arrumadinho

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Entre tantas comidas a escolher surge uma primeira dificuldade, o que normal em um trabalho de pesquisa; o recorte do objeto pesquisado. Comida é de uma amplitude proporcional ao do proprio conceito de cultura. Por isso o título do trabalho escolhidi e Comida é cultura e no nordeste então! Assim entre tantas busquei uma que representasse bem essa características culturaios nordestina, e mais especificamente acultura pernambucana. encontrei uma que é talvez uma das mais típicas da cultura nordestina. Os conterrâneos pernanbucanos juram de pés juntos que o prato foi inventado por eles com direito a uma historia de sua origem muito bem contada. De forma mais ampla a comida que escolhemos para essa etnografia se assemelha com a própria construção cultural brasileira. Não é puramente uma comida mas a misturas de três comidas diferentes em um prato só. O seu nome também representa uma das características mais marcantes da cultura nordestina, sua capacidade de se adaptar a qualquer situação, boas ou ruins. Escolhemos para esse trabalho o simples, mas delicioso Arrumadinho. O arrumadinho foi criado nos anos 70, e lógico, pelos pernambucanos, pelo menos isso é consenso entre os apreciadores do prato em Pernambuco. Essa história ainda hoje é contada: Final de noite, uma ultima cerveja, um grupo de boêmios chegam ao chegam ao botequim que já está quase fechando, Garçom! uma cerveja por favor!, o garçom chega já coloca os copos sobre a mesa abre a cerveja e vai enchendo os copos. Nesse momento e surge a pergunta dos fregueses, o que temos aí para comer? E o garçom de imediato responde a essa hora, vou ver lá na cozinha, na volta sentencia sinto muito mas acabou tudo, os fregueses insistem na pergunta: mas não tem nada mesmo? No que responde o garçom Só tem um resto de feijão verde, e um pouco de carne de charque, a macaxeira já acabou. Então junta tudo, bota um pouco de farofa e traz pra gente. Com toda atenção, presteza, e carinho, característica tão peculiar na cultura nordestina, a cozinheira que normalmente era a própria dona do bar, se dedica a compor um prato com o que tinha sobrado nas panelas para os fregueses que chegaram minutos antes da hora de fechamento do seu bar. Com a mesma simpatia, como se estivesse abrindo o recinto naquele momento, traz pessoalmente o prato com o que sobrou na noite e fala: olha aí

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Entre tantas comidas a escolher surge uma primeira dificuldade, o que normal em um trabalho de pesquisa; o recorte do objeto pesquisado. Comida é de uma amplitude proporcional ao do proprio conceito de cultura. Por isso o título do trabalho escolhidi e Comida é cultura e no nordeste então! Assim entre tantas busquei uma que representasse bem essa características culturaios nordestina, e mais especificamente acultura pernambucana. encontrei uma que é talvez uma das mais típicas da cultura nordestina. Os conterrâneos pernanbucanos juram de pés juntos que o prato foi inventado por eles com direito a uma historia de sua origem muito bem contada. De forma mais ampla a comida que escolhemos para essa etnografia se assemelha com a própria construção cultural brasileira. Não é puramente uma comida mas a misturas de três comidas diferentes em um prato só. O seu nome também representa uma das características mais marcantes da cultura nordestina, sua capacidade de se adaptar a qualquer situação, boas ou ruins. Escolhemos para esse trabalho o simples, mas delicioso Arrumadinho.

O arrumadinho foi criado nos anos 70, e lógico, pelos pernambucanos, pelo menos isso é consenso entre os apreciadores do prato em Pernambuco. Essa história ainda hoje é contada: Final de noite, uma ultima cerveja, um grupo de boêmios chegam ao chegam ao botequim que já está quase fechando, Garçom! uma cerveja por favor!, o garçom chega já coloca os copos sobre a mesa abre a cerveja e vai enchendo os copos. Nesse momento e surge a pergunta dos fregueses, o que temos aí para comer? E o garçom de imediato responde a essa hora, vou ver lá na cozinha, na volta sentencia sinto muito mas acabou tudo, os fregueses insistem na pergunta: mas não tem nada mesmo? No que responde o garçom Só tem um resto de feijão verde, e um pouco de carne de charque, a macaxeira já acabou. Então junta tudo, bota um pouco de farofa e traz pra gente.

Com toda atenção, presteza, e carinho, característica tão peculiar na cultura nordestina, a cozinheira que normalmente era a própria dona do bar, se dedica a compor um prato com o que tinha sobrado nas panelas para os fregueses que chegaram minutos antes da hora de fechamento do seu bar. Com a mesma simpatia, como se estivesse abrindo o recinto naquele momento, traz pessoalmente o prato com o que sobrou na noite e fala: olha aí minha gente, desculpe mas a essa hora só deu para fazer esse arrumadinho. É ná repetição desse fato ou mesmo na repetição dessa estória que surge uma comida que vai virar um prato tradicional na gastronomia pernambucana e nordestina. Poderia aqui citar uma infinidade de locais entre botequins ou boteco, feiras, barracas e também casas de familiares em que esse fato se repetiu inúmeras vezes.

O arrumadinho é servido em um prato comum para refeição o chamado prato de almoço. No prato são colocadas três porções, em cada terço do prato é colocada uma porção. uma de feijão verde, que um tipo de feijão característico da região nordeste( detalhar melhor o que é esse feijão, uma porção de farinha de mandioca de preferência daquela bem fininha, pernambucano diz que cabra macho só como farinha grossa que farinha fina e talco de bumbum de bebe e uma porção de carne de charque, uma carne salgada e curtida no sol que a principio foi feita para acompanhar a macaxeira( aipim no sudeste)(verificar como e feito a carne de charque). O toque final e o elemento que vai constituir essa nova comida, transformando três comidas diferentes que a princípio eram servidas separadamente, em um novo prato é quando se coloca por cima das três porções um molho feito de coentro,

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cebolinha, pimentão tomate, cebola e um pouco de vinagre é esse molho que dá a unidade necessária desse novo prato. é o próprio arrumadinho.

Os elementos que compõem o arrumadinho não podem ser chamados de apenas ingredientes, são elementos constitutivos na elaboração dessa nova comida apesar de terem suas identidades em separados aos estrem distribuídos em porções no prato para formarem o arrumadinho a carne deixa de ser um prato principal o feijão não é mais um acompanhamento e a farinha sai da condição de apenas um complemento e principalmente o molho verde colocado ao final e muito mais que um tempero é o elemento arrumador é o que caracteriza a estrutura, no sentido da Gestalt, dando ligação a cada um de seus elementos.

Em uma refeição normal os elementos que compõem um prato assumem características independentes a carne e o prato principal, normalmente nos cardápios temos file ao... alguma coisa e até podemos mudar seus acompanhamentos. No caso do arrumadinho não, se tirarmos qualquer um desses elementos deixa de ser arrumadinho.

Essa descrição é uma característica do serviço que era oferecido pelos botecos, barracas, bodegas, nomes característicos dos pequenos bares frequentados pelas classes mais populares na época em que para muitos surgiu o arrumadinho. Também era muito comum em cidades como Recife e Olinda as feiras de rua durante mas principalmente final de noite um local de encontro da boemia que ai de bar em bar em busca de comida, pois na sua grande maioria, pelo adiantado das horas já se encontravam fechados.

Bom assim surge, ou é criado ou ainda melhor foi arrumado o arrumadinho, assim como boa parte das criações da cultura popular esse iguaria da comida nordestina Não leva assinatura individualizada, náo se sabe quem inventou onde foi feito primeiro prato nem e que mesa foi servido, não tem assinatura de nenhum chefe em especial, essa comida e resultado de um processo coletivo de criação gastronômica.

Na última vez que estive em recife, logo na chegada náo foi diferente Hoje é uma comida presente em todos os eventos mais populares, quando não é o prato principal, ao final de festa ele surge como última alternativa para aliviar a fome.