Arqueoastronomia No Brasil Germano Afonso

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    Arqueoastronomia no Brasil

    Germano Bruno Aonso(Museu da Amaznia, FAPEAM/CNPq)

    Carlos Aurlio Nadal(Departamento de Geomtica/UFPR)

    O estudo da arqueoastronomia requer a

    colaborao de especialistas em astronomia,arqueologia, antropologia e histria da arte entreoutros, pois as evidncias so requentementeragmentadas, sutis e sujeitas a diversasinterpretaes. Neste Captulo sero apresentadosalguns dos principais stios arqueolgicos

    brasileiros conhecidos, com possveis conotaesastronmicas, tais como crculos e alinhamentosde rochas orientados para os pontos cardeais,pinturas e gravuras rupestres que representamastros e estrelas, alm de petrglios e geoglios.Alm disso, esses stios sero analisadosutilizando-se a astronomia indgena.

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    Introduo

    Desde a pr-histria o homem observou que havia variaes do clima e queos animais, as flores e os rutos mantinham relao com as estaes do ano.Assim, ele comeou a registrar os enmenos celestes, principalmente os movi-mentos aparentes do Sol, da Lua e das constelaes.

    A arqueoastronomia a disciplina que estuda os conhecimentos astron-micos legados pelas culturas pr-histricas (graas), atravs de vestgios dura-douros como a arte rupestre e os monumentos de rochas e por povos antigos,capazes de elaborar textos escritos, tais como os mesopotmios, os egpcios,os gregos e os maias. As descobertas da arqueoastronomia tambm podem serteis para o astrnomo documentar antigos eventos celestes, tais como a apari-

    o de um cometa muito brilhante, a exploso de uma supernova, a conjunode planetas ou, at mesmo, a possibilidade do estudo da desacelerao secularda rotao da erra atravs de registros de eclipses.

    A mais conhecida evidncia de que o homem antigo utilizava o cu Sto-nehenge, prximo a Salisbury, Inglaterra. Em 1740, William Stukeley oi o pri-meiro a estudar Stonehenge do ponto de vista astronmico. Ele percebeu que oeixo principal do monumento estava orientado na direo do nascer do sol nosolstcio de vero (Stukeley, 2013).

    A arqueoastronomia desenvolveu-se com as pesquisas do astrnomo Sir

    Joseph Norman Lockyer, undador da conceituada revista britnica Nature.Em 1891, ele estudou as orientaes astronmicas de certos templos da Grciaclssica e das pirmides e templos do antigo Egito. Mais tarde, orneceu expli-caes astronmicas mais detalhadas sobre os meglitosde Stonehenge e osmeniresda Bretanha, no noroeste da Frana (Lockyer, 1893).

    H cinco dcadas a arqueoastronomia recebeu novos reoros com as pes-quisas do astrnomo Gerald Stanley Hawkins. Em 1963 ele escreveu o livroStonehenge Decodificado, mostrando que essa construo megaltica, inicia-da h mais de 4 mil anos, poderia ser utilizada como observatrio solar e lunar

    para a previso de eclipses (Hawkins, 1963).A partir de 1970 a arqueoastronomia comeou a ser ministrada como dis-ciplina em algumas universidades, sobretudo nos Estados Unidos e na Europa.

    Atualmente as pesquisas em arqueoastronomia se intensificam em todo omundo. Em 1998, por exemplo, oi descoberta na regio de Nabta, no sul doEgito, por John McKim Malville e sua equipe, uma construo cerimonial comcerca de 5 mil anos, mais antiga que os meglitosda Europa e as pirmides doEgito. Ela possui rochas alinhadas para os pontos cardeais e para as direes donascer e do pr do sol nos solstcios (Malville et al., 1998).

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    A astronomia dos indgenas atuais ornece algumas reerncias para o co-nhecimento astronmico das sociedades antigas que habitaram o Brasil.

    Frequentemente tendemos a julgar a cosmologia de outras civilizaesatravs de nossos prprios conhecimentos. No entanto, a viso indgena douniverso deve ser considerada no contexto dos seus valores culturais e conhe-cimentos ambientais. evidente que nem todas as culturas atribuem signi-ficado igual a um mesmo enmeno astronmico, considerando-se que cadacomunidade possui sua prpria estratgia de sobrevivncia, que se reflete naadequao entre as atividades de subsistncia e o ciclo das estaes, por exem-plo. Alm disso, todas as comunidades indgenas no dependem de suas mo-radias, da caa, da pesca ou dos trabalhos agrcolas da mesma maneira. Asconstelaes sazonais, por exemplo, podem ter significado e utilidade die-

    rente para cada uma delas. Devemos dierenciar, tambm, a maneira de ver ouniverso dos indgenas que vivem no litoral, daqueles que vivem no interior,bem como considerar a localizao geogrfica e as condies geomorolgicasdo terreno de onde so eitas as observaes.

    Em arqueoastronomia deve-se ter sempre em mente que a percepo docu atual no o mesmo daquele do passado distante, que sua viso distintapara cada cultura e que tambm pode ser distinta em dierentes perodos deuma mesma cultura.

    importante salientar que muitos arquelogos brasileiros demonstram

    certa resistncia em aceitar que os monumentos meglitos ou a arte ru-pestre possam ter alguma relao com a astronomia e, talvez por isso, aspesquisas de arqueoastronomia no Brasil sejam to escassas. No entanto, aspesquisas realizadas no exterior, nessa rea, so publicadas nas mais concei-tuadas revistas do mundo.

    Monumentos megalticos

    Monumento megaltico ou meglito o termo usado para designar uma cons-truo com grandes blocos de rocha, edificada principalmente com objetivosreligiosos, unerrios e astronmicos. Diversas pesquisas, em inmeras locali-dades do mundo, comprovaram a eetiva orientao astronmica de estruturasmegalticas. Essa tendncia de orientar determinado monumento, alm da bviauno de calendrio, entrelaa-se com a organizao social ao relacionar-se comperodos cerimoniais (Baity, 1973 e Aveni, 1986).

    Os monumentos megalticos so registrados, com requncia, em todas aspartes do mundo, construdos por dierentes culturas e perodos, abrangendo

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    desde o neoltico at o sculo 19. Vrios pesquisadores constataram a existn-cia dessas construes em rocha, eitas pelos seus antigos habitantes.

    O termo megalitismo surgiu em 1867 na Europa e, com o sucessivo de-senvolvimento das pesquisas arqueolgicas, tornou-se um termo empregadono mundo inteiro.

    Distinguem-se quatro tipos especficos de monumentos megalticos: me-nir, alinhamento, cromleche dlmen.

    O menir um bloco de rocha bruta, pouco trabalhado artificialmente, deorma e altura variveis, colocado verticalmente no solo. Quando se encontraisolado chamado, tambm, de monlito.

    O alinhamento consiste de uma srie de meniresdispostos em fila, cujomais amoso exemplo o de Carnac, na Frana. Alinhamentos de rochas en-

    contram-se espalhados pelo mundo e tm sido registrados principalmente naEuropa, sia e rica. Alguns desses alinhamentos possuem a idade estimadaem 5 mil anos, enquanto outros parecem ser menos antigos.

    Os agrupamentos circulares de meniresso denominados cromlech.Os dolmenspodem ser considerados como monumentos megalticos tu-

    mulares coletivos, possivelmente construdos entre os sculos 5 e 3 AEC naEuropa, e at o sculo 1 no Extremo Oriente.

    A arqueoastronomia, em geral, estuda os monumentos orientados para ospontos cardeais ou para as direes do nascer e ocaso do sol, da Lua ou de

    estrelas brilhantes, passveis de medies astronmicas. Esses monumentos,possivelmente, teriam utilidade prtica na determinao do calendrio e naorientao geogrfica.

    Alinhamentos de Monte Alto, BA

    O primeiro a estudar um stio arqueolgico com alinhamentos de rochas oio engenheiro Teodoro Fernandes Sampaio (1855-1937) em Monte Alto, su-doeste da Bahia, em 1879. No entanto, para no criar polmicas, omitiu essa

    descoberta at 1922. Ao organizar o verbete sobre arqueologia na importantepublicao do centenrio promovido pelo Instituto Histrico Geogrfico Bra-sileiro (IHGB), descreveu que na regio do Riacho das Pontas, existiria extensoalinhamento de rochas, com altura mdia de meio metro, fincadas equidistan-temente por cerca de 1 km (Sampaio, 1922).

    Apesar de sua reputao, Teodoro Sampaio recebeu muitas crticas, tais comoas do arquelogo Angyone Costa que, em 1936, na primeira publicao especiali-zada em arqueologia no Brasil, colocou Monte Alto na mesma categoria que ou-tros locais antasiosos, como Vila Velha, PR, e as Sete Cidades, PI (Costa, 1980).

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    Esse preconceito ideolgico deve-se, em parte, ao impacto ainda presen-te nessa poca em nosso pas, dos antigos mitos oitocentistas envolvendocivilizaes perdidas (Langer, 1997). Uma das raras excees oi o arque-logo Anthero Pereira Jr. que, em artigo para a Revista do Arquivo Municipalde So Paulo, alertava para a verificao in loco dos vestgios em questo(Pereira Jr., 1944).

    O prximo acadmico a visitar Monte Alto oi novamente um engenheiro,Herman Kruse, em 1940. Realizou trabalhos topogrficos e orneceu algumasreerncias geodsicas sobre o local, sempre insistindo que o alinhamento nohavia sido edificado para finalidades de cercamento ou curral. Inelizmente seutrabalho permaneceu indito, sendo parcialmente descrito apenas em 1996 porseu colega de topografia, Waldemar Moura (Moura, 1996).

    Em julho de 1996, com uma equipe ormada por pesquisadores do MuseuNacional (UFRJ) e da Universidade Federal do Paran (UFPR), os autores des-te texto estiveram realizando pesquisas de arqueoastronomia em alguns stiosarqueolgicos no interior da Bahia, com a proessora Maria Beltro, coordena-dora do Projeto Central (Beltro e Lima, 1986).

    Em Monte Alto (14 20 56 S; 43 03 54 O; altitude 1.020 m), a uma dis-tncia de 500 km de Salvador, oram estudados certos alinhamentos de rochas,limitados por um riacho (Aonso et al., 1999). O primeiro ato que chamou aateno oi que no havia necessidade dessas rochas se encontrarem to prxi-

    mas umas das outras para constiturem alinhamento, pois era possvel visuali-zar diversas delas em uma mesma linha reta. Em segundo lugar, no poderiamservir mesmo como um curral, devido s suas alturas e aastamentos, tendoem vista que a altura das rochas de 0,70 m e a separao entre elas de 2,55 m,sendo esses dois valores considerados em mdia.

    Foi eetuado levantamento topogrfico planialtimtrico dos alinhamentose determinadas as coordenadas geodsicas do stio. Esse levantamento oi di-ficultado pelas condies do terreno, encoberto pela vegetao que oi pre-servada. Foram contados 260 blocos rochosos que ormavam diversas linhas

    retas, com dierentes azimutes, totalizando 930 m de comprimento.Algunsdesses blocos se encontravam cados, enquanto outros oram removidos dolocal provavelmente por caadores de tesouro. Com base nos dados obtidosnos levantamentos eetivados, se os alinhamentos ossem preenchidos com osblocos rochosos, que possivelmente oram removidos, se obteria um total de365 blocos, aproximadamente. Esse nmero sugeriu que os blocos poderiamcorresponder ao nmero de dias em 1 ano.

    Os alinhamentos de Monte Alto no se orientam para nenhum ponto as-tronomicamente relevante (nascer ou pr do sol ou de estrelas brilhantes) e

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    a estranha figura desenhada pelas rochas no se parece com nenhum animalou vegetal conhecido. Assim, resolveu-se procurar alguma correlao entre odesenho na erra com as estrelas do cu, visveis do local.

    A regio do cu que mais se assemelha ao desenho dos alinhamentos deMonte Alto se situa entre o Grande Quadrado de Pgaso e o aglomerado estelardas Pliades. Assim ele poderia representar a projeo vertical do cu na su-percie terrestre, no instante do aparecimento das Pliades. Nele, a Via Lcteapoderia estar representada pelo riacho.

    Aproximadamente durante um ms, a cada ano, as Pliades ficam muitoprximas do Sol no cu, no podendo ser observadas. O nascer helaco dasPliades ocorre quando elas se tornam visveis, no lado leste, pouco antesdo nascer do sol. O primeiro dia em que isso acontecia, perto de 5 de junho,

    marcava o incio do ano para vrios grupos indgenas brasileiros que obser-vavam as Pliades para elaborarem seus calendrios. Nesse dia as Pliadespodem ser observadas por apenas alguns minutos, cerca de uma hora an-tes do nascer do sol, prximas linha do horizonte. Logo depois, devido aomovimento de rotao da erra de oeste para leste, o Sol surge no lado lesteouscando a viso das Pliades.

    Em virtude do movimento de translao da erra, tambm de oeste paraleste, as estrelas se adiantam em mdia 3 minutos e 56 segundos por dia, emrelao ao Sol. Logo, a observao das Pliades nos dias seguintes ao do nas-

    cer helacose torna mais cil, pois elas nascem cada dia mais cedo de noiteem relao ao Sol at que, por volta de 10 de novembro, elas passam a nascerquando o Sol ainda est se pondo. A partir desse dia, no podemos mais ob-servar o nascer das Pliades, pois ao escurecer elas j se encontram acima dohorizonte, se deslocando a cada dia para o lado oeste, at desaparecerem aopr do sol (ocaso helaco). O ocaso helacoocorre perto do dia 28 de abril,no sendo mais visveis noite at perto do dia 5 de junho quando ocorre,novamente, o seu nascer helaco.

    A maioria dos povos antigos marcava o incio do ano no dia do nascer

    helaco de uma determinada estrela ou constelao. Os antigos egpcios,por exemplo, desde cerca de 5 mil anos atrs, utilizavam o dia do nascer he-lacode Sirius, a estrela mais brilhante do cu noturno, que coincidia com oincio da cheia do rio Nilo (inundao) para iniciar o seu ano. Possivelmenteos astrnomos determinavam o dia e o local do nascimento dessa estrelautilizando a reta imaginria que passa pelas Pliades, Aldebar e Sirius. Emgeral, nas noites de vero, utilizamos esse alinhamento de estrelas brilhan-tes para encontrar as Pliades. Devemos salientar que essas estrelas nascemaps as Pliades.

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    endo em vista que cada bloco rochoso poderia representar um dia doano, oi levantada a seguinte hiptese: os alinhamentos serviriam como ca-lendrio anual cuja origem seria o primeiro dia em que o aglomerado es-telar das Pliades osse visvel antes do nascer do sol (nascer helaco). Essahiptese, embora astronomicamente correta, jamais poder ser comprova-da. No entanto, pode-se utilizar o desenho dos alinhamentos de Monte Altopara elaborar um calendrio de rochas que se inicia no dia do nascer hela-codas Pliades.

    A ausncia de estrelas bastante brilhantes antes do nascer das Pliades jus-tificaria a realizao pelo homem pr-histrico de um desenho de rochas, par-tindo do grande quadrado de Pgaso, para eeito de memorizao do cu.

    Aps a elaborao da hiptese acima, oi verificado que no clssico livro de

    Claude dAbbeville escrito em 1614 (Abbeville, 1975), este afirmava que haviauma constelao que os upinamb do Maranho chamavam inguau, queprecedia o aparecimento das Pliades em cerca de quinze dias e, em trabalhode campo, oi constatado que os Guarani tambm possuam uma constelaochamada inguau que anunciava o aparecimento das Pliades. inguau, emupi e em Guarani, significa pssaro de bico grande (gneroAttilade pssarostropicais americanos), encontrado em todo o Brasil. Ento, o desenho de Mon-te Alto poderia ser uma representao desta ou de outra ave, sem necessaria-mente estar relacionado aos upi ou aos Guarani, pois diversos outros grupos

    poderiam azer essa mesma associao.Para determinar a posio e a data do nascer helaco das Pliades, osGuarani usam o seguinte mtodo emprico na regio do cu que se situaentre o Grande Quadrado de Pgaso ormado pelas estrelas a(ala) de An-drmeda, ade Pgaso, b(beta) de Pgaso, g(gama) de Pgaso e as Pliades.A partir do Grande Quadrado de Pgaso, seguindo as estrelas d (delta) daconstelaode Andrmeda, a do ringulo e 41 da constelaode riesencontramos as Pliades, pois elas se encontram na reta imaginria que uneessas trs estrelas. As estrelas, utilizadas no mtodo, na ordem decrescente de

    seu brilho so: ade Andrmeda, ade Pgaso, bde Pgaso, gde Pgaso, ddeAndrmeda, ado ringulo, 41 de ries e Pliades (NGC 1432). Essas estre-las ormam a constelao que os Guarani chamam de Arapuca, a armadilhapara pegar passarinhos (Figura 1). A figura ormada pelos alinhamentos deMonte Alto parecem refletir na erra a figura dos alinhamentos celestes, queormam a constelao da Arapuca.

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    Figura 1.A Constelao Guarani da Arapuca

    O nascer helacodessas trs estrelas alinhadas precede o nascer helacodas

    Pliades, aproximadamente, nos seguintes intervalos de tempo entre parnte-ses: dde Andrmeda (45 dias), ado ringulo (30 dias) e 41 de ries (15 dias).Assim, registrando a data e a direo do nascimento dessas trs estrelas, po-

    de-se prever a data e a direo do nascimento helacodas Pliades que nascemno mesmo lugar onde nasce o Grande Quadrado de Pgaso.

    A partir do dia do desaparecimento das Pliades ao escurecer, o GrandeQuadrado de Pgaso j bem visvel antes de amanhecer. E tudo recomea...

    Diversas etnias de outras regies do mundo, principalmente das Amricas,marcavam o incio do ano com o surgimento das Pliades, assim como muitos

    grupos indgenas brasileiros. Sua principal utilidade consiste em desenvolversistemas de visualizao para o controle da estao agrcola. Estruturas monu-mentais orientadas para esse aglomerado estelar tambm so encontradas emdiversas outras regies do Planeta.

    Com base em cermicas encontradas nas proximidades dos alinhamen-tos de Monte Alto, pode-se estimar a sua idade como sendo de aproximada-mente 2 mil anos.

    O stio arqueolgico onde se situam os alinhamentos de Monte Alto se en-contra abandonado e bastante depredado. objetivo dos autores recuper-lo,

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    depois de realizar pesquisa mais detalhada. Assim, o complexo poderia servircomo equipamento de educao ambiental que atrairia turistas para a regio,como ocorre em Stonehenge e em muitos outros locais.

    O Stio de Caloene, AP

    O norte de Amap rico em stios arqueolgicos com meglitos. No munic-pio de Caloene, localizado a 390 km ao norte de Macap, h diversos stiosarqueolgicos, sendo o mais conhecido deles o stio do Rego Grande. Ele contacom aproximadamente 147 meglitostalhados e colocados no topo de umacolina, ormando circunerncia de 30 m de dimetro. O bloco maior tem maisde 3 m de altura e mais de 3 t (Figura 2).

    Figura 2.O stio do Rego Grande em Caloene, AP

    Em 1895 o naturalista e zologo suo Emlio Goeldi (1859-1917) orga-nizou pelo Museu Paraense expedio cientfica na regio. Nessa expedio,localizou e registrou o stio de Caloene. Entre as peas coletadas pela equipehavia vrias vasilhas cermicas inteiras. A delicadeza das pinturas e dos moti-vos modelados e a originalidade das ormas fizeram com que Goeldi afirmasse

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    que aqueles eram alguns dos melhores produtos cermicos conhecidos dosindgenas da regio amaznica uma cermica chamada pelos arquelogosde Arist (Goeldi, 1905).

    Depois Caloene oi visitada pelo etnlogo e antroplogo alemo Curt Ni-muendaj, que teria contado 150 blocos verticais, erigidos intencionalmente.Nimuendaj acreditava que esses alinhamentos teriam ligaes com prticasreligiosas, sendo o stio considerado um local sagrado. Suas viagens pela regioamaznica entre 1922 e 1927 oram publicadas em Stuttgart, sob o ttulo Strei-

    zge in Amazonienem 1929 (Nimuendaj, 1929).Na dcada de 1950 o casal norte-americano Betty Meggers e Clifford Evans

    tambm esteve pesquisando nessa regio. Esses arquelogos concluram que ostio seria utilizado para fins cerimoniais (Meggers and Evans, 1957), concor-

    dando com Nimuendaj quanto finalidade dos meglitos. Achando que oambiente da Amaznia osse pobre demais para suportar aldeias densas e per-manentes, atriburam o stio s chamadas sociedades complexas da Amazniae concluram que ele ora obra dos ndios Aru, da amlia lingustica aruaque,que desceram do Caribe e ocuparam a oz do Amazonas.

    Desde 2006, o stio de Caloene est sendo estudado pelos arquelogos Ma-riana Petry Cabral e Joo Darcy de Moura Saldanha, do Instituto de Pesqui-sas Cientficas e ecnolgicas do Estado do Amap (IEPA).No incio de seustrabalhos esses pesquisadores verificaram que a sombra de um fino meglito

    desaparece quando o Sol se encontra no ponto mais alto de sua trajetria diur-na (passagem meridiana), no solstcio do inverno do hemisrio norte. Issosignifica que o meglitoaponta exatamente para o Sol nesse instante, no dia 21ou 22 de dezembro, pois o stio arqueolgico fica no hemisrio norte.

    Com essa descoberta os pesquisadores anunciaram duas hipteses sobreo stio arqueolgico: era observatrio astronmico e ora construdo por umasociedade complexa e organizada, concordando com a concluso de Meggerse Evans (Lopes, 2006).

    Em maio de 2006 o primeiro autor deste artigo oi consultado sobre es-

    sas hipteses pela imprensa, que orneceu diversas otos do stio arqueolgico.Com base em outros stios brasileiros com meglitosque o autor j tinha estu-dado, e que tinham conotao astronmica, ele concordou com a hiptese deque o stio de Caloene poderia servir, tambm, como observatrio astron-mico, mas discordou de que haveria necessidade de uma sociedade mais com-plexa e organizada do que a da maioria dos indgenas que habitavam o Brasil,para constru-lo (Lopes, 2006).

    Continuando suas pesquisas, os arquelogos Cabral e Saldanha realizaramtrs dataes por Carbono 14, de ragmentos de carvo encontrados dentro de

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    poos unerrios do stio de Rego Grande. ambm oram datados outros 10stios do Amap, trs deles com meglitos, e todos parecem ter sido ocupadosentre 700 e mil anos atrs.

    Nos stios arqueolgicos que pesquisaram na regio de Caloene, oramencontradas urnas unerrias eitas no estilo cermico Arist. Comum em todoo litoral norte do Amap e na Guiana Francesa, a elaborada cermica Aristdeixou de ser produzida depois da chegada do europeu s Amricas. Nas pes-quisas, no oi encontrado nenhum vestgio de material Aru, o que invalida ahiptese eita pelos arquelogos norte-americanos Meggers e Evans, sobre osconstrutores desses stios meglitos(Cabral et Saldanha, 2009).

    Em 21 de maro de 2012, no equincio da primavera, o primeiro autordeste texto oi convidado pela Secretaria de urismo do Amap para conhecer

    o stio arqueolgico de Rego Grande, em Caloene, aonde chegou logo depoisdo pr do sol. Ele estava interessado em analisar principalmente duas orma-es rochosas que j tinha visto nas otos, e que so semelhantes s que elej havia encontrado em outros stios arqueolgicos no Brasil: uma rocha de3 m de altura em que oi eito oricio circular de 30 cm de dimetro e a pr-pria circunerncia ormada pelos meglitoscom 30 m de dimetro (todos osvalores so aproximados). comum encontrar no Brasil rochas com oricio,que permitem a observao do Sol pela passagem de seus raios. Em geral essasobservaes so possveis nos solstcios e nos equincios.

    Em Caloene no oi possvel observar esse enmeno, pois j estava anoi-tecendo quando l o autor chegou. No entanto Vnus e Jpiter estavam vis-veis, perto do horizonte oeste. Foi calculado o instante em que esses planetasestariam na direo do ponto cardeal oeste e oi obtida oto na qual os planetasaparecem no oricio circular. Ela mostra que o oricio est orientado na linhaleste-oeste (Figura 3).

    Figura 3.Vnus e Jpiter se pondo em Caloene, AP

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    Deve-se ressaltar que o bloco com o oricio est um pouco inclinado, prin-cipalmente para o leste, talvez devido a deslocamentos do bloco ou do terrenocom o passar do tempo. Em geral, os blocos encontrados em outros stios ar-queolgicos estavam colocados na posio vertical. Alm do oricio, h casosde estrutura de rochas sobrepostas que permitem azer esse tipo de observaodo Sol, como o caso de Garopaba, SC, onde o Sol nasce sobre o mar no dia dosolstcio de inverno (Figura 4).

    Figura 4.Sol nascendo no solstcio de inverno em Garopaba, SC (Foto Lucio Silva)

    Quase todos os registros dos movimentos aparentes do Sol eram obtidos

    pelos povos antigos atravs de um dos mais simples e antigos instrumentosde astronomia: o gnmon vertical ou haste do relgio solar. Ele consiste dehaste cravada verticalmente no solo, da qual se observa a sombra projetadapelo Sol sobre terreno horizontal. O gnmon oi utilizado tambm nas civi-lizaes maiores: no Egito (obeliscos) no sculo 15 AEC; na China no sculo11 AEC; na Grcia no sculo 7 AEC. O gnmon, simples basto vertical,teve ento papel muito importante e s vezes subestimado no desenvolvi-mento da astronomia.

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    Os ndios brasileiros tambm utilizavam o relgio solar (gnmon) e, emgeral, a sua haste era eita de madeira ou de rocha grande, isolada (monlito),colocada verticalmente.

    Durante o ano de 1991 os autores deste texto estudaram um monlitovertical, com cerca de 1,5 m de altura, encontrado em stio arqueolgico smargens do rio Iguau, na regio que oi inundada pelo reservatrio da usinahidreltrica de Salto Segredo, PR. Ele tinha as aces talhadas artificialmen-te, apontando para os quatro pontos cardeais, sendo que o topo retangularestava orientado na direo L-O (Figura 5). Em volta desse monlito haviaum crculo de pedras menores que, aparentemente, indicavam as direes donascer e ocaso do sol nas estaes do ano. A maioria dessas pedras oi umpouco deslocada de sua posio original por caadores de tesouro.

    Figura 5.Representao do monlito de Salto Segredo, PR

    importante ressaltar que a regio onde se encontrava o monlito estavaligada margem do rio Iguau por um caminho pavimentado por pedras irre-gulares. oda essa regio oi representada cartograficamente, sendo a posiodo monlito determinada por observaes astromtricas. Nos dias dos equi-ncios oram eetuadas observaes detalhadas do nascer e do pr do sol, quecomprovaram o alinhamento do topo do monlito na direo L-O.

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    Considerando que esses monlitos talhados para os pontos cardeais, encon-trados em diversas regies do Brasil, oram colocados na posio vertical, e quemuitas tribos de ndios brasileiros usavam e ainda usam o relgio de Sol, surgiua ideia de que eles poderiam servir tambm como relgio solar mais aperei-oado, pois poderiam ornecer os pontos cardeais, mesmo na ausncia do Sol.Na maioria das cosmogneses indgenas, o ponto mais alto do cu (chamadoznite) representa a morada do deus maior da etnia considerada e os quatropontos cardeais os domnios dos quatro deuses criados por ele (Aonso,2001).

    Ao comparar, ento, o crculo de pedras de Rego Grande com outros que jeram conhecidos, percebeu-se que altava um monlito no centro do crculo,que serve como reerncia. Perguntou-se desse monlito ao Garrafinha, comogosta de ser chamado Lailson Carmelo da Silva, capataz do stio que acompa-

    nhava a equipe de pesquisadores. Ele respondeu que, de ato, existia um mo-nlito no centro do crculo, que ele encontrou cado logo que se mudou para ostio, e o havia transportado para ora do crculo. Garrafinha mostrou o lugarem que se encontrava esse monlito central.

    Observando do centro do crculo, ficava evidente que na direo do solstciodo inverno no havia nenhuma rocha. Novamente perguntou-se ao Garrafinhasobre essa rocha. Ele levou os interessados ao lugar que ora apontado e mostrouque l havia uma rocha em p, no entanto, atualmente ela estava cada.

    Espantado, Garrafinha disse que nunca tinham eito tais perguntas a ele. Foi-

    lhe explicado que essas perguntas oram eitas comparando esse stio com outroscom meglitosj conhecidos, e que todas essas semelhanas mostravam que, real-mente, o stio arqueolgico de Rego Grande teria, tambm, unes astronmicas.

    No oi levantada nenhuma hiptese sobre o fino meglitoinclinado, queaponta para o Sol na sua passagem meridianano solstcio de inverno, pois emtodos os stios arqueolgicos antes pesquisados, os meglitosestavam coloca-dos na posio vertical. Alm disso, verificou-se que no stio de Rego Grandehavia outros blocos menores, que no se encontravam mais na posio vertical.

    Outras estruturas megalticas

    Em 1887, realizando pesquisas etnogrficas no Xingu, M, o rancs HenriCoudreau (1859-1899) encontrou ormaes artificiais de pedra:

    Estes estranhos meniresou pedras levantadas do Xingu, em nmero de oito, es-

    to, no momento, a um metro ou um metro e meio acima das guas mdias das

    vazantes; nas cheias devem ficar todos imersos. Estranhos menires, eitos eviden-

    temente com pedras do prprio rio, por quem tero sido erguidos? Os Jurunas

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    dizem que so muito antigos, remontando a uma origem desconhecida. A prova

    definitiva de que oram erigidos com uma inteno determinada que se encon-

    tram todos colocados no meio de quadrados de pedras que oram para l levadas

    de propsito, evidentemente (Coudreau, 1887).

    A sua artificialidade pode ser confirmada pela experincia arqueolgicadesse pesquisador, que tambm eetuou registros de arte rupestre, material l-tico e cermico na regio (Coudreau, 1887). O antroplogo ainda anexou duasilustraes dos menires, pelas quais se percebe ntido alinhamento destes, bemcomo sua evidente estrutura de sustentao, em meio a bases ormadas pormontculos de pedras.

    No incio deste sculo, tambm o gegrao Alredo Brando (1874-1944)

    encontrou evidncias monumentais no estado de Alagoas. Membro do Insti-tuto Arqueolgico e Geogrfico Alagoano, Brando possua vasta experinciaem registros arqueolgicos, acerca dos quais publicava descries analticasna revista do mesmo instituto. Entre os supostos monumentos encontrados,merece destaque o do stio Sapucaia, no engenho Bom Jesus. Consistia de umcrculo de pedras rsticas, implantadas verticalmente no solo. O pesquisadorainda distinguiu esses vestgios dos currais de pedra de origem colonial, muitocomuns no Nordeste (Brando, 1937).

    Ainda no norte do Brasil, no estado do Par, o engenheiro alemo Manred

    Rauschert-Alenani encontrou em 1970, nas nascentes do rio Citar, figurascompostas por pedaos de pedras soltas, apoiadas sobre planalto rochoso, or-mando linhas retas e pequenas figuras de animais, e ainda uma figura humanarealizada com a mesma tcnica (Rauschert-Alenani, 1970).

    No extremo oposto do pas, Rio Grande do Sul, o arquelogo Jos Proen-a Brochado tambm encontrou vestgios megalticos durante pesquisas em1967-1968. No vale dos rios Iju e Jacu, numa pequena encosta, oram en-contradas doze lajes de basalto retangulares, com altura mdia entre 0,5 e 2m de altura. A sua estrutura era apoiada sobre pedras menores, semelhante,

    portanto, encontrada por Coudreau, no Xingu. O conjunto apresentava v-rios alinhamentos orientados na direo N-S, com o seu eixo de simetriaalinhado na direo L-O, acompanhando o declive natural da encosta, re-velando ntida orientao astronmica. Sobre o centro do conjunto, haviaainda um poste de basalto com cerca de 2 m de altura, rusticamente traba-lhado segundo o arquelogo, com a inteno de imitar uma figura humana(Brochado, 1969). O sentido astronmico original desses meglitospode serreorado por outros vestgios encontrados por Brochado nesse mesmo local,como tmulos de pedra tambm alinhados na direo L-O, com aberturas

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    voltadas para o ponto cardeal O. O arquelogo associou esses vestgios a tra-dies de origem patagnica.

    Ainda no mesmo estado tambm oram registrados esqueletos junto a mon-tculos de pedras (tradio aquara), enterrados estendidos de costas, com ocrnio voltado para o nascente ou poente (Ribeiro, 1977). Do mesmo modo,muitos arquelogos encontraram crnios e esqueletos em sambaquis (stios emorma de colina, ormados artificialmente pelo acmulo de restos marinhos),com o eixo orientado para pontos de interesse astronmico, como para o pontocardeal L (Prous, 1991).

    Em outras regies no Brasil oram registrados cromlechs. Em Pompeu,MG, universitrios encontraram ormaes circulares de pedra associadas amachados e cermica da tradio Aratu (Prous, 1991). O arquelogo Marcos

    Galindo Lima (UFPE) constatou diversos alinhamentos em Pernambuco ondeum deles orma um crculo com 40-60 cm de altura, enquanto o outro dese-nha uma linha quebrada irregular (Prous, 1991).

    Geoglifos da Amaznia

    Nos ltimos anos pesquisadores tm descoberto grandes estruturas de terra,pereitamente geomtricas, erigidas por populaes pr-colombianas nos solos

    argilosos de terra firme da Amaznia ocidental, no estado do Acre e adjacn-cias, que oram chamados geoglifos(Schaan et al.,2007 e 2012).Os primeiros que identificaram e registraram esses geoglifosno Acre o-

    ram os arquelogos Ondemar Ferreira Dias Jr. e Franklin Levy, do Instituto deArqueologia Brasileira (IAB) em 1977, cadastrando 70 stios at 1980.

    Segundo estudos atuais, sensoriamento remoto e levantamento em terra jrevelaram 281 geoglifoscujas medidas de radiocarbono dataram a sua cons-truo e ocupao entre 2 mil e 700 anos antes do presente.

    As figuras so ormadas por um conjunto de valeta e mureta adjacente, esta

    ltima ormada pelo material do solo escavado depositado do lado de ora davaleta. A largura da valeta , em mdia, de 10 m, enquanto a proundidadevaria de 1 a 7 m. H geoglifosde orma quadrada, retangular, circular, oval,hexagonal, com oito lados e em orma de U, alm de caminhos retos que osconectam, alguns se estendendo por at 600 m.

    As ormas geomtricas mostram interessante padro: ao sul predominamas figuras circulares, enquanto que ao norte as figuras quadrangulares.

    Algumas figuras quadrangulares possuem um dos cantos direcionadopara o N. Em outras, h caminhos que saem do ponto mediano dos lados nas

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    quatro direes, ormando eixos L-O e N-S. Os geoglifoscirculares chegama atingir 350 m de dimetro.

    Apesar de existirem estruturas de terra deensivas no alto Xingu, nos geo-glios elas ormam figuras pereitamente geomtricas e to grandes que quaseno podem ser percebidas do solo.

    Esses stios lembram tambm as obras de terra encontradas nas terras bai-xas da vizinha Bolvia, onde extensos canais e reas elevadas tm sido interpre-tados como campos agrcolas.

    A construo desses aterros geomtricos pode ter sido um enmenoregional compartilhado, especialmente entre os povos Arawak e acana,que possivelmente os usavam para reunies, atividades religiosas, locaisde moradia ou aldeias ortiicadas, ou talvez tudo isso tendo em vista sua

    versatilidade.Sua geometria pereita indica seu carter rancamente simblico: de-

    nota a maneira correta de construir assentamentos ou praas cerimoniais,implicando a talvez a inteno de seguir as diretrizes deixadas por espri-tos ancestrais.

    Vrios deles localizam-se sobre plats de onde se descortina uma visopanormica que alcana dezenas de quilmetros at o horizonte, e de ondese percebem os rios encobertos pela mata ciliar. Se os geoglifoseram aldeiasortificadas, sua posio era realmente a melhor possvel, pois qualquer movi-

    mento vindo a partir dos rios poderia ser notado a distncia.Segundo as descries anteriores eitas pelos pesquisadores da regio(Schaan et al., 2007 e 2012), pode-se supor que os geoglifos possivelmenteteriam, tambm, alguma conotao astronmica, pois a maioria deles se en-contra em lugar elevado, tem orma circular ou retangular e orientado paraos pontos cardeais. Esses padres se encontram nas aldeias de algumas etniasindgenas, que utilizam a astronomia para a subsistncia e a religiosidade, talcomo os Bororo, do estado de Mato Grosso, que constroem suas aldeias naorma circular. A orma retangular, com os lados orientados com bastante

    preciso para os pontos cardeais, tal como a encontrada no stio Cruzeirinho,municpio de Boca do Acre, AM, prximo desembocadura do rio Acre norio Purus, com as seguintes coordenadas geodsicas: latitude 8 50 37 S,longitude 67 15 12 O e altitude 122 metros, poderia servir para dieren-ciao de cls ou de etnias (Figura 6). Assim, seria interessante estudar essesgeoglifosda Amaznia tambm do ponto de vista astronmico.

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    Figura 6.Geoglifo do stio Cruzeirinho, AM

    Arte rupestre astronmica

    Arte rupestre toda expresso grfica pintura ou gravura deixada pelohomem pr-histrico sobre supercie rochosa: paredes de grutas, abrigos,canyons, boqueires etc. A palavra Itacoatiara, que em upi e Guarani sig-

    nifica pedra pintada, requentemente utilizada para denominar os roche-dos decorados.A maioria dos pesquisadores considera que a arte rupestre brasileira re-

    flete mais do que uma maniestao artstica, pois muitas pinturas oramrealizadas em lugares de dicil acesso e as gravuras exigem muito traba-lho para serem eitas. No entanto, a pesquisa mais complexa relacionada arte rupestre, a interpretao dos grafismos. No Brasil, onde ocorrem asmesmas tendncias interpretativas do resto do mundo, ela praticamenteabandonada pelos arquelogos.

    Os astrnomos, em geral, gostam de examinar enmenos que parecem noestar relacionados entre si, para mostrar que, se orem examinados com cui-dado suficiente, algum tipo de relao poder ser encontrado. Por exemplo, dicil no aceitar que as representaes que Maria Beltro chama radioAstronmica no evoquem o firmamento (Beltro e Lima, 1986).

    bvio que no se pode tentar interpretar as obras paleolticas europeiasa partir de realizaes modernas de aborgenes australianos ou aricanosatuais. A interpretao das pinturas existentes em um stio arqueolgico bra-sileiro, por um indgena atual, tambm limitada. No entanto, ela nos or-

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    nece pelo menos uma viso dierente da viso ocidental da maioria dos pes-quisadores sobre painis que, no se pode esquecer, so de origem indgena.

    Na arqueoastronomia brasileira pode-se azer algumas hipteses sobreo sentido das figuras rupestres utilizando inormaes de indgenas queconservam muito suas tradies antigas, como os Guarani. As inormaesobtidas podem servir como auxlio para o controle das interpretaes dospainis. No entanto, esse mtodo deve ser utilizado com cautela, principal-mente em figuras isoladas, pois um mesmo smbolo pode ter diversos sig-nificados e uma mesma ideia pode ser representada por diversos smbolos.Em um painel com diversos temas, a figura que denominamos Sol poderiarepresentar um cocar indgena, a Lua poderia representar uma canoa e asestrelas olhos, por exemplo. Assim, deve-se procurar painis que possuam

    somente smbolos aparentemente astronmicos, sem estarem misturadoscom zoomoros e antropomoros.

    Itaquatiara de Ing

    Ing o nome de uma cidade situada a 80 km de Joo Pessoa, PB, no planalto deBorborema, em direo a Campina Grande. A menos de 8 km de Ing, s mar-gens do rio Ing, que no inverno seca para se tornar caudaloso no vero, existeum monlito de rocha gnaisse, durssima, cuja supercie est recoberta por cer-

    ca de 500 estranhas inscries em baixo relevo. rata-se da amosa Pedra Lavra-da do Ing, cuja orma irregular, com aproximadamente 23 m de comprimentoe 3 m de altura, em mdia, tendo 3,8 m de altura em sua parte mais elevada.

    O acabamento de todas as inscries de Ing ornece a ideia de polimento,que parece confirmar a hiptese reerente ao processo utilizado para azer asgravaes: elas teriam sido executadas por meio de rochas duras ou madeirasmolhadas na gua e, em seguida, polidas com areia, como se osse uma lixa. Omonumento de Ing devia representar algo realmente importante, tendo emvista a dificuldade de seus artesos para azerem os sulcos.

    Sobre a ace norte do bloco grantico, as inscries se concentram em umpainel de aproximadamente 18 m de comprimento por 1,8 m de altura.odo o campo insculpido est limitado em sua parte superior por cr-

    culos, pereitamente escavados, que se perfilam em nmero de 114. Essescrculos ou concavidades so chamados capsulares e possuem, em mdia,5 cm de dimetro.

    No incio das gravaes h uma espiral voltada para a direita, enquanto queno fim h outra espiral, agora voltada para a esquerda, ambas laboriosamenteconeccionadas com notvel polimento.

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    Sobre o bloco grantico h outras inscries, em menor nmero. Uma de-las, situada no centro do painel insculpido e a cerca de 50 cm acima da linhade capsulares, se assemelha a uma representao de um Sol radiante, em se-micrculo, do qual partem 21 raios voltados para a parte inerior do paredo.

    O bloco grantico repousa sobre grande laje que, batida pelas guas do rionos perodos de enchentes, apresenta colorao dierente daquela do reeridobloco, um tanto esbranquiado. Nessa laje, em ligeiro declive, tambm figuramgravaes com a mesma tcnica de trabalho, inclusive representando certossmbolos do painel, tudo com pereito polimento.

    Nesse monlito, nos raros casos em que aparece uma representao bio-mora, parece tratar-se de sauros ou de homens.

    As trs hipteses mais conhecidas sobre Ing, relacionadas com a astro-

    nomia, so:

    1) Em 1974, o Boletim Inormativo do Centro Brasileiro de Arqueologia, doRio de Janeiro, publicou estudo do engenheiro Jos Bencio de Medeiros eitoem 1962, intitulado: entativa de determinao da poca em que oram eitas asgravaes de Ing de Bacamarte (Medeiros, 1974). Ele relacionou uma srie degravuras, situada na laje sobre a qual se encontra o bloco grantico, com estrelasque compem a constelaoocidental de rion, o Caador. Das 14 estrelas as-sinaladas, 11 coincidiriam com as estrelas dessa constelao, segundo o autor.

    Supondo que o ponto vernal se encontrava na constelao de rion napoca em que as gravuras oram eitas, Medeiros determinou que esse monu-mento teria sido construdo em 4.134 AEC. No entanto, nessa poca o pontovernal se encontrava na constelaodo ouro.

    2) Em novembro de 1986 o IAB publicou trabalho indito do arquelogoespanhol Francisco Pavia Alemany intitulado El Calendrio Solar da Pedra deIng- Una Hipotesis de Trabajo(Alemany, 1986). Nesse trabalho ele se limitoua estudar os 117 capsulares da ace norte do bloco grantico, que esto aproxi-

    madamente alinhados horizontalmente, ocupando um tero da parte superiorda rocha. Alguns autores contam apenas 114 capsulares.Alemany sups que o monlito de Ing poderia servir de calendrio solar

    utilizando-se, perto dele, um relgio solar vertical, sendo que o registro dassombras dirias, ao nascer do sol, estaria materializado pelos 117 capsulares.Essa sombra iria de um extremo a outro em 183 dias (metade de 1 ano), e de-pois voltaria echando um ciclo completo em 1 ano (cerca de 366 dias).

    Esse autor encontra srias dificuldades para explicar como 117 capsularespoderiam representar o registro de 183 dias. Alm disso, sempre surge a per-

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    gunta: Por que os povos que esculpiram as gravuras, utilizariam mtodo tocomplicado para estabelecerem um simples calendrio anual?

    3) O mdico Francisco C. Pessoa Faria tambm analisou o monlito deIng do ponto de vista astronmico, especialmente o paredo vertical, ondeas gravuras ocupam uma rea de 30 m2. Ele lanou um livro com o resultadode suas pesquisas intitulado Os Astrnomos Pr-Histricos do Ing (Faria,1987). O autor sups que a sucesso de depresses hemisricas (capsulares) naparte superior da Itaquatiara seria uma representao da eclptica, sendo quesua parte mdia ou central assinalaria o equincio da primavera. Para esse au-tor, na altura do 60 capsular dos 115 entalhados (alguns estudiosos contaram114 e outros 117 capsulares), h uma figura que lembra um cocar, que marcaria

    o equincio da primavera. Logo abaixo de todos os capsulares estariam repre-sentaes de constelaeszodiacais, que hoje so as mais conhecidas.

    Das trs hipteses, esta a menos aceita nos meios acadmicos pelos se-guintes motivos:

    a) embaixo dos capsulares existem mais de 12 representaes e, portanto, po-demos sempre escolher a que or mais conveniente para comparar com as12 constelaeszodiacais;

    b) embora parea elementar, ainda preciso lembrar que o arranjo de estrelas

    em constelaes totalmente arbitrrio. Em geral podemos encontrar umconjunto de estrelas que reproduzam, aproximadamente, uma dada conste-laozodiacal.

    odas as hipteses astronmicas que se conhece sobre a Itaquatiara de Ing,utilizam a astronomia ocidental. No entanto, tudo indica que as gravuras o-ram eitas pelos indgenas que habitavam a regio.

    odas as etnias indgenas brasileiras pesquisadas pelos autores deste tex-to do maior nase Via Lctea, estrutura celeste visvel, do que eclpti-

    ca, trajetria geomtrica abstrata. A Via Lctea normalmente conhecidapor Caminho da Anta e outros nomes; mas miticamente ela a Moradados Deuses. Assim tambm, as rs Marias so utilizadas para orientao,pois nascem no ponto cardeal leste e se pem no ponto cardeal oeste, massignificam para os indgenas o Caminho dos Mortos. Por isso muitas etniasenterram seus mortos com a cabea voltada para o leste e os ps para o oeste,representando o ciclo da vida.

    Pode-se dizer que existem dois tipos de astronomia indgena: uma relacio-nada com o clima, a auna e a flora do lugar, conhecida pela maioria da comu-

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    nidade e que regula o cotidiano da aldeia, e outra relacionada com os espritos,sendo conhecida apenas pelos pajs e por raras pessoas da comunidade.

    Caso desejassem registrar as constelaes, apenas para marcar o espaoe o tempo, os indgenas de Ing certamente escolheriam figuras menos com-plexas para representar essas constelaes, tais como de elementos ligados sua auna.

    Analisando as gravuras de Ing pode-se identificar acilmente alguns es-pritos da mitologia tupi-guarani. Com base nessas identificaes, o painelpoderia indicar parte da Via Lcteae as gravuras representariam espritosindgenas que eram vistos no cu, ormados por estrelas e por manchas clarase escuras da Via Lctea.

    Fotos de Ing oram mostradas para diversos pajs tupis-guaranis sendo

    que eles reconheceram alguns de seus espritos nas gravuras. Alm disso,eles os nomeiam e so capazes de localiz-los no cu. No se pretende afir-mar que essas gravuras signifiquem os mesmos espritos para os povos quegravaram o painel de Ing.

    Um mito Bororo relatado pelos padres salesianos ala sobre a origem dosnomes das estrelas e das constelaes. Ele narra que um menino era perse-guido por trs espritos da floresta. O pequeno, para escapar, pulou sobre aorquilha de um jatob novo e comeou a suplicar para que ele crescesse e olevasse consigo. O jatob cresceu e o ergueu bem alto no cu. Os espritos, che-

    gando, descobriram o autor dos gritos, empoleirado, ora de seu alcance. Elesresolveram passar a noite, que j se aproximava, ao p da rvore salvadora domenino. Ento as estrelas e constelaes oram aparecendo no horizonte e osespritos, alando por meio de assobios, anunciavam o nome daquelas que iamaparecendo no horizonte. O menino escutava tudo atentamente e tratava defixar na memria o que ouvia. Os espritos, cansados pela espera, tiveram queceder ao sono que os atormentava e dormiram. O menino no perdeu tempo e,enquanto seus perseguidores descansavam, ugiu.

    Os Bororo devem aos espritos, portanto, a denominao das estrelas e

    constelaes, pois o menino a aprendeu deles e a transmitiu a seu povo que autiliza at os dias de hoje.Assim, pode-se supor que a Itaquatiara de Ing poderia servir como lugar

    sagrado, onde estariam representados astros e seus espritos que habitam a ViaLcteae azem parte de seus mitos.

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    Petrglifos e a astronomia indgena

    O etnlogo alemo Teodor Koch-Grnberg (1872-1924) esteve pela pri-meira vez no Brasil em 1899, em viagem ao rio Xingu, M. Em seu livroPetrglios Sul-Americanos, publicado em Berlim no ano de 1907, ele es-creveu que os indgenas gravavam nas rochas em seus momentos de cioe que esses desenhos no possuam nenhum significado (Koch-Grnberg,2010). Felizmente, essa interpretao preconceituosa perde adeptos no meioacadmico a cada dia que passa.

    Na primeira das trs partes desse seu livro, Koch-Grnberg escreve que,muitas vezes, os ndios relacionam esses petrglifoscom seus mitos e len-das, o que vai contra a sua prpria interpretao. em sido verificado que

    essa interpretao indgena de alguns petrglios semelhante para vriasetnias pesquisadas pelos autores deste trabalho, inclusive no alto Rio Negroe no sul do Brasil. Alm disso, s vezes, esses mitos so sobre os astros, prin-cipalmente Sol, Lua e Vnus, alm de suas constelaes e seus deuses quehabitam a Via Lctea.

    O maior valor desse livro est na parte II onde, j no incio, ele escreve:

    A seguir apresento um relatrio dos anos de 1903 a 1905 sobre todos os petrgli-

    fosque vi e na maior parte copiei, ou ento de cuja existncia obtive inormaes

    seguras, no alto rio Negro e seus afluentes, bem como no Pira-Paran, um afluentedo Japur (Koch-Grnberg, 2010).

    As 32 iguras e 29 estampas (quadros com diversas iguras) apresen-tadas por Koch-Grnberg permitem comparar alguns desses petrglifoscom outros, encontrados em dierentes regies brasileiras, cerca de um s-culo depois.

    Por exemplo, em 1998 os autores do presente texto estudaram um painelhorizontal com diversas figuras rupestres, gravadas em baixo relevo em rocha

    com cerca de 10 m x 10 m, encontrado no municpio de Boa Esperana doIguau, PR, perto do local onde oi construda a Usina Hidreltrica de SaltoCaxias, s margens do rio Iguau. Cabe ressaltar que nessa rocha no h ne-nhuma representao de pessoas ou animais, ato que acilita a identificaodas gravuras com temas astronmicos.

    Nesse painel h uma gravura com um crculo no centro, uma circunernciaem volta e dez raios ao redor, parecendo uma representao solar (Figura 7).

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    Figura 7.Representao do Sol no painel de Boa Esperana do Iguau, PR

    H uma gravura semelhante Lua crescendo. Para a maioria das etnias in-dgenas do Brasil, o primeiro dia do ms comea depois da Lua nova, quandoaparece o primeiro filete de Lua no lado oeste, depois do pr do sol. Em upi-Guarani, ms e Lua so designados pela mesma palavra: Jacy. Em geral, nosdesenhos rupestres encontrados que parecem representar a Lua, ela est naorma de incio de Lua crescente (Figura 8).

    Figura 8.Representaoda Luacrescendo, nopainel de BoaEsperana doIguau, PR

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    Outra gravura rupestre representa um Sol, oculto por outro astro do mes-mo tamanho, talvez representando um eclipse solar total (Figura 9).

    Figura 9.Representao de eclipse solar no painel de Boa Esperana do Iguau, PR

    A estampa 3 da pgina 113 do livro Petrglios Sul-Americanos oi ob-tida nas Pedras de Iauaret (Pedras da Ona), no rio Aiari em So Gabriel daCachoeira, AM. Iauaret, em upi, e Jaguaret, em Guarani, significam a onaverdadeira, a ona sagrada, a ona do cu. Segundo o prprio Koch-Grnberg,as figuras a, b e d da estampa 3, que ormam tringulos, so interpretadas pelos

    indgenas como sendo onas.Para os babilnios e para vrias etnias indgenas do Brasil, o tringulo or-mado pelo aglomerado estelar das Hades, com Aldebar, representa os olhos eo ocinho de um animal no cu, sendo Aldebar o seu olho direito, e(psilon)do ouro o olho esquerdo e g, o ocinho. Para os babilnios esse animal otouro e para os tupis-guaranis, a ona.

    O tringulo ormado pelas estrelas Antares, b1, de p(pi), todas da constela-odo Escorpio, tambm ormam a cara de uma ona para os tupis-guaranis,sendo que Antares representa o seu olho direito,b1o olho esquerdo e po ocinho.

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    Essas duas representaes da mesma Ona Celeste ficam em posiesopostas no cu.

    Os eclipses sempre espalharam terror por transormarem em caos a ordemde repetio do Cosmos de eterno retorno. Aparentemente diversos povos an-tigos podiam prever esses enmenos. Mas, por alta de registros, no se co-nhece os mtodos por eles utilizados. Os tupis-guaranis tambm observavamos movimentos do Sol e da Lua e se preocupavam em prever os eclipses.

    Um dos mitos tupis-guaranis sobre os eclipses relata que a Ona semprepersegue os irmos Sol e Lua. Na ocasio do eclipse solar ou lunar, os indgenasazem a maior algazarra, com o objetivo de espantar a Ona Celeste, pois acre-ditam que o fim do mundo ocorrer quando ela devorar a Lua, o Sol e os outrosastros, azendo com que a erra caia na mais completa escurido.

    No cu, o olho direito da ona representado pela estrela vermelha Anta-res, da constelaodo Escorpio e tambm pela estrela vermelha Aldebar, daconstelaodo ouro. Essas duas constelaesficam no zodaco onde, obser-vados da erra, passam o Sol, os planetas e a Lua. Assim, de ato, pelo menosuma noite por ms e um dia por ano, a Lua e o Sol, respectivamente, se aproxi-mam de Antares e de Aldebar.

    Um mito tupi-guarani de eclipse lunar relata que no incio do tempo edo espao, antes de se fixarem no cu, o Sol e seu irmo mais novo, a Lua,habitavam a erra vivendo, juntos, diversas aventuras. Um dia, encontraram

    um esprito malfico, geralmente representado pela Ona, pescando em umrio. Com o objetivo de importunar a Ona, que no havia percebido os doisirmos, o Sol mergulhou e mexeu o anzol, imitando um peixe grande. AOna puxou o anzol vazio, caindo para trs. O Sol repetiu isso por trs vezese em todas elas a Ona caiu de costas. Agora a minha vez, disse a Luasorrindo. A Lua mergulhou e oi deslizando na direo do anzol. No entanto,a Ona oi mais rpida: pescou a Lua e a matou com um basto de madeira.Depois, levou a Lua como se osse um pescado, para comer com sua mulher.Quando estavam cozinhando a Lua, o Sol chegou e oi convidado pela Ona

    para tambm comer o peixe. Ele agradeceu dizendo que aceitaria apenas umpouco de caldo de milho e pediu que no jogassem ora os ossos do peixe,pois gostaria de lev-los consigo. Depois, recolhendo os ossos da Lua, o Sollevou-os para longe e, utilizando a sua prpria divindade, ressuscitou o seuirmo mais novo (Aonso, 2001).

    Assim, um eclipse lunar representa a Lua sendo devorada pela Ona. Acor avermelhada da Lua eclipsada o seu prprio sangue que a oculta. A Luas consegue ressurgir em toda a sua plenitude, como Lua cheia, porque o seuirmo mais velho, o Sol, a ressuscita.

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    Um mito tupi-guarani de eclipse solar conta que quando queria comer pei-xe, o Sol levava seu filho para lavar os ps no rio. Dessa maneira, os peixesficavam atordoados e ceis de pegar. Certo dia, enquanto o Sol e seu filhopescavam, o esprito do mal representado pela Ona, apareceu e pediu em-prestado o menino, dizendo que ele tambm queria pegar alguns peixes. O Sol,sem nada desconfiar, emprestou seu filho. No entanto, a Ona levou o filho doSol para a floresta e lhe golpeou o corpo todo, como se golpeia o cip timb, eo jogou no rio. Assim conseguiu pegar muitos peixes. Dessa maneira a Onamostrou como os indgenas deveriam azer com o timb, para ser utilizadocomo veneno de pescar.

    Devido aos golpes, a Ona matou o filho do Sol que ficou urioso, ata-cando o esprito malfico. Os dois lutaram muito, derrubando um ao ou-

    tro. Quando a Ona pensou que havia vencido a batalha, o Sol levantou-senovamente augentando a Ona. As consequncias dessa luta so, at hoje,os eclipses solares que, para os indgenas, representam uma Ona que tentadevorar o Sol (Aonso, 2001).

    Esses mitos sobre os eclipses demonstram o grande conhecimento empri-co de astronomia dos indgenas que habitam o Brasil.

    No painel de Salto Caxias h diversas gravuras iguais do Sol, no entantosem raios, que parecem representar estrelas e constelaes indgenas (Figura 10).

    Figura 10.Representao deestrelas e de constelao indgenano painel de Salto Caxias, PR

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    H, tambm, gravura ormada por circunerncia, que envolve sete crculosde mesmo dimetro e um maior, localizado no centro. Para os tupis-guaranis,essa gravura pode representar uma conjuno entre Vnus e as Pliades, sendoque o crculo maior representa Vnus e os sete crculos menores representamas Pliades (Figura 11).

    Figura 11.Representao de Vnus e das Pliades no painel de Salto Caxias, PR

    Na descrio dessa Figura em seu livro, onde tambm h uma circunern-cia envolvendo sete crculos, Koch-Grnberg escreve:

    Na margem esquerda do rio Negro, deronte da vila So Felipe, achavam-se antiga-

    mente algumas figuras numa pedra plana. Essa pedra oi explodida e utilizada para

    calamento em So Felipe. Numa pedra pude ainda reconhecer a figura ao lado,

    um crculo com muitas covinhas rasas, que chamada de Pliades pelos ndios

    (Koch-Grnberg, 2010).

    Isso mostra o grande significado que tinha esse aglomerado estelar paradiversas etnias que habitavam o Brasil.

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    Os tupis-guaranis contam o seguinte mito de Vnus e das Pliades:

    No incio do tempo e do espao (Ara, em guarani), vrios espritos e deuses va-

    gavam pela erra, liderados pelo esprito do bem, Angatupyry, e o do mal, a,

    criados por Nhanderuet (nosso pai divino), para indicarem ao ser humano os ca-

    minhos que podia seguir em sua vida.

    Na poca em que os Guaranis passavam por grandes dificuldades, principalmente

    com a alimentao, nasceu uma criana muito bonita chamada Keran, considera-

    da a deusa do sono, porque passava a maior parte do tempo dormindo. Enquanto

    estava acordada, todos se admiravam de sua bondade e inteligncia.

    A extrema beleza de Keran atraiu a ateno de a, que se apaixonou por ela,quis t-la para esposa e a raptou. Os outros deuses icaram muito irados com a

    atitude malvola de a e resolveram castig-lo, azendo com que o casal tivesse

    sete ilhos monstros: ej-Jagu, Mboi-tui, Moai, Jasy-Jater, A-A, Kurup

    e Huich.

    O tempo passava e a vida dos Guaranis tornava-se cada vez mais dicil, devido

    influncia maligna dos sete irmos monstros que provocavam ome, dio e luta

    entre os Guaranis.

    Decidido a colocar ordem na aldeia e apaziguar os nimos, o sbio Pai Sum reuniu

    os caciques e pajs em uma grande assembleia para discutir o problema e elaborar

    um plano a fim de destruir os monstros.

    Pai Sum tinha uma irm muito bonita, Porsy, considerada a me da beleza,

    que se oereceu para ajudar, sacriicando-se em nome de seu povo. Ela ez-se

    mais bela ainda, eneitou-se de lores, cores e plumas, perumou-se com as mais

    puras ragrncias da natureza e oi, em uma caverna, visitar Moai que, cego

    com tanta beleza, se deixou seduzir. Seguindo o planejado e j com Moai aseus ps, Porsy convenceu-o a reunir os irmos para a cerimnia de casamento

    de ambos.

    Como ej-Jagu no poderia ir devido sua deormidade, seus irmos resolveram

    azer a grande esta em uma gruta perto de onde ele morava. Porsy, lindamente

    vestida com suas roupas de npcias, encantava a todos e lhes servia bebidas alco-

    licas at deix-los totalmente bbados.

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    Quando os irmos monstros estavam embriagados, sem oras para oerecer qual-

    quer resistncia, o inguau, uma ave que conhecida popularmente como Alma

    de Gato Branca (gnero Attila) voou e cantou para alertar os Guaranis.

    Pai Sum e seus seguidores se prepararam para echar a entrada da gruta, depois

    que a noiva ugisse dela. Porm, quando ela tentou sair, Moai percebeu a armadi-

    lha, agarrou-a e a obrigou a ficar na gruta com ele. Nessa situao, Porsy gritou im-

    plorando para que echassem imediatamente a entrada e ateassem ogo, seguindo o

    plano preestabelecido. Os seus amigos, mesmo sorendo com o sacricio da moa,

    echaram a entrada com pedras, juntaram lenhas e atearam ogo, matando todos os

    que ficaram presos na gruta.

    Na madrugada o esprito de Porsy, em orma de perumada umaa colorida, saiuda gruta, subiu aos cus e se transormou no planeta Vnus quando aparece de ma-

    drugada. Ele chamado de Mbyj Koe (Estrela Matutina) pelos Guaranis, repre-

    sentando uma deusa muito linda e de grande ora sica destinada pelos deuses a

    iluminar as auroras at o fim dos tempos, anunciando o nascer do Sol e orientando

    as pessoas que viajam de madrugada.

    Os sete irmos monstros consumiram-se no ogo durante sete dias e sete noites,

    tempo necessrio para atingirem a purificao. Depois, subiram ao cu em orma

    de nuvem e, reunidos, ormaram o aglomerado estelar das Pliades, chamado pelosGuaranis de Eixu (Favo de Mel).

    Olhando para Eixu, os Guaranis identificam os sete irmos que, pela ordem de-

    crescente de brilho so: ej-Jagu, Mboi-tui, Moai, Jasy-Jater, Kurup, A-A e

    Huich, respectivamente.

    Keran, a me dos sete monstros, isolou-se no alto de uma montanha e morreu de

    tristeza por ter perdido seus filhos, tambm se transormando em estrela. a, seu

    marido apaixonado, sendo imortal, implorou aos deuses que o deixassem morrer. Elesatenderam seu pedido e o transormaram em uma estrela, acompanhando Keran.

    Assim, ao lado de Eixu, um pouco aastadas, existem duas estrelas brilhantes, repre-

    sentando a e Keran que continuam, para sempre, cuidando e protegendo seus

    amados filhos (Aonso, 2001).

    A maior das gravuras de Salto Caxias, PR, tem mais de 2 m de com-primento e parece representar um cometa. Ele possui ncleo, cabeleira e

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    cauda sendo, possivelmente, grande e brilhante, como mostra o detalhe dasua cauda encurvada. Assim, pode-se supor que o objetivo principal dessepainel osse registrar a observao de um grande cometa pelos indgenasbrasileiros, muito antes da chegada dos europeus. Nesse local, hoje sub-merso pelas guas da Usina de Salto Caxias, possivelmente oram realiza-dos rituais e rezas, em virtude da apario do cometa que quebrava a ordemdo universo e amedrontava o povo (Figura 12).

    Figura 12.Representao de cometa no painel de Salto Caxias, PR

    Em 1999 os autores deste texto encontraram em Pira do Sul, PR, gra-vura rupestre que parecia representar a conjuno de dois planetas muitobrilhantes, tais como Vnus e Jpiter, Vnus e Saturno ou Jpiter e Saturno(Figura 13).

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    Figura 13.Representao de conjuno de planetas encontrada em Pira do Sul, PR

    A oto dessa gravura oi mostrada aos guaranis do Paran e eles disseramtratar-se da representao de dois planetas. Mas, se dois planetas tivessemchegado to prximos, praticamente juntos, vistos da erra, deveria havermais registros desse belo enmeno da natureza. Na primeira parte de seulivro, Koch-Grnberg tambm critica, veementemente, as interpretaes dospetrglifos venezuelanos eitas pelo seu colega alemo A. Ernst, chaman-do-o inclusive de antasioso pesquisador. Escreveu que, para Ernst, Cadadois crculos concntricos que se tocam e dos quais saem riscos em orma de

    raio (Figura 2) devem reerir-se seguramente a um acontecimento astron-mico, como o aparente encontro de dois planetas (Vnus e Jpiter, por exem-plo) (Koch-Grnberg, 2010). Mostrando cpia dessa figura para indgenasde diversas etnias do Amazonas e para os guaranis do Paran, todos elesconcordaram com a interpretao de Ernst, embora j tenham se passadomais de cem anos, desde a publicao dessa oto pelo antasioso pesquisa-dor (Ernst, 1889).

    Os monumentos megalticos e a arte rupestre pr-histrica so as ontesmais importantes de inormaes de que dispomos sobre os primrdios da

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    arte, do pensamento e da cultura humana. Neles encontramos arqutipos e pa-radigmas, que constituem a base de nosso ser e que, at hoje, neles se mantmproundamente arraigados. Portanto, eles devem ser estudados sem os exage-ros das hipteses antsticas de que oram eitos por seres extraterrestres, nemdas preconceituosas que as tratam como simples cio dos indgenas.

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