Arqueologia No Brasil

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Arqueologia no Brasil A arqueologia no Brasil teve início em 1834, com o dinamarquês Peter Lund, que escavou as grutas de Lagoa Santa (MG), onde foram encontrados ossos humanos misturados com restos animais com datação de 20 mil anos. No segundo reinado, Dom Pedro II implantou as primeiras entidades de pesquisa, como o Museu Nacional do Rio de Janeiro. Em 1922, surgiram outras organizações como o Museu Paulista e o Museu Paraense. O fim da monarquia levou ao declínio da arqueologia durante a República Velha. Nos anos 1930 a forte influência do nacionalismo deu um novo ímpeto para a história e o patrimônio. O período colonial foi escolhido como aquele definidor da sociedade brasileira, em particular durante o período da ditadura fascista do Estado Novo (19371945), mas a arqueologia como uma atividade acadêmica começou nessa época como uma reação contrária ao autoritarismo. Paulo Duarte foi uma figura chave. Durante os últimos anos da República Velha contribuiu para a fundação da primeira universidade brasileira, a Universidade de São Paulo, moldada em uma abordagem humanista de ensino. Duarte liderou um movimento pelos direitos indígenas e como consequência da arqueologia préhistórica, durante o período liberal entre 1945 e 1964. Ele foi capaz de organizar a Comissão de PréHistória e depois o Instituto de PréHistória, que ele conseguiu atrelar à Universidade de São Paulo, um movimento muito importante para que a arqueologia pudesse, pela primeira vez, se tornar um ofício acadêmico no Brasil. Alguns estrangeiros começaram a vir para o País e passaram a explorar sítios arqueológicos na Amazônia, no Pará, no Piauí, no Mato Grosso e na faixa litorânea. Em 1961, todos os sítios arqueológicos foram transformados por lei em patrimônio da União, a fim de evitar sua destruição pela exploração econômica. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) registrou 8.562 sítios arqueológicos. Entre eles, destaca-se o da Pedra Furada (PI), onde a brasileira Niède Guidon localizou, no ano de 1971, restos de alimento e carvão com datação de 48 mil anos. Estas observações vêm a contrariar a tese aceita de que o homem teria chegado à América há cerca de 12 mil anos, pelo Estreito de Bering, entre a Sibéria e o Alasca. Em 1991, a norte-americana Anna Roosevelt, arqueóloga, descobriu pinturas rupestres na caverna da Pedra Pintada (PA) com mais de 11 mil anos, e, em 1995, revelou sítios cerâmicos na Amazônia com datação de 9 mil anos. Sítios Arqueológicos Define-se como sítio arqueológico o local utilizado pelos grupos pretéritos para as suas habitações (moradia) e todas as atividades que permitiram a sua subsistência, cujos testemunhos (vestígios arqueológicos) encontram-se espacialmente distribuídos. Neste caso, a área ecológica que envolve os locais ocupados por estes grupos para a caça, a pesca, a coleta e a agricultura pode ser estendida à sítios arqueológicos, pois consideramos muito importante entender o espaço (o cenário) em que os sítios foram construídos. A partir de algumas características ecológicas e ambientais da localidade em que estão os sítios arqueológicos, poderemos compreender com mais facilidade como viveram os nossos antepassados e como eles utilizaram o meio ambiente para suprir as suas necessidades. Para que o arqueólogo possa classificar os tipos de sítios arqueológic os na sua pesquisa, existem algumas características que os definem muito bem. Os tipos mais comuns são os seguintes: 1. Sambaquis: palavra de origem indígena que deriva de tambá (concha) e ki (depósito). Este tipo de sítio, na forma de pequenas montanhas, encontra-se geralmente próximo a superfícies aquosas como mar, rios, mangues, lagunas, etc. ·. Os grupos pré-históricos sambaquieiros construíram estes montes utilizando conchas, restos de habitações, alimentos, dentre outros elementos que, junto com os sedimentos (areia), formaram esta elevação. Este tipo de sítio pode atingir tamanhos variados, sendo, como anteriormente citado, de 2 a 30 metros de altura e, aproximadamente 100m de diâmetro. Sendo os mesmos encontrados no interior do Amazonas, Maranhão e em Taperinha, pouco abaixo de Santarém. Na várzea aluvial do Pindaré, no seu afluente Maracu, no lago e Rio Cajari, possuem peças de cerâmica quebrada em abundância, sendo observadas semelhanças com a cerâmica de Cunani. Os sambaquis do Rio de Janeiro e do Distrito Federal contém ossos e pequena quantidade de barro fino.

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Arqueologia no Brasil

A arqueologia no Brasil teve início em 1834, com o dinamarquês Peter Lund, que escavou as grutas de Lagoa Santa (MG), onde foram encontrados ossos humanos misturados com restos animais com datação de 20 mil anos.

No segundo reinado, Dom Pedro II implantou as primeiras entidades de pesquisa, como o Museu Nacional do Rio de Janeiro. Em 1922, surgiram outras organizações como o Museu Paulista e o Museu Paraense.

O fim da monarquia levou ao declínio da arqueologia durante a República Velha. Nos anos 1930 a forte influência do nacionalismo deu um novo ímpeto para a história e o patrimônio. O período colonial foi escolhido

como aquele definidor da sociedade brasileira, em particular durante o período da ditadura fascista do Estado Novo (1937‑1945), mas a arqueologia como uma atividade acadêmica começou nessa época como uma

reação contrária ao autoritarismo.

Paulo Duarte foi uma figura chave. Durante os últimos anos da República Velha contribuiu para a fundação da primeira universidade brasileira, a Universidade de São Paulo, moldada em uma abordagem humanista de

ensino. Duarte liderou um movimento pelos direitos indígenas e como consequência da arqueologia pré‑histórica, durante o período liberal entre 1945 e 1964. Ele foi capaz de organizar a Comissão de

Pré‑História e depois o Instituto de Pré‑História, que ele conseguiu atrelar à Universidade de São Paulo, um

movimento muito importante para que a arqueologia pudesse, pela primeira vez, se tornar um ofício acadêmico no Brasil.

Alguns estrangeiros começaram a vir para o País e passaram a explorar sítios arqueológicos na Amazônia, no Pará, no Piauí, no Mato Grosso e na faixa litorânea. Em 1961, todos os sítios arqueológicos foram

transformados por lei em patrimônio da União, a f im de evitar sua destruição pela exploração econômica.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) registrou 8.562 sítios arqueológicos. Entre eles, destaca-se o da Pedra Furada (PI), onde a brasileira Niède Guidon localizou, no ano de 1971, restos de alimento e carvão com datação de 48 mil anos. Estas observações vêm a contrariar a tese aceita de que o

homem teria chegado à América há cerca de 12 mil anos, pelo Estreito de Bering, entre a Sibéria e o Alasca.

Em 1991, a norte-americana Anna Roosevelt, arqueóloga, descobriu pinturas rupestres na caverna da Pedra Pintada (PA) com mais de 11 mil anos, e, em 1995, revelou sítios cerâmicos na Amazônia com datação de 9 mil anos.

Sítios Arqueológicos

Define-se como sítio arqueológico o local utilizado pelos grupos pretéritos para as suas habitações (moradia) e

todas as atividades que permitiram a sua subsistência, cujos testemunhos (vestígios arqueológicos) encontram-se espacialmente distribuídos.

Neste caso, a área ecológica que envolve os locais ocupados por estes grupos para a caça, a pesca, a coleta

e a agricultura pode ser estendida à sítios arqueológicos, pois consideramos muito importante entender o espaço (o cenário) em que os sítios foram construídos.

A partir de algumas características ecológicas e ambientais da localidade em que estão os sítios arqueológicos, poderemos compreender com mais facilidade como viveram os nossos antepassados e como eles utilizaram o meio ambiente para suprir as suas necessidades. Para que o arqueólogo possa classif icar os tipos de sítios arqueológicos na sua pesquisa, existem algumas

características que os definem muito bem. Os tipos mais comuns são os seguintes:

1. Sambaquis: palavra de origem indígena que deriva de tambá (concha) e ki (depósito). Este tipo de sítio,

na forma de pequenas montanhas, encontra-se geralmente próximo a superfícies aquosas como mar, rios, mangues, lagunas, etc. ·.

Os grupos pré-históricos sambaquieiros construíram estes montes utilizando conchas, restos de

habitações, alimentos, dentre outros elementos que, junto com os sedimentos (areia), formaram esta elevação.

Este tipo de sítio pode atingir tamanhos variados, sendo, como anteriormente citado, de 2 a 30 metros de

altura e, aproximadamente 100m de diâmetro.

Sendo os mesmos encontrados no interior do Amazonas, Maranhão e em Taperinha, pouco abaixo de

Santarém.

Na várzea aluvial do Pindaré, no seu afluente Maracu, no lago e Rio Cajari, possuem peças de cerâmica

quebrada em abundância, sendo observadas semelhanças com a cerâmica de Cunani.

Os sambaquis do Rio de Janeiro e do Distrito Federal contém ossos e pequena quantidade de barro f ino.

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Nos sambaquis do Paraná, Santa Catarina e litoral de São Paulo são encontrados machados polidos, mãos

de pilão, poucos utilitários de cerâmicas, morteiros zoomorfos, etc. Ainda se incluem aqui os sambaquis

explorados pelo diretor do Museu Nacional, Roquette Pinto, no Rio Grande do Sul, dos quais foram retirados

alguns materiais.

Em Cidreira e Vila das Torres, estão: o Sambaqui das Cabras, próximo à Lagoa D. Antonia, a cerca de 17km

ao sul de Tramandaí; outro a cerca de 1km para o sul; outro junto ao Capão do Quirino 16 km perto do Arroio

do Sal. Ainda há os quatro sambaquis de Torres, todos de grandes dimensões, sendo um ao chegar à Vila de

São Domingos e outros três próximos de Mampituba.

Sambaqui (Santa Catarina)

Foto: Revista Ciência Hoje On-line

2. Sítios Cerâmicos / LÍTICOS (LITO-CERÂ: Neste tipo de sítio há a predominância de materiais cerâmicos em

sua superfície, sendo um indício para esta classif icação.

Ao escavar este tipo de sítio, o arqueólogo encontra uma quantidade considerável de cacos de cerâmicas, ou

mesmo cerâmicas inteiras, geralmente associadas a outros elementos arqueológicos, como por exemplo, os

artefatos líticos (ferramentas em pedra), ossos e restos de alimentos.

Algumas peças, como urnas funerárias (objetos pra colocação dos mortos), potes de barro para utilidades

culinárias, para conterem líquidos, armazenamento, dentre outras funções, são muito comuns neste tipo de

sítio.

Urna Funerária Tupiguarani.

Foto: A. Prous (in: Revista Ciência Hoje On-line – 2005).

Ilustram como material cerâmico encontrado nesses sítios, utensílios como: pratos, tigelas, vasos, urnas

funerárias, enquanto que as machadinhas, os moedores, os raspadores,as lascas, as pontas, dentre outros

objetos, caracterizam os artefatos líticos.

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Instrumentos em pedra lascada: em cima, quatro raspadores em forma de quilha de barco e uma ponta de

dardo; embaixo, duas facas e dois talhadores.

Foto: Pedro Ignácio Schmitz (in: Revista Ciência Hoje On-line – Dez. 2004).

3. Sítios de Arte Rupestre: a arte rupestre pode ser entendida como as pinturas e as gravações realizadas nos

paredões de rocha pelos grupos pré-históricos, possivelmente na intenção de contarem a história do seu dia-

a-dia.

Este tipo de sítio está geralmente associado ou próximo aos sítios cerâmicos / líticos. Mas existem casos em

que as pinturas e as gravuras foram realizadas em áreas que não permitiam o estabelecimento de moradia.

Nestes casos, o arqueólogo registra-o apenas como sítio de arte rupestre.

Representação de f igura humana e animais estáticos da tradição Agreste encontrada no Parque Nacional da

Serra da Capivara (PI).

Foto: Revista Ciência Hoje On-line (Nov. 2003).

Gravuras Rupestres - Pedra do Ingá/PB.

Foto: Antonio Canto.

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4. Sítios Históricos: Para este tipo de sítio, podemos identif icar ruínas de edif icações ou mesmo a edif icação

propriamente dita, como fortes, igrejas, prédios antigos, engenhos e monumentos.

Associados aos materiais encontrados nestes sítios estão os canhões, armas de fogo, balas, moedas, louças

/ faianças, garrafas dentre outros objetos.

Sítio Histórico de Olinda (PE).

Os principais Centros Arqueológicos do Brasil Bacia Amazônica: Cunani, Maracá, Pacoval, Camutins, Sambaqui de Cachoeira, Sambaquis da Foz do

Tocantins e de Cametá, Santa Izabel, Tesos e Mondongos de Marajó, Caviana, Santarém, Taperinha,

Miracanguera, Rio Tefé, Irapurá, Cerro do Carmo, Rio Içana, Anuiá Luitera, Apicuns, Tijolo, São João e

Pinheiro.

Zona Maranhense: Marobinha, Pindaí, Ilha de Cueira, Florante, Lago Jenipapo, Armindo, Lago Cajari e

Encantado.

Zona Costeira do Norte e Centro: Cunhaú, Valença, Guaratiba, Macaé, Parati, Saquarema, Feital, Cabo Frio,

Cosmos.

Zona Costeira do Sul: Santos e São Vicente, Conceição de Itanhaém, Iguape, Cananéia, Sabaúna,

Guaraqueçaba, Paranapaguá, São Francisco, Imbituba, Laguna, Joinvile, Sanhaçu, Armação da Piedade, Porto

Belo, Rio Tavares, Rio Cachoeiro, Canasvieiras, Rio Baía, Ponta do Guaíva, Vila Nova, Itabirubá, Penha, Rio

Una, Magalhães, Porto do Rei, Laje, Sambaqui das Cabras, Sambaqui ao sul de Tramandaí, Sambaquis do

Arroio do Sal, Luiz Alves, Carniça, Cabeçuda, Caputera, Perchil, Ponta Rasa, Sambaquis nas proximidades de

Torres.

Zona Central: Lagoa Santa.

Cunani: descoberto por Coudreau (naturalista) em 1883, explorado e descrito por Emílio Goeldi (1895);

urnas antropomorfas guardadas em hipogeus. Hartt descreve as urnas, dizendo que eram empregadas

durante as idades da pedra e do bronze, na Europa, e posteriormente por tribos, na Améric a. Informações

apontam que os povos etruscos e egípcios também as usavam, assim como também os povos do México e

Peru.

Maracá: localizados na Guiana e conhecidas desde 1879, são urnas funerárias em pequenas grutas

naturais; nelas aparecem as primeiras formas de corpo humano e animais.

Pacoval: primeiro Mound-builder explorado em Marajó. O material extraído da peça que primeiro aflorou foi

um cachimbo. O artefato mais abundante e precioso, por não ser encontrado em outras paragens, é a

tanga. Hartt foi quem primeiro estudou seu material, reconhecendo na louçaria linhas clássicas ornamentais,

como as gregas e as aspirais e também preferência pelas f iguras humana e de animais. Foi observada a

ausência de motivos ornamentais inspirados nas plantas; na cerâmica ainda distinguiu grande número de

ídolos.

Camutins: mounds situados em Marajó, pouco distantes do Pacoval, contendo louça de igual qualidade no

gênero das peças.

Caviana: cerâmica diferente da de Marajó; esse material marca a existência da estação lítica (f ormação do

cerâmio).

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Santarém: rico e desenvolvido território, onde os resquícios do homem são encontrados em lugares que

lembram as estações e fornecem a melhor cerâmica recolhida de Marajó e Cunani, toda ela trabalhada em

estilo semelhante ao das peças chinesas antigas, sem pintura, mas de relevo aperfeiçoado.

Miracanguera: une inúmeros túmulos, verdadeiros vestígios de estações. Barbosa Rodrigues, em 1870,

descobriu várias urnas funerárias com formas de seres humanos. Nesta mesma região, entre os Rio

Madeira e Santarém, Nimuendaju encontrou peças trabalhadas.

Rio Tefé: perto da embocadura desse rio, o padre Tastevin recolheu inúmeros vasos estudados por

Métraux. Apesar de certas particularidades, eles demonstram semelhanças com o material de Santarém e

são úteis para estudo da influência que essa região possa ter exercido na louçaria indígena. Na margem do

Irapurá, Tastevin deparou-se com uma urna representando o rosto da f igura humana, contendo ossos em

mau estado de conservação. Urnas funerárias simples foram também descobertas por Nimuendaju em

Cerro do Carmo, Rio Içana e Anuiá Iuitera (região do Rio Uapés).

Sambaquis: o exame da louça dos sambaquis, com especialidades do sul, coloca em relevo a inferioridade

do material. Nos sambaquis do norte, as cerâmicas são de má qualidade e escassas.

Apicuns: localizada ao pé de pequeno igarapé deste nome, à margem direita do Arapipó.

Tijolo: situada na pequena ilha Furo, na confluência do Rio Inajá com o Pirabas.

São João: localizada em terra f irme à margem direita do igarapé Avindeua, próximo à junção com o Rio

Pirabas.