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4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro ARQUITETURA MODERNA DE LE CORBUSIER NAS HABITAÇÕES POPULARES BRASILEIRAS ARIOLI, ALESSANDRA T. (1); GRUENDLING, FERNANDA S. (2); CALDEIRA, GABRIELA (3); LIMA, RAQUEL R. (4). 1. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - PUCRS Av. Ipiranga, 6681 - Partenon 90619-900- Porto Alegre (RS) [email protected] 2. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - PUCRS Av. Ipiranga, 6681 - Partenon 90619-900- Porto Alegre (RS) [email protected] 3. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - PUCRS Av. Ipiranga, 6681 - Partenon 90619-900- Porto Alegre (RS) [email protected] 4. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo PUCRS . Departamento de Teoria e Históra Av. Ipiranga, 6681 - Partenon 90619-900- Porto Alegre (RS) [email protected] RESUMO A partir do estudo da obra do importante arquiteto Le Corbusier, identificam-se muitas influências na arquitetura moderna brasileira, principalmente nos edifícios de habitação coletiva. A Unidade de Habitação em Marselha, do arquiteto Le Corbusier, por exemplo, apresenta muitas das principais diretrizes modernistas, representante de um dos documentos edificados fundamentais da Arquitetura Moderna. O presente artigo enfatiza a análise de edifícios de habitação coletiva moderna brasileira na busca da identificação das influências da obra do arquiteto Le Corbusier. O procedimento metodológico utilizado consiste na busca por fontes de pesquisa bibliográfica e documental, leitura do material, fichamento e análise com foco nas diretrizes que influenciaram a arquitetura da habitação popular brasileira. Os edifícios estudados foram a Unidade de Habitação em Marselha (1953), de Le Corbusier, que apresenta as principais diretrizes modernistas e também os cinco pontos criados pelo arquiteto; o Conjunto Pedregulho (1947), de Affonso Eduardo Reidy, que apresenta estética e princípios defendidos por Le Corbusier, como as tecnologias aplicadas na construção, na economia dos meios utilizados e nas preocupações funcionais relacionadas às

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4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação

Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

ARQUITETURA MODERNA DE LE CORBUSIER NAS HABITAÇÕES POPULARES BRASILEIRAS

ARIOLI, ALESSANDRA T. (1); GRUENDLING, FERNANDA S. (2); CALDEIRA, GABRIELA (3); LIMA, RAQUEL R. (4).

1. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - PUCRS

Av. Ipiranga, 6681 - Partenon 90619-900- Porto Alegre (RS)

[email protected]

2. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - PUCRS Av. Ipiranga, 6681 - Partenon 90619-900- Porto Alegre (RS)

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3. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - PUCRS Av. Ipiranga, 6681 - Partenon 90619-900- Porto Alegre (RS)

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4. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – PUCRS . Departamento de Teoria e Históra Av. Ipiranga, 6681 - Partenon 90619-900- Porto Alegre (RS)

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RESUMO

A partir do estudo da obra do importante arquiteto Le Corbusier, identificam-se muitas influências na arquitetura moderna brasileira, principalmente nos edifícios de habitação coletiva. A Unidade de Habitação em Marselha, do arquiteto Le Corbusier, por exemplo, apresenta muitas das principais diretrizes modernistas, representante de um dos documentos edificados fundamentais da Arquitetura Moderna. O presente artigo enfatiza a análise de edifícios de habitação coletiva moderna brasileira na busca da identificação das influências da obra do arquiteto Le Corbusier. O procedimento metodológico utilizado consiste na busca por fontes de pesquisa bibliográfica e documental, leitura do material, fichamento e análise com foco nas diretrizes que influenciaram a arquitetura da habitação popular brasileira. Os edifícios estudados foram a Unidade de Habitação em Marselha (1953), de Le Corbusier, que apresenta as principais diretrizes modernistas e também os cinco pontos criados pelo arquiteto; o Conjunto Pedregulho (1947), de Affonso Eduardo Reidy, que apresenta estética e princípios defendidos por Le Corbusier, como as tecnologias aplicadas na construção, na economia dos meios utilizados e nas preocupações funcionais relacionadas às

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soluções formais; o Conjunto de Deodoro (1956), de Flávio Marinho Rego, que se destaca por sua arquitetura com a extensão de seus blocos, por suas curvas e seu estilo moderno; o Conjunto Residencial Operário em Realengo (1943), de Carlos Frederico Ferreira, que é considerado o primeiro conjunto de habitação popular implantado no país, sendo direcionado para o aluguel para operários de baixa renda; e o Conjunto Residencial Armando de Arruda Pereira (1957), conhecido como Japurá, do arquiteto Eduardo Kneese de Mello, que é considerada a primeira habitação popular a aplicar os princípios cultuados por Le Corbusier em suas Unidades de Habitação, e destaca-se pelo uso de pilotis, terraço de cobertura, estrutura independente e pela marcação da circulação na fachada. O referente trabalho busca abranger estudos na área da habitação popular no Brasil e suas referências arquitetônicas para o projeto e construção destas. Apresentando, assim, as influências de um dos principais arquitetos modernistas, Le Corbusier, na arquitetura e habitação popular brasileira, além de demonstrar a importância da arquitetura moderna nos edifícios habitacionais no país. Portanto, foram destacadas semelhanças entre os exemplares como a forma dos edifícios, a aplicação dos cinco pontos da Nova Arquitetura, e o tipo de material utilizado nos conjuntos selecionados – ocasionados pela influência arquitetônica de Le Corbusier. Pode-se afirmar que os arquitetos estudados e seus projetos de habitação popular se ativeram não apenas às necessidades básicas das pessoas residentes dos conjuntos, mas à disponibilidade de serviços e equipamentos indispensáveis, promovendo moradias modernas econômicas e inovadoras. Não obstante, busca-se nos edifícios um traçado arquitetônico construtivo e formal, onde o arquiteto Le Corbusier regeu forte influência sobre os conjuntos populares brasileiros, por meio da utilização de seus princípios compositivos e construtivos, dos seus cinco pontos e da sua forma arquitetônica. Entende-se também que a influência da Arquitetura Moderna do arquiteto Le Corbusier foi vital para o desenvolvimento dos edifícios de uma época em que o conceito de habitação popular como local de lazer, educação e saúde - além de apenas moradia -, tornava-se realidade no Brasil.

Palavras-chave: Habitação Popular; Le Corbusier; Arquitetura Moderna.

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Introdução

O presente artigo busca enfatizar a análise de edifícios da habitação popular

brasileira no período moderno trazendo e identificando influências das obras e dos princípios

do arquiteto Le Corbusier. A partir do estudo da Unidade de Habitação em Marselha do

arquiteto, identificam-se muitas influências na Arquitetura Moderna brasileira, principalmente

nos edifícios de habitação popular. Este edifício apresenta muitas das principais diretrizes

modernistas, representante de um dos documentos edificados fundamentais da Arquitetura

Moderna.

A Arquitetura Moderna pode ser classificada como um conjunto de movimentos

de escolas arquitetônicas que vieram a caracterizar a arquitetura desenvolvida durante

grande parte do século XX, tendo como um dos princípios básicos deste movimento,

renovar a arquitetura de modo a rejeitar toda a arquitetura anterior a deste período.

Contudo, uma das características mais conhecidas da arquitetura moderna é a utilização de

formas simples, geométricas, e desprovidas de ornamentação, busca-se valorizar o

emprego dos materiais em sua essência como o concreto aparente, por isso, materiais

como o aço e o concreto armado dão aos arquitetos a oportunidade de fazer com que este

estilo se torne completamente diferente de tudo que se viu até então. A Arquitetura Moderna

também é o reflexo das grandes inovações técnicas que começam a surgir já no fim do

século XIX, com a revolução industrial além da criação da escola Bauhaus de Weimar, por

Walter Gropius (1883-1969), que foi de suma importância para o desenvolvimento e

disseminação da Arquitetura moderna.

Os edifícios estudados foram a Unidade de Habitação em Marselha (1953), de Le

Corbusier, que apresenta as principais diretrizes modernistas e também os cinco pontos

criados pelo arquiteto; o Conjunto Pedregulho (1947), de Affonso Eduardo Reidy, que

apresenta estética e princípios defendidos por Le Corbusier, como as tecnologias aplicadas

na construção, na economia dos meios utilizados e nas preocupações funcionais

relacionadas às soluções formais; o Conjunto de Deodoro (1956), de Flávio Marinho Rego,

que se destaca por sua arquitetura com a extensão de seus blocos, por suas curvas e seu

estilo moderno; o Conjunto Residencial Operário em Realengo (1943), de Carlos Frederico

Ferreira, que é considerado o primeiro conjunto de habitação popular implantado no país,

sendo direcionado para o aluguel para operários de baixa renda e um dos primeiros a utilizar

o procedimento de construção em série com blocos de concreto na arquitetura popular

brasileira; e o Conjunto Residencial Armando de Arruda Pereira (1957), conhecido como

Japurá, do arquiteto Eduardo Kneese de Mello, que é considerada a primeira habitação

popular a aplicar os princípios cultuados por Le Corbusier em suas Unidades de Habitação,

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e destaca-se pelo uso de pilotis, terraço de cobertura, estrutura independente e pela

marcação da circulação na fachada.

A arquitetura se apresenta como documento da história ao trazer consigo as marcas

dos hábitos e da cultura de um povo ou de uma época. Ambos os edifícios estudados e que

serão tratados no artigo, possuem fortes influências do movimento moderno brasileiro e

carregam consigo a marca e a solução de um problema enfrentado neste período do

modernismo brasileiro, tornando-os documentos da arquitetura nacional. São edifícios de

extrema qualidade, que marcaram a arquitetura do país, tanto pelas suas formas e técnicas

construtivas quando pelas excelentes referências trazidas para os seus elementos da

composição e da arquitetura, fortemente relacionados aos cincos pontos da Arquitetura

Moderna de Le Corbusier.

1 Os cinco pontos da arquitetura de Le Corbusier

Os cinco pontos da arquitetura de Le Corbusier foram o resultado de suas pesquisas

no início de sua carreira profissional. Sua forma final foi apresentada na revista francesa

L’Espirit Nouveau, em 1926, entretanto, eles já haviam sido aplicados anteriormente como

na Casa Cook, por exemplo, em 1926 e logo após na Villa Stein, de 1927, e na Villa Savoye,

de 1928. Em seus projetos, Le Corbusier modificava ou acrescentava elementos em seus

cinco pontos e a sua aplicação possibilitou a independência dos elementos constitutivos do

projeto, permitindo liberdade de criação.

Os cinco pontos da arquitetura de Le Corbusier são apresentados da seguinte

maneira: o uso da planta livre, possibilitada pela estrutura independente que permite a livre

colocação das paredes, que não exercem função estrutural; pilotis, que são o emprego de

pilares que elevam o prédio do chão, permitindo a circulação por debaixo do mesmo;

terraço-jardim, que recupera o solo ocupado pelo prédio, transferindo-o, de certa forma, para

cima do prédio como um jardim urbano; janelas em fita, que por meio da fachada livre,

permitem uma relação desimpedida com a paisagem, maximizando vistas e insolação; e

fachada livre, possibilitada pela independência da estrutura, que permite que a fachada seja

projetada sem impedimentos.

1.1 A Unidade de Habitação em Marselha e os cinco pontos de Le Corbusier

A Unidade de Habitação em Marselha representa o auge da aplicação dos cinco

pontos criados por Le Corbusier. Foi projetada em um período em que havia uma demanda

de novas moradias, com o intuito de abrigar 1600 pessoas. Foi pensada como um protótipo

para uma renovação radical de blocos de apartamentos e foi projetada no âmbito espacial,

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funcional e social. Seu terraço-jardim de cobertura possui objetos escultóricos (prédio do

ginásio, chaminés e a creche), assemelhando-se a um convés de navio, evocando a

imagem de um grande transatlântico, com o conceito de que o edifício seja autossuficiente.

O edifício representa uma busca pela ordem coletiva da filosofia de Le Corbusier e

apresenta o uso do concreto nos brises e nos elementos pré-fabricados (painéis de concreto

armado). Por meio de seus elementos arquitetônicos, representa a preocupação do

arquiteto pela ventilação e iluminação dos ambientes, buscando uma habitação de

qualidade, integrada ao entorno e oferecendo serviços e equipamentos coletivos para a

comunidade moradora.

O edifício de apartamentos de Le Corbusier se destaca por encontrar o equilíbrio

certo entre o público e o privado, de ser capaz de construir uma comunidade como uma

extensão da casa, com grandes espaços para recreação e lazer. A integração dos espaços

e serviços públicos abertos promovem a interação social.

1.2 A influência dos cinco pontos de Le Corbusier na Arquitetura Moderna

Brasileira

No período de Vargas a Kubistchek, surgia a Arquitetura Moderna no Brasil e, nesse

panorama destacou-se um arranha-céu de arquitetura modernista, o Edifício Gustavo

Capanema, de 1936, que na época era a sede do Ministério da Educação e Cultura do Rio

de Janeiro. A obra teve como idealizador principal o arquiteto Lucio Costa e como consultor

o arquiteto Le Corbusier.

O edifício transmite a ideia de leveza, imponência, inovação por meio dos materiais

utilizados, e segue as influências de Le Corbusier, como por exemplo, o uso de pilotis,

possibilitando uma maior permeabilidade dos pedestres no térreo; apresenta cortinas de

vidro para vedação e brise-soleils horizontais para proteção do sol e ventos; além de

apresentar uma planta livre, fachada livre e um terraço-jardim.

Além do Edifício Gustavo Capanema, o Museu de Arte Moderna de Belo Horizonte,

de 1943, do arquiteto Oscar Niemeyer, foi outro edifício que marcou o início da Arquitetura

Moderna Brasileira. Essa obra foi influenciada pelas ideias de Le Corbusier, sendo

considerada a primeira obra do conjunto da Pampulha.

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, projetado pelo arquiteto Affonso

Eduardo Reidy, segue a linha da arquitetura racionalista brasileira. A obra também

apresenta influências de Le Corbusier, como por exemplo, a fachada envidraçada protegida

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por brises verticais e horizontais, além da planta livre e o térreo sob pilotis, permitindo maior

permeabilidade para os pedestres.

Na arquitetura da habitação popular brasileira, a influência de Le Corbusier pode ser

representada, por exemplo, pelo Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes,

conhecido como Pedregulho, projetado pelo arquiteto Affonso Eduardo Reidy, no bairro de

São Cristóvão, Rio de Janeiro, em 1947. O edifício é um dos conjuntos de habitação popular

mais importantes do país e foi projetado para abrigar funcionários públicos do então Distrito

Federal. Apresenta fachada livre, planta livre, janelas horizontais, piloti, e uma rua interna

aberta, que se assemelha à rua proposta da Unidade de Habitação em Marselha, tendo uma

função semelhante ao terraço de cobertura da Unidade. Ambos edifícios – a Unidade de

Habitação de Marselha e o Conjunto Pedregulho -, foram construídos em épocas próximas,

criados com a ideia de atender necessidades de moradia, saúde, educação e lazer, de

forma econômica e apresentam equipamentos coletivos.

Os princípios defendidos por Le Corbusier estão presentes nesse projeto, por

exemplo, no uso das tecnologias aplicadas na construção, na economia de meios utilizados,

nas preocupações com a funcionalidade e relacionadas às soluções formais: o controle da

luz e da ventilação e a facilidade de circulação.

1.3 O Edifício Japurá e os cinco pontos de Le Corbusier

Outro edifício de destaque na arquitetura de habitação popular brasileira em que se

encontra clara a aplicação dos cinco pontos de Le Corbusier é o Conjunto Residencial

Armando de Arruda Pereira (1957), conhecido como Edifício Japurá (Figura 01), do arquiteto

Eduardo Kneese de Mello para o IAPI, em São Paulo.

FIGURA 01- Edifício Japurá, de Eduardo Kneese de Mello. Fonte: BONDUKY, 2014, p.148

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O edifício localiza-se em uma área anteriormente ocupada por cortiços no centro de

São Paulo, na região de Bela Vista ou Bexiga. Por meio do plano de avenidas pretendia-se

recuperar as zonas deterioradas do local, como a Vila Barros – um conjunto de cortiços:

“Pombal”, “Navio Parado”, “Vaticano” e “Geladeira” (Figura 02).

FIGURA 02- Cortiços pré-existentes na Vila Barros, em São Paulo. Fonte:

http://www.iau.usp.br/revista_risco/Risco9-pdf/02_art04_risco9.pdf, p. 76

O Edifício Japurá, que substituiu os cortiços pré-existentes, é considerado uma das

construções pioneiras na aplicação do conceito de unité d'habitation de Le Corbusier no

Brasil. Também foi a proposta modernista pioneira de ocupação e habitação vertical na

cidade de São Paulo, fazendo parte do processo de modernização da cidade e do país,

durante o século XX. O edifício contribuiu para o inicio do processo de verticalização do

entorno da área central paulistana.

Percebe-se a presença dos cinco pontos de Le Corbusier no volume do edifício,

como por exemplo, a fachada livre, a planta livre, o bloco suspenso por pilotis, as janelas

horizontais e o terraço-jardim de cobertura, que no caso do Edifício Japurá, foi projetado

pelo paisagista Burle Marx como uma área de lazer para os moradores.

O edifício é formado por uma estrutura pilar-viga independente de vedação, com uma

fachada frontal ortogonal com linhas, com marcação da circulação, com cheios e vazios, que

remetem à ideia corbusiana de uma grande estrutura onde se encaixavam células

habitacionais. Também apresenta equipamentos coletivos como creche, piscina, escola,

restaurante, entre outros; e apresenta a ideia de atender necessidades de moradia, saúde,

educação e lazer, de forma econômica, assim como a Unidade de Habitação em Marselha,

de Le Corbusier.

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Comparando o projeto do Edifício Japurá com o da Unidade de Habitação em

Marselha, percebem-se alguns complementos do edifício projetado por Le Corbusier, como

brises-soleil para a proteção contra o sol e ventos e a presença de uma rua interna como

espaço de circulação e estar dos moradores.

Nos dias atuais, reformado, o Edifício Japurá é um prédio residencial para a classe

média. Parte de seus equipamentos coletivos foi desativada, mas ainda é um edifício de

qualidade para os habitantes. Nessa perspectiva, o projeto do Edifício Japurá foi uma

tentativa bem-sucedida de aplicação do conceito de unidade da habitação popular no Brasil,

procurando ao máximo assemelhar-se e seguir os princípios da Unidade de Habitação em

Marselha, de Le Corbusier. Entretanto, algumas situações envolvendo a própria estrutura do

edifício até a conduta dos moradores ocasionaram mudanças nos usos e na própria

composição do edifício.

2. Origem do concreto, suas propriedades e contexto histórico

O concreto armado é um processo construtivo que foi criado na Europa em meados

do século XIX. Ele consiste na combinação do concreto, que é uma pasta feita de

agregados miúdos, agregados graúdos, cimento, areia e água, com uma armadura de aço.

A diferença está exatamente na reunião da propriedade de resistência à tração do aço com

a propriedade de resistência à compressão do concreto, o que permite que a estrutura

possa vencer grandes vãos e alcançar alturas surpreendentes. Além disso, o concreto é um

material plástico e moldável, ao qual é possível impor os mais variados formatos. Junto com

o aço e o vidro, ele constitui os novos materiais da Arquitetura Moderna, que podem ser

produzidos em escala industrial, possuem um baixo custo e viabilizam a construção de

arranha-céus, pontes, estações ferroviárias e os novos objetos icônicos dessa arquitetura,

característicos do cenário do mundo moderno do século XX. Entre os primeiros que

utilizaram o concreto armado na construção civil esteve Auguste Perret, Tony Garnier e

François Hennebique. Auguste Perret foi um dos primeiros a utilizar o concreto armado

como meio de expressão arquitetônica. Além de ser pioneiro nas construções em concreto

armado, Auguste Perret influenciou diretamente a obra de um importante arquiteto, Le

Corbusier.

Contudo, um dos países que mais usufrui da tecnologia do concreto armado é o

Brasil. O concreto armado é um material estrutural absolutamente predominante nas

construções das cidades brasileiras, sejam elas formais ou informais. O arquiteto Cesar Pelli

cita a respeito do uso abundante do concreto nas construções brasileiras, nela ele diz;

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“O uso tão amplo, diverso e por vezes indiscriminado do concreto

armado em nossas cidades parece resultar naquilo que se denomina

“tecnologia formal adaptada”, isto é, uma tecnologia que importa

materiais, procedimentos, normas e tipologias dos países centrais,

porém aplica-os de modo apenas parcial e incompleto.” (PELLI, p.

1989).

Com base nessa citação, podemos lidar com uma situação de culturas periféricas,

onde tais opções tecnológicas estariam principalmente determinadas por seu respeito à

cultura dos países centrais. Mas, ainda que o modelo de Pelli possa ser aceitável para

explicar a disseminação do concreto armado no Brasil, ele acaba simplificando a relação

entre cultura central e cultura periférica, aproximando à relação entre cidade formal e

informal.

Após o desenvolvimento do concreto armado na Europa, o Brasil começou a passar

por um intenso desenvolvimento industrial e o processo de êxodo rural, ocasionando o

crescimento das cidades, o que também fez aumentar a demanda por habitações em todo o

país nas cidades de grande e médio porte, já que era preocupante o número de cortiços e

de trabalhadores que não tinham lugar para se alojar, submetendo-se, então, a condições

subumanas de vida. Para atender a tão intensa demanda era necessário utilizar métodos de

construção rápidos e de custo razoável com relação a renda destes trabalhadores. Com

este objetivo alguns arquitetos brasileiros, ficaram atentos às evoluções tecnológicas que

haviam acontecido na Europa no período do “entre guerras” (que também exigiu agilidade e

economia na reconstrução de um continente) e inspirados nas ideias de industrialização,

padronização, produção em série, tentaram aplicar no Brasil algumas soluções propostas

por Le Corbusier, entre outros. Desta maneira, os materiais (concreto armado) e o processo

construtivo utilizados nos empreendimentos em questão, surgem como inovações do ponto

de vista tecnológico, já que naquele momento as construções eram feitas, na sua maioria,

utilizando-se de tecnologias e materiais mais tradicionais, principalmente nas habitações.

2.1 Le Corbusier e sua relação com o concreto e estudos desenvolvidos a

partir do novo processo construtivo

Le Corbusier foi um importante arquiteto moderno e de extrema referência na área

da arquitetura e do urbanismo. O arquiteto foi o autor do Modulor, um conjunto de estudos

que procurava integrar o homem e suas atividades, criando assim um conceito de

ergonomia. O desenvolvimento desse conceito de ergonomia utiliza medidas mínimas e a

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possibilidade de produção em série. O conceito da “máquina de morar”, de Le Corbusier que

foi utilizado na Unidade de Habitação em Marselha, serviu também de referência para

diversos outros arquitetos que buscavam soluções para os problemas de moradia

enfrentados no período da 2ª Grande Guerra.

A obra de Le Corbusier, pertencente ao movimento moderno, possui grande

influência do período em que trabalhou com Auguste Perret. Com a técnica do concreto

armado era possível resolver os problemas da moradia com um baixo custo. Tendo isso em

mente Le Corbusier desenvolveu o conceito “dom-inó” (Figura 03) e cinco pontos da

arquitetura moderna, onde dois desses pontos foram possíveis devido a esta nova técnica.

Um deles foi a possibilidade da criação de uma planta-livre, possibilitando a utilização de

maiores áreas desimpedidas de elementos estruturais dentro do edifício; e o outro foi a laje

de cobertura que deu lugar a uma área de lazer como um terraço-jardim.

FIGURA 03 - O Sistema Dom-Ino. Fonte: PALERMO, H. Nicolás Sica, pg. 42

2.2 O Conjunto Residencial Operário em Realengo e sua relação com o

concreto e com a arquitetura de Le Corbusier

O Conjunto Residencial Operário em Realengo (Figura 04) está localizado no

subúrbio do Rio de Janeiro, construído entre 1938 e 1943, sendo um dos primeiros

conjuntos implantados no país. Foi projetado pelo arquiteto Carlos Frederico Ferreira e

direcionado para o aluguel para operários de baixa renda. Tal conjunto trazia inovações,

como sacadas intercaladas que oferece um aspecto de movimento a uma das fachadas,

típico da arquitetura moderna. Ocupando uma área de 89 hectares, possui 2.321 unidades

habitacionais e abriga uma população por volta de 12 mil moradores.

Uma das principais preocupações do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos

Industriários (IAPI) para suas habitações populares era baratear, sem perder suas

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condições mínimas de habitabilidade e a qualidade. Essas condições tornaram-se possíveis

por meio da nova técnica desenvolvida na Europa, por meio da construção de blocos de

concreto ou em concreto armado, obtendo-se um projeto racional de qualidade e com

economia.

Extremamente resistentes e densos, os blocos de concreto dispensaram o uso de

reboco, sendo a pintura aplicada diretamente no material, o que implicou em grande

economia no valor total das unidades residenciais. Outra experiência inovadora foi a adoção

de painéis pré-fabricados de madeira nas divisórias internas das casas, consideradas

vantajosas pelo arquiteto por não necessitarem de fundação e por serem flexíveis,

permitindo mudanças nas acomodações segundo as necessidades dos habitantes.

Contudo quando vamos fazer alguma análise na área das influências da arquitetura

de Le Corbusier, a proposta de Ferreira afasta-se dos pressupostos aplicados por ele ao

ocupar o pavimento térreo com lojas, no caso dos blocos ao longo da Rua Marechal

Modestino, ou com unidades habitacionais nos demais blocos. Além disso, não possui

volumes com terraço-jardim. Todavia, Ferreira busca uma relação com as casas do

Conjunto Realengo trazendo a ideia das casas em série de Le Corbusier, feitas em concreto

e com divisórias em painéis de madeira.

FIGURA 04 – Vista aérea do Conjunto Residencial Operário em Realengo. Fonte: Acervo pessoal de

Rubens Esteves da Silva, morador do conjunto/ Autor desconhecido.

3 Formas arquitetônicas

A Geometria Euclidiana ainda está exposta em um grande número de edificações, ao

lado de novas descobertas formais, baseadas em novas formas geométricas. Conceber os

princípios euclidianos tradicionais, suas figuras elementares, suas construções, bem como

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as novas ideias geométricas, podem auxiliar a criação e desenvolvimento das formas

arquitetônicas. Entende-se também, que a Geometria não é um componente limitador da

operação criativa e sim, um poderoso aliado, desde que conhecido e dominado.

Por mais que haja um simples edifício prismático, mais comum nas cidades; sejam

outros em forma piramidal, ou cônica, mais excepcionais; ou até mesmo com projetos

recentes, sem formas puras estabelecidas, mas que são planos construídos através de

novos conceitos geométricos, pode-se concluir que não existem formas arquitetônicas sem

uma definição de sua forma geométrica.

A forma topológica, analisada neste artigo, é influenciada pelo sítio, isto é, reproduz

uma ou mais características do local onde o edifício será implantado. Nesse sentido, pode-

se citar o Conjunto Habitacional do Pedregulho (Figura 05), localizado no Rio de Janeiro,

conhecido, principalmente, por sua forma topológica, onde a linha sinuosa do volume do

edifício é acompanhada pela curva do próprio terreno.

FIGURA: 05- Implantação do Conjunto Habitacional do Pedregulho. Fonte: BONDUKY, 2014, p.173

3.1 Características formais do Conjunto Habitacional do Pedregulho

A ideia geral do Conjunto Habitacional do Pedregulho teve várias versões, sendo que

a última e concludente não chegou a ser completamente construída. Todas, porém, partiam

da mesma ideia básica: um bloco serpenteante situado na parte íngreme do terreno, blocos

lineares e volumes com equipamentos coletivos situados na parte baixa do terreno. Por ter

realizado esse bloco principal, em uma obra de habitação popular, o projeto foi valorizado

por ser um grande exemplar da Arquitetura Moderna Brasileira e foi exposto como uma obra

de exceção, única de caráter extraordinário e inusitado.

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4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação

Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

O Conjunto Habitacional do Pedregulho se destacou, sobretudo, pela original e

ousada solução do bloco serpenteante de 252 metros de extensão adotada pelo arquiteto

Affonso Eduardo Reidy. Essa solução gerou uma implantação de grande plasticidade,

orgânica e, principalmente, única até então, que por sua vez, viabilizava um bloco

serpenteante de sete pavimentos, sem elevador, com um bom aproveitamento do solo e

baixa taxa de ocupação. A circulação pelo terceiro pavimento (Figura 06) criou um grande

espaço público suspenso no interior do edifício, um espaço aberto para a paisagem

deslumbrante da cidade, tendo equipamentos coletivos inseridos nessa área. No entanto, no

Pedregulho, o andar intermediário, é muito mais que uma circulação suspensa: é parte

integrante da proposta corbusiana de uma Unidade de Habitação, integrando, em um único

edifício, unidades habitacionais, áreas de recreação, comércio e equipamentos coletivos.

FIGURA: 06 – Pavimento intermediário do Conjunto Habitacional do Pedregulho. Fonte: BONDUKY,

2014, p.176

3.2 Conjunto Habitacional do Pedregulho e a influência do arquiteto Le

Corbusier

A arquitetura de Le Corbusier tem uma grande influência em nosso país, por suas

excelentes metodologias com melhorias de custo e formas arquitetônicas. Em relação à

influência da Unidade de Habitação em Marselha e o Conjunto Habitacional do Pedregulho,

pode-se perceber que as duas obras possuem uma tipologia similar: uma barra sob pilotis.

Porém, o arquiteto brasileiro Reidy foi além e transformou essa tipologia geométrica de uma

barra, em uma barra serpenteante, por consequência da topografia íngreme do terreno,

tirando partido da geografia local, que lhe possibilitou uma solução original de implantação.

Edifícios serpenteantes, suspensos por pilotis, acompanham de forma orgânica as

curvas de nível, possibilitando uma ocupação com o mínimo de terraplanagem e liberando o

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solo. O arquiteto brasileiro inventou uma solução urbanística moderna adaptada com

terrenos de fortes declividades, onde uma simples implantação geométrica de blocos

lineares, própria do racionalismo, com o térreo ocupado, acaba por gerar fortes movimentos

de terra, taludes desnecessários e espaços residuais, que caracterizam os atuais conjuntos

habitacionais com resultados questionáveis. Portanto, em terrenos acidentados, edifícios

serpenteantes suspensos do solo são alternativas competentes da urbanística moderna,

baseado em ruas que acompanham curvas de nível e lotes em aclive e declive, que, quando

bem desenhado e projetado, fornece a elaboração de bairros notáveis de qualidade.

Além dos exemplares estudados com mais enfoque, existem outros edifícios

brasileiros com caráter único e conhecidos por sua forma arquitetônica serpenteante, como

por exemplo, o Conjunto Habitacional do Deodoro (Figura 07), localizado no Rio de Janeiro,

em uma das margens da Avenida Brasil e projetado pelo arquiteto Flavio Marinho Rego. Foi

projetado para funcionários públicos do então Distrito Federal, que desfruta a mesma

tipologia arquitetônica da Unidade de Habitação em Marselha e do Conjunto Habitacional do

Pedregulho, utilizando um bloco sob pilotis, porém, transformando esse bloco em uma forma

serpenteante, em função de sua topografia íngreme do terreno.

FIGURA 07- Implantação do Conjunto Habitacional do Deodoro. Fonte: BONDUKY, 2014, p.224

Outra influência de Le Corbusier que pode ser notada no projeto é o uso de pilotis no

pavimento de acesso intermediário, permitindo uma permeabilidade visual junto à natureza

do lugar, utilizando-se do princípio corbusiano.

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Considerações Finais

Pode-se afirmar que as obras analisadas com seus respectivos arquitetos, são

importantes não só por serem edifícios de destaque em habitações populares, mas também,

por se simbolizarem importantes documentos materializados da arquitetura moderna.

Entende-se também que a influência do arquiteto Le Corbusier foi fundamental na obtenção

do destaque nas referidas habitações populares no Brasil, influência constante no trabalho e

método utilizados por arquitetos brasileiros, como: o uso de seus princípios compositivos e

construtivos, sua tipologia e forma arquitetônica e ,por fim, seu conceito dos cinco pontos.

Além disso, a contribuição da arquitetura moderna de Le Corbusier foi vital para o

desenvolvimento dos edifícios em uma época em que o conceito de habitação popular

incluindo local de lazer, educação e saúde - além de apenas moradia -, tornava-se realidade

no Brasil.

A Unidade de Habitação em Marselha e o Conjunto Habitacional do Pedregulho

podem ser considerados dois edifícios documento, que se destacam por suas

excepcionalidades e por suas bem sucedidas aplicações do conceito de habitação popular

moderna. Ambos os edificios se encaixam na definição de arquitetura como documento pelo

seu valor histórico e arquitetônico, e por seu reconhecimento internacional.

Nessa perspectiva, a arquitetura como documentação torna-se necessária pois

contribui para a cultura nacional, destacando a singularidade de uma tipologia de edificação

na identidade arquitetônica de um país.

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