.

“O Homem é a medida de todas as coisas” (Protágoras)

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OS SOFISTAS“Os sofistas apresentaram-se como profissionais do saber,

mestres na técnica do discurso. (…)

Apesar de todos os cidadãos livres terem acesso aos sofistas, estes voltavam-se sobretudo para aqueles que pretendiam uma formação política, isto é, para aqueles que nas assembleias públicas seriam os responsáveis pela elaboração das leis do Estado. Não defendiam nenhuma doutrina específica nem formavam um grupo com identidade teórica ou político-ideológica. O que possuíam em comum era o facto de recusarem qualquer valor que se apresentasse como absoluto. Fora isto eram hábeis argumentadores e dominavam por completo a técnica da palavra. Em vez de serem mestres da verdade, eram mestres da oratória e da dialéctica.”

L.A.Roza, “Palavra e Verdade”

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OS SOFISTAS

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OS FILÓSOFOSARGUMENTAÇÃO E FILOSOFIA

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OS FILÓSOFOS

Contra a Retórica e contra os sofistas vão acabar por se insurgir os filósofos, encabeçados por Platão e Sócrates.

Para os filósofos, a retórica está ao serviço de interesses particulares, desrespeitando a verdade.

A retórica não é uma arte, mas uma forma de atividade empírica que tem por fim produzir no auditório um sentimento de agrado e de prazer. Platão designa a essa atividade empírica adulação.

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OS FILÓSOFOS

Uma vez que não está comprometida com a verdade objetiva, o poder persuasivo da retórica pode facilmente transformar-se em manipulação.

Platão opõe o verdadeiro conhecimento, procurado pelo filósofo, ao pseudo-saber da retórica sofista, que através do recurso à lisonja da palavra, negligencia a verdade.

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OS FILÓSOFOS

«Um famoso sofista, ao voltar de uma viagem de conferências pela Ásia Menor, encontrou Sócrates na Ágora perguntando a um sapateiro “Que é isto, o sapato?” e interpelou-o, indagando: “Ainda estás aí, Sócrates, dizendo a mesma coisa sobre a mesma coisa?” Sócrates encarou-o e retorquiu: “É o que eu sempre faço. Tu, porém, que és um sofista, certamente nunca dizes a mesma coisa sobre a mesma coisa”.

(fonte: Diógenes Laércio)

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SOFISTAS(Górgias – Protágoras)

FILÓSOFOS(Sócrates - Platão)

Faziam-se pagar pelo seu ensino. Não cobravam pelo seu ensino e consideravam os sofistas como mercadores da verdade.

Consideravam-se sábios. Pretendiam ser capazes de dissertar sobre todos os temas e de responder a qualquer pergunta.

O filósofo é aquele que busca a verdade numa atitude de douta-ignorância. “Só sei que nada sei” (Sócrates).

Defendiam o relativismo: A verdade é relativa, subjetiva. O verdadeiro é o que parece a cada um.

Condenavam o relativismo sofístico e acreditavam na possibilidade de se ascender à verdade absoluta e universal.

Ensinavam a retórica como técnica de persuasão pela palavra e com forma de alcançar o poder através da manipulação.

O que interessava era convencer o auditório fazendo-o crer na tese proposta.

Tinham como método o diálogo (dialética).  Através deste, cada um podia descobrir dentro de si próprio a verdade que já havia contemplado no mundo inteligível.  

Privilegiam a opinião (doxa) que gera a crença.

Privilegiam a sabedoria (Sofia) que leva ao verdadeiro conhecimento

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DECLINIO E REABILITAÇÃO DA RETÓRICA

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DECLÍNEO DA RETÓRICA

Na Grécia antiga a aplicação da retórica foi alvo de divisão entre sofistas e filósofos.

Mais tarde, acabou por degenerar num discurso vazio, cheio de floreados e de figuras de estilo, que frequentemente escondiam a ausência ou pobreza de ideias.

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Nas últimas décadas, alguns autores tentaram devolver à retórica a importância que teve no passado, retirando-lhe a carga negativa.

Surgiu assim uma Nova Retórica, protagonizada por autores como Toulmin, Habermas, ou Perelman, empenhados em associar a retórica à argumentação, e em conferir-lhe um carácter ético.

Esses autores apostam, nomeadamente num certo modelo retórico, imitando o modelo de argumentação judicial.

REABILITAÇÃO DA RETÓRICA

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Mas não é só nos tribunais que a eloquência e a oratória se mantêm importantes nos nossos dias.

Os auditórios modernos – ligados ao ensino, à

formação, a iniciativas profissionais, científicas e outras – multiplicaram-se e isso torna pertinente a arte de se saber falar em público e de se ser persuasivo.

REABILITAÇÃO DA RETÓRICA

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PERSUASÃO E MANIPULAÇÃOARGUMENTAÇÃO E FILOSOFIA

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PERSUASÃO E MANIPULAÇÃO

A persuasão deve ter uma componente ética, devido ao respeito pela pessoa do outro.

Quando isso não acontece, transforma-se em manipulação.

A manipulação ignora os legítimos interesses do auditório.

Manipular equivale a manejar, a tratar as pessoas como se fossem objetos.

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PERSUASÃO E MANIPULAÇÃO

Manipula aquele que quer vencer-nos sem nos convencer.

Seduz-nos para aceitarmos, mas não nos dá razões para o fazermos.

 Não apela à nossa

inteligência nem respeita a nossa liberdade.

Quer dominar pessoas e grupos e dirigir a sua conduta, reduzindo-os a uma massa acrítica.

A palavra é a sua arma.

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PERSUASÃO MANIPULAÇÃO

É o bom uso da retórica. Há autores que chamam à persuasão "retórica branca" ou persuasão racional.

Tenta levar-se um auditório a aderir a uma tese ou a uma ação.

Não se impõe nada, dá-se liberdade aos ouvintes para refletirem e decidirem individualmente.

O orador procura ajudar a ultrapassar as limitações da racionalidade do auditório.

Há uma relação de igualdade entre orador e ouvintes, estes são respeitados por aquele.

Os objectivos da argumentação estão definidos e são claros, há transparência.

Fomenta-se o espírito crítico e a autonomia de cada um.

O orador vê os ouvintes como seres iguais a si e aceita a decisão deles. A persuasão é moralmente aceitável porque há um uso racional da palavra e "o outro" é visto como um outro "eu".

 É o mau uso da retórica. Há autores que chamam à manipulação "retórica negra" ou persuasão irracional.

Há uma imposição, tentando evitar a reflexão e a liberdade de decisão dos ouvintes. O manipulador procura usar a seu favor as limitações da racionalidade do auditório.

Há uma relação vertical, desigual, em que os ouvintes são usados como instrumentos ao serviço do manipulador.

Os objetivos são escondidos ou apresentam-se de forma confusa para não suscitar reflexão, não há transparência.

O manipulador tenta evitar o espírito crítico, anulando ao máximo a autonomia dos ouvintes e a sua capacidade de avaliação da situação. O manipulador vê os ouvintes como seres inferiores, que ele usa em proveito próprio.

A manipulação é moralmente inaceitável porque há má-fé e desrespeito pelos outros, os quais são considerados como meios ao serviço de alguém com objetivos ocultos.

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PERSUASÃO E MANIPULAÇÃO

Desenvolver o espírito crítico e uma análise atenta dos argumentos é um modo de enfrentar estratégias de manipulação.

 O pensamento crítico implica:

Avaliar a consistência dos argumentos;

Escrutinar as crenças e os preconceitos que são muitas vezes aceites sem fundamento racional.

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RETÓRICA E OPINIÃO PÚBLICAARGUMENTAÇÃO E FILOSOFIA

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RETÓRICA E OPINIÃO PÚBLICA

Na política, quer nos regimes democráticos quer nos regimes totalitários, a retórica é usada para formar, controlar e manipular a opinião pública.

Do mesmo modo, quer os meios de comunicação social quer a publicidade adoptam procedimentos retóricos para captar a atenção dos seus auditórios.

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FATORES QUE INFLUENCIAM A

OPINIÃO PÚBLICA

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FATORES INDIVIDUAIS

Como os seres humanos têm tendência gregária (pertencer a um grupo) e gostam de partilhar crenças, opiniões e valores, estão predispostos a aceitar o que lhes facilite a sua integração social.

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FATORES SOCIAIS

Cada grupo ou classe social tem um conjunto de estereótipos e preconceitos que se traduz em atitudes e comportamentos considerados normais, entre os membros desse grupo, e que são como que cartões de identificação, ou passwords, necessários para que se estabeleça a comunicação.

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EMOÇÕES COLETIVAS

Quando as pessoas estão em multidão, o nível de capacidade crítica e de discernimento racional diminui, porque as mensagens emotivas se comunicam mais rapidamente e são mais fortes.

Isto cria uma empatia que permite a difusão de ideias simples (não analisadas pelo auditório) e que facilita o controlo e a manipulação da multidão.

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LÍDERES DE OPINIÃOOs líderes de opinião são pessoas que, pela sua autoridade, prestígio ou carisma, influenciam a constituição de representações coletivas e orientam os comportamentos das pessoas.

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MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

É conhecida a força dos meios de comunicação social para condicionar e manipular as emoções do auditório através de artigos de opinião, filmes, documentários e outros programas.

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MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

O poder político procura controlar os meios de comunicação social, reconhecendo a capacidade persuasiva das suas mensagens.

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DISCURSO PUBLICITÁRIO

Na nossa sociedade, a retórica é aplicada na atividade publicitária (quer no marketing comercial, quer no político), que usa sobretudo mensagens visuais e auditivas. «Vale mais uma imagem mil que palavras». (Ditado chinês)

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DISCURSO PUBLICITÁRIO

A publicidade utiliza a sedução, provocando carências e despertando o desejo de as satisfazer. Recorre a símbolos, imagens, valores e associações semânticas.

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FIM

NORBERTO FARIA