Arqueologia e Preservação

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[SEMINÁRIO CULTURA E POLÍTICA NA PRIMEIRA REPÚBLICA: CAMPANHA CIVILISTA NA BAHIA] UESC, 09 A 11 DE JUNHO DE 2010 1 ARQUEOLOGIA E EDUCAÇÃO EM COMUNIDADES TRADICIONAIS: O CASO DE BARCELOS DO SUL/BA. Vanessa de Almeida Dócio 1* O povoado de Barcelos do Sul está localizado a 25 km da sede do município de Camamu/Ba. Possui uma população estimada em 2.200 habitantes – segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde – e uma economia baseada na pesca e na produção agrícola. A origem histórica deste povoado indica que ele teve início nas terras da antiga Capitania de São Jorge dos Ilhéus, a partir do aldeamento jesuítico de Nossa Senhora das Candeias, fundado pelos padres jesuítas no território do Fundo das Doze Léguas 2 , sesmaria doada por Mem de Sá – então terceiro governador geral do Brasil – ao Colégio dos Jesuítas da Bahia em 1562. As primeiras notícias que se tem acerca das origens do povoado de Barcelos do Sul, estão contidas em textos de viajantes setecentistas e relatórios oficiais que citam a povoação, dando conta da sua trajetória histórica. O relatório produzido em 1768 por Luís Freire de Veras, então ouvidor da Bahia, é exemplo desse fato, no texto o ouvidor destacar que não havia uma data precisa para a fundação da aldeia de Nossa Senhora das Candeias, contudo, a localização original do aldeamento não é a conhecida atualmente, pois este teria sido fundado primeiro às margens do rio Aldeia Velha, dali sofreria várias mudanças de sítio 3 até se estabelecer em definitivo no local atual. Tais mudanças de localização foram motivadas * Pós-graduanda em História do Brasil pela Universidade Estadual de Santa Cruz UESC. Pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Bahia – NEPAB, e do Centro de Referência em Patrimônio e Pesquisa – ACERVO. 2 Devido à medição realizada pelos jesuítas em 1583, o território da sesmaria, que inicialmente se prolongava da Barra do Rio de Contas (atual Itacaré) até a baía de Camamu, foi aumentado passando a se iniciar duas léguas ao sul da “Barra do Rio de Contas” e se prolongando até Boipeba, fato que deu à sesmaria um tamanho superior a dezoito léguas (CAMPOS, 2006: 131). Essa doação na prática tornou os padres da Companhia de Jesus donos de quase um terço do território da Capitania de São Jorge dos Ilhéus (DIAS, 2007: 97). 3 Segundo Dias, “Esta passagem do documento encontra-se muito deteriorada e sua leitura ficou comprometida. É possível ler que este aldeamento se estabeleceu primeiro no rio chamado de Aldeia Velha e dali os índios foram transferidos para o local chamado de Taypus. Em decorrência dos ataques holandeses, transferiram-se para outro sítio que não pude identificar, voltando, em seguida para Taypus, onde permaneceram por somente mais 04 anos, vindo, então, a se estabelecerem no sítio onde ficaram definitivamente” (DIAS, 2007: 195).

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MODOS DE PRESERVAÇÃO DA ARQUEOLOGIA

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[SEMINRIO CULTURA E POLTICA NA PRIMEIRA REPBLICA: CAMPANHA CIVILISTA NA BAHIA] UESC, 09 A 11 DE JUNHO DE 2010 1 ARQUEOLOGIA E EDUCAO EM COMUNIDADES TRADICIONAIS: O CASO DE BARCELOS DO SUL/BA. Vanessa de Almeida Dcio1* OpovoadodeBarcelosdoSulestlocalizadoa25kmdasededomunicpiode Camamu/Ba.Possuiumapopulaoestimadaem2.200habitantessegundodadosda Secretaria Municipal de Sade e uma economia baseada na pesca e na produo agrcola. A origem histrica deste povoado indica que ele teve incio nas terras da antiga Capitania de So JorgedosIlhus,apartirdoaldeamentojesuticodeNossaSenhoradasCandeias,fundado pelos padres jesutas no territrio do Fundo das Doze Lguas2, sesmaria doada por Mem de S ento terceiro governador geral do Brasil ao Colgio dos Jesutas da Bahia em 1562.As primeiras notcias que se tem acerca das origens do povoado de Barcelos do Sul, esto contidas em textos de viajantes setecentistas e relatrios oficiais que citam a povoao, dandocontadasuatrajetriahistrica.Orelatrioproduzidoem1768porLusFreirede Veras,entoouvidordaBahia,exemplodessefato,notextooouvidordestacarqueno havia uma data precisa para a fundao da aldeia de Nossa Senhora das Candeias, contudo, a localizao original do aldeamento no a conhecida atualmente, pois este teria sido fundado primeirosmargensdorioAldeiaVelha,dalisofreriavriasmudanasdestio3atse estabeleceremdefinitivonolocalatual.Taismudanasdelocalizaoforammotivadas

*Ps-graduandaemHistriadoBrasilpelaUniversidadeEstadualdeSantaCruzUESC.Pesquisadorado Ncleo de Estudos e Pesquisas Arqueolgicas da BahiaNEPAB, e do Centro de Referncia em Patrimnio e Pesquisa ACERVO.2 Devido medio realizada pelos jesutas em 1583, o territrio da sesmaria, que inicialmente se prolongava da Barra do Rio de Contas (atual Itacar) at a baa de Camamu, foi aumentado passando a se iniciar duas lguas ao sul da Barra do Rio de Contas e se prolongando at Boipeba, fato que deu sesmaria um tamanho superior a dezoito lguas (CAMPOS, 2006: 131). Essa doao na prtica tornou os padres da Companhia de Jesus donos de quase um tero do territrio da Capitania de So Jorge dos Ilhus (DIAS, 2007: 97). 3 Segundo Dias, Esta passagem do documento encontra-se muito deteriorada e sua leitura ficou comprometida. possvellerqueestealdeamentoseestabeleceuprimeironoriochamadodeAldeiaVelhaedaliosndios foramtransferidosparaolocalchamadodeTaypus.Emdecorrnciadosataquesholandeses,transferiram-se paraoutrostioquenopudeidentificar,voltando,emseguidaparaTaypus,ondepermaneceramporsomente mais 04 anos, vindo, ento, a se estabelecerem no stio onde ficaram definitivamente (DIAS, 2007: 195). [SEMINRIO CULTURA E POLTICA NA PRIMEIRA REPBLICA: CAMPANHA CIVILISTA NA BAHIA] UESC, 09 A 11 DE JUNHO DE 2010 2 inclusiveporataquesholandeses,4fatoqueindicaasuaexistnciajnaprimeirametadedo sculo XVII (DIAS, 2007:). Oaldeamentoterasuasituaopolticaalterada,nasegundametadedosculo XVIII, devido instituio das chamadas reformas pombalinas. Pois, em 1755, por ordem doMarqusdePombalosreligiososdaCompanhiadeJesus5ficaramproibidosdefundar novosaldeamentosindgenas(Campos,2006:248).Nessecontexto,apenastrsanosmais tarde,em1758,porocasiodoconselhoultramarino,quetransformouemvilasosantigos aldeamentos jesuticos, a povoao de Nossa Senhora das Candeias foi elevada condio de Vila,comadenominaodeViladeBarcelosdoSul.Contudo,aofinaldosculoXVIIIa Vila de Barcelos do Sul j havia sido extinta e a localidade incorporada ao territrioda Vila de Camamu.Recentemente,em2007,devidoaodesenvolvimentodasatividadesdoProgramade Prospeco e Resgate Arqueolgico na rea da KNAUF do Brasil Ltda.6, apresentadas como requisito parcial para a implantao de uma mina de explorao de gypsita nas imediaes de BarcelosdoSul,aequipetcnicadoACERVOCentrodeRefernciaemPatrimnioe Pesquisa identificou na rea do povoado uma grande quantidade de vestgios representantes daculturamaterial:fragmentosdecermica,louas,faianasetelhas,almdeumagrande concentraodeconchas.Nombitodasaesprevistasnoprogramadepesquisas,as atividadesdeeducaopatrimonialrealizadasjuntocomunidadeforamdesenvolvidasno sentido de sensibilizar a comunidade, alunos e educadores sobre a importncia da valorizao edapreservaodopatrimnioculturallocale,nessecontexto,doseupatrimnio arqueolgico.Oimplementodeaeseducativasjustificadoparaodesenvolvimentodeuma conscinciacrtica e de responsabilidade para com a preservao do patrimnio,s podendo ser alcanado com a tomada de medidas educativas que busquem conscientizar a comunidade paraasuaparceladeresponsabilidadecomapreservaodomesmo.Destaforma,o desenvolvimentoda educaopatrimonial, juntocomunidadedomunicpiodeCamamu,

4 Ocorridos no perodo que se estende de 1624 a 1630.5 Lei de 03 de setembro de 1759, de D. Joo I. Poe fim atuao da Companhia de Jesus nos domnios do estado portugus.6 Atividade coordenada pelo arquelogo Luiz Augusto Viva. [SEMINRIO CULTURA E POLTICA NA PRIMEIRA REPBLICA: CAMPANHA CIVILISTA NA BAHIA] UESC, 09 A 11 DE JUNHO DE 2010 3 nocontextodasaespreservacionistas,torna-seuminstrumentoamaisnoprocessode educao que vm a colaborar com a preservao do patrimnio cultural local.Contudo, para a elaborao do projeto de interveno, se levou em conta a trajetria histricadacomunidade.Pois,antesdesediscutiraimportnciadapreservaodos elementos patrimoniais, era necessrio que a populao soubesse o que e por que deveria preservar.Destemodo,foramdesenvolvidasatividadesdesensibilizaofocadasna apropriaoconscientedopatrimnioculturalenquantovetorindispensvelnoprocessode preservao sustentvel. Para tanto, foi necessria a elaborao de uma metodologia que, alm defortalecerossentimentosdepertenaecidadaniadosmoradores,tambmpossibilitasse levar os temas patrimoniais a estar presente, de forma contnua, no dia-a-dia das salas de aula.Nesse contexto, as atividades de sensibilizao foram realizadas visando atingir dois pblicos alvos distintos: a comunidade de Barcelos do Sul e os educadores da rede municipal de ensino de Camamu. Devido a este fato, se fez necessrio o desenvolvimento de abordagens especficas, norteadas por objetivos distintos, para se contemplar cada pblico alvo, em suas particularidades.AestratgiapedaggicaadotadaparaacomunidadedeBarcelosdoSulfoio desenvolvimentodepalestrasobjetivandochamaraatenoparaasformasdeexpressodo patrimnio e conscientizar a populao acerca da sua responsabilidade com a preservao do mesmo.Jparaseabordarasquestespatrimoniaiscomoseducadores,adotou-secomo estratgia pedaggica, o desenvolvimento de mini-cursos que visam trabalhar detalhadamente as questes tericas, legais, histricas e sociais que norteiam o tema.Emambososcasos,tendoemvistaqueoeducandotambminfluencianos resultadosdoprocessodeensino-aprendizagem,comoconsequnciadesuaselaboraes pessoais,duranteodesenvolvimentodasatividades emsalade aula,opalestrante assumiuo papeldemediadordaaprendizagem,buscandosemprelevarosindivduosafazerem comparaesentreasuaidiainicialdepatrimnioeoconceitotericodomesmo.Pois, segundoSacristn(etal,1998:57),osmateriaiseestratgiasdeensino,nocausam diretamente a aprendizagem, influenciando nos resultados somente na medida em que ativam no aluno respostas de processamento de informao.[SEMINRIO CULTURA E POLTICA NA PRIMEIRA REPBLICA: CAMPANHA CIVILISTA NA BAHIA] UESC, 09 A 11 DE JUNHO DE 2010 4 importantedestacarqueaaplicaodafasesupracitadafoiantecedidapela realizaodeumbrevelevantamentodopatrimniomaterialesubjetivolocal.Osdados obtidoscomessetrabalhocomporoaapostiladoCursodeSensibilizaosobreo PatrimnioCultural,elaboradapelaequipetcnicadoAcervoedisponibilizadaaos participantes do mini-curso.Asimagens,exemplosdasdiversasformasdeexpressesdopatrimniocultural local,tambmfizerampartedomaterialdesuportepedaggicoutilizadospelopalestrante, nosnosminicursoscomonodesenvolvimentodaspalestras,estandocontidasemtodoo material didtico disponibilizado, visando a identificao do educando com o tema atravs da memria afetiva" que a comunidade possui com relao ao seu patrimnio (ATADES et al, 1997:15).Destaforma,aabordagemdotemaaproximadadarealidadecotidianados educandos,porestesseveremesereconheceremnocontextodafaladopalestranteedo material didtico fornecido. PALESTRA PARA A COMUNIDADE DE BARCELOS DE SUL Compostoporjovenseadultos,cujafaixaetriavariade14a86anos,opblico alvo contemplado dispem de nvel de escolaridade quese prolonga doEnsino Fundamental incompletoaoensinoMdiocompleto,eumapequenaparceladestenofoialfabetizada. Quantoocupao,foipossvelseidentificarprofissesdiversascomocomerciantes, empregadasdomsticas,pescadores,pedreiros,marceneiros,donasdecasa,trabalhadores rurais,estudantesetc.Dadaaheterogeneidadedessepblico,ousodosexemplosdas representaes do patrimnio local s veio a contribuir com o entendimento do tema. E como parte da metodologia empregada para tanto, a palestra foi dividida em trs etapas distintas: Tabela1: Palestra para a comunidade de Barcelos do Sul ETAPASOBJETIVOSMATERIAL E MTODOS 1)Questiona,de formasucinta,o quepatrimnio cultural? Identificar,apartirdafalada prpria comunidade, qual a noo depatrimnioculturalquea mesmapossui.Nestaetapa, poder se perceber qual o nvel de Papelofcioecaneta.Os presentesdeveroregistrar,de formasucinta,oquecadaum acreditaquesejapatrimnio cultural.Ao final da palestra, esse [SEMINRIO CULTURA E POLTICA NA PRIMEIRA REPBLICA: CAMPANHA CIVILISTA NA BAHIA] UESC, 09 A 11 DE JUNHO DE 2010 5 identificaodosindivduoscom ocontextosocioculturalemque os mesmos esto inseridos. material, inicialmente produzido, utilizadocomoelementode comparaoentreaideiainicial quesetinhaacercadotermoeo queelepassouarepresentar depoisdaimplementaodo trabalho. 2)Define,de formaclarae objetiva,oque patrimnio cultural, destacandoos aspectoslegaise sociais do termo. Apresentarparaacomunidadeo conceitotericodepatrimnio. Buscar valorizar o patrimnio nos seusaspectosmateriaise imateriais. Slides,quealmdasquestes tericasacercadopatrimnio cultural,trazelementosque apresentamotrabalho desenvolvidopeloAcervoem BarcelosdoSul.Destaforma,a arqueologia inserida no contexto dapalestra,atuandocomoum elementoamaisparaa identificaodasformas representativasdopatrimnio material local, regional e nacional. 3)Levaos indivduosa identificarem quaisas representaesde patrimnio materiale imaterialquea comunidade possui. Levarosindivduosafazer comparaesentreoconceito tericodepatrimnioeaideia inicialqueelespossuamacerca dotema.nestemomentoquese poder perceber a mudana e/ou oincrementodenovoselementos aoconceitoinicialde patrimnio,apresentadopela comunidade de Barcelos do Sul. Folheto,ondeapresentada,de forma sucinta, a trajetria histrica de Barcelos do Sul. Essematerialfuncionacomo suporteparaaidentificaodo patrimnioculturallocaledesua persistncia temporal. Odecorrerdapalestrafoimarcadopelaintensaparticipaodacomunidade, motivadapelanarrativaacercadatrajetriahistricadalocalidade.Nessecontexto,foi evidente a surpresa dos presentes ao constatarem que o povoado teve origem ainda no sculo XVII, com formao independente do atual municpio de Camamu.Outrofatorquesuscitoudebatefoiabordagemdasformasdeexpressodo patrimniosubjetivo.Participaoincentivada,sobretudo,peladescobertadovalordas prticascotidianasconsideradasbanaispelacomunidade:apescacommanzu,aconfeco de tarrafas, a construo de barcos etc., e pela utilizao, no material de suporte pedaggico, [SEMINRIO CULTURA E POLTICA NA PRIMEIRA REPBLICA: CAMPANHA CIVILISTA NA BAHIA] UESC, 09 A 11 DE JUNHO DE 2010 6 deimagensdacomunidade,poissegundoaspalavrasdePolianaGomes,quandoagente houvefalardessascoisasnaTV,sempreficaaimpressodequepatrimnioalgofeitoo 'Pelourinho', .... algo afastado de ns... entende?Eu nunca podia imaginar que as coisas aqui de Barcelos poderiam ser consideradas como patrimnio. Aofinaldapalestraafaladospresentesfoimarcadapelaconstataodovalor histrico e cultural dos elementos representativos do patrimnio local. Atravs desta se pde perceber que os participantes estavam cientes de que os vestgios e fragmentos dopassado principalmenteosvestgiosarqueolgicosmesmoquenosejambonitose/ouatraentes, devem ser preservados, pois estes contam muito no registro da trajetria histrica do povoado. Emsumaametodologiaempregadaobtevecomoresultado,primeiro,o desenvolvimentodoconhecimentocrticoeaapropriaoconscientepelacomunidade,de Barcelos do Sul, do seu patrimnio cultural, levando os indivduos a compreender o universo socioculturaleatrajetriahistrica/temporaldomundoqueosrodeiaenoqualesto inseridos(FREIRE,2003:55).Destaforma,oimplementodessamedidaeducativavoltada para as questes relativas ao patrimnio cultural capacita o indivduo a reconhecer, de forma consciente, seus valores prprios, suas memrias pessoais e coletivas. MINICURSOSPARAOSEDUCADORESDAREDEMUNICIPALDEENSINODE CAMAMU Aeducaopatrimonialtambmpodesercompreendidacomoumprocesso permanente e sistemtico de trabalho educacional centrado no patrimnio cultural como fonte primriadeconhecimentoeenriquecimentoindividualecoletivo(HORTA,etal1999:06). Desta forma,os educadores,porestarem constantemente em contato com apopulaolocal, se constituem em uma fonte poderosa de divulgao das informaes acerca do patrimnio. Noentanto,osprofessores,assimcomoacomunidadeemgeral,tmumpreparo limitadoacercadasquestesreferentesaopatrimniocultural,poisasreflexesediscursos referentes ao tema, muitas vezes, no so contemplados nos currculos das faculdades, sejam estaspblicasouparticulares(FIGUEIREDO,2002:52).Nessecontexto,cursosde aperfeioamentos e extenso vm suprir essa lacuna terica, propiciando informaes sobre o [SEMINRIO CULTURA E POLTICA NA PRIMEIRA REPBLICA: CAMPANHA CIVILISTA NA BAHIA] UESC, 09 A 11 DE JUNHO DE 2010 7 acervo cultural, de forma a habilit-los a despertar, nos educandos e na sociedade, o senso de preservao da memria histrica e o conseqente interesse pelo tema (ORI, 2008: 01). Essescursospodemserdestinadosaumpblicoalvoheterogneo,pornoestar limitadoaumarea/disciplinaespecfica,reunindoassim,profissionaiscomatuaes diversas,poisosobjetospatrimoniais,opatrimniomaterial(monumentos,stios arqueolgicos, centros histricos etc.) ou o patrimnio imaterial (saberes, celebraes etc.) se constituem em um recurso educacional importante, por permitir ultrapassar os limites de cada disciplina,podendoserusadoscomomotivadoresemqualquerreadocurrculoescolarou para reunir reas distintas no processo de ensino/aprendizagem . Nesse contexto, a escolha dos professores como pblico alvo dos minicursos teve por objetivo especfico fornecer informaes acerca do acervo cultural do municpio de Camamu, visandohabilit-losadespertarnoseducandosenasociedadeosensodepreservaodos elementosrepresentativosdamemrialocal.Ou seja, as atividadesdeEducaoPatrimonial voltadasparaoseducadoresvisaramformaragentesmultiplicadoresdasinformaesacerca dopatrimnioculturalregional.Paratanto,omini-cursofoiestruturadoemquatroetapas distintas: Tabela 2: Minicurso para os educadores da rede municipal de ensino de Camamu ETAPASOBJETIVOSMATERIAL E MTODOS 1)Apresentao conceitode patrimnio cultural,traando atrajetria histrica do termo easformasde proteo legal. Identificarosaspectos norteadoresdoconceitode patrimniocultural, caracterizandootermoemseus aspectoslegais.Buscar evidenciar para os educadores as formasderepresentaes materiaiseimateriaisdo patrimnio,nonvellocal, regional e nacional. Texto:BreveHistricodo PatrimnioCultural:Conceitoe Proteo Legal Assimcomonodesenvolvimento daspalestras,paraominicurso tambmforamutilizadosslides contendoasquestestericas acercadopatrimniocultural,alm deelementosqueapresentamo trabalhodesenvolvidopeloAcervo em Barcelos do Sul. Desta forma,a arqueologiainseridanocontexto dapalestra,atuandocomoum elemento a mais para a identificao dasformasrepresentativasdo [SEMINRIO CULTURA E POLTICA NA PRIMEIRA REPBLICA: CAMPANHA CIVILISTA NA BAHIA] UESC, 09 A 11 DE JUNHO DE 2010 8 patrimniomaterialnonvellocal, regional e nacional. 2)Apresentaumbrevehistricoda trajetria histrica domunicpiode Camamu. Fornecerinformaesque auxiliemnaidentificaodas origensetrajetriahistricadas formasderepresentaodo patrimnioculturaldo municpio. Texto: Camamu, de aldeia jesutica acidade:Brevecontextualizao histrica. Slides contendo mapas histricos da regio. 3)Levaos indivduosa identificarquais asrepresentaes dopatrimnio culturalqueo municpiode Camamu atualmente possui,emseus aspectos materiais e imateriais. Analisarasdiversasformasde representaodopatrimnio culturallocal,buscando identificardvidase/ou esclareceraspectosquetenham ficadoconfusosnasexplicaes anteriores. Slidescontendoimagensdo patrimniohistricoculturaldo municpio. 4)Analisadeque formaostemas referentesao patrimnio podemser abordadosem saladeaula,no mbitodecada rea/disciplina, emqueos educadores (educandos) atuam. Levaroseducadores educandosasevisualizarem comoelementosmultiplicadores doconhecimentoacercada valorizaoepreservaodo patrimniocultural,destacando queotemapornoestarrestrito aumareaespecficapode, portanto,serabordadoemum contexto interdisciplinar. Questionrio. Omini-cursofoiaplicadoaquatroturmasdistintas,distribudasnosturnosmatutino, vespertinoenoturno,compostasporprofissionais,cujafaixaetriavarioude24a67anos, comatuaoemescolaslocalizadastantonaSedequantonosdistritos:Oroj,Acara,Ilha Grande, Cajaba, Porto do Campo, Ponta da Caieira, Travesso, Barcelos do Sul e Tapuia.[SEMINRIO CULTURA E POLTICA NA PRIMEIRA REPBLICA: CAMPANHA CIVILISTA NA BAHIA] UESC, 09 A 11 DE JUNHO DE 2010 9 EstepblicoestevecompostoporprofessoresqueatuamnoEnsinoFundamentalI (1a4srie)enoEnsinoFundamentalII(5a8srie)emreas/disciplinasdiversas: histria,geografia,filosofia,religioetc.Estesprofissionaisemsuamaioriatmformao bsicaemmagistrio,sendoqueaproximadamente20%dispemdeensinosuperior incompleto, estando cursando, em faculdades particulares da regio, na modalidade Educao a Distancia, cursos de licenciaturas em pedagogia, geografia e histria. Umaturmafoicompostaexclusivamentepelosprofissionaisematuaonodistrito deBarcelosdoSul,fatodevidoaexignciasdacomunidade,quedestacouaintenode conhecer a trajetria histrica da localidade, enfatizando, que tinha grande interesse em saber: quando Barcelos foi fundado, como e por que passou a ser distrito de Camamu? NoinciodominicursoanoobsicadePatrimnioCulturalexpressapelos presentes,deumaformageral,estavaquasesempreligadasrepresentaesdopatrimnio material (prdios histricos e obras de arte) e ao patrimnio natural (ilhas, praias e florestas). Oselementosrepresentativosdopatrimniosubjetivoeramcompostospelasfestase celebraesligadasIgreja Catlica e,destemodo,asformasde expressodareligiosidade africanas, indgenas, os saberes etc, no eram compreendidas como elementos patrimoniais.Odesenvolvimentodomini-cursofoimarcadopelaintensaparticipaodos presentes.medidaqueotemafoisendoabordado,osparticipantesinterferiamcitando novosexemplosdeelementosquerepresentavamopatrimnioimateriallocal,aomesmo tempoemquesequestionavamosmotivosquelevaramaodesaparecimentodealgumas manifestaes como o terno de reis, a burrinha, a celebrao do prespio, etc.Essaparticipaotambmsedestacaporexpressarumatomadadeconscinciapor parte dos educandos (educadores) da abrangncia do tema e de como o mesmo fazia parte das origensesignificadosdassuasprticascotidianascomoaconfecodealimentos,a religiosidade,amaneiracomoelesserelacionavamcomomeioambienteecomoesses elementososrelacionavamcomaregio.Assim,segundoSuzileideMendesdaSilva, professoraematividadenodistritodeBarcelosdoSul:estimulanteperceberque patrimnioaquiloquemeu.Aindaqueeunosaiba,aindaqueeunoqueira,eleme pertence. Pois, me compe. Me identifica com a minha terra natal, me diferenciando daqueles que nasceram em outras regies.[SEMINRIO CULTURA E POLTICA NA PRIMEIRA REPBLICA: CAMPANHA CIVILISTA NA BAHIA] UESC, 09 A 11 DE JUNHO DE 2010 10 Ofinaldomini-cursofoimarcadoporumaeuforiacomrelaoaostemas patrimoniais, e as suas possveis formas de utilizao na sala de aula. Segundo Gilmrio Pinto Santos,monitordoProgramadeErradicaodoTrabalhoInfantil-PETI(BarcelosdoSul): deummodogeralostemaspatrimoniaisdevemsempreestarpresentesnodia-a-diados educandoseeducadores,porserumtemaquenosajudaacompreendermoseanos relacionarmoscomomundoquenoscerca.JaprofessoraMariadoCarmoSilvaBatista (Camamu-Sede):ostemaspatrimoniaisporseremamplos,poderoserutilizadosnas disciplinasdeHistria,Turismo,Religio,Cincias,Artesetc.Vistoque,seadquabema uma proposta interdisciplinar de resgate, valorizao, conservao do patrimnio cultural e da histria da nossa comunidade. CONSIDERAES FINAIS As atividades de Educao Patrimonial desenvolvidas no municpio de Camamu/Ba, juntocomunidadedodistritodeBarcelosdoSuleaosdocentesematividadenarede municipaldeensino,tiveramporintuitosensibilizareconscientizarjovenseadultos, medianteotrabalhoeducacionalacercadaimportnciadesepreservaroselementos patrimoniais.Nessecontexto,enfatizou-seaimportnciadesepreservaroPatrimnio Arqueolgicodevidosuafragilidadeeaoseucarternorenovvel,destacadoquea preservao do patrimnio de responsabilidade tanto do poder pblico quanto da sociedade. O implemento de minicurso voltado exclusivamente para os professores em atividade naredemunicipaldeeducaoconsideraqueasmedidaseducativasrelativaspreservao dopatrimniodevemserrealizadasdeformacontnua.Nessesentido,osprofessoresse tornaramagentesmultiplicadoresdasinformaesacercadopatrimniolocalmedidaque, duranteodesenvolvimentodominicurso,foramlevadosapercebersuaparcelade responsabilidade para com a valorizao e preservao do mesmo.Tendo em vista o supracitado, o resultado direto do conjunto das aes desenvolvidas oenvolvimentodacomunidadenapreservaodopatrimniocultural,pormeiodoseu reconhecimentoevalorizao,ondeaatuaodoseducadoresrepresentaapossibilidadeda multiplicaocontnuadasinformaestransmitidas.Destemodo,observa-seavalorizao do ato de educar enquanto primeiro passo para a preservao do patrimnio cultural. [SEMINRIO CULTURA E POLTICA NA PRIMEIRA REPBLICA: CAMPANHA CIVILISTA NA BAHIA] UESC, 09 A 11 DE JUNHO DE 2010 11 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ATADES,J.M.;MACHADO,L.A.&SOUZA,M.A.T.Cuidandodopatrimnio cultural. Goinia, UCG, 1997. CAMPOS, J. S. Crnica da capitania de So Jorge dos Ilhus. 3. Ilhus: Editus, 2006. DIAS, M. H.& CARRARA,A. A. (orgs). Um lugar na histria: a capitania ea comarca de Ilhus antes do cacau. Ilhus: Editus, 2007. DIAS,M.H.Economia,sociedadeepaisagensdacapitaniaecomarcadeIlhusno perodo colonial. Tese de Doutorado. Niteri, UFF, 2007. FIGUEIREDO,B.G.Patrimniohistricoecultural:umnovocampodeaoparaos professores.In:GrupoGestordoProjetodeEducaoPatrimonial.Reflexese contribuies para a educao patrimonial. Belo Horizonte, SEE/MG, 2002. FREIRE,P.Aoculturalparaalibertaoeoutrosescritos.10ed.SoPaulo,Paze Terra, 2003. HORTA,M.L.P.etal.Guiabsicodeeducaopatrimonial.Braslia:IPHAN/Museu Imperial, 1999. 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