Artigo 10 Fsilva Corrigido

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  • 7/23/2019 Artigo 10 Fsilva Corrigido

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    O ORDENAMENTO DO

    TERRITRIO DURANTEA IDADE DO FERRO DONOROESTE PENINSULAR

    MARIA DE FTIMA MATOS DA SILVA| Professora da Universidade Portucalense Infante D. Henrique, Porto | Investigadora do

    CITCEM Centro de Investigao Transdisciplinar Cultura, Espao e Memria, unidade de I&D da FCT Grupo Paisagens,

    Fronteiras e Poderes | [email protected]

    A bacia superior do rio Coura, territrio em grande partecoincidente com o atual concelho de Paredes de Coura,possui diversos vestgios do Paleoltico e do Neoltico.Outras pocas, mais recentes, tambm deixaram a in-meros legados, designadamente os povoados proto-hist-ricos da Idade do Ferro ou a poca Romana, igualmente

    com inmeros e valiosos vestgios. A geomorfologia daregio inuenciou, atravs dos tempos, esta relativa den-sa ocupao. Trata-se de uma rea de transio entre ointerior e o litoral, a montanha e o vale, apresentandozonas de altitude muito varivel que oscilam entre os 700e os 835 m.

    O rio Coura, de traado sinuoso, corre em vale estreito,tendo vrios auentes e nascentes. Passa em cotas com-preendidas entre os 500 e os 120 m. Separa esta reageogrca sensivelmente pelo meio, percorrendo um

    talvegue sinuoso e apertado no sentido NE-SO. Grande

    parte dos povoados ditos castrejos situa-se na zona oestedo vale, no longe do leito do rio, ocupando montes dealtitude baixa e mdia (fg. 1).

    Os diversos tipos de assentamentos da Idade do Ferroexistentes no Noroeste Peninsular permitem que os orga-nizemos em diversos modelos socioculturais explicativosda evoluo desta sociedade e do seu ordenamento ter-ritorial, o que tambm sucede em relao aos povoadosintervencionados na bacia superior do rio Coura.

    RESUMO

    Neste trabalho apresentamos uma sntese sobre

    os diversos modelos evolutivos e o ordenamento

    territorial que a ocupao e organizao dos

    povoados fortificados da Idade do Ferro,

    normalmente designados por castros, gerou no

    noroeste peninsular.Igualmente, relacionamos os dados mais recentes

    relativos rea geogrfica que temos vindo a

    estudar a bacia superior do rio Coura com as

    problemticas em questo. Esses dados, alicerados

    nos resultados obtidos em trabalhos de escavao

    arqueolgica em diversos povoados e em cronologias

    absolutas conseguidas atravs de anlises em

    laboratrios de radiocarbono, permitiram que

    estabelecssemos uma cronologia dividida em trs

    fases sucessivas. As mesmas traduzem uma ocupao

    do espao e consequente ordenamento territorial

    distinto, naturalmente fruto de diversos tipos deorganizao econmico-social.

    Por fim, numa tentativa de trazer este passado para

    os nossos dias, apresentam-se, muito sumariamente,

    os resultados obtidos atravs dos projectos de

    reabilitao / valorizao de que estes povoados

    foram alvo.

    PALAVRAS-CHAVE

    Ordenamento do territrio, povoados castrejos, Idade

    do Ferro

    ESTUDO DE CASO

    MODELOS EVOLUTIVOS E CRONOLOGIAS DOSPOVOADOS DA BACIA SUPERIOR DO RIO COURA

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    OS MODELOS SOCIOCULTURAIS DEORDENAMENTO DO TERRITRIODURANTE A IDADE DO FERRO

    No primeiro modelo podemos inserir os povoados que

    surgem, de um modo geral, entre os sculos IX e VII-VIa. C., herdeiros das sociedades do Bronze Final, que pas-sam a ocupar locais geogracamente proeminentes. Ape-sar das inuncias que possam ter sofrido de outras socie-dades, evoluram a partir de uma populao autctoneque foi estabelecendo laos com o ambiente geogrco

    envolvente, pelo que as atividades agrcolas e pastoris sevo desenvolvendo e facilitando uma sedentarizao queconduziria criao dos povoados ditos castrejos. Terosido estas comunidades da Idade do Bronze que deramorigem aos povoados forticados que durante sculos

    deram continuidade s diversas tradies socioculturaisdo perodo anterior, sendo os elementos mais notrios osobjetos de bronze. A tecnologia do ferro bastante tar-dia e apenas alcana um orescimento considervel nos

    grandes povoados construdos na viragem do milnio eque nesta rea geogrca do Alto Minho no existem.

    Nesta poca, a dualidade de situaes j um facto, peloque este modelo inicial se apresenta de forma dupla: exis-tiram povoados de grande envergadura que tomariam opapel de elemento centralizador de inuncia sobre ou-tros o designado lugar central e outros de menoresdimenses que, muito embora dispondo de autonomia evida prpria, estariam ligados aos primeiros. Essa relao

    encontrar-se-ia muitas vezes alicerada nos elementoseconmicos geridos pelo povoado centralizador, concreta-mente a explorao de minrio, que seria comercializadocom outros povos, nomeadamente da bacia do Mediter-rneo. Este modelo parece ser vlido para os povoadossituados no litoral e para os situados nas proximidades debacias hidrogrcas navegveis, como o caso do povoa-do forticado de Cossourado (fgs. 2a4).

    Contudo, existem outros que, tal como hoje, merc da in-terioridade, estariam afastados desta realidade e a conhe-ceriam apenas por contatos espordicos. Os povoados pe-

    rifricos poderiam ter o mesmo tipo de organizao de umpovoado que desempenhava funes de lugar central, masno nos parece que a sua relao com os demais tivesse um

    1

    2

    3

    41. Mapa XVIII - Bacia Hidrogrfica do rio Coura. Estaes e vestgiosarqueolgicos Proto-Histria

    2.Perspetiva norte do povoado fortificado de Cossourado.

    3. Cabanas restauradas do povoado fortificado de Cossourado.

    4.Taludes de defesa do povoado fortificado de Romariges.

    RETIRARDALEGENDAMapa XVIII

    FORAM RETIRADAS DUASFOTOGRAFIAS E RESPETIVASLEGENDAS! NO VO SERCOLOCADAS?

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    carter to economicista teriam sobretudo uma relaoque se efetuaria em funo das necessidades desenvolvidaspor cada sociedade, inserida numa realidade geogrca

    distinta. Muitos destes povoados, relativamente desenvol-vidos, com uma estraticao social baseada nas relaes

    de parentesco, com uma economia de subsistncia de tipo

    comunitrio, elegiam um ou outro produto para troca comelementos de outras comunidades.

    Com os primeiros sinais da chegada de um povo invasor osromanos , os castrejos tero abandonado os seus povoa-dos de destaque na paisagem, que dominavam vastas reasassociadas a meios de transporte aqutico. Este abandonoter-se- registado por volta dos sculos III-II a. C. Para estegrupo, o modelo evolutivo terminaria aqui, como aconteceuem relao aos povoados de Cossourado e, eventualmente,de Montuzelo 1 (freguesias de Cunha e Infesta). O mesmo

    deve ter sucedido com os povoados de menores dimenses,mas cuja situao geogrca os tornava muito expostos,

    como o caso do de Romariges (fgs. 4e5).

    Estes povos, eventualmente associados a outros que tambmse deslocariam em fuga dos romanos embora nos pareaque na maioria dos casos o abandono tenha sido pacco ,

    vo fundar novos povoados, numa nova reorganizao doterritrio, regra geral prximo de reas vivenciais anteriores,mas em locais camuados na paisagem, de preferncia com

    condies naturais de defesa, como o caso de Cristelo (fgs.6e7). Alguns destes povoados, de pequenas dimenses, voter uma cronologia ocupacional relativamente reduzida faceaos demais, sendo alguns abandonados aquando da chega-da de Augusto pennsula e da consequente pacicao dos

    povos, para voltarem (ou no) a ser novamente ocupados,como se vericou com Cristelo.

    Este grupo de povoados, dispersos por reas distintas,

    muito embora podendo ser fornecedores de metais ouminrio aos romanos, no vo assimilar facilmente oselementos da nova cultura: mantm a sua forma de vida,

    no chegando sequer a sofrer alteraes signicativas

    aps a pacicao. Paulatinamente deslocam o seu modo

    de vida para o vale, constroem da mesma forma, ago-ra em povoaes abertas, sem amuralhamentos, cando

    afastada a condicionante geogrca defensiva, a camua-gem. Dedicam-se agricultura, assemelhando-se econo-micamente ao modus vivendi romano, embora mantendomuitas das caractersticas autctones.

    ESTUDO DE CASO

    5

    6

    7

    Outros povoados, situados em reas exteriores baciasuperior do Coura, sobretudo os que ocupavam reasgeogrcas de maior envergadura, vo sofrer, com o con-tacto com os romanos, grandes alteraes urbansticas,econmicas, sociais e culturais. Desenvolvem as estrutu-

    ras habitacionais de forma organizada, num proto-urba-nismo que tende para o agrupamento em ncleos, comconstruo de muralhas aparatosas. Adotam um sistemade construo diferente dos demais, com cabanas cons-trudas com um aparelho mais elaborado, com ornatosnas padieiras e dintis e com trsceles vazados. Em ter-mos econmicos amplia-se a explorao do territrio,criando-se uma atividade agrcola de facto. A sociedadecomplexica-se, organizando-se segundo um esquema

    estraticado, no qual certos elementos eram heroicizados

    semelhana romana, como o comprovam as esttuas

    5. Estruturas do povoado fortificado de Romariges.

    6.Povoado fortificado de Cristelo.

    7.Estrutura 1 do povoado fortificado de Cristelo. Ao fundo sobreposiode estruturas das duas fases de ocupao.

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    de guerreiros galaicos. Transforma-se, desta forma, a suacultura e os seus traos simblico-religiosos.

    Apenas no sculo II d. C., ou posteriormente, estes povoa-dos se esvaziam, comeando ento a generalizar-se o tipo de

    ocupao propriamente romana com a construo de vicuse villascom pedra aparelhada, colunas, tgula, adotando--se cermicas e outros elementos romanos, mas, por vezes,mantendo elementos da cultura material anterior. Evidente-mente que, falta de elementos cronolgicos concretos, nopodemos aanar que estes dois tipos de modelo de ocupa-o do espao so genericamente contemporneos.

    Estamos em crer que o apogeu dos grandes povoados castre-jos apenas acontece aquando do contacto com os romanos ecom os elementos tcnicos que estes tero fornecido, relacio-nados, sobretudo, com o aperfeioamento dos instrumentosde ferro, material muito mais resistente do que os at a dis-ponibilizados. Elemento essencial para o novo tratamentoda pedra (em termos de aparelhagem, de decorao e daelaborao de esculturas), para o tipo de explorao agrco-la, entre outros. Ou seja, temos uma Cultura Castreja roma-nizada apenas muito tardiamente. Haveria que designar afase compreendida entre os sculos VII e II a. C. como umagrande fase de Cultura Castreja autctone.

    Outra inovao que ter ocorrido na fase nal da Idade

    do Ferro, a que o vale do Coura no ter sido alheio, foi acriao de povoados dedicados explorao mineira, comoparece ter sido o caso da Portela da Bustarenga (S. Martinho

    de Coura). A sua abundncia, principalmente nas Astrias,ter levado diminuio de populao em determinadasreas. Esta reduo populacional pode ter-se vericado

    tambm devido a uma deslocao para as capitais, comoBracara Augusta. Outros povos meridionais talvez se tenhamdeslocado, igualmente, para este tipo de povoados, foradosou no. Noutras zonas, onde a abundncia de minas eramenor, os romanos deixaram o seu poder e a romanizaouir conforme os interesses dos povos autctones.

    A romanizao tomou assim caractersticas peculiares,uma vez que trouxe elementos de aculturao aos povos

    autctones, formando-se uma nova sociedade que convi-ve com as novidades recm-chegadas conforme as suasnecessidades e os desaos que lhe vo sendo colocados.

    Nas reas onde no existiram grandes povoados as po-pulaes autctones deslocaram-se para o vale, mistura-ram-se com os romanos e construram cabanas de tipocastrejo, eventualmente porque as tcnicas de produodo chamado ferro / ao no estavam sucientemente di-vulgadas s em fases posteriores se constri maneiraromana. Neste tipo de povoamento do territrio ocorrem

    materiais nitidamente castrejos misturados com restos deobjetos romanos e alto-medievais, numa amlgama civi-lizacional que nos confunde e que apenas os elementosepigrcos e numismticos conseguem datar, situando

    esta fase nos sculos III e IV d. C. como se vericou na

    bacia superior do rio Coura.

    J nos locais onde foi possvel o desenvolvimento dos gran-des povoados, merc da produo do ferro / ao, os ro-manos, ao contrrio do que seria de esperar, permitiramque os autctones zessem o reforo das muralhas numa

    poca em que a defesa era garantida pelos romanos e nopelas muralhas. H aqui uma dualidade interpretativa: porum lado, os romanos permitem a manuteno do sistematradicional de defesa, uma vez que no viam os Galaicoscomo inimigos; por outro lado, permitem que as mura-lhas, mais do que uma construo militar, proporcionemaos habitantes um meio de ostentao do seu apogeu, do

    seu crescimento econmico. Chegamos ento a uma inter-pretao semelhante formulada em relao aos castrosda primeira fase da Idade do Ferro da bacia superior dorio Coura: a construo de muralhas como ostentao depoder e, simultaneamente, como dissuaso de ataques.

    evidente que ainda persistem muitas dvidas e quecada regio ter evoludo de forma relativamente di-ferente. Contudo, esta diversidade no s constitui umaliciante para a continuidade das investigaes, como caracterizadora de uma sociedade que, apesar da diversi-dade, possui elementos de semelhana e de unidade que

    fazem com que seja enquadrada numa mesma cultura a Cultura Castreja. Conseguiu, inclusivamente, criar nospovos invasores uma nova forma de lidar com os povosautctones, que, ao adaptarem-se realidade existente,introduziram paulatinamente transformaes sem gran-des atritos. esta diversidade e originalidade que cadavez mais nos aparece no registo arqueolgico, uma vezque os grandes povoados (Briteiros, Sanns, Santa Tecla)

    que durante bastante tempo foram os mais estudados eque, consequentemente conduziram a teorias que toma-ram o todo pela parte, tornando-se, erradamente, sinni-mo da Cultura Castreja. Hoje esses povoados j estaro,a nosso ver, praticamente todos descobertos e estudados,no sendo provvel que venham a surgir muitos outrosda mesma dimenso. No obstante, iro, com certeza,continuar a ser estudados povoados de outras tipologiase de outras cronologias. A diversidade de cada zona irditar novas interpretaes e, quem sabe, teremos um diauma imagem da Cultura Castreja diferente da que atual-mente existe e difundida na sociedade em geral a dosgrandes povoados da viragem do milnio , uma imagemdistante da realidade mas que , ainda, com excepo dealguns meios acadmicos, a vigente.

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    AS CRONOLOGIAS ABSOLUTAS DOSPOVOADOS DA IDADE DO FERRO DABACIA SUPERIOR DO RIO COURA

    As cronologias absolutas obtidas para os povoados da ba-

    cia superior do rio Couraforam conseguidas atravs dametodologia do radiocarbono, no Instituto TecnolgicoNacional (ITN, Sacavm) e no Laboratrio de Radio-carbono da Universidade de Granada (UGRA). Os re-sultados foram diferentes entre os dois laboratrios, mascoerentes quando analisados de forma individual. Ascronologias obtidas diferem, nos limites inferiores, cercade 400 anos para as dataes de Cossourado (UGRA =entre 350 e 190 a. C., entre 370 e 210 a. C. e entre 360e 200 a. C.; SAC = entre 680 e 600 a. C. e entre 770 e690 a. C.), no sendo a diferena to agrante no caso

    de Romariges (UGRA = entre 520 e 380 a. C., entre330 e 170 a. C. e SAC = entre 590 e 510 a. C.), onde seregista um intervalo substancialmente menor, entre 70 e260 anos (Quadro I e Grfco I).

    Tambm no que diz respeito aos intervalos estipulados pe-los dois laboratrios, existem diferenas signicativas (c. 40

    anos), tendo os resultados de Sacavm (+40) um intervalocorrespondente a metade do tempo do de Granada (+80)1.

    Os resultados do ITN oferecem-nos cronologias substan-cialmente mais antigas, sobretudo no caso de Cossoura-do. Uma vez que no foi possvel submeter mais amostrasa anlises para datao por C14, temos que nos socorrer

    de uma cronologia cruzada, nomeadamente recorrendoaos dados da cultura material (sobretudo os materiais deimportao), para aferirmos as cronologias absolutas.

    Os fragmentos de cermica mediterrnica de tradioibero-pnica, os de cermica tica e as contas de colarencontradas e cronologicamente atribuveis a nais do

    sc. V e incios do IV a. C., so coerentes entre si. Po-demos, teoricamente, apontar uma cronologia relativade ocupao dos povoados de Cossourado e Romarigespara o sc. IV a. C., ou seja, numa poca em que os doispovoados j teriam uma vivncia plena. Quanto data

    de implantao dos mesmos, no possumos dados pre-cisos que sustentem qualquer hiptese. Pensamos, con-tudo, que a implantao de Cossourado anterior deRomariges, no obstante existir contemporaneidade deocupao. Alguns dos elementos que nos levam a fazerestas armaes prendem-se com a implantao geogr-ca de Cossourado, com a relativa abundncia de objetos

    de bronze (estando a presena do ferro pouco registada)e com a quase ausncia de gramtica decorativa na ce-rmica, o que reforado pelo facto de os nicos frag-mentos decorados possurem uma decorao de tradio

    tipo Penha, calcoltica, com eventual continuidade naIdade do Bronze.

    Tendo por base os elementos descritos e interpretados aolongo do texto, as dataes de C14 e os elementos que

    se conhecem sobre a evoluo histrica desta regio, es-tabelecemos uma cronologia para os povoados da Idadedo Ferro da bacia superior do rio Coura, dividida em trs

    fases sucessivas.

    A primeira fase cronolgico-evolutiva do povoamento econsequente organizao territorial ter-se- vericado por

    volta dos anos 700 a 600 a. C., a acreditar nas dataes doITN, datas estas que coincidem com a Fase IB de A. CoelhoSilva (1996). Nesta situao teremos os povoados de Cos-sourado e Romariges. Como nenhum apresenta elementosque nos possam traduzir fases evolutivas com transforma-es signicativas, consideramos que apenas existe uma

    grande fase de ocupao, que podemos situar entre 400 e500 anos e que ter terminado historicamente aquando daaproximao das tropas romanas cheadas por Dcimo J-nio Bruto, entre os anos de 138 / 136 a. C.. Pensamos queas comunidades de Cossourado e Romariges tero deixadopacicamente os seus povoados, antecipando-se aos invaso-res, e rumando a paragens que tanto podem ter sido de almMinho como da prpria bacia do Coura.

    A esta longa primeira fase sucederam-se outras duas bas-tante mais curtas no tempo, tambm condicionadas pelasincurses romanas. Dada a ausncia de semelhanas ao

    nvel da estratgia de ocupao do vale, do tipo de cons-truo dos povoados e da cultura material, pensamos queos habitantes de Cristelo no conviveram com os de Cos-sourado e de Romariges, pelo que este pequeno povoa-do ter sido implantado em data posterior s incursesde Dcimo Jnio Bruto e nunca para alm de 20 a. C.,poca historicamente apontada como a chegada de Au-gusto Pennsula. A segunda fase de Cristelo e terceirada bacia superior do rio Coura foi por ns balizada entre20 a. C. e o sculo I d. C., altura a partir da qual o povo-ado foi abandonado.

    A real assimilao da romanizao faz-se posteriormen-te, por exemplo no vale em torno de Cristelo e noutraszonas da bacia superior do rio Coura, a partir da pocaBaixo Imperial, ou seja, na segunda metade do sculo IIIe princpios do sculo IV d. C..

    Os vestgios da inuncia romana no povoado de Cristelo

    designadamente uma m circular movente so unica-mente resultantes de um emprstimo cultural. Os vestgiosde superfcie, os achados do lugar da M (Sigoelos, Ferrei-ra) o tesouro monetrio da Lameira (Silva e Silva, 2007) ou

    ESTUDO DE CASO

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    QUADRO I.RESULTADOS DAS ANLISES POR C DOS POVOADOS DA BACIA SUPERIOR DO RIO COURA

    PROVENINCIAREFERNCIADA AMOSTRA

    REFERNCIA DOLABORATRIO

    DATAO B.P. CONVERSO DATA CALIBRADA1 TIPO / ESP CIE OBSERVAES

    COS 94AM0 (3)

    Interior da cabana 1

    UGRA-503(13/2/96)

    2220 80

    Intervalo entre 350 e190a.C. (350 - 270 - 190)

    Sc. IV e II a.C.

    Interseces: 353, 304, 208 cal BCMtodo A - 1 sigma: 385 - 173;

    2 sigma: 403 - 45Mtodo B - 1 sigma (68,3%): 374 - 191;

    2 sigma (95,4%): 400 - 58

    Bolotas de carvalhocarbonizadas2

    Idade terica: 2204 78

    Idade corrigida por13C:2220 78

    COS 94AA0/AA0 (2)

    Interior da cabana 1

    UGRA-505(13/2/96)

    2240 80

    Intervalo entre 370 e210a.C.(370 - 290 - 210)

    Sc. IV e III a.C.

    Interseces: 361, 282, 257 cal BCMtodo A - 1 sigma: 392 - 189;2 sigma: 407- 57

    Mtodo B - 1 sigma (68,3%): 379 - 332 e328 - 200;

    2 sigma (95,4%): 411- 47

    Tipo de giesta;Quercus suber

    (sobreiro);Sambucus sp.(sabugueiro);

    Pistacia lentiscus(lentisco) 2

    Idade terica: 2246 83

    Idade corrigida por13C:2241 83

    COS 97D - 5GO (3)

    Parte interna da muralha

    UGRA- 556(29/2/00)

    2230 80

    Intervalo entre 360 e200a.C. (360 - 280 - 200)

    Sc. IV e II a.C.

    Interseces: 357; 288; 250 cal BCMtodo A - 1 sigma: 389 - 181;

    2 sigma: 405 - 49Mtodo B - 1 sigma (68,3%): 375 - 197; 2 sigma

    (95,4%): 404- 55

    Madeira carbonizada

    Idade terica: 2234 78

    Idade corrigida por13C:2234 78

    COS 95A - 45Q5 (3)

    Interior da cabana 5

    Sac-1505(22/1/99)

    2590 40

    Intervalo entre 680 e600a.C.(680 - 640 - 600)

    Sc. VII e VI a.C.

    Interseco: 795cal BC1 sigma: 804-776cal BC;

    2 sigma: 815-762;622-599cal BCBolotas carbonizadas ___

    COS 96C - 23B3 (3)

    Interior da cabana 1C

    Sac-1493(22/1/99)

    2680 40

    Intervalo entre 770 e690a.C.(770 - 730 - 690)

    Sc. VIII e VII a.C.

    Interseco: 818cal BC1 sigma: 838-805 cal BC;2 sigma:903-796cal BC

    Madeira carbonizada

    ___

    ROMA 94A

    N2 (3)Dentro da cabana 1

    UGRA-502(13/2/96) 2400 70

    Intervalo entre 520 e 380

    a.C. (520 - 450 - 380)Sc. VI e IV a.C.

    Interseco: 407cal BCMtodo A - 1 sigma: 753 - 696 e 533 - 393; 2

    sigma: 773 - 368 e 270 - 270Mtodo B - 1 sigma (68,3%): 755 - 687 e 539 -

    392; 2 sigma (95,4%): 771 - 369

    Quercus sp.

    caduciflio(carvalho)2

    Idade terica: 2404 71

    Idade corrigida por13C:2401 71

    ROMA 93AM0 (3)

    Dentro da cabana 1

    UGRA-504(13/2/96)

    2200 80

    Intervalo entre 330 e 170a.C. (330 - 250 - 170)

    Sc. IV e II a.C.

    Interseces: 337, 324, 202 cal BCMtodo A - 1 sigma: 377 - 165 e 138 - 125; 2

    sigma: 399 - 36Mtodo B - 1 sigma (68,3%): 370 - 171; 2 sigma

    (95,4%): 393 - 50

    Populus sp.(choupoou lamo) 2

    Idade terica: 2214 83

    Idade corrigida por13C:2197 83

    ROMA 96A - 8M2 (3)

    Dentro da cabana 1

    Sac-1494(22/1/99)

    2500 40

    Intervalo entre 590 e 510a.C. (590 - 550 - 510)

    Sc. VI a.C.

    Interseces = 760; 672; 665; 632; 592; 584;560cal BC

    Intervalos para 1 sigma = 773 - 525cal BC; para2 sigma = 793 - 411cal BC

    Madeira carbonizada

    ___

    CRIS 97A - 9D2 (3)

    Cota n2A/971 FASE

    (exterior da cabana 1)

    UGRA-555(29/2/00)

    1890 60

    Intervalo entre 120 a.C. e 0(120 - 60 - 0)

    Sc. II a.C. e I a.C.

    Interseco: 125cal BCMtodo A - 1 sigma: 71 - 223;2 sigma: 4 - 253 e 302 - 315

    Mtodo B - 1 sigma (68,3%): 76 - 214; 2 sigma(95,4%): 1 - 255 e 299 - 317

    Madeira carbonizada

    Idade terica: 1892 64

    Idade corrigida por13C:1892 64

    CRIS 98A -M0,M1 e N0 (3)

    Dentro da 3Cota n2A/97

    2 FASE(interior da cabana 3)

    UGRA-580(03/5/01)

    2040 70

    Intervalo entre 160 a.C. e 20a.C. (160 - 90 - 20)

    Sc. II a.C. e I a.C.

    Interseco: 36cal BCIntervalos (Mtodo A) para 1 sigma: 114 - 60;

    Para 2 sigma: 196 - 121;Mtodo B - 1 sigma (68,3%): 113 - 59; 2 sigma

    (95,4%): 330 - 330 e200 - 126

    Leguminosas do tipogiestas, codeos

    e tojo3

    Idade terica: 2030 67

    Idade corrigida por13C:

    2039 67

    1) Calibrao feita pela curva de Stuiver and Pearson 1993, 215-230, na Universidade de Washington, Quaternary Isotop Laboratory Program REV 3.0.3.Stuiver, M. e Reiner, P.J. 1993, Radiocarbon, 35(1), 1-23; 25-33.

    2) Anlises feitas pela Prof. Doutora Maria Oliva Rodriguez Ariza do Departamento de Pr-Histria e Arqueologia da Universidade de Granada, a quemagradecemos.

    3) Anlises feitas pela Prof. Doutora Isabel Figueiral do Institut de Botanique de la Universit de Montpellier II, a quem agradecemos.

    QUADRO II. CRONOLOGIA DE OCUPAO DA BACIA SUPERIOR DO RIOCOURA NA IDADE DO FERRO.

    GRFICO I. DATAES BP COSSOURADO, ROMARIGES E CRISTELO

    FASES POVOADOS FORTIFICADOS

    FASE 1 entre + 700 a138/136 a.C.

    Cossourado e Romariges dados de escavao edataes C14

    Giesteira e Montuzelo 1 hiptese

    Montuzelo 1 dever ter tido uma cronologia anterior Calcoltico e Idade do Bronze (?)

    FASE 2 posterior a138/136 a.C. at 20 a.C.

    Cristelo (1. Fase) dados de escavao e dataes C14

    Montuzelo 2, Portela da Bustarenga, Bruzendes, Alto daMadorra e Castro da Madorra hiptese

    FASE 3 posterior a 20a.C. e o sculo I d.C.

    Cristelo (2. Fase) dados de escavao e dataes C14

    Montuzelo 2, Portela da Bustarenga, Bruzendes, Alto daMadorra, Castro da Madorra, Alto do Castro e Castelo hiptese

    2140 2160

    2550 2640

    2150

    2330

    2120

    2460

    1830

    1970

    2220 2240

    25902680

    2230

    2400

    2200

    2500

    1890

    2040

    2300 2320

    2630 2720

    2310

    2470

    2280

    2540

    1950

    2110

    0

    500

    1000

    1500

    2000

    2500

    3000

    UGRA-503 UGRA-505 Sac-1505 Sac-1493 UGRA-556 UGRA-502 UGRA-504 Sac-1494 UGRA-555 UGRA-580

    COS 94A -M0 (3)

    COS 94A -A0/AA0 (2)

    COS 95A -45 - Q5 (3)

    COS 96C -23 - B3 (3)

    COS 97D -5 - GO (3)

    ROMA 94A- N2 (3)

    ROMA 93A- M0 (3)

    ROMA 96A- 8- M2 (3)

    CRIS 97A -9 - D2 (3) -

    Cotan2A/97 - 1

    FASE

    CRIS 98A -M0,M1 e N0(3) - Dentroda 3 - Cotan2A/97 - 2

    FASE

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    os resultados da escavao do Sitio romano de Lis (Tarrio,Infesta) so cronologicamente concordantes, assim comoo elevado nmero de milirios da via, reveladores de umareal implantao romana apenas na poca apontada.

    Estamos, assim, em presena de um vale ocupado em trsfases sucessivas (Quadro II), com outros tantos reordena-mentos do territrio, sendo que na fase 1 a ocupao se fezem povoados de mdia a grande dimenso, em locais ge-ogracamente destacados na paisagem, ladeando o rio

    Coura, com boa visibilidade para outros povoados destae de outras bacias hidrogrcas. As linhas de defesa te-riam uma funo essencialmente de ostentao, de de-marcao de um territrio de ocupao que se pretendiaque fosse visto. Nesta fase 1 podemos englobar povoadoscomo Cossourado, Giesteira, Montuzelo 1 e Romariges,

    este ltimo, com um modelo de implantao geogrca

    diverso dos demais.

    Numa segunda fase, a opo por lugares de destaque napaisagem abandonada, passando-se a escolher locaismais afastados do vale, do rio Coura e da zona de acesso,de deslocao e de potencial inuncia de outros povos,

    designadamente os romanos. O corredor que margina orio Coura abandonado, procurando-se locais de peque-nas dimenses, camuados na paisagem, onde se viriam a

    implantar povoados como Cristelo, Montuzelo 2, Portela

    da Bustarenga, Alto da Madorra, Castro da Madorra e,

    eventualmente, Pinheiro.

    Na terceira, e ltima fase, temos a continuao da ocu-pao dos povoados da fase 2 do vale e, eventualmente, aocupao de outros pequenos montes, nas proximidadesdo rio Coura, antecipando j os designados castros agr-colas povoados de baixa altitude, instalados em peque-nas colinas na plancie por inuncia romana de tipo

    idntico aos conhecidos nos vales do Cvado e do Lima,

    que M. Martins (1988) situa no sculo II a. C., no primei-ro caso, e B. de Almeida (1990) aponta para o sculo I a.C., no segundo.

    Este modelo interpretativo da evoluo da ocupao do

    vale superior do rio Coura, entre o Bronze Final e a Ro-manizao, carece de informaes mais precisas em re-lao a alguns pontos, que s intervenes arqueolgicasnoutros locais podero proporcionar. Contudo, podemosarmar que o noroeste peninsular constituiu, durante o

    ltimo milnio a. C., um mosaico de povos que ocupamreas mais ou menos extensas, com uma idiossincrasiaprpria, que se manifesta em segmentos da cultura ma-terial e noutras vertentes, estando, todavia, inseridos, noseu conjunto, numa realidade cultural aglutinadora demodelos e comportamentos sociais.

    OS PROJETOS DE REABILITAO /VALORIZAO DOS POVOADOS

    Efetuadas as primeiras campanhas em diversos povoados,gradualmente foi-se evidenciando Cossourado como esta-

    o arqueolgica de potencial interesse cientco e patri-monial, o que justicou, a partir da, uma maior concen-trao de esforos com vista ao seu estudo e preservao2.O projeto incidiu em trs domnios fundamentais: con-servao / restauro / reconstituio; sinalizao / infor-mao e divulgao do povoado.

    Os trabalhos relativos ao primeiro dos pontos enunciadosiniciaram-se com a realizao de um estudo do ambientegeoclimtico, dos agentes erosivos e respetivas soluesde minimizao de efeitos, ao qual se seguiu a desmata-o de grande parte doplateauonde decorreram os traba-lhos e a remoo dos entulhos resultantes das campanhasarqueolgicas efetuadas. Procedeu-se de seguida limpe-za do espao de interveno do restauro, dos muros e dointerior das estruturas, o que implicou a escavao at aosolo de base de todas as cabanas.

    Efetuou-se, igualmente, a escavao de reas sem constru-es, a desmontagem de alguns cortes estratigrcos e o

    nivelamento dos sectores. No interior e exterior das caba-nas, o nivelamento dos sectores obedeceu a um plano pos-svel de alinhamento das superfcies de terreno, numa l-gica de aproveitamento do escoamento natural das guas,de acordo com a inclinao que se verica no suporte de

    ocupao das estruturas. Nesse sentido, escavou-se at seatingir um nvel inferior ao nvel de ocupao (aoramento

    grantico, regra geral) e criaram-se pendentes vetoriais deescoamento das guas de superfcie de dentro das estrutu-ras para um local de sada, resultando na obteno de uminterior mais alto, que escoa para o exterior mais baixo.Noutros casos, pelo contrrio, teve que se elevar o nvel dosolo com a deposio de terras, a m de se obter o efeito

    pretendido. Desta forma, cou, desde logo, preparado o

    terreno para a implantao do sistema de drenagem.

    A conservao, restauro e reconstituio das unidades

    arquitetnicas obedeceu, por sua vez, a um esquemaque compreendeu diversas aes: estudo das estruturas;anlise dos paramentos e argamassas; escolha das arga-massas a aplicar no restauro; conservao e restauro dasestruturas de habitao e de servios, com alinhamento,verticalizao e consolidao dos muros; conservaoe restauro da muralha interna e da entrada; e, por m,

    reconstituio parcial de todas as estruturas que haviamsido escavadas at data de execuo do projeto, noalterando, contudo, os dados arqueolgicos.

    ESTUDO DE CASO

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    Relativamente a esta ltima ao, importa referir que,aps se proceder anlise de vrias solues, se optoupor criar uma divisria entre o muro de origem e a partereconstruda, mediante a colocao de uma bra geotx-til. Este elemento de descontinuidade, apenas visvel na

    parte interna das estruturas, no alterou a informao eest de acordo com o conceito de reversibilidade. A re-constituio propriamente dita seguiu o tipo de paramen-to existente, tendo sido utilizada a pedra proveniente dacamada de derrube. Concluda a reconstituio de todosos muros, estes foram tratados com um hidrofugante in-color e um biocida. O perl dos muros, por seu lado, foi

    deixado, no nal, o mais irregular possvel.

    A aplicao do sistema de escoamento das guas incluiuum processo de drenagem para cada estrutura, inseridonum sistema geral. Este processo foi efetuado, como re-ferido, atravs da criao de pendentes seguindo a incli-nao natural do terreno, ao que se sobreps uma mantageotxtil, uma camada de gravilha e, por m, terra reti-rada aquando da escavao arqueolgica.

    Os trabalhos de reconstituio das estruturas caram

    concludos com a construo integral, baseada nos dadosobtidos atravs da escavao arqueolgica, de duas cons-trues-modelo: uma circular, que ter servido essencial-mente para habitao e realizao de tarefas domsticas,e uma alongada, de maiores dimenses, que ter sidoutilizada, sobretudo, como local de trabalhos diversos.Tal como em relao s restantes construes, foi apli-

    cada nestas cabanas apenas pedra recolhida no povoadoao longo dos ltimos anos. A cobertura construda emmadeira assenta diretamente a sua estrutura no limite su-perior da parede, sem o auxlio de qualquer elemento desustentao.

    As anlises antracolgicas efetuadas aos restos lenhososcarbonizados recolhidos nas diversas campanhas arque-olgicas indicaram a giesta como material utilizado nosistema de cobertura. No entanto, optou-se por aplicar ocolmo, por uma questo de durabilidade, de resistncia

    e pelo facto de ser mais impermevel ao das chuvas

    abundantes que se registam na regio

    3

    .Relativamente ao segundo ponto referido sinalizao/ informao foram colocados dois tipos de placas: asplacas indicativas de acesso rodovirio e as placas did-tico-explicativas. As segundas, bilingues e em nmerode quatro, foram distribudas pela estao arqueolgica,cada qual com uma funo distinta: apresentao do po-voado, caracterizao do habitat, explicitao do sistemadefensivo e apoio ao ncleo construdo.

    No que diz respeito ao terceiro e ltimo ponto divulga-o do povoado foi elaborado diverso material com ca-ractersticas marcadamente pedaggicas: dois desdobr-veis (um destinado ao pblico juvenil e outro ao pblicoadulto), um jogo didtico do tipopuzzle, uma coleo de

    postais e outra de diapositivos e um livro profusamen-te ilustrado, de leitura fcil, que pretendeu sintetizar osconhecimentos obtidos. Posteriormente realizaram-semuitas outras atividades e publicaes: umas com car-ter pedaggico e, outras, cientco. Dentro das diversas

    atividades realizadas h a destacar uma reconstituiohistrica ao vivo.

    Os trabalhos de valorizao do povoado forticado de

    Romariges seguiram um plano previamente elaborado,que visava uma futura musealizao da estao. Realiza-ram-se, ento, estudos relativos forma de conservaoe reconstruo das estruturas existentes, ao declive e aosnveis de escorrncia do mesmo, de forma a planear o

    sistema de drenagem. Contudo, os diversos incndios de

    que este povoado tem sido alvo afastaram a hiptese dequalquer trabalho de valorizao do povoado, pelo queapenas se procedeu, aps o trmino da escavao no sec-tor A, consolidao, restauro e reconstituio parcialdas estruturas.

    Dado tratarem-se de edicaes bastante deterioradas, se

    se mantivessem expostas aos agentes atmosfricos, semqualquer proteo, um conjunto de aes fsicas e qumi-cas prejudiciais acabariam por, em um curto espao de

    tempo, pr em causa a sua integridade, levando ao seudesaparecimento total.

    Os trabalhos de preservao iniciaram-se com a limpezada terra existente nos interstcios das pedras, nos quaisse colocou uma argamassa previamente elaborada. Estaargamassa pretendeu ser, tanto quanto possvel, seme-lhante preexistente, pelo que foi elaborada com areiade seixos quartzticos de rio (o que lhe confere uma tona-lidade acastanhada) misturada com gua e uma pequenaquantidade de cimento, no sentido de lhe dar uma maiorconsistncia, tentando contornar as condies adversas

    do clima, muito chuvoso.

    Aps a consolidao da edicao procedeu-se colo-cao de uma linha divisria entre aquela e a parte a re-construir, tendo-se para o efeito utilizado placas de xistonegro e acastanhado, provenientes da prpria estao,distribudas de 20 em 20 cm.

    A reconstruo foi elaborada com pedra retirada dacamada de derrube da estrutura, seguindo-se a mesmatcnica de construo e o mesmo tipo de aparelho e de

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    paramento originais4. Outras estruturas existentes, comouma lareira, foram consolidadas e reconstitudas com aspedras originais.

    Igualmente toda a rea interna e externa das duas estru-

    turas existentes foi alisada e nivelada, seguindo a penden-te do terreno (de nascente para poente), de modo a que oescoamento das guas pluviais se faa.

    A sinalizao do povoado apenas foi feita com placas in-dicadoras do acesso.

    Os trabalhos de valorizao do povoado forticado de

    Cristelo, pela falta de conjugao de diversos fatoresessenciais, nunca foi realizada, pelo que se resumiram,aquando da nalizao da interveno arqueolgica, ao

    arranjo de todo o sector escavado, com o alisamento donvel escavado, quer interno, quer externo s estruturas,de forma a criar zonas de escoamento das guas pluviais5.

    No sentido da divulgao dos povoados concederam-se v-rias entrevistas em rdios locais e regionais, elaboraram-se epublicaram-se vrias notcias em jornais locais, regionais enacionais, bem como noBoletim Municipal. De igual forma,foram publicados diversos artigos cientcos, a Carta Arque-olgica e, parcialmente, a nossa tese de doutoramento.

    O esplio arqueolgico destas estaes arqueolgicasencontra-se devidamente estudado e tratado em termosde conservao e restauro e est exposto no Ncleo de

    Arqueologia do Museu Regional de Paredes de Coura.

    Procurou-se, desta forma, converter estas estaes arque-olgicas num plo de dinamizao pedaggica, tursticae cultural, integrando-as de forma sustentada no meioem que se enquadram.

    *

    Artigo redigido ao abrigo do novo acordo ortogrfco.

    NOTAS

    1. No povoado de Cristelo o problema no se coloca pelo facto deapenas possuirmos resultados de anlises efetuadas pelo Laborat-rio de Granada. De acordo com a informao concedida, a incoe-rncia registada deve-se no s amostras, mas antes diferena de

    metodologia empregue nos dois laboratrios em questo.

    2. Nesse sentido, e dando sequncia ao trabalho desenvolvido, foi

    elaborado o designado Projeto de Musealizao e Divulgao do

    Povoado Forticado de Cossourado nanciado em 75%, pelo II

    Quadro de Apoio Comunitrio, ao abrigo do Sub-Programa C do

    PRONORTE (Programa Operacional do Norte) e, em 25%, pelaCmara Municipal de Paredes de Coura.

    3. Infelizmente, nos ltimos anos, algumas intervenes a que somosalheios, sem acompanhamento arqueolgico ou aprovao dos organis-mos da tutela, tm alterado os objetivos iniciais a que nos propusemos.

    4. Ou seja, colocando-se pedras de tamanho mdio a grande nolimite da parede e de tamanho mido e envoltas em argamassa, noenchimento interior.

    5. A manuteno foi feita durante alguns anos por trabalhadores daautarquia, sob a nossa orientao, tendo a estao sido, posterior-mente, abandonada. Por este motivo no foi feita a sua sinalizao.

    BIBLIOGRAFIA

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    EOLOGICA3, 2008, p. 91-116. http://www.aparqueologos.org/index.php.

    ESTUDO DE CASO