Arrocha - Vida de Artista

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BRUNA VIVEIROS Arrocha MARÇO DE 2013. ANO III. NÚMERO 19 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA PROIBIDA Jornal JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL/JORNALISMO DA UFMA, CAMPUS DE IMPERATRIZ Vida de artista

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Jornal Arrocha - Imperatriz - Vida de Artista

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BRUNA VIVEIROS

Arrocha MARÇO DE 2013. ANO III. NÚMERO 19 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA PROIBIDA

Jorn

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JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL/JORNALISMO DA UFMA, CAMPUS DE IMPERATRIZ

Vida de artista

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“E o tal ditado como é/festa aca-bada/músicos a pé”, brinca o com-positor Chico Buarque no refrão da música “Cantando no toró”. A críti-ca é por conta da visão que muitos ainda têm na sociedade a respeito do ofício de artista. Nesta edição do Jornal Arrocha os acadêmicos de Jornalismo da UFMA de Impe-ratriz buscaram representar, resga-tando histórias de vida, um pouco do que é viver de arte na segunda maior cidade do Maranhão.

O leitor vai encontrar o depoi-mento emocionante de amor à arte nas palavras do artista Ton Neves, que abrilhanta a nossa capa. As vi-sões conflitantes entre o represen-tante do poder público e um inte-lectual na página de entrevistas. O universo do hip hop dos bairros,

louco para se expandir. A galera que prega um circo mais social e humanizador. Escritores, promo-tores culturais de todas as épocas, representantes do cinema, da fo-tografia e outras tantas manifesta-ções artísticas.

Como já ficou claro na edição sobre formação cultural, Impera-triz é uma cidade com múltiplas influências, o que confere a possi-bilidade dos seus agentes culturais lidarem com referências variadas. Vamos conhecer a vida dos artistas?

Arrocha: É uma expressão típi-ca da região tocantina e também um ritmo musical do Nordeste. Significa algo próximo ao popular desembucha. Mas lembra também “a rocha”, algo inabalável como o propósito ético desta publicação.

EDITORIAL - VOCAÇÃO PARA A ARTE

Ensaio Fotográfico

CHARGE

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ANO III. NÚMERO 19 IMPERATRIZ, MARÇO DE 2013

EXPEDIENTE

Breno Franco, Bruna Viveiros, Mariana Castro, Paula de Tássia, Ramisa Farias, Saron Alencar, Walison Reis

Adriana de Sá, Breno Franco, Bruna Viveiros, Hyana Reis, Maria Felix, Mariana Castro, Mirían Gomes, Paula de Tássia

Professores: Fotografias:

Aessia Reis, Aline Velenca, André Alexandre Costa, Cleiciane Oliveira, Daniel Sena, Daniela Batista, Denise Cristina Salomão, Denise Falcão, Deybion Ribeiro, Deylane da Silva, Dioned de Araújo, Domingos Alves, Francisca Kássia da Silva, Francisco de Sousa Berreza, Giovani Cordeiro, Idayane da Silva, Jackeline Teixeira, Janaina Silva, Jhene Silva de Assis, João Paulo Azevedo, Juliana de Jesus, Juliana Ferreira, Julieli Jasmini Soares, Juscelino Oliveira da Silva, Laudecy Bilio Reis

Diagramação:

Publicação laboratorial interdisciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da universidade.

Jornal Arrocha. Ano III. Número 19. Março de 2013

Reitor - Prof. Dr. Natalino Salgado Filho | Diretor Pró-tempore do campus de Imperatriz - Prof. Dr. Marcelo Soares dos Santos | Coordenadora do Curso de Jornalismo - Prof. M. Marcelli Alves.

Reportagens:

M. Alexandre Maciel (Jornalismo Impresso), M. Marco Antônio Gehlen (Programação Visual), M. Marcus Túlio Lavarda (Fotojornalismo). e Revisão: M. Alexandre Maciel.

www.imperatriznoticias.com.br | Fone: (99) 3221-7627 Email: [email protected]

Contatos:

Estágiarias:Adriana de Sá, Hyana Reis, Maria Felix

RHAYSA NOVAKOSKI

Maria Marcocine, Mikael de Souza, Natalia Moura, Nilo Pereira, Rebeca Jenifer Viana, Rosiane Feitosa, Saulo Rodrigues, Thiago da Silva, Tuanny Santos, Tyessa Silva

SARON ALENCAR

BRUNA VIVEIROS

BRUNA VIVEIROS

WALISON REIS

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MÚSICAVários estilos musicais estão conquistando cada dia mais um público assíduo em suas apresentações na cidade de Imperatriz e também em João Lisboa

Cruz Gago comanda aseresta em João Lisboa MARIA FELIX

José da Cruz Rodrigues, conhe-cido no mundo musical como Cruz Gago, ganhou esse apelido por ter uma gagueira que, segundo ele, não dificulta na hora de cantar. Com 42 anos, é uma pessoa feliz, que exibe um sorriso contagiante.

Brasileiro do sul do Maranhão, Cruz Gago nasceu em uma família humilde e teve que trabalhar cedo para ajudar os pais. Esse fato não lhe impediu de buscar melhoras na vida. Hoje reside em boa casa, cons-truída no alto de um morro, onde se tem a vista de boa parte da pe-quena cidade de João Lisboa (MA). Lá, o seresteiro costuma compor suas músicas e descansar das noites de apresentações.

Com 24 anos de carreira, Cruz Gago começou a cantar por volta de 1988, em uma antiga casa de festa, chamada Taboca, em João Lisboa. “Eu frequentava o lugar e ficava observando as bandas tocando ani-madas e foi daí que nasceu o meu gosto pela música’’.

Trajetória - Mesmo passando por

algumas dificuldades, o seresteiro não desanimou. Tentou ser mecâ-nico, passou um ano no Exército, fez curso de formação de cabo, mas logo percebeu que não se identifica-va com essas funções. “Não me via sem a música, porque eu gosto mes-mo é de cantar”.

Mas, para conseguir entrar no mundo da música trilhou vários ca-minhos, cantando em bandas fora da região. Esteve em Porto Nacio-nal, onde se apresentou com grupos conhecidos como Sintonia, Alta Tensão e Degraus. Morou alguns anos em Ribeirão Preto (SP), onde trabalhou com a banda Roda Viva e depois voltou, em 1994, para can-tar, pelos próximos oito anos, na banda Sintonia, do Maranhão.

Até que formou o Coisa Boa, sua banda atual. O grupo faz su-cesso por toda a região tocantina e também no resto do Brasil. Cruz afirma, com boas risadas, que esse conjunto hoje ganhou nome, por tocar canções de ritmos variados. “Costumo cantar músicas do coti-diano. No momento, o que a região prefere é o arrocha, o tecnobrega e o forró’’.

Ressalta ainda, que teve de supe-

rar desafios, pois as noites de festa são muito cansativas e estressantes. Em alguns casos nem se recebe o di-nheiro e, além disso, o nível de con-corrência com outros seresteiros, também famosos, às vezes dificulta a carreira. “Mas, no final, tudo aca-ba dando certo.

Entre o pop e o rock e princi-palmente as românticas, Cruz Gago agrada o público nos bailes e festas, sempre iniciando suas apresenta-ções com a música “Deus” dos Fe-vers. Garante que a canção é uma espécie de talismã.

Geralmente, costuma interpre-tar músicas brasileiras e internacio-nais, porém as mais solicitadas são as românticas. “As pessoas gostam de pedir ‘Meiga Senhorita’ de Zé Ge-raldo, músicas do Fagner, e o pró-prio arrocha é muito pedido. En-fim...Tocamos de acordo com gosto popular’’.

Sucesso - Sua carreira deu uma gui-nada quando compôs a música “Ten-tei te Esquecer”, que se tornou seu maior sucesso, regravada por vários cantores famosos como Mato Gros-so e Matias, Leonardo e César Me-notti e Fabiano. “Foi muito tocada e

fez as pessoas cantarem. Foi então o momento mais gratificante da mi-nha carreira’’. Com esse sucesso, o grupo Coisa Boa aumentou os seus contratos e passou a abrir shows, sendo reconhecido fora da região.

Cruz destaca que gostaria de ter

a oportunidade de estudar. Um dos seus sonhos é se tornar um repór-ter correspondente internacional e viajar pelo mundo, mas a música continua sendo a prioridade. “Eu canto porque gosto. A música me dá a sensação de liberdade”.

José Rodrigues, o Cruz Gago, em sua casa, onde ele busca inspiração para compor suas músicas

Mistura de rock e cristianismo vem conquistando um público diferenciado HYANA REIS

O som pesado da guitarra, ba-teria e baixo acompanha a mensa-gem de fé: “Teu amor me mostrou, Senhor, que ainda posso lutar e ser feliz”. O ritmo é cantado por um rapaz que tem nas mãos, um vio-lão e uma pulseira pendurara com a face de Jesus e Maria e, no peito, uma cruz. A voz é de Alex Araújo, roqueiro católico.

Ele é vocalista da Banda Ófeq, (horizonte, em hebraico), que pro-move uma rara mistura de rock e cristianismo e foi fundada em 2008 por ele e mais três amigos. “Eu tive uma inspiração de Deus, a gente rezou e estamos aí até hoje”.

Mas, o amor pela música surgiu muito antes. “Desde que eu ganhei meu primeiro violão com 10 anos, sempre alimentei um sonho de fa-zer da música mais que um hobby”. Com o passar do tempo, ele notou que para realizar esse sonho, tinha um longo caminho a percorrer.

Hoje, com 25 anos, Alex conta que cantar músicas que falem de Deus é a maior dificuldade que en-frenta. “As pessoas acham que mú-sica cristã não é legal de se ouvir”.

Ser católico dificulta ainda mais, pois a música de sua igreja é associada a um “som mais tradi-cional” e ao fazer algo diferente, como o rock, “as pessoas tem a tendência de imaginar que você é evangélico”.

Mesmo com o preconceito que sofre, Alex é enfático “Eu fui cria-

do na igreja católica, me sinto no dever de respeitar as minhas raí-zes”.

Aos poucos o rock cristão da Ófeq foi conquistando reconheci-mento e um público que chegou a ser difícil em outros momentos. “Uma vez tocamos na Assembleia de Deus, que não tem costume de dan-çar, mas ao nos ouvir eles dançaram e bateram palmas”.

Feliz, ele garante que não faz di-ferença qual a religião: “nossa evan-gelização não tem limites”. Com a banda Ófeq, Alex Araújo chegou à quinta colocação entre as canções

mais curtidas da Jornada Mundial da Juventude. Foram eleitos revela-ção católica do Maranhão pela MCC Produções e representaram Impe-ratriz em um festival de música em São Paulo.

Recentemente comemorou mais uma vitória: passou no vestibular e começou a cursar a faculdade de música. Com o que aprenderá pre-tende se tornar um músico melhor e fazer com que sua mensagem chegue a mais pessoas. “Todo músico quer ter sucesso. Mas não confundo su-cesso com fama. Para mim, sucesso é tocar alguém com a nossa canção”.

Alex Araújo é vocalista e guitarrista da Banda Ófeq, que toca músicas cristãs em ritmo de rock

Melquiades Dissonante: a nova identidade do rockADRIANA DE SÁ

Imperatriz possui várias bandas com estilos musicais diferentes que vão do sertanejo universitário ao rock. Quem se lembra da extinta banda Projeto B? Para quem se re-corda a banda ainda existe, só que agora se chama Melquíades Disso-nante.

“O nome da banda foi escolhido em alusão a um dos personagens de Gabriel Garcia Marquez no épico livro ‘100 anos de solidão’, explica o guitarrista e vocalista Anderson Lima.

A primeira apresentação da ban-da foi em uma calourada na Uni-versidade Federal do Maranhão (UFMA), festa que acontece a cada nova turma que adentra na univer-sidade.

“Tudo começou como uma brin-cadeira, que foi se tornando cada vez mais frequente. As pessoas fo-

ram gostando e hoje a banda está to-cando em vários pontos da cidade’’.

Começaram a se apresentar no extinto Boteco do Frei como Projeto B e hoje tocam em vários outros lo-cais, como República Bistrô e Birosca da Madre, já com o novo nome.

O público da banda consiste de universitários, adolescentes e até os mais velhos, pelo fato do grupo apre-sentar novas roupagens para antigas canções. O Melquiades Dissonante foge do estilo rotulado, colocando sua própria identidade a cada apre-sentação, dando ao público o prazer de ouvi-los com uma interpretação única.

O repertório é executado pelos integrantes, Alexandre Ribeiro no baixo, Sergio Vantuller na bateria, e por Anderson Lima na guitarra e no vocal. A banda foi formada com a in-tenção de explorar um estilo musical diferenciado e de qualidade, introdu-zindo a identidade musical do rock.

Banda Melquiades Dissonante em uma apresentação: introduzindo uma nova identidade musical

SARON ALENCAR

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ANO III. NÚMERO 19 IMPERATRIZ, MARÇO DE 2013

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Desafio e a força constante na dança clássica ensinaram Fally Lima a superar os desafios diários

TEATRODiretor de teatro Rogério Benício desde criança acreditava no poder da interpretação. Hoje as comédias do seu grupo lotam o Teatro Ferreira Gullar

“Okazajo é uma parte de mim”, diz RogérioBRUNA VIVEIROS

Antes da formação de sua com-panhia de teatro na cidade, a realida-de era outra. As pessoas, até então, ainda acreditavam que teatro era ambiente de gente rica, que a cultura nunca seria discutida nas esquinas e que não havia muito motivo para rir.

Dirigido por Rogério Benicio, 27 anos, o Okasajo é a mais conhecida companhia de teatro de Imperatriz (MA). Trouxe novos hábitos ao pú-blico, assim como risos, devido ao humor irreverente dos seus espetá-culos.

Desde a infância, Rogério perce-beu que representar era a sua arte. “Minha mãe ficava assistindo as no-velas e eu decorava o texto facilmen-te, gostava de ficar interpretando o que via”. Daí em diante começou a

escrever sua própria novela. “Acho que tinha uns 10 ou 11 anos de idade”.

Logo percebeu, também, a apti-dão para escrever roteiros. Sua pri-meira peça foi para o grupo de ora-ção da igreja, na qual fez o papel do arcanjo Gabriel. Escrevia as peças da escola, e com elas ganhou pequenas premiações.

Atualmente a recompensa de Rogério é receber o Teatro Ferreira Gullar lotado, com quase 240 pes-soas enfrentando filas que chegam a virar a esquina, para ver o seu talento e de seus amigos no palco.

Como as pessoas costumam com-prar os ingressos antecipadamente, as sessões lotam antes da estreia, e quem deixa para levar o ingresso na hora, certamente, não conseguirá compartilhar do riso.

Mas, nem tudo sempre foram flores. “Tinha que pagar a pauta do

teatro, pagar figurino e muitas vezes eu tive que tirar do meu salário pra poder realizar isso”. Sem o apoio da mãe, ele teve que enfrentar não só a ela, mas também o baixíssimo incen-tivo cultural que a cidade proporcio-na.

“Pra mim cultura não é só fazer carnaval e São João, é primeiramen-te valorizar o artista”, conta, sempre expressivo e gesticulando. “Acho que a maior dificuldade pra os artistas é não ter um apoio público. Às vezes as pessoas veem o teatro lotado e acham que você tá ganhando rios do dinheiro. Mas na verdade é como se você nem existisse no cenário cultu-ral”.

Rogério já recebeu propostas ir-recusáveis para sair de Imperatriz, e até do estado. Questiono porque então o artista resume sua atuação à realidade cultural da cidade. “Até

me imagino fazendo trabalhos fora daqui, mas jamais sem o Okazajo. É uma parte de mim”.

Com oito anos de direção e 16 es-petáculos no currículo, Rogério re-

vela que não se vê como um artista famoso, mas, sim, realizado. “Meu sonho é chegar a um Teatro Munici-pal de uma grande cidade. E escrever um filme”.

Rogério Benicio até imagina fazer trabalhos fora de Imperatriz, mas jamais sem o Okazajo

BRUNA VIVEIROS

Jornada tripla dificulta o sonho de ser bailarina

Atendente de fast food impressiona com atuação no palco do Ferreira Gullar

BRUNA VIVEIROS

Seu cotidiano varia entre bata-tas fritas, hambúrgueres e bacon. O jovem rapaz atendente de fast food tem uma paixão que poucos ainda conhecem. Ricardo Freitas, 20 anos, sobe nos palcos quando não está em seu trabalho. Poucos imaginam que debaixo das listras vermelhas e calça azul existe um rapaz determinado a conquistar seus sonhos e os de sua companhia de teatro.

Tudo começou no ensino médio, quando a matéria de literatura lhe fez despertar o interesse pela inter-pretação dos personagens de livros. Os alunos representavam romances, dramas e comédias. Dentre eles esta-va Ricardo, que fez três peças nesse período.

Depois do ensino médio resolveu procurar grupos de teatro que pu-dessem lhe ajudar a conquistar esse sonho. Conheceu a Cia. Repes de Te-atro, onde ficou por um ano. Atual-mente na Cia de Teatro ArtBack, de

Imperatriz (MA), ele e seus amigos estão há um ano em busca da con-quista de público.

“A gente pretende ir conquistan-do o sucesso na medida do possível, quem sabe um dia até saímos do Maranhão. Começamos muito bem, o nosso público infantil nos ajudou muito”. Ele explica que o grupo sem-pre fez humor para crianças. “Tenta-mos fazer uma comédia adulta, mas

acabamos errando. Acho que o pes-soal não conhecia bem a nossa forma de trabalho”.

Diferente de muitos artistas, a família de Ricardo o incentiva bas-tante. Sempre estão nos espetáculos e acreditam nas conquistas do ator. Ele conta que isso o ajuda muito a

seguir em frente, pois nas peças é só abrir a boca e os familiares gritam, assoviam e riem de tudo o que faz. Na maioria das vezes, a plateia não entende porque tantos gritos, mas são apenas seus parentes apreciando o que ele ama fazer.

“Eu fiquei muito emocionado, quando apresentei o Cabaret. Tive que me vestir de mulher e quando entrei, ao invés de me criticar, minha família riu bastante. Só minha mãe que ficou estranha no início e pensei, ‘meu Deus do Céu, eu vou apanhar’!”. Entre muitos gracejos ele continua: “Depois ela entendeu e deu várias gargalhadas, no fim ficou tudo bem”.

Atualmente, além de ator, é dire-tor de finanças da ArtBack, e sente de perto as dificuldades de recursos para os espetáculos. Ricardo relata que apesar da motivação de alguns patrocinadores e da sua família, o in-centivo que realmente está em falta é o da cultura local, pois não adianta a busca pela profissionalização se o reconhecimento é tardio.

BRUNA VIVEIROS

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Com collant e meia-calça escon-didos pelas vestes de trabalho, Fally Lima, 22 anos, começa sua turbulen-ta rotina. Trabalha oito horas por dia, vai do trabalho ao balé e depois segue para a universidade. “Eu não paro, minha vida é muito corrida”, é assim que ela, rapidamente, resume seu cotidiano.

Por conta da desvalorização da dança clássica no cenário nacional, os bailarinos geralmente tem que deixar sua arte em segundo plano para se subsidiar. Assim, acabam tendo de entrar na faculdade a pro-cura de uma carreira profissional e em busca de um emprego para ga-rantir o sustento.

Ela já pensou em deixar o traba-lho para se dedicar à carreira artís-tica e aos estudos. “Mas a primeira coisa que eu penso é: como eu vou pagar o balé? Os planos param logo por aí”.

E continua: “Produtos de balé são muito caros. Sapatilha de pon-ta, collant, meia... Você precisa de

dinheiro pra essas coisas e tem que tirar de algum lugar”.

Fally entrou na dança por ques-tões de saúde, mas hoje é uma pai-xão irremediável. Na dança ela en-contra a “válvula de escape” para os problemas. “Não existe outro lugar no mundo que me faça sentir tão bem quanto me sinto no balé”, es-clarece, entre sinceros sorrisos, ao falar de sua arte.

A estudante de contabilidade está no último semestre do curso e já adiou a monografia, pois não con-segue se afastar da dança. Por causa da vida artística atribulada, sente dificuldade de cumprir as metas de estudo.

“No balé você aprende a ser mais forte, paciente, e entende que cada passo é um passo, cada dia é uma nova meta”. Como uma pessoa que tem desafios constantes em seu coti-diano, Fally diz que a dança lhe dis-ciplinou a gostar de driblar os obs-táculos. E ainda ressalva: “A questão é que se fossemos mais incentivados e tivéssemos oportunidades, não seria necessário viver essa jornada para poder fazer cultura”.

Desde o ensino médio, nas aulas de literatura, Ricardo Freitas percebia o talento para a arte do teatro. Fica feliz com o apoio da família

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“Eu fiquei emocionado quando apresentei o

Cabaret”

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José Antônio Neves da Silva, 49 anos, é como um filósofo da arte e da vida. Ton Neves é pintor e hoje um dos mais reconhecidos artis-tas da região. Nascido em Pedrei-ras (MA), veio para Imperatriz em 1969. Há 44 anos, a cidade cultiva-va um homem de sensibilidade no olhar, na fala e especialmente nas mãos.

Com clareza, desvelou o seu co-nhecimento autodidata. “O meu es-tudo em Belas Artes foi pegar uma caneta, um caderno e anotar o tom que cada cor dava. Fazia e refazia até encontrar a mistura e o contor-no certo”. Desde criança adorava rabiscar tudo, sempre acreditando no poder que as cores possuem.

Não sabe bem ao certo quantas telas já fez, mas contabiliza uma média de 1,2 mil registradas na memória, sendo que algumas têm lugar especial. Ton leva de oito horas a dois meses para finalizar suas obras, produzidas no ateliê que fica no fundo do seu quintal.

Já expôs em diversos lugares, inclusive na Europa, mas não pôde estar lá, pois leva uma vida muito simples, junto com a sua esposa, quatro filhos e netos. Hoje é cola-borador na Fundação Cultural de Imperatriz e sente de perto as limi-tações de apoio à cultura regional. “Subsistir como artista num mun-do escasso de material, incentivo e escolas é difícil. Meus grandes mestres são as páginas dos livros”.

Para o pintor, seu trabalho mais complexo foi uma tela em minia-tura. Com o tamanho de 5x3 centí-metros, ela é sua obra-prima. Pin-tou uma paisagem completa com uma lupa e fiapos de pincel. Ele confessa que prefere colorir um quarteirão inteiro a um quadro minúsculo.

Sensibilidade- Ton vê na arte uma maneira única de ensinamento so-bre a existência. “A arte tem que se transformar em hábito na vida das pessoas. Assim elas podem ter mais sensibilidade como ser huma-no”, conta, em expressões sempre calmas, com o olhar fixo e um leve sorriso de canto.

Seu estilo hoje permeia entre barroco, classicismo e impressio-nismo. Atualmente está investindo na aprendizagem do hiper-realis-mo, expressado em uma tigela de cajus repousados perfeitamente na tela da parede.

Com um semblante de quem sempre tem muito que dizer, ele explica que, em sua ótica, a pin-tura é uma das formas das pessoas verem a alma das coisas de modo mais direto.

“É a qualidade máxima da apli-cação de qualquer coisa na vida”, define, sintetizando o que mais o fascina na sua paixão pelas artes plásticas’’.

Pelo quadro pendurado na en-trada de sua casa, que exibe um franzino senhor do sertão, vê-se o quanto Ton é regionalista. Ele ex-

plica que detesta qualquer tipo de opressão e, em sua visão, a escravi-dão foi o pior tipo de prática desse desrespeito. Por esse motivo suas telas mais famosas retratam o ho-mem sertanejo, o índio e o negro.

“Hoje eu sinto mais as dores dos outros, compreendi a dor da fome sem nunca ter passado por

ela na vida. Se a maçã é vermelha, eu dou o vermelho que ela pede. Não tenho vontade própria, sou feito pelo que sinto ao meu redor, isso é pintar”.

Expressivo, ele conta como se a fome lhe perturbasse no momento e como se analisasse uma maçã em suas mãos.

Ton já foi professor de artes marciais, mas, sua atual arte exige sensibilidade nas mãos. “Lutar era divertido, mas pintar é indescrití-vel. Gosto de amar, de tratar bem as pessoas, sou um incentivador. Gosto de ver as pessoas alcançan-do seus objetivos, pois quando eu não desisti consegui sempre”.

ARTEArtista plástico era lutador antes de iniciar no mundo da pintura. Para ele, fazer telas é indescritível, pois mexe com a sensibilidade do mundo ao redor

O conhecimento autodidata de Ton Neves

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Seu pai lhe criou e educou em meio ao lápis, papel e tintas e o seu padrinho de batismo é o pintor Ton Neves. Cresceu entre artistas e teve in-fluências da pintura muito fortes em sua vida. “Minha paixão por desenho era tão grande, que quando eu era criança, eu não gostava de brinque-do não. O que pedia pra minha mãe era caderno de desenho, tinta guache, essas coisas”, conta ele, com toda sua simplicidade e simpatia.

Pouco conhecido pelos próprios imperatrizenses, mas com quadros na Suíça e Amsterdã, o rapaz de 31 anos, que tem como paixão as cores, chama-se Edney Areia. O desenhista e pintor mora em um bairro afastado e com sinais de abandono do poder público.

Como muitos artistas, a falta de

mais recursos financeiros acontece devido à desvalorização do trabalho. Edney conta que tem de realizar pres-tação de serviços para empresas e só assim é possível tirar renda para cui-dar da família e comprar o seu mate-rial artístico.

“As pessoas poderiam admirar mais a arte, seria muito bom que elas se fizessem mais presentes em exposi-ções. Não é somente comprar, é poder conhecer a arte também”. Para ele, a arte deve ser sentida, e, às vezes, en-tendida.

O apadrinhamento de Ton Neves o ajudou não só em experiência, mas também a levar o gosto pelos pincéis a frente. Ton lhe presenteia, sempre que possível, com material artístico. “Você vê essa tela aqui?”, aponta pra trás de si, e exibe o grande quadro ainda em branco. “Foi o ele que me deu. Não seria possível eu tirar o ali-

mento da minha família pra comprar uma dessas, por exemplo”. Então pas-sa a observar o quadro que fez de sua filha e esposa, ambas com sorrisos de encher o rosto.

Edney acredita que muito dessa re-alidade, se deva também à era digital. Já aconteceu de um quadro do artista ser encomendado e no momento do acerto o cliente desistir, preferindo fazer a impressão da imagem. “À mão você leva dias e dias em um trabalho, e no meio digital são minutos. Não tem como ser o mesmo valor e nem a mesma beleza”.

Ele não sabe explicar o porquê do seu amor pelo papel e pelas telas. Bem pensativo, o que soube dizer foi que “o ser humano é único, cada detalhe seu é importante, e isso deve ser mos-trado”. É o que pensa o rapaz que gos-ta de desenhar os astros internacio-nais Will Smith e Leonardo di Caprio.

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Em meio a uma reunião de as-sociados, de repente se ouve ao longe: “Mas o que eu disse é que temos que ter força, e temos que ser valorizados”. A voz indigna-da e contundente que ressoa com eco, no Centro de Artesanato é a de Maria das Graças Oliveira.

Conhecida como Dona Graça, a senhora de 52 anos é presidente da Associação de Artesãos de Im-peratriz há seis. Mas sua verdadei-ra profissão está bem acima de ser “presidenta”, ela é artesã.

Sua forma de artesanato é o crochê, o qual aprendeu com a irmã desde muito nova. Começou a fazer pela beleza das peças.

“Se fosse depender de dinhei-ro eu não faria artesanato, faço porque gosto, fico feliz quando alguém compra uma peça minha. Se fosse pra viver, já tinha mor-rido”. Apesar de muito séria, ela faz piada da situação.

Graça explica que as pessoas costumam achar as peças caras, e que geralmente os únicos com-

pradores são os turistas. “Impe-ratriz não incentiva os artesãos em nada. Somos muitos, mas ninguém sabe, ninguém se inte-ressa”.

Ela acrescenta que o único in-centivo que recebe de verdade é do próprio marido.

Não pensa em parar de pro-duzir suas peças, pois elas são

seu maior orgulho e sua forma de terapia. Graça conta que é só colocar seus sentimentos no que produz, não tem outro segredo.

“Graças a Deus que chegou meu último mandato de presi-dência”, agradece, erguendo as mãos para o céu. Mas, para ela, o seu artesanato tem governo vi-talício.

Ton Neves já expôs em diversos lugares, inclusive na Europa, mas não pôde estar lá. Sua vida é muito simples com a esposa, filhos e netos

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Desenhista gostaria de ter o seu talento mais reconhecido na cidade

Presidente da Associação de Artesãos de Imperatriz expõe os principais desafios da sua profissão

Edney sempre teve influência do pai e do padrinho Ton Neves, que despertou seu gosto pela arte

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CIRCO Diferente do que algumas pessoas pensam, palhaços não usam máscaras. Pelo contrário, se despem de preconceitos e estigmas sociais, acredita Jô Santos

Peteleco adormeceu, transformou na Tia Jô MARIANA CASTRO

Diferente do que algumas pes-soas pensam, palhaços não usam máscaras. Pelo contrário, se des-pem de preconceitos e estigmas sociais. Fazem aquilo que nós, por timidez ou medo, não teríamos audácia de praticar: ser quem real-mente somos. Em tempos de con-trole, frieza, orgulho e arrogância, os palhaços distribuem sorrisos sinceros e espontâneos.

Jô Santos, ou Jô Peteleco, como é mais conhecida, teve o primeiro contato com o mundo das artes em grupos de teatro de igreja, em Im-peratriz (MA). Mas, com a morte da mãe deixou a cidade e foi morar em Caxias (MA). “Quando minha mãe faleceu, eu disse que não queria mais saber de igreja, ia me distan-ciar um pouco. Minha irmã fez mi-nha inscrição em um curso de tea-tro em outra cidade e fui morar lá”.

Em Caxias, Jô fez cursos com “feras do teatro maranhense”, entre eles, Aldo Leite, Bill de Jesus e Tas-so Borralho. A partir das oficinas, foi que a cortina se abriu para os grandes espetáculos, surgindo en-tão o Grupo Teatral Sombra, que viajava para festivais nacionais apresentando espetáculos como “A Feira” e “Jesus Homem”.

De volta a Imperatriz, Jô buscou a trupe teatral da cidade, que à épo-ca era o Grupo Teatral Oásis. “Pro-curei eles e comecei a participar de festivais de poesia, as pessoas per-

guntavam: Meu Deus, quem é essa menina? Ela é muito boa!”.

O palhaço veio depois, por aca-so e aos poucos. “Em um espetá-culo que nós escrevemos, o ‘Me-teora, aqui vou eu’, foi que surgiu o Peteleco. Mais ou menos em 88 ou 89”. O espetáculo contava com a participação de três palhaços, o Peteleco, Chique-Lengue e Bregue--Lengue.

“Um dia fomos ao aniversário da sobrinha do (professor e autor teatral) Gilberto Freire, e tinha uma

senhora que disse: Ah, eu quero vo-cês na minha festa! E fomos. Che-gando lá, outras pessoas diziam: Ah, eu quero vocês na minha tam-bém!”. Os outros dois palhaços não gostaram muito, então o Peteleco foi se apresentando sozinho e se aperfeiçoando aos poucos, com di-cas que Jô recebia das pessoas.

Com o número de festas aumen-tando, Jô sentiu a necessidade de se profissionalizar. Buscou cursos que pudessem melhorar o palhaço. Hoje já o considera uma “palhaça

boneca”, e não o Peteleco. “O Pete-leco adormeceu. Hoje é a Tia Jô. Eu tenho saudades dele com aqueles arcos, boca pintada, careca, mas eu tive que melhorar ele”.

Formação - Jô Santos sonhava cur-sar Artes Cênicas, hoje é formada em Letras e Educação Física e es-pecialista em Teoria da Literatu-ra Contemporânea. É professora, brinquedista, contadora de histó-rias, artesã, palhaça e mãe.

Vivemos um tempo de conver-

gência, quando é preciso saber aliar todos os dons em torno de uma atividade. O trabalho do pa-lhaço não é somente animar, ele também precisa educar as crianças. Para que isso seja possível, Jô utili-za ao máximo as técnicas pedagógi-cas no seu trabalho.

Como palhaça, na verdade, Jô faz malabarismo para adminis-trar o tempo e sustentar a famí-lia. “Olha, se eu te contar o que eu ganho como palhaço...”, comenta, rindo, para logo depois acrescen-tar: “Em termos de grana é muito pouco, mas o amor e o prazer são enormes”.

Como as outras pessoas, os pa-lhaços também sentem as dores do dia a dia, mas diferente de nós, das desgraças fazem o riso, o remédio, o “milagre”. “As minhas animações são meus momentos de prazer, de alegria. Envolvo-me tanto com as crianças que esqueço os meus pro-blemas, eu me entrego de verdade”.

O palhaço é sincero, aceita os próprios problemas, assim como ri dos defeitos. Esse é o segredo de grandes mestres da palhaçaria. Ser quem realmente somos, aceitando o ridículo e rindo dos próprios de-feitos, possibilitando manter vivo o espírito libertário de criança.

“Eu quero que o palhaço se tor-ne vivo na vida da criança, não que-ro que ele morra”, explica Jô diante das dificuldades de manter no ima-ginário das pessoas o espírito de “ser palhaço”.

Trupe de Habilidades Circenses incentiva práticas culturais e procura mais apoioMARIANA CASTRO

Em meio a claves e bolinhas de praticar malabares, tentávamos começar uma conversa. Tarefa difícil manter todos sentados no gramado. “Nós vamo brincando aqui, mas conversa também, sem problema”, dizia um dos malaba-ristas da Trupe de Habilidades Cir-censes (THC).

Ao todo, são sete malabaristas no grupo, que se apresentam em festas particulares, projetos so-ciais e treinam uma vez por sema-na na Beira Rio.

A Trupe de Habilidades Cir-censes ainda é um movimento em fase de construção, mas que já rende bons frutos. Surgiu em meio a conversas entre pratican-tes de artes como malabares, piro-fagia, palhaçaria e artesãos, como explica Luciano Monteiro, mais conhecido entre a turma como Corvo.

“A trupe surgiu em meio à conversa, aí bateu a ideia e até o nome. Foi pra difundir o malaba-res em oficinas e fazer com que a gente aprendesse mais”.

A maioria dos praticantes se encantou pelos malabares durante oficinas do Movimento Ocuparte, que era formado por entidades e artistas de Imperatriz que tinham como principal objetivo a promo-ção e fomento à cultura, ocupan-do espaços públicos do município.

“Começamos no Ocuparte. O malabares foi uma das oficinas de

lá... aprendi com o Jetro, um artis-ta de São Paulo”, explicou Corvo.

Conscientização - O movimento mantinha um espaço que incen-tivava diversas práticas culturais. As oficinas eram gratuitas e aque-les que já dominassem determina-da arte, eram incentivados a ensi-nar outras pessoas, estabelecendo,

assim, uma troca de habilidades. “Já, nós, aprendemos com o André, o Cabeça... que também passou por lá [pelo Ocuparte]. Ele que en-sinou o Jetro e outras pessoas. Foi assim que ficou um espaço baca-na. Lá as pessoas aprendiam mala-bares, escultura, macramê, capo-eira, pintura...”, lembra Leonardo Pires, que entre os membros da Trupe, é o Negão.

Inicialmente, os malabares eram um passatempo para os me-ninos. Durante as oficinas, não pensavam em tirar dali, algum re-torno financeiro. Somente depois, com a aproximação de outros ar-tistas, como a palhaça Jô Peteleco, as coisas mudaram. “Quando co-

nheci mais pessoas malabaristas, e também a Jô, tudo conciliou. Ela trabalha com animação de festas, essas coisas... Então ela costuma chamar a gente pra fazer malaba-res enquanto brinca com as crian-ças. Ficou algo mais profissional, mas não deixamos de nos diver-tir”, contou Corvo, ainda de olho nas bolinhas.

Mesmo com os convites par-ticulares, os meninos mantêm o espírito do extinto Movimento Ocuparte, que pregava a troca de habilidades e doação. Geralmente se apresentam para crianças ca-rentes e auxiliam em projetos so-ciais sem cobrar pelas apresenta-ções. O que segundo eles, é muito prazeroso.

“Também nos apresentamos em bairros carentes, ajudando em projetos sociais. Já fomos ao Con-junto Vitória, no Lar São Francis-co de Assis, em projetos do curso de Enfermagem da UFMA, e no que nos convidarem”, explica Le-onardo. A arte encanta crianças e adultos, mas infelizmente ainda não tem o incentivo que merece. Toda quarta-feira o grupo cos-tuma se reunir na Beira Rio para treinar, mas as condições não fa-vorecem.

“Se na Beira Rio tivesse estru-tura melhor, dava pra fazer mais modalidades. Aqui o pessoal usa esse espaço maior de estaciona-mento privado. Na quadra não dá, na pista sempre tá ocupado. A gente fica sem espaço”.

Atriz Jô Santos transformou o palhaço Peteleco em um “palhaço-boneca”, mas garante sentir saudades dos arcos, boca pintada e a careca

MARIANA CASTRO

“Começamos no Ocuparte. O malabares foi uma das oficinas de lá... aprendi

com o Jetro, um artista de São Paulo”

MARIANA CASTRO

Com origem no movimento Ocuparte, Trupe é formada por malabaristas, palhaços e pirofagia

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Arrocha

BRENO FRANCO

A pele morena de traços afros re-presentados pelo encaracolado dos cabelos quase sempre armados es-banjando espontaneidade, é o car-tão de visita de Vanusa Babaçu. Ela é pedagoga, maranhense e em maio de 2010 começou a expor suas fo-tografias oficialmente. Foi nesse pe-ríodo que Imperatriz viu nascer um dos maiores talentos da fotografia nos últimos anos na cidade.

Mãe de dois filhos, um de 24 e outra de 15, Vanusa já é avó. Tem uma netinha de quatro anos, filha do filho mais velho. Os dois filhos já exibem uma predileção pela fo-tografia como expressão artística e também seguem os passos da mãe, expondo suas próprias imagens e concorrendo a prêmios.

Atenciosa e comunicativa, Vanu-sa costuma mostrar seus trabalhos também na internet, por meio do blog e redes sociais. “O Facebook é uma boa ferramenta e sempre me traz algum retorno. O blog é legal, mas o Face tem reconhecimento imediato”.

A relação de Vanusa com a foto-

grafia começou há dez anos, quan-do veio o interesse de registrar o cotidiano das quebradeiras de coco. Interesse que foi recompensado por meio de um recurso fornecido pela Fundação Nacional de Artes, que possibilitou o desenvolvimento de um trabalho de exposição de foto-

grafias em Cidelândia, no interior do Maranhão, a 60 quilômetros de Imperatriz.

Um dos maiores trunfos de Va-nusa foi ter participado do Festival Internacional de Bonecos, em Brasí-lia, em novembro de 2012.

A exposição de fotos, intitulada “Universo Quebradeiras”, retratava a vida e o ambiente das quebradei-ras de coco do Maranhão. “Senti-me emocionada ao ver muita gente de

todo o país elogiando meu traba-lho. Foi uma boa vitrine, me senti lisonjeada”.

Outro orgulho da fotógrafa, que tem a pedagogia como a profissão principal, foi ter conseguido o ter-ceiro lugar entre quase mil fotos, em um concurso de fotografia pro-movido na cidade de Campinas, no estado de São Paulo.

O tema era a cultura negra e a foto está sendo exibida no Museu da Imagem e do Som na cidade pau-lista. “Não me acho uma fotógrafa profissional. Apenas gosto do que faço e procuro fazer bem o que proponho”, explica Vanusa, que acredita estar vivendo um reconhe-cimento considerável.

“As pessoas me param na rua, no ônibus e lembram dos meus mate-riais, dizendo que me viram em tal programa de televisão. Fico feliz com isso”.

Sobre ganhar dinheiro com essa arte, ela conta que já ministrou seis cursos no Senac que levam o nome dela. “Trabalhar indiretamente com a fotografia, tem me rendido bem, mas atuar na pedagogia é que paga as minhas contas”.

BRENO FRANCO

Na sala de edição de vídeo da agência de publicidade onde traba-lha, Gildásio Amorim produz mais um comercial de TV no estilo vare-jo, para a maior rede de supermer-cados da cidade. O som dos cliques no mouse do computador, aos pou-cos dá lugar às músicas e à locução, utilizadas no material que está pres-tes a ficar pronto para a veiculação.

O tempo para se dedicar às pro-duções audiovisuais independentes veio sob uma ótica religiosa. Evan-gélico da Assembleia de Deus, Gil-dásio dirigiu e editou as imagens do primeiro longa-metragem genui-namente imperatrizense. O filme “Renúncia” foi lançado em 2012 e atualmente tem a distribuição sob responsabilidade das assembleias de Deus.

A película já vendeu mais de dez mil cópias e é um dos maiores su-cessos do cinema independente do Brasil. A pequena estatura e o jeito tímido só não superam o orgulho de Gildásio ao comentar sobre o su-cesso do filme: “Foi uma surpresa. O reconhecimento foi extraordinário. Hoje o cinema em Imperatriz é mais respeitado”.

Os recursos para o filme vieram

de patrocínios e ajuda da igreja. No total foram gastos R$ 60 mil, custo baixo, porque nenhum dos atores cobrou cachê.

“A história é uma trama que en-volve um dilema entre jovens sobre a vida mundana e a vida com Cris-to”. Apesar de não ter contato com produtores de curtas de Imperatriz e nem fazer parte do Núcleo Inde-pendente de Cinema Experimental (Nice), Gildásio brinda um momen-to que ele considera único para a ci-dade no campo do audiovisual. “Es-tamos abrindo um caminho mais profissional para essas produções. Já estamos planejando mais filmes como esse para serem apresentados nas salas de projeção pelo Brasil”.

Em comemoração aos 400 anos de São Luís, um longa-metragem chamado “Marilha” , foi lançado no fim de 2012. Gildásio foi o respon-sável pela filmagem e direção de fotografia. Para os próximos meses, é esperado o segundo longa impe-ratrizense, intitulado “Renascer”, do qual ele também responde pela direção.

“Esse filme tem um orçamento maior. As filmagens foram feitas não só aqui na cidade, mas também na Bolívia e Suriname. Vale a pena conferir”.

IMAGEMVanusa Babaçu adota esse nome porque considera um dos seus principais trabalhos o retrato da rotina das quebradeiras de coco do interior do Maranhão

Fotógrafa é premiada por trabalho socialROSANA BARROS

Vanusa Babaçu, além de pedagoga é fotógrafa premiada nacionalmente e pretende ir mais longe

Gildásio: ele faz cinema Cia Sotaque reaviva tradições culturaisBRENO FRANCO

Há 11 anos vivendo em Impera-triz, Osório Neto se considera um embaixador da cultura do Bumba Meu Boi na cidade. Com estatura baixa e voz rouca – resultado de vá-rios anos de uso da voz em apresen-tações de dança e canto da cultura maranhense - ele se dedica a geren-ciar um centro de cultura situado na Rua 15 de Novembro, no centro histórico da cidade.

É nesse local que dezenas de dan-çarinos praticam e ensaiam danças como o Cacuriá, Tambor de Crioula e outras, típicas do Maranhão. “Na nossa região, nem sempre as pesso-as valorizam a cultura maranhense. No geral, acham que tudo é coisa de São Luís. Meu trabalho é aproximar isso de modo que a valorização seja maior”.

Para facilitar os apoios gover-namentais e planificar as atuações do projeto Sotaque de Rua, do qual Osório é responsável, todos os anos, em determinadas épocas, o projeto assume uma cara diferente. “No Natal temos a cantata, na festa

junina temos um grupo específico para apresentações e no Carnaval, o projeto Bicho Papão, que resgata as festas tradicionais com as marchi-nhas”.

Osório também explica que exis-tem mais de 40 dançarinos e mú-

sicos profissionais que integram o projeto Sotaque de Rua. “Temos aceitação de quem assiste às apre-sentações. O poder público também ajuda e o projeto acontece”.

São pelo menos duas grandes apresentações do Sotaque na re-gião nos meses entre o Carnaval, Natal ou Festa Junina. Geralmente bairros da periferia conferem essas apresentações de perto. A sede do Sotaque de Rua é um prédio aluga-do no setor da Beira Rio. Local es-tratégico, que reforça o tom festivo dos ensaios.

A contratação de parte das ativi-dades do Sotaque garante a susten-tação do projeto. “Por enquanto a gente depende de doações e de ini-ciativas do poder público em inves-tir nas festividades do calendário de eventos. Mas a nossa iniciativa tem uma importância cultural enorme”.

ROSANA BARROS

Osório Neto, considerado o grande embaixador da cultura popular maranhense na região tocantina, posa ao lado do Bumba meu Boi e alegorias

Gildásio Amorim, em sua sala de edição e vídeo, produzindo o comercial de um supermercado

BRENO FRANCO

“Na nossa região, nem sempre as pessoas

valorizam a cultura maranhense”

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“Senti-me emocionada ao ver muita gente de todo

o país elegiando meu trabalho”

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LITERATURAEspecialista em linguística, Liratelma foi professora de língua portuguesa por mais de 30 anos na UEMA e demonstra muito respeito pela arte de escrever

Escritora dedica tempo à família e aos livrosMARIANA CASTRO

Natural de Cajazeiras, pequeno município do sertão paraibano, Liratelma Cerqueira garante que não foi fácil alcançar o conheci-mento que tem hoje. Acolhedora, de voz mansa, parece escolher as palavras com carinho. Membro da Academia Imperatrizense de Le-tras, é apaixonada pela linguística e foi professora de língua portu-guesa durante 36 anos.

Mãe de quatro filhos e avó de quatro netos, hoje aposentada, Li-ratelma dedica o tempo à família. É formada em letras. especialista em didática do ensino superior e em linguística aplicada ao ensino da língua portuguesa, tendo lecio-nado na UEMA e na Fama. Traba-lho que lhe estimulou a escrever os primeiros textos. “Sempre achei incoerente um professor que não escreve. Principalmente professor de português, como eu era”.

Mesmo sendo filha de profes-sora, não era fácil ter acesso a li-vros. A mãe não tinha formação,

a condição financeira era pouca e por morar no sertão, não encon-trava bibliotecas por perto. “Meu pai chegava da cidade com os re-médios e eu pegava as bulas. Não sabia ler, mas deitava no chão de terra batida e simulava a leitura...inventava historinhas. Penso que já nasci gostando de ler”.

Desde o exercício da profis-são, Liratelma já se envolvia em diversas atividades da área cultu-ral. “Não sou apaixonada apenas pela literatura, mas pela cultura em geral. Adoro teatro, pintura, música, artesanato”. Com a ajuda de alunos e dos teatrólogos Pe-dro Hanay e Mauro Soh, fundou o Grupo Teatral Universitário (Gru-tu), nas dependências da Universi-dade Estadual do Maranhão.

Paixão - Liratelma não tem livros publicados, mas uma vida dedica-da aos textos, tanto que, por puro prazer, hoje revisa monografias e livros sem cobrar pelo serviço. “Eu sou muito tímida e crítica com os textos. Não consigo escrever...e

jogar. Ninguém nasce escritor, o escritor se faz. O texto é uma construção do autor, requer mui-ta paciência. É algo de tijolinho a tijolinho. Tenho muito material guardado, talvez publique”.

O ingresso na Academia de Letras foi por acaso, era uma épo-ca corrida da sua vida. “Foi meio por acaso, não me achava com perfil. Até hoje não sei quem me indicou, mas meu nome foi aceito por unanimidade de votos, o que muito me orgulha”.

Para Liratelma, “só um bom leitor pode se tornar um bom es-critor”. Especialista na área, afir-ma que antes do acesso a qual-quer gramática, se alguém deseja escrever bem, é fundamental que tenha a leitura não como um ato, mas como hábito. “Quem não gos-ta de leitura, jamais vai escrever alguma coisa na vida. Ao longo desses anos, muitos alunos me perguntavam o que fazer para es-crever bem. Minha resposta conti-nua a mesma: Você precisa de três coisas: ler, ler e ler”.

MARIANA CASTRO

Apesar de não ter livro publicado, Liratelma é membro da Academia Imperatrizense de Letras

Gilmar Pereira é autor premiado na área da literatura infanto-juvenil

Tímido, cabelos brancos, voz baixa e escuta atenta. É coisa de escritor, com um mundo próprio, mas tendo que aprender a lidar com o nosso meio. Gilmar Pereira, com oito livros publicados, casado, pai de dois filhos, microempresário e membro da Academia Imperatrizen-se de Letras (AIL), deixa claro que a timidez foi o seu maior empecilho.

Gilmar, como muitos escritores, começou a despertar para a litera-tura bem cedo. Apesar de, na épo-ca, não gostar de ler muito, escrevia inúmeras poesias no rodapé de ca-dernos escolares. “Mas eu escrevia só pra mim, e não para os outros”.

Com formação em letras e lite-ratura brasileira, reconhece que a timidez lhe tirou a possibilidade de

aproveitar melhor os cursos. “Não gosto de aparecer, nem de falar em público. Na época da escola escre-via trabalhos belíssimos, mas nun-ca apresentava bem e tirava notas baixas”.

Gilmar começou a ganhar desta-que na cidade como escritor de lite-ratura infanto-juvenil, o que acon-teceu naturalmente, com o convívio familiar. “As histórias infantis vie-ram por acaso, quando tive meus filhos. Deparei-me com aquelas per-guntas que não tinham respostas e pensei: Poxa, se colocar isso na es-crita, vai ficar muito bom”.

Um grande incentivador e eterno professor de Gilmar é o teólogo e fi-lósofo Vito Milesi, que também foi membro da AIL e faleceu em 2005. “O professor Vito dizia que eu devia escrever fábulas e eu não acredita-

va. Um ano depois da sua morte, continuava ouvindo sua voz: ‘Gil-mar, trabalha a questão da fábula’. Com a primeira que escrevi, ganhei um prêmio de melhor escritor ma-ranhense”.

Foi também Vito Milesi que o convidou para ser membro da AIL, que na verdade exige eleição entre os candidatos, mas com Gilmar foi diferente. “Até hoje não sei como se procedeu a minha eleição, mas a convite dele, já sou membro há 22 anos”.

Apesar de toda essa cobertura de timidez, Gilmar garante que é escritor, por pura vaidade e pela vontade de se mostrar. “Se alguém perguntar por que escrevo, vou responder que é porque sou vaido-so. Não gosto de divulgar a minha imagem, mas o meu nome sim”.

MARIANA CASTRO

Escritor Gilmar Pereira teve como grande incentivador o professor e teólogo italiano Vito Milesi

MARIANA CASTRO

MARIANA CASTRO

Cantador de viola e repentista, João da Cruz, aos 71 anos, nunca desanimou diante das dificulda-des. Delas, vêm as suas rimas e o seu sustento.

Duelando com o sertanejo e as batidas de músicas eletrônicas, mantém as cordas da viola afina-das para os que ainda apreciam a poesia e o improviso.

Trabalhando na roça desde pequeno, João da Cruz aprendeu a fazer rimas com os mais ve-lhos, mas não se atrevia a cantar. “Quando menino eu sentia que ti-nha poesia, mas eu ficava naquele pensamento que minha voz não era boa pra cantar”.

Foi somente aos 29 anos que comprou a primeira viola, mas por falta de tempo e medo de perder o

serviço na roça, ainda se apresen-tava timidamente. As coisas mu-daram quando percebeu que, dali, poderia ganhar um bom dinheiro.

“Uma vez eu fiz uma cantoria com um companheiro, por nome Damião. O povo gostou muito. Foi aí que perdemos o medo e ganhe-mos até um dinheiro de admirar. Foi 9 mil naquela época”, lembrou, aos risos, como quem aproveitou bem a fase de auge dos repentis-tas.

Em 1971, João da Cruz saiu da roça e passou a fazer viagens a Imperatriz, cidade em fase de crescimento, onde encontrou boas oportunidades para a vida de cantador e resolveu morar. Mas os dias ruins logo vieram e foi neces-sário fazer outros trabalhos.

“Fiz quatro anos de profissão, e eu parava de vez em quando pra

trabalhar de feira, de garimpo... e a cantiga acabava ficando menos. Mas eu não largava a viola, né? Pra onde eu ia, achava um repentista

e a gente cantava. A vantagem do repentista é essa, nós canta com qualquer um”.

Hoje, João da Cruz passa as noites de mesa em mesa, nas choupanas de peixarias da Beira Rio, aonde as coisas não vão tão

bem. “Antes o povo gostava mais”, eles eram bem aceitos e recebiam vários convites.

Agora, “com os acontecimen-tos do mundo, as pessoas gostam de mais zoada. Mas o cantador ficou, pois ainda tem gente que gosta”.

A alegria dos cantadores João e seu novo parceiro, Manoel, com uma cantoria improvisada junto à mesinha de um bar, chamou a atenção dos garçons, que ainda organizavam o ambiente.

A repórter acabou virando tema. “Já cantei em São Paulo, já cantei em São Luís. E hoje, pra Mariana, eu canto na Imperatriz. Já cantei em São Luís, cantei na Buritirana, cantei em Fortaleza, cantei lá em terra goiana. Mas só vim ver tanta beleza, no rosto de Mariana”.

Duelando com o sertanejo, repentistas vivem momentos difíceis

“Uma vez eu fiz uma cantoria com um

companheiro, por nome Damião. Foi 9 mil

naquela época”

MARIANA CASTRO

Beira Rio é o lugar onde João mais se apresenta

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ENTREVISTAO atual e o ex-presidente da Fundação Cultural de Imperatriz: Lucena Filho e Gilberto Freire

Aspectos culturais da cidade em debateRAMISA SOARES

Gilberto Freire, jornalista, dramaturgo, professor doutor do curso de letras da Universidade

Estadual do Maranhão (UEMA), ex-presidente da Fundação Cul-tural de Imperatriz, em entrevista

ao Arrocha debate assuntos sobre este novo momento cultural que a cidade vive.

RAMISA SOARES

Lucena Filho é presidente da Fundação Cultural de Impera-triz, e, em entrevista ao Arrocha,

debate assuntos relacionados aos aspectos culturais do município, principalmente no que diz res-

peito à promoção de cultura sem uma organização adequada por parte dos artistas.

MÍRIAN GOMES

Como é que você vê este novo panorama da cultura impera�trizense?

Eu seria injusto se teces-se grandes comentários. Mas, quando eu entrei à frente da fundação, eu queria mostrar que era possível fazer e execu-tar bons projetos, com custo baixo. Este movimento artísti-co cultural nas ultimas décadas tem caído muito. Por exemplo, este teatro que anda se fazendo em Imperatriz não me interes-sa, eu prefiro nem ver, não é te-atro. A qualidade artística tem deixado muito a desejar. Aqui-lo que está sendo produzido é muito descartável.

Porque o poder público não trata a cultura como política de cultura?

Grande parte disso se deve aos próprios artistas. O poder público, na maior parte do Bra-sil e os grandes políticos impe-ratrizenses não se interessam pela questão cultural, sempre foi assim. A grande questão é que certa época a sociedade tra-tava destes assuntos. Hoje, ela é consumista, individualista, ego-ísta e isso reflete no processo cultural.

E em relação ao projeto da

criação de um novo espaço cultural no bairro da Caema? Será que realmente seria ne�cessário?

Não estão dando conta do teatro Ferreira Gullar como associação e querem mais um espaço? A questão não está em espaço. Por exemplo: nós tínha-mos uma galeria de arte ao lado da fundação, que, aliás, tem uma localização excelente. A galeria está lá, nem existe mais. Tínhamos que primeiro tomar conta dos espaços existentes. O grande problema de Impera-triz é fazer com o que o poder público e os próprios artistas tenham compromisso com a questão cultural.

Existe um movimento efetivo de cultura em Imperatriz?

Muito desorganizado, por sinal. Seria necessário que to-dos os segmentos culturais ti-vessem uma participação ativa nas políticas públicas de cultu-ra. Hoje a arte que se produz, é para o mercado e quem faz

arte para ser consumida, é para se consumir e jogar fora, não tem continuidade e deveria ter. Todo processo que tivemos há um tempo, foi um movimento de guerrilha, de luta. Hoje, você reunir três artistas é muito di-fícil.

Quais as barreiras objetivas que o senhor enxerga para o fomento à cultura local?

O problema de Imperatriz, como eu disse antes, não são os novos espaços. É simples-mente renovação, organização dos espaços já existentes e do meio artístico. Porque este tea-tro que tenho tido notícias, não é teatro. A música local então, com artistas da década de 1980, ultrapassada, eu tô cansado dela. Artes plásticas eu ainda não vi, e artesanato, pelo amor de Deus! Aquilo que se cria aqui é cópia de outros que existem no Brasil.

De que modo Imperatriz pode sair do marasmo que domina a cultura local?

Nós temos o culto da me-diocridade. Artistas fazem arte que não é arte, juntamente com uma população condicionada. Esta é a realidade. Quando os próprios artistas se propuserem a isso, abriremos um novo ni-cho cultural.

MIRIAN GOMES

Qual papel a �undação Cul�ual papel a �undação Cul�tural desempenha enquanto órgão público?

A Fundação Cultural de Im-peratriz representa como se fosse a Secretaria de Cultura do município. Sobretudo ela serve para dar apoio aos movi-mentos culturais. Para atender as demandas, promover o ca-lendário cultural da cidade e as atividades culturais de todo os seus segmentos.

Imperatriz é muito deficiente em projetos culturais. A que isso se deve? Porque demo�ram tanto para serem viabi�lizados?

Toda ação de cultura é uma ação bilateral, tanto dos pro-motores no que diz respeito aos projetos, quanto da insti-tuição. Para se viabilizar um projeto junto ao Ministério da Cultura é necessário uma série de documentos em dia. Isso é dificultado, muito em função dos fazedores de cultura que não procuram se organizar ju-ridicamente.

A �undação Cultural tem conseguido atender e atuar em todos os segmentos no que diz respeito à culturali�zação?

Temos atuado em pratica-mente todos os segmentos. Nas artes plásticas reforma-mos e reativamos a galeria, já fizemos várias exposições na área musical. Criamos espaços na questão literária, já “confec-

cionamos” mais de quatro mil livros. As demandas vão apare-cendo e aqueles que vão sendo viabilizados, vamos executan-do, mas temos trabalhado nas diversas áreas da cultura.

Como a �undação Cultural tem conseguido atingir a classe estudantil?

Com o projeto “Nossa arte na escola”, que já está no seu terceiro ano. Já atingimos mais de 20 mil crianças e adolescen-tes diretamente. O projeto é coordenado pelo músico Zeca Tocantins, em uma parceria junto ao Juizado da Infância e da Juventude e uma ação da

Fundação Cultural. Uma vez por semana levamos um autor da Academia Imperatrizense de Letras, para que os estudantes conheçam os escritores e, além disso, doamos os livros para que passem a valorizar a litera-tura de Imperatriz. Afinal, só é valorizado quem é conhecido.

De que forma a �undação Cultural tem se posiciona�do em relação ao projeto da criação de um novo espaço para cultura no bairro da Ca�ema?

Este projeto partiu da so-ciedade civil. Nossos espaços culturais não atendem mais as demandas que se está exigin-do. O nosso teatro não entra no circuito nacional por ser de porte pequeno e qualquer evento hoje, como o São João é uma dificuldade para se encon-trar um espaço.

Porque as políticas públicas de cultura não funcionam em Imperatriz?

É por esta razão que não dá mais para se fazer cultura sem organização. Por isso vamos implantar um sistema munici-pal de cultura, com a presença de um conselho, para que pos-samos atender estas demandas financeiras necessárias à exe-cução dos projetos.

“Este teatro que anda se fazendo na cidade,

eu prefiro nem ver, não é teatro”

“Os nossos espaços culturais não atendem mais as demandas que

se está exigindo por parte da população”

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HYANA REIS

“Com pouca opção ia lá pro Cal-çadão, tirava CD da mochila e fazia promoção. O pouco que vendia, vendia micharia, estava preocupa-do com o pão de cada dia”. A can-ção quase falada ao som da batida pesada e compassada revelam a re-alidade de um morador da periferia de Imperatriz.

O trecho é da letra “Lamentos”, dos Mc’s Fábio Bonfim e Marcos Fly, adeptos do rap, um segmento do movimento hip hop.

Bonfim foi o primeiro a se tor-nar um MC. A sua empreitada no rap começou em 1990, por meio do funk. Do preconceito e da rixa com a polícia é que surgiu o grupo do qual faz parte. “Um grupo de ami-gos curtia ouvir rap, mas por ser-mos da periferia, ouvindo esse tipo de música, sempre que a polícia passava nos revistava”.

A revolta deu origem ao nome do grupo: “1° DP”, “queria dizer ‘dane-se a policia”, comenta rindo. Com o passar do tempo o nome mu-dou, mas a sigla continua a mesma. “Agora somos o Depoimento Pesso-al, porque quando você vai à dele-gacia tem que prestar depoimento”.

Hoje, com 20 anos de existência e membros dos quatro segmentos: rap, DJ, B-Boy e grafite, Bonfim ga-rante que o objetivo é denunciar a realidade da cidade, em especial das periferias. “É o nosso jeito de fazer alguma coisa, denunciar por meio da música”.

Compartilhando desta mesma vontade, surgiu a parceria com Marcos Fly. “Eu não gostava de hip hop, achava feio, tinha preconceito. Conheci o grupo e estamos juntos há muitos anos”, revela o MC.

A grande paixão é o rap, mas para sobreviver Bonfim trabalha como agente de endemias. “Nada a ver com o hip hop?”, questiono. “Você se engana”, afirma Bonfim. “Nesse trabalho eu ando por toda cidade e conheço a realidade de muitos lugares. É daí que surge a minha inspiração”.

Conquistas - Na luta pelo reconhe-cimento do movimento em Impera-triz, o grupo Depoimento Pessoal já obteve muitas conquistas. “Ganha-mos a categoria aclamação popular no Festival de Música de Imperatriz (FMI)”, conta Bonfim. “Também já fizemos abertura de show para os Racionais”, adiciona Fly.

Apesar das conquistas, a dupla afirma que ainda há um grande ca-minho a percorrer. “Temos um so-nho de lançar um CD, de viver do

rap, mas falta apoio principalmen-te da Fundação Cultural”, reclama Bonfim.

E mesmo com as dificuldades e o

preconceito, são enfáticos ao dizer que o que vale é a luta pelos mo-vimentos. Bonfim confirma: “o hip hop é nossa vida”.

MARIA FELIX

Jovem de Imperatriz, o B-Boy Junior, como é conhecido na dan-ça, é um dos quatro elementos que compõe o movimento de hip hop do grupo Gospel Dance.

Com 30 anos de idade, relata com satisfação seu envolvimento com a arte de dançar. Mesmo em poucas palavras e um breve sorri-so, expressa a certeza do que gosta de fazer: “Gosto de dançar porque é algo que me liberta. A dança me inspira quando sinto a batida”.

Com 18 anos de experiência, começou os seus primeiros movi-mentos em praças públicas da ci-dade, formando um grupo de ami-gos e passando a se apresentar em campeonatos. Desde então, B-Boy Junior organiza eventos e progra-

mas que reúnem todos os elemen-tos do hip hop, como o grafite, o DJ, o MC e o B-Boy. Revela que um dos momentos mais marcantes no hip hop foi quando se apresentou no campeonato de Balsas (MA), onde

se reuniu uma grande multidão de pessoas assistindo a apresentação. “Foi lá que nós conseguimos ganhar um campeonato realizando todos os movimentos que treinamos”.

Atualmente está no ministério Gospel Dance, composto por oito

integrantes, em que participa de palestras e congressos. Costuma se apresentar em igrejas, univer-sidades e locais públicos. Destaca que o objetivo do grupo é promo-ver a união de todos, participando de uma só festa, sem brigas e sem rivalidades. Garante que a dança, além de passar saúde, determina a vontade de vencer. Relata ain-da, que pessoas foram libertas por meio do hip hop, pois deixaram de usar drogas motivadas pelo movi-mento da dança.

Argumenta que tem a dança não só como hobby, mas como pro-fissão. B-Boy Junior prestigia seu trabalho como algo saudável para vida. Para ele, o ritmo da dança transforma tristeza em alegria. “O hip hop me tirou da vida que eu vivia e me deu uma família’’.

PERIFERIAEntre tantos ritmos manifestados na cidade de Imperatriz, o rap e o hip hop vem revelando a realidade de quem mora nas periferias da cidade

“O hip hop é a nossa vida”, diz dupla de rapSARON ALENCAR

Por meio da dança, o B-Boy Junior encontrou inspiração e confiança

“Gosto de dançar porque é algo que me liberta. A dança me inspira

quando sinto a batida”

SARON ALENCAR

Na dança, o B-Boy Junior encontrou inspiração para ter uma vida saudável com a sua família

ADRIANA DE SÁ

“Comecei aos 25 anos na pro-fissão e na arte do grafite. Eu trabalhava em uma fábrica, per-sonalizando bonés. Foi aí que me despertou o interesse pela arte’’. O depoimento é do artista do grafite Rubén Augusto Montanha, natural do Paraná e há sete anos em Impe-ratriz.

A arte do grafite é uma forma que os artistas encontram de ma-nifestar sua visão de mundo em espaços públicos. Está ligada bem diretamente, a vários movimentos, em especial, ao hip hop.

Antes, a arte do grafite era vis-ta como um ato de vandalismo, ou até poluição visual. Porém, hoje é caracterizada como uma qualida-

de artística. “No primeiro ano foi muito complicado. Eu não tinha muitos clientes. Mas, a clientela começou a surgir e as coisas fo-ram melhorando, já tive como me manter’’, lembra-se Rubén a res-peito das dificuldades do início de sua profissão.

Quando chegou à cidade acom-panhou por um ano e meio Tony, outro artista. Com o passar do tempo se desvinculou do amigo e passou a seguir por si só em sua carreira.

“Um trabalho que antes eu de-morava todo um dia, hoje faço em duas horas. O serviço é bem mais rápido devido à experiência. Já fiz trabalhos em muros de faculda-des, praças, lojas e vários outros locais’’.

Olhos claros, cabelos longos e com uma aparência despojada, Ru-bén Augusto faz geralmente tra-balhos externos, mas o espaço em sua casa também serve para soltar a criatividade.

Pinturas em geral, desenhos, decorações de ambientes, faixas e até trabalhos artísticos em es-paços públicos, como o que se encontra em uma praça de Impe-ratriz, fazem Rubén Augusto ser o artista que é.

A arte do grafite deixou de ser encarada como vandalismo e hoje é vista como qualidade artística. Os materiais utilizados pelos gra-fiteiros vão desde latas de spray até o látex e além é, claro, da criativi-dade. A cidade agradece esses pro-fissionais da arte.

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Grafite: a arte que transforma o espaço

Na foto, Fábio Bonfim (camisa Zona Sul) e Marcos Fly (boné branco). Os rappers formam uma dupla nas composições das letras críticas do hip hop

Admirando sua arte, na Praça Mané Garrinha, o grafiteiro Rubão conta que já fez vários trabalhos

SARON ALENCAR

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CRIAÇÃOProfissões já esquecidas no atual mundo moderno, resistem ao tempo trazendo de volta velhas brincadeiras e atividades antes consideradas ultrapassadas

Eró Cunha e a arte de se contar histórias

MÍRIAN GOMES

A figura do contador de histó-rias reapareceu com grande vigor, encantando e trazendo magia ao mundo, com os contos e as fanta-sias. A arte de contar histórias torna o contador venerado pelos seus se-melhantes. Ele é admirado pelo pra-zer que espalha por meio dos seus relatos.

Escolas os convidam para a “hora do conto”, como forma de in-centivar a leitura e ofertar um mo-mento de lazer aos alunos. Nesses casos, então, o contador de histó-rias seria um “mediador de leitura” ou “agente de leitura”? Sendo assim, ele seria um “artista performático”?

“Contar histórias merece, então, o status de “arte”?

A educadora Eró Cunha há 15 anos tornou a descontração de con-tar histórias uma profissão. “Este mundo das histórias sempre me fas-cinou, contava aos amigos, à famí-lia”, afirma.

A literatura de cordel fez parte da infância e a influenciou bastan-te no despertar desta profissão. Mas foi a participação em grupos de tea-tro que representou a porta de en-trada para o mercado de contadora.

Entre as atividades de rua, em praças, associações, que apresenta-vam, os integrantes do grupo passa-ram a fazer eventos infantis. Contar histórias segundo Eró, é mais do que

fazer teatro, porque há uma parti-cipação efetiva do ouvinte. “Contar histórias é uma arte milenar, de en-sinar por meio dos contos. De con-seguir transformar algo abstrato em concreto, através dos gestos e do uso do corpo”.

Para a artista, esta forma de ensinar torna mais fácil o apren-dizado. Por isso, a caracterização é tão importante. “Há contadores que não gostam de caracterizar-se, mas como eu venho do teatro de palco, eu uso muito do visual e do sonoro. Utilizei as técnicas para fazer parte dos eventos que apresento”.

Liberdade - Alias, é quase impossí-vel ver um contador de história e

contos sem um personagem, com seus efeitos e suas roupas chama-tivas, que despertam o imaginário e trazem as pessoas para dentro do texto que se está ouvindo.

Todo contador se sente livre para fazer sua própria encenação. “Por isso que contar histórias é uma arte livre, cada um tem seu jeito próprio de fazer”.

Os textos adaptados são ence-nados sempre com muitos gestos e objetos. Principalmente quando se trata de crianças há um apelo maior, uma vez que com adultos não são necessários tantos artifí-cios. “As crianças precisam de ele-mentos concretos, para assimilar aquilo que elas estão ouvindo”.

A participação ativa no Centro de Cultura Negra trouxe um apelo maior para suas histórias. “Vi uma necessidade de se falar das histó-rias afro-brasileiras, para que as crianças pudessem conhecer um pouco da cultura negra”. Este é um projeto junto às redes municipais e creches, que está se expandindo em toda região.

A arte de contar é uma ativida-de atraente e gostosa para quem se disponibiliza, pois torna o ser hu-mano melhor.

“Eu me sinto mais aberta e te-nho aprendido muito sobre a arte de escutar e ter retorno das demais pessoas. Não se faz histórias sem escutar”.

Em suas mãos está o dom de confeccionar instrumentos musicaisMÍRIAN GOMES

De prosaicas tábuas de compen-sado ou madeira, a arte caminha a seu tempo na fabricação artesanal de instrumentos musicais. O trabalho minucioso a partir de mãos habili-dosas e ferramentas semelhantes aos usados por luthiers em tempos ime-moriais mantém uma tradição secu-lar.

É atividade, bandeira inimiga da pressa formal das escalas industriais e suas séries de instrumentos fabrica-dos por máquinas sem vida ou perso-nalidade. No produto confeccionado pelo luthier há os segredos da mão, o despejo dos sentimentos na madeira e a arte esculpida e reproduzida em acordes e dedilhados, tempos depois, pelos instrumentistas compadres, unidos na arte musical.

Assis, 51 anos, possui 17 anos de experiência em lutheria. É especia-lizado em instrumentos de cordas, tais como guitarras, violões, violas. Aprendeu o ofício com o irmão, que também é luthier. “O luthier trata do instrumento musical de corda. Do

menor ao maior, do mais simples ao mais complexo. Na realidade ele é um cirurgião plástico, e o artista é quem o toca”.

Os instrumentos são feitos sob encomenda. Ele se encarrega, sozi-nho, da produção artesanal de cada objeto, dando atenção exclusiva aos detalhes e tornando cada peça uma

obra de arte. “O tempo é lento de construção, pois é um material muito especifico, depende mais do cliente do que do luthier”.

Restrições - Há umas décadas o tra-balho de luthieria vem sendo restrito por conta da competição com as in-dústrias, que fabricam os instrumen-tos em grandes escalas.

Enquanto no mercado se pode

encontrar instrumentos de corda por preços baixos, um original feito por um luthier chega a custar, dependen-do do produto, de R$ 2 mil a R$ 8 mil.

“Para nós não está compensando mais fazer este tipo de serviço. Sai cara a construção. Além da compe-tição, a industria faz 300 enquanto nós fazemos um ou dois por meses”.

O trabalho de luthier, embora possa ser a primeiro momento con-siderado artesanal, o profissional ga-rante que vai mais além. “É um tra-balho muito específico. O artesanato pode se modificar a forma dele, o nosso não”. Na construção dos ins-trumentos ele diz que é fundamental a participação do cliente, mas tem limite. “Nós temos segredos que não devem ser revelados. Tanto que só deixo o cliente ver após algum tempo de criação”.

Segundo ele, a profissão de lu-thier não tem nada de arte. É um ofício como outro qualquer. “Eu só quero ter a sensação de dever cumpri-do quando escutar o cliente tocar o instrumento. Na realidade, é um filho que vai embora e não é mais meu”.

RAMISA FARIAS

RAMISA FARIAS

Assis é luthier há 17 anos. Apesar da modernidade, a profissão resiste ao tempo com dedicação

Educadora e também atriz, Eró Cunha há 15 anos transformou a arte de contar histórias em uma de suas profissões. Ela utiliza bonecos de mão e outros artificios para chamar a atenção de seus ouvintes. Para ela, este metódo torna mais facil a aprendizagem

“Nós temos segredos que não devem ser revelados.

O cliente só vê após algum tempo de criação”

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BRENO FRANCO

Há 20 anos, o radialista Zé Fi-lho começou a promover eventos em Imperatriz. A parceira em qua-se todo esse tempo foi a Rádio Ter-ra FM, que trabalhava a divulgação da maior parte dos shows musicais trazidos por ele para a cidade. Baixi-nho, estilo vozeirão, Zé Filho franze as sobrancelhas grossas ao comen-tar sobre as atrações que já trouxe para as casas noturnas e arenas de shows de Imperatriz.

“Zé Ramalho, Ivete Sangalo, Fag-ner, Eric Donaldson, são artistas que trouxemos e que fizeram bastante sucesso nas bilheterias daqui”. Mes-mo sendo um admirador de música alternativa, Zé Filho não mistura negócios com seu gosto pessoal. “Eu gosto de muita coisa diferente. Uma MPB, um Kid Abelha, mas eu não posso deixar de levar ao grande pú-blico o que ele quer ver. Coisas mais populares, entende?”

Entre os trabalhos do promotor de eventos, está o contato com a produção dos artistas para possibi-litar a realização dos shows no local solicitado. Feita a negociação, há um acordo com os veículos de comuni-cação, que vão divulgar o espetácu-lo.” O lucro desses shows é calcula-do por porcentagem e, no fim, cada um leva o que foi combinado. O má-

ximo que eu já vi alguém lucrar com um show por aqui foi R$ 100 mil”.

Das exigências mais pitorescas

feitas por um artista trazido por ele, Zé Filho nos revela que foi na apresentação do cantor de reggae, o

jamaicano Eric Donaldson. “Ao che-gar à cidade o Eric me disse que só subia no palco se a produção conse-

guisse maconha pra ele. No fim das contas, ele cantou só metade do que tava no contrato porque não tinha maconha”.

Futuro- O promoter está em uma nova fase na carreira. Confirmou que vai trabalhar com a coordena-ção de evento de outra emissora de rádio e que agora é sócio da Levada Elétrica, a maior agência de eventos da cidade. Empolgado, o radialista que, em um show da banda baiana Chiclete com Banana, reuniu um pú-blico de 20 mil pessoas, afirma que vai diversificar as atrações. Além do sertanejo, pop, forró e calypso, vai investir também na axé music e pa-gode. “Espero que a cidade aprove. Uso as redes sociais como termôme-tro para descobrir o que o povo quer ver nos palcos. Geralmente a gente acerta”.

O segredo, segundo Zé Filho, é ter credibilidade e sempre acertar no gosto da maioria. “Tem que ter faro e investir no que dá público. Porque não é barato trazer artista de nível nacional”. Zé Filho mostra um catálogo com nomes que são metas para as próximas festas que pretende organizar. Mas, ressalta que a preferência é de quem lidera o que toca nas rádios do Brasil. Essa é a principal garantia de que a plateia vai corresponder.

BRENO FRANCO

Em um estúdio de áudio do cen-tro da cidade, a fala calma, mas nem por isso compassada, se dirige ao operador de áudio. É preciso gravar mais rápido para encaixar a locução ao tempo que o texto exige na pro-paganda de 30 segundos de um dos shows de artistas regionais em uma cidade vizinha.

Wacy Freitas tem experiência de 14 anos em realizar espetáculos de vários estilos musicais nas cidades da região. A vestimenta formal de um corpo franzino corrobora com a combinação de imagem marqueteira e esforço quase que de porta em por-ta, na busca por patrocínio para os shows que ele promove.

Do brega ao gospel, o radialista e apresentador de televisão dispõe de tempo extra para investir em shows dos cantores de apresentações de pe-queno e médio porte. “Eu costumo analisar o preço do show do artista, vejo o potencial dele e tento trabalhar em cima da publicidade pra ver se dá público”, explica Wacy sobre o pro-cesso de trabalho na promoção dos shows.

Ele ainda conta que quando o ar-tista consegue sucesso em determina-da região, as chances de ganhar muito dinheiro em algumas cidades é certa. “Tem show em que a gente fatura até mais de dez mil. Mas tem alguns que a gente fica devendo até o aluguel do equipamento de som. Depende de quanta gente vai dar no show”.

O número de casas de espetácu-los aumentou na última década em Imperatriz. Os locais de grandes sho-

ws não são mais viáveis por causa dos gastos em manter estes espa-ços. Atualmente, apenas o Parque de Exposições Lourenço Vieira da Silva recebe grandes eventos. Por isso, casas noturnas lucram com a venda de ingressos para apresenta-ções de artistas regionais que pro-duzem hits do momento, os quais

acabam caindo no gosto popular. Algumas rádios locais contri-

buem para a divulgação e massi-ficação de artistas populares. Não são raras as parcerias entre promo-ters e emissoras de rádio para a re-alização de turnês que objetivam boas vendas de ingressos e shows lotados de fãs..

DIVERSÃOPromotores de eventos ganham espaço e dizem que a profissão exige responsabilidade e faro para escolher as músicas que o público gosta de ouvir

Promotores de eventos ganham público

Zé Filho já teve a oportunidade de trazer várias celebridades para Imperatriz. Dentre os mas famosos estão Ivete Sangalo e Chiclete com Banana

O radialista e apresentador Wacy Freitas canta e encanta público variando do brega ao gospel

BRENO FRANCO

Empresário e músico agita o mundo do heavy metalBRENO FRANCO

Empresário do ramo madei-reiro, Bruno Aguiar realiza pelo menos duas edições do “Metal Caos Festival” todos os anos, des-de 2002. Na 19ª edição, uma ban-da canadense foi a principal atra-ção do evento. Os cabelos longos e as tatuagens no braço e pernas são características do headbanger. É como são chamados os apre-ciadores das várias verten-tes do heavy metal, que fa-zem questão de balançar as cabeças quando o som é convi-dativo para tal ato.

“A gente aprecia o som e faz os eventos porque gosta de tocar e trazer o pessoal pra uma espécie de intercâmbio, porque dinheiro mesmo não dá”. Sobre o metal mais pesado, Bruno é enfático: “Temos que nos unir e garantir a sobrevivência do metal, nem que seja tocando sempre para um pú-blico pequeno. O que nos conso-la é que todos que acompanham a gente são nossos amigos”.

Como parte da música alter-nativa em Imperatriz, o heavy me-tal tem algumas centenas de apre-ciadores na cidade. Em eventos como o Metal Caos, uma média de 300 pessoas costuma compa-recer nos locais de shows. Geral-

mente são espaços pequenos e com pelo menos três bandas se apresentando uma atrás da outra no palco.

“Eu e minha esposa nos apre-sentamos separadamente com as nossas bandas. Vivemos uma vida social sem recalques e sem-pre sendo nós mesmos”, desaba-fa Bruno, que passa a maior par-te do tempo trabalhando em um escritório da família na cidade

de Dom Eliseu, no estado do Pará. Ele atua na área de com-pra e transporte de madeira para Imperatriz.

Como for-ma de manter o

público informado sobre os sho-ws, Bruno e mais três integrantes da banda Mortos, da qual ele é baterista e líder, lançam mão de propagandas patrocinadas no rádio e na TV. “Não temos grana pra investir em propaganda. Por isso a gente pede patrocínio para os cartazes com os pais de ami-gos que curtem o ritmo e para os amigos que trabalham nos meios de comunicação. Assim, a gente consegue alguma coisa de divul-gação”.

Sobre o dinheiro arrecada-do na bilheteria e com a venda de bebidas, Bruno comenta que tudo se reverte em benefícios para as bandas se aparelharem e continuarem as apresentações.

“Eu e minha esposa nos apresentamos

separadamente com as nossas bandas”

Radialista investe nos artistas e busca aventura no ramo de produção de shows

BRENO FRANCO

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