Arq e Arte Decorativa Do Azulejo No Brasil

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  • ARQUITETURA E ARTE DECORATIVA DO

    AZULEJO NO BRASIL

    Prof. Me. LILIANE SIMI AMARAL

    Resumo

    A utilizao de azulejo na arquitetura brasileira iniciou-se como revestimento de barras

    decorativas e posteriormente em fachadas inteiras. Este processo foi uma herana trazida de

    Portugal no incio da colonizao no Brasil, a utilizao deste tipo de revestimento

    demonstra a influncia lusitana nos nossos costumes e na nossa arquitetura. Inicialmente a

    utilizao deste material no passava de um simples produto de importao, dependente dos

    tipos e padres fornecidos pelas olarias portuguesas. Este material tornou-se indispensvel

    na decorao da nossa arquitetura por garantir uma proteo eficaz contra as intempries de

    um pas tropical, como a abundncia de chuva e a ao do sol. A retomada do azulejo de

    fachada coincide com a renovao da arquitetura brasileira, que se inicia nos anos 30, aps o

    declnio do neocolonial, e se prolonga at a inaugurao de Braslia. O azulejo assume

    posio de destaque e renovao e de expresso plstica. Na arquitetura contempornea

    brasileira redescobriu-se o valor esttico das superfcies revestidas com azulejos e suas

    aplicaes tornaram-se frequentes a partir dos painis criados por Portinari para o Ministrio

    da Educao e Cultura no Rio de Janeiro e para a igreja da Pampulha, em Belo Horizonte,

    projetados por Oscar Niemeyer uma redescoberta e retorno as suas razes. O uso deste

    material no decorrer da histria, que resistiu ao tempo se inova a cada dia procurando novas

    possibilidades na sua utilizao funcional e tambm como forma de expresso plstica.

    Palavras-chave:

    Azulejo; Azulejaria; Arte Decorativa; Azulejo no Brasil.

    Abstract

    The use of tile in Brazilian architecture began as a decorative coating bar and later in the

    facades intact. This process has brought a legacy of Portugal at the beginning of colonization

    in Brazil, the use of such coating demonstrates the Lusitanian influence on our customs and

    our architecture. Initially the use of this material was just a simple product import dependent

    on the types and patterns provided by the Portuguese pottery. This material has become

    indispensable in the decoration of our architecture to ensure an effective protection against

    the weather of a tropical country, as the abundance of rain and sun action. The resumption of

  • tile shell coincides with the renewal of Brazilian architecture, which begins in the 30s, after

    the decline of neo-colonial and lasts until the inauguration of Brasilia. The tile stands out

    and renewal and artistic expression. Rediscovered in contemporary Brazilian architecture is

    the aesthetic value of tiled surfaces and its applications have become frequent since the

    panels created by Portinari for the Ministry of Education and Culture in Rio de Janeiro and

    the Church of Pampulha, Belo Horizonte designed by Oscar Niemeyer a rediscovery and

    return to its roots. Use of this material in the course of history, that has withstood the time if

    innovates every day looking for new possibilities in their functional use and also as a form

    of artistic expression.

    Keywords: Tiles, Decorative Art, Tiles in Brazil.

    Introduo

    A utilizao de azulejo na arquitetura brasileira iniciou-se como revestimento de

    barras decorativas e posteriormente em fachadas inteiras. Este processo foi uma herana

    trazida de Portugal no incio da colonizao no Brasil. Assim, este trabalho promove um

    levantamento bibliogrfico com o objetivo de registrar cronologicamente a utilizao deste

    tipo de revestimento na arquitetura brasileira demonstrando a influncia lusitana nos nossos

    costumes e na nossa arquitetura.

    Inicialmente a utilizao deste material no passava de um simples produto de

    importao, dependente dos tipos e padres fornecidos pelas olarias portuguesas. Este

    material tornou-se indispensvel na decorao da nossa arquitetura por garantir uma

    proteo eficaz contra as intempries de um pas tropical, como a abundncia de chuva e a

    ao do sol.

    Gilberto Freyre, em seu livro Casa Grande e Senzala (2006), acentua a conexo

    existente entre o uso do azulejo, por parte do colono portugus no Brasil no s pelo gosto,

    mas tambm pelo asseio, pela limpeza, pela claridade, daquele instinto ou senso de higiene

    tropical.

    A retomada do azulejo de fachada coincide com a renovao da arquitetura

    brasileira, que se inicia nos anos 30, aps o declnio do Neocolonial, e se prolonga at a

    inaugurao de Braslia. O azulejo assume posio de destaque e renovao e de expresso

    plstica.

  • Na arquitetura contempornea brasileira redescobriu-se o valor esttico das

    superfcies revestidas com azulejos e suas aplicaes tornaram-se frequentes a partir dos

    painis criados por Portinari para o Ministrio da Educao e Cultura no Rio de Janeiro e

    para a igreja da Pampulha, em Belo Horizonte, projetados por Oscar Niemeyer.

    Concomitantemente o arquiteto Afonso Eduardo Reidy tambm faz uso desta tcnica como

    uma redescoberta de suas razes.

    Metodologia

    Os dados registrados neste trabalho foram elaborados por meio de uma anlise

    histrica e bibliogrfica da arquitetura e a arte decorativa do azulejo no Brasil,

    demonstrando sua evoluo e aplicao. Esta coletnea de dados pode promover o interesse

    por este tipo de tecnologia, buscando no passado a compreenso do presente e quem sabe

    um aprimoramento da arte da produo de azulejos no Brasil.

    Resultados

    A azulejaria no Brasil teve incio com a ineficcia das Capitanias Hereditrias,

    perodo em que foi centralizada a administrao no Governo Geral, na pessoa de Tom de

    Souza em 1549. Com ele vieram os primeiros obreiros para um planejamento civilizador,

    com o objetivo de organizar as cidades e vilarejos. J os artistas e os artfices eram de

    Portugal, que traziam sua formao esttica da Europa, ou ainda alguns destes nascidos no

    Brasil.

    Em 1522 chega cidade de Salvador o primeiro bispo do Brasil, D. Pedro Fernandes

    Sardinha, que estabelece as hierarquias eclesisticas, os franciscanos, os beneditinos e os

    jesutas que fundaram suas casas de catequese. nesta poca que surgem novas igrejas

    paroquiais e os conventos. Para a construo destas instituies so trazidos de Portugal os

    mrmores e as cantarias para as suas igrejas e os ornatos como fontes, retbulos e lavabos.

    Nas igrejas e conventos do sculo XVII, o azulejo decorativo torna-se pea

    imprescindvel e a encomenda destas peas era feita por milheiros j que a padronagem de

    repetio, generalizada em Portugal, era adaptvel a qualquer edifcio, independentemente

    de limites de enquadramento.

  • Os azulejos do sculo XVII trazidos para o Brasil e principalmente os encontrados na

    Bahia, foram chamados de tapetes. De origem muulmana, sua decorao era simtrica

    ordenada, como os tapetes orientais. Suas cores so tricrmicas e as mais comuns so o

    amarelo, o azul e o branco, com ornamentaes geomtricas, laarias, arabescos e motivos

    florais estilizados de tcnica de majlica.

    Por volta de 1630, com a chegada dos holandeses no Nordeste do Brasil, nos

    primeiros anos de ocupao trouxeram para Pernambuco grandes quantidades de materiais

    de construo, no s por iniciativa da Companhia das ndias Ocidentais, mas tambm por

    empreendedores particulares que vieram tentar fortuna no Brasil. Dentre os materiais, os

    azulejos, como os da igreja do Convento de Santo Antnio do Recife, onde o Conde Joo

    Maurcio de Nassau mandou assentar 20 mil ladrilhos no piso.

    Em 1650, a cana-de-acar como um modelo agrcola monocultor e em plena

    atividade em torno de vrios ncleos urbanos, por toda a extenso da costa leste do litoral

    brasileiro, comeou a estabelecer a forma definitiva da moradia no Brasil. Vrios fatores

    concorreram para o estabelecimento deste formato de moradia, tais como o clima tropical

    mido, a flora, o gentio da terra, mas o mais importante de todos eles foi o colonizador

    portugus com seus usos e costumes. Posteriormente a casa no Brasil ser adequada

    realidade social e geogrfica, como os telhados de beirais alongados por causa das chuvas.

    A utilizao de azulejos como revestimento vem garantir a proteo eficaz contra as

    intempries deste pas tropical, com abundncia de chuva e a ao do sol. Segundo Santos

    Simes precisamente no Brasil, e ainda no sculo XVIII, que o azulejo sai dos interiores e

    vai revestir as fachadas, tornando-se um elemento decorativo.

    Na primeira metade do sculo XVII, independente das dificuldades de transporte e

    dos elevados preos dos azulejos, este tipo de revestimento foi muito empregado na

    decorao arquitetnica do Brasil Colnia. Nesta poca os azulejos eram todos importados

    de Portugal, pois no existia produo deste tipo de material aqui no Brasil.

    A azulejaria no Brasil marca a arquitetura do Nordeste, principalmente na Bahia, no

    Recife e, no Sudeste, na cidade do Rio de Janeiro. Alguns exemplos mais significativos so

    os azulejos da Capela Dourada no Recife (PE), assinados por Antnio Pereira; os do

    Mosteiro de Santo Antnio, no Rio de Janeiro (RJ), os da igreja de Nossa Senhora do

    Rosrio, em Cachoeira (BA) e no Convento de So Francisco (BA), conforme se observa na

    figura 1. Os azulejos da capela-mor e os dois claustros do Convento de So Francisco, na

  • Bahia, so de autoria de Bartolomeu Antunes, de Lisboa. A partir desta data o uso dos

    azulejos torna-se frequente nas igrejas do Brasil.

    Figura

    1

    Azulejos do Convento de So Francisco da Bahia. Salvador, BA. (S. n., PINHEIRO, 1951, p. 19)

  • Em 1660, multiplicam-se as construes religiosas e civis que recebem decorao

    cermica. O revestimento cermico dependia da presena de artfices especializados para ser

    assentado. Cinquenta anos mais tarde, esta tarefa j era executada por simples pedreiros.

    Para tornar mais fcil a colocao dos azulejos os fabricantes estabelecem um sistema de

    marcao das pedras, dando uma colocao exata no conjunto do painel.

    O perodo Colonial sc. XVIII foi marcado pelo trabalho escravo e pela precria

    tecnologia no Brasil. Neste perodo a arquitetura seguia uma tradio portuguesa em que as

    casas, urbanas ou rurais, eram construdas segundo a padronizao fixada nas Cartas Rgias

    ou em posturas municipais, de modo uniforme.

    No sculo XVIII os padres policrmicos dos azulejos so substitudos pelos

    azulejos azuis sobre um fundo branco de influncia dos ceramistas holandeses. Os

    azulejadores de Portugal comeam a utilizar a tcnica do xido de cobalto para obter o azul,

    e ganha popularidade chegando ao Brasil.

    Com a vinda da famlia real para o Brasil e da Misso Artstica Francesa, trazida por

    D. Joo VI, inicia-se a divulgao do Neoclssico. A presena da Academia de Belas Artes

    no Rio de Janeiro favorece a implantao de materiais refinados na construo e o

    aperfeioamento das tcnicas dos pases mais adiantados da Europa. O gosto pelo azulejo

    acaba determinando uma caracterstica na arquitetura imperial tornando-se um elemento

    essencial no s no exterior como no interior das casas e igrejas.

    A abertura dos portos e a integrao do pas no mercado mundial possibilitaram a

    importao de equipamentos, que contribuiu para a mudana na aparncia das construes

    dos maiores centros no litoral brasileiro, respeitando as tcnicas tradicionais. As paredes, de

    pedra ou de tijolo eram revestidas e pintadas e nos interiores revestiam as paredes de papis

    coloridos de motivos ornamentais importados da Europa, disfarando as construes

    grosseiras.

    As modificaes mais importantes se deram na segunda metade do sculo XIX, com

    a decadncia da escravido e o desenvolvimento da imigrao europeia. O hbito de

    construir e de habitar apresentar alteraes em decorrncia das transformaes

    socioeconmicas e tecnolgicas. Com a crescente exportao de caf, o Brasil conseguiu

    uma posio cambial favorvel, que possibilitou a generalizao do uso de equipamentos

    importados, libertando os construtores do primitivismo das tcnicas tradicionais.

  • A modernizao dos transportes, como as linhas frreas ligando o interior ao litoral e

    de linhas de navegao nos grandes rios no interior, associadas a equipamentos pesados,

    como mquinas a vapor, serrarias, entre outros, permitiria o aparecimento de um fenmeno

    novo na arquitetura, os edifcios importados. Fabricados nos pases europeus, produzidos

    pela indstria, vinham desmontados em partes nos pores dos navios e montados no Brasil.

    Na segunda metade do sculo XIX, surgiu um nmero crescente de edifcios para

    adaptar-se aos centros urbanos, instalaram-se redes de abastecimento de gua, de iluminao

    e esgoto e as primeiras linhas de transporte coletivo. Com isto as casas rurais perderam sua

    importncia no fim desse sculo e j eram comuns as fazendas em que as residncias

    apresentavam todas as caractersticas de uma arquitetura urbana, tanto no sentido plstico

    como funcional. A arquitetura do fim do sculo XIX j alcanava um nvel elevado de

    realizaes tcnicas, dentro dos padres acadmicos.

    Em 1861, destaca-se a fbrica de azulejos Antnio Survlio & Cia. em Niteri (RJ).

    Seus azulejos, de boa qualidade, teriam sido expostos na I Exposio da Indstria Nacional.

    Outros fabricantes de azulejos, Jos Botelho de Arajo e Rougeot-Ain, ambos sediados no

    Rio de Janeiro, so citados na II Exposio da Indstria Nacional realizada cinco anos

    depois. Na terceira e quarta exposies, de 1873 e 1875, respectivamente, e na Exposio da

    Indstria Nacional de 1881, h notcia de trabalho de faiana e de outros produtos

    cermicos. A figura 2 ilustra a aplicao desta tcnica em fachadas de residncias.

  • Figura 2

    Museu Republicano Conveno de Itu,1850. Itu, So Paulo. Azulejo na fachada e detalhe. (Angela

    Garcia, In: LOURENO, 1999, p. 174)

    Na arquitetura do Sculo XX, a influncia da mo de obra de imigrantes, associada

    s tcnicas construtivas, passam por um aprimoramento sobre a tradicional construo do

    perodo da escravatura. A industrializao dos materiais, por volta de 1940, ainda era muito

    pequena, no atingindo o atendimento nacional, com isso se d a importao de muitos

    equipamentos e materiais estrangeiros.

    O princpio do sculo XX, com seus hbitos franceses, vai introduzir no apenas a

    sofisticao nos banheiros, mas nos prprios produtos de higiene. As toilettes dos nossos

    edifcios so verdadeiras obras artsticas de ferragens rebuscadas, louas finssimas, espelhos

    de cristal importados, grandes bancadas em pedras nobres, requintado acabamento em

    ladrilhos hidrulicos franceses nos pisos e azulejos, tambm importados, at a metade das

    paredes, como pode ser observado na figura 3.

  • Figura 3

    Painel de azulejo no trio e escada. Detalhe Interno, Museu Republicano de Conveno de Itu, 1850. (Angela Garcia, In: LOURENO, 1999, p. 175)

    Neste perodo, nas residncias das famlias mais abastadas, em muitos casos,

    apareciam recursos de conforto como nas habitaes europeias e seu tratamento formal era

    rebuscado, em voga neste perodo, atendendo com rigor os padres acadmicos europeus.

    Nas residncias os tijolos eram revestidos com massa de carter decorativo, no exterior

    podiam apresentar algumas partes revestidas de azulejos, segundo o costume portugus. Na

    sala de almoo, cozinhas e banheiros comeavam a ser aplicados o revestimento de azulejos,

    em geral com barras decorativas. O incio do desenvolvimento industrial e da diversificao

    da produo rural no pas acontece entre as duas Guerras Mundiais e a arquitetura sofreria

    transformaes da mais alta significao.

    No Brasil, a primeira indstria a produzir a porcelana para revestimento foi a Cia.

    Cermica do Rio de Janeiro, fundada por Amrico Ludoff em 1910, que sucedeu Cia. De

  • Grs e Faiana Nacional, construda em 1907, que deu incio fabricao de ladrilhos de

    Grs.

    Na segunda e terceira dcadas do sculo XX surge o movimento Neocolonial que

    procurava valorizar as expresses regionais da arquitetura tradicional brasileira. Em 1912 o

    arquiteto portugus Ricardo Severo defende o culto tradio com o uso da azulejaria.

    O arquiteto Victor Dubugras, inicialmente ligado ao movimento Art Nouveau, que

    vem mais tarde aderir ao movimento Neocolonial em 1914, por encomenda do ento prefeito

    de So Paulo, Washington Luiz, para as comemoraes do Centenrio da Independncia do

    Brasil, projetou uma fonte e um bebedouro de cavalos, sustentado de colunata apoiando um

    fronto sinuoso decorado com um painel de azulejos pintados por Jos Wasth Rodrigues,

    conforme ilustrado pela figura 4. O azulejo assume posio de destaque e renovao e de

    expresso plstica, como uma redescoberta das razes lusitanas.

    Figura 4

  • Wasth Rodrigues, Largo da Memria. So Paulo, SP, 1920. Azulejaria Contempornea no Brasil.

    Projeto de Victor Dubugras. (Jos Eduardo Gouva, in: MORAIS, 1988, p. 19)

    Este painel tinha como tema a vida tropeira, que por ali chegavam as tropas vindas

    de Sorocaba. Foi o primeiro painel descoberto de So Paulo e o processo de queima destes

    azulejos se deu na olaria da famlia Ranzini, na Lapa.

    A Fbrica Santa Catarina de Romeu Ranzini, fundada em 1912, prosperou

    rapidamente com o fim da I Guerra Mundial e com o crescimento da indstria de construo

    civil, por volta dos anos 20, propiciando as importaes de azulejos. Nesta mesma fbrica

    foi executado o processo de queima do painel que descreve a passagem da vida da fundadora

    da Ordem das Carmelitas de autoria de Paulo Rossi Osir.

    Nesta mesma poca surgiram oficinas artesanais para a queima de azulejos pintados,

    como por exemplo a Ceramus, de Francisco Azevedo, onde Antnio Pam Vieira iniciou o

    processo de queima de seus azulejos. Entre 1937 e 1938, Pam adquiriu o seu prprio forno

    a lenha que manteve at 1943. Somente em 1947 voltou a coloc-lo em funcionamento onde

    fez a queima dos azulejos que criou para a igreja de Nossa Senhora do Brasil em So Paulo.

    O azulejo reveste a capela-mor, altares laterais, corredores, portas e fachada do edifcio, s

    finalizando este trabalho em 1970.

    Em 1919, no Rio de Janeiro (RJ), foi implantada a Manufatura Nacional de

    Porcelana, que produzia loua domstica, artefatos e isoladores eltricos de porcelana e a

    partir de 1931, quando foi incorporada ao Grupo Klabin, comeou a fabricao de azulejos.

    Citamos tambm, de interesse, a Cermica artstica Conrado Sorgenicht, que

    executou o processo de queima do ltimo painel de azulejos desenhado por Cndido

    Portinari, para a sede social do Pampulha Iate Clube, de Belo Horizonte (MG).

    Em 1940 surge a Osiarte e seu diretor Paulo Rossi Osir, que se dedicava produo

    de azulejos. Este ateli surgiu para executar os azulejos criados por Portinari para o

    Ministrio da Educao no Rio de Janeiro (RJ) e a igreja da Pampulha, em Belo Horizonte

    (MG), como pode ser observado na figura 5.

  • Figura 5

    Cndido Portinari, Pampulha, Belo Horizonte. 1944. Azulejaria Contempornea no Brasil. Igreja de

    So Francisco de Assis, Belo Horizonte, MG. Projeto de Oscar Niemeyer. (Jos Eduardo Gouva, in:

    MORAIS, 1988, p. 67)

    Nas dcadas de 40 e 50, as Indstrias Reunidas Francisco Matarazzo, que usava a

    tcnica do baixo esmalte, o chamado biscoito, produzia e expunha os trabalhos

    desenvolvidos por vrios artistas como Alfredo Volpi, Mrio Zanini e Hilde Weber, onde a

    principal temtica eram cenas folclricas e populares. Em 1950 Osir e Volpi se afastam da

    Osiarte, que toma um carter empresarial, que comea a executar encomendas de outros

    artistas como Burle Marx e Carib.

    A produo da Osiarte, vem ao encontro de uma nova concepo de vida, do homem

    conviver em espaos harmonicamente integrados, onde a arquitetura, as imagens, as cores e

    os objetos constituem um todo projetado com requintes e funcionalidade. Nesse sentido, o

  • azulejo satisfazia necessidade de durabilidade dos revestimentos de parede, continuando

    uma tradio cara para o Brasil colonial e suas razes portuguesas.

    Com a vinda do arquiteto Le Corbusier ao Brasil, vrios arquitetos adotaram o uso de

    azulejaria em suas obras arquitetnicas e a utilizao de materiais da terra. A sua presena,

    em 1929 e 1936, foi um estmulo ao emprego do azulejo. Arquitetos como Lcio Costa,

    Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Carlos Leo, Jorge Moreira e Ernani

    Vasconcelos, ouviram de Le Corbusier lies sobre a valorizao dos materiais locais,

    inclusive velhos hbitos como o uso de azulejos nas edificaes.

    Estes arquitetos comearam a utilizar este material no s como elemento funcional,

    mas tambm como um material nobre que serviria magnificamente como suporte a novas

    expresses plsticas, criando uma conexo entre arquitetura e a arte, a arte da azulejaria,

    conforme figuras 6 e 7.

  • Figura 6

    Athos Bulco, Congresso Nacional, Braslia, DF, 1971. Projeto de Oscar Niemeyer. (Jos Eduardo

    Gouva, in: MORAIS, 1988, p. 121)

  • Figura 7

    Roberto Burle Marx. Clube de Regata Vasco da Gama, Rio de Janeiro, RJ, 1959. Projeto de Jorge

    Ferreirar. (Jos Eduardo Gouva, in: MORAIS, 1988, p. 81)

    A partir da dcada de 40 que surgem as pastilhas cermicas hexagonais ou

    octogonais e as cermicas lisas ou decoradas como revestimento para as fachadas e

    interiores das residncias. Na dcada de 50 os materiais de revestimento comeam a

    apresentar uma preocupao formal, alm de serem lavveis e durveis. Em meados de

    1953, nas casas, os azulejos eram aplicados nos banheiros e cozinhas, apenas com a

    preocupao funcional, os azulejos eram brancos sem nenhuma preocupao decorativa.

    Nos anos 60, os materiais de revestimento melhoram em qualidade e apresentam

    diversidade de padres, azulejos decorados ou em cores lisas, peas de acabamento de pisos

    vitrificados. Os anos 70, com a valorizao do corpo e da higiene ntima, a indstria

    nacional de azulejos e materiais sanitrios aparecem em franca ascenso. Surgem em larga

    escala os azulejos decorados, de padres variados, os pisos cermicos tomam conta do

    mercado imitando alguns modelos do passado com diversas texturas e cores. A partir deste

  • perodo encontraremos no mercado uma variedade de azulejos e revestimento de pisos, de

    formas, cores e padres variados, mas ainda busca-se no passado, nas razes, fonte de

    inspirao para se repensar o uso do azulejo nos tempos atuais.

    Concluso

    Este trabalho promoveu uma investigao acerca da histria da azulejaria no Brasil e

    procurou registrar os costumes que herdamos de Portugal e que ficou enraizado em nossa

    cultura e consequentemente na arquitetura, que perdura at os dias de hoje, o uso do azulejo

    como revestimento de fachadas, de piso, de parede e painis, como fonte de expresso

    artstica e plstica.

    De incio, o revestimento das fachadas com azulejos se dava por razes

    fundamentalmente climticas e no ornamentais. Com a ao das chuvas e do calor

    constante, o azulejo ser empregado como elemento de impedimento de corroso. No

    Neoclssico o gosto pelo azulejo acaba determinando uma caracterstica na arquitetura

    imperial tornando-se um elemento essencial no s no exterior como no interior das casas e

    igrejas. No movimento Neocolonial, que procurava valorizar as expresses regionais da

    arquitetura tradicional brasileira, o culto tradio e entre elas o uso da azulejaria

    amplamente defendido.

    Aps o declnio do estilo arquitetnico Neocolonial, na dcada de 30, com a

    renovao da arquitetura no Brasil, a valorizao dos materiais locais inclui o velho hbito

    do uso do azulejo nas fachadas e o marco ser o edifcio do Ministrio da Educao no Rio

    de Janeiro e a igreja da Pampulha em Belo Horizonte como forma de expresso artstica e

    plstica.

    Na arquitetura contempornea brasileira redescobriu-se no s o valor esttico das

    superfcies revestidas com os azulejos que se torna cada vez mais frequente. O uso deste

    material no decorrer da histria, que resistiu ao tempo, se inova a cada dia procurando novos

    caminhos na sua utilizao funcional e tambm como forma de expresso plstica.

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