Armas Chinesas Antigas

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ASSOCIAÇÃO DE ARTES MARCIAIS YANG PORTUGAL Armas Chinesas Antigas por Dr. Yang, Jwing‐Ming (traduzido por Sofia Simões) Um país tão vasto como a China abrange vários tipos de terreno. Enquanto que o território Norte é coberto por desertos e altos planaltos, o Oeste é dominado por cadeias montanhosas. A costa Sudeste e as zonas centrais, preferidas pelos chineses milhares de anos, são exuberantes e de clima quente, com imensas lagoas, lagos e rios. Estas distinções geográficas provocaram diferenças significativas na evolução das culturas locais. Os traços físicos, bem como as tradições étnicas, variam de área para área. Tais diferenças causaram variações no desenvolvimento das armas. Por exemplo, os chineses do Norte tendem a ser mais altos e mais fortes que os seus irmãos do Sul. Os artistas marciais das zonas Norte utilizavam armas longas e pesadas. Os chineses do Sul, sendo mais baixos e geralmente menos fortes, adoptaram armas de menor porte e mais leves, mais apropriadas para as suas estaturas. Por exemplo, o bastão, utilizado normalmente pelos artistas marciais do Sul, era pelo menos 15 cm mais curto do que o utilizado pelos seus conterrâneos do Norte. As Armas e os Artistas Marciais De uma forma geral, um artista marcial devidamente habilitado deveria dominar pelo menos 3 tipos de armas. Enquanto arma primária, possuiria uma espada (jiàn), sabre (dāo), bastão (gùn) ou lança (máo), com a qual seria mais proficiente. Esta arma seria normalmente visível ao seu oponente e detinha o maior poder e potencial para golpes fatais. A arma secundária encontrar‐se‐ia escondida junto ao corpo, porventura um chicote ou uma corrente de ferro junto do seu cinto ou até um par de punhais armazenados nas botas, podendo assim ser utilizada caso a arma primária fosse perdida durante o combate. Para distâncias longas ou ataques surpresa em combates mais próximos, o artista marcial utilizaria armas de lançamento. Algumas destas armas de fácil disfarce (por exemplo, dardos ou punhais) eram lançadas manualmente, enquanto que outras (por exemplo, agulhas) eram cuspidas ou projetadas através de um tubo equipado com mecanismos de mola (por exemplo, flechas).

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ASSOCIAÇÃO DE ARTES MARCIAIS YANG PORTUGAL

Armas Chinesas Antigas por Dr. Yang, Jwing‐Ming  

(traduzido por Sofia Simões)  

  Um país tão vasto como a China abrange vários  tipos  de  terreno.  Enquanto  que  o território Norte é coberto por desertos e altos  planaltos,  o  Oeste  é  dominado  por cadeias montanhosas.  A  costa  Sudeste  e as  zonas  centrais,  preferidas  pelos chineses  há  milhares  de  anos,  são exuberantes  e  de  clima  quente,  com imensas lagoas,  lagos e rios.  Estas  distinções  geográficas  provocaram diferenças  significativas  na  evolução  das culturas  locais.  Os  traços  físicos,  bem como as tradições étnicas, variam de área para  área.  Tais  diferenças  causaram variações no desenvolvimento das armas. Por  exemplo,  os  chineses  do  Norte tendem a ser mais altos e mais fortes que os seus irmãos do Sul. Os artistas marciais das  zonas Norte  utilizavam armas  longas e pesadas. Os chineses do Sul, sendo mais baixos  e  geralmente  menos  fortes, adoptaram armas de menor porte e mais leves,  mais  apropriadas  para  as  suas 

estaturas.  Por  exemplo,  o  bastão,  utilizado  normalmente  pelos  artistas marciais  do  Sul,  era pelo menos 15 cm mais curto do que o utilizado pelos seus conterrâneos do Norte.   

 As Armas e os Artistas Marciais 

De uma forma geral, um artista marcial devidamente habilitado deveria dominar pelo menos 3 tipos  de  armas.  Enquanto  arma  primária,  possuiria  uma  espada  (剑  jiàn),  sabre  (刀  dāo), bastão  (棍  gùn)  ou  lança  (矛  máo),  com  a  qual  seria  mais  proficiente.  Esta  arma  seria normalmente visível ao seu oponente e detinha o maior poder e potencial para golpes fatais. A arma  secundária  encontrar‐se‐ia  escondida  junto  ao  corpo,  porventura  um  chicote  ou  uma corrente  de  ferro  junto  do  seu  cinto  ou  até  um  par  de  punhais  armazenados  nas  botas, podendo  assim  ser  utilizada  caso  a  arma  primária  fosse  perdida  durante  o  combate.  Para distâncias longas ou ataques surpresa em combates mais próximos, o artista marcial utilizaria armas  de  lançamento.   Algumas  destas  armas  de  fácil  disfarce  (por  exemplo,  dardos  ou punhais)  eram  lançadas  manualmente,  enquanto  que  outras  (por  exemplo,  agulhas)  eram cuspidas ou projetadas através de um tubo equipado com mecanismos de mola (por exemplo, flechas). 

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 Ao  escolher  as  suas  armas,  o  artista  marcial  deveria  ter  3  factores  em  consideração.  Em primeiro lugar, que arma melhor se adequa à sua estatura física? Se o artista marcial for alto e forte, obterá maior vantagem com a utilização de uma arma longa e pesada, como o sabre ou a alabarda, que pode pesar até 22 quilos.  Estas armas possuem maior potencial para golpes fatais devido ao seu comprimento e são mais difíceis de bloquear, face ao seu enorme peso. Se o artista marcial é alto mas não particularmente forte, poderá então optar por uma lança. Com esta arma longa mas mais leve, será capaz de aplicar a sua velocidade de uma forma eficaz e usufruir  de  uma maior  resistência  durante  o  combate.  Um  homem  baixo mas  forte  poderá optar  por  um  sabre  pesado  e  de  maior  espessura.  Este  tipo  de  armas  pode  derrotar  um oponente a curta distância. 

Por fim, um artista marcial de estatura baixa e pouco forte poderá dar melhor uso a espadas e sabres duplos ou punhais.   O segundo factor a considerar enquanto artista marcial durante a escolha da arma, prende‐se nas condições do combate em questão. Seria um combate em que ambos lutariam a cavalo? Estaria o artista marcial a cavalo e o oponente no solo? Ou seria um combate puramente cara‐a‐cara, sem outras interferências? Casa situação requer uma arma diferente.   O último factor a considerar pelo artista marcial é o seu próprio estilo. Algumas armas actuam melhor ao abrigo de determinadas escolas. Por exemplo, os discípulos de Shaolin utilizavam o bastão ou lança, enquanto que os praticantes de Taiji optavam frequentemente pela espada.   A Escolha de uma Arma para o Combate   A  religião  também  desempenhou  um  papel  importante  no  desenvolvimento  de  armas  na China. Os monges  inventaram armas de  fraco potencial  fatal mas que permaneciam eficazes na  autodefesa  ou  até  mesmo  enquanto  ferramentas.  As  suas  armas  eram  frequentemente utilizadas para  limpar  caminho durante as  suas  viagens ao  campo e algumas  serviam até de bengalas.    Durante as dinastias Han (206 a.C. – 220 d.C.) e Tang (618 a.C. – 907 d.C.), o Budismo tornou‐se  bastante  popular.  Os  imperadores  Han  e  Tang  eram  ambos  budistas  devotos.  Naquela época, muitas armas eram importadas do Tibete, baluarte do Budismo. Na dinastia Liang (502 d.C. – 557 d.C.), os monges Shaolin eram artistas marciais ativos que aperfeiçoavam técnicas mortais.   Para ser capaz de utilizar várias armas em ocasiões diferentes de uma forma eficaz, um artista marcial teria de praticar e especializar‐se em pelo menos uma arma longa e uma arma curta. Visto que os princípios fundamentais de cada categoria de armas são os mesmos, seria simples para um artista marcial bem habilitado utilizar qualquer arma de forma instantânea e eficaz. O treino  de  armas  longas  começou  tradicionalmente  com o  bastão,  enquanto  que  o  treino  de armas curtas  teve  início com o sabre. Existe um ditado antigo que diz:  “o bastão é a  raiz de todas as armas longas e o sabre é o pioneiro das armas curtas”. Tal enfatiza que o bastão e o sabre são a base da qual deve partir o treino de qualquer categoria de armas marciais.   

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Provérbios Chineses sobre as Armas Marciais   Na sociedade marcial chinesa, crê‐se que: 

1. “A lança é a rainha das armas longas e a espada é a líder das armas curtas”. Este ditado denuncia  que  a  lança  e  a  espada  são  as  armas mais  difíceis  de  dominar  dentro  das categorias  de  armas  longas  e  curtas. Quando  um  artista marcial  consegue  utilizá‐las habilmente em combate, poderá então usufruir das capacidades que ambas têm para oferecer. 

 

2. “Cem dias de treino de mãos vazias, mil dias de treino de lança e dez mil dias de treino de espada”. A partir deste provérbio, aprendemos que a espada é a arma mais difícil de dominar. A espada é  leve e requer mais de dez anos de treino da “força  interior” antes de  se poderem dominar  as  técnicas de bloqueio de armas pesadas. Para além disso, dado que a espada tem normalmente duas lâminas, são ainda necessários mais técnica e treino para se poder utilizar eficazmente ambas as lâminas sem as danificar. 

 

3. Por isso, é dito que “A espada utiliza velocidade e técnica; o sabre requer astúcia, logro e força”. 

 

4. Os  chineses  também dizem  “Sabre  e  poder,  ganhos  pela  força;  espada  e  suavidade, conquistados pela técnica”. 

 

5. Em suma, podemos afirmar que “O sabre é como um tigre feroz; a espada é como uma Fénix voadora; a lança é como um ágil dragão”. 

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