Arthur Bispo do Rosario - TCC...

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Maria Cristina Zilli Arthur Bispo do Rosario A alucinante fabrica de simbolos Trabalho aprcsentado a Uni\'crsidadc Tuiuti do Paran:i. Ao Centro de PCs(luisa cPos Gradu:l\iio comu rC(luisilu para obten\i'iu do lilulo de especialist:. {"III Pocticas COlllcmpo- riincas flO Ensino dn Arte COnlt'mpo- riinra sob a oricnt:u;iio do professor Evundro Gauna. r \" Curitiba - Parana Junho de 2003 ;-;,~! CONSULTA SETORIP.LIl~ INTERNA

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Maria Cristina Zilli

Arthur Bispo do RosarioA alucinante fabrica de simbolos

Trabalho aprcsentado a Uni\'crsidadcTuiuti do Paran:i. Ao Centro dePCs(luisa cPos Gradu:l\iio comurC(luisilu para obten\i'iu do lilulo deespecialist:. {"III Pocticas COlllcmpo-

riincas flO Ensino dn Arte COnlt'mpo-riinra sob a oricnt:u;iio do professorEvundro Gauna.

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Curitiba - ParanaJunho de 2003

;-;,~! CONSULTASETORIP.L Il~ INTERNA

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"A loucura e llJllmomento dificil, porem essenciaina obra da raziio, atravesde/a, e mesmo em suas aparelltes vit()rias,a raziio se mallifesta e trillnfa.

A LOllcura epara a raziio, sllafon;a viva e secreta".(Pinel)

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Indice

1. Apresentac;ao . ...... 3

2. Introduc;ao. . 5

3. A doenc;a mental e a arte . . 6

Ciencia e loucura . . 10

Doutrora Nise da Silveira e C.G. Jung . . 18

4. Arthur Bispo do Rosario: a vida 22

..27Arthur Bispo do Rosario: a obra .

A produjfao de Bispo pode ser chamada "arte"? .

5. Bispo do Rosario, Duchamp e Warhol.

6. Conclusao.

7. Bibliografia

8. Anexo 1 .

. 33

...................... 35

.. 38

.............................. 39

.. 41

.. 429. Anexo 2 .

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Apresenta~ao

Em 1997, fui canvidada pela equipe executara de cursas profissionalizantes

do Camplexa Medico Penal (Secreta ria de Seguran,a Publica do Estada do Parana),

em Piraquara, para ministrar cursos de artes para as internos daquela instituiyao.

Apesar de trabalhar na area de artes ha muitos anos, ainda nao havia tido cantata

com pessoas com transtornos mentais.

Ao iniciar as atividades e no decorrer do curso, constatei que havia uma certa

logica e coerencia diante do quadro clinico daquelas pessoas e 0 seu trabalho

artfstico. Sua sensibilidade era muito grande, e eles apresentavam uma fonte

inesgotttvel e expontanea de criatividade, manifestada de forma infantil, quase bruta.

o conteudo dos trabalhos mostrava impulsividade, riqueza cromatica e falta de

censura.

A medida que 0 tempo passava, era facil qualificar a situa98.o pSicol6gica do

momenta atraves das imagens e das cores, entretanto, cad a um tinha suas

especificidades demonstrando uma linguagem cromatica e tematica particular, 0 que

possibilitava reconhecimento de cad a aluno atraves do seu trabalho.

Uma inesgotavel fonte de estudos e observac;8.o estava a minha disposic;ao,

o "universo dos loucos" 0 questionamento foi inevitavel. Como se processava

aquele tipo de inspirac;8.o? Sera que era um processo mecanico? Qual 0 sentimento

que os impulsionava? Sera que aquelas manifestac;oes artfsticas poderiam ser 0 que

chamamos de "arte"? Atraves da observac;ao e convlvio, cheguei a algumas

conclusoes.

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- 0 doente mental deixa 0 seu processo artfstico aflorar totalmente a partir do

momenta em que cria um elo afetivo com quem esta conduzindo as atividades.

- Sua seguranga e aumento da auto estima aceleram 0 processo criativo.

- Existe urna grande coerencia quanto a sua produgao, cor, linguagern e

situagao psicol6gica .

- 0 louco e extremamente d6cil e afetivo a partir do momenta que sente

seguranya facilitando assim seu processo criativo, psicol6gico e social.

- 0 universe da loucura e dinamico, e independente do tipo de patologia, a

arte fun cion a como agente de diminuigao da ansiedade, socializayao e prazer po is

atraves do ate de criar ele pode exprimir de forma nao verbal 0 que sente.

Devido a essas constatayoes, concluf que atraves da arte 0 louco se desnuda

emocionalmente, transmitindo seus sentimentos reais momentaneos, assim

possibilitando aos pSiquiatras e psic61ogos 0 acompanhamento mais minucioso e

profundo do paciente para efeito de diagn6stico. Isso foi constatado pelo Dr. Ivan P.

Arantes diretor Instituigao na epoca, diante do trabalho desenvolvido.

Apesar dessas constatayoes, e prematuro atestar reais conhecimentos, pois 0

universe do ser humane e imenso, imagin~ 0 universo do loucura que existe para

alem das censuras e limites que a sociedade determina.

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INTRODU<;:AO

A arte, loucura e genialidade sempre fcram assuntos de grande interesse

para os pesquisadores. A mente humana em seu estado normal ja e em si urn

grande campo de estudo enquanto geradora de criatividade, quanta mais a mente

desordenada de uma pessoa com transtarnos mentais. 0 questionamento quanta ao

mecanisme gerador da arte e a sua constatac;ao como obra foi e ainda e ass unto de

inumeros estudos e par 85sa razao desenvolvi a pesquisa englobando aspectos

medicos e hist6ricGs sabre os transtornos menta is e a arte.

Arthur Bispo do Rosario, urn personagem curiosa, viveu reclusa na Colonia

Juliano Moreira, no Rio de Janeiro durante 50 anos. Ele pertencia ao universo da

loucura e em sua alucinante genialidade produziu urn imenso reservatorio de

sfmbolos. Sua produ9ao remete a varios movimentos artlsticos alheios ao seu

mundo particular e criativo.

A arte contemporanea representa 0 momenta atual e interior do artista, que

expressa sua criatividade atraves das mais variadas tecnicas e processos. Bispo

representou ricamente seu mundo interior com sucata e materiais diversos em uma

prodw;:ao surpreendente.

Sera que podemos aceitar a expressao de Bispo, criada em momentos de

alucina9ao e loucura como "arte"?

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A Doen~a mental e a arto

o caminho trilhado pela doen,a mental ate sua compreensao como patologia,

passou pelas mais diversas formas de explicac;ao, envolvendo misticismo, rejeic;ao,

medo e reclusao.

Para 0 homem primitivD, a explicac;:ao para a loucura e as doenC{as em geral,

era encontrada no sobrenatural e em fen6menos relacionados aD demonio; cujo

tratamento S8 compunha de praticas magicas e religi05as.

No sec. VIII a.C., as sacerdates gregos, comegaram a completar as pr<3.ticas

reli9i05as com atividades ffsicas e recreativas reconhecendo seu valor na

recupera<;:ao dos doentes.

Socrates (470-399 a. C.), introduziu a atitude interrogativa da arte, indagando

quanta as formas de pintura, 0 que interferiu no comportamento social e na

apreciagao das artes

Hip6crates (460-375 a. C.), influenciou as atitudes sociais do seu tempo,

passando as cortes atenienses a reconhecer os direitos do loueo, nomeando um

tutor para quem fosse comprovadamente portador de transtorno mental.

Platao, na Grecia antiga (427-347 a. C.), propos a cria,ao de uma biografia

psicol6gica, que incluiria a familia, os educadores, enfim a vida de cada individuo

valorizando a formac;:ao da personalidade de cada um at raves das experiencias

vividas. Ele defendia a ideia de uma "Ioucura criadora", que seria um processo de

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agilizac;ao mental em que as imagens e sonhos forc;ariam as barreiras do

inconsciente, expressando-se livremente atraves da expressao artistica, sendo ela

sons, cores ou figuras. Estabeleceu tambem a diferenc;a entre a "alienac;ao

produtiva" do genio criador e a "aliena<;ao patol6gica "da insanidade.

Na antiguidade, 0 fen6meno da loucura inspirou muito artistas aparecendo

como paisagem imaginaria na Renascenc;a ocupando um lugar privilegiado.

A "Nau dos Loucos", estranho barco que deslizava pelos canais flamengos, e

uma composiC;ao literaria, emprestada sem duvida dos argonautas. Varias

composic;oes literarias e pictoricas foram criadas, mas a Nau dos Loucos real mente

existiu, na Alemanha, on de as famflias atiravam os loucos rio a baixo como cargas

insanas. Ainda nEW existiam manic6mios e a sociedade implantou um sistema de

isola-los por meio da agua. De cidade em cidade eles eram rejeitados, caso

voltassem, eram encerrados em prisoes, mas nao tratados. Os loucos nao tinham

acesso as igrejas, eram vitimas de violencia em locais publicos e geralmente

expulsos das cidades .

Entregar os loucos aos marinheiros era uma forma de manter a ordem e a

moral das cidades. A agua, alem de leva-los embora, purificava-os, tornando-se para

eles a unico territorio habitavel, ja que nenhuma terra os queria. Alem do mais, a

navegac;ao entrega ao homem a incerteza, nela, cada um e entregue ao seu proprio

destino e todo a embarque pode ser potencialmente 0 ultimo.

No sec. xv 0 tern a da loucura foi muito difundido na literatura e nas artes em

gera!. Nos teatros 0 louco tom a 0 lugar de centro no palco, e uma longa serie de

"Ioucuras ", estigmatizadas no passado por vicios e defeitos. Aproximou-os nao mais

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do orgulho, das virtudes cristas, mas de um grande desatino, ao qual ninguem e

exatamente culpavel, mas que arrasta a todos a uma com placencia secreta. Olouco

nao e mais 0 marginal exclufdo, ele e 0 detentor da verdade.

Conforme Foucault (1978, p.14), "se a loucura conduz todos a um estado de

cegueira on de todos se perdem, 0 louco pelo contrario, lembra a cada um sua

verdade; na comedia em que todos enganam aos outros e iludem a si proprios; ele e

a comedia em segundo grau, 0 engano do engano".

A loucura e objeto de discurso tambem no meio academico. Ela se defende,

se auto sustenta, e a verdade da razao pela razao.

Muitas imagens sao criadas por artistas como: Yeranimus Bosch em "A Cura

da Loucura, e a "Nau dos Loucos e Brueguel em "Dulle Grete". A gravura transcreve

o que 0 teatra e a literatura ja usaram na Festa e Dan<;:ados Loucos A pintura e 0

texto remetem um ao outra e sob a forma plastica ou literaria, a experiencia do

insensato parece de extrema coerencia.

Com 0 terminG do simbolismo gotico e a ascensao da loucura, as figuras

comeyam a se embaralhar em contrapartida a rede de significayoes espirituais. A

imagem e liberada da ordem da sabedoria, ela comeya a gravitar em redor de sua

propria loucura. Essa libertayao provem de uma imensa gam a de significados,

sfmbolos e multiplicayao dos sentidos que geram imagens infinitamente ricas e

cheias de atributos. A figura fala por si s6. A conversao do mundo das imagens, a

aceitayao dos multiplos sentidos libera ordenamento das formas e a aceitayao de

figuras fascinantes e fantasticas, e a libertayao dos enigmas internos de cada

indivfduo e a sua expressao atraves das imagens.

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o homem descobre em figuras fantasticas as valores simb61lcos da

humanidade, e a importancia das trevas na aliena9ao do louco, em sua

partieularidade permite ao hom em da idade media exprimir 0 que sente, isento de

responsabilidades.

No sec. XVI, multiplicam-se na Europa locais de internamentos, criados mais

para sileneiar 0 loueo do que trata-Io. Somente a partir do seeulo XVII, com 0

questionamento quanta a internamentos e metodos arbitrarios no tratamento dos

doentes mentais, a exciusao ganha status de tratamento. A loucura passa a ser vista

e analisada sob novo angulo, como padrao de comportamento. a medico mantem a

verdade e a poder sobre a doenya; realidade essa que ainda vivemos em alguns

centros. Ha quem diga que artistas e loucos andam lado a lado, que "inspira98.0 e

dellrio" sao originarios do me sma impulso.

E muito grande a lista de artistas que sofreram perturbayoes mentais como

Nijinski, oostoievsky, Baudelaire e oulros.

Vincent Van Gogh, importante pintor holandes, passou boa parte de sua vida,

se tratando com medicos psiquiatricos, que nao 0 entenderam e nao reconheceram

sua genialidade.

Camille Claudel, escultara francesa, discipula de Rodin, foi intern ada no

manic6mio ate a fim de sua vida.

Salvador oali, pintar catalao, deu uma deciarayao muito espirituosa quando

perguntado sobre 0 elo entre arte e loucura: "a unica diferenc;a entre eu e 0 louco e

que eu nao sou louco".

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A Ciencia e a loucura

A partir do sac. XIX. estudos foram realizados no campo da medicina e

psicamilise. Inicialmente as obras criadas por doentes menta is eram apenas

consideraras para estudo e diagnostico, sendo aceitas como arte a partir do sac.

xx.

Varios estudos fcram significativos como 0 do medico frances Ambroise

Tardieu (1818-1879), professor de medicina legal da Faculdade de Medicina de

Paris. Tardieu se interessou pela produyao artfstica dos seus pacientes para efeito

de diagnostico, publicando 0 livro "Etude Medico Legale sur la Folie", (Estudo

Medico Legal sobre a Insanidade) em 1872. Outro medico, tambem professor da

Faculdade de Medicina de Paris, Cesare Lombroso em 1882, (1835-1909), orientou

diversas pesquisas sob 0 tema "insanidade do genio" publicando em 1889 0 livro

"L'homme de Genie", (0 Genio do Homem), onde estuda determinados

caracterfsticas psfquicas presentes como sendo tipicas em grandes genios,

relacionando-os com caracterfsticas de doentes mentais.

Marcel Reja (1907). at raves de seu livro "Uirt chez les Fous'( A Arte dos

Loucos), examinou desenho, poesia e prosa e declara que as produyoes artfsticas

dos lou cos, sao formas embrionarias de arte, sem a intenyao de criar uma "obra de

arte". Para Reja os genios com sua maneira de ser e com suas habilidades

excepcionais, sublimam as tendencias pela beleza e os loucos desvendam-nas na

nudez de seus mecanismos com total ingenuidade. Apesar do processo criativo ser

bastante dinamico, ele constatou que no decorrer da doenya mental, de forma geral,

he. perfodos em que a criatividade a mais exacerbada, apesar de estatisticas

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comprovarem que menos de do is por cento dos pacientes hospitalizados podem ser

considerados artistas em potencial.

Sigmund Freud (1856-1939) considerava que 0 papel da Psicamilise na arte,

seria 0 de inter-relacionar as impress6es da vida do artista, suas experiemcias e

suas obras, e assim, interpretar sua constituic;:ao mental e seus impulsos instintuais.

Dessa forma, fez de temas de estudos varios artistas como: Shakespeare, S6focles

e Dostoievski entre outros. Baseando-se nesses principios, percebe-se que a arte

contemporanea de maneira geral, sugere mais abertamente a expressividade do

inconsciente, at raves da substitui«ao das regras academicas por uma arte mais livre,

em que os artistas criam mais entregues ao emocional, ignorando 0 superego.

Em suas obras completas (vol. XII), dedicou um vasto capitulo a "Uma

Recorda«ao de Infimcia de Leonardo da Vinci" e outro a "Moises de Miguelangelo",

questionando em ambos os casos a genialidade e 0 aspecto psicol6gico de cada urn

desses dois grandes genios da arte. E a procura da relayao entre a "alienayao e a

genialidade" .

Para Freud, a criayao artistica e como urn livre acesso do ego ao mundo

material. E atraves da sublima«ao que os mecanismos de defesa do ego,

transformam 0 que parece inaceitavel no que e aceitavel, possibilitando a expressao

simb6lica dos desejos e paix6es antes reprimidos. A arte e 0 unico campo que

permite ao artista manter a onipotencia dos seus pensamentos e desejos,

transportando-os pela erno«ao como se fosse realidade atraves da ilusao artfstica.

Para 0 artista a magia da arte e 0 seu original objetivo, funcionando a serviyo dos

impulsos, agindo sobre suas vontades, indo de encontro ao pensamento originario

da arte.

II

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Freud colocou a arte como procura incessante de prazer, se afastando das

afli<;6ese da realidade do mundo externo. Realidade essa que afasta a artista, par

nao concordar com a renuncia a satisfayao instintiva que ela exige, e concede a

seus desejos e aspira<;6es a liberdade total na fantasia. Porem, ele volta desse

mundo fantasioso pois sabe transforma-Io em outro tipo de verdade, que se tornam

reflexos da propria realidade, e sao valorizados como arte.

No exercfcio da arte, percebe-se uma atividade destinada a satisfazer as

desejos do artista e os da sociedade ao qual se dirige. A fDrya do artista e retirada

dos mesmos conflitos que levam as outras pessoas as neuroses, tendo como

objetivo, atraves da comunicayao de sua obra, de libertar a si proprio e aos outros. A

arte seduz at raves da sua beleza formal, ocultando sua origem pessoal. Ela torna-se

uma realidade convencionalmente aceita, onde as sfmbolos e imagens atraves da

ilusao artistica, provocam emoyoes reais, ligando uma realidade frustrante ao

mundo dos desejos realizados pela imaginayao.

A satisfayao do artista e criar afastando 0 sofrimento, sublimando as instintos,

numa ligayao com a realidade. As experiencias vividas, permitem uma maior

interpretayao da alma humana, com 0 uso do raciocfnio mais dinamico do artista ao

expressar 0 que realmente desejam. A partir dos estudos de Freud, varios foram as

estudiosos e suas interpretayoes a respeito da arte e psicamilise.

Karl Gustav Jung (1875-1961), atraves de suas pesquisas declarou que

existem dois processos diferentes na criayao artfstica: 0 processo pSicol6gico e 0

processo visionario.

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o primeiro se baseia em temas conhecidos e de facil compreensao,

universalizando as experiencias vivid as, permitindo uma maior interpretayao da alma

humana, com 0 usa do raciocfnio mais dinamico do artista ao expressar 0 que

realmente deseja.

No segundo, a artista a dominado pelo Impeto da inspirayao, cria e executa

suas obras , com idaias que a dominam provocadas par pianos profundos do

inconsciente. Para Jung 0 artista exprime a alma inconsciente e ativa da

humanidade considerando 0 inconsciente coletivo, e a verdadeira obra de arte a

produzida de forma impessoal e expontimea.

Ernst Kris (1900-1957), membro da Sociedade Psicanalitica de Viena e

CatednHico da Universidade de Yale, Estados Unidos, publicou os livros "Um

Escultar Psic6tico do sac. XVIIl", "A Psicologia da Caricatura" e "Psicanalise da

Arte". Concluiu que as criayoes dos psic6ticos seguem a linguagem do inconsciente,

numa tentativa de reintegrayao, portanto, s6 sao compreensfveis quando ha uma

traduyao do seu sentido, pais a funyao do ego esta reduzida, enquanto que na obra

de arte verdadeira, apesar dos conteudos inconscientes, a ego conselVa a controle

e decide sobre a conveniencia ou nao das deformayoes e caracterfsticas de fundo

inconsciente.

Hans Prinzhorn (1922) publicou seu livro "Bildnerei der Geisterkraken"

(Express6es da Loucura),sobre uma coleyao realizada em Clfnicas Psiquiatricas na

cidade de Eidelberg - Alemanha, em que 0 valor estatico dessas obras foi

reconhecido publicamente, par artistas como Paul Klee, Andre Breton e outros,

atrafdos pela espontaneidade das obras. Prinzhorn apresentou em seu livro teorias

inovadaras sabre a psicologia da expressao, valorizando a produyao dos doentes

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mentais, mostrando que a expressao criadora e a necessidade instintiva da criac;ao,

sob revive a desintegrac;ao da personalidade, nao havendo diferenc;a entre a

produ~ao do louco e de uma pessoa normal. 0 autor considerou em seus estudos

os princfpios formais de representa~ao das obras, como tendemcias, simetria,

formas de criaC;ao de linguagem.

Sua obra pouco influenciou a psicologia ou psiquiatria, mas por outro lado,

influenciou a arte, pois defende que as formas de produc;ao psfquicas e

correspondentes em todos os hom ens sao quase identicas, como processos

fisiol6gicos. Inicia-se uma vi sao mais otimista da aliena~ao que era, ate entao,

negativa.

A cole~ao Heidelberg e composta de desenhos, bordados e pinturas de varias

clfnicas e nacionalidades. Foi iniciada por Emil Kraepelin, diretor da Clfnica de 1890

a 1903, observou que a doenc;a mental pode liberar poderes que de outra forma

estao reprimidos por inibi,6es. Em 1933 a Clinica Heidelberg, foi tomada por

nazistas, que iniciaram urn pragrama de extermfnio aos doentes menta is e que

usa ram suas obras em propagandas nazistas. Joseph Goebels (1897-1945) membra

do partido Nazista, responsavel pela propaganda, inicia varias exposic;oes na Austria

e Alemanha comparando as obras dos doentes a Cezanne, Klee, Kokoska,

VanGogh e outros de forma pejorativa. 0 titulo era Arte Degenerada, negando 0

valor artfstico das obras.

Jean Dubuffet (1945) inicia uma das mais importantes pesquisas ja

realizadas na Europa com 0 nome de "Arl Brut', Ele reuniu varias obras de artistas

desconhecidos do meio artistico e tambem pessoas portadoras de transtornos

mentais que nada deixaram a desejar. Para Dubuffet, nao se espera que a arte seja

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normal, mas 0 mais inedita, imprevista e imaginativa posslvel. Encontrou em obras

de pessoas que ate entao eram consideradas alienadas, trabalhos de grande

qualidade, obras extraordinariamente inventivas e muito bem acabadas, como obras

de grandes artistas que ja conhecemos.

Atualmente existem varios museus e cole~6es com Art Brut no Center for

Instuitive and Outsider Art-Chicago, Museum vor Naive Kunst en Ousider Art-Paises

Baixos, American Visionary Art Museumw Baltimore e outros.

Em Paris (1950), por ocasiao do Congresso Mundial de PSiquia1ria, foi

realizada a Exposi~ao Internacional da Arte Psicopatologica, um grande marco no

estudo da arte dos doentes mentais. As obras e a pesquisa resultantes dessa

exposi,ao foram reunidas no livro de R. Volma1. "L'Art Psycopatologyque" publicado

em 1956.

Em 1961, George Schmidt, professor da Academia de Artes Plasticas de

Munique e diretor do Museu da Basilea, Jean Cocteau, da Academia Francesa,

Hans Steck, professor de Psiquiatria de Lausane ( Suissa), e Alfred Bader, medico

em Saint Croix, em sua obra 'lnsania Pingens" ,fizeram um estudo de tn§s doentes

mentais com dons artisticos admiraveis: Aloyse, Jules e Jean.

Para Bader (1961), a arte produzida por doentes e como urn mon610go

solitario, ela apareceria como resposta as necessidades do espirito, cujo objetivo era

expressar 0 prazer e a dar, nao podendo ser considerada realmente uma obra de

arte. A equipara<;ao feita e mal compreendida durante muito tempo do genio com a

loucura, contribuiu no passado para rodear de uma falsa aureola as obras dos

doentes mentais. Atualmente, considerawse que a cria~ao de um sistema delirante e

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rnuito diferente, e nao pode ser comparada, em absoluto com 0 nascimento de uma

obra de arte.

No Brasil, em Sao Paulo, Os6rio Cesar, (1923), iniciou sua pesquisa como

interne de Psiquiatria no Hospital JuquerL Inicialrnente usando como enfoque a arte

dos primitiv~s e das crian(fas, mas desenvolvendo urn trabalho de pintura

expontanea com os doentes e influenciado pelo livro de Prinzhorn, Osorio escreveu

seu primeiro livro: "Expressao Artfstica dos Alienados de 1929", onde diz: "as

representa(foes de arte desses doentes sao todas emocionais, pois elas sao de

carater expontaneo e se dirigem para um tim unico: a satisfa(fao de uma

necessidade instintiva. Ela representam descargas acumuladas de emo(foes,

durante muito tempo no subconsciente adormecidas pela censura, em virtude de

certos impulsos de ordem moral".

Em 1948, Osorio organizou sua primeira exposic;:ao no Museu de Arte de Sao

Paulo, despertando enorme interesse em artistas, psiquiatras e intelectuais. Grande

parte do acervo foi perdida ou vendida e 0 que sobrou desta cole(fao foi encontrada

no Hospital do Juqueri por seus funcionarios somando mais de 5000 obras que hoje

com poe 0 Museu Osorio Cesar, na antiga residencia do primeiro diretor do hospital,

Dr. Franco da Rocha.

Cyro Martins escreveu em 1970 "A Criac;:ao Artistica e a Psicanalise"

concluindo que "atraves da atividade artistica, os homens lentam elaborar toda a

gam a de sentimentos de culpa e de angustia da morte, assim como as tendencias

sadomasoquistas que os arrastam a procura de castigo e de auto agressao,

tentando ao mesmo tempo restaurar 0 devastado, restaurar os objetos externos

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danificados e fortalecer a proprio ego ao proporcionarem-se uma imagem menos

espezinhada do mundo que a rodeia".

Em 1981, na XVI Bienal de S. Paulo, 0 critico de arte ingl';s Victor Musgrave,

apresentou parte do acervo que juntou em Sanatorios da Europa par trinta an as sob

a tftulo de "Arte Incomum". Para ele do ponto de vista artfstico, nao ha fronteira entre

saude mental e loucura.

Varios psicologos, psicanalistas e psiquiatras apostam no fazer artfstico como

forma de chegar a cura como a Ora. Nise da Silveira, medica pSiquiatra que muito

contribuiu para a melhoria da qualidade do tratamento dispensado aos doentes

mentais ate entao.

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Doutora Nise da Silveira e C.G. lung

Natural de Macei6 Alagoas, onde nasceu em 1905, ela concluiu a curso de

medicina na Faculdade de Medicina da Bahia em 1926. Inconformada com os

metodos violentos, usados no tratamento de doentes psiquiatricos como

eletrochoque, comas insulfnicos e lobotomias, ela encontrou na terapia ocupacional

uma forma mais suave e humana de recuperac;8..o terapeutica.

Em maio de 1946, fundou a Se,il.o de Terapia Ocupacional D. Pedro II, no

Rio de Janeiro e em 1952, reunindo 0 material expressivQ produzido em pintura,

modelagem e xilogravura. Fundou 0 Museu de Imagens do lnconsciente onde

mostrou 0 universe dos loucos. 0 Museu e 0 centro vivo de estudo e pesquisa para

psi co logos e psiquiatras reunindo atualmente mais de 300 mil obras. E considerado

um dos maiores acervos do mundo, no genero. Ao longo de 54 an os Dra. Nise

realizou mais de 100 exposic;oes nacionais e internacionais.

No Rio de Janeiro, em 1968 foi criado urn grupo de estudos que tern par

finalidade 0 acompanhamento do processo psicotico, at raves das imagens. Seu

carater e interdisciplinar, permitindo a troca con stante de conhecimentos c!fnicos e

teoricos de psicologia, psiquiatria, antropologia, historia e arte educac;8..o. 0 trabalho

das oficinas revela que a pintura nao so proporciona caminhos para a compreens8..o

do processo psicotico, mas constitui um verdadeiro agente terapeutico, pois, 0

doente expressa na sua produC;8..o artfstica os dramas e emoc;oes que vivencia

desordenadamente, dando as formas emoc;oes, despotencializando suas figuras

ameac;adoras. Mesmo que nao haja nftida tom ada de consciencia de suas profundas

significa<;:oes, as imagens tornam-se passfveis de trato.

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o caminho de estudos da Ora Nise foi muito vasto e valaroso, ja que estudou

e ministrou cursos e palestras em varios parses. Em 1957, estudou no Instituto C.G.

Jung em Zurique, tornando-se grande especialista nesse tipo de abordagem,

fundando em janeiro de 1969 0 Grupo de Estudos C. Jung. Ate esse momento a

abardagem e os estudos relacionados a arte e loucura se apoiavam basicamente na

Psicanalise. Conforme a Ora. Miriam Gomes de Freitas, em seu artigo para 0 Jomal

Oiario do Sui - Porto Alegre. "A Ora. Nise mudou para a abordagem junguiana par

perceber a insuficiencia da Psicanalise freudiana, do referendal tee rico quanto aesquizofrenia. A nega9ao de estabelecer um vinculo entre medico e paciente

dificulta a transforma9ao do processo terapeutico, assim como a centralizag:ao do

inconsciente a questao da sexualidade".

Para Freud, governado pelo principio do prazer, 0 id (inconsciente) tem

desejos incestuosos, hostis ao mundo da consciencia. Entre os dois a preseng:a

manipuladora da censura que nao permite que os conteudos do inconsciente se

mostrem a luz da consciencia, precisando serem mascarados para se submeterem

as exigencias marais do superego.

Ja Jung retoma a maxima de Talmud: "a melhor interpreta98..0 de um sonho

e ele mesmo", mas ha diferen9a entre urn sonhador que sonha com slmbolos e 0

esquizofrenico que os alucina. A diferen9a esta na falencia do ego, alterada par

problemas de qualquer ordem, ia que 0 ele e 0 organizadar da consciencia. Quando

o ego se encontra enfraquecido, pode ser englobado aos conteudos do inconsciente,

que em um ego saudavel pode se manifestar enquanto sonhos, fantasias ou ate

gestos e ideias criativas. Ao contrario de Freud, para Jung :nao encontramos "tudo

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aquilo que ha de ruim" na mente humana, mas tambem ';0 que ha de melhor e mais

criativo".

Na esquizofrenia, pela falencia do ego, e 0 inconsciente que passa a

deterrninar as emo<;oes do paciente podendo ter pesadelos ou sonhar acordado,

podendo ter gestos extremos como matar ou criar. Por isso torna-se necessaria ter

uma abordagem que permita 0 conhecimento e acompanhamento das imagens

produzidas, para que possa haver uma interven<;ao terapeutica construtiva.

Sabiamente a Ora. Nise criou urn espayo onde 0 louco realrnente podia ser

lou co, para, pouco a pouco, confrontar as alucina<;oes com a ajuda terapeutica, se

expressando num plano simb61ico atraves da pintura, escultura, gravura, musica,

dramatiza<;ao etc.

Jung reconheceu 0 misticismo, as mandalas, os sfmbolos, as lendas, os

contos de fadas, e a pesquisa hist6rica atraves das religioes. Considerou que nas

alucina96es do esquizofrenico possa haver elementos desconhecidos pelo paciente,

de uma mitologia mitraica, podendo ser entendida a partir do mito dos gregos,

chineses e outros, precipitando a hip6tese do inconsciente coletivo.

o inconsciente coletivo nao e metaflsico, podendo se manifestar num

indivfduo saudavel ou nao. Ele e produzido pel a hist6ria de todos, ou como

elemento funcional de cada urn. E a questao do universal e 0 particular.

Tambem e considerada a existencia de um inconsciente pessoal, relacionado

a hist6ria de cada um, cujos elementos estruturais chamam-se complexos. Os

arquetipos e complexos se relacionam, e 0 arquetipo e 0 elemento estrutural do

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inconsciente coletivo, sendo sua face biol6gica os instintos e sua face espiritual 0

que a hist6ria expressa como mitos, religioes, relayoes sociais, arte etc.

A analise apresentada neste artigo sobre esquizofrenia englobando 0

trabalho da Ora. Nise da Silveira, se aplica ao quadro clfnico e a produyao artfstica

de Arthur Bispo do Rosario que realizou atividades artfsticas sob sua orientayao por

algum tempo.

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Arthur Bispo do Rosario: a vida

Arthur Bispo do Rosario foi um homem simples, nascido em Sergipe em 1909,

negro, pobre, ex marinheiro e pugilista. Homem de muitos offcios, artesao

habilidoso, antes do surto psicotico, construfa brinquedos com folhas de flanders,

objetos utilitarios e esculturas de madeira.

Jose Castello, jornalista e escritor, entrevistou Bispo, relatando sua importante

experiencia litera ria e historica, com grande riqueza de detalhes e veracidade, vista

que 0 proprio entrevistado fa lou de sua vida e obra.

Ao entrar na Colonia Juliano Moreira, Castello S8 deparou com urn ambiente

de sujeira, tristeza e desola~ao.Perguntou-se: como dali poderia surgir qualquer

tipo de arte?

Viu imensos paineis enrolados com pequenos pontcs pretos, que ao

aproximar S8 constatou que eram baratas que cireulavam livremente como se

fizessem parte da obra. Sem ele perceber Bispo entrou na sala. Estava com uma

batina bordada com inseri<;:6es sagradas, paramentos e porte religioso. Andava com

altivez acentuada pelas grandes ombreiras douradas. Tinha uma meia careea com

os cabelos amarrados no topo da eabe<ta com um chumayo eontrastando com 0

brilho seboso da testa. Era um homem de estatura mediana, muito magro e vest indo

sob aquela roupa cheia de penduricalhos uma cal<ta e camisa jeans vel has e

rasgadas e urn tenis de bieo torto.

Bispo do Rosario olhou fixe para 0 jornalista e perguntou - "Que cor e a

minha aura?" 0 jornalista respondeu que era azul e ele completou que poderiam

conversar. Preencheu um pedayo de papel com as seus dad os como se 0 estivesse

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cadastrando, colocou 0 papel junto a outros em um painel e dirigiu-se a ele dizendo

- "agora, voce sera salvo".

Pediu a sua data de nascimento e recolhido a um canto, sem que ele

pudesse ver, anotou uma data secreta. Explicou que as datas de morte eram ditas

pela Virgem Maria- "mas elas sao moveis, a morte nao tem prazo fixo", colocou em

uma caixa de papelao. Em outra caixa anotava nomes de pessoas que iria proteger

pelo resto da vida.

Bispo se considerava como um Noe, que a chegada do Apocalipse teria

guardado um objeto de cada especie como um imenso dicionario de objetos, as

quais estariam fadados a desaparecer.

Ele se dedicou durante 50 anos, ate 1989, a esse grande arquivo, a grande

festa da ressurreiyao e num conjunto de celas fetidas e cheias de baratas, ele

armazenava sua maquina de duplicayao do mundo. Objetos que seria usados como

f6rmas para que pudessem ressurgir depois do final dos tempos.

Vista par alguns como Marcel Duchamp brasileiro, par outros como [ouco, au

como sua ficha a qualificou "esquizofrenico paran6ico", este homem se considerava

uma pessoa comum, mas iluminado e escolhido para uma grande missao de

resgate. Ex marinheiro, ex pugilista, ex funcionario da Light, ele esperava que as

anjos viessem carrega-Io para a ceu num tapete de luz, deixando para tras a terra

devastada pelo fogo.

Bispo, era prisioneiro do nome, pais segundo as leis eclesiasticas bispo era

um padre em plenitude do sacramento e tambem uma peya de xadrez, que s6

avanya para as lados

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o psicanalista Hugo Denizard, que considerava Bispo um grande artista e fez

urn filme na Colonia Juliano Moreira registrou a seguinte dialogo: "Voce vai S8

transformar em Cristo? perguntou. "Nao, vou me transformar nao, rapaz. Voce esta

falando com ele". Ele se considerava filho da Virgem Maria.

Sua historia de loucura comec;ou em dezembro de 1938, quando estava no

jardim de uma casa em 80taf090, a qual servia como caseiro, recebeu a visita de

sete anjes .

. Eles eram transparentes como S8 fassem feitos de vidro espuma, envoltos

em uma luz azulada, flutuando a alguns palmos do chao. Pensou que estava

sonhando, mas podia sentir a terra molhada sob as pes e 0 aroma das flores.

Pareda recitar, urn texto sagrado.

Os anjos disseram a ele: "0 Salvador nunea erra. Voce e 0 Salvador. Os

homens correm perigo". Eles vieram para fazer uma revela9ao. Bispo era a nova

reenCarna9ao de Cristo que depois de 2000 an os viria salvar 0 mundo novamente.

as anjos nao falaram muito mais, flutuavam sobre 0 quintal, espantando as

galinhas e as cachorros, e soprando as galhos de alVores. As frutas caiam estalando

no chao, mostrando que ele nao tinha muito tempo a perder. Os cachorros

come9aram a latir, os passaros a piar e a lua come90u a nascer. Num dado

momenta ele sentiu uma cruz de fogo que Ihe riscava as costas como urn sinal de

sa9ra9aO. Uma claridade se espalhava tingindo a cenario de azul. "A luz entrou em

mim", disse Bispo assustado como se as anjos ainda estivessem presentes.

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Contou ainda que os sete arcanjos superiores que 0 acompanhavam s6

podiam ser vistos por ele e que ao andar se sentia protegido por uma redoma

invisfvel: "Eu estava sendo levado pela carruagem de Deus".

Bispo mostrou sua produ\=ao que ocupava varias salas da Colonia, era um

empilhado de objetos de todos os tipos. Havia paineis de xfcaras, rolhas, lapis,

saboneteiras, coadores de cozinha e os mais variados materiais, alguns reunindo s6

um tipo de objeto como s6 sapatos ,outro composto de variedades, como, painel de

utensflios de cozinha. Levou Castelio ao sa lao das misses, onde guardava coroas,

faixas, maios, recortes de revista antigas com fotos de Marta Rocha, Vera Fischer e

Adalgisa Colombo. Depois ao setor de brinquedos onde circularam entre bonecos,

pipas, carrinhos de boi, papagaios, bonecos de pan~, bal6es tudo em grande

desordem. Ele circulava com uma seguran\=a absoluta entre empilhados total mente

desordenados como um anjo vagando pela sujeira do mundo. Tinha tudo sob

controle.

Segundo Bispo, cada objeto teria seu pr6prio painel senao deixaria de existir

ap6s 0 jufzo final. A ele cabia salvar cada tipo de objeto, pois do contrario, ap6s 0

juizo final eles deixariam de existir. Essa tarefa 0 deixava ansioso, pois achava que

diante de tudo 0 que teria que fazer nao have ria tempo.

Ele tinha uma "cam a nave"; uma cam a pequena coberta por urn manto

sagrado e protegida par um mosquiteiro. Com ela, ele atravessaria 0 espac;:o sideral

mais rapido que os cometas e meteoros e mais rapido que a luz, que era 56 uma

embalagem, um truque com que Deus enganava os homens, pois 0 mundo e s6

escuridao.

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Comentou Castello: "em Bispo ele encontrou 0 brilho e nao a escuridao, e

tam bam movimentos tortos, que pareciam insensatos, mas, na verdade conclufam

uma obra atordoante",

Em seu diagnostico, ele se enquadrava na categoria dos "esquizofrenicos

paranoicos", qualificac;:ao a principio cruel mas que Ihe deu a chance de se

transformar em um grande artista. Para os medicos ele estava fadado a um caminho

sem volta.

A esquizofrenia aponta para 0 rebaixamento das formas usuais de associa((ao

de idaias, a baixa afetividade e a perda de contata com 0 mundo real. A paranoia

refere-se ao aparecimenta de ambic;:6es que evoluem para delirios. Ele foi submetido

a varias formas radicais de tratamento como eletrochoques , mas a cad a terapia

para livra-Io de seu papel de salvador, mais suas convic<foes artfsticas se

refor((avam em desespero e furia na sua obra. Ele nao se julgava artista, mas sim a

Salvador e afirmava "0 meu trabalho e para Deus, nao para os homens",

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Arthur Bispo do Rosario: a obra

Sua obra e composta de materiais simples, alguns descartaveis, outros

quebradas Uma infinidade de objetos sem procectencia, canetas esferogr<ificas,

cabos de vassoura, garfas, pentes, pe9as de carras, objetos quebrados e com

defeito, enfim considerados sucata.

Em seus mantas feit05 de len96is ou cobertores velhos totalmente bordados

com fios desfiados de seu uniforme azul, encontramos acontecimentos de sua vida,

names de ruas, desenhos, navios, embarca96es, paisagens, figuras de homens,

observa90es sabre 0 Rio de Janeiro e palavras soltas. Com panos, linhas e [eng6is

ele cria imponentes mantas ou fardas, a ponto de S8 transformarem em urn "traje

real",

Ele simulou objetos de usa cotidiano com materiais como jornais, madeiras,

papel higienico, cabides, todos enrolados com linha azul, uma caracterlstica comum

a todos.Com uma mescla de tecidos e objetos, ele cria faixas de misses, bordadas, e

cad a conjunto representa urn estado com seus respectivos mapas, cidades, objetos

tfpicos e tudo 0 que pode se relacionar com aquele pais.

Tudo 0 que se relacionava ao seu tempo de marinha tambem apareceu na

sua obra como fragatas, navios, grandes embarca<{oes. Alguns objetos mostravam 0

desenvolvimento de um tern a ligado ao misticismo como um oratorio que nos mostra

guias, colares, sereia, cigana. Outros mostram objetos do dia a dia no mesmo

genero, como um painel so de sapatos, que Bispo chamava de "vitrines", onde tudo

era multiplo.

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Deleuze e Guattari (1976) , definem que bricolagem, e criar a partir de

fragmentos diversos, encontrados pelo mundo, pela vida. 0 que €I uma norma

con stante na obra de Bispo.

Em pedaCfos de papelao, sle inventariava notfcias de jornais, reeortes, nomes

de mulheres, amarrados uns aos outros. Pe~as desgarradas como uma pipa de

pano bordada, ou uma pe9a de xadrez, ou uma roda de bicicleta, que remete

imediatamente a Marcel Duchamp.

Conforme Burrowes(1999 ) "Aquele universe trazia urn contraste: tamanha

estranheza diante de coisas corriqueiras; tanta poesia a partir de quase nada. E a

potencia de desafiar barreiras; criar com a pobreza e a exclusao, apesar da

brutalidade de urn tratamento pSiquiatrico. 0 universo de Bispo falava de urn desejo

que naD 58 entrega, de uma vontade incansi!.vel de existir e fazer-se ouvir."

A. primeira vista esse universe e caotico, mas observando mais

detalhadamente percebemos que hi!. uma certa ordem, que os escritos a tinta tern

numeros, cores, descric;6es precisas e remetem de forma original a outros objet os,

criando uma sequencia, revelando coerencia em reunir diferenc;as. Tudo se relaciona

de forma impar, mas se relaciona. A multiplicidade de informac;6es e dinamica e

surpreendente.

Frederico Morais, critico de arte e curador apontou urn conjunto de segmentos

de organiza«ao na obra de Bispo considerando que hi!. um limiar entre as

heterogeneidades. As materias se adicionam e se tocam. Hi!. bordados nos

mumificados, mumificados nas vitrines e assim par diante. A analise pode ser

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interrompida e reiniciada de qualquer ponto. He. uma logica que escapa it

racionalidade" .

Bispo dizia aos que visitavam sua obra "e preciso ver para en tender" .

Segundo Benjamim; "0 bom Iradulor deixa viver 0 eslrangeirismo do lexlo. 0

bom narrador 0 inexplicado dos talos". (In Burrowes, 1999, p.25). A Iradu,ao

destina-se nao a transmitir informac;oes, pois a informac;ao nao e 0 essencial em se

tratando de arte. 0 essen cia I e sentir, e nao traduzir 0 intraduzivel, e dar vazao it

estranheza que a obra transmite.

A obra de Bispo nao e de faci! entendimento, nada e explicado it primeira

vista, mas ele oferece ao espectador uma rede de informa<;oes que narram de forma

nao verbal um universe dinamico que de certa forma existe em todos nos. 0

inconsciente coletivo esta presente atraves de sua lingua gem, de sua origem. Ele

nasceu campones, foi marinheiro e artesao, viveu sua historia, isso se revela

claramente em seus estandartes e bordados e no conjunto da obra. Ele construiu

seu trabalho por suas maDS, de forma artesanal e criando um fluxo imenso de

signos. 0 artista falava pouco de seu trabalho, nao era necessario pois ele fa lava

por si. Sua riqueza e seu desafio estavam em multiplicar mundos, maquinas

duplicadoras que se inter-relacionam. Nada esta completo, elas sempre estao

trabalhando, como 0 fluxo da vida que se renova a cad a instante.

Somos todos brico/eurs, po is a cad a instante estamos anexando, juntando ou

repelindo coisas bispo tambem era. No universe de Bispo, tudo passa por ele,

quebrado, velho, e usado na reconstruc;ao de seu invente.rio que nao obedece a

uma ordem ,mas que lem uma ordem inlrinseca. A con stante reconstruc;ao, os

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objetos, os deveres para cam os anjos e 0 criador, resultam em uma lingua gem

particular, e a luta contraria a ambiguidade, presentes em seu interior. Sua

produc;ao e intensa no reinventar uma realidade dinamica repleta de novos signos,

uns gerados por outros, mais outros e assim por diante.

Sem perceber, ele gerou uma grande dinamica sobre si mesmo, como a

conivencia do pessoal interno da Colonia que desviavam objetos para ele, os

medicos que 0 ajudavam, ou as pessoas que ele ajudava em troca de algum

dinheiro. Pessoas de fora, criticos, jornalistas, artistas que vinham conhecer a

estranha obra do "artista louco". Sua produyao nao era s6 seu mundo interior, com

ela, ele atraiu a mfdia, artistas, escritores e conseguiu impor-se no seu reino como

xerife. Varias quest6es foram levantadas por crfticos, artistas, medicos, cineastas,

procurando explica<;6es ( particulares ou nao) sobre a obra de Bispo.

Sua forma de organizar a propria exist en cia atraves do seu trabalho era

desordenada como seu transtorno mental, mas ao observarmos melhor, existia uma

ordem propria, talvez como a sua origem ou a concepy30 indireta da logica das

coisas e da sociedade em que tai criado. 0 conflito quanto a produyao social existia,

mas a consciencia desta produyao tambem, mesmo que indiretamente.

A obra de Bispo se mostra tosca, como ela realmente e, mas com a riqueza

de sua interferencia sobre os objetos. Tudo se torna rico. Como um carro feito de

caixote de feira que ganhou rodas para transportar varios potes plasticos de

dinheiro, sao moedas de varios valores que para ele perderam a funyao comercial

para adquirir urn lugar na sua criayao. Fichas de onibus fcram presas a um pedayo

de tee ida, emendadas lada a lado, arrematadas par um bordado passando a fazer

parte do seu multiplo dicionario. Cada material adquire nova roupagem e funyao no

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universe de Bispo. Algumas pe9as em suas vitrines ganham carater utilitario e

mecanico, sao numeradas e recebem urn breve explica(fao. Por exemplo:

"7.001-PASTAS DENTAL, MOLHE A ESCOVA E AGUA, BOTE UM POUCO

DE CREM, ESFREGUE OS DENTES".

"12.026- MODES LIVRE ABSORVENTE PARA usa M09AS MARIA".

Em suas vitrines os objetos de uso continuo tom am a aparencia de trofeus

que, lange do marketing, existem par sl so. As noticias de jomais sao amarradas

lado a lad a formando uma especie de painel historico humano. Sao apenas noticias

que perdem sua for(fa real para tornarem-se parte de urn contexto.

Apesar de aparentar que Bispo repudiava a realidade, ele assistia televisao,

se inteirava das noticias, e as discutia com grande lucidez.

Em seu mundo ele criou uma realidade diversa do mundo de fora da Colonia,

preocupava-se para que essa realidade nao parasse de gerar novas ciclos e

movimento. Mudava constantemenle os objetos de lugar, dando rodas a alguns para

movimenta-Ios rna is facilmente. Ele criou um novo regime de sfmbolos, que

remetiam a marinha, publicidade, ao hasp/cia e a religiao. Era a forma de mostrar ao

mundo a sua dinamica, comunica((ao onde a explica((ao verbal nao se fazia

necessaria pois, apesar de dificilmente falar do seu trabalho, todos 0 entendiam

talvez nao com os olhos, mas com 0 cora«ao.

Ele trabalhava contra a miseria fisica, a falta de espa«o, de material, a

pobreza, 0 abandono e 0 preconceito gerado por sua situa9ao de Jouco.

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Disse um atendente que quando Bispo come<;:ava a dizer: "vou entrar em

transformayao", seria 0 aviso para ser encaminhado para 0 quarto forte, um quarto

isolado onde bordava seus mantos e estandartes. Nos textos bordados, as palavras

bordadas traziam forma e palavras sobre len<;:6ise cobertores velhos.

"CORPO ALMA E CIRCUlATORIO 1 DO SER HUMANO 1 CABElOS

PENDOES E SEGURANQN 7 SETEI OUVIDO ORElHA TRAQUEIAS IPElES 71

FACE QUEIXO DENTESI BOCA lABIOS LINGUA VOZ 1 FAlAR CANT IFRONTAl

SUPERCiLiOI CLAVicULA ARTERIA".

Desta forma demonstrava a necessidade do escrito, da linha, da palavra, da

expressao.

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A Produ~ao de Bispo pode ser chamada "Arte"?

o trabalho de Bispo atraia a curiosidade dos medicos psiquiatras, como

produc;ao da loucura, mas nao como obra de arte. Em 1982, 0 crftico de arte

Frederico Morais, apresentou a sociedade 0 universo de Bispo como arte, dando

outra dimensao ao discurso artfstico e colocando-a em meio a prodwfao artfstica

acid ental.

Em sua primeira exposigao individual intitulada "Registros de Minha

Passagem sabre a Terra", Morais tent a enquadrar Bispo na Pop Art, com 0 novo

realismo, a tendencia arqueologica e a nova escultura na arte conceitual. A

exposi9ao causou grande impacto. Foi apresentada inicialmente na Escola de Artes

Visuais do Parque Laje, no Museu de Arte Contemporanea da USP, Museu de arte

do Rio Grande do Sui, Museu de Arte de Bela Horizonte, e Centro de Criatividade de

Curitiba, sempre atraindo grande publico.

Apes a morte de Bispo em 1989, seu acervo correu 0 risco de ser desfeito por

pessoas que julgavam sua produyao algo parecido com lixo. A obra de um louco

brasileiro passava a ser considerada como arte. Mereceu em 1991, a sala especial

na mostra "Viva Brasil Viva" em Estocolmo. Foi integralmente tomb ada pelo instituto

Artfstico Cultural do Rio de Janeiro.

Em 1995, dois artistas foram escolhidos pela Funda9ao Bienal de Sao Paulo,

para representar 0 Brasil na 64 Bienal de Veneza. Um deles foi Nuno Ramos e 0

outro foi Arthur Bispo do Rosario. 0 presidente da Funda9aO Edmar Cid Ferreira

disse ·"a escolha esta em consonancia com a utopia da arte moderna", eo curador

Nelson Aguilar afirmou: "percebemos que Bispo do Rosario nao tem nada a ver com

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art brut". A partir daquele momento, a obra de Bispo passou a fazer parte do

contexte artfstico mundial.

Muitos questionamentos podem ser feitos sobre a obra de Bispo, mesmo

com a aceita9ao nacional e internacional da sua obra. Sera que a arte produzida em

meio ao dellrio de um louco, manifestado atraves de procedimentos esteticos pode

ser considerada arte?

Para ele, era 0 inventario que teria que fazer, ordenado por uma voz em meio

a alucina((oes para a reconstru9ao do universo. "Sua arte era feita para Deus, nao

para os horn ens" .

Sua obra envolveu urn trabalho, urn procedirnento plastico, urn saber fazer,

que rernetern escrituras e docurnentos a processos esteticos a praticas artesanais

enraizadas, ate a apropria((ao de objetos e aspectos do irnaginario cultural. Sua arte

e incornurn, po is foi desenvolvida por alguern que estava recluso a urn hOSPlcio,

passando pelas dificuldades da sua patologia, lutando contra todas as dificuldades

para se fazer ouvir.

Para Bispo sua obra nao tinha valor de mercado, ela era feita de sucata, de

lixo, de rnateriais comuns. Para rnuitos uma arte menor.

Ele recusava 0 papel de louco, do doente dominado pela psiquiatria, se

impondo at raves de seu dell rio e construindo com ele a realidade da obra. Seu

universe 0 qualificou e se impos pela fOr((8.

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Bispo do Rosario, Duchamp e Warhol

Alguns criticos remetem a obra de Bispo primeiramente a Marcel Duchamp

(1887-1968) e depois a Andy Warhol (1928-1987) por relacionarem algumas

linguagens entre ambos. Duchamp iniciou sua formac;8.o artfstica de forma

tradicional, sofrendo com a velocidade do progresso, a revoluc;8.o industrial e a forma

com que essa nova realidade afetou a procedimento artfstico em geral. IS50 0

afastou definitivamente da pintura, fazendo com que ele dirigisse sua obra para 0

conceitual. Em seu trabalho havia urn objetivo preciso. Nao S8 tratava de atacar

diretamente 0 aparelho cultural ideologicQ, mas sim compreender seu funcionamento

e buscar inverter seu sentido. Oepois de Duchamp, a arte adquiriu urn outro percurso

social, agindo e desarticulando 0 sistema social dominante.

Segundo 0 fisico frances Poincare (1912): "nao existem teoremas que

possam ser considerados exatos. As coisas em si mesmas nao sao 0 que a cienda

pode alcangar, mas apenas a relagao entre as coisas. Fora destas relagoes, nao ha

realidade conhedda" Esta frase pode ser considerada como um lema na vida e na

obra de Duchamp e remete a obra de Bispo pois, para ele, suas criagoes tinham

uma importancia muito maior do que um conjunto de sapatos ou artigos de cozinha.

Elas eram reunidas nao para satisfazer um conceito estetico, mas para um objetivo

muito maior, obedecer as ordens dadas por Deus ou os Anjos, vistos em suas

alucinagoes, para resgatar os objetos do universo.

A bricolagem e um imenso reselVatorio de sfmbolos. Essa mistura de objetos

determina a influencia de todos os generos e reune, mistura, mas tambem revela

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consistencia, representando 0 estado momentaneo do sujeito. A utopia se

apresenta neste caso, livre de estilos ou escolas.

A semelhan,a do ready made da Roda da Fortuna au da Roda de bicicleta

de Duchamp, nao nos autoriza a relacionar historicamente a obra dos dois ou

qualifica-Ias como arquetipos, ou inconsciente coletivo, mas nao pod em os negar que

ambos possuem 0 mesmo registro. A diferen9a entre as duas esta na abordagem.

Torna-se necessario investigar 0 objetivo e a situac;:ao em que cada um foi

criado e considerar que Bispo era originariamente uma pessoa sem cultura, que

estava recluso em sua propria 10ucura e afastado do convivio da comunidade,

enquanto Duchamp tinha acesso a grandes centros, livros, amigos na sua area e

jamais parou de pesquisar. Embasado em estudos cientificos, em matematica e

fisica ele participava de circulos artisticos e intelectuais da epoca como revelou 0

historiador Herbert Molderings: "ele come90u a utilizar um ramo ludico e ceptico da

fisica para desvalorizar a ciencia racional".

A intensidade da experiencia e a unica coisa que interessa ao artista. Nilo ha

pensamento linear ou sequencial. 0 estado do local onde a obra e produzida, a falta

de espa90, de condi9oes nao agem sobre significados, ela nao pertence a cullura

padrao e nem sempre e alvo de aceita9ao e reconhecimento.

Alguns crfticos relacionam Andy Warhol as repetic;:oes que Bispo mostrava

em sua obra. Warhol pertencia ao universe da Pop Art, a valoriza9ao da imagem,

ligada ao design, a publicidade e ao con sumo, tendo a seu dispor toda a tecnologia

e formas de expressao de uma epoca em que a tecnologia estava em ampla

valoriza,ao. A obra vira objeto de consumo sem muita preocupa,ao com 0 conteudo.

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o artista aplica-se a inverter ou transformar a relac;ao e sua forma no mundo

publicitario. As imagens tornam-se trias e passivas, seu processo de representayao

manipula, amplia ou diminui os fcones escolhidos, sempre inseridos no processo de

repeti,ao.

Na obra de Bispo nao existe a impessoalidade, nao hi!. simulayao, ha vida.

Os objetos sao 0 que sao e respeitam uma escala de importancia em cada genero.

Nos ready made, ao contrario de Warhol, Bispo cria mais no carater do bricoleur,

que e a representa,ao de algum objeto que talvez nao tenha conseguido para seu

dicionario. Duchamp 0 apresenta so, como em A Fonte, ou 0 junta a outros objetos,

urn suporte, mas sem altera-Ios em sua essencia. Warhol raramente apresenta a

objeto em estado puro, usanda a em geral em produyaa fotogratica, como imagem,

realizando interferencias em sua superficie, ora desfacando a imagem, ora

aplicando-Ihe cores extravagantes mostrando a nftida influencia da arte

contemporanea e exageros usando recursos da arte gratica dirigida ao marketing e

ao consumo.

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Conclusao

No decorrer da historia 0 portador de doen9a mentat, ou 0 poputarmente

chamado "Ioueo", despertou 0 interesse de fil6sofos, medicos e pSicanalistas, par

pertencer a urn universe particular muito rico em manifesta«oes verba is e artfsticas.

Ele nos deixa sempre a interrogayao de "como urn loueo pode produzir tal caisa?"

As pessoas em gera] subestimam essas pessoas, armadas par preconceitos,

que vern ate hoje atraves da hist6ria. Comprovadamente, a "Ioueo" ainda tern dentro

de si, mesma que desordenadamente, sua historia, seus sentimentos, sua

sensibilidade, 0 que nos foi demon strada par muitos estudos e pesquisas a respeito

do trabalho de Arthur Bispo do Rosario.

Atraves dos materiais disponlveis ele criou urn universe de sfmbolos que

muitos artist as naG porta dares de translomas mentais poderiam criar. Nao importa

se sua obra era destinada a Deus, mas 0 que aquele ser humano conseguiu,

alucinando ou nao, impu[sivamente au nao, criar simbolicamente urn diciomirio de

objetos dentm de padr6es artfsticos contemporaneos, demonstrando que 0 potencial

artistico e 0 talento, quando existe, realmente pode ser manifestado ate por uma

pessoa nas condiltoes de Bispo do Rosario.

NilO Ii artista quem quer, mas quem desenvolve 0 talento que ja

existe em seu interior.

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www.museudeimagensdoinconsciente.org.br

Anexo 1

(Obras de Bispo do Rosario)

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SnJa JP J1UC!P ~S·JUlu;)sJJdu JPOIU~UlOUl OU U!JllS~A. ods!8 0 ~nb udnoJ R ? 'opeJrics 'olueul 0

(OSJ~A~ ~lU;}JJ)O!J~eluOsoJd\l ep OlueY\J

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Manto da Aprcsental;:ao (avcsso)

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Fichas de Nomes e t~uos dos jornais

Pipa de pano bordada

RetalhosBordados sobre relalhos

coloridos com descric;ao decoisas banais

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Fichas de Onibus

Vitrine CiganaObjelos de diferenlesreligioes sao colocados

lado a lado e juntoa objelos profanos

Vitrine - DiversidadesCoisas velhas, quebradas

e gaslas passam a Inzer partede uma nova criluy.io

Cetro e faixa de missQuarcmu cetros e faixus de missapresentam estados do Brasil e

diversos paises, re!acionalldo seusatribulos mais marcantes.

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Vitrine CozinhaBispo fonnou uma rcdede fomecimcnlo quedcsviava do seu usadhirio lllensilios deJuliano Moreira

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Anexo 2

(Poesias e obras apresentadas no Concurso "Arte de Viver",promovido pelo Laboratorio Jansen Cilag em 2000)

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POESIAS E OBRAS EXECUTADAS POR PACIENTES PSIQUIATRICOS.II CONCURSO NACIONAL--ARTE DE VIVER-LABORATORIOS JANSSEN-CILAGCURADORIA DE JACOB KLiNTOWITZTexto Arte Grafica e Editora Ltda- Edi9ao - mar902002- Rio de Janeiro

Dolores

As vezes

Ador

Alfvio

E s6 deliria

Liliam Santos Furtado -MG

SEMTiTULO

Tento descrever 0 amor com

caneta esferografjc8,

a tinta acabou

eu nem comecei

Waliace Antonio da Silva Sttimizu-S.P.

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A MORTE

As cores do areo -iris S8 espelham no meu caixao

Naquela tarde de Domingo

Nenhuma flor

Nenhuma flor

S6 pardais que ciscavam

o ultimo 50lu90 de alguma garganta jll can5ada

E eu III

Branco

Pronto ao tumulo

E a gota de cera que escorria daquela vela vermelha

Cor do meu sangue

Dentro de algum corpo ainda vivo

o ultimo sopro foi, urn beijo rouco ao pe do ouvido

Junto com aquela brisa suave per urn momento

Fez com que meus cabelas dan«am

A fria musica do sih~ncio

Uma flor nasceu

Ocupando urn espalto todo

Como S8 materializasse 0 proprio eu

Enfim 56

Pon§m no meio de tantas outras flores

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Finalmente livre

Livre das dores

Temores

Rancores

Enfim

Tomaz Muniz -OF

LOUCURA

Confusao mental

o que se pode botar

Em pr::itica?

o que vai acolltecer?

Mcdo do hospfcio

Quem emra nao

Sai mais:

Pcrde-se a lucidez ...

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Medo da vida

Parece que a desgra'ta

Vai nos engolir

Mas tudo e avisado

S6 nao temos tempo

De nos arganizarmos

Giani Martins da Silva-

Dig. VIVEU ?

voce ja esperou

Poralguem

Alguma vez na sua vida?

Nao?

Voce ja sonhou em Ter um grande

Amar, uma alma querida!

Nao?

Voce ja charou par alguem que gostava

e de voce se esqueceu?

Nao?

Voce ja viveu?

Sonia Romano S. P.

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SEMTiTULO

Bateu alguem em minha porta

Vacilei, naD quis abrir

Pensei que fosse a saudade

Que viesse me perseguir

Bateram de novo

Com for~a, porem naD insistiu

Desceu as escadas correndo

E para sempre partiu

Partiu deixando na porta

As seguintes palavras fatais

Eu sou a felicidade

E naD valtarei jamais

Simone Cristina da Costa SP

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Umo Noire de CamO\loJ - octilieo s/ lela - 40x5Ocmla;ro Toledo - SP· 1999

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Anguslia - 61eo sf lela - 40x50cmMarly Henna - SP - 1999

Uma pessao com caro de gala - acrilico s1lelo - 64x55cmIsaias Nazare Leopoldina - MG - 1999

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"Passada" Vlda Saroda - acriHea sf tela - 40"soan

ElisolvO Gomes Rodrigues ~ SA • 1999

PorolelOS

_ ocriliCO sttelo - 40x5()aTlSIMa Machada de CamPOS Morettl- SP - 1999

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Renexdo - oaflico sf lela - 40x35cmLuis Scmlos S;fva - BA - 1999

A G~nesis au a Big Bang - oleo sf lela - 40x5OcmWoller Ghelman - R1 - J 999

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Sergio Augusto de Oliveira - MG - 1999

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Bumba Mcu Boi . acril/eo sf tela - 46x38 emMarina Cordeiro Muniz Smiderle • RJ - 1999

Mo/oclcleta • oleo sf leta - 50x4(kmValeria Stella Prado - SP· 1999