Artigo - A Gestão Da Manut. Nos Empreen. Industriais

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A GESTÃO DA MANUTENÇÃO NO PLANO ESTRATÉGICO DOS EMPREENDIMENTOS INDUSTRIAIS Jorge Ferreira do Rego Barros (Universidade Federal Fluminense) Gilson Brito Alves Lima (Universidade Federal Fluminense) Resumo A evolução da tecnologia e o crescimento industrial acompanhado da intensa aplicação de sistemas automatizados e equipamentos sofisticados levaram a função manutenção ao desenvolvimento de modelos, sistemas de gestão e utilização de técnicaas de engenharia de confiabilidade capazes de atender às demandas da competição do mundo globalizado. Neste contexto, a pesquisa, em uma abordagem bibliográfica e explanatória, analisa padrões, idéias, técnicas ou fatos através de relações causais entre eles para apresentar a manutenção como um centro de negócio da organização, com atuação relevante na preservação dos ativos físicos, além de propor um modelo para implementação de um plano estratégico que capacite a função manutenção na obtenção dos objetivos de desempenho, satisfação dos clientes, rentabilidade das organizações industriais e fator crítico de sucesso na sua sobrevivência através da diferenciação competitiva. Palavras-chaves: Gestão de Manutenção; Engenharia de Confiabilidade; Gestão da Produção 12 e 13 de agosto de 2011 ISSN 1984-9354

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  • A GESTO DA MANUTENO NO

    PLANO ESTRATGICO DOS

    EMPREENDIMENTOS INDUSTRIAIS

    Jorge Ferreira do Rego Barros

    (Universidade Federal Fluminense)

    Gilson Brito Alves Lima

    (Universidade Federal Fluminense)

    Resumo A evoluo da tecnologia e o crescimento industrial acompanhado da

    intensa aplicao de sistemas automatizados e equipamentos

    sofisticados levaram a funo manuteno ao desenvolvimento de

    modelos, sistemas de gesto e utilizao de tcnicaas de engenharia de

    confiabilidade capazes de atender s demandas da competio do

    mundo globalizado.

    Neste contexto, a pesquisa, em uma abordagem bibliogrfica e

    explanatria, analisa padres, idias, tcnicas ou fatos atravs de

    relaes causais entre eles para apresentar a manuteno como um

    centro de negcio da organizao, com atuao relevante na

    preservao dos ativos fsicos, alm de propor um modelo para

    implementao de um plano estratgico que capacite a funo

    manuteno na obteno dos objetivos de desempenho, satisfao dos

    clientes, rentabilidade das organizaes industriais e fator crtico de

    sucesso na sua sobrevivncia atravs da diferenciao competitiva.

    Palavras-chaves: Gesto de Manuteno; Engenharia de

    Confiabilidade; Gesto da Produo

    12 e 13 de agosto de 2011

    ISSN 1984-9354

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    1. Introduo

    Com a crescente complexidade dos sistemas industriais e o advento dos marcos

    regulatrios quanto segurana e meio ambiente, as atenes se voltaram para a

    confiabilidade e a disponibilidade dos ativos e seu conseqente aperfeioamento. Como as

    falhas de equipamentos tiveram papis relevantes nos piores acidentes e incidentes ambientais

    na histria industrial com repercusses trgicas para as organizaes envolvidas e para o

    ambiente fsico e social, como os exemplos de Chernobyl, Bhopal, Piper Alpha, Challenger,

    Three Miles Island e, no Brasil, a plataforma da PETROBRS, P-36, os processos pelos quais

    estas falhas ocorrem e o que deve ser feito para geri-las passaram a desempenhar papel

    estratgico na sustentabilidade do empreendimento.

    Neste contexto, a gesto da produo e, intrinsecamente, da manuteno se

    transformaram em ferramentas fundamentais na diferenciao competitiva das organizaes

    industriais.

    2. Formulao da situao problema

    Em uma avaliao histrica da produo constata-se que, at pouco tempo atrs, ela

    estava relegada a um segundo plano dentro das organizaes ocidentais sob o argumento de

    que as pessoas responsveis por esta funo eram treinadas para buscar a eficincia mxima

    do setor produtivo de modo a atender s exigncias das funes comerciais das empresas,

    sendo avaliadas unicamente pela constante busca de reduo de custos. O paradigma ainda era

    maior em relao funo manuteno, atribuda usualmente como uma despesa necessria

    no oramento da produo, quase sempre lembrada nos programas de reduo de custos

    (TSANG, 2002) e normalmente uma rea de terceirizao preferencial dentro dos

    organogramas empresariais.

    Esta falta de viso sistmica, que no permite a compreenso das relaes de causa e

    efeito entre as diversas atividades nos resultados de uma organizao industrial, ainda fator

    restritivo no forjamento de vantagens competitivas na funo produo atravs da valorizao

    de critrios como qualidade, prazo, flexibilidade e no s custo.

    Neste sentido, a pesquisa procura responder, em um primeiro momento, a questo:

    Quais as conexes dos planos estratgicos da funo manuteno, no contexto da produo,

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    com os resultados globais das indstrias? Em seguida a pesquisa apresenta um modelo para

    responder: Como, atravs da engenharia de confiabilidade, implementar uma estratgia de

    manuteno capaz de influenciar o resultado global da organizao?

    2. Objetivo

    Para demonstrar que a gesto da manuteno, dentro da gesto da produo,

    extrapolou o limite do aumento da lucratividade gerada pela maior disponibilidade e

    qualidade do produto e passou a ser um requisito de sobrevivncia das organizaes

    industriais, este estudo tem como objetivo apresentar a insero da gesto da manuteno nas

    estratgias dos empreendimentos industriais, sob a abordagem do mapa estratgico e da

    perspectiva interna do Balanced Scorecard - BSC, e as informaes de um caso prtico de

    implantao da engenharia de confiabilidade na estratgia funcional da manuteno com esta

    finalidade.

    3. Abordagem Metodolgica

    Utilizando-se a taxionomia apresentada por Collis et Hussey (2003), o estudo

    apresenta uma abordagem explanatria e qualitativa, caracterizado pelo aspecto descritivo e

    enfoque no significado, conduzido para aumentar o entendimento geral da influncia

    estratgica da engenharia de confiabilidade, dentro da funo manuteno, na rentabilidade

    das organizaes, a partir dos conceitos estabelecidos na Reliability-Centered Maintenance

    (RCM) e na pirmide da confiabilidade (CAVERO, 2006).

    Desta forma, a pesquisa apresenta a contribuio da funo produo no plano

    estratgico de uma organizao industrial, trazendo a cadeia de valores de Porter (1992) e os

    objetivos de desempenho de Slack et al (1996) como suporte ao mapa estratgico de Kaplan

    et Norton (2004) e sua representao grfica das conexes de causa e efeito entre os objetivos

    das quatro perspectivas do sistema equilibrado de medio estratgica (BSC), com nfase na

    perspectiva dos processos internos, com a finalidade de solidificar a influncia da produo na

    criao de valor na perspectiva do cliente e conseqente suporte aos resultados da perspectiva

    financeira.

    Os resultados prticos apresentados foram obtidos aps estruturao de um processo

    de trabalho baseado nas premissas do artigo. Eles foram coletados aps cinco meses de

    implementao do processo (em 2010), alguns indicadores so resultados acumulados nos

    ltimos doze meses em uma unidade fabril de processamento do estado do Rio de Janeiro,

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    com 11.019 equipamentos estticos, 392 equipamentos rotativos, mais de 10.300 instrumentos

    e 325 motores eltricos, e buscou trazer a confluncia da aplicao dos conceitos da

    engenharia de confiabilidade na elaborao do plano estratgico funcional da manuteno

    com o resultado financeiro do empreendimento.

    Pelo curto perodo da coleta dos resultados prticos, a pesquisa no faz uma

    abordagem quantitativa, pois muitas das informaes geradas no processo so tratadas como

    pontos de referncia para implementao de melhorias, que nem sempre so de curto prazo

    para realizao.

    4. A produo e sua contribuio nas estratgias empresariais

    4.1. Contextualizao da contribuio da funo

    manuteno no sistema de produo

    De uma forma simplificada, Porter (1992) considera como atividades de produo na

    sua cadeia de valores aquelas associadas transformao dos insumos no produto final, como

    trabalho com mquinas, embalagens, montagem, manuteno de equipamentos, testes e

    operaes de produo.

    No estabelecimento do relacionamento entre as funes produo e manuteno,

    Tsang (2002) aponta a manuteno como fator crucial da estratgia de produo. Ele

    considera a perda de seguidores da economia de escala como resultado do nmero crescente

    de organizaes que implementaram o lean manufacturing, produo just in time e

    programas six sigma, cuja tendncia indica uma mudana de nfase de volume para

    resposta rpida, eliminao de perdas e preveno de defeitos, ambiente no qual, quebras de

    equipamentos, perda de velocidade e processo errtico criaro problemas imediatos para o

    adequado suprimento de produtos e servios aos clientes.

    Slack et al (1996) enfatizam a vitalidade da funo produo para qualquer

    organizao que deseja ser bem sucedida a longo prazo, pois ela d organizao uma

    vantagem baseada na produo, que possvel atravs dos cinco objetivos de desempenho

    bsicos: vantagem em qualidade, vantagem em rapidez, vantagem em confiabilidade de

    entrega, vantagem em flexibilidade e vantagem em custo.

    Desta forma, seja como um elo sutil dentro da cadeia de valor, com seus tradeoffs entre

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    atividades diretas e indiretas (produo e manuteno), ou como uma micro-operao da

    macro-operao produo, a manuteno contribui no processo de assegurar o lucro e o valor

    do empreendimento. Este conceito foi tipificado por Porter (1992) pela exemplificao

    simplificada de que a melhor manuteno, em geral, reduz o tempo de paralisao de uma

    mquina.

    Dentro da manuteno, a engenharia de confiabilidade surgiu exatamente para focar as

    aes procedentes do melhor entendimento das funes e caractersticas dos ativos, colocando

    em prtica estratgias e polticas proativas para reduzir a probabilidade e consequncia das

    falhas destes ativos. Esta abordagem permite o desenvolvimento de polticas efetivas, com a

    utilizao de tcnicas de anlise para qualificao do impacto das falhas com a finalidade de

    mitigar o risco total do negcio atravs de prticas de manuteno, polticas operacionais ou

    de novos projetos.

    A engenharia de confiabilidade, entretanto, uma ferramenta de aplicao integrada

    com as diversas reas de atuao da companhia e por esta razo precisa estar presente no

    gerenciamento de processos (Reid et Ehresman,1991 apud Vilarouca, 2008), cuja contribuio

    para organizar a empresa, sob a perspectiva de um conjunto de processos, est associada a

    entradas baseadas nos requisitos de clientes (internos e externos) e sadas mensuradas por

    indicadores de desempenho, necessariamente alinhados com a estratgia empresarial, a partir

    do seu desdobramento dentro de cada processo, de forma a centrar os processos da empresa

    naquilo que efetivamente gera e tem valor percebido pelos clientes.

    fundamental alertar que, apesar da ateno sobre variveis que so crticas para o

    sucesso da organizao, dentre as quais custo, tempo, capacidade e qualidade, a intensidade

    da influncia da aplicao dos conceitos de confiabilidade em uma determinada indstria

    determinada por cinco fatores: os custos dos ativos, os custos das perdas de produo, a

    conseqncia das falhas, as demandas de segurana e as questes regulatrias (SPORK, 2006

    apud REGO BARROS, 2009).

    4.2. O gerenciamento de processos no contexto da funo manuteno

    O gerenciamento de processos surgiu dentro do movimento inicial da globalizao dos

    mercados com intuito de reorganizar a estrutura das empresas, orientando todos os seus

    esforos para identificao e atendimento das reais necessidades de seus clientes. O

    gerenciamento de processos uma abordagem sistematizada para a melhoria, cujo conceito

    relativamente simples: o foco est nos processos organizacionais e no nos produtos.

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    Harrington (1993) apud Vilarouca (2008), define genericamente o gerenciamento de

    processos como a busca de atividades que agregam valor, segundo a perspectiva do cliente.

    Vilarouca (2008) entende que as operaes deveriam ser organizadas como processos

    ao invs da estrutura funcional tradicional, com intuito de otimizarem suas operaes na

    busca de maior desempenho das atividades e na identificao das adversidades na entrada,

    processamento e sada, favorecendo, com isso, a soluo dos problemas gerados pela prpria

    complexidade das atividades. Para atingir estes objetivos propostos, cita que o gerenciamento

    de processo analisa profundamente todas as entradas e sadas dos processos, bem como suas

    finalidades, deficincias e valor agregado organizao. Ao se analisar as principais

    deficincias destes processos, o objetivo san-las, atravs da implementao de aes de

    melhoria.

    Fischmann (2000) tambm compartilha desta perspectiva ao afirmar que o modo como

    a manuteno executada (processo) influenciar a disponibilidade dos equipamentos, a

    taxa de produo, qualidade do produto e custo de produo, bem como a segurana da

    operao.

    Para o contexto do processo da manuteno, Tsang (2002) j trabalhou com esta viso

    ao indicar que um sistema de manuteno pode ser um simples sistema de entrada e sada. As

    entradas so a mo de obra, gesto, ferramentas, equipamentos, entre outros, e as sadas so

    os equipamentos trabalhando de modo confivel para atender o plano de produo da planta.

    Nesta mesma direo, Amadi-Echendu (2006) apud Rego Barros (2009) estabelece

    que as atividades requeridas para o sistema ser funcional na viso ampla da gesto de ativos

    so trs: controle da manuteno (organizao da manuteno, planejamento, programao e

    execuo das atividades, gesto de materiais, inventrios e custos), engenharia de

    confiabilidade (otimizao da manuteno atravs das estratgias de manuteno, anlises de

    falhas, conduo de processos internos como Reliability-Centered Maintenance (RCM) e

    Failure Mode Effect and Analysis (FMEA), gesto orientada para a qualidade) e a gesto do

    ciclo de vida dos ativos (padres de equipamentos, desenhos e documentos, Life Cycle Cost

    Analysis (LCCA), gerenciamento de projetos).

    A metodologia de aplicao do gerenciamento de processos sofre variaes, mas pode

    ser descrita de forma generalizada. Basicamente, esta metodologia pode ser sumarizada em

    dois pontos fundamentais: o mapeamento de processos e a definio dos indicadores de

    desempenho. O mapeamento de processos consiste em detalhar as atividades atravs de

    fluxogramas, dentro do conceito de entradas e sadas comentado anteriormente. J com

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    relao aos indicadores de desempenho, inicia-se com dados obtidos no planejamento

    estratgico, onde a alta direo traa as metas da organizao. A partir deste ponto, a equipe

    pode criar uma relao dos principais indicadores que sero utilizados, levando em conta as

    partes interessadas, a anlise das necessidades na formulao das estratgias e,

    posteriormente, atravs da operacionalizao das estratgias.

    No gerenciamento de processos, os indicadores de desempenho permitem fazer um

    diagnstico da atual situao e prever a situao futura de uma organizao, servindo de canal

    permanente destas informaes estratgicas, para que se possa agir melhorando

    continuamente as operaes.

    Com relao utilizao de indicadores de desempenho, Hipkin et De Cock (2001) apud

    Vilarouca (2008), descrevem que algumas empresas apresentam algum tipo de revs na sua

    aplicao, seja pela ausncia de sadas mensurveis ou porque seus objetivos foram

    estabelecidos de forma ambgua e irreal. A recomendao para o estabelecimento de

    indicadores deve assegurar o alinhamento com a estratgia da empresa e o balanceamento de

    todos os indicadores entre si, para evitar que uma dimenso ou conjunto de dimenses de

    performance seja maximizado em detrimento dos demais.

    4.3. O Balanced Scorecard e suas relaes de causa e efeito

    Kaplan et Norton (2004) definem mapa estratgico como uma representao grfica

    das conexes de causa e efeito entre os objetivos das quatro perspectivas do Balanced

    Scorecard (BSC), descrevendo a estratgia, facilitando a definio e o gerenciamento dos

    objetivos e indicadores, transformando-se no elo entre a formulao e a execuo desta

    estratgia, ou seja, como a organizao cria valor. Ele uma representao visual da

    estratgia, cuja execuo bem sucedida, segundo Kaplan et Norton (2004), envolve trs

    componentes: resultado da descrio da estratgia (primeiro componente), da mensurao da

    estratgia (segundo componente) e da gesto da estratgia (terceiro componente). Esta

    filosofia est baseada nas duas assertivas de que no se pode gerenciar o que no se pode

    medir e no se pode medir o que no se pode descrever.

    No modelo genrico de mapa estratgico de uma organizao industrial baseado em

    Kaplan; Norton (2004), pode-se caracterizar a influncia da produo, a partir da importncia

    dos objetivos de desempenho de Slack et al (1996) abordados anteriormente, para a criao de

    valor na perspectiva do cliente e conseqente suporte aos resultados da perspectiva financeira,

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    conforme Figura 1 abaixo. Este modelo genrico de mapa estratgico apresenta como os

    processos internos eficazes e alinhados contribuem para a criao e sustentao de valor,

    onde:

    a) Formao de um preo justo (mapa estratgico): tem como fator determinante a vantagem

    em custo de Slack et al (1996).

    b) Vantagem em qualidade: a prpria proposio de valor do mapa estratgico como fator de

    diferenciao competitiva.

    c) Disponibilidade para o cliente: est diretamente associada s vantagens em rapidez, em

    confiabilidade de entrega e em flexibilidade.

    Os indicadores de resultado e crticos contribuem para a gesto estratgica dos processos

    fornecendo informaes chave para a tomada de deciso.

    FIGURA 1 Mapa Estratgico Genrico

    Fonte: adaptado de Kaplan; Norton (2004)

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    No caso da funo manuteno, estes indicadores em associao com os indicadores

    de desempenho apiam o gerenciamento da atividade e fornecem dados importantes dos

    processos, dentre os quais: distribuio das atividades por tipo (manuteno corretiva,

    preventiva ou preditiva), estoques de materiais e poltica dos sobressalentes, coordenao e

    planejamento da manuteno, resultados operacionais (disponibilidade e confiabilidade),

    paradas de manuteno, treinamento e capacitao, custos.

    4.4. Reliability-Centered Maintenance

    O mtodo de maior abrangncia para aplicao da confiabilidade na produo a

    manuteno centrada na confiabilidade, em ingls, reliability-centered maintenance - RCM,

    cuja sistemtica enfatiza a anlise das funes dos ativos e conseqncias das falhas. A

    metodologia da RCM, descrita no livro pioneiro de Nowlan e Heap em 1978, atendendo

    solicitao do Departamento de Defesa americano, garantiu a certificao para operao

    comercial do primeiro Boeing 747-100, pela FAA - Federal Aviation Authority, em 1969

    (SIQUEIRA, 2005). A generalidade dos conceitos e tcnicas da RCM so aplicveis a

    qualquer sistema independente da tecnologia, onde seja necessrio manter a funcionalidade de

    processos ou ativos fsicos, tendo se transformado em uma poderosa ferramenta da engenharia

    da confiabilidade.

    A RCM tem como meta a identificao, para cada sistema e equipamento, dos modos de falha

    e suas conseqncias, a determinao da tcnica de manuteno de melhor custo-benefcio e

    sua aplicao a fim de minimizar o risco e o impacto da falha. Isto permite que a

    funcionalidade do sistema e equipamento seja mantida na melhor relao custo-benefcio. A

    filosofia da RCM aplica tcnicas da manuteno preventiva, manuteno preditiva,

    manuteno corretiva e da manuteno proativa de forma integrada para aumentar a

    probabilidade de que uma mquina ou componente ir funcionar na forma requerida durante

    seu ciclo de vida de projeto com o mnimo de manuteno. A meta da filosofia RCM prover

    a funo estabelecida do equipamento com confiabilidade e disponibilidade ao custo mnimo.

    Uma rigorosa anlise RCM baseada em um detalhado Failure Modes and Effects

    Analysis - FMEA e inclui clculos de probabilidades de falhas e confiabilidade de sistemas,

    que so usados para determinar as atividades de manuteno e procedimentos operacionais

    associados aos modos de falha e suas conseqncias, os quais foram identificados no

    processo. A anlise formal da RCM para cada sistema, sub-sistema e componente

    normalmente realizada para sistemas novos, crticos, nicos e/ou de custo elevado, no se

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    fazendo necessria para a maioria dos equipamentos e sistemas, cujas formas construtivas e

    modos de falha j so bem compreendidos e uma avaliao intuitiva suficiente devido ao

    baixo impacto provocado por suas falhas e ao elevado custo da anlise rigorosa.

    Siqueira (2005) atribui o sucesso da implementao da RCM no s experincia

    prtica e fundamentao terica de seus processos, mas tambm adequao dos meios

    organizacionais e de planejamento utilizados. Por ser uma metodologia bem estruturada,

    exige-se um nvel compatvel de organizao dos processos administrativos e de suporte,

    especialmente na aplicao a sistemas industriais complexos, sem os quais estaro

    comprometidos os resultados esperados. Dependendo da instalao, as equipes de anlise

    sero compostas por representantes das diversas categorias profissionais, entre elas,

    mantenedores e operadores da instalao, tcnicos de segurana, inspetores de qualidade,

    especialistas nos equipamentos, fornecedores dos equipamentos, fabricantes dos

    equipamentos, laboratrios de ensaios.

    Para o estabelecimento de um processo RCM, Moubray (1997) apresenta e

    exemplifica as sete abordagens bsicas em ordem seqencial no Quadro 1:

    ITEM ABORDAGEM CARACTERIZAO

    1 Quais so as funes e padres de

    desempenho de um ativo no seu

    contexto presente de operao?

    Ex.: Bombear gua do tanque X para o tanque Y a no menos que

    800 litros por minuto.

    2 De que forma ele falha em

    cumprir suas funes?

    Ex.: Incapacidade de transferir o lquido L, falha para conter o

    lquido L

    3 O que causa cada falha funcional? Ex.: Nvel 1-vazamento pelo selo mecnico; nvel 2-selo

    desalinhado, nvel 3-erro de montagem.

    4 O que acontece quando ocorre

    cada falha?

    Ex.: Perda da eficincia de bombeamento

    5 Qual a importncia da falha? Ex.: Afeta a produo total, afeta a qualidade do produto, afeta a

    segurana, afeta o meio ambiente, aumenta custos, etc.

    6 O que pode ser feito para predizer

    ou prevenir cada falha?

    A RCM fornece critrios para estabelecer quais tarefas proativas

    so tecnicamente viveis em algum contexto e decidir com que

    freqncia elas devem ser feitas, alm de quem deve realiz-las

    7 O que deve ser feito se no for

    encontrada uma tarefa proativa

    apropriada?

    Recomendao da realizao de aes default para os casos em que

    no seja encontrada uma tarefa proativa tecnicamente vivel. Entre

    a as aes default esto: busca de falhas, reprojeto e nenhuma

    manuteno programada (permisso de falha).

    Quadro 1 As sete abordagens bsicas da RCM

    Fonte: Moubray (1997)

    O plano ttico da RCM deve conter os seguintes elementos: necessidades de recursos

    (financeiro, pessoal, em software e em hardware), procedimentos de manuteno,

    procedimentos operacionais, requisitos de treinamento, fontes de dados, mtodos analticos,

    mtodos de anlise de custo/benefcio, produtos esperados.

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    4.5. Anlise dos custos do ciclo de vida

    A engenharia de confiabilidade tem o objetivo de estender a vida do equipamento com

    o aumento da sua confiabilidade e conseqente adequao da sua disponibilidade s

    demandas do processo produtivo. Ela usualmente requer a aplicao de investimentos, cuja

    autorizao no se baseia apenas na intuio, ao contrrio, deve estar associada a justificativas

    suportadas por taxas de retorno, clculos de custo-benefcio ou outros fatores tangveis.

    Existem diversas formas de determinar com razovel preciso as justificativas

    econmicas para melhorias em equipamentos e componentes e entre elas, a estimativa do

    custo do ciclo de vida se tornou uma das anlises mais eficientes da engenharia da

    confiabilidade. Usualmente conhecida como LCCA, proveniente do termo em ingls, life

    cycle cost analysis, esta aproximao leva em considerao a compra inicial e os custos de

    instalao do equipamento, sistemas auxiliares e softwares, para os quais sero adicionados os

    custos dos eventos de falhas e as conseqentes perdas de produo e de especificao do

    produto. Riscos materiais, pessoais e impactos ambientais tambm podem ser levados em

    considerao.

    A obteno do custo do ciclo de vida (LCC) total de um ativo, a partir de sua aquisio, se d

    atravs de: LCC = custo de aquisio + custo de instalao + valor presente de (custo de

    operao + custo de manuteno + custo de perdas de produo + custo de alienao), onde o

    custo anual de manuteno = (custo por falha x 8.760 horas/ano) / (MTBF em horas + MTTR

    em horas). Os valores presentes devem ser calculados com base nas taxas anuais de retorno (i)

    e vida til das unidades industriais esperadas em anos (n) atravs do fator: ((1+i)n 1) / (i

    (1+i)n).

    4.6. Indicadores para monitoramento

    Para avaliar a influncia especfica da funo produo nos objetivos estratgicos da

    indstria interligados pelas relaes de causa e efeito do mapa estratgico genrico de uma

    organizao industrial (Figura 1), a pesquisa, focando a influncia da perspectiva dos

    processos internos associados ao sistema de produo, prope alguns indicadores de resultado

    e crticos, alm de vetores de desempenho comuns a diversos tipos de indstria, relacionados

    s quatro perspectivas do BSC descritos a seguir.

    4.6.1. O indicador de resultado Overall Equipment Effectiveness

    Nakajima (apud NORDSKAG, 2006) define OEE ou ndice de eficincia global,

    baseado em trs elementos bsicos:

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    Disponibilidade (%): descreve o tempo real que o equipamento est disponvel para

    produo, independente do que est sendo produzido.Frmula = (tempo calendrio tempo

    de paradas)/ tempo calendrio.

    Capacidade (%): descreve a performance do equipamento, comparando a capacidade real

    com a de projeto para utilizao mxima. Frmula = [(output x tempo do ciclo real) / (tempo

    calendrio tempo de paradas)] x (tempo do ciclo ideal/tempo do ciclo real).

    Qualidade (%): descreve a frao da produo em acordo com a especificao. Frmula =

    [Input (produo fora de especificao)] / Input.

    O OEE, resultado da Disponibilidade x Capacidade x Qualidade, esteve por muito tempo

    associado ao conceito do Total Productive Maintenance - TPM, porm passou a ser

    considerado um key performance indicator - KPI amplamente utilizado na indstria moderna

    para avaliao da utilizao dos ativos de produo, quer seja atravs da medio da

    eficincia de uma mquina, de uma linha de produo ou de toda a unidade industrial. O

    clculo do OEE permite identificar restries do sistema de produo, porm no est

    associado aos custos de produo. Por esta razo, sob o ponto de vista econmico, no

    possvel se determinar um OEE timo sem uma avaliao complementar de custo-benefcio,

    sendo a anlise do custo do ciclo de vida, usualmente conhecida como LCCA, proveniente do

    termo em ingls, life cycle cost analysis, uma ferramenta importante da engenharia de

    confiabilidade na obteno dos melhores resultados. Esta aproximao leva em considerao

    a compra inicial e os custos de instalao do equipamento, sistemas auxiliares e softwares,

    para os quais sero adicionados os custos dos eventos de falhas e as conseqentes perdas de

    produo e de especificao do produto (riscos materiais, pessoais e impactos ambientais

    tambm podem ser levados em considerao). A obteno do custo do ciclo de vida (LCC)

    total de um ativo, a partir de sua aquisio, se d atravs de: LCC = custo de aquisio + custo

    de instalao + valor presente de (custo de operao + custo de manuteno + custo de perdas

    de produo + custo de alienao).

    4.6.2. Indicadores da Pirmide da Confiabilidade

    A Pirmide da Confiabilidade representa a demanda por anlises de ocorrncias

    impactantes nos vetores de desempenho relacionados com a disponibilidade e capacidade

    operacional, a qualidade de produtos e os custos de produo (manuteno, desperdcios,

    segurana e meio ambiente). Ela responsvel pela interface do plano estratgico da empresa

  • VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELNCIA EM GESTO 12 e 13 de agosto de 2011

    13

    RC

    M

    com os planos tticos atravs da estratificao das perdas associadas a trs nveis conforme a

    Figura 2.

    FIGURA 2 A Pirmide da Confiabilidade

    Fonte: Adaptado de Cavero (2006)

    As perdas devem ser estimadas para hierarquizao dos sistemas operacionais, ativos e

    componentes que contriburam ou podero contribuir para a ocorrncia das falhas que as

    caracterizam e cujos resultados devero direcionar planos de ao para avaliao da estratgia

    de manuteno aplicada, atravs da otimizao ou adequao das tcnicas utilizadas, do

    aumento da percia das equipes de operaes e manuteno, da necessidade de procedimentos

    especficos disponveis para elas e da identificao das demandas de melhorias em

    componentes ou sua substituio por componentes superiores. Estas avaliaes devem ser

    apoiadas pela LCCA.

    O Topo da Pirmide da Confiabilidade refere-se aos impactos das falhas que acarretam

    perdas de produo e capacidade produtiva, gerao de produto fora de especificao,

    acidentes, danos ambientais e sade. Este nvel est interligado aos esforos necessrios

    para eliminao dos maus atores do sistema produtivo e tem no indicador de resultado

    (relacionado aos objetivos estratgicos) OEE a mais forte referncia dos progressos

    alcanados, alm dos associados segurana, sade e meio ambiente.

    Segundo Pinto et Xavier (1998) os custos associados disponibilidade representam 95,53%

    da equao faturamento/custos.

    O Nvel Intermedirio da Pirmide da Confiabilidade est associado avaliao dos

    programas de confiabilidade e manutenabilidade, esta ltima definida por Pinto et Xavier

    (1998) como a probabilidade de restabelecer a um sistema suas condies especficas de

    funcionamento, em limites de tempo desejados, quando a manuteno conseguida nas

    condies e com meios prescritos. Como este nvel est relacionado aos custos referentes s

    falhas de ativos sem impactos significativos ao processo produtivo, o custo para reparo o

    Falhas

    Potenciai

    s

    Confiabili

    dade

    Eficincia

    Global

    Foco na disponibilidade,

    capacidade e qualidade

    Foco nos custos, falhas

    repetitivas e segurana

    Evitam as falhas

    funcionais

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    14

    fator preponderante. Seu resultado, associado ao desempenho dos maus atores relacionados

    aos custos de produo e desperdcios operacionais, utilizado para caracterizao da

    contribuio dos componentes, equipamentos, famlias de equipamentos e sistemas de

    produo nas falhas ocorridas.

    Os principais indicadores de desempenho (relacionados aos processos do negcio) so

    o MTBF, Mean Time Between Failures ou tempo mdio entre falhas e o MTTR, Mean Time

    to Repair ou tempo mdio para reparo.

    Algumas frmulas para clculo do MTBF so:

    MTBF = ((no de equipamentos x perodo de amostragem em anos x 8.760 horas/ano) (n

    o de

    falhas no perodo x MTTR)) / no de falhas no perodo;

    MTBF = 1 / ((1/L1)2

    + (1/L2)2

    ++ (1/Ln)2)

    0,5, onde L so as vidas estimadas (em anos)

    dos n componentes sujeitos falha;

    MTBF = 1/ (t), onde a taxa de falhas (falhas no perodo de tempo) representada pela

    probabilidade de que um equipamento ou componente, j em operao por um perodo t, ir

    falhar entre t e t+1. Esta taxa, exceto para alguns casos (falha aleatria constante), no

    constante ao longo da vida do equipamento;

    MTBF = 1/ (1 + + ...... + 1/C), onde C o nmero de componentes paralelos.

    de fundamental importncia a observao de que taxas de falhas, valores de MTBF e

    MTTR calculados algebricamente so teis como indicadores de pontos de ateno da

    manuteno proativa e no como critrio para estabelecimento de intervalos de manuteno

    preventiva e para esta abordagem algbrica eles esto associados a perdas e so provenientes

    de filtros que estratificam os resultados com maiores impactos e por esta razo, eles no

    necessitam de acompanhamento sistemtico, visto que so elegveis.

    Para informaes mais precisas, se faz necessria a aplicao de distribuies de

    probabilidade para caracterizao destes indicadores, sendo que, na maioria dos casos, a

    distribuio de Weibull fornece informaes mais precisas sobre a distribuio de falhas e

    conseqentemente, o melhor indicador na seleo da periodicidade das intervenes

    preventivas.

    A Base da Pirmide da Confiabilidade, de forma distinta dos nveis superiores, est

    associada a aes proativas, ou seja, avaliaes realizadas antes das falhas funcionais. Este

    nvel apresenta as falhas potenciais detectadas pela implementao dos planos de manuteno

    preventiva e preditiva, programa TPM (Total Productive Maintenance) e rondas operacionais.

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    15

    INDICADORES DEFINIO METODOLOGIA DE MEDIO METODOLOGIA

    DE ANLISE

    Eficcia dos

    Planos Proativos

    (%)

    Capacidade dos

    planos em

    identificar as

    falhas potenciais

    Relao entre o no de falhas identificadas em

    equipamentos monitorados pelo plano e o no

    total de falhas de equipamentos monitorados

    no perodo cumulativo de um ano

    Indica a efetivi-

    dade dos planos

    proativos

    Eficcia dos

    Planos Preventivos

    (%)

    Capacidade dos

    planos em se

    antecipar s falhas

    Relao entre o no de equipamentos dos planos

    de preventiva sistemtica que falharam no

    perodo cumulativo de um ano e o no total de

    eqtos

    do plano que funcionaram neste perodo

    Indica a efetividade

    dos planos preven-

    tivos

    Identificao e

    Eliminao de

    Modos de Falhas

    Modos de falhas

    de equipamentos

    identificados em

    conjunto com as

    aes mitigadoras

    Nmero de modos de falhas identificados e

    eliminados no perodo de um ano

    Avalia a proativi-

    dade do processo

    manuteno

    QUADRO 2 Indicadores de desempenho para a base da Pirmide da Confiabilidade

    Fonte: o autor

    A capacidade das atividades deste nvel em identificar as falhas potenciais pode ser

    caracterizada pelos indicadores de desempenho relacionados no quadro acima.

    4.6.3. Indicadores de Aprendizado e Crescimento

    Associado quarta perspectiva do BSC, o plano ttico da funo manuteno precisa

    contemplar a criao de competncias essenciais, principalmente atravs do

    compartilhamento do conhecimento gerado pela integrao entre as diversas reas da empresa

    (espiral do conhecimento), cuja dificuldade em serem copiadas est no contedo de

    conhecimentos tcitos, que as transforma em bens intangveis. Para monitoramento do

    desenvolvimento da capacidade organizacional e da criao de sistema de aprendizagem que

    equilibrem os recursos internos e suas competncias, alguns indicadores de desempenho

    podem se basear na quantidade de horas-homem de treinamento no ms e no nmero de lies

    aprendidas/publicadas no ms.

    5. Discusso e anlise dos resultados

    O gerenciamento de processos se prope a direcionar os esforos da organizao, nos

    diferentes nveis, para aquilo que os diversos clientes realmente reconhecem valor,

    ponderando a disponibilidade de recursos.

    Esta diretriz influenciou a formatao da sistemtica para elaborao do plano

    estratgico funcional da manuteno em uma unidade fabril de processamento, localizada no

    estado do Rio de Janeiro, com 11.019 equipamentos estticos, 392 equipamentos rotativos,

    mais de 10.300 instrumentos e 325 motores eltricos, suportada pela RCM, baseada na

    Pirmide da Confiabilidade e lanando mo de indicadores para seus respectivos nveis.

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    16

    Neste sentido, foram estabelecidos critrios, a partir da anlise do processo e com o objetivo

    de que, dentro do espectro das estratgias consagradas de manuteno disponveis, fossem

    selecionadas aquelas que sejam custo-efetivas, sendo ento possvel selecionar, por exemplo,

    a manuteno planejada, a manuteno autnoma e a manuteno preditiva como aes para

    melhoria do processo manuteno.

    Na seqncia, em busca da melhoria de desempenho na fase de execuo do plano,

    com o desenvolvimento do mapeamento de processos e dadas as caractersticas operacionais

    distintas (infra-estrutura, conhecimento, formao), decidiu-se pela reorganizao da estrutura

    da manuteno e a criao de grupos interdisciplinares de confiabilidade no modelo RCM.

    O acompanhamento dos indicadores propostos na etapa de verificao permite apontar

    as necessidades de implementao de melhorias no processo manuteno. Ao mesmo tempo

    em que estas aes de melhoria so selecionadas, a metodologia de gerenciamento de

    processos representa a oportunidade de alinhamento e direcionamento de esforos para que a

    manuteno contribua para as metas estratgicas.

    Apesar do processo de implementao do novo modelo no ter se desenvolvido na

    velocidade esperada, ele possibilitou a obteno de alguns resultados, baseados em cinco

    meses no ano de 2010 (indicadores referentes ao ms e cumulativo dos ltimos doze meses).

    O Grfico 1 (abaixo) do indicador de resultado da disponibilidade (em %) e do custo fixo de

    manuteno (em R$) demonstra que o clculo do OEE ainda no estava sendo aplicado

    sistematicamente no perodo de coleta dos dados.

    GRFICO 1- Disponibilidade e Custo Fixo de Manuteno

    Fonte: Indstria de Processamento/RJ

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    17

    Um dos indicadores do nvel intermedirio da pirmide da confiabilidade utilizado o

    MTBF para bombas, famlia de equipamentos que representa um quantitativo significativo no

    parque de ativos da indstria. O Grfico 2 demonstra a tendncia de incremento do tempo

    mdio entre falhas (em horas) para estes equipamentos em duas reas da unidade industrial,

    resultado dos primeiros efeitos da implementao de plano de ao para mitigar as falhas em

    selos mecnicos, componentes das bombas com a maior incidncia de falhas.

    GRFICO 2 - MTBF de Bombas (Horas rodadas x Ms)

    Fonte: Indstria de Processamento/RJ

    Outros indicadores no sistemticos do nvel intermedirio da pirmide da

    confiabilidade, pois resultam de filtros associados ao desempenho dos maus atores

    relacionados aos custos de produo, so usualmente denominados de Top Ten(em mil R$).

    TABELA 1 - Top Ten acumulado no ano

    1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

    MAT. 52,660 809,768 200,203 161,941 152,342 53,305 122,709 114,356 19,007 78,948

    SERV. 862,058 13,420 78,840 71,907

    Total 914,718 809,768 200,203 175,361 152,342 132,145 122,709 114,356 90,914 78,948

    Fonte: Indstria de Processamento/RJ

    Com relao aos indicadores da base da pirmide da confiabilidade, o plano de manuteno

    preditiva monitorado quanto sua execuo, atrasos e eficcia (exemplo do Grfico 3).

    jul/09 set/09 nov/09 jan/10 mar/10 mai/10

    76,0%

    58,7%

    87,3% 90,3%91,0%

    - 94,4% 95,3% 92,7% 93,3%100,0% 98,8%

    GRFICO 3 -Recomendaes preditivas em atraso

    Fonte: Indstria de Processamento/RJ

    GRFICO 4 - Cumprimento dos planos de Manut. Prev.

    Fonte: Indstria de Processamento/RJ

    200

    300

    400

    500

    600

    700

    800

    900

    1000

    1100

    1200

    jun/09 jul/09 ago/09 set/09 out/09 nov/09 dez/09 jan/10 fev/10 mar/10 abr/10 mai/10 jun/10

    jun/09 jul/09 ago/09 set/09 out/09 nov/09 dez/09 jan/10 fev/10 mar/10 abr/10 mai/10 jun/10

    ISBL 514 549 563 471 461 482 518 536 541 548 514 498 506

    OSBL 570 582 605 531 508 558 583 632 667 641 625 656 672

    200

    300

    400

    500

    600

    700

    800

    900

    1000

    1100

    1200

    jun/09 jul/09 ago/09 set/09 out/09 nov/09 dez/09 jan/10 fev/10 mar/10 abr/10 mai/10 jun/10

    jun/09 jul/09 ago/09 set/09 out/09 nov/09 dez/09 jan/10 fev/10 mar/10 abr/10 mai/10 jun/10

    ISBL 514 549 563 471 461 482 518 536 541 548 514 498 506

    OSBL 570 582 605 531 508 558 583 632 667 641 625 656 672rea 2

    rea 1

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    18

    Tambm referentes base da pirmide da confiabilidade, a evoluo do Grfico 4

    demonstra os esforos aplicados para que os planos preventivos sejam executados.

    Quanto eficcia dos planos, o Grfico 5 mostra de forma estratificada por disciplina,

    o percentual de equipamentos que apresentaram falhas e cujos planos de manuteno

    preventiva/preditiva foram considerados no eficazes.

    GRFICO 5 - Eficcia dos planos de manuteno preditiva

    Fonte: Indstria de Processamento/RJ

    6. Concluso

    O artigo discorre sobre a necessidade e a possibilidade de uma indstria contar com

    instrumentos para seu planejamento e gesto estratgica, os quais forneam insumos para a

    elaborao dos planos e respectivos controles. No caso, estudou-se a pertinncia de um

    sistema de indicadores de desempenho para alcanar esses propsitos, realando as propostas

    do Balanced Scorecard.

    Considerando as restries comumente observadas no mbito das indstrias de

    processamento, este trabalho tambm se prope a apresentar o resultado da implementao de

    uma sistemtica de gerenciamento de processos no contexto da manuteno, a partir da

    identificao das necessidades dos clientes, alinhadas com as metas empresariais e que

    permitisse um mecanismo eficiente de controle para o alcance destas metas, suportando a

    gesto da manuteno por meio de indicadores de desempenho.

    Para aplicao na estratgia funcional da manuteno, o artigo apresentou um modelo,

    suportado pela adaptao da pirmide da confiabilidade com os objetivos estratgicos e

    indicadores de resultado das quatro perspectivas do BSC, cujas conexes demonstram a

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    19

    influncia da manuteno, sob o ponto de vista das atividades da engenharia de

    confiabilidade, nas perspectivas financeira e dos clientes de uma organizao industrial.

    O modelo proposto justifica-se pela capacidade de contribuir para uma avaliao ampla da

    organizao e sua insero no atual ambiente de extrema competio cada vez mais

    globalizado.

    A partir das discusses apresentadas ao longo da pesquisa, caracteriza-se que a gesto

    da produo, atravs da funo manuteno, pode influenciar o percentual de tempo que os

    ativos esto disponveis, que por sua vez, determina o output alcanvel e seu conseqente

    impacto na receita e custos de produo, propiciando o aumento do lucro. O incremento da

    capacidade de produo tambm permite que a companhia seja mais flexvel em sua resposta

    aos clientes e s condies do mercado, em outras palavras, atenda a quatro dos cinco

    objetivos de desempenho bsicos da funo produo, quais sejam: vantagem em rapidez,

    vantagem em confiabilidade de entrega, vantagem em flexibilidade e vantagem em custo.

    Um ponto fundamental na implementao da sistemtica concerne disponibilidade e

    acuracidade da base de dados. Neste estudo, a base de dados construda, apesar de no ser

    disponibilizada inicialmente em sistema totalmente informatizado, suportou a anlise do

    processo no sentido da identificao das perdas. A anlise da base de dados permitiu, entre

    outros, identificar gargalos nos resultados de disponibilidade, capacidade e qualidade, alm

    dos ativos de baixa confiabilidade, responsveis pelos maiores impactos negativos nos custos

    operacionais.

    Apesar dos resultados obtidos aps cinco meses de implantao do modelo no

    permitirem uma avaliao definitiva da sua eficcia, os indicadores de desempenho revelam-

    se, neste aspecto, imprescindveis, conforme o levantamento de vrios autores e devem ser

    considerados como ferramenta de suporte a processos de planejamento estratgico e de

    controle das estratgias adotadas e implementadas pelas empresas.

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