Artigo 20.2 Professor e Artista Uma Reflexao Sobre a Pratica Docente DENISE WENDT

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  • Eletras, vol. 20, n.20, jul.2010 17

    PROFESSOR E ARTISTA UMA REFLEXO SOBRE A PRTICA DOCENTE

    A PARTIR DA EXPERINCIA ARTSTICA

    Denise Wendt1 [email protected]

    1 INTRODUO

    Este estudo faz uma reflexo sobre a importncia do professor de arte tambm

    ser um artista e vivenciar a prtica artstica para o desenvolvimento de suas prticas

    pedaggicas em sala. Apresenta, a partir das reflexes de professores artistas, reflexes

    sobre como a experincia do processo de produo do trabalho, como as experincias

    artsticas contriburam para as aulas de arte e, em que medida a produo artstica

    norteia a orientao dos alunos no processo de criao.

    2 PROFESSOR E ARTISTA

    Nesta reflexo sobre o profissional professor e artista so levantadas algumas

    questes relevantes para que seja observada a importncia do professor de arte ser,

    tambm, um produtor de arte. Somente o professor e artista poder, partir das reflexes

    sobre a produo do seu trabalho, pensar os procedimentos pedaggicos para a sua aula

    de arte.

    Assim, ser apresentada uma reflexo sobre ser professor e artista, como acontecem

    os procedimentos pedaggicos quando este professor produz o seu trabalho artstico e

    vivencia o ser artista nas aulas do ensino formal (fundamental e mdio), cursos de arte

    do ensino superior e cursos informais em ateliers.Para que se possa discorrer sobre esta

    reflexo sero apresentados diversos autores que discutem a importncia do profissional

    professor e artista para a atuao docente.

    Segundo Gonalves, isto uma constante reflexo sobre a construo do

    conhecimento e o seu procedimento pedaggico nas suas aulas:

    1 Mestre em Engenharia de Produo e Professora do curso de Artes Visuais da Universidade Tuiuti do Paran

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    [...] Os mecanismos para a orientao de prticas e contedos abordados na sala so em parte gerados pelo questionamento sobre como articulo o conhecimento, medida que descubro, acrescento e modifico idias e procedimentos. (...) minhas experincias artsticas auxiliam na constituio da prtica docente. (...) contribui para o desenvolvimento das aes pedaggicas em sala de aula. (GONALVES, 2002 p.51)

    Percebemos na reflexo da autora a importncia das suas experincias para a

    orientao dos seus alunos e ainda aponta que, na sua produo artstica em atelier,

    suscitam os meios de instigar e buscar o conhecimento de processos criativos. E, na

    reflexo da prtica artstica e instaurao da potica, Gonalves foi inserida no mundo

    da arte. ( GONALVES, 2002, p.51).

    Desta forma, a autora percebeu que:

    muitos alunos mostram resistncia, tanto ao fazer, quanto s reflexes desse fazer, trazendo consigo preconceitos de que a arte bela e verdadeira, se apresenta primazia na tcnica de representar, e ainda pensam ser o artista, inspirado por uma divindade. (GONALVES, 2002, p.51 e 52).

    Como trazemos historicamente um fazer tcnico sem reflexes, concordamos

    que os alunos e pais (escola, pedagogos entre outros) querem um produto final como

    trabalho e acham que pensar e exercitar o fazer criativo somente servem para o artista,

    um ser que nasce com um dom e tem inspiraes. Este pensamento vem das aulas dos

    professores que produziam trabalhos apenas para aplicar tcnicas. As tcnicas so

    importantes se valorizado o processo de criao e a reflexo sobre onde se pretende

    chegar, ento as tcnicas faro parte do caminho a ser percorrido, como coloca a autora.

    nesta reflexo e nos momentos de dvidas sobre sua produo, durante a

    investigao da passagem da idia mental para a idia plstica, do subjetivo ao fazer que

    diferencia o fazer artstico de um simples fazer, conforme aponta a autora como artista e

    professora, so adotados procedimentos fundamentados nos dispositivos metodolgicos

    de Sandra Rey que diferenciam a pesquisa em arte e sobre arte, questo sobre a

    metodologia que ser abordada no decorrer do texto. (GONALVES, 2002).

    A diferena do fazer tcnico sem reflexo de um fazer artstico com uma

    reflexo sobre o processo todo inclusive de como usar a tcnica que diferenciar a aula

    de arte e todo o processo de aprendizagem.

    Conforme Gonalves (2002), a partir de seu entendimento do processo de

    criao, surgiram solues para a orientao do processo dos alunos, ou seja, baseada no

    seu processo de aprendizagem, sem que reproduzam o seu modo de ensinar e aprender

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    mas que, descobrissem jeitos ousados de aprender e ensinar, como quando se cria.

    (2002, p.52) E no seu exerccio de atividade docente, verifica respostas positivas dos

    alunos nas experimentaes na proposta de investigao potica, oferendo uma

    discusso sobre a proposta prtica da aula, fazendo provocaes ao aluno para

    relacionar as vivncias pessoais com as acadmicas, apresentando obras e depoimentos

    de artistas.

    O que observamos nas afirmaes da autora que que no so meramente

    reflexes mas tambm a percepo do processo de aprendizagem dos seus alunos a

    partir da experincia do processo de produo do seu trabalho e que estas experincias

    artsticas construram a prtica docente contribuindo para as aes pedaggicas em sala.

    Ainda segundo Gonalves, na sua prtica docente qualquer componente

    curricular :

    (...)um estmulo aos alunos para o fazer inventivo, que, segundo Pareyson, poder ser um fazer artstico. Durante o processo de formar e pensar, atravs da tinta, da argila, ou de um recorte, os insiro naturalmente no pensamento artstico e na investigao potica, que, alm de dar subsdios para a investigao do processo de criao, uma proposio metodolgica que encaminha a ao ao conhecimento da arte: os materiais me levam tcnica e sua superao, que me conduz s literaturas artsticas, aos procedimentos criativos de outros artistas e seus contextos, e ao contexto de cada um. Desenvolv-lo na sala de aula uma maneira de reforar o vnculo entre a prtica e a teoria, a criao e a reflexo, os exerccios de aula e a pesquisa. Atravs de uma proposio prtica simples podemos desvelar os conceitos veiculados ao objeto artstico, tornar a ao uma criao e um mote para a dvida e a pesquisa em potica. (GONALVES,2002, p.53).

    A artista continua afirmando que atuar em sala com os alunos tem propostas

    diferentes, as quais no tem como objetivo principal a criao de obras de arte, nem o

    pensar por meio do fazer, ou adquirir tcnicas artsticas para atuar em sala de aula. O

    propsito no o de:

    [...] orientar artistas e suas poticas, mas revelar que qualquer um, em determinado momento, pode pensar como um artista, e que, por motivaes, podemos ultrapassar procedimentos meramente tcnicos inventando e produzindo modos distintos de ver, de falar sobre arte e sobre si mesmo. Se o aluno ir constituir uma potica, levando adiante as questes presentes no trabalho, ou se esse ser apenas um exerccio, no o relevante; o importante que eles vivenciem essa operao inventiva, [...] (GONALVES, 2002 p.53).

    Para Gonalves (2002), o aluno deve compreender que as obras de um artista

    surgem do processo potico, que tais obras nos fazem ter a percepo do mundo, o que

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    as fazem serem consideradas obras de arte e como lev-lo a mais discusses crticas e

    tericas.

    A escritura, que intitulei uma operao potica, ou seja, uma ao realizativa e inventiva, revela os procedimentos pedaggicos constitudos simultaneamente ao meu processo de criao. Criar uma obra de arte igualmente criar falas e procedimentos para o ensinar e o aprender, caracterizando operao potica, como o processo do artista. A reflexo um depoimento pessoal sobre como articulo o ensinar e o aprender por meio de prticas vividas: as minhas, as dos meus alunos e de distintos fazeres. No conclusivo e nem pretende ser, parte das dvidas de como tornar o fazer potico um meio de pensar a arte, principalmente para quem nunca o experimentou. Proponho o imbricamento de vivncia coletiva e expresso individual, na aquisio e desdobramento de saberes, como tambm ressalto evidente necessidade de resgatarmos nossa experincia subjetiva nas inscries cotidianas, para experimentarmos o conhecimento que a arte e as nossas vidas nos descortinam. (GONALVES, 2002, p. 54).

    Somente um professor e tambm artista poder ter a percepo do

    desenvolvimento da criatividade dos seus alunos na educao formal ou informal e

    trabalhar o processo de criar a partir de suas experincias e do seu processo criativo.

    Tais aspectos so fundamentais para o caminhar com o processo criativo e a reflexo

    para uma percepo de mundo a partir das discusses em sala e observao do caminho

    do exerccio de criao. Neste sentido, a criao um exerccio, uma operao potica

    para o artista e, consequentemente, poder ser considerada uma obra de arte. O trabalho

    do aluno uma experimentao, um exerccio de reflexo para o exerccio do seu

    processo criativo. Esta deve ser a proposta do ensino da arte, ao menos no ensino

    formal, dando a perspectiva e viso do que ser artista... e professor.

    Da mesma forma, Isabel Petry Kehrwald, reflete sobre o processo criativo e a

    funo social da criatividade no mbito da educao e das vivncias cotidianas. [...]

    Prope um ensino intencional-integrante de um projeto educativo -, no confiando ao

    acaso a construo criativa de conhecimento em arte. (2002, p.47). A autora evidencia

    que ser criativo, criar, recriar uma necessidade na qual a criatividade faz parte. Alm

    disso, menciona que ser criativo no um dom, mas um exerccio a partir de

    experincias. tanto na educao formal quanto informal, dentro de um processo

    contnuo.

    Sobre a criatividade, aponta Hernndez apudt Kehrwald:

    ao comentar que se a criatividade um dom individual, o ensino da arte no necessrio, e prossegue alegando que esta mitificao concorre para distorcer a funo da arte na educao, pois essa idia leva ao entendimento

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    de que a educao tem uma importncia marginal para a formao artstica das pessoas, gerando conseqncias negativas no que se refere ao grau de valorao social que se d arte e aos artistas. (2002, p.48)

    Quanto funo da arte na educao e a formao de professores, Maria Cristina

    Rosa aponta algumas questes: a licenciatura existe desde 1973 quando houve o desejo

    de criar o bacharelado para ensinar os artistas pelos professores formadores: se os

    professores da habilitao Artes Plsticas tivessem como opo de formao de

    professores aquela centrada no aprofundamento artstico e com uma complementao

    pedaggica, o desejo do bacharelado seria bem menor. (ROSA, 2005, p.119). E

    continua: o licenciado talvez no tenha tido um conhecimento artstico aprofundado,

    ficando entre ensinar arte e ser artista, e que possvel fazer as duas coisas. (ROSA,

    2005).

    Tanto o licenciado quanto o bacharel podem desenvolver o processo criativo

    para a sua formao e o licenciado pode fazer as duas coisas porque, segundo a autora:

    Entende-se que o desenvolvimento do processo criativo na formao do indivduo importante pelo que contribui, tanto para sua humanizao, quanto para a compreenso de um ser/estar cultural, sendo o ensino da arte um dos campos privilegiados para desencadear essas funes. [...] o fazer artstico, aliado educao dos sentidos e ao saber ver e apreciar, poder resultar na construo de uma conscincia esttica capaz de captar mudanas e mesmo impulsion-las. (KEHRWALD. 2002, p.48)

    O professor ensinar arte e estimular a capacidade artstica dos seus alunos,

    desde que compreenda a relao e importncia do professor e artista. Sendo assim, no

    basta reproduzir uma tcnica para saber ensinar, mas o professor e artista deve ser um

    pesquisador com uma reflexo artstica. Este profissional que atua na escola pode ser

    professor e artista, precisa tambm experimentar o processo artstico para compreender

    o aluno, saber refletir e discutir este fazer, precisa tratar do processo e da emoo para

    transmitir o saber terico para uma prtica efetiva.

    O mais importante para a arte e o seu ensino que o professor seja um artista,

    este seja um professor. Assim, conclui-se que primordial que ambos tenham uma

    formao consistente e reflexiva para a atuao na arte e em sala de aula. Segundo

    Fusari, (1992 citado por ROSA, 2005, p.119): o professor de arte precisa saber arte,

    saber ser professor de arte.

    Quanto ao ensino da arte com enfoque criativo, Kehrwald cita Barbosa:

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    [...] traz uma importante e inusitada contribuio ao entender que o ciclo criador no se esgota no fazer. Ao remet-lo tambm apreciao e leitura de imagens, aponta para uma outra viso da criatividade, abrindo caminho para um novo olhar sobre o processo criativo, at ento centrado na produo. Tal atitude descortina uma perspectiva educativa interessante no mbito do ensino e aprendizagem e provoca educadores e educadoras a refletirem sobre as prticas vigentes no que se refere s releituras atualmente, desviadas do seu enfoque inicial, isto , a necessidade de aproximar a arte produzida ao longo do tempo, de crianas e jovens com o objetivo de compreender a cultura e estabelecer relaes para construir conhecimento nesta rea, as releituras tm servido para uma mera reproduo dos fazeres alheios. (KEHRWALD apud BARBOSA, 2002, p.48 - 49).

    Kehrwald considera que o professor somente deixar estas propostas e prticas

    de releituras que esto sendo aplicadas no ensino da arte se vivenciar o seu fazer

    artstico, compreender o seu fazer criativo para poder exercitar a criatividade dos seus

    alunos.

    [...] em muitas aes docentes: o/a professor/a apresenta os artistas consagrados legitimados pela cultura hegemnica os de sua preferncia legitimados pelo seu gosto pessoal. E, logo aps, os alunos e alunas so convidados a produzirem um trabalho artstico a partir da imagem estudada, o que resulta quase sempre em uma profuso de tarsilas e portinaris. Embora as conquistas j realizadas no ensino da arte, percebe-se que as atividades ainda se apiam no modelo acima citado, ou ento centram-se no desenho, recorte/colagem e experincias sem significado, descoladas tanto da realidade, quanto das demais atividades escolares. (KEHRWALD 2002, p.49). Para reverter esse quadro, necessrio que professores e professoras tenham conhecimento sobre o processo criativo e vivenciem o fazer artstico associado ao estudo terico da criatividade. Com um repertrio de referncias conceituais e prticas sobre o assunto, ser possvel construir novos caminhos pedaggicos que contemplem propostas de mediao apropriadas. (KEHRWALD 2002, p.49).

    Para vivenciar o fazer artstico, segundo Salles, a prtica criadora da produo

    da obra do artista est em um tempo e um espao e a relao do artista com o mundo, no

    contexto em que est imerso. [...] o artista tenta detectar, muitas vezes, a ponta do fio

    que desata o emaranhado de idias, formas e sensaes que tornam uma obra possvel.

    (1998, p.55).

    Ainda quanto ao ensino da arte, conforme Kerwald, sobre os professores

    vivenciarem o fazer artstico associado ao estudo terico da criatividade com referncias

    conceituais, Rey (1996), apresenta a diferena de pesquisa em arte e a pesquisa sobre

    arte: a pesquisa em arte trata do processo de criao do artista e pesquisador a partir de

    questes tericas e poticas sobre a sua produo, ao passo que a pesquisa sobre arte

    envolve o estudo da obra de arte e seus processos uma pesquisa terica do produto final.

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    Cabe ainda ressaltar que o professor dever ter estas referncias tericas e prticas como

    referncias para a sua mediao em sala de aula.

    Oliveira, por sua vez, aponta que: Repensar a formao do professor de Artes

    Visuais em uma linguagem multicultural eliminando de uma vez por todas as prticas

    polivalentes (2005, p.67). Em toda esta reflexo, a autora evidencia que um professor

    no pode ser polivalente, isto , trabalhar todas as linguagens: artes visuais, teatro,

    msica e dana. Tambm no conseguiria ser um pesquisador e vivenciar o fazer

    artstico das linguagens para compreender o seu fazer artstico para construo do

    caminho pedaggico, para que possa desenvolver a capacidade artstica de seus alunos.

    Ainda, citando Rosa, para fechar esta reflexo: o professor precisa saber arte para ser

    um professor de arte.

    3 CONCLUSO

    A reflexo sobre a importncia do professor de arte ser um professor e artista, ou

    seja, tenha a formao pedaggica e uma formao de pesquisador e produtor de arte

    tem que ser pensada nos cursos de formao de professores para que algumas prticas

    em sala possam ser mudadas. Um professor e artista precisam ter a experincia do

    processo de produo e outras experincias artsticas que possam nortear o processo de

    criao dos alunos, diferenciando o fazer tcnico sem reflexo de um fazer artstico,

    refletindo sobre o processo de aprendizagem e construindo caminhos metodolgicos

    para o ensino da arte. Desta forma, poder compreender, saber, refletir e discutir o fazer

    do aluno, tratar do processo e da emoo para, ento, transmitir o saber terico para uma

    prtica efetiva, ou seja, saber arte e saber ser professor de arte.

    4 REFERNCIAS

    GONALVES, Eduarda. Artista-professor: uma operao potical. In: Revista da FUNDARTE. Montenegro, v.2, n.4, jul. / dez. 2002. KEHRWALD, Isabel Petry. Processo criativo e sua funo social. In: Revista da FUNDARTE.Montenegro, v.2, n.4, jul. / dez. 2002. OLIVEIRA, Marilda de Oliveira. A formao do professor e o ensino das Artes Visuais: o estgio curricular como campo de conhecimento. In: A formao do professor e o ensino das artes visuais / Marilda Oliveira de oliveira & Fernando Hernndez (orgs.). Santa Maria, Ed. UFSM, 2005.

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    REY, Sandra. Da prtica teoria: trs instncias metodolgicas sobre a pesquisa em poticas visuais. In: PORTO ARTE v. 1, n. 1, junho 1990. Porto Alegre: Instituto de Artes / UFRGS, 1990. ROSA, Maria Cristina. A formao de professores de arte: diversidade e complexidade pedaggica / Maria Cristina da Rosa. Florianpolis : Insular, 2005. SALLES, Ceclia Almeida. Gesto inacabado : processo de criao artstica / Ceclia Almeida Salles. So Paulo : FAPESP e Annablume, 1998.