Arquitetura "sentimento de pertencimento"

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sentimento de pertencimento na arquitetura Alessiana Benevides

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Provocar, discutir e entender o “sentimento de pertencimento” na arquitetura, perceber a possibilidade de que arquitetura possa transformar um lugar e ser respeitada como expressão cultural para a construção da identidade, por si só já constrói seu valor.

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sentimento de pertencimentona arquiteturaAlessiana Benevides

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agradecimentos

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Por toda ajuda e apoio, sou grata às seguintes pessoas:

A meu marido, Ronaldo. Obrigada por estar ao meu lado durante esse tempo em busca de sabedoria.

Aos meus pais, Sílvio e Zazá. Obrigada pelo apoio e os socorros nas horas em que precisei de seus conselhos e ajuda para continuar minha caminhada.

Ao meu amigo, Henrique Junior. Obrigada pela paciência, dedicação e apoio durante todo o curso de Arquitetura e Urbanismo.

Em especial minha orientadora de TCC, Carla Paoliello. Obrigada pela amizade, pela dedicação e pelos conselhos práticos desde o início na busca por esse sonho.

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08 - Introdução

13 - Sentimento de pertencimento

35 - Percepção

53 - Memória

85 - Identidade

99 - Considerações Finais

102 - Legenda de imagens

104 - Referências Bibliográficas

sumário

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O assunto a ser tratado nesse texto é o “sentimento de pertencimento”. Durante os quase cinco anos de curso e observando as pessoas no dia-a-dia, foi possível perceber como a arquitetura influencia o ser humano. Entender essa relação e as sensações resultantes desta influência é o ponto principal aqui a ser tratado.

Isso aguçou meu interesse em buscar o entendimento da relação entre arquitetura e pertencimento,passei a observar o comportamento e a sensação das pessoas e a correlação destes com o espaço vivido. Foi possível perceber o “sentimento de pertencimento”, sensação que interliga a identidade e a memória do usuário a um determinado lugar.

Sentimento é “o ato de sentir, sensibilidade” e pertencimento é “o ato de pertencer” segundo o dicionário Silveira Bueno. O sentimento de pertencimento é a sensação de se sentir pertencente à determinado lugar ou sentir que um lugar nos pertence. É um sentimento que se manifesta em várias áreas do conhecimento humano, tanto no cotidiano quanto na memória vividas pelos mesmos. E é recorrente a palavra identidade quando se fala em pertencer.

introdução

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As identidades são fabricadas, inventadas, o que não quer dizer que sejam, necessariamente, falsas. As identidades, enquanto sensação de pertencimento, são elaborações imaginárias que produzem coesão social e reconhecimento individual. Identidades asseguram e confortam, sendo dotadas de positividade que permite a aceitação e o endosso. Identidades fundamentam-se em dados reais e objetivos, recolhendo traços, hábitos, maneiras de ser e acontecimentos do passado, tal como lugares e momentos. Com tais elementos, a identidade implica na articulação de um sistema de ideias, imagens que explica e convence. (PESAVENTO, 2007)

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Como qualquer meio de comunicação, a arquitetura também transmite emoção e possui forte simbolismo, por exemplo: uma igreja simboliza religiosidade, uma escola simboliza educação, a casa simboliza proteção/abrigo, o que mostra a relação entre a arquitetura, memória, a cultura e a identidade do individuo. O arquiteto tem que entender o contexto em que sua obra vai ser inserida, bem como os impactos que ela terá na sociedade e no indivíduo.

Após anos de estudos no curso de Arquitetura e Urbanismo, é possívelver claramente a relação de sentimento entre lugar/espaço e usuário. Essa revelação de significados ocorre em todos os espaços vividos e que nos espaços domésticos, o sentimento de pertencimento é construído no dia-a-dia. O tempo de permanência influencia essa relação, as histórias vividas, os espaços utilizados, as memórias que vão sendo adquiridas rotineiramente, além de ser um lugar mais fácil de ser alterado, ou seja, em casa, o indivíduo tem total liberdade de modificar o espaço para melhor satisfazer suas necessidades.

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Rybczynski (1996) esclarece que “partindo da satisfação de um bem estar físico, vão sendo agregados significados tais como privacidade, aconchego, eficiência e domesticidade, de acordo com a inserção sociocultural da população”.

Pelo simples fato de se utilizar um determinado espaço, forma-se uma relação de uso e de apropriação, criam-se vínculos com o mesmo, despertando o sentimento de pertencer. É preciso entender o que desperta a sensação de pertencer, quais são as características do lugar que provocam esse sentimento? Como é construída a afeição pelo ambiente que circunda?

Sendo assim, busquei através de pesquisas e entrevistas entender essas sensações e os sentimentos provocados pela arquitetura em si. Por fim, este texto tem o objetivo de discutir os sentimentos provocados pela arquitetura e sua relação com o indivíduo.

Setembro de 2014

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sentimento de pertencimento

Sentimento é “ato ou efeito de sentir; aptidão para sentir sensibilidade” de acordo com o dicionário Aurélio.

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Estado afetivo, variante da emoção, da paixão, dos prazeres. Estado psíquico, decorrente do sentir. Segundo o existencialismo (termo aplicado a uma escola de filósofos dos séculos XIX e XX), o único meio para entrar em contato com a existência concreta e vivida, consiste no sentimento e emoção.

Para Russell Bertrand, Dicionário de Filosofia (1994), os conhecimentos sensíveis se fazem seguir prontamente à estados emotivos que podem ser os mais diversos, de satisfação uns, insatisfação outros.

Entende-se aqui “sentimento” como sentir algo ou como resultado de sentir algo, o termo sentimento poderá ter tantas acepções quanto as derivadas do verbo “sentir”. De imediato, sentimento pode ser definido como “a ação e o efeito de experimentar sensações” (Dicionário de Filosofia, 1994).

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A sede de todas as emoções, de todos os sentimentos é a Mente Subconsciente; já a Mente Consciente é apenas uma área mental onde são registrados os sentimentos já experimentados. Esta é a razão porque as emoções e os sentimentos gravados na Mente Subconsciente se manifestam com tanta força.

A emoção é o estado afetivo intenso, muito complexo, proveniente da reação. É ao mesmo tempo mental e orgânica, sob a influência de certas excitações internas ou externas. Na emoção existe a forte influência dos instintos, das inferioridades e da não-racionalidade.

O sentimento se distingue basicamente da emoção, por estar revestido de um número maior de elementos intelectuais e racionais. No sentimento já existe alguma elaboração no sentido do entendimento e da compreensão.

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a casa da avó sinônino deafeto carinho amor uniãofamília laço de sentimentos

fraternos

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No sentimento já acontece uma reflexão e aproximação do livre-arbítrio, da espiritualidade e da racionalidade ou evolução humana como explica Trucom (2010).

O neurologista Damásio (1995), autor do famoso livro “O Erro de Descartes” apresenta uma proposta baseada em pressupostos neurológicos. Ele distingue vários tipos de emoções:

-Emoções Primárias: são consideradas inatas ou “reflexas”, comuns a todos os seres humanos, independentemente de fatores sociais ou socioculturais. Deste grupo, fazem parte as emoções básicas ou elementares, como a alegria, a tristeza, o medo, o nojo, a raiva e a surpresa.

-Emoções Secundárias ou sociais: são mais complexas que as primárias, dependem de fatores e variáveis socioculturais. Estas podem variar amplamente e radicalmente entre culturas e/ou sociedades. Como exemplos dessas emoções, é possível enumerar: a culpa, a vergonha, a gratidão, a simpatia, a compaixão, o orgulho, a inveja, o desprezo, o espanto.

-Emoções de Fundo: estão relacionadas com o bem-estar ou com o mal-estar interno. Estas são induzidas por estímulos internos, com origem em processos físicos ou mentais, levando o organismo a um estado de tensão ou relaxamento, fadiga ou energia.

Essas sensações são individuais, ocorrem em cada ser humano de forma diferente e em um mesmo lugar causam sensações diversas, isso acontece através da percepção de cada um.

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Esses sentimentos são construídos a partir das relações sociais e ambientais que nelas se criam, diferenciando o “morar” e o “habitar”. Enquanto “morar” é uma ação que não passa da simples relação funcional para com o espaço tem-se no “habitar” o desenvolvimento a partir da interação para com o mesmo, criando uma relação significativa para o usuário. [2]

O ser humano precisa sentir-se acolhido, pertencer a algo, se identificar. Todas essas ações ampliam o sentimento de pertença a determinado lugar, dependendo da amplitude emocional, da intensidade que se é experimentado, podendo ser expresso através do próprio apego pelo mesmo. [1]

Os dicionários apresentam vários significados para o verbo pertencer e a palavra derivada pertencimento.

Pertencer é fazer parte, caber, enquanto Pertencimento significa a ação de pertencer, sentimento de pertencimento, de acordo com o dicionário Aurélio “Sentimento de Pertencimento” significa sentir pertencente a tal lugar e ao mesmo tempo sentir que esse lugar se faz pertencente.

Segundo Suertegaray (2000),a constituição do lugar decorre da sua ocupação e da sua transformação permitindo, assim, que vários indivíduos ocupem o mesmo espaço fisicamente, embora constituindo lugares diferentes. Para tanto, esta diferenciação dos lugares se dá através das distintas relações estabelecidas entre os indivíduos, os seus grupos e os elementos espaciais.

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Assim, a transformação deste espaço não será uma construção solitária, pois é justamente através da interação entre os diferentes lugares individuais que se constituirá o lugar da coletividade, lugares, portanto, coincidentes. Todavia este espaço não será, obrigatoriamente, apropriado de forma efetiva ou igualitária por todos, considerando que as possibilidades de acesso serão diferenciadas, resultando em diferentes formas de adaptação e, conseqüentemente, em diferentes lugares e sentimentos de pertencimento ou não a eles.

O lugar é um espaço construído através da vida das pessoas, de como nele vivem, sentem e usam; pelo grupo de pessoas que nele habitam, a forma que trabalham e exploram o espaço.

Criam-se histórias e memórias, deixando marcas de cada um, ou seja, cada espaço é construído e está sempre sendo renovado.

Desta maneira, se estabelece o sentimento de pertencimento e reforça-se a identidade individual.

Para Ana Fani (2007), Também é possível perceber-se a fragmentação do mundo na dimensão do espaço, do indivíduo, da cultura, etc. Isto é, o lugar guarda em si e não fora dele o seu significado e as dimensões do movimento da vida, possível de ser apreendido pela memória, através dos sentidos e do corpo.

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O lugar se produz na articulação contraditória entre o mundial que se anuncia e a especificidade histórica do particular. Deste modo o lugar se apresentaria como ponto de articulação entre a mundialidade em constituição e o local enquanto especificidade concreta, enquanto momento.

O sentimento de pertencimento, também está ligado à organização do espaço. O espaço arquitetônico é um espaço vivenciado, experimentado, e não um mero espaço físico e espaços vivenciados sempre transcendem a geometria. [3] [9]

Perceber como funciona o lugar, seus fluxos, ambientes, faz com que sensações sejam despertadas em cada indivíduo. Por isso, é necessário ver o lugar além do visível. [5]

De acordo com Schmid (2005), os sentidos estabelecem comunicação entre o ambiente construído e nossa mente. Isto não ocorre num processo mecânico de comunicação, de conteúdo objetivo, mas sempre sujeito a uma interpretação, consciente ou não.

Os sentidos fundamentais do corpo humano - tato, paladar, olfato, audiçãoe visão - constituem as funções que propiciam o nosso relacionamento com o ambiente. [14]

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Por meio dos sentidos, o corpo pode perceber muita coisa que o rodeia, contribuindo para a sobrevivência e integração com o ambiente em que se vive. [6]

O corpo humano tem milhões de terminações nervosas que faz a conexão do sistema nervoso com o meio externo, seja recebendodele informações(terminações sensitivas) ou enviando-lhe ordens (terminações motoras).

O tato é o sentido usado para percepção da sensação de frio, de calor; o paladar é o sentido usado na identificação de sabores; o olfato já é o sentido usado para sensação de odor ou cheiro; a audição na captação de sons; enquanto a visão é o sentido usado na observação de cores, formas, contornos, etc.

Essa conexão entre o corpo e oestímulo externo ocorrem através dereceptores existentes responsáveis pela captação desses estímulos, chamados de receptores sensoriais.

São vários tipos de receptores, como:

-Exteroceptores que respondem a estímulos fora do organismo; -Proprioceptores que encontram-se no esqueleto, nas inserções tendinosas, nos músculos ou no aparelho vestibular da orelha interna e detectam a posição do indivíduo no espaço; -Interceptores que respondem a estímulos viscerais, sensações como sede e fome.

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Os sentidos são dispositivos para interação com o mundo externo. Segundo Santaella (2005), “os sentidos são sensores cujo desígnio é perceber, de modo preciso, cada tipo distinto de informação”. De acordo com Braun 1991, apud Santaella (2005), são pelo menos três as facetas que configuram o processo por meio do qual sentimos algo:

(1) a recepção de um sinal externo que excita um órgão correspondente dos sentidos; (2) a transformação dessa informação em um sinal nervoso; (3) o transporte desse sinal e a modificação que ele sofre até chegar ao cérebro e nos dar a sensação de haver sentido algo.

Portanto, para que possamos sentir algo, é fundamental o papel exercido pelos órgãos dos sentidos, os quais atuam como transdutores, ou seja, transformadores de sinais físico-químicos em sinais elétricos que são transmitidos por nossos nervos.

Também o cérebro exerce um papel fundamental dentro deste processo de percepção. Assim, por meio de mecanismos físico-químicos, as informações que chegam até nós são transformadas em sinais nervosos, os quais são recebidos por nosso cérebro.

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É possível ver claramente em projetos de arquitetos contemporâneos a preocupação em provocar e produzir sensações; a interação do indivíduo com o lugar, a relação corpo x espaço faz-se necessária. A experiência do corpo no espaço e sua apropriação são pressupostos para que a arquitetura seja habitada e possibilitam a interação do sujeito com o lugar. [9]

Não faz sentindo imaginar um acontecimento sem referência a sua localização e são vários fatores que influenciam a essência do lugar, dando qualidade ao ambiente, como: luz, cor, textura, materiais, entre outros. [4]

Segundo Aloísio Schmid (2005), diferentes grupos profissionais ou acadêmicos mantêm definições próprias de arquitetura, priorizando o aspecto a quem mais se afeiçoam. Quem defende a função-abrigo da arquitetura costuma a contrapor em importância prática à arquitetura enquanto arte. Especialistas em conforto ambiental se preocupam com a funcionalidade e muitas vezes deixam de fora a estética. E muitos adeptos do Modernismo perseguem até hoje uma estética de funcionalidade. Sua obra tem aparência funcional, sem necessariamente sê-lo.

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A forma somente age sobre os sentimentos por meio do que ela desperta. Um fator importante para provocar as sensações que ocorrem no ser humano é a percepção, a observação do espaço, o entendimento do lugar através dos sentidos - visão, audição, olfato, paladar e tato - que faz com que a mente capte informações necessárias para despertar os sentimentos, como já colocado. [2]

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Os sentidos são dispositivos para interação com o mundo externo. Segundo Santaella (2005), “os sentidos são sensores cujo desígnio é perceber, de modo preciso, cada tipo distinto de informação”.

De acordo com Braun 1991, apud Santaella (2005), são pelo menos três as facetas que configuram o processo por meio do qual sentimos algo: (1) a recepção de um sinal externo que excita um órgão correspondente dos sentidos; (2) a transformação dessa informação em um sinal nervoso; (3) o transporte desse sinal e a modificação que ele sofre até chegar ao cérebro e nos dar a sensação de haver sentido algo.

Portanto, para que possamos sentir algo, é fundamental o papel exercido pelos órgãos dos sentidos, os quais atuam como transdutores, ou seja, transformadores de sinais físico-químicos em sinais elétricos que são transmitidos por nossos nervos. Também o cérebro exerce um papel fundamental dentro deste processo de percepção. Assim, por meio de mecanismos físico-químicos, as informações que chegam até nós são transformadas em sinais nervosos, os quais são recebidos por nosso cérebro.

É possível ver claramente em projetos de arquitetos contemporâneos a preocupação em provocar e produzir sensações; a interação do indivíduo com o lugar, a relação corpo x espaço faz-se necessária. A experiência do corpo

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no espaço e sua apropriação são pressupostos para que a arquitetura seja habitada e possibilitam a interação do sujeito com o lugar.

Não faz sentindo imaginar um acontecimento sem referência a sua localização e são vários fatores que influenciam a essência do lugar, dando qualidade ao ambiente, como: luz, cor, textura, materiais, entre outros. [6]

Segundo Aloísio Schmid (2005), diferentes grupos profissionais ou acadêmicos mantêm definições próprias de arquitetura, priorizando o aspecto a quem mais se afeiçoam. Quem defende a função-abrigo da arquitetura costuma a contrapor em importância prática à arquitetura enquanto arte.

Especialistas em conforto ambiental se preocupam com a funcionalidade e muitas vezes deixam de fora a estética. E muitos adeptos do Modernismo perseguem até hoje uma estética de funcionalidade. Sua obra tem aparência funcional, sem necessariamente sê-lo.

Um fator importante para provocar as sensações que ocorrem no ser humano é a percepção, a observação do espaço, o entendimento do lugar através dos sentidos - visão, audição, olfato, paladar e tato - que faz com que a mente capte informações necessárias para despertar os sentimentos, como já colocado. [13]

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PERCEPÇÃOO termo percepção é oriundo do latim percipio, que por

sua vez é derivado de capio, cujo significado é “agarrar,

prender, tomar com ou nas mãos”, ligando-se, desta forma, ao tato: contato

(Chauí, 1989).

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A percepção é claramente mais do que o processo no qual os estímulos vencem os sentidos, é o início do processamento de informações, a interpretação dos estímulos aos quais se presta a atenção de acordo com a conformação mental existente, que são as atitudes, experiência e motivação.(BAKER, 2005)

Lúcia Santaella (2005) nos apresenta os itens lógicos que nos ajudam a entender a percepção:

-percepto- aquilo que se apresenta, estímulo, bruto, lógico, teimoso. Insiste, é aquilo que está fora, “mudo”, que bate à sua porta. Não vem com rótulo, apenas estimula a percepção. O percepto é recebido pela mente interpretadora e converte-se em percipuum;

A percepção é o que conecta o homem com o seu entorno, com ela ocorre uma organização nas informações recebidas, através da estimulação sensorial, resultado disso é a consciência, a criação de um significado.

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-percipuum- modo como o percepto se conforma e se adapta às condições mentais dos esquemas sensórios/motores – zonas de transição. Faz o percepto se conformar a uma determinada configuração. É o modo como o percepto está representado no juízo perceptivo. Seria um certo filtro adaptado à nossa sobrevivência e está limitado ao mundo sensorial;

-juízo perceptivo- percepto filtrado pelos sentidos (percipuum) que entra no fluxo dos esquemas mentais com os quais estamos dotados, caindo no fluxo do pensamento.

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Perceber é estar diante de algo que se apresenta, não somente vendo com os olhos , mas utilizando outros sentidos sensoriais e aguçando o sistema cognitivo.

Entendendo isso, a percepção passa a ser limitada a tudo que o ser humano está preparado para perceber. Isso ocorre através de uma ação que se aprende com o que está fora da mente.

“A maior parte do processo perceptivo está irremediavelmente fora do nosso controle. Só alcançamos controle sobre a percepção no momento em que o percepto é interpretado.” (SANTAELLA, 2005)

Com a percepção existe a interpretação que é diferente para cada pessoa, ou seja,experiência obtida por cada individuo influencia no modo como o estímulo é percebido. Pessoas diferentes podem ver a mesma situação de modos diferentes, a interpretação do significado de algo determina como a pessoa reagirá.

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Dependendo da origem familiar ou da formação cultural, a visão da realidade das pessoas é diferente [...] Seus valores e seus costumes modificam a maneira de enxergar as coisas, de interpretá-las e de reagir a elas.(OKAMOTO, 2002)

A experiência sensível é o início de todo o conhecimento. Por isso, a sensação é a primeira das fases do processo de percepção. É, através do corpo, que os mundos externo e interno se interligam. Esse conjunto de elementos fornecem condições para que o espaço seja percebido, despertando sensações positivas ou negativas no ser humano.

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Associam-se assim, as ciências humanas e sociais aplicadas. É através dos órgãos dos sentidos que é possível perceber o nosso entorno, o sons, aromas, cores, formas, texturas, temperaturas, entre outras.

Vários autores estudaram o fenômeno da percepção. Ostrower (1998), professora e autora de livros sobre arte e percepção visual, explica a diferença entre visão e percepção.

Enquanto a visão é uma função fisiológica do mecanismo do olho, a percepção é um “processo mental que constantemente organiza os estímulos visuais, elaborando e interpretando-os”. Assim, a percepção focaliza seletivamente alguns estímulos selecionando-os segundo critérios pessoais, cujas sensações recebidas pelos estímulos são elaboradas em termos de conteúdos emocionais e intelectuais.

Temos a sensação do ambiente pelos estímulos desse meio, sem se ter consciência disso. Pela mente seletiva, diante do bombardeio de estímulos, são selecionados os aspectos de interesse ou que tenham chamado atenção, e só aí que ocorre a percepção (imagem) e a consciência (pensamento, sentimento), resultando em uma resposta que conduz a um comportamento. (OKAMOTO, 2002)

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Com isso, a autora esclarece que a percepção é um processo dinâmico, ativo, participativo e característico da consciência humana. Nesse sentido, perceber é um sinônimo de compreender.

E, na verdade, quando percebemos algo, de certa forma já temos informações sobre ela, conhecemos através das experiências vividas. Essas informações criam um dicionário no nosso subconsciente, que ficam lá armazenadas e, quando nossa memória desperta, é nesse banco de conhecimento que ela busca essas informações. [1] [11] [14]

A cidade provoca o sentimento de pertencimento através da vivência.

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A interpretação de uma informação é baseada na bagagem cultural, na formação educacional, no comportamento social e através das experiências vividas pelo receptor, por causa disso,a interpretação se faz de forma diferente para cada indivíduo. [3]

A experiência previa é importante para a acuidade de nossos sentidos.

Para mostrar como as sensações são fatores importantes no despertar da percepção nos indivíduos, foram mapeadas as intervenções realizadas nos exercícios Trabalho Prático 3 de Estúdio 2, disciplina de projeto do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - Unileste. [8]

Esse exercício tem o objetivo de estimular os sentidos do corpo, de forma com que o usuário interaja sensorialmente com o espaço modificado. Os alunos criam intervenções temporárias em um local já existente – circulação das salas de aula e passarela - e cotidiano.

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O resultado faz com que ocorra a modificação do padrão de percepção e rearticula os sentidos com a nova experiência corpóreo-espacial. A relação corpo espaço se interliga a partir da interação.

O corpo integra-se ao espaço. A arquitetura é uma grande fonte para ser usada como meio para entender essa relação.

O corpo é uma extensão da arquitetura, ela não vive só, precisa ser vivenciada, experimentada.

É preciso perceber as coisas para que haja interação com as mesmas.

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Passarela, percurso do dia-a-dia, caminho que passa despercebido pelo usuário devido sua rotina.

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Alteração que modifica a percepção do lugar.

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Esse receptáculo consiste em uma massa densa de retalhos brancos, que em conjunto proporcionam várias sensações, atrofia, hipertrofia e orientação dos sentidos sensórios.

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“Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.Sentir tudo de todas as maneiras. Sentir tudo excessivamente...” Alvaro de Campos

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Você escolhe seu caminho. Se equilibre, corra, direcione-o. A orientação foi atrofiada, fazendo com que você escolha

sua passagem e hipertrofiada pela vontade de criar novo percurso.

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Através da percepção o indivíduo organiza e interpreta suas sensações, que atribui significados e valores ao meio. Dessa forma, torna espaços preferidos em lugares construídos. Sendo assim, espaços projetados tornam-se lugares que projetam comportamentos.

A definição de espaço é bem ampla, na filosofia pré-socrática, por exemplo, o espaço já era debatido em confronto com a matéria, em suposições análogas do cheio e vazio, do ser ou não ser. Vários foram os conceitos, as doutrinas, os pensamentos elaborados acerca do espaço, por isso o foco será em como o espaço arquitetônico é percebido. E essa percepção está ligada ao corpo e seus sentidos.

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Enquanto satisfaz apenas às exigências técnicas e funcionais – não é ainda arquitetura; quando se perde em

intenções meramente decorativas – tudo não passa de cenografia; mas quando – popular ou erudita – aquele

que a idealizou pára e hesita ante a simples escolha de um espaçamento de pilar ou de relação entre altura e a largura de um vão e se detém na procura obstinada da justa medida entre cheios e vazios, na fixação dos volumes e subordinação deles a uma lei e se demora atento ao jogo de materiais e seu valor expressivo -

quando tudo isso se vai ao pouco somando, obedecendo aos mais severos preceitos técnicos e funcionais,

mas também àquela intenção superior que seleciona, coordena e orienta em determinado sentido toda essa massa confusa contraditória de detalhes, transmitindo

assim ao conjunto ritmo, expressão, unidade e clareza - o que confere à obra o seu caráter de permanência, isto é

arquitetura.

Lúcio Costa, arquiteto e urbanista brasileiro(citado em LEMOS, 1980)

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O ser humano está associado às suas experiências vividas, a forma de interpretar o espaço está ligada não só aos sentidos sensoriais como à sua cultura.

Essa percepção sofre alterações de acordo com o conhecimento cultural de cada um. Existe um termo usado para esse contexto, o termoproxêmica, cunhado pelo antropólogo Edward T. Hallem (1963) para descrever esse espaço pessoal num meio social, observada de acordo com a cultura do usuário.

A partir da experiência vivida e através do que fica retido pelos nossos sentidos, nossa mente busca as informações obtidas nesta biblioteca de informações armazenadas em nossas memórias, conceito a ser discutido no próximo item deste texto. [11]

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Arquitetura que se integra com seu entorno... formando um só corpo

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MEMÓRIA

Memória é a faculdade de reter as ideias, impressões e conhecimento adquiridos, segundo dicionário Aurélio

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É a base do conhecimento e através dela é possível dar significado as coisas existentes. Portanto, ela é algo que está completamente associada a aprendizagem, as experiências vividas vão sendo armazenadas na memória. [1] [11] [15]

A memória pode ser entendida como a capacidade de relacionar um evento atual com um evento passado do mesmo tipo, portanto como uma capacidade de evocar o passado através do presente (JAPIASSÚ, 1996) .

Há duas maneiras pelas quais o cérebro adquire e armazena informações: a memória de procedimento e a memória declarativa. Essas duas formas divergem tanto no que diz respeito aos mecanismos cerebrais envolvidos, como nas estruturas anatômicas.

Segundo, Godoy (2013), a memória de procedimento (também chamada implícita) armazena dados relacionados à aquisição de habilidades mediante a repetição de uma atividade que segue sempre o mesmo padrão. Nela se incluem todas as habilidades motoras, sensitivas e intelectuais, bem como toda forma de condicionamento. A capacidade assim adquirida não depende da consciência. Somos capazes de executar tarefas, por vezes complexas, com nosso pensamento voltado para algo completamente diferente.

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Por outro lado, e segundo o pensamento do mesmo autor, a memória declarativa (também chamada explícita) armazena e evoca informação de fatos e de dados levados ao nosso conhecimento através dos sentidos e de processos internos do cérebro, como associação de dados, dedução e criação de ideias. Esse tipo de memória é levado ao nível consciente através de proposições verbais, imagens, sons, etc. A memória declarativa inclui a memória de fatos vivenciados pela pessoa (memória episódica) e de informações adquiridas pela transmissão do saber de forma escrita, visual e sonora (memória semântica).

A memória é um elemento complexo, possui relação com fatores, psicológicos, cognitivos e fisiológicos. Associa o que somos com o que recordamos, fazendo com que cada indivíduo seja único. O cérebro conecta cada nova informação com o que já se tem dentro do seu próprio arquivo pessoal, provocando sensações diferentes em cada um, de acordo com as experiências vividas. [5] [17]

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A simplicidade da casa de campo, o cheiro de mato, os cantos dos pássaros... registros marcantes de longas histórias...

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Arquitetura que faz parte da história da cidade

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Potter (1990) sugere três principais fases da memória: registrar ou codificar informações, reter ou relembrar informações e esquecê-las. Codificar significa que a informação a ser lembrada deve ser colocada num formato apropriado para o futuro uso. Codificar deve reduzir e modificar a informação, retendo o material importante e descartando o trivial. Para ser usada mais tarde, a informaçãodeve ser capaz de ser retida e essahabilidadedereterinformações depende de como ela foi codificada.

Segundo Potter(1990), esquecer informações irrelevantes parece ser um importante componente do sistema de memória. Ela explica que esquecer informações consiste em mesclá-las ou misturá-las com outras sobre eventos similares, resultando numa representação mais geral e abstrata da experiência.

De maneira similar, Klatzky (1980) diz que, para a informação ser percepção, memória e criatividade em arquitetura - Alexandre Monteiro de Menezes lembrada, trê scoisas devem acontecer. Primeiro, a informação é codificada, ouseja, preparada para a memória. Segundo, a informação codificada é colocada no estoque. Finalmente, a informação é retida numa reserva de memória. Segundo Klatzky (1980), apesar de estudados separadamente, essestrês componentes da

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memoria são interdependentes. Isso significa que a maneira de codificar afeta a informação no estoque, assim como sua retenção. Como resultado dessa evidência, pode-se sugerir que o tipo de memoria em uso influencia nossa percepção e a maneira como pensamos.

Bartlett (1932), mediante a análise de alguns processos cognitivos afirmou que “perceber alguma coisa é a mais simples, imediata e mais fundamental, das reações cognitivas humanas.” E, em consequência, o autor concluiu que “nada pode ser reconhecido ou recordado, sem antes ter sido percebido”. Aprende-se ao longo da vida com as experiências que ocorre durante todo tempo, dessa forma, consegue-se reconhecer e entender os símbolos e as imagens apresentadas nas coisas a nossa volta. [3] [5] 14] 17]

Com a arquitetura não é diferente. É possível reconhecer nos edifícios uma série de particularidades, como a época em que foram construídos, as atividades que ali se desenvolve. Ou seja, reconhecer na arquitetura todos os valores que estão nela e que através dela são apresentados ao indivíduo. Torna-se possível distinguir entre os edifícios e entendê-los a partir de suas características, porque a bagagem cultural que se recebe e que é passada de geração em geração, ensina a entender as coisas .

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A casa na árvore que passa de geração em geração.

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Pesavento (2007) deixa bem claro que, cada lugar tem sua carga simbólica que o diferencia e identifica e que cada cada lugar marca de forma diversificada cada ser humano. Individualmente, o homem busca sua própria referencia através de um ponto (objeto, etc) onde se identifica, isso na própria arquitetura e/ou no meio urbano. [11] [12] [19]

Concordo com o pensamento de Pesavento, cada indivíduo é atraído por algo que te chama a atenção ou seja, o foco fica onde se identificou com maiores informações.

A arquitetura está impregnada de significados manifestos pela memória ou pela imaginação. As edificações, as construções que nos cercam, estão cheias de intenções e de símbolos. Sejam elas estéticas, políticas, econômicas, sociais... São testemunhas de toda ou parte da história da civilização. Dessa forma, se tornam retratos de gerações.

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Um bom exemplo é o World Trade Center, conhecido como as torres gêmeas em Nova Iorque, foram um marco arquitetônico da cidade devido a altura das edificações naquela época, embora hoje tenha passado por uma tragédia, as edificações ficaram na memória pela própria identidade, um significado particular, próprio da obra em si. Nenhuma outra obra irá substituí-las. Ficará sempre na memória as torres gêmeas, é impossível olhar para o local sem que venha à mente as mesmas.

Outro exemplo é o bloco E do campus, Unileste, por 12 anos, entre 2000 e 2012, teve suas paredes pintadas de vermelha e em 2012, essas paredes passaram por alterações na cor, passando assim, a serem na cor azul. Os usuários, estudantes de arquitetura e urbanismo, que frequentavam o bloco E, tinham como referência o “corredor vermelho”, lugar de acesso as salas de aula e quetornou-se parte da identidade do curso. Ao sofrer alteração na cor o bloco E perdeu parte de sua referência. E dessa forma, fica registrado na memória de quem o vivenciou.

História e memoria estão sempre ligadas, mesmo que pasadas deixam rastros de sua existência, a arquitetura contemporânea tem vestígios do passado. Dessa forma, fica claro que através das experiências vividas se obtén conhecimento, e que tudofica registrado na memória, fonte de informações que são refletidas pela percepção do indivíduo.

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IDENTIDADESegundo o Dicionário Aurélio, a palavra

identidade significa “1- Qualidade de idêntico.

2- Os caracteres próprios e exclusivos duma pessoa:

nome, idade, estado, profissão, sexo, etc.”

(FERREIRA, 2008).

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A igreja traz vestígios do passado, está relacionada com a vivência do indivíduo e vem ao longo do tempo construíndo parte da identidade do homem.

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Característica da cidade marca a história de vida das pessoas e contribui para a identidade.

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Ou seja, é toda a formação de um indivíduo resultante das interações sociais, culturais, políticas, geográficas, econômicas e/ou de outras naturezas que o tornam único.

Edgar Morin é um antropólogo, sociólogo e filósofo francês, considerado um dos principais pensadores contemporâneos e um dos principais teóricos da complexidade. Através de suas investigações sobre identidade, Morin fala que a identidade do ser humano está acoplada a identidade social. A cultura produz a identidade social e dessa forma, indivíduo e sociedades se complementam.

A identidade distingue um ser humano do outro, um grupo de outro grupo e até mesmo uma civilização da outra. O homem se transforma através do contato com o mundo e com a educação cultural modelando sua identidade e isso vai se construindo ao longo do tempo. Isso acontece a partir do contato do homem com o mundo.

As identidades parecem invocar uma origem que residiria em um passado histórico com o qual elas continuariam a manter uma certa correspondência. Ela tem a ver, entretanto, com a questão da utilização dos recursos da história, da linguagem e da cultura para a produção não daquilo que nós somos, mas daquilo no qual nos tornamos.(HALL, 2000).

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A identidade tem sua particularidade dentro das ciências humanas e sociais. Tem relação com gênero, pode ser definida pela religião que se segue, tem a ver com o grupo étnico a qual se pertence.

Segundo um dos maiores estudiosos da cultura material, o brasileiro Ulpiano Bezerra de Meneses (1984), a memória, como suporte fundamental da identidade, “é mecanismo de retenção de informação, conhecimento, experiência individual ou social, constituindo-se em um eixo de atribuições que articula, categoriza os aspectos multiformes de realidade, dando-lhes lógica e inteligibilidade”. Assim, nos conhecemos e reconhecemos por meio dessas percepções e lembranças, dos registros que fazemos de fatos passados, de objetos e coisas que nos são caras, que nos identificam socialmente. Portanto, preservar, tornar “bens” sempre presentes e disponíveis, ativa a nossa memória e, consequentemente, nutre a nossa identidade cultural. A identidade cultural e a memória reforçam-se mutuamente.

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Para entender sobre identidade cultural, apresenta-se primeiramente o conceito de cultura, (MORIN, 2009) “culturas são sistemas (de padrões de comportamento socialmente transmitidos) que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos”. Esse modo de vida das comunidades inclui tecnologias e modos de organização econômica, padrões de estabelecimento, de agrupamento social e organização política, crenças e práticas religiosas.

A cultura constitui a herança social do ser humano: as culturas alimentam as identidades individuais e sociais no que elas têm de mais específico. Por isso, as culturas podem mostrar-se incompreensíveis ao olhar das outras culturas, incompreensíveis umas para as outras. (MORIN, 2002).

Conhecer as raízes, distinguir o que une e o que divide. Por identidade consegue-se entender os aspectos peculiares de um determinado povo como suas crenças, ritos e experiências comuns que foram a identidade particular, exemplo: a identidade nacional, americana, japonesa, etc.

A identidade cultural é um fator fundamental da relação entre o individuo e a sociedade, é através dela que ocorre a adaptação do homem ao seu ambiente. Sem a identidade cultural não se tem a integração homem X sociedade.

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Segundo Hall (1999), as culturas nacionais produzem sentidos com os quais podemos nos identificar e constroem, assim, suas identidades. Esses sentidos estão contidos em estórias, memórias e imagens que servem de referências, de nexos para a constituição de uma identidade da nação. [16]

A história de uma sociedade e os fatos históricos pode ser identificada através do espaço construído, representado na arquitetura da época e pelos hábitos culturais do local. A organização espacial, as técnicas construtivas revelam as influências e todas as adaptações que sofreram ao longo do tempo. Cada qual, com suas particularidades típicas da região, caracterizando hábitos culturais da comunidade, fortalecendo a identidade cultural de um povo.

A arquitetura, ao construir espaços habitados ao longo do tempo, contribui para a construção da identidade humana. Através da mesma, são obtidos traços da história, conexões com o passado e integração com o presente, deixando registrados muito dos aspectos da vida.

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A nossa identidade está indelevelmente associada ao lugar em que vivemos, e junto com ele se transforma. Esta questão sempre foi subestimada, e estamos frequentemente anestesiados e acomodados com os ambientes em que vivemos, sendo difícil a tarefa de reconhecer o quanto eles influenciam nosso modo de ser. Queiramos ou não, somos pessoas diferentes em lugares diferentes. Basicamente, esta é a premissa para acreditarmos na importância da arquitetura e na sua função de esclarecer em grande medida quem poderíamos idealmente ser .(BOTTON, 2006).

O espaço onde o homem está inserido vive em constante modificação, pois a cada evolução humana o ambiente também sofre alterações e as características espaciais também são modificadas.

Ao longo do tempo, o homem foi se adaptando sua forma de morar através de suas necessidades. Numa época na qual não havia suporte para suas necessidades básicas, o homem criava meios que facilitava sua vida, como morar perto de rios para utilizar da água para sua sobrevivência.

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As características espaciais influenciam diretamente na relação “homem x arquitetura”. Dessa forma, podemos observar os grandes processos de mudanças nos quais a arquitetura passou ao longo dos anos. Já houve por um período onde a arquitetura em si precisava mostrar o poder e nessa época, grandes monumentos foram erguidos com a função de mostrar todo o seu poder dentro de uma sociedade.

Pode-se entender a cultura como um reflexo integral das civilizações que atinge todas as manifestações do ser humano, incluindo a arquitetura. Esta registra diferentes momentos da vida, é uma das formas mais fieis de entendimento da evolução da humanidade, pois nela estão refletidos os progressos de uma época, e sua complexidade, e atua valorizando um período histórico, de como funcionava uma determinada sociedade num momento específico.

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considerações finais

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Discutir e entender o “sentimento de pertencimento na arquitetura” foi o foco deste texto; buscar informações e consequentemente conhecimento sobre esse sentimento se fez importante.

Foi percebido através das referências teóricas e das entrevistas realizadas que o sentimento de pertencimento está profundamente ligado à própria identidade, construída e definida a partir da relação do indivíduo com o ambiente. Cada pessoa expressa sentimento de pertencimento de maneira diferente, e este se define na dimensão individual e social de sua identidade.

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Na arquitetura, o sentimento está ligado às suas características e a questões de vivência, que dependem da vida prática cotidiana. Perceber a possibilidade de que um espaço qualquer possa se transformar em um lugar e ser respeitado como expressão cultural para a construção da identidade, por si só já constrói seu valor.

O espaço arquitetônico é um espaço vivenciado, experimentado, e não um mero espaço físico e espaços vivenciados sempre transcendem a geometria.

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legenda de imagens

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[1] Propriedade particular - Coronel Fabriciano

[2] Propriedade particular - Coronel Fabriciano

[3] Catedral- Coronel Fabriciano

[4] Propriedade particular - TImóteo

[5] Capa - Ouro Preto

[6] Iapu Country Clube - Iapu

[7] Coronel Fabriciano

[8] Unileste

[9] Inhotim - Brumadinho

[10] Iapu

[11] Propriedade Particular - Coronel Fabriciano

[12] Propriedade particular - Naque

[13] Colégio Angélica - Cronel Fabriciano

[14] Igreja - Antônio Dias

[15] Propriedade particular - Santana do Paraíso

[16] Iapu

[17] Catedral - Coronel Fabriciano

[18] Igreja Católica - Ipatinga

[19] Colégio Angélica - Coronel Fabriciano

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RYBCYNSKI, Witold. La casa: história de uma ideia. Editorial NEREA, 2006.

BRANDAO, Ludmila de Lima. A casa subjetiva. 1a ed. São Paulo: Perspectiva. 2002.

PESAVENTO, Sandra Jatahy. História, memória e centralidade urbana. Nuevo Mundo, Mundos Nuevos. Debates, 2007.

ALBERTI, Verena. Histórias dentro da História. In: PINSKY, Carla Bassanazi. (org). Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005.

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HARTENTHAL, Mariana Westphalen Von; ONO, Maristela Mitsuko. O espaço percebido: em busca de uma definição conceitual. Arquitetura revista: vol. 7, n. 1, jan/jun. Rio Grande do Sul, 2011.

referências bibliográficas

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Livro Mente e Cérebro poderosos - Conceição Trucom - Editora Pensamento-Cultrix.

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