Arte e Literatura

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Módulo de Arte e Literatura - Transviando o ENEM

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  • 2Ok, no vamos falar da regrinha do porque/por que/ por qu/ porqu. Masaproveitando a deixa, voc j fica sabendo que sempre que quiser saber o motivo dealguma coisa, voc usa ele separado, se estiver antes de um ponto interrogativo, deexclamao ou final/de pargrafo, voc acentua. Ok?

    Essas pginas sero pra refletir. Voc tem uma prova importantssima pra fazerdaqui a algumas semanas. T precisando estudar uma srie de assuntos e no sabesequer porque (veja, no t querendo saber nada, t explicando, ento uso junto, ok?)tanta coisa. Por que tenho que ficar sabendo o que fulaninho escreveu, se nem eranascidx na poca?! (Por que separado porque t perguntando, sem acento porque not antes de um ponto).

    Realmente pra quem no gosta um saco, mas j que t na chuva, aproveita pralavar e hidratar as madeixas, n querida?! Vamos tentar construir um significado pratoda essa parafernalha histrica que temos que dar conta. E o porqu de tudo isso (essejunto com acento um substantivo, sempre vai vir um artigo antes dele: o porqu,um porqu), que o aprendizado fica mais fcil quando aquilo que estamosaprendendo faz sentido pra a gente. Se no vejo utilidade, valor, interesse naquilo, todoo meu sistema entende que aquilo deve ser descartado da memria, e no deve estardisponvel para futuras consultas. J pensou se voc lembrasse de tudo o que aconteceudurante todos os anos de sua vida?! (se voc tem 25 anos, so 9 mil 125 dias). Entopasse esse recado pro seu organismo e vamos aprender sabendo do __________ dascoisas! (aproveite pra completar o espao com um por que/por qu/ porque/ porqu)

    Pra ajudar voc a dar sentido ao conhecimento de Arte e Literatura, vou utilizaruma reflexo sobre dois deuses do Olimpo: Apolo e Dionsio. A personalidade deles vaiajudar a gente a entender momentos histricos importantes e as caractersticas dassociedades em diferentes momentos.

    Em seguida, pretendo utilizar um momento histrico do Brasil para fazer umarelao com o estilo literrio que mais cai no enem: Modernismo.

    Espero que esse material te ajude, nem que seja um pouquinho, a se dar bem noenem.

    Quando queremos aquilo que desejamos, o pior dos martrios se torna o

    maior dos orgulhos.

    Muito sucesso e parabns por estar pondo a cara no sol, mona :*

    POR QU?

  • 3APOLO E DIONSIO

    Certa feita, um grande autor da filosofia separou as escolas artsticas (e olhe quena sua poca nem haviam existido todas) entre dois deuses gregos, dadas ascaractersticas de cada um presente nos seus mitos. Nietzschie (1844-1900) quandocrtico da literatura, prope que os momentos da humanidade alternam entrecaractersticas apolneas e dionisacas. Vamos conhecer um pouco desses doispersonagens e como eles nos ajudam a entender a histria da arte, e sobretudo, daliteratura.

    A forma como as pessoas pensam se reflete naquilo que elas fazem, de

    forma historicamente estereotipada, ou seja, de tempos em tempos, essas formas

    se repetem.

    ApoloO rigor tcnico e a preciso

    esttica

    DionsioA liberdade de criao e a

    rebeldia contra a forma

    Apolo era o deus do sol, filho deZeus com uma Tit. Apolo era associadocom a religio e a pureza moral, os antigosgregos acreditavam que ele fazia oshomens conscientes dos seus pecados. Eratambm o deus da beleza, da perfeio,do equilbrio e da razo.

    Dionsio era o deus do vinho, dainsanidade, mas sobretudo da festa. O seucorrespondente romano se chama Baco,da o termo bacanal. Os cultos a Dionsiosempre eram banhados por substnciasintoxicantes que produziam desinibio. Atradio do teatro grego tambm atribuda ao culto a Dionsio.

  • 4Ok, mas como conhecer esses dois deuses pode ajudar a compreender a histriada arte e da literatura?! Vamos analisar a frase em destaque na pgina anterior.

    A forma como as pessoas pensam se reflete naquilo que elas fazem...

    Mdia, conversas casuais, celebraes religiosas, escola, convvio familiar...Tudo isso so formas de transmisso e difuso de culturas. Se eu penso de umadeterminada forma, eu transmito esse pensamento para as pessoas que me cercam, ese elas concordarem comigo, elas passaro adiante essas ideias, at que toda umasociedade pense semelhante. Um exemplo bem claro e recente de como a difuso socialacontece, o constante assdio da mdia, sobretudo televisiva, direcionado aosmenores infratores. Dados do Ministrio da Justia mostram que apenas 1% dos crimesregistrados em delegacias so cometidos por pessoas com menos de 18 anos. Mas todosos dias uma das principais manchetes so

    Uma vez que toda os indivduos de uma sociedade pensam de umadeterminada maneira, eles comeam a criar ou a reproduzir alguns termos, expresses,ou simplesmente conversam sobre isso. O pensamento passa a tornar-se ao. Aspessoas passam a se manifestar, e inclusive escolher governantes que estejam alinhadoscom essa forma de pensamento. Livros so escritos sobre o tema, eles passam a sertema de novela, poesias, msicas... desse jeito que a forma como as pessoas pensamse reflete naquilo que elas fazem.

    ...de forma historicamente estereotipada, ou seja, de tempos em tempos, essasformas se repetem.

    A grande sacada de alguns pensadores foi justamente perceber queexistiam dois tipos de pensamentos que caracterizavam as sociedades durante o cursoda histria. E que esses dois tipos de pensamento alternavam entre si de tempos emtempos. Nietzschie foi um deles, que associou essas duas formas de pensamento aosdeuses gregos Apolo e Dionsio.

    Outro grande filsofo a perceber isso foi Hegel (1770-1831), nasua epistemologia da cincia. Hegel afirmava que todo conhecimento, desde a filosofiaat a cincia partia inicialmente de uma tese, ou uma posio posta em discusso, a essatese, se atribui uma anttese, ou a negao dessa tese. Do debate entre tese e anttese,surge a sntese, que se torna tese do prximo ciclo.

  • 5Infelizmente, Nietzschie no viveu para precisar separar escolas literrias entreApolneas e Dionisacas, afim de facilitar os estudos de quem queria fazer enem. Nessesentido, vamos resgatar superficialmente as ideias propostas por ele para facilitar oestudo e o entendimento da histria da arte e da literatura.

    EscolasApolneas

    EscolasDionisacas

    - Zelo pela forma

    - Individualismo

    - Racionalismo

    - Presena de sonetos

    - Perodos marcados peloconservadorismo

    TROVADORISMO

    CLASSICISMO

    ARCADISMO

    HUMANISMO

    BARROCO

    QUINHENTISMO*

    ROMANTISMOREALISMO

    SIMBOLISMOPR-MODERNISMO

    MODERNISMO

    - Desprezo pela forma

    - Coletivismo

    - nfase no intuitivo

    - Poesias/poemas sem mtrica definida

    - Perodos marcados pelos pensamentosde liberdade individual

  • 6Muito bem, voc aprendeu ento que tudo o que pensamos enquanto sociedadese traduz naquilo que fazemos, e tanto nossos pensamentos quanto o produto deles serepetem no decorrer do tempo. possvel fazer milhares de associaes possveis paraevidenciar esse fato: a histria da educao no Brasil, a luta poltica entre direita-esquerda em diversos pases... Se voc observar bem, todos os avanos e retrocessospelos quais passamos, se repetem de tempos em tempos. Um sbio certa vez falou queum bom profeta no aquele que v o futuro, mas aquele que v o passado, porquesabe que ele vai se repetir, e assim pode prever o futuro.

    Bom, longe de sermos um curso de videntes, oestudo das expresses artsticas e sobretudo literrias dizrespeito a entender como as pessoas pensavam e como essepensamento produziu as mudanas que produziu. Entenderque durante o perodo do Humanismo (1418-1517) foramfeitas algumas crticas ao clero cada vez mais distante dospreceitos cristos, e mais afinados ao interesse econmico eterritorial-feudal, ajuda a entender porque em 1517 ummonge num convento da Alemanha decidiu publicar 95 razespelas quais a igreja Catlica no representava mais o povocristo e promovendo assim a reforma protestante. Qualoutro perodo voc poderia identificar em que um suposto clero esteve mais interessado nodinheiro do que nos princpios cristos?

  • 7MTRICA E RIMAS

    MTRICA

    A mtrica o estudo das slabas poticas,de como elas se organizam num verso enuma estrofe e de como se distribuem suastnicas.

    SLABAS POTICASA separao de slabas poticas feita

    para dar nfase escuta: nos ditongos ouquando uma palavra termina em vogal e aprxima comea com vogal, lemos que hsomente uma slaba, pois sonoramente,parece ser uma s articulao vocal. Acontagem termina na ltima slaba tnica daltima palavra, pois sonoramente o resto dapalavra parece quase no existir.

    P.ex.:A|mor| | fo|go | que ar|de | sem |se | ver1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

    Os versos so classificados de acordo com aquantidade de slabas poticas que contm,sendo eles:

    Monosslabos: 1 slaba

    Disslabos: 2 slabas

    Trisslabos: 3 slabas

    Tetrasslabos: 4 slabas

    Pentasslabos ou Redondilha Menor: 5 slabas

    Hexasslabos: 6 slabas

    Heptasslabos ou Redondilha Maior: 7 slabas

    Octosslabos: 8 slabas

    Eneasslabos: 9 slabas

    Decasslabos: 10 slabas

    Hendecasslabos: 11 slabas

    Dodecasslabos: 12 slabas

    Fique atentx para a nomenclatura adequada para os estilos literrios: Em poesias e poemas se falam versos e estrofes. Na prosa, fala-se em linhas e pargrafos

    RIMAS

    O estudo das rimas se d pelaobservao da posio das rimas,normalmente no final de cada verso.

    Para estudar a posio das rimas,frequentemente utiliza-se o cdigo ABCD,atribuindo uma rima a cada letra, porexemplo

    Amor fogo que arde sem se ver, A ferida que di, e no se sente; B

    um contentamento descontente, B dor que desatina sem doer. A

    Ver e Doer rimam. Vamos atribuir a todasas palavras que rimam com ver e doer aletra A. Fazemos o mesmo com sente edescontente, s que com a letra B.

    A ordem das rimas fica portanto A-B-B-A

    A classificao das rimas so:

    CRUZADA OU ALTERNADA

    A B A B

    INTERPOLADA OU INTERCALADA

    A B B A

    EMPARELHADA

    A A B B

    ENCADEADA OU INTERNA

    A B A B

    MISTURADAS

    A B C B A C

    BRANCOS OU SOLTOS

    NO APRESENTAM RIMA

  • 8MODERNISMO

    Quando o portugus chegou

    Debaixo duma bruta chuva

    Vestiu o ndio

    Que pena!

    Fosse uma manh de sol

    O ndio tinha despido

    O portugus

    Oswald de Andrade

  • 9MODERNISMO (1922 1945)

    Um nome que marcou o incio do sculoXX no mundo foi o de Sigmund Freud. Com osurgimento da psicanlise, o mundo voltou-se para a importncia e a valia de seconsiderar no mais a ao ativa econsciente, mas a quase selvagem fora dalibido inconsciente.

    O mundo passava a dar mais vazo aoonrico, ao imaginrio, e sobretudo quebradas regras tradicionais. A prpria ideia de quea infncia um perodo permeado por umasexualidade ativa traduz um pouco dessepensamento.

    Compare essas duas obras. A primeira, AGioconda, de Leonardo DaVinci. A segunda, Aestudante, de Anita Malfati.

    claramente visvel que os dois artistaspretendiam objetivos diferentes com suasobras. O objeto era o mesmo, mas a lgicaque regia o pensamento de Anita Malfatiquando ela pegou o pincel e se ps a pintarera muito diferente da lgica de DaVinci.

    Da perfeio formal do renascentismo aopouco realismo do movimento modernista,da prevalncia de esfumados s fortes eevidentes pinceladas fica claro que h umaruptura. E esse era realmente o objetivo.

    PRIMEIRA FASE DOMODERNISMO (1922-1930)

    Presidentes do Brasil: Artur Bernardes,Washington Lus, se encerra com o golpe de1930.

    No Brasil: Poltica do Caf com Leite; Temincio a Coluna Prestes (1924)

    No mundo: I Guerra Mundial se encerra em1918, Revoluo Russa em 1917 que instaura aURSS.

    A principal preocupao dos autores daprimeira fase do modernismo era romper, omais drasticamente possvel com as estticasimportadas. O Brasil estava prestes acompletar 100 anos de independnciaproclamada (1825) e muito da arteproduzidas aqui ainda eram profundamenteinspiradas e enraizadas em movimentos quese iniciaram sobretudo na Europa.

    A busca pela identidade efetivamentebrasileira levou os autores desse perodo abuscarem inspiraes nos elementos, tantoculturais quanto naturais, brasileiros. Quomais brasileiro, melhor. A exaltao dacultura nacional tanta, que um dos seusprincipais autores, Oswald de Andrade, emseu Manifesto Antropfago sugere que oBrasil devore a cultura estrangeira.

    Inflados por esse pensamento, em 1922,diversos artistas se reuniram em torno daSemana de Arte Moderna, que aconteceu emSo Paulo. Cada dia da semana fora dedicadoa uma arte: Msica, teatro, dana,literatura...

    Sobre a literatura, a prevalncia dacriticidade sob o lirismo marcaevidentemente o esprito modernista. Onacionalismo marca esse perodo, havendodestaque inclusive, para os movimentos nazi-facistas, sobretudo expressos pelosmovimentos do Verde-Amarelismo e do Anta.

    Destacam-se nesse cenrio os autoresMrio de Andrade, e sua clebre obraMacunama, Oswald de Andrade, autor doManifesto Antropfago e Manuel Bandeira eo provocante poema Profundamente. Napintura, a que considerada maior pintorado Brasil, Tarsila do Amaral, com Abaporu eDi Cavalcanti com Samba. Na msica,destaque para Heitor Villa-Lobos.

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    SEGUNDA FASE ( 1930 1945)

    Presidentes do Brasil: Getlio Vargas

    No Brasil: I Era Vargas; Promulgada a IIConstituio da Repblica(1934); Outorgada aIII Constituio da Repblica (1937); Instalaodo Estado Novo; Brasil entra na II GuerraMundial (1942);

    No mundo: Quebra da bolsa de NY (1929);Incio do perodo nazista na Alemanha (1933);II Guerra Mundial (1939); Incio da Guerra Fria(1945);

    Se na primeira fase, predominou oesprito nacionalista, nesta segunda ele seintensifica e se especifica. A fase doregionalismo marcada por obras queexaltam as culturas locais, as variaeslingusticas geogrficas. Os versos livres e areflexo crtica da sociedade, mantm-sefortes nas obras.

    Dentre os grandes autores, destacam-seJorge Amado e Capites da Areia (1937),Graciliano Ramos com Vidas Secas (1938). Napoesia, Vinicius de Moraes, Ceclia Meireles eCarlos Drummond de Andrade.

    Alguns anos vivi em Itabira.

    Principalmente, nasci em Itabira.

    Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.

    Noventa por cento de ferro nas caladas.

    Oitenta por cento de ferro nas almas.

    E esse alheamento do que na vida porosidade e

    comunicao.

    A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,

    vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres

    e sem horizontes.

    E o hbito de sofrer, que tanto me diverte,

    doce herana itabirana.

    De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereo:

    este So Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;

    este couro de anta, estendido no sof da sala de visitas;

    este orgulho, esta cabea baixa

    Tive ouro, tive gado, tive fazendas.

    Hoje sou funcionrio pblico.

    Itabira apenas uma fotografia na parede.

    Mas como di!

    Carlos Drummond de Andrade

    TERCEIRA FASE ( 1945)

    Presidentes do Brasil: Gaspar Dutra, GetlioVargas, Caf Filho, Juscelino Kubitschek, JnioQuadros

    No Brasil: IV Constituio da Repblica promulgada (1946); Comea a perseguio aocomunismo; Getlio Vargas se suicida (1954);Braslia inaugurada (1960); Golpe Militar(1964)

    No mundo: Perodo da Guerra Fria (1945);Surge o regime do Apartheid (1948)

    Parte dos ideais anti-formalistas daprimeira fase so repensados nesse perodo,em que as rimas e mtricas voltam moda.Contudo, a partir de 1956, com o movimentodo concretismo, a poesia ganha destaquepela inovao no fazer potico. Poesias queutilizavam 3 ou 4 palavras, os espaos entreas palavras revelavam tanto quanto elasmesmas. As crticas sociais do mais vazoao lirismo se comparadas s outras fases.

    Dcio Pignatari

    Destacam-se nesse perodo na prosaJoo Cabral de Melo Neto, com Morte e VidaSeverina, Guimares Rosa, com GrandeSerto: Veredas, Clarice Lispector com Laosde Famlia, na poesia, Dcio Pignatari, comCoca-Cola, e na pintura, Cndido Portinari, eseu clssico Os retirantes. Ainda destacam-se: Ariano Suassuna, Lygia Fagundes Telles eMrio Quintana.

    impossvel falar de cultura brasileirasem citar qualquer um desses atores sociaisdestacados nessas duas pginas. Eles foramresponsveis por fazer emergir uma cultura,sobretudo literria, eminentementebrasileira (1 fase), enftica nos elementosregionais (2 fase), e inovadoraesteticamente (3 fase).