Artes Plásticas

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Dentre as grandes expressões artísticas encontramos a música, a dança, as artes cênicas, a literatura, a arquitetura e as artes plásticas, antigamente conhecidas como belas artes. Antigamente os pintores e escultores eram artífices do belo em detrimento dos outros artífices (ferreiros, sapateiros, ceramistas, etc). Todo exímio artífice é um artista, um habilidoso executor de uma função específica, pois a palavra arte vem do latim Ars, que significa habilidade. Como as artes sofreram grandes transformações com os movimentos modernistas, quando se passou a discutir sua real beleza, instituiu-se as artes que tem a capacidade de moldar, modificar, reestruturar, re-significar os mais diversos materiais na tentativa de conceber e divulgar nossos sentimentos e, principalmente, nossas ideias, isso é o que define artes plásticas. Nem por isso deixaram de serem belas, belas artes. Antigamente os homens utilizavam a cor para decorar, com fins religiosos ou materiais, o seu próprio corpo, os seus objetos ou as suas habitações. Primeiro utilizaram materiais fáceis de manipular, cada um dos quais possuía um tom estável e muito definido graças a pigmentos corantes. E, depois de fabricar as cores, quer dizer, materiais para se exprimirem, há quase trinta mil anos, os homens da pré-história inventaram a pintura. “O que é a cor?”, interrogava-se Leonardo da Vinci no seu “Tratado da Pintura”. Século e meio depois, em 1672, o físico inglês Isaac Newton responderá a esta pergunta, demonstrando que a luz branca resulta da superposição de todas as cores. As cores procedem, pois, da luz branca. Sem luz, não há cores. As civilizações primitivas utilizavam os recursos do claro- escuro nas suas obras de escultura em relevo (vulto redondo), mas ignoravam esta técnica em pintura. As primeiras imagens desenhadas pelo homem atualmente conhecidas foram as pinturas rupestres, isto é, executadas sobre paredes rochosas. Há mais de 20.000 anos começaram a fazer grandes relevos policromos, isto é, decorados com várias cores, profundamente gravados com um buril. Algumas pinturas rupestres apresentavam

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Dentre as grandes expressões artísticas encontramos a música, a dança, as artes cênicas, a literatura, a arquitetura e as artes plásticas, antigamente conhecidas como belas artes. Antigamente os pintores e escultores eram artífices do belo em detrimento dos outros artífices (ferreiros, sapateiros, ceramistas, etc).

Todo exímio artífice é um artista, um habilidoso executor de uma função específica, pois a palavra arte vem do latim Ars, que significa habilidade. Como as artes sofreram grandes transformações com os movimentos modernistas, quando se passou a discutir sua real beleza, instituiu-se as artes que tem a capacidade de moldar, modificar, reestruturar, re-significar os mais diversos materiais na tentativa de conceber e divulgar nossos sentimentos e, principalmente, nossas ideias, isso é o que define artes plásticas. Nem por isso deixaram de serem belas, belas artes.

Antigamente os homens utilizavam a cor para decorar, com fins religiosos ou materiais, o seu próprio corpo, os seus objetos ou as suas habitações. Primeiro utilizaram materiais fáceis de manipular, cada um dos quais possuía um tom estável e muito definido graças a pigmentos corantes. E, depois de fabricar as cores, quer dizer, materiais para se exprimirem, há quase trinta mil anos, os homens da pré-história inventaram a pintura.

“O que é a cor?”, interrogava-se Leonardo da Vinci no seu “Tratado da Pintura”. Século e meio depois, em 1672, o físico inglês Isaac Newton responderá a esta pergunta, demonstrando que a luz branca resulta da superposição de todas as cores. As cores procedem, pois, da luz branca. Sem luz, não há cores.

As civilizações primitivas utilizavam os recursos do claro-escuro nas suas obras de escultura em relevo (vulto redondo), mas ignoravam esta técnica em pintura. As primeiras imagens desenhadas pelo homem atualmente conhecidas foram as pinturas rupestres, isto é, executadas sobre paredes rochosas.

Há mais de 20.000 anos começaram a fazer grandes relevos policromos, isto é, decorados com várias cores, profundamente gravados com um buril. Algumas pinturas rupestres apresentavam outro tipo de decoração. Mostravam uma técnica já muito aperfeiçoada para aqueles tempos: os pintores utilizavam terras de cores e carvão de madeira, e, além disso, fixavam as cores através de substâncias vegetais.

Desta maneira pode-se comparar uma ornamentação pré-histórica das paredes da Gruta Oenpelli (Austrália), que evoca mulheres correndo, com a tela de Matisse intitulada “A dança” de 1909. Embora muito antiga, a concepção do desenho é a mesma que nos nossos dias: as linhas são simplificadas e põem em evidência, exagerando-o, em determinado movimento.

As pinturas rupestres sugerem geralmente cenas de corrida, de perseguições, ligadas à prática de caça, então vital. Embora Matisse tenha pretendido representar outro tema (a música e a dança), criou uma obra que corresponde ao mesmo princípio da arte rupestre; nela, o ritmo é igualmente ilustrado por vários indivíduos esboçando cada um simultaneamente uma fase do movimento do conjunto.

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Evocações de cenas de caça nas cavernas pré-históricas, afrescos índios e romanos e mosaicos bizantinos. Durante muito tempo, os homens utilizavam as paredes dos seus palácios ou das suas casas como suporte da expressão artística. Mas, na Idade Média, mais do que pintores (segundo técnicas a base de tintas dissolvidas na água), os artistas eram principalmente hábeis escultores e ousados arquitetos.

Só no século XV foi inventada a técnica da pintura a óleo, em que substâncias coloridas se misturam com solventes oleosos. Desde então, os grandes criadores europeus dedicaram-se a pintura.

Sendo o desenho a origem de toda a obra, torna-se particularmente instrutivo observar os esboços dos pintores e escultores. Quase todos os grandes artistas são admiráveis desenhistas: tiram diretamente da natureza, ambientes, silhuetas e expressões com a ajuda dos seus esboços.

O alemão Wols, observador infatigável, repetia várias vezes os desenhos nos seus cadernos. Através da espontaneidade destas notas de trabalho, os criadores deixam que se manifeste o seu temperamento. E assim o pintor fica identificado na sua obra. Esta atividade surge naturalmente no artista. “O artista trabalha como o rouxinol canta, porque é assim a sua natureza”, escreveu Van Gogh ao seu irmão Theo.

Fiel à sua vocação, o verdadeiro artista está disposto a viver nas condições mais precárias e difíceis para entregar-se inteiramente à sua arte. Muitos pintores disseram travar uma verdadeira batalha diante de uma tela branca. Miró descreve-nos assim a gênese de uma de suas obras; “Ataco a tela e venço-a... com pincel, com uma brocha, com tubos de tinta!”. Picasso compara esta luta com uma corrida de touros: “O pintor deve saltar para a arena, só, com o cavalete e a sua tela branca.”.

Esta necessidade interior nunca obedece a um jogo ou capricho passageiro. Picasso emitiu este juízo sobre Cézanne, um dos percussores da arte moderna: “Se Cézanne é Cézanne, é porque aguentava até ao fim. Quando tinha diante de si uma paisagem, olhava-a fixamente, como um caçador à sua presa. Nunca cedia. Nunca. E olhai o resultado.”.

Quem só vê defeitos na pintura moderna pensa que os artistas contemporâneos não fazem se não espalhar arbitrariamente as tintas na tela, ou pintar toscamente como pintam as crianças. Este juízo corresponde a um profundo desconhecimento da arte: por muito grandes que sejam a frescura, a ingenuidade e a beleza dos desenhos feitos pelas crianças das escolas, nunca poderão criar obras tão estruturadas e significativas como as de Klee, Miró, Chagall e como as de tantos pintores modernos que não se limitam a copiar o real.

Não é, porém, nesta matéria que reside o segredo. Como é que certos homens chegam a essa grande simplicidade aparente, a essa depuração, que é toda uma maneira pessoal de conceber a realidade? Uma pintura não é a cópia servil da natureza. A ficção vai além da realidade. O artista autêntico procura ultrapassar o real, captar o caráter de uma paisagem, a expressão de um rosto, a alma de uma natureza-morta, inventar novas formas e combinações de formas e cores, etc.

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Inspirando-se no espetáculo que lhe é oferecido diariamente, o criador pode fazer suas as palavras de Leonardo da Vinci: “Se olhas as paredes sujas de manchas ou construídas com pedras diferentes que te fazem imaginar algumas cenas, verás paisagens variadas, com montanhas, rios, árvores, planícies, grandes vales e diversos grupos de colinas. Descobrirás também combates e figuras em rápido movimento, estranhos rostos, trajes exóticos, e uma infinidade de coisas, que poderás converter em formas diferentes e bem concebidas.”.

Atualmente, na era da fotografia, alguns quadros do passado parecem cópias da realidade. Descrevem fielmente, sem fantasias, episódios da Bíblia, a vida dos personagens da corte, cenas de batalhas, paisagens...

Todavia, já no século XIX, Delacroix suscitou a hostilidade dos seus contemporâneos por não ter respeitado a verdade histórica na sua obra Entrada dos Cruzados em Constantinopla. Da mesma maneira, Ingres escandalizou os puristas quando juntou duas vértebras à anatomia de A Grande Odalisca. E não falemos dos visionários Bosh ou Bruegel, o Velho, cujo espírito audaz e inventivo levou a traduzir sobre tela (no século XVI) os seus sonhos e obsessões.

Os pintores não deixam de impregnar as suas obras com sua própria personalidade. Cada quadro é fruto de um lento trabalho de elaboração: corresponde a um plano minucioso, em que foi estudado o menor pormenor. Por exemplo, o uso de certas cores foi objeto de muitos ensaios realizados previamente e de incontáveis esboços que precederam a composição final.

Na sequência do advento da eletricidade, dos transportes rápidos e dos meios audiovisuais, o homem do século XX adotou outros modos de vida. Envolvido numa sucessão de sensações novas, é agredido continuamente pelo espetáculo da rua, pela profusão de imagens, cores e sons, por uma nova tecnologia.

Se o pintor francês Léger foi um dos primeiros a celebrar a era mecânica e da máquina, não deixou, porém, de permanecer fiel, sobretudo através do cubismo, à uma arte figurativa. Contrariamente, o soviético Kandinsky e o suíço Klee adotaram um nove grafismo: o da abstração, na qual as linhas não definem nenhum objeto identificável.

Ambos publicaram escritos nos quais emitiam uma teoria revolucionária: “A arte não reproduz o visível”, dizia Klee, “faz visível.” Paralelamente, o holandês Mondrian partia da observação de uma árvore para acabar numa sucessão de desenhos, em quadros compostos por linhas simples, verticais e horizontais, traçadas à régua.

Antes deles, já Cézanne procurara com paixão, segundo ele próprio conta, “representar a natureza pela esfera, o cubo e o cone”.

“Os artistas criadores exercem uma atividade paralela à nossa, mas num plano diferente”. São as palavras do físico alemão Werner Heisenberg, Prêmio Nobel em 1932.

O trabalho de um pintor parece-se, efetivamente, com o do cientista pela sua procura perpétua, pelo seu eterno pôr em questão as coisas. A criação termina onde começa a rotina, onde começa a imitação sistemática. Pois, como afirma Léger, projetando a sua vida atual

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sobre algo que no passado fora inovador, “imitar bem um músculo como os que pinta Miguel Ângelo, ou um rosto como os de Rafael, não é criar progresso”.

Para saber até que ponto houve criação ao elaborar um quadro, compara-se este com toda a obra do pintor estudado e com as dos artistas precursores, contemporâneos e, inclusive, sucessores do mesmo. É um exercício sumamente interessante para iniciar-se no conhecimento das obras de arte e da sua linguagem.

No entanto, um juízo sobre um pintor atual não será amplamente aceito antes de decorridos alguns anos, e até só depois da sua morte. Quantos artistas de talento desconhecidos viveram na miséria, sofrendo o desprezo do público e da crítica. E, ao contrário, quantos conheceram um fugaz êxito para logo caírem no esquecimento total. De Cézanne a Monet, de Renoir a Manet, os impressionistas, cujos quadros atingem hoje os mais elevados preços, foram unanimemente repudiados há cem anos.

A maioria dos artistas estudou as obras primas da pintura. Por exemplo, Picasso, que frequentava muito museus, criou com seu estilo particular novas versões das Meninas, de Velázques, e das Mulheres de Argélia, de Delacroix. Mas, embora os pintores se exercitem inspirando-se na técnica ou nos temas dos grandes mestres do passado, logo se separam desta herança passageira e procuram a sua própria realização. Cada um exprime à sua maneira o repúdio pela arte tradicional, que não procura senão seduzir as massas.

Desde os princípios do século XX, que se sucedem as declarações e os manifestos. Em 1920, Marcel Duchamp chega a ridicularizar a famosa Gioconda, pintando-a com barba e bigode. Com esta obra intitulada L.H.O.O.Q., Duchamp não pretendia condenar a obra de Leonardo da Vinci, mas sim o culto que a rodeia. Por sua vez, os dadaístas e depois os espontaneistas exprimiram a sua oposição às formas estereotipadas de arte, às formas que se fixaram ao gosto de um público demasiadamente conservador.

Cada um vê as coisas à sua maneira. Um quadro, por exemplo, será percepcionado de maneiras diferentes, segundo o interesse da pessoa pela sua estética, pela sua função, pela sua forma, pela sua cor ou pelo material utilizado. Alguns o considerarão demasiado pesado; outros, demasiado ligeiro. E convém recordar que um quadro não se pode ver inteiramente de uma vez, com um só olhar. Mas, se as interpretações das obras de arte são numerosas, as divergências de opinião favorecem a discussão, a troca de ideias, o encontro. Quantos juízos sobre obras de arte somente se referem a sua parte visível? Quantos também levam em conta sua parte oculta? Cada um reage à sua maneira, pelo prazer, a indiferença ou a repulsa. Como afirma o pintor catalão Antoni Tapies, “muitos espectadores aprendem intuitivamente a situar-se nesse estado de aceitação necessário para receber o choque da obra de arte para experimentar as associações de ideias em cadeia que constituem a emoção artística”.

Alguns se interessarão somente por um aspecto da obra (forma, proporções, cores) ou, simplesmente, por um fragmento da mesma. O pintor impressionista Sisley afirmava que cada quadro contém “rincões privilegiados”.

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Perante essa realidade que é a obra do artista, o visitante de um museu ou de uma galeria de arte pode dar livre curso a toda sua imaginação e formular juízos legitimamente subjetivos. Juízos que, por outro lado, terá que rever frequentemente.

Além do mais, muitos criadores atuais recusam-se a dar títulos definitivos aos seus quadros, com o objetivo de conferir às suas obras mais universidade e universalidade e, segundo palavras de um pintor holandês contemporâneo, Bram Van Velde, “para dar completa liberdade a quem observa”.