Arnaldo Niskier

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O acadêmico Arnaldo Niskier publicou hoje no Correio Braziliense artigo sobre iniciativa recente da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados , voltada à discussão sobre o ensino da literatura na educação básica, especialmente no Ensino Médio. A propósito da BNC – Base Nacional Comum Curricular - em vias de implementação , reuniram-se sobre os auspícios da referida Comissão representantes de órgãos públicos e da sociedade civil interessados na difusão dos hábitos da leitura e críticos da pouca presença de textos literários em exames como o Enem. Pelo relato de Niskier, ficamos sabendo que houve uma diminuição de 7 milhões de leitores no Brasil, de acordo com dados do Instituto Pró- Livro , o que é muito preocupante, haja vista que o número de leitores em nosso país nunca atingiu patamares próximos dos verificados em outros países com cultura letrada mais consolidada do que a brasileira. No evento, lamentou-se também que nossos estudantes cheguem à metade do

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O acadêmico Arnaldo Niskier publicou hoje no Correio Braziliense artigo sobre iniciativa recente da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados , voltada à discussão sobre o ensino da literatura na educação básica, especialmente no Ensino Médio. A propósito da BNC – Base Nacional Comum Curricular - em vias de implementação , reuniram-se sobre os auspícios da referida Comissão representantes de órgãos públicos e da sociedade civil interessados na difusão dos hábitos da leitura e críticos da pouca presença de textos literários em exames como o Enem. Pelo relato de Niskier, ficamos sabendo que houve uma diminuição de 7 milhões de leitores no Brasil, de acordo com dados do Instituto Pró-Livro , o que é muito preocupante, haja vista que o número de leitores em nosso país nunca atingiu patamares próximos dos verificados em outros países com cultura letrada mais consolidada do que a brasileira.No evento, lamentou-se também que nossos estudantes cheguem à metade do Ensino Fundamental sabendo escrever, mas com grandes dificuldades de compreensão leitora ( e eu acrescentaria : com grandes dificuldades no uso das quatro operações matemáticas básicas e no reconhecimento de conceitos geográficos) . A certa altura do texto, o ilustre articulista observa: “Há necessidade de maior entendimento com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – INEP - ao qual incumbe a montagem das questões do Enem. Não deve se deixar levar pelas divergências entre gramáticos e linguistas. Assim

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ficará mais disponível para valorizar a literatura , como é o desejo de todos.Concordo inteiramente que se deva valorizar a literatura pátria, bem como a literatura de língua portuguesa, originária de outros países lusófonos, e até mesmo a literatura canônica universal. O acesso ao texto literário é importante na formação da identidade de nossas crianças e jovens . Mas não concordo que as preferências dos elaboradores de questões dos exames do INEP sejam influenciadas por quaisquer divergências entre gramáticos e linguistas, simplesmente porque essas supostas divergências não existem. Isso é matéria vencida. Qualquer profissional que se dedique ao estudo e ao ensino da língua portuguesa no Brasil está muito cônscio das responsabilidades de sua geração no que respeita à educação linguística das gerações que gradativamente a sucedem. Para confirmar o que estou dizendo, quero mencionar quatro autores ilustres que publicaram ou revisaram (suas) gramáticas pedagógicas recentemente. São eles : Evanildo Bechara, Ataliba de Castilho, Marcos Bagno e Carlos Alberto Perini. Denominei-as gramáticas pedagógicas porque todas essas obras têm compromisso pedagógico. E então ? Esses senhores são gramáticos ou são linguistas ? Eles se distribuem em duas categorias ? Discordam entre si quanto à necessidade de nosso sistema escolar garantir a todos os cidadãos o domínio das estruturas e usos da língua que é o principal veículo de comunicação de mais de 200 milhões de brasileiros ?

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Se há uma convicção unânime no Brasil é a de que temos de garantir educação de qualidade em nossas escolas. E é aconselhável que essa educação não negligencie nossa herança histórica e cultural, traduzida na produção literária, de hoje e de sempre.

Stella Maris Bortoni-RicardoProfa Titular de Linguística (aposentada) da Universidade de Brasília