Arroz de Sequeiro Cultivo

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Cultivo do Arroz de Terras Altas

Caractersticas da Cultura

A cultura do arroz de sequeiro, pouco exigente em insumos e tolerante solos cidos, teve um destacado papel como cultura pioneira durante o processo de ocupao agrcola dos cerrados, iniciado na dcada de 60. Este processo de abertura de rea teve seu pico no perodo 75-85, em que a cultura chegou a ocupar rea superior a 4,5 milhes de ha. O sistema de explorao caracterizava-se pelo baixo custo de produo, devido baixa adoo das prticas recomendadas, incluindo plantios tardios. A significativa ocorrncia de veranicos fazia com que a cultura apresentasse uma produtividade mdia muito baixa, ao redor de 1 t/ha, sendo considerada como de alto risco e gerando centenas de casos de Proagro (Seguro agrcola). Apesar desse panorama pouco promissor, a pesquisa nesse perodo, j oferecia um leque de alternativas para minimizao da adversidade climtica, incluindo cultivares tolerantes seca, classificao do grau de risco dos municpios produtores, adequao da poca de semeadura e do ciclo da cultivar, preparo de solo e manejo de fertilizantes visando aprofundamento radicular e aumento da reserva til de gua do solo, alm de tcnicas do manejo integrado de pragas, doenas e plantas daninhas. Com a progressiva reduo das reas de abertura, em meados da dcada de 80, a rea cultivada com arroz sob o sistema de cultivo de sequeiro, foi sendo gradativamente reduzida, ao mesmo tempo em que a fronteira agrcola se moveu no sentido sudeste-noroeste. A conseqncia desse movimento foi a reduo do risco climtico, o que tornou mais propcia a aplicao das tecnologias recomendadas pela pesquisa. Para estas novas e promissoras reas, a criao de cultivares de tipo de planta moderno (estatura e perfilhamento intermedirios, folhas eretas), de maior potencial produtivo e gro do tipo "agulhinha", alm do crescimento do nvel de insumos aplicados, motivado pela melhor relao custo/benefcio, trouxe tambm um substancial aumento da aceitao do produto pela indstria e consumidores.Apesar da expressiva reduo da rea cultivada (-50%), que hoje perfaz apenas 2,2 milhes de ha, a produo se manteve nos mesmos nveis da dcada de 70, devido ao grande aumento da produtividade, que cresceu para 2 t/ha (50%). Este aumento da produtividade mdia bastante animador; contudo, ainda est muito aqum do que possvel obter com a nova cultura, ora denominada de "arroz de terras altas". Em lavouras bem conduzidas, em reas favorecidas quanto distribuio de chuvas, como no Centro-Norte do MT, pode-se alcanar mais de 4 t/ha, enquanto em nvel experimental, tem-se obtido at 6 t/ha. A insero do arroz como componente de sistemas agrcolas de sequeiro vem ocorrendo de forma gradual, especialmente na regio Sudoeste e Centro-Norte do Mato Grosso. Alm do bom rendimento nessas condies, o arroz promove o desempenho de outras culturas, como a soja, quando utilizado em rotao e/ou sucesso. Atualmente, a pesquisa com a cultura do arroz de terras altas, prioriza aes, que visam consolidar a presena da cultura em sistemas de produo de gros nas regies favorecidas dos cerrados e, especialmente, adapt-la ao sistema de plantio direto, que oferece vrios desafios. Tambm fazem parte da agenda, o consrcio de arroz com pastagem, no Sistema Barreiro (renovao de pastagem degrada) e no Sistema Santa F (integrao lavoura-pecuria), assim como o sistema sob irrigao suplementar e o de abertura de novas reas. Neste documento, coloca-se ao alcance dos usurios, os conhecimentos e tecnologias resultantes da pesquisa de Embrapa e suas parceiras, obtidas ao longo de quase 30 anos de experincia com a cultura, envolvendo socioeconomia, mercado, melhoramento, manejo da planta, solo e fertilidade, manejo integrado de pragas, doenas e plantas daninhas, entre outras linhas relevantes. Espera-se que venham a estimular e que possam promover a explorao da cultura do arroz, no ambiente dos cerrados, de forma sustentvel e competitiva.

Importncia Econmica

At a dcada de 70 a produo do arroz de terras altas e do arroz irrigado eram complementares no abastecimento nacional e a concorrncia entre eles era baixa, pois os produtos se dirigiam diferentes mercados consumidores. A partir de meados dos anos 70 o arroz irrigado passou a dominar a preferncia nacional e obter maiores cotaes no mercado. Neste aspecto, ressalta-se que a mudana de preferncia do consumidor provocou um aumento da rea cultivada do arroz irrigado. A partir do incio da dcada de 80, a produtividade mdia nacional apresenta uma tendncia de crescimento.

Com essas mudanas, a rea de cultivo com arroz de terras altas reduziu, mas a produo cresceu e a qualidade melhorou, com isso, recuperou parte do prestgio que havia perdido. A perspectiva que a produo dos diferentes ecossistemas continue desempenhando um papel de complementariedade, mas com uma certa concorrncia. Mas, essa concorrncia no deve ser acirrada, pois a curto prazo, nenhum sistema sozinho capaz de atender a demanda interna. No entanto, na competitividade do arroz no est circunscrita a disputa entre o arroz de terras altas e arroz irrigado, mas sim a organizao da produo.

Com o propsito de oferecer subsdios que permitam um melhor entendimento do assunto apresenta-se um breve retrospecto das histria recente da cultura, considerando os avanos, mudanas tecnolgicas e de preferncia de consumo, aliados conjuntura macroecnmica.

Apesar da pulverizao da produo, pode-se dividir a produo de arroz no Brasil, em trs plos: o primeiro a Regio Sul, com destaque para o Estado do Rio Grande do Sul, o segundo a regio Central, abrangendo os Estados de So Paulo, Minas Gerais, Gois, Mato Grosso. O terceiro plo, o estado do Maranho que, alm da importncia histrica na produo, na dcada de 90 foi o terceiro maior estado produtor deste cereal.

No perodo de 1970 a 1975 ocorreram variaes nos preo, mas o arroz de terras altas continuou com o preo mais alto. Em 1975, houve uma inverso, mas o domnio do arroz irrigado passou a vigorar a partir de 1980. Ressalta-se que nesse processo, ocorreu uma ligeira mudana do perfil do produtor de arroz de terras altas, principalmente no estado do Mato Grosso e que o nvel de exigncia do consumidor foi fundamental na determinao dos rumos do processo produtivo. Outro componente importante foi a mudana do papel do governo, que era o maior comprador e vendedor de arroz. Um aspecto relevante tambm a ser mencionado que o governo no primava pela qualidade, ou seja, no havia estmulo para que se produzisse com qualidade, mas sim quantidade.

No perodo de 1994 a 2001, observou-se que a participao mdia do agronegcio no produto interno bruto - PIB foi cerca de 30,5%, enquanto o PIB da agricultura foi 21,5% e da pecuria foi de 9%, caracterizando o agronegcio e respondendo por cerca de um tero da economia nacional. Neste contexto, a rizicultura ocupa uma posio de destaque no agronegcio brasileiro pois, no perodo de 1990 a 2002, respondeu por 6,88% da renda agrcola total, sendo o sexto produto em renda, ficando atrs da soja (18,47%), cana-de-acar (13,94%), milho (13,68%), laranja (7,67%)m e caf (7,38%).

Apesar das importantes inovaes tecnolgicas conseguidas nas dcadas de 80 e 90, a rizicultura de terras altas tem dois grandes desafios; o primeiro, a consolidao da cultura de forma sustentvel nos diferentes sistemas de produo de gros, especialmente sob plantio direto e o segundo a mudana do perfil do rizilcultor, ainda falta muito para se alcanar um estgio que possa classific-los como profissionais na cultura.

No mbito mundial, o arroz cultivado nos cinco continentes, tanto em regies tropicais como temperadas. A sia a principal produtora, nela concentra-se mais de 90% da produo mundial. Os pases que se destacam so: China, ndia e Indonsia que respondem, respectivamente, por 30%, 23% e 8% da produo mundial. Nos ltimos dez anos, na Amrica do Sul e na frica, a produo de arroz cresceu, respectivamente, a uma taxa mdia de 3,2% e 3,6% a.a. A expectativa para o prximo decnio que a taxa de crescimento no ultrapasse a 2,5% a.a. Essa projeo se apoia, principalmente, na premissa que no vo ocorrer novos ganhos de rendimentos. Nos grandes pases asiticos a produo de arroz suficiente para atender o consumo domstico. Pases como China e Indonsia, exercem grande influncia no comportamento do mercado mundial, haja vista que so grandes produtores e possuem alto nvel populacional.

O consumo de arroz teve um forte progresso nos ltimos trinta anos. Os padres de consumo podem ser classificados em trs grandes modelos. O modelo asitico que corresponde a um consumo mdio per capita superior a 100 kg a.a. Neste grupo h pases que o consumo alcana at 200 kg. a.a. Um exemplo desse grupo a China, que apresenta um consumo anual mdio de 110 kg per capita. O modelo subtropical apresenta um consumo per capita mdio que varia de 35 a 65 kg a.a. O Brasil um pas representativo desse grupo, o consumo mdio gira em torno de 45 kg. a.a. de arroz beneficiado. No modelo ocidental o consumo per capita mdio baixo, cerca de 10 kg. a.a. Como exemplo desse grupo pode-se citar a Frana com um consumo per capita de 5 kg a.a.

Existem dois grandes mercados de arroz no mundo. O mercado de alto padro e o mercado de baixo padro. As diferenas de padres so definidas basicamente, pelo percentual de quebrado. Nas cotaes de preos internacionais somente se distinguem as seguintes caractersticas: pas de origem, percentual de arroz quebrado, aromtico ou no aromtico, parbolizado ou branco.

Para se fazer uma prospeco da rizilcultura brasileira com um certo grau de confiabilidade uma tarefa difcil, porque alguns pontos considerados estratgicos no esto claros, por exemplo, a) indefinio quanto o grau der interesse por parte dos planejadores de poltica pblicas pelo produto; b) desdobramentos do aumento do processo de verticalizao e concentrao nas empresas privadas no mercado de alimentos; c) a postura nos itens anteriores e vo determinar se o pas vai se inserir no mercado internacional como importador ou aumentar a dependncia de importao para abastecer o mercado interno, cujo o eventuais fornecedores seja os pases ricos, que continuam aperfeioando suas produes com o objetivo de conquistar novos mercados.

Clima

No Brasil, o arroz de terras altas uma das culturas mais influenciadas pelas condies climticas. Em geral, quando as exigncias da cultura so satisfeitas, obtm-se bons nveis de produtividade. Entretanto, quando isso no ocorre, pode-se esperar frustraes de safras, que sero proporcionais durao e intensidade das condies meteorolgicas adversas. Essa cultura submetida a condies climticas bastante distintas, pelo fato de ser semeada em praticamente todos os estados, em latitudes que variam de 5 Norte at 33 Sul.

A durao do dia, definida como o intervalo entre o nascer e o pr do sol, conhecida como fotoperodo. A resposta da planta ao fotoperodo denominada fotoperiodismo. Sendo o arroz de terras altas uma planta de dias curtos, (dez horas) tem seu ciclo diminudo, antecipando a florao. O fotoperodo timo considerado o comprimento do dia no qual a durao da emergncia at a florao mnima.

A temperatura do ar um dos elementos climticos de maior importncia para o crescimento, o desenvolvimento e a produtividade da cultura do arroz. Cada fase fenolgica tem a sua temperatura crtica tima, mnima e mxima. Em geral, a cultura exige temperaturas relativamente elevadas da germinao maturao, uniformemente crescente at florao (antese) e decrescentes, porm, sem abaixamento bruscos, aps a florao.

As caractersticas do regime pluvial expressas pela quantidade e a distribuio das chuvas durante o ciclo da planta, so os fatores mais limitantes produo de gros.

Do ponto de vista agroclimtico existem, basicamente, duas alternativas para se diminuir a influncia da deficincia hdrica no arroz de terras altas: a) identificao das pocas de semeadura com menores riscos de ocorrncia de deficincia hdrica durante o ciclo e, principalmente, durante a fase reprodutiva da cultura; b) identificao, atravs do zoneamento agroclimtico, das regies com menores riscos de ocorrncia de deficincia hdrica.

Na cultura do arroz de terras altas, a diminuio de gua concorre para uma diminuio no rendimento de gros. Para diminuir os efeitos negativos decorrentes da reduo hdrica, torna-se necessrio semear em perodos nos quais a fase de florescimento-enchimento de gros coincide com uma maior demanda pluvial. Para isto, acredita-se que um estudo sobre o balano hdrico do solo possibilitar caracterizar os perodos de maior e menor quantidade de chuva oferecendo, desta forma, subsdios para a concretizao de um zoneamento de risco climtico.

As simulaes do balano hdrico associadas a tcnicas de geoprocessamento, permitiram identificar no tempo e no espao, as melhores datas de semeadura do arroz de terras altas nas diferentes regies do Brasil. Com chance de perda de dois anos em dez, ou seja, 80% de chances de sucesso, evitando-se o veranico na fase de enchimento de gros, as variveis a serem consideradas por ordem de importncia so: reteno de gua no solo e durao do ciclo. Quanto maior a capacidade de armazenamento de gua no solo, associado ao ciclo mais curto, menores sero as perdas. O risco de perda se acentua quanto mais tarde for a semeadura, independente do solo e do ciclo da cultura, uma vez que as chances de ocorrerem veranicos nos perodos compreendidos entre janeiro e fevereiro so acentuadas nos seguintes estados: Gois, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Tocantins. De forma geral, possvel concluir que, para plantios realizados aps 20 de dezembro, o risco climtico bastante acentuado para a cultura do arroz de terras altas, exceto em algumas localidades do Estado de Mato Grosso, onde se apresenta uma distribuio pluvial bastante regular. Assim, possvel realizar semeadura do arroz at meados de janeiro em regies localizadas, principalmente, no Noroeste do Estado de Mato Grosso.

Solos

O solo um mineral no consolidado influenciado por uma gama de fatores, tais como, o material de origem, a topografia, o clima (temperatura e umidade) e os microorganismos, que, no decorrer do tempo, atuaram na sua formao. Cada solo se diferencia por suas propriedades e caractersticas fsicas, qumicas, biolgicas e morfolgicas do material de origem. O manejo apropriado decorre de sua classificao, que destaca suas caractersticas gerais e especficas e os agrupa de forma ampla, com base nas caractersticas gerais, e em subdivises, de acordo com suas propriedades especficas. As propriedades morfolgicas, fsicas, qumicas e mineralgicas so critrios distintivos.

A maioria dos solos de cerrado onde o arroz de terras altas cultivado so Oxissolos e possuem baixa fertilidade. Os valores mdios das propriedades qumicas dos solos de cerrado em estado natural so: pH 5,2; P 2 mg kg-1 , K < 50 mg mg k-1; Ca