Arte Maneirista

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1 PREFEITURA DE SÃO GONÇALO SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO FUNDAÇÃO DE ARTES SÃO GONÇALO HISTORIANDO AS ARTES V O Maneirismo e outras tendências O que aconteceu depois do Renascimento Pleno? Há cinquenta anos, a questão teria uma resposta simples a seguir viria o Renascimento final dominado por discípulos superficiais dos grandes mestres da geração anterior e que se prolongou até o aparecimento do estilo barroco já ao término do século. Embora hoje tenhamos uma opinião mais positiva dos artistas que atingiram a maturidade depois de 1520 e se ponha de lado o termo Renascimento Final como enganoso, falta-nos ainda encontrar um nome para os setenta e cinco anos que interpõem-se entre o Renascimento Pleno e o Barroco. Talvez a dificuldade desapareça se encararmos tal período como um tempo de crise que deu origem a diversas tendências antagônicas, mais que a um ideal predominante ou como uma época cheia de contradições internas, não muito diferente da atual e por isso mesmo particularmente fascinante para nós. PINTURA O MANEIRISMO: FLORENÇA E ROMA Entre as várias tendências artísticas que se manifestaram após o Renascimento Pleno, a do maneirismo é a mais discutida. Em alcance e significado, o termo é ainda ambíguo: no sentido original, limitado e pejorativo, designava o estilo de um grupo de pintores dos meados do século XVI, ativos em Roma e Florença, que cultivaram uma arte conscientemente “artificial” e amaneirada, derivada de algumas concepções de Rafael e Michelangelo. Atualmente, o frio e diríamos quase árido formalismo das suas obras tem sido encarado como faceta especial de um movimento mais vasto que situa a “visão interior”, ainda que subjetiva e fantástica, acima da dupla autoridade da natureza e dos antigos. Alguns alargaram a definição de maneirismo de modo a incluir o estilo da última fase do próprio Michelangelo o que equivale a chamar classicista a Fídias. Rosso Os primeiros indícios de inquietação no Renascimento Pleno aparecem pouco antes de 1520, na obra de alguns jovens pintores de Florença. Em 1521, Rosso Fiorentino (1495-1540), o mais excêntrico membro deste grupo, exprimiu a nova atitude com firme convicção em A Descida da Cruz. As figuras agitam-se, mas são rígidas, como congeladas por um súbito e frígido sopro; até as roupagens apresentam planos frágeis e aguçados. Há aqui uma revolta contra o equilíbrio clássico da arte do Renascimento Pleno.

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História da Arte maneirista

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1 PREFEITURA DE SO GONALO SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAO FUNDAO DE ARTES SO GONALO HISTORIANDO AS ARTES V O Maneirismo e outras tendncias OqueaconteceudepoisdoRenascimentoPleno?Hcinquentaanos,aquesto teria uma resposta simples a seguir viria o Renascimento final dominado por discpulos superficiaisdosgrandesmestresdageraoanteriorequeseprolongouato aparecimentodoestilobarrocojaotrminodosculo.Emborahojetenhamosuma opinio mais positiva dos artistas que atingiram a maturidade depois de 1520 e se ponha de lado o termo Renascimento Final como enganoso, falta-nos ainda encontrar um nome para os setenta e cinco anos que interpem-se entre o Renascimento Pleno e o Barroco. Talvez a dificuldade desaparea se encararmos tal perodo como um tempo de crise que deuorigemadiversastendnciasantagnicas,maisqueaumidealpredominanteou como uma poca cheia de contradies internas, no muito diferente da atual e por isso mesmo particularmente fascinante para ns. PINTURA O MANEIRISMO: FLORENA E ROMA EntreasvriastendnciasartsticasquesemanifestaramapsoRenascimento Pleno,adomaneirismoamaisdiscutida.Emalcanceesignificado,otermoainda ambguo:nosentidooriginal,limitadoepejorativo,designavaoestilodeumgrupode pintores dos meados do sculo XVI, ativos em Roma e Florena, que cultivaram uma arte conscientementeartificialeamaneirada,derivadadealgumasconcepesdeRafaele Michelangelo.Atualmente,ofrioediramosquaseridoformalismodassuasobrastem sidoencaradocomofacetaespecialdeummovimentomaisvastoquesituaaviso interior,aindaquesubjetivaefantstica,acimadaduplaautoridadedanaturezaedos antigos. Alguns alargaram a definio de maneirismo de modo a incluir o estilo da ltima fase do prprio Michelangelo o que equivale a chamar classicista a Fdias. Rosso OsprimeirosindciosdeinquietaonoRenascimentoPleno aparecempoucoantesde1520,naobradealgunsjovenspintoresde Florena.Em1521,RossoFiorentino(1495-1540),omaisexcntrico membro deste grupo, exprimiu a nova atitude com firme convico em A DescidadaCruz.Asfigurasagitam-se,massorgidas,como congeladasporumsbitoefrgidosopro;atasroupagensapresentam planosfrgeiseaguados.Haquiumarevoltacontraoequilbrio clssico da arte do Renascimento Pleno.2 Parmigianino Esta primeira fase do maneirismo, o estilo anticlssico de Rosso, cedo deu lugar aumoutroaspectodomovimento,menosabertamenteanticlssico,menosregadode emoosubjetiva,masigualmenteafastadodomundoconfianteeestveldo Renascimento Pleno. O Autorretrato de Parmigianino (1503-1540) no denuncia qualquer perturbaopsicolgica.Oaspectodo artistacalmoecuidado,veladoporum levesfumatomaneiradeLeonardo. Tambm as distores so objetivas e no arbitrrias,jqueapinturaregistraoque Parmigianinoviaaoolhar-seemum espelhoconvexo.Masporquesesentiria to fascinado por esta viso no espelho? Algunspintoresjtinhamusadoomesmo recursocomoummeioauxiliarda observao,mastinhamdepuradoas distores.Parmigianino,porm,substitui oespelhopelaprpriapintura,utilizando umpainelconvexoespecialmente preparado.Teriaqueridodemonstrarque no existe apenas uma realidade correta, queadistorotonaturalcomoa aparncia normal das coisas? Caracteristicamente, o seu desprendimento cientfico logo caiu no extremo oposto. Vasari nos diz que Parmigianino, ao aproximar-seofimdasuabrevecarreira(morreuem 1540,comtrintaeseteanos),viviaobcecado pelaalquimiaetornou-seumbarbudode longacabeleiradescuidada,quaseum selvagem.Estranhaimaginaoestpatente nasuaobramaisfamosa,AMadonado Pescoo Comprido, pintada depois do regresso Parmanatal,apsvriosanosde permannciaemRoma.Ficaraprofundamente impressionadopelagraartmicadaartede Rafael,mastransformouasfigurasdovelho mestre.Socorposdeoutraraa,cujos membros,alongadosepolidoscomomarfim, semovemcomlanguidez,encarnandoum idealdebelezatoafastadodonaturalcomo qualquerfigurabizantina.Acolocaodas figurasigualmentearbitrria,comouma gigantesca e aparentemente desnecessria filadecolunasportrsdeumminsculo profeta.Parmigianinoteve,aoqueparece,a intenodenosimpedirdeavaliaroqueest noquadropelospadresdaexperincia comum.Estamosperanteaqueleestilo artificialaqueotermomaneirismose aplicavaoriginalmente.AMadonadoPescoo Comprido uma imagem de perfeio extraterrestre e a de fria elegncia.

3 Bronzino Vinculada a um gosto sofisticado e at sutil, a fase elegante do maneirismo italiano atraiu especialmente patronos como o gro duquedaToscanaeoreidaFrana,logosetornando internacional.Oestiloproduziuesplndidosretratos,comoode Eleonora de Toledo, esposa de Cosimo I de Mdici, pelo pintor da corte, Agnolo Bronzino (1503-1572). Representada como dama de elevadaestirpeenocomoumapersonalidadeindividual, EleonoraparecemaisprximadaMadonadeParmigianino comparar as mos que de uma criatura de carne e osso. O MANEIRISMO: VENEZA Tintoretto OmaneirismosapareceuemVenezanosmeadosdosculo.Oseuexpoente principal,Tintoretto(1518-1594),foiumartistadeprodigiosaenergiaeinveno, combinandoqualidadesdeambasasfasesanticlssicaeelegantedonovogosto. QueriapintarcomoTicianoedesenharcomoMichelangelo,masasuaindubitvel relaocomosdoisgrandesmestresfoitoespecialcomoadeParmigianinocom Rafael. Uma das obras principais mais espetaculares de Tintoretto A ltima Ceia, tela em queforampostosdelado,detodososmodos,osvaloresclssicosdaversode Leonardo,pintadajhquaseumsculo.Cristoaindaocupaocentrodacomposio, mas desta vez a mesa ficou colocada em ngulo reto em relao ao plano do quadro, em perspectivaexageradaeasuapequenafigura,ameiadistncia,distingue-se principalmentepelaaurolabrilhante.Tintorettoprocurou,detodaamaneira,situaro acontecimentoemumambientecotidiano,atravancandoacenacomcriados,loua, pratosdefruta,garrafeseanimaisdomsticos.Tudoissoserveparaestabelecerum contrastedramticoentreonaturaleosobrenatural,poistambmaparecemservidores celestiais a fumaa da lamparina de azeite transforma-se milagrosamente em nuvens de anjosqueconvergemsobreCristo, justamentequandoEleofereceoSeu corpoeoSeusangue,naformado poedovinho,aosdiscpulos.A principalpreocupaodeTintorettofoi adetornarvisvelainstituioda Eucaristia,atransubstanciaodo alimentoterrenoemDivino.Mas apontaodramahumanodatraiode Judas,toimportanteparaLeonardo (Judas est isolado, no lado de fora da mesa,emfrentedeJesus,masem uma situao to apagada que poderia facilmente ser tomado por um criado). 4 El Greco Oltimoetalvezomaiorpintormaneiristaformou-setambmnaEscola Veneziana.DomenicoTheotocopoulos(1541-1614),alcunhadodeElGreco,nasceuem Creta, que estava ento sob o domnio de Veneza. A sua aprendizagem deve ter-se feito com um artista cretense que seguia ainda a tradio bizantina. Pouco depois de 1560, El Greco chegou a Veneza e assimilou rapidamente as lies de Ticiano, Tintoretto e outros mestres. Uma dcada mais tarde, em Roma, travou conhecimento com a arte de Rafael, Michelangelo e os maneiristas da Itlia Central. Em 1576-77, foi para a Espanha, fixando-seemToledoparaorestodavida.Noentanto,foisempreumestrangeironasuanova ptria. Embora o clima espiritual da Contra-Reforma, especialmente intenso na Espanha, possa explicar o exaltado emocionalismo da sua obra de maturidade, a pintura espanhola da poca era demasiado provinciana para o impressionar. O seu estilo j estava formado antes da chegada a Toledo, assim como no esqueceria jamais a sua formao bizantina at o fim da sua carreira, assinou sempre os quadros em grego. Amaioremaisresplandecentedas encomendasqueexecutouOenterrodo Conde de Orgaz. A enorme tela na igreja de S.Tomfoifeitaemhomenagemaum benfeitormedieval,topiedosoqueSanto EstevoeSantoAgostinhoapareceram miraculosamentenoseufuneraleeles prpriosbaixaramocorpoaotmulo.O enterrotevelugarem1323,masElGreco representa-ocomoumacontecimento contemporneo,retratandoentreos assistentesvriosmembrosdanobrezae do clero locais. A deslumbrante exibio de coretexturanasarmadurase novesturio dificilmentepoderiaserultrapassadapelo prprioTiciano.AalmadoConde(uma pequena figura nebulosa, como os anjos de A ltima Ceia de Tintoretto) levada ao cu porumanjo.Aassembliacelesteque encheametadesuperiordoquadroest pintadademaneiramuitodiferentedade baixo.Todasasformasnuvens, membros, roupagens participam do vertiginoso movimento da chama que converge para a figura distante de Cristo. Aqui, mais ainda que na arte de Tintoretto, os vrios aspectos do maneirismo fundem-se em uma nica viso esttica.Oseuplenosignificado,porm,apenassetornaclaro quando contemplamos a obra no local a que foi destinada. Como uma enormejanela,ocupaumaparedeinteira;atela ficaa1,80 m do pavimento e, como a capela s tem 5,50 m de fundo, temos que erguer os olhos para ver a cena superior. O escoro violento deElGrecoobedeceintenodeconseguirumailusode espao ilimitado em cima, enquanto as figuras do primeiro plano, embaixo,aparecemcomoemumpalco(ospsestocortados pelamolduralogoabaixodoquadro).Alajedepedra,sobo quadro,tambmestinseridanoconjunto,poisrepresentauma face do sarcfago para onde os dois santos descem o cadver do conde,explicandoassimacenadoquadro.H,portanto,trs 5 nveisderealidade:otmulo,supostamenteencaixadonaparedeefechadoporuma autnticalajesepulcral;arepresentaodoenterromilagroso,mastransferidaparaa poca da pintura, e a viso da glria celestial testemunhada por alguns dos assistentes.Da formao veneziana de El Greco advm a sua mestria na arte do retrato.Regrageral,poucosabemosdassuasrelaescomosmodelos. QuantoaFrayFelixHortensioParavicino,eraumimportanteletradoe poeta,grandeamigodopintoraquemcelebrouemvriossonetos.Este memorvelretratoumdescendenteartsticodeOHomemdaLuvade Ticiano e dos retratos de Pontormo. O protobarroco Se o maneirismo nos deus as personalidades que nos parecem mais modernas a fama de El Greco hoje maior do que nunca a sua influncia no foi incontestada no sculoXVI.Umaoutratendncia,quetambmsurgiuporvoltade1520,uma antecipao de tantos aspectos do barroco que pode ser chamada de protobarroco. Correggio Correggio(1489/94-1534),orepresentanteprincipaldestacorrente,foiumpintor excepcionalmentedotadodonorteda Itlia,quepassouamaiorpartedasua carreira em Parma. Ainda jovem assimilou apinturadeLeonardoedosvenezianos, depoisadeMichelangeloeRafael,mas nosentiu,como eles,aatrao doideal de equilbrio clssico. A sua maior obra, o afresco A Assuno da Virgem, na cpula daCatedraldeParma,umaobra-prima deperspectivailusionista,umvasto espaoluminoso,preenchidoporfiguras esvoaantes.Emborasemovamcomtal vivacidadequeaforadegravidade parecenoexistirparaelas,socorpos sadioseenrgicos,feitosdecarnee osso,enoespritosincorpreos.E deliciam-sefrancamentecomasua condio de imponderabilidade. ParaCorreggio,poucadiferenaexistiaentreoxtaseespiritualeo fsico, como se pode ver comparando AAssuno da Virgem com Jpiter e Io,umateladasriequeilustraosamoresdosdeusesclssicos.Aninfa, desfalecendonosbraosdeumJpitercomformadenuvem,est diretamenteaparentadaaosanjosdoafresco.Osfumato,maneirade Leonardo, ligado a um sentido veneziano de cor e textura, produz um efeito de delicada voluptuosidade. Correggio no teve sucessores imediatos, nem uma influncia duradoura na arte deste sculo, mas por volta de 1600 a sua artecomeouaseramplamenteapreciada.Duranteoscentoecinquenta anosseguintefoiadmiradocomoumigualdeRafaeleMichelangelo enquantoosmaneiristas,antestoimportantes,eramemgrandeparte esquecidos.

6 O REALISMO Uma terceira tendncia da pintura italiana do sculo XVI est associada s cidades aolongodafaixanortedaplancielombarda,comoBrsciaeVerona.Algunsartistas dessaregiotrabalharamemumestilomuitoinfluenciadoporGiorgioneeTiciano,mas com maior interesse pela realidade cotidiana. Veronese NaobradePaoloVeronese(1528-1588),orealismodonortedaItliaganhao esplendor de um grande espetculo. Nascido e formado em Verona, Veronese tornou-se, depoisdeTintoretto,opintormaisimportantedeVeneza.Emboradeestilostotalmente diferentes,ambosgozaramdofavordopblico.Ocontrastetorna-seflagrantese comparamosAltimaCeiade Tintoretto e o Cristo na Casa de Levi de Veronese,quetratamdetemas semelhantes.Veroneseevitatodaa alusoaosobrenatural.Acomposio simtricalembraLeonardoeRafael,o ambientefestivodacenarefleteum banquetesuntuoso,umverdadeiro festimparaosolhos,masnoaa aspirao da alma humana.Significativamente,nemsequersabemosaocertoqueacontecimentodavidade Cristoeleinicialmentepensoudescrever,poissdeutelaottuloatualdepoisdeter sidoconvocadopelotribunaldaSantaInquisio,acusadodeterenchidooquadrode bobos,bbados,alemes,anes,imprpriosaocartersagradodotema.Aatado julgamentomostraterotribunalpensadoqueapinturarepresentavaaltimaCeia.O depoimento de Veronese nunca deixou claro se era, de fato, a ltima Ceia, se a Ceia em casa de Simo. Para ele, ao que parece, esta distino no tinha grande importncia. Por fim,decidiu-seporumterceirottulo,ACeiaemCasadeLevi,ttulomuitoconveniente porquelhepermitiunosuprimirosaspectosconsideradosofensivos.Alegouqueno eram mais objetivos do que a nudez de Cristo e das Hostes Celestiais noJuzo Final de Michelangelo.Masotribunalnoquisveraanalogia:...noJuzoFinalnoera necessrio representar roupagens e no h nada nessas figuras que no seja espiritual. AInquisio,claro,preocupou-seapenascomafaltadedecorodaartede Veronese, no com a sua indiferena pelo sentido espiritual. A sua obstinada recusa em admitirajustiadaacusao,ainsistncianoseudireitodeintroduzirpormenores diretamenteobservados,emboraindecorosos,easuaindiferenaemrelaoaotema nascem de uma atitude to ostensivamente extrovertida que apenas no sculo XIX viria a ser geralmente aceita. ESCULTURA Os escultores italianos do fim do sculo XVI no conseguem igualar as realizaes dospintores.possvelqueapersonalidadeesmagadoradeMichelangelotenha desencorajadoamanifestaodenovostalentosnestecampo,masaescassezde tarefas que desafiassem a criatividade dos artistas no lhes proporcionava grandes vos. OsmelhorestrabalhosforamproduzidosforadaItliaeomaiorescultoremFlorena, depois do falecimento de Michelangelo em 1564, era oriundo do norte. 7 PRIMEIRA E SEGUNDA FASES DO MANEIRISMO Berruguete Afaseanticlssicadomaneirismo,representadaporRossoe Pontormo,notemparalelonaescultura.AobradoespanholAlonso Berruguete(c.1489-1561)aquemaisseaproximadela.Berruguete tivera contatos com os iniciantes da corrente anticlssica em Florena, por voltade1520.OseuS.JooBatista,umdosrelevostalhadosvinteanos depoisnascadeirasdocorodaCatedraldeToledo,refleteaindaessa experinciacomoseucorpoangulosoemagro,oolharfixo,depupilas vazias. Cellini A segunda fase do maneirismo, a fase elegante, aparece em inmeros exemplares escultricos na Itlia e no exterior. O mais conhecido representante do estilo Benvenuto Cellini (1500-1571), o ourives florentino que deve muito da fama que tem sua picaresca autobiografia. O saleiro de ouro feito para o rei Francisco I da Frana, a principal obra de Celliniemmetalprecioso,constituium bomexemplodasvirtudeselimitaes dasuaarte.evidentequeguardar condimentosafunomenos importantedestasuntuosapea ornamental. Porque o sal vem do mar e apimentadaterra,Cellinicolocouo saleiro,emformadebarco,soba proteodeNetuno,enquantoa pimenta, em um pequeno arco triunfal, guardadapelapersonificaodaTerra. Nabase,vem-sefiguras representandoasquatroestaesdo ano e as quatro partes do dia. A escala mnima do saleiro reflete o vo da imaginao de Cellini, impressionando-noscomoseuengenhoehabilidadeeencantando-noscomagraadassuasfiguras, cujosentidoalegricoumsimplespretextoparaestaexibiodevirtuosismo.Quando elenosdiz,porexemplo,quetantoNetunocomoaTerratmumapernadobradaea outraestendidapararepresentarmontanhaseplancies,apenasnospodemosespantar antetaldivrcioentreformaecontedo.Adespeitodasuailimitadaadmiraopor Michelangelo,asfiguraselegantesdeCellini,nosaleiro,sotoalongadas,maciase lnguidas como as de Parmigianino. Primaticcio Parmigianinotambmtevegrandeinflunciasobre Francesco Primaticcio (1504-1570), o rival de Cellini na corte de FranciscoI.Homemdemuitostalentos,Primaticcio responsvelpeladecoraointeriordealgumasdassalas principaisdocastelorealdeFontainebleau,ondecombina cenaspintadascomumamolduradeestuquericamente esculpida.AsfigurasdeestuquedeFontainebleaudirigem-se, 8 obviamente, ao mesmo gosto aristocrtico que apreciava o saleiro de Cellini. Embora as quatro moas no estejam sobrecarregadas com qualquer significado alegrico especial oseupapelodereforarospilaresquesustentamoteto.Estascaritidesesguias simbolizam a estudada indiferena da segunda fase do maneirismo. ARQUITETURA O MANEIRISMO Oconceitodemaneirismocomoestilodepocafoicunhadoparaapintura,mas nosentimosqualquerdificuldadeemaplic-loescultura.Servirtambmparaa arquitetura?Enestecasoquecaractersticasadefinem?Perguntasrecentesparaas quaisnohaindarespostaprecisa.Algunsedifciosseriamhoje,semhesitao, considerados maneiristas por quase todo o mundo. Mas isso no constitui uma definio aceitvel de maneirismo como estilo arquitetnico. Vasari UmdessesedifciosodosUffiziem Florena,deautoriadeGiorgioVasari(1511-1574). constitudo por duas longas alas que sedestinavamoriginariamente,comoonome indica, a reparties em frente uma da outra, separadasporumptioestreitoeunidasem umdosextremosporumaloggia.Afontede inspirao de Vasari no difcil de localizar: as msulasestiradasentreosarcoseaestranha relaoentreascolunaseparedestmasua origem no vestbulo da Biblioteca Laurentina. Ammanati OmesmosepodedizerdoptiodoPalcioPitti,de BartolomeuAmmanati(1511-1592),noobstanteasua exibiodemuscularidade.Aqui,oesquemadetrsandares de ordens sobrepostas, derivado do Coliseu, foi encoberto por umextravaganteparamentorusticado (pedrapicada,deixando-lhea superfcie granulada) que aprisiona as colunas e as reduz a um papel estranhamento passivo. Palladio Seistomaneirismoemarquitetura,podemosencontr-lonaobradeAndrea Palladio(1518-1580),omaiorarquitetodofinaldosculoXVI,depoisdeMichelangelo? Ao contrrio de Vasari, que foi pintor e historiador alm de arquiteto, ou de Ammanati, que foiumescultor-arquiteto,PalladiocontinuaatradiodohumanistaepensadorLeone Battista Alberti. EmboraasuaatividadeseexercessesobretudoemVicenza,ondenascera,os seusedifcioseescritostericoslogolhefranquearamdimensointernacional.Palladio sustentavaqueaarquiteturadevereger-sepelarazoeporcertasregrasuniversais, exemplarmentedemonstradasnasedificaesdosantigos.Comungavaassimda perspectivafundamentaldeAlberti,bemcomodasuafirmeconvicoquantoao 9 significadocsmicodasproporesaritmticas.Seosresultadosnoso necessariamente clssicos no estilo, podemos chamar-lhe classicistas. este de fato o termo mais habitual para designar quer a obra de Palladio, quer a sua atitude terica. AfaanhadeS.GiorgioMaggioreemVeneza,aproximadamente1565,juntaum novo esplendor e complexidade. O problema de Palladio aqui foi o de criar uma fachada classicamenteintegradaemumaigrejabasilical.Conheciaseguramenteasoluode Alberti,fachadadetemplosobrepostaaumafrentedearcotriunfal.Palladioumavez maisseguindooquejulgavaserum precedenteantigooptouporuma respostadiferente:sobrepsumfronto detemploaltoeestreitoaoutro,largoe baixo,refletindoadiferenadealtura entreanavecentraleaslaterais. Teoricamente,eraumasoluoperfeita. Naprtica,porm,verificouqueno podiamanterosdoissistemasto separadoscomoasuaconscincia clssicaexigia,elig-losemumtodo harmnico.Esteconflitotornaambguas aquelaspartesdoprojetosujeitascomo que a uma vassalagem dupla, o que pode serconsideradoumacaracterstica maneirista. Fonte: JANSON. Horst Waldemar. Histria geral da arte. Renascimento e Barroco. Captulo 4, pginas 669 a 690. Martins Fontes. So Paulo, 2001.