ARQUITECTURA TRADICIONAL EM LOULÉ

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UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA ARQUITECTURA TRADICIONAL EM LOULÉ Pedro Ricardo Alagoinha do Nascimento Orientador Prof. Doutor Arquitecto Nuno Rui da Fonseca Santos Pinheiro Dissertação para obtenção de Grau de Mestre Lisboa 2010

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levantamento arquitectónica do centro histórico da cidade de Loulé, os elementos que o compõem e os métodos para a sua preservação, valorização e reabilitação.

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UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA

ARQUITECTURA TRADICIONAL EM LOULÉ

Pedro Ricardo Alagoinha do Nascimento

Orientador

Prof. Doutor Arquitecto Nuno Rui da Fonseca Santos Pinheiro

Dissertação para obtenção de Grau de Mestre

Lisboa 2010

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I

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA

ARQUITECTURA TRADICIONAL EM LOULÉ

Pedro Ricardo Alagoinha do Nascimento

Orientador

Prof. Doutor Arquitecto Nuno Rui da Fonseca Santos Pinheiro

Dissertação para obtenção de Grau de Mestre

Lisboa 2010

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II

Agradecimentos

Venho por este meio agradecer a todos os envolvidos, directa ou indirectamente,

pela ajuda na realização deste trabalho.

Agradeço desde já aos meus professores e orientadores, Prof. Doutor Arq. Nuno

Santos Pinheiro e Mestra Arq. Fátima Lino, em primeiro lugar pelos conhecimentos e

interesse transmitidos durante todo o ano lectivo e também por terem aceite orientação

desta dissertação de mestrado.

Agradeço também à disponibilidade por parte da Câmara Municipal de Loulé na

cedência e pesquisa de informação fundamental para a realização deste trabalho.

Em último mas não menos importante, agradeço à minha família e amigos por todo

o apoio, que embora indirecto no desenvolvimento do trabalho, foi essencial na

estabilidade que me proporcionaram.

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III

INDICE:

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IV

RESUMO…………………………………………………………………………………VI

ABSTRACT…….………………………………………………………………………. VII

PALAVRAS-CHAVE …………………………………………………………………..VIII

INTRODUÇÃO ...………………………………………………………………………… 9

1. CONTEXTO HISTÓRICO E GEOGRAFICO ..……………………………………12

1.1- O TERRITÓRIO ……………………………………………………………13

1.2- EVOLUÇÃO HISTÓRICA …………………………………………………17

1.2.1- A Pré-História ……………………………………………………..17

1.2.2- Romanos …………………………………………………………...17

1.2.3- Muçulmanos ……………………………………………………….18

1.2.4- Dos Cristãos à Cidade Moderna …………………………………20

2. O PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO NA ACTUALIDADE .…………………..33

2.1- IMÓVEIS CLASSIFICADOS OU A CLASSIFICAR ……………. ……...35

2.1.1- Imóveis Classificados Pelo IPPAR ……………………………….35

2.1.2- Imóveis de Interesse Público ……………………………………..40

2.1.3- Imóveis de Interesse do Concelhio a Classificar pela CML…….41

2.2- PERIMETRO HISTÓRICO …..……………………………………………49

2.3- CARACTERISTICAS DA MALHA URBANA

E DO SEU EDIFICADO………..………………………………………...…51

3- CARACTERISTICAS ARQUITECTÓNICAS ………..............................................60

3.1-FUNDAÇÕES ………………………………………………………………..61

3.2- PAREDES MESTRAS…................................................................................65

3.2.1- Paredes em Alvenaria de Pedra ………………….………...…….66

3.2.2- Paredes em Alvenaria de Tijolo Maciço …………………………75

3.2.3- Paredes em Taipa …………………………………………………76

3.2.4- Paredes em Adobe ………………………………………………...78

3.3- PAREDES DE COMPARTIMENTAÇÃO ………………………………...79

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V

3.4- PAVIMENTOS………………………………………………………………81

3.4.1- Pavimentos em Madeira ………………………………………….82

3.4.2- Pavimentos em Alvenaria, Tijolos e Mistos ……………………..86

3.5- COBERTURAS……………………………………………………………...90

3.5.1- Coberturas Inclinadas …………………………………………….90

3.5.2- Coberturas Planas ………………………………………………...97

3.6- FACHADAS………………………………………………………………….99

3.6.1- Revestimentos ……………………………………………………..99

3.6.2- Elementos da Fachada …………………………………………..103

4. PROJECTO DE REABILITAÇÃO …………………….…………………………..111

4.1- ESTUDO DO EDIFÍCIO. …………………………………………………112

4.1.1- O Lugar e a sua História ………………………………………...113

4.1.2- O Edifício …………………………………………………………113

4.1.3- Sistema Construtivo ……………………………………………..114

4.1.4- Fachada …………………………………………………………..117

4.1.5- Patologias ………………………………………………………...118

4.2- A REABILITAÇÃO ……………………………………………………….121

4.2.1-A Função ………………………………………………………….121

4.2.2- O Projecto ………………………………………………………..122

CONCLUSÃO…………………………………………………………………………..127

BIBLIOGRAFIA ………………………………………………………………………..130

LISTA DE ABREVIATURAS …………………………………………………………135

INDICE GRÁFICO ……………………………………………………………..............136

ANEXOS………………………………………………………………………………...146

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VI

RESUMO

Loulé é uma cidade antiga com um vasto leque de acontecimentos que

influenciaram e definiram a História da cidade. Com o território ocupado desde a pré-

história com povos nómadas, Loulé apenas se tornou um povoado com a evolução de um

eixo viário Romano aí existente.

Testemunhando a passagem de vários povos, Loulé teve como primeira

denominação conhecida, Al-Ulyã. Nome dado pelos Muçulmanos que ai se instalaram e

construíram as bases da urbe actual, como a sua Almedina, a Alcáçova e posteriormente o

perímetro amuralhado.

Em 1249 a cidade foi tomada pelos Cristãos que aproveitaram a antiga urbe e as

construções muçulmanas, fixando-se e evoluindo-a até aos nossos dias.

A longa evolução desde o simples eixo viário romano até à actual cidade de Loulé

do século XXI deixou um vasto e rico Património arquitectónico, composto tanto por

construções monumentais, como por todo o conjunto urbano habitacional popular que

compõem o Centro Histórico Louletano. Este testemunho vivo da história foi-nos herdado

por gerações passadas sendo nosso dever respeitá-lo, salvaguardando-o, reabilitando-o e

valorizando-o para as gerações vindouras.

De modo a preservar o Património Arquitectónico louletano, com toda a sua

autenticidade e veracidade é necessário preservar tanto os monumentos como a sua

arquitectura habitacional tradicional, composta por todas as construções antigas, desde os

nobres solares às simples habitações rurais populares.

A intervenção no Património implica um vasto conhecimento da sua história, das

técnicas construtivas e dos materiais aplicados na sua construção. Só assim é possível

realizar intervenções de conservação, restauro ou reabilitação que não prejudiquem mas

sim valorizem o conjunto Patrimonial Arquitectónico. Sendo para isso também necessária

a qualidade das intervenções escolhidas para que criem uma vitalização urbanística da urbe

medieval, tornando os Centros Históricos locais de interesse e moldados ás necessidades

da sociedade do século XXI.

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VII

ABSTRACT

Loulé is an ancient city with a wide range of events that influenced and defined the

city’s history. With the territory occupied since prehistoric times with nomadic

civilisations, Loulé only became a town with the development of an existing Roman road

axis.

Witnessing the passage of several civilisations, Loulé was known with its first

name, Al-ulyã. Named by Muslims, who have settled there and built the foundations of the

existing town today, its Almedina, Alcaçova and later, the defensive walled perimeter.

In 1249 the city was taken by the Christians who took the old Muslim town and buildings,

standing and evolving it until today.

The long evolution from simple Roman road axis to the present twenty-first century

town of Loulé has left a vast and rich architectural heritage made up of monumental

buildings and all of the popular urban housing composing the Center Historic of Loulé.

This living witness of history has been inherited to us by previous generations, so is our

duty to respect it, by preserving it, restoring it and exploiting it for future generations.

In order to preserve Loulé`s architectural heritage, with all its authenticity and

veracity we must preserve all the monuments as its traditional residential architecture,

consisting in all the old buildings, from the noble solar to the popular simple rural

dwellings.

Intervention in Architectural Heritage implies a broad knowledge of its history,

construction techniques and the applied materials in its construction. Only then, it would

be interventions of conservation, restoration or rehabilitation that do not undermine but

rather increase the value of the Architectural Heritage. And to do it, its also need, to

increas the quality of the chosen interventions, creating an medieval urban revitalization,

making the historic centers more atractive and molded to the needs of the XXI century

society.

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VIII

PALAVRAS-CHAVE:

Loulé

Centro Histórico

Património

Arquitectura

Tradicional

Restauro

Reabilitação

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INTRODUÇÃO

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Este trabalho incide sobre o estudo da área central da cidade de Loulé,

simbolizando a sua zona de formação e expansão mais antiga, ou seja o seu Centro

Histórico. Este representa o conjunto de factores sociais, culturais, económicos e

geográficos que conduziram a evolução da cidade e a cultura do povo que a habita até à

actualidade.

O trabalho tem como principais objectivos conhecer o património arquitectónico

edificado no seu todo, adquirindo conhecimentos que permitam a sua melhor salvaguarda,

reabilitação e valorização. Património Louletano que representa um valiosíssimo legado

existente da sua História estando estreitamente interligado com a evolução da cidade e do

seu povo.

Deste modo foi necessário ter conhecimento das suas dinâmicas de transformação

ao longo de um processo iniciado na pré-história passando por inúmeras culturas, das quais

se destacaram a Romana e a Muçulmana culminando na reconquista Cristã. Todos estes

povos deixaram inúmeras influências e costumes que no seu conjunto formaram a actual

cidade e a sua cultura.

É também feito o levantamento dos perímetros históricos da cidade, assim como

todo o seu património arquitectónico existente, incluindo os monumentos classificados ou

por classificar, assim como toda a malha urbana que compõe o conjunto arquitectónico

habitacional tradicional existente até á primeira metade do séc. XX, sendo a construção em

betão armado excluída por a compreender como uma técnica e material moderno, que

marcou uma importante mudança na arquitectura global.

Analisado o sítio e conhecido o seu património, é apresentado um levantamento

mais pormenorizado do seu edificado, abordando as características arquitectónicas

tradicionais, assim como os materiais e as técnicas utilizadas pelo Homem no passado na

sua construção. São também abordados os elementos decorativos, como a platibanda, os

socos ou a cornija. que compõem e contribuem para a composição dos vários estilos

estudados, estes evoluíram conjuntamente com o desenvolvimento da arquitectura

tradicional da cidade de Loulé.

De modo a conhecer e contribuir para a preservação, reabilitação e valorização do

património construído Louletano são também analisadas as principais patologias que

ameaçam o edificado antigo, assim como é feito um levantamento de possíveis

intervenções de reabilitação que preservam e reabilitam as construções lesadas sem que

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com isso se ponha em causa a sua autenticidade ou veracidade garantindo assim a

valorização tanto do edificado como da imagem urbana em geral.

Para finalizar, apresento um projecto académico de reabilitação urbana, onde

pretendo exemplificar uma possível intervenção que não só recupera e requalifica o

edifício, como revitaliza a sua zona envolvente, representando assim uma mais valia para a

recuperação, reabilitação e valorização do Centro Histórico de Loulé.

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1. CONTEXO HISTÓRICO E GEOGRAFICO

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1.1- O TERRITÓRIO

O território da cidade de Loulé evolui ao longo do tempo, sendo nos dias de hoje, o

resultado da fisionomia do terreno e de um somatório de influências sociais, culturas e

económicas, que moldaram a cultura e o território da cidade actual, sendo o seu núcleo

medieval única semelhança da urbe medieval na altura do seu foral de 1266.

O concelho de Loulé destaca-se como sendo o território central algarvio, sendo

neste que se separa o Sotavento (Oeste) e o Barlavento (Este). O concelho tem uma área de

765,31 km2 que atravessando o Algarve desde o Oceano Atlântico até à Serra do Caldeirão

Alentejano e está delimitado por os concelhos de Albufeira e Silves a poente, de Alcoutim

e Tavira a nascente, de Faro a este e sudeste e pelo concelho de Almodôvar a norte.

A sul tem uma extensão de 15km de litoral, que vai do Ludo à Ribeira de Quarteira

marcada por zonas pantanosas de águas salgadas da Ria Formosa. A partir da Quinta do

Lago as praias são marcadas por suaves arribas que se estendem por Vale do Lobo até às

areais planas de Quarteira e Vilamoura. Para Norte acompanha a crescente irregularidade

do terreno, passando por Boliqueime e Alte até á serra, marcada por cerros elevados e

vales profundos das Águas Frias e do Malhão até ao Ameixial e à Ribeira do Vascão onde

volta a descer perdendo altitude e a irregularidade do terreno passando pelo Barranco do

Velho, Querença e Loulé até ás planícies que marcam a zona litoral do concelho.

O concelho de Loulé, assim como grande parte da região do Algarve, é subdividido,

horizontalmente, por três zonas com paisagens muito distintas divergindo a nível geológico

e climático, logo na sua fauna, flora e consequentemente na cultura das populações que as

habitam, conferindo-lhes assim diferentes riquezas que vão muito para além dos tipos de

paisagens.

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Ilustração 1- O Algarve dividido por concelhos e sub-regiões.

Estas três zonas dividem-se pelo Litoral, o Barrocal e a Serra:

O Litoral é a zona mais a sul do concelho representa 12% da sua superfície e

apresenta uma largura que varia entre os 5 e os 15 km, tendo como limites, o Oceano

Atlântico e a norte, sensivelmente, a antiga estrada do litoral (N125). Esta zona é marcada

pelo terreno de cotas altimétricas baixas e a paisagem influenciada pela proximidade com o

Oceano Atlântico que dão origem a alguns pântanos salgados. O seu terreno é plano ou

pouco acidentado com camadas de terreno terciário, predominando os aluviões e areias. Os

terrenos, á excepção naturalmente das dunas, onde as areias salgadas impossibilitam a

prática da agricultura, eram geralmente bem cultivados.

Actualmente, a pesca e, principalmente, a agricultura deram lugar à indústria do

turismo, onde a explosão dos anos 60 marcou o seu terreno, abundando habitações e infra-

estruturas de lazer, como os 36 campos de golfe presentes na região Algarvia.

A sua flora, apesar de pontualmente ser idêntica à do barrocal, é marcada

predominantemente pelo pinheiro, que se desenvolve nos seus terrenos arenosos e

sílicosos, sendo que a rica diversidade botânica se encontra principalmente na zona do

barrocal e da serra.

O Barrocal representando 37% da superfície do concelho é a zona que divide o

litoral da serra, sendo sensivelmente limitada, a sul, pela antiga estrada do litoral e estende-

se a norte até ás zonas de Alte, Salir e Querença. Esta zona faz a transição do terreno plano

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do litoral para o terreno abrupto da serra, sendo marcado pelo terreno ondulado de

pequenos cerros e vales dominados pela agricultura.

Esta zona é constituída por terreno de rocha e argila, formando camadas de terreno

calcário, com algum mármore, grés vermelho e rochas eruptivas, mais ou menos

balsâmicas.

O Barrocal é a zona onde predomina o comércio, a industria e a agricultura, que se

desenvolve com mais espontaneidade, encontrando-se aqui uma grande fatia da riqueza

botânica que marca a imagem algarvia. Imagem, essa, marcada pela Oliveira, a Figueira, a

cada vez mais rara, vinha que se foi parcialmente perdendo com o passar do tempo, a

Alfarrobeira, a Amendoeira, o Pinheiro, o Loureiro, o Limoeiro e a Laranjeira.

Por fim, na zona mais a norte do concelho de Loulé, temos a Serra. Aqui a

paisagem sinuosa diverge abruptamente das paisagens suaves encontradas mais a sul.

O terreno é marcado pelas grandes cadeias de montanhas, de rocha xistosa e de

cumes graníticos que formam a Serra do Caldeirão. A cobertura vegetal é dominada pela

predominância de Sobreiros, Azinheiros, Carvalho-cerquinho e Medronheiros.

A serra, que constitui grande parte do território do concelho de Loulé representando

cerca de 37% da superfície do concelho, é marcada como no restante território nacional,

pela desertificação devida à emigração para o litoral, sendo cada vez mais um local

desabitado. Esta tendência, apesar de insuficientemente, já é contrariada pela tentativa de

cativar as pessoas para as riquezas da serra, em grande parte através da exploração do

turismo rural.

O Clima

“ …conclui-se que o clima, na parte central

desta província, é muito mais suave do que

noutras regiões, e muito especialmente neste

concelho, onde as serras, na parte norte, de

Alte, Salir, Ameixial e Querença, oferecem

maior barreira aos ventos do norte e porque

a predominância dos ventos do mar, ao sul

deste concelho, a certas horas do dia, exerce

notável influencia, suavizando grandemente

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a temperatura, tanto de verão como no

inverno. …”.1

Devido á proximidade com o Oceano Atlântico a sul e com a Serra a norte o clima

do concelho de Loulé é temperado e de características Mediterrânicas. O maciço Caldeirão,

a Norte, fornece uma barreira natural que protege o concelho dos ventos frios do norte e

noroeste e o Atlântico a sul, estabiliza a temperatura conferindo assim ao concelho

temperaturas amenas e Invernos e Verões suaves.

Mas o clima muda substancialmente do Litoral para a serra, principalmente na

precipitação, onde se nota as maiores diferenças.

A forte relação entre a precipitação e a altitude determina a Serra como sendo a

zona de maiores valores de precipitação, atingindo valores anuais que vão dos 700mm a

1000mm como já se verificou no Barranco do Velho. Por sua vez o Litoral apresenta

valores com descem a menos de metade dos da Serra, apresentando valores anuais que

rondam os 400mm.

A temperatura do ar é principalmente condicionada pela latitude, relevo e pela sua

distância em relação ao Mar. Deste modo é no Litoral onde encontramos a temperatura

mais estável e amena ao longo do ano. Comparando, Quarteira sendo a zona mais a sul, e o

Ameixial, como a zona mais a norte, nota-se uma quase idêntica temperatura média anual,

onde a Quarteira apresenta valores de 17,1ºC e o Ameixial 16,9, por sua vez os valores da

amplitude térmica já apresentam uma diferença mais acentuada, sendo Quarteira a mais

estável com o valor de 11ºC e o Ameixial a mais variável com 14,8ºC.

1 OLIVEIRA, Ataíde, 1905, Monografia do Concelho de Loulé, 3ª Edição, Algarve em Foco Editora, pp18.

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1.2- EVOLUÇÃO HISTÓRICA

1.2.1- A Pré-História

O concelho de Loulé contém vestígios da presença humana que remontam do início

do período Paleolítico, os quais vêm coexistindo com as seguintes civilizações até à

actualidade.

O território foi ocupado pelos povos nómadas que exploravam os recursos naturais

como a sua fauna e flora e acolheu posteriormente os neolíticos que criaram primitivas

formas de grupos sociais que advieram com a sedentarização.

Os primeiros aglomerados civilizacionais surgiram, provavelmente, em cerca de

4000 a.C. com a cultura megalítica, criando ao longo dos anos seguintes contactos com os

povos do norte e do levante por via terrestre e marítima.

É a cerca de 1000 a.C. que surgem os primeiros registos da presença sedentária do

homem, isto deve-se à crescente cultura castreja2 e ao domínio tecnológico do ferro que

deixaram os primeiros vestígios na Rocha da Pena a poente de Salir.

Entre 1000 a.C. e 400 a.C. é provável que tenham surgido as primeiras colónias na

costa Algarvia, colónias estas dos povos Fenícios, Cartagineses, e dos Gregos que

começaram a instalar-se em Porto Hannibal (Portimão) e Carteia (Quarteira).

1.2.2- Romanos

A partir do séc. II a.C. dá-se a Romanização do sul de Portugal, originando

consequentemente intervenções no território de Loulé. Estes desenvolveram as industrias

ligadas à produção de preparados de peixe e estruturas ligadas à agricultura, assim como o

território, através da consolidação de pré-existências e pela definição de novos

aglomerados urbanos, criando vilas, pontes e vias que faziam as ligações terrestres entre

2“… Castreja, significado: adj. Referente a castro. Castro: lugar fortificado das épocas pré-romana e romana, na Península Ibérica, que era um povoado permanente ou apenas refúgio das populações circunvizinhas em caso de perigo.

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estes. Foi neste período que se definiu a matriz que organizou a estrutura das actuais

localizações dos lugares e da cultura cívica protocristã.

Os Romanos deixaram até aos nossos dias um total de vinte e oito núcleos de

vestígios arqueológicos que marcam a sua intensa presença no concelho de Loulé3. Apesar

disso, existe muito pouca e insegura informação sobre a presença Romana na urbe

Louletana, sendo por isso difícil de definir a importância do espaço citadino para os

Romanos, porém era nesta zona que se ligavam dois importantes percursos viários

Romanos, com direcções Este e oeste, actualmente ligando S. Brás de Alportel, Loulé e

Boliqueime e Norte e Sul, ligando Salir, Loulé e Estói. Existe também achados junto a esse

cruzamento viário, de edificações Romanas que podem sustentar a hipótese viável de um

cenário urbano.

O Império Romano dominou a região até ao séc. V d.C., existindo ainda no séc. III

e IV centros fabris Romanos, em plena funcionalidade4. Este século marcou a definitiva

decadência e, consequentemente, queda do império, passando a partir do ano 465 o

domínio do Algarve apenas para os Visigodos.

Os povos Germanos não influenciaram as culturas pré-existentes, adaptando-se ás

intervenções já existentes, e gradualmente ás culturas autóctones5, aproveitando os modos

de vida e a cultura deixada pelos Romanos.

1.2.3- Muçulmanos

Foi a partir de 711 que começaram as invasões Muçulmanas, conquistando o

Litoral algarvio em 713 e a Península ibérica em 716. Estes dominaram o território do

actual concelho de Loulé até ao séc. XIII, data da reconquista cristã. Os Muçulmanos,

assim como os Romanos, influenciam de grande forma, a cultura e o território pré-

existentes.

A islamização marcou fortemente a sua presença em vários pontos do actual

concelho de Loulé como por exemplo Vilamoura, Quinta do Lago, Salir, etc. Os

Muçulmanos influenciaram a cultura pré-existente de forma muito significativa,

3 CARRUSCA, Susana, 2001, Loulé, O Património Artístico, Loulé: Câmara Municipal de Loulé, pp. 38. 4 CARRUSCA, Susana, 2001, Loulé, O Património Artístico, Loulé: Câmara Municipal de Loulé, pp. 39. 5 “… autóctones, significado: nascidos na própria terra em que habita: aborígene; indígena.

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reformando a língua e as culturas locais. Estes introduziram novas conhecimentos técnicos

como por exemplo, a nível da agricultura e da construção.

É neste período que nasce o centro urbano, amuralhado, designado por Al-`Ulyã,

destacando-se como um dos principais centros urbanos do Algarve Islâmico com cerca de

5 ha de área amuralhada, competindo directamente com outras urbes como Faro, Silves e

Tavira que tinham sensivelmente 7 ha de área intramuros6.

Como era normal no mundo Islâmico a cidade era composta pela sua Alcáçova e a

Almedina.

A Alcáçova necessitava de estar estrategicamente posicionada dentro das muralhas,

situando-se na zona da actual alcaidaria do castelo, esta servia de último refúgio militar e

era residência dos mais altos responsáveis.

A Almedina era toda a zona envolvida por muralhas. Aqui habitava a população

residente, como comerciantes e artesãos e recolhiam á noite a população que laborava

extramuros. A Almedina era também a zona onde se situava a Mesquita, esta encontrava-se

no actual sítio da Igreja Matriz de S. Clemente.

Os Muçulmanos construíram as muralhas aproveitando as pré-existentes vias

Romanas, criando no eixo Norte – Sul as principais portas do casco urbano, a Porta da

Vila, a norte e a Porta de Faro, a sul. O eixo Este – Oeste foi deixado extramuros, a norte

das muralhas, surgindo consequentemente um eixo intramuros que ligava a Porta do Sol a

nascente e a Porta de Silves a Poente.

A data da construção das muralhas não é conhecida, existindo hipótese de esta ter

sido erguida em meados da segunda metade do séc. XII e princípios do séc. XIII durante a

época de instabilidade politica e militar que se abatia sobre o mundo Islâmico7.

6 CARRUSCA, Susana, 2001, Loulé, O Património Artístico, Loulé: Câmara Municipal de Loulé, pp. 63. 7SERRA, Manuel Pedro, 1999 – Loulé: História e Expansão Urbana, Loulé: Museu Municipal de Loulé,

Câmara Municipal de Loulé, pp. 4.

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1.2.4- Dos Cristãos à Urbe Moderna

No séc. XIII a região é reconquistada pelos Cristãos, sendo a conquista da cidade de

Loulé em 1249, pouco dias a seguir à conquista da sua vizinha cidade de Faro.

“… não passaram muito dias depois da

tomada de Faro, quando el-rei logo mandou

aparelhar suas gentes para ir sobre Loulé,

que estava daí duas léguas adentro, pelo

sertão.

Os Mouros desta vila já antes sabiam

que el-rei estava sobre Faro e bem

suspeitaram que, depois que a tomasse,

havia de ir também sobre eles, pois os tinha

tão perto (…) e não durou muito seu

esforço; e a vila foi entrada sem

enfadamento de cerco e eles postos à mercê

d`el-rei, que deles a houve como os de Faro.

Tomou Loulé em dia de S. Clemente,

cuja invocação é uã só freguesia que agora

tem …”8.

Os Cristãos aproveitaram as óbvias vantagens do núcleo urbano existente. Esta

situava-se num outeiro com óptimas características estratégicas e já providenciada de

equipamentos militares e religiosos. A urbe Al-Ulyã rapidamente se transformou na vila

medieval de Loulé, aproveitando-se as linhas estruturantes e o edificado muçulmano.

8 “Corografia do Reino do Algarve (1577), Frei João de São José”, Duas Descrições do Algarve do século XVI, 1983, Lisboa, Livraria Sá da Costa Editora, p.96. in. CARRUSCA, Susana, 2001, Loulé, O Património Artístico, Loulé: Câmara Municipal de Loulé, pp. 69.

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Ilustração 2 – Urbe Medieval de Loulé, até ao século XIV .

O interior das muralhas continuou a ser o centro político, militar e religioso sendo

gradualmente modificado. Um dos primeiros marcos da cristianização foi a construção da

igreja de estilo gótico mendicante, a Matriz de S. Clemente, mandada construir aos

dominicanos em 1251, por ordem de D. João Viegas, Arcebispo de Braga9 no local onde se

encontrava a antiga mesquita Islâmica.

Os limites da vila medieval da época da reconquista cristã, apesar de parcialmente

destruídos pelo terramoto de 1755 e por sucessivos ataques urbanísticos por parte da

ignorância do homem, é ainda hoje possível de identificar. O perímetro amuralhado teria

sensivelmente uma área de 940 m e com a forma de um rectângulo mal formado10.

A sul o plano das muralhas estendia-se paralelo á antiga Rua da Corredoura,

actualmente designada de Rua Duarte Pacheco. É neste troço que se situa a bem

preservada, torre de taipa, actualmente apelidada de Torre da Vela. Este é o único

testemunho construído da muralha Muçulmana. É também neste plano que se encontra a

original e a posteriormente aberta, Porta de Faro junto à Nossa Senhora do Pilar. A actual

porta foi posteriormente aberta por necessidade espacial, encontrando-se a uma distância

9 CARRUSCA, Susana, 2001, Loulé, O Património Artístico, Loulé: Câmara Municipal de Loulé, pp. 76. 10 CARRUSCA, Susana, 2001, Loulé, O Património Artístico, Loulé: Câmara Municipal de Loulé, pp. 71.

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de pouco metros da original. A descoberta da porta original foi feita pela Direcção-Geral

dos Edifícios e Monumentos no decorrer de trabalhos de restauro executados na muralha.

A Poente a muralha era delimitada pelo antigo Rossio e pela Horta d`el Rei, é neste pano

de muralhas que se encontra a zona do jardim dos Amuados que se ergue sobre a ainda

existente muralha e no fim da frente Poente encontra-se o Castelo. Neste troço estava

situada a Porta de Silves e no interior do Castelo a Porta da Traição.

A Nascente o perímetro da muralha era definido pela actual Rua Ataíde Oliveira e

pela Rua 1º de Dezembro. Neste pano encontrava-se a porta do Sol e no séc. XVII ergueu-

se a Ermida de Nossa Senhora do Carmo, actualmente destruída.

Por fim a Norte, o perímetro das muralhas era delimitado paralelamente á actual

Praça da República e prolongava-se desde o Castelo até a actual Avenida Marçal Pacheco.

Este troço foi marcado por duas entradas, a Porta da Vila, a mais antiga, onde

posteriormente se edificou a Ermida de Nossa da Conceição e por volta do séc. XVI foi

aberto um postigo que corresponde ao actual arco anexo á torre do Relógio. Deste plano de

muralha é ainda hoje visível uma pequena parte que se estende entre o edifício dos Paços

do Concelho e o Convento Espírito Santo.

Por volta do séc. XIV notava-se já um crescimento urbano organizado,

apresentando diferentes sectores de construção que organizavam o espaço em torno do

castelo.

A Sul ficava a Mouraria, esta era a zona a sul da Porta de Faro onde foram

remetidos os mouros forros. Esta era uma zona desprotegida das ondas de ataques vindos

do mar.

A Nascente situava-se uma zona de cultivo e o Convento de são Francisco, de estilo

gótico, construído em 1328, sendo mais tarde apelidado de Convento da Graça e

irremediavelmente destruído no terramoto de 1755.

A Poente encontrava-se uma zona não edificável, o Rossio e Horta do Rei. Esta

zona foi usada para a realização de uma feira única em todo o Algarve, que se realizava

durante 15 dias do mês de Setembro. Esta feira foi ordenada por D. Dinis11 em 1291 para

tentar combater a fase negativa que adveio com a conquista cristã e consequentemente com

a interrupção do ciclo de comércio dos muçulmanos.

11 “… D. Dinis de Portugal: (1261 – 1325), foi o sexto rei de Portugal. Filho de D. Afonso III e da infanta Beatriz de Castela, neto de Afonso X de Castela, foi aclamado em Lisboa em 1279.

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A Norte situava-se a zona de aglomeração e expansão residencial de preferência,

pois esta era uma zona protegida e próxima do eixo Este – Oeste Romano, onde se situava

a Praça de Fora, a actual Praça da República. Esta Praça juntamente com a rua intramuros

que ligava a Porta da Vila e a Porta de Faro, desempenhavam um papel de destaque na

vivência da população, sendo nestes espaços que se realizavam os vários acontecimentos

públicos.

Desde a conquista aos muçulmanos, que fez com que se interrompessem as trocas

comerciais com a Andaluzia e o norte de África, a situação económica da urbe havia

piorado, o ambiente vivido não era animador e a população começou a abandonar a Vila.

Para contrariar a crescente estagnação e isolamento que se abateu sobre Loulé até aos

finais do séc. XIV foram criadas alguns incentivos. As soluções conhecidas passaram pela

criação da feira, na Horta D`el Rei e também pela criação de privilégios especiais a quem

habitasse no interior das muralhas12.

A zona intramuros foi até ao séc. XVI o principal espaço urbanístico e comercial,

existindo já na altura alguns topónimos de ruas da cidade actual.

A vila era organizada a partir da rua que unia o Largo da Matriz à Alcaidaria, rua

Martim Farto, partindo desta um conjunto de artérias que ligavam os principais serviços

públicos da urbe, como o edifício da Vereação, a cadeia, e as portas do Castelo. A Rua de

Martim Farto, que ligava a Alcaidaria à Igreja Matriz e a Rua da Cadeia que seguia da

Matriz para a porta do alto da Praça, estas eram as ruas já sedimentadas e mais

importantes.

Extra muros já existiam também sedimentados topónimos de ruas como a Rua do

Poço e a Rua do Outeiro.

Com os Descobrimentos toda a região do Algarve, nomeadamente Loulé iniciou um

novo período de prosperidade económica e social. Isto em grande parte devido á

reanimação da actividade comercial onde Loulé ocupou um lugar de destaque na

exportação do vinho, azeite, fruta seca e artesanal, sal e peixe. O desenvolvimento

comercial trouxe consigo um grande crescimento económico, permitindo que se

12 SERRA, Manuel Pedro, 1999 – Loulé: História e Expansão Urbana, Loulé: Museu Municipal de Loulé,

Câmara Municipal de Loulé, pp. 5.

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realizassem inúmeras obras de recuperação e de construção de espaços públicos e de novos

equipamentos.

Nesta época de apogeu económico contam como principais obras: a Nossa Senhora

dos Pobres edificada em 1400, a reedificação das muralhas do Castelo por D. Henrique de

Meneses13 em 1422 e em 1471 a antiga albergaria foi transformada em Hospital do

Algarve, por ordem de D. Afonso V14, para receber os feridos de guerra vindos de Tânger.

A nível urbanístico deu-se também um grade marco histórico, sendo nesta altura

que se organizou o espaço habitacional a norte do recinto amuralhado, nomeadamente a

Rua do Poço, a Rua da Laranjeira e a Rua do Alto de S. Domingos onde é provável ter

existido a Ermida de S. Domingos15. Na zona poente foi construída a ermida de S.

Sebastião e já fora da vila, cerca de meia légua (3300m), foi feita a ermida de Nossa

Senhora da Piedade.

Apesar do desenvolvimento da zona norte do aglomerado, o período entre os finais

13 D. Henrique de Meneses: (1450 - 1480), foi um militar e nobre português, por acordo feito com a Coroa, Henrique de Meneses devolveu o condado de Valença, sendo compensado, por carta datada de 12 de Novembro de 1471, com o título de 1.º conde de Loulé outorgado por D. Afonso V. 14 D. Afonso V de Portugal: (1432 - 1481), foi o décimo segundo Rei de Portugal. 15 OLIVEIRA, Ataíde, 1905, Monografia do Concelho de Loulé, 3ª Edição, Algarve em Foco Editora, pp 102.

Ilustração 3 - Expansão da Urbe Medieval, século XVI .

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do séc. XIV e o final do séc. XVIII teve uma relativa estabilidade habitacional, possuindo

durante este período de 400 anos, sensivelmente 500 fogos16.

O castelo era neste tempo um elemento operacional, no sistema de defesa da

cidade, e consequentemente foram construídas edifícios de habitação junto ás muralhas,

pelo menos até ao final da guerra da restauração, no séc. XVII. Ficando o aglomerado no

ano de 1505 com 145 habitações intramuros e 289 extramuros17.

Apesar da população não ter aumentos significativos e a vitalidade económica estar

a decrescer, levando a uma estagnação da expansão urbana, os edifícios religiosos e

equipamentos destacaram-se no séc. XVII com uma apreciável evolução.

Em 1600 construiu-se fora de Portas, a igreja das Portas do Céu, três ermidas em

três das cinco Portas do Castelo, a de Nossa Senhora da Conceição, a de Nossa Senhora do

Pilar e a de Nossa Senhora do Carmo e adossado à muralha foi erguido a igreja do Espírito

Santo e recuperou-se e ampliou-se, no ano de 1675, o Convento das Freiras de Nossa

Senhora da Conceição.

Com o fim da época de instabilidade da guerra da Restauração o Castelo e as

muralhas perdem o seu valor defensivo, começando-se a notar uma alteração na forma de

habitar a cidade. A população extramuros começa a ser em maior número que os residentes

intramuros e a própria vida da urbe evolui mais e melhor nos arrabaldes. Porém ainda

demorou algum tempo até que se libertasse as muralhas para que estas fossem ocupadas

por habitações e a cidade passasse a ser aberta e de circulação livre.

16 AL-`ULYÃ, Revista do Arquivo Histórico de Loulé Nº4, 1995. Paulo Estremoz, “A Evolução da Cidade”.

pp.70.

17AL-`ULYÃ, Revista do Arquivo Histórico de Loulé Nº4, 1995, Paulo Estremoz, “A Evolução da Cidade”,

pp.70.

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No séc. XVIII Portugal viveu uma época de prosperidade económica sustentada

pelo ouro do Brasil. Este crescimento económico reflectiu-se no forte crescimento artístico

que se fez sentir em todo o país, nomeadamente em Loulé, onde também se aproveitou o

espírito Barroco e a actividade artística que esta época ofereceu.

Em Loulé as Igrejas e Capelas são enriquecidas e valorizadas com retábulos, talhas

douradas e com a excelente azulejaria desta época. Em termos urbanísticos Loulé

beneficiou com a valorização arquitectónica habitacional que aproximou as áreas

marginais ao núcleo urbano, existindo em 1719, habitações que se espalhavam a norte, sul

e oeste do sector Oriental, (nos limites das cercas do Convento da Graça). Respectivamente

as ruas da Laranjeiras, o Largo da Praça, a rua da Carreira, dos Inocentes, do Ricardo e da

Corredoura.

Em 1755 o sismo destruiu, parte das cercas e a igreja do Convento da Graça, parte

do Convento Espírito Santo, grande parte dos troços e torres da muralha e do Castelo e

destruiu também muitas habitações como é descrito:

“…Comprehendia ella com sua Freguezia; e

oito centenas moradas de cazas; das quais

Ilustração 4 – Vila de Loulé, século XVIII.

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ficaram raras se prejuízo. Caíram parte das

abobadas da sua Parrochial; as Igrejas do

Convento da Graça, e de Santo António dos

capuchos; Hospital dos pobres; o Hospital

dos Agostinhos Descalços; o Convento das

Religiosas; a Igreja da Mizericordia, a

Capela do Terceiros de Sam Francisc, e as

Hermidas de Santa Luiza, e N. Senhora da

Piedade …”18.

Ilustração 5 – Expansão da Vila de Loulé, início século XX.

Em 1756 é aberta a Rua das Cabanas no sector Sul, que continuava a ser o sector

menos privilegiado da cidade. No sector norte construíam-se habitações apalaçadas,

nomeadamente na Rua do Colégio (que nascia em função do Solar dos Gama Lobo, 1775),

18 COSTA, ANDRADE, SEABRA, 2005, 1755-Terramoto no Algarve, Centro de Ciências Vivas do

Algarve, Relaçam, 1756, fl.161vº.

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na Rua Ancha e rua de Portugal, onde residiam os oficiais e o maior número de

proprietários, de terras. Sendo na rua Ancha que os Franceses instalaram o seu quartel-

general, em 1807.

No primeiro quartel do séc. XIX viveu-se uma crise económica derivada da

instabilidade politica criada pelas invasões napoleónicas e também devido à partida da

corte real para o Brasil. Esta crise reflectiu-se num abrandamento do crescimento

urbanístico e na tomada de medidas para fazer face às despesas financeiras do estado e

consolidar o crédito público.

Entre 1834 e 1836 essas medidas levam à expropriação das ordens religiosas e do

castelo, desafectado à jurisdição militar. Em 1835 e nas décadas seguintes, as referidas

zonas ganham função habitacional e de pequeno comércio, começando a crescer ao longo

dos troços amuralhados a norte, nomeadamente, a Praça de Loulé onde o Convento

Espírito Santo é ocupado pela Câmara Municipal e pelo Tribunal Judicial. A Sul, o

fenómeno nota-se mais na rua da Corredoura e a Poente e Nascente a ocupação é feita num

ritmo mais lento.

A Praça de Loulé passa a ser o lugar de eleição, pela construção de três solares no

Alto da Praça, acentuando-se como lugar de residência de profissionais liberais e

proprietários, nas Ruas da Cadeia e Martim Farto, dentro das Muralhas e na Rua da

Corredoura, na transição para o sector Sul, enquanto o sector Norte se mantém estável.

Entre 1873 e 1904 dá-se a

maior transformação operada a nível

urbanístico, a ligação entre o sector

Central e o sector Oriental sofre uma

grande alteração devida à concepção e

execução da Av. Marçal Pacheco que

destruiu dois solares no alto da Praça

de Loulé, a Capela de N.ª Sr.ª do

Carmo e os respectivos restos da

muralha, um pequeno quarteirão entre a rua dos grilos e o Terreiro do Ricardo e todo o

traçado da Rua do Mestre Ricardo é expandido com as demolições subsequentes, ficando o

Largo dos Inocentes, ligado continuamente com a Praça de Loulé. Ainda no último quartel

do século XIX, densifica-se a ocupação, no sector Sul, área da Rua António José de

Imagem 1- Largo de São Francisco.

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Almeida, e nasce em 1888, a urbanização do Olival de S. Francisco, no sector Poente. Este

crescimento para poente veio integrar a jovem Freguesia de S. Sebastião que foi criada em

decreto Régio em 1890 a partir da divisão da antiga Freguesia de S. Clemente.

A rua da Praça já era anteriormente a estas intervenções, o principal eixo de

circulação e também de prática social, económica e cultural e em 1885 passa a ser também

o principal centro politico com a transferência da Câmara Municipal de Loulé para o

edifício onde ainda hoje se encontra.

Todo este processo de evolução demográfica e consequentemente urbana, registou-

se a par da evolução industrial registada nesta época, atraindo para Loulé habitantes das

freguesias vizinhas do interior do concelho que procuravam novas oportunidades de

trabalho oferecidas pelas pequenas unidades fabris artesanais que ai se instalaram.

A evolução industrial conduziu a uma evolução a nível de transportes, como a

construção da linha de caminho de ferro do Algarve em 1887 e o desenvolvimento de vias

de comunicação. No entanto alguns equipamentos básicos só surgiriam no decorrer do séc.

XX.

Entre 1900 e 1925 o desenho urbano da cidade sofre as maiores alterações

ocorridas no sector Central e Nascente com a construção do Mercado Municipal de Loulé e

a abertura da Av. Costa Mealha. No sector central, o Mercado de Loulé, projectado pelo

arquitecto Mota Gomes, foi uma obra mediática de grande valor na arquitectura

contemporânea. Esta intervenção veio alterar o desenho urbano da área central da vila,

provocando o derrube de parte considerável da muralha e de alguns edifícios de boa

qualidade arquitectónica em prol do edifício e das subsequentes alterações das ruas de

Imagem 2 – Planta de implantação do Mercado de Loulé.

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serviço, nomeadamente a Travessa do Mercado, a Rua José Guerreiro, a Rua Ataíde de

Oliveira e a Rua 1º de Dezembro, sendo o traçado actualmente existente.

A maior evolução da cidade

para Nascente deu-se em 1918, com a

abertura da Av. José da Costa Mealha.

Esta foi a obra com maior alcance

urbanístico e o novo local da

burguesia endinheirada, sendo aí

edificados os mais notáveis

exemplares arquitectónicos deste

século.

Para terminar o período antes da implantação do Estado Novo é importante referir

ainda a implantação de obras de equipamentos públicos que beneficiaram a urbanização do

espaço público como o a iluminação eléctrica em 1916, a substituição do antigo cemitério

do jardim dos amuados em 1918. É neste período que também se dá o início do

abastecimento de água pública no centro urbano de Loulé.

Ilustração 6 – Expansão da Vila de Loulé, primeira metade do século XX.

Imagem 3 – Construção da Av. José da Costa Mealha.

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Durante os 48 anos do período do Estado Novo, desde o golpe militar de 28 de

Maio de 1926 até 25 de Abril de 1974, a evolução urbana de Loulé manifestou-se de forma

relativamente moderada, destacando-se a abertura das transversais da Av. José da Costa

Mealha, a mais emblemática a abertura da actual Av. 25 de Abril em 1932 e o alargamento

da antiga Rua da Corredoura, actual Rua Duarte Pacheco, em 1934.

A nível de edificações mais emblemáticas deste período temos a construção do

Cineteatro Louletano do arquitecto Baptista Mendes em 1930 e o Monumento Duarte

Pacheco19 do arquitecto Cristino da Silva20 em 1953.

Ao longo do séc. XX a cidade continua a crescer seguindo os traçados preexistentes

como a Av. José da Costa Mealha onde foram erguidos enormes edifícios de habitação

colectiva onde antigamente existiam propriedades agrícolas e edifícios de arquitectura

tradicional. Nos anos 70 e 80, ocupando a zona que durante muito tempo permaneceu

inabitável, o Rocio da Horta do Rei, foi criado uma zona habitacional marcada por grandes

edifícios de habitação colectiva.

19 Eng. Duarte Pacheco: (1899 - 1943) nascido em Loulé, foi um engenheiro e estadista português. Professor e director do IST em 1927, ministro das Obras Públicas 1928, presidente da Câmara Municipal de Lisboa em 1938 e regressou ao ministério das Obras Públicas nesse mesmo ano. 20 Arq. Cristino da Silva: (1896 – 1976). Nascido em Lisboa. Diplomado pela ESBAL.

Ilustração 7 – Cidade de Loulé, século XXI.

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Estas duas últimas evoluções urbanas são o exemplo dos abusos provocados ao

património construído Louletano, assim como a constante destruição das muralhas até aos

meros apontamentos da sua existência que presenciamos nos dias de hoje em Loulé, onde

infelizmente se desrespeita a história e o seu legado, substituindo-o e consequentemente

destruindo-o por mero desrespeito e ignorância do homem.

Em favorecimento do desenvolvimento, é já comum na história de Loulé

cometerem-se graves erros urbanísticos que prejudicam irremediavelmente a imagem

arquitectónica e paisagística da cidade, perdendo-se património cultural e construído de

inigualável valor histórico. Desde 1985 há já uma diferente filosofia quanto à preservação

do legado histórico, tendo sido tomadas medidas preventivas por parte das autoridades

competentes de modo a educar e sensibilizar a população para que se impeça esta regular

violação e destruição do património Louletano como o já expresso na vila medieval de

Loulé.

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2. O PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO NA ACTUALIDADE

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“… Este caminhar lento da história traz até

nós este conjunto incalculável de bens,

edifícios com um valor arquitectónico

ímpar, que conseguiram sobreviver ao rigor

dos séculos e à maldade e interesse do

Homem que se assumem hoje, com a

designação de monumentos, muitos deles

sem a monumentalidade que os grandes

feitos requerem mas plenos de uma

modéstia que traduz serenidade e dignidade.

Edifícios que têm uma classificação como

maneira de serem distinguidos mas também

protegidos de recuperações ou conservações

praticadas por quem não tem ainda a

sensibilidade de atender à fragilidade destes

bens que de uma forma geral estão sujeitos

a um ambiente urbano que lhe é hostil não

só pelo vandalismo do Homem mas ainda

pela poluição que hoje, mais que nunca, é

grande responsável pela degradação destas

construções. …”21

21 PINHEIRO, Nuno Santos, “Património Construído – Marcos da História de um Povo que não Acaba em

Nós: Como Reconstruí-lo, Como Conservá-lo”, pág. 7

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2.1- Imóveis Classificados ou a Classificar

2.1.1- Imóveis Classificados pelo IPPAR

CASTELO DE LOULÉ

Monumento classificado como Monumento Nacional pelo Decreto-Lei n.º 9842, de

20 de Junho de 1924.

Localizado na Rua da barbacã - Loulé.

Com data de origem incerta, o

castelo de Loulé foi conquistado aos

Mouros em 23 de Novembro de 1249.

É provável que o Castelo, e as

muralhas tenham sido reconstruídos a

partir das antigas fortificações árabes,

sofrendo ao longo do tempo várias

alterações devido às invasões, do

terramoto e da expansão urbana.

Em 1268 D. Afonso III22 dá

ordens para reconstruir a fortaleza. As

muralhas seriam reedificadas a

mandado do 1º conde de Loulé, D.

Henrique de Meneses em 142223.

O terramoto de 1755 teve um

efeito devastador em toda a urbe,

nomeadamente nas muralhas,

derrubando-as parcialmente.

22 D. Afonso III de Portugal: (1210 - 1279), foi o quinto Rei de Portugal. 23 SERRA, Manuel Pedro, 1999 – Loulé: História e Expansão Urbana, Loulé: Museu Municipal de Loulé, Câmara Municipal de Loulé. pp. 6.

Imagem 4 – Lg. Do Chafariz, actual Lg. Afonso III.

Imagem 5 - Lg. Afonso III, vista parcial do Castelo.

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Por fim, a expansão urbana foi derrubando quase na totalidade o perímetro

amuralhado. Começando na zona oriental com o mercado e nas zonas restantes, as

muralhas foram sendo derrubadas para a abertura e expansão de ruas.

Como marcos do centro histórico e da antiga urbe medieval, temos hoje pequenos

troços, estes espalhados pela Praça da República, no Largo Afonso III, e nas ruas Eng.º

Duarte Pacheco, Barbacã, Martim Moniz, Garcia da Horta, Bicas Velhas e D. Paio Peres

Correia, alguns recentemente valorizados como o pano de muralhas da esquina sudoeste,

no Jardim dos Amuados. As torres e o caminho de ronda que as interligam, foram

reconstruídos pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos. A alcaidaria foi reabilitada

na década de 1980, recebendo as funções de Arquivo Municipal, em 1984 e de Museu

Municipal de Arqueologia, em 1995.

IGREJA DA GRAÇA

Monumento classificado como Monumento Nacional pelo Decreto-Lei n.º9842, de

20 de Junho de 1924.

Localizado no Largo Tenente Cabeçadas - Loulé.

Situada no actual Largo Tenente

Cabeçadas, o Convento da Graça Foi construído

no início do séc. XIV, esta edificação veio

valorizar a zona poente extramuros da urbe.

A Igreja terá pertencido a duas ordens,

sendo inicialmente dos Franciscanos Claustrais ou

Templários e em 1580 foi doada à Ordem de

Santo Agostinho, por ordem do cardeal-rei D.

Henrique.

Nos dias de hoje só restam ruínas e o

pórtico de estilo gótico semelhante ao da Igreja

Matriz é de arco quebrado, com três arquivoltas

que assentam sobre capitéis de motivos vegetais e

colunas monolíticas assentes sobre altos pedestais.

A Igreja foi destruída no terramoto de 1755, existindo hoje no local das antigas

capelas, pequenas construções sem valor arquitectónico.

Imagem 6 - Portal da Igreja da Graça.

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IGREJA MATRIZ DE LOULÉ

Monumento classificado como Monumento Nacional pelo Decreto-Lei n.º9842, de

20 de Junho de 1924.

Localizado no Largo da Matriz – Loulé

Localizada no extremo Sul do

perímetro amuralhado, e no local da

antiga mesquita Islâmica, a igreja

matriz foi mandada construir na

segunda metade do séc. XIII,

possivelmente entre 1251 e 1266, no

mandado de D. Dinis por ordem do

arcebispo de braga D. João Viegas,

que ordenou a construção de vários

templos no Algarve recentemente cristão. A Igreja da Matriz passou para a Ordem Militar

de Sant`Iago em Dezembro de 1298. O nome de S. Clemente deve-se à data da conquista

cristã aos mouros, que se deu no dia de S. Clemente.

A Igreja foi sofrendo alterações ao longo da história, apresentando elementos que

marcam os diferentes estilos artísticos vividos pelo edifício. No séc. XVI foram

acrescentadas as duas capelas laterais de estilo manuelino e cinco retábulos. A igreja foi

também sofrendo alterações nas variadas obras de reconstrução que seguiram os sismos de

1755 e 1856. Alguns elementos góticos foram repostos e valorizados pela DGEM na

última intervenção feita a seguir ao sismo de 1969, ajudando a manter a sua traça original

de estilo gótico meridional.

De planta longitudinal que respeita os esquemas góticos, a igreja é composta por

três naves e três tramos cobertos por madeira, separados por arcos quebrados de alvenaria,

assentes em colunas em pedra com capitéis decorados por motivos florais rudimentares. A

Cabeceira é composta por três capelas de planta rectangular, sendo duas em abóbadas de

cantaria, nomeadamente de berço a capela-mor e artesoada a capela lateral direita, a capela

lateral esquerda é em cúpula.

A fachada é rematada por cunhais em pedra aparelhada e divide-se em três corpos,

que depois de alteradas as alturas, deixam perceber as três naves que compõem a igreja. A

Imagem 7 - Igreja Matriz.

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fachada é centrada no corpo central por um óculo e o portal ogival de arco quebrado em

três arquivoltas.

A torre sineira foi construída sobre a base da antiga torre da mesquita islâmica,

sendo finalizada com pináculos24 e coroada com um coruchéu25 com cruz, estes elementos

resultaram das reconstruções feitas após o terramoto de 1755.

A iluminação da igreja é feita pelas janelas da cabeceira, pelo óculo da fachada

principal e pelas janelas das naves. Os interiores da igreja também sofreram alterações

apresentando hoje retábulos em talha barroca e rococó do séc. XVIII nas três capelas.

A matriz é ainda hoje utilizada

como local de culto, tendo resistido ás

alterações históricas e culturais ao

longo de oito séculos, sem perder a

sua função e importância religiosa na

urbe de Loulé.

A sua envolvente conseguiu

manter as características originais,

como as ruas e as praças que a

rodeiam. Como principal alteração, temos a poente da igreja o actual Jardim dos Amuados,

que substituiu o antigo cemitério intramuros da urbe.

24 …pináculos, significado: coroamento piramidal ou cónico de um contraforte, arcobotante ou muro, muito usado no gótico 25…coruchéu, significado: remate piramidal de uma torre ou de um campanário.

Imagem 8 - Igreja Matriz, actual.

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PORTA E CRUZEIRO DA MISERICÓRDIA

Monumento classificado como Monumento Nacional pelo Decreto-Lei n.º9842, de

20 de Junho de 1924.

Localizado na Avenida Marçal Pacheco – Loulé.

A antiga N.ª S.ª dos Pobres,

construída por volta do ano 1400

passou a chamar-se Igreja da

Misericórdia a partir de 1826. O

edifício teve como primeira função,

auxiliar a população mais

necessitada, passando em 1570

estar anexa ao primeiro hospital do

Algarve, que visava assistir os

soldados feridos vindos das campanhas de Tânger.

Os elementos de maior destaque da Igreja são os elementos manuelinos do seu

portal, a janela e o cruzeiro da escadaria. O portal de estilo manuelino, é composto por

colunas, capiteis e extradorso adornados com

motivos vegetalistas, o arco policêntrico é

emoldurado por pináculos e arcos côncavos

encimados por cogulhos26, típicos da arquitectura

manuelina religiosa. O cruzeiro é constituído por

uma coluna onde assenta um capitel e uma cruz

ladeada por duas figuras, nomeadamente a N.ª S.ª

do Ó virada para a igreja e Cristo crucificado

virado para a rua.

No interior da igreja destaca-se o retábulo da

capela-mor, datado de 1700, como sendo uma das

primeiras manifestações de talhas nacionais da

fase barroca.

26 …cogulho, significado: ornato arquitectónico de forma folhada, empregue na decoração de cornijas, arcos, coruchéus, pináculos, etc…

Imagem 9 - Hospital e Igreja da Misericórdia

Imagem 10 - Portal da Igreja e Cruzeiro.

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2.1.2- Imóveis de Interesse Público

CAPELA DA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO

Classificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto-Lei n.º 39175, de 17

de Abril de 1953.

Localizado n Rua Dom Paio Peres Correia – Loulé.

A Ermida da Nossa Senhora da Conceição foi

mandada construir por ordem de D. João IV, na

segunda metade do séc. XVII, em honra da N.ª S.ª da

Conceição, consagrada padroeira de Portugal. A

Igreja localizava-se extramuros, provavelmente anexa

às muralhas erguida posteriormente à Porta da Vila,

sendo hoje visível as ruínas da antiga porta no chão da

igreja. A Ermida é de planta rectangular com apenas

uma nave e sem capela-mor, de característica simples,

integrando-se no estilo chão.

A sua construção data do início da segunda

metade do séc. XVII mas o interior data do séc.

XVIII, tendo uma ornamentação barroca onde se

destacam as esculturas, os retábulos em talha, as imagens de S. Miguel arcanjo e do Anjo

da Guarda, a azulejaria figurativa de diversas cenas da vida da virgem. A pintura do tecto

do pintor Rasquinho27 foi substituída no séc. XIX por um tecto em estuque.

27 Rasquinho, Joaquim José de Sousa: (1736/1822), nascido em Loulé, pintor autodidacta, tornou-se num exímio retratista e pintor.

Imagem 11 - Ermida da N.ª S.ª da Conceição.

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CONVENTO DE SANTO ANTÓNIO

Classificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto-Lei n.º181/70 de 28

de Abril e por despacho de 19 de Novembro de 1984.

Localizado na estrada de Boliqueime – Loulé.

O actual Convento de Santo

António dos Capuchos veio

substituir o primitivo e então

arruinado convento, construído em

1546 nas proximidades, ao mesmo

tempo que a igreja. O convento

data de 1670 e foi mandado

construir por D. Francisco Barreto,

segundo bispo do Algarve. A

Igreja, embora adulterada, ainda existe. De planta longitudinal de nave única é

relativamente simples, destacando-se a capela lateral em cúpula, sendo um dos raros

exemplos arquitectónicos do barroco algarvio.

2.1.3- Imóveis de Interesse do Concelhio a Classificar pela CML

IGREJA DE SÃO FRANCISCO

Largo de S. Francisco

A igreja surge no local de uma

pequena ermida erguida extramuros, no

início do séc. XIV na época de uma

peste. A antiga ermida de S. Sebastião

do Robaldo, serviu de local para a

capela dos Irmãos Terceiros da Ordem

de S. Francisco. Estes fizeram obras de

ampliação, por sua conta, passando a

ter casas para os capelões e casas de

despacho, nascendo assim a Igreja de S. Francisco. No final do séc. XIX foram ainda

acrescentadas duas capelas.

Imagem 12 - Convento de Santo António.

Imagem 13 - Igreja de São Francisco.

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A nova igreja é marcada por uma combinação de estilos, onde se destacam os

elementos da fachada e os elementos decorativos do seu interior. A fachada é composta por

molduras dos vãos de janela e do portal principal de estilo manuelino, estes aproveitados

da antiga ermida, o campanário, destacando-se pelos seus três sinos em fila e a cúpula

renascentista, apesar dos diferentes estilos que demonstram as várias épocas históricas, a

igreja tem um aspecto modesto e humilde.

No interior é importante destacar a capela-mor com o seu retábulo barroco em talha

dourada e a azulejaria do séc. XVII que decoram e enriquecem a igreja.

ERMIDA DE NOSSA SENHORA DO PILAR

Travessa da Nossa Senhora do Pilar

A Ermida está situada junto à Porta

de Faro, adossada ás muralhas. Construída

na segunda metade do séc. XVII, é provável

que tenha sido construída no local de uma

antiga torre, devido à existência de uma

escada que liga o campanário ao caminho de

ronda.

De arquitectura muito simples, a

ermida de planta longitudinal é constituída

por uma só nave, capela-mor e sacristia. Os

materiais utilizados não eram os mais

nobres, sendo as suas paredes em alvenaria

de pedra, e as abóbadas de berço e de arestas

em madeira pintada e em cana, os

pavimentos são em madeira e tijoleira e o

altar revestido a azulejo.

Imagem 14 - Ermida da N.ª Sr.ª do Pilar.

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ERMIDA DA NOSSA SENHORA DAS PORTAS DO CÉU

Rua Eça de Queiroz

Edificada em 1600 por um casal

devoto, na zona nascente extramuros, a

ermida foi palco de festas e procissões

em sua honra.

A Ermida era inicialmente

apelidada de N.ª S.ª da Penha de

França, mudando de nome para o

actual, por pressão dos frades

Agostinhos, por já existir em Lisboa

um convento com a mesma designação. Posteriormente foram feitas algumas modificações

e ampliações, das quais se desconhecem as datas e os autores

CONVENTO DO ESPÍRITO SANTO

Praça da República

O convento surge da ocupação

gradual das habitações anexas à

Ermida do Espírito Santo. As freiras aí

instaladas desde os finais do séc. XVII,

deram assim origem ao Convento do

Espírito Santo.

Nos finais do séc. XVIII o

convento é alvo de obras de

reconstrução derivadas do terramoto de

1755, surgindo com isso o elemento mais relevante do convento, o claustro de influências

Neoclássicas e de estilo Chão.

O convento perdeu a sua função religiosa em 1836. Passando a abrigar o Tribunal

Judicial e a Câmara Municipal. Actualmente é ocupado pela Universidade Afonso III e por

uma galeria de arte.

Imagem 15 - Ermida da N.ª Sr.ª das Portas do Céu.

Imagem 16 - Convento do Espírito Santo.

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PALÁCIO GAMA LOBO

Rua da N.ª S.ª de Fátima

O solar dos Gama Lobo é um

edifício de dois pisos de estilo Chão

com grande interesse arquitectónico.

O edifício integra a actual capela de

Sant`Ana e a sua fachada é composta

por cunhais e soco em cantaria, uma

cimalha que remata a composição de

vãos, o brasão de pedra e o portal,

todos estes elementos são ricamente

trabalhados e decorados.

O edifício teve início de

construção no séc. XVIII, sendo

acabado apenas no último quartel do

séc. XIX, por embargo das obras

derivado pela lei imposta por

Marquês de Pombal que proibia a

construção de prédios particulares de

“quina aberta”28.

28 OLIVEIRA, Ataíde, 1905, Monografia do Concelho de Loulé, 3ª Edição, Algarve em Foco Editora, pp. 259.

Imagem 17 – Palácio Gama Lobo.

Imagem 18 – Palácio Gama Lobo e Capela de Sant`Ana.

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SOLAR FAMILIA BARROS E ARAGÃO

Rua Sacadura Cabral

Construído no séc. XVIII, o solar foi retirado à família, sendo ocupado pelos

franceses até à data da sua expulsão em 1808, Edifício de dois pisos, onde se destacam as

molduras dos vãos, nomeadamente, do portal e os dois óculos que o ladeam e

principalmente as janelas de sacada do piso superior.

EDIFICIO DOS PAÇOS DO CONCELHO

Praça da República

Imagem 22 – Edifício Paços do Concelho, Actual.

Situado na antiga Rua da Praça, o edifício foi mandado construir por José Rafael Pinto em

1842. Adquirido pela câmara em 1885 sofreu obras de adaptação.

Edifício de dois pisos onde a fachada principal é marcada pela inexistências de

janelas, apenas vãos de porta e dois óculos que ladeam o portal, no piso inferior e no piso

Imagem 19- Solar Barros e Aragão. Imagem 20 – Rua Sacadura Cabral e Solar Barros e Aragão.

Imagem 21- Edifício Paços do Concelho.

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superior todos os vãos são em janela de sacada emoldurados a cantaria e protegidas com

um gradeamento em ferro forjado. A rematar a fachada existe cunhais de cantaria e uma

cimalha. O telhado é único e de quatro águas.

MERCADO MUNICIPAL

Praça da República

Marcando a era industrial de

construção em ferro, este edifício

projectado pelo arquitecto Alfredo da

Costa Campos29 de estilo neo-árabe teve

início de construção em 1905 e foi

inaugurado em 1908. O Mercado de

Loulé é um símbolo do poder da

burguesia mercantil em ascensão, pela

sua dimensão, ocupando um quarteirão inteiro e pela sua localização, ao lado da CML,

sede do poder político. A construção do mercado implicou a expropriação e demolição de

diversas casas e também a destruição

de parte do troço amuralhado a norte e

a nascente.

O Mercado sofreu recentemente

obras de conservação, sendo ainda, nos

dias de hoje um centro de trocas

mercantis e local de encontro de

populações vindas de toda a parte do

concelho.

29 Arq. Alfredo Maria da Costa Campos: (1863 – 1911). Autor do projecto dos Paços do Concelho de Évora e de Oeiras e participou nos concursos: da igreja da Imaculada Conceição (menção honrosa) e foi 2º classificado na Exposição Universal de Paris em 1900.

Imagem 23 – Mercado de Loulé.

Imagem 24 – Mercado Loulé, Actual.

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CINE-TEATRO

Av. José da Costa Mealha

Projectado pelo arquitecto J.

Batista Mendes a pedido da recém-

criada Sociedade Teatral Louletana

fundada por vários particulares, o

edifício teve início de construção em

1925 e foi inaugurado em 1930.

O edifício foi feito de modo a

acolher as mais variadas vertentes da

arte como lírica, cinematográfica,

concertos musicais, serões, conferências artísticas, entre outras.

O edifício foi adquirido pela Câmara Municipal em 2003 e tem vindo a sofrer obras

de manutenção e reabilitação de modo a poder continuar a responder ás necessidades

exigidas para desempenhar as suas funções.

CORETO

Av. da Costa Mealha

O Coreto foi construído por

deliberação da Câmara Municipal por

proposta de José Ribeiro Ramos no

primeiro quartel do séc. XX de modo a

dar expressão á aptidão musical dos

músicos Louletanos.

Actualmente situado na

Avenida da Costa Mealha, o coreto

inicialmente estava situado no Largo

Gago Coutinho.

Imagem 25 – Cine-Teatro louletano.

Imagem 26 – Coreto.

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CAFÉ CALCINHA

Praça da República

Café de grande tradição da vida social em Loulé, foi palco de várias tertúlias entre

figuras de prestígio, nomeadamente António Aleixo30 de quem foi erguida uma estátua da

sua figura, na esplanada do café.

Réplica de um café brasileiro trazida por Prazeres & Reis a 1927, o seu interior é

marcado pela sanca ornamentada em madeira do Brasil.

FONTE DAS BICAS VELHAS

Rua das Bicas Velhas

As bicas velhas foram

construídas entre 1837 e 1887, estas

vieram substituir o abastecimento de

água á população que anteriormente

era feito no poço da alcaidaria.

30 António Aleixo: (1899 - 1949), embora nascido em Vila Real de S. António, passou maior parte da sua vida em Loulé, foi um poeta popular português, considerado um dos poetas algarvios de maior relevo, famoso pela sua ironia e pela crítica social, é recordado por ter sido simples, humilde e semi-analfabeto, deixou como legado uma obra poética singular no panorama literário português da primeira metade do século XX.

Imagem 28 – Café Calcinha, Actual.Imagem 27 - Café Calcinha.

Imagem 29 – Fonte das Bicas Velhas.

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2.2- PERÍMETRO HISTÓRICO

O Plano Director Municipal (PDM) de Loulé foi aprovado em 1994 tendo sido

ratificado em 1995, alterado na Resolução de Conselho de Ministros nº 66/2004 e ainda

por adaptação sob proposta da Câmara Municipal aprovada pela Assembleia Municipal de

Loulé a 28 de Janeiro de 2008.

O PDM de Loulé classifica, os núcleos urbanos antigos de Querença, Salir,

Boliqueime, Alte e São Lourenço, a zona Histórica de Loulé e também as zonas de

protecção aos imóveis classificados e a classificar, de “Espaços culturais”. (Cap. III,

Art.º18, 2008).

O capítulo III do PDM de Loulé visa promover a preservação e valorização das

malhas urbanas antigas assim como as suas características arquitectónicas dos aglomerados

urbanos, edifícios de maior interesse assim como a protecção dos imóveis classificados e a

classificar. Deste modo, pretende-se salvaguardar os espaços importantes do ponto de vista

histórico, assim como os seus valores urbanísticos e arquitectónicos que caracterizam e

identificam o centro histórico de Loulé.

O documento refere ainda os usos dominantes para a zona histórica assim como

para os núcleos urbanos antigos, onde o uso habitacional é o preferido podendo integrar

actividades terciárias e hoteleiras assim como instalação de estabelecimentos de

restauração e bebidas (Art.º19). É também descrito os procedimentos básicos para a

edificabilidade nos espaços culturais. Refere a necessidade de planos de pormenor para se

intervir em malhas urbanas que constituem os espaços culturais (Art.º20, n.º 1). Define

como princípio básico nas intervenções nos espaços culturais a conservação e recuperação

das edificações existentes (Art.º20, n.º 2). Nos casos intervenções de demolição ou

preenchimento de parcelas ou lotes não construídos, estas necessitarão de obedecer a

regras e procedimentos específicos: qualquer licença de demolição é precedida de uma

vistoria por uma comissão municipal criada para o efeito (Art.º20, n.º3, alínea a)); todos os

projectos de arquitectura referentes a obras de recuperação, conservação, adaptação ou

alteração de bens imóveis classificados são da responsabilidade de um arquitecto (Art.º20,

n.º3, alínea b)); Os processos de construção serão submetidos á apreciação da Divisão de

Cultura e Património Histórico (Art.º20, n.º 3, alínea c)); e dever-se-á respeitar sempre a

traça existente e integrar de forma harmoniosa na malha urbana existente, respeitando a

morfologia e volumetria da zona envolvente (Art.º20, n.º3, alínea d)).

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O Espaço Cultural da cidade de Loulé carece até à data de um Plano de Pormenor

de Salvaguarda e Valorização do centro Histórico. Em 1994 o Gabinete Técnico Local

elaborou um Plano Pormenor, mas este não chegou a ser aprovado.

Como meio de salvaguardar o Centro Histórico, foi aprovada em 2002, uma

proposta do Gabinete de Reabilitação Urbana que delimita uma área com cerca de 35 ha

envolvendo a Zona Especial de Protecção e os imóveis classificados pelo IPPAR. Este

perímetro que protege o núcleo histórico da cidade de Loulé foi denominado de “Área

Crítica de Recuperação e Reconversão Urbanística”.

A área crítica envolve toda a ZEP, logo toda a zona amuralhada partindo da sua

envolvente, estende-se sensivelmente de forma a integrar os aglomerados urbanos antigos

de maior valor histórico. O perímetro da área crítica é limitado: a sul, a Mouraria; a poente,

a zona do Convento da Graça, pela Rua Ribeiro da Graça, a Rua General Humberto

Delgado e os primeiros quarteirões a norte a Av. José da Costa Mealha; a norte, a área

crítica é delimitada pela zona do Alto de S. Domingos, pela Rua da Nossa Sra. De Fátima e

Rua do Serradinho; por fim a poente, é delimitada pela urbanização do Olival de S.

Francisco.

A zona histórica de Loulé beneficia assim de três zonas de protecção, onde cada

uma apresenta diferentes níveis restritivos de protecção ao seu legado histórico contra

intervenções abusivas ou destrutivas vindas do exterior, mantendo assim a sua imagem e

ambiência.

As três zonas funcionam como camadas de protecção contra a excessiva evolução

urbana, ao mesmo tempo que permitem uma permeabilidade controlada e regrada entre as

diferentes vivências mantendo o centro histórico vivo e actual e interligado com a restante

cidade.

Ilustração 8 – Perímetros de Protecção ao Centro Histórico de Loulé.

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2.3- CARACTERISTICAS DA MALHA URBANA E DO SEU EDIFI CADO

Completando o capítulo anterior que descreve a evolução Histórica da cidade de

Loulé, é importante agora abordar a malha urbana e a tipologia do edificado que compõe o

seu centro histórico. A malha urbana e o edificado antigo existente é característico da

época da sua construção, retratando desse modo o contexto histórico e social da

antiguidade em Loulé.

Na malha urbana é facilmente visível a diferença dos dois tipos de organização

viária e dos respectivos quarteirões. Na zona intramuros e nas primeiras expansões urbanas

a sul e a norte do recinto amuralhado, nomeadamente a Mouraria e o Alto de S. Domingos,

a malha urbana é orgânica, acompanhando a morfologia do terreno, logo a sua estrutura

viária é irregular e o interior das habitações não têm logradouros, retratando a falta de

planeamento urbanístico da época. Nas zonas de expansão mais recentes, nomeadamente a

urbanização do Olival de S. Francisco e a Av. José da Costa Mealha, a rede viária é

Imagem 30 - Vista Aérea do Centro Histórico de Loulé.

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organizada e os respectivos quarteirões

são em formas quadrangulares com

logradouros, é também já visível a

presença de espaços verdes que

conferem uma maior salubridade tanto

ás ruas como ás próprias habitações,

confirmando a elaboração prévia de

planos urbanísticos.

Quanto ao estudo do tipo de edificado, foram excluídos os edifícios com técnicas e

materiais construtivos que surgiram já pós revolução industrial, nomeadamente feitos com

estrutura em betão armado, dando relevância ao edificado de características arquitectónicas

tradicionais. Dentro do edificado tradicional, foram distinguidos cinco tipos de edifícios

com características construtivas tradicionais, construídos até ao início do séc. XX. Os tipos

de edifícios foram classificados segundo o seu período de construção, a sua localização, as

funções desempenhadas, as suas dimensões, e os seus elementos decorativos e

construtivos, dando assim origem à classificação de casas do tipo rural popular e do tipo

urbano popular para os edifícios mais comuns e edifício nobre urbano ou solar e edifício

burguês para as habitações de uma população mais nobre ou endinheirada.

A casa do tipo rural localiza-se

principalmente no interior do núcleo

amuralhado e nas zonas das primeiras

expansões extra-muros a sul, a

nascente e a norte do aglomerado,

nomeadamente no bairro da Mouraria e

na zona do Convento da Graça. São

encontrados ainda exemplos deste tipo

de habitação na zona de expansão mais

recente derivada da industrialização.

Imagem 31 – Diferença entre rua Intramuros e rua extramuros.

Imagem 32 – Casa tipo Rural Popular, Rua Garcia da Horta.

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A planta destas habitações é

simples onde a chamada “casa de

fora” serve de vestíbulo e de sala de

estar sendo completada por uma ou

duas divisões. A simplicidade da

planta é retratada pela volumetria e

pela fachada da casa, onde os

volumes são simples e de pequena

dimensão, apenas de um piso e com

cobertura maioritariamente de uma água, ou nalguns casos, de duas águas, que na sua

maioria derivava de ampliações. A fachada é igualmente simples, rectangular com uma

porta e uma ou duas janelas. Os vãos não têm qualquer tipo de moldura, sendo apenas

normal o degrau em pedra na porta de acesso a casa. A fachada, assim como a pedra do

degrau de acesso, são caiados de branco.

A casa encosta de ambos os lados com as construções vizinhas, alinhando com a

rua e o seu logradouro ou pátio tinha usualmente uma cerca de alvenaria caiada.

Os materiais utilizados nestas construções eram relativamente simples, para tornar a

construção mais económica. As paredes exteriores eram executadas em alvenaria de pedra

miúda não aparelhada, rebocadas e caiadas, as interiores eram em tabique de pedra ou

adobe. Os pavimentos são em ladrilho cerâmico artesanal e as coberturas em telha de

canudo artesanal, forrados no interior por encaniçado.

As casas do tipo urbano popular derivavam na sua maioria da reconstrução e

ampliação das casas de tipo rural, sendo por isso natural, as muitas semelhanças entre os

dois tipos de edifícios.

A localização, semelhantemente

ás de tipo rural, encontra-se na sua

maioria, nas ruelas do núcleo

amuralhado e nas primeiras expansões

extramuros. Sendo os lotes que

ocupam muito idênticos. A fachada

principal faz o alinhamento da rua nas

traseiras é usual existir um logradouro. Imagem 34 – Casa do tipo Urbano Popular, Rua dos Sapateiros.

Imagem 33 – Casa do tipo Rural Popular, Rua do Ribeiro da Graça.

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A planta evoluiu

organizacionalmente derivado ao

surgimento da cozinha interior e por

vezes pelo acrescento de um piso

sobrado. Substitui-se, a partir do séc.

XIX, a casa de fora, por um corredor

de acesso ás divisões do piso térreo

onde se encontrava a cozinha, e quando

este existia, ás escadas de acesso ao

piso superior, onde se encontravam os

quartos. Foi também comum a introdução de uma loja ou oficina com porta de acesso

independente.

Estas alterações a nível da planta reflectiram-se na volumetria e na fachada. Os

volumes continuaram a ser simples, porém, passando por vezes a ter dois pisos e a

cobertura, para além da inclinada de duas águas, surgiram as coberturas mistas,

conjugando a açoteia e o telhado, ou unicamente a cobertura em açoteia, para secar os

frutos locais. Com o surgimento das cozinhas interiores, apareceram também as chaminés

de tipo rendilhado. Na fachada, com o aumento da sua dimensão e do número de divisões

interiores, começaram a surgir melhorias técnicas e preocupações estéticas, como a

preocupação com a simetria dos vãos e a implementação de elementos decorativos como as

molduras dos vãos, na sua maioria em argamassa pintada, a separação dos pisos, o beiral

simples ou duplo, a cimalha, a platibanda, ainda que muito simples estes elementos

organizavam e embelezavam as fachadas, além de serem uma marca de afirmação social.

Os materiais construtivos também retratam uma melhoria técnica e construtiva,

surgindo paredes interiores em tijolo maciço, pavimentos em mosaico e soalho. Nas

coberturas, o tradicional encaniçado foi em parte substituído por tabuado de madeira e a

estrutura da cobertura em açoteia era executada em sistemas de abóbadas ou abobadilhas

de tijolo burro maciço e, no segundo caso, vigas de ferro.

Passando para os edifícios mais nobres, temos em primeiro lugar a casa do tipo

urbano burguês. Este tipo de construção data do séc. XVI até ao séc. XVIII surgindo no

período de prosperidade económica dos Descobrimentos. Este tipo de casa encontra-se,

igualmente às tipologias já referidas, disperso no núcleo amuralhado e nas primeiras

Imagem 35 - Casa do tipo Urbano Popular, Rua Martim Farto.

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expansões urbanas extramuros, embora ocupando os locais de destaque como gavetos,

cruzamentos ou largos e em ruas principais de comércio.

A organização interna já demonstrava uma mentalidade mercantil, tendo uma

entrada lateral com um lance de

escadas para o piso sobrado ou em

certos casos uma entrada central com

dois ou três lances. Nos piso superior

encontravam-se as áreas habitacionais

e no piso térreo a loja ou armazém.

A dimensão, embora,

permanecendo com uma volumetria

simples, aumentou substancialmente,

onde na maioria dos casos já

apresentam dois pisos com pé direito alto.

A cobertura contribuiu também para o aumento da volumetria, sendo na sua maioria

inclinada de três ou quatro águas.

A fachada permaneceu sem grandes elementos decorativos, apresentando melhorias

nos elementos já usuais, como a pintura em cor diferente à restante fachada de elementos

como molduras, socos, cunhais e pilastras, quando executados em argamassa. No caso de

elementos em cantaria estes eram executados em pedra calcária da região, esta já

emparelhada e bujardada. As cimalhas evoluíram em termos estéticos, tornando-se

balançadas e recurvadas. Nos

excepcionais casos em platibanda,

foram acrescentados cornijas na base

do coroamento. A maior alteração nas

fachadas traduz-se nos vãos, estes

aumentaram o espaçamento entre eles

assim com as dimensões em largura e

altura, surgindo nestas habitações as

janelas em sacada com varandim ou

varanda corrida em consola.

Os materiais utilizados na

construção deste tipo de casa urbana eram: a alvenaria de pedra irregular não aparelhada

para o levantamento das paredes exteriores; os tabiques em madeira ou adobe e tijolo

Imagem 36 - Casa do tipo Urbano, Lg. Prof. Cabrita da Silva.

Imagem 37 - Casa do tipo Urbano, Rua Eng. Duarte Pacheco.

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maciço para as paredes interiores; o soalho, mosaico ou ladrilho cerâmico para os

pavimentos e as coberturas eram executadas em estrutura de madeira com telha de canudo

artesanal e forrados interiormente em tabuado de madeira ou estuque.

As casas nobres ou solares

urbanos marcam a habitação

unifamiliar nobre em Loulé. Esta

tipologia surge no séc. XVIII e data até

ao séc. XIX e constituindo a habitação

de famílias de elevado poder

económico assim como quinta de lazer

e produção. Este tipo de habitação

localiza-se em pontos de maior

importância e prestígio, marcando uma

importante frente urbana, nomeadamente nas entradas da vila a sul, a poente e a este das

entradas do núcleo amuralhado, existindo também dois exemplos na antiga periferia da

urbe medieval.

A sua planta é dividida em duas funções, originalmente, o piso inferior destinava-se

a armazéns ou arrecadações, sendo o piso sobrado, o piso nobre da casa. O acesso ao piso

superior era feito pela escadaria nobre situada na porta principal, localizada no eixo central

do edifício.

De dimensão imponente, os solares apresentam uma volumetria quadrangular

simples marcada pela cobertura inclinada de quatro águas de telha em canudo. A fachada

possuía uma linguagem urbana, marcada pela simetria e pelo ritmo dos vãos que na

maioria dos casos era em número

ímpar. Os elementos como os socos, os

cunhais e molduras eram em cantaria e

em muitos casos com adornos

decorativos, como as vergas de vãos

rematadas com cornija, a cimalha

trabalhada e o friso de separação dos

pisos. O piso superior, andar nobre, era

marcado por janelas de sacada com Imagem 39 – Edifício de tipo Solar, rua Sacadura Cabral.

Imagem 38 – Edifício de tipo Solar, Rua N.ª Sr.ª de Fátima.

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varandim ou varanda em consola corrida assentes em cachorros de pedra elegantemente

trabalhada e com guardas em ferro forjado habilmente trabalhados. O eixo central da

fachada era marcada pela porta de maior imponência rematada com óculos circulares, oval

ou elípticos que a ladeavam, por

cima existia por vezes uma pedra-de-

armas da família.

Os lotes destas tipologias de

habitação eram originalmente de

grandes dimensões, onde o edifício

alinhava com a rua e ocupava toda a

frente do lote libertando as traseiras

para um pátio, quando este existia.

Era também usual, nos solares, a

existência de um pátio interior.

Os materiais utilizados eram idênticos aos anteriormente referidos embora de

melhor qualidade e melhor trabalhados.

Para finalizar as tipologias habitacionais da arquitectura tradicional urbana de

Loulé, resta falar dos edifícios urbanos de ecletismo romântico, que datam do séc. XIX ao

primeiro quartel do séc. XX, sendo que a partir desta data, os matérias de construção

sofreram uma grande alteração, devido à substituição de técnicas e materiais tradicionais

por o recente surgimento do betão armado. Este novo material marcou o início de uma

nova era na arquitectura, alterando por completo os seus limites e possibilidades.

Os últimos edifícios urbanos feitos com técnicas e materiais tradicionais, eram

marcados por um ecletismo de influências diversas, tentando conciliar diferentes teorias e

Imagem 40 – Edifício de tipo Solar, Lg. Prof. Cabrita da Silva.

Imagem 42 – Edifício Urbano de Ecletismo Romântico, Av. José da Costa Mealha.

Imagem 41 – Edifício Urbano de Ecletismo Romântico, Av. Marçal Pacheco.

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diferentes estilos arquitectónicos, nomeadamente formas regionais e influências barrocas,

numa composição que foi denominada de Ecletismo Romântico.

Estes edifícios encontravam-se predominantemente no eixo viário principal de

poente para nascente, local de maior actividade comercial, nomeadamente o largo Dr.

Manuel Arriaga, passando pelo largo de S. Francisco e a Praça da República até à Av. José

da Costa Mealha encontrando-se também exemplos na Av. Marçal Pacheco.

Estes edifícios tinham uma tipologia uni ou plurifamiliar e na maioria dos casos, o

piso térreo servia para comércio ou serviços. A entrada para o piso habitacional era lateral

com escada de apenas um lance ou central com dois

ou três lances iluminados por uma clarabóia. Os

edifícios são de grande dimensão e de forma

quadrangular simples, assemelhando-se aos solares.

Estas tipologias eram na maioria dos casos de dois

pisos embora existam casos de um terceiro piso em

águas furtadas ou trapeira no eixo central do edifício e

com caixas de escadas e fachadas elaboradamente

trabalhadas e decoradas.

A fachada destes edifícios reflectia o estilo

mais urbano, era plana e marcada pela grande altura

das janelas de sacada e de peitoril com ritmo simétrico

em relação ao eixo do edifício. A grande decoração

destas fachadas juntava diversas influências com características tradicionais, desde o

neoclássico31, o neobarroco32 ou o romantismo33 mais erudito ou popular de inspiração

vernácula. Os guarnecimentos dos vãos em cantaria ou imitação, eram ricamente

trabalhados com vergas rectas ou curvas, em arco abatido ou em arco de volta perfeita e na

sua maioria coroados com cimalha e medalhão central. As guardas dos varandins eram em

31 “…neoclássico, significado: a arquitectura neoclássica foi produto da reacção anti-barroco e anti-rococó, levada a cabo pelos novos artistas intelectuais do século XVIII. Os Arquitectos formados no clima cultural do racionalismo iluminista e educados no entusiasmo crescente pela Civilização Clássica, cada vez mais conhecida e estudada devido aos progressos da Arqueologia e da História. 32 “…neobarroco, significado: neobarroco é um termo usado para descrever criações artísticas que contêm importantes aspectos do estilo Barroco. Esse estilo insere-se no contexto da segunda metade do século XIX, sobretudo a partir de 1880, sendo predominantemente utilizado para a construção de teatros, visto que o Barroco contribuíra para uma grande expansão das artes cenográficas. 33 “…romantismo, significado: o romantismo retrata a época em que o sentimento é a característica dominante, mobilizando o sentimento de modo a evocar estados de espírito conducentes a uma poética do romance. Na arquitectura o romantismo é expresso na dialéctica de transformação dos monumentos clássicos e na interrupção dos sistemas académicos, permitindo novas combinações que levaram à introdução de novos significados nos elementos.

Imagem 43 - Edifício Urbano de Ecletismo Romântico, Rua de Portugal.

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ferro ricamente desenhados e trabalhados. As cimalhas eram assim como as platibandas, os

socos, as divisões entre pisos, as pilastras e os cunhais, ricamente trabalhadas e decoradas

com elementos geométricos ou vegetalistas.

A dimensão dos lotes destas tipologias eram de média a grande dimensão alinhados

com toda a frente de rua, permanecendo nas traseiras um pátio ou um logradouro.

Imagem 45 - Edifício Urbano de Ecletismo Romântico, Av. José da Costa Mealha.

Imagem 44 - Edifício Urbano de Ecletismo Romântico, Av. José da Costa Mealha.

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3- CARACTERISTICAS ARQUITECTÓNICAS

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3.1-FUNDAÇÕES

As Fundações são a fronteira entre o edifício e o terreno, sendo a zona de transição

de cargas do edifício para o solo, ou seja, são a base da sua estabilidade. É a fundação que

sustenta todo o peso do edifício transmitindo-o para o solo e é a partir destas que se

desenvolve a estrutura, tornando-se uma parte crítica para que toda a estrutura do edifício

funcione.

Características

As fundações dos edifícios

antigos são habitualmente constituídas

por sapatas contínuas pois a sua

estrutura é suportada pelas paredes

resistentes.

As fundações são constituídas

principalmente, por alvenaria de pedra

calcária não aparelhada, tendo como

ligante uma argamassa de cal e areia.

As fundações dos edifícios na cidade Loulé não necessitam de uma grande sobrelargura ou

de um grande cuidado para suavizar as diferentes resistências mecânicas entre os materiais

do edifício e do terreno, pois o terreno é calcário o que constitui um bom solo para a

construção. As fundações têm uma sobrelargura, entre quinze e vinte centímetros para cada

lado, em comparação com as paredes resistentes para fazer a transição entre o edifício e o

terreno, este mesmo sendo calcário é menos resistente, logo necessita de uma superfície de

contacto maior para que a área de distribuição do peso seja menos pontual, absorvendo o

peso do edifício sem ceder à compressão sofrida. Outra razão para esta sobrelargura é o

facto de a fundação ser uma zona difícil de trabalhar havendo uma maior possibilidade da

existência de erros, logo a sobrelargura criará uma margem de erro maior.

Embora a cidade esteja situada numa zona calcária, as zonas mais a sul são

constituídos por terrenos com resistência mecânica inferior, como os terrenos arenosos,

existindo a preocupação de conceber a fundação com alvenaria mais pobre que a da parede

resistente para que a transição entre elementos mais resistentes, o edifício, e elementos

Imagem 46 – Parede Mestra, Convento de Santo António.

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menos resistentes, o terreno, seja mais suave, constituindo assim o elemento de intermédia

resistência mecânica.

A base das fundações podem estar a relativa pouca profundidade ou necessitar de

atingir grandes profundidades para que cheguem à camada de terreno sólida, quando é

necessária uma grande profundidade esta pode ser feita de três formas, execução de uma

fundação de estacaria em madeira, pouco utilizada nos edifícios de Loulé, a execução de

caves de forma a baixar a cota do pavimento para tornar a fundação mais fácil de trabalhar,

ou por fim a solução mais utilizada em Loulé, escavar localmente o solo em secções,

realizando poços quadrangulares com a profundidade necessária para atingir a camada

resistente de terreno para a execução da base da fundação. Atingida a camada sólida de

terreno é necessário limpa-lo e compactá-lo para se encher a fundação. A base da fundação

é feito por uma camada de massame, de seguida leva a alvenaria de pedra ligada por

argamassa de cal hidráulica.

Uma boa execução da fundação, desde o estudo do terreno, a abertura e

profundidade da vala, à aplicação dos materiais apropriados evita ou retarda problemas que

possam surgir futuramente.

Anomalias

As anomalias nas fundações podem surgir a partir do terreno da fundação ou da

própria fundação.

As problemáticas de maior importância surgem do terreno, estes estão normalmente

associados à presença de água ou à descompressão do solo. Os problemas relacionados

com a presença de água são geralmente por alteração dos níveis freáticos. Estas alterações

afectam o equilíbrio do terreno provocando assentamentos devido ao arrastamento de

partículas pela água, criando descompressão do terreno da fundação.

Outro problema com a água é a humidade do terreno o que provoca alterações

tanto das fundações como dos pavimentos e das paredes do piso térreo, designadamente

eflorescências e bolores, deteriorando os materiais, como por exemplo o deslocamento de

revestimentos ou o destaque dos rebocos. A este fenómeno chamamos a humidade por

capilaridade, que consiste no ascender da água, pluvial ou freática, do solo para a estrutura

infiltrando-se na argamassa. Quanto maior for o contacto da estrutura com o solo maior

será a quantidade e água infiltrada. A água sobe até ás paredes, chegando atingir os 2

metros de altura, esta necessita de se evaporar para abandonar a estrutura. Este processo é

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cíclico e esta repetição de ciclos leva ao deterioramento dos materiais pois a água infiltrada

trás consigo sais dissolvidos do solo e dos materiais que são arrastados até á superfície da

parede onde finalmente a humidade se evapora cristalizando os sais, provocando a

degradação dos materiais.

As anomalias relacionadas com a fundação, são essencialmente provocadas por o

envelhecimento dos materiais, que pode ser natural ou precoce, ou por má execução da

fundação.

O envelhecimento dos materiais é normalmente provocado por acção de lavagem

da fundação por águas subterrâneas que arrasta as partículas constituintes da argamassa ou

por meteriorização da fundação provocada por escavações. A má execução deriva

normalmente por insuficiente dimensão ou profundidade, não tingindo camadas de terreno

resistentes, ou também pela má escolha e aplicação dos materiais.

Soluções

As soluções para a reabilitação das fundações podem ser desde simples

retardamentos de humidades a profundas intervenções a nível do terreno e da própria

fundação.

Para a resolução da problemática das humidades por capilaridade é necessário

impedir ou diminuir o acesso da água á fundação. Este processo consegue-se através da

criação, quando possível, de pendentes no terreno envolvente da construção, da

impermeabilização superficial do terreno, escavando o terreno adjacente à fundação

aplicando um reboco com material hidrófugo e se possível construindo valas periféricas

juntos ás paredes exteriores para possibilitar a drenagem do terreno para um tubo de

drenagem que se encontrará a um profundidade mínima de 0.50m abaixo do terreno do

pavimento.

Quando as anomalias existentes exijam uma intervenção mais profunda, como por

exemplo a alteração das condições do terreno da fundação, a insuficiência de dimensões ou

de resistência da fundação, ou mesmo por o projecto de reabilitação exigir um aumento de

peso nas fundações, é possível actuações em três níveis distintos:

. intervenção sobre o edifício, reduzindo ou transferindo cargas, como por exemplo

aumentar o número dos elementos de compartimentação ou os revestimentos;

. intervenção sobre o terreno da fundação, através da injecção do terreno geralmente

com caldas de cimento de modo a melhorar as características do solo, ocupando espaços

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vazios e impermeabilizando o terreno, ou através da substituição de terreno em camadas

para aumentar a resistência do terreno;

. intervenção sobre a fundação, esta pode ser feita através de cinco tipos diferentes

de intervenção: a consolidação do material da fundação, o alargamento da base da

fundação, o confinamento lateral da fundação sem recalçamento, a transferência de cargas

para camadas de terreno mais profundas com recalçamento e por fim, a transferência de

cargas para camadas de terreno mais profundas sem recalçamento.

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3.2-PAREDES MESTRAS

As paredes mestras são as paredes estruturantes do edifício, são as paredes que

suportam as cargas do edifício, suportando as cargas verticais de natureza gravítica como

o peso dos pisos sobrados e das coberturas e nomeadamente horizontais no caso de

choques acidentais, sismos e a força do vento.

As paredes estruturantes apresentam geralmente independentemente da região do

país uma grande espessura, que nos casos dos edifícios de Loulé variam entre os 0,40 m e

os 0,90 m. Estas dimensões justificam-se principalmente por razões de natureza estrutural e

mecânica. Os materiais utilizados apresentam uma fraca resistência à tracção e ao corte,

mas pelo contrário, uma razoável resistência a esforços de compressão. Assim a largura da

parede justifica-se pelo peso que isso lhe confere aumentando assim a resistência devido a

compressão que daí resulta, tornando-a mais resistente aos esforços horizontais e

deslizantes como a impulsos de terras ou elementos estruturais como arcos ou abóbadas. A

grande largura da parede deve-se também à necessidade de torná-la menos esbelta e logo

mais resistente ao risco de empenar. Por último, com o aumento do peso estabilizador, o

aumento da largura corresponde ao aumento do seu núcleo central, logo aumenta a

capacidade da parede de suportar forças de derrubamento, sem se correr o risco de

existirem tensões de tracção, as quais levariam à fendilhação do material.

A grande espessura das paredes mestras estaria explicada apenas pelas razões

apresentadas no parágrafo acima, mas outra razão que justifica a largura das paredes são as

suas funções, no caso das paredes exteriores, de proteger o interior do edifício contra os

agentes atmosféricos, nomeadamente, o vento e a chuva. Esta largura corresponde ao

caminho que a água, o vento e a variação de temperatura terão de percorrer desde o

exterior até ao interior habitado do edifício. Esse acidentado percurso corresponde ao

período que a água das chuvas do inverno demorará a passar o interior da parede, sendo

suficiente para que entretanto chegue a estação seca, assim como o tempo que a humidade

das chuvas infiltrada na parede demorará a percorrer o mesmo percurso, mas do interior

para o exterior até se evaporar, será suficiente para que entretanto passe a estação seca e

volte a estação das chuvas, voltando a reiniciar-se o ciclo. Obviamente estes ciclos não são

rigorosos, logo este equilíbrio não é perfeito, existindo anos em que a estação das chuvas

se prolonga por um período de tempo excessivo, ou mesmo o próprio uso da habitação

origine uma humidade excessiva, causando assim infiltrações no interior das habitações.

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3.2.1Paredes em Alvenaria de Pedra

Características

As paredes mestras dos edifícios em Loulé são predominantemente em alvenaria de

pedra, exceptuando alguns casos pontuais onde é utilizado o tijolo maciço ou mais raro

ainda a taipa.

“… No Baixo Algarve, a taipa concorre

com a pedra, embora esta seja hoje usada

em muito maior escala. Tavira e Loulé

tiveram muralhas de taipa, de que ainda se

encontram restos encastrados em cubelos e

lanços de pedra.…”34

A pedra utilizada nos edifícios antigos em Loulé é geralmente calcária e muito

pontualmente de xisto margoso. As dimensões e forma das pedras utilizadas variam

consoante o tipo de construção, sendo utilizada alvenaria de pedra irregular, não

aparelhada de dimensões menores, nas construções mais populares, e de dimensões

maiores nas construções mais ricas. Também podemos encontrar, mas mais pontualmente,

casos de alvenaria de pedra aparelhada como no casos das muralhas onde estas alternam

fiadas de pedra de grandes dimensões com fiadas de pedra mais pequena, que servem para

corrigir os espaços e os alinhamentos entre os blocos maiores, diminuindo assim a

excessiva espessura do ligante.

A alvenaria de pedra consegue apresentar juntas com cerca de 2 a 4 cm de

espessura, isto devido à utilização da pedra mais pequena que diminui o espaçamento entre

os blocos maiores. Para ligar a alvenaria é utilizada a argamassa à base de cal, este é o

ligante tradicional e o mais aconselhado. Este ligante é aplicado em finas camadas para

possibilitar seu endurecimento.

34 RIBEIRO, Orlando, 1992, Geografia e Civilização – Temas Portugueses, 3ª Edição, Livros Horizonte, pp. 41.

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Imagem 48 – Uso do perpianho na junção de duas paredes.

Imagem 47 – Molduras de Vãos.

As paredes de alvenaria necessitam de elementos que possibilitem e assegurem a

estabilidade estrutural quando surge necessidades de desenho arquitectónico simples como

o rematar de duas paredes

perpendicular ou a abertura de vãos de

menor ou maior amplitude. Estes

pormenores que asseguram a

estabilidade estrutural começam pelo

desfasamento das juntas, de forma a

criar um imbricado que dificulte o

progredir de fendas. Ainda na

construção da própria parede é

também importante o uso do

perpianho35 que é a pedra que atravessa a parede de face a face que evita anomalias

estruturais, finalmente a execução de cunhais na junção de dois planos de parede podem

ser com perpianhos de maior ou menor dimensão bem emparelhados de forma a rematar a

junção das paredes garantindo assim uma melhor estabilidade estrutural. Para finalizar os

planos da parede pode-se ainda referir, embora pouco utilizado na construção em Loulé de

elementos metálicos que podem ser aplicados na construção de raiz ou em intervenções de

reabilitação estrutural, que consiste na utilização de tirantes de ferro que são ancorados nas

extremidades de duas paredes. Esta utilização de reforço estrutural é meramente passiva

apenas sendo utilizada em casos de deformação estrutural como movimentos de origem

térmica, assentamentos de fundações

ou empenamento das paredes.

A abertura de vãos é outro dos

aspectos construtivos de maior

importância pois implica uma

interrupção da estrutura da parede o

que implica um reforço na periferia

dessas aberturas de modo a garantir a

sua estabilidade. Os materiais

utilizados variam consoante a

35 …perpianho, significado: pedra que acompanha toda a largura do muro, tendo as duas faces visíveis aparelhadas.

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disponibilidade dos materiais da região, da dimensão do vão e da importância estrutural da

parede.

As soluções utilizadas variam das mais simples como a utilização de lintéis de

pedra que atravessam a abertura e apoiam-se nas extremidades da parede, esta solução

adequa-se a pequenas aberturas pois tem uma capacidade de resistência muito limitada.

Outra solução é a utilização de lintéis de madeira, aplicam-se toros redondos em

número variável consoante a espessura da

parede.

Na construção mais evoluída

encontramos o sistema de arcos que distribuíam

o peso para as extremidades dos vãos.

Inicialmente esta técnica surgiu em forma de

simples triângulos compostos por três elementos

de pedra. Evoluindo para arcos de pedra

previamente talhada para a forma desejada. Mais

tarde surge nas construções mais nobres os arcos

em tijolo maciço, que consiste na utilização de

blocos paralelepipédicos onde as juntas de

argamassa, de forma trapezoidal, lhes dão a

forma arqueada.

Por fim é necessário reforçar as

extremidades laterais dos vão, pois o peso transmitido pelo lintel nessa zona é mais

elevado. Este reforço é garantido ou por fiadas de tijolo ou alvenaria de pedra aparelhada

ou então pelo uso de cantaria nas construções mais ricas.

Anomalias

As anomalias nas paredes mestras são maioritariamente a desagregação, o

esmagamento e a fendilhação. Estas são provocadas por causas de natureza diversas, como

por exemplo razões de natureza estrutural, de natureza humana, ou devido à presença de

águas e acção dos agentes climatéricos.

No caso das estruturas em madeira o caso mais frequente é o seu apodrecimento,

por ataques de fungos ou por destruição devido ao ataque de carunchos. Estes fenómenos

estão normalmente ligados á presença esporádica, mas regular de águas com a madeira.

Imagem 49 – Arco de distribuição de peso.

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As fendilhações surgem

principalmente nas zonas onde a

parede se encontra mais frágil, como as

aberturas de vãos ou na ligação entre

duas paredes ortogonais. No primeiro

caso a razão da sua fragilidade deve-se

á concentração de esforços nas

extremidades do vão, de modo a

compensar a ausência destes em toda a

secção da abertura. No caso da junção de

duas paredes ortogonais, as fendilhações surgem devido ao facto destas poderem sofrer

movimentos diferenciados o que leva a esforços opostos.

Uma das principais causas das fendilhações nas paredes é o movimento por

assentamento das fundações, estas podem surgir sob várias fendas que progridem

verticalmente pela parede, atingindo larguras suficientes para que as duas margens se

desprendam totalmente. Este tipo de fendas, quando em estado avançado, podem originar o

colapso da parede.

Os sismos são também razão para o surgimento de fendas. Este tipo de fendas surge

novamente nas zonas de maior fragilidade e normalmente na diagonal, pela dissipação, por

parte da parede, das forças de corte aplicadas durante um sismo, abrindo fendas nos pontos

mais fracos da estrutura, que normalmente são as juntas. Estas fendas surgem devido à

fraca resistência das paredes de alvenaria de pedra a forças de corte.

Outra das razões que levam ao surgimento de fendas são as coberturas que podem

surgir por deficiente isolamento térmico, por abatimentos de arcos ou por má execução das

asnas. As alterações de temperatura provocam variações dimensionais da cobertura,

expandindo-a horizontalmente, que por sua vez criam fendas na ligação da cobertura com a

parede. O abatimento de arcos ou de asnas provocam sobrecargas horizontais excessivas,

traduzidas em forças de corte que levam ao surgimento de fendilhação nas paredes de

suporte da cobertura. Este fenómeno pode levar também à fendilhação na junção de

paredes ortogonais, pelo facto de estas estarem a receber esforços diferenciados.

Passando agora para a desagregação, embora de menor dimensão e mais usual,

estas anomalias quando descuidadas podem levar a danos graves. As anomalias mais

generalizadas podem ser provocadas por um conjunto de factores, actuando isoladamente

Imagem 50 – Fendilhação e Desagregação em zonas frágeis da parede.

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ou em conjunto, como a acção de agentes climáticos, fendas não reparadas, presença de

água das chuvas ou domésticas e pela poluição.

A poluição é responsável pelo

desgaste superficial das paredes, afectando

principalmente paredes em que a pedra

utilizada é de menor qualidade como alguns

calcários e arenitos, nomeadamente o adobe

ou a taipa. Este factor de desagregação é

facilmente contrariado através de acções

periódicas de conservação.

A água é o principal factor de

degradação das paredes. As humidades

infiltradas nas paredes percorrem os

percursos mais acessíveis, sendo estes os

pontos fracos das paredes como as fendas e

juntas. Ao percorrer o interior da parede a

água dissolve os sais solúveis das

argamassas e dos próprios elementos constituintes da alvenaria, modificando a estrutura da

parede. Conforme percorre a parede, a água vai ficando cada vez mais rica em sais, até que

as condições climáticas e de humidade provocam a sua evaporação libertando os sais no

interior ou entre a parede e o revestimento. Este ciclo rítmico desgasta a parede pois retira

sais onde este são necessários, deixando vazios que fragilizam as argamassas, e por fim

depositando-os em zonas onde se tornam excessivos, criando assim a desagregação dos

rebocos e mesmo fendas nas paredes. Esta acção é piorada quando as águas são poluídas

como nos casos de ruptura de tubos de

drenagem de águas residuais.

Os factores climatéricos que

degradam as paredes passam também

pelo vento que transporta poeiras e

areias e pelas alterações consecutivas

de temperatura, que degradam a

parede pela sucessiva alternância entre

calor e frio traduzindo-se em

Imagem 51 – Desagregação do Reboco.

Imagem 52 – Colapso de Parede de Alvenaria de Pedra.

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constantes contracções e expansões da parede.

As desagregações podem provocar profundas alterações das características

mecânicas das alvenarias como a redução de resistência à compressão e ao corte. Esta

diminuição de resistência pode manifestar-se de várias formas, desde a ruptura de

fragmentos, ao abaluamento das paredes até a ruptura da própria parede.

Soluções

As soluções de reparação de paredes mestras passam essencialmente por cuidados

a nível de humidades, através de drenagem seguida de impermeabilização, consolidação e

reforço das paredes através de injecções, aplicadas à colmatação de fendas e de vazios,

substituição do material degradado, adição de elementos metálicos para cozer fendas ou

para ligação entre elementos e adição ou introdução de uma estrutura de betão.

Para efectuar a drenagem de uma parede é recomendado em primeiro lugar verificar

os níveis de humidade através de um humidímetro, de seguida consoante o caso

apresentado aplicar-se-á a solução que melhor se adeqúe ao tipo de humidade presente na

parede.

Para a humidade por absorção é aconselhado a substituição dos materiais afectados

por materiais com características similares. De seguida é necessário refazer as juntas

afectadas restituindo-lhes a permeabilidade.

Para a humidade por penetração é necessário em primeiro lugar reparar a causa da

penetração como tubos da rede de águas, de esgotos ou de condução de águas pluviais, que

em muitos casos se encontram no interior da parede. De seguida é necessário efectuar a

reparação das zonas afectadas como as juntas ou argamassas.

Nos casos de humidade por infiltração como a humidade por capilaridade é

necessário retardar o acesso da água através de impermeabilização e da criação de

pendentes no terreno que dificultem o acesso da água ás fundações, pavimentos e paredes.

Para a consolidação e reforço das paredes mestras existem técnicas que respondem

a vários níveis de reabilitação consoante as anomalias apresentadas.

O recurso às injecções destinam-se a repor as condições de integridade das paredes,

como já falamos nas fundações, o preenchimento de vazios. Mas para além de repor as

condições de integridade, as injecções também servem para melhorar as características

intrínsecas da alvenaria e da argamassa, havendo a possibilidade de dar às alvenarias

antigas, características semelhantes ás das alvenarias correntes ou mesmo controlar o nível

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de resistência da alvenaria,

seleccionando o material da injecção e

controlando o processo de injecção.

A substituição do material

degradado através de técnicas

tradicionais é uma opção com muito

interesse pois, quando bem efectuada,

garante a compatibilidade entre os

materiais novos e os existentes. Esta

técnica consiste na remoção do

material da secção degradada e a sua substituição por material novo com características

semelhantes. Nesta técnica é muito importante a selecção das argamassas, pois é necessário

garantir a compatibilidade, mesmo quando o material é idêntico e controlar a sua retracção,

pois esta dará origem ao surgimento de tensões tangenciais entre as superfícies de contacto,

o que originará fendas na ligação.

Existe também a possibilidade de se recorrer á adição de elementos metálicos que

irão reforçar a resistências das alvenarias. Estes elementos metálicos passam por redes

metálicas, gateamento de fendas até ao uso de tirantes nos casos de maior necessidade de

reabilitação.

As redes metálicas são uma

intervenção de menor impacto na

estrutura da parede, estas são utilizadas

para reforçar as argamassas, como por

exemplo na junção de uma argamassa

nova a uma já existente.

Uma utilização de elementos

metálicos com maior impacto será o

gateamento de fendas. Esta técnica

consiste em unir os dois lados da fenda

com grampos de aço, sendo necessário

garantir que os gatos atravessem

completamente as fendas. É aconselhado complementar esta técnica com injecções nas

fendas de modo a impedir a concentração excessiva de tensões nos elementos metálicos.

Imagem 53- Injecções em Parede de Alvenaria.

Imagem 54 – Rede Metálica de Reforço da Argamassa.

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Por fim temos os tirantes

metálicos, estes aplicam-se quando é

necessário consolidar as paredes

através da interligação de paredes

ortogonais e da reparação de fendas

causadas normalmente por

assentamentos de fundações e por

sismos. Este método funciona pela

colocação de tirantes de aço, embutidos nas alvenarias e devidamente ancorados, de forma

a exercerem forças de tracção. Estes tirantes podem ser passivos ou activo conforme a

forma como são mobilizados.

Os tirantes passivos não afectam as condições de equilíbrio das paredes e a sua

utilização é mobilizada apenas na ocorrência de situações que alterem os equilíbrios

normais ou anteriores como por exemplo, a ocorrência de assentamentos, sismos ou

impulsos horizontais. Estes tirantes têm o problema de a sua mobilização apenas ocorrer

depois de dar-se um deslocamento e com o passar do tempo perde-se o efeito de

esticamento devido ao efeito de relaxamento do aço.

Os tirantes activos permitem o controlo do esticamento, controlando-se a

deformação do tirante e a fendilhação da alvenaria e beneficia a capacidade resistente da

alvenaria, pois como se sabe, quanto mais compressão existir mais resistente a alvenaria se

torna, especialmente a forças de corte. Em contrapartida, como o próprio nome indica, o

tirante activo aplica um pré-esforço na alvenaria o que altera as condições de equilíbrio da

estrutura, pois altera o estado de tensões e extensões, o que pode provocar deslizamentos e

cortes, tão ou mais graves como as que a sua aplicação pretendia resolver.

Uma outra solução para a consolidação e reforço das paredes mestras de alvenaria é

o reticolo cementado. Esta técnica consiste na introdução de um reticulado de barras de

aço através de furações feitas na parede e posteriormente injectadas com caldas de

cimento. Esta técnica para além de respeitar as características da alvenaria, pois foi

desenvolvida unicamente para esta função, permite o aumento de resistência á tracção que

a parede de alvenaria não possui. Em contrapartida o reticolo cementado é uma técnica

patenteada, logo dispendiosa e por isso pouco utilizada não só a nível nacional mas

também internacional. O facto de ser patenteada também limita a sua divulgação e

experimentação o que leva à existência de pouca informação sobre a mesma.

Ilustração 9 - Tirantes Metálicos.

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Para finalizar as intervenções em paredes de alvenaria temos a introdução de betão

armado. Esta técnica apesar de utilizada é desaconselhada pois tem desvantagens que

afectam o equilíbrio da própria alvenaria. Como solução temos a estrutura de betão

reticulada que pode ser embutida na parede ou exterior a esta. Tanto a solução aplicada no

interior da parede como a do exterior, trazem problemas devido à desproporção entre a

rigidez dos elementos de alvenaria e de betão pelo seu diferente comportamento em

relação aos diferentes esforços submetidos. Como exemplo temos o caso das estruturas que

são embutidas na parede de alvenaria, nestes casos existe o problema de uma estrutura de

betão ser projectada e desenvolvida para aguentar as cargas verticais e horizontais a que é

submetida, logo retira o peso próprio da parede de alvenaria, ou seja as forças de

compressão que as paredes de alvenaria necessitam para manterem a sua resistência.

Nas paredes mestras com elementos em madeira as principais anomalias são a

degradação da madeira e dos elementos de ligação entre a madeira e os outros materiais,

como as paredes, as coberturas e os pavimentos. Esta degradação é normalmente

provocada pela deterioração dos elementos metálicos, como a corrosão dos pregos ou por

ataques de fungos que normalmente surgem em zonas húmidas.

Nestas anomalias a solução mais adequada passa pela reposição e possível reforço

das zonas de ligação afectadas, reconstituindo ou substituindo as partes dos elementos

deteriorados, tanto os elementos em madeira como os elementos metálicos.

Embora em Loulé prevaleça a construção em alvenaria de pedra, existem também

apontamentos de construção em tijolo maciço, taipa e adobe.

Estes tipos de paredes aparecem excepcionalmente nalgumas construções em Loulé

ou nos arredores, como exemplo da construção em taipa temos a Torre de Vela, na Rua

Eng. Duarte Pacheco.

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3.2.2- Paredes em Alvenaria de Tijolo Maciço

As paredes em alvenaria de

tijolo maciço dos edifícios antigos de

Loulé, utilizavam tijolos de concepção

local com dimensões de 20 × 12 × 5

cm.

A anomalia mais comum neste

tipo de paredes é a degradação das

argamassas de reboco, normalmente

nas zonas de maior fragilidade como os

cunhais e pontos de rotura como nos algerozes e tubos de queda. Estas anomalias devem-se

em grande parte a erros logo na fase de execução que podem surgir do projecto, do

material utilizado ou mesmo da aplicação deste. A degradação da argamassa de reboco

leva a sua desagregação deixando de proteger o tijolo, o que por sua vez, leva à sua

degradação.

Para proceder à reparação de uma alvenaria de tijolo maciço é aconselhado em

primeiro lugar diagnosticar se a origem do problema é exterior à alvenaria para no caso

proceder-se à reparação ou substituição desses elementos.

Se a anomalia for nas juntas, deve-se proceder á reparação ou remoção destas e no

caso dos tijolos, se a degradação for mínima, pode-se recoloca-los com a zona degrada

para o interior. É aconselhável o uso de argamassa de cimento e se possível substituir a

existente por argamassa de cal, mais adequada para este tipo de paredes.

No caso de haver a necessidade de demolir e reconstruir parcialmente a parede

deve-se substituir apenas os tijolos degradados. Os tijolos devem ser aparelhados de forma

igual aos pré-existentes e devem ser similares na cor, textura e durabilidade para reagirem

as acções exteriores de igual forma.

No caso de se pretender deixar a alvenaria de tijolo á vista, não se deve aplicar tinta

nem envernizar a alvenaria, neste caso é aconselhado apenas a aplicação de materiais

específicos de reabilitação.

Imagem 55 - Parede em Alvenaria de Tijolo Maciço.

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3.2.3- Paredes em Taipa

A arquitectura em terra do

Algarve e nomeadamente de Loulé tem

um elevado valor patrimonial, sendo

necessário preservar e qualificar este

tipo de construção.

A construção, sobretudo de

habitações em taipa e em adobe não é

muito comum no meio urbano, sendo

que este tipo de construção se encontra

principalmente no meio rural.

A construção em terra apresenta várias vantagens que justificam o seu uso tanto em

arquitectura contemporânea como principalmente em intervenções de reabilitação. Este

material é em primeiro lugar acessível, económico, reciclável e não poluente na sua

produção e aplicação e apresenta vantagens a nível construtivo significativos como o peso

próprio reduzido, elevada porosidade, elevada resistência á compressão, excelente

comportamento térmico e por fim é deformável na ocorrência de sismos.

As paredes de taipa dependem muito da qualidade da sua execução apresentando

assim maior ou menor durabilidade e maior ou menor isolamento térmico. A taipa tem

como composição 20% de argila, 10% de gravilha, 40% de areia e 30% de silte que serve

de ligante para composição.

As fundações são de alvenaria de

pedra e elevam-se cerca de 0,50 m acima do

solo de modo a evitar o contacto da taipa

com o pavimento protegendo-a assim da

humidade e de uma maior desagregação.

Em cima das fundações é feita a

parede com cerca de 0,40 a 0,60 m de

espessura, esta espessura depende dos

Imagem 56 – Torre da Vela, Construção em Taipa.

Ilustração 10 – Instrumentos Para a Realização de uma Parede em Taipa.

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enxaiméis36, estes são enchidos de terra de

barro compactada em várias camada, dando

assim a forma à parede através de vários

blocos desenhados pelos próprios enxaiméis.

Os cunhais são feitos com os blocos

intercalados, através de contrafiadas e as

juntas são feitas com argamassa de cal hidráulica reforçada com tijoleiras.

Para a abertura de vãos, após a conclusão da parede são aplicadas padieiras37 com a

forma da abertura de modo a poder proceder-se á escavação do vão. Feita a abertura

conclui-se com o guarnecimento do vão com madeira, cantaria ou tijolo.

Terminada a execução da parede, esta é lavada pelas águas da chuva para depois ser

rebocada e caiada. Este acabamento é da maior importância pois dele depende a

durabilidade da parede.

As Patologias mais frequentes nas paredes em taipa são a degradação e

consequentemente a desagregação do reboco e o apodrecimento das madeiras da cobertura

e dos lintéis no contacto com a parede. Nos casos de maior gravidade poderá dar-se a

desagregação da própria parede.

Para a reparação do reboco aconselha-se a remoção da secção degradada e a sua

reparação ou substituição por um reboco novo mas com características semelhantes.

Para o apodrecimento das madeiras a solução será repara-las ou substitui-las

envolvendo os encastres dos barrotes com barro.

Por fim no caso de desagregação da parede é aconselhado a regularização da falha

em forma de prisma de modo a fazer separadamente uma forma em taipa para depois

preencher o espaço em falta, estas duas operações devem ser feitas de modo a deixar a

superfície de contacto de ambas rugosa, para facilitar a ligação entre as duas.

36 …enxaimeil, significado: tabuões ou estacas que, com varas, constituem o engradado das paredes de taipa, destinado a receber e manter o barro amassado. 37 …padieira, significado: o mesmo que verga ou lintel. Verga: Viga grande colocada sobre alvenaria, maciços, pilastras e destina-se a suportar grandes cargas.

Ilustração 11 – Fundação, e Parede Feita por Enxaiméis.

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3.2.4- Paredes em Adobe

O adobe é o material menos

comum na construção tradicional de

Loulé e como a taipa tem mais

presença no meio rural. Este material

era mais usado na construção de

paredes interiores.

O adobe tem como

componentes 17% argila, 15% silte,

65% areia e 3% fibras vegetais como

palha, crina de animais e caroços de

azeite. O bloco de adobe era feito no local da obra, para isso eram utilizados moldes onde

se colocava a terra amassada com água, de seguida eram retirados os moldes e o adobe

secava ao sol. As dimensões da parede variavam consoante a sua altura, exigindo maior ou

menor número de fiadas. Para reforçar a parede por vezes eram colocados pedaços de telha

ou uma argamassa forte de cal e areia entre cada fiada.

Imagem 57 – Blocos Artesanais de Adobe.

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3.3- PAREDES DE COMPARTIMENTAÇÃO

As paredes de compartimentação eram inicialmente projectadas apenas com a

função de separar e organizar os espaços interiores, mas em muitos casos passam a ter uma

função estrutural devido á cedência dos pavimentos, pois com o envelhecimento natural e

pelas características de resistência e elasticidade das madeiras, estas aumentam a sua

flecha, apoiando-se nas paredes divisórias que oferecem resistência e travam a deformação

vertical, passando deste modo a ter uma função estrutural.

Estas paredes têm diversas soluções, que vão desde as mais regionalistas, como as

paredes em blocos de adobe e taipa, ás que se expandiram por todo o pais, como as paredes

em tabiques, que são as mais utilizadas nos edifícios antigos de Loulé.

As paredes de tabiques podem ser feitas por fasquiado de madeira, a solução mais

frequente, ou em tabiques de pedra ou tijolo, estas usadas em construção mais modesta por

serem mais pesadas e menos resistentes, logo mais económicas.

Os tabiques em fasquiado de

madeira tinham cerca de 0,15m de

espessura, estes eram feitos a partir de

prumos verticais de madeira separados

entre si cerca de 0,50 a 0,70m, sobre

estes eram pregados,

perpendicularmente, o fasquiado de

ripas de madeira separados cerca de

1cm entre si, completando-se o

esqueleto de madeira. Sobre o

esqueleto era colocado o emboço e o

reboco em argamassa de cal, areia, barro e fibras, como pelos e fibras sintéticas. Para

finalizar o revestimento do tosco da parede, esta era caiada ou estucada.

Os tabiques de pedra ou tijolo eram utilizados em construção mais modesta pois

esta solução era menos dispendiosa que a estrutura em madeira. Esta solução é também

composta por um esqueleto em madeira, mas este sistema usa apenas um pequeno número

de fasquiados sendo o espaço preenchido com pedras irregulares ou tijolos argamassados.

O tosco da parede completa-se com o revestimento de argamassa de cal caiada ou

estucada.

Imagem 58 – Parede em Tabique de Madeira.

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As patologias dos tabiques surgem

maioritariamente por excesso de humidade.

Esta cria danos em diferentes zonas da

estrutura, podendo surgir no reboco por

fissuração ou desaprumo, nas madeiras por

apodrecimento e nos pregos pela corrosão do

metal.

A humidade que afecta as paredes

interiores, não vem do exterior, como é

normal nos outros casos, esta vem do próprio

edifício. Para reduzir as humidades no

interior do edifício é essencial uma boa

ventilação, esta pode ser conseguida pela

renovação do ar, através da abertura de vãos

ou pela colocação de extractores de

humidade.

È da maior importância que se tente sempre preservar as paredes originais do

edifício, deste modo, sempre que possível, deve-se reparar pequenos danos através da

reparação ou substituição das secções danificadas, evitando a substituição total da parede.

Nos casos em que a reparação não seja possível ou viável, deve substituir-se por paredes

estreitas e leves como por exemplo, paredes de placas de gesso cartonado.

Imagem 59 – Parede em Tabique de Pedra.

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3.4- PAVIMENTOS

Os pavimentos do piso térreo são normalmente simples, onde nos meios rurais,

seriam de terra batida e nas construções urbanas ou mais cuidadas, seriam de enrocamento

de pedra, sobre o qual existiria uma camada de revestimento de pedra serrada, a baldosa ou

a tijoleira quadrangular.

Nos Pisos elevados encontramos quatro tipos de sistemas estruturais diferentes,

utilizando desde a madeira, o tijolo e o ferro. Em madeira temos dois tipos de sistemas

distintos, o sistema de dormentes e o sistema de soalho. Utilizando elementos cerâmicos e

vigas em madeira que posteriormente foram substituídas por vigas em ferro, temos o

sistema de abobadilhas. Existe ainda o sistema em abóbadas de berço, constituído

unicamente por elementos cerâmicos.

Imagem 61 – Pavimento em Baldosa. Imagem 60 - Pavimento em Mosaico Cerâmico.

Imagem 62 – Pavimento em Ladrilho. Imagem 63 – Pavimento em Soalho.

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3.4.1- Pavimentos em Madeira

Os Pavimentos com solução estrutural em madeira são os mais usuais nas

construções em Loulé, por serem mais leves e de construção mais simples e económica.

Dentro das estruturas em madeira vamos falar de duas soluções, o sistema de

dormentes e o sistema de soalho, sendo o segundo mais usual. Estes dois sistemas utilizam

praticamente estrutura semelhantes.

Características

O sistema de dormentes é constituído por um primeiro vigamento longitudinal de

madeira apoiado nas paredes mestras. O vigamento é em barrotes com 15 a 20 cm de

diâmetro, distanciados entre si 1,0 a 1,5 m. Transversalmente assenta sobre este, um

segundo vigamento de madeira, com barrotes de 0,15 a 0,20 m de diâmetro, distanciados

entre si com a distância do comprimento dos ladrilhos. Sobre a estrutura de madeira eram

sobrepostas duas ou três fiadas entrecruzadas de ladrilho, sendo a inferior caiada e a

superior apenas argamassada.

No caso do sistema de soalho

em madeira a estrutura era idêntica.

Constituindo-se com um primeiro

vigamento apoiado nas paredes e sobre

este um segundo vigamento de barrotes

espaçados 0,5m entre si, onde sobre os

quais eram pregados

perpendicularmente pranchas de

madeira com cerca de 2,2 a 2,5 cm de

espessura. As pranchas de madeira podiam variar de dimensões, mas as mais usuais seriam

11 cm no caso do chamado soalho à inglesa ou 14 a 22 cm no caso do soalho á portuguesa.

O tratamento da madeira do soalho pode ser encerado, que permite uma melhor

conservação e higiene mas requer uma manutenção mais frequente, ou envernizado, que

permite uma manutenção mais fácil mas oferece pior protecção à madeira, pois não a deixa

respirar. Estes soalhos são sempre rematados na junção com a parede por um rodapé com

cerca de 10 cm.

Imagem 64 – Pavimento em Sistema de Soalho.

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Imagem 65 – Degradação e Apodrecimento da Madeira.

Anomalias

As anomalias mais frequentes

nos pavimentos de estrutura em

madeira são a degradação e

apodrecimento de secções da madeira,

deterioração das condições de ligação

entre a estrutura do pavimento e a

parede e a deformação excessiva dos

pavimentos. Nos dois primeiros casos

as anomalias surgem maioritariamente

no contacto ou mesmo no interior da

parede devido à acumulação de humidade e ataques de agentes xilófagos, no terceiro afecta

toda a dimensão da viga e surge por insuficiente dimensão das secções de madeira ou por

excesso de cargas devido a alteração das funções do edifício.

As anomalias a nível estrutural do pavimento requerem especial atenção pois

quando não tratadas e resolvidas podem pôr em causa a integridade de toda a estrutura do

edifício.

Soluções

A deformação excessiva do pavimento coloca em risco toda a integridade da

estrutura do edifício, nomeadamente em relação à acção sísmica. Sendo esta a patologia de

maior gravidade, será a primeira a ser abordada.

A deformabilidade do pavimento pode ser limitada por dois processos distintos. A

forma mais simples de reforçar a estrutura traduz-se na redução do vão, isto conseguido

pela implantação de apoios intermédios adicionais, ou seja, adicionar vigas suplementares

de reforço transversalmente às existente. Mas esta solução tem o inconveniente de

modificar o pé direito do piso, podendo pôr em causa a arquitectura do edifício, a nível

estrutural, construtivo e estético. A dificuldade estrutural surge com a necessidade de

garantir o apoio ás vigas acrescentadas sem que estas sobrecarreguem pontualmente a

parede. A nível construtivo, podemos encontrar a falta de disponibilidade de pé direito

livre, como no caso de portas ou janelas. A nível estético temos os elementos decorativos

que podem ser essenciais e de grande valor, que são comuns nas paredes e tectos de

habitações antigas.

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A segunda solução consiste no reforço da estrutura existente aumentando a

resistência do pavimento, deste modo, aumentando a sua rigidez e diminuindo a sua

deformabilidade. Este reforço pode ser conseguido através de duas hipóteses distintas, o

aumento do número de vigas, colocando novas vigas paralelas ás existentes e o reforço das

vigas já existentes, através da colocação de perfis ou chapas de aço pregados á viga,

criando assim vigas mistas aço/madeira.

Esta solução pode efectuar-se de duas formas consoante o efeito desejado, se o

objectivo for a estagnação da deformabilidade será aplicado um reforço passivo que

contraria a totalidade das cargas aplicadas no pavimento.

No caso de o efeito pretendido for nivelar o pavimento ao seu estado original será

necessário aplicar um reforço activo, que necessita da execução de escoramentos do

pavimento de forma a criar uma força ascendente que contrarie a totalidade das cargas

aplicas sobe o pavimento e que desta forma elimine a flecha provocada pelos mesmos.

Para isso será necessário reforçar as paredes sob e sobre o pavimento causando estragos

inadmissíveis ou em alternativa, efectuar um corte antecipado dessas paredes. Estes

inconvenientes reduzem substancialmente aplicabilidade desta solução.

A Ligação entre a estrutura do pavimento e as paredes é normalmente uma zona de

elevada degradação, tanto por ataques de agentes xilófagos, por apodrecimento derivado a

excessiva humidade ou mesmo por ruptura das ligações, sendo essencial garantir uma

eficaz, preservação ou reabilitação no caso de degradação avançada de secções ou no caso

de novas soluções de reforço como as acima referidas. Sendo sempre que possível

aconselhado a aplicação de peças auxiliares de aço que reforcem a ligação entre parede e

pavimento.

A reparação ou substituição de secções de madeira pode ser conseguida por vários

sistemas consoante a causa e o estado da anomalia. No caso de degradação por ataques de

agentes xilófagos é necessário a realização prévia de um tratamento preservador da

madeira e no caso de apodrecimento derivado a humidade, é necessário resolver

previamente a origem da humidade em excesso.

Uma solução muito utilizada, derivada à relativa simplicidade do processo, é o

“empalamento” das vigas. Este processo consiste na aplicação em ambos os lados da viga

degrada de novos elementos em madeira de forma a reforçar a secção degradada, sem que

seja necessário a sua substituição ou reparação. Estes elementos terão que ter a dimensão

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da altura e pelo menos a mesma largura da viga para garantir a resistência necessária ás

cargas sofridas e a ligação entre elementos.

Esta solução implica um tratamento da madeira especialmente cuidado, pois vão

estar em contacto com as zonas degradadas. Em contrapartida não implicam escoramento

do pavimento nem demorosas operações de remoção.

Outra solução consiste na remoção da secção da viga danificada, substituindo-a por

uma peça idêntica do mesmo material, sendo aconselhado o uso de madeiras velhas, bem

secas e de boa qualidade e que a madeira utilizada tenha características idênticas á pré-

existente. A ligação entre o elemento pré-existente e o novo, será garantida por elementos

metálicos auxiliares em ambas as faces da viga com um comprimento que garanta pelo

menos 20cm para cada lado do eixo de ligação de ambas secções e que garanta a

resistência a esforços de flexão, corte, tracção e compressão actuantes nas secções.

Esta solução já implica cuidados maiores para a sua realização pois necessita do

escoramento do pavimento enquanto é feita operação de substituição.

Por fim, existe uma terceira solução para o problema de degradação ou

apodrecimento das secções de ligação das vigas de madeira com a parede que consiste na

injecção de resinas epoxídicas nas zonas afectadas, estas resinas vão preencher os vazios

causados pela degradação ou pelo apodrecimento. A sua ligação é garantida pela própria

ligação entre resina e madeira e é reforçada através da incorporação de varões de aço ou de

resina de poliéster que atravessam a madeira sã e ficam embebidos na zona reconstituída.

Esta solução, apesar de implicar um acrescentado custo de resinas e a

especialização da mão de obra, apresenta-se como acessível a nível técnico e económico,

sendo uma solução muito eficaz pela elevada resistência a agentes agressivos.

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3.4.2- Pavimentos em Alvenaria, Tijolos e Mistos

Depois de abordarmos os pavimentos em madeira, passamos agora para os

pavimentos com a estrutura em alvenaria ou em tijolo maciço e as estruturas de sistema

misto. A estrutura em alvenaria ou em tijolo é denominada de sistema de abóbodas ou

abóbodas de berço e a estrutura mista, que combina o tijolo maciço e perfis metálicos é o

sistema de abobadilha.

Características

O sistema de abóbadas era

utilizado quando se desejava dispor de

soluções mais duráveis e capazes de

responder a exigências mais severas e

mesmo assim possibilitando a

existências de vãos livres. É disso

exemplo a utilização desta estrutura

nos pisos térreos e nas caves onde o

contacto com a terra e a humidade era

maior.

O revestimento do pavimento da estrutura em abóbadas pode ser executado de duas

formas. Pode ser feita através de uma estrutura de madeira apoiada nos elementos de

alvenaria, construindo-se um vigamento que será o suporte do soalho. A segunda solução

consiste no preenchimento do arco com entulho seleccionado e sobe este é colocada uma

camada de argamassa que servirá de base para o revestimento que pode ser em soalho mas

o mais aconselhado seria em lajedos de pedra, ladrilho ou mosaico cerâmico.

A solução em madeira tem a vantagem de ser mais leve, mas o peso aparentemente

excessivo, que a solução de enchimento com entulho transmite, pode ser um elemento

estabilizador da própria estrutura do arco, pois como já referido, a compressão é um

elemento fulcral para garantir a resistência a forças de corte das estruturas em alvenaria.

Os arcos e abóbadas possibilitam oferecer várias soluções tanto a nível construtivo

como da sua geometria. O abatimento do arco surgiu como uma necessidade estética e

também construtiva, pois quanto mais abatido for o arco maior será a dimensão de vão que

ganha sem que para isso necessite de um pé direito muito elevado. Mas também surge o

Imagem 66 – Abóbada de Berço em Tijolo Maciço.

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problema de quanto mais abatido for o arco maior serão as cargas verticais sobre a parede

de suporte enquanto que num arco de volta perfeita as cargas são exclusivamente

direccionadas na vertical.

Os arcos também podem variar no seu material, ou seja podem ser de pedra talhada,

apenas utilizada em construção mais nobre, como por exemplo edifícios militares e

religiosos ou em elementos cerâmicos, como o tijolo maciço, este é colocado ao cutelo

artisticamente organizado de forma a distribuir as forças para a parede de suporte. Este por

ser mais acessível apresenta-se como a solução mais utilizada.

No final do séc. XIX surge

uma estrutura onde se combina

pequenas abóbadas de tijolo, com

cerca de 0,5m apoiadas em vigas de

ferro, de perfil em I. Este tipo de

estrutura é denominado de sistema de

abobadilhas e consiste num vigamento

longitudinal, originalmente de madeira

e posteriormente em perfis metálicos

de ferro, distanciados entre si cerca de 0,5m. Entre este vigamento era feito uma pequena

abóbada de elementos cerâmicos, ladrilhos ou tijolos maciços com a dimensão do

distanciamento entre cada viga, estes colocados ao baixo em fiadas horizontais.

O espaço entre as abobadilhas

pode ser livre ou preenchido com uma

argamassa forte para nivelar sendo

finalizada com uma camada de

argamassa de cal e areia onde era

colocado o revestimento do pavimento,

normalmente em ladrilho ou soalho.

Este sistema passou a ser muito

usual em edifícios habitacionais

constituindo a generalidade das lajes de

pavimento, principalmente em zonas

húmidas.

Imagem 67 – Sistema de Abobadilhas.

Imagem 68 – Sistema de Abobadilhas Rebocado.

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Anomalias

As anomalias nos pavimentos em abóbadas de alvenaria são normalmente, o

esmagamento e a desagregações ou anomalias semelhantes às anteriormente referidas nas

paredes, como a fendilhação, relacionada com a ocorrência de deslocamentos, por

excessivas cargas sobre os arcos e abóbadas, ou mesmo das paredes de suporte, podendo

esta estar enfraquecida em relação ás forças horizontais.

Nas estruturas mistas as anomalias podem ocorrer nas abóbadas, como o caso de

fenfilhações e desagregações dos tijolos, mas as mais usuais dão-se nos perfis metálicos,

sendo a corrosão, devido a humidades, a principal.

Soluções

No que se refere à resolução das patologias em estruturas de alvenaria ou seja,

sistema em arcos e abóbadas, as soluções dependem de caso para caso, sendo necessário

em primeiro lugar detectar e resolver as causas que levaram ao seu surgimento.

A anomalia mais significativa é a fendilhação da estrutura sendo causada

normalmente por movimentos e cedências dos apoios dos arcos e abóbadas. A resolução de

problemas relacionados com as fundações e paredes de apoio já foram anteriormente

descritas, sendo agora necessário descrever as soluções para a estrutura deste sistema. Para

os casos de fendilhação é aconselhado a reconstituição da integridade da estrutura,

podendo optar pela injecção da fenda, nos casos de menor gravidade ou pela reconstrução

local da zona afectada, nos casos onde a fenda já tenha uma dimensão acentuada.

As técnicas de resolução de problemas como a degradação ou desagregação do

material e de reconstrução de arcos e abóbadas seguem os princípios já descritos nas

paredes de alvenaria, sendo importante recorrer a materiais e tecnologias o mais idêntico

possível às originais.

É também possível reforçar a estrutura das abóbadas de forma a melhorar o seu

desempenho em relação a cargas verticais e mesmo a sismos. Estas técnicas de reforço são

também, semelhantes ás técnicas utilizadas nas paredes de alvenaria.

Consoante o caso apresentado é necessário decidir a melhor solução a aplicar. O

leque de soluções começa pelas de menor intervenção como o reforço do reboco, que lhe

confere uma função estrutural. Esta intervenção consiste na introdução no reboco de uma

rede metálica pregada entre si. Outra solução é o reticolo cementado, solução já explicada

no reforço de paredes de alvenaria. E finalmente uma das soluções de maior impacto para

as abóbadas a nível estético e a nível da verdade construtiva, que é sempre um objectivo a

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cumprir na reabilitação dos edifícios, é o reforço superior do arco ou da abóbada. Este

reforço consiste num segundo arco em betão que pode ser dimensionado para suportar as

cargas verticais e também o peso do arco ou abóbada, ficando este suspenso no arco de

betão.

Para finalizar falta apresentar as soluções para as anomalias no sistema de

abobadilhas. Estas dão-se maioritariamente nas vigas, dependendo do grau de degradação

estas vão de superficiais a profundas.

No caso em que a corrosão é apenas superficial é necessário verificar a

percentagem de secção afectada em relação ao total pois esta não poderá ser superior a

10% de modo a não por em causa as condições de segurança do pavimento, caso esta

percentagem seja ultrapassada seria necessário efectuar uma operação de reforço.

A reparação da viga pode ser feita por limpeza, reforço ou substituição da secção

afectada consoante a gravidade dos danos da viga.

Para reparar uma viga afectada pela corrosão é necessário efectuar a limpeza das

zonas oxidadas para posteriormente fazer a protecção anti-corrosão do ferro. A limpeza

pode ser feita de modo manual ou mecânico, esta é feita escovando a superfície oxidada

com uma escova de aço até a zona degradada sair completamente surgindo o metal são.

Esta reparação é completada pela aplicação de um primário e duas ou três camadas de

pintura com tintas epoxídicas ou de poliuretano, de modo a garantir a protecção necessária

das vigas de agressões do ambiente e também garantir a sua durabilidade.

Nos casos em que a degradação seja mínima e não necessite de remover a zona

degradada da viga, mas seja necessário efectuar o seu reforço, este pode ser feito através de

chapas ou perfis metálicos. A aplicação das chapas é feita através da colagem com resinas

epoxídicas e completada com a aplicação de parafusos de ligação.

Caso haja necessidade de substituir a secção degradada da viga, por esta estar

demasiado degradada, será necessário proceder-se previamente ao escoramento do

pavimento seguido dos procedimentos já descritos na substituição de secções de

vigamentos de madeira. A secção nova a instalar deverá ser idêntica ao perfil da viga

existente. A ligação entre as peças será efectuada através de chapas metálicas colocadas

junto á alma da viga e a sua medida deverá ter pelo menos 0,20m para cada lado do eixo de

ligação entre a viga existente e a secção nova, a sua altura e espessura deverá ser igual à

alma da viga de modo a garantir a resistência necessária aos esforços sofridos na secção de

ligação das duas peças.

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3.5- COBERTURAS

As coberturas são consideradas a quinta fachada do edifício pois estas além de

protegerem o interior dos edifícios, no seu todo configuram uma parte importante da

imagem da cidade e no caso de Loulé, acentuada pela irregularidade do terreno. As

coberturas tradicionais de Loulé, apesar de existirem também açoteias, são

maioritariamente inclinadas com estrutura em madeira e revestidas com telha de canudo

artesanal.

As coberturas mais frequentes são as coberturas de duas águas, sendo estas, as

utilizadas em edifícios que necessitem de maior dimensão e por vezes por ampliação de

casas típicas rurais que originalmente tinham apenas uma água. As coberturas de quatro

águas são típicas dos edifícios mais nobres e de construção mais recente, nomeadamente

dos séc. XVIII e XIX. As açoteias surgem, principalmente, em coberturas mistas de

edifícios urbanos que em muitos casos eram resultado de obras de ampliação.

As formas e cores dos telhados de Loulé fazem parte da imagem da cidade sendo os

da zona histórica destacáveis das habitações novas pelas suas cores características da telha

de canudo artesanal alteradas pelo tempo e pelas suas formas que se moldam ás estruturas

antigas de madeira. Sendo do maior interesse preservar estas estruturas, evitando a sua

degradação por falta de manutenção ou por obras de reparação descuidadas.

3.5.1- Coberturas Inclinadas

Cobertura de uma água

As coberturas de apenas uma

água surgem em edifícios de pequenas

dimensões e de apenas um piso. Esta

estrutura relativamente simples

consiste em barrotes de madeira

assentes directamente nas paredes

frontal e tardoz, estes barrotes são

dispostos paralelamente e separados Imagem 69 – Cobertura de uma água.

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cerca de 50 a 70 cm entre si. O assentamento dos barrotes nas paredes é rematado através

de alvenaria de pedra miúda ou bocados de ladrilho, garantindo assim o travamento da

estrutura e a estanquicidade da cumeeira e do beiral do telhado. Os barrotes necessitam de

uma manutenção frequente, sendo em muitos casos caiados para garantirem a sua

desinfecção e limpeza.

A inclinação da cobertura é dada pela diferença de alturas das paredes sendo esta

normalmente entre 15 a 30%. Em edifícios pequenos, os barrotes são suficientes para

susterem a cobertura mas no caso de necessitarem de vencer vãos de maior dimensão é

acrescentada uma viga de madeira perpendicularmente aos barrotes e encastrada nas

paredes para dividir a distância a vencer, esta ou estas vigas suplementares são apelidadas

de madres.

Sob os barrotes é assente a base das telhas que irá proteger o interior do edifício,

esta pode ser de tábuas de madeira, ripado de madeira ou de um forro de canas.

Cobertura de duas águas

Os telhados de duas águas tanto correspondem a ampliações de habitações de uma

água, como a construções de raiz. No caso de ampliações, estas podem manter o telhado

existente apoiando as varas da segunda água na parede tardoz, sendo esta a cumeeira, ou

seja, o eixo de junção das duas águas. No caso de construções de raiz a estrutura pode ser

semelhante, mas em vez de a cumeeira ser na parede tardoz, passa a fazer-se num pau-de-

fileira. Tal como nas coberturas de uma água, quando as dimensões dos vãos a vencer é

maior, as varas são apoiadas em madres encastradas nas paredes

No caso de edifícios de

maiores dimensões, como armazéns,

a estrutura da cobertura é em asna,

que permite uma dimensão de vãos

maior.

Estas coberturas perdem a

inclinação junto ao beirado de modo

a projectar as águas pluviais para

longe dos rebocos das paredes de fachada, evitando assim a sua permeabilização.

Ilustração 12 – Asna em Madeira.

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Cobertura de quatro águas

As coberturas com telhado em

quatro águas sob uma asna são comuns

em construção de maior dimensão,

estes necessitavam de uma estrutura

que vencesse vãos de maior dimensão,

logo necessitavam de ser mais

complexas e portanto com custos mais

elevados. Sendo apenas aplicadas em

habitações nobres, ou por necessidade

como nos armazéns, estábulos ou edifícios de função industrial, pública ou religiosa.

As asnas são apoiadas nas paredes exteriores do edifício, nomeadamente a parede

frontal e a tardoz, esta ligação entre asna e a parede é embutida na alvenaria sobre um

barrote de madeira, o frechal, mais resistente que o comum, como o pinho-silvestre. A

constituição de uma asna é relativamente complexa, sendo uma combinação de forças

distribuídas e encaminhadas por vários elementos que sustentam o peso do telhado e

aliviam as forças horizontais das paredes de suporte. As asnas são constituídas por uma

barra de madeira horizontal, a linha, que apoia nos frechais. Sobre esta, estão apoiadas

duas barras, as pernas, que acompanham a pendente do telhado. Finalmente esta estrutura é

reforçada no interior por uma barra vertical ao eixo das duas pernas, o pendural, sendo este

ligado na diagonal ás pernas por duas escoras. Por fim sobre as pernas estão as madres,

estes são os elementos que suportam o revestimento da cobertura. A combinação de forças

de uma asna diminui ou anula os impulsos horizontais enviadas para as paredes de suporte,

pois esta estrutura funciona de forma independente de modo a anular as forças horizontais,

sem que para isso necessite de elementos esternos como os tirantes ou os contrafortes. Os

esforços sofridos pelos elementos das asnas são de tracção, na linha e no pendural e de

compressão e tensão nas pernas.

As ligações de elementos das ansas têm a maior importância, pois estes são

submetidos a grandes esforços e são os elementos que asseguram a estabilidade de toda a

estrutura. Estas ligações são normalmente feitas através de entalhe de dente simples ou

duplo com recurso a respigas e mecha podendo ser solidarizados com pregos ou mais

recentemente com chapas metálicas aparafusadas ou pregadas á madeira.

Imagem 70 – Cobertura de Quatro Águas.

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Em Loulé não é usual a existência de águas furtadas, o desvão das coberturas é

normalmente aproveitada para arrumos, servindo também de isolamento térmico para o

interior dos edifícios. No caso de edifícios não habitacionais o pé-direito é deixado livre.

Revestimentos de coberturas inclinadas

É frequente nas coberturas inclinadas existir um forro da cobertura. Este pode ser o

encaniçado tradicional, solução mais económica, logo mais utilizado em coberturas de uma

água ou o forro de tabuado, este mais dispendioso logo com utilização mais frequente em

coberturas de duas ou mais águas.

O encaniçado é um material que ainda é utilizado no concelho, seja em obras de

conservação quer em novas construções. Este material é constituído por canas,

previamente limpas e secas, dispostas perpendicularmente sobre os barrotes de madeira,

estas eram atadas umas ás outras e aos barrotes com cordéis de junca, que posteriormente

foram substituídos por sisal e actualmente por fios sintéticos.

O encaniçado era por vezes

completado com argamassa de cal e areia

colocada sobre as canas para melhorar o

isolamento térmico e acústico e papeis

ou plásticos sobre as canas de modo a

melhorar a impermeabilidade.

O forro em tabuado era utilizado

em coberturas de duas ou mais águas,

este apesar de mais dispendioso, oferecia

melhor isolamento térmico e acústico. O

tabuado era feito, como o nome indica,

por tábuas de madeira colocadas sobre o vigamento principal da cobertura ou sob o ripado.

Esta solução não necessitava de cuidados com a madeira podendo ser deixada ao natural,

embora também fosse comum esta ser pintada ou envernizada.

Os tectos de coberturas inclinadas tinham em muitos casos um tecto falso, de modo

a melhorar a sua habitabilidade a nível de conforto e a nível estético. Os tectos podiam ser

em placas de gesso, estafe ou mais comum em estuque decorado com baixos relevos.

Imagem 71 – Revestimento da Cobertura com Encaniçado.

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O revestimento mais comum nas coberturas inclinadas dos edifícios tradicionais em

Loulé é a telha em canudo de fabrico artesanal, esta é cerâmica e tem características de

porosidade, resistência mecânica, forma e estéticas divergentes das novas telhas

industriais. As formas feitas por telhas em canudo simplesmente sobrepostas, sendo as

mesmas peças, as capas e os canais e as suas suaves tonalidades ocres que variam do rosa

ao amarelo caracterizam a imagem da cidade, tanto vista de cima como a nível da rua.

As telhas em canudo foram gradualmente substituídas por telhas industriais que

pela sua cor, vermelho forte, e pela rigidez formal que pouco se adapta ás geometrias

complexas dos telhados antigos se destacavam das telhas tradicionais, ferindo a imagem da

cidade. Por volta do séc. XX começam a surgir as telhas tipo Marselha, nome dado pelo

seu local de origem, e mais recentemente a telha lusa com aba e canudo com encaixe. Hoje

já se fabricam industrialmente telhas cerâmicas de canudo, as do tipo “Santa Catarina”, em

que apesar de não terem as tonalidades dadas pelo envelhecimento do material já existe

uma preocupação cromática, mantendo os tons de ocre rosa da telha tradicional, sendo esta

a mais utilizada actualmente em Loulé.

Estas telhas são de secção cónica e mais largas numa das extremidades, conferindo

assim a estabilidade do assentamento e o eficaz escoamento das águas pluviais. As telhas

são colocadas de forma alternada, sendo colocado primeiro as telhas de canal com a

extremidade mais larga direccionada para a cumeeira e posteriormente as telhas de

cobertor com a extremidade mais larga direccionada para o beiral. Estas são colocadas em

fiadas desde o beiral até à cumeeira.

O assentamento das telhas variava das construções mais simples para as mais

elaboradas. Nas construções mais simples e pobres a telha era simplesmente colocada, sem

qualquer ligação, o que as tornava mais vulneráveis às acções do vento, que as levantava

ou que empurrava as águas pluviais contrariamente à pendente do telhado originando

infiltrações. Nos edifícios de construção mais cuidada as telhas eram por vezes fixadas por

gatos metálicos e/ou por aplicação de argamassas nas juntas entre telhas que garantiam

maior estabilidade geométrica e melhoravam a sua estanquicidade.

Patologias de Coberturas Inclinadas

As coberturas são elementos do edifício de grande complexidade e que estão em

constante contacto com as agressões do exterior como o vento e a chuva, logo é uma zona

onde surge um variado quadro de patologias, estas derivadas de infiltrações, pelo desgaste

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natural dos materiais mas particularmente por erros relacionados com o projecto e

execução, como o desconhecimento das características dos materiais como a resistência e

deformabilidade da madeira, o que leva ao deficiente dimensionamento das secções de

madeira empregues.

A deficiente selecção e

tratamento das madeiras também é

causa do surgimento de anomalias,

pois estas têm de ser tratadas e

protegidas contra agentes agressores

como os fungos e insectos, de modo a

evitar a sua degradação.

As infiltrações são também um

factor de surgimento de patologias nas

coberturas, estas advêm da perda de

funcionalidade das zonas correntes da

cobertura ou por perda de

funcionalidade da rede de drenagem de

águas pluviais.

As razões específicas das

anomalias nas coberturas, são por

vezes difíceis de explicar, pois podem

surgir de forma isolada ou surgir de um somatório de fenómenos sequenciais que se

desencadeiam uns aos outros.

Soluções

As soluções para as anomalias das coberturas são relativamente idênticas ás já

referidas nos pavimentos, sendo que as anomalias surgem principalmente nos elementos de

madeira, mais regularmente nas zonas de ligação entre cobertura e paredes de alvenaria. É

por isso da maior importância limpar e secar as madeiras para posteriormente tratá-las,

com produtos adequados, de forma preventiva ou curativa. Nos casos em que a degradação

já for avançada deve-se substituir as secções degradas, como foi anteriormente explicado

nas reparações dos pavimentos.

Imagem 72 – Degradação da Cobertura e do Estuque.

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É igualmente importante reforçar as estruturas de madeira, tendo especial atenção

aos elementos de ligação entre a madeira e as ligações com as paredes de alvenarias.

O reforço de ligações entre elementos de madeira, deve ser feito através da

aplicação de ferragens adequadas, como pés-de-galinha, esquadros, cruzetas e tês. Estes

elementos metálicos são pregados ou aparafusados, de forma a garantir uma maior

estabilidade de toda a estrutura da cobertura.

As zonas de ligação entre os elementos de madeira da cobertura e a parede de apoio

também merecem especial atenção, devendo aplicar-se frechais de madeira de forma a

distribuir o peso por toda a parede, evitando sobrecargas pontuais que danificam as paredes

de alvenaria. Esta ligação deve ser impermeabilizada pois é uma zona onde a madeira se

deteriora facilmente, devido ao contacto com a alvenaria e com os sais daí resultantes,

agravada pelo facto de não permitir a madeira respirar.

Outras patologias relacionadas com as coberturas derivam das telhas ou dos

elementos de drenagem das águas pluviais. Estes são um frágil elemento que separa o

interior do edifício dos elementos exteriores, logo estão regularmente submetidas ás

intempéries o que provoca a sua degradação. Nos casos onde seja necessário reparação

e/ou substituição de telhas, deve-se utilizar exemplares o mais idêntico possíveis ás pré-

existentes como as telhas de canudo de tipo Santa Catarina. Na fixação das telhas é

necessário dar especial atenção ás zonas mais vulneráveis como as cumeeiras, beirados,

algerozes e zonas de remate das chaminés. A fixação pode ser feita de várias formas sendo

as mais aconselhadas, a fixação por ganchos metálicos e a fixação com argamassa de cal ,

sendo a primeira preferencial por permitir a ventilação da cobertura.

Sempre que seja possível, durante a reparação de uma cobertura, deve-se proceder

ao melhoramento da funcionalidade da mesma, sendo aconselhável reforçar-se a

impermeabilização assim como o reforço da ligação entre as juntas das telhas com

argamassa. Se possível é também aconselhável, a colocação de rufos metálicos com chapa

de zinco ou tela asfáltica nas chaminés ou muros, de modo a criar caleiras para escoamento

das águas. O isolamento térmico pode ser melhorado pela aplicação de aglomerado negro

de cortiça expandido ou poliestireno extrudido sob um sistema de subtelha. Finalmente

para o isolamento acústico pode ser aplicado placas ou mantas de lã mineral.

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3.5.2- Coberturas Planas

O sistema de coberturas planas é denominado de açoteias ou varandas. Estas são

típicas das habitações algarvias e nomeadamente nas habitações em Loulé. Este sistema foi

originalmente concebido para a secagem de frutos locais mas foi gradualmente mudando

de função, sendo actualmente zonas de secagem de roupa ou de desafogo e lazer.

Este sistema podia cobrir todo o edifício, ou apenas uma parte, sendo o restante um

piso elevado que servia, para além de outras funções, de zona de acesso à cobertura,

Existem também casos onde a mesma habitação tinha duas açoteias distintas, sendo uma

mais elevada que outra.

As açoteias originais eram

feitas em abóbadas de ladrilho ou de

tijolo maciço, e no séc. XIX começa a

surgir o sistemas de abobadilhas, no

entanto este revelou-se por vezes

impróprio pela vulnerabilidade aos

sais das argamassas de cal e areia que

corroíam as vigas de ferro.

Infelizmente a partir do séc. XX estes

sistemas têm vindo a ser substituídos por lajes de betão armado, isto devido à maior

acessibilidade económica e técnica da estrutura em betão. Esta sucessiva substituição dos

pavimentos em abobadilhas, em grande parte, por razões económicas, tem levado à gradual

extinção de muitos exemplos do sistema tradicional antigo.

Patologias e Soluções de Coberturas Planas

As patologias relacionadas com as açoteias, são relativamente idênticas às já

referidas nos pavimentos, nomeadamente nos sistemas de abóbadas e de abobadilhas,

divergindo apenas nas patologias relacionadas com a impermeabilização.

As soluções para as patologias das estruturas já foram mencionadas anteriormente

sendo por isso de maior relevância falar das soluções de impermeabilização.

Imagem 73 – Terraço ou Açoteia.

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È essencial manter a impermeabilização das açoteias, estas eram originalmente

conseguidas pelas suas camadas de enchimento e pelo seu revestimento, sendo essencial

garantir uma boa compactação e manutenção das argamassas de enchimento.

Nos casos em que os ladrilhos de revestimento estejam em mau estado e seja

necessário substitui-los parcial ou integralmente, deve utilizar-se ladrilho cerâmico

tradicional. Se possível durante as obras de reparação, deve adicionar-se uma camada

impermeabilizante com tela asfáltica de modo a reforçar a impermeabilização do

pavimento.

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3.6- FACHADAS

3.6.1- Revestimentos

O revestimento de uma parede tem como principal função proteger e preservar.

Assim sendo, este tem de se sacrificar de forma a evitar que os ataques externos degradem

a alvenaria, funcionando como a camada de sacrifício contra impactos físicos, como

isolador térmico evitando tensões derivadas das variações de temperatura e como barreira

hidroscópica evitando os danos provocadas pela humidade.

Como camada de sacrifício os revestimentos necessitam de ter, em relação às

alvenarias, maior deformabilidade e uma menor resistência mecânica estes também

necessitam de garantir uma maior absorção de água e ao mesmo tempo uma maior

evaporação para que possibilitem o encaminhamento dos sais solúveis para o exterior da

parede.

Os revestimentos apesar de terem como principal função proteger e preservar as

paredes têm também uma função estética decorativa, logo foram adquirindo novas cores,

textura e formas, que em conjunto criam diferentes aspectos que caracterizam diferentes

intenções e linguagens arquitectónicas.

A cultura Mediterrânica, nomeadamente o Algarve desenvolveram ao longo da

história estilos de grande qualidade ornamental, desenvolvendo técnicas de elevado valor

artístico.

Loulé não foge à regra,

apresentando no seu património

construído diversos revestimentos de

grande valor arquitectónico que ao

longo da história foram ganhando

diferentes técnicas de aplicação,

ganhando com isso variadas formas de

expressão.

O revestimento exterior mais

comum era feito com argamassa e os acabamentos a caiação ou a tintas de cal. Em

construção mais cuidada existem trabalhos decorativos executados em massa, a simular

elementos de cantaria e nos edifícios urbanos existem também valiosos exemplares de

Imagem 74 – Fachadas em Reboco e em Tijoleira.

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decoração, como a escaiola38 ou os

fingidos de pedra também apelidados

de marmorizado e a aplicação de

azulejaria, sendo esta uma

especificidade portuguesa.

Os rebocos mais elaborados

eram normalmente utilizados nas

paredes exteriores ou nas zonas mais

nobres da casa. Estes rebocos podiam

ser enriquecidos através de diferentes técnicas que lhes conferiam diferentes texturas, tais

com um acabamento liso, através da passagem sucessivas com talochas sobre a camada

ainda fresca do revestimento ou um acabamento texturado através da utilização de

argamassas com agregados de maior dimensão, podendo mesmo imitar outros materiais

como a pedra.

Eram ainda aplicadas técnicas que conferiam aos rebocos diferentes acabamentos,

como por exemplo, o aspecto riscado ou rústico através de técnicas como a passagem de

rolos ou através da picagem do reboco que imitava a pedra bujardada.

Quando se efectuam operações de conservação ou de renovação de pinturas em

fachadas de edifícios antigos, é necessário ter especial cuidado nas intervenções a fazer, de

forma a não prejudicar o valor histórico e estético e não perturbar a sua autenticidade e

legibilidade arquitectónica tanto do edifício como do conjunto urbano.

A escolha das tintas a utilizar necessita de ser cuidada de forma a utilizar materiais

compatíveis e de desempenho adequado com os tipos de parede a pintar.

O principal problema encontrado nas operações de repintura no tecido histórico de

Loulé, é a má escolha do material e falta de técnica na sua aplicação. Os materiais mais

apropriados são os produtos originais, como a tinta de cal. Os produtos industriais são

sintéticos, feito à base de resinas acrílicas e vinílicas, concebidos para a aplicação em

construção de betão e cimento, oferecendo pouca porosidade ao vapor de água, não

deixando a parede “respirar”, ou seja, não permite a evaporação, para o exterior, da

humidade infiltrada na alvenaria. Outro problema das tintas industriais é a nível estético,

38 …escaiola, significado: argamassa composta de materiais de diversas cores e consistências, destinada a fazer colunas, pilastras, etc…

Imagem 75 – Pintura de Fingidos, Escaiola.

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pois estas são muito opacas e homogéneas, conferindo assim uma aspecto diferente da

luminosidade oferecida pela da tinta de cal.

Tinta de Cal

A tinta de cal é feita a partir de uma mistura de cal extinta ou apagada e água. A

junção dos dois componentes provoca o endurecimento da mistura, o que leva a uma

reacção química, a carbonatação, produzindo cristais de calcite, são estes cristais que

originam na pintura a luminosidade superficial e a textura plástica características das

superfícies caiadas.

A da tinta de cal tem como base o leite-de-cal, este tem uma consistência e

aparência semelhante ao leite e resulta da dispersão da pasta de cal aérea hidratada em

água pura. A pasta de cal deposita-se no fundo do recipiente da mistura e sob ela fica uma

camada de água de cal. Para isso a mistura deve ser sempre feita no mínimo 24 horas antes

da aplicação. É o leite de cal que fixa na parede a camada de carbonato de cálcio. E a água

de cal serve para consolidar os rebocos ou as argamassas de cal que se encontrem em mau

estado.

A principal vantagem da tinta de cal, é a capacidade de permitir a parede “respirar”,

evitando assim a retenção de humidades nas paredes de alvenaria, que, quando acumuladas

degradam os rebocos exteriores. Para além da elevada porosidade, a tinta de cal adequa-se

melhor á estética das fachadas antigas e a sua reaplicação não necessita da remoção das

camadas anteriores, consolidando as paredes em cada nova aplicação, isto devido à

introdução de hidróxido de cálcio que irá carbonatar.

A cor branca da caiação sem qualquer adição de pigmentos era geralmente usada

nas casas de menor cuidado arquitectónico, pois desta forma o trabalho de pintura saia

mais económico.

Imagem 77 – Sobreposição de Camadas de Cal com Diferentes Pigmentações.

Imagem 76 – Caiação com Pigmantação.

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Para obter tinta de cal colorida, basta adicionar pigmentos ao leite-de-cal. Os

pigmentos utilizados para colorir a tinta de cal são maioritariamente provenientes do solo.

Estes minerais mantêm a cor e resistem à alcalinidade devido ao facto de maioria das

reacções químicas e mineralógicas ocorrerem durante a sua fase de formação.

Os tons minerais mais utilizados eram os ocres, vermelhos, rosa e amarelo. Os tons

de negro e cinzentos, verde-terra e vários tons de azuis eram também utilizados na

decoração das fachadas dos edifícios antigos de construção mais cuidada, sendo os tons

mais escuros geralmente utilizados em remates como os socos, as pilastras cunhais e

molduras.

Ao contrário do que seria de esperar, o uso da cor era muito usual em Loulé, sendo

que o branco apenas se usava na construção mais económica. A cor branca foi apenas

valorizada nos finais do séc. XIX e incentivado pelo nacionalismo do Estado Novo de

forma a enaltecer os valores rurais de simplicidade e honra.

Imagem 78 – Vários Tons de Pigmentação Natural.

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103

3.6.2- Elementos da Fachada

Os edifícios de arquitectura tradicional apresentam nas suas fachadas, pormenores

construtivos que embora inicialmente surgissem por necessidades construtivas, evoluíram

ao longo do tempo, acompanhando o desenvolvimento dos materiais e técnicas de

construção e essencialmente o nível de vida das populações. Esta evolução fez com que a

partir do séc. XIX estes elementos ganhassem a função decorativa, marcando a estética e a

cultura arquitectónica de cada época através dos temas que variavam dos florais aos

geométricos e realçados pela cor contrastante com a restante fachada.

No Algarve e nomeadamente em Loulé a adesão a esta transformação construtiva

generalizou-se em todos os tipos de habitação, sendo claramente mais suave na construção

mais económica e mais intensa nas habitações urbanas e burguesas.

Os ornamentos decorativos são

aplicados nos remates horizontais

como socos, frisos e platibandas, e nos

remates verticais como pilastras e

cunhais, fazendo o enquadramento das

fachadas. É também usual o usos de

elementos decorativos nas molduras de

cantaria dos vãos.

Muitos destes elementos

decorativos são executados em massa,

nomeadamente argamassa de cal especificamente produzida para estes trabalhos, onde o

resultado final é facilmente confundível com elementos de pedra. Estes detalhes eram

cuidadosamente trabalhados apresentando formas de baixo ou alto-relevo grandemente

ornamentados com motivos característicos do estilo de cada época, variando dos temas

zoomórficos e vegetalistas, ás formas geométricas.

Alguns dos elementos da fachada têm na sua origem importantes funções

estruturais, como os cunhais e as molduras de vãos, sendo por isso executados em cantaria,

esta necessitava de ser bem aparelhada, regular e de arestas cuidadosamente cortadas de

forma a não comprometerem a sua função.

Imagem 79 - Decoração da Fachada.

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Imagem 80 - Soco em Argamassa.

Os elementos da fachada compõem e enquadram todos os edifícios de arquitectura

tradicional, sendo dos principais elementos de caracterização e reconhecimento da

evolução de diferentes estilos e épocas artísticas. É deste modo necessário fazer um

levantamento destes elementos que compõem a fachada desde o remate com o solo, as

molduras dos vãos, até ao remate com o telhado ou a açoteia.

Soco

Começando pela zona inferior do edifício temos o soco ou embasamento, este é um

elemento de argamassa ou pedra com cerca de três centímetros de saliência e cerca de

cinquenta centímetros de altura que faz o remate da parede com o solo, protegendo-a de

humidades evitando a penetração das águas da chuvas ou dos solos e também protegendo a

pintura e o reboco da parede contra choques físicos.

Cunhal

Imagem 81 - Soco em Pedra.

Imagem 82 - Cunhal em Pedra. Imagem 83 - Cunhal em Argamassa.

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Como elemento de remate lateral da fachada temos o cunhal, este é, inicialmente,

um elemento estrutural de cantaria sendo nalguns casos aplicado apenas como elemento

decorativo com placas de pedra. Este elemento vertical acentua a verticalidade do edifício

rematando lateralmente a fachada desde o solo até ao beirado ou platibanda, terminando

normalmente na base numa cornija assente num soco saliente e na zona superior com uma

cornija.

Beiral

Passando agora para os remates de cobertura temos a solução mais simples, os

beirados. Esta solução varia dos beirados simples, onde a telha assenta directamente sobre

a parede ou sobre uma fiada de ladrilhos, e os beirados duplos, onde se acrescenta uma

telha cobertor rebocada e caiada sob a última telha do telhado.

Os beirados, para além da função estética, têm a função de proteger as paredes de

infiltrações da água da chuva expelida do telhado.

Cimalha ou Cornija

Para rematar a parede com o telhado,

existe também uma solução com um papel

mais estético e decorativo. Surgindo no

Algarve por volta do séc. XVIII nas

edificações mais nobres, de influência

barroca, a cimalha ou cornija consiste num

ornamento contracurvo em argamassa feito a

Imagem 84 - Beiral Duplo.

Imagem 86 – Cimalha em Argamassa.

Imagem 85 - Beiral Simples.

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partir de moldes onde assentavam a última linha de telhas. De forma a exaltar estes

remates, por vezes os ângulos dos beirados eram arrebitados, com “penas” ou “pisa-

pardais”, ou seja elementos de ferro que exaltavam os cantos dos beirados.

Platibanda

Por fim temos o remate da fachada que mais marcou a imagem da arquitectura

Algarvia, a platibanda, esta tanto servia para as coberturas planas como para as coberturas

inclinadas. Este elemento surgiu inicialmente para guarda das coberturas em açoteia

generalizando-se para todo o tipo de habitações no séc. XIX.

A platibanda, para além de ocultar o telhado e o algeroz da canalização das águas

pluviais, enaltecia a altura do edifício, dando-lhe importância visual, logo foi associada a

um símbolo de status social.

As platibandas evoluíram, a

nível estético de variadíssimas

formas. Como símbolo de riqueza,

estas passaram de simples e

funcionais guardas de cobertura, sem

qualquer elemento decorativo, para

elaboradas composições de variados

temas e cores. A decoração das

platibandas variava de simples

molduras na base e/ou no coroamento, evoluindo para acrescento de remates com cimalhas

Imagem 87 - Edifícios da Av. José da Costa Mealha.

Imagem 88 - Platibanda Decorada com Cimalhas e Falsas Pilastras.

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Imagem 90 - Chaminé de Balão.

na base e coroamento, surgindo

também remates nos cunhais com

falsas pilastras, até ao acrescento de

frisos e medalhões centrais em relevo.

Consoante a importância económica ou

social do edifício, estes elementos

eram mais ou menos decorados,

através de temas que representavam o

estilo da época, variando da mistura de

estilos do ecletismo românico aos temas florais da arte Nova e terminando nos temas de

reinvenção de formas geométricas da Art Déco. Estes elementos decorativos eram ainda

realçados pelo uso da cor que contrastava sempre com a restante fachada.

Chaminé

As chaminés constituem outro elemento de distinção das habitações tradicionais,

apresentando-se por isso com grande ornamentação e beleza.

As chaminés rendilhadas

podem ser de base quadrangular ou

circular, apresentando na face

aberturas em grelha para o escoamento

dos fumos. As grelhas componham

desenhos geográficos feitos a partir de

ladrilhos, pedaços de telha e tijolos

maciços. O topo das chaminés podiam

ser em telha de canudo, imitando

coberturas de duas ou quatro águas ou

em ladrilho e tijolo maciço, compondo

um pináculo cónico ou piramidal com

remate semi-esférico ou cónico. As

chaminés eram sempre rebocadas e

caiadas por protecção mas também

demonstrando a importância estética

dada a estes elementos.

Imagem 89 - Platibanda Decorada com Motivos Geométricos.

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Existe também outro tipo de

chaminé usada predominantemente nas

habitações de tipo urbano, urbano burguês e solares, a chaminé de balão. Este tipo de

chaminés era menos usual e menos ornamentada, sendo no entanto mais funcional por

substituir o rendilhado geométrico por um balão composto por um murete que protegia a

lanterna da chaminé contra o vento e as chuvas, melhorando a extracção dos fumos.

Vãos

Depois de referenciar os

elementos decorativos, resta abordar os

elementos de maior importância na

composição das fachadas dos edifícios,

os vãos.

Os vão dos edifícios antigos em

Loulé seguem uma regra de

dimensionamento e posicionamento na

fachada, este são sempre mais altos que

largos e a sua largura é menor que a dimensão do espaçamento entre estes.

Tirando os casos de habitações mais modesta de um só piso constituídas por apenas

uma porta e uma janela de peito, os vãos seguem uma lógica de simetria e alinhamento,

sendo os vãos do segundo piso são alinhados com os do primeiro. No caso dos solares o

vão de porta principal encontrava-se no eixo que define a simetria da fachada.

No inicio do séc. XX á uma

quebra na regra da dimensão do

espaçamento entre vãos, esta marcada

pela construção dos edifícios com

novas tendências arquitectónicas,

nomeadamente os de ecletismo

românico e da Art Déco.

A dimensão dos vão na

arquitectura tradicional em Loulé

variam segundo o tipo de casa, desde a

sua altura e largura à largura do seu guarnecimento.

Imagem 91 - Chaminé Rendilhada.

Imagem 92 - Vãos em Simetria e Alinhados.

Imagem 93 - Vãos de Edifício de Ecletismo Romântico.

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Os guarnecimentos variavam da construção mais simples para a mais elaborada,

variando a sua espessura de 15 a 25 cm. A dimensão dos próprios vãos também variava de

altura e largura consoante a nobreza do edifício, exceptuando alguns casos de edifícios

urbanos, onde esta regra era quebrada e a dimensão dos vãos de porta eram superiores às

dos edifícios de tipo solar, possivelmente por razões funcionais, pois o piso térreo dos

edifícios urbanos serviam em muitos casos para comércio.

Os guarnecimentos, apenas não existiam nos edifícios de tipo rural popular, nos

restantes foram evoluindo na sua dimensão e complexidade decorativa consoante a época e

nobreza das construções.

Nos edifícios do tipo urbano popular os guarnecimentos eram em molduras

salientes e feitos maioritariamente em argamassa e excepcionalmente, em cantaria, nos

edifícios de construção mais cuidada, os guarnecimentos eram feitos em molduras

ligeiramente mais largas e sempre em cantaria de pedra calcária bujardada e bem

aparelhada.

Os solares destacavam-se

com molduras em cantaria mais

elaboradas onde já existia algumas

alterações formais e decorativas,

nomeadamente na ombreira e na

verga do portal e nos vãos do piso

sobrado.

É ainda importante referir

os varandins em consola das

janelas de sacada, estes em pedra calcária, por vezes ornamentados, encastrados na parede

e assentes sobre cachorros de pedra de formas elaboradamente desenhadas.

As portas e janelas dos edifícios antigos em Loulé eram executadas em madeira,

variando do castanheiro, nogueira, medronheiro e carvalho.

As portas chegavam a atingir os 4 cm de espessura e variavam desde os simples

tabuados na construção mais modesta a portas ricamente trabalhadas, com postigo e

bandeiras com guardas ricamente trabalhadas em ferro.

As janelas de peito são maioritariamente de batente com duas folhas e variam, das

mais simples, onde não existe caixilharia de vidro, ás mais elaboradas onde o seu perfil e

desenho das vidraças variavam. Os seus caixilhos, assim como o peitoril com dreno, eram

Imagem 94 - Vãos do Palácio dos Gama Lobo.

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Imagem 96 - Janela com moldura em Cantaria de

Pedra de Edifício Urbano.

sempre em madeira. Os sistemas de obscurecimento eram em portadas de madeira,

normalmente colocadas no interior do vão.

Os vãos de porta em madeira em Loulé são, na sua maioria, pintados. A cor era

aplicada tanto nos caixilhos, como nos aros e portadas. As cores predominantes utilizadas

em Loulé eram o branco, o vermelho escuro, o castanho, alguns tons de verde e também de

azuis.

Nos vãos de janelas a cor predominante era o branco e o vermelho escuro, estas

podendo ser aplicadas nos caixilhos, nos aros e portadas ou, sendo também usual, a

aplicação alternada das cores entre si.

Imagem 97 - Janela com Moldura em Cantaria de

Edifício tipo Solar.

Imagem 98 - Porta em Madeira com Moldura em

Argamassa.

Imagem 99 - Porta com Moldura em Cantaria e

Bandeira.

Imagem 100 - Porta em Madeira com dois Batentes

com Almofadas.

Imagem 95 - Janela com Moldura em Argamassa de Casa tipo Urbano Popular

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4. PROJECTO DE REABILITAÇÃO DE UM EDIFICIO

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4.1- ESTUDO DO EDIFICIO

4.1.1- O lugar e a sua história

Os edifícios propostos a reabilitar encontram-se situados na Zona Critica de

Recuperação e Reconversão Urbanística do Núcleo Histórico da cidade de Loulé, mais

precisamente na Rua de Portugal, números de porta 23, 25, 27, 29, 31, 33 e 33A.

A Rua de Portugal encontra-se a menos de 100 metros do núcleo urbano

amuralhado, surgindo paralela, ao antigo eixo viário romano sul – norte que fazia a ligação

do Algarve ao resto do pais e de uma das primeiras evoluções urbanas extramuros, a

expansão para norte do recinto amuralhado que data do séc. XV, nomeadamente a zona do

Alto de S. Domingos.

O terramoto de 1755 destruiu a maioria dos edifícios da cidade, a zona do Alto de

S. Domingos não foi excepção. Contudo a destruição trouxe consigo uma vaga de

reconstrução, nascendo assim vários edifícios urbanos e senhoriais, nomeadamente o solar

Ilustração 13 - Planta de localização.

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da família Gama Lobo e o solar da família Barros e Aragão, situados a norte da

recentemente traçada rua de Portugal. Este crescimento veio posicionar a Rua de Portugal

como um local de prestígio na classe mercantil.

A Rua de Portugal tem uma acentuada inclinação e faz a ligação entre, o solar da

família Gama Lobo e a capela de Sant`Ana, a norte e o Largo Dr. Bernardo Lopes a sul,

onde se inicia a Praça da República e a entrada do recinto amuralhado, pela antiga Porta da

Vila.

4.1.2- O Edifício

Os edifícios a reabilitar datam

de finais do séc. XIX e preservam a

sua traça original. Com influência do

ecletismo romântico, o edifício central

marca um eixo quase simétrico entre

os dois edifícios que o ladeiam de tipo

urbano popular. Os edifícios foram

originalmente três habitações

autónomas, sendo, ao longo da sua

história, vítimas de obras consecutivas

que alteraram parcialmente o seu

interior. As tipologias representam um

carácter urbano antigo, apresentando soluções como o piso térreo em loja ou oficina

destinados a comércio ou serviços e o piso sobrado reservado para habitação.

Apesar de funcionalmente idênticos, os edifícios têm classificações e características

diferentes, podendo ser classificados da esquerda para a direita como: casa do tipo urbano

popular, onde a decoração é mínima e a importância entre as funções de espaço de

comércio ou serviço e a função de habitação têm igual importância; casa do tipo urbano de

ecletismo romântico, com uma fachada mais trabalhada onde os elementos decorativos

marcam e enquadram uma composição de grande beleza, esta tipologia tem maior destaque

no piso da habitação, considerado o piso nobre, em relação ao espaço de comércio; por

fim, a segunda casa do tipo urbano popular, esta claramente com função mais laboral, onde

a fachada principal é marcada pelo grande vão de porta de acesso ao espaço comercial e

Imagem 101- Fachada dos 3 Edifícios a Reabilitar.

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por outro de menor dimensão que dá acesso à escada de acesso ao piso de habitação. A

inexistência de vãos de janela para o piso de habitação e a sua falta qualidade espacial,

afirma o papel secundário deste piso, sendo também possível que este resulte de uma

ampliação de um edifício de função apenas comercial.

Actualmente os três edifícios foram adquiridos por apenas um proprietário,

encontrando-se parcialmente agregados entre si. No piso térreo encontram-se três espaços

comerciais autónomos e duas portas que dão acesso às duas escadas de acesso ao piso

superior onde se encontra a habitação, esta autónoma no edifício da esquerda e interligada

no edifício central e da direita.

.

4.1.3- Sistema Construtivo

Os três edifícios apresentam características construtivas idênticas, apresentando

materiais e técnicas construtivas tradicionais.

As paredes dividem-se em dois

tipos: as mestras, com função

estruturante e as de

compartimentação, com função de

separação e organização dos espaços.

As paredes mestras dos três

edifícios são em alvenaria de pedra

irregular calcária não aparelhada com

ligante em argamassa de cal. As

Ilustração 14 - Planta do Edifício, Piso 0. Ilustração 15 - Planta do Edifício, Piso 1

Imagem 102 - Parede em Alvenaria de Pedra.

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paredes variam entre os 50 e os 80cm de espessura, encontrando-se as de menor dimensão

no interior do edifício e as de maior espessura no exterior.

As paredes de compartimentação são em tabiques de fasquiado de madeira com

emboco e reboco, este em argamassa de cal, areia, barro e fibras. Estas paredes rondam os

15cm de espessura, sendo característica comum aos três edifícios.

Existe também paredes recentemente acrescentadas ou modificadas com materiais

industriais como o tijolo industrial e o reboco em cimento com cerca de 12 cm de

espessura.

O tipo de pavimento utilizado

nos três edifícios é o sistema em

abobadilha. Este é um sistema misto,

ou seja, combina o tijolo maciço e

perfis metálicos em I. Os tijolos

concebem as pequenas abobadas que

são sustentadas pelos vigamentos

longitudinais metálicos. Os espaços

sobre as abobadilhas são preenchidos

com uma argamassa forte e nivelado com argamassa de cal e areia. Como revestimento, o

pavimento é em ladrilho ou soalho consoante a funcionalidade da divisão, sendo o ladrilho

para as áreas mais expostas à humidade e de maior necessidade de higienização como as

cozinhas e as casas de banho e o soalho para áreas de lazer e descanso como a sala de estar

e os quartos.

Por fim as coberturas já

apresentam diferentes sistemas

consoante as diferentes habitações,

existindo três tipos de coberturas.

No 1º edifício à esquerda a

cobertura é inclinada de duas águas.

Esta estrutura é constituída pelo pau

de fileira, ao eixo da cobertura e

paralelamente a este encontram-se as

madres. Estes elementos são

encastrados nas paredes laterais e suportam as varas da estrutura. Finalmente as telhas

Imagem 103 - Pavimento em Abobadilhas Rebocadas.

Imagem 104 - Cobertura de Duas Águas.

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assentam sobre um forro de ripado de

canas (encaniçado). Como

revestimento interior é usado um tecto

falso em estuque decorado com baixos-

relevos.

No edifício central a cobertura é

plana, ou seja em açoteia cobrindo todo

o edifício. Este típico elemento da

construção Algarvia é constituído pelo

sistema de abobadilhas de tijolo

maciço apoiadas em vigas metálicas.

Sobre as abobadilhas, o pavimento era

nivelado com argamassa forte ou

entulho e argamassa de cal e areia para

assentar os ladrilhos. A parte interior

da estrutura era normalmente pintada,

existindo casos em que as abobadilhas

e as vigas eram deixadas a vista.

No edifício que se situa á direita encontramos uma junção dos dois sistemas

acima descritos, utilizando estruturas semelhantes. Este edifício possui mais um piso que

os restantes, sendo um possível acrescento posterior. A cobertura da zona frontal do

edifício é em açoteia e na zona tardoz em cobertura inclinada de uma água, compondo o

terceiro piso do edifício. O acesso à açoteia é feito por um estreito lance de escadas interior

em madeira.

Imagem 105 - Cobertura em Açoteia.

Imagem 106 - Cobertura Mista.

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4.1.4- Fachada

As fachadas dos edifícios apresentam diferenças que marcam bem as suas

diferentes tipologias. Essas diferenças destacam-se principalmente a nível dos volumes,

dos vãos e da quantidade qualidade dos elementos decorativos.

O edifício central, de tipo urbano com tendências decorativas de um ecletismo

romântico, é o edifício que marca o eixo dos três edifícios, pela sua maior dimensão e pela

maior riqueza construtiva e decorativa, em relação aos edifícios de tipo urbano popular que

o ladeam.

Os vãos estão alinhados nos dois pisos, sendo o eixo de simetria da fachada

marcada pela janela de sacada do primeiro piso. Os guarnecimentos são em cantaria de

pedra calcária, com vergas rectas coroadas com um medalhão central. O vão em sacada

tem uma guarda de ferro e abre sobre um varandim em consola, esta apoiada sobre o

cachorro em consola de pedra com desenhos ricamente elaborados.

A fachada é lateralmente rematada por cunhais em pedra, na base possui o soco,

igualmente em pedra e a separação dos pisos é feita através de um friso em massa. A

coroar o edifício existe a platibanda, ricamente decorada: por cimalhas simples na base e

no topo, falsas pilastras a rematar os cunhais e a marcar o eixo da fachada, um medalhão

Ilustração 16 - Fachada dos 3 Edifícios.

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118

de motivo vegetal no eixo da fachada e ainda coroada por elementos cerâmicos que

parecem querer elevar o edifício como uma marca de status social.

Os edifícios que ladeam o edifício central apresentam dimensões idênticas,

marcando uma simetria que compõem na perfeição, o conjunto dos três edifícios. Apesar

de tipologias e volumetrias idênticas, apresentam fachadas muito diferentes.

O edifício à direita tem claramente uma função mais laboral, podendo até o piso da

habitação ter sido um acrescendo posterior à construção inicial, isto, pela falta de vãos

frontais no segundo piso.

A fachada é simples e composta por apenas dois vãos de entrada e uma platibanda

sem elementos decorativos, para além das falsas pilastras que a rematam. O conjunto dos

dois vãos é composto por um vão de grandes dimensões para a entrada e saída de

mercadoria ou veículos e outro para o acesso de pessoas, que dá o acesso ao piso de

habitação.

O edifício lateral esquerdo já apresenta uma funcionalidade mista, apresentando o

piso inferior destinado a comércio e o piso superior destinado a habitação. A achada apesar

de simples já apresenta pequenos cuidados decorativos como as molduras dos vãos em

pedra, e o contraste de cores entre os elementos decorativos e a restante fachada. A

platibanda também se apresenta como mero elemento decorativo pois a cobertura é

inclinada de duas águas.

A fachada tardoz dos três edifícios, foram consecutivamente sofrendo alterações,

apresentando actualmente, uma pobre composição, sem qualquer tipo de regras, perdendo

assim o seu interesse a nível arquitectónico.

4.1.5- Patologias

Após feita uma introdução geral do edifício é necessário fazer um levantamento das

anomalias do mesmo, tanto a nível estrutural como a nível não estrutural, de forma a

perceber o estado de conservação do edifício e dos seus materiais.

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Ilustração 17 - Ficha de Patologias

Para fazer o levantamento das

anomalias, foi feito em primeiro

lugar, uma análise visual completa do

edifício com o respectivo

levantamento fotográfico das

patologias presentes.

De seguida, com a informação

recolhida foram executadas fichas

descritivas de cada patologia

encontrada, de modo a tornar a leitura

e a interpretação da informação mais

simples e explícita. Para cada tipo de

patologia detectada foi elaborada uma

ficha descritiva onde era visível: uma

imagem fotográfica da respectiva

anomalia; a identificação da ou das

localizações onde incidia o mesmo

problema, isto feito de modo descritivo e gráfico através de uma planta; o grau de

gravidade, ou seja, patologias a nível estrutural ou não estrutural. Por fim, foi feita a

descrição das patologias através dos efeitos causados pelas mesmas e das possíveis causas

originárias. A terminar, foi descrita uma proposta de uma possível resolução para cada tipo

de patologia.

As anomalias presentes nos

três edifícios são no geral de pouca

gravidade, sendo na sua maioria o

desgaste natural dos materiais por

envelhecimento ou pela presença

excessiva de humidade e

consequentemente dos seus sais

destrutivos, causando a deterioração

dos materiais como a desagregação e

a fendilhação das argamassas e dos

rebocos, o apodrecimento das Imagem 107 - Patologias no Sistema de Abobadilhas.

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Imagem 108 - Patologias na Cobertura de Duas Águas.

madeiras e a corrosão das vigas de ferro.

Os dois casos de maior gravidade estão presentes a nível das coberturas. Num dos

casos estamos perante a degradação das madeiras da estrutura e o assentamento das telhas.

Estas anomalia é causada por envelhecimento natural do material e pelo ataque de

xilófagos (insectos e fungos), em particular nos trechos colocados dentro das paredes, pois

a acumulação de humidade excessiva

na madeira pela sua insuficiente

ventilação e por deficiente isolamento

leva à ruptura das ligações entre

materiais. A anomalia pode também

ser causada por rupturas, torções,

empenos ou perdas de secção das

madeiras. No segundo caso,

encontramos uma anomalia causada

por mão humana, ou seja por

deficientes obras de renovação da

cobertura. Neste caso a antiga

cobertura foi substituída por uma

estrutura em vigas de betão armado, isto levou a uma sobrecarga das paredes resistentes,

causando a sua deformação e consequentemente à perda da sua estanquicidade.

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ARQUITECTURA TRADICIONAL EM LOULÉ

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121

4.2- A REABILITAÇÃO

4.2.1-A Função

O projecto de reabilitação dos três edifícios, tem como objectivo seguir as

directrizes da reabilitação urbana, sendo essencial que este fosse uma mais valia para a

cidade de Loulé e principalmente para o seu centro histórico.

Após a análise das potencialidades e dos pontos críticos da cidade de Loulé, com

recurso a estudos como os Censos 2001 do INE e o Plano Estratégico de Desenvolvimento

de Loulé, foi decidido que a função que poderia representar uma mais valia para a cidade,

seria um equipamento que respondesse às problemáticas relacionadas com a

inacessibilidade da habitação, o envelhecimento da população, o abandono escolar e a

desertificação por parte dos jovens do

centro histórico.

Analisadas as principais

necessidades da cidade, restou

analisar as potencialidades da

localização dos edifícios em estudo.

Estes encontravam-se no centro

histórico, a norte do recinto medieval,

zona que se encontra envelhecida,

apesar da imensa vida social e cultural

que a rodeia. Num raio de 200 metros

dos edifícios encontramos os

principais órgãos municipais da cidade, uma rica variedade social e comercial com

inúmeros cafés, restaurantes e estabelecimentos comerciais e como ponto principal na

escolha da função do edifício encontramos variadíssimos equipamentos culturais com o

Museu do Castelo, os Arquivos Histórico e Fotográfico municipais, a Casa da Cultura de

Loulé, variados ateliês e galerias e o Instituto Universitário D. Afonso III.

O conjunto de todos estes factores levaram à escolha da função de residência de

estudantes, pois esta função é que tira maior partido do local da intervenção e a que

responde de melhor forma ás necessidades da cidade de Loulé e do seu Centro Histórico.

Ilustração 18 - Pontos Culturais de Interesse.

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ARQUITECTURA TRADICIONAL EM LOULÉ

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122

4.2.2- O Projecto

Definida a função do edifício foi necessário definir o programa. Este, derivado à

escassez de espaço foi reduzido aos mínimos essenciais que garantissem o cumprimento da

legislação em vigor e a funcionalidade que foi uma das principais preocupações durante

todo o projecto assim juntamente como a qualidade espacial, garantindo assim uma boa

vivência do espaço.

O programa foi assim definido dividindo os espaços comuns no piso térreo e os

espaços com maior necessidade de privacidade no piso superior, que originalmente era

considerado o piso nobre destinado à habitação. Esta disposição organizou à partida todo o

programa, garantindo a melhor funcionalidade da residência.

A funcionalidade do edifício exigia a existência de um programa composto por uma

recepção, uma sala de convívio, um espaço de refeições, um espaço para lavandaria,

instalações sanitárias por cada piso e como espaço de maior relevância do programa, os

quartos.

Ilustração 19 - Esboço de Estudo.

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ARQUITECTURA TRADICIONAL EM LOULÉ

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123

A organização do programa teve como base um organigrama que definiu à partida

toda a organização espacial, ou seja o programa e os percursos que distribuiriam os

utilizadores pelos diversos espaços, isto sem comprometer a boa vivência de cada espaço.

Com base na funcionalidade dos espaços foi definido o início do percurso pela recepção,

que faz a distribuição para todos os espaços da residência através de um amplo hall

facilitando todo o exercício das

funções de gestão para a boa

funcionalidade da residência.

Começando no piso térreo,

ou seja, a zona mais social de

menor privacidade, temos a

recepção que daria acesso a três

zonas distintas, a zona mais

resguardada e de serviços, onde se

encontra o espaço da lavandaria e

as instalações sanitárias de uso

público destinadas a servir todos os

espaços e público da residência.

Outra zona com acesso pela

recepção seria a área de refeições,

esta separada das restantes por

motivos funcionais e de

salubridade. Finalmente, a

recepção distribuiria os utentes

para a zona mais privada. Esta zona

seria dividida por duas subzonas,

uma semi-privada com a sala de estudos e convívio e outra no piso superior com a zona de

utilização mais restrita onde se encontrariam os quartos e os balneários.

Com o objectivo de preservar a veracidade arquitectónica dos edifícios, foi desde o

início imposto o conceito de maximizar as intervenções de conservação e restauro e

minimizar as operações de demolição e reconstrução de grandes secções do edifício.

O trabalho previamente elaborado permitiu verificar a viabilidade estrutural do

conjunto edificado, apresentando apenas necessidades de intervenções mais intensas em

Ilustração 20 - Planta da Organização dos Espaços, Piso 0.

Ilustração 21 - Planta da Organização dos Espaços, Piso 1.

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124

Ilustração 22 – Projecto de Reabilitação do Piso 1.

Ilustração 23 - Projecto de Reabilitação do Piso 0.

algumas partes do edifício de forma a garantir a segurança e a melhor funcionalidade da

residência. O sistema estrutural, nomeadamente as paredes mestras foram preservadas

assim como a fachada frontal que é um elemento de identificação do edifício assim como

do conjunto edificado envolvente. A fachada tardoz, foi totalmente reconstruída, visto

apresentar alterações posteriores ao projecto original sem regras ou critérios estéticos em

relação à envolvente urbana. A nova fachada respeita as regras de simetria, distanciamento

e dimensionamento dos vãos e integra-se na imagem urbana envolvente.

As intervenções de maior impacto deram-se a nível do edifício de tipologia

comercial, a decisão desta opção baseou-se na falta de condições de habitabilidade, sendo

por isso necessário reabilitá-lo, adaptando-o ás necessidades do novo projecto sem com

isso modificar a sua presença a nível da envolvente exterior. Para manter as características

da fachada foram aproveitados os guarnecimentos dos vãos originais, que se adaptavam

perfeitamente às necessidades funcionais e de iluminação do novo espaço.

A zona reabilitada foi desenhada de

modo a criar a maior amplitude espacial possível, contrariando a ambiência espacial

original, onde os espaços tinham áreas diminutas e pouca luminosidade. O novo espaço foi

também aproveitado para a introdução de novos elementos necessários à residência, como

os acessos verticais, nomeadamente o elevador e as escadas. Os acessos verticais originais

foram substituídos, isto por se encontrarem em número excessivo, sem utilidade e com

dimensionamento demasiado reduzido o que comprometia os espaços envolventes e a nova

função desempenhada pelo edifício.

As paredes de compartimentação eram outro obstáculo incontornável, pois estas

foram originalmente projectadas sob um conceito de maximização do número de espaços

com sacrifício da qualidade e organização dos mesmos, o que vai contra as necessidades e

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125

objectivos do novo espaço proposto, sendo por essa razão também substituídas por paredes

novas que permitiram uma reorganização espacial.

As restantes intervenções passaram apenas por pequenas intervenções de reparação

ou substituição de pequenas secções estruturais ou de materiais degradados.

Todo o projecto moldou-se às características existentes do edifício, sendo apenas

aplicados novos materiais de modo a melhor o seu desempenho, a nível estrutural,

Ilustração 24 - Corte longitudinal do Edifício Reabilitado.

Imagem 109- Maquete dos 3 Edifícios Reabilitados.

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ARQUITECTURA TRADICIONAL EM LOULÉ

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126

habitacional e funcional. Como exemplo disso foi a total reconstrução das instalações

sanitárias e da cozinha comunitária ou a aplicação de paredes divisórias ligeiras em gesso

cartonado, com isolante acústico e estrutura em metal que desempenham uma melhor

performance acústica e diminuem o peso sobre o pavimento, evitando assim cargas

excessivas que comprometam a estrutura do edifício.

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CONCLUSÃO

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ARQUITECTURA TRADICIONAL EM LOULÉ

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128

Apesar de insufuciente, é notório o crescente interesse, assim como o sentido de

responsabilidade por parte das entidades responsáveis e pelas comunidades locais, pelo

património arquitectónico e urbanístico, em conservar, proteger e valorizar esse

insubstituível legado histórico e cultural.

O património construído representa uma prova viva da nossa história, feita a partir

de inúmeras vivências, acontecimentos e influências, que numa constante mutação,

formaram a sociedade e a cultura actual. Sendo por isso da responsabilidade de todos, a

obrigação de respeitar, salvaguardar, reabilitar e valorizar, para as gerações presentes e

futuras, o património que nos foi herdado.

A cidade de Loulé apresenta um conjunto arquitectónico urbano histórico de

elevado valor. Esse conjunto urbano é constituído, não só pelos monumentos mais

emblemáticos, mas por todo um conjunto de elementos que integra desde ruas e praças às

habitações mais humildes, que no conjunto, por vezes feito num modo quase anárquico,

compõem a urbe medieval e os bairros históricos Louletanos. Este património presente no

habitat diário das pessoas que o habitam passa muitas vezes despercebido, desvalorizado

ou mesmo desconhecido. Isto deve-se em grande parte por ser tomado como uma presença

garantida e eterna, sendo por isso necessário alertar as populações locais para a fragilidade

destes elementos urbanos, que são constantemente abusados e destruídos pela mão do

próprio homem que o habita. Isto deve-se em grande parte pela falta de conhecimento e

sensibilização da importância do património arquitectónico como elemento compositor da

cultura e história da cidade e da sua população.

Apesar do interesse e esforço já de longa data, demonstrado por organizações como

a UNESCO e o ICOMOS pelo estudo, reflexão e divulgação da protecção do património,

como é exemplo a Carta de Atenas de 1931, é ainda notório o desrespeito e a ignorância

nas decisões e intervenções executadas nesta área. O Património é em muitos casos

desvalorizado e desrespeitado tanto pela população como pelas autoridades competentes.

Sendo disso exemplo os inúmeros atentados feitos ao património arquitectónico Louletano,

que em prol da evolução urbana sacrificaram património que fez parte da sua história e que

constituía um testemunho de inúmeros acontecimentos que marcaram a evolução da

cidade. A destruição quase completa das muralhas da cidade medieval é um excelente

exemplo desse sacrifício do património construído em prol da evolução urbana. Mas os

cuidados em relação ás intervenções feitas no património arquitectónico têm de ser feitos a

todas as escalas, incluindo desde as grandes intervenções urbanas às pequenas intervenções

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129

de iniciativa privada, que em muitos casos são erráticas destruindo o valor patrimonial das

suas próprias habitações.

As nossas cidades têm sofrido irrecuperáveis perdas patrimoniais por culpa de

intervenções abusadoras ou mal executadas por parte das entidades competentes. O caso de

Loulé é hoje, um exemplo da crescente preocupação na preservação, reabilitação e

valorização do património que quando valorizado e bem explorado, pode representar mais

valias sociais, culturais e económicas para as suas comunidades locais. Como exemplo

disso Loulé apresenta um centro histórico vivo, isto conseguido pelo incentivo do uso da

urbe medieval como pólo habitacional, comercial e cultural. Exemplo disso são os festivais

culturais e comerciais, ai organizados que divulgam e valorizam um centro histórico vivo e

apelativo.

É necessário incutir na nossa sociedade o interesse e o conhecimento pelo legado

histórico que nos foi herdado pelos nossos antepassados, sendo que este é um testemunho

da nossa cultura e da história que nos formou. Este interesse deve ser incutido a toda a

população, abrangendo jovens, moradores e órgãos administrativos, sendo esta a única

forma de travar o desrespeito e a destruição e incutir por iniciativa própria a protecção,

reabilitação e valorização do património arquitectónico Louletano. A responsabilidade pela

salvaguarda do nosso património não incide apenas nas autoridades competentes, mas sim

a todos, incluindo desde moradores, técnicos e construtores a gestores económicos.

As abordagens nas intervenções de recuperação, reabilitação e valorização do

património necessitam de ser sempre cuidadas, incluindo as pequenas intervenções de

manutenção das habitações, às intervenções de grande escala como a reabilitação urbana,

tendo sempre presente os conceitos de autenticidade e veracidade arquitectónica, pois

só assim, conseguiremos herdar às gerações futuras, o património que nos foi herdado

pelos nossos antepassados.

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BIBLIOGRAFIA

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Alcaidaria – Praça da República – Loulé. Universidade de Évora.

-TORRES, Cláudio; MACIAS, Santiago. 1998. O Legado Islâmico em Portugal. Circulo

dos Leitores.

-VICENTE, Lília e SILVA, Leonel. 2006. Carta Educativa do Concelho de Loulé 2006.

1ªEdição.

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Ibérica, 19, pp. 4-17.

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-AL-`ULYÃ, Revista do Arquivo Histórico Municipal de Loulé Nº4, 1995. Paulo

Estremoz, A Evolução da Cidade.

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- http://www.arqpapel.fa.utl.pt

- http://wwwarquitectos.pt

- http://wwwarquitecturasdeterra.blogspot.com

- http://www.cm-loule.pt

- http://wwwcoisasdaarquitetura.wordpress.com

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- http://www.sapiens.no.sapo.pt

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- http://www.wikipédia.org

Page 136: ARQUITECTURA TRADICIONAL EM LOULÉ

ARQUITECTURA TRADICIONAL EM LOULÉ

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135

LISTA DE ABREVIATURAS

CML - Câmara Municipal de Loulé

ICOMOS- International Council on Monuments and Sites

INE – Instituto Nacional de Estatística

IPPAR – Instituto Português do Património Arquitectónico

PDM – Plano Director Municipal

UNESCO – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization

ZEP – Zona Especial de Protecção

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ÍNDICE GRÁFICO

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ILUSTRAÇÕES:

Ilustração 1- O Algarve dividido por concelhos e sub-regiões....................................... p. 14

Fonte: Ilustração do Autor.

Ilustração 2 – Urbe Medieval de Loulé, até ao século XIV............................................ p. 21

Fonte: Ilustração do Autor.

Ilustração 3 - Expansão da Urbe Medieval, século XVI................................................. p. 24

Fonte: Ilustração do Autor.

Ilustração 4 – Vila de Loulé, século XVIII..................................................................... p. 26

Fonte: Ilustração do Autor.

Ilustração 5 – Expansão da Vila de Loulé, início século XX.......................................... p. 27

Fonte: Ilustração do Autor.

Ilustração 6 – Expansão da Vila de Loulé, primeira metade do século XX.................... p. 30

Fonte: Ilustração do Autor.

Ilustração 7 – Cidade de Loulé, século XXI................................................................... p. 31

Fonte: Ilustração do Autor.

Ilustração 8 – Perímetros de Protecção ao Centro Histórico de Loulé............................ p. 50

Fonte: Ilustração do Autor.

Ilustração 9 - Tirantes Metálicos..................................................................................... p. 73

Fonte: Sitio Web http://www.estg.ipleiria.pt

Ilustração 10 – Instrumentos Para a Realização de uma Parede em Taipa..................... p. 76

Fonte: Sitio Web http://coisasdaarquitetura.wordpress.com

Ilustração 11 – Fundação, e Parede Feita por Enxaiméis................................................ p. 77

Fonte: Sitio Web http://coisasdaarquitetura.wordpress.com

Ilustração 12 – Asna em Madeira.................................................................................... p. 91

Fonte: Sitio Web http://www.engenhariacivil.com

Ilustração 13 - Planta de localização............................................................................. p. 112

Fonte: Ilustração do Autor.

Ilustração 14 - Planta do Edifício, Piso 0...................................................................... p. 114

Fonte: Ilustração do Autor.

Ilustração 15 - Planta do Edifício, Piso 1…………………………………………….. p. 114

Fonte: Ilustração do Autor.

Ilustração 16 - Fachada dos 3 Edifícios......................................................................... p. 117

Fonte: Ilustração do Autor.

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ARQUITECTURA TRADICIONAL EM LOULÉ

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138

Ilustração 17 - Ficha de Patologias…………………………………………………… p. 119

Fonte: Ilustração do Autor.

Ilustração 18 - Pontos Culturais de Interesse................................................................ p. 121

Fonte: Ilustração do Autor.

Ilustração 19 - Esboço de Estudo.................................................................................. p. 122

Fonte: Ilustração do Autor.

Ilustração 20 - Planta da Organização dos Espaços, Piso 0.......................................... p. 123

Fonte: Ilustração do Autor.

Ilustração 21 - Planta da Organização dos Espaços, Piso 1.......................................... p. 123

Fonte: Ilustração do Autor.

Ilustração 23 - Projecto de Reabilitação do Piso 0…………………………………… p. 124

Fonte: Ilustração do Autor.

Ilustração 22 – Projecto de Reabilitação do Piso 1………………………………...… p. 124

Fonte: Ilustração do Autor.

Ilustração 24 - Corte longitudinal do Edifício Reabilitado........................................... p. 125

Fonte: Ilustração do Autor.

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139

IMAGENS:

Imagem 1- Largo de São Francisco................................................................................ p. 28

Fonte: Foto da Fototeca Municipal de Loulé.

Imagem 2 – Planta de implantação do Mercado de Loulé.............................................. p. 29

Fonte: Foto da Fototeca Municipal de Loulé.

Imagem 3 – Construção da Av. José da Costa Mealha. ……………………...……...... p. 30

Fonte: Foto da Fototeca Municipal de Loulé.

Imagem 4 – Lg. Do Chafariz, actual Lg. Afonso III. ……………………………...….. p. 35

Fonte: Foto da Fototeca Municipal de Loulé.

Imagem 5 - Lg. Afonso III, vista parcial do Castelo....................................................... p. 35

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 6 - Portal da Igreja da Graça.............................................................................. p. 36

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 7 - Igreja Matriz................................................................................................. p. 37

Fonte: Foto da Fototeca Municipal de Loulé.

Imagem 8 - Igreja Matriz, actual..................................................................................... p. 38

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 9 - Hospital e Igreja da Misericórdia ………………………………………… p. 39

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 10 - Portal da Igreja e Cruzeiro......................................................................... p. 39

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 11 - Ermida da N.ª S.ª da Conceição................................................................. p. 40

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 12 - Convento de Santo António........................................................................p. 41

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 13 - Igreja de São Francisco.............................................................................. p. 41

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 14 - Ermida da N.ª Sr.ª do Pilar......................................................................... p. 42

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 15 - Ermida da N.ª Sr.ª das Portas do Céu......................................................... p. 43

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 16 - Convento do Espírito Santo..................................................................... p. 43

Fonte: Foto do Autor.

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ARQUITECTURA TRADICIONAL EM LOULÉ

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140

Imagem 17 – Palácio Gama Lobo................................................................................... p. 44

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 18 – Palácio Gama Lobo e Capela de Sant`Ana............................................... p. 44

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 19- Solar Barros e Aragão................................................................................ p. 45

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 20 – Rua Sacadura Cabral e Solar Barros e Aragão.......................................... p. 45

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 21- Edifício Paços do Concelho........................................................................ p. 45

Fonte: Foto da Fototeca Municipal de Loulé.

Imagem 22 – Edifício Paços do Concelho, Actual.......................................................... p. 45

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 23 – Mercado de Loulé...................................................................................... p. 46

Fonte: Foto da Fototeca Municipal de Loulé.

Imagem 24 – Mercado Loulé, Actual.............................................................................. p. 46

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 25 – Cine-Teatro louletano................................................................................ p. 47

Fonte: Foto da Fototeca Municipal de Loulé.

Imagem 26 – Coreto........................................................................................................ p. 47

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 27 - Café Calcinha............................................................................................. p. 48

Fonte: Foto da Fototeca Municipal de Loulé.

Imagem 28 – Café Calcinha, Actual............................................................................... p. 48

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 29 – Fonte das Bicas Velhas............................................................................. p. 48

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 30 - Vista Aérea do Centro Histórico de Loulé................................................. p. 51

Fonte: Foto da Fototeca Municipal de Loulé.

Imagem 31 – Diferença entre rua Intramuros e rua extramuros...................................... p. 52

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 32 – Casa tipo Rural Popular, Rua Garcia da Horta......................................... p. 52

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 33 – Casa do tipo Rural Popular, Rua do Ribeiro da Graça.............................. p. 53

Fonte: Foto do Autor.

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ARQUITECTURA TRADICIONAL EM LOULÉ

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Imagem 34 – Casa do tipo Urbano Popular, Rua dos Sapateiros................................... p. 53

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 35 - Casa do tipo Urbano Popular, Rua Martim Farto..................................... p. 54

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 36 - Casa do tipo Urbano, Lg. Prof. Cabrita da Silva....................................... p. 55

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 37 - Casa do tipo Urbano, Rua Eng. Duarte Pacheco....................................... p. 55

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 38 – Edifício de tipo Solar, Rua N.ª Sr.ª de Fátima.......................................... p. 56

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 39 – Edifício de tipo Solar, rua Sacadura Cabral.............................................. p. 56

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 40 – Edifício de tipo Solar, Lg. Prof. Cabrita da Silva..................................... p. 57

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 41 – Edifício Urbano de Ecletismo Romântico, Av. Marçal Pacheco.............. p. 57

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 42 – Edifício Urbano de Ecletismo Romântico, Av. José da Costa Mealha..... p. 57

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 43 - Edifício Urbano de Ecletismo Romântico, Rua de Portugal….................. p. 58

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 45 - Edifício Urbano de Ecletismo Romântico, Av. José da Costa Mealha...... p. 59

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 44 - Edifício Urbano de Ecletismo Romântico, Av. José da Costa Mealha...... p. 59

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 46 – Parede Mestra, Convento de Santo António............................................. p. 61

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 47 – Molduras de Vãos...................................................................................... p. 67

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 48 – Uso do perpianho na junção de duas paredes............................................ p. 67

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 49 – Arco de distribuição de peso..................................................................... p. 68

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 50 – Fendilhação e Desagregação em zonas frágeis da parede......................... p. 69

Fonte: Foto do Autor.

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142

Imagem 51 – Desagregação do Reboco.......................................................................... p. 70

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 52 – Colapso de Parede de Alvenaria de Pedra................................................. p. 70

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 53- Injecções em Parede de Alvenaria.............................................................. p. 72

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 54 – Rede Metálica de Reforço da Argamassa................................................. p. 72

Fonte: Sitio Web http://www.estg.ipleiria.pt

Imagem 55 - Parede em Alvenaria de Tijolo Maciço..................................................... p. 75

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 56 – Torre da Vela, Construção em Taipa........................................................ p. 76

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 57 – Blocos Artesanais de Adobe..................................................................... p. 78

Fonte: Sitio Web http://arquitecturasdeterra.blogspot.com

Imagem 58 – Parede em Tabique de Madeira................................................................. p. 79

Fonte: Sitio Web http://afloret3.wordpress.com

Imagem 59 – Parede em Tabique de Pedra..................................................................... p. 80

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 60 - Pavimento em Mosaico Cerâmico............................................................. p. 81

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 61 – Pavimento em Baldosa.............................................................................. p. 81

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 62 – Pavimento em Ladrilho........................................................................... p. 81

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 63 – Pavimento em Soalho................................................................................ p. 81

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 64 – Pavimento em Sistema de Soalho............................................................. p. 82

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 65 – Degradação e Apodrecimento da Madeira................................................ p. 83

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 66 – Abóbada de Berço em Tijolo Maciço....................................................... p. 86

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 67 – Sistema de Abobadilhas............................................................................ p. 87

Fonte: Foto do Autor.

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143

Imagem 68 – Sistema de Abobadilhas Rebocado........................................................... p. 87

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 69 – Cobertura de uma água.............................................................................. p. 90

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 70 – Cobertura de Quatro Águas....................................................................... p. 92

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 71 – Revestimento da Cobertura com Encaniçado............................................ p. 93

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 72 – Degradação da Cobertura e do Estuque.................................................... p. 95

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 73 – Terraço ou Açoteia.................................................................................... p. 97

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 74 – Fachadas em Reboco e em Tijoleira......................................................... p. 99

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 75 – Pintura de Fingidos, Escaiola.................................................................. p. 100

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 76 – Caiação com Pigmantação...................................................................... p. 101

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 77 – Sobreposição de Camadas de Cal com Diferentes Pigmentações........... p. 101

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 78 – Vários Tons de Pigmentação Natural...................................................... p. 102

Fonte: RAPOSO, Isabel, e tal, 2007, Guia da reabilitação e

construção. Cidade de Loulé, Câmara Municipal de Loulé e Faculdade de

Arquitectura/Universidade Técnica de Lisboa.

Imagem 79 - Decoração da Fachada............................................................................. p. 103

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 80 - Soco em Argamassa................................................................................. p. 104

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 81 - Soco em Pedra.......................................................................................... p. 104

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 82 - Cunhal em Pedra...................................................................................... p. 104

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 83 - Cunhal em Argamassa............................................................................. p. 104

Fonte: Foto do Autor.

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144

Imagem 84 - Beiral Duplo............................................................................................. p. 105

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 85 - Beiral Simples.......................................................................................... p. 105

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 86 – Cimalha em Argamassa........................................................................... p. 105

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 87 - Edifícios da Av. José da Costa Mealha.................................................... p. 106

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 88 - Platibanda Decorada com Cimalhas e Falsas Pilastras............................ p. 106

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 89 - Platibanda Decorada com Motivos Geométricos..................................... p. 107

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 90 - Chaminé de Balão.................................................................................... p. 107

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 91 - Chaminé Rendilhada................................................................................ p. 107

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 92 - Vãos em Simetria e Alinhados................................................................. p. 107

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 93 - Vãos de Edifício de Ecletismo Romântico.............................................. p. 108

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 94 - Vãos do Palácio dos Gama Lobo............................................................. p. 109

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 95 - Janela com Moldura em Argamassa de Casa tipo Urbano Popular......... p. 110

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 96 - Janela com moldura em Cantaria de Pedra de Edifício Urbano.............. p. 110

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 97 - Janela com Moldura em Cantaria de Edifício tipo Solar......................... p. 110

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 98 - Porta em Madeira com Moldura em Argamassa...................................... p. 110

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 99 - Porta com Moldura em Cantaria e Bandeira............................................ p. 110

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 100 - Porta em Madeira com dois Batentes com Almofadas.......................... p. 110

Fonte: Foto do Autor.

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145

Imagem 101- Fachada dos 3 Edifícios a Reabilitar....................................................... p. 113

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 102 - Parede em Alvenaria de Pedra............................................................... p. 114

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 103 - Pavimento em Abobadilhas Rebocadas................................................. p. 115

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 104 - Cobertura de Duas Águas...................................................................... p. 115

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 105 - Cobertura em Açoteia............................................................................ p. 116

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 106 - Cobertura Mista..................................................................................... p. 116

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 107 - Patologias no Sistema de Abobadilhas.................................................. p. 119

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 108 - Patologias na Cobertura de Duas Águas................................................ p. 120

Fonte: Foto do Autor.

Imagem 109- Maquete dos 3 Edifícios Reabilitados..................................................... p. 125

Fonte: Foto do Autor.

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ANEXOS

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Imagem: Foto aérea do Centro Histórico de Loulé e a sua envolvente.

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Ilustração: Perímetros de Protecção do Núcleo Histórico

-Perímetro Amuralhado

-Zona Especial de protecção

-Área de Reconversão e Reabilitação Urbanística

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