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artigo analisar crítica de foucault à historiografia

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  • MICHEL FOUCAULT: uma crtica historiogrfica em a Arqueologia do Saber por Eduardo de Melo Salgueiro

    Revista Histria em Reflexo: Vol. 3 n. 6 UFGD - Dourados jul/dez 2009

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    MICHEL FOUCAULT: uma crtica historiogrfica em a Arqueologia do Saber

    Eduardo de Melo Salgueiro Mestrando em Histria UFGD

    RESUMO: Este trabalho tem por objetivo realizar uma anlise sobre as principais crticas

    apontadas pelo filsofo francs Michel Foucault em sua obra A Arqueologia do Saber,

    publicada em 1969, de onde repercutiu algumas das mais cidas criticas em relao s

    cincias humanas e conseqentemente historiografia no sculo XX. Para isso, apresenta-

    se de maneira sucinta ao leitor como se deu a trajetria da vida acadmica desse intelectual

    francs, expondo as principais caractersticas da obra do autor e a importncia de suas

    anlises no mbito das Cincias Humanas.

    PALAVRAS-CHAVE: Arqueologia do Saber, historiografia, Michel Foucault.

    ABSTRACT: This work has the objective to formulate an analysis of the principal criticism

    pointed by the French philosopher Michel Foucault in his work The Archaeology of the

    Knowledge, published in 1969, of where it echoed some of the most acid criticism regarding

    the human studies and consequently to the historiography in the century XX. For that, we

    present in succinct way to the reader how was the trajectory of the academic life of this

    French intellectual, exposing the principal characteristics of author's work and the importance

    of his analyses in the context of the Human studies.

    KEY-WORDS: Archaeology of the Knowledge, historiography, Michel Foucault.

    Paul-Michel Foucault1 nasceu em 15 de outubro de 1926, na cidade de Poitiers, na

    Frana. Oriundo de uma famlia de mdicos, seu av era cirurgio; seu pai, Paul Foucault,

    foi um renomado mdico cirurgio e professor de anatomia na escola de medicina, e

    projetava em Paul-Michel a continuidade das tradies familiares (que zelava pelo

    1 Sobre a vida e obra de Michel Foucault, so vrios os estudos. Para um maior aprofundamento, indica-se: DELEUZE (2006); ERIBON (1990); DREYFUS & RABINOW (1995); KREMER-MARIETTI (1977).

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    direcionamento dentro das reas da medicina). A me de Paul-Michel era Anne Malapert,

    tambm filha de cirurgio em Poitiers (ERIBON, 1990:17).

    Em 1946, Michel Foucault foi admitido pela Escola Normal Superior da Rua dUlm.

    Sua dissertao de licenciatura foi defendida em junho de 1949, conforme Eribon (1990)

    quando redige um trabalho sobre Hegel, orientado por Jean Hyppolite2. Segundo Prado

    Filho (2006), Foucault termina sua graduao em Filosofia e habilita-se tambm em

    Psicologia Patolgica pelo Instituto de Psicologia de Paris.

    Foucault foi um intelectual de difcil categorizao, ininterruptamente percorreu e

    estudou os mais diferentes objetos dentre as mais diversas reas, surpreendendo por sua

    versatilidade e despreocupao em seguir linhas tericas e metodolgicas, ou como

    menciona Carlos Aguirre Rojas, Foucault um desses intelectuais cuja leitura ao mesmo

    tempo impossvel de envasar dentro de uma nica das diferentes cincias sociais hoje

    vigentes (ROJAS, 2000: 203).

    A variedade de temas abordados por Foucault foram muitas vezes mal

    compreendidos e tratados com certa marginalidade pela academia da poca, pois Foucault

    resolve estudar temas at ento menos evidentes, tais como a loucura, os delinqentes, a

    sexualidade, os anormais, etc.

    O autor acumula em sua produo bibliogrfica obras de grande importncia, tais

    como sua tese de doutoramento, Histria da Loucura na Idade Clssica (1961); As Palavras

    e as Coisas (1966); A Arqueologia do Saber (1969); Vigiar e Punir (1975); A Histria da

    Sexualidade: A vontade de saber (1976); O Uso dos prazeres (1984); O Cuidado de si

    (1984).

    Dessa forma, apresenta-se neste artigo, algumas das discusses historiogrficas em

    torno de Michel Foucault, enfatizando sua obra, A Arqueologia do Saber, evidenciando quais

    foram as suas principais crticas em relao escrita historiogrfica. Focaliza-se o perodo

    inicial de sua trajetria acadmica, conhecido como arqueolgico3. Para isso, faremos de

    antemo, uma breve abordagem em torno das principais correntes historiogrficas que se

    apresentaram no sculo XX.

    2 Neste perodo, segundo Eribon, Foucault lia muito Freud, Hegel, Karl Marx, Heidegger, e descobria, aos poucos Friedrich Nietzsche, que mais tarde exercer grande influncia no seu pensamento. 3 Nossa abordagem se limita s anlises empreendidas por Michel Foucault na sua primeira fase, a arqueolgica. Costumeiramente alguns estudiosos costumam dividir sua obra em trs fases, sendo a primeira, arqueolgica, iniciada com a Histria da Loucura em 1961 e terminada com a Arqueologia do Saber, no ano de 1969; a genealgica, que consiste no perodo da dcada de 1970; e por fim, a fase da tica, que corresponde aos dois ltimos volumes da Histria da Sexualidade, isso, j na dcada de 1980. So condizentes com essa distribuio, autores como, Guilherme Castelo Branco, Luiz Felipe Bata Neves (1998) e Roberto Machado (2006).

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    1) Correntes Historiogrficas breves consideraes.

    Falar sobre as principais correntes do sculo XX para o conhecimento histrico

    renderia por si s diversos trabalhos. O objetivo inicial simplesmente apresentar algumas

    das caractersticas principais de alguns direcionamentos, tais como a escola metdica, o

    Marxismo e os Annales, de modo que faamos um breve balano em relao s mudanas

    ocorridas nas dcadas iniciais do sculo XX em torno da escrita da histria.

    A historiografia tradicional entendida aqui como aquela iniciada em meados do

    sculo XIX e que se estendeu at o incio do sculo XX, conhecida como escola metdica e

    que buscou, entre outras coisas, distanciar-se de um modelo de escrita historiogrfica que

    estava atrelada ao romantismo de autores como Augustin Thierry e Jules Michelet (CLAIRE-

    JABINET, 2003). Desta forma, parafraseando Francisco Falcon (1997), o aparecimento de

    uma historiografia cientista representou tambm uma ruptura com a situao at ento

    vigente, onde a histria estava muito mais prxima de um gnero literrio do que de uma

    cincia.

    Alm disso, a historiografia metdica estabeleceu um discurso que buscava dar um

    carter, ou uma marca cientificista aos historiadores, afastando-os de um movimento que se

    assemelhasse do discurso literrio. Para isso, uma caracterstica dos metdicos, a

    preocupao documental que o historiador deve ter em sua pesquisa de modo que isso

    permita ao mesmo dar uma caracterstica acadmica e cientfica ao seu trabalho. Assim

    sendo, tratava-se agora,

    de uma historiografia erudita, exigente quanto ao mtodo e atenta ao imperativo de deixar os fatos falarem por si mesmos. Seu material quase exclusivo eram as fontes documentais e, se o objeto da historia continuava a ser problemtico, cabia buscar na objetividade e nos rigorosos procedimentos do mtodo histrico a garantia de cientificidade do conhecimento histrico (FALCON, 1997: 153).

    Dadas estas caractersticas, convm salientar que os documentos pelos quais os

    metdicos se preocupavam em pesquisar eram fundamentalmente de cunho oficial, pois a

    veracidade do documento era um pressuposto primordial para a pesquisa e a credibilidade

    dos arquivos oficiais, e seus registros eram incontestes. O historiador ficava muito ligado a

    uma escrita oficial do Estado, tendo em vista o fato mais importante para ns que o de que

    essa historiografia levou a supremacia da histria poltica - narrativa, factual, linear - ao seu

    apogeu nos meios acadmicos em geral (FALCON, 1997).

    A busca incessante do estudo imparcial e objetivo frente ao subjetivismo e a paixo,

    a anlise minuciosa de arquivos e documentos e a tentativa fiel em narrar o acontecimento

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    como tal aconteceu, fizeram com que a escola metdica obtivesse grande repercusso e

    importncia no que diz respeito profissionalizao do historiador, e esta influncia se

    manteve mais ou menos at os anos 30 (CLAIRE-JABINET, 2003).

    Na medida em que a influncia da gerao metdica cresceu, as regras para a

    escrita da histria acompanharam esse processo e os historiadores comearam a primar

    pelo uso irrestrito do documento (escrito). Isso significa que existia a necessidade de zelar

    pelo rigor metodolgico e minimizar o uso da paixo nos textos produzidos, principalmente

    no que se refere aos documentos. a prioridade do documento escrito, prioridade dos

    grandes homens e do acontecimento poltico, militar: no incio do sculo. XX, a histria

    impe seu estilo, mtodo, objetos de estudo, seu rigor eletivo. Constitui-se em

    academicismo (TETART, 2000: 105). Em sntese:

    A histria nova estritamente metdica. Em nome de um racionalismo total (...) Prega unicamente o estudo das fontes escritas: coleta dos documentos (heurstica), crtica externa (data, autor, origem...), crtica interna (hermenutica), resumo crtico, sntese e colocao em perspectiva dos dados. O mtodo rompe com o aproximativo que dominava freqentemente uma historiografia feita por inmeros historiadores mais de corao do que de formao (TETART, 2000: 109).

    Nesse caso, o grande objetivo dessa corrente era afirmar o profissionalismo contra o

    amadorismo, caractersticas que atrelassem o ofcio do historiador a um ideal de

    cientificidade; reconstituir o passado por meio de documentos oficiais arquivados era a

    pretenso do historiador metdico. Nestes quadrantes a histria parecia ser escrita de forma

    determinista, segundo seus crticos, pois o historiador positivista encerra-se numa torre de

    marfim, evita confrontar-se com a anlise, recusa o poder da intuio, dos dados orais, etc.

    Em suma, evita confrontar-se com as indeterminaes histricas (TTART, 2000: 100).

    As primeiras crticas frente a esse esquema de pesquisa dos estudos histricos se

    deram no incio do sculo XX, principalmente quando o francs Franois Simiand lanou sua

    obra Mtodo histrico e cincia social; e posteriormente, com o aparecimento do movimento

    dos Annales, essas crticas foram intensificadas.

    Franois Simiand discute e questiona com autores metdicos como Charles Langlois

    e Charles Seignobos, grandes defensores da histria metdica e que questionavam as

    pretenses dos jovens cientistas sociais da poca que buscavam uma renovao no mbito

    dos estudos das cincias humanas, gerando assim um intenso debate na poca (SILVA,

    2005: 128). Criticando os metdicos, Simiand tentou demonstrar que a metodologia

    tradicional era falha pela sua obsesso em estudar os grandes feitos e dolos, ou seja,

    uma histria elitizada e oficial.

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    Simiand combatia a histria que ele denominava de historicizante: mtodo cientfico como meio e fim, cuja tarefa era estabelecer os fatos de acordo com as regras do mtodo erudito de crtica e classificao das fontes. Ele combatia os dolos da tribo dos historiadores: dolo poltico (histria eminentemente poltica), dolo individual (os feitos dos grandes homens) e dolo cronolgico (mito das origens) (SILVA, 2005: 129).

    Partindo dessa perspectiva, Simiand combate acintosamente essa maneira de

    escrever a histria, pois no h necessidade de se construir dolos para explicar todo o

    restante da sociedade. Esses indivduos nada mais so do que meros coadjuvantes, e o

    contexto social em que vivem as pessoas o que explica os fins dos acontecimentos.

    Como menciona o Professor Jos Leonardo do Nascimento, na introduo do

    Mtodo histrico e cincia social, o que Simiand procura demonstrar que

    Contra o estudo acantonado na histria de um nico pas, de uma nica nao, o autor propugna pelo mtodo comparativo da cincia social, pela observao de um fenmeno social, abstrado pela anlise do emaranhado factual, comparando-o com seus congneres de outros lugares, culturas e naes. (NASCIMENTO, 2003: 21).

    Dessa forma, as crticas ao modelo metdico avanam ao passo que nasce o

    movimento dos Annales4 sob forma de revista, no ano de 1929, sob o ttulo de Annales

    dhistoire conomique et sociale, empreendida por Lucien Febvre (1878-1956) e Marc Bloch

    (1886-1944) e que provoca grandes alteraes na maneira de escrever a histria.

    Os Annales propem o rompimento com a escola metdica, eles buscaro deslocar

    o objeto de pesquisa do historiador com o intuito de ampliar os horizontes de pesquisa,

    abandonando quase que inteiramente as pesquisas polticas e militares e dando mais

    nfase as questes ligadas economia e grupos sociais. Os Annales entendem que

    Tudo ento objeto de histria e problema. dever do historiador conferir sua cincia maior inteligibilidade falando da espessura e do tempo social, de seu movimento, e no mais somente de sua casca factual (...) Da a ateno dos Annales para com todas as fontes que trazem ensinamentos sobre a histria do cotidiano, da civilizao material, das crenas, em suma, de tudo o que faz a sedimentao de uma cultura, de uma economia, de uma sociedade num dado tempo, num dado perodo (TETART, 2000: 111).

    Outra grande preocupao dos Annales era retirar a histria do seu isolamento

    disciplinar, abrindo, assim, possibilidades de interdisciplinaridade. Portanto, a idia era abrir

    um leque de discusses com metodologias existentes em outras cincias sociais, tais como

    4 Para um aprofundamento no estudo sobre os Annales, indicamos: AGUIRRE ROJAS (2004); AGUIRRE ROJAS (2000); BURKE (1997); DOSSE (2003).

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    a geografia ou a sociologia, com a inteno de promover uma diversificao, ampliao e

    enriquecimento dos estudos histricos, aliando-se s demais cincias.

    O historiador Carlos Aguirre Rojas, aponta que essa busca incessante pela

    interdisciplinaridade realmente parte integrante da histria dos Annales de tal forma que

    provocava tanto reaes positivas, quanto receosas

    as posies variavam desde aqueles que consideram que o ncleo essencial do paradigma dos Annales, tal como eles prprios propuseram ao longo de sua existncia, encontra-se justamente nesta peculiar relao entre histria e cincias sociais constituindo-se, em conseqncia, no grande mrito dos Annales a conquista da interdisciplinaridade -, at aqueles outros que entendem que um dos grandes riscos que a historia enfrenta precisamente o de perder definitivamente seus perfis especficos, ao ser cada vez mais assaltada e colonizada por dentro por outras cincias sociais (ROJAS, 2000: 183).

    Paralelo ao movimento dos Annales e tambm inserido nele (mesmo que de maneira

    diminuta), existe, nos estudos em histria, o desenvolvimento de uma escrita marxista5, que

    no poderia ser negligenciada, pois detm alguns dos conceitos mais utilizados pelos

    historiadores. Ttart faz um brevssimo resumo do que vem a ser, de maneira geral o

    direcionamento histrico marxista, brevidade esta que d um perfil um tanto quanto

    generalizante s suas consideraes:

    As histrias marxistas, e marxizantes inspiram-se no modelo histrico de materialismo dialtico proposto por Marx e Engels. Tentando integrar a totalidade da histria num sistema ideolgico, o marxismo reduz Clio a uma luta de classes (motor da histria), opondo de modo perptuo opressores e oprimidos. Situada no mago da histria, a luta de classes, tornada conceito, (...) engendra um poderoso determinismo: sozinha, conjugada ao movimento histrico, ela faz a histria. O acontecimento abandonado (visto como conseqncia, acidente) e o homem no mais existe enquanto indivduo e sim enquanto elo de sua classe social (TTART, 2000: 115).

    Em linhas gerais, o marxismo entende que a histria condicionada pelas

    contradies sociais, ressaltando dessa forma, a importncia das massas populares nos

    feitos histricos e creditando a elas o papel de agentes ativos no processo de construo da

    histria. O destino do homem est ligado anteposio estrutural e a dinmica da classe

    social e do movimento econmico:

    5 A anlise feita no presente trabalho no pretende tratar em detalhes a historiografia marxista e suas tendncias ou ramificaes, j que o marxismo por si s por demais complexo e sofisticado congregando com autores dos mais diversos posicionamentos, tais como Antonio Gramsci, Edward Thompson, Eric Hobbsbawn, Louis Althusser, Perry Anderson, entre outros. Um interessante balano sobre o marxismo pode ser encontrado em (ANDERSON, 2004).

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    (...) Marx concebe a estrutura de qualquer sociedade como constituda por dois nveis: infra-estrutura e superestrutura. A infra-estrutura constituda pela base econmica de uma sociedade, ou seja, pela unidade das foras produtivas e das relaes de produo. J a superestrutura seria formada por dois nveis: o nvel jurdico, composto pelo direito e Estado, e o nvel ideolgico, constitudo por diferentes ideologias religiosas, morais, jurdicas, polticas, etc. Assim, a infra-estrutura seria a base que determina toda a estrutura social, suportando e constituindo a superestrutura, compondo, assim, a clssica metfora marxista de um edifcio onde a base econmica de uma sociedade fundamenta e determina os outros andares que a compem, ou seja, a superestrutura (GARCIA & SOUZA, 2006: 4-5).

    A historiografia marxista sedimenta-se, principalmente, na esfera da economia

    enquanto linha mestra para explicar as tenses sociais e os problemas que a sociedade

    enfrenta. Idealiza-se uma sociedade onde as desigualdades sucumbiro por intermdio da

    luta de classes

    a ambio do marxismo , ento, a reunio num nico movimento do pensamento dos enfoques gentico e estrutural das sociedades; com efeito, trata-se de obter uma viso ao mesmo tempo holstica (estrutural) e dinmica (relativa ao movimento, a transformao) das sociedades humanas (...) trata-se, mais exatamente, da concepo da verdade cientifica como limite absoluto a que tendem verdades relativas ou parciais cujo alcance maior ou menor depende do tipo de conhecimento histrico que permite a pratica social de cada poca ou fase. (...) o estudo das estruturas presentes, com a finalidade de orientar a prxis social relativamente a elas, conduz a percepo de fatores formados no passado, cujo conhecimento e til para a atuao na realidade de hoje. Assim, a teoria marxista do conhecimento implica necessariamente uma vinculao epistemolgica dialtica entre presente e passado. (FLAMARION, 1997: 24-25).

    Busca-se transformar radicalmente a ordem burguesa, invert-la at alcanar o plano

    ideal: o socialismo; o comunismo. O papel da histria, para o marxismo s far sentido, se o

    historiador articular sua pesquisa numa esfera global, universal, e, alm disso, onde se d a

    principal contradio dialtica reconhecida pelo materialismo histrico marxista a que se

    estabelece entre o homem (...) e a natureza, e se resolve no desenvolvimento das foras

    produtivas (FLAMARION, 1997: 26).

    Resumidamente entende-se que

    (...) a histria no pode ser explicada cientificamente seno a partir do momento em que ela tenha se convertido em verdadeira histria universal ou seja, somente quando todas as histrias locais, parciais e isoladas de ontem (...) alcanarem sua verdadeira unificao em escala planetria (...) Terminam ento as histrias paralelas, necessariamente particulares, do imprio romano, do povo chins, da raa negra, dos fiis do Islo ou das etnias amerndias, para dar lugar ao nascimento e afirmao de uma s histria humana, universal, planetria e estritamente global. apenas a partir dessa histria universal moderna e recente criao da sociedade burguesa capitalista que pode ser entendido, na

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    viso de Marx, o sentido profundo desta histria do homem (...) (ROJAS, 2000: 46-7).

    Em sntese, essas trs correntes representaram e ainda desempenham importante

    papel na historiografia, e essa breve apresentao nos servir de arcabouo para

    compreendermos as crticas efetuadas por Foucault, que sero apresentadas a seguir.

    2) As crticas de Foucault.

    Citados trs dos modelos mais importantes para a historiografia do sculo XX (a

    escola metdica, os Annales e o marxismo), analisaremo as crticas efetuadas por Michel

    Foucault contra o modelo de escrita historiogrfica ocidental at ento vigorante.

    importante ressaltar que

    (...) em todos os textos que vo partir de As Palavras e as Coisas. Uma Arqueologia das cincias humanas, at o artigo Nietzsche, a genealogia, a histria, Foucault se posicionar em relao histria, esclarecendo o sentido de seu projeto intelectual dentro do horizonte da produo historiogrfica em curso. Assim, vai definir seu trabalho como um elo novo numa velha corrente (ROJAS, 2000:308).

    A historiadora brasileira Margareth Rago nos apresenta o furor causado por Foucault

    e a sensao que os historiadores tiveram ao receber crticas to cidas do filsofo francs

    Indubitavelmente presos a um sistema de pensamento que nos havia organizado to adequadamente o mundo, ao longo das dcadas de 60 e 70, localizando de um lado, as classes sociais e os seus conflitos nas inmeras formas assumidas pelas relaes scio-econmicas, vigentes no modo de produo dominante no interior de nossa formao social; e de outro, munindo-nos com as intrincadas tarefas tericas da sntese das mltiplas determinaes (...) nos agarrvamos necessidade de organizar o passado, arrumando todos os eventos e os seus detalhes na totalidade enriquecida, embora pr-estabelecida. Trata(va)-se ento, para o historiador, de compreender o passado, recuperando sua necessidade interna, recontando ordenadamente os fatos numa temporalidade seqencial ou dialtica, que facilitaria para todos a compreenso do presente a visualizao de futuros possveis (RAGO, 2005: 01).

    Michel Foucault praticamente abandona grande parte dos postulados fundamentados

    pelas cincias humanas. Em todos os seus trabalhos, observa-se a tentativa de

    transgresso, seja na Histria da Loucura (obra em que o autor fez um estudo sobre a

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    desrazo e busca a experincia originria da loucura)6, ou a Histria da Sexualidade, (obra

    em que Foucault desmistifica a idia de que o sexo s foi reprimido pela sociedade

    capitalista)7. O autor sempre pretendeu buscar novos caminhos, apresentar novas

    possibilidades para o fazer histria.

    Hayden White sintetiza em algumas linhas a proposta central descrita por Foucault

    na sua obra As Palavras e as Coisas

    Foucault prope substituir a histria pelo que ele chama arqueologia. Com este termo, pretende ressaltar seu total desinteresse pela matria-prima da histria convencional das idias: as continuidades, as tradies, as influncias, as causas, as comparaes, as tipologias, etc. (...) O interesse do historiador convencional pelas continuidades (...) apenas um sintoma do que ele chama agorafobia temporal, uma obsesso pelos espaos intelectuais preenchidos (WHITE, 2001: 257).

    Em A Arqueologia do Saber, Michel Foucault inicia seu texto mencionando que os

    historiadores comearam a dar uma preferncia longa durao h algumas dezenas de

    anos antes de 1970 (com os Annales), sobrepondo assim, suas pesquisas em relao aos

    tradicionais objetos da escola metdica, tais como os acontecimentos polticos e seus

    episdios

    Foucault apresenta uma crtica da historiografia positiva e empirista, dessa histria tradicional que em suas diversas variantes foi tambm confrontada por toda esta linha do pensamento crtico contemporneo que se inaugura efetivamente com o projeto terico de Marx, e que se prolonga de mltiplas maneiras e nos diferentes campos do saber sobre o social, na teoria crtica da Escola de Frankfurt, em certas variantes da psicanlise freudiana ou na mesma historiografia dos primeiros e segundos Annales, entre outros (ROJAS, 2000: 310).

    Essas novas correntes, segundo Foucault, procuraram camadas sedimentares

    diversas; buscando romper com o trip: biogrfico, factual e poltico, dando margens a

    6 A Histria da Loucura na Idade Clssica (1997) uma clara crtica em relao racionalidade

    ocidental, que se inicia, segundo Foucault, com Descartes. Ele critica essa consolidao do nico caminho para a busca da verdade na cincia, a razo, que passa a ser compreendida como parte constitutiva da natureza humana. A loucura: foi colocada fora do domnio no qual o sujeito detm seu direito verdade: esse domnio, para o pensamento clssico, a prpria razo. Por conseqncia disso, cria-se, a instituio designada a cuidar da loucura, este empecilho para o funcionamento das engrenagens da modernidade. 7 Foucault alerta que existe, no meio de toda essa represso, um efeito positivo sobre o sexo, ou

    seja, ele no funciona somente em funo da represso. No h possibilidades de se constituir mecanismos de dominao e normatizao dos corpos e da sexualidade exclusivamente pelo intermdio da coero. Existe a necessidade de libertar o saber sobre o sexo, e o falar sobre o sexo. Sendo assim, Foucault coloca no mesmo patamar, tanto aqueles que reprimem, quanto aqueles que ouvem e falam sobre o sexo como parte de um discurso de domesticao dos corpos.

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    novos objetos de pesquisas. Nesse ponto, pode-se notar que ele sente um grande

    interesse pela nova orientao dos historiadores dos Annales (DOSSE, 201: 212), nas

    palavras de Foucault:

    (...) as sucesses lineares, que at ento tinham sido o objeto de pesquisa, foram substitudas por um jogo de rompimentos em profundidade. Da mobilidade poltica s lentides prprias civilizao material, os nveis de anlise se multiplicaram: cada um tem suas rupturas especficas, cada um permite um corte que s pertence a ele; e medida que se desce para as bases mais profundas, as escanses se tornam cada vez maiores. Atrs da histria cheia de reviravoltas dos governos, das guerras e das fomes, desenham-se histrias quase imveis ao olhar, - histrias com um suave declive: histrias dos caminhos martimos, histria do trigo, ou das minas de ouro, histria da seca e da irrigao, histria da rotao, histria do equilbrio (...) (FOUCAULT, 1971: 9-10).

    importante ressaltar que, por mais que haja uma diferena entre os Annales (que

    primavam por dar nfase as grandes plataformas imveis e lentas) e Michel Foucault (que

    defendia o descontinusmo e o jogo de rupturas), o filsofo v na postura dos annalistes,

    uma mudana importante para o direcionamento da escrita historiogrfica:

    Foucault, presta uma homenagem, a esta consagrada escola histrica (Annales), na Introduo de A arqueologia do saber, uma postura historiogrfica preocupada no mais em revelar e explicar o real, mas em desconstru-lo enquanto discurso, e os Annales faziam isso (RAGO, 1995: 03).

    O que isso quer dizer? Para Foucault, essa mudana se deu na anlise do

    documento. H, segundo ele, uma distino que precisa ficar muito clara para o historiador,

    esta mudana deve residir entre o documento e o monumento. Se antes, os historiadores

    viam no documento, algo dado, pronto, factual, preciso que se mude a postura, e que se

    questione o documento, nas palavras do autor:

    Digamos, para resumir, que a histria, em sua forma tradicional empreendia memorizar os monumentos do passado, transform-los em documentos, e fazer falar estes traos que, por si mesmos, raramente so verbais, ou dizem em silncio coisa diversa do que dizem; em nossos dias, a histria o que transforma os documentos em monumentos, e o que, onde se decifravam traos deixados pelos homens, onde se tentava reconhecer em profundidade o que tinha sido, desdobra uma massa de elementos que se trata de isolar, de agrupar, de tornar pertinentes, de estabelecer relaes, de constituir conjuntos (FOUCAULT, 1971: 14).

    Explicando de maneira mais sucinta, para Michel Foucault, a historiografia metdica

    aquela que investiga e visa memorizar os monumentos, que so, nada mais do que,

    grandes feitos, eventos importantes, enfim, episdios do passado, de tal forma que, os

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    transformam em documentos oficiais (livros, textos, narraes, registros). A postura em

    relao ao documento deve ficar muito clara, este, deve ser organizado, recortado,

    distribudo, posto em sries, desconstrudo (DOSSE, 2001: 213). A nova Histria deve,

    dessa forma, transformar os documentos em monumentos:

    (...) poder-se-ia dizer, jogando um pouco com as palavras, que a histria, em nossos dias, se volta para a arqueologia; para a descrio intrnseca do monumento(...) A histria mudou sua posio acerca do documento: ela se d por tarefa primeira, nem tanto interpret-lo, nem tanto determinar se ele diz a verdade e qual seu valor expressivo, mas sim trabalh-lo no interior e elabor-lo: ela o organiza, recorta-o, distribui-o, ordena-o, reparte-o em nveis, estabelece sries, distingue o que pertinente do que no , delimita elementos, define unidades, descreve relaes. (FOUCAULT, 1971: 14-15)

    Parafraseando Nicolazzi, (2002) pode-se indagar sobre quais seriam os documentos-

    monumentos construdos pela Arqueologia do Saber? Aonde o arquelogo vai buscar

    analisar e constituir um novo status a esse documento? O prprio autor nos responde:

    O discurso constitudo como objeto principal de anlise, mas de uma forma muito particular. Aqui, os discursos, ou antes, as formaes discursivas, so encaradas como campo de relao entre enunciados. Os enunciados, por sua vez, so as unidades elementares dos discursos. Assim, existem enunciados sobre a loucura que forma o discurso da psiquiatria, por exemplo. (...) Nesse sentido, embora de forma contnua aconteam enunciados sobre a loucura, as regras de formao dos discursos se modificam com o tempo; so, pois descontinuas. (NICOLAZZI, 2002: 08).

    O que verdadeiramente importa saber como o discurso isola os temas, objetos e

    constituem os contedos. Portanto, o historiador deve analisar as formaes discursivas, e

    localizar os objetos do saber sem se preocupar com o que verdadeiro ou falso,

    condicionando-o a descobrir como se produzem os discursos de determinado perodo, como

    se formam as epistemes8 de uma poca, ou ento, o objeto do arquelogo o discurso,

    cujas unidades so os enunciados, que formam prticas discursivas que configuram o saber

    de uma poca. (ARAJO, 2006: 02). Assim sendo, os discursos se organizam em

    conceitos, objetos, enunciaes, segundo determinadas estratgias.

    para a descrio intrnseca do documento que preciso se voltar, pois no

    existem enunciados neutros, eles tomam efeito numa prtica discursiva, que produz,

    inevitavelmente a verdade, a cincia, digamos que Foucault questiona a superficialidade das 8 Cada poca caracterizada por uma configurao subterrnea (...) que torna possvel todo o discurso cientfico, toda a produo de enunciados. Foucault designa-se este a priori histrico pelo nome de episteme: socalcos profundos que definem e delimitam aquilo que uma poca pode ou no pode pensar. (Ver: ERIBON, 1990: 194).

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    anlises dos historiadores de at ento, por isso, prope que se faam estudos densos, de

    modo que se cave mais fundo para chegar s estruturas mais profundas.

    Aliada questo do documento, Michel Foucault enfatiza em suas obras, a noo

    descontinuidade em oposio s continuidades9. Nesse sentido, os caminhos guiados pelas

    continuidades so um empecilho para o estudo das rupturas, essa histria contnua,

    (...) aquela que constitui o projeto de uma histria global. a busca da reconstituio do rosto de uma poca, de suas continuidades, de sua evoluo, de sua significao comum que constitui o desejo humano de controle sobre a vida na linha contnua e harmoniosa de sua histria (...) (GONALVES, 2006: 08).

    Dessa forma, a histria deve apropriar-se do uso do conceito operatrio

    descontnuo, que no deve ser encarado como um obstculo, e sim como elemento

    fundamental na escrita da histria. Sendo assim:

    (...) o grande problema que se vai colocar que se coloca a tais anlises histricas no , mais saber por que caminhos as continuidades puderam-se estabelecer, de que maneira um nico e mesmo projeto pde-se manter e constituir, para tantos espritos diferentes e sucessivos, um horizonte nico; qual modo de ao e em qual suporte implica o jogo das transmisses, das retomadas, dos esquecimentos e das repeties (...) o problema no mais a tradio e do rastro, mas do recorte e do limite; no mais o do fundamento que se perpetua e sim o das transformaes que valem como o fundar e renovar das fundaes (FOUCAULT, 1971: 12).

    O que precisa ficar claro que a histria, segundo Foucault no essa ordem

    progressiva de acontecimentos contnuos. O que verdadeiramente prevalece nela so as

    rupturas, as relaes de fora. nas margens, nos avessos do que aparentemente est

    apresentado que deve ser dirigido o olhar do historiador, um exemplo muito claro sobre esse

    processo foi apresentado por Margareth Rago, quando ela diz que Foucault:

    (...) ao ir buscar no final o sculo 18, onde todos celebravam a conquista da liberdade e dos ideais democrticos durante a Revoluo Francesa, nada menos do que a inveno da priso e das modernas tecnologias da dominao. Enquanto todos os olhares convergiam para a centralidade da temtica da Revoluo, Foucault deslocava o foco para as margens e detonava com a exposio dos avessos. A priso nascia, assim, no de um progresso em nossa humanizao, ao deixarmos a barbrie do suplcio, mas muito pelo contrrio, como resultado de

    9 Segundo o Professor Jadson F. Garcia, so noes intencionais que justificam o tema da continuidade, tais como gnese, evoluo, progresso, desenvolvimento, influncia, necessidade, totalidade, esprito de uma poca, mentalidade, devir, todos tributrios de uma teleologia escatolgica. a suspenso destas noes que nos permite pensar a histria do ponto de vista de sua descontinuidade. (Ver: GONALVES, 2006: 02).

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    uma sofisticao nas formas da dominao e do exerccio da violncia (RAGO, 1995: 02).

    Sendo assim, procura-se agora detectar a incidncia das interrupes, cuja posio

    e natureza so, alis, bastante diversas (FOUCAULT, 1971: 10). A noo de progresso, de

    origem, de avano, de esprito de uma poca, abandonada por Michel Foucault, e nesse

    ponto que a arqueologia proposta pelo autor se diferencia da histria tradicional, e a noo

    de descontinuidade pode ser encontrada na seguinte forma:

    Para a arqueologia do saber os fenmenos simplesmente comeam em pontos histricos particulares, no se originam em algum lugar que seria como o lugar prprio da sua verdade: um esprito de poca, uma mentalidade coletiva ou uma conscincia individual; numa nica palavra, um sujeito. O tempo uma sucesso de descontinuidades, de comeos nos j-comeados; no o devir de um pensamento ou de uma razo que, desde a sua origem, se arrasta na evoluo lenta e contnua do seu progresso (NICOLAZZI, 2002: 07).

    contra a histria cronolgica dos acontecimentos, de perfil teleolgico, onde tudo

    se encadeia perfeitamente seguindo o rumo da perfeio, que Foucault se postula

    privilegiando uma histria nova, argumentando que os acontecimentos e conseqncias dos

    mesmos no se distribuem da mesma forma.

    Assim sendo, a histria dever, a partir de ento, constituir sries, e sries de sries.

    Nas palavras de Foucault:

    (...) definir para cada uma seus elementos, de fixar-lhes os limites, de descobrir o tipo de relaes que lhe especfico, de formular-lhes a lei e, alm disso, descrever as relaes entre as diferentes sries, para constituir, assim, sries de sries, ou quadros: da a multiplicao de estratos, sua obteno, a especificidade do tempo e das cronologias que lhe so prprias; da a necessidade de distinguir no mais apenas acontecimentos importantes (com uma longa cadeia de conseqncias) e acontecimentos mnimos, mas sim tipos de acontecimentos de nvel inteiramente diferente (...) (FOUCAULT, 1971: 15)

    Podemos observar, at o momento, trs mudanas essenciais para o projeto de

    nova histria imaginada por Michel Foucault. A primeira: a crtica do documento ou a

    inverso dos papis entre documentos-monumentos. A segunda: reside na noo de

    descontinuidade, que passa a ter um novo postulado dentro desse processo, ou seja, passa

    a ser a prtica essencial no discurso do historiador, e, conseqentemente a essa

    descontinuidade, a histria de sries. Todos esses postulados fazem parte de um projeto

    que chamado por Foucault de histria geral, contrapondo-se histria global, que at

    ento, era escrita.

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    A histria global deve ser esquecida, dando o seu lugar histria geral, que pode ser

    resumida da seguinte maneira: Foucault insistia na idia nietzscheana de que tudo

    histrico, e, portanto de que nada do que humano deve escapar ao campo de viso e de

    expresso do historiador (RAGO, 1995: 03) Vejamos nas palavras do prprio autor como

    ele entende a histria globalizante

    O projeto de uma histria global o que procura reconstituir a forma de conjunto de uma civilizao, o princpio material ou espiritual de uma sociedade, a significao comum a todos os fenmenos de um perodo, a lei que explica sua coeso (...) Tal projeto est ligado a duas ou trs hipteses: supe-se que entre todos os acontecimentos de uma rea definida, entre todos os fenmenos de que se encontrou o rastro, deve-se poder estabelecer um sistema de relaes homogneas: rede de causalidade que permita derivar de cada um deles relaes de analogia que mostrem como eles se simbolizam uns aos outros, ou como exprimem todos um nico e mesmo ncleo central; supe-se, por outro lado, que uma nica e mesma forma de historicidade prevalea sobre as estruturas econmicas, as estabilidades sociais, a inrcia das mentalidades, os hbitos tcnicos, os comportamentos polticos, e submete-os todos ao mesmo tipo de transformao; supe-se, enfim, que a prpria histria pode ser articulada em grandes unidades estgios ou fases que detm em si mesmas seu principio de coeso (FOUCAULT, 1971: 17).

    Os postulados de uma histria global cingem com todos os fenmenos dispersos

    para girar em torno de um nico centro, um princpio, um significado comum a todas as

    coisas. Um exemplo da inverso deste processo se localiza quando Foucault empreende

    seus estudos em relao s redes de poderes da sociedade, que normalmente eram

    analisadas a partir de um centro, normalmente o Estado, em relao s outras camadas

    sociais. justamente contra isso que a histria geral dever se postular, problematizando as

    sries, os recortes, os deslocamentos e as especificidades. Sendo assim, Foucault

    colocou em destaque a relao entre as diferentes prticas sociais e a pluralidade e onipresena no do poder, mas dos poderes. A historiografia poltica passou a enfocar, nos anos 70, a Microfsica do poder, na realidade as infinitas astcias dos poderes em lugares histricos pouco conhecidos dos historiadores - famlia, escola, asilos, prises, hospitais, hospcios, policia, oficinas, fabricas etc.; em suma, no cotidiano de cada individuo ou grupo social (FALCON, 1997: 118).

    Todas as crticas descritas por Michel Foucault, tais como, o pensamento uno e

    centralizado; a noo de progresso; evoluo; tudo isso incide sobre os historiadores

    abalando o slido piso que at ento estava fundamentado. Essas inovaes propostas por

    Foucault, recaram, inevitavelmente no suporte, no plano central das cincias humanas, ou

    seja, no sujeito, que agora est descentralizado, como menciona Franois Dosse, o

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    desmoronamento da continuidade dos historiadores o corolrio necessrio da

    descentralizao do sujeito (DOSSE, 2003: 273).

    A histria contnua o correspondente imprescindvel funo instituidora do sujeito,

    de modo inverso, a descontinuidade arqueolgica o questionamento desse sujeito, que ao

    mesmo tempo em que sujeito que estuda, objeto a ser estudado:

    A descontinuidade arqueolgica (...) , por sua vez, o questionamento mesmo de uma histria do sujeito, quer ela seja denominada progresso, quer ele seja definido enquanto razo. Ao deixar em suspenso esta categoria to familiar histria tradicional, Foucault demonstra que, antes de um fundamento dos discursos, o sujeito apenas uma posio ocupada por aquele que enuncia algo; , por conseguinte, uma funo do discurso. Do mesmo modo, ao rejeitar a linearidade das mudanas histricas, ele evidencia as transformaes discursivas que possibilitam novas regras de enunciao. Em poucas palavras, esta arqueologia mostra que as condies de possibilidade de uma determinada histria, apreendida no nvel das transformaes discursivas, no dependem de um sujeito (NICOLAZZI, 2002: 08).

    A historiografia tradicional buscou a soberania do sujeito contra qualquer espcie de

    descentralizao, como Foucault trabalha com as formaes discursivas e observa o sujeito

    apenas como um mero objeto ou funo do discurso, ele deve ser descentralizado de modo

    que se analise o discurso intrinsecamente, com o intuito de compreender como este sujeito

    est inserido a. Conseqentemente, o mal estar nas cincias humanas instaurou-se quando

    Foucault disse que, o homem (enquanto objeto de estudo do saber), tambm uma criao

    da Idade Moderna, ou seja, no , nem o mais velho, nem o mais constante problema do

    saber, ou ento, trata-se de determinar em que altura apareceu, na cultura ocidental, a

    interrogao sobre o homem (ERIBON, 1990: 193). Nas palavras de Foucault:

    Da nasceram todas as quimeras dos novos humanismos, todas as facilidades de uma antropologia, entendida como reflexo geral, meio positiva, meio filosfica, sobre o homem. Contudo, um reconforto e um profundo apaziguamento pensar que o homem no passa de uma inveno recente, uma figura que no tem dois sculos, uma simples obra de nosso saber, e que desaparecer desde que houver encontrado uma forma nova (FOUCAULT, 2008: XXI).

    Obviamente que essa anlise em relao ao homem e ao desaparecimento do

    mesmo gerou inmeras controvrsias e mal-entendidos em vrias disciplinas das cincias

    humanas que perseguiram Foucault por toda a sua trajetria acadmica. Gilles Deleuze, em

    entrevista concedida ao Libration, em 1986 deu sua explicao sobre como ele entendeu

    essa postura de Foucault em relao ao homem enquanto objeto de estudos, tentando

    clarificar e desmistificar essa idia de morte do homem. Deleuze diz:

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    Fizeram como se Foucault estivesse anunciando a morte dos homens existentes (...) ou ao contrrio, como se ele marcasse apenas uma mudana no conceito de homem (...) Mas no se trata nem de uma coisa nem de outra. uma relao de foras, com uma forma dominante que decorre dela. Sejam as foras do homem, imaginar, conceber, querer..., etc.: com que outras foras elas entram em relao, em tal poca, e para compor que forma? Pode ocorrer que as foras do homem entrem na composio de uma forma no humana, mas animal, ou divina. Por exemplo, na Idade Clssica as foras do homem entram em relao com as foras do infinito, das ordens de infinito, de tal modo que o homem formado imagem de Deus, e que sua finitude somente uma limitao do infinito. no sculo XIX que surge uma forma-Homem, porque as foras do homem se compem com outras foras de finitude, descobertas na vida, no trabalho, na linguagem (DELEUZE, 1992: 113-4).

    O que precisa ficar claro que Michel Foucault buscou em seus primeiros trabalhos

    desenvolver uma arqueologia do saber que servisse como suporte para a compreenso de

    como se deu a constituio histrica dos saberes sobre o homem. Ele tentou principalmente

    demonstrar que antes da poca moderna, no havia um saber sobre o sujeito-homem.

    Os objetos histricos assim como os sujeitos emergiam como efeitos das

    construes discursivas, ao invs de serem tomados como pontos de partida para a

    explicao das prticas sociais, o que ocorria era o contrrio, como que se constroem os

    objetos e os sujeitos histricos. A determinao avanava sobre as possibilidades da ao

    e afastava-se assim de uma concepo humanista e antropolgica dinamizada pela busca

    da Revoluo (RAGO, 1995: 03).

    Cabe ao historiador, revelar o objeto atravessando, escavando os discursos para

    chegar aqum dele, chegar s coisas, ao objeto. Nesse sentido, Csar Candiotto, resume

    em poucas linhas, a questo do sujeito ou o deslocamento do mesmo:

    O mrito de Foucault foi ter apresentado o deslocamento do sujeito doador de sentido para o sujeito constitudo pelo discurso a partir da perspectiva da histria. No o sujeito que faz histria; ele constitudo por ela, tem data de nascimento e est preste a desaparecer. A possibilidade do estabelecimento de uma idade para o homem se justifica porque a histria arqueolgica privilegia espaos de ordem descontnuos, deixando de lado a idia de progresso da razo, de desvelamento da conscincia.(CANDIOTTO, 2006: 08-09).

    Da percebe-se que, o projeto arqueolgico empreendido por Foucault buscou

    modificar ou inverter inteiramente a prpria definio do que uma explicao de histria.

    Ele intentou identificar, reconhecer nas formaes discursivas de determinadas pocas,

    como se emergem determinados saberes, escavou os mais recnditos cantos de toda a

    sociedade na sua incessante busca, nas descontinuidades, para entender como foi que se

    deram a emergncia das coisas.

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    Gilles Deleuze, em sua obra de homenagem pstuma a Foucault tentou, em poucas

    linhas sintetizar qual , afinal, a busca ou o tipo de histria empreendido pelo autor da

    arqueologia:

    Ele no faz uma histria das mentalidades, mas das condies nas quais se manifesta tudo o que tem uma existncia mental, os enunciados e o regime de linguagem. Ele no faz uma histria dos comportamentos, mas das condies nas quais se manifesta tudo o que tem uma existncia visvel, sob um regime de luz. Ele no faz histria das instituies, mas das condies nas quais elas integram relaes diferenciais de foras, no horizonte de um campo social. Ele no faz uma histria da vida privada, mas das condies nas quais a relao consigo constitui uma vida privada. Ele no faz uma histria dos sujeitos, mas dos processos de subjetivao, sob as dobras que ocorrem nesse campo ontolgico tanto quanto social (DELEUZE, 2003: 124).

    Suas crticas partiram para todos os lados da mesma forma que recebeu muitas

    delas, contudo, como ressalta Margareth Rago:

    Foucault foi mal lido, mal escutado, mal compreendido, o filsofo foi soterrado por interpretaes e crticas que invalidam seu aporte. Mais ainda, vrios de seus conceitos e problematizaes so incorporados sua revelia nos estudos histricos, sem que lhe reconheam os crditos (RAGO, 2002: 54).

    Aquilo que realmente importa nos estudos de Foucault reside no fato de que o autor

    props uma mudana no que concerne escrita da histria. Em vez de fazer uma histria

    global, ele prefere e indica que o dever do historiador escrever uma histria geral que

    buscar, dessa forma, articular as sries que constituem o todo, e as sries de sries,

    respeitando as peculiaridades recusando o pensamento uno e central, Michel Foucault no

    visa, portanto, a sntese global e prefere os fragmentos do saber, as instituies e as

    prticas discursivas, que estuda como fenmenos isolados (DOSSE, 2003: 272).

    Dessa forma, segundo Le Roy Ladurie, A introduo Arqueologia do Saber a

    primeira definio da histria serial (LADURIE, apud, DOSSE, 2003: 272). As apropriaes

    por parte dos historiadores, em relao s sugestes e crticas elaboradas por Foucault no

    fazem parte do projeto do presente trabalho, contudo, inegvel que Foucault tenha grande

    importncia nos estudos historiogrficos, pois foi com Foucault que tiveram incio muitas

    das novidades que encantam ou irritam os historiadores (FALCON, 1997: 115).

    Credita-se a Foucault, alm de outros autores como Jacques Derrida, Gilles

    Deleuze, como alguns dos principais componentes do que convencionou se chamar de

    movimento ps-moderno ou ps-estruturalista, que emergiu com plena fora nos

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    movimentos sociais da dcada de 1960 e que desencadeou uma srie de discusses acerca

    do papel das cincias humanas e o rompimento desta para com o paradigma iluminista10.

    Dessa forma, Michel Foucault, mesmo negando ser um representante de uma

    corrente filosfica, corroborou, utilizando-se principalmente de autores irracionalistas, como

    Nietzsche e Heidegger para algumas das principais mudanas empreendidas na escrita

    historiogrfica.

    Pode-se dizer que, pelo fato de ter formao em Filosofia e inicialmente ter

    transitado em reas como a Medicina e a Psicologia, Michel Foucault teve dificuldades em

    ser bem recebido no mbito da historiografia. Talvez pela grande dificuldade em encontrar

    seus pares, ou ento, pelas suas ousadas investidas que, sobretudo, tinham como objeto

    central o pensamento filosfico, ou os sistemas de pensamento, ao que tudo indica, parece

    denotar que toda a sua obra foi direcionada para a investigao da seguinte questo: O que

    significa pensar?

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  • MICHEL FOUCAULT: uma crtica historiogrfica em a Arqueologia do Saber por Eduardo de Melo Salgueiro

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    Recebido em: 30/12/2008

    Aprovado em: 02/02/2009