Art. Brossard (3)

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  • 7/23/2019 Art. Brossard (3)

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    Selvageria adolescente, por Paulo Brossard*

    Pretendia escrever um segundo artigo sobre a estranha situao em que estavam envolvidosem polos antagnicos dois servios do mesmo ministrio, mas mudei de assunto, tamanhaminha estupefao em face de fato desgraado ocorrido entre ns, envolvendo dois menores,

    ambos estudantes, embora no os conhecesse, assim em suas dimenses individuais, como emsua expresso social.

    fenmeno vem sendo enunciado em ingl!s bull"ing, ainda que pudesse denominar#seselvageria infantil entre adolescentes. $ostamos de usar palavras de origem estrangeira, mas, nocaso, o voc%bulo pouco importa, pois o caso em si que chocante e alarmante. &irvo#me danot'cia recolhida de (ornal, )a pr%tica de bull"ing levou a um desfecho tr%gico em uma escola dePorto *legre. *lvo de go+aes de colegas por seu tamanho, o adolescente , de - anos,acabou morto com um tiro no peito... o autor do crime, de -/ anos, ...0 1is tudo.

    &empre houve brincadeiras entre guris e suponho que continuaro a ocorrer. 2os tempos degin%sio, ainda me lembro de apelidos, o &apo e o &apinho, o 3atu e o 3atu+inho, o $ordo, o

    agro, o 4anana, o $arni+..., mas isso nunca foi motivo para desavenas5 6s ve+es, porm, ospeleadores usavam os punhos 6 sa'da da escola. *gora, contudo, a viol!ncia vai tomando formasinusitadas5 os )trotes0 aplicados aos )bichos0 pelos veteranos, entre universit%rios,impressionam pelo mau gosto e at pela brutalidade, dada a presumida qualificao dosagressores, alguns prestes 6 concluso do curso acad!mico, todos privilegiadosintelectualmente, (% se v!. 1m verdade, a viol!ncia nas palavras, nos gestos, nas atitudes, tomouconta de tudo e de maneira avassaladora. * televiso, instrumento admir%vel de influ!nciapedaggica ou no, tornou#se incontrast%vel5 os filmes, por sua ve+, geralmente importados, soincompar%veis na variedade de viol!ncia5 at setores que, em tese, so coad(uvantes do bomconv'vio, como as torcidas de futebol, por ve+es degeneram em selvageria com graves leses apessoas.

    Por incr'vel que possa parecer, (% viciado o ambiente social, at a lei, confessadamenteendereada ao aperfeioamento deste conv'vio, como o 1statuto da 7riana e do *dolescente,pode transformar#se de meio de conflituosidades inesperadas5 (% houve um professor condenadopor haver censurado (ovem estudante que su(ara parede de sua escola com tintas imprprias.*inda agora o 7pers8&indicato foi condenado em ra+o de procedimento incivil 6 pessoa dasenhora governadora do 1stado, em sua prpria resid!ncia, sem falar em manifestaes ruidosas6 frente da sede do governo, durante horas a fio em dias sucessivos, como se se tratasse deexpresso regular de pessoas incumbidas de ensinar e educar e no se cuidasse de terrorismodesmarcado.

    9 claro que h% tipos e graus de manifestaes, mais ou menos adequadas 6s pretendidas aqui e

    ali e a de que me ocupo especificadamente nesta troca de impresses. as a morte de um (ovempor outro tambm (ovem, um de -, outro de -/ anos, chega a ser assustador. :ue se podeesperar dessas crianas, pois de crianas realmente se trata; fato, a meu (u'+o, 6 falta demelhor explicao, parece decorrer de progressiva deteriorao de valores humanos em cada umdos setores da vida di%ria de pessoas comuns, merc! da solidariedade entre eles existente. Porque vem ocorrendo essa deteriorao que, antes de ser moral ou educativa, ofende o respeitorec'proco que cada um deve a seu semelhante; :ualquer que se(a a explicao, o fato que osatos chegam ao insuport%vel.