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artesãs do maramara IPHAN– EDITAL PNPI - 2005 Realização: Instituto de Pesquisa e Formação em Educação Indígena

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artesãs do maramara

IPHAN– EDITAL PNPI - 2005

Realização:

Instituto de Pesquisa e Formação em Educação Indígena

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artesãs do maramara Edital PNPI – 2005

Denise Fajardo Grupioni Coordenadora

Diakuí Tiriyó e Cristiane Mitore

Instrutoras

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Índice

Introdução – 03

Situação atual – 08

Trabalhos realizados – 13

Os grafismos – 17

As matérias primas – 18

Avaliação e perspectivas – 22

Anexos

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Introdução

Este projeto, desenvolvido no âmbito do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial – PNPI partiu da demanda que um grupo de mulheres apresentou à coordenação do Programa Tumucumaque/Iepé, em 2005, por ocasião da 1ª Oficina de Documentação de Saberes Orais e Manifestações Artísticas Tiriyó e Kaxuyana, realizada na área indígena com apoio da Petrobrás Cultural. Esta primeira oficina foi voltada para um trabalho de sensibilização à importância da pesquisa, documentação e valorização dos saberes próprios. Neste sentido, foi muito interessante ver jovens e velhos, homens e mulheres, empenhados em registrar seus conhecimentos e em discutir como organizá-los, ora felizes pelo que ainda sabem, ora angustiados pelo que já esqueceram, mas motivados a ir atrás das pessoas que possam ajudá-los a recuperar o que está caindo no esquecimento e no desuso. Foi nesse contexto que surgiu, entre as mulheres, o “assunto” do maramara (semente nativa, utilizada na produção de tangas, colares e acessórios de vestimenta) e de um projeto de apoio que lhes permitisse organizar-se em torno da melhoria das condições de transmissão, produção e reprodução dos saberes ligados a essa prática artesanal.

Por se tratar de uma primeira iniciativa, todas as conversas foram realizadas a partir de pretensões bem modestas, tendo em vista a inexistência de qualquer outra experiência anterior nesta direção. Assim, com apoio do Iepé, chegou-se a um plano e orçamento mínimos (R$ 30.000,00) que permitiria reunir um grupo de mulheres durante 15 dias, na cidade de Macapá, para discutir a situação atual de seu trabalho

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artesanal, tanto em relação às matérias primas, quanto em relação à situação da transmissão de conhecimentos às meninas em idade de aprendizado, bem como documentar os saberes e técnicas envolvidos nesta produção artesanal, para disponibilização e difusão ao público local e mais amplo.

A notícia da aprovação do projeto enviado ao IPHAN foi recebida com muita satisfação pelas mulheres. E se até então não imaginavam que sua proposta pudesse ter boa acolhida, a partir de então, com ânimo renovado, passaram a lamentar que o projeto tivesse se restringido a apenas uma ação na cidade, e não na área indígena, e que fosse voltado apenas para o artesanato de maramara e não de miçangas. Desde então passamos a conversar sobre a possibilidade de conseguir outros apoios que permitissem esta ampliação de planos.

A intenção agora era viabilizar uma ação prévia na área indígena antes de se dar início às ações propostas no projeto apresentado ao IPHAN. Somente assim seria possível começar in loco o trabalho de documentação dos saberes e técnicas envolvidos no artesanato do maramara. E também ampliar o foco deste artesanato, para o das miçangas, que as mulheres tiriyó e kaxuyana tanto apreciam já de longa data e com o qual tanto se identificam.

Com efeito, apesar de ser mais antigo e mais apreciado internamente, o artesanato de miçangas não encontra apelo externo. Isso as mulheres tiriyó e kaxuyana já vêm constatando há algumas décadas, ao longo de sua incipiente experiência de comercializar peças tecidas com sementes e miçangas, seja nas próprias aldeias por ocasião da presença de eventuais visitantes, seja nas cidades, por ocasião de eventuais viagens ou através do envio por encomenda. No decorrer desse tempo, perceberam que a demanda externa recai sobre peças tecidas com matérias-primas nativas e que, para se adequar a essa demanda, precisam produzir mais peças com sementes do que com miçangas.

Porém, o que veio à tona, somente quando souberam da aprovação deste projeto é que, embora desejassem também um trabalho voltado para a valorização da tecelagem com miçangas, isso não havia sido proposto pelo receio de não encontrar boa acolhida. Colocada em pauta a possibilidade de incluir a tecelagem com miçangas também em foco, passou-se a buscar apoio.

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E os apoios para esta ampliação desejada, de ações (da cidade para as aldeias) e de foco (do maramara para as miçangas) vieram - ainda para o ano de 2006 - da Petrobrás Cultural e da FUNAI (AER Macapá/AP, Coordenação de Educação/Brasília e Museu do Índio/Rio de Janeiro). Para o início do ano de 2007, contamos com o apoio do Iphan/DEMU, Museu do Índio e Norad, para a realização uma oficina no rio Marapi. Com esta oficina toda a área de abrangência do projeto (rio

Paru de Oeste, rio Marapi e cidade de Macapá) foi coberta, e todas as mulheres interessadas puderam particicipar.

Com o apoio concedido pelo Iphan/Edital PNPI/2005, de R$ 30.000,00 foram realizados os seguintes trabalhos: uma oficina, na cidade de Macapá/AP1, reunindo 20 mulheres, para discutir a situação atual de sua prática artesanal, bem como documentar saberes e técnicas envolvidos nesta prática; um conjunto de banners que irão integrar uma exposição itinerante para circular tanto em suas aldeias quanto na cidade de Macapá, e ainda, um pequeno catálogo sobre este artesanato.

Com os apoios complementares da Petrobrás Cultural, em frete aéreo (R$ 16.800,00); da Coordenação Geral de Educação - CGE/FUNAI, em material de consumo, alimentação e combustível (R$ 5.000,00) e do Museu do Índio/FUNAI, em 80 kg de miçangas (R$ 800,00) e 3 passagens aéreas (SP/MCP/SP), foi possível realizar três oficinas na faixa oeste da Terra Indígena Parque de Tumucumaque, de 12 a 23 de setembro de 2006, nas aldeias Missão Tiriyó, Pedra da Onça, Santo Antônio2.

Portanto o que será apresentado neste relatório corresponde aos resultados das ações propostas no projeto original entregue ao IPHAN – Edital PNPI/2005 que, sem dúvida, acabaram sendo enriquecidos pelos resultados das demais ações realizadas a partir dos apoios complementares mencionados.

1 Tendo em vista o alto custo do frete aéreo que seria necessário para realizar esta oficina no interior do Parque Indígena de Tumucumaque/PA. 2 Em Macapá contamos com o apoio logístico da AER/FUNAI local, e no Parque, com o apoio da Missão Tiriyó dos frades franciscanos da província de Santo Antônio/PE e, ainda, com o suporte de informática da Unidade de Vigilância local do SIVAM.

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Ao todo (incluindo a última oficina realizada em janeiro de 2007 com apoio do Iphan/DEMU, Museu do Índio e Norad) o número de participantes chegou em torno de 100 pessoas, de 12 a 80 anos, moradores de aldeias do Rio Paru de Oeste e Marapi. Durante essas oficinas foram realizadas atividades, sobretudo, voltadas para o início de um trabalho de revitalização da transmissão de conhecimentos ligados ao artesanato feminino. Demos início à documentação dos saberes e técnicas envolvidas na produção deste artesanato, realizamos um primeiro levantamento de grafismos, das espécies utilizadas para a produção dos diferentes corantes empregados no tingimento das sementes de maramará, bem como sua distribuição pelo território e condições de acesso das diferentes aldeias a essas espécies; e, ainda, dos tipos de objetos produzidos hoje e antigamente, com os devidos usos, finalidades, decoração e simbolismo.

Durante as oficinas foram produzidas cerca de 200 peças de miçanga e maramara entre colares, pulseiras, cintos e foi iniciada a confecção de 20 keweyu (tangas de miçanga tradicionalmente usadas pelas mulheres tiriyó e kaxuyana). Algumas destas peças formarão uma coleção que será integrada ao acervo do Museu do Índio, no Rio de Janeiro. Além disso, foram realizados cerca de 250 desenhos e gravadas 10 horas de narrativas.

Com a ida de duas instrutoras Tiriyó/Kaxuyana – Diakuí Sora e Mitore Cristiane - para São Paulo na segunda semana de outubro, este acervo foi organizado e todas as informações foram sistematizadas para servir de base à produção de materiais que permitirão tanto a socialização deste conhecimento entre os próprios Tiriyó e Kaxuyana, quanto a sua preparação para divulgação entre o público externo.

Após esta estadia em São Paulo, Diakuí e Cristiane, estiveram em Brasília no dia 18/10/2006 onde participaram de reuniões com os órgãos que estão apoiando este programa de ações:

Reunião com CGART e CGE da Funai/BSB

Reunião conjunta, na Funai/BSB, com os coordenadores e equipe da CGART e CGE para discutir novas possibilidades de apoio da Funai ao projeto

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“Valorizando o conhecimento do artesanato de sementes e miçangas das mulheres Tiriyó e Kaxuyana”. Na ocasião, Diakui e Cristiane falaram dos trabalhos realizados e do interesse das mulheres envolvidas na continuidade das ações.

Reunião com o Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN

Reunião no IPHAN com Teresa Paiva Chaves, Rívia Ryker, Marcus Vinícius Carvalho Garcia sobre o andamento do Projeto Artesãs do Mararama que conta com apoio do DPI.

De 16 a 23 de novembro foi realizado na cidade de Macapá o trabalho de tradução das 10 horas de gravações colhidas durante as oficinas. Com essas traduções e o restante do material reunido foram preparados os banners e o catálogo propostos ao IPHAN.

Oficina na Missão Tiriyó/set.2006

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Monte Kantani, próximo à Missão Tiriyó/PIT/PA Norte do Pará e Amapá

Aldeia Missão Tiriyó / Rio Paru de Oeste/ Aldeia Santo Antônio/ Rio Paru de Oeste

Aldeia Pedra da Onça/Rio Paru de Oeste Aldeia Cuxaré/Rio Marapi

Aldeia Santo Antônio/Paru de Oeste

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Diakuí Tiriyó e Cristiane Mitore,

em São Paulo (out.2006)

Reuniões em Brasília na Funai

e no Iphan (out. 2006)

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Situação atual dos saberes orais sobre as diferentes manifestações artísticas e sobre a tecelagem de sementes e miçangas

Isso nunca aconteceu antes e essa é a primeira vez. Todo mundo está gostando. Quando não existia miçanga a gente só usava algodão. A gente fazia enfeite de algodão e também era assim. Quando o

papai acordava, ele falava para a gente: aprende, faz, trabalha, um dia você vai precisar. Mas eu tava perdendo tudo isso. Agora eu acordei. É como se eu tivesse dormindo. Então eu gostei desse

trabalho. Espero que a gente continue. (Korü Tiriyó- durante a oficina realizada na Missão Tiriyó/set.2006 )

Ao contrário do que possa parecer à primeira vista, no Tumucumaque e

também por toda região mais ampla que estende do Amapá ao Norte do Pará, a tecelagem de peças para vestimenta e adornos diversos com miçangas é anterior à tecelagem com sementes de maramara. Antes da miçanga chegar, peças como tangas femininas (keweyu) e cinturões (pënti) masculinos eram basicamente tecidas com algodão tingido. A partir de meados do século XIX, começaram a adentrar na região alguns negros refugiados da então Guiana Holandesa (atual Suriname), que passaram a realizar um tipo comércio que se expandiu em uma ampla rede de trocas por toda região das Guianas e que vigorou até meados do século XX, quando, em ambos os lados da fronteira entre o Brasil e os países guianenses, começaram a se fazer presentes missões religiosas e agências governamentais de assistência.

Desde então a vida das populações locais passou a girar em torno desses agentes e o comércio com os negros (conhecidos regionalmente como Mekoro) enfraqueceu. E se até então era por meio desse comércio que se obtinham não apenas os bens industrializados considerados indispensáveis como espingardas, sal, panos e outros mais, era também pelos negros Mekoro que chegava a tão apreciada miçanga.

Já por meio dos novos agentes de contato (principalmente missionários e indigenistas) que surgiram a partir dos anos 1960 na região, a miçanga tornou-se cada vez mais escassa. No caso específico dos Tiriyó e Kaxuyana que passaram a morar na Missão Tiriyó, aldeia base da Missão Franciscana que lá se instalou em 1961, ainda houve um acesso privilegiado durante os anos 70 e 80, porque a Missão

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se encarregava de garantir um fornecimento razoável de miçangas para que as mulheres pudessem fabricar suas peças. Mas com a morte do Frei que garantia esse fornecimento, nos anos 90, a miçanga tornou-se bastante rara. E, entre alguns grupos vizinhos como os Aparai e Wayana que residem na faixa leste do Parque de Tumucumaque, essa escassez foi mais crítica e foi justamente com as mulheres wayana que a substituição da miçanga pelo maramara tomou força.

Para muitas jovens tiriyó e kaxuyana que participaram das oficinas realizadas, foi uma novidade saber que a miçanga é anterior ao maramara e que o preparo e uso desta semente foi aprendido com as mulheres wayana. Nas oficinas ficou evidente que muitas destas jovens não tinham idéia das origens, nem do grau de antigüidade do uso desta ou daquela matéria prima. Mesmo aquelas que, no seu dia-a-dia costumam confeccionar bastante artesanato de maramara, surpreendentemente desconheciam sua apropriação recente.

Por ocasião destas oficinas e de outras ações de valorização cultural que o Iepé vem desenvolvendo na faixa oeste do PIT, é possível perceber que atualmente, não apenas as mulheres que se constituíram no público alvo do Projeto “Artesãs do Maramara”, mas um público mais amplo de homens, desde os mais velhos aos mais jovens, habitantes de diferentes aldeias situadas ao longo dos rios Paru de Oeste e Cuxaré, vêm cada vez mais demonstrando interesse e sensibilizando-se para a necessidade de refletir e discutir sobre a sua situação sócio-cultural atual e sobre o seu futuro.

Em agosto de 2005, durante a 1ª Oficina de Documentação de Saberes Orais e Manifestações Artísticas Tiriyó e Kaxuyana, foi realizada uma primeira iniciativa neste sentido e já naquela ocasião, em que a idéia era documentar repertórios de grafismos e as histórias de suas origens, bem como as tintas usadas na aplicação destes grafismos à pintura corporal, saltou aos olhos de todos a pouca vitalidade da cadeia de transmissão de saberes orais ligados a estes assuntos.

Se desenhar, assim como preparar e registrar o modo como se fazem as tintas, foi fácil e prazeroso, explicar como estas coisas surgiram e chegaram até aqui, foi algo que, por assim dizer, encheu os integrantes da oficina de interrogações. A maior parte eram homens e mulheres na faixa dos 40 aos 60 anos, mas poucos dentre eles sabiam recontar estas origens. Diante disso, decidiram recorrer a alguns de seus parentes mais idosos, residentes nas proximidades, que

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não estavam participando da oficina, mas que foram de bom grado expor o que sabiam.

Esta situação abriu terreno para uma questão: “onde estão os nossos conhecimentos e o que guardamos em nossa memória?” E a resposta foi a de que boa parte disso se perdeu ao longo dos anos com os velhos que foram morrendo nas últimas décadas, levando o que sabiam com eles, ou na medida em que os que ainda estão vivos, não mais encontram ouvidos para escutá-los.

Ou seja, sem o canal usual de transmissão, que é o da oralidade, como diziam os integrantes da oficina: “os conhecimentos que antes passavam de geração em geração, hoje estão presos na cabeça de quem os guardou e não encontram mais como sair”.

Alguns meses após a realização daquela 1ª Oficina, em novembro de 2005, estas preocupações foram compartilhadas com representantes de outros grupos indígenas, Wajãpi e do Oiapoque/AP durante o Seminário “Experiências Indígenas em gestão e Pesquisa de Patrimônios Culturais no Amapá e Norte do Pará”. Naquela ocasião diante da questão em torno do que se entende por “patrimônio” e “cultura”, Naxau Tiriyó disse: “Ainda vai custar para a gente entender o que é patrimônio, porque a nossa cultura é diferente: quando alguém morre o lugar é abandonado e tudo fica para trás, as coisas são destruídas”.

O interessante nessa resposta é que, em sua formulação pela negativa vislumbra-se não apenas uma angústia; mas uma visão do que seja patrimônio e cultura que o próprio Naxau e demais representantes tiriyó e kaxuyana presentes apenas perceberam que já tinham quando perguntados se as coisas de alguém, ou seja patrimônio individual ou de um grupo consistiria apenas em suas propriedades materiais ou, se além destas não existiriam outras propriedades que se não forem transmitidas antes da morte de uma pessoa, também seriam destruídas. Foi então que o Aretna Tiriyó concordou dizendo que “no passado, os mais antigos morreram. Só sobrou a mãe de Simica e ela resolveu transmitir o que sabia. Em seguida, o jovem Justino Tiriyó sugeriu que uma coisa é aquilo “tudo o que os nossos pais passam” e que outra coisa são “nossos objetos que não podem sumir” e que por isso devem “ser acrescentados pelos nossos filhos”. Após essas colocações eles próprios perceberam que já tinham não apenas compreendido o que seria patrimônio, como estabelecido a diferença entre o que chamamos patrimônio

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material e patrimônio imaterial. Então explicaram que estavam entendendo que o patrimônio imaterial é a

fonte (em tiriyó, entu) do patrimônio material, e que só agora eles estavam percebendo que mais do que preservar as coisas materiais o importante é preservar os conhecimentos sobre o como se faz essas coisas, já que enquanto esse conhecimento estiver vivo, não haverá problema em abandonar os lugares e as coisas dos mortos, pois eles continuarão sabendo fazer novos lugares e produzir novos objetos.

O grupo de representantes tiriyó e kaxuyana presente naquele Seminário era bem heterogêneo, composto de homens e mulheres, mais velhos e mais jovens que, agora vêm acompanhando e participando das ações desencadeadas pelas oficinas descritas neste relatório. Tal diversidade possibilitou que os variados assuntos fossem discutidos de diferentes pontos de vista. Assim os homens mais velhos colocaram sua preocupação com relação ao crescente desinteresse dos mais novos pelas festas e pelo aprendizado da construção de casas, canoas e demais itens que fazem parte de sua cultura material; as mulheres lamentaram que muitas meninas estariam passando da idade de aprender a fazer colares e demais acessórios de maramara e miçanga; já os mais jovens foram muito sinceros em dizer que têm vergonha de sua própria cultura. E embora achem que seja importante valorizá-la, não sabem como superar este sentimento perante os não-índios que freqüentam suas aldeias ou com os quais convivem quando estão na cidade.

Um outro ponto interessante diz respeito à motivação dos diferentes grupos para o envolvimento em ações de valorização cultural. Os Tiriyó presentes consideraram que atualmente os Kaxuyana encontram-se mais motivados. Houve um consenso quanto isso e a questão que surgiu foi a de saber se esta motivação vem do fato de que os Kaxuyana já abandonaram muito mais coisas que os Tiriyó e inclusive quase perderam sua língua própria. E, se, portanto, é só chegando a um ponto crítico que os grupos sensibilizam-se para a importância da valorização cultural, ou se é possível mobilizar-se antes de chegar ao ponto que chegaram os Kaxuyana. A conclusão foi a de que nunca é cedo demais nem tarde demais para se fazer algo em prol do fortalecimento cultural e da melhoria da auto-estima do grupo.

Pensando no que fazer a curto prazo para começar este trabalho, comprometeram-se de voltar para suas aldeias e reunirem-se para contar do

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seminário e conversar sobre o que está se perdendo e o que se pode fazer para reverter esta situação.

Essa questão voltou à cena novamente neste ano de 2006, nas oficinas das “Artesãs do Maramará”, e a conclusão a que se chegou é a de que “o que se aprende hoje, se aprende mais fazendo do que ouvindo”, e que é muito importante que os mais jovens se interessem em conversar e aprender com os mais velhos. Situações desse tipo foram propiciadas durante as oficinas, mas todos concordaram que é preciso investir mais esforço nesse aprendizado.

No que segue, apresentamos uma descrição geral das cinco oficinas realizadas de setembro de 2006 a janeiro de 2007 e dos resultados obtidos.

Árvore do maramara Schefflera morototoni

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Trabalhos realizados em cada oficina

1ª Oficina Período: 12 a 15 de setembro de 2006 Local: Missão Tiriyó / Parque de Tumucumaque / PA Participaram 34 mulheres de 14 a 80 anos. Durante a reunião de abertura

elas manifestaram logo de início seu interesse em priorizar atividades que envolvessem a tecelagem com as miçangas enviadas pelo Museu do Índio. Nesta etapa elas puderam contar com 40 kg de miçanga, além de linhas e agulhas.

A oficina foi iniciada com atividades de registro do repertório de grafismos utilizados nas peças que costumam confeccionar. Após elas se organizaram em grupos de acordo com a escolha de quais peças iriam tecer. Das 34 mulheres, apenas um terço, composto pelas mais velhas, sabia tecer as peças mais antigas como é o caso das tangas femininas e cinturões masculinos. Oito delas optaram por começar a confecção de tangas, e duas decidiram fazer cinturões masculinos.

As mais novas optaram por confeccionar colares e pulseiras, enquanto acompanhavam com interesse a tecelagem das peças mais complexas. Ao fim da oficina, as tangas e cinturões ainda estavam sendo tecidos e por isso continuaram sendo tecidas após a oficina, mas todas as demais peças foram entregues para compor um acervo que mais tarde foi organizado pelas instrutoras Diakui e Kiri.

Oficina na Missão Tiriyó/set. 2007

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2ª e 3ª Oficina Período: 18 a 23 de setembro de 2006 Local: Aldeias Pedra da Onça e Santo Antônio / Pque de Tumucumaque / PA Após uma semana de trabalhos na Missão Tiriyó, que reúne uma população

de cerca de 400 pessoas, descemos 96 km rio abaixo, em direção a duas pequenas aldeias, com não mais de 80 habitantes cada uma. Nestas aldeias, não apenas mulheres participaram dos trabalhos, mas também alguns homens que se interessaram em contar histórias, fazer desenhos e ajudar a encontrar as matérias primas que compõem o artesanato de algodão e sementes.

Na aldeia Pedra da Onça participaram 15 pessoas, que se revezaram na produção de desenhos, narrativas e no trabalho de busca das matérias primas e preparo das mesmas para a confecção do artesanato. Todo processo foi descrito e fotografado e encontra-se exposto mais adiante.

Na aldeia Santo Antônio o trabalho foi parecido e complementar ao que foi realizado na Pedra da Onça. Nesta aldeia também participaram em torno de 15 pessoas, e como a população desta é mais jovem, a maioria dos participantes eram jovens, rapazes e moças, de 14 a 20 anos que freqüentam a escola da aldeia. Entre as jovens desta aldeia, a prática do artesanato de maramara para venda é constante e de reconhecida qualidade. A miçanga é muito apreciada para confecção de peças para uso próprio, porém de muito difícil acesso.

Em ambas as aldeias a miçanga doada pelo Museu do Índio foi trocada por peças de maramara. Estas peças farão parte de um acervo que servirá de base para estudos e discussões nas próximas oficinas.

Oficina na aldeia Pedra da Onça Aldeia Santo Antônio (set.2007)

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4ª Oficina Período: 24 a 29 de setembro de 2006 Local: Macapá / AP Em Macapá residem alguns estudantes indígenas tiriyó e kaxuyana e circula

uma população flutuante de pessoas que precisam passar alguma temporada na cidade, seja para resolver assuntos diversos, seja para tratar da saúde. Existem três casas onde essas pessoas residem ou hospedam-se, além da Casa de Saúde do Índio/CASAI da Funasa, onde ficam os pacientes com seus/suas acompanhantes.

Em Macapá, por estarem ausentes de seus afazeres domésticos, as mulheres tiriyó e kaxuyana acabam tendo mais tempo para dedicar-se à confecção de artesanato e também mais oportunidades de venda. Para atender esta população é que foi prevista uma oficina nesta cidade.

Aqui o trabalho com miçangas também foi priorizado, e 20 kg de miçangas doadas pelo Museu do Índio foram divididas entre as 20 participantes que se revezaram no trabalho de registro dos motivos gráficos utilizados no artesanato de miçangas e de confecção de colares, cintos e pulseiras que integrarão o acervo resultante deste projeto.

CASAI/Macapá/AP Oficina na sede do Iepé em Macapá/AP

Oficina na sede do Iepé em Macapá/AP (set./2006)

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5ª Oficina Período: 22 a 31 de janeiro de 2007 Local: Aldeia Cuxaré /Pque de Tumucumaque/PA Esta oficina foi muito esperada pelas mulheres moradoras da aldeia Cuxaré e

demais aldeias situadas ao longo do rio Marapi. Em 2006 elas ficaram sabendo das oficinas realizadas para as moradoras do Rio Paru de Oeste e desde então passaram a pedir que o no rio Marapi também fosse feita uma oficina. Toda dificuldade de atingir este rio era de ordem logísitica e orçamentária. Resolvido esse problema, com apoio do Iphan/DEMU, Museu do Índio/Funai e Norad, programamos esta oficina que aconteceu em janeiro último.

Nesta oficina foi priorizado o trabalho com as miçangas doadas pelo Museu do Índio, uma parte destinada para uso próprio e outra parte para a confecção de diversos modelos de tangas femininas (keweyu) e cinturões masculinos (pënti) destinados a compor um acervo de peças em miçanga que está sendo montado no Museu do Índio. Um grupo de mulheres, com filhos na faixa entre 8 meses e 7 anos se encarregou de confeccionar novos cordões de miçanga para amarrar nas pernas de suas crianças. Além de enfeitar, com essa prática as mães e avós cuidam para que as perninhas de seus filhos cresçam moldadas por esses cordões.

Também foram gravadas falas dos mais velhos, homens e mulheres que contaram suas versões sobre as origens da tecelagem com sementes e miçangas em sua região.

Oficina na aldeia Cuxaré (jan.2007)

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Os grafismos

Em Tiriyó, imenu quer dizer “desenho” ou “pintura”, mas também refere-se ao jenipapo (menu) planta que fornece uma das principais matérias primas utilizadas na produção de tintas e corantes. Os Tiriyó distinguem dois tipos de grafismos: imenu (abstratos) e ikuhtu (figurativos).

Imenu diz respeito aos desenhos que compõem o traçado de formas geométricas que se aplicam sobre os mais variados suportes que vão da pele, na pintura corporal; aos artefatos, como bancos, trançados e vestimentas usados no dia-a-dia ou em rituais e ocasiões especiais.

Ikuhtu diz respeito aos desenhos que reproduzem a imagem de alguém ou de algo, como uma pessoa, animal ou objeto. É uma espécie de desenho figurativo muito aplicada à confecção de acessórios como colares, cintos e pulseiras tanto de sementes, quanto de miçangas.

Durante as oficinas foram realizadas sessões de desenho desses grafismos e todos ficaram livres para desenhar quais quisessem. Ao todo foram colhidos em torno de 250 desenhos variados. Esse material foi organizado em São Paulo juntamente com as duas instrutoras Diakuí e Kiri que, com base neles, montaram uma tabela com o repertório e informações que seguem. Trata-se de um conjunto de grafismos que costumam ser usados nas diferentes peças confeccionadas. Este conjunto ainda é limitado, porque o repertório é bem mais amplo e sempre aberto a novos temas. No conjunto apresentado encontram-se alguns dos mais recorrentes na maior parte das peças confeccionadas.

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21

Lista de padrões de desenho (Imenuhton)

Imenuhton Eka Nome

Anpëe tïsikae De onde foi tirado

Anpo nemenuhtë Onde é desenhado

Onde é tecido

1

Mataware potï

Bico do tucunaré

Rosto

Pënti Colar Pulseira Bolsa

2 Ënkunwaya

Desenho que se faz nas nádegas

Keweyu

3

Arïmi arokï

Rabo do macaco quamba

Keweyu

4

Nukë ema

Caminho do cupim

Desenho que se faz nas costas

Gargantilha Bolsa Cinto Pulseira

5

Tarïpï enu

Olho de macaco

Colar Bolsa Cinto Pingente

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22

Imenuhton

Eka Nome

Anpëe tïsikae De onde foi tirado

Anpo nemenuhtë Onde é desenhado

Onde é tecido

6 Pakara imenu

Desenho do trançado do cesto pakara

Keweyu

7 Wïiyaka

Desenho que se faz no beiju e na peneira

Gargantilha Pingente

8 Perëyëfë Imenu

Espinha do peixe acari

Bolsa Pulseira

9

Siminatë

Desenho de cipó

Pënti

10

Kumarakë mota

Asa de gavião tesoura

Pënti Keweyu

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23

Imenuhton

Eka Nome

Anpëe tïsikae De onde foi tirado

Anpo nemenuhtë Onde é desenhado

Onde é tecido

11

Manukë waku

Barriga do girino

alça de colar pingente

12

Kïwïnï imenu

Desenho de cobra jibóia

Pënti Gargantilha, alça de colar pingente

13

Pakoro epu

Esteio da casa

Keweyu

14

Pararaita

Desenho do trançado do tapete p/colocar beiju (pënti)

Colar pingente

15

Pënti menu

Desenho do trançado do tapete para cobrir comidas

Keweyu

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24

Imenuhton

Eka Nome

Anpëe tïsikae De onde foi tirado

Anpo nemenuhtë Onde é desenhado

Onde é tecido

16

Aramari menu

Desenho da jibóia aramari

Pënti Pulseira Bolsa Gargantilha

17

Kuriya imenu

Desenho de jabuti

Colar Pingente

18

Tënporoko

Trançado do coador de sakura

Pingente

19

Wewe përi

Desenho do galho de árvore

Colar Bolsa

20

Tuha anpï

Desenho do ouriço de castanha

ëmena (pulseira) pingente

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25

Imenuhton

Eka Nome

Anpëe tïsikae De onde foi tirado

Anpo nemenuhtë Onde é desenhado

Onde é tecido

21

Mokoko

Desenho do peito do carangueijo

Keweyu

22

Pipa imenu

Desenho do sapo pipa

Pënti Pingente

23

Matapi menu

Desenho de tipiti

Pulseira

24

Wïrïpë ota imenu

Desenho do buraco que a larva (wïrïpë) faz no tronco da bacaba ou do buriti

Pënti Bolsa Keweyu

25

Ëkëimë inkatuku

Desenho do dorso da cobra muçum

Bolsa

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26

Imenuhton

Eka Nome

Anpëe tïsikae De onde foi tirado

Anpo nemenuhtë Onde é desenhado

Onde é tecido

26

Përëru watapapa

Desenho da borboleta watapapa

Gargantilha

27

Ako

Desenho do pilão

Pënti Pulseira

28

Kana arokï

Desenho da cauda de peixe

Pënti Keweyu Bolsa

29

Ëkëi mawa apëyan

Desenho da cobra que pega a rã

Keweyu

30

Ëkëi menu

Desenho de cobra

Pënti Pulseira Alça de colar

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27

Imenuhton

Eka Nome

Anpëe tïsikae De onde foi tirado

Anpo nemenuhtë Onde é desenhado

Onde é tecido

31

Ëkëimë paitamu

Desenho da cobra anta grande

Bolsa

32

Ëkëi nuton

Desenho da cobra nuton

Colar Pingente

33

Amïn wëitapi

Desenho que se tece na rede

Wapa Bolsa

34

Katari menu

Desenho do trançado do katari

Ëmena Bolsa

35

Tukiri menu

Bolsa Pulseira

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28

Imenuhton

Eka Nome

Anpëe tïsikae De onde foi tirado

Anpo nemenuhtë Onde é desenhado

Onde é tecido

36

Pakönman tuwarëken

Pulseira Keweyu

37

Maripa iputupo

Pingente

38

Parawa ikuhtu

Colar pingente

39

Patu ikuhtu

Colar pingente

40

Sowe ikuhtu

Colar pingente

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29

Imenuhton

Eka Nome

Anpëe tïsikae De onde foi tirado

Anpo nemenuhtë Onde é desenhado

Onde é tecido

41

Punkoko ikuhtu

Colar pingente

42

ënpata ikuhtu

Colar pingente

43

Pereru ikuhtu

Colar pingente

44

Tarëno ikuhtu

Pingente

45

Ëwano ikuhtu

Gargantilha c/ pingente

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30

Imenuhton

Eka Nome

Anpëe tïsikae De onde foi tirado

Anpo nemenuhtë Onde é desenhado

Onde é tecido

46

Münoto ikuhtu

Cinto Pingente Colar

47

Kana ikuhtu

Cinto Pingente

48

Siriko ikuhtu

Pingente Cinto

49

Kaikui Ikuhtu

Pingente

50

Ariwe ikuhtu

Pingente

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31

As matérias primas

O levantamento de informações sobre as matérias primas também se deu no decorrer de todas as oficinas. Durante as oficinas realizadas na área indígena e durante o nosso deslocamento por rio de uma aldeia a outra foi possível acompanhar todas as etapas do processo de preparo das sementes de maramara para uso na confecção das peças. Além da miçanga, cuja fonte é externa, e da semente de maramara (schefflera morototoni) as matérias primas utilizadas pelas mulheres tiriyó e kaxuyana são constituídas de diversos tipos de sementes utilizadas para compor detalhes nas peças tecidas em miçanga ou maramara e diversos corantes extraídos de diferentes espécies vegetais. Essas matérias primas foram desenhadas pelas mulheres durante as oficinas, Também fotografamos tanto aquelas que foram encontradas in loco, e ainda o processo de preparação das sementes de maramara. As explicações foram gravadas e transcritas. Todo esse material serviu de base para a montagem dos banners e catalogo propostos como produto deste projeto.

Etapas do preparo das sementes de maramara

Árvore do maramara

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Coleta dos galhos

Sementes de molho na beira

do rio por dois dias

Lavagem das sementes

Sementes são fervidas por 3

horas

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33

As sementes são descascadas

E novamente fervidas com as espécies em que serão

tingidas (para tingir de preto é preciso ferver com casca de caju do mato até formar um líquido

vermelho)

Depois mistura-se com lama

da beira do rio na mesma panela e deixa-se de molho

por tês dias)

Para tingir de vermelho,

ferve-se o maramara com folha de tapanapï

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Para tingir de azul, ferve-se com a folha da planta tari

Depois de serem fervidas com ou sem corante, as

sementes são postas para secar no sol por um dia

Secas, as sementes estão

prontas para serem furadas

Após serem furadas as

sementes são guardadas em potes para serem tecidas

com algodão.

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Avaliação e perspectivas futuras

Ao longo de cada etapa, em cada oficina realizada, algumas atividades renderam mais do que outras. Na Missão Tiriyó, em Macapá e na aldeia Cuxaré, ávidas de “pôr a mão na massa” com as miçangas doadas pelo Museu do Índio, as mulheres quiseram partir para a confecção dos variados modelos de peças de seu amplo repertório. Paralelamente a esse trabalho eram montadas rodas de gravações de falas sobre as origens e sobre diversos aspectos da arte e da história da tecelagem em sementes e miçangas. Nas aldeias Pedra da Onça e Santo Antônio foi possível acompanhar e registrar todas as etapas do processo de preparo das sementes e dos corantes utilizados.

Em todas as oficinas a receptividade em relação às atividades propostas foi muito boa. Durante as reuniões iniciais e de fechamento, não apenas as mulheres, mas também os homens foram unânimes quanto ao seu interesse em que este projeto avance e tenha bons resultados.

Com a ampla participação de mulheres de 12 a 80 anos, foram propiciados momentos de socialização dos conhecimentos e repertórios que principalmente as mais velhas possuem sobre a tecelagem com sementes e miçangas. Pudemos perceber que, embora as mais jovens manifestem gosto pela atividade artesanal, atualmente poucas sabem sobre a história desta atividade e sobre como se confeccionam peças de uso mais antigo, como as tangas femininas e os cinturões masculinos.

Ao todo foram seis meses de atividades ao longo dos quais o artesanato feminino de sementes e miçangas se transformou em tema de reflexão, registros variados e discussões. Nesse processo, as mulheres que participaram das oficinas perceberam que há coisas sobre as quais nunca haviam pensado, como por exemplo, a situação do maramara na área, sua disponibilidade ou necessidade de um plano de manejo. Avaliaram que seu principal problema em relação à quantidade de peças que produzem porque gostam de tecer cotidianamente é o que fazer com tudo que produzem se não têm como escoar essa produção. Uma parte do que tecem, sobretudo em miçangas, é destinado ao uso pessoal e de familiares, mas praticamente toda produção em maramara é feita na expectativa de venda ao público externo, porém, suas possibilidades de venda são bem restritas e esta

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questão suscitou uma outra, que é a da necessidade de se avançar na busca de alternativas de organização comunitária e gerencial de seus produtos.

Uma primeira experiência de difusão de seu trabalho para o público externo estará sendo viabilizada com os banners e catálogo produzidos a partir das oficinas realizadas, e avalia-se que este também é um momento importante nesse processo, pois como há expectativa de geração de renda, é necessário cada vez mais se buscar uma maior e melhor visibilidade. Dentro das linhas de atuação do Iepé, nosso interesse maior nesse trabalho está em contribuir para a melhoria das condições de transmissão, produção e reprodução do todo saber-fazer envolvido na arte da tecelagem em sementes e miçangas. E é nesta direção que pretendemos dar continuidade ao trabalho iniciado em setembro de 2006 e que ora encerra sua primeira etapa.

Seguem alguns depoimentos colhidos nas reuniões de avaliação das oficinas:

Lourdes Kaxuyana Foi bom ter começado e queremos continuar. Agora que começou, não queremos que pare. Suye Tiriyó Agora que começou, peço que continue, que todo mundo está gostando, até as meninas. Esse é o tipo de pessoa que estamos esperando: aquela pessoa que se interessa em fazer esse trabalho que é para o futuro dos nossos filhos e netos. Angélica Tiriyó Estou gostando assim, também gosto de aprender mais. Peço que quando acontecer outra oficina, que não deixe de trazer a miçanga. Não sei o que vai acontecer comigo daqui para frente. Enquanto eu estiver viva, quero participar. Maisi Tiriyó A gente gostou porque nós quase já perdemos de fazer isso. Antigamente não tinha miçanga, a gente usava algodão e outros enfeites antigos no lugar da miçanga. Mas depois apareceu a miçanga e a gente nunca mais quis deixar, agora a gente espera que continue esse trabalho.

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ANEXOS

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Cronograma das atividades realizadas ao longo do

2º Semestre de 2006

SETEMBRO

8 de setembro 9 de setembro 9 a 11 de setem-bro. 12 a 15 de setembro 16 a 18 de setembro 19 a 23 de setembro 23 de setembro 24 a 29 de setembro

Reunião com o Administrador Regional da Funai em Macapá. Ida para Missão Tiriyó, Parque Indígena do Tumucumaque. Participação na condução da oficina de educação na Missão Tiriyó com representantes dos povos Tiriyó e Katxuyana e da Funai, MEC e Iepé. Oficina do maramará na Missão Tiriyó. Descida do rio Paru d´Oeste para realização da oficina na aldeia Pedra da Onça e aldeia Santo Antonio. Oficina do maramará na Aldeia Pedra da Onça e aldeia Santo Antonio. Retorno para Macapá. Oficina do maramará para mulheres que estão em Macapá no Iepé. Reunião com o Administrador Regional da Funai em Macapá e com a administradora do DSEI Amapá, na Casai.

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OUTUBRO

Data

Atividades

8 de outubro 18 de outubro 19 de outubro

Saída de Macapá e chegada em São Paulo de Diakuí Sora e Mitore Cristiane Início dos trabalhos de revisão e organização do material coletado nas oficinas de artesanato feminino realizadas na Terra Indígena Parque do Tumucumaque, incluindo realização de desenhos, identificação de materiais, transcrição de fitas. Viagem de São Paulo para Brasília. Reunião na Coordenação Geral de Artesanato, na Coordenação Geral de Educação, e na Coordenação de Desenvolvimento Comunitário para apresentação dos resultados das oficinas no Tumucumaque e discussão das possibilidades de continuidade do projeto com as mulheres. Reunião no Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN / MinC para apresentação dos resultados das oficinas no Tumucumaque. Retorno para Macapá. Chegada em Macapá.

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NOVEMBRO

Data Atividades

16 de novembro 21 de novembro 23 de novembro 24 de novembro

Início dos trabalhos de tradução das fitas gravadas durante as oficinas de artesanato feminino realizadas na Terra Indígena Parque do Tumucumaque e em Macapá no mês de outubro. Reunião com Juventino Kaxuyana na Apitikatxi Reunião com o Administrador Regional da Funai em Macapá. Encerramento dos trabalhos de tradução

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Participantes das oficinas de 2006/2007

Lista das participantes na Missão Tiriyó: 1. Adelaide 2. Alminha 3. Angélica 4. Aparecida Miru 5. Arlete 6. Korü 7. Carmem 8. Cíntia 9. Dione 10. Ester 11. Fátima 12. Geni 13. Guadalupe Maisi 14. Ivaneide 15. Laura 16. Lídia 17. Linda 18. Lourdes 19. Lucia Suye 20. Luciana 21. Luísa 22. Maria Pia 23. Mariinha 24. Müküriüfö 25. Palmira 26. Rosalina 27. Rosilda 28. Salomé 29. Sivia

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30. Solange 31. Suzana 32. Verônica

Lista dos participantes na Pedra da Onça:

1. Clécia 2. Elisa Panorewara 3. Emília 4. Ivone Kuna 5. Margarete Sitöri 6. Marília 7. Parisë 8. Peoka 9. Raquel 10. Teresinha Wemae 11. Aretna 12. Cézar Rampi 13. Eddy 14. Geraldo Mutapara 15. Pedro Achefë

Lista dos participantes da aldeia Santo Antônio 1. Adriana 2. Julieta 3. Leda 4. Bruna 5. Sônia 6.Isabela 7. Areina 8.Franscisco 9. Leonardo

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10. Daniela 11. Eduardo 12. Leda (filha) 13. Rosa (filha) 14. Honorato (filho)

Lista dos participantes em Macapá:

1. Rosa Kamayu 2. Cristiane Mitore 3. Auxiliadora 5. Nazaré Pepahto 6. Apeyá Tiriyó 7. Joana Mokayariki 8. Elisete Kaxuyana 9. Clara 10. Diakuí 11. Josélia 12. Gorete 13. Telma 14. Guiomar Mapuköto 15. Paponehpë 16. Eroria 17. Leônia 18. Purerewa 19. Albino 20. Muyöfö 21. Panasopa 22. Sukuru 23. Honorato

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Lista dos participantes na aldeia Cuxaré 1. Marilene 2. Oneide 3. Parahtari 4. Edinai 5. Diva 6. Siru 7. Dejanira 8. Alice 9. Elaine 10. Abronia 11. Daniela 12. Odete 13. Noemia 14. Mônica 15. Nira 16. Edite 17. Diana 18. Guiomar 19. Turara 20. Gloria 21. Teonice 22. Teresinha 23. Alicia 24. Érica 25. Tina 26. depin 27. Salomia 28. Inareu 29. Donesia