ARQUEOLOGIA DE UMA FÁBRICA DE FERRO: MORRO DE …
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ARQUEOLOGIA DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO MORRO DE ARACcedilOIABA
SEacuteCULOS XVI-XVIII
ANICLEIDE ZEQUINI
Satildeo Paulo Dezembro de 2006
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UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Museu de Arqueologia e Etnologia
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ARQUEOLOGIA
ARQUEOLOGIA DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO MORRO DE ARACcedilOIABA SEacuteCULOS XVI-XVIII
Anicleide Zequini
Tese apresentada ao programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Arqueologia do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de Satildeo Paulo para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutor em Arqueologia
Orientadora Professora Doutora Margarida Davina Andreatta
Satildeo Paulo 2006
3
Aos meus Pais Francisco Zequini
e Dirce da Costa Zequini e Ismar
4
AGRADECIMENTOS
Durante a primeira visita ao Siacutetio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha da Floresta
Nacional de Ipanema em Iperoacute Satildeo Paulo no ano de 2003 tive oportunidade de
conhecer o objeto de estudo desta Tese as evidecircncias da Faacutebrica de Ferro com a
sua respectiva vala da roda e os inuacutemeros artefatos que haviam sido recolhidos
durante as escavaccedilotildees Naquela oportunidade fui gentilmente recebida pela Sra
Janette Gutierrez a quem deixo meus agradecimentos extensivo aquela
Instituiccedilatildeo
Recebi ainda no transcorrer do meu trabalho importantes informaccedilotildees das
Sras Vivian Cristiane Fernandes e Nair Tanabe Tomiyama ambas do Nuacutecleo de
Arqueologia da Universidade Braz Cubas assim como das Sras Socircnia Paes do
Museu Histoacuterico Sorocabano e Marizia Tonelli
Agradeccedilo tambeacutem ao Sr Joseacute Monteiro Salazar o qual gentilmente me
recebeu em sua residecircncia em Boituva SP um apaixonado pela Historia de
Ipanema o qual contou fatos de grande interessante sobre a descoberta das
ruiacutenas assuntos que incorporei na minha Tese
Em marccedilo deste mesmo ano apresentei minha qualificaccedilatildeo oportunidade
em que recebi valiosas sugestotildees das Professoras Doutoras Heloiacutesa Maria
Silveira Barbuy e Elaine Farias Veloso Hirata a quem agradeccedilo
Finalmente eacute com admiraccedilatildeo e especial carinho que agradeccedilo a minha
orientadora a Professora Doutora Margarida Davina Andreatta com quem tive a
oportunidade de discutir longamente os conceitos e detalhes deste meu trabalho
Os seus conhecimentos e a responsabilidade com que conduziu a orientaccedilatildeo
foram fundamentais para a elaboraccedilatildeo desta Tese assim como para minha
proacutepria formaccedilatildeo em Arqueologia em especial na Arqueologia Histoacuterica
5
SUMAacuteRIO
Iacutendice 06 Iacutendice das Figuras 10 Resumo 14 Abstract 15 Introduccedilatildeo 16 Capiacutetulo I 19 Capiacutetulo II 47 Capiacutetulo III 83 Capiacutetulo IV 109 Capitulo V 126 Capitulo VI 167 Consideraccedilotildees finais 193 Bibliografia 195 Glossaacuterio 214 Anexos 220
6
IacuteNDICE INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO 1 O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA QUESTOtildeES DA ARQUEOLOGIA HISTOacuteRICA 11 Contexto do presente trabalho 19
111 Avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos 19 112 Histoacuterico das descobertas das ruiacutenas 26 113 Consideraccedilotildees sobre a metodologia 32
114 Descriccedilatildeo geral das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas 37
12 Principais questotildees a serem abordadas no decorrer da Tese 46
CAPITULO 2 A TECNICA DE PRODUCcedilAtildeO DE FERRO NO PERIODO ENTRE OS SEacuteCULOS XVI AO XVIII 21 Consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia 47 22 O conceito de Teacutecnica 50 23 A valorizaccedilatildeo do conhecimento teacutecnico e a ciecircncia
experimental moderna 53 2 4 A Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica 55
25 A Teacutecnica de produccedilatildeo do ferro 59
26 Fornos de fundiccedilatildeo de ferro 64
27 Tratados Teacutecnicos de Metalurgia 78
CAPITULO 3 HISTOacuteRICO DA MINERACcedilAtildeO NO BRASIL COLONIAL 31 As primeiras expediccedilotildees mariacutetimas a busca dos metais nobres 83 32 O Peabiru uma trilha para o Sertatildeo 85 33 O descobrimento da prata em Potosi 88 34 A busca de metais nobres na Capitania de Satildeo Vicente 90 35 D Francisco de Sousa a organizaccedilatildeo da exploraccedilatildeo mineral 91
7
36 Teacutecnicos e praacuteticos na mineraccedilatildeo e metalurgia 94 37 A Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro 96
38 A Faacutebrica de Ferro do morro de Araccediloiaba os empreendedores 99 39 A Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema 103 CAPIacuteTULO 4 O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 41 Localizaccedilatildeo 109 42 A vegetaccedilatildeo 116 43 Rios e ribeirotildees
44 A magnetita o mineacuterio do morro de Araccediloiaba 119
45 Fatores fisiograacuteficos da ocupaccedilatildeo europeacuteia 123
CAPIacuteTULO 5 INVESTIGACcedilOtildeES ARQUEOLOacuteGICAS AS EVIDENCIAS DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO 126
51 Estruturas hidraacuteulicas para a produccedilatildeo da forccedila motriz 129
511 O Canal de Derivaccedilatildeo 129
512 A Vala da Roda 132
5121 Evidecircncias de esteios 134 52 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 137 521 Area ldquoCrdquo 137 522 A Aacuterea B (ldquoForjardquo) 139
53 Area E Sul da Faacutebrica de Ferro 150 531 Fornos de fundiccedilatildeo na aacuterea externa da Faacutebrica (Aacuterea A1) 155 531 Forno de Fundiccedilatildeo 1 157 532 Fornos de fundiccedilatildeo da Aacuterea A2 159 5321 Forno de fundiccedilatildeo 1 (aacuterea A2) 161 5322 Forno de fundiccedilatildeo 2 (aacuterea A2) 165
CAPITULO 6 INTERPRETACcedilOtildeES DOS DADOS ARQUEOLOacuteGICOS 61 Avaliaccedilatildeo das caracteriacutesticas do Arranjo das Estruturas 167 62 As ldquoferreriacuteasrdquo de aacutegua na Peniacutensula Ibeacuterica 170 63 Sistema hidraacuteulico produccedilatildeo da forccedila motriz 175
8
631 Dique de represamento do ribeiratildeo do Ferro 175 632 Canal de Derivaccedilatildeo das aacuteguas 176 633 Vala da roda 177 634 A Caixa de Aacutegua - ldquoBanzaordquo 179 635 A roda hidraacuteulica 180 6 4 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 183
641 A Oficina da Faacutebrica de Ferro 183 6411 O Malho 188 6412 Fornos de fundiccedilatildeo e foles 190 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 193 BIBLIOGRAFIA 195 GLOSSAacuteRIO 214 ANEXOS 220 1 Relatoacuterio de Ensaio ndash Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo ndash FATEC 2 Inventaacuterio de Peccedilas Ceracircmica 3 Inventario de Peccedilas Liacutetico 4 Inventaacuterio de Peccedilas Louccedilas 5 Inventaacuterio de Peccedilas Telhas 6 Inventaacuterio de Peccedilas Metal 7 Tratado da Arte de ensaiar e fundir cobre ferro e accedilo Ano de 1691 8 Aranzel ou Roteiro de haveres de oiro e pedras preciosas Ano de 1696 9 Planta Geral da aacuterea pesquisada Siacutetio Afonso Sardinha (Mapa 1) 10 Mapeamento das aacutereas de decapagem e escavaccedilatildeo ( Mapa 2) 11 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de lacircminas de metal (Mapa 3)
9
12 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de escoacuterias (Mapa 4) 13 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de blocos de arenito (Mapa 5) 14 Aacuterea E ndash Concentraccedilatildeo de cravos de metal (Mapa 6) 15 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de telhas (Mapa 7)
10
INDICE DAS FIGURAS
1 Mapa de localizaccedilatildeo da FLONA ndash Ipanema 2 Mapa de localizaccedilatildeo do Siacutetio Afonso Sardinha 3 Desenho esquemaacutetico da localizaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro 4 Aspecto do Siacutetio Afonso Sardinha 1983 5 Iniacutecio das pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio Afonso Sardinha 1983 6 Reuniatildeo de trabalhos 1984 7 Aspecto da Faacutebrica de ferro em 1987 8 Planta do Siacutetio Afonso Sardinha aacutereas A1 e A2 9 Planta da aacuterea A1 10 Vista Geral da aacuterea A1 11 Vista Geral da aacuterea A2 12 Planta da aacuterea A2B detalhe 13 Planta do morrote A2B 14 Aacuterea A2 morrote e evidencias de fornos de fundiccedilatildeo 15 Corte esquemaacutetico de um forno baixo 16 Maquete de forno de fundiccedilatildeo (Celta) 17 Forno de fundiccedilatildeo (romano) 18 Fornos de fundiccedilatildeo de lupa ou de vento 19 Corte esquemaacutetico de fornos de fundiccedilatildeo de lupa ou de vento 20 Fornos de fundiccedilatildeo de Guaira (Potosi)
11
21 Fornos de fundiccedilatildeo seacuteculo XVI 22 Fornos de Fundiccedilatildeo seacuteculo XVI 23 Arranjo funcional de uma Faacutebrica de Ferro 24 Elementos que compotildeem uma ldquoFarga Catalanrdquo 25 Traccedilado do Peabiru (Tronco de Satildeo Vicente) 26 Mapa do Peabiru feito por Pasquale Petrone 27 Prospecto das ruiacutenas da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro 28 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro de Ipanema 1827 29 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro de Ipanema seacuteculo XIX 30 Altos fornos geminados construiacutedos por Varnhagem 1818 31 Alto forno construiacutedo pelo Cel Mursa 1888 32 Roteiro Histoacuterico da Mineraccedilatildeo e metalurgia paulista 33 Mapa Geoloacutegico do Morro de Araccediloiaba 34 Bloco diagrama da regiatildeo da Serra de Araccediloiaba 35 Vista geral do morro de Araccediloiaba I 36 Vista geral do morro de Araccediloiaba II 37 Magnetita 38 Limpeza do Siacutetio Afonso Sardinha 1984 39 Equipe de trabalho 1988 40 Vista geral da aacuterea E 1988 41 Dimensotildees da Vala da roda e localizaccedilatildeo da evidecircncias de esteios 42 Vala da roda hidraacuteulica 1987 - I 43 Vala da roda hidraacuteulica 1987 ndash II 44 Evidecircncias de esteios
12
45 Detalhe da evidecircncia de esteios 46 Detalhe de um esteio 47 Topografia do terreno da aacuterea C 48 Vista geral da aacuterea C 1987 49 Reconstituiccedilatildeo das paredes da aacuterea B 1984 50 Evidecircncias de paredes da aacuterea B 1984 51 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - I 52 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - II 53 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - III 54 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI - I 55 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI - II 56 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI ndash III 57 Vasilhame de ceracircmica (0122) aacuterea B seacuteculo XVI ndash I 58 Vasilhame de ceracircmica (0122) aacuterea B seacuteculo XVI ndash II 59 ldquoTijelardquo faianccedila [seacuteculo XVII] 60 Escoacuteria ndash restos de fundiccedilatildeo aacuterea E 61 Telha (0115) aacuterea E seacuteculo XVIII 62 Telha aacuterea E 63 Telha aacuterea E 64 Raspador plano convexo aacuterea E 65 Garrafa de greacutes aacuterea A ndash forno1 66 Decapagem aacuterea A forno 1 67 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A1 68 Morrote e vestiacutegios de fornos de fundiccedilatildeo aacuterea A2
13
69 Croqui da aacuterea A2 morrote B 70 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A2 71 Croqui do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A2 72 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 - I 73 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 ndash II 74 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 ndash III 75 Aspecto de uma ldquoferreriacutea de aacuteguardquo seacuteculo XVII 76 Sistema de ldquopujoacuten tuortordquo 77 Trabalho de extraccedilatildeo da ldquobola de ferrordquo ou ldquomassa de ferro 78 Traccedilado esquemaacutetico do Canal de Derivaccedilatildeo aacuterea A1 (Interpretaccedilatildeo) 79 rdquo Depoacutesito de aacutegua soluccedilatildeo ldquoBanzaordquo 80 localizaccedilatildeo do malho e da roda hidraacuteulica (Interpretaccedilatildeo) 81 Faacutebrica de Ferro do Siacutetio Afonso Sardinha arranjo dos equipamentos (interpretaccedilatildeo) 82 Faacutebrica de Ferro Planta baixa (interpretaccedilatildeo) 83 Faacutebrica de Ferro aacuterea erodida (Interpretaccedilatildeo)
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RESUMO
Esta Tese tem como objetivo analisar a pesquisa arqueoloacutegica e os
artefatos coletados no Sitio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha localizado no morro de
Araccediloiaba Iperoacute - Satildeo Paulo
O resultado da anaacutelise permitiu concluir que a aacuterea corresponde a um
campo de mineraccedilatildeo de ferro com a presenccedila de evidecircncias de uma Faacutebrica de
Ferro de um sistema de aproveitamento de energia hidraacuteulica para movimentar
os equipamentos e ferramentas destinadas a produccedilatildeo e de fornos de fundiccedilatildeo
Aleacutem disso a dataccedilatildeo do material ceracircmico (vasilhames e telhas) indica que as
atividades de exploraccedilatildeo do mineacuterio tiveram iniacutecio no seacuteculo XVI
Palavras-Chaves Arqueologia Histoacuterica Floresta Nacional de Ipanema Teacutecnica
de produccedilatildeo de ferro Colonial Sitio Afonso Sardinha morro de Araccediloiaba Iperoacute-
SP
15
ABSTRACT This Thesis has the goal to analyze archaeological research and artifacts
found in Afonso Sardinha Archaeological site located on Mount Araccediloiaba Iperoacute
Satildeo Paulo
The analysis result leads to the conclusion that the area corresponds to iron
mining field with the presence of Iron Factory evidence a system that makes use
of hydraulic power to move the equipment and tools used in the production and
small ovens to melt iron Besides the ceramic date (pots and tiles) indicates that
mineral digging activities began in the 16th century
Key words History Archeology Ipanema National Forest Colonial Iron
Production Technique Archeological Site Afonso Sardinha Mount Araccediloiaba
Iperoacute-SP
16
INTRODUCcedilAtildeO
A presente Tese busca analisar sob o ponto de vista da Arqueologia
Histoacuterica os resultados da pesquisa arqueoloacutegica desenvolvida pela pesquisadora
e arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta entre os anos de 1983 a 1989 na aacuterea
do siacutetio arqueoloacutegico Afonso Sardinha localizado no morro de Araccediloiaba
municiacutepio de Iperoacute a cerca de quinze quilocircmetros da cidade de Sorocaba Satildeo
Paulo
Os estudos desenvolvidos consideraram apenas os fatos relacionados agrave
exploraccedilatildeo e fabricaccedilatildeo do ferro no morro de Araccediloiaba desde finais do seacuteculo
XVI ateacute o seacuteculo XVIII portanto antes da instalaccedilatildeo do Estabelecimento
Montaniacutestico de Extraccedilatildeo de Ferro das Minas de Sorocaba em 1810 e mais tarde
com a denominaccedilatildeo de Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
O resultado final do trabalho do levantamento de campo formou um
conjunto vasto e consolidado em textos de Diaacuterios de Campo escritos pela
pesquisadora correspondecircncias levantamentos topograacuteficos planos de
escavaccedilatildeo croquis e desenhos geomeacutetricos de plantas das ruiacutenas croquis de
cortes estratigraacuteficos e de reconhecimento das escavaccedilotildees Inventaacuterio de Peccedilas e
fotografias tudo devidamente registrado em relatoacuterios da pesquisa arqueoloacutegica
17
Os artefatos coletados durante as investigaccedilotildees de campo foram
acondicionados em caixas devidamente protegidas e identificadas e depositadas
nas dependecircncias do Museu do Centro de Visitantes da FLONA de Ipanema
Foram desenvolvidos trabalhos de reconhecimento e anaacutelise detalhada dos
registros arqueoloacutegicos que resultaram da pesquisa de campo e em seguida
interpretadas as informaccedilotildees anteriormente consolidadas com base nos
conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia
Na elaboraccedilatildeo da siacutentese interpretativa foi necessaacuterio valer-se de
instrumentos disponiacuteveis em outras aacutereas do conhecimento tais como Geologia
Mineralogia Metalurgia Engenharia dentre outras aacutereas
Tambeacutem foram elaborados exames visuais e catalograacuteficos visando a
dataccedilatildeo relativa assim como foram encaminhadas amostras de ceracircmica as
quais foram submetidas a testes de dataccedilatildeo absoluta com base em ensaios de
Termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade de
Tecnologia de Satildeo Paulo - FATEC
Por outro lado amostras de resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias) foram
ensaiadas em laboratoacuterio para anaacutelise quiacutemica-mineraloacutegica no Departamento de
Mineralogia e Geotectocircnica GMG do Instituto de Geociecircncias da Universidade de
Satildeo Paulo
No Capiacutetulo 1 O Siacutetio Afonso Sardinha questotildees da Arqueologia Histoacuterica
optamos por colocar uma siacutentese dos achados arqueoloacutegicos no Sitio Afonso
Sardinha sendo que com base nas informaccedilotildees disponiacuteveis foram expostas as
questotildees da Arqueologia Histoacuterica que resultaram das investigaccedilotildees de campo e
de laboratoacuterio assim como das pesquisas bibliograacuteficas
No Capitulo 2 A Teacutecnica de Produccedilatildeo de Ferro no periacuteodo entre os
seacuteculos XVI ao XVIII foram analisadas e discutidas as questotildees conceituais da
18
teacutecnica e da tecnologia relacionadas a metalurgia no periacuteodo de interesse desta
Tese compreendido entre os seacuteculos XVI e XVIII Para compreensatildeo dos
processos de produccedilatildeo de ferro foram apresentadas descriccedilotildees dos
procedimentos de fabricaccedilatildeo bem como ilustraccedilotildees das ferramentas
equipamentos e maacutequinas em uso naquele estaacutegio do conhecimento teacutecnico
O Capiacutetulo 3 Histoacuterico da Mineraccedilatildeo no Brasil Colonial trata de uma
avaliaccedilatildeo da historiografia disponiacutevel sobre as atividades de mineraccedilatildeo no Brasil
e particularmente para o caso da entatildeo Capitania de Satildeo Vicente merecendo
esclarecer que parte destas obras foi produzida na primeira metade do seacuteculo XX
Aleacutem disso foram consultados documentos do Arquivo Municipal de Satildeo Paulo
do Arquivo do Estado de Satildeo Paulo e Biblioteca e Arquivo do Museu Histoacuterico
Sorocabano
No Capiacutetulo 4 O Sitio Afonso Sardinha apresenta-se a localizaccedilatildeo
geograacutefica as caracteriacutesticas geoloacutegicas e geomorfoloacutegicas do morro de
Araccediloiaba a vegetaccedilatildeo a hidrografia recursos minerais com destaque especial
para a presenccedila da Magnetita Finalmente oferece-se um contexto sucinto a
respeito da ocupaccedilatildeo colonial e a presenccedila de naturalistas viajantes inclusive
Saint Hilaire em 1919
No Capiacutetulo 5 Investigaccedilotildees Arqueoloacutegicas as evidencias de uma Faacutebrica
de Ferro com base em todos os dados que resultaram da pesquisa de campo
foram desenvolvidos trabalhos sendo que num primeiro momento relacionados
ao reconhecimento e anaacutelise detalhada dos registros arqueoloacutegicos fornecidos
pela pesquisa acima mencionada
No uacuteltimo Capiacutetulo de nuacutemero 6 Interpretaccedilotildees dos dados arqueoloacutegicos
buscou-se elaborar uma interpretaccedilatildeo das informaccedilotildees consolidadas nos
documentos produzidos a partir dos conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e
Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia
19
CAPIacuteTULO 1
O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA QUESTOtildeES DA ARQUEOLOGIA HISTOacuteRICA O presente Capiacutetulo tem por objetivo indicar um conjunto de questotildees que
deveratildeo ser analisadas no decorrer da elaboraccedilatildeo desta Tese as quais
emanaram dos resultados alcanccedilados pelas pesquisas arqueoloacutegicas realizadas
no siacutetio Afonso Sardinha pela pesquisadora e arqueoacuteloga Margarida Davina
Andreatta
Para melhor compreensatildeo dos fatos que fazem parte do contexto do
presente trabalho tendo em vista a identificaccedilatildeo daquelas questotildees satildeo
apresentados a) uma avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos que tratam de assuntos
relacionados ao siacutetio arqueoloacutegico b) um histoacuterico da descoberta das ruiacutenas c)
consideraccedilotildees sobre a metodologia utilizada d) uma descriccedilatildeo geral resumida
das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas
11 Contexto do presente trabalho 111 Avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos
As primeiras notiacutecias relacionadas agraves minas de ferro do Morro de
Araccediloiaba e com os trabalhos de fundiccedilatildeo daquele mineacuterio foram dadas por
Pedro Taques de Almeida Paes Leme (1714-1777) Aleacutem de sua obra mais
conhecida a Nobiliarquia Paulistana Histoacuterica e Genealoacutegica escreveu a Histoacuteria
da Capitania de Satildeo Vicente e um compecircndio sobre a exploraccedilatildeo e a legislaccedilatildeo
mineira intitulado Noticia das Minas de Satildeo Paulo e dos Sertotildees da mesma
Capitania
20
Neste uacuteltimo trabalho escrito na segunda metade do seacuteculo XVIII afirmou
ter sido o bandeirante Afonso Sardinha e seu filho mameluco do mesmo nome
ldquoos que tiveram a gloacuteria de descobrir ouro de lavagem nas Serras de
Jaramimbaba e do Jaraguaacute em Satildeo Paulo na de Votoruna em Parnaiacuteba e na
Biraccediloiaba no Sertatildeo do Rio Sorocaba ouro prata e ferro pelos anos de 1597rdquo
(TAQUES 1954 p 112) Em Notiacutecias Genealoacutegicas citado por Nicolau de
Campos Vergueiro PedroTaques completa aquela informaccedilatildeo indicando que
Afonso Sardinha havia construiacutedo uma faacutebrica e dois fornos de ferro em
Biraccediloiaba e que havia doado um dessas Faacutebricas agrave D Francisco de Souza
quando ldquoem pessoa passou a Biraccediloiaba no ano de 1600rdquo (VERGUEIRO 1978
p6)
Taques escreveu suas obras dentro de um contexto em que os trabalhos
historiograacuteficos buscaram dar um enfoque positivo a participaccedilatildeo bandeirante na
histoacuteria de Satildeo Paulo e ao mesmo tempo contrapor todas as outras narrativas
que haviam sido escritas nos seacuteculos anteriores sobretudo pelos Jesuiacutetas
Assim firmou para que Afonso Sardinha e seu filho passassem para a Histoacuteria
como tendo sido os descobridores daquelas minas e os pioneiros na fabricaccedilatildeo
do ferro no Morro de Araccediloiaba
Entre os veiacuteculos de divulgaccedilatildeo dessa historiografia estaacute o Instituto
Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo e do Brasil (sediado na cidade do Rio de
Janeiro) sendo este uacuteltimo responsaacutevel pela divulgaccedilatildeo das obras de Pedro
Taques1 Por outro lado aquelas afirmativas foram reforccediladas pelo
1 Os Institutos Histoacutericos e Geograacuteficos foram junto com os Museus brasileiros os primeiros e mais importantes espaccedilos que existiam no seacuteculo XIX para a pesquisa de humanidades e para a ciecircncia em geral no Brasil O Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo seraacute uma instacircncia de produccedilatildeo a afirmar uma suposta especificidade paulista elaborar tradiccedilotildees do estado ndash atraveacutes de biografias de seus vultos estudos sobre o passado da proviacutencia etc Nesse sentido eacute tambeacutem uma historiografia com teor ciacutevico paulista sobretudo mas que buscava afirmar a prevalecircncia de Satildeo Paulo perante a naccedilatildeo como um todo releitura da figura do bandeirante no sentido de elevaacute-lo agrave condiccedilatildeo de construtor da naccedilatildeo ROMANCINI Richard Inventando tradiccedilotildees os historiadores e a pesquisa inicial sobre o jornalismo II Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho Florianoacutepolis de 15 a 17 de abril de 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwjornalismoufscbrredealcarcdgrupos20de20trabalho20de20historia20da20midiahistoria20dos20jornalismotrabalhos_selecionadosrichard_romancinidocgt Acesso em 060706
21
desaparecimento de total ou significativa parcela dos documentos que
constituiacuteram as fontes pesquisadas por aquele autor tais como os arquivos do
Primeiro Cartoacuterio dos Oacuterfatildeos de Satildeo Paulo os da Provedoria da Real Fazenda e
os da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo2
Aleacutem disso uma significativa parcela dos trabalhos publicados entre os
seacuteculos XIX e XX sobre as atividades metaluacutergicas desenvolvidas no morro de
Araccediloiaba estavam voltados para as anaacutelises sobre os aspectos da geografia
historia mineralogia botacircnica e geologia a partir da implantaccedilatildeo da Real Faacutebrica
de Ferro de Ipanema fundada em 1810 3 Quanto aos periacuteodos anteriores a fonte
de informaccedilatildeo sempre foi a obra de Pedro Taques a qual foi amplamente
difundida com a publicaccedilatildeo da obra de Azevedo Marques intitulada
Apontamentos histoacutericos geograacuteficos bibliograacuteficos e estatiacutesticos da proviacutencia de
Satildeo Paulo em 1879
A construccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema estaacute inserida no acircmbito
da implementaccedilatildeo de poliacuteticas voltadas para favorecer a transferecircncia para a
colocircnia de todo o aparelho institucional do reino a partir da chegada de D Joatildeo VI
a cidade do Rio de Janeiro4 Entre os projetos estava a implantaccedilatildeo e
desenvolvimento da siderurgia no Brasil a partir da exploraccedilatildeo das jazidas de
ferro jaacute conhecidas como as do Morro de Araccediloiaba na Proviacutencia de Satildeo Paulo e
das jazidas de ferro de Minas Gerais localizadas nos atuais municiacutepios de
Congonhas do Campo e Gaspar5
2 Os arquivos da Provedoria foram destruiacutedos por uma enchente do Tamanduateiacute em 1929 Dos outros arquivos restam apenas poucos exemplares e que estatildeo incompleto como o das Atas da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo RODRIGUES Leda Maria Pereira As Minas de ferro em Araccediloiba (Satildeo Paulo Seacuteculos XVI-XVII-XVIII) Annais do III Simpoacutesio dos Professores Universitaacuterios de Histoacuteria Franca 1966 p 171 3 A Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema inicia suas atividades a partir da promulgaccedilatildeo da Carta Reacutegia de 4 de dezembro de 1810 Esta carta conteacutem instruccedilotildees para o funcionamento de uma faacutebrica de ferro em Sorocaba Em 1895 encerra definitivamente as suas atividades Ver bibliografia 4 Com a presenccedila de D Joatildeo VI foi promulgada em 1808 a abertura dos portos para o comeacutercio e um alvaraacute que revogava o Decreto de D Maria I de 1785 referente a proibiccedilatildeo da abertura de faacutebricas e manufaturas no estado do Brasil e Domiacutenios Ultramarinos 5 As minas de ferro de Gaspar Soares deram origem a Real Faacutebrica de Ferro de Gaspar Soares cuja direccedilatildeo foi dada ao Intendente Manuel Ferreira da Cacircmara Em 1811 tambeacutem para o Brasil o teacutecnico alematildeo Gotthelft Von Feldner com a incumbecircncia de examinar as minas receacutem
22
Para dar andamento agravequeles projetos foram trazidos para o Brasil o
mineralogista alematildeo Friederich Ludwig Wilhelm Varnhagen (1782-1842) e
Wilhelm-Ludwig Von Eschwege (1777-1835) ambos funcionaacuterios da Coroa
Portuguesa6 Eschwege foi enviado para Minas Gerais para inspecionar as
jazidas e minas de ferro e criar com outros acionistas a companhia sideruacutergica
Faacutebrica Patrioacutetica do Prata de Congonhas do Campo que comeccedilou a funcionar
em fins de 1811 e Varnhagen para o Morro de Araccediloiaba7
Apoacutes observaccedilotildees mineraloacutegicas realizadas por Varnhagen em
Araccediloiaba A partir dos resultados daquelas observaccedilotildees ficou determinado que
Sorocaba era o local mais apropriado para a construccedilatildeo de uma siderurgia pois
ldquoa mina existente dentro de sua circunscriccedilatildeo eacute muito rica em metal de ferro e
conta na sua proximidade com extensas matas as quais haacute muitos anos mandou
reservar e que forneceratildeo o indispensaacutevel combustiacutevelrdquo(FRAGA 1968 p 66)
Assim em 1810 foi fundado o Estabelecimento Montaniacutestico de Extraccedilatildeo de Ferro
das Minas de Sorocaba denominado posteriormente de Real Faacutebrica de Ferro de
Ipanema
A aacuterea escolhida para aquele novo empreendimento estava localizada junto
ao rio Ipanema que daiacute retira aquela denominaccedilatildeo deixando para traz a histoacuteria
da metalurgia que havia sido desenvolvida durante dois seacuteculos no interior Morro
de Araccediloiaba no vale das Furnas onde estaacute localizado o Siacutetio Arqueoloacutegico
Afonso Sardinha
Os primeiros trabalhos sobre a Real Faacutebrica privilegiavam as anaacutelises
voltadas para a mineralogia e as teacutecnicas de fundiccedilatildeo Quanto a este uacuteltimo
descobertas de carvatildeo do rio Pardo no Rio Grande do Sul Cf FIGUEIROA Silvia As ciecircncias Geoloacutegicas no Brasil uma Histoacuteria Social e Institucional 1875-1934 Satildeo Paulo Hicitec 1997 p 63-65 6 Varnhagen e Eschwege voltaram para Portugal em 1822 7 Varnhagen esteve em Araccediloiaba acompanhado por Martim Francisco de Andrada Martim Francisco Ribeiro de Andrada Inspetor de Minas e Matas da Capitania de Satildeo Paulo
23
aspecto destacam o emprego do alto forno da fabricaccedilatildeo do carvatildeo e o emprego
de fundentes bem como criacuteticas relacionadas agrave produccedilatildeo e qualidade do ferro8
Entre as obras mais gerais sobre aquele empreendimento publicadas no
seacuteculo XIX estatildeo os trabalhos de Antonio da Costa Pinto Silva (1852) Nicolau de
Campos Vergueiro (1843) Frederico Augusto Pereira de Moraes (1858) M Alves
de Arauacutejo (1882) Francisco de Assis Moura (1888) J Ewbank da Cacircmara (1875)
Leandro Dupreacute (1885) Baratildeo Homem de Mello (1888) Manuel Eufraacutezio de
Azevedo Marques (1879) Carlos Conrado de Niemeyer (1879) Frederico
Augusto Pereira de Moraes (1858)
Sobre a mineralogia e a geologia estatildeo os de Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e
Silva (1820 1846) Martim Francisco Ribeiro de Andrada (1828 1846 1855) F
Schimidt (1853) e Wilhelm L Von Eschwege (1833) e Orville Adalbert Derby
(1891 e 1895 1909) Derby foi o descobridor em 1891 da apatita mineral que foi
amplamente explorado para a fabricaccedilatildeo de adubos a partir de 1927 Naquele
mesmo seacuteculo foram realizadas as primeiras anaacutelises da magnetita de Ipanema
pela Escola de Minas de Ouro Preto9 as quais tiveram como resultado a
identificaccedilatildeo do titacircnio como componente daquele mineacuterio
Dessa forma foi possiacutevel entender a dificuldade teacutecnica que enfrentaram
todos os diretores de Ipanema em produzir um ferro de boa qualidade pois a
magnetita aleacutem de sua exagerada densidade apresentava-se impregnada de
ocircxido de Titacircnio ldquofatores que contribuem de forma decisiva para dificultar sua
reduccedilatildeo mesmo em altos fornosrdquo (FRAGA 1968 p 86) Entre as pesquisas
realizadas por essa Escola estatildeo os trabalhos de Paul Ferrand (1885) e Leandro
Dupreacute (1885) Joatildeo Pandiaacute Caloacutegeras (1893 1895 19041828) e Ferdinando
Gautier responsaacutevel em 1891 pela identificaccedilatildeo da presenccedila de foacutesforo no
mineacuterio elemento tambeacutem nocivo para a produccedilatildeo do ferro Ainda no seacuteculo XIX
8 Fundentes satildeo materiais que quando mesclados com o carvatildeo vegetal dentro do forno facilitam a fundiccedilatildeo dos mineacuterios no caso de mineacuterios de ferro Em Ipanema eram utilizados como fundentes os dioritos tambeacutem chamada ldquopedra verde (do alematildeo grunstein) 9 A Escola de Minas de Ouro Preto foi inaugurada em 1876 Destinava-se a formar profissionais para a mineraccedilatildeo
24
estatildeo os relatos elaborados pelo naturalista viajantes como Saint Hilaire Von
Martius e Zaluar
No seacuteculo XX os trabalhos relacionados com aquele empreendimento
foram desenvolvidos em duas linhas de investigaccedilatildeo o da histoacuteria econocircmica e
da social Nesta uacuteltima as anaacutelises privilegiaram as abordagens sobre o processo
de trabalho e mais para o final daquele seacuteculo para as questotildees sobre o meio
ambiente como os aspectos da ecologia florestal recursos hiacutedricos gestatildeo
ambiental e do turismo ecoloacutegico
Os trabalhos historiograacuteficos daquele seacuteculo pouco acrescentaram aos
aspectos relacionados com a implantaccedilatildeo dos primeiros empreendimentos
metaluacutergicos anteriores agrave construccedilatildeo da Real Faacutebrica10 Contudo trecircs trabalhos
podem ser destacados pelas contribuiccedilotildees seja pela releitura de documentos
ainda existentes como foi o caso dos estudos realizados por Maacuterio Neme seja
pelos trabalhos de pesquisa documental elaborados tanto por Leda Maria Pereira
Rodrigues quanto por Estefania Knotz Canguccedilu Fraga
No primeiro caso Maacuterio Neme apresenta em seu livro Notas de Revisatildeo da
Histoacuteria de Satildeo Paulo uma reavaliaccedilatildeo das obras de Pedro Taques bem como
de outros autores que tratam da histoacuteria de Satildeo Paulo ateacute o momento da 10 Entre as obras direcionadas a um contexto geral brasileiro estatildeo Sylvio Froes Abreu (19371962) Afranio do Amaral (1946) Renato Frota de Azevedo (1955) Tanus Jorge Bastini (1957) Vicente Licinio Cardoso (1924) Sobrinho Costa e Silva (1953) Alpheu Diniz Gonccedilalves (1937) R Hermanns (1958) R N Jafet (1957) Theodor Knecht (1931) Viktor Leinz (1942) Clodomiro de Liveira (1914) Niacutecia Vilela Luz (1961) Manuel Moreira Machado (1919) Roberval Germano Medeiros (1947) Geraldo Magella Pires de Melo (1957) Geraldo Dutra Moraes (1943) Almiro de Lima (1929) Matias Gonccedilalves de Oliveira Roxo (1937) Edmundo de Macedo Soares (1953) Gilberto Freyre (1988) Francisco Adolpho de Varnhagen (1956) Joseacute Epitaacutecio Passos Guimaratildees (1981) Francisco Magalhatildees Gomes (1983) Francisco de Assis Barbosa (1958) Francisco de Assis Carvalho Franco (1928) Silvia Figueroa (1997) Roseli Santaella Stella (2000) Para anaacutelises direcionadas ao Estado de Satildeo Paulo estatildeo as de Paulo R Pestana (1928) Luis Flores de Moraes (1930) Afonso Taunay (1931) Benedito Lima de Toledo (1966) Maacuterio Neme (1959) Seacutergio Buarque de Holanda (1960 1966) Ernani da Silva Bruno (1953) Jesuiacuteno Feliciacutessimo Juacutenior (1969) Washington Luis (1956) Gabriel Pedro Moacyr (1935) E aqueles relacionados agrave histoacuteria local da Real Faacutebrica estatildeo o de Joseacute Monteiro Salazar (1982) Astor Franccedila Azevedo (1959) Luiz de Almeida Castanho (1937 1939 1958) Jaime Benedito de Arauacutejo (1939) Ezequiel Freire (1953) Emanuel Soares Veiga Garcia (1954) Joatildeo Lourenccedilo Rodrigues (1953) Otaacutevio Tarquiacutenio de Souza (1946) Heacutelio Vianna (1969) Andreacute Davino (1965) Guido Ranzani (1965) Miriam Escobar (1982) Theodoro Knecht (1930) Helmut Born (1989) Lenharo S L R (1996) Antonio Maciel Botelho Machado (1998) e Jaime Rodrigues (1998) Aluiacutezio de Almeida (2002)
25
publicaccedilatildeo da obra em 1959 confrontando as afirmaccedilotildees dos autores com base
nos documentos disponiacuteveis naquele momento A obra segundo o autor fora
escrita com base em pesquisa documental realizada por ele durante duas
deacutecadas tendo concluiacutedo que ldquofirmamo-nos na convicccedilatildeo mais absoluta de que a
crocircnica de nossa formaccedilatildeo e evoluccedilatildeo estaacute a exigir ampla revisatildeo quer em
mateacuteria de fatos e acontecimentos na sua ocorrecircncia e significaccedilatildeo imediata e
futura e no que toca a dados datas e nomes quer em mateacuteria de interpretaccedilatildeordquo
(NEME1959 p11)
Ao final deste trabalho Neme conclui que os dados oferecidos por Pedro
Taques a respeito da construccedilatildeo de uma Faacutebrica de ferro por Afonso Sardinha no
Morro de Araccediloiaba natildeo passou de uma faacutebula criada por aquele autor sendo
que a uacutenica Faacutebrica de ferro que de fato existiu no iniacutecio do seacuteculo XVII foi a de
Santo Amaro
No segundo trabalho a ser considerado trata-se de um artigo publicado em
1966 pela historiadora Leda Maria Pereira Rodrigues intitulado As Minas de ferro
em Araccediloiaba (Satildeo Paulo Seacuteculos XVI-XVII-XVIII) onde a autora afirma que ldquoos
primoacuterdios de nossa Histoacuteria fazem surgir duacutevidas difiacuteceis de serem esclarecidas
pois haacute falta de documentos coesos que provem incontestavelmente a veracidade
de certas afirmaccedilotildeesrdquo Neste mesmo trabalho ela conclui que ateacute a instalaccedilatildeo da
Real Faacutebrica em 1810 todos os empreendimentos anteriores constituiacuteram numa
ldquoseacuterie de tentativas frustrasrdquo A autora demonstra que pelo menos dois
empreendimentos foram efetivamente implementados naquele local o de Luiz
Lopes de Carvalho por volta de 1690 e o de Domingos Pereira Ferreira em 1875
(RODRIGUES 1966 p246-249)
Em 1968 Estefania Knotz Canguccedilu Fraga sob a orientaccedilatildeo da historiadora
Leda Maria Pereira Rodrigues seguindo as discussotildees iniciadas pela autora
acima mencionada desenvolveu uma tese na aacuterea de Histoacuteria do Brasil com o
titulo Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
(1779-1822) Neste trabalho analisou especialmente o empreendimento de
26
Domingos Pereira Ferreira como tambeacutem as primeiras deacutecadas de
funcionamento da Real Faacutebrica sob a direccedilatildeo de Hedberg (1810-1814) e
Varnhagen (1814-1822) A autora depois de enumerar as possiacuteveis causas que
teriam levado ao que atribui ser um ldquoinsucessordquo econocircmico daqueles
empreendimentos conclui que
mesmo que a faacutebrica de ferro de Araccediloiaba (como
primitivamente era denominado o local) natildeo possa oferecer
ao pesquisador nada aleacutem de constantes provas de seu
insucesso ainda assim o propoacutesito que o anima natildeo deve
esmorecer Afinal o que seria da Historia se soacute merecessem
registro os eventos vitoriosos Quantas derrotas natildeo
levaram as vitoacuterias Porque entatildeo omiti-las se fazem parte
integrante da mesma Porque esquececirc-la se refletem uma
circunstancia real mesmo que nela se insinue uma ou mais
ldquoforccedilas obstrutivasrdquo que consagram ao fracasso tudo o que
nela se condiciona mas que nem por isso obstam uma ou
vaacuterias tentativas de superaccedilatildeo Eacute sabido que a dualidade de
forccedilas impele a civilizaccedilatildeo E mais que a tanta gloacuteria existe
na derrota quanto na vitoacuteria quando supotildeem luta E poderaacute
algueacutem negar que Ipanema natildeo foi um glorioso campo de
luta (FRAGA 1966 p 109)
112 Histoacuterico das descobertas das ruiacutenas O Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha foi assim denominado por
ter sido Afonso Sardinha bandeirante e seu filho mameluco11 Afonso Sardinha o
moccedilo apontados por Pedro Taques e pela historiografia como os provaacuteveis
11 Filho de pai branco e matildee indiacutegena No caso dos mamelucos os pais reconheciam publicamente a paternidade e os filhos gozavam da liberdade plena e aproximavam-se agrave identidade portuguesa Essa denominaccedilatildeo cai em desuso no seacuteculo XVIII e eacute substituiacuteda pelo termo bastardo que passava a designar qualquer pessoa com ascendecircncia indiacutegena (MONTEIRO 1994 p 167)
27
descobridores e construtores dos primeiros fornos de fundiccedilatildeo naquele local em
finais do seacuteculo XVI
No ano de 1977 Joseacute Monteiro Salazar pesquisador estudioso da histoacuteria
regional e particularmente da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema acompanhado
pelos engenheiros agrocircnomos Nerzon Nogueira de Barros e Dinchiti Sinzato e
pelo fotoacutegrafo Venedavel Acosta encontrou as ruiacutenas de um possiacutevel Faacutebrica de
ferro que atribuiu ser aquele construiacutedo por Afonso Sardinha em finais do seacuteculo
XVI (SALAZAR 1997156-159) Tal avaliaccedilatildeo decorria do fato de que aquela
regiatildeo teria sido uma aacuterea de provaacutevel exploraccedilatildeo mineral do ferro que
remontaria aos primoacuterdios da colonizaccedilatildeo de Satildeo Vicente conforme apontavam a
historiografia disponiacutevel sobre aquela Capitania
28
Fig 1 MAPA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA FLONA ndash Floresta Nacional de Ipanema Escala 1250 000 CENEA- Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola 1985
29
Fig 2 MAPA DE LOCALIZACcedilAtildeO DO SIacuteTIO AFONSO SARDINHA Folheto IBAMA sem data e sem escala
30
Fig 3 DESENHO ESQUEMAacuteTICO DE LOCALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRICA DE FERRO Salazar (1997 p80)
Fig 4 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E JOSEacute MONTEIRO SALAZAR Aspecto do Siacutetio em 1983
31
Fig 5 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E JOSEacute MONTEIRO SALAZAR Iniacutecio das pesquisas no Siacutetio Afonso Sardinha 1983 As ruiacutenas foram localizadas no interior do vale das Furnas onde estaacute o
ribeiratildeo do Ferro que nasce e cruza o Morro de Araccediloiaba desaguando no rio
Ipanema o qual por sua vez eacute um afluente pela margem esquerda do rio
Sorocaba
Este ribeiratildeo
() nasce no Monte do Chapeacuteu e corre primeiro do norte para o
sul e depois de passar pelo Vale das Furnas torce bruscamente
e muda radicalmente de direccedilatildeo fazendo uma grande curva e
passando a correr do sul para o norte indo desaguar afinal no
Ipanema (SALAZAR 1997 p 02)
Foi numa das curvas do ribeiratildeo do Ferro que aquelas ruiacutenas foram
localizadas As estruturas ali descobertas se cercavam de condiccedilotildees fisiograacuteficas
favoraacuteveis para viabilizar a atividade de produccedilatildeo do ferro devido a proximidade
32
das jazidas do mineacuterio existecircncia de matas abundantes assim como de uma
hidrografia favoraacutevel para o aproveitamento da forccedila motriz das aacuteguas
A primeira constataccedilatildeo da existecircncia de uma estrutura por eles encontrada
foi uma fileira de pedras bem conservadas que identificaram ldquocomo canal
certamente para o desvio do rio a fim de mover os martinetesrdquo Descobriram uma
muralha que atribuiacuteram ser uma parede de forja (SALAZAR 1997 p159-160)
113 Consideraccedilotildees sobre a metodologia O termo arqueologia histoacuterica surge nos Estados Unidos nas deacutecadas de
1960 para designar o estudo da cultura material dos europeus no mundo Esse
termo passou a ser oficialmente adotado em 1967 tendo em vista regulamentar a
nomenclatura para designar as pesquisas arqueoloacutegicas em siacutetios histoacutericos que
estavam sendo desenvolvidas nos Estados Unidos Ateacute entatildeo eram utilizados
para identificar aqueles trabalhos arqueoloacutegicos uma nomenclatura diversificada
como arqueologia colonial arqueologia da historia arqueologia de siacutetios
histoacutericos entre outros
Naquela mesma deacutecada a arqueologia histoacuterica passa a ser uma
disciplina valendo-se da aplicaccedilatildeo de meacutetodos de escavaccedilatildeo jaacute consagrados
pela arqueologia preacute-historica e das abordagens teoacuterico-metoloacutegicas voltadas
para a interpretaccedilatildeo dos registros arqueoloacutegicos As ferramentas teoacutericas
metodoloacutegicas apresentadas pela arqueologia foram sendo revisadas e
aprimoradas de modo a contribuir com as anaacutelises destinadas a interpretar as
culturas preteacuteritas
Outra questatildeo diz respeito agrave compreensatildeo do papel da Arqueologia
Histoacuterica aplicada agraves pesquisas desenvolvidas na Ameacuterica tendo em vista a
visatildeo desenvolvida por Charles Orser Jr segundo o qual cabe a esta disciplina
investigar fundamentalmente os ldquo() aspectos mateacuterias em termos histoacutericos
33
culturais e sociais concretos dos efeitos do mercantilismo e do capitalismo que
foi trazido da Europa em fins do seacuteculo XV e que continua em accedilatildeo ainda hojerdquo
(ORSER 1992 p 23)
Posteriormente Orser trouxe novas contribuiccedilotildees a aquela conceituaccedilatildeo
ao formular a Teoria de Rede segundo a qual as pesquisas em Arqueologia
deveriam levar em consideraccedilatildeo a questatildeo das ldquointerligaccedilotildees globaisrdquo
demonstrando a ldquoorigem e os desenvolvimentos ulteriores da globalizaccedilatildeo da
modernizaccedilatildeo e da expansatildeo colonialistardquo criados por ldquoagentes conscientes do
colonialismo do eurocentrismo e da modernidaderdquo que proporcionaram a
criaccedilatildeo de uma ldquoseacuterie de elos complexos e multidimensionais que uniam
diversos povos ao redor do mundordquo (ORSER 1999 p 87)
No que se referem agrave interpretaccedilatildeo dos registros arqueoloacutegicos as
pesquisas em arqueologia histoacuterica empregam teorias e meacutetodos que foram
sendo desenvolvidos por meio da aplicaccedilatildeo de meacutetodos de abordagens como o
Histoacuterico-Culturalismo (foi amplamente difundida entre os arqueoacutelogos
brasileiros) New Archaeology ou Arqueologia Processual e Poacutes-
processualismo e suas derivaccedilotildees Cada meacutetodo privilegiou uma escala
apropriada de anaacutelise para o ldquoHistoacuterico Culturalismo foi o siacutetio para o
Processualismo a regiatildeo e para o Poacutes-Processualismo passou a ser o
indiviacuteduordquo (LIMA 2000 p 2)
No Brasil a formaccedilatildeo da primeira geraccedilatildeo de arqueoacutelogos na deacutecada de
1970 foi orientada por duas correntes teoacutericas A americana representada pelos
arqueoacutelogos Clifford Evans (1920-1981) e Betty Meggers coordenadores do
Programa Nacional de Pesquisas Arqueoloacutegicas (Pronapa) criado na deacutecada
de 1960 E a Francesa representada por Joseph e Annette Emperaire Da
escola francesa destacamos as pesquisas realizadas pelo grupo do Centre
National de la Recherche Scientifique que trabalharam em Minas Gerais
Paranaacute Satildeo Paulo e no Piauiacute em convenio com o Museu Paulista da
Universidade de Satildeo Paulo e a Universidade do Piauiacute com o objetivo de
34
proporcionar as primeiras dataccedilotildees para as obras rupestres e sua inserccedilatildeo no
contexto cultural preacute-histoacuterico (PROUS 1992 p17)
A partir da pesquisas do grupo Franco-Brasileiro foram fornecidas as
primeiras dataccedilotildees radiocarbono a introduccedilatildeo de teacutecnicas e meacutetodos mais
refinados de decapagem e a realizaccedilatildeo de escavaccedilotildees sistemaacuteticas no Brasil
Aleacutem da influecircncia teoacuterica-metodologica o convecircnio entre aquele grupo
representado por Joseph e Annette Laming Emperaire e o Centre National de
la Recherche Scientifique proporcionou a formaccedilatildeo de arqueoacutelogos e de
especializaccedilotildees na Franccedila Entre os anos de 1960-1980 o legado francecircs
permanecia em duas Instituiccedilotildees de Satildeo Paulo o Museu de Preacute-Histoacuteria
(atualmente incorporado ao MAE) e Museu Paulista da Universidade de Satildeo
Paulo e em Minas Gerais no Museu de Histoacuteria Natural da Universidade
Federal de Minas Gerais
A partir da deacutecada de 1960 as pesquisas relacionadas ao campo da
arqueologia histoacuterica foram conduzidas particularmente por arqueoacutelogos preacute-
historiadores que passaram a desenvolver pesquisas em Siacutetios Histoacutericos
Num primeiro momento aquelas pesquisas arqueoloacutegicas foram marcadas
pelas teorias do meacutetodo histoacuterico-culturalista privilegiando monumentos como
igrejas conventos missotildees jesuiacuteticas fortificaccedilotildees solares entre outros
encorajadas pelos oacutergatildeos de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural e
pela receacutem-criada Lei 3924 de 26 de julho de 1961 atraveacutes da qual os
monumentos arqueoloacutegicos e preacute-histoacutericos passaram a serem considerados
como patrimocircnio da Uniatildeo (ANDRADE 1993 FUNARI 1998 RUBINO 1996)
Ateacute a deacutecada de 80 as pesquisas ainda seguiam aquela linha de
investigaccedilatildeo privilegiando pesquisas em monumentos Contudo jaacute havia
perspectivas de novas abordagens de pesquisa notadamente voltadas para
os segmentos sociais desfavorecidos de registros possibilitando ldquorecuperar
memoacuterias sociais reinterpretar a Histoacuteria Oficial resgatar elementos e praacuteticas
da vida cotidiana sobre os quais normalmente natildeo se escreverdquo
35
Proporcionando a arqueologia histoacuterica investigar uma diversificada temaacutetica
transformando em Siacutetios Histoacutericos quilombos unidades domeacutesticas becos
urbanos senzalas tecnologias de produccedilatildeo de materiais e povoados etc
(ANDRADE 1993 p 228)
Neste contexto se inserem as pesquisas em arqueoloacutegica histoacuterica
desenvolvida na cidade de Satildeo Paulo O Programa de Arqueologia Histoacuterica no
Municiacutepio de Satildeo Paulo foi coordenado por Margarida Davina Andreatta do
Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo em colaboraccedilatildeo com o
Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico da Secretaria Municipal de Cultural A
pesquisa realizada a partir de prospecccedilotildees e escavaccedilotildees sistemaacuteticas em
ldquoCasas Bandeiristasrdquo e locais puacuteblicos e privados do municiacutepio como becos
ruas praccedilas quintais lixotildees logradouros etc Entre os anos de 1979 e 1981
foram realizadas pesquisas arqueoloacutegicas no Municiacutepio de Satildeo Paulo nos
Siacutetios Mirim em Ermilindo Matarazzo Sitio de Morrinhos no Jardim Satildeo Bento
Casa do Grito no Parque da Independecircncia ndash Ipiranga Beco do Pinto Bairro
da Seacute Casa n 1 do Paacutetio do Coleacutegio e Casa do Tatuapeacute e no bairro do
Tatuapeacute (ANDREATTA 19812 1986a 1986b) Em 1983 Margarida Davina
Andreatta iniciou as pesquisas arqueoloacutegicas na Fazenda Ipanema ndash Iperoacute
Satildeo Paulo atualmente um aacuterea de proteccedilatildeo ambiental FLONA 12
Durante o desenvolvimento dessa pesquisa foram realizadas
escavaccedilotildees e prospecccedilotildees em uma aacuterea extensa daquela Fazenda incluindo
todas as edificaccedilotildees que pertenceram a Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
(1810-1895)13 e as ruiacutenas existentes no Vale das Furnas junto do ribeiratildeo do
Ferro e interior do Morro de Araccediloiaba Nesta uacuteltima aacuterea denominada Siacutetio
Afonso Sardinha foi evidenciado estruturas de um Faacutebrica de Ferro e Fornos 12 As edificaccedilotildees da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema foram tombadas pelo Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional em 1964 O Siacutetio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha foi registrado tambeacutem no IPHAN em 1997 por Margarida Davina Andreatta Ver Detalhes de Siacutetios Arqueoloacutegicos Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrportalmontaDetalheSitioArqueologicodoid=SP00236gt Acesso em 09mar 2004 13 Foram realizadas pesquisas arqueoloacutegicas nas aacutereas dos altos fornos fornos de carvatildeo edifiacutecio de armas brancas Praccedila Afonso Sardinha entre outros dependecircncias pertencentes a Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
36
de Fundiccedilatildeo e uma diversificada tipologia de materiais os quais compotildee os
documentos arqueoloacutegicos que foram registrados no Inventaacuterio de Peccedilas
relacionadas a pesquisa (exemplos em anexo)
Da pesquisa no Sitio Afonso Sardinha foram produzidos um significativo
conjunto documental formado por inuacutemeras tipologias de documentos de
arquivo que formam o Fundo Sitio Afonso Sardinha A partir dessa
documentaccedilatildeo foi possiacutevel acompanhar o processo de desenvolvimento
daquela pesquisa e tambeacutem contextualizar os documentos arqueoloacutegicos
permitindo assim a realizaccedilatildeo de interpretaccedilotildees quanto sua dataccedilatildeo e
significado Nas palavras de Hodder ldquoa partir del momento em que se conoce
el contexto de um objeto este ya no es completamente mudordquo (HODDER
1994 18)
Os documentos do Fundo Siacutetio Afonso Sardinha satildeo compostos por
diaacuterios de campo relatoacuterios de pesquisa planos de escavaccedilatildeo fotografias
correspondecircncias e tambeacutem por uma coleccedilatildeo formada por documentos de
apoio a pesquisa como plantas topograacuteficas planoaltimeacutetricas bibliografia
histoacuterica e teacutecnica sobre mineraccedilatildeo e fundiccedilatildeo de ferro no Brasil nos primeiros
trecircs seacuteculos de colonizaccedilatildeo
A pesquisa realizada a partir da bibliografia encontrada no Fundo Afonso
Sardinha apontou caminhos de investigaccedilatildeo que direcionaram para uma
bibliografia teacutecnica e histoacuterica sobre a teacutecnica da produccedilatildeo de ferro
desenvolvida na Europa especialmente na Espanha entre os seacuteculos XVI-
XVIII Aleacutem disso foi agregada aquela investigaccedilatildeo um conjunto de
documentos de cunho oficial escritos pelos empreendedores daquela
produccedilatildeo e oacutergatildeos administrativos coloniais como a Cacircmara da Vila de Satildeo
Paulo
Assim os documentos pertencentes ao Fundo Afonso Sardinha
documentos textuais oficiais e documentos arqueoloacutegicos ndash permitiram
37
interpretar que a aacuterea do Siacutetio corresponde a um campo de trabalho de
produccedilatildeo de ferro e que as atividades de mineraccedilatildeo e fundiccedilatildeo estavam
distribuiacutedas por uma aacuterea extensa com forte influencia dos modelos de ferrarias
de aacutegua que haviam no periacuteodo pesquisado na regiatildeo basca da Espanha
Assim as possibilidades dadas pela arqueologia histoacuterica de permitir a
utilizaccedilatildeo tanto de documentos arqueoloacutegicos (artefatos) e textuais na
realizaccedilatildeo da pesquisa e produccedilatildeo do conhecimento eacute tambeacutem uma das
principais tensotildees que norteiam as questotildees teoacutericas-metodoloacutegicas da
arqueologia histoacuterica Para tanto autores como Anders Andreacuten ao considerar
que o problema da arqueologia histoacuterica eacute o encontro entre a cultura material e
a escrita indica tambeacutem que a arqueologia histoacuterica natildeo pode ignorar as
disciplinas que tratam do homem como eacute o caso da Histoacuteria da Antropologia
ou da Filologia propondo que a metodologia em arqueologia histoacuterica deve
estabelecer ldquodialogue between artifact and text that is unique in relation to
prehistoric archeology as well as historyrdquo (ANDREacuteN 1998 p 177)
114 Descriccedilatildeo geral das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas Entre os anos de 1983 ndash 1989 as ruiacutenas encontradas por Joseacute Monteiro
Salazar (1982) foram objeto de uma pesquisa arqueoloacutegica iniciada pelo
Protocolo de Intenccedilotildees entre o Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo e o
CENEA ndash Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola - oacutergatildeo autocircnomo do Ministeacuterio
da Agricultura ao qual a Fazenda Ipanema estava ligado A pesquisa foi
coordenada pela arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta do Museu Paulista da
Universidade de Satildeo Paulo14
14 A Fazenda Ipanema pertenceu ao CENEA Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola oacutergatildeo autocircnomo do Ministeacuterio da Agricultura ateacute a extinccedilatildeo desse Centro em 1990 eacutepoca em que foram exploradas as minas de Apatita para a fabricaccedilatildeo de adubos A pesquisa arqueoloacutegica nesta aacuterea foi coordenada pela pesquisadora e arqueoacuteloga Profa Dra Margarida Davina Andreatta tendo como assistente o pesquisador da Historia regional Joseacute Monteiro Salazar aleacutem de estagiaacuterios da Universidade de Satildeo Paulo e voluntaacuterios
38
Fig 6 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E EQUIPE EM REUNIAtildeO COM A DIRETORIA DA FLORESTA NACIONAL DE IPANEMA 1984
Fig 7 ASPECTO DA FAacuteBRICA DE FERRO em 1987
39
Fig 8 Planta da aacuterea do Sitio Afonso Sardinha aacutereas A1 e A2
40
As pesquisas arqueoloacutegicas desenvolvidas no sitio Afonso Sardinha
evidenciaram a existecircncia de um campo de produccedilatildeo de ferro localizado na
margem esquerda do ribeiratildeo do ferro o qual se mostrou formadas por duas
aacutereas identificadas durante aqueles trabalhos como aacuterea A1 e aacuterea A2
mostradas no Mapa da Figura 8
A aacuterea A1 situada no setor norte do campo apresentou ruiacutenas de uma
edificaccedilatildeo relativamente maior de produccedilatildeo de ferro composto por quatro setores
identificados como Forno (setor A) Forja (setor B) espaccedilo entre a Forja e o Canal
(setor C) e Canal (setor D) espaccedilo sul da estrutura (setor E)
Nessa aacuterea A1 a pesquisa arqueoloacutegica possibilitou as seguintes principais
evidecircncias
(i) ocorrecircncias de escoacuterias de forma disseminada e tambeacutem na forma de
um amontoado junto a parede externa (sul) da Forja
(ii) ocorrecircncias de telhas na aacuterea ao sul das paredes dos setores BC e D
(iii) ocorrecircncias de cravo e lacircminas de metal tambeacutem na aacuterea sul da
estrutura
(iv) ocorrecircncia de ceracircmica neo-brasileira nos setores da forja (B) e do
Forno (A)
(v) ocorrecircncia de faianccedila portuguesa nos setores da Forja (B) e do Forno
(A)
(vi) ocorrecircncia de vidro na parte norte do Forno (setor A) parte externa da
Forja (setor B) e tambeacutem um fragmento no setor E (parte sul da estrutura)
41
(vii) ocorrecircncia de metal na parte interna e externa da Forja (B) na aacuterea E
parte interna da aacuterea (C) e face oeste do Canal (D)
(viii) evidecircncias de esteios nas laterais do Canal (D)
Fig 9 Detalhe da aacuterea A 1 ndash Sitio Afonso Sardinha
42
Fig 10 VISTA GERAL DA AacuteREA A 1 ndash Sitio Afonso Sardinha 1987
Fig 11 VISTA GERAL DA AacuteREA A 2 ndash Siacutetio Afonso Sardinha 1987 Na aacuterea A2 mostrada na figura 12 as pesquisas arqueoloacutegicas
evidenciaram a existecircncia de duas subaacutereas sendo uma denominada de A2-B e a
43
outra de D constituiacuteda de parte de um muro de pedras cuja estrutura natildeo foi
possiacutevel identificar
Fig 12 DETALHE DA AacuteREA A 2 ndash Sitio Afonso Sardinha Na aacuterea A2-B (Morrote) foram observadas as seguintes evidecircncias
(i) ocorrecircncia de dois fornos soterrados sob um Morrote na aacuterea
designada como A2-B
(ii) ocorrecircncia de tijolos telhas e mureta de pedra
44
Na aacuterea D da figura 12 foram observados
(i) mureta de estrutura natildeo identificada
(ii) ocorrecircncia de duas estruturas circulares de natureza natildeo
identificada
(iii) ocorrecircncias de ceracircmicas telhas e tijolos
(iv) Ao sul da aacuterea A2-B observou-se a existecircncia de um muro de
pedra interpretado como sendo parte de um canal tendo ao seu lado duas
estruturas circulares com diacircmetro de 15 m (Figura 13 e 14)
Fig 13 PLANTA MORROTE ndash AacuteREA A2-B 1987
45
Fig 14 MORROTE COM EVIDENCIAS DE ldquoFORNOrdquo AacuteREA A2
46
12 Principais questotildees a serem abordadas no decorrer da Tese Os estudos histoacutericos disponiacuteveis acima apresentados bem como os
resultados das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas conforme descritas nos itens
anteriores permitem relacionar um conjunto de questotildees que consideramos
importantes para esclarecimento do processo de instalaccedilatildeo da Faacutebrica de ferro
em Araccediloiaba (Sitio Afonso Sardinha) no periacuteodo compreendido entre o final do
seacuteculo XVI ao seacuteculo XVIII que antecedeu a instalaccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro
de Ipanema em 1810
Tais questotildees podem ser resumidas conforme seguem
I - Avaliaccedilatildeo dos vestiacutegios arqueoloacutegicos das atividades relacionadas agrave mineraccedilatildeo
e agrave produccedilatildeo de ferro a partir do final do seacuteculo XVI e anteriormente agrave instalaccedilatildeo
da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema em 1810
II - Investigaccedilatildeo das possiacuteveis teacutecnicas de produccedilatildeo e meacutetodos de fundiccedilatildeo de
ferro empregadas em Araccediloiaba no periacuteodo de analise desta tese
III - Caracterizaccedilatildeo de modelos de fornos de fundiccedilatildeo e processos industriais
encontrados na aacuterea do sitio arqueoloacutegico
IV ndash Avaliaccedilatildeo das possiacuteveis causas teacutecnicas e cientiacuteficas relacionadas agraves
dificuldades de produccedilatildeo e de qualidade do ferro produzido em Araccediloiaba
47
CAPITULO 2
A TECNICA DE PRODUCcedilAtildeO DE FERRO NO PERIODO ENTRE OS SEacuteCULOS
XVI AO XVIII
21 Consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia
Uma das primeiras questotildees para conceituar Teacutecnica refere-se agraves anaacutelises
que permitem diferenciaacute-la do conceito moderno de Tecnologia Ruy Gama (1986
p 19) ao analisar essa questatildeo a partir de autores de liacutengua inglesa observa que
o conceito de tecnologia aparece ldquoora como simplesmente sinocircnimo de teacutecnica ou
de conjunto de teacutecnicas alarga-se as vezes para incluir o produto material das
teacutecnicas e outras vezes menos frequumlentes eacute usada como sinocircnimo de saber
associado as teacutecnicas ou como estudo das teacutecnicasrdquo
A partir de 1930 a preocupaccedilatildeo com a Histoacuteria da Teacutecnica vem se
difundido sobretudo por meio das anaacutelises iniciadas por autores franceses como
Marc Bloch Lefevre de Noeumlttes e Lucien Febvre e ingleses como Abbott Payson
Lynn White Jr e Lewis Munford que a transformaram numa ldquonova disciplinardquo
historiograacutefica 15
No Brasil a primeira discussatildeo sobre essa temaacutetica foi apresentada em
1985 com a publicaccedilatildeo do livro Histoacuteria da Teacutecnica e da Tecnologia organizado
por Ruy Gama Este trabalho eacute formado por uma coletacircnea de textos claacutessicos e
de outros produzidos por autores estrangeiros e brasileiros sobre a Histoacuteria da
Teacutecnica da Tecnologia e da Ciecircncia Entre os textos escritos por autores
brasileiros destacam-se os trabalhos de Fernando Luis Lobo Barbosa Carneiro e
de Julio R Katinsky
15 Os Textos em que estes autores discutem o conceito de Teacutecnica e Tecnologia foram publicados no livro Historia da Teacutecnica e da Tecnologia organizado por Ruy Gama (1985)
48
No texto escrito por esse uacuteltimo autor estaacute um Glossaacuterio dos Carpinteiros
de Moinho onde o autor apresenta os resultados de uma pesquisa que fez sobre
os moinhos hidrauacutelicos no Brasil cuja utilizaccedilatildeo eacute bastante frequumlente nas aacutereas
rurais dos Estados de Satildeo Paulo e Sul de Minas Aleacutem disso oferece um
glossaacuterio de termos empregados ldquobasicamente na construccedilatildeo de monjolos
prensas de mandioca engenhocas de accediluacutecar e moinhos hidrauacutelicos de gratildeos
estes uacuteltimos geralmente preparados para produzir quirera ou fubaacuterdquo (KATINSKY1985 p 216)
Aleacutem desses textos a Coletacircnea traz dois artigos do economista alematildeo
Johann Beckmann (1729-1811) considerado ldquoo pai da Tecnologiardquo por haver
firmado aquele conceito em fins do seacuteculo XVIII e instituiacutedo a disciplina de
Tecnologia no ensino da Universidade de Goumlttingen16 Em 1777 publica a obra
Instruccedilatildeo sobre Tecnologia em que firmava o seu conceito de Tecnologia como
ldquoconhecimento dos ofiacutecios faacutebricas e manufaturas especialmente daquelas que
tem contacto estrito com a agricultura a administraccedilatildeo puacuteblica e as ciecircncias
cameraliacutesticasrdquo (GAMA 1985 p6) Na introduccedilatildeo dessa mesma obra Beckmann
escrevia que
A histoacuteria das artes pode dedicar-se a enumeraccedilotildees das
invenccedilotildees ao progresso e ao curso habitual de uma arte ou de
um trabalho manual mas eacute a tecnologia que explica de maneira
completa clara e ordenada todos os trabalhos assim como seus
fundamentos e suas consequumlecircncias (BECKMANN Apud GAMA
1985 p6)
Serge Moscovici em Essai sur lrsquohistorie humaine de la Nature referindo-se
a Beckmann afirma que este autor conscientemente ldquoforja o termo tecnologia
para designar a disciplina que descreve e ordena os ofiacutecios e as induacutestrias
existentesrdquo (MOSCOVICI apud GAMA 1985 p 8)
16 Goumlttingen era uma das mais conhecidas universidades da Europa agrave qual se vinculavam muitos estadistas e funcionaacuterios administrativos da Alemanha
49
Para Beckmann e outros autores de seu tempo a Tecnologia estava
intimamente ligada agrave escola e basicamente agrave uniatildeo dos ldquosaacutebiosrdquo com os
ldquofabricantesrdquo que dominavam o conhecimento teacutecnico numa eacutepoca em que este
mesmo conhecimento comeccedilava a ser objeto de investigaccedilatildeo de academias e
universidades as quais tinham como objetivo a formulaccedilatildeo de uma linguagem
tecnoloacutegica por intermeacutedio da codificaccedilatildeo de conceitos Ressaltamos ainda que
as propostas de Beckmann e esse novo olhar paras as teacutecnicas estavam
voltadas para o atendimento de demandas sociais surgidas com a Revoluccedilatildeo
Industrial
Se a Tecnologia tem a funccedilatildeo de explicar como afirma Beckmann ela
tambeacutem teve seu tempo de formulaccedilatildeo Segundo Ruy Gama o nascimento do
conceito de Tecnologia pode ser situado historicamente no decorrer da Idade
Moderna sendo difundido a partir do seacuteculo XVII Para este autor tal conceito foi
construiacutedo
pari passu ao desenvolvimento do capitalismo e agrave substituiccedilatildeo do
modo de produccedilatildeo feudalcoorporativo e do sistema de
transmissatildeo do conhecimento apoiado na aprendizagem pelo
emprego do trabalho assalariado e pelo sistema escolarizado do
conhecimento (GAMA 1986 p30)
Dessa forma ateacute pelo menos antes do advento da ldquoRevoluccedilatildeo da Ciecircnciardquo
(1789-1848) especialmente pelas descobertas proporcionadas pela Quiacutemica 17
todos os processos de produccedilatildeo eram realizados a partir de conhecimentos
ldquopraacuteticosrdquo e que natildeo eram e natildeo poderiam ser explicados cientificamente Assim
trabalhavam os carpinteiros camponeses mineiros e fundidores de metais e
outros artesatildeos da Idade Meacutedia associando engenhosidade experiecircncia e
habilidade manual ou em outras palavras centrados no ldquomais rude empirismordquo
(USHER 1994 p 465)
17 A Quiacutemica entre todas as ciecircncias ldquofoi a mais iacutentima e imediatamente ligada agrave praacutetica industrial ndash a Revoluccedilatildeo Industrial - especialmente integrada aos processos de tingimento de tecidos e branqueamento da industria tecircxtilrdquo ( HOBSBAWM 1979 p305)
50
Para Milton Vargas a Tecnologia soacute pode ter vigecircncia depois do
estabelecimento da Ciecircncia Moderna 18
principalmente pelo fato de essa cultura ser um saber que apesar
de teoacuterico deve necessariamente ser verificado pela experiecircncia
cientiacutefica Esse aspecto experimental e portanto empiacuterico da
Ciecircncia moderna proveacutem da ideacuteia renascentista de que tudo
aquilo que fora realizado pela tradiccedilatildeo teacutecnica poderia secirc-lo
tambeacutem pela teoria e metodologia cientiacuteficas o que
evidentemente aproxima o saber teoacuterico-cientiacutefico do fazer
empiacuterico da teacutecnica (VARGAS 1994 p 16)
22 O conceito de Teacutecnica Originaacuterio da Greacutecia Claacutessica o conceito de Teacutecnica estava inserindo num
tipo de ldquosaber-fazerrdquo associado a mitos como o de Hefestos (Vulcano para os
romanos) ndash o ferreiro - senhor do fogo e da forja que segundo aquela mitologia
havia revelado o segredo desta Teacutecnica aos homens Desta perspectiva
mitoloacutegica o conceito de Teacutecnica transformou-se num outro tipo saber-fazer o da
ldquotechneacuterdquo um conhecimento empiacuterico que somente pode ser obtido atraveacutes do
aprendizado baseado na experiecircncia ou entatildeo a partir dos ensinamentos
transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
Neste sentido a Techneacute natildeo eacute uma habilidade qualquer ldquomas uma
habilidade que segue certas regras por isso techneacute significa tambeacutem ofiacutecio
pressupotildee a existecircncia de um substrato um saber e um conhecimento na
18 Para Hobsbawm o progresso da ciecircncia natildeo pode ser entendido como um simples ldquoavanccedilo linear cada estaacutegio determinando a soluccedilatildeo de problemas anteriormente impliacutecitos nele e por sua vez colocando novos problemas Estes avanccedilos tambeacutem procedem pela descoberta de novos problemas de novas maneiras de enfocar os antigos de novas maneiras de enfrentar e solucionar velhos problemas de campos de investigaccedilatildeo inteiramente novos de novos instrumentos praacuteticos e teoacutericos de investigaccedilatildeordquo (HOBSBAWM 1979 p 302)
51
execuccedilatildeo de uma atividaderdquo (NADAL 2000 p 18) Esta forma de saber baseada
na loacutegica prolongou-se atraveacutes da Idade Meacutedia e chegou aos nossos dias com o
tiacutetulo de Teacutecnicas Natildeo satildeo teorias satildeo conhecimentos que tanto podem ser
adquiridos pela praacutetica como pelo estudo de tratados teacutecnicos
Entre os seacuteculos XVI e XVII a Ciecircncia ao romper com a tradiccedilatildeo
escolaacutestica19 avanccedila para o caminho da experimentaccedilatildeo com a valorizaccedilatildeo das
artes (teacutecnica) as quais jaacute vinham se transformando em objeto de preocupaccedilatildeo e
de estudo desde a Baixa Idade Meacutedia e o Renascimento ateacute chegar agrave constituiccedilatildeo
da Ciecircncia Moderna (DANTAS 2004)
Contraposta ao pensamento grego e medieval em que a
contemplaccedilatildeo das verdades era a meta do conhecimento sabe-se
que a partir do Renascimento haacute uma valorizaccedilatildeo do
conhecimento praacutetico bem como uma mudanccedila no estatuto do
conhecimento teacutecnico Haacute uma expectativa de intervenccedilatildeo e de
controle da natureza e correlativamente um reconhecimento da
teacutecnica isto eacute das atividades inventos e construccedilotildees dos
praacuteticos engenheiros e artesatildeos Daiacute se falar em uma nova forma
de saber e uma nova figura de douto Haacute no entanto uma seacuterie de
dificuldades para estabelecer as razotildees do surgimento dessa
dimensatildeo ativa e o papel que ocupa no nascimento da ciecircncia
moderna (OLIVEIRA1997 p )
No seacuteculo XV esse movimento de valorizaccedilatildeo do trabalho teacutecnico dos
artesatildeos ligado agrave experimentaccedilatildeo foi amplamente difundido pela divulgaccedilatildeo
daqueles conhecimentos atraveacutes de publicaccedilotildees A partir de 1630 surgiram os
Tratados Teacutecnicos Manuais20 como tambeacutem dicionaacuterios e enciclopeacutedias que se
dedicavam ao levantamento da terminologia das diversas artes das
nomenclaturas teacutecnicas e da descriccedilatildeo dos processos e dos meacutetodos das artes
19 Escolaacutestica movimento cultural e filosoacutefico medieval baseado em grande parte em comentaacuterios da obra do filoacutesofo grego Aristoacuteteles e de cunho puramente contemplativo 20 Na arquitetura por exemplo o estabelecimento desta praacutetica permitiu a difusatildeo das teorias e desenhos imaginados pelos arquitetos renascentistas findando assim a necessidade de construir e realizar obras para exemplificar as ideacuteias arquitetocircnicas
52
mecacircnicas as quais acabaram por solapar o domiacutenio das corporaccedilotildees de ofiacutecios 21 (BARGALLOacute 1955 p47)
A publicaccedilatildeo dos manuais teacutecnicos teraacute uma importacircncia decisiva
na padronizaccedilatildeo de unidades de medida e de representaccedilatildeo O
esforccedilo por se fazer compreender sem a equivocidade do discurso
do senso comum e sem o hermetismo do discurso maacutegico-
religioso reservado aos iniciados eacute uma forma decisiva de
objetivaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo que muito embora seja fundamental
ao empreendimento da ciecircncia nasce como uma necessidade do
desenvolvimento da teacutecnica As exigecircncias da precisatildeo aparecem
na representaccedilatildeo (desenhos graacuteficos etc) e na linguagem
daquele tipo de saber - as artes mecacircnicas - em seus manuais de
modelos de construccedilatildeo nas descriccedilotildees dos aspectos e
proporccedilotildees dos corpos ou no detalhamento do fabrico e do uso de
instrumentos e artefatos Natildeo eacute difiacutecil ver que esse interesse na
divulgaccedilatildeo de conhecimentos potencializado pelo aparecimento
da imprensa tornava necessaacuteria a padronizaccedilatildeo da divulgaccedilatildeo
com uma linguagem mais objetiva e medidas mais precisas
(OLIVEIRA 1997)
Entre os Tratados Teacutecnicos publicados estaacute a obra De pictura (1435)
considerado o primeiro estudo cientiacutefico da perspectiva pelo italiano Leone
Batista Alberti arquiteto literato e escultor (1404-1472) Para Alberti os artistas
deveriam aprender com todos os outros artesatildeos E o caminho para esse
aprendizado segundo ele consistia em conseguir com os proacuteprios artesatildeos os
21 Dos seacuteculos II (dC) ao XV as Artes estavam classificadas em Artes Liberais e Artes Mecacircnicas As Liberais (assim chamadas por serem consideradas dignas do homem livre) estavam associadas agrave Gramaacutetica Retoacuterica Astronomia Loacutegica Aritmeacutetica Muacutesica Quanto agraves Artes Mecacircnicas organizadas nas aacutereas urbanas eram consideradas menos honrosas mais proacuteprias do trabalhador manualservil como Medicina Arquitetura Agricultura Pintura Escultura Olaria Carpintaria Ferraria Cantaria Ofiacutecio de pedreiros etc As corporaccedilotildees de ofiacutecios ateacute entatildeo responsaacuteveis pelo treinamento dos artesatildeos e pelos segredos dos ofiacutecios (os misteacuterios dos misteres) tinham o sistema de aprendizado baseado na transmissatildeo dos conhecimentos teacutecnicos na praacutetica das oficinas ndash o aprender fazendo ndash que encaminhava o aprendiz na sua carreira passando pela categoria de oficial e finalmente pela de mestre isso quando conviesse agrave corporaccedilatildeo ter mais mestre vale dizer mais oficinas no mercado
53
saberes natildeo divulgados ou secretos dos ofiacutecios Para isso orientava os artistas
para frequumlentar as oficinas e outros lugares de trabalho e fazerem perguntas aos
ferreiros pedreiros construtores de barcos e ateacute aos sapateiros Deveriam
tambeacutem frequumlentemente fingir ignoracircncia para descobrir em que o conhecimento
dos outros excedia aos seus (GAMA 1983 p 284-85)
Esse novo caminho da Ciecircncia o da experimentaccedilatildeo encontra no
pensamento do Filoacutesofo inglecircs Francis Bacon (1561-1626) uma de suas
expressotildees teoacutericas Considerado o fundador da ciecircncia experimental moderna
foi tambeacutem o criador do meacutetodo cientiacutefico baseado na observaccedilatildeo e
experimentaccedilatildeo (empirismo) que permitiram o avanccedilo das teacutecnicas que
transformaram a vida do homem campesino e mineiro do seacuteculo XVII (GAMA
1983 p34)
Em linhas gerais Bacon ldquorejeitou a separaccedilatildeo e a oposiccedilatildeo vigentes nas
filosofias tradicionais entre teoria e praacutetica entre loacutegica e operaccedilotildees reais entre
verdade e utilidaderdquo (GAMA 1983 p 33)
Interpretou essas oposiccedilotildees como oriundas das condiccedilotildees
histoacutericas e sociais bem determinadas que valorizavam a
contemplaccedilatildeo ndash a verdade em sua pureza ndash e que desprezavam
tudo o que fosse ligado agraves atividades praacuteticas e materiais Por
tudo isso preocupou-se em realccedilar tanto quanto fosse necessaacuterio
a importacircncia dos fatores materiais no desenvolvimento da
filosofia e da cultura E a partir daiacute sustenta a identidade entre
verdade e utilidade teoria e atividade operativa conhecer e fazer
e afirma que qualquer separaccedilatildeo e contraposiccedilatildeo entre esses
termos cria obstaacuteculos intransponiacuteveis de resultados efetivos e
eficientes (GAMA1983 p33-34)
54
23 A valorizaccedilatildeo do conhecimento teacutecnico e a ciecircncia experimental moderna Com o nascimento da Ciecircncia Experimental a teacutecnica artesanal e os
procedimentos teacutecnicos ligados agraves Artes Mecacircnicas passaram a ser os meios que
permitiriam o progresso da ciecircncia e o avanccedilo do saber
Joan Luis Vives (1492-1540) filoacutesofo e preceptor da corte inglesa assim
como o italiano Leone Alberti defendia que o homem culto natildeo devia
envergonhar-se de entrar nas oficinas e perguntar aos artesatildeos pelas teacutecnicas
que empregavam em suas artes Vives em sua obra De Tradendis Disciplinis
convidava os estudiosos europeus a prestar grande atenccedilatildeo aos problemas
teacutecnicos relativos agrave construccedilatildeo das maacutequinas agrave agricultura agrave tecelagem agrave
navegaccedilatildeo Advertia ainda que devessem deitar os olhos sobre o trabalho dos
artesatildeos para tentar saber onde e como essas artes foram inventadas buscadas
desenvolvidas conservadas e como aplicaacute-las Dessa forma segundo Vives
(1531 apud ROSSI 1989 p 24) o homem venceria seu tradicional desdeacutem por
aquilo que considerava como conhecimento vulgar o dos artesatildeos22
Nota-se tambeacutem que esse movimento o de valorizaccedilatildeo do saber teacutecnico
nasce no acircmbito das Academias e Associaccedilotildees vinculadas a esta nova
perspectiva de Ciecircncia e natildeo nas Universidades que permaneceram ateacute finais do
seacuteculo XVIII com poucas alteraccedilotildees metodoloacutegicas Entre os novos centros de
conhecimento estavam a Academia dei Lincei en Roma (1603) a Accademia del
Cimento en Florenccedila (1657) a Royal Society de Londres (1660) a Acadeacutemie des
Sciences de Paris (1666) aleacutem de Escolas Artesanais entatildeo criadas que
conjugavam na Ciecircncia Empiacuterica a alianccedila entre o saber (ciecircncia) e o fazer
22 Dentro desta mesma perspectiva devem ser acrescentar as obras do jaacute citado Francis Bacon Harvey Galileu e Boyle que valorizavam a experimentaccedilatildeo e a observaccedilatildeo da natureza reformulando as concepccedilotildees cientiacuteficas e reconhecendo a importacircncia das teacutecnicas e da praacutetica para a Ciecircncia
55
(teacutecnica) Na Espanha por exemplo cria-se uma escola de mineiros exercitados
em teacutecnicas sobretudo nas teacutecnicas metaluacutergicas 23
Assim podemos afirmar que naquele momento entrar no mundo do
conhecimento teacutecnico representava entrar no mundo das corporaccedilotildees de ofiacutecios
desvendando os segredos por meio da apropriaccedilatildeo do saber teacutecnico e da
linguagem utilizada pelos artesatildeos para a realizaccedilatildeo de seus ofiacutecios Para Ruy
Gama A que parece o domiacutenio dos segredos da linguagem dos artesatildeos
foi a porta pela qual se entrou no domiacutenio dos proacuteprios segredos
dos ofiacutecios Dentre os misteacuterios dos misteres a linguagem foi a
primeira a ser desvendada decifrada e jogada na rua pelas portas
e janelas arrombadas das oficinas ndash numa espeacutecie de accedilatildeo de
despejo ndash para ser vista por todo mundo (GAMA 1986 p 48)
Nas escolas artesanais surge a Tecnologia como disciplina curricular A
institucionalizaccedilatildeo deste saber permitiu que aqueles conhecimentos teacutecnicos
fossem reunidos estruturados e sistematizados e dessa forma transmitidos a um
nuacutemero cada vez maior de pessoas (GAMA 1994 p 54)
2 4 A Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica
Apesar de toda a diferenciaccedilatildeo jaacute feita entre os conceitos de Teacutecnica e
Tecnologia estes termos satildeo frequumlentemente utilizados como sinocircnimos Autores
da liacutengua ingleses natildeo fazem esta distinccedilatildeo pois consideram entre outros
aspectos que a Histoacuteria da Teacutecnica e a Histoacuteria da Tecnologia apresentam seus
campos embaralhados e sua periodizaccedilatildeo extremamente difiacutecil de definir Lynn
White Jr historiador econocircmico e medievalista americano por exemplo afirma
que a Tecnologia natildeo conhece fronteiras cronoloacutegicas e geograacuteficas pois entende
Tecnologia como o ldquoconjunto de todas as Teacutecnicasrdquo e ldquoas maneiras pelas quais as
56
pessoas fazem coisasrdquo (GAMA 1985 p 14) Mas segundo Ruy Gama esta
definiccedilatildeo natildeo permite nem o estabelecimento de uma fronteira histoacuterico-
cronoloacutegica e nem geograacutefica para situar o ldquonascimentordquo do conceito jaacute que Lynn
o emprega como sinocircnimo de Histoacuteria do Trabalho e dessa forma permite
empregar o termo Tecnologia para todas as realizaccedilotildees e obras materiais dos
povos (GAMA 1985 p 14-15)
Essa concepccedilatildeo de Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica desenvolve-se
num contexto em que entre outros aspectos a Arqueologia e a Histoacuteria
passavam por reformulaccedilotildees conceituais A Arqueologia passava a revelar nos
anos 40 do seacuteculo XX novos documentos materiais relacionados a civilizaccedilotildees da
Ameacuterica preacute-colombiana que supunha-se natildeo conheciam a escrita (pesquisas
atuais comeccedilam a demonstrar que a conheciam) e tampouco a roda elementos
considerados naquele periacuteodo indicadores para qualificar o niacutevel de progresso
teacutecnico de uma determinada sociedade que poderia ser considerada como
ldquoavanccediladardquo ou ldquoatrasadardquo Essas descobertas levaram a uma reavaliaccedilatildeo nas
ideacuteias de progresso e civilizaccedilatildeo e na forma de olhar outras sociedades deixando
de centrar as anaacutelises somente no ldquoeixo tradicional etnocecircntrico europeurdquo (GAMA
1985 p 14-15)
Quanto agrave Histoacuteria o nascimento de uma nova escola historiograacutefica a
Histoacuteria Nova surgida na Franccedila na primeira metade do seacuteculo XX daacute um novo
enfoque teoacuterico-metodoloacutegico agrave pesquisa histoacuterica voltada para a anaacutelise do
cotidiano Esta nova tendecircncia amplia a noccedilatildeo de documento aproximando a
Histoacuteria das demais Ciecircncias Humanas entre elas a Arqueologia possibilitando
nos anos 60 do seacuteculo XX uma ldquoverdadeira Revoluccedilatildeo Documentalrdquo que permitiu
nas anaacutelises historiograacuteficas a incorporaccedilatildeo dos documentos natildeo-escritos -
cultura material ndash viabilizando o estudo das sociedades que natildeo possuiacuteam a
escrita para registrar sua Histoacuteria
Para a divulgaccedilatildeo desse novo conceito de documento Lucien Febvre
idealizou no periacuteodo entre as duas primeiras guerras uma revista de Histoacuteria que
57
seria fundada mais tarde em parceria com Marc Bloch com o nome de Annales
drsquoHistorie Economique et Sociale os ldquoAnnalesrdquo Para Febvre ao analisar o
trabalho do historiador a partir da noccedilatildeo ampliada de documento afirma que
A Historia faz-se com documentos escritos sem duacutevida Quando
estes existem Mas pode fazer-se deve fazer-se sem documentos
escritos quando natildeo existem Com tudo o que a habilidade do
historiador lhe permite utilizar para fabricar o seu mel na falta das
flores habituais Logo com palavras signos paisagens e telhas
Com as formas do campo e ervas daninhas Com os eclipses da
lua e a atrelagem dos cavalos de tiro Com os exames de pedras
feitos pelos geoacutelogos e com a anaacutelise de metais feitas pelos
quiacutemicos Numa palavra com tudo o que pertencente ao homem
depende do homem serve ao homem exprime o homem
demonstra a presenccedila a actividade os gostos e as maneiras de
ser do homem
Toda uma parte e sem duacutevida a mais apaixonante do nosso
trabalho de historiadores natildeo consistiraacute num esforccedilo constante
para fazer falar as coisas mudas para fazecirc-las dizer o que elas
por si proacuteprias natildeo dizem sobre os homens sobre as sociedades
que as produziram e para constituir finalmente entre elas aquela
vasta rede de solidariedade e de entre-ajuda que supre a
ausecircncia do documento escritordquo (FEBVRE 1953 p 428 apud
GOFF 1984 p 98)
Para conceituar Teacutecnica e Tecnologia recorremos tambeacutem ao Dicionaacuterio
das Ciecircncias Sociais de Alain Birou segundo o qual Teacutecnica significa
O conjunto de regras praacuteticas para fazer coisas determinadas
envolvendo a habilidade do executor e transmitidas verbalmente
por exemplo no uso das matildeos dos instrumentos e ferramentas e
das maacutequinas Alarga-se frequumlentemente o conceito para nele
incluir o conjunto dos processos de uma ciecircncia arte ou ofiacutecio
para obtenccedilatildeo de um resultado determinado com o melhor
rendimento possiacutevel (GAMA 1986 p 30)
58
Para este mesmo dicionaacuterio Tecnologia eacute
O estudo e conhecimento cientiacutefico das operaccedilotildees teacutecnicas ou da
teacutecnica Compreende o estudo sistemaacutetico dos instrumentos das
ferramentas e das maacutequinas empregadas nos diversos ramos da
teacutecnica dos gestos de trabalho e dos custos dos materiais e da
energia empregada A tecnologia implica na aplicaccedilatildeo dos meacutetodos
das ciecircncias fiacutesicas e naturais e como assinala Alan Birou tambeacutem
na comunicaccedilatildeo desses conhecimentos pelo ensino teacutecnico
(GAMA 1986 p 30)
Diante dessas consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia salientamos
que neste trabalho pretendemos a partir da Arqueologia Histoacuterica contribuir
para a Histoacuteria da Teacutecnica no periacuteodo colonial brasileiro especialmente no que
diz respeito agraves teacutecnicas relacionadas agrave mineraccedilatildeo e agrave metalurgia
No periacuteodo analisado entre os seacuteculos XVI e XVIII todos os trabalhos
relacionados agravequelas atividades estavam baseados no puro empirismo no saber-
fazer e nas experiecircncias praacuteticas daqueles trabalhadores que sabiam realizar as
operaccedilotildees de fundiccedilatildeo de forma praacutetica mas natildeo tinham instrumentos para
explicaacute-los Somente com o advento da Ciecircncia Moderna especialmente com a
Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute que aqueles mineiros e fundidores puderam compreender
as operaccedilotildees produtivas que realizavam
Assim assumimos a periodizaccedilatildeo proposta por Ruy Gama ao considerar
Teacutecnica e Tecnologia como categorias distintas e portanto que a Histoacuteria da
Teacutecnica natildeo coincide com a Histoacuteria da Tecnologia
59
25 A teacutecnica de produccedilatildeo do ferro no periacuteodo entre os seacuteculo XVI ao XVIII
Los antiguos herrreros descubrieron que si martillaban
repetidamente y recalentaban una y otra vez en fuego de carboacuten
un trozo de mineral de hierro al rojo obteniacutean un metal
extremamente fuerte y duro ndash hierro forjado (CARDWELL 1994
p 33)
Antes do conhecimento dos metais eram aproveitadas ldquotreze diferentes
espeacutecies minerais todas do grupo natildeo-metaacutelicos denominadas calcedocircnia (chert
e siacutelex) quartzo cristal de rocha jaspe serpentina pirita calcita ametista
fluorita esteatita acircmbar e obsidianardquo (GUIMARAtildeES1981p22) A estes minerais
natildeo metaacutelicos pode-se acrescentar a utilizaccedilatildeo de ldquopigmentos minerais usados
para ornamentos e pintura constituiacutedos de argila e oacutexidos metaacutelicos coloridos
embora alguns objetos feitos especialmente de cobre tenham sido encontrados e
datados de aproximadamente 9000 aC (GUIMARAtildeES 1981 p 22)
Atribui-se o iniacutecio do aproveitamento dos mineacuterios para a extraccedilatildeo de
metais entre os anos de 6000 a 5000 aC Admite-se que o cobre teria sido o
primeiro metal produzido pelo homem depois o bronze (uma liga metaacutelica de
estanho e cobre) Na mesma eacutepoca tambeacutem se passou a utilizar o chumbo e por
uacuteltimo o ferro Na chamada ldquoIdade do Ferrordquo houve tambeacutem a difusatildeo da
fabricaccedilatildeo do vidro e do mercuacuterio
Pesquisas arqueoloacutegicas em aacutereas mineiras da Europa tem possibilitado
revisotildees do conhecimento relacionado a natureza das mateacuterias-primas
empregadas na extraccedilatildeo do ferro Tradicionalmente sustentava-se a ideacuteia de que
a mateacuteria-prima com que se confeccionavam os primeiros objetos de ferro teria
origem em meteoritos Esta teoria se aplicava particularmente aos objetos
fabricados com ferro rico em niacutequel Atualmente pesquisas na aacuterea da
paleometalurgia demonstram que a origem de associaccedilotildees do ferro com outros
60
metais ocorre em razatildeo da composiccedilatildeo quiacutemica natural dos minerais utilizados
para a produccedilatildeo destes materiais (FAUS 2000 p 27)
O ferro como alguns outros metais natildeo eacute encontrado na natureza em
forma pura sendo que nestas condiccedilotildees encontra-se sempre combinado com
outros elementos formando oacutexidos carbonatos silicatos e sulfatos Para a
produccedilatildeo do ferro satildeo utilizados mineacuterios sobretudo os oacutexidos tais como a
hematita (Fe2O3) e a magnetita (Fe3O4) 24 Outros mineacuterios de menor importacircncia
para a produccedilatildeo tambeacutem contecircm ferro tais como a Siderita (FeCO3) Limonita
(Fe3O4) Pirita (FeS2) e a (Cromita FeOCr2O3) ( LABOURIAU 1928 p 95-110)
Os termos ldquomineralrdquo ldquomineacuteriordquo e ldquometalrdquo precisam ser esclarecidos para que
se possa compreender a forma da produccedilatildeo do ferro
Mineral eacute uma substacircncia formada em resultado da interaccedilatildeo de
processos geoloacutegicos em ambientes geoloacutegicos naturais Os minerais variam na
sua composiccedilatildeo desde elementos quiacutemicos em estado puro ou quase puro e
sais simples a silicatos complexos com milhares de formas conhecidas
(LABOURIAU 1928 p 95-96)
Mineacuterio eacute toda substacircncia natural da qual se possa fazer a extraccedilatildeo de
algum metal (como a hematita e a magnetita) Assim um mineacuterio eacute sempre uma
substacircncia mineral Entretanto nem todo mineral eacute mineacuterio pois alguns minerais
natildeo permitem a extraccedilatildeo de metais como exemplo pode-se citar a pirita (sulfeto
de ferro) um mineral que eacute aproveitado para a fabricaccedilatildeo do aacutecido sulfuacuterico mas
que natildeo permite a extraccedilatildeo do metal nele contido (o ferro) Por conseguinte a
perita eacute um mineral uacutetil mas natildeo eacute um mineacuterio (LABOURIAU 1928 p 95-96)
Metal cada um de um grande grupo de substancias simples obtidas a
partir de mineacuterios
24 A magnetita eacute assim denominada devido ao seu magnetismo natural eacute um mineral de cor preta acinzentada ou avermelhada com brilho metaacutelico de formula quiacutemica (Fe3O4)
61
Para a extraccedilatildeo do ferro dos seus mineacuterios (geralmente oacutexidos feacuterricos
como a hematita) foram desenvolvidas desde a Antiguumlidade teacutecnicas de fundiccedilatildeo
destes materiais por reduccedilatildeo que utilizavam carvatildeo de madeira como redutor
Entretanto variava de uma regiatildeo para outra o tipo do forno e forma de colocaccedilatildeo
do mineacuterio e do carvatildeo no seu interior
Elena Faus referindo ao caso da tradiccedilatildeo basca defende que ateacute o seacuteculo
XIX os avanccedilos dos meacutetodos de fundiccedilatildeo do ferro tecircm decorrido independentes
da investigaccedilatildeo cientiacutefica Para esta autora esses avanccedilos teacutecnicos foram
realizados por ldquouma multitud anoacutenima de individuos de talento formados a la
sombra del teller protagoniza la Historia de la Tecnologia Son analfabetos y no
han conocido ninguacuten tipo de ensentildeanzardquo (FAUS 2000 p 51) O aprimoramento
da teacutecnica de fundiccedilatildeo podia entatildeo ser considerado como uma sucessatildeo de
ldquoinventosrdquo de artesatildeos que na determinaccedilatildeo em resolver as dificuldades que
surgiam inventaram teacutecnicas de fundiccedilatildeo a partir de experiecircncias praacuteticas pelo
uacutenico meacutetodo que conheciam o da praacutexis do ensaio e erro (FAUS 2000 p51)
Toda a produccedilatildeo do ferro estava fundamentada em conhecimentos
teacutecnicos baseados na praacutetica e que eram conhecimentos secretos restritos aos
membros da respectiva corporaccedilatildeo de ofiacutecio Ateacute a ldquorevoluccedilatildeo da Quiacutemicardquo no
seacuteculo XVIII natildeo havia nenhum conhecimento que pudesse explicar de forma
cientiacutefica o processo em que ocorria a reduccedilatildeo do mineacuterio em metal Soacute a partir
daiacute foi possiacutevel por exemplo explicar a atuaccedilatildeo de um elemento o Carbono
obtido pela queima do carvatildeo vegetal no processo produtivo do ferro Na Franccedila
em 1722 o cientista Reneacute Reacuteaumur concluiu que a diferenccedila entre as distintas
qualidades do ferro e do accedilo resultava da incorporaccedilatildeo de uma substacircncia
material Em 1786 na Sueacutecia os matemaacuteticos Vandermonde e Berthollet e o
quiacutemico Monge confirmaram esta hipoacutetese e identificaram o elemento o
Carbono o mesmo procedente da queima do carvatildeo de madeira utilizado desde
a antiguidade na fabricaccedilatildeo (FAUS 2000 p 21-22)
62
Com o aprimoramento da teacutecnica de fabricaccedilatildeo do ferro descobriu-se
tambeacutem a forma de se produzir accedilo sendo que sua difusatildeo promoveu a
emergecircncia de instrumentos e ferramentas completamente novas dando prestiacutegio
a todos aqueles que dominavam a teacutecnica dos metais Dessa forma o ferro e
depois o accedilo foi empregado na fabricaccedilatildeo de uma diversificada variedade de
instrumentos que anteriormente eram confeccionados com madeira ou pedra
transformando assim a metalurgia em uma teacutecnica extremamente estrateacutegica
Para Donald Cardwel
la metalurgiacutea hizo posibles instrumentos y herramientas completamente nuevos ndash y anteriormente inimaginables - La
importancia fundamental de la metalurgiacutea y el prestigio de los
trabajadores expertos en el metal quedan confirmados como
sentildealaba Samuel Smiles por la frecuencia del apellido Smith
(lsquoHerrerorsquo) Ademaacutes la palabra Smith es de origen noacuterdico o
germacircnico lo cual da una clave para entender la localizacioacuten de
los primitivos centros del trabajo del metal en el occidente
europeo (CARDWEL 1994 p 34 grifo nosso)
A crescente demanda de objetos e utensiacutelios feitos de ferro proporcionou o
aprimoramento das teacutecnicas de fundiccedilatildeo como tambeacutem da especializaccedilatildeo
daquele trabalho
Na Espanha por exemplo os espaccedilos destinados a produccedilatildeo de ferro
foram se especializando Um desses espaccedilos era denominado de ferrarias
maiores que se especializaram na fundiccedilatildeo dos mineacuterios para a obtenccedilatildeo de
metal e outras denominadas de ferrarias menores dedicavam-se aacute manufatura
desse metal ou seja transformando-o em barras ou laminas para fabricar entre
outros produtos instrumentos e acessoacuterios agriacutecolas (ferraduras) armas
(espadas) e materiais construtivos (cravos) etc ( FERNANDEZ p 5)
63
Desde o iniacutecio da metalurgia tem-se buscado tambeacutem a maneira pela qual
os fornos pudessem alcanccedilar temperaturas cada vez elevadas pois para que se
possa retirar o ferro do mineacuterio de forma que fosse possiacutevel o aproveitamento de
todo metal nele existente a temperatura do forno deve se elevar aleacutem de 1535ordmC
ponto de fusatildeo daquele metal
Contudo os primeiros fornos empregados para a reduccedilatildeo com a utilizaccedilatildeo
de carvatildeo vegetal alcanccedilavam apenas temperaturas que variavam entre 1200ordmC
e 1300ordmC insuficientes para a fusatildeo completa e portanto o ferro obtido com
aquela temperatura natildeo era retirado do forno em estado liacutequido e sim em estado
pastoso A essa temperatura (12001300ordm C) o mineacuterio de ferro transformava-se
em uma ldquomassa esponjosardquo repleta de impurezas (escoacuterias que ainda
apresentavam uma significativa quantidade de ferro na sua composiccedilatildeo) Essa
massa era entatildeo colocada sobre uma bigorna e por meio de martelamento
manual ou mecacircnico retiravam-se as escoacuterias que ainda permaneciam grudadas
naquela massa compactando-a e dando forma ao metal
Labouriau ao explicar a accedilatildeo do carvatildeo vegetal durante o processo de
reduccedilatildeo explica que o carvatildeo vegetal em contato com o oxigecircnio da atmosfera
queima produzindo calor formando o gaacutes carbocircnico (CO e CO2) Esse CO2 entatildeo
ao reagir com uma parte do carvatildeo passa para CO e que esse CO juntamente
com uma parte do carvatildeo retira o oxigecircnio do mineacuterio e fica o ferro ligado a um
pouco de Carbonordquo (LABOURIAU 1928 p 146)
Essa teacutecnica de produccedilatildeo de ferro ficou conhecida como ldquoprocesso Diretordquo
ou ldquomeacutetodo de reduccedilatildeo diretardquo e o ferro produzido era o ldquoferro docerdquo Ateacute o seacuteculo
XV com o aparecimento do alto-forno esta era a uacutenica teacutecnica conhecida e
empregada na produccedilatildeo daquele metal No alto-forno o ferro atingia
temperaturas mais elevadas possibilitando uma maior absorccedilatildeo de carbono do
carvatildeo vegetal transformando-se em gusa (ferro-gusa ou ferro fundido) que saiacutea
64
do forno no estado liquido incandescente25 No seacuteculo XVI o alto forno foi
aperfeiccediloado na Alemanha e na Aacuteustria com o aparecimento do Stueckofen (alto-
forno) construiacutedos de alvenaria
Com a utilizaccedilatildeo do alto-forno e com a obtenccedilatildeo do ferro em sua forma
liacutequida foram possiacuteveis as produccedilotildees de armas de fogo balas de canhatildeo sinos
de igreja e mais tarde a fabricaccedilatildeo de adornos para as residecircncias tais como
grades enfim produtos que puderam ser produzidos a partir do ferro liacutequido
deitado em moldes
26 Fornos de fundiccedilatildeo de ferro Segundo Jordi Maluquer Motes no iniacutecio da metalurgia utilizavam-se
pequenos fornos (fornos baixos) para extraccedilatildeo do metal (ferro) os quais natildeo
eram mais que uma cavidade ciliacutendica escavada no terreno ou em uma rocha
Contudo a forma e o tamanho dos fornos foram mudando ao longo do tempo e
de simples cavidades escavadas no chatildeo os fornos comeccedilaram a ganhar ao
redor daquele ciacuterculo paredes de argila refrataacuteria o que permitia fazer fornadas
maiores aumentando assim a produccedilatildeo Contudo todos eles ateacute o advento do
alto-forno produziam por meio da reduccedilatildeo direta o ferro em estado pastoso O
produto (ferro) que ficava no interior do forno apoacutes a fundiccedilatildeo do mineacuterio era
chamado de massa de ferro patildeo de ferro ou lupa (MALUQUER DE MOTES
1983 p21)
25 No Brasil o alto-forno foi construiacutedo apenas no iniacutecio do seacuteculo XIX na Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema quando este estabelecimento estava sob a direccedilatildeo de Hedberg
65
Fig 15 CORTE ESQUEMAacuteTICO DE UM FORNO DE FUNDICcedilAtildeO ndash Forno
baixo26 Natildeo haacute descriccedilotildees detalhadas acerca desses fornos primitivos mas
vestiacutegios encontrados em vaacuterias partes da Europa como em Illasheim
(Alemanha) indicam que estes fornos apresentavam uma planta circular No
centro da Europa outros fornos construiacutedos pelos Celtas tambeacutem apresentavam
reduzidas dimensotildees Os fornos Celtas tinham em meacutedia 35 a 50 cm de
diacircmetro com uma profundidade de 45 a 50 cm Sobre uma base levantavam o
forno propriamente dito construiacutedo por uma parede ciliacutendrica de argila medindo
entre 60 a 100cm Os Celtas chegaram a desenvolver teacutecnicas eficientes de
aceramento (conversatildeo do ferro em accedilo) como por exemplo na Suiacuteccedila onde a
produccedilatildeo de espadas ganhou fama por sua resistecircncia (FAUS 2000 p 32-34)
Fornos ruacutesticos tambeacutem foram encontrados em Bengala Aacutefrica
denominados de fornos africanos ou fornos iacutendios Eram fornos ciliacutendricos e
confeccionados em areia ferruginosa mal amassada sustentada por uma
armadura de bambu Tinham dimensotildees de 090m de altura com um diacircmetro de
030m A base do forno era furada em vaacuterios lugares e colocava-se um fole em
cada uma das aberturas exceto na grade da frente (orifiacutecio pelo qual eram
26 Disponiacutevel em La Farga Rossel lthttpwwwfargarosseladcaslafarga21434htmgt
66
retiradas as escoacuterias) o que dava em geral um total de sete foles por forno
(FAUS 2000 p 50)
Fig 16 MAQUETE FORNO CELTA ndash forno baixo27
Durante o periacuteodo de dominaccedilatildeo romana Roma passou a controlar toda a
exploraccedilatildeo do ouro prata e ferro produzidos em seu impeacuterio Para a produccedilatildeo
desse uacuteltimo metal empregavam teacutecnicas de fundiccedilatildeo utilizando-se dos
chamados fornos romanos As ferrarias romanas eram constituiacutedas de ldquoum
montatildeo de fornosrdquo construiacutedos com barro e palha (RODRIGUES 1964 p11)
27 Disponiacutevel em Exposition 2000 ans de meacutetallurgie en Nivernais des Gaulois agrave Ariane ltjprostclubfravgexpo2003htmlgt
67
Fig 17 FORNO ROMANO RODRIGUES (1964 p 12)
Neste mesmo periacuteodo homens bascos dos redutos resistentes agrave
dominaccedilatildeo romana continuaram a produzir o ferro por meacutetodos de fundiccedilatildeo que
haviam aprendido com seus ancestrais utilizando os chamados ldquofornos de ventordquo
os quais podem ser relacionados agrave primeira fase da elaboraccedilatildeo do ferro As
instalaccedilotildees que utilizavam esses fornos passaram a ser conhecida como ferrarias
secas de montanha de vento Habitualmente os fornos dessas ferrarias eram
construiacutedos em aacutereas montanhosas em pontos elevados a fim de aproveitar a
forccedila dos ventos para ativar a combustatildeo do carvatildeo vegetal (FAUS 2000 p 47)
68
Fig 18 Fornos de vento ou de lupa28
Fig 19 FORNOS DE LUPA OU DE VENTO corte esquemaacutetico
28 Disponiacutevel em La Farga Rossel lthttpwwwfargarosseladcaslafarga21434htmgt
69
Para Jordi Maluquer de Motes a maior dificuldade de operaccedilatildeo da
combustatildeo era o controle das temperaturas do forno sendo que o grande
segredo para a utilizaccedilatildeo desses fornos de vento era a adequada posiccedilatildeo em que
este era instalado e tambeacutem a correta utilizaccedilatildeo dos meios artificiais empregados
na ativaccedilatildeo da combustatildeo do carvatildeo vegetal tal como o emprego de foles
manuais feitos de peles de animais Esse procedimento requeria um esforccedilo
bastante grande de trabalho humano natildeo apenas no acionamento do fole como
tambeacutem para as operaccedilotildees de martelamento da massa de ferro que se formava
no interior do forno (MALUQUER DE MOTES 1983 p 21)
Por utilizarem esta teacutecnica de reduccedilatildeo as ferrarias de vento geralmente
ficavam instaladas em regiotildees distantes dos povoados o que tambeacutem levava um
significativo nuacutemero de fundidores e mineiros a passar parte de suas vidas
distantes daqueles povoados Esse distanciamento suscitou ateacute mesmo o
surgimento de mitos e faacutebulas conforme aponta Elena Faus (2000) que
enriqueceram a cultura popular europeacuteia em especial a cultura basca
Las maravailhas del arte de aquellos seres ton solo por ellos
conocidos les hizo mecedores de leyendas Muchas de ellas les
han sobrevivido y han pasado a integrar el bagaje mitoloacutegico de la
cultura vasca
El velo de magia que enturbiaba la figura de los ferrones se
time en ocasiones de un cierto cariz de condena religiosa Se les
identifica con los lsquogentilesrsquo reacios a la evangelizacioacuten o con el
proprio demonio (lsquosentildeor de los bosquesrsquo o lsquobasejaunrsquo) en persona
(FAUS 2000 p 47)
Outros tipos de fornos de vento ou de montanha foram encontrados na
Ameacuterica Espanhola Em Potosi na atual Boliacutevia os indiacutegenas utilizavam um tipo
de forno para a fabricaccedilatildeo da prata denominado de ldquoforno de guairardquo Estes
fornos mesmo apoacutes a conquista espanhola em Potosiacute foram aproveitados para a
produccedilatildeo daquele metal (BARGALLOacute 1955 p 91)
70
Fig 20 FORNO DE GUAIRA ndash utilizado em Potosi Boliacutevia29
Aleacutem desses fornos de montanha que utilizavam a corrente de ar da
proacutepria atmosfera para acionar a combustatildeo do carvatildeo havia tambeacutem outros
tipos de fornos de fundiccedilatildeo acionados com o emprego de foles manuais Esses
fornos ficaram conhecidos por vaacuterias denominaccedilotildees e podiam ser construiacutedos de
formas e tamanhos diferentes Contudo todos eles apresentavam as mesmas
caracteriacutesticas teacutecnicas eram fornos baixos acionados por foles manuais e que
produziam o ferro utilizando o meacutetodo direto de fundiccedilatildeo Entre esses fornos
destacam os fornos de cuba de lupa de manga e castelhanos (BARGALLOacute
1955 p 91)
29Proyecto Arqueoloacutegico Porco-Potosi Disponiacutevel httplamarcolostateedu~mvanburespanish20participantshtm
71
Fig 21 Forno de Fundiccedilatildeo xilogravura de George Agriacutecola seacutec XVI30
Fig 22 Forno de Fundiccedilatildeo xilogravura de George Agriacutecola seacutec XVI31
30 Disponiacutevel em lttechnologyinfominecomdrmbook11htmgt Acesso em 17nov06
72
Tratados Teacutecnicos publicados no seacuteculo XVI como o De re metallica de
George Agriacutecola oferecerem descriccedilotildees e desenhos atraveacutes dos quais eacute possiacutevel
conhecer algumas formas daqueles fornos A partir de algumas gravuras ali
publicadas eacute possiacutevel identificar que os mesmos habitualmente eram construiacutedos
sobre uma base quadrada e eram utilizados na produccedilatildeo muitos metais como o
cobre o ouro prata e tambeacutem o ferro Esses fornos registrados por Agriacutecola
eram especialmente destinados para a fundiccedilatildeo de minerais em pedra Na
Ameacuterica Espanhola receberam o nome de ldquofornos castelhanosrdquo
Um outro autor a abordar esse tema foi Aacutelvaro Alonso Barba No seu
tratado Arte de los Metales afirmava que os fornos castelhanos eram utilizados
tambeacutem em outras partes do mundo A descriccedilatildeo que faz Barba do uso desses
fornos no Peru eacute por si soacute bastante didaacutetica para compreender o seu
funcionamento
Llaman en este reyno hornos castellanos a los que en las otras
trecircs partes del mundo han sido usados y comunes para la
fabricacioacuten de toda suerte de metales De ellos solos trata el
Agriacutecola para este efecto y es una la faacutebrica de todos y no
difieren en mas que en se mayores o menores y tener la boca
por onde el metal fundido sale oacute abierta siempre oacute cerrada a
ratos como se diraacute adelante Levaacutentense estos hornos a
perpendiculo en forma de um pilar quadrado algo maacutes largo que
anchos por lo hueco Tienen de alto algunos una vara otros casi
dos y otros menos seguacuten la grandeza de los fuelles con que
huviere de fundirse y la facilidad oacute dureza de los metales
requiere Por la parte de atraacutes en una ventanilla que para esto se
dexa en la pared algo levantada del suelo se afixa el alchrebiz en
que han de estar los cantildeones de fuelle puesto con advertencia
31 Disponiacutevel em httpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablePrimitivas_instalacionespdfgt Acesso em 17nov06
73
de que no assome oacute passe aacute lo hueco del horno porque las
escorias que sobre eacutel cayeren helaacutendose con el ayre del sopro
no lo paten oacute impidan El suelo del horno se hace de dos partes
de carbon molido y una de tierra buena bien apretado con pisoacuten
Assientase pendiente azia la parte delantera donde tendraacute un
agujero por onde corra el metal fundido y salgan las escorias aacute
una hordilla que junto aacute el estaraacute bien caliente con carbones
encendidos con a llama del horno y aire del fuelle que sale por el
dicho agujero
Otros hacen estos hornos redondos mas anchos de arriba
que de abajo y son menores para lo que se pretende con que se
tenga advertecircncia que siempre este a perpendiculo la parede se
pone el fuelle porque el metal fundido o las escorias no caygan
sobre la boca del alchrebiz y la tanpenrdquo (BARBA 1640 Apud
BARGALLOacute 1955 p 93)
Entre os seacuteculos XII e XVI a teacutecnica de fundiccedilatildeo do ferro experimentou um
notaacutevel impulso em razatildeo da demanda por derivados de ferro incrementada tanto
pelas guerras que necessitavam de ferragens para as montarias apetrechos
defensivos para os soldados e armas mortiacuteferas como por instrumentos para a
agricultura Tambeacutem para a construccedilatildeo das grandes catedrais era necessaacuterio
ferro para as armaccedilotildees metaacutelicas cravos ferramentas entre outros (FAUS 2000
p52)
Para atender a estas demandas era necessaacuterio que se produzisse a maior
quantidade possiacutevel de ferro e os fornos baixos que eram anteriormente
utilizados natildeo atendiam aqueles objetivos Para tanto natildeo apenas os fornos
foram tomando outras formas como tambeacutem houve uma mecanizaccedilatildeo por meio
da utilizaccedilatildeo da energia hidraacuteulica (rodas drsquo aacutegua verticais) e da trompa hidraacuteulica
no processo produtivo tornando obsoletas as ferrarias que utilizavam a forccedila
humana e animal para a produccedilatildeo
A importacircncia da mecanizaccedilatildeo na produccedilatildeo do ferro com o uso da roda
hidraacuteulica e da trompa foi tanta que para alguns autores pode-se consideraacute-la
74
como uma autecircntica revoluccedilatildeo tecnoloacutegica (MALUQUER DE MOTES 1984 p 21-
24)
A aplicaccedilatildeo desse mecanismo (roda drsquoaacutegua) ao processo produtivo fez
com que as ferrarias que anteriormente ficavam concentradas no alto de
montanhas fossem trasladadas para as margens de rios buscando a energia
hidraacuteulica capaz de acionar primeiramente dos foles possibilitando a construccedilatildeo
de fornos de maiores dimensotildees e dessa maneira a produccedilatildeo do ferro em maior
escala
Depois dos foles a roda drsquoaacutegua foi utilizada para a mecanizaccedilatildeo do
acionamento dos malhos (grandes martelos responsaacuteveis por liberarem as
escoacuterias das massas de ferro dando-lhes formas que pudessem ser
comercializaacuteveis como o ferro em barra) A funccedilatildeo da trompa era a mesma dos
foles isto eacute insulflar ar ao interior do forno para que a combustatildeo alcanccedilasse
uma temperatura elevada A trompa era um engenhoso sistema de insuflar ar e
tambeacutem o elemento mais caracteriacutestico do procedimento conhecido como da
ldquofarga catalatilderdquo ou forno catalatildeo
O primeiro emprego da roda drsquoaacutegua vertical na produccedilatildeo de ferro foi
introduzido na regiatildeo correspondente aos Pirineus Catalatildees Neste local
desenvolveu-se uma instalaccedilatildeo destinada a produzir ferro denominado de
ldquofaacutebriques ou faacutebreguesrdquo que depois passou a ser conhecida como ldquofarguesrdquo ou
ldquofargardquo (o termo era usado tanto para descrever os lugares onde era obtido o ferro
como seu processamento) A partir do seacuteculo XIV o emprego da roda foi
difundido na regiatildeo basca ndash Espanha favorecida pelos trecircs elementos
fundamentais necessaacuterios para a sua instalaccedilatildeo a geografia da regiatildeo formada
por um territoacuterio montanhoso com a presenccedila de um significativo nuacutemero de rios
as jazidas de ferro e a floresta que fornecia o carvatildeo vegetal o uacutenico combustiacutevel
utilizado naquele processo ateacute o seacuteculo XVIII32
32 Com a Revoluccedilatildeo Industrial do seacuteculo XVIII passaram a utilizar como combustiacutevel o carvatildeo coque
75
Na Catalunha junto com o desenvolvimento das ldquofargasrdquo aprimoraram-se
tanto as teacutecnicas relacionadas agrave construccedilatildeo dos fornos como ao seu sistema de
funcionamento que ficou famoso no mundo todo como procedimento da ldquoforja
Catalatilderdquo ou ldquoprocedimento catalatildeordquo (MOLERA BARRUECO1983 p11)
A forja Catalatilde ou forno catalatildeo foi um sistema intermediaacuterio entre os fornos
baixo e os altos fornos utilizados atualmente Essa teacutecnica dominou todo o
processo de obtenccedilatildeo do ferro e accedilo durante a Idade Meacutedia espalhando-se para
a Alemanha Aacuteustria Inglaterra Franccedila e Itaacutelia Desde a Idade Meacutedia ateacute finais do
seacuteculo XIX esses paiacuteses entre outros conseguiam produzir ferro mediante aquele
sistema conhecido universalmente como ldquoprocedimento Catalatildeordquo
O periacuteodo aacuteureo do emprego da forja catalatilde se daacute entre os seacuteculos XVII e
XVIII devido sobretudo agrave introduccedilatildeo de um outro mecanismo em substituiccedilatildeo
aos foles acionados pela roda hidraacuteulica a ldquotrompa de aacuteguardquo (sistema empregado
par injetar ar no forno) Desenvolvido na Itaacutelia este novo equipamento se difunde
pelas regiotildees dos Pirineus da peniacutensula Ibeacuterica e foi assimilado pelas
manufaturas catalatildes ateacute o ponto de integraacute-las como uma das caracteriacutesticas do
meacutetodo que leva o nome de ldquofarga catalanardquo ou forno catalatildeo Jaacute nas ferrarias
bascas a trompa de aacutegua natildeo foi amplamente difundida prevalecendo a
utilizaccedilatildeo de rodas drsquoaacutegua para o acionamento de foles e do malho ( MALUQUER
DE MOTES 1983 p 23)
76
Fig 23 ARRANJO DE ldquoFARGA CATALANArdquo OBSERVAR USO DE RODA DrsquoAacuteGUA PARA ACIONAMENTO DO MALHO E A PRESENCcedilA DA TROMPA HIDRAacuteULICA JUNTO AO FORNO33
33 Folheto Museu de Ripoll sd
77
No interior das ldquofargas catalanasrdquo o forno era a parte mais importante Os
fornos de fundiccedilatildeo catalatildees diferentemente dos fornos de vento tinham uma
forma tronco-cocircnica isto eacute ldquouma forma de um tronco de piracircmide invertidardquo
(MALUQUER DE MOTES 1983 p 22) O forno era construiacutedo de pedras
refrataacuterias revestidas em parte de peccedilas de ferro com trecircs paredes planas e
uma convexa esta uacuteltima destinada a facilitar a extraccedilatildeo do produto final (massa)
A parede onde era colocada a ldquotoverardquo (entrada do fole) era oposta agrave convexa e
esta era feita de ferro numa inclinaccedilatildeo de 35o a 45o Em uma das paredes
laterais havia um buraco que deixava passar as escoacuterias liacutequidas
(MOLERABARRUECO1983 p13)
Fig 24 ELEMENTOS QUE COMPOtildeEM A OFICINA DA ldquoFARGA CATALANArdquo Observa- se a presenccedila do forno de fundiccedilatildeo e do malhos acionados por roda drsquoaacutegua34
34 Caderno de Apoio para visitante do Museu de Ripoll ndash Catalunha Espanha sd
78
Um outro aprimoramento teacutecnico do meacutetodo catalatildeo foi a forma como
passaram a carregar o forno Deixando para traacutes o meacutetodo anteriormente
conhecido que consistia em carregar o forno em camadas horizontais superpostas
com carvatildeo vegetal e mineacuterio os catalatildees passaram a carregar o forno por meio
de duas camadas verticais justapostas De um lado do forno (aquele em que
estava instalado o fole) era colocado o combustiacutevel (carvatildeo) de tal maneira que o
oacutexido de carbono que se desprendia da queima era forccedilado a atravessar a coluna
do mineacuterio (que estava disposta em uma outra coluna localizada junto agrave parede
oposta agrave do fole)
A produccedilatildeo do ferro ainda se realizava por meio do meacutetodo de produccedilatildeo
direta Sendo assim ainda se mantinha o processo de martelamento da massa de
ferro por meio do malho (que tambeacutem ficava instalado dentro daquele
estabelecimento) para a obtenccedilatildeo do produto final O meacutetodo catalatildeo natildeo apenas
melhorou a qualidade do produto final mas tambeacutem proporcionou o aumento da
produccedilatildeo
27 Tratados Teacutecnicos de Metalurgia
Entre os seacuteculos XV e XVI arquitetos engenheiros meacutedicos e artesatildeos e
outros publicaram inuacutemeros tratados voltados para os ofiacutecios mecacircnicos ou ldquoArtes
Mecacircnicasrdquo Essa literatura eacute extraordinariamente rica em Tratados de caraacuteter
teacutecnico que podem ser considerados autecircnticos manuais e representaram uma
contribuiccedilatildeo decisiva entre o saber cientiacutefico e saber teacutecnico-artesanal os quais
tiveram um grande efeito no nascimento da cooperaccedilatildeo entre cientistas e teacutecnicos
e entre ciecircncia e induacutestria (ROSSI 1989 p 30)
79
Entre as obras de caraacuteter teacutecnico publicadas naquele periacuteodo destacam-
se os escritos de Brunelleschi Ghiberti Peiro della Francesca Leonardo Cellini
Paolo Lomazzo o trabalho sobre as maacutequinas de guerra de
Konrad Keyser (1366-1405) os tratados teacutecnicos de Fontana
(1420) e Mariano (1438) as obras sobre arquitetura de Leon
Batista Alberti Filarete Francesco di Giorgio Martini Palladio o
livro sobre maquinas militares de Valturio da Rimini (publicado em
1472 reeditado em Verona em 1482 e 1483 em Bolonha em
1483 em Veneza em 1493 e nada menos que quatro vezes em
Paris entre 1532 e 1555) os dois tratados de Duumlrer sobre a
geometria descritivas e as fortificaccedilotildees (1525 e 1527) a
Pirotechnia de Biringuccio (1540) depois reeditada em duas
ediccedilotildees latinas trecircs francesas e quatro italianas) a obra de
baliacutestica de Nicolograve Tartaglia (1537) os dois tratados de
engenharia mineral de Georg Agriacutecola (1546-1556) o Teatro di
macchine de Besson (1569 depois traduzido para o francecircs e o
espanhol) os Mechanicorum libri de Guidobaldo Del Monte
(1577) as Diverse et artificiose macchine de Agostinho Ramelli
(1588) os trecircs livros sobre mecacircnica de Simon Stevin (1586
traduzido do flamengo para o francecircs em 1634) a obra sobre
fortificaccedilotildees de Lorini (1597) os trabalhos de arte da navegaccedilatildeo
de Willian Barlowe (1597) Thomas Harriot (1594) e Robert Hucs
(1599) (ROSSI 1989 p30-31)
Entre os tratados relacionados com a metalurgia e a mineraccedilatildeo
destacamos a De La Pirotechinia considerado o primeiro livro impresso dedicado
agrave metalurgia foi escrito pelo italiano Vannoccio Biringuccio (ca 1480-1539) e
publicado pela primeira vez em 1540 Adepto do empirismo Birunguccio
escreveu esse tratado baseado nas observaccedilotildees diretas do ofiacutecio que havia
adquirido durante as vaacuterias visitas que fez a Alemanha35 onde se destacava o
desenvolvimento de teacutecnicas de exploraccedilatildeo de minas de prata e tambeacutem de
35 Biringuccio visitou a Alemanha em 1516 e entre 1526 e 1529
80
equipamentos que possibilitavam a construccedilatildeo de tuacuteneis e galerias para a
exploraccedilatildeo do subsolo36
Embora tivesse sido publicado na Alemanha no iniacutecio do seacuteculo XVI de
forma anocircnima um conjunto de manuais teacutecnicos sobre o ensaio de metais a
obra de Biringuccio era mais ambiciosa explicava como descobrirem minerais e
veios a maneira de separar o ouro e a prata as teacutecnicas de ensaio e as
propriedades do cobre o zinco e outros metais Analisava aleacutem disso as
propriedades do mercuacuterio do enxofre do antimocircnio e de outros elementos
utilizados no processo de extraccedilatildeo do ouro e prata como tambeacutem os meacutetodos de
obtenccedilatildeo do accedilo aleacutem de apresentar ilustraccedilotildees sobre fundiccedilotildees de canhotildees e
sinos a fabricaccedilatildeo de objetos piroteacutecnicos e algumas poucas informaccedilotildees sobre
mineraccedilatildeo geologia e mineralogia (CARDWELL 1994 p 76)
Um outro tratado importante foi escrito pelo alematildeo Georg Bauer (1494-
1555) conhecido pela forma latina de seu nome como Georgius Agriacutecola Depois
de estudar em Leipzig Bolonha e Veneza foi em 1527 exercer a profissatildeo de
meacutedico em Joachimstal na Boemia a maior aacuterea mineira na eacutepoca Agricola
passou a maior parte de sua vida estudando mineralogia e geologia entre 1546 e
1556 escreveu dois tratados destacando a mineraccedilatildeo e a siderurgia
Em 1546 publicou dois tratados sistemaacuteticos de geologia e mineralogia a
De ortu et causis subterraneorum e a De natura fossilium os quais lhe conferiram
a designaccedilatildeo de ldquoPai da Mineralogiardquo37 O seu trabalho mais importante e de
maior divulgaccedilatildeo foi publicado em 1556 com o tiacutetulo de De Re Metallica - A Arte
dos Metais - o qual serviu como obra teacutecnica de mineraccedilatildeo durante quase dois
seacuteculos seguintes aquela primeira publicaccedilatildeo
36 A Alemanha havia desenvolvido importantes teacutecnicas de mineraccedilatildeo que foram intensificadas pelo contiacutenuo intercacircmbio de experiecircncias com a Hungria e a Sueacutecia 37 Georgius Bauer Agricola (1494-1555) cientista alematildeo considerado o fundador da mineralogia Foi um dos primeiros cientistas que baseou suas teorias na observaccedilatildeo em vez da especulaccedilatildeo Antes dele podemos destacar Alberto Magno (1193-1280) conhecido como Preacute-Tecnoacutelogo escreveu a obra De mineralibus que constitui natildeo somente uma histoacuteria dos mineralogia como tambeacutem uma descriccedilatildeo dos metais
81
O conteuacutedo do livro De Re Metallica estava baseado no estudo das coisas
materiais realizado por meio da observaccedilatildeo descriccedilatildeo sistemaacutetica analiacutetica e
meticulosa da natureza A transcriccedilatildeo dessas observaccedilotildees natildeo requeria apenas a
confecccedilatildeo de textos descritivos mas tambeacutem de ilustraccedilotildees com as quais
procuravam traduzir os conhecimentos obtidos pela observaccedilatildeo em imagens
graacuteficas as mais compreensiacuteveis possiacuteveis (ROSSI 1989 p 52)
Agriacutecola ao escrever a introduccedilatildeo desse tratado esclarecia ao leitor como
havia concebido a sua obra e as dificuldades que enfrentou para concluiacute-la
Diz ele Grandiacutessima fadiga e solicitude realmente aqui coloquei e ainda
algumas boas despesas porque natildeo escrevi simplesmente os
veios os instrumentos os canais as maacutequinas e as fornalhas
mas ainda agraves minhas expensas assalariei os pintores para fazer
seus retratos naturais a fim de que as coisas natildeo conhecidas que
satildeo apresentadas com palavras natildeo tragam real dificuldade agraves
pessoas de hoje ou de tempos vindouros (ROSSI 1989 p 51)
Os retratos naturais referidos por Agriacutecola eram as xilogravuras que
ilustravam as suas obras A partir dessas imagens era possiacutevel visualizar com
exatidatildeo de detalhes as dimensotildees sobre equipamentos instrumentos e teacutecnicas
empregadas na prospecccedilatildeo no processo de fundiccedilatildeo e orientaccedilotildees sobre o uso
da energia hidraacuteulica nas operaccedilotildees mineiras enfim as ilustraccedilotildees traziam
detalhes sobre praticamente todas as etapas das operaccedilotildees mineiras isto eacute
prospecccedilatildeo administraccedilatildeo beneficiamento e transporte de mineacuterios 38
Na segunda parte daquele mesmo livro o autor dedica-se ao ensaio e
tratamento dos minerais Como Biringuccio Agricola mostrava criacutetica e desprezo
pelo trabalho realizado pelos alquimistas Uma de suas criacuteticas referia-se ao
38Agricola demonstra neste Tratado o funcionamento de sete tipos diferentes de bombas de succcedilatildeo incluindo uma bomba muacuteltipla acionada por uma grande roda hidraacuteulica e uma bomba combinada de succcedilatildeo e impelente (bomba impelente bomba que eleva a aacutegua por meio de pressatildeo exercida sobre o liacutequido)
82
meacutetodo empregado por estes na busca de metais enterrados O uso da
radiestesia por meio do emprego de uma vara ou forquilha feita com galhos de
aacutervores era considerado por Bauer apenas uma arte da adivinhaccedilatildeo derivada da
magia antiga e que somente poderia ser e era utilizada por mineiros simples e
ordinaacuterios
A Ameacuterica Espanhola foi tambeacutem palco para a produccedilatildeo do conhecimento
relacionado agrave metalurgia Em 1640 Aacutelvaro Alonso Barba padre em Potosiacute e que
havia aperfeiccediloado o meacutetodo de amalgamaccedilatildeo39 desenvolvido por Bartolomeacute de
Medina (Beneficio de Patio)40 publicou a partir de experiecircncias proacuteprias com a
produccedilatildeo de prata naquele local o livro Arte de los Metales O livro de Barba foi o
primeiro trabalho em que se registrou o processo de amalgamaccedilatildeo por mercuacuterio
que ficou conhecido como ldquomeacutetodo de cazo y cocimientordquo (realizado por meio do
calor dentro de reservatoacuterio de cobre) Este livro foi o primeiro trabalho em que se
registraram as regras para beneficiamento de ouro e prata com a utilizaccedilatildeo do
mercuacuterio
39 Amalgamaccedilatildeo Operaccedilatildeo que consiste em ligar o mercuacuterio a outro metal ou separar o ouro e a prata da ganga por meio do mercuacuterio 40 O ldquobenefiacutecio de paacutetiordquo foi assim denominado pois toda a operaccedilatildeo de produccedilatildeo de prata era realizada em um paacutetio Consistia basicamente em mesclar a Mena (metal) moiacuteda e uacutemida com sal comum e mercuacuterio Esse meacutetodo era menos custoso que aqueles que eram utilizados e seu uso se prolongou ateacute o seacuteculo XIX
83
CAPITULO 3
HISTOacuteRICO DA MINERACcedilAtildeO NO BRASIL NO PERIacuteODO COLONIAL A Histoacuteria das primeiras expediccedilotildees no Brasil mostra que desde o inicio do
seacuteculo XVI jaacute havia uma preocupaccedilatildeo permanente aleacutem do reconhecimento do
novo territoacuterio na busca de metais e pedras preciosas que eram produtos de alto
valor econocircmico e poliacutetico aleacutem do interesse estrateacutegico
Durante os primeiros trinta anos de colonizaccedilatildeo do Brasil Portugal estava
voltado para a exploraccedilatildeo dos produtos da Aacutefrica e Iacutendia inclusive de metais
sendo que esta experiecircncia se reflete nas primeiras expediccedilotildees quando se
constata a preocupaccedilatildeo com a descoberta de metais nobres (ouro e prata)
conforme se demonstra nos itens que seguem
Embora a busca por metais fosse uma constante as exploraccedilotildees durante
a primeira metade do seacuteculo XVI resultaram a descoberta de produtos vegetais
(pau-brasil) e animais exoacuteticos (araras e papagaios) 41
Somente com a descoberta da prata na serra de Potosi em 1545 pelos
espanhoacuteis ficou comprovada a existecircncia de metais nobres no novo continente
31 As primeiras expediccedilotildees mariacutetimas a busca de metais nobres A primeira expediccedilatildeo portuguesa destinada ao reconhecimento do litoral do
Brasil partiu de Lisboa entre os anos 1501-02 sob o comando de Gonccedilalo Coelho
e pelo florentino Ameacuterico Vespuacutecio (cosmoacutegrafo contratado pela Coroa
Portuguesa) Apoacutes terem passado pelos atuais estados do Rio Grande do Norte
Bahia e Rio de Janeiro os navios desembarcaram em janeiro de 1502 numa ilha 41 O pau-brasil era extraiacutedo no litoral compreendido desde o atual Estado do Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro
84
que denominaram Cananeacuteia42 Este local tornou-se na primeira metade do seacuteculo
XVI importante posto avanccedilado responsaacutevel pelo abastecimento de
embarcaccedilotildees que mais tarde passaram a rumar para o sul do continente com o
objetivo de reconhecimento e busca de riquezas minerais
Em 1514 Portugal enviou uma outra expediccedilatildeo ao sul desta vez chefiada
por Joatildeo de Lisboa e Estevatildeo Frois financiada D Nuno Manuel e Cristoacutevatildeo de
Haro em cujo trajeto estava Cananeacuteia e a Ilha de Satildeo Francisco do Sul (Santa
Catarina) Esta expediccedilatildeo descobriu o estuaacuterio do rio que denominaram de Rio da
Prata Os resultados dessa expediccedilatildeo foram informaccedilotildees dadas pelos nativos
(Charruas) sobre a existecircncia de uma ldquoSerra de Pratardquo fato que deve ter
impulsionado o envio da expediccedilatildeo espanhola para o sul de Cananeacuteia em 1515
chefiada por Juan Diaz de Soacutelis (VIANNA 1972 p 54)
Entre 1521 e 1526 Aleixo Garcia junto com outros remanescentes da
expediccedilatildeo de Soacutelis e mais iacutendios guaranis partiram da Costa dos Patos (Santa
Catarina) indo aleacutem do rio paraguay e do Chaco obtendo riquezas perdidas na
viagem de regresso (VIANNA 1972 p 214)
Em 1530 parte de Lisboa a expediccedilatildeo de Martim Afonso de Souza uma
das mais importantes expediccedilotildees portuguesas Tinha como objetivos expulsar do
litoral os franceses que traficavam pau-brasil reconhecer a extensatildeo da costa
pertencente a Portugal promover a ocupaccedilatildeo do territoacuterio criando fortificaccedilotildees
em pontos de interesse estrateacutegico e especialmente explorar o rio da Prata 43
42 Cananeacuteia era local de fronteira entre as terras de Portugal e Espanha estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas (1494) 43 A expediccedilatildeo de Martim Afonso se diferenciou das anteriores pelo fato de ter D Joatildeo III investido estes comandantes de poderes especiais aplicados sobretudo em Satildeo Vicente Entre eles permitia-se a Martim Afonso distribuir terras em sesmarias criar instrumentos juriacutedicos que permitiram o registro de propriedades atraveacutes da instalaccedilatildeo dos tabelionatos e a elevaccedilatildeo de povoados para a condiccedilatildeo de vilas o que possibilitou a instalaccedilatildeo de um processo colonizador na regiatildeo Sobre a expediccedilatildeo ver VIANNA Helio Historia do Brasil Satildeo Paulo Melhoramentos 1970 p56-61
85
Um dos fatos importantes resultantes da vinda dessas expediccedilotildees foi a
integraccedilatildeo do Porto de Satildeo Vicente44 juntamente com Cananeacuteia na rota de
navegaccedilatildeo para o sul do continente Estes portos serviam para abastecer as
embarcaccedilotildees e ali era possiacutevel contratar os ldquoliacutenguasrdquo 45
Em 1532 quando Martim Afonso chegou a Satildeo Vicente encontrou um
nuacutecleo formado por portugueses espanhoacuteis indiacutegenas Essa localidade tambeacutem
jaacute era conhecida como a porta de entrada para o sertatildeo e o caminho natural para
se ir agrave Serra da Prata atraveacutes dos Peabirus (ver item abaixo)
32 O Peabiru uma trilha para o Sertatildeo Tendo em vista a importacircncia da existecircncia de caminhos indiacutegenas
denominados Peabirus como facilitadores da interligaccedilatildeo da Vila de Satildeo Paulo
(Campos de Piratininga) com a regiatildeo onde se localiza o morro de Araccediloiaba
entendemos ser importante discorrer a respeito destas vias
A respeito desse sistema de caminhos escreveu Adolpho Pinto em 1902
() havia estradas extensas construiacutedas pelo gentio comunicando
vaacuterios pontos do litoral com o mais longiacutenquo interior do paiz
podendo-se mesmo dizer que figurava como tronco desse primitivo
sistema de viaccedilatildeo geral uma grande estrada pondo em ligaccedilatildeo as
tribus da naccedilatildeo Guarany da bacia do Paraguay com a tribu dos 44Satildeo Vicente segundo Washington Luiacutes ldquojaacute era um porto conhecido com lugar marcado nos rudimentares mapas da eacutepoca uma espeacutecie de pequena feitoria portuguesa de iniciativa particular visitada de esquadras para o trafico de escravos se forneciam viveres agrave navegaccedilatildeo de longo curso se construiacuteam bergantins e se contratavam liacutenguas da terrardquo LUIZ Washington Na Capitania de Satildeo Vicente Satildeo Paulo Livraria Martins Editora1956 p47 A povoaccedilatildeo de Satildeo Vicente foi elevada agrave condiccedilatildeo de Vila em 1532 com a instalaccedilatildeo de oacutergatildeos administrativos e poliacuteticos como a Cacircmara e Cadeia transformando-a no primeiro nuacutecleo de colonizaccedilatildeo portuguesa do litoral 45 Os liacutenguas eram aqueles versados na liacutengua indiacutegena O Tupi era falado em Satildeo Paulo ateacute meados do seacuteculo XVIII Segundo John Monteiro ldquoo domiacutenio da liacutengua geral ou qualquer outra liacutengua indiacutegena era consideraacutevel uma respeitaacutevel especializaccedilatildeo e a fluecircncia numa dessas liacutenguas limitava-se apenas aos maiores sertanistasrdquo MONTEIRO John Negros da Terra iacutendios e bandeirantes nas origens de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1994 p164
86
Patos do litoral de Santa Catarina com os Carijoacutes de Iguape e
Cananeacuteia e com as tribus de Piratininga e do litoral proacuteximo
(GONCcedilALVES 1998 p8)
Em Satildeo Vicente o Peabiru constituiacutea o acesso obrigatoacuterio que do mar
seguia para os sertotildees do Planalto de Piratininga Construiacutedo de acordo com a
teacutecnica e a tradiccedilatildeo indiacutegena seguia os espigotildees dos morros de modo a evitar
terrenos iacutengremes embora em alguns trechos fossem inevitaacuteveis as encostas
com fortes declividades ((GONCcedilALVES 1998 p6 )
A partir do Planalto de Piratininga seguindo para o interior rumo ao Oeste
o caminho que levava ateacute a regiatildeo das minas de ferro era um Peabiru cuja trilha
contornava os morros do Apotribu no municiacutepio de Itu e alcanccedilava o morro de
Araccediloiaba no atual municiacutepio de Iperoacute interior de Satildeo Paulo
87
Fig 24 Peabiru (Tronco) Passando por Sorocaba (Galdino 2002 p182)
88
Fig 25 Mapa de Pasquale Petrone (GONCcedilALVES1998 p42)
89
33 O descobrimento da prata em Potosi
Em 1545 a Espanha anunciou o descobrimento na regiatildeo denominada de
Alto Peru (atualmente territoacuterio boliviano) de uma montanha denominada de
Potosi com 600 metros de altura onde ocorria uma importante jazida de prata
Diferentemente do que acreditavam portugueses e espanhoacuteis Potosi natildeo estava
localizada nem nas proximidades do rio da Prata nem na regiatildeo sul do continente
onde esperavam descobrir aquela lendaacuteria riqueza
Sergio Buarque de Holanda (1959 p 58) ao discorrer sobre aquela
descoberta escreve ldquotamanho era o prestiacutegio de Potosi que em pouco tempo a
velha atraccedilatildeo do ouro parece suceder facilmente a da pratardquo O ldquofeiticcedilo do Perurdquo
desencadeou um novo direcionamento da poliacutetica portuguesa com um maior
interesse da Coroa Portuguesa nos negoacutecios do Brasil e particularmente na
Capitania de Satildeo Vicente
Para dar maior incremento ao povoamento do interior foi instituiacutedo o
sistema de distribuiccedilatildeo de terras (Sesmarias) Uma dessas sesmarias foi doada a
Afonso Sardinha bandeirante que se destacou na atividade mineradora e
tambeacutem na vida poliacutetica da Vila de Satildeo Paulo na comercializaccedilatildeo com a regiatildeo
do Rio da Prata como proprietaacuterio de engenho de accediluacutecar traficante de escravos
africanos investidor financiador e produtor de ferro Foi um dos financiadores da
instalaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro que comeccedila a funcionar em 1607 46
Acreditava-se que o ldquoCerro de Potosirdquo natildeo ficava muito longe das terras da
Coroa Portuguesa sendo este um dos motivos que impulsionavam as ldquopessoas a
continuarem as buscas em direccedilatildeo do Oeste apesar dos repetidos
desapontamentosrdquo (BOXER 2002 p 45)
46 Afonso Sardinha recebeu suas terras de sesmarias no lugar denominado de Ubataacute abrangendo o atual Butantatilde que eacute o Ubataacute citado por Pedro Taques ou Ibatata Batata ou Ibitatatilde em documentos municipais seiscentistas e setecentistas HOLANDA Sergio Buarque de Caminhos e Fronteiras 1957 p 188
90
Um dos caminhos Peabiru que partindo de Satildeo Vicente demandava o
Potosi passava pela Vila de Satildeo Paulo e seguindo a direccedilatildeo Oeste contornava o
morro de Araccediloiaba onde em finais do seacuteculo XVI iniciou-se a produccedilatildeo de ferro
seguindo para a regiatildeo do Guairaacute (atual Estado do Paranaacute) ateacute alcanccedilar as terras
castelhanas
Pode-se dizer que a esperanccedila de encontrar minas de prata um Potosi em
terras de Satildeo Vicente persistiu ateacute o iniacutecio do seacuteculo XVIII quando de fato
foram encontradas minas de ouro pelos paulistas na regiatildeo dos atuais Estados de
Minas Gerais Mato Grosso e Goiaacutes 47
34 A busca de metais nobres na Capitania de Satildeo Vicente
Desde meados do seacuteculo XVI jaacute corriam notiacutecias sobre a possiacutevel
existecircncia de riquezas minerais no interior da Capitania Joseacute de Anchieta em
carta escrita em Satildeo Paulo de Piratininga em 1554 dava as primeiras
informaccedilotildees sobre as descobertas de minas de ouro prata e ferro48 Neste
mesmo ano o jesuiacuteta Pero Correa tambeacutem destacava a descoberta de mina de
ferro proacutexima daquele local 49
47 As minas de ouro localizadas pelos paulistas foram disputadas tambeacutem por portugueses e baianos e todos reivindicavam aquela descoberta Essa disputa culminou na chamada Guerra dos Emboabas na qual os paulistas foram derrotados As descobertas das minas de Mato Grosso e Goiaacutes marcaram o iniacutecio das monccedilotildees expediccedilotildees fluviais regulares que faziam a comunicaccedilatildeo entre Satildeo Paulo e Cuiabaacute O ouro encontrado onde hoje se ergue a cidade de Cuiabaacute foi achado por escravos do sorocabano Miguel Sutil em 1722 Sobre as Monccedilotildees ver HOLANDA Sergio Buarque de Monccedilotildees Rio de Janeiro Casa do estudante do Brasil 1945 48 Ver Carta do quadrimestre de maio a setembro de 1554 dirigida por Joseacute de Anchieta a Santo Ignaacutecio de Loyola Roma In Minhas Cartas por Joseacute de Anchieta Publicaccedilatildeo 450 anos p 153 49 Carta do Irmatildeo Pero Correa escrita a um padre do Brasil In CARTAS Avulsas 1550-1568Azpilculta Navarro e outros Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Edusp 1988 p 163-165
91
A respeito da pesquisa mineral na Capitania de Satildeo Vicente Heacutelio Vianna
escreve que com a intenccedilatildeo de investigar a existecircncia daquelas riquezas
ldquo() mandou o governo portuguecircs em 1559 um mineiro praacutetico
Luis Martins Por ordem do Governador Men de Saacute no ano
seguinte em Satildeo Vicente partiu ele para indeterminados pontos
do interior em uma leva organizada e dirigida por Braacutes Cubas
Regressando este a Santos em 1562 com algumas amostras de
metais e pedras que enviou ao Reino fez com que no mesmo
ano o mineiro voltasse as suas pesquisas Natildeo muito longe
ainda em terras vicentinas em Jaraguaacute talvez em Caatiba hoje
Bacaetava encontrou afinal o desejado ouro Explorou-o
inicialmente o proacuteprio Braz Cubas depois associado ao Capitatildeo
Mor Jerocircnimo Leitatildeordquo (VIANNA 1972 p 215)
35 D Francisco de Souza a organizaccedilatildeo da exploraccedilatildeo mineral De 1598 eacute a primeira referencia a ldquocertos lsquomontes de Sabaroasonrsquo de
onde um mameluco teria extraido amostras de metal que levadas a Bahia ao
Governador D Francisco de Sousa determinaram a vinda deste a Satildeo Vicenterdquo (VIANNA 1972 p 215)
D Francisco de Sousa Seacutetimo Governador Geral do Brasil (1591-1602) e
a partir de 1606 Governador das Minas das Capitanias do Sul 50 promoveu e
organizou vaacuterias expediccedilotildees ao sertatildeo destinadas a descobrir e explorar minas de
ouro e prata e outros metais Tais atividades eram apresentadas como parte de
50 As Capitanias do Sul correspondiam agraves Capitanias do Espiacuterito Santo Rio de Janeiro e Satildeo Vicente
92
seu projeto de desenvolvimento no qual tambeacutem estava inserido o setor de
agricultura e induacutestria sustentado com base no trabalho indiacutegena 51
A sua maior contribuiccedilatildeo decorre do fato de ter exercido o cargo de
Governador das Minas e de ter se fixado na Capitania de Satildeo Vicente mais
especificamente na Vila de Satildeo Paulo de onde provinham as notiacutecias da
existecircncia de minas de ouro prata e ferro
D Francisco veio para Satildeo Paulo munido de poderes que lhe permitiam
distribuir mercecircs agravequeles que tivessem trabalhado na exploraccedilatildeo das minas
Conforme o Regimento que jaacute vigorava no Peru e nas Iacutendias de Castela o
explorador haveria de aplicar seus proacuteprios recursos na busca e exploraccedilatildeo das
jazidas A contrapartida que poderia ser dada pelo Rei estava no fornecimento
de algumas comodidades e mercecircs (STELLA 2000 p 119)
Atraveacutes de Alvaraacutes D Francisco podia nomear uma quantidade
determinada de pessoas com tiacutetulos de nobreza Estas atribuiccedilotildees fizeram com
que muitos moradores da Vila de Satildeo Paulo despendessem de seus proacuteprios
recursos materiais e de indiacutegenas para organizar expediccedilotildees em buscas daqueles
metais
Em 1599 D Francisco esteve no morro de Araccediloiaba para verificar a
autenticidade e a natureza daquela mina que diziam ter ferro ouro e prata Para
viajar ateacute aquele local enfrentando toda a sorte de perigos D Francisco precisou
solicitar ajuda dos moradores de Satildeo Paulo 52
51 Quando no Cargo de Governador Geral Francisco de Souza conduzido pela esperanccedila de encontrar na regiatildeo das cabeceiras do rio Satildeo Francisco a lendaacuteria Sabarabuccediluacute (uma serra de prata e esmeraldas) organizou em 1596 trecircs entradas ao sertatildeo com saiacutedas da Bahia Espiacuterito Santo e Satildeo Paulo respectivamente A vertente paulista foi chefiada por Joatildeo Pereira de Sousa Botafogo e contava com 25 colonos e seus respectivos iacutendios A maioria desta expediccedilatildeo regressou a Satildeo Paulo ldquosatisfeita com os tupinambaacutes que haviam capturado no vale do Paraiacutebardquo MONTEIROJohn Negros da Terra iacutendios e bandeirantes nas origens de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1994 p 58-68 52 PEREIRA Antonio Batista Carta a Paulo Duarte apud Donato Hernani Sumeacute e Peabiru misteacuterios maiores do seacuteculo da descoberta SP ediccedilotildees GRD 1997 p91
93
Aracy Amaral ao analisar a gestatildeo de D Francisco de Sousa como
Governador das Minas das Capitanias do Sul opina que esse administrador
() representa o veiacuteculo que transportou para Satildeo Paulo uma
experiecircncia uma mentalidade que Castela desde haacute muito
desenvolvia no Meacutexico e no Peru As concessotildees e privileacutegios que
obteve do Rei faziam parte de uma legislaccedilatildeo empregada com
sucesso naqueles domiacutenios Essa nova mentalidade estava
intimamente relacionada com os negoacutecios da mineraccedilatildeo e esse jaacute
chamado de ldquoeldorado-maniacuteacordquo que foi D Francisco tambeacutem
denominado por Taunay de ldquopropulsor dos paulistasrdquo seguia sem
duacutevida a diretriz apontada pelos Felipes (AMARAL 1981 p 13)
Apoacutes a Restauraccedilatildeo Portuguesa em 1640 as buscas pelo ouro e pela
prata permaneceram assim como as concessotildees de mercecircs para aqueles que
descobrissem minas ou incentivassem outros a descobri-las Para Ilana Blaj isso
tudo era ldquoum universo de honra de siacutembolos de dignidade e de prestiacutegio que a
elite perseguia e que a Coroa concedia estreitando ainda mais os laccedilos de
vassalagem no interior do Impeacuteriordquo Sintetizando a autora afirma que ldquoescravos
terra dignidade honrarias e prestiacutegio constituiacuteram os fundamentos da sociedade
colonial brasileirardquo (BLAJ 2002 p 322-338)
Em 1611 D Francisco de Sousa falece na mais extrema pobreza O
mesmo destino que tiveram outros que laacute apostaram na metalurgia Frei Vicente
do Salvador contemporacircneo de D Francisco descrevendo a situaccedilatildeo afirmou
que
() estando tatildeo pobre que affirmou um padre da Companhia que
se achava com elle a sua morte que nem uma vela tinha para lhe
metterem na matildeo si a natildeo mandara levar do seu convento mas
quereria deusalumia-lo em aquelle tenebroso transe por outras
muitas que ainda levado deante de muitas esmolas e obras de
piedade que sempre fez (FRANCO 1929 p 135)
94
36 Teacutecnicos e praacuteticos na mineraccedilatildeo e metalurgia Na Vila de Satildeo Paulo e tambeacutem no Sertatildeo as forjas de ferreiro se
instalaram desde cedo As atividades desses ferreiros se concentravam na
fabricaccedilatildeo de ferramentas como foices machados cravos e anzoacuteis utilizando
ferro em barra ou em lingotes trazido da Europa que eram aqui refundidos em
fornos de forja
Em 1553 Manoel da Noacutebrega noticia a presenccedila de ldquotendas de ferreirordquo
como um dos instrumentos levados nas expediccedilotildees ao Sertatildeo (NEME 1959
p158) Em 1584 trabalhavam em Satildeo Paulo trecircs ferreiros (HOLANDA 1957
p186)
Gilberto Freyre em seu trabalho Ferro e Civilizaccedilatildeo no Brasil (1988 p249-
251) destaca como conhecedor do trabalho com o ferro natildeo somente o colono
portuguecircs como tambeacutem os padres da Companhia de Jesus Para esse autor
ambos haviam iniciado seus saberes com ibeacutericos os quais haviam desenvolvido
as ldquoferreriacuteasrdquo os ldquohornosrdquo e aperfeiccediloado as teacutecnicas de fundiccedilatildeo com o ldquohorno
catalaacutenrdquo Entre os conhecedores de metalurgia estava o jesuiacuteta Joseacute de Anchieta
o qual como jaacute destacamos havia informado em 1554 a existecircncia de mineacuterios
nobres e do ferro nas imediaccedilotildees de Satildeo Paulo 53
Diferentemente do que ocorreu nas colocircnias espanholas da Ameacuterica os
indiacutegenas que aqui foram encontrados natildeo tinham conhecimento metaluacutergico e
portanto natildeo utilizavam nenhuma teacutecnica de fundiccedilatildeo que pudesse ser adaptada
aos interesses do colonizador
Quanto ao conhecimento e a exploraccedilatildeo do mineacuterio e produccedilatildeo do ferro as
teacutecnicas necessaacuterias eram totalmente desconhecidas no Novo Mundo Sendo
53 Joseacute de Anchieta era descendente de bascos seus pais eram de Guipuacutezcoa Proviacutencia do Paiacutes Basco BARBOSA Francisco de Assis Dom Joatildeo VI e a Siderurgia no Brasil Rio de JaneiroBiblioteca do Exercito 1958 p 26
95
assim podemos afirmar que essa teacutecnica foi totalmente trazida pelos europeus
em especial pelos espanhoacuteis
Logo apoacutes a Uniatildeo Ibeacuterica (1580-1640) foi encaminhada para as terras das
colocircnias da Ameacuterica a armada de Diego Flores Valdeacutes 54 A passagem de Valdeacutes
em Satildeo Vicente em 1583 revela o interesse pelas riquezas minerais na regiatildeo
sendo que por este motivo solicita agrave Coroa a vinda de teacutecnicos e especialistas em
minas para dar iniacutecio agrave exploraccedilatildeo das jazidas descobertas Ao mesmo tempo
alerta sobre a necessidade de fortificar Satildeo Vicente pois alegava que ldquohay
camino abierto por tierra que va al Rio de La Plata y al Paraguay y a Sancta Feerdquo
(GONZALEZ 2002 p 46)
Alguns autores atribuem a presenccedila do praacutetico Clemente Aacutelvares nas
expediccedilotildees de Sardinha e seu filho55 Em 1606 Clemente Aacutelvares afirmava que
estava haacute quatorze anos dedicando-se ao descobrimento de minas de ouro e
para isso utilizara seus proacuteprios recursos Ao registrar as minas que ele afirmava
ter descoberto no Jaraguaacute Parnayba e Ybituruna para natildeo perder os direitos
sobre elas afirmava que natildeo entendia de metalurgia ldquosenatildeo por notiacuteciardquo e que
natildeo era um oficial fundidor ou ensaiador 56
Os mineiros vindos do reino foram trazidos por D Francisco de Sousa com
a funccedilatildeo de verificar a autenticidade e a natureza das minas descobertas no
Brasil e nas imediaccedilotildees da Vila de Satildeo Paulo Os homens que acompanharam
em 1591 em sua vinda ao Brasil foram o castelhano Agostinho de Souto Maior
(que havia trabalhado anteriormente em Monomotapa ndash Moccedilambique colocircnia
portuguesa que possuiacutea minas e a metalurgia do ferro e do ouro) o qual foi
nomeado para o cargo de provedor das minas do Brasil Christovam o qual era
54 A armada de Diego Flores Valdeacutes foi enviada para o Estreito de Magalhatildees para iniciar a sua ocupaccedilatildeo e povoamento com a finalidade de estabelecer uma defesa das terras do Impeacuterio Espanhol onde jaacute se havia iniciado a exploraccedilatildeo das minas de prata de Potosi 55 Clemente Aacutelvares paulista mineiro praacutetico e sertanista Em 1634 ainda estava se dedicando agrave busca pelo descobrimento de minas Faleceu em 1641 56 Ver Registro de minas de Clemente Aacutelvares em 16 de dezembro de 1606 ATAS DA CAMARA DA VILA DE SAtildeO PAULO vol II Satildeo PauloA Cacircmara 1917 p 171-173
96
lapidaacuterio de esmeraldas e Joatildeo Correa para seria nomeado feitor das minas de
ferro 57
Para Satildeo Paulo enviados por Francisco de Sousa vieram os mineiros
Gaspar Gomes Moalho Miguel Pinheiro Zurara e o fundidor Domingos Rodrigues
Em 1592 Jacques de Oalte mineiro alematildeo o engenheiro tambeacutem alematildeo
Giraldo Betink o cirugiatildeo Joseacute Serratildeo o mestre fundidor flamengo Corneacutelio de
Arzatildeo e o engenheiro e arquiteto-mor florentino Baccio de Filicaya tambeacutem
mineiro de ouro o qual recebeu de D Francisco de Souza o cargo de engenheiro-
mor Felicaya restaurou e construiu algumas fortalezas e trabalhou durante cinco
anos no descobrimento de minas Aparece registrado no Rio de Janeiro em 1596
como arquiteto fortificador (TAUNAY 2003 p409)
Destaca-se tambeacutem ainda na gestatildeo de D Francisco a presenccedila do
mineiro castelhano Manoel Joatildeo Branco (ou Morales) que foi enviado em
companhia de um outro mineiro de prata ao morro de Araccediloiaba para examinaacute-la
Este mineiro acabou por confirmar que aquela Serra era ldquoriquiacutessima de yerrordquo58
37 A Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro
No iniacutecio do seacuteculo XVII as jazidas de ferro que haviam sido identificadas
nas imediaccedilotildees da Vila de Satildeo Paulo comeccedilaram a ser beneficiadas por Diogo de
Quadros atraveacutes da construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro a qual
comeccedilou a funcionar em 1607 A Ferraria de Santo Amaro foi redescoberta em
1967 por Jesuiacuteno Felicissiacutemo Juacutenior e documentada nas ediccedilotildees de 5 e 6 de
janeiro deste mesmo ano no jornal Diaacuterio de Satildeo Paulo por Manoel Rodrigues
Ferreira ( FELICIacuteSSIMO1969 p14)
57 No mesmo ano em que D Francisco de Souza veio para o Brasil para assumir o cargo de Governador Geral tambeacutem retornava da Espanha Gabriel Soares de Souza o qual se dedicou agrave busca de minas autor de Tratado Descritivo do Brasil de 1587 58 Ver Carta de Manuel Joatildeo Branco Morales a D Felipe IVCORTESAtildeOJaime Jesuiacutetas e Bandeirantes no Guairaacute Rio de Janeiro Biblioteca Nacional 1951 p 182
97
Esta Faacutebrica foi construiacutedo na freguesia de Santo Amaro pela sociedade
formada em 1609 entre Diogo de Quadros juntamente com Francisco Lopes
Pinto e D Antonio de Souza filho de D Francisco de Sousa
Para dar andamento a esse projeto Diogo de Quadros obteve em 1604
de D Felipe III o cargo de provedor das minas da Capitania de Satildeo Vicente e a
concessatildeo de montar e explorar fundiccedilotildees de ferro no Brasil (NEME 1959
p353)
Segundo informaccedilotildees oferecidas por Wilhelm Ludwig Von Eschwege
(1777-1855) a Faacutebrica de Santo Amaro foi construiacuteda agrave beira de um pequeno
ribeiratildeo afluente do rio Pinheiros navegaacutevel a uma distacircncia de duas leacuteguas SE
de Satildeo Paulo Para Eschwege ldquoa situaccedilatildeo dessa pequena faacutebrica era
conveniente porque as margens dos rios proacuteximos estatildeo cobertas de matas
cerradas podendo o carvatildeo ser transportado por via fluvial e mesmo o produto
manufaturado que por essa via podiam ser levados ateacute a serra do Cubatatildeo e
para o interior ateacute o Tietecircrdquo (ESCHWEGE 1944 p336)
Aleacutem desse aspecto a Faacutebrica contava com apoio da Coroa recebendo
dos almoxarifados de Satildeo Vicente Bahia e Rio de Janeiro todas as ferramentas
de ferro que estavam disponiacuteveis e poderiam ser aproveitadas para o trabalho de
fundiccedilatildeo daquele metal Das ferramentas entregues para Diogo de Quadros em
1605 foram arrolados
dous malhos q podiatildeo pesar pouco mais ou menos entre ambos
trecircs quintais e por quintal a razatildeo de trecircs mil reis mais duas
argolas grandes da mesma ferramenta q podiatildeo pezar pouco
mais ou menos trecircs quintaes ao mesmo preccedilo mais duas Cafras
(bigornas) que podiam pezar outros quintaes ao mesmo preccedilo
mais duas chapas pequenas q cada hua pezava duas arrobas no
mesmo preccedilo mais duas chapas grandes q cada hua podia
pezar pouco mais ou menos hum quintal cada hua as quaes
todas juntas podem pezar pouco mais ou menos doze quintais
98
que a razatildeo dos ditos traacutes mil reis por quintal fazem a soma de
36$000 rs 59
Os indiacutecios da presenccedila e utilizaccedilatildeo da roda para fins de produccedilatildeo nesta
Faacutebrica satildeo tambeacutem reforccedilados pelas observaccedilotildees feitas por Eschwege em seu
livro Pluto Brasiliensis onde afirmava que ainda se podia ver ldquoa vala da roda o
lugar da oficina os restos de um accedilude assim como um monte de pesada escoacuteria
de ferrordquo ((ESCHWEGE 1944 p336)
Essas mesmas informaccedilotildees podem ser observadas em um levantamento
topograacutefico realizado em princiacutepios do seacuteculo XIX pelo topoacutegrafo portuguecircs
Rufino Joseacute Felizardo e Costa segundo tenente do Real Corpo de Engenheiros
Rufino provavelmente veio ao Brasil como membro do grupo de engenheiros
militares que constituiacuteram em meados do seacuteculo XVIII as ldquoMissotildees
Demarcatoacuterias destinadas a dar cumprimento aos Tratados de Limites relativos agraves
terras da Ameacuterica celebrados entre Portugal e Espanhardquo 60
O levantamento topograacutefico em questatildeo intitulado ldquoprospecto das ruiacutenas
da antiga faacutebrica de ferro de Santo Amarordquo apresenta uma planta dessa faacutebrica jaacute
em ruiacutenas e sua localizaccedilatildeo proacutexima aos rios ldquodos Pinheirosrdquo e Santo Amaro aleacutem
dos terrenos no seu entorno onde se observa a presenccedila de matas minas de
ferro e canais de derivaccedilatildeo de aacuteguas daqueles rios em direccedilatildeo ao edifiacutecio
confirmando as observaccedilotildees feitas por Eschwege que observou inclusive a
existecircncia da ldquovala da rodardquo (HOLANDA 1957 p188-189)
59Ver Provisatildeo passada por Diogo Botelho a Diogo de Quadros 1605 CLETTO Marcelino Pereira A respeito da Capitania de Satildeo Paulo Sua decadecircncia e modo de restabelececirc-la Santos 25 de outubro de 1782 Annaes da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro vol XXI Rio de Janeiro Typografia Leuzinger 1900 60 TOLEDO Benedito Lima de A Accedilatildeo dos Engenheiros Militares na Ordenaccedilatildeo do Espaccedilo Urbano no Brasil Lisboa 2000 lthttpurbaniscteptRevistanumero4artigosartigo_08htmgt Aceso em 16 de maio de 2006 Os tratados mencionados por Toledo satildeo o Tratado de Madri (1750) e do segundo o Tratado de Santo Ildefonso (1777)
99
Fig 27 Prospecto das ruiacutenas da antiga Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro Rufino Joseacute Felizardo seacutec XIX (HOLANDA1957)
38 A Faacutebrica de Ferro do morro de Araccediloiaba os empreendedores
Afonso Sardinha foi personagem importante na atividade de mineraccedilatildeo do
ouro e do ferro no periacuteodo compreendido entre a segunda metade do seacuteculo XVI
e inicio do seacuteculo XVII sendo um dos primeiros empreendedores da exploraccedilatildeo e
produccedilatildeo de ferro no morro de Araccediloiaba Foi tambeacutem um dos financiadores do
empreendimento da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro Em 1601 recebeu de
Francisco de Souza um regimento que permitia o acesso agraves minas jaacute descobertas
e a descobrir61 Ressalte-se que essa mesma provisatildeo natildeo permitia a ele
ldquoentabularrdquo as minas encontradas as quais deveriam ser trabalhadas somente
apoacutes inspeccedilatildeo feita por mineiros vindos do Reino
61 Ver Regimento do Capitatildeo Diogo Gonccedilalves Laccedilo que lhe deu o Senhor Governador Dom Francisco de Souza DERBY Orville A As Bandeiras paulistas de 1601 a 1604 Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo vol VII Satildeo Paulo Typ Do Diaacuterio Official 1903 p 403
100
Joseacute Monteiro Salazar citando Pedro Taques e outros historiadores
aponta o ano de 1597 para o inicio das atividades da exploraccedilatildeo e fabricaccedilatildeo do
ferro em Araccediloiaba sendo que o empreendimento esteve em atividade ateacute o ano
de 1611 coincidindo com o ano da morte de D Francisco de Sousa
Somente em 1684 surge uma segunda tentativa de exploraccedilatildeo das minas
de Araccediloiaba financiada pela Coroa Portuguesa Para tanto foi enviado agravequele
local o Frei Pedro de Sousa com a finalidade de pesquisar a existecircncia de prata
nas jazidas que estava sendo explorada por Luiz Lopes de Carvalho o qual
contava com matildeo de obra indiacutegena
Entretanto apoacutes ter retirado algumas amostras do mineacuterio na jazida elas
foram ensaiadas poreacutem natildeo foi encontrada a prata motivo pelo qual foi
ordenada pelo Conselho Ultramarino a suspensatildeo daquelas pesquisas
(RODRIGUES 1966 p202)
Na sequumlecircncia o empreendedor Luiz Lopes de Carvalho que administrava
aquela mina retomou a exploraccedilatildeo do mineacuterio de ferro cuja existecircncia jaacute era
comprovada para cuja atividade obteve licenccedila concedida pela Coroa Para
realizar as obras necessaacuterias para o seu empreendimento foi obrigado a
hipotecar em 1681 todas as suas propriedades na Vila do Vimieiro em Portugal
(RODRIGUES 1966 p 214-217)
Em carta escrita no Rio de Janeiro em 1692 ao Rei de Portugal noticiava o
fracasso de seu empreendimento com o esgotamento dos recursos financeiros
Assim descreve
penetrei os Sertotildees mais ragozos so habitado de feras padecendo
as inclemecircncias qe experimentatildeo os q com zello e amor da paacutetria
lhe querem descubrir nossos Thezouros Todas estas calamidades
101
padeci por que haverem persuadido e ter achado alguns Roteiros62
q insinuavatildeo partes e serr[dilacerado] aonde em algum tempo se
achavatildeo Signais evidentes de minas de prata e esmeraldas E por
me esgotar o Cabedal proacuteprio e nam achar q me animasse com
algum socorro vim a entender q e Deus nosso Sr Tem guardado
essa fortuna pa outro q mais lho mereccedila Nestas entradas ao
Sertatildeo fui dar com a dictas Serras de Birasuaiava aonde estatildeo as
minas de ferro que na calidade e fertilidade desse groseiro metal
excede a todos asqe por haver no descuberto (RODRIGUES
1966 p217-219)
Naquele mesmo documento Luiz Lopes de Carvalho discorre sobre as
dificuldades teacutecnicas e materiais que havia enfrentado e destaca que para a
continuidade daqueles trabalhos faltara-lhe a matildeo de obra indiacutegena e um mestre
em fundiccedilatildeo que sugere deveria ser de Figueiroacute (Portugal) Biscaia (Espanha)
Alemanha ou Sueacutecia Aleacutem disso indicava que os fornos de fundiccedilatildeo que ali
deveriam ser instalados fossem do mesmo tipo empregado nas ferrarias de
Figueiroacute em Portugal (RODRIGUES 1966 p217-220)
Nova tentativa de exploraccedilatildeo daquela mina de ferro deveu-se ao portuguecircs
Domingos Pereira Ferreira em 1763 o qual organizou em Lisboa uma companhia
por accedilotildees para a construccedilatildeo de uma faacutebrica de ferro em Araccediloiaba 63 Para
viabilizar esse empreendimento recebeu uma concessatildeo de Sesmarias localizada
junto a mina de ferro para explorar a madeira necessaacuteria agrave fundiccedilatildeo 64
62 Esses roteiros - ou ldquomapas do tesourordquo - parecem ter sido frequumlentes na histoacuteria da mineraccedilatildeo colonial Haacute indicaccedilotildees de roteiros elaborados por Gabriel Soares de Souza para as minas de Sabarabassuacute 63 Foram soacutecios de Pereira Ferreira Matheus Lourenccedilo de Carvalho Caoitatildeo-mor Manoel de Oliveira Cardozo Antonio Lopes de Azevedo Capitatildeo Jacinto Jose de Abreu Silveacuterio Thomaz de Oliva Doacuteria Joatildeo Fritz Gerald (este natildeo participou da Sociedade por ser estrangeiro ndash inglecircs) e o Sargento Mor Antonio Francisco de Andrade Traslado da Escritura de Contrato da Sociedade e Companhia que Fazem Domingos Pereira Ferreira (RODRIGUES 1966 p 228-238) 64 Carta de Sesmaria a Domingos Ferreira Pereira e seus soacutecios de um morro cito termo da Vila de Sorocaba para dele se extraiacuterem lenha para a Faacutebrica de caldear o ferro que ali se pretende erigir por ordem de S Magestade (1767) Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Sesmaria Patente e Provisatildeo Livro n17 p 125 v
102
Em dezembro de 1765 o Capitatildeo-General de Satildeo Paulo encaminhava ao
Conde de Oeiras amostra do ferro que Domingos Ferreira Pereira extraiacutera e
caldeara nas serras de Araccediloiaba Neste mesmo ano chegou a receber
encomendas de Diogo Lobo da Silva Capitatildeo General de Minas Gerais para a
fabricaccedilatildeo de armamentos tais como balas bombas e granadas aleacutem de
municcedilotildees Contudo esses armamentos natildeo chegaram a serem fabricados
Para viabilizar a produccedilatildeo do ferro trouxe de Portugal o mestre fundidor
Joatildeo de Oliveira Figueiredo poreacutem este decidiu abandonar aquele local com a
intenccedilatildeo de se mudar para Angola em 1767 Contudo quando jaacute se encontrava
no Rio de Janeiro foi preso e trazido de volta para Araccediloiaba sob a justificativa de
que ldquosem ele natildeo se poderiam por em praacutetica as experiecircnciasrdquo (CALOacuteGENAS
1904 p37)
O relatoacuterio encaminhado no ano de 1768 por Luiz Antonio de Souza ao
Conde de Oeiras em Portugal informava que o empreendimento de Pereira
Ferreira mostrava dificuldades em conseguir produzir um ferro de boa qualidade
mesmo tendo sido realizado por diversas vezes experiecircncias com o material pois
ldquonatildeo era possiacutevel acertar a caldeaccedilatildeo do ferro nem fazecirc-lo igual as primeiras
amostrasrdquo 65
Pereira Ferreira permanece naquela atividade durante dez anos sendo que
depois desse tempo vendeu a propriedade a Vitoriano Joseacute Sentena morador de
Viamatildeo Este empreendedor tambeacutem natildeo obteve sucesso nesta atividade
culminando por abandonaacute-la quatro anos apoacutes o seu iniacutecio (RODRIGUES 1966
p205-210)
No ano de 1784 Claacuteudio de Madureira Calheiros capitatildeo-mor da vila de
Sorocaba encaminha uma peticcedilatildeo a Martinho de Mello e Castro para explorar
aquelas jazidas Contudo esse projeto natildeo foi aprovado (RODRIGUES 1966 p
212) 65 ver Carta de Luiz Antonio de Souza ao Conde de Oeiras Satildeo Paulo 3 janeiro de 1768 In Dossiecirc Ipanema Arquivo do Museu Quinzinho de Barros ndash Sorocaba-SP
103
Em 1788 com aquele mesmo objetivo foi encaminhada a Bernardo Joseacute
de Lorena uma peticcedilatildeo onde o capitatildeo-mor de Sorocaba Claacuteudio da Cunha Oeiras
e o de Itu Vicente da Costa Taques Goacuteis e Aranha pela qual solicitavam
autorizaccedilatildeo para explorar e fabricar o ferro em Araccediloiaba Tambeacutem solicitavam a
vinda do Reino de ldquoum mestre inteiramente perito naquela arterdquo Juntaram agrave
peticcedilatildeo uma amostra de barra de ferro que diziam terem obtido naquele local
Este projeto tambeacutem natildeo foi viabilizado (RODRIGUES 1966 p212)
39 A Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema
Jaacute no final do seacuteculo XVIII destaca-se a vinda do ldquoquiacutemicordquo Joatildeo Manso
Pereira Diretor Geral das Minas para examinar as jazidas de ferro do morro de
Araccediloiaba e acompanhar os trabalhos de demarcaccedilatildeo dos terrenos nos quais
iriam ser instaladas as edificaccedilotildees da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
Tambeacutem realizou alguns ensaios com aquele mineacuterio mediante a construccedilatildeo de
um alto forno acionado com um fole manual
A esse respeito relata Eschwege (1944 p340) que conheceu Joatildeo Manso
Pereira que durante a primeira experiecircncia para a fundiccedilatildeo do ferro muitas
pessoas das vizinhanccedilas foram atraiacutedas para o local poreacutem ao final do teste
nenhum ferro foi produzido Manso entatildeo fugiu do local e os convidados tiveram
que voltar para as suas casas Eschwege lembrava que Manso ao recordar
aquele fato ldquoria-se gostosamente de toda aquela histoacuteria tendo chegado agrave
conclusatildeo de que para fabricar ferro em grande escala natildeo bastavam
conhecimentos de quiacutemicardquo
Em 1802 Manso Pereira natildeo havia apresentado nenhum resultado
satisfatoacuterio e foi destituiacutedo do cargo assumindo em seu lugar Francisco Ribeiro
de Andrade (FRAGA 1968 p 33-48)
104
Segundo o Governador D Rodrigo de Souza Coutinho Joatildeo Manso
Pereira
longe de ser hum verdadeiro chimico natildeo era senatildeo hum
Alquimista que debaixo de certos misteacuterios pretendia inculcar-se
sem ter os necessaacuterios conhecimentos para Inspector e dirigir a
mesma obra tendo toda a esperanccedila que entre os artistas que
pedia que viesse algum que soubesse tractar a referida Mina e
desta sorte colher o Laurel de que os outro se fazia digno
(FRAGA1966 p46)
No iniacutecio do seacuteculo XIX Martim Francisco Ribeiro de Andrada escolhe a
regiatildeo junto ao ribeiratildeo Ipanema para sediar as futuras instalaccedilotildees da faacutebrica de
ferro que estavam autorizadas em 1799 a Joatildeo Manso Pereira Atraveacutes de um
contrato realizado em Estocolmo em 1810 entre Dom Joaquim Lobo de
Saldanha ministro portuguecircs em Londres e o sueco Carlos Gustavo Hedberg
foram iniciados os trabalhos para a construccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro de
Ipanema
Fig 28 Vista da Faacutebrica de Ferro de Ipanema 1827 Acervo Projeto Arqueologia Histoacuterica Museu Paulista-USP
105
Fig 29 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro e Ipanema seacuteculo XIX
Fig 30 Altos fornos geminados construiacutedos por Varnhagem 1818
106
Fig 31 Alto forno construiacutedo pelo Cel Mursa 1888
Em 1815 Frederico Guilherme Varnhagen assume o cargo de Diretor da
Real Faacutebrica e em 1818 constroacutei dois altos-fornos para a produccedilatildeo de ferro
gusa os primeiros do Brasil Joaquim de Souza Mursa Diretor de Ipanema entre
1865-1890 construiu outro alto-forno e natildeo chegou a funcionar Em 1895 jaacute no
periacuteodo republicano Prudente de Moraes decreta a desativaccedilatildeo de Ipanema
Em 1929 tiveram iniacutecio experiecircncias para o aproveitamento da apatita
jazida descoberta em 1890 por DacuteOrville Derby Esse mineacuterio foi explorado ateacute
1944 por uma firma particular para a produccedilatildeo do superfosfato Mas jaacute em 1937
o acervo e aacuterea ocupada pela antiga Faacutebrica de Ferro passaram ao Ministeacuterio da
Agricultura que em 1947 instalou ali a Estaccedilatildeo Experimental do Trigo
107
Uma quarta fase da histoacuteria de Ipanema comeccedilou logo no iniacutecio dos anos
50 quando foi estabelecido o Plano Nacional da Induacutestria de Tratores e instituiacuteda
a obrigatoriedade de ensaios para tratores maacutequinas e ferramentas agriacutecolas
importados ou fabricadas no Brasil Ao mesmo tempo seguiram as atividades de
produccedilatildeo de sementes O estabelecimento passou a denominar-se CENTRI -
Centro Nacional de Ensaios e Treinamento Rural de Ipanema
A partir de 1975 foi criado o CENEA ndash Centro Nacional de Engenharia
Agriacutecola junto ao qual foi realizado em 1983 o convecircnio com o Museu Paulista-
Universidade de Satildeo Paulo para a realizaccedilatildeo da pesquisa arqueoloacutegica Em 1992
passou a integrar uma das aacutereas de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental do IBAMA
com a denominaccedilatildeo de FLONA ndash Floreta Nacional de Ipanema O Siacutetio Afonso
Sardinha foi registrado no IPHAN pela Professora Doutora Margarida Davina
Andreatta em 1997
108
Fig 32 ROTEIRO HISTORICO DA MINERACcedilAtildeO E METALURGIA PAULISTA
109
CAPIacuteTULO 4
O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 41- Localizaccedilatildeo O vale das Furnas eacute uma aacuterea privilegiada por sua geografia devido agrave
presenccedila do mineacuterio de ferro em suas cabeceiras e de uma diversificada
quantidade de rochas dentre elas o arenito que foi utilizado como material de
construccedilatildeo na forma de blocos para paredes e fornos Destaca-se a rede
hidrograacutefica que apresenta dois rios importantes como o Ipanema e o Sarapuhy
que contornam o morro de Araccediloiaba indo desaguar no rio Sorocaba A bacia do
ribeiratildeo do Ferro ocupa uma aacuterea importante dentro do morro de Araccediloiaba
porque eacute ela que drena a regiatildeo onde afloram os minerais de ferro sendo que a
topografia acidentada do seu leito possibilitou a implantaccedilatildeo de estruturas de
aproveitamento hidraacuteulico A regiatildeo apresentava significativa aacuterea coberta de
matas as quais foram transformadas desde finais do seacuteculo XVI em carvatildeo
vegetal o uacutenico combustiacutevel utilizado para a produccedilatildeo de ferro ateacute finais do
seacuteculo XIX
O morro de Araccediloiaba eacute conhecido tambeacutem pela denominaccedilatildeo de morro do
Ipanema toponiacutemico indiacutegena de Ypanema ndash Y= rio aacutegua + panema = sem valor
ou ainda aproximadamente sem peixes significando assim ldquorio sem valorrdquo ou
ldquorio sem peixesrdquo A denominaccedilatildeo Araccediloiaba (ldquoo lugar que esconde o Solrdquo)
aparece desde o seacuteculo XVI em documentos datados com variantes como
Arraraccediloiaba Byraccediloiaba Ibyraccediloiaba Guaccediloiava (SALAZAR 1997 p17)
Ocupa uma aacuterea isolada no interior de uma extensa bacia sedimentar que os
geomorfoacutelogos denominam de ldquoDepressatildeo Perifeacuterica Paulistardquo pertencente agrave
Bacia do Paranaacute Esta aacuterea constitui um ldquohorst docircmicordquo em razatildeo do seu formato
110
arredondado que lembra estruturas de coberturas do tipo domos (DAVINO 1975
p130)
Do ponto de vista geoloacutegico o morro eacute uma formaccedilatildeo montanhosa
resultante de ldquofenocircmenos de intrusotildees de rochas alcalinas que ocorreram
associadas agraves atividades tectocircnicas do Arco de Ponta Grossa no periacuteodo
denominado Cretaacuteceo Inferiorrdquo66 contemporacircneo do vulcanismo basaacuteltico na
regiatildeo Sudeste ndash Sul do Brasil A intrusatildeo magmaacutetica de Ipanema ocupa aacuterea
aproximadamente circular de nove quilocircmetros quadrados Sua maior altitude estaacute
em 970 metros sendo que dele ldquoeacute possiacutevel observar um dos trechos do vale do
Meacutedio - Tietecirc como tambeacutem trecircs importantes unidades de relevo do Estado de
Satildeo Paulo a Depressatildeo Perifeacuterica o Planalto Atlacircntico e as Cuestas Arenito ndash
Basaacutelticas no caso a Serra do Botucatu (CARPI JR 2002 p1)
Estaacute situado no centro-sul da Depressatildeo Perifeacuterica Paulista na Latitude
sul 23ordm25rsquo 23ordm17rsquo Longitude 47ordm35rsquo WGr 47ordm40rsquo WGr no municiacutepio de Iperoacute-
SP entre Sorocaba e Boituva a cerca de 125 km da Cidade de Satildeo Paulo
Encontra-se ainda dentro de uma aacuterea de proteccedilatildeo ambiental com 506973
hectares pertencente ao FLONA Ipanema Floresta Nacional de Ipanema do
IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renovaacuteveis) criada em 1992 para preservar e conservar um dos maiores
fragmentos de Mata Atlacircntica do Estado de Satildeo Paulo bem como aacutereas de
66 ldquoDuas medidas efetuadas no Laboratoacuterio de Geocronologia da USP segundo o meacutetodo do potaacutessio-argocircnico indicaram para as rochas alcalinas de Ipanema idade cretaacutecea inferior Estas determinaccedilotildees foram feitas em biotita contidas em shonkinitos-poacutertirosrdquo (DAVINO1975)
111
cerrado vaacuterzea e os ecossistemas associados67
67 A FLONA ndash Floresta Nacional de Ipanema possui plantas e fauna de grande representatividade tendo catalogado mais de 200 espeacutecies de aves 52 de mamiacuteferos 18 de anfiacutebios 15 de reacutepteis e 35 de peixes que totalizam 216 da riqueza do estado de Satildeo Paulo Caracteriacutesticas do relevo Ateacute 600 metros ndash vaacuterzea dos principais rios como Ipanema e Verde de declives suaves Acima de 875 metros ndash topo do Morro Araccediloiaba geralmente com platocircs e declives suavesmedianos De 600 a 725 metros ndash base das serras de declives acentuados (medianos) com nascentes de rios principalmente os intermitentes De 725 a 875 metros ndash proacuteximo ao topo de declives acentuados com rios encaixados entre as vertentes como o Ribeiratildeo do Ferro Hidrografia Integra a bacia hidrograacutefica do rio SorocabaMeacutedio Tietecirc classificada como UGRHI No 10 com sub-bacias dos rios Ipanema e Verde e ribeirotildees Iperoacute e do Ferro Clima O Troacutepico de Capricoacuternio passa pela parte sul da Floresta Nacional de Ipanema caracterizando uma zona de transiccedilatildeo de tropical para temperada Segundo Koeppen apresenta condiccedilotildees climaacuteticas tipo Cfa ndash subtropical quente constantemente uacutemido com inverno menos seco - ao sul limitando com Cwa ndash subtropical quente com inverno mais seco - ao norte Uso do solo 2800 hectares ndash floresta estacional semidecidual em estaacutegio de regeneraccedilatildeo do inicial ao tardio 29515 hectares ndash capoeira alta (grototildees) e cerrado 24293 hectares ndash capoeira baixa 250 hectares ndash vaacuterzea accediludes e represas 22150 hectares ndash reflorestamento com espeacutecies de raacutepido crescimento e nativas 121016 hectares ndash assentamentos rurais 50 hectares ndash sede administrativa vilas residenciais e siacutetios histoacuterico-culturais Ver Floresta Nacional (FLONA) de Ipanema NACIONAL Disponiacutevel em lthttpwwwibamagovbrspindexphpid_menu=191gt acesso em 22mar06
112
Fig 32 MAPA GEOLOacuteGICO DO MORRO DE ARACcedilOIABA (SEM ESCALA) Mapa Geoloacutegico do Estado Satildeo Paulo ndashIPT
113
Fig 33 BLOCO DIAGRAMA DA REGIAtildeO DA SERRA DE ARACcedilOIABA Interpretaccedilatildeo baseada em dados geoloacutegicos e geofiacutesicos por Andreacute Davino (DAVINO 1975 p140)
114
Fig 35 MORRO DE ARACcedilOIABA (AO FUNDO VISTA DA DEPRESSAtildeO
PERIFEacuteRICA) - I
FIG 36 MORRO DE ARACcedilOIABA (VISTA DA DEPRESSAtildeO PERIFEacuteRICA) - II
115
Aziz Nacib AbSaber ao analisar o morro de Araccediloiaba dos pontos de vista
geoloacutegico e geomoacuterfoloacutegico considera que
Geomorfologicamente eacute um acidente de grande exceccedilatildeo
emergente no meio de terras baixas colinosas que se estendem por
mais de 12 mil km2
Geologicamente eacute a consequumlecircncia de um vulcanismo hipoabissal
tardio anterior aos processos denudacionais que criaram a
Depressatildeo Perifeacuterica Paulista Filogeograficamente eacute um
componente de um mosaico de ecossistemas sub-regionais que
comporta cerrados e matas-galerias (vegetaccedilatildeo ciliar) matinhas
diferenciadas e descontiacutenuas nas paredes sub-rochosas do morro
Existem tambeacutem eventuais poreacutem altamente significativos relictos
de cactos mandacarus nas vertentes rochosas do morro Esse fato
associado ao que jaacute se conhece da regiatildeo de Itu e Salto permite
reconstituir a histoacuteria vegetacional da regiatildeo No passado ela
abrigou caatingas hoje relegadas a pequenos redutos de
cactaacuteceas na forma de rupestres-biomas logo seguidos por
cerradotildees e cerrados recortados por florestas-galerias biodiversas
E por fim grandes matas tropicais nos morros de solos vermelhos
argilo-arenosos das serranias de Satildeo Roque e Jundiaiacute As florestas
eliminaram importantes trechos de cerrado mas natildeo foram capazes
de expulsar os minirredutos de cactaacuteceas na serra do Jardim em
Vinhedo e Valinhos nos altos do Japi na serra de Satildeo Francisco
em Votorantim em Salto e Itu e no front rochoso das cuestas de
Botucatu e agora nos receacutem-identificados mandacarus dos morro
de Araccediloiaba e Ipanema
Para entender essa eacutepoca caracterizada por intrusotildees
hipoabissais desfeitas em sills - massas tabulares de rocha iacutegnea
que penetraram entre camadas de rocha mais antiga - nas
soerguidas camadas de arenitos da formaccedilatildeo de Itarareacute (originada
no Carboniacutefero Superior) haacute que visualizar o fato de que o atual
morro da Depressatildeo Perifeacuterica comportava centenas de metros de
espessura que se estendiam ateacute o embasamento de rochas
cristalinas As intrusotildees que perfuraram localmente o pacote de
116
rochas da borda da Bacia Sedimentar do Paranaacute foram
provavelmente as mais tardias em relaccedilatildeo ao vulcanismo que
precedeu os mega processos de separaccedilatildeo da Aacutefrica e Brasil Ao
que tudo indica primeiramente aconteceram os derrames
basaacutelticos e as intrusotildees hipoabissais de diabaacutesios (rochas
magmaacuteticas cristalinas) A seguir nos milhotildees de anos decorridos
entre o Triaacutessico Superior o Juraacutessico e o Cretaacuteceo Superior -
atraveacutes de bolsotildees magmaacuteticos descontiacutenuos e residuais -
aconteceram as penetraccedilotildees de sienitos em forma de ring dykes
(diques anelares) de Itatiaia da atual ilha de Satildeo Sebastiatildeo
Caxambu e alhures Tudo acontecendo antes que a tectocircnica
quebraacutevel aparecesse no embasamento cristalino do Brasil de
Sudeste Ou seja antes dos falhamentos que criaram a serra do
Mar a ilha de Satildeo Sebastiatildeo e a Mantiqueira Por fim um resiacuteduo
magmaacutetico de grande exceccedilatildeo teria interpenetrado a borda antiga
da Bacia do Paranaacute gerando a pequena aacuterea core que mais tarde
viria a ser o morro de AraccediloiabaIpanema com seus ankaratritos
impregnados de magnetita Um fato que de resto respondeu pelo
histoacuterico episoacutedio da experiecircncia industrial da Fazenda
Ipanema(ABSAacuteBER 2006 p1)
42 A Vegetaccedilatildeo
Quanto agrave vegetaccedilatildeo original o morro de Araccediloiaba tem um histoacuterico de
perturbaccedilotildees sofridas por intervenccedilotildees antroacutepicas iniciadas no final do seacuteculo XVI
Essas perturbaccedilotildees foram causadas pela retirada de mineacuterio madeiras calcaacuterio
apatita aleacutem de focos de incecircndio entre outros processos
Para a exploraccedilatildeo do mineacuterio era necessaacuteria a devastaccedilatildeo das matas que
cresciam sobre a jazida Segundo a descriccedilatildeo de Domingos Pereira Ferreira que
chegou no local em 1765 para dar iniacutecio a um projeto de Faacutebrica de Ferro aquele
117
Morro era como ldquoum Cubatatildeo de Matos e de Cerra Altardquo e somente era possiacutevel
ver uma pedra levando ldquoadeante fousse e machadordquo68
A devastaccedilatildeo das matas tambeacutem esteve ligada ao tipo de combustiacutevel que
era utilizado nos fornos de reduccedilatildeo (fornos baixos) 69 e depois nos de fundiccedilatildeo
(altos fornos)70 O combustiacutevel para a produccedilatildeo de ferro sempre foi o carvatildeo
vegetal71 o qual era fabricado a partir de uma variedade de madeiras existente na
proacutepria mata entre elas os chamados ldquopaus reaisrdquo as madeiras de lei como a
peroba jequitibaacutes e cedros cujos registros de extraccedilatildeo eacute encontrado ateacute o iniacutecio
do seacuteculo XIX 72
Mesmo sofrendo exploraccedilatildeo e desmatamento ainda hoje a Floreta
Nacional de Ipanema constitui-se num dos poucos redutos florestais do interior
paulista e tambeacutem eacute a maior detentora da biodiversidade regional Espeacutecies
vegetais como timburi ararib lixeira jangada do campo canela paineira figueira
branca e peroba satildeo encontrados em percurso assim como animais de haacutebitos
68 Encontramos uma coacutepia da Carta de Domingos Pereira Ferreira agrave Morgado de Mateus escrita em Sorocaba 30 de novembro de 1765 na Coleccedilatildeo Faacutebrica de Ferro de Ipanema entre todas as coacutepias que foram doadas por Joseacute Monteiro Salazar ao Arquivo Histoacuterico Sorocabano 69Nos fornos baixos o carvatildeo vegetal era colocado em camadas alternadas com o mineacuterio calcinado e triturado que com o auxiacutelio de foles manuais ou mecacircnicos realizavam a reduccedilatildeo e natildeo a fundiccedilatildeo do mineacuterio de ferro resultando numa ldquoesponja de ferrordquo ou ldquopatildeo de ferrordquo que posteriormente era novamente trabalhada nos fornos de forja e nos malhos (FAUS 2000) 70 Estes fornos que chegam a fundir o mineacuterio de ferro foram introduzidos em Ipanema no iniacutecio do seacuteculo XIX O produto derivado do alto forno eacute o ferro em estado liacutequido (ferro gusa) (FRAGA 1968 p 87) 71 Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva ao visitar a Faacutebrica de Ipanema em 1820 descreve o meacutetodo de fabricaccedilatildeo de carvatildeo ldquoO carvatildeo he todo misturado sem separaccedilatildeo do proacuteprio para as forjas do refino he mal feito e apagado comumente com agoa em vez de ser abafado com terra principalmente arenosa que he a melhor da qui vem que sahe mais pesado do que deveria ser contra a fabrica e a favor do carvoeiro reduz-se muito a poacute nos armazeacutens com prejuiacutezo da mesma Faacutebrica e o peior he que nas forjas de refino esfarela-se logo e se reduz a cinza sem dar o devido calor O carvatildeo que fazem de maneira mole he mais leve e arde mais e da madeira dura he pelo contrario O methodo de fazer carvatildeo he o seguinte pegatildeo em toda a lenha misturada e arrumatildeo em pilha deitadas que tem 40 palmos em quatro como a figura de um telhado com beiradas estas tem 6 palmos de alto e o espigatildeo 12 leva a quaimar cada piulha 30 ate 34 dias e mais e da cada pilha de 700 a 900 arrobas de carvatildeordquo (FRAGA 1968 p 86) 72 Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva em suas Memoacuterias Econocircmicas sobre a Faacutebrica de Ferro de Ipanema faz criacuteticas agrave construccedilatildeo dos Altos Fornos de Varnhagen e tambeacutem agrave preparaccedilatildeo do mineral e do combustiacutevel utilizado como ldquocavacos de perobardquo (MENON 1992 p144)
118
florestais destacando-se o jaguarundi o gambaacute o irara o tapiti o matildeo-pelada o
quati o jacupemba o chupa-dente o pica-pau de topete vermelho o tangaraacute
danccedilarino o sabiaacute coleira a jararaca a cascavel e o lagarto teiuacute 73
43 Rios e ribeirotildees
Dois rios circundam aquele morro o rio Ipanema e o Sarapuhy afluentes
do rio Sorocaba Na parte central daquele Morro surgem alguns riachos sendo o
mais importante deles o Ribeiratildeo do Ferro anteriormente denominado de Ribeiratildeo
das Furnas (afluente do Rio Ipanema) que nasce no Monte ou Pico do Chapeacuteu e
forma o Vale das Furnas com ocorrecircncia de cascatas e piscinas naturais Eacute
tambeacutem naquele Vale e em uma das curvas do Ribeiratildeo do Ferro que estaacute
situado o Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha objeto de anaacutelise dessa
Tese
O Ribeiratildeo do Ferro ao descer o morro de Araccediloiaba apresenta
desniacuteveis de ateacute 500 metros com a presenccedila de alguns trechos encachoeirados
caracteriacutestica essa que proporcionou a execuccedilatildeo de projetos de aproveitamento
hidraacuteulico como a construccedilatildeo de obras de represamento canal de derivaccedilatildeo e
vala transformando as aacuteguas daquele ribeiratildeo em forccedila motriz aplicada ao
funcionamento dos equipamentos e ferramentas utilizadas no processo produtivo
da produccedilatildeo de ferro
73 Ver Fazenda Ipanema Disponiacutevel em lthttpfazendaipanemaiperospgovbrhistoriaphpgt
119
44 A magnetita o mineacuterio do morro de Araccediloiaba
Segundo Andreacute Davino a importacircncia do morro de Araccediloiaba do ponto de
vista geoloacutegico
deriva do fato de conter umas das muitas ocorrecircncias de rochas
alcalinas do Brasil As concentraccedilotildees de magnetita e apatita
[descobertas no final do seacuteculo XIX] nessas rochas despertaram
desde longa data especial interesse sobre a aacuterea O contorno da
intrusatildeo alcalina situa-se na parte central da Serra e estaacute contido
inteiramente dentro dos limites da Fazenda Federal de Ipanema
(DAVINO 1975 p130)
O mineacuterio de ferro encontrado no morro de Araccediloiaba eacute a Magnetita
um imatilde natural com propriedade magneacutetica de atrair objetos feitos de ferro ou
outros metais Essa propriedade do mineacuterio possivelmente facilitou o encontro
daquela jazida pelos sertanistas que por laacute passaram em meados do seacuteculo XVI
A magnetita eacute um mineacuterio do grupo das espinelas formado por oacutexido
magneacutetico de ferro (Fe3O4) composto por 724 de Fe (ferro) Eacute frequumlente a
existecircncia de cristais bem desenvolvidos pertencentes ao sistema cuacutebico
geralmente em forma de octaedros ou de dodecaedros Eacute abundante formando
as suas jazidas verdadeiras montanhas em massas granulares ou compactasA
composiccedilatildeo da magnetita eacute de oacutexido de feacuterrico (Fe2O3) 65 oacutexido ferroso (Fe O)
25 siacutelica (SiO2) 10 e traccedilos de aacutecido fosfoacuterico (P2O5) (FRAGA 1968 p149)
No Brasil encontram-se jazidas de magnetita nas regiotildees que
compreendem desde o Sudeste da Bahia ateacute o Leste do Paranaacute e Nordeste de
Santa Catarina Contudo sempre se apresentam impregnado de Titacircnio (Ti O2)
em proporccedilotildees que variam desde 04 ateacute 16 A exagerada densidade74 dessa
magnetita concorre para tornaacute-la inaproveitaacutevel para a reduccedilatildeo mesmo nos altos 74 A densidade eacute medida na proporccedilatildeo quilograma por metro cuacutebico kg m-3
120
fornos a coque a menos que sofra preacutevio e demorado tratamento ou que seja
misturada a mineacuterios menos densos (e portanto algo impuro) tais como a canga
a Hematita e outros De outro lado o oacutexido de titacircnio que a impregna dificulta
quando natildeo impede inteiramente a transformaccedilatildeo em gusa ou em esponja
(AMARAL 1946 p 264-266 Apud FRAGA 1968 p32) No morro de Araccediloiaba as
jazidas de Magnetita encontram-se na ldquoforma de depoacutesitos aluviais e
concentraccedilotildees in situ a poucas dezenas de metros de profundidaderdquo (DAVINO1975 p129)
Fig 37 MINEacuteRIO DE FERRO MAGNETITA
Embora no final do seacuteculo XIX os conhecimentos cientiacuteficos da Quiacutemica e
da aacuterea da metalurgia jaacute estivessem avanccedilados a composiccedilatildeo da Magnetita do
morro de Araccediloiaba impregnada de oacutexido de Titacircnio natildeo era conhecida75 A
carecircncia de conhecimento cientiacutefico sobre as propriedades quiacutemicas dessa
magnetita foi a principal causa dos trecircs seacuteculos de tentativas de se produzir ferro
naquele local e das inuacutemeras criacuteticas que eram feitas aos fundidores e
administradores 76 Sendo assim podemos indicar que essa realidade teacutecnica foi
determinante para que natildeo se produzisse em Ipanema desde finais do seacuteculo
XVI ferro de boa qualidade Estephania Fraga indica que
75 O titacircnio foi descoberto em 1791 por Willian Gregor mas soacute se tornou bem conhecido apoacutes os estudos de Wohler em 1857 e Peterson em 1887 76 Orville Derby no final do seacuteculo XIX presidia a comissatildeo de estudos geoloacutegicos da Proviacutencia de Satildeo Paulo e pesquisou a apatita de Ipanema
121
a dificuldade em fundir o mineacuterio de Ipanema ndash a magnetita ndash
provinha da composiccedilatildeo especiacutefica do mesmo pois aleacutem de sua
exagerada densidade apresenta-se impregnada de oacutexido de
Titacircnio fatores que contribuem de forma decisiva para dificultar
sua reduccedilatildeo mesmo em altos fornos (FRAGA 1968 p86)
A dificuldade de produzir um ferro de boa qualidade jaacute era sentida desde o
seacuteculo XVIII quando Domingos Pereira Ferreira apostou na construccedilatildeo de uma
Faacutebrica de Ferro naquele local Embora tenha construiacutedo diversos tipos de fornos
e empregado diferentes modos de fundiccedilatildeo natildeo havia conseguido um bom
resultado No seacuteculo XIX essa mesma dificuldade permaneceu nos trabalhos de
fundiccedilatildeo e na produccedilatildeo de ferro da Real Faacutebrica de Ipanema fundada em 1810
O desconhecimento das propriedades daquela magnetita apenas
descoberta na segunda metade do seacuteculo XIX quando a Real Faacutebrica de Ferro jaacute
estava em plena decadecircncia77 tambeacutem estava na origem das acirradas
discussotildees teacutecnicas entre Friederich Ludwig Wilhelm Varnhagen mineralogista
alematildeo e Carl Gustav Hedberg sueco e primeiro diretor de Ipanema (1811-
1814) sobre as vantagens do alto-forno proposto por Vanhagen em relaccedilatildeo aos
quatro fornos azuis Blauofen fornos de reduccedilatildeo direta inicialmente instalados
em Ipanema78
O diretor sueco foi substituiacutedo por Ludwig Wilhelm Varnhagen em 1815
que construiu dois Altos Fornos de aproximadamente 8 metros de altura cada
um Com estes fornos conseguiu produzir o ferro gusa em sua forma liacutequida
tendo moldado com a primeira corrida desse ferro trecircs cruzes sendo uma delas
ldquolevada em procissatildeo ateacute o ponto alto da montanha de Araccediloiabardquo onde
atualmente permanece Contudo Varnhagen natildeo produziu o ferro esperado e
77 Naquele periacuteodo nem o Estado nem a Real Faacutebrica possuiacuteam laboratoacuterios de anaacutelise que pudessem fazer ensaios do mineacuterio combustiacutevel e fundentes empregados na produccedilatildeo A primeira escola formadora de profissionais na aacuterea de mineraccedilatildeo foi a Escola de Minas de Ouro Preto fundada em 1875 (FRAGA 1968 p140) 78 Von Varnhagen havia dirigido a faacutebrica de ferro de Figueiroacute dos Vinhos em Portugal e foi enviado a Ipanema com a finalidade de projetar a construccedilatildeo de uma grande faacutebrica de ferro que afinal foi construiacuteda por Hedberg (FRAGA 1968 p 71-79)
122
essa dificuldade tambeacutem natildeo foi compreendida por Eschwege79 que estava na
direccedilatildeo de uma outra faacutebrica de ferro em Congonhas do Campo a qual produzia
ferro a partir de um outro mineacuterio a hematita que facilmente pode ser trabalhada
para a produccedilatildeo do ferro80 A partir de 1821 estes fornos altos jaacute estavam em
decadecircncia
Contudo parece que apenas Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva quando
esteve examinando as minas de ferro daquele Morro percebeu que
o problema capital de Ipanema liga-se ao mineacuterio de ferro ali
existente ldquoo ferro magneacuteticordquo de difiacutecil fusatildeo embora natildeo
pudesse conhecer ainda a composiccedilatildeo do mesmo (presenccedila de
Titacircnio que como eacute sabido foi descoberto apenas a partir da
segunda metade do seacuteculo XIX) considerando (com base nos
conhecimentos do gecircnero que visitou na Europa) que a soluccedilatildeo
estaria em aumentar a altura dos pequenos fornos (FRAGA 1968
p149)
Em 1878 foi a vez de Joaquim Antonio de Souza Mursa construir um Alto
Forno e quando a Faacutebrica fechou em 1895 este ainda natildeo havia sido utilizado
79 Ludwig von Eschwege depois de ter trabalhado em Portugal o baratildeo de Eschwege seguiu em 1810 para o Brasil a convite do priacutencipe regente D Joatildeo para reanimar a decadente mineraccedilatildeo de ouro e para trabalhar na nascente induacutestria sideruacutergica Em 1821 inicia em Congonhas do Campo Minas Gerais os trabalhos de construccedilatildeo de uma faacutebrica de ferro denominada de Patrioacutetica empreendimento privado sob a forma de sociedade por accedilotildees Em 1811 a siderurgia de Eschwege jaacute produzia em escala industrial Eschwege eacute o autor de Pluto Brasiliensis primeira obra cientiacutefica escrita sobre a geologia brasileira publicada primeiramente na Europa em 1833 (FIGUEIROA 1977 63-67) 80 As hematitas satildeo mineacuterios de ferro constituiacutedos por oacutexido feacuterrico (Fe2O3) contendo ateacute 70 de ferro(Fe) Seu aspecto varia consideravelmente pode se apresentar cristalizado em massas compactas ou em massas terrosas Satildeo utilizadas na produccedilatildeo de ferro sob duas formas principais a) hematita vermelha e b) hematita parda Dados sobre a composiccedilatildeo quiacutemica da hematita fornecidos pela Dra Heacutelegravene Nasson Storch (FRAGA 1968 p149)
123
45 Fatores fisiograacuteficos da ocupaccedilatildeo europeacuteia
A ocupaccedilatildeo das aacutereas interiores da Capitania de Satildeo Vicente no iniacutecio da
colonizaccedilatildeo foi caracterizada particularmente por expediccedilotildees de apresamento de
iacutendios Este movimento pioneiro na ocupaccedilatildeo das aacutereas interiores do continente
e era facilitado pela existecircncia de caminhos indiacutegenas os Peabirus
No caso da ocupaccedilatildeo da regiatildeo onde estaacute localizado o morro de
Araccediloiaba o acesso era facilitado pela presenccedila de importante caminho que ligava
a vila de Satildeo Paulo de Piratininga agraves terras de Guairaacute e regiotildees do Alto Peru
(atual Boliacutevia) Com a descoberta da prata do Potosi intensificaram-se as buscas
de metais nobres inclusive com incentivos da Coroa portuguesa com ajuda de
mineradores preparados para a identificaccedilatildeo de mineacuterios especialmente a prata e
o ouro As expediccedilotildees em busca daquelas riquezas foram estimuladas apoacutes a
chegada de D Francisco de Sousa que ocupou a governadoria Geral do Brasil no
periacuteodo de 1591 a 1601
Foi neste contexto que ocorreram as primeiras tentativas de exploraccedilatildeo do
ferro das minas de Araccediloiaba Dificilmente pode-se precisar a data em que se deu
o encontro do morro de Araccediloiaba pelos europeus mas certamente a sua
descoberta foi facilitada pela presenccedila dos Peabirus
Provavelmente o aspecto estrateacutegico e o encontro de traccedilos de prata junto
ao mineacuterio de ferro de Araccediloiaba tenham sido fatores que levaram D Francisco a
conceder sesmarias e dar iniacutecio ao povoamento colonial da regiatildeo Para tanto
ldquoplantou o pelourinhordquo no interior do Morro tendo como padroeira Nossa Senhora
do Monte Serrat Esta povoaccedilatildeo natildeo prosperou tendo sua populaccedilatildeo se
deslocado em 1611 ndash o mesmo ano da morte de D Francisco de Sousa - para o
Itavuvu local que recebeu a denominaccedilatildeo de Satildeo Felipe Somente mais tarde no
decorrer de 1661 houve a fundaccedilatildeo da Vila de Sorocaba (ALMEIDA 2002 p 11-
20)
124
Apesar da sua localizaccedilatildeo distante cerca de trinta leacuteguas de distacircncia do
litoral e isolada dos mercados consumidores o interesse da exploraccedilatildeo do ferro de
Araccediloiaba se explica pelo valor estrateacutegico desse metal que poderia ser utilizado
como mercadoria contando com mercado certo a proacutepria Capitania de Satildeo
Vicente e a regiatildeo do rio da Prata Por outro lado o ferro era um metal de grande
interesse para a Metroacutepole que contava com pequenas jazidas
Mais tarde jaacute no iniacutecio do seacuteculo XVIII havia um mercado promissor
representado regionalmente pelo avanccedilo da agricultura de cana-de-accediluacutecar e
tambeacutem pela exploraccedilatildeo das minas de ouro de Cuiabaacute e Minas Gerais81 A esse
respeito escreve em 1782 Marcelino Pereira Cleto
Ainda que as minas de ferro e accedilo estatildeo em terras de Sertatildeo e na
distancia de trinta legoas da Marinha com tudo o sitio he haacutebil
para o bom consumo destes gecircneros porqto por Sorocaba he o
caminho para Coritiba Minas de Pernampanema e outras terras
mais distantes da Capitania de Satildeo Paulo por Itu Va proacutexima he
o caminho por onde se dirige todo o negocio que vai para
Cuiabaacute por esta capitania e tambeacutem perto das das minas se
encaminha a estrada de Goiases Se os Negociantes do Cuiabaacute e
Goiases achassem no caminho ou perto delle este dous gecircneros
[ferro e accedilo] ainda pelo mesmo preccedilo qrsquo elles se vendem no Rio
de Janeiro e os de S Paulo o tivessem na sua proacutepria Capitania
certamte natildeo iratildeo busca-los ao Rio de Janeiro com despesa e
risco e bastaria ser seguro este consumo para ser uacutetil cuidar-se
nas das minas
Quanto mais em distancia como de seis leacutegoas das minas
passa o rio Teateacute navegaacutevel de canoa e unicamemte com o
embaraccedilo de algum ou alguns Saltos ou Cachoeiras neste rio
entra um pouco distancia de S Paulo outro chamado dos
Pinheiros neste o rio Grande neste o rio Pequeno qrsquo fica junto agrave
81 No seacuteculo XVIII a agricultura da cana-de-accediluacutecar foi significativa na regiatildeo denominada de ldquoquadrilaacutetero do accediluacutecarrdquo formada pelas localidades de Sorocaba Piracicaba Mogi-Guaccedilu e Jundiaiacute destacando-se duas aacutereas Itu e Campinas Para este tema ver PETRONE Maria Thereza S A lavoura canavieira em Satildeo Paulo Satildeo Paulo Difusatildeo Europeacuteia do livro 1968
125
Serra qrsquo cobre a Va de Santos do rio pequeno a santos seratildeo
sette legoas trecircs por terra maacutes caminho mto aacutespero E as quatro
por hum rio qrsquo em todas as partes admitte navegaccedilatildeo daquelles
rios vecirc-se qrsquo era pequena a distancia em qrsquo se precisava
condusir por terra estes dous gecircneros ateacute ao Porto da Va de
Santos e daqui dar-lhes extraccedilatildeo para mais Portos da Ameacuterica
(CLETO 1899 p p 210)
Embora natildeo haja estudos especiacuteficos sobre o trabalho indiacutegena na
produccedilatildeo do ferro dos empreendimentos metaluacutergicos instalados no morro de
Araccediloiaba os documentos escritos indicam que ateacute meados do seacuteculo XVIII a
produccedilatildeo do ferro em Araccediloiaba foi realizada com o trabalho de indiacutegenas que
eram levados para aquela atividade pelos exploradores 82 Dessa forma
exploraram aquelas minas Afonso Sardinha e Francisco de Souza (seacuteculo XVI e
XVII) Luiz Lopes de Carvalho (seacuteculo XVII) Domingos Pereira Ferreira (seacuteculo
XVIII) e depois a Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema Neste uacuteltimo
empreendimento os iacutendios foram trazidos das aldeias de Itapecerica MrsquoBoy
Carapicuiacuteba Barueri e Itapevi Em 1815 trabalhavam nessa faacutebrica 16 iacutendios aleacutem
de escravos africanos Em 1834 a Real Faacutebrica de Ferro comeccedilou a receber
africanos livres em 1837 trabalhavam naquele estabelecimento 121 escravos (68
homens 24 mulheres e 29 crioulos) e 48 africanos livres (30 homens e 18
mulheres)83
Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX o morro de Araccediloiaba passou a
integrar as rotas de muitos naturalistas geoacutegrafos mineralogistas botacircnicos e
geoacutelogos como Von Martius Martim Francisco de Andrada Auguste Saint Hilaire
o Baratildeo Eschewege Theodoro Knecht e Leandro Dupreacute que fizeram daquele
82 Conforme estabelecia a legislaccedilatildeo mineira compilada pelo Coacutedigo Filipino a exploraccedilatildeo de qualquer mineacuterio era realizada com os recursos do proacuteprio descobridor pagando os direitos dos quintos ao eraacuterio reacutegio Cf Ord L 2ordm ndash Tits 26 e 28 par 16 acolhendo a Ord Manuelina do L 2ordm Tt34 e seus paraacutegrafos Ver RODRIGUES (1966 p 182) 83 Sobre o trabalho indiacutegena na Real Faacutebrica de Ferro de Ypanema ver MENON Og A Real Fabrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema e seu mundo 1811-1835 Dissertaccedilatildeo (mestrado) Satildeo Paulo PUCSP 1992 p 84-90 Sobre o trabalho dos africanos livres em Ipanema ver RODRIGUES Jaime Ferro trabalho e Confliro os Africanos livres na Faacutebrica de Ipenema Historia Social n 45 Campinas IFCH-Unicamp 29-42 199798
126
local um laboratoacuterio a ceacuteu aberto para pesquisas cientiacuteficas aleacutem de terem
deixado dessas experiecircncias relatos preciosos que ajudam a compor aquela
histoacuteria como atesta o relato do naturalista Saint-Hilaire que esteve em Ipanema
em 1819 Diz ele
Encontrei em Ipanema um zoologista o Sr Natterer membro da
comissatildeo cientiacutefica que o imperador da Aacuteustria havia enviado ao
Brasil para recolher amostras de espeacutecimes diversos do pais
Fazia um ano que se achava instalado nas proximidades das
forjas tendo jaacute formado uma vasta coleccedilatildeo de paacutessaros Era
impossiacutevel natildeo admirar a beleza dessa coleccedilatildeo Natildeo se via uma
uacutenica ave cujas penas tivessem sido coladas ou que apresentasse
a menor mancha de sangue
Encontrei tambeacutem em Ipanema um jovem prussiano Sellow
o primeiro naturalista a chegar no Brasil depois de firmada a paz
Tinha feito anteriormente estaacutegio no Jardim Botacircnico de Paris a
fim de aperfeiccediloar os seus conhecimentos e vivia agora de uma
pensatildeo que lhe dava o ilustre e generoso Humboldt o qual fazia
crer ao rapaz que ele estava sendo pago pela administraccedilatildeo do
Jardim Sellow dedicava-se as suas pesquisas com um zelo e
uma energia sem par (SAINT-HILAIRE 1972 p194-195)
127
CAPIacuteTULO 5
INVESTIGACcedilOtildeES ARQUEOLOacuteGICAS AS EVIDENCIAS DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO 84
O trabalho da pesquisa arqueoloacutegica se estendeu por um periacuteodo de 8
anos (1983-1989) e ficou registrado em documentos de Diaacuterios de Campo
escritos pela pesquisadora Margarida Davina Andreatta assim como em
correspondecircncias levantamentos topograacuteficos planos de escavaccedilatildeo croquis e
desenhos geomeacutetricos de plantas das ruiacutenas croquis de cortes estratigraacuteficos e
de reconhecimento das escavaccedilotildees Inventaacuterio de Peccedilas e fotografias tudo
devidamente registrado em relatoacuterios da pesquisa arqueoloacutegica (ver Planta Geral
da Aacuterea Anexo 9 e o mapeamento das escavaccedilotildees Anexo 10)
Os artefatos coletados durante as investigaccedilotildees de campo foram
acondicionados em caixas devidamente protegidas e identificadas e guardados
nas dependecircncias do Museu do Centro de Visitantes da FLONA de Ipanema
Por ocasiatildeo da primeira visita realizada no Siacutetio Afonso Sardinha em 09 de
maio de 1983 a pesquisadora observou que as ruiacutenas existentes estavam
cobertas por ldquopequenos arbustos cipoacutes gramiacuteneas deposiccedilatildeo de folhas e raiacutezes
secasrdquo as quais encobriam os blocos de pedra que formariam as paredes de uma
edificaccedilatildeo (ANDREATTA 1983 p7) O siacutetio apresentava sinais de alteraccedilotildees
causadas pela accedilatildeo de erosatildeo pelas aacuteguas da chuva bem como pela accedilatildeo
antroacutepica possivelmente pescadores e caccediladores que usavam aquele local como
acampamentos temporaacuterios para suas atividades observando-se ainda sinais de
frequumlentes incecircndios na mata existente em seu entorno
84 Para acompanhar as discussotildees deste Capiacutetulo consultar o Anexo 9 Planta Geral do Siacutetio Afonso Sardinha
128
Fig 38 LIMPEZA DO SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 1984
Fig 39 EQUIPE DE TRABALHO SITIO AFONSO SARDINHA 1988
Para iniciar a pesquisa arqueoloacutegica foi necessaacuterio remover a vegetaccedilatildeo
que recobria as ruiacutenas mencionadas de modo a possibilitar as primeiras
observaccedilotildees e mediccedilotildees das paredes e da aacuterea do seu entorno Desta forma jaacute
no iniacutecio das investigaccedilotildees iniciais em maio de 1983 jaacute haviam sido
129
evidenciados embora ainda natildeo totalmente identificados os espaccedilos
possivelmente destinados agrave produccedilatildeo de ferro e os locais proacuteprios para o
aproveitamento da forccedila motriz hidraacuteulica necessaacuteria agravequelas atividades
51 Estruturas hidraacuteulicas para a produccedilatildeo da forccedila motriz
O trabalho de reconhecimento da aacuterea identificou um conjunto de
estruturas identificadas como pertencente a um sistema hidraacuteulico destinado a
produccedilatildeo da forccedila motriz o qual compreendia diversas partes o canal de
derivaccedilatildeo das aacuteguas (vestiacutegios de canaleta) a vala destinada ao alojamento da
roda hidraacuteulica e o trecho do canal de restituiccedilatildeo das aacuteguas ao ribeiratildeo Tais
dispositivos se localizam em aacuterea externa poreacutem adjacente ao edifiacutecio principal
de produccedilatildeo de ferro
Natildeo foi possiacutevel localizar a estrutura do barramento responsaacutevel pelo
desvio das aacuteguas do ribeiratildeo do Ferro para o canal de derivaccedilatildeo
511 O Canal de Derivaccedilatildeo A existecircncia do canal de derivaccedilatildeo foi evidenciada no ano de 1987 quando
foram realizados os trabalhos de decapagem para escavaccedilatildeo da aacuterea Sul da aacuterea
A (forno externo) conforme registrado no Diaacuterio de Campo no dia 02 de julho de
1987 onde de se indica que ldquoevidenciou uma canaleta que se prolonga para o
interior da ferradura que apareceu apoacutes a limpeza da vegetaccedilatildeo do entorno da
mesmardquo Outra evidecircncia da existecircncia do canal na regiatildeo ao Sul da aacuterea A (forno
externo) foi a constataccedilatildeo da ocorrecircncia de fluxo de aacutegua em direccedilatildeo ao Forno 1
(aacuterea A1) fenocircmeno que se observava toda a vez que chovia Este fato mostra
130
que deveria existir um possiacutevel canal interceptador de aacuteguas de chuvas
direcionando a correnteza em direccedilatildeo ao forno (Anexo 9 e Figura 75)
A evidecircncia encontrada revelava que o Canal de Derivaccedilatildeo havia sido
construiacutedo com a finalidade de obter um aproveitamento da corrente de aacutegua do
ribeiratildeo do Ferro contornando a face sul da edificaccedilatildeo ateacute encontrar o muro da
entrada da vala da roda drsquoaacutegua em um ponto onde o terreno se encontra agrave cota
520m medida pelo levantamento planialtimeacutetrico realizado na aacuterea Sendo assim
esse canal de desvio de aacuteguas deve partir do ribeiratildeo do Ferro numa posiccedilatildeo com
cota evidentemente superior a 520m (Figura 75)
No final do Canal de Derivaccedilatildeo no ponto correspondente a entrada da vala
(aacuterea E) foi encontrada durante as pesquisas uma quantidade significativa de
blocos de rocha arenito de tamanhos regulares amontoados e natildeo-alinhados os
quais testemunhavam que naquele local deveria haver uma estrutura de conexatildeo
entre o canal de derivaccedilatildeo e a vala As dimensotildees desses blocos apresentando
uma certa regularidade de formas satildeo tambeacutem um forte indiacutecio de que eles foram
cortados com a finalidade de proporcionar um entrosamento na construccedilatildeo da
parede (Anexo 13)
As pesquisas mostraram a existecircncia de trecircs grupos de blocos com
dimensotildees regulares As Tabelas abaixo apresentam as dimensotildees observadas
nos blocos de arenito acima mencionados
Tabela 1 Dimensotildees dos blocos de maior dimensatildeo ( em centiacutemetros - cm)
COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA
43 30 18
43 27 15
26 20 16
131
COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA
20 11 8
18 09 9
18 14 6
Tabela 2 Dimensotildees dos blocos de media dimensatildeo ( em centiacutemetros ndash cm)
COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA
10 6 6
10 5 6
11 7 35
Tabela 3 Dimensotildees dos blocos de menor dimensatildeo ( em centiacutemetros ndash cm)
Fig 40 VISTA GERAL DA AacuteREA E 1988
132
512 A Vala da Roda
Nas ruiacutenas encontradas da Faacutebrica de Ferro a existecircncia de estruturas
destinadas a utilizaccedilatildeo da energia hidraacuteulica eacute evidenciada pela presenccedila de
estruturas que caracterizam o controle das aacuteguas Em sequumlecircncia ao Canal de
Derivaccedilatildeo mencionado no item anterior observa-se a existecircncia da vala para o
alojamento da roda drsquoaacutegua indicada na planta baixa (Anexo 9) identificada como
ldquoCanal (D)rdquo conforme registrado no Diaacuterio de Campo da pesquisadora Margarida
Davina Andreatta em maio de 1983
A vala encontrada apresenta 19 metros de comprimento tendo ambas as
paredes cerca de 15 metros de largura e vatildeo livre entre as paredes com cerca de
225 m A uma distacircncia da ordem de 37 metros da margem do ribeiratildeo do Ferro
a parede da lateral direita apresenta um alargamento e por conseguinte ocorre
um estreitamento do vatildeo da vala passando a contar com apenas 1 (um) metro de
largura na saiacuteda
A vala encontrada no Siacutetio Afonso Sardinha apresentava o seu piso com
plano de declividade em direccedilatildeo ao ribeiratildeo do Ferro sendo que na parte mais
alta a cota do piso eacute de 453 m acima do niacutevel do ribeiratildeo enquanto que a
extremidade inferior da vala alcanccedila 041m acima do mesmo niacutevel portanto
mostrando forte inclinaccedilatildeo para facilitar a restituiccedilatildeo da aacutegua ao ribeiratildeo
A posiccedilatildeo do plano de declividade da vala mostra que na extremidade de
saiacuteda do canal formou forte desniacutevel em relaccedilatildeo ao piso da Faacutebrica sendo que no
ponto meacutedio o niacutevel da vala seria igual a 230 m (Figura 41)
133
Fig 41 Dimensotildees da Vala da roda e localizaccedilatildeo das evidecircncias de
esteios
134
Fig 42 VALA DA RODA HIDRAacuteULICA 1987 - I
Fig 43 VALA DA RODA HIDRAacuteULICA 1987 - II
135
5121 Evidecircncias de esteios
Em novembro de 1984 foram evidenciados trecircs pares de esteios nas
laterais externas das paredes da vala permitindo supor que as mesmas
funcionavam como pilares para alguma cobertura sobre a vala (ANDREATTA
1984 p 37)
As evidecircncias de esteios encontrados possuem formas circulares e
quadrangulares tendo os lados medidas semelhantes As evidecircncias localizadas
no lado leste apresentavam respectivamente 040 cm X 040 cm 045 cm X 045
cm e 045 cm X 040 cm Jaacute as evidencias encontradas no lado oeste as medidas
encontradas eram 050 X 055 cm e 050 X 050 cm Aleacutem disso apresentavam
espaccedilamentos semelhantes entre si da ordem de quatro metros e meio
Fig 44 EVIDENCIAS DE ESTEIOS vala da roda 1987
136
Fig 45 DETALHE DOS ESTEIOS
Fig 46 DETALHE DE UM ESTEIO
137
52 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 521 Area ldquoCrdquo
O relevo do terreno nesta aacuterea mostra irregularidade sendo que na
extremidade sul junto agrave parede limite a superfiacutecie do terreno apresenta uma
parte plana com cota mais elevada tendo sido medido pela topografia o niacutevel
448 enquanto que na porccedilatildeo central aparece um segundo platocirc com cota do
terreno igual a 343 e na extremidade norte junto ao ribeiratildeo do Ferro a cota
medida foi 0 85m ( ver figura 47)
As pesquisas nesta aacuterea ldquoCrdquo foram realizadas agrave partir de novembro de
1986 para a verificaccedilatildeo da estratigrafia com a abertura de 2 trincheiras na
extremidade norte e uma na parte central as quais tiveram as seguintes
caracteriacutesticas geomeacutetricas (comprimento X largura X profundidade) T1 4m X
065m X 080m T2 170m X 070m X 080m T3 140m X 065m X 095m
(ANDREATTA1984 p 5)
O resultado dos estudos estratigraacuteficos e de decapagem mostraram a
existecircncia unicamente de telhas e cravos aleacutem de alguns poucos fragmentos de
ceracircmica
138
Fig 47 ndash Topografia do Terreno da Aacuterea C (Seta indicaccedilatildeo das Trincheiras)
139
Fig 48 Vista Geral da Aacuterea C 1987
522 A Aacuterea B (ldquoForjardquo) Diferentemente do espaccedilo ldquoCrdquo analisado no item anterior a aacuterea
denominada ldquoBrdquo no desenho da planta baixa (anexo 9) apresentou importante
quantidade de materiais arqueoloacutegicos tais como metais liacuteticos ceracircmicas louccedila
e resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias)
No inicio das exploraccedilotildees do local no decorrer do ano de 1983 foram
observadas evidecircncias de paredes inclusive com amontoados de blocos de
arenito que mostravam possiacuteveis sinais de alteraccedilotildees construtivas
No ano seguinte orientado pela descoberta dos blocos acima
mencionados os quais foram caracterizados como possiacuteveis materiais de
construccedilatildeo a pesquisa arqueoloacutegica foi programada prevendo inicialmente a
140
remoccedilatildeo da vegetaccedilatildeo existente no espaccedilo assinalado ldquoBrdquo seguida da
decapagem do terreno
As pesquisas iniciais permitiram identificar a existecircncia da base de paredes
de uma antiga estrutura A partir desta descoberta foi possiacutevel reconstruir ldquoem
superposiccedilatildeo aos blocos de arenito da parede original da forjardquo 85 Tais blocos de
arenitos conforme foi possiacutevel constatar eram os mesmos materiais de
construccedilatildeo dos setores ldquoCrdquo e ldquoDrdquo
Fig 49 RECONSTITUICcedilAtildeO DAS PAREDES DA AacuteREA B 1984
85 Comunicaccedilatildeo Interna ao CENEA por Margarida Davina Andreatta Iperoacute 05dez1984
141
Fig 50 EVIDENCIAS DAS PAREDES DA AacuteREA B 1984 -
Fig 51 PAREDE DA AacuteREA B RECONSTITUIacuteDA 1984 - I
142
Fig 52 PAREDES DA AacuteREA B RECONSTITUIacuteDA 1984 - II
Durante a realizaccedilatildeo da pesquisa arqueoloacutegica com escavaccedilotildees nesta
aacuterea foi possiacutevel evidenciar a ocorrecircncia de significativa quantidade de peccedilas de
metais (ver Tabela Metais) tais como lacircminas plaquetas e cravos
aparentemente indicando a atividade de transformaccedilatildeo do ferro em peccedilas de
utilitaacuterios Tambeacutem foram encontrados liacuteticos fragmentos de telhas faianccedila de
origem portuguesa e ceracircmicas de produccedilatildeo regional ou local (neo-brasileira)
possivelmente ldquopara fins utilitaacuterios do grupo que habitou o localrdquo 86
86 Relatoacuterio de Atividades Periacuteodo 19-31 maio 1986 p 8
143
Fig 53 DECAPAGEM AacuteREA B 1984
Quanto ao piso arqueoloacutegico da aacuterea ldquoBrdquo observou-se que ele estava
situado entre 10 e 30 cm acima do solo original sendo constituiacutedo ldquode blocos de
arenito de diferentes tamanhos irregulares e cobertos por uma camada de terra
com huacutemus e raiacutezes tronco de aacutervores e a terra eacute latossolo (cor avermelhada) o
mesmo que se encontra entre os blocos de arenito nas paredes parece que
serviu como argamassa para assentar os blocos entre si e levantar a parederdquo
conforme descriccedilatildeo apresentada no Diaacuterio de Campo da pesquisadora Margarida
Davina Andreatta (ANDREATTA 1984 p 42) Notou-se tambeacutem que os blocos e
placas de arenito estavam ldquodispostos horizontalmente de maneira que indicavam
que a superfiacutecie do piso deveria ter sido nivelada com argila a fim de facilitar a
circulaccedilatildeo do homemrdquo (ANDREATTA 1984 p 42)
144
TABELA METAIS
CATEGORIAS NUacuteMERO DE FRAGMENTOS
Cravos 33
Plaquetas 06
Barras de ferro 02
Escoacuterias 03
Mineacuterios 03
ANDREATTA Inventaacuterio de Peccedilas 1983-1987
No interior do local da aacuterea ldquoBrdquo (ldquoforja) foram coletadas duas peccedilas
arqueoloacutegicas compreendendo dois fragmentos de ceracircmica com formato de
vasilhame para cozimento as quais foram encaminhadas para o laboratoacuterio da
FATEC ndash Faculdade de Tecnologia de Satildeo Paulo com o objetivo de obter a
dataccedilatildeo absoluta pelo meacutetodo da termoluminescecircnciardquo Este meacutetodo eacute aplicado
para o caso de materiais que apresentam quartzo em sua composiccedilatildeo tais como
ceracircmica vidros solos louccedilas faianccedilas etc
Uma dessas peccedilas era constituiacuteda de metade de um vasilhame de
pequenas dimensotildees de ceracircmica decorada com a presenccedila de apecircndice (alccedilas)
identificada conforme classificaccedilatildeo arqueoloacutegica como de produccedilatildeo local ou
regional (neo-brasileira) O exame visual dessa peccedila mostra a existecircncia de um
apecircndice (alccedila) que identifica a influencia do europeu na fabricaccedilatildeo daquele
objeto permitindo deduzir que o local teria sido um siacutetio de contato (entre o
indiacutegena e o europeu)
O resultado do ensaio de dataccedilatildeo absoluta dessa peccedila arqueoloacutegica pelo
meacutetodo da termoluminescecircncia apontou a idade de 520 +- 75 anos permitindo
avaliar a data da fabricaccedilatildeo entre 1411 a 1561 conforme Certificado da FATEC
datado de 21 de junho de 2006 (Relatoacuterio de Ensaio ndash Anexo 1) Levando em
conta os dados apresentados pela pesquisa histoacuterica para aquele local pode-se
145
supor que a data mais provaacutevel da fabricaccedilatildeo da peccedila seja em meados do seacuteculo
XVI eacutepoca em jaacute ocorria presenccedila do explorador europeu (Figuras 54 55 56)
Fig 53 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - SEacuteCULO XVI -I Idade de 520 +- 75 anos
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
Fig 54 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - II
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
146
Fig 55 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - III
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
Descriccedilatildeo Nuacutemero de Registro 0106
Niacutevel 015 m de profundidade
Laacutebio arredondado
Borda extrovertida inclinada externa
Diacircmetro de boca 014 m
Acircngulo da parede 115ordm
Vasilhame simeacutetrico profundo inflectido de boca ampliada e com
apecircndices lisos em forma de rolete com evidencias de pressatildeo na extremidade
para fixaccedilatildeo
Apresenta as seguintes decoraccedilotildees inciso na posiccedilatildeo vertical com 015m
de comprimento (em grupo de 3 incisos) distanciando cada grupo em 001m
dispostos em duas fileiras sendo a primeira proacutexima al laacutebio e a segunda junto a
altura do apecircndice
147
O bojo eacute liso e a sua base escovada e apresenta marcas de fuligem na
parte externa e sinais de desgaste por atrito na parte interna da base do
vasilhame
O outro vasilhame ceracircmico encontrado na aacuterea B identificada como de
procedecircncia local ou regional (neo-brasileira) apresenta caracteriacutesticas
semelhantes e tambeacutem a mesma dataccedilatildeo do vasilhame de ceracircmica
anteriormente descrito (Figura 57 58) Este artefato foi encontrado a 030 cm da
superfiacutecie e foi em parte reconstituiacutedo e levado para o exame de dataccedilatildeo pelo
processo de termoluminscecircncia ao Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade
de Tecnologia de Satildeo Paulo - FATEC O resultado do ensaio apontou a idade de
540 +- 75 anos correspondendo a possiacuteveis datas de fabricaccedilatildeo daquele artefato
entre 1391 e 1541 sendo esta uacuteltima data a mais provaacutevel(Relatoacuterio de Ensaio
Anexo 1)
Fig 57 VASILHAME CERAcircMICO ndash 0122 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - I Idade de 540 +- 75 anos
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
148
Fig 58 VASILHAME CERAcircMICO ndash 0122 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - II Idade de 540 +- 75 anos
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema Descriccedilatildeo Nuacutemero de registro 0122
Niacutevel 030 m de profundidade
Tipo de laacutebio arredondado
Tipo de borda extrovertida inclinada externa
Diacircmetro da boca 028m
Acircngulo da parede 110ordm
Fragmento de vasilhame simeacutetrico de contorno inflectido com as seguintes
decoraccedilotildees parede lisa com engobo branco parede externa com banho de
engobo branco com uma linha incisa paralela a 001m do laacutebio Entre esta
primeira decoraccedilatildeo e o bojo haacute decoraccedilatildeo escovada com inclinaccedilatildeo
Na borda haacute ainda um apecircndice convexo com sinais de fixaccedilatildeo e nas
extemidades haacute pressatildeo de fixaccedilatildeo Entre a borda e o bojo apresenta decoraccedilatildeo
regulada contornando o vasilhame O bojo tambeacutem apresenta decoraccedilatildeo
escovada quase horizontal
149
Uma terceira peccedila encontrada no interior da aacuterea ldquoBrdquo eacute uma faianccedila
decorada de origem portuguesa e formada por fragmentos de louccedila de uso
domeacutestico a qual tambeacutem foi submetida a uma dataccedilatildeo relativa mediante
comparaccedilatildeo feita com auxilio de cataacutelogo (Itineraacuterio da Faianccedila do Porto e Gaia
publicaccedilatildeo do Museu Nacional de Soares dos Reis sem data) Os fragmentos
foram localizados em parte no interior da aacuterea ldquoBrdquo e outra parte na aacuterea externa
dessa mesma aacuterea sendo este uacuteltimo junto a um vestiacutegio de estrutura do forno 1
aacuterea A1 (Figura 59)
O exame visual sobre a faianccedila reconstituiacuteda a partir de cinco fragmentos
separados permitiu reconhecer com base no documento acima mencionado que
aquela peccedila era um utensiacutelio portuguecircs de uso domeacutestico a qual pode ser
descrita como ldquotiacutepicas tijelas malegueiras decoradas no fundo e na orla com
filetes concecircntricos azul [] que apresentam temas decorativos recorrentes
dentro das faianccedilas conhecidas para a segunda metade do seacuteculo XVII (GOMES
BOLTELLO p148)
Conforme parecer sobre a mesma faianccedila acima descrita apresentado por
Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do Infante Porto ndash Portugal em
28 de abril de 2004 aquela peccedila de faianccedila apresenta uma ldquodecoraccedilatildeo simples
que exibe com toques de pincel espaccedilados junto ao bordo filetes simples
resultando ciacuterculos concecircntricos e espiral no fundo tudo em azul aponta para
uma cronologia que se centraraacute no seacuteculo XVIIrdquo 87
87 Parecer sobre a faianccedila encontrada no Siacutetio Afonso Sardinha feita por Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do Infante Porto ndash Portugal em 28 abr 2004
150
Fig 59 FAIANCcedilA - AacuteREA B [SEacuteC XVII]
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
53 Area E Sul da Faacutebrica de Ferro
A pesquisa arqueoloacutegica realizada na aacuterea E Sul externa da Faacutebrica de
Ferro revelou a existecircncia de amontoados de resiacuteduos de fundiccedilatildeo da magnetita
conhecidos como escoacuteria os quais se distribuem por uma ampla aacuterea do terreno
identificada como escorial sendo que num local adjacente agrave face sul da estrutura
denominada aacuterea ldquoB se apresenta maior concentraccedilatildeo (ver anexo 9)
Uma amostra desse material foi encaminhada para anaacutelise no
Departamento de Mineralogia e Geotectocircnica GMG do Instituto de Geociecircncias
da Universidade de Satildeo Paulo aos cuidados de Daniel Atencio Professor
Associado daquele Departamento o qual constatou ser aquela amostra ldquo[]
provavelmente restos de fundiccedilatildeo Trata-se de wuumlstita (FeO) mais ferro (Fe)
Esses materiais satildeo muito raros como minerais mas comuns em fundiccedilotildeesrdquo88
88 Anaacutelise elaborada por Daniel Atencio Professor Associado do Departamento de Mineralogia e Geotectocircnica GMG IGUSP e enviado por e-mail no dia 21 set 2005
151
Como indica este parecer a amostra se constituiacutea de uma escoacuteria ldquoresto
de fundiccedilatildeordquo contendo wuumlstita (FeO) e ferro caracterizando desta forma o material
do escorial citado
Fig 60 ESCOacuteRIA RESTOS DE FUNDICcedilAtildeO AacuteREA E
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
Observe-se que a presenccedila do metal de ferro impregnado nessa escoacuteria
era resultante da teacutecnica de fundiccedilatildeo para fabricaccedilatildeo do ferro empregada no
Brasil ateacute o iniacutecio do seacuteculo XIX Com a introduccedilatildeo do processo de altos-fornos no
Brasil foi possiacutevel melhorar o aproveitamento do mineacuterio de ferro durante o
processo de fundiccedilatildeo
Nesta mesma aacuterea E foi encontrada uma grande quantidade de telhas
localizadas na parte externa das aacutereas ldquoBrdquo e ldquoCrdquo anteriormente descritas Foram
coletadas 930 fragmentos de telhas as quais foram localizadas ao longo de uma
faixa do terreno com largura da ordem de 060 e 080 cm paralelamente a parede
sul das aacutereas ldquoBrdquo e ldquoCrdquo sugerindo corresponder a mesma posiccedilatildeo sob um ldquobeiral
do telheiro que cobria as respectivas aacutereasrdquo (ANDREATTA 1987 p36v) (Anexo
15)
152
As telhas encontradas permitem afirmar que no local havia uma cobertura
sendo que os trabalhos de dataccedilatildeo sobre um exemplar de telha (Figura 61)
executado pelo meacutetodo de termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e
Dataccedilatildeo da Faculdade de Tecnologia de Satildeo Paulo ndash FATEC acusou uma
dataccedilatildeo (em anos) de 280 +- 40 o que equivale a afirmar que aquele fragmento
foi fabricado entre os anos de 1686 a 1766 periacuteodo correspondente a pelo
menos dois projetos de Faacutebrica de Ferro para aquele local o de Luiz Lopes de
Carvalho e o de Domingos Pereira Ferreira sendo que este uacuteltimo empreendedor
esteve ali estabelecido durante um periacuteodo de no miacutenimo 12 anos (Relatoacuterio de
Ensaio Anexo 1)
A partir dos exames dos fragmentos das telhas encontradas tendo por
base o tipo de pasta coloraccedilatildeo e decoraccedilatildeo foi possiacutevel identificar seis grupos
distintos daquele material conforme a tabela de classificaccedilatildeo abaixo
(ANDREATTA 1987 p21)
Classificaccedilatildeo Caracteriacutestica
Tipo I Branca com riscos (podem ter sentido
longitudinal transversal em X ou em cruz) -
Predominante
Tipo II Branca lisa
Tipo III Vermelha lisa
Tipo IV Marron lisa
Tipo V Vermelha marcadas com granulaccedilatildeo grosseira
Tipo VI Vermelha lisa e com granulaccedilatildeo grosseira
(ANDREATTA 1987 p22)
Quanto a decoraccedilatildeo foram identificados quatro tipos de motivos conforme
os itens descritos abaixo
153
Tipo 1 - linhas digitais horizontais formados por duas linhas relativamente finas
(10 cm) paralelas e orientadas de uma extremidade a outra da telha A natureza
dessas linhas indica que foram confeccionadas em alguns casos por meio da
utilizaccedilatildeo de dedos (indicador e meacutedio)
Tipo 2 - linhas digitais associadas neste caso a decoraccedilatildeo eacute composta por uma
uacutenica linha com a largura de 03 a 05 cm traccedilada na posiccedilatildeo horizontal associada
a uma outra decoraccedilatildeo de forma semicircular
Tipo 3 - linhas digitais paralelas e inclinadas a decoraccedilatildeo apresenta linhas de 10
cm inclinadas e entrelaccediladas
Tipo 4 - linhas digitais inclinadas apresentam linhas com 10 a 15 cm
154
Fig 61 TELHA (AacuteREA E) ndash SEacuteCULO XVIII Idade 280 +- 40 (tn 255 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
155
Fig 62 TELHA (AacuteREA E) (tn30 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
Fig 63 TELHA AacuteREA E (tn 33 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
156
531 Fornos de fundiccedilatildeo na aacuterea externa da Faacutebrica (Aacuterea A1) Na aacuterea externa agrave Faacutebrica de Ferro localizada em diversas posiccedilotildees ao sul
e leste da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro inclusive na aacuterea aqui denominada de
escorial a pesquisa arqueoloacutegica mostrou a existecircncia de pequenos fornos de
fundiccedilatildeo do tipo ldquofornos baixosrdquo (Anexo 9)
Nessa mesma aacuterea junto ao local denominado ldquoArdquo foi identificado um dos
fornos de fundiccedilatildeo o qual foi denominado de ldquoforno1rdquo da aacuterea A1 junto ao qual
foram encontrados diversos materiais arqueoloacutegicos fragmento de ceracircmicas um
material liacutetico identificado como ldquoraspadorrdquo uma garrafa de greacutes fragmentos de
faianccedila portuguesa e telhas As evidecircncias de ceracircmicas encontradas nessa aacuterea
constituem artefatos relacionados ao grupo social de ocupaccedilatildeo colonial
Fig 64 RASPADOR PLANO-CONVEXO AacuteREA E
157
Fig 65 GARRAFA GRES AacuteREA A FORNO-1
Tambeacutem foi localizado um afloramento de rocha nas proximidades da
Faacutebrica margem esquerda do ribeiratildeo do Ferro o qual apresentava marcas de
uso possivelmente para afiar ferramentas (ANDREATTA 1983 p 18)
5311 Forno de Fundiccedilatildeo 1
O Forno 1 era do tipo conhecido como ldquoforno baixordquo sendo o uacutenico
encontrado junto a Faacutebrica de Ferro Entretanto dois outros fornos baixos foram
localizados em um local mais distante (da ordem de 50m) e denominado aacuterea A2
da referida Faacutebrica possivelmente fazendo parte de um outro conjunto de
produccedilatildeo de ferro (Anexo 9)
Os trabalhos de reconhecimento arqueoloacutegico mostraram que o Forno 1
(aacuterea A1) foi construiacutedo sobre uma base retangular com blocos de arenito sendo
158
que duas paredes foram erguidas tambeacutem com blocos de arenito (lados Norte e
Oeste ) enquanto que as duas outras faces foram encaixadas no proacuteprio terreno
rochoso do afloramento de arenito (lados Sul e Leste) aproveitando o relevo
inclinado no local
Uma descriccedilatildeo relacionada ao Forno 1 (aacuterea A1) feita pela pesquisadora e
arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta informa que
uma parte da ldquoconcavidaderdquo (lado Leste) eacute o proacuteprio afloramento
de arenito e o lado Sul tambeacutem enquanto que os lados Norte e
Oeste satildeo revestidos de blocos de arenito e no centro haacute
pequenos blocos tambeacutem de arenito que provavelmente rolaram
da superfiacutecie do proacuteprio muro de pedras da forja (ANDREATTA
1986 p9)
Os dados da pesquisa arqueoloacutegica mostraram ainda que o Forno 1 (aacuterea
A1) apresentava em planta as seguintes dimensotildees comprimento 340m (norte-
sul) largura 260m (leste ndash oeste) e profundidade de 085m (Andreatta 1986
p10)
Fig 66 DECAPAGEM FORNO1 AacuteREA A1 1987
159
Fig 67 VESTIacuteGIOS DO FORNO DE FUNDICcedilAtildeO1- (AacuteREA A1)89
532 Fornos de fundiccedilatildeo da Aacuterea A2 A pesquisa arqueoloacutegica mostrou vestiacutegios de dois outros fornos de
fundiccedilatildeo localizados subjacentes a um morrote denominado B nesta aacuterea A2 a
qual dista cerca de 50 metros ao Sul do local da aacuterea A1 onde existe uma ruiacutena
da Faacutebrica de Ferro O morrote B (ver Figuras 13 e 68) apresentava dimensotildees
de 1280 metros de comprimento por 250m de largura e 135 m altura Aleacutem do
forno de fundiccedilatildeo foram encontrados tijolos telhas e fragmentos de ceracircmica
(ANDREATTA 1987 p65-66) ( Anexo 9)
89 Ver em Pesquisas arqueoloacutegica prosseguem em Ipanema Jornal Cruzeiro do Sul Sorocaba 19 de marccedilo de 1987p 1
160
Fig 68 MORROTE E FORNOS 1 E 2 ndash AREA A2
161
Fig 69 CROQUI AacuteREA A 2 MORROTE B ndash FORNOS 1 E 2 Desenho de Maacutercia Gutierrez Escala 120
162
5321 Forno de fundiccedilatildeo 1 (aacuterea A2) O forno de fundiccedilatildeo 1 da aacuterea A2 caracteriza-se tambeacutem como do tipo
baixo Durante a pesquisa arqueoloacutegica esta evidecircncia se apresentou como o
forno de fundiccedilatildeo mais bem conservado dentre aqueles encontrados Este forno
tem a forma circular com 070 m de diacircmetro interno e 100 m de diacircmetro
externo com 030 m de profundidade A estrutura apresenta na base um vatildeo de
015 m que corresponde agrave abertura atraveacutes da qual se fazia a ldquocorrida das
escoacuteriasrdquo (Figuras 70 e 71)
A parede circular do Forno 1 (aacuterea A2) eacute ldquo assentada diretamente sobre o
solo e eacute constituiacuteda por tijolos e fragmentos de telhas e argamassa com argila do
proacuteprio solo originalrdquo (ANDREATTA 1987 p65-66) Junto ao vatildeo existente no
piso do forno foi feito um pequeno corte (025 m X 025 m X 010 m) para
evidenciar com maior precisatildeo a funccedilatildeo que teria aquela abertura em relaccedilatildeo agrave
estrutura do forno de fundiccedilatildeo
Com base nas investigaccedilotildees arqueoloacutegicas desenvolvidas foi possiacutevel
evidenciar a existecircncia de uma camada de 002 m de ldquosolo compactado e
queimado e com maior resistecircncia em relaccedilatildeo do restante do solo original abaixo
dele e do entornordquo( (ANDREATTA 1987 p65-66) comprovando que de fato
aquela abertura correspondia ao orifiacutecio responsaacutevel pela drenagem das escoacuterias
Esta abertura era comum a todos os fornos de fundiccedilatildeo do tipo forno baixo com
emprego do meacutetodo direto
163
Fig 70 VESTIacuteGIOS DE FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 1- AacuteREA A2 1988
164
Fig 71 CROQUI DO FORNO 1 AacuteREA A2 (1987) Desenho de Marcia Gutierrez
165
5322 Forno de fundiccedilatildeo 2 (aacuterea A2)
O vestiacutegio arqueoloacutegico do Forno 2 foi encontrado a 045 m de
profundidade correspondendo a um forno do tipo baixo apresentando forma
circular construiacutedo com a utilizaccedilatildeo de telhas e ldquotijolosrdquo os quais eram materiais
diferentes daqueles encontrados em outras evidecircncias de fornos neste Sitio Esta
constataccedilatildeo denota que natildeo havia uma regra determinada para a construccedilatildeo de
fornos no que se refere agrave utilizaccedilatildeo de materiais de construccedilatildeo podendo haver
alternativas de uso de outros materiais conforme a disponibilidade de materiais
no local (Figuras 72 73 e 74)
Os registros do trabalho arqueoloacutegico permitiram evidenciar que o Forno 2
apresentava as seguintes dimensotildeesldquodiacircmetro de 110 m com uma borda de 28
cm de largura com a presenccedila de fragmentos de telhas tijolos e argamassa
(latossolo vermelho)rdquo ldquoDo interior do forno foram retiradas telhas (fragmentos)
em quantidade e tijolos e barro cozido com grande presenccedila de mineacuterio de ferrordquo
(ANDREATTA 1987 p65-66)
Quanto ao barro cozido (argila) encontrado no interior desse forno teria
sido provavelmente resto de um revestimento interno jaacute que o material do qual
ele foi construiacutedo (telhas e tijolos) estava disposto de forma bastante irregular A
utilizaccedilatildeo da argila como revestimento nos fornos de fundiccedilatildeo era muito comum
dando um efeito refrataacuterio ao forno fazendo com que natildeo fosse desperdiccedilada a
temperatura elevada que era proporcionada pela combustatildeo do carvatildeo vegetal no
interior do forno e necessaacuteria para separar o metal de ferro do mineacuterio no caso a
Magnetita
166
Fig 72 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988
Fig 73 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988
167
Fig 74 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988
168
CAPITULO 6
INTERPRETACcedilOtildeES DOS DADOS ARQUEOLOacuteGICOS
No Capiacutetulo 5 foram apresentados os resultados da pesquisa arqueoloacutegica
desenvolvida no Siacutetio Afonso Sardinha que envolveram trabalhos de
reconhecimento de campo segundo planos de escavaccedilatildeo coleta de artefatos
levantamentos planialtimeacutetricos e elaboraccedilatildeo de croquis tudo devidamente
registrado no Diaacuterio de Campo da arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta
No presente Capiacutetulo apresentam-se os resultados das anaacutelises detalhadas
dos registros arqueoloacutegicos que resultaram da pesquisa de campo e em seguida
interpretadas as informaccedilotildees anteriormente consolidadas com base nos
conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia
Na elaboraccedilatildeo da siacutentese interpretativa foi necessaacuterio em
complementaccedilatildeo valer-se de instrumentos disponiacuteveis em outras aacutereas do
conhecimento tais como Geologia Mineralogia Metalurgia Engenharia Civil
dentre outras aacutereas
Nesta fase dos estudos arqueoloacutegicos foram elaborados exames visuais e
catalograacuteficos visando a dataccedilatildeo relativa inclusive com o envio de imagem para
fins de comprovaccedilatildeo para Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do
Infante Porto ndash Portugal
Tambeacutem encaminhadas trecircs amostras de ceracircmica de utensiacutelios e telhas
as quais foram submetidas a testes de dataccedilatildeo absoluta com base em ensaios
de Termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade de
Tecnologia de Satildeo Paulo ndash FATEC sob a coordenaccedilatildeo da Professora Doutora
Sonia H Tatumi (Relatoacuterio de Ensaio Anexo 1)
169
Por outro lado amostras de resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias) foram
submetidas a anaacutelise quiacutemica-mineraloacutegica no laboratoacuterio do Departamento de
Mineralogia e Geotectocircnica ndash GMG Instituto de Geociecircncias da Universidade de
Satildeo Paulo sob a responsabilidade do pesquisador e Professor Associado Daniel
Atencio
61 Avaliaccedilatildeo das caracteriacutesticas do Arranjo das Estruturas Ao analisarmos o conjunto das estruturas arqueoloacutegicas entatildeo
descobertas considerando o contexto relacionado agrave produccedilatildeo do ferro na Europa
entre os seacuteculos XVI ao XVIII e levando em conta os conhecimentos que emanam
da Histoacuteria Colonial do Brasil e da Histoacuteria da Teacutecnica eacute possiacutevel estabelecer
muitas semelhanccedilas entre os arranjos das ldquoferrariacuteas de aacuteguardquo destinadas a
produccedilatildeo de ferro na Espanha (Paiacutes Basco) e os vestiacutegios descobertos no vale
das Furnas (Sitio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha)
Um dos aspectos mais importantes que demonstram tal semelhanccedila entre
as ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo e a Faacutebrica do Vale das Furnas refere-se agrave localizaccedilatildeo das
estruturas numa posiccedilatildeo de curva do ribeiratildeo do Ferro de onde era possiacutevel
captar e desviar as aacuteguas mediante a construccedilatildeo de um sistema hidraacuteulico
formado pelas seguintes unidades (a) Dique para represamento do ribeiratildeo (b)
Canal de Derivaccedilatildeo para desvio das aacuteguas (c) Estrutura de Vala com alojamento
de roda drsquoaacutegua e (d) Canal de restituiccedilatildeo das aacuteguas para o ribeiratildeo do Ferro
Tambeacutem chamam a atenccedilatildeo a arquitetura da principal estrutura construiacuteda
localizada na aacuterea A1 a qual mostra diversos recintos com a divisatildeo
caracteriacutestica das ldquoferreriacuteasrdquo encontradas na Espanha nos seacuteculos XVI assim
como as dimensotildees da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro construiacuteda numa aacuterea
retangular com 13m de largura por 16 m de comprimento No caso das ldquoferreriacuteasrdquo
170
bascas as edificaccedilotildees satildeo igualmente retangulares com as dimensotildees de 12 m de
largura por 17 metros de comprimento
Vale tambeacutem mencionar que arranjo semelhante pode ser observado no
caso da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro que entrou em operaccedilatildeo
em 1607 (ver fig 27)
Observa-se tambeacutem o emprego da alvenaria de pedra - teacutecnica construtiva
introduzida no Brasil pelos primeiros colonizadores como no caso da construccedilatildeo
da Casa da Torre de Garcia DrsquoAvila (ano de 1549) na Praia do Forte atual
municiacutepio de Mata de Satildeo Joatildeo Litoral Norte da Bahia (HOLANDA 2002)
Essa mesma teacutecnica exceto pequenas variaccedilotildees respeitavam as tradiccedilotildees
ibeacutericas tendo sido empregada no Brasil tambeacutem para construccedilotildees de
residecircncias edifiacutecios puacuteblicos igrejas e fortificaccedilotildees principalmente no litoral As
paredes feitas de pedra eram entatildeo revestidas com argamassa de areia e cal
obtido pela queima de cascas de ostras encontradas em depoacutesitos no litoral
Nota-se conforme registros das Atas da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo para o ano
de 1609 que essa mesma teacutecnica que se utilizava da cal como argamassa
tambeacutem foi utilizada na construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro (1607)
(NEME 1959 p 348)
62 As ldquoferreriacuteasrdquo de aacutegua na Peniacutensula Ibeacuterica
Na Europa e principalmente na Espanha as ldquoferreriacuteas de aguardquo se
expandiram a partir do seacuteculo XIV90 Assim eram chamados os edifiacutecios
destinados ao trabalho de fundiccedilatildeo do ferro que utilizavam a forccedila motriz
hidraacuteulica para acionar os foles dos fornos de fundiccedilatildeo e os malhos
90 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponiacutevel em lthttpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablesPrimitivas_instalcionespdfgt Acesso em 30 mar 05
171
Essas ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo para viabilizar o seu funcionamento exigiam
certas condiccedilotildees fisiograacuteficas cujos componentes essenciais satildeo a presenccedila do
mineacuterio de ferro nas proximidades madeiras para produccedilatildeo de carvatildeo e cursos
drsquoagua com corredeiras e volume de aacuteguas suficientes para a geraccedilatildeo de forccedila
motriz
Hubo dos tipos de ferreriacuteas de agua las que se valiacutean del caudal
de los rios que funcionaban todo el antildeo y las que dependiacutean de
arroyos que no entraban em funcionamiento hasta las
temporadas de otontildeo e invierno cuando la lluviacuteas incrementaban
el caudal de los regatos y la fuerza del agua Estas uacutetimas no
llegaron a ser consideradas como autenticas ferreriacuteas de agua
Em Biskaia se disignaba a las primeras como ldquode rio caudalrdquo y a
las segundas como ldquoregaterasrdquo Tambieacuten em Gipuzkoa se
diferenciaban unas de otras com los nombres de ldquozeharrolakrdquo y
ldquoagorrolakrdquo respectivamente
Para aprovechar la fuerza del agua era imprescidible que la
ferreriacutea estuviesse construiacuteda em el lugar adecuado Debiacutea estar
situada em la curva de um rio em um lugar em el que fuese faacutecil
desviar el agua de su curso natural a traveacutes de um sistema de
canales y anteparas para que despueacutes de hacer rotar la rueda
hidaulica pudiesse volver a su cauce naturalCuando no era
posible conseguir esta situacioacuten se recurriacutea a crear um sistema
artificial de presas que contuviesen el agua em um niacutevel maacutes
elevado de forma que para mover las ruedas hidraacuteulicas bastaba
com dejar caer la aacutegua sobre ellas 91
91 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponiacutevel em lthttpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablesPrimitivas_instalcionespdfgt
172
Fig 75 ASPECTO DE UMA ldquoFERRERIacuteA DE AGUArdquo SEacuteCULO XVII92
92 Felipe III visita la ferreriacutea de Yarza en Beasain (Guipuacutezcoa) en 02 noviembre de 1615
173
As plantas das ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo encontradas na regiatildeo basca da
Espanha obedeciam a um arranjo de planta retangular medindo em meacutedia 12 X
17 metros com cobertura de duas aacuteguas sendo que suas dependecircncias e
instalaccedilotildees geralmente compreendiam duas estruturas baacutesicas para a produccedilatildeo
de ferro o sistema hidraacuteulico ao qual jaacute se fez referecircncia e o edifiacutecio de
produccedilatildeo
A construccedilatildeo desse edifiacutecio principal era executada por construtores
especializados em teacutecnicas de edificaccedilotildees em alvenaria de pedra bem como na
instalaccedilatildeo de sistemas hidraacuteulicos exigindo a participaccedilatildeo de carpinteiros os
quais seriam os responsaacuteveis pela construccedilatildeo da roda drsquoaacutegua dos eixos da caixa
de aacutegua e das estruturas para o telhado 93
Para a operaccedilatildeo das ldquoferreriacuteasrdquo era necessaacuterio contar com pessoal teacutecnico
com conhecimentos tanto em mineraccedilatildeo quanto na fundiccedilatildeo bem como no
manejo dos dispositivos de utilizaccedilatildeo da energia das aacuteguas dos rios atraveacutes do
sistema hidraacuteulico
Este edifiacutecio destinado a produccedilatildeo abrigava diversos compartimentos
sendo o maior deles reservado agrave oficina a qual deveria se localizar ao lado da
Vala onde estava instalada a roda drsquoaacutegua que acionavam os eixos responsaacuteveis
pela movimentaccedilatildeo do malho e foles
O espaccedilo destinado agrave oficina era organizado de modo a levar em conta
duas unidades fundamentais de produccedilatildeo do ferro o forno de fundiccedilatildeo e o malho
A disposiccedilatildeo desses equipamentos no interior da oficina natildeo era aleatoacuteria uma
vez que a teacutecnica empregada para a fabricaccedilatildeo do ferro exigia que aqueles
Disponivel em lthttpwwweuskomediaorgeuskomediaSAunandigt Acesso em 20 marccedilo 2005 93 FERNANDEZA C La construccioacuten del hierro ndashmazos y ferreriacuteas Escuela Universitaacuteria de Arquitectos tecnicos de la Corunatilde Disponiacutevel em wwwguillenderohancomEXPOGRImzos-memoriahtm Acesso em 07mar06
174
equipamentos estivessem posicionados nas proximidades tendo em vista o fato
de os trabalhos serem complementares
Aleacutem da oficina o edifiacutecio principal deveria abrigar depoacutesitos de mateacuteria-
prima como carvatildeo vegetal e mineacuterio de ferro jaacute calcinado (tostado) e uma aacuterea
comum de descanso
Fig 76 SISTEMA DE ldquoPUJOacuteN TUERTOrdquo foles e malho satildeo acionados com o emprego de uma uacutenica roda hidraacuteulica94
94 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponivel emhttpwwwbizkaianetKulturaKirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablePrimitivas_instalacionespdf Acesso em 17 novembro de 2006
175
Fig 77 TRABALHO DE EXTRACcedilAtildeO DA MASSA DE FERRO 63 Sistema hidraacuteulico produccedilatildeo da forccedila motriz 631 Dique de represamento do ribeiratildeo do Ferro
As investigaccedilotildees de campo natildeo possibilitaram localizar o Dique de
represamento do ribeiratildeo do Ferro possivelmente em razatildeo da fragilidade dessas
estruturas diante da forccedila das aacuteguas
Entretanto vale registrar o testemunho de Luiz Lopes de Carvalho o qual
em carta dirigida ao Rei de Portugal em maio de 1692 afirmava que
por experiecircncia que fiz pelas minhas matildeos pois fabricando um
Engenho muito limitado por natildeo ter posses que mais tirava todos
os dias este rendimento de um quintal de ferro de duas pedras
176
poreacutem soacute cinco dias continuei nesta oficina em razatildeo de ir uma
cheia e como pela pobreza afabriquei com pouca fortaleza se
arruinou ficando incapaz de poder continuar na faacutebrica95
632 Canal de Derivaccedilatildeo das aacuteguas
As condiccedilotildees de erosatildeo na aacuterea do possiacutevel traccedilado tambeacutem natildeo
permitiram localizar a estrutura do dique responsaacutevel pelo desvio das aacuteguas no
ribeiratildeo do Ferro bem como localizar a comporta responsaacutevel pelo controle do
acesso de aacuteguas em direccedilatildeo ao canal
Deve-se ressaltar que a estrutura do dique eacute necessaacuteria para a elevaccedilatildeo
do niacutevel da aacutegua do ribeiratildeo para o desvio enquanto que a comporta permitiria
regular a vazatildeo em direccedilatildeo ao Canal de Derivaccedilatildeo A aacutegua conduzida atraveacutes do
deste Canal de derivaccedilatildeo impulsionada pela gravidade alcanccedilaria a entrada da
Vala sendo em seguida recolhida em um depoacutesito posicionado sobre aquela
estrutura
A Figura 78 mostra um possiacutevel traccedilado do referido canal sendo que no
desenho o iniacutecio do canal foi posicionado num ponto do ribeiratildeo acima da cota
583m conforme o levantamento planialtimeacutetrico executado na aacuterea do Siacutetio
Arqueoloacutegico Afonso Sardinha96
95 Carta enviada por Luiz Lopes de Carvalho ao Rei de Portugal datada de maio de 1692 RODRIGUES Leda Maria Pereira As minas de ferro em Biraccediloiaba ndash Satildeo Paulo seacuteculos XVI XVII XVIII Anais do III Simpoacutesio dos Professores Universitaacuterios de Histoacuteria Franca 1966 p 218 96 Planta Planialtimeacutetrica Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha Escala 1200 CENEA sd
177
Fig 78 TRACcedilADO ESQUEMAacuteTICO DO CANAL DE DERIVACcedilAtildeO
633 Vala da roda A finalidade da estrutura da Vala eacute a de abrigar a roda drsquoaacutegua dispositivo
necessaacuterio para transformar a energia hidraacuteulica em energia mecacircnica para
movimentar os equipamentos e ferramentas da Faacutebrica de Ferro
A Vala da roda foi construiacuteda com paredes de blocos de pedras de modo a
permitir o fluxo da correnteza e ao mesmo tempo proteger o terreno contra as
erosotildees impedindo as infiltraccedilotildees das aacuteguas para o interior das dependecircncias da
Edificaccedilatildeo Principal
O fato de natildeo terem sido encontrados fragmentos de telhas no interior da
Vala quando foram realizadas as pesquisas arqueoloacutegicas parecem indicar que
178
os esteios natildeo serviam para sustentar telhado Por outro lado a Histoacuteria da
Teacutecnica mostra que outras instalaccedilotildees da mesma eacutepoca destinadas a produccedilatildeo
da energia hidraacuteulica tambeacutem natildeo apresentavam telhado na aacuterea da Vala
Sendo assim sobram duas hipoacuteteses para explicar a existecircncia daqueles
esteios A primeira hipoacutetese eacute que tais esteios serviriam para sustentar uma calha
de madeira com uma extensatildeo da ordem de 12 metros responsaacutevel pela
conduccedilatildeo e descarga da aacutegua diretamente sobre as paacutes da roda valendo-se de
um dispositivo denominado empejeiro ou pejador que servia para o controle da
quantidade de aacutegua descarregada sobre a roda (KATINSKY 1985 p 230)
Outra possibilidade eacute que os esteios sustentavam um reservatoacuterio de aacutegua
- o ldquobanzaordquo - responsaacutevel pelo repouso do liacutequido de modo a garantir a sua
descarga controlada sobre as paacutes da roda conforme os projetos comumente
encontrados nas construccedilotildees das ldquoferreriacuteas de aguardquo da regiatildeo Basca - Espanha
(Figura 79)
A laje de pedra do fundo da Vala mostra forte declividade da Vala sendo
que na extremidade superior (coincidente com o ponto de interligaccedilatildeo com o
Canal de Derivaccedilatildeo) a cota eacute igual a 453 enquanto que na extremidade inferior
junto a margem do ribeiratildeo do Ferro a cota do terreno eacute igual a 041 Sendo
assim o desniacutevel total eacute de 412 metros na extensatildeo total da Vala igual a 19
metros ou seja cerca de 20
Outra observaccedilatildeo importante eacute que o niacutevel do fundo da Vala no ponto
meacutedio da sua extensatildeo seria igual a 230 m mostrando nesta posiccedilatildeo desniacutevel de
cerca de 2 metros abaixo do provaacutevel niacutevel da Faacutebrica (cota aproximada 450 m)
revelando a possibilidade de alojamento da roda drsquoaacutegua a partir desta mesma
posiccedilatildeo
O desenho do arranjo do sistema hidraacuteulico encontrado no Sitio Sardinha
mostra semelhanccedilas claras com o arranjo que caracterizam as ferreriacuteas bascas
179
O exame do conjunto das estruturas mostram que a construccedilatildeo tirou partido da
declividade do terreno para aproveitamento da forccedila da gravidade aplicada ao
processo da produccedilatildeo do ferro
634 A Caixa de Aacutegua - ldquoBanzaordquo O ldquobanzaordquo era uma caixa de aacutegua com volume adequado para garantir o
repouso da aacutegua instalado acima do niacutevel da Vala em uma posiccedilatildeo diretamente
sobre a roda A instalaccedilatildeo dessas caixas tinha por objetivo garantir uma altura da
queda drsquoaacutegua necessaacuteria para impulsionar a roda e ao mesmo tempo armazenar
um volume de aacutegua adequado para direcionar o jato diretamente sobre as paacutes
da roda com uma pressatildeo constante de modo a resultar o movimento uniforme
para a rotaccedilatildeo da roda
Os rdquobanzaosrdquo mais ruacutesticos e antigos eram feitos de madeira material que
criava vaacuterios problemas de manutenccedilatildeo fato que levou agrave substituiccedilatildeo desse
material a partir do seacuteculo XVIII por alvenaria de pedra
O acionamento da roda se dava por meio de uma espeacutecie de vara
localizada no interior da Faacutebrica a qual permitia regular a quantidade de aacutegua
descarregada sobre a roda Elena Faus descreve esse funcionamento da
seguinte forma
El paso del aacutegua a la rueda se abre o cierra por meacutedio de
tanpones o ldquochimbosrdquo Cuando los operaacuterios los abren salta y
golpea directamente las palas de la rueda instalada debajo
provocando su giro Con el fin de evitar peacuterdidas de liacutequido y
maximizar su rendimiento se antildeade un canal ldquoguzur-askardquo que lo
conduce directamente sobre la rueda Posteriormente se evacua
por un aliviadero la ldquoonda-askardquo (FAUS 2000 p 63)
180
Contudo mesmo apostando na hipoacutetese de que haveria um ldquobanzaordquo
acima da Vala encontrada torna-se difiacutecil estabelecer a sua dimensatildeo e volume
Mas as evidecircncias encontradas sugerem que esta caixa de aacutegua deveria ter no
maacuteximo 12 metros de comprimento (medidos a partir do inicio do canal ateacute o
uacuteltimo vestiacutegio de esteio) por aproximadamente 225 m (largura da vala)
restando indefinida a medida da altura da caixa
Fig 79 SOLUCcedilAtildeO EM ldquoBANZAOrdquo DE MADEIRA ndash DEPOacuteSITO DE AacuteGUA97
97 LAS FERRERIacuteAS DE AGUA DE ASTURIAS Disponivel em ltwwwbelmontedemirandanetfraguaindexhtmgt Acesso em 20jun05
181
635 A roda hidraacuteulica
Em 1983 quando foram iniciadas as pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio
Afonso Sardinha a Vala destinada agrave instalaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua jaacute havia sido
identificada Contudo eacute somente em 1986 que as pesquisas se concentraram na
aacuterea daquela Vala Graccedilas ao fato de esta estrutura ter permanecido enterrada a
mesma ficou preservada possibilitando avaliar a sua funccedilatildeo e o fato de que o
local deveria ter sido destinado agrave instalaccedilatildeo de uma roda hidraacuteulica vertical com
eixo horizontal (Figura 79)
A utilizaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua para os trabalhos metaluacutergicos natildeo era
novidade para os empreendimentos dessa natureza pois a teacutecnica aplicada para
a construccedilatildeo desse tipo de Faacutebrica jaacute era bastante difundida entre os artesatildeos da
Idade Meacutedia os quais buscaram adaptar as ferramentas utilizadas no trabalho da
produccedilatildeo de ferro (por exemplo foles e malhos) de modo a permitir a sua
movimentaccedilatildeo atraveacutes da forccedila obtida das rodas drsquoaacutegua
Em 1104 os ldquomoinhos para bater o ferrordquo jaacute eram encontrados nos Pirineus
espanhoacuteis Gille os descreve da seguinte forma
as forjas que anteriormente eram acionadas a braccedilos e que
itinerantes deslocavam-se agrave procura dos fornos-baixos a
procura de mateacuteria prima e do combustiacutevel a partir de entatildeo se
estabelecem permanentemente ao longo dos rios (GILLE Apud
GAMA 1985 p 133)
Entre os seacuteculos XIV e XV surgiram no paiacutes basco adaptaccedilotildees da roda
hidraacuteulica para acionar os ldquosoprantesrdquo - os foles - (instrumentos utilizados para
insuflar oxigecircnio para dentro dos fornos) possibilitando intensificar a combustatildeo
do carvatildeo vegetal de modo a elevar a temperatura no interior do forno No paiacutes
basco o martelo hidraacuteulico jaacute havia sido incorporado agravequela atividade desde o
seacuteculo XV em Gipuzkoa e desde o seacuteculo XVI em Biskaia ambas localizadas na
182
regiatildeo basca Em 1531 operavam em ambas as regiotildees cerca de 200
estabelecimentos utilizando essa teacutecnica (FAUS 2000 p 60)
Fig 80 ldquoLOCALIZACcedilAtildeOrdquo DO MALHO E DA RODA HIDRAUacuteLICA (INTERPRETACcedilAtildeO) (Desenho Agnaldo Zequini)
183
6 4 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo
O local onde se encontra instalada a Faacutebrica de Ferro do Sitio Arqueoloacutegico
Afonso Sardinha oferece todas as condiccedilotildees fisiograacuteficas favoraacuteveis para a
instalaccedilatildeo daquele empreendimento De fato o conjunto se encontra
praticamente na aacuterea das jazidas de mineacuterios de ferro junto a um ribeiratildeo com
quantidade de aacuteguas satisfatoacuterias para o caso de produccedilatildeo do ferro relativamente
pequena como deveria ser o caso da instalaccedilatildeo existente no morro de Araccediloiaba
Outro fator decisivo para a produccedilatildeo de ferro era a presenccedila de matas com
abundacircncia de madeiras A esse respeito segundo uma descriccedilatildeo do Vale das
Furnas apresentada no decorrer de 1692 por Luiz Lopes de Carvalho (um dos
que investiram na construccedilatildeo de Faacutebrica de Ferro naquele local) o mesmo
lastimava o fato de ter que reduzir os ldquodensos arvoredos em que se achatildeo paos
Reais e madeirasrdquo em carvatildeo o uacutenico combustiacutevel utilizado nos processos de
fundiccedilatildeo de ferro (RODRIGUES 1963 p 203)
O mesmo Luiz Lopes de Carvalho testemunhava naquele mesmo ano que
aquele morro estava coberto ldquode mineral de ferro de meuda aacuterea athe pedras de
des a Robas e mui dilatadas betas [veios] Profundas Largas e Compridasrdquo
esclarecendo que o mineacuterio ao ser submetido ao processo de reduccedilatildeo tinha um
rendimento de dois para um ldquoa cada douz quintais de pedra se tira hum de ferrordquo
(RODRIGUES 1966 p 204)
641 A Oficina da Faacutebrica de Ferro
A planta da Faacutebrica de Ferro encontrada com dimensotildees de 13m X 16m
permite identificar as provaacuteveis posiccedilotildees de cada uma das unidades de produccedilatildeo
184
necessaacuterias agrave fabricaccedilatildeo do ferro quais sejam o espaccedilo destinado a oficina e a
forja
No caso da construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro do Sitio Afonso Sardinha eacute
possiacutevel identificar a aacuterea destinada a oficina onde deveriam ficar instalados os
equipamentos do forno de fundiccedilatildeo e foles e do malho Nessa planta a aacuterea estaacute
identificada pelas letras C e F (Anexo 9)
Fig81 FAacuteBRICA DE FERRO DO SITIO AFONSO SARDINHA ARRANJO DOS EQUIPAMENTOS (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)
185
Fig 82 FAacuteBRICA DE FERRO PLANTA BAIXA (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)
Contudo entre os anos de 1986-1987 quando foram aprofundadas
as pesquisas arqueoloacutegicas naquelas aacutereas por meio de decapagem e abertura
de trincheiras natildeo foram encontrados vestiacutegios materiais que permitissem
identificar os locais dentro da oficina onde estariam instalados os fornos e o
malho como tambeacutem nenhum resiacuteduo testemunho da produccedilatildeo de ferro
Diante dessa constataccedilatildeo podemos levantar pelo menos duas hipoacuteteses
de interpretaccedilatildeo Uma delas estaacute relacionada agrave proacutepria natureza daquele siacutetio o
qual ao longo dos seacuteculos sofreu vaacuterias intervenccedilotildees antroacutepicas que poderiam
186
provocar algumas perturbaccedilotildees no registro arqueoloacutegico colaborando dessa
forma para o desaparecimento das evidecircncias
A segunda hipoacutetese decorre do fato de que os exames das condiccedilotildees de
superfiacutecie do terreno na parte da edificaccedilatildeo identificada como ldquoCrdquo (Oficina)
apresentam indiacutecios de antigas erosotildees decorrentes da presenccedila do ribeiratildeo do
Ferro Tal interpretaccedilatildeo permitia concluir que as enchentes do ribeiratildeo do Ferro
seriam responsaacuteveis pela pequena quantidade de artefatos arqueoloacutegicos
naquela aacuterea (Figura 81)
A figura abaixo apresenta um corte do terreno na provaacutevel aacuterea da Oficina
mostrando irregularidade na superfiacutecie do piso possivelmente decorrente de
erosotildees junto a margem do ribeiratildeo do Ferro provocadas pelas enchentes
187
Fig 83 INDICACcedilAtildeO DA POSSIacuteVEL AacuteREA ERODIDA PELAS ENCHENTES ndash AREA C ndash (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)
188
6411 O Malho O malho era um instrumento imprescindiacutevel para o processo de produccedilatildeo
do ferro pelo denominado meacutetodo direto Essa ferramenta possuiacutea um longo
braccedilo de madeira que media cerca de trecircs a quatro metros de comprimento e
funcionava como alavanca com apoio intermediaacuterio Uma das extremidades do
braccedilo dessa alavanca funcionava como um martelo e apresentava na
extremidade uma cabeccedila de ferro ndash o malho ndash que dava o nome ao equipamento
Em outra extremidade havia um dispositivo que permitia transformar o movimento
de rotaccedilatildeo da roda em deslocamento vertical oscilante do braccedilo permitindo
assim que o malho golpeasse a ldquobola de ferrordquo que ficava apoiada em uma
bigorna
Ao golpear a ldquobola de ferrordquo denominaccedilatildeo dada ao produto retirado do
interior do forno de fundiccedilatildeo esta operaccedilatildeo perseguia trecircs objetivos importantes
eliminar as escoacuterias que ainda permaneciam aderidas a bola de ferro compactar
aquela massa e finalmente dar forma de barra ou lingote que era o produto final
para a comercializaccedilatildeo
A operaccedilatildeo desse martelo com funcionamento hidraacuteulico eacute descrito em um
texto informativo publicado pela Universidade de Oviedo-Espanha sem menccedilatildeo
de autor e ano de publicaccedilatildeo
La rueda hidraulica movida por el impulso del agua le comunica al
eje o aacuterbol un movimiento rotatoacuterio de este agraverbol sobresalen unos
dientes a modo de levas concretamente cuatro situados a 90ordm los
manobreiros quem en su giro percuten sobre el extremo del
mango del martillo la dendala en su movimiento oscilante el
yunque o incre esta golpeo se repite cuatro veces por cada giro
completa de la rueda 98
98 Ingenios hidraulicos histoacutericos molinos batanes y ferreriacuteas Universidad de Oviedo ndashEspana Disponiacutevel e em lthttpwww1unioviesasturiasferreriasgt Acesso em 17 jun 04
189
O movimento do malho era produzido mediante a transmissatildeo de forccedila
originada atraveacutes do eixo de uma roda hidraacuteulica especifica para esta tarefa Um
segundo tipo de sistema de acionamento utilizava uma uacutenica roda hidrauacutelica para
movimentaccedilatildeo do braccedilo do malho e ao mesmo tempo pelo acionamento dos
foles Este uacuteltimo sistema era conhecido como ldquopujoacuten tuertordquo e era o sistema mais
comumente empregado nas ferrariacuteas bascas99
No Brasil a utilizaccedilatildeo dessa ferramenta para a produccedilatildeo de ferro eacute
encontrada em documentos relacionados agrave construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de
Santo Amaro no iniacutecio do seacuteculo XVII Em 1605 para instalaccedilatildeo dessa Faacutebrica
foram entregues pela Administraccedilatildeo Espanhola agrave Diogo de Quadros ldquo2 malhos
que podiam pesar pouco mais ou menos entre ambos 3 quintais mais duas
argolas grandes da mesma ferramentardquo (RODRIGUES 1963 p 190)
Possivelmente foi entregue a Diogo de Quadros apenas a ldquocabeccedila de ferrordquo
(o malho propriamente dito) enquanto que as demais peccedilas da estrutura pelo
fato de serem confeccionadas inteiramente com madeira poderia ter sido
fabricada no Brasil
No caso da Faacutebrica de Ferro do Siacutetio Afonso Sardinha dispotildeem-se apenas
de documentos escritos que registram a presenccedila desse equipamento conforme
a carta escrita no ano de 1768 por D Luiz Antonio de Souza Governador da
Capitania de Satildeo Paulo dirigida ao Conde de Oeiras atraveacutes da qual apresenta
informaccedilotildees sobre a Faacutebrica de Ferro que havia sido construiacuteda por Domingos
Pereira Ferreira e seus soacutecios
Nesse documento D Luiz afirmava que aquele empreendimento era uma
das atividades que estava dando maior preocupaccedilatildeo em sua gestatildeo explicando
que
99 Binganaria no sistema de pujoacuten tuerto a Binganaria corresponde agrave viga de transmissatildeo entre a roda hidraacuteulica e os foles
190
se tem trabalhado desde aquele tempo [1760] ateacute o presente
em grandes dispecircndios dos acionistas em fazer fornos
grandes e pequenos por diferentes modos safras [bigorna
de ferreiro] martelos malhos rodas e engenhos para os
mover e tudo o necessaacuterio (RODRIGUES 1966 p 190)
Uma outra notiacutecia relacionada a essa mesma Faacutebrica ficou registrada em
outra documentaccedilatildeo datada de 1770 atraveacutes da qual Jacinto Joseacute de Abreu um
dos soacutecios de Domingos Pereira Ferreira dava conta de que o andamento dos
trabalhos lhe estava causando o ldquomaior desgostordquo pelo fato de ter quebrado o
malho ldquoque tanto dispecircndio e trabalho custourdquo A reclamaccedilatildeo expressada por
Jacinto Joseacute de Abreu pode ser compreendida natildeo somente pelo prejuiacutezo
financeiro decorrente da perda direta da peccedila como tambeacutem pelo prejuiacutezo
decorrente da consequumlente paralisaccedilatildeo da produccedilatildeo do ferro
6412 ndash O Forno de Fundiccedilatildeo e Foles As pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio Afonso Sardinha natildeo lograram
identificar vestiacutegios materiais de fornos de fundiccedilatildeo no interior da aacuterea
reconhecida como sendo a Oficina da Faacutebrica Tendo em vista o arranjo e a
extensatildeo do espaccedilo levantado pelas pesquisas de campo bem como as teacutecnicas
de fundiccedilatildeo de ferro disponiacuteveis de acordo com os estudos da histoacuteria da teacutecnica
para o periacuteodo que interessa ao presente trabalho entendemos que eacute correto
afirmar que o forno de fundiccedilatildeo ali empregado deveria ser do tipo ldquoforno baixordquo
De qualquer forma natildeo eacute possiacutevel afirmar que o meacutetodo de fundiccedilatildeo
utilizado no interior da Faacutebrica de Ferro corresponda ao que eacute conhecido como
ldquomeacutetodo catalatildeordquo ou ldquoforno catalatildeordquo uma vez que as pesquisas arqueoloacutegicas e
tambeacutem as documentais natildeo conseguiram encontrar qualquer dado a respeito do
modelo do forno de fundiccedilatildeo ali utilizado nem qualquer informaccedilatildeo a respeito do
processo de extraccedilatildeo do ferro na operaccedilatildeo de fundiccedilatildeo
191
De fato o forno catalatildeo se diferenciava dos demais fornos baixo por
apresentar uma forma que lembrava o de uma piracircmide invertida com trecircs
paredes planas e uma convexa confeccionadas com pedras refrataacuterias
(GARCIA sd p7) O que tambeacutem caracterizava o forno catalatildeo era o
procedimento de colocaccedilatildeo do carvatildeo e do mineacuterio no interior do forno para
extraccedilatildeo do metal Pere Molera I Sola (1982 p 208) ao analisar o procedimento
direto de obtenccedilatildeo do ferro pelo meacutetodo catalatildeo assinala que este meacutetodo
apresentava a peculiaridade de empregar a teacutecnica de ldquotrompa de aacuteguardquo para
promover a injeccedilatildeo do ar para dentro do forno Entretanto alguns fornos
reconhecidos como do tipo catalatildeo tambeacutem empregavam a teacutecnica de foles
movidos por roda drsquoaacutegua com aquele objetivo
O mesmo autor esclarece que o forno catalatildeo era
sin duda elemento maacutes importante consistia en una cavidad de
forma trocopiramidal invertida cuyas dimensiones de la base
mayor estaban en torno a los 60 por 50 cm La altura era de unos
80 cm Dentro de la nave industrial el horno estaba situado junto
a una pared principal denominada lsquopiec del focrsquo (pie del fuego)
todas las paredes del horno presentaban superficies planas
menos lsquolrsquoore o contraventrsquo (contraviento) que para facilitar la
extraccioacuten del producto reducido ofreciacutea una superficie convexa
y estaban parcialmente recubiertas con planchas de acero La
pared del horno adosada al lsquopiec del focrsquo y opuesta a lsquolrsquoorersquo se
denominaba lsquoles porguesrsquo (las cribas) y estaba atravesada por la
tobera que inyectaba aire al horno Entre ambas las paredes
estaba el lsquolleteirolrsquo (rebosadero) pared agujereada para faciclitar
la eliminacioacuten de la escoria liquida frente a la cual se encontraba
la lsquocavarsquo pared de piedra sin revistir y ligeramente inclinada
(SOLA 1982 p 208-209)
A operaccedilatildeo de fundiccedilatildeo eacute descrita pelo mesmo autor conforme segue
192
La operacioacuten de reduccioacuten de la mena concentrada se iniciaba
cubriendo el fono del horno con polvo de carboacuten vegetal Se le
prendia fuego Una vez caliente el horno se antildeadia una capa de
trozos de caroacuten de mayor tamantildeo E inmediatamente se
superponia una plancha de acero en al centro del horno paralela
a las lsquoporguesrsquo Ello permitiacutea situar una capa vertical de carboacuten en
al lado de la tobera y una capa de mineral al otro lado de la
plancha Se quitaba luego la plancha y se cubriacutea la parte superior
del mineral con una capa de pequentildeos trozos de carboacuten huacutemedo
y escorias al objeto de que la superficie externa quedase de
forma esfeacuterica y concentrase las llamas Se insuflaba aire por las
toberas y a la hora y media se alcanzaban ya temperaturas
superiores o los 1200 grados C Durante tres o cuatro horas
consecutivas se iba antildeadiendo mineral y carboacuten al tiempo que
por el ldquolletirolrdquo se eliminaba la escoria liquida Si la escoria era
densa lo que evidenciaba un alto contenido en hierro se volviacutea a
introducir en el horno La operacioacuten terminaba cuando en el fondo
del horno se formaba una bola irregular de unos 100 kilogramos
de peso de hierro o acero dulce con inclusiones de escoria y
poros el lsquomasserrsquo (zamarra) En se momento empezaba la
operacioacuten maacutes espectacular de la fraga la saca el lsquomasserrsquo del
horno y transportarlo hasta el martinete lo que requeriacutea el
concurso de todo el personalrdquo (SOLA 1982 p 211-212)
193
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
1- A partir das evidecircncias arqueoloacutegicas levantadas pela pesquisadora Margarida
Davina Andreatta no Siacutetio Afonso Sardinha foram elaboradas anaacutelises e em
seguida as interpretaccedilotildees com base nos conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica
e da Histoacuteria da Teacutecnica relacionadas a produccedilatildeo de ferro Tais estudos
permitiram comprovar que aquela aacuterea arqueoloacutegica corresponde a um campo de
exploraccedilatildeo e produccedilatildeo de ferro desde a segunda metade do seacuteculo XVI
2- As ruiacutenas da edificaccedilatildeo principal identificadas como ldquoBrdquo (Forja) e ldquoCrdquo (Oficina)
tratam-se de aacutereas de produccedilatildeo de uma Faacutebrica de Ferro O espaccedilo identificado
como ldquoDrdquo corresponde a uma vala de acomodaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua responsaacutevel
pela produccedilatildeo da forccedila de origem hidraacuteulica necessaacuteria para movimentar os
equipamentos e ferramentas da fabricaccedilatildeo ( Anexo 9)
3- Os exames das condiccedilotildees de superfiacutecie do terreno na parte da edificaccedilatildeo
identificada como ldquoCrdquo (Oficina) apresentam indiacutecios de antigas erosotildees
decorrentes da presenccedila do ribeiratildeo do Ferro sendo que esta interpretaccedilatildeo
permite concluir que os fenocircmenos apontados foram os responsaacuteveis pela
ausecircncia de artefatos arqueoloacutegicos naquela aacuterea
4- Os exames dos vestiacutegios dos fornos de fundiccedilatildeo encontrados nas aacutereas A e
A2-B externa do edifiacutecio principal da fabricaccedilatildeo de ferro indicam que satildeo do tipo
baixo provavelmente insulflados a fole de matildeo natildeo sendo possiacutevel afirmar que
seriam fornos do tipo catalatildeo
5- As ruiacutenas da Faacutebrica de Ferro indicam que as mesmas tratam de instalaccedilotildees
de modelo de produccedilatildeo industrial inclusive com divisatildeo de tarefas em aacutereas
distintas uso de energia hidraacuteulica transformada em forccedila mecacircnica para
194
movimentaccedilatildeo das ferramentas e para insuflaccedilatildeo do ar para queima do carvatildeo
nos fornos de fundiccedilatildeo
6- As dataccedilotildees absolutas e tambeacutem as relativas realizadas indicaram que naquele
local houve uma sobreposiccedilatildeo de distintos empreendimentos para a produccedilatildeo do
ferro desde o final do seacuteculo XVI e ao longo do seacuteculo XVIII
7- A causa mais provaacutevel do insucesso econocircmico de todas as tentativas de
produccedilatildeo de ferro em Araccediloiaba se relaciona a mineralogia da magnetita e
associaccedilotildees com outras substancias minerais as quais eram nocivas agrave qualidade
do produto metaluacutergico Neste caso vale ressaltar a presenccedila prejudicial
principalmente do titacircnio e do foacutesforo cujas presenccedilas eram desconhecidas pelos
exploradores
8- A planta da edificaccedilatildeo principal (aacutereas ldquoBrdquo ldquoCrdquo e ldquoDrdquo e ldquoFrdquo) evidenciada se
ajusta aos arranjos de espaccedilo produtivo de ferro tiacutepicos de modelos encontrados
naquele mesmo periacuteodo nas aacutereas de mineraccedilatildeo da Peniacutensula Ibeacuterica
notadamente aquele desenvolvido na regiatildeo basca (Anexo 9)
195
BIBLIOGRAFIA E ARQUIVOS PESQUISADOS
ARQUIVOS Arquivo da Cidade de Satildeo Paulo Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Arquivo do Museu Histoacuterico Sorocabano Arquivo Municipal da Cidade de Itu Documentaccedilatildeo do Museu Paulista -USP Instituto de Estudos Brasileiros ndash USP Museu Republicano Convenccedilatildeo de ItuMPUSP Projeto Arqueologia Histoacuterica ndash Museu Paulista USP Todas as fotografias croquis e plantas relacionadas a pesquisa arqueoloacutegica realizada no Siacutetio Afonso Sardinha entre os anos de 1983-1989 e que estatildeo inseridas nesta tese foram reproduzidas a partir deste acervo BIBLIOGRAFIA ABSAacuteBER Aziz Nacib Morro de Ipanema conhecimentos Scientific American Brasil Ediccedilatildeo Nordm 52 - setembro de 2006 Disponiacutevel em lthttpwww2uolcombrsciamconteudoeditorialeditorial_36Htmlgt Acesso em 14mar06 ARAUJO M Alves Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo de Ipanema Auxiliador da Industria Nacional n50 Rio de Janeiro1882 ABREU Joatildeo Capistrano de Capiacutetulos de histoacuteria colonial (1500-1800) amp Os caminhos antigos e o povoamento do Brasil Brasiacutelia Editocircra Universidade de Brasiacutelia 1963 ALBUQUERQUE Gislene Batista RODRIGUES Ricardo Ribeiro A vegetaccedilatildeo do Morro de Araccediloiaba Floresta Nacional de Ipanema (SP) Scientia Florestalis n58 p 145-159 dez 2000 Disponiacutevel em lt wwwipefbrpublicacoesscientianr58cap11pdfgt
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BARRETO Cristiana Arqueologia brasileira uma perspectiva histoacuterica e comparada I reuniatildeo internacional de teoria Arqueoloacutegica na Ameacuterica do Sul Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo p87-101 1999 BAUTISTA Airton URIARTE Mariacutea Joseacute Explotacioacuten florestal y patrimonio arqueoloacutegico el caso del Paiacutes Vasco Ecosistemas 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwaeetorgecosistemas031informe3htmgt Acesso em 080304 BLAJ Ilana Mentalidade e Sociedade revisitando a historiografia sobre Satildeo Paulo colonial Revista de Histoacuteria Departamento de Histoacuteria FFLCH-USP n 142-143 1ordm e 2ordm Semestre 2000 p240-258 Disponiacutevel em lthttpwwwfflchuspbrdhdhrharquivosRH-142-143-pdf Acesso em 3 maio2006 _____ A Trama das Tensotildees O processo de mercantilizaccedilatildeo de Satildeo Paulo colonial (1681-1721) Satildeo Paulo HumanitasFFLCHUSP Fapesp 2002 BONILLA Luis Breve Historia de la Teacutecnica y del Trabajo Madrid ediciones ISTMO 1957 BORN Helmut Ipanema phosphate deposit Sao Paulo Brazil Cambridge University Press 1989 BOULLEacute Nereo Geologia Elementar aplicada a agricultura e a industria com um dicionaacuterio de termos geoloacutegicos Rio de Janeiro Typografia Nacional 1846 BINFORD Archeology as antropology American Antiquity v28 n2 p 217-225 1962 BOXER Charles R O Impeacuterio Mariacutetimo Portuguecircs Satildeo Paulo Companhia de Letras 2002 _____ A Idade do Ouro no Brasil dores de crescimento de uma sociedade colonial Rio de Janeiro Nova Fronteira2000 RUBINO Silvana O mapa do Brasil passado Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional IPHAN n 24 p 98-1996 CABEZOacuteN Xabier Ferreriacutea de Plazaola Historia restos situacioacuten httpwwwleitzarannetferreriasplazaolahtml Acesso 30 fev 05 CALOacuteGENAS Joatildeo Pandiaacute Das Minas do Brasil e sua legislaccedilatildeo Rio de Janeiro Imprensa Nacional 1904-05 _____ O ferro (ensaio de histoacuteria industrial) Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo Satildeo Paulo O Instituto p20-100 1924
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212
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213
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214
GLOSSAacuteRIO
Banzao de madeira BANZAO Denominaccedilatildeo que era dada na regiatildeo basca ndash Espanha para depoacutesitos de aacutegua que eram instalados sobre as rodas drsquoaacutegua e de onde era despejado jato de aacutegua sobre as paacutes daquela roda fazendo-a girar Na estrutura identificada por essa pesquisa as evidencias pressupotildee a utilizaccedilatildeo desse equipamento
BIGORNA Ferramenta feito por um bloco de pedra ou metal utilizado como suporte para martelar sobre o ferro
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CABECcedilA DE MALHO Peccedila metaacutelica que eacute afixada em uma das extremidades da ferramenta que leva esse nome
ESCOacuteRIA ldquorestos de fundiccedilatildeordquo um sub-produto da fundiccedilatildeo de mineacuterio para purificar metais No caso das teacutecnicas de fundiccedilatildeo utilizadas ateacute o seacuteculo XIX no Brasil as escoacuterias produzidas apoacutes o processo de fundiccedilatildeo apresentavam uma grande quantidade de ferro (metal) em sua composiccedilatildeo O que vale dizer que os fornos utilizados para aquela atividades natildeo alcanccedilavam as temperaturas acima de para proporcionar maior aproveitamento do mineacuterio empregado
Ferreriacutea de Bolunburu es un conjunto ferro molinero que desde el siglo XVII
FERRERIacuteA Edifico que abrigava as ferramentas e equipamentos para a produccedilatildeo do ferro O sistema de produccedilatildeo empregado nas ferrariacuteas denominado de meacutetodo direto de produccedilatildeo consistia em ldquocozinharrdquo o mineacuterio de ferro em fornos baixo usando como combustiacutevel o carvatildeo vegetal Apoacutes ldquocozidordquo o ferro se transformava em uma esponja de ferro que era levada para ser trabalhada sobre
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uma bigorna e golpeada pelo malho Este trabalho servia para compactar a massa liberar as escoacuterias e dar forma FERRO O ferro (do latim ferrum) eacute um elemento quiacutemico siacutembolo Fe de nuacutemero atocircmico 26
Foles acionados por forccedila humana seacuteculo XVI FOLES Equipamento utilizado para insuflar ar para dentro do forno promovendo assim a combustatildeo do carvatildeo Podiam ser acionados manualmente ou por utilizaccedilatildeo de roda drsquoaacutegua
Forno baixo com a utilizaccedilatildeo de fole manual FORNO BAIXO Espaccedilo normalmente de pequenas dimensotildees onde se realizava a reduccedilatildeo (extraccedilatildeo do metal ndashferro ndash do mineacuterio) e de Havia vaacuterias denominaccedilotildees para esse tipo de forno como fornos de vento fornos castelhanos fornos catalatildees forno de manga etc Estes fornos dada a sua dimensatildeo e os instrumentos de insuflaccedilatildeo do ar utilizado natildeo permitiam a fundiccedilatildeo do mineacuterio Nos fornos baixos acima referidos a disposiccedilatildeo do carvatildeo vegetal e dos pedaccedilos de mineacuterios no interior do forno eram feitos em camadas superpostas e horizontais
217
Forno Catalatildeo e Trompa Hidrauacutelica FORNO CATALAtildeO O forno catalatildeo eacute assim denominado por ter sido uma teacutecnica desenvolvida nos Pirineus catalatildees A teacutecnica catalatilde ou meacutetodo catalatildeo de fundiccedilatildeo possuem alguns elementos que o caracterizam como 1- a forma de construccedilatildeo do forno que lembra uma lareira tendo o seu formato interno feito de forma de uma piracircmide invertida 2- disposiccedilatildeo interna do carvatildeo e dos pedaccedilos de mineacuterios dentro do forno os quais eram colocados de lados opostos e paralelos 3- utilizaccedilatildeo da trompa hidraacuteulica para insuflar oxigecircnio para a combustatildeo do carvatildeo esse sistema foi desenvolvido na regiatildeo da atual Itaacutelia e utilizado em grande escala nas faacutebricas de ferro da Catalunha Na regiatildeo Basca foram utilizados foles de grandes dimensotildees acoplados a roda drsquoaacutegua FORNO DE FUNDICcedilAtildeO Espaccedilo onde se daacute a reduccedilatildeo do mineacuterio No periacuteodo estudado a reduccedilatildeo ou fundiccedilatildeo era proporcionada pela queima proporcionada pela insuflaccedilatildeo de oxigecircnio por meio de foles manuais do carvatildeo vegetal que era colocada dentro desses fornos junto com pedaccedilos de mineacuterio FORJA Fornalha de que se servem os ferreiros e outros artiacutefices para incandescer os metais para serem trabalhados numa bigorna Do francecircs forge e do Latin fabrica Tambeacutem pode designar o trabalho realizado pelo ferreiro por meio do fogo e do martelo para dar forma aos metais
HEMATITA mineral de foacutermula oacutexido de ferro III (Fe2O3) um dos diversos oacutexidos de ferro
218
MAGNETITA mineral magneacutetico formado pelos oacutexidos de ferro II e III ( FeO Fe2O3) cuja foacutermula quiacutemica eacute Fe3O4
MALHO Daacute se o nome de malho a peccedila metaacutelica que estaacute afixada em uma das extremidades do martinete o qual por conseguinte daacute o nome ao equipamento METAL elemento quiacutemico Satildeo metais os metais bem conhecidos satildeo alumiacutenio cobre ouro ferro prata titacircnio uracircnio e zinco MINERAL Substacircncia natural MINEacuteRIO mineral que conteacutem um metal na sua composiccedilatildeo quiacutemica Todo o mineacuterio eacute mineral OFICINA Ou Farga (em catalatildeo) espaccedilo em que estatildeo assentados o forno e o malho equipamentos destinados a produccedilatildeo de ferro MARTINETE Instrumento usado para golpear os metais incandescentes na forja para dar-lhes a forma desejada Tambeacutem pode designar um malho movido por roda drsquoagua METALURGIA Teacutecnica de obtenccedilatildeo dos metais No periacuteodo pesquisado a teacutecnica era conhecida como meacutetodo direto
219
OacuteXIDOS Combinaccedilatildeo do oxigecircnio com outros elementos No nosso caso com ferro
TROMPA Mecanismo que aproveita a forccedila da caiacuteda da aacutegua para gerar um fluxo contiacutenuo em direccedilatildeo do forno Era um elemento caracteriacutestico do forno catalatildeo
220
ANEXOS
221
222
223
- FAacuteVERO Oriana Aparecida NUCCI Joatildeo Carlos De BIASI Maacuterio Mapeamento da vegetaccedilatildeo e usos das terras da Floresta Nacional de Ipanema IperoacuteSP
-
2
UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Museu de Arqueologia e Etnologia
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ARQUEOLOGIA
ARQUEOLOGIA DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO MORRO DE ARACcedilOIABA SEacuteCULOS XVI-XVIII
Anicleide Zequini
Tese apresentada ao programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Arqueologia do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de Satildeo Paulo para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutor em Arqueologia
Orientadora Professora Doutora Margarida Davina Andreatta
Satildeo Paulo 2006
3
Aos meus Pais Francisco Zequini
e Dirce da Costa Zequini e Ismar
4
AGRADECIMENTOS
Durante a primeira visita ao Siacutetio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha da Floresta
Nacional de Ipanema em Iperoacute Satildeo Paulo no ano de 2003 tive oportunidade de
conhecer o objeto de estudo desta Tese as evidecircncias da Faacutebrica de Ferro com a
sua respectiva vala da roda e os inuacutemeros artefatos que haviam sido recolhidos
durante as escavaccedilotildees Naquela oportunidade fui gentilmente recebida pela Sra
Janette Gutierrez a quem deixo meus agradecimentos extensivo aquela
Instituiccedilatildeo
Recebi ainda no transcorrer do meu trabalho importantes informaccedilotildees das
Sras Vivian Cristiane Fernandes e Nair Tanabe Tomiyama ambas do Nuacutecleo de
Arqueologia da Universidade Braz Cubas assim como das Sras Socircnia Paes do
Museu Histoacuterico Sorocabano e Marizia Tonelli
Agradeccedilo tambeacutem ao Sr Joseacute Monteiro Salazar o qual gentilmente me
recebeu em sua residecircncia em Boituva SP um apaixonado pela Historia de
Ipanema o qual contou fatos de grande interessante sobre a descoberta das
ruiacutenas assuntos que incorporei na minha Tese
Em marccedilo deste mesmo ano apresentei minha qualificaccedilatildeo oportunidade
em que recebi valiosas sugestotildees das Professoras Doutoras Heloiacutesa Maria
Silveira Barbuy e Elaine Farias Veloso Hirata a quem agradeccedilo
Finalmente eacute com admiraccedilatildeo e especial carinho que agradeccedilo a minha
orientadora a Professora Doutora Margarida Davina Andreatta com quem tive a
oportunidade de discutir longamente os conceitos e detalhes deste meu trabalho
Os seus conhecimentos e a responsabilidade com que conduziu a orientaccedilatildeo
foram fundamentais para a elaboraccedilatildeo desta Tese assim como para minha
proacutepria formaccedilatildeo em Arqueologia em especial na Arqueologia Histoacuterica
5
SUMAacuteRIO
Iacutendice 06 Iacutendice das Figuras 10 Resumo 14 Abstract 15 Introduccedilatildeo 16 Capiacutetulo I 19 Capiacutetulo II 47 Capiacutetulo III 83 Capiacutetulo IV 109 Capitulo V 126 Capitulo VI 167 Consideraccedilotildees finais 193 Bibliografia 195 Glossaacuterio 214 Anexos 220
6
IacuteNDICE INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO 1 O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA QUESTOtildeES DA ARQUEOLOGIA HISTOacuteRICA 11 Contexto do presente trabalho 19
111 Avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos 19 112 Histoacuterico das descobertas das ruiacutenas 26 113 Consideraccedilotildees sobre a metodologia 32
114 Descriccedilatildeo geral das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas 37
12 Principais questotildees a serem abordadas no decorrer da Tese 46
CAPITULO 2 A TECNICA DE PRODUCcedilAtildeO DE FERRO NO PERIODO ENTRE OS SEacuteCULOS XVI AO XVIII 21 Consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia 47 22 O conceito de Teacutecnica 50 23 A valorizaccedilatildeo do conhecimento teacutecnico e a ciecircncia
experimental moderna 53 2 4 A Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica 55
25 A Teacutecnica de produccedilatildeo do ferro 59
26 Fornos de fundiccedilatildeo de ferro 64
27 Tratados Teacutecnicos de Metalurgia 78
CAPITULO 3 HISTOacuteRICO DA MINERACcedilAtildeO NO BRASIL COLONIAL 31 As primeiras expediccedilotildees mariacutetimas a busca dos metais nobres 83 32 O Peabiru uma trilha para o Sertatildeo 85 33 O descobrimento da prata em Potosi 88 34 A busca de metais nobres na Capitania de Satildeo Vicente 90 35 D Francisco de Sousa a organizaccedilatildeo da exploraccedilatildeo mineral 91
7
36 Teacutecnicos e praacuteticos na mineraccedilatildeo e metalurgia 94 37 A Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro 96
38 A Faacutebrica de Ferro do morro de Araccediloiaba os empreendedores 99 39 A Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema 103 CAPIacuteTULO 4 O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 41 Localizaccedilatildeo 109 42 A vegetaccedilatildeo 116 43 Rios e ribeirotildees
44 A magnetita o mineacuterio do morro de Araccediloiaba 119
45 Fatores fisiograacuteficos da ocupaccedilatildeo europeacuteia 123
CAPIacuteTULO 5 INVESTIGACcedilOtildeES ARQUEOLOacuteGICAS AS EVIDENCIAS DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO 126
51 Estruturas hidraacuteulicas para a produccedilatildeo da forccedila motriz 129
511 O Canal de Derivaccedilatildeo 129
512 A Vala da Roda 132
5121 Evidecircncias de esteios 134 52 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 137 521 Area ldquoCrdquo 137 522 A Aacuterea B (ldquoForjardquo) 139
53 Area E Sul da Faacutebrica de Ferro 150 531 Fornos de fundiccedilatildeo na aacuterea externa da Faacutebrica (Aacuterea A1) 155 531 Forno de Fundiccedilatildeo 1 157 532 Fornos de fundiccedilatildeo da Aacuterea A2 159 5321 Forno de fundiccedilatildeo 1 (aacuterea A2) 161 5322 Forno de fundiccedilatildeo 2 (aacuterea A2) 165
CAPITULO 6 INTERPRETACcedilOtildeES DOS DADOS ARQUEOLOacuteGICOS 61 Avaliaccedilatildeo das caracteriacutesticas do Arranjo das Estruturas 167 62 As ldquoferreriacuteasrdquo de aacutegua na Peniacutensula Ibeacuterica 170 63 Sistema hidraacuteulico produccedilatildeo da forccedila motriz 175
8
631 Dique de represamento do ribeiratildeo do Ferro 175 632 Canal de Derivaccedilatildeo das aacuteguas 176 633 Vala da roda 177 634 A Caixa de Aacutegua - ldquoBanzaordquo 179 635 A roda hidraacuteulica 180 6 4 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 183
641 A Oficina da Faacutebrica de Ferro 183 6411 O Malho 188 6412 Fornos de fundiccedilatildeo e foles 190 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 193 BIBLIOGRAFIA 195 GLOSSAacuteRIO 214 ANEXOS 220 1 Relatoacuterio de Ensaio ndash Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo ndash FATEC 2 Inventaacuterio de Peccedilas Ceracircmica 3 Inventario de Peccedilas Liacutetico 4 Inventaacuterio de Peccedilas Louccedilas 5 Inventaacuterio de Peccedilas Telhas 6 Inventaacuterio de Peccedilas Metal 7 Tratado da Arte de ensaiar e fundir cobre ferro e accedilo Ano de 1691 8 Aranzel ou Roteiro de haveres de oiro e pedras preciosas Ano de 1696 9 Planta Geral da aacuterea pesquisada Siacutetio Afonso Sardinha (Mapa 1) 10 Mapeamento das aacutereas de decapagem e escavaccedilatildeo ( Mapa 2) 11 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de lacircminas de metal (Mapa 3)
9
12 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de escoacuterias (Mapa 4) 13 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de blocos de arenito (Mapa 5) 14 Aacuterea E ndash Concentraccedilatildeo de cravos de metal (Mapa 6) 15 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de telhas (Mapa 7)
10
INDICE DAS FIGURAS
1 Mapa de localizaccedilatildeo da FLONA ndash Ipanema 2 Mapa de localizaccedilatildeo do Siacutetio Afonso Sardinha 3 Desenho esquemaacutetico da localizaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro 4 Aspecto do Siacutetio Afonso Sardinha 1983 5 Iniacutecio das pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio Afonso Sardinha 1983 6 Reuniatildeo de trabalhos 1984 7 Aspecto da Faacutebrica de ferro em 1987 8 Planta do Siacutetio Afonso Sardinha aacutereas A1 e A2 9 Planta da aacuterea A1 10 Vista Geral da aacuterea A1 11 Vista Geral da aacuterea A2 12 Planta da aacuterea A2B detalhe 13 Planta do morrote A2B 14 Aacuterea A2 morrote e evidencias de fornos de fundiccedilatildeo 15 Corte esquemaacutetico de um forno baixo 16 Maquete de forno de fundiccedilatildeo (Celta) 17 Forno de fundiccedilatildeo (romano) 18 Fornos de fundiccedilatildeo de lupa ou de vento 19 Corte esquemaacutetico de fornos de fundiccedilatildeo de lupa ou de vento 20 Fornos de fundiccedilatildeo de Guaira (Potosi)
11
21 Fornos de fundiccedilatildeo seacuteculo XVI 22 Fornos de Fundiccedilatildeo seacuteculo XVI 23 Arranjo funcional de uma Faacutebrica de Ferro 24 Elementos que compotildeem uma ldquoFarga Catalanrdquo 25 Traccedilado do Peabiru (Tronco de Satildeo Vicente) 26 Mapa do Peabiru feito por Pasquale Petrone 27 Prospecto das ruiacutenas da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro 28 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro de Ipanema 1827 29 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro de Ipanema seacuteculo XIX 30 Altos fornos geminados construiacutedos por Varnhagem 1818 31 Alto forno construiacutedo pelo Cel Mursa 1888 32 Roteiro Histoacuterico da Mineraccedilatildeo e metalurgia paulista 33 Mapa Geoloacutegico do Morro de Araccediloiaba 34 Bloco diagrama da regiatildeo da Serra de Araccediloiaba 35 Vista geral do morro de Araccediloiaba I 36 Vista geral do morro de Araccediloiaba II 37 Magnetita 38 Limpeza do Siacutetio Afonso Sardinha 1984 39 Equipe de trabalho 1988 40 Vista geral da aacuterea E 1988 41 Dimensotildees da Vala da roda e localizaccedilatildeo da evidecircncias de esteios 42 Vala da roda hidraacuteulica 1987 - I 43 Vala da roda hidraacuteulica 1987 ndash II 44 Evidecircncias de esteios
12
45 Detalhe da evidecircncia de esteios 46 Detalhe de um esteio 47 Topografia do terreno da aacuterea C 48 Vista geral da aacuterea C 1987 49 Reconstituiccedilatildeo das paredes da aacuterea B 1984 50 Evidecircncias de paredes da aacuterea B 1984 51 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - I 52 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - II 53 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - III 54 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI - I 55 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI - II 56 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI ndash III 57 Vasilhame de ceracircmica (0122) aacuterea B seacuteculo XVI ndash I 58 Vasilhame de ceracircmica (0122) aacuterea B seacuteculo XVI ndash II 59 ldquoTijelardquo faianccedila [seacuteculo XVII] 60 Escoacuteria ndash restos de fundiccedilatildeo aacuterea E 61 Telha (0115) aacuterea E seacuteculo XVIII 62 Telha aacuterea E 63 Telha aacuterea E 64 Raspador plano convexo aacuterea E 65 Garrafa de greacutes aacuterea A ndash forno1 66 Decapagem aacuterea A forno 1 67 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A1 68 Morrote e vestiacutegios de fornos de fundiccedilatildeo aacuterea A2
13
69 Croqui da aacuterea A2 morrote B 70 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A2 71 Croqui do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A2 72 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 - I 73 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 ndash II 74 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 ndash III 75 Aspecto de uma ldquoferreriacutea de aacuteguardquo seacuteculo XVII 76 Sistema de ldquopujoacuten tuortordquo 77 Trabalho de extraccedilatildeo da ldquobola de ferrordquo ou ldquomassa de ferro 78 Traccedilado esquemaacutetico do Canal de Derivaccedilatildeo aacuterea A1 (Interpretaccedilatildeo) 79 rdquo Depoacutesito de aacutegua soluccedilatildeo ldquoBanzaordquo 80 localizaccedilatildeo do malho e da roda hidraacuteulica (Interpretaccedilatildeo) 81 Faacutebrica de Ferro do Siacutetio Afonso Sardinha arranjo dos equipamentos (interpretaccedilatildeo) 82 Faacutebrica de Ferro Planta baixa (interpretaccedilatildeo) 83 Faacutebrica de Ferro aacuterea erodida (Interpretaccedilatildeo)
14
RESUMO
Esta Tese tem como objetivo analisar a pesquisa arqueoloacutegica e os
artefatos coletados no Sitio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha localizado no morro de
Araccediloiaba Iperoacute - Satildeo Paulo
O resultado da anaacutelise permitiu concluir que a aacuterea corresponde a um
campo de mineraccedilatildeo de ferro com a presenccedila de evidecircncias de uma Faacutebrica de
Ferro de um sistema de aproveitamento de energia hidraacuteulica para movimentar
os equipamentos e ferramentas destinadas a produccedilatildeo e de fornos de fundiccedilatildeo
Aleacutem disso a dataccedilatildeo do material ceracircmico (vasilhames e telhas) indica que as
atividades de exploraccedilatildeo do mineacuterio tiveram iniacutecio no seacuteculo XVI
Palavras-Chaves Arqueologia Histoacuterica Floresta Nacional de Ipanema Teacutecnica
de produccedilatildeo de ferro Colonial Sitio Afonso Sardinha morro de Araccediloiaba Iperoacute-
SP
15
ABSTRACT This Thesis has the goal to analyze archaeological research and artifacts
found in Afonso Sardinha Archaeological site located on Mount Araccediloiaba Iperoacute
Satildeo Paulo
The analysis result leads to the conclusion that the area corresponds to iron
mining field with the presence of Iron Factory evidence a system that makes use
of hydraulic power to move the equipment and tools used in the production and
small ovens to melt iron Besides the ceramic date (pots and tiles) indicates that
mineral digging activities began in the 16th century
Key words History Archeology Ipanema National Forest Colonial Iron
Production Technique Archeological Site Afonso Sardinha Mount Araccediloiaba
Iperoacute-SP
16
INTRODUCcedilAtildeO
A presente Tese busca analisar sob o ponto de vista da Arqueologia
Histoacuterica os resultados da pesquisa arqueoloacutegica desenvolvida pela pesquisadora
e arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta entre os anos de 1983 a 1989 na aacuterea
do siacutetio arqueoloacutegico Afonso Sardinha localizado no morro de Araccediloiaba
municiacutepio de Iperoacute a cerca de quinze quilocircmetros da cidade de Sorocaba Satildeo
Paulo
Os estudos desenvolvidos consideraram apenas os fatos relacionados agrave
exploraccedilatildeo e fabricaccedilatildeo do ferro no morro de Araccediloiaba desde finais do seacuteculo
XVI ateacute o seacuteculo XVIII portanto antes da instalaccedilatildeo do Estabelecimento
Montaniacutestico de Extraccedilatildeo de Ferro das Minas de Sorocaba em 1810 e mais tarde
com a denominaccedilatildeo de Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
O resultado final do trabalho do levantamento de campo formou um
conjunto vasto e consolidado em textos de Diaacuterios de Campo escritos pela
pesquisadora correspondecircncias levantamentos topograacuteficos planos de
escavaccedilatildeo croquis e desenhos geomeacutetricos de plantas das ruiacutenas croquis de
cortes estratigraacuteficos e de reconhecimento das escavaccedilotildees Inventaacuterio de Peccedilas e
fotografias tudo devidamente registrado em relatoacuterios da pesquisa arqueoloacutegica
17
Os artefatos coletados durante as investigaccedilotildees de campo foram
acondicionados em caixas devidamente protegidas e identificadas e depositadas
nas dependecircncias do Museu do Centro de Visitantes da FLONA de Ipanema
Foram desenvolvidos trabalhos de reconhecimento e anaacutelise detalhada dos
registros arqueoloacutegicos que resultaram da pesquisa de campo e em seguida
interpretadas as informaccedilotildees anteriormente consolidadas com base nos
conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia
Na elaboraccedilatildeo da siacutentese interpretativa foi necessaacuterio valer-se de
instrumentos disponiacuteveis em outras aacutereas do conhecimento tais como Geologia
Mineralogia Metalurgia Engenharia dentre outras aacutereas
Tambeacutem foram elaborados exames visuais e catalograacuteficos visando a
dataccedilatildeo relativa assim como foram encaminhadas amostras de ceracircmica as
quais foram submetidas a testes de dataccedilatildeo absoluta com base em ensaios de
Termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade de
Tecnologia de Satildeo Paulo - FATEC
Por outro lado amostras de resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias) foram
ensaiadas em laboratoacuterio para anaacutelise quiacutemica-mineraloacutegica no Departamento de
Mineralogia e Geotectocircnica GMG do Instituto de Geociecircncias da Universidade de
Satildeo Paulo
No Capiacutetulo 1 O Siacutetio Afonso Sardinha questotildees da Arqueologia Histoacuterica
optamos por colocar uma siacutentese dos achados arqueoloacutegicos no Sitio Afonso
Sardinha sendo que com base nas informaccedilotildees disponiacuteveis foram expostas as
questotildees da Arqueologia Histoacuterica que resultaram das investigaccedilotildees de campo e
de laboratoacuterio assim como das pesquisas bibliograacuteficas
No Capitulo 2 A Teacutecnica de Produccedilatildeo de Ferro no periacuteodo entre os
seacuteculos XVI ao XVIII foram analisadas e discutidas as questotildees conceituais da
18
teacutecnica e da tecnologia relacionadas a metalurgia no periacuteodo de interesse desta
Tese compreendido entre os seacuteculos XVI e XVIII Para compreensatildeo dos
processos de produccedilatildeo de ferro foram apresentadas descriccedilotildees dos
procedimentos de fabricaccedilatildeo bem como ilustraccedilotildees das ferramentas
equipamentos e maacutequinas em uso naquele estaacutegio do conhecimento teacutecnico
O Capiacutetulo 3 Histoacuterico da Mineraccedilatildeo no Brasil Colonial trata de uma
avaliaccedilatildeo da historiografia disponiacutevel sobre as atividades de mineraccedilatildeo no Brasil
e particularmente para o caso da entatildeo Capitania de Satildeo Vicente merecendo
esclarecer que parte destas obras foi produzida na primeira metade do seacuteculo XX
Aleacutem disso foram consultados documentos do Arquivo Municipal de Satildeo Paulo
do Arquivo do Estado de Satildeo Paulo e Biblioteca e Arquivo do Museu Histoacuterico
Sorocabano
No Capiacutetulo 4 O Sitio Afonso Sardinha apresenta-se a localizaccedilatildeo
geograacutefica as caracteriacutesticas geoloacutegicas e geomorfoloacutegicas do morro de
Araccediloiaba a vegetaccedilatildeo a hidrografia recursos minerais com destaque especial
para a presenccedila da Magnetita Finalmente oferece-se um contexto sucinto a
respeito da ocupaccedilatildeo colonial e a presenccedila de naturalistas viajantes inclusive
Saint Hilaire em 1919
No Capiacutetulo 5 Investigaccedilotildees Arqueoloacutegicas as evidencias de uma Faacutebrica
de Ferro com base em todos os dados que resultaram da pesquisa de campo
foram desenvolvidos trabalhos sendo que num primeiro momento relacionados
ao reconhecimento e anaacutelise detalhada dos registros arqueoloacutegicos fornecidos
pela pesquisa acima mencionada
No uacuteltimo Capiacutetulo de nuacutemero 6 Interpretaccedilotildees dos dados arqueoloacutegicos
buscou-se elaborar uma interpretaccedilatildeo das informaccedilotildees consolidadas nos
documentos produzidos a partir dos conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e
Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia
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CAPIacuteTULO 1
O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA QUESTOtildeES DA ARQUEOLOGIA HISTOacuteRICA O presente Capiacutetulo tem por objetivo indicar um conjunto de questotildees que
deveratildeo ser analisadas no decorrer da elaboraccedilatildeo desta Tese as quais
emanaram dos resultados alcanccedilados pelas pesquisas arqueoloacutegicas realizadas
no siacutetio Afonso Sardinha pela pesquisadora e arqueoacuteloga Margarida Davina
Andreatta
Para melhor compreensatildeo dos fatos que fazem parte do contexto do
presente trabalho tendo em vista a identificaccedilatildeo daquelas questotildees satildeo
apresentados a) uma avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos que tratam de assuntos
relacionados ao siacutetio arqueoloacutegico b) um histoacuterico da descoberta das ruiacutenas c)
consideraccedilotildees sobre a metodologia utilizada d) uma descriccedilatildeo geral resumida
das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas
11 Contexto do presente trabalho 111 Avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos
As primeiras notiacutecias relacionadas agraves minas de ferro do Morro de
Araccediloiaba e com os trabalhos de fundiccedilatildeo daquele mineacuterio foram dadas por
Pedro Taques de Almeida Paes Leme (1714-1777) Aleacutem de sua obra mais
conhecida a Nobiliarquia Paulistana Histoacuterica e Genealoacutegica escreveu a Histoacuteria
da Capitania de Satildeo Vicente e um compecircndio sobre a exploraccedilatildeo e a legislaccedilatildeo
mineira intitulado Noticia das Minas de Satildeo Paulo e dos Sertotildees da mesma
Capitania
20
Neste uacuteltimo trabalho escrito na segunda metade do seacuteculo XVIII afirmou
ter sido o bandeirante Afonso Sardinha e seu filho mameluco do mesmo nome
ldquoos que tiveram a gloacuteria de descobrir ouro de lavagem nas Serras de
Jaramimbaba e do Jaraguaacute em Satildeo Paulo na de Votoruna em Parnaiacuteba e na
Biraccediloiaba no Sertatildeo do Rio Sorocaba ouro prata e ferro pelos anos de 1597rdquo
(TAQUES 1954 p 112) Em Notiacutecias Genealoacutegicas citado por Nicolau de
Campos Vergueiro PedroTaques completa aquela informaccedilatildeo indicando que
Afonso Sardinha havia construiacutedo uma faacutebrica e dois fornos de ferro em
Biraccediloiaba e que havia doado um dessas Faacutebricas agrave D Francisco de Souza
quando ldquoem pessoa passou a Biraccediloiaba no ano de 1600rdquo (VERGUEIRO 1978
p6)
Taques escreveu suas obras dentro de um contexto em que os trabalhos
historiograacuteficos buscaram dar um enfoque positivo a participaccedilatildeo bandeirante na
histoacuteria de Satildeo Paulo e ao mesmo tempo contrapor todas as outras narrativas
que haviam sido escritas nos seacuteculos anteriores sobretudo pelos Jesuiacutetas
Assim firmou para que Afonso Sardinha e seu filho passassem para a Histoacuteria
como tendo sido os descobridores daquelas minas e os pioneiros na fabricaccedilatildeo
do ferro no Morro de Araccediloiaba
Entre os veiacuteculos de divulgaccedilatildeo dessa historiografia estaacute o Instituto
Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo e do Brasil (sediado na cidade do Rio de
Janeiro) sendo este uacuteltimo responsaacutevel pela divulgaccedilatildeo das obras de Pedro
Taques1 Por outro lado aquelas afirmativas foram reforccediladas pelo
1 Os Institutos Histoacutericos e Geograacuteficos foram junto com os Museus brasileiros os primeiros e mais importantes espaccedilos que existiam no seacuteculo XIX para a pesquisa de humanidades e para a ciecircncia em geral no Brasil O Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo seraacute uma instacircncia de produccedilatildeo a afirmar uma suposta especificidade paulista elaborar tradiccedilotildees do estado ndash atraveacutes de biografias de seus vultos estudos sobre o passado da proviacutencia etc Nesse sentido eacute tambeacutem uma historiografia com teor ciacutevico paulista sobretudo mas que buscava afirmar a prevalecircncia de Satildeo Paulo perante a naccedilatildeo como um todo releitura da figura do bandeirante no sentido de elevaacute-lo agrave condiccedilatildeo de construtor da naccedilatildeo ROMANCINI Richard Inventando tradiccedilotildees os historiadores e a pesquisa inicial sobre o jornalismo II Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho Florianoacutepolis de 15 a 17 de abril de 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwjornalismoufscbrredealcarcdgrupos20de20trabalho20de20historia20da20midiahistoria20dos20jornalismotrabalhos_selecionadosrichard_romancinidocgt Acesso em 060706
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desaparecimento de total ou significativa parcela dos documentos que
constituiacuteram as fontes pesquisadas por aquele autor tais como os arquivos do
Primeiro Cartoacuterio dos Oacuterfatildeos de Satildeo Paulo os da Provedoria da Real Fazenda e
os da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo2
Aleacutem disso uma significativa parcela dos trabalhos publicados entre os
seacuteculos XIX e XX sobre as atividades metaluacutergicas desenvolvidas no morro de
Araccediloiaba estavam voltados para as anaacutelises sobre os aspectos da geografia
historia mineralogia botacircnica e geologia a partir da implantaccedilatildeo da Real Faacutebrica
de Ferro de Ipanema fundada em 1810 3 Quanto aos periacuteodos anteriores a fonte
de informaccedilatildeo sempre foi a obra de Pedro Taques a qual foi amplamente
difundida com a publicaccedilatildeo da obra de Azevedo Marques intitulada
Apontamentos histoacutericos geograacuteficos bibliograacuteficos e estatiacutesticos da proviacutencia de
Satildeo Paulo em 1879
A construccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema estaacute inserida no acircmbito
da implementaccedilatildeo de poliacuteticas voltadas para favorecer a transferecircncia para a
colocircnia de todo o aparelho institucional do reino a partir da chegada de D Joatildeo VI
a cidade do Rio de Janeiro4 Entre os projetos estava a implantaccedilatildeo e
desenvolvimento da siderurgia no Brasil a partir da exploraccedilatildeo das jazidas de
ferro jaacute conhecidas como as do Morro de Araccediloiaba na Proviacutencia de Satildeo Paulo e
das jazidas de ferro de Minas Gerais localizadas nos atuais municiacutepios de
Congonhas do Campo e Gaspar5
2 Os arquivos da Provedoria foram destruiacutedos por uma enchente do Tamanduateiacute em 1929 Dos outros arquivos restam apenas poucos exemplares e que estatildeo incompleto como o das Atas da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo RODRIGUES Leda Maria Pereira As Minas de ferro em Araccediloiba (Satildeo Paulo Seacuteculos XVI-XVII-XVIII) Annais do III Simpoacutesio dos Professores Universitaacuterios de Histoacuteria Franca 1966 p 171 3 A Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema inicia suas atividades a partir da promulgaccedilatildeo da Carta Reacutegia de 4 de dezembro de 1810 Esta carta conteacutem instruccedilotildees para o funcionamento de uma faacutebrica de ferro em Sorocaba Em 1895 encerra definitivamente as suas atividades Ver bibliografia 4 Com a presenccedila de D Joatildeo VI foi promulgada em 1808 a abertura dos portos para o comeacutercio e um alvaraacute que revogava o Decreto de D Maria I de 1785 referente a proibiccedilatildeo da abertura de faacutebricas e manufaturas no estado do Brasil e Domiacutenios Ultramarinos 5 As minas de ferro de Gaspar Soares deram origem a Real Faacutebrica de Ferro de Gaspar Soares cuja direccedilatildeo foi dada ao Intendente Manuel Ferreira da Cacircmara Em 1811 tambeacutem para o Brasil o teacutecnico alematildeo Gotthelft Von Feldner com a incumbecircncia de examinar as minas receacutem
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Para dar andamento agravequeles projetos foram trazidos para o Brasil o
mineralogista alematildeo Friederich Ludwig Wilhelm Varnhagen (1782-1842) e
Wilhelm-Ludwig Von Eschwege (1777-1835) ambos funcionaacuterios da Coroa
Portuguesa6 Eschwege foi enviado para Minas Gerais para inspecionar as
jazidas e minas de ferro e criar com outros acionistas a companhia sideruacutergica
Faacutebrica Patrioacutetica do Prata de Congonhas do Campo que comeccedilou a funcionar
em fins de 1811 e Varnhagen para o Morro de Araccediloiaba7
Apoacutes observaccedilotildees mineraloacutegicas realizadas por Varnhagen em
Araccediloiaba A partir dos resultados daquelas observaccedilotildees ficou determinado que
Sorocaba era o local mais apropriado para a construccedilatildeo de uma siderurgia pois
ldquoa mina existente dentro de sua circunscriccedilatildeo eacute muito rica em metal de ferro e
conta na sua proximidade com extensas matas as quais haacute muitos anos mandou
reservar e que forneceratildeo o indispensaacutevel combustiacutevelrdquo(FRAGA 1968 p 66)
Assim em 1810 foi fundado o Estabelecimento Montaniacutestico de Extraccedilatildeo de Ferro
das Minas de Sorocaba denominado posteriormente de Real Faacutebrica de Ferro de
Ipanema
A aacuterea escolhida para aquele novo empreendimento estava localizada junto
ao rio Ipanema que daiacute retira aquela denominaccedilatildeo deixando para traz a histoacuteria
da metalurgia que havia sido desenvolvida durante dois seacuteculos no interior Morro
de Araccediloiaba no vale das Furnas onde estaacute localizado o Siacutetio Arqueoloacutegico
Afonso Sardinha
Os primeiros trabalhos sobre a Real Faacutebrica privilegiavam as anaacutelises
voltadas para a mineralogia e as teacutecnicas de fundiccedilatildeo Quanto a este uacuteltimo
descobertas de carvatildeo do rio Pardo no Rio Grande do Sul Cf FIGUEIROA Silvia As ciecircncias Geoloacutegicas no Brasil uma Histoacuteria Social e Institucional 1875-1934 Satildeo Paulo Hicitec 1997 p 63-65 6 Varnhagen e Eschwege voltaram para Portugal em 1822 7 Varnhagen esteve em Araccediloiaba acompanhado por Martim Francisco de Andrada Martim Francisco Ribeiro de Andrada Inspetor de Minas e Matas da Capitania de Satildeo Paulo
23
aspecto destacam o emprego do alto forno da fabricaccedilatildeo do carvatildeo e o emprego
de fundentes bem como criacuteticas relacionadas agrave produccedilatildeo e qualidade do ferro8
Entre as obras mais gerais sobre aquele empreendimento publicadas no
seacuteculo XIX estatildeo os trabalhos de Antonio da Costa Pinto Silva (1852) Nicolau de
Campos Vergueiro (1843) Frederico Augusto Pereira de Moraes (1858) M Alves
de Arauacutejo (1882) Francisco de Assis Moura (1888) J Ewbank da Cacircmara (1875)
Leandro Dupreacute (1885) Baratildeo Homem de Mello (1888) Manuel Eufraacutezio de
Azevedo Marques (1879) Carlos Conrado de Niemeyer (1879) Frederico
Augusto Pereira de Moraes (1858)
Sobre a mineralogia e a geologia estatildeo os de Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e
Silva (1820 1846) Martim Francisco Ribeiro de Andrada (1828 1846 1855) F
Schimidt (1853) e Wilhelm L Von Eschwege (1833) e Orville Adalbert Derby
(1891 e 1895 1909) Derby foi o descobridor em 1891 da apatita mineral que foi
amplamente explorado para a fabricaccedilatildeo de adubos a partir de 1927 Naquele
mesmo seacuteculo foram realizadas as primeiras anaacutelises da magnetita de Ipanema
pela Escola de Minas de Ouro Preto9 as quais tiveram como resultado a
identificaccedilatildeo do titacircnio como componente daquele mineacuterio
Dessa forma foi possiacutevel entender a dificuldade teacutecnica que enfrentaram
todos os diretores de Ipanema em produzir um ferro de boa qualidade pois a
magnetita aleacutem de sua exagerada densidade apresentava-se impregnada de
ocircxido de Titacircnio ldquofatores que contribuem de forma decisiva para dificultar sua
reduccedilatildeo mesmo em altos fornosrdquo (FRAGA 1968 p 86) Entre as pesquisas
realizadas por essa Escola estatildeo os trabalhos de Paul Ferrand (1885) e Leandro
Dupreacute (1885) Joatildeo Pandiaacute Caloacutegeras (1893 1895 19041828) e Ferdinando
Gautier responsaacutevel em 1891 pela identificaccedilatildeo da presenccedila de foacutesforo no
mineacuterio elemento tambeacutem nocivo para a produccedilatildeo do ferro Ainda no seacuteculo XIX
8 Fundentes satildeo materiais que quando mesclados com o carvatildeo vegetal dentro do forno facilitam a fundiccedilatildeo dos mineacuterios no caso de mineacuterios de ferro Em Ipanema eram utilizados como fundentes os dioritos tambeacutem chamada ldquopedra verde (do alematildeo grunstein) 9 A Escola de Minas de Ouro Preto foi inaugurada em 1876 Destinava-se a formar profissionais para a mineraccedilatildeo
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estatildeo os relatos elaborados pelo naturalista viajantes como Saint Hilaire Von
Martius e Zaluar
No seacuteculo XX os trabalhos relacionados com aquele empreendimento
foram desenvolvidos em duas linhas de investigaccedilatildeo o da histoacuteria econocircmica e
da social Nesta uacuteltima as anaacutelises privilegiaram as abordagens sobre o processo
de trabalho e mais para o final daquele seacuteculo para as questotildees sobre o meio
ambiente como os aspectos da ecologia florestal recursos hiacutedricos gestatildeo
ambiental e do turismo ecoloacutegico
Os trabalhos historiograacuteficos daquele seacuteculo pouco acrescentaram aos
aspectos relacionados com a implantaccedilatildeo dos primeiros empreendimentos
metaluacutergicos anteriores agrave construccedilatildeo da Real Faacutebrica10 Contudo trecircs trabalhos
podem ser destacados pelas contribuiccedilotildees seja pela releitura de documentos
ainda existentes como foi o caso dos estudos realizados por Maacuterio Neme seja
pelos trabalhos de pesquisa documental elaborados tanto por Leda Maria Pereira
Rodrigues quanto por Estefania Knotz Canguccedilu Fraga
No primeiro caso Maacuterio Neme apresenta em seu livro Notas de Revisatildeo da
Histoacuteria de Satildeo Paulo uma reavaliaccedilatildeo das obras de Pedro Taques bem como
de outros autores que tratam da histoacuteria de Satildeo Paulo ateacute o momento da 10 Entre as obras direcionadas a um contexto geral brasileiro estatildeo Sylvio Froes Abreu (19371962) Afranio do Amaral (1946) Renato Frota de Azevedo (1955) Tanus Jorge Bastini (1957) Vicente Licinio Cardoso (1924) Sobrinho Costa e Silva (1953) Alpheu Diniz Gonccedilalves (1937) R Hermanns (1958) R N Jafet (1957) Theodor Knecht (1931) Viktor Leinz (1942) Clodomiro de Liveira (1914) Niacutecia Vilela Luz (1961) Manuel Moreira Machado (1919) Roberval Germano Medeiros (1947) Geraldo Magella Pires de Melo (1957) Geraldo Dutra Moraes (1943) Almiro de Lima (1929) Matias Gonccedilalves de Oliveira Roxo (1937) Edmundo de Macedo Soares (1953) Gilberto Freyre (1988) Francisco Adolpho de Varnhagen (1956) Joseacute Epitaacutecio Passos Guimaratildees (1981) Francisco Magalhatildees Gomes (1983) Francisco de Assis Barbosa (1958) Francisco de Assis Carvalho Franco (1928) Silvia Figueroa (1997) Roseli Santaella Stella (2000) Para anaacutelises direcionadas ao Estado de Satildeo Paulo estatildeo as de Paulo R Pestana (1928) Luis Flores de Moraes (1930) Afonso Taunay (1931) Benedito Lima de Toledo (1966) Maacuterio Neme (1959) Seacutergio Buarque de Holanda (1960 1966) Ernani da Silva Bruno (1953) Jesuiacuteno Feliciacutessimo Juacutenior (1969) Washington Luis (1956) Gabriel Pedro Moacyr (1935) E aqueles relacionados agrave histoacuteria local da Real Faacutebrica estatildeo o de Joseacute Monteiro Salazar (1982) Astor Franccedila Azevedo (1959) Luiz de Almeida Castanho (1937 1939 1958) Jaime Benedito de Arauacutejo (1939) Ezequiel Freire (1953) Emanuel Soares Veiga Garcia (1954) Joatildeo Lourenccedilo Rodrigues (1953) Otaacutevio Tarquiacutenio de Souza (1946) Heacutelio Vianna (1969) Andreacute Davino (1965) Guido Ranzani (1965) Miriam Escobar (1982) Theodoro Knecht (1930) Helmut Born (1989) Lenharo S L R (1996) Antonio Maciel Botelho Machado (1998) e Jaime Rodrigues (1998) Aluiacutezio de Almeida (2002)
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publicaccedilatildeo da obra em 1959 confrontando as afirmaccedilotildees dos autores com base
nos documentos disponiacuteveis naquele momento A obra segundo o autor fora
escrita com base em pesquisa documental realizada por ele durante duas
deacutecadas tendo concluiacutedo que ldquofirmamo-nos na convicccedilatildeo mais absoluta de que a
crocircnica de nossa formaccedilatildeo e evoluccedilatildeo estaacute a exigir ampla revisatildeo quer em
mateacuteria de fatos e acontecimentos na sua ocorrecircncia e significaccedilatildeo imediata e
futura e no que toca a dados datas e nomes quer em mateacuteria de interpretaccedilatildeordquo
(NEME1959 p11)
Ao final deste trabalho Neme conclui que os dados oferecidos por Pedro
Taques a respeito da construccedilatildeo de uma Faacutebrica de ferro por Afonso Sardinha no
Morro de Araccediloiaba natildeo passou de uma faacutebula criada por aquele autor sendo
que a uacutenica Faacutebrica de ferro que de fato existiu no iniacutecio do seacuteculo XVII foi a de
Santo Amaro
No segundo trabalho a ser considerado trata-se de um artigo publicado em
1966 pela historiadora Leda Maria Pereira Rodrigues intitulado As Minas de ferro
em Araccediloiaba (Satildeo Paulo Seacuteculos XVI-XVII-XVIII) onde a autora afirma que ldquoos
primoacuterdios de nossa Histoacuteria fazem surgir duacutevidas difiacuteceis de serem esclarecidas
pois haacute falta de documentos coesos que provem incontestavelmente a veracidade
de certas afirmaccedilotildeesrdquo Neste mesmo trabalho ela conclui que ateacute a instalaccedilatildeo da
Real Faacutebrica em 1810 todos os empreendimentos anteriores constituiacuteram numa
ldquoseacuterie de tentativas frustrasrdquo A autora demonstra que pelo menos dois
empreendimentos foram efetivamente implementados naquele local o de Luiz
Lopes de Carvalho por volta de 1690 e o de Domingos Pereira Ferreira em 1875
(RODRIGUES 1966 p246-249)
Em 1968 Estefania Knotz Canguccedilu Fraga sob a orientaccedilatildeo da historiadora
Leda Maria Pereira Rodrigues seguindo as discussotildees iniciadas pela autora
acima mencionada desenvolveu uma tese na aacuterea de Histoacuteria do Brasil com o
titulo Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
(1779-1822) Neste trabalho analisou especialmente o empreendimento de
26
Domingos Pereira Ferreira como tambeacutem as primeiras deacutecadas de
funcionamento da Real Faacutebrica sob a direccedilatildeo de Hedberg (1810-1814) e
Varnhagen (1814-1822) A autora depois de enumerar as possiacuteveis causas que
teriam levado ao que atribui ser um ldquoinsucessordquo econocircmico daqueles
empreendimentos conclui que
mesmo que a faacutebrica de ferro de Araccediloiaba (como
primitivamente era denominado o local) natildeo possa oferecer
ao pesquisador nada aleacutem de constantes provas de seu
insucesso ainda assim o propoacutesito que o anima natildeo deve
esmorecer Afinal o que seria da Historia se soacute merecessem
registro os eventos vitoriosos Quantas derrotas natildeo
levaram as vitoacuterias Porque entatildeo omiti-las se fazem parte
integrante da mesma Porque esquececirc-la se refletem uma
circunstancia real mesmo que nela se insinue uma ou mais
ldquoforccedilas obstrutivasrdquo que consagram ao fracasso tudo o que
nela se condiciona mas que nem por isso obstam uma ou
vaacuterias tentativas de superaccedilatildeo Eacute sabido que a dualidade de
forccedilas impele a civilizaccedilatildeo E mais que a tanta gloacuteria existe
na derrota quanto na vitoacuteria quando supotildeem luta E poderaacute
algueacutem negar que Ipanema natildeo foi um glorioso campo de
luta (FRAGA 1966 p 109)
112 Histoacuterico das descobertas das ruiacutenas O Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha foi assim denominado por
ter sido Afonso Sardinha bandeirante e seu filho mameluco11 Afonso Sardinha o
moccedilo apontados por Pedro Taques e pela historiografia como os provaacuteveis
11 Filho de pai branco e matildee indiacutegena No caso dos mamelucos os pais reconheciam publicamente a paternidade e os filhos gozavam da liberdade plena e aproximavam-se agrave identidade portuguesa Essa denominaccedilatildeo cai em desuso no seacuteculo XVIII e eacute substituiacuteda pelo termo bastardo que passava a designar qualquer pessoa com ascendecircncia indiacutegena (MONTEIRO 1994 p 167)
27
descobridores e construtores dos primeiros fornos de fundiccedilatildeo naquele local em
finais do seacuteculo XVI
No ano de 1977 Joseacute Monteiro Salazar pesquisador estudioso da histoacuteria
regional e particularmente da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema acompanhado
pelos engenheiros agrocircnomos Nerzon Nogueira de Barros e Dinchiti Sinzato e
pelo fotoacutegrafo Venedavel Acosta encontrou as ruiacutenas de um possiacutevel Faacutebrica de
ferro que atribuiu ser aquele construiacutedo por Afonso Sardinha em finais do seacuteculo
XVI (SALAZAR 1997156-159) Tal avaliaccedilatildeo decorria do fato de que aquela
regiatildeo teria sido uma aacuterea de provaacutevel exploraccedilatildeo mineral do ferro que
remontaria aos primoacuterdios da colonizaccedilatildeo de Satildeo Vicente conforme apontavam a
historiografia disponiacutevel sobre aquela Capitania
28
Fig 1 MAPA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA FLONA ndash Floresta Nacional de Ipanema Escala 1250 000 CENEA- Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola 1985
29
Fig 2 MAPA DE LOCALIZACcedilAtildeO DO SIacuteTIO AFONSO SARDINHA Folheto IBAMA sem data e sem escala
30
Fig 3 DESENHO ESQUEMAacuteTICO DE LOCALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRICA DE FERRO Salazar (1997 p80)
Fig 4 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E JOSEacute MONTEIRO SALAZAR Aspecto do Siacutetio em 1983
31
Fig 5 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E JOSEacute MONTEIRO SALAZAR Iniacutecio das pesquisas no Siacutetio Afonso Sardinha 1983 As ruiacutenas foram localizadas no interior do vale das Furnas onde estaacute o
ribeiratildeo do Ferro que nasce e cruza o Morro de Araccediloiaba desaguando no rio
Ipanema o qual por sua vez eacute um afluente pela margem esquerda do rio
Sorocaba
Este ribeiratildeo
() nasce no Monte do Chapeacuteu e corre primeiro do norte para o
sul e depois de passar pelo Vale das Furnas torce bruscamente
e muda radicalmente de direccedilatildeo fazendo uma grande curva e
passando a correr do sul para o norte indo desaguar afinal no
Ipanema (SALAZAR 1997 p 02)
Foi numa das curvas do ribeiratildeo do Ferro que aquelas ruiacutenas foram
localizadas As estruturas ali descobertas se cercavam de condiccedilotildees fisiograacuteficas
favoraacuteveis para viabilizar a atividade de produccedilatildeo do ferro devido a proximidade
32
das jazidas do mineacuterio existecircncia de matas abundantes assim como de uma
hidrografia favoraacutevel para o aproveitamento da forccedila motriz das aacuteguas
A primeira constataccedilatildeo da existecircncia de uma estrutura por eles encontrada
foi uma fileira de pedras bem conservadas que identificaram ldquocomo canal
certamente para o desvio do rio a fim de mover os martinetesrdquo Descobriram uma
muralha que atribuiacuteram ser uma parede de forja (SALAZAR 1997 p159-160)
113 Consideraccedilotildees sobre a metodologia O termo arqueologia histoacuterica surge nos Estados Unidos nas deacutecadas de
1960 para designar o estudo da cultura material dos europeus no mundo Esse
termo passou a ser oficialmente adotado em 1967 tendo em vista regulamentar a
nomenclatura para designar as pesquisas arqueoloacutegicas em siacutetios histoacutericos que
estavam sendo desenvolvidas nos Estados Unidos Ateacute entatildeo eram utilizados
para identificar aqueles trabalhos arqueoloacutegicos uma nomenclatura diversificada
como arqueologia colonial arqueologia da historia arqueologia de siacutetios
histoacutericos entre outros
Naquela mesma deacutecada a arqueologia histoacuterica passa a ser uma
disciplina valendo-se da aplicaccedilatildeo de meacutetodos de escavaccedilatildeo jaacute consagrados
pela arqueologia preacute-historica e das abordagens teoacuterico-metoloacutegicas voltadas
para a interpretaccedilatildeo dos registros arqueoloacutegicos As ferramentas teoacutericas
metodoloacutegicas apresentadas pela arqueologia foram sendo revisadas e
aprimoradas de modo a contribuir com as anaacutelises destinadas a interpretar as
culturas preteacuteritas
Outra questatildeo diz respeito agrave compreensatildeo do papel da Arqueologia
Histoacuterica aplicada agraves pesquisas desenvolvidas na Ameacuterica tendo em vista a
visatildeo desenvolvida por Charles Orser Jr segundo o qual cabe a esta disciplina
investigar fundamentalmente os ldquo() aspectos mateacuterias em termos histoacutericos
33
culturais e sociais concretos dos efeitos do mercantilismo e do capitalismo que
foi trazido da Europa em fins do seacuteculo XV e que continua em accedilatildeo ainda hojerdquo
(ORSER 1992 p 23)
Posteriormente Orser trouxe novas contribuiccedilotildees a aquela conceituaccedilatildeo
ao formular a Teoria de Rede segundo a qual as pesquisas em Arqueologia
deveriam levar em consideraccedilatildeo a questatildeo das ldquointerligaccedilotildees globaisrdquo
demonstrando a ldquoorigem e os desenvolvimentos ulteriores da globalizaccedilatildeo da
modernizaccedilatildeo e da expansatildeo colonialistardquo criados por ldquoagentes conscientes do
colonialismo do eurocentrismo e da modernidaderdquo que proporcionaram a
criaccedilatildeo de uma ldquoseacuterie de elos complexos e multidimensionais que uniam
diversos povos ao redor do mundordquo (ORSER 1999 p 87)
No que se referem agrave interpretaccedilatildeo dos registros arqueoloacutegicos as
pesquisas em arqueologia histoacuterica empregam teorias e meacutetodos que foram
sendo desenvolvidos por meio da aplicaccedilatildeo de meacutetodos de abordagens como o
Histoacuterico-Culturalismo (foi amplamente difundida entre os arqueoacutelogos
brasileiros) New Archaeology ou Arqueologia Processual e Poacutes-
processualismo e suas derivaccedilotildees Cada meacutetodo privilegiou uma escala
apropriada de anaacutelise para o ldquoHistoacuterico Culturalismo foi o siacutetio para o
Processualismo a regiatildeo e para o Poacutes-Processualismo passou a ser o
indiviacuteduordquo (LIMA 2000 p 2)
No Brasil a formaccedilatildeo da primeira geraccedilatildeo de arqueoacutelogos na deacutecada de
1970 foi orientada por duas correntes teoacutericas A americana representada pelos
arqueoacutelogos Clifford Evans (1920-1981) e Betty Meggers coordenadores do
Programa Nacional de Pesquisas Arqueoloacutegicas (Pronapa) criado na deacutecada
de 1960 E a Francesa representada por Joseph e Annette Emperaire Da
escola francesa destacamos as pesquisas realizadas pelo grupo do Centre
National de la Recherche Scientifique que trabalharam em Minas Gerais
Paranaacute Satildeo Paulo e no Piauiacute em convenio com o Museu Paulista da
Universidade de Satildeo Paulo e a Universidade do Piauiacute com o objetivo de
34
proporcionar as primeiras dataccedilotildees para as obras rupestres e sua inserccedilatildeo no
contexto cultural preacute-histoacuterico (PROUS 1992 p17)
A partir da pesquisas do grupo Franco-Brasileiro foram fornecidas as
primeiras dataccedilotildees radiocarbono a introduccedilatildeo de teacutecnicas e meacutetodos mais
refinados de decapagem e a realizaccedilatildeo de escavaccedilotildees sistemaacuteticas no Brasil
Aleacutem da influecircncia teoacuterica-metodologica o convecircnio entre aquele grupo
representado por Joseph e Annette Laming Emperaire e o Centre National de
la Recherche Scientifique proporcionou a formaccedilatildeo de arqueoacutelogos e de
especializaccedilotildees na Franccedila Entre os anos de 1960-1980 o legado francecircs
permanecia em duas Instituiccedilotildees de Satildeo Paulo o Museu de Preacute-Histoacuteria
(atualmente incorporado ao MAE) e Museu Paulista da Universidade de Satildeo
Paulo e em Minas Gerais no Museu de Histoacuteria Natural da Universidade
Federal de Minas Gerais
A partir da deacutecada de 1960 as pesquisas relacionadas ao campo da
arqueologia histoacuterica foram conduzidas particularmente por arqueoacutelogos preacute-
historiadores que passaram a desenvolver pesquisas em Siacutetios Histoacutericos
Num primeiro momento aquelas pesquisas arqueoloacutegicas foram marcadas
pelas teorias do meacutetodo histoacuterico-culturalista privilegiando monumentos como
igrejas conventos missotildees jesuiacuteticas fortificaccedilotildees solares entre outros
encorajadas pelos oacutergatildeos de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural e
pela receacutem-criada Lei 3924 de 26 de julho de 1961 atraveacutes da qual os
monumentos arqueoloacutegicos e preacute-histoacutericos passaram a serem considerados
como patrimocircnio da Uniatildeo (ANDRADE 1993 FUNARI 1998 RUBINO 1996)
Ateacute a deacutecada de 80 as pesquisas ainda seguiam aquela linha de
investigaccedilatildeo privilegiando pesquisas em monumentos Contudo jaacute havia
perspectivas de novas abordagens de pesquisa notadamente voltadas para
os segmentos sociais desfavorecidos de registros possibilitando ldquorecuperar
memoacuterias sociais reinterpretar a Histoacuteria Oficial resgatar elementos e praacuteticas
da vida cotidiana sobre os quais normalmente natildeo se escreverdquo
35
Proporcionando a arqueologia histoacuterica investigar uma diversificada temaacutetica
transformando em Siacutetios Histoacutericos quilombos unidades domeacutesticas becos
urbanos senzalas tecnologias de produccedilatildeo de materiais e povoados etc
(ANDRADE 1993 p 228)
Neste contexto se inserem as pesquisas em arqueoloacutegica histoacuterica
desenvolvida na cidade de Satildeo Paulo O Programa de Arqueologia Histoacuterica no
Municiacutepio de Satildeo Paulo foi coordenado por Margarida Davina Andreatta do
Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo em colaboraccedilatildeo com o
Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico da Secretaria Municipal de Cultural A
pesquisa realizada a partir de prospecccedilotildees e escavaccedilotildees sistemaacuteticas em
ldquoCasas Bandeiristasrdquo e locais puacuteblicos e privados do municiacutepio como becos
ruas praccedilas quintais lixotildees logradouros etc Entre os anos de 1979 e 1981
foram realizadas pesquisas arqueoloacutegicas no Municiacutepio de Satildeo Paulo nos
Siacutetios Mirim em Ermilindo Matarazzo Sitio de Morrinhos no Jardim Satildeo Bento
Casa do Grito no Parque da Independecircncia ndash Ipiranga Beco do Pinto Bairro
da Seacute Casa n 1 do Paacutetio do Coleacutegio e Casa do Tatuapeacute e no bairro do
Tatuapeacute (ANDREATTA 19812 1986a 1986b) Em 1983 Margarida Davina
Andreatta iniciou as pesquisas arqueoloacutegicas na Fazenda Ipanema ndash Iperoacute
Satildeo Paulo atualmente um aacuterea de proteccedilatildeo ambiental FLONA 12
Durante o desenvolvimento dessa pesquisa foram realizadas
escavaccedilotildees e prospecccedilotildees em uma aacuterea extensa daquela Fazenda incluindo
todas as edificaccedilotildees que pertenceram a Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
(1810-1895)13 e as ruiacutenas existentes no Vale das Furnas junto do ribeiratildeo do
Ferro e interior do Morro de Araccediloiaba Nesta uacuteltima aacuterea denominada Siacutetio
Afonso Sardinha foi evidenciado estruturas de um Faacutebrica de Ferro e Fornos 12 As edificaccedilotildees da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema foram tombadas pelo Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional em 1964 O Siacutetio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha foi registrado tambeacutem no IPHAN em 1997 por Margarida Davina Andreatta Ver Detalhes de Siacutetios Arqueoloacutegicos Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrportalmontaDetalheSitioArqueologicodoid=SP00236gt Acesso em 09mar 2004 13 Foram realizadas pesquisas arqueoloacutegicas nas aacutereas dos altos fornos fornos de carvatildeo edifiacutecio de armas brancas Praccedila Afonso Sardinha entre outros dependecircncias pertencentes a Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
36
de Fundiccedilatildeo e uma diversificada tipologia de materiais os quais compotildee os
documentos arqueoloacutegicos que foram registrados no Inventaacuterio de Peccedilas
relacionadas a pesquisa (exemplos em anexo)
Da pesquisa no Sitio Afonso Sardinha foram produzidos um significativo
conjunto documental formado por inuacutemeras tipologias de documentos de
arquivo que formam o Fundo Sitio Afonso Sardinha A partir dessa
documentaccedilatildeo foi possiacutevel acompanhar o processo de desenvolvimento
daquela pesquisa e tambeacutem contextualizar os documentos arqueoloacutegicos
permitindo assim a realizaccedilatildeo de interpretaccedilotildees quanto sua dataccedilatildeo e
significado Nas palavras de Hodder ldquoa partir del momento em que se conoce
el contexto de um objeto este ya no es completamente mudordquo (HODDER
1994 18)
Os documentos do Fundo Siacutetio Afonso Sardinha satildeo compostos por
diaacuterios de campo relatoacuterios de pesquisa planos de escavaccedilatildeo fotografias
correspondecircncias e tambeacutem por uma coleccedilatildeo formada por documentos de
apoio a pesquisa como plantas topograacuteficas planoaltimeacutetricas bibliografia
histoacuterica e teacutecnica sobre mineraccedilatildeo e fundiccedilatildeo de ferro no Brasil nos primeiros
trecircs seacuteculos de colonizaccedilatildeo
A pesquisa realizada a partir da bibliografia encontrada no Fundo Afonso
Sardinha apontou caminhos de investigaccedilatildeo que direcionaram para uma
bibliografia teacutecnica e histoacuterica sobre a teacutecnica da produccedilatildeo de ferro
desenvolvida na Europa especialmente na Espanha entre os seacuteculos XVI-
XVIII Aleacutem disso foi agregada aquela investigaccedilatildeo um conjunto de
documentos de cunho oficial escritos pelos empreendedores daquela
produccedilatildeo e oacutergatildeos administrativos coloniais como a Cacircmara da Vila de Satildeo
Paulo
Assim os documentos pertencentes ao Fundo Afonso Sardinha
documentos textuais oficiais e documentos arqueoloacutegicos ndash permitiram
37
interpretar que a aacuterea do Siacutetio corresponde a um campo de trabalho de
produccedilatildeo de ferro e que as atividades de mineraccedilatildeo e fundiccedilatildeo estavam
distribuiacutedas por uma aacuterea extensa com forte influencia dos modelos de ferrarias
de aacutegua que haviam no periacuteodo pesquisado na regiatildeo basca da Espanha
Assim as possibilidades dadas pela arqueologia histoacuterica de permitir a
utilizaccedilatildeo tanto de documentos arqueoloacutegicos (artefatos) e textuais na
realizaccedilatildeo da pesquisa e produccedilatildeo do conhecimento eacute tambeacutem uma das
principais tensotildees que norteiam as questotildees teoacutericas-metodoloacutegicas da
arqueologia histoacuterica Para tanto autores como Anders Andreacuten ao considerar
que o problema da arqueologia histoacuterica eacute o encontro entre a cultura material e
a escrita indica tambeacutem que a arqueologia histoacuterica natildeo pode ignorar as
disciplinas que tratam do homem como eacute o caso da Histoacuteria da Antropologia
ou da Filologia propondo que a metodologia em arqueologia histoacuterica deve
estabelecer ldquodialogue between artifact and text that is unique in relation to
prehistoric archeology as well as historyrdquo (ANDREacuteN 1998 p 177)
114 Descriccedilatildeo geral das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas Entre os anos de 1983 ndash 1989 as ruiacutenas encontradas por Joseacute Monteiro
Salazar (1982) foram objeto de uma pesquisa arqueoloacutegica iniciada pelo
Protocolo de Intenccedilotildees entre o Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo e o
CENEA ndash Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola - oacutergatildeo autocircnomo do Ministeacuterio
da Agricultura ao qual a Fazenda Ipanema estava ligado A pesquisa foi
coordenada pela arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta do Museu Paulista da
Universidade de Satildeo Paulo14
14 A Fazenda Ipanema pertenceu ao CENEA Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola oacutergatildeo autocircnomo do Ministeacuterio da Agricultura ateacute a extinccedilatildeo desse Centro em 1990 eacutepoca em que foram exploradas as minas de Apatita para a fabricaccedilatildeo de adubos A pesquisa arqueoloacutegica nesta aacuterea foi coordenada pela pesquisadora e arqueoacuteloga Profa Dra Margarida Davina Andreatta tendo como assistente o pesquisador da Historia regional Joseacute Monteiro Salazar aleacutem de estagiaacuterios da Universidade de Satildeo Paulo e voluntaacuterios
38
Fig 6 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E EQUIPE EM REUNIAtildeO COM A DIRETORIA DA FLORESTA NACIONAL DE IPANEMA 1984
Fig 7 ASPECTO DA FAacuteBRICA DE FERRO em 1987
39
Fig 8 Planta da aacuterea do Sitio Afonso Sardinha aacutereas A1 e A2
40
As pesquisas arqueoloacutegicas desenvolvidas no sitio Afonso Sardinha
evidenciaram a existecircncia de um campo de produccedilatildeo de ferro localizado na
margem esquerda do ribeiratildeo do ferro o qual se mostrou formadas por duas
aacutereas identificadas durante aqueles trabalhos como aacuterea A1 e aacuterea A2
mostradas no Mapa da Figura 8
A aacuterea A1 situada no setor norte do campo apresentou ruiacutenas de uma
edificaccedilatildeo relativamente maior de produccedilatildeo de ferro composto por quatro setores
identificados como Forno (setor A) Forja (setor B) espaccedilo entre a Forja e o Canal
(setor C) e Canal (setor D) espaccedilo sul da estrutura (setor E)
Nessa aacuterea A1 a pesquisa arqueoloacutegica possibilitou as seguintes principais
evidecircncias
(i) ocorrecircncias de escoacuterias de forma disseminada e tambeacutem na forma de
um amontoado junto a parede externa (sul) da Forja
(ii) ocorrecircncias de telhas na aacuterea ao sul das paredes dos setores BC e D
(iii) ocorrecircncias de cravo e lacircminas de metal tambeacutem na aacuterea sul da
estrutura
(iv) ocorrecircncia de ceracircmica neo-brasileira nos setores da forja (B) e do
Forno (A)
(v) ocorrecircncia de faianccedila portuguesa nos setores da Forja (B) e do Forno
(A)
(vi) ocorrecircncia de vidro na parte norte do Forno (setor A) parte externa da
Forja (setor B) e tambeacutem um fragmento no setor E (parte sul da estrutura)
41
(vii) ocorrecircncia de metal na parte interna e externa da Forja (B) na aacuterea E
parte interna da aacuterea (C) e face oeste do Canal (D)
(viii) evidecircncias de esteios nas laterais do Canal (D)
Fig 9 Detalhe da aacuterea A 1 ndash Sitio Afonso Sardinha
42
Fig 10 VISTA GERAL DA AacuteREA A 1 ndash Sitio Afonso Sardinha 1987
Fig 11 VISTA GERAL DA AacuteREA A 2 ndash Siacutetio Afonso Sardinha 1987 Na aacuterea A2 mostrada na figura 12 as pesquisas arqueoloacutegicas
evidenciaram a existecircncia de duas subaacutereas sendo uma denominada de A2-B e a
43
outra de D constituiacuteda de parte de um muro de pedras cuja estrutura natildeo foi
possiacutevel identificar
Fig 12 DETALHE DA AacuteREA A 2 ndash Sitio Afonso Sardinha Na aacuterea A2-B (Morrote) foram observadas as seguintes evidecircncias
(i) ocorrecircncia de dois fornos soterrados sob um Morrote na aacuterea
designada como A2-B
(ii) ocorrecircncia de tijolos telhas e mureta de pedra
44
Na aacuterea D da figura 12 foram observados
(i) mureta de estrutura natildeo identificada
(ii) ocorrecircncia de duas estruturas circulares de natureza natildeo
identificada
(iii) ocorrecircncias de ceracircmicas telhas e tijolos
(iv) Ao sul da aacuterea A2-B observou-se a existecircncia de um muro de
pedra interpretado como sendo parte de um canal tendo ao seu lado duas
estruturas circulares com diacircmetro de 15 m (Figura 13 e 14)
Fig 13 PLANTA MORROTE ndash AacuteREA A2-B 1987
45
Fig 14 MORROTE COM EVIDENCIAS DE ldquoFORNOrdquo AacuteREA A2
46
12 Principais questotildees a serem abordadas no decorrer da Tese Os estudos histoacutericos disponiacuteveis acima apresentados bem como os
resultados das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas conforme descritas nos itens
anteriores permitem relacionar um conjunto de questotildees que consideramos
importantes para esclarecimento do processo de instalaccedilatildeo da Faacutebrica de ferro
em Araccediloiaba (Sitio Afonso Sardinha) no periacuteodo compreendido entre o final do
seacuteculo XVI ao seacuteculo XVIII que antecedeu a instalaccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro
de Ipanema em 1810
Tais questotildees podem ser resumidas conforme seguem
I - Avaliaccedilatildeo dos vestiacutegios arqueoloacutegicos das atividades relacionadas agrave mineraccedilatildeo
e agrave produccedilatildeo de ferro a partir do final do seacuteculo XVI e anteriormente agrave instalaccedilatildeo
da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema em 1810
II - Investigaccedilatildeo das possiacuteveis teacutecnicas de produccedilatildeo e meacutetodos de fundiccedilatildeo de
ferro empregadas em Araccediloiaba no periacuteodo de analise desta tese
III - Caracterizaccedilatildeo de modelos de fornos de fundiccedilatildeo e processos industriais
encontrados na aacuterea do sitio arqueoloacutegico
IV ndash Avaliaccedilatildeo das possiacuteveis causas teacutecnicas e cientiacuteficas relacionadas agraves
dificuldades de produccedilatildeo e de qualidade do ferro produzido em Araccediloiaba
47
CAPITULO 2
A TECNICA DE PRODUCcedilAtildeO DE FERRO NO PERIODO ENTRE OS SEacuteCULOS
XVI AO XVIII
21 Consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia
Uma das primeiras questotildees para conceituar Teacutecnica refere-se agraves anaacutelises
que permitem diferenciaacute-la do conceito moderno de Tecnologia Ruy Gama (1986
p 19) ao analisar essa questatildeo a partir de autores de liacutengua inglesa observa que
o conceito de tecnologia aparece ldquoora como simplesmente sinocircnimo de teacutecnica ou
de conjunto de teacutecnicas alarga-se as vezes para incluir o produto material das
teacutecnicas e outras vezes menos frequumlentes eacute usada como sinocircnimo de saber
associado as teacutecnicas ou como estudo das teacutecnicasrdquo
A partir de 1930 a preocupaccedilatildeo com a Histoacuteria da Teacutecnica vem se
difundido sobretudo por meio das anaacutelises iniciadas por autores franceses como
Marc Bloch Lefevre de Noeumlttes e Lucien Febvre e ingleses como Abbott Payson
Lynn White Jr e Lewis Munford que a transformaram numa ldquonova disciplinardquo
historiograacutefica 15
No Brasil a primeira discussatildeo sobre essa temaacutetica foi apresentada em
1985 com a publicaccedilatildeo do livro Histoacuteria da Teacutecnica e da Tecnologia organizado
por Ruy Gama Este trabalho eacute formado por uma coletacircnea de textos claacutessicos e
de outros produzidos por autores estrangeiros e brasileiros sobre a Histoacuteria da
Teacutecnica da Tecnologia e da Ciecircncia Entre os textos escritos por autores
brasileiros destacam-se os trabalhos de Fernando Luis Lobo Barbosa Carneiro e
de Julio R Katinsky
15 Os Textos em que estes autores discutem o conceito de Teacutecnica e Tecnologia foram publicados no livro Historia da Teacutecnica e da Tecnologia organizado por Ruy Gama (1985)
48
No texto escrito por esse uacuteltimo autor estaacute um Glossaacuterio dos Carpinteiros
de Moinho onde o autor apresenta os resultados de uma pesquisa que fez sobre
os moinhos hidrauacutelicos no Brasil cuja utilizaccedilatildeo eacute bastante frequumlente nas aacutereas
rurais dos Estados de Satildeo Paulo e Sul de Minas Aleacutem disso oferece um
glossaacuterio de termos empregados ldquobasicamente na construccedilatildeo de monjolos
prensas de mandioca engenhocas de accediluacutecar e moinhos hidrauacutelicos de gratildeos
estes uacuteltimos geralmente preparados para produzir quirera ou fubaacuterdquo (KATINSKY1985 p 216)
Aleacutem desses textos a Coletacircnea traz dois artigos do economista alematildeo
Johann Beckmann (1729-1811) considerado ldquoo pai da Tecnologiardquo por haver
firmado aquele conceito em fins do seacuteculo XVIII e instituiacutedo a disciplina de
Tecnologia no ensino da Universidade de Goumlttingen16 Em 1777 publica a obra
Instruccedilatildeo sobre Tecnologia em que firmava o seu conceito de Tecnologia como
ldquoconhecimento dos ofiacutecios faacutebricas e manufaturas especialmente daquelas que
tem contacto estrito com a agricultura a administraccedilatildeo puacuteblica e as ciecircncias
cameraliacutesticasrdquo (GAMA 1985 p6) Na introduccedilatildeo dessa mesma obra Beckmann
escrevia que
A histoacuteria das artes pode dedicar-se a enumeraccedilotildees das
invenccedilotildees ao progresso e ao curso habitual de uma arte ou de
um trabalho manual mas eacute a tecnologia que explica de maneira
completa clara e ordenada todos os trabalhos assim como seus
fundamentos e suas consequumlecircncias (BECKMANN Apud GAMA
1985 p6)
Serge Moscovici em Essai sur lrsquohistorie humaine de la Nature referindo-se
a Beckmann afirma que este autor conscientemente ldquoforja o termo tecnologia
para designar a disciplina que descreve e ordena os ofiacutecios e as induacutestrias
existentesrdquo (MOSCOVICI apud GAMA 1985 p 8)
16 Goumlttingen era uma das mais conhecidas universidades da Europa agrave qual se vinculavam muitos estadistas e funcionaacuterios administrativos da Alemanha
49
Para Beckmann e outros autores de seu tempo a Tecnologia estava
intimamente ligada agrave escola e basicamente agrave uniatildeo dos ldquosaacutebiosrdquo com os
ldquofabricantesrdquo que dominavam o conhecimento teacutecnico numa eacutepoca em que este
mesmo conhecimento comeccedilava a ser objeto de investigaccedilatildeo de academias e
universidades as quais tinham como objetivo a formulaccedilatildeo de uma linguagem
tecnoloacutegica por intermeacutedio da codificaccedilatildeo de conceitos Ressaltamos ainda que
as propostas de Beckmann e esse novo olhar paras as teacutecnicas estavam
voltadas para o atendimento de demandas sociais surgidas com a Revoluccedilatildeo
Industrial
Se a Tecnologia tem a funccedilatildeo de explicar como afirma Beckmann ela
tambeacutem teve seu tempo de formulaccedilatildeo Segundo Ruy Gama o nascimento do
conceito de Tecnologia pode ser situado historicamente no decorrer da Idade
Moderna sendo difundido a partir do seacuteculo XVII Para este autor tal conceito foi
construiacutedo
pari passu ao desenvolvimento do capitalismo e agrave substituiccedilatildeo do
modo de produccedilatildeo feudalcoorporativo e do sistema de
transmissatildeo do conhecimento apoiado na aprendizagem pelo
emprego do trabalho assalariado e pelo sistema escolarizado do
conhecimento (GAMA 1986 p30)
Dessa forma ateacute pelo menos antes do advento da ldquoRevoluccedilatildeo da Ciecircnciardquo
(1789-1848) especialmente pelas descobertas proporcionadas pela Quiacutemica 17
todos os processos de produccedilatildeo eram realizados a partir de conhecimentos
ldquopraacuteticosrdquo e que natildeo eram e natildeo poderiam ser explicados cientificamente Assim
trabalhavam os carpinteiros camponeses mineiros e fundidores de metais e
outros artesatildeos da Idade Meacutedia associando engenhosidade experiecircncia e
habilidade manual ou em outras palavras centrados no ldquomais rude empirismordquo
(USHER 1994 p 465)
17 A Quiacutemica entre todas as ciecircncias ldquofoi a mais iacutentima e imediatamente ligada agrave praacutetica industrial ndash a Revoluccedilatildeo Industrial - especialmente integrada aos processos de tingimento de tecidos e branqueamento da industria tecircxtilrdquo ( HOBSBAWM 1979 p305)
50
Para Milton Vargas a Tecnologia soacute pode ter vigecircncia depois do
estabelecimento da Ciecircncia Moderna 18
principalmente pelo fato de essa cultura ser um saber que apesar
de teoacuterico deve necessariamente ser verificado pela experiecircncia
cientiacutefica Esse aspecto experimental e portanto empiacuterico da
Ciecircncia moderna proveacutem da ideacuteia renascentista de que tudo
aquilo que fora realizado pela tradiccedilatildeo teacutecnica poderia secirc-lo
tambeacutem pela teoria e metodologia cientiacuteficas o que
evidentemente aproxima o saber teoacuterico-cientiacutefico do fazer
empiacuterico da teacutecnica (VARGAS 1994 p 16)
22 O conceito de Teacutecnica Originaacuterio da Greacutecia Claacutessica o conceito de Teacutecnica estava inserindo num
tipo de ldquosaber-fazerrdquo associado a mitos como o de Hefestos (Vulcano para os
romanos) ndash o ferreiro - senhor do fogo e da forja que segundo aquela mitologia
havia revelado o segredo desta Teacutecnica aos homens Desta perspectiva
mitoloacutegica o conceito de Teacutecnica transformou-se num outro tipo saber-fazer o da
ldquotechneacuterdquo um conhecimento empiacuterico que somente pode ser obtido atraveacutes do
aprendizado baseado na experiecircncia ou entatildeo a partir dos ensinamentos
transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
Neste sentido a Techneacute natildeo eacute uma habilidade qualquer ldquomas uma
habilidade que segue certas regras por isso techneacute significa tambeacutem ofiacutecio
pressupotildee a existecircncia de um substrato um saber e um conhecimento na
18 Para Hobsbawm o progresso da ciecircncia natildeo pode ser entendido como um simples ldquoavanccedilo linear cada estaacutegio determinando a soluccedilatildeo de problemas anteriormente impliacutecitos nele e por sua vez colocando novos problemas Estes avanccedilos tambeacutem procedem pela descoberta de novos problemas de novas maneiras de enfocar os antigos de novas maneiras de enfrentar e solucionar velhos problemas de campos de investigaccedilatildeo inteiramente novos de novos instrumentos praacuteticos e teoacutericos de investigaccedilatildeordquo (HOBSBAWM 1979 p 302)
51
execuccedilatildeo de uma atividaderdquo (NADAL 2000 p 18) Esta forma de saber baseada
na loacutegica prolongou-se atraveacutes da Idade Meacutedia e chegou aos nossos dias com o
tiacutetulo de Teacutecnicas Natildeo satildeo teorias satildeo conhecimentos que tanto podem ser
adquiridos pela praacutetica como pelo estudo de tratados teacutecnicos
Entre os seacuteculos XVI e XVII a Ciecircncia ao romper com a tradiccedilatildeo
escolaacutestica19 avanccedila para o caminho da experimentaccedilatildeo com a valorizaccedilatildeo das
artes (teacutecnica) as quais jaacute vinham se transformando em objeto de preocupaccedilatildeo e
de estudo desde a Baixa Idade Meacutedia e o Renascimento ateacute chegar agrave constituiccedilatildeo
da Ciecircncia Moderna (DANTAS 2004)
Contraposta ao pensamento grego e medieval em que a
contemplaccedilatildeo das verdades era a meta do conhecimento sabe-se
que a partir do Renascimento haacute uma valorizaccedilatildeo do
conhecimento praacutetico bem como uma mudanccedila no estatuto do
conhecimento teacutecnico Haacute uma expectativa de intervenccedilatildeo e de
controle da natureza e correlativamente um reconhecimento da
teacutecnica isto eacute das atividades inventos e construccedilotildees dos
praacuteticos engenheiros e artesatildeos Daiacute se falar em uma nova forma
de saber e uma nova figura de douto Haacute no entanto uma seacuterie de
dificuldades para estabelecer as razotildees do surgimento dessa
dimensatildeo ativa e o papel que ocupa no nascimento da ciecircncia
moderna (OLIVEIRA1997 p )
No seacuteculo XV esse movimento de valorizaccedilatildeo do trabalho teacutecnico dos
artesatildeos ligado agrave experimentaccedilatildeo foi amplamente difundido pela divulgaccedilatildeo
daqueles conhecimentos atraveacutes de publicaccedilotildees A partir de 1630 surgiram os
Tratados Teacutecnicos Manuais20 como tambeacutem dicionaacuterios e enciclopeacutedias que se
dedicavam ao levantamento da terminologia das diversas artes das
nomenclaturas teacutecnicas e da descriccedilatildeo dos processos e dos meacutetodos das artes
19 Escolaacutestica movimento cultural e filosoacutefico medieval baseado em grande parte em comentaacuterios da obra do filoacutesofo grego Aristoacuteteles e de cunho puramente contemplativo 20 Na arquitetura por exemplo o estabelecimento desta praacutetica permitiu a difusatildeo das teorias e desenhos imaginados pelos arquitetos renascentistas findando assim a necessidade de construir e realizar obras para exemplificar as ideacuteias arquitetocircnicas
52
mecacircnicas as quais acabaram por solapar o domiacutenio das corporaccedilotildees de ofiacutecios 21 (BARGALLOacute 1955 p47)
A publicaccedilatildeo dos manuais teacutecnicos teraacute uma importacircncia decisiva
na padronizaccedilatildeo de unidades de medida e de representaccedilatildeo O
esforccedilo por se fazer compreender sem a equivocidade do discurso
do senso comum e sem o hermetismo do discurso maacutegico-
religioso reservado aos iniciados eacute uma forma decisiva de
objetivaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo que muito embora seja fundamental
ao empreendimento da ciecircncia nasce como uma necessidade do
desenvolvimento da teacutecnica As exigecircncias da precisatildeo aparecem
na representaccedilatildeo (desenhos graacuteficos etc) e na linguagem
daquele tipo de saber - as artes mecacircnicas - em seus manuais de
modelos de construccedilatildeo nas descriccedilotildees dos aspectos e
proporccedilotildees dos corpos ou no detalhamento do fabrico e do uso de
instrumentos e artefatos Natildeo eacute difiacutecil ver que esse interesse na
divulgaccedilatildeo de conhecimentos potencializado pelo aparecimento
da imprensa tornava necessaacuteria a padronizaccedilatildeo da divulgaccedilatildeo
com uma linguagem mais objetiva e medidas mais precisas
(OLIVEIRA 1997)
Entre os Tratados Teacutecnicos publicados estaacute a obra De pictura (1435)
considerado o primeiro estudo cientiacutefico da perspectiva pelo italiano Leone
Batista Alberti arquiteto literato e escultor (1404-1472) Para Alberti os artistas
deveriam aprender com todos os outros artesatildeos E o caminho para esse
aprendizado segundo ele consistia em conseguir com os proacuteprios artesatildeos os
21 Dos seacuteculos II (dC) ao XV as Artes estavam classificadas em Artes Liberais e Artes Mecacircnicas As Liberais (assim chamadas por serem consideradas dignas do homem livre) estavam associadas agrave Gramaacutetica Retoacuterica Astronomia Loacutegica Aritmeacutetica Muacutesica Quanto agraves Artes Mecacircnicas organizadas nas aacutereas urbanas eram consideradas menos honrosas mais proacuteprias do trabalhador manualservil como Medicina Arquitetura Agricultura Pintura Escultura Olaria Carpintaria Ferraria Cantaria Ofiacutecio de pedreiros etc As corporaccedilotildees de ofiacutecios ateacute entatildeo responsaacuteveis pelo treinamento dos artesatildeos e pelos segredos dos ofiacutecios (os misteacuterios dos misteres) tinham o sistema de aprendizado baseado na transmissatildeo dos conhecimentos teacutecnicos na praacutetica das oficinas ndash o aprender fazendo ndash que encaminhava o aprendiz na sua carreira passando pela categoria de oficial e finalmente pela de mestre isso quando conviesse agrave corporaccedilatildeo ter mais mestre vale dizer mais oficinas no mercado
53
saberes natildeo divulgados ou secretos dos ofiacutecios Para isso orientava os artistas
para frequumlentar as oficinas e outros lugares de trabalho e fazerem perguntas aos
ferreiros pedreiros construtores de barcos e ateacute aos sapateiros Deveriam
tambeacutem frequumlentemente fingir ignoracircncia para descobrir em que o conhecimento
dos outros excedia aos seus (GAMA 1983 p 284-85)
Esse novo caminho da Ciecircncia o da experimentaccedilatildeo encontra no
pensamento do Filoacutesofo inglecircs Francis Bacon (1561-1626) uma de suas
expressotildees teoacutericas Considerado o fundador da ciecircncia experimental moderna
foi tambeacutem o criador do meacutetodo cientiacutefico baseado na observaccedilatildeo e
experimentaccedilatildeo (empirismo) que permitiram o avanccedilo das teacutecnicas que
transformaram a vida do homem campesino e mineiro do seacuteculo XVII (GAMA
1983 p34)
Em linhas gerais Bacon ldquorejeitou a separaccedilatildeo e a oposiccedilatildeo vigentes nas
filosofias tradicionais entre teoria e praacutetica entre loacutegica e operaccedilotildees reais entre
verdade e utilidaderdquo (GAMA 1983 p 33)
Interpretou essas oposiccedilotildees como oriundas das condiccedilotildees
histoacutericas e sociais bem determinadas que valorizavam a
contemplaccedilatildeo ndash a verdade em sua pureza ndash e que desprezavam
tudo o que fosse ligado agraves atividades praacuteticas e materiais Por
tudo isso preocupou-se em realccedilar tanto quanto fosse necessaacuterio
a importacircncia dos fatores materiais no desenvolvimento da
filosofia e da cultura E a partir daiacute sustenta a identidade entre
verdade e utilidade teoria e atividade operativa conhecer e fazer
e afirma que qualquer separaccedilatildeo e contraposiccedilatildeo entre esses
termos cria obstaacuteculos intransponiacuteveis de resultados efetivos e
eficientes (GAMA1983 p33-34)
54
23 A valorizaccedilatildeo do conhecimento teacutecnico e a ciecircncia experimental moderna Com o nascimento da Ciecircncia Experimental a teacutecnica artesanal e os
procedimentos teacutecnicos ligados agraves Artes Mecacircnicas passaram a ser os meios que
permitiriam o progresso da ciecircncia e o avanccedilo do saber
Joan Luis Vives (1492-1540) filoacutesofo e preceptor da corte inglesa assim
como o italiano Leone Alberti defendia que o homem culto natildeo devia
envergonhar-se de entrar nas oficinas e perguntar aos artesatildeos pelas teacutecnicas
que empregavam em suas artes Vives em sua obra De Tradendis Disciplinis
convidava os estudiosos europeus a prestar grande atenccedilatildeo aos problemas
teacutecnicos relativos agrave construccedilatildeo das maacutequinas agrave agricultura agrave tecelagem agrave
navegaccedilatildeo Advertia ainda que devessem deitar os olhos sobre o trabalho dos
artesatildeos para tentar saber onde e como essas artes foram inventadas buscadas
desenvolvidas conservadas e como aplicaacute-las Dessa forma segundo Vives
(1531 apud ROSSI 1989 p 24) o homem venceria seu tradicional desdeacutem por
aquilo que considerava como conhecimento vulgar o dos artesatildeos22
Nota-se tambeacutem que esse movimento o de valorizaccedilatildeo do saber teacutecnico
nasce no acircmbito das Academias e Associaccedilotildees vinculadas a esta nova
perspectiva de Ciecircncia e natildeo nas Universidades que permaneceram ateacute finais do
seacuteculo XVIII com poucas alteraccedilotildees metodoloacutegicas Entre os novos centros de
conhecimento estavam a Academia dei Lincei en Roma (1603) a Accademia del
Cimento en Florenccedila (1657) a Royal Society de Londres (1660) a Acadeacutemie des
Sciences de Paris (1666) aleacutem de Escolas Artesanais entatildeo criadas que
conjugavam na Ciecircncia Empiacuterica a alianccedila entre o saber (ciecircncia) e o fazer
22 Dentro desta mesma perspectiva devem ser acrescentar as obras do jaacute citado Francis Bacon Harvey Galileu e Boyle que valorizavam a experimentaccedilatildeo e a observaccedilatildeo da natureza reformulando as concepccedilotildees cientiacuteficas e reconhecendo a importacircncia das teacutecnicas e da praacutetica para a Ciecircncia
55
(teacutecnica) Na Espanha por exemplo cria-se uma escola de mineiros exercitados
em teacutecnicas sobretudo nas teacutecnicas metaluacutergicas 23
Assim podemos afirmar que naquele momento entrar no mundo do
conhecimento teacutecnico representava entrar no mundo das corporaccedilotildees de ofiacutecios
desvendando os segredos por meio da apropriaccedilatildeo do saber teacutecnico e da
linguagem utilizada pelos artesatildeos para a realizaccedilatildeo de seus ofiacutecios Para Ruy
Gama A que parece o domiacutenio dos segredos da linguagem dos artesatildeos
foi a porta pela qual se entrou no domiacutenio dos proacuteprios segredos
dos ofiacutecios Dentre os misteacuterios dos misteres a linguagem foi a
primeira a ser desvendada decifrada e jogada na rua pelas portas
e janelas arrombadas das oficinas ndash numa espeacutecie de accedilatildeo de
despejo ndash para ser vista por todo mundo (GAMA 1986 p 48)
Nas escolas artesanais surge a Tecnologia como disciplina curricular A
institucionalizaccedilatildeo deste saber permitiu que aqueles conhecimentos teacutecnicos
fossem reunidos estruturados e sistematizados e dessa forma transmitidos a um
nuacutemero cada vez maior de pessoas (GAMA 1994 p 54)
2 4 A Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica
Apesar de toda a diferenciaccedilatildeo jaacute feita entre os conceitos de Teacutecnica e
Tecnologia estes termos satildeo frequumlentemente utilizados como sinocircnimos Autores
da liacutengua ingleses natildeo fazem esta distinccedilatildeo pois consideram entre outros
aspectos que a Histoacuteria da Teacutecnica e a Histoacuteria da Tecnologia apresentam seus
campos embaralhados e sua periodizaccedilatildeo extremamente difiacutecil de definir Lynn
White Jr historiador econocircmico e medievalista americano por exemplo afirma
que a Tecnologia natildeo conhece fronteiras cronoloacutegicas e geograacuteficas pois entende
Tecnologia como o ldquoconjunto de todas as Teacutecnicasrdquo e ldquoas maneiras pelas quais as
56
pessoas fazem coisasrdquo (GAMA 1985 p 14) Mas segundo Ruy Gama esta
definiccedilatildeo natildeo permite nem o estabelecimento de uma fronteira histoacuterico-
cronoloacutegica e nem geograacutefica para situar o ldquonascimentordquo do conceito jaacute que Lynn
o emprega como sinocircnimo de Histoacuteria do Trabalho e dessa forma permite
empregar o termo Tecnologia para todas as realizaccedilotildees e obras materiais dos
povos (GAMA 1985 p 14-15)
Essa concepccedilatildeo de Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica desenvolve-se
num contexto em que entre outros aspectos a Arqueologia e a Histoacuteria
passavam por reformulaccedilotildees conceituais A Arqueologia passava a revelar nos
anos 40 do seacuteculo XX novos documentos materiais relacionados a civilizaccedilotildees da
Ameacuterica preacute-colombiana que supunha-se natildeo conheciam a escrita (pesquisas
atuais comeccedilam a demonstrar que a conheciam) e tampouco a roda elementos
considerados naquele periacuteodo indicadores para qualificar o niacutevel de progresso
teacutecnico de uma determinada sociedade que poderia ser considerada como
ldquoavanccediladardquo ou ldquoatrasadardquo Essas descobertas levaram a uma reavaliaccedilatildeo nas
ideacuteias de progresso e civilizaccedilatildeo e na forma de olhar outras sociedades deixando
de centrar as anaacutelises somente no ldquoeixo tradicional etnocecircntrico europeurdquo (GAMA
1985 p 14-15)
Quanto agrave Histoacuteria o nascimento de uma nova escola historiograacutefica a
Histoacuteria Nova surgida na Franccedila na primeira metade do seacuteculo XX daacute um novo
enfoque teoacuterico-metodoloacutegico agrave pesquisa histoacuterica voltada para a anaacutelise do
cotidiano Esta nova tendecircncia amplia a noccedilatildeo de documento aproximando a
Histoacuteria das demais Ciecircncias Humanas entre elas a Arqueologia possibilitando
nos anos 60 do seacuteculo XX uma ldquoverdadeira Revoluccedilatildeo Documentalrdquo que permitiu
nas anaacutelises historiograacuteficas a incorporaccedilatildeo dos documentos natildeo-escritos -
cultura material ndash viabilizando o estudo das sociedades que natildeo possuiacuteam a
escrita para registrar sua Histoacuteria
Para a divulgaccedilatildeo desse novo conceito de documento Lucien Febvre
idealizou no periacuteodo entre as duas primeiras guerras uma revista de Histoacuteria que
57
seria fundada mais tarde em parceria com Marc Bloch com o nome de Annales
drsquoHistorie Economique et Sociale os ldquoAnnalesrdquo Para Febvre ao analisar o
trabalho do historiador a partir da noccedilatildeo ampliada de documento afirma que
A Historia faz-se com documentos escritos sem duacutevida Quando
estes existem Mas pode fazer-se deve fazer-se sem documentos
escritos quando natildeo existem Com tudo o que a habilidade do
historiador lhe permite utilizar para fabricar o seu mel na falta das
flores habituais Logo com palavras signos paisagens e telhas
Com as formas do campo e ervas daninhas Com os eclipses da
lua e a atrelagem dos cavalos de tiro Com os exames de pedras
feitos pelos geoacutelogos e com a anaacutelise de metais feitas pelos
quiacutemicos Numa palavra com tudo o que pertencente ao homem
depende do homem serve ao homem exprime o homem
demonstra a presenccedila a actividade os gostos e as maneiras de
ser do homem
Toda uma parte e sem duacutevida a mais apaixonante do nosso
trabalho de historiadores natildeo consistiraacute num esforccedilo constante
para fazer falar as coisas mudas para fazecirc-las dizer o que elas
por si proacuteprias natildeo dizem sobre os homens sobre as sociedades
que as produziram e para constituir finalmente entre elas aquela
vasta rede de solidariedade e de entre-ajuda que supre a
ausecircncia do documento escritordquo (FEBVRE 1953 p 428 apud
GOFF 1984 p 98)
Para conceituar Teacutecnica e Tecnologia recorremos tambeacutem ao Dicionaacuterio
das Ciecircncias Sociais de Alain Birou segundo o qual Teacutecnica significa
O conjunto de regras praacuteticas para fazer coisas determinadas
envolvendo a habilidade do executor e transmitidas verbalmente
por exemplo no uso das matildeos dos instrumentos e ferramentas e
das maacutequinas Alarga-se frequumlentemente o conceito para nele
incluir o conjunto dos processos de uma ciecircncia arte ou ofiacutecio
para obtenccedilatildeo de um resultado determinado com o melhor
rendimento possiacutevel (GAMA 1986 p 30)
58
Para este mesmo dicionaacuterio Tecnologia eacute
O estudo e conhecimento cientiacutefico das operaccedilotildees teacutecnicas ou da
teacutecnica Compreende o estudo sistemaacutetico dos instrumentos das
ferramentas e das maacutequinas empregadas nos diversos ramos da
teacutecnica dos gestos de trabalho e dos custos dos materiais e da
energia empregada A tecnologia implica na aplicaccedilatildeo dos meacutetodos
das ciecircncias fiacutesicas e naturais e como assinala Alan Birou tambeacutem
na comunicaccedilatildeo desses conhecimentos pelo ensino teacutecnico
(GAMA 1986 p 30)
Diante dessas consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia salientamos
que neste trabalho pretendemos a partir da Arqueologia Histoacuterica contribuir
para a Histoacuteria da Teacutecnica no periacuteodo colonial brasileiro especialmente no que
diz respeito agraves teacutecnicas relacionadas agrave mineraccedilatildeo e agrave metalurgia
No periacuteodo analisado entre os seacuteculos XVI e XVIII todos os trabalhos
relacionados agravequelas atividades estavam baseados no puro empirismo no saber-
fazer e nas experiecircncias praacuteticas daqueles trabalhadores que sabiam realizar as
operaccedilotildees de fundiccedilatildeo de forma praacutetica mas natildeo tinham instrumentos para
explicaacute-los Somente com o advento da Ciecircncia Moderna especialmente com a
Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute que aqueles mineiros e fundidores puderam compreender
as operaccedilotildees produtivas que realizavam
Assim assumimos a periodizaccedilatildeo proposta por Ruy Gama ao considerar
Teacutecnica e Tecnologia como categorias distintas e portanto que a Histoacuteria da
Teacutecnica natildeo coincide com a Histoacuteria da Tecnologia
59
25 A teacutecnica de produccedilatildeo do ferro no periacuteodo entre os seacuteculo XVI ao XVIII
Los antiguos herrreros descubrieron que si martillaban
repetidamente y recalentaban una y otra vez en fuego de carboacuten
un trozo de mineral de hierro al rojo obteniacutean un metal
extremamente fuerte y duro ndash hierro forjado (CARDWELL 1994
p 33)
Antes do conhecimento dos metais eram aproveitadas ldquotreze diferentes
espeacutecies minerais todas do grupo natildeo-metaacutelicos denominadas calcedocircnia (chert
e siacutelex) quartzo cristal de rocha jaspe serpentina pirita calcita ametista
fluorita esteatita acircmbar e obsidianardquo (GUIMARAtildeES1981p22) A estes minerais
natildeo metaacutelicos pode-se acrescentar a utilizaccedilatildeo de ldquopigmentos minerais usados
para ornamentos e pintura constituiacutedos de argila e oacutexidos metaacutelicos coloridos
embora alguns objetos feitos especialmente de cobre tenham sido encontrados e
datados de aproximadamente 9000 aC (GUIMARAtildeES 1981 p 22)
Atribui-se o iniacutecio do aproveitamento dos mineacuterios para a extraccedilatildeo de
metais entre os anos de 6000 a 5000 aC Admite-se que o cobre teria sido o
primeiro metal produzido pelo homem depois o bronze (uma liga metaacutelica de
estanho e cobre) Na mesma eacutepoca tambeacutem se passou a utilizar o chumbo e por
uacuteltimo o ferro Na chamada ldquoIdade do Ferrordquo houve tambeacutem a difusatildeo da
fabricaccedilatildeo do vidro e do mercuacuterio
Pesquisas arqueoloacutegicas em aacutereas mineiras da Europa tem possibilitado
revisotildees do conhecimento relacionado a natureza das mateacuterias-primas
empregadas na extraccedilatildeo do ferro Tradicionalmente sustentava-se a ideacuteia de que
a mateacuteria-prima com que se confeccionavam os primeiros objetos de ferro teria
origem em meteoritos Esta teoria se aplicava particularmente aos objetos
fabricados com ferro rico em niacutequel Atualmente pesquisas na aacuterea da
paleometalurgia demonstram que a origem de associaccedilotildees do ferro com outros
60
metais ocorre em razatildeo da composiccedilatildeo quiacutemica natural dos minerais utilizados
para a produccedilatildeo destes materiais (FAUS 2000 p 27)
O ferro como alguns outros metais natildeo eacute encontrado na natureza em
forma pura sendo que nestas condiccedilotildees encontra-se sempre combinado com
outros elementos formando oacutexidos carbonatos silicatos e sulfatos Para a
produccedilatildeo do ferro satildeo utilizados mineacuterios sobretudo os oacutexidos tais como a
hematita (Fe2O3) e a magnetita (Fe3O4) 24 Outros mineacuterios de menor importacircncia
para a produccedilatildeo tambeacutem contecircm ferro tais como a Siderita (FeCO3) Limonita
(Fe3O4) Pirita (FeS2) e a (Cromita FeOCr2O3) ( LABOURIAU 1928 p 95-110)
Os termos ldquomineralrdquo ldquomineacuteriordquo e ldquometalrdquo precisam ser esclarecidos para que
se possa compreender a forma da produccedilatildeo do ferro
Mineral eacute uma substacircncia formada em resultado da interaccedilatildeo de
processos geoloacutegicos em ambientes geoloacutegicos naturais Os minerais variam na
sua composiccedilatildeo desde elementos quiacutemicos em estado puro ou quase puro e
sais simples a silicatos complexos com milhares de formas conhecidas
(LABOURIAU 1928 p 95-96)
Mineacuterio eacute toda substacircncia natural da qual se possa fazer a extraccedilatildeo de
algum metal (como a hematita e a magnetita) Assim um mineacuterio eacute sempre uma
substacircncia mineral Entretanto nem todo mineral eacute mineacuterio pois alguns minerais
natildeo permitem a extraccedilatildeo de metais como exemplo pode-se citar a pirita (sulfeto
de ferro) um mineral que eacute aproveitado para a fabricaccedilatildeo do aacutecido sulfuacuterico mas
que natildeo permite a extraccedilatildeo do metal nele contido (o ferro) Por conseguinte a
perita eacute um mineral uacutetil mas natildeo eacute um mineacuterio (LABOURIAU 1928 p 95-96)
Metal cada um de um grande grupo de substancias simples obtidas a
partir de mineacuterios
24 A magnetita eacute assim denominada devido ao seu magnetismo natural eacute um mineral de cor preta acinzentada ou avermelhada com brilho metaacutelico de formula quiacutemica (Fe3O4)
61
Para a extraccedilatildeo do ferro dos seus mineacuterios (geralmente oacutexidos feacuterricos
como a hematita) foram desenvolvidas desde a Antiguumlidade teacutecnicas de fundiccedilatildeo
destes materiais por reduccedilatildeo que utilizavam carvatildeo de madeira como redutor
Entretanto variava de uma regiatildeo para outra o tipo do forno e forma de colocaccedilatildeo
do mineacuterio e do carvatildeo no seu interior
Elena Faus referindo ao caso da tradiccedilatildeo basca defende que ateacute o seacuteculo
XIX os avanccedilos dos meacutetodos de fundiccedilatildeo do ferro tecircm decorrido independentes
da investigaccedilatildeo cientiacutefica Para esta autora esses avanccedilos teacutecnicos foram
realizados por ldquouma multitud anoacutenima de individuos de talento formados a la
sombra del teller protagoniza la Historia de la Tecnologia Son analfabetos y no
han conocido ninguacuten tipo de ensentildeanzardquo (FAUS 2000 p 51) O aprimoramento
da teacutecnica de fundiccedilatildeo podia entatildeo ser considerado como uma sucessatildeo de
ldquoinventosrdquo de artesatildeos que na determinaccedilatildeo em resolver as dificuldades que
surgiam inventaram teacutecnicas de fundiccedilatildeo a partir de experiecircncias praacuteticas pelo
uacutenico meacutetodo que conheciam o da praacutexis do ensaio e erro (FAUS 2000 p51)
Toda a produccedilatildeo do ferro estava fundamentada em conhecimentos
teacutecnicos baseados na praacutetica e que eram conhecimentos secretos restritos aos
membros da respectiva corporaccedilatildeo de ofiacutecio Ateacute a ldquorevoluccedilatildeo da Quiacutemicardquo no
seacuteculo XVIII natildeo havia nenhum conhecimento que pudesse explicar de forma
cientiacutefica o processo em que ocorria a reduccedilatildeo do mineacuterio em metal Soacute a partir
daiacute foi possiacutevel por exemplo explicar a atuaccedilatildeo de um elemento o Carbono
obtido pela queima do carvatildeo vegetal no processo produtivo do ferro Na Franccedila
em 1722 o cientista Reneacute Reacuteaumur concluiu que a diferenccedila entre as distintas
qualidades do ferro e do accedilo resultava da incorporaccedilatildeo de uma substacircncia
material Em 1786 na Sueacutecia os matemaacuteticos Vandermonde e Berthollet e o
quiacutemico Monge confirmaram esta hipoacutetese e identificaram o elemento o
Carbono o mesmo procedente da queima do carvatildeo de madeira utilizado desde
a antiguidade na fabricaccedilatildeo (FAUS 2000 p 21-22)
62
Com o aprimoramento da teacutecnica de fabricaccedilatildeo do ferro descobriu-se
tambeacutem a forma de se produzir accedilo sendo que sua difusatildeo promoveu a
emergecircncia de instrumentos e ferramentas completamente novas dando prestiacutegio
a todos aqueles que dominavam a teacutecnica dos metais Dessa forma o ferro e
depois o accedilo foi empregado na fabricaccedilatildeo de uma diversificada variedade de
instrumentos que anteriormente eram confeccionados com madeira ou pedra
transformando assim a metalurgia em uma teacutecnica extremamente estrateacutegica
Para Donald Cardwel
la metalurgiacutea hizo posibles instrumentos y herramientas completamente nuevos ndash y anteriormente inimaginables - La
importancia fundamental de la metalurgiacutea y el prestigio de los
trabajadores expertos en el metal quedan confirmados como
sentildealaba Samuel Smiles por la frecuencia del apellido Smith
(lsquoHerrerorsquo) Ademaacutes la palabra Smith es de origen noacuterdico o
germacircnico lo cual da una clave para entender la localizacioacuten de
los primitivos centros del trabajo del metal en el occidente
europeo (CARDWEL 1994 p 34 grifo nosso)
A crescente demanda de objetos e utensiacutelios feitos de ferro proporcionou o
aprimoramento das teacutecnicas de fundiccedilatildeo como tambeacutem da especializaccedilatildeo
daquele trabalho
Na Espanha por exemplo os espaccedilos destinados a produccedilatildeo de ferro
foram se especializando Um desses espaccedilos era denominado de ferrarias
maiores que se especializaram na fundiccedilatildeo dos mineacuterios para a obtenccedilatildeo de
metal e outras denominadas de ferrarias menores dedicavam-se aacute manufatura
desse metal ou seja transformando-o em barras ou laminas para fabricar entre
outros produtos instrumentos e acessoacuterios agriacutecolas (ferraduras) armas
(espadas) e materiais construtivos (cravos) etc ( FERNANDEZ p 5)
63
Desde o iniacutecio da metalurgia tem-se buscado tambeacutem a maneira pela qual
os fornos pudessem alcanccedilar temperaturas cada vez elevadas pois para que se
possa retirar o ferro do mineacuterio de forma que fosse possiacutevel o aproveitamento de
todo metal nele existente a temperatura do forno deve se elevar aleacutem de 1535ordmC
ponto de fusatildeo daquele metal
Contudo os primeiros fornos empregados para a reduccedilatildeo com a utilizaccedilatildeo
de carvatildeo vegetal alcanccedilavam apenas temperaturas que variavam entre 1200ordmC
e 1300ordmC insuficientes para a fusatildeo completa e portanto o ferro obtido com
aquela temperatura natildeo era retirado do forno em estado liacutequido e sim em estado
pastoso A essa temperatura (12001300ordm C) o mineacuterio de ferro transformava-se
em uma ldquomassa esponjosardquo repleta de impurezas (escoacuterias que ainda
apresentavam uma significativa quantidade de ferro na sua composiccedilatildeo) Essa
massa era entatildeo colocada sobre uma bigorna e por meio de martelamento
manual ou mecacircnico retiravam-se as escoacuterias que ainda permaneciam grudadas
naquela massa compactando-a e dando forma ao metal
Labouriau ao explicar a accedilatildeo do carvatildeo vegetal durante o processo de
reduccedilatildeo explica que o carvatildeo vegetal em contato com o oxigecircnio da atmosfera
queima produzindo calor formando o gaacutes carbocircnico (CO e CO2) Esse CO2 entatildeo
ao reagir com uma parte do carvatildeo passa para CO e que esse CO juntamente
com uma parte do carvatildeo retira o oxigecircnio do mineacuterio e fica o ferro ligado a um
pouco de Carbonordquo (LABOURIAU 1928 p 146)
Essa teacutecnica de produccedilatildeo de ferro ficou conhecida como ldquoprocesso Diretordquo
ou ldquomeacutetodo de reduccedilatildeo diretardquo e o ferro produzido era o ldquoferro docerdquo Ateacute o seacuteculo
XV com o aparecimento do alto-forno esta era a uacutenica teacutecnica conhecida e
empregada na produccedilatildeo daquele metal No alto-forno o ferro atingia
temperaturas mais elevadas possibilitando uma maior absorccedilatildeo de carbono do
carvatildeo vegetal transformando-se em gusa (ferro-gusa ou ferro fundido) que saiacutea
64
do forno no estado liquido incandescente25 No seacuteculo XVI o alto forno foi
aperfeiccediloado na Alemanha e na Aacuteustria com o aparecimento do Stueckofen (alto-
forno) construiacutedos de alvenaria
Com a utilizaccedilatildeo do alto-forno e com a obtenccedilatildeo do ferro em sua forma
liacutequida foram possiacuteveis as produccedilotildees de armas de fogo balas de canhatildeo sinos
de igreja e mais tarde a fabricaccedilatildeo de adornos para as residecircncias tais como
grades enfim produtos que puderam ser produzidos a partir do ferro liacutequido
deitado em moldes
26 Fornos de fundiccedilatildeo de ferro Segundo Jordi Maluquer Motes no iniacutecio da metalurgia utilizavam-se
pequenos fornos (fornos baixos) para extraccedilatildeo do metal (ferro) os quais natildeo
eram mais que uma cavidade ciliacutendica escavada no terreno ou em uma rocha
Contudo a forma e o tamanho dos fornos foram mudando ao longo do tempo e
de simples cavidades escavadas no chatildeo os fornos comeccedilaram a ganhar ao
redor daquele ciacuterculo paredes de argila refrataacuteria o que permitia fazer fornadas
maiores aumentando assim a produccedilatildeo Contudo todos eles ateacute o advento do
alto-forno produziam por meio da reduccedilatildeo direta o ferro em estado pastoso O
produto (ferro) que ficava no interior do forno apoacutes a fundiccedilatildeo do mineacuterio era
chamado de massa de ferro patildeo de ferro ou lupa (MALUQUER DE MOTES
1983 p21)
25 No Brasil o alto-forno foi construiacutedo apenas no iniacutecio do seacuteculo XIX na Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema quando este estabelecimento estava sob a direccedilatildeo de Hedberg
65
Fig 15 CORTE ESQUEMAacuteTICO DE UM FORNO DE FUNDICcedilAtildeO ndash Forno
baixo26 Natildeo haacute descriccedilotildees detalhadas acerca desses fornos primitivos mas
vestiacutegios encontrados em vaacuterias partes da Europa como em Illasheim
(Alemanha) indicam que estes fornos apresentavam uma planta circular No
centro da Europa outros fornos construiacutedos pelos Celtas tambeacutem apresentavam
reduzidas dimensotildees Os fornos Celtas tinham em meacutedia 35 a 50 cm de
diacircmetro com uma profundidade de 45 a 50 cm Sobre uma base levantavam o
forno propriamente dito construiacutedo por uma parede ciliacutendrica de argila medindo
entre 60 a 100cm Os Celtas chegaram a desenvolver teacutecnicas eficientes de
aceramento (conversatildeo do ferro em accedilo) como por exemplo na Suiacuteccedila onde a
produccedilatildeo de espadas ganhou fama por sua resistecircncia (FAUS 2000 p 32-34)
Fornos ruacutesticos tambeacutem foram encontrados em Bengala Aacutefrica
denominados de fornos africanos ou fornos iacutendios Eram fornos ciliacutendricos e
confeccionados em areia ferruginosa mal amassada sustentada por uma
armadura de bambu Tinham dimensotildees de 090m de altura com um diacircmetro de
030m A base do forno era furada em vaacuterios lugares e colocava-se um fole em
cada uma das aberturas exceto na grade da frente (orifiacutecio pelo qual eram
26 Disponiacutevel em La Farga Rossel lthttpwwwfargarosseladcaslafarga21434htmgt
66
retiradas as escoacuterias) o que dava em geral um total de sete foles por forno
(FAUS 2000 p 50)
Fig 16 MAQUETE FORNO CELTA ndash forno baixo27
Durante o periacuteodo de dominaccedilatildeo romana Roma passou a controlar toda a
exploraccedilatildeo do ouro prata e ferro produzidos em seu impeacuterio Para a produccedilatildeo
desse uacuteltimo metal empregavam teacutecnicas de fundiccedilatildeo utilizando-se dos
chamados fornos romanos As ferrarias romanas eram constituiacutedas de ldquoum
montatildeo de fornosrdquo construiacutedos com barro e palha (RODRIGUES 1964 p11)
27 Disponiacutevel em Exposition 2000 ans de meacutetallurgie en Nivernais des Gaulois agrave Ariane ltjprostclubfravgexpo2003htmlgt
67
Fig 17 FORNO ROMANO RODRIGUES (1964 p 12)
Neste mesmo periacuteodo homens bascos dos redutos resistentes agrave
dominaccedilatildeo romana continuaram a produzir o ferro por meacutetodos de fundiccedilatildeo que
haviam aprendido com seus ancestrais utilizando os chamados ldquofornos de ventordquo
os quais podem ser relacionados agrave primeira fase da elaboraccedilatildeo do ferro As
instalaccedilotildees que utilizavam esses fornos passaram a ser conhecida como ferrarias
secas de montanha de vento Habitualmente os fornos dessas ferrarias eram
construiacutedos em aacutereas montanhosas em pontos elevados a fim de aproveitar a
forccedila dos ventos para ativar a combustatildeo do carvatildeo vegetal (FAUS 2000 p 47)
68
Fig 18 Fornos de vento ou de lupa28
Fig 19 FORNOS DE LUPA OU DE VENTO corte esquemaacutetico
28 Disponiacutevel em La Farga Rossel lthttpwwwfargarosseladcaslafarga21434htmgt
69
Para Jordi Maluquer de Motes a maior dificuldade de operaccedilatildeo da
combustatildeo era o controle das temperaturas do forno sendo que o grande
segredo para a utilizaccedilatildeo desses fornos de vento era a adequada posiccedilatildeo em que
este era instalado e tambeacutem a correta utilizaccedilatildeo dos meios artificiais empregados
na ativaccedilatildeo da combustatildeo do carvatildeo vegetal tal como o emprego de foles
manuais feitos de peles de animais Esse procedimento requeria um esforccedilo
bastante grande de trabalho humano natildeo apenas no acionamento do fole como
tambeacutem para as operaccedilotildees de martelamento da massa de ferro que se formava
no interior do forno (MALUQUER DE MOTES 1983 p 21)
Por utilizarem esta teacutecnica de reduccedilatildeo as ferrarias de vento geralmente
ficavam instaladas em regiotildees distantes dos povoados o que tambeacutem levava um
significativo nuacutemero de fundidores e mineiros a passar parte de suas vidas
distantes daqueles povoados Esse distanciamento suscitou ateacute mesmo o
surgimento de mitos e faacutebulas conforme aponta Elena Faus (2000) que
enriqueceram a cultura popular europeacuteia em especial a cultura basca
Las maravailhas del arte de aquellos seres ton solo por ellos
conocidos les hizo mecedores de leyendas Muchas de ellas les
han sobrevivido y han pasado a integrar el bagaje mitoloacutegico de la
cultura vasca
El velo de magia que enturbiaba la figura de los ferrones se
time en ocasiones de un cierto cariz de condena religiosa Se les
identifica con los lsquogentilesrsquo reacios a la evangelizacioacuten o con el
proprio demonio (lsquosentildeor de los bosquesrsquo o lsquobasejaunrsquo) en persona
(FAUS 2000 p 47)
Outros tipos de fornos de vento ou de montanha foram encontrados na
Ameacuterica Espanhola Em Potosi na atual Boliacutevia os indiacutegenas utilizavam um tipo
de forno para a fabricaccedilatildeo da prata denominado de ldquoforno de guairardquo Estes
fornos mesmo apoacutes a conquista espanhola em Potosiacute foram aproveitados para a
produccedilatildeo daquele metal (BARGALLOacute 1955 p 91)
70
Fig 20 FORNO DE GUAIRA ndash utilizado em Potosi Boliacutevia29
Aleacutem desses fornos de montanha que utilizavam a corrente de ar da
proacutepria atmosfera para acionar a combustatildeo do carvatildeo havia tambeacutem outros
tipos de fornos de fundiccedilatildeo acionados com o emprego de foles manuais Esses
fornos ficaram conhecidos por vaacuterias denominaccedilotildees e podiam ser construiacutedos de
formas e tamanhos diferentes Contudo todos eles apresentavam as mesmas
caracteriacutesticas teacutecnicas eram fornos baixos acionados por foles manuais e que
produziam o ferro utilizando o meacutetodo direto de fundiccedilatildeo Entre esses fornos
destacam os fornos de cuba de lupa de manga e castelhanos (BARGALLOacute
1955 p 91)
29Proyecto Arqueoloacutegico Porco-Potosi Disponiacutevel httplamarcolostateedu~mvanburespanish20participantshtm
71
Fig 21 Forno de Fundiccedilatildeo xilogravura de George Agriacutecola seacutec XVI30
Fig 22 Forno de Fundiccedilatildeo xilogravura de George Agriacutecola seacutec XVI31
30 Disponiacutevel em lttechnologyinfominecomdrmbook11htmgt Acesso em 17nov06
72
Tratados Teacutecnicos publicados no seacuteculo XVI como o De re metallica de
George Agriacutecola oferecerem descriccedilotildees e desenhos atraveacutes dos quais eacute possiacutevel
conhecer algumas formas daqueles fornos A partir de algumas gravuras ali
publicadas eacute possiacutevel identificar que os mesmos habitualmente eram construiacutedos
sobre uma base quadrada e eram utilizados na produccedilatildeo muitos metais como o
cobre o ouro prata e tambeacutem o ferro Esses fornos registrados por Agriacutecola
eram especialmente destinados para a fundiccedilatildeo de minerais em pedra Na
Ameacuterica Espanhola receberam o nome de ldquofornos castelhanosrdquo
Um outro autor a abordar esse tema foi Aacutelvaro Alonso Barba No seu
tratado Arte de los Metales afirmava que os fornos castelhanos eram utilizados
tambeacutem em outras partes do mundo A descriccedilatildeo que faz Barba do uso desses
fornos no Peru eacute por si soacute bastante didaacutetica para compreender o seu
funcionamento
Llaman en este reyno hornos castellanos a los que en las otras
trecircs partes del mundo han sido usados y comunes para la
fabricacioacuten de toda suerte de metales De ellos solos trata el
Agriacutecola para este efecto y es una la faacutebrica de todos y no
difieren en mas que en se mayores o menores y tener la boca
por onde el metal fundido sale oacute abierta siempre oacute cerrada a
ratos como se diraacute adelante Levaacutentense estos hornos a
perpendiculo en forma de um pilar quadrado algo maacutes largo que
anchos por lo hueco Tienen de alto algunos una vara otros casi
dos y otros menos seguacuten la grandeza de los fuelles con que
huviere de fundirse y la facilidad oacute dureza de los metales
requiere Por la parte de atraacutes en una ventanilla que para esto se
dexa en la pared algo levantada del suelo se afixa el alchrebiz en
que han de estar los cantildeones de fuelle puesto con advertencia
31 Disponiacutevel em httpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablePrimitivas_instalacionespdfgt Acesso em 17nov06
73
de que no assome oacute passe aacute lo hueco del horno porque las
escorias que sobre eacutel cayeren helaacutendose con el ayre del sopro
no lo paten oacute impidan El suelo del horno se hace de dos partes
de carbon molido y una de tierra buena bien apretado con pisoacuten
Assientase pendiente azia la parte delantera donde tendraacute un
agujero por onde corra el metal fundido y salgan las escorias aacute
una hordilla que junto aacute el estaraacute bien caliente con carbones
encendidos con a llama del horno y aire del fuelle que sale por el
dicho agujero
Otros hacen estos hornos redondos mas anchos de arriba
que de abajo y son menores para lo que se pretende con que se
tenga advertecircncia que siempre este a perpendiculo la parede se
pone el fuelle porque el metal fundido o las escorias no caygan
sobre la boca del alchrebiz y la tanpenrdquo (BARBA 1640 Apud
BARGALLOacute 1955 p 93)
Entre os seacuteculos XII e XVI a teacutecnica de fundiccedilatildeo do ferro experimentou um
notaacutevel impulso em razatildeo da demanda por derivados de ferro incrementada tanto
pelas guerras que necessitavam de ferragens para as montarias apetrechos
defensivos para os soldados e armas mortiacuteferas como por instrumentos para a
agricultura Tambeacutem para a construccedilatildeo das grandes catedrais era necessaacuterio
ferro para as armaccedilotildees metaacutelicas cravos ferramentas entre outros (FAUS 2000
p52)
Para atender a estas demandas era necessaacuterio que se produzisse a maior
quantidade possiacutevel de ferro e os fornos baixos que eram anteriormente
utilizados natildeo atendiam aqueles objetivos Para tanto natildeo apenas os fornos
foram tomando outras formas como tambeacutem houve uma mecanizaccedilatildeo por meio
da utilizaccedilatildeo da energia hidraacuteulica (rodas drsquo aacutegua verticais) e da trompa hidraacuteulica
no processo produtivo tornando obsoletas as ferrarias que utilizavam a forccedila
humana e animal para a produccedilatildeo
A importacircncia da mecanizaccedilatildeo na produccedilatildeo do ferro com o uso da roda
hidraacuteulica e da trompa foi tanta que para alguns autores pode-se consideraacute-la
74
como uma autecircntica revoluccedilatildeo tecnoloacutegica (MALUQUER DE MOTES 1984 p 21-
24)
A aplicaccedilatildeo desse mecanismo (roda drsquoaacutegua) ao processo produtivo fez
com que as ferrarias que anteriormente ficavam concentradas no alto de
montanhas fossem trasladadas para as margens de rios buscando a energia
hidraacuteulica capaz de acionar primeiramente dos foles possibilitando a construccedilatildeo
de fornos de maiores dimensotildees e dessa maneira a produccedilatildeo do ferro em maior
escala
Depois dos foles a roda drsquoaacutegua foi utilizada para a mecanizaccedilatildeo do
acionamento dos malhos (grandes martelos responsaacuteveis por liberarem as
escoacuterias das massas de ferro dando-lhes formas que pudessem ser
comercializaacuteveis como o ferro em barra) A funccedilatildeo da trompa era a mesma dos
foles isto eacute insulflar ar ao interior do forno para que a combustatildeo alcanccedilasse
uma temperatura elevada A trompa era um engenhoso sistema de insuflar ar e
tambeacutem o elemento mais caracteriacutestico do procedimento conhecido como da
ldquofarga catalatilderdquo ou forno catalatildeo
O primeiro emprego da roda drsquoaacutegua vertical na produccedilatildeo de ferro foi
introduzido na regiatildeo correspondente aos Pirineus Catalatildees Neste local
desenvolveu-se uma instalaccedilatildeo destinada a produzir ferro denominado de
ldquofaacutebriques ou faacutebreguesrdquo que depois passou a ser conhecida como ldquofarguesrdquo ou
ldquofargardquo (o termo era usado tanto para descrever os lugares onde era obtido o ferro
como seu processamento) A partir do seacuteculo XIV o emprego da roda foi
difundido na regiatildeo basca ndash Espanha favorecida pelos trecircs elementos
fundamentais necessaacuterios para a sua instalaccedilatildeo a geografia da regiatildeo formada
por um territoacuterio montanhoso com a presenccedila de um significativo nuacutemero de rios
as jazidas de ferro e a floresta que fornecia o carvatildeo vegetal o uacutenico combustiacutevel
utilizado naquele processo ateacute o seacuteculo XVIII32
32 Com a Revoluccedilatildeo Industrial do seacuteculo XVIII passaram a utilizar como combustiacutevel o carvatildeo coque
75
Na Catalunha junto com o desenvolvimento das ldquofargasrdquo aprimoraram-se
tanto as teacutecnicas relacionadas agrave construccedilatildeo dos fornos como ao seu sistema de
funcionamento que ficou famoso no mundo todo como procedimento da ldquoforja
Catalatilderdquo ou ldquoprocedimento catalatildeordquo (MOLERA BARRUECO1983 p11)
A forja Catalatilde ou forno catalatildeo foi um sistema intermediaacuterio entre os fornos
baixo e os altos fornos utilizados atualmente Essa teacutecnica dominou todo o
processo de obtenccedilatildeo do ferro e accedilo durante a Idade Meacutedia espalhando-se para
a Alemanha Aacuteustria Inglaterra Franccedila e Itaacutelia Desde a Idade Meacutedia ateacute finais do
seacuteculo XIX esses paiacuteses entre outros conseguiam produzir ferro mediante aquele
sistema conhecido universalmente como ldquoprocedimento Catalatildeordquo
O periacuteodo aacuteureo do emprego da forja catalatilde se daacute entre os seacuteculos XVII e
XVIII devido sobretudo agrave introduccedilatildeo de um outro mecanismo em substituiccedilatildeo
aos foles acionados pela roda hidraacuteulica a ldquotrompa de aacuteguardquo (sistema empregado
par injetar ar no forno) Desenvolvido na Itaacutelia este novo equipamento se difunde
pelas regiotildees dos Pirineus da peniacutensula Ibeacuterica e foi assimilado pelas
manufaturas catalatildes ateacute o ponto de integraacute-las como uma das caracteriacutesticas do
meacutetodo que leva o nome de ldquofarga catalanardquo ou forno catalatildeo Jaacute nas ferrarias
bascas a trompa de aacutegua natildeo foi amplamente difundida prevalecendo a
utilizaccedilatildeo de rodas drsquoaacutegua para o acionamento de foles e do malho ( MALUQUER
DE MOTES 1983 p 23)
76
Fig 23 ARRANJO DE ldquoFARGA CATALANArdquo OBSERVAR USO DE RODA DrsquoAacuteGUA PARA ACIONAMENTO DO MALHO E A PRESENCcedilA DA TROMPA HIDRAacuteULICA JUNTO AO FORNO33
33 Folheto Museu de Ripoll sd
77
No interior das ldquofargas catalanasrdquo o forno era a parte mais importante Os
fornos de fundiccedilatildeo catalatildees diferentemente dos fornos de vento tinham uma
forma tronco-cocircnica isto eacute ldquouma forma de um tronco de piracircmide invertidardquo
(MALUQUER DE MOTES 1983 p 22) O forno era construiacutedo de pedras
refrataacuterias revestidas em parte de peccedilas de ferro com trecircs paredes planas e
uma convexa esta uacuteltima destinada a facilitar a extraccedilatildeo do produto final (massa)
A parede onde era colocada a ldquotoverardquo (entrada do fole) era oposta agrave convexa e
esta era feita de ferro numa inclinaccedilatildeo de 35o a 45o Em uma das paredes
laterais havia um buraco que deixava passar as escoacuterias liacutequidas
(MOLERABARRUECO1983 p13)
Fig 24 ELEMENTOS QUE COMPOtildeEM A OFICINA DA ldquoFARGA CATALANArdquo Observa- se a presenccedila do forno de fundiccedilatildeo e do malhos acionados por roda drsquoaacutegua34
34 Caderno de Apoio para visitante do Museu de Ripoll ndash Catalunha Espanha sd
78
Um outro aprimoramento teacutecnico do meacutetodo catalatildeo foi a forma como
passaram a carregar o forno Deixando para traacutes o meacutetodo anteriormente
conhecido que consistia em carregar o forno em camadas horizontais superpostas
com carvatildeo vegetal e mineacuterio os catalatildees passaram a carregar o forno por meio
de duas camadas verticais justapostas De um lado do forno (aquele em que
estava instalado o fole) era colocado o combustiacutevel (carvatildeo) de tal maneira que o
oacutexido de carbono que se desprendia da queima era forccedilado a atravessar a coluna
do mineacuterio (que estava disposta em uma outra coluna localizada junto agrave parede
oposta agrave do fole)
A produccedilatildeo do ferro ainda se realizava por meio do meacutetodo de produccedilatildeo
direta Sendo assim ainda se mantinha o processo de martelamento da massa de
ferro por meio do malho (que tambeacutem ficava instalado dentro daquele
estabelecimento) para a obtenccedilatildeo do produto final O meacutetodo catalatildeo natildeo apenas
melhorou a qualidade do produto final mas tambeacutem proporcionou o aumento da
produccedilatildeo
27 Tratados Teacutecnicos de Metalurgia
Entre os seacuteculos XV e XVI arquitetos engenheiros meacutedicos e artesatildeos e
outros publicaram inuacutemeros tratados voltados para os ofiacutecios mecacircnicos ou ldquoArtes
Mecacircnicasrdquo Essa literatura eacute extraordinariamente rica em Tratados de caraacuteter
teacutecnico que podem ser considerados autecircnticos manuais e representaram uma
contribuiccedilatildeo decisiva entre o saber cientiacutefico e saber teacutecnico-artesanal os quais
tiveram um grande efeito no nascimento da cooperaccedilatildeo entre cientistas e teacutecnicos
e entre ciecircncia e induacutestria (ROSSI 1989 p 30)
79
Entre as obras de caraacuteter teacutecnico publicadas naquele periacuteodo destacam-
se os escritos de Brunelleschi Ghiberti Peiro della Francesca Leonardo Cellini
Paolo Lomazzo o trabalho sobre as maacutequinas de guerra de
Konrad Keyser (1366-1405) os tratados teacutecnicos de Fontana
(1420) e Mariano (1438) as obras sobre arquitetura de Leon
Batista Alberti Filarete Francesco di Giorgio Martini Palladio o
livro sobre maquinas militares de Valturio da Rimini (publicado em
1472 reeditado em Verona em 1482 e 1483 em Bolonha em
1483 em Veneza em 1493 e nada menos que quatro vezes em
Paris entre 1532 e 1555) os dois tratados de Duumlrer sobre a
geometria descritivas e as fortificaccedilotildees (1525 e 1527) a
Pirotechnia de Biringuccio (1540) depois reeditada em duas
ediccedilotildees latinas trecircs francesas e quatro italianas) a obra de
baliacutestica de Nicolograve Tartaglia (1537) os dois tratados de
engenharia mineral de Georg Agriacutecola (1546-1556) o Teatro di
macchine de Besson (1569 depois traduzido para o francecircs e o
espanhol) os Mechanicorum libri de Guidobaldo Del Monte
(1577) as Diverse et artificiose macchine de Agostinho Ramelli
(1588) os trecircs livros sobre mecacircnica de Simon Stevin (1586
traduzido do flamengo para o francecircs em 1634) a obra sobre
fortificaccedilotildees de Lorini (1597) os trabalhos de arte da navegaccedilatildeo
de Willian Barlowe (1597) Thomas Harriot (1594) e Robert Hucs
(1599) (ROSSI 1989 p30-31)
Entre os tratados relacionados com a metalurgia e a mineraccedilatildeo
destacamos a De La Pirotechinia considerado o primeiro livro impresso dedicado
agrave metalurgia foi escrito pelo italiano Vannoccio Biringuccio (ca 1480-1539) e
publicado pela primeira vez em 1540 Adepto do empirismo Birunguccio
escreveu esse tratado baseado nas observaccedilotildees diretas do ofiacutecio que havia
adquirido durante as vaacuterias visitas que fez a Alemanha35 onde se destacava o
desenvolvimento de teacutecnicas de exploraccedilatildeo de minas de prata e tambeacutem de
35 Biringuccio visitou a Alemanha em 1516 e entre 1526 e 1529
80
equipamentos que possibilitavam a construccedilatildeo de tuacuteneis e galerias para a
exploraccedilatildeo do subsolo36
Embora tivesse sido publicado na Alemanha no iniacutecio do seacuteculo XVI de
forma anocircnima um conjunto de manuais teacutecnicos sobre o ensaio de metais a
obra de Biringuccio era mais ambiciosa explicava como descobrirem minerais e
veios a maneira de separar o ouro e a prata as teacutecnicas de ensaio e as
propriedades do cobre o zinco e outros metais Analisava aleacutem disso as
propriedades do mercuacuterio do enxofre do antimocircnio e de outros elementos
utilizados no processo de extraccedilatildeo do ouro e prata como tambeacutem os meacutetodos de
obtenccedilatildeo do accedilo aleacutem de apresentar ilustraccedilotildees sobre fundiccedilotildees de canhotildees e
sinos a fabricaccedilatildeo de objetos piroteacutecnicos e algumas poucas informaccedilotildees sobre
mineraccedilatildeo geologia e mineralogia (CARDWELL 1994 p 76)
Um outro tratado importante foi escrito pelo alematildeo Georg Bauer (1494-
1555) conhecido pela forma latina de seu nome como Georgius Agriacutecola Depois
de estudar em Leipzig Bolonha e Veneza foi em 1527 exercer a profissatildeo de
meacutedico em Joachimstal na Boemia a maior aacuterea mineira na eacutepoca Agricola
passou a maior parte de sua vida estudando mineralogia e geologia entre 1546 e
1556 escreveu dois tratados destacando a mineraccedilatildeo e a siderurgia
Em 1546 publicou dois tratados sistemaacuteticos de geologia e mineralogia a
De ortu et causis subterraneorum e a De natura fossilium os quais lhe conferiram
a designaccedilatildeo de ldquoPai da Mineralogiardquo37 O seu trabalho mais importante e de
maior divulgaccedilatildeo foi publicado em 1556 com o tiacutetulo de De Re Metallica - A Arte
dos Metais - o qual serviu como obra teacutecnica de mineraccedilatildeo durante quase dois
seacuteculos seguintes aquela primeira publicaccedilatildeo
36 A Alemanha havia desenvolvido importantes teacutecnicas de mineraccedilatildeo que foram intensificadas pelo contiacutenuo intercacircmbio de experiecircncias com a Hungria e a Sueacutecia 37 Georgius Bauer Agricola (1494-1555) cientista alematildeo considerado o fundador da mineralogia Foi um dos primeiros cientistas que baseou suas teorias na observaccedilatildeo em vez da especulaccedilatildeo Antes dele podemos destacar Alberto Magno (1193-1280) conhecido como Preacute-Tecnoacutelogo escreveu a obra De mineralibus que constitui natildeo somente uma histoacuteria dos mineralogia como tambeacutem uma descriccedilatildeo dos metais
81
O conteuacutedo do livro De Re Metallica estava baseado no estudo das coisas
materiais realizado por meio da observaccedilatildeo descriccedilatildeo sistemaacutetica analiacutetica e
meticulosa da natureza A transcriccedilatildeo dessas observaccedilotildees natildeo requeria apenas a
confecccedilatildeo de textos descritivos mas tambeacutem de ilustraccedilotildees com as quais
procuravam traduzir os conhecimentos obtidos pela observaccedilatildeo em imagens
graacuteficas as mais compreensiacuteveis possiacuteveis (ROSSI 1989 p 52)
Agriacutecola ao escrever a introduccedilatildeo desse tratado esclarecia ao leitor como
havia concebido a sua obra e as dificuldades que enfrentou para concluiacute-la
Diz ele Grandiacutessima fadiga e solicitude realmente aqui coloquei e ainda
algumas boas despesas porque natildeo escrevi simplesmente os
veios os instrumentos os canais as maacutequinas e as fornalhas
mas ainda agraves minhas expensas assalariei os pintores para fazer
seus retratos naturais a fim de que as coisas natildeo conhecidas que
satildeo apresentadas com palavras natildeo tragam real dificuldade agraves
pessoas de hoje ou de tempos vindouros (ROSSI 1989 p 51)
Os retratos naturais referidos por Agriacutecola eram as xilogravuras que
ilustravam as suas obras A partir dessas imagens era possiacutevel visualizar com
exatidatildeo de detalhes as dimensotildees sobre equipamentos instrumentos e teacutecnicas
empregadas na prospecccedilatildeo no processo de fundiccedilatildeo e orientaccedilotildees sobre o uso
da energia hidraacuteulica nas operaccedilotildees mineiras enfim as ilustraccedilotildees traziam
detalhes sobre praticamente todas as etapas das operaccedilotildees mineiras isto eacute
prospecccedilatildeo administraccedilatildeo beneficiamento e transporte de mineacuterios 38
Na segunda parte daquele mesmo livro o autor dedica-se ao ensaio e
tratamento dos minerais Como Biringuccio Agricola mostrava criacutetica e desprezo
pelo trabalho realizado pelos alquimistas Uma de suas criacuteticas referia-se ao
38Agricola demonstra neste Tratado o funcionamento de sete tipos diferentes de bombas de succcedilatildeo incluindo uma bomba muacuteltipla acionada por uma grande roda hidraacuteulica e uma bomba combinada de succcedilatildeo e impelente (bomba impelente bomba que eleva a aacutegua por meio de pressatildeo exercida sobre o liacutequido)
82
meacutetodo empregado por estes na busca de metais enterrados O uso da
radiestesia por meio do emprego de uma vara ou forquilha feita com galhos de
aacutervores era considerado por Bauer apenas uma arte da adivinhaccedilatildeo derivada da
magia antiga e que somente poderia ser e era utilizada por mineiros simples e
ordinaacuterios
A Ameacuterica Espanhola foi tambeacutem palco para a produccedilatildeo do conhecimento
relacionado agrave metalurgia Em 1640 Aacutelvaro Alonso Barba padre em Potosiacute e que
havia aperfeiccediloado o meacutetodo de amalgamaccedilatildeo39 desenvolvido por Bartolomeacute de
Medina (Beneficio de Patio)40 publicou a partir de experiecircncias proacuteprias com a
produccedilatildeo de prata naquele local o livro Arte de los Metales O livro de Barba foi o
primeiro trabalho em que se registrou o processo de amalgamaccedilatildeo por mercuacuterio
que ficou conhecido como ldquomeacutetodo de cazo y cocimientordquo (realizado por meio do
calor dentro de reservatoacuterio de cobre) Este livro foi o primeiro trabalho em que se
registraram as regras para beneficiamento de ouro e prata com a utilizaccedilatildeo do
mercuacuterio
39 Amalgamaccedilatildeo Operaccedilatildeo que consiste em ligar o mercuacuterio a outro metal ou separar o ouro e a prata da ganga por meio do mercuacuterio 40 O ldquobenefiacutecio de paacutetiordquo foi assim denominado pois toda a operaccedilatildeo de produccedilatildeo de prata era realizada em um paacutetio Consistia basicamente em mesclar a Mena (metal) moiacuteda e uacutemida com sal comum e mercuacuterio Esse meacutetodo era menos custoso que aqueles que eram utilizados e seu uso se prolongou ateacute o seacuteculo XIX
83
CAPITULO 3
HISTOacuteRICO DA MINERACcedilAtildeO NO BRASIL NO PERIacuteODO COLONIAL A Histoacuteria das primeiras expediccedilotildees no Brasil mostra que desde o inicio do
seacuteculo XVI jaacute havia uma preocupaccedilatildeo permanente aleacutem do reconhecimento do
novo territoacuterio na busca de metais e pedras preciosas que eram produtos de alto
valor econocircmico e poliacutetico aleacutem do interesse estrateacutegico
Durante os primeiros trinta anos de colonizaccedilatildeo do Brasil Portugal estava
voltado para a exploraccedilatildeo dos produtos da Aacutefrica e Iacutendia inclusive de metais
sendo que esta experiecircncia se reflete nas primeiras expediccedilotildees quando se
constata a preocupaccedilatildeo com a descoberta de metais nobres (ouro e prata)
conforme se demonstra nos itens que seguem
Embora a busca por metais fosse uma constante as exploraccedilotildees durante
a primeira metade do seacuteculo XVI resultaram a descoberta de produtos vegetais
(pau-brasil) e animais exoacuteticos (araras e papagaios) 41
Somente com a descoberta da prata na serra de Potosi em 1545 pelos
espanhoacuteis ficou comprovada a existecircncia de metais nobres no novo continente
31 As primeiras expediccedilotildees mariacutetimas a busca de metais nobres A primeira expediccedilatildeo portuguesa destinada ao reconhecimento do litoral do
Brasil partiu de Lisboa entre os anos 1501-02 sob o comando de Gonccedilalo Coelho
e pelo florentino Ameacuterico Vespuacutecio (cosmoacutegrafo contratado pela Coroa
Portuguesa) Apoacutes terem passado pelos atuais estados do Rio Grande do Norte
Bahia e Rio de Janeiro os navios desembarcaram em janeiro de 1502 numa ilha 41 O pau-brasil era extraiacutedo no litoral compreendido desde o atual Estado do Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro
84
que denominaram Cananeacuteia42 Este local tornou-se na primeira metade do seacuteculo
XVI importante posto avanccedilado responsaacutevel pelo abastecimento de
embarcaccedilotildees que mais tarde passaram a rumar para o sul do continente com o
objetivo de reconhecimento e busca de riquezas minerais
Em 1514 Portugal enviou uma outra expediccedilatildeo ao sul desta vez chefiada
por Joatildeo de Lisboa e Estevatildeo Frois financiada D Nuno Manuel e Cristoacutevatildeo de
Haro em cujo trajeto estava Cananeacuteia e a Ilha de Satildeo Francisco do Sul (Santa
Catarina) Esta expediccedilatildeo descobriu o estuaacuterio do rio que denominaram de Rio da
Prata Os resultados dessa expediccedilatildeo foram informaccedilotildees dadas pelos nativos
(Charruas) sobre a existecircncia de uma ldquoSerra de Pratardquo fato que deve ter
impulsionado o envio da expediccedilatildeo espanhola para o sul de Cananeacuteia em 1515
chefiada por Juan Diaz de Soacutelis (VIANNA 1972 p 54)
Entre 1521 e 1526 Aleixo Garcia junto com outros remanescentes da
expediccedilatildeo de Soacutelis e mais iacutendios guaranis partiram da Costa dos Patos (Santa
Catarina) indo aleacutem do rio paraguay e do Chaco obtendo riquezas perdidas na
viagem de regresso (VIANNA 1972 p 214)
Em 1530 parte de Lisboa a expediccedilatildeo de Martim Afonso de Souza uma
das mais importantes expediccedilotildees portuguesas Tinha como objetivos expulsar do
litoral os franceses que traficavam pau-brasil reconhecer a extensatildeo da costa
pertencente a Portugal promover a ocupaccedilatildeo do territoacuterio criando fortificaccedilotildees
em pontos de interesse estrateacutegico e especialmente explorar o rio da Prata 43
42 Cananeacuteia era local de fronteira entre as terras de Portugal e Espanha estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas (1494) 43 A expediccedilatildeo de Martim Afonso se diferenciou das anteriores pelo fato de ter D Joatildeo III investido estes comandantes de poderes especiais aplicados sobretudo em Satildeo Vicente Entre eles permitia-se a Martim Afonso distribuir terras em sesmarias criar instrumentos juriacutedicos que permitiram o registro de propriedades atraveacutes da instalaccedilatildeo dos tabelionatos e a elevaccedilatildeo de povoados para a condiccedilatildeo de vilas o que possibilitou a instalaccedilatildeo de um processo colonizador na regiatildeo Sobre a expediccedilatildeo ver VIANNA Helio Historia do Brasil Satildeo Paulo Melhoramentos 1970 p56-61
85
Um dos fatos importantes resultantes da vinda dessas expediccedilotildees foi a
integraccedilatildeo do Porto de Satildeo Vicente44 juntamente com Cananeacuteia na rota de
navegaccedilatildeo para o sul do continente Estes portos serviam para abastecer as
embarcaccedilotildees e ali era possiacutevel contratar os ldquoliacutenguasrdquo 45
Em 1532 quando Martim Afonso chegou a Satildeo Vicente encontrou um
nuacutecleo formado por portugueses espanhoacuteis indiacutegenas Essa localidade tambeacutem
jaacute era conhecida como a porta de entrada para o sertatildeo e o caminho natural para
se ir agrave Serra da Prata atraveacutes dos Peabirus (ver item abaixo)
32 O Peabiru uma trilha para o Sertatildeo Tendo em vista a importacircncia da existecircncia de caminhos indiacutegenas
denominados Peabirus como facilitadores da interligaccedilatildeo da Vila de Satildeo Paulo
(Campos de Piratininga) com a regiatildeo onde se localiza o morro de Araccediloiaba
entendemos ser importante discorrer a respeito destas vias
A respeito desse sistema de caminhos escreveu Adolpho Pinto em 1902
() havia estradas extensas construiacutedas pelo gentio comunicando
vaacuterios pontos do litoral com o mais longiacutenquo interior do paiz
podendo-se mesmo dizer que figurava como tronco desse primitivo
sistema de viaccedilatildeo geral uma grande estrada pondo em ligaccedilatildeo as
tribus da naccedilatildeo Guarany da bacia do Paraguay com a tribu dos 44Satildeo Vicente segundo Washington Luiacutes ldquojaacute era um porto conhecido com lugar marcado nos rudimentares mapas da eacutepoca uma espeacutecie de pequena feitoria portuguesa de iniciativa particular visitada de esquadras para o trafico de escravos se forneciam viveres agrave navegaccedilatildeo de longo curso se construiacuteam bergantins e se contratavam liacutenguas da terrardquo LUIZ Washington Na Capitania de Satildeo Vicente Satildeo Paulo Livraria Martins Editora1956 p47 A povoaccedilatildeo de Satildeo Vicente foi elevada agrave condiccedilatildeo de Vila em 1532 com a instalaccedilatildeo de oacutergatildeos administrativos e poliacuteticos como a Cacircmara e Cadeia transformando-a no primeiro nuacutecleo de colonizaccedilatildeo portuguesa do litoral 45 Os liacutenguas eram aqueles versados na liacutengua indiacutegena O Tupi era falado em Satildeo Paulo ateacute meados do seacuteculo XVIII Segundo John Monteiro ldquoo domiacutenio da liacutengua geral ou qualquer outra liacutengua indiacutegena era consideraacutevel uma respeitaacutevel especializaccedilatildeo e a fluecircncia numa dessas liacutenguas limitava-se apenas aos maiores sertanistasrdquo MONTEIRO John Negros da Terra iacutendios e bandeirantes nas origens de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1994 p164
86
Patos do litoral de Santa Catarina com os Carijoacutes de Iguape e
Cananeacuteia e com as tribus de Piratininga e do litoral proacuteximo
(GONCcedilALVES 1998 p8)
Em Satildeo Vicente o Peabiru constituiacutea o acesso obrigatoacuterio que do mar
seguia para os sertotildees do Planalto de Piratininga Construiacutedo de acordo com a
teacutecnica e a tradiccedilatildeo indiacutegena seguia os espigotildees dos morros de modo a evitar
terrenos iacutengremes embora em alguns trechos fossem inevitaacuteveis as encostas
com fortes declividades ((GONCcedilALVES 1998 p6 )
A partir do Planalto de Piratininga seguindo para o interior rumo ao Oeste
o caminho que levava ateacute a regiatildeo das minas de ferro era um Peabiru cuja trilha
contornava os morros do Apotribu no municiacutepio de Itu e alcanccedilava o morro de
Araccediloiaba no atual municiacutepio de Iperoacute interior de Satildeo Paulo
87
Fig 24 Peabiru (Tronco) Passando por Sorocaba (Galdino 2002 p182)
88
Fig 25 Mapa de Pasquale Petrone (GONCcedilALVES1998 p42)
89
33 O descobrimento da prata em Potosi
Em 1545 a Espanha anunciou o descobrimento na regiatildeo denominada de
Alto Peru (atualmente territoacuterio boliviano) de uma montanha denominada de
Potosi com 600 metros de altura onde ocorria uma importante jazida de prata
Diferentemente do que acreditavam portugueses e espanhoacuteis Potosi natildeo estava
localizada nem nas proximidades do rio da Prata nem na regiatildeo sul do continente
onde esperavam descobrir aquela lendaacuteria riqueza
Sergio Buarque de Holanda (1959 p 58) ao discorrer sobre aquela
descoberta escreve ldquotamanho era o prestiacutegio de Potosi que em pouco tempo a
velha atraccedilatildeo do ouro parece suceder facilmente a da pratardquo O ldquofeiticcedilo do Perurdquo
desencadeou um novo direcionamento da poliacutetica portuguesa com um maior
interesse da Coroa Portuguesa nos negoacutecios do Brasil e particularmente na
Capitania de Satildeo Vicente
Para dar maior incremento ao povoamento do interior foi instituiacutedo o
sistema de distribuiccedilatildeo de terras (Sesmarias) Uma dessas sesmarias foi doada a
Afonso Sardinha bandeirante que se destacou na atividade mineradora e
tambeacutem na vida poliacutetica da Vila de Satildeo Paulo na comercializaccedilatildeo com a regiatildeo
do Rio da Prata como proprietaacuterio de engenho de accediluacutecar traficante de escravos
africanos investidor financiador e produtor de ferro Foi um dos financiadores da
instalaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro que comeccedila a funcionar em 1607 46
Acreditava-se que o ldquoCerro de Potosirdquo natildeo ficava muito longe das terras da
Coroa Portuguesa sendo este um dos motivos que impulsionavam as ldquopessoas a
continuarem as buscas em direccedilatildeo do Oeste apesar dos repetidos
desapontamentosrdquo (BOXER 2002 p 45)
46 Afonso Sardinha recebeu suas terras de sesmarias no lugar denominado de Ubataacute abrangendo o atual Butantatilde que eacute o Ubataacute citado por Pedro Taques ou Ibatata Batata ou Ibitatatilde em documentos municipais seiscentistas e setecentistas HOLANDA Sergio Buarque de Caminhos e Fronteiras 1957 p 188
90
Um dos caminhos Peabiru que partindo de Satildeo Vicente demandava o
Potosi passava pela Vila de Satildeo Paulo e seguindo a direccedilatildeo Oeste contornava o
morro de Araccediloiaba onde em finais do seacuteculo XVI iniciou-se a produccedilatildeo de ferro
seguindo para a regiatildeo do Guairaacute (atual Estado do Paranaacute) ateacute alcanccedilar as terras
castelhanas
Pode-se dizer que a esperanccedila de encontrar minas de prata um Potosi em
terras de Satildeo Vicente persistiu ateacute o iniacutecio do seacuteculo XVIII quando de fato
foram encontradas minas de ouro pelos paulistas na regiatildeo dos atuais Estados de
Minas Gerais Mato Grosso e Goiaacutes 47
34 A busca de metais nobres na Capitania de Satildeo Vicente
Desde meados do seacuteculo XVI jaacute corriam notiacutecias sobre a possiacutevel
existecircncia de riquezas minerais no interior da Capitania Joseacute de Anchieta em
carta escrita em Satildeo Paulo de Piratininga em 1554 dava as primeiras
informaccedilotildees sobre as descobertas de minas de ouro prata e ferro48 Neste
mesmo ano o jesuiacuteta Pero Correa tambeacutem destacava a descoberta de mina de
ferro proacutexima daquele local 49
47 As minas de ouro localizadas pelos paulistas foram disputadas tambeacutem por portugueses e baianos e todos reivindicavam aquela descoberta Essa disputa culminou na chamada Guerra dos Emboabas na qual os paulistas foram derrotados As descobertas das minas de Mato Grosso e Goiaacutes marcaram o iniacutecio das monccedilotildees expediccedilotildees fluviais regulares que faziam a comunicaccedilatildeo entre Satildeo Paulo e Cuiabaacute O ouro encontrado onde hoje se ergue a cidade de Cuiabaacute foi achado por escravos do sorocabano Miguel Sutil em 1722 Sobre as Monccedilotildees ver HOLANDA Sergio Buarque de Monccedilotildees Rio de Janeiro Casa do estudante do Brasil 1945 48 Ver Carta do quadrimestre de maio a setembro de 1554 dirigida por Joseacute de Anchieta a Santo Ignaacutecio de Loyola Roma In Minhas Cartas por Joseacute de Anchieta Publicaccedilatildeo 450 anos p 153 49 Carta do Irmatildeo Pero Correa escrita a um padre do Brasil In CARTAS Avulsas 1550-1568Azpilculta Navarro e outros Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Edusp 1988 p 163-165
91
A respeito da pesquisa mineral na Capitania de Satildeo Vicente Heacutelio Vianna
escreve que com a intenccedilatildeo de investigar a existecircncia daquelas riquezas
ldquo() mandou o governo portuguecircs em 1559 um mineiro praacutetico
Luis Martins Por ordem do Governador Men de Saacute no ano
seguinte em Satildeo Vicente partiu ele para indeterminados pontos
do interior em uma leva organizada e dirigida por Braacutes Cubas
Regressando este a Santos em 1562 com algumas amostras de
metais e pedras que enviou ao Reino fez com que no mesmo
ano o mineiro voltasse as suas pesquisas Natildeo muito longe
ainda em terras vicentinas em Jaraguaacute talvez em Caatiba hoje
Bacaetava encontrou afinal o desejado ouro Explorou-o
inicialmente o proacuteprio Braz Cubas depois associado ao Capitatildeo
Mor Jerocircnimo Leitatildeordquo (VIANNA 1972 p 215)
35 D Francisco de Souza a organizaccedilatildeo da exploraccedilatildeo mineral De 1598 eacute a primeira referencia a ldquocertos lsquomontes de Sabaroasonrsquo de
onde um mameluco teria extraido amostras de metal que levadas a Bahia ao
Governador D Francisco de Sousa determinaram a vinda deste a Satildeo Vicenterdquo (VIANNA 1972 p 215)
D Francisco de Sousa Seacutetimo Governador Geral do Brasil (1591-1602) e
a partir de 1606 Governador das Minas das Capitanias do Sul 50 promoveu e
organizou vaacuterias expediccedilotildees ao sertatildeo destinadas a descobrir e explorar minas de
ouro e prata e outros metais Tais atividades eram apresentadas como parte de
50 As Capitanias do Sul correspondiam agraves Capitanias do Espiacuterito Santo Rio de Janeiro e Satildeo Vicente
92
seu projeto de desenvolvimento no qual tambeacutem estava inserido o setor de
agricultura e induacutestria sustentado com base no trabalho indiacutegena 51
A sua maior contribuiccedilatildeo decorre do fato de ter exercido o cargo de
Governador das Minas e de ter se fixado na Capitania de Satildeo Vicente mais
especificamente na Vila de Satildeo Paulo de onde provinham as notiacutecias da
existecircncia de minas de ouro prata e ferro
D Francisco veio para Satildeo Paulo munido de poderes que lhe permitiam
distribuir mercecircs agravequeles que tivessem trabalhado na exploraccedilatildeo das minas
Conforme o Regimento que jaacute vigorava no Peru e nas Iacutendias de Castela o
explorador haveria de aplicar seus proacuteprios recursos na busca e exploraccedilatildeo das
jazidas A contrapartida que poderia ser dada pelo Rei estava no fornecimento
de algumas comodidades e mercecircs (STELLA 2000 p 119)
Atraveacutes de Alvaraacutes D Francisco podia nomear uma quantidade
determinada de pessoas com tiacutetulos de nobreza Estas atribuiccedilotildees fizeram com
que muitos moradores da Vila de Satildeo Paulo despendessem de seus proacuteprios
recursos materiais e de indiacutegenas para organizar expediccedilotildees em buscas daqueles
metais
Em 1599 D Francisco esteve no morro de Araccediloiaba para verificar a
autenticidade e a natureza daquela mina que diziam ter ferro ouro e prata Para
viajar ateacute aquele local enfrentando toda a sorte de perigos D Francisco precisou
solicitar ajuda dos moradores de Satildeo Paulo 52
51 Quando no Cargo de Governador Geral Francisco de Souza conduzido pela esperanccedila de encontrar na regiatildeo das cabeceiras do rio Satildeo Francisco a lendaacuteria Sabarabuccediluacute (uma serra de prata e esmeraldas) organizou em 1596 trecircs entradas ao sertatildeo com saiacutedas da Bahia Espiacuterito Santo e Satildeo Paulo respectivamente A vertente paulista foi chefiada por Joatildeo Pereira de Sousa Botafogo e contava com 25 colonos e seus respectivos iacutendios A maioria desta expediccedilatildeo regressou a Satildeo Paulo ldquosatisfeita com os tupinambaacutes que haviam capturado no vale do Paraiacutebardquo MONTEIROJohn Negros da Terra iacutendios e bandeirantes nas origens de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1994 p 58-68 52 PEREIRA Antonio Batista Carta a Paulo Duarte apud Donato Hernani Sumeacute e Peabiru misteacuterios maiores do seacuteculo da descoberta SP ediccedilotildees GRD 1997 p91
93
Aracy Amaral ao analisar a gestatildeo de D Francisco de Sousa como
Governador das Minas das Capitanias do Sul opina que esse administrador
() representa o veiacuteculo que transportou para Satildeo Paulo uma
experiecircncia uma mentalidade que Castela desde haacute muito
desenvolvia no Meacutexico e no Peru As concessotildees e privileacutegios que
obteve do Rei faziam parte de uma legislaccedilatildeo empregada com
sucesso naqueles domiacutenios Essa nova mentalidade estava
intimamente relacionada com os negoacutecios da mineraccedilatildeo e esse jaacute
chamado de ldquoeldorado-maniacuteacordquo que foi D Francisco tambeacutem
denominado por Taunay de ldquopropulsor dos paulistasrdquo seguia sem
duacutevida a diretriz apontada pelos Felipes (AMARAL 1981 p 13)
Apoacutes a Restauraccedilatildeo Portuguesa em 1640 as buscas pelo ouro e pela
prata permaneceram assim como as concessotildees de mercecircs para aqueles que
descobrissem minas ou incentivassem outros a descobri-las Para Ilana Blaj isso
tudo era ldquoum universo de honra de siacutembolos de dignidade e de prestiacutegio que a
elite perseguia e que a Coroa concedia estreitando ainda mais os laccedilos de
vassalagem no interior do Impeacuteriordquo Sintetizando a autora afirma que ldquoescravos
terra dignidade honrarias e prestiacutegio constituiacuteram os fundamentos da sociedade
colonial brasileirardquo (BLAJ 2002 p 322-338)
Em 1611 D Francisco de Sousa falece na mais extrema pobreza O
mesmo destino que tiveram outros que laacute apostaram na metalurgia Frei Vicente
do Salvador contemporacircneo de D Francisco descrevendo a situaccedilatildeo afirmou
que
() estando tatildeo pobre que affirmou um padre da Companhia que
se achava com elle a sua morte que nem uma vela tinha para lhe
metterem na matildeo si a natildeo mandara levar do seu convento mas
quereria deusalumia-lo em aquelle tenebroso transe por outras
muitas que ainda levado deante de muitas esmolas e obras de
piedade que sempre fez (FRANCO 1929 p 135)
94
36 Teacutecnicos e praacuteticos na mineraccedilatildeo e metalurgia Na Vila de Satildeo Paulo e tambeacutem no Sertatildeo as forjas de ferreiro se
instalaram desde cedo As atividades desses ferreiros se concentravam na
fabricaccedilatildeo de ferramentas como foices machados cravos e anzoacuteis utilizando
ferro em barra ou em lingotes trazido da Europa que eram aqui refundidos em
fornos de forja
Em 1553 Manoel da Noacutebrega noticia a presenccedila de ldquotendas de ferreirordquo
como um dos instrumentos levados nas expediccedilotildees ao Sertatildeo (NEME 1959
p158) Em 1584 trabalhavam em Satildeo Paulo trecircs ferreiros (HOLANDA 1957
p186)
Gilberto Freyre em seu trabalho Ferro e Civilizaccedilatildeo no Brasil (1988 p249-
251) destaca como conhecedor do trabalho com o ferro natildeo somente o colono
portuguecircs como tambeacutem os padres da Companhia de Jesus Para esse autor
ambos haviam iniciado seus saberes com ibeacutericos os quais haviam desenvolvido
as ldquoferreriacuteasrdquo os ldquohornosrdquo e aperfeiccediloado as teacutecnicas de fundiccedilatildeo com o ldquohorno
catalaacutenrdquo Entre os conhecedores de metalurgia estava o jesuiacuteta Joseacute de Anchieta
o qual como jaacute destacamos havia informado em 1554 a existecircncia de mineacuterios
nobres e do ferro nas imediaccedilotildees de Satildeo Paulo 53
Diferentemente do que ocorreu nas colocircnias espanholas da Ameacuterica os
indiacutegenas que aqui foram encontrados natildeo tinham conhecimento metaluacutergico e
portanto natildeo utilizavam nenhuma teacutecnica de fundiccedilatildeo que pudesse ser adaptada
aos interesses do colonizador
Quanto ao conhecimento e a exploraccedilatildeo do mineacuterio e produccedilatildeo do ferro as
teacutecnicas necessaacuterias eram totalmente desconhecidas no Novo Mundo Sendo
53 Joseacute de Anchieta era descendente de bascos seus pais eram de Guipuacutezcoa Proviacutencia do Paiacutes Basco BARBOSA Francisco de Assis Dom Joatildeo VI e a Siderurgia no Brasil Rio de JaneiroBiblioteca do Exercito 1958 p 26
95
assim podemos afirmar que essa teacutecnica foi totalmente trazida pelos europeus
em especial pelos espanhoacuteis
Logo apoacutes a Uniatildeo Ibeacuterica (1580-1640) foi encaminhada para as terras das
colocircnias da Ameacuterica a armada de Diego Flores Valdeacutes 54 A passagem de Valdeacutes
em Satildeo Vicente em 1583 revela o interesse pelas riquezas minerais na regiatildeo
sendo que por este motivo solicita agrave Coroa a vinda de teacutecnicos e especialistas em
minas para dar iniacutecio agrave exploraccedilatildeo das jazidas descobertas Ao mesmo tempo
alerta sobre a necessidade de fortificar Satildeo Vicente pois alegava que ldquohay
camino abierto por tierra que va al Rio de La Plata y al Paraguay y a Sancta Feerdquo
(GONZALEZ 2002 p 46)
Alguns autores atribuem a presenccedila do praacutetico Clemente Aacutelvares nas
expediccedilotildees de Sardinha e seu filho55 Em 1606 Clemente Aacutelvares afirmava que
estava haacute quatorze anos dedicando-se ao descobrimento de minas de ouro e
para isso utilizara seus proacuteprios recursos Ao registrar as minas que ele afirmava
ter descoberto no Jaraguaacute Parnayba e Ybituruna para natildeo perder os direitos
sobre elas afirmava que natildeo entendia de metalurgia ldquosenatildeo por notiacuteciardquo e que
natildeo era um oficial fundidor ou ensaiador 56
Os mineiros vindos do reino foram trazidos por D Francisco de Sousa com
a funccedilatildeo de verificar a autenticidade e a natureza das minas descobertas no
Brasil e nas imediaccedilotildees da Vila de Satildeo Paulo Os homens que acompanharam
em 1591 em sua vinda ao Brasil foram o castelhano Agostinho de Souto Maior
(que havia trabalhado anteriormente em Monomotapa ndash Moccedilambique colocircnia
portuguesa que possuiacutea minas e a metalurgia do ferro e do ouro) o qual foi
nomeado para o cargo de provedor das minas do Brasil Christovam o qual era
54 A armada de Diego Flores Valdeacutes foi enviada para o Estreito de Magalhatildees para iniciar a sua ocupaccedilatildeo e povoamento com a finalidade de estabelecer uma defesa das terras do Impeacuterio Espanhol onde jaacute se havia iniciado a exploraccedilatildeo das minas de prata de Potosi 55 Clemente Aacutelvares paulista mineiro praacutetico e sertanista Em 1634 ainda estava se dedicando agrave busca pelo descobrimento de minas Faleceu em 1641 56 Ver Registro de minas de Clemente Aacutelvares em 16 de dezembro de 1606 ATAS DA CAMARA DA VILA DE SAtildeO PAULO vol II Satildeo PauloA Cacircmara 1917 p 171-173
96
lapidaacuterio de esmeraldas e Joatildeo Correa para seria nomeado feitor das minas de
ferro 57
Para Satildeo Paulo enviados por Francisco de Sousa vieram os mineiros
Gaspar Gomes Moalho Miguel Pinheiro Zurara e o fundidor Domingos Rodrigues
Em 1592 Jacques de Oalte mineiro alematildeo o engenheiro tambeacutem alematildeo
Giraldo Betink o cirugiatildeo Joseacute Serratildeo o mestre fundidor flamengo Corneacutelio de
Arzatildeo e o engenheiro e arquiteto-mor florentino Baccio de Filicaya tambeacutem
mineiro de ouro o qual recebeu de D Francisco de Souza o cargo de engenheiro-
mor Felicaya restaurou e construiu algumas fortalezas e trabalhou durante cinco
anos no descobrimento de minas Aparece registrado no Rio de Janeiro em 1596
como arquiteto fortificador (TAUNAY 2003 p409)
Destaca-se tambeacutem ainda na gestatildeo de D Francisco a presenccedila do
mineiro castelhano Manoel Joatildeo Branco (ou Morales) que foi enviado em
companhia de um outro mineiro de prata ao morro de Araccediloiaba para examinaacute-la
Este mineiro acabou por confirmar que aquela Serra era ldquoriquiacutessima de yerrordquo58
37 A Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro
No iniacutecio do seacuteculo XVII as jazidas de ferro que haviam sido identificadas
nas imediaccedilotildees da Vila de Satildeo Paulo comeccedilaram a ser beneficiadas por Diogo de
Quadros atraveacutes da construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro a qual
comeccedilou a funcionar em 1607 A Ferraria de Santo Amaro foi redescoberta em
1967 por Jesuiacuteno Felicissiacutemo Juacutenior e documentada nas ediccedilotildees de 5 e 6 de
janeiro deste mesmo ano no jornal Diaacuterio de Satildeo Paulo por Manoel Rodrigues
Ferreira ( FELICIacuteSSIMO1969 p14)
57 No mesmo ano em que D Francisco de Souza veio para o Brasil para assumir o cargo de Governador Geral tambeacutem retornava da Espanha Gabriel Soares de Souza o qual se dedicou agrave busca de minas autor de Tratado Descritivo do Brasil de 1587 58 Ver Carta de Manuel Joatildeo Branco Morales a D Felipe IVCORTESAtildeOJaime Jesuiacutetas e Bandeirantes no Guairaacute Rio de Janeiro Biblioteca Nacional 1951 p 182
97
Esta Faacutebrica foi construiacutedo na freguesia de Santo Amaro pela sociedade
formada em 1609 entre Diogo de Quadros juntamente com Francisco Lopes
Pinto e D Antonio de Souza filho de D Francisco de Sousa
Para dar andamento a esse projeto Diogo de Quadros obteve em 1604
de D Felipe III o cargo de provedor das minas da Capitania de Satildeo Vicente e a
concessatildeo de montar e explorar fundiccedilotildees de ferro no Brasil (NEME 1959
p353)
Segundo informaccedilotildees oferecidas por Wilhelm Ludwig Von Eschwege
(1777-1855) a Faacutebrica de Santo Amaro foi construiacuteda agrave beira de um pequeno
ribeiratildeo afluente do rio Pinheiros navegaacutevel a uma distacircncia de duas leacuteguas SE
de Satildeo Paulo Para Eschwege ldquoa situaccedilatildeo dessa pequena faacutebrica era
conveniente porque as margens dos rios proacuteximos estatildeo cobertas de matas
cerradas podendo o carvatildeo ser transportado por via fluvial e mesmo o produto
manufaturado que por essa via podiam ser levados ateacute a serra do Cubatatildeo e
para o interior ateacute o Tietecircrdquo (ESCHWEGE 1944 p336)
Aleacutem desse aspecto a Faacutebrica contava com apoio da Coroa recebendo
dos almoxarifados de Satildeo Vicente Bahia e Rio de Janeiro todas as ferramentas
de ferro que estavam disponiacuteveis e poderiam ser aproveitadas para o trabalho de
fundiccedilatildeo daquele metal Das ferramentas entregues para Diogo de Quadros em
1605 foram arrolados
dous malhos q podiatildeo pesar pouco mais ou menos entre ambos
trecircs quintais e por quintal a razatildeo de trecircs mil reis mais duas
argolas grandes da mesma ferramenta q podiatildeo pezar pouco
mais ou menos trecircs quintaes ao mesmo preccedilo mais duas Cafras
(bigornas) que podiam pezar outros quintaes ao mesmo preccedilo
mais duas chapas pequenas q cada hua pezava duas arrobas no
mesmo preccedilo mais duas chapas grandes q cada hua podia
pezar pouco mais ou menos hum quintal cada hua as quaes
todas juntas podem pezar pouco mais ou menos doze quintais
98
que a razatildeo dos ditos traacutes mil reis por quintal fazem a soma de
36$000 rs 59
Os indiacutecios da presenccedila e utilizaccedilatildeo da roda para fins de produccedilatildeo nesta
Faacutebrica satildeo tambeacutem reforccedilados pelas observaccedilotildees feitas por Eschwege em seu
livro Pluto Brasiliensis onde afirmava que ainda se podia ver ldquoa vala da roda o
lugar da oficina os restos de um accedilude assim como um monte de pesada escoacuteria
de ferrordquo ((ESCHWEGE 1944 p336)
Essas mesmas informaccedilotildees podem ser observadas em um levantamento
topograacutefico realizado em princiacutepios do seacuteculo XIX pelo topoacutegrafo portuguecircs
Rufino Joseacute Felizardo e Costa segundo tenente do Real Corpo de Engenheiros
Rufino provavelmente veio ao Brasil como membro do grupo de engenheiros
militares que constituiacuteram em meados do seacuteculo XVIII as ldquoMissotildees
Demarcatoacuterias destinadas a dar cumprimento aos Tratados de Limites relativos agraves
terras da Ameacuterica celebrados entre Portugal e Espanhardquo 60
O levantamento topograacutefico em questatildeo intitulado ldquoprospecto das ruiacutenas
da antiga faacutebrica de ferro de Santo Amarordquo apresenta uma planta dessa faacutebrica jaacute
em ruiacutenas e sua localizaccedilatildeo proacutexima aos rios ldquodos Pinheirosrdquo e Santo Amaro aleacutem
dos terrenos no seu entorno onde se observa a presenccedila de matas minas de
ferro e canais de derivaccedilatildeo de aacuteguas daqueles rios em direccedilatildeo ao edifiacutecio
confirmando as observaccedilotildees feitas por Eschwege que observou inclusive a
existecircncia da ldquovala da rodardquo (HOLANDA 1957 p188-189)
59Ver Provisatildeo passada por Diogo Botelho a Diogo de Quadros 1605 CLETTO Marcelino Pereira A respeito da Capitania de Satildeo Paulo Sua decadecircncia e modo de restabelececirc-la Santos 25 de outubro de 1782 Annaes da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro vol XXI Rio de Janeiro Typografia Leuzinger 1900 60 TOLEDO Benedito Lima de A Accedilatildeo dos Engenheiros Militares na Ordenaccedilatildeo do Espaccedilo Urbano no Brasil Lisboa 2000 lthttpurbaniscteptRevistanumero4artigosartigo_08htmgt Aceso em 16 de maio de 2006 Os tratados mencionados por Toledo satildeo o Tratado de Madri (1750) e do segundo o Tratado de Santo Ildefonso (1777)
99
Fig 27 Prospecto das ruiacutenas da antiga Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro Rufino Joseacute Felizardo seacutec XIX (HOLANDA1957)
38 A Faacutebrica de Ferro do morro de Araccediloiaba os empreendedores
Afonso Sardinha foi personagem importante na atividade de mineraccedilatildeo do
ouro e do ferro no periacuteodo compreendido entre a segunda metade do seacuteculo XVI
e inicio do seacuteculo XVII sendo um dos primeiros empreendedores da exploraccedilatildeo e
produccedilatildeo de ferro no morro de Araccediloiaba Foi tambeacutem um dos financiadores do
empreendimento da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro Em 1601 recebeu de
Francisco de Souza um regimento que permitia o acesso agraves minas jaacute descobertas
e a descobrir61 Ressalte-se que essa mesma provisatildeo natildeo permitia a ele
ldquoentabularrdquo as minas encontradas as quais deveriam ser trabalhadas somente
apoacutes inspeccedilatildeo feita por mineiros vindos do Reino
61 Ver Regimento do Capitatildeo Diogo Gonccedilalves Laccedilo que lhe deu o Senhor Governador Dom Francisco de Souza DERBY Orville A As Bandeiras paulistas de 1601 a 1604 Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo vol VII Satildeo Paulo Typ Do Diaacuterio Official 1903 p 403
100
Joseacute Monteiro Salazar citando Pedro Taques e outros historiadores
aponta o ano de 1597 para o inicio das atividades da exploraccedilatildeo e fabricaccedilatildeo do
ferro em Araccediloiaba sendo que o empreendimento esteve em atividade ateacute o ano
de 1611 coincidindo com o ano da morte de D Francisco de Sousa
Somente em 1684 surge uma segunda tentativa de exploraccedilatildeo das minas
de Araccediloiaba financiada pela Coroa Portuguesa Para tanto foi enviado agravequele
local o Frei Pedro de Sousa com a finalidade de pesquisar a existecircncia de prata
nas jazidas que estava sendo explorada por Luiz Lopes de Carvalho o qual
contava com matildeo de obra indiacutegena
Entretanto apoacutes ter retirado algumas amostras do mineacuterio na jazida elas
foram ensaiadas poreacutem natildeo foi encontrada a prata motivo pelo qual foi
ordenada pelo Conselho Ultramarino a suspensatildeo daquelas pesquisas
(RODRIGUES 1966 p202)
Na sequumlecircncia o empreendedor Luiz Lopes de Carvalho que administrava
aquela mina retomou a exploraccedilatildeo do mineacuterio de ferro cuja existecircncia jaacute era
comprovada para cuja atividade obteve licenccedila concedida pela Coroa Para
realizar as obras necessaacuterias para o seu empreendimento foi obrigado a
hipotecar em 1681 todas as suas propriedades na Vila do Vimieiro em Portugal
(RODRIGUES 1966 p 214-217)
Em carta escrita no Rio de Janeiro em 1692 ao Rei de Portugal noticiava o
fracasso de seu empreendimento com o esgotamento dos recursos financeiros
Assim descreve
penetrei os Sertotildees mais ragozos so habitado de feras padecendo
as inclemecircncias qe experimentatildeo os q com zello e amor da paacutetria
lhe querem descubrir nossos Thezouros Todas estas calamidades
101
padeci por que haverem persuadido e ter achado alguns Roteiros62
q insinuavatildeo partes e serr[dilacerado] aonde em algum tempo se
achavatildeo Signais evidentes de minas de prata e esmeraldas E por
me esgotar o Cabedal proacuteprio e nam achar q me animasse com
algum socorro vim a entender q e Deus nosso Sr Tem guardado
essa fortuna pa outro q mais lho mereccedila Nestas entradas ao
Sertatildeo fui dar com a dictas Serras de Birasuaiava aonde estatildeo as
minas de ferro que na calidade e fertilidade desse groseiro metal
excede a todos asqe por haver no descuberto (RODRIGUES
1966 p217-219)
Naquele mesmo documento Luiz Lopes de Carvalho discorre sobre as
dificuldades teacutecnicas e materiais que havia enfrentado e destaca que para a
continuidade daqueles trabalhos faltara-lhe a matildeo de obra indiacutegena e um mestre
em fundiccedilatildeo que sugere deveria ser de Figueiroacute (Portugal) Biscaia (Espanha)
Alemanha ou Sueacutecia Aleacutem disso indicava que os fornos de fundiccedilatildeo que ali
deveriam ser instalados fossem do mesmo tipo empregado nas ferrarias de
Figueiroacute em Portugal (RODRIGUES 1966 p217-220)
Nova tentativa de exploraccedilatildeo daquela mina de ferro deveu-se ao portuguecircs
Domingos Pereira Ferreira em 1763 o qual organizou em Lisboa uma companhia
por accedilotildees para a construccedilatildeo de uma faacutebrica de ferro em Araccediloiaba 63 Para
viabilizar esse empreendimento recebeu uma concessatildeo de Sesmarias localizada
junto a mina de ferro para explorar a madeira necessaacuteria agrave fundiccedilatildeo 64
62 Esses roteiros - ou ldquomapas do tesourordquo - parecem ter sido frequumlentes na histoacuteria da mineraccedilatildeo colonial Haacute indicaccedilotildees de roteiros elaborados por Gabriel Soares de Souza para as minas de Sabarabassuacute 63 Foram soacutecios de Pereira Ferreira Matheus Lourenccedilo de Carvalho Caoitatildeo-mor Manoel de Oliveira Cardozo Antonio Lopes de Azevedo Capitatildeo Jacinto Jose de Abreu Silveacuterio Thomaz de Oliva Doacuteria Joatildeo Fritz Gerald (este natildeo participou da Sociedade por ser estrangeiro ndash inglecircs) e o Sargento Mor Antonio Francisco de Andrade Traslado da Escritura de Contrato da Sociedade e Companhia que Fazem Domingos Pereira Ferreira (RODRIGUES 1966 p 228-238) 64 Carta de Sesmaria a Domingos Ferreira Pereira e seus soacutecios de um morro cito termo da Vila de Sorocaba para dele se extraiacuterem lenha para a Faacutebrica de caldear o ferro que ali se pretende erigir por ordem de S Magestade (1767) Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Sesmaria Patente e Provisatildeo Livro n17 p 125 v
102
Em dezembro de 1765 o Capitatildeo-General de Satildeo Paulo encaminhava ao
Conde de Oeiras amostra do ferro que Domingos Ferreira Pereira extraiacutera e
caldeara nas serras de Araccediloiaba Neste mesmo ano chegou a receber
encomendas de Diogo Lobo da Silva Capitatildeo General de Minas Gerais para a
fabricaccedilatildeo de armamentos tais como balas bombas e granadas aleacutem de
municcedilotildees Contudo esses armamentos natildeo chegaram a serem fabricados
Para viabilizar a produccedilatildeo do ferro trouxe de Portugal o mestre fundidor
Joatildeo de Oliveira Figueiredo poreacutem este decidiu abandonar aquele local com a
intenccedilatildeo de se mudar para Angola em 1767 Contudo quando jaacute se encontrava
no Rio de Janeiro foi preso e trazido de volta para Araccediloiaba sob a justificativa de
que ldquosem ele natildeo se poderiam por em praacutetica as experiecircnciasrdquo (CALOacuteGENAS
1904 p37)
O relatoacuterio encaminhado no ano de 1768 por Luiz Antonio de Souza ao
Conde de Oeiras em Portugal informava que o empreendimento de Pereira
Ferreira mostrava dificuldades em conseguir produzir um ferro de boa qualidade
mesmo tendo sido realizado por diversas vezes experiecircncias com o material pois
ldquonatildeo era possiacutevel acertar a caldeaccedilatildeo do ferro nem fazecirc-lo igual as primeiras
amostrasrdquo 65
Pereira Ferreira permanece naquela atividade durante dez anos sendo que
depois desse tempo vendeu a propriedade a Vitoriano Joseacute Sentena morador de
Viamatildeo Este empreendedor tambeacutem natildeo obteve sucesso nesta atividade
culminando por abandonaacute-la quatro anos apoacutes o seu iniacutecio (RODRIGUES 1966
p205-210)
No ano de 1784 Claacuteudio de Madureira Calheiros capitatildeo-mor da vila de
Sorocaba encaminha uma peticcedilatildeo a Martinho de Mello e Castro para explorar
aquelas jazidas Contudo esse projeto natildeo foi aprovado (RODRIGUES 1966 p
212) 65 ver Carta de Luiz Antonio de Souza ao Conde de Oeiras Satildeo Paulo 3 janeiro de 1768 In Dossiecirc Ipanema Arquivo do Museu Quinzinho de Barros ndash Sorocaba-SP
103
Em 1788 com aquele mesmo objetivo foi encaminhada a Bernardo Joseacute
de Lorena uma peticcedilatildeo onde o capitatildeo-mor de Sorocaba Claacuteudio da Cunha Oeiras
e o de Itu Vicente da Costa Taques Goacuteis e Aranha pela qual solicitavam
autorizaccedilatildeo para explorar e fabricar o ferro em Araccediloiaba Tambeacutem solicitavam a
vinda do Reino de ldquoum mestre inteiramente perito naquela arterdquo Juntaram agrave
peticcedilatildeo uma amostra de barra de ferro que diziam terem obtido naquele local
Este projeto tambeacutem natildeo foi viabilizado (RODRIGUES 1966 p212)
39 A Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema
Jaacute no final do seacuteculo XVIII destaca-se a vinda do ldquoquiacutemicordquo Joatildeo Manso
Pereira Diretor Geral das Minas para examinar as jazidas de ferro do morro de
Araccediloiaba e acompanhar os trabalhos de demarcaccedilatildeo dos terrenos nos quais
iriam ser instaladas as edificaccedilotildees da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
Tambeacutem realizou alguns ensaios com aquele mineacuterio mediante a construccedilatildeo de
um alto forno acionado com um fole manual
A esse respeito relata Eschwege (1944 p340) que conheceu Joatildeo Manso
Pereira que durante a primeira experiecircncia para a fundiccedilatildeo do ferro muitas
pessoas das vizinhanccedilas foram atraiacutedas para o local poreacutem ao final do teste
nenhum ferro foi produzido Manso entatildeo fugiu do local e os convidados tiveram
que voltar para as suas casas Eschwege lembrava que Manso ao recordar
aquele fato ldquoria-se gostosamente de toda aquela histoacuteria tendo chegado agrave
conclusatildeo de que para fabricar ferro em grande escala natildeo bastavam
conhecimentos de quiacutemicardquo
Em 1802 Manso Pereira natildeo havia apresentado nenhum resultado
satisfatoacuterio e foi destituiacutedo do cargo assumindo em seu lugar Francisco Ribeiro
de Andrade (FRAGA 1968 p 33-48)
104
Segundo o Governador D Rodrigo de Souza Coutinho Joatildeo Manso
Pereira
longe de ser hum verdadeiro chimico natildeo era senatildeo hum
Alquimista que debaixo de certos misteacuterios pretendia inculcar-se
sem ter os necessaacuterios conhecimentos para Inspector e dirigir a
mesma obra tendo toda a esperanccedila que entre os artistas que
pedia que viesse algum que soubesse tractar a referida Mina e
desta sorte colher o Laurel de que os outro se fazia digno
(FRAGA1966 p46)
No iniacutecio do seacuteculo XIX Martim Francisco Ribeiro de Andrada escolhe a
regiatildeo junto ao ribeiratildeo Ipanema para sediar as futuras instalaccedilotildees da faacutebrica de
ferro que estavam autorizadas em 1799 a Joatildeo Manso Pereira Atraveacutes de um
contrato realizado em Estocolmo em 1810 entre Dom Joaquim Lobo de
Saldanha ministro portuguecircs em Londres e o sueco Carlos Gustavo Hedberg
foram iniciados os trabalhos para a construccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro de
Ipanema
Fig 28 Vista da Faacutebrica de Ferro de Ipanema 1827 Acervo Projeto Arqueologia Histoacuterica Museu Paulista-USP
105
Fig 29 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro e Ipanema seacuteculo XIX
Fig 30 Altos fornos geminados construiacutedos por Varnhagem 1818
106
Fig 31 Alto forno construiacutedo pelo Cel Mursa 1888
Em 1815 Frederico Guilherme Varnhagen assume o cargo de Diretor da
Real Faacutebrica e em 1818 constroacutei dois altos-fornos para a produccedilatildeo de ferro
gusa os primeiros do Brasil Joaquim de Souza Mursa Diretor de Ipanema entre
1865-1890 construiu outro alto-forno e natildeo chegou a funcionar Em 1895 jaacute no
periacuteodo republicano Prudente de Moraes decreta a desativaccedilatildeo de Ipanema
Em 1929 tiveram iniacutecio experiecircncias para o aproveitamento da apatita
jazida descoberta em 1890 por DacuteOrville Derby Esse mineacuterio foi explorado ateacute
1944 por uma firma particular para a produccedilatildeo do superfosfato Mas jaacute em 1937
o acervo e aacuterea ocupada pela antiga Faacutebrica de Ferro passaram ao Ministeacuterio da
Agricultura que em 1947 instalou ali a Estaccedilatildeo Experimental do Trigo
107
Uma quarta fase da histoacuteria de Ipanema comeccedilou logo no iniacutecio dos anos
50 quando foi estabelecido o Plano Nacional da Induacutestria de Tratores e instituiacuteda
a obrigatoriedade de ensaios para tratores maacutequinas e ferramentas agriacutecolas
importados ou fabricadas no Brasil Ao mesmo tempo seguiram as atividades de
produccedilatildeo de sementes O estabelecimento passou a denominar-se CENTRI -
Centro Nacional de Ensaios e Treinamento Rural de Ipanema
A partir de 1975 foi criado o CENEA ndash Centro Nacional de Engenharia
Agriacutecola junto ao qual foi realizado em 1983 o convecircnio com o Museu Paulista-
Universidade de Satildeo Paulo para a realizaccedilatildeo da pesquisa arqueoloacutegica Em 1992
passou a integrar uma das aacutereas de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental do IBAMA
com a denominaccedilatildeo de FLONA ndash Floreta Nacional de Ipanema O Siacutetio Afonso
Sardinha foi registrado no IPHAN pela Professora Doutora Margarida Davina
Andreatta em 1997
108
Fig 32 ROTEIRO HISTORICO DA MINERACcedilAtildeO E METALURGIA PAULISTA
109
CAPIacuteTULO 4
O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 41- Localizaccedilatildeo O vale das Furnas eacute uma aacuterea privilegiada por sua geografia devido agrave
presenccedila do mineacuterio de ferro em suas cabeceiras e de uma diversificada
quantidade de rochas dentre elas o arenito que foi utilizado como material de
construccedilatildeo na forma de blocos para paredes e fornos Destaca-se a rede
hidrograacutefica que apresenta dois rios importantes como o Ipanema e o Sarapuhy
que contornam o morro de Araccediloiaba indo desaguar no rio Sorocaba A bacia do
ribeiratildeo do Ferro ocupa uma aacuterea importante dentro do morro de Araccediloiaba
porque eacute ela que drena a regiatildeo onde afloram os minerais de ferro sendo que a
topografia acidentada do seu leito possibilitou a implantaccedilatildeo de estruturas de
aproveitamento hidraacuteulico A regiatildeo apresentava significativa aacuterea coberta de
matas as quais foram transformadas desde finais do seacuteculo XVI em carvatildeo
vegetal o uacutenico combustiacutevel utilizado para a produccedilatildeo de ferro ateacute finais do
seacuteculo XIX
O morro de Araccediloiaba eacute conhecido tambeacutem pela denominaccedilatildeo de morro do
Ipanema toponiacutemico indiacutegena de Ypanema ndash Y= rio aacutegua + panema = sem valor
ou ainda aproximadamente sem peixes significando assim ldquorio sem valorrdquo ou
ldquorio sem peixesrdquo A denominaccedilatildeo Araccediloiaba (ldquoo lugar que esconde o Solrdquo)
aparece desde o seacuteculo XVI em documentos datados com variantes como
Arraraccediloiaba Byraccediloiaba Ibyraccediloiaba Guaccediloiava (SALAZAR 1997 p17)
Ocupa uma aacuterea isolada no interior de uma extensa bacia sedimentar que os
geomorfoacutelogos denominam de ldquoDepressatildeo Perifeacuterica Paulistardquo pertencente agrave
Bacia do Paranaacute Esta aacuterea constitui um ldquohorst docircmicordquo em razatildeo do seu formato
110
arredondado que lembra estruturas de coberturas do tipo domos (DAVINO 1975
p130)
Do ponto de vista geoloacutegico o morro eacute uma formaccedilatildeo montanhosa
resultante de ldquofenocircmenos de intrusotildees de rochas alcalinas que ocorreram
associadas agraves atividades tectocircnicas do Arco de Ponta Grossa no periacuteodo
denominado Cretaacuteceo Inferiorrdquo66 contemporacircneo do vulcanismo basaacuteltico na
regiatildeo Sudeste ndash Sul do Brasil A intrusatildeo magmaacutetica de Ipanema ocupa aacuterea
aproximadamente circular de nove quilocircmetros quadrados Sua maior altitude estaacute
em 970 metros sendo que dele ldquoeacute possiacutevel observar um dos trechos do vale do
Meacutedio - Tietecirc como tambeacutem trecircs importantes unidades de relevo do Estado de
Satildeo Paulo a Depressatildeo Perifeacuterica o Planalto Atlacircntico e as Cuestas Arenito ndash
Basaacutelticas no caso a Serra do Botucatu (CARPI JR 2002 p1)
Estaacute situado no centro-sul da Depressatildeo Perifeacuterica Paulista na Latitude
sul 23ordm25rsquo 23ordm17rsquo Longitude 47ordm35rsquo WGr 47ordm40rsquo WGr no municiacutepio de Iperoacute-
SP entre Sorocaba e Boituva a cerca de 125 km da Cidade de Satildeo Paulo
Encontra-se ainda dentro de uma aacuterea de proteccedilatildeo ambiental com 506973
hectares pertencente ao FLONA Ipanema Floresta Nacional de Ipanema do
IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renovaacuteveis) criada em 1992 para preservar e conservar um dos maiores
fragmentos de Mata Atlacircntica do Estado de Satildeo Paulo bem como aacutereas de
66 ldquoDuas medidas efetuadas no Laboratoacuterio de Geocronologia da USP segundo o meacutetodo do potaacutessio-argocircnico indicaram para as rochas alcalinas de Ipanema idade cretaacutecea inferior Estas determinaccedilotildees foram feitas em biotita contidas em shonkinitos-poacutertirosrdquo (DAVINO1975)
111
cerrado vaacuterzea e os ecossistemas associados67
67 A FLONA ndash Floresta Nacional de Ipanema possui plantas e fauna de grande representatividade tendo catalogado mais de 200 espeacutecies de aves 52 de mamiacuteferos 18 de anfiacutebios 15 de reacutepteis e 35 de peixes que totalizam 216 da riqueza do estado de Satildeo Paulo Caracteriacutesticas do relevo Ateacute 600 metros ndash vaacuterzea dos principais rios como Ipanema e Verde de declives suaves Acima de 875 metros ndash topo do Morro Araccediloiaba geralmente com platocircs e declives suavesmedianos De 600 a 725 metros ndash base das serras de declives acentuados (medianos) com nascentes de rios principalmente os intermitentes De 725 a 875 metros ndash proacuteximo ao topo de declives acentuados com rios encaixados entre as vertentes como o Ribeiratildeo do Ferro Hidrografia Integra a bacia hidrograacutefica do rio SorocabaMeacutedio Tietecirc classificada como UGRHI No 10 com sub-bacias dos rios Ipanema e Verde e ribeirotildees Iperoacute e do Ferro Clima O Troacutepico de Capricoacuternio passa pela parte sul da Floresta Nacional de Ipanema caracterizando uma zona de transiccedilatildeo de tropical para temperada Segundo Koeppen apresenta condiccedilotildees climaacuteticas tipo Cfa ndash subtropical quente constantemente uacutemido com inverno menos seco - ao sul limitando com Cwa ndash subtropical quente com inverno mais seco - ao norte Uso do solo 2800 hectares ndash floresta estacional semidecidual em estaacutegio de regeneraccedilatildeo do inicial ao tardio 29515 hectares ndash capoeira alta (grototildees) e cerrado 24293 hectares ndash capoeira baixa 250 hectares ndash vaacuterzea accediludes e represas 22150 hectares ndash reflorestamento com espeacutecies de raacutepido crescimento e nativas 121016 hectares ndash assentamentos rurais 50 hectares ndash sede administrativa vilas residenciais e siacutetios histoacuterico-culturais Ver Floresta Nacional (FLONA) de Ipanema NACIONAL Disponiacutevel em lthttpwwwibamagovbrspindexphpid_menu=191gt acesso em 22mar06
112
Fig 32 MAPA GEOLOacuteGICO DO MORRO DE ARACcedilOIABA (SEM ESCALA) Mapa Geoloacutegico do Estado Satildeo Paulo ndashIPT
113
Fig 33 BLOCO DIAGRAMA DA REGIAtildeO DA SERRA DE ARACcedilOIABA Interpretaccedilatildeo baseada em dados geoloacutegicos e geofiacutesicos por Andreacute Davino (DAVINO 1975 p140)
114
Fig 35 MORRO DE ARACcedilOIABA (AO FUNDO VISTA DA DEPRESSAtildeO
PERIFEacuteRICA) - I
FIG 36 MORRO DE ARACcedilOIABA (VISTA DA DEPRESSAtildeO PERIFEacuteRICA) - II
115
Aziz Nacib AbSaber ao analisar o morro de Araccediloiaba dos pontos de vista
geoloacutegico e geomoacuterfoloacutegico considera que
Geomorfologicamente eacute um acidente de grande exceccedilatildeo
emergente no meio de terras baixas colinosas que se estendem por
mais de 12 mil km2
Geologicamente eacute a consequumlecircncia de um vulcanismo hipoabissal
tardio anterior aos processos denudacionais que criaram a
Depressatildeo Perifeacuterica Paulista Filogeograficamente eacute um
componente de um mosaico de ecossistemas sub-regionais que
comporta cerrados e matas-galerias (vegetaccedilatildeo ciliar) matinhas
diferenciadas e descontiacutenuas nas paredes sub-rochosas do morro
Existem tambeacutem eventuais poreacutem altamente significativos relictos
de cactos mandacarus nas vertentes rochosas do morro Esse fato
associado ao que jaacute se conhece da regiatildeo de Itu e Salto permite
reconstituir a histoacuteria vegetacional da regiatildeo No passado ela
abrigou caatingas hoje relegadas a pequenos redutos de
cactaacuteceas na forma de rupestres-biomas logo seguidos por
cerradotildees e cerrados recortados por florestas-galerias biodiversas
E por fim grandes matas tropicais nos morros de solos vermelhos
argilo-arenosos das serranias de Satildeo Roque e Jundiaiacute As florestas
eliminaram importantes trechos de cerrado mas natildeo foram capazes
de expulsar os minirredutos de cactaacuteceas na serra do Jardim em
Vinhedo e Valinhos nos altos do Japi na serra de Satildeo Francisco
em Votorantim em Salto e Itu e no front rochoso das cuestas de
Botucatu e agora nos receacutem-identificados mandacarus dos morro
de Araccediloiaba e Ipanema
Para entender essa eacutepoca caracterizada por intrusotildees
hipoabissais desfeitas em sills - massas tabulares de rocha iacutegnea
que penetraram entre camadas de rocha mais antiga - nas
soerguidas camadas de arenitos da formaccedilatildeo de Itarareacute (originada
no Carboniacutefero Superior) haacute que visualizar o fato de que o atual
morro da Depressatildeo Perifeacuterica comportava centenas de metros de
espessura que se estendiam ateacute o embasamento de rochas
cristalinas As intrusotildees que perfuraram localmente o pacote de
116
rochas da borda da Bacia Sedimentar do Paranaacute foram
provavelmente as mais tardias em relaccedilatildeo ao vulcanismo que
precedeu os mega processos de separaccedilatildeo da Aacutefrica e Brasil Ao
que tudo indica primeiramente aconteceram os derrames
basaacutelticos e as intrusotildees hipoabissais de diabaacutesios (rochas
magmaacuteticas cristalinas) A seguir nos milhotildees de anos decorridos
entre o Triaacutessico Superior o Juraacutessico e o Cretaacuteceo Superior -
atraveacutes de bolsotildees magmaacuteticos descontiacutenuos e residuais -
aconteceram as penetraccedilotildees de sienitos em forma de ring dykes
(diques anelares) de Itatiaia da atual ilha de Satildeo Sebastiatildeo
Caxambu e alhures Tudo acontecendo antes que a tectocircnica
quebraacutevel aparecesse no embasamento cristalino do Brasil de
Sudeste Ou seja antes dos falhamentos que criaram a serra do
Mar a ilha de Satildeo Sebastiatildeo e a Mantiqueira Por fim um resiacuteduo
magmaacutetico de grande exceccedilatildeo teria interpenetrado a borda antiga
da Bacia do Paranaacute gerando a pequena aacuterea core que mais tarde
viria a ser o morro de AraccediloiabaIpanema com seus ankaratritos
impregnados de magnetita Um fato que de resto respondeu pelo
histoacuterico episoacutedio da experiecircncia industrial da Fazenda
Ipanema(ABSAacuteBER 2006 p1)
42 A Vegetaccedilatildeo
Quanto agrave vegetaccedilatildeo original o morro de Araccediloiaba tem um histoacuterico de
perturbaccedilotildees sofridas por intervenccedilotildees antroacutepicas iniciadas no final do seacuteculo XVI
Essas perturbaccedilotildees foram causadas pela retirada de mineacuterio madeiras calcaacuterio
apatita aleacutem de focos de incecircndio entre outros processos
Para a exploraccedilatildeo do mineacuterio era necessaacuteria a devastaccedilatildeo das matas que
cresciam sobre a jazida Segundo a descriccedilatildeo de Domingos Pereira Ferreira que
chegou no local em 1765 para dar iniacutecio a um projeto de Faacutebrica de Ferro aquele
117
Morro era como ldquoum Cubatatildeo de Matos e de Cerra Altardquo e somente era possiacutevel
ver uma pedra levando ldquoadeante fousse e machadordquo68
A devastaccedilatildeo das matas tambeacutem esteve ligada ao tipo de combustiacutevel que
era utilizado nos fornos de reduccedilatildeo (fornos baixos) 69 e depois nos de fundiccedilatildeo
(altos fornos)70 O combustiacutevel para a produccedilatildeo de ferro sempre foi o carvatildeo
vegetal71 o qual era fabricado a partir de uma variedade de madeiras existente na
proacutepria mata entre elas os chamados ldquopaus reaisrdquo as madeiras de lei como a
peroba jequitibaacutes e cedros cujos registros de extraccedilatildeo eacute encontrado ateacute o iniacutecio
do seacuteculo XIX 72
Mesmo sofrendo exploraccedilatildeo e desmatamento ainda hoje a Floreta
Nacional de Ipanema constitui-se num dos poucos redutos florestais do interior
paulista e tambeacutem eacute a maior detentora da biodiversidade regional Espeacutecies
vegetais como timburi ararib lixeira jangada do campo canela paineira figueira
branca e peroba satildeo encontrados em percurso assim como animais de haacutebitos
68 Encontramos uma coacutepia da Carta de Domingos Pereira Ferreira agrave Morgado de Mateus escrita em Sorocaba 30 de novembro de 1765 na Coleccedilatildeo Faacutebrica de Ferro de Ipanema entre todas as coacutepias que foram doadas por Joseacute Monteiro Salazar ao Arquivo Histoacuterico Sorocabano 69Nos fornos baixos o carvatildeo vegetal era colocado em camadas alternadas com o mineacuterio calcinado e triturado que com o auxiacutelio de foles manuais ou mecacircnicos realizavam a reduccedilatildeo e natildeo a fundiccedilatildeo do mineacuterio de ferro resultando numa ldquoesponja de ferrordquo ou ldquopatildeo de ferrordquo que posteriormente era novamente trabalhada nos fornos de forja e nos malhos (FAUS 2000) 70 Estes fornos que chegam a fundir o mineacuterio de ferro foram introduzidos em Ipanema no iniacutecio do seacuteculo XIX O produto derivado do alto forno eacute o ferro em estado liacutequido (ferro gusa) (FRAGA 1968 p 87) 71 Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva ao visitar a Faacutebrica de Ipanema em 1820 descreve o meacutetodo de fabricaccedilatildeo de carvatildeo ldquoO carvatildeo he todo misturado sem separaccedilatildeo do proacuteprio para as forjas do refino he mal feito e apagado comumente com agoa em vez de ser abafado com terra principalmente arenosa que he a melhor da qui vem que sahe mais pesado do que deveria ser contra a fabrica e a favor do carvoeiro reduz-se muito a poacute nos armazeacutens com prejuiacutezo da mesma Faacutebrica e o peior he que nas forjas de refino esfarela-se logo e se reduz a cinza sem dar o devido calor O carvatildeo que fazem de maneira mole he mais leve e arde mais e da madeira dura he pelo contrario O methodo de fazer carvatildeo he o seguinte pegatildeo em toda a lenha misturada e arrumatildeo em pilha deitadas que tem 40 palmos em quatro como a figura de um telhado com beiradas estas tem 6 palmos de alto e o espigatildeo 12 leva a quaimar cada piulha 30 ate 34 dias e mais e da cada pilha de 700 a 900 arrobas de carvatildeordquo (FRAGA 1968 p 86) 72 Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva em suas Memoacuterias Econocircmicas sobre a Faacutebrica de Ferro de Ipanema faz criacuteticas agrave construccedilatildeo dos Altos Fornos de Varnhagen e tambeacutem agrave preparaccedilatildeo do mineral e do combustiacutevel utilizado como ldquocavacos de perobardquo (MENON 1992 p144)
118
florestais destacando-se o jaguarundi o gambaacute o irara o tapiti o matildeo-pelada o
quati o jacupemba o chupa-dente o pica-pau de topete vermelho o tangaraacute
danccedilarino o sabiaacute coleira a jararaca a cascavel e o lagarto teiuacute 73
43 Rios e ribeirotildees
Dois rios circundam aquele morro o rio Ipanema e o Sarapuhy afluentes
do rio Sorocaba Na parte central daquele Morro surgem alguns riachos sendo o
mais importante deles o Ribeiratildeo do Ferro anteriormente denominado de Ribeiratildeo
das Furnas (afluente do Rio Ipanema) que nasce no Monte ou Pico do Chapeacuteu e
forma o Vale das Furnas com ocorrecircncia de cascatas e piscinas naturais Eacute
tambeacutem naquele Vale e em uma das curvas do Ribeiratildeo do Ferro que estaacute
situado o Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha objeto de anaacutelise dessa
Tese
O Ribeiratildeo do Ferro ao descer o morro de Araccediloiaba apresenta
desniacuteveis de ateacute 500 metros com a presenccedila de alguns trechos encachoeirados
caracteriacutestica essa que proporcionou a execuccedilatildeo de projetos de aproveitamento
hidraacuteulico como a construccedilatildeo de obras de represamento canal de derivaccedilatildeo e
vala transformando as aacuteguas daquele ribeiratildeo em forccedila motriz aplicada ao
funcionamento dos equipamentos e ferramentas utilizadas no processo produtivo
da produccedilatildeo de ferro
73 Ver Fazenda Ipanema Disponiacutevel em lthttpfazendaipanemaiperospgovbrhistoriaphpgt
119
44 A magnetita o mineacuterio do morro de Araccediloiaba
Segundo Andreacute Davino a importacircncia do morro de Araccediloiaba do ponto de
vista geoloacutegico
deriva do fato de conter umas das muitas ocorrecircncias de rochas
alcalinas do Brasil As concentraccedilotildees de magnetita e apatita
[descobertas no final do seacuteculo XIX] nessas rochas despertaram
desde longa data especial interesse sobre a aacuterea O contorno da
intrusatildeo alcalina situa-se na parte central da Serra e estaacute contido
inteiramente dentro dos limites da Fazenda Federal de Ipanema
(DAVINO 1975 p130)
O mineacuterio de ferro encontrado no morro de Araccediloiaba eacute a Magnetita
um imatilde natural com propriedade magneacutetica de atrair objetos feitos de ferro ou
outros metais Essa propriedade do mineacuterio possivelmente facilitou o encontro
daquela jazida pelos sertanistas que por laacute passaram em meados do seacuteculo XVI
A magnetita eacute um mineacuterio do grupo das espinelas formado por oacutexido
magneacutetico de ferro (Fe3O4) composto por 724 de Fe (ferro) Eacute frequumlente a
existecircncia de cristais bem desenvolvidos pertencentes ao sistema cuacutebico
geralmente em forma de octaedros ou de dodecaedros Eacute abundante formando
as suas jazidas verdadeiras montanhas em massas granulares ou compactasA
composiccedilatildeo da magnetita eacute de oacutexido de feacuterrico (Fe2O3) 65 oacutexido ferroso (Fe O)
25 siacutelica (SiO2) 10 e traccedilos de aacutecido fosfoacuterico (P2O5) (FRAGA 1968 p149)
No Brasil encontram-se jazidas de magnetita nas regiotildees que
compreendem desde o Sudeste da Bahia ateacute o Leste do Paranaacute e Nordeste de
Santa Catarina Contudo sempre se apresentam impregnado de Titacircnio (Ti O2)
em proporccedilotildees que variam desde 04 ateacute 16 A exagerada densidade74 dessa
magnetita concorre para tornaacute-la inaproveitaacutevel para a reduccedilatildeo mesmo nos altos 74 A densidade eacute medida na proporccedilatildeo quilograma por metro cuacutebico kg m-3
120
fornos a coque a menos que sofra preacutevio e demorado tratamento ou que seja
misturada a mineacuterios menos densos (e portanto algo impuro) tais como a canga
a Hematita e outros De outro lado o oacutexido de titacircnio que a impregna dificulta
quando natildeo impede inteiramente a transformaccedilatildeo em gusa ou em esponja
(AMARAL 1946 p 264-266 Apud FRAGA 1968 p32) No morro de Araccediloiaba as
jazidas de Magnetita encontram-se na ldquoforma de depoacutesitos aluviais e
concentraccedilotildees in situ a poucas dezenas de metros de profundidaderdquo (DAVINO1975 p129)
Fig 37 MINEacuteRIO DE FERRO MAGNETITA
Embora no final do seacuteculo XIX os conhecimentos cientiacuteficos da Quiacutemica e
da aacuterea da metalurgia jaacute estivessem avanccedilados a composiccedilatildeo da Magnetita do
morro de Araccediloiaba impregnada de oacutexido de Titacircnio natildeo era conhecida75 A
carecircncia de conhecimento cientiacutefico sobre as propriedades quiacutemicas dessa
magnetita foi a principal causa dos trecircs seacuteculos de tentativas de se produzir ferro
naquele local e das inuacutemeras criacuteticas que eram feitas aos fundidores e
administradores 76 Sendo assim podemos indicar que essa realidade teacutecnica foi
determinante para que natildeo se produzisse em Ipanema desde finais do seacuteculo
XVI ferro de boa qualidade Estephania Fraga indica que
75 O titacircnio foi descoberto em 1791 por Willian Gregor mas soacute se tornou bem conhecido apoacutes os estudos de Wohler em 1857 e Peterson em 1887 76 Orville Derby no final do seacuteculo XIX presidia a comissatildeo de estudos geoloacutegicos da Proviacutencia de Satildeo Paulo e pesquisou a apatita de Ipanema
121
a dificuldade em fundir o mineacuterio de Ipanema ndash a magnetita ndash
provinha da composiccedilatildeo especiacutefica do mesmo pois aleacutem de sua
exagerada densidade apresenta-se impregnada de oacutexido de
Titacircnio fatores que contribuem de forma decisiva para dificultar
sua reduccedilatildeo mesmo em altos fornos (FRAGA 1968 p86)
A dificuldade de produzir um ferro de boa qualidade jaacute era sentida desde o
seacuteculo XVIII quando Domingos Pereira Ferreira apostou na construccedilatildeo de uma
Faacutebrica de Ferro naquele local Embora tenha construiacutedo diversos tipos de fornos
e empregado diferentes modos de fundiccedilatildeo natildeo havia conseguido um bom
resultado No seacuteculo XIX essa mesma dificuldade permaneceu nos trabalhos de
fundiccedilatildeo e na produccedilatildeo de ferro da Real Faacutebrica de Ipanema fundada em 1810
O desconhecimento das propriedades daquela magnetita apenas
descoberta na segunda metade do seacuteculo XIX quando a Real Faacutebrica de Ferro jaacute
estava em plena decadecircncia77 tambeacutem estava na origem das acirradas
discussotildees teacutecnicas entre Friederich Ludwig Wilhelm Varnhagen mineralogista
alematildeo e Carl Gustav Hedberg sueco e primeiro diretor de Ipanema (1811-
1814) sobre as vantagens do alto-forno proposto por Vanhagen em relaccedilatildeo aos
quatro fornos azuis Blauofen fornos de reduccedilatildeo direta inicialmente instalados
em Ipanema78
O diretor sueco foi substituiacutedo por Ludwig Wilhelm Varnhagen em 1815
que construiu dois Altos Fornos de aproximadamente 8 metros de altura cada
um Com estes fornos conseguiu produzir o ferro gusa em sua forma liacutequida
tendo moldado com a primeira corrida desse ferro trecircs cruzes sendo uma delas
ldquolevada em procissatildeo ateacute o ponto alto da montanha de Araccediloiabardquo onde
atualmente permanece Contudo Varnhagen natildeo produziu o ferro esperado e
77 Naquele periacuteodo nem o Estado nem a Real Faacutebrica possuiacuteam laboratoacuterios de anaacutelise que pudessem fazer ensaios do mineacuterio combustiacutevel e fundentes empregados na produccedilatildeo A primeira escola formadora de profissionais na aacuterea de mineraccedilatildeo foi a Escola de Minas de Ouro Preto fundada em 1875 (FRAGA 1968 p140) 78 Von Varnhagen havia dirigido a faacutebrica de ferro de Figueiroacute dos Vinhos em Portugal e foi enviado a Ipanema com a finalidade de projetar a construccedilatildeo de uma grande faacutebrica de ferro que afinal foi construiacuteda por Hedberg (FRAGA 1968 p 71-79)
122
essa dificuldade tambeacutem natildeo foi compreendida por Eschwege79 que estava na
direccedilatildeo de uma outra faacutebrica de ferro em Congonhas do Campo a qual produzia
ferro a partir de um outro mineacuterio a hematita que facilmente pode ser trabalhada
para a produccedilatildeo do ferro80 A partir de 1821 estes fornos altos jaacute estavam em
decadecircncia
Contudo parece que apenas Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva quando
esteve examinando as minas de ferro daquele Morro percebeu que
o problema capital de Ipanema liga-se ao mineacuterio de ferro ali
existente ldquoo ferro magneacuteticordquo de difiacutecil fusatildeo embora natildeo
pudesse conhecer ainda a composiccedilatildeo do mesmo (presenccedila de
Titacircnio que como eacute sabido foi descoberto apenas a partir da
segunda metade do seacuteculo XIX) considerando (com base nos
conhecimentos do gecircnero que visitou na Europa) que a soluccedilatildeo
estaria em aumentar a altura dos pequenos fornos (FRAGA 1968
p149)
Em 1878 foi a vez de Joaquim Antonio de Souza Mursa construir um Alto
Forno e quando a Faacutebrica fechou em 1895 este ainda natildeo havia sido utilizado
79 Ludwig von Eschwege depois de ter trabalhado em Portugal o baratildeo de Eschwege seguiu em 1810 para o Brasil a convite do priacutencipe regente D Joatildeo para reanimar a decadente mineraccedilatildeo de ouro e para trabalhar na nascente induacutestria sideruacutergica Em 1821 inicia em Congonhas do Campo Minas Gerais os trabalhos de construccedilatildeo de uma faacutebrica de ferro denominada de Patrioacutetica empreendimento privado sob a forma de sociedade por accedilotildees Em 1811 a siderurgia de Eschwege jaacute produzia em escala industrial Eschwege eacute o autor de Pluto Brasiliensis primeira obra cientiacutefica escrita sobre a geologia brasileira publicada primeiramente na Europa em 1833 (FIGUEIROA 1977 63-67) 80 As hematitas satildeo mineacuterios de ferro constituiacutedos por oacutexido feacuterrico (Fe2O3) contendo ateacute 70 de ferro(Fe) Seu aspecto varia consideravelmente pode se apresentar cristalizado em massas compactas ou em massas terrosas Satildeo utilizadas na produccedilatildeo de ferro sob duas formas principais a) hematita vermelha e b) hematita parda Dados sobre a composiccedilatildeo quiacutemica da hematita fornecidos pela Dra Heacutelegravene Nasson Storch (FRAGA 1968 p149)
123
45 Fatores fisiograacuteficos da ocupaccedilatildeo europeacuteia
A ocupaccedilatildeo das aacutereas interiores da Capitania de Satildeo Vicente no iniacutecio da
colonizaccedilatildeo foi caracterizada particularmente por expediccedilotildees de apresamento de
iacutendios Este movimento pioneiro na ocupaccedilatildeo das aacutereas interiores do continente
e era facilitado pela existecircncia de caminhos indiacutegenas os Peabirus
No caso da ocupaccedilatildeo da regiatildeo onde estaacute localizado o morro de
Araccediloiaba o acesso era facilitado pela presenccedila de importante caminho que ligava
a vila de Satildeo Paulo de Piratininga agraves terras de Guairaacute e regiotildees do Alto Peru
(atual Boliacutevia) Com a descoberta da prata do Potosi intensificaram-se as buscas
de metais nobres inclusive com incentivos da Coroa portuguesa com ajuda de
mineradores preparados para a identificaccedilatildeo de mineacuterios especialmente a prata e
o ouro As expediccedilotildees em busca daquelas riquezas foram estimuladas apoacutes a
chegada de D Francisco de Sousa que ocupou a governadoria Geral do Brasil no
periacuteodo de 1591 a 1601
Foi neste contexto que ocorreram as primeiras tentativas de exploraccedilatildeo do
ferro das minas de Araccediloiaba Dificilmente pode-se precisar a data em que se deu
o encontro do morro de Araccediloiaba pelos europeus mas certamente a sua
descoberta foi facilitada pela presenccedila dos Peabirus
Provavelmente o aspecto estrateacutegico e o encontro de traccedilos de prata junto
ao mineacuterio de ferro de Araccediloiaba tenham sido fatores que levaram D Francisco a
conceder sesmarias e dar iniacutecio ao povoamento colonial da regiatildeo Para tanto
ldquoplantou o pelourinhordquo no interior do Morro tendo como padroeira Nossa Senhora
do Monte Serrat Esta povoaccedilatildeo natildeo prosperou tendo sua populaccedilatildeo se
deslocado em 1611 ndash o mesmo ano da morte de D Francisco de Sousa - para o
Itavuvu local que recebeu a denominaccedilatildeo de Satildeo Felipe Somente mais tarde no
decorrer de 1661 houve a fundaccedilatildeo da Vila de Sorocaba (ALMEIDA 2002 p 11-
20)
124
Apesar da sua localizaccedilatildeo distante cerca de trinta leacuteguas de distacircncia do
litoral e isolada dos mercados consumidores o interesse da exploraccedilatildeo do ferro de
Araccediloiaba se explica pelo valor estrateacutegico desse metal que poderia ser utilizado
como mercadoria contando com mercado certo a proacutepria Capitania de Satildeo
Vicente e a regiatildeo do rio da Prata Por outro lado o ferro era um metal de grande
interesse para a Metroacutepole que contava com pequenas jazidas
Mais tarde jaacute no iniacutecio do seacuteculo XVIII havia um mercado promissor
representado regionalmente pelo avanccedilo da agricultura de cana-de-accediluacutecar e
tambeacutem pela exploraccedilatildeo das minas de ouro de Cuiabaacute e Minas Gerais81 A esse
respeito escreve em 1782 Marcelino Pereira Cleto
Ainda que as minas de ferro e accedilo estatildeo em terras de Sertatildeo e na
distancia de trinta legoas da Marinha com tudo o sitio he haacutebil
para o bom consumo destes gecircneros porqto por Sorocaba he o
caminho para Coritiba Minas de Pernampanema e outras terras
mais distantes da Capitania de Satildeo Paulo por Itu Va proacutexima he
o caminho por onde se dirige todo o negocio que vai para
Cuiabaacute por esta capitania e tambeacutem perto das das minas se
encaminha a estrada de Goiases Se os Negociantes do Cuiabaacute e
Goiases achassem no caminho ou perto delle este dous gecircneros
[ferro e accedilo] ainda pelo mesmo preccedilo qrsquo elles se vendem no Rio
de Janeiro e os de S Paulo o tivessem na sua proacutepria Capitania
certamte natildeo iratildeo busca-los ao Rio de Janeiro com despesa e
risco e bastaria ser seguro este consumo para ser uacutetil cuidar-se
nas das minas
Quanto mais em distancia como de seis leacutegoas das minas
passa o rio Teateacute navegaacutevel de canoa e unicamemte com o
embaraccedilo de algum ou alguns Saltos ou Cachoeiras neste rio
entra um pouco distancia de S Paulo outro chamado dos
Pinheiros neste o rio Grande neste o rio Pequeno qrsquo fica junto agrave
81 No seacuteculo XVIII a agricultura da cana-de-accediluacutecar foi significativa na regiatildeo denominada de ldquoquadrilaacutetero do accediluacutecarrdquo formada pelas localidades de Sorocaba Piracicaba Mogi-Guaccedilu e Jundiaiacute destacando-se duas aacutereas Itu e Campinas Para este tema ver PETRONE Maria Thereza S A lavoura canavieira em Satildeo Paulo Satildeo Paulo Difusatildeo Europeacuteia do livro 1968
125
Serra qrsquo cobre a Va de Santos do rio pequeno a santos seratildeo
sette legoas trecircs por terra maacutes caminho mto aacutespero E as quatro
por hum rio qrsquo em todas as partes admitte navegaccedilatildeo daquelles
rios vecirc-se qrsquo era pequena a distancia em qrsquo se precisava
condusir por terra estes dous gecircneros ateacute ao Porto da Va de
Santos e daqui dar-lhes extraccedilatildeo para mais Portos da Ameacuterica
(CLETO 1899 p p 210)
Embora natildeo haja estudos especiacuteficos sobre o trabalho indiacutegena na
produccedilatildeo do ferro dos empreendimentos metaluacutergicos instalados no morro de
Araccediloiaba os documentos escritos indicam que ateacute meados do seacuteculo XVIII a
produccedilatildeo do ferro em Araccediloiaba foi realizada com o trabalho de indiacutegenas que
eram levados para aquela atividade pelos exploradores 82 Dessa forma
exploraram aquelas minas Afonso Sardinha e Francisco de Souza (seacuteculo XVI e
XVII) Luiz Lopes de Carvalho (seacuteculo XVII) Domingos Pereira Ferreira (seacuteculo
XVIII) e depois a Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema Neste uacuteltimo
empreendimento os iacutendios foram trazidos das aldeias de Itapecerica MrsquoBoy
Carapicuiacuteba Barueri e Itapevi Em 1815 trabalhavam nessa faacutebrica 16 iacutendios aleacutem
de escravos africanos Em 1834 a Real Faacutebrica de Ferro comeccedilou a receber
africanos livres em 1837 trabalhavam naquele estabelecimento 121 escravos (68
homens 24 mulheres e 29 crioulos) e 48 africanos livres (30 homens e 18
mulheres)83
Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX o morro de Araccediloiaba passou a
integrar as rotas de muitos naturalistas geoacutegrafos mineralogistas botacircnicos e
geoacutelogos como Von Martius Martim Francisco de Andrada Auguste Saint Hilaire
o Baratildeo Eschewege Theodoro Knecht e Leandro Dupreacute que fizeram daquele
82 Conforme estabelecia a legislaccedilatildeo mineira compilada pelo Coacutedigo Filipino a exploraccedilatildeo de qualquer mineacuterio era realizada com os recursos do proacuteprio descobridor pagando os direitos dos quintos ao eraacuterio reacutegio Cf Ord L 2ordm ndash Tits 26 e 28 par 16 acolhendo a Ord Manuelina do L 2ordm Tt34 e seus paraacutegrafos Ver RODRIGUES (1966 p 182) 83 Sobre o trabalho indiacutegena na Real Faacutebrica de Ferro de Ypanema ver MENON Og A Real Fabrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema e seu mundo 1811-1835 Dissertaccedilatildeo (mestrado) Satildeo Paulo PUCSP 1992 p 84-90 Sobre o trabalho dos africanos livres em Ipanema ver RODRIGUES Jaime Ferro trabalho e Confliro os Africanos livres na Faacutebrica de Ipenema Historia Social n 45 Campinas IFCH-Unicamp 29-42 199798
126
local um laboratoacuterio a ceacuteu aberto para pesquisas cientiacuteficas aleacutem de terem
deixado dessas experiecircncias relatos preciosos que ajudam a compor aquela
histoacuteria como atesta o relato do naturalista Saint-Hilaire que esteve em Ipanema
em 1819 Diz ele
Encontrei em Ipanema um zoologista o Sr Natterer membro da
comissatildeo cientiacutefica que o imperador da Aacuteustria havia enviado ao
Brasil para recolher amostras de espeacutecimes diversos do pais
Fazia um ano que se achava instalado nas proximidades das
forjas tendo jaacute formado uma vasta coleccedilatildeo de paacutessaros Era
impossiacutevel natildeo admirar a beleza dessa coleccedilatildeo Natildeo se via uma
uacutenica ave cujas penas tivessem sido coladas ou que apresentasse
a menor mancha de sangue
Encontrei tambeacutem em Ipanema um jovem prussiano Sellow
o primeiro naturalista a chegar no Brasil depois de firmada a paz
Tinha feito anteriormente estaacutegio no Jardim Botacircnico de Paris a
fim de aperfeiccediloar os seus conhecimentos e vivia agora de uma
pensatildeo que lhe dava o ilustre e generoso Humboldt o qual fazia
crer ao rapaz que ele estava sendo pago pela administraccedilatildeo do
Jardim Sellow dedicava-se as suas pesquisas com um zelo e
uma energia sem par (SAINT-HILAIRE 1972 p194-195)
127
CAPIacuteTULO 5
INVESTIGACcedilOtildeES ARQUEOLOacuteGICAS AS EVIDENCIAS DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO 84
O trabalho da pesquisa arqueoloacutegica se estendeu por um periacuteodo de 8
anos (1983-1989) e ficou registrado em documentos de Diaacuterios de Campo
escritos pela pesquisadora Margarida Davina Andreatta assim como em
correspondecircncias levantamentos topograacuteficos planos de escavaccedilatildeo croquis e
desenhos geomeacutetricos de plantas das ruiacutenas croquis de cortes estratigraacuteficos e
de reconhecimento das escavaccedilotildees Inventaacuterio de Peccedilas e fotografias tudo
devidamente registrado em relatoacuterios da pesquisa arqueoloacutegica (ver Planta Geral
da Aacuterea Anexo 9 e o mapeamento das escavaccedilotildees Anexo 10)
Os artefatos coletados durante as investigaccedilotildees de campo foram
acondicionados em caixas devidamente protegidas e identificadas e guardados
nas dependecircncias do Museu do Centro de Visitantes da FLONA de Ipanema
Por ocasiatildeo da primeira visita realizada no Siacutetio Afonso Sardinha em 09 de
maio de 1983 a pesquisadora observou que as ruiacutenas existentes estavam
cobertas por ldquopequenos arbustos cipoacutes gramiacuteneas deposiccedilatildeo de folhas e raiacutezes
secasrdquo as quais encobriam os blocos de pedra que formariam as paredes de uma
edificaccedilatildeo (ANDREATTA 1983 p7) O siacutetio apresentava sinais de alteraccedilotildees
causadas pela accedilatildeo de erosatildeo pelas aacuteguas da chuva bem como pela accedilatildeo
antroacutepica possivelmente pescadores e caccediladores que usavam aquele local como
acampamentos temporaacuterios para suas atividades observando-se ainda sinais de
frequumlentes incecircndios na mata existente em seu entorno
84 Para acompanhar as discussotildees deste Capiacutetulo consultar o Anexo 9 Planta Geral do Siacutetio Afonso Sardinha
128
Fig 38 LIMPEZA DO SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 1984
Fig 39 EQUIPE DE TRABALHO SITIO AFONSO SARDINHA 1988
Para iniciar a pesquisa arqueoloacutegica foi necessaacuterio remover a vegetaccedilatildeo
que recobria as ruiacutenas mencionadas de modo a possibilitar as primeiras
observaccedilotildees e mediccedilotildees das paredes e da aacuterea do seu entorno Desta forma jaacute
no iniacutecio das investigaccedilotildees iniciais em maio de 1983 jaacute haviam sido
129
evidenciados embora ainda natildeo totalmente identificados os espaccedilos
possivelmente destinados agrave produccedilatildeo de ferro e os locais proacuteprios para o
aproveitamento da forccedila motriz hidraacuteulica necessaacuteria agravequelas atividades
51 Estruturas hidraacuteulicas para a produccedilatildeo da forccedila motriz
O trabalho de reconhecimento da aacuterea identificou um conjunto de
estruturas identificadas como pertencente a um sistema hidraacuteulico destinado a
produccedilatildeo da forccedila motriz o qual compreendia diversas partes o canal de
derivaccedilatildeo das aacuteguas (vestiacutegios de canaleta) a vala destinada ao alojamento da
roda hidraacuteulica e o trecho do canal de restituiccedilatildeo das aacuteguas ao ribeiratildeo Tais
dispositivos se localizam em aacuterea externa poreacutem adjacente ao edifiacutecio principal
de produccedilatildeo de ferro
Natildeo foi possiacutevel localizar a estrutura do barramento responsaacutevel pelo
desvio das aacuteguas do ribeiratildeo do Ferro para o canal de derivaccedilatildeo
511 O Canal de Derivaccedilatildeo A existecircncia do canal de derivaccedilatildeo foi evidenciada no ano de 1987 quando
foram realizados os trabalhos de decapagem para escavaccedilatildeo da aacuterea Sul da aacuterea
A (forno externo) conforme registrado no Diaacuterio de Campo no dia 02 de julho de
1987 onde de se indica que ldquoevidenciou uma canaleta que se prolonga para o
interior da ferradura que apareceu apoacutes a limpeza da vegetaccedilatildeo do entorno da
mesmardquo Outra evidecircncia da existecircncia do canal na regiatildeo ao Sul da aacuterea A (forno
externo) foi a constataccedilatildeo da ocorrecircncia de fluxo de aacutegua em direccedilatildeo ao Forno 1
(aacuterea A1) fenocircmeno que se observava toda a vez que chovia Este fato mostra
130
que deveria existir um possiacutevel canal interceptador de aacuteguas de chuvas
direcionando a correnteza em direccedilatildeo ao forno (Anexo 9 e Figura 75)
A evidecircncia encontrada revelava que o Canal de Derivaccedilatildeo havia sido
construiacutedo com a finalidade de obter um aproveitamento da corrente de aacutegua do
ribeiratildeo do Ferro contornando a face sul da edificaccedilatildeo ateacute encontrar o muro da
entrada da vala da roda drsquoaacutegua em um ponto onde o terreno se encontra agrave cota
520m medida pelo levantamento planialtimeacutetrico realizado na aacuterea Sendo assim
esse canal de desvio de aacuteguas deve partir do ribeiratildeo do Ferro numa posiccedilatildeo com
cota evidentemente superior a 520m (Figura 75)
No final do Canal de Derivaccedilatildeo no ponto correspondente a entrada da vala
(aacuterea E) foi encontrada durante as pesquisas uma quantidade significativa de
blocos de rocha arenito de tamanhos regulares amontoados e natildeo-alinhados os
quais testemunhavam que naquele local deveria haver uma estrutura de conexatildeo
entre o canal de derivaccedilatildeo e a vala As dimensotildees desses blocos apresentando
uma certa regularidade de formas satildeo tambeacutem um forte indiacutecio de que eles foram
cortados com a finalidade de proporcionar um entrosamento na construccedilatildeo da
parede (Anexo 13)
As pesquisas mostraram a existecircncia de trecircs grupos de blocos com
dimensotildees regulares As Tabelas abaixo apresentam as dimensotildees observadas
nos blocos de arenito acima mencionados
Tabela 1 Dimensotildees dos blocos de maior dimensatildeo ( em centiacutemetros - cm)
COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA
43 30 18
43 27 15
26 20 16
131
COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA
20 11 8
18 09 9
18 14 6
Tabela 2 Dimensotildees dos blocos de media dimensatildeo ( em centiacutemetros ndash cm)
COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA
10 6 6
10 5 6
11 7 35
Tabela 3 Dimensotildees dos blocos de menor dimensatildeo ( em centiacutemetros ndash cm)
Fig 40 VISTA GERAL DA AacuteREA E 1988
132
512 A Vala da Roda
Nas ruiacutenas encontradas da Faacutebrica de Ferro a existecircncia de estruturas
destinadas a utilizaccedilatildeo da energia hidraacuteulica eacute evidenciada pela presenccedila de
estruturas que caracterizam o controle das aacuteguas Em sequumlecircncia ao Canal de
Derivaccedilatildeo mencionado no item anterior observa-se a existecircncia da vala para o
alojamento da roda drsquoaacutegua indicada na planta baixa (Anexo 9) identificada como
ldquoCanal (D)rdquo conforme registrado no Diaacuterio de Campo da pesquisadora Margarida
Davina Andreatta em maio de 1983
A vala encontrada apresenta 19 metros de comprimento tendo ambas as
paredes cerca de 15 metros de largura e vatildeo livre entre as paredes com cerca de
225 m A uma distacircncia da ordem de 37 metros da margem do ribeiratildeo do Ferro
a parede da lateral direita apresenta um alargamento e por conseguinte ocorre
um estreitamento do vatildeo da vala passando a contar com apenas 1 (um) metro de
largura na saiacuteda
A vala encontrada no Siacutetio Afonso Sardinha apresentava o seu piso com
plano de declividade em direccedilatildeo ao ribeiratildeo do Ferro sendo que na parte mais
alta a cota do piso eacute de 453 m acima do niacutevel do ribeiratildeo enquanto que a
extremidade inferior da vala alcanccedila 041m acima do mesmo niacutevel portanto
mostrando forte inclinaccedilatildeo para facilitar a restituiccedilatildeo da aacutegua ao ribeiratildeo
A posiccedilatildeo do plano de declividade da vala mostra que na extremidade de
saiacuteda do canal formou forte desniacutevel em relaccedilatildeo ao piso da Faacutebrica sendo que no
ponto meacutedio o niacutevel da vala seria igual a 230 m (Figura 41)
133
Fig 41 Dimensotildees da Vala da roda e localizaccedilatildeo das evidecircncias de
esteios
134
Fig 42 VALA DA RODA HIDRAacuteULICA 1987 - I
Fig 43 VALA DA RODA HIDRAacuteULICA 1987 - II
135
5121 Evidecircncias de esteios
Em novembro de 1984 foram evidenciados trecircs pares de esteios nas
laterais externas das paredes da vala permitindo supor que as mesmas
funcionavam como pilares para alguma cobertura sobre a vala (ANDREATTA
1984 p 37)
As evidecircncias de esteios encontrados possuem formas circulares e
quadrangulares tendo os lados medidas semelhantes As evidecircncias localizadas
no lado leste apresentavam respectivamente 040 cm X 040 cm 045 cm X 045
cm e 045 cm X 040 cm Jaacute as evidencias encontradas no lado oeste as medidas
encontradas eram 050 X 055 cm e 050 X 050 cm Aleacutem disso apresentavam
espaccedilamentos semelhantes entre si da ordem de quatro metros e meio
Fig 44 EVIDENCIAS DE ESTEIOS vala da roda 1987
136
Fig 45 DETALHE DOS ESTEIOS
Fig 46 DETALHE DE UM ESTEIO
137
52 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 521 Area ldquoCrdquo
O relevo do terreno nesta aacuterea mostra irregularidade sendo que na
extremidade sul junto agrave parede limite a superfiacutecie do terreno apresenta uma
parte plana com cota mais elevada tendo sido medido pela topografia o niacutevel
448 enquanto que na porccedilatildeo central aparece um segundo platocirc com cota do
terreno igual a 343 e na extremidade norte junto ao ribeiratildeo do Ferro a cota
medida foi 0 85m ( ver figura 47)
As pesquisas nesta aacuterea ldquoCrdquo foram realizadas agrave partir de novembro de
1986 para a verificaccedilatildeo da estratigrafia com a abertura de 2 trincheiras na
extremidade norte e uma na parte central as quais tiveram as seguintes
caracteriacutesticas geomeacutetricas (comprimento X largura X profundidade) T1 4m X
065m X 080m T2 170m X 070m X 080m T3 140m X 065m X 095m
(ANDREATTA1984 p 5)
O resultado dos estudos estratigraacuteficos e de decapagem mostraram a
existecircncia unicamente de telhas e cravos aleacutem de alguns poucos fragmentos de
ceracircmica
138
Fig 47 ndash Topografia do Terreno da Aacuterea C (Seta indicaccedilatildeo das Trincheiras)
139
Fig 48 Vista Geral da Aacuterea C 1987
522 A Aacuterea B (ldquoForjardquo) Diferentemente do espaccedilo ldquoCrdquo analisado no item anterior a aacuterea
denominada ldquoBrdquo no desenho da planta baixa (anexo 9) apresentou importante
quantidade de materiais arqueoloacutegicos tais como metais liacuteticos ceracircmicas louccedila
e resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias)
No inicio das exploraccedilotildees do local no decorrer do ano de 1983 foram
observadas evidecircncias de paredes inclusive com amontoados de blocos de
arenito que mostravam possiacuteveis sinais de alteraccedilotildees construtivas
No ano seguinte orientado pela descoberta dos blocos acima
mencionados os quais foram caracterizados como possiacuteveis materiais de
construccedilatildeo a pesquisa arqueoloacutegica foi programada prevendo inicialmente a
140
remoccedilatildeo da vegetaccedilatildeo existente no espaccedilo assinalado ldquoBrdquo seguida da
decapagem do terreno
As pesquisas iniciais permitiram identificar a existecircncia da base de paredes
de uma antiga estrutura A partir desta descoberta foi possiacutevel reconstruir ldquoem
superposiccedilatildeo aos blocos de arenito da parede original da forjardquo 85 Tais blocos de
arenitos conforme foi possiacutevel constatar eram os mesmos materiais de
construccedilatildeo dos setores ldquoCrdquo e ldquoDrdquo
Fig 49 RECONSTITUICcedilAtildeO DAS PAREDES DA AacuteREA B 1984
85 Comunicaccedilatildeo Interna ao CENEA por Margarida Davina Andreatta Iperoacute 05dez1984
141
Fig 50 EVIDENCIAS DAS PAREDES DA AacuteREA B 1984 -
Fig 51 PAREDE DA AacuteREA B RECONSTITUIacuteDA 1984 - I
142
Fig 52 PAREDES DA AacuteREA B RECONSTITUIacuteDA 1984 - II
Durante a realizaccedilatildeo da pesquisa arqueoloacutegica com escavaccedilotildees nesta
aacuterea foi possiacutevel evidenciar a ocorrecircncia de significativa quantidade de peccedilas de
metais (ver Tabela Metais) tais como lacircminas plaquetas e cravos
aparentemente indicando a atividade de transformaccedilatildeo do ferro em peccedilas de
utilitaacuterios Tambeacutem foram encontrados liacuteticos fragmentos de telhas faianccedila de
origem portuguesa e ceracircmicas de produccedilatildeo regional ou local (neo-brasileira)
possivelmente ldquopara fins utilitaacuterios do grupo que habitou o localrdquo 86
86 Relatoacuterio de Atividades Periacuteodo 19-31 maio 1986 p 8
143
Fig 53 DECAPAGEM AacuteREA B 1984
Quanto ao piso arqueoloacutegico da aacuterea ldquoBrdquo observou-se que ele estava
situado entre 10 e 30 cm acima do solo original sendo constituiacutedo ldquode blocos de
arenito de diferentes tamanhos irregulares e cobertos por uma camada de terra
com huacutemus e raiacutezes tronco de aacutervores e a terra eacute latossolo (cor avermelhada) o
mesmo que se encontra entre os blocos de arenito nas paredes parece que
serviu como argamassa para assentar os blocos entre si e levantar a parederdquo
conforme descriccedilatildeo apresentada no Diaacuterio de Campo da pesquisadora Margarida
Davina Andreatta (ANDREATTA 1984 p 42) Notou-se tambeacutem que os blocos e
placas de arenito estavam ldquodispostos horizontalmente de maneira que indicavam
que a superfiacutecie do piso deveria ter sido nivelada com argila a fim de facilitar a
circulaccedilatildeo do homemrdquo (ANDREATTA 1984 p 42)
144
TABELA METAIS
CATEGORIAS NUacuteMERO DE FRAGMENTOS
Cravos 33
Plaquetas 06
Barras de ferro 02
Escoacuterias 03
Mineacuterios 03
ANDREATTA Inventaacuterio de Peccedilas 1983-1987
No interior do local da aacuterea ldquoBrdquo (ldquoforja) foram coletadas duas peccedilas
arqueoloacutegicas compreendendo dois fragmentos de ceracircmica com formato de
vasilhame para cozimento as quais foram encaminhadas para o laboratoacuterio da
FATEC ndash Faculdade de Tecnologia de Satildeo Paulo com o objetivo de obter a
dataccedilatildeo absoluta pelo meacutetodo da termoluminescecircnciardquo Este meacutetodo eacute aplicado
para o caso de materiais que apresentam quartzo em sua composiccedilatildeo tais como
ceracircmica vidros solos louccedilas faianccedilas etc
Uma dessas peccedilas era constituiacuteda de metade de um vasilhame de
pequenas dimensotildees de ceracircmica decorada com a presenccedila de apecircndice (alccedilas)
identificada conforme classificaccedilatildeo arqueoloacutegica como de produccedilatildeo local ou
regional (neo-brasileira) O exame visual dessa peccedila mostra a existecircncia de um
apecircndice (alccedila) que identifica a influencia do europeu na fabricaccedilatildeo daquele
objeto permitindo deduzir que o local teria sido um siacutetio de contato (entre o
indiacutegena e o europeu)
O resultado do ensaio de dataccedilatildeo absoluta dessa peccedila arqueoloacutegica pelo
meacutetodo da termoluminescecircncia apontou a idade de 520 +- 75 anos permitindo
avaliar a data da fabricaccedilatildeo entre 1411 a 1561 conforme Certificado da FATEC
datado de 21 de junho de 2006 (Relatoacuterio de Ensaio ndash Anexo 1) Levando em
conta os dados apresentados pela pesquisa histoacuterica para aquele local pode-se
145
supor que a data mais provaacutevel da fabricaccedilatildeo da peccedila seja em meados do seacuteculo
XVI eacutepoca em jaacute ocorria presenccedila do explorador europeu (Figuras 54 55 56)
Fig 53 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - SEacuteCULO XVI -I Idade de 520 +- 75 anos
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
Fig 54 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - II
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
146
Fig 55 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - III
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
Descriccedilatildeo Nuacutemero de Registro 0106
Niacutevel 015 m de profundidade
Laacutebio arredondado
Borda extrovertida inclinada externa
Diacircmetro de boca 014 m
Acircngulo da parede 115ordm
Vasilhame simeacutetrico profundo inflectido de boca ampliada e com
apecircndices lisos em forma de rolete com evidencias de pressatildeo na extremidade
para fixaccedilatildeo
Apresenta as seguintes decoraccedilotildees inciso na posiccedilatildeo vertical com 015m
de comprimento (em grupo de 3 incisos) distanciando cada grupo em 001m
dispostos em duas fileiras sendo a primeira proacutexima al laacutebio e a segunda junto a
altura do apecircndice
147
O bojo eacute liso e a sua base escovada e apresenta marcas de fuligem na
parte externa e sinais de desgaste por atrito na parte interna da base do
vasilhame
O outro vasilhame ceracircmico encontrado na aacuterea B identificada como de
procedecircncia local ou regional (neo-brasileira) apresenta caracteriacutesticas
semelhantes e tambeacutem a mesma dataccedilatildeo do vasilhame de ceracircmica
anteriormente descrito (Figura 57 58) Este artefato foi encontrado a 030 cm da
superfiacutecie e foi em parte reconstituiacutedo e levado para o exame de dataccedilatildeo pelo
processo de termoluminscecircncia ao Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade
de Tecnologia de Satildeo Paulo - FATEC O resultado do ensaio apontou a idade de
540 +- 75 anos correspondendo a possiacuteveis datas de fabricaccedilatildeo daquele artefato
entre 1391 e 1541 sendo esta uacuteltima data a mais provaacutevel(Relatoacuterio de Ensaio
Anexo 1)
Fig 57 VASILHAME CERAcircMICO ndash 0122 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - I Idade de 540 +- 75 anos
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
148
Fig 58 VASILHAME CERAcircMICO ndash 0122 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - II Idade de 540 +- 75 anos
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema Descriccedilatildeo Nuacutemero de registro 0122
Niacutevel 030 m de profundidade
Tipo de laacutebio arredondado
Tipo de borda extrovertida inclinada externa
Diacircmetro da boca 028m
Acircngulo da parede 110ordm
Fragmento de vasilhame simeacutetrico de contorno inflectido com as seguintes
decoraccedilotildees parede lisa com engobo branco parede externa com banho de
engobo branco com uma linha incisa paralela a 001m do laacutebio Entre esta
primeira decoraccedilatildeo e o bojo haacute decoraccedilatildeo escovada com inclinaccedilatildeo
Na borda haacute ainda um apecircndice convexo com sinais de fixaccedilatildeo e nas
extemidades haacute pressatildeo de fixaccedilatildeo Entre a borda e o bojo apresenta decoraccedilatildeo
regulada contornando o vasilhame O bojo tambeacutem apresenta decoraccedilatildeo
escovada quase horizontal
149
Uma terceira peccedila encontrada no interior da aacuterea ldquoBrdquo eacute uma faianccedila
decorada de origem portuguesa e formada por fragmentos de louccedila de uso
domeacutestico a qual tambeacutem foi submetida a uma dataccedilatildeo relativa mediante
comparaccedilatildeo feita com auxilio de cataacutelogo (Itineraacuterio da Faianccedila do Porto e Gaia
publicaccedilatildeo do Museu Nacional de Soares dos Reis sem data) Os fragmentos
foram localizados em parte no interior da aacuterea ldquoBrdquo e outra parte na aacuterea externa
dessa mesma aacuterea sendo este uacuteltimo junto a um vestiacutegio de estrutura do forno 1
aacuterea A1 (Figura 59)
O exame visual sobre a faianccedila reconstituiacuteda a partir de cinco fragmentos
separados permitiu reconhecer com base no documento acima mencionado que
aquela peccedila era um utensiacutelio portuguecircs de uso domeacutestico a qual pode ser
descrita como ldquotiacutepicas tijelas malegueiras decoradas no fundo e na orla com
filetes concecircntricos azul [] que apresentam temas decorativos recorrentes
dentro das faianccedilas conhecidas para a segunda metade do seacuteculo XVII (GOMES
BOLTELLO p148)
Conforme parecer sobre a mesma faianccedila acima descrita apresentado por
Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do Infante Porto ndash Portugal em
28 de abril de 2004 aquela peccedila de faianccedila apresenta uma ldquodecoraccedilatildeo simples
que exibe com toques de pincel espaccedilados junto ao bordo filetes simples
resultando ciacuterculos concecircntricos e espiral no fundo tudo em azul aponta para
uma cronologia que se centraraacute no seacuteculo XVIIrdquo 87
87 Parecer sobre a faianccedila encontrada no Siacutetio Afonso Sardinha feita por Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do Infante Porto ndash Portugal em 28 abr 2004
150
Fig 59 FAIANCcedilA - AacuteREA B [SEacuteC XVII]
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
53 Area E Sul da Faacutebrica de Ferro
A pesquisa arqueoloacutegica realizada na aacuterea E Sul externa da Faacutebrica de
Ferro revelou a existecircncia de amontoados de resiacuteduos de fundiccedilatildeo da magnetita
conhecidos como escoacuteria os quais se distribuem por uma ampla aacuterea do terreno
identificada como escorial sendo que num local adjacente agrave face sul da estrutura
denominada aacuterea ldquoB se apresenta maior concentraccedilatildeo (ver anexo 9)
Uma amostra desse material foi encaminhada para anaacutelise no
Departamento de Mineralogia e Geotectocircnica GMG do Instituto de Geociecircncias
da Universidade de Satildeo Paulo aos cuidados de Daniel Atencio Professor
Associado daquele Departamento o qual constatou ser aquela amostra ldquo[]
provavelmente restos de fundiccedilatildeo Trata-se de wuumlstita (FeO) mais ferro (Fe)
Esses materiais satildeo muito raros como minerais mas comuns em fundiccedilotildeesrdquo88
88 Anaacutelise elaborada por Daniel Atencio Professor Associado do Departamento de Mineralogia e Geotectocircnica GMG IGUSP e enviado por e-mail no dia 21 set 2005
151
Como indica este parecer a amostra se constituiacutea de uma escoacuteria ldquoresto
de fundiccedilatildeordquo contendo wuumlstita (FeO) e ferro caracterizando desta forma o material
do escorial citado
Fig 60 ESCOacuteRIA RESTOS DE FUNDICcedilAtildeO AacuteREA E
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
Observe-se que a presenccedila do metal de ferro impregnado nessa escoacuteria
era resultante da teacutecnica de fundiccedilatildeo para fabricaccedilatildeo do ferro empregada no
Brasil ateacute o iniacutecio do seacuteculo XIX Com a introduccedilatildeo do processo de altos-fornos no
Brasil foi possiacutevel melhorar o aproveitamento do mineacuterio de ferro durante o
processo de fundiccedilatildeo
Nesta mesma aacuterea E foi encontrada uma grande quantidade de telhas
localizadas na parte externa das aacutereas ldquoBrdquo e ldquoCrdquo anteriormente descritas Foram
coletadas 930 fragmentos de telhas as quais foram localizadas ao longo de uma
faixa do terreno com largura da ordem de 060 e 080 cm paralelamente a parede
sul das aacutereas ldquoBrdquo e ldquoCrdquo sugerindo corresponder a mesma posiccedilatildeo sob um ldquobeiral
do telheiro que cobria as respectivas aacutereasrdquo (ANDREATTA 1987 p36v) (Anexo
15)
152
As telhas encontradas permitem afirmar que no local havia uma cobertura
sendo que os trabalhos de dataccedilatildeo sobre um exemplar de telha (Figura 61)
executado pelo meacutetodo de termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e
Dataccedilatildeo da Faculdade de Tecnologia de Satildeo Paulo ndash FATEC acusou uma
dataccedilatildeo (em anos) de 280 +- 40 o que equivale a afirmar que aquele fragmento
foi fabricado entre os anos de 1686 a 1766 periacuteodo correspondente a pelo
menos dois projetos de Faacutebrica de Ferro para aquele local o de Luiz Lopes de
Carvalho e o de Domingos Pereira Ferreira sendo que este uacuteltimo empreendedor
esteve ali estabelecido durante um periacuteodo de no miacutenimo 12 anos (Relatoacuterio de
Ensaio Anexo 1)
A partir dos exames dos fragmentos das telhas encontradas tendo por
base o tipo de pasta coloraccedilatildeo e decoraccedilatildeo foi possiacutevel identificar seis grupos
distintos daquele material conforme a tabela de classificaccedilatildeo abaixo
(ANDREATTA 1987 p21)
Classificaccedilatildeo Caracteriacutestica
Tipo I Branca com riscos (podem ter sentido
longitudinal transversal em X ou em cruz) -
Predominante
Tipo II Branca lisa
Tipo III Vermelha lisa
Tipo IV Marron lisa
Tipo V Vermelha marcadas com granulaccedilatildeo grosseira
Tipo VI Vermelha lisa e com granulaccedilatildeo grosseira
(ANDREATTA 1987 p22)
Quanto a decoraccedilatildeo foram identificados quatro tipos de motivos conforme
os itens descritos abaixo
153
Tipo 1 - linhas digitais horizontais formados por duas linhas relativamente finas
(10 cm) paralelas e orientadas de uma extremidade a outra da telha A natureza
dessas linhas indica que foram confeccionadas em alguns casos por meio da
utilizaccedilatildeo de dedos (indicador e meacutedio)
Tipo 2 - linhas digitais associadas neste caso a decoraccedilatildeo eacute composta por uma
uacutenica linha com a largura de 03 a 05 cm traccedilada na posiccedilatildeo horizontal associada
a uma outra decoraccedilatildeo de forma semicircular
Tipo 3 - linhas digitais paralelas e inclinadas a decoraccedilatildeo apresenta linhas de 10
cm inclinadas e entrelaccediladas
Tipo 4 - linhas digitais inclinadas apresentam linhas com 10 a 15 cm
154
Fig 61 TELHA (AacuteREA E) ndash SEacuteCULO XVIII Idade 280 +- 40 (tn 255 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
155
Fig 62 TELHA (AacuteREA E) (tn30 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
Fig 63 TELHA AacuteREA E (tn 33 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
156
531 Fornos de fundiccedilatildeo na aacuterea externa da Faacutebrica (Aacuterea A1) Na aacuterea externa agrave Faacutebrica de Ferro localizada em diversas posiccedilotildees ao sul
e leste da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro inclusive na aacuterea aqui denominada de
escorial a pesquisa arqueoloacutegica mostrou a existecircncia de pequenos fornos de
fundiccedilatildeo do tipo ldquofornos baixosrdquo (Anexo 9)
Nessa mesma aacuterea junto ao local denominado ldquoArdquo foi identificado um dos
fornos de fundiccedilatildeo o qual foi denominado de ldquoforno1rdquo da aacuterea A1 junto ao qual
foram encontrados diversos materiais arqueoloacutegicos fragmento de ceracircmicas um
material liacutetico identificado como ldquoraspadorrdquo uma garrafa de greacutes fragmentos de
faianccedila portuguesa e telhas As evidecircncias de ceracircmicas encontradas nessa aacuterea
constituem artefatos relacionados ao grupo social de ocupaccedilatildeo colonial
Fig 64 RASPADOR PLANO-CONVEXO AacuteREA E
157
Fig 65 GARRAFA GRES AacuteREA A FORNO-1
Tambeacutem foi localizado um afloramento de rocha nas proximidades da
Faacutebrica margem esquerda do ribeiratildeo do Ferro o qual apresentava marcas de
uso possivelmente para afiar ferramentas (ANDREATTA 1983 p 18)
5311 Forno de Fundiccedilatildeo 1
O Forno 1 era do tipo conhecido como ldquoforno baixordquo sendo o uacutenico
encontrado junto a Faacutebrica de Ferro Entretanto dois outros fornos baixos foram
localizados em um local mais distante (da ordem de 50m) e denominado aacuterea A2
da referida Faacutebrica possivelmente fazendo parte de um outro conjunto de
produccedilatildeo de ferro (Anexo 9)
Os trabalhos de reconhecimento arqueoloacutegico mostraram que o Forno 1
(aacuterea A1) foi construiacutedo sobre uma base retangular com blocos de arenito sendo
158
que duas paredes foram erguidas tambeacutem com blocos de arenito (lados Norte e
Oeste ) enquanto que as duas outras faces foram encaixadas no proacuteprio terreno
rochoso do afloramento de arenito (lados Sul e Leste) aproveitando o relevo
inclinado no local
Uma descriccedilatildeo relacionada ao Forno 1 (aacuterea A1) feita pela pesquisadora e
arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta informa que
uma parte da ldquoconcavidaderdquo (lado Leste) eacute o proacuteprio afloramento
de arenito e o lado Sul tambeacutem enquanto que os lados Norte e
Oeste satildeo revestidos de blocos de arenito e no centro haacute
pequenos blocos tambeacutem de arenito que provavelmente rolaram
da superfiacutecie do proacuteprio muro de pedras da forja (ANDREATTA
1986 p9)
Os dados da pesquisa arqueoloacutegica mostraram ainda que o Forno 1 (aacuterea
A1) apresentava em planta as seguintes dimensotildees comprimento 340m (norte-
sul) largura 260m (leste ndash oeste) e profundidade de 085m (Andreatta 1986
p10)
Fig 66 DECAPAGEM FORNO1 AacuteREA A1 1987
159
Fig 67 VESTIacuteGIOS DO FORNO DE FUNDICcedilAtildeO1- (AacuteREA A1)89
532 Fornos de fundiccedilatildeo da Aacuterea A2 A pesquisa arqueoloacutegica mostrou vestiacutegios de dois outros fornos de
fundiccedilatildeo localizados subjacentes a um morrote denominado B nesta aacuterea A2 a
qual dista cerca de 50 metros ao Sul do local da aacuterea A1 onde existe uma ruiacutena
da Faacutebrica de Ferro O morrote B (ver Figuras 13 e 68) apresentava dimensotildees
de 1280 metros de comprimento por 250m de largura e 135 m altura Aleacutem do
forno de fundiccedilatildeo foram encontrados tijolos telhas e fragmentos de ceracircmica
(ANDREATTA 1987 p65-66) ( Anexo 9)
89 Ver em Pesquisas arqueoloacutegica prosseguem em Ipanema Jornal Cruzeiro do Sul Sorocaba 19 de marccedilo de 1987p 1
160
Fig 68 MORROTE E FORNOS 1 E 2 ndash AREA A2
161
Fig 69 CROQUI AacuteREA A 2 MORROTE B ndash FORNOS 1 E 2 Desenho de Maacutercia Gutierrez Escala 120
162
5321 Forno de fundiccedilatildeo 1 (aacuterea A2) O forno de fundiccedilatildeo 1 da aacuterea A2 caracteriza-se tambeacutem como do tipo
baixo Durante a pesquisa arqueoloacutegica esta evidecircncia se apresentou como o
forno de fundiccedilatildeo mais bem conservado dentre aqueles encontrados Este forno
tem a forma circular com 070 m de diacircmetro interno e 100 m de diacircmetro
externo com 030 m de profundidade A estrutura apresenta na base um vatildeo de
015 m que corresponde agrave abertura atraveacutes da qual se fazia a ldquocorrida das
escoacuteriasrdquo (Figuras 70 e 71)
A parede circular do Forno 1 (aacuterea A2) eacute ldquo assentada diretamente sobre o
solo e eacute constituiacuteda por tijolos e fragmentos de telhas e argamassa com argila do
proacuteprio solo originalrdquo (ANDREATTA 1987 p65-66) Junto ao vatildeo existente no
piso do forno foi feito um pequeno corte (025 m X 025 m X 010 m) para
evidenciar com maior precisatildeo a funccedilatildeo que teria aquela abertura em relaccedilatildeo agrave
estrutura do forno de fundiccedilatildeo
Com base nas investigaccedilotildees arqueoloacutegicas desenvolvidas foi possiacutevel
evidenciar a existecircncia de uma camada de 002 m de ldquosolo compactado e
queimado e com maior resistecircncia em relaccedilatildeo do restante do solo original abaixo
dele e do entornordquo( (ANDREATTA 1987 p65-66) comprovando que de fato
aquela abertura correspondia ao orifiacutecio responsaacutevel pela drenagem das escoacuterias
Esta abertura era comum a todos os fornos de fundiccedilatildeo do tipo forno baixo com
emprego do meacutetodo direto
163
Fig 70 VESTIacuteGIOS DE FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 1- AacuteREA A2 1988
164
Fig 71 CROQUI DO FORNO 1 AacuteREA A2 (1987) Desenho de Marcia Gutierrez
165
5322 Forno de fundiccedilatildeo 2 (aacuterea A2)
O vestiacutegio arqueoloacutegico do Forno 2 foi encontrado a 045 m de
profundidade correspondendo a um forno do tipo baixo apresentando forma
circular construiacutedo com a utilizaccedilatildeo de telhas e ldquotijolosrdquo os quais eram materiais
diferentes daqueles encontrados em outras evidecircncias de fornos neste Sitio Esta
constataccedilatildeo denota que natildeo havia uma regra determinada para a construccedilatildeo de
fornos no que se refere agrave utilizaccedilatildeo de materiais de construccedilatildeo podendo haver
alternativas de uso de outros materiais conforme a disponibilidade de materiais
no local (Figuras 72 73 e 74)
Os registros do trabalho arqueoloacutegico permitiram evidenciar que o Forno 2
apresentava as seguintes dimensotildeesldquodiacircmetro de 110 m com uma borda de 28
cm de largura com a presenccedila de fragmentos de telhas tijolos e argamassa
(latossolo vermelho)rdquo ldquoDo interior do forno foram retiradas telhas (fragmentos)
em quantidade e tijolos e barro cozido com grande presenccedila de mineacuterio de ferrordquo
(ANDREATTA 1987 p65-66)
Quanto ao barro cozido (argila) encontrado no interior desse forno teria
sido provavelmente resto de um revestimento interno jaacute que o material do qual
ele foi construiacutedo (telhas e tijolos) estava disposto de forma bastante irregular A
utilizaccedilatildeo da argila como revestimento nos fornos de fundiccedilatildeo era muito comum
dando um efeito refrataacuterio ao forno fazendo com que natildeo fosse desperdiccedilada a
temperatura elevada que era proporcionada pela combustatildeo do carvatildeo vegetal no
interior do forno e necessaacuteria para separar o metal de ferro do mineacuterio no caso a
Magnetita
166
Fig 72 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988
Fig 73 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988
167
Fig 74 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988
168
CAPITULO 6
INTERPRETACcedilOtildeES DOS DADOS ARQUEOLOacuteGICOS
No Capiacutetulo 5 foram apresentados os resultados da pesquisa arqueoloacutegica
desenvolvida no Siacutetio Afonso Sardinha que envolveram trabalhos de
reconhecimento de campo segundo planos de escavaccedilatildeo coleta de artefatos
levantamentos planialtimeacutetricos e elaboraccedilatildeo de croquis tudo devidamente
registrado no Diaacuterio de Campo da arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta
No presente Capiacutetulo apresentam-se os resultados das anaacutelises detalhadas
dos registros arqueoloacutegicos que resultaram da pesquisa de campo e em seguida
interpretadas as informaccedilotildees anteriormente consolidadas com base nos
conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia
Na elaboraccedilatildeo da siacutentese interpretativa foi necessaacuterio em
complementaccedilatildeo valer-se de instrumentos disponiacuteveis em outras aacutereas do
conhecimento tais como Geologia Mineralogia Metalurgia Engenharia Civil
dentre outras aacutereas
Nesta fase dos estudos arqueoloacutegicos foram elaborados exames visuais e
catalograacuteficos visando a dataccedilatildeo relativa inclusive com o envio de imagem para
fins de comprovaccedilatildeo para Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do
Infante Porto ndash Portugal
Tambeacutem encaminhadas trecircs amostras de ceracircmica de utensiacutelios e telhas
as quais foram submetidas a testes de dataccedilatildeo absoluta com base em ensaios
de Termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade de
Tecnologia de Satildeo Paulo ndash FATEC sob a coordenaccedilatildeo da Professora Doutora
Sonia H Tatumi (Relatoacuterio de Ensaio Anexo 1)
169
Por outro lado amostras de resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias) foram
submetidas a anaacutelise quiacutemica-mineraloacutegica no laboratoacuterio do Departamento de
Mineralogia e Geotectocircnica ndash GMG Instituto de Geociecircncias da Universidade de
Satildeo Paulo sob a responsabilidade do pesquisador e Professor Associado Daniel
Atencio
61 Avaliaccedilatildeo das caracteriacutesticas do Arranjo das Estruturas Ao analisarmos o conjunto das estruturas arqueoloacutegicas entatildeo
descobertas considerando o contexto relacionado agrave produccedilatildeo do ferro na Europa
entre os seacuteculos XVI ao XVIII e levando em conta os conhecimentos que emanam
da Histoacuteria Colonial do Brasil e da Histoacuteria da Teacutecnica eacute possiacutevel estabelecer
muitas semelhanccedilas entre os arranjos das ldquoferrariacuteas de aacuteguardquo destinadas a
produccedilatildeo de ferro na Espanha (Paiacutes Basco) e os vestiacutegios descobertos no vale
das Furnas (Sitio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha)
Um dos aspectos mais importantes que demonstram tal semelhanccedila entre
as ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo e a Faacutebrica do Vale das Furnas refere-se agrave localizaccedilatildeo das
estruturas numa posiccedilatildeo de curva do ribeiratildeo do Ferro de onde era possiacutevel
captar e desviar as aacuteguas mediante a construccedilatildeo de um sistema hidraacuteulico
formado pelas seguintes unidades (a) Dique para represamento do ribeiratildeo (b)
Canal de Derivaccedilatildeo para desvio das aacuteguas (c) Estrutura de Vala com alojamento
de roda drsquoaacutegua e (d) Canal de restituiccedilatildeo das aacuteguas para o ribeiratildeo do Ferro
Tambeacutem chamam a atenccedilatildeo a arquitetura da principal estrutura construiacuteda
localizada na aacuterea A1 a qual mostra diversos recintos com a divisatildeo
caracteriacutestica das ldquoferreriacuteasrdquo encontradas na Espanha nos seacuteculos XVI assim
como as dimensotildees da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro construiacuteda numa aacuterea
retangular com 13m de largura por 16 m de comprimento No caso das ldquoferreriacuteasrdquo
170
bascas as edificaccedilotildees satildeo igualmente retangulares com as dimensotildees de 12 m de
largura por 17 metros de comprimento
Vale tambeacutem mencionar que arranjo semelhante pode ser observado no
caso da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro que entrou em operaccedilatildeo
em 1607 (ver fig 27)
Observa-se tambeacutem o emprego da alvenaria de pedra - teacutecnica construtiva
introduzida no Brasil pelos primeiros colonizadores como no caso da construccedilatildeo
da Casa da Torre de Garcia DrsquoAvila (ano de 1549) na Praia do Forte atual
municiacutepio de Mata de Satildeo Joatildeo Litoral Norte da Bahia (HOLANDA 2002)
Essa mesma teacutecnica exceto pequenas variaccedilotildees respeitavam as tradiccedilotildees
ibeacutericas tendo sido empregada no Brasil tambeacutem para construccedilotildees de
residecircncias edifiacutecios puacuteblicos igrejas e fortificaccedilotildees principalmente no litoral As
paredes feitas de pedra eram entatildeo revestidas com argamassa de areia e cal
obtido pela queima de cascas de ostras encontradas em depoacutesitos no litoral
Nota-se conforme registros das Atas da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo para o ano
de 1609 que essa mesma teacutecnica que se utilizava da cal como argamassa
tambeacutem foi utilizada na construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro (1607)
(NEME 1959 p 348)
62 As ldquoferreriacuteasrdquo de aacutegua na Peniacutensula Ibeacuterica
Na Europa e principalmente na Espanha as ldquoferreriacuteas de aguardquo se
expandiram a partir do seacuteculo XIV90 Assim eram chamados os edifiacutecios
destinados ao trabalho de fundiccedilatildeo do ferro que utilizavam a forccedila motriz
hidraacuteulica para acionar os foles dos fornos de fundiccedilatildeo e os malhos
90 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponiacutevel em lthttpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablesPrimitivas_instalcionespdfgt Acesso em 30 mar 05
171
Essas ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo para viabilizar o seu funcionamento exigiam
certas condiccedilotildees fisiograacuteficas cujos componentes essenciais satildeo a presenccedila do
mineacuterio de ferro nas proximidades madeiras para produccedilatildeo de carvatildeo e cursos
drsquoagua com corredeiras e volume de aacuteguas suficientes para a geraccedilatildeo de forccedila
motriz
Hubo dos tipos de ferreriacuteas de agua las que se valiacutean del caudal
de los rios que funcionaban todo el antildeo y las que dependiacutean de
arroyos que no entraban em funcionamiento hasta las
temporadas de otontildeo e invierno cuando la lluviacuteas incrementaban
el caudal de los regatos y la fuerza del agua Estas uacutetimas no
llegaron a ser consideradas como autenticas ferreriacuteas de agua
Em Biskaia se disignaba a las primeras como ldquode rio caudalrdquo y a
las segundas como ldquoregaterasrdquo Tambieacuten em Gipuzkoa se
diferenciaban unas de otras com los nombres de ldquozeharrolakrdquo y
ldquoagorrolakrdquo respectivamente
Para aprovechar la fuerza del agua era imprescidible que la
ferreriacutea estuviesse construiacuteda em el lugar adecuado Debiacutea estar
situada em la curva de um rio em um lugar em el que fuese faacutecil
desviar el agua de su curso natural a traveacutes de um sistema de
canales y anteparas para que despueacutes de hacer rotar la rueda
hidaulica pudiesse volver a su cauce naturalCuando no era
posible conseguir esta situacioacuten se recurriacutea a crear um sistema
artificial de presas que contuviesen el agua em um niacutevel maacutes
elevado de forma que para mover las ruedas hidraacuteulicas bastaba
com dejar caer la aacutegua sobre ellas 91
91 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponiacutevel em lthttpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablesPrimitivas_instalcionespdfgt
172
Fig 75 ASPECTO DE UMA ldquoFERRERIacuteA DE AGUArdquo SEacuteCULO XVII92
92 Felipe III visita la ferreriacutea de Yarza en Beasain (Guipuacutezcoa) en 02 noviembre de 1615
173
As plantas das ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo encontradas na regiatildeo basca da
Espanha obedeciam a um arranjo de planta retangular medindo em meacutedia 12 X
17 metros com cobertura de duas aacuteguas sendo que suas dependecircncias e
instalaccedilotildees geralmente compreendiam duas estruturas baacutesicas para a produccedilatildeo
de ferro o sistema hidraacuteulico ao qual jaacute se fez referecircncia e o edifiacutecio de
produccedilatildeo
A construccedilatildeo desse edifiacutecio principal era executada por construtores
especializados em teacutecnicas de edificaccedilotildees em alvenaria de pedra bem como na
instalaccedilatildeo de sistemas hidraacuteulicos exigindo a participaccedilatildeo de carpinteiros os
quais seriam os responsaacuteveis pela construccedilatildeo da roda drsquoaacutegua dos eixos da caixa
de aacutegua e das estruturas para o telhado 93
Para a operaccedilatildeo das ldquoferreriacuteasrdquo era necessaacuterio contar com pessoal teacutecnico
com conhecimentos tanto em mineraccedilatildeo quanto na fundiccedilatildeo bem como no
manejo dos dispositivos de utilizaccedilatildeo da energia das aacuteguas dos rios atraveacutes do
sistema hidraacuteulico
Este edifiacutecio destinado a produccedilatildeo abrigava diversos compartimentos
sendo o maior deles reservado agrave oficina a qual deveria se localizar ao lado da
Vala onde estava instalada a roda drsquoaacutegua que acionavam os eixos responsaacuteveis
pela movimentaccedilatildeo do malho e foles
O espaccedilo destinado agrave oficina era organizado de modo a levar em conta
duas unidades fundamentais de produccedilatildeo do ferro o forno de fundiccedilatildeo e o malho
A disposiccedilatildeo desses equipamentos no interior da oficina natildeo era aleatoacuteria uma
vez que a teacutecnica empregada para a fabricaccedilatildeo do ferro exigia que aqueles
Disponivel em lthttpwwweuskomediaorgeuskomediaSAunandigt Acesso em 20 marccedilo 2005 93 FERNANDEZA C La construccioacuten del hierro ndashmazos y ferreriacuteas Escuela Universitaacuteria de Arquitectos tecnicos de la Corunatilde Disponiacutevel em wwwguillenderohancomEXPOGRImzos-memoriahtm Acesso em 07mar06
174
equipamentos estivessem posicionados nas proximidades tendo em vista o fato
de os trabalhos serem complementares
Aleacutem da oficina o edifiacutecio principal deveria abrigar depoacutesitos de mateacuteria-
prima como carvatildeo vegetal e mineacuterio de ferro jaacute calcinado (tostado) e uma aacuterea
comum de descanso
Fig 76 SISTEMA DE ldquoPUJOacuteN TUERTOrdquo foles e malho satildeo acionados com o emprego de uma uacutenica roda hidraacuteulica94
94 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponivel emhttpwwwbizkaianetKulturaKirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablePrimitivas_instalacionespdf Acesso em 17 novembro de 2006
175
Fig 77 TRABALHO DE EXTRACcedilAtildeO DA MASSA DE FERRO 63 Sistema hidraacuteulico produccedilatildeo da forccedila motriz 631 Dique de represamento do ribeiratildeo do Ferro
As investigaccedilotildees de campo natildeo possibilitaram localizar o Dique de
represamento do ribeiratildeo do Ferro possivelmente em razatildeo da fragilidade dessas
estruturas diante da forccedila das aacuteguas
Entretanto vale registrar o testemunho de Luiz Lopes de Carvalho o qual
em carta dirigida ao Rei de Portugal em maio de 1692 afirmava que
por experiecircncia que fiz pelas minhas matildeos pois fabricando um
Engenho muito limitado por natildeo ter posses que mais tirava todos
os dias este rendimento de um quintal de ferro de duas pedras
176
poreacutem soacute cinco dias continuei nesta oficina em razatildeo de ir uma
cheia e como pela pobreza afabriquei com pouca fortaleza se
arruinou ficando incapaz de poder continuar na faacutebrica95
632 Canal de Derivaccedilatildeo das aacuteguas
As condiccedilotildees de erosatildeo na aacuterea do possiacutevel traccedilado tambeacutem natildeo
permitiram localizar a estrutura do dique responsaacutevel pelo desvio das aacuteguas no
ribeiratildeo do Ferro bem como localizar a comporta responsaacutevel pelo controle do
acesso de aacuteguas em direccedilatildeo ao canal
Deve-se ressaltar que a estrutura do dique eacute necessaacuteria para a elevaccedilatildeo
do niacutevel da aacutegua do ribeiratildeo para o desvio enquanto que a comporta permitiria
regular a vazatildeo em direccedilatildeo ao Canal de Derivaccedilatildeo A aacutegua conduzida atraveacutes do
deste Canal de derivaccedilatildeo impulsionada pela gravidade alcanccedilaria a entrada da
Vala sendo em seguida recolhida em um depoacutesito posicionado sobre aquela
estrutura
A Figura 78 mostra um possiacutevel traccedilado do referido canal sendo que no
desenho o iniacutecio do canal foi posicionado num ponto do ribeiratildeo acima da cota
583m conforme o levantamento planialtimeacutetrico executado na aacuterea do Siacutetio
Arqueoloacutegico Afonso Sardinha96
95 Carta enviada por Luiz Lopes de Carvalho ao Rei de Portugal datada de maio de 1692 RODRIGUES Leda Maria Pereira As minas de ferro em Biraccediloiaba ndash Satildeo Paulo seacuteculos XVI XVII XVIII Anais do III Simpoacutesio dos Professores Universitaacuterios de Histoacuteria Franca 1966 p 218 96 Planta Planialtimeacutetrica Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha Escala 1200 CENEA sd
177
Fig 78 TRACcedilADO ESQUEMAacuteTICO DO CANAL DE DERIVACcedilAtildeO
633 Vala da roda A finalidade da estrutura da Vala eacute a de abrigar a roda drsquoaacutegua dispositivo
necessaacuterio para transformar a energia hidraacuteulica em energia mecacircnica para
movimentar os equipamentos e ferramentas da Faacutebrica de Ferro
A Vala da roda foi construiacuteda com paredes de blocos de pedras de modo a
permitir o fluxo da correnteza e ao mesmo tempo proteger o terreno contra as
erosotildees impedindo as infiltraccedilotildees das aacuteguas para o interior das dependecircncias da
Edificaccedilatildeo Principal
O fato de natildeo terem sido encontrados fragmentos de telhas no interior da
Vala quando foram realizadas as pesquisas arqueoloacutegicas parecem indicar que
178
os esteios natildeo serviam para sustentar telhado Por outro lado a Histoacuteria da
Teacutecnica mostra que outras instalaccedilotildees da mesma eacutepoca destinadas a produccedilatildeo
da energia hidraacuteulica tambeacutem natildeo apresentavam telhado na aacuterea da Vala
Sendo assim sobram duas hipoacuteteses para explicar a existecircncia daqueles
esteios A primeira hipoacutetese eacute que tais esteios serviriam para sustentar uma calha
de madeira com uma extensatildeo da ordem de 12 metros responsaacutevel pela
conduccedilatildeo e descarga da aacutegua diretamente sobre as paacutes da roda valendo-se de
um dispositivo denominado empejeiro ou pejador que servia para o controle da
quantidade de aacutegua descarregada sobre a roda (KATINSKY 1985 p 230)
Outra possibilidade eacute que os esteios sustentavam um reservatoacuterio de aacutegua
- o ldquobanzaordquo - responsaacutevel pelo repouso do liacutequido de modo a garantir a sua
descarga controlada sobre as paacutes da roda conforme os projetos comumente
encontrados nas construccedilotildees das ldquoferreriacuteas de aguardquo da regiatildeo Basca - Espanha
(Figura 79)
A laje de pedra do fundo da Vala mostra forte declividade da Vala sendo
que na extremidade superior (coincidente com o ponto de interligaccedilatildeo com o
Canal de Derivaccedilatildeo) a cota eacute igual a 453 enquanto que na extremidade inferior
junto a margem do ribeiratildeo do Ferro a cota do terreno eacute igual a 041 Sendo
assim o desniacutevel total eacute de 412 metros na extensatildeo total da Vala igual a 19
metros ou seja cerca de 20
Outra observaccedilatildeo importante eacute que o niacutevel do fundo da Vala no ponto
meacutedio da sua extensatildeo seria igual a 230 m mostrando nesta posiccedilatildeo desniacutevel de
cerca de 2 metros abaixo do provaacutevel niacutevel da Faacutebrica (cota aproximada 450 m)
revelando a possibilidade de alojamento da roda drsquoaacutegua a partir desta mesma
posiccedilatildeo
O desenho do arranjo do sistema hidraacuteulico encontrado no Sitio Sardinha
mostra semelhanccedilas claras com o arranjo que caracterizam as ferreriacuteas bascas
179
O exame do conjunto das estruturas mostram que a construccedilatildeo tirou partido da
declividade do terreno para aproveitamento da forccedila da gravidade aplicada ao
processo da produccedilatildeo do ferro
634 A Caixa de Aacutegua - ldquoBanzaordquo O ldquobanzaordquo era uma caixa de aacutegua com volume adequado para garantir o
repouso da aacutegua instalado acima do niacutevel da Vala em uma posiccedilatildeo diretamente
sobre a roda A instalaccedilatildeo dessas caixas tinha por objetivo garantir uma altura da
queda drsquoaacutegua necessaacuteria para impulsionar a roda e ao mesmo tempo armazenar
um volume de aacutegua adequado para direcionar o jato diretamente sobre as paacutes
da roda com uma pressatildeo constante de modo a resultar o movimento uniforme
para a rotaccedilatildeo da roda
Os rdquobanzaosrdquo mais ruacutesticos e antigos eram feitos de madeira material que
criava vaacuterios problemas de manutenccedilatildeo fato que levou agrave substituiccedilatildeo desse
material a partir do seacuteculo XVIII por alvenaria de pedra
O acionamento da roda se dava por meio de uma espeacutecie de vara
localizada no interior da Faacutebrica a qual permitia regular a quantidade de aacutegua
descarregada sobre a roda Elena Faus descreve esse funcionamento da
seguinte forma
El paso del aacutegua a la rueda se abre o cierra por meacutedio de
tanpones o ldquochimbosrdquo Cuando los operaacuterios los abren salta y
golpea directamente las palas de la rueda instalada debajo
provocando su giro Con el fin de evitar peacuterdidas de liacutequido y
maximizar su rendimiento se antildeade un canal ldquoguzur-askardquo que lo
conduce directamente sobre la rueda Posteriormente se evacua
por un aliviadero la ldquoonda-askardquo (FAUS 2000 p 63)
180
Contudo mesmo apostando na hipoacutetese de que haveria um ldquobanzaordquo
acima da Vala encontrada torna-se difiacutecil estabelecer a sua dimensatildeo e volume
Mas as evidecircncias encontradas sugerem que esta caixa de aacutegua deveria ter no
maacuteximo 12 metros de comprimento (medidos a partir do inicio do canal ateacute o
uacuteltimo vestiacutegio de esteio) por aproximadamente 225 m (largura da vala)
restando indefinida a medida da altura da caixa
Fig 79 SOLUCcedilAtildeO EM ldquoBANZAOrdquo DE MADEIRA ndash DEPOacuteSITO DE AacuteGUA97
97 LAS FERRERIacuteAS DE AGUA DE ASTURIAS Disponivel em ltwwwbelmontedemirandanetfraguaindexhtmgt Acesso em 20jun05
181
635 A roda hidraacuteulica
Em 1983 quando foram iniciadas as pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio
Afonso Sardinha a Vala destinada agrave instalaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua jaacute havia sido
identificada Contudo eacute somente em 1986 que as pesquisas se concentraram na
aacuterea daquela Vala Graccedilas ao fato de esta estrutura ter permanecido enterrada a
mesma ficou preservada possibilitando avaliar a sua funccedilatildeo e o fato de que o
local deveria ter sido destinado agrave instalaccedilatildeo de uma roda hidraacuteulica vertical com
eixo horizontal (Figura 79)
A utilizaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua para os trabalhos metaluacutergicos natildeo era
novidade para os empreendimentos dessa natureza pois a teacutecnica aplicada para
a construccedilatildeo desse tipo de Faacutebrica jaacute era bastante difundida entre os artesatildeos da
Idade Meacutedia os quais buscaram adaptar as ferramentas utilizadas no trabalho da
produccedilatildeo de ferro (por exemplo foles e malhos) de modo a permitir a sua
movimentaccedilatildeo atraveacutes da forccedila obtida das rodas drsquoaacutegua
Em 1104 os ldquomoinhos para bater o ferrordquo jaacute eram encontrados nos Pirineus
espanhoacuteis Gille os descreve da seguinte forma
as forjas que anteriormente eram acionadas a braccedilos e que
itinerantes deslocavam-se agrave procura dos fornos-baixos a
procura de mateacuteria prima e do combustiacutevel a partir de entatildeo se
estabelecem permanentemente ao longo dos rios (GILLE Apud
GAMA 1985 p 133)
Entre os seacuteculos XIV e XV surgiram no paiacutes basco adaptaccedilotildees da roda
hidraacuteulica para acionar os ldquosoprantesrdquo - os foles - (instrumentos utilizados para
insuflar oxigecircnio para dentro dos fornos) possibilitando intensificar a combustatildeo
do carvatildeo vegetal de modo a elevar a temperatura no interior do forno No paiacutes
basco o martelo hidraacuteulico jaacute havia sido incorporado agravequela atividade desde o
seacuteculo XV em Gipuzkoa e desde o seacuteculo XVI em Biskaia ambas localizadas na
182
regiatildeo basca Em 1531 operavam em ambas as regiotildees cerca de 200
estabelecimentos utilizando essa teacutecnica (FAUS 2000 p 60)
Fig 80 ldquoLOCALIZACcedilAtildeOrdquo DO MALHO E DA RODA HIDRAUacuteLICA (INTERPRETACcedilAtildeO) (Desenho Agnaldo Zequini)
183
6 4 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo
O local onde se encontra instalada a Faacutebrica de Ferro do Sitio Arqueoloacutegico
Afonso Sardinha oferece todas as condiccedilotildees fisiograacuteficas favoraacuteveis para a
instalaccedilatildeo daquele empreendimento De fato o conjunto se encontra
praticamente na aacuterea das jazidas de mineacuterios de ferro junto a um ribeiratildeo com
quantidade de aacuteguas satisfatoacuterias para o caso de produccedilatildeo do ferro relativamente
pequena como deveria ser o caso da instalaccedilatildeo existente no morro de Araccediloiaba
Outro fator decisivo para a produccedilatildeo de ferro era a presenccedila de matas com
abundacircncia de madeiras A esse respeito segundo uma descriccedilatildeo do Vale das
Furnas apresentada no decorrer de 1692 por Luiz Lopes de Carvalho (um dos
que investiram na construccedilatildeo de Faacutebrica de Ferro naquele local) o mesmo
lastimava o fato de ter que reduzir os ldquodensos arvoredos em que se achatildeo paos
Reais e madeirasrdquo em carvatildeo o uacutenico combustiacutevel utilizado nos processos de
fundiccedilatildeo de ferro (RODRIGUES 1963 p 203)
O mesmo Luiz Lopes de Carvalho testemunhava naquele mesmo ano que
aquele morro estava coberto ldquode mineral de ferro de meuda aacuterea athe pedras de
des a Robas e mui dilatadas betas [veios] Profundas Largas e Compridasrdquo
esclarecendo que o mineacuterio ao ser submetido ao processo de reduccedilatildeo tinha um
rendimento de dois para um ldquoa cada douz quintais de pedra se tira hum de ferrordquo
(RODRIGUES 1966 p 204)
641 A Oficina da Faacutebrica de Ferro
A planta da Faacutebrica de Ferro encontrada com dimensotildees de 13m X 16m
permite identificar as provaacuteveis posiccedilotildees de cada uma das unidades de produccedilatildeo
184
necessaacuterias agrave fabricaccedilatildeo do ferro quais sejam o espaccedilo destinado a oficina e a
forja
No caso da construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro do Sitio Afonso Sardinha eacute
possiacutevel identificar a aacuterea destinada a oficina onde deveriam ficar instalados os
equipamentos do forno de fundiccedilatildeo e foles e do malho Nessa planta a aacuterea estaacute
identificada pelas letras C e F (Anexo 9)
Fig81 FAacuteBRICA DE FERRO DO SITIO AFONSO SARDINHA ARRANJO DOS EQUIPAMENTOS (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)
185
Fig 82 FAacuteBRICA DE FERRO PLANTA BAIXA (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)
Contudo entre os anos de 1986-1987 quando foram aprofundadas
as pesquisas arqueoloacutegicas naquelas aacutereas por meio de decapagem e abertura
de trincheiras natildeo foram encontrados vestiacutegios materiais que permitissem
identificar os locais dentro da oficina onde estariam instalados os fornos e o
malho como tambeacutem nenhum resiacuteduo testemunho da produccedilatildeo de ferro
Diante dessa constataccedilatildeo podemos levantar pelo menos duas hipoacuteteses
de interpretaccedilatildeo Uma delas estaacute relacionada agrave proacutepria natureza daquele siacutetio o
qual ao longo dos seacuteculos sofreu vaacuterias intervenccedilotildees antroacutepicas que poderiam
186
provocar algumas perturbaccedilotildees no registro arqueoloacutegico colaborando dessa
forma para o desaparecimento das evidecircncias
A segunda hipoacutetese decorre do fato de que os exames das condiccedilotildees de
superfiacutecie do terreno na parte da edificaccedilatildeo identificada como ldquoCrdquo (Oficina)
apresentam indiacutecios de antigas erosotildees decorrentes da presenccedila do ribeiratildeo do
Ferro Tal interpretaccedilatildeo permitia concluir que as enchentes do ribeiratildeo do Ferro
seriam responsaacuteveis pela pequena quantidade de artefatos arqueoloacutegicos
naquela aacuterea (Figura 81)
A figura abaixo apresenta um corte do terreno na provaacutevel aacuterea da Oficina
mostrando irregularidade na superfiacutecie do piso possivelmente decorrente de
erosotildees junto a margem do ribeiratildeo do Ferro provocadas pelas enchentes
187
Fig 83 INDICACcedilAtildeO DA POSSIacuteVEL AacuteREA ERODIDA PELAS ENCHENTES ndash AREA C ndash (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)
188
6411 O Malho O malho era um instrumento imprescindiacutevel para o processo de produccedilatildeo
do ferro pelo denominado meacutetodo direto Essa ferramenta possuiacutea um longo
braccedilo de madeira que media cerca de trecircs a quatro metros de comprimento e
funcionava como alavanca com apoio intermediaacuterio Uma das extremidades do
braccedilo dessa alavanca funcionava como um martelo e apresentava na
extremidade uma cabeccedila de ferro ndash o malho ndash que dava o nome ao equipamento
Em outra extremidade havia um dispositivo que permitia transformar o movimento
de rotaccedilatildeo da roda em deslocamento vertical oscilante do braccedilo permitindo
assim que o malho golpeasse a ldquobola de ferrordquo que ficava apoiada em uma
bigorna
Ao golpear a ldquobola de ferrordquo denominaccedilatildeo dada ao produto retirado do
interior do forno de fundiccedilatildeo esta operaccedilatildeo perseguia trecircs objetivos importantes
eliminar as escoacuterias que ainda permaneciam aderidas a bola de ferro compactar
aquela massa e finalmente dar forma de barra ou lingote que era o produto final
para a comercializaccedilatildeo
A operaccedilatildeo desse martelo com funcionamento hidraacuteulico eacute descrito em um
texto informativo publicado pela Universidade de Oviedo-Espanha sem menccedilatildeo
de autor e ano de publicaccedilatildeo
La rueda hidraulica movida por el impulso del agua le comunica al
eje o aacuterbol un movimiento rotatoacuterio de este agraverbol sobresalen unos
dientes a modo de levas concretamente cuatro situados a 90ordm los
manobreiros quem en su giro percuten sobre el extremo del
mango del martillo la dendala en su movimiento oscilante el
yunque o incre esta golpeo se repite cuatro veces por cada giro
completa de la rueda 98
98 Ingenios hidraulicos histoacutericos molinos batanes y ferreriacuteas Universidad de Oviedo ndashEspana Disponiacutevel e em lthttpwww1unioviesasturiasferreriasgt Acesso em 17 jun 04
189
O movimento do malho era produzido mediante a transmissatildeo de forccedila
originada atraveacutes do eixo de uma roda hidraacuteulica especifica para esta tarefa Um
segundo tipo de sistema de acionamento utilizava uma uacutenica roda hidrauacutelica para
movimentaccedilatildeo do braccedilo do malho e ao mesmo tempo pelo acionamento dos
foles Este uacuteltimo sistema era conhecido como ldquopujoacuten tuertordquo e era o sistema mais
comumente empregado nas ferrariacuteas bascas99
No Brasil a utilizaccedilatildeo dessa ferramenta para a produccedilatildeo de ferro eacute
encontrada em documentos relacionados agrave construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de
Santo Amaro no iniacutecio do seacuteculo XVII Em 1605 para instalaccedilatildeo dessa Faacutebrica
foram entregues pela Administraccedilatildeo Espanhola agrave Diogo de Quadros ldquo2 malhos
que podiam pesar pouco mais ou menos entre ambos 3 quintais mais duas
argolas grandes da mesma ferramentardquo (RODRIGUES 1963 p 190)
Possivelmente foi entregue a Diogo de Quadros apenas a ldquocabeccedila de ferrordquo
(o malho propriamente dito) enquanto que as demais peccedilas da estrutura pelo
fato de serem confeccionadas inteiramente com madeira poderia ter sido
fabricada no Brasil
No caso da Faacutebrica de Ferro do Siacutetio Afonso Sardinha dispotildeem-se apenas
de documentos escritos que registram a presenccedila desse equipamento conforme
a carta escrita no ano de 1768 por D Luiz Antonio de Souza Governador da
Capitania de Satildeo Paulo dirigida ao Conde de Oeiras atraveacutes da qual apresenta
informaccedilotildees sobre a Faacutebrica de Ferro que havia sido construiacuteda por Domingos
Pereira Ferreira e seus soacutecios
Nesse documento D Luiz afirmava que aquele empreendimento era uma
das atividades que estava dando maior preocupaccedilatildeo em sua gestatildeo explicando
que
99 Binganaria no sistema de pujoacuten tuerto a Binganaria corresponde agrave viga de transmissatildeo entre a roda hidraacuteulica e os foles
190
se tem trabalhado desde aquele tempo [1760] ateacute o presente
em grandes dispecircndios dos acionistas em fazer fornos
grandes e pequenos por diferentes modos safras [bigorna
de ferreiro] martelos malhos rodas e engenhos para os
mover e tudo o necessaacuterio (RODRIGUES 1966 p 190)
Uma outra notiacutecia relacionada a essa mesma Faacutebrica ficou registrada em
outra documentaccedilatildeo datada de 1770 atraveacutes da qual Jacinto Joseacute de Abreu um
dos soacutecios de Domingos Pereira Ferreira dava conta de que o andamento dos
trabalhos lhe estava causando o ldquomaior desgostordquo pelo fato de ter quebrado o
malho ldquoque tanto dispecircndio e trabalho custourdquo A reclamaccedilatildeo expressada por
Jacinto Joseacute de Abreu pode ser compreendida natildeo somente pelo prejuiacutezo
financeiro decorrente da perda direta da peccedila como tambeacutem pelo prejuiacutezo
decorrente da consequumlente paralisaccedilatildeo da produccedilatildeo do ferro
6412 ndash O Forno de Fundiccedilatildeo e Foles As pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio Afonso Sardinha natildeo lograram
identificar vestiacutegios materiais de fornos de fundiccedilatildeo no interior da aacuterea
reconhecida como sendo a Oficina da Faacutebrica Tendo em vista o arranjo e a
extensatildeo do espaccedilo levantado pelas pesquisas de campo bem como as teacutecnicas
de fundiccedilatildeo de ferro disponiacuteveis de acordo com os estudos da histoacuteria da teacutecnica
para o periacuteodo que interessa ao presente trabalho entendemos que eacute correto
afirmar que o forno de fundiccedilatildeo ali empregado deveria ser do tipo ldquoforno baixordquo
De qualquer forma natildeo eacute possiacutevel afirmar que o meacutetodo de fundiccedilatildeo
utilizado no interior da Faacutebrica de Ferro corresponda ao que eacute conhecido como
ldquomeacutetodo catalatildeordquo ou ldquoforno catalatildeordquo uma vez que as pesquisas arqueoloacutegicas e
tambeacutem as documentais natildeo conseguiram encontrar qualquer dado a respeito do
modelo do forno de fundiccedilatildeo ali utilizado nem qualquer informaccedilatildeo a respeito do
processo de extraccedilatildeo do ferro na operaccedilatildeo de fundiccedilatildeo
191
De fato o forno catalatildeo se diferenciava dos demais fornos baixo por
apresentar uma forma que lembrava o de uma piracircmide invertida com trecircs
paredes planas e uma convexa confeccionadas com pedras refrataacuterias
(GARCIA sd p7) O que tambeacutem caracterizava o forno catalatildeo era o
procedimento de colocaccedilatildeo do carvatildeo e do mineacuterio no interior do forno para
extraccedilatildeo do metal Pere Molera I Sola (1982 p 208) ao analisar o procedimento
direto de obtenccedilatildeo do ferro pelo meacutetodo catalatildeo assinala que este meacutetodo
apresentava a peculiaridade de empregar a teacutecnica de ldquotrompa de aacuteguardquo para
promover a injeccedilatildeo do ar para dentro do forno Entretanto alguns fornos
reconhecidos como do tipo catalatildeo tambeacutem empregavam a teacutecnica de foles
movidos por roda drsquoaacutegua com aquele objetivo
O mesmo autor esclarece que o forno catalatildeo era
sin duda elemento maacutes importante consistia en una cavidad de
forma trocopiramidal invertida cuyas dimensiones de la base
mayor estaban en torno a los 60 por 50 cm La altura era de unos
80 cm Dentro de la nave industrial el horno estaba situado junto
a una pared principal denominada lsquopiec del focrsquo (pie del fuego)
todas las paredes del horno presentaban superficies planas
menos lsquolrsquoore o contraventrsquo (contraviento) que para facilitar la
extraccioacuten del producto reducido ofreciacutea una superficie convexa
y estaban parcialmente recubiertas con planchas de acero La
pared del horno adosada al lsquopiec del focrsquo y opuesta a lsquolrsquoorersquo se
denominaba lsquoles porguesrsquo (las cribas) y estaba atravesada por la
tobera que inyectaba aire al horno Entre ambas las paredes
estaba el lsquolleteirolrsquo (rebosadero) pared agujereada para faciclitar
la eliminacioacuten de la escoria liquida frente a la cual se encontraba
la lsquocavarsquo pared de piedra sin revistir y ligeramente inclinada
(SOLA 1982 p 208-209)
A operaccedilatildeo de fundiccedilatildeo eacute descrita pelo mesmo autor conforme segue
192
La operacioacuten de reduccioacuten de la mena concentrada se iniciaba
cubriendo el fono del horno con polvo de carboacuten vegetal Se le
prendia fuego Una vez caliente el horno se antildeadia una capa de
trozos de caroacuten de mayor tamantildeo E inmediatamente se
superponia una plancha de acero en al centro del horno paralela
a las lsquoporguesrsquo Ello permitiacutea situar una capa vertical de carboacuten en
al lado de la tobera y una capa de mineral al otro lado de la
plancha Se quitaba luego la plancha y se cubriacutea la parte superior
del mineral con una capa de pequentildeos trozos de carboacuten huacutemedo
y escorias al objeto de que la superficie externa quedase de
forma esfeacuterica y concentrase las llamas Se insuflaba aire por las
toberas y a la hora y media se alcanzaban ya temperaturas
superiores o los 1200 grados C Durante tres o cuatro horas
consecutivas se iba antildeadiendo mineral y carboacuten al tiempo que
por el ldquolletirolrdquo se eliminaba la escoria liquida Si la escoria era
densa lo que evidenciaba un alto contenido en hierro se volviacutea a
introducir en el horno La operacioacuten terminaba cuando en el fondo
del horno se formaba una bola irregular de unos 100 kilogramos
de peso de hierro o acero dulce con inclusiones de escoria y
poros el lsquomasserrsquo (zamarra) En se momento empezaba la
operacioacuten maacutes espectacular de la fraga la saca el lsquomasserrsquo del
horno y transportarlo hasta el martinete lo que requeriacutea el
concurso de todo el personalrdquo (SOLA 1982 p 211-212)
193
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
1- A partir das evidecircncias arqueoloacutegicas levantadas pela pesquisadora Margarida
Davina Andreatta no Siacutetio Afonso Sardinha foram elaboradas anaacutelises e em
seguida as interpretaccedilotildees com base nos conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica
e da Histoacuteria da Teacutecnica relacionadas a produccedilatildeo de ferro Tais estudos
permitiram comprovar que aquela aacuterea arqueoloacutegica corresponde a um campo de
exploraccedilatildeo e produccedilatildeo de ferro desde a segunda metade do seacuteculo XVI
2- As ruiacutenas da edificaccedilatildeo principal identificadas como ldquoBrdquo (Forja) e ldquoCrdquo (Oficina)
tratam-se de aacutereas de produccedilatildeo de uma Faacutebrica de Ferro O espaccedilo identificado
como ldquoDrdquo corresponde a uma vala de acomodaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua responsaacutevel
pela produccedilatildeo da forccedila de origem hidraacuteulica necessaacuteria para movimentar os
equipamentos e ferramentas da fabricaccedilatildeo ( Anexo 9)
3- Os exames das condiccedilotildees de superfiacutecie do terreno na parte da edificaccedilatildeo
identificada como ldquoCrdquo (Oficina) apresentam indiacutecios de antigas erosotildees
decorrentes da presenccedila do ribeiratildeo do Ferro sendo que esta interpretaccedilatildeo
permite concluir que os fenocircmenos apontados foram os responsaacuteveis pela
ausecircncia de artefatos arqueoloacutegicos naquela aacuterea
4- Os exames dos vestiacutegios dos fornos de fundiccedilatildeo encontrados nas aacutereas A e
A2-B externa do edifiacutecio principal da fabricaccedilatildeo de ferro indicam que satildeo do tipo
baixo provavelmente insulflados a fole de matildeo natildeo sendo possiacutevel afirmar que
seriam fornos do tipo catalatildeo
5- As ruiacutenas da Faacutebrica de Ferro indicam que as mesmas tratam de instalaccedilotildees
de modelo de produccedilatildeo industrial inclusive com divisatildeo de tarefas em aacutereas
distintas uso de energia hidraacuteulica transformada em forccedila mecacircnica para
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movimentaccedilatildeo das ferramentas e para insuflaccedilatildeo do ar para queima do carvatildeo
nos fornos de fundiccedilatildeo
6- As dataccedilotildees absolutas e tambeacutem as relativas realizadas indicaram que naquele
local houve uma sobreposiccedilatildeo de distintos empreendimentos para a produccedilatildeo do
ferro desde o final do seacuteculo XVI e ao longo do seacuteculo XVIII
7- A causa mais provaacutevel do insucesso econocircmico de todas as tentativas de
produccedilatildeo de ferro em Araccediloiaba se relaciona a mineralogia da magnetita e
associaccedilotildees com outras substancias minerais as quais eram nocivas agrave qualidade
do produto metaluacutergico Neste caso vale ressaltar a presenccedila prejudicial
principalmente do titacircnio e do foacutesforo cujas presenccedilas eram desconhecidas pelos
exploradores
8- A planta da edificaccedilatildeo principal (aacutereas ldquoBrdquo ldquoCrdquo e ldquoDrdquo e ldquoFrdquo) evidenciada se
ajusta aos arranjos de espaccedilo produtivo de ferro tiacutepicos de modelos encontrados
naquele mesmo periacuteodo nas aacutereas de mineraccedilatildeo da Peniacutensula Ibeacuterica
notadamente aquele desenvolvido na regiatildeo basca (Anexo 9)
195
BIBLIOGRAFIA E ARQUIVOS PESQUISADOS
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GLOSSAacuteRIO
Banzao de madeira BANZAO Denominaccedilatildeo que era dada na regiatildeo basca ndash Espanha para depoacutesitos de aacutegua que eram instalados sobre as rodas drsquoaacutegua e de onde era despejado jato de aacutegua sobre as paacutes daquela roda fazendo-a girar Na estrutura identificada por essa pesquisa as evidencias pressupotildee a utilizaccedilatildeo desse equipamento
BIGORNA Ferramenta feito por um bloco de pedra ou metal utilizado como suporte para martelar sobre o ferro
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CABECcedilA DE MALHO Peccedila metaacutelica que eacute afixada em uma das extremidades da ferramenta que leva esse nome
ESCOacuteRIA ldquorestos de fundiccedilatildeordquo um sub-produto da fundiccedilatildeo de mineacuterio para purificar metais No caso das teacutecnicas de fundiccedilatildeo utilizadas ateacute o seacuteculo XIX no Brasil as escoacuterias produzidas apoacutes o processo de fundiccedilatildeo apresentavam uma grande quantidade de ferro (metal) em sua composiccedilatildeo O que vale dizer que os fornos utilizados para aquela atividades natildeo alcanccedilavam as temperaturas acima de para proporcionar maior aproveitamento do mineacuterio empregado
Ferreriacutea de Bolunburu es un conjunto ferro molinero que desde el siglo XVII
FERRERIacuteA Edifico que abrigava as ferramentas e equipamentos para a produccedilatildeo do ferro O sistema de produccedilatildeo empregado nas ferrariacuteas denominado de meacutetodo direto de produccedilatildeo consistia em ldquocozinharrdquo o mineacuterio de ferro em fornos baixo usando como combustiacutevel o carvatildeo vegetal Apoacutes ldquocozidordquo o ferro se transformava em uma esponja de ferro que era levada para ser trabalhada sobre
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uma bigorna e golpeada pelo malho Este trabalho servia para compactar a massa liberar as escoacuterias e dar forma FERRO O ferro (do latim ferrum) eacute um elemento quiacutemico siacutembolo Fe de nuacutemero atocircmico 26
Foles acionados por forccedila humana seacuteculo XVI FOLES Equipamento utilizado para insuflar ar para dentro do forno promovendo assim a combustatildeo do carvatildeo Podiam ser acionados manualmente ou por utilizaccedilatildeo de roda drsquoaacutegua
Forno baixo com a utilizaccedilatildeo de fole manual FORNO BAIXO Espaccedilo normalmente de pequenas dimensotildees onde se realizava a reduccedilatildeo (extraccedilatildeo do metal ndashferro ndash do mineacuterio) e de Havia vaacuterias denominaccedilotildees para esse tipo de forno como fornos de vento fornos castelhanos fornos catalatildees forno de manga etc Estes fornos dada a sua dimensatildeo e os instrumentos de insuflaccedilatildeo do ar utilizado natildeo permitiam a fundiccedilatildeo do mineacuterio Nos fornos baixos acima referidos a disposiccedilatildeo do carvatildeo vegetal e dos pedaccedilos de mineacuterios no interior do forno eram feitos em camadas superpostas e horizontais
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Forno Catalatildeo e Trompa Hidrauacutelica FORNO CATALAtildeO O forno catalatildeo eacute assim denominado por ter sido uma teacutecnica desenvolvida nos Pirineus catalatildees A teacutecnica catalatilde ou meacutetodo catalatildeo de fundiccedilatildeo possuem alguns elementos que o caracterizam como 1- a forma de construccedilatildeo do forno que lembra uma lareira tendo o seu formato interno feito de forma de uma piracircmide invertida 2- disposiccedilatildeo interna do carvatildeo e dos pedaccedilos de mineacuterios dentro do forno os quais eram colocados de lados opostos e paralelos 3- utilizaccedilatildeo da trompa hidraacuteulica para insuflar oxigecircnio para a combustatildeo do carvatildeo esse sistema foi desenvolvido na regiatildeo da atual Itaacutelia e utilizado em grande escala nas faacutebricas de ferro da Catalunha Na regiatildeo Basca foram utilizados foles de grandes dimensotildees acoplados a roda drsquoaacutegua FORNO DE FUNDICcedilAtildeO Espaccedilo onde se daacute a reduccedilatildeo do mineacuterio No periacuteodo estudado a reduccedilatildeo ou fundiccedilatildeo era proporcionada pela queima proporcionada pela insuflaccedilatildeo de oxigecircnio por meio de foles manuais do carvatildeo vegetal que era colocada dentro desses fornos junto com pedaccedilos de mineacuterio FORJA Fornalha de que se servem os ferreiros e outros artiacutefices para incandescer os metais para serem trabalhados numa bigorna Do francecircs forge e do Latin fabrica Tambeacutem pode designar o trabalho realizado pelo ferreiro por meio do fogo e do martelo para dar forma aos metais
HEMATITA mineral de foacutermula oacutexido de ferro III (Fe2O3) um dos diversos oacutexidos de ferro
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MAGNETITA mineral magneacutetico formado pelos oacutexidos de ferro II e III ( FeO Fe2O3) cuja foacutermula quiacutemica eacute Fe3O4
MALHO Daacute se o nome de malho a peccedila metaacutelica que estaacute afixada em uma das extremidades do martinete o qual por conseguinte daacute o nome ao equipamento METAL elemento quiacutemico Satildeo metais os metais bem conhecidos satildeo alumiacutenio cobre ouro ferro prata titacircnio uracircnio e zinco MINERAL Substacircncia natural MINEacuteRIO mineral que conteacutem um metal na sua composiccedilatildeo quiacutemica Todo o mineacuterio eacute mineral OFICINA Ou Farga (em catalatildeo) espaccedilo em que estatildeo assentados o forno e o malho equipamentos destinados a produccedilatildeo de ferro MARTINETE Instrumento usado para golpear os metais incandescentes na forja para dar-lhes a forma desejada Tambeacutem pode designar um malho movido por roda drsquoagua METALURGIA Teacutecnica de obtenccedilatildeo dos metais No periacuteodo pesquisado a teacutecnica era conhecida como meacutetodo direto
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OacuteXIDOS Combinaccedilatildeo do oxigecircnio com outros elementos No nosso caso com ferro
TROMPA Mecanismo que aproveita a forccedila da caiacuteda da aacutegua para gerar um fluxo contiacutenuo em direccedilatildeo do forno Era um elemento caracteriacutestico do forno catalatildeo
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ANEXOS
221
222
223
- FAacuteVERO Oriana Aparecida NUCCI Joatildeo Carlos De BIASI Maacuterio Mapeamento da vegetaccedilatildeo e usos das terras da Floresta Nacional de Ipanema IperoacuteSP
-
3
Aos meus Pais Francisco Zequini
e Dirce da Costa Zequini e Ismar
4
AGRADECIMENTOS
Durante a primeira visita ao Siacutetio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha da Floresta
Nacional de Ipanema em Iperoacute Satildeo Paulo no ano de 2003 tive oportunidade de
conhecer o objeto de estudo desta Tese as evidecircncias da Faacutebrica de Ferro com a
sua respectiva vala da roda e os inuacutemeros artefatos que haviam sido recolhidos
durante as escavaccedilotildees Naquela oportunidade fui gentilmente recebida pela Sra
Janette Gutierrez a quem deixo meus agradecimentos extensivo aquela
Instituiccedilatildeo
Recebi ainda no transcorrer do meu trabalho importantes informaccedilotildees das
Sras Vivian Cristiane Fernandes e Nair Tanabe Tomiyama ambas do Nuacutecleo de
Arqueologia da Universidade Braz Cubas assim como das Sras Socircnia Paes do
Museu Histoacuterico Sorocabano e Marizia Tonelli
Agradeccedilo tambeacutem ao Sr Joseacute Monteiro Salazar o qual gentilmente me
recebeu em sua residecircncia em Boituva SP um apaixonado pela Historia de
Ipanema o qual contou fatos de grande interessante sobre a descoberta das
ruiacutenas assuntos que incorporei na minha Tese
Em marccedilo deste mesmo ano apresentei minha qualificaccedilatildeo oportunidade
em que recebi valiosas sugestotildees das Professoras Doutoras Heloiacutesa Maria
Silveira Barbuy e Elaine Farias Veloso Hirata a quem agradeccedilo
Finalmente eacute com admiraccedilatildeo e especial carinho que agradeccedilo a minha
orientadora a Professora Doutora Margarida Davina Andreatta com quem tive a
oportunidade de discutir longamente os conceitos e detalhes deste meu trabalho
Os seus conhecimentos e a responsabilidade com que conduziu a orientaccedilatildeo
foram fundamentais para a elaboraccedilatildeo desta Tese assim como para minha
proacutepria formaccedilatildeo em Arqueologia em especial na Arqueologia Histoacuterica
5
SUMAacuteRIO
Iacutendice 06 Iacutendice das Figuras 10 Resumo 14 Abstract 15 Introduccedilatildeo 16 Capiacutetulo I 19 Capiacutetulo II 47 Capiacutetulo III 83 Capiacutetulo IV 109 Capitulo V 126 Capitulo VI 167 Consideraccedilotildees finais 193 Bibliografia 195 Glossaacuterio 214 Anexos 220
6
IacuteNDICE INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO 1 O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA QUESTOtildeES DA ARQUEOLOGIA HISTOacuteRICA 11 Contexto do presente trabalho 19
111 Avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos 19 112 Histoacuterico das descobertas das ruiacutenas 26 113 Consideraccedilotildees sobre a metodologia 32
114 Descriccedilatildeo geral das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas 37
12 Principais questotildees a serem abordadas no decorrer da Tese 46
CAPITULO 2 A TECNICA DE PRODUCcedilAtildeO DE FERRO NO PERIODO ENTRE OS SEacuteCULOS XVI AO XVIII 21 Consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia 47 22 O conceito de Teacutecnica 50 23 A valorizaccedilatildeo do conhecimento teacutecnico e a ciecircncia
experimental moderna 53 2 4 A Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica 55
25 A Teacutecnica de produccedilatildeo do ferro 59
26 Fornos de fundiccedilatildeo de ferro 64
27 Tratados Teacutecnicos de Metalurgia 78
CAPITULO 3 HISTOacuteRICO DA MINERACcedilAtildeO NO BRASIL COLONIAL 31 As primeiras expediccedilotildees mariacutetimas a busca dos metais nobres 83 32 O Peabiru uma trilha para o Sertatildeo 85 33 O descobrimento da prata em Potosi 88 34 A busca de metais nobres na Capitania de Satildeo Vicente 90 35 D Francisco de Sousa a organizaccedilatildeo da exploraccedilatildeo mineral 91
7
36 Teacutecnicos e praacuteticos na mineraccedilatildeo e metalurgia 94 37 A Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro 96
38 A Faacutebrica de Ferro do morro de Araccediloiaba os empreendedores 99 39 A Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema 103 CAPIacuteTULO 4 O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 41 Localizaccedilatildeo 109 42 A vegetaccedilatildeo 116 43 Rios e ribeirotildees
44 A magnetita o mineacuterio do morro de Araccediloiaba 119
45 Fatores fisiograacuteficos da ocupaccedilatildeo europeacuteia 123
CAPIacuteTULO 5 INVESTIGACcedilOtildeES ARQUEOLOacuteGICAS AS EVIDENCIAS DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO 126
51 Estruturas hidraacuteulicas para a produccedilatildeo da forccedila motriz 129
511 O Canal de Derivaccedilatildeo 129
512 A Vala da Roda 132
5121 Evidecircncias de esteios 134 52 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 137 521 Area ldquoCrdquo 137 522 A Aacuterea B (ldquoForjardquo) 139
53 Area E Sul da Faacutebrica de Ferro 150 531 Fornos de fundiccedilatildeo na aacuterea externa da Faacutebrica (Aacuterea A1) 155 531 Forno de Fundiccedilatildeo 1 157 532 Fornos de fundiccedilatildeo da Aacuterea A2 159 5321 Forno de fundiccedilatildeo 1 (aacuterea A2) 161 5322 Forno de fundiccedilatildeo 2 (aacuterea A2) 165
CAPITULO 6 INTERPRETACcedilOtildeES DOS DADOS ARQUEOLOacuteGICOS 61 Avaliaccedilatildeo das caracteriacutesticas do Arranjo das Estruturas 167 62 As ldquoferreriacuteasrdquo de aacutegua na Peniacutensula Ibeacuterica 170 63 Sistema hidraacuteulico produccedilatildeo da forccedila motriz 175
8
631 Dique de represamento do ribeiratildeo do Ferro 175 632 Canal de Derivaccedilatildeo das aacuteguas 176 633 Vala da roda 177 634 A Caixa de Aacutegua - ldquoBanzaordquo 179 635 A roda hidraacuteulica 180 6 4 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 183
641 A Oficina da Faacutebrica de Ferro 183 6411 O Malho 188 6412 Fornos de fundiccedilatildeo e foles 190 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 193 BIBLIOGRAFIA 195 GLOSSAacuteRIO 214 ANEXOS 220 1 Relatoacuterio de Ensaio ndash Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo ndash FATEC 2 Inventaacuterio de Peccedilas Ceracircmica 3 Inventario de Peccedilas Liacutetico 4 Inventaacuterio de Peccedilas Louccedilas 5 Inventaacuterio de Peccedilas Telhas 6 Inventaacuterio de Peccedilas Metal 7 Tratado da Arte de ensaiar e fundir cobre ferro e accedilo Ano de 1691 8 Aranzel ou Roteiro de haveres de oiro e pedras preciosas Ano de 1696 9 Planta Geral da aacuterea pesquisada Siacutetio Afonso Sardinha (Mapa 1) 10 Mapeamento das aacutereas de decapagem e escavaccedilatildeo ( Mapa 2) 11 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de lacircminas de metal (Mapa 3)
9
12 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de escoacuterias (Mapa 4) 13 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de blocos de arenito (Mapa 5) 14 Aacuterea E ndash Concentraccedilatildeo de cravos de metal (Mapa 6) 15 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de telhas (Mapa 7)
10
INDICE DAS FIGURAS
1 Mapa de localizaccedilatildeo da FLONA ndash Ipanema 2 Mapa de localizaccedilatildeo do Siacutetio Afonso Sardinha 3 Desenho esquemaacutetico da localizaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro 4 Aspecto do Siacutetio Afonso Sardinha 1983 5 Iniacutecio das pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio Afonso Sardinha 1983 6 Reuniatildeo de trabalhos 1984 7 Aspecto da Faacutebrica de ferro em 1987 8 Planta do Siacutetio Afonso Sardinha aacutereas A1 e A2 9 Planta da aacuterea A1 10 Vista Geral da aacuterea A1 11 Vista Geral da aacuterea A2 12 Planta da aacuterea A2B detalhe 13 Planta do morrote A2B 14 Aacuterea A2 morrote e evidencias de fornos de fundiccedilatildeo 15 Corte esquemaacutetico de um forno baixo 16 Maquete de forno de fundiccedilatildeo (Celta) 17 Forno de fundiccedilatildeo (romano) 18 Fornos de fundiccedilatildeo de lupa ou de vento 19 Corte esquemaacutetico de fornos de fundiccedilatildeo de lupa ou de vento 20 Fornos de fundiccedilatildeo de Guaira (Potosi)
11
21 Fornos de fundiccedilatildeo seacuteculo XVI 22 Fornos de Fundiccedilatildeo seacuteculo XVI 23 Arranjo funcional de uma Faacutebrica de Ferro 24 Elementos que compotildeem uma ldquoFarga Catalanrdquo 25 Traccedilado do Peabiru (Tronco de Satildeo Vicente) 26 Mapa do Peabiru feito por Pasquale Petrone 27 Prospecto das ruiacutenas da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro 28 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro de Ipanema 1827 29 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro de Ipanema seacuteculo XIX 30 Altos fornos geminados construiacutedos por Varnhagem 1818 31 Alto forno construiacutedo pelo Cel Mursa 1888 32 Roteiro Histoacuterico da Mineraccedilatildeo e metalurgia paulista 33 Mapa Geoloacutegico do Morro de Araccediloiaba 34 Bloco diagrama da regiatildeo da Serra de Araccediloiaba 35 Vista geral do morro de Araccediloiaba I 36 Vista geral do morro de Araccediloiaba II 37 Magnetita 38 Limpeza do Siacutetio Afonso Sardinha 1984 39 Equipe de trabalho 1988 40 Vista geral da aacuterea E 1988 41 Dimensotildees da Vala da roda e localizaccedilatildeo da evidecircncias de esteios 42 Vala da roda hidraacuteulica 1987 - I 43 Vala da roda hidraacuteulica 1987 ndash II 44 Evidecircncias de esteios
12
45 Detalhe da evidecircncia de esteios 46 Detalhe de um esteio 47 Topografia do terreno da aacuterea C 48 Vista geral da aacuterea C 1987 49 Reconstituiccedilatildeo das paredes da aacuterea B 1984 50 Evidecircncias de paredes da aacuterea B 1984 51 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - I 52 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - II 53 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - III 54 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI - I 55 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI - II 56 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI ndash III 57 Vasilhame de ceracircmica (0122) aacuterea B seacuteculo XVI ndash I 58 Vasilhame de ceracircmica (0122) aacuterea B seacuteculo XVI ndash II 59 ldquoTijelardquo faianccedila [seacuteculo XVII] 60 Escoacuteria ndash restos de fundiccedilatildeo aacuterea E 61 Telha (0115) aacuterea E seacuteculo XVIII 62 Telha aacuterea E 63 Telha aacuterea E 64 Raspador plano convexo aacuterea E 65 Garrafa de greacutes aacuterea A ndash forno1 66 Decapagem aacuterea A forno 1 67 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A1 68 Morrote e vestiacutegios de fornos de fundiccedilatildeo aacuterea A2
13
69 Croqui da aacuterea A2 morrote B 70 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A2 71 Croqui do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A2 72 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 - I 73 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 ndash II 74 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 ndash III 75 Aspecto de uma ldquoferreriacutea de aacuteguardquo seacuteculo XVII 76 Sistema de ldquopujoacuten tuortordquo 77 Trabalho de extraccedilatildeo da ldquobola de ferrordquo ou ldquomassa de ferro 78 Traccedilado esquemaacutetico do Canal de Derivaccedilatildeo aacuterea A1 (Interpretaccedilatildeo) 79 rdquo Depoacutesito de aacutegua soluccedilatildeo ldquoBanzaordquo 80 localizaccedilatildeo do malho e da roda hidraacuteulica (Interpretaccedilatildeo) 81 Faacutebrica de Ferro do Siacutetio Afonso Sardinha arranjo dos equipamentos (interpretaccedilatildeo) 82 Faacutebrica de Ferro Planta baixa (interpretaccedilatildeo) 83 Faacutebrica de Ferro aacuterea erodida (Interpretaccedilatildeo)
14
RESUMO
Esta Tese tem como objetivo analisar a pesquisa arqueoloacutegica e os
artefatos coletados no Sitio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha localizado no morro de
Araccediloiaba Iperoacute - Satildeo Paulo
O resultado da anaacutelise permitiu concluir que a aacuterea corresponde a um
campo de mineraccedilatildeo de ferro com a presenccedila de evidecircncias de uma Faacutebrica de
Ferro de um sistema de aproveitamento de energia hidraacuteulica para movimentar
os equipamentos e ferramentas destinadas a produccedilatildeo e de fornos de fundiccedilatildeo
Aleacutem disso a dataccedilatildeo do material ceracircmico (vasilhames e telhas) indica que as
atividades de exploraccedilatildeo do mineacuterio tiveram iniacutecio no seacuteculo XVI
Palavras-Chaves Arqueologia Histoacuterica Floresta Nacional de Ipanema Teacutecnica
de produccedilatildeo de ferro Colonial Sitio Afonso Sardinha morro de Araccediloiaba Iperoacute-
SP
15
ABSTRACT This Thesis has the goal to analyze archaeological research and artifacts
found in Afonso Sardinha Archaeological site located on Mount Araccediloiaba Iperoacute
Satildeo Paulo
The analysis result leads to the conclusion that the area corresponds to iron
mining field with the presence of Iron Factory evidence a system that makes use
of hydraulic power to move the equipment and tools used in the production and
small ovens to melt iron Besides the ceramic date (pots and tiles) indicates that
mineral digging activities began in the 16th century
Key words History Archeology Ipanema National Forest Colonial Iron
Production Technique Archeological Site Afonso Sardinha Mount Araccediloiaba
Iperoacute-SP
16
INTRODUCcedilAtildeO
A presente Tese busca analisar sob o ponto de vista da Arqueologia
Histoacuterica os resultados da pesquisa arqueoloacutegica desenvolvida pela pesquisadora
e arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta entre os anos de 1983 a 1989 na aacuterea
do siacutetio arqueoloacutegico Afonso Sardinha localizado no morro de Araccediloiaba
municiacutepio de Iperoacute a cerca de quinze quilocircmetros da cidade de Sorocaba Satildeo
Paulo
Os estudos desenvolvidos consideraram apenas os fatos relacionados agrave
exploraccedilatildeo e fabricaccedilatildeo do ferro no morro de Araccediloiaba desde finais do seacuteculo
XVI ateacute o seacuteculo XVIII portanto antes da instalaccedilatildeo do Estabelecimento
Montaniacutestico de Extraccedilatildeo de Ferro das Minas de Sorocaba em 1810 e mais tarde
com a denominaccedilatildeo de Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
O resultado final do trabalho do levantamento de campo formou um
conjunto vasto e consolidado em textos de Diaacuterios de Campo escritos pela
pesquisadora correspondecircncias levantamentos topograacuteficos planos de
escavaccedilatildeo croquis e desenhos geomeacutetricos de plantas das ruiacutenas croquis de
cortes estratigraacuteficos e de reconhecimento das escavaccedilotildees Inventaacuterio de Peccedilas e
fotografias tudo devidamente registrado em relatoacuterios da pesquisa arqueoloacutegica
17
Os artefatos coletados durante as investigaccedilotildees de campo foram
acondicionados em caixas devidamente protegidas e identificadas e depositadas
nas dependecircncias do Museu do Centro de Visitantes da FLONA de Ipanema
Foram desenvolvidos trabalhos de reconhecimento e anaacutelise detalhada dos
registros arqueoloacutegicos que resultaram da pesquisa de campo e em seguida
interpretadas as informaccedilotildees anteriormente consolidadas com base nos
conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia
Na elaboraccedilatildeo da siacutentese interpretativa foi necessaacuterio valer-se de
instrumentos disponiacuteveis em outras aacutereas do conhecimento tais como Geologia
Mineralogia Metalurgia Engenharia dentre outras aacutereas
Tambeacutem foram elaborados exames visuais e catalograacuteficos visando a
dataccedilatildeo relativa assim como foram encaminhadas amostras de ceracircmica as
quais foram submetidas a testes de dataccedilatildeo absoluta com base em ensaios de
Termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade de
Tecnologia de Satildeo Paulo - FATEC
Por outro lado amostras de resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias) foram
ensaiadas em laboratoacuterio para anaacutelise quiacutemica-mineraloacutegica no Departamento de
Mineralogia e Geotectocircnica GMG do Instituto de Geociecircncias da Universidade de
Satildeo Paulo
No Capiacutetulo 1 O Siacutetio Afonso Sardinha questotildees da Arqueologia Histoacuterica
optamos por colocar uma siacutentese dos achados arqueoloacutegicos no Sitio Afonso
Sardinha sendo que com base nas informaccedilotildees disponiacuteveis foram expostas as
questotildees da Arqueologia Histoacuterica que resultaram das investigaccedilotildees de campo e
de laboratoacuterio assim como das pesquisas bibliograacuteficas
No Capitulo 2 A Teacutecnica de Produccedilatildeo de Ferro no periacuteodo entre os
seacuteculos XVI ao XVIII foram analisadas e discutidas as questotildees conceituais da
18
teacutecnica e da tecnologia relacionadas a metalurgia no periacuteodo de interesse desta
Tese compreendido entre os seacuteculos XVI e XVIII Para compreensatildeo dos
processos de produccedilatildeo de ferro foram apresentadas descriccedilotildees dos
procedimentos de fabricaccedilatildeo bem como ilustraccedilotildees das ferramentas
equipamentos e maacutequinas em uso naquele estaacutegio do conhecimento teacutecnico
O Capiacutetulo 3 Histoacuterico da Mineraccedilatildeo no Brasil Colonial trata de uma
avaliaccedilatildeo da historiografia disponiacutevel sobre as atividades de mineraccedilatildeo no Brasil
e particularmente para o caso da entatildeo Capitania de Satildeo Vicente merecendo
esclarecer que parte destas obras foi produzida na primeira metade do seacuteculo XX
Aleacutem disso foram consultados documentos do Arquivo Municipal de Satildeo Paulo
do Arquivo do Estado de Satildeo Paulo e Biblioteca e Arquivo do Museu Histoacuterico
Sorocabano
No Capiacutetulo 4 O Sitio Afonso Sardinha apresenta-se a localizaccedilatildeo
geograacutefica as caracteriacutesticas geoloacutegicas e geomorfoloacutegicas do morro de
Araccediloiaba a vegetaccedilatildeo a hidrografia recursos minerais com destaque especial
para a presenccedila da Magnetita Finalmente oferece-se um contexto sucinto a
respeito da ocupaccedilatildeo colonial e a presenccedila de naturalistas viajantes inclusive
Saint Hilaire em 1919
No Capiacutetulo 5 Investigaccedilotildees Arqueoloacutegicas as evidencias de uma Faacutebrica
de Ferro com base em todos os dados que resultaram da pesquisa de campo
foram desenvolvidos trabalhos sendo que num primeiro momento relacionados
ao reconhecimento e anaacutelise detalhada dos registros arqueoloacutegicos fornecidos
pela pesquisa acima mencionada
No uacuteltimo Capiacutetulo de nuacutemero 6 Interpretaccedilotildees dos dados arqueoloacutegicos
buscou-se elaborar uma interpretaccedilatildeo das informaccedilotildees consolidadas nos
documentos produzidos a partir dos conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e
Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia
19
CAPIacuteTULO 1
O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA QUESTOtildeES DA ARQUEOLOGIA HISTOacuteRICA O presente Capiacutetulo tem por objetivo indicar um conjunto de questotildees que
deveratildeo ser analisadas no decorrer da elaboraccedilatildeo desta Tese as quais
emanaram dos resultados alcanccedilados pelas pesquisas arqueoloacutegicas realizadas
no siacutetio Afonso Sardinha pela pesquisadora e arqueoacuteloga Margarida Davina
Andreatta
Para melhor compreensatildeo dos fatos que fazem parte do contexto do
presente trabalho tendo em vista a identificaccedilatildeo daquelas questotildees satildeo
apresentados a) uma avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos que tratam de assuntos
relacionados ao siacutetio arqueoloacutegico b) um histoacuterico da descoberta das ruiacutenas c)
consideraccedilotildees sobre a metodologia utilizada d) uma descriccedilatildeo geral resumida
das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas
11 Contexto do presente trabalho 111 Avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos
As primeiras notiacutecias relacionadas agraves minas de ferro do Morro de
Araccediloiaba e com os trabalhos de fundiccedilatildeo daquele mineacuterio foram dadas por
Pedro Taques de Almeida Paes Leme (1714-1777) Aleacutem de sua obra mais
conhecida a Nobiliarquia Paulistana Histoacuterica e Genealoacutegica escreveu a Histoacuteria
da Capitania de Satildeo Vicente e um compecircndio sobre a exploraccedilatildeo e a legislaccedilatildeo
mineira intitulado Noticia das Minas de Satildeo Paulo e dos Sertotildees da mesma
Capitania
20
Neste uacuteltimo trabalho escrito na segunda metade do seacuteculo XVIII afirmou
ter sido o bandeirante Afonso Sardinha e seu filho mameluco do mesmo nome
ldquoos que tiveram a gloacuteria de descobrir ouro de lavagem nas Serras de
Jaramimbaba e do Jaraguaacute em Satildeo Paulo na de Votoruna em Parnaiacuteba e na
Biraccediloiaba no Sertatildeo do Rio Sorocaba ouro prata e ferro pelos anos de 1597rdquo
(TAQUES 1954 p 112) Em Notiacutecias Genealoacutegicas citado por Nicolau de
Campos Vergueiro PedroTaques completa aquela informaccedilatildeo indicando que
Afonso Sardinha havia construiacutedo uma faacutebrica e dois fornos de ferro em
Biraccediloiaba e que havia doado um dessas Faacutebricas agrave D Francisco de Souza
quando ldquoem pessoa passou a Biraccediloiaba no ano de 1600rdquo (VERGUEIRO 1978
p6)
Taques escreveu suas obras dentro de um contexto em que os trabalhos
historiograacuteficos buscaram dar um enfoque positivo a participaccedilatildeo bandeirante na
histoacuteria de Satildeo Paulo e ao mesmo tempo contrapor todas as outras narrativas
que haviam sido escritas nos seacuteculos anteriores sobretudo pelos Jesuiacutetas
Assim firmou para que Afonso Sardinha e seu filho passassem para a Histoacuteria
como tendo sido os descobridores daquelas minas e os pioneiros na fabricaccedilatildeo
do ferro no Morro de Araccediloiaba
Entre os veiacuteculos de divulgaccedilatildeo dessa historiografia estaacute o Instituto
Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo e do Brasil (sediado na cidade do Rio de
Janeiro) sendo este uacuteltimo responsaacutevel pela divulgaccedilatildeo das obras de Pedro
Taques1 Por outro lado aquelas afirmativas foram reforccediladas pelo
1 Os Institutos Histoacutericos e Geograacuteficos foram junto com os Museus brasileiros os primeiros e mais importantes espaccedilos que existiam no seacuteculo XIX para a pesquisa de humanidades e para a ciecircncia em geral no Brasil O Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo seraacute uma instacircncia de produccedilatildeo a afirmar uma suposta especificidade paulista elaborar tradiccedilotildees do estado ndash atraveacutes de biografias de seus vultos estudos sobre o passado da proviacutencia etc Nesse sentido eacute tambeacutem uma historiografia com teor ciacutevico paulista sobretudo mas que buscava afirmar a prevalecircncia de Satildeo Paulo perante a naccedilatildeo como um todo releitura da figura do bandeirante no sentido de elevaacute-lo agrave condiccedilatildeo de construtor da naccedilatildeo ROMANCINI Richard Inventando tradiccedilotildees os historiadores e a pesquisa inicial sobre o jornalismo II Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho Florianoacutepolis de 15 a 17 de abril de 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwjornalismoufscbrredealcarcdgrupos20de20trabalho20de20historia20da20midiahistoria20dos20jornalismotrabalhos_selecionadosrichard_romancinidocgt Acesso em 060706
21
desaparecimento de total ou significativa parcela dos documentos que
constituiacuteram as fontes pesquisadas por aquele autor tais como os arquivos do
Primeiro Cartoacuterio dos Oacuterfatildeos de Satildeo Paulo os da Provedoria da Real Fazenda e
os da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo2
Aleacutem disso uma significativa parcela dos trabalhos publicados entre os
seacuteculos XIX e XX sobre as atividades metaluacutergicas desenvolvidas no morro de
Araccediloiaba estavam voltados para as anaacutelises sobre os aspectos da geografia
historia mineralogia botacircnica e geologia a partir da implantaccedilatildeo da Real Faacutebrica
de Ferro de Ipanema fundada em 1810 3 Quanto aos periacuteodos anteriores a fonte
de informaccedilatildeo sempre foi a obra de Pedro Taques a qual foi amplamente
difundida com a publicaccedilatildeo da obra de Azevedo Marques intitulada
Apontamentos histoacutericos geograacuteficos bibliograacuteficos e estatiacutesticos da proviacutencia de
Satildeo Paulo em 1879
A construccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema estaacute inserida no acircmbito
da implementaccedilatildeo de poliacuteticas voltadas para favorecer a transferecircncia para a
colocircnia de todo o aparelho institucional do reino a partir da chegada de D Joatildeo VI
a cidade do Rio de Janeiro4 Entre os projetos estava a implantaccedilatildeo e
desenvolvimento da siderurgia no Brasil a partir da exploraccedilatildeo das jazidas de
ferro jaacute conhecidas como as do Morro de Araccediloiaba na Proviacutencia de Satildeo Paulo e
das jazidas de ferro de Minas Gerais localizadas nos atuais municiacutepios de
Congonhas do Campo e Gaspar5
2 Os arquivos da Provedoria foram destruiacutedos por uma enchente do Tamanduateiacute em 1929 Dos outros arquivos restam apenas poucos exemplares e que estatildeo incompleto como o das Atas da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo RODRIGUES Leda Maria Pereira As Minas de ferro em Araccediloiba (Satildeo Paulo Seacuteculos XVI-XVII-XVIII) Annais do III Simpoacutesio dos Professores Universitaacuterios de Histoacuteria Franca 1966 p 171 3 A Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema inicia suas atividades a partir da promulgaccedilatildeo da Carta Reacutegia de 4 de dezembro de 1810 Esta carta conteacutem instruccedilotildees para o funcionamento de uma faacutebrica de ferro em Sorocaba Em 1895 encerra definitivamente as suas atividades Ver bibliografia 4 Com a presenccedila de D Joatildeo VI foi promulgada em 1808 a abertura dos portos para o comeacutercio e um alvaraacute que revogava o Decreto de D Maria I de 1785 referente a proibiccedilatildeo da abertura de faacutebricas e manufaturas no estado do Brasil e Domiacutenios Ultramarinos 5 As minas de ferro de Gaspar Soares deram origem a Real Faacutebrica de Ferro de Gaspar Soares cuja direccedilatildeo foi dada ao Intendente Manuel Ferreira da Cacircmara Em 1811 tambeacutem para o Brasil o teacutecnico alematildeo Gotthelft Von Feldner com a incumbecircncia de examinar as minas receacutem
22
Para dar andamento agravequeles projetos foram trazidos para o Brasil o
mineralogista alematildeo Friederich Ludwig Wilhelm Varnhagen (1782-1842) e
Wilhelm-Ludwig Von Eschwege (1777-1835) ambos funcionaacuterios da Coroa
Portuguesa6 Eschwege foi enviado para Minas Gerais para inspecionar as
jazidas e minas de ferro e criar com outros acionistas a companhia sideruacutergica
Faacutebrica Patrioacutetica do Prata de Congonhas do Campo que comeccedilou a funcionar
em fins de 1811 e Varnhagen para o Morro de Araccediloiaba7
Apoacutes observaccedilotildees mineraloacutegicas realizadas por Varnhagen em
Araccediloiaba A partir dos resultados daquelas observaccedilotildees ficou determinado que
Sorocaba era o local mais apropriado para a construccedilatildeo de uma siderurgia pois
ldquoa mina existente dentro de sua circunscriccedilatildeo eacute muito rica em metal de ferro e
conta na sua proximidade com extensas matas as quais haacute muitos anos mandou
reservar e que forneceratildeo o indispensaacutevel combustiacutevelrdquo(FRAGA 1968 p 66)
Assim em 1810 foi fundado o Estabelecimento Montaniacutestico de Extraccedilatildeo de Ferro
das Minas de Sorocaba denominado posteriormente de Real Faacutebrica de Ferro de
Ipanema
A aacuterea escolhida para aquele novo empreendimento estava localizada junto
ao rio Ipanema que daiacute retira aquela denominaccedilatildeo deixando para traz a histoacuteria
da metalurgia que havia sido desenvolvida durante dois seacuteculos no interior Morro
de Araccediloiaba no vale das Furnas onde estaacute localizado o Siacutetio Arqueoloacutegico
Afonso Sardinha
Os primeiros trabalhos sobre a Real Faacutebrica privilegiavam as anaacutelises
voltadas para a mineralogia e as teacutecnicas de fundiccedilatildeo Quanto a este uacuteltimo
descobertas de carvatildeo do rio Pardo no Rio Grande do Sul Cf FIGUEIROA Silvia As ciecircncias Geoloacutegicas no Brasil uma Histoacuteria Social e Institucional 1875-1934 Satildeo Paulo Hicitec 1997 p 63-65 6 Varnhagen e Eschwege voltaram para Portugal em 1822 7 Varnhagen esteve em Araccediloiaba acompanhado por Martim Francisco de Andrada Martim Francisco Ribeiro de Andrada Inspetor de Minas e Matas da Capitania de Satildeo Paulo
23
aspecto destacam o emprego do alto forno da fabricaccedilatildeo do carvatildeo e o emprego
de fundentes bem como criacuteticas relacionadas agrave produccedilatildeo e qualidade do ferro8
Entre as obras mais gerais sobre aquele empreendimento publicadas no
seacuteculo XIX estatildeo os trabalhos de Antonio da Costa Pinto Silva (1852) Nicolau de
Campos Vergueiro (1843) Frederico Augusto Pereira de Moraes (1858) M Alves
de Arauacutejo (1882) Francisco de Assis Moura (1888) J Ewbank da Cacircmara (1875)
Leandro Dupreacute (1885) Baratildeo Homem de Mello (1888) Manuel Eufraacutezio de
Azevedo Marques (1879) Carlos Conrado de Niemeyer (1879) Frederico
Augusto Pereira de Moraes (1858)
Sobre a mineralogia e a geologia estatildeo os de Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e
Silva (1820 1846) Martim Francisco Ribeiro de Andrada (1828 1846 1855) F
Schimidt (1853) e Wilhelm L Von Eschwege (1833) e Orville Adalbert Derby
(1891 e 1895 1909) Derby foi o descobridor em 1891 da apatita mineral que foi
amplamente explorado para a fabricaccedilatildeo de adubos a partir de 1927 Naquele
mesmo seacuteculo foram realizadas as primeiras anaacutelises da magnetita de Ipanema
pela Escola de Minas de Ouro Preto9 as quais tiveram como resultado a
identificaccedilatildeo do titacircnio como componente daquele mineacuterio
Dessa forma foi possiacutevel entender a dificuldade teacutecnica que enfrentaram
todos os diretores de Ipanema em produzir um ferro de boa qualidade pois a
magnetita aleacutem de sua exagerada densidade apresentava-se impregnada de
ocircxido de Titacircnio ldquofatores que contribuem de forma decisiva para dificultar sua
reduccedilatildeo mesmo em altos fornosrdquo (FRAGA 1968 p 86) Entre as pesquisas
realizadas por essa Escola estatildeo os trabalhos de Paul Ferrand (1885) e Leandro
Dupreacute (1885) Joatildeo Pandiaacute Caloacutegeras (1893 1895 19041828) e Ferdinando
Gautier responsaacutevel em 1891 pela identificaccedilatildeo da presenccedila de foacutesforo no
mineacuterio elemento tambeacutem nocivo para a produccedilatildeo do ferro Ainda no seacuteculo XIX
8 Fundentes satildeo materiais que quando mesclados com o carvatildeo vegetal dentro do forno facilitam a fundiccedilatildeo dos mineacuterios no caso de mineacuterios de ferro Em Ipanema eram utilizados como fundentes os dioritos tambeacutem chamada ldquopedra verde (do alematildeo grunstein) 9 A Escola de Minas de Ouro Preto foi inaugurada em 1876 Destinava-se a formar profissionais para a mineraccedilatildeo
24
estatildeo os relatos elaborados pelo naturalista viajantes como Saint Hilaire Von
Martius e Zaluar
No seacuteculo XX os trabalhos relacionados com aquele empreendimento
foram desenvolvidos em duas linhas de investigaccedilatildeo o da histoacuteria econocircmica e
da social Nesta uacuteltima as anaacutelises privilegiaram as abordagens sobre o processo
de trabalho e mais para o final daquele seacuteculo para as questotildees sobre o meio
ambiente como os aspectos da ecologia florestal recursos hiacutedricos gestatildeo
ambiental e do turismo ecoloacutegico
Os trabalhos historiograacuteficos daquele seacuteculo pouco acrescentaram aos
aspectos relacionados com a implantaccedilatildeo dos primeiros empreendimentos
metaluacutergicos anteriores agrave construccedilatildeo da Real Faacutebrica10 Contudo trecircs trabalhos
podem ser destacados pelas contribuiccedilotildees seja pela releitura de documentos
ainda existentes como foi o caso dos estudos realizados por Maacuterio Neme seja
pelos trabalhos de pesquisa documental elaborados tanto por Leda Maria Pereira
Rodrigues quanto por Estefania Knotz Canguccedilu Fraga
No primeiro caso Maacuterio Neme apresenta em seu livro Notas de Revisatildeo da
Histoacuteria de Satildeo Paulo uma reavaliaccedilatildeo das obras de Pedro Taques bem como
de outros autores que tratam da histoacuteria de Satildeo Paulo ateacute o momento da 10 Entre as obras direcionadas a um contexto geral brasileiro estatildeo Sylvio Froes Abreu (19371962) Afranio do Amaral (1946) Renato Frota de Azevedo (1955) Tanus Jorge Bastini (1957) Vicente Licinio Cardoso (1924) Sobrinho Costa e Silva (1953) Alpheu Diniz Gonccedilalves (1937) R Hermanns (1958) R N Jafet (1957) Theodor Knecht (1931) Viktor Leinz (1942) Clodomiro de Liveira (1914) Niacutecia Vilela Luz (1961) Manuel Moreira Machado (1919) Roberval Germano Medeiros (1947) Geraldo Magella Pires de Melo (1957) Geraldo Dutra Moraes (1943) Almiro de Lima (1929) Matias Gonccedilalves de Oliveira Roxo (1937) Edmundo de Macedo Soares (1953) Gilberto Freyre (1988) Francisco Adolpho de Varnhagen (1956) Joseacute Epitaacutecio Passos Guimaratildees (1981) Francisco Magalhatildees Gomes (1983) Francisco de Assis Barbosa (1958) Francisco de Assis Carvalho Franco (1928) Silvia Figueroa (1997) Roseli Santaella Stella (2000) Para anaacutelises direcionadas ao Estado de Satildeo Paulo estatildeo as de Paulo R Pestana (1928) Luis Flores de Moraes (1930) Afonso Taunay (1931) Benedito Lima de Toledo (1966) Maacuterio Neme (1959) Seacutergio Buarque de Holanda (1960 1966) Ernani da Silva Bruno (1953) Jesuiacuteno Feliciacutessimo Juacutenior (1969) Washington Luis (1956) Gabriel Pedro Moacyr (1935) E aqueles relacionados agrave histoacuteria local da Real Faacutebrica estatildeo o de Joseacute Monteiro Salazar (1982) Astor Franccedila Azevedo (1959) Luiz de Almeida Castanho (1937 1939 1958) Jaime Benedito de Arauacutejo (1939) Ezequiel Freire (1953) Emanuel Soares Veiga Garcia (1954) Joatildeo Lourenccedilo Rodrigues (1953) Otaacutevio Tarquiacutenio de Souza (1946) Heacutelio Vianna (1969) Andreacute Davino (1965) Guido Ranzani (1965) Miriam Escobar (1982) Theodoro Knecht (1930) Helmut Born (1989) Lenharo S L R (1996) Antonio Maciel Botelho Machado (1998) e Jaime Rodrigues (1998) Aluiacutezio de Almeida (2002)
25
publicaccedilatildeo da obra em 1959 confrontando as afirmaccedilotildees dos autores com base
nos documentos disponiacuteveis naquele momento A obra segundo o autor fora
escrita com base em pesquisa documental realizada por ele durante duas
deacutecadas tendo concluiacutedo que ldquofirmamo-nos na convicccedilatildeo mais absoluta de que a
crocircnica de nossa formaccedilatildeo e evoluccedilatildeo estaacute a exigir ampla revisatildeo quer em
mateacuteria de fatos e acontecimentos na sua ocorrecircncia e significaccedilatildeo imediata e
futura e no que toca a dados datas e nomes quer em mateacuteria de interpretaccedilatildeordquo
(NEME1959 p11)
Ao final deste trabalho Neme conclui que os dados oferecidos por Pedro
Taques a respeito da construccedilatildeo de uma Faacutebrica de ferro por Afonso Sardinha no
Morro de Araccediloiaba natildeo passou de uma faacutebula criada por aquele autor sendo
que a uacutenica Faacutebrica de ferro que de fato existiu no iniacutecio do seacuteculo XVII foi a de
Santo Amaro
No segundo trabalho a ser considerado trata-se de um artigo publicado em
1966 pela historiadora Leda Maria Pereira Rodrigues intitulado As Minas de ferro
em Araccediloiaba (Satildeo Paulo Seacuteculos XVI-XVII-XVIII) onde a autora afirma que ldquoos
primoacuterdios de nossa Histoacuteria fazem surgir duacutevidas difiacuteceis de serem esclarecidas
pois haacute falta de documentos coesos que provem incontestavelmente a veracidade
de certas afirmaccedilotildeesrdquo Neste mesmo trabalho ela conclui que ateacute a instalaccedilatildeo da
Real Faacutebrica em 1810 todos os empreendimentos anteriores constituiacuteram numa
ldquoseacuterie de tentativas frustrasrdquo A autora demonstra que pelo menos dois
empreendimentos foram efetivamente implementados naquele local o de Luiz
Lopes de Carvalho por volta de 1690 e o de Domingos Pereira Ferreira em 1875
(RODRIGUES 1966 p246-249)
Em 1968 Estefania Knotz Canguccedilu Fraga sob a orientaccedilatildeo da historiadora
Leda Maria Pereira Rodrigues seguindo as discussotildees iniciadas pela autora
acima mencionada desenvolveu uma tese na aacuterea de Histoacuteria do Brasil com o
titulo Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
(1779-1822) Neste trabalho analisou especialmente o empreendimento de
26
Domingos Pereira Ferreira como tambeacutem as primeiras deacutecadas de
funcionamento da Real Faacutebrica sob a direccedilatildeo de Hedberg (1810-1814) e
Varnhagen (1814-1822) A autora depois de enumerar as possiacuteveis causas que
teriam levado ao que atribui ser um ldquoinsucessordquo econocircmico daqueles
empreendimentos conclui que
mesmo que a faacutebrica de ferro de Araccediloiaba (como
primitivamente era denominado o local) natildeo possa oferecer
ao pesquisador nada aleacutem de constantes provas de seu
insucesso ainda assim o propoacutesito que o anima natildeo deve
esmorecer Afinal o que seria da Historia se soacute merecessem
registro os eventos vitoriosos Quantas derrotas natildeo
levaram as vitoacuterias Porque entatildeo omiti-las se fazem parte
integrante da mesma Porque esquececirc-la se refletem uma
circunstancia real mesmo que nela se insinue uma ou mais
ldquoforccedilas obstrutivasrdquo que consagram ao fracasso tudo o que
nela se condiciona mas que nem por isso obstam uma ou
vaacuterias tentativas de superaccedilatildeo Eacute sabido que a dualidade de
forccedilas impele a civilizaccedilatildeo E mais que a tanta gloacuteria existe
na derrota quanto na vitoacuteria quando supotildeem luta E poderaacute
algueacutem negar que Ipanema natildeo foi um glorioso campo de
luta (FRAGA 1966 p 109)
112 Histoacuterico das descobertas das ruiacutenas O Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha foi assim denominado por
ter sido Afonso Sardinha bandeirante e seu filho mameluco11 Afonso Sardinha o
moccedilo apontados por Pedro Taques e pela historiografia como os provaacuteveis
11 Filho de pai branco e matildee indiacutegena No caso dos mamelucos os pais reconheciam publicamente a paternidade e os filhos gozavam da liberdade plena e aproximavam-se agrave identidade portuguesa Essa denominaccedilatildeo cai em desuso no seacuteculo XVIII e eacute substituiacuteda pelo termo bastardo que passava a designar qualquer pessoa com ascendecircncia indiacutegena (MONTEIRO 1994 p 167)
27
descobridores e construtores dos primeiros fornos de fundiccedilatildeo naquele local em
finais do seacuteculo XVI
No ano de 1977 Joseacute Monteiro Salazar pesquisador estudioso da histoacuteria
regional e particularmente da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema acompanhado
pelos engenheiros agrocircnomos Nerzon Nogueira de Barros e Dinchiti Sinzato e
pelo fotoacutegrafo Venedavel Acosta encontrou as ruiacutenas de um possiacutevel Faacutebrica de
ferro que atribuiu ser aquele construiacutedo por Afonso Sardinha em finais do seacuteculo
XVI (SALAZAR 1997156-159) Tal avaliaccedilatildeo decorria do fato de que aquela
regiatildeo teria sido uma aacuterea de provaacutevel exploraccedilatildeo mineral do ferro que
remontaria aos primoacuterdios da colonizaccedilatildeo de Satildeo Vicente conforme apontavam a
historiografia disponiacutevel sobre aquela Capitania
28
Fig 1 MAPA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA FLONA ndash Floresta Nacional de Ipanema Escala 1250 000 CENEA- Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola 1985
29
Fig 2 MAPA DE LOCALIZACcedilAtildeO DO SIacuteTIO AFONSO SARDINHA Folheto IBAMA sem data e sem escala
30
Fig 3 DESENHO ESQUEMAacuteTICO DE LOCALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRICA DE FERRO Salazar (1997 p80)
Fig 4 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E JOSEacute MONTEIRO SALAZAR Aspecto do Siacutetio em 1983
31
Fig 5 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E JOSEacute MONTEIRO SALAZAR Iniacutecio das pesquisas no Siacutetio Afonso Sardinha 1983 As ruiacutenas foram localizadas no interior do vale das Furnas onde estaacute o
ribeiratildeo do Ferro que nasce e cruza o Morro de Araccediloiaba desaguando no rio
Ipanema o qual por sua vez eacute um afluente pela margem esquerda do rio
Sorocaba
Este ribeiratildeo
() nasce no Monte do Chapeacuteu e corre primeiro do norte para o
sul e depois de passar pelo Vale das Furnas torce bruscamente
e muda radicalmente de direccedilatildeo fazendo uma grande curva e
passando a correr do sul para o norte indo desaguar afinal no
Ipanema (SALAZAR 1997 p 02)
Foi numa das curvas do ribeiratildeo do Ferro que aquelas ruiacutenas foram
localizadas As estruturas ali descobertas se cercavam de condiccedilotildees fisiograacuteficas
favoraacuteveis para viabilizar a atividade de produccedilatildeo do ferro devido a proximidade
32
das jazidas do mineacuterio existecircncia de matas abundantes assim como de uma
hidrografia favoraacutevel para o aproveitamento da forccedila motriz das aacuteguas
A primeira constataccedilatildeo da existecircncia de uma estrutura por eles encontrada
foi uma fileira de pedras bem conservadas que identificaram ldquocomo canal
certamente para o desvio do rio a fim de mover os martinetesrdquo Descobriram uma
muralha que atribuiacuteram ser uma parede de forja (SALAZAR 1997 p159-160)
113 Consideraccedilotildees sobre a metodologia O termo arqueologia histoacuterica surge nos Estados Unidos nas deacutecadas de
1960 para designar o estudo da cultura material dos europeus no mundo Esse
termo passou a ser oficialmente adotado em 1967 tendo em vista regulamentar a
nomenclatura para designar as pesquisas arqueoloacutegicas em siacutetios histoacutericos que
estavam sendo desenvolvidas nos Estados Unidos Ateacute entatildeo eram utilizados
para identificar aqueles trabalhos arqueoloacutegicos uma nomenclatura diversificada
como arqueologia colonial arqueologia da historia arqueologia de siacutetios
histoacutericos entre outros
Naquela mesma deacutecada a arqueologia histoacuterica passa a ser uma
disciplina valendo-se da aplicaccedilatildeo de meacutetodos de escavaccedilatildeo jaacute consagrados
pela arqueologia preacute-historica e das abordagens teoacuterico-metoloacutegicas voltadas
para a interpretaccedilatildeo dos registros arqueoloacutegicos As ferramentas teoacutericas
metodoloacutegicas apresentadas pela arqueologia foram sendo revisadas e
aprimoradas de modo a contribuir com as anaacutelises destinadas a interpretar as
culturas preteacuteritas
Outra questatildeo diz respeito agrave compreensatildeo do papel da Arqueologia
Histoacuterica aplicada agraves pesquisas desenvolvidas na Ameacuterica tendo em vista a
visatildeo desenvolvida por Charles Orser Jr segundo o qual cabe a esta disciplina
investigar fundamentalmente os ldquo() aspectos mateacuterias em termos histoacutericos
33
culturais e sociais concretos dos efeitos do mercantilismo e do capitalismo que
foi trazido da Europa em fins do seacuteculo XV e que continua em accedilatildeo ainda hojerdquo
(ORSER 1992 p 23)
Posteriormente Orser trouxe novas contribuiccedilotildees a aquela conceituaccedilatildeo
ao formular a Teoria de Rede segundo a qual as pesquisas em Arqueologia
deveriam levar em consideraccedilatildeo a questatildeo das ldquointerligaccedilotildees globaisrdquo
demonstrando a ldquoorigem e os desenvolvimentos ulteriores da globalizaccedilatildeo da
modernizaccedilatildeo e da expansatildeo colonialistardquo criados por ldquoagentes conscientes do
colonialismo do eurocentrismo e da modernidaderdquo que proporcionaram a
criaccedilatildeo de uma ldquoseacuterie de elos complexos e multidimensionais que uniam
diversos povos ao redor do mundordquo (ORSER 1999 p 87)
No que se referem agrave interpretaccedilatildeo dos registros arqueoloacutegicos as
pesquisas em arqueologia histoacuterica empregam teorias e meacutetodos que foram
sendo desenvolvidos por meio da aplicaccedilatildeo de meacutetodos de abordagens como o
Histoacuterico-Culturalismo (foi amplamente difundida entre os arqueoacutelogos
brasileiros) New Archaeology ou Arqueologia Processual e Poacutes-
processualismo e suas derivaccedilotildees Cada meacutetodo privilegiou uma escala
apropriada de anaacutelise para o ldquoHistoacuterico Culturalismo foi o siacutetio para o
Processualismo a regiatildeo e para o Poacutes-Processualismo passou a ser o
indiviacuteduordquo (LIMA 2000 p 2)
No Brasil a formaccedilatildeo da primeira geraccedilatildeo de arqueoacutelogos na deacutecada de
1970 foi orientada por duas correntes teoacutericas A americana representada pelos
arqueoacutelogos Clifford Evans (1920-1981) e Betty Meggers coordenadores do
Programa Nacional de Pesquisas Arqueoloacutegicas (Pronapa) criado na deacutecada
de 1960 E a Francesa representada por Joseph e Annette Emperaire Da
escola francesa destacamos as pesquisas realizadas pelo grupo do Centre
National de la Recherche Scientifique que trabalharam em Minas Gerais
Paranaacute Satildeo Paulo e no Piauiacute em convenio com o Museu Paulista da
Universidade de Satildeo Paulo e a Universidade do Piauiacute com o objetivo de
34
proporcionar as primeiras dataccedilotildees para as obras rupestres e sua inserccedilatildeo no
contexto cultural preacute-histoacuterico (PROUS 1992 p17)
A partir da pesquisas do grupo Franco-Brasileiro foram fornecidas as
primeiras dataccedilotildees radiocarbono a introduccedilatildeo de teacutecnicas e meacutetodos mais
refinados de decapagem e a realizaccedilatildeo de escavaccedilotildees sistemaacuteticas no Brasil
Aleacutem da influecircncia teoacuterica-metodologica o convecircnio entre aquele grupo
representado por Joseph e Annette Laming Emperaire e o Centre National de
la Recherche Scientifique proporcionou a formaccedilatildeo de arqueoacutelogos e de
especializaccedilotildees na Franccedila Entre os anos de 1960-1980 o legado francecircs
permanecia em duas Instituiccedilotildees de Satildeo Paulo o Museu de Preacute-Histoacuteria
(atualmente incorporado ao MAE) e Museu Paulista da Universidade de Satildeo
Paulo e em Minas Gerais no Museu de Histoacuteria Natural da Universidade
Federal de Minas Gerais
A partir da deacutecada de 1960 as pesquisas relacionadas ao campo da
arqueologia histoacuterica foram conduzidas particularmente por arqueoacutelogos preacute-
historiadores que passaram a desenvolver pesquisas em Siacutetios Histoacutericos
Num primeiro momento aquelas pesquisas arqueoloacutegicas foram marcadas
pelas teorias do meacutetodo histoacuterico-culturalista privilegiando monumentos como
igrejas conventos missotildees jesuiacuteticas fortificaccedilotildees solares entre outros
encorajadas pelos oacutergatildeos de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural e
pela receacutem-criada Lei 3924 de 26 de julho de 1961 atraveacutes da qual os
monumentos arqueoloacutegicos e preacute-histoacutericos passaram a serem considerados
como patrimocircnio da Uniatildeo (ANDRADE 1993 FUNARI 1998 RUBINO 1996)
Ateacute a deacutecada de 80 as pesquisas ainda seguiam aquela linha de
investigaccedilatildeo privilegiando pesquisas em monumentos Contudo jaacute havia
perspectivas de novas abordagens de pesquisa notadamente voltadas para
os segmentos sociais desfavorecidos de registros possibilitando ldquorecuperar
memoacuterias sociais reinterpretar a Histoacuteria Oficial resgatar elementos e praacuteticas
da vida cotidiana sobre os quais normalmente natildeo se escreverdquo
35
Proporcionando a arqueologia histoacuterica investigar uma diversificada temaacutetica
transformando em Siacutetios Histoacutericos quilombos unidades domeacutesticas becos
urbanos senzalas tecnologias de produccedilatildeo de materiais e povoados etc
(ANDRADE 1993 p 228)
Neste contexto se inserem as pesquisas em arqueoloacutegica histoacuterica
desenvolvida na cidade de Satildeo Paulo O Programa de Arqueologia Histoacuterica no
Municiacutepio de Satildeo Paulo foi coordenado por Margarida Davina Andreatta do
Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo em colaboraccedilatildeo com o
Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico da Secretaria Municipal de Cultural A
pesquisa realizada a partir de prospecccedilotildees e escavaccedilotildees sistemaacuteticas em
ldquoCasas Bandeiristasrdquo e locais puacuteblicos e privados do municiacutepio como becos
ruas praccedilas quintais lixotildees logradouros etc Entre os anos de 1979 e 1981
foram realizadas pesquisas arqueoloacutegicas no Municiacutepio de Satildeo Paulo nos
Siacutetios Mirim em Ermilindo Matarazzo Sitio de Morrinhos no Jardim Satildeo Bento
Casa do Grito no Parque da Independecircncia ndash Ipiranga Beco do Pinto Bairro
da Seacute Casa n 1 do Paacutetio do Coleacutegio e Casa do Tatuapeacute e no bairro do
Tatuapeacute (ANDREATTA 19812 1986a 1986b) Em 1983 Margarida Davina
Andreatta iniciou as pesquisas arqueoloacutegicas na Fazenda Ipanema ndash Iperoacute
Satildeo Paulo atualmente um aacuterea de proteccedilatildeo ambiental FLONA 12
Durante o desenvolvimento dessa pesquisa foram realizadas
escavaccedilotildees e prospecccedilotildees em uma aacuterea extensa daquela Fazenda incluindo
todas as edificaccedilotildees que pertenceram a Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
(1810-1895)13 e as ruiacutenas existentes no Vale das Furnas junto do ribeiratildeo do
Ferro e interior do Morro de Araccediloiaba Nesta uacuteltima aacuterea denominada Siacutetio
Afonso Sardinha foi evidenciado estruturas de um Faacutebrica de Ferro e Fornos 12 As edificaccedilotildees da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema foram tombadas pelo Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional em 1964 O Siacutetio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha foi registrado tambeacutem no IPHAN em 1997 por Margarida Davina Andreatta Ver Detalhes de Siacutetios Arqueoloacutegicos Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrportalmontaDetalheSitioArqueologicodoid=SP00236gt Acesso em 09mar 2004 13 Foram realizadas pesquisas arqueoloacutegicas nas aacutereas dos altos fornos fornos de carvatildeo edifiacutecio de armas brancas Praccedila Afonso Sardinha entre outros dependecircncias pertencentes a Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
36
de Fundiccedilatildeo e uma diversificada tipologia de materiais os quais compotildee os
documentos arqueoloacutegicos que foram registrados no Inventaacuterio de Peccedilas
relacionadas a pesquisa (exemplos em anexo)
Da pesquisa no Sitio Afonso Sardinha foram produzidos um significativo
conjunto documental formado por inuacutemeras tipologias de documentos de
arquivo que formam o Fundo Sitio Afonso Sardinha A partir dessa
documentaccedilatildeo foi possiacutevel acompanhar o processo de desenvolvimento
daquela pesquisa e tambeacutem contextualizar os documentos arqueoloacutegicos
permitindo assim a realizaccedilatildeo de interpretaccedilotildees quanto sua dataccedilatildeo e
significado Nas palavras de Hodder ldquoa partir del momento em que se conoce
el contexto de um objeto este ya no es completamente mudordquo (HODDER
1994 18)
Os documentos do Fundo Siacutetio Afonso Sardinha satildeo compostos por
diaacuterios de campo relatoacuterios de pesquisa planos de escavaccedilatildeo fotografias
correspondecircncias e tambeacutem por uma coleccedilatildeo formada por documentos de
apoio a pesquisa como plantas topograacuteficas planoaltimeacutetricas bibliografia
histoacuterica e teacutecnica sobre mineraccedilatildeo e fundiccedilatildeo de ferro no Brasil nos primeiros
trecircs seacuteculos de colonizaccedilatildeo
A pesquisa realizada a partir da bibliografia encontrada no Fundo Afonso
Sardinha apontou caminhos de investigaccedilatildeo que direcionaram para uma
bibliografia teacutecnica e histoacuterica sobre a teacutecnica da produccedilatildeo de ferro
desenvolvida na Europa especialmente na Espanha entre os seacuteculos XVI-
XVIII Aleacutem disso foi agregada aquela investigaccedilatildeo um conjunto de
documentos de cunho oficial escritos pelos empreendedores daquela
produccedilatildeo e oacutergatildeos administrativos coloniais como a Cacircmara da Vila de Satildeo
Paulo
Assim os documentos pertencentes ao Fundo Afonso Sardinha
documentos textuais oficiais e documentos arqueoloacutegicos ndash permitiram
37
interpretar que a aacuterea do Siacutetio corresponde a um campo de trabalho de
produccedilatildeo de ferro e que as atividades de mineraccedilatildeo e fundiccedilatildeo estavam
distribuiacutedas por uma aacuterea extensa com forte influencia dos modelos de ferrarias
de aacutegua que haviam no periacuteodo pesquisado na regiatildeo basca da Espanha
Assim as possibilidades dadas pela arqueologia histoacuterica de permitir a
utilizaccedilatildeo tanto de documentos arqueoloacutegicos (artefatos) e textuais na
realizaccedilatildeo da pesquisa e produccedilatildeo do conhecimento eacute tambeacutem uma das
principais tensotildees que norteiam as questotildees teoacutericas-metodoloacutegicas da
arqueologia histoacuterica Para tanto autores como Anders Andreacuten ao considerar
que o problema da arqueologia histoacuterica eacute o encontro entre a cultura material e
a escrita indica tambeacutem que a arqueologia histoacuterica natildeo pode ignorar as
disciplinas que tratam do homem como eacute o caso da Histoacuteria da Antropologia
ou da Filologia propondo que a metodologia em arqueologia histoacuterica deve
estabelecer ldquodialogue between artifact and text that is unique in relation to
prehistoric archeology as well as historyrdquo (ANDREacuteN 1998 p 177)
114 Descriccedilatildeo geral das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas Entre os anos de 1983 ndash 1989 as ruiacutenas encontradas por Joseacute Monteiro
Salazar (1982) foram objeto de uma pesquisa arqueoloacutegica iniciada pelo
Protocolo de Intenccedilotildees entre o Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo e o
CENEA ndash Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola - oacutergatildeo autocircnomo do Ministeacuterio
da Agricultura ao qual a Fazenda Ipanema estava ligado A pesquisa foi
coordenada pela arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta do Museu Paulista da
Universidade de Satildeo Paulo14
14 A Fazenda Ipanema pertenceu ao CENEA Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola oacutergatildeo autocircnomo do Ministeacuterio da Agricultura ateacute a extinccedilatildeo desse Centro em 1990 eacutepoca em que foram exploradas as minas de Apatita para a fabricaccedilatildeo de adubos A pesquisa arqueoloacutegica nesta aacuterea foi coordenada pela pesquisadora e arqueoacuteloga Profa Dra Margarida Davina Andreatta tendo como assistente o pesquisador da Historia regional Joseacute Monteiro Salazar aleacutem de estagiaacuterios da Universidade de Satildeo Paulo e voluntaacuterios
38
Fig 6 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E EQUIPE EM REUNIAtildeO COM A DIRETORIA DA FLORESTA NACIONAL DE IPANEMA 1984
Fig 7 ASPECTO DA FAacuteBRICA DE FERRO em 1987
39
Fig 8 Planta da aacuterea do Sitio Afonso Sardinha aacutereas A1 e A2
40
As pesquisas arqueoloacutegicas desenvolvidas no sitio Afonso Sardinha
evidenciaram a existecircncia de um campo de produccedilatildeo de ferro localizado na
margem esquerda do ribeiratildeo do ferro o qual se mostrou formadas por duas
aacutereas identificadas durante aqueles trabalhos como aacuterea A1 e aacuterea A2
mostradas no Mapa da Figura 8
A aacuterea A1 situada no setor norte do campo apresentou ruiacutenas de uma
edificaccedilatildeo relativamente maior de produccedilatildeo de ferro composto por quatro setores
identificados como Forno (setor A) Forja (setor B) espaccedilo entre a Forja e o Canal
(setor C) e Canal (setor D) espaccedilo sul da estrutura (setor E)
Nessa aacuterea A1 a pesquisa arqueoloacutegica possibilitou as seguintes principais
evidecircncias
(i) ocorrecircncias de escoacuterias de forma disseminada e tambeacutem na forma de
um amontoado junto a parede externa (sul) da Forja
(ii) ocorrecircncias de telhas na aacuterea ao sul das paredes dos setores BC e D
(iii) ocorrecircncias de cravo e lacircminas de metal tambeacutem na aacuterea sul da
estrutura
(iv) ocorrecircncia de ceracircmica neo-brasileira nos setores da forja (B) e do
Forno (A)
(v) ocorrecircncia de faianccedila portuguesa nos setores da Forja (B) e do Forno
(A)
(vi) ocorrecircncia de vidro na parte norte do Forno (setor A) parte externa da
Forja (setor B) e tambeacutem um fragmento no setor E (parte sul da estrutura)
41
(vii) ocorrecircncia de metal na parte interna e externa da Forja (B) na aacuterea E
parte interna da aacuterea (C) e face oeste do Canal (D)
(viii) evidecircncias de esteios nas laterais do Canal (D)
Fig 9 Detalhe da aacuterea A 1 ndash Sitio Afonso Sardinha
42
Fig 10 VISTA GERAL DA AacuteREA A 1 ndash Sitio Afonso Sardinha 1987
Fig 11 VISTA GERAL DA AacuteREA A 2 ndash Siacutetio Afonso Sardinha 1987 Na aacuterea A2 mostrada na figura 12 as pesquisas arqueoloacutegicas
evidenciaram a existecircncia de duas subaacutereas sendo uma denominada de A2-B e a
43
outra de D constituiacuteda de parte de um muro de pedras cuja estrutura natildeo foi
possiacutevel identificar
Fig 12 DETALHE DA AacuteREA A 2 ndash Sitio Afonso Sardinha Na aacuterea A2-B (Morrote) foram observadas as seguintes evidecircncias
(i) ocorrecircncia de dois fornos soterrados sob um Morrote na aacuterea
designada como A2-B
(ii) ocorrecircncia de tijolos telhas e mureta de pedra
44
Na aacuterea D da figura 12 foram observados
(i) mureta de estrutura natildeo identificada
(ii) ocorrecircncia de duas estruturas circulares de natureza natildeo
identificada
(iii) ocorrecircncias de ceracircmicas telhas e tijolos
(iv) Ao sul da aacuterea A2-B observou-se a existecircncia de um muro de
pedra interpretado como sendo parte de um canal tendo ao seu lado duas
estruturas circulares com diacircmetro de 15 m (Figura 13 e 14)
Fig 13 PLANTA MORROTE ndash AacuteREA A2-B 1987
45
Fig 14 MORROTE COM EVIDENCIAS DE ldquoFORNOrdquo AacuteREA A2
46
12 Principais questotildees a serem abordadas no decorrer da Tese Os estudos histoacutericos disponiacuteveis acima apresentados bem como os
resultados das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas conforme descritas nos itens
anteriores permitem relacionar um conjunto de questotildees que consideramos
importantes para esclarecimento do processo de instalaccedilatildeo da Faacutebrica de ferro
em Araccediloiaba (Sitio Afonso Sardinha) no periacuteodo compreendido entre o final do
seacuteculo XVI ao seacuteculo XVIII que antecedeu a instalaccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro
de Ipanema em 1810
Tais questotildees podem ser resumidas conforme seguem
I - Avaliaccedilatildeo dos vestiacutegios arqueoloacutegicos das atividades relacionadas agrave mineraccedilatildeo
e agrave produccedilatildeo de ferro a partir do final do seacuteculo XVI e anteriormente agrave instalaccedilatildeo
da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema em 1810
II - Investigaccedilatildeo das possiacuteveis teacutecnicas de produccedilatildeo e meacutetodos de fundiccedilatildeo de
ferro empregadas em Araccediloiaba no periacuteodo de analise desta tese
III - Caracterizaccedilatildeo de modelos de fornos de fundiccedilatildeo e processos industriais
encontrados na aacuterea do sitio arqueoloacutegico
IV ndash Avaliaccedilatildeo das possiacuteveis causas teacutecnicas e cientiacuteficas relacionadas agraves
dificuldades de produccedilatildeo e de qualidade do ferro produzido em Araccediloiaba
47
CAPITULO 2
A TECNICA DE PRODUCcedilAtildeO DE FERRO NO PERIODO ENTRE OS SEacuteCULOS
XVI AO XVIII
21 Consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia
Uma das primeiras questotildees para conceituar Teacutecnica refere-se agraves anaacutelises
que permitem diferenciaacute-la do conceito moderno de Tecnologia Ruy Gama (1986
p 19) ao analisar essa questatildeo a partir de autores de liacutengua inglesa observa que
o conceito de tecnologia aparece ldquoora como simplesmente sinocircnimo de teacutecnica ou
de conjunto de teacutecnicas alarga-se as vezes para incluir o produto material das
teacutecnicas e outras vezes menos frequumlentes eacute usada como sinocircnimo de saber
associado as teacutecnicas ou como estudo das teacutecnicasrdquo
A partir de 1930 a preocupaccedilatildeo com a Histoacuteria da Teacutecnica vem se
difundido sobretudo por meio das anaacutelises iniciadas por autores franceses como
Marc Bloch Lefevre de Noeumlttes e Lucien Febvre e ingleses como Abbott Payson
Lynn White Jr e Lewis Munford que a transformaram numa ldquonova disciplinardquo
historiograacutefica 15
No Brasil a primeira discussatildeo sobre essa temaacutetica foi apresentada em
1985 com a publicaccedilatildeo do livro Histoacuteria da Teacutecnica e da Tecnologia organizado
por Ruy Gama Este trabalho eacute formado por uma coletacircnea de textos claacutessicos e
de outros produzidos por autores estrangeiros e brasileiros sobre a Histoacuteria da
Teacutecnica da Tecnologia e da Ciecircncia Entre os textos escritos por autores
brasileiros destacam-se os trabalhos de Fernando Luis Lobo Barbosa Carneiro e
de Julio R Katinsky
15 Os Textos em que estes autores discutem o conceito de Teacutecnica e Tecnologia foram publicados no livro Historia da Teacutecnica e da Tecnologia organizado por Ruy Gama (1985)
48
No texto escrito por esse uacuteltimo autor estaacute um Glossaacuterio dos Carpinteiros
de Moinho onde o autor apresenta os resultados de uma pesquisa que fez sobre
os moinhos hidrauacutelicos no Brasil cuja utilizaccedilatildeo eacute bastante frequumlente nas aacutereas
rurais dos Estados de Satildeo Paulo e Sul de Minas Aleacutem disso oferece um
glossaacuterio de termos empregados ldquobasicamente na construccedilatildeo de monjolos
prensas de mandioca engenhocas de accediluacutecar e moinhos hidrauacutelicos de gratildeos
estes uacuteltimos geralmente preparados para produzir quirera ou fubaacuterdquo (KATINSKY1985 p 216)
Aleacutem desses textos a Coletacircnea traz dois artigos do economista alematildeo
Johann Beckmann (1729-1811) considerado ldquoo pai da Tecnologiardquo por haver
firmado aquele conceito em fins do seacuteculo XVIII e instituiacutedo a disciplina de
Tecnologia no ensino da Universidade de Goumlttingen16 Em 1777 publica a obra
Instruccedilatildeo sobre Tecnologia em que firmava o seu conceito de Tecnologia como
ldquoconhecimento dos ofiacutecios faacutebricas e manufaturas especialmente daquelas que
tem contacto estrito com a agricultura a administraccedilatildeo puacuteblica e as ciecircncias
cameraliacutesticasrdquo (GAMA 1985 p6) Na introduccedilatildeo dessa mesma obra Beckmann
escrevia que
A histoacuteria das artes pode dedicar-se a enumeraccedilotildees das
invenccedilotildees ao progresso e ao curso habitual de uma arte ou de
um trabalho manual mas eacute a tecnologia que explica de maneira
completa clara e ordenada todos os trabalhos assim como seus
fundamentos e suas consequumlecircncias (BECKMANN Apud GAMA
1985 p6)
Serge Moscovici em Essai sur lrsquohistorie humaine de la Nature referindo-se
a Beckmann afirma que este autor conscientemente ldquoforja o termo tecnologia
para designar a disciplina que descreve e ordena os ofiacutecios e as induacutestrias
existentesrdquo (MOSCOVICI apud GAMA 1985 p 8)
16 Goumlttingen era uma das mais conhecidas universidades da Europa agrave qual se vinculavam muitos estadistas e funcionaacuterios administrativos da Alemanha
49
Para Beckmann e outros autores de seu tempo a Tecnologia estava
intimamente ligada agrave escola e basicamente agrave uniatildeo dos ldquosaacutebiosrdquo com os
ldquofabricantesrdquo que dominavam o conhecimento teacutecnico numa eacutepoca em que este
mesmo conhecimento comeccedilava a ser objeto de investigaccedilatildeo de academias e
universidades as quais tinham como objetivo a formulaccedilatildeo de uma linguagem
tecnoloacutegica por intermeacutedio da codificaccedilatildeo de conceitos Ressaltamos ainda que
as propostas de Beckmann e esse novo olhar paras as teacutecnicas estavam
voltadas para o atendimento de demandas sociais surgidas com a Revoluccedilatildeo
Industrial
Se a Tecnologia tem a funccedilatildeo de explicar como afirma Beckmann ela
tambeacutem teve seu tempo de formulaccedilatildeo Segundo Ruy Gama o nascimento do
conceito de Tecnologia pode ser situado historicamente no decorrer da Idade
Moderna sendo difundido a partir do seacuteculo XVII Para este autor tal conceito foi
construiacutedo
pari passu ao desenvolvimento do capitalismo e agrave substituiccedilatildeo do
modo de produccedilatildeo feudalcoorporativo e do sistema de
transmissatildeo do conhecimento apoiado na aprendizagem pelo
emprego do trabalho assalariado e pelo sistema escolarizado do
conhecimento (GAMA 1986 p30)
Dessa forma ateacute pelo menos antes do advento da ldquoRevoluccedilatildeo da Ciecircnciardquo
(1789-1848) especialmente pelas descobertas proporcionadas pela Quiacutemica 17
todos os processos de produccedilatildeo eram realizados a partir de conhecimentos
ldquopraacuteticosrdquo e que natildeo eram e natildeo poderiam ser explicados cientificamente Assim
trabalhavam os carpinteiros camponeses mineiros e fundidores de metais e
outros artesatildeos da Idade Meacutedia associando engenhosidade experiecircncia e
habilidade manual ou em outras palavras centrados no ldquomais rude empirismordquo
(USHER 1994 p 465)
17 A Quiacutemica entre todas as ciecircncias ldquofoi a mais iacutentima e imediatamente ligada agrave praacutetica industrial ndash a Revoluccedilatildeo Industrial - especialmente integrada aos processos de tingimento de tecidos e branqueamento da industria tecircxtilrdquo ( HOBSBAWM 1979 p305)
50
Para Milton Vargas a Tecnologia soacute pode ter vigecircncia depois do
estabelecimento da Ciecircncia Moderna 18
principalmente pelo fato de essa cultura ser um saber que apesar
de teoacuterico deve necessariamente ser verificado pela experiecircncia
cientiacutefica Esse aspecto experimental e portanto empiacuterico da
Ciecircncia moderna proveacutem da ideacuteia renascentista de que tudo
aquilo que fora realizado pela tradiccedilatildeo teacutecnica poderia secirc-lo
tambeacutem pela teoria e metodologia cientiacuteficas o que
evidentemente aproxima o saber teoacuterico-cientiacutefico do fazer
empiacuterico da teacutecnica (VARGAS 1994 p 16)
22 O conceito de Teacutecnica Originaacuterio da Greacutecia Claacutessica o conceito de Teacutecnica estava inserindo num
tipo de ldquosaber-fazerrdquo associado a mitos como o de Hefestos (Vulcano para os
romanos) ndash o ferreiro - senhor do fogo e da forja que segundo aquela mitologia
havia revelado o segredo desta Teacutecnica aos homens Desta perspectiva
mitoloacutegica o conceito de Teacutecnica transformou-se num outro tipo saber-fazer o da
ldquotechneacuterdquo um conhecimento empiacuterico que somente pode ser obtido atraveacutes do
aprendizado baseado na experiecircncia ou entatildeo a partir dos ensinamentos
transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
Neste sentido a Techneacute natildeo eacute uma habilidade qualquer ldquomas uma
habilidade que segue certas regras por isso techneacute significa tambeacutem ofiacutecio
pressupotildee a existecircncia de um substrato um saber e um conhecimento na
18 Para Hobsbawm o progresso da ciecircncia natildeo pode ser entendido como um simples ldquoavanccedilo linear cada estaacutegio determinando a soluccedilatildeo de problemas anteriormente impliacutecitos nele e por sua vez colocando novos problemas Estes avanccedilos tambeacutem procedem pela descoberta de novos problemas de novas maneiras de enfocar os antigos de novas maneiras de enfrentar e solucionar velhos problemas de campos de investigaccedilatildeo inteiramente novos de novos instrumentos praacuteticos e teoacutericos de investigaccedilatildeordquo (HOBSBAWM 1979 p 302)
51
execuccedilatildeo de uma atividaderdquo (NADAL 2000 p 18) Esta forma de saber baseada
na loacutegica prolongou-se atraveacutes da Idade Meacutedia e chegou aos nossos dias com o
tiacutetulo de Teacutecnicas Natildeo satildeo teorias satildeo conhecimentos que tanto podem ser
adquiridos pela praacutetica como pelo estudo de tratados teacutecnicos
Entre os seacuteculos XVI e XVII a Ciecircncia ao romper com a tradiccedilatildeo
escolaacutestica19 avanccedila para o caminho da experimentaccedilatildeo com a valorizaccedilatildeo das
artes (teacutecnica) as quais jaacute vinham se transformando em objeto de preocupaccedilatildeo e
de estudo desde a Baixa Idade Meacutedia e o Renascimento ateacute chegar agrave constituiccedilatildeo
da Ciecircncia Moderna (DANTAS 2004)
Contraposta ao pensamento grego e medieval em que a
contemplaccedilatildeo das verdades era a meta do conhecimento sabe-se
que a partir do Renascimento haacute uma valorizaccedilatildeo do
conhecimento praacutetico bem como uma mudanccedila no estatuto do
conhecimento teacutecnico Haacute uma expectativa de intervenccedilatildeo e de
controle da natureza e correlativamente um reconhecimento da
teacutecnica isto eacute das atividades inventos e construccedilotildees dos
praacuteticos engenheiros e artesatildeos Daiacute se falar em uma nova forma
de saber e uma nova figura de douto Haacute no entanto uma seacuterie de
dificuldades para estabelecer as razotildees do surgimento dessa
dimensatildeo ativa e o papel que ocupa no nascimento da ciecircncia
moderna (OLIVEIRA1997 p )
No seacuteculo XV esse movimento de valorizaccedilatildeo do trabalho teacutecnico dos
artesatildeos ligado agrave experimentaccedilatildeo foi amplamente difundido pela divulgaccedilatildeo
daqueles conhecimentos atraveacutes de publicaccedilotildees A partir de 1630 surgiram os
Tratados Teacutecnicos Manuais20 como tambeacutem dicionaacuterios e enciclopeacutedias que se
dedicavam ao levantamento da terminologia das diversas artes das
nomenclaturas teacutecnicas e da descriccedilatildeo dos processos e dos meacutetodos das artes
19 Escolaacutestica movimento cultural e filosoacutefico medieval baseado em grande parte em comentaacuterios da obra do filoacutesofo grego Aristoacuteteles e de cunho puramente contemplativo 20 Na arquitetura por exemplo o estabelecimento desta praacutetica permitiu a difusatildeo das teorias e desenhos imaginados pelos arquitetos renascentistas findando assim a necessidade de construir e realizar obras para exemplificar as ideacuteias arquitetocircnicas
52
mecacircnicas as quais acabaram por solapar o domiacutenio das corporaccedilotildees de ofiacutecios 21 (BARGALLOacute 1955 p47)
A publicaccedilatildeo dos manuais teacutecnicos teraacute uma importacircncia decisiva
na padronizaccedilatildeo de unidades de medida e de representaccedilatildeo O
esforccedilo por se fazer compreender sem a equivocidade do discurso
do senso comum e sem o hermetismo do discurso maacutegico-
religioso reservado aos iniciados eacute uma forma decisiva de
objetivaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo que muito embora seja fundamental
ao empreendimento da ciecircncia nasce como uma necessidade do
desenvolvimento da teacutecnica As exigecircncias da precisatildeo aparecem
na representaccedilatildeo (desenhos graacuteficos etc) e na linguagem
daquele tipo de saber - as artes mecacircnicas - em seus manuais de
modelos de construccedilatildeo nas descriccedilotildees dos aspectos e
proporccedilotildees dos corpos ou no detalhamento do fabrico e do uso de
instrumentos e artefatos Natildeo eacute difiacutecil ver que esse interesse na
divulgaccedilatildeo de conhecimentos potencializado pelo aparecimento
da imprensa tornava necessaacuteria a padronizaccedilatildeo da divulgaccedilatildeo
com uma linguagem mais objetiva e medidas mais precisas
(OLIVEIRA 1997)
Entre os Tratados Teacutecnicos publicados estaacute a obra De pictura (1435)
considerado o primeiro estudo cientiacutefico da perspectiva pelo italiano Leone
Batista Alberti arquiteto literato e escultor (1404-1472) Para Alberti os artistas
deveriam aprender com todos os outros artesatildeos E o caminho para esse
aprendizado segundo ele consistia em conseguir com os proacuteprios artesatildeos os
21 Dos seacuteculos II (dC) ao XV as Artes estavam classificadas em Artes Liberais e Artes Mecacircnicas As Liberais (assim chamadas por serem consideradas dignas do homem livre) estavam associadas agrave Gramaacutetica Retoacuterica Astronomia Loacutegica Aritmeacutetica Muacutesica Quanto agraves Artes Mecacircnicas organizadas nas aacutereas urbanas eram consideradas menos honrosas mais proacuteprias do trabalhador manualservil como Medicina Arquitetura Agricultura Pintura Escultura Olaria Carpintaria Ferraria Cantaria Ofiacutecio de pedreiros etc As corporaccedilotildees de ofiacutecios ateacute entatildeo responsaacuteveis pelo treinamento dos artesatildeos e pelos segredos dos ofiacutecios (os misteacuterios dos misteres) tinham o sistema de aprendizado baseado na transmissatildeo dos conhecimentos teacutecnicos na praacutetica das oficinas ndash o aprender fazendo ndash que encaminhava o aprendiz na sua carreira passando pela categoria de oficial e finalmente pela de mestre isso quando conviesse agrave corporaccedilatildeo ter mais mestre vale dizer mais oficinas no mercado
53
saberes natildeo divulgados ou secretos dos ofiacutecios Para isso orientava os artistas
para frequumlentar as oficinas e outros lugares de trabalho e fazerem perguntas aos
ferreiros pedreiros construtores de barcos e ateacute aos sapateiros Deveriam
tambeacutem frequumlentemente fingir ignoracircncia para descobrir em que o conhecimento
dos outros excedia aos seus (GAMA 1983 p 284-85)
Esse novo caminho da Ciecircncia o da experimentaccedilatildeo encontra no
pensamento do Filoacutesofo inglecircs Francis Bacon (1561-1626) uma de suas
expressotildees teoacutericas Considerado o fundador da ciecircncia experimental moderna
foi tambeacutem o criador do meacutetodo cientiacutefico baseado na observaccedilatildeo e
experimentaccedilatildeo (empirismo) que permitiram o avanccedilo das teacutecnicas que
transformaram a vida do homem campesino e mineiro do seacuteculo XVII (GAMA
1983 p34)
Em linhas gerais Bacon ldquorejeitou a separaccedilatildeo e a oposiccedilatildeo vigentes nas
filosofias tradicionais entre teoria e praacutetica entre loacutegica e operaccedilotildees reais entre
verdade e utilidaderdquo (GAMA 1983 p 33)
Interpretou essas oposiccedilotildees como oriundas das condiccedilotildees
histoacutericas e sociais bem determinadas que valorizavam a
contemplaccedilatildeo ndash a verdade em sua pureza ndash e que desprezavam
tudo o que fosse ligado agraves atividades praacuteticas e materiais Por
tudo isso preocupou-se em realccedilar tanto quanto fosse necessaacuterio
a importacircncia dos fatores materiais no desenvolvimento da
filosofia e da cultura E a partir daiacute sustenta a identidade entre
verdade e utilidade teoria e atividade operativa conhecer e fazer
e afirma que qualquer separaccedilatildeo e contraposiccedilatildeo entre esses
termos cria obstaacuteculos intransponiacuteveis de resultados efetivos e
eficientes (GAMA1983 p33-34)
54
23 A valorizaccedilatildeo do conhecimento teacutecnico e a ciecircncia experimental moderna Com o nascimento da Ciecircncia Experimental a teacutecnica artesanal e os
procedimentos teacutecnicos ligados agraves Artes Mecacircnicas passaram a ser os meios que
permitiriam o progresso da ciecircncia e o avanccedilo do saber
Joan Luis Vives (1492-1540) filoacutesofo e preceptor da corte inglesa assim
como o italiano Leone Alberti defendia que o homem culto natildeo devia
envergonhar-se de entrar nas oficinas e perguntar aos artesatildeos pelas teacutecnicas
que empregavam em suas artes Vives em sua obra De Tradendis Disciplinis
convidava os estudiosos europeus a prestar grande atenccedilatildeo aos problemas
teacutecnicos relativos agrave construccedilatildeo das maacutequinas agrave agricultura agrave tecelagem agrave
navegaccedilatildeo Advertia ainda que devessem deitar os olhos sobre o trabalho dos
artesatildeos para tentar saber onde e como essas artes foram inventadas buscadas
desenvolvidas conservadas e como aplicaacute-las Dessa forma segundo Vives
(1531 apud ROSSI 1989 p 24) o homem venceria seu tradicional desdeacutem por
aquilo que considerava como conhecimento vulgar o dos artesatildeos22
Nota-se tambeacutem que esse movimento o de valorizaccedilatildeo do saber teacutecnico
nasce no acircmbito das Academias e Associaccedilotildees vinculadas a esta nova
perspectiva de Ciecircncia e natildeo nas Universidades que permaneceram ateacute finais do
seacuteculo XVIII com poucas alteraccedilotildees metodoloacutegicas Entre os novos centros de
conhecimento estavam a Academia dei Lincei en Roma (1603) a Accademia del
Cimento en Florenccedila (1657) a Royal Society de Londres (1660) a Acadeacutemie des
Sciences de Paris (1666) aleacutem de Escolas Artesanais entatildeo criadas que
conjugavam na Ciecircncia Empiacuterica a alianccedila entre o saber (ciecircncia) e o fazer
22 Dentro desta mesma perspectiva devem ser acrescentar as obras do jaacute citado Francis Bacon Harvey Galileu e Boyle que valorizavam a experimentaccedilatildeo e a observaccedilatildeo da natureza reformulando as concepccedilotildees cientiacuteficas e reconhecendo a importacircncia das teacutecnicas e da praacutetica para a Ciecircncia
55
(teacutecnica) Na Espanha por exemplo cria-se uma escola de mineiros exercitados
em teacutecnicas sobretudo nas teacutecnicas metaluacutergicas 23
Assim podemos afirmar que naquele momento entrar no mundo do
conhecimento teacutecnico representava entrar no mundo das corporaccedilotildees de ofiacutecios
desvendando os segredos por meio da apropriaccedilatildeo do saber teacutecnico e da
linguagem utilizada pelos artesatildeos para a realizaccedilatildeo de seus ofiacutecios Para Ruy
Gama A que parece o domiacutenio dos segredos da linguagem dos artesatildeos
foi a porta pela qual se entrou no domiacutenio dos proacuteprios segredos
dos ofiacutecios Dentre os misteacuterios dos misteres a linguagem foi a
primeira a ser desvendada decifrada e jogada na rua pelas portas
e janelas arrombadas das oficinas ndash numa espeacutecie de accedilatildeo de
despejo ndash para ser vista por todo mundo (GAMA 1986 p 48)
Nas escolas artesanais surge a Tecnologia como disciplina curricular A
institucionalizaccedilatildeo deste saber permitiu que aqueles conhecimentos teacutecnicos
fossem reunidos estruturados e sistematizados e dessa forma transmitidos a um
nuacutemero cada vez maior de pessoas (GAMA 1994 p 54)
2 4 A Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica
Apesar de toda a diferenciaccedilatildeo jaacute feita entre os conceitos de Teacutecnica e
Tecnologia estes termos satildeo frequumlentemente utilizados como sinocircnimos Autores
da liacutengua ingleses natildeo fazem esta distinccedilatildeo pois consideram entre outros
aspectos que a Histoacuteria da Teacutecnica e a Histoacuteria da Tecnologia apresentam seus
campos embaralhados e sua periodizaccedilatildeo extremamente difiacutecil de definir Lynn
White Jr historiador econocircmico e medievalista americano por exemplo afirma
que a Tecnologia natildeo conhece fronteiras cronoloacutegicas e geograacuteficas pois entende
Tecnologia como o ldquoconjunto de todas as Teacutecnicasrdquo e ldquoas maneiras pelas quais as
56
pessoas fazem coisasrdquo (GAMA 1985 p 14) Mas segundo Ruy Gama esta
definiccedilatildeo natildeo permite nem o estabelecimento de uma fronteira histoacuterico-
cronoloacutegica e nem geograacutefica para situar o ldquonascimentordquo do conceito jaacute que Lynn
o emprega como sinocircnimo de Histoacuteria do Trabalho e dessa forma permite
empregar o termo Tecnologia para todas as realizaccedilotildees e obras materiais dos
povos (GAMA 1985 p 14-15)
Essa concepccedilatildeo de Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica desenvolve-se
num contexto em que entre outros aspectos a Arqueologia e a Histoacuteria
passavam por reformulaccedilotildees conceituais A Arqueologia passava a revelar nos
anos 40 do seacuteculo XX novos documentos materiais relacionados a civilizaccedilotildees da
Ameacuterica preacute-colombiana que supunha-se natildeo conheciam a escrita (pesquisas
atuais comeccedilam a demonstrar que a conheciam) e tampouco a roda elementos
considerados naquele periacuteodo indicadores para qualificar o niacutevel de progresso
teacutecnico de uma determinada sociedade que poderia ser considerada como
ldquoavanccediladardquo ou ldquoatrasadardquo Essas descobertas levaram a uma reavaliaccedilatildeo nas
ideacuteias de progresso e civilizaccedilatildeo e na forma de olhar outras sociedades deixando
de centrar as anaacutelises somente no ldquoeixo tradicional etnocecircntrico europeurdquo (GAMA
1985 p 14-15)
Quanto agrave Histoacuteria o nascimento de uma nova escola historiograacutefica a
Histoacuteria Nova surgida na Franccedila na primeira metade do seacuteculo XX daacute um novo
enfoque teoacuterico-metodoloacutegico agrave pesquisa histoacuterica voltada para a anaacutelise do
cotidiano Esta nova tendecircncia amplia a noccedilatildeo de documento aproximando a
Histoacuteria das demais Ciecircncias Humanas entre elas a Arqueologia possibilitando
nos anos 60 do seacuteculo XX uma ldquoverdadeira Revoluccedilatildeo Documentalrdquo que permitiu
nas anaacutelises historiograacuteficas a incorporaccedilatildeo dos documentos natildeo-escritos -
cultura material ndash viabilizando o estudo das sociedades que natildeo possuiacuteam a
escrita para registrar sua Histoacuteria
Para a divulgaccedilatildeo desse novo conceito de documento Lucien Febvre
idealizou no periacuteodo entre as duas primeiras guerras uma revista de Histoacuteria que
57
seria fundada mais tarde em parceria com Marc Bloch com o nome de Annales
drsquoHistorie Economique et Sociale os ldquoAnnalesrdquo Para Febvre ao analisar o
trabalho do historiador a partir da noccedilatildeo ampliada de documento afirma que
A Historia faz-se com documentos escritos sem duacutevida Quando
estes existem Mas pode fazer-se deve fazer-se sem documentos
escritos quando natildeo existem Com tudo o que a habilidade do
historiador lhe permite utilizar para fabricar o seu mel na falta das
flores habituais Logo com palavras signos paisagens e telhas
Com as formas do campo e ervas daninhas Com os eclipses da
lua e a atrelagem dos cavalos de tiro Com os exames de pedras
feitos pelos geoacutelogos e com a anaacutelise de metais feitas pelos
quiacutemicos Numa palavra com tudo o que pertencente ao homem
depende do homem serve ao homem exprime o homem
demonstra a presenccedila a actividade os gostos e as maneiras de
ser do homem
Toda uma parte e sem duacutevida a mais apaixonante do nosso
trabalho de historiadores natildeo consistiraacute num esforccedilo constante
para fazer falar as coisas mudas para fazecirc-las dizer o que elas
por si proacuteprias natildeo dizem sobre os homens sobre as sociedades
que as produziram e para constituir finalmente entre elas aquela
vasta rede de solidariedade e de entre-ajuda que supre a
ausecircncia do documento escritordquo (FEBVRE 1953 p 428 apud
GOFF 1984 p 98)
Para conceituar Teacutecnica e Tecnologia recorremos tambeacutem ao Dicionaacuterio
das Ciecircncias Sociais de Alain Birou segundo o qual Teacutecnica significa
O conjunto de regras praacuteticas para fazer coisas determinadas
envolvendo a habilidade do executor e transmitidas verbalmente
por exemplo no uso das matildeos dos instrumentos e ferramentas e
das maacutequinas Alarga-se frequumlentemente o conceito para nele
incluir o conjunto dos processos de uma ciecircncia arte ou ofiacutecio
para obtenccedilatildeo de um resultado determinado com o melhor
rendimento possiacutevel (GAMA 1986 p 30)
58
Para este mesmo dicionaacuterio Tecnologia eacute
O estudo e conhecimento cientiacutefico das operaccedilotildees teacutecnicas ou da
teacutecnica Compreende o estudo sistemaacutetico dos instrumentos das
ferramentas e das maacutequinas empregadas nos diversos ramos da
teacutecnica dos gestos de trabalho e dos custos dos materiais e da
energia empregada A tecnologia implica na aplicaccedilatildeo dos meacutetodos
das ciecircncias fiacutesicas e naturais e como assinala Alan Birou tambeacutem
na comunicaccedilatildeo desses conhecimentos pelo ensino teacutecnico
(GAMA 1986 p 30)
Diante dessas consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia salientamos
que neste trabalho pretendemos a partir da Arqueologia Histoacuterica contribuir
para a Histoacuteria da Teacutecnica no periacuteodo colonial brasileiro especialmente no que
diz respeito agraves teacutecnicas relacionadas agrave mineraccedilatildeo e agrave metalurgia
No periacuteodo analisado entre os seacuteculos XVI e XVIII todos os trabalhos
relacionados agravequelas atividades estavam baseados no puro empirismo no saber-
fazer e nas experiecircncias praacuteticas daqueles trabalhadores que sabiam realizar as
operaccedilotildees de fundiccedilatildeo de forma praacutetica mas natildeo tinham instrumentos para
explicaacute-los Somente com o advento da Ciecircncia Moderna especialmente com a
Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute que aqueles mineiros e fundidores puderam compreender
as operaccedilotildees produtivas que realizavam
Assim assumimos a periodizaccedilatildeo proposta por Ruy Gama ao considerar
Teacutecnica e Tecnologia como categorias distintas e portanto que a Histoacuteria da
Teacutecnica natildeo coincide com a Histoacuteria da Tecnologia
59
25 A teacutecnica de produccedilatildeo do ferro no periacuteodo entre os seacuteculo XVI ao XVIII
Los antiguos herrreros descubrieron que si martillaban
repetidamente y recalentaban una y otra vez en fuego de carboacuten
un trozo de mineral de hierro al rojo obteniacutean un metal
extremamente fuerte y duro ndash hierro forjado (CARDWELL 1994
p 33)
Antes do conhecimento dos metais eram aproveitadas ldquotreze diferentes
espeacutecies minerais todas do grupo natildeo-metaacutelicos denominadas calcedocircnia (chert
e siacutelex) quartzo cristal de rocha jaspe serpentina pirita calcita ametista
fluorita esteatita acircmbar e obsidianardquo (GUIMARAtildeES1981p22) A estes minerais
natildeo metaacutelicos pode-se acrescentar a utilizaccedilatildeo de ldquopigmentos minerais usados
para ornamentos e pintura constituiacutedos de argila e oacutexidos metaacutelicos coloridos
embora alguns objetos feitos especialmente de cobre tenham sido encontrados e
datados de aproximadamente 9000 aC (GUIMARAtildeES 1981 p 22)
Atribui-se o iniacutecio do aproveitamento dos mineacuterios para a extraccedilatildeo de
metais entre os anos de 6000 a 5000 aC Admite-se que o cobre teria sido o
primeiro metal produzido pelo homem depois o bronze (uma liga metaacutelica de
estanho e cobre) Na mesma eacutepoca tambeacutem se passou a utilizar o chumbo e por
uacuteltimo o ferro Na chamada ldquoIdade do Ferrordquo houve tambeacutem a difusatildeo da
fabricaccedilatildeo do vidro e do mercuacuterio
Pesquisas arqueoloacutegicas em aacutereas mineiras da Europa tem possibilitado
revisotildees do conhecimento relacionado a natureza das mateacuterias-primas
empregadas na extraccedilatildeo do ferro Tradicionalmente sustentava-se a ideacuteia de que
a mateacuteria-prima com que se confeccionavam os primeiros objetos de ferro teria
origem em meteoritos Esta teoria se aplicava particularmente aos objetos
fabricados com ferro rico em niacutequel Atualmente pesquisas na aacuterea da
paleometalurgia demonstram que a origem de associaccedilotildees do ferro com outros
60
metais ocorre em razatildeo da composiccedilatildeo quiacutemica natural dos minerais utilizados
para a produccedilatildeo destes materiais (FAUS 2000 p 27)
O ferro como alguns outros metais natildeo eacute encontrado na natureza em
forma pura sendo que nestas condiccedilotildees encontra-se sempre combinado com
outros elementos formando oacutexidos carbonatos silicatos e sulfatos Para a
produccedilatildeo do ferro satildeo utilizados mineacuterios sobretudo os oacutexidos tais como a
hematita (Fe2O3) e a magnetita (Fe3O4) 24 Outros mineacuterios de menor importacircncia
para a produccedilatildeo tambeacutem contecircm ferro tais como a Siderita (FeCO3) Limonita
(Fe3O4) Pirita (FeS2) e a (Cromita FeOCr2O3) ( LABOURIAU 1928 p 95-110)
Os termos ldquomineralrdquo ldquomineacuteriordquo e ldquometalrdquo precisam ser esclarecidos para que
se possa compreender a forma da produccedilatildeo do ferro
Mineral eacute uma substacircncia formada em resultado da interaccedilatildeo de
processos geoloacutegicos em ambientes geoloacutegicos naturais Os minerais variam na
sua composiccedilatildeo desde elementos quiacutemicos em estado puro ou quase puro e
sais simples a silicatos complexos com milhares de formas conhecidas
(LABOURIAU 1928 p 95-96)
Mineacuterio eacute toda substacircncia natural da qual se possa fazer a extraccedilatildeo de
algum metal (como a hematita e a magnetita) Assim um mineacuterio eacute sempre uma
substacircncia mineral Entretanto nem todo mineral eacute mineacuterio pois alguns minerais
natildeo permitem a extraccedilatildeo de metais como exemplo pode-se citar a pirita (sulfeto
de ferro) um mineral que eacute aproveitado para a fabricaccedilatildeo do aacutecido sulfuacuterico mas
que natildeo permite a extraccedilatildeo do metal nele contido (o ferro) Por conseguinte a
perita eacute um mineral uacutetil mas natildeo eacute um mineacuterio (LABOURIAU 1928 p 95-96)
Metal cada um de um grande grupo de substancias simples obtidas a
partir de mineacuterios
24 A magnetita eacute assim denominada devido ao seu magnetismo natural eacute um mineral de cor preta acinzentada ou avermelhada com brilho metaacutelico de formula quiacutemica (Fe3O4)
61
Para a extraccedilatildeo do ferro dos seus mineacuterios (geralmente oacutexidos feacuterricos
como a hematita) foram desenvolvidas desde a Antiguumlidade teacutecnicas de fundiccedilatildeo
destes materiais por reduccedilatildeo que utilizavam carvatildeo de madeira como redutor
Entretanto variava de uma regiatildeo para outra o tipo do forno e forma de colocaccedilatildeo
do mineacuterio e do carvatildeo no seu interior
Elena Faus referindo ao caso da tradiccedilatildeo basca defende que ateacute o seacuteculo
XIX os avanccedilos dos meacutetodos de fundiccedilatildeo do ferro tecircm decorrido independentes
da investigaccedilatildeo cientiacutefica Para esta autora esses avanccedilos teacutecnicos foram
realizados por ldquouma multitud anoacutenima de individuos de talento formados a la
sombra del teller protagoniza la Historia de la Tecnologia Son analfabetos y no
han conocido ninguacuten tipo de ensentildeanzardquo (FAUS 2000 p 51) O aprimoramento
da teacutecnica de fundiccedilatildeo podia entatildeo ser considerado como uma sucessatildeo de
ldquoinventosrdquo de artesatildeos que na determinaccedilatildeo em resolver as dificuldades que
surgiam inventaram teacutecnicas de fundiccedilatildeo a partir de experiecircncias praacuteticas pelo
uacutenico meacutetodo que conheciam o da praacutexis do ensaio e erro (FAUS 2000 p51)
Toda a produccedilatildeo do ferro estava fundamentada em conhecimentos
teacutecnicos baseados na praacutetica e que eram conhecimentos secretos restritos aos
membros da respectiva corporaccedilatildeo de ofiacutecio Ateacute a ldquorevoluccedilatildeo da Quiacutemicardquo no
seacuteculo XVIII natildeo havia nenhum conhecimento que pudesse explicar de forma
cientiacutefica o processo em que ocorria a reduccedilatildeo do mineacuterio em metal Soacute a partir
daiacute foi possiacutevel por exemplo explicar a atuaccedilatildeo de um elemento o Carbono
obtido pela queima do carvatildeo vegetal no processo produtivo do ferro Na Franccedila
em 1722 o cientista Reneacute Reacuteaumur concluiu que a diferenccedila entre as distintas
qualidades do ferro e do accedilo resultava da incorporaccedilatildeo de uma substacircncia
material Em 1786 na Sueacutecia os matemaacuteticos Vandermonde e Berthollet e o
quiacutemico Monge confirmaram esta hipoacutetese e identificaram o elemento o
Carbono o mesmo procedente da queima do carvatildeo de madeira utilizado desde
a antiguidade na fabricaccedilatildeo (FAUS 2000 p 21-22)
62
Com o aprimoramento da teacutecnica de fabricaccedilatildeo do ferro descobriu-se
tambeacutem a forma de se produzir accedilo sendo que sua difusatildeo promoveu a
emergecircncia de instrumentos e ferramentas completamente novas dando prestiacutegio
a todos aqueles que dominavam a teacutecnica dos metais Dessa forma o ferro e
depois o accedilo foi empregado na fabricaccedilatildeo de uma diversificada variedade de
instrumentos que anteriormente eram confeccionados com madeira ou pedra
transformando assim a metalurgia em uma teacutecnica extremamente estrateacutegica
Para Donald Cardwel
la metalurgiacutea hizo posibles instrumentos y herramientas completamente nuevos ndash y anteriormente inimaginables - La
importancia fundamental de la metalurgiacutea y el prestigio de los
trabajadores expertos en el metal quedan confirmados como
sentildealaba Samuel Smiles por la frecuencia del apellido Smith
(lsquoHerrerorsquo) Ademaacutes la palabra Smith es de origen noacuterdico o
germacircnico lo cual da una clave para entender la localizacioacuten de
los primitivos centros del trabajo del metal en el occidente
europeo (CARDWEL 1994 p 34 grifo nosso)
A crescente demanda de objetos e utensiacutelios feitos de ferro proporcionou o
aprimoramento das teacutecnicas de fundiccedilatildeo como tambeacutem da especializaccedilatildeo
daquele trabalho
Na Espanha por exemplo os espaccedilos destinados a produccedilatildeo de ferro
foram se especializando Um desses espaccedilos era denominado de ferrarias
maiores que se especializaram na fundiccedilatildeo dos mineacuterios para a obtenccedilatildeo de
metal e outras denominadas de ferrarias menores dedicavam-se aacute manufatura
desse metal ou seja transformando-o em barras ou laminas para fabricar entre
outros produtos instrumentos e acessoacuterios agriacutecolas (ferraduras) armas
(espadas) e materiais construtivos (cravos) etc ( FERNANDEZ p 5)
63
Desde o iniacutecio da metalurgia tem-se buscado tambeacutem a maneira pela qual
os fornos pudessem alcanccedilar temperaturas cada vez elevadas pois para que se
possa retirar o ferro do mineacuterio de forma que fosse possiacutevel o aproveitamento de
todo metal nele existente a temperatura do forno deve se elevar aleacutem de 1535ordmC
ponto de fusatildeo daquele metal
Contudo os primeiros fornos empregados para a reduccedilatildeo com a utilizaccedilatildeo
de carvatildeo vegetal alcanccedilavam apenas temperaturas que variavam entre 1200ordmC
e 1300ordmC insuficientes para a fusatildeo completa e portanto o ferro obtido com
aquela temperatura natildeo era retirado do forno em estado liacutequido e sim em estado
pastoso A essa temperatura (12001300ordm C) o mineacuterio de ferro transformava-se
em uma ldquomassa esponjosardquo repleta de impurezas (escoacuterias que ainda
apresentavam uma significativa quantidade de ferro na sua composiccedilatildeo) Essa
massa era entatildeo colocada sobre uma bigorna e por meio de martelamento
manual ou mecacircnico retiravam-se as escoacuterias que ainda permaneciam grudadas
naquela massa compactando-a e dando forma ao metal
Labouriau ao explicar a accedilatildeo do carvatildeo vegetal durante o processo de
reduccedilatildeo explica que o carvatildeo vegetal em contato com o oxigecircnio da atmosfera
queima produzindo calor formando o gaacutes carbocircnico (CO e CO2) Esse CO2 entatildeo
ao reagir com uma parte do carvatildeo passa para CO e que esse CO juntamente
com uma parte do carvatildeo retira o oxigecircnio do mineacuterio e fica o ferro ligado a um
pouco de Carbonordquo (LABOURIAU 1928 p 146)
Essa teacutecnica de produccedilatildeo de ferro ficou conhecida como ldquoprocesso Diretordquo
ou ldquomeacutetodo de reduccedilatildeo diretardquo e o ferro produzido era o ldquoferro docerdquo Ateacute o seacuteculo
XV com o aparecimento do alto-forno esta era a uacutenica teacutecnica conhecida e
empregada na produccedilatildeo daquele metal No alto-forno o ferro atingia
temperaturas mais elevadas possibilitando uma maior absorccedilatildeo de carbono do
carvatildeo vegetal transformando-se em gusa (ferro-gusa ou ferro fundido) que saiacutea
64
do forno no estado liquido incandescente25 No seacuteculo XVI o alto forno foi
aperfeiccediloado na Alemanha e na Aacuteustria com o aparecimento do Stueckofen (alto-
forno) construiacutedos de alvenaria
Com a utilizaccedilatildeo do alto-forno e com a obtenccedilatildeo do ferro em sua forma
liacutequida foram possiacuteveis as produccedilotildees de armas de fogo balas de canhatildeo sinos
de igreja e mais tarde a fabricaccedilatildeo de adornos para as residecircncias tais como
grades enfim produtos que puderam ser produzidos a partir do ferro liacutequido
deitado em moldes
26 Fornos de fundiccedilatildeo de ferro Segundo Jordi Maluquer Motes no iniacutecio da metalurgia utilizavam-se
pequenos fornos (fornos baixos) para extraccedilatildeo do metal (ferro) os quais natildeo
eram mais que uma cavidade ciliacutendica escavada no terreno ou em uma rocha
Contudo a forma e o tamanho dos fornos foram mudando ao longo do tempo e
de simples cavidades escavadas no chatildeo os fornos comeccedilaram a ganhar ao
redor daquele ciacuterculo paredes de argila refrataacuteria o que permitia fazer fornadas
maiores aumentando assim a produccedilatildeo Contudo todos eles ateacute o advento do
alto-forno produziam por meio da reduccedilatildeo direta o ferro em estado pastoso O
produto (ferro) que ficava no interior do forno apoacutes a fundiccedilatildeo do mineacuterio era
chamado de massa de ferro patildeo de ferro ou lupa (MALUQUER DE MOTES
1983 p21)
25 No Brasil o alto-forno foi construiacutedo apenas no iniacutecio do seacuteculo XIX na Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema quando este estabelecimento estava sob a direccedilatildeo de Hedberg
65
Fig 15 CORTE ESQUEMAacuteTICO DE UM FORNO DE FUNDICcedilAtildeO ndash Forno
baixo26 Natildeo haacute descriccedilotildees detalhadas acerca desses fornos primitivos mas
vestiacutegios encontrados em vaacuterias partes da Europa como em Illasheim
(Alemanha) indicam que estes fornos apresentavam uma planta circular No
centro da Europa outros fornos construiacutedos pelos Celtas tambeacutem apresentavam
reduzidas dimensotildees Os fornos Celtas tinham em meacutedia 35 a 50 cm de
diacircmetro com uma profundidade de 45 a 50 cm Sobre uma base levantavam o
forno propriamente dito construiacutedo por uma parede ciliacutendrica de argila medindo
entre 60 a 100cm Os Celtas chegaram a desenvolver teacutecnicas eficientes de
aceramento (conversatildeo do ferro em accedilo) como por exemplo na Suiacuteccedila onde a
produccedilatildeo de espadas ganhou fama por sua resistecircncia (FAUS 2000 p 32-34)
Fornos ruacutesticos tambeacutem foram encontrados em Bengala Aacutefrica
denominados de fornos africanos ou fornos iacutendios Eram fornos ciliacutendricos e
confeccionados em areia ferruginosa mal amassada sustentada por uma
armadura de bambu Tinham dimensotildees de 090m de altura com um diacircmetro de
030m A base do forno era furada em vaacuterios lugares e colocava-se um fole em
cada uma das aberturas exceto na grade da frente (orifiacutecio pelo qual eram
26 Disponiacutevel em La Farga Rossel lthttpwwwfargarosseladcaslafarga21434htmgt
66
retiradas as escoacuterias) o que dava em geral um total de sete foles por forno
(FAUS 2000 p 50)
Fig 16 MAQUETE FORNO CELTA ndash forno baixo27
Durante o periacuteodo de dominaccedilatildeo romana Roma passou a controlar toda a
exploraccedilatildeo do ouro prata e ferro produzidos em seu impeacuterio Para a produccedilatildeo
desse uacuteltimo metal empregavam teacutecnicas de fundiccedilatildeo utilizando-se dos
chamados fornos romanos As ferrarias romanas eram constituiacutedas de ldquoum
montatildeo de fornosrdquo construiacutedos com barro e palha (RODRIGUES 1964 p11)
27 Disponiacutevel em Exposition 2000 ans de meacutetallurgie en Nivernais des Gaulois agrave Ariane ltjprostclubfravgexpo2003htmlgt
67
Fig 17 FORNO ROMANO RODRIGUES (1964 p 12)
Neste mesmo periacuteodo homens bascos dos redutos resistentes agrave
dominaccedilatildeo romana continuaram a produzir o ferro por meacutetodos de fundiccedilatildeo que
haviam aprendido com seus ancestrais utilizando os chamados ldquofornos de ventordquo
os quais podem ser relacionados agrave primeira fase da elaboraccedilatildeo do ferro As
instalaccedilotildees que utilizavam esses fornos passaram a ser conhecida como ferrarias
secas de montanha de vento Habitualmente os fornos dessas ferrarias eram
construiacutedos em aacutereas montanhosas em pontos elevados a fim de aproveitar a
forccedila dos ventos para ativar a combustatildeo do carvatildeo vegetal (FAUS 2000 p 47)
68
Fig 18 Fornos de vento ou de lupa28
Fig 19 FORNOS DE LUPA OU DE VENTO corte esquemaacutetico
28 Disponiacutevel em La Farga Rossel lthttpwwwfargarosseladcaslafarga21434htmgt
69
Para Jordi Maluquer de Motes a maior dificuldade de operaccedilatildeo da
combustatildeo era o controle das temperaturas do forno sendo que o grande
segredo para a utilizaccedilatildeo desses fornos de vento era a adequada posiccedilatildeo em que
este era instalado e tambeacutem a correta utilizaccedilatildeo dos meios artificiais empregados
na ativaccedilatildeo da combustatildeo do carvatildeo vegetal tal como o emprego de foles
manuais feitos de peles de animais Esse procedimento requeria um esforccedilo
bastante grande de trabalho humano natildeo apenas no acionamento do fole como
tambeacutem para as operaccedilotildees de martelamento da massa de ferro que se formava
no interior do forno (MALUQUER DE MOTES 1983 p 21)
Por utilizarem esta teacutecnica de reduccedilatildeo as ferrarias de vento geralmente
ficavam instaladas em regiotildees distantes dos povoados o que tambeacutem levava um
significativo nuacutemero de fundidores e mineiros a passar parte de suas vidas
distantes daqueles povoados Esse distanciamento suscitou ateacute mesmo o
surgimento de mitos e faacutebulas conforme aponta Elena Faus (2000) que
enriqueceram a cultura popular europeacuteia em especial a cultura basca
Las maravailhas del arte de aquellos seres ton solo por ellos
conocidos les hizo mecedores de leyendas Muchas de ellas les
han sobrevivido y han pasado a integrar el bagaje mitoloacutegico de la
cultura vasca
El velo de magia que enturbiaba la figura de los ferrones se
time en ocasiones de un cierto cariz de condena religiosa Se les
identifica con los lsquogentilesrsquo reacios a la evangelizacioacuten o con el
proprio demonio (lsquosentildeor de los bosquesrsquo o lsquobasejaunrsquo) en persona
(FAUS 2000 p 47)
Outros tipos de fornos de vento ou de montanha foram encontrados na
Ameacuterica Espanhola Em Potosi na atual Boliacutevia os indiacutegenas utilizavam um tipo
de forno para a fabricaccedilatildeo da prata denominado de ldquoforno de guairardquo Estes
fornos mesmo apoacutes a conquista espanhola em Potosiacute foram aproveitados para a
produccedilatildeo daquele metal (BARGALLOacute 1955 p 91)
70
Fig 20 FORNO DE GUAIRA ndash utilizado em Potosi Boliacutevia29
Aleacutem desses fornos de montanha que utilizavam a corrente de ar da
proacutepria atmosfera para acionar a combustatildeo do carvatildeo havia tambeacutem outros
tipos de fornos de fundiccedilatildeo acionados com o emprego de foles manuais Esses
fornos ficaram conhecidos por vaacuterias denominaccedilotildees e podiam ser construiacutedos de
formas e tamanhos diferentes Contudo todos eles apresentavam as mesmas
caracteriacutesticas teacutecnicas eram fornos baixos acionados por foles manuais e que
produziam o ferro utilizando o meacutetodo direto de fundiccedilatildeo Entre esses fornos
destacam os fornos de cuba de lupa de manga e castelhanos (BARGALLOacute
1955 p 91)
29Proyecto Arqueoloacutegico Porco-Potosi Disponiacutevel httplamarcolostateedu~mvanburespanish20participantshtm
71
Fig 21 Forno de Fundiccedilatildeo xilogravura de George Agriacutecola seacutec XVI30
Fig 22 Forno de Fundiccedilatildeo xilogravura de George Agriacutecola seacutec XVI31
30 Disponiacutevel em lttechnologyinfominecomdrmbook11htmgt Acesso em 17nov06
72
Tratados Teacutecnicos publicados no seacuteculo XVI como o De re metallica de
George Agriacutecola oferecerem descriccedilotildees e desenhos atraveacutes dos quais eacute possiacutevel
conhecer algumas formas daqueles fornos A partir de algumas gravuras ali
publicadas eacute possiacutevel identificar que os mesmos habitualmente eram construiacutedos
sobre uma base quadrada e eram utilizados na produccedilatildeo muitos metais como o
cobre o ouro prata e tambeacutem o ferro Esses fornos registrados por Agriacutecola
eram especialmente destinados para a fundiccedilatildeo de minerais em pedra Na
Ameacuterica Espanhola receberam o nome de ldquofornos castelhanosrdquo
Um outro autor a abordar esse tema foi Aacutelvaro Alonso Barba No seu
tratado Arte de los Metales afirmava que os fornos castelhanos eram utilizados
tambeacutem em outras partes do mundo A descriccedilatildeo que faz Barba do uso desses
fornos no Peru eacute por si soacute bastante didaacutetica para compreender o seu
funcionamento
Llaman en este reyno hornos castellanos a los que en las otras
trecircs partes del mundo han sido usados y comunes para la
fabricacioacuten de toda suerte de metales De ellos solos trata el
Agriacutecola para este efecto y es una la faacutebrica de todos y no
difieren en mas que en se mayores o menores y tener la boca
por onde el metal fundido sale oacute abierta siempre oacute cerrada a
ratos como se diraacute adelante Levaacutentense estos hornos a
perpendiculo en forma de um pilar quadrado algo maacutes largo que
anchos por lo hueco Tienen de alto algunos una vara otros casi
dos y otros menos seguacuten la grandeza de los fuelles con que
huviere de fundirse y la facilidad oacute dureza de los metales
requiere Por la parte de atraacutes en una ventanilla que para esto se
dexa en la pared algo levantada del suelo se afixa el alchrebiz en
que han de estar los cantildeones de fuelle puesto con advertencia
31 Disponiacutevel em httpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablePrimitivas_instalacionespdfgt Acesso em 17nov06
73
de que no assome oacute passe aacute lo hueco del horno porque las
escorias que sobre eacutel cayeren helaacutendose con el ayre del sopro
no lo paten oacute impidan El suelo del horno se hace de dos partes
de carbon molido y una de tierra buena bien apretado con pisoacuten
Assientase pendiente azia la parte delantera donde tendraacute un
agujero por onde corra el metal fundido y salgan las escorias aacute
una hordilla que junto aacute el estaraacute bien caliente con carbones
encendidos con a llama del horno y aire del fuelle que sale por el
dicho agujero
Otros hacen estos hornos redondos mas anchos de arriba
que de abajo y son menores para lo que se pretende con que se
tenga advertecircncia que siempre este a perpendiculo la parede se
pone el fuelle porque el metal fundido o las escorias no caygan
sobre la boca del alchrebiz y la tanpenrdquo (BARBA 1640 Apud
BARGALLOacute 1955 p 93)
Entre os seacuteculos XII e XVI a teacutecnica de fundiccedilatildeo do ferro experimentou um
notaacutevel impulso em razatildeo da demanda por derivados de ferro incrementada tanto
pelas guerras que necessitavam de ferragens para as montarias apetrechos
defensivos para os soldados e armas mortiacuteferas como por instrumentos para a
agricultura Tambeacutem para a construccedilatildeo das grandes catedrais era necessaacuterio
ferro para as armaccedilotildees metaacutelicas cravos ferramentas entre outros (FAUS 2000
p52)
Para atender a estas demandas era necessaacuterio que se produzisse a maior
quantidade possiacutevel de ferro e os fornos baixos que eram anteriormente
utilizados natildeo atendiam aqueles objetivos Para tanto natildeo apenas os fornos
foram tomando outras formas como tambeacutem houve uma mecanizaccedilatildeo por meio
da utilizaccedilatildeo da energia hidraacuteulica (rodas drsquo aacutegua verticais) e da trompa hidraacuteulica
no processo produtivo tornando obsoletas as ferrarias que utilizavam a forccedila
humana e animal para a produccedilatildeo
A importacircncia da mecanizaccedilatildeo na produccedilatildeo do ferro com o uso da roda
hidraacuteulica e da trompa foi tanta que para alguns autores pode-se consideraacute-la
74
como uma autecircntica revoluccedilatildeo tecnoloacutegica (MALUQUER DE MOTES 1984 p 21-
24)
A aplicaccedilatildeo desse mecanismo (roda drsquoaacutegua) ao processo produtivo fez
com que as ferrarias que anteriormente ficavam concentradas no alto de
montanhas fossem trasladadas para as margens de rios buscando a energia
hidraacuteulica capaz de acionar primeiramente dos foles possibilitando a construccedilatildeo
de fornos de maiores dimensotildees e dessa maneira a produccedilatildeo do ferro em maior
escala
Depois dos foles a roda drsquoaacutegua foi utilizada para a mecanizaccedilatildeo do
acionamento dos malhos (grandes martelos responsaacuteveis por liberarem as
escoacuterias das massas de ferro dando-lhes formas que pudessem ser
comercializaacuteveis como o ferro em barra) A funccedilatildeo da trompa era a mesma dos
foles isto eacute insulflar ar ao interior do forno para que a combustatildeo alcanccedilasse
uma temperatura elevada A trompa era um engenhoso sistema de insuflar ar e
tambeacutem o elemento mais caracteriacutestico do procedimento conhecido como da
ldquofarga catalatilderdquo ou forno catalatildeo
O primeiro emprego da roda drsquoaacutegua vertical na produccedilatildeo de ferro foi
introduzido na regiatildeo correspondente aos Pirineus Catalatildees Neste local
desenvolveu-se uma instalaccedilatildeo destinada a produzir ferro denominado de
ldquofaacutebriques ou faacutebreguesrdquo que depois passou a ser conhecida como ldquofarguesrdquo ou
ldquofargardquo (o termo era usado tanto para descrever os lugares onde era obtido o ferro
como seu processamento) A partir do seacuteculo XIV o emprego da roda foi
difundido na regiatildeo basca ndash Espanha favorecida pelos trecircs elementos
fundamentais necessaacuterios para a sua instalaccedilatildeo a geografia da regiatildeo formada
por um territoacuterio montanhoso com a presenccedila de um significativo nuacutemero de rios
as jazidas de ferro e a floresta que fornecia o carvatildeo vegetal o uacutenico combustiacutevel
utilizado naquele processo ateacute o seacuteculo XVIII32
32 Com a Revoluccedilatildeo Industrial do seacuteculo XVIII passaram a utilizar como combustiacutevel o carvatildeo coque
75
Na Catalunha junto com o desenvolvimento das ldquofargasrdquo aprimoraram-se
tanto as teacutecnicas relacionadas agrave construccedilatildeo dos fornos como ao seu sistema de
funcionamento que ficou famoso no mundo todo como procedimento da ldquoforja
Catalatilderdquo ou ldquoprocedimento catalatildeordquo (MOLERA BARRUECO1983 p11)
A forja Catalatilde ou forno catalatildeo foi um sistema intermediaacuterio entre os fornos
baixo e os altos fornos utilizados atualmente Essa teacutecnica dominou todo o
processo de obtenccedilatildeo do ferro e accedilo durante a Idade Meacutedia espalhando-se para
a Alemanha Aacuteustria Inglaterra Franccedila e Itaacutelia Desde a Idade Meacutedia ateacute finais do
seacuteculo XIX esses paiacuteses entre outros conseguiam produzir ferro mediante aquele
sistema conhecido universalmente como ldquoprocedimento Catalatildeordquo
O periacuteodo aacuteureo do emprego da forja catalatilde se daacute entre os seacuteculos XVII e
XVIII devido sobretudo agrave introduccedilatildeo de um outro mecanismo em substituiccedilatildeo
aos foles acionados pela roda hidraacuteulica a ldquotrompa de aacuteguardquo (sistema empregado
par injetar ar no forno) Desenvolvido na Itaacutelia este novo equipamento se difunde
pelas regiotildees dos Pirineus da peniacutensula Ibeacuterica e foi assimilado pelas
manufaturas catalatildes ateacute o ponto de integraacute-las como uma das caracteriacutesticas do
meacutetodo que leva o nome de ldquofarga catalanardquo ou forno catalatildeo Jaacute nas ferrarias
bascas a trompa de aacutegua natildeo foi amplamente difundida prevalecendo a
utilizaccedilatildeo de rodas drsquoaacutegua para o acionamento de foles e do malho ( MALUQUER
DE MOTES 1983 p 23)
76
Fig 23 ARRANJO DE ldquoFARGA CATALANArdquo OBSERVAR USO DE RODA DrsquoAacuteGUA PARA ACIONAMENTO DO MALHO E A PRESENCcedilA DA TROMPA HIDRAacuteULICA JUNTO AO FORNO33
33 Folheto Museu de Ripoll sd
77
No interior das ldquofargas catalanasrdquo o forno era a parte mais importante Os
fornos de fundiccedilatildeo catalatildees diferentemente dos fornos de vento tinham uma
forma tronco-cocircnica isto eacute ldquouma forma de um tronco de piracircmide invertidardquo
(MALUQUER DE MOTES 1983 p 22) O forno era construiacutedo de pedras
refrataacuterias revestidas em parte de peccedilas de ferro com trecircs paredes planas e
uma convexa esta uacuteltima destinada a facilitar a extraccedilatildeo do produto final (massa)
A parede onde era colocada a ldquotoverardquo (entrada do fole) era oposta agrave convexa e
esta era feita de ferro numa inclinaccedilatildeo de 35o a 45o Em uma das paredes
laterais havia um buraco que deixava passar as escoacuterias liacutequidas
(MOLERABARRUECO1983 p13)
Fig 24 ELEMENTOS QUE COMPOtildeEM A OFICINA DA ldquoFARGA CATALANArdquo Observa- se a presenccedila do forno de fundiccedilatildeo e do malhos acionados por roda drsquoaacutegua34
34 Caderno de Apoio para visitante do Museu de Ripoll ndash Catalunha Espanha sd
78
Um outro aprimoramento teacutecnico do meacutetodo catalatildeo foi a forma como
passaram a carregar o forno Deixando para traacutes o meacutetodo anteriormente
conhecido que consistia em carregar o forno em camadas horizontais superpostas
com carvatildeo vegetal e mineacuterio os catalatildees passaram a carregar o forno por meio
de duas camadas verticais justapostas De um lado do forno (aquele em que
estava instalado o fole) era colocado o combustiacutevel (carvatildeo) de tal maneira que o
oacutexido de carbono que se desprendia da queima era forccedilado a atravessar a coluna
do mineacuterio (que estava disposta em uma outra coluna localizada junto agrave parede
oposta agrave do fole)
A produccedilatildeo do ferro ainda se realizava por meio do meacutetodo de produccedilatildeo
direta Sendo assim ainda se mantinha o processo de martelamento da massa de
ferro por meio do malho (que tambeacutem ficava instalado dentro daquele
estabelecimento) para a obtenccedilatildeo do produto final O meacutetodo catalatildeo natildeo apenas
melhorou a qualidade do produto final mas tambeacutem proporcionou o aumento da
produccedilatildeo
27 Tratados Teacutecnicos de Metalurgia
Entre os seacuteculos XV e XVI arquitetos engenheiros meacutedicos e artesatildeos e
outros publicaram inuacutemeros tratados voltados para os ofiacutecios mecacircnicos ou ldquoArtes
Mecacircnicasrdquo Essa literatura eacute extraordinariamente rica em Tratados de caraacuteter
teacutecnico que podem ser considerados autecircnticos manuais e representaram uma
contribuiccedilatildeo decisiva entre o saber cientiacutefico e saber teacutecnico-artesanal os quais
tiveram um grande efeito no nascimento da cooperaccedilatildeo entre cientistas e teacutecnicos
e entre ciecircncia e induacutestria (ROSSI 1989 p 30)
79
Entre as obras de caraacuteter teacutecnico publicadas naquele periacuteodo destacam-
se os escritos de Brunelleschi Ghiberti Peiro della Francesca Leonardo Cellini
Paolo Lomazzo o trabalho sobre as maacutequinas de guerra de
Konrad Keyser (1366-1405) os tratados teacutecnicos de Fontana
(1420) e Mariano (1438) as obras sobre arquitetura de Leon
Batista Alberti Filarete Francesco di Giorgio Martini Palladio o
livro sobre maquinas militares de Valturio da Rimini (publicado em
1472 reeditado em Verona em 1482 e 1483 em Bolonha em
1483 em Veneza em 1493 e nada menos que quatro vezes em
Paris entre 1532 e 1555) os dois tratados de Duumlrer sobre a
geometria descritivas e as fortificaccedilotildees (1525 e 1527) a
Pirotechnia de Biringuccio (1540) depois reeditada em duas
ediccedilotildees latinas trecircs francesas e quatro italianas) a obra de
baliacutestica de Nicolograve Tartaglia (1537) os dois tratados de
engenharia mineral de Georg Agriacutecola (1546-1556) o Teatro di
macchine de Besson (1569 depois traduzido para o francecircs e o
espanhol) os Mechanicorum libri de Guidobaldo Del Monte
(1577) as Diverse et artificiose macchine de Agostinho Ramelli
(1588) os trecircs livros sobre mecacircnica de Simon Stevin (1586
traduzido do flamengo para o francecircs em 1634) a obra sobre
fortificaccedilotildees de Lorini (1597) os trabalhos de arte da navegaccedilatildeo
de Willian Barlowe (1597) Thomas Harriot (1594) e Robert Hucs
(1599) (ROSSI 1989 p30-31)
Entre os tratados relacionados com a metalurgia e a mineraccedilatildeo
destacamos a De La Pirotechinia considerado o primeiro livro impresso dedicado
agrave metalurgia foi escrito pelo italiano Vannoccio Biringuccio (ca 1480-1539) e
publicado pela primeira vez em 1540 Adepto do empirismo Birunguccio
escreveu esse tratado baseado nas observaccedilotildees diretas do ofiacutecio que havia
adquirido durante as vaacuterias visitas que fez a Alemanha35 onde se destacava o
desenvolvimento de teacutecnicas de exploraccedilatildeo de minas de prata e tambeacutem de
35 Biringuccio visitou a Alemanha em 1516 e entre 1526 e 1529
80
equipamentos que possibilitavam a construccedilatildeo de tuacuteneis e galerias para a
exploraccedilatildeo do subsolo36
Embora tivesse sido publicado na Alemanha no iniacutecio do seacuteculo XVI de
forma anocircnima um conjunto de manuais teacutecnicos sobre o ensaio de metais a
obra de Biringuccio era mais ambiciosa explicava como descobrirem minerais e
veios a maneira de separar o ouro e a prata as teacutecnicas de ensaio e as
propriedades do cobre o zinco e outros metais Analisava aleacutem disso as
propriedades do mercuacuterio do enxofre do antimocircnio e de outros elementos
utilizados no processo de extraccedilatildeo do ouro e prata como tambeacutem os meacutetodos de
obtenccedilatildeo do accedilo aleacutem de apresentar ilustraccedilotildees sobre fundiccedilotildees de canhotildees e
sinos a fabricaccedilatildeo de objetos piroteacutecnicos e algumas poucas informaccedilotildees sobre
mineraccedilatildeo geologia e mineralogia (CARDWELL 1994 p 76)
Um outro tratado importante foi escrito pelo alematildeo Georg Bauer (1494-
1555) conhecido pela forma latina de seu nome como Georgius Agriacutecola Depois
de estudar em Leipzig Bolonha e Veneza foi em 1527 exercer a profissatildeo de
meacutedico em Joachimstal na Boemia a maior aacuterea mineira na eacutepoca Agricola
passou a maior parte de sua vida estudando mineralogia e geologia entre 1546 e
1556 escreveu dois tratados destacando a mineraccedilatildeo e a siderurgia
Em 1546 publicou dois tratados sistemaacuteticos de geologia e mineralogia a
De ortu et causis subterraneorum e a De natura fossilium os quais lhe conferiram
a designaccedilatildeo de ldquoPai da Mineralogiardquo37 O seu trabalho mais importante e de
maior divulgaccedilatildeo foi publicado em 1556 com o tiacutetulo de De Re Metallica - A Arte
dos Metais - o qual serviu como obra teacutecnica de mineraccedilatildeo durante quase dois
seacuteculos seguintes aquela primeira publicaccedilatildeo
36 A Alemanha havia desenvolvido importantes teacutecnicas de mineraccedilatildeo que foram intensificadas pelo contiacutenuo intercacircmbio de experiecircncias com a Hungria e a Sueacutecia 37 Georgius Bauer Agricola (1494-1555) cientista alematildeo considerado o fundador da mineralogia Foi um dos primeiros cientistas que baseou suas teorias na observaccedilatildeo em vez da especulaccedilatildeo Antes dele podemos destacar Alberto Magno (1193-1280) conhecido como Preacute-Tecnoacutelogo escreveu a obra De mineralibus que constitui natildeo somente uma histoacuteria dos mineralogia como tambeacutem uma descriccedilatildeo dos metais
81
O conteuacutedo do livro De Re Metallica estava baseado no estudo das coisas
materiais realizado por meio da observaccedilatildeo descriccedilatildeo sistemaacutetica analiacutetica e
meticulosa da natureza A transcriccedilatildeo dessas observaccedilotildees natildeo requeria apenas a
confecccedilatildeo de textos descritivos mas tambeacutem de ilustraccedilotildees com as quais
procuravam traduzir os conhecimentos obtidos pela observaccedilatildeo em imagens
graacuteficas as mais compreensiacuteveis possiacuteveis (ROSSI 1989 p 52)
Agriacutecola ao escrever a introduccedilatildeo desse tratado esclarecia ao leitor como
havia concebido a sua obra e as dificuldades que enfrentou para concluiacute-la
Diz ele Grandiacutessima fadiga e solicitude realmente aqui coloquei e ainda
algumas boas despesas porque natildeo escrevi simplesmente os
veios os instrumentos os canais as maacutequinas e as fornalhas
mas ainda agraves minhas expensas assalariei os pintores para fazer
seus retratos naturais a fim de que as coisas natildeo conhecidas que
satildeo apresentadas com palavras natildeo tragam real dificuldade agraves
pessoas de hoje ou de tempos vindouros (ROSSI 1989 p 51)
Os retratos naturais referidos por Agriacutecola eram as xilogravuras que
ilustravam as suas obras A partir dessas imagens era possiacutevel visualizar com
exatidatildeo de detalhes as dimensotildees sobre equipamentos instrumentos e teacutecnicas
empregadas na prospecccedilatildeo no processo de fundiccedilatildeo e orientaccedilotildees sobre o uso
da energia hidraacuteulica nas operaccedilotildees mineiras enfim as ilustraccedilotildees traziam
detalhes sobre praticamente todas as etapas das operaccedilotildees mineiras isto eacute
prospecccedilatildeo administraccedilatildeo beneficiamento e transporte de mineacuterios 38
Na segunda parte daquele mesmo livro o autor dedica-se ao ensaio e
tratamento dos minerais Como Biringuccio Agricola mostrava criacutetica e desprezo
pelo trabalho realizado pelos alquimistas Uma de suas criacuteticas referia-se ao
38Agricola demonstra neste Tratado o funcionamento de sete tipos diferentes de bombas de succcedilatildeo incluindo uma bomba muacuteltipla acionada por uma grande roda hidraacuteulica e uma bomba combinada de succcedilatildeo e impelente (bomba impelente bomba que eleva a aacutegua por meio de pressatildeo exercida sobre o liacutequido)
82
meacutetodo empregado por estes na busca de metais enterrados O uso da
radiestesia por meio do emprego de uma vara ou forquilha feita com galhos de
aacutervores era considerado por Bauer apenas uma arte da adivinhaccedilatildeo derivada da
magia antiga e que somente poderia ser e era utilizada por mineiros simples e
ordinaacuterios
A Ameacuterica Espanhola foi tambeacutem palco para a produccedilatildeo do conhecimento
relacionado agrave metalurgia Em 1640 Aacutelvaro Alonso Barba padre em Potosiacute e que
havia aperfeiccediloado o meacutetodo de amalgamaccedilatildeo39 desenvolvido por Bartolomeacute de
Medina (Beneficio de Patio)40 publicou a partir de experiecircncias proacuteprias com a
produccedilatildeo de prata naquele local o livro Arte de los Metales O livro de Barba foi o
primeiro trabalho em que se registrou o processo de amalgamaccedilatildeo por mercuacuterio
que ficou conhecido como ldquomeacutetodo de cazo y cocimientordquo (realizado por meio do
calor dentro de reservatoacuterio de cobre) Este livro foi o primeiro trabalho em que se
registraram as regras para beneficiamento de ouro e prata com a utilizaccedilatildeo do
mercuacuterio
39 Amalgamaccedilatildeo Operaccedilatildeo que consiste em ligar o mercuacuterio a outro metal ou separar o ouro e a prata da ganga por meio do mercuacuterio 40 O ldquobenefiacutecio de paacutetiordquo foi assim denominado pois toda a operaccedilatildeo de produccedilatildeo de prata era realizada em um paacutetio Consistia basicamente em mesclar a Mena (metal) moiacuteda e uacutemida com sal comum e mercuacuterio Esse meacutetodo era menos custoso que aqueles que eram utilizados e seu uso se prolongou ateacute o seacuteculo XIX
83
CAPITULO 3
HISTOacuteRICO DA MINERACcedilAtildeO NO BRASIL NO PERIacuteODO COLONIAL A Histoacuteria das primeiras expediccedilotildees no Brasil mostra que desde o inicio do
seacuteculo XVI jaacute havia uma preocupaccedilatildeo permanente aleacutem do reconhecimento do
novo territoacuterio na busca de metais e pedras preciosas que eram produtos de alto
valor econocircmico e poliacutetico aleacutem do interesse estrateacutegico
Durante os primeiros trinta anos de colonizaccedilatildeo do Brasil Portugal estava
voltado para a exploraccedilatildeo dos produtos da Aacutefrica e Iacutendia inclusive de metais
sendo que esta experiecircncia se reflete nas primeiras expediccedilotildees quando se
constata a preocupaccedilatildeo com a descoberta de metais nobres (ouro e prata)
conforme se demonstra nos itens que seguem
Embora a busca por metais fosse uma constante as exploraccedilotildees durante
a primeira metade do seacuteculo XVI resultaram a descoberta de produtos vegetais
(pau-brasil) e animais exoacuteticos (araras e papagaios) 41
Somente com a descoberta da prata na serra de Potosi em 1545 pelos
espanhoacuteis ficou comprovada a existecircncia de metais nobres no novo continente
31 As primeiras expediccedilotildees mariacutetimas a busca de metais nobres A primeira expediccedilatildeo portuguesa destinada ao reconhecimento do litoral do
Brasil partiu de Lisboa entre os anos 1501-02 sob o comando de Gonccedilalo Coelho
e pelo florentino Ameacuterico Vespuacutecio (cosmoacutegrafo contratado pela Coroa
Portuguesa) Apoacutes terem passado pelos atuais estados do Rio Grande do Norte
Bahia e Rio de Janeiro os navios desembarcaram em janeiro de 1502 numa ilha 41 O pau-brasil era extraiacutedo no litoral compreendido desde o atual Estado do Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro
84
que denominaram Cananeacuteia42 Este local tornou-se na primeira metade do seacuteculo
XVI importante posto avanccedilado responsaacutevel pelo abastecimento de
embarcaccedilotildees que mais tarde passaram a rumar para o sul do continente com o
objetivo de reconhecimento e busca de riquezas minerais
Em 1514 Portugal enviou uma outra expediccedilatildeo ao sul desta vez chefiada
por Joatildeo de Lisboa e Estevatildeo Frois financiada D Nuno Manuel e Cristoacutevatildeo de
Haro em cujo trajeto estava Cananeacuteia e a Ilha de Satildeo Francisco do Sul (Santa
Catarina) Esta expediccedilatildeo descobriu o estuaacuterio do rio que denominaram de Rio da
Prata Os resultados dessa expediccedilatildeo foram informaccedilotildees dadas pelos nativos
(Charruas) sobre a existecircncia de uma ldquoSerra de Pratardquo fato que deve ter
impulsionado o envio da expediccedilatildeo espanhola para o sul de Cananeacuteia em 1515
chefiada por Juan Diaz de Soacutelis (VIANNA 1972 p 54)
Entre 1521 e 1526 Aleixo Garcia junto com outros remanescentes da
expediccedilatildeo de Soacutelis e mais iacutendios guaranis partiram da Costa dos Patos (Santa
Catarina) indo aleacutem do rio paraguay e do Chaco obtendo riquezas perdidas na
viagem de regresso (VIANNA 1972 p 214)
Em 1530 parte de Lisboa a expediccedilatildeo de Martim Afonso de Souza uma
das mais importantes expediccedilotildees portuguesas Tinha como objetivos expulsar do
litoral os franceses que traficavam pau-brasil reconhecer a extensatildeo da costa
pertencente a Portugal promover a ocupaccedilatildeo do territoacuterio criando fortificaccedilotildees
em pontos de interesse estrateacutegico e especialmente explorar o rio da Prata 43
42 Cananeacuteia era local de fronteira entre as terras de Portugal e Espanha estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas (1494) 43 A expediccedilatildeo de Martim Afonso se diferenciou das anteriores pelo fato de ter D Joatildeo III investido estes comandantes de poderes especiais aplicados sobretudo em Satildeo Vicente Entre eles permitia-se a Martim Afonso distribuir terras em sesmarias criar instrumentos juriacutedicos que permitiram o registro de propriedades atraveacutes da instalaccedilatildeo dos tabelionatos e a elevaccedilatildeo de povoados para a condiccedilatildeo de vilas o que possibilitou a instalaccedilatildeo de um processo colonizador na regiatildeo Sobre a expediccedilatildeo ver VIANNA Helio Historia do Brasil Satildeo Paulo Melhoramentos 1970 p56-61
85
Um dos fatos importantes resultantes da vinda dessas expediccedilotildees foi a
integraccedilatildeo do Porto de Satildeo Vicente44 juntamente com Cananeacuteia na rota de
navegaccedilatildeo para o sul do continente Estes portos serviam para abastecer as
embarcaccedilotildees e ali era possiacutevel contratar os ldquoliacutenguasrdquo 45
Em 1532 quando Martim Afonso chegou a Satildeo Vicente encontrou um
nuacutecleo formado por portugueses espanhoacuteis indiacutegenas Essa localidade tambeacutem
jaacute era conhecida como a porta de entrada para o sertatildeo e o caminho natural para
se ir agrave Serra da Prata atraveacutes dos Peabirus (ver item abaixo)
32 O Peabiru uma trilha para o Sertatildeo Tendo em vista a importacircncia da existecircncia de caminhos indiacutegenas
denominados Peabirus como facilitadores da interligaccedilatildeo da Vila de Satildeo Paulo
(Campos de Piratininga) com a regiatildeo onde se localiza o morro de Araccediloiaba
entendemos ser importante discorrer a respeito destas vias
A respeito desse sistema de caminhos escreveu Adolpho Pinto em 1902
() havia estradas extensas construiacutedas pelo gentio comunicando
vaacuterios pontos do litoral com o mais longiacutenquo interior do paiz
podendo-se mesmo dizer que figurava como tronco desse primitivo
sistema de viaccedilatildeo geral uma grande estrada pondo em ligaccedilatildeo as
tribus da naccedilatildeo Guarany da bacia do Paraguay com a tribu dos 44Satildeo Vicente segundo Washington Luiacutes ldquojaacute era um porto conhecido com lugar marcado nos rudimentares mapas da eacutepoca uma espeacutecie de pequena feitoria portuguesa de iniciativa particular visitada de esquadras para o trafico de escravos se forneciam viveres agrave navegaccedilatildeo de longo curso se construiacuteam bergantins e se contratavam liacutenguas da terrardquo LUIZ Washington Na Capitania de Satildeo Vicente Satildeo Paulo Livraria Martins Editora1956 p47 A povoaccedilatildeo de Satildeo Vicente foi elevada agrave condiccedilatildeo de Vila em 1532 com a instalaccedilatildeo de oacutergatildeos administrativos e poliacuteticos como a Cacircmara e Cadeia transformando-a no primeiro nuacutecleo de colonizaccedilatildeo portuguesa do litoral 45 Os liacutenguas eram aqueles versados na liacutengua indiacutegena O Tupi era falado em Satildeo Paulo ateacute meados do seacuteculo XVIII Segundo John Monteiro ldquoo domiacutenio da liacutengua geral ou qualquer outra liacutengua indiacutegena era consideraacutevel uma respeitaacutevel especializaccedilatildeo e a fluecircncia numa dessas liacutenguas limitava-se apenas aos maiores sertanistasrdquo MONTEIRO John Negros da Terra iacutendios e bandeirantes nas origens de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1994 p164
86
Patos do litoral de Santa Catarina com os Carijoacutes de Iguape e
Cananeacuteia e com as tribus de Piratininga e do litoral proacuteximo
(GONCcedilALVES 1998 p8)
Em Satildeo Vicente o Peabiru constituiacutea o acesso obrigatoacuterio que do mar
seguia para os sertotildees do Planalto de Piratininga Construiacutedo de acordo com a
teacutecnica e a tradiccedilatildeo indiacutegena seguia os espigotildees dos morros de modo a evitar
terrenos iacutengremes embora em alguns trechos fossem inevitaacuteveis as encostas
com fortes declividades ((GONCcedilALVES 1998 p6 )
A partir do Planalto de Piratininga seguindo para o interior rumo ao Oeste
o caminho que levava ateacute a regiatildeo das minas de ferro era um Peabiru cuja trilha
contornava os morros do Apotribu no municiacutepio de Itu e alcanccedilava o morro de
Araccediloiaba no atual municiacutepio de Iperoacute interior de Satildeo Paulo
87
Fig 24 Peabiru (Tronco) Passando por Sorocaba (Galdino 2002 p182)
88
Fig 25 Mapa de Pasquale Petrone (GONCcedilALVES1998 p42)
89
33 O descobrimento da prata em Potosi
Em 1545 a Espanha anunciou o descobrimento na regiatildeo denominada de
Alto Peru (atualmente territoacuterio boliviano) de uma montanha denominada de
Potosi com 600 metros de altura onde ocorria uma importante jazida de prata
Diferentemente do que acreditavam portugueses e espanhoacuteis Potosi natildeo estava
localizada nem nas proximidades do rio da Prata nem na regiatildeo sul do continente
onde esperavam descobrir aquela lendaacuteria riqueza
Sergio Buarque de Holanda (1959 p 58) ao discorrer sobre aquela
descoberta escreve ldquotamanho era o prestiacutegio de Potosi que em pouco tempo a
velha atraccedilatildeo do ouro parece suceder facilmente a da pratardquo O ldquofeiticcedilo do Perurdquo
desencadeou um novo direcionamento da poliacutetica portuguesa com um maior
interesse da Coroa Portuguesa nos negoacutecios do Brasil e particularmente na
Capitania de Satildeo Vicente
Para dar maior incremento ao povoamento do interior foi instituiacutedo o
sistema de distribuiccedilatildeo de terras (Sesmarias) Uma dessas sesmarias foi doada a
Afonso Sardinha bandeirante que se destacou na atividade mineradora e
tambeacutem na vida poliacutetica da Vila de Satildeo Paulo na comercializaccedilatildeo com a regiatildeo
do Rio da Prata como proprietaacuterio de engenho de accediluacutecar traficante de escravos
africanos investidor financiador e produtor de ferro Foi um dos financiadores da
instalaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro que comeccedila a funcionar em 1607 46
Acreditava-se que o ldquoCerro de Potosirdquo natildeo ficava muito longe das terras da
Coroa Portuguesa sendo este um dos motivos que impulsionavam as ldquopessoas a
continuarem as buscas em direccedilatildeo do Oeste apesar dos repetidos
desapontamentosrdquo (BOXER 2002 p 45)
46 Afonso Sardinha recebeu suas terras de sesmarias no lugar denominado de Ubataacute abrangendo o atual Butantatilde que eacute o Ubataacute citado por Pedro Taques ou Ibatata Batata ou Ibitatatilde em documentos municipais seiscentistas e setecentistas HOLANDA Sergio Buarque de Caminhos e Fronteiras 1957 p 188
90
Um dos caminhos Peabiru que partindo de Satildeo Vicente demandava o
Potosi passava pela Vila de Satildeo Paulo e seguindo a direccedilatildeo Oeste contornava o
morro de Araccediloiaba onde em finais do seacuteculo XVI iniciou-se a produccedilatildeo de ferro
seguindo para a regiatildeo do Guairaacute (atual Estado do Paranaacute) ateacute alcanccedilar as terras
castelhanas
Pode-se dizer que a esperanccedila de encontrar minas de prata um Potosi em
terras de Satildeo Vicente persistiu ateacute o iniacutecio do seacuteculo XVIII quando de fato
foram encontradas minas de ouro pelos paulistas na regiatildeo dos atuais Estados de
Minas Gerais Mato Grosso e Goiaacutes 47
34 A busca de metais nobres na Capitania de Satildeo Vicente
Desde meados do seacuteculo XVI jaacute corriam notiacutecias sobre a possiacutevel
existecircncia de riquezas minerais no interior da Capitania Joseacute de Anchieta em
carta escrita em Satildeo Paulo de Piratininga em 1554 dava as primeiras
informaccedilotildees sobre as descobertas de minas de ouro prata e ferro48 Neste
mesmo ano o jesuiacuteta Pero Correa tambeacutem destacava a descoberta de mina de
ferro proacutexima daquele local 49
47 As minas de ouro localizadas pelos paulistas foram disputadas tambeacutem por portugueses e baianos e todos reivindicavam aquela descoberta Essa disputa culminou na chamada Guerra dos Emboabas na qual os paulistas foram derrotados As descobertas das minas de Mato Grosso e Goiaacutes marcaram o iniacutecio das monccedilotildees expediccedilotildees fluviais regulares que faziam a comunicaccedilatildeo entre Satildeo Paulo e Cuiabaacute O ouro encontrado onde hoje se ergue a cidade de Cuiabaacute foi achado por escravos do sorocabano Miguel Sutil em 1722 Sobre as Monccedilotildees ver HOLANDA Sergio Buarque de Monccedilotildees Rio de Janeiro Casa do estudante do Brasil 1945 48 Ver Carta do quadrimestre de maio a setembro de 1554 dirigida por Joseacute de Anchieta a Santo Ignaacutecio de Loyola Roma In Minhas Cartas por Joseacute de Anchieta Publicaccedilatildeo 450 anos p 153 49 Carta do Irmatildeo Pero Correa escrita a um padre do Brasil In CARTAS Avulsas 1550-1568Azpilculta Navarro e outros Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Edusp 1988 p 163-165
91
A respeito da pesquisa mineral na Capitania de Satildeo Vicente Heacutelio Vianna
escreve que com a intenccedilatildeo de investigar a existecircncia daquelas riquezas
ldquo() mandou o governo portuguecircs em 1559 um mineiro praacutetico
Luis Martins Por ordem do Governador Men de Saacute no ano
seguinte em Satildeo Vicente partiu ele para indeterminados pontos
do interior em uma leva organizada e dirigida por Braacutes Cubas
Regressando este a Santos em 1562 com algumas amostras de
metais e pedras que enviou ao Reino fez com que no mesmo
ano o mineiro voltasse as suas pesquisas Natildeo muito longe
ainda em terras vicentinas em Jaraguaacute talvez em Caatiba hoje
Bacaetava encontrou afinal o desejado ouro Explorou-o
inicialmente o proacuteprio Braz Cubas depois associado ao Capitatildeo
Mor Jerocircnimo Leitatildeordquo (VIANNA 1972 p 215)
35 D Francisco de Souza a organizaccedilatildeo da exploraccedilatildeo mineral De 1598 eacute a primeira referencia a ldquocertos lsquomontes de Sabaroasonrsquo de
onde um mameluco teria extraido amostras de metal que levadas a Bahia ao
Governador D Francisco de Sousa determinaram a vinda deste a Satildeo Vicenterdquo (VIANNA 1972 p 215)
D Francisco de Sousa Seacutetimo Governador Geral do Brasil (1591-1602) e
a partir de 1606 Governador das Minas das Capitanias do Sul 50 promoveu e
organizou vaacuterias expediccedilotildees ao sertatildeo destinadas a descobrir e explorar minas de
ouro e prata e outros metais Tais atividades eram apresentadas como parte de
50 As Capitanias do Sul correspondiam agraves Capitanias do Espiacuterito Santo Rio de Janeiro e Satildeo Vicente
92
seu projeto de desenvolvimento no qual tambeacutem estava inserido o setor de
agricultura e induacutestria sustentado com base no trabalho indiacutegena 51
A sua maior contribuiccedilatildeo decorre do fato de ter exercido o cargo de
Governador das Minas e de ter se fixado na Capitania de Satildeo Vicente mais
especificamente na Vila de Satildeo Paulo de onde provinham as notiacutecias da
existecircncia de minas de ouro prata e ferro
D Francisco veio para Satildeo Paulo munido de poderes que lhe permitiam
distribuir mercecircs agravequeles que tivessem trabalhado na exploraccedilatildeo das minas
Conforme o Regimento que jaacute vigorava no Peru e nas Iacutendias de Castela o
explorador haveria de aplicar seus proacuteprios recursos na busca e exploraccedilatildeo das
jazidas A contrapartida que poderia ser dada pelo Rei estava no fornecimento
de algumas comodidades e mercecircs (STELLA 2000 p 119)
Atraveacutes de Alvaraacutes D Francisco podia nomear uma quantidade
determinada de pessoas com tiacutetulos de nobreza Estas atribuiccedilotildees fizeram com
que muitos moradores da Vila de Satildeo Paulo despendessem de seus proacuteprios
recursos materiais e de indiacutegenas para organizar expediccedilotildees em buscas daqueles
metais
Em 1599 D Francisco esteve no morro de Araccediloiaba para verificar a
autenticidade e a natureza daquela mina que diziam ter ferro ouro e prata Para
viajar ateacute aquele local enfrentando toda a sorte de perigos D Francisco precisou
solicitar ajuda dos moradores de Satildeo Paulo 52
51 Quando no Cargo de Governador Geral Francisco de Souza conduzido pela esperanccedila de encontrar na regiatildeo das cabeceiras do rio Satildeo Francisco a lendaacuteria Sabarabuccediluacute (uma serra de prata e esmeraldas) organizou em 1596 trecircs entradas ao sertatildeo com saiacutedas da Bahia Espiacuterito Santo e Satildeo Paulo respectivamente A vertente paulista foi chefiada por Joatildeo Pereira de Sousa Botafogo e contava com 25 colonos e seus respectivos iacutendios A maioria desta expediccedilatildeo regressou a Satildeo Paulo ldquosatisfeita com os tupinambaacutes que haviam capturado no vale do Paraiacutebardquo MONTEIROJohn Negros da Terra iacutendios e bandeirantes nas origens de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1994 p 58-68 52 PEREIRA Antonio Batista Carta a Paulo Duarte apud Donato Hernani Sumeacute e Peabiru misteacuterios maiores do seacuteculo da descoberta SP ediccedilotildees GRD 1997 p91
93
Aracy Amaral ao analisar a gestatildeo de D Francisco de Sousa como
Governador das Minas das Capitanias do Sul opina que esse administrador
() representa o veiacuteculo que transportou para Satildeo Paulo uma
experiecircncia uma mentalidade que Castela desde haacute muito
desenvolvia no Meacutexico e no Peru As concessotildees e privileacutegios que
obteve do Rei faziam parte de uma legislaccedilatildeo empregada com
sucesso naqueles domiacutenios Essa nova mentalidade estava
intimamente relacionada com os negoacutecios da mineraccedilatildeo e esse jaacute
chamado de ldquoeldorado-maniacuteacordquo que foi D Francisco tambeacutem
denominado por Taunay de ldquopropulsor dos paulistasrdquo seguia sem
duacutevida a diretriz apontada pelos Felipes (AMARAL 1981 p 13)
Apoacutes a Restauraccedilatildeo Portuguesa em 1640 as buscas pelo ouro e pela
prata permaneceram assim como as concessotildees de mercecircs para aqueles que
descobrissem minas ou incentivassem outros a descobri-las Para Ilana Blaj isso
tudo era ldquoum universo de honra de siacutembolos de dignidade e de prestiacutegio que a
elite perseguia e que a Coroa concedia estreitando ainda mais os laccedilos de
vassalagem no interior do Impeacuteriordquo Sintetizando a autora afirma que ldquoescravos
terra dignidade honrarias e prestiacutegio constituiacuteram os fundamentos da sociedade
colonial brasileirardquo (BLAJ 2002 p 322-338)
Em 1611 D Francisco de Sousa falece na mais extrema pobreza O
mesmo destino que tiveram outros que laacute apostaram na metalurgia Frei Vicente
do Salvador contemporacircneo de D Francisco descrevendo a situaccedilatildeo afirmou
que
() estando tatildeo pobre que affirmou um padre da Companhia que
se achava com elle a sua morte que nem uma vela tinha para lhe
metterem na matildeo si a natildeo mandara levar do seu convento mas
quereria deusalumia-lo em aquelle tenebroso transe por outras
muitas que ainda levado deante de muitas esmolas e obras de
piedade que sempre fez (FRANCO 1929 p 135)
94
36 Teacutecnicos e praacuteticos na mineraccedilatildeo e metalurgia Na Vila de Satildeo Paulo e tambeacutem no Sertatildeo as forjas de ferreiro se
instalaram desde cedo As atividades desses ferreiros se concentravam na
fabricaccedilatildeo de ferramentas como foices machados cravos e anzoacuteis utilizando
ferro em barra ou em lingotes trazido da Europa que eram aqui refundidos em
fornos de forja
Em 1553 Manoel da Noacutebrega noticia a presenccedila de ldquotendas de ferreirordquo
como um dos instrumentos levados nas expediccedilotildees ao Sertatildeo (NEME 1959
p158) Em 1584 trabalhavam em Satildeo Paulo trecircs ferreiros (HOLANDA 1957
p186)
Gilberto Freyre em seu trabalho Ferro e Civilizaccedilatildeo no Brasil (1988 p249-
251) destaca como conhecedor do trabalho com o ferro natildeo somente o colono
portuguecircs como tambeacutem os padres da Companhia de Jesus Para esse autor
ambos haviam iniciado seus saberes com ibeacutericos os quais haviam desenvolvido
as ldquoferreriacuteasrdquo os ldquohornosrdquo e aperfeiccediloado as teacutecnicas de fundiccedilatildeo com o ldquohorno
catalaacutenrdquo Entre os conhecedores de metalurgia estava o jesuiacuteta Joseacute de Anchieta
o qual como jaacute destacamos havia informado em 1554 a existecircncia de mineacuterios
nobres e do ferro nas imediaccedilotildees de Satildeo Paulo 53
Diferentemente do que ocorreu nas colocircnias espanholas da Ameacuterica os
indiacutegenas que aqui foram encontrados natildeo tinham conhecimento metaluacutergico e
portanto natildeo utilizavam nenhuma teacutecnica de fundiccedilatildeo que pudesse ser adaptada
aos interesses do colonizador
Quanto ao conhecimento e a exploraccedilatildeo do mineacuterio e produccedilatildeo do ferro as
teacutecnicas necessaacuterias eram totalmente desconhecidas no Novo Mundo Sendo
53 Joseacute de Anchieta era descendente de bascos seus pais eram de Guipuacutezcoa Proviacutencia do Paiacutes Basco BARBOSA Francisco de Assis Dom Joatildeo VI e a Siderurgia no Brasil Rio de JaneiroBiblioteca do Exercito 1958 p 26
95
assim podemos afirmar que essa teacutecnica foi totalmente trazida pelos europeus
em especial pelos espanhoacuteis
Logo apoacutes a Uniatildeo Ibeacuterica (1580-1640) foi encaminhada para as terras das
colocircnias da Ameacuterica a armada de Diego Flores Valdeacutes 54 A passagem de Valdeacutes
em Satildeo Vicente em 1583 revela o interesse pelas riquezas minerais na regiatildeo
sendo que por este motivo solicita agrave Coroa a vinda de teacutecnicos e especialistas em
minas para dar iniacutecio agrave exploraccedilatildeo das jazidas descobertas Ao mesmo tempo
alerta sobre a necessidade de fortificar Satildeo Vicente pois alegava que ldquohay
camino abierto por tierra que va al Rio de La Plata y al Paraguay y a Sancta Feerdquo
(GONZALEZ 2002 p 46)
Alguns autores atribuem a presenccedila do praacutetico Clemente Aacutelvares nas
expediccedilotildees de Sardinha e seu filho55 Em 1606 Clemente Aacutelvares afirmava que
estava haacute quatorze anos dedicando-se ao descobrimento de minas de ouro e
para isso utilizara seus proacuteprios recursos Ao registrar as minas que ele afirmava
ter descoberto no Jaraguaacute Parnayba e Ybituruna para natildeo perder os direitos
sobre elas afirmava que natildeo entendia de metalurgia ldquosenatildeo por notiacuteciardquo e que
natildeo era um oficial fundidor ou ensaiador 56
Os mineiros vindos do reino foram trazidos por D Francisco de Sousa com
a funccedilatildeo de verificar a autenticidade e a natureza das minas descobertas no
Brasil e nas imediaccedilotildees da Vila de Satildeo Paulo Os homens que acompanharam
em 1591 em sua vinda ao Brasil foram o castelhano Agostinho de Souto Maior
(que havia trabalhado anteriormente em Monomotapa ndash Moccedilambique colocircnia
portuguesa que possuiacutea minas e a metalurgia do ferro e do ouro) o qual foi
nomeado para o cargo de provedor das minas do Brasil Christovam o qual era
54 A armada de Diego Flores Valdeacutes foi enviada para o Estreito de Magalhatildees para iniciar a sua ocupaccedilatildeo e povoamento com a finalidade de estabelecer uma defesa das terras do Impeacuterio Espanhol onde jaacute se havia iniciado a exploraccedilatildeo das minas de prata de Potosi 55 Clemente Aacutelvares paulista mineiro praacutetico e sertanista Em 1634 ainda estava se dedicando agrave busca pelo descobrimento de minas Faleceu em 1641 56 Ver Registro de minas de Clemente Aacutelvares em 16 de dezembro de 1606 ATAS DA CAMARA DA VILA DE SAtildeO PAULO vol II Satildeo PauloA Cacircmara 1917 p 171-173
96
lapidaacuterio de esmeraldas e Joatildeo Correa para seria nomeado feitor das minas de
ferro 57
Para Satildeo Paulo enviados por Francisco de Sousa vieram os mineiros
Gaspar Gomes Moalho Miguel Pinheiro Zurara e o fundidor Domingos Rodrigues
Em 1592 Jacques de Oalte mineiro alematildeo o engenheiro tambeacutem alematildeo
Giraldo Betink o cirugiatildeo Joseacute Serratildeo o mestre fundidor flamengo Corneacutelio de
Arzatildeo e o engenheiro e arquiteto-mor florentino Baccio de Filicaya tambeacutem
mineiro de ouro o qual recebeu de D Francisco de Souza o cargo de engenheiro-
mor Felicaya restaurou e construiu algumas fortalezas e trabalhou durante cinco
anos no descobrimento de minas Aparece registrado no Rio de Janeiro em 1596
como arquiteto fortificador (TAUNAY 2003 p409)
Destaca-se tambeacutem ainda na gestatildeo de D Francisco a presenccedila do
mineiro castelhano Manoel Joatildeo Branco (ou Morales) que foi enviado em
companhia de um outro mineiro de prata ao morro de Araccediloiaba para examinaacute-la
Este mineiro acabou por confirmar que aquela Serra era ldquoriquiacutessima de yerrordquo58
37 A Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro
No iniacutecio do seacuteculo XVII as jazidas de ferro que haviam sido identificadas
nas imediaccedilotildees da Vila de Satildeo Paulo comeccedilaram a ser beneficiadas por Diogo de
Quadros atraveacutes da construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro a qual
comeccedilou a funcionar em 1607 A Ferraria de Santo Amaro foi redescoberta em
1967 por Jesuiacuteno Felicissiacutemo Juacutenior e documentada nas ediccedilotildees de 5 e 6 de
janeiro deste mesmo ano no jornal Diaacuterio de Satildeo Paulo por Manoel Rodrigues
Ferreira ( FELICIacuteSSIMO1969 p14)
57 No mesmo ano em que D Francisco de Souza veio para o Brasil para assumir o cargo de Governador Geral tambeacutem retornava da Espanha Gabriel Soares de Souza o qual se dedicou agrave busca de minas autor de Tratado Descritivo do Brasil de 1587 58 Ver Carta de Manuel Joatildeo Branco Morales a D Felipe IVCORTESAtildeOJaime Jesuiacutetas e Bandeirantes no Guairaacute Rio de Janeiro Biblioteca Nacional 1951 p 182
97
Esta Faacutebrica foi construiacutedo na freguesia de Santo Amaro pela sociedade
formada em 1609 entre Diogo de Quadros juntamente com Francisco Lopes
Pinto e D Antonio de Souza filho de D Francisco de Sousa
Para dar andamento a esse projeto Diogo de Quadros obteve em 1604
de D Felipe III o cargo de provedor das minas da Capitania de Satildeo Vicente e a
concessatildeo de montar e explorar fundiccedilotildees de ferro no Brasil (NEME 1959
p353)
Segundo informaccedilotildees oferecidas por Wilhelm Ludwig Von Eschwege
(1777-1855) a Faacutebrica de Santo Amaro foi construiacuteda agrave beira de um pequeno
ribeiratildeo afluente do rio Pinheiros navegaacutevel a uma distacircncia de duas leacuteguas SE
de Satildeo Paulo Para Eschwege ldquoa situaccedilatildeo dessa pequena faacutebrica era
conveniente porque as margens dos rios proacuteximos estatildeo cobertas de matas
cerradas podendo o carvatildeo ser transportado por via fluvial e mesmo o produto
manufaturado que por essa via podiam ser levados ateacute a serra do Cubatatildeo e
para o interior ateacute o Tietecircrdquo (ESCHWEGE 1944 p336)
Aleacutem desse aspecto a Faacutebrica contava com apoio da Coroa recebendo
dos almoxarifados de Satildeo Vicente Bahia e Rio de Janeiro todas as ferramentas
de ferro que estavam disponiacuteveis e poderiam ser aproveitadas para o trabalho de
fundiccedilatildeo daquele metal Das ferramentas entregues para Diogo de Quadros em
1605 foram arrolados
dous malhos q podiatildeo pesar pouco mais ou menos entre ambos
trecircs quintais e por quintal a razatildeo de trecircs mil reis mais duas
argolas grandes da mesma ferramenta q podiatildeo pezar pouco
mais ou menos trecircs quintaes ao mesmo preccedilo mais duas Cafras
(bigornas) que podiam pezar outros quintaes ao mesmo preccedilo
mais duas chapas pequenas q cada hua pezava duas arrobas no
mesmo preccedilo mais duas chapas grandes q cada hua podia
pezar pouco mais ou menos hum quintal cada hua as quaes
todas juntas podem pezar pouco mais ou menos doze quintais
98
que a razatildeo dos ditos traacutes mil reis por quintal fazem a soma de
36$000 rs 59
Os indiacutecios da presenccedila e utilizaccedilatildeo da roda para fins de produccedilatildeo nesta
Faacutebrica satildeo tambeacutem reforccedilados pelas observaccedilotildees feitas por Eschwege em seu
livro Pluto Brasiliensis onde afirmava que ainda se podia ver ldquoa vala da roda o
lugar da oficina os restos de um accedilude assim como um monte de pesada escoacuteria
de ferrordquo ((ESCHWEGE 1944 p336)
Essas mesmas informaccedilotildees podem ser observadas em um levantamento
topograacutefico realizado em princiacutepios do seacuteculo XIX pelo topoacutegrafo portuguecircs
Rufino Joseacute Felizardo e Costa segundo tenente do Real Corpo de Engenheiros
Rufino provavelmente veio ao Brasil como membro do grupo de engenheiros
militares que constituiacuteram em meados do seacuteculo XVIII as ldquoMissotildees
Demarcatoacuterias destinadas a dar cumprimento aos Tratados de Limites relativos agraves
terras da Ameacuterica celebrados entre Portugal e Espanhardquo 60
O levantamento topograacutefico em questatildeo intitulado ldquoprospecto das ruiacutenas
da antiga faacutebrica de ferro de Santo Amarordquo apresenta uma planta dessa faacutebrica jaacute
em ruiacutenas e sua localizaccedilatildeo proacutexima aos rios ldquodos Pinheirosrdquo e Santo Amaro aleacutem
dos terrenos no seu entorno onde se observa a presenccedila de matas minas de
ferro e canais de derivaccedilatildeo de aacuteguas daqueles rios em direccedilatildeo ao edifiacutecio
confirmando as observaccedilotildees feitas por Eschwege que observou inclusive a
existecircncia da ldquovala da rodardquo (HOLANDA 1957 p188-189)
59Ver Provisatildeo passada por Diogo Botelho a Diogo de Quadros 1605 CLETTO Marcelino Pereira A respeito da Capitania de Satildeo Paulo Sua decadecircncia e modo de restabelececirc-la Santos 25 de outubro de 1782 Annaes da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro vol XXI Rio de Janeiro Typografia Leuzinger 1900 60 TOLEDO Benedito Lima de A Accedilatildeo dos Engenheiros Militares na Ordenaccedilatildeo do Espaccedilo Urbano no Brasil Lisboa 2000 lthttpurbaniscteptRevistanumero4artigosartigo_08htmgt Aceso em 16 de maio de 2006 Os tratados mencionados por Toledo satildeo o Tratado de Madri (1750) e do segundo o Tratado de Santo Ildefonso (1777)
99
Fig 27 Prospecto das ruiacutenas da antiga Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro Rufino Joseacute Felizardo seacutec XIX (HOLANDA1957)
38 A Faacutebrica de Ferro do morro de Araccediloiaba os empreendedores
Afonso Sardinha foi personagem importante na atividade de mineraccedilatildeo do
ouro e do ferro no periacuteodo compreendido entre a segunda metade do seacuteculo XVI
e inicio do seacuteculo XVII sendo um dos primeiros empreendedores da exploraccedilatildeo e
produccedilatildeo de ferro no morro de Araccediloiaba Foi tambeacutem um dos financiadores do
empreendimento da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro Em 1601 recebeu de
Francisco de Souza um regimento que permitia o acesso agraves minas jaacute descobertas
e a descobrir61 Ressalte-se que essa mesma provisatildeo natildeo permitia a ele
ldquoentabularrdquo as minas encontradas as quais deveriam ser trabalhadas somente
apoacutes inspeccedilatildeo feita por mineiros vindos do Reino
61 Ver Regimento do Capitatildeo Diogo Gonccedilalves Laccedilo que lhe deu o Senhor Governador Dom Francisco de Souza DERBY Orville A As Bandeiras paulistas de 1601 a 1604 Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo vol VII Satildeo Paulo Typ Do Diaacuterio Official 1903 p 403
100
Joseacute Monteiro Salazar citando Pedro Taques e outros historiadores
aponta o ano de 1597 para o inicio das atividades da exploraccedilatildeo e fabricaccedilatildeo do
ferro em Araccediloiaba sendo que o empreendimento esteve em atividade ateacute o ano
de 1611 coincidindo com o ano da morte de D Francisco de Sousa
Somente em 1684 surge uma segunda tentativa de exploraccedilatildeo das minas
de Araccediloiaba financiada pela Coroa Portuguesa Para tanto foi enviado agravequele
local o Frei Pedro de Sousa com a finalidade de pesquisar a existecircncia de prata
nas jazidas que estava sendo explorada por Luiz Lopes de Carvalho o qual
contava com matildeo de obra indiacutegena
Entretanto apoacutes ter retirado algumas amostras do mineacuterio na jazida elas
foram ensaiadas poreacutem natildeo foi encontrada a prata motivo pelo qual foi
ordenada pelo Conselho Ultramarino a suspensatildeo daquelas pesquisas
(RODRIGUES 1966 p202)
Na sequumlecircncia o empreendedor Luiz Lopes de Carvalho que administrava
aquela mina retomou a exploraccedilatildeo do mineacuterio de ferro cuja existecircncia jaacute era
comprovada para cuja atividade obteve licenccedila concedida pela Coroa Para
realizar as obras necessaacuterias para o seu empreendimento foi obrigado a
hipotecar em 1681 todas as suas propriedades na Vila do Vimieiro em Portugal
(RODRIGUES 1966 p 214-217)
Em carta escrita no Rio de Janeiro em 1692 ao Rei de Portugal noticiava o
fracasso de seu empreendimento com o esgotamento dos recursos financeiros
Assim descreve
penetrei os Sertotildees mais ragozos so habitado de feras padecendo
as inclemecircncias qe experimentatildeo os q com zello e amor da paacutetria
lhe querem descubrir nossos Thezouros Todas estas calamidades
101
padeci por que haverem persuadido e ter achado alguns Roteiros62
q insinuavatildeo partes e serr[dilacerado] aonde em algum tempo se
achavatildeo Signais evidentes de minas de prata e esmeraldas E por
me esgotar o Cabedal proacuteprio e nam achar q me animasse com
algum socorro vim a entender q e Deus nosso Sr Tem guardado
essa fortuna pa outro q mais lho mereccedila Nestas entradas ao
Sertatildeo fui dar com a dictas Serras de Birasuaiava aonde estatildeo as
minas de ferro que na calidade e fertilidade desse groseiro metal
excede a todos asqe por haver no descuberto (RODRIGUES
1966 p217-219)
Naquele mesmo documento Luiz Lopes de Carvalho discorre sobre as
dificuldades teacutecnicas e materiais que havia enfrentado e destaca que para a
continuidade daqueles trabalhos faltara-lhe a matildeo de obra indiacutegena e um mestre
em fundiccedilatildeo que sugere deveria ser de Figueiroacute (Portugal) Biscaia (Espanha)
Alemanha ou Sueacutecia Aleacutem disso indicava que os fornos de fundiccedilatildeo que ali
deveriam ser instalados fossem do mesmo tipo empregado nas ferrarias de
Figueiroacute em Portugal (RODRIGUES 1966 p217-220)
Nova tentativa de exploraccedilatildeo daquela mina de ferro deveu-se ao portuguecircs
Domingos Pereira Ferreira em 1763 o qual organizou em Lisboa uma companhia
por accedilotildees para a construccedilatildeo de uma faacutebrica de ferro em Araccediloiaba 63 Para
viabilizar esse empreendimento recebeu uma concessatildeo de Sesmarias localizada
junto a mina de ferro para explorar a madeira necessaacuteria agrave fundiccedilatildeo 64
62 Esses roteiros - ou ldquomapas do tesourordquo - parecem ter sido frequumlentes na histoacuteria da mineraccedilatildeo colonial Haacute indicaccedilotildees de roteiros elaborados por Gabriel Soares de Souza para as minas de Sabarabassuacute 63 Foram soacutecios de Pereira Ferreira Matheus Lourenccedilo de Carvalho Caoitatildeo-mor Manoel de Oliveira Cardozo Antonio Lopes de Azevedo Capitatildeo Jacinto Jose de Abreu Silveacuterio Thomaz de Oliva Doacuteria Joatildeo Fritz Gerald (este natildeo participou da Sociedade por ser estrangeiro ndash inglecircs) e o Sargento Mor Antonio Francisco de Andrade Traslado da Escritura de Contrato da Sociedade e Companhia que Fazem Domingos Pereira Ferreira (RODRIGUES 1966 p 228-238) 64 Carta de Sesmaria a Domingos Ferreira Pereira e seus soacutecios de um morro cito termo da Vila de Sorocaba para dele se extraiacuterem lenha para a Faacutebrica de caldear o ferro que ali se pretende erigir por ordem de S Magestade (1767) Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Sesmaria Patente e Provisatildeo Livro n17 p 125 v
102
Em dezembro de 1765 o Capitatildeo-General de Satildeo Paulo encaminhava ao
Conde de Oeiras amostra do ferro que Domingos Ferreira Pereira extraiacutera e
caldeara nas serras de Araccediloiaba Neste mesmo ano chegou a receber
encomendas de Diogo Lobo da Silva Capitatildeo General de Minas Gerais para a
fabricaccedilatildeo de armamentos tais como balas bombas e granadas aleacutem de
municcedilotildees Contudo esses armamentos natildeo chegaram a serem fabricados
Para viabilizar a produccedilatildeo do ferro trouxe de Portugal o mestre fundidor
Joatildeo de Oliveira Figueiredo poreacutem este decidiu abandonar aquele local com a
intenccedilatildeo de se mudar para Angola em 1767 Contudo quando jaacute se encontrava
no Rio de Janeiro foi preso e trazido de volta para Araccediloiaba sob a justificativa de
que ldquosem ele natildeo se poderiam por em praacutetica as experiecircnciasrdquo (CALOacuteGENAS
1904 p37)
O relatoacuterio encaminhado no ano de 1768 por Luiz Antonio de Souza ao
Conde de Oeiras em Portugal informava que o empreendimento de Pereira
Ferreira mostrava dificuldades em conseguir produzir um ferro de boa qualidade
mesmo tendo sido realizado por diversas vezes experiecircncias com o material pois
ldquonatildeo era possiacutevel acertar a caldeaccedilatildeo do ferro nem fazecirc-lo igual as primeiras
amostrasrdquo 65
Pereira Ferreira permanece naquela atividade durante dez anos sendo que
depois desse tempo vendeu a propriedade a Vitoriano Joseacute Sentena morador de
Viamatildeo Este empreendedor tambeacutem natildeo obteve sucesso nesta atividade
culminando por abandonaacute-la quatro anos apoacutes o seu iniacutecio (RODRIGUES 1966
p205-210)
No ano de 1784 Claacuteudio de Madureira Calheiros capitatildeo-mor da vila de
Sorocaba encaminha uma peticcedilatildeo a Martinho de Mello e Castro para explorar
aquelas jazidas Contudo esse projeto natildeo foi aprovado (RODRIGUES 1966 p
212) 65 ver Carta de Luiz Antonio de Souza ao Conde de Oeiras Satildeo Paulo 3 janeiro de 1768 In Dossiecirc Ipanema Arquivo do Museu Quinzinho de Barros ndash Sorocaba-SP
103
Em 1788 com aquele mesmo objetivo foi encaminhada a Bernardo Joseacute
de Lorena uma peticcedilatildeo onde o capitatildeo-mor de Sorocaba Claacuteudio da Cunha Oeiras
e o de Itu Vicente da Costa Taques Goacuteis e Aranha pela qual solicitavam
autorizaccedilatildeo para explorar e fabricar o ferro em Araccediloiaba Tambeacutem solicitavam a
vinda do Reino de ldquoum mestre inteiramente perito naquela arterdquo Juntaram agrave
peticcedilatildeo uma amostra de barra de ferro que diziam terem obtido naquele local
Este projeto tambeacutem natildeo foi viabilizado (RODRIGUES 1966 p212)
39 A Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema
Jaacute no final do seacuteculo XVIII destaca-se a vinda do ldquoquiacutemicordquo Joatildeo Manso
Pereira Diretor Geral das Minas para examinar as jazidas de ferro do morro de
Araccediloiaba e acompanhar os trabalhos de demarcaccedilatildeo dos terrenos nos quais
iriam ser instaladas as edificaccedilotildees da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
Tambeacutem realizou alguns ensaios com aquele mineacuterio mediante a construccedilatildeo de
um alto forno acionado com um fole manual
A esse respeito relata Eschwege (1944 p340) que conheceu Joatildeo Manso
Pereira que durante a primeira experiecircncia para a fundiccedilatildeo do ferro muitas
pessoas das vizinhanccedilas foram atraiacutedas para o local poreacutem ao final do teste
nenhum ferro foi produzido Manso entatildeo fugiu do local e os convidados tiveram
que voltar para as suas casas Eschwege lembrava que Manso ao recordar
aquele fato ldquoria-se gostosamente de toda aquela histoacuteria tendo chegado agrave
conclusatildeo de que para fabricar ferro em grande escala natildeo bastavam
conhecimentos de quiacutemicardquo
Em 1802 Manso Pereira natildeo havia apresentado nenhum resultado
satisfatoacuterio e foi destituiacutedo do cargo assumindo em seu lugar Francisco Ribeiro
de Andrade (FRAGA 1968 p 33-48)
104
Segundo o Governador D Rodrigo de Souza Coutinho Joatildeo Manso
Pereira
longe de ser hum verdadeiro chimico natildeo era senatildeo hum
Alquimista que debaixo de certos misteacuterios pretendia inculcar-se
sem ter os necessaacuterios conhecimentos para Inspector e dirigir a
mesma obra tendo toda a esperanccedila que entre os artistas que
pedia que viesse algum que soubesse tractar a referida Mina e
desta sorte colher o Laurel de que os outro se fazia digno
(FRAGA1966 p46)
No iniacutecio do seacuteculo XIX Martim Francisco Ribeiro de Andrada escolhe a
regiatildeo junto ao ribeiratildeo Ipanema para sediar as futuras instalaccedilotildees da faacutebrica de
ferro que estavam autorizadas em 1799 a Joatildeo Manso Pereira Atraveacutes de um
contrato realizado em Estocolmo em 1810 entre Dom Joaquim Lobo de
Saldanha ministro portuguecircs em Londres e o sueco Carlos Gustavo Hedberg
foram iniciados os trabalhos para a construccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro de
Ipanema
Fig 28 Vista da Faacutebrica de Ferro de Ipanema 1827 Acervo Projeto Arqueologia Histoacuterica Museu Paulista-USP
105
Fig 29 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro e Ipanema seacuteculo XIX
Fig 30 Altos fornos geminados construiacutedos por Varnhagem 1818
106
Fig 31 Alto forno construiacutedo pelo Cel Mursa 1888
Em 1815 Frederico Guilherme Varnhagen assume o cargo de Diretor da
Real Faacutebrica e em 1818 constroacutei dois altos-fornos para a produccedilatildeo de ferro
gusa os primeiros do Brasil Joaquim de Souza Mursa Diretor de Ipanema entre
1865-1890 construiu outro alto-forno e natildeo chegou a funcionar Em 1895 jaacute no
periacuteodo republicano Prudente de Moraes decreta a desativaccedilatildeo de Ipanema
Em 1929 tiveram iniacutecio experiecircncias para o aproveitamento da apatita
jazida descoberta em 1890 por DacuteOrville Derby Esse mineacuterio foi explorado ateacute
1944 por uma firma particular para a produccedilatildeo do superfosfato Mas jaacute em 1937
o acervo e aacuterea ocupada pela antiga Faacutebrica de Ferro passaram ao Ministeacuterio da
Agricultura que em 1947 instalou ali a Estaccedilatildeo Experimental do Trigo
107
Uma quarta fase da histoacuteria de Ipanema comeccedilou logo no iniacutecio dos anos
50 quando foi estabelecido o Plano Nacional da Induacutestria de Tratores e instituiacuteda
a obrigatoriedade de ensaios para tratores maacutequinas e ferramentas agriacutecolas
importados ou fabricadas no Brasil Ao mesmo tempo seguiram as atividades de
produccedilatildeo de sementes O estabelecimento passou a denominar-se CENTRI -
Centro Nacional de Ensaios e Treinamento Rural de Ipanema
A partir de 1975 foi criado o CENEA ndash Centro Nacional de Engenharia
Agriacutecola junto ao qual foi realizado em 1983 o convecircnio com o Museu Paulista-
Universidade de Satildeo Paulo para a realizaccedilatildeo da pesquisa arqueoloacutegica Em 1992
passou a integrar uma das aacutereas de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental do IBAMA
com a denominaccedilatildeo de FLONA ndash Floreta Nacional de Ipanema O Siacutetio Afonso
Sardinha foi registrado no IPHAN pela Professora Doutora Margarida Davina
Andreatta em 1997
108
Fig 32 ROTEIRO HISTORICO DA MINERACcedilAtildeO E METALURGIA PAULISTA
109
CAPIacuteTULO 4
O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 41- Localizaccedilatildeo O vale das Furnas eacute uma aacuterea privilegiada por sua geografia devido agrave
presenccedila do mineacuterio de ferro em suas cabeceiras e de uma diversificada
quantidade de rochas dentre elas o arenito que foi utilizado como material de
construccedilatildeo na forma de blocos para paredes e fornos Destaca-se a rede
hidrograacutefica que apresenta dois rios importantes como o Ipanema e o Sarapuhy
que contornam o morro de Araccediloiaba indo desaguar no rio Sorocaba A bacia do
ribeiratildeo do Ferro ocupa uma aacuterea importante dentro do morro de Araccediloiaba
porque eacute ela que drena a regiatildeo onde afloram os minerais de ferro sendo que a
topografia acidentada do seu leito possibilitou a implantaccedilatildeo de estruturas de
aproveitamento hidraacuteulico A regiatildeo apresentava significativa aacuterea coberta de
matas as quais foram transformadas desde finais do seacuteculo XVI em carvatildeo
vegetal o uacutenico combustiacutevel utilizado para a produccedilatildeo de ferro ateacute finais do
seacuteculo XIX
O morro de Araccediloiaba eacute conhecido tambeacutem pela denominaccedilatildeo de morro do
Ipanema toponiacutemico indiacutegena de Ypanema ndash Y= rio aacutegua + panema = sem valor
ou ainda aproximadamente sem peixes significando assim ldquorio sem valorrdquo ou
ldquorio sem peixesrdquo A denominaccedilatildeo Araccediloiaba (ldquoo lugar que esconde o Solrdquo)
aparece desde o seacuteculo XVI em documentos datados com variantes como
Arraraccediloiaba Byraccediloiaba Ibyraccediloiaba Guaccediloiava (SALAZAR 1997 p17)
Ocupa uma aacuterea isolada no interior de uma extensa bacia sedimentar que os
geomorfoacutelogos denominam de ldquoDepressatildeo Perifeacuterica Paulistardquo pertencente agrave
Bacia do Paranaacute Esta aacuterea constitui um ldquohorst docircmicordquo em razatildeo do seu formato
110
arredondado que lembra estruturas de coberturas do tipo domos (DAVINO 1975
p130)
Do ponto de vista geoloacutegico o morro eacute uma formaccedilatildeo montanhosa
resultante de ldquofenocircmenos de intrusotildees de rochas alcalinas que ocorreram
associadas agraves atividades tectocircnicas do Arco de Ponta Grossa no periacuteodo
denominado Cretaacuteceo Inferiorrdquo66 contemporacircneo do vulcanismo basaacuteltico na
regiatildeo Sudeste ndash Sul do Brasil A intrusatildeo magmaacutetica de Ipanema ocupa aacuterea
aproximadamente circular de nove quilocircmetros quadrados Sua maior altitude estaacute
em 970 metros sendo que dele ldquoeacute possiacutevel observar um dos trechos do vale do
Meacutedio - Tietecirc como tambeacutem trecircs importantes unidades de relevo do Estado de
Satildeo Paulo a Depressatildeo Perifeacuterica o Planalto Atlacircntico e as Cuestas Arenito ndash
Basaacutelticas no caso a Serra do Botucatu (CARPI JR 2002 p1)
Estaacute situado no centro-sul da Depressatildeo Perifeacuterica Paulista na Latitude
sul 23ordm25rsquo 23ordm17rsquo Longitude 47ordm35rsquo WGr 47ordm40rsquo WGr no municiacutepio de Iperoacute-
SP entre Sorocaba e Boituva a cerca de 125 km da Cidade de Satildeo Paulo
Encontra-se ainda dentro de uma aacuterea de proteccedilatildeo ambiental com 506973
hectares pertencente ao FLONA Ipanema Floresta Nacional de Ipanema do
IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renovaacuteveis) criada em 1992 para preservar e conservar um dos maiores
fragmentos de Mata Atlacircntica do Estado de Satildeo Paulo bem como aacutereas de
66 ldquoDuas medidas efetuadas no Laboratoacuterio de Geocronologia da USP segundo o meacutetodo do potaacutessio-argocircnico indicaram para as rochas alcalinas de Ipanema idade cretaacutecea inferior Estas determinaccedilotildees foram feitas em biotita contidas em shonkinitos-poacutertirosrdquo (DAVINO1975)
111
cerrado vaacuterzea e os ecossistemas associados67
67 A FLONA ndash Floresta Nacional de Ipanema possui plantas e fauna de grande representatividade tendo catalogado mais de 200 espeacutecies de aves 52 de mamiacuteferos 18 de anfiacutebios 15 de reacutepteis e 35 de peixes que totalizam 216 da riqueza do estado de Satildeo Paulo Caracteriacutesticas do relevo Ateacute 600 metros ndash vaacuterzea dos principais rios como Ipanema e Verde de declives suaves Acima de 875 metros ndash topo do Morro Araccediloiaba geralmente com platocircs e declives suavesmedianos De 600 a 725 metros ndash base das serras de declives acentuados (medianos) com nascentes de rios principalmente os intermitentes De 725 a 875 metros ndash proacuteximo ao topo de declives acentuados com rios encaixados entre as vertentes como o Ribeiratildeo do Ferro Hidrografia Integra a bacia hidrograacutefica do rio SorocabaMeacutedio Tietecirc classificada como UGRHI No 10 com sub-bacias dos rios Ipanema e Verde e ribeirotildees Iperoacute e do Ferro Clima O Troacutepico de Capricoacuternio passa pela parte sul da Floresta Nacional de Ipanema caracterizando uma zona de transiccedilatildeo de tropical para temperada Segundo Koeppen apresenta condiccedilotildees climaacuteticas tipo Cfa ndash subtropical quente constantemente uacutemido com inverno menos seco - ao sul limitando com Cwa ndash subtropical quente com inverno mais seco - ao norte Uso do solo 2800 hectares ndash floresta estacional semidecidual em estaacutegio de regeneraccedilatildeo do inicial ao tardio 29515 hectares ndash capoeira alta (grototildees) e cerrado 24293 hectares ndash capoeira baixa 250 hectares ndash vaacuterzea accediludes e represas 22150 hectares ndash reflorestamento com espeacutecies de raacutepido crescimento e nativas 121016 hectares ndash assentamentos rurais 50 hectares ndash sede administrativa vilas residenciais e siacutetios histoacuterico-culturais Ver Floresta Nacional (FLONA) de Ipanema NACIONAL Disponiacutevel em lthttpwwwibamagovbrspindexphpid_menu=191gt acesso em 22mar06
112
Fig 32 MAPA GEOLOacuteGICO DO MORRO DE ARACcedilOIABA (SEM ESCALA) Mapa Geoloacutegico do Estado Satildeo Paulo ndashIPT
113
Fig 33 BLOCO DIAGRAMA DA REGIAtildeO DA SERRA DE ARACcedilOIABA Interpretaccedilatildeo baseada em dados geoloacutegicos e geofiacutesicos por Andreacute Davino (DAVINO 1975 p140)
114
Fig 35 MORRO DE ARACcedilOIABA (AO FUNDO VISTA DA DEPRESSAtildeO
PERIFEacuteRICA) - I
FIG 36 MORRO DE ARACcedilOIABA (VISTA DA DEPRESSAtildeO PERIFEacuteRICA) - II
115
Aziz Nacib AbSaber ao analisar o morro de Araccediloiaba dos pontos de vista
geoloacutegico e geomoacuterfoloacutegico considera que
Geomorfologicamente eacute um acidente de grande exceccedilatildeo
emergente no meio de terras baixas colinosas que se estendem por
mais de 12 mil km2
Geologicamente eacute a consequumlecircncia de um vulcanismo hipoabissal
tardio anterior aos processos denudacionais que criaram a
Depressatildeo Perifeacuterica Paulista Filogeograficamente eacute um
componente de um mosaico de ecossistemas sub-regionais que
comporta cerrados e matas-galerias (vegetaccedilatildeo ciliar) matinhas
diferenciadas e descontiacutenuas nas paredes sub-rochosas do morro
Existem tambeacutem eventuais poreacutem altamente significativos relictos
de cactos mandacarus nas vertentes rochosas do morro Esse fato
associado ao que jaacute se conhece da regiatildeo de Itu e Salto permite
reconstituir a histoacuteria vegetacional da regiatildeo No passado ela
abrigou caatingas hoje relegadas a pequenos redutos de
cactaacuteceas na forma de rupestres-biomas logo seguidos por
cerradotildees e cerrados recortados por florestas-galerias biodiversas
E por fim grandes matas tropicais nos morros de solos vermelhos
argilo-arenosos das serranias de Satildeo Roque e Jundiaiacute As florestas
eliminaram importantes trechos de cerrado mas natildeo foram capazes
de expulsar os minirredutos de cactaacuteceas na serra do Jardim em
Vinhedo e Valinhos nos altos do Japi na serra de Satildeo Francisco
em Votorantim em Salto e Itu e no front rochoso das cuestas de
Botucatu e agora nos receacutem-identificados mandacarus dos morro
de Araccediloiaba e Ipanema
Para entender essa eacutepoca caracterizada por intrusotildees
hipoabissais desfeitas em sills - massas tabulares de rocha iacutegnea
que penetraram entre camadas de rocha mais antiga - nas
soerguidas camadas de arenitos da formaccedilatildeo de Itarareacute (originada
no Carboniacutefero Superior) haacute que visualizar o fato de que o atual
morro da Depressatildeo Perifeacuterica comportava centenas de metros de
espessura que se estendiam ateacute o embasamento de rochas
cristalinas As intrusotildees que perfuraram localmente o pacote de
116
rochas da borda da Bacia Sedimentar do Paranaacute foram
provavelmente as mais tardias em relaccedilatildeo ao vulcanismo que
precedeu os mega processos de separaccedilatildeo da Aacutefrica e Brasil Ao
que tudo indica primeiramente aconteceram os derrames
basaacutelticos e as intrusotildees hipoabissais de diabaacutesios (rochas
magmaacuteticas cristalinas) A seguir nos milhotildees de anos decorridos
entre o Triaacutessico Superior o Juraacutessico e o Cretaacuteceo Superior -
atraveacutes de bolsotildees magmaacuteticos descontiacutenuos e residuais -
aconteceram as penetraccedilotildees de sienitos em forma de ring dykes
(diques anelares) de Itatiaia da atual ilha de Satildeo Sebastiatildeo
Caxambu e alhures Tudo acontecendo antes que a tectocircnica
quebraacutevel aparecesse no embasamento cristalino do Brasil de
Sudeste Ou seja antes dos falhamentos que criaram a serra do
Mar a ilha de Satildeo Sebastiatildeo e a Mantiqueira Por fim um resiacuteduo
magmaacutetico de grande exceccedilatildeo teria interpenetrado a borda antiga
da Bacia do Paranaacute gerando a pequena aacuterea core que mais tarde
viria a ser o morro de AraccediloiabaIpanema com seus ankaratritos
impregnados de magnetita Um fato que de resto respondeu pelo
histoacuterico episoacutedio da experiecircncia industrial da Fazenda
Ipanema(ABSAacuteBER 2006 p1)
42 A Vegetaccedilatildeo
Quanto agrave vegetaccedilatildeo original o morro de Araccediloiaba tem um histoacuterico de
perturbaccedilotildees sofridas por intervenccedilotildees antroacutepicas iniciadas no final do seacuteculo XVI
Essas perturbaccedilotildees foram causadas pela retirada de mineacuterio madeiras calcaacuterio
apatita aleacutem de focos de incecircndio entre outros processos
Para a exploraccedilatildeo do mineacuterio era necessaacuteria a devastaccedilatildeo das matas que
cresciam sobre a jazida Segundo a descriccedilatildeo de Domingos Pereira Ferreira que
chegou no local em 1765 para dar iniacutecio a um projeto de Faacutebrica de Ferro aquele
117
Morro era como ldquoum Cubatatildeo de Matos e de Cerra Altardquo e somente era possiacutevel
ver uma pedra levando ldquoadeante fousse e machadordquo68
A devastaccedilatildeo das matas tambeacutem esteve ligada ao tipo de combustiacutevel que
era utilizado nos fornos de reduccedilatildeo (fornos baixos) 69 e depois nos de fundiccedilatildeo
(altos fornos)70 O combustiacutevel para a produccedilatildeo de ferro sempre foi o carvatildeo
vegetal71 o qual era fabricado a partir de uma variedade de madeiras existente na
proacutepria mata entre elas os chamados ldquopaus reaisrdquo as madeiras de lei como a
peroba jequitibaacutes e cedros cujos registros de extraccedilatildeo eacute encontrado ateacute o iniacutecio
do seacuteculo XIX 72
Mesmo sofrendo exploraccedilatildeo e desmatamento ainda hoje a Floreta
Nacional de Ipanema constitui-se num dos poucos redutos florestais do interior
paulista e tambeacutem eacute a maior detentora da biodiversidade regional Espeacutecies
vegetais como timburi ararib lixeira jangada do campo canela paineira figueira
branca e peroba satildeo encontrados em percurso assim como animais de haacutebitos
68 Encontramos uma coacutepia da Carta de Domingos Pereira Ferreira agrave Morgado de Mateus escrita em Sorocaba 30 de novembro de 1765 na Coleccedilatildeo Faacutebrica de Ferro de Ipanema entre todas as coacutepias que foram doadas por Joseacute Monteiro Salazar ao Arquivo Histoacuterico Sorocabano 69Nos fornos baixos o carvatildeo vegetal era colocado em camadas alternadas com o mineacuterio calcinado e triturado que com o auxiacutelio de foles manuais ou mecacircnicos realizavam a reduccedilatildeo e natildeo a fundiccedilatildeo do mineacuterio de ferro resultando numa ldquoesponja de ferrordquo ou ldquopatildeo de ferrordquo que posteriormente era novamente trabalhada nos fornos de forja e nos malhos (FAUS 2000) 70 Estes fornos que chegam a fundir o mineacuterio de ferro foram introduzidos em Ipanema no iniacutecio do seacuteculo XIX O produto derivado do alto forno eacute o ferro em estado liacutequido (ferro gusa) (FRAGA 1968 p 87) 71 Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva ao visitar a Faacutebrica de Ipanema em 1820 descreve o meacutetodo de fabricaccedilatildeo de carvatildeo ldquoO carvatildeo he todo misturado sem separaccedilatildeo do proacuteprio para as forjas do refino he mal feito e apagado comumente com agoa em vez de ser abafado com terra principalmente arenosa que he a melhor da qui vem que sahe mais pesado do que deveria ser contra a fabrica e a favor do carvoeiro reduz-se muito a poacute nos armazeacutens com prejuiacutezo da mesma Faacutebrica e o peior he que nas forjas de refino esfarela-se logo e se reduz a cinza sem dar o devido calor O carvatildeo que fazem de maneira mole he mais leve e arde mais e da madeira dura he pelo contrario O methodo de fazer carvatildeo he o seguinte pegatildeo em toda a lenha misturada e arrumatildeo em pilha deitadas que tem 40 palmos em quatro como a figura de um telhado com beiradas estas tem 6 palmos de alto e o espigatildeo 12 leva a quaimar cada piulha 30 ate 34 dias e mais e da cada pilha de 700 a 900 arrobas de carvatildeordquo (FRAGA 1968 p 86) 72 Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva em suas Memoacuterias Econocircmicas sobre a Faacutebrica de Ferro de Ipanema faz criacuteticas agrave construccedilatildeo dos Altos Fornos de Varnhagen e tambeacutem agrave preparaccedilatildeo do mineral e do combustiacutevel utilizado como ldquocavacos de perobardquo (MENON 1992 p144)
118
florestais destacando-se o jaguarundi o gambaacute o irara o tapiti o matildeo-pelada o
quati o jacupemba o chupa-dente o pica-pau de topete vermelho o tangaraacute
danccedilarino o sabiaacute coleira a jararaca a cascavel e o lagarto teiuacute 73
43 Rios e ribeirotildees
Dois rios circundam aquele morro o rio Ipanema e o Sarapuhy afluentes
do rio Sorocaba Na parte central daquele Morro surgem alguns riachos sendo o
mais importante deles o Ribeiratildeo do Ferro anteriormente denominado de Ribeiratildeo
das Furnas (afluente do Rio Ipanema) que nasce no Monte ou Pico do Chapeacuteu e
forma o Vale das Furnas com ocorrecircncia de cascatas e piscinas naturais Eacute
tambeacutem naquele Vale e em uma das curvas do Ribeiratildeo do Ferro que estaacute
situado o Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha objeto de anaacutelise dessa
Tese
O Ribeiratildeo do Ferro ao descer o morro de Araccediloiaba apresenta
desniacuteveis de ateacute 500 metros com a presenccedila de alguns trechos encachoeirados
caracteriacutestica essa que proporcionou a execuccedilatildeo de projetos de aproveitamento
hidraacuteulico como a construccedilatildeo de obras de represamento canal de derivaccedilatildeo e
vala transformando as aacuteguas daquele ribeiratildeo em forccedila motriz aplicada ao
funcionamento dos equipamentos e ferramentas utilizadas no processo produtivo
da produccedilatildeo de ferro
73 Ver Fazenda Ipanema Disponiacutevel em lthttpfazendaipanemaiperospgovbrhistoriaphpgt
119
44 A magnetita o mineacuterio do morro de Araccediloiaba
Segundo Andreacute Davino a importacircncia do morro de Araccediloiaba do ponto de
vista geoloacutegico
deriva do fato de conter umas das muitas ocorrecircncias de rochas
alcalinas do Brasil As concentraccedilotildees de magnetita e apatita
[descobertas no final do seacuteculo XIX] nessas rochas despertaram
desde longa data especial interesse sobre a aacuterea O contorno da
intrusatildeo alcalina situa-se na parte central da Serra e estaacute contido
inteiramente dentro dos limites da Fazenda Federal de Ipanema
(DAVINO 1975 p130)
O mineacuterio de ferro encontrado no morro de Araccediloiaba eacute a Magnetita
um imatilde natural com propriedade magneacutetica de atrair objetos feitos de ferro ou
outros metais Essa propriedade do mineacuterio possivelmente facilitou o encontro
daquela jazida pelos sertanistas que por laacute passaram em meados do seacuteculo XVI
A magnetita eacute um mineacuterio do grupo das espinelas formado por oacutexido
magneacutetico de ferro (Fe3O4) composto por 724 de Fe (ferro) Eacute frequumlente a
existecircncia de cristais bem desenvolvidos pertencentes ao sistema cuacutebico
geralmente em forma de octaedros ou de dodecaedros Eacute abundante formando
as suas jazidas verdadeiras montanhas em massas granulares ou compactasA
composiccedilatildeo da magnetita eacute de oacutexido de feacuterrico (Fe2O3) 65 oacutexido ferroso (Fe O)
25 siacutelica (SiO2) 10 e traccedilos de aacutecido fosfoacuterico (P2O5) (FRAGA 1968 p149)
No Brasil encontram-se jazidas de magnetita nas regiotildees que
compreendem desde o Sudeste da Bahia ateacute o Leste do Paranaacute e Nordeste de
Santa Catarina Contudo sempre se apresentam impregnado de Titacircnio (Ti O2)
em proporccedilotildees que variam desde 04 ateacute 16 A exagerada densidade74 dessa
magnetita concorre para tornaacute-la inaproveitaacutevel para a reduccedilatildeo mesmo nos altos 74 A densidade eacute medida na proporccedilatildeo quilograma por metro cuacutebico kg m-3
120
fornos a coque a menos que sofra preacutevio e demorado tratamento ou que seja
misturada a mineacuterios menos densos (e portanto algo impuro) tais como a canga
a Hematita e outros De outro lado o oacutexido de titacircnio que a impregna dificulta
quando natildeo impede inteiramente a transformaccedilatildeo em gusa ou em esponja
(AMARAL 1946 p 264-266 Apud FRAGA 1968 p32) No morro de Araccediloiaba as
jazidas de Magnetita encontram-se na ldquoforma de depoacutesitos aluviais e
concentraccedilotildees in situ a poucas dezenas de metros de profundidaderdquo (DAVINO1975 p129)
Fig 37 MINEacuteRIO DE FERRO MAGNETITA
Embora no final do seacuteculo XIX os conhecimentos cientiacuteficos da Quiacutemica e
da aacuterea da metalurgia jaacute estivessem avanccedilados a composiccedilatildeo da Magnetita do
morro de Araccediloiaba impregnada de oacutexido de Titacircnio natildeo era conhecida75 A
carecircncia de conhecimento cientiacutefico sobre as propriedades quiacutemicas dessa
magnetita foi a principal causa dos trecircs seacuteculos de tentativas de se produzir ferro
naquele local e das inuacutemeras criacuteticas que eram feitas aos fundidores e
administradores 76 Sendo assim podemos indicar que essa realidade teacutecnica foi
determinante para que natildeo se produzisse em Ipanema desde finais do seacuteculo
XVI ferro de boa qualidade Estephania Fraga indica que
75 O titacircnio foi descoberto em 1791 por Willian Gregor mas soacute se tornou bem conhecido apoacutes os estudos de Wohler em 1857 e Peterson em 1887 76 Orville Derby no final do seacuteculo XIX presidia a comissatildeo de estudos geoloacutegicos da Proviacutencia de Satildeo Paulo e pesquisou a apatita de Ipanema
121
a dificuldade em fundir o mineacuterio de Ipanema ndash a magnetita ndash
provinha da composiccedilatildeo especiacutefica do mesmo pois aleacutem de sua
exagerada densidade apresenta-se impregnada de oacutexido de
Titacircnio fatores que contribuem de forma decisiva para dificultar
sua reduccedilatildeo mesmo em altos fornos (FRAGA 1968 p86)
A dificuldade de produzir um ferro de boa qualidade jaacute era sentida desde o
seacuteculo XVIII quando Domingos Pereira Ferreira apostou na construccedilatildeo de uma
Faacutebrica de Ferro naquele local Embora tenha construiacutedo diversos tipos de fornos
e empregado diferentes modos de fundiccedilatildeo natildeo havia conseguido um bom
resultado No seacuteculo XIX essa mesma dificuldade permaneceu nos trabalhos de
fundiccedilatildeo e na produccedilatildeo de ferro da Real Faacutebrica de Ipanema fundada em 1810
O desconhecimento das propriedades daquela magnetita apenas
descoberta na segunda metade do seacuteculo XIX quando a Real Faacutebrica de Ferro jaacute
estava em plena decadecircncia77 tambeacutem estava na origem das acirradas
discussotildees teacutecnicas entre Friederich Ludwig Wilhelm Varnhagen mineralogista
alematildeo e Carl Gustav Hedberg sueco e primeiro diretor de Ipanema (1811-
1814) sobre as vantagens do alto-forno proposto por Vanhagen em relaccedilatildeo aos
quatro fornos azuis Blauofen fornos de reduccedilatildeo direta inicialmente instalados
em Ipanema78
O diretor sueco foi substituiacutedo por Ludwig Wilhelm Varnhagen em 1815
que construiu dois Altos Fornos de aproximadamente 8 metros de altura cada
um Com estes fornos conseguiu produzir o ferro gusa em sua forma liacutequida
tendo moldado com a primeira corrida desse ferro trecircs cruzes sendo uma delas
ldquolevada em procissatildeo ateacute o ponto alto da montanha de Araccediloiabardquo onde
atualmente permanece Contudo Varnhagen natildeo produziu o ferro esperado e
77 Naquele periacuteodo nem o Estado nem a Real Faacutebrica possuiacuteam laboratoacuterios de anaacutelise que pudessem fazer ensaios do mineacuterio combustiacutevel e fundentes empregados na produccedilatildeo A primeira escola formadora de profissionais na aacuterea de mineraccedilatildeo foi a Escola de Minas de Ouro Preto fundada em 1875 (FRAGA 1968 p140) 78 Von Varnhagen havia dirigido a faacutebrica de ferro de Figueiroacute dos Vinhos em Portugal e foi enviado a Ipanema com a finalidade de projetar a construccedilatildeo de uma grande faacutebrica de ferro que afinal foi construiacuteda por Hedberg (FRAGA 1968 p 71-79)
122
essa dificuldade tambeacutem natildeo foi compreendida por Eschwege79 que estava na
direccedilatildeo de uma outra faacutebrica de ferro em Congonhas do Campo a qual produzia
ferro a partir de um outro mineacuterio a hematita que facilmente pode ser trabalhada
para a produccedilatildeo do ferro80 A partir de 1821 estes fornos altos jaacute estavam em
decadecircncia
Contudo parece que apenas Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva quando
esteve examinando as minas de ferro daquele Morro percebeu que
o problema capital de Ipanema liga-se ao mineacuterio de ferro ali
existente ldquoo ferro magneacuteticordquo de difiacutecil fusatildeo embora natildeo
pudesse conhecer ainda a composiccedilatildeo do mesmo (presenccedila de
Titacircnio que como eacute sabido foi descoberto apenas a partir da
segunda metade do seacuteculo XIX) considerando (com base nos
conhecimentos do gecircnero que visitou na Europa) que a soluccedilatildeo
estaria em aumentar a altura dos pequenos fornos (FRAGA 1968
p149)
Em 1878 foi a vez de Joaquim Antonio de Souza Mursa construir um Alto
Forno e quando a Faacutebrica fechou em 1895 este ainda natildeo havia sido utilizado
79 Ludwig von Eschwege depois de ter trabalhado em Portugal o baratildeo de Eschwege seguiu em 1810 para o Brasil a convite do priacutencipe regente D Joatildeo para reanimar a decadente mineraccedilatildeo de ouro e para trabalhar na nascente induacutestria sideruacutergica Em 1821 inicia em Congonhas do Campo Minas Gerais os trabalhos de construccedilatildeo de uma faacutebrica de ferro denominada de Patrioacutetica empreendimento privado sob a forma de sociedade por accedilotildees Em 1811 a siderurgia de Eschwege jaacute produzia em escala industrial Eschwege eacute o autor de Pluto Brasiliensis primeira obra cientiacutefica escrita sobre a geologia brasileira publicada primeiramente na Europa em 1833 (FIGUEIROA 1977 63-67) 80 As hematitas satildeo mineacuterios de ferro constituiacutedos por oacutexido feacuterrico (Fe2O3) contendo ateacute 70 de ferro(Fe) Seu aspecto varia consideravelmente pode se apresentar cristalizado em massas compactas ou em massas terrosas Satildeo utilizadas na produccedilatildeo de ferro sob duas formas principais a) hematita vermelha e b) hematita parda Dados sobre a composiccedilatildeo quiacutemica da hematita fornecidos pela Dra Heacutelegravene Nasson Storch (FRAGA 1968 p149)
123
45 Fatores fisiograacuteficos da ocupaccedilatildeo europeacuteia
A ocupaccedilatildeo das aacutereas interiores da Capitania de Satildeo Vicente no iniacutecio da
colonizaccedilatildeo foi caracterizada particularmente por expediccedilotildees de apresamento de
iacutendios Este movimento pioneiro na ocupaccedilatildeo das aacutereas interiores do continente
e era facilitado pela existecircncia de caminhos indiacutegenas os Peabirus
No caso da ocupaccedilatildeo da regiatildeo onde estaacute localizado o morro de
Araccediloiaba o acesso era facilitado pela presenccedila de importante caminho que ligava
a vila de Satildeo Paulo de Piratininga agraves terras de Guairaacute e regiotildees do Alto Peru
(atual Boliacutevia) Com a descoberta da prata do Potosi intensificaram-se as buscas
de metais nobres inclusive com incentivos da Coroa portuguesa com ajuda de
mineradores preparados para a identificaccedilatildeo de mineacuterios especialmente a prata e
o ouro As expediccedilotildees em busca daquelas riquezas foram estimuladas apoacutes a
chegada de D Francisco de Sousa que ocupou a governadoria Geral do Brasil no
periacuteodo de 1591 a 1601
Foi neste contexto que ocorreram as primeiras tentativas de exploraccedilatildeo do
ferro das minas de Araccediloiaba Dificilmente pode-se precisar a data em que se deu
o encontro do morro de Araccediloiaba pelos europeus mas certamente a sua
descoberta foi facilitada pela presenccedila dos Peabirus
Provavelmente o aspecto estrateacutegico e o encontro de traccedilos de prata junto
ao mineacuterio de ferro de Araccediloiaba tenham sido fatores que levaram D Francisco a
conceder sesmarias e dar iniacutecio ao povoamento colonial da regiatildeo Para tanto
ldquoplantou o pelourinhordquo no interior do Morro tendo como padroeira Nossa Senhora
do Monte Serrat Esta povoaccedilatildeo natildeo prosperou tendo sua populaccedilatildeo se
deslocado em 1611 ndash o mesmo ano da morte de D Francisco de Sousa - para o
Itavuvu local que recebeu a denominaccedilatildeo de Satildeo Felipe Somente mais tarde no
decorrer de 1661 houve a fundaccedilatildeo da Vila de Sorocaba (ALMEIDA 2002 p 11-
20)
124
Apesar da sua localizaccedilatildeo distante cerca de trinta leacuteguas de distacircncia do
litoral e isolada dos mercados consumidores o interesse da exploraccedilatildeo do ferro de
Araccediloiaba se explica pelo valor estrateacutegico desse metal que poderia ser utilizado
como mercadoria contando com mercado certo a proacutepria Capitania de Satildeo
Vicente e a regiatildeo do rio da Prata Por outro lado o ferro era um metal de grande
interesse para a Metroacutepole que contava com pequenas jazidas
Mais tarde jaacute no iniacutecio do seacuteculo XVIII havia um mercado promissor
representado regionalmente pelo avanccedilo da agricultura de cana-de-accediluacutecar e
tambeacutem pela exploraccedilatildeo das minas de ouro de Cuiabaacute e Minas Gerais81 A esse
respeito escreve em 1782 Marcelino Pereira Cleto
Ainda que as minas de ferro e accedilo estatildeo em terras de Sertatildeo e na
distancia de trinta legoas da Marinha com tudo o sitio he haacutebil
para o bom consumo destes gecircneros porqto por Sorocaba he o
caminho para Coritiba Minas de Pernampanema e outras terras
mais distantes da Capitania de Satildeo Paulo por Itu Va proacutexima he
o caminho por onde se dirige todo o negocio que vai para
Cuiabaacute por esta capitania e tambeacutem perto das das minas se
encaminha a estrada de Goiases Se os Negociantes do Cuiabaacute e
Goiases achassem no caminho ou perto delle este dous gecircneros
[ferro e accedilo] ainda pelo mesmo preccedilo qrsquo elles se vendem no Rio
de Janeiro e os de S Paulo o tivessem na sua proacutepria Capitania
certamte natildeo iratildeo busca-los ao Rio de Janeiro com despesa e
risco e bastaria ser seguro este consumo para ser uacutetil cuidar-se
nas das minas
Quanto mais em distancia como de seis leacutegoas das minas
passa o rio Teateacute navegaacutevel de canoa e unicamemte com o
embaraccedilo de algum ou alguns Saltos ou Cachoeiras neste rio
entra um pouco distancia de S Paulo outro chamado dos
Pinheiros neste o rio Grande neste o rio Pequeno qrsquo fica junto agrave
81 No seacuteculo XVIII a agricultura da cana-de-accediluacutecar foi significativa na regiatildeo denominada de ldquoquadrilaacutetero do accediluacutecarrdquo formada pelas localidades de Sorocaba Piracicaba Mogi-Guaccedilu e Jundiaiacute destacando-se duas aacutereas Itu e Campinas Para este tema ver PETRONE Maria Thereza S A lavoura canavieira em Satildeo Paulo Satildeo Paulo Difusatildeo Europeacuteia do livro 1968
125
Serra qrsquo cobre a Va de Santos do rio pequeno a santos seratildeo
sette legoas trecircs por terra maacutes caminho mto aacutespero E as quatro
por hum rio qrsquo em todas as partes admitte navegaccedilatildeo daquelles
rios vecirc-se qrsquo era pequena a distancia em qrsquo se precisava
condusir por terra estes dous gecircneros ateacute ao Porto da Va de
Santos e daqui dar-lhes extraccedilatildeo para mais Portos da Ameacuterica
(CLETO 1899 p p 210)
Embora natildeo haja estudos especiacuteficos sobre o trabalho indiacutegena na
produccedilatildeo do ferro dos empreendimentos metaluacutergicos instalados no morro de
Araccediloiaba os documentos escritos indicam que ateacute meados do seacuteculo XVIII a
produccedilatildeo do ferro em Araccediloiaba foi realizada com o trabalho de indiacutegenas que
eram levados para aquela atividade pelos exploradores 82 Dessa forma
exploraram aquelas minas Afonso Sardinha e Francisco de Souza (seacuteculo XVI e
XVII) Luiz Lopes de Carvalho (seacuteculo XVII) Domingos Pereira Ferreira (seacuteculo
XVIII) e depois a Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema Neste uacuteltimo
empreendimento os iacutendios foram trazidos das aldeias de Itapecerica MrsquoBoy
Carapicuiacuteba Barueri e Itapevi Em 1815 trabalhavam nessa faacutebrica 16 iacutendios aleacutem
de escravos africanos Em 1834 a Real Faacutebrica de Ferro comeccedilou a receber
africanos livres em 1837 trabalhavam naquele estabelecimento 121 escravos (68
homens 24 mulheres e 29 crioulos) e 48 africanos livres (30 homens e 18
mulheres)83
Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX o morro de Araccediloiaba passou a
integrar as rotas de muitos naturalistas geoacutegrafos mineralogistas botacircnicos e
geoacutelogos como Von Martius Martim Francisco de Andrada Auguste Saint Hilaire
o Baratildeo Eschewege Theodoro Knecht e Leandro Dupreacute que fizeram daquele
82 Conforme estabelecia a legislaccedilatildeo mineira compilada pelo Coacutedigo Filipino a exploraccedilatildeo de qualquer mineacuterio era realizada com os recursos do proacuteprio descobridor pagando os direitos dos quintos ao eraacuterio reacutegio Cf Ord L 2ordm ndash Tits 26 e 28 par 16 acolhendo a Ord Manuelina do L 2ordm Tt34 e seus paraacutegrafos Ver RODRIGUES (1966 p 182) 83 Sobre o trabalho indiacutegena na Real Faacutebrica de Ferro de Ypanema ver MENON Og A Real Fabrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema e seu mundo 1811-1835 Dissertaccedilatildeo (mestrado) Satildeo Paulo PUCSP 1992 p 84-90 Sobre o trabalho dos africanos livres em Ipanema ver RODRIGUES Jaime Ferro trabalho e Confliro os Africanos livres na Faacutebrica de Ipenema Historia Social n 45 Campinas IFCH-Unicamp 29-42 199798
126
local um laboratoacuterio a ceacuteu aberto para pesquisas cientiacuteficas aleacutem de terem
deixado dessas experiecircncias relatos preciosos que ajudam a compor aquela
histoacuteria como atesta o relato do naturalista Saint-Hilaire que esteve em Ipanema
em 1819 Diz ele
Encontrei em Ipanema um zoologista o Sr Natterer membro da
comissatildeo cientiacutefica que o imperador da Aacuteustria havia enviado ao
Brasil para recolher amostras de espeacutecimes diversos do pais
Fazia um ano que se achava instalado nas proximidades das
forjas tendo jaacute formado uma vasta coleccedilatildeo de paacutessaros Era
impossiacutevel natildeo admirar a beleza dessa coleccedilatildeo Natildeo se via uma
uacutenica ave cujas penas tivessem sido coladas ou que apresentasse
a menor mancha de sangue
Encontrei tambeacutem em Ipanema um jovem prussiano Sellow
o primeiro naturalista a chegar no Brasil depois de firmada a paz
Tinha feito anteriormente estaacutegio no Jardim Botacircnico de Paris a
fim de aperfeiccediloar os seus conhecimentos e vivia agora de uma
pensatildeo que lhe dava o ilustre e generoso Humboldt o qual fazia
crer ao rapaz que ele estava sendo pago pela administraccedilatildeo do
Jardim Sellow dedicava-se as suas pesquisas com um zelo e
uma energia sem par (SAINT-HILAIRE 1972 p194-195)
127
CAPIacuteTULO 5
INVESTIGACcedilOtildeES ARQUEOLOacuteGICAS AS EVIDENCIAS DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO 84
O trabalho da pesquisa arqueoloacutegica se estendeu por um periacuteodo de 8
anos (1983-1989) e ficou registrado em documentos de Diaacuterios de Campo
escritos pela pesquisadora Margarida Davina Andreatta assim como em
correspondecircncias levantamentos topograacuteficos planos de escavaccedilatildeo croquis e
desenhos geomeacutetricos de plantas das ruiacutenas croquis de cortes estratigraacuteficos e
de reconhecimento das escavaccedilotildees Inventaacuterio de Peccedilas e fotografias tudo
devidamente registrado em relatoacuterios da pesquisa arqueoloacutegica (ver Planta Geral
da Aacuterea Anexo 9 e o mapeamento das escavaccedilotildees Anexo 10)
Os artefatos coletados durante as investigaccedilotildees de campo foram
acondicionados em caixas devidamente protegidas e identificadas e guardados
nas dependecircncias do Museu do Centro de Visitantes da FLONA de Ipanema
Por ocasiatildeo da primeira visita realizada no Siacutetio Afonso Sardinha em 09 de
maio de 1983 a pesquisadora observou que as ruiacutenas existentes estavam
cobertas por ldquopequenos arbustos cipoacutes gramiacuteneas deposiccedilatildeo de folhas e raiacutezes
secasrdquo as quais encobriam os blocos de pedra que formariam as paredes de uma
edificaccedilatildeo (ANDREATTA 1983 p7) O siacutetio apresentava sinais de alteraccedilotildees
causadas pela accedilatildeo de erosatildeo pelas aacuteguas da chuva bem como pela accedilatildeo
antroacutepica possivelmente pescadores e caccediladores que usavam aquele local como
acampamentos temporaacuterios para suas atividades observando-se ainda sinais de
frequumlentes incecircndios na mata existente em seu entorno
84 Para acompanhar as discussotildees deste Capiacutetulo consultar o Anexo 9 Planta Geral do Siacutetio Afonso Sardinha
128
Fig 38 LIMPEZA DO SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 1984
Fig 39 EQUIPE DE TRABALHO SITIO AFONSO SARDINHA 1988
Para iniciar a pesquisa arqueoloacutegica foi necessaacuterio remover a vegetaccedilatildeo
que recobria as ruiacutenas mencionadas de modo a possibilitar as primeiras
observaccedilotildees e mediccedilotildees das paredes e da aacuterea do seu entorno Desta forma jaacute
no iniacutecio das investigaccedilotildees iniciais em maio de 1983 jaacute haviam sido
129
evidenciados embora ainda natildeo totalmente identificados os espaccedilos
possivelmente destinados agrave produccedilatildeo de ferro e os locais proacuteprios para o
aproveitamento da forccedila motriz hidraacuteulica necessaacuteria agravequelas atividades
51 Estruturas hidraacuteulicas para a produccedilatildeo da forccedila motriz
O trabalho de reconhecimento da aacuterea identificou um conjunto de
estruturas identificadas como pertencente a um sistema hidraacuteulico destinado a
produccedilatildeo da forccedila motriz o qual compreendia diversas partes o canal de
derivaccedilatildeo das aacuteguas (vestiacutegios de canaleta) a vala destinada ao alojamento da
roda hidraacuteulica e o trecho do canal de restituiccedilatildeo das aacuteguas ao ribeiratildeo Tais
dispositivos se localizam em aacuterea externa poreacutem adjacente ao edifiacutecio principal
de produccedilatildeo de ferro
Natildeo foi possiacutevel localizar a estrutura do barramento responsaacutevel pelo
desvio das aacuteguas do ribeiratildeo do Ferro para o canal de derivaccedilatildeo
511 O Canal de Derivaccedilatildeo A existecircncia do canal de derivaccedilatildeo foi evidenciada no ano de 1987 quando
foram realizados os trabalhos de decapagem para escavaccedilatildeo da aacuterea Sul da aacuterea
A (forno externo) conforme registrado no Diaacuterio de Campo no dia 02 de julho de
1987 onde de se indica que ldquoevidenciou uma canaleta que se prolonga para o
interior da ferradura que apareceu apoacutes a limpeza da vegetaccedilatildeo do entorno da
mesmardquo Outra evidecircncia da existecircncia do canal na regiatildeo ao Sul da aacuterea A (forno
externo) foi a constataccedilatildeo da ocorrecircncia de fluxo de aacutegua em direccedilatildeo ao Forno 1
(aacuterea A1) fenocircmeno que se observava toda a vez que chovia Este fato mostra
130
que deveria existir um possiacutevel canal interceptador de aacuteguas de chuvas
direcionando a correnteza em direccedilatildeo ao forno (Anexo 9 e Figura 75)
A evidecircncia encontrada revelava que o Canal de Derivaccedilatildeo havia sido
construiacutedo com a finalidade de obter um aproveitamento da corrente de aacutegua do
ribeiratildeo do Ferro contornando a face sul da edificaccedilatildeo ateacute encontrar o muro da
entrada da vala da roda drsquoaacutegua em um ponto onde o terreno se encontra agrave cota
520m medida pelo levantamento planialtimeacutetrico realizado na aacuterea Sendo assim
esse canal de desvio de aacuteguas deve partir do ribeiratildeo do Ferro numa posiccedilatildeo com
cota evidentemente superior a 520m (Figura 75)
No final do Canal de Derivaccedilatildeo no ponto correspondente a entrada da vala
(aacuterea E) foi encontrada durante as pesquisas uma quantidade significativa de
blocos de rocha arenito de tamanhos regulares amontoados e natildeo-alinhados os
quais testemunhavam que naquele local deveria haver uma estrutura de conexatildeo
entre o canal de derivaccedilatildeo e a vala As dimensotildees desses blocos apresentando
uma certa regularidade de formas satildeo tambeacutem um forte indiacutecio de que eles foram
cortados com a finalidade de proporcionar um entrosamento na construccedilatildeo da
parede (Anexo 13)
As pesquisas mostraram a existecircncia de trecircs grupos de blocos com
dimensotildees regulares As Tabelas abaixo apresentam as dimensotildees observadas
nos blocos de arenito acima mencionados
Tabela 1 Dimensotildees dos blocos de maior dimensatildeo ( em centiacutemetros - cm)
COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA
43 30 18
43 27 15
26 20 16
131
COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA
20 11 8
18 09 9
18 14 6
Tabela 2 Dimensotildees dos blocos de media dimensatildeo ( em centiacutemetros ndash cm)
COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA
10 6 6
10 5 6
11 7 35
Tabela 3 Dimensotildees dos blocos de menor dimensatildeo ( em centiacutemetros ndash cm)
Fig 40 VISTA GERAL DA AacuteREA E 1988
132
512 A Vala da Roda
Nas ruiacutenas encontradas da Faacutebrica de Ferro a existecircncia de estruturas
destinadas a utilizaccedilatildeo da energia hidraacuteulica eacute evidenciada pela presenccedila de
estruturas que caracterizam o controle das aacuteguas Em sequumlecircncia ao Canal de
Derivaccedilatildeo mencionado no item anterior observa-se a existecircncia da vala para o
alojamento da roda drsquoaacutegua indicada na planta baixa (Anexo 9) identificada como
ldquoCanal (D)rdquo conforme registrado no Diaacuterio de Campo da pesquisadora Margarida
Davina Andreatta em maio de 1983
A vala encontrada apresenta 19 metros de comprimento tendo ambas as
paredes cerca de 15 metros de largura e vatildeo livre entre as paredes com cerca de
225 m A uma distacircncia da ordem de 37 metros da margem do ribeiratildeo do Ferro
a parede da lateral direita apresenta um alargamento e por conseguinte ocorre
um estreitamento do vatildeo da vala passando a contar com apenas 1 (um) metro de
largura na saiacuteda
A vala encontrada no Siacutetio Afonso Sardinha apresentava o seu piso com
plano de declividade em direccedilatildeo ao ribeiratildeo do Ferro sendo que na parte mais
alta a cota do piso eacute de 453 m acima do niacutevel do ribeiratildeo enquanto que a
extremidade inferior da vala alcanccedila 041m acima do mesmo niacutevel portanto
mostrando forte inclinaccedilatildeo para facilitar a restituiccedilatildeo da aacutegua ao ribeiratildeo
A posiccedilatildeo do plano de declividade da vala mostra que na extremidade de
saiacuteda do canal formou forte desniacutevel em relaccedilatildeo ao piso da Faacutebrica sendo que no
ponto meacutedio o niacutevel da vala seria igual a 230 m (Figura 41)
133
Fig 41 Dimensotildees da Vala da roda e localizaccedilatildeo das evidecircncias de
esteios
134
Fig 42 VALA DA RODA HIDRAacuteULICA 1987 - I
Fig 43 VALA DA RODA HIDRAacuteULICA 1987 - II
135
5121 Evidecircncias de esteios
Em novembro de 1984 foram evidenciados trecircs pares de esteios nas
laterais externas das paredes da vala permitindo supor que as mesmas
funcionavam como pilares para alguma cobertura sobre a vala (ANDREATTA
1984 p 37)
As evidecircncias de esteios encontrados possuem formas circulares e
quadrangulares tendo os lados medidas semelhantes As evidecircncias localizadas
no lado leste apresentavam respectivamente 040 cm X 040 cm 045 cm X 045
cm e 045 cm X 040 cm Jaacute as evidencias encontradas no lado oeste as medidas
encontradas eram 050 X 055 cm e 050 X 050 cm Aleacutem disso apresentavam
espaccedilamentos semelhantes entre si da ordem de quatro metros e meio
Fig 44 EVIDENCIAS DE ESTEIOS vala da roda 1987
136
Fig 45 DETALHE DOS ESTEIOS
Fig 46 DETALHE DE UM ESTEIO
137
52 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 521 Area ldquoCrdquo
O relevo do terreno nesta aacuterea mostra irregularidade sendo que na
extremidade sul junto agrave parede limite a superfiacutecie do terreno apresenta uma
parte plana com cota mais elevada tendo sido medido pela topografia o niacutevel
448 enquanto que na porccedilatildeo central aparece um segundo platocirc com cota do
terreno igual a 343 e na extremidade norte junto ao ribeiratildeo do Ferro a cota
medida foi 0 85m ( ver figura 47)
As pesquisas nesta aacuterea ldquoCrdquo foram realizadas agrave partir de novembro de
1986 para a verificaccedilatildeo da estratigrafia com a abertura de 2 trincheiras na
extremidade norte e uma na parte central as quais tiveram as seguintes
caracteriacutesticas geomeacutetricas (comprimento X largura X profundidade) T1 4m X
065m X 080m T2 170m X 070m X 080m T3 140m X 065m X 095m
(ANDREATTA1984 p 5)
O resultado dos estudos estratigraacuteficos e de decapagem mostraram a
existecircncia unicamente de telhas e cravos aleacutem de alguns poucos fragmentos de
ceracircmica
138
Fig 47 ndash Topografia do Terreno da Aacuterea C (Seta indicaccedilatildeo das Trincheiras)
139
Fig 48 Vista Geral da Aacuterea C 1987
522 A Aacuterea B (ldquoForjardquo) Diferentemente do espaccedilo ldquoCrdquo analisado no item anterior a aacuterea
denominada ldquoBrdquo no desenho da planta baixa (anexo 9) apresentou importante
quantidade de materiais arqueoloacutegicos tais como metais liacuteticos ceracircmicas louccedila
e resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias)
No inicio das exploraccedilotildees do local no decorrer do ano de 1983 foram
observadas evidecircncias de paredes inclusive com amontoados de blocos de
arenito que mostravam possiacuteveis sinais de alteraccedilotildees construtivas
No ano seguinte orientado pela descoberta dos blocos acima
mencionados os quais foram caracterizados como possiacuteveis materiais de
construccedilatildeo a pesquisa arqueoloacutegica foi programada prevendo inicialmente a
140
remoccedilatildeo da vegetaccedilatildeo existente no espaccedilo assinalado ldquoBrdquo seguida da
decapagem do terreno
As pesquisas iniciais permitiram identificar a existecircncia da base de paredes
de uma antiga estrutura A partir desta descoberta foi possiacutevel reconstruir ldquoem
superposiccedilatildeo aos blocos de arenito da parede original da forjardquo 85 Tais blocos de
arenitos conforme foi possiacutevel constatar eram os mesmos materiais de
construccedilatildeo dos setores ldquoCrdquo e ldquoDrdquo
Fig 49 RECONSTITUICcedilAtildeO DAS PAREDES DA AacuteREA B 1984
85 Comunicaccedilatildeo Interna ao CENEA por Margarida Davina Andreatta Iperoacute 05dez1984
141
Fig 50 EVIDENCIAS DAS PAREDES DA AacuteREA B 1984 -
Fig 51 PAREDE DA AacuteREA B RECONSTITUIacuteDA 1984 - I
142
Fig 52 PAREDES DA AacuteREA B RECONSTITUIacuteDA 1984 - II
Durante a realizaccedilatildeo da pesquisa arqueoloacutegica com escavaccedilotildees nesta
aacuterea foi possiacutevel evidenciar a ocorrecircncia de significativa quantidade de peccedilas de
metais (ver Tabela Metais) tais como lacircminas plaquetas e cravos
aparentemente indicando a atividade de transformaccedilatildeo do ferro em peccedilas de
utilitaacuterios Tambeacutem foram encontrados liacuteticos fragmentos de telhas faianccedila de
origem portuguesa e ceracircmicas de produccedilatildeo regional ou local (neo-brasileira)
possivelmente ldquopara fins utilitaacuterios do grupo que habitou o localrdquo 86
86 Relatoacuterio de Atividades Periacuteodo 19-31 maio 1986 p 8
143
Fig 53 DECAPAGEM AacuteREA B 1984
Quanto ao piso arqueoloacutegico da aacuterea ldquoBrdquo observou-se que ele estava
situado entre 10 e 30 cm acima do solo original sendo constituiacutedo ldquode blocos de
arenito de diferentes tamanhos irregulares e cobertos por uma camada de terra
com huacutemus e raiacutezes tronco de aacutervores e a terra eacute latossolo (cor avermelhada) o
mesmo que se encontra entre os blocos de arenito nas paredes parece que
serviu como argamassa para assentar os blocos entre si e levantar a parederdquo
conforme descriccedilatildeo apresentada no Diaacuterio de Campo da pesquisadora Margarida
Davina Andreatta (ANDREATTA 1984 p 42) Notou-se tambeacutem que os blocos e
placas de arenito estavam ldquodispostos horizontalmente de maneira que indicavam
que a superfiacutecie do piso deveria ter sido nivelada com argila a fim de facilitar a
circulaccedilatildeo do homemrdquo (ANDREATTA 1984 p 42)
144
TABELA METAIS
CATEGORIAS NUacuteMERO DE FRAGMENTOS
Cravos 33
Plaquetas 06
Barras de ferro 02
Escoacuterias 03
Mineacuterios 03
ANDREATTA Inventaacuterio de Peccedilas 1983-1987
No interior do local da aacuterea ldquoBrdquo (ldquoforja) foram coletadas duas peccedilas
arqueoloacutegicas compreendendo dois fragmentos de ceracircmica com formato de
vasilhame para cozimento as quais foram encaminhadas para o laboratoacuterio da
FATEC ndash Faculdade de Tecnologia de Satildeo Paulo com o objetivo de obter a
dataccedilatildeo absoluta pelo meacutetodo da termoluminescecircnciardquo Este meacutetodo eacute aplicado
para o caso de materiais que apresentam quartzo em sua composiccedilatildeo tais como
ceracircmica vidros solos louccedilas faianccedilas etc
Uma dessas peccedilas era constituiacuteda de metade de um vasilhame de
pequenas dimensotildees de ceracircmica decorada com a presenccedila de apecircndice (alccedilas)
identificada conforme classificaccedilatildeo arqueoloacutegica como de produccedilatildeo local ou
regional (neo-brasileira) O exame visual dessa peccedila mostra a existecircncia de um
apecircndice (alccedila) que identifica a influencia do europeu na fabricaccedilatildeo daquele
objeto permitindo deduzir que o local teria sido um siacutetio de contato (entre o
indiacutegena e o europeu)
O resultado do ensaio de dataccedilatildeo absoluta dessa peccedila arqueoloacutegica pelo
meacutetodo da termoluminescecircncia apontou a idade de 520 +- 75 anos permitindo
avaliar a data da fabricaccedilatildeo entre 1411 a 1561 conforme Certificado da FATEC
datado de 21 de junho de 2006 (Relatoacuterio de Ensaio ndash Anexo 1) Levando em
conta os dados apresentados pela pesquisa histoacuterica para aquele local pode-se
145
supor que a data mais provaacutevel da fabricaccedilatildeo da peccedila seja em meados do seacuteculo
XVI eacutepoca em jaacute ocorria presenccedila do explorador europeu (Figuras 54 55 56)
Fig 53 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - SEacuteCULO XVI -I Idade de 520 +- 75 anos
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
Fig 54 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - II
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
146
Fig 55 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - III
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
Descriccedilatildeo Nuacutemero de Registro 0106
Niacutevel 015 m de profundidade
Laacutebio arredondado
Borda extrovertida inclinada externa
Diacircmetro de boca 014 m
Acircngulo da parede 115ordm
Vasilhame simeacutetrico profundo inflectido de boca ampliada e com
apecircndices lisos em forma de rolete com evidencias de pressatildeo na extremidade
para fixaccedilatildeo
Apresenta as seguintes decoraccedilotildees inciso na posiccedilatildeo vertical com 015m
de comprimento (em grupo de 3 incisos) distanciando cada grupo em 001m
dispostos em duas fileiras sendo a primeira proacutexima al laacutebio e a segunda junto a
altura do apecircndice
147
O bojo eacute liso e a sua base escovada e apresenta marcas de fuligem na
parte externa e sinais de desgaste por atrito na parte interna da base do
vasilhame
O outro vasilhame ceracircmico encontrado na aacuterea B identificada como de
procedecircncia local ou regional (neo-brasileira) apresenta caracteriacutesticas
semelhantes e tambeacutem a mesma dataccedilatildeo do vasilhame de ceracircmica
anteriormente descrito (Figura 57 58) Este artefato foi encontrado a 030 cm da
superfiacutecie e foi em parte reconstituiacutedo e levado para o exame de dataccedilatildeo pelo
processo de termoluminscecircncia ao Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade
de Tecnologia de Satildeo Paulo - FATEC O resultado do ensaio apontou a idade de
540 +- 75 anos correspondendo a possiacuteveis datas de fabricaccedilatildeo daquele artefato
entre 1391 e 1541 sendo esta uacuteltima data a mais provaacutevel(Relatoacuterio de Ensaio
Anexo 1)
Fig 57 VASILHAME CERAcircMICO ndash 0122 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - I Idade de 540 +- 75 anos
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
148
Fig 58 VASILHAME CERAcircMICO ndash 0122 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - II Idade de 540 +- 75 anos
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema Descriccedilatildeo Nuacutemero de registro 0122
Niacutevel 030 m de profundidade
Tipo de laacutebio arredondado
Tipo de borda extrovertida inclinada externa
Diacircmetro da boca 028m
Acircngulo da parede 110ordm
Fragmento de vasilhame simeacutetrico de contorno inflectido com as seguintes
decoraccedilotildees parede lisa com engobo branco parede externa com banho de
engobo branco com uma linha incisa paralela a 001m do laacutebio Entre esta
primeira decoraccedilatildeo e o bojo haacute decoraccedilatildeo escovada com inclinaccedilatildeo
Na borda haacute ainda um apecircndice convexo com sinais de fixaccedilatildeo e nas
extemidades haacute pressatildeo de fixaccedilatildeo Entre a borda e o bojo apresenta decoraccedilatildeo
regulada contornando o vasilhame O bojo tambeacutem apresenta decoraccedilatildeo
escovada quase horizontal
149
Uma terceira peccedila encontrada no interior da aacuterea ldquoBrdquo eacute uma faianccedila
decorada de origem portuguesa e formada por fragmentos de louccedila de uso
domeacutestico a qual tambeacutem foi submetida a uma dataccedilatildeo relativa mediante
comparaccedilatildeo feita com auxilio de cataacutelogo (Itineraacuterio da Faianccedila do Porto e Gaia
publicaccedilatildeo do Museu Nacional de Soares dos Reis sem data) Os fragmentos
foram localizados em parte no interior da aacuterea ldquoBrdquo e outra parte na aacuterea externa
dessa mesma aacuterea sendo este uacuteltimo junto a um vestiacutegio de estrutura do forno 1
aacuterea A1 (Figura 59)
O exame visual sobre a faianccedila reconstituiacuteda a partir de cinco fragmentos
separados permitiu reconhecer com base no documento acima mencionado que
aquela peccedila era um utensiacutelio portuguecircs de uso domeacutestico a qual pode ser
descrita como ldquotiacutepicas tijelas malegueiras decoradas no fundo e na orla com
filetes concecircntricos azul [] que apresentam temas decorativos recorrentes
dentro das faianccedilas conhecidas para a segunda metade do seacuteculo XVII (GOMES
BOLTELLO p148)
Conforme parecer sobre a mesma faianccedila acima descrita apresentado por
Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do Infante Porto ndash Portugal em
28 de abril de 2004 aquela peccedila de faianccedila apresenta uma ldquodecoraccedilatildeo simples
que exibe com toques de pincel espaccedilados junto ao bordo filetes simples
resultando ciacuterculos concecircntricos e espiral no fundo tudo em azul aponta para
uma cronologia que se centraraacute no seacuteculo XVIIrdquo 87
87 Parecer sobre a faianccedila encontrada no Siacutetio Afonso Sardinha feita por Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do Infante Porto ndash Portugal em 28 abr 2004
150
Fig 59 FAIANCcedilA - AacuteREA B [SEacuteC XVII]
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
53 Area E Sul da Faacutebrica de Ferro
A pesquisa arqueoloacutegica realizada na aacuterea E Sul externa da Faacutebrica de
Ferro revelou a existecircncia de amontoados de resiacuteduos de fundiccedilatildeo da magnetita
conhecidos como escoacuteria os quais se distribuem por uma ampla aacuterea do terreno
identificada como escorial sendo que num local adjacente agrave face sul da estrutura
denominada aacuterea ldquoB se apresenta maior concentraccedilatildeo (ver anexo 9)
Uma amostra desse material foi encaminhada para anaacutelise no
Departamento de Mineralogia e Geotectocircnica GMG do Instituto de Geociecircncias
da Universidade de Satildeo Paulo aos cuidados de Daniel Atencio Professor
Associado daquele Departamento o qual constatou ser aquela amostra ldquo[]
provavelmente restos de fundiccedilatildeo Trata-se de wuumlstita (FeO) mais ferro (Fe)
Esses materiais satildeo muito raros como minerais mas comuns em fundiccedilotildeesrdquo88
88 Anaacutelise elaborada por Daniel Atencio Professor Associado do Departamento de Mineralogia e Geotectocircnica GMG IGUSP e enviado por e-mail no dia 21 set 2005
151
Como indica este parecer a amostra se constituiacutea de uma escoacuteria ldquoresto
de fundiccedilatildeordquo contendo wuumlstita (FeO) e ferro caracterizando desta forma o material
do escorial citado
Fig 60 ESCOacuteRIA RESTOS DE FUNDICcedilAtildeO AacuteREA E
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
Observe-se que a presenccedila do metal de ferro impregnado nessa escoacuteria
era resultante da teacutecnica de fundiccedilatildeo para fabricaccedilatildeo do ferro empregada no
Brasil ateacute o iniacutecio do seacuteculo XIX Com a introduccedilatildeo do processo de altos-fornos no
Brasil foi possiacutevel melhorar o aproveitamento do mineacuterio de ferro durante o
processo de fundiccedilatildeo
Nesta mesma aacuterea E foi encontrada uma grande quantidade de telhas
localizadas na parte externa das aacutereas ldquoBrdquo e ldquoCrdquo anteriormente descritas Foram
coletadas 930 fragmentos de telhas as quais foram localizadas ao longo de uma
faixa do terreno com largura da ordem de 060 e 080 cm paralelamente a parede
sul das aacutereas ldquoBrdquo e ldquoCrdquo sugerindo corresponder a mesma posiccedilatildeo sob um ldquobeiral
do telheiro que cobria as respectivas aacutereasrdquo (ANDREATTA 1987 p36v) (Anexo
15)
152
As telhas encontradas permitem afirmar que no local havia uma cobertura
sendo que os trabalhos de dataccedilatildeo sobre um exemplar de telha (Figura 61)
executado pelo meacutetodo de termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e
Dataccedilatildeo da Faculdade de Tecnologia de Satildeo Paulo ndash FATEC acusou uma
dataccedilatildeo (em anos) de 280 +- 40 o que equivale a afirmar que aquele fragmento
foi fabricado entre os anos de 1686 a 1766 periacuteodo correspondente a pelo
menos dois projetos de Faacutebrica de Ferro para aquele local o de Luiz Lopes de
Carvalho e o de Domingos Pereira Ferreira sendo que este uacuteltimo empreendedor
esteve ali estabelecido durante um periacuteodo de no miacutenimo 12 anos (Relatoacuterio de
Ensaio Anexo 1)
A partir dos exames dos fragmentos das telhas encontradas tendo por
base o tipo de pasta coloraccedilatildeo e decoraccedilatildeo foi possiacutevel identificar seis grupos
distintos daquele material conforme a tabela de classificaccedilatildeo abaixo
(ANDREATTA 1987 p21)
Classificaccedilatildeo Caracteriacutestica
Tipo I Branca com riscos (podem ter sentido
longitudinal transversal em X ou em cruz) -
Predominante
Tipo II Branca lisa
Tipo III Vermelha lisa
Tipo IV Marron lisa
Tipo V Vermelha marcadas com granulaccedilatildeo grosseira
Tipo VI Vermelha lisa e com granulaccedilatildeo grosseira
(ANDREATTA 1987 p22)
Quanto a decoraccedilatildeo foram identificados quatro tipos de motivos conforme
os itens descritos abaixo
153
Tipo 1 - linhas digitais horizontais formados por duas linhas relativamente finas
(10 cm) paralelas e orientadas de uma extremidade a outra da telha A natureza
dessas linhas indica que foram confeccionadas em alguns casos por meio da
utilizaccedilatildeo de dedos (indicador e meacutedio)
Tipo 2 - linhas digitais associadas neste caso a decoraccedilatildeo eacute composta por uma
uacutenica linha com a largura de 03 a 05 cm traccedilada na posiccedilatildeo horizontal associada
a uma outra decoraccedilatildeo de forma semicircular
Tipo 3 - linhas digitais paralelas e inclinadas a decoraccedilatildeo apresenta linhas de 10
cm inclinadas e entrelaccediladas
Tipo 4 - linhas digitais inclinadas apresentam linhas com 10 a 15 cm
154
Fig 61 TELHA (AacuteREA E) ndash SEacuteCULO XVIII Idade 280 +- 40 (tn 255 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
155
Fig 62 TELHA (AacuteREA E) (tn30 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
Fig 63 TELHA AacuteREA E (tn 33 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
156
531 Fornos de fundiccedilatildeo na aacuterea externa da Faacutebrica (Aacuterea A1) Na aacuterea externa agrave Faacutebrica de Ferro localizada em diversas posiccedilotildees ao sul
e leste da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro inclusive na aacuterea aqui denominada de
escorial a pesquisa arqueoloacutegica mostrou a existecircncia de pequenos fornos de
fundiccedilatildeo do tipo ldquofornos baixosrdquo (Anexo 9)
Nessa mesma aacuterea junto ao local denominado ldquoArdquo foi identificado um dos
fornos de fundiccedilatildeo o qual foi denominado de ldquoforno1rdquo da aacuterea A1 junto ao qual
foram encontrados diversos materiais arqueoloacutegicos fragmento de ceracircmicas um
material liacutetico identificado como ldquoraspadorrdquo uma garrafa de greacutes fragmentos de
faianccedila portuguesa e telhas As evidecircncias de ceracircmicas encontradas nessa aacuterea
constituem artefatos relacionados ao grupo social de ocupaccedilatildeo colonial
Fig 64 RASPADOR PLANO-CONVEXO AacuteREA E
157
Fig 65 GARRAFA GRES AacuteREA A FORNO-1
Tambeacutem foi localizado um afloramento de rocha nas proximidades da
Faacutebrica margem esquerda do ribeiratildeo do Ferro o qual apresentava marcas de
uso possivelmente para afiar ferramentas (ANDREATTA 1983 p 18)
5311 Forno de Fundiccedilatildeo 1
O Forno 1 era do tipo conhecido como ldquoforno baixordquo sendo o uacutenico
encontrado junto a Faacutebrica de Ferro Entretanto dois outros fornos baixos foram
localizados em um local mais distante (da ordem de 50m) e denominado aacuterea A2
da referida Faacutebrica possivelmente fazendo parte de um outro conjunto de
produccedilatildeo de ferro (Anexo 9)
Os trabalhos de reconhecimento arqueoloacutegico mostraram que o Forno 1
(aacuterea A1) foi construiacutedo sobre uma base retangular com blocos de arenito sendo
158
que duas paredes foram erguidas tambeacutem com blocos de arenito (lados Norte e
Oeste ) enquanto que as duas outras faces foram encaixadas no proacuteprio terreno
rochoso do afloramento de arenito (lados Sul e Leste) aproveitando o relevo
inclinado no local
Uma descriccedilatildeo relacionada ao Forno 1 (aacuterea A1) feita pela pesquisadora e
arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta informa que
uma parte da ldquoconcavidaderdquo (lado Leste) eacute o proacuteprio afloramento
de arenito e o lado Sul tambeacutem enquanto que os lados Norte e
Oeste satildeo revestidos de blocos de arenito e no centro haacute
pequenos blocos tambeacutem de arenito que provavelmente rolaram
da superfiacutecie do proacuteprio muro de pedras da forja (ANDREATTA
1986 p9)
Os dados da pesquisa arqueoloacutegica mostraram ainda que o Forno 1 (aacuterea
A1) apresentava em planta as seguintes dimensotildees comprimento 340m (norte-
sul) largura 260m (leste ndash oeste) e profundidade de 085m (Andreatta 1986
p10)
Fig 66 DECAPAGEM FORNO1 AacuteREA A1 1987
159
Fig 67 VESTIacuteGIOS DO FORNO DE FUNDICcedilAtildeO1- (AacuteREA A1)89
532 Fornos de fundiccedilatildeo da Aacuterea A2 A pesquisa arqueoloacutegica mostrou vestiacutegios de dois outros fornos de
fundiccedilatildeo localizados subjacentes a um morrote denominado B nesta aacuterea A2 a
qual dista cerca de 50 metros ao Sul do local da aacuterea A1 onde existe uma ruiacutena
da Faacutebrica de Ferro O morrote B (ver Figuras 13 e 68) apresentava dimensotildees
de 1280 metros de comprimento por 250m de largura e 135 m altura Aleacutem do
forno de fundiccedilatildeo foram encontrados tijolos telhas e fragmentos de ceracircmica
(ANDREATTA 1987 p65-66) ( Anexo 9)
89 Ver em Pesquisas arqueoloacutegica prosseguem em Ipanema Jornal Cruzeiro do Sul Sorocaba 19 de marccedilo de 1987p 1
160
Fig 68 MORROTE E FORNOS 1 E 2 ndash AREA A2
161
Fig 69 CROQUI AacuteREA A 2 MORROTE B ndash FORNOS 1 E 2 Desenho de Maacutercia Gutierrez Escala 120
162
5321 Forno de fundiccedilatildeo 1 (aacuterea A2) O forno de fundiccedilatildeo 1 da aacuterea A2 caracteriza-se tambeacutem como do tipo
baixo Durante a pesquisa arqueoloacutegica esta evidecircncia se apresentou como o
forno de fundiccedilatildeo mais bem conservado dentre aqueles encontrados Este forno
tem a forma circular com 070 m de diacircmetro interno e 100 m de diacircmetro
externo com 030 m de profundidade A estrutura apresenta na base um vatildeo de
015 m que corresponde agrave abertura atraveacutes da qual se fazia a ldquocorrida das
escoacuteriasrdquo (Figuras 70 e 71)
A parede circular do Forno 1 (aacuterea A2) eacute ldquo assentada diretamente sobre o
solo e eacute constituiacuteda por tijolos e fragmentos de telhas e argamassa com argila do
proacuteprio solo originalrdquo (ANDREATTA 1987 p65-66) Junto ao vatildeo existente no
piso do forno foi feito um pequeno corte (025 m X 025 m X 010 m) para
evidenciar com maior precisatildeo a funccedilatildeo que teria aquela abertura em relaccedilatildeo agrave
estrutura do forno de fundiccedilatildeo
Com base nas investigaccedilotildees arqueoloacutegicas desenvolvidas foi possiacutevel
evidenciar a existecircncia de uma camada de 002 m de ldquosolo compactado e
queimado e com maior resistecircncia em relaccedilatildeo do restante do solo original abaixo
dele e do entornordquo( (ANDREATTA 1987 p65-66) comprovando que de fato
aquela abertura correspondia ao orifiacutecio responsaacutevel pela drenagem das escoacuterias
Esta abertura era comum a todos os fornos de fundiccedilatildeo do tipo forno baixo com
emprego do meacutetodo direto
163
Fig 70 VESTIacuteGIOS DE FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 1- AacuteREA A2 1988
164
Fig 71 CROQUI DO FORNO 1 AacuteREA A2 (1987) Desenho de Marcia Gutierrez
165
5322 Forno de fundiccedilatildeo 2 (aacuterea A2)
O vestiacutegio arqueoloacutegico do Forno 2 foi encontrado a 045 m de
profundidade correspondendo a um forno do tipo baixo apresentando forma
circular construiacutedo com a utilizaccedilatildeo de telhas e ldquotijolosrdquo os quais eram materiais
diferentes daqueles encontrados em outras evidecircncias de fornos neste Sitio Esta
constataccedilatildeo denota que natildeo havia uma regra determinada para a construccedilatildeo de
fornos no que se refere agrave utilizaccedilatildeo de materiais de construccedilatildeo podendo haver
alternativas de uso de outros materiais conforme a disponibilidade de materiais
no local (Figuras 72 73 e 74)
Os registros do trabalho arqueoloacutegico permitiram evidenciar que o Forno 2
apresentava as seguintes dimensotildeesldquodiacircmetro de 110 m com uma borda de 28
cm de largura com a presenccedila de fragmentos de telhas tijolos e argamassa
(latossolo vermelho)rdquo ldquoDo interior do forno foram retiradas telhas (fragmentos)
em quantidade e tijolos e barro cozido com grande presenccedila de mineacuterio de ferrordquo
(ANDREATTA 1987 p65-66)
Quanto ao barro cozido (argila) encontrado no interior desse forno teria
sido provavelmente resto de um revestimento interno jaacute que o material do qual
ele foi construiacutedo (telhas e tijolos) estava disposto de forma bastante irregular A
utilizaccedilatildeo da argila como revestimento nos fornos de fundiccedilatildeo era muito comum
dando um efeito refrataacuterio ao forno fazendo com que natildeo fosse desperdiccedilada a
temperatura elevada que era proporcionada pela combustatildeo do carvatildeo vegetal no
interior do forno e necessaacuteria para separar o metal de ferro do mineacuterio no caso a
Magnetita
166
Fig 72 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988
Fig 73 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988
167
Fig 74 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988
168
CAPITULO 6
INTERPRETACcedilOtildeES DOS DADOS ARQUEOLOacuteGICOS
No Capiacutetulo 5 foram apresentados os resultados da pesquisa arqueoloacutegica
desenvolvida no Siacutetio Afonso Sardinha que envolveram trabalhos de
reconhecimento de campo segundo planos de escavaccedilatildeo coleta de artefatos
levantamentos planialtimeacutetricos e elaboraccedilatildeo de croquis tudo devidamente
registrado no Diaacuterio de Campo da arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta
No presente Capiacutetulo apresentam-se os resultados das anaacutelises detalhadas
dos registros arqueoloacutegicos que resultaram da pesquisa de campo e em seguida
interpretadas as informaccedilotildees anteriormente consolidadas com base nos
conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia
Na elaboraccedilatildeo da siacutentese interpretativa foi necessaacuterio em
complementaccedilatildeo valer-se de instrumentos disponiacuteveis em outras aacutereas do
conhecimento tais como Geologia Mineralogia Metalurgia Engenharia Civil
dentre outras aacutereas
Nesta fase dos estudos arqueoloacutegicos foram elaborados exames visuais e
catalograacuteficos visando a dataccedilatildeo relativa inclusive com o envio de imagem para
fins de comprovaccedilatildeo para Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do
Infante Porto ndash Portugal
Tambeacutem encaminhadas trecircs amostras de ceracircmica de utensiacutelios e telhas
as quais foram submetidas a testes de dataccedilatildeo absoluta com base em ensaios
de Termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade de
Tecnologia de Satildeo Paulo ndash FATEC sob a coordenaccedilatildeo da Professora Doutora
Sonia H Tatumi (Relatoacuterio de Ensaio Anexo 1)
169
Por outro lado amostras de resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias) foram
submetidas a anaacutelise quiacutemica-mineraloacutegica no laboratoacuterio do Departamento de
Mineralogia e Geotectocircnica ndash GMG Instituto de Geociecircncias da Universidade de
Satildeo Paulo sob a responsabilidade do pesquisador e Professor Associado Daniel
Atencio
61 Avaliaccedilatildeo das caracteriacutesticas do Arranjo das Estruturas Ao analisarmos o conjunto das estruturas arqueoloacutegicas entatildeo
descobertas considerando o contexto relacionado agrave produccedilatildeo do ferro na Europa
entre os seacuteculos XVI ao XVIII e levando em conta os conhecimentos que emanam
da Histoacuteria Colonial do Brasil e da Histoacuteria da Teacutecnica eacute possiacutevel estabelecer
muitas semelhanccedilas entre os arranjos das ldquoferrariacuteas de aacuteguardquo destinadas a
produccedilatildeo de ferro na Espanha (Paiacutes Basco) e os vestiacutegios descobertos no vale
das Furnas (Sitio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha)
Um dos aspectos mais importantes que demonstram tal semelhanccedila entre
as ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo e a Faacutebrica do Vale das Furnas refere-se agrave localizaccedilatildeo das
estruturas numa posiccedilatildeo de curva do ribeiratildeo do Ferro de onde era possiacutevel
captar e desviar as aacuteguas mediante a construccedilatildeo de um sistema hidraacuteulico
formado pelas seguintes unidades (a) Dique para represamento do ribeiratildeo (b)
Canal de Derivaccedilatildeo para desvio das aacuteguas (c) Estrutura de Vala com alojamento
de roda drsquoaacutegua e (d) Canal de restituiccedilatildeo das aacuteguas para o ribeiratildeo do Ferro
Tambeacutem chamam a atenccedilatildeo a arquitetura da principal estrutura construiacuteda
localizada na aacuterea A1 a qual mostra diversos recintos com a divisatildeo
caracteriacutestica das ldquoferreriacuteasrdquo encontradas na Espanha nos seacuteculos XVI assim
como as dimensotildees da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro construiacuteda numa aacuterea
retangular com 13m de largura por 16 m de comprimento No caso das ldquoferreriacuteasrdquo
170
bascas as edificaccedilotildees satildeo igualmente retangulares com as dimensotildees de 12 m de
largura por 17 metros de comprimento
Vale tambeacutem mencionar que arranjo semelhante pode ser observado no
caso da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro que entrou em operaccedilatildeo
em 1607 (ver fig 27)
Observa-se tambeacutem o emprego da alvenaria de pedra - teacutecnica construtiva
introduzida no Brasil pelos primeiros colonizadores como no caso da construccedilatildeo
da Casa da Torre de Garcia DrsquoAvila (ano de 1549) na Praia do Forte atual
municiacutepio de Mata de Satildeo Joatildeo Litoral Norte da Bahia (HOLANDA 2002)
Essa mesma teacutecnica exceto pequenas variaccedilotildees respeitavam as tradiccedilotildees
ibeacutericas tendo sido empregada no Brasil tambeacutem para construccedilotildees de
residecircncias edifiacutecios puacuteblicos igrejas e fortificaccedilotildees principalmente no litoral As
paredes feitas de pedra eram entatildeo revestidas com argamassa de areia e cal
obtido pela queima de cascas de ostras encontradas em depoacutesitos no litoral
Nota-se conforme registros das Atas da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo para o ano
de 1609 que essa mesma teacutecnica que se utilizava da cal como argamassa
tambeacutem foi utilizada na construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro (1607)
(NEME 1959 p 348)
62 As ldquoferreriacuteasrdquo de aacutegua na Peniacutensula Ibeacuterica
Na Europa e principalmente na Espanha as ldquoferreriacuteas de aguardquo se
expandiram a partir do seacuteculo XIV90 Assim eram chamados os edifiacutecios
destinados ao trabalho de fundiccedilatildeo do ferro que utilizavam a forccedila motriz
hidraacuteulica para acionar os foles dos fornos de fundiccedilatildeo e os malhos
90 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponiacutevel em lthttpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablesPrimitivas_instalcionespdfgt Acesso em 30 mar 05
171
Essas ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo para viabilizar o seu funcionamento exigiam
certas condiccedilotildees fisiograacuteficas cujos componentes essenciais satildeo a presenccedila do
mineacuterio de ferro nas proximidades madeiras para produccedilatildeo de carvatildeo e cursos
drsquoagua com corredeiras e volume de aacuteguas suficientes para a geraccedilatildeo de forccedila
motriz
Hubo dos tipos de ferreriacuteas de agua las que se valiacutean del caudal
de los rios que funcionaban todo el antildeo y las que dependiacutean de
arroyos que no entraban em funcionamiento hasta las
temporadas de otontildeo e invierno cuando la lluviacuteas incrementaban
el caudal de los regatos y la fuerza del agua Estas uacutetimas no
llegaron a ser consideradas como autenticas ferreriacuteas de agua
Em Biskaia se disignaba a las primeras como ldquode rio caudalrdquo y a
las segundas como ldquoregaterasrdquo Tambieacuten em Gipuzkoa se
diferenciaban unas de otras com los nombres de ldquozeharrolakrdquo y
ldquoagorrolakrdquo respectivamente
Para aprovechar la fuerza del agua era imprescidible que la
ferreriacutea estuviesse construiacuteda em el lugar adecuado Debiacutea estar
situada em la curva de um rio em um lugar em el que fuese faacutecil
desviar el agua de su curso natural a traveacutes de um sistema de
canales y anteparas para que despueacutes de hacer rotar la rueda
hidaulica pudiesse volver a su cauce naturalCuando no era
posible conseguir esta situacioacuten se recurriacutea a crear um sistema
artificial de presas que contuviesen el agua em um niacutevel maacutes
elevado de forma que para mover las ruedas hidraacuteulicas bastaba
com dejar caer la aacutegua sobre ellas 91
91 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponiacutevel em lthttpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablesPrimitivas_instalcionespdfgt
172
Fig 75 ASPECTO DE UMA ldquoFERRERIacuteA DE AGUArdquo SEacuteCULO XVII92
92 Felipe III visita la ferreriacutea de Yarza en Beasain (Guipuacutezcoa) en 02 noviembre de 1615
173
As plantas das ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo encontradas na regiatildeo basca da
Espanha obedeciam a um arranjo de planta retangular medindo em meacutedia 12 X
17 metros com cobertura de duas aacuteguas sendo que suas dependecircncias e
instalaccedilotildees geralmente compreendiam duas estruturas baacutesicas para a produccedilatildeo
de ferro o sistema hidraacuteulico ao qual jaacute se fez referecircncia e o edifiacutecio de
produccedilatildeo
A construccedilatildeo desse edifiacutecio principal era executada por construtores
especializados em teacutecnicas de edificaccedilotildees em alvenaria de pedra bem como na
instalaccedilatildeo de sistemas hidraacuteulicos exigindo a participaccedilatildeo de carpinteiros os
quais seriam os responsaacuteveis pela construccedilatildeo da roda drsquoaacutegua dos eixos da caixa
de aacutegua e das estruturas para o telhado 93
Para a operaccedilatildeo das ldquoferreriacuteasrdquo era necessaacuterio contar com pessoal teacutecnico
com conhecimentos tanto em mineraccedilatildeo quanto na fundiccedilatildeo bem como no
manejo dos dispositivos de utilizaccedilatildeo da energia das aacuteguas dos rios atraveacutes do
sistema hidraacuteulico
Este edifiacutecio destinado a produccedilatildeo abrigava diversos compartimentos
sendo o maior deles reservado agrave oficina a qual deveria se localizar ao lado da
Vala onde estava instalada a roda drsquoaacutegua que acionavam os eixos responsaacuteveis
pela movimentaccedilatildeo do malho e foles
O espaccedilo destinado agrave oficina era organizado de modo a levar em conta
duas unidades fundamentais de produccedilatildeo do ferro o forno de fundiccedilatildeo e o malho
A disposiccedilatildeo desses equipamentos no interior da oficina natildeo era aleatoacuteria uma
vez que a teacutecnica empregada para a fabricaccedilatildeo do ferro exigia que aqueles
Disponivel em lthttpwwweuskomediaorgeuskomediaSAunandigt Acesso em 20 marccedilo 2005 93 FERNANDEZA C La construccioacuten del hierro ndashmazos y ferreriacuteas Escuela Universitaacuteria de Arquitectos tecnicos de la Corunatilde Disponiacutevel em wwwguillenderohancomEXPOGRImzos-memoriahtm Acesso em 07mar06
174
equipamentos estivessem posicionados nas proximidades tendo em vista o fato
de os trabalhos serem complementares
Aleacutem da oficina o edifiacutecio principal deveria abrigar depoacutesitos de mateacuteria-
prima como carvatildeo vegetal e mineacuterio de ferro jaacute calcinado (tostado) e uma aacuterea
comum de descanso
Fig 76 SISTEMA DE ldquoPUJOacuteN TUERTOrdquo foles e malho satildeo acionados com o emprego de uma uacutenica roda hidraacuteulica94
94 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponivel emhttpwwwbizkaianetKulturaKirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablePrimitivas_instalacionespdf Acesso em 17 novembro de 2006
175
Fig 77 TRABALHO DE EXTRACcedilAtildeO DA MASSA DE FERRO 63 Sistema hidraacuteulico produccedilatildeo da forccedila motriz 631 Dique de represamento do ribeiratildeo do Ferro
As investigaccedilotildees de campo natildeo possibilitaram localizar o Dique de
represamento do ribeiratildeo do Ferro possivelmente em razatildeo da fragilidade dessas
estruturas diante da forccedila das aacuteguas
Entretanto vale registrar o testemunho de Luiz Lopes de Carvalho o qual
em carta dirigida ao Rei de Portugal em maio de 1692 afirmava que
por experiecircncia que fiz pelas minhas matildeos pois fabricando um
Engenho muito limitado por natildeo ter posses que mais tirava todos
os dias este rendimento de um quintal de ferro de duas pedras
176
poreacutem soacute cinco dias continuei nesta oficina em razatildeo de ir uma
cheia e como pela pobreza afabriquei com pouca fortaleza se
arruinou ficando incapaz de poder continuar na faacutebrica95
632 Canal de Derivaccedilatildeo das aacuteguas
As condiccedilotildees de erosatildeo na aacuterea do possiacutevel traccedilado tambeacutem natildeo
permitiram localizar a estrutura do dique responsaacutevel pelo desvio das aacuteguas no
ribeiratildeo do Ferro bem como localizar a comporta responsaacutevel pelo controle do
acesso de aacuteguas em direccedilatildeo ao canal
Deve-se ressaltar que a estrutura do dique eacute necessaacuteria para a elevaccedilatildeo
do niacutevel da aacutegua do ribeiratildeo para o desvio enquanto que a comporta permitiria
regular a vazatildeo em direccedilatildeo ao Canal de Derivaccedilatildeo A aacutegua conduzida atraveacutes do
deste Canal de derivaccedilatildeo impulsionada pela gravidade alcanccedilaria a entrada da
Vala sendo em seguida recolhida em um depoacutesito posicionado sobre aquela
estrutura
A Figura 78 mostra um possiacutevel traccedilado do referido canal sendo que no
desenho o iniacutecio do canal foi posicionado num ponto do ribeiratildeo acima da cota
583m conforme o levantamento planialtimeacutetrico executado na aacuterea do Siacutetio
Arqueoloacutegico Afonso Sardinha96
95 Carta enviada por Luiz Lopes de Carvalho ao Rei de Portugal datada de maio de 1692 RODRIGUES Leda Maria Pereira As minas de ferro em Biraccediloiaba ndash Satildeo Paulo seacuteculos XVI XVII XVIII Anais do III Simpoacutesio dos Professores Universitaacuterios de Histoacuteria Franca 1966 p 218 96 Planta Planialtimeacutetrica Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha Escala 1200 CENEA sd
177
Fig 78 TRACcedilADO ESQUEMAacuteTICO DO CANAL DE DERIVACcedilAtildeO
633 Vala da roda A finalidade da estrutura da Vala eacute a de abrigar a roda drsquoaacutegua dispositivo
necessaacuterio para transformar a energia hidraacuteulica em energia mecacircnica para
movimentar os equipamentos e ferramentas da Faacutebrica de Ferro
A Vala da roda foi construiacuteda com paredes de blocos de pedras de modo a
permitir o fluxo da correnteza e ao mesmo tempo proteger o terreno contra as
erosotildees impedindo as infiltraccedilotildees das aacuteguas para o interior das dependecircncias da
Edificaccedilatildeo Principal
O fato de natildeo terem sido encontrados fragmentos de telhas no interior da
Vala quando foram realizadas as pesquisas arqueoloacutegicas parecem indicar que
178
os esteios natildeo serviam para sustentar telhado Por outro lado a Histoacuteria da
Teacutecnica mostra que outras instalaccedilotildees da mesma eacutepoca destinadas a produccedilatildeo
da energia hidraacuteulica tambeacutem natildeo apresentavam telhado na aacuterea da Vala
Sendo assim sobram duas hipoacuteteses para explicar a existecircncia daqueles
esteios A primeira hipoacutetese eacute que tais esteios serviriam para sustentar uma calha
de madeira com uma extensatildeo da ordem de 12 metros responsaacutevel pela
conduccedilatildeo e descarga da aacutegua diretamente sobre as paacutes da roda valendo-se de
um dispositivo denominado empejeiro ou pejador que servia para o controle da
quantidade de aacutegua descarregada sobre a roda (KATINSKY 1985 p 230)
Outra possibilidade eacute que os esteios sustentavam um reservatoacuterio de aacutegua
- o ldquobanzaordquo - responsaacutevel pelo repouso do liacutequido de modo a garantir a sua
descarga controlada sobre as paacutes da roda conforme os projetos comumente
encontrados nas construccedilotildees das ldquoferreriacuteas de aguardquo da regiatildeo Basca - Espanha
(Figura 79)
A laje de pedra do fundo da Vala mostra forte declividade da Vala sendo
que na extremidade superior (coincidente com o ponto de interligaccedilatildeo com o
Canal de Derivaccedilatildeo) a cota eacute igual a 453 enquanto que na extremidade inferior
junto a margem do ribeiratildeo do Ferro a cota do terreno eacute igual a 041 Sendo
assim o desniacutevel total eacute de 412 metros na extensatildeo total da Vala igual a 19
metros ou seja cerca de 20
Outra observaccedilatildeo importante eacute que o niacutevel do fundo da Vala no ponto
meacutedio da sua extensatildeo seria igual a 230 m mostrando nesta posiccedilatildeo desniacutevel de
cerca de 2 metros abaixo do provaacutevel niacutevel da Faacutebrica (cota aproximada 450 m)
revelando a possibilidade de alojamento da roda drsquoaacutegua a partir desta mesma
posiccedilatildeo
O desenho do arranjo do sistema hidraacuteulico encontrado no Sitio Sardinha
mostra semelhanccedilas claras com o arranjo que caracterizam as ferreriacuteas bascas
179
O exame do conjunto das estruturas mostram que a construccedilatildeo tirou partido da
declividade do terreno para aproveitamento da forccedila da gravidade aplicada ao
processo da produccedilatildeo do ferro
634 A Caixa de Aacutegua - ldquoBanzaordquo O ldquobanzaordquo era uma caixa de aacutegua com volume adequado para garantir o
repouso da aacutegua instalado acima do niacutevel da Vala em uma posiccedilatildeo diretamente
sobre a roda A instalaccedilatildeo dessas caixas tinha por objetivo garantir uma altura da
queda drsquoaacutegua necessaacuteria para impulsionar a roda e ao mesmo tempo armazenar
um volume de aacutegua adequado para direcionar o jato diretamente sobre as paacutes
da roda com uma pressatildeo constante de modo a resultar o movimento uniforme
para a rotaccedilatildeo da roda
Os rdquobanzaosrdquo mais ruacutesticos e antigos eram feitos de madeira material que
criava vaacuterios problemas de manutenccedilatildeo fato que levou agrave substituiccedilatildeo desse
material a partir do seacuteculo XVIII por alvenaria de pedra
O acionamento da roda se dava por meio de uma espeacutecie de vara
localizada no interior da Faacutebrica a qual permitia regular a quantidade de aacutegua
descarregada sobre a roda Elena Faus descreve esse funcionamento da
seguinte forma
El paso del aacutegua a la rueda se abre o cierra por meacutedio de
tanpones o ldquochimbosrdquo Cuando los operaacuterios los abren salta y
golpea directamente las palas de la rueda instalada debajo
provocando su giro Con el fin de evitar peacuterdidas de liacutequido y
maximizar su rendimiento se antildeade un canal ldquoguzur-askardquo que lo
conduce directamente sobre la rueda Posteriormente se evacua
por un aliviadero la ldquoonda-askardquo (FAUS 2000 p 63)
180
Contudo mesmo apostando na hipoacutetese de que haveria um ldquobanzaordquo
acima da Vala encontrada torna-se difiacutecil estabelecer a sua dimensatildeo e volume
Mas as evidecircncias encontradas sugerem que esta caixa de aacutegua deveria ter no
maacuteximo 12 metros de comprimento (medidos a partir do inicio do canal ateacute o
uacuteltimo vestiacutegio de esteio) por aproximadamente 225 m (largura da vala)
restando indefinida a medida da altura da caixa
Fig 79 SOLUCcedilAtildeO EM ldquoBANZAOrdquo DE MADEIRA ndash DEPOacuteSITO DE AacuteGUA97
97 LAS FERRERIacuteAS DE AGUA DE ASTURIAS Disponivel em ltwwwbelmontedemirandanetfraguaindexhtmgt Acesso em 20jun05
181
635 A roda hidraacuteulica
Em 1983 quando foram iniciadas as pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio
Afonso Sardinha a Vala destinada agrave instalaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua jaacute havia sido
identificada Contudo eacute somente em 1986 que as pesquisas se concentraram na
aacuterea daquela Vala Graccedilas ao fato de esta estrutura ter permanecido enterrada a
mesma ficou preservada possibilitando avaliar a sua funccedilatildeo e o fato de que o
local deveria ter sido destinado agrave instalaccedilatildeo de uma roda hidraacuteulica vertical com
eixo horizontal (Figura 79)
A utilizaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua para os trabalhos metaluacutergicos natildeo era
novidade para os empreendimentos dessa natureza pois a teacutecnica aplicada para
a construccedilatildeo desse tipo de Faacutebrica jaacute era bastante difundida entre os artesatildeos da
Idade Meacutedia os quais buscaram adaptar as ferramentas utilizadas no trabalho da
produccedilatildeo de ferro (por exemplo foles e malhos) de modo a permitir a sua
movimentaccedilatildeo atraveacutes da forccedila obtida das rodas drsquoaacutegua
Em 1104 os ldquomoinhos para bater o ferrordquo jaacute eram encontrados nos Pirineus
espanhoacuteis Gille os descreve da seguinte forma
as forjas que anteriormente eram acionadas a braccedilos e que
itinerantes deslocavam-se agrave procura dos fornos-baixos a
procura de mateacuteria prima e do combustiacutevel a partir de entatildeo se
estabelecem permanentemente ao longo dos rios (GILLE Apud
GAMA 1985 p 133)
Entre os seacuteculos XIV e XV surgiram no paiacutes basco adaptaccedilotildees da roda
hidraacuteulica para acionar os ldquosoprantesrdquo - os foles - (instrumentos utilizados para
insuflar oxigecircnio para dentro dos fornos) possibilitando intensificar a combustatildeo
do carvatildeo vegetal de modo a elevar a temperatura no interior do forno No paiacutes
basco o martelo hidraacuteulico jaacute havia sido incorporado agravequela atividade desde o
seacuteculo XV em Gipuzkoa e desde o seacuteculo XVI em Biskaia ambas localizadas na
182
regiatildeo basca Em 1531 operavam em ambas as regiotildees cerca de 200
estabelecimentos utilizando essa teacutecnica (FAUS 2000 p 60)
Fig 80 ldquoLOCALIZACcedilAtildeOrdquo DO MALHO E DA RODA HIDRAUacuteLICA (INTERPRETACcedilAtildeO) (Desenho Agnaldo Zequini)
183
6 4 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo
O local onde se encontra instalada a Faacutebrica de Ferro do Sitio Arqueoloacutegico
Afonso Sardinha oferece todas as condiccedilotildees fisiograacuteficas favoraacuteveis para a
instalaccedilatildeo daquele empreendimento De fato o conjunto se encontra
praticamente na aacuterea das jazidas de mineacuterios de ferro junto a um ribeiratildeo com
quantidade de aacuteguas satisfatoacuterias para o caso de produccedilatildeo do ferro relativamente
pequena como deveria ser o caso da instalaccedilatildeo existente no morro de Araccediloiaba
Outro fator decisivo para a produccedilatildeo de ferro era a presenccedila de matas com
abundacircncia de madeiras A esse respeito segundo uma descriccedilatildeo do Vale das
Furnas apresentada no decorrer de 1692 por Luiz Lopes de Carvalho (um dos
que investiram na construccedilatildeo de Faacutebrica de Ferro naquele local) o mesmo
lastimava o fato de ter que reduzir os ldquodensos arvoredos em que se achatildeo paos
Reais e madeirasrdquo em carvatildeo o uacutenico combustiacutevel utilizado nos processos de
fundiccedilatildeo de ferro (RODRIGUES 1963 p 203)
O mesmo Luiz Lopes de Carvalho testemunhava naquele mesmo ano que
aquele morro estava coberto ldquode mineral de ferro de meuda aacuterea athe pedras de
des a Robas e mui dilatadas betas [veios] Profundas Largas e Compridasrdquo
esclarecendo que o mineacuterio ao ser submetido ao processo de reduccedilatildeo tinha um
rendimento de dois para um ldquoa cada douz quintais de pedra se tira hum de ferrordquo
(RODRIGUES 1966 p 204)
641 A Oficina da Faacutebrica de Ferro
A planta da Faacutebrica de Ferro encontrada com dimensotildees de 13m X 16m
permite identificar as provaacuteveis posiccedilotildees de cada uma das unidades de produccedilatildeo
184
necessaacuterias agrave fabricaccedilatildeo do ferro quais sejam o espaccedilo destinado a oficina e a
forja
No caso da construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro do Sitio Afonso Sardinha eacute
possiacutevel identificar a aacuterea destinada a oficina onde deveriam ficar instalados os
equipamentos do forno de fundiccedilatildeo e foles e do malho Nessa planta a aacuterea estaacute
identificada pelas letras C e F (Anexo 9)
Fig81 FAacuteBRICA DE FERRO DO SITIO AFONSO SARDINHA ARRANJO DOS EQUIPAMENTOS (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)
185
Fig 82 FAacuteBRICA DE FERRO PLANTA BAIXA (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)
Contudo entre os anos de 1986-1987 quando foram aprofundadas
as pesquisas arqueoloacutegicas naquelas aacutereas por meio de decapagem e abertura
de trincheiras natildeo foram encontrados vestiacutegios materiais que permitissem
identificar os locais dentro da oficina onde estariam instalados os fornos e o
malho como tambeacutem nenhum resiacuteduo testemunho da produccedilatildeo de ferro
Diante dessa constataccedilatildeo podemos levantar pelo menos duas hipoacuteteses
de interpretaccedilatildeo Uma delas estaacute relacionada agrave proacutepria natureza daquele siacutetio o
qual ao longo dos seacuteculos sofreu vaacuterias intervenccedilotildees antroacutepicas que poderiam
186
provocar algumas perturbaccedilotildees no registro arqueoloacutegico colaborando dessa
forma para o desaparecimento das evidecircncias
A segunda hipoacutetese decorre do fato de que os exames das condiccedilotildees de
superfiacutecie do terreno na parte da edificaccedilatildeo identificada como ldquoCrdquo (Oficina)
apresentam indiacutecios de antigas erosotildees decorrentes da presenccedila do ribeiratildeo do
Ferro Tal interpretaccedilatildeo permitia concluir que as enchentes do ribeiratildeo do Ferro
seriam responsaacuteveis pela pequena quantidade de artefatos arqueoloacutegicos
naquela aacuterea (Figura 81)
A figura abaixo apresenta um corte do terreno na provaacutevel aacuterea da Oficina
mostrando irregularidade na superfiacutecie do piso possivelmente decorrente de
erosotildees junto a margem do ribeiratildeo do Ferro provocadas pelas enchentes
187
Fig 83 INDICACcedilAtildeO DA POSSIacuteVEL AacuteREA ERODIDA PELAS ENCHENTES ndash AREA C ndash (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)
188
6411 O Malho O malho era um instrumento imprescindiacutevel para o processo de produccedilatildeo
do ferro pelo denominado meacutetodo direto Essa ferramenta possuiacutea um longo
braccedilo de madeira que media cerca de trecircs a quatro metros de comprimento e
funcionava como alavanca com apoio intermediaacuterio Uma das extremidades do
braccedilo dessa alavanca funcionava como um martelo e apresentava na
extremidade uma cabeccedila de ferro ndash o malho ndash que dava o nome ao equipamento
Em outra extremidade havia um dispositivo que permitia transformar o movimento
de rotaccedilatildeo da roda em deslocamento vertical oscilante do braccedilo permitindo
assim que o malho golpeasse a ldquobola de ferrordquo que ficava apoiada em uma
bigorna
Ao golpear a ldquobola de ferrordquo denominaccedilatildeo dada ao produto retirado do
interior do forno de fundiccedilatildeo esta operaccedilatildeo perseguia trecircs objetivos importantes
eliminar as escoacuterias que ainda permaneciam aderidas a bola de ferro compactar
aquela massa e finalmente dar forma de barra ou lingote que era o produto final
para a comercializaccedilatildeo
A operaccedilatildeo desse martelo com funcionamento hidraacuteulico eacute descrito em um
texto informativo publicado pela Universidade de Oviedo-Espanha sem menccedilatildeo
de autor e ano de publicaccedilatildeo
La rueda hidraulica movida por el impulso del agua le comunica al
eje o aacuterbol un movimiento rotatoacuterio de este agraverbol sobresalen unos
dientes a modo de levas concretamente cuatro situados a 90ordm los
manobreiros quem en su giro percuten sobre el extremo del
mango del martillo la dendala en su movimiento oscilante el
yunque o incre esta golpeo se repite cuatro veces por cada giro
completa de la rueda 98
98 Ingenios hidraulicos histoacutericos molinos batanes y ferreriacuteas Universidad de Oviedo ndashEspana Disponiacutevel e em lthttpwww1unioviesasturiasferreriasgt Acesso em 17 jun 04
189
O movimento do malho era produzido mediante a transmissatildeo de forccedila
originada atraveacutes do eixo de uma roda hidraacuteulica especifica para esta tarefa Um
segundo tipo de sistema de acionamento utilizava uma uacutenica roda hidrauacutelica para
movimentaccedilatildeo do braccedilo do malho e ao mesmo tempo pelo acionamento dos
foles Este uacuteltimo sistema era conhecido como ldquopujoacuten tuertordquo e era o sistema mais
comumente empregado nas ferrariacuteas bascas99
No Brasil a utilizaccedilatildeo dessa ferramenta para a produccedilatildeo de ferro eacute
encontrada em documentos relacionados agrave construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de
Santo Amaro no iniacutecio do seacuteculo XVII Em 1605 para instalaccedilatildeo dessa Faacutebrica
foram entregues pela Administraccedilatildeo Espanhola agrave Diogo de Quadros ldquo2 malhos
que podiam pesar pouco mais ou menos entre ambos 3 quintais mais duas
argolas grandes da mesma ferramentardquo (RODRIGUES 1963 p 190)
Possivelmente foi entregue a Diogo de Quadros apenas a ldquocabeccedila de ferrordquo
(o malho propriamente dito) enquanto que as demais peccedilas da estrutura pelo
fato de serem confeccionadas inteiramente com madeira poderia ter sido
fabricada no Brasil
No caso da Faacutebrica de Ferro do Siacutetio Afonso Sardinha dispotildeem-se apenas
de documentos escritos que registram a presenccedila desse equipamento conforme
a carta escrita no ano de 1768 por D Luiz Antonio de Souza Governador da
Capitania de Satildeo Paulo dirigida ao Conde de Oeiras atraveacutes da qual apresenta
informaccedilotildees sobre a Faacutebrica de Ferro que havia sido construiacuteda por Domingos
Pereira Ferreira e seus soacutecios
Nesse documento D Luiz afirmava que aquele empreendimento era uma
das atividades que estava dando maior preocupaccedilatildeo em sua gestatildeo explicando
que
99 Binganaria no sistema de pujoacuten tuerto a Binganaria corresponde agrave viga de transmissatildeo entre a roda hidraacuteulica e os foles
190
se tem trabalhado desde aquele tempo [1760] ateacute o presente
em grandes dispecircndios dos acionistas em fazer fornos
grandes e pequenos por diferentes modos safras [bigorna
de ferreiro] martelos malhos rodas e engenhos para os
mover e tudo o necessaacuterio (RODRIGUES 1966 p 190)
Uma outra notiacutecia relacionada a essa mesma Faacutebrica ficou registrada em
outra documentaccedilatildeo datada de 1770 atraveacutes da qual Jacinto Joseacute de Abreu um
dos soacutecios de Domingos Pereira Ferreira dava conta de que o andamento dos
trabalhos lhe estava causando o ldquomaior desgostordquo pelo fato de ter quebrado o
malho ldquoque tanto dispecircndio e trabalho custourdquo A reclamaccedilatildeo expressada por
Jacinto Joseacute de Abreu pode ser compreendida natildeo somente pelo prejuiacutezo
financeiro decorrente da perda direta da peccedila como tambeacutem pelo prejuiacutezo
decorrente da consequumlente paralisaccedilatildeo da produccedilatildeo do ferro
6412 ndash O Forno de Fundiccedilatildeo e Foles As pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio Afonso Sardinha natildeo lograram
identificar vestiacutegios materiais de fornos de fundiccedilatildeo no interior da aacuterea
reconhecida como sendo a Oficina da Faacutebrica Tendo em vista o arranjo e a
extensatildeo do espaccedilo levantado pelas pesquisas de campo bem como as teacutecnicas
de fundiccedilatildeo de ferro disponiacuteveis de acordo com os estudos da histoacuteria da teacutecnica
para o periacuteodo que interessa ao presente trabalho entendemos que eacute correto
afirmar que o forno de fundiccedilatildeo ali empregado deveria ser do tipo ldquoforno baixordquo
De qualquer forma natildeo eacute possiacutevel afirmar que o meacutetodo de fundiccedilatildeo
utilizado no interior da Faacutebrica de Ferro corresponda ao que eacute conhecido como
ldquomeacutetodo catalatildeordquo ou ldquoforno catalatildeordquo uma vez que as pesquisas arqueoloacutegicas e
tambeacutem as documentais natildeo conseguiram encontrar qualquer dado a respeito do
modelo do forno de fundiccedilatildeo ali utilizado nem qualquer informaccedilatildeo a respeito do
processo de extraccedilatildeo do ferro na operaccedilatildeo de fundiccedilatildeo
191
De fato o forno catalatildeo se diferenciava dos demais fornos baixo por
apresentar uma forma que lembrava o de uma piracircmide invertida com trecircs
paredes planas e uma convexa confeccionadas com pedras refrataacuterias
(GARCIA sd p7) O que tambeacutem caracterizava o forno catalatildeo era o
procedimento de colocaccedilatildeo do carvatildeo e do mineacuterio no interior do forno para
extraccedilatildeo do metal Pere Molera I Sola (1982 p 208) ao analisar o procedimento
direto de obtenccedilatildeo do ferro pelo meacutetodo catalatildeo assinala que este meacutetodo
apresentava a peculiaridade de empregar a teacutecnica de ldquotrompa de aacuteguardquo para
promover a injeccedilatildeo do ar para dentro do forno Entretanto alguns fornos
reconhecidos como do tipo catalatildeo tambeacutem empregavam a teacutecnica de foles
movidos por roda drsquoaacutegua com aquele objetivo
O mesmo autor esclarece que o forno catalatildeo era
sin duda elemento maacutes importante consistia en una cavidad de
forma trocopiramidal invertida cuyas dimensiones de la base
mayor estaban en torno a los 60 por 50 cm La altura era de unos
80 cm Dentro de la nave industrial el horno estaba situado junto
a una pared principal denominada lsquopiec del focrsquo (pie del fuego)
todas las paredes del horno presentaban superficies planas
menos lsquolrsquoore o contraventrsquo (contraviento) que para facilitar la
extraccioacuten del producto reducido ofreciacutea una superficie convexa
y estaban parcialmente recubiertas con planchas de acero La
pared del horno adosada al lsquopiec del focrsquo y opuesta a lsquolrsquoorersquo se
denominaba lsquoles porguesrsquo (las cribas) y estaba atravesada por la
tobera que inyectaba aire al horno Entre ambas las paredes
estaba el lsquolleteirolrsquo (rebosadero) pared agujereada para faciclitar
la eliminacioacuten de la escoria liquida frente a la cual se encontraba
la lsquocavarsquo pared de piedra sin revistir y ligeramente inclinada
(SOLA 1982 p 208-209)
A operaccedilatildeo de fundiccedilatildeo eacute descrita pelo mesmo autor conforme segue
192
La operacioacuten de reduccioacuten de la mena concentrada se iniciaba
cubriendo el fono del horno con polvo de carboacuten vegetal Se le
prendia fuego Una vez caliente el horno se antildeadia una capa de
trozos de caroacuten de mayor tamantildeo E inmediatamente se
superponia una plancha de acero en al centro del horno paralela
a las lsquoporguesrsquo Ello permitiacutea situar una capa vertical de carboacuten en
al lado de la tobera y una capa de mineral al otro lado de la
plancha Se quitaba luego la plancha y se cubriacutea la parte superior
del mineral con una capa de pequentildeos trozos de carboacuten huacutemedo
y escorias al objeto de que la superficie externa quedase de
forma esfeacuterica y concentrase las llamas Se insuflaba aire por las
toberas y a la hora y media se alcanzaban ya temperaturas
superiores o los 1200 grados C Durante tres o cuatro horas
consecutivas se iba antildeadiendo mineral y carboacuten al tiempo que
por el ldquolletirolrdquo se eliminaba la escoria liquida Si la escoria era
densa lo que evidenciaba un alto contenido en hierro se volviacutea a
introducir en el horno La operacioacuten terminaba cuando en el fondo
del horno se formaba una bola irregular de unos 100 kilogramos
de peso de hierro o acero dulce con inclusiones de escoria y
poros el lsquomasserrsquo (zamarra) En se momento empezaba la
operacioacuten maacutes espectacular de la fraga la saca el lsquomasserrsquo del
horno y transportarlo hasta el martinete lo que requeriacutea el
concurso de todo el personalrdquo (SOLA 1982 p 211-212)
193
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
1- A partir das evidecircncias arqueoloacutegicas levantadas pela pesquisadora Margarida
Davina Andreatta no Siacutetio Afonso Sardinha foram elaboradas anaacutelises e em
seguida as interpretaccedilotildees com base nos conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica
e da Histoacuteria da Teacutecnica relacionadas a produccedilatildeo de ferro Tais estudos
permitiram comprovar que aquela aacuterea arqueoloacutegica corresponde a um campo de
exploraccedilatildeo e produccedilatildeo de ferro desde a segunda metade do seacuteculo XVI
2- As ruiacutenas da edificaccedilatildeo principal identificadas como ldquoBrdquo (Forja) e ldquoCrdquo (Oficina)
tratam-se de aacutereas de produccedilatildeo de uma Faacutebrica de Ferro O espaccedilo identificado
como ldquoDrdquo corresponde a uma vala de acomodaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua responsaacutevel
pela produccedilatildeo da forccedila de origem hidraacuteulica necessaacuteria para movimentar os
equipamentos e ferramentas da fabricaccedilatildeo ( Anexo 9)
3- Os exames das condiccedilotildees de superfiacutecie do terreno na parte da edificaccedilatildeo
identificada como ldquoCrdquo (Oficina) apresentam indiacutecios de antigas erosotildees
decorrentes da presenccedila do ribeiratildeo do Ferro sendo que esta interpretaccedilatildeo
permite concluir que os fenocircmenos apontados foram os responsaacuteveis pela
ausecircncia de artefatos arqueoloacutegicos naquela aacuterea
4- Os exames dos vestiacutegios dos fornos de fundiccedilatildeo encontrados nas aacutereas A e
A2-B externa do edifiacutecio principal da fabricaccedilatildeo de ferro indicam que satildeo do tipo
baixo provavelmente insulflados a fole de matildeo natildeo sendo possiacutevel afirmar que
seriam fornos do tipo catalatildeo
5- As ruiacutenas da Faacutebrica de Ferro indicam que as mesmas tratam de instalaccedilotildees
de modelo de produccedilatildeo industrial inclusive com divisatildeo de tarefas em aacutereas
distintas uso de energia hidraacuteulica transformada em forccedila mecacircnica para
194
movimentaccedilatildeo das ferramentas e para insuflaccedilatildeo do ar para queima do carvatildeo
nos fornos de fundiccedilatildeo
6- As dataccedilotildees absolutas e tambeacutem as relativas realizadas indicaram que naquele
local houve uma sobreposiccedilatildeo de distintos empreendimentos para a produccedilatildeo do
ferro desde o final do seacuteculo XVI e ao longo do seacuteculo XVIII
7- A causa mais provaacutevel do insucesso econocircmico de todas as tentativas de
produccedilatildeo de ferro em Araccediloiaba se relaciona a mineralogia da magnetita e
associaccedilotildees com outras substancias minerais as quais eram nocivas agrave qualidade
do produto metaluacutergico Neste caso vale ressaltar a presenccedila prejudicial
principalmente do titacircnio e do foacutesforo cujas presenccedilas eram desconhecidas pelos
exploradores
8- A planta da edificaccedilatildeo principal (aacutereas ldquoBrdquo ldquoCrdquo e ldquoDrdquo e ldquoFrdquo) evidenciada se
ajusta aos arranjos de espaccedilo produtivo de ferro tiacutepicos de modelos encontrados
naquele mesmo periacuteodo nas aacutereas de mineraccedilatildeo da Peniacutensula Ibeacuterica
notadamente aquele desenvolvido na regiatildeo basca (Anexo 9)
195
BIBLIOGRAFIA E ARQUIVOS PESQUISADOS
ARQUIVOS Arquivo da Cidade de Satildeo Paulo Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Arquivo do Museu Histoacuterico Sorocabano Arquivo Municipal da Cidade de Itu Documentaccedilatildeo do Museu Paulista -USP Instituto de Estudos Brasileiros ndash USP Museu Republicano Convenccedilatildeo de ItuMPUSP Projeto Arqueologia Histoacuterica ndash Museu Paulista USP Todas as fotografias croquis e plantas relacionadas a pesquisa arqueoloacutegica realizada no Siacutetio Afonso Sardinha entre os anos de 1983-1989 e que estatildeo inseridas nesta tese foram reproduzidas a partir deste acervo BIBLIOGRAFIA ABSAacuteBER Aziz Nacib Morro de Ipanema conhecimentos Scientific American Brasil Ediccedilatildeo Nordm 52 - setembro de 2006 Disponiacutevel em lthttpwww2uolcombrsciamconteudoeditorialeditorial_36Htmlgt Acesso em 14mar06 ARAUJO M Alves Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo de Ipanema Auxiliador da Industria Nacional n50 Rio de Janeiro1882 ABREU Joatildeo Capistrano de Capiacutetulos de histoacuteria colonial (1500-1800) amp Os caminhos antigos e o povoamento do Brasil Brasiacutelia Editocircra Universidade de Brasiacutelia 1963 ALBUQUERQUE Gislene Batista RODRIGUES Ricardo Ribeiro A vegetaccedilatildeo do Morro de Araccediloiaba Floresta Nacional de Ipanema (SP) Scientia Florestalis n58 p 145-159 dez 2000 Disponiacutevel em lt wwwipefbrpublicacoesscientianr58cap11pdfgt
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GLOSSAacuteRIO
Banzao de madeira BANZAO Denominaccedilatildeo que era dada na regiatildeo basca ndash Espanha para depoacutesitos de aacutegua que eram instalados sobre as rodas drsquoaacutegua e de onde era despejado jato de aacutegua sobre as paacutes daquela roda fazendo-a girar Na estrutura identificada por essa pesquisa as evidencias pressupotildee a utilizaccedilatildeo desse equipamento
BIGORNA Ferramenta feito por um bloco de pedra ou metal utilizado como suporte para martelar sobre o ferro
215
CABECcedilA DE MALHO Peccedila metaacutelica que eacute afixada em uma das extremidades da ferramenta que leva esse nome
ESCOacuteRIA ldquorestos de fundiccedilatildeordquo um sub-produto da fundiccedilatildeo de mineacuterio para purificar metais No caso das teacutecnicas de fundiccedilatildeo utilizadas ateacute o seacuteculo XIX no Brasil as escoacuterias produzidas apoacutes o processo de fundiccedilatildeo apresentavam uma grande quantidade de ferro (metal) em sua composiccedilatildeo O que vale dizer que os fornos utilizados para aquela atividades natildeo alcanccedilavam as temperaturas acima de para proporcionar maior aproveitamento do mineacuterio empregado
Ferreriacutea de Bolunburu es un conjunto ferro molinero que desde el siglo XVII
FERRERIacuteA Edifico que abrigava as ferramentas e equipamentos para a produccedilatildeo do ferro O sistema de produccedilatildeo empregado nas ferrariacuteas denominado de meacutetodo direto de produccedilatildeo consistia em ldquocozinharrdquo o mineacuterio de ferro em fornos baixo usando como combustiacutevel o carvatildeo vegetal Apoacutes ldquocozidordquo o ferro se transformava em uma esponja de ferro que era levada para ser trabalhada sobre
216
uma bigorna e golpeada pelo malho Este trabalho servia para compactar a massa liberar as escoacuterias e dar forma FERRO O ferro (do latim ferrum) eacute um elemento quiacutemico siacutembolo Fe de nuacutemero atocircmico 26
Foles acionados por forccedila humana seacuteculo XVI FOLES Equipamento utilizado para insuflar ar para dentro do forno promovendo assim a combustatildeo do carvatildeo Podiam ser acionados manualmente ou por utilizaccedilatildeo de roda drsquoaacutegua
Forno baixo com a utilizaccedilatildeo de fole manual FORNO BAIXO Espaccedilo normalmente de pequenas dimensotildees onde se realizava a reduccedilatildeo (extraccedilatildeo do metal ndashferro ndash do mineacuterio) e de Havia vaacuterias denominaccedilotildees para esse tipo de forno como fornos de vento fornos castelhanos fornos catalatildees forno de manga etc Estes fornos dada a sua dimensatildeo e os instrumentos de insuflaccedilatildeo do ar utilizado natildeo permitiam a fundiccedilatildeo do mineacuterio Nos fornos baixos acima referidos a disposiccedilatildeo do carvatildeo vegetal e dos pedaccedilos de mineacuterios no interior do forno eram feitos em camadas superpostas e horizontais
217
Forno Catalatildeo e Trompa Hidrauacutelica FORNO CATALAtildeO O forno catalatildeo eacute assim denominado por ter sido uma teacutecnica desenvolvida nos Pirineus catalatildees A teacutecnica catalatilde ou meacutetodo catalatildeo de fundiccedilatildeo possuem alguns elementos que o caracterizam como 1- a forma de construccedilatildeo do forno que lembra uma lareira tendo o seu formato interno feito de forma de uma piracircmide invertida 2- disposiccedilatildeo interna do carvatildeo e dos pedaccedilos de mineacuterios dentro do forno os quais eram colocados de lados opostos e paralelos 3- utilizaccedilatildeo da trompa hidraacuteulica para insuflar oxigecircnio para a combustatildeo do carvatildeo esse sistema foi desenvolvido na regiatildeo da atual Itaacutelia e utilizado em grande escala nas faacutebricas de ferro da Catalunha Na regiatildeo Basca foram utilizados foles de grandes dimensotildees acoplados a roda drsquoaacutegua FORNO DE FUNDICcedilAtildeO Espaccedilo onde se daacute a reduccedilatildeo do mineacuterio No periacuteodo estudado a reduccedilatildeo ou fundiccedilatildeo era proporcionada pela queima proporcionada pela insuflaccedilatildeo de oxigecircnio por meio de foles manuais do carvatildeo vegetal que era colocada dentro desses fornos junto com pedaccedilos de mineacuterio FORJA Fornalha de que se servem os ferreiros e outros artiacutefices para incandescer os metais para serem trabalhados numa bigorna Do francecircs forge e do Latin fabrica Tambeacutem pode designar o trabalho realizado pelo ferreiro por meio do fogo e do martelo para dar forma aos metais
HEMATITA mineral de foacutermula oacutexido de ferro III (Fe2O3) um dos diversos oacutexidos de ferro
218
MAGNETITA mineral magneacutetico formado pelos oacutexidos de ferro II e III ( FeO Fe2O3) cuja foacutermula quiacutemica eacute Fe3O4
MALHO Daacute se o nome de malho a peccedila metaacutelica que estaacute afixada em uma das extremidades do martinete o qual por conseguinte daacute o nome ao equipamento METAL elemento quiacutemico Satildeo metais os metais bem conhecidos satildeo alumiacutenio cobre ouro ferro prata titacircnio uracircnio e zinco MINERAL Substacircncia natural MINEacuteRIO mineral que conteacutem um metal na sua composiccedilatildeo quiacutemica Todo o mineacuterio eacute mineral OFICINA Ou Farga (em catalatildeo) espaccedilo em que estatildeo assentados o forno e o malho equipamentos destinados a produccedilatildeo de ferro MARTINETE Instrumento usado para golpear os metais incandescentes na forja para dar-lhes a forma desejada Tambeacutem pode designar um malho movido por roda drsquoagua METALURGIA Teacutecnica de obtenccedilatildeo dos metais No periacuteodo pesquisado a teacutecnica era conhecida como meacutetodo direto
219
OacuteXIDOS Combinaccedilatildeo do oxigecircnio com outros elementos No nosso caso com ferro
TROMPA Mecanismo que aproveita a forccedila da caiacuteda da aacutegua para gerar um fluxo contiacutenuo em direccedilatildeo do forno Era um elemento caracteriacutestico do forno catalatildeo
220
ANEXOS
221
222
223
- FAacuteVERO Oriana Aparecida NUCCI Joatildeo Carlos De BIASI Maacuterio Mapeamento da vegetaccedilatildeo e usos das terras da Floresta Nacional de Ipanema IperoacuteSP
-
4
AGRADECIMENTOS
Durante a primeira visita ao Siacutetio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha da Floresta
Nacional de Ipanema em Iperoacute Satildeo Paulo no ano de 2003 tive oportunidade de
conhecer o objeto de estudo desta Tese as evidecircncias da Faacutebrica de Ferro com a
sua respectiva vala da roda e os inuacutemeros artefatos que haviam sido recolhidos
durante as escavaccedilotildees Naquela oportunidade fui gentilmente recebida pela Sra
Janette Gutierrez a quem deixo meus agradecimentos extensivo aquela
Instituiccedilatildeo
Recebi ainda no transcorrer do meu trabalho importantes informaccedilotildees das
Sras Vivian Cristiane Fernandes e Nair Tanabe Tomiyama ambas do Nuacutecleo de
Arqueologia da Universidade Braz Cubas assim como das Sras Socircnia Paes do
Museu Histoacuterico Sorocabano e Marizia Tonelli
Agradeccedilo tambeacutem ao Sr Joseacute Monteiro Salazar o qual gentilmente me
recebeu em sua residecircncia em Boituva SP um apaixonado pela Historia de
Ipanema o qual contou fatos de grande interessante sobre a descoberta das
ruiacutenas assuntos que incorporei na minha Tese
Em marccedilo deste mesmo ano apresentei minha qualificaccedilatildeo oportunidade
em que recebi valiosas sugestotildees das Professoras Doutoras Heloiacutesa Maria
Silveira Barbuy e Elaine Farias Veloso Hirata a quem agradeccedilo
Finalmente eacute com admiraccedilatildeo e especial carinho que agradeccedilo a minha
orientadora a Professora Doutora Margarida Davina Andreatta com quem tive a
oportunidade de discutir longamente os conceitos e detalhes deste meu trabalho
Os seus conhecimentos e a responsabilidade com que conduziu a orientaccedilatildeo
foram fundamentais para a elaboraccedilatildeo desta Tese assim como para minha
proacutepria formaccedilatildeo em Arqueologia em especial na Arqueologia Histoacuterica
5
SUMAacuteRIO
Iacutendice 06 Iacutendice das Figuras 10 Resumo 14 Abstract 15 Introduccedilatildeo 16 Capiacutetulo I 19 Capiacutetulo II 47 Capiacutetulo III 83 Capiacutetulo IV 109 Capitulo V 126 Capitulo VI 167 Consideraccedilotildees finais 193 Bibliografia 195 Glossaacuterio 214 Anexos 220
6
IacuteNDICE INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO 1 O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA QUESTOtildeES DA ARQUEOLOGIA HISTOacuteRICA 11 Contexto do presente trabalho 19
111 Avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos 19 112 Histoacuterico das descobertas das ruiacutenas 26 113 Consideraccedilotildees sobre a metodologia 32
114 Descriccedilatildeo geral das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas 37
12 Principais questotildees a serem abordadas no decorrer da Tese 46
CAPITULO 2 A TECNICA DE PRODUCcedilAtildeO DE FERRO NO PERIODO ENTRE OS SEacuteCULOS XVI AO XVIII 21 Consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia 47 22 O conceito de Teacutecnica 50 23 A valorizaccedilatildeo do conhecimento teacutecnico e a ciecircncia
experimental moderna 53 2 4 A Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica 55
25 A Teacutecnica de produccedilatildeo do ferro 59
26 Fornos de fundiccedilatildeo de ferro 64
27 Tratados Teacutecnicos de Metalurgia 78
CAPITULO 3 HISTOacuteRICO DA MINERACcedilAtildeO NO BRASIL COLONIAL 31 As primeiras expediccedilotildees mariacutetimas a busca dos metais nobres 83 32 O Peabiru uma trilha para o Sertatildeo 85 33 O descobrimento da prata em Potosi 88 34 A busca de metais nobres na Capitania de Satildeo Vicente 90 35 D Francisco de Sousa a organizaccedilatildeo da exploraccedilatildeo mineral 91
7
36 Teacutecnicos e praacuteticos na mineraccedilatildeo e metalurgia 94 37 A Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro 96
38 A Faacutebrica de Ferro do morro de Araccediloiaba os empreendedores 99 39 A Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema 103 CAPIacuteTULO 4 O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 41 Localizaccedilatildeo 109 42 A vegetaccedilatildeo 116 43 Rios e ribeirotildees
44 A magnetita o mineacuterio do morro de Araccediloiaba 119
45 Fatores fisiograacuteficos da ocupaccedilatildeo europeacuteia 123
CAPIacuteTULO 5 INVESTIGACcedilOtildeES ARQUEOLOacuteGICAS AS EVIDENCIAS DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO 126
51 Estruturas hidraacuteulicas para a produccedilatildeo da forccedila motriz 129
511 O Canal de Derivaccedilatildeo 129
512 A Vala da Roda 132
5121 Evidecircncias de esteios 134 52 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 137 521 Area ldquoCrdquo 137 522 A Aacuterea B (ldquoForjardquo) 139
53 Area E Sul da Faacutebrica de Ferro 150 531 Fornos de fundiccedilatildeo na aacuterea externa da Faacutebrica (Aacuterea A1) 155 531 Forno de Fundiccedilatildeo 1 157 532 Fornos de fundiccedilatildeo da Aacuterea A2 159 5321 Forno de fundiccedilatildeo 1 (aacuterea A2) 161 5322 Forno de fundiccedilatildeo 2 (aacuterea A2) 165
CAPITULO 6 INTERPRETACcedilOtildeES DOS DADOS ARQUEOLOacuteGICOS 61 Avaliaccedilatildeo das caracteriacutesticas do Arranjo das Estruturas 167 62 As ldquoferreriacuteasrdquo de aacutegua na Peniacutensula Ibeacuterica 170 63 Sistema hidraacuteulico produccedilatildeo da forccedila motriz 175
8
631 Dique de represamento do ribeiratildeo do Ferro 175 632 Canal de Derivaccedilatildeo das aacuteguas 176 633 Vala da roda 177 634 A Caixa de Aacutegua - ldquoBanzaordquo 179 635 A roda hidraacuteulica 180 6 4 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 183
641 A Oficina da Faacutebrica de Ferro 183 6411 O Malho 188 6412 Fornos de fundiccedilatildeo e foles 190 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 193 BIBLIOGRAFIA 195 GLOSSAacuteRIO 214 ANEXOS 220 1 Relatoacuterio de Ensaio ndash Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo ndash FATEC 2 Inventaacuterio de Peccedilas Ceracircmica 3 Inventario de Peccedilas Liacutetico 4 Inventaacuterio de Peccedilas Louccedilas 5 Inventaacuterio de Peccedilas Telhas 6 Inventaacuterio de Peccedilas Metal 7 Tratado da Arte de ensaiar e fundir cobre ferro e accedilo Ano de 1691 8 Aranzel ou Roteiro de haveres de oiro e pedras preciosas Ano de 1696 9 Planta Geral da aacuterea pesquisada Siacutetio Afonso Sardinha (Mapa 1) 10 Mapeamento das aacutereas de decapagem e escavaccedilatildeo ( Mapa 2) 11 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de lacircminas de metal (Mapa 3)
9
12 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de escoacuterias (Mapa 4) 13 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de blocos de arenito (Mapa 5) 14 Aacuterea E ndash Concentraccedilatildeo de cravos de metal (Mapa 6) 15 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de telhas (Mapa 7)
10
INDICE DAS FIGURAS
1 Mapa de localizaccedilatildeo da FLONA ndash Ipanema 2 Mapa de localizaccedilatildeo do Siacutetio Afonso Sardinha 3 Desenho esquemaacutetico da localizaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro 4 Aspecto do Siacutetio Afonso Sardinha 1983 5 Iniacutecio das pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio Afonso Sardinha 1983 6 Reuniatildeo de trabalhos 1984 7 Aspecto da Faacutebrica de ferro em 1987 8 Planta do Siacutetio Afonso Sardinha aacutereas A1 e A2 9 Planta da aacuterea A1 10 Vista Geral da aacuterea A1 11 Vista Geral da aacuterea A2 12 Planta da aacuterea A2B detalhe 13 Planta do morrote A2B 14 Aacuterea A2 morrote e evidencias de fornos de fundiccedilatildeo 15 Corte esquemaacutetico de um forno baixo 16 Maquete de forno de fundiccedilatildeo (Celta) 17 Forno de fundiccedilatildeo (romano) 18 Fornos de fundiccedilatildeo de lupa ou de vento 19 Corte esquemaacutetico de fornos de fundiccedilatildeo de lupa ou de vento 20 Fornos de fundiccedilatildeo de Guaira (Potosi)
11
21 Fornos de fundiccedilatildeo seacuteculo XVI 22 Fornos de Fundiccedilatildeo seacuteculo XVI 23 Arranjo funcional de uma Faacutebrica de Ferro 24 Elementos que compotildeem uma ldquoFarga Catalanrdquo 25 Traccedilado do Peabiru (Tronco de Satildeo Vicente) 26 Mapa do Peabiru feito por Pasquale Petrone 27 Prospecto das ruiacutenas da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro 28 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro de Ipanema 1827 29 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro de Ipanema seacuteculo XIX 30 Altos fornos geminados construiacutedos por Varnhagem 1818 31 Alto forno construiacutedo pelo Cel Mursa 1888 32 Roteiro Histoacuterico da Mineraccedilatildeo e metalurgia paulista 33 Mapa Geoloacutegico do Morro de Araccediloiaba 34 Bloco diagrama da regiatildeo da Serra de Araccediloiaba 35 Vista geral do morro de Araccediloiaba I 36 Vista geral do morro de Araccediloiaba II 37 Magnetita 38 Limpeza do Siacutetio Afonso Sardinha 1984 39 Equipe de trabalho 1988 40 Vista geral da aacuterea E 1988 41 Dimensotildees da Vala da roda e localizaccedilatildeo da evidecircncias de esteios 42 Vala da roda hidraacuteulica 1987 - I 43 Vala da roda hidraacuteulica 1987 ndash II 44 Evidecircncias de esteios
12
45 Detalhe da evidecircncia de esteios 46 Detalhe de um esteio 47 Topografia do terreno da aacuterea C 48 Vista geral da aacuterea C 1987 49 Reconstituiccedilatildeo das paredes da aacuterea B 1984 50 Evidecircncias de paredes da aacuterea B 1984 51 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - I 52 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - II 53 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - III 54 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI - I 55 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI - II 56 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI ndash III 57 Vasilhame de ceracircmica (0122) aacuterea B seacuteculo XVI ndash I 58 Vasilhame de ceracircmica (0122) aacuterea B seacuteculo XVI ndash II 59 ldquoTijelardquo faianccedila [seacuteculo XVII] 60 Escoacuteria ndash restos de fundiccedilatildeo aacuterea E 61 Telha (0115) aacuterea E seacuteculo XVIII 62 Telha aacuterea E 63 Telha aacuterea E 64 Raspador plano convexo aacuterea E 65 Garrafa de greacutes aacuterea A ndash forno1 66 Decapagem aacuterea A forno 1 67 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A1 68 Morrote e vestiacutegios de fornos de fundiccedilatildeo aacuterea A2
13
69 Croqui da aacuterea A2 morrote B 70 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A2 71 Croqui do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A2 72 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 - I 73 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 ndash II 74 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 ndash III 75 Aspecto de uma ldquoferreriacutea de aacuteguardquo seacuteculo XVII 76 Sistema de ldquopujoacuten tuortordquo 77 Trabalho de extraccedilatildeo da ldquobola de ferrordquo ou ldquomassa de ferro 78 Traccedilado esquemaacutetico do Canal de Derivaccedilatildeo aacuterea A1 (Interpretaccedilatildeo) 79 rdquo Depoacutesito de aacutegua soluccedilatildeo ldquoBanzaordquo 80 localizaccedilatildeo do malho e da roda hidraacuteulica (Interpretaccedilatildeo) 81 Faacutebrica de Ferro do Siacutetio Afonso Sardinha arranjo dos equipamentos (interpretaccedilatildeo) 82 Faacutebrica de Ferro Planta baixa (interpretaccedilatildeo) 83 Faacutebrica de Ferro aacuterea erodida (Interpretaccedilatildeo)
14
RESUMO
Esta Tese tem como objetivo analisar a pesquisa arqueoloacutegica e os
artefatos coletados no Sitio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha localizado no morro de
Araccediloiaba Iperoacute - Satildeo Paulo
O resultado da anaacutelise permitiu concluir que a aacuterea corresponde a um
campo de mineraccedilatildeo de ferro com a presenccedila de evidecircncias de uma Faacutebrica de
Ferro de um sistema de aproveitamento de energia hidraacuteulica para movimentar
os equipamentos e ferramentas destinadas a produccedilatildeo e de fornos de fundiccedilatildeo
Aleacutem disso a dataccedilatildeo do material ceracircmico (vasilhames e telhas) indica que as
atividades de exploraccedilatildeo do mineacuterio tiveram iniacutecio no seacuteculo XVI
Palavras-Chaves Arqueologia Histoacuterica Floresta Nacional de Ipanema Teacutecnica
de produccedilatildeo de ferro Colonial Sitio Afonso Sardinha morro de Araccediloiaba Iperoacute-
SP
15
ABSTRACT This Thesis has the goal to analyze archaeological research and artifacts
found in Afonso Sardinha Archaeological site located on Mount Araccediloiaba Iperoacute
Satildeo Paulo
The analysis result leads to the conclusion that the area corresponds to iron
mining field with the presence of Iron Factory evidence a system that makes use
of hydraulic power to move the equipment and tools used in the production and
small ovens to melt iron Besides the ceramic date (pots and tiles) indicates that
mineral digging activities began in the 16th century
Key words History Archeology Ipanema National Forest Colonial Iron
Production Technique Archeological Site Afonso Sardinha Mount Araccediloiaba
Iperoacute-SP
16
INTRODUCcedilAtildeO
A presente Tese busca analisar sob o ponto de vista da Arqueologia
Histoacuterica os resultados da pesquisa arqueoloacutegica desenvolvida pela pesquisadora
e arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta entre os anos de 1983 a 1989 na aacuterea
do siacutetio arqueoloacutegico Afonso Sardinha localizado no morro de Araccediloiaba
municiacutepio de Iperoacute a cerca de quinze quilocircmetros da cidade de Sorocaba Satildeo
Paulo
Os estudos desenvolvidos consideraram apenas os fatos relacionados agrave
exploraccedilatildeo e fabricaccedilatildeo do ferro no morro de Araccediloiaba desde finais do seacuteculo
XVI ateacute o seacuteculo XVIII portanto antes da instalaccedilatildeo do Estabelecimento
Montaniacutestico de Extraccedilatildeo de Ferro das Minas de Sorocaba em 1810 e mais tarde
com a denominaccedilatildeo de Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
O resultado final do trabalho do levantamento de campo formou um
conjunto vasto e consolidado em textos de Diaacuterios de Campo escritos pela
pesquisadora correspondecircncias levantamentos topograacuteficos planos de
escavaccedilatildeo croquis e desenhos geomeacutetricos de plantas das ruiacutenas croquis de
cortes estratigraacuteficos e de reconhecimento das escavaccedilotildees Inventaacuterio de Peccedilas e
fotografias tudo devidamente registrado em relatoacuterios da pesquisa arqueoloacutegica
17
Os artefatos coletados durante as investigaccedilotildees de campo foram
acondicionados em caixas devidamente protegidas e identificadas e depositadas
nas dependecircncias do Museu do Centro de Visitantes da FLONA de Ipanema
Foram desenvolvidos trabalhos de reconhecimento e anaacutelise detalhada dos
registros arqueoloacutegicos que resultaram da pesquisa de campo e em seguida
interpretadas as informaccedilotildees anteriormente consolidadas com base nos
conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia
Na elaboraccedilatildeo da siacutentese interpretativa foi necessaacuterio valer-se de
instrumentos disponiacuteveis em outras aacutereas do conhecimento tais como Geologia
Mineralogia Metalurgia Engenharia dentre outras aacutereas
Tambeacutem foram elaborados exames visuais e catalograacuteficos visando a
dataccedilatildeo relativa assim como foram encaminhadas amostras de ceracircmica as
quais foram submetidas a testes de dataccedilatildeo absoluta com base em ensaios de
Termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade de
Tecnologia de Satildeo Paulo - FATEC
Por outro lado amostras de resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias) foram
ensaiadas em laboratoacuterio para anaacutelise quiacutemica-mineraloacutegica no Departamento de
Mineralogia e Geotectocircnica GMG do Instituto de Geociecircncias da Universidade de
Satildeo Paulo
No Capiacutetulo 1 O Siacutetio Afonso Sardinha questotildees da Arqueologia Histoacuterica
optamos por colocar uma siacutentese dos achados arqueoloacutegicos no Sitio Afonso
Sardinha sendo que com base nas informaccedilotildees disponiacuteveis foram expostas as
questotildees da Arqueologia Histoacuterica que resultaram das investigaccedilotildees de campo e
de laboratoacuterio assim como das pesquisas bibliograacuteficas
No Capitulo 2 A Teacutecnica de Produccedilatildeo de Ferro no periacuteodo entre os
seacuteculos XVI ao XVIII foram analisadas e discutidas as questotildees conceituais da
18
teacutecnica e da tecnologia relacionadas a metalurgia no periacuteodo de interesse desta
Tese compreendido entre os seacuteculos XVI e XVIII Para compreensatildeo dos
processos de produccedilatildeo de ferro foram apresentadas descriccedilotildees dos
procedimentos de fabricaccedilatildeo bem como ilustraccedilotildees das ferramentas
equipamentos e maacutequinas em uso naquele estaacutegio do conhecimento teacutecnico
O Capiacutetulo 3 Histoacuterico da Mineraccedilatildeo no Brasil Colonial trata de uma
avaliaccedilatildeo da historiografia disponiacutevel sobre as atividades de mineraccedilatildeo no Brasil
e particularmente para o caso da entatildeo Capitania de Satildeo Vicente merecendo
esclarecer que parte destas obras foi produzida na primeira metade do seacuteculo XX
Aleacutem disso foram consultados documentos do Arquivo Municipal de Satildeo Paulo
do Arquivo do Estado de Satildeo Paulo e Biblioteca e Arquivo do Museu Histoacuterico
Sorocabano
No Capiacutetulo 4 O Sitio Afonso Sardinha apresenta-se a localizaccedilatildeo
geograacutefica as caracteriacutesticas geoloacutegicas e geomorfoloacutegicas do morro de
Araccediloiaba a vegetaccedilatildeo a hidrografia recursos minerais com destaque especial
para a presenccedila da Magnetita Finalmente oferece-se um contexto sucinto a
respeito da ocupaccedilatildeo colonial e a presenccedila de naturalistas viajantes inclusive
Saint Hilaire em 1919
No Capiacutetulo 5 Investigaccedilotildees Arqueoloacutegicas as evidencias de uma Faacutebrica
de Ferro com base em todos os dados que resultaram da pesquisa de campo
foram desenvolvidos trabalhos sendo que num primeiro momento relacionados
ao reconhecimento e anaacutelise detalhada dos registros arqueoloacutegicos fornecidos
pela pesquisa acima mencionada
No uacuteltimo Capiacutetulo de nuacutemero 6 Interpretaccedilotildees dos dados arqueoloacutegicos
buscou-se elaborar uma interpretaccedilatildeo das informaccedilotildees consolidadas nos
documentos produzidos a partir dos conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e
Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia
19
CAPIacuteTULO 1
O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA QUESTOtildeES DA ARQUEOLOGIA HISTOacuteRICA O presente Capiacutetulo tem por objetivo indicar um conjunto de questotildees que
deveratildeo ser analisadas no decorrer da elaboraccedilatildeo desta Tese as quais
emanaram dos resultados alcanccedilados pelas pesquisas arqueoloacutegicas realizadas
no siacutetio Afonso Sardinha pela pesquisadora e arqueoacuteloga Margarida Davina
Andreatta
Para melhor compreensatildeo dos fatos que fazem parte do contexto do
presente trabalho tendo em vista a identificaccedilatildeo daquelas questotildees satildeo
apresentados a) uma avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos que tratam de assuntos
relacionados ao siacutetio arqueoloacutegico b) um histoacuterico da descoberta das ruiacutenas c)
consideraccedilotildees sobre a metodologia utilizada d) uma descriccedilatildeo geral resumida
das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas
11 Contexto do presente trabalho 111 Avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos
As primeiras notiacutecias relacionadas agraves minas de ferro do Morro de
Araccediloiaba e com os trabalhos de fundiccedilatildeo daquele mineacuterio foram dadas por
Pedro Taques de Almeida Paes Leme (1714-1777) Aleacutem de sua obra mais
conhecida a Nobiliarquia Paulistana Histoacuterica e Genealoacutegica escreveu a Histoacuteria
da Capitania de Satildeo Vicente e um compecircndio sobre a exploraccedilatildeo e a legislaccedilatildeo
mineira intitulado Noticia das Minas de Satildeo Paulo e dos Sertotildees da mesma
Capitania
20
Neste uacuteltimo trabalho escrito na segunda metade do seacuteculo XVIII afirmou
ter sido o bandeirante Afonso Sardinha e seu filho mameluco do mesmo nome
ldquoos que tiveram a gloacuteria de descobrir ouro de lavagem nas Serras de
Jaramimbaba e do Jaraguaacute em Satildeo Paulo na de Votoruna em Parnaiacuteba e na
Biraccediloiaba no Sertatildeo do Rio Sorocaba ouro prata e ferro pelos anos de 1597rdquo
(TAQUES 1954 p 112) Em Notiacutecias Genealoacutegicas citado por Nicolau de
Campos Vergueiro PedroTaques completa aquela informaccedilatildeo indicando que
Afonso Sardinha havia construiacutedo uma faacutebrica e dois fornos de ferro em
Biraccediloiaba e que havia doado um dessas Faacutebricas agrave D Francisco de Souza
quando ldquoem pessoa passou a Biraccediloiaba no ano de 1600rdquo (VERGUEIRO 1978
p6)
Taques escreveu suas obras dentro de um contexto em que os trabalhos
historiograacuteficos buscaram dar um enfoque positivo a participaccedilatildeo bandeirante na
histoacuteria de Satildeo Paulo e ao mesmo tempo contrapor todas as outras narrativas
que haviam sido escritas nos seacuteculos anteriores sobretudo pelos Jesuiacutetas
Assim firmou para que Afonso Sardinha e seu filho passassem para a Histoacuteria
como tendo sido os descobridores daquelas minas e os pioneiros na fabricaccedilatildeo
do ferro no Morro de Araccediloiaba
Entre os veiacuteculos de divulgaccedilatildeo dessa historiografia estaacute o Instituto
Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo e do Brasil (sediado na cidade do Rio de
Janeiro) sendo este uacuteltimo responsaacutevel pela divulgaccedilatildeo das obras de Pedro
Taques1 Por outro lado aquelas afirmativas foram reforccediladas pelo
1 Os Institutos Histoacutericos e Geograacuteficos foram junto com os Museus brasileiros os primeiros e mais importantes espaccedilos que existiam no seacuteculo XIX para a pesquisa de humanidades e para a ciecircncia em geral no Brasil O Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo seraacute uma instacircncia de produccedilatildeo a afirmar uma suposta especificidade paulista elaborar tradiccedilotildees do estado ndash atraveacutes de biografias de seus vultos estudos sobre o passado da proviacutencia etc Nesse sentido eacute tambeacutem uma historiografia com teor ciacutevico paulista sobretudo mas que buscava afirmar a prevalecircncia de Satildeo Paulo perante a naccedilatildeo como um todo releitura da figura do bandeirante no sentido de elevaacute-lo agrave condiccedilatildeo de construtor da naccedilatildeo ROMANCINI Richard Inventando tradiccedilotildees os historiadores e a pesquisa inicial sobre o jornalismo II Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho Florianoacutepolis de 15 a 17 de abril de 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwjornalismoufscbrredealcarcdgrupos20de20trabalho20de20historia20da20midiahistoria20dos20jornalismotrabalhos_selecionadosrichard_romancinidocgt Acesso em 060706
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desaparecimento de total ou significativa parcela dos documentos que
constituiacuteram as fontes pesquisadas por aquele autor tais como os arquivos do
Primeiro Cartoacuterio dos Oacuterfatildeos de Satildeo Paulo os da Provedoria da Real Fazenda e
os da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo2
Aleacutem disso uma significativa parcela dos trabalhos publicados entre os
seacuteculos XIX e XX sobre as atividades metaluacutergicas desenvolvidas no morro de
Araccediloiaba estavam voltados para as anaacutelises sobre os aspectos da geografia
historia mineralogia botacircnica e geologia a partir da implantaccedilatildeo da Real Faacutebrica
de Ferro de Ipanema fundada em 1810 3 Quanto aos periacuteodos anteriores a fonte
de informaccedilatildeo sempre foi a obra de Pedro Taques a qual foi amplamente
difundida com a publicaccedilatildeo da obra de Azevedo Marques intitulada
Apontamentos histoacutericos geograacuteficos bibliograacuteficos e estatiacutesticos da proviacutencia de
Satildeo Paulo em 1879
A construccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema estaacute inserida no acircmbito
da implementaccedilatildeo de poliacuteticas voltadas para favorecer a transferecircncia para a
colocircnia de todo o aparelho institucional do reino a partir da chegada de D Joatildeo VI
a cidade do Rio de Janeiro4 Entre os projetos estava a implantaccedilatildeo e
desenvolvimento da siderurgia no Brasil a partir da exploraccedilatildeo das jazidas de
ferro jaacute conhecidas como as do Morro de Araccediloiaba na Proviacutencia de Satildeo Paulo e
das jazidas de ferro de Minas Gerais localizadas nos atuais municiacutepios de
Congonhas do Campo e Gaspar5
2 Os arquivos da Provedoria foram destruiacutedos por uma enchente do Tamanduateiacute em 1929 Dos outros arquivos restam apenas poucos exemplares e que estatildeo incompleto como o das Atas da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo RODRIGUES Leda Maria Pereira As Minas de ferro em Araccediloiba (Satildeo Paulo Seacuteculos XVI-XVII-XVIII) Annais do III Simpoacutesio dos Professores Universitaacuterios de Histoacuteria Franca 1966 p 171 3 A Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema inicia suas atividades a partir da promulgaccedilatildeo da Carta Reacutegia de 4 de dezembro de 1810 Esta carta conteacutem instruccedilotildees para o funcionamento de uma faacutebrica de ferro em Sorocaba Em 1895 encerra definitivamente as suas atividades Ver bibliografia 4 Com a presenccedila de D Joatildeo VI foi promulgada em 1808 a abertura dos portos para o comeacutercio e um alvaraacute que revogava o Decreto de D Maria I de 1785 referente a proibiccedilatildeo da abertura de faacutebricas e manufaturas no estado do Brasil e Domiacutenios Ultramarinos 5 As minas de ferro de Gaspar Soares deram origem a Real Faacutebrica de Ferro de Gaspar Soares cuja direccedilatildeo foi dada ao Intendente Manuel Ferreira da Cacircmara Em 1811 tambeacutem para o Brasil o teacutecnico alematildeo Gotthelft Von Feldner com a incumbecircncia de examinar as minas receacutem
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Para dar andamento agravequeles projetos foram trazidos para o Brasil o
mineralogista alematildeo Friederich Ludwig Wilhelm Varnhagen (1782-1842) e
Wilhelm-Ludwig Von Eschwege (1777-1835) ambos funcionaacuterios da Coroa
Portuguesa6 Eschwege foi enviado para Minas Gerais para inspecionar as
jazidas e minas de ferro e criar com outros acionistas a companhia sideruacutergica
Faacutebrica Patrioacutetica do Prata de Congonhas do Campo que comeccedilou a funcionar
em fins de 1811 e Varnhagen para o Morro de Araccediloiaba7
Apoacutes observaccedilotildees mineraloacutegicas realizadas por Varnhagen em
Araccediloiaba A partir dos resultados daquelas observaccedilotildees ficou determinado que
Sorocaba era o local mais apropriado para a construccedilatildeo de uma siderurgia pois
ldquoa mina existente dentro de sua circunscriccedilatildeo eacute muito rica em metal de ferro e
conta na sua proximidade com extensas matas as quais haacute muitos anos mandou
reservar e que forneceratildeo o indispensaacutevel combustiacutevelrdquo(FRAGA 1968 p 66)
Assim em 1810 foi fundado o Estabelecimento Montaniacutestico de Extraccedilatildeo de Ferro
das Minas de Sorocaba denominado posteriormente de Real Faacutebrica de Ferro de
Ipanema
A aacuterea escolhida para aquele novo empreendimento estava localizada junto
ao rio Ipanema que daiacute retira aquela denominaccedilatildeo deixando para traz a histoacuteria
da metalurgia que havia sido desenvolvida durante dois seacuteculos no interior Morro
de Araccediloiaba no vale das Furnas onde estaacute localizado o Siacutetio Arqueoloacutegico
Afonso Sardinha
Os primeiros trabalhos sobre a Real Faacutebrica privilegiavam as anaacutelises
voltadas para a mineralogia e as teacutecnicas de fundiccedilatildeo Quanto a este uacuteltimo
descobertas de carvatildeo do rio Pardo no Rio Grande do Sul Cf FIGUEIROA Silvia As ciecircncias Geoloacutegicas no Brasil uma Histoacuteria Social e Institucional 1875-1934 Satildeo Paulo Hicitec 1997 p 63-65 6 Varnhagen e Eschwege voltaram para Portugal em 1822 7 Varnhagen esteve em Araccediloiaba acompanhado por Martim Francisco de Andrada Martim Francisco Ribeiro de Andrada Inspetor de Minas e Matas da Capitania de Satildeo Paulo
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aspecto destacam o emprego do alto forno da fabricaccedilatildeo do carvatildeo e o emprego
de fundentes bem como criacuteticas relacionadas agrave produccedilatildeo e qualidade do ferro8
Entre as obras mais gerais sobre aquele empreendimento publicadas no
seacuteculo XIX estatildeo os trabalhos de Antonio da Costa Pinto Silva (1852) Nicolau de
Campos Vergueiro (1843) Frederico Augusto Pereira de Moraes (1858) M Alves
de Arauacutejo (1882) Francisco de Assis Moura (1888) J Ewbank da Cacircmara (1875)
Leandro Dupreacute (1885) Baratildeo Homem de Mello (1888) Manuel Eufraacutezio de
Azevedo Marques (1879) Carlos Conrado de Niemeyer (1879) Frederico
Augusto Pereira de Moraes (1858)
Sobre a mineralogia e a geologia estatildeo os de Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e
Silva (1820 1846) Martim Francisco Ribeiro de Andrada (1828 1846 1855) F
Schimidt (1853) e Wilhelm L Von Eschwege (1833) e Orville Adalbert Derby
(1891 e 1895 1909) Derby foi o descobridor em 1891 da apatita mineral que foi
amplamente explorado para a fabricaccedilatildeo de adubos a partir de 1927 Naquele
mesmo seacuteculo foram realizadas as primeiras anaacutelises da magnetita de Ipanema
pela Escola de Minas de Ouro Preto9 as quais tiveram como resultado a
identificaccedilatildeo do titacircnio como componente daquele mineacuterio
Dessa forma foi possiacutevel entender a dificuldade teacutecnica que enfrentaram
todos os diretores de Ipanema em produzir um ferro de boa qualidade pois a
magnetita aleacutem de sua exagerada densidade apresentava-se impregnada de
ocircxido de Titacircnio ldquofatores que contribuem de forma decisiva para dificultar sua
reduccedilatildeo mesmo em altos fornosrdquo (FRAGA 1968 p 86) Entre as pesquisas
realizadas por essa Escola estatildeo os trabalhos de Paul Ferrand (1885) e Leandro
Dupreacute (1885) Joatildeo Pandiaacute Caloacutegeras (1893 1895 19041828) e Ferdinando
Gautier responsaacutevel em 1891 pela identificaccedilatildeo da presenccedila de foacutesforo no
mineacuterio elemento tambeacutem nocivo para a produccedilatildeo do ferro Ainda no seacuteculo XIX
8 Fundentes satildeo materiais que quando mesclados com o carvatildeo vegetal dentro do forno facilitam a fundiccedilatildeo dos mineacuterios no caso de mineacuterios de ferro Em Ipanema eram utilizados como fundentes os dioritos tambeacutem chamada ldquopedra verde (do alematildeo grunstein) 9 A Escola de Minas de Ouro Preto foi inaugurada em 1876 Destinava-se a formar profissionais para a mineraccedilatildeo
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estatildeo os relatos elaborados pelo naturalista viajantes como Saint Hilaire Von
Martius e Zaluar
No seacuteculo XX os trabalhos relacionados com aquele empreendimento
foram desenvolvidos em duas linhas de investigaccedilatildeo o da histoacuteria econocircmica e
da social Nesta uacuteltima as anaacutelises privilegiaram as abordagens sobre o processo
de trabalho e mais para o final daquele seacuteculo para as questotildees sobre o meio
ambiente como os aspectos da ecologia florestal recursos hiacutedricos gestatildeo
ambiental e do turismo ecoloacutegico
Os trabalhos historiograacuteficos daquele seacuteculo pouco acrescentaram aos
aspectos relacionados com a implantaccedilatildeo dos primeiros empreendimentos
metaluacutergicos anteriores agrave construccedilatildeo da Real Faacutebrica10 Contudo trecircs trabalhos
podem ser destacados pelas contribuiccedilotildees seja pela releitura de documentos
ainda existentes como foi o caso dos estudos realizados por Maacuterio Neme seja
pelos trabalhos de pesquisa documental elaborados tanto por Leda Maria Pereira
Rodrigues quanto por Estefania Knotz Canguccedilu Fraga
No primeiro caso Maacuterio Neme apresenta em seu livro Notas de Revisatildeo da
Histoacuteria de Satildeo Paulo uma reavaliaccedilatildeo das obras de Pedro Taques bem como
de outros autores que tratam da histoacuteria de Satildeo Paulo ateacute o momento da 10 Entre as obras direcionadas a um contexto geral brasileiro estatildeo Sylvio Froes Abreu (19371962) Afranio do Amaral (1946) Renato Frota de Azevedo (1955) Tanus Jorge Bastini (1957) Vicente Licinio Cardoso (1924) Sobrinho Costa e Silva (1953) Alpheu Diniz Gonccedilalves (1937) R Hermanns (1958) R N Jafet (1957) Theodor Knecht (1931) Viktor Leinz (1942) Clodomiro de Liveira (1914) Niacutecia Vilela Luz (1961) Manuel Moreira Machado (1919) Roberval Germano Medeiros (1947) Geraldo Magella Pires de Melo (1957) Geraldo Dutra Moraes (1943) Almiro de Lima (1929) Matias Gonccedilalves de Oliveira Roxo (1937) Edmundo de Macedo Soares (1953) Gilberto Freyre (1988) Francisco Adolpho de Varnhagen (1956) Joseacute Epitaacutecio Passos Guimaratildees (1981) Francisco Magalhatildees Gomes (1983) Francisco de Assis Barbosa (1958) Francisco de Assis Carvalho Franco (1928) Silvia Figueroa (1997) Roseli Santaella Stella (2000) Para anaacutelises direcionadas ao Estado de Satildeo Paulo estatildeo as de Paulo R Pestana (1928) Luis Flores de Moraes (1930) Afonso Taunay (1931) Benedito Lima de Toledo (1966) Maacuterio Neme (1959) Seacutergio Buarque de Holanda (1960 1966) Ernani da Silva Bruno (1953) Jesuiacuteno Feliciacutessimo Juacutenior (1969) Washington Luis (1956) Gabriel Pedro Moacyr (1935) E aqueles relacionados agrave histoacuteria local da Real Faacutebrica estatildeo o de Joseacute Monteiro Salazar (1982) Astor Franccedila Azevedo (1959) Luiz de Almeida Castanho (1937 1939 1958) Jaime Benedito de Arauacutejo (1939) Ezequiel Freire (1953) Emanuel Soares Veiga Garcia (1954) Joatildeo Lourenccedilo Rodrigues (1953) Otaacutevio Tarquiacutenio de Souza (1946) Heacutelio Vianna (1969) Andreacute Davino (1965) Guido Ranzani (1965) Miriam Escobar (1982) Theodoro Knecht (1930) Helmut Born (1989) Lenharo S L R (1996) Antonio Maciel Botelho Machado (1998) e Jaime Rodrigues (1998) Aluiacutezio de Almeida (2002)
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publicaccedilatildeo da obra em 1959 confrontando as afirmaccedilotildees dos autores com base
nos documentos disponiacuteveis naquele momento A obra segundo o autor fora
escrita com base em pesquisa documental realizada por ele durante duas
deacutecadas tendo concluiacutedo que ldquofirmamo-nos na convicccedilatildeo mais absoluta de que a
crocircnica de nossa formaccedilatildeo e evoluccedilatildeo estaacute a exigir ampla revisatildeo quer em
mateacuteria de fatos e acontecimentos na sua ocorrecircncia e significaccedilatildeo imediata e
futura e no que toca a dados datas e nomes quer em mateacuteria de interpretaccedilatildeordquo
(NEME1959 p11)
Ao final deste trabalho Neme conclui que os dados oferecidos por Pedro
Taques a respeito da construccedilatildeo de uma Faacutebrica de ferro por Afonso Sardinha no
Morro de Araccediloiaba natildeo passou de uma faacutebula criada por aquele autor sendo
que a uacutenica Faacutebrica de ferro que de fato existiu no iniacutecio do seacuteculo XVII foi a de
Santo Amaro
No segundo trabalho a ser considerado trata-se de um artigo publicado em
1966 pela historiadora Leda Maria Pereira Rodrigues intitulado As Minas de ferro
em Araccediloiaba (Satildeo Paulo Seacuteculos XVI-XVII-XVIII) onde a autora afirma que ldquoos
primoacuterdios de nossa Histoacuteria fazem surgir duacutevidas difiacuteceis de serem esclarecidas
pois haacute falta de documentos coesos que provem incontestavelmente a veracidade
de certas afirmaccedilotildeesrdquo Neste mesmo trabalho ela conclui que ateacute a instalaccedilatildeo da
Real Faacutebrica em 1810 todos os empreendimentos anteriores constituiacuteram numa
ldquoseacuterie de tentativas frustrasrdquo A autora demonstra que pelo menos dois
empreendimentos foram efetivamente implementados naquele local o de Luiz
Lopes de Carvalho por volta de 1690 e o de Domingos Pereira Ferreira em 1875
(RODRIGUES 1966 p246-249)
Em 1968 Estefania Knotz Canguccedilu Fraga sob a orientaccedilatildeo da historiadora
Leda Maria Pereira Rodrigues seguindo as discussotildees iniciadas pela autora
acima mencionada desenvolveu uma tese na aacuterea de Histoacuteria do Brasil com o
titulo Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
(1779-1822) Neste trabalho analisou especialmente o empreendimento de
26
Domingos Pereira Ferreira como tambeacutem as primeiras deacutecadas de
funcionamento da Real Faacutebrica sob a direccedilatildeo de Hedberg (1810-1814) e
Varnhagen (1814-1822) A autora depois de enumerar as possiacuteveis causas que
teriam levado ao que atribui ser um ldquoinsucessordquo econocircmico daqueles
empreendimentos conclui que
mesmo que a faacutebrica de ferro de Araccediloiaba (como
primitivamente era denominado o local) natildeo possa oferecer
ao pesquisador nada aleacutem de constantes provas de seu
insucesso ainda assim o propoacutesito que o anima natildeo deve
esmorecer Afinal o que seria da Historia se soacute merecessem
registro os eventos vitoriosos Quantas derrotas natildeo
levaram as vitoacuterias Porque entatildeo omiti-las se fazem parte
integrante da mesma Porque esquececirc-la se refletem uma
circunstancia real mesmo que nela se insinue uma ou mais
ldquoforccedilas obstrutivasrdquo que consagram ao fracasso tudo o que
nela se condiciona mas que nem por isso obstam uma ou
vaacuterias tentativas de superaccedilatildeo Eacute sabido que a dualidade de
forccedilas impele a civilizaccedilatildeo E mais que a tanta gloacuteria existe
na derrota quanto na vitoacuteria quando supotildeem luta E poderaacute
algueacutem negar que Ipanema natildeo foi um glorioso campo de
luta (FRAGA 1966 p 109)
112 Histoacuterico das descobertas das ruiacutenas O Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha foi assim denominado por
ter sido Afonso Sardinha bandeirante e seu filho mameluco11 Afonso Sardinha o
moccedilo apontados por Pedro Taques e pela historiografia como os provaacuteveis
11 Filho de pai branco e matildee indiacutegena No caso dos mamelucos os pais reconheciam publicamente a paternidade e os filhos gozavam da liberdade plena e aproximavam-se agrave identidade portuguesa Essa denominaccedilatildeo cai em desuso no seacuteculo XVIII e eacute substituiacuteda pelo termo bastardo que passava a designar qualquer pessoa com ascendecircncia indiacutegena (MONTEIRO 1994 p 167)
27
descobridores e construtores dos primeiros fornos de fundiccedilatildeo naquele local em
finais do seacuteculo XVI
No ano de 1977 Joseacute Monteiro Salazar pesquisador estudioso da histoacuteria
regional e particularmente da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema acompanhado
pelos engenheiros agrocircnomos Nerzon Nogueira de Barros e Dinchiti Sinzato e
pelo fotoacutegrafo Venedavel Acosta encontrou as ruiacutenas de um possiacutevel Faacutebrica de
ferro que atribuiu ser aquele construiacutedo por Afonso Sardinha em finais do seacuteculo
XVI (SALAZAR 1997156-159) Tal avaliaccedilatildeo decorria do fato de que aquela
regiatildeo teria sido uma aacuterea de provaacutevel exploraccedilatildeo mineral do ferro que
remontaria aos primoacuterdios da colonizaccedilatildeo de Satildeo Vicente conforme apontavam a
historiografia disponiacutevel sobre aquela Capitania
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Fig 1 MAPA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA FLONA ndash Floresta Nacional de Ipanema Escala 1250 000 CENEA- Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola 1985
29
Fig 2 MAPA DE LOCALIZACcedilAtildeO DO SIacuteTIO AFONSO SARDINHA Folheto IBAMA sem data e sem escala
30
Fig 3 DESENHO ESQUEMAacuteTICO DE LOCALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRICA DE FERRO Salazar (1997 p80)
Fig 4 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E JOSEacute MONTEIRO SALAZAR Aspecto do Siacutetio em 1983
31
Fig 5 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E JOSEacute MONTEIRO SALAZAR Iniacutecio das pesquisas no Siacutetio Afonso Sardinha 1983 As ruiacutenas foram localizadas no interior do vale das Furnas onde estaacute o
ribeiratildeo do Ferro que nasce e cruza o Morro de Araccediloiaba desaguando no rio
Ipanema o qual por sua vez eacute um afluente pela margem esquerda do rio
Sorocaba
Este ribeiratildeo
() nasce no Monte do Chapeacuteu e corre primeiro do norte para o
sul e depois de passar pelo Vale das Furnas torce bruscamente
e muda radicalmente de direccedilatildeo fazendo uma grande curva e
passando a correr do sul para o norte indo desaguar afinal no
Ipanema (SALAZAR 1997 p 02)
Foi numa das curvas do ribeiratildeo do Ferro que aquelas ruiacutenas foram
localizadas As estruturas ali descobertas se cercavam de condiccedilotildees fisiograacuteficas
favoraacuteveis para viabilizar a atividade de produccedilatildeo do ferro devido a proximidade
32
das jazidas do mineacuterio existecircncia de matas abundantes assim como de uma
hidrografia favoraacutevel para o aproveitamento da forccedila motriz das aacuteguas
A primeira constataccedilatildeo da existecircncia de uma estrutura por eles encontrada
foi uma fileira de pedras bem conservadas que identificaram ldquocomo canal
certamente para o desvio do rio a fim de mover os martinetesrdquo Descobriram uma
muralha que atribuiacuteram ser uma parede de forja (SALAZAR 1997 p159-160)
113 Consideraccedilotildees sobre a metodologia O termo arqueologia histoacuterica surge nos Estados Unidos nas deacutecadas de
1960 para designar o estudo da cultura material dos europeus no mundo Esse
termo passou a ser oficialmente adotado em 1967 tendo em vista regulamentar a
nomenclatura para designar as pesquisas arqueoloacutegicas em siacutetios histoacutericos que
estavam sendo desenvolvidas nos Estados Unidos Ateacute entatildeo eram utilizados
para identificar aqueles trabalhos arqueoloacutegicos uma nomenclatura diversificada
como arqueologia colonial arqueologia da historia arqueologia de siacutetios
histoacutericos entre outros
Naquela mesma deacutecada a arqueologia histoacuterica passa a ser uma
disciplina valendo-se da aplicaccedilatildeo de meacutetodos de escavaccedilatildeo jaacute consagrados
pela arqueologia preacute-historica e das abordagens teoacuterico-metoloacutegicas voltadas
para a interpretaccedilatildeo dos registros arqueoloacutegicos As ferramentas teoacutericas
metodoloacutegicas apresentadas pela arqueologia foram sendo revisadas e
aprimoradas de modo a contribuir com as anaacutelises destinadas a interpretar as
culturas preteacuteritas
Outra questatildeo diz respeito agrave compreensatildeo do papel da Arqueologia
Histoacuterica aplicada agraves pesquisas desenvolvidas na Ameacuterica tendo em vista a
visatildeo desenvolvida por Charles Orser Jr segundo o qual cabe a esta disciplina
investigar fundamentalmente os ldquo() aspectos mateacuterias em termos histoacutericos
33
culturais e sociais concretos dos efeitos do mercantilismo e do capitalismo que
foi trazido da Europa em fins do seacuteculo XV e que continua em accedilatildeo ainda hojerdquo
(ORSER 1992 p 23)
Posteriormente Orser trouxe novas contribuiccedilotildees a aquela conceituaccedilatildeo
ao formular a Teoria de Rede segundo a qual as pesquisas em Arqueologia
deveriam levar em consideraccedilatildeo a questatildeo das ldquointerligaccedilotildees globaisrdquo
demonstrando a ldquoorigem e os desenvolvimentos ulteriores da globalizaccedilatildeo da
modernizaccedilatildeo e da expansatildeo colonialistardquo criados por ldquoagentes conscientes do
colonialismo do eurocentrismo e da modernidaderdquo que proporcionaram a
criaccedilatildeo de uma ldquoseacuterie de elos complexos e multidimensionais que uniam
diversos povos ao redor do mundordquo (ORSER 1999 p 87)
No que se referem agrave interpretaccedilatildeo dos registros arqueoloacutegicos as
pesquisas em arqueologia histoacuterica empregam teorias e meacutetodos que foram
sendo desenvolvidos por meio da aplicaccedilatildeo de meacutetodos de abordagens como o
Histoacuterico-Culturalismo (foi amplamente difundida entre os arqueoacutelogos
brasileiros) New Archaeology ou Arqueologia Processual e Poacutes-
processualismo e suas derivaccedilotildees Cada meacutetodo privilegiou uma escala
apropriada de anaacutelise para o ldquoHistoacuterico Culturalismo foi o siacutetio para o
Processualismo a regiatildeo e para o Poacutes-Processualismo passou a ser o
indiviacuteduordquo (LIMA 2000 p 2)
No Brasil a formaccedilatildeo da primeira geraccedilatildeo de arqueoacutelogos na deacutecada de
1970 foi orientada por duas correntes teoacutericas A americana representada pelos
arqueoacutelogos Clifford Evans (1920-1981) e Betty Meggers coordenadores do
Programa Nacional de Pesquisas Arqueoloacutegicas (Pronapa) criado na deacutecada
de 1960 E a Francesa representada por Joseph e Annette Emperaire Da
escola francesa destacamos as pesquisas realizadas pelo grupo do Centre
National de la Recherche Scientifique que trabalharam em Minas Gerais
Paranaacute Satildeo Paulo e no Piauiacute em convenio com o Museu Paulista da
Universidade de Satildeo Paulo e a Universidade do Piauiacute com o objetivo de
34
proporcionar as primeiras dataccedilotildees para as obras rupestres e sua inserccedilatildeo no
contexto cultural preacute-histoacuterico (PROUS 1992 p17)
A partir da pesquisas do grupo Franco-Brasileiro foram fornecidas as
primeiras dataccedilotildees radiocarbono a introduccedilatildeo de teacutecnicas e meacutetodos mais
refinados de decapagem e a realizaccedilatildeo de escavaccedilotildees sistemaacuteticas no Brasil
Aleacutem da influecircncia teoacuterica-metodologica o convecircnio entre aquele grupo
representado por Joseph e Annette Laming Emperaire e o Centre National de
la Recherche Scientifique proporcionou a formaccedilatildeo de arqueoacutelogos e de
especializaccedilotildees na Franccedila Entre os anos de 1960-1980 o legado francecircs
permanecia em duas Instituiccedilotildees de Satildeo Paulo o Museu de Preacute-Histoacuteria
(atualmente incorporado ao MAE) e Museu Paulista da Universidade de Satildeo
Paulo e em Minas Gerais no Museu de Histoacuteria Natural da Universidade
Federal de Minas Gerais
A partir da deacutecada de 1960 as pesquisas relacionadas ao campo da
arqueologia histoacuterica foram conduzidas particularmente por arqueoacutelogos preacute-
historiadores que passaram a desenvolver pesquisas em Siacutetios Histoacutericos
Num primeiro momento aquelas pesquisas arqueoloacutegicas foram marcadas
pelas teorias do meacutetodo histoacuterico-culturalista privilegiando monumentos como
igrejas conventos missotildees jesuiacuteticas fortificaccedilotildees solares entre outros
encorajadas pelos oacutergatildeos de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural e
pela receacutem-criada Lei 3924 de 26 de julho de 1961 atraveacutes da qual os
monumentos arqueoloacutegicos e preacute-histoacutericos passaram a serem considerados
como patrimocircnio da Uniatildeo (ANDRADE 1993 FUNARI 1998 RUBINO 1996)
Ateacute a deacutecada de 80 as pesquisas ainda seguiam aquela linha de
investigaccedilatildeo privilegiando pesquisas em monumentos Contudo jaacute havia
perspectivas de novas abordagens de pesquisa notadamente voltadas para
os segmentos sociais desfavorecidos de registros possibilitando ldquorecuperar
memoacuterias sociais reinterpretar a Histoacuteria Oficial resgatar elementos e praacuteticas
da vida cotidiana sobre os quais normalmente natildeo se escreverdquo
35
Proporcionando a arqueologia histoacuterica investigar uma diversificada temaacutetica
transformando em Siacutetios Histoacutericos quilombos unidades domeacutesticas becos
urbanos senzalas tecnologias de produccedilatildeo de materiais e povoados etc
(ANDRADE 1993 p 228)
Neste contexto se inserem as pesquisas em arqueoloacutegica histoacuterica
desenvolvida na cidade de Satildeo Paulo O Programa de Arqueologia Histoacuterica no
Municiacutepio de Satildeo Paulo foi coordenado por Margarida Davina Andreatta do
Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo em colaboraccedilatildeo com o
Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico da Secretaria Municipal de Cultural A
pesquisa realizada a partir de prospecccedilotildees e escavaccedilotildees sistemaacuteticas em
ldquoCasas Bandeiristasrdquo e locais puacuteblicos e privados do municiacutepio como becos
ruas praccedilas quintais lixotildees logradouros etc Entre os anos de 1979 e 1981
foram realizadas pesquisas arqueoloacutegicas no Municiacutepio de Satildeo Paulo nos
Siacutetios Mirim em Ermilindo Matarazzo Sitio de Morrinhos no Jardim Satildeo Bento
Casa do Grito no Parque da Independecircncia ndash Ipiranga Beco do Pinto Bairro
da Seacute Casa n 1 do Paacutetio do Coleacutegio e Casa do Tatuapeacute e no bairro do
Tatuapeacute (ANDREATTA 19812 1986a 1986b) Em 1983 Margarida Davina
Andreatta iniciou as pesquisas arqueoloacutegicas na Fazenda Ipanema ndash Iperoacute
Satildeo Paulo atualmente um aacuterea de proteccedilatildeo ambiental FLONA 12
Durante o desenvolvimento dessa pesquisa foram realizadas
escavaccedilotildees e prospecccedilotildees em uma aacuterea extensa daquela Fazenda incluindo
todas as edificaccedilotildees que pertenceram a Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
(1810-1895)13 e as ruiacutenas existentes no Vale das Furnas junto do ribeiratildeo do
Ferro e interior do Morro de Araccediloiaba Nesta uacuteltima aacuterea denominada Siacutetio
Afonso Sardinha foi evidenciado estruturas de um Faacutebrica de Ferro e Fornos 12 As edificaccedilotildees da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema foram tombadas pelo Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional em 1964 O Siacutetio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha foi registrado tambeacutem no IPHAN em 1997 por Margarida Davina Andreatta Ver Detalhes de Siacutetios Arqueoloacutegicos Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrportalmontaDetalheSitioArqueologicodoid=SP00236gt Acesso em 09mar 2004 13 Foram realizadas pesquisas arqueoloacutegicas nas aacutereas dos altos fornos fornos de carvatildeo edifiacutecio de armas brancas Praccedila Afonso Sardinha entre outros dependecircncias pertencentes a Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
36
de Fundiccedilatildeo e uma diversificada tipologia de materiais os quais compotildee os
documentos arqueoloacutegicos que foram registrados no Inventaacuterio de Peccedilas
relacionadas a pesquisa (exemplos em anexo)
Da pesquisa no Sitio Afonso Sardinha foram produzidos um significativo
conjunto documental formado por inuacutemeras tipologias de documentos de
arquivo que formam o Fundo Sitio Afonso Sardinha A partir dessa
documentaccedilatildeo foi possiacutevel acompanhar o processo de desenvolvimento
daquela pesquisa e tambeacutem contextualizar os documentos arqueoloacutegicos
permitindo assim a realizaccedilatildeo de interpretaccedilotildees quanto sua dataccedilatildeo e
significado Nas palavras de Hodder ldquoa partir del momento em que se conoce
el contexto de um objeto este ya no es completamente mudordquo (HODDER
1994 18)
Os documentos do Fundo Siacutetio Afonso Sardinha satildeo compostos por
diaacuterios de campo relatoacuterios de pesquisa planos de escavaccedilatildeo fotografias
correspondecircncias e tambeacutem por uma coleccedilatildeo formada por documentos de
apoio a pesquisa como plantas topograacuteficas planoaltimeacutetricas bibliografia
histoacuterica e teacutecnica sobre mineraccedilatildeo e fundiccedilatildeo de ferro no Brasil nos primeiros
trecircs seacuteculos de colonizaccedilatildeo
A pesquisa realizada a partir da bibliografia encontrada no Fundo Afonso
Sardinha apontou caminhos de investigaccedilatildeo que direcionaram para uma
bibliografia teacutecnica e histoacuterica sobre a teacutecnica da produccedilatildeo de ferro
desenvolvida na Europa especialmente na Espanha entre os seacuteculos XVI-
XVIII Aleacutem disso foi agregada aquela investigaccedilatildeo um conjunto de
documentos de cunho oficial escritos pelos empreendedores daquela
produccedilatildeo e oacutergatildeos administrativos coloniais como a Cacircmara da Vila de Satildeo
Paulo
Assim os documentos pertencentes ao Fundo Afonso Sardinha
documentos textuais oficiais e documentos arqueoloacutegicos ndash permitiram
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interpretar que a aacuterea do Siacutetio corresponde a um campo de trabalho de
produccedilatildeo de ferro e que as atividades de mineraccedilatildeo e fundiccedilatildeo estavam
distribuiacutedas por uma aacuterea extensa com forte influencia dos modelos de ferrarias
de aacutegua que haviam no periacuteodo pesquisado na regiatildeo basca da Espanha
Assim as possibilidades dadas pela arqueologia histoacuterica de permitir a
utilizaccedilatildeo tanto de documentos arqueoloacutegicos (artefatos) e textuais na
realizaccedilatildeo da pesquisa e produccedilatildeo do conhecimento eacute tambeacutem uma das
principais tensotildees que norteiam as questotildees teoacutericas-metodoloacutegicas da
arqueologia histoacuterica Para tanto autores como Anders Andreacuten ao considerar
que o problema da arqueologia histoacuterica eacute o encontro entre a cultura material e
a escrita indica tambeacutem que a arqueologia histoacuterica natildeo pode ignorar as
disciplinas que tratam do homem como eacute o caso da Histoacuteria da Antropologia
ou da Filologia propondo que a metodologia em arqueologia histoacuterica deve
estabelecer ldquodialogue between artifact and text that is unique in relation to
prehistoric archeology as well as historyrdquo (ANDREacuteN 1998 p 177)
114 Descriccedilatildeo geral das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas Entre os anos de 1983 ndash 1989 as ruiacutenas encontradas por Joseacute Monteiro
Salazar (1982) foram objeto de uma pesquisa arqueoloacutegica iniciada pelo
Protocolo de Intenccedilotildees entre o Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo e o
CENEA ndash Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola - oacutergatildeo autocircnomo do Ministeacuterio
da Agricultura ao qual a Fazenda Ipanema estava ligado A pesquisa foi
coordenada pela arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta do Museu Paulista da
Universidade de Satildeo Paulo14
14 A Fazenda Ipanema pertenceu ao CENEA Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola oacutergatildeo autocircnomo do Ministeacuterio da Agricultura ateacute a extinccedilatildeo desse Centro em 1990 eacutepoca em que foram exploradas as minas de Apatita para a fabricaccedilatildeo de adubos A pesquisa arqueoloacutegica nesta aacuterea foi coordenada pela pesquisadora e arqueoacuteloga Profa Dra Margarida Davina Andreatta tendo como assistente o pesquisador da Historia regional Joseacute Monteiro Salazar aleacutem de estagiaacuterios da Universidade de Satildeo Paulo e voluntaacuterios
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Fig 6 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E EQUIPE EM REUNIAtildeO COM A DIRETORIA DA FLORESTA NACIONAL DE IPANEMA 1984
Fig 7 ASPECTO DA FAacuteBRICA DE FERRO em 1987
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Fig 8 Planta da aacuterea do Sitio Afonso Sardinha aacutereas A1 e A2
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As pesquisas arqueoloacutegicas desenvolvidas no sitio Afonso Sardinha
evidenciaram a existecircncia de um campo de produccedilatildeo de ferro localizado na
margem esquerda do ribeiratildeo do ferro o qual se mostrou formadas por duas
aacutereas identificadas durante aqueles trabalhos como aacuterea A1 e aacuterea A2
mostradas no Mapa da Figura 8
A aacuterea A1 situada no setor norte do campo apresentou ruiacutenas de uma
edificaccedilatildeo relativamente maior de produccedilatildeo de ferro composto por quatro setores
identificados como Forno (setor A) Forja (setor B) espaccedilo entre a Forja e o Canal
(setor C) e Canal (setor D) espaccedilo sul da estrutura (setor E)
Nessa aacuterea A1 a pesquisa arqueoloacutegica possibilitou as seguintes principais
evidecircncias
(i) ocorrecircncias de escoacuterias de forma disseminada e tambeacutem na forma de
um amontoado junto a parede externa (sul) da Forja
(ii) ocorrecircncias de telhas na aacuterea ao sul das paredes dos setores BC e D
(iii) ocorrecircncias de cravo e lacircminas de metal tambeacutem na aacuterea sul da
estrutura
(iv) ocorrecircncia de ceracircmica neo-brasileira nos setores da forja (B) e do
Forno (A)
(v) ocorrecircncia de faianccedila portuguesa nos setores da Forja (B) e do Forno
(A)
(vi) ocorrecircncia de vidro na parte norte do Forno (setor A) parte externa da
Forja (setor B) e tambeacutem um fragmento no setor E (parte sul da estrutura)
41
(vii) ocorrecircncia de metal na parte interna e externa da Forja (B) na aacuterea E
parte interna da aacuterea (C) e face oeste do Canal (D)
(viii) evidecircncias de esteios nas laterais do Canal (D)
Fig 9 Detalhe da aacuterea A 1 ndash Sitio Afonso Sardinha
42
Fig 10 VISTA GERAL DA AacuteREA A 1 ndash Sitio Afonso Sardinha 1987
Fig 11 VISTA GERAL DA AacuteREA A 2 ndash Siacutetio Afonso Sardinha 1987 Na aacuterea A2 mostrada na figura 12 as pesquisas arqueoloacutegicas
evidenciaram a existecircncia de duas subaacutereas sendo uma denominada de A2-B e a
43
outra de D constituiacuteda de parte de um muro de pedras cuja estrutura natildeo foi
possiacutevel identificar
Fig 12 DETALHE DA AacuteREA A 2 ndash Sitio Afonso Sardinha Na aacuterea A2-B (Morrote) foram observadas as seguintes evidecircncias
(i) ocorrecircncia de dois fornos soterrados sob um Morrote na aacuterea
designada como A2-B
(ii) ocorrecircncia de tijolos telhas e mureta de pedra
44
Na aacuterea D da figura 12 foram observados
(i) mureta de estrutura natildeo identificada
(ii) ocorrecircncia de duas estruturas circulares de natureza natildeo
identificada
(iii) ocorrecircncias de ceracircmicas telhas e tijolos
(iv) Ao sul da aacuterea A2-B observou-se a existecircncia de um muro de
pedra interpretado como sendo parte de um canal tendo ao seu lado duas
estruturas circulares com diacircmetro de 15 m (Figura 13 e 14)
Fig 13 PLANTA MORROTE ndash AacuteREA A2-B 1987
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Fig 14 MORROTE COM EVIDENCIAS DE ldquoFORNOrdquo AacuteREA A2
46
12 Principais questotildees a serem abordadas no decorrer da Tese Os estudos histoacutericos disponiacuteveis acima apresentados bem como os
resultados das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas conforme descritas nos itens
anteriores permitem relacionar um conjunto de questotildees que consideramos
importantes para esclarecimento do processo de instalaccedilatildeo da Faacutebrica de ferro
em Araccediloiaba (Sitio Afonso Sardinha) no periacuteodo compreendido entre o final do
seacuteculo XVI ao seacuteculo XVIII que antecedeu a instalaccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro
de Ipanema em 1810
Tais questotildees podem ser resumidas conforme seguem
I - Avaliaccedilatildeo dos vestiacutegios arqueoloacutegicos das atividades relacionadas agrave mineraccedilatildeo
e agrave produccedilatildeo de ferro a partir do final do seacuteculo XVI e anteriormente agrave instalaccedilatildeo
da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema em 1810
II - Investigaccedilatildeo das possiacuteveis teacutecnicas de produccedilatildeo e meacutetodos de fundiccedilatildeo de
ferro empregadas em Araccediloiaba no periacuteodo de analise desta tese
III - Caracterizaccedilatildeo de modelos de fornos de fundiccedilatildeo e processos industriais
encontrados na aacuterea do sitio arqueoloacutegico
IV ndash Avaliaccedilatildeo das possiacuteveis causas teacutecnicas e cientiacuteficas relacionadas agraves
dificuldades de produccedilatildeo e de qualidade do ferro produzido em Araccediloiaba
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CAPITULO 2
A TECNICA DE PRODUCcedilAtildeO DE FERRO NO PERIODO ENTRE OS SEacuteCULOS
XVI AO XVIII
21 Consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia
Uma das primeiras questotildees para conceituar Teacutecnica refere-se agraves anaacutelises
que permitem diferenciaacute-la do conceito moderno de Tecnologia Ruy Gama (1986
p 19) ao analisar essa questatildeo a partir de autores de liacutengua inglesa observa que
o conceito de tecnologia aparece ldquoora como simplesmente sinocircnimo de teacutecnica ou
de conjunto de teacutecnicas alarga-se as vezes para incluir o produto material das
teacutecnicas e outras vezes menos frequumlentes eacute usada como sinocircnimo de saber
associado as teacutecnicas ou como estudo das teacutecnicasrdquo
A partir de 1930 a preocupaccedilatildeo com a Histoacuteria da Teacutecnica vem se
difundido sobretudo por meio das anaacutelises iniciadas por autores franceses como
Marc Bloch Lefevre de Noeumlttes e Lucien Febvre e ingleses como Abbott Payson
Lynn White Jr e Lewis Munford que a transformaram numa ldquonova disciplinardquo
historiograacutefica 15
No Brasil a primeira discussatildeo sobre essa temaacutetica foi apresentada em
1985 com a publicaccedilatildeo do livro Histoacuteria da Teacutecnica e da Tecnologia organizado
por Ruy Gama Este trabalho eacute formado por uma coletacircnea de textos claacutessicos e
de outros produzidos por autores estrangeiros e brasileiros sobre a Histoacuteria da
Teacutecnica da Tecnologia e da Ciecircncia Entre os textos escritos por autores
brasileiros destacam-se os trabalhos de Fernando Luis Lobo Barbosa Carneiro e
de Julio R Katinsky
15 Os Textos em que estes autores discutem o conceito de Teacutecnica e Tecnologia foram publicados no livro Historia da Teacutecnica e da Tecnologia organizado por Ruy Gama (1985)
48
No texto escrito por esse uacuteltimo autor estaacute um Glossaacuterio dos Carpinteiros
de Moinho onde o autor apresenta os resultados de uma pesquisa que fez sobre
os moinhos hidrauacutelicos no Brasil cuja utilizaccedilatildeo eacute bastante frequumlente nas aacutereas
rurais dos Estados de Satildeo Paulo e Sul de Minas Aleacutem disso oferece um
glossaacuterio de termos empregados ldquobasicamente na construccedilatildeo de monjolos
prensas de mandioca engenhocas de accediluacutecar e moinhos hidrauacutelicos de gratildeos
estes uacuteltimos geralmente preparados para produzir quirera ou fubaacuterdquo (KATINSKY1985 p 216)
Aleacutem desses textos a Coletacircnea traz dois artigos do economista alematildeo
Johann Beckmann (1729-1811) considerado ldquoo pai da Tecnologiardquo por haver
firmado aquele conceito em fins do seacuteculo XVIII e instituiacutedo a disciplina de
Tecnologia no ensino da Universidade de Goumlttingen16 Em 1777 publica a obra
Instruccedilatildeo sobre Tecnologia em que firmava o seu conceito de Tecnologia como
ldquoconhecimento dos ofiacutecios faacutebricas e manufaturas especialmente daquelas que
tem contacto estrito com a agricultura a administraccedilatildeo puacuteblica e as ciecircncias
cameraliacutesticasrdquo (GAMA 1985 p6) Na introduccedilatildeo dessa mesma obra Beckmann
escrevia que
A histoacuteria das artes pode dedicar-se a enumeraccedilotildees das
invenccedilotildees ao progresso e ao curso habitual de uma arte ou de
um trabalho manual mas eacute a tecnologia que explica de maneira
completa clara e ordenada todos os trabalhos assim como seus
fundamentos e suas consequumlecircncias (BECKMANN Apud GAMA
1985 p6)
Serge Moscovici em Essai sur lrsquohistorie humaine de la Nature referindo-se
a Beckmann afirma que este autor conscientemente ldquoforja o termo tecnologia
para designar a disciplina que descreve e ordena os ofiacutecios e as induacutestrias
existentesrdquo (MOSCOVICI apud GAMA 1985 p 8)
16 Goumlttingen era uma das mais conhecidas universidades da Europa agrave qual se vinculavam muitos estadistas e funcionaacuterios administrativos da Alemanha
49
Para Beckmann e outros autores de seu tempo a Tecnologia estava
intimamente ligada agrave escola e basicamente agrave uniatildeo dos ldquosaacutebiosrdquo com os
ldquofabricantesrdquo que dominavam o conhecimento teacutecnico numa eacutepoca em que este
mesmo conhecimento comeccedilava a ser objeto de investigaccedilatildeo de academias e
universidades as quais tinham como objetivo a formulaccedilatildeo de uma linguagem
tecnoloacutegica por intermeacutedio da codificaccedilatildeo de conceitos Ressaltamos ainda que
as propostas de Beckmann e esse novo olhar paras as teacutecnicas estavam
voltadas para o atendimento de demandas sociais surgidas com a Revoluccedilatildeo
Industrial
Se a Tecnologia tem a funccedilatildeo de explicar como afirma Beckmann ela
tambeacutem teve seu tempo de formulaccedilatildeo Segundo Ruy Gama o nascimento do
conceito de Tecnologia pode ser situado historicamente no decorrer da Idade
Moderna sendo difundido a partir do seacuteculo XVII Para este autor tal conceito foi
construiacutedo
pari passu ao desenvolvimento do capitalismo e agrave substituiccedilatildeo do
modo de produccedilatildeo feudalcoorporativo e do sistema de
transmissatildeo do conhecimento apoiado na aprendizagem pelo
emprego do trabalho assalariado e pelo sistema escolarizado do
conhecimento (GAMA 1986 p30)
Dessa forma ateacute pelo menos antes do advento da ldquoRevoluccedilatildeo da Ciecircnciardquo
(1789-1848) especialmente pelas descobertas proporcionadas pela Quiacutemica 17
todos os processos de produccedilatildeo eram realizados a partir de conhecimentos
ldquopraacuteticosrdquo e que natildeo eram e natildeo poderiam ser explicados cientificamente Assim
trabalhavam os carpinteiros camponeses mineiros e fundidores de metais e
outros artesatildeos da Idade Meacutedia associando engenhosidade experiecircncia e
habilidade manual ou em outras palavras centrados no ldquomais rude empirismordquo
(USHER 1994 p 465)
17 A Quiacutemica entre todas as ciecircncias ldquofoi a mais iacutentima e imediatamente ligada agrave praacutetica industrial ndash a Revoluccedilatildeo Industrial - especialmente integrada aos processos de tingimento de tecidos e branqueamento da industria tecircxtilrdquo ( HOBSBAWM 1979 p305)
50
Para Milton Vargas a Tecnologia soacute pode ter vigecircncia depois do
estabelecimento da Ciecircncia Moderna 18
principalmente pelo fato de essa cultura ser um saber que apesar
de teoacuterico deve necessariamente ser verificado pela experiecircncia
cientiacutefica Esse aspecto experimental e portanto empiacuterico da
Ciecircncia moderna proveacutem da ideacuteia renascentista de que tudo
aquilo que fora realizado pela tradiccedilatildeo teacutecnica poderia secirc-lo
tambeacutem pela teoria e metodologia cientiacuteficas o que
evidentemente aproxima o saber teoacuterico-cientiacutefico do fazer
empiacuterico da teacutecnica (VARGAS 1994 p 16)
22 O conceito de Teacutecnica Originaacuterio da Greacutecia Claacutessica o conceito de Teacutecnica estava inserindo num
tipo de ldquosaber-fazerrdquo associado a mitos como o de Hefestos (Vulcano para os
romanos) ndash o ferreiro - senhor do fogo e da forja que segundo aquela mitologia
havia revelado o segredo desta Teacutecnica aos homens Desta perspectiva
mitoloacutegica o conceito de Teacutecnica transformou-se num outro tipo saber-fazer o da
ldquotechneacuterdquo um conhecimento empiacuterico que somente pode ser obtido atraveacutes do
aprendizado baseado na experiecircncia ou entatildeo a partir dos ensinamentos
transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
Neste sentido a Techneacute natildeo eacute uma habilidade qualquer ldquomas uma
habilidade que segue certas regras por isso techneacute significa tambeacutem ofiacutecio
pressupotildee a existecircncia de um substrato um saber e um conhecimento na
18 Para Hobsbawm o progresso da ciecircncia natildeo pode ser entendido como um simples ldquoavanccedilo linear cada estaacutegio determinando a soluccedilatildeo de problemas anteriormente impliacutecitos nele e por sua vez colocando novos problemas Estes avanccedilos tambeacutem procedem pela descoberta de novos problemas de novas maneiras de enfocar os antigos de novas maneiras de enfrentar e solucionar velhos problemas de campos de investigaccedilatildeo inteiramente novos de novos instrumentos praacuteticos e teoacutericos de investigaccedilatildeordquo (HOBSBAWM 1979 p 302)
51
execuccedilatildeo de uma atividaderdquo (NADAL 2000 p 18) Esta forma de saber baseada
na loacutegica prolongou-se atraveacutes da Idade Meacutedia e chegou aos nossos dias com o
tiacutetulo de Teacutecnicas Natildeo satildeo teorias satildeo conhecimentos que tanto podem ser
adquiridos pela praacutetica como pelo estudo de tratados teacutecnicos
Entre os seacuteculos XVI e XVII a Ciecircncia ao romper com a tradiccedilatildeo
escolaacutestica19 avanccedila para o caminho da experimentaccedilatildeo com a valorizaccedilatildeo das
artes (teacutecnica) as quais jaacute vinham se transformando em objeto de preocupaccedilatildeo e
de estudo desde a Baixa Idade Meacutedia e o Renascimento ateacute chegar agrave constituiccedilatildeo
da Ciecircncia Moderna (DANTAS 2004)
Contraposta ao pensamento grego e medieval em que a
contemplaccedilatildeo das verdades era a meta do conhecimento sabe-se
que a partir do Renascimento haacute uma valorizaccedilatildeo do
conhecimento praacutetico bem como uma mudanccedila no estatuto do
conhecimento teacutecnico Haacute uma expectativa de intervenccedilatildeo e de
controle da natureza e correlativamente um reconhecimento da
teacutecnica isto eacute das atividades inventos e construccedilotildees dos
praacuteticos engenheiros e artesatildeos Daiacute se falar em uma nova forma
de saber e uma nova figura de douto Haacute no entanto uma seacuterie de
dificuldades para estabelecer as razotildees do surgimento dessa
dimensatildeo ativa e o papel que ocupa no nascimento da ciecircncia
moderna (OLIVEIRA1997 p )
No seacuteculo XV esse movimento de valorizaccedilatildeo do trabalho teacutecnico dos
artesatildeos ligado agrave experimentaccedilatildeo foi amplamente difundido pela divulgaccedilatildeo
daqueles conhecimentos atraveacutes de publicaccedilotildees A partir de 1630 surgiram os
Tratados Teacutecnicos Manuais20 como tambeacutem dicionaacuterios e enciclopeacutedias que se
dedicavam ao levantamento da terminologia das diversas artes das
nomenclaturas teacutecnicas e da descriccedilatildeo dos processos e dos meacutetodos das artes
19 Escolaacutestica movimento cultural e filosoacutefico medieval baseado em grande parte em comentaacuterios da obra do filoacutesofo grego Aristoacuteteles e de cunho puramente contemplativo 20 Na arquitetura por exemplo o estabelecimento desta praacutetica permitiu a difusatildeo das teorias e desenhos imaginados pelos arquitetos renascentistas findando assim a necessidade de construir e realizar obras para exemplificar as ideacuteias arquitetocircnicas
52
mecacircnicas as quais acabaram por solapar o domiacutenio das corporaccedilotildees de ofiacutecios 21 (BARGALLOacute 1955 p47)
A publicaccedilatildeo dos manuais teacutecnicos teraacute uma importacircncia decisiva
na padronizaccedilatildeo de unidades de medida e de representaccedilatildeo O
esforccedilo por se fazer compreender sem a equivocidade do discurso
do senso comum e sem o hermetismo do discurso maacutegico-
religioso reservado aos iniciados eacute uma forma decisiva de
objetivaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo que muito embora seja fundamental
ao empreendimento da ciecircncia nasce como uma necessidade do
desenvolvimento da teacutecnica As exigecircncias da precisatildeo aparecem
na representaccedilatildeo (desenhos graacuteficos etc) e na linguagem
daquele tipo de saber - as artes mecacircnicas - em seus manuais de
modelos de construccedilatildeo nas descriccedilotildees dos aspectos e
proporccedilotildees dos corpos ou no detalhamento do fabrico e do uso de
instrumentos e artefatos Natildeo eacute difiacutecil ver que esse interesse na
divulgaccedilatildeo de conhecimentos potencializado pelo aparecimento
da imprensa tornava necessaacuteria a padronizaccedilatildeo da divulgaccedilatildeo
com uma linguagem mais objetiva e medidas mais precisas
(OLIVEIRA 1997)
Entre os Tratados Teacutecnicos publicados estaacute a obra De pictura (1435)
considerado o primeiro estudo cientiacutefico da perspectiva pelo italiano Leone
Batista Alberti arquiteto literato e escultor (1404-1472) Para Alberti os artistas
deveriam aprender com todos os outros artesatildeos E o caminho para esse
aprendizado segundo ele consistia em conseguir com os proacuteprios artesatildeos os
21 Dos seacuteculos II (dC) ao XV as Artes estavam classificadas em Artes Liberais e Artes Mecacircnicas As Liberais (assim chamadas por serem consideradas dignas do homem livre) estavam associadas agrave Gramaacutetica Retoacuterica Astronomia Loacutegica Aritmeacutetica Muacutesica Quanto agraves Artes Mecacircnicas organizadas nas aacutereas urbanas eram consideradas menos honrosas mais proacuteprias do trabalhador manualservil como Medicina Arquitetura Agricultura Pintura Escultura Olaria Carpintaria Ferraria Cantaria Ofiacutecio de pedreiros etc As corporaccedilotildees de ofiacutecios ateacute entatildeo responsaacuteveis pelo treinamento dos artesatildeos e pelos segredos dos ofiacutecios (os misteacuterios dos misteres) tinham o sistema de aprendizado baseado na transmissatildeo dos conhecimentos teacutecnicos na praacutetica das oficinas ndash o aprender fazendo ndash que encaminhava o aprendiz na sua carreira passando pela categoria de oficial e finalmente pela de mestre isso quando conviesse agrave corporaccedilatildeo ter mais mestre vale dizer mais oficinas no mercado
53
saberes natildeo divulgados ou secretos dos ofiacutecios Para isso orientava os artistas
para frequumlentar as oficinas e outros lugares de trabalho e fazerem perguntas aos
ferreiros pedreiros construtores de barcos e ateacute aos sapateiros Deveriam
tambeacutem frequumlentemente fingir ignoracircncia para descobrir em que o conhecimento
dos outros excedia aos seus (GAMA 1983 p 284-85)
Esse novo caminho da Ciecircncia o da experimentaccedilatildeo encontra no
pensamento do Filoacutesofo inglecircs Francis Bacon (1561-1626) uma de suas
expressotildees teoacutericas Considerado o fundador da ciecircncia experimental moderna
foi tambeacutem o criador do meacutetodo cientiacutefico baseado na observaccedilatildeo e
experimentaccedilatildeo (empirismo) que permitiram o avanccedilo das teacutecnicas que
transformaram a vida do homem campesino e mineiro do seacuteculo XVII (GAMA
1983 p34)
Em linhas gerais Bacon ldquorejeitou a separaccedilatildeo e a oposiccedilatildeo vigentes nas
filosofias tradicionais entre teoria e praacutetica entre loacutegica e operaccedilotildees reais entre
verdade e utilidaderdquo (GAMA 1983 p 33)
Interpretou essas oposiccedilotildees como oriundas das condiccedilotildees
histoacutericas e sociais bem determinadas que valorizavam a
contemplaccedilatildeo ndash a verdade em sua pureza ndash e que desprezavam
tudo o que fosse ligado agraves atividades praacuteticas e materiais Por
tudo isso preocupou-se em realccedilar tanto quanto fosse necessaacuterio
a importacircncia dos fatores materiais no desenvolvimento da
filosofia e da cultura E a partir daiacute sustenta a identidade entre
verdade e utilidade teoria e atividade operativa conhecer e fazer
e afirma que qualquer separaccedilatildeo e contraposiccedilatildeo entre esses
termos cria obstaacuteculos intransponiacuteveis de resultados efetivos e
eficientes (GAMA1983 p33-34)
54
23 A valorizaccedilatildeo do conhecimento teacutecnico e a ciecircncia experimental moderna Com o nascimento da Ciecircncia Experimental a teacutecnica artesanal e os
procedimentos teacutecnicos ligados agraves Artes Mecacircnicas passaram a ser os meios que
permitiriam o progresso da ciecircncia e o avanccedilo do saber
Joan Luis Vives (1492-1540) filoacutesofo e preceptor da corte inglesa assim
como o italiano Leone Alberti defendia que o homem culto natildeo devia
envergonhar-se de entrar nas oficinas e perguntar aos artesatildeos pelas teacutecnicas
que empregavam em suas artes Vives em sua obra De Tradendis Disciplinis
convidava os estudiosos europeus a prestar grande atenccedilatildeo aos problemas
teacutecnicos relativos agrave construccedilatildeo das maacutequinas agrave agricultura agrave tecelagem agrave
navegaccedilatildeo Advertia ainda que devessem deitar os olhos sobre o trabalho dos
artesatildeos para tentar saber onde e como essas artes foram inventadas buscadas
desenvolvidas conservadas e como aplicaacute-las Dessa forma segundo Vives
(1531 apud ROSSI 1989 p 24) o homem venceria seu tradicional desdeacutem por
aquilo que considerava como conhecimento vulgar o dos artesatildeos22
Nota-se tambeacutem que esse movimento o de valorizaccedilatildeo do saber teacutecnico
nasce no acircmbito das Academias e Associaccedilotildees vinculadas a esta nova
perspectiva de Ciecircncia e natildeo nas Universidades que permaneceram ateacute finais do
seacuteculo XVIII com poucas alteraccedilotildees metodoloacutegicas Entre os novos centros de
conhecimento estavam a Academia dei Lincei en Roma (1603) a Accademia del
Cimento en Florenccedila (1657) a Royal Society de Londres (1660) a Acadeacutemie des
Sciences de Paris (1666) aleacutem de Escolas Artesanais entatildeo criadas que
conjugavam na Ciecircncia Empiacuterica a alianccedila entre o saber (ciecircncia) e o fazer
22 Dentro desta mesma perspectiva devem ser acrescentar as obras do jaacute citado Francis Bacon Harvey Galileu e Boyle que valorizavam a experimentaccedilatildeo e a observaccedilatildeo da natureza reformulando as concepccedilotildees cientiacuteficas e reconhecendo a importacircncia das teacutecnicas e da praacutetica para a Ciecircncia
55
(teacutecnica) Na Espanha por exemplo cria-se uma escola de mineiros exercitados
em teacutecnicas sobretudo nas teacutecnicas metaluacutergicas 23
Assim podemos afirmar que naquele momento entrar no mundo do
conhecimento teacutecnico representava entrar no mundo das corporaccedilotildees de ofiacutecios
desvendando os segredos por meio da apropriaccedilatildeo do saber teacutecnico e da
linguagem utilizada pelos artesatildeos para a realizaccedilatildeo de seus ofiacutecios Para Ruy
Gama A que parece o domiacutenio dos segredos da linguagem dos artesatildeos
foi a porta pela qual se entrou no domiacutenio dos proacuteprios segredos
dos ofiacutecios Dentre os misteacuterios dos misteres a linguagem foi a
primeira a ser desvendada decifrada e jogada na rua pelas portas
e janelas arrombadas das oficinas ndash numa espeacutecie de accedilatildeo de
despejo ndash para ser vista por todo mundo (GAMA 1986 p 48)
Nas escolas artesanais surge a Tecnologia como disciplina curricular A
institucionalizaccedilatildeo deste saber permitiu que aqueles conhecimentos teacutecnicos
fossem reunidos estruturados e sistematizados e dessa forma transmitidos a um
nuacutemero cada vez maior de pessoas (GAMA 1994 p 54)
2 4 A Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica
Apesar de toda a diferenciaccedilatildeo jaacute feita entre os conceitos de Teacutecnica e
Tecnologia estes termos satildeo frequumlentemente utilizados como sinocircnimos Autores
da liacutengua ingleses natildeo fazem esta distinccedilatildeo pois consideram entre outros
aspectos que a Histoacuteria da Teacutecnica e a Histoacuteria da Tecnologia apresentam seus
campos embaralhados e sua periodizaccedilatildeo extremamente difiacutecil de definir Lynn
White Jr historiador econocircmico e medievalista americano por exemplo afirma
que a Tecnologia natildeo conhece fronteiras cronoloacutegicas e geograacuteficas pois entende
Tecnologia como o ldquoconjunto de todas as Teacutecnicasrdquo e ldquoas maneiras pelas quais as
56
pessoas fazem coisasrdquo (GAMA 1985 p 14) Mas segundo Ruy Gama esta
definiccedilatildeo natildeo permite nem o estabelecimento de uma fronteira histoacuterico-
cronoloacutegica e nem geograacutefica para situar o ldquonascimentordquo do conceito jaacute que Lynn
o emprega como sinocircnimo de Histoacuteria do Trabalho e dessa forma permite
empregar o termo Tecnologia para todas as realizaccedilotildees e obras materiais dos
povos (GAMA 1985 p 14-15)
Essa concepccedilatildeo de Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica desenvolve-se
num contexto em que entre outros aspectos a Arqueologia e a Histoacuteria
passavam por reformulaccedilotildees conceituais A Arqueologia passava a revelar nos
anos 40 do seacuteculo XX novos documentos materiais relacionados a civilizaccedilotildees da
Ameacuterica preacute-colombiana que supunha-se natildeo conheciam a escrita (pesquisas
atuais comeccedilam a demonstrar que a conheciam) e tampouco a roda elementos
considerados naquele periacuteodo indicadores para qualificar o niacutevel de progresso
teacutecnico de uma determinada sociedade que poderia ser considerada como
ldquoavanccediladardquo ou ldquoatrasadardquo Essas descobertas levaram a uma reavaliaccedilatildeo nas
ideacuteias de progresso e civilizaccedilatildeo e na forma de olhar outras sociedades deixando
de centrar as anaacutelises somente no ldquoeixo tradicional etnocecircntrico europeurdquo (GAMA
1985 p 14-15)
Quanto agrave Histoacuteria o nascimento de uma nova escola historiograacutefica a
Histoacuteria Nova surgida na Franccedila na primeira metade do seacuteculo XX daacute um novo
enfoque teoacuterico-metodoloacutegico agrave pesquisa histoacuterica voltada para a anaacutelise do
cotidiano Esta nova tendecircncia amplia a noccedilatildeo de documento aproximando a
Histoacuteria das demais Ciecircncias Humanas entre elas a Arqueologia possibilitando
nos anos 60 do seacuteculo XX uma ldquoverdadeira Revoluccedilatildeo Documentalrdquo que permitiu
nas anaacutelises historiograacuteficas a incorporaccedilatildeo dos documentos natildeo-escritos -
cultura material ndash viabilizando o estudo das sociedades que natildeo possuiacuteam a
escrita para registrar sua Histoacuteria
Para a divulgaccedilatildeo desse novo conceito de documento Lucien Febvre
idealizou no periacuteodo entre as duas primeiras guerras uma revista de Histoacuteria que
57
seria fundada mais tarde em parceria com Marc Bloch com o nome de Annales
drsquoHistorie Economique et Sociale os ldquoAnnalesrdquo Para Febvre ao analisar o
trabalho do historiador a partir da noccedilatildeo ampliada de documento afirma que
A Historia faz-se com documentos escritos sem duacutevida Quando
estes existem Mas pode fazer-se deve fazer-se sem documentos
escritos quando natildeo existem Com tudo o que a habilidade do
historiador lhe permite utilizar para fabricar o seu mel na falta das
flores habituais Logo com palavras signos paisagens e telhas
Com as formas do campo e ervas daninhas Com os eclipses da
lua e a atrelagem dos cavalos de tiro Com os exames de pedras
feitos pelos geoacutelogos e com a anaacutelise de metais feitas pelos
quiacutemicos Numa palavra com tudo o que pertencente ao homem
depende do homem serve ao homem exprime o homem
demonstra a presenccedila a actividade os gostos e as maneiras de
ser do homem
Toda uma parte e sem duacutevida a mais apaixonante do nosso
trabalho de historiadores natildeo consistiraacute num esforccedilo constante
para fazer falar as coisas mudas para fazecirc-las dizer o que elas
por si proacuteprias natildeo dizem sobre os homens sobre as sociedades
que as produziram e para constituir finalmente entre elas aquela
vasta rede de solidariedade e de entre-ajuda que supre a
ausecircncia do documento escritordquo (FEBVRE 1953 p 428 apud
GOFF 1984 p 98)
Para conceituar Teacutecnica e Tecnologia recorremos tambeacutem ao Dicionaacuterio
das Ciecircncias Sociais de Alain Birou segundo o qual Teacutecnica significa
O conjunto de regras praacuteticas para fazer coisas determinadas
envolvendo a habilidade do executor e transmitidas verbalmente
por exemplo no uso das matildeos dos instrumentos e ferramentas e
das maacutequinas Alarga-se frequumlentemente o conceito para nele
incluir o conjunto dos processos de uma ciecircncia arte ou ofiacutecio
para obtenccedilatildeo de um resultado determinado com o melhor
rendimento possiacutevel (GAMA 1986 p 30)
58
Para este mesmo dicionaacuterio Tecnologia eacute
O estudo e conhecimento cientiacutefico das operaccedilotildees teacutecnicas ou da
teacutecnica Compreende o estudo sistemaacutetico dos instrumentos das
ferramentas e das maacutequinas empregadas nos diversos ramos da
teacutecnica dos gestos de trabalho e dos custos dos materiais e da
energia empregada A tecnologia implica na aplicaccedilatildeo dos meacutetodos
das ciecircncias fiacutesicas e naturais e como assinala Alan Birou tambeacutem
na comunicaccedilatildeo desses conhecimentos pelo ensino teacutecnico
(GAMA 1986 p 30)
Diante dessas consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia salientamos
que neste trabalho pretendemos a partir da Arqueologia Histoacuterica contribuir
para a Histoacuteria da Teacutecnica no periacuteodo colonial brasileiro especialmente no que
diz respeito agraves teacutecnicas relacionadas agrave mineraccedilatildeo e agrave metalurgia
No periacuteodo analisado entre os seacuteculos XVI e XVIII todos os trabalhos
relacionados agravequelas atividades estavam baseados no puro empirismo no saber-
fazer e nas experiecircncias praacuteticas daqueles trabalhadores que sabiam realizar as
operaccedilotildees de fundiccedilatildeo de forma praacutetica mas natildeo tinham instrumentos para
explicaacute-los Somente com o advento da Ciecircncia Moderna especialmente com a
Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute que aqueles mineiros e fundidores puderam compreender
as operaccedilotildees produtivas que realizavam
Assim assumimos a periodizaccedilatildeo proposta por Ruy Gama ao considerar
Teacutecnica e Tecnologia como categorias distintas e portanto que a Histoacuteria da
Teacutecnica natildeo coincide com a Histoacuteria da Tecnologia
59
25 A teacutecnica de produccedilatildeo do ferro no periacuteodo entre os seacuteculo XVI ao XVIII
Los antiguos herrreros descubrieron que si martillaban
repetidamente y recalentaban una y otra vez en fuego de carboacuten
un trozo de mineral de hierro al rojo obteniacutean un metal
extremamente fuerte y duro ndash hierro forjado (CARDWELL 1994
p 33)
Antes do conhecimento dos metais eram aproveitadas ldquotreze diferentes
espeacutecies minerais todas do grupo natildeo-metaacutelicos denominadas calcedocircnia (chert
e siacutelex) quartzo cristal de rocha jaspe serpentina pirita calcita ametista
fluorita esteatita acircmbar e obsidianardquo (GUIMARAtildeES1981p22) A estes minerais
natildeo metaacutelicos pode-se acrescentar a utilizaccedilatildeo de ldquopigmentos minerais usados
para ornamentos e pintura constituiacutedos de argila e oacutexidos metaacutelicos coloridos
embora alguns objetos feitos especialmente de cobre tenham sido encontrados e
datados de aproximadamente 9000 aC (GUIMARAtildeES 1981 p 22)
Atribui-se o iniacutecio do aproveitamento dos mineacuterios para a extraccedilatildeo de
metais entre os anos de 6000 a 5000 aC Admite-se que o cobre teria sido o
primeiro metal produzido pelo homem depois o bronze (uma liga metaacutelica de
estanho e cobre) Na mesma eacutepoca tambeacutem se passou a utilizar o chumbo e por
uacuteltimo o ferro Na chamada ldquoIdade do Ferrordquo houve tambeacutem a difusatildeo da
fabricaccedilatildeo do vidro e do mercuacuterio
Pesquisas arqueoloacutegicas em aacutereas mineiras da Europa tem possibilitado
revisotildees do conhecimento relacionado a natureza das mateacuterias-primas
empregadas na extraccedilatildeo do ferro Tradicionalmente sustentava-se a ideacuteia de que
a mateacuteria-prima com que se confeccionavam os primeiros objetos de ferro teria
origem em meteoritos Esta teoria se aplicava particularmente aos objetos
fabricados com ferro rico em niacutequel Atualmente pesquisas na aacuterea da
paleometalurgia demonstram que a origem de associaccedilotildees do ferro com outros
60
metais ocorre em razatildeo da composiccedilatildeo quiacutemica natural dos minerais utilizados
para a produccedilatildeo destes materiais (FAUS 2000 p 27)
O ferro como alguns outros metais natildeo eacute encontrado na natureza em
forma pura sendo que nestas condiccedilotildees encontra-se sempre combinado com
outros elementos formando oacutexidos carbonatos silicatos e sulfatos Para a
produccedilatildeo do ferro satildeo utilizados mineacuterios sobretudo os oacutexidos tais como a
hematita (Fe2O3) e a magnetita (Fe3O4) 24 Outros mineacuterios de menor importacircncia
para a produccedilatildeo tambeacutem contecircm ferro tais como a Siderita (FeCO3) Limonita
(Fe3O4) Pirita (FeS2) e a (Cromita FeOCr2O3) ( LABOURIAU 1928 p 95-110)
Os termos ldquomineralrdquo ldquomineacuteriordquo e ldquometalrdquo precisam ser esclarecidos para que
se possa compreender a forma da produccedilatildeo do ferro
Mineral eacute uma substacircncia formada em resultado da interaccedilatildeo de
processos geoloacutegicos em ambientes geoloacutegicos naturais Os minerais variam na
sua composiccedilatildeo desde elementos quiacutemicos em estado puro ou quase puro e
sais simples a silicatos complexos com milhares de formas conhecidas
(LABOURIAU 1928 p 95-96)
Mineacuterio eacute toda substacircncia natural da qual se possa fazer a extraccedilatildeo de
algum metal (como a hematita e a magnetita) Assim um mineacuterio eacute sempre uma
substacircncia mineral Entretanto nem todo mineral eacute mineacuterio pois alguns minerais
natildeo permitem a extraccedilatildeo de metais como exemplo pode-se citar a pirita (sulfeto
de ferro) um mineral que eacute aproveitado para a fabricaccedilatildeo do aacutecido sulfuacuterico mas
que natildeo permite a extraccedilatildeo do metal nele contido (o ferro) Por conseguinte a
perita eacute um mineral uacutetil mas natildeo eacute um mineacuterio (LABOURIAU 1928 p 95-96)
Metal cada um de um grande grupo de substancias simples obtidas a
partir de mineacuterios
24 A magnetita eacute assim denominada devido ao seu magnetismo natural eacute um mineral de cor preta acinzentada ou avermelhada com brilho metaacutelico de formula quiacutemica (Fe3O4)
61
Para a extraccedilatildeo do ferro dos seus mineacuterios (geralmente oacutexidos feacuterricos
como a hematita) foram desenvolvidas desde a Antiguumlidade teacutecnicas de fundiccedilatildeo
destes materiais por reduccedilatildeo que utilizavam carvatildeo de madeira como redutor
Entretanto variava de uma regiatildeo para outra o tipo do forno e forma de colocaccedilatildeo
do mineacuterio e do carvatildeo no seu interior
Elena Faus referindo ao caso da tradiccedilatildeo basca defende que ateacute o seacuteculo
XIX os avanccedilos dos meacutetodos de fundiccedilatildeo do ferro tecircm decorrido independentes
da investigaccedilatildeo cientiacutefica Para esta autora esses avanccedilos teacutecnicos foram
realizados por ldquouma multitud anoacutenima de individuos de talento formados a la
sombra del teller protagoniza la Historia de la Tecnologia Son analfabetos y no
han conocido ninguacuten tipo de ensentildeanzardquo (FAUS 2000 p 51) O aprimoramento
da teacutecnica de fundiccedilatildeo podia entatildeo ser considerado como uma sucessatildeo de
ldquoinventosrdquo de artesatildeos que na determinaccedilatildeo em resolver as dificuldades que
surgiam inventaram teacutecnicas de fundiccedilatildeo a partir de experiecircncias praacuteticas pelo
uacutenico meacutetodo que conheciam o da praacutexis do ensaio e erro (FAUS 2000 p51)
Toda a produccedilatildeo do ferro estava fundamentada em conhecimentos
teacutecnicos baseados na praacutetica e que eram conhecimentos secretos restritos aos
membros da respectiva corporaccedilatildeo de ofiacutecio Ateacute a ldquorevoluccedilatildeo da Quiacutemicardquo no
seacuteculo XVIII natildeo havia nenhum conhecimento que pudesse explicar de forma
cientiacutefica o processo em que ocorria a reduccedilatildeo do mineacuterio em metal Soacute a partir
daiacute foi possiacutevel por exemplo explicar a atuaccedilatildeo de um elemento o Carbono
obtido pela queima do carvatildeo vegetal no processo produtivo do ferro Na Franccedila
em 1722 o cientista Reneacute Reacuteaumur concluiu que a diferenccedila entre as distintas
qualidades do ferro e do accedilo resultava da incorporaccedilatildeo de uma substacircncia
material Em 1786 na Sueacutecia os matemaacuteticos Vandermonde e Berthollet e o
quiacutemico Monge confirmaram esta hipoacutetese e identificaram o elemento o
Carbono o mesmo procedente da queima do carvatildeo de madeira utilizado desde
a antiguidade na fabricaccedilatildeo (FAUS 2000 p 21-22)
62
Com o aprimoramento da teacutecnica de fabricaccedilatildeo do ferro descobriu-se
tambeacutem a forma de se produzir accedilo sendo que sua difusatildeo promoveu a
emergecircncia de instrumentos e ferramentas completamente novas dando prestiacutegio
a todos aqueles que dominavam a teacutecnica dos metais Dessa forma o ferro e
depois o accedilo foi empregado na fabricaccedilatildeo de uma diversificada variedade de
instrumentos que anteriormente eram confeccionados com madeira ou pedra
transformando assim a metalurgia em uma teacutecnica extremamente estrateacutegica
Para Donald Cardwel
la metalurgiacutea hizo posibles instrumentos y herramientas completamente nuevos ndash y anteriormente inimaginables - La
importancia fundamental de la metalurgiacutea y el prestigio de los
trabajadores expertos en el metal quedan confirmados como
sentildealaba Samuel Smiles por la frecuencia del apellido Smith
(lsquoHerrerorsquo) Ademaacutes la palabra Smith es de origen noacuterdico o
germacircnico lo cual da una clave para entender la localizacioacuten de
los primitivos centros del trabajo del metal en el occidente
europeo (CARDWEL 1994 p 34 grifo nosso)
A crescente demanda de objetos e utensiacutelios feitos de ferro proporcionou o
aprimoramento das teacutecnicas de fundiccedilatildeo como tambeacutem da especializaccedilatildeo
daquele trabalho
Na Espanha por exemplo os espaccedilos destinados a produccedilatildeo de ferro
foram se especializando Um desses espaccedilos era denominado de ferrarias
maiores que se especializaram na fundiccedilatildeo dos mineacuterios para a obtenccedilatildeo de
metal e outras denominadas de ferrarias menores dedicavam-se aacute manufatura
desse metal ou seja transformando-o em barras ou laminas para fabricar entre
outros produtos instrumentos e acessoacuterios agriacutecolas (ferraduras) armas
(espadas) e materiais construtivos (cravos) etc ( FERNANDEZ p 5)
63
Desde o iniacutecio da metalurgia tem-se buscado tambeacutem a maneira pela qual
os fornos pudessem alcanccedilar temperaturas cada vez elevadas pois para que se
possa retirar o ferro do mineacuterio de forma que fosse possiacutevel o aproveitamento de
todo metal nele existente a temperatura do forno deve se elevar aleacutem de 1535ordmC
ponto de fusatildeo daquele metal
Contudo os primeiros fornos empregados para a reduccedilatildeo com a utilizaccedilatildeo
de carvatildeo vegetal alcanccedilavam apenas temperaturas que variavam entre 1200ordmC
e 1300ordmC insuficientes para a fusatildeo completa e portanto o ferro obtido com
aquela temperatura natildeo era retirado do forno em estado liacutequido e sim em estado
pastoso A essa temperatura (12001300ordm C) o mineacuterio de ferro transformava-se
em uma ldquomassa esponjosardquo repleta de impurezas (escoacuterias que ainda
apresentavam uma significativa quantidade de ferro na sua composiccedilatildeo) Essa
massa era entatildeo colocada sobre uma bigorna e por meio de martelamento
manual ou mecacircnico retiravam-se as escoacuterias que ainda permaneciam grudadas
naquela massa compactando-a e dando forma ao metal
Labouriau ao explicar a accedilatildeo do carvatildeo vegetal durante o processo de
reduccedilatildeo explica que o carvatildeo vegetal em contato com o oxigecircnio da atmosfera
queima produzindo calor formando o gaacutes carbocircnico (CO e CO2) Esse CO2 entatildeo
ao reagir com uma parte do carvatildeo passa para CO e que esse CO juntamente
com uma parte do carvatildeo retira o oxigecircnio do mineacuterio e fica o ferro ligado a um
pouco de Carbonordquo (LABOURIAU 1928 p 146)
Essa teacutecnica de produccedilatildeo de ferro ficou conhecida como ldquoprocesso Diretordquo
ou ldquomeacutetodo de reduccedilatildeo diretardquo e o ferro produzido era o ldquoferro docerdquo Ateacute o seacuteculo
XV com o aparecimento do alto-forno esta era a uacutenica teacutecnica conhecida e
empregada na produccedilatildeo daquele metal No alto-forno o ferro atingia
temperaturas mais elevadas possibilitando uma maior absorccedilatildeo de carbono do
carvatildeo vegetal transformando-se em gusa (ferro-gusa ou ferro fundido) que saiacutea
64
do forno no estado liquido incandescente25 No seacuteculo XVI o alto forno foi
aperfeiccediloado na Alemanha e na Aacuteustria com o aparecimento do Stueckofen (alto-
forno) construiacutedos de alvenaria
Com a utilizaccedilatildeo do alto-forno e com a obtenccedilatildeo do ferro em sua forma
liacutequida foram possiacuteveis as produccedilotildees de armas de fogo balas de canhatildeo sinos
de igreja e mais tarde a fabricaccedilatildeo de adornos para as residecircncias tais como
grades enfim produtos que puderam ser produzidos a partir do ferro liacutequido
deitado em moldes
26 Fornos de fundiccedilatildeo de ferro Segundo Jordi Maluquer Motes no iniacutecio da metalurgia utilizavam-se
pequenos fornos (fornos baixos) para extraccedilatildeo do metal (ferro) os quais natildeo
eram mais que uma cavidade ciliacutendica escavada no terreno ou em uma rocha
Contudo a forma e o tamanho dos fornos foram mudando ao longo do tempo e
de simples cavidades escavadas no chatildeo os fornos comeccedilaram a ganhar ao
redor daquele ciacuterculo paredes de argila refrataacuteria o que permitia fazer fornadas
maiores aumentando assim a produccedilatildeo Contudo todos eles ateacute o advento do
alto-forno produziam por meio da reduccedilatildeo direta o ferro em estado pastoso O
produto (ferro) que ficava no interior do forno apoacutes a fundiccedilatildeo do mineacuterio era
chamado de massa de ferro patildeo de ferro ou lupa (MALUQUER DE MOTES
1983 p21)
25 No Brasil o alto-forno foi construiacutedo apenas no iniacutecio do seacuteculo XIX na Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema quando este estabelecimento estava sob a direccedilatildeo de Hedberg
65
Fig 15 CORTE ESQUEMAacuteTICO DE UM FORNO DE FUNDICcedilAtildeO ndash Forno
baixo26 Natildeo haacute descriccedilotildees detalhadas acerca desses fornos primitivos mas
vestiacutegios encontrados em vaacuterias partes da Europa como em Illasheim
(Alemanha) indicam que estes fornos apresentavam uma planta circular No
centro da Europa outros fornos construiacutedos pelos Celtas tambeacutem apresentavam
reduzidas dimensotildees Os fornos Celtas tinham em meacutedia 35 a 50 cm de
diacircmetro com uma profundidade de 45 a 50 cm Sobre uma base levantavam o
forno propriamente dito construiacutedo por uma parede ciliacutendrica de argila medindo
entre 60 a 100cm Os Celtas chegaram a desenvolver teacutecnicas eficientes de
aceramento (conversatildeo do ferro em accedilo) como por exemplo na Suiacuteccedila onde a
produccedilatildeo de espadas ganhou fama por sua resistecircncia (FAUS 2000 p 32-34)
Fornos ruacutesticos tambeacutem foram encontrados em Bengala Aacutefrica
denominados de fornos africanos ou fornos iacutendios Eram fornos ciliacutendricos e
confeccionados em areia ferruginosa mal amassada sustentada por uma
armadura de bambu Tinham dimensotildees de 090m de altura com um diacircmetro de
030m A base do forno era furada em vaacuterios lugares e colocava-se um fole em
cada uma das aberturas exceto na grade da frente (orifiacutecio pelo qual eram
26 Disponiacutevel em La Farga Rossel lthttpwwwfargarosseladcaslafarga21434htmgt
66
retiradas as escoacuterias) o que dava em geral um total de sete foles por forno
(FAUS 2000 p 50)
Fig 16 MAQUETE FORNO CELTA ndash forno baixo27
Durante o periacuteodo de dominaccedilatildeo romana Roma passou a controlar toda a
exploraccedilatildeo do ouro prata e ferro produzidos em seu impeacuterio Para a produccedilatildeo
desse uacuteltimo metal empregavam teacutecnicas de fundiccedilatildeo utilizando-se dos
chamados fornos romanos As ferrarias romanas eram constituiacutedas de ldquoum
montatildeo de fornosrdquo construiacutedos com barro e palha (RODRIGUES 1964 p11)
27 Disponiacutevel em Exposition 2000 ans de meacutetallurgie en Nivernais des Gaulois agrave Ariane ltjprostclubfravgexpo2003htmlgt
67
Fig 17 FORNO ROMANO RODRIGUES (1964 p 12)
Neste mesmo periacuteodo homens bascos dos redutos resistentes agrave
dominaccedilatildeo romana continuaram a produzir o ferro por meacutetodos de fundiccedilatildeo que
haviam aprendido com seus ancestrais utilizando os chamados ldquofornos de ventordquo
os quais podem ser relacionados agrave primeira fase da elaboraccedilatildeo do ferro As
instalaccedilotildees que utilizavam esses fornos passaram a ser conhecida como ferrarias
secas de montanha de vento Habitualmente os fornos dessas ferrarias eram
construiacutedos em aacutereas montanhosas em pontos elevados a fim de aproveitar a
forccedila dos ventos para ativar a combustatildeo do carvatildeo vegetal (FAUS 2000 p 47)
68
Fig 18 Fornos de vento ou de lupa28
Fig 19 FORNOS DE LUPA OU DE VENTO corte esquemaacutetico
28 Disponiacutevel em La Farga Rossel lthttpwwwfargarosseladcaslafarga21434htmgt
69
Para Jordi Maluquer de Motes a maior dificuldade de operaccedilatildeo da
combustatildeo era o controle das temperaturas do forno sendo que o grande
segredo para a utilizaccedilatildeo desses fornos de vento era a adequada posiccedilatildeo em que
este era instalado e tambeacutem a correta utilizaccedilatildeo dos meios artificiais empregados
na ativaccedilatildeo da combustatildeo do carvatildeo vegetal tal como o emprego de foles
manuais feitos de peles de animais Esse procedimento requeria um esforccedilo
bastante grande de trabalho humano natildeo apenas no acionamento do fole como
tambeacutem para as operaccedilotildees de martelamento da massa de ferro que se formava
no interior do forno (MALUQUER DE MOTES 1983 p 21)
Por utilizarem esta teacutecnica de reduccedilatildeo as ferrarias de vento geralmente
ficavam instaladas em regiotildees distantes dos povoados o que tambeacutem levava um
significativo nuacutemero de fundidores e mineiros a passar parte de suas vidas
distantes daqueles povoados Esse distanciamento suscitou ateacute mesmo o
surgimento de mitos e faacutebulas conforme aponta Elena Faus (2000) que
enriqueceram a cultura popular europeacuteia em especial a cultura basca
Las maravailhas del arte de aquellos seres ton solo por ellos
conocidos les hizo mecedores de leyendas Muchas de ellas les
han sobrevivido y han pasado a integrar el bagaje mitoloacutegico de la
cultura vasca
El velo de magia que enturbiaba la figura de los ferrones se
time en ocasiones de un cierto cariz de condena religiosa Se les
identifica con los lsquogentilesrsquo reacios a la evangelizacioacuten o con el
proprio demonio (lsquosentildeor de los bosquesrsquo o lsquobasejaunrsquo) en persona
(FAUS 2000 p 47)
Outros tipos de fornos de vento ou de montanha foram encontrados na
Ameacuterica Espanhola Em Potosi na atual Boliacutevia os indiacutegenas utilizavam um tipo
de forno para a fabricaccedilatildeo da prata denominado de ldquoforno de guairardquo Estes
fornos mesmo apoacutes a conquista espanhola em Potosiacute foram aproveitados para a
produccedilatildeo daquele metal (BARGALLOacute 1955 p 91)
70
Fig 20 FORNO DE GUAIRA ndash utilizado em Potosi Boliacutevia29
Aleacutem desses fornos de montanha que utilizavam a corrente de ar da
proacutepria atmosfera para acionar a combustatildeo do carvatildeo havia tambeacutem outros
tipos de fornos de fundiccedilatildeo acionados com o emprego de foles manuais Esses
fornos ficaram conhecidos por vaacuterias denominaccedilotildees e podiam ser construiacutedos de
formas e tamanhos diferentes Contudo todos eles apresentavam as mesmas
caracteriacutesticas teacutecnicas eram fornos baixos acionados por foles manuais e que
produziam o ferro utilizando o meacutetodo direto de fundiccedilatildeo Entre esses fornos
destacam os fornos de cuba de lupa de manga e castelhanos (BARGALLOacute
1955 p 91)
29Proyecto Arqueoloacutegico Porco-Potosi Disponiacutevel httplamarcolostateedu~mvanburespanish20participantshtm
71
Fig 21 Forno de Fundiccedilatildeo xilogravura de George Agriacutecola seacutec XVI30
Fig 22 Forno de Fundiccedilatildeo xilogravura de George Agriacutecola seacutec XVI31
30 Disponiacutevel em lttechnologyinfominecomdrmbook11htmgt Acesso em 17nov06
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Tratados Teacutecnicos publicados no seacuteculo XVI como o De re metallica de
George Agriacutecola oferecerem descriccedilotildees e desenhos atraveacutes dos quais eacute possiacutevel
conhecer algumas formas daqueles fornos A partir de algumas gravuras ali
publicadas eacute possiacutevel identificar que os mesmos habitualmente eram construiacutedos
sobre uma base quadrada e eram utilizados na produccedilatildeo muitos metais como o
cobre o ouro prata e tambeacutem o ferro Esses fornos registrados por Agriacutecola
eram especialmente destinados para a fundiccedilatildeo de minerais em pedra Na
Ameacuterica Espanhola receberam o nome de ldquofornos castelhanosrdquo
Um outro autor a abordar esse tema foi Aacutelvaro Alonso Barba No seu
tratado Arte de los Metales afirmava que os fornos castelhanos eram utilizados
tambeacutem em outras partes do mundo A descriccedilatildeo que faz Barba do uso desses
fornos no Peru eacute por si soacute bastante didaacutetica para compreender o seu
funcionamento
Llaman en este reyno hornos castellanos a los que en las otras
trecircs partes del mundo han sido usados y comunes para la
fabricacioacuten de toda suerte de metales De ellos solos trata el
Agriacutecola para este efecto y es una la faacutebrica de todos y no
difieren en mas que en se mayores o menores y tener la boca
por onde el metal fundido sale oacute abierta siempre oacute cerrada a
ratos como se diraacute adelante Levaacutentense estos hornos a
perpendiculo en forma de um pilar quadrado algo maacutes largo que
anchos por lo hueco Tienen de alto algunos una vara otros casi
dos y otros menos seguacuten la grandeza de los fuelles con que
huviere de fundirse y la facilidad oacute dureza de los metales
requiere Por la parte de atraacutes en una ventanilla que para esto se
dexa en la pared algo levantada del suelo se afixa el alchrebiz en
que han de estar los cantildeones de fuelle puesto con advertencia
31 Disponiacutevel em httpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablePrimitivas_instalacionespdfgt Acesso em 17nov06
73
de que no assome oacute passe aacute lo hueco del horno porque las
escorias que sobre eacutel cayeren helaacutendose con el ayre del sopro
no lo paten oacute impidan El suelo del horno se hace de dos partes
de carbon molido y una de tierra buena bien apretado con pisoacuten
Assientase pendiente azia la parte delantera donde tendraacute un
agujero por onde corra el metal fundido y salgan las escorias aacute
una hordilla que junto aacute el estaraacute bien caliente con carbones
encendidos con a llama del horno y aire del fuelle que sale por el
dicho agujero
Otros hacen estos hornos redondos mas anchos de arriba
que de abajo y son menores para lo que se pretende con que se
tenga advertecircncia que siempre este a perpendiculo la parede se
pone el fuelle porque el metal fundido o las escorias no caygan
sobre la boca del alchrebiz y la tanpenrdquo (BARBA 1640 Apud
BARGALLOacute 1955 p 93)
Entre os seacuteculos XII e XVI a teacutecnica de fundiccedilatildeo do ferro experimentou um
notaacutevel impulso em razatildeo da demanda por derivados de ferro incrementada tanto
pelas guerras que necessitavam de ferragens para as montarias apetrechos
defensivos para os soldados e armas mortiacuteferas como por instrumentos para a
agricultura Tambeacutem para a construccedilatildeo das grandes catedrais era necessaacuterio
ferro para as armaccedilotildees metaacutelicas cravos ferramentas entre outros (FAUS 2000
p52)
Para atender a estas demandas era necessaacuterio que se produzisse a maior
quantidade possiacutevel de ferro e os fornos baixos que eram anteriormente
utilizados natildeo atendiam aqueles objetivos Para tanto natildeo apenas os fornos
foram tomando outras formas como tambeacutem houve uma mecanizaccedilatildeo por meio
da utilizaccedilatildeo da energia hidraacuteulica (rodas drsquo aacutegua verticais) e da trompa hidraacuteulica
no processo produtivo tornando obsoletas as ferrarias que utilizavam a forccedila
humana e animal para a produccedilatildeo
A importacircncia da mecanizaccedilatildeo na produccedilatildeo do ferro com o uso da roda
hidraacuteulica e da trompa foi tanta que para alguns autores pode-se consideraacute-la
74
como uma autecircntica revoluccedilatildeo tecnoloacutegica (MALUQUER DE MOTES 1984 p 21-
24)
A aplicaccedilatildeo desse mecanismo (roda drsquoaacutegua) ao processo produtivo fez
com que as ferrarias que anteriormente ficavam concentradas no alto de
montanhas fossem trasladadas para as margens de rios buscando a energia
hidraacuteulica capaz de acionar primeiramente dos foles possibilitando a construccedilatildeo
de fornos de maiores dimensotildees e dessa maneira a produccedilatildeo do ferro em maior
escala
Depois dos foles a roda drsquoaacutegua foi utilizada para a mecanizaccedilatildeo do
acionamento dos malhos (grandes martelos responsaacuteveis por liberarem as
escoacuterias das massas de ferro dando-lhes formas que pudessem ser
comercializaacuteveis como o ferro em barra) A funccedilatildeo da trompa era a mesma dos
foles isto eacute insulflar ar ao interior do forno para que a combustatildeo alcanccedilasse
uma temperatura elevada A trompa era um engenhoso sistema de insuflar ar e
tambeacutem o elemento mais caracteriacutestico do procedimento conhecido como da
ldquofarga catalatilderdquo ou forno catalatildeo
O primeiro emprego da roda drsquoaacutegua vertical na produccedilatildeo de ferro foi
introduzido na regiatildeo correspondente aos Pirineus Catalatildees Neste local
desenvolveu-se uma instalaccedilatildeo destinada a produzir ferro denominado de
ldquofaacutebriques ou faacutebreguesrdquo que depois passou a ser conhecida como ldquofarguesrdquo ou
ldquofargardquo (o termo era usado tanto para descrever os lugares onde era obtido o ferro
como seu processamento) A partir do seacuteculo XIV o emprego da roda foi
difundido na regiatildeo basca ndash Espanha favorecida pelos trecircs elementos
fundamentais necessaacuterios para a sua instalaccedilatildeo a geografia da regiatildeo formada
por um territoacuterio montanhoso com a presenccedila de um significativo nuacutemero de rios
as jazidas de ferro e a floresta que fornecia o carvatildeo vegetal o uacutenico combustiacutevel
utilizado naquele processo ateacute o seacuteculo XVIII32
32 Com a Revoluccedilatildeo Industrial do seacuteculo XVIII passaram a utilizar como combustiacutevel o carvatildeo coque
75
Na Catalunha junto com o desenvolvimento das ldquofargasrdquo aprimoraram-se
tanto as teacutecnicas relacionadas agrave construccedilatildeo dos fornos como ao seu sistema de
funcionamento que ficou famoso no mundo todo como procedimento da ldquoforja
Catalatilderdquo ou ldquoprocedimento catalatildeordquo (MOLERA BARRUECO1983 p11)
A forja Catalatilde ou forno catalatildeo foi um sistema intermediaacuterio entre os fornos
baixo e os altos fornos utilizados atualmente Essa teacutecnica dominou todo o
processo de obtenccedilatildeo do ferro e accedilo durante a Idade Meacutedia espalhando-se para
a Alemanha Aacuteustria Inglaterra Franccedila e Itaacutelia Desde a Idade Meacutedia ateacute finais do
seacuteculo XIX esses paiacuteses entre outros conseguiam produzir ferro mediante aquele
sistema conhecido universalmente como ldquoprocedimento Catalatildeordquo
O periacuteodo aacuteureo do emprego da forja catalatilde se daacute entre os seacuteculos XVII e
XVIII devido sobretudo agrave introduccedilatildeo de um outro mecanismo em substituiccedilatildeo
aos foles acionados pela roda hidraacuteulica a ldquotrompa de aacuteguardquo (sistema empregado
par injetar ar no forno) Desenvolvido na Itaacutelia este novo equipamento se difunde
pelas regiotildees dos Pirineus da peniacutensula Ibeacuterica e foi assimilado pelas
manufaturas catalatildes ateacute o ponto de integraacute-las como uma das caracteriacutesticas do
meacutetodo que leva o nome de ldquofarga catalanardquo ou forno catalatildeo Jaacute nas ferrarias
bascas a trompa de aacutegua natildeo foi amplamente difundida prevalecendo a
utilizaccedilatildeo de rodas drsquoaacutegua para o acionamento de foles e do malho ( MALUQUER
DE MOTES 1983 p 23)
76
Fig 23 ARRANJO DE ldquoFARGA CATALANArdquo OBSERVAR USO DE RODA DrsquoAacuteGUA PARA ACIONAMENTO DO MALHO E A PRESENCcedilA DA TROMPA HIDRAacuteULICA JUNTO AO FORNO33
33 Folheto Museu de Ripoll sd
77
No interior das ldquofargas catalanasrdquo o forno era a parte mais importante Os
fornos de fundiccedilatildeo catalatildees diferentemente dos fornos de vento tinham uma
forma tronco-cocircnica isto eacute ldquouma forma de um tronco de piracircmide invertidardquo
(MALUQUER DE MOTES 1983 p 22) O forno era construiacutedo de pedras
refrataacuterias revestidas em parte de peccedilas de ferro com trecircs paredes planas e
uma convexa esta uacuteltima destinada a facilitar a extraccedilatildeo do produto final (massa)
A parede onde era colocada a ldquotoverardquo (entrada do fole) era oposta agrave convexa e
esta era feita de ferro numa inclinaccedilatildeo de 35o a 45o Em uma das paredes
laterais havia um buraco que deixava passar as escoacuterias liacutequidas
(MOLERABARRUECO1983 p13)
Fig 24 ELEMENTOS QUE COMPOtildeEM A OFICINA DA ldquoFARGA CATALANArdquo Observa- se a presenccedila do forno de fundiccedilatildeo e do malhos acionados por roda drsquoaacutegua34
34 Caderno de Apoio para visitante do Museu de Ripoll ndash Catalunha Espanha sd
78
Um outro aprimoramento teacutecnico do meacutetodo catalatildeo foi a forma como
passaram a carregar o forno Deixando para traacutes o meacutetodo anteriormente
conhecido que consistia em carregar o forno em camadas horizontais superpostas
com carvatildeo vegetal e mineacuterio os catalatildees passaram a carregar o forno por meio
de duas camadas verticais justapostas De um lado do forno (aquele em que
estava instalado o fole) era colocado o combustiacutevel (carvatildeo) de tal maneira que o
oacutexido de carbono que se desprendia da queima era forccedilado a atravessar a coluna
do mineacuterio (que estava disposta em uma outra coluna localizada junto agrave parede
oposta agrave do fole)
A produccedilatildeo do ferro ainda se realizava por meio do meacutetodo de produccedilatildeo
direta Sendo assim ainda se mantinha o processo de martelamento da massa de
ferro por meio do malho (que tambeacutem ficava instalado dentro daquele
estabelecimento) para a obtenccedilatildeo do produto final O meacutetodo catalatildeo natildeo apenas
melhorou a qualidade do produto final mas tambeacutem proporcionou o aumento da
produccedilatildeo
27 Tratados Teacutecnicos de Metalurgia
Entre os seacuteculos XV e XVI arquitetos engenheiros meacutedicos e artesatildeos e
outros publicaram inuacutemeros tratados voltados para os ofiacutecios mecacircnicos ou ldquoArtes
Mecacircnicasrdquo Essa literatura eacute extraordinariamente rica em Tratados de caraacuteter
teacutecnico que podem ser considerados autecircnticos manuais e representaram uma
contribuiccedilatildeo decisiva entre o saber cientiacutefico e saber teacutecnico-artesanal os quais
tiveram um grande efeito no nascimento da cooperaccedilatildeo entre cientistas e teacutecnicos
e entre ciecircncia e induacutestria (ROSSI 1989 p 30)
79
Entre as obras de caraacuteter teacutecnico publicadas naquele periacuteodo destacam-
se os escritos de Brunelleschi Ghiberti Peiro della Francesca Leonardo Cellini
Paolo Lomazzo o trabalho sobre as maacutequinas de guerra de
Konrad Keyser (1366-1405) os tratados teacutecnicos de Fontana
(1420) e Mariano (1438) as obras sobre arquitetura de Leon
Batista Alberti Filarete Francesco di Giorgio Martini Palladio o
livro sobre maquinas militares de Valturio da Rimini (publicado em
1472 reeditado em Verona em 1482 e 1483 em Bolonha em
1483 em Veneza em 1493 e nada menos que quatro vezes em
Paris entre 1532 e 1555) os dois tratados de Duumlrer sobre a
geometria descritivas e as fortificaccedilotildees (1525 e 1527) a
Pirotechnia de Biringuccio (1540) depois reeditada em duas
ediccedilotildees latinas trecircs francesas e quatro italianas) a obra de
baliacutestica de Nicolograve Tartaglia (1537) os dois tratados de
engenharia mineral de Georg Agriacutecola (1546-1556) o Teatro di
macchine de Besson (1569 depois traduzido para o francecircs e o
espanhol) os Mechanicorum libri de Guidobaldo Del Monte
(1577) as Diverse et artificiose macchine de Agostinho Ramelli
(1588) os trecircs livros sobre mecacircnica de Simon Stevin (1586
traduzido do flamengo para o francecircs em 1634) a obra sobre
fortificaccedilotildees de Lorini (1597) os trabalhos de arte da navegaccedilatildeo
de Willian Barlowe (1597) Thomas Harriot (1594) e Robert Hucs
(1599) (ROSSI 1989 p30-31)
Entre os tratados relacionados com a metalurgia e a mineraccedilatildeo
destacamos a De La Pirotechinia considerado o primeiro livro impresso dedicado
agrave metalurgia foi escrito pelo italiano Vannoccio Biringuccio (ca 1480-1539) e
publicado pela primeira vez em 1540 Adepto do empirismo Birunguccio
escreveu esse tratado baseado nas observaccedilotildees diretas do ofiacutecio que havia
adquirido durante as vaacuterias visitas que fez a Alemanha35 onde se destacava o
desenvolvimento de teacutecnicas de exploraccedilatildeo de minas de prata e tambeacutem de
35 Biringuccio visitou a Alemanha em 1516 e entre 1526 e 1529
80
equipamentos que possibilitavam a construccedilatildeo de tuacuteneis e galerias para a
exploraccedilatildeo do subsolo36
Embora tivesse sido publicado na Alemanha no iniacutecio do seacuteculo XVI de
forma anocircnima um conjunto de manuais teacutecnicos sobre o ensaio de metais a
obra de Biringuccio era mais ambiciosa explicava como descobrirem minerais e
veios a maneira de separar o ouro e a prata as teacutecnicas de ensaio e as
propriedades do cobre o zinco e outros metais Analisava aleacutem disso as
propriedades do mercuacuterio do enxofre do antimocircnio e de outros elementos
utilizados no processo de extraccedilatildeo do ouro e prata como tambeacutem os meacutetodos de
obtenccedilatildeo do accedilo aleacutem de apresentar ilustraccedilotildees sobre fundiccedilotildees de canhotildees e
sinos a fabricaccedilatildeo de objetos piroteacutecnicos e algumas poucas informaccedilotildees sobre
mineraccedilatildeo geologia e mineralogia (CARDWELL 1994 p 76)
Um outro tratado importante foi escrito pelo alematildeo Georg Bauer (1494-
1555) conhecido pela forma latina de seu nome como Georgius Agriacutecola Depois
de estudar em Leipzig Bolonha e Veneza foi em 1527 exercer a profissatildeo de
meacutedico em Joachimstal na Boemia a maior aacuterea mineira na eacutepoca Agricola
passou a maior parte de sua vida estudando mineralogia e geologia entre 1546 e
1556 escreveu dois tratados destacando a mineraccedilatildeo e a siderurgia
Em 1546 publicou dois tratados sistemaacuteticos de geologia e mineralogia a
De ortu et causis subterraneorum e a De natura fossilium os quais lhe conferiram
a designaccedilatildeo de ldquoPai da Mineralogiardquo37 O seu trabalho mais importante e de
maior divulgaccedilatildeo foi publicado em 1556 com o tiacutetulo de De Re Metallica - A Arte
dos Metais - o qual serviu como obra teacutecnica de mineraccedilatildeo durante quase dois
seacuteculos seguintes aquela primeira publicaccedilatildeo
36 A Alemanha havia desenvolvido importantes teacutecnicas de mineraccedilatildeo que foram intensificadas pelo contiacutenuo intercacircmbio de experiecircncias com a Hungria e a Sueacutecia 37 Georgius Bauer Agricola (1494-1555) cientista alematildeo considerado o fundador da mineralogia Foi um dos primeiros cientistas que baseou suas teorias na observaccedilatildeo em vez da especulaccedilatildeo Antes dele podemos destacar Alberto Magno (1193-1280) conhecido como Preacute-Tecnoacutelogo escreveu a obra De mineralibus que constitui natildeo somente uma histoacuteria dos mineralogia como tambeacutem uma descriccedilatildeo dos metais
81
O conteuacutedo do livro De Re Metallica estava baseado no estudo das coisas
materiais realizado por meio da observaccedilatildeo descriccedilatildeo sistemaacutetica analiacutetica e
meticulosa da natureza A transcriccedilatildeo dessas observaccedilotildees natildeo requeria apenas a
confecccedilatildeo de textos descritivos mas tambeacutem de ilustraccedilotildees com as quais
procuravam traduzir os conhecimentos obtidos pela observaccedilatildeo em imagens
graacuteficas as mais compreensiacuteveis possiacuteveis (ROSSI 1989 p 52)
Agriacutecola ao escrever a introduccedilatildeo desse tratado esclarecia ao leitor como
havia concebido a sua obra e as dificuldades que enfrentou para concluiacute-la
Diz ele Grandiacutessima fadiga e solicitude realmente aqui coloquei e ainda
algumas boas despesas porque natildeo escrevi simplesmente os
veios os instrumentos os canais as maacutequinas e as fornalhas
mas ainda agraves minhas expensas assalariei os pintores para fazer
seus retratos naturais a fim de que as coisas natildeo conhecidas que
satildeo apresentadas com palavras natildeo tragam real dificuldade agraves
pessoas de hoje ou de tempos vindouros (ROSSI 1989 p 51)
Os retratos naturais referidos por Agriacutecola eram as xilogravuras que
ilustravam as suas obras A partir dessas imagens era possiacutevel visualizar com
exatidatildeo de detalhes as dimensotildees sobre equipamentos instrumentos e teacutecnicas
empregadas na prospecccedilatildeo no processo de fundiccedilatildeo e orientaccedilotildees sobre o uso
da energia hidraacuteulica nas operaccedilotildees mineiras enfim as ilustraccedilotildees traziam
detalhes sobre praticamente todas as etapas das operaccedilotildees mineiras isto eacute
prospecccedilatildeo administraccedilatildeo beneficiamento e transporte de mineacuterios 38
Na segunda parte daquele mesmo livro o autor dedica-se ao ensaio e
tratamento dos minerais Como Biringuccio Agricola mostrava criacutetica e desprezo
pelo trabalho realizado pelos alquimistas Uma de suas criacuteticas referia-se ao
38Agricola demonstra neste Tratado o funcionamento de sete tipos diferentes de bombas de succcedilatildeo incluindo uma bomba muacuteltipla acionada por uma grande roda hidraacuteulica e uma bomba combinada de succcedilatildeo e impelente (bomba impelente bomba que eleva a aacutegua por meio de pressatildeo exercida sobre o liacutequido)
82
meacutetodo empregado por estes na busca de metais enterrados O uso da
radiestesia por meio do emprego de uma vara ou forquilha feita com galhos de
aacutervores era considerado por Bauer apenas uma arte da adivinhaccedilatildeo derivada da
magia antiga e que somente poderia ser e era utilizada por mineiros simples e
ordinaacuterios
A Ameacuterica Espanhola foi tambeacutem palco para a produccedilatildeo do conhecimento
relacionado agrave metalurgia Em 1640 Aacutelvaro Alonso Barba padre em Potosiacute e que
havia aperfeiccediloado o meacutetodo de amalgamaccedilatildeo39 desenvolvido por Bartolomeacute de
Medina (Beneficio de Patio)40 publicou a partir de experiecircncias proacuteprias com a
produccedilatildeo de prata naquele local o livro Arte de los Metales O livro de Barba foi o
primeiro trabalho em que se registrou o processo de amalgamaccedilatildeo por mercuacuterio
que ficou conhecido como ldquomeacutetodo de cazo y cocimientordquo (realizado por meio do
calor dentro de reservatoacuterio de cobre) Este livro foi o primeiro trabalho em que se
registraram as regras para beneficiamento de ouro e prata com a utilizaccedilatildeo do
mercuacuterio
39 Amalgamaccedilatildeo Operaccedilatildeo que consiste em ligar o mercuacuterio a outro metal ou separar o ouro e a prata da ganga por meio do mercuacuterio 40 O ldquobenefiacutecio de paacutetiordquo foi assim denominado pois toda a operaccedilatildeo de produccedilatildeo de prata era realizada em um paacutetio Consistia basicamente em mesclar a Mena (metal) moiacuteda e uacutemida com sal comum e mercuacuterio Esse meacutetodo era menos custoso que aqueles que eram utilizados e seu uso se prolongou ateacute o seacuteculo XIX
83
CAPITULO 3
HISTOacuteRICO DA MINERACcedilAtildeO NO BRASIL NO PERIacuteODO COLONIAL A Histoacuteria das primeiras expediccedilotildees no Brasil mostra que desde o inicio do
seacuteculo XVI jaacute havia uma preocupaccedilatildeo permanente aleacutem do reconhecimento do
novo territoacuterio na busca de metais e pedras preciosas que eram produtos de alto
valor econocircmico e poliacutetico aleacutem do interesse estrateacutegico
Durante os primeiros trinta anos de colonizaccedilatildeo do Brasil Portugal estava
voltado para a exploraccedilatildeo dos produtos da Aacutefrica e Iacutendia inclusive de metais
sendo que esta experiecircncia se reflete nas primeiras expediccedilotildees quando se
constata a preocupaccedilatildeo com a descoberta de metais nobres (ouro e prata)
conforme se demonstra nos itens que seguem
Embora a busca por metais fosse uma constante as exploraccedilotildees durante
a primeira metade do seacuteculo XVI resultaram a descoberta de produtos vegetais
(pau-brasil) e animais exoacuteticos (araras e papagaios) 41
Somente com a descoberta da prata na serra de Potosi em 1545 pelos
espanhoacuteis ficou comprovada a existecircncia de metais nobres no novo continente
31 As primeiras expediccedilotildees mariacutetimas a busca de metais nobres A primeira expediccedilatildeo portuguesa destinada ao reconhecimento do litoral do
Brasil partiu de Lisboa entre os anos 1501-02 sob o comando de Gonccedilalo Coelho
e pelo florentino Ameacuterico Vespuacutecio (cosmoacutegrafo contratado pela Coroa
Portuguesa) Apoacutes terem passado pelos atuais estados do Rio Grande do Norte
Bahia e Rio de Janeiro os navios desembarcaram em janeiro de 1502 numa ilha 41 O pau-brasil era extraiacutedo no litoral compreendido desde o atual Estado do Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro
84
que denominaram Cananeacuteia42 Este local tornou-se na primeira metade do seacuteculo
XVI importante posto avanccedilado responsaacutevel pelo abastecimento de
embarcaccedilotildees que mais tarde passaram a rumar para o sul do continente com o
objetivo de reconhecimento e busca de riquezas minerais
Em 1514 Portugal enviou uma outra expediccedilatildeo ao sul desta vez chefiada
por Joatildeo de Lisboa e Estevatildeo Frois financiada D Nuno Manuel e Cristoacutevatildeo de
Haro em cujo trajeto estava Cananeacuteia e a Ilha de Satildeo Francisco do Sul (Santa
Catarina) Esta expediccedilatildeo descobriu o estuaacuterio do rio que denominaram de Rio da
Prata Os resultados dessa expediccedilatildeo foram informaccedilotildees dadas pelos nativos
(Charruas) sobre a existecircncia de uma ldquoSerra de Pratardquo fato que deve ter
impulsionado o envio da expediccedilatildeo espanhola para o sul de Cananeacuteia em 1515
chefiada por Juan Diaz de Soacutelis (VIANNA 1972 p 54)
Entre 1521 e 1526 Aleixo Garcia junto com outros remanescentes da
expediccedilatildeo de Soacutelis e mais iacutendios guaranis partiram da Costa dos Patos (Santa
Catarina) indo aleacutem do rio paraguay e do Chaco obtendo riquezas perdidas na
viagem de regresso (VIANNA 1972 p 214)
Em 1530 parte de Lisboa a expediccedilatildeo de Martim Afonso de Souza uma
das mais importantes expediccedilotildees portuguesas Tinha como objetivos expulsar do
litoral os franceses que traficavam pau-brasil reconhecer a extensatildeo da costa
pertencente a Portugal promover a ocupaccedilatildeo do territoacuterio criando fortificaccedilotildees
em pontos de interesse estrateacutegico e especialmente explorar o rio da Prata 43
42 Cananeacuteia era local de fronteira entre as terras de Portugal e Espanha estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas (1494) 43 A expediccedilatildeo de Martim Afonso se diferenciou das anteriores pelo fato de ter D Joatildeo III investido estes comandantes de poderes especiais aplicados sobretudo em Satildeo Vicente Entre eles permitia-se a Martim Afonso distribuir terras em sesmarias criar instrumentos juriacutedicos que permitiram o registro de propriedades atraveacutes da instalaccedilatildeo dos tabelionatos e a elevaccedilatildeo de povoados para a condiccedilatildeo de vilas o que possibilitou a instalaccedilatildeo de um processo colonizador na regiatildeo Sobre a expediccedilatildeo ver VIANNA Helio Historia do Brasil Satildeo Paulo Melhoramentos 1970 p56-61
85
Um dos fatos importantes resultantes da vinda dessas expediccedilotildees foi a
integraccedilatildeo do Porto de Satildeo Vicente44 juntamente com Cananeacuteia na rota de
navegaccedilatildeo para o sul do continente Estes portos serviam para abastecer as
embarcaccedilotildees e ali era possiacutevel contratar os ldquoliacutenguasrdquo 45
Em 1532 quando Martim Afonso chegou a Satildeo Vicente encontrou um
nuacutecleo formado por portugueses espanhoacuteis indiacutegenas Essa localidade tambeacutem
jaacute era conhecida como a porta de entrada para o sertatildeo e o caminho natural para
se ir agrave Serra da Prata atraveacutes dos Peabirus (ver item abaixo)
32 O Peabiru uma trilha para o Sertatildeo Tendo em vista a importacircncia da existecircncia de caminhos indiacutegenas
denominados Peabirus como facilitadores da interligaccedilatildeo da Vila de Satildeo Paulo
(Campos de Piratininga) com a regiatildeo onde se localiza o morro de Araccediloiaba
entendemos ser importante discorrer a respeito destas vias
A respeito desse sistema de caminhos escreveu Adolpho Pinto em 1902
() havia estradas extensas construiacutedas pelo gentio comunicando
vaacuterios pontos do litoral com o mais longiacutenquo interior do paiz
podendo-se mesmo dizer que figurava como tronco desse primitivo
sistema de viaccedilatildeo geral uma grande estrada pondo em ligaccedilatildeo as
tribus da naccedilatildeo Guarany da bacia do Paraguay com a tribu dos 44Satildeo Vicente segundo Washington Luiacutes ldquojaacute era um porto conhecido com lugar marcado nos rudimentares mapas da eacutepoca uma espeacutecie de pequena feitoria portuguesa de iniciativa particular visitada de esquadras para o trafico de escravos se forneciam viveres agrave navegaccedilatildeo de longo curso se construiacuteam bergantins e se contratavam liacutenguas da terrardquo LUIZ Washington Na Capitania de Satildeo Vicente Satildeo Paulo Livraria Martins Editora1956 p47 A povoaccedilatildeo de Satildeo Vicente foi elevada agrave condiccedilatildeo de Vila em 1532 com a instalaccedilatildeo de oacutergatildeos administrativos e poliacuteticos como a Cacircmara e Cadeia transformando-a no primeiro nuacutecleo de colonizaccedilatildeo portuguesa do litoral 45 Os liacutenguas eram aqueles versados na liacutengua indiacutegena O Tupi era falado em Satildeo Paulo ateacute meados do seacuteculo XVIII Segundo John Monteiro ldquoo domiacutenio da liacutengua geral ou qualquer outra liacutengua indiacutegena era consideraacutevel uma respeitaacutevel especializaccedilatildeo e a fluecircncia numa dessas liacutenguas limitava-se apenas aos maiores sertanistasrdquo MONTEIRO John Negros da Terra iacutendios e bandeirantes nas origens de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1994 p164
86
Patos do litoral de Santa Catarina com os Carijoacutes de Iguape e
Cananeacuteia e com as tribus de Piratininga e do litoral proacuteximo
(GONCcedilALVES 1998 p8)
Em Satildeo Vicente o Peabiru constituiacutea o acesso obrigatoacuterio que do mar
seguia para os sertotildees do Planalto de Piratininga Construiacutedo de acordo com a
teacutecnica e a tradiccedilatildeo indiacutegena seguia os espigotildees dos morros de modo a evitar
terrenos iacutengremes embora em alguns trechos fossem inevitaacuteveis as encostas
com fortes declividades ((GONCcedilALVES 1998 p6 )
A partir do Planalto de Piratininga seguindo para o interior rumo ao Oeste
o caminho que levava ateacute a regiatildeo das minas de ferro era um Peabiru cuja trilha
contornava os morros do Apotribu no municiacutepio de Itu e alcanccedilava o morro de
Araccediloiaba no atual municiacutepio de Iperoacute interior de Satildeo Paulo
87
Fig 24 Peabiru (Tronco) Passando por Sorocaba (Galdino 2002 p182)
88
Fig 25 Mapa de Pasquale Petrone (GONCcedilALVES1998 p42)
89
33 O descobrimento da prata em Potosi
Em 1545 a Espanha anunciou o descobrimento na regiatildeo denominada de
Alto Peru (atualmente territoacuterio boliviano) de uma montanha denominada de
Potosi com 600 metros de altura onde ocorria uma importante jazida de prata
Diferentemente do que acreditavam portugueses e espanhoacuteis Potosi natildeo estava
localizada nem nas proximidades do rio da Prata nem na regiatildeo sul do continente
onde esperavam descobrir aquela lendaacuteria riqueza
Sergio Buarque de Holanda (1959 p 58) ao discorrer sobre aquela
descoberta escreve ldquotamanho era o prestiacutegio de Potosi que em pouco tempo a
velha atraccedilatildeo do ouro parece suceder facilmente a da pratardquo O ldquofeiticcedilo do Perurdquo
desencadeou um novo direcionamento da poliacutetica portuguesa com um maior
interesse da Coroa Portuguesa nos negoacutecios do Brasil e particularmente na
Capitania de Satildeo Vicente
Para dar maior incremento ao povoamento do interior foi instituiacutedo o
sistema de distribuiccedilatildeo de terras (Sesmarias) Uma dessas sesmarias foi doada a
Afonso Sardinha bandeirante que se destacou na atividade mineradora e
tambeacutem na vida poliacutetica da Vila de Satildeo Paulo na comercializaccedilatildeo com a regiatildeo
do Rio da Prata como proprietaacuterio de engenho de accediluacutecar traficante de escravos
africanos investidor financiador e produtor de ferro Foi um dos financiadores da
instalaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro que comeccedila a funcionar em 1607 46
Acreditava-se que o ldquoCerro de Potosirdquo natildeo ficava muito longe das terras da
Coroa Portuguesa sendo este um dos motivos que impulsionavam as ldquopessoas a
continuarem as buscas em direccedilatildeo do Oeste apesar dos repetidos
desapontamentosrdquo (BOXER 2002 p 45)
46 Afonso Sardinha recebeu suas terras de sesmarias no lugar denominado de Ubataacute abrangendo o atual Butantatilde que eacute o Ubataacute citado por Pedro Taques ou Ibatata Batata ou Ibitatatilde em documentos municipais seiscentistas e setecentistas HOLANDA Sergio Buarque de Caminhos e Fronteiras 1957 p 188
90
Um dos caminhos Peabiru que partindo de Satildeo Vicente demandava o
Potosi passava pela Vila de Satildeo Paulo e seguindo a direccedilatildeo Oeste contornava o
morro de Araccediloiaba onde em finais do seacuteculo XVI iniciou-se a produccedilatildeo de ferro
seguindo para a regiatildeo do Guairaacute (atual Estado do Paranaacute) ateacute alcanccedilar as terras
castelhanas
Pode-se dizer que a esperanccedila de encontrar minas de prata um Potosi em
terras de Satildeo Vicente persistiu ateacute o iniacutecio do seacuteculo XVIII quando de fato
foram encontradas minas de ouro pelos paulistas na regiatildeo dos atuais Estados de
Minas Gerais Mato Grosso e Goiaacutes 47
34 A busca de metais nobres na Capitania de Satildeo Vicente
Desde meados do seacuteculo XVI jaacute corriam notiacutecias sobre a possiacutevel
existecircncia de riquezas minerais no interior da Capitania Joseacute de Anchieta em
carta escrita em Satildeo Paulo de Piratininga em 1554 dava as primeiras
informaccedilotildees sobre as descobertas de minas de ouro prata e ferro48 Neste
mesmo ano o jesuiacuteta Pero Correa tambeacutem destacava a descoberta de mina de
ferro proacutexima daquele local 49
47 As minas de ouro localizadas pelos paulistas foram disputadas tambeacutem por portugueses e baianos e todos reivindicavam aquela descoberta Essa disputa culminou na chamada Guerra dos Emboabas na qual os paulistas foram derrotados As descobertas das minas de Mato Grosso e Goiaacutes marcaram o iniacutecio das monccedilotildees expediccedilotildees fluviais regulares que faziam a comunicaccedilatildeo entre Satildeo Paulo e Cuiabaacute O ouro encontrado onde hoje se ergue a cidade de Cuiabaacute foi achado por escravos do sorocabano Miguel Sutil em 1722 Sobre as Monccedilotildees ver HOLANDA Sergio Buarque de Monccedilotildees Rio de Janeiro Casa do estudante do Brasil 1945 48 Ver Carta do quadrimestre de maio a setembro de 1554 dirigida por Joseacute de Anchieta a Santo Ignaacutecio de Loyola Roma In Minhas Cartas por Joseacute de Anchieta Publicaccedilatildeo 450 anos p 153 49 Carta do Irmatildeo Pero Correa escrita a um padre do Brasil In CARTAS Avulsas 1550-1568Azpilculta Navarro e outros Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Edusp 1988 p 163-165
91
A respeito da pesquisa mineral na Capitania de Satildeo Vicente Heacutelio Vianna
escreve que com a intenccedilatildeo de investigar a existecircncia daquelas riquezas
ldquo() mandou o governo portuguecircs em 1559 um mineiro praacutetico
Luis Martins Por ordem do Governador Men de Saacute no ano
seguinte em Satildeo Vicente partiu ele para indeterminados pontos
do interior em uma leva organizada e dirigida por Braacutes Cubas
Regressando este a Santos em 1562 com algumas amostras de
metais e pedras que enviou ao Reino fez com que no mesmo
ano o mineiro voltasse as suas pesquisas Natildeo muito longe
ainda em terras vicentinas em Jaraguaacute talvez em Caatiba hoje
Bacaetava encontrou afinal o desejado ouro Explorou-o
inicialmente o proacuteprio Braz Cubas depois associado ao Capitatildeo
Mor Jerocircnimo Leitatildeordquo (VIANNA 1972 p 215)
35 D Francisco de Souza a organizaccedilatildeo da exploraccedilatildeo mineral De 1598 eacute a primeira referencia a ldquocertos lsquomontes de Sabaroasonrsquo de
onde um mameluco teria extraido amostras de metal que levadas a Bahia ao
Governador D Francisco de Sousa determinaram a vinda deste a Satildeo Vicenterdquo (VIANNA 1972 p 215)
D Francisco de Sousa Seacutetimo Governador Geral do Brasil (1591-1602) e
a partir de 1606 Governador das Minas das Capitanias do Sul 50 promoveu e
organizou vaacuterias expediccedilotildees ao sertatildeo destinadas a descobrir e explorar minas de
ouro e prata e outros metais Tais atividades eram apresentadas como parte de
50 As Capitanias do Sul correspondiam agraves Capitanias do Espiacuterito Santo Rio de Janeiro e Satildeo Vicente
92
seu projeto de desenvolvimento no qual tambeacutem estava inserido o setor de
agricultura e induacutestria sustentado com base no trabalho indiacutegena 51
A sua maior contribuiccedilatildeo decorre do fato de ter exercido o cargo de
Governador das Minas e de ter se fixado na Capitania de Satildeo Vicente mais
especificamente na Vila de Satildeo Paulo de onde provinham as notiacutecias da
existecircncia de minas de ouro prata e ferro
D Francisco veio para Satildeo Paulo munido de poderes que lhe permitiam
distribuir mercecircs agravequeles que tivessem trabalhado na exploraccedilatildeo das minas
Conforme o Regimento que jaacute vigorava no Peru e nas Iacutendias de Castela o
explorador haveria de aplicar seus proacuteprios recursos na busca e exploraccedilatildeo das
jazidas A contrapartida que poderia ser dada pelo Rei estava no fornecimento
de algumas comodidades e mercecircs (STELLA 2000 p 119)
Atraveacutes de Alvaraacutes D Francisco podia nomear uma quantidade
determinada de pessoas com tiacutetulos de nobreza Estas atribuiccedilotildees fizeram com
que muitos moradores da Vila de Satildeo Paulo despendessem de seus proacuteprios
recursos materiais e de indiacutegenas para organizar expediccedilotildees em buscas daqueles
metais
Em 1599 D Francisco esteve no morro de Araccediloiaba para verificar a
autenticidade e a natureza daquela mina que diziam ter ferro ouro e prata Para
viajar ateacute aquele local enfrentando toda a sorte de perigos D Francisco precisou
solicitar ajuda dos moradores de Satildeo Paulo 52
51 Quando no Cargo de Governador Geral Francisco de Souza conduzido pela esperanccedila de encontrar na regiatildeo das cabeceiras do rio Satildeo Francisco a lendaacuteria Sabarabuccediluacute (uma serra de prata e esmeraldas) organizou em 1596 trecircs entradas ao sertatildeo com saiacutedas da Bahia Espiacuterito Santo e Satildeo Paulo respectivamente A vertente paulista foi chefiada por Joatildeo Pereira de Sousa Botafogo e contava com 25 colonos e seus respectivos iacutendios A maioria desta expediccedilatildeo regressou a Satildeo Paulo ldquosatisfeita com os tupinambaacutes que haviam capturado no vale do Paraiacutebardquo MONTEIROJohn Negros da Terra iacutendios e bandeirantes nas origens de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1994 p 58-68 52 PEREIRA Antonio Batista Carta a Paulo Duarte apud Donato Hernani Sumeacute e Peabiru misteacuterios maiores do seacuteculo da descoberta SP ediccedilotildees GRD 1997 p91
93
Aracy Amaral ao analisar a gestatildeo de D Francisco de Sousa como
Governador das Minas das Capitanias do Sul opina que esse administrador
() representa o veiacuteculo que transportou para Satildeo Paulo uma
experiecircncia uma mentalidade que Castela desde haacute muito
desenvolvia no Meacutexico e no Peru As concessotildees e privileacutegios que
obteve do Rei faziam parte de uma legislaccedilatildeo empregada com
sucesso naqueles domiacutenios Essa nova mentalidade estava
intimamente relacionada com os negoacutecios da mineraccedilatildeo e esse jaacute
chamado de ldquoeldorado-maniacuteacordquo que foi D Francisco tambeacutem
denominado por Taunay de ldquopropulsor dos paulistasrdquo seguia sem
duacutevida a diretriz apontada pelos Felipes (AMARAL 1981 p 13)
Apoacutes a Restauraccedilatildeo Portuguesa em 1640 as buscas pelo ouro e pela
prata permaneceram assim como as concessotildees de mercecircs para aqueles que
descobrissem minas ou incentivassem outros a descobri-las Para Ilana Blaj isso
tudo era ldquoum universo de honra de siacutembolos de dignidade e de prestiacutegio que a
elite perseguia e que a Coroa concedia estreitando ainda mais os laccedilos de
vassalagem no interior do Impeacuteriordquo Sintetizando a autora afirma que ldquoescravos
terra dignidade honrarias e prestiacutegio constituiacuteram os fundamentos da sociedade
colonial brasileirardquo (BLAJ 2002 p 322-338)
Em 1611 D Francisco de Sousa falece na mais extrema pobreza O
mesmo destino que tiveram outros que laacute apostaram na metalurgia Frei Vicente
do Salvador contemporacircneo de D Francisco descrevendo a situaccedilatildeo afirmou
que
() estando tatildeo pobre que affirmou um padre da Companhia que
se achava com elle a sua morte que nem uma vela tinha para lhe
metterem na matildeo si a natildeo mandara levar do seu convento mas
quereria deusalumia-lo em aquelle tenebroso transe por outras
muitas que ainda levado deante de muitas esmolas e obras de
piedade que sempre fez (FRANCO 1929 p 135)
94
36 Teacutecnicos e praacuteticos na mineraccedilatildeo e metalurgia Na Vila de Satildeo Paulo e tambeacutem no Sertatildeo as forjas de ferreiro se
instalaram desde cedo As atividades desses ferreiros se concentravam na
fabricaccedilatildeo de ferramentas como foices machados cravos e anzoacuteis utilizando
ferro em barra ou em lingotes trazido da Europa que eram aqui refundidos em
fornos de forja
Em 1553 Manoel da Noacutebrega noticia a presenccedila de ldquotendas de ferreirordquo
como um dos instrumentos levados nas expediccedilotildees ao Sertatildeo (NEME 1959
p158) Em 1584 trabalhavam em Satildeo Paulo trecircs ferreiros (HOLANDA 1957
p186)
Gilberto Freyre em seu trabalho Ferro e Civilizaccedilatildeo no Brasil (1988 p249-
251) destaca como conhecedor do trabalho com o ferro natildeo somente o colono
portuguecircs como tambeacutem os padres da Companhia de Jesus Para esse autor
ambos haviam iniciado seus saberes com ibeacutericos os quais haviam desenvolvido
as ldquoferreriacuteasrdquo os ldquohornosrdquo e aperfeiccediloado as teacutecnicas de fundiccedilatildeo com o ldquohorno
catalaacutenrdquo Entre os conhecedores de metalurgia estava o jesuiacuteta Joseacute de Anchieta
o qual como jaacute destacamos havia informado em 1554 a existecircncia de mineacuterios
nobres e do ferro nas imediaccedilotildees de Satildeo Paulo 53
Diferentemente do que ocorreu nas colocircnias espanholas da Ameacuterica os
indiacutegenas que aqui foram encontrados natildeo tinham conhecimento metaluacutergico e
portanto natildeo utilizavam nenhuma teacutecnica de fundiccedilatildeo que pudesse ser adaptada
aos interesses do colonizador
Quanto ao conhecimento e a exploraccedilatildeo do mineacuterio e produccedilatildeo do ferro as
teacutecnicas necessaacuterias eram totalmente desconhecidas no Novo Mundo Sendo
53 Joseacute de Anchieta era descendente de bascos seus pais eram de Guipuacutezcoa Proviacutencia do Paiacutes Basco BARBOSA Francisco de Assis Dom Joatildeo VI e a Siderurgia no Brasil Rio de JaneiroBiblioteca do Exercito 1958 p 26
95
assim podemos afirmar que essa teacutecnica foi totalmente trazida pelos europeus
em especial pelos espanhoacuteis
Logo apoacutes a Uniatildeo Ibeacuterica (1580-1640) foi encaminhada para as terras das
colocircnias da Ameacuterica a armada de Diego Flores Valdeacutes 54 A passagem de Valdeacutes
em Satildeo Vicente em 1583 revela o interesse pelas riquezas minerais na regiatildeo
sendo que por este motivo solicita agrave Coroa a vinda de teacutecnicos e especialistas em
minas para dar iniacutecio agrave exploraccedilatildeo das jazidas descobertas Ao mesmo tempo
alerta sobre a necessidade de fortificar Satildeo Vicente pois alegava que ldquohay
camino abierto por tierra que va al Rio de La Plata y al Paraguay y a Sancta Feerdquo
(GONZALEZ 2002 p 46)
Alguns autores atribuem a presenccedila do praacutetico Clemente Aacutelvares nas
expediccedilotildees de Sardinha e seu filho55 Em 1606 Clemente Aacutelvares afirmava que
estava haacute quatorze anos dedicando-se ao descobrimento de minas de ouro e
para isso utilizara seus proacuteprios recursos Ao registrar as minas que ele afirmava
ter descoberto no Jaraguaacute Parnayba e Ybituruna para natildeo perder os direitos
sobre elas afirmava que natildeo entendia de metalurgia ldquosenatildeo por notiacuteciardquo e que
natildeo era um oficial fundidor ou ensaiador 56
Os mineiros vindos do reino foram trazidos por D Francisco de Sousa com
a funccedilatildeo de verificar a autenticidade e a natureza das minas descobertas no
Brasil e nas imediaccedilotildees da Vila de Satildeo Paulo Os homens que acompanharam
em 1591 em sua vinda ao Brasil foram o castelhano Agostinho de Souto Maior
(que havia trabalhado anteriormente em Monomotapa ndash Moccedilambique colocircnia
portuguesa que possuiacutea minas e a metalurgia do ferro e do ouro) o qual foi
nomeado para o cargo de provedor das minas do Brasil Christovam o qual era
54 A armada de Diego Flores Valdeacutes foi enviada para o Estreito de Magalhatildees para iniciar a sua ocupaccedilatildeo e povoamento com a finalidade de estabelecer uma defesa das terras do Impeacuterio Espanhol onde jaacute se havia iniciado a exploraccedilatildeo das minas de prata de Potosi 55 Clemente Aacutelvares paulista mineiro praacutetico e sertanista Em 1634 ainda estava se dedicando agrave busca pelo descobrimento de minas Faleceu em 1641 56 Ver Registro de minas de Clemente Aacutelvares em 16 de dezembro de 1606 ATAS DA CAMARA DA VILA DE SAtildeO PAULO vol II Satildeo PauloA Cacircmara 1917 p 171-173
96
lapidaacuterio de esmeraldas e Joatildeo Correa para seria nomeado feitor das minas de
ferro 57
Para Satildeo Paulo enviados por Francisco de Sousa vieram os mineiros
Gaspar Gomes Moalho Miguel Pinheiro Zurara e o fundidor Domingos Rodrigues
Em 1592 Jacques de Oalte mineiro alematildeo o engenheiro tambeacutem alematildeo
Giraldo Betink o cirugiatildeo Joseacute Serratildeo o mestre fundidor flamengo Corneacutelio de
Arzatildeo e o engenheiro e arquiteto-mor florentino Baccio de Filicaya tambeacutem
mineiro de ouro o qual recebeu de D Francisco de Souza o cargo de engenheiro-
mor Felicaya restaurou e construiu algumas fortalezas e trabalhou durante cinco
anos no descobrimento de minas Aparece registrado no Rio de Janeiro em 1596
como arquiteto fortificador (TAUNAY 2003 p409)
Destaca-se tambeacutem ainda na gestatildeo de D Francisco a presenccedila do
mineiro castelhano Manoel Joatildeo Branco (ou Morales) que foi enviado em
companhia de um outro mineiro de prata ao morro de Araccediloiaba para examinaacute-la
Este mineiro acabou por confirmar que aquela Serra era ldquoriquiacutessima de yerrordquo58
37 A Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro
No iniacutecio do seacuteculo XVII as jazidas de ferro que haviam sido identificadas
nas imediaccedilotildees da Vila de Satildeo Paulo comeccedilaram a ser beneficiadas por Diogo de
Quadros atraveacutes da construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro a qual
comeccedilou a funcionar em 1607 A Ferraria de Santo Amaro foi redescoberta em
1967 por Jesuiacuteno Felicissiacutemo Juacutenior e documentada nas ediccedilotildees de 5 e 6 de
janeiro deste mesmo ano no jornal Diaacuterio de Satildeo Paulo por Manoel Rodrigues
Ferreira ( FELICIacuteSSIMO1969 p14)
57 No mesmo ano em que D Francisco de Souza veio para o Brasil para assumir o cargo de Governador Geral tambeacutem retornava da Espanha Gabriel Soares de Souza o qual se dedicou agrave busca de minas autor de Tratado Descritivo do Brasil de 1587 58 Ver Carta de Manuel Joatildeo Branco Morales a D Felipe IVCORTESAtildeOJaime Jesuiacutetas e Bandeirantes no Guairaacute Rio de Janeiro Biblioteca Nacional 1951 p 182
97
Esta Faacutebrica foi construiacutedo na freguesia de Santo Amaro pela sociedade
formada em 1609 entre Diogo de Quadros juntamente com Francisco Lopes
Pinto e D Antonio de Souza filho de D Francisco de Sousa
Para dar andamento a esse projeto Diogo de Quadros obteve em 1604
de D Felipe III o cargo de provedor das minas da Capitania de Satildeo Vicente e a
concessatildeo de montar e explorar fundiccedilotildees de ferro no Brasil (NEME 1959
p353)
Segundo informaccedilotildees oferecidas por Wilhelm Ludwig Von Eschwege
(1777-1855) a Faacutebrica de Santo Amaro foi construiacuteda agrave beira de um pequeno
ribeiratildeo afluente do rio Pinheiros navegaacutevel a uma distacircncia de duas leacuteguas SE
de Satildeo Paulo Para Eschwege ldquoa situaccedilatildeo dessa pequena faacutebrica era
conveniente porque as margens dos rios proacuteximos estatildeo cobertas de matas
cerradas podendo o carvatildeo ser transportado por via fluvial e mesmo o produto
manufaturado que por essa via podiam ser levados ateacute a serra do Cubatatildeo e
para o interior ateacute o Tietecircrdquo (ESCHWEGE 1944 p336)
Aleacutem desse aspecto a Faacutebrica contava com apoio da Coroa recebendo
dos almoxarifados de Satildeo Vicente Bahia e Rio de Janeiro todas as ferramentas
de ferro que estavam disponiacuteveis e poderiam ser aproveitadas para o trabalho de
fundiccedilatildeo daquele metal Das ferramentas entregues para Diogo de Quadros em
1605 foram arrolados
dous malhos q podiatildeo pesar pouco mais ou menos entre ambos
trecircs quintais e por quintal a razatildeo de trecircs mil reis mais duas
argolas grandes da mesma ferramenta q podiatildeo pezar pouco
mais ou menos trecircs quintaes ao mesmo preccedilo mais duas Cafras
(bigornas) que podiam pezar outros quintaes ao mesmo preccedilo
mais duas chapas pequenas q cada hua pezava duas arrobas no
mesmo preccedilo mais duas chapas grandes q cada hua podia
pezar pouco mais ou menos hum quintal cada hua as quaes
todas juntas podem pezar pouco mais ou menos doze quintais
98
que a razatildeo dos ditos traacutes mil reis por quintal fazem a soma de
36$000 rs 59
Os indiacutecios da presenccedila e utilizaccedilatildeo da roda para fins de produccedilatildeo nesta
Faacutebrica satildeo tambeacutem reforccedilados pelas observaccedilotildees feitas por Eschwege em seu
livro Pluto Brasiliensis onde afirmava que ainda se podia ver ldquoa vala da roda o
lugar da oficina os restos de um accedilude assim como um monte de pesada escoacuteria
de ferrordquo ((ESCHWEGE 1944 p336)
Essas mesmas informaccedilotildees podem ser observadas em um levantamento
topograacutefico realizado em princiacutepios do seacuteculo XIX pelo topoacutegrafo portuguecircs
Rufino Joseacute Felizardo e Costa segundo tenente do Real Corpo de Engenheiros
Rufino provavelmente veio ao Brasil como membro do grupo de engenheiros
militares que constituiacuteram em meados do seacuteculo XVIII as ldquoMissotildees
Demarcatoacuterias destinadas a dar cumprimento aos Tratados de Limites relativos agraves
terras da Ameacuterica celebrados entre Portugal e Espanhardquo 60
O levantamento topograacutefico em questatildeo intitulado ldquoprospecto das ruiacutenas
da antiga faacutebrica de ferro de Santo Amarordquo apresenta uma planta dessa faacutebrica jaacute
em ruiacutenas e sua localizaccedilatildeo proacutexima aos rios ldquodos Pinheirosrdquo e Santo Amaro aleacutem
dos terrenos no seu entorno onde se observa a presenccedila de matas minas de
ferro e canais de derivaccedilatildeo de aacuteguas daqueles rios em direccedilatildeo ao edifiacutecio
confirmando as observaccedilotildees feitas por Eschwege que observou inclusive a
existecircncia da ldquovala da rodardquo (HOLANDA 1957 p188-189)
59Ver Provisatildeo passada por Diogo Botelho a Diogo de Quadros 1605 CLETTO Marcelino Pereira A respeito da Capitania de Satildeo Paulo Sua decadecircncia e modo de restabelececirc-la Santos 25 de outubro de 1782 Annaes da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro vol XXI Rio de Janeiro Typografia Leuzinger 1900 60 TOLEDO Benedito Lima de A Accedilatildeo dos Engenheiros Militares na Ordenaccedilatildeo do Espaccedilo Urbano no Brasil Lisboa 2000 lthttpurbaniscteptRevistanumero4artigosartigo_08htmgt Aceso em 16 de maio de 2006 Os tratados mencionados por Toledo satildeo o Tratado de Madri (1750) e do segundo o Tratado de Santo Ildefonso (1777)
99
Fig 27 Prospecto das ruiacutenas da antiga Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro Rufino Joseacute Felizardo seacutec XIX (HOLANDA1957)
38 A Faacutebrica de Ferro do morro de Araccediloiaba os empreendedores
Afonso Sardinha foi personagem importante na atividade de mineraccedilatildeo do
ouro e do ferro no periacuteodo compreendido entre a segunda metade do seacuteculo XVI
e inicio do seacuteculo XVII sendo um dos primeiros empreendedores da exploraccedilatildeo e
produccedilatildeo de ferro no morro de Araccediloiaba Foi tambeacutem um dos financiadores do
empreendimento da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro Em 1601 recebeu de
Francisco de Souza um regimento que permitia o acesso agraves minas jaacute descobertas
e a descobrir61 Ressalte-se que essa mesma provisatildeo natildeo permitia a ele
ldquoentabularrdquo as minas encontradas as quais deveriam ser trabalhadas somente
apoacutes inspeccedilatildeo feita por mineiros vindos do Reino
61 Ver Regimento do Capitatildeo Diogo Gonccedilalves Laccedilo que lhe deu o Senhor Governador Dom Francisco de Souza DERBY Orville A As Bandeiras paulistas de 1601 a 1604 Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo vol VII Satildeo Paulo Typ Do Diaacuterio Official 1903 p 403
100
Joseacute Monteiro Salazar citando Pedro Taques e outros historiadores
aponta o ano de 1597 para o inicio das atividades da exploraccedilatildeo e fabricaccedilatildeo do
ferro em Araccediloiaba sendo que o empreendimento esteve em atividade ateacute o ano
de 1611 coincidindo com o ano da morte de D Francisco de Sousa
Somente em 1684 surge uma segunda tentativa de exploraccedilatildeo das minas
de Araccediloiaba financiada pela Coroa Portuguesa Para tanto foi enviado agravequele
local o Frei Pedro de Sousa com a finalidade de pesquisar a existecircncia de prata
nas jazidas que estava sendo explorada por Luiz Lopes de Carvalho o qual
contava com matildeo de obra indiacutegena
Entretanto apoacutes ter retirado algumas amostras do mineacuterio na jazida elas
foram ensaiadas poreacutem natildeo foi encontrada a prata motivo pelo qual foi
ordenada pelo Conselho Ultramarino a suspensatildeo daquelas pesquisas
(RODRIGUES 1966 p202)
Na sequumlecircncia o empreendedor Luiz Lopes de Carvalho que administrava
aquela mina retomou a exploraccedilatildeo do mineacuterio de ferro cuja existecircncia jaacute era
comprovada para cuja atividade obteve licenccedila concedida pela Coroa Para
realizar as obras necessaacuterias para o seu empreendimento foi obrigado a
hipotecar em 1681 todas as suas propriedades na Vila do Vimieiro em Portugal
(RODRIGUES 1966 p 214-217)
Em carta escrita no Rio de Janeiro em 1692 ao Rei de Portugal noticiava o
fracasso de seu empreendimento com o esgotamento dos recursos financeiros
Assim descreve
penetrei os Sertotildees mais ragozos so habitado de feras padecendo
as inclemecircncias qe experimentatildeo os q com zello e amor da paacutetria
lhe querem descubrir nossos Thezouros Todas estas calamidades
101
padeci por que haverem persuadido e ter achado alguns Roteiros62
q insinuavatildeo partes e serr[dilacerado] aonde em algum tempo se
achavatildeo Signais evidentes de minas de prata e esmeraldas E por
me esgotar o Cabedal proacuteprio e nam achar q me animasse com
algum socorro vim a entender q e Deus nosso Sr Tem guardado
essa fortuna pa outro q mais lho mereccedila Nestas entradas ao
Sertatildeo fui dar com a dictas Serras de Birasuaiava aonde estatildeo as
minas de ferro que na calidade e fertilidade desse groseiro metal
excede a todos asqe por haver no descuberto (RODRIGUES
1966 p217-219)
Naquele mesmo documento Luiz Lopes de Carvalho discorre sobre as
dificuldades teacutecnicas e materiais que havia enfrentado e destaca que para a
continuidade daqueles trabalhos faltara-lhe a matildeo de obra indiacutegena e um mestre
em fundiccedilatildeo que sugere deveria ser de Figueiroacute (Portugal) Biscaia (Espanha)
Alemanha ou Sueacutecia Aleacutem disso indicava que os fornos de fundiccedilatildeo que ali
deveriam ser instalados fossem do mesmo tipo empregado nas ferrarias de
Figueiroacute em Portugal (RODRIGUES 1966 p217-220)
Nova tentativa de exploraccedilatildeo daquela mina de ferro deveu-se ao portuguecircs
Domingos Pereira Ferreira em 1763 o qual organizou em Lisboa uma companhia
por accedilotildees para a construccedilatildeo de uma faacutebrica de ferro em Araccediloiaba 63 Para
viabilizar esse empreendimento recebeu uma concessatildeo de Sesmarias localizada
junto a mina de ferro para explorar a madeira necessaacuteria agrave fundiccedilatildeo 64
62 Esses roteiros - ou ldquomapas do tesourordquo - parecem ter sido frequumlentes na histoacuteria da mineraccedilatildeo colonial Haacute indicaccedilotildees de roteiros elaborados por Gabriel Soares de Souza para as minas de Sabarabassuacute 63 Foram soacutecios de Pereira Ferreira Matheus Lourenccedilo de Carvalho Caoitatildeo-mor Manoel de Oliveira Cardozo Antonio Lopes de Azevedo Capitatildeo Jacinto Jose de Abreu Silveacuterio Thomaz de Oliva Doacuteria Joatildeo Fritz Gerald (este natildeo participou da Sociedade por ser estrangeiro ndash inglecircs) e o Sargento Mor Antonio Francisco de Andrade Traslado da Escritura de Contrato da Sociedade e Companhia que Fazem Domingos Pereira Ferreira (RODRIGUES 1966 p 228-238) 64 Carta de Sesmaria a Domingos Ferreira Pereira e seus soacutecios de um morro cito termo da Vila de Sorocaba para dele se extraiacuterem lenha para a Faacutebrica de caldear o ferro que ali se pretende erigir por ordem de S Magestade (1767) Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Sesmaria Patente e Provisatildeo Livro n17 p 125 v
102
Em dezembro de 1765 o Capitatildeo-General de Satildeo Paulo encaminhava ao
Conde de Oeiras amostra do ferro que Domingos Ferreira Pereira extraiacutera e
caldeara nas serras de Araccediloiaba Neste mesmo ano chegou a receber
encomendas de Diogo Lobo da Silva Capitatildeo General de Minas Gerais para a
fabricaccedilatildeo de armamentos tais como balas bombas e granadas aleacutem de
municcedilotildees Contudo esses armamentos natildeo chegaram a serem fabricados
Para viabilizar a produccedilatildeo do ferro trouxe de Portugal o mestre fundidor
Joatildeo de Oliveira Figueiredo poreacutem este decidiu abandonar aquele local com a
intenccedilatildeo de se mudar para Angola em 1767 Contudo quando jaacute se encontrava
no Rio de Janeiro foi preso e trazido de volta para Araccediloiaba sob a justificativa de
que ldquosem ele natildeo se poderiam por em praacutetica as experiecircnciasrdquo (CALOacuteGENAS
1904 p37)
O relatoacuterio encaminhado no ano de 1768 por Luiz Antonio de Souza ao
Conde de Oeiras em Portugal informava que o empreendimento de Pereira
Ferreira mostrava dificuldades em conseguir produzir um ferro de boa qualidade
mesmo tendo sido realizado por diversas vezes experiecircncias com o material pois
ldquonatildeo era possiacutevel acertar a caldeaccedilatildeo do ferro nem fazecirc-lo igual as primeiras
amostrasrdquo 65
Pereira Ferreira permanece naquela atividade durante dez anos sendo que
depois desse tempo vendeu a propriedade a Vitoriano Joseacute Sentena morador de
Viamatildeo Este empreendedor tambeacutem natildeo obteve sucesso nesta atividade
culminando por abandonaacute-la quatro anos apoacutes o seu iniacutecio (RODRIGUES 1966
p205-210)
No ano de 1784 Claacuteudio de Madureira Calheiros capitatildeo-mor da vila de
Sorocaba encaminha uma peticcedilatildeo a Martinho de Mello e Castro para explorar
aquelas jazidas Contudo esse projeto natildeo foi aprovado (RODRIGUES 1966 p
212) 65 ver Carta de Luiz Antonio de Souza ao Conde de Oeiras Satildeo Paulo 3 janeiro de 1768 In Dossiecirc Ipanema Arquivo do Museu Quinzinho de Barros ndash Sorocaba-SP
103
Em 1788 com aquele mesmo objetivo foi encaminhada a Bernardo Joseacute
de Lorena uma peticcedilatildeo onde o capitatildeo-mor de Sorocaba Claacuteudio da Cunha Oeiras
e o de Itu Vicente da Costa Taques Goacuteis e Aranha pela qual solicitavam
autorizaccedilatildeo para explorar e fabricar o ferro em Araccediloiaba Tambeacutem solicitavam a
vinda do Reino de ldquoum mestre inteiramente perito naquela arterdquo Juntaram agrave
peticcedilatildeo uma amostra de barra de ferro que diziam terem obtido naquele local
Este projeto tambeacutem natildeo foi viabilizado (RODRIGUES 1966 p212)
39 A Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema
Jaacute no final do seacuteculo XVIII destaca-se a vinda do ldquoquiacutemicordquo Joatildeo Manso
Pereira Diretor Geral das Minas para examinar as jazidas de ferro do morro de
Araccediloiaba e acompanhar os trabalhos de demarcaccedilatildeo dos terrenos nos quais
iriam ser instaladas as edificaccedilotildees da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
Tambeacutem realizou alguns ensaios com aquele mineacuterio mediante a construccedilatildeo de
um alto forno acionado com um fole manual
A esse respeito relata Eschwege (1944 p340) que conheceu Joatildeo Manso
Pereira que durante a primeira experiecircncia para a fundiccedilatildeo do ferro muitas
pessoas das vizinhanccedilas foram atraiacutedas para o local poreacutem ao final do teste
nenhum ferro foi produzido Manso entatildeo fugiu do local e os convidados tiveram
que voltar para as suas casas Eschwege lembrava que Manso ao recordar
aquele fato ldquoria-se gostosamente de toda aquela histoacuteria tendo chegado agrave
conclusatildeo de que para fabricar ferro em grande escala natildeo bastavam
conhecimentos de quiacutemicardquo
Em 1802 Manso Pereira natildeo havia apresentado nenhum resultado
satisfatoacuterio e foi destituiacutedo do cargo assumindo em seu lugar Francisco Ribeiro
de Andrade (FRAGA 1968 p 33-48)
104
Segundo o Governador D Rodrigo de Souza Coutinho Joatildeo Manso
Pereira
longe de ser hum verdadeiro chimico natildeo era senatildeo hum
Alquimista que debaixo de certos misteacuterios pretendia inculcar-se
sem ter os necessaacuterios conhecimentos para Inspector e dirigir a
mesma obra tendo toda a esperanccedila que entre os artistas que
pedia que viesse algum que soubesse tractar a referida Mina e
desta sorte colher o Laurel de que os outro se fazia digno
(FRAGA1966 p46)
No iniacutecio do seacuteculo XIX Martim Francisco Ribeiro de Andrada escolhe a
regiatildeo junto ao ribeiratildeo Ipanema para sediar as futuras instalaccedilotildees da faacutebrica de
ferro que estavam autorizadas em 1799 a Joatildeo Manso Pereira Atraveacutes de um
contrato realizado em Estocolmo em 1810 entre Dom Joaquim Lobo de
Saldanha ministro portuguecircs em Londres e o sueco Carlos Gustavo Hedberg
foram iniciados os trabalhos para a construccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro de
Ipanema
Fig 28 Vista da Faacutebrica de Ferro de Ipanema 1827 Acervo Projeto Arqueologia Histoacuterica Museu Paulista-USP
105
Fig 29 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro e Ipanema seacuteculo XIX
Fig 30 Altos fornos geminados construiacutedos por Varnhagem 1818
106
Fig 31 Alto forno construiacutedo pelo Cel Mursa 1888
Em 1815 Frederico Guilherme Varnhagen assume o cargo de Diretor da
Real Faacutebrica e em 1818 constroacutei dois altos-fornos para a produccedilatildeo de ferro
gusa os primeiros do Brasil Joaquim de Souza Mursa Diretor de Ipanema entre
1865-1890 construiu outro alto-forno e natildeo chegou a funcionar Em 1895 jaacute no
periacuteodo republicano Prudente de Moraes decreta a desativaccedilatildeo de Ipanema
Em 1929 tiveram iniacutecio experiecircncias para o aproveitamento da apatita
jazida descoberta em 1890 por DacuteOrville Derby Esse mineacuterio foi explorado ateacute
1944 por uma firma particular para a produccedilatildeo do superfosfato Mas jaacute em 1937
o acervo e aacuterea ocupada pela antiga Faacutebrica de Ferro passaram ao Ministeacuterio da
Agricultura que em 1947 instalou ali a Estaccedilatildeo Experimental do Trigo
107
Uma quarta fase da histoacuteria de Ipanema comeccedilou logo no iniacutecio dos anos
50 quando foi estabelecido o Plano Nacional da Induacutestria de Tratores e instituiacuteda
a obrigatoriedade de ensaios para tratores maacutequinas e ferramentas agriacutecolas
importados ou fabricadas no Brasil Ao mesmo tempo seguiram as atividades de
produccedilatildeo de sementes O estabelecimento passou a denominar-se CENTRI -
Centro Nacional de Ensaios e Treinamento Rural de Ipanema
A partir de 1975 foi criado o CENEA ndash Centro Nacional de Engenharia
Agriacutecola junto ao qual foi realizado em 1983 o convecircnio com o Museu Paulista-
Universidade de Satildeo Paulo para a realizaccedilatildeo da pesquisa arqueoloacutegica Em 1992
passou a integrar uma das aacutereas de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental do IBAMA
com a denominaccedilatildeo de FLONA ndash Floreta Nacional de Ipanema O Siacutetio Afonso
Sardinha foi registrado no IPHAN pela Professora Doutora Margarida Davina
Andreatta em 1997
108
Fig 32 ROTEIRO HISTORICO DA MINERACcedilAtildeO E METALURGIA PAULISTA
109
CAPIacuteTULO 4
O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 41- Localizaccedilatildeo O vale das Furnas eacute uma aacuterea privilegiada por sua geografia devido agrave
presenccedila do mineacuterio de ferro em suas cabeceiras e de uma diversificada
quantidade de rochas dentre elas o arenito que foi utilizado como material de
construccedilatildeo na forma de blocos para paredes e fornos Destaca-se a rede
hidrograacutefica que apresenta dois rios importantes como o Ipanema e o Sarapuhy
que contornam o morro de Araccediloiaba indo desaguar no rio Sorocaba A bacia do
ribeiratildeo do Ferro ocupa uma aacuterea importante dentro do morro de Araccediloiaba
porque eacute ela que drena a regiatildeo onde afloram os minerais de ferro sendo que a
topografia acidentada do seu leito possibilitou a implantaccedilatildeo de estruturas de
aproveitamento hidraacuteulico A regiatildeo apresentava significativa aacuterea coberta de
matas as quais foram transformadas desde finais do seacuteculo XVI em carvatildeo
vegetal o uacutenico combustiacutevel utilizado para a produccedilatildeo de ferro ateacute finais do
seacuteculo XIX
O morro de Araccediloiaba eacute conhecido tambeacutem pela denominaccedilatildeo de morro do
Ipanema toponiacutemico indiacutegena de Ypanema ndash Y= rio aacutegua + panema = sem valor
ou ainda aproximadamente sem peixes significando assim ldquorio sem valorrdquo ou
ldquorio sem peixesrdquo A denominaccedilatildeo Araccediloiaba (ldquoo lugar que esconde o Solrdquo)
aparece desde o seacuteculo XVI em documentos datados com variantes como
Arraraccediloiaba Byraccediloiaba Ibyraccediloiaba Guaccediloiava (SALAZAR 1997 p17)
Ocupa uma aacuterea isolada no interior de uma extensa bacia sedimentar que os
geomorfoacutelogos denominam de ldquoDepressatildeo Perifeacuterica Paulistardquo pertencente agrave
Bacia do Paranaacute Esta aacuterea constitui um ldquohorst docircmicordquo em razatildeo do seu formato
110
arredondado que lembra estruturas de coberturas do tipo domos (DAVINO 1975
p130)
Do ponto de vista geoloacutegico o morro eacute uma formaccedilatildeo montanhosa
resultante de ldquofenocircmenos de intrusotildees de rochas alcalinas que ocorreram
associadas agraves atividades tectocircnicas do Arco de Ponta Grossa no periacuteodo
denominado Cretaacuteceo Inferiorrdquo66 contemporacircneo do vulcanismo basaacuteltico na
regiatildeo Sudeste ndash Sul do Brasil A intrusatildeo magmaacutetica de Ipanema ocupa aacuterea
aproximadamente circular de nove quilocircmetros quadrados Sua maior altitude estaacute
em 970 metros sendo que dele ldquoeacute possiacutevel observar um dos trechos do vale do
Meacutedio - Tietecirc como tambeacutem trecircs importantes unidades de relevo do Estado de
Satildeo Paulo a Depressatildeo Perifeacuterica o Planalto Atlacircntico e as Cuestas Arenito ndash
Basaacutelticas no caso a Serra do Botucatu (CARPI JR 2002 p1)
Estaacute situado no centro-sul da Depressatildeo Perifeacuterica Paulista na Latitude
sul 23ordm25rsquo 23ordm17rsquo Longitude 47ordm35rsquo WGr 47ordm40rsquo WGr no municiacutepio de Iperoacute-
SP entre Sorocaba e Boituva a cerca de 125 km da Cidade de Satildeo Paulo
Encontra-se ainda dentro de uma aacuterea de proteccedilatildeo ambiental com 506973
hectares pertencente ao FLONA Ipanema Floresta Nacional de Ipanema do
IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renovaacuteveis) criada em 1992 para preservar e conservar um dos maiores
fragmentos de Mata Atlacircntica do Estado de Satildeo Paulo bem como aacutereas de
66 ldquoDuas medidas efetuadas no Laboratoacuterio de Geocronologia da USP segundo o meacutetodo do potaacutessio-argocircnico indicaram para as rochas alcalinas de Ipanema idade cretaacutecea inferior Estas determinaccedilotildees foram feitas em biotita contidas em shonkinitos-poacutertirosrdquo (DAVINO1975)
111
cerrado vaacuterzea e os ecossistemas associados67
67 A FLONA ndash Floresta Nacional de Ipanema possui plantas e fauna de grande representatividade tendo catalogado mais de 200 espeacutecies de aves 52 de mamiacuteferos 18 de anfiacutebios 15 de reacutepteis e 35 de peixes que totalizam 216 da riqueza do estado de Satildeo Paulo Caracteriacutesticas do relevo Ateacute 600 metros ndash vaacuterzea dos principais rios como Ipanema e Verde de declives suaves Acima de 875 metros ndash topo do Morro Araccediloiaba geralmente com platocircs e declives suavesmedianos De 600 a 725 metros ndash base das serras de declives acentuados (medianos) com nascentes de rios principalmente os intermitentes De 725 a 875 metros ndash proacuteximo ao topo de declives acentuados com rios encaixados entre as vertentes como o Ribeiratildeo do Ferro Hidrografia Integra a bacia hidrograacutefica do rio SorocabaMeacutedio Tietecirc classificada como UGRHI No 10 com sub-bacias dos rios Ipanema e Verde e ribeirotildees Iperoacute e do Ferro Clima O Troacutepico de Capricoacuternio passa pela parte sul da Floresta Nacional de Ipanema caracterizando uma zona de transiccedilatildeo de tropical para temperada Segundo Koeppen apresenta condiccedilotildees climaacuteticas tipo Cfa ndash subtropical quente constantemente uacutemido com inverno menos seco - ao sul limitando com Cwa ndash subtropical quente com inverno mais seco - ao norte Uso do solo 2800 hectares ndash floresta estacional semidecidual em estaacutegio de regeneraccedilatildeo do inicial ao tardio 29515 hectares ndash capoeira alta (grototildees) e cerrado 24293 hectares ndash capoeira baixa 250 hectares ndash vaacuterzea accediludes e represas 22150 hectares ndash reflorestamento com espeacutecies de raacutepido crescimento e nativas 121016 hectares ndash assentamentos rurais 50 hectares ndash sede administrativa vilas residenciais e siacutetios histoacuterico-culturais Ver Floresta Nacional (FLONA) de Ipanema NACIONAL Disponiacutevel em lthttpwwwibamagovbrspindexphpid_menu=191gt acesso em 22mar06
112
Fig 32 MAPA GEOLOacuteGICO DO MORRO DE ARACcedilOIABA (SEM ESCALA) Mapa Geoloacutegico do Estado Satildeo Paulo ndashIPT
113
Fig 33 BLOCO DIAGRAMA DA REGIAtildeO DA SERRA DE ARACcedilOIABA Interpretaccedilatildeo baseada em dados geoloacutegicos e geofiacutesicos por Andreacute Davino (DAVINO 1975 p140)
114
Fig 35 MORRO DE ARACcedilOIABA (AO FUNDO VISTA DA DEPRESSAtildeO
PERIFEacuteRICA) - I
FIG 36 MORRO DE ARACcedilOIABA (VISTA DA DEPRESSAtildeO PERIFEacuteRICA) - II
115
Aziz Nacib AbSaber ao analisar o morro de Araccediloiaba dos pontos de vista
geoloacutegico e geomoacuterfoloacutegico considera que
Geomorfologicamente eacute um acidente de grande exceccedilatildeo
emergente no meio de terras baixas colinosas que se estendem por
mais de 12 mil km2
Geologicamente eacute a consequumlecircncia de um vulcanismo hipoabissal
tardio anterior aos processos denudacionais que criaram a
Depressatildeo Perifeacuterica Paulista Filogeograficamente eacute um
componente de um mosaico de ecossistemas sub-regionais que
comporta cerrados e matas-galerias (vegetaccedilatildeo ciliar) matinhas
diferenciadas e descontiacutenuas nas paredes sub-rochosas do morro
Existem tambeacutem eventuais poreacutem altamente significativos relictos
de cactos mandacarus nas vertentes rochosas do morro Esse fato
associado ao que jaacute se conhece da regiatildeo de Itu e Salto permite
reconstituir a histoacuteria vegetacional da regiatildeo No passado ela
abrigou caatingas hoje relegadas a pequenos redutos de
cactaacuteceas na forma de rupestres-biomas logo seguidos por
cerradotildees e cerrados recortados por florestas-galerias biodiversas
E por fim grandes matas tropicais nos morros de solos vermelhos
argilo-arenosos das serranias de Satildeo Roque e Jundiaiacute As florestas
eliminaram importantes trechos de cerrado mas natildeo foram capazes
de expulsar os minirredutos de cactaacuteceas na serra do Jardim em
Vinhedo e Valinhos nos altos do Japi na serra de Satildeo Francisco
em Votorantim em Salto e Itu e no front rochoso das cuestas de
Botucatu e agora nos receacutem-identificados mandacarus dos morro
de Araccediloiaba e Ipanema
Para entender essa eacutepoca caracterizada por intrusotildees
hipoabissais desfeitas em sills - massas tabulares de rocha iacutegnea
que penetraram entre camadas de rocha mais antiga - nas
soerguidas camadas de arenitos da formaccedilatildeo de Itarareacute (originada
no Carboniacutefero Superior) haacute que visualizar o fato de que o atual
morro da Depressatildeo Perifeacuterica comportava centenas de metros de
espessura que se estendiam ateacute o embasamento de rochas
cristalinas As intrusotildees que perfuraram localmente o pacote de
116
rochas da borda da Bacia Sedimentar do Paranaacute foram
provavelmente as mais tardias em relaccedilatildeo ao vulcanismo que
precedeu os mega processos de separaccedilatildeo da Aacutefrica e Brasil Ao
que tudo indica primeiramente aconteceram os derrames
basaacutelticos e as intrusotildees hipoabissais de diabaacutesios (rochas
magmaacuteticas cristalinas) A seguir nos milhotildees de anos decorridos
entre o Triaacutessico Superior o Juraacutessico e o Cretaacuteceo Superior -
atraveacutes de bolsotildees magmaacuteticos descontiacutenuos e residuais -
aconteceram as penetraccedilotildees de sienitos em forma de ring dykes
(diques anelares) de Itatiaia da atual ilha de Satildeo Sebastiatildeo
Caxambu e alhures Tudo acontecendo antes que a tectocircnica
quebraacutevel aparecesse no embasamento cristalino do Brasil de
Sudeste Ou seja antes dos falhamentos que criaram a serra do
Mar a ilha de Satildeo Sebastiatildeo e a Mantiqueira Por fim um resiacuteduo
magmaacutetico de grande exceccedilatildeo teria interpenetrado a borda antiga
da Bacia do Paranaacute gerando a pequena aacuterea core que mais tarde
viria a ser o morro de AraccediloiabaIpanema com seus ankaratritos
impregnados de magnetita Um fato que de resto respondeu pelo
histoacuterico episoacutedio da experiecircncia industrial da Fazenda
Ipanema(ABSAacuteBER 2006 p1)
42 A Vegetaccedilatildeo
Quanto agrave vegetaccedilatildeo original o morro de Araccediloiaba tem um histoacuterico de
perturbaccedilotildees sofridas por intervenccedilotildees antroacutepicas iniciadas no final do seacuteculo XVI
Essas perturbaccedilotildees foram causadas pela retirada de mineacuterio madeiras calcaacuterio
apatita aleacutem de focos de incecircndio entre outros processos
Para a exploraccedilatildeo do mineacuterio era necessaacuteria a devastaccedilatildeo das matas que
cresciam sobre a jazida Segundo a descriccedilatildeo de Domingos Pereira Ferreira que
chegou no local em 1765 para dar iniacutecio a um projeto de Faacutebrica de Ferro aquele
117
Morro era como ldquoum Cubatatildeo de Matos e de Cerra Altardquo e somente era possiacutevel
ver uma pedra levando ldquoadeante fousse e machadordquo68
A devastaccedilatildeo das matas tambeacutem esteve ligada ao tipo de combustiacutevel que
era utilizado nos fornos de reduccedilatildeo (fornos baixos) 69 e depois nos de fundiccedilatildeo
(altos fornos)70 O combustiacutevel para a produccedilatildeo de ferro sempre foi o carvatildeo
vegetal71 o qual era fabricado a partir de uma variedade de madeiras existente na
proacutepria mata entre elas os chamados ldquopaus reaisrdquo as madeiras de lei como a
peroba jequitibaacutes e cedros cujos registros de extraccedilatildeo eacute encontrado ateacute o iniacutecio
do seacuteculo XIX 72
Mesmo sofrendo exploraccedilatildeo e desmatamento ainda hoje a Floreta
Nacional de Ipanema constitui-se num dos poucos redutos florestais do interior
paulista e tambeacutem eacute a maior detentora da biodiversidade regional Espeacutecies
vegetais como timburi ararib lixeira jangada do campo canela paineira figueira
branca e peroba satildeo encontrados em percurso assim como animais de haacutebitos
68 Encontramos uma coacutepia da Carta de Domingos Pereira Ferreira agrave Morgado de Mateus escrita em Sorocaba 30 de novembro de 1765 na Coleccedilatildeo Faacutebrica de Ferro de Ipanema entre todas as coacutepias que foram doadas por Joseacute Monteiro Salazar ao Arquivo Histoacuterico Sorocabano 69Nos fornos baixos o carvatildeo vegetal era colocado em camadas alternadas com o mineacuterio calcinado e triturado que com o auxiacutelio de foles manuais ou mecacircnicos realizavam a reduccedilatildeo e natildeo a fundiccedilatildeo do mineacuterio de ferro resultando numa ldquoesponja de ferrordquo ou ldquopatildeo de ferrordquo que posteriormente era novamente trabalhada nos fornos de forja e nos malhos (FAUS 2000) 70 Estes fornos que chegam a fundir o mineacuterio de ferro foram introduzidos em Ipanema no iniacutecio do seacuteculo XIX O produto derivado do alto forno eacute o ferro em estado liacutequido (ferro gusa) (FRAGA 1968 p 87) 71 Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva ao visitar a Faacutebrica de Ipanema em 1820 descreve o meacutetodo de fabricaccedilatildeo de carvatildeo ldquoO carvatildeo he todo misturado sem separaccedilatildeo do proacuteprio para as forjas do refino he mal feito e apagado comumente com agoa em vez de ser abafado com terra principalmente arenosa que he a melhor da qui vem que sahe mais pesado do que deveria ser contra a fabrica e a favor do carvoeiro reduz-se muito a poacute nos armazeacutens com prejuiacutezo da mesma Faacutebrica e o peior he que nas forjas de refino esfarela-se logo e se reduz a cinza sem dar o devido calor O carvatildeo que fazem de maneira mole he mais leve e arde mais e da madeira dura he pelo contrario O methodo de fazer carvatildeo he o seguinte pegatildeo em toda a lenha misturada e arrumatildeo em pilha deitadas que tem 40 palmos em quatro como a figura de um telhado com beiradas estas tem 6 palmos de alto e o espigatildeo 12 leva a quaimar cada piulha 30 ate 34 dias e mais e da cada pilha de 700 a 900 arrobas de carvatildeordquo (FRAGA 1968 p 86) 72 Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva em suas Memoacuterias Econocircmicas sobre a Faacutebrica de Ferro de Ipanema faz criacuteticas agrave construccedilatildeo dos Altos Fornos de Varnhagen e tambeacutem agrave preparaccedilatildeo do mineral e do combustiacutevel utilizado como ldquocavacos de perobardquo (MENON 1992 p144)
118
florestais destacando-se o jaguarundi o gambaacute o irara o tapiti o matildeo-pelada o
quati o jacupemba o chupa-dente o pica-pau de topete vermelho o tangaraacute
danccedilarino o sabiaacute coleira a jararaca a cascavel e o lagarto teiuacute 73
43 Rios e ribeirotildees
Dois rios circundam aquele morro o rio Ipanema e o Sarapuhy afluentes
do rio Sorocaba Na parte central daquele Morro surgem alguns riachos sendo o
mais importante deles o Ribeiratildeo do Ferro anteriormente denominado de Ribeiratildeo
das Furnas (afluente do Rio Ipanema) que nasce no Monte ou Pico do Chapeacuteu e
forma o Vale das Furnas com ocorrecircncia de cascatas e piscinas naturais Eacute
tambeacutem naquele Vale e em uma das curvas do Ribeiratildeo do Ferro que estaacute
situado o Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha objeto de anaacutelise dessa
Tese
O Ribeiratildeo do Ferro ao descer o morro de Araccediloiaba apresenta
desniacuteveis de ateacute 500 metros com a presenccedila de alguns trechos encachoeirados
caracteriacutestica essa que proporcionou a execuccedilatildeo de projetos de aproveitamento
hidraacuteulico como a construccedilatildeo de obras de represamento canal de derivaccedilatildeo e
vala transformando as aacuteguas daquele ribeiratildeo em forccedila motriz aplicada ao
funcionamento dos equipamentos e ferramentas utilizadas no processo produtivo
da produccedilatildeo de ferro
73 Ver Fazenda Ipanema Disponiacutevel em lthttpfazendaipanemaiperospgovbrhistoriaphpgt
119
44 A magnetita o mineacuterio do morro de Araccediloiaba
Segundo Andreacute Davino a importacircncia do morro de Araccediloiaba do ponto de
vista geoloacutegico
deriva do fato de conter umas das muitas ocorrecircncias de rochas
alcalinas do Brasil As concentraccedilotildees de magnetita e apatita
[descobertas no final do seacuteculo XIX] nessas rochas despertaram
desde longa data especial interesse sobre a aacuterea O contorno da
intrusatildeo alcalina situa-se na parte central da Serra e estaacute contido
inteiramente dentro dos limites da Fazenda Federal de Ipanema
(DAVINO 1975 p130)
O mineacuterio de ferro encontrado no morro de Araccediloiaba eacute a Magnetita
um imatilde natural com propriedade magneacutetica de atrair objetos feitos de ferro ou
outros metais Essa propriedade do mineacuterio possivelmente facilitou o encontro
daquela jazida pelos sertanistas que por laacute passaram em meados do seacuteculo XVI
A magnetita eacute um mineacuterio do grupo das espinelas formado por oacutexido
magneacutetico de ferro (Fe3O4) composto por 724 de Fe (ferro) Eacute frequumlente a
existecircncia de cristais bem desenvolvidos pertencentes ao sistema cuacutebico
geralmente em forma de octaedros ou de dodecaedros Eacute abundante formando
as suas jazidas verdadeiras montanhas em massas granulares ou compactasA
composiccedilatildeo da magnetita eacute de oacutexido de feacuterrico (Fe2O3) 65 oacutexido ferroso (Fe O)
25 siacutelica (SiO2) 10 e traccedilos de aacutecido fosfoacuterico (P2O5) (FRAGA 1968 p149)
No Brasil encontram-se jazidas de magnetita nas regiotildees que
compreendem desde o Sudeste da Bahia ateacute o Leste do Paranaacute e Nordeste de
Santa Catarina Contudo sempre se apresentam impregnado de Titacircnio (Ti O2)
em proporccedilotildees que variam desde 04 ateacute 16 A exagerada densidade74 dessa
magnetita concorre para tornaacute-la inaproveitaacutevel para a reduccedilatildeo mesmo nos altos 74 A densidade eacute medida na proporccedilatildeo quilograma por metro cuacutebico kg m-3
120
fornos a coque a menos que sofra preacutevio e demorado tratamento ou que seja
misturada a mineacuterios menos densos (e portanto algo impuro) tais como a canga
a Hematita e outros De outro lado o oacutexido de titacircnio que a impregna dificulta
quando natildeo impede inteiramente a transformaccedilatildeo em gusa ou em esponja
(AMARAL 1946 p 264-266 Apud FRAGA 1968 p32) No morro de Araccediloiaba as
jazidas de Magnetita encontram-se na ldquoforma de depoacutesitos aluviais e
concentraccedilotildees in situ a poucas dezenas de metros de profundidaderdquo (DAVINO1975 p129)
Fig 37 MINEacuteRIO DE FERRO MAGNETITA
Embora no final do seacuteculo XIX os conhecimentos cientiacuteficos da Quiacutemica e
da aacuterea da metalurgia jaacute estivessem avanccedilados a composiccedilatildeo da Magnetita do
morro de Araccediloiaba impregnada de oacutexido de Titacircnio natildeo era conhecida75 A
carecircncia de conhecimento cientiacutefico sobre as propriedades quiacutemicas dessa
magnetita foi a principal causa dos trecircs seacuteculos de tentativas de se produzir ferro
naquele local e das inuacutemeras criacuteticas que eram feitas aos fundidores e
administradores 76 Sendo assim podemos indicar que essa realidade teacutecnica foi
determinante para que natildeo se produzisse em Ipanema desde finais do seacuteculo
XVI ferro de boa qualidade Estephania Fraga indica que
75 O titacircnio foi descoberto em 1791 por Willian Gregor mas soacute se tornou bem conhecido apoacutes os estudos de Wohler em 1857 e Peterson em 1887 76 Orville Derby no final do seacuteculo XIX presidia a comissatildeo de estudos geoloacutegicos da Proviacutencia de Satildeo Paulo e pesquisou a apatita de Ipanema
121
a dificuldade em fundir o mineacuterio de Ipanema ndash a magnetita ndash
provinha da composiccedilatildeo especiacutefica do mesmo pois aleacutem de sua
exagerada densidade apresenta-se impregnada de oacutexido de
Titacircnio fatores que contribuem de forma decisiva para dificultar
sua reduccedilatildeo mesmo em altos fornos (FRAGA 1968 p86)
A dificuldade de produzir um ferro de boa qualidade jaacute era sentida desde o
seacuteculo XVIII quando Domingos Pereira Ferreira apostou na construccedilatildeo de uma
Faacutebrica de Ferro naquele local Embora tenha construiacutedo diversos tipos de fornos
e empregado diferentes modos de fundiccedilatildeo natildeo havia conseguido um bom
resultado No seacuteculo XIX essa mesma dificuldade permaneceu nos trabalhos de
fundiccedilatildeo e na produccedilatildeo de ferro da Real Faacutebrica de Ipanema fundada em 1810
O desconhecimento das propriedades daquela magnetita apenas
descoberta na segunda metade do seacuteculo XIX quando a Real Faacutebrica de Ferro jaacute
estava em plena decadecircncia77 tambeacutem estava na origem das acirradas
discussotildees teacutecnicas entre Friederich Ludwig Wilhelm Varnhagen mineralogista
alematildeo e Carl Gustav Hedberg sueco e primeiro diretor de Ipanema (1811-
1814) sobre as vantagens do alto-forno proposto por Vanhagen em relaccedilatildeo aos
quatro fornos azuis Blauofen fornos de reduccedilatildeo direta inicialmente instalados
em Ipanema78
O diretor sueco foi substituiacutedo por Ludwig Wilhelm Varnhagen em 1815
que construiu dois Altos Fornos de aproximadamente 8 metros de altura cada
um Com estes fornos conseguiu produzir o ferro gusa em sua forma liacutequida
tendo moldado com a primeira corrida desse ferro trecircs cruzes sendo uma delas
ldquolevada em procissatildeo ateacute o ponto alto da montanha de Araccediloiabardquo onde
atualmente permanece Contudo Varnhagen natildeo produziu o ferro esperado e
77 Naquele periacuteodo nem o Estado nem a Real Faacutebrica possuiacuteam laboratoacuterios de anaacutelise que pudessem fazer ensaios do mineacuterio combustiacutevel e fundentes empregados na produccedilatildeo A primeira escola formadora de profissionais na aacuterea de mineraccedilatildeo foi a Escola de Minas de Ouro Preto fundada em 1875 (FRAGA 1968 p140) 78 Von Varnhagen havia dirigido a faacutebrica de ferro de Figueiroacute dos Vinhos em Portugal e foi enviado a Ipanema com a finalidade de projetar a construccedilatildeo de uma grande faacutebrica de ferro que afinal foi construiacuteda por Hedberg (FRAGA 1968 p 71-79)
122
essa dificuldade tambeacutem natildeo foi compreendida por Eschwege79 que estava na
direccedilatildeo de uma outra faacutebrica de ferro em Congonhas do Campo a qual produzia
ferro a partir de um outro mineacuterio a hematita que facilmente pode ser trabalhada
para a produccedilatildeo do ferro80 A partir de 1821 estes fornos altos jaacute estavam em
decadecircncia
Contudo parece que apenas Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva quando
esteve examinando as minas de ferro daquele Morro percebeu que
o problema capital de Ipanema liga-se ao mineacuterio de ferro ali
existente ldquoo ferro magneacuteticordquo de difiacutecil fusatildeo embora natildeo
pudesse conhecer ainda a composiccedilatildeo do mesmo (presenccedila de
Titacircnio que como eacute sabido foi descoberto apenas a partir da
segunda metade do seacuteculo XIX) considerando (com base nos
conhecimentos do gecircnero que visitou na Europa) que a soluccedilatildeo
estaria em aumentar a altura dos pequenos fornos (FRAGA 1968
p149)
Em 1878 foi a vez de Joaquim Antonio de Souza Mursa construir um Alto
Forno e quando a Faacutebrica fechou em 1895 este ainda natildeo havia sido utilizado
79 Ludwig von Eschwege depois de ter trabalhado em Portugal o baratildeo de Eschwege seguiu em 1810 para o Brasil a convite do priacutencipe regente D Joatildeo para reanimar a decadente mineraccedilatildeo de ouro e para trabalhar na nascente induacutestria sideruacutergica Em 1821 inicia em Congonhas do Campo Minas Gerais os trabalhos de construccedilatildeo de uma faacutebrica de ferro denominada de Patrioacutetica empreendimento privado sob a forma de sociedade por accedilotildees Em 1811 a siderurgia de Eschwege jaacute produzia em escala industrial Eschwege eacute o autor de Pluto Brasiliensis primeira obra cientiacutefica escrita sobre a geologia brasileira publicada primeiramente na Europa em 1833 (FIGUEIROA 1977 63-67) 80 As hematitas satildeo mineacuterios de ferro constituiacutedos por oacutexido feacuterrico (Fe2O3) contendo ateacute 70 de ferro(Fe) Seu aspecto varia consideravelmente pode se apresentar cristalizado em massas compactas ou em massas terrosas Satildeo utilizadas na produccedilatildeo de ferro sob duas formas principais a) hematita vermelha e b) hematita parda Dados sobre a composiccedilatildeo quiacutemica da hematita fornecidos pela Dra Heacutelegravene Nasson Storch (FRAGA 1968 p149)
123
45 Fatores fisiograacuteficos da ocupaccedilatildeo europeacuteia
A ocupaccedilatildeo das aacutereas interiores da Capitania de Satildeo Vicente no iniacutecio da
colonizaccedilatildeo foi caracterizada particularmente por expediccedilotildees de apresamento de
iacutendios Este movimento pioneiro na ocupaccedilatildeo das aacutereas interiores do continente
e era facilitado pela existecircncia de caminhos indiacutegenas os Peabirus
No caso da ocupaccedilatildeo da regiatildeo onde estaacute localizado o morro de
Araccediloiaba o acesso era facilitado pela presenccedila de importante caminho que ligava
a vila de Satildeo Paulo de Piratininga agraves terras de Guairaacute e regiotildees do Alto Peru
(atual Boliacutevia) Com a descoberta da prata do Potosi intensificaram-se as buscas
de metais nobres inclusive com incentivos da Coroa portuguesa com ajuda de
mineradores preparados para a identificaccedilatildeo de mineacuterios especialmente a prata e
o ouro As expediccedilotildees em busca daquelas riquezas foram estimuladas apoacutes a
chegada de D Francisco de Sousa que ocupou a governadoria Geral do Brasil no
periacuteodo de 1591 a 1601
Foi neste contexto que ocorreram as primeiras tentativas de exploraccedilatildeo do
ferro das minas de Araccediloiaba Dificilmente pode-se precisar a data em que se deu
o encontro do morro de Araccediloiaba pelos europeus mas certamente a sua
descoberta foi facilitada pela presenccedila dos Peabirus
Provavelmente o aspecto estrateacutegico e o encontro de traccedilos de prata junto
ao mineacuterio de ferro de Araccediloiaba tenham sido fatores que levaram D Francisco a
conceder sesmarias e dar iniacutecio ao povoamento colonial da regiatildeo Para tanto
ldquoplantou o pelourinhordquo no interior do Morro tendo como padroeira Nossa Senhora
do Monte Serrat Esta povoaccedilatildeo natildeo prosperou tendo sua populaccedilatildeo se
deslocado em 1611 ndash o mesmo ano da morte de D Francisco de Sousa - para o
Itavuvu local que recebeu a denominaccedilatildeo de Satildeo Felipe Somente mais tarde no
decorrer de 1661 houve a fundaccedilatildeo da Vila de Sorocaba (ALMEIDA 2002 p 11-
20)
124
Apesar da sua localizaccedilatildeo distante cerca de trinta leacuteguas de distacircncia do
litoral e isolada dos mercados consumidores o interesse da exploraccedilatildeo do ferro de
Araccediloiaba se explica pelo valor estrateacutegico desse metal que poderia ser utilizado
como mercadoria contando com mercado certo a proacutepria Capitania de Satildeo
Vicente e a regiatildeo do rio da Prata Por outro lado o ferro era um metal de grande
interesse para a Metroacutepole que contava com pequenas jazidas
Mais tarde jaacute no iniacutecio do seacuteculo XVIII havia um mercado promissor
representado regionalmente pelo avanccedilo da agricultura de cana-de-accediluacutecar e
tambeacutem pela exploraccedilatildeo das minas de ouro de Cuiabaacute e Minas Gerais81 A esse
respeito escreve em 1782 Marcelino Pereira Cleto
Ainda que as minas de ferro e accedilo estatildeo em terras de Sertatildeo e na
distancia de trinta legoas da Marinha com tudo o sitio he haacutebil
para o bom consumo destes gecircneros porqto por Sorocaba he o
caminho para Coritiba Minas de Pernampanema e outras terras
mais distantes da Capitania de Satildeo Paulo por Itu Va proacutexima he
o caminho por onde se dirige todo o negocio que vai para
Cuiabaacute por esta capitania e tambeacutem perto das das minas se
encaminha a estrada de Goiases Se os Negociantes do Cuiabaacute e
Goiases achassem no caminho ou perto delle este dous gecircneros
[ferro e accedilo] ainda pelo mesmo preccedilo qrsquo elles se vendem no Rio
de Janeiro e os de S Paulo o tivessem na sua proacutepria Capitania
certamte natildeo iratildeo busca-los ao Rio de Janeiro com despesa e
risco e bastaria ser seguro este consumo para ser uacutetil cuidar-se
nas das minas
Quanto mais em distancia como de seis leacutegoas das minas
passa o rio Teateacute navegaacutevel de canoa e unicamemte com o
embaraccedilo de algum ou alguns Saltos ou Cachoeiras neste rio
entra um pouco distancia de S Paulo outro chamado dos
Pinheiros neste o rio Grande neste o rio Pequeno qrsquo fica junto agrave
81 No seacuteculo XVIII a agricultura da cana-de-accediluacutecar foi significativa na regiatildeo denominada de ldquoquadrilaacutetero do accediluacutecarrdquo formada pelas localidades de Sorocaba Piracicaba Mogi-Guaccedilu e Jundiaiacute destacando-se duas aacutereas Itu e Campinas Para este tema ver PETRONE Maria Thereza S A lavoura canavieira em Satildeo Paulo Satildeo Paulo Difusatildeo Europeacuteia do livro 1968
125
Serra qrsquo cobre a Va de Santos do rio pequeno a santos seratildeo
sette legoas trecircs por terra maacutes caminho mto aacutespero E as quatro
por hum rio qrsquo em todas as partes admitte navegaccedilatildeo daquelles
rios vecirc-se qrsquo era pequena a distancia em qrsquo se precisava
condusir por terra estes dous gecircneros ateacute ao Porto da Va de
Santos e daqui dar-lhes extraccedilatildeo para mais Portos da Ameacuterica
(CLETO 1899 p p 210)
Embora natildeo haja estudos especiacuteficos sobre o trabalho indiacutegena na
produccedilatildeo do ferro dos empreendimentos metaluacutergicos instalados no morro de
Araccediloiaba os documentos escritos indicam que ateacute meados do seacuteculo XVIII a
produccedilatildeo do ferro em Araccediloiaba foi realizada com o trabalho de indiacutegenas que
eram levados para aquela atividade pelos exploradores 82 Dessa forma
exploraram aquelas minas Afonso Sardinha e Francisco de Souza (seacuteculo XVI e
XVII) Luiz Lopes de Carvalho (seacuteculo XVII) Domingos Pereira Ferreira (seacuteculo
XVIII) e depois a Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema Neste uacuteltimo
empreendimento os iacutendios foram trazidos das aldeias de Itapecerica MrsquoBoy
Carapicuiacuteba Barueri e Itapevi Em 1815 trabalhavam nessa faacutebrica 16 iacutendios aleacutem
de escravos africanos Em 1834 a Real Faacutebrica de Ferro comeccedilou a receber
africanos livres em 1837 trabalhavam naquele estabelecimento 121 escravos (68
homens 24 mulheres e 29 crioulos) e 48 africanos livres (30 homens e 18
mulheres)83
Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX o morro de Araccediloiaba passou a
integrar as rotas de muitos naturalistas geoacutegrafos mineralogistas botacircnicos e
geoacutelogos como Von Martius Martim Francisco de Andrada Auguste Saint Hilaire
o Baratildeo Eschewege Theodoro Knecht e Leandro Dupreacute que fizeram daquele
82 Conforme estabelecia a legislaccedilatildeo mineira compilada pelo Coacutedigo Filipino a exploraccedilatildeo de qualquer mineacuterio era realizada com os recursos do proacuteprio descobridor pagando os direitos dos quintos ao eraacuterio reacutegio Cf Ord L 2ordm ndash Tits 26 e 28 par 16 acolhendo a Ord Manuelina do L 2ordm Tt34 e seus paraacutegrafos Ver RODRIGUES (1966 p 182) 83 Sobre o trabalho indiacutegena na Real Faacutebrica de Ferro de Ypanema ver MENON Og A Real Fabrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema e seu mundo 1811-1835 Dissertaccedilatildeo (mestrado) Satildeo Paulo PUCSP 1992 p 84-90 Sobre o trabalho dos africanos livres em Ipanema ver RODRIGUES Jaime Ferro trabalho e Confliro os Africanos livres na Faacutebrica de Ipenema Historia Social n 45 Campinas IFCH-Unicamp 29-42 199798
126
local um laboratoacuterio a ceacuteu aberto para pesquisas cientiacuteficas aleacutem de terem
deixado dessas experiecircncias relatos preciosos que ajudam a compor aquela
histoacuteria como atesta o relato do naturalista Saint-Hilaire que esteve em Ipanema
em 1819 Diz ele
Encontrei em Ipanema um zoologista o Sr Natterer membro da
comissatildeo cientiacutefica que o imperador da Aacuteustria havia enviado ao
Brasil para recolher amostras de espeacutecimes diversos do pais
Fazia um ano que se achava instalado nas proximidades das
forjas tendo jaacute formado uma vasta coleccedilatildeo de paacutessaros Era
impossiacutevel natildeo admirar a beleza dessa coleccedilatildeo Natildeo se via uma
uacutenica ave cujas penas tivessem sido coladas ou que apresentasse
a menor mancha de sangue
Encontrei tambeacutem em Ipanema um jovem prussiano Sellow
o primeiro naturalista a chegar no Brasil depois de firmada a paz
Tinha feito anteriormente estaacutegio no Jardim Botacircnico de Paris a
fim de aperfeiccediloar os seus conhecimentos e vivia agora de uma
pensatildeo que lhe dava o ilustre e generoso Humboldt o qual fazia
crer ao rapaz que ele estava sendo pago pela administraccedilatildeo do
Jardim Sellow dedicava-se as suas pesquisas com um zelo e
uma energia sem par (SAINT-HILAIRE 1972 p194-195)
127
CAPIacuteTULO 5
INVESTIGACcedilOtildeES ARQUEOLOacuteGICAS AS EVIDENCIAS DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO 84
O trabalho da pesquisa arqueoloacutegica se estendeu por um periacuteodo de 8
anos (1983-1989) e ficou registrado em documentos de Diaacuterios de Campo
escritos pela pesquisadora Margarida Davina Andreatta assim como em
correspondecircncias levantamentos topograacuteficos planos de escavaccedilatildeo croquis e
desenhos geomeacutetricos de plantas das ruiacutenas croquis de cortes estratigraacuteficos e
de reconhecimento das escavaccedilotildees Inventaacuterio de Peccedilas e fotografias tudo
devidamente registrado em relatoacuterios da pesquisa arqueoloacutegica (ver Planta Geral
da Aacuterea Anexo 9 e o mapeamento das escavaccedilotildees Anexo 10)
Os artefatos coletados durante as investigaccedilotildees de campo foram
acondicionados em caixas devidamente protegidas e identificadas e guardados
nas dependecircncias do Museu do Centro de Visitantes da FLONA de Ipanema
Por ocasiatildeo da primeira visita realizada no Siacutetio Afonso Sardinha em 09 de
maio de 1983 a pesquisadora observou que as ruiacutenas existentes estavam
cobertas por ldquopequenos arbustos cipoacutes gramiacuteneas deposiccedilatildeo de folhas e raiacutezes
secasrdquo as quais encobriam os blocos de pedra que formariam as paredes de uma
edificaccedilatildeo (ANDREATTA 1983 p7) O siacutetio apresentava sinais de alteraccedilotildees
causadas pela accedilatildeo de erosatildeo pelas aacuteguas da chuva bem como pela accedilatildeo
antroacutepica possivelmente pescadores e caccediladores que usavam aquele local como
acampamentos temporaacuterios para suas atividades observando-se ainda sinais de
frequumlentes incecircndios na mata existente em seu entorno
84 Para acompanhar as discussotildees deste Capiacutetulo consultar o Anexo 9 Planta Geral do Siacutetio Afonso Sardinha
128
Fig 38 LIMPEZA DO SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 1984
Fig 39 EQUIPE DE TRABALHO SITIO AFONSO SARDINHA 1988
Para iniciar a pesquisa arqueoloacutegica foi necessaacuterio remover a vegetaccedilatildeo
que recobria as ruiacutenas mencionadas de modo a possibilitar as primeiras
observaccedilotildees e mediccedilotildees das paredes e da aacuterea do seu entorno Desta forma jaacute
no iniacutecio das investigaccedilotildees iniciais em maio de 1983 jaacute haviam sido
129
evidenciados embora ainda natildeo totalmente identificados os espaccedilos
possivelmente destinados agrave produccedilatildeo de ferro e os locais proacuteprios para o
aproveitamento da forccedila motriz hidraacuteulica necessaacuteria agravequelas atividades
51 Estruturas hidraacuteulicas para a produccedilatildeo da forccedila motriz
O trabalho de reconhecimento da aacuterea identificou um conjunto de
estruturas identificadas como pertencente a um sistema hidraacuteulico destinado a
produccedilatildeo da forccedila motriz o qual compreendia diversas partes o canal de
derivaccedilatildeo das aacuteguas (vestiacutegios de canaleta) a vala destinada ao alojamento da
roda hidraacuteulica e o trecho do canal de restituiccedilatildeo das aacuteguas ao ribeiratildeo Tais
dispositivos se localizam em aacuterea externa poreacutem adjacente ao edifiacutecio principal
de produccedilatildeo de ferro
Natildeo foi possiacutevel localizar a estrutura do barramento responsaacutevel pelo
desvio das aacuteguas do ribeiratildeo do Ferro para o canal de derivaccedilatildeo
511 O Canal de Derivaccedilatildeo A existecircncia do canal de derivaccedilatildeo foi evidenciada no ano de 1987 quando
foram realizados os trabalhos de decapagem para escavaccedilatildeo da aacuterea Sul da aacuterea
A (forno externo) conforme registrado no Diaacuterio de Campo no dia 02 de julho de
1987 onde de se indica que ldquoevidenciou uma canaleta que se prolonga para o
interior da ferradura que apareceu apoacutes a limpeza da vegetaccedilatildeo do entorno da
mesmardquo Outra evidecircncia da existecircncia do canal na regiatildeo ao Sul da aacuterea A (forno
externo) foi a constataccedilatildeo da ocorrecircncia de fluxo de aacutegua em direccedilatildeo ao Forno 1
(aacuterea A1) fenocircmeno que se observava toda a vez que chovia Este fato mostra
130
que deveria existir um possiacutevel canal interceptador de aacuteguas de chuvas
direcionando a correnteza em direccedilatildeo ao forno (Anexo 9 e Figura 75)
A evidecircncia encontrada revelava que o Canal de Derivaccedilatildeo havia sido
construiacutedo com a finalidade de obter um aproveitamento da corrente de aacutegua do
ribeiratildeo do Ferro contornando a face sul da edificaccedilatildeo ateacute encontrar o muro da
entrada da vala da roda drsquoaacutegua em um ponto onde o terreno se encontra agrave cota
520m medida pelo levantamento planialtimeacutetrico realizado na aacuterea Sendo assim
esse canal de desvio de aacuteguas deve partir do ribeiratildeo do Ferro numa posiccedilatildeo com
cota evidentemente superior a 520m (Figura 75)
No final do Canal de Derivaccedilatildeo no ponto correspondente a entrada da vala
(aacuterea E) foi encontrada durante as pesquisas uma quantidade significativa de
blocos de rocha arenito de tamanhos regulares amontoados e natildeo-alinhados os
quais testemunhavam que naquele local deveria haver uma estrutura de conexatildeo
entre o canal de derivaccedilatildeo e a vala As dimensotildees desses blocos apresentando
uma certa regularidade de formas satildeo tambeacutem um forte indiacutecio de que eles foram
cortados com a finalidade de proporcionar um entrosamento na construccedilatildeo da
parede (Anexo 13)
As pesquisas mostraram a existecircncia de trecircs grupos de blocos com
dimensotildees regulares As Tabelas abaixo apresentam as dimensotildees observadas
nos blocos de arenito acima mencionados
Tabela 1 Dimensotildees dos blocos de maior dimensatildeo ( em centiacutemetros - cm)
COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA
43 30 18
43 27 15
26 20 16
131
COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA
20 11 8
18 09 9
18 14 6
Tabela 2 Dimensotildees dos blocos de media dimensatildeo ( em centiacutemetros ndash cm)
COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA
10 6 6
10 5 6
11 7 35
Tabela 3 Dimensotildees dos blocos de menor dimensatildeo ( em centiacutemetros ndash cm)
Fig 40 VISTA GERAL DA AacuteREA E 1988
132
512 A Vala da Roda
Nas ruiacutenas encontradas da Faacutebrica de Ferro a existecircncia de estruturas
destinadas a utilizaccedilatildeo da energia hidraacuteulica eacute evidenciada pela presenccedila de
estruturas que caracterizam o controle das aacuteguas Em sequumlecircncia ao Canal de
Derivaccedilatildeo mencionado no item anterior observa-se a existecircncia da vala para o
alojamento da roda drsquoaacutegua indicada na planta baixa (Anexo 9) identificada como
ldquoCanal (D)rdquo conforme registrado no Diaacuterio de Campo da pesquisadora Margarida
Davina Andreatta em maio de 1983
A vala encontrada apresenta 19 metros de comprimento tendo ambas as
paredes cerca de 15 metros de largura e vatildeo livre entre as paredes com cerca de
225 m A uma distacircncia da ordem de 37 metros da margem do ribeiratildeo do Ferro
a parede da lateral direita apresenta um alargamento e por conseguinte ocorre
um estreitamento do vatildeo da vala passando a contar com apenas 1 (um) metro de
largura na saiacuteda
A vala encontrada no Siacutetio Afonso Sardinha apresentava o seu piso com
plano de declividade em direccedilatildeo ao ribeiratildeo do Ferro sendo que na parte mais
alta a cota do piso eacute de 453 m acima do niacutevel do ribeiratildeo enquanto que a
extremidade inferior da vala alcanccedila 041m acima do mesmo niacutevel portanto
mostrando forte inclinaccedilatildeo para facilitar a restituiccedilatildeo da aacutegua ao ribeiratildeo
A posiccedilatildeo do plano de declividade da vala mostra que na extremidade de
saiacuteda do canal formou forte desniacutevel em relaccedilatildeo ao piso da Faacutebrica sendo que no
ponto meacutedio o niacutevel da vala seria igual a 230 m (Figura 41)
133
Fig 41 Dimensotildees da Vala da roda e localizaccedilatildeo das evidecircncias de
esteios
134
Fig 42 VALA DA RODA HIDRAacuteULICA 1987 - I
Fig 43 VALA DA RODA HIDRAacuteULICA 1987 - II
135
5121 Evidecircncias de esteios
Em novembro de 1984 foram evidenciados trecircs pares de esteios nas
laterais externas das paredes da vala permitindo supor que as mesmas
funcionavam como pilares para alguma cobertura sobre a vala (ANDREATTA
1984 p 37)
As evidecircncias de esteios encontrados possuem formas circulares e
quadrangulares tendo os lados medidas semelhantes As evidecircncias localizadas
no lado leste apresentavam respectivamente 040 cm X 040 cm 045 cm X 045
cm e 045 cm X 040 cm Jaacute as evidencias encontradas no lado oeste as medidas
encontradas eram 050 X 055 cm e 050 X 050 cm Aleacutem disso apresentavam
espaccedilamentos semelhantes entre si da ordem de quatro metros e meio
Fig 44 EVIDENCIAS DE ESTEIOS vala da roda 1987
136
Fig 45 DETALHE DOS ESTEIOS
Fig 46 DETALHE DE UM ESTEIO
137
52 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 521 Area ldquoCrdquo
O relevo do terreno nesta aacuterea mostra irregularidade sendo que na
extremidade sul junto agrave parede limite a superfiacutecie do terreno apresenta uma
parte plana com cota mais elevada tendo sido medido pela topografia o niacutevel
448 enquanto que na porccedilatildeo central aparece um segundo platocirc com cota do
terreno igual a 343 e na extremidade norte junto ao ribeiratildeo do Ferro a cota
medida foi 0 85m ( ver figura 47)
As pesquisas nesta aacuterea ldquoCrdquo foram realizadas agrave partir de novembro de
1986 para a verificaccedilatildeo da estratigrafia com a abertura de 2 trincheiras na
extremidade norte e uma na parte central as quais tiveram as seguintes
caracteriacutesticas geomeacutetricas (comprimento X largura X profundidade) T1 4m X
065m X 080m T2 170m X 070m X 080m T3 140m X 065m X 095m
(ANDREATTA1984 p 5)
O resultado dos estudos estratigraacuteficos e de decapagem mostraram a
existecircncia unicamente de telhas e cravos aleacutem de alguns poucos fragmentos de
ceracircmica
138
Fig 47 ndash Topografia do Terreno da Aacuterea C (Seta indicaccedilatildeo das Trincheiras)
139
Fig 48 Vista Geral da Aacuterea C 1987
522 A Aacuterea B (ldquoForjardquo) Diferentemente do espaccedilo ldquoCrdquo analisado no item anterior a aacuterea
denominada ldquoBrdquo no desenho da planta baixa (anexo 9) apresentou importante
quantidade de materiais arqueoloacutegicos tais como metais liacuteticos ceracircmicas louccedila
e resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias)
No inicio das exploraccedilotildees do local no decorrer do ano de 1983 foram
observadas evidecircncias de paredes inclusive com amontoados de blocos de
arenito que mostravam possiacuteveis sinais de alteraccedilotildees construtivas
No ano seguinte orientado pela descoberta dos blocos acima
mencionados os quais foram caracterizados como possiacuteveis materiais de
construccedilatildeo a pesquisa arqueoloacutegica foi programada prevendo inicialmente a
140
remoccedilatildeo da vegetaccedilatildeo existente no espaccedilo assinalado ldquoBrdquo seguida da
decapagem do terreno
As pesquisas iniciais permitiram identificar a existecircncia da base de paredes
de uma antiga estrutura A partir desta descoberta foi possiacutevel reconstruir ldquoem
superposiccedilatildeo aos blocos de arenito da parede original da forjardquo 85 Tais blocos de
arenitos conforme foi possiacutevel constatar eram os mesmos materiais de
construccedilatildeo dos setores ldquoCrdquo e ldquoDrdquo
Fig 49 RECONSTITUICcedilAtildeO DAS PAREDES DA AacuteREA B 1984
85 Comunicaccedilatildeo Interna ao CENEA por Margarida Davina Andreatta Iperoacute 05dez1984
141
Fig 50 EVIDENCIAS DAS PAREDES DA AacuteREA B 1984 -
Fig 51 PAREDE DA AacuteREA B RECONSTITUIacuteDA 1984 - I
142
Fig 52 PAREDES DA AacuteREA B RECONSTITUIacuteDA 1984 - II
Durante a realizaccedilatildeo da pesquisa arqueoloacutegica com escavaccedilotildees nesta
aacuterea foi possiacutevel evidenciar a ocorrecircncia de significativa quantidade de peccedilas de
metais (ver Tabela Metais) tais como lacircminas plaquetas e cravos
aparentemente indicando a atividade de transformaccedilatildeo do ferro em peccedilas de
utilitaacuterios Tambeacutem foram encontrados liacuteticos fragmentos de telhas faianccedila de
origem portuguesa e ceracircmicas de produccedilatildeo regional ou local (neo-brasileira)
possivelmente ldquopara fins utilitaacuterios do grupo que habitou o localrdquo 86
86 Relatoacuterio de Atividades Periacuteodo 19-31 maio 1986 p 8
143
Fig 53 DECAPAGEM AacuteREA B 1984
Quanto ao piso arqueoloacutegico da aacuterea ldquoBrdquo observou-se que ele estava
situado entre 10 e 30 cm acima do solo original sendo constituiacutedo ldquode blocos de
arenito de diferentes tamanhos irregulares e cobertos por uma camada de terra
com huacutemus e raiacutezes tronco de aacutervores e a terra eacute latossolo (cor avermelhada) o
mesmo que se encontra entre os blocos de arenito nas paredes parece que
serviu como argamassa para assentar os blocos entre si e levantar a parederdquo
conforme descriccedilatildeo apresentada no Diaacuterio de Campo da pesquisadora Margarida
Davina Andreatta (ANDREATTA 1984 p 42) Notou-se tambeacutem que os blocos e
placas de arenito estavam ldquodispostos horizontalmente de maneira que indicavam
que a superfiacutecie do piso deveria ter sido nivelada com argila a fim de facilitar a
circulaccedilatildeo do homemrdquo (ANDREATTA 1984 p 42)
144
TABELA METAIS
CATEGORIAS NUacuteMERO DE FRAGMENTOS
Cravos 33
Plaquetas 06
Barras de ferro 02
Escoacuterias 03
Mineacuterios 03
ANDREATTA Inventaacuterio de Peccedilas 1983-1987
No interior do local da aacuterea ldquoBrdquo (ldquoforja) foram coletadas duas peccedilas
arqueoloacutegicas compreendendo dois fragmentos de ceracircmica com formato de
vasilhame para cozimento as quais foram encaminhadas para o laboratoacuterio da
FATEC ndash Faculdade de Tecnologia de Satildeo Paulo com o objetivo de obter a
dataccedilatildeo absoluta pelo meacutetodo da termoluminescecircnciardquo Este meacutetodo eacute aplicado
para o caso de materiais que apresentam quartzo em sua composiccedilatildeo tais como
ceracircmica vidros solos louccedilas faianccedilas etc
Uma dessas peccedilas era constituiacuteda de metade de um vasilhame de
pequenas dimensotildees de ceracircmica decorada com a presenccedila de apecircndice (alccedilas)
identificada conforme classificaccedilatildeo arqueoloacutegica como de produccedilatildeo local ou
regional (neo-brasileira) O exame visual dessa peccedila mostra a existecircncia de um
apecircndice (alccedila) que identifica a influencia do europeu na fabricaccedilatildeo daquele
objeto permitindo deduzir que o local teria sido um siacutetio de contato (entre o
indiacutegena e o europeu)
O resultado do ensaio de dataccedilatildeo absoluta dessa peccedila arqueoloacutegica pelo
meacutetodo da termoluminescecircncia apontou a idade de 520 +- 75 anos permitindo
avaliar a data da fabricaccedilatildeo entre 1411 a 1561 conforme Certificado da FATEC
datado de 21 de junho de 2006 (Relatoacuterio de Ensaio ndash Anexo 1) Levando em
conta os dados apresentados pela pesquisa histoacuterica para aquele local pode-se
145
supor que a data mais provaacutevel da fabricaccedilatildeo da peccedila seja em meados do seacuteculo
XVI eacutepoca em jaacute ocorria presenccedila do explorador europeu (Figuras 54 55 56)
Fig 53 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - SEacuteCULO XVI -I Idade de 520 +- 75 anos
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
Fig 54 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - II
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
146
Fig 55 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - III
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
Descriccedilatildeo Nuacutemero de Registro 0106
Niacutevel 015 m de profundidade
Laacutebio arredondado
Borda extrovertida inclinada externa
Diacircmetro de boca 014 m
Acircngulo da parede 115ordm
Vasilhame simeacutetrico profundo inflectido de boca ampliada e com
apecircndices lisos em forma de rolete com evidencias de pressatildeo na extremidade
para fixaccedilatildeo
Apresenta as seguintes decoraccedilotildees inciso na posiccedilatildeo vertical com 015m
de comprimento (em grupo de 3 incisos) distanciando cada grupo em 001m
dispostos em duas fileiras sendo a primeira proacutexima al laacutebio e a segunda junto a
altura do apecircndice
147
O bojo eacute liso e a sua base escovada e apresenta marcas de fuligem na
parte externa e sinais de desgaste por atrito na parte interna da base do
vasilhame
O outro vasilhame ceracircmico encontrado na aacuterea B identificada como de
procedecircncia local ou regional (neo-brasileira) apresenta caracteriacutesticas
semelhantes e tambeacutem a mesma dataccedilatildeo do vasilhame de ceracircmica
anteriormente descrito (Figura 57 58) Este artefato foi encontrado a 030 cm da
superfiacutecie e foi em parte reconstituiacutedo e levado para o exame de dataccedilatildeo pelo
processo de termoluminscecircncia ao Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade
de Tecnologia de Satildeo Paulo - FATEC O resultado do ensaio apontou a idade de
540 +- 75 anos correspondendo a possiacuteveis datas de fabricaccedilatildeo daquele artefato
entre 1391 e 1541 sendo esta uacuteltima data a mais provaacutevel(Relatoacuterio de Ensaio
Anexo 1)
Fig 57 VASILHAME CERAcircMICO ndash 0122 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - I Idade de 540 +- 75 anos
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
148
Fig 58 VASILHAME CERAcircMICO ndash 0122 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - II Idade de 540 +- 75 anos
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema Descriccedilatildeo Nuacutemero de registro 0122
Niacutevel 030 m de profundidade
Tipo de laacutebio arredondado
Tipo de borda extrovertida inclinada externa
Diacircmetro da boca 028m
Acircngulo da parede 110ordm
Fragmento de vasilhame simeacutetrico de contorno inflectido com as seguintes
decoraccedilotildees parede lisa com engobo branco parede externa com banho de
engobo branco com uma linha incisa paralela a 001m do laacutebio Entre esta
primeira decoraccedilatildeo e o bojo haacute decoraccedilatildeo escovada com inclinaccedilatildeo
Na borda haacute ainda um apecircndice convexo com sinais de fixaccedilatildeo e nas
extemidades haacute pressatildeo de fixaccedilatildeo Entre a borda e o bojo apresenta decoraccedilatildeo
regulada contornando o vasilhame O bojo tambeacutem apresenta decoraccedilatildeo
escovada quase horizontal
149
Uma terceira peccedila encontrada no interior da aacuterea ldquoBrdquo eacute uma faianccedila
decorada de origem portuguesa e formada por fragmentos de louccedila de uso
domeacutestico a qual tambeacutem foi submetida a uma dataccedilatildeo relativa mediante
comparaccedilatildeo feita com auxilio de cataacutelogo (Itineraacuterio da Faianccedila do Porto e Gaia
publicaccedilatildeo do Museu Nacional de Soares dos Reis sem data) Os fragmentos
foram localizados em parte no interior da aacuterea ldquoBrdquo e outra parte na aacuterea externa
dessa mesma aacuterea sendo este uacuteltimo junto a um vestiacutegio de estrutura do forno 1
aacuterea A1 (Figura 59)
O exame visual sobre a faianccedila reconstituiacuteda a partir de cinco fragmentos
separados permitiu reconhecer com base no documento acima mencionado que
aquela peccedila era um utensiacutelio portuguecircs de uso domeacutestico a qual pode ser
descrita como ldquotiacutepicas tijelas malegueiras decoradas no fundo e na orla com
filetes concecircntricos azul [] que apresentam temas decorativos recorrentes
dentro das faianccedilas conhecidas para a segunda metade do seacuteculo XVII (GOMES
BOLTELLO p148)
Conforme parecer sobre a mesma faianccedila acima descrita apresentado por
Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do Infante Porto ndash Portugal em
28 de abril de 2004 aquela peccedila de faianccedila apresenta uma ldquodecoraccedilatildeo simples
que exibe com toques de pincel espaccedilados junto ao bordo filetes simples
resultando ciacuterculos concecircntricos e espiral no fundo tudo em azul aponta para
uma cronologia que se centraraacute no seacuteculo XVIIrdquo 87
87 Parecer sobre a faianccedila encontrada no Siacutetio Afonso Sardinha feita por Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do Infante Porto ndash Portugal em 28 abr 2004
150
Fig 59 FAIANCcedilA - AacuteREA B [SEacuteC XVII]
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
53 Area E Sul da Faacutebrica de Ferro
A pesquisa arqueoloacutegica realizada na aacuterea E Sul externa da Faacutebrica de
Ferro revelou a existecircncia de amontoados de resiacuteduos de fundiccedilatildeo da magnetita
conhecidos como escoacuteria os quais se distribuem por uma ampla aacuterea do terreno
identificada como escorial sendo que num local adjacente agrave face sul da estrutura
denominada aacuterea ldquoB se apresenta maior concentraccedilatildeo (ver anexo 9)
Uma amostra desse material foi encaminhada para anaacutelise no
Departamento de Mineralogia e Geotectocircnica GMG do Instituto de Geociecircncias
da Universidade de Satildeo Paulo aos cuidados de Daniel Atencio Professor
Associado daquele Departamento o qual constatou ser aquela amostra ldquo[]
provavelmente restos de fundiccedilatildeo Trata-se de wuumlstita (FeO) mais ferro (Fe)
Esses materiais satildeo muito raros como minerais mas comuns em fundiccedilotildeesrdquo88
88 Anaacutelise elaborada por Daniel Atencio Professor Associado do Departamento de Mineralogia e Geotectocircnica GMG IGUSP e enviado por e-mail no dia 21 set 2005
151
Como indica este parecer a amostra se constituiacutea de uma escoacuteria ldquoresto
de fundiccedilatildeordquo contendo wuumlstita (FeO) e ferro caracterizando desta forma o material
do escorial citado
Fig 60 ESCOacuteRIA RESTOS DE FUNDICcedilAtildeO AacuteREA E
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
Observe-se que a presenccedila do metal de ferro impregnado nessa escoacuteria
era resultante da teacutecnica de fundiccedilatildeo para fabricaccedilatildeo do ferro empregada no
Brasil ateacute o iniacutecio do seacuteculo XIX Com a introduccedilatildeo do processo de altos-fornos no
Brasil foi possiacutevel melhorar o aproveitamento do mineacuterio de ferro durante o
processo de fundiccedilatildeo
Nesta mesma aacuterea E foi encontrada uma grande quantidade de telhas
localizadas na parte externa das aacutereas ldquoBrdquo e ldquoCrdquo anteriormente descritas Foram
coletadas 930 fragmentos de telhas as quais foram localizadas ao longo de uma
faixa do terreno com largura da ordem de 060 e 080 cm paralelamente a parede
sul das aacutereas ldquoBrdquo e ldquoCrdquo sugerindo corresponder a mesma posiccedilatildeo sob um ldquobeiral
do telheiro que cobria as respectivas aacutereasrdquo (ANDREATTA 1987 p36v) (Anexo
15)
152
As telhas encontradas permitem afirmar que no local havia uma cobertura
sendo que os trabalhos de dataccedilatildeo sobre um exemplar de telha (Figura 61)
executado pelo meacutetodo de termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e
Dataccedilatildeo da Faculdade de Tecnologia de Satildeo Paulo ndash FATEC acusou uma
dataccedilatildeo (em anos) de 280 +- 40 o que equivale a afirmar que aquele fragmento
foi fabricado entre os anos de 1686 a 1766 periacuteodo correspondente a pelo
menos dois projetos de Faacutebrica de Ferro para aquele local o de Luiz Lopes de
Carvalho e o de Domingos Pereira Ferreira sendo que este uacuteltimo empreendedor
esteve ali estabelecido durante um periacuteodo de no miacutenimo 12 anos (Relatoacuterio de
Ensaio Anexo 1)
A partir dos exames dos fragmentos das telhas encontradas tendo por
base o tipo de pasta coloraccedilatildeo e decoraccedilatildeo foi possiacutevel identificar seis grupos
distintos daquele material conforme a tabela de classificaccedilatildeo abaixo
(ANDREATTA 1987 p21)
Classificaccedilatildeo Caracteriacutestica
Tipo I Branca com riscos (podem ter sentido
longitudinal transversal em X ou em cruz) -
Predominante
Tipo II Branca lisa
Tipo III Vermelha lisa
Tipo IV Marron lisa
Tipo V Vermelha marcadas com granulaccedilatildeo grosseira
Tipo VI Vermelha lisa e com granulaccedilatildeo grosseira
(ANDREATTA 1987 p22)
Quanto a decoraccedilatildeo foram identificados quatro tipos de motivos conforme
os itens descritos abaixo
153
Tipo 1 - linhas digitais horizontais formados por duas linhas relativamente finas
(10 cm) paralelas e orientadas de uma extremidade a outra da telha A natureza
dessas linhas indica que foram confeccionadas em alguns casos por meio da
utilizaccedilatildeo de dedos (indicador e meacutedio)
Tipo 2 - linhas digitais associadas neste caso a decoraccedilatildeo eacute composta por uma
uacutenica linha com a largura de 03 a 05 cm traccedilada na posiccedilatildeo horizontal associada
a uma outra decoraccedilatildeo de forma semicircular
Tipo 3 - linhas digitais paralelas e inclinadas a decoraccedilatildeo apresenta linhas de 10
cm inclinadas e entrelaccediladas
Tipo 4 - linhas digitais inclinadas apresentam linhas com 10 a 15 cm
154
Fig 61 TELHA (AacuteREA E) ndash SEacuteCULO XVIII Idade 280 +- 40 (tn 255 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
155
Fig 62 TELHA (AacuteREA E) (tn30 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
Fig 63 TELHA AacuteREA E (tn 33 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
156
531 Fornos de fundiccedilatildeo na aacuterea externa da Faacutebrica (Aacuterea A1) Na aacuterea externa agrave Faacutebrica de Ferro localizada em diversas posiccedilotildees ao sul
e leste da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro inclusive na aacuterea aqui denominada de
escorial a pesquisa arqueoloacutegica mostrou a existecircncia de pequenos fornos de
fundiccedilatildeo do tipo ldquofornos baixosrdquo (Anexo 9)
Nessa mesma aacuterea junto ao local denominado ldquoArdquo foi identificado um dos
fornos de fundiccedilatildeo o qual foi denominado de ldquoforno1rdquo da aacuterea A1 junto ao qual
foram encontrados diversos materiais arqueoloacutegicos fragmento de ceracircmicas um
material liacutetico identificado como ldquoraspadorrdquo uma garrafa de greacutes fragmentos de
faianccedila portuguesa e telhas As evidecircncias de ceracircmicas encontradas nessa aacuterea
constituem artefatos relacionados ao grupo social de ocupaccedilatildeo colonial
Fig 64 RASPADOR PLANO-CONVEXO AacuteREA E
157
Fig 65 GARRAFA GRES AacuteREA A FORNO-1
Tambeacutem foi localizado um afloramento de rocha nas proximidades da
Faacutebrica margem esquerda do ribeiratildeo do Ferro o qual apresentava marcas de
uso possivelmente para afiar ferramentas (ANDREATTA 1983 p 18)
5311 Forno de Fundiccedilatildeo 1
O Forno 1 era do tipo conhecido como ldquoforno baixordquo sendo o uacutenico
encontrado junto a Faacutebrica de Ferro Entretanto dois outros fornos baixos foram
localizados em um local mais distante (da ordem de 50m) e denominado aacuterea A2
da referida Faacutebrica possivelmente fazendo parte de um outro conjunto de
produccedilatildeo de ferro (Anexo 9)
Os trabalhos de reconhecimento arqueoloacutegico mostraram que o Forno 1
(aacuterea A1) foi construiacutedo sobre uma base retangular com blocos de arenito sendo
158
que duas paredes foram erguidas tambeacutem com blocos de arenito (lados Norte e
Oeste ) enquanto que as duas outras faces foram encaixadas no proacuteprio terreno
rochoso do afloramento de arenito (lados Sul e Leste) aproveitando o relevo
inclinado no local
Uma descriccedilatildeo relacionada ao Forno 1 (aacuterea A1) feita pela pesquisadora e
arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta informa que
uma parte da ldquoconcavidaderdquo (lado Leste) eacute o proacuteprio afloramento
de arenito e o lado Sul tambeacutem enquanto que os lados Norte e
Oeste satildeo revestidos de blocos de arenito e no centro haacute
pequenos blocos tambeacutem de arenito que provavelmente rolaram
da superfiacutecie do proacuteprio muro de pedras da forja (ANDREATTA
1986 p9)
Os dados da pesquisa arqueoloacutegica mostraram ainda que o Forno 1 (aacuterea
A1) apresentava em planta as seguintes dimensotildees comprimento 340m (norte-
sul) largura 260m (leste ndash oeste) e profundidade de 085m (Andreatta 1986
p10)
Fig 66 DECAPAGEM FORNO1 AacuteREA A1 1987
159
Fig 67 VESTIacuteGIOS DO FORNO DE FUNDICcedilAtildeO1- (AacuteREA A1)89
532 Fornos de fundiccedilatildeo da Aacuterea A2 A pesquisa arqueoloacutegica mostrou vestiacutegios de dois outros fornos de
fundiccedilatildeo localizados subjacentes a um morrote denominado B nesta aacuterea A2 a
qual dista cerca de 50 metros ao Sul do local da aacuterea A1 onde existe uma ruiacutena
da Faacutebrica de Ferro O morrote B (ver Figuras 13 e 68) apresentava dimensotildees
de 1280 metros de comprimento por 250m de largura e 135 m altura Aleacutem do
forno de fundiccedilatildeo foram encontrados tijolos telhas e fragmentos de ceracircmica
(ANDREATTA 1987 p65-66) ( Anexo 9)
89 Ver em Pesquisas arqueoloacutegica prosseguem em Ipanema Jornal Cruzeiro do Sul Sorocaba 19 de marccedilo de 1987p 1
160
Fig 68 MORROTE E FORNOS 1 E 2 ndash AREA A2
161
Fig 69 CROQUI AacuteREA A 2 MORROTE B ndash FORNOS 1 E 2 Desenho de Maacutercia Gutierrez Escala 120
162
5321 Forno de fundiccedilatildeo 1 (aacuterea A2) O forno de fundiccedilatildeo 1 da aacuterea A2 caracteriza-se tambeacutem como do tipo
baixo Durante a pesquisa arqueoloacutegica esta evidecircncia se apresentou como o
forno de fundiccedilatildeo mais bem conservado dentre aqueles encontrados Este forno
tem a forma circular com 070 m de diacircmetro interno e 100 m de diacircmetro
externo com 030 m de profundidade A estrutura apresenta na base um vatildeo de
015 m que corresponde agrave abertura atraveacutes da qual se fazia a ldquocorrida das
escoacuteriasrdquo (Figuras 70 e 71)
A parede circular do Forno 1 (aacuterea A2) eacute ldquo assentada diretamente sobre o
solo e eacute constituiacuteda por tijolos e fragmentos de telhas e argamassa com argila do
proacuteprio solo originalrdquo (ANDREATTA 1987 p65-66) Junto ao vatildeo existente no
piso do forno foi feito um pequeno corte (025 m X 025 m X 010 m) para
evidenciar com maior precisatildeo a funccedilatildeo que teria aquela abertura em relaccedilatildeo agrave
estrutura do forno de fundiccedilatildeo
Com base nas investigaccedilotildees arqueoloacutegicas desenvolvidas foi possiacutevel
evidenciar a existecircncia de uma camada de 002 m de ldquosolo compactado e
queimado e com maior resistecircncia em relaccedilatildeo do restante do solo original abaixo
dele e do entornordquo( (ANDREATTA 1987 p65-66) comprovando que de fato
aquela abertura correspondia ao orifiacutecio responsaacutevel pela drenagem das escoacuterias
Esta abertura era comum a todos os fornos de fundiccedilatildeo do tipo forno baixo com
emprego do meacutetodo direto
163
Fig 70 VESTIacuteGIOS DE FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 1- AacuteREA A2 1988
164
Fig 71 CROQUI DO FORNO 1 AacuteREA A2 (1987) Desenho de Marcia Gutierrez
165
5322 Forno de fundiccedilatildeo 2 (aacuterea A2)
O vestiacutegio arqueoloacutegico do Forno 2 foi encontrado a 045 m de
profundidade correspondendo a um forno do tipo baixo apresentando forma
circular construiacutedo com a utilizaccedilatildeo de telhas e ldquotijolosrdquo os quais eram materiais
diferentes daqueles encontrados em outras evidecircncias de fornos neste Sitio Esta
constataccedilatildeo denota que natildeo havia uma regra determinada para a construccedilatildeo de
fornos no que se refere agrave utilizaccedilatildeo de materiais de construccedilatildeo podendo haver
alternativas de uso de outros materiais conforme a disponibilidade de materiais
no local (Figuras 72 73 e 74)
Os registros do trabalho arqueoloacutegico permitiram evidenciar que o Forno 2
apresentava as seguintes dimensotildeesldquodiacircmetro de 110 m com uma borda de 28
cm de largura com a presenccedila de fragmentos de telhas tijolos e argamassa
(latossolo vermelho)rdquo ldquoDo interior do forno foram retiradas telhas (fragmentos)
em quantidade e tijolos e barro cozido com grande presenccedila de mineacuterio de ferrordquo
(ANDREATTA 1987 p65-66)
Quanto ao barro cozido (argila) encontrado no interior desse forno teria
sido provavelmente resto de um revestimento interno jaacute que o material do qual
ele foi construiacutedo (telhas e tijolos) estava disposto de forma bastante irregular A
utilizaccedilatildeo da argila como revestimento nos fornos de fundiccedilatildeo era muito comum
dando um efeito refrataacuterio ao forno fazendo com que natildeo fosse desperdiccedilada a
temperatura elevada que era proporcionada pela combustatildeo do carvatildeo vegetal no
interior do forno e necessaacuteria para separar o metal de ferro do mineacuterio no caso a
Magnetita
166
Fig 72 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988
Fig 73 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988
167
Fig 74 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988
168
CAPITULO 6
INTERPRETACcedilOtildeES DOS DADOS ARQUEOLOacuteGICOS
No Capiacutetulo 5 foram apresentados os resultados da pesquisa arqueoloacutegica
desenvolvida no Siacutetio Afonso Sardinha que envolveram trabalhos de
reconhecimento de campo segundo planos de escavaccedilatildeo coleta de artefatos
levantamentos planialtimeacutetricos e elaboraccedilatildeo de croquis tudo devidamente
registrado no Diaacuterio de Campo da arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta
No presente Capiacutetulo apresentam-se os resultados das anaacutelises detalhadas
dos registros arqueoloacutegicos que resultaram da pesquisa de campo e em seguida
interpretadas as informaccedilotildees anteriormente consolidadas com base nos
conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia
Na elaboraccedilatildeo da siacutentese interpretativa foi necessaacuterio em
complementaccedilatildeo valer-se de instrumentos disponiacuteveis em outras aacutereas do
conhecimento tais como Geologia Mineralogia Metalurgia Engenharia Civil
dentre outras aacutereas
Nesta fase dos estudos arqueoloacutegicos foram elaborados exames visuais e
catalograacuteficos visando a dataccedilatildeo relativa inclusive com o envio de imagem para
fins de comprovaccedilatildeo para Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do
Infante Porto ndash Portugal
Tambeacutem encaminhadas trecircs amostras de ceracircmica de utensiacutelios e telhas
as quais foram submetidas a testes de dataccedilatildeo absoluta com base em ensaios
de Termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade de
Tecnologia de Satildeo Paulo ndash FATEC sob a coordenaccedilatildeo da Professora Doutora
Sonia H Tatumi (Relatoacuterio de Ensaio Anexo 1)
169
Por outro lado amostras de resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias) foram
submetidas a anaacutelise quiacutemica-mineraloacutegica no laboratoacuterio do Departamento de
Mineralogia e Geotectocircnica ndash GMG Instituto de Geociecircncias da Universidade de
Satildeo Paulo sob a responsabilidade do pesquisador e Professor Associado Daniel
Atencio
61 Avaliaccedilatildeo das caracteriacutesticas do Arranjo das Estruturas Ao analisarmos o conjunto das estruturas arqueoloacutegicas entatildeo
descobertas considerando o contexto relacionado agrave produccedilatildeo do ferro na Europa
entre os seacuteculos XVI ao XVIII e levando em conta os conhecimentos que emanam
da Histoacuteria Colonial do Brasil e da Histoacuteria da Teacutecnica eacute possiacutevel estabelecer
muitas semelhanccedilas entre os arranjos das ldquoferrariacuteas de aacuteguardquo destinadas a
produccedilatildeo de ferro na Espanha (Paiacutes Basco) e os vestiacutegios descobertos no vale
das Furnas (Sitio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha)
Um dos aspectos mais importantes que demonstram tal semelhanccedila entre
as ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo e a Faacutebrica do Vale das Furnas refere-se agrave localizaccedilatildeo das
estruturas numa posiccedilatildeo de curva do ribeiratildeo do Ferro de onde era possiacutevel
captar e desviar as aacuteguas mediante a construccedilatildeo de um sistema hidraacuteulico
formado pelas seguintes unidades (a) Dique para represamento do ribeiratildeo (b)
Canal de Derivaccedilatildeo para desvio das aacuteguas (c) Estrutura de Vala com alojamento
de roda drsquoaacutegua e (d) Canal de restituiccedilatildeo das aacuteguas para o ribeiratildeo do Ferro
Tambeacutem chamam a atenccedilatildeo a arquitetura da principal estrutura construiacuteda
localizada na aacuterea A1 a qual mostra diversos recintos com a divisatildeo
caracteriacutestica das ldquoferreriacuteasrdquo encontradas na Espanha nos seacuteculos XVI assim
como as dimensotildees da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro construiacuteda numa aacuterea
retangular com 13m de largura por 16 m de comprimento No caso das ldquoferreriacuteasrdquo
170
bascas as edificaccedilotildees satildeo igualmente retangulares com as dimensotildees de 12 m de
largura por 17 metros de comprimento
Vale tambeacutem mencionar que arranjo semelhante pode ser observado no
caso da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro que entrou em operaccedilatildeo
em 1607 (ver fig 27)
Observa-se tambeacutem o emprego da alvenaria de pedra - teacutecnica construtiva
introduzida no Brasil pelos primeiros colonizadores como no caso da construccedilatildeo
da Casa da Torre de Garcia DrsquoAvila (ano de 1549) na Praia do Forte atual
municiacutepio de Mata de Satildeo Joatildeo Litoral Norte da Bahia (HOLANDA 2002)
Essa mesma teacutecnica exceto pequenas variaccedilotildees respeitavam as tradiccedilotildees
ibeacutericas tendo sido empregada no Brasil tambeacutem para construccedilotildees de
residecircncias edifiacutecios puacuteblicos igrejas e fortificaccedilotildees principalmente no litoral As
paredes feitas de pedra eram entatildeo revestidas com argamassa de areia e cal
obtido pela queima de cascas de ostras encontradas em depoacutesitos no litoral
Nota-se conforme registros das Atas da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo para o ano
de 1609 que essa mesma teacutecnica que se utilizava da cal como argamassa
tambeacutem foi utilizada na construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro (1607)
(NEME 1959 p 348)
62 As ldquoferreriacuteasrdquo de aacutegua na Peniacutensula Ibeacuterica
Na Europa e principalmente na Espanha as ldquoferreriacuteas de aguardquo se
expandiram a partir do seacuteculo XIV90 Assim eram chamados os edifiacutecios
destinados ao trabalho de fundiccedilatildeo do ferro que utilizavam a forccedila motriz
hidraacuteulica para acionar os foles dos fornos de fundiccedilatildeo e os malhos
90 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponiacutevel em lthttpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablesPrimitivas_instalcionespdfgt Acesso em 30 mar 05
171
Essas ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo para viabilizar o seu funcionamento exigiam
certas condiccedilotildees fisiograacuteficas cujos componentes essenciais satildeo a presenccedila do
mineacuterio de ferro nas proximidades madeiras para produccedilatildeo de carvatildeo e cursos
drsquoagua com corredeiras e volume de aacuteguas suficientes para a geraccedilatildeo de forccedila
motriz
Hubo dos tipos de ferreriacuteas de agua las que se valiacutean del caudal
de los rios que funcionaban todo el antildeo y las que dependiacutean de
arroyos que no entraban em funcionamiento hasta las
temporadas de otontildeo e invierno cuando la lluviacuteas incrementaban
el caudal de los regatos y la fuerza del agua Estas uacutetimas no
llegaron a ser consideradas como autenticas ferreriacuteas de agua
Em Biskaia se disignaba a las primeras como ldquode rio caudalrdquo y a
las segundas como ldquoregaterasrdquo Tambieacuten em Gipuzkoa se
diferenciaban unas de otras com los nombres de ldquozeharrolakrdquo y
ldquoagorrolakrdquo respectivamente
Para aprovechar la fuerza del agua era imprescidible que la
ferreriacutea estuviesse construiacuteda em el lugar adecuado Debiacutea estar
situada em la curva de um rio em um lugar em el que fuese faacutecil
desviar el agua de su curso natural a traveacutes de um sistema de
canales y anteparas para que despueacutes de hacer rotar la rueda
hidaulica pudiesse volver a su cauce naturalCuando no era
posible conseguir esta situacioacuten se recurriacutea a crear um sistema
artificial de presas que contuviesen el agua em um niacutevel maacutes
elevado de forma que para mover las ruedas hidraacuteulicas bastaba
com dejar caer la aacutegua sobre ellas 91
91 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponiacutevel em lthttpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablesPrimitivas_instalcionespdfgt
172
Fig 75 ASPECTO DE UMA ldquoFERRERIacuteA DE AGUArdquo SEacuteCULO XVII92
92 Felipe III visita la ferreriacutea de Yarza en Beasain (Guipuacutezcoa) en 02 noviembre de 1615
173
As plantas das ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo encontradas na regiatildeo basca da
Espanha obedeciam a um arranjo de planta retangular medindo em meacutedia 12 X
17 metros com cobertura de duas aacuteguas sendo que suas dependecircncias e
instalaccedilotildees geralmente compreendiam duas estruturas baacutesicas para a produccedilatildeo
de ferro o sistema hidraacuteulico ao qual jaacute se fez referecircncia e o edifiacutecio de
produccedilatildeo
A construccedilatildeo desse edifiacutecio principal era executada por construtores
especializados em teacutecnicas de edificaccedilotildees em alvenaria de pedra bem como na
instalaccedilatildeo de sistemas hidraacuteulicos exigindo a participaccedilatildeo de carpinteiros os
quais seriam os responsaacuteveis pela construccedilatildeo da roda drsquoaacutegua dos eixos da caixa
de aacutegua e das estruturas para o telhado 93
Para a operaccedilatildeo das ldquoferreriacuteasrdquo era necessaacuterio contar com pessoal teacutecnico
com conhecimentos tanto em mineraccedilatildeo quanto na fundiccedilatildeo bem como no
manejo dos dispositivos de utilizaccedilatildeo da energia das aacuteguas dos rios atraveacutes do
sistema hidraacuteulico
Este edifiacutecio destinado a produccedilatildeo abrigava diversos compartimentos
sendo o maior deles reservado agrave oficina a qual deveria se localizar ao lado da
Vala onde estava instalada a roda drsquoaacutegua que acionavam os eixos responsaacuteveis
pela movimentaccedilatildeo do malho e foles
O espaccedilo destinado agrave oficina era organizado de modo a levar em conta
duas unidades fundamentais de produccedilatildeo do ferro o forno de fundiccedilatildeo e o malho
A disposiccedilatildeo desses equipamentos no interior da oficina natildeo era aleatoacuteria uma
vez que a teacutecnica empregada para a fabricaccedilatildeo do ferro exigia que aqueles
Disponivel em lthttpwwweuskomediaorgeuskomediaSAunandigt Acesso em 20 marccedilo 2005 93 FERNANDEZA C La construccioacuten del hierro ndashmazos y ferreriacuteas Escuela Universitaacuteria de Arquitectos tecnicos de la Corunatilde Disponiacutevel em wwwguillenderohancomEXPOGRImzos-memoriahtm Acesso em 07mar06
174
equipamentos estivessem posicionados nas proximidades tendo em vista o fato
de os trabalhos serem complementares
Aleacutem da oficina o edifiacutecio principal deveria abrigar depoacutesitos de mateacuteria-
prima como carvatildeo vegetal e mineacuterio de ferro jaacute calcinado (tostado) e uma aacuterea
comum de descanso
Fig 76 SISTEMA DE ldquoPUJOacuteN TUERTOrdquo foles e malho satildeo acionados com o emprego de uma uacutenica roda hidraacuteulica94
94 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponivel emhttpwwwbizkaianetKulturaKirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablePrimitivas_instalacionespdf Acesso em 17 novembro de 2006
175
Fig 77 TRABALHO DE EXTRACcedilAtildeO DA MASSA DE FERRO 63 Sistema hidraacuteulico produccedilatildeo da forccedila motriz 631 Dique de represamento do ribeiratildeo do Ferro
As investigaccedilotildees de campo natildeo possibilitaram localizar o Dique de
represamento do ribeiratildeo do Ferro possivelmente em razatildeo da fragilidade dessas
estruturas diante da forccedila das aacuteguas
Entretanto vale registrar o testemunho de Luiz Lopes de Carvalho o qual
em carta dirigida ao Rei de Portugal em maio de 1692 afirmava que
por experiecircncia que fiz pelas minhas matildeos pois fabricando um
Engenho muito limitado por natildeo ter posses que mais tirava todos
os dias este rendimento de um quintal de ferro de duas pedras
176
poreacutem soacute cinco dias continuei nesta oficina em razatildeo de ir uma
cheia e como pela pobreza afabriquei com pouca fortaleza se
arruinou ficando incapaz de poder continuar na faacutebrica95
632 Canal de Derivaccedilatildeo das aacuteguas
As condiccedilotildees de erosatildeo na aacuterea do possiacutevel traccedilado tambeacutem natildeo
permitiram localizar a estrutura do dique responsaacutevel pelo desvio das aacuteguas no
ribeiratildeo do Ferro bem como localizar a comporta responsaacutevel pelo controle do
acesso de aacuteguas em direccedilatildeo ao canal
Deve-se ressaltar que a estrutura do dique eacute necessaacuteria para a elevaccedilatildeo
do niacutevel da aacutegua do ribeiratildeo para o desvio enquanto que a comporta permitiria
regular a vazatildeo em direccedilatildeo ao Canal de Derivaccedilatildeo A aacutegua conduzida atraveacutes do
deste Canal de derivaccedilatildeo impulsionada pela gravidade alcanccedilaria a entrada da
Vala sendo em seguida recolhida em um depoacutesito posicionado sobre aquela
estrutura
A Figura 78 mostra um possiacutevel traccedilado do referido canal sendo que no
desenho o iniacutecio do canal foi posicionado num ponto do ribeiratildeo acima da cota
583m conforme o levantamento planialtimeacutetrico executado na aacuterea do Siacutetio
Arqueoloacutegico Afonso Sardinha96
95 Carta enviada por Luiz Lopes de Carvalho ao Rei de Portugal datada de maio de 1692 RODRIGUES Leda Maria Pereira As minas de ferro em Biraccediloiaba ndash Satildeo Paulo seacuteculos XVI XVII XVIII Anais do III Simpoacutesio dos Professores Universitaacuterios de Histoacuteria Franca 1966 p 218 96 Planta Planialtimeacutetrica Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha Escala 1200 CENEA sd
177
Fig 78 TRACcedilADO ESQUEMAacuteTICO DO CANAL DE DERIVACcedilAtildeO
633 Vala da roda A finalidade da estrutura da Vala eacute a de abrigar a roda drsquoaacutegua dispositivo
necessaacuterio para transformar a energia hidraacuteulica em energia mecacircnica para
movimentar os equipamentos e ferramentas da Faacutebrica de Ferro
A Vala da roda foi construiacuteda com paredes de blocos de pedras de modo a
permitir o fluxo da correnteza e ao mesmo tempo proteger o terreno contra as
erosotildees impedindo as infiltraccedilotildees das aacuteguas para o interior das dependecircncias da
Edificaccedilatildeo Principal
O fato de natildeo terem sido encontrados fragmentos de telhas no interior da
Vala quando foram realizadas as pesquisas arqueoloacutegicas parecem indicar que
178
os esteios natildeo serviam para sustentar telhado Por outro lado a Histoacuteria da
Teacutecnica mostra que outras instalaccedilotildees da mesma eacutepoca destinadas a produccedilatildeo
da energia hidraacuteulica tambeacutem natildeo apresentavam telhado na aacuterea da Vala
Sendo assim sobram duas hipoacuteteses para explicar a existecircncia daqueles
esteios A primeira hipoacutetese eacute que tais esteios serviriam para sustentar uma calha
de madeira com uma extensatildeo da ordem de 12 metros responsaacutevel pela
conduccedilatildeo e descarga da aacutegua diretamente sobre as paacutes da roda valendo-se de
um dispositivo denominado empejeiro ou pejador que servia para o controle da
quantidade de aacutegua descarregada sobre a roda (KATINSKY 1985 p 230)
Outra possibilidade eacute que os esteios sustentavam um reservatoacuterio de aacutegua
- o ldquobanzaordquo - responsaacutevel pelo repouso do liacutequido de modo a garantir a sua
descarga controlada sobre as paacutes da roda conforme os projetos comumente
encontrados nas construccedilotildees das ldquoferreriacuteas de aguardquo da regiatildeo Basca - Espanha
(Figura 79)
A laje de pedra do fundo da Vala mostra forte declividade da Vala sendo
que na extremidade superior (coincidente com o ponto de interligaccedilatildeo com o
Canal de Derivaccedilatildeo) a cota eacute igual a 453 enquanto que na extremidade inferior
junto a margem do ribeiratildeo do Ferro a cota do terreno eacute igual a 041 Sendo
assim o desniacutevel total eacute de 412 metros na extensatildeo total da Vala igual a 19
metros ou seja cerca de 20
Outra observaccedilatildeo importante eacute que o niacutevel do fundo da Vala no ponto
meacutedio da sua extensatildeo seria igual a 230 m mostrando nesta posiccedilatildeo desniacutevel de
cerca de 2 metros abaixo do provaacutevel niacutevel da Faacutebrica (cota aproximada 450 m)
revelando a possibilidade de alojamento da roda drsquoaacutegua a partir desta mesma
posiccedilatildeo
O desenho do arranjo do sistema hidraacuteulico encontrado no Sitio Sardinha
mostra semelhanccedilas claras com o arranjo que caracterizam as ferreriacuteas bascas
179
O exame do conjunto das estruturas mostram que a construccedilatildeo tirou partido da
declividade do terreno para aproveitamento da forccedila da gravidade aplicada ao
processo da produccedilatildeo do ferro
634 A Caixa de Aacutegua - ldquoBanzaordquo O ldquobanzaordquo era uma caixa de aacutegua com volume adequado para garantir o
repouso da aacutegua instalado acima do niacutevel da Vala em uma posiccedilatildeo diretamente
sobre a roda A instalaccedilatildeo dessas caixas tinha por objetivo garantir uma altura da
queda drsquoaacutegua necessaacuteria para impulsionar a roda e ao mesmo tempo armazenar
um volume de aacutegua adequado para direcionar o jato diretamente sobre as paacutes
da roda com uma pressatildeo constante de modo a resultar o movimento uniforme
para a rotaccedilatildeo da roda
Os rdquobanzaosrdquo mais ruacutesticos e antigos eram feitos de madeira material que
criava vaacuterios problemas de manutenccedilatildeo fato que levou agrave substituiccedilatildeo desse
material a partir do seacuteculo XVIII por alvenaria de pedra
O acionamento da roda se dava por meio de uma espeacutecie de vara
localizada no interior da Faacutebrica a qual permitia regular a quantidade de aacutegua
descarregada sobre a roda Elena Faus descreve esse funcionamento da
seguinte forma
El paso del aacutegua a la rueda se abre o cierra por meacutedio de
tanpones o ldquochimbosrdquo Cuando los operaacuterios los abren salta y
golpea directamente las palas de la rueda instalada debajo
provocando su giro Con el fin de evitar peacuterdidas de liacutequido y
maximizar su rendimiento se antildeade un canal ldquoguzur-askardquo que lo
conduce directamente sobre la rueda Posteriormente se evacua
por un aliviadero la ldquoonda-askardquo (FAUS 2000 p 63)
180
Contudo mesmo apostando na hipoacutetese de que haveria um ldquobanzaordquo
acima da Vala encontrada torna-se difiacutecil estabelecer a sua dimensatildeo e volume
Mas as evidecircncias encontradas sugerem que esta caixa de aacutegua deveria ter no
maacuteximo 12 metros de comprimento (medidos a partir do inicio do canal ateacute o
uacuteltimo vestiacutegio de esteio) por aproximadamente 225 m (largura da vala)
restando indefinida a medida da altura da caixa
Fig 79 SOLUCcedilAtildeO EM ldquoBANZAOrdquo DE MADEIRA ndash DEPOacuteSITO DE AacuteGUA97
97 LAS FERRERIacuteAS DE AGUA DE ASTURIAS Disponivel em ltwwwbelmontedemirandanetfraguaindexhtmgt Acesso em 20jun05
181
635 A roda hidraacuteulica
Em 1983 quando foram iniciadas as pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio
Afonso Sardinha a Vala destinada agrave instalaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua jaacute havia sido
identificada Contudo eacute somente em 1986 que as pesquisas se concentraram na
aacuterea daquela Vala Graccedilas ao fato de esta estrutura ter permanecido enterrada a
mesma ficou preservada possibilitando avaliar a sua funccedilatildeo e o fato de que o
local deveria ter sido destinado agrave instalaccedilatildeo de uma roda hidraacuteulica vertical com
eixo horizontal (Figura 79)
A utilizaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua para os trabalhos metaluacutergicos natildeo era
novidade para os empreendimentos dessa natureza pois a teacutecnica aplicada para
a construccedilatildeo desse tipo de Faacutebrica jaacute era bastante difundida entre os artesatildeos da
Idade Meacutedia os quais buscaram adaptar as ferramentas utilizadas no trabalho da
produccedilatildeo de ferro (por exemplo foles e malhos) de modo a permitir a sua
movimentaccedilatildeo atraveacutes da forccedila obtida das rodas drsquoaacutegua
Em 1104 os ldquomoinhos para bater o ferrordquo jaacute eram encontrados nos Pirineus
espanhoacuteis Gille os descreve da seguinte forma
as forjas que anteriormente eram acionadas a braccedilos e que
itinerantes deslocavam-se agrave procura dos fornos-baixos a
procura de mateacuteria prima e do combustiacutevel a partir de entatildeo se
estabelecem permanentemente ao longo dos rios (GILLE Apud
GAMA 1985 p 133)
Entre os seacuteculos XIV e XV surgiram no paiacutes basco adaptaccedilotildees da roda
hidraacuteulica para acionar os ldquosoprantesrdquo - os foles - (instrumentos utilizados para
insuflar oxigecircnio para dentro dos fornos) possibilitando intensificar a combustatildeo
do carvatildeo vegetal de modo a elevar a temperatura no interior do forno No paiacutes
basco o martelo hidraacuteulico jaacute havia sido incorporado agravequela atividade desde o
seacuteculo XV em Gipuzkoa e desde o seacuteculo XVI em Biskaia ambas localizadas na
182
regiatildeo basca Em 1531 operavam em ambas as regiotildees cerca de 200
estabelecimentos utilizando essa teacutecnica (FAUS 2000 p 60)
Fig 80 ldquoLOCALIZACcedilAtildeOrdquo DO MALHO E DA RODA HIDRAUacuteLICA (INTERPRETACcedilAtildeO) (Desenho Agnaldo Zequini)
183
6 4 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo
O local onde se encontra instalada a Faacutebrica de Ferro do Sitio Arqueoloacutegico
Afonso Sardinha oferece todas as condiccedilotildees fisiograacuteficas favoraacuteveis para a
instalaccedilatildeo daquele empreendimento De fato o conjunto se encontra
praticamente na aacuterea das jazidas de mineacuterios de ferro junto a um ribeiratildeo com
quantidade de aacuteguas satisfatoacuterias para o caso de produccedilatildeo do ferro relativamente
pequena como deveria ser o caso da instalaccedilatildeo existente no morro de Araccediloiaba
Outro fator decisivo para a produccedilatildeo de ferro era a presenccedila de matas com
abundacircncia de madeiras A esse respeito segundo uma descriccedilatildeo do Vale das
Furnas apresentada no decorrer de 1692 por Luiz Lopes de Carvalho (um dos
que investiram na construccedilatildeo de Faacutebrica de Ferro naquele local) o mesmo
lastimava o fato de ter que reduzir os ldquodensos arvoredos em que se achatildeo paos
Reais e madeirasrdquo em carvatildeo o uacutenico combustiacutevel utilizado nos processos de
fundiccedilatildeo de ferro (RODRIGUES 1963 p 203)
O mesmo Luiz Lopes de Carvalho testemunhava naquele mesmo ano que
aquele morro estava coberto ldquode mineral de ferro de meuda aacuterea athe pedras de
des a Robas e mui dilatadas betas [veios] Profundas Largas e Compridasrdquo
esclarecendo que o mineacuterio ao ser submetido ao processo de reduccedilatildeo tinha um
rendimento de dois para um ldquoa cada douz quintais de pedra se tira hum de ferrordquo
(RODRIGUES 1966 p 204)
641 A Oficina da Faacutebrica de Ferro
A planta da Faacutebrica de Ferro encontrada com dimensotildees de 13m X 16m
permite identificar as provaacuteveis posiccedilotildees de cada uma das unidades de produccedilatildeo
184
necessaacuterias agrave fabricaccedilatildeo do ferro quais sejam o espaccedilo destinado a oficina e a
forja
No caso da construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro do Sitio Afonso Sardinha eacute
possiacutevel identificar a aacuterea destinada a oficina onde deveriam ficar instalados os
equipamentos do forno de fundiccedilatildeo e foles e do malho Nessa planta a aacuterea estaacute
identificada pelas letras C e F (Anexo 9)
Fig81 FAacuteBRICA DE FERRO DO SITIO AFONSO SARDINHA ARRANJO DOS EQUIPAMENTOS (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)
185
Fig 82 FAacuteBRICA DE FERRO PLANTA BAIXA (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)
Contudo entre os anos de 1986-1987 quando foram aprofundadas
as pesquisas arqueoloacutegicas naquelas aacutereas por meio de decapagem e abertura
de trincheiras natildeo foram encontrados vestiacutegios materiais que permitissem
identificar os locais dentro da oficina onde estariam instalados os fornos e o
malho como tambeacutem nenhum resiacuteduo testemunho da produccedilatildeo de ferro
Diante dessa constataccedilatildeo podemos levantar pelo menos duas hipoacuteteses
de interpretaccedilatildeo Uma delas estaacute relacionada agrave proacutepria natureza daquele siacutetio o
qual ao longo dos seacuteculos sofreu vaacuterias intervenccedilotildees antroacutepicas que poderiam
186
provocar algumas perturbaccedilotildees no registro arqueoloacutegico colaborando dessa
forma para o desaparecimento das evidecircncias
A segunda hipoacutetese decorre do fato de que os exames das condiccedilotildees de
superfiacutecie do terreno na parte da edificaccedilatildeo identificada como ldquoCrdquo (Oficina)
apresentam indiacutecios de antigas erosotildees decorrentes da presenccedila do ribeiratildeo do
Ferro Tal interpretaccedilatildeo permitia concluir que as enchentes do ribeiratildeo do Ferro
seriam responsaacuteveis pela pequena quantidade de artefatos arqueoloacutegicos
naquela aacuterea (Figura 81)
A figura abaixo apresenta um corte do terreno na provaacutevel aacuterea da Oficina
mostrando irregularidade na superfiacutecie do piso possivelmente decorrente de
erosotildees junto a margem do ribeiratildeo do Ferro provocadas pelas enchentes
187
Fig 83 INDICACcedilAtildeO DA POSSIacuteVEL AacuteREA ERODIDA PELAS ENCHENTES ndash AREA C ndash (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)
188
6411 O Malho O malho era um instrumento imprescindiacutevel para o processo de produccedilatildeo
do ferro pelo denominado meacutetodo direto Essa ferramenta possuiacutea um longo
braccedilo de madeira que media cerca de trecircs a quatro metros de comprimento e
funcionava como alavanca com apoio intermediaacuterio Uma das extremidades do
braccedilo dessa alavanca funcionava como um martelo e apresentava na
extremidade uma cabeccedila de ferro ndash o malho ndash que dava o nome ao equipamento
Em outra extremidade havia um dispositivo que permitia transformar o movimento
de rotaccedilatildeo da roda em deslocamento vertical oscilante do braccedilo permitindo
assim que o malho golpeasse a ldquobola de ferrordquo que ficava apoiada em uma
bigorna
Ao golpear a ldquobola de ferrordquo denominaccedilatildeo dada ao produto retirado do
interior do forno de fundiccedilatildeo esta operaccedilatildeo perseguia trecircs objetivos importantes
eliminar as escoacuterias que ainda permaneciam aderidas a bola de ferro compactar
aquela massa e finalmente dar forma de barra ou lingote que era o produto final
para a comercializaccedilatildeo
A operaccedilatildeo desse martelo com funcionamento hidraacuteulico eacute descrito em um
texto informativo publicado pela Universidade de Oviedo-Espanha sem menccedilatildeo
de autor e ano de publicaccedilatildeo
La rueda hidraulica movida por el impulso del agua le comunica al
eje o aacuterbol un movimiento rotatoacuterio de este agraverbol sobresalen unos
dientes a modo de levas concretamente cuatro situados a 90ordm los
manobreiros quem en su giro percuten sobre el extremo del
mango del martillo la dendala en su movimiento oscilante el
yunque o incre esta golpeo se repite cuatro veces por cada giro
completa de la rueda 98
98 Ingenios hidraulicos histoacutericos molinos batanes y ferreriacuteas Universidad de Oviedo ndashEspana Disponiacutevel e em lthttpwww1unioviesasturiasferreriasgt Acesso em 17 jun 04
189
O movimento do malho era produzido mediante a transmissatildeo de forccedila
originada atraveacutes do eixo de uma roda hidraacuteulica especifica para esta tarefa Um
segundo tipo de sistema de acionamento utilizava uma uacutenica roda hidrauacutelica para
movimentaccedilatildeo do braccedilo do malho e ao mesmo tempo pelo acionamento dos
foles Este uacuteltimo sistema era conhecido como ldquopujoacuten tuertordquo e era o sistema mais
comumente empregado nas ferrariacuteas bascas99
No Brasil a utilizaccedilatildeo dessa ferramenta para a produccedilatildeo de ferro eacute
encontrada em documentos relacionados agrave construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de
Santo Amaro no iniacutecio do seacuteculo XVII Em 1605 para instalaccedilatildeo dessa Faacutebrica
foram entregues pela Administraccedilatildeo Espanhola agrave Diogo de Quadros ldquo2 malhos
que podiam pesar pouco mais ou menos entre ambos 3 quintais mais duas
argolas grandes da mesma ferramentardquo (RODRIGUES 1963 p 190)
Possivelmente foi entregue a Diogo de Quadros apenas a ldquocabeccedila de ferrordquo
(o malho propriamente dito) enquanto que as demais peccedilas da estrutura pelo
fato de serem confeccionadas inteiramente com madeira poderia ter sido
fabricada no Brasil
No caso da Faacutebrica de Ferro do Siacutetio Afonso Sardinha dispotildeem-se apenas
de documentos escritos que registram a presenccedila desse equipamento conforme
a carta escrita no ano de 1768 por D Luiz Antonio de Souza Governador da
Capitania de Satildeo Paulo dirigida ao Conde de Oeiras atraveacutes da qual apresenta
informaccedilotildees sobre a Faacutebrica de Ferro que havia sido construiacuteda por Domingos
Pereira Ferreira e seus soacutecios
Nesse documento D Luiz afirmava que aquele empreendimento era uma
das atividades que estava dando maior preocupaccedilatildeo em sua gestatildeo explicando
que
99 Binganaria no sistema de pujoacuten tuerto a Binganaria corresponde agrave viga de transmissatildeo entre a roda hidraacuteulica e os foles
190
se tem trabalhado desde aquele tempo [1760] ateacute o presente
em grandes dispecircndios dos acionistas em fazer fornos
grandes e pequenos por diferentes modos safras [bigorna
de ferreiro] martelos malhos rodas e engenhos para os
mover e tudo o necessaacuterio (RODRIGUES 1966 p 190)
Uma outra notiacutecia relacionada a essa mesma Faacutebrica ficou registrada em
outra documentaccedilatildeo datada de 1770 atraveacutes da qual Jacinto Joseacute de Abreu um
dos soacutecios de Domingos Pereira Ferreira dava conta de que o andamento dos
trabalhos lhe estava causando o ldquomaior desgostordquo pelo fato de ter quebrado o
malho ldquoque tanto dispecircndio e trabalho custourdquo A reclamaccedilatildeo expressada por
Jacinto Joseacute de Abreu pode ser compreendida natildeo somente pelo prejuiacutezo
financeiro decorrente da perda direta da peccedila como tambeacutem pelo prejuiacutezo
decorrente da consequumlente paralisaccedilatildeo da produccedilatildeo do ferro
6412 ndash O Forno de Fundiccedilatildeo e Foles As pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio Afonso Sardinha natildeo lograram
identificar vestiacutegios materiais de fornos de fundiccedilatildeo no interior da aacuterea
reconhecida como sendo a Oficina da Faacutebrica Tendo em vista o arranjo e a
extensatildeo do espaccedilo levantado pelas pesquisas de campo bem como as teacutecnicas
de fundiccedilatildeo de ferro disponiacuteveis de acordo com os estudos da histoacuteria da teacutecnica
para o periacuteodo que interessa ao presente trabalho entendemos que eacute correto
afirmar que o forno de fundiccedilatildeo ali empregado deveria ser do tipo ldquoforno baixordquo
De qualquer forma natildeo eacute possiacutevel afirmar que o meacutetodo de fundiccedilatildeo
utilizado no interior da Faacutebrica de Ferro corresponda ao que eacute conhecido como
ldquomeacutetodo catalatildeordquo ou ldquoforno catalatildeordquo uma vez que as pesquisas arqueoloacutegicas e
tambeacutem as documentais natildeo conseguiram encontrar qualquer dado a respeito do
modelo do forno de fundiccedilatildeo ali utilizado nem qualquer informaccedilatildeo a respeito do
processo de extraccedilatildeo do ferro na operaccedilatildeo de fundiccedilatildeo
191
De fato o forno catalatildeo se diferenciava dos demais fornos baixo por
apresentar uma forma que lembrava o de uma piracircmide invertida com trecircs
paredes planas e uma convexa confeccionadas com pedras refrataacuterias
(GARCIA sd p7) O que tambeacutem caracterizava o forno catalatildeo era o
procedimento de colocaccedilatildeo do carvatildeo e do mineacuterio no interior do forno para
extraccedilatildeo do metal Pere Molera I Sola (1982 p 208) ao analisar o procedimento
direto de obtenccedilatildeo do ferro pelo meacutetodo catalatildeo assinala que este meacutetodo
apresentava a peculiaridade de empregar a teacutecnica de ldquotrompa de aacuteguardquo para
promover a injeccedilatildeo do ar para dentro do forno Entretanto alguns fornos
reconhecidos como do tipo catalatildeo tambeacutem empregavam a teacutecnica de foles
movidos por roda drsquoaacutegua com aquele objetivo
O mesmo autor esclarece que o forno catalatildeo era
sin duda elemento maacutes importante consistia en una cavidad de
forma trocopiramidal invertida cuyas dimensiones de la base
mayor estaban en torno a los 60 por 50 cm La altura era de unos
80 cm Dentro de la nave industrial el horno estaba situado junto
a una pared principal denominada lsquopiec del focrsquo (pie del fuego)
todas las paredes del horno presentaban superficies planas
menos lsquolrsquoore o contraventrsquo (contraviento) que para facilitar la
extraccioacuten del producto reducido ofreciacutea una superficie convexa
y estaban parcialmente recubiertas con planchas de acero La
pared del horno adosada al lsquopiec del focrsquo y opuesta a lsquolrsquoorersquo se
denominaba lsquoles porguesrsquo (las cribas) y estaba atravesada por la
tobera que inyectaba aire al horno Entre ambas las paredes
estaba el lsquolleteirolrsquo (rebosadero) pared agujereada para faciclitar
la eliminacioacuten de la escoria liquida frente a la cual se encontraba
la lsquocavarsquo pared de piedra sin revistir y ligeramente inclinada
(SOLA 1982 p 208-209)
A operaccedilatildeo de fundiccedilatildeo eacute descrita pelo mesmo autor conforme segue
192
La operacioacuten de reduccioacuten de la mena concentrada se iniciaba
cubriendo el fono del horno con polvo de carboacuten vegetal Se le
prendia fuego Una vez caliente el horno se antildeadia una capa de
trozos de caroacuten de mayor tamantildeo E inmediatamente se
superponia una plancha de acero en al centro del horno paralela
a las lsquoporguesrsquo Ello permitiacutea situar una capa vertical de carboacuten en
al lado de la tobera y una capa de mineral al otro lado de la
plancha Se quitaba luego la plancha y se cubriacutea la parte superior
del mineral con una capa de pequentildeos trozos de carboacuten huacutemedo
y escorias al objeto de que la superficie externa quedase de
forma esfeacuterica y concentrase las llamas Se insuflaba aire por las
toberas y a la hora y media se alcanzaban ya temperaturas
superiores o los 1200 grados C Durante tres o cuatro horas
consecutivas se iba antildeadiendo mineral y carboacuten al tiempo que
por el ldquolletirolrdquo se eliminaba la escoria liquida Si la escoria era
densa lo que evidenciaba un alto contenido en hierro se volviacutea a
introducir en el horno La operacioacuten terminaba cuando en el fondo
del horno se formaba una bola irregular de unos 100 kilogramos
de peso de hierro o acero dulce con inclusiones de escoria y
poros el lsquomasserrsquo (zamarra) En se momento empezaba la
operacioacuten maacutes espectacular de la fraga la saca el lsquomasserrsquo del
horno y transportarlo hasta el martinete lo que requeriacutea el
concurso de todo el personalrdquo (SOLA 1982 p 211-212)
193
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
1- A partir das evidecircncias arqueoloacutegicas levantadas pela pesquisadora Margarida
Davina Andreatta no Siacutetio Afonso Sardinha foram elaboradas anaacutelises e em
seguida as interpretaccedilotildees com base nos conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica
e da Histoacuteria da Teacutecnica relacionadas a produccedilatildeo de ferro Tais estudos
permitiram comprovar que aquela aacuterea arqueoloacutegica corresponde a um campo de
exploraccedilatildeo e produccedilatildeo de ferro desde a segunda metade do seacuteculo XVI
2- As ruiacutenas da edificaccedilatildeo principal identificadas como ldquoBrdquo (Forja) e ldquoCrdquo (Oficina)
tratam-se de aacutereas de produccedilatildeo de uma Faacutebrica de Ferro O espaccedilo identificado
como ldquoDrdquo corresponde a uma vala de acomodaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua responsaacutevel
pela produccedilatildeo da forccedila de origem hidraacuteulica necessaacuteria para movimentar os
equipamentos e ferramentas da fabricaccedilatildeo ( Anexo 9)
3- Os exames das condiccedilotildees de superfiacutecie do terreno na parte da edificaccedilatildeo
identificada como ldquoCrdquo (Oficina) apresentam indiacutecios de antigas erosotildees
decorrentes da presenccedila do ribeiratildeo do Ferro sendo que esta interpretaccedilatildeo
permite concluir que os fenocircmenos apontados foram os responsaacuteveis pela
ausecircncia de artefatos arqueoloacutegicos naquela aacuterea
4- Os exames dos vestiacutegios dos fornos de fundiccedilatildeo encontrados nas aacutereas A e
A2-B externa do edifiacutecio principal da fabricaccedilatildeo de ferro indicam que satildeo do tipo
baixo provavelmente insulflados a fole de matildeo natildeo sendo possiacutevel afirmar que
seriam fornos do tipo catalatildeo
5- As ruiacutenas da Faacutebrica de Ferro indicam que as mesmas tratam de instalaccedilotildees
de modelo de produccedilatildeo industrial inclusive com divisatildeo de tarefas em aacutereas
distintas uso de energia hidraacuteulica transformada em forccedila mecacircnica para
194
movimentaccedilatildeo das ferramentas e para insuflaccedilatildeo do ar para queima do carvatildeo
nos fornos de fundiccedilatildeo
6- As dataccedilotildees absolutas e tambeacutem as relativas realizadas indicaram que naquele
local houve uma sobreposiccedilatildeo de distintos empreendimentos para a produccedilatildeo do
ferro desde o final do seacuteculo XVI e ao longo do seacuteculo XVIII
7- A causa mais provaacutevel do insucesso econocircmico de todas as tentativas de
produccedilatildeo de ferro em Araccediloiaba se relaciona a mineralogia da magnetita e
associaccedilotildees com outras substancias minerais as quais eram nocivas agrave qualidade
do produto metaluacutergico Neste caso vale ressaltar a presenccedila prejudicial
principalmente do titacircnio e do foacutesforo cujas presenccedilas eram desconhecidas pelos
exploradores
8- A planta da edificaccedilatildeo principal (aacutereas ldquoBrdquo ldquoCrdquo e ldquoDrdquo e ldquoFrdquo) evidenciada se
ajusta aos arranjos de espaccedilo produtivo de ferro tiacutepicos de modelos encontrados
naquele mesmo periacuteodo nas aacutereas de mineraccedilatildeo da Peniacutensula Ibeacuterica
notadamente aquele desenvolvido na regiatildeo basca (Anexo 9)
195
BIBLIOGRAFIA E ARQUIVOS PESQUISADOS
ARQUIVOS Arquivo da Cidade de Satildeo Paulo Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Arquivo do Museu Histoacuterico Sorocabano Arquivo Municipal da Cidade de Itu Documentaccedilatildeo do Museu Paulista -USP Instituto de Estudos Brasileiros ndash USP Museu Republicano Convenccedilatildeo de ItuMPUSP Projeto Arqueologia Histoacuterica ndash Museu Paulista USP Todas as fotografias croquis e plantas relacionadas a pesquisa arqueoloacutegica realizada no Siacutetio Afonso Sardinha entre os anos de 1983-1989 e que estatildeo inseridas nesta tese foram reproduzidas a partir deste acervo BIBLIOGRAFIA ABSAacuteBER Aziz Nacib Morro de Ipanema conhecimentos Scientific American Brasil Ediccedilatildeo Nordm 52 - setembro de 2006 Disponiacutevel em lthttpwww2uolcombrsciamconteudoeditorialeditorial_36Htmlgt Acesso em 14mar06 ARAUJO M Alves Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo de Ipanema Auxiliador da Industria Nacional n50 Rio de Janeiro1882 ABREU Joatildeo Capistrano de Capiacutetulos de histoacuteria colonial (1500-1800) amp Os caminhos antigos e o povoamento do Brasil Brasiacutelia Editocircra Universidade de Brasiacutelia 1963 ALBUQUERQUE Gislene Batista RODRIGUES Ricardo Ribeiro A vegetaccedilatildeo do Morro de Araccediloiaba Floresta Nacional de Ipanema (SP) Scientia Florestalis n58 p 145-159 dez 2000 Disponiacutevel em lt wwwipefbrpublicacoesscientianr58cap11pdfgt
ALBUQUERQUE G B Floresta Nacional de Ipanema Caracterizaccedilatildeo da Vegetaccedilatildeo em Dois Trechos Distintos do Morro de Araccediloiaba Iperoacute (SP) 1999 186p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Ciecircncias Florestais) ndash ESALQUSP Piracicaba
196
AMARAL Aracy A Hispanidade em Satildeo Paulo da casa rural agrave Capela de Santo Antocircnio Satildeo Paulo Livraria Nobel 1981 ALMEIDA Aluisio de Sorocaba 3 seacuteculos de Histoacuteria Itu-SP editora Ottoni 2002 _____ Histoacuteria de Sorocaba Sorocaba Graacutefica Guarani1951 _____ Faacutebrica de Ferro do Ipanema (cronologia) Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Sorocaba n3 SorocabaO Instituto 1958 _____ O Ipanema em 1813 faacutebrica de ferro Satildeo Joatildeo de Ipanema Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo Satildeo Paulo O Instituto n 36 p 151-165 1939 ANCHIETA Joseacute de Minhas cartas Satildeo PauloAssociaccedilatildeo Comercial de Satildeo Paulo Melhoramentos 198- ANDRADA Martim Francisco Ribeiro de Jornaes de viagens pela Capitania de Satildeo Paulo Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico e Ethnographico do Brasil Rio de Janeiro Typografia Universal de H Laemmert amp C 1882 _____ Satildeo Joatildeo do Ypanema descriccedilatildeo do morro do mineral de ferro sua riqueza methodo usado na antiga fabricaccedilatildeo seus defeitos Revista do Instituto Histoacuterico Geograacutefico Brasileiro Rio de Janeiro Imprensa Nacional n18 p 244-253 1855 ANDREacuteN Anders Between Artifacts na Texts New York Plenum Press 1998 ANDREATTA Margarida Arqueologia Histoacuteria e a Mineraccedilatildeo de Ipanema Satildeo Paulo Coloacutequio de Histoacuteria e Teoria do conhecimento geograacutefico Campinas Unicamp 1988 _____ Diaacuterio de Campo 1983-1989 Projeto Arqueologia Histoacuterica Museu PaulistaUSP _____ Arqueologia Histoacuterica no municiacutepio de Satildeo Paulo Revista do Museu Paulista vol XXVIII p 174-176 198121986a _____ Arqueologia Histoacuterica ndash cidade de Satildeo Paulo Arqueologia Revista do centro de Estudos e Pesquisas Arqueoloacutegicas vol5 p 113-115 _____ Casa do Grito ndash Ipiranga Programa de Arqueologia Histoacuterica no municiacutepio de Satildeo Paulo Revista do Arquivo Municipal n 197 p153-172 1986b _____ Cientistas aproveitam escavaccedilotildees no vale do Anhangabauacute para recolher objetos antigos [Entrevista] Estado de Satildeo Paulo Satildeo Paulo p22 20 maio 1990
197
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GLOSSAacuteRIO
Banzao de madeira BANZAO Denominaccedilatildeo que era dada na regiatildeo basca ndash Espanha para depoacutesitos de aacutegua que eram instalados sobre as rodas drsquoaacutegua e de onde era despejado jato de aacutegua sobre as paacutes daquela roda fazendo-a girar Na estrutura identificada por essa pesquisa as evidencias pressupotildee a utilizaccedilatildeo desse equipamento
BIGORNA Ferramenta feito por um bloco de pedra ou metal utilizado como suporte para martelar sobre o ferro
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CABECcedilA DE MALHO Peccedila metaacutelica que eacute afixada em uma das extremidades da ferramenta que leva esse nome
ESCOacuteRIA ldquorestos de fundiccedilatildeordquo um sub-produto da fundiccedilatildeo de mineacuterio para purificar metais No caso das teacutecnicas de fundiccedilatildeo utilizadas ateacute o seacuteculo XIX no Brasil as escoacuterias produzidas apoacutes o processo de fundiccedilatildeo apresentavam uma grande quantidade de ferro (metal) em sua composiccedilatildeo O que vale dizer que os fornos utilizados para aquela atividades natildeo alcanccedilavam as temperaturas acima de para proporcionar maior aproveitamento do mineacuterio empregado
Ferreriacutea de Bolunburu es un conjunto ferro molinero que desde el siglo XVII
FERRERIacuteA Edifico que abrigava as ferramentas e equipamentos para a produccedilatildeo do ferro O sistema de produccedilatildeo empregado nas ferrariacuteas denominado de meacutetodo direto de produccedilatildeo consistia em ldquocozinharrdquo o mineacuterio de ferro em fornos baixo usando como combustiacutevel o carvatildeo vegetal Apoacutes ldquocozidordquo o ferro se transformava em uma esponja de ferro que era levada para ser trabalhada sobre
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uma bigorna e golpeada pelo malho Este trabalho servia para compactar a massa liberar as escoacuterias e dar forma FERRO O ferro (do latim ferrum) eacute um elemento quiacutemico siacutembolo Fe de nuacutemero atocircmico 26
Foles acionados por forccedila humana seacuteculo XVI FOLES Equipamento utilizado para insuflar ar para dentro do forno promovendo assim a combustatildeo do carvatildeo Podiam ser acionados manualmente ou por utilizaccedilatildeo de roda drsquoaacutegua
Forno baixo com a utilizaccedilatildeo de fole manual FORNO BAIXO Espaccedilo normalmente de pequenas dimensotildees onde se realizava a reduccedilatildeo (extraccedilatildeo do metal ndashferro ndash do mineacuterio) e de Havia vaacuterias denominaccedilotildees para esse tipo de forno como fornos de vento fornos castelhanos fornos catalatildees forno de manga etc Estes fornos dada a sua dimensatildeo e os instrumentos de insuflaccedilatildeo do ar utilizado natildeo permitiam a fundiccedilatildeo do mineacuterio Nos fornos baixos acima referidos a disposiccedilatildeo do carvatildeo vegetal e dos pedaccedilos de mineacuterios no interior do forno eram feitos em camadas superpostas e horizontais
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Forno Catalatildeo e Trompa Hidrauacutelica FORNO CATALAtildeO O forno catalatildeo eacute assim denominado por ter sido uma teacutecnica desenvolvida nos Pirineus catalatildees A teacutecnica catalatilde ou meacutetodo catalatildeo de fundiccedilatildeo possuem alguns elementos que o caracterizam como 1- a forma de construccedilatildeo do forno que lembra uma lareira tendo o seu formato interno feito de forma de uma piracircmide invertida 2- disposiccedilatildeo interna do carvatildeo e dos pedaccedilos de mineacuterios dentro do forno os quais eram colocados de lados opostos e paralelos 3- utilizaccedilatildeo da trompa hidraacuteulica para insuflar oxigecircnio para a combustatildeo do carvatildeo esse sistema foi desenvolvido na regiatildeo da atual Itaacutelia e utilizado em grande escala nas faacutebricas de ferro da Catalunha Na regiatildeo Basca foram utilizados foles de grandes dimensotildees acoplados a roda drsquoaacutegua FORNO DE FUNDICcedilAtildeO Espaccedilo onde se daacute a reduccedilatildeo do mineacuterio No periacuteodo estudado a reduccedilatildeo ou fundiccedilatildeo era proporcionada pela queima proporcionada pela insuflaccedilatildeo de oxigecircnio por meio de foles manuais do carvatildeo vegetal que era colocada dentro desses fornos junto com pedaccedilos de mineacuterio FORJA Fornalha de que se servem os ferreiros e outros artiacutefices para incandescer os metais para serem trabalhados numa bigorna Do francecircs forge e do Latin fabrica Tambeacutem pode designar o trabalho realizado pelo ferreiro por meio do fogo e do martelo para dar forma aos metais
HEMATITA mineral de foacutermula oacutexido de ferro III (Fe2O3) um dos diversos oacutexidos de ferro
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MAGNETITA mineral magneacutetico formado pelos oacutexidos de ferro II e III ( FeO Fe2O3) cuja foacutermula quiacutemica eacute Fe3O4
MALHO Daacute se o nome de malho a peccedila metaacutelica que estaacute afixada em uma das extremidades do martinete o qual por conseguinte daacute o nome ao equipamento METAL elemento quiacutemico Satildeo metais os metais bem conhecidos satildeo alumiacutenio cobre ouro ferro prata titacircnio uracircnio e zinco MINERAL Substacircncia natural MINEacuteRIO mineral que conteacutem um metal na sua composiccedilatildeo quiacutemica Todo o mineacuterio eacute mineral OFICINA Ou Farga (em catalatildeo) espaccedilo em que estatildeo assentados o forno e o malho equipamentos destinados a produccedilatildeo de ferro MARTINETE Instrumento usado para golpear os metais incandescentes na forja para dar-lhes a forma desejada Tambeacutem pode designar um malho movido por roda drsquoagua METALURGIA Teacutecnica de obtenccedilatildeo dos metais No periacuteodo pesquisado a teacutecnica era conhecida como meacutetodo direto
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OacuteXIDOS Combinaccedilatildeo do oxigecircnio com outros elementos No nosso caso com ferro
TROMPA Mecanismo que aproveita a forccedila da caiacuteda da aacutegua para gerar um fluxo contiacutenuo em direccedilatildeo do forno Era um elemento caracteriacutestico do forno catalatildeo
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ANEXOS
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223
- FAacuteVERO Oriana Aparecida NUCCI Joatildeo Carlos De BIASI Maacuterio Mapeamento da vegetaccedilatildeo e usos das terras da Floresta Nacional de Ipanema IperoacuteSP
-
5
SUMAacuteRIO
Iacutendice 06 Iacutendice das Figuras 10 Resumo 14 Abstract 15 Introduccedilatildeo 16 Capiacutetulo I 19 Capiacutetulo II 47 Capiacutetulo III 83 Capiacutetulo IV 109 Capitulo V 126 Capitulo VI 167 Consideraccedilotildees finais 193 Bibliografia 195 Glossaacuterio 214 Anexos 220
6
IacuteNDICE INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO 1 O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA QUESTOtildeES DA ARQUEOLOGIA HISTOacuteRICA 11 Contexto do presente trabalho 19
111 Avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos 19 112 Histoacuterico das descobertas das ruiacutenas 26 113 Consideraccedilotildees sobre a metodologia 32
114 Descriccedilatildeo geral das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas 37
12 Principais questotildees a serem abordadas no decorrer da Tese 46
CAPITULO 2 A TECNICA DE PRODUCcedilAtildeO DE FERRO NO PERIODO ENTRE OS SEacuteCULOS XVI AO XVIII 21 Consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia 47 22 O conceito de Teacutecnica 50 23 A valorizaccedilatildeo do conhecimento teacutecnico e a ciecircncia
experimental moderna 53 2 4 A Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica 55
25 A Teacutecnica de produccedilatildeo do ferro 59
26 Fornos de fundiccedilatildeo de ferro 64
27 Tratados Teacutecnicos de Metalurgia 78
CAPITULO 3 HISTOacuteRICO DA MINERACcedilAtildeO NO BRASIL COLONIAL 31 As primeiras expediccedilotildees mariacutetimas a busca dos metais nobres 83 32 O Peabiru uma trilha para o Sertatildeo 85 33 O descobrimento da prata em Potosi 88 34 A busca de metais nobres na Capitania de Satildeo Vicente 90 35 D Francisco de Sousa a organizaccedilatildeo da exploraccedilatildeo mineral 91
7
36 Teacutecnicos e praacuteticos na mineraccedilatildeo e metalurgia 94 37 A Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro 96
38 A Faacutebrica de Ferro do morro de Araccediloiaba os empreendedores 99 39 A Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema 103 CAPIacuteTULO 4 O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 41 Localizaccedilatildeo 109 42 A vegetaccedilatildeo 116 43 Rios e ribeirotildees
44 A magnetita o mineacuterio do morro de Araccediloiaba 119
45 Fatores fisiograacuteficos da ocupaccedilatildeo europeacuteia 123
CAPIacuteTULO 5 INVESTIGACcedilOtildeES ARQUEOLOacuteGICAS AS EVIDENCIAS DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO 126
51 Estruturas hidraacuteulicas para a produccedilatildeo da forccedila motriz 129
511 O Canal de Derivaccedilatildeo 129
512 A Vala da Roda 132
5121 Evidecircncias de esteios 134 52 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 137 521 Area ldquoCrdquo 137 522 A Aacuterea B (ldquoForjardquo) 139
53 Area E Sul da Faacutebrica de Ferro 150 531 Fornos de fundiccedilatildeo na aacuterea externa da Faacutebrica (Aacuterea A1) 155 531 Forno de Fundiccedilatildeo 1 157 532 Fornos de fundiccedilatildeo da Aacuterea A2 159 5321 Forno de fundiccedilatildeo 1 (aacuterea A2) 161 5322 Forno de fundiccedilatildeo 2 (aacuterea A2) 165
CAPITULO 6 INTERPRETACcedilOtildeES DOS DADOS ARQUEOLOacuteGICOS 61 Avaliaccedilatildeo das caracteriacutesticas do Arranjo das Estruturas 167 62 As ldquoferreriacuteasrdquo de aacutegua na Peniacutensula Ibeacuterica 170 63 Sistema hidraacuteulico produccedilatildeo da forccedila motriz 175
8
631 Dique de represamento do ribeiratildeo do Ferro 175 632 Canal de Derivaccedilatildeo das aacuteguas 176 633 Vala da roda 177 634 A Caixa de Aacutegua - ldquoBanzaordquo 179 635 A roda hidraacuteulica 180 6 4 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 183
641 A Oficina da Faacutebrica de Ferro 183 6411 O Malho 188 6412 Fornos de fundiccedilatildeo e foles 190 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 193 BIBLIOGRAFIA 195 GLOSSAacuteRIO 214 ANEXOS 220 1 Relatoacuterio de Ensaio ndash Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo ndash FATEC 2 Inventaacuterio de Peccedilas Ceracircmica 3 Inventario de Peccedilas Liacutetico 4 Inventaacuterio de Peccedilas Louccedilas 5 Inventaacuterio de Peccedilas Telhas 6 Inventaacuterio de Peccedilas Metal 7 Tratado da Arte de ensaiar e fundir cobre ferro e accedilo Ano de 1691 8 Aranzel ou Roteiro de haveres de oiro e pedras preciosas Ano de 1696 9 Planta Geral da aacuterea pesquisada Siacutetio Afonso Sardinha (Mapa 1) 10 Mapeamento das aacutereas de decapagem e escavaccedilatildeo ( Mapa 2) 11 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de lacircminas de metal (Mapa 3)
9
12 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de escoacuterias (Mapa 4) 13 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de blocos de arenito (Mapa 5) 14 Aacuterea E ndash Concentraccedilatildeo de cravos de metal (Mapa 6) 15 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de telhas (Mapa 7)
10
INDICE DAS FIGURAS
1 Mapa de localizaccedilatildeo da FLONA ndash Ipanema 2 Mapa de localizaccedilatildeo do Siacutetio Afonso Sardinha 3 Desenho esquemaacutetico da localizaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro 4 Aspecto do Siacutetio Afonso Sardinha 1983 5 Iniacutecio das pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio Afonso Sardinha 1983 6 Reuniatildeo de trabalhos 1984 7 Aspecto da Faacutebrica de ferro em 1987 8 Planta do Siacutetio Afonso Sardinha aacutereas A1 e A2 9 Planta da aacuterea A1 10 Vista Geral da aacuterea A1 11 Vista Geral da aacuterea A2 12 Planta da aacuterea A2B detalhe 13 Planta do morrote A2B 14 Aacuterea A2 morrote e evidencias de fornos de fundiccedilatildeo 15 Corte esquemaacutetico de um forno baixo 16 Maquete de forno de fundiccedilatildeo (Celta) 17 Forno de fundiccedilatildeo (romano) 18 Fornos de fundiccedilatildeo de lupa ou de vento 19 Corte esquemaacutetico de fornos de fundiccedilatildeo de lupa ou de vento 20 Fornos de fundiccedilatildeo de Guaira (Potosi)
11
21 Fornos de fundiccedilatildeo seacuteculo XVI 22 Fornos de Fundiccedilatildeo seacuteculo XVI 23 Arranjo funcional de uma Faacutebrica de Ferro 24 Elementos que compotildeem uma ldquoFarga Catalanrdquo 25 Traccedilado do Peabiru (Tronco de Satildeo Vicente) 26 Mapa do Peabiru feito por Pasquale Petrone 27 Prospecto das ruiacutenas da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro 28 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro de Ipanema 1827 29 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro de Ipanema seacuteculo XIX 30 Altos fornos geminados construiacutedos por Varnhagem 1818 31 Alto forno construiacutedo pelo Cel Mursa 1888 32 Roteiro Histoacuterico da Mineraccedilatildeo e metalurgia paulista 33 Mapa Geoloacutegico do Morro de Araccediloiaba 34 Bloco diagrama da regiatildeo da Serra de Araccediloiaba 35 Vista geral do morro de Araccediloiaba I 36 Vista geral do morro de Araccediloiaba II 37 Magnetita 38 Limpeza do Siacutetio Afonso Sardinha 1984 39 Equipe de trabalho 1988 40 Vista geral da aacuterea E 1988 41 Dimensotildees da Vala da roda e localizaccedilatildeo da evidecircncias de esteios 42 Vala da roda hidraacuteulica 1987 - I 43 Vala da roda hidraacuteulica 1987 ndash II 44 Evidecircncias de esteios
12
45 Detalhe da evidecircncia de esteios 46 Detalhe de um esteio 47 Topografia do terreno da aacuterea C 48 Vista geral da aacuterea C 1987 49 Reconstituiccedilatildeo das paredes da aacuterea B 1984 50 Evidecircncias de paredes da aacuterea B 1984 51 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - I 52 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - II 53 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - III 54 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI - I 55 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI - II 56 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI ndash III 57 Vasilhame de ceracircmica (0122) aacuterea B seacuteculo XVI ndash I 58 Vasilhame de ceracircmica (0122) aacuterea B seacuteculo XVI ndash II 59 ldquoTijelardquo faianccedila [seacuteculo XVII] 60 Escoacuteria ndash restos de fundiccedilatildeo aacuterea E 61 Telha (0115) aacuterea E seacuteculo XVIII 62 Telha aacuterea E 63 Telha aacuterea E 64 Raspador plano convexo aacuterea E 65 Garrafa de greacutes aacuterea A ndash forno1 66 Decapagem aacuterea A forno 1 67 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A1 68 Morrote e vestiacutegios de fornos de fundiccedilatildeo aacuterea A2
13
69 Croqui da aacuterea A2 morrote B 70 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A2 71 Croqui do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A2 72 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 - I 73 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 ndash II 74 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 ndash III 75 Aspecto de uma ldquoferreriacutea de aacuteguardquo seacuteculo XVII 76 Sistema de ldquopujoacuten tuortordquo 77 Trabalho de extraccedilatildeo da ldquobola de ferrordquo ou ldquomassa de ferro 78 Traccedilado esquemaacutetico do Canal de Derivaccedilatildeo aacuterea A1 (Interpretaccedilatildeo) 79 rdquo Depoacutesito de aacutegua soluccedilatildeo ldquoBanzaordquo 80 localizaccedilatildeo do malho e da roda hidraacuteulica (Interpretaccedilatildeo) 81 Faacutebrica de Ferro do Siacutetio Afonso Sardinha arranjo dos equipamentos (interpretaccedilatildeo) 82 Faacutebrica de Ferro Planta baixa (interpretaccedilatildeo) 83 Faacutebrica de Ferro aacuterea erodida (Interpretaccedilatildeo)
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RESUMO
Esta Tese tem como objetivo analisar a pesquisa arqueoloacutegica e os
artefatos coletados no Sitio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha localizado no morro de
Araccediloiaba Iperoacute - Satildeo Paulo
O resultado da anaacutelise permitiu concluir que a aacuterea corresponde a um
campo de mineraccedilatildeo de ferro com a presenccedila de evidecircncias de uma Faacutebrica de
Ferro de um sistema de aproveitamento de energia hidraacuteulica para movimentar
os equipamentos e ferramentas destinadas a produccedilatildeo e de fornos de fundiccedilatildeo
Aleacutem disso a dataccedilatildeo do material ceracircmico (vasilhames e telhas) indica que as
atividades de exploraccedilatildeo do mineacuterio tiveram iniacutecio no seacuteculo XVI
Palavras-Chaves Arqueologia Histoacuterica Floresta Nacional de Ipanema Teacutecnica
de produccedilatildeo de ferro Colonial Sitio Afonso Sardinha morro de Araccediloiaba Iperoacute-
SP
15
ABSTRACT This Thesis has the goal to analyze archaeological research and artifacts
found in Afonso Sardinha Archaeological site located on Mount Araccediloiaba Iperoacute
Satildeo Paulo
The analysis result leads to the conclusion that the area corresponds to iron
mining field with the presence of Iron Factory evidence a system that makes use
of hydraulic power to move the equipment and tools used in the production and
small ovens to melt iron Besides the ceramic date (pots and tiles) indicates that
mineral digging activities began in the 16th century
Key words History Archeology Ipanema National Forest Colonial Iron
Production Technique Archeological Site Afonso Sardinha Mount Araccediloiaba
Iperoacute-SP
16
INTRODUCcedilAtildeO
A presente Tese busca analisar sob o ponto de vista da Arqueologia
Histoacuterica os resultados da pesquisa arqueoloacutegica desenvolvida pela pesquisadora
e arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta entre os anos de 1983 a 1989 na aacuterea
do siacutetio arqueoloacutegico Afonso Sardinha localizado no morro de Araccediloiaba
municiacutepio de Iperoacute a cerca de quinze quilocircmetros da cidade de Sorocaba Satildeo
Paulo
Os estudos desenvolvidos consideraram apenas os fatos relacionados agrave
exploraccedilatildeo e fabricaccedilatildeo do ferro no morro de Araccediloiaba desde finais do seacuteculo
XVI ateacute o seacuteculo XVIII portanto antes da instalaccedilatildeo do Estabelecimento
Montaniacutestico de Extraccedilatildeo de Ferro das Minas de Sorocaba em 1810 e mais tarde
com a denominaccedilatildeo de Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
O resultado final do trabalho do levantamento de campo formou um
conjunto vasto e consolidado em textos de Diaacuterios de Campo escritos pela
pesquisadora correspondecircncias levantamentos topograacuteficos planos de
escavaccedilatildeo croquis e desenhos geomeacutetricos de plantas das ruiacutenas croquis de
cortes estratigraacuteficos e de reconhecimento das escavaccedilotildees Inventaacuterio de Peccedilas e
fotografias tudo devidamente registrado em relatoacuterios da pesquisa arqueoloacutegica
17
Os artefatos coletados durante as investigaccedilotildees de campo foram
acondicionados em caixas devidamente protegidas e identificadas e depositadas
nas dependecircncias do Museu do Centro de Visitantes da FLONA de Ipanema
Foram desenvolvidos trabalhos de reconhecimento e anaacutelise detalhada dos
registros arqueoloacutegicos que resultaram da pesquisa de campo e em seguida
interpretadas as informaccedilotildees anteriormente consolidadas com base nos
conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia
Na elaboraccedilatildeo da siacutentese interpretativa foi necessaacuterio valer-se de
instrumentos disponiacuteveis em outras aacutereas do conhecimento tais como Geologia
Mineralogia Metalurgia Engenharia dentre outras aacutereas
Tambeacutem foram elaborados exames visuais e catalograacuteficos visando a
dataccedilatildeo relativa assim como foram encaminhadas amostras de ceracircmica as
quais foram submetidas a testes de dataccedilatildeo absoluta com base em ensaios de
Termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade de
Tecnologia de Satildeo Paulo - FATEC
Por outro lado amostras de resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias) foram
ensaiadas em laboratoacuterio para anaacutelise quiacutemica-mineraloacutegica no Departamento de
Mineralogia e Geotectocircnica GMG do Instituto de Geociecircncias da Universidade de
Satildeo Paulo
No Capiacutetulo 1 O Siacutetio Afonso Sardinha questotildees da Arqueologia Histoacuterica
optamos por colocar uma siacutentese dos achados arqueoloacutegicos no Sitio Afonso
Sardinha sendo que com base nas informaccedilotildees disponiacuteveis foram expostas as
questotildees da Arqueologia Histoacuterica que resultaram das investigaccedilotildees de campo e
de laboratoacuterio assim como das pesquisas bibliograacuteficas
No Capitulo 2 A Teacutecnica de Produccedilatildeo de Ferro no periacuteodo entre os
seacuteculos XVI ao XVIII foram analisadas e discutidas as questotildees conceituais da
18
teacutecnica e da tecnologia relacionadas a metalurgia no periacuteodo de interesse desta
Tese compreendido entre os seacuteculos XVI e XVIII Para compreensatildeo dos
processos de produccedilatildeo de ferro foram apresentadas descriccedilotildees dos
procedimentos de fabricaccedilatildeo bem como ilustraccedilotildees das ferramentas
equipamentos e maacutequinas em uso naquele estaacutegio do conhecimento teacutecnico
O Capiacutetulo 3 Histoacuterico da Mineraccedilatildeo no Brasil Colonial trata de uma
avaliaccedilatildeo da historiografia disponiacutevel sobre as atividades de mineraccedilatildeo no Brasil
e particularmente para o caso da entatildeo Capitania de Satildeo Vicente merecendo
esclarecer que parte destas obras foi produzida na primeira metade do seacuteculo XX
Aleacutem disso foram consultados documentos do Arquivo Municipal de Satildeo Paulo
do Arquivo do Estado de Satildeo Paulo e Biblioteca e Arquivo do Museu Histoacuterico
Sorocabano
No Capiacutetulo 4 O Sitio Afonso Sardinha apresenta-se a localizaccedilatildeo
geograacutefica as caracteriacutesticas geoloacutegicas e geomorfoloacutegicas do morro de
Araccediloiaba a vegetaccedilatildeo a hidrografia recursos minerais com destaque especial
para a presenccedila da Magnetita Finalmente oferece-se um contexto sucinto a
respeito da ocupaccedilatildeo colonial e a presenccedila de naturalistas viajantes inclusive
Saint Hilaire em 1919
No Capiacutetulo 5 Investigaccedilotildees Arqueoloacutegicas as evidencias de uma Faacutebrica
de Ferro com base em todos os dados que resultaram da pesquisa de campo
foram desenvolvidos trabalhos sendo que num primeiro momento relacionados
ao reconhecimento e anaacutelise detalhada dos registros arqueoloacutegicos fornecidos
pela pesquisa acima mencionada
No uacuteltimo Capiacutetulo de nuacutemero 6 Interpretaccedilotildees dos dados arqueoloacutegicos
buscou-se elaborar uma interpretaccedilatildeo das informaccedilotildees consolidadas nos
documentos produzidos a partir dos conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e
Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia
19
CAPIacuteTULO 1
O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA QUESTOtildeES DA ARQUEOLOGIA HISTOacuteRICA O presente Capiacutetulo tem por objetivo indicar um conjunto de questotildees que
deveratildeo ser analisadas no decorrer da elaboraccedilatildeo desta Tese as quais
emanaram dos resultados alcanccedilados pelas pesquisas arqueoloacutegicas realizadas
no siacutetio Afonso Sardinha pela pesquisadora e arqueoacuteloga Margarida Davina
Andreatta
Para melhor compreensatildeo dos fatos que fazem parte do contexto do
presente trabalho tendo em vista a identificaccedilatildeo daquelas questotildees satildeo
apresentados a) uma avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos que tratam de assuntos
relacionados ao siacutetio arqueoloacutegico b) um histoacuterico da descoberta das ruiacutenas c)
consideraccedilotildees sobre a metodologia utilizada d) uma descriccedilatildeo geral resumida
das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas
11 Contexto do presente trabalho 111 Avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos
As primeiras notiacutecias relacionadas agraves minas de ferro do Morro de
Araccediloiaba e com os trabalhos de fundiccedilatildeo daquele mineacuterio foram dadas por
Pedro Taques de Almeida Paes Leme (1714-1777) Aleacutem de sua obra mais
conhecida a Nobiliarquia Paulistana Histoacuterica e Genealoacutegica escreveu a Histoacuteria
da Capitania de Satildeo Vicente e um compecircndio sobre a exploraccedilatildeo e a legislaccedilatildeo
mineira intitulado Noticia das Minas de Satildeo Paulo e dos Sertotildees da mesma
Capitania
20
Neste uacuteltimo trabalho escrito na segunda metade do seacuteculo XVIII afirmou
ter sido o bandeirante Afonso Sardinha e seu filho mameluco do mesmo nome
ldquoos que tiveram a gloacuteria de descobrir ouro de lavagem nas Serras de
Jaramimbaba e do Jaraguaacute em Satildeo Paulo na de Votoruna em Parnaiacuteba e na
Biraccediloiaba no Sertatildeo do Rio Sorocaba ouro prata e ferro pelos anos de 1597rdquo
(TAQUES 1954 p 112) Em Notiacutecias Genealoacutegicas citado por Nicolau de
Campos Vergueiro PedroTaques completa aquela informaccedilatildeo indicando que
Afonso Sardinha havia construiacutedo uma faacutebrica e dois fornos de ferro em
Biraccediloiaba e que havia doado um dessas Faacutebricas agrave D Francisco de Souza
quando ldquoem pessoa passou a Biraccediloiaba no ano de 1600rdquo (VERGUEIRO 1978
p6)
Taques escreveu suas obras dentro de um contexto em que os trabalhos
historiograacuteficos buscaram dar um enfoque positivo a participaccedilatildeo bandeirante na
histoacuteria de Satildeo Paulo e ao mesmo tempo contrapor todas as outras narrativas
que haviam sido escritas nos seacuteculos anteriores sobretudo pelos Jesuiacutetas
Assim firmou para que Afonso Sardinha e seu filho passassem para a Histoacuteria
como tendo sido os descobridores daquelas minas e os pioneiros na fabricaccedilatildeo
do ferro no Morro de Araccediloiaba
Entre os veiacuteculos de divulgaccedilatildeo dessa historiografia estaacute o Instituto
Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo e do Brasil (sediado na cidade do Rio de
Janeiro) sendo este uacuteltimo responsaacutevel pela divulgaccedilatildeo das obras de Pedro
Taques1 Por outro lado aquelas afirmativas foram reforccediladas pelo
1 Os Institutos Histoacutericos e Geograacuteficos foram junto com os Museus brasileiros os primeiros e mais importantes espaccedilos que existiam no seacuteculo XIX para a pesquisa de humanidades e para a ciecircncia em geral no Brasil O Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo seraacute uma instacircncia de produccedilatildeo a afirmar uma suposta especificidade paulista elaborar tradiccedilotildees do estado ndash atraveacutes de biografias de seus vultos estudos sobre o passado da proviacutencia etc Nesse sentido eacute tambeacutem uma historiografia com teor ciacutevico paulista sobretudo mas que buscava afirmar a prevalecircncia de Satildeo Paulo perante a naccedilatildeo como um todo releitura da figura do bandeirante no sentido de elevaacute-lo agrave condiccedilatildeo de construtor da naccedilatildeo ROMANCINI Richard Inventando tradiccedilotildees os historiadores e a pesquisa inicial sobre o jornalismo II Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho Florianoacutepolis de 15 a 17 de abril de 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwjornalismoufscbrredealcarcdgrupos20de20trabalho20de20historia20da20midiahistoria20dos20jornalismotrabalhos_selecionadosrichard_romancinidocgt Acesso em 060706
21
desaparecimento de total ou significativa parcela dos documentos que
constituiacuteram as fontes pesquisadas por aquele autor tais como os arquivos do
Primeiro Cartoacuterio dos Oacuterfatildeos de Satildeo Paulo os da Provedoria da Real Fazenda e
os da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo2
Aleacutem disso uma significativa parcela dos trabalhos publicados entre os
seacuteculos XIX e XX sobre as atividades metaluacutergicas desenvolvidas no morro de
Araccediloiaba estavam voltados para as anaacutelises sobre os aspectos da geografia
historia mineralogia botacircnica e geologia a partir da implantaccedilatildeo da Real Faacutebrica
de Ferro de Ipanema fundada em 1810 3 Quanto aos periacuteodos anteriores a fonte
de informaccedilatildeo sempre foi a obra de Pedro Taques a qual foi amplamente
difundida com a publicaccedilatildeo da obra de Azevedo Marques intitulada
Apontamentos histoacutericos geograacuteficos bibliograacuteficos e estatiacutesticos da proviacutencia de
Satildeo Paulo em 1879
A construccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema estaacute inserida no acircmbito
da implementaccedilatildeo de poliacuteticas voltadas para favorecer a transferecircncia para a
colocircnia de todo o aparelho institucional do reino a partir da chegada de D Joatildeo VI
a cidade do Rio de Janeiro4 Entre os projetos estava a implantaccedilatildeo e
desenvolvimento da siderurgia no Brasil a partir da exploraccedilatildeo das jazidas de
ferro jaacute conhecidas como as do Morro de Araccediloiaba na Proviacutencia de Satildeo Paulo e
das jazidas de ferro de Minas Gerais localizadas nos atuais municiacutepios de
Congonhas do Campo e Gaspar5
2 Os arquivos da Provedoria foram destruiacutedos por uma enchente do Tamanduateiacute em 1929 Dos outros arquivos restam apenas poucos exemplares e que estatildeo incompleto como o das Atas da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo RODRIGUES Leda Maria Pereira As Minas de ferro em Araccediloiba (Satildeo Paulo Seacuteculos XVI-XVII-XVIII) Annais do III Simpoacutesio dos Professores Universitaacuterios de Histoacuteria Franca 1966 p 171 3 A Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema inicia suas atividades a partir da promulgaccedilatildeo da Carta Reacutegia de 4 de dezembro de 1810 Esta carta conteacutem instruccedilotildees para o funcionamento de uma faacutebrica de ferro em Sorocaba Em 1895 encerra definitivamente as suas atividades Ver bibliografia 4 Com a presenccedila de D Joatildeo VI foi promulgada em 1808 a abertura dos portos para o comeacutercio e um alvaraacute que revogava o Decreto de D Maria I de 1785 referente a proibiccedilatildeo da abertura de faacutebricas e manufaturas no estado do Brasil e Domiacutenios Ultramarinos 5 As minas de ferro de Gaspar Soares deram origem a Real Faacutebrica de Ferro de Gaspar Soares cuja direccedilatildeo foi dada ao Intendente Manuel Ferreira da Cacircmara Em 1811 tambeacutem para o Brasil o teacutecnico alematildeo Gotthelft Von Feldner com a incumbecircncia de examinar as minas receacutem
22
Para dar andamento agravequeles projetos foram trazidos para o Brasil o
mineralogista alematildeo Friederich Ludwig Wilhelm Varnhagen (1782-1842) e
Wilhelm-Ludwig Von Eschwege (1777-1835) ambos funcionaacuterios da Coroa
Portuguesa6 Eschwege foi enviado para Minas Gerais para inspecionar as
jazidas e minas de ferro e criar com outros acionistas a companhia sideruacutergica
Faacutebrica Patrioacutetica do Prata de Congonhas do Campo que comeccedilou a funcionar
em fins de 1811 e Varnhagen para o Morro de Araccediloiaba7
Apoacutes observaccedilotildees mineraloacutegicas realizadas por Varnhagen em
Araccediloiaba A partir dos resultados daquelas observaccedilotildees ficou determinado que
Sorocaba era o local mais apropriado para a construccedilatildeo de uma siderurgia pois
ldquoa mina existente dentro de sua circunscriccedilatildeo eacute muito rica em metal de ferro e
conta na sua proximidade com extensas matas as quais haacute muitos anos mandou
reservar e que forneceratildeo o indispensaacutevel combustiacutevelrdquo(FRAGA 1968 p 66)
Assim em 1810 foi fundado o Estabelecimento Montaniacutestico de Extraccedilatildeo de Ferro
das Minas de Sorocaba denominado posteriormente de Real Faacutebrica de Ferro de
Ipanema
A aacuterea escolhida para aquele novo empreendimento estava localizada junto
ao rio Ipanema que daiacute retira aquela denominaccedilatildeo deixando para traz a histoacuteria
da metalurgia que havia sido desenvolvida durante dois seacuteculos no interior Morro
de Araccediloiaba no vale das Furnas onde estaacute localizado o Siacutetio Arqueoloacutegico
Afonso Sardinha
Os primeiros trabalhos sobre a Real Faacutebrica privilegiavam as anaacutelises
voltadas para a mineralogia e as teacutecnicas de fundiccedilatildeo Quanto a este uacuteltimo
descobertas de carvatildeo do rio Pardo no Rio Grande do Sul Cf FIGUEIROA Silvia As ciecircncias Geoloacutegicas no Brasil uma Histoacuteria Social e Institucional 1875-1934 Satildeo Paulo Hicitec 1997 p 63-65 6 Varnhagen e Eschwege voltaram para Portugal em 1822 7 Varnhagen esteve em Araccediloiaba acompanhado por Martim Francisco de Andrada Martim Francisco Ribeiro de Andrada Inspetor de Minas e Matas da Capitania de Satildeo Paulo
23
aspecto destacam o emprego do alto forno da fabricaccedilatildeo do carvatildeo e o emprego
de fundentes bem como criacuteticas relacionadas agrave produccedilatildeo e qualidade do ferro8
Entre as obras mais gerais sobre aquele empreendimento publicadas no
seacuteculo XIX estatildeo os trabalhos de Antonio da Costa Pinto Silva (1852) Nicolau de
Campos Vergueiro (1843) Frederico Augusto Pereira de Moraes (1858) M Alves
de Arauacutejo (1882) Francisco de Assis Moura (1888) J Ewbank da Cacircmara (1875)
Leandro Dupreacute (1885) Baratildeo Homem de Mello (1888) Manuel Eufraacutezio de
Azevedo Marques (1879) Carlos Conrado de Niemeyer (1879) Frederico
Augusto Pereira de Moraes (1858)
Sobre a mineralogia e a geologia estatildeo os de Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e
Silva (1820 1846) Martim Francisco Ribeiro de Andrada (1828 1846 1855) F
Schimidt (1853) e Wilhelm L Von Eschwege (1833) e Orville Adalbert Derby
(1891 e 1895 1909) Derby foi o descobridor em 1891 da apatita mineral que foi
amplamente explorado para a fabricaccedilatildeo de adubos a partir de 1927 Naquele
mesmo seacuteculo foram realizadas as primeiras anaacutelises da magnetita de Ipanema
pela Escola de Minas de Ouro Preto9 as quais tiveram como resultado a
identificaccedilatildeo do titacircnio como componente daquele mineacuterio
Dessa forma foi possiacutevel entender a dificuldade teacutecnica que enfrentaram
todos os diretores de Ipanema em produzir um ferro de boa qualidade pois a
magnetita aleacutem de sua exagerada densidade apresentava-se impregnada de
ocircxido de Titacircnio ldquofatores que contribuem de forma decisiva para dificultar sua
reduccedilatildeo mesmo em altos fornosrdquo (FRAGA 1968 p 86) Entre as pesquisas
realizadas por essa Escola estatildeo os trabalhos de Paul Ferrand (1885) e Leandro
Dupreacute (1885) Joatildeo Pandiaacute Caloacutegeras (1893 1895 19041828) e Ferdinando
Gautier responsaacutevel em 1891 pela identificaccedilatildeo da presenccedila de foacutesforo no
mineacuterio elemento tambeacutem nocivo para a produccedilatildeo do ferro Ainda no seacuteculo XIX
8 Fundentes satildeo materiais que quando mesclados com o carvatildeo vegetal dentro do forno facilitam a fundiccedilatildeo dos mineacuterios no caso de mineacuterios de ferro Em Ipanema eram utilizados como fundentes os dioritos tambeacutem chamada ldquopedra verde (do alematildeo grunstein) 9 A Escola de Minas de Ouro Preto foi inaugurada em 1876 Destinava-se a formar profissionais para a mineraccedilatildeo
24
estatildeo os relatos elaborados pelo naturalista viajantes como Saint Hilaire Von
Martius e Zaluar
No seacuteculo XX os trabalhos relacionados com aquele empreendimento
foram desenvolvidos em duas linhas de investigaccedilatildeo o da histoacuteria econocircmica e
da social Nesta uacuteltima as anaacutelises privilegiaram as abordagens sobre o processo
de trabalho e mais para o final daquele seacuteculo para as questotildees sobre o meio
ambiente como os aspectos da ecologia florestal recursos hiacutedricos gestatildeo
ambiental e do turismo ecoloacutegico
Os trabalhos historiograacuteficos daquele seacuteculo pouco acrescentaram aos
aspectos relacionados com a implantaccedilatildeo dos primeiros empreendimentos
metaluacutergicos anteriores agrave construccedilatildeo da Real Faacutebrica10 Contudo trecircs trabalhos
podem ser destacados pelas contribuiccedilotildees seja pela releitura de documentos
ainda existentes como foi o caso dos estudos realizados por Maacuterio Neme seja
pelos trabalhos de pesquisa documental elaborados tanto por Leda Maria Pereira
Rodrigues quanto por Estefania Knotz Canguccedilu Fraga
No primeiro caso Maacuterio Neme apresenta em seu livro Notas de Revisatildeo da
Histoacuteria de Satildeo Paulo uma reavaliaccedilatildeo das obras de Pedro Taques bem como
de outros autores que tratam da histoacuteria de Satildeo Paulo ateacute o momento da 10 Entre as obras direcionadas a um contexto geral brasileiro estatildeo Sylvio Froes Abreu (19371962) Afranio do Amaral (1946) Renato Frota de Azevedo (1955) Tanus Jorge Bastini (1957) Vicente Licinio Cardoso (1924) Sobrinho Costa e Silva (1953) Alpheu Diniz Gonccedilalves (1937) R Hermanns (1958) R N Jafet (1957) Theodor Knecht (1931) Viktor Leinz (1942) Clodomiro de Liveira (1914) Niacutecia Vilela Luz (1961) Manuel Moreira Machado (1919) Roberval Germano Medeiros (1947) Geraldo Magella Pires de Melo (1957) Geraldo Dutra Moraes (1943) Almiro de Lima (1929) Matias Gonccedilalves de Oliveira Roxo (1937) Edmundo de Macedo Soares (1953) Gilberto Freyre (1988) Francisco Adolpho de Varnhagen (1956) Joseacute Epitaacutecio Passos Guimaratildees (1981) Francisco Magalhatildees Gomes (1983) Francisco de Assis Barbosa (1958) Francisco de Assis Carvalho Franco (1928) Silvia Figueroa (1997) Roseli Santaella Stella (2000) Para anaacutelises direcionadas ao Estado de Satildeo Paulo estatildeo as de Paulo R Pestana (1928) Luis Flores de Moraes (1930) Afonso Taunay (1931) Benedito Lima de Toledo (1966) Maacuterio Neme (1959) Seacutergio Buarque de Holanda (1960 1966) Ernani da Silva Bruno (1953) Jesuiacuteno Feliciacutessimo Juacutenior (1969) Washington Luis (1956) Gabriel Pedro Moacyr (1935) E aqueles relacionados agrave histoacuteria local da Real Faacutebrica estatildeo o de Joseacute Monteiro Salazar (1982) Astor Franccedila Azevedo (1959) Luiz de Almeida Castanho (1937 1939 1958) Jaime Benedito de Arauacutejo (1939) Ezequiel Freire (1953) Emanuel Soares Veiga Garcia (1954) Joatildeo Lourenccedilo Rodrigues (1953) Otaacutevio Tarquiacutenio de Souza (1946) Heacutelio Vianna (1969) Andreacute Davino (1965) Guido Ranzani (1965) Miriam Escobar (1982) Theodoro Knecht (1930) Helmut Born (1989) Lenharo S L R (1996) Antonio Maciel Botelho Machado (1998) e Jaime Rodrigues (1998) Aluiacutezio de Almeida (2002)
25
publicaccedilatildeo da obra em 1959 confrontando as afirmaccedilotildees dos autores com base
nos documentos disponiacuteveis naquele momento A obra segundo o autor fora
escrita com base em pesquisa documental realizada por ele durante duas
deacutecadas tendo concluiacutedo que ldquofirmamo-nos na convicccedilatildeo mais absoluta de que a
crocircnica de nossa formaccedilatildeo e evoluccedilatildeo estaacute a exigir ampla revisatildeo quer em
mateacuteria de fatos e acontecimentos na sua ocorrecircncia e significaccedilatildeo imediata e
futura e no que toca a dados datas e nomes quer em mateacuteria de interpretaccedilatildeordquo
(NEME1959 p11)
Ao final deste trabalho Neme conclui que os dados oferecidos por Pedro
Taques a respeito da construccedilatildeo de uma Faacutebrica de ferro por Afonso Sardinha no
Morro de Araccediloiaba natildeo passou de uma faacutebula criada por aquele autor sendo
que a uacutenica Faacutebrica de ferro que de fato existiu no iniacutecio do seacuteculo XVII foi a de
Santo Amaro
No segundo trabalho a ser considerado trata-se de um artigo publicado em
1966 pela historiadora Leda Maria Pereira Rodrigues intitulado As Minas de ferro
em Araccediloiaba (Satildeo Paulo Seacuteculos XVI-XVII-XVIII) onde a autora afirma que ldquoos
primoacuterdios de nossa Histoacuteria fazem surgir duacutevidas difiacuteceis de serem esclarecidas
pois haacute falta de documentos coesos que provem incontestavelmente a veracidade
de certas afirmaccedilotildeesrdquo Neste mesmo trabalho ela conclui que ateacute a instalaccedilatildeo da
Real Faacutebrica em 1810 todos os empreendimentos anteriores constituiacuteram numa
ldquoseacuterie de tentativas frustrasrdquo A autora demonstra que pelo menos dois
empreendimentos foram efetivamente implementados naquele local o de Luiz
Lopes de Carvalho por volta de 1690 e o de Domingos Pereira Ferreira em 1875
(RODRIGUES 1966 p246-249)
Em 1968 Estefania Knotz Canguccedilu Fraga sob a orientaccedilatildeo da historiadora
Leda Maria Pereira Rodrigues seguindo as discussotildees iniciadas pela autora
acima mencionada desenvolveu uma tese na aacuterea de Histoacuteria do Brasil com o
titulo Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
(1779-1822) Neste trabalho analisou especialmente o empreendimento de
26
Domingos Pereira Ferreira como tambeacutem as primeiras deacutecadas de
funcionamento da Real Faacutebrica sob a direccedilatildeo de Hedberg (1810-1814) e
Varnhagen (1814-1822) A autora depois de enumerar as possiacuteveis causas que
teriam levado ao que atribui ser um ldquoinsucessordquo econocircmico daqueles
empreendimentos conclui que
mesmo que a faacutebrica de ferro de Araccediloiaba (como
primitivamente era denominado o local) natildeo possa oferecer
ao pesquisador nada aleacutem de constantes provas de seu
insucesso ainda assim o propoacutesito que o anima natildeo deve
esmorecer Afinal o que seria da Historia se soacute merecessem
registro os eventos vitoriosos Quantas derrotas natildeo
levaram as vitoacuterias Porque entatildeo omiti-las se fazem parte
integrante da mesma Porque esquececirc-la se refletem uma
circunstancia real mesmo que nela se insinue uma ou mais
ldquoforccedilas obstrutivasrdquo que consagram ao fracasso tudo o que
nela se condiciona mas que nem por isso obstam uma ou
vaacuterias tentativas de superaccedilatildeo Eacute sabido que a dualidade de
forccedilas impele a civilizaccedilatildeo E mais que a tanta gloacuteria existe
na derrota quanto na vitoacuteria quando supotildeem luta E poderaacute
algueacutem negar que Ipanema natildeo foi um glorioso campo de
luta (FRAGA 1966 p 109)
112 Histoacuterico das descobertas das ruiacutenas O Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha foi assim denominado por
ter sido Afonso Sardinha bandeirante e seu filho mameluco11 Afonso Sardinha o
moccedilo apontados por Pedro Taques e pela historiografia como os provaacuteveis
11 Filho de pai branco e matildee indiacutegena No caso dos mamelucos os pais reconheciam publicamente a paternidade e os filhos gozavam da liberdade plena e aproximavam-se agrave identidade portuguesa Essa denominaccedilatildeo cai em desuso no seacuteculo XVIII e eacute substituiacuteda pelo termo bastardo que passava a designar qualquer pessoa com ascendecircncia indiacutegena (MONTEIRO 1994 p 167)
27
descobridores e construtores dos primeiros fornos de fundiccedilatildeo naquele local em
finais do seacuteculo XVI
No ano de 1977 Joseacute Monteiro Salazar pesquisador estudioso da histoacuteria
regional e particularmente da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema acompanhado
pelos engenheiros agrocircnomos Nerzon Nogueira de Barros e Dinchiti Sinzato e
pelo fotoacutegrafo Venedavel Acosta encontrou as ruiacutenas de um possiacutevel Faacutebrica de
ferro que atribuiu ser aquele construiacutedo por Afonso Sardinha em finais do seacuteculo
XVI (SALAZAR 1997156-159) Tal avaliaccedilatildeo decorria do fato de que aquela
regiatildeo teria sido uma aacuterea de provaacutevel exploraccedilatildeo mineral do ferro que
remontaria aos primoacuterdios da colonizaccedilatildeo de Satildeo Vicente conforme apontavam a
historiografia disponiacutevel sobre aquela Capitania
28
Fig 1 MAPA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA FLONA ndash Floresta Nacional de Ipanema Escala 1250 000 CENEA- Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola 1985
29
Fig 2 MAPA DE LOCALIZACcedilAtildeO DO SIacuteTIO AFONSO SARDINHA Folheto IBAMA sem data e sem escala
30
Fig 3 DESENHO ESQUEMAacuteTICO DE LOCALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRICA DE FERRO Salazar (1997 p80)
Fig 4 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E JOSEacute MONTEIRO SALAZAR Aspecto do Siacutetio em 1983
31
Fig 5 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E JOSEacute MONTEIRO SALAZAR Iniacutecio das pesquisas no Siacutetio Afonso Sardinha 1983 As ruiacutenas foram localizadas no interior do vale das Furnas onde estaacute o
ribeiratildeo do Ferro que nasce e cruza o Morro de Araccediloiaba desaguando no rio
Ipanema o qual por sua vez eacute um afluente pela margem esquerda do rio
Sorocaba
Este ribeiratildeo
() nasce no Monte do Chapeacuteu e corre primeiro do norte para o
sul e depois de passar pelo Vale das Furnas torce bruscamente
e muda radicalmente de direccedilatildeo fazendo uma grande curva e
passando a correr do sul para o norte indo desaguar afinal no
Ipanema (SALAZAR 1997 p 02)
Foi numa das curvas do ribeiratildeo do Ferro que aquelas ruiacutenas foram
localizadas As estruturas ali descobertas se cercavam de condiccedilotildees fisiograacuteficas
favoraacuteveis para viabilizar a atividade de produccedilatildeo do ferro devido a proximidade
32
das jazidas do mineacuterio existecircncia de matas abundantes assim como de uma
hidrografia favoraacutevel para o aproveitamento da forccedila motriz das aacuteguas
A primeira constataccedilatildeo da existecircncia de uma estrutura por eles encontrada
foi uma fileira de pedras bem conservadas que identificaram ldquocomo canal
certamente para o desvio do rio a fim de mover os martinetesrdquo Descobriram uma
muralha que atribuiacuteram ser uma parede de forja (SALAZAR 1997 p159-160)
113 Consideraccedilotildees sobre a metodologia O termo arqueologia histoacuterica surge nos Estados Unidos nas deacutecadas de
1960 para designar o estudo da cultura material dos europeus no mundo Esse
termo passou a ser oficialmente adotado em 1967 tendo em vista regulamentar a
nomenclatura para designar as pesquisas arqueoloacutegicas em siacutetios histoacutericos que
estavam sendo desenvolvidas nos Estados Unidos Ateacute entatildeo eram utilizados
para identificar aqueles trabalhos arqueoloacutegicos uma nomenclatura diversificada
como arqueologia colonial arqueologia da historia arqueologia de siacutetios
histoacutericos entre outros
Naquela mesma deacutecada a arqueologia histoacuterica passa a ser uma
disciplina valendo-se da aplicaccedilatildeo de meacutetodos de escavaccedilatildeo jaacute consagrados
pela arqueologia preacute-historica e das abordagens teoacuterico-metoloacutegicas voltadas
para a interpretaccedilatildeo dos registros arqueoloacutegicos As ferramentas teoacutericas
metodoloacutegicas apresentadas pela arqueologia foram sendo revisadas e
aprimoradas de modo a contribuir com as anaacutelises destinadas a interpretar as
culturas preteacuteritas
Outra questatildeo diz respeito agrave compreensatildeo do papel da Arqueologia
Histoacuterica aplicada agraves pesquisas desenvolvidas na Ameacuterica tendo em vista a
visatildeo desenvolvida por Charles Orser Jr segundo o qual cabe a esta disciplina
investigar fundamentalmente os ldquo() aspectos mateacuterias em termos histoacutericos
33
culturais e sociais concretos dos efeitos do mercantilismo e do capitalismo que
foi trazido da Europa em fins do seacuteculo XV e que continua em accedilatildeo ainda hojerdquo
(ORSER 1992 p 23)
Posteriormente Orser trouxe novas contribuiccedilotildees a aquela conceituaccedilatildeo
ao formular a Teoria de Rede segundo a qual as pesquisas em Arqueologia
deveriam levar em consideraccedilatildeo a questatildeo das ldquointerligaccedilotildees globaisrdquo
demonstrando a ldquoorigem e os desenvolvimentos ulteriores da globalizaccedilatildeo da
modernizaccedilatildeo e da expansatildeo colonialistardquo criados por ldquoagentes conscientes do
colonialismo do eurocentrismo e da modernidaderdquo que proporcionaram a
criaccedilatildeo de uma ldquoseacuterie de elos complexos e multidimensionais que uniam
diversos povos ao redor do mundordquo (ORSER 1999 p 87)
No que se referem agrave interpretaccedilatildeo dos registros arqueoloacutegicos as
pesquisas em arqueologia histoacuterica empregam teorias e meacutetodos que foram
sendo desenvolvidos por meio da aplicaccedilatildeo de meacutetodos de abordagens como o
Histoacuterico-Culturalismo (foi amplamente difundida entre os arqueoacutelogos
brasileiros) New Archaeology ou Arqueologia Processual e Poacutes-
processualismo e suas derivaccedilotildees Cada meacutetodo privilegiou uma escala
apropriada de anaacutelise para o ldquoHistoacuterico Culturalismo foi o siacutetio para o
Processualismo a regiatildeo e para o Poacutes-Processualismo passou a ser o
indiviacuteduordquo (LIMA 2000 p 2)
No Brasil a formaccedilatildeo da primeira geraccedilatildeo de arqueoacutelogos na deacutecada de
1970 foi orientada por duas correntes teoacutericas A americana representada pelos
arqueoacutelogos Clifford Evans (1920-1981) e Betty Meggers coordenadores do
Programa Nacional de Pesquisas Arqueoloacutegicas (Pronapa) criado na deacutecada
de 1960 E a Francesa representada por Joseph e Annette Emperaire Da
escola francesa destacamos as pesquisas realizadas pelo grupo do Centre
National de la Recherche Scientifique que trabalharam em Minas Gerais
Paranaacute Satildeo Paulo e no Piauiacute em convenio com o Museu Paulista da
Universidade de Satildeo Paulo e a Universidade do Piauiacute com o objetivo de
34
proporcionar as primeiras dataccedilotildees para as obras rupestres e sua inserccedilatildeo no
contexto cultural preacute-histoacuterico (PROUS 1992 p17)
A partir da pesquisas do grupo Franco-Brasileiro foram fornecidas as
primeiras dataccedilotildees radiocarbono a introduccedilatildeo de teacutecnicas e meacutetodos mais
refinados de decapagem e a realizaccedilatildeo de escavaccedilotildees sistemaacuteticas no Brasil
Aleacutem da influecircncia teoacuterica-metodologica o convecircnio entre aquele grupo
representado por Joseph e Annette Laming Emperaire e o Centre National de
la Recherche Scientifique proporcionou a formaccedilatildeo de arqueoacutelogos e de
especializaccedilotildees na Franccedila Entre os anos de 1960-1980 o legado francecircs
permanecia em duas Instituiccedilotildees de Satildeo Paulo o Museu de Preacute-Histoacuteria
(atualmente incorporado ao MAE) e Museu Paulista da Universidade de Satildeo
Paulo e em Minas Gerais no Museu de Histoacuteria Natural da Universidade
Federal de Minas Gerais
A partir da deacutecada de 1960 as pesquisas relacionadas ao campo da
arqueologia histoacuterica foram conduzidas particularmente por arqueoacutelogos preacute-
historiadores que passaram a desenvolver pesquisas em Siacutetios Histoacutericos
Num primeiro momento aquelas pesquisas arqueoloacutegicas foram marcadas
pelas teorias do meacutetodo histoacuterico-culturalista privilegiando monumentos como
igrejas conventos missotildees jesuiacuteticas fortificaccedilotildees solares entre outros
encorajadas pelos oacutergatildeos de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural e
pela receacutem-criada Lei 3924 de 26 de julho de 1961 atraveacutes da qual os
monumentos arqueoloacutegicos e preacute-histoacutericos passaram a serem considerados
como patrimocircnio da Uniatildeo (ANDRADE 1993 FUNARI 1998 RUBINO 1996)
Ateacute a deacutecada de 80 as pesquisas ainda seguiam aquela linha de
investigaccedilatildeo privilegiando pesquisas em monumentos Contudo jaacute havia
perspectivas de novas abordagens de pesquisa notadamente voltadas para
os segmentos sociais desfavorecidos de registros possibilitando ldquorecuperar
memoacuterias sociais reinterpretar a Histoacuteria Oficial resgatar elementos e praacuteticas
da vida cotidiana sobre os quais normalmente natildeo se escreverdquo
35
Proporcionando a arqueologia histoacuterica investigar uma diversificada temaacutetica
transformando em Siacutetios Histoacutericos quilombos unidades domeacutesticas becos
urbanos senzalas tecnologias de produccedilatildeo de materiais e povoados etc
(ANDRADE 1993 p 228)
Neste contexto se inserem as pesquisas em arqueoloacutegica histoacuterica
desenvolvida na cidade de Satildeo Paulo O Programa de Arqueologia Histoacuterica no
Municiacutepio de Satildeo Paulo foi coordenado por Margarida Davina Andreatta do
Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo em colaboraccedilatildeo com o
Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico da Secretaria Municipal de Cultural A
pesquisa realizada a partir de prospecccedilotildees e escavaccedilotildees sistemaacuteticas em
ldquoCasas Bandeiristasrdquo e locais puacuteblicos e privados do municiacutepio como becos
ruas praccedilas quintais lixotildees logradouros etc Entre os anos de 1979 e 1981
foram realizadas pesquisas arqueoloacutegicas no Municiacutepio de Satildeo Paulo nos
Siacutetios Mirim em Ermilindo Matarazzo Sitio de Morrinhos no Jardim Satildeo Bento
Casa do Grito no Parque da Independecircncia ndash Ipiranga Beco do Pinto Bairro
da Seacute Casa n 1 do Paacutetio do Coleacutegio e Casa do Tatuapeacute e no bairro do
Tatuapeacute (ANDREATTA 19812 1986a 1986b) Em 1983 Margarida Davina
Andreatta iniciou as pesquisas arqueoloacutegicas na Fazenda Ipanema ndash Iperoacute
Satildeo Paulo atualmente um aacuterea de proteccedilatildeo ambiental FLONA 12
Durante o desenvolvimento dessa pesquisa foram realizadas
escavaccedilotildees e prospecccedilotildees em uma aacuterea extensa daquela Fazenda incluindo
todas as edificaccedilotildees que pertenceram a Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
(1810-1895)13 e as ruiacutenas existentes no Vale das Furnas junto do ribeiratildeo do
Ferro e interior do Morro de Araccediloiaba Nesta uacuteltima aacuterea denominada Siacutetio
Afonso Sardinha foi evidenciado estruturas de um Faacutebrica de Ferro e Fornos 12 As edificaccedilotildees da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema foram tombadas pelo Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional em 1964 O Siacutetio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha foi registrado tambeacutem no IPHAN em 1997 por Margarida Davina Andreatta Ver Detalhes de Siacutetios Arqueoloacutegicos Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrportalmontaDetalheSitioArqueologicodoid=SP00236gt Acesso em 09mar 2004 13 Foram realizadas pesquisas arqueoloacutegicas nas aacutereas dos altos fornos fornos de carvatildeo edifiacutecio de armas brancas Praccedila Afonso Sardinha entre outros dependecircncias pertencentes a Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
36
de Fundiccedilatildeo e uma diversificada tipologia de materiais os quais compotildee os
documentos arqueoloacutegicos que foram registrados no Inventaacuterio de Peccedilas
relacionadas a pesquisa (exemplos em anexo)
Da pesquisa no Sitio Afonso Sardinha foram produzidos um significativo
conjunto documental formado por inuacutemeras tipologias de documentos de
arquivo que formam o Fundo Sitio Afonso Sardinha A partir dessa
documentaccedilatildeo foi possiacutevel acompanhar o processo de desenvolvimento
daquela pesquisa e tambeacutem contextualizar os documentos arqueoloacutegicos
permitindo assim a realizaccedilatildeo de interpretaccedilotildees quanto sua dataccedilatildeo e
significado Nas palavras de Hodder ldquoa partir del momento em que se conoce
el contexto de um objeto este ya no es completamente mudordquo (HODDER
1994 18)
Os documentos do Fundo Siacutetio Afonso Sardinha satildeo compostos por
diaacuterios de campo relatoacuterios de pesquisa planos de escavaccedilatildeo fotografias
correspondecircncias e tambeacutem por uma coleccedilatildeo formada por documentos de
apoio a pesquisa como plantas topograacuteficas planoaltimeacutetricas bibliografia
histoacuterica e teacutecnica sobre mineraccedilatildeo e fundiccedilatildeo de ferro no Brasil nos primeiros
trecircs seacuteculos de colonizaccedilatildeo
A pesquisa realizada a partir da bibliografia encontrada no Fundo Afonso
Sardinha apontou caminhos de investigaccedilatildeo que direcionaram para uma
bibliografia teacutecnica e histoacuterica sobre a teacutecnica da produccedilatildeo de ferro
desenvolvida na Europa especialmente na Espanha entre os seacuteculos XVI-
XVIII Aleacutem disso foi agregada aquela investigaccedilatildeo um conjunto de
documentos de cunho oficial escritos pelos empreendedores daquela
produccedilatildeo e oacutergatildeos administrativos coloniais como a Cacircmara da Vila de Satildeo
Paulo
Assim os documentos pertencentes ao Fundo Afonso Sardinha
documentos textuais oficiais e documentos arqueoloacutegicos ndash permitiram
37
interpretar que a aacuterea do Siacutetio corresponde a um campo de trabalho de
produccedilatildeo de ferro e que as atividades de mineraccedilatildeo e fundiccedilatildeo estavam
distribuiacutedas por uma aacuterea extensa com forte influencia dos modelos de ferrarias
de aacutegua que haviam no periacuteodo pesquisado na regiatildeo basca da Espanha
Assim as possibilidades dadas pela arqueologia histoacuterica de permitir a
utilizaccedilatildeo tanto de documentos arqueoloacutegicos (artefatos) e textuais na
realizaccedilatildeo da pesquisa e produccedilatildeo do conhecimento eacute tambeacutem uma das
principais tensotildees que norteiam as questotildees teoacutericas-metodoloacutegicas da
arqueologia histoacuterica Para tanto autores como Anders Andreacuten ao considerar
que o problema da arqueologia histoacuterica eacute o encontro entre a cultura material e
a escrita indica tambeacutem que a arqueologia histoacuterica natildeo pode ignorar as
disciplinas que tratam do homem como eacute o caso da Histoacuteria da Antropologia
ou da Filologia propondo que a metodologia em arqueologia histoacuterica deve
estabelecer ldquodialogue between artifact and text that is unique in relation to
prehistoric archeology as well as historyrdquo (ANDREacuteN 1998 p 177)
114 Descriccedilatildeo geral das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas Entre os anos de 1983 ndash 1989 as ruiacutenas encontradas por Joseacute Monteiro
Salazar (1982) foram objeto de uma pesquisa arqueoloacutegica iniciada pelo
Protocolo de Intenccedilotildees entre o Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo e o
CENEA ndash Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola - oacutergatildeo autocircnomo do Ministeacuterio
da Agricultura ao qual a Fazenda Ipanema estava ligado A pesquisa foi
coordenada pela arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta do Museu Paulista da
Universidade de Satildeo Paulo14
14 A Fazenda Ipanema pertenceu ao CENEA Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola oacutergatildeo autocircnomo do Ministeacuterio da Agricultura ateacute a extinccedilatildeo desse Centro em 1990 eacutepoca em que foram exploradas as minas de Apatita para a fabricaccedilatildeo de adubos A pesquisa arqueoloacutegica nesta aacuterea foi coordenada pela pesquisadora e arqueoacuteloga Profa Dra Margarida Davina Andreatta tendo como assistente o pesquisador da Historia regional Joseacute Monteiro Salazar aleacutem de estagiaacuterios da Universidade de Satildeo Paulo e voluntaacuterios
38
Fig 6 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E EQUIPE EM REUNIAtildeO COM A DIRETORIA DA FLORESTA NACIONAL DE IPANEMA 1984
Fig 7 ASPECTO DA FAacuteBRICA DE FERRO em 1987
39
Fig 8 Planta da aacuterea do Sitio Afonso Sardinha aacutereas A1 e A2
40
As pesquisas arqueoloacutegicas desenvolvidas no sitio Afonso Sardinha
evidenciaram a existecircncia de um campo de produccedilatildeo de ferro localizado na
margem esquerda do ribeiratildeo do ferro o qual se mostrou formadas por duas
aacutereas identificadas durante aqueles trabalhos como aacuterea A1 e aacuterea A2
mostradas no Mapa da Figura 8
A aacuterea A1 situada no setor norte do campo apresentou ruiacutenas de uma
edificaccedilatildeo relativamente maior de produccedilatildeo de ferro composto por quatro setores
identificados como Forno (setor A) Forja (setor B) espaccedilo entre a Forja e o Canal
(setor C) e Canal (setor D) espaccedilo sul da estrutura (setor E)
Nessa aacuterea A1 a pesquisa arqueoloacutegica possibilitou as seguintes principais
evidecircncias
(i) ocorrecircncias de escoacuterias de forma disseminada e tambeacutem na forma de
um amontoado junto a parede externa (sul) da Forja
(ii) ocorrecircncias de telhas na aacuterea ao sul das paredes dos setores BC e D
(iii) ocorrecircncias de cravo e lacircminas de metal tambeacutem na aacuterea sul da
estrutura
(iv) ocorrecircncia de ceracircmica neo-brasileira nos setores da forja (B) e do
Forno (A)
(v) ocorrecircncia de faianccedila portuguesa nos setores da Forja (B) e do Forno
(A)
(vi) ocorrecircncia de vidro na parte norte do Forno (setor A) parte externa da
Forja (setor B) e tambeacutem um fragmento no setor E (parte sul da estrutura)
41
(vii) ocorrecircncia de metal na parte interna e externa da Forja (B) na aacuterea E
parte interna da aacuterea (C) e face oeste do Canal (D)
(viii) evidecircncias de esteios nas laterais do Canal (D)
Fig 9 Detalhe da aacuterea A 1 ndash Sitio Afonso Sardinha
42
Fig 10 VISTA GERAL DA AacuteREA A 1 ndash Sitio Afonso Sardinha 1987
Fig 11 VISTA GERAL DA AacuteREA A 2 ndash Siacutetio Afonso Sardinha 1987 Na aacuterea A2 mostrada na figura 12 as pesquisas arqueoloacutegicas
evidenciaram a existecircncia de duas subaacutereas sendo uma denominada de A2-B e a
43
outra de D constituiacuteda de parte de um muro de pedras cuja estrutura natildeo foi
possiacutevel identificar
Fig 12 DETALHE DA AacuteREA A 2 ndash Sitio Afonso Sardinha Na aacuterea A2-B (Morrote) foram observadas as seguintes evidecircncias
(i) ocorrecircncia de dois fornos soterrados sob um Morrote na aacuterea
designada como A2-B
(ii) ocorrecircncia de tijolos telhas e mureta de pedra
44
Na aacuterea D da figura 12 foram observados
(i) mureta de estrutura natildeo identificada
(ii) ocorrecircncia de duas estruturas circulares de natureza natildeo
identificada
(iii) ocorrecircncias de ceracircmicas telhas e tijolos
(iv) Ao sul da aacuterea A2-B observou-se a existecircncia de um muro de
pedra interpretado como sendo parte de um canal tendo ao seu lado duas
estruturas circulares com diacircmetro de 15 m (Figura 13 e 14)
Fig 13 PLANTA MORROTE ndash AacuteREA A2-B 1987
45
Fig 14 MORROTE COM EVIDENCIAS DE ldquoFORNOrdquo AacuteREA A2
46
12 Principais questotildees a serem abordadas no decorrer da Tese Os estudos histoacutericos disponiacuteveis acima apresentados bem como os
resultados das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas conforme descritas nos itens
anteriores permitem relacionar um conjunto de questotildees que consideramos
importantes para esclarecimento do processo de instalaccedilatildeo da Faacutebrica de ferro
em Araccediloiaba (Sitio Afonso Sardinha) no periacuteodo compreendido entre o final do
seacuteculo XVI ao seacuteculo XVIII que antecedeu a instalaccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro
de Ipanema em 1810
Tais questotildees podem ser resumidas conforme seguem
I - Avaliaccedilatildeo dos vestiacutegios arqueoloacutegicos das atividades relacionadas agrave mineraccedilatildeo
e agrave produccedilatildeo de ferro a partir do final do seacuteculo XVI e anteriormente agrave instalaccedilatildeo
da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema em 1810
II - Investigaccedilatildeo das possiacuteveis teacutecnicas de produccedilatildeo e meacutetodos de fundiccedilatildeo de
ferro empregadas em Araccediloiaba no periacuteodo de analise desta tese
III - Caracterizaccedilatildeo de modelos de fornos de fundiccedilatildeo e processos industriais
encontrados na aacuterea do sitio arqueoloacutegico
IV ndash Avaliaccedilatildeo das possiacuteveis causas teacutecnicas e cientiacuteficas relacionadas agraves
dificuldades de produccedilatildeo e de qualidade do ferro produzido em Araccediloiaba
47
CAPITULO 2
A TECNICA DE PRODUCcedilAtildeO DE FERRO NO PERIODO ENTRE OS SEacuteCULOS
XVI AO XVIII
21 Consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia
Uma das primeiras questotildees para conceituar Teacutecnica refere-se agraves anaacutelises
que permitem diferenciaacute-la do conceito moderno de Tecnologia Ruy Gama (1986
p 19) ao analisar essa questatildeo a partir de autores de liacutengua inglesa observa que
o conceito de tecnologia aparece ldquoora como simplesmente sinocircnimo de teacutecnica ou
de conjunto de teacutecnicas alarga-se as vezes para incluir o produto material das
teacutecnicas e outras vezes menos frequumlentes eacute usada como sinocircnimo de saber
associado as teacutecnicas ou como estudo das teacutecnicasrdquo
A partir de 1930 a preocupaccedilatildeo com a Histoacuteria da Teacutecnica vem se
difundido sobretudo por meio das anaacutelises iniciadas por autores franceses como
Marc Bloch Lefevre de Noeumlttes e Lucien Febvre e ingleses como Abbott Payson
Lynn White Jr e Lewis Munford que a transformaram numa ldquonova disciplinardquo
historiograacutefica 15
No Brasil a primeira discussatildeo sobre essa temaacutetica foi apresentada em
1985 com a publicaccedilatildeo do livro Histoacuteria da Teacutecnica e da Tecnologia organizado
por Ruy Gama Este trabalho eacute formado por uma coletacircnea de textos claacutessicos e
de outros produzidos por autores estrangeiros e brasileiros sobre a Histoacuteria da
Teacutecnica da Tecnologia e da Ciecircncia Entre os textos escritos por autores
brasileiros destacam-se os trabalhos de Fernando Luis Lobo Barbosa Carneiro e
de Julio R Katinsky
15 Os Textos em que estes autores discutem o conceito de Teacutecnica e Tecnologia foram publicados no livro Historia da Teacutecnica e da Tecnologia organizado por Ruy Gama (1985)
48
No texto escrito por esse uacuteltimo autor estaacute um Glossaacuterio dos Carpinteiros
de Moinho onde o autor apresenta os resultados de uma pesquisa que fez sobre
os moinhos hidrauacutelicos no Brasil cuja utilizaccedilatildeo eacute bastante frequumlente nas aacutereas
rurais dos Estados de Satildeo Paulo e Sul de Minas Aleacutem disso oferece um
glossaacuterio de termos empregados ldquobasicamente na construccedilatildeo de monjolos
prensas de mandioca engenhocas de accediluacutecar e moinhos hidrauacutelicos de gratildeos
estes uacuteltimos geralmente preparados para produzir quirera ou fubaacuterdquo (KATINSKY1985 p 216)
Aleacutem desses textos a Coletacircnea traz dois artigos do economista alematildeo
Johann Beckmann (1729-1811) considerado ldquoo pai da Tecnologiardquo por haver
firmado aquele conceito em fins do seacuteculo XVIII e instituiacutedo a disciplina de
Tecnologia no ensino da Universidade de Goumlttingen16 Em 1777 publica a obra
Instruccedilatildeo sobre Tecnologia em que firmava o seu conceito de Tecnologia como
ldquoconhecimento dos ofiacutecios faacutebricas e manufaturas especialmente daquelas que
tem contacto estrito com a agricultura a administraccedilatildeo puacuteblica e as ciecircncias
cameraliacutesticasrdquo (GAMA 1985 p6) Na introduccedilatildeo dessa mesma obra Beckmann
escrevia que
A histoacuteria das artes pode dedicar-se a enumeraccedilotildees das
invenccedilotildees ao progresso e ao curso habitual de uma arte ou de
um trabalho manual mas eacute a tecnologia que explica de maneira
completa clara e ordenada todos os trabalhos assim como seus
fundamentos e suas consequumlecircncias (BECKMANN Apud GAMA
1985 p6)
Serge Moscovici em Essai sur lrsquohistorie humaine de la Nature referindo-se
a Beckmann afirma que este autor conscientemente ldquoforja o termo tecnologia
para designar a disciplina que descreve e ordena os ofiacutecios e as induacutestrias
existentesrdquo (MOSCOVICI apud GAMA 1985 p 8)
16 Goumlttingen era uma das mais conhecidas universidades da Europa agrave qual se vinculavam muitos estadistas e funcionaacuterios administrativos da Alemanha
49
Para Beckmann e outros autores de seu tempo a Tecnologia estava
intimamente ligada agrave escola e basicamente agrave uniatildeo dos ldquosaacutebiosrdquo com os
ldquofabricantesrdquo que dominavam o conhecimento teacutecnico numa eacutepoca em que este
mesmo conhecimento comeccedilava a ser objeto de investigaccedilatildeo de academias e
universidades as quais tinham como objetivo a formulaccedilatildeo de uma linguagem
tecnoloacutegica por intermeacutedio da codificaccedilatildeo de conceitos Ressaltamos ainda que
as propostas de Beckmann e esse novo olhar paras as teacutecnicas estavam
voltadas para o atendimento de demandas sociais surgidas com a Revoluccedilatildeo
Industrial
Se a Tecnologia tem a funccedilatildeo de explicar como afirma Beckmann ela
tambeacutem teve seu tempo de formulaccedilatildeo Segundo Ruy Gama o nascimento do
conceito de Tecnologia pode ser situado historicamente no decorrer da Idade
Moderna sendo difundido a partir do seacuteculo XVII Para este autor tal conceito foi
construiacutedo
pari passu ao desenvolvimento do capitalismo e agrave substituiccedilatildeo do
modo de produccedilatildeo feudalcoorporativo e do sistema de
transmissatildeo do conhecimento apoiado na aprendizagem pelo
emprego do trabalho assalariado e pelo sistema escolarizado do
conhecimento (GAMA 1986 p30)
Dessa forma ateacute pelo menos antes do advento da ldquoRevoluccedilatildeo da Ciecircnciardquo
(1789-1848) especialmente pelas descobertas proporcionadas pela Quiacutemica 17
todos os processos de produccedilatildeo eram realizados a partir de conhecimentos
ldquopraacuteticosrdquo e que natildeo eram e natildeo poderiam ser explicados cientificamente Assim
trabalhavam os carpinteiros camponeses mineiros e fundidores de metais e
outros artesatildeos da Idade Meacutedia associando engenhosidade experiecircncia e
habilidade manual ou em outras palavras centrados no ldquomais rude empirismordquo
(USHER 1994 p 465)
17 A Quiacutemica entre todas as ciecircncias ldquofoi a mais iacutentima e imediatamente ligada agrave praacutetica industrial ndash a Revoluccedilatildeo Industrial - especialmente integrada aos processos de tingimento de tecidos e branqueamento da industria tecircxtilrdquo ( HOBSBAWM 1979 p305)
50
Para Milton Vargas a Tecnologia soacute pode ter vigecircncia depois do
estabelecimento da Ciecircncia Moderna 18
principalmente pelo fato de essa cultura ser um saber que apesar
de teoacuterico deve necessariamente ser verificado pela experiecircncia
cientiacutefica Esse aspecto experimental e portanto empiacuterico da
Ciecircncia moderna proveacutem da ideacuteia renascentista de que tudo
aquilo que fora realizado pela tradiccedilatildeo teacutecnica poderia secirc-lo
tambeacutem pela teoria e metodologia cientiacuteficas o que
evidentemente aproxima o saber teoacuterico-cientiacutefico do fazer
empiacuterico da teacutecnica (VARGAS 1994 p 16)
22 O conceito de Teacutecnica Originaacuterio da Greacutecia Claacutessica o conceito de Teacutecnica estava inserindo num
tipo de ldquosaber-fazerrdquo associado a mitos como o de Hefestos (Vulcano para os
romanos) ndash o ferreiro - senhor do fogo e da forja que segundo aquela mitologia
havia revelado o segredo desta Teacutecnica aos homens Desta perspectiva
mitoloacutegica o conceito de Teacutecnica transformou-se num outro tipo saber-fazer o da
ldquotechneacuterdquo um conhecimento empiacuterico que somente pode ser obtido atraveacutes do
aprendizado baseado na experiecircncia ou entatildeo a partir dos ensinamentos
transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
Neste sentido a Techneacute natildeo eacute uma habilidade qualquer ldquomas uma
habilidade que segue certas regras por isso techneacute significa tambeacutem ofiacutecio
pressupotildee a existecircncia de um substrato um saber e um conhecimento na
18 Para Hobsbawm o progresso da ciecircncia natildeo pode ser entendido como um simples ldquoavanccedilo linear cada estaacutegio determinando a soluccedilatildeo de problemas anteriormente impliacutecitos nele e por sua vez colocando novos problemas Estes avanccedilos tambeacutem procedem pela descoberta de novos problemas de novas maneiras de enfocar os antigos de novas maneiras de enfrentar e solucionar velhos problemas de campos de investigaccedilatildeo inteiramente novos de novos instrumentos praacuteticos e teoacutericos de investigaccedilatildeordquo (HOBSBAWM 1979 p 302)
51
execuccedilatildeo de uma atividaderdquo (NADAL 2000 p 18) Esta forma de saber baseada
na loacutegica prolongou-se atraveacutes da Idade Meacutedia e chegou aos nossos dias com o
tiacutetulo de Teacutecnicas Natildeo satildeo teorias satildeo conhecimentos que tanto podem ser
adquiridos pela praacutetica como pelo estudo de tratados teacutecnicos
Entre os seacuteculos XVI e XVII a Ciecircncia ao romper com a tradiccedilatildeo
escolaacutestica19 avanccedila para o caminho da experimentaccedilatildeo com a valorizaccedilatildeo das
artes (teacutecnica) as quais jaacute vinham se transformando em objeto de preocupaccedilatildeo e
de estudo desde a Baixa Idade Meacutedia e o Renascimento ateacute chegar agrave constituiccedilatildeo
da Ciecircncia Moderna (DANTAS 2004)
Contraposta ao pensamento grego e medieval em que a
contemplaccedilatildeo das verdades era a meta do conhecimento sabe-se
que a partir do Renascimento haacute uma valorizaccedilatildeo do
conhecimento praacutetico bem como uma mudanccedila no estatuto do
conhecimento teacutecnico Haacute uma expectativa de intervenccedilatildeo e de
controle da natureza e correlativamente um reconhecimento da
teacutecnica isto eacute das atividades inventos e construccedilotildees dos
praacuteticos engenheiros e artesatildeos Daiacute se falar em uma nova forma
de saber e uma nova figura de douto Haacute no entanto uma seacuterie de
dificuldades para estabelecer as razotildees do surgimento dessa
dimensatildeo ativa e o papel que ocupa no nascimento da ciecircncia
moderna (OLIVEIRA1997 p )
No seacuteculo XV esse movimento de valorizaccedilatildeo do trabalho teacutecnico dos
artesatildeos ligado agrave experimentaccedilatildeo foi amplamente difundido pela divulgaccedilatildeo
daqueles conhecimentos atraveacutes de publicaccedilotildees A partir de 1630 surgiram os
Tratados Teacutecnicos Manuais20 como tambeacutem dicionaacuterios e enciclopeacutedias que se
dedicavam ao levantamento da terminologia das diversas artes das
nomenclaturas teacutecnicas e da descriccedilatildeo dos processos e dos meacutetodos das artes
19 Escolaacutestica movimento cultural e filosoacutefico medieval baseado em grande parte em comentaacuterios da obra do filoacutesofo grego Aristoacuteteles e de cunho puramente contemplativo 20 Na arquitetura por exemplo o estabelecimento desta praacutetica permitiu a difusatildeo das teorias e desenhos imaginados pelos arquitetos renascentistas findando assim a necessidade de construir e realizar obras para exemplificar as ideacuteias arquitetocircnicas
52
mecacircnicas as quais acabaram por solapar o domiacutenio das corporaccedilotildees de ofiacutecios 21 (BARGALLOacute 1955 p47)
A publicaccedilatildeo dos manuais teacutecnicos teraacute uma importacircncia decisiva
na padronizaccedilatildeo de unidades de medida e de representaccedilatildeo O
esforccedilo por se fazer compreender sem a equivocidade do discurso
do senso comum e sem o hermetismo do discurso maacutegico-
religioso reservado aos iniciados eacute uma forma decisiva de
objetivaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo que muito embora seja fundamental
ao empreendimento da ciecircncia nasce como uma necessidade do
desenvolvimento da teacutecnica As exigecircncias da precisatildeo aparecem
na representaccedilatildeo (desenhos graacuteficos etc) e na linguagem
daquele tipo de saber - as artes mecacircnicas - em seus manuais de
modelos de construccedilatildeo nas descriccedilotildees dos aspectos e
proporccedilotildees dos corpos ou no detalhamento do fabrico e do uso de
instrumentos e artefatos Natildeo eacute difiacutecil ver que esse interesse na
divulgaccedilatildeo de conhecimentos potencializado pelo aparecimento
da imprensa tornava necessaacuteria a padronizaccedilatildeo da divulgaccedilatildeo
com uma linguagem mais objetiva e medidas mais precisas
(OLIVEIRA 1997)
Entre os Tratados Teacutecnicos publicados estaacute a obra De pictura (1435)
considerado o primeiro estudo cientiacutefico da perspectiva pelo italiano Leone
Batista Alberti arquiteto literato e escultor (1404-1472) Para Alberti os artistas
deveriam aprender com todos os outros artesatildeos E o caminho para esse
aprendizado segundo ele consistia em conseguir com os proacuteprios artesatildeos os
21 Dos seacuteculos II (dC) ao XV as Artes estavam classificadas em Artes Liberais e Artes Mecacircnicas As Liberais (assim chamadas por serem consideradas dignas do homem livre) estavam associadas agrave Gramaacutetica Retoacuterica Astronomia Loacutegica Aritmeacutetica Muacutesica Quanto agraves Artes Mecacircnicas organizadas nas aacutereas urbanas eram consideradas menos honrosas mais proacuteprias do trabalhador manualservil como Medicina Arquitetura Agricultura Pintura Escultura Olaria Carpintaria Ferraria Cantaria Ofiacutecio de pedreiros etc As corporaccedilotildees de ofiacutecios ateacute entatildeo responsaacuteveis pelo treinamento dos artesatildeos e pelos segredos dos ofiacutecios (os misteacuterios dos misteres) tinham o sistema de aprendizado baseado na transmissatildeo dos conhecimentos teacutecnicos na praacutetica das oficinas ndash o aprender fazendo ndash que encaminhava o aprendiz na sua carreira passando pela categoria de oficial e finalmente pela de mestre isso quando conviesse agrave corporaccedilatildeo ter mais mestre vale dizer mais oficinas no mercado
53
saberes natildeo divulgados ou secretos dos ofiacutecios Para isso orientava os artistas
para frequumlentar as oficinas e outros lugares de trabalho e fazerem perguntas aos
ferreiros pedreiros construtores de barcos e ateacute aos sapateiros Deveriam
tambeacutem frequumlentemente fingir ignoracircncia para descobrir em que o conhecimento
dos outros excedia aos seus (GAMA 1983 p 284-85)
Esse novo caminho da Ciecircncia o da experimentaccedilatildeo encontra no
pensamento do Filoacutesofo inglecircs Francis Bacon (1561-1626) uma de suas
expressotildees teoacutericas Considerado o fundador da ciecircncia experimental moderna
foi tambeacutem o criador do meacutetodo cientiacutefico baseado na observaccedilatildeo e
experimentaccedilatildeo (empirismo) que permitiram o avanccedilo das teacutecnicas que
transformaram a vida do homem campesino e mineiro do seacuteculo XVII (GAMA
1983 p34)
Em linhas gerais Bacon ldquorejeitou a separaccedilatildeo e a oposiccedilatildeo vigentes nas
filosofias tradicionais entre teoria e praacutetica entre loacutegica e operaccedilotildees reais entre
verdade e utilidaderdquo (GAMA 1983 p 33)
Interpretou essas oposiccedilotildees como oriundas das condiccedilotildees
histoacutericas e sociais bem determinadas que valorizavam a
contemplaccedilatildeo ndash a verdade em sua pureza ndash e que desprezavam
tudo o que fosse ligado agraves atividades praacuteticas e materiais Por
tudo isso preocupou-se em realccedilar tanto quanto fosse necessaacuterio
a importacircncia dos fatores materiais no desenvolvimento da
filosofia e da cultura E a partir daiacute sustenta a identidade entre
verdade e utilidade teoria e atividade operativa conhecer e fazer
e afirma que qualquer separaccedilatildeo e contraposiccedilatildeo entre esses
termos cria obstaacuteculos intransponiacuteveis de resultados efetivos e
eficientes (GAMA1983 p33-34)
54
23 A valorizaccedilatildeo do conhecimento teacutecnico e a ciecircncia experimental moderna Com o nascimento da Ciecircncia Experimental a teacutecnica artesanal e os
procedimentos teacutecnicos ligados agraves Artes Mecacircnicas passaram a ser os meios que
permitiriam o progresso da ciecircncia e o avanccedilo do saber
Joan Luis Vives (1492-1540) filoacutesofo e preceptor da corte inglesa assim
como o italiano Leone Alberti defendia que o homem culto natildeo devia
envergonhar-se de entrar nas oficinas e perguntar aos artesatildeos pelas teacutecnicas
que empregavam em suas artes Vives em sua obra De Tradendis Disciplinis
convidava os estudiosos europeus a prestar grande atenccedilatildeo aos problemas
teacutecnicos relativos agrave construccedilatildeo das maacutequinas agrave agricultura agrave tecelagem agrave
navegaccedilatildeo Advertia ainda que devessem deitar os olhos sobre o trabalho dos
artesatildeos para tentar saber onde e como essas artes foram inventadas buscadas
desenvolvidas conservadas e como aplicaacute-las Dessa forma segundo Vives
(1531 apud ROSSI 1989 p 24) o homem venceria seu tradicional desdeacutem por
aquilo que considerava como conhecimento vulgar o dos artesatildeos22
Nota-se tambeacutem que esse movimento o de valorizaccedilatildeo do saber teacutecnico
nasce no acircmbito das Academias e Associaccedilotildees vinculadas a esta nova
perspectiva de Ciecircncia e natildeo nas Universidades que permaneceram ateacute finais do
seacuteculo XVIII com poucas alteraccedilotildees metodoloacutegicas Entre os novos centros de
conhecimento estavam a Academia dei Lincei en Roma (1603) a Accademia del
Cimento en Florenccedila (1657) a Royal Society de Londres (1660) a Acadeacutemie des
Sciences de Paris (1666) aleacutem de Escolas Artesanais entatildeo criadas que
conjugavam na Ciecircncia Empiacuterica a alianccedila entre o saber (ciecircncia) e o fazer
22 Dentro desta mesma perspectiva devem ser acrescentar as obras do jaacute citado Francis Bacon Harvey Galileu e Boyle que valorizavam a experimentaccedilatildeo e a observaccedilatildeo da natureza reformulando as concepccedilotildees cientiacuteficas e reconhecendo a importacircncia das teacutecnicas e da praacutetica para a Ciecircncia
55
(teacutecnica) Na Espanha por exemplo cria-se uma escola de mineiros exercitados
em teacutecnicas sobretudo nas teacutecnicas metaluacutergicas 23
Assim podemos afirmar que naquele momento entrar no mundo do
conhecimento teacutecnico representava entrar no mundo das corporaccedilotildees de ofiacutecios
desvendando os segredos por meio da apropriaccedilatildeo do saber teacutecnico e da
linguagem utilizada pelos artesatildeos para a realizaccedilatildeo de seus ofiacutecios Para Ruy
Gama A que parece o domiacutenio dos segredos da linguagem dos artesatildeos
foi a porta pela qual se entrou no domiacutenio dos proacuteprios segredos
dos ofiacutecios Dentre os misteacuterios dos misteres a linguagem foi a
primeira a ser desvendada decifrada e jogada na rua pelas portas
e janelas arrombadas das oficinas ndash numa espeacutecie de accedilatildeo de
despejo ndash para ser vista por todo mundo (GAMA 1986 p 48)
Nas escolas artesanais surge a Tecnologia como disciplina curricular A
institucionalizaccedilatildeo deste saber permitiu que aqueles conhecimentos teacutecnicos
fossem reunidos estruturados e sistematizados e dessa forma transmitidos a um
nuacutemero cada vez maior de pessoas (GAMA 1994 p 54)
2 4 A Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica
Apesar de toda a diferenciaccedilatildeo jaacute feita entre os conceitos de Teacutecnica e
Tecnologia estes termos satildeo frequumlentemente utilizados como sinocircnimos Autores
da liacutengua ingleses natildeo fazem esta distinccedilatildeo pois consideram entre outros
aspectos que a Histoacuteria da Teacutecnica e a Histoacuteria da Tecnologia apresentam seus
campos embaralhados e sua periodizaccedilatildeo extremamente difiacutecil de definir Lynn
White Jr historiador econocircmico e medievalista americano por exemplo afirma
que a Tecnologia natildeo conhece fronteiras cronoloacutegicas e geograacuteficas pois entende
Tecnologia como o ldquoconjunto de todas as Teacutecnicasrdquo e ldquoas maneiras pelas quais as
56
pessoas fazem coisasrdquo (GAMA 1985 p 14) Mas segundo Ruy Gama esta
definiccedilatildeo natildeo permite nem o estabelecimento de uma fronteira histoacuterico-
cronoloacutegica e nem geograacutefica para situar o ldquonascimentordquo do conceito jaacute que Lynn
o emprega como sinocircnimo de Histoacuteria do Trabalho e dessa forma permite
empregar o termo Tecnologia para todas as realizaccedilotildees e obras materiais dos
povos (GAMA 1985 p 14-15)
Essa concepccedilatildeo de Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica desenvolve-se
num contexto em que entre outros aspectos a Arqueologia e a Histoacuteria
passavam por reformulaccedilotildees conceituais A Arqueologia passava a revelar nos
anos 40 do seacuteculo XX novos documentos materiais relacionados a civilizaccedilotildees da
Ameacuterica preacute-colombiana que supunha-se natildeo conheciam a escrita (pesquisas
atuais comeccedilam a demonstrar que a conheciam) e tampouco a roda elementos
considerados naquele periacuteodo indicadores para qualificar o niacutevel de progresso
teacutecnico de uma determinada sociedade que poderia ser considerada como
ldquoavanccediladardquo ou ldquoatrasadardquo Essas descobertas levaram a uma reavaliaccedilatildeo nas
ideacuteias de progresso e civilizaccedilatildeo e na forma de olhar outras sociedades deixando
de centrar as anaacutelises somente no ldquoeixo tradicional etnocecircntrico europeurdquo (GAMA
1985 p 14-15)
Quanto agrave Histoacuteria o nascimento de uma nova escola historiograacutefica a
Histoacuteria Nova surgida na Franccedila na primeira metade do seacuteculo XX daacute um novo
enfoque teoacuterico-metodoloacutegico agrave pesquisa histoacuterica voltada para a anaacutelise do
cotidiano Esta nova tendecircncia amplia a noccedilatildeo de documento aproximando a
Histoacuteria das demais Ciecircncias Humanas entre elas a Arqueologia possibilitando
nos anos 60 do seacuteculo XX uma ldquoverdadeira Revoluccedilatildeo Documentalrdquo que permitiu
nas anaacutelises historiograacuteficas a incorporaccedilatildeo dos documentos natildeo-escritos -
cultura material ndash viabilizando o estudo das sociedades que natildeo possuiacuteam a
escrita para registrar sua Histoacuteria
Para a divulgaccedilatildeo desse novo conceito de documento Lucien Febvre
idealizou no periacuteodo entre as duas primeiras guerras uma revista de Histoacuteria que
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seria fundada mais tarde em parceria com Marc Bloch com o nome de Annales
drsquoHistorie Economique et Sociale os ldquoAnnalesrdquo Para Febvre ao analisar o
trabalho do historiador a partir da noccedilatildeo ampliada de documento afirma que
A Historia faz-se com documentos escritos sem duacutevida Quando
estes existem Mas pode fazer-se deve fazer-se sem documentos
escritos quando natildeo existem Com tudo o que a habilidade do
historiador lhe permite utilizar para fabricar o seu mel na falta das
flores habituais Logo com palavras signos paisagens e telhas
Com as formas do campo e ervas daninhas Com os eclipses da
lua e a atrelagem dos cavalos de tiro Com os exames de pedras
feitos pelos geoacutelogos e com a anaacutelise de metais feitas pelos
quiacutemicos Numa palavra com tudo o que pertencente ao homem
depende do homem serve ao homem exprime o homem
demonstra a presenccedila a actividade os gostos e as maneiras de
ser do homem
Toda uma parte e sem duacutevida a mais apaixonante do nosso
trabalho de historiadores natildeo consistiraacute num esforccedilo constante
para fazer falar as coisas mudas para fazecirc-las dizer o que elas
por si proacuteprias natildeo dizem sobre os homens sobre as sociedades
que as produziram e para constituir finalmente entre elas aquela
vasta rede de solidariedade e de entre-ajuda que supre a
ausecircncia do documento escritordquo (FEBVRE 1953 p 428 apud
GOFF 1984 p 98)
Para conceituar Teacutecnica e Tecnologia recorremos tambeacutem ao Dicionaacuterio
das Ciecircncias Sociais de Alain Birou segundo o qual Teacutecnica significa
O conjunto de regras praacuteticas para fazer coisas determinadas
envolvendo a habilidade do executor e transmitidas verbalmente
por exemplo no uso das matildeos dos instrumentos e ferramentas e
das maacutequinas Alarga-se frequumlentemente o conceito para nele
incluir o conjunto dos processos de uma ciecircncia arte ou ofiacutecio
para obtenccedilatildeo de um resultado determinado com o melhor
rendimento possiacutevel (GAMA 1986 p 30)
58
Para este mesmo dicionaacuterio Tecnologia eacute
O estudo e conhecimento cientiacutefico das operaccedilotildees teacutecnicas ou da
teacutecnica Compreende o estudo sistemaacutetico dos instrumentos das
ferramentas e das maacutequinas empregadas nos diversos ramos da
teacutecnica dos gestos de trabalho e dos custos dos materiais e da
energia empregada A tecnologia implica na aplicaccedilatildeo dos meacutetodos
das ciecircncias fiacutesicas e naturais e como assinala Alan Birou tambeacutem
na comunicaccedilatildeo desses conhecimentos pelo ensino teacutecnico
(GAMA 1986 p 30)
Diante dessas consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia salientamos
que neste trabalho pretendemos a partir da Arqueologia Histoacuterica contribuir
para a Histoacuteria da Teacutecnica no periacuteodo colonial brasileiro especialmente no que
diz respeito agraves teacutecnicas relacionadas agrave mineraccedilatildeo e agrave metalurgia
No periacuteodo analisado entre os seacuteculos XVI e XVIII todos os trabalhos
relacionados agravequelas atividades estavam baseados no puro empirismo no saber-
fazer e nas experiecircncias praacuteticas daqueles trabalhadores que sabiam realizar as
operaccedilotildees de fundiccedilatildeo de forma praacutetica mas natildeo tinham instrumentos para
explicaacute-los Somente com o advento da Ciecircncia Moderna especialmente com a
Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute que aqueles mineiros e fundidores puderam compreender
as operaccedilotildees produtivas que realizavam
Assim assumimos a periodizaccedilatildeo proposta por Ruy Gama ao considerar
Teacutecnica e Tecnologia como categorias distintas e portanto que a Histoacuteria da
Teacutecnica natildeo coincide com a Histoacuteria da Tecnologia
59
25 A teacutecnica de produccedilatildeo do ferro no periacuteodo entre os seacuteculo XVI ao XVIII
Los antiguos herrreros descubrieron que si martillaban
repetidamente y recalentaban una y otra vez en fuego de carboacuten
un trozo de mineral de hierro al rojo obteniacutean un metal
extremamente fuerte y duro ndash hierro forjado (CARDWELL 1994
p 33)
Antes do conhecimento dos metais eram aproveitadas ldquotreze diferentes
espeacutecies minerais todas do grupo natildeo-metaacutelicos denominadas calcedocircnia (chert
e siacutelex) quartzo cristal de rocha jaspe serpentina pirita calcita ametista
fluorita esteatita acircmbar e obsidianardquo (GUIMARAtildeES1981p22) A estes minerais
natildeo metaacutelicos pode-se acrescentar a utilizaccedilatildeo de ldquopigmentos minerais usados
para ornamentos e pintura constituiacutedos de argila e oacutexidos metaacutelicos coloridos
embora alguns objetos feitos especialmente de cobre tenham sido encontrados e
datados de aproximadamente 9000 aC (GUIMARAtildeES 1981 p 22)
Atribui-se o iniacutecio do aproveitamento dos mineacuterios para a extraccedilatildeo de
metais entre os anos de 6000 a 5000 aC Admite-se que o cobre teria sido o
primeiro metal produzido pelo homem depois o bronze (uma liga metaacutelica de
estanho e cobre) Na mesma eacutepoca tambeacutem se passou a utilizar o chumbo e por
uacuteltimo o ferro Na chamada ldquoIdade do Ferrordquo houve tambeacutem a difusatildeo da
fabricaccedilatildeo do vidro e do mercuacuterio
Pesquisas arqueoloacutegicas em aacutereas mineiras da Europa tem possibilitado
revisotildees do conhecimento relacionado a natureza das mateacuterias-primas
empregadas na extraccedilatildeo do ferro Tradicionalmente sustentava-se a ideacuteia de que
a mateacuteria-prima com que se confeccionavam os primeiros objetos de ferro teria
origem em meteoritos Esta teoria se aplicava particularmente aos objetos
fabricados com ferro rico em niacutequel Atualmente pesquisas na aacuterea da
paleometalurgia demonstram que a origem de associaccedilotildees do ferro com outros
60
metais ocorre em razatildeo da composiccedilatildeo quiacutemica natural dos minerais utilizados
para a produccedilatildeo destes materiais (FAUS 2000 p 27)
O ferro como alguns outros metais natildeo eacute encontrado na natureza em
forma pura sendo que nestas condiccedilotildees encontra-se sempre combinado com
outros elementos formando oacutexidos carbonatos silicatos e sulfatos Para a
produccedilatildeo do ferro satildeo utilizados mineacuterios sobretudo os oacutexidos tais como a
hematita (Fe2O3) e a magnetita (Fe3O4) 24 Outros mineacuterios de menor importacircncia
para a produccedilatildeo tambeacutem contecircm ferro tais como a Siderita (FeCO3) Limonita
(Fe3O4) Pirita (FeS2) e a (Cromita FeOCr2O3) ( LABOURIAU 1928 p 95-110)
Os termos ldquomineralrdquo ldquomineacuteriordquo e ldquometalrdquo precisam ser esclarecidos para que
se possa compreender a forma da produccedilatildeo do ferro
Mineral eacute uma substacircncia formada em resultado da interaccedilatildeo de
processos geoloacutegicos em ambientes geoloacutegicos naturais Os minerais variam na
sua composiccedilatildeo desde elementos quiacutemicos em estado puro ou quase puro e
sais simples a silicatos complexos com milhares de formas conhecidas
(LABOURIAU 1928 p 95-96)
Mineacuterio eacute toda substacircncia natural da qual se possa fazer a extraccedilatildeo de
algum metal (como a hematita e a magnetita) Assim um mineacuterio eacute sempre uma
substacircncia mineral Entretanto nem todo mineral eacute mineacuterio pois alguns minerais
natildeo permitem a extraccedilatildeo de metais como exemplo pode-se citar a pirita (sulfeto
de ferro) um mineral que eacute aproveitado para a fabricaccedilatildeo do aacutecido sulfuacuterico mas
que natildeo permite a extraccedilatildeo do metal nele contido (o ferro) Por conseguinte a
perita eacute um mineral uacutetil mas natildeo eacute um mineacuterio (LABOURIAU 1928 p 95-96)
Metal cada um de um grande grupo de substancias simples obtidas a
partir de mineacuterios
24 A magnetita eacute assim denominada devido ao seu magnetismo natural eacute um mineral de cor preta acinzentada ou avermelhada com brilho metaacutelico de formula quiacutemica (Fe3O4)
61
Para a extraccedilatildeo do ferro dos seus mineacuterios (geralmente oacutexidos feacuterricos
como a hematita) foram desenvolvidas desde a Antiguumlidade teacutecnicas de fundiccedilatildeo
destes materiais por reduccedilatildeo que utilizavam carvatildeo de madeira como redutor
Entretanto variava de uma regiatildeo para outra o tipo do forno e forma de colocaccedilatildeo
do mineacuterio e do carvatildeo no seu interior
Elena Faus referindo ao caso da tradiccedilatildeo basca defende que ateacute o seacuteculo
XIX os avanccedilos dos meacutetodos de fundiccedilatildeo do ferro tecircm decorrido independentes
da investigaccedilatildeo cientiacutefica Para esta autora esses avanccedilos teacutecnicos foram
realizados por ldquouma multitud anoacutenima de individuos de talento formados a la
sombra del teller protagoniza la Historia de la Tecnologia Son analfabetos y no
han conocido ninguacuten tipo de ensentildeanzardquo (FAUS 2000 p 51) O aprimoramento
da teacutecnica de fundiccedilatildeo podia entatildeo ser considerado como uma sucessatildeo de
ldquoinventosrdquo de artesatildeos que na determinaccedilatildeo em resolver as dificuldades que
surgiam inventaram teacutecnicas de fundiccedilatildeo a partir de experiecircncias praacuteticas pelo
uacutenico meacutetodo que conheciam o da praacutexis do ensaio e erro (FAUS 2000 p51)
Toda a produccedilatildeo do ferro estava fundamentada em conhecimentos
teacutecnicos baseados na praacutetica e que eram conhecimentos secretos restritos aos
membros da respectiva corporaccedilatildeo de ofiacutecio Ateacute a ldquorevoluccedilatildeo da Quiacutemicardquo no
seacuteculo XVIII natildeo havia nenhum conhecimento que pudesse explicar de forma
cientiacutefica o processo em que ocorria a reduccedilatildeo do mineacuterio em metal Soacute a partir
daiacute foi possiacutevel por exemplo explicar a atuaccedilatildeo de um elemento o Carbono
obtido pela queima do carvatildeo vegetal no processo produtivo do ferro Na Franccedila
em 1722 o cientista Reneacute Reacuteaumur concluiu que a diferenccedila entre as distintas
qualidades do ferro e do accedilo resultava da incorporaccedilatildeo de uma substacircncia
material Em 1786 na Sueacutecia os matemaacuteticos Vandermonde e Berthollet e o
quiacutemico Monge confirmaram esta hipoacutetese e identificaram o elemento o
Carbono o mesmo procedente da queima do carvatildeo de madeira utilizado desde
a antiguidade na fabricaccedilatildeo (FAUS 2000 p 21-22)
62
Com o aprimoramento da teacutecnica de fabricaccedilatildeo do ferro descobriu-se
tambeacutem a forma de se produzir accedilo sendo que sua difusatildeo promoveu a
emergecircncia de instrumentos e ferramentas completamente novas dando prestiacutegio
a todos aqueles que dominavam a teacutecnica dos metais Dessa forma o ferro e
depois o accedilo foi empregado na fabricaccedilatildeo de uma diversificada variedade de
instrumentos que anteriormente eram confeccionados com madeira ou pedra
transformando assim a metalurgia em uma teacutecnica extremamente estrateacutegica
Para Donald Cardwel
la metalurgiacutea hizo posibles instrumentos y herramientas completamente nuevos ndash y anteriormente inimaginables - La
importancia fundamental de la metalurgiacutea y el prestigio de los
trabajadores expertos en el metal quedan confirmados como
sentildealaba Samuel Smiles por la frecuencia del apellido Smith
(lsquoHerrerorsquo) Ademaacutes la palabra Smith es de origen noacuterdico o
germacircnico lo cual da una clave para entender la localizacioacuten de
los primitivos centros del trabajo del metal en el occidente
europeo (CARDWEL 1994 p 34 grifo nosso)
A crescente demanda de objetos e utensiacutelios feitos de ferro proporcionou o
aprimoramento das teacutecnicas de fundiccedilatildeo como tambeacutem da especializaccedilatildeo
daquele trabalho
Na Espanha por exemplo os espaccedilos destinados a produccedilatildeo de ferro
foram se especializando Um desses espaccedilos era denominado de ferrarias
maiores que se especializaram na fundiccedilatildeo dos mineacuterios para a obtenccedilatildeo de
metal e outras denominadas de ferrarias menores dedicavam-se aacute manufatura
desse metal ou seja transformando-o em barras ou laminas para fabricar entre
outros produtos instrumentos e acessoacuterios agriacutecolas (ferraduras) armas
(espadas) e materiais construtivos (cravos) etc ( FERNANDEZ p 5)
63
Desde o iniacutecio da metalurgia tem-se buscado tambeacutem a maneira pela qual
os fornos pudessem alcanccedilar temperaturas cada vez elevadas pois para que se
possa retirar o ferro do mineacuterio de forma que fosse possiacutevel o aproveitamento de
todo metal nele existente a temperatura do forno deve se elevar aleacutem de 1535ordmC
ponto de fusatildeo daquele metal
Contudo os primeiros fornos empregados para a reduccedilatildeo com a utilizaccedilatildeo
de carvatildeo vegetal alcanccedilavam apenas temperaturas que variavam entre 1200ordmC
e 1300ordmC insuficientes para a fusatildeo completa e portanto o ferro obtido com
aquela temperatura natildeo era retirado do forno em estado liacutequido e sim em estado
pastoso A essa temperatura (12001300ordm C) o mineacuterio de ferro transformava-se
em uma ldquomassa esponjosardquo repleta de impurezas (escoacuterias que ainda
apresentavam uma significativa quantidade de ferro na sua composiccedilatildeo) Essa
massa era entatildeo colocada sobre uma bigorna e por meio de martelamento
manual ou mecacircnico retiravam-se as escoacuterias que ainda permaneciam grudadas
naquela massa compactando-a e dando forma ao metal
Labouriau ao explicar a accedilatildeo do carvatildeo vegetal durante o processo de
reduccedilatildeo explica que o carvatildeo vegetal em contato com o oxigecircnio da atmosfera
queima produzindo calor formando o gaacutes carbocircnico (CO e CO2) Esse CO2 entatildeo
ao reagir com uma parte do carvatildeo passa para CO e que esse CO juntamente
com uma parte do carvatildeo retira o oxigecircnio do mineacuterio e fica o ferro ligado a um
pouco de Carbonordquo (LABOURIAU 1928 p 146)
Essa teacutecnica de produccedilatildeo de ferro ficou conhecida como ldquoprocesso Diretordquo
ou ldquomeacutetodo de reduccedilatildeo diretardquo e o ferro produzido era o ldquoferro docerdquo Ateacute o seacuteculo
XV com o aparecimento do alto-forno esta era a uacutenica teacutecnica conhecida e
empregada na produccedilatildeo daquele metal No alto-forno o ferro atingia
temperaturas mais elevadas possibilitando uma maior absorccedilatildeo de carbono do
carvatildeo vegetal transformando-se em gusa (ferro-gusa ou ferro fundido) que saiacutea
64
do forno no estado liquido incandescente25 No seacuteculo XVI o alto forno foi
aperfeiccediloado na Alemanha e na Aacuteustria com o aparecimento do Stueckofen (alto-
forno) construiacutedos de alvenaria
Com a utilizaccedilatildeo do alto-forno e com a obtenccedilatildeo do ferro em sua forma
liacutequida foram possiacuteveis as produccedilotildees de armas de fogo balas de canhatildeo sinos
de igreja e mais tarde a fabricaccedilatildeo de adornos para as residecircncias tais como
grades enfim produtos que puderam ser produzidos a partir do ferro liacutequido
deitado em moldes
26 Fornos de fundiccedilatildeo de ferro Segundo Jordi Maluquer Motes no iniacutecio da metalurgia utilizavam-se
pequenos fornos (fornos baixos) para extraccedilatildeo do metal (ferro) os quais natildeo
eram mais que uma cavidade ciliacutendica escavada no terreno ou em uma rocha
Contudo a forma e o tamanho dos fornos foram mudando ao longo do tempo e
de simples cavidades escavadas no chatildeo os fornos comeccedilaram a ganhar ao
redor daquele ciacuterculo paredes de argila refrataacuteria o que permitia fazer fornadas
maiores aumentando assim a produccedilatildeo Contudo todos eles ateacute o advento do
alto-forno produziam por meio da reduccedilatildeo direta o ferro em estado pastoso O
produto (ferro) que ficava no interior do forno apoacutes a fundiccedilatildeo do mineacuterio era
chamado de massa de ferro patildeo de ferro ou lupa (MALUQUER DE MOTES
1983 p21)
25 No Brasil o alto-forno foi construiacutedo apenas no iniacutecio do seacuteculo XIX na Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema quando este estabelecimento estava sob a direccedilatildeo de Hedberg
65
Fig 15 CORTE ESQUEMAacuteTICO DE UM FORNO DE FUNDICcedilAtildeO ndash Forno
baixo26 Natildeo haacute descriccedilotildees detalhadas acerca desses fornos primitivos mas
vestiacutegios encontrados em vaacuterias partes da Europa como em Illasheim
(Alemanha) indicam que estes fornos apresentavam uma planta circular No
centro da Europa outros fornos construiacutedos pelos Celtas tambeacutem apresentavam
reduzidas dimensotildees Os fornos Celtas tinham em meacutedia 35 a 50 cm de
diacircmetro com uma profundidade de 45 a 50 cm Sobre uma base levantavam o
forno propriamente dito construiacutedo por uma parede ciliacutendrica de argila medindo
entre 60 a 100cm Os Celtas chegaram a desenvolver teacutecnicas eficientes de
aceramento (conversatildeo do ferro em accedilo) como por exemplo na Suiacuteccedila onde a
produccedilatildeo de espadas ganhou fama por sua resistecircncia (FAUS 2000 p 32-34)
Fornos ruacutesticos tambeacutem foram encontrados em Bengala Aacutefrica
denominados de fornos africanos ou fornos iacutendios Eram fornos ciliacutendricos e
confeccionados em areia ferruginosa mal amassada sustentada por uma
armadura de bambu Tinham dimensotildees de 090m de altura com um diacircmetro de
030m A base do forno era furada em vaacuterios lugares e colocava-se um fole em
cada uma das aberturas exceto na grade da frente (orifiacutecio pelo qual eram
26 Disponiacutevel em La Farga Rossel lthttpwwwfargarosseladcaslafarga21434htmgt
66
retiradas as escoacuterias) o que dava em geral um total de sete foles por forno
(FAUS 2000 p 50)
Fig 16 MAQUETE FORNO CELTA ndash forno baixo27
Durante o periacuteodo de dominaccedilatildeo romana Roma passou a controlar toda a
exploraccedilatildeo do ouro prata e ferro produzidos em seu impeacuterio Para a produccedilatildeo
desse uacuteltimo metal empregavam teacutecnicas de fundiccedilatildeo utilizando-se dos
chamados fornos romanos As ferrarias romanas eram constituiacutedas de ldquoum
montatildeo de fornosrdquo construiacutedos com barro e palha (RODRIGUES 1964 p11)
27 Disponiacutevel em Exposition 2000 ans de meacutetallurgie en Nivernais des Gaulois agrave Ariane ltjprostclubfravgexpo2003htmlgt
67
Fig 17 FORNO ROMANO RODRIGUES (1964 p 12)
Neste mesmo periacuteodo homens bascos dos redutos resistentes agrave
dominaccedilatildeo romana continuaram a produzir o ferro por meacutetodos de fundiccedilatildeo que
haviam aprendido com seus ancestrais utilizando os chamados ldquofornos de ventordquo
os quais podem ser relacionados agrave primeira fase da elaboraccedilatildeo do ferro As
instalaccedilotildees que utilizavam esses fornos passaram a ser conhecida como ferrarias
secas de montanha de vento Habitualmente os fornos dessas ferrarias eram
construiacutedos em aacutereas montanhosas em pontos elevados a fim de aproveitar a
forccedila dos ventos para ativar a combustatildeo do carvatildeo vegetal (FAUS 2000 p 47)
68
Fig 18 Fornos de vento ou de lupa28
Fig 19 FORNOS DE LUPA OU DE VENTO corte esquemaacutetico
28 Disponiacutevel em La Farga Rossel lthttpwwwfargarosseladcaslafarga21434htmgt
69
Para Jordi Maluquer de Motes a maior dificuldade de operaccedilatildeo da
combustatildeo era o controle das temperaturas do forno sendo que o grande
segredo para a utilizaccedilatildeo desses fornos de vento era a adequada posiccedilatildeo em que
este era instalado e tambeacutem a correta utilizaccedilatildeo dos meios artificiais empregados
na ativaccedilatildeo da combustatildeo do carvatildeo vegetal tal como o emprego de foles
manuais feitos de peles de animais Esse procedimento requeria um esforccedilo
bastante grande de trabalho humano natildeo apenas no acionamento do fole como
tambeacutem para as operaccedilotildees de martelamento da massa de ferro que se formava
no interior do forno (MALUQUER DE MOTES 1983 p 21)
Por utilizarem esta teacutecnica de reduccedilatildeo as ferrarias de vento geralmente
ficavam instaladas em regiotildees distantes dos povoados o que tambeacutem levava um
significativo nuacutemero de fundidores e mineiros a passar parte de suas vidas
distantes daqueles povoados Esse distanciamento suscitou ateacute mesmo o
surgimento de mitos e faacutebulas conforme aponta Elena Faus (2000) que
enriqueceram a cultura popular europeacuteia em especial a cultura basca
Las maravailhas del arte de aquellos seres ton solo por ellos
conocidos les hizo mecedores de leyendas Muchas de ellas les
han sobrevivido y han pasado a integrar el bagaje mitoloacutegico de la
cultura vasca
El velo de magia que enturbiaba la figura de los ferrones se
time en ocasiones de un cierto cariz de condena religiosa Se les
identifica con los lsquogentilesrsquo reacios a la evangelizacioacuten o con el
proprio demonio (lsquosentildeor de los bosquesrsquo o lsquobasejaunrsquo) en persona
(FAUS 2000 p 47)
Outros tipos de fornos de vento ou de montanha foram encontrados na
Ameacuterica Espanhola Em Potosi na atual Boliacutevia os indiacutegenas utilizavam um tipo
de forno para a fabricaccedilatildeo da prata denominado de ldquoforno de guairardquo Estes
fornos mesmo apoacutes a conquista espanhola em Potosiacute foram aproveitados para a
produccedilatildeo daquele metal (BARGALLOacute 1955 p 91)
70
Fig 20 FORNO DE GUAIRA ndash utilizado em Potosi Boliacutevia29
Aleacutem desses fornos de montanha que utilizavam a corrente de ar da
proacutepria atmosfera para acionar a combustatildeo do carvatildeo havia tambeacutem outros
tipos de fornos de fundiccedilatildeo acionados com o emprego de foles manuais Esses
fornos ficaram conhecidos por vaacuterias denominaccedilotildees e podiam ser construiacutedos de
formas e tamanhos diferentes Contudo todos eles apresentavam as mesmas
caracteriacutesticas teacutecnicas eram fornos baixos acionados por foles manuais e que
produziam o ferro utilizando o meacutetodo direto de fundiccedilatildeo Entre esses fornos
destacam os fornos de cuba de lupa de manga e castelhanos (BARGALLOacute
1955 p 91)
29Proyecto Arqueoloacutegico Porco-Potosi Disponiacutevel httplamarcolostateedu~mvanburespanish20participantshtm
71
Fig 21 Forno de Fundiccedilatildeo xilogravura de George Agriacutecola seacutec XVI30
Fig 22 Forno de Fundiccedilatildeo xilogravura de George Agriacutecola seacutec XVI31
30 Disponiacutevel em lttechnologyinfominecomdrmbook11htmgt Acesso em 17nov06
72
Tratados Teacutecnicos publicados no seacuteculo XVI como o De re metallica de
George Agriacutecola oferecerem descriccedilotildees e desenhos atraveacutes dos quais eacute possiacutevel
conhecer algumas formas daqueles fornos A partir de algumas gravuras ali
publicadas eacute possiacutevel identificar que os mesmos habitualmente eram construiacutedos
sobre uma base quadrada e eram utilizados na produccedilatildeo muitos metais como o
cobre o ouro prata e tambeacutem o ferro Esses fornos registrados por Agriacutecola
eram especialmente destinados para a fundiccedilatildeo de minerais em pedra Na
Ameacuterica Espanhola receberam o nome de ldquofornos castelhanosrdquo
Um outro autor a abordar esse tema foi Aacutelvaro Alonso Barba No seu
tratado Arte de los Metales afirmava que os fornos castelhanos eram utilizados
tambeacutem em outras partes do mundo A descriccedilatildeo que faz Barba do uso desses
fornos no Peru eacute por si soacute bastante didaacutetica para compreender o seu
funcionamento
Llaman en este reyno hornos castellanos a los que en las otras
trecircs partes del mundo han sido usados y comunes para la
fabricacioacuten de toda suerte de metales De ellos solos trata el
Agriacutecola para este efecto y es una la faacutebrica de todos y no
difieren en mas que en se mayores o menores y tener la boca
por onde el metal fundido sale oacute abierta siempre oacute cerrada a
ratos como se diraacute adelante Levaacutentense estos hornos a
perpendiculo en forma de um pilar quadrado algo maacutes largo que
anchos por lo hueco Tienen de alto algunos una vara otros casi
dos y otros menos seguacuten la grandeza de los fuelles con que
huviere de fundirse y la facilidad oacute dureza de los metales
requiere Por la parte de atraacutes en una ventanilla que para esto se
dexa en la pared algo levantada del suelo se afixa el alchrebiz en
que han de estar los cantildeones de fuelle puesto con advertencia
31 Disponiacutevel em httpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablePrimitivas_instalacionespdfgt Acesso em 17nov06
73
de que no assome oacute passe aacute lo hueco del horno porque las
escorias que sobre eacutel cayeren helaacutendose con el ayre del sopro
no lo paten oacute impidan El suelo del horno se hace de dos partes
de carbon molido y una de tierra buena bien apretado con pisoacuten
Assientase pendiente azia la parte delantera donde tendraacute un
agujero por onde corra el metal fundido y salgan las escorias aacute
una hordilla que junto aacute el estaraacute bien caliente con carbones
encendidos con a llama del horno y aire del fuelle que sale por el
dicho agujero
Otros hacen estos hornos redondos mas anchos de arriba
que de abajo y son menores para lo que se pretende con que se
tenga advertecircncia que siempre este a perpendiculo la parede se
pone el fuelle porque el metal fundido o las escorias no caygan
sobre la boca del alchrebiz y la tanpenrdquo (BARBA 1640 Apud
BARGALLOacute 1955 p 93)
Entre os seacuteculos XII e XVI a teacutecnica de fundiccedilatildeo do ferro experimentou um
notaacutevel impulso em razatildeo da demanda por derivados de ferro incrementada tanto
pelas guerras que necessitavam de ferragens para as montarias apetrechos
defensivos para os soldados e armas mortiacuteferas como por instrumentos para a
agricultura Tambeacutem para a construccedilatildeo das grandes catedrais era necessaacuterio
ferro para as armaccedilotildees metaacutelicas cravos ferramentas entre outros (FAUS 2000
p52)
Para atender a estas demandas era necessaacuterio que se produzisse a maior
quantidade possiacutevel de ferro e os fornos baixos que eram anteriormente
utilizados natildeo atendiam aqueles objetivos Para tanto natildeo apenas os fornos
foram tomando outras formas como tambeacutem houve uma mecanizaccedilatildeo por meio
da utilizaccedilatildeo da energia hidraacuteulica (rodas drsquo aacutegua verticais) e da trompa hidraacuteulica
no processo produtivo tornando obsoletas as ferrarias que utilizavam a forccedila
humana e animal para a produccedilatildeo
A importacircncia da mecanizaccedilatildeo na produccedilatildeo do ferro com o uso da roda
hidraacuteulica e da trompa foi tanta que para alguns autores pode-se consideraacute-la
74
como uma autecircntica revoluccedilatildeo tecnoloacutegica (MALUQUER DE MOTES 1984 p 21-
24)
A aplicaccedilatildeo desse mecanismo (roda drsquoaacutegua) ao processo produtivo fez
com que as ferrarias que anteriormente ficavam concentradas no alto de
montanhas fossem trasladadas para as margens de rios buscando a energia
hidraacuteulica capaz de acionar primeiramente dos foles possibilitando a construccedilatildeo
de fornos de maiores dimensotildees e dessa maneira a produccedilatildeo do ferro em maior
escala
Depois dos foles a roda drsquoaacutegua foi utilizada para a mecanizaccedilatildeo do
acionamento dos malhos (grandes martelos responsaacuteveis por liberarem as
escoacuterias das massas de ferro dando-lhes formas que pudessem ser
comercializaacuteveis como o ferro em barra) A funccedilatildeo da trompa era a mesma dos
foles isto eacute insulflar ar ao interior do forno para que a combustatildeo alcanccedilasse
uma temperatura elevada A trompa era um engenhoso sistema de insuflar ar e
tambeacutem o elemento mais caracteriacutestico do procedimento conhecido como da
ldquofarga catalatilderdquo ou forno catalatildeo
O primeiro emprego da roda drsquoaacutegua vertical na produccedilatildeo de ferro foi
introduzido na regiatildeo correspondente aos Pirineus Catalatildees Neste local
desenvolveu-se uma instalaccedilatildeo destinada a produzir ferro denominado de
ldquofaacutebriques ou faacutebreguesrdquo que depois passou a ser conhecida como ldquofarguesrdquo ou
ldquofargardquo (o termo era usado tanto para descrever os lugares onde era obtido o ferro
como seu processamento) A partir do seacuteculo XIV o emprego da roda foi
difundido na regiatildeo basca ndash Espanha favorecida pelos trecircs elementos
fundamentais necessaacuterios para a sua instalaccedilatildeo a geografia da regiatildeo formada
por um territoacuterio montanhoso com a presenccedila de um significativo nuacutemero de rios
as jazidas de ferro e a floresta que fornecia o carvatildeo vegetal o uacutenico combustiacutevel
utilizado naquele processo ateacute o seacuteculo XVIII32
32 Com a Revoluccedilatildeo Industrial do seacuteculo XVIII passaram a utilizar como combustiacutevel o carvatildeo coque
75
Na Catalunha junto com o desenvolvimento das ldquofargasrdquo aprimoraram-se
tanto as teacutecnicas relacionadas agrave construccedilatildeo dos fornos como ao seu sistema de
funcionamento que ficou famoso no mundo todo como procedimento da ldquoforja
Catalatilderdquo ou ldquoprocedimento catalatildeordquo (MOLERA BARRUECO1983 p11)
A forja Catalatilde ou forno catalatildeo foi um sistema intermediaacuterio entre os fornos
baixo e os altos fornos utilizados atualmente Essa teacutecnica dominou todo o
processo de obtenccedilatildeo do ferro e accedilo durante a Idade Meacutedia espalhando-se para
a Alemanha Aacuteustria Inglaterra Franccedila e Itaacutelia Desde a Idade Meacutedia ateacute finais do
seacuteculo XIX esses paiacuteses entre outros conseguiam produzir ferro mediante aquele
sistema conhecido universalmente como ldquoprocedimento Catalatildeordquo
O periacuteodo aacuteureo do emprego da forja catalatilde se daacute entre os seacuteculos XVII e
XVIII devido sobretudo agrave introduccedilatildeo de um outro mecanismo em substituiccedilatildeo
aos foles acionados pela roda hidraacuteulica a ldquotrompa de aacuteguardquo (sistema empregado
par injetar ar no forno) Desenvolvido na Itaacutelia este novo equipamento se difunde
pelas regiotildees dos Pirineus da peniacutensula Ibeacuterica e foi assimilado pelas
manufaturas catalatildes ateacute o ponto de integraacute-las como uma das caracteriacutesticas do
meacutetodo que leva o nome de ldquofarga catalanardquo ou forno catalatildeo Jaacute nas ferrarias
bascas a trompa de aacutegua natildeo foi amplamente difundida prevalecendo a
utilizaccedilatildeo de rodas drsquoaacutegua para o acionamento de foles e do malho ( MALUQUER
DE MOTES 1983 p 23)
76
Fig 23 ARRANJO DE ldquoFARGA CATALANArdquo OBSERVAR USO DE RODA DrsquoAacuteGUA PARA ACIONAMENTO DO MALHO E A PRESENCcedilA DA TROMPA HIDRAacuteULICA JUNTO AO FORNO33
33 Folheto Museu de Ripoll sd
77
No interior das ldquofargas catalanasrdquo o forno era a parte mais importante Os
fornos de fundiccedilatildeo catalatildees diferentemente dos fornos de vento tinham uma
forma tronco-cocircnica isto eacute ldquouma forma de um tronco de piracircmide invertidardquo
(MALUQUER DE MOTES 1983 p 22) O forno era construiacutedo de pedras
refrataacuterias revestidas em parte de peccedilas de ferro com trecircs paredes planas e
uma convexa esta uacuteltima destinada a facilitar a extraccedilatildeo do produto final (massa)
A parede onde era colocada a ldquotoverardquo (entrada do fole) era oposta agrave convexa e
esta era feita de ferro numa inclinaccedilatildeo de 35o a 45o Em uma das paredes
laterais havia um buraco que deixava passar as escoacuterias liacutequidas
(MOLERABARRUECO1983 p13)
Fig 24 ELEMENTOS QUE COMPOtildeEM A OFICINA DA ldquoFARGA CATALANArdquo Observa- se a presenccedila do forno de fundiccedilatildeo e do malhos acionados por roda drsquoaacutegua34
34 Caderno de Apoio para visitante do Museu de Ripoll ndash Catalunha Espanha sd
78
Um outro aprimoramento teacutecnico do meacutetodo catalatildeo foi a forma como
passaram a carregar o forno Deixando para traacutes o meacutetodo anteriormente
conhecido que consistia em carregar o forno em camadas horizontais superpostas
com carvatildeo vegetal e mineacuterio os catalatildees passaram a carregar o forno por meio
de duas camadas verticais justapostas De um lado do forno (aquele em que
estava instalado o fole) era colocado o combustiacutevel (carvatildeo) de tal maneira que o
oacutexido de carbono que se desprendia da queima era forccedilado a atravessar a coluna
do mineacuterio (que estava disposta em uma outra coluna localizada junto agrave parede
oposta agrave do fole)
A produccedilatildeo do ferro ainda se realizava por meio do meacutetodo de produccedilatildeo
direta Sendo assim ainda se mantinha o processo de martelamento da massa de
ferro por meio do malho (que tambeacutem ficava instalado dentro daquele
estabelecimento) para a obtenccedilatildeo do produto final O meacutetodo catalatildeo natildeo apenas
melhorou a qualidade do produto final mas tambeacutem proporcionou o aumento da
produccedilatildeo
27 Tratados Teacutecnicos de Metalurgia
Entre os seacuteculos XV e XVI arquitetos engenheiros meacutedicos e artesatildeos e
outros publicaram inuacutemeros tratados voltados para os ofiacutecios mecacircnicos ou ldquoArtes
Mecacircnicasrdquo Essa literatura eacute extraordinariamente rica em Tratados de caraacuteter
teacutecnico que podem ser considerados autecircnticos manuais e representaram uma
contribuiccedilatildeo decisiva entre o saber cientiacutefico e saber teacutecnico-artesanal os quais
tiveram um grande efeito no nascimento da cooperaccedilatildeo entre cientistas e teacutecnicos
e entre ciecircncia e induacutestria (ROSSI 1989 p 30)
79
Entre as obras de caraacuteter teacutecnico publicadas naquele periacuteodo destacam-
se os escritos de Brunelleschi Ghiberti Peiro della Francesca Leonardo Cellini
Paolo Lomazzo o trabalho sobre as maacutequinas de guerra de
Konrad Keyser (1366-1405) os tratados teacutecnicos de Fontana
(1420) e Mariano (1438) as obras sobre arquitetura de Leon
Batista Alberti Filarete Francesco di Giorgio Martini Palladio o
livro sobre maquinas militares de Valturio da Rimini (publicado em
1472 reeditado em Verona em 1482 e 1483 em Bolonha em
1483 em Veneza em 1493 e nada menos que quatro vezes em
Paris entre 1532 e 1555) os dois tratados de Duumlrer sobre a
geometria descritivas e as fortificaccedilotildees (1525 e 1527) a
Pirotechnia de Biringuccio (1540) depois reeditada em duas
ediccedilotildees latinas trecircs francesas e quatro italianas) a obra de
baliacutestica de Nicolograve Tartaglia (1537) os dois tratados de
engenharia mineral de Georg Agriacutecola (1546-1556) o Teatro di
macchine de Besson (1569 depois traduzido para o francecircs e o
espanhol) os Mechanicorum libri de Guidobaldo Del Monte
(1577) as Diverse et artificiose macchine de Agostinho Ramelli
(1588) os trecircs livros sobre mecacircnica de Simon Stevin (1586
traduzido do flamengo para o francecircs em 1634) a obra sobre
fortificaccedilotildees de Lorini (1597) os trabalhos de arte da navegaccedilatildeo
de Willian Barlowe (1597) Thomas Harriot (1594) e Robert Hucs
(1599) (ROSSI 1989 p30-31)
Entre os tratados relacionados com a metalurgia e a mineraccedilatildeo
destacamos a De La Pirotechinia considerado o primeiro livro impresso dedicado
agrave metalurgia foi escrito pelo italiano Vannoccio Biringuccio (ca 1480-1539) e
publicado pela primeira vez em 1540 Adepto do empirismo Birunguccio
escreveu esse tratado baseado nas observaccedilotildees diretas do ofiacutecio que havia
adquirido durante as vaacuterias visitas que fez a Alemanha35 onde se destacava o
desenvolvimento de teacutecnicas de exploraccedilatildeo de minas de prata e tambeacutem de
35 Biringuccio visitou a Alemanha em 1516 e entre 1526 e 1529
80
equipamentos que possibilitavam a construccedilatildeo de tuacuteneis e galerias para a
exploraccedilatildeo do subsolo36
Embora tivesse sido publicado na Alemanha no iniacutecio do seacuteculo XVI de
forma anocircnima um conjunto de manuais teacutecnicos sobre o ensaio de metais a
obra de Biringuccio era mais ambiciosa explicava como descobrirem minerais e
veios a maneira de separar o ouro e a prata as teacutecnicas de ensaio e as
propriedades do cobre o zinco e outros metais Analisava aleacutem disso as
propriedades do mercuacuterio do enxofre do antimocircnio e de outros elementos
utilizados no processo de extraccedilatildeo do ouro e prata como tambeacutem os meacutetodos de
obtenccedilatildeo do accedilo aleacutem de apresentar ilustraccedilotildees sobre fundiccedilotildees de canhotildees e
sinos a fabricaccedilatildeo de objetos piroteacutecnicos e algumas poucas informaccedilotildees sobre
mineraccedilatildeo geologia e mineralogia (CARDWELL 1994 p 76)
Um outro tratado importante foi escrito pelo alematildeo Georg Bauer (1494-
1555) conhecido pela forma latina de seu nome como Georgius Agriacutecola Depois
de estudar em Leipzig Bolonha e Veneza foi em 1527 exercer a profissatildeo de
meacutedico em Joachimstal na Boemia a maior aacuterea mineira na eacutepoca Agricola
passou a maior parte de sua vida estudando mineralogia e geologia entre 1546 e
1556 escreveu dois tratados destacando a mineraccedilatildeo e a siderurgia
Em 1546 publicou dois tratados sistemaacuteticos de geologia e mineralogia a
De ortu et causis subterraneorum e a De natura fossilium os quais lhe conferiram
a designaccedilatildeo de ldquoPai da Mineralogiardquo37 O seu trabalho mais importante e de
maior divulgaccedilatildeo foi publicado em 1556 com o tiacutetulo de De Re Metallica - A Arte
dos Metais - o qual serviu como obra teacutecnica de mineraccedilatildeo durante quase dois
seacuteculos seguintes aquela primeira publicaccedilatildeo
36 A Alemanha havia desenvolvido importantes teacutecnicas de mineraccedilatildeo que foram intensificadas pelo contiacutenuo intercacircmbio de experiecircncias com a Hungria e a Sueacutecia 37 Georgius Bauer Agricola (1494-1555) cientista alematildeo considerado o fundador da mineralogia Foi um dos primeiros cientistas que baseou suas teorias na observaccedilatildeo em vez da especulaccedilatildeo Antes dele podemos destacar Alberto Magno (1193-1280) conhecido como Preacute-Tecnoacutelogo escreveu a obra De mineralibus que constitui natildeo somente uma histoacuteria dos mineralogia como tambeacutem uma descriccedilatildeo dos metais
81
O conteuacutedo do livro De Re Metallica estava baseado no estudo das coisas
materiais realizado por meio da observaccedilatildeo descriccedilatildeo sistemaacutetica analiacutetica e
meticulosa da natureza A transcriccedilatildeo dessas observaccedilotildees natildeo requeria apenas a
confecccedilatildeo de textos descritivos mas tambeacutem de ilustraccedilotildees com as quais
procuravam traduzir os conhecimentos obtidos pela observaccedilatildeo em imagens
graacuteficas as mais compreensiacuteveis possiacuteveis (ROSSI 1989 p 52)
Agriacutecola ao escrever a introduccedilatildeo desse tratado esclarecia ao leitor como
havia concebido a sua obra e as dificuldades que enfrentou para concluiacute-la
Diz ele Grandiacutessima fadiga e solicitude realmente aqui coloquei e ainda
algumas boas despesas porque natildeo escrevi simplesmente os
veios os instrumentos os canais as maacutequinas e as fornalhas
mas ainda agraves minhas expensas assalariei os pintores para fazer
seus retratos naturais a fim de que as coisas natildeo conhecidas que
satildeo apresentadas com palavras natildeo tragam real dificuldade agraves
pessoas de hoje ou de tempos vindouros (ROSSI 1989 p 51)
Os retratos naturais referidos por Agriacutecola eram as xilogravuras que
ilustravam as suas obras A partir dessas imagens era possiacutevel visualizar com
exatidatildeo de detalhes as dimensotildees sobre equipamentos instrumentos e teacutecnicas
empregadas na prospecccedilatildeo no processo de fundiccedilatildeo e orientaccedilotildees sobre o uso
da energia hidraacuteulica nas operaccedilotildees mineiras enfim as ilustraccedilotildees traziam
detalhes sobre praticamente todas as etapas das operaccedilotildees mineiras isto eacute
prospecccedilatildeo administraccedilatildeo beneficiamento e transporte de mineacuterios 38
Na segunda parte daquele mesmo livro o autor dedica-se ao ensaio e
tratamento dos minerais Como Biringuccio Agricola mostrava criacutetica e desprezo
pelo trabalho realizado pelos alquimistas Uma de suas criacuteticas referia-se ao
38Agricola demonstra neste Tratado o funcionamento de sete tipos diferentes de bombas de succcedilatildeo incluindo uma bomba muacuteltipla acionada por uma grande roda hidraacuteulica e uma bomba combinada de succcedilatildeo e impelente (bomba impelente bomba que eleva a aacutegua por meio de pressatildeo exercida sobre o liacutequido)
82
meacutetodo empregado por estes na busca de metais enterrados O uso da
radiestesia por meio do emprego de uma vara ou forquilha feita com galhos de
aacutervores era considerado por Bauer apenas uma arte da adivinhaccedilatildeo derivada da
magia antiga e que somente poderia ser e era utilizada por mineiros simples e
ordinaacuterios
A Ameacuterica Espanhola foi tambeacutem palco para a produccedilatildeo do conhecimento
relacionado agrave metalurgia Em 1640 Aacutelvaro Alonso Barba padre em Potosiacute e que
havia aperfeiccediloado o meacutetodo de amalgamaccedilatildeo39 desenvolvido por Bartolomeacute de
Medina (Beneficio de Patio)40 publicou a partir de experiecircncias proacuteprias com a
produccedilatildeo de prata naquele local o livro Arte de los Metales O livro de Barba foi o
primeiro trabalho em que se registrou o processo de amalgamaccedilatildeo por mercuacuterio
que ficou conhecido como ldquomeacutetodo de cazo y cocimientordquo (realizado por meio do
calor dentro de reservatoacuterio de cobre) Este livro foi o primeiro trabalho em que se
registraram as regras para beneficiamento de ouro e prata com a utilizaccedilatildeo do
mercuacuterio
39 Amalgamaccedilatildeo Operaccedilatildeo que consiste em ligar o mercuacuterio a outro metal ou separar o ouro e a prata da ganga por meio do mercuacuterio 40 O ldquobenefiacutecio de paacutetiordquo foi assim denominado pois toda a operaccedilatildeo de produccedilatildeo de prata era realizada em um paacutetio Consistia basicamente em mesclar a Mena (metal) moiacuteda e uacutemida com sal comum e mercuacuterio Esse meacutetodo era menos custoso que aqueles que eram utilizados e seu uso se prolongou ateacute o seacuteculo XIX
83
CAPITULO 3
HISTOacuteRICO DA MINERACcedilAtildeO NO BRASIL NO PERIacuteODO COLONIAL A Histoacuteria das primeiras expediccedilotildees no Brasil mostra que desde o inicio do
seacuteculo XVI jaacute havia uma preocupaccedilatildeo permanente aleacutem do reconhecimento do
novo territoacuterio na busca de metais e pedras preciosas que eram produtos de alto
valor econocircmico e poliacutetico aleacutem do interesse estrateacutegico
Durante os primeiros trinta anos de colonizaccedilatildeo do Brasil Portugal estava
voltado para a exploraccedilatildeo dos produtos da Aacutefrica e Iacutendia inclusive de metais
sendo que esta experiecircncia se reflete nas primeiras expediccedilotildees quando se
constata a preocupaccedilatildeo com a descoberta de metais nobres (ouro e prata)
conforme se demonstra nos itens que seguem
Embora a busca por metais fosse uma constante as exploraccedilotildees durante
a primeira metade do seacuteculo XVI resultaram a descoberta de produtos vegetais
(pau-brasil) e animais exoacuteticos (araras e papagaios) 41
Somente com a descoberta da prata na serra de Potosi em 1545 pelos
espanhoacuteis ficou comprovada a existecircncia de metais nobres no novo continente
31 As primeiras expediccedilotildees mariacutetimas a busca de metais nobres A primeira expediccedilatildeo portuguesa destinada ao reconhecimento do litoral do
Brasil partiu de Lisboa entre os anos 1501-02 sob o comando de Gonccedilalo Coelho
e pelo florentino Ameacuterico Vespuacutecio (cosmoacutegrafo contratado pela Coroa
Portuguesa) Apoacutes terem passado pelos atuais estados do Rio Grande do Norte
Bahia e Rio de Janeiro os navios desembarcaram em janeiro de 1502 numa ilha 41 O pau-brasil era extraiacutedo no litoral compreendido desde o atual Estado do Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro
84
que denominaram Cananeacuteia42 Este local tornou-se na primeira metade do seacuteculo
XVI importante posto avanccedilado responsaacutevel pelo abastecimento de
embarcaccedilotildees que mais tarde passaram a rumar para o sul do continente com o
objetivo de reconhecimento e busca de riquezas minerais
Em 1514 Portugal enviou uma outra expediccedilatildeo ao sul desta vez chefiada
por Joatildeo de Lisboa e Estevatildeo Frois financiada D Nuno Manuel e Cristoacutevatildeo de
Haro em cujo trajeto estava Cananeacuteia e a Ilha de Satildeo Francisco do Sul (Santa
Catarina) Esta expediccedilatildeo descobriu o estuaacuterio do rio que denominaram de Rio da
Prata Os resultados dessa expediccedilatildeo foram informaccedilotildees dadas pelos nativos
(Charruas) sobre a existecircncia de uma ldquoSerra de Pratardquo fato que deve ter
impulsionado o envio da expediccedilatildeo espanhola para o sul de Cananeacuteia em 1515
chefiada por Juan Diaz de Soacutelis (VIANNA 1972 p 54)
Entre 1521 e 1526 Aleixo Garcia junto com outros remanescentes da
expediccedilatildeo de Soacutelis e mais iacutendios guaranis partiram da Costa dos Patos (Santa
Catarina) indo aleacutem do rio paraguay e do Chaco obtendo riquezas perdidas na
viagem de regresso (VIANNA 1972 p 214)
Em 1530 parte de Lisboa a expediccedilatildeo de Martim Afonso de Souza uma
das mais importantes expediccedilotildees portuguesas Tinha como objetivos expulsar do
litoral os franceses que traficavam pau-brasil reconhecer a extensatildeo da costa
pertencente a Portugal promover a ocupaccedilatildeo do territoacuterio criando fortificaccedilotildees
em pontos de interesse estrateacutegico e especialmente explorar o rio da Prata 43
42 Cananeacuteia era local de fronteira entre as terras de Portugal e Espanha estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas (1494) 43 A expediccedilatildeo de Martim Afonso se diferenciou das anteriores pelo fato de ter D Joatildeo III investido estes comandantes de poderes especiais aplicados sobretudo em Satildeo Vicente Entre eles permitia-se a Martim Afonso distribuir terras em sesmarias criar instrumentos juriacutedicos que permitiram o registro de propriedades atraveacutes da instalaccedilatildeo dos tabelionatos e a elevaccedilatildeo de povoados para a condiccedilatildeo de vilas o que possibilitou a instalaccedilatildeo de um processo colonizador na regiatildeo Sobre a expediccedilatildeo ver VIANNA Helio Historia do Brasil Satildeo Paulo Melhoramentos 1970 p56-61
85
Um dos fatos importantes resultantes da vinda dessas expediccedilotildees foi a
integraccedilatildeo do Porto de Satildeo Vicente44 juntamente com Cananeacuteia na rota de
navegaccedilatildeo para o sul do continente Estes portos serviam para abastecer as
embarcaccedilotildees e ali era possiacutevel contratar os ldquoliacutenguasrdquo 45
Em 1532 quando Martim Afonso chegou a Satildeo Vicente encontrou um
nuacutecleo formado por portugueses espanhoacuteis indiacutegenas Essa localidade tambeacutem
jaacute era conhecida como a porta de entrada para o sertatildeo e o caminho natural para
se ir agrave Serra da Prata atraveacutes dos Peabirus (ver item abaixo)
32 O Peabiru uma trilha para o Sertatildeo Tendo em vista a importacircncia da existecircncia de caminhos indiacutegenas
denominados Peabirus como facilitadores da interligaccedilatildeo da Vila de Satildeo Paulo
(Campos de Piratininga) com a regiatildeo onde se localiza o morro de Araccediloiaba
entendemos ser importante discorrer a respeito destas vias
A respeito desse sistema de caminhos escreveu Adolpho Pinto em 1902
() havia estradas extensas construiacutedas pelo gentio comunicando
vaacuterios pontos do litoral com o mais longiacutenquo interior do paiz
podendo-se mesmo dizer que figurava como tronco desse primitivo
sistema de viaccedilatildeo geral uma grande estrada pondo em ligaccedilatildeo as
tribus da naccedilatildeo Guarany da bacia do Paraguay com a tribu dos 44Satildeo Vicente segundo Washington Luiacutes ldquojaacute era um porto conhecido com lugar marcado nos rudimentares mapas da eacutepoca uma espeacutecie de pequena feitoria portuguesa de iniciativa particular visitada de esquadras para o trafico de escravos se forneciam viveres agrave navegaccedilatildeo de longo curso se construiacuteam bergantins e se contratavam liacutenguas da terrardquo LUIZ Washington Na Capitania de Satildeo Vicente Satildeo Paulo Livraria Martins Editora1956 p47 A povoaccedilatildeo de Satildeo Vicente foi elevada agrave condiccedilatildeo de Vila em 1532 com a instalaccedilatildeo de oacutergatildeos administrativos e poliacuteticos como a Cacircmara e Cadeia transformando-a no primeiro nuacutecleo de colonizaccedilatildeo portuguesa do litoral 45 Os liacutenguas eram aqueles versados na liacutengua indiacutegena O Tupi era falado em Satildeo Paulo ateacute meados do seacuteculo XVIII Segundo John Monteiro ldquoo domiacutenio da liacutengua geral ou qualquer outra liacutengua indiacutegena era consideraacutevel uma respeitaacutevel especializaccedilatildeo e a fluecircncia numa dessas liacutenguas limitava-se apenas aos maiores sertanistasrdquo MONTEIRO John Negros da Terra iacutendios e bandeirantes nas origens de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1994 p164
86
Patos do litoral de Santa Catarina com os Carijoacutes de Iguape e
Cananeacuteia e com as tribus de Piratininga e do litoral proacuteximo
(GONCcedilALVES 1998 p8)
Em Satildeo Vicente o Peabiru constituiacutea o acesso obrigatoacuterio que do mar
seguia para os sertotildees do Planalto de Piratininga Construiacutedo de acordo com a
teacutecnica e a tradiccedilatildeo indiacutegena seguia os espigotildees dos morros de modo a evitar
terrenos iacutengremes embora em alguns trechos fossem inevitaacuteveis as encostas
com fortes declividades ((GONCcedilALVES 1998 p6 )
A partir do Planalto de Piratininga seguindo para o interior rumo ao Oeste
o caminho que levava ateacute a regiatildeo das minas de ferro era um Peabiru cuja trilha
contornava os morros do Apotribu no municiacutepio de Itu e alcanccedilava o morro de
Araccediloiaba no atual municiacutepio de Iperoacute interior de Satildeo Paulo
87
Fig 24 Peabiru (Tronco) Passando por Sorocaba (Galdino 2002 p182)
88
Fig 25 Mapa de Pasquale Petrone (GONCcedilALVES1998 p42)
89
33 O descobrimento da prata em Potosi
Em 1545 a Espanha anunciou o descobrimento na regiatildeo denominada de
Alto Peru (atualmente territoacuterio boliviano) de uma montanha denominada de
Potosi com 600 metros de altura onde ocorria uma importante jazida de prata
Diferentemente do que acreditavam portugueses e espanhoacuteis Potosi natildeo estava
localizada nem nas proximidades do rio da Prata nem na regiatildeo sul do continente
onde esperavam descobrir aquela lendaacuteria riqueza
Sergio Buarque de Holanda (1959 p 58) ao discorrer sobre aquela
descoberta escreve ldquotamanho era o prestiacutegio de Potosi que em pouco tempo a
velha atraccedilatildeo do ouro parece suceder facilmente a da pratardquo O ldquofeiticcedilo do Perurdquo
desencadeou um novo direcionamento da poliacutetica portuguesa com um maior
interesse da Coroa Portuguesa nos negoacutecios do Brasil e particularmente na
Capitania de Satildeo Vicente
Para dar maior incremento ao povoamento do interior foi instituiacutedo o
sistema de distribuiccedilatildeo de terras (Sesmarias) Uma dessas sesmarias foi doada a
Afonso Sardinha bandeirante que se destacou na atividade mineradora e
tambeacutem na vida poliacutetica da Vila de Satildeo Paulo na comercializaccedilatildeo com a regiatildeo
do Rio da Prata como proprietaacuterio de engenho de accediluacutecar traficante de escravos
africanos investidor financiador e produtor de ferro Foi um dos financiadores da
instalaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro que comeccedila a funcionar em 1607 46
Acreditava-se que o ldquoCerro de Potosirdquo natildeo ficava muito longe das terras da
Coroa Portuguesa sendo este um dos motivos que impulsionavam as ldquopessoas a
continuarem as buscas em direccedilatildeo do Oeste apesar dos repetidos
desapontamentosrdquo (BOXER 2002 p 45)
46 Afonso Sardinha recebeu suas terras de sesmarias no lugar denominado de Ubataacute abrangendo o atual Butantatilde que eacute o Ubataacute citado por Pedro Taques ou Ibatata Batata ou Ibitatatilde em documentos municipais seiscentistas e setecentistas HOLANDA Sergio Buarque de Caminhos e Fronteiras 1957 p 188
90
Um dos caminhos Peabiru que partindo de Satildeo Vicente demandava o
Potosi passava pela Vila de Satildeo Paulo e seguindo a direccedilatildeo Oeste contornava o
morro de Araccediloiaba onde em finais do seacuteculo XVI iniciou-se a produccedilatildeo de ferro
seguindo para a regiatildeo do Guairaacute (atual Estado do Paranaacute) ateacute alcanccedilar as terras
castelhanas
Pode-se dizer que a esperanccedila de encontrar minas de prata um Potosi em
terras de Satildeo Vicente persistiu ateacute o iniacutecio do seacuteculo XVIII quando de fato
foram encontradas minas de ouro pelos paulistas na regiatildeo dos atuais Estados de
Minas Gerais Mato Grosso e Goiaacutes 47
34 A busca de metais nobres na Capitania de Satildeo Vicente
Desde meados do seacuteculo XVI jaacute corriam notiacutecias sobre a possiacutevel
existecircncia de riquezas minerais no interior da Capitania Joseacute de Anchieta em
carta escrita em Satildeo Paulo de Piratininga em 1554 dava as primeiras
informaccedilotildees sobre as descobertas de minas de ouro prata e ferro48 Neste
mesmo ano o jesuiacuteta Pero Correa tambeacutem destacava a descoberta de mina de
ferro proacutexima daquele local 49
47 As minas de ouro localizadas pelos paulistas foram disputadas tambeacutem por portugueses e baianos e todos reivindicavam aquela descoberta Essa disputa culminou na chamada Guerra dos Emboabas na qual os paulistas foram derrotados As descobertas das minas de Mato Grosso e Goiaacutes marcaram o iniacutecio das monccedilotildees expediccedilotildees fluviais regulares que faziam a comunicaccedilatildeo entre Satildeo Paulo e Cuiabaacute O ouro encontrado onde hoje se ergue a cidade de Cuiabaacute foi achado por escravos do sorocabano Miguel Sutil em 1722 Sobre as Monccedilotildees ver HOLANDA Sergio Buarque de Monccedilotildees Rio de Janeiro Casa do estudante do Brasil 1945 48 Ver Carta do quadrimestre de maio a setembro de 1554 dirigida por Joseacute de Anchieta a Santo Ignaacutecio de Loyola Roma In Minhas Cartas por Joseacute de Anchieta Publicaccedilatildeo 450 anos p 153 49 Carta do Irmatildeo Pero Correa escrita a um padre do Brasil In CARTAS Avulsas 1550-1568Azpilculta Navarro e outros Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Edusp 1988 p 163-165
91
A respeito da pesquisa mineral na Capitania de Satildeo Vicente Heacutelio Vianna
escreve que com a intenccedilatildeo de investigar a existecircncia daquelas riquezas
ldquo() mandou o governo portuguecircs em 1559 um mineiro praacutetico
Luis Martins Por ordem do Governador Men de Saacute no ano
seguinte em Satildeo Vicente partiu ele para indeterminados pontos
do interior em uma leva organizada e dirigida por Braacutes Cubas
Regressando este a Santos em 1562 com algumas amostras de
metais e pedras que enviou ao Reino fez com que no mesmo
ano o mineiro voltasse as suas pesquisas Natildeo muito longe
ainda em terras vicentinas em Jaraguaacute talvez em Caatiba hoje
Bacaetava encontrou afinal o desejado ouro Explorou-o
inicialmente o proacuteprio Braz Cubas depois associado ao Capitatildeo
Mor Jerocircnimo Leitatildeordquo (VIANNA 1972 p 215)
35 D Francisco de Souza a organizaccedilatildeo da exploraccedilatildeo mineral De 1598 eacute a primeira referencia a ldquocertos lsquomontes de Sabaroasonrsquo de
onde um mameluco teria extraido amostras de metal que levadas a Bahia ao
Governador D Francisco de Sousa determinaram a vinda deste a Satildeo Vicenterdquo (VIANNA 1972 p 215)
D Francisco de Sousa Seacutetimo Governador Geral do Brasil (1591-1602) e
a partir de 1606 Governador das Minas das Capitanias do Sul 50 promoveu e
organizou vaacuterias expediccedilotildees ao sertatildeo destinadas a descobrir e explorar minas de
ouro e prata e outros metais Tais atividades eram apresentadas como parte de
50 As Capitanias do Sul correspondiam agraves Capitanias do Espiacuterito Santo Rio de Janeiro e Satildeo Vicente
92
seu projeto de desenvolvimento no qual tambeacutem estava inserido o setor de
agricultura e induacutestria sustentado com base no trabalho indiacutegena 51
A sua maior contribuiccedilatildeo decorre do fato de ter exercido o cargo de
Governador das Minas e de ter se fixado na Capitania de Satildeo Vicente mais
especificamente na Vila de Satildeo Paulo de onde provinham as notiacutecias da
existecircncia de minas de ouro prata e ferro
D Francisco veio para Satildeo Paulo munido de poderes que lhe permitiam
distribuir mercecircs agravequeles que tivessem trabalhado na exploraccedilatildeo das minas
Conforme o Regimento que jaacute vigorava no Peru e nas Iacutendias de Castela o
explorador haveria de aplicar seus proacuteprios recursos na busca e exploraccedilatildeo das
jazidas A contrapartida que poderia ser dada pelo Rei estava no fornecimento
de algumas comodidades e mercecircs (STELLA 2000 p 119)
Atraveacutes de Alvaraacutes D Francisco podia nomear uma quantidade
determinada de pessoas com tiacutetulos de nobreza Estas atribuiccedilotildees fizeram com
que muitos moradores da Vila de Satildeo Paulo despendessem de seus proacuteprios
recursos materiais e de indiacutegenas para organizar expediccedilotildees em buscas daqueles
metais
Em 1599 D Francisco esteve no morro de Araccediloiaba para verificar a
autenticidade e a natureza daquela mina que diziam ter ferro ouro e prata Para
viajar ateacute aquele local enfrentando toda a sorte de perigos D Francisco precisou
solicitar ajuda dos moradores de Satildeo Paulo 52
51 Quando no Cargo de Governador Geral Francisco de Souza conduzido pela esperanccedila de encontrar na regiatildeo das cabeceiras do rio Satildeo Francisco a lendaacuteria Sabarabuccediluacute (uma serra de prata e esmeraldas) organizou em 1596 trecircs entradas ao sertatildeo com saiacutedas da Bahia Espiacuterito Santo e Satildeo Paulo respectivamente A vertente paulista foi chefiada por Joatildeo Pereira de Sousa Botafogo e contava com 25 colonos e seus respectivos iacutendios A maioria desta expediccedilatildeo regressou a Satildeo Paulo ldquosatisfeita com os tupinambaacutes que haviam capturado no vale do Paraiacutebardquo MONTEIROJohn Negros da Terra iacutendios e bandeirantes nas origens de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1994 p 58-68 52 PEREIRA Antonio Batista Carta a Paulo Duarte apud Donato Hernani Sumeacute e Peabiru misteacuterios maiores do seacuteculo da descoberta SP ediccedilotildees GRD 1997 p91
93
Aracy Amaral ao analisar a gestatildeo de D Francisco de Sousa como
Governador das Minas das Capitanias do Sul opina que esse administrador
() representa o veiacuteculo que transportou para Satildeo Paulo uma
experiecircncia uma mentalidade que Castela desde haacute muito
desenvolvia no Meacutexico e no Peru As concessotildees e privileacutegios que
obteve do Rei faziam parte de uma legislaccedilatildeo empregada com
sucesso naqueles domiacutenios Essa nova mentalidade estava
intimamente relacionada com os negoacutecios da mineraccedilatildeo e esse jaacute
chamado de ldquoeldorado-maniacuteacordquo que foi D Francisco tambeacutem
denominado por Taunay de ldquopropulsor dos paulistasrdquo seguia sem
duacutevida a diretriz apontada pelos Felipes (AMARAL 1981 p 13)
Apoacutes a Restauraccedilatildeo Portuguesa em 1640 as buscas pelo ouro e pela
prata permaneceram assim como as concessotildees de mercecircs para aqueles que
descobrissem minas ou incentivassem outros a descobri-las Para Ilana Blaj isso
tudo era ldquoum universo de honra de siacutembolos de dignidade e de prestiacutegio que a
elite perseguia e que a Coroa concedia estreitando ainda mais os laccedilos de
vassalagem no interior do Impeacuteriordquo Sintetizando a autora afirma que ldquoescravos
terra dignidade honrarias e prestiacutegio constituiacuteram os fundamentos da sociedade
colonial brasileirardquo (BLAJ 2002 p 322-338)
Em 1611 D Francisco de Sousa falece na mais extrema pobreza O
mesmo destino que tiveram outros que laacute apostaram na metalurgia Frei Vicente
do Salvador contemporacircneo de D Francisco descrevendo a situaccedilatildeo afirmou
que
() estando tatildeo pobre que affirmou um padre da Companhia que
se achava com elle a sua morte que nem uma vela tinha para lhe
metterem na matildeo si a natildeo mandara levar do seu convento mas
quereria deusalumia-lo em aquelle tenebroso transe por outras
muitas que ainda levado deante de muitas esmolas e obras de
piedade que sempre fez (FRANCO 1929 p 135)
94
36 Teacutecnicos e praacuteticos na mineraccedilatildeo e metalurgia Na Vila de Satildeo Paulo e tambeacutem no Sertatildeo as forjas de ferreiro se
instalaram desde cedo As atividades desses ferreiros se concentravam na
fabricaccedilatildeo de ferramentas como foices machados cravos e anzoacuteis utilizando
ferro em barra ou em lingotes trazido da Europa que eram aqui refundidos em
fornos de forja
Em 1553 Manoel da Noacutebrega noticia a presenccedila de ldquotendas de ferreirordquo
como um dos instrumentos levados nas expediccedilotildees ao Sertatildeo (NEME 1959
p158) Em 1584 trabalhavam em Satildeo Paulo trecircs ferreiros (HOLANDA 1957
p186)
Gilberto Freyre em seu trabalho Ferro e Civilizaccedilatildeo no Brasil (1988 p249-
251) destaca como conhecedor do trabalho com o ferro natildeo somente o colono
portuguecircs como tambeacutem os padres da Companhia de Jesus Para esse autor
ambos haviam iniciado seus saberes com ibeacutericos os quais haviam desenvolvido
as ldquoferreriacuteasrdquo os ldquohornosrdquo e aperfeiccediloado as teacutecnicas de fundiccedilatildeo com o ldquohorno
catalaacutenrdquo Entre os conhecedores de metalurgia estava o jesuiacuteta Joseacute de Anchieta
o qual como jaacute destacamos havia informado em 1554 a existecircncia de mineacuterios
nobres e do ferro nas imediaccedilotildees de Satildeo Paulo 53
Diferentemente do que ocorreu nas colocircnias espanholas da Ameacuterica os
indiacutegenas que aqui foram encontrados natildeo tinham conhecimento metaluacutergico e
portanto natildeo utilizavam nenhuma teacutecnica de fundiccedilatildeo que pudesse ser adaptada
aos interesses do colonizador
Quanto ao conhecimento e a exploraccedilatildeo do mineacuterio e produccedilatildeo do ferro as
teacutecnicas necessaacuterias eram totalmente desconhecidas no Novo Mundo Sendo
53 Joseacute de Anchieta era descendente de bascos seus pais eram de Guipuacutezcoa Proviacutencia do Paiacutes Basco BARBOSA Francisco de Assis Dom Joatildeo VI e a Siderurgia no Brasil Rio de JaneiroBiblioteca do Exercito 1958 p 26
95
assim podemos afirmar que essa teacutecnica foi totalmente trazida pelos europeus
em especial pelos espanhoacuteis
Logo apoacutes a Uniatildeo Ibeacuterica (1580-1640) foi encaminhada para as terras das
colocircnias da Ameacuterica a armada de Diego Flores Valdeacutes 54 A passagem de Valdeacutes
em Satildeo Vicente em 1583 revela o interesse pelas riquezas minerais na regiatildeo
sendo que por este motivo solicita agrave Coroa a vinda de teacutecnicos e especialistas em
minas para dar iniacutecio agrave exploraccedilatildeo das jazidas descobertas Ao mesmo tempo
alerta sobre a necessidade de fortificar Satildeo Vicente pois alegava que ldquohay
camino abierto por tierra que va al Rio de La Plata y al Paraguay y a Sancta Feerdquo
(GONZALEZ 2002 p 46)
Alguns autores atribuem a presenccedila do praacutetico Clemente Aacutelvares nas
expediccedilotildees de Sardinha e seu filho55 Em 1606 Clemente Aacutelvares afirmava que
estava haacute quatorze anos dedicando-se ao descobrimento de minas de ouro e
para isso utilizara seus proacuteprios recursos Ao registrar as minas que ele afirmava
ter descoberto no Jaraguaacute Parnayba e Ybituruna para natildeo perder os direitos
sobre elas afirmava que natildeo entendia de metalurgia ldquosenatildeo por notiacuteciardquo e que
natildeo era um oficial fundidor ou ensaiador 56
Os mineiros vindos do reino foram trazidos por D Francisco de Sousa com
a funccedilatildeo de verificar a autenticidade e a natureza das minas descobertas no
Brasil e nas imediaccedilotildees da Vila de Satildeo Paulo Os homens que acompanharam
em 1591 em sua vinda ao Brasil foram o castelhano Agostinho de Souto Maior
(que havia trabalhado anteriormente em Monomotapa ndash Moccedilambique colocircnia
portuguesa que possuiacutea minas e a metalurgia do ferro e do ouro) o qual foi
nomeado para o cargo de provedor das minas do Brasil Christovam o qual era
54 A armada de Diego Flores Valdeacutes foi enviada para o Estreito de Magalhatildees para iniciar a sua ocupaccedilatildeo e povoamento com a finalidade de estabelecer uma defesa das terras do Impeacuterio Espanhol onde jaacute se havia iniciado a exploraccedilatildeo das minas de prata de Potosi 55 Clemente Aacutelvares paulista mineiro praacutetico e sertanista Em 1634 ainda estava se dedicando agrave busca pelo descobrimento de minas Faleceu em 1641 56 Ver Registro de minas de Clemente Aacutelvares em 16 de dezembro de 1606 ATAS DA CAMARA DA VILA DE SAtildeO PAULO vol II Satildeo PauloA Cacircmara 1917 p 171-173
96
lapidaacuterio de esmeraldas e Joatildeo Correa para seria nomeado feitor das minas de
ferro 57
Para Satildeo Paulo enviados por Francisco de Sousa vieram os mineiros
Gaspar Gomes Moalho Miguel Pinheiro Zurara e o fundidor Domingos Rodrigues
Em 1592 Jacques de Oalte mineiro alematildeo o engenheiro tambeacutem alematildeo
Giraldo Betink o cirugiatildeo Joseacute Serratildeo o mestre fundidor flamengo Corneacutelio de
Arzatildeo e o engenheiro e arquiteto-mor florentino Baccio de Filicaya tambeacutem
mineiro de ouro o qual recebeu de D Francisco de Souza o cargo de engenheiro-
mor Felicaya restaurou e construiu algumas fortalezas e trabalhou durante cinco
anos no descobrimento de minas Aparece registrado no Rio de Janeiro em 1596
como arquiteto fortificador (TAUNAY 2003 p409)
Destaca-se tambeacutem ainda na gestatildeo de D Francisco a presenccedila do
mineiro castelhano Manoel Joatildeo Branco (ou Morales) que foi enviado em
companhia de um outro mineiro de prata ao morro de Araccediloiaba para examinaacute-la
Este mineiro acabou por confirmar que aquela Serra era ldquoriquiacutessima de yerrordquo58
37 A Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro
No iniacutecio do seacuteculo XVII as jazidas de ferro que haviam sido identificadas
nas imediaccedilotildees da Vila de Satildeo Paulo comeccedilaram a ser beneficiadas por Diogo de
Quadros atraveacutes da construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro a qual
comeccedilou a funcionar em 1607 A Ferraria de Santo Amaro foi redescoberta em
1967 por Jesuiacuteno Felicissiacutemo Juacutenior e documentada nas ediccedilotildees de 5 e 6 de
janeiro deste mesmo ano no jornal Diaacuterio de Satildeo Paulo por Manoel Rodrigues
Ferreira ( FELICIacuteSSIMO1969 p14)
57 No mesmo ano em que D Francisco de Souza veio para o Brasil para assumir o cargo de Governador Geral tambeacutem retornava da Espanha Gabriel Soares de Souza o qual se dedicou agrave busca de minas autor de Tratado Descritivo do Brasil de 1587 58 Ver Carta de Manuel Joatildeo Branco Morales a D Felipe IVCORTESAtildeOJaime Jesuiacutetas e Bandeirantes no Guairaacute Rio de Janeiro Biblioteca Nacional 1951 p 182
97
Esta Faacutebrica foi construiacutedo na freguesia de Santo Amaro pela sociedade
formada em 1609 entre Diogo de Quadros juntamente com Francisco Lopes
Pinto e D Antonio de Souza filho de D Francisco de Sousa
Para dar andamento a esse projeto Diogo de Quadros obteve em 1604
de D Felipe III o cargo de provedor das minas da Capitania de Satildeo Vicente e a
concessatildeo de montar e explorar fundiccedilotildees de ferro no Brasil (NEME 1959
p353)
Segundo informaccedilotildees oferecidas por Wilhelm Ludwig Von Eschwege
(1777-1855) a Faacutebrica de Santo Amaro foi construiacuteda agrave beira de um pequeno
ribeiratildeo afluente do rio Pinheiros navegaacutevel a uma distacircncia de duas leacuteguas SE
de Satildeo Paulo Para Eschwege ldquoa situaccedilatildeo dessa pequena faacutebrica era
conveniente porque as margens dos rios proacuteximos estatildeo cobertas de matas
cerradas podendo o carvatildeo ser transportado por via fluvial e mesmo o produto
manufaturado que por essa via podiam ser levados ateacute a serra do Cubatatildeo e
para o interior ateacute o Tietecircrdquo (ESCHWEGE 1944 p336)
Aleacutem desse aspecto a Faacutebrica contava com apoio da Coroa recebendo
dos almoxarifados de Satildeo Vicente Bahia e Rio de Janeiro todas as ferramentas
de ferro que estavam disponiacuteveis e poderiam ser aproveitadas para o trabalho de
fundiccedilatildeo daquele metal Das ferramentas entregues para Diogo de Quadros em
1605 foram arrolados
dous malhos q podiatildeo pesar pouco mais ou menos entre ambos
trecircs quintais e por quintal a razatildeo de trecircs mil reis mais duas
argolas grandes da mesma ferramenta q podiatildeo pezar pouco
mais ou menos trecircs quintaes ao mesmo preccedilo mais duas Cafras
(bigornas) que podiam pezar outros quintaes ao mesmo preccedilo
mais duas chapas pequenas q cada hua pezava duas arrobas no
mesmo preccedilo mais duas chapas grandes q cada hua podia
pezar pouco mais ou menos hum quintal cada hua as quaes
todas juntas podem pezar pouco mais ou menos doze quintais
98
que a razatildeo dos ditos traacutes mil reis por quintal fazem a soma de
36$000 rs 59
Os indiacutecios da presenccedila e utilizaccedilatildeo da roda para fins de produccedilatildeo nesta
Faacutebrica satildeo tambeacutem reforccedilados pelas observaccedilotildees feitas por Eschwege em seu
livro Pluto Brasiliensis onde afirmava que ainda se podia ver ldquoa vala da roda o
lugar da oficina os restos de um accedilude assim como um monte de pesada escoacuteria
de ferrordquo ((ESCHWEGE 1944 p336)
Essas mesmas informaccedilotildees podem ser observadas em um levantamento
topograacutefico realizado em princiacutepios do seacuteculo XIX pelo topoacutegrafo portuguecircs
Rufino Joseacute Felizardo e Costa segundo tenente do Real Corpo de Engenheiros
Rufino provavelmente veio ao Brasil como membro do grupo de engenheiros
militares que constituiacuteram em meados do seacuteculo XVIII as ldquoMissotildees
Demarcatoacuterias destinadas a dar cumprimento aos Tratados de Limites relativos agraves
terras da Ameacuterica celebrados entre Portugal e Espanhardquo 60
O levantamento topograacutefico em questatildeo intitulado ldquoprospecto das ruiacutenas
da antiga faacutebrica de ferro de Santo Amarordquo apresenta uma planta dessa faacutebrica jaacute
em ruiacutenas e sua localizaccedilatildeo proacutexima aos rios ldquodos Pinheirosrdquo e Santo Amaro aleacutem
dos terrenos no seu entorno onde se observa a presenccedila de matas minas de
ferro e canais de derivaccedilatildeo de aacuteguas daqueles rios em direccedilatildeo ao edifiacutecio
confirmando as observaccedilotildees feitas por Eschwege que observou inclusive a
existecircncia da ldquovala da rodardquo (HOLANDA 1957 p188-189)
59Ver Provisatildeo passada por Diogo Botelho a Diogo de Quadros 1605 CLETTO Marcelino Pereira A respeito da Capitania de Satildeo Paulo Sua decadecircncia e modo de restabelececirc-la Santos 25 de outubro de 1782 Annaes da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro vol XXI Rio de Janeiro Typografia Leuzinger 1900 60 TOLEDO Benedito Lima de A Accedilatildeo dos Engenheiros Militares na Ordenaccedilatildeo do Espaccedilo Urbano no Brasil Lisboa 2000 lthttpurbaniscteptRevistanumero4artigosartigo_08htmgt Aceso em 16 de maio de 2006 Os tratados mencionados por Toledo satildeo o Tratado de Madri (1750) e do segundo o Tratado de Santo Ildefonso (1777)
99
Fig 27 Prospecto das ruiacutenas da antiga Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro Rufino Joseacute Felizardo seacutec XIX (HOLANDA1957)
38 A Faacutebrica de Ferro do morro de Araccediloiaba os empreendedores
Afonso Sardinha foi personagem importante na atividade de mineraccedilatildeo do
ouro e do ferro no periacuteodo compreendido entre a segunda metade do seacuteculo XVI
e inicio do seacuteculo XVII sendo um dos primeiros empreendedores da exploraccedilatildeo e
produccedilatildeo de ferro no morro de Araccediloiaba Foi tambeacutem um dos financiadores do
empreendimento da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro Em 1601 recebeu de
Francisco de Souza um regimento que permitia o acesso agraves minas jaacute descobertas
e a descobrir61 Ressalte-se que essa mesma provisatildeo natildeo permitia a ele
ldquoentabularrdquo as minas encontradas as quais deveriam ser trabalhadas somente
apoacutes inspeccedilatildeo feita por mineiros vindos do Reino
61 Ver Regimento do Capitatildeo Diogo Gonccedilalves Laccedilo que lhe deu o Senhor Governador Dom Francisco de Souza DERBY Orville A As Bandeiras paulistas de 1601 a 1604 Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo vol VII Satildeo Paulo Typ Do Diaacuterio Official 1903 p 403
100
Joseacute Monteiro Salazar citando Pedro Taques e outros historiadores
aponta o ano de 1597 para o inicio das atividades da exploraccedilatildeo e fabricaccedilatildeo do
ferro em Araccediloiaba sendo que o empreendimento esteve em atividade ateacute o ano
de 1611 coincidindo com o ano da morte de D Francisco de Sousa
Somente em 1684 surge uma segunda tentativa de exploraccedilatildeo das minas
de Araccediloiaba financiada pela Coroa Portuguesa Para tanto foi enviado agravequele
local o Frei Pedro de Sousa com a finalidade de pesquisar a existecircncia de prata
nas jazidas que estava sendo explorada por Luiz Lopes de Carvalho o qual
contava com matildeo de obra indiacutegena
Entretanto apoacutes ter retirado algumas amostras do mineacuterio na jazida elas
foram ensaiadas poreacutem natildeo foi encontrada a prata motivo pelo qual foi
ordenada pelo Conselho Ultramarino a suspensatildeo daquelas pesquisas
(RODRIGUES 1966 p202)
Na sequumlecircncia o empreendedor Luiz Lopes de Carvalho que administrava
aquela mina retomou a exploraccedilatildeo do mineacuterio de ferro cuja existecircncia jaacute era
comprovada para cuja atividade obteve licenccedila concedida pela Coroa Para
realizar as obras necessaacuterias para o seu empreendimento foi obrigado a
hipotecar em 1681 todas as suas propriedades na Vila do Vimieiro em Portugal
(RODRIGUES 1966 p 214-217)
Em carta escrita no Rio de Janeiro em 1692 ao Rei de Portugal noticiava o
fracasso de seu empreendimento com o esgotamento dos recursos financeiros
Assim descreve
penetrei os Sertotildees mais ragozos so habitado de feras padecendo
as inclemecircncias qe experimentatildeo os q com zello e amor da paacutetria
lhe querem descubrir nossos Thezouros Todas estas calamidades
101
padeci por que haverem persuadido e ter achado alguns Roteiros62
q insinuavatildeo partes e serr[dilacerado] aonde em algum tempo se
achavatildeo Signais evidentes de minas de prata e esmeraldas E por
me esgotar o Cabedal proacuteprio e nam achar q me animasse com
algum socorro vim a entender q e Deus nosso Sr Tem guardado
essa fortuna pa outro q mais lho mereccedila Nestas entradas ao
Sertatildeo fui dar com a dictas Serras de Birasuaiava aonde estatildeo as
minas de ferro que na calidade e fertilidade desse groseiro metal
excede a todos asqe por haver no descuberto (RODRIGUES
1966 p217-219)
Naquele mesmo documento Luiz Lopes de Carvalho discorre sobre as
dificuldades teacutecnicas e materiais que havia enfrentado e destaca que para a
continuidade daqueles trabalhos faltara-lhe a matildeo de obra indiacutegena e um mestre
em fundiccedilatildeo que sugere deveria ser de Figueiroacute (Portugal) Biscaia (Espanha)
Alemanha ou Sueacutecia Aleacutem disso indicava que os fornos de fundiccedilatildeo que ali
deveriam ser instalados fossem do mesmo tipo empregado nas ferrarias de
Figueiroacute em Portugal (RODRIGUES 1966 p217-220)
Nova tentativa de exploraccedilatildeo daquela mina de ferro deveu-se ao portuguecircs
Domingos Pereira Ferreira em 1763 o qual organizou em Lisboa uma companhia
por accedilotildees para a construccedilatildeo de uma faacutebrica de ferro em Araccediloiaba 63 Para
viabilizar esse empreendimento recebeu uma concessatildeo de Sesmarias localizada
junto a mina de ferro para explorar a madeira necessaacuteria agrave fundiccedilatildeo 64
62 Esses roteiros - ou ldquomapas do tesourordquo - parecem ter sido frequumlentes na histoacuteria da mineraccedilatildeo colonial Haacute indicaccedilotildees de roteiros elaborados por Gabriel Soares de Souza para as minas de Sabarabassuacute 63 Foram soacutecios de Pereira Ferreira Matheus Lourenccedilo de Carvalho Caoitatildeo-mor Manoel de Oliveira Cardozo Antonio Lopes de Azevedo Capitatildeo Jacinto Jose de Abreu Silveacuterio Thomaz de Oliva Doacuteria Joatildeo Fritz Gerald (este natildeo participou da Sociedade por ser estrangeiro ndash inglecircs) e o Sargento Mor Antonio Francisco de Andrade Traslado da Escritura de Contrato da Sociedade e Companhia que Fazem Domingos Pereira Ferreira (RODRIGUES 1966 p 228-238) 64 Carta de Sesmaria a Domingos Ferreira Pereira e seus soacutecios de um morro cito termo da Vila de Sorocaba para dele se extraiacuterem lenha para a Faacutebrica de caldear o ferro que ali se pretende erigir por ordem de S Magestade (1767) Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Sesmaria Patente e Provisatildeo Livro n17 p 125 v
102
Em dezembro de 1765 o Capitatildeo-General de Satildeo Paulo encaminhava ao
Conde de Oeiras amostra do ferro que Domingos Ferreira Pereira extraiacutera e
caldeara nas serras de Araccediloiaba Neste mesmo ano chegou a receber
encomendas de Diogo Lobo da Silva Capitatildeo General de Minas Gerais para a
fabricaccedilatildeo de armamentos tais como balas bombas e granadas aleacutem de
municcedilotildees Contudo esses armamentos natildeo chegaram a serem fabricados
Para viabilizar a produccedilatildeo do ferro trouxe de Portugal o mestre fundidor
Joatildeo de Oliveira Figueiredo poreacutem este decidiu abandonar aquele local com a
intenccedilatildeo de se mudar para Angola em 1767 Contudo quando jaacute se encontrava
no Rio de Janeiro foi preso e trazido de volta para Araccediloiaba sob a justificativa de
que ldquosem ele natildeo se poderiam por em praacutetica as experiecircnciasrdquo (CALOacuteGENAS
1904 p37)
O relatoacuterio encaminhado no ano de 1768 por Luiz Antonio de Souza ao
Conde de Oeiras em Portugal informava que o empreendimento de Pereira
Ferreira mostrava dificuldades em conseguir produzir um ferro de boa qualidade
mesmo tendo sido realizado por diversas vezes experiecircncias com o material pois
ldquonatildeo era possiacutevel acertar a caldeaccedilatildeo do ferro nem fazecirc-lo igual as primeiras
amostrasrdquo 65
Pereira Ferreira permanece naquela atividade durante dez anos sendo que
depois desse tempo vendeu a propriedade a Vitoriano Joseacute Sentena morador de
Viamatildeo Este empreendedor tambeacutem natildeo obteve sucesso nesta atividade
culminando por abandonaacute-la quatro anos apoacutes o seu iniacutecio (RODRIGUES 1966
p205-210)
No ano de 1784 Claacuteudio de Madureira Calheiros capitatildeo-mor da vila de
Sorocaba encaminha uma peticcedilatildeo a Martinho de Mello e Castro para explorar
aquelas jazidas Contudo esse projeto natildeo foi aprovado (RODRIGUES 1966 p
212) 65 ver Carta de Luiz Antonio de Souza ao Conde de Oeiras Satildeo Paulo 3 janeiro de 1768 In Dossiecirc Ipanema Arquivo do Museu Quinzinho de Barros ndash Sorocaba-SP
103
Em 1788 com aquele mesmo objetivo foi encaminhada a Bernardo Joseacute
de Lorena uma peticcedilatildeo onde o capitatildeo-mor de Sorocaba Claacuteudio da Cunha Oeiras
e o de Itu Vicente da Costa Taques Goacuteis e Aranha pela qual solicitavam
autorizaccedilatildeo para explorar e fabricar o ferro em Araccediloiaba Tambeacutem solicitavam a
vinda do Reino de ldquoum mestre inteiramente perito naquela arterdquo Juntaram agrave
peticcedilatildeo uma amostra de barra de ferro que diziam terem obtido naquele local
Este projeto tambeacutem natildeo foi viabilizado (RODRIGUES 1966 p212)
39 A Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema
Jaacute no final do seacuteculo XVIII destaca-se a vinda do ldquoquiacutemicordquo Joatildeo Manso
Pereira Diretor Geral das Minas para examinar as jazidas de ferro do morro de
Araccediloiaba e acompanhar os trabalhos de demarcaccedilatildeo dos terrenos nos quais
iriam ser instaladas as edificaccedilotildees da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
Tambeacutem realizou alguns ensaios com aquele mineacuterio mediante a construccedilatildeo de
um alto forno acionado com um fole manual
A esse respeito relata Eschwege (1944 p340) que conheceu Joatildeo Manso
Pereira que durante a primeira experiecircncia para a fundiccedilatildeo do ferro muitas
pessoas das vizinhanccedilas foram atraiacutedas para o local poreacutem ao final do teste
nenhum ferro foi produzido Manso entatildeo fugiu do local e os convidados tiveram
que voltar para as suas casas Eschwege lembrava que Manso ao recordar
aquele fato ldquoria-se gostosamente de toda aquela histoacuteria tendo chegado agrave
conclusatildeo de que para fabricar ferro em grande escala natildeo bastavam
conhecimentos de quiacutemicardquo
Em 1802 Manso Pereira natildeo havia apresentado nenhum resultado
satisfatoacuterio e foi destituiacutedo do cargo assumindo em seu lugar Francisco Ribeiro
de Andrade (FRAGA 1968 p 33-48)
104
Segundo o Governador D Rodrigo de Souza Coutinho Joatildeo Manso
Pereira
longe de ser hum verdadeiro chimico natildeo era senatildeo hum
Alquimista que debaixo de certos misteacuterios pretendia inculcar-se
sem ter os necessaacuterios conhecimentos para Inspector e dirigir a
mesma obra tendo toda a esperanccedila que entre os artistas que
pedia que viesse algum que soubesse tractar a referida Mina e
desta sorte colher o Laurel de que os outro se fazia digno
(FRAGA1966 p46)
No iniacutecio do seacuteculo XIX Martim Francisco Ribeiro de Andrada escolhe a
regiatildeo junto ao ribeiratildeo Ipanema para sediar as futuras instalaccedilotildees da faacutebrica de
ferro que estavam autorizadas em 1799 a Joatildeo Manso Pereira Atraveacutes de um
contrato realizado em Estocolmo em 1810 entre Dom Joaquim Lobo de
Saldanha ministro portuguecircs em Londres e o sueco Carlos Gustavo Hedberg
foram iniciados os trabalhos para a construccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro de
Ipanema
Fig 28 Vista da Faacutebrica de Ferro de Ipanema 1827 Acervo Projeto Arqueologia Histoacuterica Museu Paulista-USP
105
Fig 29 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro e Ipanema seacuteculo XIX
Fig 30 Altos fornos geminados construiacutedos por Varnhagem 1818
106
Fig 31 Alto forno construiacutedo pelo Cel Mursa 1888
Em 1815 Frederico Guilherme Varnhagen assume o cargo de Diretor da
Real Faacutebrica e em 1818 constroacutei dois altos-fornos para a produccedilatildeo de ferro
gusa os primeiros do Brasil Joaquim de Souza Mursa Diretor de Ipanema entre
1865-1890 construiu outro alto-forno e natildeo chegou a funcionar Em 1895 jaacute no
periacuteodo republicano Prudente de Moraes decreta a desativaccedilatildeo de Ipanema
Em 1929 tiveram iniacutecio experiecircncias para o aproveitamento da apatita
jazida descoberta em 1890 por DacuteOrville Derby Esse mineacuterio foi explorado ateacute
1944 por uma firma particular para a produccedilatildeo do superfosfato Mas jaacute em 1937
o acervo e aacuterea ocupada pela antiga Faacutebrica de Ferro passaram ao Ministeacuterio da
Agricultura que em 1947 instalou ali a Estaccedilatildeo Experimental do Trigo
107
Uma quarta fase da histoacuteria de Ipanema comeccedilou logo no iniacutecio dos anos
50 quando foi estabelecido o Plano Nacional da Induacutestria de Tratores e instituiacuteda
a obrigatoriedade de ensaios para tratores maacutequinas e ferramentas agriacutecolas
importados ou fabricadas no Brasil Ao mesmo tempo seguiram as atividades de
produccedilatildeo de sementes O estabelecimento passou a denominar-se CENTRI -
Centro Nacional de Ensaios e Treinamento Rural de Ipanema
A partir de 1975 foi criado o CENEA ndash Centro Nacional de Engenharia
Agriacutecola junto ao qual foi realizado em 1983 o convecircnio com o Museu Paulista-
Universidade de Satildeo Paulo para a realizaccedilatildeo da pesquisa arqueoloacutegica Em 1992
passou a integrar uma das aacutereas de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental do IBAMA
com a denominaccedilatildeo de FLONA ndash Floreta Nacional de Ipanema O Siacutetio Afonso
Sardinha foi registrado no IPHAN pela Professora Doutora Margarida Davina
Andreatta em 1997
108
Fig 32 ROTEIRO HISTORICO DA MINERACcedilAtildeO E METALURGIA PAULISTA
109
CAPIacuteTULO 4
O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 41- Localizaccedilatildeo O vale das Furnas eacute uma aacuterea privilegiada por sua geografia devido agrave
presenccedila do mineacuterio de ferro em suas cabeceiras e de uma diversificada
quantidade de rochas dentre elas o arenito que foi utilizado como material de
construccedilatildeo na forma de blocos para paredes e fornos Destaca-se a rede
hidrograacutefica que apresenta dois rios importantes como o Ipanema e o Sarapuhy
que contornam o morro de Araccediloiaba indo desaguar no rio Sorocaba A bacia do
ribeiratildeo do Ferro ocupa uma aacuterea importante dentro do morro de Araccediloiaba
porque eacute ela que drena a regiatildeo onde afloram os minerais de ferro sendo que a
topografia acidentada do seu leito possibilitou a implantaccedilatildeo de estruturas de
aproveitamento hidraacuteulico A regiatildeo apresentava significativa aacuterea coberta de
matas as quais foram transformadas desde finais do seacuteculo XVI em carvatildeo
vegetal o uacutenico combustiacutevel utilizado para a produccedilatildeo de ferro ateacute finais do
seacuteculo XIX
O morro de Araccediloiaba eacute conhecido tambeacutem pela denominaccedilatildeo de morro do
Ipanema toponiacutemico indiacutegena de Ypanema ndash Y= rio aacutegua + panema = sem valor
ou ainda aproximadamente sem peixes significando assim ldquorio sem valorrdquo ou
ldquorio sem peixesrdquo A denominaccedilatildeo Araccediloiaba (ldquoo lugar que esconde o Solrdquo)
aparece desde o seacuteculo XVI em documentos datados com variantes como
Arraraccediloiaba Byraccediloiaba Ibyraccediloiaba Guaccediloiava (SALAZAR 1997 p17)
Ocupa uma aacuterea isolada no interior de uma extensa bacia sedimentar que os
geomorfoacutelogos denominam de ldquoDepressatildeo Perifeacuterica Paulistardquo pertencente agrave
Bacia do Paranaacute Esta aacuterea constitui um ldquohorst docircmicordquo em razatildeo do seu formato
110
arredondado que lembra estruturas de coberturas do tipo domos (DAVINO 1975
p130)
Do ponto de vista geoloacutegico o morro eacute uma formaccedilatildeo montanhosa
resultante de ldquofenocircmenos de intrusotildees de rochas alcalinas que ocorreram
associadas agraves atividades tectocircnicas do Arco de Ponta Grossa no periacuteodo
denominado Cretaacuteceo Inferiorrdquo66 contemporacircneo do vulcanismo basaacuteltico na
regiatildeo Sudeste ndash Sul do Brasil A intrusatildeo magmaacutetica de Ipanema ocupa aacuterea
aproximadamente circular de nove quilocircmetros quadrados Sua maior altitude estaacute
em 970 metros sendo que dele ldquoeacute possiacutevel observar um dos trechos do vale do
Meacutedio - Tietecirc como tambeacutem trecircs importantes unidades de relevo do Estado de
Satildeo Paulo a Depressatildeo Perifeacuterica o Planalto Atlacircntico e as Cuestas Arenito ndash
Basaacutelticas no caso a Serra do Botucatu (CARPI JR 2002 p1)
Estaacute situado no centro-sul da Depressatildeo Perifeacuterica Paulista na Latitude
sul 23ordm25rsquo 23ordm17rsquo Longitude 47ordm35rsquo WGr 47ordm40rsquo WGr no municiacutepio de Iperoacute-
SP entre Sorocaba e Boituva a cerca de 125 km da Cidade de Satildeo Paulo
Encontra-se ainda dentro de uma aacuterea de proteccedilatildeo ambiental com 506973
hectares pertencente ao FLONA Ipanema Floresta Nacional de Ipanema do
IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renovaacuteveis) criada em 1992 para preservar e conservar um dos maiores
fragmentos de Mata Atlacircntica do Estado de Satildeo Paulo bem como aacutereas de
66 ldquoDuas medidas efetuadas no Laboratoacuterio de Geocronologia da USP segundo o meacutetodo do potaacutessio-argocircnico indicaram para as rochas alcalinas de Ipanema idade cretaacutecea inferior Estas determinaccedilotildees foram feitas em biotita contidas em shonkinitos-poacutertirosrdquo (DAVINO1975)
111
cerrado vaacuterzea e os ecossistemas associados67
67 A FLONA ndash Floresta Nacional de Ipanema possui plantas e fauna de grande representatividade tendo catalogado mais de 200 espeacutecies de aves 52 de mamiacuteferos 18 de anfiacutebios 15 de reacutepteis e 35 de peixes que totalizam 216 da riqueza do estado de Satildeo Paulo Caracteriacutesticas do relevo Ateacute 600 metros ndash vaacuterzea dos principais rios como Ipanema e Verde de declives suaves Acima de 875 metros ndash topo do Morro Araccediloiaba geralmente com platocircs e declives suavesmedianos De 600 a 725 metros ndash base das serras de declives acentuados (medianos) com nascentes de rios principalmente os intermitentes De 725 a 875 metros ndash proacuteximo ao topo de declives acentuados com rios encaixados entre as vertentes como o Ribeiratildeo do Ferro Hidrografia Integra a bacia hidrograacutefica do rio SorocabaMeacutedio Tietecirc classificada como UGRHI No 10 com sub-bacias dos rios Ipanema e Verde e ribeirotildees Iperoacute e do Ferro Clima O Troacutepico de Capricoacuternio passa pela parte sul da Floresta Nacional de Ipanema caracterizando uma zona de transiccedilatildeo de tropical para temperada Segundo Koeppen apresenta condiccedilotildees climaacuteticas tipo Cfa ndash subtropical quente constantemente uacutemido com inverno menos seco - ao sul limitando com Cwa ndash subtropical quente com inverno mais seco - ao norte Uso do solo 2800 hectares ndash floresta estacional semidecidual em estaacutegio de regeneraccedilatildeo do inicial ao tardio 29515 hectares ndash capoeira alta (grototildees) e cerrado 24293 hectares ndash capoeira baixa 250 hectares ndash vaacuterzea accediludes e represas 22150 hectares ndash reflorestamento com espeacutecies de raacutepido crescimento e nativas 121016 hectares ndash assentamentos rurais 50 hectares ndash sede administrativa vilas residenciais e siacutetios histoacuterico-culturais Ver Floresta Nacional (FLONA) de Ipanema NACIONAL Disponiacutevel em lthttpwwwibamagovbrspindexphpid_menu=191gt acesso em 22mar06
112
Fig 32 MAPA GEOLOacuteGICO DO MORRO DE ARACcedilOIABA (SEM ESCALA) Mapa Geoloacutegico do Estado Satildeo Paulo ndashIPT
113
Fig 33 BLOCO DIAGRAMA DA REGIAtildeO DA SERRA DE ARACcedilOIABA Interpretaccedilatildeo baseada em dados geoloacutegicos e geofiacutesicos por Andreacute Davino (DAVINO 1975 p140)
114
Fig 35 MORRO DE ARACcedilOIABA (AO FUNDO VISTA DA DEPRESSAtildeO
PERIFEacuteRICA) - I
FIG 36 MORRO DE ARACcedilOIABA (VISTA DA DEPRESSAtildeO PERIFEacuteRICA) - II
115
Aziz Nacib AbSaber ao analisar o morro de Araccediloiaba dos pontos de vista
geoloacutegico e geomoacuterfoloacutegico considera que
Geomorfologicamente eacute um acidente de grande exceccedilatildeo
emergente no meio de terras baixas colinosas que se estendem por
mais de 12 mil km2
Geologicamente eacute a consequumlecircncia de um vulcanismo hipoabissal
tardio anterior aos processos denudacionais que criaram a
Depressatildeo Perifeacuterica Paulista Filogeograficamente eacute um
componente de um mosaico de ecossistemas sub-regionais que
comporta cerrados e matas-galerias (vegetaccedilatildeo ciliar) matinhas
diferenciadas e descontiacutenuas nas paredes sub-rochosas do morro
Existem tambeacutem eventuais poreacutem altamente significativos relictos
de cactos mandacarus nas vertentes rochosas do morro Esse fato
associado ao que jaacute se conhece da regiatildeo de Itu e Salto permite
reconstituir a histoacuteria vegetacional da regiatildeo No passado ela
abrigou caatingas hoje relegadas a pequenos redutos de
cactaacuteceas na forma de rupestres-biomas logo seguidos por
cerradotildees e cerrados recortados por florestas-galerias biodiversas
E por fim grandes matas tropicais nos morros de solos vermelhos
argilo-arenosos das serranias de Satildeo Roque e Jundiaiacute As florestas
eliminaram importantes trechos de cerrado mas natildeo foram capazes
de expulsar os minirredutos de cactaacuteceas na serra do Jardim em
Vinhedo e Valinhos nos altos do Japi na serra de Satildeo Francisco
em Votorantim em Salto e Itu e no front rochoso das cuestas de
Botucatu e agora nos receacutem-identificados mandacarus dos morro
de Araccediloiaba e Ipanema
Para entender essa eacutepoca caracterizada por intrusotildees
hipoabissais desfeitas em sills - massas tabulares de rocha iacutegnea
que penetraram entre camadas de rocha mais antiga - nas
soerguidas camadas de arenitos da formaccedilatildeo de Itarareacute (originada
no Carboniacutefero Superior) haacute que visualizar o fato de que o atual
morro da Depressatildeo Perifeacuterica comportava centenas de metros de
espessura que se estendiam ateacute o embasamento de rochas
cristalinas As intrusotildees que perfuraram localmente o pacote de
116
rochas da borda da Bacia Sedimentar do Paranaacute foram
provavelmente as mais tardias em relaccedilatildeo ao vulcanismo que
precedeu os mega processos de separaccedilatildeo da Aacutefrica e Brasil Ao
que tudo indica primeiramente aconteceram os derrames
basaacutelticos e as intrusotildees hipoabissais de diabaacutesios (rochas
magmaacuteticas cristalinas) A seguir nos milhotildees de anos decorridos
entre o Triaacutessico Superior o Juraacutessico e o Cretaacuteceo Superior -
atraveacutes de bolsotildees magmaacuteticos descontiacutenuos e residuais -
aconteceram as penetraccedilotildees de sienitos em forma de ring dykes
(diques anelares) de Itatiaia da atual ilha de Satildeo Sebastiatildeo
Caxambu e alhures Tudo acontecendo antes que a tectocircnica
quebraacutevel aparecesse no embasamento cristalino do Brasil de
Sudeste Ou seja antes dos falhamentos que criaram a serra do
Mar a ilha de Satildeo Sebastiatildeo e a Mantiqueira Por fim um resiacuteduo
magmaacutetico de grande exceccedilatildeo teria interpenetrado a borda antiga
da Bacia do Paranaacute gerando a pequena aacuterea core que mais tarde
viria a ser o morro de AraccediloiabaIpanema com seus ankaratritos
impregnados de magnetita Um fato que de resto respondeu pelo
histoacuterico episoacutedio da experiecircncia industrial da Fazenda
Ipanema(ABSAacuteBER 2006 p1)
42 A Vegetaccedilatildeo
Quanto agrave vegetaccedilatildeo original o morro de Araccediloiaba tem um histoacuterico de
perturbaccedilotildees sofridas por intervenccedilotildees antroacutepicas iniciadas no final do seacuteculo XVI
Essas perturbaccedilotildees foram causadas pela retirada de mineacuterio madeiras calcaacuterio
apatita aleacutem de focos de incecircndio entre outros processos
Para a exploraccedilatildeo do mineacuterio era necessaacuteria a devastaccedilatildeo das matas que
cresciam sobre a jazida Segundo a descriccedilatildeo de Domingos Pereira Ferreira que
chegou no local em 1765 para dar iniacutecio a um projeto de Faacutebrica de Ferro aquele
117
Morro era como ldquoum Cubatatildeo de Matos e de Cerra Altardquo e somente era possiacutevel
ver uma pedra levando ldquoadeante fousse e machadordquo68
A devastaccedilatildeo das matas tambeacutem esteve ligada ao tipo de combustiacutevel que
era utilizado nos fornos de reduccedilatildeo (fornos baixos) 69 e depois nos de fundiccedilatildeo
(altos fornos)70 O combustiacutevel para a produccedilatildeo de ferro sempre foi o carvatildeo
vegetal71 o qual era fabricado a partir de uma variedade de madeiras existente na
proacutepria mata entre elas os chamados ldquopaus reaisrdquo as madeiras de lei como a
peroba jequitibaacutes e cedros cujos registros de extraccedilatildeo eacute encontrado ateacute o iniacutecio
do seacuteculo XIX 72
Mesmo sofrendo exploraccedilatildeo e desmatamento ainda hoje a Floreta
Nacional de Ipanema constitui-se num dos poucos redutos florestais do interior
paulista e tambeacutem eacute a maior detentora da biodiversidade regional Espeacutecies
vegetais como timburi ararib lixeira jangada do campo canela paineira figueira
branca e peroba satildeo encontrados em percurso assim como animais de haacutebitos
68 Encontramos uma coacutepia da Carta de Domingos Pereira Ferreira agrave Morgado de Mateus escrita em Sorocaba 30 de novembro de 1765 na Coleccedilatildeo Faacutebrica de Ferro de Ipanema entre todas as coacutepias que foram doadas por Joseacute Monteiro Salazar ao Arquivo Histoacuterico Sorocabano 69Nos fornos baixos o carvatildeo vegetal era colocado em camadas alternadas com o mineacuterio calcinado e triturado que com o auxiacutelio de foles manuais ou mecacircnicos realizavam a reduccedilatildeo e natildeo a fundiccedilatildeo do mineacuterio de ferro resultando numa ldquoesponja de ferrordquo ou ldquopatildeo de ferrordquo que posteriormente era novamente trabalhada nos fornos de forja e nos malhos (FAUS 2000) 70 Estes fornos que chegam a fundir o mineacuterio de ferro foram introduzidos em Ipanema no iniacutecio do seacuteculo XIX O produto derivado do alto forno eacute o ferro em estado liacutequido (ferro gusa) (FRAGA 1968 p 87) 71 Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva ao visitar a Faacutebrica de Ipanema em 1820 descreve o meacutetodo de fabricaccedilatildeo de carvatildeo ldquoO carvatildeo he todo misturado sem separaccedilatildeo do proacuteprio para as forjas do refino he mal feito e apagado comumente com agoa em vez de ser abafado com terra principalmente arenosa que he a melhor da qui vem que sahe mais pesado do que deveria ser contra a fabrica e a favor do carvoeiro reduz-se muito a poacute nos armazeacutens com prejuiacutezo da mesma Faacutebrica e o peior he que nas forjas de refino esfarela-se logo e se reduz a cinza sem dar o devido calor O carvatildeo que fazem de maneira mole he mais leve e arde mais e da madeira dura he pelo contrario O methodo de fazer carvatildeo he o seguinte pegatildeo em toda a lenha misturada e arrumatildeo em pilha deitadas que tem 40 palmos em quatro como a figura de um telhado com beiradas estas tem 6 palmos de alto e o espigatildeo 12 leva a quaimar cada piulha 30 ate 34 dias e mais e da cada pilha de 700 a 900 arrobas de carvatildeordquo (FRAGA 1968 p 86) 72 Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva em suas Memoacuterias Econocircmicas sobre a Faacutebrica de Ferro de Ipanema faz criacuteticas agrave construccedilatildeo dos Altos Fornos de Varnhagen e tambeacutem agrave preparaccedilatildeo do mineral e do combustiacutevel utilizado como ldquocavacos de perobardquo (MENON 1992 p144)
118
florestais destacando-se o jaguarundi o gambaacute o irara o tapiti o matildeo-pelada o
quati o jacupemba o chupa-dente o pica-pau de topete vermelho o tangaraacute
danccedilarino o sabiaacute coleira a jararaca a cascavel e o lagarto teiuacute 73
43 Rios e ribeirotildees
Dois rios circundam aquele morro o rio Ipanema e o Sarapuhy afluentes
do rio Sorocaba Na parte central daquele Morro surgem alguns riachos sendo o
mais importante deles o Ribeiratildeo do Ferro anteriormente denominado de Ribeiratildeo
das Furnas (afluente do Rio Ipanema) que nasce no Monte ou Pico do Chapeacuteu e
forma o Vale das Furnas com ocorrecircncia de cascatas e piscinas naturais Eacute
tambeacutem naquele Vale e em uma das curvas do Ribeiratildeo do Ferro que estaacute
situado o Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha objeto de anaacutelise dessa
Tese
O Ribeiratildeo do Ferro ao descer o morro de Araccediloiaba apresenta
desniacuteveis de ateacute 500 metros com a presenccedila de alguns trechos encachoeirados
caracteriacutestica essa que proporcionou a execuccedilatildeo de projetos de aproveitamento
hidraacuteulico como a construccedilatildeo de obras de represamento canal de derivaccedilatildeo e
vala transformando as aacuteguas daquele ribeiratildeo em forccedila motriz aplicada ao
funcionamento dos equipamentos e ferramentas utilizadas no processo produtivo
da produccedilatildeo de ferro
73 Ver Fazenda Ipanema Disponiacutevel em lthttpfazendaipanemaiperospgovbrhistoriaphpgt
119
44 A magnetita o mineacuterio do morro de Araccediloiaba
Segundo Andreacute Davino a importacircncia do morro de Araccediloiaba do ponto de
vista geoloacutegico
deriva do fato de conter umas das muitas ocorrecircncias de rochas
alcalinas do Brasil As concentraccedilotildees de magnetita e apatita
[descobertas no final do seacuteculo XIX] nessas rochas despertaram
desde longa data especial interesse sobre a aacuterea O contorno da
intrusatildeo alcalina situa-se na parte central da Serra e estaacute contido
inteiramente dentro dos limites da Fazenda Federal de Ipanema
(DAVINO 1975 p130)
O mineacuterio de ferro encontrado no morro de Araccediloiaba eacute a Magnetita
um imatilde natural com propriedade magneacutetica de atrair objetos feitos de ferro ou
outros metais Essa propriedade do mineacuterio possivelmente facilitou o encontro
daquela jazida pelos sertanistas que por laacute passaram em meados do seacuteculo XVI
A magnetita eacute um mineacuterio do grupo das espinelas formado por oacutexido
magneacutetico de ferro (Fe3O4) composto por 724 de Fe (ferro) Eacute frequumlente a
existecircncia de cristais bem desenvolvidos pertencentes ao sistema cuacutebico
geralmente em forma de octaedros ou de dodecaedros Eacute abundante formando
as suas jazidas verdadeiras montanhas em massas granulares ou compactasA
composiccedilatildeo da magnetita eacute de oacutexido de feacuterrico (Fe2O3) 65 oacutexido ferroso (Fe O)
25 siacutelica (SiO2) 10 e traccedilos de aacutecido fosfoacuterico (P2O5) (FRAGA 1968 p149)
No Brasil encontram-se jazidas de magnetita nas regiotildees que
compreendem desde o Sudeste da Bahia ateacute o Leste do Paranaacute e Nordeste de
Santa Catarina Contudo sempre se apresentam impregnado de Titacircnio (Ti O2)
em proporccedilotildees que variam desde 04 ateacute 16 A exagerada densidade74 dessa
magnetita concorre para tornaacute-la inaproveitaacutevel para a reduccedilatildeo mesmo nos altos 74 A densidade eacute medida na proporccedilatildeo quilograma por metro cuacutebico kg m-3
120
fornos a coque a menos que sofra preacutevio e demorado tratamento ou que seja
misturada a mineacuterios menos densos (e portanto algo impuro) tais como a canga
a Hematita e outros De outro lado o oacutexido de titacircnio que a impregna dificulta
quando natildeo impede inteiramente a transformaccedilatildeo em gusa ou em esponja
(AMARAL 1946 p 264-266 Apud FRAGA 1968 p32) No morro de Araccediloiaba as
jazidas de Magnetita encontram-se na ldquoforma de depoacutesitos aluviais e
concentraccedilotildees in situ a poucas dezenas de metros de profundidaderdquo (DAVINO1975 p129)
Fig 37 MINEacuteRIO DE FERRO MAGNETITA
Embora no final do seacuteculo XIX os conhecimentos cientiacuteficos da Quiacutemica e
da aacuterea da metalurgia jaacute estivessem avanccedilados a composiccedilatildeo da Magnetita do
morro de Araccediloiaba impregnada de oacutexido de Titacircnio natildeo era conhecida75 A
carecircncia de conhecimento cientiacutefico sobre as propriedades quiacutemicas dessa
magnetita foi a principal causa dos trecircs seacuteculos de tentativas de se produzir ferro
naquele local e das inuacutemeras criacuteticas que eram feitas aos fundidores e
administradores 76 Sendo assim podemos indicar que essa realidade teacutecnica foi
determinante para que natildeo se produzisse em Ipanema desde finais do seacuteculo
XVI ferro de boa qualidade Estephania Fraga indica que
75 O titacircnio foi descoberto em 1791 por Willian Gregor mas soacute se tornou bem conhecido apoacutes os estudos de Wohler em 1857 e Peterson em 1887 76 Orville Derby no final do seacuteculo XIX presidia a comissatildeo de estudos geoloacutegicos da Proviacutencia de Satildeo Paulo e pesquisou a apatita de Ipanema
121
a dificuldade em fundir o mineacuterio de Ipanema ndash a magnetita ndash
provinha da composiccedilatildeo especiacutefica do mesmo pois aleacutem de sua
exagerada densidade apresenta-se impregnada de oacutexido de
Titacircnio fatores que contribuem de forma decisiva para dificultar
sua reduccedilatildeo mesmo em altos fornos (FRAGA 1968 p86)
A dificuldade de produzir um ferro de boa qualidade jaacute era sentida desde o
seacuteculo XVIII quando Domingos Pereira Ferreira apostou na construccedilatildeo de uma
Faacutebrica de Ferro naquele local Embora tenha construiacutedo diversos tipos de fornos
e empregado diferentes modos de fundiccedilatildeo natildeo havia conseguido um bom
resultado No seacuteculo XIX essa mesma dificuldade permaneceu nos trabalhos de
fundiccedilatildeo e na produccedilatildeo de ferro da Real Faacutebrica de Ipanema fundada em 1810
O desconhecimento das propriedades daquela magnetita apenas
descoberta na segunda metade do seacuteculo XIX quando a Real Faacutebrica de Ferro jaacute
estava em plena decadecircncia77 tambeacutem estava na origem das acirradas
discussotildees teacutecnicas entre Friederich Ludwig Wilhelm Varnhagen mineralogista
alematildeo e Carl Gustav Hedberg sueco e primeiro diretor de Ipanema (1811-
1814) sobre as vantagens do alto-forno proposto por Vanhagen em relaccedilatildeo aos
quatro fornos azuis Blauofen fornos de reduccedilatildeo direta inicialmente instalados
em Ipanema78
O diretor sueco foi substituiacutedo por Ludwig Wilhelm Varnhagen em 1815
que construiu dois Altos Fornos de aproximadamente 8 metros de altura cada
um Com estes fornos conseguiu produzir o ferro gusa em sua forma liacutequida
tendo moldado com a primeira corrida desse ferro trecircs cruzes sendo uma delas
ldquolevada em procissatildeo ateacute o ponto alto da montanha de Araccediloiabardquo onde
atualmente permanece Contudo Varnhagen natildeo produziu o ferro esperado e
77 Naquele periacuteodo nem o Estado nem a Real Faacutebrica possuiacuteam laboratoacuterios de anaacutelise que pudessem fazer ensaios do mineacuterio combustiacutevel e fundentes empregados na produccedilatildeo A primeira escola formadora de profissionais na aacuterea de mineraccedilatildeo foi a Escola de Minas de Ouro Preto fundada em 1875 (FRAGA 1968 p140) 78 Von Varnhagen havia dirigido a faacutebrica de ferro de Figueiroacute dos Vinhos em Portugal e foi enviado a Ipanema com a finalidade de projetar a construccedilatildeo de uma grande faacutebrica de ferro que afinal foi construiacuteda por Hedberg (FRAGA 1968 p 71-79)
122
essa dificuldade tambeacutem natildeo foi compreendida por Eschwege79 que estava na
direccedilatildeo de uma outra faacutebrica de ferro em Congonhas do Campo a qual produzia
ferro a partir de um outro mineacuterio a hematita que facilmente pode ser trabalhada
para a produccedilatildeo do ferro80 A partir de 1821 estes fornos altos jaacute estavam em
decadecircncia
Contudo parece que apenas Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva quando
esteve examinando as minas de ferro daquele Morro percebeu que
o problema capital de Ipanema liga-se ao mineacuterio de ferro ali
existente ldquoo ferro magneacuteticordquo de difiacutecil fusatildeo embora natildeo
pudesse conhecer ainda a composiccedilatildeo do mesmo (presenccedila de
Titacircnio que como eacute sabido foi descoberto apenas a partir da
segunda metade do seacuteculo XIX) considerando (com base nos
conhecimentos do gecircnero que visitou na Europa) que a soluccedilatildeo
estaria em aumentar a altura dos pequenos fornos (FRAGA 1968
p149)
Em 1878 foi a vez de Joaquim Antonio de Souza Mursa construir um Alto
Forno e quando a Faacutebrica fechou em 1895 este ainda natildeo havia sido utilizado
79 Ludwig von Eschwege depois de ter trabalhado em Portugal o baratildeo de Eschwege seguiu em 1810 para o Brasil a convite do priacutencipe regente D Joatildeo para reanimar a decadente mineraccedilatildeo de ouro e para trabalhar na nascente induacutestria sideruacutergica Em 1821 inicia em Congonhas do Campo Minas Gerais os trabalhos de construccedilatildeo de uma faacutebrica de ferro denominada de Patrioacutetica empreendimento privado sob a forma de sociedade por accedilotildees Em 1811 a siderurgia de Eschwege jaacute produzia em escala industrial Eschwege eacute o autor de Pluto Brasiliensis primeira obra cientiacutefica escrita sobre a geologia brasileira publicada primeiramente na Europa em 1833 (FIGUEIROA 1977 63-67) 80 As hematitas satildeo mineacuterios de ferro constituiacutedos por oacutexido feacuterrico (Fe2O3) contendo ateacute 70 de ferro(Fe) Seu aspecto varia consideravelmente pode se apresentar cristalizado em massas compactas ou em massas terrosas Satildeo utilizadas na produccedilatildeo de ferro sob duas formas principais a) hematita vermelha e b) hematita parda Dados sobre a composiccedilatildeo quiacutemica da hematita fornecidos pela Dra Heacutelegravene Nasson Storch (FRAGA 1968 p149)
123
45 Fatores fisiograacuteficos da ocupaccedilatildeo europeacuteia
A ocupaccedilatildeo das aacutereas interiores da Capitania de Satildeo Vicente no iniacutecio da
colonizaccedilatildeo foi caracterizada particularmente por expediccedilotildees de apresamento de
iacutendios Este movimento pioneiro na ocupaccedilatildeo das aacutereas interiores do continente
e era facilitado pela existecircncia de caminhos indiacutegenas os Peabirus
No caso da ocupaccedilatildeo da regiatildeo onde estaacute localizado o morro de
Araccediloiaba o acesso era facilitado pela presenccedila de importante caminho que ligava
a vila de Satildeo Paulo de Piratininga agraves terras de Guairaacute e regiotildees do Alto Peru
(atual Boliacutevia) Com a descoberta da prata do Potosi intensificaram-se as buscas
de metais nobres inclusive com incentivos da Coroa portuguesa com ajuda de
mineradores preparados para a identificaccedilatildeo de mineacuterios especialmente a prata e
o ouro As expediccedilotildees em busca daquelas riquezas foram estimuladas apoacutes a
chegada de D Francisco de Sousa que ocupou a governadoria Geral do Brasil no
periacuteodo de 1591 a 1601
Foi neste contexto que ocorreram as primeiras tentativas de exploraccedilatildeo do
ferro das minas de Araccediloiaba Dificilmente pode-se precisar a data em que se deu
o encontro do morro de Araccediloiaba pelos europeus mas certamente a sua
descoberta foi facilitada pela presenccedila dos Peabirus
Provavelmente o aspecto estrateacutegico e o encontro de traccedilos de prata junto
ao mineacuterio de ferro de Araccediloiaba tenham sido fatores que levaram D Francisco a
conceder sesmarias e dar iniacutecio ao povoamento colonial da regiatildeo Para tanto
ldquoplantou o pelourinhordquo no interior do Morro tendo como padroeira Nossa Senhora
do Monte Serrat Esta povoaccedilatildeo natildeo prosperou tendo sua populaccedilatildeo se
deslocado em 1611 ndash o mesmo ano da morte de D Francisco de Sousa - para o
Itavuvu local que recebeu a denominaccedilatildeo de Satildeo Felipe Somente mais tarde no
decorrer de 1661 houve a fundaccedilatildeo da Vila de Sorocaba (ALMEIDA 2002 p 11-
20)
124
Apesar da sua localizaccedilatildeo distante cerca de trinta leacuteguas de distacircncia do
litoral e isolada dos mercados consumidores o interesse da exploraccedilatildeo do ferro de
Araccediloiaba se explica pelo valor estrateacutegico desse metal que poderia ser utilizado
como mercadoria contando com mercado certo a proacutepria Capitania de Satildeo
Vicente e a regiatildeo do rio da Prata Por outro lado o ferro era um metal de grande
interesse para a Metroacutepole que contava com pequenas jazidas
Mais tarde jaacute no iniacutecio do seacuteculo XVIII havia um mercado promissor
representado regionalmente pelo avanccedilo da agricultura de cana-de-accediluacutecar e
tambeacutem pela exploraccedilatildeo das minas de ouro de Cuiabaacute e Minas Gerais81 A esse
respeito escreve em 1782 Marcelino Pereira Cleto
Ainda que as minas de ferro e accedilo estatildeo em terras de Sertatildeo e na
distancia de trinta legoas da Marinha com tudo o sitio he haacutebil
para o bom consumo destes gecircneros porqto por Sorocaba he o
caminho para Coritiba Minas de Pernampanema e outras terras
mais distantes da Capitania de Satildeo Paulo por Itu Va proacutexima he
o caminho por onde se dirige todo o negocio que vai para
Cuiabaacute por esta capitania e tambeacutem perto das das minas se
encaminha a estrada de Goiases Se os Negociantes do Cuiabaacute e
Goiases achassem no caminho ou perto delle este dous gecircneros
[ferro e accedilo] ainda pelo mesmo preccedilo qrsquo elles se vendem no Rio
de Janeiro e os de S Paulo o tivessem na sua proacutepria Capitania
certamte natildeo iratildeo busca-los ao Rio de Janeiro com despesa e
risco e bastaria ser seguro este consumo para ser uacutetil cuidar-se
nas das minas
Quanto mais em distancia como de seis leacutegoas das minas
passa o rio Teateacute navegaacutevel de canoa e unicamemte com o
embaraccedilo de algum ou alguns Saltos ou Cachoeiras neste rio
entra um pouco distancia de S Paulo outro chamado dos
Pinheiros neste o rio Grande neste o rio Pequeno qrsquo fica junto agrave
81 No seacuteculo XVIII a agricultura da cana-de-accediluacutecar foi significativa na regiatildeo denominada de ldquoquadrilaacutetero do accediluacutecarrdquo formada pelas localidades de Sorocaba Piracicaba Mogi-Guaccedilu e Jundiaiacute destacando-se duas aacutereas Itu e Campinas Para este tema ver PETRONE Maria Thereza S A lavoura canavieira em Satildeo Paulo Satildeo Paulo Difusatildeo Europeacuteia do livro 1968
125
Serra qrsquo cobre a Va de Santos do rio pequeno a santos seratildeo
sette legoas trecircs por terra maacutes caminho mto aacutespero E as quatro
por hum rio qrsquo em todas as partes admitte navegaccedilatildeo daquelles
rios vecirc-se qrsquo era pequena a distancia em qrsquo se precisava
condusir por terra estes dous gecircneros ateacute ao Porto da Va de
Santos e daqui dar-lhes extraccedilatildeo para mais Portos da Ameacuterica
(CLETO 1899 p p 210)
Embora natildeo haja estudos especiacuteficos sobre o trabalho indiacutegena na
produccedilatildeo do ferro dos empreendimentos metaluacutergicos instalados no morro de
Araccediloiaba os documentos escritos indicam que ateacute meados do seacuteculo XVIII a
produccedilatildeo do ferro em Araccediloiaba foi realizada com o trabalho de indiacutegenas que
eram levados para aquela atividade pelos exploradores 82 Dessa forma
exploraram aquelas minas Afonso Sardinha e Francisco de Souza (seacuteculo XVI e
XVII) Luiz Lopes de Carvalho (seacuteculo XVII) Domingos Pereira Ferreira (seacuteculo
XVIII) e depois a Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema Neste uacuteltimo
empreendimento os iacutendios foram trazidos das aldeias de Itapecerica MrsquoBoy
Carapicuiacuteba Barueri e Itapevi Em 1815 trabalhavam nessa faacutebrica 16 iacutendios aleacutem
de escravos africanos Em 1834 a Real Faacutebrica de Ferro comeccedilou a receber
africanos livres em 1837 trabalhavam naquele estabelecimento 121 escravos (68
homens 24 mulheres e 29 crioulos) e 48 africanos livres (30 homens e 18
mulheres)83
Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX o morro de Araccediloiaba passou a
integrar as rotas de muitos naturalistas geoacutegrafos mineralogistas botacircnicos e
geoacutelogos como Von Martius Martim Francisco de Andrada Auguste Saint Hilaire
o Baratildeo Eschewege Theodoro Knecht e Leandro Dupreacute que fizeram daquele
82 Conforme estabelecia a legislaccedilatildeo mineira compilada pelo Coacutedigo Filipino a exploraccedilatildeo de qualquer mineacuterio era realizada com os recursos do proacuteprio descobridor pagando os direitos dos quintos ao eraacuterio reacutegio Cf Ord L 2ordm ndash Tits 26 e 28 par 16 acolhendo a Ord Manuelina do L 2ordm Tt34 e seus paraacutegrafos Ver RODRIGUES (1966 p 182) 83 Sobre o trabalho indiacutegena na Real Faacutebrica de Ferro de Ypanema ver MENON Og A Real Fabrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema e seu mundo 1811-1835 Dissertaccedilatildeo (mestrado) Satildeo Paulo PUCSP 1992 p 84-90 Sobre o trabalho dos africanos livres em Ipanema ver RODRIGUES Jaime Ferro trabalho e Confliro os Africanos livres na Faacutebrica de Ipenema Historia Social n 45 Campinas IFCH-Unicamp 29-42 199798
126
local um laboratoacuterio a ceacuteu aberto para pesquisas cientiacuteficas aleacutem de terem
deixado dessas experiecircncias relatos preciosos que ajudam a compor aquela
histoacuteria como atesta o relato do naturalista Saint-Hilaire que esteve em Ipanema
em 1819 Diz ele
Encontrei em Ipanema um zoologista o Sr Natterer membro da
comissatildeo cientiacutefica que o imperador da Aacuteustria havia enviado ao
Brasil para recolher amostras de espeacutecimes diversos do pais
Fazia um ano que se achava instalado nas proximidades das
forjas tendo jaacute formado uma vasta coleccedilatildeo de paacutessaros Era
impossiacutevel natildeo admirar a beleza dessa coleccedilatildeo Natildeo se via uma
uacutenica ave cujas penas tivessem sido coladas ou que apresentasse
a menor mancha de sangue
Encontrei tambeacutem em Ipanema um jovem prussiano Sellow
o primeiro naturalista a chegar no Brasil depois de firmada a paz
Tinha feito anteriormente estaacutegio no Jardim Botacircnico de Paris a
fim de aperfeiccediloar os seus conhecimentos e vivia agora de uma
pensatildeo que lhe dava o ilustre e generoso Humboldt o qual fazia
crer ao rapaz que ele estava sendo pago pela administraccedilatildeo do
Jardim Sellow dedicava-se as suas pesquisas com um zelo e
uma energia sem par (SAINT-HILAIRE 1972 p194-195)
127
CAPIacuteTULO 5
INVESTIGACcedilOtildeES ARQUEOLOacuteGICAS AS EVIDENCIAS DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO 84
O trabalho da pesquisa arqueoloacutegica se estendeu por um periacuteodo de 8
anos (1983-1989) e ficou registrado em documentos de Diaacuterios de Campo
escritos pela pesquisadora Margarida Davina Andreatta assim como em
correspondecircncias levantamentos topograacuteficos planos de escavaccedilatildeo croquis e
desenhos geomeacutetricos de plantas das ruiacutenas croquis de cortes estratigraacuteficos e
de reconhecimento das escavaccedilotildees Inventaacuterio de Peccedilas e fotografias tudo
devidamente registrado em relatoacuterios da pesquisa arqueoloacutegica (ver Planta Geral
da Aacuterea Anexo 9 e o mapeamento das escavaccedilotildees Anexo 10)
Os artefatos coletados durante as investigaccedilotildees de campo foram
acondicionados em caixas devidamente protegidas e identificadas e guardados
nas dependecircncias do Museu do Centro de Visitantes da FLONA de Ipanema
Por ocasiatildeo da primeira visita realizada no Siacutetio Afonso Sardinha em 09 de
maio de 1983 a pesquisadora observou que as ruiacutenas existentes estavam
cobertas por ldquopequenos arbustos cipoacutes gramiacuteneas deposiccedilatildeo de folhas e raiacutezes
secasrdquo as quais encobriam os blocos de pedra que formariam as paredes de uma
edificaccedilatildeo (ANDREATTA 1983 p7) O siacutetio apresentava sinais de alteraccedilotildees
causadas pela accedilatildeo de erosatildeo pelas aacuteguas da chuva bem como pela accedilatildeo
antroacutepica possivelmente pescadores e caccediladores que usavam aquele local como
acampamentos temporaacuterios para suas atividades observando-se ainda sinais de
frequumlentes incecircndios na mata existente em seu entorno
84 Para acompanhar as discussotildees deste Capiacutetulo consultar o Anexo 9 Planta Geral do Siacutetio Afonso Sardinha
128
Fig 38 LIMPEZA DO SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 1984
Fig 39 EQUIPE DE TRABALHO SITIO AFONSO SARDINHA 1988
Para iniciar a pesquisa arqueoloacutegica foi necessaacuterio remover a vegetaccedilatildeo
que recobria as ruiacutenas mencionadas de modo a possibilitar as primeiras
observaccedilotildees e mediccedilotildees das paredes e da aacuterea do seu entorno Desta forma jaacute
no iniacutecio das investigaccedilotildees iniciais em maio de 1983 jaacute haviam sido
129
evidenciados embora ainda natildeo totalmente identificados os espaccedilos
possivelmente destinados agrave produccedilatildeo de ferro e os locais proacuteprios para o
aproveitamento da forccedila motriz hidraacuteulica necessaacuteria agravequelas atividades
51 Estruturas hidraacuteulicas para a produccedilatildeo da forccedila motriz
O trabalho de reconhecimento da aacuterea identificou um conjunto de
estruturas identificadas como pertencente a um sistema hidraacuteulico destinado a
produccedilatildeo da forccedila motriz o qual compreendia diversas partes o canal de
derivaccedilatildeo das aacuteguas (vestiacutegios de canaleta) a vala destinada ao alojamento da
roda hidraacuteulica e o trecho do canal de restituiccedilatildeo das aacuteguas ao ribeiratildeo Tais
dispositivos se localizam em aacuterea externa poreacutem adjacente ao edifiacutecio principal
de produccedilatildeo de ferro
Natildeo foi possiacutevel localizar a estrutura do barramento responsaacutevel pelo
desvio das aacuteguas do ribeiratildeo do Ferro para o canal de derivaccedilatildeo
511 O Canal de Derivaccedilatildeo A existecircncia do canal de derivaccedilatildeo foi evidenciada no ano de 1987 quando
foram realizados os trabalhos de decapagem para escavaccedilatildeo da aacuterea Sul da aacuterea
A (forno externo) conforme registrado no Diaacuterio de Campo no dia 02 de julho de
1987 onde de se indica que ldquoevidenciou uma canaleta que se prolonga para o
interior da ferradura que apareceu apoacutes a limpeza da vegetaccedilatildeo do entorno da
mesmardquo Outra evidecircncia da existecircncia do canal na regiatildeo ao Sul da aacuterea A (forno
externo) foi a constataccedilatildeo da ocorrecircncia de fluxo de aacutegua em direccedilatildeo ao Forno 1
(aacuterea A1) fenocircmeno que se observava toda a vez que chovia Este fato mostra
130
que deveria existir um possiacutevel canal interceptador de aacuteguas de chuvas
direcionando a correnteza em direccedilatildeo ao forno (Anexo 9 e Figura 75)
A evidecircncia encontrada revelava que o Canal de Derivaccedilatildeo havia sido
construiacutedo com a finalidade de obter um aproveitamento da corrente de aacutegua do
ribeiratildeo do Ferro contornando a face sul da edificaccedilatildeo ateacute encontrar o muro da
entrada da vala da roda drsquoaacutegua em um ponto onde o terreno se encontra agrave cota
520m medida pelo levantamento planialtimeacutetrico realizado na aacuterea Sendo assim
esse canal de desvio de aacuteguas deve partir do ribeiratildeo do Ferro numa posiccedilatildeo com
cota evidentemente superior a 520m (Figura 75)
No final do Canal de Derivaccedilatildeo no ponto correspondente a entrada da vala
(aacuterea E) foi encontrada durante as pesquisas uma quantidade significativa de
blocos de rocha arenito de tamanhos regulares amontoados e natildeo-alinhados os
quais testemunhavam que naquele local deveria haver uma estrutura de conexatildeo
entre o canal de derivaccedilatildeo e a vala As dimensotildees desses blocos apresentando
uma certa regularidade de formas satildeo tambeacutem um forte indiacutecio de que eles foram
cortados com a finalidade de proporcionar um entrosamento na construccedilatildeo da
parede (Anexo 13)
As pesquisas mostraram a existecircncia de trecircs grupos de blocos com
dimensotildees regulares As Tabelas abaixo apresentam as dimensotildees observadas
nos blocos de arenito acima mencionados
Tabela 1 Dimensotildees dos blocos de maior dimensatildeo ( em centiacutemetros - cm)
COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA
43 30 18
43 27 15
26 20 16
131
COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA
20 11 8
18 09 9
18 14 6
Tabela 2 Dimensotildees dos blocos de media dimensatildeo ( em centiacutemetros ndash cm)
COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA
10 6 6
10 5 6
11 7 35
Tabela 3 Dimensotildees dos blocos de menor dimensatildeo ( em centiacutemetros ndash cm)
Fig 40 VISTA GERAL DA AacuteREA E 1988
132
512 A Vala da Roda
Nas ruiacutenas encontradas da Faacutebrica de Ferro a existecircncia de estruturas
destinadas a utilizaccedilatildeo da energia hidraacuteulica eacute evidenciada pela presenccedila de
estruturas que caracterizam o controle das aacuteguas Em sequumlecircncia ao Canal de
Derivaccedilatildeo mencionado no item anterior observa-se a existecircncia da vala para o
alojamento da roda drsquoaacutegua indicada na planta baixa (Anexo 9) identificada como
ldquoCanal (D)rdquo conforme registrado no Diaacuterio de Campo da pesquisadora Margarida
Davina Andreatta em maio de 1983
A vala encontrada apresenta 19 metros de comprimento tendo ambas as
paredes cerca de 15 metros de largura e vatildeo livre entre as paredes com cerca de
225 m A uma distacircncia da ordem de 37 metros da margem do ribeiratildeo do Ferro
a parede da lateral direita apresenta um alargamento e por conseguinte ocorre
um estreitamento do vatildeo da vala passando a contar com apenas 1 (um) metro de
largura na saiacuteda
A vala encontrada no Siacutetio Afonso Sardinha apresentava o seu piso com
plano de declividade em direccedilatildeo ao ribeiratildeo do Ferro sendo que na parte mais
alta a cota do piso eacute de 453 m acima do niacutevel do ribeiratildeo enquanto que a
extremidade inferior da vala alcanccedila 041m acima do mesmo niacutevel portanto
mostrando forte inclinaccedilatildeo para facilitar a restituiccedilatildeo da aacutegua ao ribeiratildeo
A posiccedilatildeo do plano de declividade da vala mostra que na extremidade de
saiacuteda do canal formou forte desniacutevel em relaccedilatildeo ao piso da Faacutebrica sendo que no
ponto meacutedio o niacutevel da vala seria igual a 230 m (Figura 41)
133
Fig 41 Dimensotildees da Vala da roda e localizaccedilatildeo das evidecircncias de
esteios
134
Fig 42 VALA DA RODA HIDRAacuteULICA 1987 - I
Fig 43 VALA DA RODA HIDRAacuteULICA 1987 - II
135
5121 Evidecircncias de esteios
Em novembro de 1984 foram evidenciados trecircs pares de esteios nas
laterais externas das paredes da vala permitindo supor que as mesmas
funcionavam como pilares para alguma cobertura sobre a vala (ANDREATTA
1984 p 37)
As evidecircncias de esteios encontrados possuem formas circulares e
quadrangulares tendo os lados medidas semelhantes As evidecircncias localizadas
no lado leste apresentavam respectivamente 040 cm X 040 cm 045 cm X 045
cm e 045 cm X 040 cm Jaacute as evidencias encontradas no lado oeste as medidas
encontradas eram 050 X 055 cm e 050 X 050 cm Aleacutem disso apresentavam
espaccedilamentos semelhantes entre si da ordem de quatro metros e meio
Fig 44 EVIDENCIAS DE ESTEIOS vala da roda 1987
136
Fig 45 DETALHE DOS ESTEIOS
Fig 46 DETALHE DE UM ESTEIO
137
52 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 521 Area ldquoCrdquo
O relevo do terreno nesta aacuterea mostra irregularidade sendo que na
extremidade sul junto agrave parede limite a superfiacutecie do terreno apresenta uma
parte plana com cota mais elevada tendo sido medido pela topografia o niacutevel
448 enquanto que na porccedilatildeo central aparece um segundo platocirc com cota do
terreno igual a 343 e na extremidade norte junto ao ribeiratildeo do Ferro a cota
medida foi 0 85m ( ver figura 47)
As pesquisas nesta aacuterea ldquoCrdquo foram realizadas agrave partir de novembro de
1986 para a verificaccedilatildeo da estratigrafia com a abertura de 2 trincheiras na
extremidade norte e uma na parte central as quais tiveram as seguintes
caracteriacutesticas geomeacutetricas (comprimento X largura X profundidade) T1 4m X
065m X 080m T2 170m X 070m X 080m T3 140m X 065m X 095m
(ANDREATTA1984 p 5)
O resultado dos estudos estratigraacuteficos e de decapagem mostraram a
existecircncia unicamente de telhas e cravos aleacutem de alguns poucos fragmentos de
ceracircmica
138
Fig 47 ndash Topografia do Terreno da Aacuterea C (Seta indicaccedilatildeo das Trincheiras)
139
Fig 48 Vista Geral da Aacuterea C 1987
522 A Aacuterea B (ldquoForjardquo) Diferentemente do espaccedilo ldquoCrdquo analisado no item anterior a aacuterea
denominada ldquoBrdquo no desenho da planta baixa (anexo 9) apresentou importante
quantidade de materiais arqueoloacutegicos tais como metais liacuteticos ceracircmicas louccedila
e resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias)
No inicio das exploraccedilotildees do local no decorrer do ano de 1983 foram
observadas evidecircncias de paredes inclusive com amontoados de blocos de
arenito que mostravam possiacuteveis sinais de alteraccedilotildees construtivas
No ano seguinte orientado pela descoberta dos blocos acima
mencionados os quais foram caracterizados como possiacuteveis materiais de
construccedilatildeo a pesquisa arqueoloacutegica foi programada prevendo inicialmente a
140
remoccedilatildeo da vegetaccedilatildeo existente no espaccedilo assinalado ldquoBrdquo seguida da
decapagem do terreno
As pesquisas iniciais permitiram identificar a existecircncia da base de paredes
de uma antiga estrutura A partir desta descoberta foi possiacutevel reconstruir ldquoem
superposiccedilatildeo aos blocos de arenito da parede original da forjardquo 85 Tais blocos de
arenitos conforme foi possiacutevel constatar eram os mesmos materiais de
construccedilatildeo dos setores ldquoCrdquo e ldquoDrdquo
Fig 49 RECONSTITUICcedilAtildeO DAS PAREDES DA AacuteREA B 1984
85 Comunicaccedilatildeo Interna ao CENEA por Margarida Davina Andreatta Iperoacute 05dez1984
141
Fig 50 EVIDENCIAS DAS PAREDES DA AacuteREA B 1984 -
Fig 51 PAREDE DA AacuteREA B RECONSTITUIacuteDA 1984 - I
142
Fig 52 PAREDES DA AacuteREA B RECONSTITUIacuteDA 1984 - II
Durante a realizaccedilatildeo da pesquisa arqueoloacutegica com escavaccedilotildees nesta
aacuterea foi possiacutevel evidenciar a ocorrecircncia de significativa quantidade de peccedilas de
metais (ver Tabela Metais) tais como lacircminas plaquetas e cravos
aparentemente indicando a atividade de transformaccedilatildeo do ferro em peccedilas de
utilitaacuterios Tambeacutem foram encontrados liacuteticos fragmentos de telhas faianccedila de
origem portuguesa e ceracircmicas de produccedilatildeo regional ou local (neo-brasileira)
possivelmente ldquopara fins utilitaacuterios do grupo que habitou o localrdquo 86
86 Relatoacuterio de Atividades Periacuteodo 19-31 maio 1986 p 8
143
Fig 53 DECAPAGEM AacuteREA B 1984
Quanto ao piso arqueoloacutegico da aacuterea ldquoBrdquo observou-se que ele estava
situado entre 10 e 30 cm acima do solo original sendo constituiacutedo ldquode blocos de
arenito de diferentes tamanhos irregulares e cobertos por uma camada de terra
com huacutemus e raiacutezes tronco de aacutervores e a terra eacute latossolo (cor avermelhada) o
mesmo que se encontra entre os blocos de arenito nas paredes parece que
serviu como argamassa para assentar os blocos entre si e levantar a parederdquo
conforme descriccedilatildeo apresentada no Diaacuterio de Campo da pesquisadora Margarida
Davina Andreatta (ANDREATTA 1984 p 42) Notou-se tambeacutem que os blocos e
placas de arenito estavam ldquodispostos horizontalmente de maneira que indicavam
que a superfiacutecie do piso deveria ter sido nivelada com argila a fim de facilitar a
circulaccedilatildeo do homemrdquo (ANDREATTA 1984 p 42)
144
TABELA METAIS
CATEGORIAS NUacuteMERO DE FRAGMENTOS
Cravos 33
Plaquetas 06
Barras de ferro 02
Escoacuterias 03
Mineacuterios 03
ANDREATTA Inventaacuterio de Peccedilas 1983-1987
No interior do local da aacuterea ldquoBrdquo (ldquoforja) foram coletadas duas peccedilas
arqueoloacutegicas compreendendo dois fragmentos de ceracircmica com formato de
vasilhame para cozimento as quais foram encaminhadas para o laboratoacuterio da
FATEC ndash Faculdade de Tecnologia de Satildeo Paulo com o objetivo de obter a
dataccedilatildeo absoluta pelo meacutetodo da termoluminescecircnciardquo Este meacutetodo eacute aplicado
para o caso de materiais que apresentam quartzo em sua composiccedilatildeo tais como
ceracircmica vidros solos louccedilas faianccedilas etc
Uma dessas peccedilas era constituiacuteda de metade de um vasilhame de
pequenas dimensotildees de ceracircmica decorada com a presenccedila de apecircndice (alccedilas)
identificada conforme classificaccedilatildeo arqueoloacutegica como de produccedilatildeo local ou
regional (neo-brasileira) O exame visual dessa peccedila mostra a existecircncia de um
apecircndice (alccedila) que identifica a influencia do europeu na fabricaccedilatildeo daquele
objeto permitindo deduzir que o local teria sido um siacutetio de contato (entre o
indiacutegena e o europeu)
O resultado do ensaio de dataccedilatildeo absoluta dessa peccedila arqueoloacutegica pelo
meacutetodo da termoluminescecircncia apontou a idade de 520 +- 75 anos permitindo
avaliar a data da fabricaccedilatildeo entre 1411 a 1561 conforme Certificado da FATEC
datado de 21 de junho de 2006 (Relatoacuterio de Ensaio ndash Anexo 1) Levando em
conta os dados apresentados pela pesquisa histoacuterica para aquele local pode-se
145
supor que a data mais provaacutevel da fabricaccedilatildeo da peccedila seja em meados do seacuteculo
XVI eacutepoca em jaacute ocorria presenccedila do explorador europeu (Figuras 54 55 56)
Fig 53 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - SEacuteCULO XVI -I Idade de 520 +- 75 anos
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
Fig 54 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - II
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
146
Fig 55 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - III
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
Descriccedilatildeo Nuacutemero de Registro 0106
Niacutevel 015 m de profundidade
Laacutebio arredondado
Borda extrovertida inclinada externa
Diacircmetro de boca 014 m
Acircngulo da parede 115ordm
Vasilhame simeacutetrico profundo inflectido de boca ampliada e com
apecircndices lisos em forma de rolete com evidencias de pressatildeo na extremidade
para fixaccedilatildeo
Apresenta as seguintes decoraccedilotildees inciso na posiccedilatildeo vertical com 015m
de comprimento (em grupo de 3 incisos) distanciando cada grupo em 001m
dispostos em duas fileiras sendo a primeira proacutexima al laacutebio e a segunda junto a
altura do apecircndice
147
O bojo eacute liso e a sua base escovada e apresenta marcas de fuligem na
parte externa e sinais de desgaste por atrito na parte interna da base do
vasilhame
O outro vasilhame ceracircmico encontrado na aacuterea B identificada como de
procedecircncia local ou regional (neo-brasileira) apresenta caracteriacutesticas
semelhantes e tambeacutem a mesma dataccedilatildeo do vasilhame de ceracircmica
anteriormente descrito (Figura 57 58) Este artefato foi encontrado a 030 cm da
superfiacutecie e foi em parte reconstituiacutedo e levado para o exame de dataccedilatildeo pelo
processo de termoluminscecircncia ao Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade
de Tecnologia de Satildeo Paulo - FATEC O resultado do ensaio apontou a idade de
540 +- 75 anos correspondendo a possiacuteveis datas de fabricaccedilatildeo daquele artefato
entre 1391 e 1541 sendo esta uacuteltima data a mais provaacutevel(Relatoacuterio de Ensaio
Anexo 1)
Fig 57 VASILHAME CERAcircMICO ndash 0122 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - I Idade de 540 +- 75 anos
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
148
Fig 58 VASILHAME CERAcircMICO ndash 0122 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - II Idade de 540 +- 75 anos
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema Descriccedilatildeo Nuacutemero de registro 0122
Niacutevel 030 m de profundidade
Tipo de laacutebio arredondado
Tipo de borda extrovertida inclinada externa
Diacircmetro da boca 028m
Acircngulo da parede 110ordm
Fragmento de vasilhame simeacutetrico de contorno inflectido com as seguintes
decoraccedilotildees parede lisa com engobo branco parede externa com banho de
engobo branco com uma linha incisa paralela a 001m do laacutebio Entre esta
primeira decoraccedilatildeo e o bojo haacute decoraccedilatildeo escovada com inclinaccedilatildeo
Na borda haacute ainda um apecircndice convexo com sinais de fixaccedilatildeo e nas
extemidades haacute pressatildeo de fixaccedilatildeo Entre a borda e o bojo apresenta decoraccedilatildeo
regulada contornando o vasilhame O bojo tambeacutem apresenta decoraccedilatildeo
escovada quase horizontal
149
Uma terceira peccedila encontrada no interior da aacuterea ldquoBrdquo eacute uma faianccedila
decorada de origem portuguesa e formada por fragmentos de louccedila de uso
domeacutestico a qual tambeacutem foi submetida a uma dataccedilatildeo relativa mediante
comparaccedilatildeo feita com auxilio de cataacutelogo (Itineraacuterio da Faianccedila do Porto e Gaia
publicaccedilatildeo do Museu Nacional de Soares dos Reis sem data) Os fragmentos
foram localizados em parte no interior da aacuterea ldquoBrdquo e outra parte na aacuterea externa
dessa mesma aacuterea sendo este uacuteltimo junto a um vestiacutegio de estrutura do forno 1
aacuterea A1 (Figura 59)
O exame visual sobre a faianccedila reconstituiacuteda a partir de cinco fragmentos
separados permitiu reconhecer com base no documento acima mencionado que
aquela peccedila era um utensiacutelio portuguecircs de uso domeacutestico a qual pode ser
descrita como ldquotiacutepicas tijelas malegueiras decoradas no fundo e na orla com
filetes concecircntricos azul [] que apresentam temas decorativos recorrentes
dentro das faianccedilas conhecidas para a segunda metade do seacuteculo XVII (GOMES
BOLTELLO p148)
Conforme parecer sobre a mesma faianccedila acima descrita apresentado por
Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do Infante Porto ndash Portugal em
28 de abril de 2004 aquela peccedila de faianccedila apresenta uma ldquodecoraccedilatildeo simples
que exibe com toques de pincel espaccedilados junto ao bordo filetes simples
resultando ciacuterculos concecircntricos e espiral no fundo tudo em azul aponta para
uma cronologia que se centraraacute no seacuteculo XVIIrdquo 87
87 Parecer sobre a faianccedila encontrada no Siacutetio Afonso Sardinha feita por Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do Infante Porto ndash Portugal em 28 abr 2004
150
Fig 59 FAIANCcedilA - AacuteREA B [SEacuteC XVII]
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
53 Area E Sul da Faacutebrica de Ferro
A pesquisa arqueoloacutegica realizada na aacuterea E Sul externa da Faacutebrica de
Ferro revelou a existecircncia de amontoados de resiacuteduos de fundiccedilatildeo da magnetita
conhecidos como escoacuteria os quais se distribuem por uma ampla aacuterea do terreno
identificada como escorial sendo que num local adjacente agrave face sul da estrutura
denominada aacuterea ldquoB se apresenta maior concentraccedilatildeo (ver anexo 9)
Uma amostra desse material foi encaminhada para anaacutelise no
Departamento de Mineralogia e Geotectocircnica GMG do Instituto de Geociecircncias
da Universidade de Satildeo Paulo aos cuidados de Daniel Atencio Professor
Associado daquele Departamento o qual constatou ser aquela amostra ldquo[]
provavelmente restos de fundiccedilatildeo Trata-se de wuumlstita (FeO) mais ferro (Fe)
Esses materiais satildeo muito raros como minerais mas comuns em fundiccedilotildeesrdquo88
88 Anaacutelise elaborada por Daniel Atencio Professor Associado do Departamento de Mineralogia e Geotectocircnica GMG IGUSP e enviado por e-mail no dia 21 set 2005
151
Como indica este parecer a amostra se constituiacutea de uma escoacuteria ldquoresto
de fundiccedilatildeordquo contendo wuumlstita (FeO) e ferro caracterizando desta forma o material
do escorial citado
Fig 60 ESCOacuteRIA RESTOS DE FUNDICcedilAtildeO AacuteREA E
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
Observe-se que a presenccedila do metal de ferro impregnado nessa escoacuteria
era resultante da teacutecnica de fundiccedilatildeo para fabricaccedilatildeo do ferro empregada no
Brasil ateacute o iniacutecio do seacuteculo XIX Com a introduccedilatildeo do processo de altos-fornos no
Brasil foi possiacutevel melhorar o aproveitamento do mineacuterio de ferro durante o
processo de fundiccedilatildeo
Nesta mesma aacuterea E foi encontrada uma grande quantidade de telhas
localizadas na parte externa das aacutereas ldquoBrdquo e ldquoCrdquo anteriormente descritas Foram
coletadas 930 fragmentos de telhas as quais foram localizadas ao longo de uma
faixa do terreno com largura da ordem de 060 e 080 cm paralelamente a parede
sul das aacutereas ldquoBrdquo e ldquoCrdquo sugerindo corresponder a mesma posiccedilatildeo sob um ldquobeiral
do telheiro que cobria as respectivas aacutereasrdquo (ANDREATTA 1987 p36v) (Anexo
15)
152
As telhas encontradas permitem afirmar que no local havia uma cobertura
sendo que os trabalhos de dataccedilatildeo sobre um exemplar de telha (Figura 61)
executado pelo meacutetodo de termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e
Dataccedilatildeo da Faculdade de Tecnologia de Satildeo Paulo ndash FATEC acusou uma
dataccedilatildeo (em anos) de 280 +- 40 o que equivale a afirmar que aquele fragmento
foi fabricado entre os anos de 1686 a 1766 periacuteodo correspondente a pelo
menos dois projetos de Faacutebrica de Ferro para aquele local o de Luiz Lopes de
Carvalho e o de Domingos Pereira Ferreira sendo que este uacuteltimo empreendedor
esteve ali estabelecido durante um periacuteodo de no miacutenimo 12 anos (Relatoacuterio de
Ensaio Anexo 1)
A partir dos exames dos fragmentos das telhas encontradas tendo por
base o tipo de pasta coloraccedilatildeo e decoraccedilatildeo foi possiacutevel identificar seis grupos
distintos daquele material conforme a tabela de classificaccedilatildeo abaixo
(ANDREATTA 1987 p21)
Classificaccedilatildeo Caracteriacutestica
Tipo I Branca com riscos (podem ter sentido
longitudinal transversal em X ou em cruz) -
Predominante
Tipo II Branca lisa
Tipo III Vermelha lisa
Tipo IV Marron lisa
Tipo V Vermelha marcadas com granulaccedilatildeo grosseira
Tipo VI Vermelha lisa e com granulaccedilatildeo grosseira
(ANDREATTA 1987 p22)
Quanto a decoraccedilatildeo foram identificados quatro tipos de motivos conforme
os itens descritos abaixo
153
Tipo 1 - linhas digitais horizontais formados por duas linhas relativamente finas
(10 cm) paralelas e orientadas de uma extremidade a outra da telha A natureza
dessas linhas indica que foram confeccionadas em alguns casos por meio da
utilizaccedilatildeo de dedos (indicador e meacutedio)
Tipo 2 - linhas digitais associadas neste caso a decoraccedilatildeo eacute composta por uma
uacutenica linha com a largura de 03 a 05 cm traccedilada na posiccedilatildeo horizontal associada
a uma outra decoraccedilatildeo de forma semicircular
Tipo 3 - linhas digitais paralelas e inclinadas a decoraccedilatildeo apresenta linhas de 10
cm inclinadas e entrelaccediladas
Tipo 4 - linhas digitais inclinadas apresentam linhas com 10 a 15 cm
154
Fig 61 TELHA (AacuteREA E) ndash SEacuteCULO XVIII Idade 280 +- 40 (tn 255 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
155
Fig 62 TELHA (AacuteREA E) (tn30 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
Fig 63 TELHA AacuteREA E (tn 33 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
156
531 Fornos de fundiccedilatildeo na aacuterea externa da Faacutebrica (Aacuterea A1) Na aacuterea externa agrave Faacutebrica de Ferro localizada em diversas posiccedilotildees ao sul
e leste da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro inclusive na aacuterea aqui denominada de
escorial a pesquisa arqueoloacutegica mostrou a existecircncia de pequenos fornos de
fundiccedilatildeo do tipo ldquofornos baixosrdquo (Anexo 9)
Nessa mesma aacuterea junto ao local denominado ldquoArdquo foi identificado um dos
fornos de fundiccedilatildeo o qual foi denominado de ldquoforno1rdquo da aacuterea A1 junto ao qual
foram encontrados diversos materiais arqueoloacutegicos fragmento de ceracircmicas um
material liacutetico identificado como ldquoraspadorrdquo uma garrafa de greacutes fragmentos de
faianccedila portuguesa e telhas As evidecircncias de ceracircmicas encontradas nessa aacuterea
constituem artefatos relacionados ao grupo social de ocupaccedilatildeo colonial
Fig 64 RASPADOR PLANO-CONVEXO AacuteREA E
157
Fig 65 GARRAFA GRES AacuteREA A FORNO-1
Tambeacutem foi localizado um afloramento de rocha nas proximidades da
Faacutebrica margem esquerda do ribeiratildeo do Ferro o qual apresentava marcas de
uso possivelmente para afiar ferramentas (ANDREATTA 1983 p 18)
5311 Forno de Fundiccedilatildeo 1
O Forno 1 era do tipo conhecido como ldquoforno baixordquo sendo o uacutenico
encontrado junto a Faacutebrica de Ferro Entretanto dois outros fornos baixos foram
localizados em um local mais distante (da ordem de 50m) e denominado aacuterea A2
da referida Faacutebrica possivelmente fazendo parte de um outro conjunto de
produccedilatildeo de ferro (Anexo 9)
Os trabalhos de reconhecimento arqueoloacutegico mostraram que o Forno 1
(aacuterea A1) foi construiacutedo sobre uma base retangular com blocos de arenito sendo
158
que duas paredes foram erguidas tambeacutem com blocos de arenito (lados Norte e
Oeste ) enquanto que as duas outras faces foram encaixadas no proacuteprio terreno
rochoso do afloramento de arenito (lados Sul e Leste) aproveitando o relevo
inclinado no local
Uma descriccedilatildeo relacionada ao Forno 1 (aacuterea A1) feita pela pesquisadora e
arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta informa que
uma parte da ldquoconcavidaderdquo (lado Leste) eacute o proacuteprio afloramento
de arenito e o lado Sul tambeacutem enquanto que os lados Norte e
Oeste satildeo revestidos de blocos de arenito e no centro haacute
pequenos blocos tambeacutem de arenito que provavelmente rolaram
da superfiacutecie do proacuteprio muro de pedras da forja (ANDREATTA
1986 p9)
Os dados da pesquisa arqueoloacutegica mostraram ainda que o Forno 1 (aacuterea
A1) apresentava em planta as seguintes dimensotildees comprimento 340m (norte-
sul) largura 260m (leste ndash oeste) e profundidade de 085m (Andreatta 1986
p10)
Fig 66 DECAPAGEM FORNO1 AacuteREA A1 1987
159
Fig 67 VESTIacuteGIOS DO FORNO DE FUNDICcedilAtildeO1- (AacuteREA A1)89
532 Fornos de fundiccedilatildeo da Aacuterea A2 A pesquisa arqueoloacutegica mostrou vestiacutegios de dois outros fornos de
fundiccedilatildeo localizados subjacentes a um morrote denominado B nesta aacuterea A2 a
qual dista cerca de 50 metros ao Sul do local da aacuterea A1 onde existe uma ruiacutena
da Faacutebrica de Ferro O morrote B (ver Figuras 13 e 68) apresentava dimensotildees
de 1280 metros de comprimento por 250m de largura e 135 m altura Aleacutem do
forno de fundiccedilatildeo foram encontrados tijolos telhas e fragmentos de ceracircmica
(ANDREATTA 1987 p65-66) ( Anexo 9)
89 Ver em Pesquisas arqueoloacutegica prosseguem em Ipanema Jornal Cruzeiro do Sul Sorocaba 19 de marccedilo de 1987p 1
160
Fig 68 MORROTE E FORNOS 1 E 2 ndash AREA A2
161
Fig 69 CROQUI AacuteREA A 2 MORROTE B ndash FORNOS 1 E 2 Desenho de Maacutercia Gutierrez Escala 120
162
5321 Forno de fundiccedilatildeo 1 (aacuterea A2) O forno de fundiccedilatildeo 1 da aacuterea A2 caracteriza-se tambeacutem como do tipo
baixo Durante a pesquisa arqueoloacutegica esta evidecircncia se apresentou como o
forno de fundiccedilatildeo mais bem conservado dentre aqueles encontrados Este forno
tem a forma circular com 070 m de diacircmetro interno e 100 m de diacircmetro
externo com 030 m de profundidade A estrutura apresenta na base um vatildeo de
015 m que corresponde agrave abertura atraveacutes da qual se fazia a ldquocorrida das
escoacuteriasrdquo (Figuras 70 e 71)
A parede circular do Forno 1 (aacuterea A2) eacute ldquo assentada diretamente sobre o
solo e eacute constituiacuteda por tijolos e fragmentos de telhas e argamassa com argila do
proacuteprio solo originalrdquo (ANDREATTA 1987 p65-66) Junto ao vatildeo existente no
piso do forno foi feito um pequeno corte (025 m X 025 m X 010 m) para
evidenciar com maior precisatildeo a funccedilatildeo que teria aquela abertura em relaccedilatildeo agrave
estrutura do forno de fundiccedilatildeo
Com base nas investigaccedilotildees arqueoloacutegicas desenvolvidas foi possiacutevel
evidenciar a existecircncia de uma camada de 002 m de ldquosolo compactado e
queimado e com maior resistecircncia em relaccedilatildeo do restante do solo original abaixo
dele e do entornordquo( (ANDREATTA 1987 p65-66) comprovando que de fato
aquela abertura correspondia ao orifiacutecio responsaacutevel pela drenagem das escoacuterias
Esta abertura era comum a todos os fornos de fundiccedilatildeo do tipo forno baixo com
emprego do meacutetodo direto
163
Fig 70 VESTIacuteGIOS DE FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 1- AacuteREA A2 1988
164
Fig 71 CROQUI DO FORNO 1 AacuteREA A2 (1987) Desenho de Marcia Gutierrez
165
5322 Forno de fundiccedilatildeo 2 (aacuterea A2)
O vestiacutegio arqueoloacutegico do Forno 2 foi encontrado a 045 m de
profundidade correspondendo a um forno do tipo baixo apresentando forma
circular construiacutedo com a utilizaccedilatildeo de telhas e ldquotijolosrdquo os quais eram materiais
diferentes daqueles encontrados em outras evidecircncias de fornos neste Sitio Esta
constataccedilatildeo denota que natildeo havia uma regra determinada para a construccedilatildeo de
fornos no que se refere agrave utilizaccedilatildeo de materiais de construccedilatildeo podendo haver
alternativas de uso de outros materiais conforme a disponibilidade de materiais
no local (Figuras 72 73 e 74)
Os registros do trabalho arqueoloacutegico permitiram evidenciar que o Forno 2
apresentava as seguintes dimensotildeesldquodiacircmetro de 110 m com uma borda de 28
cm de largura com a presenccedila de fragmentos de telhas tijolos e argamassa
(latossolo vermelho)rdquo ldquoDo interior do forno foram retiradas telhas (fragmentos)
em quantidade e tijolos e barro cozido com grande presenccedila de mineacuterio de ferrordquo
(ANDREATTA 1987 p65-66)
Quanto ao barro cozido (argila) encontrado no interior desse forno teria
sido provavelmente resto de um revestimento interno jaacute que o material do qual
ele foi construiacutedo (telhas e tijolos) estava disposto de forma bastante irregular A
utilizaccedilatildeo da argila como revestimento nos fornos de fundiccedilatildeo era muito comum
dando um efeito refrataacuterio ao forno fazendo com que natildeo fosse desperdiccedilada a
temperatura elevada que era proporcionada pela combustatildeo do carvatildeo vegetal no
interior do forno e necessaacuteria para separar o metal de ferro do mineacuterio no caso a
Magnetita
166
Fig 72 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988
Fig 73 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988
167
Fig 74 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988
168
CAPITULO 6
INTERPRETACcedilOtildeES DOS DADOS ARQUEOLOacuteGICOS
No Capiacutetulo 5 foram apresentados os resultados da pesquisa arqueoloacutegica
desenvolvida no Siacutetio Afonso Sardinha que envolveram trabalhos de
reconhecimento de campo segundo planos de escavaccedilatildeo coleta de artefatos
levantamentos planialtimeacutetricos e elaboraccedilatildeo de croquis tudo devidamente
registrado no Diaacuterio de Campo da arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta
No presente Capiacutetulo apresentam-se os resultados das anaacutelises detalhadas
dos registros arqueoloacutegicos que resultaram da pesquisa de campo e em seguida
interpretadas as informaccedilotildees anteriormente consolidadas com base nos
conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia
Na elaboraccedilatildeo da siacutentese interpretativa foi necessaacuterio em
complementaccedilatildeo valer-se de instrumentos disponiacuteveis em outras aacutereas do
conhecimento tais como Geologia Mineralogia Metalurgia Engenharia Civil
dentre outras aacutereas
Nesta fase dos estudos arqueoloacutegicos foram elaborados exames visuais e
catalograacuteficos visando a dataccedilatildeo relativa inclusive com o envio de imagem para
fins de comprovaccedilatildeo para Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do
Infante Porto ndash Portugal
Tambeacutem encaminhadas trecircs amostras de ceracircmica de utensiacutelios e telhas
as quais foram submetidas a testes de dataccedilatildeo absoluta com base em ensaios
de Termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade de
Tecnologia de Satildeo Paulo ndash FATEC sob a coordenaccedilatildeo da Professora Doutora
Sonia H Tatumi (Relatoacuterio de Ensaio Anexo 1)
169
Por outro lado amostras de resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias) foram
submetidas a anaacutelise quiacutemica-mineraloacutegica no laboratoacuterio do Departamento de
Mineralogia e Geotectocircnica ndash GMG Instituto de Geociecircncias da Universidade de
Satildeo Paulo sob a responsabilidade do pesquisador e Professor Associado Daniel
Atencio
61 Avaliaccedilatildeo das caracteriacutesticas do Arranjo das Estruturas Ao analisarmos o conjunto das estruturas arqueoloacutegicas entatildeo
descobertas considerando o contexto relacionado agrave produccedilatildeo do ferro na Europa
entre os seacuteculos XVI ao XVIII e levando em conta os conhecimentos que emanam
da Histoacuteria Colonial do Brasil e da Histoacuteria da Teacutecnica eacute possiacutevel estabelecer
muitas semelhanccedilas entre os arranjos das ldquoferrariacuteas de aacuteguardquo destinadas a
produccedilatildeo de ferro na Espanha (Paiacutes Basco) e os vestiacutegios descobertos no vale
das Furnas (Sitio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha)
Um dos aspectos mais importantes que demonstram tal semelhanccedila entre
as ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo e a Faacutebrica do Vale das Furnas refere-se agrave localizaccedilatildeo das
estruturas numa posiccedilatildeo de curva do ribeiratildeo do Ferro de onde era possiacutevel
captar e desviar as aacuteguas mediante a construccedilatildeo de um sistema hidraacuteulico
formado pelas seguintes unidades (a) Dique para represamento do ribeiratildeo (b)
Canal de Derivaccedilatildeo para desvio das aacuteguas (c) Estrutura de Vala com alojamento
de roda drsquoaacutegua e (d) Canal de restituiccedilatildeo das aacuteguas para o ribeiratildeo do Ferro
Tambeacutem chamam a atenccedilatildeo a arquitetura da principal estrutura construiacuteda
localizada na aacuterea A1 a qual mostra diversos recintos com a divisatildeo
caracteriacutestica das ldquoferreriacuteasrdquo encontradas na Espanha nos seacuteculos XVI assim
como as dimensotildees da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro construiacuteda numa aacuterea
retangular com 13m de largura por 16 m de comprimento No caso das ldquoferreriacuteasrdquo
170
bascas as edificaccedilotildees satildeo igualmente retangulares com as dimensotildees de 12 m de
largura por 17 metros de comprimento
Vale tambeacutem mencionar que arranjo semelhante pode ser observado no
caso da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro que entrou em operaccedilatildeo
em 1607 (ver fig 27)
Observa-se tambeacutem o emprego da alvenaria de pedra - teacutecnica construtiva
introduzida no Brasil pelos primeiros colonizadores como no caso da construccedilatildeo
da Casa da Torre de Garcia DrsquoAvila (ano de 1549) na Praia do Forte atual
municiacutepio de Mata de Satildeo Joatildeo Litoral Norte da Bahia (HOLANDA 2002)
Essa mesma teacutecnica exceto pequenas variaccedilotildees respeitavam as tradiccedilotildees
ibeacutericas tendo sido empregada no Brasil tambeacutem para construccedilotildees de
residecircncias edifiacutecios puacuteblicos igrejas e fortificaccedilotildees principalmente no litoral As
paredes feitas de pedra eram entatildeo revestidas com argamassa de areia e cal
obtido pela queima de cascas de ostras encontradas em depoacutesitos no litoral
Nota-se conforme registros das Atas da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo para o ano
de 1609 que essa mesma teacutecnica que se utilizava da cal como argamassa
tambeacutem foi utilizada na construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro (1607)
(NEME 1959 p 348)
62 As ldquoferreriacuteasrdquo de aacutegua na Peniacutensula Ibeacuterica
Na Europa e principalmente na Espanha as ldquoferreriacuteas de aguardquo se
expandiram a partir do seacuteculo XIV90 Assim eram chamados os edifiacutecios
destinados ao trabalho de fundiccedilatildeo do ferro que utilizavam a forccedila motriz
hidraacuteulica para acionar os foles dos fornos de fundiccedilatildeo e os malhos
90 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponiacutevel em lthttpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablesPrimitivas_instalcionespdfgt Acesso em 30 mar 05
171
Essas ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo para viabilizar o seu funcionamento exigiam
certas condiccedilotildees fisiograacuteficas cujos componentes essenciais satildeo a presenccedila do
mineacuterio de ferro nas proximidades madeiras para produccedilatildeo de carvatildeo e cursos
drsquoagua com corredeiras e volume de aacuteguas suficientes para a geraccedilatildeo de forccedila
motriz
Hubo dos tipos de ferreriacuteas de agua las que se valiacutean del caudal
de los rios que funcionaban todo el antildeo y las que dependiacutean de
arroyos que no entraban em funcionamiento hasta las
temporadas de otontildeo e invierno cuando la lluviacuteas incrementaban
el caudal de los regatos y la fuerza del agua Estas uacutetimas no
llegaron a ser consideradas como autenticas ferreriacuteas de agua
Em Biskaia se disignaba a las primeras como ldquode rio caudalrdquo y a
las segundas como ldquoregaterasrdquo Tambieacuten em Gipuzkoa se
diferenciaban unas de otras com los nombres de ldquozeharrolakrdquo y
ldquoagorrolakrdquo respectivamente
Para aprovechar la fuerza del agua era imprescidible que la
ferreriacutea estuviesse construiacuteda em el lugar adecuado Debiacutea estar
situada em la curva de um rio em um lugar em el que fuese faacutecil
desviar el agua de su curso natural a traveacutes de um sistema de
canales y anteparas para que despueacutes de hacer rotar la rueda
hidaulica pudiesse volver a su cauce naturalCuando no era
posible conseguir esta situacioacuten se recurriacutea a crear um sistema
artificial de presas que contuviesen el agua em um niacutevel maacutes
elevado de forma que para mover las ruedas hidraacuteulicas bastaba
com dejar caer la aacutegua sobre ellas 91
91 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponiacutevel em lthttpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablesPrimitivas_instalcionespdfgt
172
Fig 75 ASPECTO DE UMA ldquoFERRERIacuteA DE AGUArdquo SEacuteCULO XVII92
92 Felipe III visita la ferreriacutea de Yarza en Beasain (Guipuacutezcoa) en 02 noviembre de 1615
173
As plantas das ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo encontradas na regiatildeo basca da
Espanha obedeciam a um arranjo de planta retangular medindo em meacutedia 12 X
17 metros com cobertura de duas aacuteguas sendo que suas dependecircncias e
instalaccedilotildees geralmente compreendiam duas estruturas baacutesicas para a produccedilatildeo
de ferro o sistema hidraacuteulico ao qual jaacute se fez referecircncia e o edifiacutecio de
produccedilatildeo
A construccedilatildeo desse edifiacutecio principal era executada por construtores
especializados em teacutecnicas de edificaccedilotildees em alvenaria de pedra bem como na
instalaccedilatildeo de sistemas hidraacuteulicos exigindo a participaccedilatildeo de carpinteiros os
quais seriam os responsaacuteveis pela construccedilatildeo da roda drsquoaacutegua dos eixos da caixa
de aacutegua e das estruturas para o telhado 93
Para a operaccedilatildeo das ldquoferreriacuteasrdquo era necessaacuterio contar com pessoal teacutecnico
com conhecimentos tanto em mineraccedilatildeo quanto na fundiccedilatildeo bem como no
manejo dos dispositivos de utilizaccedilatildeo da energia das aacuteguas dos rios atraveacutes do
sistema hidraacuteulico
Este edifiacutecio destinado a produccedilatildeo abrigava diversos compartimentos
sendo o maior deles reservado agrave oficina a qual deveria se localizar ao lado da
Vala onde estava instalada a roda drsquoaacutegua que acionavam os eixos responsaacuteveis
pela movimentaccedilatildeo do malho e foles
O espaccedilo destinado agrave oficina era organizado de modo a levar em conta
duas unidades fundamentais de produccedilatildeo do ferro o forno de fundiccedilatildeo e o malho
A disposiccedilatildeo desses equipamentos no interior da oficina natildeo era aleatoacuteria uma
vez que a teacutecnica empregada para a fabricaccedilatildeo do ferro exigia que aqueles
Disponivel em lthttpwwweuskomediaorgeuskomediaSAunandigt Acesso em 20 marccedilo 2005 93 FERNANDEZA C La construccioacuten del hierro ndashmazos y ferreriacuteas Escuela Universitaacuteria de Arquitectos tecnicos de la Corunatilde Disponiacutevel em wwwguillenderohancomEXPOGRImzos-memoriahtm Acesso em 07mar06
174
equipamentos estivessem posicionados nas proximidades tendo em vista o fato
de os trabalhos serem complementares
Aleacutem da oficina o edifiacutecio principal deveria abrigar depoacutesitos de mateacuteria-
prima como carvatildeo vegetal e mineacuterio de ferro jaacute calcinado (tostado) e uma aacuterea
comum de descanso
Fig 76 SISTEMA DE ldquoPUJOacuteN TUERTOrdquo foles e malho satildeo acionados com o emprego de uma uacutenica roda hidraacuteulica94
94 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponivel emhttpwwwbizkaianetKulturaKirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablePrimitivas_instalacionespdf Acesso em 17 novembro de 2006
175
Fig 77 TRABALHO DE EXTRACcedilAtildeO DA MASSA DE FERRO 63 Sistema hidraacuteulico produccedilatildeo da forccedila motriz 631 Dique de represamento do ribeiratildeo do Ferro
As investigaccedilotildees de campo natildeo possibilitaram localizar o Dique de
represamento do ribeiratildeo do Ferro possivelmente em razatildeo da fragilidade dessas
estruturas diante da forccedila das aacuteguas
Entretanto vale registrar o testemunho de Luiz Lopes de Carvalho o qual
em carta dirigida ao Rei de Portugal em maio de 1692 afirmava que
por experiecircncia que fiz pelas minhas matildeos pois fabricando um
Engenho muito limitado por natildeo ter posses que mais tirava todos
os dias este rendimento de um quintal de ferro de duas pedras
176
poreacutem soacute cinco dias continuei nesta oficina em razatildeo de ir uma
cheia e como pela pobreza afabriquei com pouca fortaleza se
arruinou ficando incapaz de poder continuar na faacutebrica95
632 Canal de Derivaccedilatildeo das aacuteguas
As condiccedilotildees de erosatildeo na aacuterea do possiacutevel traccedilado tambeacutem natildeo
permitiram localizar a estrutura do dique responsaacutevel pelo desvio das aacuteguas no
ribeiratildeo do Ferro bem como localizar a comporta responsaacutevel pelo controle do
acesso de aacuteguas em direccedilatildeo ao canal
Deve-se ressaltar que a estrutura do dique eacute necessaacuteria para a elevaccedilatildeo
do niacutevel da aacutegua do ribeiratildeo para o desvio enquanto que a comporta permitiria
regular a vazatildeo em direccedilatildeo ao Canal de Derivaccedilatildeo A aacutegua conduzida atraveacutes do
deste Canal de derivaccedilatildeo impulsionada pela gravidade alcanccedilaria a entrada da
Vala sendo em seguida recolhida em um depoacutesito posicionado sobre aquela
estrutura
A Figura 78 mostra um possiacutevel traccedilado do referido canal sendo que no
desenho o iniacutecio do canal foi posicionado num ponto do ribeiratildeo acima da cota
583m conforme o levantamento planialtimeacutetrico executado na aacuterea do Siacutetio
Arqueoloacutegico Afonso Sardinha96
95 Carta enviada por Luiz Lopes de Carvalho ao Rei de Portugal datada de maio de 1692 RODRIGUES Leda Maria Pereira As minas de ferro em Biraccediloiaba ndash Satildeo Paulo seacuteculos XVI XVII XVIII Anais do III Simpoacutesio dos Professores Universitaacuterios de Histoacuteria Franca 1966 p 218 96 Planta Planialtimeacutetrica Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha Escala 1200 CENEA sd
177
Fig 78 TRACcedilADO ESQUEMAacuteTICO DO CANAL DE DERIVACcedilAtildeO
633 Vala da roda A finalidade da estrutura da Vala eacute a de abrigar a roda drsquoaacutegua dispositivo
necessaacuterio para transformar a energia hidraacuteulica em energia mecacircnica para
movimentar os equipamentos e ferramentas da Faacutebrica de Ferro
A Vala da roda foi construiacuteda com paredes de blocos de pedras de modo a
permitir o fluxo da correnteza e ao mesmo tempo proteger o terreno contra as
erosotildees impedindo as infiltraccedilotildees das aacuteguas para o interior das dependecircncias da
Edificaccedilatildeo Principal
O fato de natildeo terem sido encontrados fragmentos de telhas no interior da
Vala quando foram realizadas as pesquisas arqueoloacutegicas parecem indicar que
178
os esteios natildeo serviam para sustentar telhado Por outro lado a Histoacuteria da
Teacutecnica mostra que outras instalaccedilotildees da mesma eacutepoca destinadas a produccedilatildeo
da energia hidraacuteulica tambeacutem natildeo apresentavam telhado na aacuterea da Vala
Sendo assim sobram duas hipoacuteteses para explicar a existecircncia daqueles
esteios A primeira hipoacutetese eacute que tais esteios serviriam para sustentar uma calha
de madeira com uma extensatildeo da ordem de 12 metros responsaacutevel pela
conduccedilatildeo e descarga da aacutegua diretamente sobre as paacutes da roda valendo-se de
um dispositivo denominado empejeiro ou pejador que servia para o controle da
quantidade de aacutegua descarregada sobre a roda (KATINSKY 1985 p 230)
Outra possibilidade eacute que os esteios sustentavam um reservatoacuterio de aacutegua
- o ldquobanzaordquo - responsaacutevel pelo repouso do liacutequido de modo a garantir a sua
descarga controlada sobre as paacutes da roda conforme os projetos comumente
encontrados nas construccedilotildees das ldquoferreriacuteas de aguardquo da regiatildeo Basca - Espanha
(Figura 79)
A laje de pedra do fundo da Vala mostra forte declividade da Vala sendo
que na extremidade superior (coincidente com o ponto de interligaccedilatildeo com o
Canal de Derivaccedilatildeo) a cota eacute igual a 453 enquanto que na extremidade inferior
junto a margem do ribeiratildeo do Ferro a cota do terreno eacute igual a 041 Sendo
assim o desniacutevel total eacute de 412 metros na extensatildeo total da Vala igual a 19
metros ou seja cerca de 20
Outra observaccedilatildeo importante eacute que o niacutevel do fundo da Vala no ponto
meacutedio da sua extensatildeo seria igual a 230 m mostrando nesta posiccedilatildeo desniacutevel de
cerca de 2 metros abaixo do provaacutevel niacutevel da Faacutebrica (cota aproximada 450 m)
revelando a possibilidade de alojamento da roda drsquoaacutegua a partir desta mesma
posiccedilatildeo
O desenho do arranjo do sistema hidraacuteulico encontrado no Sitio Sardinha
mostra semelhanccedilas claras com o arranjo que caracterizam as ferreriacuteas bascas
179
O exame do conjunto das estruturas mostram que a construccedilatildeo tirou partido da
declividade do terreno para aproveitamento da forccedila da gravidade aplicada ao
processo da produccedilatildeo do ferro
634 A Caixa de Aacutegua - ldquoBanzaordquo O ldquobanzaordquo era uma caixa de aacutegua com volume adequado para garantir o
repouso da aacutegua instalado acima do niacutevel da Vala em uma posiccedilatildeo diretamente
sobre a roda A instalaccedilatildeo dessas caixas tinha por objetivo garantir uma altura da
queda drsquoaacutegua necessaacuteria para impulsionar a roda e ao mesmo tempo armazenar
um volume de aacutegua adequado para direcionar o jato diretamente sobre as paacutes
da roda com uma pressatildeo constante de modo a resultar o movimento uniforme
para a rotaccedilatildeo da roda
Os rdquobanzaosrdquo mais ruacutesticos e antigos eram feitos de madeira material que
criava vaacuterios problemas de manutenccedilatildeo fato que levou agrave substituiccedilatildeo desse
material a partir do seacuteculo XVIII por alvenaria de pedra
O acionamento da roda se dava por meio de uma espeacutecie de vara
localizada no interior da Faacutebrica a qual permitia regular a quantidade de aacutegua
descarregada sobre a roda Elena Faus descreve esse funcionamento da
seguinte forma
El paso del aacutegua a la rueda se abre o cierra por meacutedio de
tanpones o ldquochimbosrdquo Cuando los operaacuterios los abren salta y
golpea directamente las palas de la rueda instalada debajo
provocando su giro Con el fin de evitar peacuterdidas de liacutequido y
maximizar su rendimiento se antildeade un canal ldquoguzur-askardquo que lo
conduce directamente sobre la rueda Posteriormente se evacua
por un aliviadero la ldquoonda-askardquo (FAUS 2000 p 63)
180
Contudo mesmo apostando na hipoacutetese de que haveria um ldquobanzaordquo
acima da Vala encontrada torna-se difiacutecil estabelecer a sua dimensatildeo e volume
Mas as evidecircncias encontradas sugerem que esta caixa de aacutegua deveria ter no
maacuteximo 12 metros de comprimento (medidos a partir do inicio do canal ateacute o
uacuteltimo vestiacutegio de esteio) por aproximadamente 225 m (largura da vala)
restando indefinida a medida da altura da caixa
Fig 79 SOLUCcedilAtildeO EM ldquoBANZAOrdquo DE MADEIRA ndash DEPOacuteSITO DE AacuteGUA97
97 LAS FERRERIacuteAS DE AGUA DE ASTURIAS Disponivel em ltwwwbelmontedemirandanetfraguaindexhtmgt Acesso em 20jun05
181
635 A roda hidraacuteulica
Em 1983 quando foram iniciadas as pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio
Afonso Sardinha a Vala destinada agrave instalaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua jaacute havia sido
identificada Contudo eacute somente em 1986 que as pesquisas se concentraram na
aacuterea daquela Vala Graccedilas ao fato de esta estrutura ter permanecido enterrada a
mesma ficou preservada possibilitando avaliar a sua funccedilatildeo e o fato de que o
local deveria ter sido destinado agrave instalaccedilatildeo de uma roda hidraacuteulica vertical com
eixo horizontal (Figura 79)
A utilizaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua para os trabalhos metaluacutergicos natildeo era
novidade para os empreendimentos dessa natureza pois a teacutecnica aplicada para
a construccedilatildeo desse tipo de Faacutebrica jaacute era bastante difundida entre os artesatildeos da
Idade Meacutedia os quais buscaram adaptar as ferramentas utilizadas no trabalho da
produccedilatildeo de ferro (por exemplo foles e malhos) de modo a permitir a sua
movimentaccedilatildeo atraveacutes da forccedila obtida das rodas drsquoaacutegua
Em 1104 os ldquomoinhos para bater o ferrordquo jaacute eram encontrados nos Pirineus
espanhoacuteis Gille os descreve da seguinte forma
as forjas que anteriormente eram acionadas a braccedilos e que
itinerantes deslocavam-se agrave procura dos fornos-baixos a
procura de mateacuteria prima e do combustiacutevel a partir de entatildeo se
estabelecem permanentemente ao longo dos rios (GILLE Apud
GAMA 1985 p 133)
Entre os seacuteculos XIV e XV surgiram no paiacutes basco adaptaccedilotildees da roda
hidraacuteulica para acionar os ldquosoprantesrdquo - os foles - (instrumentos utilizados para
insuflar oxigecircnio para dentro dos fornos) possibilitando intensificar a combustatildeo
do carvatildeo vegetal de modo a elevar a temperatura no interior do forno No paiacutes
basco o martelo hidraacuteulico jaacute havia sido incorporado agravequela atividade desde o
seacuteculo XV em Gipuzkoa e desde o seacuteculo XVI em Biskaia ambas localizadas na
182
regiatildeo basca Em 1531 operavam em ambas as regiotildees cerca de 200
estabelecimentos utilizando essa teacutecnica (FAUS 2000 p 60)
Fig 80 ldquoLOCALIZACcedilAtildeOrdquo DO MALHO E DA RODA HIDRAUacuteLICA (INTERPRETACcedilAtildeO) (Desenho Agnaldo Zequini)
183
6 4 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo
O local onde se encontra instalada a Faacutebrica de Ferro do Sitio Arqueoloacutegico
Afonso Sardinha oferece todas as condiccedilotildees fisiograacuteficas favoraacuteveis para a
instalaccedilatildeo daquele empreendimento De fato o conjunto se encontra
praticamente na aacuterea das jazidas de mineacuterios de ferro junto a um ribeiratildeo com
quantidade de aacuteguas satisfatoacuterias para o caso de produccedilatildeo do ferro relativamente
pequena como deveria ser o caso da instalaccedilatildeo existente no morro de Araccediloiaba
Outro fator decisivo para a produccedilatildeo de ferro era a presenccedila de matas com
abundacircncia de madeiras A esse respeito segundo uma descriccedilatildeo do Vale das
Furnas apresentada no decorrer de 1692 por Luiz Lopes de Carvalho (um dos
que investiram na construccedilatildeo de Faacutebrica de Ferro naquele local) o mesmo
lastimava o fato de ter que reduzir os ldquodensos arvoredos em que se achatildeo paos
Reais e madeirasrdquo em carvatildeo o uacutenico combustiacutevel utilizado nos processos de
fundiccedilatildeo de ferro (RODRIGUES 1963 p 203)
O mesmo Luiz Lopes de Carvalho testemunhava naquele mesmo ano que
aquele morro estava coberto ldquode mineral de ferro de meuda aacuterea athe pedras de
des a Robas e mui dilatadas betas [veios] Profundas Largas e Compridasrdquo
esclarecendo que o mineacuterio ao ser submetido ao processo de reduccedilatildeo tinha um
rendimento de dois para um ldquoa cada douz quintais de pedra se tira hum de ferrordquo
(RODRIGUES 1966 p 204)
641 A Oficina da Faacutebrica de Ferro
A planta da Faacutebrica de Ferro encontrada com dimensotildees de 13m X 16m
permite identificar as provaacuteveis posiccedilotildees de cada uma das unidades de produccedilatildeo
184
necessaacuterias agrave fabricaccedilatildeo do ferro quais sejam o espaccedilo destinado a oficina e a
forja
No caso da construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro do Sitio Afonso Sardinha eacute
possiacutevel identificar a aacuterea destinada a oficina onde deveriam ficar instalados os
equipamentos do forno de fundiccedilatildeo e foles e do malho Nessa planta a aacuterea estaacute
identificada pelas letras C e F (Anexo 9)
Fig81 FAacuteBRICA DE FERRO DO SITIO AFONSO SARDINHA ARRANJO DOS EQUIPAMENTOS (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)
185
Fig 82 FAacuteBRICA DE FERRO PLANTA BAIXA (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)
Contudo entre os anos de 1986-1987 quando foram aprofundadas
as pesquisas arqueoloacutegicas naquelas aacutereas por meio de decapagem e abertura
de trincheiras natildeo foram encontrados vestiacutegios materiais que permitissem
identificar os locais dentro da oficina onde estariam instalados os fornos e o
malho como tambeacutem nenhum resiacuteduo testemunho da produccedilatildeo de ferro
Diante dessa constataccedilatildeo podemos levantar pelo menos duas hipoacuteteses
de interpretaccedilatildeo Uma delas estaacute relacionada agrave proacutepria natureza daquele siacutetio o
qual ao longo dos seacuteculos sofreu vaacuterias intervenccedilotildees antroacutepicas que poderiam
186
provocar algumas perturbaccedilotildees no registro arqueoloacutegico colaborando dessa
forma para o desaparecimento das evidecircncias
A segunda hipoacutetese decorre do fato de que os exames das condiccedilotildees de
superfiacutecie do terreno na parte da edificaccedilatildeo identificada como ldquoCrdquo (Oficina)
apresentam indiacutecios de antigas erosotildees decorrentes da presenccedila do ribeiratildeo do
Ferro Tal interpretaccedilatildeo permitia concluir que as enchentes do ribeiratildeo do Ferro
seriam responsaacuteveis pela pequena quantidade de artefatos arqueoloacutegicos
naquela aacuterea (Figura 81)
A figura abaixo apresenta um corte do terreno na provaacutevel aacuterea da Oficina
mostrando irregularidade na superfiacutecie do piso possivelmente decorrente de
erosotildees junto a margem do ribeiratildeo do Ferro provocadas pelas enchentes
187
Fig 83 INDICACcedilAtildeO DA POSSIacuteVEL AacuteREA ERODIDA PELAS ENCHENTES ndash AREA C ndash (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)
188
6411 O Malho O malho era um instrumento imprescindiacutevel para o processo de produccedilatildeo
do ferro pelo denominado meacutetodo direto Essa ferramenta possuiacutea um longo
braccedilo de madeira que media cerca de trecircs a quatro metros de comprimento e
funcionava como alavanca com apoio intermediaacuterio Uma das extremidades do
braccedilo dessa alavanca funcionava como um martelo e apresentava na
extremidade uma cabeccedila de ferro ndash o malho ndash que dava o nome ao equipamento
Em outra extremidade havia um dispositivo que permitia transformar o movimento
de rotaccedilatildeo da roda em deslocamento vertical oscilante do braccedilo permitindo
assim que o malho golpeasse a ldquobola de ferrordquo que ficava apoiada em uma
bigorna
Ao golpear a ldquobola de ferrordquo denominaccedilatildeo dada ao produto retirado do
interior do forno de fundiccedilatildeo esta operaccedilatildeo perseguia trecircs objetivos importantes
eliminar as escoacuterias que ainda permaneciam aderidas a bola de ferro compactar
aquela massa e finalmente dar forma de barra ou lingote que era o produto final
para a comercializaccedilatildeo
A operaccedilatildeo desse martelo com funcionamento hidraacuteulico eacute descrito em um
texto informativo publicado pela Universidade de Oviedo-Espanha sem menccedilatildeo
de autor e ano de publicaccedilatildeo
La rueda hidraulica movida por el impulso del agua le comunica al
eje o aacuterbol un movimiento rotatoacuterio de este agraverbol sobresalen unos
dientes a modo de levas concretamente cuatro situados a 90ordm los
manobreiros quem en su giro percuten sobre el extremo del
mango del martillo la dendala en su movimiento oscilante el
yunque o incre esta golpeo se repite cuatro veces por cada giro
completa de la rueda 98
98 Ingenios hidraulicos histoacutericos molinos batanes y ferreriacuteas Universidad de Oviedo ndashEspana Disponiacutevel e em lthttpwww1unioviesasturiasferreriasgt Acesso em 17 jun 04
189
O movimento do malho era produzido mediante a transmissatildeo de forccedila
originada atraveacutes do eixo de uma roda hidraacuteulica especifica para esta tarefa Um
segundo tipo de sistema de acionamento utilizava uma uacutenica roda hidrauacutelica para
movimentaccedilatildeo do braccedilo do malho e ao mesmo tempo pelo acionamento dos
foles Este uacuteltimo sistema era conhecido como ldquopujoacuten tuertordquo e era o sistema mais
comumente empregado nas ferrariacuteas bascas99
No Brasil a utilizaccedilatildeo dessa ferramenta para a produccedilatildeo de ferro eacute
encontrada em documentos relacionados agrave construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de
Santo Amaro no iniacutecio do seacuteculo XVII Em 1605 para instalaccedilatildeo dessa Faacutebrica
foram entregues pela Administraccedilatildeo Espanhola agrave Diogo de Quadros ldquo2 malhos
que podiam pesar pouco mais ou menos entre ambos 3 quintais mais duas
argolas grandes da mesma ferramentardquo (RODRIGUES 1963 p 190)
Possivelmente foi entregue a Diogo de Quadros apenas a ldquocabeccedila de ferrordquo
(o malho propriamente dito) enquanto que as demais peccedilas da estrutura pelo
fato de serem confeccionadas inteiramente com madeira poderia ter sido
fabricada no Brasil
No caso da Faacutebrica de Ferro do Siacutetio Afonso Sardinha dispotildeem-se apenas
de documentos escritos que registram a presenccedila desse equipamento conforme
a carta escrita no ano de 1768 por D Luiz Antonio de Souza Governador da
Capitania de Satildeo Paulo dirigida ao Conde de Oeiras atraveacutes da qual apresenta
informaccedilotildees sobre a Faacutebrica de Ferro que havia sido construiacuteda por Domingos
Pereira Ferreira e seus soacutecios
Nesse documento D Luiz afirmava que aquele empreendimento era uma
das atividades que estava dando maior preocupaccedilatildeo em sua gestatildeo explicando
que
99 Binganaria no sistema de pujoacuten tuerto a Binganaria corresponde agrave viga de transmissatildeo entre a roda hidraacuteulica e os foles
190
se tem trabalhado desde aquele tempo [1760] ateacute o presente
em grandes dispecircndios dos acionistas em fazer fornos
grandes e pequenos por diferentes modos safras [bigorna
de ferreiro] martelos malhos rodas e engenhos para os
mover e tudo o necessaacuterio (RODRIGUES 1966 p 190)
Uma outra notiacutecia relacionada a essa mesma Faacutebrica ficou registrada em
outra documentaccedilatildeo datada de 1770 atraveacutes da qual Jacinto Joseacute de Abreu um
dos soacutecios de Domingos Pereira Ferreira dava conta de que o andamento dos
trabalhos lhe estava causando o ldquomaior desgostordquo pelo fato de ter quebrado o
malho ldquoque tanto dispecircndio e trabalho custourdquo A reclamaccedilatildeo expressada por
Jacinto Joseacute de Abreu pode ser compreendida natildeo somente pelo prejuiacutezo
financeiro decorrente da perda direta da peccedila como tambeacutem pelo prejuiacutezo
decorrente da consequumlente paralisaccedilatildeo da produccedilatildeo do ferro
6412 ndash O Forno de Fundiccedilatildeo e Foles As pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio Afonso Sardinha natildeo lograram
identificar vestiacutegios materiais de fornos de fundiccedilatildeo no interior da aacuterea
reconhecida como sendo a Oficina da Faacutebrica Tendo em vista o arranjo e a
extensatildeo do espaccedilo levantado pelas pesquisas de campo bem como as teacutecnicas
de fundiccedilatildeo de ferro disponiacuteveis de acordo com os estudos da histoacuteria da teacutecnica
para o periacuteodo que interessa ao presente trabalho entendemos que eacute correto
afirmar que o forno de fundiccedilatildeo ali empregado deveria ser do tipo ldquoforno baixordquo
De qualquer forma natildeo eacute possiacutevel afirmar que o meacutetodo de fundiccedilatildeo
utilizado no interior da Faacutebrica de Ferro corresponda ao que eacute conhecido como
ldquomeacutetodo catalatildeordquo ou ldquoforno catalatildeordquo uma vez que as pesquisas arqueoloacutegicas e
tambeacutem as documentais natildeo conseguiram encontrar qualquer dado a respeito do
modelo do forno de fundiccedilatildeo ali utilizado nem qualquer informaccedilatildeo a respeito do
processo de extraccedilatildeo do ferro na operaccedilatildeo de fundiccedilatildeo
191
De fato o forno catalatildeo se diferenciava dos demais fornos baixo por
apresentar uma forma que lembrava o de uma piracircmide invertida com trecircs
paredes planas e uma convexa confeccionadas com pedras refrataacuterias
(GARCIA sd p7) O que tambeacutem caracterizava o forno catalatildeo era o
procedimento de colocaccedilatildeo do carvatildeo e do mineacuterio no interior do forno para
extraccedilatildeo do metal Pere Molera I Sola (1982 p 208) ao analisar o procedimento
direto de obtenccedilatildeo do ferro pelo meacutetodo catalatildeo assinala que este meacutetodo
apresentava a peculiaridade de empregar a teacutecnica de ldquotrompa de aacuteguardquo para
promover a injeccedilatildeo do ar para dentro do forno Entretanto alguns fornos
reconhecidos como do tipo catalatildeo tambeacutem empregavam a teacutecnica de foles
movidos por roda drsquoaacutegua com aquele objetivo
O mesmo autor esclarece que o forno catalatildeo era
sin duda elemento maacutes importante consistia en una cavidad de
forma trocopiramidal invertida cuyas dimensiones de la base
mayor estaban en torno a los 60 por 50 cm La altura era de unos
80 cm Dentro de la nave industrial el horno estaba situado junto
a una pared principal denominada lsquopiec del focrsquo (pie del fuego)
todas las paredes del horno presentaban superficies planas
menos lsquolrsquoore o contraventrsquo (contraviento) que para facilitar la
extraccioacuten del producto reducido ofreciacutea una superficie convexa
y estaban parcialmente recubiertas con planchas de acero La
pared del horno adosada al lsquopiec del focrsquo y opuesta a lsquolrsquoorersquo se
denominaba lsquoles porguesrsquo (las cribas) y estaba atravesada por la
tobera que inyectaba aire al horno Entre ambas las paredes
estaba el lsquolleteirolrsquo (rebosadero) pared agujereada para faciclitar
la eliminacioacuten de la escoria liquida frente a la cual se encontraba
la lsquocavarsquo pared de piedra sin revistir y ligeramente inclinada
(SOLA 1982 p 208-209)
A operaccedilatildeo de fundiccedilatildeo eacute descrita pelo mesmo autor conforme segue
192
La operacioacuten de reduccioacuten de la mena concentrada se iniciaba
cubriendo el fono del horno con polvo de carboacuten vegetal Se le
prendia fuego Una vez caliente el horno se antildeadia una capa de
trozos de caroacuten de mayor tamantildeo E inmediatamente se
superponia una plancha de acero en al centro del horno paralela
a las lsquoporguesrsquo Ello permitiacutea situar una capa vertical de carboacuten en
al lado de la tobera y una capa de mineral al otro lado de la
plancha Se quitaba luego la plancha y se cubriacutea la parte superior
del mineral con una capa de pequentildeos trozos de carboacuten huacutemedo
y escorias al objeto de que la superficie externa quedase de
forma esfeacuterica y concentrase las llamas Se insuflaba aire por las
toberas y a la hora y media se alcanzaban ya temperaturas
superiores o los 1200 grados C Durante tres o cuatro horas
consecutivas se iba antildeadiendo mineral y carboacuten al tiempo que
por el ldquolletirolrdquo se eliminaba la escoria liquida Si la escoria era
densa lo que evidenciaba un alto contenido en hierro se volviacutea a
introducir en el horno La operacioacuten terminaba cuando en el fondo
del horno se formaba una bola irregular de unos 100 kilogramos
de peso de hierro o acero dulce con inclusiones de escoria y
poros el lsquomasserrsquo (zamarra) En se momento empezaba la
operacioacuten maacutes espectacular de la fraga la saca el lsquomasserrsquo del
horno y transportarlo hasta el martinete lo que requeriacutea el
concurso de todo el personalrdquo (SOLA 1982 p 211-212)
193
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
1- A partir das evidecircncias arqueoloacutegicas levantadas pela pesquisadora Margarida
Davina Andreatta no Siacutetio Afonso Sardinha foram elaboradas anaacutelises e em
seguida as interpretaccedilotildees com base nos conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica
e da Histoacuteria da Teacutecnica relacionadas a produccedilatildeo de ferro Tais estudos
permitiram comprovar que aquela aacuterea arqueoloacutegica corresponde a um campo de
exploraccedilatildeo e produccedilatildeo de ferro desde a segunda metade do seacuteculo XVI
2- As ruiacutenas da edificaccedilatildeo principal identificadas como ldquoBrdquo (Forja) e ldquoCrdquo (Oficina)
tratam-se de aacutereas de produccedilatildeo de uma Faacutebrica de Ferro O espaccedilo identificado
como ldquoDrdquo corresponde a uma vala de acomodaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua responsaacutevel
pela produccedilatildeo da forccedila de origem hidraacuteulica necessaacuteria para movimentar os
equipamentos e ferramentas da fabricaccedilatildeo ( Anexo 9)
3- Os exames das condiccedilotildees de superfiacutecie do terreno na parte da edificaccedilatildeo
identificada como ldquoCrdquo (Oficina) apresentam indiacutecios de antigas erosotildees
decorrentes da presenccedila do ribeiratildeo do Ferro sendo que esta interpretaccedilatildeo
permite concluir que os fenocircmenos apontados foram os responsaacuteveis pela
ausecircncia de artefatos arqueoloacutegicos naquela aacuterea
4- Os exames dos vestiacutegios dos fornos de fundiccedilatildeo encontrados nas aacutereas A e
A2-B externa do edifiacutecio principal da fabricaccedilatildeo de ferro indicam que satildeo do tipo
baixo provavelmente insulflados a fole de matildeo natildeo sendo possiacutevel afirmar que
seriam fornos do tipo catalatildeo
5- As ruiacutenas da Faacutebrica de Ferro indicam que as mesmas tratam de instalaccedilotildees
de modelo de produccedilatildeo industrial inclusive com divisatildeo de tarefas em aacutereas
distintas uso de energia hidraacuteulica transformada em forccedila mecacircnica para
194
movimentaccedilatildeo das ferramentas e para insuflaccedilatildeo do ar para queima do carvatildeo
nos fornos de fundiccedilatildeo
6- As dataccedilotildees absolutas e tambeacutem as relativas realizadas indicaram que naquele
local houve uma sobreposiccedilatildeo de distintos empreendimentos para a produccedilatildeo do
ferro desde o final do seacuteculo XVI e ao longo do seacuteculo XVIII
7- A causa mais provaacutevel do insucesso econocircmico de todas as tentativas de
produccedilatildeo de ferro em Araccediloiaba se relaciona a mineralogia da magnetita e
associaccedilotildees com outras substancias minerais as quais eram nocivas agrave qualidade
do produto metaluacutergico Neste caso vale ressaltar a presenccedila prejudicial
principalmente do titacircnio e do foacutesforo cujas presenccedilas eram desconhecidas pelos
exploradores
8- A planta da edificaccedilatildeo principal (aacutereas ldquoBrdquo ldquoCrdquo e ldquoDrdquo e ldquoFrdquo) evidenciada se
ajusta aos arranjos de espaccedilo produtivo de ferro tiacutepicos de modelos encontrados
naquele mesmo periacuteodo nas aacutereas de mineraccedilatildeo da Peniacutensula Ibeacuterica
notadamente aquele desenvolvido na regiatildeo basca (Anexo 9)
195
BIBLIOGRAFIA E ARQUIVOS PESQUISADOS
ARQUIVOS Arquivo da Cidade de Satildeo Paulo Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Arquivo do Museu Histoacuterico Sorocabano Arquivo Municipal da Cidade de Itu Documentaccedilatildeo do Museu Paulista -USP Instituto de Estudos Brasileiros ndash USP Museu Republicano Convenccedilatildeo de ItuMPUSP Projeto Arqueologia Histoacuterica ndash Museu Paulista USP Todas as fotografias croquis e plantas relacionadas a pesquisa arqueoloacutegica realizada no Siacutetio Afonso Sardinha entre os anos de 1983-1989 e que estatildeo inseridas nesta tese foram reproduzidas a partir deste acervo BIBLIOGRAFIA ABSAacuteBER Aziz Nacib Morro de Ipanema conhecimentos Scientific American Brasil Ediccedilatildeo Nordm 52 - setembro de 2006 Disponiacutevel em lthttpwww2uolcombrsciamconteudoeditorialeditorial_36Htmlgt Acesso em 14mar06 ARAUJO M Alves Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo de Ipanema Auxiliador da Industria Nacional n50 Rio de Janeiro1882 ABREU Joatildeo Capistrano de Capiacutetulos de histoacuteria colonial (1500-1800) amp Os caminhos antigos e o povoamento do Brasil Brasiacutelia Editocircra Universidade de Brasiacutelia 1963 ALBUQUERQUE Gislene Batista RODRIGUES Ricardo Ribeiro A vegetaccedilatildeo do Morro de Araccediloiaba Floresta Nacional de Ipanema (SP) Scientia Florestalis n58 p 145-159 dez 2000 Disponiacutevel em lt wwwipefbrpublicacoesscientianr58cap11pdfgt
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GLOSSAacuteRIO
Banzao de madeira BANZAO Denominaccedilatildeo que era dada na regiatildeo basca ndash Espanha para depoacutesitos de aacutegua que eram instalados sobre as rodas drsquoaacutegua e de onde era despejado jato de aacutegua sobre as paacutes daquela roda fazendo-a girar Na estrutura identificada por essa pesquisa as evidencias pressupotildee a utilizaccedilatildeo desse equipamento
BIGORNA Ferramenta feito por um bloco de pedra ou metal utilizado como suporte para martelar sobre o ferro
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CABECcedilA DE MALHO Peccedila metaacutelica que eacute afixada em uma das extremidades da ferramenta que leva esse nome
ESCOacuteRIA ldquorestos de fundiccedilatildeordquo um sub-produto da fundiccedilatildeo de mineacuterio para purificar metais No caso das teacutecnicas de fundiccedilatildeo utilizadas ateacute o seacuteculo XIX no Brasil as escoacuterias produzidas apoacutes o processo de fundiccedilatildeo apresentavam uma grande quantidade de ferro (metal) em sua composiccedilatildeo O que vale dizer que os fornos utilizados para aquela atividades natildeo alcanccedilavam as temperaturas acima de para proporcionar maior aproveitamento do mineacuterio empregado
Ferreriacutea de Bolunburu es un conjunto ferro molinero que desde el siglo XVII
FERRERIacuteA Edifico que abrigava as ferramentas e equipamentos para a produccedilatildeo do ferro O sistema de produccedilatildeo empregado nas ferrariacuteas denominado de meacutetodo direto de produccedilatildeo consistia em ldquocozinharrdquo o mineacuterio de ferro em fornos baixo usando como combustiacutevel o carvatildeo vegetal Apoacutes ldquocozidordquo o ferro se transformava em uma esponja de ferro que era levada para ser trabalhada sobre
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uma bigorna e golpeada pelo malho Este trabalho servia para compactar a massa liberar as escoacuterias e dar forma FERRO O ferro (do latim ferrum) eacute um elemento quiacutemico siacutembolo Fe de nuacutemero atocircmico 26
Foles acionados por forccedila humana seacuteculo XVI FOLES Equipamento utilizado para insuflar ar para dentro do forno promovendo assim a combustatildeo do carvatildeo Podiam ser acionados manualmente ou por utilizaccedilatildeo de roda drsquoaacutegua
Forno baixo com a utilizaccedilatildeo de fole manual FORNO BAIXO Espaccedilo normalmente de pequenas dimensotildees onde se realizava a reduccedilatildeo (extraccedilatildeo do metal ndashferro ndash do mineacuterio) e de Havia vaacuterias denominaccedilotildees para esse tipo de forno como fornos de vento fornos castelhanos fornos catalatildees forno de manga etc Estes fornos dada a sua dimensatildeo e os instrumentos de insuflaccedilatildeo do ar utilizado natildeo permitiam a fundiccedilatildeo do mineacuterio Nos fornos baixos acima referidos a disposiccedilatildeo do carvatildeo vegetal e dos pedaccedilos de mineacuterios no interior do forno eram feitos em camadas superpostas e horizontais
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Forno Catalatildeo e Trompa Hidrauacutelica FORNO CATALAtildeO O forno catalatildeo eacute assim denominado por ter sido uma teacutecnica desenvolvida nos Pirineus catalatildees A teacutecnica catalatilde ou meacutetodo catalatildeo de fundiccedilatildeo possuem alguns elementos que o caracterizam como 1- a forma de construccedilatildeo do forno que lembra uma lareira tendo o seu formato interno feito de forma de uma piracircmide invertida 2- disposiccedilatildeo interna do carvatildeo e dos pedaccedilos de mineacuterios dentro do forno os quais eram colocados de lados opostos e paralelos 3- utilizaccedilatildeo da trompa hidraacuteulica para insuflar oxigecircnio para a combustatildeo do carvatildeo esse sistema foi desenvolvido na regiatildeo da atual Itaacutelia e utilizado em grande escala nas faacutebricas de ferro da Catalunha Na regiatildeo Basca foram utilizados foles de grandes dimensotildees acoplados a roda drsquoaacutegua FORNO DE FUNDICcedilAtildeO Espaccedilo onde se daacute a reduccedilatildeo do mineacuterio No periacuteodo estudado a reduccedilatildeo ou fundiccedilatildeo era proporcionada pela queima proporcionada pela insuflaccedilatildeo de oxigecircnio por meio de foles manuais do carvatildeo vegetal que era colocada dentro desses fornos junto com pedaccedilos de mineacuterio FORJA Fornalha de que se servem os ferreiros e outros artiacutefices para incandescer os metais para serem trabalhados numa bigorna Do francecircs forge e do Latin fabrica Tambeacutem pode designar o trabalho realizado pelo ferreiro por meio do fogo e do martelo para dar forma aos metais
HEMATITA mineral de foacutermula oacutexido de ferro III (Fe2O3) um dos diversos oacutexidos de ferro
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MAGNETITA mineral magneacutetico formado pelos oacutexidos de ferro II e III ( FeO Fe2O3) cuja foacutermula quiacutemica eacute Fe3O4
MALHO Daacute se o nome de malho a peccedila metaacutelica que estaacute afixada em uma das extremidades do martinete o qual por conseguinte daacute o nome ao equipamento METAL elemento quiacutemico Satildeo metais os metais bem conhecidos satildeo alumiacutenio cobre ouro ferro prata titacircnio uracircnio e zinco MINERAL Substacircncia natural MINEacuteRIO mineral que conteacutem um metal na sua composiccedilatildeo quiacutemica Todo o mineacuterio eacute mineral OFICINA Ou Farga (em catalatildeo) espaccedilo em que estatildeo assentados o forno e o malho equipamentos destinados a produccedilatildeo de ferro MARTINETE Instrumento usado para golpear os metais incandescentes na forja para dar-lhes a forma desejada Tambeacutem pode designar um malho movido por roda drsquoagua METALURGIA Teacutecnica de obtenccedilatildeo dos metais No periacuteodo pesquisado a teacutecnica era conhecida como meacutetodo direto
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OacuteXIDOS Combinaccedilatildeo do oxigecircnio com outros elementos No nosso caso com ferro
TROMPA Mecanismo que aproveita a forccedila da caiacuteda da aacutegua para gerar um fluxo contiacutenuo em direccedilatildeo do forno Era um elemento caracteriacutestico do forno catalatildeo
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ANEXOS
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- FAacuteVERO Oriana Aparecida NUCCI Joatildeo Carlos De BIASI Maacuterio Mapeamento da vegetaccedilatildeo e usos das terras da Floresta Nacional de Ipanema IperoacuteSP
-
6
IacuteNDICE INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO 1 O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA QUESTOtildeES DA ARQUEOLOGIA HISTOacuteRICA 11 Contexto do presente trabalho 19
111 Avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos 19 112 Histoacuterico das descobertas das ruiacutenas 26 113 Consideraccedilotildees sobre a metodologia 32
114 Descriccedilatildeo geral das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas 37
12 Principais questotildees a serem abordadas no decorrer da Tese 46
CAPITULO 2 A TECNICA DE PRODUCcedilAtildeO DE FERRO NO PERIODO ENTRE OS SEacuteCULOS XVI AO XVIII 21 Consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia 47 22 O conceito de Teacutecnica 50 23 A valorizaccedilatildeo do conhecimento teacutecnico e a ciecircncia
experimental moderna 53 2 4 A Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica 55
25 A Teacutecnica de produccedilatildeo do ferro 59
26 Fornos de fundiccedilatildeo de ferro 64
27 Tratados Teacutecnicos de Metalurgia 78
CAPITULO 3 HISTOacuteRICO DA MINERACcedilAtildeO NO BRASIL COLONIAL 31 As primeiras expediccedilotildees mariacutetimas a busca dos metais nobres 83 32 O Peabiru uma trilha para o Sertatildeo 85 33 O descobrimento da prata em Potosi 88 34 A busca de metais nobres na Capitania de Satildeo Vicente 90 35 D Francisco de Sousa a organizaccedilatildeo da exploraccedilatildeo mineral 91
7
36 Teacutecnicos e praacuteticos na mineraccedilatildeo e metalurgia 94 37 A Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro 96
38 A Faacutebrica de Ferro do morro de Araccediloiaba os empreendedores 99 39 A Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema 103 CAPIacuteTULO 4 O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 41 Localizaccedilatildeo 109 42 A vegetaccedilatildeo 116 43 Rios e ribeirotildees
44 A magnetita o mineacuterio do morro de Araccediloiaba 119
45 Fatores fisiograacuteficos da ocupaccedilatildeo europeacuteia 123
CAPIacuteTULO 5 INVESTIGACcedilOtildeES ARQUEOLOacuteGICAS AS EVIDENCIAS DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO 126
51 Estruturas hidraacuteulicas para a produccedilatildeo da forccedila motriz 129
511 O Canal de Derivaccedilatildeo 129
512 A Vala da Roda 132
5121 Evidecircncias de esteios 134 52 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 137 521 Area ldquoCrdquo 137 522 A Aacuterea B (ldquoForjardquo) 139
53 Area E Sul da Faacutebrica de Ferro 150 531 Fornos de fundiccedilatildeo na aacuterea externa da Faacutebrica (Aacuterea A1) 155 531 Forno de Fundiccedilatildeo 1 157 532 Fornos de fundiccedilatildeo da Aacuterea A2 159 5321 Forno de fundiccedilatildeo 1 (aacuterea A2) 161 5322 Forno de fundiccedilatildeo 2 (aacuterea A2) 165
CAPITULO 6 INTERPRETACcedilOtildeES DOS DADOS ARQUEOLOacuteGICOS 61 Avaliaccedilatildeo das caracteriacutesticas do Arranjo das Estruturas 167 62 As ldquoferreriacuteasrdquo de aacutegua na Peniacutensula Ibeacuterica 170 63 Sistema hidraacuteulico produccedilatildeo da forccedila motriz 175
8
631 Dique de represamento do ribeiratildeo do Ferro 175 632 Canal de Derivaccedilatildeo das aacuteguas 176 633 Vala da roda 177 634 A Caixa de Aacutegua - ldquoBanzaordquo 179 635 A roda hidraacuteulica 180 6 4 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 183
641 A Oficina da Faacutebrica de Ferro 183 6411 O Malho 188 6412 Fornos de fundiccedilatildeo e foles 190 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 193 BIBLIOGRAFIA 195 GLOSSAacuteRIO 214 ANEXOS 220 1 Relatoacuterio de Ensaio ndash Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo ndash FATEC 2 Inventaacuterio de Peccedilas Ceracircmica 3 Inventario de Peccedilas Liacutetico 4 Inventaacuterio de Peccedilas Louccedilas 5 Inventaacuterio de Peccedilas Telhas 6 Inventaacuterio de Peccedilas Metal 7 Tratado da Arte de ensaiar e fundir cobre ferro e accedilo Ano de 1691 8 Aranzel ou Roteiro de haveres de oiro e pedras preciosas Ano de 1696 9 Planta Geral da aacuterea pesquisada Siacutetio Afonso Sardinha (Mapa 1) 10 Mapeamento das aacutereas de decapagem e escavaccedilatildeo ( Mapa 2) 11 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de lacircminas de metal (Mapa 3)
9
12 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de escoacuterias (Mapa 4) 13 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de blocos de arenito (Mapa 5) 14 Aacuterea E ndash Concentraccedilatildeo de cravos de metal (Mapa 6) 15 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de telhas (Mapa 7)
10
INDICE DAS FIGURAS
1 Mapa de localizaccedilatildeo da FLONA ndash Ipanema 2 Mapa de localizaccedilatildeo do Siacutetio Afonso Sardinha 3 Desenho esquemaacutetico da localizaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro 4 Aspecto do Siacutetio Afonso Sardinha 1983 5 Iniacutecio das pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio Afonso Sardinha 1983 6 Reuniatildeo de trabalhos 1984 7 Aspecto da Faacutebrica de ferro em 1987 8 Planta do Siacutetio Afonso Sardinha aacutereas A1 e A2 9 Planta da aacuterea A1 10 Vista Geral da aacuterea A1 11 Vista Geral da aacuterea A2 12 Planta da aacuterea A2B detalhe 13 Planta do morrote A2B 14 Aacuterea A2 morrote e evidencias de fornos de fundiccedilatildeo 15 Corte esquemaacutetico de um forno baixo 16 Maquete de forno de fundiccedilatildeo (Celta) 17 Forno de fundiccedilatildeo (romano) 18 Fornos de fundiccedilatildeo de lupa ou de vento 19 Corte esquemaacutetico de fornos de fundiccedilatildeo de lupa ou de vento 20 Fornos de fundiccedilatildeo de Guaira (Potosi)
11
21 Fornos de fundiccedilatildeo seacuteculo XVI 22 Fornos de Fundiccedilatildeo seacuteculo XVI 23 Arranjo funcional de uma Faacutebrica de Ferro 24 Elementos que compotildeem uma ldquoFarga Catalanrdquo 25 Traccedilado do Peabiru (Tronco de Satildeo Vicente) 26 Mapa do Peabiru feito por Pasquale Petrone 27 Prospecto das ruiacutenas da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro 28 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro de Ipanema 1827 29 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro de Ipanema seacuteculo XIX 30 Altos fornos geminados construiacutedos por Varnhagem 1818 31 Alto forno construiacutedo pelo Cel Mursa 1888 32 Roteiro Histoacuterico da Mineraccedilatildeo e metalurgia paulista 33 Mapa Geoloacutegico do Morro de Araccediloiaba 34 Bloco diagrama da regiatildeo da Serra de Araccediloiaba 35 Vista geral do morro de Araccediloiaba I 36 Vista geral do morro de Araccediloiaba II 37 Magnetita 38 Limpeza do Siacutetio Afonso Sardinha 1984 39 Equipe de trabalho 1988 40 Vista geral da aacuterea E 1988 41 Dimensotildees da Vala da roda e localizaccedilatildeo da evidecircncias de esteios 42 Vala da roda hidraacuteulica 1987 - I 43 Vala da roda hidraacuteulica 1987 ndash II 44 Evidecircncias de esteios
12
45 Detalhe da evidecircncia de esteios 46 Detalhe de um esteio 47 Topografia do terreno da aacuterea C 48 Vista geral da aacuterea C 1987 49 Reconstituiccedilatildeo das paredes da aacuterea B 1984 50 Evidecircncias de paredes da aacuterea B 1984 51 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - I 52 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - II 53 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - III 54 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI - I 55 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI - II 56 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI ndash III 57 Vasilhame de ceracircmica (0122) aacuterea B seacuteculo XVI ndash I 58 Vasilhame de ceracircmica (0122) aacuterea B seacuteculo XVI ndash II 59 ldquoTijelardquo faianccedila [seacuteculo XVII] 60 Escoacuteria ndash restos de fundiccedilatildeo aacuterea E 61 Telha (0115) aacuterea E seacuteculo XVIII 62 Telha aacuterea E 63 Telha aacuterea E 64 Raspador plano convexo aacuterea E 65 Garrafa de greacutes aacuterea A ndash forno1 66 Decapagem aacuterea A forno 1 67 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A1 68 Morrote e vestiacutegios de fornos de fundiccedilatildeo aacuterea A2
13
69 Croqui da aacuterea A2 morrote B 70 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A2 71 Croqui do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A2 72 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 - I 73 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 ndash II 74 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 ndash III 75 Aspecto de uma ldquoferreriacutea de aacuteguardquo seacuteculo XVII 76 Sistema de ldquopujoacuten tuortordquo 77 Trabalho de extraccedilatildeo da ldquobola de ferrordquo ou ldquomassa de ferro 78 Traccedilado esquemaacutetico do Canal de Derivaccedilatildeo aacuterea A1 (Interpretaccedilatildeo) 79 rdquo Depoacutesito de aacutegua soluccedilatildeo ldquoBanzaordquo 80 localizaccedilatildeo do malho e da roda hidraacuteulica (Interpretaccedilatildeo) 81 Faacutebrica de Ferro do Siacutetio Afonso Sardinha arranjo dos equipamentos (interpretaccedilatildeo) 82 Faacutebrica de Ferro Planta baixa (interpretaccedilatildeo) 83 Faacutebrica de Ferro aacuterea erodida (Interpretaccedilatildeo)
14
RESUMO
Esta Tese tem como objetivo analisar a pesquisa arqueoloacutegica e os
artefatos coletados no Sitio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha localizado no morro de
Araccediloiaba Iperoacute - Satildeo Paulo
O resultado da anaacutelise permitiu concluir que a aacuterea corresponde a um
campo de mineraccedilatildeo de ferro com a presenccedila de evidecircncias de uma Faacutebrica de
Ferro de um sistema de aproveitamento de energia hidraacuteulica para movimentar
os equipamentos e ferramentas destinadas a produccedilatildeo e de fornos de fundiccedilatildeo
Aleacutem disso a dataccedilatildeo do material ceracircmico (vasilhames e telhas) indica que as
atividades de exploraccedilatildeo do mineacuterio tiveram iniacutecio no seacuteculo XVI
Palavras-Chaves Arqueologia Histoacuterica Floresta Nacional de Ipanema Teacutecnica
de produccedilatildeo de ferro Colonial Sitio Afonso Sardinha morro de Araccediloiaba Iperoacute-
SP
15
ABSTRACT This Thesis has the goal to analyze archaeological research and artifacts
found in Afonso Sardinha Archaeological site located on Mount Araccediloiaba Iperoacute
Satildeo Paulo
The analysis result leads to the conclusion that the area corresponds to iron
mining field with the presence of Iron Factory evidence a system that makes use
of hydraulic power to move the equipment and tools used in the production and
small ovens to melt iron Besides the ceramic date (pots and tiles) indicates that
mineral digging activities began in the 16th century
Key words History Archeology Ipanema National Forest Colonial Iron
Production Technique Archeological Site Afonso Sardinha Mount Araccediloiaba
Iperoacute-SP
16
INTRODUCcedilAtildeO
A presente Tese busca analisar sob o ponto de vista da Arqueologia
Histoacuterica os resultados da pesquisa arqueoloacutegica desenvolvida pela pesquisadora
e arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta entre os anos de 1983 a 1989 na aacuterea
do siacutetio arqueoloacutegico Afonso Sardinha localizado no morro de Araccediloiaba
municiacutepio de Iperoacute a cerca de quinze quilocircmetros da cidade de Sorocaba Satildeo
Paulo
Os estudos desenvolvidos consideraram apenas os fatos relacionados agrave
exploraccedilatildeo e fabricaccedilatildeo do ferro no morro de Araccediloiaba desde finais do seacuteculo
XVI ateacute o seacuteculo XVIII portanto antes da instalaccedilatildeo do Estabelecimento
Montaniacutestico de Extraccedilatildeo de Ferro das Minas de Sorocaba em 1810 e mais tarde
com a denominaccedilatildeo de Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
O resultado final do trabalho do levantamento de campo formou um
conjunto vasto e consolidado em textos de Diaacuterios de Campo escritos pela
pesquisadora correspondecircncias levantamentos topograacuteficos planos de
escavaccedilatildeo croquis e desenhos geomeacutetricos de plantas das ruiacutenas croquis de
cortes estratigraacuteficos e de reconhecimento das escavaccedilotildees Inventaacuterio de Peccedilas e
fotografias tudo devidamente registrado em relatoacuterios da pesquisa arqueoloacutegica
17
Os artefatos coletados durante as investigaccedilotildees de campo foram
acondicionados em caixas devidamente protegidas e identificadas e depositadas
nas dependecircncias do Museu do Centro de Visitantes da FLONA de Ipanema
Foram desenvolvidos trabalhos de reconhecimento e anaacutelise detalhada dos
registros arqueoloacutegicos que resultaram da pesquisa de campo e em seguida
interpretadas as informaccedilotildees anteriormente consolidadas com base nos
conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia
Na elaboraccedilatildeo da siacutentese interpretativa foi necessaacuterio valer-se de
instrumentos disponiacuteveis em outras aacutereas do conhecimento tais como Geologia
Mineralogia Metalurgia Engenharia dentre outras aacutereas
Tambeacutem foram elaborados exames visuais e catalograacuteficos visando a
dataccedilatildeo relativa assim como foram encaminhadas amostras de ceracircmica as
quais foram submetidas a testes de dataccedilatildeo absoluta com base em ensaios de
Termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade de
Tecnologia de Satildeo Paulo - FATEC
Por outro lado amostras de resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias) foram
ensaiadas em laboratoacuterio para anaacutelise quiacutemica-mineraloacutegica no Departamento de
Mineralogia e Geotectocircnica GMG do Instituto de Geociecircncias da Universidade de
Satildeo Paulo
No Capiacutetulo 1 O Siacutetio Afonso Sardinha questotildees da Arqueologia Histoacuterica
optamos por colocar uma siacutentese dos achados arqueoloacutegicos no Sitio Afonso
Sardinha sendo que com base nas informaccedilotildees disponiacuteveis foram expostas as
questotildees da Arqueologia Histoacuterica que resultaram das investigaccedilotildees de campo e
de laboratoacuterio assim como das pesquisas bibliograacuteficas
No Capitulo 2 A Teacutecnica de Produccedilatildeo de Ferro no periacuteodo entre os
seacuteculos XVI ao XVIII foram analisadas e discutidas as questotildees conceituais da
18
teacutecnica e da tecnologia relacionadas a metalurgia no periacuteodo de interesse desta
Tese compreendido entre os seacuteculos XVI e XVIII Para compreensatildeo dos
processos de produccedilatildeo de ferro foram apresentadas descriccedilotildees dos
procedimentos de fabricaccedilatildeo bem como ilustraccedilotildees das ferramentas
equipamentos e maacutequinas em uso naquele estaacutegio do conhecimento teacutecnico
O Capiacutetulo 3 Histoacuterico da Mineraccedilatildeo no Brasil Colonial trata de uma
avaliaccedilatildeo da historiografia disponiacutevel sobre as atividades de mineraccedilatildeo no Brasil
e particularmente para o caso da entatildeo Capitania de Satildeo Vicente merecendo
esclarecer que parte destas obras foi produzida na primeira metade do seacuteculo XX
Aleacutem disso foram consultados documentos do Arquivo Municipal de Satildeo Paulo
do Arquivo do Estado de Satildeo Paulo e Biblioteca e Arquivo do Museu Histoacuterico
Sorocabano
No Capiacutetulo 4 O Sitio Afonso Sardinha apresenta-se a localizaccedilatildeo
geograacutefica as caracteriacutesticas geoloacutegicas e geomorfoloacutegicas do morro de
Araccediloiaba a vegetaccedilatildeo a hidrografia recursos minerais com destaque especial
para a presenccedila da Magnetita Finalmente oferece-se um contexto sucinto a
respeito da ocupaccedilatildeo colonial e a presenccedila de naturalistas viajantes inclusive
Saint Hilaire em 1919
No Capiacutetulo 5 Investigaccedilotildees Arqueoloacutegicas as evidencias de uma Faacutebrica
de Ferro com base em todos os dados que resultaram da pesquisa de campo
foram desenvolvidos trabalhos sendo que num primeiro momento relacionados
ao reconhecimento e anaacutelise detalhada dos registros arqueoloacutegicos fornecidos
pela pesquisa acima mencionada
No uacuteltimo Capiacutetulo de nuacutemero 6 Interpretaccedilotildees dos dados arqueoloacutegicos
buscou-se elaborar uma interpretaccedilatildeo das informaccedilotildees consolidadas nos
documentos produzidos a partir dos conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e
Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia
19
CAPIacuteTULO 1
O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA QUESTOtildeES DA ARQUEOLOGIA HISTOacuteRICA O presente Capiacutetulo tem por objetivo indicar um conjunto de questotildees que
deveratildeo ser analisadas no decorrer da elaboraccedilatildeo desta Tese as quais
emanaram dos resultados alcanccedilados pelas pesquisas arqueoloacutegicas realizadas
no siacutetio Afonso Sardinha pela pesquisadora e arqueoacuteloga Margarida Davina
Andreatta
Para melhor compreensatildeo dos fatos que fazem parte do contexto do
presente trabalho tendo em vista a identificaccedilatildeo daquelas questotildees satildeo
apresentados a) uma avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos que tratam de assuntos
relacionados ao siacutetio arqueoloacutegico b) um histoacuterico da descoberta das ruiacutenas c)
consideraccedilotildees sobre a metodologia utilizada d) uma descriccedilatildeo geral resumida
das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas
11 Contexto do presente trabalho 111 Avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos
As primeiras notiacutecias relacionadas agraves minas de ferro do Morro de
Araccediloiaba e com os trabalhos de fundiccedilatildeo daquele mineacuterio foram dadas por
Pedro Taques de Almeida Paes Leme (1714-1777) Aleacutem de sua obra mais
conhecida a Nobiliarquia Paulistana Histoacuterica e Genealoacutegica escreveu a Histoacuteria
da Capitania de Satildeo Vicente e um compecircndio sobre a exploraccedilatildeo e a legislaccedilatildeo
mineira intitulado Noticia das Minas de Satildeo Paulo e dos Sertotildees da mesma
Capitania
20
Neste uacuteltimo trabalho escrito na segunda metade do seacuteculo XVIII afirmou
ter sido o bandeirante Afonso Sardinha e seu filho mameluco do mesmo nome
ldquoos que tiveram a gloacuteria de descobrir ouro de lavagem nas Serras de
Jaramimbaba e do Jaraguaacute em Satildeo Paulo na de Votoruna em Parnaiacuteba e na
Biraccediloiaba no Sertatildeo do Rio Sorocaba ouro prata e ferro pelos anos de 1597rdquo
(TAQUES 1954 p 112) Em Notiacutecias Genealoacutegicas citado por Nicolau de
Campos Vergueiro PedroTaques completa aquela informaccedilatildeo indicando que
Afonso Sardinha havia construiacutedo uma faacutebrica e dois fornos de ferro em
Biraccediloiaba e que havia doado um dessas Faacutebricas agrave D Francisco de Souza
quando ldquoem pessoa passou a Biraccediloiaba no ano de 1600rdquo (VERGUEIRO 1978
p6)
Taques escreveu suas obras dentro de um contexto em que os trabalhos
historiograacuteficos buscaram dar um enfoque positivo a participaccedilatildeo bandeirante na
histoacuteria de Satildeo Paulo e ao mesmo tempo contrapor todas as outras narrativas
que haviam sido escritas nos seacuteculos anteriores sobretudo pelos Jesuiacutetas
Assim firmou para que Afonso Sardinha e seu filho passassem para a Histoacuteria
como tendo sido os descobridores daquelas minas e os pioneiros na fabricaccedilatildeo
do ferro no Morro de Araccediloiaba
Entre os veiacuteculos de divulgaccedilatildeo dessa historiografia estaacute o Instituto
Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo e do Brasil (sediado na cidade do Rio de
Janeiro) sendo este uacuteltimo responsaacutevel pela divulgaccedilatildeo das obras de Pedro
Taques1 Por outro lado aquelas afirmativas foram reforccediladas pelo
1 Os Institutos Histoacutericos e Geograacuteficos foram junto com os Museus brasileiros os primeiros e mais importantes espaccedilos que existiam no seacuteculo XIX para a pesquisa de humanidades e para a ciecircncia em geral no Brasil O Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo seraacute uma instacircncia de produccedilatildeo a afirmar uma suposta especificidade paulista elaborar tradiccedilotildees do estado ndash atraveacutes de biografias de seus vultos estudos sobre o passado da proviacutencia etc Nesse sentido eacute tambeacutem uma historiografia com teor ciacutevico paulista sobretudo mas que buscava afirmar a prevalecircncia de Satildeo Paulo perante a naccedilatildeo como um todo releitura da figura do bandeirante no sentido de elevaacute-lo agrave condiccedilatildeo de construtor da naccedilatildeo ROMANCINI Richard Inventando tradiccedilotildees os historiadores e a pesquisa inicial sobre o jornalismo II Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho Florianoacutepolis de 15 a 17 de abril de 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwjornalismoufscbrredealcarcdgrupos20de20trabalho20de20historia20da20midiahistoria20dos20jornalismotrabalhos_selecionadosrichard_romancinidocgt Acesso em 060706
21
desaparecimento de total ou significativa parcela dos documentos que
constituiacuteram as fontes pesquisadas por aquele autor tais como os arquivos do
Primeiro Cartoacuterio dos Oacuterfatildeos de Satildeo Paulo os da Provedoria da Real Fazenda e
os da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo2
Aleacutem disso uma significativa parcela dos trabalhos publicados entre os
seacuteculos XIX e XX sobre as atividades metaluacutergicas desenvolvidas no morro de
Araccediloiaba estavam voltados para as anaacutelises sobre os aspectos da geografia
historia mineralogia botacircnica e geologia a partir da implantaccedilatildeo da Real Faacutebrica
de Ferro de Ipanema fundada em 1810 3 Quanto aos periacuteodos anteriores a fonte
de informaccedilatildeo sempre foi a obra de Pedro Taques a qual foi amplamente
difundida com a publicaccedilatildeo da obra de Azevedo Marques intitulada
Apontamentos histoacutericos geograacuteficos bibliograacuteficos e estatiacutesticos da proviacutencia de
Satildeo Paulo em 1879
A construccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema estaacute inserida no acircmbito
da implementaccedilatildeo de poliacuteticas voltadas para favorecer a transferecircncia para a
colocircnia de todo o aparelho institucional do reino a partir da chegada de D Joatildeo VI
a cidade do Rio de Janeiro4 Entre os projetos estava a implantaccedilatildeo e
desenvolvimento da siderurgia no Brasil a partir da exploraccedilatildeo das jazidas de
ferro jaacute conhecidas como as do Morro de Araccediloiaba na Proviacutencia de Satildeo Paulo e
das jazidas de ferro de Minas Gerais localizadas nos atuais municiacutepios de
Congonhas do Campo e Gaspar5
2 Os arquivos da Provedoria foram destruiacutedos por uma enchente do Tamanduateiacute em 1929 Dos outros arquivos restam apenas poucos exemplares e que estatildeo incompleto como o das Atas da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo RODRIGUES Leda Maria Pereira As Minas de ferro em Araccediloiba (Satildeo Paulo Seacuteculos XVI-XVII-XVIII) Annais do III Simpoacutesio dos Professores Universitaacuterios de Histoacuteria Franca 1966 p 171 3 A Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema inicia suas atividades a partir da promulgaccedilatildeo da Carta Reacutegia de 4 de dezembro de 1810 Esta carta conteacutem instruccedilotildees para o funcionamento de uma faacutebrica de ferro em Sorocaba Em 1895 encerra definitivamente as suas atividades Ver bibliografia 4 Com a presenccedila de D Joatildeo VI foi promulgada em 1808 a abertura dos portos para o comeacutercio e um alvaraacute que revogava o Decreto de D Maria I de 1785 referente a proibiccedilatildeo da abertura de faacutebricas e manufaturas no estado do Brasil e Domiacutenios Ultramarinos 5 As minas de ferro de Gaspar Soares deram origem a Real Faacutebrica de Ferro de Gaspar Soares cuja direccedilatildeo foi dada ao Intendente Manuel Ferreira da Cacircmara Em 1811 tambeacutem para o Brasil o teacutecnico alematildeo Gotthelft Von Feldner com a incumbecircncia de examinar as minas receacutem
22
Para dar andamento agravequeles projetos foram trazidos para o Brasil o
mineralogista alematildeo Friederich Ludwig Wilhelm Varnhagen (1782-1842) e
Wilhelm-Ludwig Von Eschwege (1777-1835) ambos funcionaacuterios da Coroa
Portuguesa6 Eschwege foi enviado para Minas Gerais para inspecionar as
jazidas e minas de ferro e criar com outros acionistas a companhia sideruacutergica
Faacutebrica Patrioacutetica do Prata de Congonhas do Campo que comeccedilou a funcionar
em fins de 1811 e Varnhagen para o Morro de Araccediloiaba7
Apoacutes observaccedilotildees mineraloacutegicas realizadas por Varnhagen em
Araccediloiaba A partir dos resultados daquelas observaccedilotildees ficou determinado que
Sorocaba era o local mais apropriado para a construccedilatildeo de uma siderurgia pois
ldquoa mina existente dentro de sua circunscriccedilatildeo eacute muito rica em metal de ferro e
conta na sua proximidade com extensas matas as quais haacute muitos anos mandou
reservar e que forneceratildeo o indispensaacutevel combustiacutevelrdquo(FRAGA 1968 p 66)
Assim em 1810 foi fundado o Estabelecimento Montaniacutestico de Extraccedilatildeo de Ferro
das Minas de Sorocaba denominado posteriormente de Real Faacutebrica de Ferro de
Ipanema
A aacuterea escolhida para aquele novo empreendimento estava localizada junto
ao rio Ipanema que daiacute retira aquela denominaccedilatildeo deixando para traz a histoacuteria
da metalurgia que havia sido desenvolvida durante dois seacuteculos no interior Morro
de Araccediloiaba no vale das Furnas onde estaacute localizado o Siacutetio Arqueoloacutegico
Afonso Sardinha
Os primeiros trabalhos sobre a Real Faacutebrica privilegiavam as anaacutelises
voltadas para a mineralogia e as teacutecnicas de fundiccedilatildeo Quanto a este uacuteltimo
descobertas de carvatildeo do rio Pardo no Rio Grande do Sul Cf FIGUEIROA Silvia As ciecircncias Geoloacutegicas no Brasil uma Histoacuteria Social e Institucional 1875-1934 Satildeo Paulo Hicitec 1997 p 63-65 6 Varnhagen e Eschwege voltaram para Portugal em 1822 7 Varnhagen esteve em Araccediloiaba acompanhado por Martim Francisco de Andrada Martim Francisco Ribeiro de Andrada Inspetor de Minas e Matas da Capitania de Satildeo Paulo
23
aspecto destacam o emprego do alto forno da fabricaccedilatildeo do carvatildeo e o emprego
de fundentes bem como criacuteticas relacionadas agrave produccedilatildeo e qualidade do ferro8
Entre as obras mais gerais sobre aquele empreendimento publicadas no
seacuteculo XIX estatildeo os trabalhos de Antonio da Costa Pinto Silva (1852) Nicolau de
Campos Vergueiro (1843) Frederico Augusto Pereira de Moraes (1858) M Alves
de Arauacutejo (1882) Francisco de Assis Moura (1888) J Ewbank da Cacircmara (1875)
Leandro Dupreacute (1885) Baratildeo Homem de Mello (1888) Manuel Eufraacutezio de
Azevedo Marques (1879) Carlos Conrado de Niemeyer (1879) Frederico
Augusto Pereira de Moraes (1858)
Sobre a mineralogia e a geologia estatildeo os de Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e
Silva (1820 1846) Martim Francisco Ribeiro de Andrada (1828 1846 1855) F
Schimidt (1853) e Wilhelm L Von Eschwege (1833) e Orville Adalbert Derby
(1891 e 1895 1909) Derby foi o descobridor em 1891 da apatita mineral que foi
amplamente explorado para a fabricaccedilatildeo de adubos a partir de 1927 Naquele
mesmo seacuteculo foram realizadas as primeiras anaacutelises da magnetita de Ipanema
pela Escola de Minas de Ouro Preto9 as quais tiveram como resultado a
identificaccedilatildeo do titacircnio como componente daquele mineacuterio
Dessa forma foi possiacutevel entender a dificuldade teacutecnica que enfrentaram
todos os diretores de Ipanema em produzir um ferro de boa qualidade pois a
magnetita aleacutem de sua exagerada densidade apresentava-se impregnada de
ocircxido de Titacircnio ldquofatores que contribuem de forma decisiva para dificultar sua
reduccedilatildeo mesmo em altos fornosrdquo (FRAGA 1968 p 86) Entre as pesquisas
realizadas por essa Escola estatildeo os trabalhos de Paul Ferrand (1885) e Leandro
Dupreacute (1885) Joatildeo Pandiaacute Caloacutegeras (1893 1895 19041828) e Ferdinando
Gautier responsaacutevel em 1891 pela identificaccedilatildeo da presenccedila de foacutesforo no
mineacuterio elemento tambeacutem nocivo para a produccedilatildeo do ferro Ainda no seacuteculo XIX
8 Fundentes satildeo materiais que quando mesclados com o carvatildeo vegetal dentro do forno facilitam a fundiccedilatildeo dos mineacuterios no caso de mineacuterios de ferro Em Ipanema eram utilizados como fundentes os dioritos tambeacutem chamada ldquopedra verde (do alematildeo grunstein) 9 A Escola de Minas de Ouro Preto foi inaugurada em 1876 Destinava-se a formar profissionais para a mineraccedilatildeo
24
estatildeo os relatos elaborados pelo naturalista viajantes como Saint Hilaire Von
Martius e Zaluar
No seacuteculo XX os trabalhos relacionados com aquele empreendimento
foram desenvolvidos em duas linhas de investigaccedilatildeo o da histoacuteria econocircmica e
da social Nesta uacuteltima as anaacutelises privilegiaram as abordagens sobre o processo
de trabalho e mais para o final daquele seacuteculo para as questotildees sobre o meio
ambiente como os aspectos da ecologia florestal recursos hiacutedricos gestatildeo
ambiental e do turismo ecoloacutegico
Os trabalhos historiograacuteficos daquele seacuteculo pouco acrescentaram aos
aspectos relacionados com a implantaccedilatildeo dos primeiros empreendimentos
metaluacutergicos anteriores agrave construccedilatildeo da Real Faacutebrica10 Contudo trecircs trabalhos
podem ser destacados pelas contribuiccedilotildees seja pela releitura de documentos
ainda existentes como foi o caso dos estudos realizados por Maacuterio Neme seja
pelos trabalhos de pesquisa documental elaborados tanto por Leda Maria Pereira
Rodrigues quanto por Estefania Knotz Canguccedilu Fraga
No primeiro caso Maacuterio Neme apresenta em seu livro Notas de Revisatildeo da
Histoacuteria de Satildeo Paulo uma reavaliaccedilatildeo das obras de Pedro Taques bem como
de outros autores que tratam da histoacuteria de Satildeo Paulo ateacute o momento da 10 Entre as obras direcionadas a um contexto geral brasileiro estatildeo Sylvio Froes Abreu (19371962) Afranio do Amaral (1946) Renato Frota de Azevedo (1955) Tanus Jorge Bastini (1957) Vicente Licinio Cardoso (1924) Sobrinho Costa e Silva (1953) Alpheu Diniz Gonccedilalves (1937) R Hermanns (1958) R N Jafet (1957) Theodor Knecht (1931) Viktor Leinz (1942) Clodomiro de Liveira (1914) Niacutecia Vilela Luz (1961) Manuel Moreira Machado (1919) Roberval Germano Medeiros (1947) Geraldo Magella Pires de Melo (1957) Geraldo Dutra Moraes (1943) Almiro de Lima (1929) Matias Gonccedilalves de Oliveira Roxo (1937) Edmundo de Macedo Soares (1953) Gilberto Freyre (1988) Francisco Adolpho de Varnhagen (1956) Joseacute Epitaacutecio Passos Guimaratildees (1981) Francisco Magalhatildees Gomes (1983) Francisco de Assis Barbosa (1958) Francisco de Assis Carvalho Franco (1928) Silvia Figueroa (1997) Roseli Santaella Stella (2000) Para anaacutelises direcionadas ao Estado de Satildeo Paulo estatildeo as de Paulo R Pestana (1928) Luis Flores de Moraes (1930) Afonso Taunay (1931) Benedito Lima de Toledo (1966) Maacuterio Neme (1959) Seacutergio Buarque de Holanda (1960 1966) Ernani da Silva Bruno (1953) Jesuiacuteno Feliciacutessimo Juacutenior (1969) Washington Luis (1956) Gabriel Pedro Moacyr (1935) E aqueles relacionados agrave histoacuteria local da Real Faacutebrica estatildeo o de Joseacute Monteiro Salazar (1982) Astor Franccedila Azevedo (1959) Luiz de Almeida Castanho (1937 1939 1958) Jaime Benedito de Arauacutejo (1939) Ezequiel Freire (1953) Emanuel Soares Veiga Garcia (1954) Joatildeo Lourenccedilo Rodrigues (1953) Otaacutevio Tarquiacutenio de Souza (1946) Heacutelio Vianna (1969) Andreacute Davino (1965) Guido Ranzani (1965) Miriam Escobar (1982) Theodoro Knecht (1930) Helmut Born (1989) Lenharo S L R (1996) Antonio Maciel Botelho Machado (1998) e Jaime Rodrigues (1998) Aluiacutezio de Almeida (2002)
25
publicaccedilatildeo da obra em 1959 confrontando as afirmaccedilotildees dos autores com base
nos documentos disponiacuteveis naquele momento A obra segundo o autor fora
escrita com base em pesquisa documental realizada por ele durante duas
deacutecadas tendo concluiacutedo que ldquofirmamo-nos na convicccedilatildeo mais absoluta de que a
crocircnica de nossa formaccedilatildeo e evoluccedilatildeo estaacute a exigir ampla revisatildeo quer em
mateacuteria de fatos e acontecimentos na sua ocorrecircncia e significaccedilatildeo imediata e
futura e no que toca a dados datas e nomes quer em mateacuteria de interpretaccedilatildeordquo
(NEME1959 p11)
Ao final deste trabalho Neme conclui que os dados oferecidos por Pedro
Taques a respeito da construccedilatildeo de uma Faacutebrica de ferro por Afonso Sardinha no
Morro de Araccediloiaba natildeo passou de uma faacutebula criada por aquele autor sendo
que a uacutenica Faacutebrica de ferro que de fato existiu no iniacutecio do seacuteculo XVII foi a de
Santo Amaro
No segundo trabalho a ser considerado trata-se de um artigo publicado em
1966 pela historiadora Leda Maria Pereira Rodrigues intitulado As Minas de ferro
em Araccediloiaba (Satildeo Paulo Seacuteculos XVI-XVII-XVIII) onde a autora afirma que ldquoos
primoacuterdios de nossa Histoacuteria fazem surgir duacutevidas difiacuteceis de serem esclarecidas
pois haacute falta de documentos coesos que provem incontestavelmente a veracidade
de certas afirmaccedilotildeesrdquo Neste mesmo trabalho ela conclui que ateacute a instalaccedilatildeo da
Real Faacutebrica em 1810 todos os empreendimentos anteriores constituiacuteram numa
ldquoseacuterie de tentativas frustrasrdquo A autora demonstra que pelo menos dois
empreendimentos foram efetivamente implementados naquele local o de Luiz
Lopes de Carvalho por volta de 1690 e o de Domingos Pereira Ferreira em 1875
(RODRIGUES 1966 p246-249)
Em 1968 Estefania Knotz Canguccedilu Fraga sob a orientaccedilatildeo da historiadora
Leda Maria Pereira Rodrigues seguindo as discussotildees iniciadas pela autora
acima mencionada desenvolveu uma tese na aacuterea de Histoacuteria do Brasil com o
titulo Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
(1779-1822) Neste trabalho analisou especialmente o empreendimento de
26
Domingos Pereira Ferreira como tambeacutem as primeiras deacutecadas de
funcionamento da Real Faacutebrica sob a direccedilatildeo de Hedberg (1810-1814) e
Varnhagen (1814-1822) A autora depois de enumerar as possiacuteveis causas que
teriam levado ao que atribui ser um ldquoinsucessordquo econocircmico daqueles
empreendimentos conclui que
mesmo que a faacutebrica de ferro de Araccediloiaba (como
primitivamente era denominado o local) natildeo possa oferecer
ao pesquisador nada aleacutem de constantes provas de seu
insucesso ainda assim o propoacutesito que o anima natildeo deve
esmorecer Afinal o que seria da Historia se soacute merecessem
registro os eventos vitoriosos Quantas derrotas natildeo
levaram as vitoacuterias Porque entatildeo omiti-las se fazem parte
integrante da mesma Porque esquececirc-la se refletem uma
circunstancia real mesmo que nela se insinue uma ou mais
ldquoforccedilas obstrutivasrdquo que consagram ao fracasso tudo o que
nela se condiciona mas que nem por isso obstam uma ou
vaacuterias tentativas de superaccedilatildeo Eacute sabido que a dualidade de
forccedilas impele a civilizaccedilatildeo E mais que a tanta gloacuteria existe
na derrota quanto na vitoacuteria quando supotildeem luta E poderaacute
algueacutem negar que Ipanema natildeo foi um glorioso campo de
luta (FRAGA 1966 p 109)
112 Histoacuterico das descobertas das ruiacutenas O Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha foi assim denominado por
ter sido Afonso Sardinha bandeirante e seu filho mameluco11 Afonso Sardinha o
moccedilo apontados por Pedro Taques e pela historiografia como os provaacuteveis
11 Filho de pai branco e matildee indiacutegena No caso dos mamelucos os pais reconheciam publicamente a paternidade e os filhos gozavam da liberdade plena e aproximavam-se agrave identidade portuguesa Essa denominaccedilatildeo cai em desuso no seacuteculo XVIII e eacute substituiacuteda pelo termo bastardo que passava a designar qualquer pessoa com ascendecircncia indiacutegena (MONTEIRO 1994 p 167)
27
descobridores e construtores dos primeiros fornos de fundiccedilatildeo naquele local em
finais do seacuteculo XVI
No ano de 1977 Joseacute Monteiro Salazar pesquisador estudioso da histoacuteria
regional e particularmente da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema acompanhado
pelos engenheiros agrocircnomos Nerzon Nogueira de Barros e Dinchiti Sinzato e
pelo fotoacutegrafo Venedavel Acosta encontrou as ruiacutenas de um possiacutevel Faacutebrica de
ferro que atribuiu ser aquele construiacutedo por Afonso Sardinha em finais do seacuteculo
XVI (SALAZAR 1997156-159) Tal avaliaccedilatildeo decorria do fato de que aquela
regiatildeo teria sido uma aacuterea de provaacutevel exploraccedilatildeo mineral do ferro que
remontaria aos primoacuterdios da colonizaccedilatildeo de Satildeo Vicente conforme apontavam a
historiografia disponiacutevel sobre aquela Capitania
28
Fig 1 MAPA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA FLONA ndash Floresta Nacional de Ipanema Escala 1250 000 CENEA- Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola 1985
29
Fig 2 MAPA DE LOCALIZACcedilAtildeO DO SIacuteTIO AFONSO SARDINHA Folheto IBAMA sem data e sem escala
30
Fig 3 DESENHO ESQUEMAacuteTICO DE LOCALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRICA DE FERRO Salazar (1997 p80)
Fig 4 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E JOSEacute MONTEIRO SALAZAR Aspecto do Siacutetio em 1983
31
Fig 5 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E JOSEacute MONTEIRO SALAZAR Iniacutecio das pesquisas no Siacutetio Afonso Sardinha 1983 As ruiacutenas foram localizadas no interior do vale das Furnas onde estaacute o
ribeiratildeo do Ferro que nasce e cruza o Morro de Araccediloiaba desaguando no rio
Ipanema o qual por sua vez eacute um afluente pela margem esquerda do rio
Sorocaba
Este ribeiratildeo
() nasce no Monte do Chapeacuteu e corre primeiro do norte para o
sul e depois de passar pelo Vale das Furnas torce bruscamente
e muda radicalmente de direccedilatildeo fazendo uma grande curva e
passando a correr do sul para o norte indo desaguar afinal no
Ipanema (SALAZAR 1997 p 02)
Foi numa das curvas do ribeiratildeo do Ferro que aquelas ruiacutenas foram
localizadas As estruturas ali descobertas se cercavam de condiccedilotildees fisiograacuteficas
favoraacuteveis para viabilizar a atividade de produccedilatildeo do ferro devido a proximidade
32
das jazidas do mineacuterio existecircncia de matas abundantes assim como de uma
hidrografia favoraacutevel para o aproveitamento da forccedila motriz das aacuteguas
A primeira constataccedilatildeo da existecircncia de uma estrutura por eles encontrada
foi uma fileira de pedras bem conservadas que identificaram ldquocomo canal
certamente para o desvio do rio a fim de mover os martinetesrdquo Descobriram uma
muralha que atribuiacuteram ser uma parede de forja (SALAZAR 1997 p159-160)
113 Consideraccedilotildees sobre a metodologia O termo arqueologia histoacuterica surge nos Estados Unidos nas deacutecadas de
1960 para designar o estudo da cultura material dos europeus no mundo Esse
termo passou a ser oficialmente adotado em 1967 tendo em vista regulamentar a
nomenclatura para designar as pesquisas arqueoloacutegicas em siacutetios histoacutericos que
estavam sendo desenvolvidas nos Estados Unidos Ateacute entatildeo eram utilizados
para identificar aqueles trabalhos arqueoloacutegicos uma nomenclatura diversificada
como arqueologia colonial arqueologia da historia arqueologia de siacutetios
histoacutericos entre outros
Naquela mesma deacutecada a arqueologia histoacuterica passa a ser uma
disciplina valendo-se da aplicaccedilatildeo de meacutetodos de escavaccedilatildeo jaacute consagrados
pela arqueologia preacute-historica e das abordagens teoacuterico-metoloacutegicas voltadas
para a interpretaccedilatildeo dos registros arqueoloacutegicos As ferramentas teoacutericas
metodoloacutegicas apresentadas pela arqueologia foram sendo revisadas e
aprimoradas de modo a contribuir com as anaacutelises destinadas a interpretar as
culturas preteacuteritas
Outra questatildeo diz respeito agrave compreensatildeo do papel da Arqueologia
Histoacuterica aplicada agraves pesquisas desenvolvidas na Ameacuterica tendo em vista a
visatildeo desenvolvida por Charles Orser Jr segundo o qual cabe a esta disciplina
investigar fundamentalmente os ldquo() aspectos mateacuterias em termos histoacutericos
33
culturais e sociais concretos dos efeitos do mercantilismo e do capitalismo que
foi trazido da Europa em fins do seacuteculo XV e que continua em accedilatildeo ainda hojerdquo
(ORSER 1992 p 23)
Posteriormente Orser trouxe novas contribuiccedilotildees a aquela conceituaccedilatildeo
ao formular a Teoria de Rede segundo a qual as pesquisas em Arqueologia
deveriam levar em consideraccedilatildeo a questatildeo das ldquointerligaccedilotildees globaisrdquo
demonstrando a ldquoorigem e os desenvolvimentos ulteriores da globalizaccedilatildeo da
modernizaccedilatildeo e da expansatildeo colonialistardquo criados por ldquoagentes conscientes do
colonialismo do eurocentrismo e da modernidaderdquo que proporcionaram a
criaccedilatildeo de uma ldquoseacuterie de elos complexos e multidimensionais que uniam
diversos povos ao redor do mundordquo (ORSER 1999 p 87)
No que se referem agrave interpretaccedilatildeo dos registros arqueoloacutegicos as
pesquisas em arqueologia histoacuterica empregam teorias e meacutetodos que foram
sendo desenvolvidos por meio da aplicaccedilatildeo de meacutetodos de abordagens como o
Histoacuterico-Culturalismo (foi amplamente difundida entre os arqueoacutelogos
brasileiros) New Archaeology ou Arqueologia Processual e Poacutes-
processualismo e suas derivaccedilotildees Cada meacutetodo privilegiou uma escala
apropriada de anaacutelise para o ldquoHistoacuterico Culturalismo foi o siacutetio para o
Processualismo a regiatildeo e para o Poacutes-Processualismo passou a ser o
indiviacuteduordquo (LIMA 2000 p 2)
No Brasil a formaccedilatildeo da primeira geraccedilatildeo de arqueoacutelogos na deacutecada de
1970 foi orientada por duas correntes teoacutericas A americana representada pelos
arqueoacutelogos Clifford Evans (1920-1981) e Betty Meggers coordenadores do
Programa Nacional de Pesquisas Arqueoloacutegicas (Pronapa) criado na deacutecada
de 1960 E a Francesa representada por Joseph e Annette Emperaire Da
escola francesa destacamos as pesquisas realizadas pelo grupo do Centre
National de la Recherche Scientifique que trabalharam em Minas Gerais
Paranaacute Satildeo Paulo e no Piauiacute em convenio com o Museu Paulista da
Universidade de Satildeo Paulo e a Universidade do Piauiacute com o objetivo de
34
proporcionar as primeiras dataccedilotildees para as obras rupestres e sua inserccedilatildeo no
contexto cultural preacute-histoacuterico (PROUS 1992 p17)
A partir da pesquisas do grupo Franco-Brasileiro foram fornecidas as
primeiras dataccedilotildees radiocarbono a introduccedilatildeo de teacutecnicas e meacutetodos mais
refinados de decapagem e a realizaccedilatildeo de escavaccedilotildees sistemaacuteticas no Brasil
Aleacutem da influecircncia teoacuterica-metodologica o convecircnio entre aquele grupo
representado por Joseph e Annette Laming Emperaire e o Centre National de
la Recherche Scientifique proporcionou a formaccedilatildeo de arqueoacutelogos e de
especializaccedilotildees na Franccedila Entre os anos de 1960-1980 o legado francecircs
permanecia em duas Instituiccedilotildees de Satildeo Paulo o Museu de Preacute-Histoacuteria
(atualmente incorporado ao MAE) e Museu Paulista da Universidade de Satildeo
Paulo e em Minas Gerais no Museu de Histoacuteria Natural da Universidade
Federal de Minas Gerais
A partir da deacutecada de 1960 as pesquisas relacionadas ao campo da
arqueologia histoacuterica foram conduzidas particularmente por arqueoacutelogos preacute-
historiadores que passaram a desenvolver pesquisas em Siacutetios Histoacutericos
Num primeiro momento aquelas pesquisas arqueoloacutegicas foram marcadas
pelas teorias do meacutetodo histoacuterico-culturalista privilegiando monumentos como
igrejas conventos missotildees jesuiacuteticas fortificaccedilotildees solares entre outros
encorajadas pelos oacutergatildeos de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural e
pela receacutem-criada Lei 3924 de 26 de julho de 1961 atraveacutes da qual os
monumentos arqueoloacutegicos e preacute-histoacutericos passaram a serem considerados
como patrimocircnio da Uniatildeo (ANDRADE 1993 FUNARI 1998 RUBINO 1996)
Ateacute a deacutecada de 80 as pesquisas ainda seguiam aquela linha de
investigaccedilatildeo privilegiando pesquisas em monumentos Contudo jaacute havia
perspectivas de novas abordagens de pesquisa notadamente voltadas para
os segmentos sociais desfavorecidos de registros possibilitando ldquorecuperar
memoacuterias sociais reinterpretar a Histoacuteria Oficial resgatar elementos e praacuteticas
da vida cotidiana sobre os quais normalmente natildeo se escreverdquo
35
Proporcionando a arqueologia histoacuterica investigar uma diversificada temaacutetica
transformando em Siacutetios Histoacutericos quilombos unidades domeacutesticas becos
urbanos senzalas tecnologias de produccedilatildeo de materiais e povoados etc
(ANDRADE 1993 p 228)
Neste contexto se inserem as pesquisas em arqueoloacutegica histoacuterica
desenvolvida na cidade de Satildeo Paulo O Programa de Arqueologia Histoacuterica no
Municiacutepio de Satildeo Paulo foi coordenado por Margarida Davina Andreatta do
Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo em colaboraccedilatildeo com o
Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico da Secretaria Municipal de Cultural A
pesquisa realizada a partir de prospecccedilotildees e escavaccedilotildees sistemaacuteticas em
ldquoCasas Bandeiristasrdquo e locais puacuteblicos e privados do municiacutepio como becos
ruas praccedilas quintais lixotildees logradouros etc Entre os anos de 1979 e 1981
foram realizadas pesquisas arqueoloacutegicas no Municiacutepio de Satildeo Paulo nos
Siacutetios Mirim em Ermilindo Matarazzo Sitio de Morrinhos no Jardim Satildeo Bento
Casa do Grito no Parque da Independecircncia ndash Ipiranga Beco do Pinto Bairro
da Seacute Casa n 1 do Paacutetio do Coleacutegio e Casa do Tatuapeacute e no bairro do
Tatuapeacute (ANDREATTA 19812 1986a 1986b) Em 1983 Margarida Davina
Andreatta iniciou as pesquisas arqueoloacutegicas na Fazenda Ipanema ndash Iperoacute
Satildeo Paulo atualmente um aacuterea de proteccedilatildeo ambiental FLONA 12
Durante o desenvolvimento dessa pesquisa foram realizadas
escavaccedilotildees e prospecccedilotildees em uma aacuterea extensa daquela Fazenda incluindo
todas as edificaccedilotildees que pertenceram a Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
(1810-1895)13 e as ruiacutenas existentes no Vale das Furnas junto do ribeiratildeo do
Ferro e interior do Morro de Araccediloiaba Nesta uacuteltima aacuterea denominada Siacutetio
Afonso Sardinha foi evidenciado estruturas de um Faacutebrica de Ferro e Fornos 12 As edificaccedilotildees da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema foram tombadas pelo Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional em 1964 O Siacutetio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha foi registrado tambeacutem no IPHAN em 1997 por Margarida Davina Andreatta Ver Detalhes de Siacutetios Arqueoloacutegicos Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrportalmontaDetalheSitioArqueologicodoid=SP00236gt Acesso em 09mar 2004 13 Foram realizadas pesquisas arqueoloacutegicas nas aacutereas dos altos fornos fornos de carvatildeo edifiacutecio de armas brancas Praccedila Afonso Sardinha entre outros dependecircncias pertencentes a Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
36
de Fundiccedilatildeo e uma diversificada tipologia de materiais os quais compotildee os
documentos arqueoloacutegicos que foram registrados no Inventaacuterio de Peccedilas
relacionadas a pesquisa (exemplos em anexo)
Da pesquisa no Sitio Afonso Sardinha foram produzidos um significativo
conjunto documental formado por inuacutemeras tipologias de documentos de
arquivo que formam o Fundo Sitio Afonso Sardinha A partir dessa
documentaccedilatildeo foi possiacutevel acompanhar o processo de desenvolvimento
daquela pesquisa e tambeacutem contextualizar os documentos arqueoloacutegicos
permitindo assim a realizaccedilatildeo de interpretaccedilotildees quanto sua dataccedilatildeo e
significado Nas palavras de Hodder ldquoa partir del momento em que se conoce
el contexto de um objeto este ya no es completamente mudordquo (HODDER
1994 18)
Os documentos do Fundo Siacutetio Afonso Sardinha satildeo compostos por
diaacuterios de campo relatoacuterios de pesquisa planos de escavaccedilatildeo fotografias
correspondecircncias e tambeacutem por uma coleccedilatildeo formada por documentos de
apoio a pesquisa como plantas topograacuteficas planoaltimeacutetricas bibliografia
histoacuterica e teacutecnica sobre mineraccedilatildeo e fundiccedilatildeo de ferro no Brasil nos primeiros
trecircs seacuteculos de colonizaccedilatildeo
A pesquisa realizada a partir da bibliografia encontrada no Fundo Afonso
Sardinha apontou caminhos de investigaccedilatildeo que direcionaram para uma
bibliografia teacutecnica e histoacuterica sobre a teacutecnica da produccedilatildeo de ferro
desenvolvida na Europa especialmente na Espanha entre os seacuteculos XVI-
XVIII Aleacutem disso foi agregada aquela investigaccedilatildeo um conjunto de
documentos de cunho oficial escritos pelos empreendedores daquela
produccedilatildeo e oacutergatildeos administrativos coloniais como a Cacircmara da Vila de Satildeo
Paulo
Assim os documentos pertencentes ao Fundo Afonso Sardinha
documentos textuais oficiais e documentos arqueoloacutegicos ndash permitiram
37
interpretar que a aacuterea do Siacutetio corresponde a um campo de trabalho de
produccedilatildeo de ferro e que as atividades de mineraccedilatildeo e fundiccedilatildeo estavam
distribuiacutedas por uma aacuterea extensa com forte influencia dos modelos de ferrarias
de aacutegua que haviam no periacuteodo pesquisado na regiatildeo basca da Espanha
Assim as possibilidades dadas pela arqueologia histoacuterica de permitir a
utilizaccedilatildeo tanto de documentos arqueoloacutegicos (artefatos) e textuais na
realizaccedilatildeo da pesquisa e produccedilatildeo do conhecimento eacute tambeacutem uma das
principais tensotildees que norteiam as questotildees teoacutericas-metodoloacutegicas da
arqueologia histoacuterica Para tanto autores como Anders Andreacuten ao considerar
que o problema da arqueologia histoacuterica eacute o encontro entre a cultura material e
a escrita indica tambeacutem que a arqueologia histoacuterica natildeo pode ignorar as
disciplinas que tratam do homem como eacute o caso da Histoacuteria da Antropologia
ou da Filologia propondo que a metodologia em arqueologia histoacuterica deve
estabelecer ldquodialogue between artifact and text that is unique in relation to
prehistoric archeology as well as historyrdquo (ANDREacuteN 1998 p 177)
114 Descriccedilatildeo geral das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas Entre os anos de 1983 ndash 1989 as ruiacutenas encontradas por Joseacute Monteiro
Salazar (1982) foram objeto de uma pesquisa arqueoloacutegica iniciada pelo
Protocolo de Intenccedilotildees entre o Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo e o
CENEA ndash Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola - oacutergatildeo autocircnomo do Ministeacuterio
da Agricultura ao qual a Fazenda Ipanema estava ligado A pesquisa foi
coordenada pela arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta do Museu Paulista da
Universidade de Satildeo Paulo14
14 A Fazenda Ipanema pertenceu ao CENEA Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola oacutergatildeo autocircnomo do Ministeacuterio da Agricultura ateacute a extinccedilatildeo desse Centro em 1990 eacutepoca em que foram exploradas as minas de Apatita para a fabricaccedilatildeo de adubos A pesquisa arqueoloacutegica nesta aacuterea foi coordenada pela pesquisadora e arqueoacuteloga Profa Dra Margarida Davina Andreatta tendo como assistente o pesquisador da Historia regional Joseacute Monteiro Salazar aleacutem de estagiaacuterios da Universidade de Satildeo Paulo e voluntaacuterios
38
Fig 6 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E EQUIPE EM REUNIAtildeO COM A DIRETORIA DA FLORESTA NACIONAL DE IPANEMA 1984
Fig 7 ASPECTO DA FAacuteBRICA DE FERRO em 1987
39
Fig 8 Planta da aacuterea do Sitio Afonso Sardinha aacutereas A1 e A2
40
As pesquisas arqueoloacutegicas desenvolvidas no sitio Afonso Sardinha
evidenciaram a existecircncia de um campo de produccedilatildeo de ferro localizado na
margem esquerda do ribeiratildeo do ferro o qual se mostrou formadas por duas
aacutereas identificadas durante aqueles trabalhos como aacuterea A1 e aacuterea A2
mostradas no Mapa da Figura 8
A aacuterea A1 situada no setor norte do campo apresentou ruiacutenas de uma
edificaccedilatildeo relativamente maior de produccedilatildeo de ferro composto por quatro setores
identificados como Forno (setor A) Forja (setor B) espaccedilo entre a Forja e o Canal
(setor C) e Canal (setor D) espaccedilo sul da estrutura (setor E)
Nessa aacuterea A1 a pesquisa arqueoloacutegica possibilitou as seguintes principais
evidecircncias
(i) ocorrecircncias de escoacuterias de forma disseminada e tambeacutem na forma de
um amontoado junto a parede externa (sul) da Forja
(ii) ocorrecircncias de telhas na aacuterea ao sul das paredes dos setores BC e D
(iii) ocorrecircncias de cravo e lacircminas de metal tambeacutem na aacuterea sul da
estrutura
(iv) ocorrecircncia de ceracircmica neo-brasileira nos setores da forja (B) e do
Forno (A)
(v) ocorrecircncia de faianccedila portuguesa nos setores da Forja (B) e do Forno
(A)
(vi) ocorrecircncia de vidro na parte norte do Forno (setor A) parte externa da
Forja (setor B) e tambeacutem um fragmento no setor E (parte sul da estrutura)
41
(vii) ocorrecircncia de metal na parte interna e externa da Forja (B) na aacuterea E
parte interna da aacuterea (C) e face oeste do Canal (D)
(viii) evidecircncias de esteios nas laterais do Canal (D)
Fig 9 Detalhe da aacuterea A 1 ndash Sitio Afonso Sardinha
42
Fig 10 VISTA GERAL DA AacuteREA A 1 ndash Sitio Afonso Sardinha 1987
Fig 11 VISTA GERAL DA AacuteREA A 2 ndash Siacutetio Afonso Sardinha 1987 Na aacuterea A2 mostrada na figura 12 as pesquisas arqueoloacutegicas
evidenciaram a existecircncia de duas subaacutereas sendo uma denominada de A2-B e a
43
outra de D constituiacuteda de parte de um muro de pedras cuja estrutura natildeo foi
possiacutevel identificar
Fig 12 DETALHE DA AacuteREA A 2 ndash Sitio Afonso Sardinha Na aacuterea A2-B (Morrote) foram observadas as seguintes evidecircncias
(i) ocorrecircncia de dois fornos soterrados sob um Morrote na aacuterea
designada como A2-B
(ii) ocorrecircncia de tijolos telhas e mureta de pedra
44
Na aacuterea D da figura 12 foram observados
(i) mureta de estrutura natildeo identificada
(ii) ocorrecircncia de duas estruturas circulares de natureza natildeo
identificada
(iii) ocorrecircncias de ceracircmicas telhas e tijolos
(iv) Ao sul da aacuterea A2-B observou-se a existecircncia de um muro de
pedra interpretado como sendo parte de um canal tendo ao seu lado duas
estruturas circulares com diacircmetro de 15 m (Figura 13 e 14)
Fig 13 PLANTA MORROTE ndash AacuteREA A2-B 1987
45
Fig 14 MORROTE COM EVIDENCIAS DE ldquoFORNOrdquo AacuteREA A2
46
12 Principais questotildees a serem abordadas no decorrer da Tese Os estudos histoacutericos disponiacuteveis acima apresentados bem como os
resultados das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas conforme descritas nos itens
anteriores permitem relacionar um conjunto de questotildees que consideramos
importantes para esclarecimento do processo de instalaccedilatildeo da Faacutebrica de ferro
em Araccediloiaba (Sitio Afonso Sardinha) no periacuteodo compreendido entre o final do
seacuteculo XVI ao seacuteculo XVIII que antecedeu a instalaccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro
de Ipanema em 1810
Tais questotildees podem ser resumidas conforme seguem
I - Avaliaccedilatildeo dos vestiacutegios arqueoloacutegicos das atividades relacionadas agrave mineraccedilatildeo
e agrave produccedilatildeo de ferro a partir do final do seacuteculo XVI e anteriormente agrave instalaccedilatildeo
da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema em 1810
II - Investigaccedilatildeo das possiacuteveis teacutecnicas de produccedilatildeo e meacutetodos de fundiccedilatildeo de
ferro empregadas em Araccediloiaba no periacuteodo de analise desta tese
III - Caracterizaccedilatildeo de modelos de fornos de fundiccedilatildeo e processos industriais
encontrados na aacuterea do sitio arqueoloacutegico
IV ndash Avaliaccedilatildeo das possiacuteveis causas teacutecnicas e cientiacuteficas relacionadas agraves
dificuldades de produccedilatildeo e de qualidade do ferro produzido em Araccediloiaba
47
CAPITULO 2
A TECNICA DE PRODUCcedilAtildeO DE FERRO NO PERIODO ENTRE OS SEacuteCULOS
XVI AO XVIII
21 Consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia
Uma das primeiras questotildees para conceituar Teacutecnica refere-se agraves anaacutelises
que permitem diferenciaacute-la do conceito moderno de Tecnologia Ruy Gama (1986
p 19) ao analisar essa questatildeo a partir de autores de liacutengua inglesa observa que
o conceito de tecnologia aparece ldquoora como simplesmente sinocircnimo de teacutecnica ou
de conjunto de teacutecnicas alarga-se as vezes para incluir o produto material das
teacutecnicas e outras vezes menos frequumlentes eacute usada como sinocircnimo de saber
associado as teacutecnicas ou como estudo das teacutecnicasrdquo
A partir de 1930 a preocupaccedilatildeo com a Histoacuteria da Teacutecnica vem se
difundido sobretudo por meio das anaacutelises iniciadas por autores franceses como
Marc Bloch Lefevre de Noeumlttes e Lucien Febvre e ingleses como Abbott Payson
Lynn White Jr e Lewis Munford que a transformaram numa ldquonova disciplinardquo
historiograacutefica 15
No Brasil a primeira discussatildeo sobre essa temaacutetica foi apresentada em
1985 com a publicaccedilatildeo do livro Histoacuteria da Teacutecnica e da Tecnologia organizado
por Ruy Gama Este trabalho eacute formado por uma coletacircnea de textos claacutessicos e
de outros produzidos por autores estrangeiros e brasileiros sobre a Histoacuteria da
Teacutecnica da Tecnologia e da Ciecircncia Entre os textos escritos por autores
brasileiros destacam-se os trabalhos de Fernando Luis Lobo Barbosa Carneiro e
de Julio R Katinsky
15 Os Textos em que estes autores discutem o conceito de Teacutecnica e Tecnologia foram publicados no livro Historia da Teacutecnica e da Tecnologia organizado por Ruy Gama (1985)
48
No texto escrito por esse uacuteltimo autor estaacute um Glossaacuterio dos Carpinteiros
de Moinho onde o autor apresenta os resultados de uma pesquisa que fez sobre
os moinhos hidrauacutelicos no Brasil cuja utilizaccedilatildeo eacute bastante frequumlente nas aacutereas
rurais dos Estados de Satildeo Paulo e Sul de Minas Aleacutem disso oferece um
glossaacuterio de termos empregados ldquobasicamente na construccedilatildeo de monjolos
prensas de mandioca engenhocas de accediluacutecar e moinhos hidrauacutelicos de gratildeos
estes uacuteltimos geralmente preparados para produzir quirera ou fubaacuterdquo (KATINSKY1985 p 216)
Aleacutem desses textos a Coletacircnea traz dois artigos do economista alematildeo
Johann Beckmann (1729-1811) considerado ldquoo pai da Tecnologiardquo por haver
firmado aquele conceito em fins do seacuteculo XVIII e instituiacutedo a disciplina de
Tecnologia no ensino da Universidade de Goumlttingen16 Em 1777 publica a obra
Instruccedilatildeo sobre Tecnologia em que firmava o seu conceito de Tecnologia como
ldquoconhecimento dos ofiacutecios faacutebricas e manufaturas especialmente daquelas que
tem contacto estrito com a agricultura a administraccedilatildeo puacuteblica e as ciecircncias
cameraliacutesticasrdquo (GAMA 1985 p6) Na introduccedilatildeo dessa mesma obra Beckmann
escrevia que
A histoacuteria das artes pode dedicar-se a enumeraccedilotildees das
invenccedilotildees ao progresso e ao curso habitual de uma arte ou de
um trabalho manual mas eacute a tecnologia que explica de maneira
completa clara e ordenada todos os trabalhos assim como seus
fundamentos e suas consequumlecircncias (BECKMANN Apud GAMA
1985 p6)
Serge Moscovici em Essai sur lrsquohistorie humaine de la Nature referindo-se
a Beckmann afirma que este autor conscientemente ldquoforja o termo tecnologia
para designar a disciplina que descreve e ordena os ofiacutecios e as induacutestrias
existentesrdquo (MOSCOVICI apud GAMA 1985 p 8)
16 Goumlttingen era uma das mais conhecidas universidades da Europa agrave qual se vinculavam muitos estadistas e funcionaacuterios administrativos da Alemanha
49
Para Beckmann e outros autores de seu tempo a Tecnologia estava
intimamente ligada agrave escola e basicamente agrave uniatildeo dos ldquosaacutebiosrdquo com os
ldquofabricantesrdquo que dominavam o conhecimento teacutecnico numa eacutepoca em que este
mesmo conhecimento comeccedilava a ser objeto de investigaccedilatildeo de academias e
universidades as quais tinham como objetivo a formulaccedilatildeo de uma linguagem
tecnoloacutegica por intermeacutedio da codificaccedilatildeo de conceitos Ressaltamos ainda que
as propostas de Beckmann e esse novo olhar paras as teacutecnicas estavam
voltadas para o atendimento de demandas sociais surgidas com a Revoluccedilatildeo
Industrial
Se a Tecnologia tem a funccedilatildeo de explicar como afirma Beckmann ela
tambeacutem teve seu tempo de formulaccedilatildeo Segundo Ruy Gama o nascimento do
conceito de Tecnologia pode ser situado historicamente no decorrer da Idade
Moderna sendo difundido a partir do seacuteculo XVII Para este autor tal conceito foi
construiacutedo
pari passu ao desenvolvimento do capitalismo e agrave substituiccedilatildeo do
modo de produccedilatildeo feudalcoorporativo e do sistema de
transmissatildeo do conhecimento apoiado na aprendizagem pelo
emprego do trabalho assalariado e pelo sistema escolarizado do
conhecimento (GAMA 1986 p30)
Dessa forma ateacute pelo menos antes do advento da ldquoRevoluccedilatildeo da Ciecircnciardquo
(1789-1848) especialmente pelas descobertas proporcionadas pela Quiacutemica 17
todos os processos de produccedilatildeo eram realizados a partir de conhecimentos
ldquopraacuteticosrdquo e que natildeo eram e natildeo poderiam ser explicados cientificamente Assim
trabalhavam os carpinteiros camponeses mineiros e fundidores de metais e
outros artesatildeos da Idade Meacutedia associando engenhosidade experiecircncia e
habilidade manual ou em outras palavras centrados no ldquomais rude empirismordquo
(USHER 1994 p 465)
17 A Quiacutemica entre todas as ciecircncias ldquofoi a mais iacutentima e imediatamente ligada agrave praacutetica industrial ndash a Revoluccedilatildeo Industrial - especialmente integrada aos processos de tingimento de tecidos e branqueamento da industria tecircxtilrdquo ( HOBSBAWM 1979 p305)
50
Para Milton Vargas a Tecnologia soacute pode ter vigecircncia depois do
estabelecimento da Ciecircncia Moderna 18
principalmente pelo fato de essa cultura ser um saber que apesar
de teoacuterico deve necessariamente ser verificado pela experiecircncia
cientiacutefica Esse aspecto experimental e portanto empiacuterico da
Ciecircncia moderna proveacutem da ideacuteia renascentista de que tudo
aquilo que fora realizado pela tradiccedilatildeo teacutecnica poderia secirc-lo
tambeacutem pela teoria e metodologia cientiacuteficas o que
evidentemente aproxima o saber teoacuterico-cientiacutefico do fazer
empiacuterico da teacutecnica (VARGAS 1994 p 16)
22 O conceito de Teacutecnica Originaacuterio da Greacutecia Claacutessica o conceito de Teacutecnica estava inserindo num
tipo de ldquosaber-fazerrdquo associado a mitos como o de Hefestos (Vulcano para os
romanos) ndash o ferreiro - senhor do fogo e da forja que segundo aquela mitologia
havia revelado o segredo desta Teacutecnica aos homens Desta perspectiva
mitoloacutegica o conceito de Teacutecnica transformou-se num outro tipo saber-fazer o da
ldquotechneacuterdquo um conhecimento empiacuterico que somente pode ser obtido atraveacutes do
aprendizado baseado na experiecircncia ou entatildeo a partir dos ensinamentos
transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
Neste sentido a Techneacute natildeo eacute uma habilidade qualquer ldquomas uma
habilidade que segue certas regras por isso techneacute significa tambeacutem ofiacutecio
pressupotildee a existecircncia de um substrato um saber e um conhecimento na
18 Para Hobsbawm o progresso da ciecircncia natildeo pode ser entendido como um simples ldquoavanccedilo linear cada estaacutegio determinando a soluccedilatildeo de problemas anteriormente impliacutecitos nele e por sua vez colocando novos problemas Estes avanccedilos tambeacutem procedem pela descoberta de novos problemas de novas maneiras de enfocar os antigos de novas maneiras de enfrentar e solucionar velhos problemas de campos de investigaccedilatildeo inteiramente novos de novos instrumentos praacuteticos e teoacutericos de investigaccedilatildeordquo (HOBSBAWM 1979 p 302)
51
execuccedilatildeo de uma atividaderdquo (NADAL 2000 p 18) Esta forma de saber baseada
na loacutegica prolongou-se atraveacutes da Idade Meacutedia e chegou aos nossos dias com o
tiacutetulo de Teacutecnicas Natildeo satildeo teorias satildeo conhecimentos que tanto podem ser
adquiridos pela praacutetica como pelo estudo de tratados teacutecnicos
Entre os seacuteculos XVI e XVII a Ciecircncia ao romper com a tradiccedilatildeo
escolaacutestica19 avanccedila para o caminho da experimentaccedilatildeo com a valorizaccedilatildeo das
artes (teacutecnica) as quais jaacute vinham se transformando em objeto de preocupaccedilatildeo e
de estudo desde a Baixa Idade Meacutedia e o Renascimento ateacute chegar agrave constituiccedilatildeo
da Ciecircncia Moderna (DANTAS 2004)
Contraposta ao pensamento grego e medieval em que a
contemplaccedilatildeo das verdades era a meta do conhecimento sabe-se
que a partir do Renascimento haacute uma valorizaccedilatildeo do
conhecimento praacutetico bem como uma mudanccedila no estatuto do
conhecimento teacutecnico Haacute uma expectativa de intervenccedilatildeo e de
controle da natureza e correlativamente um reconhecimento da
teacutecnica isto eacute das atividades inventos e construccedilotildees dos
praacuteticos engenheiros e artesatildeos Daiacute se falar em uma nova forma
de saber e uma nova figura de douto Haacute no entanto uma seacuterie de
dificuldades para estabelecer as razotildees do surgimento dessa
dimensatildeo ativa e o papel que ocupa no nascimento da ciecircncia
moderna (OLIVEIRA1997 p )
No seacuteculo XV esse movimento de valorizaccedilatildeo do trabalho teacutecnico dos
artesatildeos ligado agrave experimentaccedilatildeo foi amplamente difundido pela divulgaccedilatildeo
daqueles conhecimentos atraveacutes de publicaccedilotildees A partir de 1630 surgiram os
Tratados Teacutecnicos Manuais20 como tambeacutem dicionaacuterios e enciclopeacutedias que se
dedicavam ao levantamento da terminologia das diversas artes das
nomenclaturas teacutecnicas e da descriccedilatildeo dos processos e dos meacutetodos das artes
19 Escolaacutestica movimento cultural e filosoacutefico medieval baseado em grande parte em comentaacuterios da obra do filoacutesofo grego Aristoacuteteles e de cunho puramente contemplativo 20 Na arquitetura por exemplo o estabelecimento desta praacutetica permitiu a difusatildeo das teorias e desenhos imaginados pelos arquitetos renascentistas findando assim a necessidade de construir e realizar obras para exemplificar as ideacuteias arquitetocircnicas
52
mecacircnicas as quais acabaram por solapar o domiacutenio das corporaccedilotildees de ofiacutecios 21 (BARGALLOacute 1955 p47)
A publicaccedilatildeo dos manuais teacutecnicos teraacute uma importacircncia decisiva
na padronizaccedilatildeo de unidades de medida e de representaccedilatildeo O
esforccedilo por se fazer compreender sem a equivocidade do discurso
do senso comum e sem o hermetismo do discurso maacutegico-
religioso reservado aos iniciados eacute uma forma decisiva de
objetivaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo que muito embora seja fundamental
ao empreendimento da ciecircncia nasce como uma necessidade do
desenvolvimento da teacutecnica As exigecircncias da precisatildeo aparecem
na representaccedilatildeo (desenhos graacuteficos etc) e na linguagem
daquele tipo de saber - as artes mecacircnicas - em seus manuais de
modelos de construccedilatildeo nas descriccedilotildees dos aspectos e
proporccedilotildees dos corpos ou no detalhamento do fabrico e do uso de
instrumentos e artefatos Natildeo eacute difiacutecil ver que esse interesse na
divulgaccedilatildeo de conhecimentos potencializado pelo aparecimento
da imprensa tornava necessaacuteria a padronizaccedilatildeo da divulgaccedilatildeo
com uma linguagem mais objetiva e medidas mais precisas
(OLIVEIRA 1997)
Entre os Tratados Teacutecnicos publicados estaacute a obra De pictura (1435)
considerado o primeiro estudo cientiacutefico da perspectiva pelo italiano Leone
Batista Alberti arquiteto literato e escultor (1404-1472) Para Alberti os artistas
deveriam aprender com todos os outros artesatildeos E o caminho para esse
aprendizado segundo ele consistia em conseguir com os proacuteprios artesatildeos os
21 Dos seacuteculos II (dC) ao XV as Artes estavam classificadas em Artes Liberais e Artes Mecacircnicas As Liberais (assim chamadas por serem consideradas dignas do homem livre) estavam associadas agrave Gramaacutetica Retoacuterica Astronomia Loacutegica Aritmeacutetica Muacutesica Quanto agraves Artes Mecacircnicas organizadas nas aacutereas urbanas eram consideradas menos honrosas mais proacuteprias do trabalhador manualservil como Medicina Arquitetura Agricultura Pintura Escultura Olaria Carpintaria Ferraria Cantaria Ofiacutecio de pedreiros etc As corporaccedilotildees de ofiacutecios ateacute entatildeo responsaacuteveis pelo treinamento dos artesatildeos e pelos segredos dos ofiacutecios (os misteacuterios dos misteres) tinham o sistema de aprendizado baseado na transmissatildeo dos conhecimentos teacutecnicos na praacutetica das oficinas ndash o aprender fazendo ndash que encaminhava o aprendiz na sua carreira passando pela categoria de oficial e finalmente pela de mestre isso quando conviesse agrave corporaccedilatildeo ter mais mestre vale dizer mais oficinas no mercado
53
saberes natildeo divulgados ou secretos dos ofiacutecios Para isso orientava os artistas
para frequumlentar as oficinas e outros lugares de trabalho e fazerem perguntas aos
ferreiros pedreiros construtores de barcos e ateacute aos sapateiros Deveriam
tambeacutem frequumlentemente fingir ignoracircncia para descobrir em que o conhecimento
dos outros excedia aos seus (GAMA 1983 p 284-85)
Esse novo caminho da Ciecircncia o da experimentaccedilatildeo encontra no
pensamento do Filoacutesofo inglecircs Francis Bacon (1561-1626) uma de suas
expressotildees teoacutericas Considerado o fundador da ciecircncia experimental moderna
foi tambeacutem o criador do meacutetodo cientiacutefico baseado na observaccedilatildeo e
experimentaccedilatildeo (empirismo) que permitiram o avanccedilo das teacutecnicas que
transformaram a vida do homem campesino e mineiro do seacuteculo XVII (GAMA
1983 p34)
Em linhas gerais Bacon ldquorejeitou a separaccedilatildeo e a oposiccedilatildeo vigentes nas
filosofias tradicionais entre teoria e praacutetica entre loacutegica e operaccedilotildees reais entre
verdade e utilidaderdquo (GAMA 1983 p 33)
Interpretou essas oposiccedilotildees como oriundas das condiccedilotildees
histoacutericas e sociais bem determinadas que valorizavam a
contemplaccedilatildeo ndash a verdade em sua pureza ndash e que desprezavam
tudo o que fosse ligado agraves atividades praacuteticas e materiais Por
tudo isso preocupou-se em realccedilar tanto quanto fosse necessaacuterio
a importacircncia dos fatores materiais no desenvolvimento da
filosofia e da cultura E a partir daiacute sustenta a identidade entre
verdade e utilidade teoria e atividade operativa conhecer e fazer
e afirma que qualquer separaccedilatildeo e contraposiccedilatildeo entre esses
termos cria obstaacuteculos intransponiacuteveis de resultados efetivos e
eficientes (GAMA1983 p33-34)
54
23 A valorizaccedilatildeo do conhecimento teacutecnico e a ciecircncia experimental moderna Com o nascimento da Ciecircncia Experimental a teacutecnica artesanal e os
procedimentos teacutecnicos ligados agraves Artes Mecacircnicas passaram a ser os meios que
permitiriam o progresso da ciecircncia e o avanccedilo do saber
Joan Luis Vives (1492-1540) filoacutesofo e preceptor da corte inglesa assim
como o italiano Leone Alberti defendia que o homem culto natildeo devia
envergonhar-se de entrar nas oficinas e perguntar aos artesatildeos pelas teacutecnicas
que empregavam em suas artes Vives em sua obra De Tradendis Disciplinis
convidava os estudiosos europeus a prestar grande atenccedilatildeo aos problemas
teacutecnicos relativos agrave construccedilatildeo das maacutequinas agrave agricultura agrave tecelagem agrave
navegaccedilatildeo Advertia ainda que devessem deitar os olhos sobre o trabalho dos
artesatildeos para tentar saber onde e como essas artes foram inventadas buscadas
desenvolvidas conservadas e como aplicaacute-las Dessa forma segundo Vives
(1531 apud ROSSI 1989 p 24) o homem venceria seu tradicional desdeacutem por
aquilo que considerava como conhecimento vulgar o dos artesatildeos22
Nota-se tambeacutem que esse movimento o de valorizaccedilatildeo do saber teacutecnico
nasce no acircmbito das Academias e Associaccedilotildees vinculadas a esta nova
perspectiva de Ciecircncia e natildeo nas Universidades que permaneceram ateacute finais do
seacuteculo XVIII com poucas alteraccedilotildees metodoloacutegicas Entre os novos centros de
conhecimento estavam a Academia dei Lincei en Roma (1603) a Accademia del
Cimento en Florenccedila (1657) a Royal Society de Londres (1660) a Acadeacutemie des
Sciences de Paris (1666) aleacutem de Escolas Artesanais entatildeo criadas que
conjugavam na Ciecircncia Empiacuterica a alianccedila entre o saber (ciecircncia) e o fazer
22 Dentro desta mesma perspectiva devem ser acrescentar as obras do jaacute citado Francis Bacon Harvey Galileu e Boyle que valorizavam a experimentaccedilatildeo e a observaccedilatildeo da natureza reformulando as concepccedilotildees cientiacuteficas e reconhecendo a importacircncia das teacutecnicas e da praacutetica para a Ciecircncia
55
(teacutecnica) Na Espanha por exemplo cria-se uma escola de mineiros exercitados
em teacutecnicas sobretudo nas teacutecnicas metaluacutergicas 23
Assim podemos afirmar que naquele momento entrar no mundo do
conhecimento teacutecnico representava entrar no mundo das corporaccedilotildees de ofiacutecios
desvendando os segredos por meio da apropriaccedilatildeo do saber teacutecnico e da
linguagem utilizada pelos artesatildeos para a realizaccedilatildeo de seus ofiacutecios Para Ruy
Gama A que parece o domiacutenio dos segredos da linguagem dos artesatildeos
foi a porta pela qual se entrou no domiacutenio dos proacuteprios segredos
dos ofiacutecios Dentre os misteacuterios dos misteres a linguagem foi a
primeira a ser desvendada decifrada e jogada na rua pelas portas
e janelas arrombadas das oficinas ndash numa espeacutecie de accedilatildeo de
despejo ndash para ser vista por todo mundo (GAMA 1986 p 48)
Nas escolas artesanais surge a Tecnologia como disciplina curricular A
institucionalizaccedilatildeo deste saber permitiu que aqueles conhecimentos teacutecnicos
fossem reunidos estruturados e sistematizados e dessa forma transmitidos a um
nuacutemero cada vez maior de pessoas (GAMA 1994 p 54)
2 4 A Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica
Apesar de toda a diferenciaccedilatildeo jaacute feita entre os conceitos de Teacutecnica e
Tecnologia estes termos satildeo frequumlentemente utilizados como sinocircnimos Autores
da liacutengua ingleses natildeo fazem esta distinccedilatildeo pois consideram entre outros
aspectos que a Histoacuteria da Teacutecnica e a Histoacuteria da Tecnologia apresentam seus
campos embaralhados e sua periodizaccedilatildeo extremamente difiacutecil de definir Lynn
White Jr historiador econocircmico e medievalista americano por exemplo afirma
que a Tecnologia natildeo conhece fronteiras cronoloacutegicas e geograacuteficas pois entende
Tecnologia como o ldquoconjunto de todas as Teacutecnicasrdquo e ldquoas maneiras pelas quais as
56
pessoas fazem coisasrdquo (GAMA 1985 p 14) Mas segundo Ruy Gama esta
definiccedilatildeo natildeo permite nem o estabelecimento de uma fronteira histoacuterico-
cronoloacutegica e nem geograacutefica para situar o ldquonascimentordquo do conceito jaacute que Lynn
o emprega como sinocircnimo de Histoacuteria do Trabalho e dessa forma permite
empregar o termo Tecnologia para todas as realizaccedilotildees e obras materiais dos
povos (GAMA 1985 p 14-15)
Essa concepccedilatildeo de Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica desenvolve-se
num contexto em que entre outros aspectos a Arqueologia e a Histoacuteria
passavam por reformulaccedilotildees conceituais A Arqueologia passava a revelar nos
anos 40 do seacuteculo XX novos documentos materiais relacionados a civilizaccedilotildees da
Ameacuterica preacute-colombiana que supunha-se natildeo conheciam a escrita (pesquisas
atuais comeccedilam a demonstrar que a conheciam) e tampouco a roda elementos
considerados naquele periacuteodo indicadores para qualificar o niacutevel de progresso
teacutecnico de uma determinada sociedade que poderia ser considerada como
ldquoavanccediladardquo ou ldquoatrasadardquo Essas descobertas levaram a uma reavaliaccedilatildeo nas
ideacuteias de progresso e civilizaccedilatildeo e na forma de olhar outras sociedades deixando
de centrar as anaacutelises somente no ldquoeixo tradicional etnocecircntrico europeurdquo (GAMA
1985 p 14-15)
Quanto agrave Histoacuteria o nascimento de uma nova escola historiograacutefica a
Histoacuteria Nova surgida na Franccedila na primeira metade do seacuteculo XX daacute um novo
enfoque teoacuterico-metodoloacutegico agrave pesquisa histoacuterica voltada para a anaacutelise do
cotidiano Esta nova tendecircncia amplia a noccedilatildeo de documento aproximando a
Histoacuteria das demais Ciecircncias Humanas entre elas a Arqueologia possibilitando
nos anos 60 do seacuteculo XX uma ldquoverdadeira Revoluccedilatildeo Documentalrdquo que permitiu
nas anaacutelises historiograacuteficas a incorporaccedilatildeo dos documentos natildeo-escritos -
cultura material ndash viabilizando o estudo das sociedades que natildeo possuiacuteam a
escrita para registrar sua Histoacuteria
Para a divulgaccedilatildeo desse novo conceito de documento Lucien Febvre
idealizou no periacuteodo entre as duas primeiras guerras uma revista de Histoacuteria que
57
seria fundada mais tarde em parceria com Marc Bloch com o nome de Annales
drsquoHistorie Economique et Sociale os ldquoAnnalesrdquo Para Febvre ao analisar o
trabalho do historiador a partir da noccedilatildeo ampliada de documento afirma que
A Historia faz-se com documentos escritos sem duacutevida Quando
estes existem Mas pode fazer-se deve fazer-se sem documentos
escritos quando natildeo existem Com tudo o que a habilidade do
historiador lhe permite utilizar para fabricar o seu mel na falta das
flores habituais Logo com palavras signos paisagens e telhas
Com as formas do campo e ervas daninhas Com os eclipses da
lua e a atrelagem dos cavalos de tiro Com os exames de pedras
feitos pelos geoacutelogos e com a anaacutelise de metais feitas pelos
quiacutemicos Numa palavra com tudo o que pertencente ao homem
depende do homem serve ao homem exprime o homem
demonstra a presenccedila a actividade os gostos e as maneiras de
ser do homem
Toda uma parte e sem duacutevida a mais apaixonante do nosso
trabalho de historiadores natildeo consistiraacute num esforccedilo constante
para fazer falar as coisas mudas para fazecirc-las dizer o que elas
por si proacuteprias natildeo dizem sobre os homens sobre as sociedades
que as produziram e para constituir finalmente entre elas aquela
vasta rede de solidariedade e de entre-ajuda que supre a
ausecircncia do documento escritordquo (FEBVRE 1953 p 428 apud
GOFF 1984 p 98)
Para conceituar Teacutecnica e Tecnologia recorremos tambeacutem ao Dicionaacuterio
das Ciecircncias Sociais de Alain Birou segundo o qual Teacutecnica significa
O conjunto de regras praacuteticas para fazer coisas determinadas
envolvendo a habilidade do executor e transmitidas verbalmente
por exemplo no uso das matildeos dos instrumentos e ferramentas e
das maacutequinas Alarga-se frequumlentemente o conceito para nele
incluir o conjunto dos processos de uma ciecircncia arte ou ofiacutecio
para obtenccedilatildeo de um resultado determinado com o melhor
rendimento possiacutevel (GAMA 1986 p 30)
58
Para este mesmo dicionaacuterio Tecnologia eacute
O estudo e conhecimento cientiacutefico das operaccedilotildees teacutecnicas ou da
teacutecnica Compreende o estudo sistemaacutetico dos instrumentos das
ferramentas e das maacutequinas empregadas nos diversos ramos da
teacutecnica dos gestos de trabalho e dos custos dos materiais e da
energia empregada A tecnologia implica na aplicaccedilatildeo dos meacutetodos
das ciecircncias fiacutesicas e naturais e como assinala Alan Birou tambeacutem
na comunicaccedilatildeo desses conhecimentos pelo ensino teacutecnico
(GAMA 1986 p 30)
Diante dessas consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia salientamos
que neste trabalho pretendemos a partir da Arqueologia Histoacuterica contribuir
para a Histoacuteria da Teacutecnica no periacuteodo colonial brasileiro especialmente no que
diz respeito agraves teacutecnicas relacionadas agrave mineraccedilatildeo e agrave metalurgia
No periacuteodo analisado entre os seacuteculos XVI e XVIII todos os trabalhos
relacionados agravequelas atividades estavam baseados no puro empirismo no saber-
fazer e nas experiecircncias praacuteticas daqueles trabalhadores que sabiam realizar as
operaccedilotildees de fundiccedilatildeo de forma praacutetica mas natildeo tinham instrumentos para
explicaacute-los Somente com o advento da Ciecircncia Moderna especialmente com a
Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute que aqueles mineiros e fundidores puderam compreender
as operaccedilotildees produtivas que realizavam
Assim assumimos a periodizaccedilatildeo proposta por Ruy Gama ao considerar
Teacutecnica e Tecnologia como categorias distintas e portanto que a Histoacuteria da
Teacutecnica natildeo coincide com a Histoacuteria da Tecnologia
59
25 A teacutecnica de produccedilatildeo do ferro no periacuteodo entre os seacuteculo XVI ao XVIII
Los antiguos herrreros descubrieron que si martillaban
repetidamente y recalentaban una y otra vez en fuego de carboacuten
un trozo de mineral de hierro al rojo obteniacutean un metal
extremamente fuerte y duro ndash hierro forjado (CARDWELL 1994
p 33)
Antes do conhecimento dos metais eram aproveitadas ldquotreze diferentes
espeacutecies minerais todas do grupo natildeo-metaacutelicos denominadas calcedocircnia (chert
e siacutelex) quartzo cristal de rocha jaspe serpentina pirita calcita ametista
fluorita esteatita acircmbar e obsidianardquo (GUIMARAtildeES1981p22) A estes minerais
natildeo metaacutelicos pode-se acrescentar a utilizaccedilatildeo de ldquopigmentos minerais usados
para ornamentos e pintura constituiacutedos de argila e oacutexidos metaacutelicos coloridos
embora alguns objetos feitos especialmente de cobre tenham sido encontrados e
datados de aproximadamente 9000 aC (GUIMARAtildeES 1981 p 22)
Atribui-se o iniacutecio do aproveitamento dos mineacuterios para a extraccedilatildeo de
metais entre os anos de 6000 a 5000 aC Admite-se que o cobre teria sido o
primeiro metal produzido pelo homem depois o bronze (uma liga metaacutelica de
estanho e cobre) Na mesma eacutepoca tambeacutem se passou a utilizar o chumbo e por
uacuteltimo o ferro Na chamada ldquoIdade do Ferrordquo houve tambeacutem a difusatildeo da
fabricaccedilatildeo do vidro e do mercuacuterio
Pesquisas arqueoloacutegicas em aacutereas mineiras da Europa tem possibilitado
revisotildees do conhecimento relacionado a natureza das mateacuterias-primas
empregadas na extraccedilatildeo do ferro Tradicionalmente sustentava-se a ideacuteia de que
a mateacuteria-prima com que se confeccionavam os primeiros objetos de ferro teria
origem em meteoritos Esta teoria se aplicava particularmente aos objetos
fabricados com ferro rico em niacutequel Atualmente pesquisas na aacuterea da
paleometalurgia demonstram que a origem de associaccedilotildees do ferro com outros
60
metais ocorre em razatildeo da composiccedilatildeo quiacutemica natural dos minerais utilizados
para a produccedilatildeo destes materiais (FAUS 2000 p 27)
O ferro como alguns outros metais natildeo eacute encontrado na natureza em
forma pura sendo que nestas condiccedilotildees encontra-se sempre combinado com
outros elementos formando oacutexidos carbonatos silicatos e sulfatos Para a
produccedilatildeo do ferro satildeo utilizados mineacuterios sobretudo os oacutexidos tais como a
hematita (Fe2O3) e a magnetita (Fe3O4) 24 Outros mineacuterios de menor importacircncia
para a produccedilatildeo tambeacutem contecircm ferro tais como a Siderita (FeCO3) Limonita
(Fe3O4) Pirita (FeS2) e a (Cromita FeOCr2O3) ( LABOURIAU 1928 p 95-110)
Os termos ldquomineralrdquo ldquomineacuteriordquo e ldquometalrdquo precisam ser esclarecidos para que
se possa compreender a forma da produccedilatildeo do ferro
Mineral eacute uma substacircncia formada em resultado da interaccedilatildeo de
processos geoloacutegicos em ambientes geoloacutegicos naturais Os minerais variam na
sua composiccedilatildeo desde elementos quiacutemicos em estado puro ou quase puro e
sais simples a silicatos complexos com milhares de formas conhecidas
(LABOURIAU 1928 p 95-96)
Mineacuterio eacute toda substacircncia natural da qual se possa fazer a extraccedilatildeo de
algum metal (como a hematita e a magnetita) Assim um mineacuterio eacute sempre uma
substacircncia mineral Entretanto nem todo mineral eacute mineacuterio pois alguns minerais
natildeo permitem a extraccedilatildeo de metais como exemplo pode-se citar a pirita (sulfeto
de ferro) um mineral que eacute aproveitado para a fabricaccedilatildeo do aacutecido sulfuacuterico mas
que natildeo permite a extraccedilatildeo do metal nele contido (o ferro) Por conseguinte a
perita eacute um mineral uacutetil mas natildeo eacute um mineacuterio (LABOURIAU 1928 p 95-96)
Metal cada um de um grande grupo de substancias simples obtidas a
partir de mineacuterios
24 A magnetita eacute assim denominada devido ao seu magnetismo natural eacute um mineral de cor preta acinzentada ou avermelhada com brilho metaacutelico de formula quiacutemica (Fe3O4)
61
Para a extraccedilatildeo do ferro dos seus mineacuterios (geralmente oacutexidos feacuterricos
como a hematita) foram desenvolvidas desde a Antiguumlidade teacutecnicas de fundiccedilatildeo
destes materiais por reduccedilatildeo que utilizavam carvatildeo de madeira como redutor
Entretanto variava de uma regiatildeo para outra o tipo do forno e forma de colocaccedilatildeo
do mineacuterio e do carvatildeo no seu interior
Elena Faus referindo ao caso da tradiccedilatildeo basca defende que ateacute o seacuteculo
XIX os avanccedilos dos meacutetodos de fundiccedilatildeo do ferro tecircm decorrido independentes
da investigaccedilatildeo cientiacutefica Para esta autora esses avanccedilos teacutecnicos foram
realizados por ldquouma multitud anoacutenima de individuos de talento formados a la
sombra del teller protagoniza la Historia de la Tecnologia Son analfabetos y no
han conocido ninguacuten tipo de ensentildeanzardquo (FAUS 2000 p 51) O aprimoramento
da teacutecnica de fundiccedilatildeo podia entatildeo ser considerado como uma sucessatildeo de
ldquoinventosrdquo de artesatildeos que na determinaccedilatildeo em resolver as dificuldades que
surgiam inventaram teacutecnicas de fundiccedilatildeo a partir de experiecircncias praacuteticas pelo
uacutenico meacutetodo que conheciam o da praacutexis do ensaio e erro (FAUS 2000 p51)
Toda a produccedilatildeo do ferro estava fundamentada em conhecimentos
teacutecnicos baseados na praacutetica e que eram conhecimentos secretos restritos aos
membros da respectiva corporaccedilatildeo de ofiacutecio Ateacute a ldquorevoluccedilatildeo da Quiacutemicardquo no
seacuteculo XVIII natildeo havia nenhum conhecimento que pudesse explicar de forma
cientiacutefica o processo em que ocorria a reduccedilatildeo do mineacuterio em metal Soacute a partir
daiacute foi possiacutevel por exemplo explicar a atuaccedilatildeo de um elemento o Carbono
obtido pela queima do carvatildeo vegetal no processo produtivo do ferro Na Franccedila
em 1722 o cientista Reneacute Reacuteaumur concluiu que a diferenccedila entre as distintas
qualidades do ferro e do accedilo resultava da incorporaccedilatildeo de uma substacircncia
material Em 1786 na Sueacutecia os matemaacuteticos Vandermonde e Berthollet e o
quiacutemico Monge confirmaram esta hipoacutetese e identificaram o elemento o
Carbono o mesmo procedente da queima do carvatildeo de madeira utilizado desde
a antiguidade na fabricaccedilatildeo (FAUS 2000 p 21-22)
62
Com o aprimoramento da teacutecnica de fabricaccedilatildeo do ferro descobriu-se
tambeacutem a forma de se produzir accedilo sendo que sua difusatildeo promoveu a
emergecircncia de instrumentos e ferramentas completamente novas dando prestiacutegio
a todos aqueles que dominavam a teacutecnica dos metais Dessa forma o ferro e
depois o accedilo foi empregado na fabricaccedilatildeo de uma diversificada variedade de
instrumentos que anteriormente eram confeccionados com madeira ou pedra
transformando assim a metalurgia em uma teacutecnica extremamente estrateacutegica
Para Donald Cardwel
la metalurgiacutea hizo posibles instrumentos y herramientas completamente nuevos ndash y anteriormente inimaginables - La
importancia fundamental de la metalurgiacutea y el prestigio de los
trabajadores expertos en el metal quedan confirmados como
sentildealaba Samuel Smiles por la frecuencia del apellido Smith
(lsquoHerrerorsquo) Ademaacutes la palabra Smith es de origen noacuterdico o
germacircnico lo cual da una clave para entender la localizacioacuten de
los primitivos centros del trabajo del metal en el occidente
europeo (CARDWEL 1994 p 34 grifo nosso)
A crescente demanda de objetos e utensiacutelios feitos de ferro proporcionou o
aprimoramento das teacutecnicas de fundiccedilatildeo como tambeacutem da especializaccedilatildeo
daquele trabalho
Na Espanha por exemplo os espaccedilos destinados a produccedilatildeo de ferro
foram se especializando Um desses espaccedilos era denominado de ferrarias
maiores que se especializaram na fundiccedilatildeo dos mineacuterios para a obtenccedilatildeo de
metal e outras denominadas de ferrarias menores dedicavam-se aacute manufatura
desse metal ou seja transformando-o em barras ou laminas para fabricar entre
outros produtos instrumentos e acessoacuterios agriacutecolas (ferraduras) armas
(espadas) e materiais construtivos (cravos) etc ( FERNANDEZ p 5)
63
Desde o iniacutecio da metalurgia tem-se buscado tambeacutem a maneira pela qual
os fornos pudessem alcanccedilar temperaturas cada vez elevadas pois para que se
possa retirar o ferro do mineacuterio de forma que fosse possiacutevel o aproveitamento de
todo metal nele existente a temperatura do forno deve se elevar aleacutem de 1535ordmC
ponto de fusatildeo daquele metal
Contudo os primeiros fornos empregados para a reduccedilatildeo com a utilizaccedilatildeo
de carvatildeo vegetal alcanccedilavam apenas temperaturas que variavam entre 1200ordmC
e 1300ordmC insuficientes para a fusatildeo completa e portanto o ferro obtido com
aquela temperatura natildeo era retirado do forno em estado liacutequido e sim em estado
pastoso A essa temperatura (12001300ordm C) o mineacuterio de ferro transformava-se
em uma ldquomassa esponjosardquo repleta de impurezas (escoacuterias que ainda
apresentavam uma significativa quantidade de ferro na sua composiccedilatildeo) Essa
massa era entatildeo colocada sobre uma bigorna e por meio de martelamento
manual ou mecacircnico retiravam-se as escoacuterias que ainda permaneciam grudadas
naquela massa compactando-a e dando forma ao metal
Labouriau ao explicar a accedilatildeo do carvatildeo vegetal durante o processo de
reduccedilatildeo explica que o carvatildeo vegetal em contato com o oxigecircnio da atmosfera
queima produzindo calor formando o gaacutes carbocircnico (CO e CO2) Esse CO2 entatildeo
ao reagir com uma parte do carvatildeo passa para CO e que esse CO juntamente
com uma parte do carvatildeo retira o oxigecircnio do mineacuterio e fica o ferro ligado a um
pouco de Carbonordquo (LABOURIAU 1928 p 146)
Essa teacutecnica de produccedilatildeo de ferro ficou conhecida como ldquoprocesso Diretordquo
ou ldquomeacutetodo de reduccedilatildeo diretardquo e o ferro produzido era o ldquoferro docerdquo Ateacute o seacuteculo
XV com o aparecimento do alto-forno esta era a uacutenica teacutecnica conhecida e
empregada na produccedilatildeo daquele metal No alto-forno o ferro atingia
temperaturas mais elevadas possibilitando uma maior absorccedilatildeo de carbono do
carvatildeo vegetal transformando-se em gusa (ferro-gusa ou ferro fundido) que saiacutea
64
do forno no estado liquido incandescente25 No seacuteculo XVI o alto forno foi
aperfeiccediloado na Alemanha e na Aacuteustria com o aparecimento do Stueckofen (alto-
forno) construiacutedos de alvenaria
Com a utilizaccedilatildeo do alto-forno e com a obtenccedilatildeo do ferro em sua forma
liacutequida foram possiacuteveis as produccedilotildees de armas de fogo balas de canhatildeo sinos
de igreja e mais tarde a fabricaccedilatildeo de adornos para as residecircncias tais como
grades enfim produtos que puderam ser produzidos a partir do ferro liacutequido
deitado em moldes
26 Fornos de fundiccedilatildeo de ferro Segundo Jordi Maluquer Motes no iniacutecio da metalurgia utilizavam-se
pequenos fornos (fornos baixos) para extraccedilatildeo do metal (ferro) os quais natildeo
eram mais que uma cavidade ciliacutendica escavada no terreno ou em uma rocha
Contudo a forma e o tamanho dos fornos foram mudando ao longo do tempo e
de simples cavidades escavadas no chatildeo os fornos comeccedilaram a ganhar ao
redor daquele ciacuterculo paredes de argila refrataacuteria o que permitia fazer fornadas
maiores aumentando assim a produccedilatildeo Contudo todos eles ateacute o advento do
alto-forno produziam por meio da reduccedilatildeo direta o ferro em estado pastoso O
produto (ferro) que ficava no interior do forno apoacutes a fundiccedilatildeo do mineacuterio era
chamado de massa de ferro patildeo de ferro ou lupa (MALUQUER DE MOTES
1983 p21)
25 No Brasil o alto-forno foi construiacutedo apenas no iniacutecio do seacuteculo XIX na Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema quando este estabelecimento estava sob a direccedilatildeo de Hedberg
65
Fig 15 CORTE ESQUEMAacuteTICO DE UM FORNO DE FUNDICcedilAtildeO ndash Forno
baixo26 Natildeo haacute descriccedilotildees detalhadas acerca desses fornos primitivos mas
vestiacutegios encontrados em vaacuterias partes da Europa como em Illasheim
(Alemanha) indicam que estes fornos apresentavam uma planta circular No
centro da Europa outros fornos construiacutedos pelos Celtas tambeacutem apresentavam
reduzidas dimensotildees Os fornos Celtas tinham em meacutedia 35 a 50 cm de
diacircmetro com uma profundidade de 45 a 50 cm Sobre uma base levantavam o
forno propriamente dito construiacutedo por uma parede ciliacutendrica de argila medindo
entre 60 a 100cm Os Celtas chegaram a desenvolver teacutecnicas eficientes de
aceramento (conversatildeo do ferro em accedilo) como por exemplo na Suiacuteccedila onde a
produccedilatildeo de espadas ganhou fama por sua resistecircncia (FAUS 2000 p 32-34)
Fornos ruacutesticos tambeacutem foram encontrados em Bengala Aacutefrica
denominados de fornos africanos ou fornos iacutendios Eram fornos ciliacutendricos e
confeccionados em areia ferruginosa mal amassada sustentada por uma
armadura de bambu Tinham dimensotildees de 090m de altura com um diacircmetro de
030m A base do forno era furada em vaacuterios lugares e colocava-se um fole em
cada uma das aberturas exceto na grade da frente (orifiacutecio pelo qual eram
26 Disponiacutevel em La Farga Rossel lthttpwwwfargarosseladcaslafarga21434htmgt
66
retiradas as escoacuterias) o que dava em geral um total de sete foles por forno
(FAUS 2000 p 50)
Fig 16 MAQUETE FORNO CELTA ndash forno baixo27
Durante o periacuteodo de dominaccedilatildeo romana Roma passou a controlar toda a
exploraccedilatildeo do ouro prata e ferro produzidos em seu impeacuterio Para a produccedilatildeo
desse uacuteltimo metal empregavam teacutecnicas de fundiccedilatildeo utilizando-se dos
chamados fornos romanos As ferrarias romanas eram constituiacutedas de ldquoum
montatildeo de fornosrdquo construiacutedos com barro e palha (RODRIGUES 1964 p11)
27 Disponiacutevel em Exposition 2000 ans de meacutetallurgie en Nivernais des Gaulois agrave Ariane ltjprostclubfravgexpo2003htmlgt
67
Fig 17 FORNO ROMANO RODRIGUES (1964 p 12)
Neste mesmo periacuteodo homens bascos dos redutos resistentes agrave
dominaccedilatildeo romana continuaram a produzir o ferro por meacutetodos de fundiccedilatildeo que
haviam aprendido com seus ancestrais utilizando os chamados ldquofornos de ventordquo
os quais podem ser relacionados agrave primeira fase da elaboraccedilatildeo do ferro As
instalaccedilotildees que utilizavam esses fornos passaram a ser conhecida como ferrarias
secas de montanha de vento Habitualmente os fornos dessas ferrarias eram
construiacutedos em aacutereas montanhosas em pontos elevados a fim de aproveitar a
forccedila dos ventos para ativar a combustatildeo do carvatildeo vegetal (FAUS 2000 p 47)
68
Fig 18 Fornos de vento ou de lupa28
Fig 19 FORNOS DE LUPA OU DE VENTO corte esquemaacutetico
28 Disponiacutevel em La Farga Rossel lthttpwwwfargarosseladcaslafarga21434htmgt
69
Para Jordi Maluquer de Motes a maior dificuldade de operaccedilatildeo da
combustatildeo era o controle das temperaturas do forno sendo que o grande
segredo para a utilizaccedilatildeo desses fornos de vento era a adequada posiccedilatildeo em que
este era instalado e tambeacutem a correta utilizaccedilatildeo dos meios artificiais empregados
na ativaccedilatildeo da combustatildeo do carvatildeo vegetal tal como o emprego de foles
manuais feitos de peles de animais Esse procedimento requeria um esforccedilo
bastante grande de trabalho humano natildeo apenas no acionamento do fole como
tambeacutem para as operaccedilotildees de martelamento da massa de ferro que se formava
no interior do forno (MALUQUER DE MOTES 1983 p 21)
Por utilizarem esta teacutecnica de reduccedilatildeo as ferrarias de vento geralmente
ficavam instaladas em regiotildees distantes dos povoados o que tambeacutem levava um
significativo nuacutemero de fundidores e mineiros a passar parte de suas vidas
distantes daqueles povoados Esse distanciamento suscitou ateacute mesmo o
surgimento de mitos e faacutebulas conforme aponta Elena Faus (2000) que
enriqueceram a cultura popular europeacuteia em especial a cultura basca
Las maravailhas del arte de aquellos seres ton solo por ellos
conocidos les hizo mecedores de leyendas Muchas de ellas les
han sobrevivido y han pasado a integrar el bagaje mitoloacutegico de la
cultura vasca
El velo de magia que enturbiaba la figura de los ferrones se
time en ocasiones de un cierto cariz de condena religiosa Se les
identifica con los lsquogentilesrsquo reacios a la evangelizacioacuten o con el
proprio demonio (lsquosentildeor de los bosquesrsquo o lsquobasejaunrsquo) en persona
(FAUS 2000 p 47)
Outros tipos de fornos de vento ou de montanha foram encontrados na
Ameacuterica Espanhola Em Potosi na atual Boliacutevia os indiacutegenas utilizavam um tipo
de forno para a fabricaccedilatildeo da prata denominado de ldquoforno de guairardquo Estes
fornos mesmo apoacutes a conquista espanhola em Potosiacute foram aproveitados para a
produccedilatildeo daquele metal (BARGALLOacute 1955 p 91)
70
Fig 20 FORNO DE GUAIRA ndash utilizado em Potosi Boliacutevia29
Aleacutem desses fornos de montanha que utilizavam a corrente de ar da
proacutepria atmosfera para acionar a combustatildeo do carvatildeo havia tambeacutem outros
tipos de fornos de fundiccedilatildeo acionados com o emprego de foles manuais Esses
fornos ficaram conhecidos por vaacuterias denominaccedilotildees e podiam ser construiacutedos de
formas e tamanhos diferentes Contudo todos eles apresentavam as mesmas
caracteriacutesticas teacutecnicas eram fornos baixos acionados por foles manuais e que
produziam o ferro utilizando o meacutetodo direto de fundiccedilatildeo Entre esses fornos
destacam os fornos de cuba de lupa de manga e castelhanos (BARGALLOacute
1955 p 91)
29Proyecto Arqueoloacutegico Porco-Potosi Disponiacutevel httplamarcolostateedu~mvanburespanish20participantshtm
71
Fig 21 Forno de Fundiccedilatildeo xilogravura de George Agriacutecola seacutec XVI30
Fig 22 Forno de Fundiccedilatildeo xilogravura de George Agriacutecola seacutec XVI31
30 Disponiacutevel em lttechnologyinfominecomdrmbook11htmgt Acesso em 17nov06
72
Tratados Teacutecnicos publicados no seacuteculo XVI como o De re metallica de
George Agriacutecola oferecerem descriccedilotildees e desenhos atraveacutes dos quais eacute possiacutevel
conhecer algumas formas daqueles fornos A partir de algumas gravuras ali
publicadas eacute possiacutevel identificar que os mesmos habitualmente eram construiacutedos
sobre uma base quadrada e eram utilizados na produccedilatildeo muitos metais como o
cobre o ouro prata e tambeacutem o ferro Esses fornos registrados por Agriacutecola
eram especialmente destinados para a fundiccedilatildeo de minerais em pedra Na
Ameacuterica Espanhola receberam o nome de ldquofornos castelhanosrdquo
Um outro autor a abordar esse tema foi Aacutelvaro Alonso Barba No seu
tratado Arte de los Metales afirmava que os fornos castelhanos eram utilizados
tambeacutem em outras partes do mundo A descriccedilatildeo que faz Barba do uso desses
fornos no Peru eacute por si soacute bastante didaacutetica para compreender o seu
funcionamento
Llaman en este reyno hornos castellanos a los que en las otras
trecircs partes del mundo han sido usados y comunes para la
fabricacioacuten de toda suerte de metales De ellos solos trata el
Agriacutecola para este efecto y es una la faacutebrica de todos y no
difieren en mas que en se mayores o menores y tener la boca
por onde el metal fundido sale oacute abierta siempre oacute cerrada a
ratos como se diraacute adelante Levaacutentense estos hornos a
perpendiculo en forma de um pilar quadrado algo maacutes largo que
anchos por lo hueco Tienen de alto algunos una vara otros casi
dos y otros menos seguacuten la grandeza de los fuelles con que
huviere de fundirse y la facilidad oacute dureza de los metales
requiere Por la parte de atraacutes en una ventanilla que para esto se
dexa en la pared algo levantada del suelo se afixa el alchrebiz en
que han de estar los cantildeones de fuelle puesto con advertencia
31 Disponiacutevel em httpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablePrimitivas_instalacionespdfgt Acesso em 17nov06
73
de que no assome oacute passe aacute lo hueco del horno porque las
escorias que sobre eacutel cayeren helaacutendose con el ayre del sopro
no lo paten oacute impidan El suelo del horno se hace de dos partes
de carbon molido y una de tierra buena bien apretado con pisoacuten
Assientase pendiente azia la parte delantera donde tendraacute un
agujero por onde corra el metal fundido y salgan las escorias aacute
una hordilla que junto aacute el estaraacute bien caliente con carbones
encendidos con a llama del horno y aire del fuelle que sale por el
dicho agujero
Otros hacen estos hornos redondos mas anchos de arriba
que de abajo y son menores para lo que se pretende con que se
tenga advertecircncia que siempre este a perpendiculo la parede se
pone el fuelle porque el metal fundido o las escorias no caygan
sobre la boca del alchrebiz y la tanpenrdquo (BARBA 1640 Apud
BARGALLOacute 1955 p 93)
Entre os seacuteculos XII e XVI a teacutecnica de fundiccedilatildeo do ferro experimentou um
notaacutevel impulso em razatildeo da demanda por derivados de ferro incrementada tanto
pelas guerras que necessitavam de ferragens para as montarias apetrechos
defensivos para os soldados e armas mortiacuteferas como por instrumentos para a
agricultura Tambeacutem para a construccedilatildeo das grandes catedrais era necessaacuterio
ferro para as armaccedilotildees metaacutelicas cravos ferramentas entre outros (FAUS 2000
p52)
Para atender a estas demandas era necessaacuterio que se produzisse a maior
quantidade possiacutevel de ferro e os fornos baixos que eram anteriormente
utilizados natildeo atendiam aqueles objetivos Para tanto natildeo apenas os fornos
foram tomando outras formas como tambeacutem houve uma mecanizaccedilatildeo por meio
da utilizaccedilatildeo da energia hidraacuteulica (rodas drsquo aacutegua verticais) e da trompa hidraacuteulica
no processo produtivo tornando obsoletas as ferrarias que utilizavam a forccedila
humana e animal para a produccedilatildeo
A importacircncia da mecanizaccedilatildeo na produccedilatildeo do ferro com o uso da roda
hidraacuteulica e da trompa foi tanta que para alguns autores pode-se consideraacute-la
74
como uma autecircntica revoluccedilatildeo tecnoloacutegica (MALUQUER DE MOTES 1984 p 21-
24)
A aplicaccedilatildeo desse mecanismo (roda drsquoaacutegua) ao processo produtivo fez
com que as ferrarias que anteriormente ficavam concentradas no alto de
montanhas fossem trasladadas para as margens de rios buscando a energia
hidraacuteulica capaz de acionar primeiramente dos foles possibilitando a construccedilatildeo
de fornos de maiores dimensotildees e dessa maneira a produccedilatildeo do ferro em maior
escala
Depois dos foles a roda drsquoaacutegua foi utilizada para a mecanizaccedilatildeo do
acionamento dos malhos (grandes martelos responsaacuteveis por liberarem as
escoacuterias das massas de ferro dando-lhes formas que pudessem ser
comercializaacuteveis como o ferro em barra) A funccedilatildeo da trompa era a mesma dos
foles isto eacute insulflar ar ao interior do forno para que a combustatildeo alcanccedilasse
uma temperatura elevada A trompa era um engenhoso sistema de insuflar ar e
tambeacutem o elemento mais caracteriacutestico do procedimento conhecido como da
ldquofarga catalatilderdquo ou forno catalatildeo
O primeiro emprego da roda drsquoaacutegua vertical na produccedilatildeo de ferro foi
introduzido na regiatildeo correspondente aos Pirineus Catalatildees Neste local
desenvolveu-se uma instalaccedilatildeo destinada a produzir ferro denominado de
ldquofaacutebriques ou faacutebreguesrdquo que depois passou a ser conhecida como ldquofarguesrdquo ou
ldquofargardquo (o termo era usado tanto para descrever os lugares onde era obtido o ferro
como seu processamento) A partir do seacuteculo XIV o emprego da roda foi
difundido na regiatildeo basca ndash Espanha favorecida pelos trecircs elementos
fundamentais necessaacuterios para a sua instalaccedilatildeo a geografia da regiatildeo formada
por um territoacuterio montanhoso com a presenccedila de um significativo nuacutemero de rios
as jazidas de ferro e a floresta que fornecia o carvatildeo vegetal o uacutenico combustiacutevel
utilizado naquele processo ateacute o seacuteculo XVIII32
32 Com a Revoluccedilatildeo Industrial do seacuteculo XVIII passaram a utilizar como combustiacutevel o carvatildeo coque
75
Na Catalunha junto com o desenvolvimento das ldquofargasrdquo aprimoraram-se
tanto as teacutecnicas relacionadas agrave construccedilatildeo dos fornos como ao seu sistema de
funcionamento que ficou famoso no mundo todo como procedimento da ldquoforja
Catalatilderdquo ou ldquoprocedimento catalatildeordquo (MOLERA BARRUECO1983 p11)
A forja Catalatilde ou forno catalatildeo foi um sistema intermediaacuterio entre os fornos
baixo e os altos fornos utilizados atualmente Essa teacutecnica dominou todo o
processo de obtenccedilatildeo do ferro e accedilo durante a Idade Meacutedia espalhando-se para
a Alemanha Aacuteustria Inglaterra Franccedila e Itaacutelia Desde a Idade Meacutedia ateacute finais do
seacuteculo XIX esses paiacuteses entre outros conseguiam produzir ferro mediante aquele
sistema conhecido universalmente como ldquoprocedimento Catalatildeordquo
O periacuteodo aacuteureo do emprego da forja catalatilde se daacute entre os seacuteculos XVII e
XVIII devido sobretudo agrave introduccedilatildeo de um outro mecanismo em substituiccedilatildeo
aos foles acionados pela roda hidraacuteulica a ldquotrompa de aacuteguardquo (sistema empregado
par injetar ar no forno) Desenvolvido na Itaacutelia este novo equipamento se difunde
pelas regiotildees dos Pirineus da peniacutensula Ibeacuterica e foi assimilado pelas
manufaturas catalatildes ateacute o ponto de integraacute-las como uma das caracteriacutesticas do
meacutetodo que leva o nome de ldquofarga catalanardquo ou forno catalatildeo Jaacute nas ferrarias
bascas a trompa de aacutegua natildeo foi amplamente difundida prevalecendo a
utilizaccedilatildeo de rodas drsquoaacutegua para o acionamento de foles e do malho ( MALUQUER
DE MOTES 1983 p 23)
76
Fig 23 ARRANJO DE ldquoFARGA CATALANArdquo OBSERVAR USO DE RODA DrsquoAacuteGUA PARA ACIONAMENTO DO MALHO E A PRESENCcedilA DA TROMPA HIDRAacuteULICA JUNTO AO FORNO33
33 Folheto Museu de Ripoll sd
77
No interior das ldquofargas catalanasrdquo o forno era a parte mais importante Os
fornos de fundiccedilatildeo catalatildees diferentemente dos fornos de vento tinham uma
forma tronco-cocircnica isto eacute ldquouma forma de um tronco de piracircmide invertidardquo
(MALUQUER DE MOTES 1983 p 22) O forno era construiacutedo de pedras
refrataacuterias revestidas em parte de peccedilas de ferro com trecircs paredes planas e
uma convexa esta uacuteltima destinada a facilitar a extraccedilatildeo do produto final (massa)
A parede onde era colocada a ldquotoverardquo (entrada do fole) era oposta agrave convexa e
esta era feita de ferro numa inclinaccedilatildeo de 35o a 45o Em uma das paredes
laterais havia um buraco que deixava passar as escoacuterias liacutequidas
(MOLERABARRUECO1983 p13)
Fig 24 ELEMENTOS QUE COMPOtildeEM A OFICINA DA ldquoFARGA CATALANArdquo Observa- se a presenccedila do forno de fundiccedilatildeo e do malhos acionados por roda drsquoaacutegua34
34 Caderno de Apoio para visitante do Museu de Ripoll ndash Catalunha Espanha sd
78
Um outro aprimoramento teacutecnico do meacutetodo catalatildeo foi a forma como
passaram a carregar o forno Deixando para traacutes o meacutetodo anteriormente
conhecido que consistia em carregar o forno em camadas horizontais superpostas
com carvatildeo vegetal e mineacuterio os catalatildees passaram a carregar o forno por meio
de duas camadas verticais justapostas De um lado do forno (aquele em que
estava instalado o fole) era colocado o combustiacutevel (carvatildeo) de tal maneira que o
oacutexido de carbono que se desprendia da queima era forccedilado a atravessar a coluna
do mineacuterio (que estava disposta em uma outra coluna localizada junto agrave parede
oposta agrave do fole)
A produccedilatildeo do ferro ainda se realizava por meio do meacutetodo de produccedilatildeo
direta Sendo assim ainda se mantinha o processo de martelamento da massa de
ferro por meio do malho (que tambeacutem ficava instalado dentro daquele
estabelecimento) para a obtenccedilatildeo do produto final O meacutetodo catalatildeo natildeo apenas
melhorou a qualidade do produto final mas tambeacutem proporcionou o aumento da
produccedilatildeo
27 Tratados Teacutecnicos de Metalurgia
Entre os seacuteculos XV e XVI arquitetos engenheiros meacutedicos e artesatildeos e
outros publicaram inuacutemeros tratados voltados para os ofiacutecios mecacircnicos ou ldquoArtes
Mecacircnicasrdquo Essa literatura eacute extraordinariamente rica em Tratados de caraacuteter
teacutecnico que podem ser considerados autecircnticos manuais e representaram uma
contribuiccedilatildeo decisiva entre o saber cientiacutefico e saber teacutecnico-artesanal os quais
tiveram um grande efeito no nascimento da cooperaccedilatildeo entre cientistas e teacutecnicos
e entre ciecircncia e induacutestria (ROSSI 1989 p 30)
79
Entre as obras de caraacuteter teacutecnico publicadas naquele periacuteodo destacam-
se os escritos de Brunelleschi Ghiberti Peiro della Francesca Leonardo Cellini
Paolo Lomazzo o trabalho sobre as maacutequinas de guerra de
Konrad Keyser (1366-1405) os tratados teacutecnicos de Fontana
(1420) e Mariano (1438) as obras sobre arquitetura de Leon
Batista Alberti Filarete Francesco di Giorgio Martini Palladio o
livro sobre maquinas militares de Valturio da Rimini (publicado em
1472 reeditado em Verona em 1482 e 1483 em Bolonha em
1483 em Veneza em 1493 e nada menos que quatro vezes em
Paris entre 1532 e 1555) os dois tratados de Duumlrer sobre a
geometria descritivas e as fortificaccedilotildees (1525 e 1527) a
Pirotechnia de Biringuccio (1540) depois reeditada em duas
ediccedilotildees latinas trecircs francesas e quatro italianas) a obra de
baliacutestica de Nicolograve Tartaglia (1537) os dois tratados de
engenharia mineral de Georg Agriacutecola (1546-1556) o Teatro di
macchine de Besson (1569 depois traduzido para o francecircs e o
espanhol) os Mechanicorum libri de Guidobaldo Del Monte
(1577) as Diverse et artificiose macchine de Agostinho Ramelli
(1588) os trecircs livros sobre mecacircnica de Simon Stevin (1586
traduzido do flamengo para o francecircs em 1634) a obra sobre
fortificaccedilotildees de Lorini (1597) os trabalhos de arte da navegaccedilatildeo
de Willian Barlowe (1597) Thomas Harriot (1594) e Robert Hucs
(1599) (ROSSI 1989 p30-31)
Entre os tratados relacionados com a metalurgia e a mineraccedilatildeo
destacamos a De La Pirotechinia considerado o primeiro livro impresso dedicado
agrave metalurgia foi escrito pelo italiano Vannoccio Biringuccio (ca 1480-1539) e
publicado pela primeira vez em 1540 Adepto do empirismo Birunguccio
escreveu esse tratado baseado nas observaccedilotildees diretas do ofiacutecio que havia
adquirido durante as vaacuterias visitas que fez a Alemanha35 onde se destacava o
desenvolvimento de teacutecnicas de exploraccedilatildeo de minas de prata e tambeacutem de
35 Biringuccio visitou a Alemanha em 1516 e entre 1526 e 1529
80
equipamentos que possibilitavam a construccedilatildeo de tuacuteneis e galerias para a
exploraccedilatildeo do subsolo36
Embora tivesse sido publicado na Alemanha no iniacutecio do seacuteculo XVI de
forma anocircnima um conjunto de manuais teacutecnicos sobre o ensaio de metais a
obra de Biringuccio era mais ambiciosa explicava como descobrirem minerais e
veios a maneira de separar o ouro e a prata as teacutecnicas de ensaio e as
propriedades do cobre o zinco e outros metais Analisava aleacutem disso as
propriedades do mercuacuterio do enxofre do antimocircnio e de outros elementos
utilizados no processo de extraccedilatildeo do ouro e prata como tambeacutem os meacutetodos de
obtenccedilatildeo do accedilo aleacutem de apresentar ilustraccedilotildees sobre fundiccedilotildees de canhotildees e
sinos a fabricaccedilatildeo de objetos piroteacutecnicos e algumas poucas informaccedilotildees sobre
mineraccedilatildeo geologia e mineralogia (CARDWELL 1994 p 76)
Um outro tratado importante foi escrito pelo alematildeo Georg Bauer (1494-
1555) conhecido pela forma latina de seu nome como Georgius Agriacutecola Depois
de estudar em Leipzig Bolonha e Veneza foi em 1527 exercer a profissatildeo de
meacutedico em Joachimstal na Boemia a maior aacuterea mineira na eacutepoca Agricola
passou a maior parte de sua vida estudando mineralogia e geologia entre 1546 e
1556 escreveu dois tratados destacando a mineraccedilatildeo e a siderurgia
Em 1546 publicou dois tratados sistemaacuteticos de geologia e mineralogia a
De ortu et causis subterraneorum e a De natura fossilium os quais lhe conferiram
a designaccedilatildeo de ldquoPai da Mineralogiardquo37 O seu trabalho mais importante e de
maior divulgaccedilatildeo foi publicado em 1556 com o tiacutetulo de De Re Metallica - A Arte
dos Metais - o qual serviu como obra teacutecnica de mineraccedilatildeo durante quase dois
seacuteculos seguintes aquela primeira publicaccedilatildeo
36 A Alemanha havia desenvolvido importantes teacutecnicas de mineraccedilatildeo que foram intensificadas pelo contiacutenuo intercacircmbio de experiecircncias com a Hungria e a Sueacutecia 37 Georgius Bauer Agricola (1494-1555) cientista alematildeo considerado o fundador da mineralogia Foi um dos primeiros cientistas que baseou suas teorias na observaccedilatildeo em vez da especulaccedilatildeo Antes dele podemos destacar Alberto Magno (1193-1280) conhecido como Preacute-Tecnoacutelogo escreveu a obra De mineralibus que constitui natildeo somente uma histoacuteria dos mineralogia como tambeacutem uma descriccedilatildeo dos metais
81
O conteuacutedo do livro De Re Metallica estava baseado no estudo das coisas
materiais realizado por meio da observaccedilatildeo descriccedilatildeo sistemaacutetica analiacutetica e
meticulosa da natureza A transcriccedilatildeo dessas observaccedilotildees natildeo requeria apenas a
confecccedilatildeo de textos descritivos mas tambeacutem de ilustraccedilotildees com as quais
procuravam traduzir os conhecimentos obtidos pela observaccedilatildeo em imagens
graacuteficas as mais compreensiacuteveis possiacuteveis (ROSSI 1989 p 52)
Agriacutecola ao escrever a introduccedilatildeo desse tratado esclarecia ao leitor como
havia concebido a sua obra e as dificuldades que enfrentou para concluiacute-la
Diz ele Grandiacutessima fadiga e solicitude realmente aqui coloquei e ainda
algumas boas despesas porque natildeo escrevi simplesmente os
veios os instrumentos os canais as maacutequinas e as fornalhas
mas ainda agraves minhas expensas assalariei os pintores para fazer
seus retratos naturais a fim de que as coisas natildeo conhecidas que
satildeo apresentadas com palavras natildeo tragam real dificuldade agraves
pessoas de hoje ou de tempos vindouros (ROSSI 1989 p 51)
Os retratos naturais referidos por Agriacutecola eram as xilogravuras que
ilustravam as suas obras A partir dessas imagens era possiacutevel visualizar com
exatidatildeo de detalhes as dimensotildees sobre equipamentos instrumentos e teacutecnicas
empregadas na prospecccedilatildeo no processo de fundiccedilatildeo e orientaccedilotildees sobre o uso
da energia hidraacuteulica nas operaccedilotildees mineiras enfim as ilustraccedilotildees traziam
detalhes sobre praticamente todas as etapas das operaccedilotildees mineiras isto eacute
prospecccedilatildeo administraccedilatildeo beneficiamento e transporte de mineacuterios 38
Na segunda parte daquele mesmo livro o autor dedica-se ao ensaio e
tratamento dos minerais Como Biringuccio Agricola mostrava criacutetica e desprezo
pelo trabalho realizado pelos alquimistas Uma de suas criacuteticas referia-se ao
38Agricola demonstra neste Tratado o funcionamento de sete tipos diferentes de bombas de succcedilatildeo incluindo uma bomba muacuteltipla acionada por uma grande roda hidraacuteulica e uma bomba combinada de succcedilatildeo e impelente (bomba impelente bomba que eleva a aacutegua por meio de pressatildeo exercida sobre o liacutequido)
82
meacutetodo empregado por estes na busca de metais enterrados O uso da
radiestesia por meio do emprego de uma vara ou forquilha feita com galhos de
aacutervores era considerado por Bauer apenas uma arte da adivinhaccedilatildeo derivada da
magia antiga e que somente poderia ser e era utilizada por mineiros simples e
ordinaacuterios
A Ameacuterica Espanhola foi tambeacutem palco para a produccedilatildeo do conhecimento
relacionado agrave metalurgia Em 1640 Aacutelvaro Alonso Barba padre em Potosiacute e que
havia aperfeiccediloado o meacutetodo de amalgamaccedilatildeo39 desenvolvido por Bartolomeacute de
Medina (Beneficio de Patio)40 publicou a partir de experiecircncias proacuteprias com a
produccedilatildeo de prata naquele local o livro Arte de los Metales O livro de Barba foi o
primeiro trabalho em que se registrou o processo de amalgamaccedilatildeo por mercuacuterio
que ficou conhecido como ldquomeacutetodo de cazo y cocimientordquo (realizado por meio do
calor dentro de reservatoacuterio de cobre) Este livro foi o primeiro trabalho em que se
registraram as regras para beneficiamento de ouro e prata com a utilizaccedilatildeo do
mercuacuterio
39 Amalgamaccedilatildeo Operaccedilatildeo que consiste em ligar o mercuacuterio a outro metal ou separar o ouro e a prata da ganga por meio do mercuacuterio 40 O ldquobenefiacutecio de paacutetiordquo foi assim denominado pois toda a operaccedilatildeo de produccedilatildeo de prata era realizada em um paacutetio Consistia basicamente em mesclar a Mena (metal) moiacuteda e uacutemida com sal comum e mercuacuterio Esse meacutetodo era menos custoso que aqueles que eram utilizados e seu uso se prolongou ateacute o seacuteculo XIX
83
CAPITULO 3
HISTOacuteRICO DA MINERACcedilAtildeO NO BRASIL NO PERIacuteODO COLONIAL A Histoacuteria das primeiras expediccedilotildees no Brasil mostra que desde o inicio do
seacuteculo XVI jaacute havia uma preocupaccedilatildeo permanente aleacutem do reconhecimento do
novo territoacuterio na busca de metais e pedras preciosas que eram produtos de alto
valor econocircmico e poliacutetico aleacutem do interesse estrateacutegico
Durante os primeiros trinta anos de colonizaccedilatildeo do Brasil Portugal estava
voltado para a exploraccedilatildeo dos produtos da Aacutefrica e Iacutendia inclusive de metais
sendo que esta experiecircncia se reflete nas primeiras expediccedilotildees quando se
constata a preocupaccedilatildeo com a descoberta de metais nobres (ouro e prata)
conforme se demonstra nos itens que seguem
Embora a busca por metais fosse uma constante as exploraccedilotildees durante
a primeira metade do seacuteculo XVI resultaram a descoberta de produtos vegetais
(pau-brasil) e animais exoacuteticos (araras e papagaios) 41
Somente com a descoberta da prata na serra de Potosi em 1545 pelos
espanhoacuteis ficou comprovada a existecircncia de metais nobres no novo continente
31 As primeiras expediccedilotildees mariacutetimas a busca de metais nobres A primeira expediccedilatildeo portuguesa destinada ao reconhecimento do litoral do
Brasil partiu de Lisboa entre os anos 1501-02 sob o comando de Gonccedilalo Coelho
e pelo florentino Ameacuterico Vespuacutecio (cosmoacutegrafo contratado pela Coroa
Portuguesa) Apoacutes terem passado pelos atuais estados do Rio Grande do Norte
Bahia e Rio de Janeiro os navios desembarcaram em janeiro de 1502 numa ilha 41 O pau-brasil era extraiacutedo no litoral compreendido desde o atual Estado do Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro
84
que denominaram Cananeacuteia42 Este local tornou-se na primeira metade do seacuteculo
XVI importante posto avanccedilado responsaacutevel pelo abastecimento de
embarcaccedilotildees que mais tarde passaram a rumar para o sul do continente com o
objetivo de reconhecimento e busca de riquezas minerais
Em 1514 Portugal enviou uma outra expediccedilatildeo ao sul desta vez chefiada
por Joatildeo de Lisboa e Estevatildeo Frois financiada D Nuno Manuel e Cristoacutevatildeo de
Haro em cujo trajeto estava Cananeacuteia e a Ilha de Satildeo Francisco do Sul (Santa
Catarina) Esta expediccedilatildeo descobriu o estuaacuterio do rio que denominaram de Rio da
Prata Os resultados dessa expediccedilatildeo foram informaccedilotildees dadas pelos nativos
(Charruas) sobre a existecircncia de uma ldquoSerra de Pratardquo fato que deve ter
impulsionado o envio da expediccedilatildeo espanhola para o sul de Cananeacuteia em 1515
chefiada por Juan Diaz de Soacutelis (VIANNA 1972 p 54)
Entre 1521 e 1526 Aleixo Garcia junto com outros remanescentes da
expediccedilatildeo de Soacutelis e mais iacutendios guaranis partiram da Costa dos Patos (Santa
Catarina) indo aleacutem do rio paraguay e do Chaco obtendo riquezas perdidas na
viagem de regresso (VIANNA 1972 p 214)
Em 1530 parte de Lisboa a expediccedilatildeo de Martim Afonso de Souza uma
das mais importantes expediccedilotildees portuguesas Tinha como objetivos expulsar do
litoral os franceses que traficavam pau-brasil reconhecer a extensatildeo da costa
pertencente a Portugal promover a ocupaccedilatildeo do territoacuterio criando fortificaccedilotildees
em pontos de interesse estrateacutegico e especialmente explorar o rio da Prata 43
42 Cananeacuteia era local de fronteira entre as terras de Portugal e Espanha estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas (1494) 43 A expediccedilatildeo de Martim Afonso se diferenciou das anteriores pelo fato de ter D Joatildeo III investido estes comandantes de poderes especiais aplicados sobretudo em Satildeo Vicente Entre eles permitia-se a Martim Afonso distribuir terras em sesmarias criar instrumentos juriacutedicos que permitiram o registro de propriedades atraveacutes da instalaccedilatildeo dos tabelionatos e a elevaccedilatildeo de povoados para a condiccedilatildeo de vilas o que possibilitou a instalaccedilatildeo de um processo colonizador na regiatildeo Sobre a expediccedilatildeo ver VIANNA Helio Historia do Brasil Satildeo Paulo Melhoramentos 1970 p56-61
85
Um dos fatos importantes resultantes da vinda dessas expediccedilotildees foi a
integraccedilatildeo do Porto de Satildeo Vicente44 juntamente com Cananeacuteia na rota de
navegaccedilatildeo para o sul do continente Estes portos serviam para abastecer as
embarcaccedilotildees e ali era possiacutevel contratar os ldquoliacutenguasrdquo 45
Em 1532 quando Martim Afonso chegou a Satildeo Vicente encontrou um
nuacutecleo formado por portugueses espanhoacuteis indiacutegenas Essa localidade tambeacutem
jaacute era conhecida como a porta de entrada para o sertatildeo e o caminho natural para
se ir agrave Serra da Prata atraveacutes dos Peabirus (ver item abaixo)
32 O Peabiru uma trilha para o Sertatildeo Tendo em vista a importacircncia da existecircncia de caminhos indiacutegenas
denominados Peabirus como facilitadores da interligaccedilatildeo da Vila de Satildeo Paulo
(Campos de Piratininga) com a regiatildeo onde se localiza o morro de Araccediloiaba
entendemos ser importante discorrer a respeito destas vias
A respeito desse sistema de caminhos escreveu Adolpho Pinto em 1902
() havia estradas extensas construiacutedas pelo gentio comunicando
vaacuterios pontos do litoral com o mais longiacutenquo interior do paiz
podendo-se mesmo dizer que figurava como tronco desse primitivo
sistema de viaccedilatildeo geral uma grande estrada pondo em ligaccedilatildeo as
tribus da naccedilatildeo Guarany da bacia do Paraguay com a tribu dos 44Satildeo Vicente segundo Washington Luiacutes ldquojaacute era um porto conhecido com lugar marcado nos rudimentares mapas da eacutepoca uma espeacutecie de pequena feitoria portuguesa de iniciativa particular visitada de esquadras para o trafico de escravos se forneciam viveres agrave navegaccedilatildeo de longo curso se construiacuteam bergantins e se contratavam liacutenguas da terrardquo LUIZ Washington Na Capitania de Satildeo Vicente Satildeo Paulo Livraria Martins Editora1956 p47 A povoaccedilatildeo de Satildeo Vicente foi elevada agrave condiccedilatildeo de Vila em 1532 com a instalaccedilatildeo de oacutergatildeos administrativos e poliacuteticos como a Cacircmara e Cadeia transformando-a no primeiro nuacutecleo de colonizaccedilatildeo portuguesa do litoral 45 Os liacutenguas eram aqueles versados na liacutengua indiacutegena O Tupi era falado em Satildeo Paulo ateacute meados do seacuteculo XVIII Segundo John Monteiro ldquoo domiacutenio da liacutengua geral ou qualquer outra liacutengua indiacutegena era consideraacutevel uma respeitaacutevel especializaccedilatildeo e a fluecircncia numa dessas liacutenguas limitava-se apenas aos maiores sertanistasrdquo MONTEIRO John Negros da Terra iacutendios e bandeirantes nas origens de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1994 p164
86
Patos do litoral de Santa Catarina com os Carijoacutes de Iguape e
Cananeacuteia e com as tribus de Piratininga e do litoral proacuteximo
(GONCcedilALVES 1998 p8)
Em Satildeo Vicente o Peabiru constituiacutea o acesso obrigatoacuterio que do mar
seguia para os sertotildees do Planalto de Piratininga Construiacutedo de acordo com a
teacutecnica e a tradiccedilatildeo indiacutegena seguia os espigotildees dos morros de modo a evitar
terrenos iacutengremes embora em alguns trechos fossem inevitaacuteveis as encostas
com fortes declividades ((GONCcedilALVES 1998 p6 )
A partir do Planalto de Piratininga seguindo para o interior rumo ao Oeste
o caminho que levava ateacute a regiatildeo das minas de ferro era um Peabiru cuja trilha
contornava os morros do Apotribu no municiacutepio de Itu e alcanccedilava o morro de
Araccediloiaba no atual municiacutepio de Iperoacute interior de Satildeo Paulo
87
Fig 24 Peabiru (Tronco) Passando por Sorocaba (Galdino 2002 p182)
88
Fig 25 Mapa de Pasquale Petrone (GONCcedilALVES1998 p42)
89
33 O descobrimento da prata em Potosi
Em 1545 a Espanha anunciou o descobrimento na regiatildeo denominada de
Alto Peru (atualmente territoacuterio boliviano) de uma montanha denominada de
Potosi com 600 metros de altura onde ocorria uma importante jazida de prata
Diferentemente do que acreditavam portugueses e espanhoacuteis Potosi natildeo estava
localizada nem nas proximidades do rio da Prata nem na regiatildeo sul do continente
onde esperavam descobrir aquela lendaacuteria riqueza
Sergio Buarque de Holanda (1959 p 58) ao discorrer sobre aquela
descoberta escreve ldquotamanho era o prestiacutegio de Potosi que em pouco tempo a
velha atraccedilatildeo do ouro parece suceder facilmente a da pratardquo O ldquofeiticcedilo do Perurdquo
desencadeou um novo direcionamento da poliacutetica portuguesa com um maior
interesse da Coroa Portuguesa nos negoacutecios do Brasil e particularmente na
Capitania de Satildeo Vicente
Para dar maior incremento ao povoamento do interior foi instituiacutedo o
sistema de distribuiccedilatildeo de terras (Sesmarias) Uma dessas sesmarias foi doada a
Afonso Sardinha bandeirante que se destacou na atividade mineradora e
tambeacutem na vida poliacutetica da Vila de Satildeo Paulo na comercializaccedilatildeo com a regiatildeo
do Rio da Prata como proprietaacuterio de engenho de accediluacutecar traficante de escravos
africanos investidor financiador e produtor de ferro Foi um dos financiadores da
instalaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro que comeccedila a funcionar em 1607 46
Acreditava-se que o ldquoCerro de Potosirdquo natildeo ficava muito longe das terras da
Coroa Portuguesa sendo este um dos motivos que impulsionavam as ldquopessoas a
continuarem as buscas em direccedilatildeo do Oeste apesar dos repetidos
desapontamentosrdquo (BOXER 2002 p 45)
46 Afonso Sardinha recebeu suas terras de sesmarias no lugar denominado de Ubataacute abrangendo o atual Butantatilde que eacute o Ubataacute citado por Pedro Taques ou Ibatata Batata ou Ibitatatilde em documentos municipais seiscentistas e setecentistas HOLANDA Sergio Buarque de Caminhos e Fronteiras 1957 p 188
90
Um dos caminhos Peabiru que partindo de Satildeo Vicente demandava o
Potosi passava pela Vila de Satildeo Paulo e seguindo a direccedilatildeo Oeste contornava o
morro de Araccediloiaba onde em finais do seacuteculo XVI iniciou-se a produccedilatildeo de ferro
seguindo para a regiatildeo do Guairaacute (atual Estado do Paranaacute) ateacute alcanccedilar as terras
castelhanas
Pode-se dizer que a esperanccedila de encontrar minas de prata um Potosi em
terras de Satildeo Vicente persistiu ateacute o iniacutecio do seacuteculo XVIII quando de fato
foram encontradas minas de ouro pelos paulistas na regiatildeo dos atuais Estados de
Minas Gerais Mato Grosso e Goiaacutes 47
34 A busca de metais nobres na Capitania de Satildeo Vicente
Desde meados do seacuteculo XVI jaacute corriam notiacutecias sobre a possiacutevel
existecircncia de riquezas minerais no interior da Capitania Joseacute de Anchieta em
carta escrita em Satildeo Paulo de Piratininga em 1554 dava as primeiras
informaccedilotildees sobre as descobertas de minas de ouro prata e ferro48 Neste
mesmo ano o jesuiacuteta Pero Correa tambeacutem destacava a descoberta de mina de
ferro proacutexima daquele local 49
47 As minas de ouro localizadas pelos paulistas foram disputadas tambeacutem por portugueses e baianos e todos reivindicavam aquela descoberta Essa disputa culminou na chamada Guerra dos Emboabas na qual os paulistas foram derrotados As descobertas das minas de Mato Grosso e Goiaacutes marcaram o iniacutecio das monccedilotildees expediccedilotildees fluviais regulares que faziam a comunicaccedilatildeo entre Satildeo Paulo e Cuiabaacute O ouro encontrado onde hoje se ergue a cidade de Cuiabaacute foi achado por escravos do sorocabano Miguel Sutil em 1722 Sobre as Monccedilotildees ver HOLANDA Sergio Buarque de Monccedilotildees Rio de Janeiro Casa do estudante do Brasil 1945 48 Ver Carta do quadrimestre de maio a setembro de 1554 dirigida por Joseacute de Anchieta a Santo Ignaacutecio de Loyola Roma In Minhas Cartas por Joseacute de Anchieta Publicaccedilatildeo 450 anos p 153 49 Carta do Irmatildeo Pero Correa escrita a um padre do Brasil In CARTAS Avulsas 1550-1568Azpilculta Navarro e outros Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Edusp 1988 p 163-165
91
A respeito da pesquisa mineral na Capitania de Satildeo Vicente Heacutelio Vianna
escreve que com a intenccedilatildeo de investigar a existecircncia daquelas riquezas
ldquo() mandou o governo portuguecircs em 1559 um mineiro praacutetico
Luis Martins Por ordem do Governador Men de Saacute no ano
seguinte em Satildeo Vicente partiu ele para indeterminados pontos
do interior em uma leva organizada e dirigida por Braacutes Cubas
Regressando este a Santos em 1562 com algumas amostras de
metais e pedras que enviou ao Reino fez com que no mesmo
ano o mineiro voltasse as suas pesquisas Natildeo muito longe
ainda em terras vicentinas em Jaraguaacute talvez em Caatiba hoje
Bacaetava encontrou afinal o desejado ouro Explorou-o
inicialmente o proacuteprio Braz Cubas depois associado ao Capitatildeo
Mor Jerocircnimo Leitatildeordquo (VIANNA 1972 p 215)
35 D Francisco de Souza a organizaccedilatildeo da exploraccedilatildeo mineral De 1598 eacute a primeira referencia a ldquocertos lsquomontes de Sabaroasonrsquo de
onde um mameluco teria extraido amostras de metal que levadas a Bahia ao
Governador D Francisco de Sousa determinaram a vinda deste a Satildeo Vicenterdquo (VIANNA 1972 p 215)
D Francisco de Sousa Seacutetimo Governador Geral do Brasil (1591-1602) e
a partir de 1606 Governador das Minas das Capitanias do Sul 50 promoveu e
organizou vaacuterias expediccedilotildees ao sertatildeo destinadas a descobrir e explorar minas de
ouro e prata e outros metais Tais atividades eram apresentadas como parte de
50 As Capitanias do Sul correspondiam agraves Capitanias do Espiacuterito Santo Rio de Janeiro e Satildeo Vicente
92
seu projeto de desenvolvimento no qual tambeacutem estava inserido o setor de
agricultura e induacutestria sustentado com base no trabalho indiacutegena 51
A sua maior contribuiccedilatildeo decorre do fato de ter exercido o cargo de
Governador das Minas e de ter se fixado na Capitania de Satildeo Vicente mais
especificamente na Vila de Satildeo Paulo de onde provinham as notiacutecias da
existecircncia de minas de ouro prata e ferro
D Francisco veio para Satildeo Paulo munido de poderes que lhe permitiam
distribuir mercecircs agravequeles que tivessem trabalhado na exploraccedilatildeo das minas
Conforme o Regimento que jaacute vigorava no Peru e nas Iacutendias de Castela o
explorador haveria de aplicar seus proacuteprios recursos na busca e exploraccedilatildeo das
jazidas A contrapartida que poderia ser dada pelo Rei estava no fornecimento
de algumas comodidades e mercecircs (STELLA 2000 p 119)
Atraveacutes de Alvaraacutes D Francisco podia nomear uma quantidade
determinada de pessoas com tiacutetulos de nobreza Estas atribuiccedilotildees fizeram com
que muitos moradores da Vila de Satildeo Paulo despendessem de seus proacuteprios
recursos materiais e de indiacutegenas para organizar expediccedilotildees em buscas daqueles
metais
Em 1599 D Francisco esteve no morro de Araccediloiaba para verificar a
autenticidade e a natureza daquela mina que diziam ter ferro ouro e prata Para
viajar ateacute aquele local enfrentando toda a sorte de perigos D Francisco precisou
solicitar ajuda dos moradores de Satildeo Paulo 52
51 Quando no Cargo de Governador Geral Francisco de Souza conduzido pela esperanccedila de encontrar na regiatildeo das cabeceiras do rio Satildeo Francisco a lendaacuteria Sabarabuccediluacute (uma serra de prata e esmeraldas) organizou em 1596 trecircs entradas ao sertatildeo com saiacutedas da Bahia Espiacuterito Santo e Satildeo Paulo respectivamente A vertente paulista foi chefiada por Joatildeo Pereira de Sousa Botafogo e contava com 25 colonos e seus respectivos iacutendios A maioria desta expediccedilatildeo regressou a Satildeo Paulo ldquosatisfeita com os tupinambaacutes que haviam capturado no vale do Paraiacutebardquo MONTEIROJohn Negros da Terra iacutendios e bandeirantes nas origens de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1994 p 58-68 52 PEREIRA Antonio Batista Carta a Paulo Duarte apud Donato Hernani Sumeacute e Peabiru misteacuterios maiores do seacuteculo da descoberta SP ediccedilotildees GRD 1997 p91
93
Aracy Amaral ao analisar a gestatildeo de D Francisco de Sousa como
Governador das Minas das Capitanias do Sul opina que esse administrador
() representa o veiacuteculo que transportou para Satildeo Paulo uma
experiecircncia uma mentalidade que Castela desde haacute muito
desenvolvia no Meacutexico e no Peru As concessotildees e privileacutegios que
obteve do Rei faziam parte de uma legislaccedilatildeo empregada com
sucesso naqueles domiacutenios Essa nova mentalidade estava
intimamente relacionada com os negoacutecios da mineraccedilatildeo e esse jaacute
chamado de ldquoeldorado-maniacuteacordquo que foi D Francisco tambeacutem
denominado por Taunay de ldquopropulsor dos paulistasrdquo seguia sem
duacutevida a diretriz apontada pelos Felipes (AMARAL 1981 p 13)
Apoacutes a Restauraccedilatildeo Portuguesa em 1640 as buscas pelo ouro e pela
prata permaneceram assim como as concessotildees de mercecircs para aqueles que
descobrissem minas ou incentivassem outros a descobri-las Para Ilana Blaj isso
tudo era ldquoum universo de honra de siacutembolos de dignidade e de prestiacutegio que a
elite perseguia e que a Coroa concedia estreitando ainda mais os laccedilos de
vassalagem no interior do Impeacuteriordquo Sintetizando a autora afirma que ldquoescravos
terra dignidade honrarias e prestiacutegio constituiacuteram os fundamentos da sociedade
colonial brasileirardquo (BLAJ 2002 p 322-338)
Em 1611 D Francisco de Sousa falece na mais extrema pobreza O
mesmo destino que tiveram outros que laacute apostaram na metalurgia Frei Vicente
do Salvador contemporacircneo de D Francisco descrevendo a situaccedilatildeo afirmou
que
() estando tatildeo pobre que affirmou um padre da Companhia que
se achava com elle a sua morte que nem uma vela tinha para lhe
metterem na matildeo si a natildeo mandara levar do seu convento mas
quereria deusalumia-lo em aquelle tenebroso transe por outras
muitas que ainda levado deante de muitas esmolas e obras de
piedade que sempre fez (FRANCO 1929 p 135)
94
36 Teacutecnicos e praacuteticos na mineraccedilatildeo e metalurgia Na Vila de Satildeo Paulo e tambeacutem no Sertatildeo as forjas de ferreiro se
instalaram desde cedo As atividades desses ferreiros se concentravam na
fabricaccedilatildeo de ferramentas como foices machados cravos e anzoacuteis utilizando
ferro em barra ou em lingotes trazido da Europa que eram aqui refundidos em
fornos de forja
Em 1553 Manoel da Noacutebrega noticia a presenccedila de ldquotendas de ferreirordquo
como um dos instrumentos levados nas expediccedilotildees ao Sertatildeo (NEME 1959
p158) Em 1584 trabalhavam em Satildeo Paulo trecircs ferreiros (HOLANDA 1957
p186)
Gilberto Freyre em seu trabalho Ferro e Civilizaccedilatildeo no Brasil (1988 p249-
251) destaca como conhecedor do trabalho com o ferro natildeo somente o colono
portuguecircs como tambeacutem os padres da Companhia de Jesus Para esse autor
ambos haviam iniciado seus saberes com ibeacutericos os quais haviam desenvolvido
as ldquoferreriacuteasrdquo os ldquohornosrdquo e aperfeiccediloado as teacutecnicas de fundiccedilatildeo com o ldquohorno
catalaacutenrdquo Entre os conhecedores de metalurgia estava o jesuiacuteta Joseacute de Anchieta
o qual como jaacute destacamos havia informado em 1554 a existecircncia de mineacuterios
nobres e do ferro nas imediaccedilotildees de Satildeo Paulo 53
Diferentemente do que ocorreu nas colocircnias espanholas da Ameacuterica os
indiacutegenas que aqui foram encontrados natildeo tinham conhecimento metaluacutergico e
portanto natildeo utilizavam nenhuma teacutecnica de fundiccedilatildeo que pudesse ser adaptada
aos interesses do colonizador
Quanto ao conhecimento e a exploraccedilatildeo do mineacuterio e produccedilatildeo do ferro as
teacutecnicas necessaacuterias eram totalmente desconhecidas no Novo Mundo Sendo
53 Joseacute de Anchieta era descendente de bascos seus pais eram de Guipuacutezcoa Proviacutencia do Paiacutes Basco BARBOSA Francisco de Assis Dom Joatildeo VI e a Siderurgia no Brasil Rio de JaneiroBiblioteca do Exercito 1958 p 26
95
assim podemos afirmar que essa teacutecnica foi totalmente trazida pelos europeus
em especial pelos espanhoacuteis
Logo apoacutes a Uniatildeo Ibeacuterica (1580-1640) foi encaminhada para as terras das
colocircnias da Ameacuterica a armada de Diego Flores Valdeacutes 54 A passagem de Valdeacutes
em Satildeo Vicente em 1583 revela o interesse pelas riquezas minerais na regiatildeo
sendo que por este motivo solicita agrave Coroa a vinda de teacutecnicos e especialistas em
minas para dar iniacutecio agrave exploraccedilatildeo das jazidas descobertas Ao mesmo tempo
alerta sobre a necessidade de fortificar Satildeo Vicente pois alegava que ldquohay
camino abierto por tierra que va al Rio de La Plata y al Paraguay y a Sancta Feerdquo
(GONZALEZ 2002 p 46)
Alguns autores atribuem a presenccedila do praacutetico Clemente Aacutelvares nas
expediccedilotildees de Sardinha e seu filho55 Em 1606 Clemente Aacutelvares afirmava que
estava haacute quatorze anos dedicando-se ao descobrimento de minas de ouro e
para isso utilizara seus proacuteprios recursos Ao registrar as minas que ele afirmava
ter descoberto no Jaraguaacute Parnayba e Ybituruna para natildeo perder os direitos
sobre elas afirmava que natildeo entendia de metalurgia ldquosenatildeo por notiacuteciardquo e que
natildeo era um oficial fundidor ou ensaiador 56
Os mineiros vindos do reino foram trazidos por D Francisco de Sousa com
a funccedilatildeo de verificar a autenticidade e a natureza das minas descobertas no
Brasil e nas imediaccedilotildees da Vila de Satildeo Paulo Os homens que acompanharam
em 1591 em sua vinda ao Brasil foram o castelhano Agostinho de Souto Maior
(que havia trabalhado anteriormente em Monomotapa ndash Moccedilambique colocircnia
portuguesa que possuiacutea minas e a metalurgia do ferro e do ouro) o qual foi
nomeado para o cargo de provedor das minas do Brasil Christovam o qual era
54 A armada de Diego Flores Valdeacutes foi enviada para o Estreito de Magalhatildees para iniciar a sua ocupaccedilatildeo e povoamento com a finalidade de estabelecer uma defesa das terras do Impeacuterio Espanhol onde jaacute se havia iniciado a exploraccedilatildeo das minas de prata de Potosi 55 Clemente Aacutelvares paulista mineiro praacutetico e sertanista Em 1634 ainda estava se dedicando agrave busca pelo descobrimento de minas Faleceu em 1641 56 Ver Registro de minas de Clemente Aacutelvares em 16 de dezembro de 1606 ATAS DA CAMARA DA VILA DE SAtildeO PAULO vol II Satildeo PauloA Cacircmara 1917 p 171-173
96
lapidaacuterio de esmeraldas e Joatildeo Correa para seria nomeado feitor das minas de
ferro 57
Para Satildeo Paulo enviados por Francisco de Sousa vieram os mineiros
Gaspar Gomes Moalho Miguel Pinheiro Zurara e o fundidor Domingos Rodrigues
Em 1592 Jacques de Oalte mineiro alematildeo o engenheiro tambeacutem alematildeo
Giraldo Betink o cirugiatildeo Joseacute Serratildeo o mestre fundidor flamengo Corneacutelio de
Arzatildeo e o engenheiro e arquiteto-mor florentino Baccio de Filicaya tambeacutem
mineiro de ouro o qual recebeu de D Francisco de Souza o cargo de engenheiro-
mor Felicaya restaurou e construiu algumas fortalezas e trabalhou durante cinco
anos no descobrimento de minas Aparece registrado no Rio de Janeiro em 1596
como arquiteto fortificador (TAUNAY 2003 p409)
Destaca-se tambeacutem ainda na gestatildeo de D Francisco a presenccedila do
mineiro castelhano Manoel Joatildeo Branco (ou Morales) que foi enviado em
companhia de um outro mineiro de prata ao morro de Araccediloiaba para examinaacute-la
Este mineiro acabou por confirmar que aquela Serra era ldquoriquiacutessima de yerrordquo58
37 A Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro
No iniacutecio do seacuteculo XVII as jazidas de ferro que haviam sido identificadas
nas imediaccedilotildees da Vila de Satildeo Paulo comeccedilaram a ser beneficiadas por Diogo de
Quadros atraveacutes da construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro a qual
comeccedilou a funcionar em 1607 A Ferraria de Santo Amaro foi redescoberta em
1967 por Jesuiacuteno Felicissiacutemo Juacutenior e documentada nas ediccedilotildees de 5 e 6 de
janeiro deste mesmo ano no jornal Diaacuterio de Satildeo Paulo por Manoel Rodrigues
Ferreira ( FELICIacuteSSIMO1969 p14)
57 No mesmo ano em que D Francisco de Souza veio para o Brasil para assumir o cargo de Governador Geral tambeacutem retornava da Espanha Gabriel Soares de Souza o qual se dedicou agrave busca de minas autor de Tratado Descritivo do Brasil de 1587 58 Ver Carta de Manuel Joatildeo Branco Morales a D Felipe IVCORTESAtildeOJaime Jesuiacutetas e Bandeirantes no Guairaacute Rio de Janeiro Biblioteca Nacional 1951 p 182
97
Esta Faacutebrica foi construiacutedo na freguesia de Santo Amaro pela sociedade
formada em 1609 entre Diogo de Quadros juntamente com Francisco Lopes
Pinto e D Antonio de Souza filho de D Francisco de Sousa
Para dar andamento a esse projeto Diogo de Quadros obteve em 1604
de D Felipe III o cargo de provedor das minas da Capitania de Satildeo Vicente e a
concessatildeo de montar e explorar fundiccedilotildees de ferro no Brasil (NEME 1959
p353)
Segundo informaccedilotildees oferecidas por Wilhelm Ludwig Von Eschwege
(1777-1855) a Faacutebrica de Santo Amaro foi construiacuteda agrave beira de um pequeno
ribeiratildeo afluente do rio Pinheiros navegaacutevel a uma distacircncia de duas leacuteguas SE
de Satildeo Paulo Para Eschwege ldquoa situaccedilatildeo dessa pequena faacutebrica era
conveniente porque as margens dos rios proacuteximos estatildeo cobertas de matas
cerradas podendo o carvatildeo ser transportado por via fluvial e mesmo o produto
manufaturado que por essa via podiam ser levados ateacute a serra do Cubatatildeo e
para o interior ateacute o Tietecircrdquo (ESCHWEGE 1944 p336)
Aleacutem desse aspecto a Faacutebrica contava com apoio da Coroa recebendo
dos almoxarifados de Satildeo Vicente Bahia e Rio de Janeiro todas as ferramentas
de ferro que estavam disponiacuteveis e poderiam ser aproveitadas para o trabalho de
fundiccedilatildeo daquele metal Das ferramentas entregues para Diogo de Quadros em
1605 foram arrolados
dous malhos q podiatildeo pesar pouco mais ou menos entre ambos
trecircs quintais e por quintal a razatildeo de trecircs mil reis mais duas
argolas grandes da mesma ferramenta q podiatildeo pezar pouco
mais ou menos trecircs quintaes ao mesmo preccedilo mais duas Cafras
(bigornas) que podiam pezar outros quintaes ao mesmo preccedilo
mais duas chapas pequenas q cada hua pezava duas arrobas no
mesmo preccedilo mais duas chapas grandes q cada hua podia
pezar pouco mais ou menos hum quintal cada hua as quaes
todas juntas podem pezar pouco mais ou menos doze quintais
98
que a razatildeo dos ditos traacutes mil reis por quintal fazem a soma de
36$000 rs 59
Os indiacutecios da presenccedila e utilizaccedilatildeo da roda para fins de produccedilatildeo nesta
Faacutebrica satildeo tambeacutem reforccedilados pelas observaccedilotildees feitas por Eschwege em seu
livro Pluto Brasiliensis onde afirmava que ainda se podia ver ldquoa vala da roda o
lugar da oficina os restos de um accedilude assim como um monte de pesada escoacuteria
de ferrordquo ((ESCHWEGE 1944 p336)
Essas mesmas informaccedilotildees podem ser observadas em um levantamento
topograacutefico realizado em princiacutepios do seacuteculo XIX pelo topoacutegrafo portuguecircs
Rufino Joseacute Felizardo e Costa segundo tenente do Real Corpo de Engenheiros
Rufino provavelmente veio ao Brasil como membro do grupo de engenheiros
militares que constituiacuteram em meados do seacuteculo XVIII as ldquoMissotildees
Demarcatoacuterias destinadas a dar cumprimento aos Tratados de Limites relativos agraves
terras da Ameacuterica celebrados entre Portugal e Espanhardquo 60
O levantamento topograacutefico em questatildeo intitulado ldquoprospecto das ruiacutenas
da antiga faacutebrica de ferro de Santo Amarordquo apresenta uma planta dessa faacutebrica jaacute
em ruiacutenas e sua localizaccedilatildeo proacutexima aos rios ldquodos Pinheirosrdquo e Santo Amaro aleacutem
dos terrenos no seu entorno onde se observa a presenccedila de matas minas de
ferro e canais de derivaccedilatildeo de aacuteguas daqueles rios em direccedilatildeo ao edifiacutecio
confirmando as observaccedilotildees feitas por Eschwege que observou inclusive a
existecircncia da ldquovala da rodardquo (HOLANDA 1957 p188-189)
59Ver Provisatildeo passada por Diogo Botelho a Diogo de Quadros 1605 CLETTO Marcelino Pereira A respeito da Capitania de Satildeo Paulo Sua decadecircncia e modo de restabelececirc-la Santos 25 de outubro de 1782 Annaes da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro vol XXI Rio de Janeiro Typografia Leuzinger 1900 60 TOLEDO Benedito Lima de A Accedilatildeo dos Engenheiros Militares na Ordenaccedilatildeo do Espaccedilo Urbano no Brasil Lisboa 2000 lthttpurbaniscteptRevistanumero4artigosartigo_08htmgt Aceso em 16 de maio de 2006 Os tratados mencionados por Toledo satildeo o Tratado de Madri (1750) e do segundo o Tratado de Santo Ildefonso (1777)
99
Fig 27 Prospecto das ruiacutenas da antiga Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro Rufino Joseacute Felizardo seacutec XIX (HOLANDA1957)
38 A Faacutebrica de Ferro do morro de Araccediloiaba os empreendedores
Afonso Sardinha foi personagem importante na atividade de mineraccedilatildeo do
ouro e do ferro no periacuteodo compreendido entre a segunda metade do seacuteculo XVI
e inicio do seacuteculo XVII sendo um dos primeiros empreendedores da exploraccedilatildeo e
produccedilatildeo de ferro no morro de Araccediloiaba Foi tambeacutem um dos financiadores do
empreendimento da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro Em 1601 recebeu de
Francisco de Souza um regimento que permitia o acesso agraves minas jaacute descobertas
e a descobrir61 Ressalte-se que essa mesma provisatildeo natildeo permitia a ele
ldquoentabularrdquo as minas encontradas as quais deveriam ser trabalhadas somente
apoacutes inspeccedilatildeo feita por mineiros vindos do Reino
61 Ver Regimento do Capitatildeo Diogo Gonccedilalves Laccedilo que lhe deu o Senhor Governador Dom Francisco de Souza DERBY Orville A As Bandeiras paulistas de 1601 a 1604 Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo vol VII Satildeo Paulo Typ Do Diaacuterio Official 1903 p 403
100
Joseacute Monteiro Salazar citando Pedro Taques e outros historiadores
aponta o ano de 1597 para o inicio das atividades da exploraccedilatildeo e fabricaccedilatildeo do
ferro em Araccediloiaba sendo que o empreendimento esteve em atividade ateacute o ano
de 1611 coincidindo com o ano da morte de D Francisco de Sousa
Somente em 1684 surge uma segunda tentativa de exploraccedilatildeo das minas
de Araccediloiaba financiada pela Coroa Portuguesa Para tanto foi enviado agravequele
local o Frei Pedro de Sousa com a finalidade de pesquisar a existecircncia de prata
nas jazidas que estava sendo explorada por Luiz Lopes de Carvalho o qual
contava com matildeo de obra indiacutegena
Entretanto apoacutes ter retirado algumas amostras do mineacuterio na jazida elas
foram ensaiadas poreacutem natildeo foi encontrada a prata motivo pelo qual foi
ordenada pelo Conselho Ultramarino a suspensatildeo daquelas pesquisas
(RODRIGUES 1966 p202)
Na sequumlecircncia o empreendedor Luiz Lopes de Carvalho que administrava
aquela mina retomou a exploraccedilatildeo do mineacuterio de ferro cuja existecircncia jaacute era
comprovada para cuja atividade obteve licenccedila concedida pela Coroa Para
realizar as obras necessaacuterias para o seu empreendimento foi obrigado a
hipotecar em 1681 todas as suas propriedades na Vila do Vimieiro em Portugal
(RODRIGUES 1966 p 214-217)
Em carta escrita no Rio de Janeiro em 1692 ao Rei de Portugal noticiava o
fracasso de seu empreendimento com o esgotamento dos recursos financeiros
Assim descreve
penetrei os Sertotildees mais ragozos so habitado de feras padecendo
as inclemecircncias qe experimentatildeo os q com zello e amor da paacutetria
lhe querem descubrir nossos Thezouros Todas estas calamidades
101
padeci por que haverem persuadido e ter achado alguns Roteiros62
q insinuavatildeo partes e serr[dilacerado] aonde em algum tempo se
achavatildeo Signais evidentes de minas de prata e esmeraldas E por
me esgotar o Cabedal proacuteprio e nam achar q me animasse com
algum socorro vim a entender q e Deus nosso Sr Tem guardado
essa fortuna pa outro q mais lho mereccedila Nestas entradas ao
Sertatildeo fui dar com a dictas Serras de Birasuaiava aonde estatildeo as
minas de ferro que na calidade e fertilidade desse groseiro metal
excede a todos asqe por haver no descuberto (RODRIGUES
1966 p217-219)
Naquele mesmo documento Luiz Lopes de Carvalho discorre sobre as
dificuldades teacutecnicas e materiais que havia enfrentado e destaca que para a
continuidade daqueles trabalhos faltara-lhe a matildeo de obra indiacutegena e um mestre
em fundiccedilatildeo que sugere deveria ser de Figueiroacute (Portugal) Biscaia (Espanha)
Alemanha ou Sueacutecia Aleacutem disso indicava que os fornos de fundiccedilatildeo que ali
deveriam ser instalados fossem do mesmo tipo empregado nas ferrarias de
Figueiroacute em Portugal (RODRIGUES 1966 p217-220)
Nova tentativa de exploraccedilatildeo daquela mina de ferro deveu-se ao portuguecircs
Domingos Pereira Ferreira em 1763 o qual organizou em Lisboa uma companhia
por accedilotildees para a construccedilatildeo de uma faacutebrica de ferro em Araccediloiaba 63 Para
viabilizar esse empreendimento recebeu uma concessatildeo de Sesmarias localizada
junto a mina de ferro para explorar a madeira necessaacuteria agrave fundiccedilatildeo 64
62 Esses roteiros - ou ldquomapas do tesourordquo - parecem ter sido frequumlentes na histoacuteria da mineraccedilatildeo colonial Haacute indicaccedilotildees de roteiros elaborados por Gabriel Soares de Souza para as minas de Sabarabassuacute 63 Foram soacutecios de Pereira Ferreira Matheus Lourenccedilo de Carvalho Caoitatildeo-mor Manoel de Oliveira Cardozo Antonio Lopes de Azevedo Capitatildeo Jacinto Jose de Abreu Silveacuterio Thomaz de Oliva Doacuteria Joatildeo Fritz Gerald (este natildeo participou da Sociedade por ser estrangeiro ndash inglecircs) e o Sargento Mor Antonio Francisco de Andrade Traslado da Escritura de Contrato da Sociedade e Companhia que Fazem Domingos Pereira Ferreira (RODRIGUES 1966 p 228-238) 64 Carta de Sesmaria a Domingos Ferreira Pereira e seus soacutecios de um morro cito termo da Vila de Sorocaba para dele se extraiacuterem lenha para a Faacutebrica de caldear o ferro que ali se pretende erigir por ordem de S Magestade (1767) Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Sesmaria Patente e Provisatildeo Livro n17 p 125 v
102
Em dezembro de 1765 o Capitatildeo-General de Satildeo Paulo encaminhava ao
Conde de Oeiras amostra do ferro que Domingos Ferreira Pereira extraiacutera e
caldeara nas serras de Araccediloiaba Neste mesmo ano chegou a receber
encomendas de Diogo Lobo da Silva Capitatildeo General de Minas Gerais para a
fabricaccedilatildeo de armamentos tais como balas bombas e granadas aleacutem de
municcedilotildees Contudo esses armamentos natildeo chegaram a serem fabricados
Para viabilizar a produccedilatildeo do ferro trouxe de Portugal o mestre fundidor
Joatildeo de Oliveira Figueiredo poreacutem este decidiu abandonar aquele local com a
intenccedilatildeo de se mudar para Angola em 1767 Contudo quando jaacute se encontrava
no Rio de Janeiro foi preso e trazido de volta para Araccediloiaba sob a justificativa de
que ldquosem ele natildeo se poderiam por em praacutetica as experiecircnciasrdquo (CALOacuteGENAS
1904 p37)
O relatoacuterio encaminhado no ano de 1768 por Luiz Antonio de Souza ao
Conde de Oeiras em Portugal informava que o empreendimento de Pereira
Ferreira mostrava dificuldades em conseguir produzir um ferro de boa qualidade
mesmo tendo sido realizado por diversas vezes experiecircncias com o material pois
ldquonatildeo era possiacutevel acertar a caldeaccedilatildeo do ferro nem fazecirc-lo igual as primeiras
amostrasrdquo 65
Pereira Ferreira permanece naquela atividade durante dez anos sendo que
depois desse tempo vendeu a propriedade a Vitoriano Joseacute Sentena morador de
Viamatildeo Este empreendedor tambeacutem natildeo obteve sucesso nesta atividade
culminando por abandonaacute-la quatro anos apoacutes o seu iniacutecio (RODRIGUES 1966
p205-210)
No ano de 1784 Claacuteudio de Madureira Calheiros capitatildeo-mor da vila de
Sorocaba encaminha uma peticcedilatildeo a Martinho de Mello e Castro para explorar
aquelas jazidas Contudo esse projeto natildeo foi aprovado (RODRIGUES 1966 p
212) 65 ver Carta de Luiz Antonio de Souza ao Conde de Oeiras Satildeo Paulo 3 janeiro de 1768 In Dossiecirc Ipanema Arquivo do Museu Quinzinho de Barros ndash Sorocaba-SP
103
Em 1788 com aquele mesmo objetivo foi encaminhada a Bernardo Joseacute
de Lorena uma peticcedilatildeo onde o capitatildeo-mor de Sorocaba Claacuteudio da Cunha Oeiras
e o de Itu Vicente da Costa Taques Goacuteis e Aranha pela qual solicitavam
autorizaccedilatildeo para explorar e fabricar o ferro em Araccediloiaba Tambeacutem solicitavam a
vinda do Reino de ldquoum mestre inteiramente perito naquela arterdquo Juntaram agrave
peticcedilatildeo uma amostra de barra de ferro que diziam terem obtido naquele local
Este projeto tambeacutem natildeo foi viabilizado (RODRIGUES 1966 p212)
39 A Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema
Jaacute no final do seacuteculo XVIII destaca-se a vinda do ldquoquiacutemicordquo Joatildeo Manso
Pereira Diretor Geral das Minas para examinar as jazidas de ferro do morro de
Araccediloiaba e acompanhar os trabalhos de demarcaccedilatildeo dos terrenos nos quais
iriam ser instaladas as edificaccedilotildees da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema
Tambeacutem realizou alguns ensaios com aquele mineacuterio mediante a construccedilatildeo de
um alto forno acionado com um fole manual
A esse respeito relata Eschwege (1944 p340) que conheceu Joatildeo Manso
Pereira que durante a primeira experiecircncia para a fundiccedilatildeo do ferro muitas
pessoas das vizinhanccedilas foram atraiacutedas para o local poreacutem ao final do teste
nenhum ferro foi produzido Manso entatildeo fugiu do local e os convidados tiveram
que voltar para as suas casas Eschwege lembrava que Manso ao recordar
aquele fato ldquoria-se gostosamente de toda aquela histoacuteria tendo chegado agrave
conclusatildeo de que para fabricar ferro em grande escala natildeo bastavam
conhecimentos de quiacutemicardquo
Em 1802 Manso Pereira natildeo havia apresentado nenhum resultado
satisfatoacuterio e foi destituiacutedo do cargo assumindo em seu lugar Francisco Ribeiro
de Andrade (FRAGA 1968 p 33-48)
104
Segundo o Governador D Rodrigo de Souza Coutinho Joatildeo Manso
Pereira
longe de ser hum verdadeiro chimico natildeo era senatildeo hum
Alquimista que debaixo de certos misteacuterios pretendia inculcar-se
sem ter os necessaacuterios conhecimentos para Inspector e dirigir a
mesma obra tendo toda a esperanccedila que entre os artistas que
pedia que viesse algum que soubesse tractar a referida Mina e
desta sorte colher o Laurel de que os outro se fazia digno
(FRAGA1966 p46)
No iniacutecio do seacuteculo XIX Martim Francisco Ribeiro de Andrada escolhe a
regiatildeo junto ao ribeiratildeo Ipanema para sediar as futuras instalaccedilotildees da faacutebrica de
ferro que estavam autorizadas em 1799 a Joatildeo Manso Pereira Atraveacutes de um
contrato realizado em Estocolmo em 1810 entre Dom Joaquim Lobo de
Saldanha ministro portuguecircs em Londres e o sueco Carlos Gustavo Hedberg
foram iniciados os trabalhos para a construccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro de
Ipanema
Fig 28 Vista da Faacutebrica de Ferro de Ipanema 1827 Acervo Projeto Arqueologia Histoacuterica Museu Paulista-USP
105
Fig 29 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro e Ipanema seacuteculo XIX
Fig 30 Altos fornos geminados construiacutedos por Varnhagem 1818
106
Fig 31 Alto forno construiacutedo pelo Cel Mursa 1888
Em 1815 Frederico Guilherme Varnhagen assume o cargo de Diretor da
Real Faacutebrica e em 1818 constroacutei dois altos-fornos para a produccedilatildeo de ferro
gusa os primeiros do Brasil Joaquim de Souza Mursa Diretor de Ipanema entre
1865-1890 construiu outro alto-forno e natildeo chegou a funcionar Em 1895 jaacute no
periacuteodo republicano Prudente de Moraes decreta a desativaccedilatildeo de Ipanema
Em 1929 tiveram iniacutecio experiecircncias para o aproveitamento da apatita
jazida descoberta em 1890 por DacuteOrville Derby Esse mineacuterio foi explorado ateacute
1944 por uma firma particular para a produccedilatildeo do superfosfato Mas jaacute em 1937
o acervo e aacuterea ocupada pela antiga Faacutebrica de Ferro passaram ao Ministeacuterio da
Agricultura que em 1947 instalou ali a Estaccedilatildeo Experimental do Trigo
107
Uma quarta fase da histoacuteria de Ipanema comeccedilou logo no iniacutecio dos anos
50 quando foi estabelecido o Plano Nacional da Induacutestria de Tratores e instituiacuteda
a obrigatoriedade de ensaios para tratores maacutequinas e ferramentas agriacutecolas
importados ou fabricadas no Brasil Ao mesmo tempo seguiram as atividades de
produccedilatildeo de sementes O estabelecimento passou a denominar-se CENTRI -
Centro Nacional de Ensaios e Treinamento Rural de Ipanema
A partir de 1975 foi criado o CENEA ndash Centro Nacional de Engenharia
Agriacutecola junto ao qual foi realizado em 1983 o convecircnio com o Museu Paulista-
Universidade de Satildeo Paulo para a realizaccedilatildeo da pesquisa arqueoloacutegica Em 1992
passou a integrar uma das aacutereas de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental do IBAMA
com a denominaccedilatildeo de FLONA ndash Floreta Nacional de Ipanema O Siacutetio Afonso
Sardinha foi registrado no IPHAN pela Professora Doutora Margarida Davina
Andreatta em 1997
108
Fig 32 ROTEIRO HISTORICO DA MINERACcedilAtildeO E METALURGIA PAULISTA
109
CAPIacuteTULO 4
O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 41- Localizaccedilatildeo O vale das Furnas eacute uma aacuterea privilegiada por sua geografia devido agrave
presenccedila do mineacuterio de ferro em suas cabeceiras e de uma diversificada
quantidade de rochas dentre elas o arenito que foi utilizado como material de
construccedilatildeo na forma de blocos para paredes e fornos Destaca-se a rede
hidrograacutefica que apresenta dois rios importantes como o Ipanema e o Sarapuhy
que contornam o morro de Araccediloiaba indo desaguar no rio Sorocaba A bacia do
ribeiratildeo do Ferro ocupa uma aacuterea importante dentro do morro de Araccediloiaba
porque eacute ela que drena a regiatildeo onde afloram os minerais de ferro sendo que a
topografia acidentada do seu leito possibilitou a implantaccedilatildeo de estruturas de
aproveitamento hidraacuteulico A regiatildeo apresentava significativa aacuterea coberta de
matas as quais foram transformadas desde finais do seacuteculo XVI em carvatildeo
vegetal o uacutenico combustiacutevel utilizado para a produccedilatildeo de ferro ateacute finais do
seacuteculo XIX
O morro de Araccediloiaba eacute conhecido tambeacutem pela denominaccedilatildeo de morro do
Ipanema toponiacutemico indiacutegena de Ypanema ndash Y= rio aacutegua + panema = sem valor
ou ainda aproximadamente sem peixes significando assim ldquorio sem valorrdquo ou
ldquorio sem peixesrdquo A denominaccedilatildeo Araccediloiaba (ldquoo lugar que esconde o Solrdquo)
aparece desde o seacuteculo XVI em documentos datados com variantes como
Arraraccediloiaba Byraccediloiaba Ibyraccediloiaba Guaccediloiava (SALAZAR 1997 p17)
Ocupa uma aacuterea isolada no interior de uma extensa bacia sedimentar que os
geomorfoacutelogos denominam de ldquoDepressatildeo Perifeacuterica Paulistardquo pertencente agrave
Bacia do Paranaacute Esta aacuterea constitui um ldquohorst docircmicordquo em razatildeo do seu formato
110
arredondado que lembra estruturas de coberturas do tipo domos (DAVINO 1975
p130)
Do ponto de vista geoloacutegico o morro eacute uma formaccedilatildeo montanhosa
resultante de ldquofenocircmenos de intrusotildees de rochas alcalinas que ocorreram
associadas agraves atividades tectocircnicas do Arco de Ponta Grossa no periacuteodo
denominado Cretaacuteceo Inferiorrdquo66 contemporacircneo do vulcanismo basaacuteltico na
regiatildeo Sudeste ndash Sul do Brasil A intrusatildeo magmaacutetica de Ipanema ocupa aacuterea
aproximadamente circular de nove quilocircmetros quadrados Sua maior altitude estaacute
em 970 metros sendo que dele ldquoeacute possiacutevel observar um dos trechos do vale do
Meacutedio - Tietecirc como tambeacutem trecircs importantes unidades de relevo do Estado de
Satildeo Paulo a Depressatildeo Perifeacuterica o Planalto Atlacircntico e as Cuestas Arenito ndash
Basaacutelticas no caso a Serra do Botucatu (CARPI JR 2002 p1)
Estaacute situado no centro-sul da Depressatildeo Perifeacuterica Paulista na Latitude
sul 23ordm25rsquo 23ordm17rsquo Longitude 47ordm35rsquo WGr 47ordm40rsquo WGr no municiacutepio de Iperoacute-
SP entre Sorocaba e Boituva a cerca de 125 km da Cidade de Satildeo Paulo
Encontra-se ainda dentro de uma aacuterea de proteccedilatildeo ambiental com 506973
hectares pertencente ao FLONA Ipanema Floresta Nacional de Ipanema do
IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renovaacuteveis) criada em 1992 para preservar e conservar um dos maiores
fragmentos de Mata Atlacircntica do Estado de Satildeo Paulo bem como aacutereas de
66 ldquoDuas medidas efetuadas no Laboratoacuterio de Geocronologia da USP segundo o meacutetodo do potaacutessio-argocircnico indicaram para as rochas alcalinas de Ipanema idade cretaacutecea inferior Estas determinaccedilotildees foram feitas em biotita contidas em shonkinitos-poacutertirosrdquo (DAVINO1975)
111
cerrado vaacuterzea e os ecossistemas associados67
67 A FLONA ndash Floresta Nacional de Ipanema possui plantas e fauna de grande representatividade tendo catalogado mais de 200 espeacutecies de aves 52 de mamiacuteferos 18 de anfiacutebios 15 de reacutepteis e 35 de peixes que totalizam 216 da riqueza do estado de Satildeo Paulo Caracteriacutesticas do relevo Ateacute 600 metros ndash vaacuterzea dos principais rios como Ipanema e Verde de declives suaves Acima de 875 metros ndash topo do Morro Araccediloiaba geralmente com platocircs e declives suavesmedianos De 600 a 725 metros ndash base das serras de declives acentuados (medianos) com nascentes de rios principalmente os intermitentes De 725 a 875 metros ndash proacuteximo ao topo de declives acentuados com rios encaixados entre as vertentes como o Ribeiratildeo do Ferro Hidrografia Integra a bacia hidrograacutefica do rio SorocabaMeacutedio Tietecirc classificada como UGRHI No 10 com sub-bacias dos rios Ipanema e Verde e ribeirotildees Iperoacute e do Ferro Clima O Troacutepico de Capricoacuternio passa pela parte sul da Floresta Nacional de Ipanema caracterizando uma zona de transiccedilatildeo de tropical para temperada Segundo Koeppen apresenta condiccedilotildees climaacuteticas tipo Cfa ndash subtropical quente constantemente uacutemido com inverno menos seco - ao sul limitando com Cwa ndash subtropical quente com inverno mais seco - ao norte Uso do solo 2800 hectares ndash floresta estacional semidecidual em estaacutegio de regeneraccedilatildeo do inicial ao tardio 29515 hectares ndash capoeira alta (grototildees) e cerrado 24293 hectares ndash capoeira baixa 250 hectares ndash vaacuterzea accediludes e represas 22150 hectares ndash reflorestamento com espeacutecies de raacutepido crescimento e nativas 121016 hectares ndash assentamentos rurais 50 hectares ndash sede administrativa vilas residenciais e siacutetios histoacuterico-culturais Ver Floresta Nacional (FLONA) de Ipanema NACIONAL Disponiacutevel em lthttpwwwibamagovbrspindexphpid_menu=191gt acesso em 22mar06
112
Fig 32 MAPA GEOLOacuteGICO DO MORRO DE ARACcedilOIABA (SEM ESCALA) Mapa Geoloacutegico do Estado Satildeo Paulo ndashIPT
113
Fig 33 BLOCO DIAGRAMA DA REGIAtildeO DA SERRA DE ARACcedilOIABA Interpretaccedilatildeo baseada em dados geoloacutegicos e geofiacutesicos por Andreacute Davino (DAVINO 1975 p140)
114
Fig 35 MORRO DE ARACcedilOIABA (AO FUNDO VISTA DA DEPRESSAtildeO
PERIFEacuteRICA) - I
FIG 36 MORRO DE ARACcedilOIABA (VISTA DA DEPRESSAtildeO PERIFEacuteRICA) - II
115
Aziz Nacib AbSaber ao analisar o morro de Araccediloiaba dos pontos de vista
geoloacutegico e geomoacuterfoloacutegico considera que
Geomorfologicamente eacute um acidente de grande exceccedilatildeo
emergente no meio de terras baixas colinosas que se estendem por
mais de 12 mil km2
Geologicamente eacute a consequumlecircncia de um vulcanismo hipoabissal
tardio anterior aos processos denudacionais que criaram a
Depressatildeo Perifeacuterica Paulista Filogeograficamente eacute um
componente de um mosaico de ecossistemas sub-regionais que
comporta cerrados e matas-galerias (vegetaccedilatildeo ciliar) matinhas
diferenciadas e descontiacutenuas nas paredes sub-rochosas do morro
Existem tambeacutem eventuais poreacutem altamente significativos relictos
de cactos mandacarus nas vertentes rochosas do morro Esse fato
associado ao que jaacute se conhece da regiatildeo de Itu e Salto permite
reconstituir a histoacuteria vegetacional da regiatildeo No passado ela
abrigou caatingas hoje relegadas a pequenos redutos de
cactaacuteceas na forma de rupestres-biomas logo seguidos por
cerradotildees e cerrados recortados por florestas-galerias biodiversas
E por fim grandes matas tropicais nos morros de solos vermelhos
argilo-arenosos das serranias de Satildeo Roque e Jundiaiacute As florestas
eliminaram importantes trechos de cerrado mas natildeo foram capazes
de expulsar os minirredutos de cactaacuteceas na serra do Jardim em
Vinhedo e Valinhos nos altos do Japi na serra de Satildeo Francisco
em Votorantim em Salto e Itu e no front rochoso das cuestas de
Botucatu e agora nos receacutem-identificados mandacarus dos morro
de Araccediloiaba e Ipanema
Para entender essa eacutepoca caracterizada por intrusotildees
hipoabissais desfeitas em sills - massas tabulares de rocha iacutegnea
que penetraram entre camadas de rocha mais antiga - nas
soerguidas camadas de arenitos da formaccedilatildeo de Itarareacute (originada
no Carboniacutefero Superior) haacute que visualizar o fato de que o atual
morro da Depressatildeo Perifeacuterica comportava centenas de metros de
espessura que se estendiam ateacute o embasamento de rochas
cristalinas As intrusotildees que perfuraram localmente o pacote de
116
rochas da borda da Bacia Sedimentar do Paranaacute foram
provavelmente as mais tardias em relaccedilatildeo ao vulcanismo que
precedeu os mega processos de separaccedilatildeo da Aacutefrica e Brasil Ao
que tudo indica primeiramente aconteceram os derrames
basaacutelticos e as intrusotildees hipoabissais de diabaacutesios (rochas
magmaacuteticas cristalinas) A seguir nos milhotildees de anos decorridos
entre o Triaacutessico Superior o Juraacutessico e o Cretaacuteceo Superior -
atraveacutes de bolsotildees magmaacuteticos descontiacutenuos e residuais -
aconteceram as penetraccedilotildees de sienitos em forma de ring dykes
(diques anelares) de Itatiaia da atual ilha de Satildeo Sebastiatildeo
Caxambu e alhures Tudo acontecendo antes que a tectocircnica
quebraacutevel aparecesse no embasamento cristalino do Brasil de
Sudeste Ou seja antes dos falhamentos que criaram a serra do
Mar a ilha de Satildeo Sebastiatildeo e a Mantiqueira Por fim um resiacuteduo
magmaacutetico de grande exceccedilatildeo teria interpenetrado a borda antiga
da Bacia do Paranaacute gerando a pequena aacuterea core que mais tarde
viria a ser o morro de AraccediloiabaIpanema com seus ankaratritos
impregnados de magnetita Um fato que de resto respondeu pelo
histoacuterico episoacutedio da experiecircncia industrial da Fazenda
Ipanema(ABSAacuteBER 2006 p1)
42 A Vegetaccedilatildeo
Quanto agrave vegetaccedilatildeo original o morro de Araccediloiaba tem um histoacuterico de
perturbaccedilotildees sofridas por intervenccedilotildees antroacutepicas iniciadas no final do seacuteculo XVI
Essas perturbaccedilotildees foram causadas pela retirada de mineacuterio madeiras calcaacuterio
apatita aleacutem de focos de incecircndio entre outros processos
Para a exploraccedilatildeo do mineacuterio era necessaacuteria a devastaccedilatildeo das matas que
cresciam sobre a jazida Segundo a descriccedilatildeo de Domingos Pereira Ferreira que
chegou no local em 1765 para dar iniacutecio a um projeto de Faacutebrica de Ferro aquele
117
Morro era como ldquoum Cubatatildeo de Matos e de Cerra Altardquo e somente era possiacutevel
ver uma pedra levando ldquoadeante fousse e machadordquo68
A devastaccedilatildeo das matas tambeacutem esteve ligada ao tipo de combustiacutevel que
era utilizado nos fornos de reduccedilatildeo (fornos baixos) 69 e depois nos de fundiccedilatildeo
(altos fornos)70 O combustiacutevel para a produccedilatildeo de ferro sempre foi o carvatildeo
vegetal71 o qual era fabricado a partir de uma variedade de madeiras existente na
proacutepria mata entre elas os chamados ldquopaus reaisrdquo as madeiras de lei como a
peroba jequitibaacutes e cedros cujos registros de extraccedilatildeo eacute encontrado ateacute o iniacutecio
do seacuteculo XIX 72
Mesmo sofrendo exploraccedilatildeo e desmatamento ainda hoje a Floreta
Nacional de Ipanema constitui-se num dos poucos redutos florestais do interior
paulista e tambeacutem eacute a maior detentora da biodiversidade regional Espeacutecies
vegetais como timburi ararib lixeira jangada do campo canela paineira figueira
branca e peroba satildeo encontrados em percurso assim como animais de haacutebitos
68 Encontramos uma coacutepia da Carta de Domingos Pereira Ferreira agrave Morgado de Mateus escrita em Sorocaba 30 de novembro de 1765 na Coleccedilatildeo Faacutebrica de Ferro de Ipanema entre todas as coacutepias que foram doadas por Joseacute Monteiro Salazar ao Arquivo Histoacuterico Sorocabano 69Nos fornos baixos o carvatildeo vegetal era colocado em camadas alternadas com o mineacuterio calcinado e triturado que com o auxiacutelio de foles manuais ou mecacircnicos realizavam a reduccedilatildeo e natildeo a fundiccedilatildeo do mineacuterio de ferro resultando numa ldquoesponja de ferrordquo ou ldquopatildeo de ferrordquo que posteriormente era novamente trabalhada nos fornos de forja e nos malhos (FAUS 2000) 70 Estes fornos que chegam a fundir o mineacuterio de ferro foram introduzidos em Ipanema no iniacutecio do seacuteculo XIX O produto derivado do alto forno eacute o ferro em estado liacutequido (ferro gusa) (FRAGA 1968 p 87) 71 Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva ao visitar a Faacutebrica de Ipanema em 1820 descreve o meacutetodo de fabricaccedilatildeo de carvatildeo ldquoO carvatildeo he todo misturado sem separaccedilatildeo do proacuteprio para as forjas do refino he mal feito e apagado comumente com agoa em vez de ser abafado com terra principalmente arenosa que he a melhor da qui vem que sahe mais pesado do que deveria ser contra a fabrica e a favor do carvoeiro reduz-se muito a poacute nos armazeacutens com prejuiacutezo da mesma Faacutebrica e o peior he que nas forjas de refino esfarela-se logo e se reduz a cinza sem dar o devido calor O carvatildeo que fazem de maneira mole he mais leve e arde mais e da madeira dura he pelo contrario O methodo de fazer carvatildeo he o seguinte pegatildeo em toda a lenha misturada e arrumatildeo em pilha deitadas que tem 40 palmos em quatro como a figura de um telhado com beiradas estas tem 6 palmos de alto e o espigatildeo 12 leva a quaimar cada piulha 30 ate 34 dias e mais e da cada pilha de 700 a 900 arrobas de carvatildeordquo (FRAGA 1968 p 86) 72 Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva em suas Memoacuterias Econocircmicas sobre a Faacutebrica de Ferro de Ipanema faz criacuteticas agrave construccedilatildeo dos Altos Fornos de Varnhagen e tambeacutem agrave preparaccedilatildeo do mineral e do combustiacutevel utilizado como ldquocavacos de perobardquo (MENON 1992 p144)
118
florestais destacando-se o jaguarundi o gambaacute o irara o tapiti o matildeo-pelada o
quati o jacupemba o chupa-dente o pica-pau de topete vermelho o tangaraacute
danccedilarino o sabiaacute coleira a jararaca a cascavel e o lagarto teiuacute 73
43 Rios e ribeirotildees
Dois rios circundam aquele morro o rio Ipanema e o Sarapuhy afluentes
do rio Sorocaba Na parte central daquele Morro surgem alguns riachos sendo o
mais importante deles o Ribeiratildeo do Ferro anteriormente denominado de Ribeiratildeo
das Furnas (afluente do Rio Ipanema) que nasce no Monte ou Pico do Chapeacuteu e
forma o Vale das Furnas com ocorrecircncia de cascatas e piscinas naturais Eacute
tambeacutem naquele Vale e em uma das curvas do Ribeiratildeo do Ferro que estaacute
situado o Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha objeto de anaacutelise dessa
Tese
O Ribeiratildeo do Ferro ao descer o morro de Araccediloiaba apresenta
desniacuteveis de ateacute 500 metros com a presenccedila de alguns trechos encachoeirados
caracteriacutestica essa que proporcionou a execuccedilatildeo de projetos de aproveitamento
hidraacuteulico como a construccedilatildeo de obras de represamento canal de derivaccedilatildeo e
vala transformando as aacuteguas daquele ribeiratildeo em forccedila motriz aplicada ao
funcionamento dos equipamentos e ferramentas utilizadas no processo produtivo
da produccedilatildeo de ferro
73 Ver Fazenda Ipanema Disponiacutevel em lthttpfazendaipanemaiperospgovbrhistoriaphpgt
119
44 A magnetita o mineacuterio do morro de Araccediloiaba
Segundo Andreacute Davino a importacircncia do morro de Araccediloiaba do ponto de
vista geoloacutegico
deriva do fato de conter umas das muitas ocorrecircncias de rochas
alcalinas do Brasil As concentraccedilotildees de magnetita e apatita
[descobertas no final do seacuteculo XIX] nessas rochas despertaram
desde longa data especial interesse sobre a aacuterea O contorno da
intrusatildeo alcalina situa-se na parte central da Serra e estaacute contido
inteiramente dentro dos limites da Fazenda Federal de Ipanema
(DAVINO 1975 p130)
O mineacuterio de ferro encontrado no morro de Araccediloiaba eacute a Magnetita
um imatilde natural com propriedade magneacutetica de atrair objetos feitos de ferro ou
outros metais Essa propriedade do mineacuterio possivelmente facilitou o encontro
daquela jazida pelos sertanistas que por laacute passaram em meados do seacuteculo XVI
A magnetita eacute um mineacuterio do grupo das espinelas formado por oacutexido
magneacutetico de ferro (Fe3O4) composto por 724 de Fe (ferro) Eacute frequumlente a
existecircncia de cristais bem desenvolvidos pertencentes ao sistema cuacutebico
geralmente em forma de octaedros ou de dodecaedros Eacute abundante formando
as suas jazidas verdadeiras montanhas em massas granulares ou compactasA
composiccedilatildeo da magnetita eacute de oacutexido de feacuterrico (Fe2O3) 65 oacutexido ferroso (Fe O)
25 siacutelica (SiO2) 10 e traccedilos de aacutecido fosfoacuterico (P2O5) (FRAGA 1968 p149)
No Brasil encontram-se jazidas de magnetita nas regiotildees que
compreendem desde o Sudeste da Bahia ateacute o Leste do Paranaacute e Nordeste de
Santa Catarina Contudo sempre se apresentam impregnado de Titacircnio (Ti O2)
em proporccedilotildees que variam desde 04 ateacute 16 A exagerada densidade74 dessa
magnetita concorre para tornaacute-la inaproveitaacutevel para a reduccedilatildeo mesmo nos altos 74 A densidade eacute medida na proporccedilatildeo quilograma por metro cuacutebico kg m-3
120
fornos a coque a menos que sofra preacutevio e demorado tratamento ou que seja
misturada a mineacuterios menos densos (e portanto algo impuro) tais como a canga
a Hematita e outros De outro lado o oacutexido de titacircnio que a impregna dificulta
quando natildeo impede inteiramente a transformaccedilatildeo em gusa ou em esponja
(AMARAL 1946 p 264-266 Apud FRAGA 1968 p32) No morro de Araccediloiaba as
jazidas de Magnetita encontram-se na ldquoforma de depoacutesitos aluviais e
concentraccedilotildees in situ a poucas dezenas de metros de profundidaderdquo (DAVINO1975 p129)
Fig 37 MINEacuteRIO DE FERRO MAGNETITA
Embora no final do seacuteculo XIX os conhecimentos cientiacuteficos da Quiacutemica e
da aacuterea da metalurgia jaacute estivessem avanccedilados a composiccedilatildeo da Magnetita do
morro de Araccediloiaba impregnada de oacutexido de Titacircnio natildeo era conhecida75 A
carecircncia de conhecimento cientiacutefico sobre as propriedades quiacutemicas dessa
magnetita foi a principal causa dos trecircs seacuteculos de tentativas de se produzir ferro
naquele local e das inuacutemeras criacuteticas que eram feitas aos fundidores e
administradores 76 Sendo assim podemos indicar que essa realidade teacutecnica foi
determinante para que natildeo se produzisse em Ipanema desde finais do seacuteculo
XVI ferro de boa qualidade Estephania Fraga indica que
75 O titacircnio foi descoberto em 1791 por Willian Gregor mas soacute se tornou bem conhecido apoacutes os estudos de Wohler em 1857 e Peterson em 1887 76 Orville Derby no final do seacuteculo XIX presidia a comissatildeo de estudos geoloacutegicos da Proviacutencia de Satildeo Paulo e pesquisou a apatita de Ipanema
121
a dificuldade em fundir o mineacuterio de Ipanema ndash a magnetita ndash
provinha da composiccedilatildeo especiacutefica do mesmo pois aleacutem de sua
exagerada densidade apresenta-se impregnada de oacutexido de
Titacircnio fatores que contribuem de forma decisiva para dificultar
sua reduccedilatildeo mesmo em altos fornos (FRAGA 1968 p86)
A dificuldade de produzir um ferro de boa qualidade jaacute era sentida desde o
seacuteculo XVIII quando Domingos Pereira Ferreira apostou na construccedilatildeo de uma
Faacutebrica de Ferro naquele local Embora tenha construiacutedo diversos tipos de fornos
e empregado diferentes modos de fundiccedilatildeo natildeo havia conseguido um bom
resultado No seacuteculo XIX essa mesma dificuldade permaneceu nos trabalhos de
fundiccedilatildeo e na produccedilatildeo de ferro da Real Faacutebrica de Ipanema fundada em 1810
O desconhecimento das propriedades daquela magnetita apenas
descoberta na segunda metade do seacuteculo XIX quando a Real Faacutebrica de Ferro jaacute
estava em plena decadecircncia77 tambeacutem estava na origem das acirradas
discussotildees teacutecnicas entre Friederich Ludwig Wilhelm Varnhagen mineralogista
alematildeo e Carl Gustav Hedberg sueco e primeiro diretor de Ipanema (1811-
1814) sobre as vantagens do alto-forno proposto por Vanhagen em relaccedilatildeo aos
quatro fornos azuis Blauofen fornos de reduccedilatildeo direta inicialmente instalados
em Ipanema78
O diretor sueco foi substituiacutedo por Ludwig Wilhelm Varnhagen em 1815
que construiu dois Altos Fornos de aproximadamente 8 metros de altura cada
um Com estes fornos conseguiu produzir o ferro gusa em sua forma liacutequida
tendo moldado com a primeira corrida desse ferro trecircs cruzes sendo uma delas
ldquolevada em procissatildeo ateacute o ponto alto da montanha de Araccediloiabardquo onde
atualmente permanece Contudo Varnhagen natildeo produziu o ferro esperado e
77 Naquele periacuteodo nem o Estado nem a Real Faacutebrica possuiacuteam laboratoacuterios de anaacutelise que pudessem fazer ensaios do mineacuterio combustiacutevel e fundentes empregados na produccedilatildeo A primeira escola formadora de profissionais na aacuterea de mineraccedilatildeo foi a Escola de Minas de Ouro Preto fundada em 1875 (FRAGA 1968 p140) 78 Von Varnhagen havia dirigido a faacutebrica de ferro de Figueiroacute dos Vinhos em Portugal e foi enviado a Ipanema com a finalidade de projetar a construccedilatildeo de uma grande faacutebrica de ferro que afinal foi construiacuteda por Hedberg (FRAGA 1968 p 71-79)
122
essa dificuldade tambeacutem natildeo foi compreendida por Eschwege79 que estava na
direccedilatildeo de uma outra faacutebrica de ferro em Congonhas do Campo a qual produzia
ferro a partir de um outro mineacuterio a hematita que facilmente pode ser trabalhada
para a produccedilatildeo do ferro80 A partir de 1821 estes fornos altos jaacute estavam em
decadecircncia
Contudo parece que apenas Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva quando
esteve examinando as minas de ferro daquele Morro percebeu que
o problema capital de Ipanema liga-se ao mineacuterio de ferro ali
existente ldquoo ferro magneacuteticordquo de difiacutecil fusatildeo embora natildeo
pudesse conhecer ainda a composiccedilatildeo do mesmo (presenccedila de
Titacircnio que como eacute sabido foi descoberto apenas a partir da
segunda metade do seacuteculo XIX) considerando (com base nos
conhecimentos do gecircnero que visitou na Europa) que a soluccedilatildeo
estaria em aumentar a altura dos pequenos fornos (FRAGA 1968
p149)
Em 1878 foi a vez de Joaquim Antonio de Souza Mursa construir um Alto
Forno e quando a Faacutebrica fechou em 1895 este ainda natildeo havia sido utilizado
79 Ludwig von Eschwege depois de ter trabalhado em Portugal o baratildeo de Eschwege seguiu em 1810 para o Brasil a convite do priacutencipe regente D Joatildeo para reanimar a decadente mineraccedilatildeo de ouro e para trabalhar na nascente induacutestria sideruacutergica Em 1821 inicia em Congonhas do Campo Minas Gerais os trabalhos de construccedilatildeo de uma faacutebrica de ferro denominada de Patrioacutetica empreendimento privado sob a forma de sociedade por accedilotildees Em 1811 a siderurgia de Eschwege jaacute produzia em escala industrial Eschwege eacute o autor de Pluto Brasiliensis primeira obra cientiacutefica escrita sobre a geologia brasileira publicada primeiramente na Europa em 1833 (FIGUEIROA 1977 63-67) 80 As hematitas satildeo mineacuterios de ferro constituiacutedos por oacutexido feacuterrico (Fe2O3) contendo ateacute 70 de ferro(Fe) Seu aspecto varia consideravelmente pode se apresentar cristalizado em massas compactas ou em massas terrosas Satildeo utilizadas na produccedilatildeo de ferro sob duas formas principais a) hematita vermelha e b) hematita parda Dados sobre a composiccedilatildeo quiacutemica da hematita fornecidos pela Dra Heacutelegravene Nasson Storch (FRAGA 1968 p149)
123
45 Fatores fisiograacuteficos da ocupaccedilatildeo europeacuteia
A ocupaccedilatildeo das aacutereas interiores da Capitania de Satildeo Vicente no iniacutecio da
colonizaccedilatildeo foi caracterizada particularmente por expediccedilotildees de apresamento de
iacutendios Este movimento pioneiro na ocupaccedilatildeo das aacutereas interiores do continente
e era facilitado pela existecircncia de caminhos indiacutegenas os Peabirus
No caso da ocupaccedilatildeo da regiatildeo onde estaacute localizado o morro de
Araccediloiaba o acesso era facilitado pela presenccedila de importante caminho que ligava
a vila de Satildeo Paulo de Piratininga agraves terras de Guairaacute e regiotildees do Alto Peru
(atual Boliacutevia) Com a descoberta da prata do Potosi intensificaram-se as buscas
de metais nobres inclusive com incentivos da Coroa portuguesa com ajuda de
mineradores preparados para a identificaccedilatildeo de mineacuterios especialmente a prata e
o ouro As expediccedilotildees em busca daquelas riquezas foram estimuladas apoacutes a
chegada de D Francisco de Sousa que ocupou a governadoria Geral do Brasil no
periacuteodo de 1591 a 1601
Foi neste contexto que ocorreram as primeiras tentativas de exploraccedilatildeo do
ferro das minas de Araccediloiaba Dificilmente pode-se precisar a data em que se deu
o encontro do morro de Araccediloiaba pelos europeus mas certamente a sua
descoberta foi facilitada pela presenccedila dos Peabirus
Provavelmente o aspecto estrateacutegico e o encontro de traccedilos de prata junto
ao mineacuterio de ferro de Araccediloiaba tenham sido fatores que levaram D Francisco a
conceder sesmarias e dar iniacutecio ao povoamento colonial da regiatildeo Para tanto
ldquoplantou o pelourinhordquo no interior do Morro tendo como padroeira Nossa Senhora
do Monte Serrat Esta povoaccedilatildeo natildeo prosperou tendo sua populaccedilatildeo se
deslocado em 1611 ndash o mesmo ano da morte de D Francisco de Sousa - para o
Itavuvu local que recebeu a denominaccedilatildeo de Satildeo Felipe Somente mais tarde no
decorrer de 1661 houve a fundaccedilatildeo da Vila de Sorocaba (ALMEIDA 2002 p 11-
20)
124
Apesar da sua localizaccedilatildeo distante cerca de trinta leacuteguas de distacircncia do
litoral e isolada dos mercados consumidores o interesse da exploraccedilatildeo do ferro de
Araccediloiaba se explica pelo valor estrateacutegico desse metal que poderia ser utilizado
como mercadoria contando com mercado certo a proacutepria Capitania de Satildeo
Vicente e a regiatildeo do rio da Prata Por outro lado o ferro era um metal de grande
interesse para a Metroacutepole que contava com pequenas jazidas
Mais tarde jaacute no iniacutecio do seacuteculo XVIII havia um mercado promissor
representado regionalmente pelo avanccedilo da agricultura de cana-de-accediluacutecar e
tambeacutem pela exploraccedilatildeo das minas de ouro de Cuiabaacute e Minas Gerais81 A esse
respeito escreve em 1782 Marcelino Pereira Cleto
Ainda que as minas de ferro e accedilo estatildeo em terras de Sertatildeo e na
distancia de trinta legoas da Marinha com tudo o sitio he haacutebil
para o bom consumo destes gecircneros porqto por Sorocaba he o
caminho para Coritiba Minas de Pernampanema e outras terras
mais distantes da Capitania de Satildeo Paulo por Itu Va proacutexima he
o caminho por onde se dirige todo o negocio que vai para
Cuiabaacute por esta capitania e tambeacutem perto das das minas se
encaminha a estrada de Goiases Se os Negociantes do Cuiabaacute e
Goiases achassem no caminho ou perto delle este dous gecircneros
[ferro e accedilo] ainda pelo mesmo preccedilo qrsquo elles se vendem no Rio
de Janeiro e os de S Paulo o tivessem na sua proacutepria Capitania
certamte natildeo iratildeo busca-los ao Rio de Janeiro com despesa e
risco e bastaria ser seguro este consumo para ser uacutetil cuidar-se
nas das minas
Quanto mais em distancia como de seis leacutegoas das minas
passa o rio Teateacute navegaacutevel de canoa e unicamemte com o
embaraccedilo de algum ou alguns Saltos ou Cachoeiras neste rio
entra um pouco distancia de S Paulo outro chamado dos
Pinheiros neste o rio Grande neste o rio Pequeno qrsquo fica junto agrave
81 No seacuteculo XVIII a agricultura da cana-de-accediluacutecar foi significativa na regiatildeo denominada de ldquoquadrilaacutetero do accediluacutecarrdquo formada pelas localidades de Sorocaba Piracicaba Mogi-Guaccedilu e Jundiaiacute destacando-se duas aacutereas Itu e Campinas Para este tema ver PETRONE Maria Thereza S A lavoura canavieira em Satildeo Paulo Satildeo Paulo Difusatildeo Europeacuteia do livro 1968
125
Serra qrsquo cobre a Va de Santos do rio pequeno a santos seratildeo
sette legoas trecircs por terra maacutes caminho mto aacutespero E as quatro
por hum rio qrsquo em todas as partes admitte navegaccedilatildeo daquelles
rios vecirc-se qrsquo era pequena a distancia em qrsquo se precisava
condusir por terra estes dous gecircneros ateacute ao Porto da Va de
Santos e daqui dar-lhes extraccedilatildeo para mais Portos da Ameacuterica
(CLETO 1899 p p 210)
Embora natildeo haja estudos especiacuteficos sobre o trabalho indiacutegena na
produccedilatildeo do ferro dos empreendimentos metaluacutergicos instalados no morro de
Araccediloiaba os documentos escritos indicam que ateacute meados do seacuteculo XVIII a
produccedilatildeo do ferro em Araccediloiaba foi realizada com o trabalho de indiacutegenas que
eram levados para aquela atividade pelos exploradores 82 Dessa forma
exploraram aquelas minas Afonso Sardinha e Francisco de Souza (seacuteculo XVI e
XVII) Luiz Lopes de Carvalho (seacuteculo XVII) Domingos Pereira Ferreira (seacuteculo
XVIII) e depois a Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema Neste uacuteltimo
empreendimento os iacutendios foram trazidos das aldeias de Itapecerica MrsquoBoy
Carapicuiacuteba Barueri e Itapevi Em 1815 trabalhavam nessa faacutebrica 16 iacutendios aleacutem
de escravos africanos Em 1834 a Real Faacutebrica de Ferro comeccedilou a receber
africanos livres em 1837 trabalhavam naquele estabelecimento 121 escravos (68
homens 24 mulheres e 29 crioulos) e 48 africanos livres (30 homens e 18
mulheres)83
Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX o morro de Araccediloiaba passou a
integrar as rotas de muitos naturalistas geoacutegrafos mineralogistas botacircnicos e
geoacutelogos como Von Martius Martim Francisco de Andrada Auguste Saint Hilaire
o Baratildeo Eschewege Theodoro Knecht e Leandro Dupreacute que fizeram daquele
82 Conforme estabelecia a legislaccedilatildeo mineira compilada pelo Coacutedigo Filipino a exploraccedilatildeo de qualquer mineacuterio era realizada com os recursos do proacuteprio descobridor pagando os direitos dos quintos ao eraacuterio reacutegio Cf Ord L 2ordm ndash Tits 26 e 28 par 16 acolhendo a Ord Manuelina do L 2ordm Tt34 e seus paraacutegrafos Ver RODRIGUES (1966 p 182) 83 Sobre o trabalho indiacutegena na Real Faacutebrica de Ferro de Ypanema ver MENON Og A Real Fabrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema e seu mundo 1811-1835 Dissertaccedilatildeo (mestrado) Satildeo Paulo PUCSP 1992 p 84-90 Sobre o trabalho dos africanos livres em Ipanema ver RODRIGUES Jaime Ferro trabalho e Confliro os Africanos livres na Faacutebrica de Ipenema Historia Social n 45 Campinas IFCH-Unicamp 29-42 199798
126
local um laboratoacuterio a ceacuteu aberto para pesquisas cientiacuteficas aleacutem de terem
deixado dessas experiecircncias relatos preciosos que ajudam a compor aquela
histoacuteria como atesta o relato do naturalista Saint-Hilaire que esteve em Ipanema
em 1819 Diz ele
Encontrei em Ipanema um zoologista o Sr Natterer membro da
comissatildeo cientiacutefica que o imperador da Aacuteustria havia enviado ao
Brasil para recolher amostras de espeacutecimes diversos do pais
Fazia um ano que se achava instalado nas proximidades das
forjas tendo jaacute formado uma vasta coleccedilatildeo de paacutessaros Era
impossiacutevel natildeo admirar a beleza dessa coleccedilatildeo Natildeo se via uma
uacutenica ave cujas penas tivessem sido coladas ou que apresentasse
a menor mancha de sangue
Encontrei tambeacutem em Ipanema um jovem prussiano Sellow
o primeiro naturalista a chegar no Brasil depois de firmada a paz
Tinha feito anteriormente estaacutegio no Jardim Botacircnico de Paris a
fim de aperfeiccediloar os seus conhecimentos e vivia agora de uma
pensatildeo que lhe dava o ilustre e generoso Humboldt o qual fazia
crer ao rapaz que ele estava sendo pago pela administraccedilatildeo do
Jardim Sellow dedicava-se as suas pesquisas com um zelo e
uma energia sem par (SAINT-HILAIRE 1972 p194-195)
127
CAPIacuteTULO 5
INVESTIGACcedilOtildeES ARQUEOLOacuteGICAS AS EVIDENCIAS DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO 84
O trabalho da pesquisa arqueoloacutegica se estendeu por um periacuteodo de 8
anos (1983-1989) e ficou registrado em documentos de Diaacuterios de Campo
escritos pela pesquisadora Margarida Davina Andreatta assim como em
correspondecircncias levantamentos topograacuteficos planos de escavaccedilatildeo croquis e
desenhos geomeacutetricos de plantas das ruiacutenas croquis de cortes estratigraacuteficos e
de reconhecimento das escavaccedilotildees Inventaacuterio de Peccedilas e fotografias tudo
devidamente registrado em relatoacuterios da pesquisa arqueoloacutegica (ver Planta Geral
da Aacuterea Anexo 9 e o mapeamento das escavaccedilotildees Anexo 10)
Os artefatos coletados durante as investigaccedilotildees de campo foram
acondicionados em caixas devidamente protegidas e identificadas e guardados
nas dependecircncias do Museu do Centro de Visitantes da FLONA de Ipanema
Por ocasiatildeo da primeira visita realizada no Siacutetio Afonso Sardinha em 09 de
maio de 1983 a pesquisadora observou que as ruiacutenas existentes estavam
cobertas por ldquopequenos arbustos cipoacutes gramiacuteneas deposiccedilatildeo de folhas e raiacutezes
secasrdquo as quais encobriam os blocos de pedra que formariam as paredes de uma
edificaccedilatildeo (ANDREATTA 1983 p7) O siacutetio apresentava sinais de alteraccedilotildees
causadas pela accedilatildeo de erosatildeo pelas aacuteguas da chuva bem como pela accedilatildeo
antroacutepica possivelmente pescadores e caccediladores que usavam aquele local como
acampamentos temporaacuterios para suas atividades observando-se ainda sinais de
frequumlentes incecircndios na mata existente em seu entorno
84 Para acompanhar as discussotildees deste Capiacutetulo consultar o Anexo 9 Planta Geral do Siacutetio Afonso Sardinha
128
Fig 38 LIMPEZA DO SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 1984
Fig 39 EQUIPE DE TRABALHO SITIO AFONSO SARDINHA 1988
Para iniciar a pesquisa arqueoloacutegica foi necessaacuterio remover a vegetaccedilatildeo
que recobria as ruiacutenas mencionadas de modo a possibilitar as primeiras
observaccedilotildees e mediccedilotildees das paredes e da aacuterea do seu entorno Desta forma jaacute
no iniacutecio das investigaccedilotildees iniciais em maio de 1983 jaacute haviam sido
129
evidenciados embora ainda natildeo totalmente identificados os espaccedilos
possivelmente destinados agrave produccedilatildeo de ferro e os locais proacuteprios para o
aproveitamento da forccedila motriz hidraacuteulica necessaacuteria agravequelas atividades
51 Estruturas hidraacuteulicas para a produccedilatildeo da forccedila motriz
O trabalho de reconhecimento da aacuterea identificou um conjunto de
estruturas identificadas como pertencente a um sistema hidraacuteulico destinado a
produccedilatildeo da forccedila motriz o qual compreendia diversas partes o canal de
derivaccedilatildeo das aacuteguas (vestiacutegios de canaleta) a vala destinada ao alojamento da
roda hidraacuteulica e o trecho do canal de restituiccedilatildeo das aacuteguas ao ribeiratildeo Tais
dispositivos se localizam em aacuterea externa poreacutem adjacente ao edifiacutecio principal
de produccedilatildeo de ferro
Natildeo foi possiacutevel localizar a estrutura do barramento responsaacutevel pelo
desvio das aacuteguas do ribeiratildeo do Ferro para o canal de derivaccedilatildeo
511 O Canal de Derivaccedilatildeo A existecircncia do canal de derivaccedilatildeo foi evidenciada no ano de 1987 quando
foram realizados os trabalhos de decapagem para escavaccedilatildeo da aacuterea Sul da aacuterea
A (forno externo) conforme registrado no Diaacuterio de Campo no dia 02 de julho de
1987 onde de se indica que ldquoevidenciou uma canaleta que se prolonga para o
interior da ferradura que apareceu apoacutes a limpeza da vegetaccedilatildeo do entorno da
mesmardquo Outra evidecircncia da existecircncia do canal na regiatildeo ao Sul da aacuterea A (forno
externo) foi a constataccedilatildeo da ocorrecircncia de fluxo de aacutegua em direccedilatildeo ao Forno 1
(aacuterea A1) fenocircmeno que se observava toda a vez que chovia Este fato mostra
130
que deveria existir um possiacutevel canal interceptador de aacuteguas de chuvas
direcionando a correnteza em direccedilatildeo ao forno (Anexo 9 e Figura 75)
A evidecircncia encontrada revelava que o Canal de Derivaccedilatildeo havia sido
construiacutedo com a finalidade de obter um aproveitamento da corrente de aacutegua do
ribeiratildeo do Ferro contornando a face sul da edificaccedilatildeo ateacute encontrar o muro da
entrada da vala da roda drsquoaacutegua em um ponto onde o terreno se encontra agrave cota
520m medida pelo levantamento planialtimeacutetrico realizado na aacuterea Sendo assim
esse canal de desvio de aacuteguas deve partir do ribeiratildeo do Ferro numa posiccedilatildeo com
cota evidentemente superior a 520m (Figura 75)
No final do Canal de Derivaccedilatildeo no ponto correspondente a entrada da vala
(aacuterea E) foi encontrada durante as pesquisas uma quantidade significativa de
blocos de rocha arenito de tamanhos regulares amontoados e natildeo-alinhados os
quais testemunhavam que naquele local deveria haver uma estrutura de conexatildeo
entre o canal de derivaccedilatildeo e a vala As dimensotildees desses blocos apresentando
uma certa regularidade de formas satildeo tambeacutem um forte indiacutecio de que eles foram
cortados com a finalidade de proporcionar um entrosamento na construccedilatildeo da
parede (Anexo 13)
As pesquisas mostraram a existecircncia de trecircs grupos de blocos com
dimensotildees regulares As Tabelas abaixo apresentam as dimensotildees observadas
nos blocos de arenito acima mencionados
Tabela 1 Dimensotildees dos blocos de maior dimensatildeo ( em centiacutemetros - cm)
COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA
43 30 18
43 27 15
26 20 16
131
COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA
20 11 8
18 09 9
18 14 6
Tabela 2 Dimensotildees dos blocos de media dimensatildeo ( em centiacutemetros ndash cm)
COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA
10 6 6
10 5 6
11 7 35
Tabela 3 Dimensotildees dos blocos de menor dimensatildeo ( em centiacutemetros ndash cm)
Fig 40 VISTA GERAL DA AacuteREA E 1988
132
512 A Vala da Roda
Nas ruiacutenas encontradas da Faacutebrica de Ferro a existecircncia de estruturas
destinadas a utilizaccedilatildeo da energia hidraacuteulica eacute evidenciada pela presenccedila de
estruturas que caracterizam o controle das aacuteguas Em sequumlecircncia ao Canal de
Derivaccedilatildeo mencionado no item anterior observa-se a existecircncia da vala para o
alojamento da roda drsquoaacutegua indicada na planta baixa (Anexo 9) identificada como
ldquoCanal (D)rdquo conforme registrado no Diaacuterio de Campo da pesquisadora Margarida
Davina Andreatta em maio de 1983
A vala encontrada apresenta 19 metros de comprimento tendo ambas as
paredes cerca de 15 metros de largura e vatildeo livre entre as paredes com cerca de
225 m A uma distacircncia da ordem de 37 metros da margem do ribeiratildeo do Ferro
a parede da lateral direita apresenta um alargamento e por conseguinte ocorre
um estreitamento do vatildeo da vala passando a contar com apenas 1 (um) metro de
largura na saiacuteda
A vala encontrada no Siacutetio Afonso Sardinha apresentava o seu piso com
plano de declividade em direccedilatildeo ao ribeiratildeo do Ferro sendo que na parte mais
alta a cota do piso eacute de 453 m acima do niacutevel do ribeiratildeo enquanto que a
extremidade inferior da vala alcanccedila 041m acima do mesmo niacutevel portanto
mostrando forte inclinaccedilatildeo para facilitar a restituiccedilatildeo da aacutegua ao ribeiratildeo
A posiccedilatildeo do plano de declividade da vala mostra que na extremidade de
saiacuteda do canal formou forte desniacutevel em relaccedilatildeo ao piso da Faacutebrica sendo que no
ponto meacutedio o niacutevel da vala seria igual a 230 m (Figura 41)
133
Fig 41 Dimensotildees da Vala da roda e localizaccedilatildeo das evidecircncias de
esteios
134
Fig 42 VALA DA RODA HIDRAacuteULICA 1987 - I
Fig 43 VALA DA RODA HIDRAacuteULICA 1987 - II
135
5121 Evidecircncias de esteios
Em novembro de 1984 foram evidenciados trecircs pares de esteios nas
laterais externas das paredes da vala permitindo supor que as mesmas
funcionavam como pilares para alguma cobertura sobre a vala (ANDREATTA
1984 p 37)
As evidecircncias de esteios encontrados possuem formas circulares e
quadrangulares tendo os lados medidas semelhantes As evidecircncias localizadas
no lado leste apresentavam respectivamente 040 cm X 040 cm 045 cm X 045
cm e 045 cm X 040 cm Jaacute as evidencias encontradas no lado oeste as medidas
encontradas eram 050 X 055 cm e 050 X 050 cm Aleacutem disso apresentavam
espaccedilamentos semelhantes entre si da ordem de quatro metros e meio
Fig 44 EVIDENCIAS DE ESTEIOS vala da roda 1987
136
Fig 45 DETALHE DOS ESTEIOS
Fig 46 DETALHE DE UM ESTEIO
137
52 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 521 Area ldquoCrdquo
O relevo do terreno nesta aacuterea mostra irregularidade sendo que na
extremidade sul junto agrave parede limite a superfiacutecie do terreno apresenta uma
parte plana com cota mais elevada tendo sido medido pela topografia o niacutevel
448 enquanto que na porccedilatildeo central aparece um segundo platocirc com cota do
terreno igual a 343 e na extremidade norte junto ao ribeiratildeo do Ferro a cota
medida foi 0 85m ( ver figura 47)
As pesquisas nesta aacuterea ldquoCrdquo foram realizadas agrave partir de novembro de
1986 para a verificaccedilatildeo da estratigrafia com a abertura de 2 trincheiras na
extremidade norte e uma na parte central as quais tiveram as seguintes
caracteriacutesticas geomeacutetricas (comprimento X largura X profundidade) T1 4m X
065m X 080m T2 170m X 070m X 080m T3 140m X 065m X 095m
(ANDREATTA1984 p 5)
O resultado dos estudos estratigraacuteficos e de decapagem mostraram a
existecircncia unicamente de telhas e cravos aleacutem de alguns poucos fragmentos de
ceracircmica
138
Fig 47 ndash Topografia do Terreno da Aacuterea C (Seta indicaccedilatildeo das Trincheiras)
139
Fig 48 Vista Geral da Aacuterea C 1987
522 A Aacuterea B (ldquoForjardquo) Diferentemente do espaccedilo ldquoCrdquo analisado no item anterior a aacuterea
denominada ldquoBrdquo no desenho da planta baixa (anexo 9) apresentou importante
quantidade de materiais arqueoloacutegicos tais como metais liacuteticos ceracircmicas louccedila
e resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias)
No inicio das exploraccedilotildees do local no decorrer do ano de 1983 foram
observadas evidecircncias de paredes inclusive com amontoados de blocos de
arenito que mostravam possiacuteveis sinais de alteraccedilotildees construtivas
No ano seguinte orientado pela descoberta dos blocos acima
mencionados os quais foram caracterizados como possiacuteveis materiais de
construccedilatildeo a pesquisa arqueoloacutegica foi programada prevendo inicialmente a
140
remoccedilatildeo da vegetaccedilatildeo existente no espaccedilo assinalado ldquoBrdquo seguida da
decapagem do terreno
As pesquisas iniciais permitiram identificar a existecircncia da base de paredes
de uma antiga estrutura A partir desta descoberta foi possiacutevel reconstruir ldquoem
superposiccedilatildeo aos blocos de arenito da parede original da forjardquo 85 Tais blocos de
arenitos conforme foi possiacutevel constatar eram os mesmos materiais de
construccedilatildeo dos setores ldquoCrdquo e ldquoDrdquo
Fig 49 RECONSTITUICcedilAtildeO DAS PAREDES DA AacuteREA B 1984
85 Comunicaccedilatildeo Interna ao CENEA por Margarida Davina Andreatta Iperoacute 05dez1984
141
Fig 50 EVIDENCIAS DAS PAREDES DA AacuteREA B 1984 -
Fig 51 PAREDE DA AacuteREA B RECONSTITUIacuteDA 1984 - I
142
Fig 52 PAREDES DA AacuteREA B RECONSTITUIacuteDA 1984 - II
Durante a realizaccedilatildeo da pesquisa arqueoloacutegica com escavaccedilotildees nesta
aacuterea foi possiacutevel evidenciar a ocorrecircncia de significativa quantidade de peccedilas de
metais (ver Tabela Metais) tais como lacircminas plaquetas e cravos
aparentemente indicando a atividade de transformaccedilatildeo do ferro em peccedilas de
utilitaacuterios Tambeacutem foram encontrados liacuteticos fragmentos de telhas faianccedila de
origem portuguesa e ceracircmicas de produccedilatildeo regional ou local (neo-brasileira)
possivelmente ldquopara fins utilitaacuterios do grupo que habitou o localrdquo 86
86 Relatoacuterio de Atividades Periacuteodo 19-31 maio 1986 p 8
143
Fig 53 DECAPAGEM AacuteREA B 1984
Quanto ao piso arqueoloacutegico da aacuterea ldquoBrdquo observou-se que ele estava
situado entre 10 e 30 cm acima do solo original sendo constituiacutedo ldquode blocos de
arenito de diferentes tamanhos irregulares e cobertos por uma camada de terra
com huacutemus e raiacutezes tronco de aacutervores e a terra eacute latossolo (cor avermelhada) o
mesmo que se encontra entre os blocos de arenito nas paredes parece que
serviu como argamassa para assentar os blocos entre si e levantar a parederdquo
conforme descriccedilatildeo apresentada no Diaacuterio de Campo da pesquisadora Margarida
Davina Andreatta (ANDREATTA 1984 p 42) Notou-se tambeacutem que os blocos e
placas de arenito estavam ldquodispostos horizontalmente de maneira que indicavam
que a superfiacutecie do piso deveria ter sido nivelada com argila a fim de facilitar a
circulaccedilatildeo do homemrdquo (ANDREATTA 1984 p 42)
144
TABELA METAIS
CATEGORIAS NUacuteMERO DE FRAGMENTOS
Cravos 33
Plaquetas 06
Barras de ferro 02
Escoacuterias 03
Mineacuterios 03
ANDREATTA Inventaacuterio de Peccedilas 1983-1987
No interior do local da aacuterea ldquoBrdquo (ldquoforja) foram coletadas duas peccedilas
arqueoloacutegicas compreendendo dois fragmentos de ceracircmica com formato de
vasilhame para cozimento as quais foram encaminhadas para o laboratoacuterio da
FATEC ndash Faculdade de Tecnologia de Satildeo Paulo com o objetivo de obter a
dataccedilatildeo absoluta pelo meacutetodo da termoluminescecircnciardquo Este meacutetodo eacute aplicado
para o caso de materiais que apresentam quartzo em sua composiccedilatildeo tais como
ceracircmica vidros solos louccedilas faianccedilas etc
Uma dessas peccedilas era constituiacuteda de metade de um vasilhame de
pequenas dimensotildees de ceracircmica decorada com a presenccedila de apecircndice (alccedilas)
identificada conforme classificaccedilatildeo arqueoloacutegica como de produccedilatildeo local ou
regional (neo-brasileira) O exame visual dessa peccedila mostra a existecircncia de um
apecircndice (alccedila) que identifica a influencia do europeu na fabricaccedilatildeo daquele
objeto permitindo deduzir que o local teria sido um siacutetio de contato (entre o
indiacutegena e o europeu)
O resultado do ensaio de dataccedilatildeo absoluta dessa peccedila arqueoloacutegica pelo
meacutetodo da termoluminescecircncia apontou a idade de 520 +- 75 anos permitindo
avaliar a data da fabricaccedilatildeo entre 1411 a 1561 conforme Certificado da FATEC
datado de 21 de junho de 2006 (Relatoacuterio de Ensaio ndash Anexo 1) Levando em
conta os dados apresentados pela pesquisa histoacuterica para aquele local pode-se
145
supor que a data mais provaacutevel da fabricaccedilatildeo da peccedila seja em meados do seacuteculo
XVI eacutepoca em jaacute ocorria presenccedila do explorador europeu (Figuras 54 55 56)
Fig 53 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - SEacuteCULO XVI -I Idade de 520 +- 75 anos
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
Fig 54 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - II
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
146
Fig 55 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - III
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
Descriccedilatildeo Nuacutemero de Registro 0106
Niacutevel 015 m de profundidade
Laacutebio arredondado
Borda extrovertida inclinada externa
Diacircmetro de boca 014 m
Acircngulo da parede 115ordm
Vasilhame simeacutetrico profundo inflectido de boca ampliada e com
apecircndices lisos em forma de rolete com evidencias de pressatildeo na extremidade
para fixaccedilatildeo
Apresenta as seguintes decoraccedilotildees inciso na posiccedilatildeo vertical com 015m
de comprimento (em grupo de 3 incisos) distanciando cada grupo em 001m
dispostos em duas fileiras sendo a primeira proacutexima al laacutebio e a segunda junto a
altura do apecircndice
147
O bojo eacute liso e a sua base escovada e apresenta marcas de fuligem na
parte externa e sinais de desgaste por atrito na parte interna da base do
vasilhame
O outro vasilhame ceracircmico encontrado na aacuterea B identificada como de
procedecircncia local ou regional (neo-brasileira) apresenta caracteriacutesticas
semelhantes e tambeacutem a mesma dataccedilatildeo do vasilhame de ceracircmica
anteriormente descrito (Figura 57 58) Este artefato foi encontrado a 030 cm da
superfiacutecie e foi em parte reconstituiacutedo e levado para o exame de dataccedilatildeo pelo
processo de termoluminscecircncia ao Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade
de Tecnologia de Satildeo Paulo - FATEC O resultado do ensaio apontou a idade de
540 +- 75 anos correspondendo a possiacuteveis datas de fabricaccedilatildeo daquele artefato
entre 1391 e 1541 sendo esta uacuteltima data a mais provaacutevel(Relatoacuterio de Ensaio
Anexo 1)
Fig 57 VASILHAME CERAcircMICO ndash 0122 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - I Idade de 540 +- 75 anos
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
148
Fig 58 VASILHAME CERAcircMICO ndash 0122 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - II Idade de 540 +- 75 anos
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema Descriccedilatildeo Nuacutemero de registro 0122
Niacutevel 030 m de profundidade
Tipo de laacutebio arredondado
Tipo de borda extrovertida inclinada externa
Diacircmetro da boca 028m
Acircngulo da parede 110ordm
Fragmento de vasilhame simeacutetrico de contorno inflectido com as seguintes
decoraccedilotildees parede lisa com engobo branco parede externa com banho de
engobo branco com uma linha incisa paralela a 001m do laacutebio Entre esta
primeira decoraccedilatildeo e o bojo haacute decoraccedilatildeo escovada com inclinaccedilatildeo
Na borda haacute ainda um apecircndice convexo com sinais de fixaccedilatildeo e nas
extemidades haacute pressatildeo de fixaccedilatildeo Entre a borda e o bojo apresenta decoraccedilatildeo
regulada contornando o vasilhame O bojo tambeacutem apresenta decoraccedilatildeo
escovada quase horizontal
149
Uma terceira peccedila encontrada no interior da aacuterea ldquoBrdquo eacute uma faianccedila
decorada de origem portuguesa e formada por fragmentos de louccedila de uso
domeacutestico a qual tambeacutem foi submetida a uma dataccedilatildeo relativa mediante
comparaccedilatildeo feita com auxilio de cataacutelogo (Itineraacuterio da Faianccedila do Porto e Gaia
publicaccedilatildeo do Museu Nacional de Soares dos Reis sem data) Os fragmentos
foram localizados em parte no interior da aacuterea ldquoBrdquo e outra parte na aacuterea externa
dessa mesma aacuterea sendo este uacuteltimo junto a um vestiacutegio de estrutura do forno 1
aacuterea A1 (Figura 59)
O exame visual sobre a faianccedila reconstituiacuteda a partir de cinco fragmentos
separados permitiu reconhecer com base no documento acima mencionado que
aquela peccedila era um utensiacutelio portuguecircs de uso domeacutestico a qual pode ser
descrita como ldquotiacutepicas tijelas malegueiras decoradas no fundo e na orla com
filetes concecircntricos azul [] que apresentam temas decorativos recorrentes
dentro das faianccedilas conhecidas para a segunda metade do seacuteculo XVII (GOMES
BOLTELLO p148)
Conforme parecer sobre a mesma faianccedila acima descrita apresentado por
Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do Infante Porto ndash Portugal em
28 de abril de 2004 aquela peccedila de faianccedila apresenta uma ldquodecoraccedilatildeo simples
que exibe com toques de pincel espaccedilados junto ao bordo filetes simples
resultando ciacuterculos concecircntricos e espiral no fundo tudo em azul aponta para
uma cronologia que se centraraacute no seacuteculo XVIIrdquo 87
87 Parecer sobre a faianccedila encontrada no Siacutetio Afonso Sardinha feita por Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do Infante Porto ndash Portugal em 28 abr 2004
150
Fig 59 FAIANCcedilA - AacuteREA B [SEacuteC XVII]
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
53 Area E Sul da Faacutebrica de Ferro
A pesquisa arqueoloacutegica realizada na aacuterea E Sul externa da Faacutebrica de
Ferro revelou a existecircncia de amontoados de resiacuteduos de fundiccedilatildeo da magnetita
conhecidos como escoacuteria os quais se distribuem por uma ampla aacuterea do terreno
identificada como escorial sendo que num local adjacente agrave face sul da estrutura
denominada aacuterea ldquoB se apresenta maior concentraccedilatildeo (ver anexo 9)
Uma amostra desse material foi encaminhada para anaacutelise no
Departamento de Mineralogia e Geotectocircnica GMG do Instituto de Geociecircncias
da Universidade de Satildeo Paulo aos cuidados de Daniel Atencio Professor
Associado daquele Departamento o qual constatou ser aquela amostra ldquo[]
provavelmente restos de fundiccedilatildeo Trata-se de wuumlstita (FeO) mais ferro (Fe)
Esses materiais satildeo muito raros como minerais mas comuns em fundiccedilotildeesrdquo88
88 Anaacutelise elaborada por Daniel Atencio Professor Associado do Departamento de Mineralogia e Geotectocircnica GMG IGUSP e enviado por e-mail no dia 21 set 2005
151
Como indica este parecer a amostra se constituiacutea de uma escoacuteria ldquoresto
de fundiccedilatildeordquo contendo wuumlstita (FeO) e ferro caracterizando desta forma o material
do escorial citado
Fig 60 ESCOacuteRIA RESTOS DE FUNDICcedilAtildeO AacuteREA E
Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
Observe-se que a presenccedila do metal de ferro impregnado nessa escoacuteria
era resultante da teacutecnica de fundiccedilatildeo para fabricaccedilatildeo do ferro empregada no
Brasil ateacute o iniacutecio do seacuteculo XIX Com a introduccedilatildeo do processo de altos-fornos no
Brasil foi possiacutevel melhorar o aproveitamento do mineacuterio de ferro durante o
processo de fundiccedilatildeo
Nesta mesma aacuterea E foi encontrada uma grande quantidade de telhas
localizadas na parte externa das aacutereas ldquoBrdquo e ldquoCrdquo anteriormente descritas Foram
coletadas 930 fragmentos de telhas as quais foram localizadas ao longo de uma
faixa do terreno com largura da ordem de 060 e 080 cm paralelamente a parede
sul das aacutereas ldquoBrdquo e ldquoCrdquo sugerindo corresponder a mesma posiccedilatildeo sob um ldquobeiral
do telheiro que cobria as respectivas aacutereasrdquo (ANDREATTA 1987 p36v) (Anexo
15)
152
As telhas encontradas permitem afirmar que no local havia uma cobertura
sendo que os trabalhos de dataccedilatildeo sobre um exemplar de telha (Figura 61)
executado pelo meacutetodo de termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e
Dataccedilatildeo da Faculdade de Tecnologia de Satildeo Paulo ndash FATEC acusou uma
dataccedilatildeo (em anos) de 280 +- 40 o que equivale a afirmar que aquele fragmento
foi fabricado entre os anos de 1686 a 1766 periacuteodo correspondente a pelo
menos dois projetos de Faacutebrica de Ferro para aquele local o de Luiz Lopes de
Carvalho e o de Domingos Pereira Ferreira sendo que este uacuteltimo empreendedor
esteve ali estabelecido durante um periacuteodo de no miacutenimo 12 anos (Relatoacuterio de
Ensaio Anexo 1)
A partir dos exames dos fragmentos das telhas encontradas tendo por
base o tipo de pasta coloraccedilatildeo e decoraccedilatildeo foi possiacutevel identificar seis grupos
distintos daquele material conforme a tabela de classificaccedilatildeo abaixo
(ANDREATTA 1987 p21)
Classificaccedilatildeo Caracteriacutestica
Tipo I Branca com riscos (podem ter sentido
longitudinal transversal em X ou em cruz) -
Predominante
Tipo II Branca lisa
Tipo III Vermelha lisa
Tipo IV Marron lisa
Tipo V Vermelha marcadas com granulaccedilatildeo grosseira
Tipo VI Vermelha lisa e com granulaccedilatildeo grosseira
(ANDREATTA 1987 p22)
Quanto a decoraccedilatildeo foram identificados quatro tipos de motivos conforme
os itens descritos abaixo
153
Tipo 1 - linhas digitais horizontais formados por duas linhas relativamente finas
(10 cm) paralelas e orientadas de uma extremidade a outra da telha A natureza
dessas linhas indica que foram confeccionadas em alguns casos por meio da
utilizaccedilatildeo de dedos (indicador e meacutedio)
Tipo 2 - linhas digitais associadas neste caso a decoraccedilatildeo eacute composta por uma
uacutenica linha com a largura de 03 a 05 cm traccedilada na posiccedilatildeo horizontal associada
a uma outra decoraccedilatildeo de forma semicircular
Tipo 3 - linhas digitais paralelas e inclinadas a decoraccedilatildeo apresenta linhas de 10
cm inclinadas e entrelaccediladas
Tipo 4 - linhas digitais inclinadas apresentam linhas com 10 a 15 cm
154
Fig 61 TELHA (AacuteREA E) ndash SEacuteCULO XVIII Idade 280 +- 40 (tn 255 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
155
Fig 62 TELHA (AacuteREA E) (tn30 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
Fig 63 TELHA AacuteREA E (tn 33 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema
156
531 Fornos de fundiccedilatildeo na aacuterea externa da Faacutebrica (Aacuterea A1) Na aacuterea externa agrave Faacutebrica de Ferro localizada em diversas posiccedilotildees ao sul
e leste da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro inclusive na aacuterea aqui denominada de
escorial a pesquisa arqueoloacutegica mostrou a existecircncia de pequenos fornos de
fundiccedilatildeo do tipo ldquofornos baixosrdquo (Anexo 9)
Nessa mesma aacuterea junto ao local denominado ldquoArdquo foi identificado um dos
fornos de fundiccedilatildeo o qual foi denominado de ldquoforno1rdquo da aacuterea A1 junto ao qual
foram encontrados diversos materiais arqueoloacutegicos fragmento de ceracircmicas um
material liacutetico identificado como ldquoraspadorrdquo uma garrafa de greacutes fragmentos de
faianccedila portuguesa e telhas As evidecircncias de ceracircmicas encontradas nessa aacuterea
constituem artefatos relacionados ao grupo social de ocupaccedilatildeo colonial
Fig 64 RASPADOR PLANO-CONVEXO AacuteREA E
157
Fig 65 GARRAFA GRES AacuteREA A FORNO-1
Tambeacutem foi localizado um afloramento de rocha nas proximidades da
Faacutebrica margem esquerda do ribeiratildeo do Ferro o qual apresentava marcas de
uso possivelmente para afiar ferramentas (ANDREATTA 1983 p 18)
5311 Forno de Fundiccedilatildeo 1
O Forno 1 era do tipo conhecido como ldquoforno baixordquo sendo o uacutenico
encontrado junto a Faacutebrica de Ferro Entretanto dois outros fornos baixos foram
localizados em um local mais distante (da ordem de 50m) e denominado aacuterea A2
da referida Faacutebrica possivelmente fazendo parte de um outro conjunto de
produccedilatildeo de ferro (Anexo 9)
Os trabalhos de reconhecimento arqueoloacutegico mostraram que o Forno 1
(aacuterea A1) foi construiacutedo sobre uma base retangular com blocos de arenito sendo
158
que duas paredes foram erguidas tambeacutem com blocos de arenito (lados Norte e
Oeste ) enquanto que as duas outras faces foram encaixadas no proacuteprio terreno
rochoso do afloramento de arenito (lados Sul e Leste) aproveitando o relevo
inclinado no local
Uma descriccedilatildeo relacionada ao Forno 1 (aacuterea A1) feita pela pesquisadora e
arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta informa que
uma parte da ldquoconcavidaderdquo (lado Leste) eacute o proacuteprio afloramento
de arenito e o lado Sul tambeacutem enquanto que os lados Norte e
Oeste satildeo revestidos de blocos de arenito e no centro haacute
pequenos blocos tambeacutem de arenito que provavelmente rolaram
da superfiacutecie do proacuteprio muro de pedras da forja (ANDREATTA
1986 p9)
Os dados da pesquisa arqueoloacutegica mostraram ainda que o Forno 1 (aacuterea
A1) apresentava em planta as seguintes dimensotildees comprimento 340m (norte-
sul) largura 260m (leste ndash oeste) e profundidade de 085m (Andreatta 1986
p10)
Fig 66 DECAPAGEM FORNO1 AacuteREA A1 1987
159
Fig 67 VESTIacuteGIOS DO FORNO DE FUNDICcedilAtildeO1- (AacuteREA A1)89
532 Fornos de fundiccedilatildeo da Aacuterea A2 A pesquisa arqueoloacutegica mostrou vestiacutegios de dois outros fornos de
fundiccedilatildeo localizados subjacentes a um morrote denominado B nesta aacuterea A2 a
qual dista cerca de 50 metros ao Sul do local da aacuterea A1 onde existe uma ruiacutena
da Faacutebrica de Ferro O morrote B (ver Figuras 13 e 68) apresentava dimensotildees
de 1280 metros de comprimento por 250m de largura e 135 m altura Aleacutem do
forno de fundiccedilatildeo foram encontrados tijolos telhas e fragmentos de ceracircmica
(ANDREATTA 1987 p65-66) ( Anexo 9)
89 Ver em Pesquisas arqueoloacutegica prosseguem em Ipanema Jornal Cruzeiro do Sul Sorocaba 19 de marccedilo de 1987p 1
160
Fig 68 MORROTE E FORNOS 1 E 2 ndash AREA A2
161
Fig 69 CROQUI AacuteREA A 2 MORROTE B ndash FORNOS 1 E 2 Desenho de Maacutercia Gutierrez Escala 120
162
5321 Forno de fundiccedilatildeo 1 (aacuterea A2) O forno de fundiccedilatildeo 1 da aacuterea A2 caracteriza-se tambeacutem como do tipo
baixo Durante a pesquisa arqueoloacutegica esta evidecircncia se apresentou como o
forno de fundiccedilatildeo mais bem conservado dentre aqueles encontrados Este forno
tem a forma circular com 070 m de diacircmetro interno e 100 m de diacircmetro
externo com 030 m de profundidade A estrutura apresenta na base um vatildeo de
015 m que corresponde agrave abertura atraveacutes da qual se fazia a ldquocorrida das
escoacuteriasrdquo (Figuras 70 e 71)
A parede circular do Forno 1 (aacuterea A2) eacute ldquo assentada diretamente sobre o
solo e eacute constituiacuteda por tijolos e fragmentos de telhas e argamassa com argila do
proacuteprio solo originalrdquo (ANDREATTA 1987 p65-66) Junto ao vatildeo existente no
piso do forno foi feito um pequeno corte (025 m X 025 m X 010 m) para
evidenciar com maior precisatildeo a funccedilatildeo que teria aquela abertura em relaccedilatildeo agrave
estrutura do forno de fundiccedilatildeo
Com base nas investigaccedilotildees arqueoloacutegicas desenvolvidas foi possiacutevel
evidenciar a existecircncia de uma camada de 002 m de ldquosolo compactado e
queimado e com maior resistecircncia em relaccedilatildeo do restante do solo original abaixo
dele e do entornordquo( (ANDREATTA 1987 p65-66) comprovando que de fato
aquela abertura correspondia ao orifiacutecio responsaacutevel pela drenagem das escoacuterias
Esta abertura era comum a todos os fornos de fundiccedilatildeo do tipo forno baixo com
emprego do meacutetodo direto
163
Fig 70 VESTIacuteGIOS DE FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 1- AacuteREA A2 1988
164
Fig 71 CROQUI DO FORNO 1 AacuteREA A2 (1987) Desenho de Marcia Gutierrez
165
5322 Forno de fundiccedilatildeo 2 (aacuterea A2)
O vestiacutegio arqueoloacutegico do Forno 2 foi encontrado a 045 m de
profundidade correspondendo a um forno do tipo baixo apresentando forma
circular construiacutedo com a utilizaccedilatildeo de telhas e ldquotijolosrdquo os quais eram materiais
diferentes daqueles encontrados em outras evidecircncias de fornos neste Sitio Esta
constataccedilatildeo denota que natildeo havia uma regra determinada para a construccedilatildeo de
fornos no que se refere agrave utilizaccedilatildeo de materiais de construccedilatildeo podendo haver
alternativas de uso de outros materiais conforme a disponibilidade de materiais
no local (Figuras 72 73 e 74)
Os registros do trabalho arqueoloacutegico permitiram evidenciar que o Forno 2
apresentava as seguintes dimensotildeesldquodiacircmetro de 110 m com uma borda de 28
cm de largura com a presenccedila de fragmentos de telhas tijolos e argamassa
(latossolo vermelho)rdquo ldquoDo interior do forno foram retiradas telhas (fragmentos)
em quantidade e tijolos e barro cozido com grande presenccedila de mineacuterio de ferrordquo
(ANDREATTA 1987 p65-66)
Quanto ao barro cozido (argila) encontrado no interior desse forno teria
sido provavelmente resto de um revestimento interno jaacute que o material do qual
ele foi construiacutedo (telhas e tijolos) estava disposto de forma bastante irregular A
utilizaccedilatildeo da argila como revestimento nos fornos de fundiccedilatildeo era muito comum
dando um efeito refrataacuterio ao forno fazendo com que natildeo fosse desperdiccedilada a
temperatura elevada que era proporcionada pela combustatildeo do carvatildeo vegetal no
interior do forno e necessaacuteria para separar o metal de ferro do mineacuterio no caso a
Magnetita
166
Fig 72 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988
Fig 73 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988
167
Fig 74 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988
168
CAPITULO 6
INTERPRETACcedilOtildeES DOS DADOS ARQUEOLOacuteGICOS
No Capiacutetulo 5 foram apresentados os resultados da pesquisa arqueoloacutegica
desenvolvida no Siacutetio Afonso Sardinha que envolveram trabalhos de
reconhecimento de campo segundo planos de escavaccedilatildeo coleta de artefatos
levantamentos planialtimeacutetricos e elaboraccedilatildeo de croquis tudo devidamente
registrado no Diaacuterio de Campo da arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta
No presente Capiacutetulo apresentam-se os resultados das anaacutelises detalhadas
dos registros arqueoloacutegicos que resultaram da pesquisa de campo e em seguida
interpretadas as informaccedilotildees anteriormente consolidadas com base nos
conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia
Na elaboraccedilatildeo da siacutentese interpretativa foi necessaacuterio em
complementaccedilatildeo valer-se de instrumentos disponiacuteveis em outras aacutereas do
conhecimento tais como Geologia Mineralogia Metalurgia Engenharia Civil
dentre outras aacutereas
Nesta fase dos estudos arqueoloacutegicos foram elaborados exames visuais e
catalograacuteficos visando a dataccedilatildeo relativa inclusive com o envio de imagem para
fins de comprovaccedilatildeo para Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do
Infante Porto ndash Portugal
Tambeacutem encaminhadas trecircs amostras de ceracircmica de utensiacutelios e telhas
as quais foram submetidas a testes de dataccedilatildeo absoluta com base em ensaios
de Termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade de
Tecnologia de Satildeo Paulo ndash FATEC sob a coordenaccedilatildeo da Professora Doutora
Sonia H Tatumi (Relatoacuterio de Ensaio Anexo 1)
169
Por outro lado amostras de resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias) foram
submetidas a anaacutelise quiacutemica-mineraloacutegica no laboratoacuterio do Departamento de
Mineralogia e Geotectocircnica ndash GMG Instituto de Geociecircncias da Universidade de
Satildeo Paulo sob a responsabilidade do pesquisador e Professor Associado Daniel
Atencio
61 Avaliaccedilatildeo das caracteriacutesticas do Arranjo das Estruturas Ao analisarmos o conjunto das estruturas arqueoloacutegicas entatildeo
descobertas considerando o contexto relacionado agrave produccedilatildeo do ferro na Europa
entre os seacuteculos XVI ao XVIII e levando em conta os conhecimentos que emanam
da Histoacuteria Colonial do Brasil e da Histoacuteria da Teacutecnica eacute possiacutevel estabelecer
muitas semelhanccedilas entre os arranjos das ldquoferrariacuteas de aacuteguardquo destinadas a
produccedilatildeo de ferro na Espanha (Paiacutes Basco) e os vestiacutegios descobertos no vale
das Furnas (Sitio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha)
Um dos aspectos mais importantes que demonstram tal semelhanccedila entre
as ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo e a Faacutebrica do Vale das Furnas refere-se agrave localizaccedilatildeo das
estruturas numa posiccedilatildeo de curva do ribeiratildeo do Ferro de onde era possiacutevel
captar e desviar as aacuteguas mediante a construccedilatildeo de um sistema hidraacuteulico
formado pelas seguintes unidades (a) Dique para represamento do ribeiratildeo (b)
Canal de Derivaccedilatildeo para desvio das aacuteguas (c) Estrutura de Vala com alojamento
de roda drsquoaacutegua e (d) Canal de restituiccedilatildeo das aacuteguas para o ribeiratildeo do Ferro
Tambeacutem chamam a atenccedilatildeo a arquitetura da principal estrutura construiacuteda
localizada na aacuterea A1 a qual mostra diversos recintos com a divisatildeo
caracteriacutestica das ldquoferreriacuteasrdquo encontradas na Espanha nos seacuteculos XVI assim
como as dimensotildees da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro construiacuteda numa aacuterea
retangular com 13m de largura por 16 m de comprimento No caso das ldquoferreriacuteasrdquo
170
bascas as edificaccedilotildees satildeo igualmente retangulares com as dimensotildees de 12 m de
largura por 17 metros de comprimento
Vale tambeacutem mencionar que arranjo semelhante pode ser observado no
caso da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro que entrou em operaccedilatildeo
em 1607 (ver fig 27)
Observa-se tambeacutem o emprego da alvenaria de pedra - teacutecnica construtiva
introduzida no Brasil pelos primeiros colonizadores como no caso da construccedilatildeo
da Casa da Torre de Garcia DrsquoAvila (ano de 1549) na Praia do Forte atual
municiacutepio de Mata de Satildeo Joatildeo Litoral Norte da Bahia (HOLANDA 2002)
Essa mesma teacutecnica exceto pequenas variaccedilotildees respeitavam as tradiccedilotildees
ibeacutericas tendo sido empregada no Brasil tambeacutem para construccedilotildees de
residecircncias edifiacutecios puacuteblicos igrejas e fortificaccedilotildees principalmente no litoral As
paredes feitas de pedra eram entatildeo revestidas com argamassa de areia e cal
obtido pela queima de cascas de ostras encontradas em depoacutesitos no litoral
Nota-se conforme registros das Atas da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo para o ano
de 1609 que essa mesma teacutecnica que se utilizava da cal como argamassa
tambeacutem foi utilizada na construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro (1607)
(NEME 1959 p 348)
62 As ldquoferreriacuteasrdquo de aacutegua na Peniacutensula Ibeacuterica
Na Europa e principalmente na Espanha as ldquoferreriacuteas de aguardquo se
expandiram a partir do seacuteculo XIV90 Assim eram chamados os edifiacutecios
destinados ao trabalho de fundiccedilatildeo do ferro que utilizavam a forccedila motriz
hidraacuteulica para acionar os foles dos fornos de fundiccedilatildeo e os malhos
90 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponiacutevel em lthttpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablesPrimitivas_instalcionespdfgt Acesso em 30 mar 05
171
Essas ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo para viabilizar o seu funcionamento exigiam
certas condiccedilotildees fisiograacuteficas cujos componentes essenciais satildeo a presenccedila do
mineacuterio de ferro nas proximidades madeiras para produccedilatildeo de carvatildeo e cursos
drsquoagua com corredeiras e volume de aacuteguas suficientes para a geraccedilatildeo de forccedila
motriz
Hubo dos tipos de ferreriacuteas de agua las que se valiacutean del caudal
de los rios que funcionaban todo el antildeo y las que dependiacutean de
arroyos que no entraban em funcionamiento hasta las
temporadas de otontildeo e invierno cuando la lluviacuteas incrementaban
el caudal de los regatos y la fuerza del agua Estas uacutetimas no
llegaron a ser consideradas como autenticas ferreriacuteas de agua
Em Biskaia se disignaba a las primeras como ldquode rio caudalrdquo y a
las segundas como ldquoregaterasrdquo Tambieacuten em Gipuzkoa se
diferenciaban unas de otras com los nombres de ldquozeharrolakrdquo y
ldquoagorrolakrdquo respectivamente
Para aprovechar la fuerza del agua era imprescidible que la
ferreriacutea estuviesse construiacuteda em el lugar adecuado Debiacutea estar
situada em la curva de um rio em um lugar em el que fuese faacutecil
desviar el agua de su curso natural a traveacutes de um sistema de
canales y anteparas para que despueacutes de hacer rotar la rueda
hidaulica pudiesse volver a su cauce naturalCuando no era
posible conseguir esta situacioacuten se recurriacutea a crear um sistema
artificial de presas que contuviesen el agua em um niacutevel maacutes
elevado de forma que para mover las ruedas hidraacuteulicas bastaba
com dejar caer la aacutegua sobre ellas 91
91 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponiacutevel em lthttpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablesPrimitivas_instalcionespdfgt
172
Fig 75 ASPECTO DE UMA ldquoFERRERIacuteA DE AGUArdquo SEacuteCULO XVII92
92 Felipe III visita la ferreriacutea de Yarza en Beasain (Guipuacutezcoa) en 02 noviembre de 1615
173
As plantas das ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo encontradas na regiatildeo basca da
Espanha obedeciam a um arranjo de planta retangular medindo em meacutedia 12 X
17 metros com cobertura de duas aacuteguas sendo que suas dependecircncias e
instalaccedilotildees geralmente compreendiam duas estruturas baacutesicas para a produccedilatildeo
de ferro o sistema hidraacuteulico ao qual jaacute se fez referecircncia e o edifiacutecio de
produccedilatildeo
A construccedilatildeo desse edifiacutecio principal era executada por construtores
especializados em teacutecnicas de edificaccedilotildees em alvenaria de pedra bem como na
instalaccedilatildeo de sistemas hidraacuteulicos exigindo a participaccedilatildeo de carpinteiros os
quais seriam os responsaacuteveis pela construccedilatildeo da roda drsquoaacutegua dos eixos da caixa
de aacutegua e das estruturas para o telhado 93
Para a operaccedilatildeo das ldquoferreriacuteasrdquo era necessaacuterio contar com pessoal teacutecnico
com conhecimentos tanto em mineraccedilatildeo quanto na fundiccedilatildeo bem como no
manejo dos dispositivos de utilizaccedilatildeo da energia das aacuteguas dos rios atraveacutes do
sistema hidraacuteulico
Este edifiacutecio destinado a produccedilatildeo abrigava diversos compartimentos
sendo o maior deles reservado agrave oficina a qual deveria se localizar ao lado da
Vala onde estava instalada a roda drsquoaacutegua que acionavam os eixos responsaacuteveis
pela movimentaccedilatildeo do malho e foles
O espaccedilo destinado agrave oficina era organizado de modo a levar em conta
duas unidades fundamentais de produccedilatildeo do ferro o forno de fundiccedilatildeo e o malho
A disposiccedilatildeo desses equipamentos no interior da oficina natildeo era aleatoacuteria uma
vez que a teacutecnica empregada para a fabricaccedilatildeo do ferro exigia que aqueles
Disponivel em lthttpwwweuskomediaorgeuskomediaSAunandigt Acesso em 20 marccedilo 2005 93 FERNANDEZA C La construccioacuten del hierro ndashmazos y ferreriacuteas Escuela Universitaacuteria de Arquitectos tecnicos de la Corunatilde Disponiacutevel em wwwguillenderohancomEXPOGRImzos-memoriahtm Acesso em 07mar06
174
equipamentos estivessem posicionados nas proximidades tendo em vista o fato
de os trabalhos serem complementares
Aleacutem da oficina o edifiacutecio principal deveria abrigar depoacutesitos de mateacuteria-
prima como carvatildeo vegetal e mineacuterio de ferro jaacute calcinado (tostado) e uma aacuterea
comum de descanso
Fig 76 SISTEMA DE ldquoPUJOacuteN TUERTOrdquo foles e malho satildeo acionados com o emprego de uma uacutenica roda hidraacuteulica94
94 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponivel emhttpwwwbizkaianetKulturaKirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablePrimitivas_instalacionespdf Acesso em 17 novembro de 2006
175
Fig 77 TRABALHO DE EXTRACcedilAtildeO DA MASSA DE FERRO 63 Sistema hidraacuteulico produccedilatildeo da forccedila motriz 631 Dique de represamento do ribeiratildeo do Ferro
As investigaccedilotildees de campo natildeo possibilitaram localizar o Dique de
represamento do ribeiratildeo do Ferro possivelmente em razatildeo da fragilidade dessas
estruturas diante da forccedila das aacuteguas
Entretanto vale registrar o testemunho de Luiz Lopes de Carvalho o qual
em carta dirigida ao Rei de Portugal em maio de 1692 afirmava que
por experiecircncia que fiz pelas minhas matildeos pois fabricando um
Engenho muito limitado por natildeo ter posses que mais tirava todos
os dias este rendimento de um quintal de ferro de duas pedras
176
poreacutem soacute cinco dias continuei nesta oficina em razatildeo de ir uma
cheia e como pela pobreza afabriquei com pouca fortaleza se
arruinou ficando incapaz de poder continuar na faacutebrica95
632 Canal de Derivaccedilatildeo das aacuteguas
As condiccedilotildees de erosatildeo na aacuterea do possiacutevel traccedilado tambeacutem natildeo
permitiram localizar a estrutura do dique responsaacutevel pelo desvio das aacuteguas no
ribeiratildeo do Ferro bem como localizar a comporta responsaacutevel pelo controle do
acesso de aacuteguas em direccedilatildeo ao canal
Deve-se ressaltar que a estrutura do dique eacute necessaacuteria para a elevaccedilatildeo
do niacutevel da aacutegua do ribeiratildeo para o desvio enquanto que a comporta permitiria
regular a vazatildeo em direccedilatildeo ao Canal de Derivaccedilatildeo A aacutegua conduzida atraveacutes do
deste Canal de derivaccedilatildeo impulsionada pela gravidade alcanccedilaria a entrada da
Vala sendo em seguida recolhida em um depoacutesito posicionado sobre aquela
estrutura
A Figura 78 mostra um possiacutevel traccedilado do referido canal sendo que no
desenho o iniacutecio do canal foi posicionado num ponto do ribeiratildeo acima da cota
583m conforme o levantamento planialtimeacutetrico executado na aacuterea do Siacutetio
Arqueoloacutegico Afonso Sardinha96
95 Carta enviada por Luiz Lopes de Carvalho ao Rei de Portugal datada de maio de 1692 RODRIGUES Leda Maria Pereira As minas de ferro em Biraccediloiaba ndash Satildeo Paulo seacuteculos XVI XVII XVIII Anais do III Simpoacutesio dos Professores Universitaacuterios de Histoacuteria Franca 1966 p 218 96 Planta Planialtimeacutetrica Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha Escala 1200 CENEA sd
177
Fig 78 TRACcedilADO ESQUEMAacuteTICO DO CANAL DE DERIVACcedilAtildeO
633 Vala da roda A finalidade da estrutura da Vala eacute a de abrigar a roda drsquoaacutegua dispositivo
necessaacuterio para transformar a energia hidraacuteulica em energia mecacircnica para
movimentar os equipamentos e ferramentas da Faacutebrica de Ferro
A Vala da roda foi construiacuteda com paredes de blocos de pedras de modo a
permitir o fluxo da correnteza e ao mesmo tempo proteger o terreno contra as
erosotildees impedindo as infiltraccedilotildees das aacuteguas para o interior das dependecircncias da
Edificaccedilatildeo Principal
O fato de natildeo terem sido encontrados fragmentos de telhas no interior da
Vala quando foram realizadas as pesquisas arqueoloacutegicas parecem indicar que
178
os esteios natildeo serviam para sustentar telhado Por outro lado a Histoacuteria da
Teacutecnica mostra que outras instalaccedilotildees da mesma eacutepoca destinadas a produccedilatildeo
da energia hidraacuteulica tambeacutem natildeo apresentavam telhado na aacuterea da Vala
Sendo assim sobram duas hipoacuteteses para explicar a existecircncia daqueles
esteios A primeira hipoacutetese eacute que tais esteios serviriam para sustentar uma calha
de madeira com uma extensatildeo da ordem de 12 metros responsaacutevel pela
conduccedilatildeo e descarga da aacutegua diretamente sobre as paacutes da roda valendo-se de
um dispositivo denominado empejeiro ou pejador que servia para o controle da
quantidade de aacutegua descarregada sobre a roda (KATINSKY 1985 p 230)
Outra possibilidade eacute que os esteios sustentavam um reservatoacuterio de aacutegua
- o ldquobanzaordquo - responsaacutevel pelo repouso do liacutequido de modo a garantir a sua
descarga controlada sobre as paacutes da roda conforme os projetos comumente
encontrados nas construccedilotildees das ldquoferreriacuteas de aguardquo da regiatildeo Basca - Espanha
(Figura 79)
A laje de pedra do fundo da Vala mostra forte declividade da Vala sendo
que na extremidade superior (coincidente com o ponto de interligaccedilatildeo com o
Canal de Derivaccedilatildeo) a cota eacute igual a 453 enquanto que na extremidade inferior
junto a margem do ribeiratildeo do Ferro a cota do terreno eacute igual a 041 Sendo
assim o desniacutevel total eacute de 412 metros na extensatildeo total da Vala igual a 19
metros ou seja cerca de 20
Outra observaccedilatildeo importante eacute que o niacutevel do fundo da Vala no ponto
meacutedio da sua extensatildeo seria igual a 230 m mostrando nesta posiccedilatildeo desniacutevel de
cerca de 2 metros abaixo do provaacutevel niacutevel da Faacutebrica (cota aproximada 450 m)
revelando a possibilidade de alojamento da roda drsquoaacutegua a partir desta mesma
posiccedilatildeo
O desenho do arranjo do sistema hidraacuteulico encontrado no Sitio Sardinha
mostra semelhanccedilas claras com o arranjo que caracterizam as ferreriacuteas bascas
179
O exame do conjunto das estruturas mostram que a construccedilatildeo tirou partido da
declividade do terreno para aproveitamento da forccedila da gravidade aplicada ao
processo da produccedilatildeo do ferro
634 A Caixa de Aacutegua - ldquoBanzaordquo O ldquobanzaordquo era uma caixa de aacutegua com volume adequado para garantir o
repouso da aacutegua instalado acima do niacutevel da Vala em uma posiccedilatildeo diretamente
sobre a roda A instalaccedilatildeo dessas caixas tinha por objetivo garantir uma altura da
queda drsquoaacutegua necessaacuteria para impulsionar a roda e ao mesmo tempo armazenar
um volume de aacutegua adequado para direcionar o jato diretamente sobre as paacutes
da roda com uma pressatildeo constante de modo a resultar o movimento uniforme
para a rotaccedilatildeo da roda
Os rdquobanzaosrdquo mais ruacutesticos e antigos eram feitos de madeira material que
criava vaacuterios problemas de manutenccedilatildeo fato que levou agrave substituiccedilatildeo desse
material a partir do seacuteculo XVIII por alvenaria de pedra
O acionamento da roda se dava por meio de uma espeacutecie de vara
localizada no interior da Faacutebrica a qual permitia regular a quantidade de aacutegua
descarregada sobre a roda Elena Faus descreve esse funcionamento da
seguinte forma
El paso del aacutegua a la rueda se abre o cierra por meacutedio de
tanpones o ldquochimbosrdquo Cuando los operaacuterios los abren salta y
golpea directamente las palas de la rueda instalada debajo
provocando su giro Con el fin de evitar peacuterdidas de liacutequido y
maximizar su rendimiento se antildeade un canal ldquoguzur-askardquo que lo
conduce directamente sobre la rueda Posteriormente se evacua
por un aliviadero la ldquoonda-askardquo (FAUS 2000 p 63)
180
Contudo mesmo apostando na hipoacutetese de que haveria um ldquobanzaordquo
acima da Vala encontrada torna-se difiacutecil estabelecer a sua dimensatildeo e volume
Mas as evidecircncias encontradas sugerem que esta caixa de aacutegua deveria ter no
maacuteximo 12 metros de comprimento (medidos a partir do inicio do canal ateacute o
uacuteltimo vestiacutegio de esteio) por aproximadamente 225 m (largura da vala)
restando indefinida a medida da altura da caixa
Fig 79 SOLUCcedilAtildeO EM ldquoBANZAOrdquo DE MADEIRA ndash DEPOacuteSITO DE AacuteGUA97
97 LAS FERRERIacuteAS DE AGUA DE ASTURIAS Disponivel em ltwwwbelmontedemirandanetfraguaindexhtmgt Acesso em 20jun05
181
635 A roda hidraacuteulica
Em 1983 quando foram iniciadas as pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio
Afonso Sardinha a Vala destinada agrave instalaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua jaacute havia sido
identificada Contudo eacute somente em 1986 que as pesquisas se concentraram na
aacuterea daquela Vala Graccedilas ao fato de esta estrutura ter permanecido enterrada a
mesma ficou preservada possibilitando avaliar a sua funccedilatildeo e o fato de que o
local deveria ter sido destinado agrave instalaccedilatildeo de uma roda hidraacuteulica vertical com
eixo horizontal (Figura 79)
A utilizaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua para os trabalhos metaluacutergicos natildeo era
novidade para os empreendimentos dessa natureza pois a teacutecnica aplicada para
a construccedilatildeo desse tipo de Faacutebrica jaacute era bastante difundida entre os artesatildeos da
Idade Meacutedia os quais buscaram adaptar as ferramentas utilizadas no trabalho da
produccedilatildeo de ferro (por exemplo foles e malhos) de modo a permitir a sua
movimentaccedilatildeo atraveacutes da forccedila obtida das rodas drsquoaacutegua
Em 1104 os ldquomoinhos para bater o ferrordquo jaacute eram encontrados nos Pirineus
espanhoacuteis Gille os descreve da seguinte forma
as forjas que anteriormente eram acionadas a braccedilos e que
itinerantes deslocavam-se agrave procura dos fornos-baixos a
procura de mateacuteria prima e do combustiacutevel a partir de entatildeo se
estabelecem permanentemente ao longo dos rios (GILLE Apud
GAMA 1985 p 133)
Entre os seacuteculos XIV e XV surgiram no paiacutes basco adaptaccedilotildees da roda
hidraacuteulica para acionar os ldquosoprantesrdquo - os foles - (instrumentos utilizados para
insuflar oxigecircnio para dentro dos fornos) possibilitando intensificar a combustatildeo
do carvatildeo vegetal de modo a elevar a temperatura no interior do forno No paiacutes
basco o martelo hidraacuteulico jaacute havia sido incorporado agravequela atividade desde o
seacuteculo XV em Gipuzkoa e desde o seacuteculo XVI em Biskaia ambas localizadas na
182
regiatildeo basca Em 1531 operavam em ambas as regiotildees cerca de 200
estabelecimentos utilizando essa teacutecnica (FAUS 2000 p 60)
Fig 80 ldquoLOCALIZACcedilAtildeOrdquo DO MALHO E DA RODA HIDRAUacuteLICA (INTERPRETACcedilAtildeO) (Desenho Agnaldo Zequini)
183
6 4 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo
O local onde se encontra instalada a Faacutebrica de Ferro do Sitio Arqueoloacutegico
Afonso Sardinha oferece todas as condiccedilotildees fisiograacuteficas favoraacuteveis para a
instalaccedilatildeo daquele empreendimento De fato o conjunto se encontra
praticamente na aacuterea das jazidas de mineacuterios de ferro junto a um ribeiratildeo com
quantidade de aacuteguas satisfatoacuterias para o caso de produccedilatildeo do ferro relativamente
pequena como deveria ser o caso da instalaccedilatildeo existente no morro de Araccediloiaba
Outro fator decisivo para a produccedilatildeo de ferro era a presenccedila de matas com
abundacircncia de madeiras A esse respeito segundo uma descriccedilatildeo do Vale das
Furnas apresentada no decorrer de 1692 por Luiz Lopes de Carvalho (um dos
que investiram na construccedilatildeo de Faacutebrica de Ferro naquele local) o mesmo
lastimava o fato de ter que reduzir os ldquodensos arvoredos em que se achatildeo paos
Reais e madeirasrdquo em carvatildeo o uacutenico combustiacutevel utilizado nos processos de
fundiccedilatildeo de ferro (RODRIGUES 1963 p 203)
O mesmo Luiz Lopes de Carvalho testemunhava naquele mesmo ano que
aquele morro estava coberto ldquode mineral de ferro de meuda aacuterea athe pedras de
des a Robas e mui dilatadas betas [veios] Profundas Largas e Compridasrdquo
esclarecendo que o mineacuterio ao ser submetido ao processo de reduccedilatildeo tinha um
rendimento de dois para um ldquoa cada douz quintais de pedra se tira hum de ferrordquo
(RODRIGUES 1966 p 204)
641 A Oficina da Faacutebrica de Ferro
A planta da Faacutebrica de Ferro encontrada com dimensotildees de 13m X 16m
permite identificar as provaacuteveis posiccedilotildees de cada uma das unidades de produccedilatildeo
184
necessaacuterias agrave fabricaccedilatildeo do ferro quais sejam o espaccedilo destinado a oficina e a
forja
No caso da construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro do Sitio Afonso Sardinha eacute
possiacutevel identificar a aacuterea destinada a oficina onde deveriam ficar instalados os
equipamentos do forno de fundiccedilatildeo e foles e do malho Nessa planta a aacuterea estaacute
identificada pelas letras C e F (Anexo 9)
Fig81 FAacuteBRICA DE FERRO DO SITIO AFONSO SARDINHA ARRANJO DOS EQUIPAMENTOS (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)
185
Fig 82 FAacuteBRICA DE FERRO PLANTA BAIXA (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)
Contudo entre os anos de 1986-1987 quando foram aprofundadas
as pesquisas arqueoloacutegicas naquelas aacutereas por meio de decapagem e abertura
de trincheiras natildeo foram encontrados vestiacutegios materiais que permitissem
identificar os locais dentro da oficina onde estariam instalados os fornos e o
malho como tambeacutem nenhum resiacuteduo testemunho da produccedilatildeo de ferro
Diante dessa constataccedilatildeo podemos levantar pelo menos duas hipoacuteteses
de interpretaccedilatildeo Uma delas estaacute relacionada agrave proacutepria natureza daquele siacutetio o
qual ao longo dos seacuteculos sofreu vaacuterias intervenccedilotildees antroacutepicas que poderiam
186
provocar algumas perturbaccedilotildees no registro arqueoloacutegico colaborando dessa
forma para o desaparecimento das evidecircncias
A segunda hipoacutetese decorre do fato de que os exames das condiccedilotildees de
superfiacutecie do terreno na parte da edificaccedilatildeo identificada como ldquoCrdquo (Oficina)
apresentam indiacutecios de antigas erosotildees decorrentes da presenccedila do ribeiratildeo do
Ferro Tal interpretaccedilatildeo permitia concluir que as enchentes do ribeiratildeo do Ferro
seriam responsaacuteveis pela pequena quantidade de artefatos arqueoloacutegicos
naquela aacuterea (Figura 81)
A figura abaixo apresenta um corte do terreno na provaacutevel aacuterea da Oficina
mostrando irregularidade na superfiacutecie do piso possivelmente decorrente de
erosotildees junto a margem do ribeiratildeo do Ferro provocadas pelas enchentes
187
Fig 83 INDICACcedilAtildeO DA POSSIacuteVEL AacuteREA ERODIDA PELAS ENCHENTES ndash AREA C ndash (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)
188
6411 O Malho O malho era um instrumento imprescindiacutevel para o processo de produccedilatildeo
do ferro pelo denominado meacutetodo direto Essa ferramenta possuiacutea um longo
braccedilo de madeira que media cerca de trecircs a quatro metros de comprimento e
funcionava como alavanca com apoio intermediaacuterio Uma das extremidades do
braccedilo dessa alavanca funcionava como um martelo e apresentava na
extremidade uma cabeccedila de ferro ndash o malho ndash que dava o nome ao equipamento
Em outra extremidade havia um dispositivo que permitia transformar o movimento
de rotaccedilatildeo da roda em deslocamento vertical oscilante do braccedilo permitindo
assim que o malho golpeasse a ldquobola de ferrordquo que ficava apoiada em uma
bigorna
Ao golpear a ldquobola de ferrordquo denominaccedilatildeo dada ao produto retirado do
interior do forno de fundiccedilatildeo esta operaccedilatildeo perseguia trecircs objetivos importantes
eliminar as escoacuterias que ainda permaneciam aderidas a bola de ferro compactar
aquela massa e finalmente dar forma de barra ou lingote que era o produto final
para a comercializaccedilatildeo
A operaccedilatildeo desse martelo com funcionamento hidraacuteulico eacute descrito em um
texto informativo publicado pela Universidade de Oviedo-Espanha sem menccedilatildeo
de autor e ano de publicaccedilatildeo
La rueda hidraulica movida por el impulso del agua le comunica al
eje o aacuterbol un movimiento rotatoacuterio de este agraverbol sobresalen unos
dientes a modo de levas concretamente cuatro situados a 90ordm los
manobreiros quem en su giro percuten sobre el extremo del
mango del martillo la dendala en su movimiento oscilante el
yunque o incre esta golpeo se repite cuatro veces por cada giro
completa de la rueda 98
98 Ingenios hidraulicos histoacutericos molinos batanes y ferreriacuteas Universidad de Oviedo ndashEspana Disponiacutevel e em lthttpwww1unioviesasturiasferreriasgt Acesso em 17 jun 04
189
O movimento do malho era produzido mediante a transmissatildeo de forccedila
originada atraveacutes do eixo de uma roda hidraacuteulica especifica para esta tarefa Um
segundo tipo de sistema de acionamento utilizava uma uacutenica roda hidrauacutelica para
movimentaccedilatildeo do braccedilo do malho e ao mesmo tempo pelo acionamento dos
foles Este uacuteltimo sistema era conhecido como ldquopujoacuten tuertordquo e era o sistema mais
comumente empregado nas ferrariacuteas bascas99
No Brasil a utilizaccedilatildeo dessa ferramenta para a produccedilatildeo de ferro eacute
encontrada em documentos relacionados agrave construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de
Santo Amaro no iniacutecio do seacuteculo XVII Em 1605 para instalaccedilatildeo dessa Faacutebrica
foram entregues pela Administraccedilatildeo Espanhola agrave Diogo de Quadros ldquo2 malhos
que podiam pesar pouco mais ou menos entre ambos 3 quintais mais duas
argolas grandes da mesma ferramentardquo (RODRIGUES 1963 p 190)
Possivelmente foi entregue a Diogo de Quadros apenas a ldquocabeccedila de ferrordquo
(o malho propriamente dito) enquanto que as demais peccedilas da estrutura pelo
fato de serem confeccionadas inteiramente com madeira poderia ter sido
fabricada no Brasil
No caso da Faacutebrica de Ferro do Siacutetio Afonso Sardinha dispotildeem-se apenas
de documentos escritos que registram a presenccedila desse equipamento conforme
a carta escrita no ano de 1768 por D Luiz Antonio de Souza Governador da
Capitania de Satildeo Paulo dirigida ao Conde de Oeiras atraveacutes da qual apresenta
informaccedilotildees sobre a Faacutebrica de Ferro que havia sido construiacuteda por Domingos
Pereira Ferreira e seus soacutecios
Nesse documento D Luiz afirmava que aquele empreendimento era uma
das atividades que estava dando maior preocupaccedilatildeo em sua gestatildeo explicando
que
99 Binganaria no sistema de pujoacuten tuerto a Binganaria corresponde agrave viga de transmissatildeo entre a roda hidraacuteulica e os foles
190
se tem trabalhado desde aquele tempo [1760] ateacute o presente
em grandes dispecircndios dos acionistas em fazer fornos
grandes e pequenos por diferentes modos safras [bigorna
de ferreiro] martelos malhos rodas e engenhos para os
mover e tudo o necessaacuterio (RODRIGUES 1966 p 190)
Uma outra notiacutecia relacionada a essa mesma Faacutebrica ficou registrada em
outra documentaccedilatildeo datada de 1770 atraveacutes da qual Jacinto Joseacute de Abreu um
dos soacutecios de Domingos Pereira Ferreira dava conta de que o andamento dos
trabalhos lhe estava causando o ldquomaior desgostordquo pelo fato de ter quebrado o
malho ldquoque tanto dispecircndio e trabalho custourdquo A reclamaccedilatildeo expressada por
Jacinto Joseacute de Abreu pode ser compreendida natildeo somente pelo prejuiacutezo
financeiro decorrente da perda direta da peccedila como tambeacutem pelo prejuiacutezo
decorrente da consequumlente paralisaccedilatildeo da produccedilatildeo do ferro
6412 ndash O Forno de Fundiccedilatildeo e Foles As pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio Afonso Sardinha natildeo lograram
identificar vestiacutegios materiais de fornos de fundiccedilatildeo no interior da aacuterea
reconhecida como sendo a Oficina da Faacutebrica Tendo em vista o arranjo e a
extensatildeo do espaccedilo levantado pelas pesquisas de campo bem como as teacutecnicas
de fundiccedilatildeo de ferro disponiacuteveis de acordo com os estudos da histoacuteria da teacutecnica
para o periacuteodo que interessa ao presente trabalho entendemos que eacute correto
afirmar que o forno de fundiccedilatildeo ali empregado deveria ser do tipo ldquoforno baixordquo
De qualquer forma natildeo eacute possiacutevel afirmar que o meacutetodo de fundiccedilatildeo
utilizado no interior da Faacutebrica de Ferro corresponda ao que eacute conhecido como
ldquomeacutetodo catalatildeordquo ou ldquoforno catalatildeordquo uma vez que as pesquisas arqueoloacutegicas e
tambeacutem as documentais natildeo conseguiram encontrar qualquer dado a respeito do
modelo do forno de fundiccedilatildeo ali utilizado nem qualquer informaccedilatildeo a respeito do
processo de extraccedilatildeo do ferro na operaccedilatildeo de fundiccedilatildeo
191
De fato o forno catalatildeo se diferenciava dos demais fornos baixo por
apresentar uma forma que lembrava o de uma piracircmide invertida com trecircs
paredes planas e uma convexa confeccionadas com pedras refrataacuterias
(GARCIA sd p7) O que tambeacutem caracterizava o forno catalatildeo era o
procedimento de colocaccedilatildeo do carvatildeo e do mineacuterio no interior do forno para
extraccedilatildeo do metal Pere Molera I Sola (1982 p 208) ao analisar o procedimento
direto de obtenccedilatildeo do ferro pelo meacutetodo catalatildeo assinala que este meacutetodo
apresentava a peculiaridade de empregar a teacutecnica de ldquotrompa de aacuteguardquo para
promover a injeccedilatildeo do ar para dentro do forno Entretanto alguns fornos
reconhecidos como do tipo catalatildeo tambeacutem empregavam a teacutecnica de foles
movidos por roda drsquoaacutegua com aquele objetivo
O mesmo autor esclarece que o forno catalatildeo era
sin duda elemento maacutes importante consistia en una cavidad de
forma trocopiramidal invertida cuyas dimensiones de la base
mayor estaban en torno a los 60 por 50 cm La altura era de unos
80 cm Dentro de la nave industrial el horno estaba situado junto
a una pared principal denominada lsquopiec del focrsquo (pie del fuego)
todas las paredes del horno presentaban superficies planas
menos lsquolrsquoore o contraventrsquo (contraviento) que para facilitar la
extraccioacuten del producto reducido ofreciacutea una superficie convexa
y estaban parcialmente recubiertas con planchas de acero La
pared del horno adosada al lsquopiec del focrsquo y opuesta a lsquolrsquoorersquo se
denominaba lsquoles porguesrsquo (las cribas) y estaba atravesada por la
tobera que inyectaba aire al horno Entre ambas las paredes
estaba el lsquolleteirolrsquo (rebosadero) pared agujereada para faciclitar
la eliminacioacuten de la escoria liquida frente a la cual se encontraba
la lsquocavarsquo pared de piedra sin revistir y ligeramente inclinada
(SOLA 1982 p 208-209)
A operaccedilatildeo de fundiccedilatildeo eacute descrita pelo mesmo autor conforme segue
192
La operacioacuten de reduccioacuten de la mena concentrada se iniciaba
cubriendo el fono del horno con polvo de carboacuten vegetal Se le
prendia fuego Una vez caliente el horno se antildeadia una capa de
trozos de caroacuten de mayor tamantildeo E inmediatamente se
superponia una plancha de acero en al centro del horno paralela
a las lsquoporguesrsquo Ello permitiacutea situar una capa vertical de carboacuten en
al lado de la tobera y una capa de mineral al otro lado de la
plancha Se quitaba luego la plancha y se cubriacutea la parte superior
del mineral con una capa de pequentildeos trozos de carboacuten huacutemedo
y escorias al objeto de que la superficie externa quedase de
forma esfeacuterica y concentrase las llamas Se insuflaba aire por las
toberas y a la hora y media se alcanzaban ya temperaturas
superiores o los 1200 grados C Durante tres o cuatro horas
consecutivas se iba antildeadiendo mineral y carboacuten al tiempo que
por el ldquolletirolrdquo se eliminaba la escoria liquida Si la escoria era
densa lo que evidenciaba un alto contenido en hierro se volviacutea a
introducir en el horno La operacioacuten terminaba cuando en el fondo
del horno se formaba una bola irregular de unos 100 kilogramos
de peso de hierro o acero dulce con inclusiones de escoria y
poros el lsquomasserrsquo (zamarra) En se momento empezaba la
operacioacuten maacutes espectacular de la fraga la saca el lsquomasserrsquo del
horno y transportarlo hasta el martinete lo que requeriacutea el
concurso de todo el personalrdquo (SOLA 1982 p 211-212)
193
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
1- A partir das evidecircncias arqueoloacutegicas levantadas pela pesquisadora Margarida
Davina Andreatta no Siacutetio Afonso Sardinha foram elaboradas anaacutelises e em
seguida as interpretaccedilotildees com base nos conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica
e da Histoacuteria da Teacutecnica relacionadas a produccedilatildeo de ferro Tais estudos
permitiram comprovar que aquela aacuterea arqueoloacutegica corresponde a um campo de
exploraccedilatildeo e produccedilatildeo de ferro desde a segunda metade do seacuteculo XVI
2- As ruiacutenas da edificaccedilatildeo principal identificadas como ldquoBrdquo (Forja) e ldquoCrdquo (Oficina)
tratam-se de aacutereas de produccedilatildeo de uma Faacutebrica de Ferro O espaccedilo identificado
como ldquoDrdquo corresponde a uma vala de acomodaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua responsaacutevel
pela produccedilatildeo da forccedila de origem hidraacuteulica necessaacuteria para movimentar os
equipamentos e ferramentas da fabricaccedilatildeo ( Anexo 9)
3- Os exames das condiccedilotildees de superfiacutecie do terreno na parte da edificaccedilatildeo
identificada como ldquoCrdquo (Oficina) apresentam indiacutecios de antigas erosotildees
decorrentes da presenccedila do ribeiratildeo do Ferro sendo que esta interpretaccedilatildeo
permite concluir que os fenocircmenos apontados foram os responsaacuteveis pela
ausecircncia de artefatos arqueoloacutegicos naquela aacuterea
4- Os exames dos vestiacutegios dos fornos de fundiccedilatildeo encontrados nas aacutereas A e
A2-B externa do edifiacutecio principal da fabricaccedilatildeo de ferro indicam que satildeo do tipo
baixo provavelmente insulflados a fole de matildeo natildeo sendo possiacutevel afirmar que
seriam fornos do tipo catalatildeo
5- As ruiacutenas da Faacutebrica de Ferro indicam que as mesmas tratam de instalaccedilotildees
de modelo de produccedilatildeo industrial inclusive com divisatildeo de tarefas em aacutereas
distintas uso de energia hidraacuteulica transformada em forccedila mecacircnica para
194
movimentaccedilatildeo das ferramentas e para insuflaccedilatildeo do ar para queima do carvatildeo
nos fornos de fundiccedilatildeo
6- As dataccedilotildees absolutas e tambeacutem as relativas realizadas indicaram que naquele
local houve uma sobreposiccedilatildeo de distintos empreendimentos para a produccedilatildeo do
ferro desde o final do seacuteculo XVI e ao longo do seacuteculo XVIII
7- A causa mais provaacutevel do insucesso econocircmico de todas as tentativas de
produccedilatildeo de ferro em Araccediloiaba se relaciona a mineralogia da magnetita e
associaccedilotildees com outras substancias minerais as quais eram nocivas agrave qualidade
do produto metaluacutergico Neste caso vale ressaltar a presenccedila prejudicial
principalmente do titacircnio e do foacutesforo cujas presenccedilas eram desconhecidas pelos
exploradores
8- A planta da edificaccedilatildeo principal (aacutereas ldquoBrdquo ldquoCrdquo e ldquoDrdquo e ldquoFrdquo) evidenciada se
ajusta aos arranjos de espaccedilo produtivo de ferro tiacutepicos de modelos encontrados
naquele mesmo periacuteodo nas aacutereas de mineraccedilatildeo da Peniacutensula Ibeacuterica
notadamente aquele desenvolvido na regiatildeo basca (Anexo 9)
195
BIBLIOGRAFIA E ARQUIVOS PESQUISADOS
ARQUIVOS Arquivo da Cidade de Satildeo Paulo Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Arquivo do Museu Histoacuterico Sorocabano Arquivo Municipal da Cidade de Itu Documentaccedilatildeo do Museu Paulista -USP Instituto de Estudos Brasileiros ndash USP Museu Republicano Convenccedilatildeo de ItuMPUSP Projeto Arqueologia Histoacuterica ndash Museu Paulista USP Todas as fotografias croquis e plantas relacionadas a pesquisa arqueoloacutegica realizada no Siacutetio Afonso Sardinha entre os anos de 1983-1989 e que estatildeo inseridas nesta tese foram reproduzidas a partir deste acervo BIBLIOGRAFIA ABSAacuteBER Aziz Nacib Morro de Ipanema conhecimentos Scientific American Brasil Ediccedilatildeo Nordm 52 - setembro de 2006 Disponiacutevel em lthttpwww2uolcombrsciamconteudoeditorialeditorial_36Htmlgt Acesso em 14mar06 ARAUJO M Alves Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo de Ipanema Auxiliador da Industria Nacional n50 Rio de Janeiro1882 ABREU Joatildeo Capistrano de Capiacutetulos de histoacuteria colonial (1500-1800) amp Os caminhos antigos e o povoamento do Brasil Brasiacutelia Editocircra Universidade de Brasiacutelia 1963 ALBUQUERQUE Gislene Batista RODRIGUES Ricardo Ribeiro A vegetaccedilatildeo do Morro de Araccediloiaba Floresta Nacional de Ipanema (SP) Scientia Florestalis n58 p 145-159 dez 2000 Disponiacutevel em lt wwwipefbrpublicacoesscientianr58cap11pdfgt
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GLOSSAacuteRIO
Banzao de madeira BANZAO Denominaccedilatildeo que era dada na regiatildeo basca ndash Espanha para depoacutesitos de aacutegua que eram instalados sobre as rodas drsquoaacutegua e de onde era despejado jato de aacutegua sobre as paacutes daquela roda fazendo-a girar Na estrutura identificada por essa pesquisa as evidencias pressupotildee a utilizaccedilatildeo desse equipamento
BIGORNA Ferramenta feito por um bloco de pedra ou metal utilizado como suporte para martelar sobre o ferro
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CABECcedilA DE MALHO Peccedila metaacutelica que eacute afixada em uma das extremidades da ferramenta que leva esse nome
ESCOacuteRIA ldquorestos de fundiccedilatildeordquo um sub-produto da fundiccedilatildeo de mineacuterio para purificar metais No caso das teacutecnicas de fundiccedilatildeo utilizadas ateacute o seacuteculo XIX no Brasil as escoacuterias produzidas apoacutes o processo de fundiccedilatildeo apresentavam uma grande quantidade de ferro (metal) em sua composiccedilatildeo O que vale dizer que os fornos utilizados para aquela atividades natildeo alcanccedilavam as temperaturas acima de para proporcionar maior aproveitamento do mineacuterio empregado
Ferreriacutea de Bolunburu es un conjunto ferro molinero que desde el siglo XVII
FERRERIacuteA Edifico que abrigava as ferramentas e equipamentos para a produccedilatildeo do ferro O sistema de produccedilatildeo empregado nas ferrariacuteas denominado de meacutetodo direto de produccedilatildeo consistia em ldquocozinharrdquo o mineacuterio de ferro em fornos baixo usando como combustiacutevel o carvatildeo vegetal Apoacutes ldquocozidordquo o ferro se transformava em uma esponja de ferro que era levada para ser trabalhada sobre
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uma bigorna e golpeada pelo malho Este trabalho servia para compactar a massa liberar as escoacuterias e dar forma FERRO O ferro (do latim ferrum) eacute um elemento quiacutemico siacutembolo Fe de nuacutemero atocircmico 26
Foles acionados por forccedila humana seacuteculo XVI FOLES Equipamento utilizado para insuflar ar para dentro do forno promovendo assim a combustatildeo do carvatildeo Podiam ser acionados manualmente ou por utilizaccedilatildeo de roda drsquoaacutegua
Forno baixo com a utilizaccedilatildeo de fole manual FORNO BAIXO Espaccedilo normalmente de pequenas dimensotildees onde se realizava a reduccedilatildeo (extraccedilatildeo do metal ndashferro ndash do mineacuterio) e de Havia vaacuterias denominaccedilotildees para esse tipo de forno como fornos de vento fornos castelhanos fornos catalatildees forno de manga etc Estes fornos dada a sua dimensatildeo e os instrumentos de insuflaccedilatildeo do ar utilizado natildeo permitiam a fundiccedilatildeo do mineacuterio Nos fornos baixos acima referidos a disposiccedilatildeo do carvatildeo vegetal e dos pedaccedilos de mineacuterios no interior do forno eram feitos em camadas superpostas e horizontais
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Forno Catalatildeo e Trompa Hidrauacutelica FORNO CATALAtildeO O forno catalatildeo eacute assim denominado por ter sido uma teacutecnica desenvolvida nos Pirineus catalatildees A teacutecnica catalatilde ou meacutetodo catalatildeo de fundiccedilatildeo possuem alguns elementos que o caracterizam como 1- a forma de construccedilatildeo do forno que lembra uma lareira tendo o seu formato interno feito de forma de uma piracircmide invertida 2- disposiccedilatildeo interna do carvatildeo e dos pedaccedilos de mineacuterios dentro do forno os quais eram colocados de lados opostos e paralelos 3- utilizaccedilatildeo da trompa hidraacuteulica para insuflar oxigecircnio para a combustatildeo do carvatildeo esse sistema foi desenvolvido na regiatildeo da atual Itaacutelia e utilizado em grande escala nas faacutebricas de ferro da Catalunha Na regiatildeo Basca foram utilizados foles de grandes dimensotildees acoplados a roda drsquoaacutegua FORNO DE FUNDICcedilAtildeO Espaccedilo onde se daacute a reduccedilatildeo do mineacuterio No periacuteodo estudado a reduccedilatildeo ou fundiccedilatildeo era proporcionada pela queima proporcionada pela insuflaccedilatildeo de oxigecircnio por meio de foles manuais do carvatildeo vegetal que era colocada dentro desses fornos junto com pedaccedilos de mineacuterio FORJA Fornalha de que se servem os ferreiros e outros artiacutefices para incandescer os metais para serem trabalhados numa bigorna Do francecircs forge e do Latin fabrica Tambeacutem pode designar o trabalho realizado pelo ferreiro por meio do fogo e do martelo para dar forma aos metais
HEMATITA mineral de foacutermula oacutexido de ferro III (Fe2O3) um dos diversos oacutexidos de ferro
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MAGNETITA mineral magneacutetico formado pelos oacutexidos de ferro II e III ( FeO Fe2O3) cuja foacutermula quiacutemica eacute Fe3O4
MALHO Daacute se o nome de malho a peccedila metaacutelica que estaacute afixada em uma das extremidades do martinete o qual por conseguinte daacute o nome ao equipamento METAL elemento quiacutemico Satildeo metais os metais bem conhecidos satildeo alumiacutenio cobre ouro ferro prata titacircnio uracircnio e zinco MINERAL Substacircncia natural MINEacuteRIO mineral que conteacutem um metal na sua composiccedilatildeo quiacutemica Todo o mineacuterio eacute mineral OFICINA Ou Farga (em catalatildeo) espaccedilo em que estatildeo assentados o forno e o malho equipamentos destinados a produccedilatildeo de ferro MARTINETE Instrumento usado para golpear os metais incandescentes na forja para dar-lhes a forma desejada Tambeacutem pode designar um malho movido por roda drsquoagua METALURGIA Teacutecnica de obtenccedilatildeo dos metais No periacuteodo pesquisado a teacutecnica era conhecida como meacutetodo direto
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OacuteXIDOS Combinaccedilatildeo do oxigecircnio com outros elementos No nosso caso com ferro
TROMPA Mecanismo que aproveita a forccedila da caiacuteda da aacutegua para gerar um fluxo contiacutenuo em direccedilatildeo do forno Era um elemento caracteriacutestico do forno catalatildeo
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ANEXOS
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- FAacuteVERO Oriana Aparecida NUCCI Joatildeo Carlos De BIASI Maacuterio Mapeamento da vegetaccedilatildeo e usos das terras da Floresta Nacional de Ipanema IperoacuteSP
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