Artes e Letras From MSA Maio 2015

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26 | MENSAGEIRO DE SANTO ANTÓNIO | MAIO 2015 Livros SE DEUS É BOM, PORQUE SOFREMOS? O tema do sofrimento é o motivo de uma nova publi- cação, em formato de livro de bolso, do jesuíta Vasco Pinto de Magalhães. O livro resulta de um conjunto de palestras orientadas pelo autor a jovens universitários, fornecendo ao texto um tom coloquial. A partir da convicção fundamen- tal de um cristão – “Se Deus é Bom”, a obra divide-se em duas partes, segundo duas perguntas: “Porque sofremos?” e “Como sofrer?”; segue-se um excerto de um diálogo entre Henrique M. Pereira e Vasco P. Magalhães, e um testemunho de Luís Nazareth. A obra não nos oferece um conjunto de respostas rápidas e finais sobre esta experiência fundamental da vida humana: a sua perspetiva é a de abertura de horizontes, de forneci- mento de pistas e sugestões. “Estamos perante realidades tão profundas e universais que, por mais que as penetremos e tentemos situar e explicar, sempre nos escapam”. É sobre a imagem de Deus que o autor se debruça: a experiência do sofrimento, vivido na própria experiência e na experiência daqueles de quem gostamos, conduz-nos a questionar a nos- sa imagem de Deus: “Se Deus é Amor não pode não amar; não pode ser arbitrário, não pode não respeitar a liberdade e a criação: não pode senão aquilo que pode o Amor! Só pode amar. Sim, o amor ‘pode tudo’, ou melhor, o Amor pode com tudo e não porque possa tudo. Porque, há imensas coisas que o amor não pode: não pode mentir, não pode manipular”. Mais do que “explicar” o sofrimento, é importante ad- quirir as forças de confiança e amor para lidar com ele, em nós próprios e naqueles que nos são próximos, encarando a vida como uma peregrinação. Na segunda parte da obra, podemos encontrar pistas acessíveis para esta reflexão e esta prática, não como receitas fáceis, mas como critérios de vida. “O sofrimento não se explica. Aprende-se de alguma manei- ra a viver com ele e a fazer dele uma força, e uma forma de crescimento”. O MEU DEUS É UM DEUS FERIDO O episódio do encontro do Ressuscitado com Tomé, no Evangelho de João, constitui o mote para mais uma obra do teólogo checo Tomás Halík a ser publicada em Portugal. A dor, o sofrimento, as feridas da História, da Humanidade, as nossas feridas e as feridas daqueles com quem nos encontra- mos e, finalmente, as feridas de Deus (um paradoxo!) são o objeto de reflexão neste livro. A escrita do autor apresenta-se em forma de breves capítulos, meditações desenvolvidas a partir da sua experiência pessoal e pastoral, permitindo-nos uma leitura acessível em torno a temáticas profundas e di- fíceis. Quando o Ressuscitado se apresenta a Tomé, não se apresenta como uma luz brilhante, fulgurante, esplendo- rosa; o Ressuscitado apresenta as suas Feridas. E é aí, nesse momento, que surge a profissão de fé de Tomé: “Meu Senhor e meu Deus”. As Feridas – todas as dimensões de sofrimento que marcam a nossa vida – têm o seu lugar no próprio misté- rio de Jesus. Daí que o primeiro passo do discípulo para a Fé – a exemplo de Tomé – esteja no olhar, no aceitar, no compa- decer-se diante das feridas e do sofrimento, quando a reação instintiva nos leva à recusa, ao desviar o olhar, à fuga. “Neste livro – refere o autor – o leitor não encontra instruções para a cura das feridas do nosso mundo; é que sempre nutri uma desconfiança muito pronunciada perante todas as receitas de salvação. Se estas considerações hão de servir para alguma coisa, será para intimar à não-indiferença, à coragem de ver”. A obra de Tomás Halík propõe um conjunto de medita- ções em torno a temas como a humanidade de Jesus, o modo como a nossa sociedade lida com a morte, o perdão, a angús- tia no sofrimento, o “grito” diante de Deus (e o ateísmo), e até as próprias limitações da Igreja. Todas essas experiências são, para o Autor, lugares onde a nossa fé é testada, vivida e, Deus queira, aprofundada. Não se trata de elogiar o so- frimento por si: todo o livro é um apelo a entregar-se na libertação de todas as escra- vidões. Trata-se, sim, de dar o primeiro passo: olhar, tocar as feridas. ARTES E LETRAS Autor Vasco Pinto de Magalhães Edição Tenacitas Páginas 123 Autor Tomás Halík Edição Paulinas Páginas 237 Rui Pedro Vasconcelos

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Artes e Letras From MSA Maio 2015

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  • 26 | MENSAGEIro dE SANto ANtNIo | MAIo 2015

    LivrosSE DEUS BOM, PORQUE SOFREMOS?

    O tema do sofrimento o motivo de uma nova publi-cao, em formato de livro de bolso, do jesuta Vasco Pinto de Magalhes. O livro resulta de um conjunto de palestras orientadas pelo autor a jovens universitrios, fornecendo ao texto um tom coloquial. A partir da convico fundamen-tal de um cristo Se Deus Bom, a obra divide-se em duas partes, segundo duas perguntas: Porque sofremos? e Como sofrer?; segue-se um excerto de um dilogo entre Henrique M. Pereira e Vasco P. Magalhes, e um testemunho de Lus Nazareth.

    A obra no nos oferece um conjunto de respostas rpidas e finais sobre esta experincia fundamental da vida humana: a sua perspetiva a de abertura de horizontes, de forneci-mento de pistas e sugestes. Estamos perante realidades to profundas e universais que, por mais que as penetremos e tentemos situar e explicar, sempre nos escapam. sobre a imagem de Deus que o autor se debrua: a experincia do sofrimento, vivido na prpria experincia e na experincia daqueles de quem gostamos, conduz-nos a questionar a nos-sa imagem de Deus: Se Deus Amor no pode no amar; no pode ser arbitrrio, no pode no respeitar a liberdade e a criao: no pode seno aquilo que pode o Amor! S pode amar. Sim, o amor pode tudo, ou melhor, o Amor pode com tudo e no porque possa tudo. Porque, h imensas coisas que o amor no pode: no pode mentir, no pode manipular.

    Mais do que explicar o sofrimento, importante ad-quirir as foras de confiana e amor para lidar com ele, em ns prprios e naqueles que nos so prximos, encarando a vida como uma peregrinao. Na segunda parte da obra, podemos encontrar pistas acessveis para esta reflexo e esta prtica, no como receitas fceis, mas como critrios de vida. O sofrimento no se explica. Aprende-se de alguma manei-

    ra a viver com ele e a fazer dele uma fora, e uma forma de crescimento.

    O MEU DEUS UM DEUS FERIDO

    O episdio do encontro do Ressuscitado com Tom, no Evangelho de Joo, constitui o mote para mais uma obra do telogo checo Toms Halk a ser publicada em Portugal. A dor, o sofrimento, as feridas da Histria, da Humanidade, as nossas feridas e as feridas daqueles com quem nos encontra-mos e, finalmente, as feridas de Deus (um paradoxo!) so o objeto de reflexo neste livro. A escrita do autor apresenta-se em forma de breves captulos, meditaes desenvolvidas a partir da sua experincia pessoal e pastoral, permitindo-nos uma leitura acessvel em torno a temticas profundas e di-fceis.

    Quando o Ressuscitado se apresenta a Tom, no se apresenta como uma luz brilhante, fulgurante, esplendo-rosa; o Ressuscitado apresenta as suas Feridas. E a, nesse momento, que surge a profisso de f de Tom: Meu Senhor e meu Deus. As Feridas todas as dimenses de sofrimento que marcam a nossa vida tm o seu lugar no prprio mist-rio de Jesus. Da que o primeiro passo do discpulo para a F a exemplo de Tom esteja no olhar, no aceitar, no compa-decer-se diante das feridas e do sofrimento, quando a reao instintiva nos leva recusa, ao desviar o olhar, fuga. Neste livro refere o autor o leitor no encontra instrues para a cura das feridas do nosso mundo; que sempre nutri uma desconfiana muito pronunciada perante todas as receitas de salvao. Se estas consideraes ho de servir para alguma coisa, ser para intimar no-indiferena, coragem de ver.

    A obra de Toms Halk prope um conjunto de medita-es em torno a temas como a humanidade de Jesus, o modo como a nossa sociedade lida com a morte, o perdo, a angs-tia no sofrimento, o grito diante de Deus (e o atesmo), e at as prprias limitaes da Igreja. Todas essas experincias so, para o Autor, lugares onde a nossa f testada, vivida e, Deus queira, aprofundada. No se trata de elogiar o so-

    frimento por si: todo o livro um apelo a entregar-se na libertao de todas as escra-vides. Trata-se, sim, de dar o primeiro passo: olhar, tocar as feridas.

    artEs E lEtras

    AutorVasco Pinto de MagalhesEdioTenacitasPginas123

    AutorToms HalkEdioPaulinasPginas237

    Rui Pedro Vasconcelos

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    CAMINHO DE PERFEIO

    Faz 500 anos, a 28 de maro de 1515, que nasceu Teresa de Jesus: mstica, reformadora, Doutora da Igreja. Teresa uma das maiores figuras da histria do Cristianismo. Neste mbito, as Edies Carmelo publicam uma nova edio do Caminho de Perfeio uma obra preparada por Teresa para as monjas do Convento de S. Jos, em vila, o primeiro funda-do segundo a Reforma introduzida pela Santa.

    Trata-se de um livro escrito num tom muito familiar, no qual Teresa, a pedido das monjas, reflete sobre temas essen-ciais da vida comunitria do mosteiro: a amizade entre as monjas, a vida de orao e trato familiar com o Mestre, as dificuldades vividas num contexto fortemente marcado por uma viso masculina do mundo e da Igreja. Ao longo da obra, faz uma defesa da autonomia e liberdade das monjas na sua vida pessoal e comunitria, numa linguagem surpreendente para o seu tempo: Tampouco, tu, Senhor, quando andas-te pelo mundo, desprezaste as mulheres; pelo contrrio, tu sempre, com grande compaixo, as ajudaste. E encontraste mais amor e f nelas do que encontraste nos homens.

    A escrita de Teresa no acadmica, nem doutrinal: es-creve ao sabor de um dilogo com as leitoras, transitando harmoniosamente entre os temas. Um comentrio ao Pai--Nosso transforma-se num conjunto de indicaes e suges-tes sobre a vida de orao, que Teresa adapta segundo as caractersticas pessoais de cada monja. Da orao vocal mental, passando pela contemplao e quietude (entendida como descanso e ateno dos sentidos e do entendimento), as indicaes de Teresa escritas a partir da sua prpria ex-perincia de procura tm uma atualidade surpreendente. A sua herana a orao como um caminho aberto a todos continua a ser uma riqueza e um apelo para todos os que se recusam a aceitar que a orao no para ns. Imaginai o prprio Senhor ao p de vs e vede com que amor e hu-mildade vos ensina! E crede-me: enquanto puderdes, no es-

    tejais sem to bom Amigo. Se vos acostumardes a t-Lo ao vosso lado, no conseguireis apart-Lo de vs, como di-zem.

    Vdeo/DVDO JOGO DA IMITAO

    A escolha cinfila deste ms recai no filme O Jogo da Imi-tao, Morten Tyldum (HeadHunters, 2011). Desta vez o rea-lizador coloca perante o espectador uma histria biogrtica/drama passada na Segunda Guerra Mundial, que tem como protagonista Alan Turing (Benedict Cumberbatch), conhe-cido pela interpretao na srie Sherlock Holmes.

    Os aliados estavam longe da vitria devido ao uso pelos alemes de uma complicada mquina de criptografia cha-mada Enigma. Neste mbito, o governo britnico estrutura uma equipa cujo objetivo quebrar o cdigo usado na m-quina que permitia aos alemes enviar mensagens codifica-das para os submarinos. Um dos elementos da equipa Alan Turing, um matemtico de 27 anos muito lgico e focado no trabalho, mas que tem problemas de relacionamento com praticamente todos sua volta. O objetivo construir uma mquina que permita descodificar o cdigo Enigma, de for-ma que os ingleses conheam as ordens enviadas antes que estas sejam executadas. Para que o projeto seja um sucesso Alan Turing ter que aprender a trabalhar em equipa e para isso conta com o incentivo de Joan Clarke (Keira Knightley).

    No elenco encontramos ainda Matthew Goode que in-terpreta Hugh Alexander; Mark Strong Stewart Menzies; Rory Kinnear o detetive Robert Knock e Charles Dance, o comandante Denniston.

    Ttulos disponveis em maioFoxcatcher (6 de maio)The Homesman Uma Dvida de Honra (13 de maio)Automata (13 de maio)O Jogo da Imitao (20 de maio)Wild Card: Jogo Duro (20 de maio)Um Ano Muito Violento (27 de maio)

    AutorTeresa de vilaEdioCarmeloPginas198

    Valdemar Jorge